POUPANÇA DE ENERGIA NOS HOSPITAIS IMPLEMENTAÇÃO DE UMA CAMPANHA DE … · 2015. 9. 3. · Estudo de caso - o programa de sustentabilidade ambiental do CHCB Fases do Plano de implementação:

POUPANÇA DE ENERGIA NOS HOSPITAIS – IMPLEMENTAÇÃO DE UMA CAMPANHA DE COMUNICAÇÃO E PERCEÇÃO DOS

COLABORADORES DE UM CENTRO HOSPITALAR

ARMINDA DO PAÇO, UNIVERSITY OF BEIRA INTERIOR, PORTUGAL

Introdução

Importância crescente da sustentabilidade ambiental no setor da saúde

Centros hospitalares contribuem fortemente para a deterioração ambiental => 2.5 vezes mais energia do que um edifício de escritórios

Técnicas e equipamentos com vista à redução do seu impacto ambiental

“Hospitais verdes” com projetos inovadores e criativos (tecnologia + consciência ecológica)

Hospitais verdes “… promove a saúde pública fazendo um esforço para continuamente reduzir o seu impacto ambiental, até porque é reconhecida a relação entre a saúde humana e o ambiente. Ligam as necessidades locais com a ação ambiental envidando esforços para promover a saúde ambiental da comunidade, a equidade na saúde e a economia verde”.

Áreas de atuação (Health Care Without Harm):

(i) eficiência energética (reduzir consumo de energia e custos - eficiência e conservação);

(ii) green design do edifício;

(iii) geração de energia alternativa;

(iv) transporte;

(v) alimentação;

(vi) lixos e desperdício (reduzir, reusar, reciclar);

(vii) água

Estudo de caso - o programa de sustentabilidade ambiental do CHCB

O Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB), localiza-se no centro-interior do país, na Cova da Beira. Tem uma ligação muito próxima com a Universidade da Beira Interior, localizada na Covilhã.

Gastos muito elevados ao nível dos consumos energéticos e de água

Começar a fomentar e implementar uma política e uma cultura de

sustentabilidade ambiental


Contexto: Programa de Eficiência Energética (Eco.AP) e Plano Estratégico no Baixo Carbono (PEBC) do Ministério da Saúde => desenvolvimento do “Guia de Boas Práticas para o Setor da Saúde”

O CHCB foi pioneiro na implementação do plano de sustentabilidade designado de “Comunicar e Motivar a Poupança”.

Objetivos:

- Reduzir os consumos de energia e água (em cerca de 20%) e a produção de resíduos;

- Sensibilizar todos os colaboradores para as práticas sustentáveis;

- Gerar, facilitar e intensificar os fluxos de poupança, incentivando um desempenho individual e organizacional sustentáveis;

- Criar mecanismos automáticos de poupança, práticos e mensuráveis que eliminem desperdícios.


Fases do Plano de implementação:

Fase I – Despertar o interesse para os pequenos gestos: fase de pré-lançamento (15 dias antes do início da campanha). Mote “pequenos gestos vão ser reais” - cartazes teaser junto dos pontos de leitura biométrica, nos fundos dos ambientes de trabalho dos computadores, no Facebook e na intranet.

Fase II – Envolver a comunidade para a realidade dos custos: divulgação dos consumos e gastos relacionados com a eletricidade, água, gás, resíduos => alertar para os gastos e como o seu valor poderia ser aplicado/investido, em benefício do utente e do colaborador (cartazes com os custos dos consumos; agendamento para desligar os monitores; presença corporativa no Facebook com fórum de discussão; comunicação social local).


Fases do Plano de implementação (cont.):

Fase III – Reforçar o apelo à mudança e sensibilizar para atos simples e gestos de

mudança, envolvendo os colaboradores => nova campanha comunicando os

resultados das primeiras fases com cartazes e stickers em pontos estratégicos

(junto de torneiras, botões de elevador, interruptores de luz).

Fase IV – Manter a sensibilização dos colaboradores: atualização constante da

informação dos cartazes, novas mensagens, associação a eventos relacionados

com a sustentabilidade (ex. Dia Europeu sem Carros), criação de eventos (ex.

concurso interno para incentivar a reciclagem – “Operação Alegria”), etc.


Outras práticas:

- Reutilização e reciclagem: papel e cartão, plástico, pilhas e baterias, e

lâmpadas. Apoio à Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão

Deficiente Mental do Fundão (APPACDM Fundão) na recolha de tampas de

plástico.

- Mobilidade sustentável: incentiva a mobilidade em veículos menos poluentes

como forma de reduzir a pegada de carbono. Na campanha de 2009 os

funcionários foram incentivados a adquirir motos elétricas, com baixas emissões

de CO2, a um custo mais reduzido contribuindo também para a resolução do

problema de estacionamento no hospital.


Resultados práticos

Redução de custos da água de 143.778€ e de 21.758 m3 de 2012 para 2013.

Na eletricidade houve um aumento de 36.031€ nos custos (motivado pelo aumento dos preços) mas uma redução 67.873 Kw/h.

Verba resultante da poupança foi usada para substituir o equipamento informático da secção de consulta externa

Replicação deste programa noutros hospitais e centros de saúde portugueses, por indicação e com o apoio do Ministério da Saúde.


NECESSIDADE DE:

Avaliar as atitudes dos colaboradores em relação às práticas de

sustentabilidade do CHCB

Avaliar se as ações comunicacionais tiveram o efeito desejado na

sensibilização para a poupança energética


Amostra:

• 57,8% mulheres/42,2% homens

• Média de idades de 39 anos (Min. 21; Max. 65; DP 9,61)

• Maioria dos respondentes é casada (68,6%)

• Nível de escolaridade elevado: bacharelato/licenciatura (41,2%), pós-graduação/mestrado/doutoramento (33,3%) e ensino secundário (21,6%).

• Enfermeiros (40,2%), assistentes técnicos (31,4%) e técnicos superiores (12,7%)

• Maioria tem mais de 10 anos de serviço (63,7%)

Questionário simples e curto (conhecimento acerca das práticas amigas do ambiente do CHCB, comportamento em relação à energia e dados sociodemográficos)


Itens n %

No CHCB acha que há informações suficientes e disponíveis acerca do uso de energia?

Sim Não

59 43

57,8 42,2

Acha que o CHCB faz o suficiente para economizar energia? Sim Não

34 68

33,3 66,7

Está ciente das iniciativas levadas a cabo para economizar energia no CHCB?

Sim Não

85 17

83,3 16,7

Tabela 1. Questões gerais sobre a energia no CHCB


Itens n

Eletricidade em geral 26

Demasiadas luzes ligadas sem haver necessidade 19

Equipamentos/computadores ligados quando ninguém está a usar 11

Todas as lâmpadas deveriam ser economizadoras 4

Elevadores (uso excessivo/desnecessário) 4

Climatização 2

Luzes sem sensores 2

Isolamento das janelas deficiente 1

Água 8

Sistema de rega 1

Torneiras e autoclismos a vazar. 1

Torneiras sem redutores de caudal 1

Resíduos 1

Funcionamento deficitário dos painéis solares 1

Tabela 2. Maiores desperdícios de energia no CHCB


Média Moda Desvio- Padrão

Mínimo Máximo

Desligar as luzes quando não estão a ser usadas 4,48 5 ,642 1 5

Diminuir o calor do aquecimento 3,67 4 1,176 1 5

Desligar os aparelhos em vez de os deixar em stand by 3,76 5 1,212 1 5

Aproveitar a luz natural 4,25 5 ,972 1 5

Usar apenas a água estritamente necessária 4,41 4 ,514 3 5

Usar as escadas em vez do elevador 3,91 4 ,850 2 5

Separar os lixos para reciclar 4,14 5 ,923 1 5

Reutilizar papel inutilizado 4,18 4 ,906 1 5

Utilizar equipamentos com certificação Energy Star (centros de cópias, frigoríficos, etc.)

3,13 4 1,131 1 5

Utilizar utensílios/objetos reutilizáveis em vez de descartáveis

3,47 4 ,955 1 5

Tabela 3. Análise descritiva dos comportamentos amigos do ambiente


n %

Tenho os mesmos cuidados 88 86,3

Tenho mais cuidados 13 12,7

Não respostas 1 1,0

Total 102 100,0

Tabela 4. Comparação do comportamento de poupança de recursos: local de trabalho versus casa


Média Moda Desvio- padrão

Mínimo Máximo

O custo dos recursos (eletricidade, água, etc.) 4,69 5 ,487 3 5

As campanhas de sensibilização 4,10 4 ,711 1 5

A informação disponível 4,07 4 ,748 1 5

A preocupação ambiental 4,56 5 ,698 1 5

A responsabilidade social 4,57 5 ,554 3 5

A influência de outras pessoas 3,60 4 ,957 1 5

A publicidade 3,82 4 ,872 1 5

Tabela 5. Análise descritiva da sobre a influência de alguns fatores na poupança de recursos


Área Medida sugerida Informação Mais ações de sensibilização/informação sobre este tema

Criar um instrumento que permita a partilha de opiniões sobre o tema

Água Reduzir o volume de água nos autoclismos

Utilizar torneiras com sensores

Arranjo das torneiras com fugas

Colocar redutores de caudal nas torneiras

Eletricidade Computadores em standby ao fim de algum tempo

Desligar os equipamentos não os deixando em standby

Desligar/diminuir as luzes de certas áreas fora do horário de funcionamento/noite

Instalar sistemas de iluminação ativados por sensores

Usar lâmpadas economizadoras

Instalar sistemas de produção elétrica fotovoltaica e eólica

Possibilidade de desligar algumas luzes manualmente

Substituir equipamentos antigos por equipamentos mais eficientes

Promover um maior aproveitamento da luz natural

Aquecimento Tratar do isolamento térmico

Reciclagem Promover um "hospital sem papel"

Disponibilizar mais ecopontos

Transporte Transporte dos funcionários entre as unidades do centro hospitalar em maior nº e horário


Outros resultados:

- Existem diferenças significativas entre homens e mulheres no que respeita à variável “Desligar as luzes quando não estão a ser usadas”, sendo este comportamento mais frequente nos homens.

- Existem diferenças significativas nas várias faixas etárias no que respeita à variável “Usar equipamentos com certificação Energy Star”, sendo este comportamento mais frequente dos 41 aos 50 anos.

- Existem diferenças significativas nos vários níveis de escolaridade no que respeita à variável “Desligar aparelhos em vez de deixar stand by”.

Conclusões

Apesar dos resultados positivos e da boa recetividade da campanha existem ainda muitos aspetos passíveis de melhorias

É importante direcionar mais as campanhas para targets dentro dos colabores que poderão estar menos motivados/consciencializados.

A orientação para a redução e eliminação de impactos ambientais negativos dos hospitais passam pela adoção de práticas de design sustentáveis e certificações ambientais => empenhamento das administrações dos hospitais no desafio verde.

Conclusões

Sugestões para melhoria da poupança de recursos

- Uso combinado dos sistemas de aquecimento e eletricidade reduzindo o consumo

- Reduzir os custos de ventilação e ar condicionado através de: recirculação de ar, redução do nível de ventilação do ar, ajustamento da temperatura ótima e melhoramento do isolamento do edifício.

- Substituição das lâmpadas, redução do excesso de iluminação, instalação de sensores de movimento e aproveitamento da luz natural.

- Energias alternativas.

- Torneiras com sensores; controlo automático de água; ciclos de lavagem de mãos curtos; redução do fluxo dos chuveiros; descargas controladas; cisternas para recolher a água da chuva para regar.

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