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CULTUR CENTRO DRAGÃO  O  MAR DE ARTE  E  CULTURA ia :>nitc*irtciaiima»ri jv  G OVERNO  ix> ST DO  DO  Ci RÁ Patrocínio Apoio: .y» áÈàà Hl^rOMlANOO Povos Indígenas n o C eará -3 .aieza, novembro  d e  2007

Povos Indígenas No Ceará - Organização, Memória e Luta (2007)

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O livreto “Povos Indígenas no Ceará: organização, memória e luta”, foi organizado pela professora Isabelle Braz Silva (UFC) e os textos resultaram de pesquisas feitas pelos historiadores Alexandre Gomes, João Paulo Vieira e pela Juliana Muniz. A publicação foi pensada como parte dos materiais da exposição “Índios: os primeiros brasileiros”, de curadoria do antropólogo João Pacheco de Oliveira (UFRJ), que estava prestes a ser inaugurada em Fortaleza, em fins de 2007. Sobre muitos destes povos, principalmente os habitantes do sertão, ainda não haviam pesquisas e/ou informações mais detalhadas, naquela época. Trazíamos informações atualizadas sobre os processos de mobilização étnica de cada grupo, suas formas de organização e as principais lutas políticas em que as populações indígenas do estado do Ceará estavam envolvidas

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R e a l i z a ç ã o

CULTURCE RENSE

CENTRODRAGÃO O MAR

DE ARTE E CULTURA ia :>nitc*irtciaiima»ri

jv G OVERNO ix>ST DO DO Ci RÁ

P a t r o c í n i o

Apoio:

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Hl^rOMlANOO

Povos Indígenasno C eará

-3 .aieza, novembro de 2007

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Povos Indígenasno Ceará

Organização memória e luta.

Fortaleza novembro de 2007

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Créd i tos

Pesquisa e redação: Alexandre Gomes e João PauloVieira (Projeto Historiando) e Juliana Muniz.Desenhos e grafismos: etnias indígenas cearensesDesenho da capa: Audendra TreroembéCoordenação : Isabelle Braz P. da SilvaSupervisão: Carmen Lúcia Silva LimaRevisão: Rodrigo Alves RibeiroArte gráfica: Gráfica Ribeiro sRealização: Memorial da Cultura Cearense, do CentroDragão do Mar de Arte e CulturaPatrocínio: UAssociation pour le DéveloppementEconomique Regional - ADER Associação para oDesenvolvimento Económico Regional)Apoio: Gaia Engenharia Ambiental

u m á r i o

Agradecimento s 04Apresen tação 05In t rodução 07A n a c é 09Gavião 11Jen ipapo-Kan indé 13

Kalabaça 15Kanindé 17Kari r i ..20Pitaguary 22Desenhos 25Mapas 26Potiguara / Poty guará 34Tabajara 38Tapeba 41Tremembé . . . 44Tubiba-Tapuia 48

Outras referências 50

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Agradecimentos

U m agradecimento especial a Fernando Tremembé,Ceiça, Rosa e Ana Clécia Pitaguary, Dourado, Weibe eNaílton Tapeba, Maria Amélia Leite, MargarethMalfl ie t , Daniel Pitaguan.-. Cacique Pequena,Conceição (Bida) e Fábio Jenipapo-Kanindé; JoãoVenâncio, Cacique Sotero, Renato e Helena GomesPotiguara, Jorge, Evagivaldo e Eliane Tabajara(Poranga), Têka Pot> guara, Júnior, Joã o e Ângela

An acé, Tetê e Dona Tereza Ka riri. Helloana e Luciana(Observatório dos Direitos Indígenas), EstevãoPalitot, ADER, A M I T K , ARIPPOC. Centro Dragãodo Mar de Arte e Cultura, FL NAI . FUNASA, GaiaEngenharia Ambiental, Museu do Ceará, O bservatóriodos Direitos Indígenas, SEDUC. e a todas as demaispessoas e instituições que contribuíram para arealização deste trabalho.

Apresentação

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Prezado leitor,

A ideia de realizar esta publicação surgiudurante uma das reuniões de preparação da recepçãoda exposição itinerante O s prim iros brasileiros Estaexposição teve a curadoria do prof . João Pacheco de

Oliveira, do Museu Nacional do Rio de Janeiro e foisediada pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Por iniciativa do Memorial da CulturaCearense constituiu-se um grupo de trabalho que pordiversas vezes se reuniu para planejar e organizaradaptações da exposição original e outras atividadescorrelatas. Este grupo foi constituído por váriasinstituições afeitas ao campo indigenista no C eará, taiscomo: ACITA, AMIC E, APOINME, ASSOCIAÇM I S S Ã O T R E M E M B É , C D P D H , COPICE,FIRESO, GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS

ÉTNICAS - UECE/UFC, MINISTÉRIO PÚBL ICOFEDERAL.Nossa intenção ao conceber este livreto foi

levar ao público cearense uma breve informação sobreos grupos indígenas no Ceará contemporâneo. Essesgrupos estão sediados em diferentes regiões de nossoEstado e guardam distinções entre si, com suashistórias, me mó rias e práticas culturais específicas.

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Para a rea l ização da tarefa a que nospropusemos foram necessários muito empenho eagilidade, da equipe de pesquisa e redação convidadapara o trabalho Projeto Historiando), diante do poucotempo de que d ispúnhamos e frente à dificuldade deobtenção de informações sistematizadas e seguras.L a n ç a m o s mão de trabalhos académicos conversascom pesquisadores, dados de ins t i tu ições quetrabalham diretamente com essas populações et ambém de viagens á campo.

Você terá a oportunidade de conhecer umpouco mais do Ceará indígena uma, entre tantasoutras faces de nossa sociedade, às vezes tão próximase tã o dificeis de serem enxergadas.

Isabelle Braz Peixoto da Silva

Fortaleza, novembro de 2007

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I n t r o d u ç ã o

Este livreto traz em suas páginas um pouco dahistória recente dos povos indígenas no Ceará. Ascomunidades aqui retratadas constroem os caminhos damemória a partir da com preensão de sua etnicidade, doentendimento de intensos processos de violênciaopres são e resistência dos quais fazem parte.

A partir da década de 1980, com a mobil izaçãodos Tapeba e Tremembé inicialmente, e dos Pitaguary

e Jenipapo-Kanindé posteriormente, assistimos a umcrescente levantar da etnicidade no estado.A capitania do Siará-Grande abrigou mais de 20

etnias, sendo considerada por muitos como um refúgiopara onde migraram diversos povos, que vieram dascapitanias vizinhas de Rio-Grande, P a r a í b aPernambuco, e ocuparam boa parte desta terra, que jáera habitada por outros povos. Rodeado de limitesnaturais precisos serras e chapadas), o Siará-Grande sócomeçou a ser invadido pelos europeus efetivamenteno inicio do século X V I I porém grandes conflitos pelaposse da terra se deram a partir da expulsão dos

holandeses 1654), com a disputa pela posse dasribeiras do Jaguaribe, Aca raú e seus afluentes. Estasérie de conflitos, dentre outros ocorridos no litoral doatual nordeste, ficou conhecido como Guerra dosBárbaros e durou até a segunda década do séculoX V I I I .

A organização dos aldeamentos missionários apartir da segunda metade do século X V I I I trouxe para

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estes espaços populações que tinham em suasme mó rias trajetórias ie sucessivas guerras e migraçõesforçadas. O aldeamento tomou-se lugar da resistência e refúgio, e lá estes povos recriaram sua cultura,motivados por interesses políticos variados. A criação Idas vilas de índios após a expulsão dos jesuítas (1759) e ^a imposição do Dire tóno Pombalino, estabeleceu amestiçagem como estratégia de embranquecimento dapopulação e diluição das marcas culturais nativas. A ipartir daí , o século X IX é crucial para a compreensão |

das sucessivas t ransformações pelas quais passaram íestes povos, com a criação de mun icípios e distritos nos jlugares que habitavam. O que seria a história o ficial dosmunicípios cearenses, senão uma tentativa de contar ahistória local a partir da versão europeia? j

Para a r e a l i z a ç ã o de nossa escritaestabelecemos alguns critérios, dentro dos quaisdestacamos: como se deu o processo de etnogênese eauto-afirmação étnica, a luta atual das etnias e comoelas estão organizadas. Outro aspecto que mereceênfase diz respeito às sucessivas migrações pelas quaispassaram a maioria das comunidades.

O processo de etnogênese iniciado na décadade 80 hoje atinge diversas populações do interior doCeará, como nos municípios de Crateús, Poranga eMonsenhor Tabosa, que foram \isitados durante apesquisa para a construção do l i \

Este livreto tem a intenção mostrar a atualsituação das etnias hoje existentes no Ceará, dandovisibilidade à sua luta e instigando à reflexão sobre asua presença na sociedade cearense.

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A n a c é

M unic íp io : São Gonça lo do Amarante e CaucaiaComunidades: 1) Em São Gonçalo do Amarante:Mangabeira, Pau-Branco, Salgado, Tabuleiro Grande,Boqueirão , Currupião, Baixo da Carnaúba, Maceió doRafael, Torém, Areia Verde, Lagoa Amarela, Jereraú,Tocos, Chave Oiticica, Tapuio, S iupé; 2) Em Caucaia:Matões , Japuara e Santa Rosa.

P o p u l a ç ã o estimada: 1270 pessoasF a m í l i a s : 380S i t u a ç ã o da Terra I n d í g e n a ( T I) : T I a seridentificada pela F U N A I .

Durante a ú l t ima Assembleia dos PovosIndígenas no Ceará , realizada na aldeia Nazá r io -Crateús (novembro de 2006), o povo Anacé junto aosTubiba-Tapuia de Monsenhor Tabosa, integraram-seao movimento indígena organizado no Ceará.

Composto por 380 famílias, residentes nos

municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante,este úl t imo a antiga Anacetaba o nome da etnia é umaalusão aos ancestrais, que habitavam a região.Atualmente, o povo A n a c é vive um per íodo deincerteza, medo e insegurança , devido à ameaça dedesapropr iação de suas terras tradicionais, iniciada em1996 com o processo de construção do ComplexoIndustrial e Portuário do Pecém (CIPP), que prevê aocupação de seu território para a instalação de uma

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s iderúrgica e de vár ias indúst r ias nacionais eestrangeiras.

Cerca de 90 famílias já foram expulsas da terratradicional e alojadas em três assentamentos (NovoTorém, Forquilha e Monguba). Pretende-se retirar asdemais famílias para a conclusão do CIPP. Destaforma, a luta dos Anacé hoje, é pela imediatademarcação de suas terras que, além de consideraremsagradas, pois foram a li que viveram seus ancestrais eainda hoje v ivem; são s í t ios arqueo lógicos de

importante significado para o estudo da ocupaçãohumana e migrações no território que veio a chamar-seCeará. Vário s achados a rqueológicos foram feitos pela

p o p u l a ç ã o i n d í g e n a , o que contribui para apreservação do terri tório, garantida pela Consti tuiçãoFederal.

Entre os dias 20 e 23 de setembro de 2007, acomunidade organizou, na aldeia Matões em Caucaia,a / Assembleia do Povo Indígena Anacé. Contandocom a part icipaçã o de representantes de etnias de todoo Ceará . O Encontro teve como tema: Terra e Impacto

Ambiental e discutiu os transtornos e os impactossócio-ambienta is de empreendimentos instalados naTerra Indígena.

Dentre os principais encaminhamentos daassembleia, citamos: 1) A solici tação de umaaudiência pública para discutir a regularização dasTerras Indígenas no Estado; 2) A anulação das l icençasque autorizam a c o n s t r u ç ã o de grandes

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empreendimentos em TFs (Terras Indígenas) ; 3) Aanulação de decretos de d esapropr iação de terras e ofechamento dos prostíbulos que funcionam dentro dascomunidades Anacé ; 4) A formação de um ConselhoNacional de Políficas Indigenistas; 5) A criação de umTermo de Ajuste de Conduta TAC) que vise a garantirfinanciamento para reflorestamento das á reasdegradadas e 6) A elaboração de um projeto dedespoluição de rios, lagoas e manguezais.

Gavião

Município: Monsenhor TabosaComunidade: Bo a Vista.População estimada: 190 pessoasFamí l i as : 20Situação da Terra Indígena TI) : Terra Indígena comvisita preliminar realizada pela F U N A I .

Sou Gavião, sou Gavião, e nasci lá no sertão ...Pois eu sou o rei da mata de voar não me cansei.

Somos povos qu e viemos tão de longe para cáIgualmente ao gavião, ligeiramente a voar..

Música de Antônio Toinho Gavião

Os habitantes da aldeia Boa Vista trabalhamem conjunto, tirando sustento da p lantação de m ilho,fei jão, algodão, melancia, jerimum e melão, dentreoutras. Caçam nas matas p róx imas animais como:

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rabudo, preá , j u r i t i , tejo, nambu, peba, tatu e veado.Entretanto, a base fundamental de sus tentação daaldeia é o mi lho, utilizado desde o momento em queainda está verde e, depois de seco, servindo para fazeruma série de comidas, como pipoca, m u c u n z á ecuscuz; e t ambém como a l imentação para os animaisque criam e comercializam, com o f im de adquiriremgéneros que não produzem.

Segundo a t radição oral. os mais antigoschegaram a Monsenhor Tabosa vindos da localidade

B om Jesus, em Cra teús . Cinco i rmãos , filhos deAlzira , mulher solteira e parteira, muito conhecida naregião , formam o núcleo inicial do povoamentoGavião na região . Seus filhos eram João Rodrigues,Manoel Rodrigues, José Rodrigues. Clara Rodrigues eMaria Rodrigues Maria Gavião) . Esta ú l t ima, migroupara o P i au í e lá se casou com um índio Gaviã o, comquem teve filhos. Ficando v iúva , retomou à Serra dasMatas. Desta u n i ã o , resultou o povo Gavião da BoaVista. Seu i rmão , por sua vez, João Rodrigues, quemorreu faltando apenas 4 meses para completar 100

anos, deixou uma prole de 10 filhos.Os Gav ião participam da luta indígena desde

2005 quando, por incentivo de l ideranças locais,iniciaram seu processo de mob i l i zação . Es tãoorganizados no Conselho Indígena do Povo Gavião,que se reúne mensalmente. Contam com t rês salas deaula, para adultos e c r ianças . Hoje. lutam por umaescola diferenciada bem estruturada por assistência à

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saúde e pela demarcação de suas terras, numa áreacont ínua para as etnias de Monsenhor Tabosa, juntoaos Potyguara, Tubiba-Tapuia e Tabaj ara.

Estudam a l íngua Tupi junto aos Potyguara e

mantém ínfima l igação com o meio ambiente.Desenvolvem um trabalho de despertar a consciênciaecológica nas novas gerações , como na música : . . . Pisaligeiro pisa ligeiro quando for passar po r cima de umpé de formigueiro. Existe a formiga que é muitotrabalhadeira cuidado com a formiga que também émordedeira...

Jen ipapo-Kanindé

Munic íp io : AquirazComunidade: Lagoa da Encantada.População estimada: 290 pessoasFamí l i as : 80Situação da Terra Indígena TI ) : TI delimitada eidentificada, aguardando resposta às contestações.

A etnia Jenipapo-Kanindé es tá entre as queprimeiro levantou a bandeira étnica no Ceará, ainda nadécada de 80, junto aos Tapeba, Pitaguary eTr e m e m b é . Conhecidos há décadas pela populaçãocircundante como os cabeludos da Encantada o quedemonstra a percepção da diferença pela sociedadeenvolvente - vivem na Terra Indígena Lagoa da

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Encantada, no município de Aquiraz, espaço sagradode onde tiram seus mitos, cosmologia, história e aprópria sobrevivência.

De acordo com relatos orais, seusantepassados viviam em várias comunidades domunicípio de Aquiraz, como a Lagoa do Tapuio,Córrego de Galinhas, Córrego de Bacias, dentreoutras. Os mais antigos da comunidade localizam noséculo XI X a chegada de seus ancestrais na lagoa,sendo a chamada seca dos três oitos ou três oitavos,

lembrada como data de referência na memória dacomunidade.Desde 1995 a Cacique Pequena, como é mais

conhecida a senhora Maria de Lourdes da ConceiçãoAlves, lidera a etnia na luta pelo cumpririiento dosdireitos indígenas, pela demarcação de suas terras eem defesa da Lagoa da Encantada, constantementeameaçada pela especulação e poluição.

Mantêm um r i tmo de trabalho próprio.Plantam mandioca o ano todo e seguem um calendárioda colheita de frutos e legumes por épocas do ano:milho, feijão, batata-doce, castanha de caju e outros.

De cultura intimamente ligada à pesca, realizam estaatividade preferencialmente à noite, praticamente oano todo, havendo várias formas de praticá-la, tantocom as mãos como com armadilhas que os própriosíndios confeccionain, como a caçoeira, o giki e atarrafa. Fazem artesanato com cipó. e as mulheres daetnia tecem rendas e fazem louça de barro. A partir de

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setembro inicia-se a safra do caju, que tem especialsignificado na comunidade, pois que dele fazem docese sucos, além do mocororó, bebida usada emfestividades e durante a realiza ção do ritual do Toré.

Atualmente estão no Conselho IndígenaJenipapo-Kanindé , ins tânc ia deliberativa paraquestões internas e na A M I J K (Associação das

\s Indígenas Jenipapo-Kanindé). Entre seuslugares sagrados, estão a Barreira, o Morro do Urubu,o Riacho da Encantada e a p rópr ia Lagoa.Desenvolveram um modo de vida próprio e estão emíntima interação com o lugar onde vivem, de singelabeleza, entre as dunas, a mata e a sagrada Lagoa daEncantada.

IKalabaça

Munic íp ios : Crateús e PorangaComunidades: Altamira, Fátima I , Fá tima I I , SãoJosé, Maratoã, Planaltina e Caixa D água .Famí l i as : Poranga: 300; Crateús: sem dadosSi tuação de Ter ras Ind ígenas ( T I s ) : TerrasIndígenas com estudos preliminares pela FUÍSÍAI.

Minha mãe criou nós dizendo quenós era índio, mas que não era pra nós dizer isso aí

nunca, porque os índ ios antigamente foram espancados...mataram muita gente

(Dona Raimunda Kalabaça - Poranga-CE

IS

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o povo Kalabaça encontra-se, em sua maioria,nos munic íp ios de Cra teús e Poranga. Em seus relatosafirmam possuir parentes nos m u n i c í p i o s deIpaporanga e Ararendá. Em Cra teús integraram oConselho Indígena de Cra teús e Região - C I N C R A Rfundado em 1992, formado t ambém por outras 4quatro) etnias: Potyguara, Tabajara, Tup inambá e

Kari r i . O C I N C R A R foi extinto depois de terfuncionado por 12 anos. A partir de en tão asl ideranças que formavam este Conselho decidiramfundar associações por etnias, com o objetivo deestabelecer uma melhor organização.

Atualmente, os Kalabaça em Crateús estão emfase de formação de sua associação. Podemosencontrá-los em diversos bairros da periferia deCrateús e na serra do N azá r io na zona rural. Segundofontes orais, existe um grande número deles nomunicípio porém muitos não estão articulados aomovimento indígena.

Faz parte da cultura dos Kalabaça a pesca,tradicionalmente feita no rio Pot\-; a caça die animaisde pequeno porte como peba. tatu e carão; e a

plantação de feijão milh o mandioca e arroz. Ficaramconhecidos como Jandaíras pois quando os brancoschegaram na região os Kalabaça coletavam para eleso mel da Jandaíra. Antigamente, moravam em casas depalha c seus utensíUos eram feitos de barro e cuia:minha mãe plantava cabaça no inverno serravabotava de molho raspava e fazia a cabaça para botaro de comer Dona Raimunda, Kalabaça de Poranga).

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Os Kalabaça em Poranga, estão organizadosna luta por suas terras junto aos Tabajara. E comumencontrarmos famílias mistas, formadas por Kalabaçae Tabajara. Residem na aldeia de Imburana ondefizeram uma retomada em agosto de 2005. As terras deImburana se dividem em t rês áreas: o lugar demoradia, que fica nos bairros Jardim e Jer icó ondereside a maioria das famílias; o lugar onde plantam ecolhem os alimentos, que fica um pouco mais distantedas moradias, cuja terra é mais fértil; e o lugar da caçaque é ainda mais distante, nas matas, de onde t ambémretiram as plantas medicinais: cascas, raízes folhas efrutas. Nos ú l t imos meses fizeram, junto aos Tabajara,a retomada da terra denominada Cajueiro, distante 38qui lómetros de Imburana que, segundo contam, foimoradia de seus ancestrais e a qual passaram a habitar.

K a n i n d é

M u n i c í p i o : Aratuba e Canindé

Comunidades: 1) Em Aratuba: Sítio Fernandes; 2)Em Canindé: Serra da Gameleira.P o p u l a ç ã o estimada: 700 pessoasF a m í l i a s : 130S i t u a ç ã o da Terra I n d í g e n a TI) : TI com visitapreliminar, realizada pela F U N A I em 2003/2004.Processo aberto na F U N A I aguardandoprocedimentos in ici ai s de f u n d a m e n t a ç ã oantropológica.

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Localizados nos mun ic íp ios de Can indésertão central) e Aratuba serra de Baturi té) , os

Kanindé tem a história marcada por um longoprocesso de migrações forçadas, e vem mantendo,apesar desta d ispersão, laços de parentesco esociabilidade que unem as comunidades do SítioFernandes e da serra da Gameleira, que compõem aetnia.

A origem histórica da etnia Kan indé remontaao chefe C anind é, principal da tribo dos Janduíns , queliderou a resistência de seu povo no século XVn ,

obrigando o então rei de Portugal a assinar com eletratado de paz, firmado em 1692. mas descumpridopo r parte dos portugueses. Como ocorria com muitosagrupamentos nativos, seus descendentes passaram aser conhecidos como Kanindé, alusão ao chefe e àancestralidade.

Segundo t radição oral . vieram da região doatual munic íp io de M o m b a ç a, passando por Q uixadá,pelas margens do Rio Curu, entre os riosQuixeramobim e B anabu iú, junto aos seus parentesJenipapo, antes de alcançar os seus locais de moradaatuais. Chegaram ao Sítio Fernandes vindos da serra

da Gameleira, t ambém conhecida como serra doPindar, em Canindé, por conta de secas, como a de1877, e invasões de suas terras por posseiros criadoresde gado.

Traço cultural herdado dos ancestrais, a culturada caça se materializa na existência de diversasarmadilhas, como o quixó de ger ingonça, utilizado noapresamento de animais como m o c ó , tejo, cassaco,

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peba, veado, nambu, seriema e j u r i t i , semprerespeitando os per íodos de gestação dos bichos. Arelação de sustentabilidade que man têm com anatureza é ensinada às novas gerações , e buscagarantir a pe rmanênc ia da caça para as próximasgerações.

A chamada Terra da Gia foi durante muitotempo utilizada pelos Kan indé para fazerem suasp l a n t a ç õ e s e c a ç a r e m , se constituindo comosignificativo lugar de m emó ria para o grupo. Em 1995,após grande luta junto aos trabalhadores rurais locais,este terreno foi desapropriado pelo INCRA . Apósquerelas na divisão da terra, os Kan indé do sítioFernandes ficaram com 270 hectares e continuamplantando no sistema de ro çados .

Em 1996, por iniciativa de José Maria Pereirados Santos, mais conhecido por Cacique Sotero, foiaberto à visi tação pú blica o Museu dos Kanindé quetraz em seu acervo artesanato, cujo trabalho emmadeira merece destaque, instrumentos de caça edança, entre outros. Mantido no sigilo a té o ano citado,

foi com o acirramento da luta por seus direitos que omuseu fo i exposto ao públ ico , sendo mais uma formade afirma ção étnica do povo Kan indé.

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K a r i r i

Munic íp io : Cra teúsComunidade: M aratoã .P o p u l a ç ã o estimada: 60 pessoasS i t u a ç ã o da Terra I n d í g e n a T I ) : Terra indígenaco m visita preliminar realizada pela F U N A I .

Tem gente que não acredita, qu e estou contando aquimas afirmo co m muita certeza, sou da tribo Kariri sei

qu e tenho sangue de índio e não m e envergonho jamaisporque eu sei que o sangue qu e tenho, são heranças dos

meus velhos pais.Tereza Kariri)

A história da etnia Kar i r i , em Crateús, estáintimamente ligada à trajetória de vida de dona TerezaKar i r i , que fo i uma das primeiras a se identificar comoindígena e tomou-se uma das principais l ideranças domovimento. Junto às l ideranças de outras etnias,participou da fundação da Pastoral Raízes Indígenas ,ligada à Diocese de Cra teús e fundamental no apoio eart iculação dos povos indígenas na região.

Os Ka r i r i de Crateús descendem de doisnúcleos familiares, migrantes dos munic íp ios do Cratoe d é Lavras da Mangabeira. Dona Tereza migrou paraFortaleza adolescente e depois fo i para Cra teús , ondese casou com um índio Tabajara, formando numerosaprole. Durante os trabalhos de organização da etnia,

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conheceram a segunda família Ka r i r i , de DonaRaimunda, cujo pai t ambém fora migrante da regiãodo Cariri para Cra teús . Hoje, estão organizados naAssociação Indígena Karir i dc Cra teús , uma das maisatuantes no munic íp io . A comunidade de Maratoã ,onde mora a maioria dos Kar i r i , está localizado naperiferia de Cra teús e agrega famílias de diversasetnias, como os Potiguara. Tabajara e Kalabaça, alémde vár ias outras de casamentos entre membros de

etnias diferentes.Os núc leos familiares Ka r i r i sempre sereconheceram como índios , apesar de ocultarem aorigem como forma de proteção. Em seus relatos orais,be m vivas estão as lembranças da mig ração , efetivadapo r causa da tomada de suas terras ancestrais, porposseiros que as ocuparam.

Nas c rónicas coloniais os Ka r i r i aparecemcomo habitantes da região que abrange do sul do Ce aráe Pernambuco até às margens do Rio São Francisco.N os processos de afirmações étnicas, surgiram povosque reivindicam o e tnônimo Ka r i r i em diversosestados, além do Ceará , como os Kar i r i -Xocó e osXucurú-K ar i r i , no estado de Alagoas.

N a escola e na comunidade Ka r i r i sãorealizados trabalhos de fortalecimento da culturai n d í g e n a , a t r a v é s do cnsino-aprendizagem deartesanato e da realização dc rituais dc cura e do Toré,t a m b é m chamado dança da Jurema, pelas etnias quevivem em Crateús.

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Pitaguary

Munic íp io Maracanaú e PacatubaComunidades: 1) Maracanaú: Hor to , Olho D á g u a eSanto An tôn io dos Pitaguary; 2) Pacatuba: Monguba.População estimada: 2.800 pessoas ,

amíl ias 540

Situação de terras: Terra Indígena em processo dedemarcação física.

Os Pitaguary vivem ao pé da serra entre osmunicípios de Maracanaú e Pacatuba. Distandoaproximadamente 26 Km de Fortaleza, a TerraI n d í g e n a Pitaguary e s t á situada na r e g i ã ometropolitana da capital, tendo em seus arredores umaárea caracterizada pela concentração de indústrias eurbanização crescente. Habitada pelos Pitaguarydesde há muito, essa terra é socialmente marcada por uma série de acontecimentos que fundam a mem ór iacoletiva deste povo, pois foi nela que os chamadostroncos velhos pereceram, deixando suas r ízes

antigas assim como é dela que sobrevivem osPitaguary de hoje.

Segundo o atual Cacique Daniel Araújo , sãoprovenientes dos Potiguara. emia do tronco l ingu íst icoTupi-Guarani. Suas terras foram invadidas, forçando amaioria dos índios a migrarem para bairros deMaracanaú e Pacatuba.

Vivem da caça, pesca e agricultura (algodão,

milho, feijão, mandioca, je r imum e outras culturas).São grandes conhecedores de uma diversidade deervas e plantas medicinais que utilizam na cura deenfermidades. Produzem colares, pulseiras e brincosfeitos com penas, sementes, coco e palha.

Dançam tradicionalmente o Toré, símbo lo deafirmação de sua identidade étnica e instrumento deluta polí t ica. O grupo de Torc-Mir im existe há trêsanos, formado por crianças da aldeia de SantoAntôn io . Apresentam-se em festas e eventos culturais

dentro e fora da aldeia. Este grupo recebeu o PrémioCulturas Indígenas do Ministério da Cultura.E m 1991, os Pitaguary iniciaram uma

articulação polífica afirmando sua identidade étnica ea busca pela garantia de seus direitos. Ocupavam-seem serviços informais e subalternos e moravam dealuguel, passando por grandes dificuldades. Po rém, amaioria dos índios Pitaguary permaneceu na área doaldeamento, vivendo como moradores dosfazendeiros, obrigados a pagar parte de sua produçãoagrícola para aqueles que ocupavam suas terras.

Conscientes de seus direitos constitucionaispassaram a se reunir e pressionar pela demarcação desuas terras, organizando o Conselho IndígenaPitaguary - COIPY. Mais tarde, o número de pessoasengajadas na luta foi crescendo e, como resultado,novos espaços de organizaçã o p olí t ica foram criados,surgindo daí o Conselho de Articulaçã o IndígenaPitaguary - CAINPY, o Conselho Indígena Pitaguaryde Monguba - COIPY M, Assoc iação dos Produtores

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Indígenas Pitaguary - APIPY a Artic ulaç ão dasMulheres Indígenas Pitaguary A M I P Y e o Conselhodos Professores Indígenas Pitaguary - COPIPY. N aAldeia Monguba em Pacatuba fo i criada a Casa deApoio para reuniões encontros e realização deatividades culturais.

Em 1993 ainda no início da mobilização pelademarcação da Terra Indígena foram contempladospor um projeto de lei da Câmara Municipal deM aracan aú. A doação de 107 hectares de terra que daí

resultou constituiu uma das razõ es pelas quais váriasfamílias voltaram para dentro da área indígenafixando-se na Aldeia Nova dos Pitaguary. Em 1997o Grupo de Trabalho - GT da F U N A I fo i enviado paradar início aos estudos de identificaçã o e delim itação daT I Pitaguary.

As terras indígenas Pitaguary foram entãoidentificadas e delimitadas totalizando 1.735 60hectares dos quais num primeiro momento foramretomados apenas 107 hectares que até então estavamocupadas pela Polícia Mili tar do Ceará.

Hoje nesse processo de retomada das terras osPitaguary j á ocuparam cerca de 700 hectares do totalda Terra Indígena. A luta dos Pitaguary continuaprincipalmente pela retomada do restante de suasterras nas quais possam viver livres e de acordo comsua cultura e tradição atualizadas segundo o cotidianoe as dinâmicas da comunidade no contexto de suaslutas polí t icas.

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POVOS INDÍGENAS

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P ô i a ^ l i 7,8 1

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..Tambortl^ y.bo

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Novo Oiienfií '

Dados primários: C oofdenaçâo dos Povos Indígen

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POVOS INDÍGEN S O C E R Á C O NN CÉ

CZ LocaD^ui rt i ( • r i . Po^os Indígenas doAi<,cu^i''lii ^>> wi d lu NurJ wite Minas t&Í A P O I N M E ; 2 0 0 7 _

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POVOS INDÍGEN S NO CE RÁ CONTEMP ORÂNEOTREMEMBÉ

[Z j Localização da etnia

Dados primários Coordenação dos Povos Indígenas do Ceará (COPICE),Articuição dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas e Espirito Santo

APOINMe) 2007,

POVOS INDÍGEN S NO CE RÁ CONTEMP ORÂNEOTUBIBA TAPUIA

[i Localização da etnia

Dados prím.árics: Coordenação dos Povos indiqenas do Ceara tCOPlCE.rArticulçào dos Povos Indígenas do Nordeste Minas 6 Espinto Santo(AtOINME), ZOQf : ^

oiues oiuids 9 seutrt aisepiot op seue5ipu SO^OH SOP oçi|noíi,jv'(aOidOO) ejeec op setieCiipuj so.od sop oeoeui pjooo s o u e L u n d sopeQ

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Potyguara Potiguara

Munic íp ios : Cra teús , Monsenhor Tabosa, NovoOriente e TamborilComunidades: 1) Em Crateús: Terra Prometida, NovaTerra, Terra Livre e Aldeia São José , na periferia dacidade; Santa Rosa, em Monte Nebo; 2) EmMonsenhor Tabosa: Mundo Novo, Chupador, Jacinto, iBoa Vista, Passarinho, Merejo, Tourão, Distrito-sede,Espíri to Santo, Longar, Passagem e Pitombeira; 3) EmNovo Oriente: Lagoa dos Nery e A ç u d e dosCarvalhos; 4) E m Tamboril: Viração.População estimada: 1.000 pessoasSituação das Terras Indígenas T F s ) : 1) Potyguarade Mundo Novo e Viração: foi realizado estudo defundamentação, aguardando parecer T. I. MundoNovoA^iração); 2) Potiguara de Cra teús e NovoOriente: fo i realizada visita preliminar pela F U N A I ; 3)Potiguara Nazá r io , Monte Nebo e São José: ainda nãoestudadas pela F U N A I .

Creio na lua Creio nas estrelasCreio nas nuvens; Creio no sol

Creio no vento creio na água e no fogo...Credo dos índios Potyguara, Sibá Potyguara)

Os Potyguara à época da invasão portuguesahabitavam o atual l i toral do Rio Grande do Norte e daParaíba , onde até hoje vivem, em munic íp ios comoRio Tinto, Marcação e Baía da Traição. Acredita-se

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que os acirrados conflitos pela disputa das terrasocasionaram a dispersão deste ppvo em direçõesdistintas, como rumo ao l i toral da capitania do Siará-Grande, onde formaram as aldeias que or ig inarão, nasegunda metade do século X V I I , os aldeamentosjesuí t icos de Porangaba, Caucaia e Paupina; e emdireção ao interior do continente - o chamado sertão.

Hoje, no Ceará , existem quatro comunidadesétnicas que se denominam Potiguara, localizadas entreos munic íp ios de Tamboril, Monsenhor Tabosa, Novo

Oriente e Cra teús . Os Potyguara de MonsenhorTabosa organizam-se junto aos de Viração Tamboril),e os de Cra teús , junto aos de Novo Oriente. ExistemPotiguara ainda, segundo alguns estudiosos, emIpueiras e, na região metropolitana de Fortaleza, emPaupina Messejana).

Desde julho de 2007, os Potiguara em Crateúsestão organizados na ARIPPOC Associação RaízesIndígenas do Povo Potyguara de Cra teús) , surgida porocasião do momento de reart iculação dos povosindígenas no munic íp io . Em 1992, foi realizado um

significativo encontro que desencadeou com aart iculação das diversas etnias no Grupo RaízesIndígenas , vinculado à Diocese local, onde já faziatrabalhos sociais ligados à cultura indígena, amiss ionár ia belga Margareth Malfl iet . Desta reuniãoparticiparam Dona Helena Potiguara, Dona MazéKalabaça e Dona Tereza Kar i r i . Com a co laboração deMaria Am él ia Leite, estas mulheres são protagonistas

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no levantar da etnicidade dos índios em C rateú s,através da organização no CINCRAR (ConselhoIndígena de Crateús e Região), ativo por 12 anos. Olocal onde fo i realizado o encontro é sagrado nacosmologia dos Potiguara do sertão do Ceará: a fumados caboclos, espécie de caverna ou loca, localizadaem Monte Nebo, serra próxim a à Crateús. Lá estão osrestos mortais dos antepassados dos Potiguara, que adefinem como a terra de onde foram expulsos seusancestrais e ponto de dispersão da etnia para diversasdireções , como a Serra das Matas em MonsenhorTabosa) e bairros localizados nos arredores deCrateús.

A aldeia Santa Rosa, em Monte Nebo, ondeestão aldeadas 12 famílias Potiguara, é fruto de umaretomada de terras, porém permanece improdutiva pordecisão judic ia l . Atualmente está sendo construídaum a sede para a ARIPPOC na Aldeia São José,retomada de terra localizada na periferia de Crateús.

Entre os Potyguara em Monsenhor Tabosa, foiatravés da luta por uma educ ação diferenciada queemergiu o processo de auto-afirm ação étnica .Iniciando-se na aldeia Mundo Novo, atingiu diversasfamílias. Prova concreta do nível de organização esolidariedade existente entre os índios em MonsenhorTabosa é a reivindicação pela dem arcação de umafaixa contínua de terras para as etnias locais. A união eo apoio mútuo são traços significativos dessascomunidades. Exemplo representativo disso encontra-

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se na construção, em mutirão, da Abanaroca espéciede casa do índio , que nasceu a partir da necessidade deum espaço que, além de servir de ponto de re ferência ,pudesse t ambém sediar reuniões , encontros e acolherparentes na sede do munic ípio . Outra experiênciabastante significativa é o que eles denominam de

sistema de trocas , que consiste na troca direta entreas comunidades de produtos feitos por eles próp r ios .

Cada aldeia possui uma ass ocia ção local queeles denominam de Conselhos ndígenas do PovoPotyguara. A art iculação destes conselhos se dáatravés de reuniõ es semanais nas aldeias, nu m sistemade rodízio, no qual a comunidade responsável pelaassembleia semanal deve garantir a al imentação detodos os membros das outras aldeias, como parteconstitutiva do chamado sistema de trocas .

Uma iniciativa pioneira destas comunidadesétnicas é a retomada, pesquisa e ensino do Tu pi. Essereencontro com sua lí ng ua ancestral ganha d imensõessignificativas, pois a partir dele se inicia um processode re)apr opria ção e decod ificação de várias palavrasoriundas do Tupi que ainda são presentes no

vocabulário de toda a comunidade. Um traço culturalque l iga as gerações contemporâneas a um passadocomum que permanece e atua como sinal diacritico dediferenciação e afirmação étnica.

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Tabajara

Munic íp ios : Cra teús , Monsenhor Tabosa, Poranga,QuiterianópoUs e TamborilComunidades: 1) Poranga: Imburana e Cajueiro; 2)Crateús : Terra Prometida, Vila Vitória, Nova Terra,Terra Livre, Altamira, Planahina e Nazár io ; 3)QuiterianópoUs: Fidélis , Vila Nova, Croata e VilaAlegre; 4) Monsenhor Tabosa: Olho D á g u a dos

Canutos; 5) Tamboril: Grota Verde.Famí l i as : 550Situação da Terra Indígena TI ) : TI com estudospreliminares feitos pela F U N A I .

Se vivemos hoje ria cidade a culpa nã o é nossa. Foi aúnica opção que tivemos em nossas vidas

Francisca Lira liderança Tabajara de Fidélis)

Os Tabajara possuem uma h i s tó r i a desucessivas migrações , devido a constantes conflitos deterras. T êm como lugar de forte influência espiritual a

furna dos caboclos, localizada na serra de MonteNebo, em Cra teús . Nesta localidade encontram-seregistros da ancestralidade indígena, tais comopinturas rupestres e artefatos a r q u e o l ó g i c o s :cachimbos de barro, pi lões de pedra, dentre outros.Segundo relatos orais, no século XI X houve umgrande massacre de índios naquele local, decorrentede um conflito com fazendeiros.

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Os Tabajara que v ivem em Cra teús sãoprovenientes das serras vizinhas, principalmente aserra da Ibiapaba, e tiveram que migrar para a periferiada cidade, foragidos da opressão exercida pelosfazendeiros que invadiram suas terras. Dividem-se emsete comunidades. Recentemente, um grupo de 15quinze) famílias dos Lira, migrou para a cidade de

Q u i t e r i a n ó p o l i s , onde encontraram melhorescondições para viver, de acordo com seus costumesindígenas . Ficaram conhecidos como os Tabajara de

Fidélis . Nesta mesma cidade encontram-se mais 3(três) comunidades Tabajara: Vila Nova, Croata e V ilaAlegre, todas na área rural.

Em fevereiro de 2004. os Tabajara de Crateúsconseguiram, através de sua luta. retomar cerca de6.000 hectares de sua terras que ficam na serra daIbiapaba. O local é chamado de Nazár io e lá estãoresidindo cerca de 10 famílias, entre Tabajara eKalabaça , enquanto aguardam a de l imi tação edemarcação da terra.

Em Monsenhor Tabosa se encontra a

comunidade Tabajara de Olho d água de Canutos, h á 4k m desta cidade. São 13 famílias residindo na região.Em 1973 a família Canuto, liderada por Seu JoséCanuto, comprou 74 hectares de terras onde antesviviam como moradores. Organizam-se através daAssociação Unidos Venceremos do Povo Tabajara deOlho D á g u a de Canutos, que se reúne no salãocomuni tár io da Escola Indígena da comunidade. Em

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Tamboril existe a comunidade Tabajara em GrotaVerde, a 35 quilómetros da cidade. São 25 famílias quese organizam através de uma associação sob aliderança de Agno Tabajara. Atualmente, sofremconstantes ameaças por parte de fazendeiros, fato quetem limitado suas ações políticas.

Os Tabajara de Poranga residem na AldeiaImburana, que fica próxima à cidade e também naAldeia Cajueiro, distante 38 quilómetros de Imburana.

Esta aldeia, de 4.400 hectares, foi fruto de umaretomada, sendo hoje habitada por 9 famílias, entreTabajara e Kalabaça e igualmente aguardam aregularização da terra indígena.

Entre suas instituições, existem o ConselhoIndígena dos Povos Tabajara e Kalabaça de Poranga -CIPO, importante instrumento de organização e luta, aAssociação de Mulheres Indígenas Tabajara eKalabaça A M I T K ) e a Escola Diferenciada Indígena

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Tapeba

Município: CaucaiaComunidades: Água Suja, Bom Jesus, Capoeira,Capuan, Cigana, I també, Jandaiguaba, Jardim doAmor, Lagoa I Lagoa 11, La m eirã o, Mestre Antôn io,Ponte I , Ponte I I , Sobradinho, Trilo, Vila dosCacos, Vila Nova.População : 5.500 pessoasSituação da Terra Indígena TI ) : Terra Indígenadelimitada e identificada. Aguarda respostas àscontestações.

O povo Tapeba foi a primeira etnia indígena alevantar a aldeia no nosso Estado. Após anos

utilizando a estratégia do silenciamento étnico comoforma de se resguardarem de pe r segu ições ,estereótipos e preconceitos diversos, no início dadécada de 1980 eles decidiram, com o apoio daArquidiocese de Fortaleza, assumir uma nova formade resistência: afirmação de su identid de étnica

A o romper o silêncio, eles desafiaram não apenas osposseiros e políticos locais, que há anos invadiramsuas terras ancestrais, assim como a própria históriaoficial que afirmava não haver mais índios no Ceará.

R e s u l t a d o de u m p r o c e s s o ded e s t e r r i t o r i a l i z a ç ã o e d e s a g r e g a ç ã o culturalimplementado pelos colonizadores aos contingentesindígenas originários, os Tapeba descendem de outras

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quatro etnias (Tremembé , Potiguara Kari r i e Jucá)que foram reunidas no antigo aldeamento de NossaSenhora dos Prazeres atual munic íp io de Caucaia.

O topón imo Tapeba é oriundo da l íngua Tupi-Guarani e significa Pedra Chata em referência àexistência de uma grande e misteriosa pedra sagradalocalizada na lagoa de mesmo nome que guarda emsuas águas , encantos histórias e mitos.

Os Tapeba têm como principais atividades desubsistência o cultivo de milho, feijão, mandiocamacaxeira batata j e r imum, maxixe e quiabo.Coletam frutos de época como cajá, goiaba manga ecaju do qual se fabrica uma bebida sagrada utihzadaem rituais chamada mocororó. Também é comum acaça , a pesca e coleta de crustáceos como caranguejosiri, cié e o uruá. A partir de materiais retirados doambiente como o barro sementes madeira quengade coco tucum e palha de carnaúba, produzem umartesanato rico e variado: cocares adornos diversospanelas e artefatos.

O fortalecimento da art iculação e organização

interna das comunidades lhes garantiu significativasvitórias no campo da retomada de terras na saúde,educação, meio ambiente entre outros. Exemplosdessa luta podem ser observados na criação de escolasdiferenciadas e postos de saúde em quase todas ascomunidades; na retomada de territórios ancestraiscomo o Terreiro Sagrado dos Pau-Branco e maisrecentemente a Capoeira; na construção do CentroCultural Tapeba e do M emorial Cacique Perna de Pau.

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Entre as principais o r g a n i z a ç õ e s dascomunidades Tapeba citamos a Associação dasComunidades dos índios Tapeba de Caucaia-ACITAresponsável por conduzir a luta polí t ica e mobilizarinternamente as aldeias; a Associação dos ProfessoresIndígenas Tapeba - A P R O I N T e a AssociaçãoIndígena Tapeba de Cultura e Esporte - A I N TA C E .

Os Tapeba man têm um intenso ca lendár io deatividades durante o ano organizado a t ravés deparcerias entre suas diversas a s s o c i a ç õ e s e

comunidades. Já em janeir o iniciam- se asexper iências para saber se o inverno será bompreparando o solo para o início do plantio que se dáem fevereiro. Em abril, cornemoram a semana doíndio e a fundação da Escola índios Tapeba pioneirana educação diferenciada no Ceará . Em julho,acontecem os Jogos Indígenas Estaduais que reúnetodas as etnias e dá-se o início da extração da palha dacarnaúba. Em agosto é realizada a Feira Cultural doPovo Tapeba os Jogos Indígenas Tapeba e o ritual depurificação das c r ianças . Em setembro se inicia opreparo das terras para plantio e colheita da mandioca;ocorre a Festa da Ca rnaúba e o início da fabricação domocororó . Em 03 de outubro comemoram o dia doíndio Tapeba. Novembro é o mês da Assembleia Geraldos Povos Indígenas do Ceará e dezembro é o mês dacolheita da mandioca. E neste tempo em queacontecem com mais frequência as Farinhadascelebração coletiva e confraternização na aldeia emtomo do processo de feitura da farinha de mandioca.

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Segundo data de sesmaria doada a seusantepassados, suas terras teriam tamanho de 30 mi lhectares. Hoje, apesar de terem suas terrasidentificadas e delimitadas em uma área de 4.658hectares, em 1993, a dem arcação só se efetivou quatroanos depois. No entanto, a vitória definitiva ainda n ão Ifo i conquistada. A hom ologação e o registro cartorialdas terras, ú l t imas etapas do processo de regularizaçãofundiária não foram efetuadas. A comunidade aguardao fim das contestações judiciais e o remanejamento dapopulação não-indígena de suas terras.

Tr e m e m b é

Munic íp ios : Itarema, Acaraú e ItapipocaComunidades: 1 Itarema: A lmofa la - BarroVermelho, Lameirão, Panã, Praia, Gamboa da Lama,Mangue A l to , Aningas do Mulato, Cabeça do Boi ,Passagem Rasa, Curral do Peixe, Urubu e Boa Vista;

Varjota - Tapera, Batedeira, Praia do Caboré eCamondongo; Córrego João Pereira - São José,Capim Açu e Cajazeiras; 2 Acaraú: Telhas eQueimadas; 3) Itapipoca: São José e Burifi.População estimada: 4.820 pessoasFamí l i as : 690Situação das Terras Ind ígenas (Ti s): 1 CórregoJoão Pereira e Telhas: TI regularizada; 2) Almofala: T Idel imitada e identificada, com processo

administrativo suspenso pelo Ministério da Justiça,em 1996; 3 Queimadas, São José e Buri t i : TFs comestudos preliminares, através de grupo de trabalho daF U N A I , em 2003/2004.

Teve um (empo qu e ós para viver precisamos noscalar, e, hoje, nó s para viver precisamos falar

Tajé Luiz Caboclo

Os T r e m e m b é habitam atualmente osmunicípio de Itarema, Itapipoca e Acaraú, sendoAlmofala o seu distrito mais conhecido. Segundo oPajé Luiz Caboclo, o nome Tremembé vem dostremedáu , espécie de córrego de lama movediça ,

coberto por escassa água. O pajé afirma que aresistência dos Tremembé foram os Tremedáu e nos iconta que, quando eles eram perseguidos, eriiravamnesses tremedáu, e como sabiam afundar na lama,conseguiam sair cm outra localidade. Os soldados oucapangas que os perseguiam, porém, não possuindo a

mesma destreza, afundavam e morriam.Os Tremembé são excelentes artesãos: com a

palha fazem chapéus , bolsas, unjs e outros; e comconchas e búzios criam variados tipos de colares epulseiras. As mulheres fiam o algod ão e. em sistema demuti rão , em teares feitos pelos própr ios Tremembé,produzem redes, roupas, redes de pesca e outrosartigos necessários à comunidade. Pintam as paredesde suas casas com tintas feitas do toá - argila natural

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retirada do leito dos rios. Entre os temas sugeridosestão a representação do mangue, plantas como ocajueiro, bichos, paisagens e cenas da vida social c doecossistema. Em 2005 fo i inaugurado o Centro de A rteTremembé , que concentra gaipos de tecelagem,cerâmica , pintura e serigrafia, sendo este úh imoformado somente po r jovens.

Devido à açâo dos colonizadores, tiveram seuterritório restringido a 4 léguas em quadro. As terrasonde se localiza o povoado de A lmofala, entre os riosAracati M i r im eAraca t i -Açu , foram doadas através dcCarta Régia do Governo Por tuguês , datada de08/01/1697, que tinha como objetivo a fixação e aredução do território dos Tremembé.

O Livro de Registro de Terras d Freguesia dBarra do Acaracú. que abrange o período que vai de1855 a 1857, inclui 22 registros de títulos de ten-a paraíndios de Alm ofala, além do registro de um légoa deterra qu dr d para rezidenci e subsistência dosíndios da p o v o a ç ã o (18 de m a r ç o de 1857).Apresentada pelo Curador dos índios e mbricada pelo

vigário de Acaraú, essa documentação fundiária temvalor inestimável para os Tremembé , porque foi feitade acordo com as exigências da Lei de Terras (1850).São, portanto, inquestionáveis registros de terra,datados do s éc u lo X I X , ainda que seu território tenhasido mais uma vez reduzido.

Desde meados do s écu lo XIX e ao longo doséculo XX , os Tremembé foram tratados como

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•'caboclos , remanescentes ou descendentes deíndios pela população circundante. A diferenciaçãoétnica era re íevada ou minimizada, de acordo com assi tuações sociais e disputas locais. Mesmo assim, aolongo de todos estes anos, os Tremembé conservarama produção do m ocoro ró, bebida feita a partir do caju eutilizada em festas e rituais; e t ambém a sua dançaparticular, o Torém que lhes trouxe diferenciação enotoriedade social. Ao longo de seu processo deorganização e mo bil ização étnica, o Torém tem sido oseu pr incipal sinal diacritico e re ferência desingularidade.

Atualmente, os Tremembé de Almofala seorganizam politicamente através do CITA - ConselhoIndígena Tremembé de Almofala. Eles disputam naJustiça Federal a posse da terra que pertencia ao antigoaldeamento. Em 1992, o Estado brasileiro delimitouuma área de 4.900 hectares, que fo i invadida, em parte,po r posseiros e por empresas.

Os Tremembé do Córrego João Pereira,Queimadas, Camondongo, São José e Bur i t i , são

famílias originárias de Almofala. A s imação de todasestas comunidades, nos mun ic íp ios de Itarema,Acaraú e Itapipoca, é de enfrentamento com am eaças ,perseguições e invasões de suas terras especulaçãoimobi l i á r i a , monocultura do plantio do coco,empreendimento turíst ico, carcinicultura e outros).Como para os outros grupos indígenas do Ceará , omaior desafio para esses povos é a regularização desuas terras tradicionais.

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Tubiba Tapuia

M u n i c í p i o Monsenhor TabosaComunidade: Pau-Ferro.Famí l i as 30Situação da terra indígena foi reahzado estudo defundamentação , aguardando parecer (TJ . MundoNovoA^iração .

O movimento indígena em Monsenhor Tabosa

conta atualmv jnte com quatro etnias: os Potyguara, osGavião , os Tabajara e os Tubiba-Tapuia. Os Tubiba-Tapuia, junto aos Anacé , foram as duas etniasacolhidas mais recentemente pela Assembleia dosPovos Ind ígenas no Ceará , realizada na Serra doNazár io , munic ípio de Crateús , em novembro de 2006.

Mobilizados há cerca de quatro anos, oe t n ô n i m o c o n s t r u í d o durante o processo deorganização é tn ica deriva de um tipo de abelha,Tubiba comum na beira do riacho que passa àsmargens da aldeia de Pau-Ferro, local onde hoje

habitam e que afirmam ser a morada de onde seusancestrais foram expulsos po r posseiros invasores.

Segundo t radição oral, descendem de índiosrebeldes (segundo contam, tapuias ) que situavam-seentre a beira do riacho Tubiba e o lugar denominadoSerrinha, serrote acima da aldeia Pau-Ferro, onde iambuscar água e alimentos. A té hoje, a comunidade retiraágua pura e cristalina deste riacho. Na serra, existem

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espécies de locas, pequenas cavernas que trazemvestígios da presença humana no local, através depinturas rupestres e artefatos a rqueológicos , que sãoencontrados constantemente. Na descida da serraexistem círculos de pedras, onde, segundo os maisantigos, possivelmente estão enterradas ossadas,artefatos, ou mesmo são algum tipo de código deixadopelos seus antepassados, quando migraram em fuga dolugar, possivelmente para o Ma ranhão ou para a Serra-Grande (Ibiapaba).

Os Tubiba-Tapuia reconhecem sua origemnuma índi mateira que ficou para t rás. quando a tribomigrou. Apanhada por brancos nas matas, entre ascomunidades de Pau-Ferro e Longar, foi obrigada acasar-se com um deles, dando origem aos atuaismoradores de Pau-Ferro.

Ativos no movimento indígena e no interior daaldeia, as famílias Tubiba-Tapuia, embora nãopossuam ainda uma escola indígena, já tê m trabalhospedagóg icos diferenciados há pelo menos dois anos.Em entrevistas realizadas por educadores da emia comos idosos, estes se revelaram de extrema importânciana busca do conhecimento acerca do passado dacomunidade.

O processo de auto-afírmação, um dosprimeiros passos na organização étnica, já atinge amaior parte das famílias da comunidade. Amalmentecongregados na Associação Indígena Tubiba-Tapuiade Pau-Ferro, r eúnem-se mensalmente, na luta peloacesso e garantia dos direitos indígenas.

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7/21/2019 Povos Indígenas No Ceará - Organização, Memória e Luta (2007)

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Outras Re fe rênc ias

ucá

O nome Jucá refere-se a um grupo indígenalocalizado nos sertões dos Inhamuns (ao sul e leste deCrateús) no século X V I I I e que teria servido comojagunços para a família Feitosa nos conflitos destacom os Montes, que também se serviam de índios nassuas tropas .

Segundo as narrativas locais os Feitosapossuíam grande número de escravos negros sob seudomínio, decorrendo daí a grande presença negranessa região do Ceará. Ainda em termos históricosduas localidades merecem menção no passado daregião: Ameiroz e Cococi. Ameiroz foi povoação deíndios no final do século X V I I I , reunindo os Jucás àsmargens do Rio Jaguaribe, pouco acima de ondedesagua o riacho dos Jucás. Subindo por este últ imo ,fica a cidade fantasma de Cococi. Centro do poderdos Feitosas, foi elevada a município no começo do

século XX e se despovoou em virtude dos conflitosinter e intrafamiliares na década de 1960, sendoanexada a Parambu.

É justamente no município de Parambu e nasmargens do riacho Jucás que vem se organizando ogrupo indígena com esse nome. Apoiadas pelos índiose m issionários da região de Crateús, algumas famíliasafirmam serem do povo Jucá. Estas famílias

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romperam um véu de medo e silêncio que impera nolugar e reivindicam alguns lugares como marcos desua identidade: grutas, cavernas, olhos d água e asmargens do riacho Jucás. Não são muito assíduos nasmobilizações indígenas mais amplas, mas estiverampresentes em três eventos, desde 2003, sendo duasassembleias regionais dos índios de Crateús e umaaudiência pública no MPF em Fortaleza (08 desetembro de 2005).

Paupina

Notícias do jornal Povo datadas denovembío de 2001, fazem referência a um grupodenominado Potiguara da Paupina, ou simplesmentePaupina, que vive no bairro homónimo nos arredoresde Fortaleza. Paupina é a sede. de um antigoaldeamento missionário fundado ainda no séculoX V I I , para catequizar índios Potiguara e Jaguaribara,nas proximidades da Fortaleza de Nossa Senhora daAssunç ão. Com o passar dos séculos foi elevada à V ilade Messejana, recebendo duas datas de sesmarias doRei de Portugal; Estas sesmarias foram demarcadas eloteadas no s éc ulo X I X , dispersando a populaçãoindígena em pequenos lotes familiares, em meio àocupação dos não-indígen as. As notícias trazidas pelojornal Povo comentavam sobre a resistência de umconjunto de nove famílias do bairro, que esta\amameaçadas de expulsão de seus terrenos pela

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especulação imobiliária. Estas famílias vinham sendoacompanhadas pela M i s s ã o T r e m e m b é ereivindicavam o reconhecimento étnico e a garantia depermanecer no seu local de moradia tradicional.

up inambá

O povo Tupinambá vive nas periferias dacidade de Cra teús totalizando cerca de 20 unidadesfamiliares de acordo com dados da F U N A I em2006). Es tão concentrados na Terra Prometida, umadas ocupações indígenas da área urbana, e são filiadosao C I N C R A R juntamente com os Tabajara eKalabaça . Os Tup inambá são todos membros de umamesma famíl ia que tem no senhor SeverinoTupinambá hoje com mais de 111 anos, o seupatriarca. Seu Severino é originário da A m a z ó n i aafirma que foi raptado quando ainda criança de suaaldeia natal e que rodou pelo mundo, vindo se fixar emCrateús há muitos anos atrás quando constituiufamília e reconhecimento como curador. Sua trajetória

já foi motivo de reportagem na Revista I s toé N° 1575de 08 de dezembro de 1999.

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