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125 Trago as palavras do Professor Moacir Gadotti (2003, p.17) – titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire – que em seu livro Boniteza de um sonho – diz que ser professor hoje “é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade, não se podendo imaginar um futuro para a humanidade sem educadores.” Essa última tarefa, efetivamente, acaba fechando um ciclo de caminhadas que as Oficinas de Sensibilização permitiram a mim e às parceiras da jornada, vivenciar não só a “consciência” e a “sensibilidade” no ser e fazer do professor, mas buscar sentidos e encantamentos para mobilizar uma nova identidade docente, em um mundo globalizado, regido pelas incertezas, onde o importante é aprender a pensar, a pensar a realidade, buscando “pronunciar-se sobre essa realidade que deve ser não apenas pensada, mas transformada” (GADOTTI, 2003, p.53). As quatro tarefas, vivenciadas através das oficinas, puderam contribuir, efetivamente, para a ampliação da consciência, trazendo novas possibilidades para a atuação profissional? Pelos depoimentos, até agora registrados, percebo que novas descobertas do ser refletiram-se também no fazer... surgiram movimentos em busca de novas aprendizagens, libertando olhares viciados ou paralisados, permitindo o diálogo com o novo! Parte do processo de transformação do indivíduo, exige que seja assumida a natureza instintiva do humano e, esta, vinda por meio dos elementos simbólicos que ajudaram Psiquê a cumprir cada uma das tarefas representaram metáforas para o trabalho interior desta jornada. Durante este percurso, houve vários movimentos de idas, voltas, paradas e retomadas... muitas paisagens foram (re)vistas e trouxeram novas possibilidades para os caminhantes que desvelaram a maneira como habitam o mundo... sonhos, expectativas, desejos... tudo acompanhando todos... E quem forma o formador? O formador forma-se a si próprio, através de uma reflexão sobre os seus percursos pessoais e profissionais (auto-formação); o formador forma-se na relação com os outros, numa aprendizagem conjunta que faz apelo à consciência, aos sentimentos e às emoções (hetero-formação); o formador forma-se através das coisas (dos saberes, das técnicas, das culturas, das artes, das tecnologias) e da sua compreensão crítica (eco-formação) (NÓVOA, apud JOSSO, 2004, p.17).

PRÉ-TEXTUAIStede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2728/8/Lidia Lacava8.pdf · mobilizar uma nova identidade docente, em um mundo globalizado, regido pelas incertezas, onde o importante

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Trago as palavras do Professor Moacir Gadotti (2003, p.17) – titular da Faculdade de

Educação da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire – que em seu livro

– Boniteza de um sonho – diz que ser professor hoje “é viver intensamente o seu tempo com

consciência e sensibilidade, não se podendo imaginar um futuro para a humanidade sem

educadores.”

Essa última tarefa, efetivamente, acaba fechando um ciclo de caminhadas que as Oficinas de

Sensibilização permitiram a mim e às parceiras da jornada, vivenciar não só a “consciência” e

a “sensibilidade” no ser e fazer do professor, mas buscar sentidos e encantamentos para

mobilizar uma nova identidade docente, em um mundo globalizado, regido pelas incertezas,

onde o importante é aprender a pensar, a pensar a realidade, buscando “pronunciar-se sobre

essa realidade que deve ser não apenas pensada, mas transformada” (GADOTTI, 2003, p.53).

As quatro tarefas, vivenciadas através das oficinas, puderam contribuir, efetivamente, para a

ampliação da consciência, trazendo novas possibilidades para a atuação profissional? Pelos

depoimentos, até agora registrados, percebo que novas descobertas do ser refletiram-se

também no fazer... surgiram movimentos em busca de novas aprendizagens, libertando

olhares viciados ou paralisados, permitindo o diálogo com o novo!

Parte do processo de transformação do indivíduo, exige que seja assumida a natureza

instintiva do humano e, esta, vinda por meio dos elementos simbólicos que ajudaram Psiquê a

cumprir cada uma das tarefas representaram metáforas para o trabalho interior desta jornada.

Durante este percurso, houve vários movimentos de idas, voltas, paradas e retomadas... muitas

paisagens foram (re)vistas e trouxeram novas possibilidades para os caminhantes que

desvelaram a maneira como habitam o mundo... sonhos, expectativas, desejos... tudo

acompanhando todos... E quem forma o formador?

O formador forma-se a si próprio, através de uma reflexão sobre os seus percursos

pessoais e profissionais (auto-formação); o formador forma-se na relação com os

outros, numa aprendizagem conjunta que faz apelo à consciência, aos sentimentos e

às emoções (hetero-formação); o formador forma-se através das coisas (dos

saberes, das técnicas, das culturas, das artes, das tecnologias) e da sua compreensão

crítica (eco-formação) (NÓVOA, apud JOSSO, 2004, p.17).

126

A declaração acima corrobora outros pensamentos já apresentados durante esse percurso, em

que o maior objetivo foi trazer o valor do Mito e o lugar da Arte como elemento revelador de

um universo desconhecido, onde potencialidades emergem, transformando ações já

automatizadas e rígidas em novos contornos e movimentos.

� Cada encontro era uma conquista onde indiretamente, ou quem sabe diretamente, eu

consegui lidar melhor com algumas “dificuldades” minhas e isso foi muito importante

para mim. Participar dessa experiência foi algo muito rico e cada tarefa tinha uma

mensagem muito importante e fiel ao que vivemos diariamente. Tudo foi muito

importante e significativo. (Mônica)

� Olhar para o outro, olhar para si, refletir sobre sua vida e prática são tarefas árduas e

prazerosas. Para mim, a realização desses encontros foi como a junção de Eros e

Psiquê. Entregamos nossa alma, deixamos o amor brotar, florescer e padecemos para

encontrar caminhos diante dos tortuosos desafios impostos por Afrodite, que encaro

como a vida. Levo desses momentos, a vontade de crescer, abrir-me, partilhar e

observar e refletir sobre a prática docente, uma tarefa que também é cheia de vida, e

que, como tal, leva seus altos e baixos. (Paula)

Trilhas e passos durante a caminhada que nos levaram a novas paragens permeadas pelo Mito,

pela literatura e poesias que devem ser consideradas como escolas de vida, em seus múltiplos

sentidos e que nas palavras de Morin (2001, pp.48-51), significam:

• Escolas da qualidade poética da vida e, correlativamente, da emoção estética e do deslumbramento.

• Escolas da descoberta de si, em que o adolescente (será que só ele?!?!) pode reconhecer sua vida subjetiva na dos personagens de romances ou filmes. Pode descobrir a manifestação de suas aspirações, seus problemas, suas verdades.

• Escolas da complexidade humana, pois esse conhecimento faz parte do conhecimento da condição humana.

• Escolas de compreensão humana, pois através da literatura, da poesia e dos filmes percebemos os outros em todas as suas dimensões, subjetivas e objetivas e não somente em sua forma exterior.

Nesse momento, encerro as ambiências que foram criadas para a vivência do Mito, com a

poesia de uma professora, escrita no encerramento dos encontros... final dessa jornada!

127

RE-NASCE UM PROFESSOR

�esse mundo tão maluco, �asce um professor.

De corpo, alma e coração Razão e emoção.

�essa vida tão atribulada, Cheia de desequilíbrios e

Equilíbrios, Vivemos nessa corda-bamba.

Tentando construir um

Futuro melhor... Precisamos do outro Em nossas vidas.

Essa busca constante De reflexão e sabedoria O que não deixa de ser Um grande desafio, É o que nos alimenta.

�os ajuda a colocar

�a “balança” Um pouco de

Pensamento e sentimento, Intuição e percepção.

“É preciso saber viver”,

Ou melhor, É preciso aceitar o viver.

E ser feliz!

(Professora Tereza)

128

5.2 PASSEADO PELA PAISADepoimentos e partilha depois das oficinas

Palavras... sentimentos... que foram evocados e despertados durante os encontros...

sensibilidade... criatividade.

sensações nas professoras/viajantes... vivências pessoais e grupais que oportunizaram o

trabalho com as diferenças... com a complexidade!

Foto 34 – Trilhas/linhas que marcaram sentimentos... pensam

Através do encontro da personagem mítica com as personagens internas de cada professora,

as Oficinas de Sensibilização abriram um espaço de desafio, mas também de conquista... de

pensar criativamente o ser e estar no mundo, consigo mesma e com o(

fazer como docente... do ofício de ser

velar o que poderia amarrar, prender, sufocar qualquer possibilidade de criação, de

aprendizagem, de re-nova-ação!

PASSEADO PELA PAISAGEM... AS RESSOÂCIAS DA EDepoimentos e partilha depois das oficinas

“A consciência nasce quando interpretaobjeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há-de-vir.”

Palavras... sentimentos... que foram evocados e despertados durante os encontros...

sensibilidade... criatividade... que mobilizaram uma reflexão carregada de emoção, de

sensações nas professoras/viajantes... vivências pessoais e grupais que oportunizaram o

trabalho com as diferenças... com a complexidade!

rilhas/linhas que marcaram sentimentos... pensam

Através do encontro da personagem mítica com as personagens internas de cada professora,

as Oficinas de Sensibilização abriram um espaço de desafio, mas também de conquista... de

pensar criativamente o ser e estar no mundo, consigo mesma e com o(

fazer como docente... do ofício de ser professor(a)! Momentos ricos em que se procurou des

velar o que poderia amarrar, prender, sufocar qualquer possibilidade de criação, de

ação!

129

AS RESSOÂCIAS DA EXPERIÊCIA:

“A consciência nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos

Antonio Damásio

Palavras... sentimentos... que foram evocados e despertados durante os encontros...

.. que mobilizaram uma reflexão carregada de emoção, de

sensações nas professoras/viajantes... vivências pessoais e grupais que oportunizaram o

rilhas/linhas que marcaram sentimentos... pensamentos...

Através do encontro da personagem mítica com as personagens internas de cada professora,

as Oficinas de Sensibilização abriram um espaço de desafio, mas também de conquista... de

pensar criativamente o ser e estar no mundo, consigo mesma e com o(s) outro(s); do ser e

professor(a)! Momentos ricos em que se procurou des-

velar o que poderia amarrar, prender, sufocar qualquer possibilidade de criação, de

130

Foram momentos em que a partilha com o outro sobre as mesmas situações do cotidiano

escolar... sobre os mesmos sentimentos de alegria e medo / acerto e erro / expectativa e

ansiedade expressos por meio de variadas linguagens que serviram de suporte para a

linguagem verbal, tornaram-se extremamente ricos. A “expressão do pensamento

propriamente dito gerado pela motivação, isto é, pelos desejos e necessidades, interesses e

emoções” (VYGOTSKY, 1989, p.129) é uma experiência que amplia o exercício sobre a

reflexão da prática docente, como elemento mediador na constituição do sujeito como ser

humano e ser professor.

� Muitas coisas foram acrescentadas à minha prática com esses encontros... o que eu

estou sentindo é que desde a primeira oficina como o que a gente está sentindo em sala

de aula influencia o nosso dia... e que como essa busca pela tranqüilidade tem que

ser... digo... não tranqüilidade! Mas acho que por esse equilíbrio tem que ser diária e a

todo momento e tem que ser um objeto de atenção nosso, assim... porque quando a

gente entra com o coração um pouco agitado ou quando a gente se desequilibra em

algum momento, isso não é transmitido na fala, mas nas nossas ações, indiretamente

isso vai influenciando todo o nosso ambiente de trabalho... acho que foi isso que

mudou... acho que eu estou mais atenta a minha pessoa, ao meu eu... o que eu estou

sentindo, como eu tenho que trabalhar isso para buscar um equilíbrio... que a sala tem

que ser um ambiente de tranqüilidade para todos... (Karen)

Na fala dessa professora, percebem-se as categorias (subjetividade, afetividade) que vão se

manifestando, pensamento expresso através de palavras com uma conotação gestual de

assertividade que vai dialogando com todo o campo teórico da pesquisa, aspectos pessoais,

subjetivos que se mesclam ao profissional.

� Essa última tarefa foi muito significativa para mim... ao destampar a caixa e me ver

refletida naquele espelho... nossa [suspiro]!!! Percebi e senti a importância de EU estar

bem, para poder estar em sala de aula... de eu me cuidar... eu me preparar para poder

estar com meus alunos... nossa foi muito forte a experiência... não esperava que fosse

encontrar o espelho!!! (Sandra)

� Eu fiz uma relação da caixa da beleza imortal, com a beleza que deve sair de mim...

enquanto professora... como dizer... beleza que vem do gosto por aquilo que faço... do

131

prazer em estar com meus alunos...... beleza que vem... nossa! Por conta de tantas

coisas que essa profissão nos oferece... e até pelos momentos de insegurança... de

medo... de ansiedade como deu para perceber que não sou só eu que fico ansiosa...

várias outras colegas expressaram os mesmos sentimentos... rs...!!! (Kátia)

� ... porque eu estava me cobrando demais... eu saía daqui aflita pra burro... pensava...

genteee... e eu comecei a trocar com a Gabriela... foi muito rico... ela partilhava como

era na sala dela... nossa! Isso me ajudou muito!!! (voz embargada) Eu passei a me

entender nesse sentido, que eu não posso ficar batendo muito nisso... tenho que ficar

menos ansiosa! (Mônica)

Neste sentido, trago as reflexões de Madalena Freire (2008, p.80) que tão bem dialogam com

os depoimentos acima transcritos:

A causa dessa ansiedade é o choque entre o velho e o novo dentro de nós, que existe sempre e que nos impulsiona a crescer. Sem o velho não se constrói o novo. Jogar fora o velho, para ficar só com o novo, não é assumir o novo, é tentar resolver falsamente essa ansiedade. É fugir do processo de construção da mudança para apropriação do novo. Pois assumir o novo é assumir o novo significado, construindo, estruturando, uma opção onde um dia poderei constatar porque o velho não mais me instrumentaliza. Poderei romper, assim, com este e optar pela busca da construção do novo.

Para educar a paciência, nas muitas situações que a prática nos coloca, é necessário lidar com limites. Limites do outro, os nossos e os da realidade. Lidar com limites envolve trabalhar frustrações, perdas e raiva. Significa aprender a lidar com o desprazer, o sofrimento que o confronto com a realidade, com o outro, conosco mesmo, nos provoca [...] Ter paciência significa buscar, permanentemente, reconhecer, perceber, admitir esses limites para, sintonizando com eles produzir respostas, encaminhamentos adequados às situações na nossa prática.

As ressonâncias que a vivência da história do Mito provocaram, aliadas às expressões

artísticas tornaram-se fios/guias que abriram clareiras para a caminhada por essa paisagem!

Conteúdos repletos de subjetividade foram enlaçados por outros, não menos significativos,

nos quais o caráter objetivo e pontual da observação também se fez presente.

Nas Oficinas de Sensibilização, quando se busca exercitar a Pedagogia Simbólica,

apresentada por Byington (1996, p.319), os reflexos na Educação são significativos, pois

segundo ele:

132

Trata-se de formar educadores que, durante sua atividade diária, por sua maneira de trabalhar, sejam estudiosos da vida humana e da cultura e as elaborem criticamente com seus alunos. Esta formação profissional requer o desenvolvimento criativo de um professor-operário, ao mesmo tempo, sacerdote, cientista, artista e político que, distante das cátedras e palanques e dos altares, queira simplesmente se dedicar à curiosidade, à vitalidade e à intimidade dos seus alunos para juntos construírem, amorosamente, através de sua convivência, o exercício maravilhoso de saber ser.

Essa construção amorosa de que fala Byington, é o que caracteriza o Eros pedagógico, quando

efetivamente se instaura uma relação entre aquele que ensina e aquele que aprende movida

pelo prazer em busca do conhecimento, pelo prazer na troca de experiências e saberes. É o

encantamento e a sabedoria daquele que se coloca no papel de professor que deve despertar a

motivação, o encantamento e o prazer da descoberta daquele que aprende... aliança da

subjetividade com a objetividade... da emoção com a razão... de Eros com Psiquê integrados

na prática docente... um grande desafio para a Educação!

Quando estava preparando a bagagem para iniciar esta jornada e mapeava o caminho, as

trilhas foram se delineando, mas o que efetivamente poderia ser encontrado durante a

caminhada... seria arriscado determinar! Somente neste momento, depois de ter preparado

toda a ambiência para a passagem da história com seus personagens e de tê-la vivenciado

juntamente com as companheiras de jornada (“as psiquês”), seguida pela entrega de um

questionário semidirigido, é que começo a puxar fios que serviram de guia e que agora se

mostram, oferecendo possibilidades para uma análise mais profunda do conteúdo como

contribuição para a escolha da categoria subjetividade, embora outras, como afetividade,

mediação e ansiedade, também poderiam ser consideradas.

Foram fios que enlaçaram sensações, sentimentos, palavras, gestos que marcaram a jornada.

Devido à riqueza advinda dos depoimentos e das sensibilizações vividas, optou-se por focar

no aprofundamento da vertente subjetividade, mesmo porque a questão que motivou a

pesquisa situa-se na proposta de um trabalho em que se analisaria até que ponto a história do

Mito de Eros e Psiquê poderia servir de elemento mobilizador para se pensar o ser e fazer(-

se) professor. Da mesma maneira, os referenciais teóricos escolhidos direcionaram a análise

para esse caminho.

Quando se fala da análise dos depoimentos advindos das oficinas, importante a observação

(feita em meu diário de bordo), de todo envolvimento afetivo e emocional que as dinâmicas

133

mobilizaram: tom de voz, pausas, movimentos faciais, gestos, situações que enriqueceram e

demonstraram até que ponto o professor pôde ampliar sua ação-reflexão-ação por meio de um

fazer expressivo e relacioná-lo com suas experiências pessoais e profissionais (BARDIN,

1977).

Apoiada em Gaskell (2004), acresce-se a essa análise o valor dos depoimentos feitos durante a

partilha, caracterizando uma interação social muito rica e significativa, observando-se a

energia que é criada durante os depoimentos e a dinâmica que se instaura como grupo

(mudanças de opiniões, liderança, etc.).

Surgem mais alguns depoimentos:

� Devemos sempre estar aberto... a gente tem que estar sempre aberto para as

oportunidades... para as novidades de nossos alunos, ouvi-los [...] fiquei muito

contente com o que vivenciei, o que conheci... o trabalho com a expressão artística foi

uma grata surpresa! Revelador!... (Kátia)

� Pra mim foi muito importante a reflexão de não colocar as minhas expectativas nas

crianças... pra mim o ponto chave de todos os encontros, o que me pegou muito foi

isso... foi que eu tava vindo de um momento que eu queria que acontecesse uma coisa

e o que acontecia na realidade não era do jeito que eu esperava... então eu aprendi com

todas as vivências, todas as oficinas isso... assim... que depende de mim! (Mônica)

A maneira de cada professora se colocar perante o grupo também fez parte de minhas

observações que demonstraram como o trabalho nas Oficinas de Sensibilização, apoiado na

história do Mito escolhido, acrescentaram outra qualidade para a reflexão pessoal e sobre a

própria práxis. Josso complementa esse pensar ao afirmar que o “conhecimento de si-mesmo

inaugura a emergência de um si suficientemente consciente para orientar o futuro da sua

realização” (2004, p.163).

Corroborando esse argumento, mais depoimentos se apresentam:

� Falando tudo o que a gente viveu nesses nossos encontros, eu acho que pra mim o que

marcou e foi muito importante foi essa mudança pessoal e profissional porque aqui a

134

gente teve a oportunidade de ouvir depoimentos super ricos que muitas vezes a gente

tem aquilo fechado sobre a prática, algum princípio que já norteia tudo o que a gente

tem como ação pedagógica e ouvindo coisas ricas, outras maneiras, isso traz uma

reflexão, né, uma mudança! Então a cada encontro, a cada reflexão surgia assim... e

mexia muito comigo sobre o que eu estava conduzindo, tendo como prática até como

pessoa. É... até como pessoa as oficinas mexeram muito no meu intuitivo, na minha

intuição, no meu ser, na Laís. E as reflexões diante do Mito e das oficinas trouxeram

muita reflexão para o que eu trago na minha vida profissional, então foi muito

importante participar, até a Kátia trouxe uma fala que é bem como eu vim... quando

teve a primeira oficina... ah!!! fiquei inibida, mas eu vim aberta e eu acho que isso

fluiu... eu não gosto de me expor... eu sou muito assim quietinha, eu gosto assim de

observar... sabe, então eu acho que foi importante trabalhar isso, né?!... também estar

aberta para os desafios porque a nossa vida a cada dia é um desafio... a gente precisa

estar aberta para isso... para que as coisas aconteçam... [...]

Nessa última vivência... a arte tem a ver com isso, eu lembrei da minha caixa porque

no dia que eu pintei a minha caixa acho que eu na estava muito bem... rs... porque eu

colocava uma cor, colocava outra e aí chegou uma hora que eu pensei... “gente! Eu

não vou colocar mais nada!” eu virei para a Sandra e falei “vai ficar assim!!!” porque

se eu puder ficar até uma hora da tarde eu vou mudar essa caixa... então é bem assim...

é o ser humano... a gente está todo momento... mas a gente precisa buscar um

equilíbrio isso é muito importante a gente buscar esse equilíbrio para a gente poder

conduzir com calma e poder realizar tudo o que a gente fizer na nossa vida com

tranqüilidade para poder atingir nossos objetivos seja profissionalmente ou

pessoalmente... (Laís)

No depoimento de Laís notam-se as etapas do ETC, pois em contato com o material de arte (a

caixa, as tintas e pincéis), um contato sensório-motor (K/S), isto é, uma energia conduzida

pela ação e pelo movimento, o continuum do fazer a conduziu para outras etapas que lhe

abriram possibilidades para pensar o afetivo (P/A) e o simbólico (C/S) permeados pelo nível

da criatividade (Cr). Foram ações coordenadas pelo fazer artístico que abriram possibilidades

para mais reflexões sobre o seu modo de ser... sobre a importância de se buscar um equilíbrio

entre ação e intenção! Quantos desafios permeiam esses depoimentos!

135

Busco ressonâncias que espelham sensações... reflexões... sobre as tarefas que Psiquê teve que

enfrentar para poder se unir novamente com Eros só que agora, de um outro jeito, já com

plena consciência de como era seu marido, pois já poderia vê-lo em toda sua beleza e apossar-

se de seu papel como esposa! As tarefas realizadas foram os desafios que possibilitaram a

ampliação de sua consciência e, simbolicamente, representaram a integração da razão com a

emoção, da objetividade com a subjetividade. Psiquê sem Eros sente-se incompleta e daí vem

a necessidade de ir a busca do amado e este, sem Psiquê, também não se sente pleno!

Fazendo um paralelo com essas tarefas e aquelas que o professor exercita em sua prática

docente, apresento algumas configurações na trama que está sendo formada: “saber

discriminar” – “saber esperar” – “reter a essência” – “lidar com a transformação” são posturas

importantes para a prática docente, para a ampliação do ofício de ser professor.

E em quantos momentos de seu dia-a-dia o educador não se depara com situações

desafiadoras que apresentam as mesmas características dessas tarefas... a importância da

diferenciação do que cabe a ele e à instituição em termos de competências e funções. Saber

esperar o momento do outro, como quando seu aluno, que ainda não entendeu adequadamente

novos conteúdos que a ele são apresentados e, para tal, também precisa, nas palavras de

Madalena Freire (2008, p.81), “educar a paciência, nas muitas situações que a prática nos

coloca, é necessário lidar com limites. Limites do outro, os nossos e os da realidade” (2008,

p.81). Exercito a paciência também quando discrimino as cobranças, os pedidos e as respostas

para encaminhamentos adequados que o cotidiano pedagógico impõe como desafios ao

professor!

Ao buscar a essência, ela pode se manifestar de várias maneiras: essência do que é importante

em termos de aprendizagem para o aluno e de avaliação para o professor; essência quanto ao

olhar/avaliar o aluno não em termos de quantidade de conteúdo que foi apreendido, mas em

relação à qualidade, pois é ela que evidenciará uma aprendizagem com sentido; essência

significando, também, estar atento ao significado do desejo do outro, acompanhar seu ritmo e

tentar uma sintonia entre o ritmo do professor e do aluno. Como o olhar da águia, há

necessidade do professor ter um foco, um objetivo muito claro e preciso que norteará a ação

pedagógica, tornando-se, nas palavras de Gadotti (2003, p.53), um ”gestor, mediador do

conhecimento e não mero lecionador, pois importante é aprender a pensar, a pensar a

136

realidade e não pensar pensamentos já pensados.” Percebem-se as qualidades desse olhar que

deverá se manifestar pela atenção e pela espera que deverão ser direcionados para o aluno!

Entretanto, muitas vezes na busca dessa essência pode-se, tal como Psiquê ao recolher a água

do alto de um rochedo, sentir medo, insegurança e, em tais situações, não se pode paralisar a

ação, mas sim exercê-la com enfrentamento de quem sabe o que quer e por onde pretende

chegar. Estamos vivendo em um mundo de incertezas e deve-se buscar “conhecimentos

pertinentes que toquem na multidimensionalidade da sociedade e do ser humano que é ao

mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional.” (MORIN, 2000, p.38).

Finalizando o estudo sobre as tarefas e, dentro desta linha de reflexão, ao me propor vivenciá-

las em oficinas e de acordo com os depoimentos das professoras acima apresentados, abrem-

se novas possibilidades para outro modo de pensar a Educação, pois busca-se “reformar o

pensamento para poder repensar a reforma” (MORIN, 2008) É a partir do enfrentamento de

todas as dificuldades que surgem na prática docente que poderá instigar o professor a saber

lidar com a transformação!

Cabe, nesse momento, uma pergunta: qual seria o papel de Afrodite no Mito e como

relacioná-lo com a atividade docente? Por que ela impõe de uma maneira tão malvada e

acintosa as tarefas que levariam Psiquê à morte? Quem ela estaria representando? Partindo da

idéia de seu papel no Mito, e seguindo os passos de Neumann (1995, p.90), tem-se que:

Quanto às “armadilhas de Afrodite”, devemos nos lembrar de que esta Grande Mãe25 possui o aspecto que dá vida e que a mantém; no conflito entre Afrodite e Psiquê ela mostra apenas um dos seus lados, em contraposição às exigências do indivíduo e, nesse sentido, pode justamente ser proibida uma atitude compassiva da boa mãe individual [...]

Portanto, a meta secreta de Afrodite é fazer Psiquê “morrer”, fazendo-a regredir ao estágio Core-Perséfone, no qual vivia antes de encontrar-se com Eros.

Como se percebe, ela assume o papel da Grande Mãe em seu pólo negativo, pois ela quer

eliminar Psiquê e, para tal, obriga-a a realizar as quatro tarefas, não imaginando que a jovem

25 Grande Mãe, segundo o Dicionário Crítico de Análise Junguiana, é uma designação da IMAGEM geral, formada pela experiência cultural COLETIVA. Como uma imagem, ela revela uma plenitude arquetípica, mas também uma polaridade positivo-negativa. [...] O pólo positivo reúne qualidades tais como “solicitude e simpatia maternais [...] tudo aquilo que é benigno, tudo que acaricia e sustém, que propicia o crescimento e a fertilidade”. Em suma, a mãe boa. O pólo negativo sugere a mãe má: “tudo que é secreto, oculto, obscuro; o abismo, o mundo dos mortos, tudo que devora, seduz e envenena, que é aterrador e inevitável como o destino (SAMUEL et AL.,1988).

137

conseguiria se sair bem em todas elas! Essa personagem do Mito também chamou a atenção

de algumas professoras que assim se manifestaram:

� Adorei o mito e fiquei angustiada, pois fiquei refletindo muito sobre quantas vezes na

minha vida eu fui Afrodite para outras pessoas, sabe(?!?)... acho que todo mundo já foi

e teve momentos de impor tarefas impossíveis para outras pessoas... sem conseguir

olhar para o outro verdadeiramente...porque ser Afrodite não é só impor a tarefa, é

também não enxergar as questões... mas assim, quando eu comecei a participar dos

encontros eu estava com algumas questões tanto é que eu já até pedira para você,

sugestões de livros relacionados à indisciplina... eu estava com muitas questões na

minha vida, na minha prática e assim... eu fiquei muito te observando (Lídia), sua

postura como pessoa, sua fala tranqüila... sua... sua... até não fala... uma comunicação

gestual em alguns momentos de muita tranqüilidade [...] eu acho que comecei a pegar

um pouco disso pra minha vida mesmo... tentar até querer ter compromisso, de querer

que dê tudo certo... e de todas as minhas atitudes serem um pouco mais tranqüila... e

eu acho que já estou colhendo alguns frutos!!!... (Karen)

� Eu acho que poder me olhar (voz embargada), poder olhar para o outro e poder olhar

para minha prática através das reflexões da tarefa, foi algo que foi muito, muito, muito

rico... e também pensei assim... em que momentos eu deixo Eros entrar em minha

vida? Na minha prática? Na minha sala de aula? Em que momentos eu deixo Afrodite

e em que momentos eu deixo Psiquê... aí em relação ao mito que eu acho que está

representada na minha caixa... que é a questão da razão... e eu acho que a minha caixa

é bem isso, né... as formas geométricas... (até a Lídia comentou!) porque eu acho que

aos poucos estou pondo a Psiquê em minha vida... uau...!!! eu trouxe a Psiquê (ela

abre a caixa e mostra a flor de tecido...)... (sorrisos) ahhh!!!... E quero agradecer

porque foi muito importante... (Paula)

Por esses depoimentos percebe-se a força e riqueza que o Mito, juntamente com o trabalho em

Oficinas de Sensibilização, conseguem evocar, tornando visível o invisível, trazendo

contornos mais claros a sentimentos e sensações que habitam o mundo interno. E a presença

de Afrodite na história também traz reflexões... uma vez que representa a Grande Mãe e, no

caso a mãe má, aquela que devora, que não deixa o filho crescer e amadurecer indo em busca

de sua liberdade e realização. Traçando um paralelo com as questões da Educação, quem ela

138

poderia representar? Poderia estar vestida na pele de uma professora que não estimula seu

aluno buscando alavancar possibilidades e competências adormecidas, ou aquela outra

excessivamente exigente e enérgica para a qual nada está bom e correto, somente aquilo que

vem como resposta/repetição de suas próprias palavras, interpretações e análises! Momentos

de criatividade, de abrir possibilidades para um pensar de outra maneira jamais são

estimulados ou alimentados, uma vez que podem gerar insegurança de sua parte ao não saber

lidar com o novo, com os desafios, tornando-se uma mera repetidora das mesmas práticas que

adotara por seguidos anos, assentada em um comodismo que não condiz com a missão de ser

professora!

Mas... também poderia assumir o papel da própria instituição! Sim, uma instituição

castradora, que não permite que seus professores cresçam, impondo limites e regras de

maneira austera e sistematizada, obrigando todos os que nela trabalham (coordenadores,

professores, funcionários e alunos) a seguirem rigidamente as normas por ela instituídas, sem

poderem se posicionar de maneira crítica ou questionadora. Nessas instituições o exercício do

matriarcado negativo e castrador, acaba inibindo o desenvolvimento coeso de todos os

profissionais que nelas trabalham, não permitindo que o professor expanda sua consciência no

sentido de analisar como seu trabalho se manifesta, que direções pode tomar e em que bases

se sustenta sua profissão.

Como se percebe, são muitos os veios que a história nos permite seguir e é com toda essa

riqueza que trago mais depoimentos:

� Sabe, quando era menina eu sempre dizia que seria médica!...a vida inteira eu queria

ser médica... médica e pronto! Aí quando estava no segundo ano do ensino médio você

cai naquela... “eu não vou conseguir! Não vou! Como vou passar em uma

universidade pública?! Não teria a menor condição de pagar uma universidade

particular de medicina, não teria condição nenhuma, né?! Até porque como eu iria

trabalhar para ajudar meu pai porque é período integral, então isso começou a ficar

totalmente fora de cogitação e aí eu entrei em conflito... o que eu vou fazer na minha

vida?!?! Depois de muitas andanças e questionamentos e do contato com algumas

amigas que estavam na Pedagogia, aí comecei a pensar: “Poxa vida! Por que eu nunca

pensei em ser professora, se foi a brincadeira que eu mais brinquei na minha vida?!... o

que eu mais fiz foi brincar de escolinha... não posso negar pois todas as minha

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brincadeiras de boneca eram de escolinha! Era uma paixão, eu adorava brincar disso e

por que eu não pensei nisso?! Aí eu comecei a pensar e a pensar, também, que talvez a

Pedagogia tivesse uma relação com a Medicina!!!! Que seria essa questão do cuidado,

do contato com a pessoa, né? Da importância que você vai ter na vida daquela pessoa,

e aquela pessoa na sua vida! Então isso foi o que fez a diferença para mim, porque aí

eu falei NÃO!!! É isso... aí entrei na faculdade de Pedagogia... (Kátia)

� Estamos falando de uma coisa que é muito séria... que é a situação da escola pública!

Embora possamos encontrar professores excelentes, preparadíssimos e competentes

em seus cargos efetivos, também encontramos outro que lá estão esperando

passivamente chegar o dia da aposentadoria... isso é muito grave!!!! E como ficam os

alunos que têm como professores os exemplos desses últimos?! Como fica a

motivação, o interesse pela aprendizagem se a postura do professor não os leva para

isso? E vou ainda mais... como está a organização da escola pública?... que são as

pessoas que estão entrando nessa escola? Tem a ver com a profissão, também... e os

cursos de Pedagogia? Como estão as faculdades? As pessoas têm consciência que não

é só uma profissão, que não é só ter vocação e conhecimento, mas também ter

consciência? Eu acho que os problemas aqui... ai gente... é uma coisa que me toca

mesmo!!! Depois que eu li, por exemplo, que eu li Paulo Freire pela primeira vez, li o

livro inteiro A EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE, eu falei: “Gente!!!

Nós temos que fazer alguma coisa... não só por mim... não só por onde tenho alcance...

mas além, sabe!... porque me preocupa muito essa reprodução da ignorância, essa

reprodução do não sei nada, da miséria... é importante ter pessoas ignorantes...!!!! aí

eu também penso que a questão está para além disso... acho que a questão é maior...

acho que muito maior que a minha vã individualidade alcance... mas acho que é

passível de estudo, passível de pesquisa de gente pensando e acho que se deve tentar

mudar as coisas [...] porque é uma questão de formação... ela não teve a oportunidade

de outra formação... e essa busca pela formação, pela contínua capacitação é muito

importante... trazer a reflexão da prática é fundamental!... (Erika)

� Sabe, eu alfabetizei quatro faxineiros do prédio... “vou começar a chorar...” eu fiquei

tocada com isso...mas como uma pessoa não pôde ter oportunidade?! Porque eu...

realmente eu estudava em um dos melhores colégios... (voz embargada) e para mim

foi uma experiência marcante ter ensinado essas pessoas...e para eles também foi, né?

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Tanto que meu pai falava: “Nossa! Mas que tanto você vai lá embaixo com os

faxineiros?!” eu dizia:”Pai! Você não sabeee!!! Estou ensinando todo mundo a ler e

escrever!!! E quando eles começaram eu pensei - “nossaaa!!!” Eu era uma criança

fazendo isso, não tinha todo esse estudo... Acho que essa experiência foi decisiva na

carreira que queria seguir... depois eu comecei a pensar nessa história de

professorinha, professorinha... professorinha, ta bom!!! Não quero ser uma

professorinha, quero ser uma professorona!!! Eu acho que é uma profissão muito

humana, eu me orgulho muito de ser professora e me orgulho muito mais quando meu

pai falava para um amigo: “Ah! minha filha faz Pedagogia na Usp, trabalha já em um

colégio, enfim...” E o colega dizia:”Ah! mas é professorinha?!” Meu pai dizia:”Não!!!

Ela é professora e pedagoga da Usp!” Ficava todo cheio de orgulho falando... (Eliane)

� Puxa! Eu estou pensando como o Mito, as oficinas, tudo isso permitiu tantas

reflexões... o olhar de águia... a sensibilidade para chegar até a essência... o papel do

professor é isso... é ser sensível ao outro!!! Em todas as tarefas a gente percebeu

algum elemento fundamental para que a Psiquê cumprisse as tarefas... a gente sem o

outro não é nada!!!... e nesse cotidiano corrido, a gente nem sempre tem esse olhar...

por conta do tempo, do conteúdo que precisa dar... a gente precisa parar um pouco

para dentro de si, né... é difícil, às vezes, mas eu acho que é de fundamental

importância... (Tereza)

Pelos depoimentos acima apresentados, percebi a riqueza que uma história, escolhida com

uma determinada intenção, como foi o caso da escolha do Mito de Eros e Psiquê, é capaz de

desencadear reflexões profundas sobre o ser e o fazer do professor! As professoras que

fizeram parte dessa jornada são extremamente compromissadas com a profissão...

questionadoras de um “fazer educação” com envolvimento e responsabilidade! Isto é

fundamental para que a docência adquira contornos mais humanos, mas não menos

competentes e desencadeadores de uma nova consciência crítica, atuante e transformadora.

“Há uma instância interna que faz parte do ser humano que somos e que não pode mais se

permitir fazer apenas parte do que precisa ser feito, mas que deseja fazer o certo, o que

preenche realmente objetivos conscientes e alinha-se com eles” (ALESSANDRINI, in

PERRENOUD, 2002, p.162), palavras que vêm corroborar o pensamento e a postura das

professoras que acompanharam todo o trabalho de pesquisa. Efetivamente, chegou o momento

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de tentarmos desenvolver dentro de cada um de nós, no ofício de ser professor e formador,

uma nova qualidade de consciência que será a mediadora entre nossas crenças internas e a

realidade na qual se está inserida. Atualmente, exige-se muito desse papel, pois além da

formação pessoal, há necessidade de se estabelecer critérios para uma prática que invista na

qualidade do trabalho, no exercício da observação crítica e construtiva, na intervenção precisa

para atingir a diversidade da sala de aula, a eterna busca por novas aprendizagens que

certamente irão enriquecer o ser do professor, refletindo em seu fazer... enfim, são

ferramentas de que o professor deverá deixar sempre afiadas para usá-las em seu cotidiano

escolar.

E... foi com os “olhos virados” que me percebi em muitos momentos dessas andanças, desde

o início da pesquisa até o momento da realização das oficinas, fazendo movimentos de idas e

vindas... ação-reflexão permeadas por palavras, sentimentos e cores... pensando na variedade

de possibilidades que esse Mito trouxe para pensar o papel do professor, da Instituição, da

família, dos alunos.

Neste momento, busco apanhar as linhas/guias que serviram de trilhas para a jornada e, entre

elas, escolho aquela que acabou sendo a referência maior para essas considerações – a

subjetividade. Dou a ela a cor amarela e trago, agora, a imagem reconfigurada e a coloco

sobreposta a todas as outras fitas/trilhas... pois seu percurso continua...

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Linhas e fitas que, simbolicamente, serviram de guia para o término desse momento da

jornada, ligando caminhos... favorecendo diálogos... desvelando e guiando sonhos,

expectativas, desejos e alguns medos também!...

Linhas e fios... coloridos porque cada um de nós tem a sua cor... a sua individualidade...

Linhas... que levam a direções que não se sabe aonde chegarão... simplesmente se começa...

com coragem, determinação e criatividade!...

Fios... que bordam, enlaçam, enrolam e se soltam, sem sufocar, mas por onde passam, deixam

sua marca... sua cor... sua presença...

Linhas... que delineiam o eu... o outro...

Fios de vida... que se inserem no mundo!...