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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA GEOGRAFIA: METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ESTUDO DA POPULAÇÃO

Maria P. Fávaro Zancanaro∗

Cleverson Alexsander Reolon∗

RESUMOO presente artigo apresenta os resultados do Projeto de Intervenção Pedagógica

desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),

aplicado aos alunos do ensino médio da rede pública de ensino do Estado do

Paraná. Para trabalhar o tema Práticas Pedagógicas no Estudo da População em

Geografia, propôs-se a utilização de imagens, vídeos, textos, músicas, mapas,

dramatizações e pirâmides etárias. Um questionário investigativo orientou a

adaptação dos conteúdos trabalhados no âmbito do estudo da dinâmica

populacional ao perfil dos alunos. Os resultados dessa proposta pedagógica foram

bastante positivos. Em geral, notou-se maior interesse pela geografia à medida que

outros recursos didáticos passaram a complementar o uso do livro didático.

PALAVRAS-CHAVE: ensino de geografia; práticas pedagógicas; recursos didáticos.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta os resultados do Projeto de Intervenção

Pedagógica desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE)1, aplicado aos alunos do ensino médio da rede pública de ensino do Estado

do Paraná. O eixo temático selecionado para o desenvolvimento do referido projeto

foi o estudo da população em Geografia.

Professora da Rede Estadual de Educação no Núcleo Regional de Educação de Toledo. Endereço eletrônico: [email protected].∗ Doutor em Geografia pela Unesp – Univ Estadual Paulista, câmpus de Presidente Prudente. Professor da Unioeste – Univ Estadual do Oeste do Paraná, câmpus de Marechal Cândido Rondon.1 O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) consiste um programa de formação continuada dos professores da rede pública de ensino do Governo do Estado do Paraná, desenvolvido em parceria com as instituições de ensino superior estaduais.

Estudar a transformação demográfica e a distribuição espacial da

população proporciona uma melhor compreensão do mundo, o estabelecimento de

relações entre o espaço local, regional e global, a descoberta de outras culturas,

modos de produção e diversidades da natureza (PARANÁ, 2008).

Conforme Mormul e Rocha (2012), durante muito tempo, o estudo do

espaço respaldou-se na análise de como se comportavam os indicadores

demográficos. Os números traziam respostas acerca da realidade socioeconômica

de determinado lugar, região ou país. Todavia, deve-se ter em mente que estudar a

população em sala de aula consiste analisar a sociedade em seu contexto histórico,

os conflitos e as suas divisões de classe, processos que os números nem sempre

estão aptos a captar. Nesse sentido, além das estatísticas tradicionais, é necessário

que a diversidade dos modos de vida e de produção do globo sejam evidenciados,

pois só assim a população deixará de ser algo quantitativo e abstrato, conforme

salientam Rua, Waszkiavicius e Tannuri (2005). Mas trata-se, em realidade, de um

processo nada simples, que demanda muito empenho do professor e participação

dos alunos, que devem se sentir estimulados à reflexão com base em suas próprias

realidades.

Ao menos que se refere ao estudo da população, as Diretrizes

Curriculares da Educação Básica de Geografia do Estado do Paraná parecem estar

adequadas no sentido de estimular os professores à construção do conhecimento

com base nas realidades locais, ao considerar ser “fundamental compreender,

através da educação, como se apresentam as mudanças demográficas, em

diferentes realidades sociais, visando, preferencialmente, a realidade em que o

aluno está inserido" (PARANÁ, 2008, p. 68). Todavia, o desenvolvimento desse

conteúdo em sala de aula, assim como de todos os demais conteúdos da Geografia,

esbarra em limitações didático-metodológicas.

Entende-se ser necessário trabalhar diversas metodologias que

estimulem o raciocínio, a reflexão crítica, de modo que o aluno se torne sujeito do

processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, para o desenvolvimento do

Projeto de Implementação Pedagógica2, na disciplina de Geografia, optou-se em

trabalhar com estudo da população3 enfocando-se as formas de abordagens desses

conteúdos em sala de aula, propriamente no que respeita à metodologia de ensino, 2 Constitui uma das atividades do eixo de integração teórico-prática do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), contemplando a proposta de Produção Didático-Pedagógica utilizada no momento da implementação do projeto na escola.

2

o que, necessariamente, choca-se com o enfático uso que se faz do livro didático

atualmente.

Sabe-se que a referência do universo do professor não pode ser esgotada

no uso restrito do livro didático. Como são reproduzidos em séries, consistem uma

mercadoria, não levando em conta as diversidades regionais, de modo que, em seus

conteúdos, nota-se uma ausência de percepção da sociedade local, vivenciada

cotidianamente pelo aluno, e do papel da escola. Neste sentido, o ideal é que o

professor proponha um trabalho pedagógico que auxilie o desenvolvimento de

atividades críticas e participativas, com elaboração de textos e materiais didáticos

apropriados à realidade de seus alunos.

Entende-se que adequando-se os conteúdos programáticos à

metodologia da geografia vivenciada pelos alunos, a relação professor-aluno pode

se tornar mais atrativa, devido à significação dos conteúdos trabalhados em sala.

2 O LIVRO DIDÁTICO EM SALA DE AULA

Para prover as escolas públicas, o Governo Federal executa o Programa

Nacional do Livro Didático (BRASIL, 2012). É o mais antigo dos programas voltados

à distribuição de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira,

tendo se iniciado em 1929. Ao longo desses anos, o programa foi aperfeiçoado e

teve diferentes nomes e formas de execução. Direcionado à aquisição e à

distribuição integral de livros aos alunos da rede pública de ensino, atualmente o

PNLD é voltado à Educação Básica, tendo como única exceção os alunos da

Educação Infantil.

Burocraticamente, o processo seleção dos livros didáticos

disponibilizados no âmbito do PNLD tem início com a publicação de um edital, por

meio do qual as editoras inscrevem suas obras didáticas para análise pedagógica,

realizada por universidades públicas federais, sob a coordenação da Secretaria de

Educação Básica, vinculada ao Ministério da Educação. As obras didáticas

aprovadas na avaliação são apresentadas no Guia de Livros Didáticos, por meio de

resenhas, que informam aos professores da rede pública de ensino as

características pedagógicas de cada obra, seus pontos fortes e suas limitações, para

3 Buscaram-se propostas de atividades para trabalhar os seguintes conteúdos: introdução aos estudos da população, teorias e políticas demográficas, evolução da população mundial.

3

subsidiar suas escolhas. Finalmente, a formalização do pedido da escolha dos livros

didáticos – utilizados por até três anos consecutivos – é feita via internet, com senha

previamente enviada às escolas (BRASIL, 2012).

Muitas vezes, contudo, as escolhas desses livros são feitas sem leituras

criteriosas e, portanto, sem que se tenha conhecimento abrangente da obras,

resultando que, ao longo do ano letivo, o livro didático acabe se tornando um

material estranho ao professor. Apesar destes problemas, este tornou-se o principal

– e por vezes único – recurso didático utilizado em sala, conforme assevera Freitag

et al. (1997, p. 128):

A realidade da maioria das escolas mostra que o livro didático tem sido praticamente o único instrumento de apoio do professor e que se constitui numa importante fonte de estudo e pesquisa para os estudantes.

Assumindo a mesma perspectiva de Freitag (1997), Castrogiovanni e

Goulart (2003, p. 132) mencionam que “o livro didático, frente às atuais condições de

trabalho do professor de geografia, torna-se cada vez mais um instrumento

necessário para atividades didático-pedagógicas”.

O fato é que o livro didático, em muitos casos, mais que um recurso

didático, é o único livro com o qual o aluno tem contato, tornando-se de fundamental

importância para sua formação. Além disso, é um dos instrumentos de

aprendizagem mais utilizados e, em muitos casos, o único utilizado em sala de aula

no ensino fundamental.

Diante tal quadro, faz-se necessário que professores estejam preparados

para escolher adequadamente o livro didático a ser utilizado. Mas longe de ser uma

única referência de acesso ao conteúdo disciplinar da escola, este recurso não

poderia ser o único instrumento e nem o definidor dos conteúdos trabalhados em

sala. Segundo Vesentini (1994, p. 167), “o professor deve adotar o livro didático não

como definidor de todas as suas aulas e de seus objetivos e proposta de ensino. O

bom professor deve ver nele tão somente um apoio ou complemento para a relação

ensino-aprendizagem".

Não obstante, para tanto o professor deve estar em constante busca de

instrumentos e recursos que venham a enriquecer suas aulas, tendo em mente,

conforme Pontuschka (2009, p. 343), que além de não ter a linguagem atraente da

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televisão ou dos conteúdos audiovisuais da internet, o livro didático “pode não

contribuir para produção de um conhecimento que ajude o aluno a enriquecer sua

visão de mundo”, chamando-se atenção, em particular, à aproximação dos

conteúdos aos sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, os próprios

alunos.

Seja qual for a disciplina, os livros não são ideologicamente neutros, já

que os conteúdos que transmitem estão repletos de valores, crenças, enfim, refletem

uma visão de mundo dos autores que o produzem. Deve-se levar em conta, de

acordo Pontuschka (2009, p. 344), que, pelo fato de o Brasil ser um país de grande

extensão territorial, constituído “por realidades e culturas muito diferentes, os

conteúdos do livro didático não têm condições de abarcar todas as regiões

brasileiras”. Nesse sentido, a autora pontua outros recursos que poderiam ser

utilizados como forma aproximar os conteúdos trabalhados em sala de aula à

realidade vivenciada pelos alunos, como poemas, músicas, além de outras

produções culturais literárias, por considerar serem “construídos com base no

conhecimento e na reflexão sobre realidades locais ou regionais” (PONTUSCHKA,

2009, p. 341).

3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM GEOGRAFIA

É necessário que se analise melhor a falta de interesse dos alunos em

aprender. Percebe-se ausência de atenção, além de agitação no momento em que o

professor realiza a exposição teórica dos conteúdos. Segundo Bastos (2011, p. 45),

essa seria uma questão relacionada aos recursos didáticos utilizados em sala:

[...] o professor acha-se cada vez mais incapacitado para satisfazer as legítimas curiosidades dos seus alunos. Surge então a importância de recursos didáticos que prendam a atenção dos educandos, deixando a aula dinâmica e participativa, para que eles se interessem pelo assunto trabalhado e o auxiliem nas suas curiosidades (BASTOS, 2011, p. 45).

Longe de se achar que o simples fato de substituir a exposição oral ou o

uso do livro por outros recursos consista a solução dos referidos problemas

vivenciados no processo de ensino-aprendizagem, entende-se ser um prática

necessária. Todavia, salienta-se que os recursos didáticos eventualmente

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selecionados pelo professor não prescindem de uma boa adequação dos conteúdos

contemplados à realidade dos estudantes. Portanto, para estimular a motivação pelo

aprendizado é necessário que os conteúdos trabalhados em sala de aula tenham

sentido e significado aos alunos, facilitando a assimilação dos conceitos abordados.

Não existem mais espaços para aulas centradas apenas no uso da lousa

e do livro didático. Salienta-se que, mesmo não dispondo de recursos didáticos

inovadores, o professor pode dinamizar a aula organizando grupos de trabalhos,

fóruns, painéis, dramatizações, trabalhos com músicas e outras atividades simples,

que, relacionadas ao dia a dia dos alunos, sem dúvida conformam práticas

pedagógicas que tornam o ensino mais atraente.

3.1 O USO DE IMAGENS NO ENSINO DE GEOGRAFIA

As novas tecnologias existentes colocam cada vez mais em questão a

importância da imagem como recurso para o ensino. De modo geral, a escola vem

sendo cada vez mais convocada a fazer uso da imagem, uma vez que a televisão, o

cinema e o computador têm desempenhado um papel cada vez mais importante na

formação cultural das pessoas. Segundo Pontuschka (2009, p. 278), “as imagens

estão a invadir nossas casas, os painéis e outdoors, acompanhando-nos onde quer

que estejamos”.

O uso de imagens não animadas, em particular, como fotografias,

pôsteres, cartões postais, outdoors, dentre outros, de acordo com as Diretrizes

Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008), podem

auxiliar o trabalho de formação de conceitos geográficos. Todavia, notadamente

quanto ao ensino de geografia, algo que precisa ser superado é o fato de a imagem

geralmente ser empregada como mera ilustração, isto é, nas palavras de

Pontuschka (2009, p. 278), "não são utilizadas como complementação de textos ou

recursos de onde é possível extrair informações e promover a articulação com o

conteúdo da escrita".

3.2 O TRABALHO COM VÍDEOS

O cinema ainda não é considerado, no âmbito da educação, como fonte

de conhecimento – existe uma certa dificuldade de reconhecê-lo enquanto tal. De

6

fato, sabe-se que assistir filmes, em si, não configura atividade de aprendizagem,

mas acredita-se haver muito potencial pedagógico neste recurso, concordando-se

com Puerta e Nishida (2007, p. 126), para quem o filme "pode ser um recurso

motivador para desenvolver conceitos, valores ou habilidades de análise e

coordenação de pontos de vista”.

Para um bom proveito, no entanto, o professor precisa fazer uma boa

seleção dos vídeos mais adequados aos conteúdos trabalhados em sala. Mas

mesmo diante de uma boa escolha, não é raro o estranhamento dos estudantes

diante desse tipo de atividade. Nesse sentido, de modo a evitar uma

descontinuidade na abordagem dos conteúdos, é recomendável que os objetivos da

utilização do vídeo sejam previamente definidos e esclarecidos antes assim como

reforçados após sua exibição.

3.3 A MÚSICA

Trabalhar com música na sala de aula não deve visar simplesmente

tornar as aulas mais animadas. Segundo Vieira e Sá (2007, p. 107), “a música pode

ser um complemento auxiliar das atividades desenvolvidas para interação com

alunos nos trabalhos de ensinar e aprender Geografia”. Portanto, tendo em vista a

dimensão espacial, questões sociais, culturais, econômicas, políticas e ambientais, e

até mesmo a diversidade da natureza, podem ser perfeitamente exploradas com

auxílio da música, bastando que as letras sejam adequadas para tanto.

3.4 O USO DE MAPAS

Segundo Castrogiovanni (2003, p. 166), tecnicamente, o mapa consiste

[...] um auxiliar didático que possibilita mecanismos de percepção visual e processos mentais que inter-relacionam o entendimento e a memória. Consubstanciam um conjunto de signos e cores que traduzem a mensagem que seu autor deseja transmitir.

Em sala de aula, mapas não devem figurar apenas como instrumentos de

localização, seja de acidentes geográficos, seja dos rios, das capitais estaduais, ou

de quaisquer outros elementos geográficos, mas apresentados de modo provocativo

7

à interpretação e análise crítica da realidade. Em outras palavras, além da

assimilação e domínio da linguagem cartográfica, os mapas ajudam a refletir sobre

os processos sociais. Portanto, como instrumento pedagógico, deveriam ter

presença obrigatória nas aulas de geografia.

3.5 A DRAMATIZAÇÃO

A dramatização é uma prática educacional que exige do aluno a

representação de um fato em estudo, caracterizando-se por uma encenação teatral

simples, o que facilita sua aplicação em sala de aula. Alerta-se, no entanto,

conforme Torres (2012, p. 40), ao fato de que

o objetivo não é ensinar teatro ou apenas apresentar uma peça e, sim, utilizar a dramatização para criar maior envolvimento com os alunos em relação ao ensino de Geografia. Quando os alunos participam da peça, como atores ou contando suas experiências de vida para a formulação da história, abre-se a possibilidade de desenvolver a percepção de que eles são sujeitos integrantes de um processo social.

Sendo assim, o uso da dramatização, como ferramenta didática,

apresenta-se como uma estratégia alternativa que pode auxiliar a prática de ensino,

especialmente de Geografia. Contudo, sabe-se que não é muito utilizada, e por isso

não desperta tanto interesse da parte dos alunos, mas a “a necessidade de

expressar as ações – quer da sociedade quer da natureza – obriga o aluno a

entender em profundidade o conceito, o acontecimento ou valores em construção”

(VIEIRA; SÁ, 2007, p. 114), daí sua importância – reforçada nas palavras de Torres

(2007, p. 40):

dramatizar o ensino de História e Geografia facilita o aprofundamento dos temas discutidos em sala, criando possibilidades para os professores adaptarem os conteúdos científicos à realidade e à linguagem do cotidiano dos alunos, estabelecendo maior dinamicidade ao processo de ensino e de aprendizagem.

4 AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM SALA DE AULA, NO ÂMBITO DA IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA

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Durante o segundo semestre de 2010, realizaram-se os estudos

empíricos que culminaram no plano de trabalho para posterior intervenção escolar.

No primeiro semestre de 2011, metodologias de ensino e materiais didáticos

eventualmente necessários para implementação deste plano de trabalho foram

selecionados e elaborados4, integrando a Unidade Temática5. Finalmente, no

período de agosto a dezembro de 2011, realizou-se a referida implementação, numa

turma de ensino médio.

Imagens foram utilizadas para trabalhar a dinâmica populacional no

Brasil, assim como letras de músicas, textos para dramatização – enfatizando

situações familiares cotidianas – e mapas comparativos entre a distribuição espacial

da indústria no Brasil e a concentração populacional, além de gráficos,

particularmente a pirâmide etária da população dos municípios de Toledo/PR e do

Estado do Paraná.

Todavia, antes da elaboração dos materiais didáticos utilizados, um

questionário foi aplicado aos alunos. Visando-se conhecer a turma e direcionar a

preparação dos referidos materiais, neste questionário enfocou-se a análise do perfil

socioeconômico e do nível de conhecimento prévio dos alunos quanto ao assunto

em foco. Quanto possível, procurou-se elaborar questões abertas, de modo a

valorizar a opinião de cada aluno.

Como se pode notar, o questionário não tinha um fim meramente

estatístico, já que, além de obter informações sobre o perfil socioeconômico da

turma, procurou-se saber como os alunos veem a Geografia no contexto escolar.

Além disso, como dito, as respostas possibilitaram contextualizar os conteúdos

propostos no estudo da geografia da população à realidade dos alunos, tornando as

aulas mais atrativas, à medida que se viam como parte da população estudada.

4.1 AS ATIVIDADES COM IMAGENS

A geografia possui um conjunto de idéias e conceitos que podem ser

apreendidos, dentre outras formas, por meio da imagem, demandando do aluno uma 4 Trata-se do que se chama de Produção Didático-Pedagógica, referindo-se ao material didático a ser elaborado pelo Professor PDE, enquanto estratégia do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, também sob a orientação do Professor Orientador da IES. 5 No caso deste projeto, intitulada Práticas Pedagógicas no Estudo da População em Geografia, embora tenha tido como público alvo alunos do 2º ano do Ensino Médio da escola pública, a Unidade Temática pode ser perfeitamente adaptável para outras séries da Educação Básica.

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contemplação que difere daquela exigida pela leitura e interpretação de textos.

Nesta perspectiva, a imagem, no ensino de geografia, possibilita um universo de

desafios contemplados tanto em relação à linguagem verbal quanto não verbal.

A partir da ilustrações denominadas urbanização e natalidade, transição

demográfica, migração e teorias demográficas, contidas na Figura 1, os alunos

identificaram os conteúdos do estudo da população, com base em seus cotidianos.

Figura 1 – Ilustrações trabalhadas em sala de aula

Elaboração: Fabrício de Abreu Gomes (2011)

Com o procedimento metodológico adotado para desenvolver as

atividades com imagens foi possível analisar a transição demográfica e as

implicações dos avanços técnico-científicos sobre a qualidade de vida da população.

Trabalhou-se, em relação ao processo migratório no Brasil, os tipos de movimentos

migratórios a que estão sujeitos os indívidos e seus determinantes.

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4.2 AS ATIVIDADES COM VIDEOS

Procurou-se selecionar filmes que contemplassem os conteúdos

trabalhados em sala de modo mais claro e objetivo possível. Dois acabaram sendo

utilizados, intitulados Corrida pela Comida e O Germinal. O primeiro mostra a

evolução da tecnologia e o crescimento populacional, fazendo um contraponto à

teoria de Malthus. Após a exibição do vídeo os alunos foram questionados sobre

alguns de seus aspectos e, em seguida, um texto sobre as teorias demográficas e a

dinâmica populacional lhes foram entregues. O segundo filme – O Germinal –,

baseado na obra de Émile Zola, apresenta as condições de vida e de trabalho dos

mineiros franceses na segunda metade do século XIX.

4.3 AS ATIVIDADES COM GRÁFICOS

Para essa atividade, trabalhou-se com um tipo de gráfico em particular: as

pirâmides estárias. As Pirâmides Etárias reportam a um tipo de gráfico constituído

de dois conjuntos de barras que representam o sexo e a idade de um determinado

grupo populacional. Sua construção, conforme o próprio nome sugere, baseia-se na

estrutura etária da população, isto é, na repartição da população por faixas de idade,

sendo usadas não só para monitorar a estrutura de sexo e idade da população de

um país ou região, como também auxiliam o monitoramento da qualidade de vida,

pela média do tempo de vida e taxas de natalidade e mortalidade da população ao

longo do tempo.

Trabalhou-se com as pirâmides etárias do Brasil, do Estado do Paraná e

do município de Toledo, buscando-se observar como se comportam as taxas de

natalidade, mortalidade e a expectativa de vida nas três pirâmides e o que justificaria

tal comportamento. Particularmente, analisou-se a estrutura etária da população

municipal de Toledo/PR de modo comparativo às estruturas das populações do

Paraná e do Brasil, procurando-se levar os alunos a refletirem sobre a situação em

que se encontram, já que se considera importante que o aluno se dê conta de que

faz parte das estatísticas analisadas.

Como tarefa, propôs-se a reflexão acerca dos aspectos urbanísticos e

arquitetônicos locais e das diferentes intervenções pelas quais a cidade teria que

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passar em face da mudança do perfil etário de sua população – que, no conjunto,

está envelhecendo gradativamente.

4.4 AS ATIVIDADES COM MÚSICAS

Com base no conteúdo proposto – os movimentos migratórios no Brasil –,

duas músicas foram selecionadas para os trabalhaos em sala: Lamento Sertanejo –

cujo tema é a saudade que o migrante que agora vive na cidade tem da vida no

campo; e Triste Partida, de Luiz Gonzaga, que retrata a migração nordestina a São

Paulo. Após repassar as letras das músicas selecionadas, dois grupos de alunos

foram formados, cada qual ficando com uma das letras para identificação do tema e

discussão de seus conteúdos.

4.5 AS ATIVIDADES COM MAPAS

Os mapas constituem excelentes recursos visuais auxiliares à leitura e

interpretação da dinâmica populacional, daí a importância de sua utilização.

Para as atividades em sala, os mapas do Brasil referentes à distribuição

espacial das indústrias e da população e à densidade demográfica foram utilizados.

Procurou-se analisar como a concentração espacial da indústria influenciou a

distribuição da população e da dinâmica populacional no Brasil. Comparando-se os

mapas de distribuição das indústrias e de densidade demográfica no Brasil, nota-se

claramente que os dados estão correlacionados, ou seja, as regiões de maior

concentração espacial das indústrias também são aquelas que apresentam as

maiores concentrações populacionais.

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4.6 AS ATIVIDADES DE DRAMATIZAÇÃO

Dentre muitas metodologias de ensino, a dramatização merece destaque,

já que contribui não somente no sentido da aprendizagem, mas também com o

desenvolvimento da sociabilidade dos alunos. Para esta atividade, a turma foi divida

de modo a formar dois grupos de alunos, determinando-se um tempo para o ensaio

da dramatização e apresentação. Foram encenados roteiros que dessem conta dos

conteúdos relacionados à urbanização e controle de natalidade e ao custo de vida

nas cidades. Após apresentação, fomentou-se um debate em forma de seminário,

visando discutir a influência da urbanização sobre o aumento da expectativa de vida,

a queda da natalidade e inserção da mulher no mercado de trabalho.

5 RESULTADOS DA IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA

De acordo com a avaliação da nova proposta pedagógica, realizada pelos

alunos, constatou-se que, em geral, gostaram da metodologia implementada com

apoio de recursos didáticos complementares ao uso do livro didático, já que cerca de

8 em cada 10 estudantes consideraram-na produtiva à compreensão dos conteúdos

trabalhados no âmbito do estudo da população em Geografia6.

Quanto ao uso das figuras, pode-se dizer que a atividade desenvolvida

estimulou positivamente a reflexão, bem como a participação dos alunos na

realização das atividades propostas7. Da mesma forma que em relação ao uso de

imagens, as atividades de dramatização também tiveram boa aceitação entre os

alunos, de modo que aproximadamente 8 em 10 alunos consideraram facilitar o

entendimento e fixação dos conteúdos abordados. Em contraponto, o

desenvolvimento de atividades com música não teve a mesma receptividade:

enquanto alguns consideraram sua utilização uma forma agradável de estudar

geografia, embora esse número seja pequeno, aproximadamente 3 em cada 10

estudantes responderam que não conseguiram relacionar os conteúdos teóricos

com as letras das músicas selecionadas.6 Conforme alguns relatados selecionados: “[...] com as imagens, filmes, músicas, textos, dramatização nós alunos entendemos melhor e guardamos os conteúdos”; “com esses recursos fica mais fácil gravar os conteúdos”.7 Sobre os trabalhos com imagens, os alunos manifestaram-se da seguinte forma: “tivemos uma aprendizagem melhor com utilização de imagem”; “[...] visualizamos o que estávamos aprendendo”; “[...] as aulas se tornam mais interessantes, porque só lendo textos as aulas ficam chatas".

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Por fim, particularmente numa disciplina de Geografia, não é de se

estranhar o fato de que, dentre as metodologias de ensino propostas, as atividades

com mapas tenham sido aquelas de maior aceitação: quase 9 em cada 10 alunos

consideraram que o trabalho com mapas possibilitou bom entendimento e

compreensão da relação entre a industrialização, a migração populacional e a

concentração demográfica (os conteúdos contemplados pela utilização desse

recurso).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino da geografia é desenvolvido, pela maioria dos professores,

ainda com métodos tradicionais, mediante uso excessivo do livro didático. Trabalhar

com metodologias de ensino e recursos didáticos alternativos ao uso do livro, como

músicas, vídeos, imagens, dramatização, e mesmo mapas – o que deveria ser, mas

não é cotidiano à disciplina de Geografia – estimula o aprendizado, motivando a

participação dos alunos e a compreensão e fixação dos conteúdos trabalhados.

A implementação deste projeto possibilitou a constatação de que a

postura adotada pelo professor em relação à preparação das aulas, tendo em vista a

utilização de metodologias de ensino e recursos didáticos variados, é de

fundamental importância ao processo educativo.

Notou-se maior interesse pela geografia à medida que outros recursos

didáticos passaram a complementar o uso do livro didático. Em outras palavras,

pode-se dizer que a utilização das metodologias de ensino e uso de recursos

didáticos complementares ao conteúdo textual do livro didático, tais como as

imagens, vídeos, gráficos, dramatização, músicas e mapas, apresentaram

resultados positivos à construção do conhecimento proposto no âmbito da disciplina

de Geografia.

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