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PRESERVAÇÃO E GESTÃO DA PAISAGEM TOMBADA CAVACO, ANDRÉ FARIAS; VASQUES, VIVIANNE SAMPAIO 1. Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac. Departamento do Patrimônio Cultural e Natural Rua da Quitanda, 86 / 8º andar. Centro, Rio de Janeiro RJ. CEP 20091-902 [email protected] 2. Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac. Departamento do Patrimônio Cultural e Natural Rua da Quitanda, 86 / 8º andar. Centro, Rio de Janeiro RJ. CEP 20091-902 [email protected] RESUMO O reconhecimento, a preservação e a participação na gestão do patrimônio cultural fluminense são algumas das atribuições do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, órgão vinculado a Secretaria de Estado de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Tendo como principal instrumento o tombamento, desde o início o Inepac se mostrou como Instituição de vanguarda no que diz respeito ao reconhecimento de bens culturais de diversos conceitos, nesses mais de cinquenta anos de existência foram tombadas não só grandes obras de valor erudito e histórico, mas também diversos bens de notável valor para as comunidades nas quais estão inseridos: árvores, pedras, morros, aldeias, cachoeiras e etc. Destacam-se, pela magnitude da abrangência e complexidade, os tombamentos: Litoral Fluminense, abrangendo praias, costões rochosos, restingas, manguezais e ilhas de Paraty, Niterói, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra; os morros e pedras da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, conforme proposta formulada por Lúcio Costa, Estes últimos recentemente se constituíram num grande desafio por abrigar diversos equipamentos de suporte aos eventos esportivos que atenderão aos Jogos Olímpicos. Desta forma, mesmo abarcando um grande acervo de bens de valor paisagístico, a preservação e a gestão dessas áreas é algo que, devido também ao aumento das pressões antrópicas, demanda cada vez mais esforços por parte dos técnicos. A conservação e o restauro de bens materiais, sendo eles arquitetura ou bens móveis e integrados, é um campo bastante difundido dentro da área da preservação do patrimônio, contando já com diversas técnicas e teorias, assim como com certo número de cursos, empresas e profissionais especializados. Porém, nas rotinas de acompanhamento e fiscalização das paisagens tombadas, os técnicos se deparam com outros desafios, como à baixa produção acadêmica para referência e, principalmente, o caráter interdisciplinar e multi-institucional exigido para sua gestão. Acrescenta-se o fato das paisagens estarem em constante mutação, constituindo-se em organismos vivos, diferentemente de bens como igrejas, museus e palácios, por exemplo. O presente artigo tem como finalidade explicitar as dificuldades, as experiências acumuladas pelos técnicos e o próprio amadurecimento do órgão no campo da preservação e gestão de bens tombados de natureza ambiental e paisagística, considerando o conceito de Paisagem Cultural. A metodologia aplicada será o estudo de referência de trechos dos tombados supracitados, nos quais os autores vêm atuando. Serão expostos os entraves encontrados, as atividades bem sucedidas, assim como as propostas de atuação vislumbradas pelos técnicos resultado da reflexão da prática profissional nestas áreas. Palavras-chave: Paisagem Cultural; Inepac; Gestão.

PRESERVAÇÃO E GESTÃO DA PAISAGEM TOMBADA · as condições paisagísticas e ambientais primitivas da região. ... incluindo a ligação de alguns parques municipais através dos

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PRESERVAÇÃO E GESTÃO DA PAISAGEM TOMBADA

CAVACO, ANDRÉ FARIAS; VASQUES, VIVIANNE SAMPAIO

1. Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac. Departamento do Patrimônio Cultural e Natural

Rua da Quitanda, 86 / 8º andar. Centro, Rio de Janeiro – RJ. CEP 20091-902 [email protected]

2. Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac. Departamento do Patrimônio Cultural e Natural

Rua da Quitanda, 86 / 8º andar. Centro, Rio de Janeiro – RJ. CEP 20091-902 [email protected]

RESUMO O reconhecimento, a preservação e a participação na gestão do patrimônio cultural fluminense são algumas das atribuições do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, órgão vinculado a Secretaria de Estado de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Tendo como principal instrumento o tombamento, desde o início o Inepac se mostrou como Instituição de vanguarda no que diz respeito ao reconhecimento de bens culturais de diversos conceitos, nesses mais de cinquenta anos de existência foram tombadas não só grandes obras de valor erudito e histórico, mas também diversos bens de notável valor para as comunidades nas quais estão inseridos: árvores, pedras, morros, aldeias, cachoeiras e etc. Destacam-se, pela magnitude da abrangência e complexidade, os tombamentos: Litoral Fluminense, abrangendo praias, costões rochosos, restingas, manguezais e ilhas de Paraty, Niterói, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra; os morros e pedras da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, conforme proposta formulada por Lúcio Costa, Estes últimos recentemente se constituíram num grande desafio por abrigar diversos equipamentos de suporte aos eventos esportivos que atenderão aos Jogos Olímpicos. Desta forma, mesmo abarcando um grande acervo de bens de valor paisagístico, a preservação e a gestão dessas áreas é algo que, devido também ao aumento das pressões antrópicas, demanda cada vez mais esforços por parte dos técnicos. A conservação e o restauro de bens materiais, sendo eles arquitetura ou bens móveis e integrados, é um campo bastante difundido dentro da área da preservação do patrimônio, contando já com diversas técnicas e teorias, assim como com certo número de cursos, empresas e profissionais especializados. Porém, nas rotinas de acompanhamento e fiscalização das paisagens tombadas, os técnicos se deparam com outros desafios, como à baixa produção acadêmica para referência e, principalmente, o caráter interdisciplinar e multi-institucional exigido para sua gestão. Acrescenta-se o fato das paisagens estarem em constante mutação, constituindo-se em organismos vivos, diferentemente de bens como igrejas, museus e palácios, por exemplo. O presente artigo tem como finalidade explicitar as dificuldades, as experiências acumuladas pelos técnicos e o próprio amadurecimento do órgão no campo da preservação e gestão de bens tombados de natureza ambiental e paisagística, considerando o conceito de Paisagem Cultural. A metodologia aplicada será o estudo de referência de trechos dos tombados supracitados, nos quais os autores vêm atuando. Serão expostos os entraves encontrados, as atividades bem sucedidas, assim como as propostas de atuação vislumbradas pelos técnicos resultado da reflexão da prática profissional nestas áreas.

Palavras-chave: Paisagem Cultural; Inepac; Gestão.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

O Inepac e a Proteção da Paisagem Cultural

O reconhecimento, a preservação e a participação na gestão do patrimônio cultural

fluminense são algumas das atribuições do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac,

órgão de preservação e fiscalização do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro,

primeiro órgão estadual de patrimônio, criado em 1964 com nome de Divisão do Patrimônio

Histórico e Artístico do Estado da Guanabara – DPHA.

O Inepac vem sendo, desde a sua criação, uma instituição de vanguarda no que diz respeito

ao reconhecimento do valor de bens culturais de diversos conceitos. O primeiro tombamento,

do eclético Parque Henrique Laje em 1965, já evidenciava uma linha de pensamento

diferente, seguiram-se tombamentos como a Ilha de Brocoió, dez árvores em Paquetá, uma

Figueira na Tijuca, uma série de pedras e morros da Baixada de Jacarepaguá. Caracterizando

a preocupação com a “proteção de bens decididamente naturais tanto pelo valor

ecológico-ambiental como pelo seu valor de referência cultural” (ROCHA-PEIXOTO).

Desta forma, mesmo abarcando um grande acervo de bens de valor paisagístico, a

preservação e a gestão dessas áreas é algo que, devido também ao aumento das pressões

antrópicas, demanda cada vez mais esforços por parte dos técnicos. A conservação e o

restauro de bens materiais, sendo eles arquitetura ou bens móveis e integrados, é um campo

bastante difundido dentro da área da preservação do patrimônio, contando já com diversas

técnicas e teorias, assim como com certo número de cursos, empresas e profissionais

especializados. Porém, nas rotinas de acompanhamento e fiscalização das paisagens

tombadas, os técnicos se deparam com outros desafios, como à baixa produção acadêmica

para referência e, principalmente, o caráter interdisciplinar e multi-institucional exigido para

sua gestão. Acrescenta-se o fato das paisagens estarem em constante mutação,

constituindo-se em organismos vivos, diferentemente de bens como igrejas, museus e

palácios, por exemplo.

A seguir, a partir da experiência acumulada na atuação dos técnicos, temos por objetivo

explicitar as dificuldades, as atividades bem sucedidas e o próprio amadurecimento do órgão

no campo da preservação e gestão de bens tombados de natureza ambiental e paisagística,

considerando o conceito de Paisagem Cultural.

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Experiências na gestão dos Tombamentos dos Morros da Barra e

Jacarepaguá, Rio de Janeiro- Rj

O tombamento dos Morros da Barra da Tijuca e Jacarepaguá foi um dos primeiros

tombamentos efeituados sob a égide do antigo Estado da Guanabara e também de vanguarda

na proteção de áreas naturais em todo o país.

A região das Baixadas de Jacarepaguá ladeada de morros, pedras, maciços, áreas de

restinga e a faixa litorânea, possui beleza ímpar, tendo seu processo de urbanização iniciado

na década de 60.

Quando do desenvolvimento do Plano Piloto para Urbanização da Barra da Tijuca, Pontal de

Sernambetiba e de Jacarepaguá, vetor orientado de expansão da cidade, o arquiteto Lúcio

Costa, já se depara com a necessidade de urbanizar e, ao mesmo tempo, proteger e valorizar

as condições paisagísticas e ambientais primitivas da região.

De fato, o Plano Piloto como instrumento de ordenação urbana da região da Barra da Tijuca e

Jacarepaguá provocou conflitos entre os agentes de produção do espaço urbano fazendo

com que o Plano não fosse completamente instaurado, ficando as questões relativas às áreas

naturais ainda vulneráveis às pressões antrópicas. (SILVA, 2004).

O tombamento dos Morros da Barra da Tijuca e Jacarepaguá vem preencher essa lacuna e,

hoje, se configura como um importante elemento de contenção à especulação imobiliária.

Primeiramente no final da década de 1960 foram tombados isoladamente algumas formações

rochosas e, anos mais tarde, já década de 1980, a proteção desses monumentos naturais foi

ratificada e incluído novos exemplares constituindo ao todo onze formações rochosas, marcos

da paisagem da Baixada de Jacarepaguá. (INEPAC, 2012, p.68)

Três monumentos naturais se destacam no extremo sul da Baixada de Jacarepaguá: Pontal

de Sernambetiba, Pedra de Itapuã e Morro do Rangel. A paisagem formada por eles em

conjunto com os costões rochosos do Maciço da Pedra Branca, que levam as praias da

Prainha e Grumari1, constituem “um dos mais belos cenários remanescentes da paisagem

primitiva do litoral carioca” (LERNER, 2016).

1 O “Monumento natural da praia de Grumari” também foi objeto de tombamento pelo Estado do Rio de

Janeiro (Processo E- 18/300.117/1984).

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Figura 1- Paisagem cultural formada pelo Morro do Rangel, Pedra de Itapuã e Pontal de Sernambetiba. Fonte: Inepac, 2016.

Recentemente, por ocasião da análise de pedidos de aprovação de projetos imobiliários de

vulto no entorno da Pedra de Itapuã e Morro do Rangel e diante da proposta de implantação

pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Projeto Corredor Verde 2 Recreio, cuja

intenção é interligar, através da promoção de estratégias ambientais, o Parque Estadual da

Pedra Branca ao Parque Natural de Marapendi, despertou novas reflexões a esse coletivo de

bens.

Ao analisarmos conjuntamente os dois tombamentos verifica-se que, em relação às áreas de

tutela para proteção da ambiência, geograficamente resta uma pequena porção de lotes

desabonados de tutela, incidindo apenas as legislações impostas pelo Município, em geral

menos restritivas que as de preservação do patrimônio cultural.

Para o entorno do Morro do Rangel foi definida uma área de ambiência delimitada pela curva

de nível de cota 10 metros e a paralela distando 150 metros da mesma, que alcança quase a

2 A proposta do Projeto Corredores Verdes é a reconexão de áreas remanescentes do Bioma Mata Atlântica,

incluindo a ligação de alguns parques municipais através dos fundamentos de Restauro Ecológico, Infraestrutura

Verde e Ecologia Urbana. Na prática o projeto visa proteger e melhorar o desempenho ambiental e a contribuição

social dos fragmentos verdes colaborando na conscientização ambiental e na qualidade de vida da população

local. Disponível em: https://issuu.com/embya/docs/parquescariocas_n__4. Acesso em: 20 de agosto de 2016.

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totalidade dos terrenos do quarteirão da Praia da Macumba (ver fig. 2). Tem-se como

parâmetro para as novas construções na área a altura máxima de 11 metros.

A área tombada da Pedra de Itapuã é delimitada por um círculo de raio igual a 50m (cinquenta

metros), cujo centro está situado no ponto mais alto da pedra, sendo a área de tutela, neste

caso específico intitulada zona especial de proteção, compreendida entre o referido círculo e

outro raio concêntrico de raio igual a 70m (setenta metros) (ver fig. 2).

O Pontal de Sernambetiba, por sua configuração insular, a área de proteção da ambiência se

restringe a faixa de areia.

Figura 2 - Áreas de entorno do Morro do Rangel e da Pedra de Itapuã. Fonte: Inepac, 2016.

Cabe mencionar que a municipalidade reconheceu a importância dessa faixa de território

criando a Área de Proteção Ambiental da Paisagem e do Areal da Praia do Pontal, através do

Decreto nº 18.849 de 04/8/2000, que visa “proteger o importante acervo ambiental da Praia do

Pontal e promover a ocupação sem prejuízo das condições ambientais do areal da Praia do

Pontal”.

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Emerge a necessidade latente de revisão dos parâmetros urbanísticos de uso e ocupação do

solo para os terrenos da Praia da Macumba que ficaram situados fora dos limites das áreas

tuteladas do Morro do Rangel da Pedra de Itapuã, mas que são imediatamente contíguos às

mesmas conferindo a esta unidade paisagística o mesmo tratamento.

Como proposta de trabalho futuro, cabe um estudo estendendo-se a análise até o Pontal de

Sernambetiba, que é exatamente a área abarcada pela da APA da Paisagem e do Areal da

Praia do Pontal.

Experiências na gestão do Tombamento Litoral Fluminense em

Paraty-RJ

O tombamento denominado Litoral Fluminense, publicado em 09 dezembro de 1985 e

ratificado definitivamente em 11 de maio 1987, “representa um marco na história da atuação

do Inepac sob a égide da política cultural do então secretário de Estado Darcy Ribeiro”

(INEPAC, 2012, p.13), teve dois fundamentos principais: contribuir para preservar alguns dos

mais belos e importantes ecossistemas da nossa costa e garantir a permanência nessas

áreas das comunidades tradicionais de pescadores (LERNER, 2011). Foram tombados

trechos do litoral nos munícipios de Paraty, Niterói, São João da Barra e São Francisco de

Itabapoana.

Em Paraty localizam-se a maioria dos trechos tombados, incluindo praias, costões rochosos,

restingas, manguezais e ilhas. Costa de Trindade, Enseada do Sono, praia da Ponta do Caju,

Enseada do Pouso, Ilha de Itaoca, Saco e Manguezal de Mamanguá, enseada de Paraty

Mirim, Ilha das Almas, praia Grande, Ilha do Araújo, Praia de Tarituba. O estudo para

tombamento delimitou a faixa de 50 metros, para garantia da permanência dos

assentamentos remanescentes de grupos de pescadores com sua cultura própria, além de

plena e livre utilização da orla marítima para servir de ancoradouro e puxada de redes. Foram

também consideradas integrantes da área tombada as ilhas e os dois sacos existentes –

Mamanguá e Grande – cujas águas mornas rasas e tranquilas propiciam a desova de peixes,

estimulando a piscosidade da baía de Ilha Grande e consequentemente a atividade

pesqueira, elos da mesma cadeia ecológica (INEPAC, 2012, p.52).

Tratam-se de aldeamentos originalmente habitados por famílias que retiravam seu sustento

da pesca de subsistência e comercial de pequena escala, e de atividades rurais, como

plantação de aipim, produção de farinha, criação de pequenos animais... Configuravam-se,

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portanto, em áreas rurais, diferenciadas pela concentração em aldeamentos e a

predominância da pesca.

Atualmente essas comunidades experimentam transformações advindas do declínio da

atividade da pesqueira, da facilitação do acesso trazida principalmente pela construção da

rodovia Rio-Santos na década de 70, do aumento do turismo e a especulação imobiliária é um

temor que permanece presente. A maioria não mais trabalha na pesca ou nas atividades

rurais, surgem bares / mercearias e pequenos restaurantes. Em período de temporada os

barcos priorizam o transporte dos turistas e os moradores alugam suas casas, embarcações

mais ágeis de fibra de vidro ganham espaço frente aquelas tradicionais de madeira.

Figura 03: trechos tombados em Paraty (FONTE: demarcação sobre imagem do Google Earth

elaborada pele equipe do Inepac)

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Principais desafios encontrados

Dinâmica social. As comunidades estão em constante movimentação, o que não é diferente

naquelas tradicionais integrantes aos trechos tombados, devemos, portanto, enxergá-las

como organismos vivos. A própria dinâmica das famílias onde casamentos são realizados,

filhos nascem, outros vão viver na cidade... Pessoas encantadas com a região decidem ali

morar. Muitas vezes as atividades econômicas exercidas pelas famílias têm que se adaptar as

novas realidades, como o crescimento do turismo.

Alterações arquitetônicas. Todas essas transformações sociais, junto com avanço da

tecnologia e acesso de novos materiais, acabam gerando transformações físicas nas

comunidades: surgem acréscimos, demolições e novas construções, além da incorporação de

novos materiais como telhas de fibrocimento, tijolos furados, blocos de concreto, janelas de

alumínio.

Parâmetros de preservação. Diferentemente dos centros históricos tombados, onde a

ambiência arquitetônica é um dos objetivos principais da preservação, ou em um bem

tombado individualmente, onde muitas vezes deve ser avaliado até mesmo se a recuperação

de uma argamassa está empregando o traço original, o tombamento Litoral Fluminense, como

citado acima, visa garantir a permanência das comunidades tradicionais de pescadores e

contribuir para a preservação do ecossistema. Sendo assim, mesmo estando inseridas nos

trechos tombados diversas edificações, não podemos considerar um desrespeito ao

tombamento que sejam feitas certas alterações arquitetônicas nas moradias, ou que, sejam

construídas algumas novas edificações, principalmente levando-se em consideração que são

comunidades com certa fragilidade social e fundiária.

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Imagem 04: ranchos e canoa caiçaras em Trindade na época do tombamento

(AUTOR: Ricardo Brasil - Acervo Inepac)

A tentativa de “congelamento” das configurações arquitetônicas originais, ao invés de

contribuir para a preservação dessas comunidades, provavelmente levaria a sua extinção.

Neste raciocínio, o que deve ser avaliado é se essas transformações, se advindas da própria

dinâmica social, influenciam e ameaçam as características da comunidade tradicional.“Esse

tipo de tombamento [..] exige novos procedimentos de conservação. [...] Os renques de casas

de pescadores, mesmo tombados, não podem ser controlados como igrejas barrocas, ou

palacetes neoclássicos”. (CAMPOFIORITO, 1986, p. 34)

A princípio, certos parâmetros urbanísticos poderiam ser utilizados para balizar as novas

intervenções: gabarito máximo das edificações, obrigatoriedade de afastamentos mínimos,

taxa de ocupação que resguardem o adensamento. Tais parâmetros, porém, são complexos e

exigem estudos mais aprofundados.

Veremos mais a frente que, aliada aos desafios conceituais presentes nesse tipo de

tombamento, a fiscalização deficitária de todos os níveis de governo gera uma ausência de

controle do que é construído, demolido ou alterado, fazendo com que o ritmo das

transformações das comunidades ocorra mais de uma maneira espontânea do que orientadas

pelas diretrizes do Estado.

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Ocupação de novas áreas. Ocorre também a ocupação de novas áreas, anteriormente

verdes. O crescimento das comunidades, a construção de novas casas de veraneio e também

o processo de aluguel das casas próximas à praia e ocupação das áreas mais altas

contribuem para essa expansão. O problema se agrava quando se formam zonas de

ocupação predominante recente, sem ligações formais com a comunidade pré-existente,

gerando trechos similares a favelização.

Unidades de Conservação. Muitas das comunidades estão inseridas dentro de unidades de

conservação de diversos tipos, algumas delas que não preveem ocupação antrópica, em

contradição direta com os objetivos do tombamento. Estão em andamento estudos para a

recategorização de algumas unidades, o olhar do patrimônio cultural nesse processo se faz

necessário para que possa ser reconhecido as comunidades com valores tradicionais.

Fiscalização deficitária. A localização e isolamento dos trechos tombados e das

comunidades, a falta de estrutura dos órgãos de fiscalização e até mesmo a incoerência dos

parâmetros de ocupação da área (ver tópico Unidades de Conservação), contribuem para a

escassa presença de fiscalização, seja da esfera municipal, dos órgãos ambientais ou dos

órgãos de preservação do patrimônio.

Os órgãos ambientais são aqueles mais frequentemente notados por moradores e turistas,

talvez por serem mais bem estruturados, contando nas áreas de preservação, com portarias,

sinalizações e presença de guardas uniformizados. Também podemos considerar que a

grande marca da região são as belezas naturais, relegando as questões culturais a um

segundo plano.

Questão fundiária. A própria história da região, que após o período de pungência econômica

manteve-se isolada durante séculos, proporcionou que vários trechos fossem ocupados

espontaneamente por comunidades de pescadores porém, sem segurança quanto à posse

dessas terras. Por décadas desenvolveram e adaptaram-se a região sem agredir a natureza,

ao ponto de serem reconhecidas como comunidades tradicionais, mas com a facilitação do

acesso a partir da década de 70, cresceu interesse do mercado por essas áreas, o que gerou

e ainda gera muitos conflitos.

Ainda hoje a questão é um grande tormento para os moradores, a incerteza da posse das

terras mina as intenções de melhoria do local e dificulta o controle de construções.

Recentemente, em Trindade, um jovem foi morto reacendendo o pesadelo da disputa entre

moradores e funcionários armados a serviço do poder econômico.

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Imagem 05: ranchos compartilhando seu espaço com uma nova construção de veraneio em Tarituba

(AUTOR: André Cavaco - Acervo Inepac)

Acesso e transporte. Região montanhosa junto ao mar, baia de águas calmas (excetua-se

somente o trecho entre a ponta da Joatinga e a divisa com o Estado de São Paulo). Desde o

início da ocupação o transporte marítimo se mostrou mais adaptado à região, estradas

existiam somente em direção à região das minas gerais, cortando as serras transversalmente

a litoral. Ao longo da costa o transporte era executado em embarcações, mesmo para o Rio de

Janeiro.

Neste litoral algumas vilas surgiram, mas todo resto era uma grande zona rural, onde

espalhavam-se fazendas que também escoavam sua produção via mar. As comunidades

tradicionais de pescadores, que ao longo dessa costa se consolidaram, adaptaram-se aos

deslocamentos marítimos, exemplo maior é a canoa caiçara, moldada em um único tronco

das árvores da região.

Tal dinâmica só foi alterada a partir da implantação da rodovia Rio-Santos. Algumas

comunidades ainda mantém o isolamento, com acesso somente por barco ou trilha, outras se

localizam tão próximas a estrada que já se tornaram simples bairros de Paraty, as outras

desenvolveram acesso por carro, mas por estradas secundárias que até hoje apesar de

asfaltadas não apresentam boa acessibilidade.

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A forma de acesso às comunidades impacta diretamente nos seus estágios de

descaracterização, aquelas localizadas muito próximas a Rodovia (Tarituba e Praia Grande),

apresentam maior quantidade de construções de veraneio sem características tradicionais.

Aquelas com acesso por estradas secundárias (Paraty-Mirim e Trindade), apesar de manter a

atmosfera de aldeia de pescadores, no período de temporada convivem com o caos, tendo

como protagonista a circulação e estacionamento de veículos. As comunidades com acesso

somente por barco ou trilha (Pouso da Cajaíba, Ponta Negra e Ilha do Araújo) conseguem

manter as configurações tradicionais, mas são impactadas pela a dificuldade de acesso e

ausência de transporte público. Os serviços públicos como saúde, educação e saneamento

básico sofrem com a dificuldade de acesso, os moradores dependem de meios próprios para

se deslocar, a fiscalização é ainda menos presente.

Enquanto moradores e alguns turistas defendem a melhoria dos acessos, ambientalistas e

outros visitantes defendem a manutenção do isolamento como forma de preservação do

caráter bucólico das comunidades e contenção do adensamento. Combinando esses pontos

de vistas, pode-se sugerir que uma rede de transporte público que abrangesse todas as

comunidades, englobando meios terrestre, marítimo e respeitando o caráter tradicional das

mesmas, junto com uma política de ordenação do acesso do transporte individual, fortaleceria

a fixação das famílias e inibiria o turismo predatório desordenado.

Exemplos de Preservação

Seguem abaixo, listadas em ordem alfabética, algumas breves descrições de exemplos de

atividades realizadas nos trechos tombados e acompanhadas pelos técnicos do Inepac que

contribuem para preservação das comunidades e seu patrimônio. São inúmeros os parceiros

e interessados na preservação da região, não sendo o objetivo deste artigo listar todas as

organizações e instituições com atuação na região. O objetivo dos técnicos do Inepac é

acompanhar, incentivar e participar dessas atividades como forma de gestão e preservação

do patrimônio fluminense.

Cinebola Caiçara. Festival de cinema a céu aberto realizado cada ano em uma praia da

região, conta com exibição de filmes sobre a cultura tradicional e o já tradicional e disputado

torneio de futebol de praia masculino e feminino entre as comunidades tradicionais da região

(caiçaras, indígenas e quilombolas), incluí também oficinas de capacitação. Idealizado pela

cineasta Cecília Lang, é organizado pela Sociedade Angrense de Proteção Ecológica –

SAPÊ. O Inepac esteve presente na última edição do festival.

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Coordenação Nacional Caiçara. Reunião das lideranças caiçaras do litoral sul e sudeste do

Brasil. Tem como objetivo alinhar as demandas das comunidades com os membros eleitos

para Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

Tradicionais, divididos entre representantes do Paraná, litorais sul e norte de São Paulo e Rio

de Janeiro. O 2º Encontro ocorreu durante o VII Cine Bola Caiçara, contando com a presença

do Inepac como ouvinte.

Imagem 06: oficina Partilha de Turismo de Base Comunitária, organizada pela FCT durante o VII Cine Bola Caiçara, na comunidade do Aventureiro na Ilha Grande (AUTOR: André Cavaco - Acervo Inepac)

Festival Maré Cheia. Mostra de cinema de filmes brasileiros na praia ao ar livre, conta

também com oficinas e Corrida de Canoa Caiçara. Realizado tradicionalmente na praia de

Ponta Negra, também conta com exibições no Pouso da Cajaíba, ambas integrantes ao

tombamento Litoral Fluminense.

Fórum das Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba-FCT. Movimento de

base comunitária, tem como missão promover o desenvolvimento sustentável dos Povos e

Comunidades Tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos

seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e

valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições, conforme

instituído pelo Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

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Tradicionais. É aberto à participação de todas as comunidades tradicionais da região

abrangendo Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ) e Ubatuba (SP).

Vem atuando é prol das comunidades tradicionais, incluídos aquelas listadas no tombamento

Litoral Fluminense, atua como articulador das comunidades e representante realizando

também oficinas de capacitação.

Instituto de Permacultura e Educação Caiçara – IPECA. Núcleo experimental de ensino e

aprendizagem em vivências da Permacultura e Educação na comunidade caiçara do Pouso

da Cajaíba - Paraty. Vem organizando vivencias que combinam o ensino de técnicas de

construção tradicionais e sustentáveis com a construção de pontos de cultura caiçara.

Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaína – OTSS. Fruto da

parceria entre Fiocruz, Funasa e Fórum das Comunidades Tradicionais desenvolve ações e

projetos com foco em: Fortalecimento e qualificação do FCT; Defesa do território a partir de

assessoria jurídica, mobilizações e articulações institucionais estratégicas; Produção de uma

base de informações e dados georreferenciados sobre o território; Saneamento ecológico;

Educação diferenciada; Promoção da saúde; Incubadora de Tecnologias Sociais;

Agroecologia; Turismo de Base Comunitária.

Dentro dos projetos de Saneamento Ecológico, o OTSS em julho de 2015 entregou o primeiro

módulo construído na Escola Municipal Martim de Sá, na Comunidade Caiçara da Praia do

Sono, trecho integrante ao tombamento, está em execução na comunidade mais 10 módulos

em núcleos familiares.

Programa de Apoio à Pesca Artesanal e Seu Território. Criado pela Secretaria Estadual de

Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca – SEDRAP, do Governo do Estado do Rio

de Janeiro, tem como objetivo o desenvolvimento econômico e social aliado à preservação do

patrimônio cultural local, incluindo a pesca artesanal e os valores históricos, paisagísticos e

ambientais. Até o momento foram contempladas as comunidades pesqueiras localizadas no

Canto de Itaipu (trecho integrante ao tombamento Litoral Fluminense) e Jurujuba, ambas em

Niterói – RJ, e Gradim, em São Gonçalo-RJ.

O Programa Urbanístico e Socioambiental contou com as seguintes etapas: Lançamento do

Projeto, Apresentação Institucional, Sensibilização ao Projeto, Cadastro Socioeconômico,

Cadastro Físico, Oficinas (Leitura Comunitária, Plano de Intervenção e Validação do Projeto),

Grupos Focais de Pesca (Pesca de Arrasto de Praia, Pesca de Mergulho e Pesca de Rede de

Espera), Grupos de Trabalho (Atividade Pesqueira, Ordem Urbana, Atividade Comercial,

Infraestrutura e Meio Ambiente, Mobilidade, Lazer e Patrimônio, Demandas Sociais,

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concluindo-se um Projeto Urbanístico. Participaram do Projeto diversas entidades Federais,

Estaduais e Municipais, Sociedade Civil Organizada e Concessionárias.

As entidades governamentais são responsáveis por áreas muitos abrangentes, por esse fato

e pela quantidade deficiente de pessoal, percebe-se que iniciativa privada, através de

escritórios especializados e organizações não governamentais, apresenta uma maior

agilidade e capacidade técnica pra desenvolver estudos e propostas para a comunidade.

(CAVACO; SOUZA, 2013)

RAÍZES E FRUTOS. Projeto de Extensão do Departamento de Geografia da UFRJ, propõe

vivência nas comunidades caiçaras da Juatinga – Paraty – RJ, incluindo estudantes,

pesquisadores, educadores e sonhadores de diferentes áreas do conhecimento.

Referências

CAMPOFIORITO, Italo. Patrimônio cultural: “Onde a cultura existe, dar voz a ela”, 1986. Em:

Fazimentos / Rio de Janeiro, outubro de 2009 –Fundação Darcy Ribeiro.

CAVACO, André; SOUZA, Luciane. O Inepac e a proteção da Paisagem Cultural: o caso de

Tarituba, Paraty. ANAIS 7º SIMP -Semniário Internacional em Memória e Patrimônio.

Disponível em: http://simp.ufpel.edu.br. Acesso em 05/08/2016.

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA.

INEPAC. Processo de Tombamento E-18/300.459/85.

______. Relatório de Vistoria, trecho Paraty - Tombamento E-18/300.459/85. Técnico

responsável André F. Cavaco. Acervo Inepac, 2013.

______. Processo: 03/300197/72. Tombamento do Pontal de Sernambetiba, Baixada de

Jacarepaguá.

______. Processo: 03/01924/80. Tombamento do Morro do Rangel, Estrada do Pontal

Recreio dos Bandeirantes.

______. Processo: 03/300.235/68. Tombamento Pedra de Itapuã, Estrada dom Pontal 855.

______. Patrimônio Cultural: Guia dos bens tombados pelo Estado do Rio de Janeiro

Patrimônio – 2012. – 2 ed. Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro, Instituto

Estadual do Patrimônio Cultural.

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LERNER, Dina. Fwd: Fw: Fale Conosco – Tombamento de Bem (Tarituba - Paraty-RJ).

[mensagem pessoal]. Mensagem enviada por < [email protected]> 18 de

fevereiro de 2011. Acervo Inepac.

______. Reflexões: Proteção do entorno dos bens tombados: Morro do Rangel / Pedra de

Itapuã. Inepac, 2016.

ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. INEPAC - Um perfil dos 25 anos de Preservação do Patrimônio

Cultural no Estado do Rio de Janeiro. Disponível em

http://www.inepac.rj.gov.br/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=2. Acessado

em 24.09.2013

RIBEIRO, Darcy. Política cultural Rio, 1986. Em: Fazimentos / Rio de Janeiro, outubro de

2009 – Fundação Darcy Ribeiro

SILVA, Luciana Araujo Gomes da. Barra da Tijuca: o concebido e o realizado. Revista

geo-paisagem (on line), Ano 3, nº 6, Julho/dezembro de 2004. ISSN Nº 1677-650 X

Disponível em: http://www.feth.ggf.br/barra.htm. Acesso em: 26 ago. 2016.