7/25/2019 Presidios Do Vetor Norte
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Um dia de co no CerespRelato de lagoassantense abre srie de
reportagens sobre sistema prisionalno Vetor Norte
Por Gustavo Moreira Alves
Thiago flho da classe mdia lagoassantense. Formou-se em
cursosuperior h pouco tempo e, engatando profssionalmente na
prestao deservios, mora com os pais, numa casa com piscina, onde
des!ruta deconsidervel con!orto. "onsumidor de maconha, Thiago !oi
surpreendidopela pol#cia com $%%g do entorpecente na mochila,
en&uanto visitava umamigo, num 'airro no're de (elo
)ori*onte.
Algemado e colocado no cam'uro, Thiago !oi levado para o "e+an,
a"entral de Flagrantes da Pol#cia "ivil, na rua Pouso Alegre,
&ue atende ()nas regies leste e noroeste, alm de enda ova.
Ficou preso at /h da
manh do dia seguinte. esse espao de tempo, aca'ou assinando
umdocumento &ue no compreendia. 0Por presso psicol1gica, f*eram
com&ue eu assinasse um papel &ue di*ia &ue eu estava
trafcando. 2u noentendia os termos 3ur#dicos. Fi&uei
desesperado. o era claro o signifcadoda&uele papel. 2les
disseram &ue eu fcaria preso para sempre se noassinasse. Aca'ei
me condenando sem sa'er. o sa'ia &ue eu tinha aopo de no
assinar4, relata Thiago.
25istem tr6s unidades de +agrante da Pol#cia "ivil em (elo
)ori*onte7o "e+an $, este em &ue Thiago !oi preso, o "e+an 8,
&ue cuida apenas darea do "entro, e o 9ni+an, no (arreiro,
&ue atende a regio sul de ().:utras delegacias &ue cuidam
de +agrantes em (elo )ori*onte, com
planto, so especiali*adas7 na mulher, no menor e no tr;nsito. o
"e+an $,a delegada oares e5plica &ue os +agrantes podem se dar
compotencial o!ensivo maior, rou'o, !urto e trfco, por e5emplo, ou
T": ?siglade Termo "ircunstancial de :corr6ncia@. este segundo
caso, em &ue seen&uadram delitos como ameaa, leso corporal
simples e uso de drogas, oincriminado li'erado ap1s assinar um
documento se comprometendo comuma audi6ncia com o ui*ado
2special.
A Bei C.%CC, de ui*ados 2speciais, trata, entre outros, de
usurios dedrogas, &ue, invs de fcarem presos, rece'em medidas
socioeducativas,&ue consistem em assistir a palestras, prestar
servios para a comunidadeetc. Pego pelo +agrante da pol#cia civil,
Thiago !oi levado para o "e+an, a
"entral de Flagrantes. o se confgurando a possi'ilidade de
ui*ado2special, em !uno da assinatura pressionada no documento de
assunodo trfco, ele seria trans!erido para o "eresp, "entro de
Demane3amento do>istema Prisional, pres#dio na Gamaleira em
&ue fcam presos &ue aguardam
3ulgamento. >1 depois da possi'ilidade de condenao, esses
presos soencaminhados para as penitencirias.
"omo a lei no delimita com preciso o &ue separa o trafcante
dousurio, casos como o de Thiago costumam gerar pol6mica. 2le
estavaapenas com um pacote de $%%g, o &ue pode confgurar mais o
pr1prio usodo &ue se !ossem 8% pacotes de /g. 0A gente o'serva
se a droga estpronta para vender4, e5plica
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Ee acordo com relat1rio &uantitativo por etnia e
escolaridade dos presos deMinas em 8%$K, concedido pela
>ecretaria de 2stado de Ee!esa >ocial?>2E>@ mpactto,
/K,IO dos K mil presos mineiros no completou se&uero ensino
!undamental, en&uanto apenas %,O t6m ensino superior.
Eessesmesmos K mil presos, negros e pardos somam H%,LO.
0Tinha 'ranco7 eu e mais dois. : primeiro estava rou'ando
Bo3asAmericanas, "arre!our, !oi pego com 'arra de chocolate. : povo
ria demaisda cara dele4, Thiago se lem'ra s gargalhadas. 0: segundo
tentou rou'arum pingente de ouro &ue um outro ladro pu5ou e
caiu no cho. Tentoupegar e !ugir e se deu mal4. Thiago viu ali uma
realidade similar do "e+an7mesmos os 'rancos eram moradores de
!avela, 3ovens e 3 com flhos.0ingum era ru primrio como eu, com
ensino superior completo e semhist1rico de !urto4. sso rendeu um
apelido a Thiago7 0pro!essor4.
A segunda cela no "eresp !oi a Jltima das &uatro por onde
Thiagopassou. 0A comida era muito no3enta, voc6 no tem ideia. o
tinha como
comer. Tinha &ue comer pra no passar mal de !ome, mas dava
no3o4.Eepois de um dia inteiro ali, cheios de esperana 0os mais
encrencadosconfavam nas oraes4 , os presos !oram se encontrar com o
3ui*, mas s1
Thiago, ru primrio, podendo provar seu tra'alho legal e com
perspectivade atestar &ue apenas usurio, conseguiu a li'erdade.
0: de!ensor pJ'licome orientou a e5plicar pro 3ui* da presso no
"e+an. A# me deram li'erdadeprovis1ria4. :s outros, pela
reincid6ncia e gravidade dos atos, voltaram paraa cela no "eresp,
para esperar encarcerados pelo 3ulgamento. 9m deles,desesperado por
estar descalo, pediu a Thiago seu chinelo de dedo, Jnicopertence
pessoal &ue pode ir com os presos para as celas. 02ra
a'surdopensar em no dar, em voltar a dormir imaginando-o com os ps
descalosnuma da&uelas latrinas4.
Thiago, agora em li'erdade, espera ser intimado para 3ulgamento.
>eele !or condenado por trfco, ou &ual&uer outro dos
presos no "eresprece'er pena em regime !echado ou semi-a'erto,
haver conduo parapenitencirias como a os Maria AlQimin, tam'm
conhecida como Agr#colade eves. Por l, em Di'eiro das eves, so
desenvolvidos tra'alhos deressociali*ao dos presos, &ue t6m a
chance de estudar e seprofssionali*ar. as APA"s, Associaes de
Proteo e Assist6ncia ao"ondenado, como por e5emplo a de >anta
Bu*ia, apenados tam'm t6mchance de ressociali*ao. 2ntretanto,
sistemas de ressociali*ao, &uando
no se veem ameaados de e5tino, carecem de ser ampliados.
apr15ima edio de mpactto, essa discusso continuar sendo
desenvolvida.2m seu mapeamento do campo dos pres#dios no (rasil,
a
pes&uisadora Astrid ohana Pardo Gonalve*, doutoranda em
"i6ncias>ociais pela 9niversidade do 2stado do Dio de aneiro
?92D@, argumenta&ue 0durante a passagem pelo pres#dio o apenado
amplia as redes sociaisde delin&u6ncias, assim como seus
conhecimentos de novas tcnicas decrime. Eesta maneira, e em vista
de seu estigma de R'andidoS, no seuretorno sociedade fca como Jnica
possi'ilidade seu retorno ao crime4.Para a pes&uisadora, com a
ressociali*ao, isso no precisaria continuarassim.
