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Página 1 Boletim 571/14 – Ano VI – 28/07/2014 Previdência concede menos benefícios e despesa sobe só 1,4% Marcelo Caetano, do Ipea: "Os números estão esquisitos", referindo-se à queda de novos pedidos de aposentadoria Por Denise Neumann | De São Paulo Os números da Previdência Social têm intrigado os analistas. De janeiro a maio, as despesas com benefícios previdenciários (sem passivos judiciais) cresceram 1,4%, bem abaixo do ritmo dos últimos anos. Além disso, nos primeiros cinco meses de 2014 aconteceu um fato inédito, pelo menos desde 2005: a concessão de novas aposentadorias e benefícios caiu 1,3%. O número é pequeno, mas foi a primeira inflexão na série crescente de pessoas incorporadas à Previdência nos últimos dez anos. A menor concessão está relacionada a uma queda nos pedidos. Menos pessoas foram ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) solicitar benefícios. Quando os requerimentos são separados por tipo, o grupo que reúne aposentadorias normais (por idade e tempo de contribuição), pensão por morte e salário maternidade apresentou queda de 8,5% em novos pedidos. Isso significa que 142 mil pessoas a menos (em relação a 2013) solicitaram um benefício desse tipo entre janeiro e maio. Aqui, a queda é expressiva, pois em todo o ano passado foram 280 mil solicitações a mais que em 2012. "Está difícil entender o que está havendo com as contas, que praticamente mostram efeitos de uma reforma sem que ela tenha acontecido", diz o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Gabriel Leal de Barros. O especialista em Previdência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Abi-Ramia Caetano, também está intrigado. "Os números estão esquisitos", diz. A dificuldade de entender a queda nos novos pedidos é partilhada pelo professor Luis Eduardo Afonso, da Universidade de São Paulo (USP).

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Boletim 571/14 – Ano VI – 28/07/2014

Previdência concede menos benefícios e despesa sobe só 1,4%

Marcelo Caetano, do Ipea: "Os números estão esquisitos", referindo-se à queda de novos pedidos de aposentadoria

Por Denise Neumann | De São Paulo Os números da Previdência Social têm intrigado os analistas. De janeiro a maio, as despesas com benefícios previdenciários (sem passivos judiciais) cresceram 1,4%, bem abaixo do ritmo dos últimos anos. Além disso, nos primeiros cinco meses de 2014 aconteceu um fato inédito, pelo menos desde 2005: a concessão de novas aposentadorias e benefícios caiu 1,3%. O número é pequeno, mas foi a primeira inflexão na série crescente de pessoas incorporadas à Previdência nos últimos dez anos.

A menor concessão está relacionada a uma queda nos pedidos. Menos pessoas foram ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) solicitar benefícios. Quando os requerimentos são separados por tipo, o grupo que reúne aposentadorias normais (por idade e tempo de contribuição), pensão por morte e salário maternidade apresentou queda de 8,5% em novos pedidos. Isso significa que 142 mil pessoas a menos (em relação a 2013) solicitaram um benefício desse tipo entre janeiro e maio. Aqui, a queda é expressiva, pois em todo o ano passado foram 280 mil solicitações a mais que em 2012.

"Está difícil entender o que está havendo com as contas, que praticamente mostram efeitos de uma reforma sem que ela tenha acontecido", diz o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Gabriel Leal de Barros. O especialista em Previdência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Abi-Ramia Caetano, também está intrigado. "Os números estão esquisitos", diz. A dificuldade de entender a queda nos novos pedidos é partilhada pelo professor Luis Eduardo Afonso, da Universidade de São Paulo (USP).

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O ritmo contido de crescimento das despesas - de janeiro a maio os gastos com benefícios previdenciários (sem sentenças judiciais) cresceram 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a alta foi de 6,8% em 2013 e de 7,9% em 2012 - está relacionado ao menor aumento real do salário mínimo nesse ano, argumenta Eduardo Pereira, coordenador-geral de Estatística do Ministério da Previdência. Ele lembra que a variação real do mínimo - que indexa o piso salarial da Previdência, mas não os demais benefícios que tem sido corrigidos só pela inflação - foi de 1% este ano. "Se o mínimo cresce menos, as despesas normais da Previdência também crescem menos", diz Pereira.

Afonso, da USP, também credita o aumento menor das despesas à menor correção real do mínimo, mas acrescenta outro ponto. Como a inflação está maior, ela corrói, pelo lado perverso, a evolução da despesa real da Previdência.

Se o mínimo pode ser parte da explicação da alta mais controlada das despesas, a queda nos pedidos de aposentadoria é polêmica. Sem a pretensão de encontrar uma resposta definitiva para esse movimento atípico, Pereira, da Previdência, levanta a hipótese de que, diante de um mercado de trabalho que voltou a ficar mais apertado e com ganhos salariais menores, as pessoas adiaram pedidos de aposentadoria para evitar perda adicional de renda nesse momento. O fato da queda de benefícios estar concentrada em aposentadorias e não aparecer nos benefícios por incapacidade, reforçaria essa tese.

Barros e Caetano avaliam que o mercado de trabalho teria o efeito inverso.

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Diante da perda de renda ou de uma demissão, a tendência do trabalhador é antecipar a aposentadoria. O professor Luis Eduardo Afonso, da USP, concorda.

As pessoas adiam a aposentadoria em situação de pleno emprego e com salários mais altos, diz ele. "A questão é que o mercado já não está tão bom assim, ele já mudou um pouco", pondera Afonso.

Caetano, ao destrinchar o Boletim Estatístico da Previdência (BEP) para tentar entender o que está acontecendo, verificou que entre janeiro e maio o tempo médio de concessão de um benefício (entre a chegada no pedido ao INSS e sua concessão ou não liberação) manteve-se entre 28 e 30 dias, padrão dos últimos anos.

A relação entre benefícios requeridos e concedidos também ficou dentro da média histórica, de 38% a 40%.

Para o economista do Ipea, que observou a queda nos novos pedidos, isso poderia estar relacionado com alguma operação-padrão ou greve dos funcionários, situação que, no entanto, não havia sido noticiada.

De acordo com o Ministério da Previdência, não houve greve nem operação-padrão nesse início de ano que pudesse explicar a queda nos novos pedidos.

Para Barros e Caetano, contudo, a queda abrupta no ritmo de crescimento das despesas é outra incógnita. "Mesmo quando excluímos precatórios, que o governo informou que planeja pagar em novembro, há crescimento negativo nas despesas, neste ano", pondera Barros, do Ibre.

De janeiro a maio, a despesa total somou 148,9 bilhões, valor 0,3% inferior ao gasto em igual período de 2013, em valores deflacionados pelo INPC.

Afonso, da USP, diz que pelo mercado de trabalho e pela questão demográfica, a tendência da Previdência é de déficits crescentes. "A arrecadação crescerá menos, acompanhando o ganho salarial menor", diz ele.

Como resultado de despesas crescendo menos, o déficit da Previdência caiu 26% nos primeiros cinco meses do ano.

Foram R$ 25,5 bilhões de janeiro a maio do ano passado e R$ 18,9 bilhões em igual período deste ano, resultado que combina com o déficit de R$ 40 bilhões esperado pelo governo.

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TST poderá unificar forma de cálculo de danos morai s

Ministro Barros Levenhagen: esforço para traçar parâmetros que deverão ser seguidos pela primeira instância e Tribunais Regionais do Trabalho

Por Bárbara Mengardo | De Brasília O critério para o cálculo de indenização por danos morais é um "bom candidato" para inaugurar o uso do sistema de recursos repetitivos pela Justiça do Trabalho, que passa a ser aplicado a partir de setembro pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

O tema, um dos mais comuns nas reclamações trabalhistas, gera decisões díspares no país. Por essa razão, o presidente do TST, ministro Barros Levenhagen, entende que a forma de fixação desses valores poderia ser determinada por recurso repetitivo.

Aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) desde 2008, a medida permite a escolha de um processo cujo assunto seja comum ou repetido nos diversos processos que chegam à Corte. A decisão aplicada a esse processo servirá de base para os demais que tratam do mesmo tema e deverá ser seguida pelas instâncias inferiores.

Uma vez julgado, o assunto não volta a ser discutido no STJ. Na Justiça do Trabalho, a adoção da ferramenta foi autorizada na última semana pela na Lei nº 13.015. A norma altera dispositivos da CLT com o objetivo de tornar mais célere a tramitação processual e evitar recursos protelatórios.

A partir de agosto, segundo Levenhagen, será formada uma comissão de ministros do TST para regulamentar o assunto. "A nova lei tem a virtude de conciliar agilidade, segurança e qualidade das decisões", afirma o ministro.

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Em relação aos temas repetitivos na Justiça do Trabalho, Levenhagen destaca que o arbitramento de danos morais a trabalhadores ainda gera polêmica. Segundo ele, ao contrário dos danos materiais, que ressarcem o trabalhador pelo que ele perdeu financeiramente, os danos morais envolvem análise subjetiva. "Estamos nos esforçando para traçar parâmetros que orientem os tribunais regionais na fixação de valores que não acarretem enriquecimento sem causa ao empregado, mas não representem a reparação que não esteja adequada à violação sofrida".

Advogados trabalhistas concordam que o tema ainda gera decisões conflitantes. "Cada juiz tem a sua régua, o que é muito ruim", diz o advogado Luiz Guilherme Migliora, do escritório Veirano Advogados.

A advogada Viviane Barbosa da Silva, do Lobo & de Rizzo, diz ser comum ver casos semelhantes com valores de danos morais muito diferentes. "Existem decisões em que o dano é muito similar, mas a diferença [no valor arbitrado] é exorbitante", afirma.

A Lei nº 13.015 também tenta evitar a proposição de recursos meramente protelatórios. A partir da norma, os ministros poderão negar o seguimento de embargos de declaração, se a decisão recorrida não estiver de acordo com súmula do TST ou do Supremo Tribunal Federal (STF). A existência de jurisprudência pacífica da Corte trabalhista também permitirá ao relator a negar embargos, por exemplo.

Os ministros poderão ainda determinar a devolução de recursos que envolvam decisões opostas de um mesmo Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Na prática, os TRTs deverão uniformizar sua jurisprudência. Segundo Levenhagen, a medida é positiva porque chegam ao TST muitos recursos por diferenças de entendimento das turmas dos TRTs. "Com o critério antigo estávamos uniformizando, na verdade, a jurisprudência interna dos tribunais regionais", diz.

Segundo o presidente, por ano chegam ao TST entre 260 mil e 300 mil processos, número que representa uma pequena porcentagem do total de ações que ingressam na Justiça Trabalhista anualmente. Conforme o relatório Justiça em números, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2012 foram 3,8 milhões novas ações.

A redução no tempo de tramitação desses processos tem sido uma bandeira da gestão de Levenhagen, que já implementou medidas como a convocação de desembargadores da segunda instância para auxiliarem na análise de ações no TST.

O ministro editou também norma interna que permite a ele, em alguns casos, decidir de forma monocrática (quando um único magistrado julga) para ajudar a reduzir o estoque de processos. A prática não era comum entre os presidentes do tribunal.

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Destaques Parcela única

A 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) aceitou recurso do Condomínio do

Edifício Ravena, em Pará de Minas (MG) para reconhecer que o recebimento de pensão

por danos materiais em parcela única não é direito potestativo do trabalhador - que não

admite contestação. A decisão se deu em recurso do condomínio contra condenação da

Justiça do Trabalho da 3ª Região em ação trabalhista de um empregado que sofreu uma

queda no trabalho e ficou paraplégico. O condomínio foi condenado pelo juízo da Vara do

Trabalho de Pará de Minas a indenizar o trabalhador em R$ 70 mil por danos morais e R$

70 mil por danos estéticos. O TRT acrescentou a indenização por danos materiais de R$

144 mil, em parcela única. Na interpretação do TRT, o artigo 950, parágrafo único, do

Código Civil, ao estabelecer que "o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a

indenização seja arbitrada e paga de uma só vez", instituiu um direito potestaivo. Em

recurso ao TST, o condomínio alegou que não é razoável exigir o pagamento da pensão de

uma só vez, por se tratar de condomínio residencial, que, por sua natureza, não tem

finalidade lucrativa. O relator do recurso, desembargador convocado Marcelo Lamego

Pertence, observou que a jurisprudência do TST é no sentido de que o pagamento em

parcela única não é direito potestativo do ofendido.

(Fonte: Valor Econômico dia 28-07-2014).

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O emprego e o desemprego

Ainda que não contemplem as regiões metropolitanas de Salvador e de Porto Alegre, em razão da greve no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de junho mostram que o mau desempenho da economia está afetando a qualidade do emprego e a duração do desemprego.

A informação de que a taxa de desemprego permanece estável em relação ao mês anterior pode esconder realidades que preocupam.

Segundo o IBGE, a "PME produz indicadores mensais sobre a força de trabalho que permitem avaliar as flutuações e a tendência, a médio e a longo prazos, do mercado de trabalho, nas suas áreas de abrangência, constituindo um indicativo ágil dos efeitos da conjuntura econômica sobre esse mercado, além de atender a outras necessidades importantes para o planejamento socioeconômico do País".

Nesse sentido, a PME, ainda que parcial, cumpre o seu papel, pois traz informações tanto sobre o emprego quanto sobre o desemprego.

Por trás da estabilidade da taxa de desemprego - por exemplo, 5,1% em São Paulo -, observa-se uma tendência de maior precariedade no mercado de trabalho.

Diminuiu o número de empregos formais e aumentou o de empregos sem carteira assinada, bem como o das ocupações por conta própria (por exemplo, vendedor informal de rua).

Na comparação entre maio e junho, nas quatro regiões metropolitanas pesquisadas, foram fechados 55 mil empregos formais, abriram-se 28 mil postos sem carteira assinada e 34 mil pessoas assumiram algum tipo de ocupação por conta própria. O trabalhador está mais desprotegido.

Por setores, chama a atenção a forte queda de empregos formais na indústria. Entre maio e junho, foram fechadas 88 mil vagas no setor que continua abrigando no País os empregos de melhor qualificação.

A pesquisa revela também a queda entre maio e junho do rendimento médio real (salário descontada a inflação). A maior queda foi em Belo Horizonte (2,2%), seguida de São Paulo (1,6%), Recife (1%) e Rio de Janeiro (0,5%).

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Esses dados relativos ao rendimento são reflexo da piora da qualidade do emprego, já que os empregos formais - que pagam mais - diminuíram, e os informais - que pagam menos - aumentaram. Ter havido queda nas quatro regiões metropolitanas, em contraste com a taxa anual, que ainda se mantém positiva, reforça a percepção de uma inflexão significativa no mercado de trabalho. Para pior.

Em relação aos desempregados, o IBGE incluiu na PME dados que foram consolidados em uma série histórica pelo Banco Central. Tais dados também não são alvissareiros.

Entre as pessoas que estão sem ocupação, aumentou o porcentual daquelas que estão à procura de recolocação por mais de um ano.

Em abril do ano passado, esse grupo era de 12,8% do total de desocupados. Agora, são 17,4%.

Está mais demorado encontrar emprego. Esse fenômeno, segundo analistas ouvidos pelo Estado, antecede o achatamento de salários, transforma o trabalhador em alguém "menos empregável" por perda de qualificação e expõe os problemas de uma economia que cresce pouco.

Os motivos para essa situação dos desempregados são a fraqueza da economia e o adiamento de investimentos. "A economia está gerando pouco emprego. O baixo crescimento do País afetou o mercado de trabalho", avalia José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ.

Quer seja no emprego, quer seja no desemprego, os dados indicam que a desaceleração da economia já está produzindo os seus deletérios efeitos para o trabalhador.

Essa constatação mostra que não procede o argumento do Palácio do Planalto de que, ainda que a economia não vá bem, os empregos continuariam bem.

Descuidar da economia - como fez o atual governo - é descuidar do social, como começa a ficar claro. E, como ainda nada aponta para uma melhora da economia, tudo aponta - infelizmente - para uma piora no mercado de trabalho.

A matraca do "pleno-emprego" começa a ser uma cortina de fumaça para os reais problemas que o trabalhador já está enfrentando.

(Fonte: Estado SP dia 28-07-2014).

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