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Lily A. Bear Primeira edição www.LMSdobrasil.com.br São Paulo – SP LMS 2016

Primeira edição  · Lily A. Bear Primeira edição São Paulo – SP LMS 2016

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Lily A. Bear

Primeira edição

www.LMSdobrasil.com.brSão Paulo – SP

LMS2016

A BUSCA DO CONTRABANDISTAA história verdadeira de um homem desesperado que fez a feliz descoberta da liberdade em Jesus CristoPor: Lily A. Bear

A busca do contrabandista foi publicado originalmente no inglês sob o título The Smuggler’s Quest ©1999 por Christian Light Publications, Inc. Har-risonburg, Virginia, 22801. Foi traduzido para o português pela Literatura Monte Sião do Brasil com autorização expressa e exclusiva da Christian Light Publications, Inc. (EUA).

A não ser que se indique o contrário, todas as citações bíblicas foram tiradas da Edição Corrigida e Revisada, Fiel ao Texto Original, João Ferreira de Almeida. Grafia revisada segundo o acordo ortográfico da língua portuguesa - 2011. Usada com permissão da Sociedade Bíblica Trinitariana.

Impresso no BrasilEssa edição de A busca do contrabandista foi publicada em 2016 pela

Literatura Monte Sião do BrasilCaixa Postal 241Av. Zélia de Lima Rosa, 34018550-970 - Boituva – SP

Fone: 15-3264-1402e-mail: [email protected]

Tradução: Paul JefferyRevisores: Oscar Carrivale, DeD TraduçõesDesenho da capa: Theodore YoderArte da capa: Michelle BeidlerIlustrado por Marcos YoderISBN: 978-85-64737-30-3Copyright © 2016 Literatura Monte Sião do Brasil

TODOS OS DIREITOS RESERVADOSNenhuma parte dessa edição pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio ou forma — seja mecânico, eletrônico ou mediante fotocópia, gravação, etc. — ou por meio de qualquer sistema de recuperação de dados ser apropriada e/ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da Literatura Monte Sião do Brasil.

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ÍndiceCapítulo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3Capítulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Capítulo 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15Capítulo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19Capítulo 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Capítulo 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33Capítulo 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Capítulo 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47Capítulo 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55Capítulo 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63Capítulo 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67Capítulo 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73Capítulo 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81Capítulo 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89Capítulo 15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95Capítulo 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103Capítulo 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111Capítulo 18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119Capítulo 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125Capítulo 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131Capítulo 21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141Capítulo 22 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147Capítulo 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151Epílogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

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IntroduçãoQuando Hugo Donado me levou pelas trilhas escor-

regadias que ele havia usado em meio à selva enquanto contrabandeava, quando me mostrou onde ficava a travessia mais fácil do rio entre as plantações de cana de açúcar e quando fui com sua família à pequena igreja adorar, per-cebi que Deus tinha transformado a vida desse homem. Eu nunca conheci o velho Hugo, somente o novo.

— Por que deseja escrever a minha história? — ele perguntou.

— Porque é uma história do que Deus pode fazer. Muitos jovens estão lutando também ao trilhar este mesmo caminho de pecado e egoísmo sem Jesus Cristo — respondi.

Fizemos algumas mudanças na história porque Hugo pediu que sua identidade verdadeira não fosse revelada. Contudo, nós que tivemos o privilégio de trabalhar com ele sabemos que os fatos não foram alterados.

Milagres acontecem. Jesus Cristo ainda é o Salvador e deseja que toda humanidade responda ao seu chamado de salvação. Deus deseja que você seja um filho dele o procura, assim como procurou Hugo Donado naquele interior da selva.

Somos especialmente gratos aos missionários em “São Marcos” que nos ajudaram a reunir toda a informação para essa história.

— Lily A. Bear

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Capítulo 1

— Vá! Saia daqui! Gritos irados estremeceram o silên-cio da sesta do meio-dia. Hugo tropeçou na soleira do casebre, cambaleando em direção ao brilho ofuscante do sol tropical.

— Não volte aqui! Ouviu? — gritou sua mãe com sua voz aguda, enquanto a sua volumosa figura bloqueava a porta. — Fique longe daqui, seu cachorro inútil!

Hugo caminhou indiferente e sem rumo fixo, afas-tando-se de sua casa. Somente seus olhos negros cintilantes e a maneira em que mordia seus finos lábios revelavam a dor que sentia pela fúria de sua madrasta. Mas quando ele virou a esquina e sua casa ficou escondida atrás das palmeiras, seus estreitos ombros caíram em desânimo. Chutando a poeira com seus pés descalços, ele seguiu, sem rumo, pela rua do vilarejo, em direção ao rio.

“Um dia,” ele murmurou para as folhas das palmeiras que ofereciam refúgio do calor do meio-dia; “um dia,” ele repe-tiu em tom desafiador, “serei alguém importante! Espere só mamãe Donado! Seus olhos vão quase pular para fora de sua cabeça quando me vir, Hugo Donado fazendo…”

4 A busca do contrabandista

Hugo parou, incapaz de terminar o seu sonho de gran-deza. O que poderia fazer? O que um menino tão pequeno de dez anos poderia fazer para que seus vizinhos um dia dissessem um ao outro, “Lá vai Hugo. Conhece ele?” Ou chamar quando estivesse passando, “Como vai, senhor Hugo?” Ou o que poderia fazer para ser como Noel, com bastante dinheiro para vangloriar-se perante seus amigos?

Hugo franziu as sobrancelhas ao pensar em seu irmão mais velho, Noel, que usava roupas elegantes – cami-sas novas, bonitas, e bordadas e botas de couro. Mamãe Donado não o incomodava porque ele apenas ria quando ela começava a gritar ou lhe dava dinheiro para ficar quieta.

“É isto mesmo!” Hugo deu uma tapa na sua perna. “Eu vou observar Noel. Vou aprender aonde vai, o que faz, e como ele ganha o seu dinheiro. Hoje à noite, eu vou provar que não tenho medo da escuridão. Vou caminhar tão silen-ciosamente que ninguém vai saber que estou saindo. Vou descer até o rio, o lugar mais perigoso desta região, e vou voltar sem medo. Então, algum dia, vou seguir o Noel.”

A escuridão caiu sobre São Marcos, a pequena vila onde Hugo morava, localizada entre os arvoredos da densa floresta e o rio Ramos, afluente do grande rio Hondo. A escuridão sinistra era era empurrada para trás pelo som estridente dos rádios que despejavam o seu som pelas ruas. Cachorros latiam e brigavam pelos restos de comida jogados nas ruas. As crianças riam ao brincar nas som-bras. Os adultos se sentavam nos bancos onde quer que uma loja pendurasse sua placa vendendo Pepsi gelada ou bebida mais forte.

A bebida forte fazia com que os homens cambaleassem de volta a suas casas após as crianças dormirem e os sons da noite se aquietarem.

A busca do contrabandista 5

Hugo encolheu-se sobre sua esteira, temeroso da escuri-dão que o oprimia de todos os lados. Risadas embriagadas, gritos, e maldições de vez em quando invadiam a noite quando uma briga irrompia nas proximidades.

Ele espremeu seus olhos fechados e tampou seus ouvi-dos. “Tenho de ir,” ele repetiu consigo mesmo. “Tenho que conhecer a noite, assim, não terei medo.”

Quando o sono finalmente apoderou-se dos outros, ele levantou-se de sua esteira sobre as pernas úmidas e trêmulas que quase não o sustentavam. Tremendo, ele saiu deslizando pela parede da cozinha, quase tropeçando no balde de água que ele tinha derrubado mais cedo e que tinha levado sua mãe à ira naquela manhã.

Uma vez fora do quintal, ele inspirou profundamente, relaxando o seu queixo que já estava doendo e deixando seus dentes bater a vontade. Ele não poderia contar como chegou ao rio. Se alguém tivesse observando suas ações, eles teriam duvidado do seu são juízo. Cambaleando, ele correu alguns passos, caiu ao chão, respirou com dificul-dade e olhou ao seu redor pela escuridão amedrontadora antes de repetir todo o processo.

Felizmente, o rio não ficava muito longe da vila, senão Hugo teria desmaiado antes de alcançar os barquinhos amarrados à margem do rio. Abaixou-se no primeiro que encontrou. Parecia que o tempo tinha parado. Hugo sentia como se estivesse deitado a vida inteira na embarcação feita de tronco de árvore. Ele sentia dor dos pés a cabeça. Os músculos tensos repuxavam de forma incontrolável. Os sons do rio ecoavam através da escuridão, intensifi-cando os barulhos desconhecidos ao seu redor. Em sua mente, ele podia imaginar os jacarés famintos com seus pequenos olhos observando seu barquinho, esperando

6 A busca do contrabandista

para afogá-lo. Ou uma cobra enrolada em algum canto pronta para atacar.

Os minutos passavam, mas nada acontecia. Peque-nas ondas balançavam levemente o barquinho e, pouco a pouco, Hugo começou a relaxar. Corajosamente, Hugo se atreveu a abrir primeiro um olho, depois o outro. Nenhu-ma coisa maligna o atacou. Pelo contrário, ele viu o céu cintilando com milhares de estrelas. Hugo sentou-se, maravilhado pela brilhante faixa de luz que a lua lançava sobre a superfície do rio. Ramos escuros debruçavam-se sobre a margem sinuosa, mas o luar prateado suavizava as sombras ameaçadoras da floresta. À medida que seu coração mais uma vez começava a bater normalmente, ele sentia sua força retornando. Rindo alto do seu medo da escuridão, ele desamarrou o barquinho, pegou um remo e conduziu o barquinho rio abaixo.

“Oh, escuridão noturna, venci o meu medo!” parecia cantar o remo cada vez que o mergulhava na água quente do rio. Cada respingo aumentava a confiança do Hugo até que realmente começou a crer que estava sem medo. Erguendo seus ombros, ele, com cuidado, guiou o bar-quinho para o meio do rio, virando na primeira curva, depois a segunda onde o rio se estreitava, fazendo com que ambas as margens do rio se aproximassem perigo-samente. As sombras se aprofundavam, lançando faixas de escuridão profundas sobre o rio. A coragem do Hugo evaporou. Um nó que lhe tirava o fôlego formou-se em seu estômago a ponto de deixá-lo tremendo e sem força. Um grito estridente soou de algum lugar na floresta. À sua esquerda, um animal grande entrou, deslizando na água, fazendo com que o barquinho balançasse sobres as pequenas ondulações na superfície do rio.

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“Socorro! Socorro! Socorro!” — seu grito de pânico penetrou na nuvem de terror que o envolvia, fazendo--o lembrar de que ele estava sozinho no rio. De alguma maneira, conseguiu mudar o rumo da embarcação e encon-trou forças para remar em direção à sua casa. Ele não se lembrava de como tinha amarrado a embarcação ou como tinha chegado de volta em casa. Ele apenas sentiu a segu-rança da sua esteira ao se jogar sobre ela e adormecer.

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Capítulo 2

O sol brilhava pela porta aberta da casa da família Donado. As galinhas buscavam restos de farinha de milho que caíam da mesa onde a senhora Donado estava fazendo tortilhas. Com grande habilidade, ela mergu-lhava os dedos na água, umedecia as palmas das mãos e modelava a massa num perfeito ritmo, formando uma tortilha fina e redonda. Uma pilha de tortilhas já feitas emitia um aroma de milho torrado que se misturava com a fumaça da lenha.

— Seu preguiçoso! — gritou mamãe Donado, desper-tando Hugo do seu sono. — Não vai para escola hoje?

Hugo levantou-se depressa, queixando-se de dor nos músculos. Mamãe deu uma gargalhada barulhenta antes de voltar para a cozinha. Com cuidado, Hugo massa-geou seus braços e pernas até que a dor passou. “Eu fui sozinho para o rio!”, pensou ele triunfantemente. “E ninguém sabe!”

A luz do dia diminuiu um pouco o terror da aventura da noite anterior. Hugo ficou muito satisfeito sabendo que realmente tinha enfrentado o temível rio Ramos infestado

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de jacarés. Em sua mente, ele era mais alto e mais forte do que no dia anterior. Ele flexionou os braços e se alegrou com suas dores.

Cercado pelo brilho da luz solar, Hugo considerou o passeio no rio uma aventura heróica. Só em pensar nisso, seu ego aumentou, dando-lhe coragem para se vestir, entrar na cozinha, servir-se de uma pilha de tortilhas e sair para escola andando como se fosse um homem com propósito.

A senhora Donado ficou olhando boquiaberta o jeito do filho mais novo do seu marido. Geralmente, ele entrava quietinho num quarto, tropeçando de um lado ao outro, irritando-a com sua atitude passiva. Ela não suportava seu aspecto doente e alienado. Agora, ao ver a mudança nele, ficou tão confusa que nem percebeu o júbilo na face dele. A expressão de choque no rosto da madrasta aumen-tou ainda mais o triunfo de Hugo. “Eu não tenho medo da minha madrasta Donado! Eu venci o meu medo!” O coração do Hugo exultou.

Daquele momento em diante, o garoto sentiu que um novo Hugo estava nascendo, capaz de enfrentar qualquer coisa para tornar os seus sonhos de grandeza em realidade.

“Espere só, mamãe Donado! Eu vou lhe mostrar!” Ele praticamente dançou até a escola, impaciente para come-çar a aprender. Hugo chegou tarde à escola da cidade, mas a classe estava tão caótica que ninguém notou o seu atraso. Poucos alunos estavam fazendo suas lições; porém, a cada ano, todos os alunos eram promovidos, até os praticamente analfabetos. As autoridades exigiam frequência das crianças que moravam nos vilarejos bei-rando as estradas precárias além das cidades, mais nada, além disso.

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Os amigos de classe do Hugo ficaram surpresos com o zelo repentino dele de aprender. Ele tinha um olhar de superioridade que não conseguiam entender. A curio-sidade deles aumentou ainda mais a sua determinação, enchendo-o de orgulho. Ele, o zé-ninguém da vila, estava se tornando alguém importante!

O sonho de Hugo fez com que ele se aplicasse mais em sua estratégia. Agora, ele estudava em vez de ficar ocioso. Descobriu uma fascinação por números, especial-mente resolvendo problemas. Os rumores percorriam a vila; “Hugo pode ser pequeno, mas é esperto! Fique de olho no Hugo, com ele não se brinca!”

Certa noite, quando seu pai voltou para casa embria-gado, começou a zombar:

— Estou ouvindo por aí que tenho um filho esperto. Mas você é um burro! Nem pode cortar cana com esses músculos moles! Rindo alto, pegou nos braços do seu filho com força. Hugo ficou tenso ao perceber o cheiro do álcool que emanava do hálito de seu pai, e seu coração encheu-se de ira. Quando o pai o soltou, Hugo se virou e o encarou com uma voz fria e dura:

— Você precisa de ajuda, hein? Precisa de ajuda? Eu não tenho medo de cortar cana. É só pedir! Eu posso ajudá-lo.

— Tá bom, tá bom. Amanhã, — seu pai resmungou.Hugo saiu de casa antes de o sol raiar sobre a floresta.

Pensou que estava chegando cedo, mas antes de chegar à plantação, o silêncio da manhã foi quebrado pelo som dos facões cortando cana.

Aquela manhã inteira, ele lutou para dominar a arte de cortar cana; pegar a cana alta com a mão esquerda; cortá-la um pouco acima da raiz com apenas um corte; desemaranhá-la e começar a empilhar a cana cortada.