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PRODUZIDO PELO QUARTO ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO DA UNISANTA ANO XX - N° 153 MARÇO/ABRIL 2015 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA SANTOS (SP) Foto: MATHEUS MARIA JOSÉ Onde colocar o nosso lixo? Podemos sofrer uma crise hídrica? Em razão de suas peculiaridades, a Baixada Santista se destaca pela riqueza ambiental, mas também pelos riscos sofridos em razão do seu perfil econômico, seja pelas indústrias, polo petroquímico e porto. O incêndio ocorrido nos terminais da Ultracargo, na Alemoa, em abril, sintetiza os perigos aos quais a população convive. Saiba mais nesta edição especial sobre Meio Ambiente. DESAFIOS AMBIENTAIS: Priscilla Kovacs Wagner Tavares EDIÇÃO ESPECIAL

Primeira Impressão - Edição Especial de Meio Ambiente

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Jornal laboratorial da turma do 4º ano do curso Jornalismo da UNISANTA, em Santos. Essa é a edição de abril de de 2015, um especial sobre o Meio Ambiente.

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  • PRODUZIDO PELO QUARTO ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAO DA UNISANTA

    ANO XX - N 153 MARO/ABRIL 2015 DISTRIBUIO GRATUITA SANTOS (SP)

    Foto: MATHEUS MARIA JOS

    Onde colocaro nosso lixo?

    Podemossofreruma crisehdrica?

    Em razo de suas

    peculiaridades, a Baixada Santista se

    destaca pela riqueza ambiental, mas tambm

    pelos riscos sofridos em razo do seu perfil econmico, seja

    pelas indstrias, polo petroqumico e porto. O incndio ocorrido nos terminais da

    Ultracargo, na Alemoa, em abril, sintetiza os perigos aos quais a populao convive. Saiba mais nesta

    edio especial sobre Meio Ambiente.

    Desafios ambientais:Priscilla Kovacs Wagner Tavares

    EDIO ESPECIAL

  • 2 Edio e diagramao: PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015

    Wagner Tavares

    Quase que como um desa-bafo, a frase do ttulo acima foi pronunciada pelo pro-motor de justia Fernando Akaoui, tambm professor na UNISANTA, em coletiva de imprensa para a turma do curso de Jornalismo da Uni-versidade. Akaoui disse que o caos poltico que o Brasil vive, em grande parte, causado pelo descumprimento das leis exigidas pela sociedade. E completou. Quem mais as descumprem quem as cria.

    Especializado na rea am-biental, o promotor foi ques-tionado pelos alunos sobre qual o maior problema nessa esfera. Respondeu que sem-pre o do momento, aquele que est causando um desconfor-to na populao. E a crise h-drica o problema atual.

    Enftico, disse que a culpa tanto do Governo, pela omis-so, quanto pela populao, que responsvel por desma-tamentos, despejo irregular de lixo e ocupao desenfreada. A culpa de todo mundo, mas a maior do Poder Pblico, que tem poder de polcia. Ele pode impedir, mas no impe-de, sempre por questes pol-ticas. Fazer a coisa certa pode ocasionar em perda de voto.

    A gua, no Brasil, sempre foi tratada como um recurso inesgotvel. Essa cultura se d porque o Pas possui as maio-res reservas, fazendo com que a gua seja desperdiada como em nenhum outro. A recente crise hdrica foi ocasionada por uma mudana climtica, que, ao contrrio do que mui-tos pensam, est totalmente ligada s questes ambien-tais, no somente natureza. Os mananciais que abastecem So Paulo esto nessa situao por descuido, no por proble-mas de estiagem.

    Na Baixada Santista, praticamente no houve problemas de falta dgua por causa da Mata Atlnti-ca, ainda preservada. Mas em outras regies, acaba-ram com o microclima. Na Cantareira, por exemplo, desmataram tudo em volta. Akaoui cita que isso per-ceptvel at ao subir a Serra. Em certas regies, durante o trajeto, chove. Quando se chega no planalto, perto da capital, a temperatura sobe uns 2 ou 3 graus, alm de a chuva cessar.

    O promotor volta a criticar o governo de So Paulo quanto relatou que em um seminrio que participou, um professor da UNESP, um dos maiores

    especialistas em recursos h-dricos do Pas, disse que do uso de gua do estado, 60% vai para a agricultura, 30% para a indstria e apenas 10% para o abastecimento huma-no. Algum ouviu o governo exigir economia do setor agr-cola ou da indstria?.

    Se nem o promotor de jus-tia sabe essa resposta, restou aos alunos se orgulharem ain-da mais da profisso para a qual esto estudando ao ouvi-rem uma declarao do convi-dado. A relao entre impren-sa e justia muito satisfatria. H uma cumplicidade forte en-tre imprensa e Ministrio P-blico. Ambos atuam na defesa da sociedade.

    nThaly azevedo

    O promotor de justia Fer-nando Akaoui afirmou que a gua na Baixada Santista cus-ta trs vezes mais que qual-quer outra regio do Pas. A Sabesp, segundo ele, tem re-lao delicada com a regio. Falta saneamento bsico. Alm disso, o custo do tra-tamento de gua provenien-te do lenol fretico muito caro, destaca.

    Akaoui enfatizou, em en-trevista coletiva, que o muni-cpio de So Paulo no estaria passando pelos problemas de crise hdrica se trabalhas-se com um manancial (abas-tecimento de gua) correto. Mas ele disse que o problema da falta de gua no s da

    populao O governo esta-dual pode ser culpado pela crise hdrica. Ele o respon-svel pela Sabesp. como se a companhia de gua fosse funcionria do governo. Se a Sabesp tem culpa, o governo tambm tem.

    O promotor alegou que o Brasil o maior produtor de gua doce do mundo e a maior parte dela subterr-nea. Porm, Akaoui lamenta que os prprios brasileiros poluem a gua e a desperdi-am como em nenhum outro pas do mundo.

    Multas

    De acordo com pesquisa da Unesp citada por Aka-oui, 60% da gua do Brasil destinada agricultura, 30%

    para a indstria e 10% re-vertida para a populao. O governo tem planos de mul-ta sobre desperdcio de gua somente para a populao que utiliza a menor parte da gua. J para a agricultura, por exemplo, no h.

    O promotor explicou que, antes, um prdio residen-cial que tivesse antes todo ms um valor igual na conta de gua, o governo oferecia desconto de 20%, por exem-plo. Mas o condomnio con-tinuava, em alguns casos, com o mesmo valor para os moradores. Como no havia desconto, as pessoas come-avam a desperdiar gua, fazendo com que o gover-no passasse a cobrar multa pelo desperdcio.

    Prof. fernando de Maria

    A proposta da entrevista coletiva que os estudantes tenham vises dis-tintas com a mesma fonte (entrevistado). Neste caso - em decorrncia da grave crise hdrica que atinge o Estado - a falta dgua acabou se tornando o principal tema desenvolvido pelos jovens reprteres, com ligeiras abordagens de outros assuntos.

    Deve-se salientar que a entrevista com o promotor de Justia, Fernando Akaoui, espe-cializado em meio ambiente, foi realizada antes da ocorrncia do incndio nos tanques da empresa Ultracargo, no Distrito Industrial da Alemoa, ocorrido no incio de abril, e que provocou srios danos aos ecossistemas marinhos.

    vinicius KePe

    A partir desta edio, o Primeira Impresso (PI) introduz mudanas significativas em seu processo de produo. O jornal, que tradicio-nalmente era produzido pelos alunos do 4 ano de Jornalismo, incorpora em 2015 tambm os estudantes do 3 ano, devido s alteraes na grade curricular do curso. Com duas publica-es por semestre, o PI constitudo por dois cadernos, A e B. O primeiro segue o estilo de escrita dos jornais dirios norte-americanos (hardnews), enquanto o caderno B tem como objetivo apresentar as matrias de uma forma mais leve (softnews).

    Neste nmero, o tema central ser o cenrio ambiental na Baixada Santista. Entre as repor-tagens do Caderno A, veja o grande impacto am-biental causado pelos nove dias de incndio em um terminal de Santos. Saiba o que disse sobre leis ambientais o promotor Fernando Akaoui, do Ministrio Pblico Ambiental, durante uma entrevista coletiva com alunos da UNISANTA. Sem sair do assunto, leia a entrevista com o ex--secretrio de Meio Ambiente de Santos, Lucia-no Pereira de Souza, um dos autores do livro Lies de Direito Ambiental.

    Ainda no Caderno A, fique por dentro da crise hdrica que atingiu o estado de So Paulo e como as cidades da regio se comportam diante do problema. Em uma dessas cidades, saiba como empresrios tornaram possvel beber gua reti-rada do mar. Para onde vai o nosso lixo? A crise com a falta de aterros sanitrios exige uma so-luo metropolitana, que ainda parece distante.

    Entre as matrias do Caderno B, leia sobre a importncia da reutilizao de roupas e mate-riais reciclveis para diminuir os impactos am-bientais no planeta. E no campo da conscienti-zao, crianas de 5 a 11 anos de idade tm aulas de como lidar com a natureza. Em meio a tanta correria do dia a dia, a importncia do minu-cioso trabalho dos catadores de materiais reci-clveis e das famosas margaridas que mantm limpas as vias pblicas. Lderes sociais levam esperana comunidade com projeto que dis-ponibiliza gua limpa aos moradores.

    Os desafios ambientais da Baixada Santista so imensos e necessitam da vontade poltica dos governantes e compromisso de todos os ci-dados para que tenhamos um futuro sustent-vel para as prximas geraes.

    Promotor Fernando Akaoui condena principalmente a classe poltica

    EDITORIAL

    EnTREvIsTA cOLETIvA

    EXPEDIENTE

    Jornal-Laboratrio do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicao da UNISANTA

    Diretor da FaAC: Prof. Humberto Iafullo Challoub

    Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos

    Professores responsveis:Texto: Prof. Francisco La Scala Jnior, Prof. Helder Marques e Prof. Dr. Fernando De MariaDesign Grfico e diagramao: Prof. Fernando Cludio PeelArtes e Infografia: Da CostaFotografia: Prof. Luiz Nascimento

    Redao, fotos, edio e diagramao: alunos do 4 ano de jornalismo

    Editor de foto: Priscilla Kovacs

    Diagramao final: Wagner Tavares

    Coordenador de Publicidade e Propaganda: Prof. Alex Fernandes

    As matrias e artigos contidos nesse jornal so de responsabilidade de seus autores. No

    representam, portanto, a opinio da instituio mantenedora UNISANTA UNIVERSIDADE

    SANTA CECLIA Rua Oswaldo Cruz, n 266, Boqueiro, Santos (SP). Telefone: (13) 3202-

    7100, Ramal 191 CEP 11045-101

    E-mail: [email protected]

    AnLIsE DO pROfEssOR

    Akaoui fala para turma de Jornalismo

    Brasil o Pas que mais tem leis, mas todos

    adoram descumpri-las

    Akaoui afirma que abastecimento de gua na regio o mais caro do Brasil

    Thalles galvo

    Desafios ambientais da Baixada Santista

    MATHEUS JOS MARIA

  • 3PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015 Edio e diagramao:

    Incndio da Alemoa: nove dias de fogo e dcadas de poluio

    vincius KePe

    Durante as primeiras tenta-tivas de combate s chamas de-correntes de uma exploso que atingiu um terminal de granis lquidos, em Santos, logo foi possvel saber do grande im-pacto ambiental que a poluio qumica causou em rios e na qualidade do ar, acidente que resultou na morte de mais de sete toneladas de peixes nas ci-dades de Santos e Cubato, e a paralisao de parte da econo-mia nacional por conta do blo-queio do acesso de caminhes de transporte margem direita da rea porturia. O que nin-gum sabia que aquele seria apenas o primeiro dos longos e exaustivos nove dias que bom-beiros de toda a regio arrisca-riam suas vidas para controlar e extinguir esse que foi conside-rado por peritos um dos maio-res incndios do mundo.

    No dia 2 de abril de 2015, por volta das 10 horas, dentro de um terminal de granis l-quidos da empresa Ultracargo, no Alemoa, na entrada da Ci-dade de Santos, um dos tan-ques que estocava combustvel inflamvel explodiu, atingindo mais outros cinco com gasoli-na e etanol - cada um com ca-pacidade de armazenar at seis milhes de litros dos produ-tos. Com o passar das horas, e os seis tanques pegando fogo, uma grande nuvem negra de fumaa e fogo j podia ser vista a quilmetros de distncia. Na-quela manh de quinta-feira, muitos moradores da Baixada Santista comearam a conviver diariamente com uma imagem atpica que, como as chamas, dificilmente seria apagada de suas memrias.

    O acidente logo obteve re-percusso nacional. E com o objetivo de evitar boatos sobre a segurana e sade dos morado-res de comunidades prximas ao local do incndio e tambm para informar toda a populao da regio e o Brasil, por meio de coletivas de imprensa, o Gover-no do Estado de So Paulo criou com carter emergencial aquilo que chamaram de gabinete de crise, um grupo formado pelo chefe do executivo de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, o vi-ce-governador do Estado, Mr-cio Frana, e representantes da Defesa Civil, secretarias do Meio Ambiente e Segurana do Esta-do, da Casa Militar, do Ibama, do Corpo de Bombeiros, da Ce-tesb e da empresa responsvel pelo terminal, o grupo Ultracar-go/Tequimar.

    Aps mais de 215 horas de trabalho ininterrupto, reveza-do em turnos por mais de 100 bombeiros e com o apoio de 21 viaturas - parte delas enviadas por refinarias, como a Petro-brs em Cubato, e da Capital - e a utilizao de mais de oito bilhes de litros de gua do mar e produto qumico que a trans-forma em uma espuma de res-friamento (cold fire), o fogo foi oficialmente declarado extinto pelo comandante do Corpo de Bombeiros, Marco Aurlio Al-

    ves Pinto, no dia 10 de abril, por volta das 10 horas, pouco mais de uma semana depois que fun-cionrios, e muitos que traba-lham e moram perto do local, se assustaram ao ouvir o som das primeiras exploses que vieram da direo de terminais que ficam no maior complexo porturio da Amrica Latina.

    Contaminao da guaNo segundo dia de incndio,

    3 de abril, os milhares de litros de gua do mar que foram utili-zados pelos bombeiros, mistu-rados com o produto qumico que formava a espuma de res-friamento que serviu para no deixar que as chamas explo-dissem outros tanques, foram os responsveis pela contami-nao do canal do esturio de Santos, que resultou na morte de quase sete toneladas de pei-xes no local e no Rio Casqueiro, em Cubato.

    Segundo um laudo elabora-do e divulgado pela Cetesb no dia 8 de abril, os resultados das amostras da gua coletada em diferentes pontos prxi-mos de onde ocorria o comba-te ao incndio indicaram que o teor de oxignio dissolvido variava de 0,31 a 3,1 miligra-mas/litro, valores considera-dos baixos para a sobrevivn-cia da vida aqutica.

    O documento tambm indi-cou que a temperatura da gua, que chegou a registrar 27 C, foi outro fator determinante para reduzir a disponibilidade de oxignio na gua. Soma-se a isso a presena do prprio com-bustvel, constituindo as causas mais provveis da mortandade de peixes.

    Famlias prejudicadasAps receber apoio do Go-

    verno Federal, por meio do Ministrio da Pesca, e da Or-dem dos Advogados do Brasil, a prefeita de Cubato, Mrcia Rosa, comeou a trabalhar com a finalidade de fazer com que a empresa Ultracargo indenize cerca de 200 famlias que vi-vem da pesca artesanal e que foram prejudicadas pela polui-o da gua.

    Em nota enviada pela Prefei-tura, Francisco Tobias Barros, um dos fundadores da Vila dos

    Pescadores, disse que, durante os 55 anos em que vive e tra-balha na regio, nunca viu um acidente deste tipo.

    Lembro-me do incndio da Ilha Barnab, na rea portu-ria, e de outros incndios, no prprio bairro, mas nenhum deles matou tantos peixes e atingiu uma rea to grande.

    Para ele, o que preocupa mais a incerteza sobre quan-do podero retornar s suas ati-vidades. Se no tiverem ajuda, as famlias vo passar muitas necessidades, disse.

    Qualidade do arAlm da contaminao da

    gua, outra grande preocu-pao dos rgos ambientais e da populao era referente qualidade do ar que todos estavam respirando. Foi por esse motivo que, no dia 6 de abril, quatro dias aps o incio do incndio, uma estao au-tomtica de medio da qua-lidade do ar foi instalada pela Cetesb no Jardim Bom Retiro, na Zona Noroeste, em Santos, a trs quilmetros do local do incndio. Em todas as medi-es, o equipamento registrou qualidade boa do ar, indican-do que a fumaa no estava afetando a comunidade no entorno do acidente.

    As medies, como a que foi iniciada s 21 horas na-quele dia 6, e fechada s 16 horas do dia 7, por exem-plo, apontaram uma mdia de 20 microgramas/m3 de MP10 (partculas inalveis) e 14 microgramas/m3 de MP2,5 (partculas inalveis finas), nvel dentro do pa-dro de qualidade do ar, ou seja, considerada boa pela companhia estadual.

    Diante dos resultados positi-vos divulgados pela Cetesb so-bre a qualidade do ar, Elio Lo-pes, engenheiro e coordenador do curso de Gesto Ambiental da UNISANTA, fez um alerta e explicou o lado negativo que no mostrado em medies convencionais, que detecta ape-nas partculas palpveis, como a fuligem. Para ele, o acidente um episdio crtico de poluio do ar na regio, principalmente em Cubato, que para onde os ventos estavam levando a maior parte da fumaa.

    Quando existe uma com-busto incompleta, que o caso do incndio na Ultracargo, a si-tuao culmina em vrios tipos de poluentes, como monxido de carbono, dixido de enxo-fre, dixido de nitrognio, que poluem ainda mais o ar. Alm disso, essa mesma combusto de produto orgnico, como o lcool, gera outros tipos de po-luentes, como os compostos orgnicos volteis, que por sua vez lanam no ar, entre outros, o benzoapireno, considerado pela Organizao Mundial da Sade um composto orgnico carcinognico (que causa cn-cer).

    O coordenador, que tem mais de 40 anos de experincia como perito em assuntos am-bientais, tambm explicou que a partir do momento em que lanado no ar um elemento como o benzoapireno, no h limite seguro para dizer se (a qualidade do ar) est dentro ou fora do padro de qualidade.

    Multa milionriaEm nota, a Cetesb informou,

    no dia 14 de abril, que multou em R$ 22.500.000,00 (vinte e dois milhes e quinhentos mil reais) o Terminal Qu-mico de Aratu/Tequimar, do Grupo Ultracargo, por danos ambientais, riscos popula-o e outras consequncias do incndio na zona industrial de Santos, no bairro da Alemoa. A penalidade se baseou nos arti-gos 61 e 62 do decreto federal 6514/08, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98).

    A multa levou em considera-o os efluentes lquidos lana-dos no esturio de Santos, em manguezais e na lagoa paralela ao terminal, alm da emisso de efluentes gasosos na atmos-fera, colocar em risco a segu-rana dos moradores de comu-nidades que ficam prximas ao local de onde aconteceu o incndio, dos prprios funcio-nrios e de outras instalaes localizadas no mesmo comple-xo industrial, e tambm por in-comodar o bem-estar da popu-lao e provocar a mortandade de milhares de peixes, de vrias espcies, no canal do esturio e no rio Casqueiro.

    A interrupo das ativida-des de outros terminais da re-gio e do trfego de caminhes no Porto de Santos, alm dos transtornos causados ao trfe-go urbano e operaes portu-rias, tambm foram citados como agravantes.

    As consequncias ambientais e econmicas so incalculveis

    A coluna de fumaa podia ser vista de vrios pontos da Baixada Santista

    Helicptero guia da Polcia Militar ajudou no monitoramento do incndio

    O fogo atingiu seis tanques

    Fotos: MATHEUS JOS MARIA

    Essa a quantidade de horas, de trabalho

    ininterrupto, necessrias para que o incndio

    fosse finalmente apagado, em um

    revezamento feito por mais de 100 bombeiros, com apoio de 21 viaturas

    215

    Fonte: Corpo de Bombeiros

    vinicius KePe

  • 4 Edio e diagramao: PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015

    Wagner Tavares

    A Baixada Santista tem uma rede de mananciais que a deixa independente dos sistemas Cantareira e Gua-rapiranga. Alm da represa Billings, responsvel por cer-ca de 40% do abastecimento da regio, os nove municpios que a integram ainda contam com 31 rios, ribeires e crre-gos da Serra do Mar. Exceto por Bertioga, todas as outras cidades tm um sistema inte-grado de abastecimento, pos-sibilitando desvios de gua, caso sejam necessrios.

    A rea ainda preserva-da da Mata Atlntica, que se estende pelo litoral, a res-ponsvel pela quantidade de mananciais. Mas no se ba-seando nisso que a populao pode relaxar.

    So pouco mais de 1,7 mi-lho de habitantes nas cidades da regio metropolitana, mas se os sistemas que abastecem a capital ficarem com o volume de gua ainda menor, os mo-radores de So Paulo podem descer a serra para aproveitar a oferta de gua na Baixada Santista. uma populao flu-tuante difcil de ser calculada e que vem at com roupas para serem lavadas aqui.

    Se a crise hdrica se inten-sificar, h tambm a possibi-lidade de a Sabesp desviar da represa Billings uma grande quantidade de gua para Can-tareira e Guarapiranga, dimi-nuindo o volume do principal manancial da Baixada. S que esse procedimento gera um custo muito alto e, por isso, deve ser uma alternativa usada apenas em caso de ex-trema urgncia.

    A biloga e mestra em eco-logia Cynthia Stelita Schalch lembra que chuvas constan-tes so um fator essencial para manter os nveis dos rios, mas surpreende ao di-zer que, ao contrrio do que a maioria das pessoas pensa, tempestades podem ocasio-nar dficit no abastecimento.

    Ela explica que muita gua vinda do cu acaba gerando desmoronamentos de terras, contaminando os rios com barro e sujeira.

    Em 2013, por exemplo, ocorreram fortes desliza-mentos na Serra do Mar e a estao Piles, que abastece Cubato e outras cidades, fi-cou inutilizada pelos detri-tos e enorme quantidade de gua. Uma grande manuten-o teve que ser realizada no sistema.

    A professora Cynthia aler-ta que outros fatores que in-fluenciam na vazo de gua so o desmatamento e as ocupaes irregulares no en-torno dos mananciais. um comportamento ilegal, mas j estabelecido. Ento, mes-mo com fiscalizaes e inter-dies, o crescimento dessas irregularidades certo.

    A mata ajuda a criar a umi-dade para que chuvas ocor-ram e, assim, rios e crre-gos tenham vazo suficiente. Como a Baixada fica em uma rea de chuvas constantes, Cynthia alivia os moradores. A regio est em uma zona

    de conforto. A chance de pas-sarmos pelos mesmos pro-blemas que So Paulo passa remota.

    A professora defende essa previso mesmo com um es-tudo realizado pela Agncia Nacional de guas ANA, em 2010, chamado Atlas Brasil--Abastecimento Urbano, em que eram indicadas necessi-dades da Baixada Santista em relao aos sistemas hdricos, com uma previso de gastos de R$ 366 milhes.

    Segundo o estudo, das nove cidades, apenas Itanha-

    m e Mongagu esto com condies satisfatrias. Para Santos, Cubato e Bertioga, uma ampliao nos sistemas seria necessria. J para Gua-ruj, Praia Grande e So Vi-cente a indicao era a de no-vos mananciais.

    Da avaliao, a maior me-lhoria feita foi a criao do Sistema Integrado Mambu/Branco, em Itanham, que beneficia diretamente os mu-nicpios de Perube, Itanha-m, Mongagu, Praia Grande e a rea continental de So Vicente. Por meio do siste-ma integrado, ainda beneficia indiretamente Guaruj. S nesse sistema, at dezembro de 2013, foram gastos R$ 413 milhes, superando a pre-viso de melhorias da ANA para toda a Baixada Santista.

    A varivel que pode que-brar uma previso, ressalta Cynthia, a populao de ve-ro, caso aumente demais.

    Comeo de Crise Em 2004, a Sabesp reno-

    vou contrato com o municpio de So Paulo para continuar a administrar o abastecimento

    de gua. Foi identificada uma insuficincia na estrutura dos reservatrios para satisfazer a demanda e seriam necessrias obras para aumentar a capaci-dade de armazenamento.

    A partir da, a cidade ficou muito dependente do sistema Cantareira, um conjunto de represas construdas nas nas-centes da bacia do rio Piraci-caba, sendo que as chuvas de vero so as principais fontes de abastecimento para manter os reservatrios cheios.

    A estiagem, o desmatamen-to e invases de terras nas re-gies em volta das represas levaram a capital do Estado a enfrentar a crise hdrica atu-al, com o desconforto de reve-zamentos. A campanha para economia de gua macia, e a populao est atendendo.

    Os santistas e moradores dos outros oito municpios da Baixada no esto tendo a mesma conscincia porque no sentem a crise.

    Economia a regraAlm de no ser dependen-

    te do sistema que abastece So Paulo, a cidade tem 9 reserva-trios espalhados, segundo a Sabesp. O maior deles, e tam-bm o maior da Amrica Lati-na, o reservatrio-tnel Santa Tereza/Voturu. Tem capaci-dade de armazenar 110 milhes de litros de gua (equivalente a 44 piscinas olmpicas).

    Mesmo assim, economia o que norteia as aes da prefei-tura em relao ao assunto, se-gundo o ento ex-secretrio do Meio Ambiente, Luciano Sou-za (ainda em exerccio quando foi entrevistado pelo Primei-ra Impresso). Um novo decreto, assinado pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa no dia 20 de maro, estabelece que todos os projetos de obras pblicas municipais de edifi-caes tm que ter aproveita-mento de guas pluviais.

    Por enquanto, em confor-midade com esse decreto, h apenas uma construo, a da terceira unidade do Bom Prato. As normas no valem para edi-fcios e equipamentos j cons-trudos. H apenas a indicao para que seja feita a adaptao em caso de grandes reformas.

    Souza tambm citou ou-tras medidas para economia de gua, como o fechamento parcial dos 47 chuveirinhos na orla da praia e a orientao feita aos servidores pblicos para que entrem em contato imediatamente com a Sabesp, caso se deparem com algum tipo de vazamento.

    Campanhas pelo uso correto da gua so feitas periodica-mente pela Prefeitura junta-mente com a Sabesp. So rea-lizadas por meio de adesivos, publicaes no Dirio Oficial e em conversas e trabalhos com alunos de escolas municipais. um desafio comum, ento cada um tem a sua parcela de responsabilidade. Do consu-midor at quem produz a gua, que a Sabesp.

    Uma coincidncia de fatores tem que acontecer para que os mananciais e reservatrios no deem conta do abastecimento da regio, mas a precauo continua sendo vlida

    Crise hdrica como a de So Paulo dificilmente chegar regio

    So 31 mananciais que abastecem as cidades da Baixada Santista, entre rios, crregos e ribeires

    milhes era, em 2010, a estimativa de valores

    necessrios para melhorias nos sistemas

    hdricos da Baixada Santista. S no Sistema Mambu / Branco foram investidos mais de R$

    400 milhes

    R$ 366

    Fonte: ANA - Agncia Nacional de guas

    Wagner Tavares

    Arte: WAGNER TAVARES

    O maior investimento feito no abastecimento hdrico da regio, foi no Sistema Integrado Produtor de gua Mambu / Branco, em Itanham

    Arte: WAGNER TAVARES (baseada em material produzido pela Sabesp)

  • 5PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015 Edio e diagramao:

    yonny furuKaWa

    O maior reservatrio para abastecimento do Hemisf-rio Sul em formato de tnel, que fornece gua para Santos, So Vicente, parte de Guaruj e Praia Grande, o de Santa Tereza-Voturu, localizado en-tre os morros Santa Terezinha em Santos e Voturu em So Vicente. um tnel que com-plementa a gua nas pocas de alta temporada do vero, quando o fluxo de turistas tri-plica a populao fixa, junta-mente com o consumo.

    Durante a crise hdrica, o reservatrio nem foi lembrado pela populao e tambm pela mdia. Porm, ao todo, a ca-pacidade de 100 milhes de litros de gua para atender a regio, o que significa quadru-plicar o abastecimento.

    Alm disso, a Regio Metro-politana da Baixada Santista, que abrange os nove munic-pios, conta com 50 reservat-rios e tem, no total, capacida-de para armazenar 1 bilho de litros de gua, sendo que 10% do total esto no do Morro Santa Tereza-Voturu.

    A populao da Baixada, apesar disso, deve continuar racionalizando o uso da gua, j que a falta deste bem natural na regio pode ocorrer.

    A Sabesp informa que o reser-vatrio funciona apenas em situ-aes extremas, como uma caixa dgua gigante, que serve para abastecer a populao quando realmente houver necessidade.

    A visitao populao ao tnel-reservatrio acontece de dois em dois anos, quando a empresa abre as instalaes para a limpeza e desinfeco do local, possibilitando aos in-teressados a observao inter-na. As entradas ficam no Hor-to Municipal de So Vicente e Avenida Moura Ribeiro, no Marap, em Santos.

    Histrico O reservatrio comeou a

    ser construdo em 1979 pelo Estado, na gesto do gover-nador Paulo Maluf e depois de dois anos, em novembro de 1981, j estava abastecen-do a regio. A primeira pers-pectiva era a de que abaste-cesse as cidades de Santos, So Vicente, Guaruj e Cuba-to at o ano 2000, porm a distribuio j atravessou quatro dcadas.

    Cravado na rocha, no Morro de Santa Tereza-Voturu, o re-servatrio-tnel foi executado do lado de Santos e So Vicen-te para que se encontrassem no meio. O lado de Santos teve incio em uma pedreira desa-tivada e exigiu mais cuidado por estar em uma regio extre-mamente habitada. Pelo outro lado, a escavao do p-direito exigiu o escoramento da obra para garantir a segurana e a qualidade da operao. Na poca, os estudos geolgicos do projeto identificaram uma rocha de excelente qualidade, que permitiu a utilizao da prpria estrutura do local.

    O reservatrio-tnel tem 1.100 metros de extenso, cer-ca de 13 metros de altura (espa-o para se levantar um prdio de cinco andares) e 15 metros de largura (equivalente a uma estrada de quatro pistas). So duas cmaras que chegam a 20 metros de altura, uma para re-servar gua para Santos e par-te de Guaruj e outra para So Vicente. O reservatrio tem capacidade para reservar 100 milhes de litros de gua, o equivalente a 44 piscinas olm-picas ou uma piscina de 2,2 quilmetros de comprimento por 25 metros de largura.

    Pela grandiosidade do sistema, para entrar em ope-rao foram necessewrias trs semanas para desinfec-o e limpeza do reservat-rio, garantindo a qualidade da gua distribuda.

    O principal motivo para sua construo foi o Plano Diretor de Santos, que previa o cres-cimento a uma taxa de 30% a cada dcada, que se somavam aos milhares de turistas que tambm frequentavam a cida-de durante o vero. Diferen-temente de outras regies do Estado, no h uma represa para o abastecimento. As cap-

    taes na Baixada Santista so feitas em mananciais de serra, seguido de tratamento e dis-tribuio, com reservatrios somente de gua tratada. Du-rante as obras, cerca de 300 pessoas trabalharam direta-mente na construo.

    Uma das vantagens do pon-to de vista tcnico foi a altura em que a base do reservatrio est em relao ao nvel do mar - 42 metros. Essa posio per-mite que o abastecimento seja realizado apenas por gravida-de, sem o emprego de bombas, o que reduz bastante o custo para a distribuio de gua.

    livia lino

    Em meio crise hdrica que afeta o Sudeste e outras regi-es do pas, a Baixada Santista foi exceo e no sofreu com a falta de gua. A resposta para isso est na Serra do Mar. Se-gundo o professor de Biolo-gia e pesquisador do Ncleo de Pesquisas Hidrodinmicas da UNISANTA, Renan Braga Ribeiro, as nuvens que che-gam dos oceanos encontram a Serra do Mar e ficam pre-sas na regio abastecendo os

    rios e os 26 mananciais aos quais esto interligados. Ela serve como muralha e por isso h mais chuvas no Lito-ral, explica.

    Apesar da situao geogr-fica privilegiada, de acordo com o professor de Sanea-mento Bsico da UNISANTA Joo Guedes, os mananciais da Baixada sofreram reduo de volume. A populao no percebeu porque o sistema da Baixada Santista integrado ou seja, a gua de um muni-cpio vai para outro, explica.

    Para Guedes, a escassez no afetar o abastecimento populao se houver reduo de consumo e reutilizao da gua da chuva, por exemplo. Ns temos que ter a conscin-cia do uso racional. Uso de cis-terna e reuso de gua de chuva tem que ocorrer, orienta.

    Imobilirias de Santos usa-ram a gua para atrair mora-dores oriundos da capital e interior. Na ocasio, o prefei-to Paulo Alexandre Barbosa declarou ao jornal A Tribu-na que Santos estaria pronta

    para receber moradores que sofrem com escassez de gua de outras cidades e estados.

    O recurso de gua alm de finito caro, segundo Guedes, e incentivar vendas imobili-rias com esse atrativo vai de encontro com o uso conscien-te da gua. Toda cidade deve ter sua capacidade hdrica, mas no podemos confun-dir. Se a populao aumentar e se no houver uma reserva maior e conscincia haver crise hdrica sim, alerta.

    J sobre a posio do prefei-to de Santos, Guedes considera correta, pois a cidade recebeu milhares de turistas e conse-

    guiu atender a demanda, mas alerta sobre fatores como ener-gia eltrica, mobilidade urbana, fluxo de carros, alm de gua e esgoto. No se pode fazer uma comunidade nova e no dar acessibilidade a ela, observa.

    A escassez de gua um problema causado por di-versos fatores, na opinio do professor, o principal o problema ambiental. Essa uma crise que incorpora todo o sistema. Desde a captao, o ciclo hidrolgico, e condi-es climticas adversas, no houve a mesma quantidade de chuva que nos anos anterio-res, acrescenta Guedes.

    DiferenasAs chuvas que caem na capi-

    tal so oriundas da Amaznia, j a Baixada depende princi-palmente dos oceanos. Devido ao encontro das nuvens com a Serra do Mar, o destino delas muda de trajeto e chega a So Paulo at dias depois.

    Outra diferena que existe entre a Baixada e So Paulo o processo de captao. A gua cai na serra e vai para os rios onde a Sabesp capta o material, explica Renan Ribeiro. J em So Paulo, a gua infiltra no solo, vai para o rio e depois para os reservatrios.

    Chuvas frequentes na Baixada Santista ajudaram a evitar escassez de gua entre a populao

    O reservatrio-tnel tem muitas histrias curiosas. Uma delas diz respeito a um macaco, que fugiu do Horto Municipal. O animal invadiu o tnel e o Corpo de Bombei-ros foi acionado. Assustado, o macaco subiu as escadas que do acesso a uma das cmaras e se jogou na gua. O resgate foi realizado com sucesso, a rea foi esvaziada e passou por um processo de limpeza e desinfeco.

    Serra do Mar contribui para

    abastecer mananciais

    Se no houver

    conscincia, haver crise

    hdrica, sim

    Joo Guedesprofessor

    Regio tem maior reservatrio do Hemisfrio SulArte: OSVALDO DA COSTA

    CURIOSIDADE!

    liva lino

    MATHEUS JOS MARIA

    Sistema hdrico atende as nove cidades da BS

  • 6 Edio e diagramao: PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015

    lucas ferreira

    Por ser abastecida pelos rios e mananciais da regio do Par-que da Serra do Mar e outros sistemas, como o Rio Cubato, Santos no sofreu tanto com os efeitos da estiagem que atingiu So Paulo neste ano e que le-vou ao racionamento em di-versas partes do Estado. Mas se o risco de uma crise hdrica por aqui pequeno, a quali-dade da gua que chega at a populao pode ser motivo de preocupao.

    A gua desses sistemas captada pela Companhia de Saneamento Bsico do Esta-do de So Paulo (Sabesp) e passa por um rigoroso pro-cesso de tratamento para que se torne boa para consumo. Porm, no caminho percorri-do entre as estaes de trata-mento at as casas, o lquido pode ser contaminado. o que explica o diretor cientfi-co da ONG Amigos da gua, Rodolfo Bonafim. As tubu-laes em Santos so, em boa parte, muito antigas. A gua, ao sair das estaes da Sa-

    besp, realmente tem uma boa qualidade, mas, ao passar por essas tubulaes, pode ser contaminada pela existncia de ferrugem, folhas em de-composio e bactrias. Ele alerta para a necessidade de se usar filtros ou de se ferver a gua antes do consumo.

    Segundo informaes ob-tidas pela reportagem junto a um tcnico da Sabesp, em Santos existem mais de 300 quilmetros de canos antigos na rede de gua, ainda feitos de ferro. Por ano, a empresa realiza em mdia a troca de 10 quilmetros desses canos para outros feitos de PVC. Nesse ritmo, seriam necessrios 30 anos para substituir comple-tamente a tubulao santista.

    Quanto possibilidade de contaminao, a incidncia de amostras contaminadas por bactrias como a E. Coli, a mais comum, muito peque-na. Quando isso acontece, a Sabesp realiza uma nova cole-ta para verificar se a bactria persiste. A taxa de reincidn-cia prxima a zero.

    A Sabesp no confirmou a

    informao, mas, por meio de sua assessoria de imprensa, disse seguir a portaria 2914 do Ministrio da Sade so-bre a qualidade da gua for-necida para abastecimento da populao. Disse, ainda, realizar diariamente diver-

    sas anlises em amostras de gua retiradas em pontos es-tratgicos das redes de distri-buio de Santos, bem como nos demais municpios da Baixada Santista. Tambm informou que todas as tubu-laes passam por avaliaes

    peridicas, a fim de garan-tir o funcionamento pleno e de qualidade no sistema de distribuio. Caso seja cons-tatada alguma necessidade de ajuste ou substituio, as devidas intervenes so pro-gramadas e executadas.

    milhes de reais foram gastos na usina de dessalinizao em

    Barcelona

    750vezes maior pode

    ser o custo da gua dessalinizada

    5

    Canos de ferro sofrem com a ferrugem, que compromete a qualidade da gua tratada

    eder TrasKini

    Na histria da humanidade so vrias as invenes que, de alguma forma, revolucionaram o mundo. A lmpada, o motor a combusto, a roda e a prpria internet so alguns exemplos. Diante de um dos maiores pro-blemas atuais, a crise hdrica, pode estar chegando ao Brasil uma dessas invenes que pode solucionar o problema: a dessa-linizao da gua.

    Cobrindo 70% da superfcie do Planeta, o lquido possui ape-nas 3% desse total de gua doce. No entanto, tirando gelo, neve e a parte da gua localizada abai-xo da terra, sobra apenas 0,1% de gua disponvel para o con-sumo humano.

    Visando aproveitar os outros 99,9%, o processo de dessalini-zao realizado desde 1928 em localidades onde a gua doce escassa ou de difcil acesso, como pases do Caribe e Orien-te Mdio. Hoje existem mais de sete mil usinas, localizadas no

    Golfo Prsico, Espanha, Malta, Austrlia e Caribe. A principal cidade abastecida pelo proces-so Barcelona. Dos 5 milhes de habitantes, 20% consomem gua do mar. a que surge o principal empecilho: o alto cus-to. Os moradores da cidade tive-ram aumento entre 50% e 70% na conta de gua. O custo da gua dessalinizada chega a ser cinco vezes maior e os investi-mentos para produo tambm so altos: cerca de R$ 750 mi-lhes foram gastos na usina da cidade espanhola.

    No Brasil, o processo che-gou em 1970, quando o Institu-to Tecnolgico da Aeronutica (ITA), realizou as primeiras ex-

    perincias. Mais recentemen-te, uma empresa localizada em Bertioga criou um processo pr-prio para realizar a dessaliniza-o e ainda manter mais de 60 minerais contidos na gua sal-gada. Na gua do mar encon-tramos 63 minerais que ajudam o sistema celular. A gua vendi-da nos supermercados tem, no mximo, 12 minerais. Porm, para o corpo ficar saudvel, precisa de muito mais, explica o engenheiro responsvel pela empresa, Silvio Paixo.

    A gua produzida j tem au-torizao da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvi-sa) para ser exportada, porm, ainda aguarda liberao para circular no mercado brasileiro. Segundo o ex-presidente da An-visa, Claudio Maierovitch, isso acontece pois no Brasil existem definies legais que necessitam do registro na Anvisa, coisa que no acontece em outros pases. Todos os produtos que podem oferecer riscos sade so de competncia da Agncia. O

    problema que ela pretendia pr no mercado um produto afirmando que era benfico para a sade. Nesse caso, poderia ser considerado um medicamento ou um alimento especial e, para se enquadrar em uma dessas categorias, preciso apresentar evidncia, estudos que demons-trem cientificamente os efeitos alegados, afirma Maierovitch.

    Ainda segundo ele, os dados apresentados pela empresa no atendiam os quesitos mnimos de um estudo cientfico, no podendo assim servir de base para o registro. A Anvisa ainda estudou se ela poderia oferecer o produto sem fazer qualquer alegao de que traria benef-

    cios e evidentemente tambm no poderia incluir afirmaes dessa natureza em rtulos, em-balagens ou propaganda. Isso no interessava para a empre-sa, explica.

    Outro problema que a em-presa pode enfrentar com re-lao ao processo de dessalini-zao: a gua retirada do alto mar a uma profundidade de 30 metros, passa por um proces-so e metade da gua se torna potvel. J a outra metade devolvida ao mar com a con-centrao de sal maior. Para a biloga marinha Fernanda Doreto, isso pode ser um pro-blema. Se algum organismo sobreviver a esse processo, com certeza ele um organismo mais forte. Quando jogado de volta ao mar, se torna um or-ganismo invasor. Pode ser que nunca se reproduza ou pode ser que se adapte bem e no tenha nenhum predador. Isso causa-ria um grande desequilbrio na cadeia alimentar, declara. A empresa nega os riscos: A dis-soluo ocorre naturalmente pelo movimento do oceano em pontos diversos. A quantidade de gua com maior salinida-de em comparao ao oceano muitssimo pequena, permi-tindo-nos afirmar que a proba-bilidade de comprometimento do meio ambiente nula, es-clarece Paixo.

    Chegando usina, ela passa por um processo de trs fases

    Dessalinizao surge como alternativa crise hdrica

    Processo chega Baixada Santista, mas alto custo ainda empecilho

    Tubulaes podem afetar gua em Santos

    DIVULGAO / LUCAS FERREIRA

    Arte: OSVALDO DA COSTA

    lucas ferreira

  • 7PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015 Edio e diagramao:

    Priscilla Kovacs

    Quem curte uma boa caran-guejada deve ficar em alerta. Os caranguejos-u que vivem nos manguezais do Litoral Paulista esto contaminados e podem trazer srios riscos sade de quem os consome. O dado de um estudo realiza-do por professores e alunos da Universidade Estadual Pau-lista (Unesp) Campus Litoral Paulista, em So Vicente, e comandado pelo biolgo Mar-celo Pinheiro.

    De acordo com os pesqui-sadores, quatro metais pesa-dos cdmio, cobre, chumbo e mercrio foram detectados em nveis superiores aos per-mitidos por lei em amostras de gua, sedimento e nos prprios caranguejos dos manguezais dos municpios paulistas de Cubato, Bertioga, Iguape, So Vicente e Cananeia

    A contaminao pode cau-sar srios danos sade pbli-ca. Os danos so vrios, sejam eles imediatos como mal estar e problemas fisiolgicos, assim como outros que so crnicos, com possibilidade de gerao de tumores (carcinognese), alm de danos em nvel neuro-lgico, ressalta Pinheiro.

    Nas regies com maior con-centrao desses metais, os caranguejos chegaram a apre-sentar mutaes e malforma-es devido a uma proporo maior de clulas com altera-es genticas. E o perigo que justamente nos caranguejos mais robustos, segundo a pes-quisa, que se encontra a maior quantidade de metais pesados.

    Pinheiro alertou ainda que os peixes das reas estudadas tambm podem estar conta-minados. Os caranguejos so animais basicamente herbvo-ros, com incorporao de me-tais pesados por vrias fontes. Este procedimento denomi-nado acumulao dos poluen-tes, que pode ser repassado a outros animais que dele pos-sam se alimentar.

    Para o bilogo, a nica for-ma de solucionar o problema ou tentar ameniz-lo seria realizar um monitoramen-to das reas estuarinas em-pregando o caranguejo-u como espcie biomonitora. Com o reconhecimento e identificao da fonte emis-

    sora da contaminao, seria possvel sua minimizao ou mesmo supresso completa, seja por instalao de filtros especiais ou mudana de processos para tal fim.

    Impacto na populaoAinda que os resultados da

    pesquisa afetem diretamente a populao consumidora de caranguejos, a mesma pare-ce no se atentar para o novo dado que alerta para o consu-mo do crustceo.

    O operador siderrgico Jefferson A. Passos, 25 anos, consome caranguejos cerca de trs vezes ao ms. O consumo tornou-se uma rotina, j que ele mesmo quem pesca nos mangues de Praia Grande. Ele afirma que no tem qualquer preocupao na hora de pes-car. O nico cuidado efetu-ar a limpeza do caranguejo e ferver. Acho que aquele que pescado diretamente dos manguezais mais saboroso que os do mercado.

    Passos no havia sido infor-mado da contaminao, mas garante que essencial que esse tipo de alerta seja dado as pessoas. Saber algo assim in-fluencia, e muito, no consumo, uma vez que minha sade vem em primeiro lugar.

    O aposentado Amrico Ce-sar Quitrio de Oliveira, 60 anos, f de frutos do mar, mas tambm procura se pre-caver na hora de adquirir. Ele garante que sempre compra no mercado da Ponta da Praia. Preocupo-me em saber se o produto fresco, se est limpo e bem conservado.

    Entretanto, no procura sa-ber a procedncia dos animais, mas preocupou-se ao ser infor-mado das contaminaes. J a estudante Danielle dos Santos, de 34 anos tem o costume de comprar caranguejos na beira das estradas, exatamente um dos locais onde o pesquisador alerta estar o perigo.

    Mesmo tomando conheci-mento do problema com os animais dos manguezais, ela garante que no mudaria seus hbitos alimentares, uma vez que seu gosto pelos crustce-os muito grande. Amo ca-ranguejada, e eu continuaria comprando. Se no fosse nas pistas, em um outro lugar, talvez, mas parar, no!.

    Comeo de tudoEm 2007, Pinheiro foi

    chamado por um jornal de So Vicente para analisar um caranguejo-u com m--formao. Foi quando o bi-logo se deparou com algo indito at ento: um animal com o quelpodo (a popu-lar pina) na forma de uma mozinha. A estrutura nor-malmente tem dois dedos, um mvel e outro fixo, mas no lugar deste nasceram cin-co pontas.

    O animal, apelidado de mozinha, havia sido pes-cado em um manguezal pr-ximo ao bairro do Jquei Clube de So Vicente, junto a sada de chorume prove-niente do lixo desativado. Como sabemos que lixes geram chorume mesmo aps

    desativados por 25 anos, e que este lquido residual rico em metais pesados, fica-mos muito interessados. Um teste de sangue do crustceo indicou que ele apresentava uma frequncia de clulas sanguneas micronucleadas trs vezes maior do que o normal, analisa.

    O fato fez com que o pesqui-sador questionasse se aquilo era somente um evento iso-lado ou se os manguezais da regio de So Vicente e Cuba-to poderiam estar sofrendo os impactos dos despejos, que ocorreram no passado, de me-tais pesados e de outros po-luentes no esturio.

    Em 2010, ento, Pinheiro desenvolveu a proposta de trabalho de pesquisa acerca dos manguezais da regio.

    Ao longo de trs anos fo-ram analisadas 18 subreas de manguezal abrangendo Bertioga, Cubato, So Vi-cente, Perube, Iguape e Ca-naneia. Para tal, foram co-letadas amostras de gua, folhas da planta mangue--vermelho, sedimentos e partes dos tecidos, vsceras e carne dos caranguejos. Alm de conhecer a qualidade dos manguezais, o intui-to era saber se o crustceo poderia ser utilizado como alimento. Os pesquisado-

    res utilizaram duas tcnicas de anlise dos materiais e utilizaram uma amostra de quase 300 caranguejos.

    Dentre as reas pesquisa-das, a Estao Ecolgica da Jureia foi a nica que no apresentou nenhuma conta-minao. De acordo com Pi-nheiro, o resultado que mais surpreendeu foi em Bertioga, j que o local famoso por sua beleza natural e pesca esportiva, alm de no exis-tir indstria na regio. Ainda segundo ele, possivelmente a contaminao pode estar relacionada com um antigo lixo na BR 101, desativado desde 2001.

    Em nota, a Prefeitura da cidade informou que as medidas de controle foram aplicadas, como cobertura e instalao de drenos para gases. Em 2014, os proprie-trios da rea realizaram in-vestigao sobre a contami-nao do solo, subsolo e gua subterrnea e os resultados laboratoriais no apresenta-ram contaminao qumica. O laudo e o respectivo re-latrio foram apresentados para a Cetesb. Vale ressaltar que no existe histrico de depsito qumico de origem industrial no local que pu-desse causar contaminao dessa magnitude.

    Caranguejos apresentam riscos populao caiara

    Animais contaminados por metais pesados trazem srios problemas sade, se consumidos

    Caranguejo-u com m-formao decorrente da contaminao. Animal foi encontrado em So Vicente.

    Catadores do crustceo: uma profisso quase extinta

    haila esTeves

    Em razo da poluio dos mangues da regio por metais pesados, a atividade dos cata-dores de caranguejos est pra-ticamente em extino na Bai-xada Santista. Sem condies de comercializar o produto, que no aceito em restauran-tes, os catadores esto buscan-do outras fontes de renda.

    o caso de Sebastio Fer-reira que, h 25 anos, cata caranguejos em So Vicente. Comecei nesse trabalho por influncia do meu pai, quan-do ia levar sua marmita no almoo. Acabava ficando l pelo manguezal e ajudando o velho, conta.

    Diante das dificuldades para trabalhar, Ferreira cons-tata: Hoje em dia catar ca-

    ranguejo no d dinheiro, a vigilncia fica em cima dos es-tabelecimentos, o que dificul-ta nossa venda, alm da falta de alvar e todas essas coisas.

    Os caranguejos so crustce-os que possuem nas costas uma carapaa protetora. Habitam as regies litorneas do mundo todo, porm algumas espcies preferem reas de mangue. O caranguejo um alimento mui-

    to popular no Brasil e, princi-palmente, na Baixada Santista onde existe uma vasta rea de manguezal. Muito conhecido pelo seu sabor o crustceo di-fcil de pegar e hoje em dia est cada vez mais difcil de ver ca-tadores por a.

    Em So Vicente onde tam-bm est localizado o restau-rante Boa Vista, muito conhe-cido na regio pela culinria com frutos do mar. H 50 anos nosso restaurante es-pecialista em frutos do mar e um dos pratos mais vendidos o caranguejo. Acompanho de perto a luta dos rapazes que

    trabalham com esse tipo de pesca e desde quando foi proi-bida a venda dos caranguejos apanhados na Baixada San-tista, eles tem sofrido muito, revela Eugenio Cao, um dos proprietrios do restaurante.

    Para evitar problemas, ele no compra mais produtos vin-dos dos manguezais de Santos e regio Agora os caranguejos so trazidos do Vale do Ribeira ou at mesmo do Paran. L eles esto fora de perigo e so pescados por profissionais que no prejudicam a fauna e esto liberados para esse tipo de tra-balho, destaca.

    Os danos so vrios,

    desde um mal-estar at gerao de

    tumores

    Marcelo pinheirobiloGo

    JosiMar frazo

    DIVULGAO / PROJETO CRUSTA

  • 8 Edio e diagramao: PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015

    Marcelo edreira

    A preocupao com as enormes quantidades de lixo produzidas pelas sociedades modernas pode ser sintetiza-da em uma pergunta: O que fazer com tudo isso?.

    Os aterros sanitrios so hoje, pelo menos na Baixada Santista, a alternativa mais adotada para o lanamento dos resduos slidos. O pro-blema que oito das nove cidades usam o mesmo local para jogar seus detritos. O resultado que o aterro sani-trio do Stio das Neves, lo-calizado na rea continental de Santos, tem apenas mais seis anos de vida til, situa-o que causa apreenso s autoridades e tcnicos.

    Segundo a Cetesb, a soma do lixo gerado pelas nove ci-

    dades da regio chega a 1.600 toneladas de resduos sli-dos recolhidos diariamente. H dez anos, esse montante chegava a 900 toneladas (um aumento de 73%). E a pers-pectiva que esses nmeros cresam cada vez mais.

    O tema anda to em evidn-cia que, recentemente, o F-rum de Cidadania promoveu um debate, realizado na Uni-versidade Santa Ceclia, onde foram discutidas alternativas para esse grave problema.

    Durante o debate, o presi-dente da Cetesb, Otvio Okano, demonstrou preocupao com o aterro do Stio das Neves. O cenrio preocupante.

    A biloga Ingrid Oberg, li-cenciada do cargo de direto-ra do Ibama de Santos, acha que o principal problema no a falta de alternativas nem

    o uso exagerado de aterros sanitrios. Para ela, a socie-dade extremamente consu-mista e irresponsvel em re-lao ao descarte do lixo.

    Ingrid considera que apre-sentar opes viveis so fun-damentais para que essa men-talidade coletiva mude. Alm disso, ela entende que a unio entre os municpios da Baixa-da para colocar essas alterna-tivas em ao essencial: As cidades precisam se unir. O preo ser muito maior caso cada uma atue individual-mente. A soluo deve ser a unio entre elas.

    Uma opo que sempre colocada em pauta o in-cinerador que, segundo o engenheiro lio Lopes, no a soluo ideal. O certo procurar outras alternativas. O incinerador economica-

    mente invivel.Se usar os aterros sanit-

    rios em excesso prejudicial ao meio ambiente e o incine-rador caro, quais seriam as opes viveis? Para Ingrid, uma das alternativas seria o biodigestor, que alm de ser a soluo para o lixo orgni-co, gera adubo, metano e tem um custo muito menor.

    O que ?Colocado com uma das

    alternativas biodegradveis, o biodigestor um equipa-mento que possibilita o re-aproveitamento de detritos para gerar gs e adubo, seria a grande resposta para o lixo orgnico, j que ele procesa restos e fezes de animais.

    Dentro do aparelho, es-ses detritos entram em de-composio pela ao de

    bactrias que no dependem de oxignio. Durante o pro-cesso, todo o material org-nico acaba convertido em gs metano, que utilizado como combustvel em foges de cozinha ou geradores de energia eltrica. No caso de uma granja, por exemplo, o gs gerado pelas fezes das galinhas usado para aque-cer os ovos nas incubadoras. O resduo slido que so-bra no biodigestor tambm pode ser aproveitado como fertilizante.

    Para faz-lo funcionar, cava-se um buraco no cho onde o equipamento ins-talado, vedando-se o espao com cimento e tijolos. No entanto, deve-se deixar uma porta para colocar os res-duos dentro do biodigestor e poder retir-los depois.

    dannielly cosTa

    Devido grande quanti-dade de lixo produzida pela populao, reciclar se tornou uma atitude cada vez mais im-portante para o meio ambien-te. Em tempos de crise hdrica e eltrica, a reciclagem passou a ser fundamental.

    Segundo o bilogo Ademir Pereira, reciclar poupa gua e energia, alm de diminuir a poluio do ar. A produo de uma tonelada de papel gas-ta, em mdia, 100 mil litros de gua, enquanto a mesma quan-tidade de papel reciclado con-some apenas dois mil litros. No caso da reciclagem do vidro, h uma reduo de 30% de ener-gia, 50% de gua, e ela gera 90% menos poluio do que a produ-o do vidro virgem, afirma.

    Em Praia Grande, a reci-clagem feita por meio da Cooperativa de Coletores e

    Recicladores de Materiais Or-gnicos e Inorgnicos Nova Vida (Coopervida) que reco-lhe, em mdia, 80 toneladas de lixo reciclvel por ms. Parceria entre a prefeitura e os prprios cooperados, a co-operativa rene ex-catadores do antigo Lixo da cidade, de-sativado em 2004.

    O catador de reciclveis, Mrio Gonalves da Silva, afir-ma que sua vida mudou dras-ticamente aps se tornar um dos cooperados. Antes eu ca-tava latinha na praia, perto dos bares. Agora eu venho pra co-operativa. bem mais digno. me sinto mais humano. Atu-almente, a Coopervida atende 39 famlias da cidade, que uti-lizam quatro caminhes para recolher o lixo seletivo.

    O material, recolhido pela empresa na porta dos mora-dores, encaminhado para a sede da cooperativa, localizada

    no Bairro Jardim Glria onde separado em um centro de triagem. Aps esse processo, os materiais so prensados e ven-didos a empresas particulares responsveis pela reciclagem.

    Para Maria de Lourdes dos Santos, moradora da cidade, a coleta uma boa alternativa para a reciclagem. s eu li-gar que eles marcam uma hora para retirar o lixo. prtico e ainda ajuda o meio ambiente.

    Alm da reciclagem do lixo, o bilogo Ademir Perei-ra ressalta que importante o uso consciente do material. Medidas simples, como im-primir nos dois lados da fo-lha, aproveitar o papel usado como rascunho e s imprimir o que for realmente necess-rio, ajudam a reduzir os im-pactos ambientais e poupar recursos naturais, contri-buindo para que a crise no se agrave ainda mais. O destino consciente do material reciclvel fundamental para o meio ambiente

    Em So Vicente, o Aterro Sanitrio do Parque Sambaiatuba foi fechado pelo Ministrio Pblico, agravando a crise da coleta do lixo na cidade

    Falta de alternativas afeta destinao final

    do lixo

    Novas opes para o lixo na regio so necessrias para atender ao aumento da demanda de resduos slidos

    Reciclagem de lixo fundamental durante crise hdrica

    danny cosTa

    FREDERICO DIAS

    DANNY COSTA

  • 9PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015 Edio e diagramao:

    Thalles galvo

    O bairro da Ponta da Praia, em Santos, possui uma qua-lidade do ar abaixo da ideal, fato que prejudica a sade humana. Segundo especialis-tas, isso se deve quantidade de poeira gerada pela movi-mentao de gros no corre-dor de exportao do Porto.

    O secretrio-adjunto de Assuntos Porturios de San-tos, Frederico Abdala, diz que o problema j sabido des-de 2012. Aps fiscalizaes, identificamos que os equipa-mentos utilizados atualmen-te pelas empresas graneleiras datam de 1973.

    Ele explica ainda que o maquinrio foi desenvolvi-do pelos militares em uma poca em que o Brasil no tinha a estrutura necessria para construir moegas e es-teiras transportadoras para exportar milho e soja. Por-tanto, foi necessrio adotar mecanismos que no eram os ideais poca. No posso dizer que improvisado, mas o equipamento no o mais adequado para 2015. Com as atuais normas reguladoras e protetoras do meio ambiente praticamente um absurdo o que ocorre por l.

    Abdala explica que o pro-blema da poeira ocorre du-rante o processo de expor-tao. A soja colocada na moega que projeta o gro em uma esteira transportadora. Esta passa por toda a exten-so entre o armazm e o na-vio at chegar ao shiploader (equipamento que sopra a mercadoria para o poro do navio). Ao bater no fundo do poro ou na pilha de gros,

    uma enorme quantidade de p lanada na atmosfera.

    A gerente responsvel pe-las medies de qualidade do ar da Companhia Am-biental do Estado de So Paulo (Cetesb), Lcia Guar-dani, explica que essas mi-cropartculas presentes em grande quantidade prejudi-cam a respirao, alm de facilitarem a formao de gases que afetam a flora.

    De acordo com a Cetesb, o medidor de qualidade do ar localizado na Praa En-genheiro Jos Rebouas, na Ponta da Praia, o nico que apresenta nveis abaixo da normalidade em Santos. Tambm temos uma esta-o no Hospital Guilherme lvaro (no Boqueiro). No entanto, ela registra ndices bem melhores.

    LimitaesComo alternativas para

    minimizar os impactos da

    poeira, Abdala disse que as empresas exportadoras ado-tam medidas precrias e ru-dimentares aps as notifica-es e mais de R$ 9 milhes em multas aplicadas. Uma das providncias foi o uso da serra pilheira, que esp-cie de vestido implantado no tubo que despeja os gros, de modo que a boca do poro fi-que ensacada. Contudo, essa no maneira ideal de solu-cionar o problema. Ventos desprendem o mecanismo e todo p acumulado lanado de uma vez.

    Outro ponto falho apon-tado por Abdala ocorre du-rante o transporte de soja. Segundo ele, os caminhes utilizados no so totalmente adaptados com caambas es-pecficas para a mobilizao desses produtos. Por esse motivo so despejadas enor-mes quantidades de graneis no decorrer do percurso.

    Alm disso, de acordo

    com relatrio do Instituto Brasileiro do Meio Ambien-te (Ibama), publicado em fevereiro de 2014, os gros servem de alimentos para pombos e ratos, criando uma cadeia de vetores noci-vos sade humana.

    Aps identificar essa srie de problemas, os rgos res-ponsveis foram acionados. Contudo, a Prefeitura de San-tos esbarrou nas limitaes legais. O nosso Porto de le-gislao federal. At hoje no foram tomadas medidas ade-quadas de modo que as em-presas ajustassem os equipa-mentos para no produzir a poeira que gravita na atmos-fera durante o embarque, la-menta Abdala.

    Por conta disso, o Execu-tivo santista sugeriu que o Governo Federal no pror-rogasse os contratos das em-presas que operam no cor-redor de exportao, que se encerrariam em 2017. Isso

    se arrastou at o Supre-mo Tribunal Federal, mas a ADM (empresa que mais administra gros no Porto) conseguiu a sua prorrogao por 20 anos em dezembro passado. Infelizmente, as autoridades federais no tm a mesma sensibilidade que ns porque o problema est em nosso quintal.

    AlternativasO secretrio-adjunto jus-

    tifica que a expanso por-turia para a rea Conti-nental de Santos seria uma boa oportunidade para mo-dernizar os equipamentos. Isso demanda a constru-o de armazns novos com tecnologias apuradas para a atualidade. muito mais rentvel para as empresas operarem de forma inade-quada, pois no existem sanes severas, do que fa-zer um investimento de pon-ta. muito triste pensar que s esto aqui pela prestao de servios, simplesmente pelo lucro. No h uma con-trapartida para a Cidade.

    Em nota, a Companhia Do-cas do Estado de So Paulo, a Codesp (administradora do complexo porturio) informa que as inspees dos termi-nais so realizadas em parcei-ra com a Cestesb, e , quando constatadas irregularidades, so feitos Autos de Inspe-o. Os dados so enviados Agncia Nacionalde Trans-portes Aquavirios (Antaq), a quem cabe a aplicao de pe-nalidades.

    Procurada pela repor-tagem, a ADM no se ma-nifestou at o fechamento desta matria.

    Moradores da Ponta da Praia so incomodados com a poeira proveniente da movimentao de gros no Porto

    guilherMe alMeida

    Andar de bicicleta faz bem ao corpo e ao meio ambiente. Pesquisadores da Nova Zeln-dia concluram que para cada dlar investido em ciclovias, as cidades podem economizar at US$ 24 graas reduo de custos com sade, tratamento da poluio e trfego. Santos e Praia Grande j seguem essa tendncia. Os municpios so exemplos de malha cicloviria no Estado. Isso, aliado ao clima ameno e ao relevo plano, esti-mulam os moradores a usarem cada vez mais a bicicleta como meio de transporte.

    Fernanda Luz fotojornalis-

    ta e defensora da bike h anos. Com o crescimento do nmero de ciclovias, ela decidiu adotar a bicicleta como meio de trans-porte de casa para o trabalho. Eu moro a 15 minutos do tra-balho. H ciclovia durante pra-ticamente todo o trajeto, afir-mou.

    A jornalista se apaixonou tanto pela prtica que criou a Santosciclista (www.fb.com/santosdebike), uma pgina que rene dicas, notcias e princi-palmente fotos de ciclistas da regio. Pensei: por que no juntar esse povo numa fanpa-ge? Assim poderamos trocar informao sobre o assunto., explicou.

    Embora Fernanda ache San-tos uma boa cidade para o ci-clismo, ainda h deficincias, como falta de ciclovia na maio-ria dos canais e na Avenida Nossa Senhora de Ftima, na Zona Noroeste, alm de poucos bicicletrios pblicos.

    Estas so algumas das prin-cipais queixas de quem anda de bike na regio. A ciclovia da praia foi reformada em alguns pontos, mas continua cheia de buracos e desvios criados pelas razes das rvores, declarou o jornalista Rodrigo Monteiro, que usa a bicicleta quase diaria-mente pela regio. Ainda fal-tam ciclovias boas, completou.

    Para o presidente da Asso-

    ciao Brasileira de Ciclistas, Jess Teixeira Felix, houve um grande crescimento em ciclo-vias nos ltimos dez anos. No entanto, duas cidades da regio no esto preocupadas com o tema. Muitos prefeitos no esto nem a... Mongagu e Perube esto sem nenhuma obra de ciclovia ou ciclofaixa, destacou. Os exemplos so Santos e Praia Grande, mas a segunda ainda peca por no possuir ciclovias que liguem os bairros s avenidas.

    Outro problema que no h planejamento para inte-grar os municpios da regio com faixas exclusivas. A as-sociao vem brigando por

    isso, mas alguns preferem manter como est.

    BenefciosUm dos principais respon-

    sveis pelo efeito estufa a emisso de dixido de carbono (CO2) dos automveis. Esse gs impede que a radiao solar volte ao espao e eleva a tempe-ratura do ar, lagos e oceanos. Alm disso, quem usa a bicicle-ta contribui para a melhor qua-lidade do ar na sua cidade.

    Alm disso, estudos com-provam que usar a bicicleta contribui para o bem-estar f-sico e mental, alivia o estresse, aumenta a disposio e ajuda a perder peso.

    Clima ameno e relevo ajudam quem decide usar a bike. So Vicente conta com quase 10 quilmetros de ciclovias

    Porto prejudica ar da Ponta da PraiaEquipamentos que movimentam gros para exportao, causando poeira, so de 1973

    THALLES GALVO

    GUILHERME ALMEIDA

    Bike, uma opo saudvel

    Thalles galvo

    Fonte: Cidades

  • 10 Edio e diagramao: PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015

    Professor quer participao popular na proteo ao meio ambiente

    Secretrio de Meio Ambiente esclarece questes sobre o assunto e pede ateno da populao

    gusTavo franco

    O Brasil se volta, cedo ou tarde, para os assuntos que envolvem o meio ambiente. Constantemente se discute temas como o aquecimento global e a escassez de gua. Enquanto se discute, a polui-o e seus diversos danos am-bientais permanecem ocor-rendo. o caso dos portos. Na opinio do professor de Direi-to Ambiental da Universidade Santa Ceclia e ex-secretrio de Meio Ambiente de Santos, Luciano Pereira de Souza, h a necessidade de incluir a po-pulao na definio de certas escolhas que envolvem riscos ambientais.Os danos ambien-tais de cidades que abrigam portos aumentam e passam, muitas vezes, desapercebidos por grande parte da prpria populao. Em Santos, o pro-fessor - que escreveu o livro Lies de Direito Ambiental, junto com o Corregedor do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, desembargador Gilberto Passos de Freitas, um dos membros da comisso que elaborou o anteprojeto da Lei dos Crimes Ambientais, que se transformou na Lei n 9.605/98 -, diz que desconhe-ce um plano de gesto, um in-ventrio de resduos slidos e de um local adequado den-tro das instalaes porturias para a destinao final desse material.

    Primeira Impresso - Quais os tipos de poluio no ambien-te porturio e seu entorno?

    Luciano Pereira de Souza - A poluio martima resul-

    tado de problemas com vaza-mento de materiais perigosos ou de leo inflamvel, causa-da por acmulo duradouro e gradual de certas substncias como, por exemplo, metais, ou pela contaminao com agentes biolgicos ou pato-gnicos. Alm disso, poder haver prejuzos para a at-mosfera, especialmente sob a forma de emisso de odores desagradveis que afetam as pessoas e a suspenso de ma-teriais particulados em razo da grande movimentao de veculos terrestres nas vias de acesso ao porto. H, tambm,

    danos ao ambiente natural como a elimi-nao de vegetao nativa mangues, por exemplo para a construo de ins-talaes porturias e o aumento fsico das atividade.

    PI - O Direito Am-biental tem algum setor especfico que trata de portos? O que existe em termos de legislao nesse sen-tido?

    Souza - No conhe-cemos uma rea espe-

    cfica para o direito ambiental porturio. Mas notamos, por causa dos diversos impac-tos que a atividade porturia pode resultar, que o Direito Ambiental tem extensa apli-

    cao como tambm outros ramos do Direito.

    Desde o requerimento de licenas para a instalao e funcionamento de atividades, passando pela fiscalizao, pela represso de condutas ilegais e reparao de even-tuais danos individuais ou coletividade, h a necessidade de se observar preceitos le-gais, seja por parte dos agen-tes da Administrao Pblica, seja pelos empreendedores. Portanto, pode-se dizer que h um universo normativo que disciplina a atividade por-turia e se dirige aossujeitos nela envolvidos de alguma forma. Destacamos as leis fe-derais 6938/81, que institui a Poltica Nacional do Meio Ambiente, e a Lei 9966/2000, que dispe sobre preveno, o controle e a fiscalizao da poluio causada por lana-mento de leo e outras subs-tncias nocivas ou perigosas em guas sob jurisdio na-cional, sem prejuzo de cen-tenas de atos normativos.

    PI - De que maneira a Cidade de Santos, que sede do maior porto da Amrica Latina, deve se preservar ambientalmente?

    Souza - Exigncia de licen-ciamento ambiental e estudo de impacto ambiental, nas hipteses legais. Existncia de instalaes ou meios ade-quados para o recebimento e tratamento dos diversos tipos

    de resduos e para o combate da poluio, de acordo com o rgo ambiental competente. Elaborao de manual de pro-cedimentos para o gerencia-mento dos riscos de poluio e dos diversos resduos gera-dos ou provenientes das ativi-dades de movimentao e ar-mazenamento, aprovado pelo rgo ambiental competente. Elaborao de planos indivi-duais de emergncia para o combate poluio, aprova-dos e devidamente consolida-dos pelos rgos competentes.Auditorias ambientais regula-res, e independentes.

    PI E a fiscalizao?

    Souza - Fiscalizao regular pelos rgos competentes, na rea ambiental, laboral e de sade pblica (vigilncia sa-nitria). Transparncia e pos-sibilidade de participao da populao na tomada de cer-tas decises envolvendo riscos ambientais. Controle da po-luio (atmosfrica, sonora) e dos impactos urbanos (se-gurana e fluidez viria) cau-sados pelo trfego de veculos nas vias terrestres de acesso ao porto, entre outras.

    PI - Quais problemas ambien-tais que o senhor identifica na Cidade provenientes do Porto de Santos?

    Souza - Atualmente, na con-dio de mero cidado obser-

    vador, poderia citar a questo da dragagem do porto, tendo em vista as evidncias de po-luio do leito do esturio por metais pesados, provenientes possivelmente do plo indus-trial de Cubato. Alm disso, a questo da destinao final dos resduos slidos prove-nientes das embarcaes que atracam no porto todos os dias, pois desconheo a exis-tncia de um plano de gesto, um inventrio de resduos e um local adequado dentro das instalaes porturias para a destinao final desses res-duos.

    PI - Qual o risco da gua de lastro dos navios para a cida-de?

    Souza - Se considerarmos que a gua de lastro reco-lhida em um porto de origem, com o navio esvaziado e de-pois inserida no mar de um porto de destino, para conce-der lugar carga que o navio dever transportar, ento previsvel que a gua de las-tro provoque uma disperso de organismos vivos que no poderiam vencer as barreiras espaciais que os isolam da comunidade biolgica desse porto de destino. Isto pode ocorrer com organismos ino-fensivos, que no tm capa-cidade para se adaptar ao novo ambiente em que foram introduzidos, mas tambm pode ocorrer com organis-mos pr-adaptados ao novo ambiente, o que pode gerar uma bio-invaso com conse-qncias imprevisveis. PI E como evitar riscos sade?

    Souza - preciso estudar a histria vital, a biologia reprodutiva, a fisiologia e o comportamento ecolgico dos organismos, bem como sua distribuio geogrfi-ca, para evitar problemas ou mesmo de sade pblica. O conhecimento cientfico pode revelar os riscos reais e no meramente potenciais dessa globalizao da gua de lastro. Antes dos estudos sejam realizados, penso que deve valer o in dubio pro am-biente (na dvida, em favor do meio ambiente).

    Porto tem um grande potencial econmico, mas preciso cuidado com a proteo do meio ambiente

    Prof. Luciano especialista em Direito Ambiental

    Priscilla Kovacs

    Marcelo edreira

    GUSTAVO FRANCO

  • 11PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015 Edio e diagramao:

    cssio lyra

    Com o intuito de pensar na sade e proteo de trabalha-dores, alm de consumidores, o Brasil ter uma norma que limitar o uso de produtos qumicos danosos ao ser hu-mano. A iniciativa do Sindi-cato das Indstrias de Fiao e Tecelagem do Estado de So Paulo (Sinditxtil-SP), que j listou algumas substncias que tero suas quantidades monitoradas na produo tx-til.

    A princpio, a norma ainda no ganhou aprovao no po-der pblico e, por isso, ela tem carter voluntrio. Segundo Lourival Flor, diretor de Sus-tentabilidade do Sinditxtil--SP, dez substncias sero monitoradas na confeco de roupas e tecidos.

    No temos uma preocu-pao com apenas uma subs-tncia. Listamos dez delas que so empregadas em produtos txteis. Seria leviano falar qual delas considerada a mais perigosa e prejudicial ao ser humano. No momento ini-cial, todas esto em um mes-mo nvel, afirma.

    Alm do Sinditxtil-SP, a Associao Brasileira de Nor-mas Tcnicas, Associao Brasileira da Indstria Txtil e de Confeco e a Associao Brasileira de Indstria Qu-mica (ABIQUIM) compem o grupo de estudo que esto formalizando a norma desde janeiro do ano passado. Desde fevereiro, algumas indstrias esto monitorando restries dos produtos nocivos.

    Segundo Lourival, um dos

    coordenadores da criao da norma, as prprias empresas e grandes marcas j apresen-tam manuais rgidos para o controle dessas substncias. A Abiquim faz o controle dos qumicos danosos, mas o Bra-sil importa tecidos e roupas prontas e o controle disso zero. As grandes centrais de compras j apresentam ma-nuais que so restritos com relao a esses produtos, mes-mo sem ter a norma ainda ofi-cializada, diz.

    Para apresentar carter oficial, a norma precisa ser citada em uma resoluo ou nota tcnica do Inmetro para que a fiscalizao comece a entrar em vigor. Se for fiscali-zada, os produtos que no es-tiveram adequados de acordo com a norma podero sofrer sanes e penalidades impos-tas pelo prprio Inmetro e tambm pela Anvisa.

    O Inmetro o rgo que pode solucionar a oficializa-o da norma. Eles esto sem-pre presentes desde a criao do grupo de estudo. No um processo fcil de ser lidado, mas seguimos confiantes, completa Lourival.

    O bilogo ambientalista e professor de qumica Clu-dio Mrcio de Andrade cita os perigos que as substncias podem causar para o meio ambiente. Seria preciso fazer uma anlise mais aprofunda-da para saber a quantidade exata usada nestes produtos, mas todos eles possuem um grande potencial para causar poluio ambiental, explica o profissional.

    A princpio, por meio da

    norma, as empresas que uti-lizam essas dez substncias listadas reconhecem as fon-tes de liberao. Se isso no acontecer, o direito consti-tucional ao meio ambien-te pode ser desrespeitado, ocasionando aes criminais contra a empresa.

    Andrade comenta ain-da que um dos motivos das indstrias seguirem com o uso dessas substncias por questes econmicas. Os produtos nocivos so mais baratos, mas nesse momen-to a indstria qumica j tem condio de apresentar

    substitutos. A norma no constitui banimento, mas sim controle e monitora-mento de seu uso.

    Mundo aforaEnquanto o Brasil oficializa

    a norma que controla a utili-

    zao de qumicos danosos em produtos txteis, outros pases j realizam essa inspe-o nas substncias nocivas. Nos Estados Unidos e Japo, existem normas que fiscali-zam inmeros fatores no pro-duto txtil final.

    viTor anJos

    Santos conhecida mun-dialmente por receber muitos turistas durante o ano. Po-rm, vrios visitantes no to queridos pela populao esto se multiplicando e causando transtornos aos muncipes. Tratam-se dos pombos.

    Eles esto em quase todos os cantos da cidade. E quando no so vistos, deixam rastros de sujeira que os identificam facilmente, causando transtor-nos aos municpes. Tratam-se dos pombos.

    H oito anos, havia uma ave para cada 2,6 santistas. A tendncia que esse n-mero aumente.

    Para tentar dimensionar o tamanho do problema, um grupo de 78 universitrios da Universidade Santa Ceclia est nas ruas para verificar a evoluo da espcie e levan-tar um perfil infecto-parasi-trio dos pombos em Santos e So Vicente.

    Vamos fazer dois tipos de levantamento. Um por foto-grafia em vrios pontos da ci-

    dade e outro medindo as fezes dos bichos, conta o veterin-rio e professor universitrio Eduardo Filetti, responsvel pelo estudo.

    A ao ser a terceira do tipo. Em 1995, houve o primei-ro levantamento, que estimou a populao de pombos da re-gio em 80 mil bichos. Feita novamente em 2007, a pesqui-sa mostrou que o nmero ha-via dobrado para 160 mil.

    Acho que dessa vez, o n-mero no dobra. Mas ainda assim vai ser assustador e ir surpreender todo mundo.

    De acordo com Filetti, a multiplicao dos pombos acaba prejudicando a prpria espcie. Imagina que voc mora com seu pai e sua me em uma casa. De repente, sua tia vem morar junto e sua me fica grvida de trigme-os. Causa uma superlotao e desconforto no lar. E isso que acontece hoje na Baixada com os pombos, conta.

    A proliferao das aves em Santos causada principal-mente por conta de trs fato-res: a falta de predadores natu-

    rais, os gavies; a quantidade de alimento, principalmente na regio do porto; e tambm s pessoas que as alimentam.

    Porm, Filetti no acredita que a populao seja a princi-pal culpada pelo crescimento dos pombos na regio.

    Acho que culpar o povo no certo, sendo que ape-nas 5% das aves so alimen-tadas por pessoas. A situao causada pela arquitetura da cidade, que favorece a esp-cie, a falta de predadores, pois acabamos com a Mata Atlnti-ca na regio e principalmente pelo derramamento de gros do porto, explica.

    O estudo deve ficar pronto at o incio do prximo ano, quando Filetti quer ampliar a investigao para outras cida-des da regio.

    Doenas preciso tomar cuidado

    com as fezes dos pombos. Cada animal produz cerca de 2,5 kg de fezes por ano e, nessas fe-zes, esto fungos, bactrias e caros que podem causar, pelo menos, seis tipos de doenas,

    entre elas a verminose, con-juntivite e meningite.

    Comecei a limpar as fe-zes de pombos que acumula-ram no meu carro. Dois dias depois eu peguei conjunti-vite, porque ficava coando o olho no meio da limpeza, conta o comerciante Rai-mundo do Nascimento.

    SoluoVale lembrar, no entanto,

    que os pombos no devem ser mortos, apenas controlados, j

    que tm importncia ambien-tal e so protegidos por lei fe-deral. Por isso, a populao no pode sair matando os ani-mais, conta Filetti.

    No podemos criar uma guerra. A soluo que pro-ponho a distribuio de anticoncepcionais nos ali-mentos dos pombos. Eles no vo acabar, mas deve haver um equilbrio.Quem tem o poder de fazer alguma coisa quem tem a caneta na mo, finaliza.

    Brasil ter norma para limitar uso de produtos qumicos danosos sadeNorma foi criada pelo Sinditxtil do Estado, que listou substncias monitoradas na indstria txtil

    Uso de produtos nocivos na produo de tecidos tem motivao econmica

    SubStnciaS qumicaS que Sero monitoradaS:

    - Polifluorcarbonos 8C(PFCS)- Aminas aromticas- Corantes azo Listados- Alquil Fenis e Nonil Fenol- Fenis Pentaclorofenol

    - Metais Pesados- Ftalatos- Formaldedo Pesticidas- Compostos organo estanosos- Tetraclorofenol

    Pombos se multiplicam e viram problema no municpio de Santos

    H oito anos, havia uma pombo para cada 2,6 santistas. A tendncia aumentar

    cssio lyra

    CSSIO LYRA

    VITOR ANJOS

  • 12 Edio e diagramao: PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015

    Apesar das adversidades, os pescadores da Laje do Curral no querem sair dali

    aline Tavares

    Terra batida, casas de pau a pique e um nico rio de sustento para uma pequena comunidade de pescadores, com cerca de cem famlias. Essa a Laje do Curral, lo-calizada na zona rural da cidade de So Mateus do Maranho, no Maranho, nordeste do Brasil.

    Seis mil famlias vivendo sob esgoto, sem saneamen-

    to bsico, morando em ca-sebres na maior favela de palafitas do Brasil. O local o Dique da Vila Gilda, loca-lizado na zona noroeste, em Santos, So Paulo.

    As duas comunidades so-brevivem sem estrutura sa-nitria. Na Laje do Curral, crianas e adultos dividem espaos comuns com cachor-ros, galinhas e porcos as fa-mlias moram em casas sem banheiro, sem gua e sobre-

    vivem apenas da pesca em um rio que est poludo de-vido ao lanamento de esgoto no tratado em suas guas.

    No Dique da Vila Gilda, o lixo muito presente e a es-trutura das residncias mui-to frgil, pois fcil a palafita ceder por ser de madeira.

    Segundo pesquisa do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), de 2014, o Maranho apresenta um dos piores ndices de saneamento

    bsico do pas, e a proporo de domiclios conectados rede coletora de esgoto de 13,2% apenas.

    J So Paulo um dos es-tados que lideram o ranking dos cem municpios com as melhores condies de sa-neamento bsico do pas, de acordo com dados de 2013 do Instituto Trata Brasil. San-tos, localizada no litoral do estado, apontada como uma das dez cidades melhor ser-vidas de saneamento bsico, segundo estudo recente do Sistema Nacional de Infor-maes sobre Saneamento Bsico (SNIS).

    Para o assessor do gabi-nete do prefeito de So Ma-teus, Hermmes Justino, a cidade j foi construda sem estrutura alguma. J temos problemas de saneamento no prprio centro da cidade, mas nas zonas rurais a situ-ao pior. Justino disse que a prefeitura construiu uma caixa dgua prximo da Laje do Curral, que tem como objetivo melhorar o acesso gua tratada, mas muitos dos moradores hesi-tam em sair de suas habita-es na margem do rio.

    Para Wilson Santos, de 22 anos, a vida poderia ser me-lhor em So Paulo. J fui morar l uma vez, mas o cus-to de vida muito alto, ento preferi voltar.. Santos, que hoje trabalha como pescador, no pretende sair da Laje do Curral nem para morar no centro da cidade. Minha fa-mlia inteira vive por aqui, no pretendo mais sair. Prefi-ro minha vida simples e com a pesca eu consigo comprar uma moto, completa.

    Outro problema comum na Laje do Curral quan-do o rio fica cheio. Maria da Conceio, de 50 anos, dona de um mercado, conta que j perdeu muitos de seus per-tences. Da ltima vez que o rio encheu, foi mais de um metro. Perdi meus produtos que vendo no mercado, sof,

    mesas e eletrnicos. Mas, da mesma maneira, Maria no tem vontade de morar em outro lugar. Esta a mi-nha casa, eu nasci aqui e no saio, disse.

    Segundo o chefe de depar-tamento do Meio Ambiente da Prefeitura de Santos, Paulo Ernesto Coutinho Corra, a ci-dade consegue fornecer sanea-mento para 99% da populao.

    Apesar das semelhanas na precariedade das habitaes e na falta de rede de esgoto, o Dique da Vila Gilda est em uma cidade que propor-ciona mais oportunidades de emprego, enquanto a Laje do Curral sustentada apenas pela pescaria. Mas os pro-blemas sanitrios so maio-res no Dique, por conter um maior nmero de famlias.

    Segundo Catarina de Al-buquerque, relatora especial das Naes Unidas sobre gua e Saneamento, que visi-tou o Brasil em 2013, o pas tem muitos contrastes. Um mesmo local capaz de ter boas e ms condies sanit-rias, como o caso de Santos.

    A relatora aponta que o baixo investimento em sane-amento resulta em alto cus-to para a sade pblica, com muitos internados com diar-reia e que representam um custo de 140 mil reais ao Sis-tema nico de Sade (SUS). Outro ponto abordado o alto custo das tarifas de gua e esgoto para a populao de baixa renda.

    Para Manoel da Silva, pe-dreiro e morador do Dique da Vila Gilda, as taxas referentes ao saneamento elevam o cus-to de vida, fazendo com que os moradores prefiram ficar sem gua e esgoto tratado, mas com mais dinheiro para o sustento da famlia.

    Este um cenrio comum no Brasil, onde populaes com toda a infraestrutura convivem paralelamente com vizinhos sem acesso a esses recursos, independente de estado e regio.

    vicTor BirKeTT

    Voc j se perguntou como feita a limpeza das praias? Apenas em Santos necessrio um efetivo de cerca de 70 pes-soas para tratar da limpeza dos jardins, calado, areia e beira do mar. Esse servio feito pela empresa Terracom, contratada pela Prefeitura.

    A rotina dos funcionrios comea cedo. s 6 horas o ponto batido e cada um vai para a sua funo, que vo de cata-folhas, passando pela turma do rastelo e chegando aos operadores de tratores e motoristas de caminho. No nosso setor somos encarrega-dos da limpeza desde o cantei-ro central, at beira da gua, que chamamos de praia-mar. Temos a turma do jardim, que varre as alamedas e faz o cata-folha na grama, alm do pessoal da areia que chama-mos de rastelao manual, explica Vagner Silva, super-visor da empresa. So duas turmas, uma que vai do Canal 3 at o Aqurio e outra que vai do Canal 3 at a divisa com So Vicente. Temos tambm

    a limpeza mecnica, que fei-ta por tratores e caminhes, acrescenta.

    Na temporada de vero, com o aumento de turistas e visitan-tes na cidade, o efetivo da lim-peza tambm precisa de ateno especial. Esse nmero de traba-lhadores dobrado para cerca de 140, formando uma equipe que limpa tambm durante a tarde.

    A limpeza motivo de or-gulho dos trabalhadores, como observa Valdolson da Silva, responsvel pelo cata-folhas no jardim. muito bom ver tudo limpo pelas nossas mos. Te-mos uma amizade dez, estamos sempre brincando, lembra o funcionrio. Essa amizade tambm citada pela varredora Vera Lcia. Somos como uma famlia. bom trabalhar em equipe para manter a praia e o jardim limpos, comenta.

    O servio dos tratores comea um pouco mais cedo, s 4 horas. Eles retiram os resduos trazidos pelo mar e formam montes para facilitar a rastelao manual. O horrio de batente dos respon-sveis pela limpeza vai at ter-minar o servio, o que segundo eles , em mdia, ao meio-dia.

    Comunidadessofrem com falta

    de saneamento bsicoLocais distantes, mas que enfrentam os problemas semelhantes

    Dezenas de trabalhadores limpam a praia todos os dias

    Conhecidas como margaridas, as mulheres tm grande espao no trabalho de limpeza de nossa cidade e praias

    Marcel0 edreira

    ALINE TAVARES

    VICTOR BIRKETT

  • 13PRIMEIRA IMPRESSO | Maro/Abril de 2015 Edio e diagramao:

    raPhael MaTos

    Um servio que geral-mente s notado quando inoperante, a capinao vem preocupando os santistas. Em algumas caladas e vias do Municpio, o servio in-satisfatrio, e o mato de to alto, parece ser cultivado como plantas ornamentais, o que contribui para o ac-mulo de lixo e o aparecimen-to de insetos e roedores.

    Para o auxiliar de com-pras Jorge Azevedo, o mato alto nas caladas traz inse-gurana. Todos os dias vou buscar minhas filhas no pon-to de nibus com medo que algum bandido se esconda no meio desse mato. Em cer-tos locais ainda corremos o risco de sermos atropelados, j que temos que andar pela rua, pois algumas caladas ficam praticamente intran-sitveis, com tanto mato e entulho.

    Azevedo conta ainda que na Rua Dr. Haroldo de Ca-margo, no bairro Jardim Castelo, onde mora, h um terreno baldio que no pos-sui muro e a vegetao cobre toda a extenso do terreno chegando calada. Em re-lao a este terreno, ele con-ta que j fez diversas queixas Prefeitura: J fiz vrias reclamaes direto na Ouvi-doria. Depois de um tempo eles mandam uma equipe, mas depois ningum volta e o mato cresce e o lixo se acu-mula novamente.

    Sem qualquer proteo, a aposentada Snia Pontes, que sndica de seu condo-mnio, conta que aplica um herbicida popularmente co anhecido como mata-mato nas reas abertas da gara-gem e na calada. A mora-dora do Marap reclama que a equipe de capinao leva muito tempo para ir at seu bairro, e por conta dis-so, elimina a vegetao por conta prpria.

    Porm, a Agncia Nacio-nal de Vigilncia Sanitria (Anvisa) recomenda o uso de roupas especiais, luvas, mscaras e botas para a apli-cao de qualquer agrotxi-co. Alm disso, o local onde o herbicida for aplicado de-ver permanecer isolado por, no mnimo, 24 horas. Quando informada sobre a recomendao da agncia, Snia diz que se preocupa com o Meio Ambiente, mas no deixar de usar os pro-dutos agrotxicos pela facili-dade que eles trazem.

    CavalosCapinao aqui s com

    os cavalos, brinca Maria do Socorro Moraes, moradora

    da Zona Noroeste, se referin-do aos moradores que levam animais para comer grama no local. Ela conta ainda que a Praa da Paz Univer-sal est tomada por mato, e acredita que o motivo da falta de manuteno seja as

    obras de revitalizao, ini-ciadas em maro de 2014. Por conta disso, as reas que antes eram asfaltadas foram quebradas e agora o terreno, coberto de terra, facilita o crescimento do capim, conta a moradora.

    A Prefeitura informou que o aumento visvel de mato decorrente da proibio da capinao qumica pela An-visa. Com esta mudana, as equipes responsveis no es-tavam dando conta da retira-da manual em toda a Cidade, j que o tempo de execuo do servio aumenta e o mato tem o crescimento rpido.

    Para solucionar este im-passe, a Prefeitura aumen-tou o efetivo responsvel pela capinao em 20%, e aos poucos o servio j vai se normalizando. No ms de maro, 280 quilmetros de vias do Municpio foram capinadas.

    Vale lembrar que a prtica da capina qumica em rea urbana no est autorizada pela Anvisa ou por qualquer outro rgo, pois, existe o risco de intoxicao de ani-mais, como gatos e cachor-ros, e moradores do local.

    Mato e lixo acumulam-se em caladas na Avenida Afonso Schmidt, na Zona Noroeste

    A limpeza favorece o escoamento das guas nas ruas da entrada da cidade

    guilherMe loureiro

    A Prefeitura de Santos est realizando a limpeza do Rio Furado, na Vila Alemoa, localizada no distrito do Chico de Paula, como parte da Campanha Cidade sem Lixo, que beneficiar quase mil famlias que sofrem com as doenas e enchentes nos dias de chuva.

    Com o auxlio de uma re-troescavadeira, a equipe mu-nicipal vem retirando parte do entulho depositado no fundo do rio desde fevereiro. Com cerca de 4 quilmetros de extenso, o rio nasce no Morro do Sabo, que corta a entrada da Cidade, at desa-guar no Rio Casqueiro, em Cubato. Em dias de fortes chuvas, o rio costuma trans-bordar e invadir uma boa par-te dos barracos construdos irregularmente s margens do curso natural da gua.

    Segundo o subprefeito da Zona Noroeste, Accio Fer-nandes Egas, o estimado que dez caminhes retirem cerca de 30 toneladas de de-

    tritos do local, sobretudo em-balagens descartveis. A in-teno da Prefeitura limpar e aprofundar o leito para dar mais vazo s guas pluviais da entrada da Cidade e ruas das imediaes. Ns esta-mos limpando frequente-mente o rio e atualmente ele est passando por uma lim-peza semanal afirma Egas.

    Com informaes nos da-dos da Secretaria de Servi-os Pblicos de Santos, entre 2012 e 2014, o volume de de-tritos retirados dos canais da cidade aumentou mais de 10 vezes, de mil toneladas para quase 11.772 mil toneladas.

    Moradora da Vila Ale-moa, Maria Lcia Cristina de Jesus Silva, diz que as en-chentes peridicas levavam o esgoto in natura e o lixo despejado nas ruas para o Rio Furado.

    O ex-secretrio do Meio Ambiente de Santos, Lu-ciano Pereira de Souza, afirma que a vazo do Rio Furado melhorou no ms de maro em razo de con-servao do local.

    Prefeitura de Santos limpa e retira entulhos do Rio FuradoMato alto em

    caladas e vias c