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8 PRIMEIRA PARTE 1.1 - INTRODUÇÃO Inicialmente trabalhados Organização das Nações Unidas – ONU, os temas relacionados a questão da sustentabilidade têm gerado uma série de interpretações. Apontam em muitos casos, conflitos e desencontros devido às exigências inseridas em suas discussões, como por exemplo, a da redução dos atuais níveis de consumo dos insumos naturais das sociedades industrializadas americana, européia e asiática, especialmente a japonesa. Em noticiário recente, os EUA deixaram de assinar o chamado Protocolo de Kyoto que estabelecia metas de redução de produtos poluentes lançados na atmosfera pelo parque industrial, principalmente de seu pais. Conflito entre as nações já tem acontecido devido à escassez de recursos como a água, de combustíveis como o petróleo e mesmo da falta de terras férteis. Associada a essa problemática da sustentabilidade surgiu uma outra questão mais atual que passou a questionar não apenas a forma e a quantidade de consumo dos insumos naturais mas, também, da maneira como esse consumo está distribuído entre as sociedades, quem tem mais e quem tem menos. Daí surgiram os chamados Índices de Qualidade de Vida (ICV), que passaram a fazer parte da medição do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), para efeito do conhecimento do processo de desenvolvimento social sendo que itens como renda, educação, infância, habitação e longevidade foram divididos em diversos sub-índices integrantes dessa estatística. Nosso trabalho baseia-se nessa discussão atual. Devido à grande quantidade e complexidade de cada índice, bem como as equações que envolvem aqueles estudos demos preferência a uma abordagem menor e que envolvesse a questão da qualidade de vida sem necessariamente estarmos criando uma metodologia concorrente com a da ONU. Não é essa a função desse trabalho. Apenas descrevemos algumas observações que foram feitas, relatamos alguns números e comentamos criticamente à luz da visão estreita que ainda possuímos a respeito dessa problemática. A execução do trabalho em si sem grandes pretensões metodológicas e técnicas, resolvemos a partir de leituras de referências inspiradoras, como os textos de pesquisadores como Clóvis Cavalcanti, Humberto Rattner, Ignacy Sachs e outros que desenvolvem desde

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PRIMEIRA PARTE 1.1 - INTRODUÇÃO

Inicialmente trabalhados Organização das Nações Unidas – ONU, os temas

relacionados a questão da sustentabilidade têm gerado uma série de interpretações.

Apontam em muitos casos, conflitos e desencontros devido às exigências inseridas em suas

discussões, como por exemplo, a da redução dos atuais níveis de consumo dos insumos

naturais das sociedades industrializadas americana, européia e asiática, especialmente a

japonesa. Em noticiário recente, os EUA deixaram de assinar o chamado Protocolo de

Kyoto que estabelecia metas de redução de produtos poluentes lançados na atmosfera pelo

parque industrial, principalmente de seu pais. Conflito entre as nações já tem acontecido

devido à escassez de recursos como a água, de combustíveis como o petróleo e mesmo da

falta de terras férteis.

Associada a essa problemática da sustentabilidade surgiu uma outra questão mais

atual que passou a questionar não apenas a forma e a quantidade de consumo dos insumos

naturais mas, também, da maneira como esse consumo está distribuído entre as sociedades,

quem tem mais e quem tem menos. Daí surgiram os chamados Índices de Qualidade de

Vida (ICV), que passaram a fazer parte da medição do Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH), para efeito do conhecimento do processo de desenvolvimento social sendo

que itens como renda, educação, infância, habitação e longevidade foram divididos em

diversos sub-índices integrantes dessa estatística.

Nosso trabalho baseia-se nessa discussão atual. Devido à grande quantidade e

complexidade de cada índice, bem como as equações que envolvem aqueles estudos demos

preferência a uma abordagem menor e que envolvesse a questão da qualidade de vida sem

necessariamente estarmos criando uma metodologia concorrente com a da ONU. Não é

essa a função desse trabalho. Apenas descrevemos algumas observações que foram feitas,

relatamos alguns números e comentamos criticamente à luz da visão estreita que ainda

possuímos a respeito dessa problemática.

A execução do trabalho em si sem grandes pretensões metodológicas e técnicas,

resolvemos a partir de leituras de referências inspiradoras, como os textos de pesquisadores

como Clóvis Cavalcanti, Humberto Rattner, Ignacy Sachs e outros que desenvolvem desde

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a década de 1970 estudos que vieram a fundamentar o temário sobre a sustentabilidade, e

sendo alguns desses autores os principais inspiradores dos IDH e o ICV.

Nosso trabalho é iniciado tecnicamente por levantamento temático, e

posteriormente, pelo estabelecimento do objeto e do campo geográfico, que procuraríamos

definir como sendo a nossa investigação. Para dar início a empreitada, levantamos uma

situação problema que encaminharia todo o rumo de nosso trabalho, a de verificar qual a

qualidade de vida da população do eixo entre as sedes municipais de Itabaiana e

Salgado de São Félix no Estado da Paraíba. Para desenvolver a empreitada

investigativa, procuramos definir geograficamente esse campo através de cartas

topográficas e plantas, fornecidas pelo IBGE e aquelas pela SUDENE. Continuando o

processo investigativo, procuramos uma aproximação maior com as duas sedes municipais,

realizando visitas para reconhecimento da área e posteriormente excursões para coletas de

dados.

Muitos dados foram coletados através de consultas a órgãos governamentais, como

o INCRA. O Contato com esse órgão via internet possibilitou a aquisição de dados

estatísticos referentes à década de 1970 e aos anos de 1980, 1981 e 1982, com o propósito

de realizar uma mensuração do comportamento fundiário. Esses dados nos auxiliaram na

aproximação do perfil sócio-econômico do lugar e, consequentemente, a uma dedução

sobre a questão saúde social e financeira daqueles municípios. Procuramos ainda

questionar de forma direta e através de entrevistas as autoridades locais, para isso criamos

um questionário simples, sem uma estruturação sistemática que nos permitiu conhecer um

pouco mais sobre a realidade local. Nessas visitas procuramos fazer alguns registros de

interesse ilustrativo sobre o lugar.

O trabalho procurou ainda fazer uma breve caracterização histórica e geográfica do

lugar, trazendo alguns elementos referente à paisagem e induzindo, de forma elementar, a

evolução daquelas sociedades, do seu início até os tempos atuais. Em outra parte,

discutimos sobre o uso do solo onde utilizamos o Estatuto da Terra para que pudéssemos

analisar de que forma aquela região estudada está distribuída entre os seus habitantes.

Cremos ser de grande utilidade essa análise visto demonstrarmos o acesso à terra e aos

seus insumos por parte da população local, para verificarmos se existe ou não a presença

de grandes latifúndios, de propriedades de pequeno e médio porte. Procuramos ainda

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discutir, também de forma elementar, o perfil sócio-ambiental, tentando observar até que

ponto está a integração entre a sociedade e o meio ambiente que a sustenta e acolhe.

Procuramos ainda realçar a tipologia dos serviços de saúde, fazendo uma panorâmica sobre

os diversos serviços e equipamentos de saúde oferecidos à população, verificando também

o acesso dessa população a esses serviços. Procuramos estabelecer não uma conclusão mas

sim uma consideração, pois nos faltaram maiores aprofundamentos em termos de dados e

informações, para que pudéssemos apontar caminhos e sugestões para melhoria da

qualidade de vida daquela população. No entanto buscamos oferecer um quadro em que se

descortinem algumas situações que possam alertar a população sobre os rumos da

qualidade de vida.

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1.2 - CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO/GEOGRÁFICA O município de Itabaiana localizado na Microrregião de mesmo nome na zona

fisiográfica do Agreste Paraibano, nas coordenadas geográficas de 7° 19' 44" de latitude

Sul e 35°19’ 58” de longitude Oeste, com área total de 204 Km² (ver Figura 1), foi criado

juridicamente pelo Decreto n.º 14, de 23 de abril de 1890, do governador Venâncio Neiva1

que ainda no ano de 1891 na data de 26 de maio promulgou o decreto de nº 63 dando a

antiga Villa de Itabayanna a categoria de cidade e a denominação de Itabayanna.

FIGURA 1 – Mapa das Mesorregiões e Microrregiões da Paraíba FONTE: IBGE - 1999

Seu território segundo a história, começou a ser povoado por volta de 16652 com a

doação de sesmarias (1663) para os colonos Francisco Camelo Valcasser e Francisco do

Rego Barros, em gratidão pela resistência contra o invasor holandês e teriam a extensão de

quatro léguas quadradas, a partir dos limites de D. Ana da Silveira, acima do engenho

Itapuá, até o limite com o Rio Maracaípe, em Itabaiana. Já o Município de Salgado de São

1 ITABAIANA. SUA HISTÓRIA - SUAS MEMÓRIAS. 1500 - 1975. Sabiniano Maia. 2ª Edição. Editora A União. 1977. Pág. 63-64. 2 Obra citada, pág. 29.

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Félix com denominação de Aburá, passou a ter a toponímia atual com o art. 2º da lei n. º

135 de 30/09/1948, porém, ainda permanecendo ligado a Itabaiana na condição de

Distrito/Vila durante a presidência de Flávio Ribeiro Coutinho no ano de 1948.3

Desde muito cedo, nossa história aponta os religiosos de diversas ordens como

precursores da povoação de nosso território, abrindo veredas sertão adentro e fundando

vilas e missões em lugares remotos, apascentando os indígenas que de certa forma

poderiam tornar-se empecilho maior para a interiorização do povoamento português na

colônia. No atual território paraibano em épocas remotas, não foi diferente. Tivemos

lógico, a contribuição valiosa de sertanejos, homens desbravadores de terras ainda

indomadas, abrindo caminhos pelo território, porém, foram os religiosos, com o interesse

maior em salvar as populações aborígenes da desgraça do inferno e do paganismo ou

mesmo com interesses estranhos aos citados atrás, que domaram tribos inteiras,

catequizando povos e levando-os a sujeitarem-se a regras que conflitavam diretamente com

seus costumes e tradições, expondo-os a perigos e mesmo a extinção, esses religiosos

deixaram marcas do processo religioso através de construções de capelas e igrjas que mais

tarde se transformaram em ostentosas relíquias da arquitetura como a matriz de Nossa da

Conceição em Itabaiana (ver Figura 2).

3 Obra citada, pág. 45.

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FIGURA 2 - Vista panorâmica da igreja matriz de Itabaiana FOTO: Emmanuel de Andrade Alves

Segundo Maia (1977), já em 1663 frades beneditinos fixaram-se nas cercanias de

Maracaípe, logradouro hoje pertencente a cidade de Itabaiana sendo pós-cedidos pelos

jesuítas da missão do Pilar em 1670, vindos do interior de Pernambuco e provocando um

remanejamento de povos no território colonial. Porém, com a doação de terras já feita aos

primeiros colonos um deles, Francisco Valcasser, “faz doação de suas terras aos monges da

Ordem de São Bento em 12 de setembro de 1697".4 Desse ato, segundo Sabiniano Maia,

resultou a primeira demanda judicial por terras que se tem notícia, com um de seus meeiros

chamado Antônio de Figuerôa apelando para a Provedoria da Fazenda Real, sendo sua

ação dada por perdida e os monges instalando-se na região a partir 1703, consoante o que

reza o Auto de Posse, de 26 de março.5

Sua fase áurea de povoamento deu-se no século XVIII com a concessão de várias

sesmarias que mais tarde tornaram-se fazendas de criar gado, entre os anos de 1780 a 1800,

firmando assim o início da povoação. Entre essas sesmarias destaca-se uma chamada

Itabaiana, que em 18 de novembro de 1757 pertencia a Josefa Coelho e João Fernandes

4 Obra citada, pág. 30. 5 Obra citada, pág. 30.

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Lisboa, sogra e genro, inspirando o nome ao lugar. Tudo indica que chegará ao local ainda

casada, segundo Maia (1977), e enviuvou depois, compreendendo-se assim que tenha

chegado a região antes de 1757.

"No Nordeste Brasileiro, mormente no Estado da Paraíba, poder-se-á apontar como geratriz das atuais cidades, - a fazenda de criar gado ou engenho de fazer açúcar. Tal a zona fisiográfica, tal a formação do núcleo populacional. Itabaiana, encravada na zona da caatinga, própria para criatório, originou-se em princípio, de uma fazenda que tinha idêntico nome (...) Entre 1670 e 1760, atuaram na missão indígena do Pilar, os jesuítas, seus fundadores, os padres menores e os capuchinhos italianos (...) não é de estranhar que o nosso povoado tenha sido organizado e orientado por um deles (...) nenhum documento histórico, contudo, confirma (...) fazendo com que Itabaiana continue ignorando o nome do seu fundador e a data de sua fundação".6

Salgado de São Félix, com área de 161 km² (ver Fig.3), a exemplo de sua

congênere também sofreu a influência religiosa de padres jesuítas, em meados do século

XVIII.

FIGURA 3 – Planta da cidade de São Félix FONTE: IBGE - 2000

6 Obra citada, pág. 74.

IBGE CROQUI UF-PBMUN: SALGADO DE S. FELIXDISTRITO: SALGADO DE S. FELIXCIDADE: SALGADO DE SÃO FELIXCROQUI JUN/90 ST-IELABORAÇÃO: AG. ITABAIANADESENHO: MARFISA Mª TEIXEIRA GUIMARÃESDIGITALIZAÇÃO: SIGA/LGA

RECENCEAMENTO GERAL DO BRASIL

RIO PARAÍBA

RIAC

HO

SEM

DENO

MIN

AÇÃO

RIA

CHO

C

ANTO

ALEG

RE

RIACHO

DO

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L E G E N D AESCOLA

IGREJA

PRAÇA

CERCARN REFERÊNCIA DE NÍVEL400A 58,7936 (ALTITUDE PRINCIPAL)

SAÍDA PARA UMBUZEIRO R. FLÁVIO R. COUTINHO

LIMITE PROP. J. DE BRITO

RUA 1º DE MAIORUA JOÃO XXIII

R. EUNICE BARBOSA R. JOSÉ SILVEIRA

TRAV

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O

RIO

2

PRÇ. J. SILVEIRA

RN 400AR. SIQUEIRA CAMPOS

SAÍDA PARA ITABAIANA

R. FRANCISCO LUÍZ DE ARAUJO

R. E. FERREIRA

R. T

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R. ADAUTO J. SILVA

R. ALTO DA BOA VISTA

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R. CARLOS M. DE ANDRADE

R. POETA MANOEL XIDÚ

R. MARIA EFIGÊNIA BEZERRA

P/FAZ. NOVA OU FAZ. SANTA CRUZ

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O clima é sempre quente e seco com temperaturas máximas em torno de 32º graus e

mínimas de 20º graus e sua região é conhecida como Agro Pastoril do Baixo Paraíba7. Nos

registros históricos da "sesmaria n.º 1064 consta, que um tal Capitão Estevão José da

Cunha, morador do Pilar, diz que no termo da mesma villa (Itabaiana era termo do Pilar)

possuía uma sorte de terras conforme os títulos que juntava, no Riacho Salgado,

(primitivo nome de Salgado de São Felix)

“as quaes se incluem em si perto de legoa e meia pelo riacho acima chamado Lagamar que contem em abundancia páo Brazil, e pedia que se lhe concedesse uma pequena porçào de terra que há entre outras dos supplicantes, chamados de Dois Riachos e entre as terras de Francisco de Souza Leal e terras de Maria de Mello, pegando da Serra do Bode pelo baixio abaixo a contestar com o mesmo suplicante, cuja terra não serve para cultura e sim para crear"8.

Mas, ao que tudo indica, antecedendo o Capitão Estevão José da Cunha teve a

sesmaria de n.º 515, em 13 de dezembro de 1759, constando o seguinte:

"Mathias Nunes Angelo, diz que possuia um sitio de gados chamado riacho Salgado, no Curimataú, a mais de seis annos, e porque não tinha tirado data a pedia por sesmaria, com tres leguas de comprido e uma de largo, que confrontavam pelo nascente com terras do supplicante do Olho d´Agua do Passarinho, pelo poente com terras a Alagoa Salgada pelo sul com terras do sitio de Itabayanna"9.

Parece que Mathias Nunes foi o primeiro morador das terras de Salgado de São

Félix sendo, em seguida, 47 anos depois, pelo Capitão Estevão Cunha que deve ter divido

seu espaço com os jesuítas que ali instalaram uma de suas missões. O nome de Salgado de

São Félix foi originado das condições naturais de suas águas, um tanto salobras e a imagem

de São Félix Cantalice, trazida por missionários italianos e escolhido para ser o padroeiro

do lugar. Portanto o nome do lugarejo é resultado da fusão do nome que fazia menção as

condições naturais mais o santo padroeiro resultando em Salgado de São Félix. Sua

população em 1991 era de 12.535 habitantes e hoje é 12.675 habitantes. Dista de Itabaiana

cerca de 14 Km e de João Pessoa, 72 Km.

7 Agenda 95 - Informações turísticas da Paraíba. SEBRAE - Pb. 1995. Pág. 213 8 João de Lyra Tavares - Apontamentos para a História Territorial da Parahyba - Vol. 1º - 1909 - Pág. 127 in Sabiniano Maia, 1977. Pág. 38. 9 Sabiniano Maia in Itabaiana Sua História - Suas Memórias 1500 a 1975. Pág. 36 e 37.

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Itabaiana teve um desenvolvimento bem mais acentuado que S. São Félix. Ainda

em 1890, ano de sua criação como município, assinou o Governador Venâncio Neiva

outros decretos referentes a cidade de Itabaiana como o de n.º 22 de 14 de junho,

instituindo a comarca. No ano seguinte, no dia 26 de maio de 1891 assinou o decreto de n.º

63 elevando a vila a condição de cidade (a cidade mantém até hoje a configuração inicial,

apenas estendendo-se, ver Fig. 4) e assim foi, conquistando posições importantes, muitas

vezes definidas pelo chefe, ou coronel da região, que era a pessoa mais importante, o

representante político das famílias, que lá prevaleceram até a Revolução de 1930, com a

constituinte proibindo taxativamente aos juizes assumirem essa condição na comunidade

onde judicassem.10 Dentre os fatos mais marcantes que podemos informar sobre o

desenvolvimento desses núcleos urbanos e suas respectivas zonas rurais podemos citar, em

Itabaiana as feiras (que persisitem até hoje ver Fig. 5) de gado , o trem, o juizado de paz, o

açougue (1882), Casa de Mercado (gêneros), as carroças de bois que ajudaram na abertura

de estradas pelo interior, os bondes de burro, até 1929, iniciando o declínio dos antigos

carros de boi. Já em 1914 Itabaiana possuía uma vida econômica bastante intensa com

comércio de automóveis Ford, farmácia, casas de tecidos, fabricação de bebidas, casas

mortuárias, ligação ferroviária com o Recife e João Pessoa, alfaiates, miudezas,

ourivesaria, cinemas, etc. Salgado de São Félix, como distrito de Itabaiana não teve a

mesma condição de desenvolvimento que a primeira. Apenas em 05 de dezembro de 1961

foi emancipada, tornando-se município e sua vida econômica ao contrário da primeira,

evoluiu ao redor de um cotidiano rural ameno e sem grandes avanços constando, no IBGE,

apenas uma única empresa fundada antes de 1969, uma entre 1970 e 1974 e quatro entre

1975 e 1979. Salgado de São Félix, como lugar de camponeses foi de certa forma abafada

em seu desenvolvimento por Itabaiana e Campina Grande, tendo sua economia muito

afetada pela decadência econômica do Estado, pelas secas constantes que afetaram a

Paraíba na década de 1980 e por falta de bons administradores vivendo atualmente uma

grande crise econômica, segundo depoimentos de nativos seus.

10 Obra citada, pág. 79.

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FIGURA 4 - Planta baixa da cidade de Itabaiana FONTE: IBGE - 2000

Nos tempos atuais, Itabaiana perdeu aquela qualidade de cidade inovadora, o

município não surpreende mais nos avanços que realiza e sua grande feira de gados

praticamente cessou devido aos sucessivos problemas econômicos e ambientais que

atingiram o povoamento, não significando dizer que houve uma perda total da atividade do

município. Despontaram outras alternativas a exemplo do setor de serviços que vai ficando

cada vez mais aperfeiçoado, com a inclusão de pontos de venda principalmente de

produtos alimentícios como também de couro, alumínio, material elétrico, materiais de

construção além dos profissionais liberais que gradativamente vão-se instalando na

comunidade.

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FIGURA 5 - Aspecto geral da feira de Itabaiana

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1.3 - USO DO SOLO

Com relação ao sistema atual de classificação das propriedades agropecuárias,

Coelho11 considera quatro tipos básicos: minifúndio, empresa rural, latifúndio por

exploração e latifúndio por dimensão. Esta classificação, conforme o autor foi estabelecida

pelo Estatuto da Terra

“e é através dela que o INCRA – (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) realiza o cadastramento das propriedades em todo o país. As definições de minifúndio, empresa rural, e latifúndio são dadas a partir da noção de uma unidade de referência chamada módulo rural (2 a 120 hectares determinados em função da localização geográfica, do tipo de produção a que se destina e da capacidade da terra para produzir)” (1990, p.185).

A referência de área é calculada com base em uma família de 04 pessoas adultas,

levando em consideração a necessidade de subsistência familiar, a absorção da força de

trabalho e o progresso social e econômico. Assim, o módulo rural irá variar sempre de

tamanho não havendo uma distribuição eqüitativa mesmo dentro de uma mesma região,

devido às considerações sobre a localização geográfica, o tipo de produção e a capacidade

da terra em produzir. Ainda segundo Coelho12, “A intenção do Estatuto, ao criar essas

modalidades de propriedades, era mostrar que há um tamanho ótimo ou ideal de

propriedade”, além de “uma maior preferência pela propriedade empresarial ou

capitalista”. O Estatuto conceitua as modalidades de propriedades da seguinte forma:

a) Minifúndio – imóvel com área agriculturável inferior ao módulo rural.

b) Empresa Rural – imóvel explorado racionalmente, com um mínimo de 50% de sua área

agricultável utilizada e que não excede a 600 vezes o módulo.

c) Latifúndio por Exploração – mesma área da empresa rural, porém sem exploração em

relação as potencialidades físicas, econômicas e sociais do meio.

d) Latifúndio por Dimensão – área superior a 600 vezes o módulo rural médio da região.

11 Geografia do Brasil. Série Sinopse. 3ª edição atualizada. Editora Moderna Ltda. São Paulo – SP, 1990. 12 Obra citada.

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A situação das propriedades rurais dos municípios estudados pode ser vista no

QUADRO 1.

QUADRO 1 – Situação das propriedades rurais do Município de Itabaiana - PB

1972 1990 1991 1992

Quant.

Área (Ha)

Cat. do imóvel

Quant.

Área (Ha)

Cat. do imóvel

Quant. Área (Ha)

Cat. do imóvel

Quant. Área (Ha)

Cat. do imóvel

288 2699,8 Mini- fúndio

289 1765,2

Mini- Fúndio

299 1877,7 Mini- fúndio

303 1954,5 Mini- fúndio

16 2895,7 Empresa rural

58 15330,3

Empresa rural

57 15289,5

Empresa

rural

58 15711,6

Empresa rural

53 12464,2

Latifúndio por

exploração

33 5837,2

Latifúndio por explora

ção

33 5204,2 Latifúndio por explora

ção

30 4743,2 Latifúndio por

exploração

2 48 Incon-sistentes

FONTE: INCRA Este quadro reflete a situação fundiária do território municipal. Na categoria

minifúndio a quantidade de imóveis do período representado não chegou a sofrer uma

mudança quantitativa relevante, que pudesse apontar para uma mudança radical na divisão

do território nesses 20 anos de coleta de dados porém, há uma variação importante, se bem

que sutil, na composição dessa categoria instituída pelo Estatuto da Terra.

O tamanho médio das propriedades em 1972 era de 9,40ha e passou a ser de 6,45ha

em 1992, o que denota um deslocamento das cercas das menores propriedades

principalmente para o da categoria empresa rural, cujo aumento foi bastante significativo

no período levantado pela pesquisa.

Outras prováveis causas dessa migração de terras teriam sido a falência econômica

sofrida pelo Brasil nos anos da década de 1980. As condições climáticas adversas com

períodos de secas muito prolongadas além da incidência de pragas destruidoras das

pequenas lavouras de subsistência levaram grandes grupos de camponeses a migrarem para

outras regiões e venderem suas terras para propriedades maiores.

A empresa rural, ao contrário do ocorrido com o minifúndio (Gráfico 1),

demonstrou mudanças quantitativas impressionantes passando de 16 unidades em 1972,

para 58 em 1992 estabilizando seu crescimento no período de 1990 até 1992. A área

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ocupada por esse tipo de imóvel cresceu de 2895,7ha para 15711,6ha em 1992; um

aumento de 542,584% da área total, demonstrando-se factualmente a grande mudança -

ocorrida nas propriedades cadastradas pelo órgão federal. Com relação a modalidade de

latifúndio por exploração, o comportamento observado é exatamente o inverso das outras

categorias. Houve um decréscimo no número de propriedades, de 53 em 1972 para 30 em

1992, além de uma redução no tamanho da área desta categoria, de 12464,2ha em 1972

para 4743,2ha em 1992. O que comprova mais uma vez a migração das cercas para as

propriedades da modalidade empresa rural (Gráfico 2), não sendo constatados dados sobre

a categoria latifúndio por exploração (Gráfico 3), isto é, imóveis com área superior a 600

vezes o módulo rural médio da região. A análise da situação de Salgado de São Félix

seguiu exatamente o mesmo período de amostragem, como se pode ver no QUADRO 2.

GRÁFICO 1- Tendencia de modalidade Minifundio para o periodo de 1972, 1990 e 1992.

Município de Itabaiana Tendência da modalidade minifúndio para o período de 1972, 1990, 1991 e 1992, segundo

INCRA.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

1972 1990 1991 1992

Anos

Hec

tare

s

Quantidade dePropriedades

Área dasPropriedades

Município de It Tendência da modalidaexploração para o perío

1991 e 1992, segun

010002000300040005000600070008000900010000110001200013000

1972 1990 1991 1992

A nos

Município de Itabaiana Tendência da modalidade empresa rural para o período de 1972, 1990, 1991 e 1992,

segundo INCRA.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

1972 1990 1991 1992

Anos

Quantidade dePropriedades

Área dasPropriedades

Gráfico 2

GRÁFICO 3 – Tendênclatifúndio por exploração.

GRÁFICO 2 – Tendencia de modalidade empresa rural para o periodo de 1972, 1990 e 1992.

abaianade latifúndio por do de 1972, 1990, do INCRA.

Quantidade dePropriedades

Área dasPropriedades

Gráfico 3

ia de modalidade

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22

QUADRO 2 – Situação das propriedades rurais do Município de Salgado de São Félix - PB 1972 1990 1991 1992

Quant.

Área (Ha)

Cat. do imóvel

Quant.

Área (Ha)

Cat. Do imóvel

Quant.

Área (Ha)

Cat. Do imóvel

Quant.

Área (Ha)

Cat. do imóvel

468 2746,2

Mini- fúndio

510 2811,8

Mini- Fúndio

511 2820,8 Mini- Fúndio

511 2815,8

Mini- fúndio

2 320,8 Empresa

rural

23 7294,0

Empresa rural

23 7294,0 Empresa

rural

24 7367,0

Empresa rural

39 14511,3

Latifúndio por explora

ção

31 8100,9

Latifúndio por explora

ção

32 8650,9 Latifúndio por explora

ção

32 8587,9

Latifúndio por

exploração

5 44,5 Incon- sistente

s

FONTE: INCRA Seguindo a mesma linha de raciocínio utilizada para descrever a situação fundiária

de Itabaiana, o que se nota em Salgado de. São Félix é uma estática numérica não

observada, como no caso de Itabaiana.

Na categoria minifúndio Salgado de São Félix apresentou no ano de 1972, 468

estabelecimentos e nos anos de 1990, 1991 e 1992 não houve praticamente nenhuma

alteração nessa quantidade de imóveis. Mesmo em relação a área dos estabelecimentos

rurais, a variação que se deu não tem o poder de influenciar qualitativamente a observação

estatística sobre o quadro municipal. Em 1972 a área média das propriedades era de 5,86

ha, sendo que em 1992 era 5,51 ha, uma redução de apenas 0,35 ha nos 20 anos de

amostragem, a área total em 1972 era de 2746,2ha e de 2815,8ha em 1992, um acréscimo

de 69,6 ha no período (ver Gráficos 4, 5 e 6).

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23

Município de Salgado de São Félix Tendência da modalidade empresa rural para o

período de 1972, 1990, 1991 e 1992, segundo INCRA.

0750

150022503000375045005250600067507500

1972 1990 1991 1992

Anos

Hec

tare

s Quantidade dePropriedades

Área dasPropriedades

Na categoria empresa rural o

quantitativo de imóveis em 1972 era

de apenas 2 unidades crescendo para

24 em 1992, a área da categoria de

320,8 ha subiu nos 20 anos seguintes

para 7367 ha, um crescimento de

mais de 7046,2 ha.

Nos imóveis classificados

como latifúndio por exploração, a

exemplo do ocorrido em Itabaiana

houve também um fato interessante a

ser observado. O número de imóveis

praticamente manteve-se estável,

porém houve uma significativa perda

de área que passou de 14511,3ha para

8587,9há, resultando daí o

entendimento de que houve um

grande fracionamento de toda a

região migrando essas terras para a

categoria empresa rural, como será

analisado mais a frente. Sobre a

categoria latifúndio por extensão, o

INCRA não chegou a levantar

informações a respeito,

provavelmente não existem imóveis

com as características enunciadas

para essa classificação.

O que afinal podemos abstrair

de todos esses números e conceitos

aqui citados. Os números indicam que

esses municípios são compostos em

Município de Salgado de São Félix Tendência da modalidade minifúndio para o período de 1972, 1990, 1991 e 1992, segundo

INCRA.

0468936

1404187223402808

1972 1990 1991 1992

Anos

Hec

tare

s Quantidade dePropriedades

Área dasPropriedades

Município de Salgado de São Félix Tendência da modalidade latifúndio por

exploração para o período de 1972, 1990, 1991 e 1992, segundo INCRA.

0

1500

3000

4500

6000

7500

9000

10500

12000

13500

15000

1972 1990 1991 1992

A nos

Quantidade dePropriedades

Área dasPropriedades

GRÁFICO 4 – Tendencia de modalidade minifundio para o periodo de 1972, 1990 e 1992.

GRÁFICO 5 – Tendência de modalidade empresa rural para o período de 1972, 1990 e 1992.

GRÁFICO 6 – Tendência de modalidade latifúndio por exploração para o período de 1972, 1990 e 1992.

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24

sua grande parte por pequenas e médias propriedades, sendo que em Salgado de. São Félix,

de um total de 567 imóveis em 1992, 540 tinham entre 1 a 500ha, cerca de 92% da área.

Em Itabaiana, de 391 imóveis no mesmo ano 1992, 380 faziam parte do grupo menos de 1

a 500 ha, 97% do total, o que nos leva a raciocinar que nessas regiões existem, ainda de

forma marcante, a presença do camponês, o morador de distrito, o pequeno produtor que

leva seus produtos para serem negociados nas feiras livres da cidade próxima e que

praticamente sobrevive dos rendimentos que a terra oferece, mesmo que escassos,

fenômeno denominado de “propriedade familiar”, segundo o artigo 4º, inciso I da lei 4.504

de 30/11/1964 – Estatuto da Terra.

No caso das terras com potencial exploratório não realizado, segundo ainda o

Estatuto, deverá o Poder Público “promover a gradativa extinção das formas de ocupação

e de exploração das terras que contrariem sua função social”13, sendo que em Itabaiana

cerca de 147 imóveis com um total de 1.448,6 hectares eram classificados com essa

bandeira, imóvel inexplorado, enquanto que em Salgado de São Félix o número foi de 287

propriedades com 4.281,3 hectares de áreas inexploradas.

Finalizando, a subutilização e desperdício das terras, 50,61% em Salgado de São

Félix e 37,59% em Itabaiana no ano de 1992, denotam a pouca e/ou nenhuma habilidade

no planejamento da utilização dos recursos naturais existentes nos territórios dos

respectivos municípios, sendo muitas vezes essas enormes extensões de terras, com solos

férteis, “mantidas por seus proprietários para fins especulativos ou como ”reserva de

valor”, isto é, como meio de acesso a outras formas de riquezas nelas existentes ( madeira,

minérios, etc), obtenção de créditos baratos (financiamentos), benefícios fiscais, etc”14.

Ainda segundo o Estatuto, essas mesmas terras, comprovadamente improdutivas ou

insuficientemente exploradas, podem ser redistribuídas ou distribuídas para: fins de

reforma agrária, outros camponeses que careçam de áreas maiores para sustento de sua

família e formação de glebas para exploração agrícola, extrativa, pecuária, agro-pastoril ou

associações de agricultores sob o regime cooperativo.

13 Lei n.º4.504. Cap. III. Seção II. Artigo 13. 14 Marcos de Amorim Coelho in Geografia do Brasil. Série Sinopse. 3.ª edição. Pág. 185.

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25

1.4 - PERFIL SÓCIO-AMBIENTAL DA POPULAÇÃO

Toda a microrregião de Itabaiana tem sua vida social e econômica ligada à

influência do Rio Paraíba (ver Figuras 6 e 7), assim como as populações litorâneas têm no

mar seu maior referencial, e as sertanejas os elementos naturais que as circundam; esses

elementos representam de maneira positiva a matéria prima básica para o desenvolvimento

de suas populações, possibilitando a expansão de suas atividades e o aperfeiçoamento de

suas tradições. Falar em perfil sócio-ambiental significa, neste caso, abranger o principal

elemento dessa microrregião, que é o Rio Paraíba cuja influência possibilitou a instalação

do povoamento naquela região, sendo hoje o alvo maior das preocupações cotidianas do

povo que tem nos municípios de Itabaiana e Salgado de São Félix seu endereço fixo de

residência e a relação que essa população tem com esse Rio.

FIGURA 6 - Imagem de radar na escala de 1:250000 mostrando que o traçado do rio

cortando os territórios de Itabaiana e S. São Félix

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26

FIGURA 7 - Carta topográfica dos municípios de Itabaiana e Salgado de São Félix mostrando o traçado das propriedade rurais dos municípios de Itabaiana e S. São Félix

Em recente demanda a essas localidades, pesquisando elementos que poderiam

compôr o conteúdo de nossa pesquisa, constatamos um fato bastante significativo até então

desconhecido por nós: a luta pela água, ou melhor, pela manutenção da água. Sabemos de

antemão que a região sofre com a escassez do líquido e o Rio Paraíba (ver Fig. 8), quando

não se encontra em período de cheia, conserva precariamente um fluxo d'água que corre

fracamente, seu leito praticamente tomado por vegetação quase que desaparece e a

quantidade nem mesmo é suficiente para perenizar totalmente o seu curso que cobre boa

parcela do território paraibano, sendo uma das principais bacias hidrográficas de nosso

Estado.

Em nosso estudo utilizamos o termo perfil sócio-ambiental como medida para

entendermos a interação Homem-Meio. Procurando entender também conceitos como

desenvolvimento sustentável e índices de qualidade de vida, em sintonia com a

preservação e utilização racional dos recursos ambientais.

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27

Vive-se hoje a dicotomia do crescimento e do desenvolvimento. Algumas medidas

em prol da melhoria do meio ambiente, podem implicar no sucesso ou insucesso da

maioria das tentativas de aperfeiçoamento tecnológico. Transformações tecnológicas

mexem com o cotidiano das pessoas, inundando-o com novidades em intervalos de tempo

cada vez melhores. Para Rattner

“... a mentalidade e o comportamento dos atores sociais, as atitudes, crenças e valores destes que deveriam ser considerados como condições essenciais a serem analisadas quando da introdução de inovações tecnológicas, bem como para se prever os possíveis impactos decorrentes de sua aceitação” (Rattner, 1991).

Essas inovações, nem sempre direcionadas à comunidade, tratam a questão sócio-

ambiental como secundária, principalmente em se tratando de zonas periféricas e passam a

idéia errônea de riqueza e prosperidade através da instalação de bases temporárias nos

territórios, para exploração de suas riquezas. Isso concorre para desestabilização de seus

ecossistemas causando em regiões áridas como a nossa, problemas de desertificação. Falar

então em desenvolvimento sustentável para a região foco de nossa pesquisa, significa dizer

que um vigoroso processo ecológico-educacional deverá ser iniciado, facilitando o acesso a

informação pela maior parte da sociedade, isto é, pelo povo que, em virtude de sua situação

mais evidente, é quem primeiro sofre com todas as mudanças implantadas pelas influências

externas, alheias ao seu bem-estar e desenvolvimento.

Em Itabaiana, conforme dados coletados pelo IBGE de uma população

economicamente ativa, 9.991 pessoas em 1991, 7.468 pessoas ou 28,6% apresentavam

rendimentos de até 01 salário mínimo, 2.134 ou 8.2% de 01 até 03 salários, 332 ou 1.3%

rendimentos de 03 a 05 salários e acima de 5 salários apenas 57 indivíduos ou 0,21%. O

abastecimento de água ainda segundo o IBGE, se utiliza de 03 processos : floculação,

decantação e filtração sendo que na zona rural o abastecimento dá-se ainda através de

açudes, poços e /ou rio.

“A coleta de lixo na zona urbana é feita através de caminhão e trator, são em média 5 a 6 toneladas de lixo. O destino final são os terrenos baldios da periferia e por vezes às margens do rio, na zona rural todo o lixo é colocado a

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28

céu aberto. Não existe tratamento para resíduos hospitalares e de unidades de saúde.”15

Em Salgado de São Félix, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais –

1999, não há coleta de lixo nem órgão ou entidade que gerencie a coleta e tratamento do

lixo urbano e rural, há favelas e loteamentos irregulares, e ainda de acordo com a pesquisa

o município conta com Conselho de Educação, Conselho de Saúde e Conselho de

Assistência Social. A pesquisa destaca que há uma área de preservação ambiental, mas o

IBGE apenas indica sua existência, o que dificulta maiores esclarecimentos de nossa parte.

FIGURA 8 – O Rio Paraíba na estação do verão de 2000/2001 FOTO: Emmanuel de Andrade Alves

15 Plano Municipal de Saúde de Itabaiana – 2001 – 2002. Prefeitura Municipal. Secretaria de Saúde.

Rio Paraíba

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29

1.5 - TIPOLOGIA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE OFERECIDOS A POPULAÇÃO

Seguindo a temática que nomeou a proposta de nosso estudo, faremos neste

capítulo, uma análise sobre os tipos de serviços de saúde oferecidos as comunidades de

Itabaiana e Salgado de São Félix. Tipologia de serviços em saúde será o ordenamento

formal dos recursos oferecidos as populações locais quantitativa e qualitativamente, bem

como, incluindo-se aí, o acesso dessas mesmas populações a esses serviços que

espacialmente devem estar próximos das áreas onde são mais procurados. Em Itabaiana foi

elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde um Plano Municipal de Saúde onde constam

dados atuais da estrutura física e Humana, bem como os programas e metas estabelecidos

por aquele município. Em sua apresentação argumenta que

“O processo de planejamento em saúde envolve vários aspectos relativos a organização e gestão do Sistema de Saúde, o qual abrange uma imensa e complexa gama de ações, serviços e unidades de intervenção que serão adotadas em busca de soluções dos principais problemas de saúde, que assegurem a melhoria da qualidade de vida” (Prefeitura de Itabaiana, 2001-2004)

E na continuação:

“Foi elaborado com base nos dados disponíveis sobre os serviços de saúde do município no cadastro de informações ambulatoriais SAI/SUS, no sistema de informação básica/SIAB, pesquisas junto ao IBGE e a legislação básica segundo as normas técnicas adotadas pelo Ministério da Saúde”.

A estrutura de prestação de serviços de Itabaiana, pode ser visualizada no

QUADRO 3

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30

Serviço Quantidade

Centro de Saúde 02

PSF (Programa de Saúde da Família) 06

Posto de Saúde 03

Hospital 01

Laboratório de Análises Clínicas 01

Consultório odontológico 04

Serviço de Apoio Diagnóstico 01

Quadro 3 - Estrutura de prestação de serviços FONTE: PM de Itabaiana. Secretaria de Saúde. Plano Municipal de Saúde 2001 – 2004.

Segundo a Secretaria de Saúde do município de Itabaiana

“os Centros de Saúde realizam consultas médicas, odontológicas, exames laboratoriais ( procedimentos do FAE), fisioterapia, psicologia e a maioria dos programas especializados, funcionando nos dois turnos ( manhã e tarde)... As unidades de Saúde da Família ( PSF), garante o atendimento da população da área definida, em resumo todas as unidades necessitam de melhor investimento garantindo melhores condições de trabalho e resolutividade das ações”.16

Hospital – Hospital e maternidade São Vicente de Paula, administrado por entidade

privada filantrópica tem a seguinte estrutura (Quadro 4):

Leitos N.º

Gerais 81

Clínica Médica 22

Clínica Ginecológica e Obstétrica 18

Clínica Cirúrgica 39

Clínica Pediátrica 01

Crônicos/FPT 01

QUADRO 4 – Distribuição de leitos do Hospital São Vicente de Paula

O Hospital São Vicente de Paula conta com convênio do SUS, sendo suas

emergências encaminhadas para os municípios de referência: João Pessoa e Campina

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31

Grande.

Com relação aos Recursos Humanos da Municipalidade foi-nos fornecida a

seguinte descrição do quadro de pessoal (ver Quadro 5):

QUADRO 5 – Quadro de pessoal da área de saúde do Município de Itabaiana - PB

Categoria Profissional N.º de Profissionais

Médicos 10

Odontólogos 08

Enfermeiros 12

Nutricionistas 01

Psicólogos 02

Assistentes Sociais 01

Farmacêuticos 03

Fisioterapeutas 01

Auxiliares de Enfermagem 14

Técnicos Laboratoriais 04

Segundo o Plano Municipal, o quadro é deficiente em algumas categorias, mesmo

com a ampliação do número de profissionais, principalmente na zona rural. Há ainda uma

grande incidência dos chamados “óbitos sem assistência médica”, devido ao que eles

chamam de “subnotificação”, isto é, sepultamentos sem registro e “falhas no

preenchimento dos atestados que limitam a análise da situação de mortalidade do

município”.

Nos indicadores de mortalidade encontramos os seguintes agravos:

- Mal definidas

- Doenças cardiovasculares

- Diabetes Mellitus

- Neoplasias

- Doenças do Aparelho Respiratório

- Afecções Perinatias.

16 Secretaria de Saúde. Prefeitura Municipal de Itabaiana – Plano de Saúde Municipal 2001 – 2004.

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32

E nos indicadores de morbidade, os principais agravos são:

Gripe

Verminoses

Diarréias

Anemia

Dermatite.

Com relação aos registros de internação no ano de 2000:

Doenças cardiovasculares

Infecções respiratórias

Gastroenterites

Desnutrição

Assistência ao parto e ao recém-nascido

Neoplasias (tumores)

Com relação ao acesso a esses serviços de saúde, fizemos uma pequena conta

algébrica para podermos nos situar na questão de como está caracterizada a questão da

oferta à população desses serviços de saúde e chegamos a esta demonstração, que se pode

ver no QUADRO 6.

01 Hospital para 25200 habitantes (residentes)

311.11 habitantes (81 leitos) Por leito hospitalar

8400 habitantes Por posto de saúde

12600 habitantes Por centro de saúde

01 consultório médico Para 25200 habitantes

04 consultórios odontológicos Para 6300 habitantes

01 Lab. Anal. Clínicas Para 25200 habitantes ( residentes )

03 Postos de assistência médica Para 8400 habitantes ( residentes )

QUADRO 6 – Caracterização da oferta à população de serviços de saúde

Em Itabaiana, se formos considerar positivamente os números acima, veremos que

uma situação calamitosa pode se estabelecer naquela comunidade com um simples

acidente da natureza ou algo semelhante. Os números indicam uma fragilidade do sistema,

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apesar dos programas que são realizados, como o de imunização que, segundo a SSM

disponibiliza as principais vacinas nos postos de saúde além das de campanhas como a

influenza (gripe), poliomielite, anti-rábica, entre outras, tendo na própria base de pessoal

técnico uma deficiência extraordinária pelo fato de não haver na cidade nenhum médico

residente isto é, dos 10 profissionais apontados no Plano Municipal de Saúde, que

atualmente clinicam naquela comunidade todos, sem exceção, residem fora, o que pode ser

considerado muito grave em uma avaliação primária.

Foi constatado ainda em entrevistas realizadas, junto à Secretaria Municipal de

Saúde de Itabaiana, que além de seus próprios habitantes a cidade também fornece

assistência médica a mais 05 municípios circunvizinhos dentro de sua área de influência

geográfica: – São José dos Ramos, Pilar, Salgado de São Félix, Mogeiro e Juripiranga, o

que eleva o número total de assistidos para 75.305 habitantes. Em Salgado de São Félix, há

apenas 1 Centro de Saúde e envolve Programa de Saúde da Família – PSF.

Segundo a SMS de Salgado de São Félix, os PSF funcionam com sala de curativo,

ministram vacinas, tem consultório médico e de enfermagem e dois apresentam consultório

odontológico. A aparelhagem consiste em geral de equipamentos básicos como

estetoscópios, medidores de pressão e outros que ajudam na sondagem fetal. No Centro de

Saúde existem: 01 consultório médico, 01 de enfermagem, 01 odontológico, 01

laboratório, salas de curativo e esterilização. Não há no município leitos para internação,

nem hospital público ou particular. A exemplo de Itabaiana o corpo técnico de nível

superior não reside no município. A parte de recursos humanos no município é assim

representada (Quadro 7).

Categoria Profissional N.º de Profissionais

Médicos 05

Odontólogos 05

Auxiliares de Enfermagem 09

QUADRO 7 – Recursos humanos em Salgado de São Félix -PB FONTE: Secretaria Municipal de Saúde de Salgado de São Félix

Os procedimentos mais comuns são consultas, visitas domiciliares, pequenas

cirurgias, pediatria, tratamento bucal e exames laboratoriais de rotina, sendo que além

destes o Poder Público também realiza programas de planejamento familiar (Benfam),

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34

PSF, programa de saúde bucal, controle da diabetes, hipertensão, hanseníase, tuberculose

além de atenção a saúde mental. No questionário aplicado a Secretaria de Saúde

perguntamos que medidas estariam sendo tomadas para melhoria da infraestrutura. Ao que

nos foi respondido, a meta para o ano de 2002 seria a aquisição de equipamentos para

funcionamento de mais 02 postos do PSF, bem como a contratação de pessoal

especializado para operar nos postos, reforma das atuais instalações e reorganização da

farmácia básica.

Salgado de São Félix, por ser um município satélite de Itabaiana, não é referência

para os municípios vizinhos, porém, segundo a secretária municipal Dra. Maria Marlene

Ferreira, moradores de Mogeiro vêm esporadicamente utilizar os serviços do município, o

que não pode ser considerado relevante do ponto de vista da pesquisa. Os principais

agravos constatados no município são a hipertensão, diabetes, viroses e DST (Doenças

Sexualmente Transmissíveis).

Ao contrário do que fizemos com Itabaiana, em Salgado de São Félix não nos

detivemos à análise da oferta de serviços com o número total de habitantes assistidos.

Constituiria perda de tempo uma análise comparativa, visto que as condições sócio-

econômicas daquela municipalidade são evidentes do ponto de vista material e pessoal.

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35

SEGUNDA PARTE 2.1 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Repensando as antigas teorias econômicas sobre desenvolvimento, verificamos que

por, deficiência de conhecimento sobre a realidade planetária, talvez um desconhecimento

das qualidades humanas, pensaram grandes cientistas de antanho que o Homem poderia

apropriar-se dos recursos naturais sem nenhuma preocupação com a quantidade de sua

oferta, nem mesmo sobre sua disponibilidade quanto ao restante do vulgo, o que vigorava

até então eram as teorias que justificavam apenas o uso e não a preservação, sem envolver

o problema social. Havia, de forma mais arraigada que hoje, uma mentalidade

exclusionista, que não reconhecia no vizinho alguém com necessidades nem com

problemas semelhantes aos nossos, apenas seres de categoria inferior deveriam ser

dominados e sujeitados ao pensamento do colonizador, do invasor.

O tempo foi evoluindo e essas teorias começaram a ficar em desuso. Correntes

novas de pensamento foram-se formando para criar a chamada mentalidade humanista, isto

é, pessoas que pensam, agem e fazem com que os bens da humanidade possam ser mais

bem aproveitados por essa mesma humanidade. E ainda, que o consumo desses bens não

venha prejudicar os seus usuários : a humanidade. Foi assim que desenvolvemos nossa

idéia neste trabalho, e foi pensando dessa forma que levantamos os dados sobre os

municípios, descritos nos itens anteriores, procurando focalizar a questão da quantidade de

recursos e de como estão distribuídos pela massa que deles se utiliza.

Ao enfocar o uso do solo, perfil sócio-ambiental e tipologia de serviços de saúde,

entendemos que esses conceitos são suficientemente amplos para montar uma discussão

em torno do tema aqui abordado. Poderíamos ter recorrido à metodologia dos institutos que

trabalham essa temática a mais tempo, porém, como não há espaço neste trabalho para um

feito desse tamanho, nem capacidade técnica suficiente para fornecer meios de realizar

todas estas considerações, resolvemos aproveitar o que já estava feito e realizar apenas um

comentário crítico a respeito do problema, colocando pontos que poderiam ser abordados

sem prejuízos de maculação da pesquisa do Índice de Desenvolvimento Humano dos

Municípios – IDH-M.

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36

O IDH-M que é uma ampliação do IDH a exemplo deste varia seu índice de 0 a 1

sendo que em Itabaiana e Salgado de São Félix havia respectivamente 0,491 e 0,361pontos

no ano de 1991, isto é, são lugares considerados muito atrasados com seus principais

indicadores de qualidade de vida, apontando para uma situação bastante crítica do ponto de

vista social/econômico/ambiental. Vimos que na questão da distribuição da terra há, se

assim podemos nos expressar, um certo avanço desses municípios em relação ao resto do

Estado da Paraíba e mesmo no Brasil, visto não haver grandes concentrações de terras; e

não chegamos a perceber a presença de conflitos por parte de agricultores locais. O maior

problema focalizado em nossa pesquisa é a falta de aproveitamento mais adequado do solo,

há uma enorme faixa de terras classificada como em desuso pelas pesquisas do INCRA, o

que provavelmente tende a obstruir o desenvolvimento local. Há ainda em Itabaiana uma

tendência a criação extensiva de gado bovino, devido a algumas tradições que se

acumularam no decorrer de sua história, porém, um planejamento no sentido de ampliação

da exploração da terra poderia ser iniciado, partindo principalmente da adoção de sistemas

cooperativistas de trabalho e crédito que pudessem direcionar de forma mais próxima as

ações empreendidas no campo e mesmo o seu financiamento. Apesar de o Poder Público

não ter o direito, determinado por lei, de interferir nesse tipo de instituição, ele tem a

capacidade de fomentar, de constituir e dinamizar a produção que, obrigatoriamente há um

agente que administre, que venda os produtos.

No plano da saúde vimos que a estrutura física e de pessoal, atualmente em

funcionamento, não atende com satisfação as condições mínimas de acesso aos serviços e

em caso de epidemia e mesmo de catástrofe ambiental não há como proteger os moradores

dos efeitos desses fenômenos. Seria talvez uma boa sugestão lembrar o que vem

acontecendo em algumas regiões do país, como por exemplo na região sul, a propósito dos

consórcios municipais onde cidades de pequeno porte reúnem-se para planejar em conjunto

as ações referentes aos investimentos que devem ser realizados em sua região. No modelo

de trabalho da Paraíba (ou do Nordeste) é mais comum vermos os municípios lutando

individualmente por melhores índices de qualidade de vida, o que é um erro grave, visto

que a situação de um é a de todos. A pobreza e escassez de recursos financeiros é reinante

em todas as regiões dos Estados, não que esta seja região pobre, mas não oferece boas

ferramentas administrativas nem de planejamento.

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O perfil sócio-ambiental, como dissemos anteriormente, será a aferição do nível de

integração do Homem com o meio que o suporta, mas o pudemos constatar é justamente a

falta de sintonia daquelas pessoas com sua paisagem, com seu lugar de recriação. Lixões

espalhados pelas áreas rurais dos municípios, falta de tratamento dos resíduos sólidos,

ausência de gerenciamento de resíduos em ambas as cidades, contaminação dos recursos

aqüíferos e destruição das margens e do leito do Rio Paraíba estes foram alguns dos itens

constatados em nossas observações. A criação de cursos ambientais junto à massa da

população, para ajuda-lá no conhecimento da sua região é importante, principalmente do

ponto de vista da preservação e da alocação de recursos financeiros. O trabalho poderia

começar na escola, junto às crianças de menor idade.

Concluindo, na área geográfica pesquisada, as carências são diversas. Saúde, meio

ambiente e o campo são setores defasados e desestruturados que precisariam de

metodologia mais apropriada para um correto funcionamento. Cremos, pelos comentários

orais de nossos entrevistados, que as disputas políticas atrasaram (e atrasam ainda) a

realização de tarefas importantes, devido as richas partidárias o povo fica carente e o

planejamento municipal vai ficando para segundo plano. É urgente uma revisão dos

valores políticos; é urgente a implantação de uma conduta que dê prioridade ao principal e

não ao acessório.

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2.2 - BIBLIOGRAFIA

CAVALCANTI, Clóvis (org) 1999 [1997] Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. Cortez Editora. Fundação Joaquim Nabuco. São Paulo. COELHO, Marcos de Amorim. Geografia do Brasil. Série Sinopse. 3ª edição. São Paulo: Editora Moderna, 1990. BRASIL, IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Estado da Paraíba. Município de Salgado de São Félix, 1999. Disponível em http://www.ibge.gov.br/ BRASIL, IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Informações Básicas Municipais. Estado da Paraíba. Itabaiana, 1999. Disponível em http://www.ibge.gov.br/ BRASIL – Ministério da Reforma Agrária. Lei n.4.504. Brasília, 1964. Disponível em http://www.jol.com.br/legs/estatutos/terra/index.htm. Acessado em 02/04/2002. Prefeitura Municipal de Itabaiana. Secretaria de Saúde. Plano Municipal de Saúde de Itabaiana 2001 – 2004. IBGE, Base de Informações Municipais – Malha Municipal 1997. Disponível em http://www.ibge.gov.br/ MAIA, Sabiniano. Sua história - suas memórias 1500-1975. 2ª Ed. Editora A União. João Pessoa, 1977. RATTNER, Henrique. Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável. FEA – USP. Núcleo de Apoio à Pesquisa em Economia, Sociedade e Meio Ambiente (NAMA – 1 FEA 1 USP), São Paulo, 1991.