Upload
ngongoc
View
219
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Edição especial comemorativa aos 30 anos do Curso de Pedagogia da UP. Universidade Positivo | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Primeira turma do Curso de Pedagogia
da Universidade Positivo 1988/1992
ReitorProf. José Pio Martins
Pró-Reitor AcadêmicoProf. Carlos Longo
Diretor da Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: Roberto Di Benedetto
Conselho EditorialProfa. Angela Cristina Cardozo Schemin, mestre
Profa. Deise Leia Farias Hofmeister, mestre
Profa. Fabiane Picheth, mestre
Profa. Gelsenmeia Massuquette Romero de Souza, mestre
Profa. Jezuina Kohls Schwanz, doutora
Profa. Liliamar Hoça, doutora
EditoresProfa. Jezuina Kohls Schwanz, doutora
Nilson Bispo de Jesus Jr.
Comitê EditorialProfa. Angela Cristina Cardozo Schemin, mestre
Profa. Deise Leia Farias Hofmeister, mestre
Profa. Fabiane Picheth, mestre
Profa. Jezuina Kohls Schwanz, doutora
Profa. Liliamar Hoça, doutora
Profa. Nelly Souza, doutora
Revisão de textoProfa. Angela Cristina Cardozo Schemin, mestre
Criação, Arte e DiagramaçãoNilson Bispo de Jesus Jr.
A Revista Pedagógica da UP é uma publicação especial em comemoração aos 30 anos do curso de Pedagogia na Universidade Positivo.
Câmpus sede - EcovilleR. Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 Campo Comprido, Curitiba, PR
Coordenação de PedagogiaBloco Amarelo, Câmpus Ecoville(41) 3317-3000up.edu.br
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Nota dos editores
“Memória e esquecimento andam juntos, são memórias da educação que buscamos, para
não esquecê-las, para retomá-las numa busca que impeça o seu esquecimento”
(MENEZES, 2004, p.27).
É com imenso prazer que aceitamos o
convite da Coordenação do curso de Pedago-
gia da Universidade Positivo de celebrarmos em
nossa revista número 1 seus 30 anos de história.
Quanta responsabilidade para uma revista nas-
cer em uma data tão importante para o curso do
qual fizemos parte, resgatar parte da história,
registrar memórias, e principalmente dar voz
aos diferentes atores que teceram e continuam
a tecer essa história. Alunos, ex-alunos, profes-
sores, ex-professores, coordenadores e colabo-
radores, juntos contribuindo para que as memó-
rias da educação continuem vivas, contadas a
partir de diferentes olhares.
Os vestígios encontrados na história dessa
importante instituição de ensino apresentam-se
como um terreno fértil para a compreensão das
relações construídas entre os sujeitos e os obje-
tos, historicamente, no cotidiano da sala de aula
e também, fora dela. Percebe-se a Pedagogia,
como produtora de uma cultura própria, onde
os sujeitos que por aqui passam deixam suas
marcas e carregam consigo o pertencimento ao
curso e a Universidade Positivo, carinhosamente
intitulada pelos alunos como UP.
Esperamos que esta revista seja um marco
e que venha a contribuir para a formação dos
acadêmicos do Curso de Pedagogia, com foco
na escrita acadêmica e na divulgação do conhe-
cimento científico. Estimulando a produção de
ideias, pensamentos, pesquisas e expressões so-
bre o contexto pedagógico, da aprendizagem e a
educação.
Jezuina Kohls SchwanzNilson Bispo de Jesus Jr.
ED
ITO
RIA
L
3
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
EDITORIAL .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Da necessidade das licenciaturas
José Pio Martins
Formar professores, um projeto de real transformação social!
Coordenação Pedagogia
Com a palavra: Josemary Morastoni
ARTIGOS .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ser pedagogo e formar pedagogos: uma reflexão sobre as práticas no curso de pedagogia da UP
Dra. Liliamar Hoça
A inserção histórica da mulher como profissional docente no Brasil: primeiros aportes teórico-
metodológicos1
Dra. Ivana Lima de Almeida
Arquivos “vivos”: os arquivos escolares, leis de salvaguarda e proteção
Dra. Jezuina Kohls Schwanz
INICIAÇÃO CIENTÍFICA .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
História e memória: os 30 anos do curso de Pedagogia da Universidade Positivo
Dra. Jezuina Kohls Schwanz
RESUMOS ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Dialogando sobre alfabetização: ideias iniciais
Adriana Neves Paconde
A valorização e a construção da hipótese do desenho para a criança enquanto instrumento de prática
pedagógica no processo de alfabetização e letramento
Nilson Bispo de Jesus Jr.
O pedagogo e o processo inclusivo na educação infantil
Giovana Alves Ramella
Dra. Nelly Narcizo de Souza
TCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Avaliação nas escolas organizadas em ciclos
Ana Claudia Jungles
Gessica Souza Jungles
Rosiane Aparecida Carvalho
5
6
7
9
13
19
29
32
35
38
41
SU
MÁ
RIO
ED
ITO
RIA
L
4
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019S
UM
ÁR
IO
EXTENSÃO ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Operação Rondon: para além dos muros da universidade
João Felipe Fagundes Portella
Dra. Jezuina Kohls Schwanz
Ler e pensar: escrever e inspirar
Camile G. Hesketh Cardoso
RELATOS .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Reflexões sobre a inclusão na educação infantil a partir da experiência do estágio remunerado
Kauyla Brenda Prossak
Giovana Alves Ramella
Dra. Nelly Narcizo de Souza
Relatos de uma trajetória discente: do Magistério à Pedagogia
Ruan Lucas Cardoso Valentin
Jezuina Kohls Schwanz
INDICAÇÕES .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Indicação de filme inspirador
Gabriela Basilio
Indicação do livro “Filomenos: o cabrito aflito”
EXPRESSÕES .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cordel: Presença Masculina na Pedagogia
Luzinete Rosa da Silva
Qual o herói?
Cassia Akemi
Guilherme Marchiori
Paulo Freire
Nilson Bispo de Jesus Jr.
PÁGINA DO EGRESSO ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Morgana Basso
FORMANDOS .................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Formandos do Câmpus Ecoville 2018
Formandos do Câmpus Osório 2018
44
46
49
54
57
57
58
60
60
61
62
63
ED
ITO
RIA
L
5
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Da necessidade das licenciaturas
A definição de “pedagogia” de que mais gosto é que se trata da ciência de ensino e aprendi-
zagem. Ou seja, as teorias, as técnicas e os métodos usados para fazer a transposição dos conhe-
cimentos científicos e das habilidades técnicas que existem na cabeça do professor, nos livros e
em outras fontes para a cabeça do aluno ou do aprendiz. A ciência da pedagogia existe em razão
de que essa transposição é complexa e exige tratamento científico para sua melhor execução.
Um curso superior de licenciatura tem a finalidade de, a par de ensinar um saber específico
de algum ramo do conhecimento, formar um profissional que consiga transmitir seu saber para
alunos, usando as melhores técnicas e a melhor eficiência possível. É por essa razão que, em
geral, não basta ser um bom profissional para se tornar um bom professor. Um grande cirurgião
pode ser um alto especialista em seu ofício, mas isso não basta para ele se transformar em um
bom professor.
Na arte de ensinar, é necessário que o professor domine a ciência da pedagogia, ou seja, as
teorias e as técnicas de ensinar, transmitir, avaliar e levar o educando ao melhor desempenho
segundo sua capacidade e esforço. Imaginemos um grande matemático que domine toda a lógica
e o significado da ciência matemática, mas que não tem domínio das técnicas, métodos, proces-
sos e didática de ensino. A despeito do grande conhecimento, ele poderá falhar na atividade de
professor.
A finalidade dos cursos de licenciatura é fazer que ao conhecimento seja adicionada a capa-
cidade de atuar como professor capaz de cumprir o melhor caminho possível de ensino-apren-
dizagem. A pedagogia é complexa por si só e segue sendo um desafio em razão das mudanças
culturais e, principalmente, das mudanças tecnológicas que vêm colocando ferramentas e méto-
dos novos à disposição da atividade educacional. Ou seja, a pedagogia não é uma ciência pronta,
acabada imutável no tempo. As licenciaturas têm o desafio de acompanhar a evolução e adicionar
saberes e conhecimentos novos para a própria pedagogia.
Prof. José Pio MartinsEconomista, desenvolveu sua carreira basicamente no setor privado, com passagem em cargos públicos. Atualmente é Reitor da Universidade Positivo, comen-tarista econômico da Rádio CBN Curitiba, publica ar-tigos assinados para a Gazeta do Povo, faz parte da equipe de editorialistas desse mesmo jornal e é autor dos livros Educação Financeira ao Alcance de Todos (2004), Seu Futuro (2011), coautor do livro Pinceladas de Inovação (2018).
ED
ITO
RIA
L
6
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Formar professores, um projeto de real transformação social!
A formação de professores é um legado institucional que vai muito além de dados quantitativos,
ela representa a contribuição para transformação social do nosso país e a qualificação da ação ped-
agógica nos espaços escolares e não escolares.
Comemorar 30 anos de história da Pedagogia da Universidade Positivo é permitir que todos nós,
pares de formação, estudantes, egressos, pesquisadores e comunidade; celebrem uma caminhada de
realizações e o mapeamento de desafios futuros que estamos nos preparando diariamente.
É assim que o curso de Pedagogia da Universidade Positivo vem consolidando seu projeto de
formação, pautando-se em expressivo aporte teórico, práticas metodológicas, preparo para pesquisa
e inovação pedagógica, pois compreende a relação entre teoria e prática e a reflexão em torno das
contradições sociais como bases investigativas e propulsoras de uma formação que não termina, não
se esgota e sim, sempre se transforma!
Nesta perspectiva, o curso de Pedagogia da Universidade Positivo, atende as disposições da Res-
olução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para
esse curso, tem como objetivo formar profissionais com sólido conhecimento para o exercício da
docência na educação infantil, no ensino fundamental anos iniciais e nas modalidades de educação,
referendadas nas DCN bem como nos diferentes espaços formativos.
O curso de Pedagogia da Universidade Positivo é voltado para os princípios de democratização do
acesso e a melhoria da qualidade da Educação Básica, consideradas conquistas fundamentais para a
construção de uma sociedade brasileira que busca a inserção de seus cidadãos em diferentes áreas e
com condições de igualdade no campo do conhecimento. O propósito é formar o profissional prepara-
do para enfrentar os desafios das transformações da sociedade e do mundo do trabalho comprometi-
dos com o desenvolvimento da educação tanto no âmbito local como regional, com sólidos princípios
filosóficos, sociais, históricos, econômicos, políticos, ambientais, culturais e pedagógicos que nor-
tearão a sua prática.
No registro desta revista, que é lançada no ano de comemoração dos 30 anos do curso de Pedago-
gia, parabenizamos o corpo docente que qualifica diariamente a formação dos nossos estudantes e a
todos que acreditam na nossa tarefa como um mundo de possibilidades e realizações sociais!
Sigamos em nosso propósito central pautado na seguinte afirmação: Formar professores é acred-
itar no potencial humano!
Coordenação Pedagogia
Professora Deise Leia Hofmeister
Professora Fabiane Picheth
Professora Gelsenmeia Massuquette Romero de Souza
ED
ITO
RIA
L
7
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Trabalho com formação de professores há mais de 20 anos e sempre nutri uma preocupação
com o ensino proporcionado aos ingressantes do curso superior. Formada em Pedagogia, iniciei meu
trabalho em sala de aula, o que me possibilitou conhecer a bagagem de conteúdo que um professor
precisa ter na sua atuação. Posteriormente me tornei coordenadora pedagógica da educação infantil
e séries iniciais, experiência em que percebi as necessidades dos professores recém-formados, suas
inseguranças e desafios. Mais tarde cheguei à direção pedagógica de escola pública, onde pude co-
nhecer toda a dinâmica escolar e como diretora de escolas particulares pude ver a semelhança entre
os professores recém-formados nas duas instituições, e as suas necessidades de suporte teórico,
metodológico e prático.
Nessa trajetória profissional percebi a necessidade de uma formação diferenciada dos profis-
sionais na área da educação, especialmente em Pedagogia. Observei na atuação dos professores, os
desafios que os profissionais enfrentam na sua prática, por não conseguir associá-la aos seus conhe-
cimentos teóricos-metodológicos. Percebi a fragilidade no domínio dos conceitos básicos que funda-
mentam o ensino da Educação Básica e a inexperiência quanto ao ambiente escolar após sua formação
acadêmica.
Quando fui convidada para trabalhar na coordenação do Curso de Pedagogia da Universidade
Positivo no início de 2010, verifiquei com mais precisão as características de um curso superior e o
perfil dos alunos ingressantes, que em quatro anos estariam em sala de aula.
Recebi um curso de Pedagogia que existia desde 1988 e já havia passado por várias reorganiza-
ções, mas que não vinha demonstrando bons resultados.
Em 2008 o curso apresentou conceito 3 (suficiente) no ENADE (Exame Nacional de Desempenho
de Estudantes) que é a vitrine do curso superior, nesse caso o espanto era que os alunos ingressantes
tinham uma nota maior que os concluintes, fator que causou um cenário tão negativo, que se pensou
na possível extinção do curso na instituição. Isso soou como um alerta quanto a formação inicial do
pedagogo e revelou outras questões que precisavam de atenção, como o número reduzido de alunos e
a pouca procura pelo curso, o baixo conceito na avaliação das escolas onde eram realizadas as práti-
cas de estágio, pois os gestores revelaram um despreparo dos estagiários para a docência.
Pensando em questões primordiais, como uma formação que proporcionasse ao aluno a vivência no
ambiente escolar, e a bagagem teórica necessária para que este aplique dos conteúdos e metodologias
com segurança após sua formação, iniciei uma reestruturação do curso de Pedagogia.
A primeira questão levantada foi “que tipo de profissional um curso de Pedagogia deveria formar?
” Em resposta, uso as palavras de Novoa:
Eu quero professores que não se limitem a imitar outros professores, mas se comprometam na educação
das crianças numa nova sociedade; professores que participem de um sistema que os valoriza e lhes
fornece os recursos e os apoios necessários a sua formação e desenvolvimento; professores que não são
apenas técnicos, mas também criadores. (NOVOA, 2007, p.39)
Com a palavra: Josemary Morastoni
Jo
sem
ary
Mo
rasto
ni
ED
ITO
RIA
L
8
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Para alcançar esse objetivo, não poderia seguir o trabalho sozinha, precisava de uma boa equi-pe que trouxesse ideias inovadoras e sugestões. Uma equipe que tivesse preparo para encarar junto comigo esse desafio. Assim iniciei a reorganização do curso com a reestruturação do corpo docente, buscando profissionais que conhecessem na prática a educação infantil e as séries iniciais, pesso-as que realmente tivessem vivenciado a sala de aula como pedagogos, docentes, ou profissionais de “chão de escola”, como costumo chamar.
Hoje o curso de Pedagogia da Universidade Positivo conta com profissionais, que em sua grande maioria são mestres e doutores, porém com bom conhecimento de “chão de escola” e com práticas bastante inovadoras.
Criamos uma nova grade curricular inovadora e diretiva, pensando nos conteúdos que o profes-sor precisa dominar para ensinar seus alunos na Educação Básica, assim foi estruturada a disciplina de Retomada de Conteúdo (Literatura e escrita, Matemática, História, Geografia). Essa primeira ação foi baseada em estudos anteriores, que revelaram que a grande dificuldade desses alunos ingressan-tes nas disciplinas de Fundamentos e de Metodologias, estava na baixa aquisição de conhecimento dos conteúdos básicos.
O novo curso de Pedagogia também se preocupa com o domínio da oralidade, da síntese das in-formações e da capacidade de comunicação. Para isso organizamos os Seminários de Estágio, onde os alunos de diferentes períodos podem trocar experiências sobre os desafios e realizações adquiridos durante as experiências dos estágios supervisionados.
Ainda pensando em um curso completo, desenvolvemos o Fórum de Pedagogia, que possibilita a formação do aluno/professor como pesquisador, dando a este a oportunidade de atuar no desenvol-vimento de pesquisas na área da Educação.
Assim foram feitas propostas de melhoria as quais foram tão significativas que em 2011 conse-guimos o conceito 5 no ENADE e a formação de profissionais mais qualificados que hoje atuam em instituições públicas e particulares. O conceito do ENADE valorizou o curso e hoje a procura aumen-tou, bem como o número de alunos matriculados.
Hoje, o curso de Pedagogia é reconhecidamente um dos melhores cursos de formação de profes-sores de Curitiba e um dos maiores cursos da UP; existe em três modalidades (presencial, semipre-sencial e EAD) e tem mais de 3000 alunos.
No final do ano passado, fui convidada para assumir a gestão de uma IES do grupo Positivo na cidade de Londrina. Por esse motivo, em dezembro, deixei a coordenação do Curso de Pedagogia.
Mas não deixarei jamais de acompanhar a formação dos futuros pedagogos pois é algo que faz parte de minha trajetória de vida. Acredito piamente no que nos disse Paulo Freire: “onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender”.
E aprender com os futuros pedagogos é delicioso, é maravilhoso!
Josemary MorastoniMestre em Educação; Pedagoga, Ex-coordenadora do Curso de Padagogia da Universidade Positivo.E-mail: [email protected]
AR
TIG
OS
9
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Ser pedagogo e formar pedagogos: uma reflexão sobre as práticas no curso de pedagogia da UP
Liliamar HoçaDoutora em Educação. Professora da Universidade Positivo. Pedagoga na Rede Municipal de Ensino de Curitiba. E-mail: [email protected]
Iniciei a trabalhar com no ensino superior
há treze anos nas licenciaturas e nove deles
são dedicados, com muito orgulho e carinho,
ao curso de Pedagogia da Universidade Posi-
tivo.
Sou licenciada em Pedagogia pela PUC/Pr,
quando o curso tinha a divisão em Orientação
Educacional, Supervisão escolar e Adminis-
tração e trabalhar na formação de pedagogos
é um privilégio, pois trabalho como pedagoga
em escola da rede pública de ensino de Curi-
tiba. Atuei também como professora alfabe-
tizadora, experiências profissionais que me
auxiliaram (e ainda auxiliam) na proposição de
atividades de formação, no preparo das aulas,
na realização de projetos, pois a cada dia iden-
tifico as expectativas e necessidades dos estu-
dantes e dos professores.
Participar das atividades comemorativas
aos 30 anos do curso me levou a refletir so-
bre formação e os grandes passos dados pelo
curso de pedagogia Universidade Positivo (UP)
nos últimos dez anos. Foi necessário fazer uma
classificação das atividades que participei e
conduzi.
O curso de Pedagogia da Universidade
Positivo (UP) para mim tem dois grandes dife-
renciais, construídos a partir de 2010: a equi-
pe de professores sempre foi unida e inquieta
diante do assunto de formação, buscando di-
ferentes estratégias de enriquecimento cur-
ricular e o estabelecemos enquanto equipe, a
parir de 2010, momento de reorganização do
curso, uma questão norteadora para atender
as demandas emergente da educação. A per-
gunta norteadora era: que profissional do en-
sino um curso de Pedagogia deveria formar?
Essa questão nos encaminhou para estudos,
conhecer muitas experiencias universitárias,
propor projetos diferenciados, para alcançar a
qualidade na formação dos egressos do curso
de Pedagogia.
Em Nóvoa (2007), encontramos parte da-
quilo que procuramos:
Eu quero professores que não se limitem
a imitar outros professores mas se com-
prometam na educação das crianças numa
nova sociedade; professores que partici-
pem de um sistema que os valoriza e lhes
fornece os recursos e os apoios necessá-
rios a sua formação e desenvolvimento;
professores que não são apenas técnicos,
mas também criadores. (NOVOA, 2007,
p.39)
Acredito que essas ideias levantadas por
Nóvoa foram essenciais para desenvolvermos
muitas ações no curso, para estrategicamen-
te, melhorar os índices de aproveitamento do
curso, que foi elevado a 5 no ano de 2011, re-
sultado obtido no exame nacional dos cursos
superiores.
Nesses anos foram muitas as atividades
realizadas com os estudantes, uma delas fo-
ram as atividades de estágio, com horas já no
primeiro ano do curso, inserindo o acadêmico
no cotidiano da profissão. Mas tínhamos a pre-
ocupação que as práticas fossem socializadas
entre os estudantes e então, surgiram os semi-
nários de estágio, uma atividade de apresen-
Lilia
ma
r Ho
ça
AR
TIG
OS
10
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
tação sobre as práticas vivenciadas nos dife-
rentes campos de atuação dos acadêmicos do
curso, ao longo de um ano.
Refletindo sobre a formação do pedagogo,
a prática de estágio não poderia ficar de fora
dessa matriz curricular, entendendo-o como
espaço no qual o acadêmico conhece reconhe-
ce os processos profissionais.
Buscamos inserir os acadêmicos em esco-
las do sistema público e privado de ensino e
no nível do ensino fundamental, com observa-
ções participantes, isto é, acadêmico realizava
suas anotações, mas auxiliava os professores
das turmas, visando o desenvolvimento das
habilidades relacionadas a prática docente,
como a elaboração, aplicação e avaliação. Os
instrumentos de registro de hoje são resul-
tantes de matrizes traduzidas e adaptadas por
Hoça, Morastoni e Pannuti (2013) de um pro-
grama chamado Inquiry into the Stanford Te-
acher Education Program (iSTEP Inquiry), da
Universidade Stanford, nos Estados Unidos,
esse programa foi considerado um dos melho-
res programas de formação de professores no
mundo, e lá estávamos nós, estudando, tradu-
zindo documentos, pesquisando, para tornar o
registro significativo e reflexivo.
Não foi e ainda não é uma tarefa fácil, en-
contrar a escola/CMEI, passar pelas assinatu-
ras de termos, ter um professor que possa ser
referência para o acadêmico no local de está-
gio. Porém não desistimos e a cada ano do es-
tágio nos colocamos em um novo desafio.
Em 2017 realizei uma pesquisa com os
acadêmicos sobre o estágio realizado em clas-
ses de alfabetização, uma das perguntas reali-
zadas dizia respeito ao professor que eles, es-
tudantes de pedagogia, esperavam encontrar
em campo de estágio. Transformei os dados
em uma nuvem de palavras, que evidenciaram
que os acadêmicos desejavam que o professor
da turma fornecesse informações sobre as ati-
vidades previstas no planejamento, ao ensinar
um conteúdo fazê-lo com segurança e solici-
tam de uma forma peculiar que possa ocorrer
um diálogo entre estagiários e professores re-
gentes, no sentido de esclarecimentos de dú-
vidas
Figura 1: professor formador no estágioFonte: Hoça 2017
A nossa inquietude em relação aos está-
gios são tantas e nos levam a planejar e ava-
liar, que em 2016 participamos dos cases de
formação de professores, promovidos pela
Fundação Lemann, em que relatamos nossa
experiência com o estágio, o acompanhamen-
to, as supervisões e o modelo que buscávamos
de Residência Pedagógica. Foi um momento
sensacional para o curso, pois o curso foi re-
conhecido como inovador.
Outro momento que reverbera no cur-
so de Pedagogia é o Fórum de Educação, que
começamos a organizar a partir de 2011, uma
ideia trazida pela professora Josemary Moras-
toni e trabalhada pelo grupo de professores,
incluindo eu, que já no primeiro fórum, solici-
tei a inserção da abertura com momento cultu-
ral, sem me dar conta, que naquele momento,
dava o primeiro passo na direção da tese que
defendo da formação cultural do professor.
Naquele momento fomos buscar ativida-
des culturais diferenciadas e que aproximas-
sem os acadêmicos das realizações de profes-
sores/pedagogos no exercício da profissão e
encontrei a equipe de ginástica da escola mu-Se
r p
ed
ag
og
o e
fo
rmar
pe
dag
og
os:
um
a r
efl
exão
so
bre
as
prá
ticas
no
cu
rso
de
p
ed
ag
og
ia d
a U
P
AR
TIG
OS
11
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
nicipal Helena Kolody, que naquele ano ganhou
um prêmio nacional. E na abertura do primeiro
fórum, lá estavam as meninas e seus professo-
res para uma apresentação extraordinária. Na
sequência tínhamos palestra, apresentação de
trabalhos. As oficinas vieram no segundo ano
do fórum
O modelo do primeiro fórum deu certo
e fomos aperfeiçoando nos anos seguintes e
durante seis anos, tivemos apresentações de
coral, fanfarra, teatro, atividade de dança. É
preciso deixar registrado que no dia do fórum
que trouxemos a apresentação da fanfarra,
usamos o espaço da Associação Maria Amélia
(AMA), pois quase deixamos metade da univer-
sidade sem aula, pois como todos sabem músi-
ca atrai, empolga e fascina.
Ser pedagogo e formar pedagogos é pen-
sar em diferentes estratégias e trabalhar na
perspectiva do enriquecimento do currículo
do curso e discutir aqueles assuntos que con-
sidero as entrelinhas desse currículo da for-
mação inicial.
Também participei da implantação de uma
disciplina em uma das matrizes curriculares,
chamada de Práticas Pedagógicas Programa-
das (essa disciplina tenho maior carinho por
ela). Foram disciplinas que constituíram a es-
trutura curricular no ano de 2011/2012. A ideia
de uma disciplina de Práticas Pedagógicas Pro-
gramadas era aproximação dos acadêmicos
com as metodologias empregadas pelos pro-
fessores, recursos, intervenções que utilizam
com as crianças, podendo o acadêmico reali-
zar perguntas, esclarecer dúvidas, que se exi-
miam de realizar, quando estavam em contato
direto com os alunos e professores no campo
de estágio.
Práticas Pedagógicas Programas I – Alfa-
betização é uma das disciplinas constituintes
do currículo do curso de Pedagogia da Univer-
sidade Positivo, que ocorre no segundo semes-
tre do curso, com a carga horária de 80 horas
apresentando a seguinte organização: 40 ho-
ras da disciplina são divididas entre atividades
de formação, ministradas por professores al-
fabetizadores da rede particular e pública de
ensino, e 40 horas de responsabilidade do pro-
fessor do curso de Pedagogia da universidade,
que acompanha os relatos dos alunos sobre
as práticas vivenciadas com os professores
convidados, orienta a pesquisa de conteúdo e
sequência didática apresentada e os registros,
em forma de relatórios, para construir um re-
ferencial de planos de trabalho e estudos teó-
ricos sobre a formação do professor.
Buscamos com essa dinâmica possibilitar
uma familiaridade sobre os processos de en-
sino e aprendizagem, desenvolvidos em dife-
rentes escolas, superando visões imaginárias
sobre o que é alfabetizar e os procedimentos
utilizados. Outro objetivo foi a aproximação do
discurso acadêmico com o profissional. Mar-
celo García (1995) atribui à prática de ensino
um considerável valor, por ser um elemento
valorizado pelos professores em formação
como aqueles que estão em exercício, na pers-
pectiva de preencher as próprias lacunas do
processo.
O grupo selecionado era composto de
quarenta alunos do curso de Pedagogia, os
quais participaram dessa disciplina há um ano
e estiveram presentes em todos os encontros
realizados. Em relação a estrutura da discipli-
na, os alunos consideraram muito boa, justi-
ficando que podiam conversar com uma pro-
fessora que está atuando e ao mesmo tempo
receber as orientações teóricas.
Enfatizaram que a forma desenvolvida
possibilitou a articulação ainda com as demais
disciplinas do curso, pois muitos relatos das
professoras alfabetizadoras sobre a escola, o
Lilia
ma
r Ho
ça
AR
TIG
OS
12
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
currículo, a metodologia da alfabetização, o
desenvolvimento das crianças, eram assuntos
abordados até então teoricamente.
Trabalhamos entre 2011 e 2013 com Práti-
cas Pedagógicas Programas de Alfabetização,
Educação Infantil e Ensino da Língua Portu-
guesa. E essa experiência foi apresentada em
Congresso Internacional de educação, como
uma experiência inovadora na formação de
professores/pedagogos.
Mas, não ficamos somente na graduação
de Pedagogia. Trabalhamos com a formação
continuada de professores em municípios
como Campo largo, São José dos Pinhais,
Adrianópolis. Construímos cursos de Pós-Gra-
duação, dando continuidade à formação dos
egressos e de outros profissionais que buscam
nossos cursos.
Recordo que em palestra que promovemos
sobre práticas do curso, uma das alunas se ins-
creveu para contar a atividade que aprendeu
comigo, o lince alfabético, que ela usava com
as famílias de suas crianças. Formar pedago-
gos é ter uma mente ativa e a percepção do
que os profissionais necessitam em diferentes
tempos.
Como coloquei no início, tenho orgulho
deste curso e dos inúmeros professores que
ajudei a formar ao longo destes anos. Tenho
orgulho de ver minhas meninas e meninos em
diferentes escolas e instituições, alguns já cur-
sando mestrado em educação. Tenho carinho
por todos alunos e pelos professores que fi-
zeram e fazem parte do meu desenvolvimento
profissional.
Ser pedagogo e formar pedagogos é esta-
belecer laços, laços de amizades, companhei-
rismo, formação e experiências.
Referências
HOÇA, L. O estágio curricular do curso de pedagogia: experiências discentes no modelo vigente
da Universidade Positivo. Relatório de pesquisa, 2017
GARCIA, C. M. Formação de Professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora,
1995
NOVOA, A. (Org.). Vidas de Professores. 2ª edição, Porto: Porto Editora, 2007
* * *
Se
r p
ed
ag
og
o e
fo
rmar
pe
dag
og
os:
um
a r
efl
exão
so
bre
as
prá
ticas
no
cu
rso
de
p
ed
ag
og
ia d
a U
P
AR
TIG
OS
13
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
A inserção histórica da mulher como profissional docente no Brasil: primeiros aportes teórico-metodológicos1
Woman historical insertion as professional teacher in Brazil: first theoretical and methodological inputs
Ivana Lima de AlmeidaDoutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (2014). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (2004). Especialista em Ciência Política pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão do Paraná (1999). Licenciada em História pela Faculdade de Filosofia de Campos-RJ (1994) e Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Gama Filho-RJ (1984). Professora Adjunta da Universidade Positivo nos Cursos de Pedagogia e Publicidade e Propaganda, e dos Cursos de Pós-Graduação em Gestão das Organizações Educacionais, Educação Bilíngue e Formação de Professores para o Ensino Superior. Autora e Consultora de Material Didático do Ensino de História. Realiza pesquisas nas áreas de Sociologia, Ciência Política, História e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: trabalho, representação, participação e cultura política, sindicalismo e sistema de telecomunicações brasileiro; história, historiografia e metodologias do ensino de História e Geografia. E-mail: [email protected]
Resumo: Na história da educação ocidental, a atividade de ensinar esteve hegemonicamente vinculada aos homens cultos e mestres filósofos por vários séculos. Somente a partir da segunda metade do século XIX, iniciou-se um debate ideológico nos países europeus em torno da formação das mulheres nas esco-las normais, que marcou a gradativa transformação do perfil docente inclusive no Brasil. Com o objetivo de analisar o processo histórico de feminização do magistério, problematizando suas implicações para a construção de uma identidade pedagógica brasileira na contemporaneidade, esse breve artigo apresenta os primeiros aportes teóricos e metodológicos de uma pesquisa em andamento, fundamentada em fontes bibliográficas e documentais. Espera-se, com esse estudo, ampliar a visão do contexto em que a profissão docente se constitui – e se institucionaliza no curso de Pedagogia desde o final do século XX – e de seus fatores intervenientes, promovendo uma compreensão de seus avanços e continuidades no país.
Palavras-chave: Mulher. Educação. Profissional docente. História. Brasil.
Abstract: In western education history, the teaching activity was hegemonically associated to well-educated men and philosophers for centuries. Only from the second half of nineteenth century on, it has begun an ideological debate in european countries about women qualification in teaching training courses, which set up a gradual transformation of teaching profile, including in Brazil. With the main objective of analysing female teaching historical process, ques-tioning its implications for the construction of a pedagogical brazilian identity in contemporaneity, this short article presents the first theoretical and methodological inputs of an ongoing research, founded in bibliographic and docu-mental sources. It is expected, with this study, to expand a vision of context where the teaching profession is consti-tuted – and it is institutionalized in Pedagogy course since the end of the twentieth century – and from its intervening factors, promoting a compreension of its progress and continuity in Brazil.
Keywords: Woman. Education. Teaching practice. History. Brazil.
1 As reflexões apresentadas neste artigo integram o Projeto de Iniciação Científica “A inserção da mulher como profissional docente no Brasil: a construção de uma identidade pedagógica”, iniciado em agosto de 2018 e com término previsto para julho de 2019, desenvolvido por mim juntamente com as alunas Arlitiane Santino e Maria Luiza Otto, da turma do 3º. Ano do curso de Pedagogia, unidade Osório, da Universidade Positivo.
Considerações Iniciais
Na história da educação ocidental, fre-
quentemente coube às mulheres um papel
coadjuvante. Tanto no que diz respeito à es-
colarização, quanto ao que se refere à profis-
sionalização como docente.
Desde a sua origem, a educação tem sido
tratada como uma atividade de pensamento e
de ofício masculino. O curso de pedagogia em
Ivan
a L
ima d
e A
lme
ida
AR
TIG
OS
14
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
âmbito universitário foi fundado por homens
na França, quando Émile Durkheim (1858-1917),
intitulado o primeiro professor da recém-cria-
da cadeira de pedagogia, analisou o papel da
escola associado ao campo da sociologia.
No Brasil, por 210 anos, o monopólio da
educação entre os séculos XVI e XVIII coube
aos jesuítas, homens cultos e religiosos. So-
mente a partir da segunda metade do século
XIX, as mulheres em geral começaram a dar
os primeiros passos em direção à educação es-
colar como estudantes e como futuras profes-
soras. Processo que, na abordagem de Tanuri
(2000), foi efetivando as mulheres no campo
educacional e transformando a profissão, ori-
ginariamente masculina, em atividade predo-
minantemente feminina.
A tendência, percebida em outros países
– Estados Unidos, França e Inglaterra, por
exemplo – se registrava também no Brasil no
mesmo período, conforme observou Louro
(2001). Desde então, em pouco mais de um sé-
culo, dados do Censo da Educação Superior,
divulgados pelo MEC e INEP no ano de 2016,
apontaram que, no país, 71,7% das matrículas
dos cursos de licenciaturas foram do sexo fe-
minino, enquanto 28,9% foram do sexo mascu-
lino. Além de evidenciarem que o maior cres-
cimento, dentre as licenciaturas, pertence ao
curso de pedagogia com 3,3%.
Diante deste cenário, cabe-nos investigar:
como se desenvolveu o processo de inserção
(e predomínio) da mulher como profissional
docente no Brasil? E quais as implicações des-
te processo para a construção de uma identi-
dade pedagógica?
Estas são questões merecedoras de aná-
lise teórica na medida em que o conhecimen-
to sobre o caminho percorrido pela mulher na
história da educação brasileira, e os contornos
em que foi se construindo a profissão docente,
permitem ampliar a visão dos entrelaçamentos
deste processo com a luta feminina, a institu-
cionalização da educação para todos e a busca
pela formação pedagógica de qualidade.
Com base no que foi exposto, essa pesqui-
sa tem como objetivo geral analisar o proces-
so histórico de inserção da mulher como pro-
fissional docente no Brasil, problematizando
suas implicações para a construção de uma
identidade pedagógica.
Mas, dentro dos limites desse breve artigo
e do recente início de investigação da temáti-
ca (agosto de 2018), serão apresentados aqui
os primeiros aportes teórico-metodológicos
sobre a contextualização da atividade docen-
te como uma tarefa exclusivamente masculina
entre a antiguidade e a modernidade europeia,
introduzindo neste cenário a conjuntura colo-
nial brasileira.
Por se tratar de uma pesquisa de natureza
teórica, os procedimentos metodológicos se
baseiam em revisão bibliográfica e documen-
tal, empregando-se a análise qualitativa para a
interpretação das fontes escritas. A revisão bi-
bliográfica visa contextualizar e historicizar os
aspectos sociais, políticos, econômicos, cultu-
rais, ideológicos e educacionais que envolvem
o processo de inserção da mulher na profissão
docente no Brasil.
A escolha dessa modalidade de pesquisa
foi decorrente de seu emprego permitir um
levantamento da literatura (inter)nacional,
identificando os fundamentos teóricos que
embasam a discussão e o tratamento do ob-
jeto de estudo investigado como um processo
histórico em construção. Dentre os autores
inicialmente utilizados estão: Cambi (1999), Ta-
nuri (2000), Louro (2001), Perrot (2001; 2005),
Aranha (2006) e Saviani (2013).
Também será desenvolvida a análise dos
documentos que registram na história da edu-A in
serç
ão
his
tóri
ca d
a m
ulh
er
co
mo
pro
fiss
ion
al d
oce
nte
no
Bra
sil:
pri
me
iro
s ap
ort
es
teó
rico
-me
tod
oló
gic
os
AR
TIG
OS
15
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
cação brasileira os atos legislativos da pro-
fissão docente. Nesta perspectiva, o material
permite uma abordagem crítica e reflexiva da
literatura (inter)nacional utilizada como fonte
de pesquisa.
Tais procedimentos metodológicos, por
sua vez, visam refletir sobre a problematiza-
ção levantada nesta pesquisa a partir de uma
abordagem de natureza qualitativa. Isto signi-
fica que as descrições das abordagens serão
usadas para subsidiar afirmações ou esclare-
cer os pressupostos elaborados.
O ensino como atividade masculina:
primeiros aportes teóricos
Para compreender o longo processo his-
tórico que consagrou, pelo menos até meados
do século XIX, a ciência e a arte de educar nas
mãos dos chamados “homens cultos e sábios”,
será necessário retornar à Grécia Antiga, onde
se faz referência ao surgimento da “Paideia” e
do “Paidagogo” na sociedade ateniense.
De acordo com o historiador italiano Cam-
bi (1999), a ideia da “paideia” foi a de formar o
homem por meio do contato orgânico com a
cultura, amadurecendo-o pela reflexão estéti-
ca e filosófica. Esse ideal de formação humana
constituiu o ponto mais alto e complexo da ela-
boração cultural grega, deixando um dos lega-
dos mais ricos à cultura ocidental por parte do
mundo antigo.
Em Atenas, no século V a. C., a educa-
ção assumia um papel importante no intuito
de universalizar-se para superar os limites
da polis (a cidade grega). Eram ofertados aos
rapazes que frequentavam a escola os ensina-
mentos de leitura e escrita, música e educação
física sobre a orientação de três instrutores: o
“grammatistes” (mestre), o “ritharistes” (pro-
fessor de música) e o “paidotribes” (professor
de gramática). O rapaz era acompanhado por
um escravo que o “controlava” e “guiava”: o
“paidagogo”.
Para Cambi (1999, p.49), na Grécia antiga a
figura do pedagogo é de um acompanhante que
controla e estimula a criança, espiritual e dra-
maticamente de forma ativa, sendo considera-
do “mestre da verdade”. Ser pedagogo era uma
atividade vista naturalmente como masculina e
suas razões eram baseadas na filosofia.
Situação que se manteve na antiguidade ro-
mana, sendo caracterizada, na análise de Ara-
nha (2006), em quatro fases: humanitas; heroi-
co-patrícia; cosmopolita e imperial, abrangendo
quase oito séculos de história. A educação hu-
manitas, no sentido literal de humanidade, era
algo que se igualava à paideia grega, buscando a
formação do indivíduo virtuoso como ser moral,
político e literário. Neste modelo, o verdadei-
ro orador é o homem que, como protagonista,
consegue reunir em si a capacidade da palavra,
a riqueza da cultura e a capacidade de partici-
par da vida social e política.
Na educação heroico-patrícia, os patrícios
recebiam uma educação que visava à perpe-
tuação dos valores da nobreza e o culto aos
ancestrais. Até os sete anos, as crianças fica-
vam com a mãe. Depois, às meninas eram en-
sinados os serviços domésticos; e os meninos
começavam a acompanhar seu pai em festas e
acontecimentos importantes onde ouviam his-
tórias de heróis, aprendiam a cuidar da terra, a
ler e escrever, contar e habilidades com armas,
natação, luta e equitação. Aos 15 anos de idade,
acompanhavam o pai na praça central onde se
fazia comércio e aos 16 eram encaminhados à
função militar. Aranha (2006) ressalta que se
privilegiava a formação moral em detrimento
da intelectual.
A educação cosmopolita, já na época da
República (509 a. C. a 27 a. C.), era baseada
Ivan
a L
ima d
e A
lme
ida
AR
TIG
OS
16
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
em cálculos, escrita e leitura. Por meio dessa
educação, foram criadas as escolas particula-
res destinadas a crianças de 7 a 12 anos. Os
mestres se ajeitavam em qualquer espaço para
desempenhar seu ofício, eram simples e muito
mal pagos. Os jovens dos 12 aos 16 anos tinham
seus primeiros contatos com os clássicos gre-
gos e começavam a estudar as chamadas dis-
ciplinas reais, como geografia, aritmética, ge-
ometria e astronomia, iniciando-se na arte de
escrever e falar bem.
A educação no Império (27 a. C. a 476 d.
C.), não muito diferente do período anterior,
sofreu inicialmente uma pequena interven-
ção do estado o qual, com o passar do tempo,
acabou assumindo a responsabilidade pelas
questões educacionais, estimulando a criação
de escolas por todo o Império. Liberou de pa-
gamento de impostos os professores e criou
o ensino terciário com os cursos de filosofia
e retórica, além de cátedras de medicina, ma-
temática e sobretudo as escolas de direito.
Foram criadas também inúmeras bibliotecas,
onde os romanos tiveram acesso a manuscri-
tos encontrados nas regiões conquistadas.
Após a queda do Império Romano do Oci-
dente, na idade média europeia, entre os sécu-
los V e XV, houve um “monopólio eclesiástico
da educação cujo modelo cristão estava difu-
so com um ritual de instituições educativas”
(CAMBI, 1999, p. 56). A formação não era li-
terária, mas religiosa, embasada em escolas
monásticas, que utilizavam muito a retórica.
Algum tempo depois, no século VII, a educa-
ção estava voltada à formação da nobreza e à
educação cristã sustentada nos aspectos do
evangelho.
A igreja, ao organizar suas próprias prá-
ticas educativas e sua própria teoria pedagó-
gica, desenvolve igualmente uma ação sobre
toda a comunidade, substituindo cada vez mais
o poder civil. Cambi (1999) analisa que a peda-
gogia se caracterizava como estática e unifor-
me ao redor dos princípios da fé cristã, sendo
depositária do modelo de paideia cristianizada
e das funções de magistério aos homens.
A educação nessa sociedade se ritualiza,
separando nitidamente a sociedade: a popular
mergulha na realidade de conhecimentos téc-
nicos (do fazer); contrapondo-se à formação
cultural das classes altas (do saber). Nesta
sociedade, onde um senhor age como fonte
de direito e impõe aos habitantes do feudo as
obrigações, a educação se organizava em ins-
tituições em conjunto com a família e a igreja.
Quando o comércio e as cidades retomam
seu espaço social, por volta do século XIII e
XIV, o universo da educação sofre uma pro-
funda transformação no nível superior com o
desenvolvimento das universidades e de diver-
sas especializações, colocando em ação os pri-
meiros passos da Idade Moderna.
A modernidade se apresenta como uma
renovação, uma revolução em muitos espaços:
geográfico, econômico, político, social, ideoló-
gico, cultural e pedagógico. Conforme salienta
Aranha (2006), percebe-se uma radical virada
pedagógica com itinerários seguindo então o
modelo do “homo faber”, ou seja, do homem
ativo na sociedade, liberado de ordens e víncu-
los, nutrido de fé laica e aberto à racionalidade.
A escola ocupa um lugar cada vez mais central,
orgânico e funcional para a sociedade moder-
na, tornando-se independente de um modelo
unitário eclesiástico, considerado invariante.
Segundo a autora, na era moderna, perío-
do compreendido entre os séculos XV e XVIII,
acentua-se a busca da individualidade, carac-
terizada pelo poder da razão para estabelecer
os próprios caminhos. É a fase das grandes in-
venções e das grandes navegações marítimas
decorrentes da necessidade de ampliar os ne-A in
serç
ão
his
tóri
ca d
a m
ulh
er
co
mo
pro
fiss
ion
al d
oce
nte
no
Bra
sil:
pri
me
iro
s ap
ort
es
teó
rico
-me
tod
oló
gic
os
AR
TIG
OS
17
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
gócios da burguesia. Esse espírito inovador se
manifestou inclusive na religião, com críticas à
estrutura autoritária da igreja.
O interesse educativo era pela expansão
de colégios e manuais para alunos e professo-
res. Conforme a nova concepção de ser huma-
no, educar torna-se uma questão de exigência.
Enquanto os mais nobres continuavam a ser
educados em seus castelos, a burguesia queria
educar seus filhos e os encaminhavam para a
escola na expectativa de prepará-los para a ad-
ministração dos negócios e da política; a edu-
cação do povo em geral era restrita à apren-
dizagem de ofícios. Também como atividade
masculina, conforme ressalta Cambi (1999).
Para impedir o crescimento do protestan-
tismo em solo europeu, a igreja católica criou
as ordens religiosas, sendo a maior delas a
Companhia de Jesus. A Ordem estabelecia dis-
ciplina rígida e objetivava a propagação da fé.
Assim, os jesuítas se espalharam pelo mundo
todo desde a Europa até a Ásia, a África e a
América.
Com a expansão marítima europeia, os je-
suítas chegaram ao Brasil, colônia portugue-
sa, promovendo maciçamente a catequese dos
índios, a educação dos filhos dos colonos, a
formação de novos sacerdotes e da elite inte-
lectual, além do controle da fé e da moral dos
habitantes da nova terra.
De acordo com Saviani (2013), a coloniza-
ção do Brasil teve a contribuição imprescin-
dível das ordens religiosas, as quais usavam a
técnica de percorrer as aldeias indígenas em
missões volantes para catequizar e trazer ins-
trução. Essa técnica, mais tarde, caracterizou
principalmente as ações dos jesuítas.
Assim como ocorria na Europa moderna,
também em terras brasileiras colonizadas pe-
los portugueses, a educação formal era exer-
cida por filósofos, juristas, mestres de ofícios
ou padres das ordens religiosas. No Brasil, por
210 anos, o monopólio da educação coube aos
jesuítas, homens cultos e religiosos.
Somente a partir da segunda metade do
século XIX, que as mulheres em geral come-
çaram a dar os primeiros passos em direção à
educação escolar como estudantes e como fu-
turas professoras. Processo que foi efetivando
as mulheres no campo educacional e transfor-
mando a profissão, originariamente masculina,
em atividade predominantemente feminina.
Problemática a ser desenvolvida nas próximas
etapas da pesquisa.
Reflexões provisórias
Em termos objetivos, as leituras iniciais
apresentadas neste breve artigo permitiram
reconstituir o processo histórico de formação
do campo da docência nos espaços europeus
ocidentais, deliberadamente nas matrizes gre-
ga, romana e cristã, por configurarem os prin-
cípios filosóficos e pedagógicos geradores da
atividade de ensino durante a colonização por-
tuguesa no Brasil (séculos XVI a XIX).
Neste processo, a contextualização pro-
blematizada dos fatores políticos, sociais, eco-
nômicos, culturais e ideológicos, que carac-
terizam a atividade docente como uma tarefa
exclusivamente masculina até meados do sé-
culo XIX, marcam a transição do magistério a
determinadas classes sociais de mulheres na
segunda metade do século XIX e consolidam
o processo de feminização profissional da do-
cência a partir do século XX no Brasil.
Ao mesmo tempo podem revelar, de um
lado, os fatores estruturais e conjunturais da
inserção das mulheres na educação brasilei-
ra, como estudantes e professoras, após a se-
gunda metade do século XIX; e, de outro, os
aspectos delineadores dos perfis masculino e
Ivan
a L
ima d
e A
lme
ida
AR
TIG
OS
18
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
feminino docentes envolvidos na construção
da identidade pedagógica profissional dos pro-
fessores e pedagogos do século XXI.
Temática e pressupostos que ocupam,
cada vez mais, um lugar de destaque para sub-
sidiar a reflexão crítica das contradições que
permeiam o reconhecimento e a valorização
profissional da docência feminina no imagi-
nário cultural da sociedade brasileira, além do
significado político, sociocultural e educacio-
nal da expansão contemporânea do curso de
pedagogia no país.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia A. História da Educação e da Pedagogia: geral e do Brasil. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 2006.
CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.
INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educação
Superior 2016.
LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: PRIORE, Mary del (Org.). História das
mulheres no Brasil. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2001. p.443‐481.
PERROT, Michelle. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. 3. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2001.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 4. ed. Campinas: Autores
associados, 2013.
TANURI, Leonor Maria. História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, n.
14, p. 61-88, maio/jun./jul./ago. 2000. Número especial: 500 anos de educação escolar.
* * *
A in
serç
ão
his
tóri
ca d
a m
ulh
er
co
mo
pro
fiss
ion
al d
oce
nte
no
Bra
sil:
pri
me
iro
s ap
ort
es
teó
rico
-me
tod
oló
gic
os
AR
TIG
OS
19
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Arquivos “vivos”: os arquivos escolares, leis de salvaguarda e proteção*
“Live” archives: school archives, safeguards and protection laws
Jezuina Kohls SchwanzDoutora em Educação (UFPEL); Pedagoga; Especialista em Memória, Identidade e Cultura Material (UFPEL); Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL); Professora da Universidade Positivo.E-mail: [email protected]
Resumo: Este artigo apresenta e discute as questões de descarte e salvaguarda dos arquivos, pois estes são fontes importantes para a história da educação brasileira. Considerando que a escola, diariamente, produz uma infinidade de documentos, sejam eles administrativos ou não, passamos a refletir sobre os processos utilizados pela instituição para a salvaguarda e o descarte dos mesmos. No que diz respeito às atividades dos professores, há diários de classe, livros, apostilas, planos de aula, cadernos e uma di-versidade de materiais didáticos pedagógicos produzidos ao longo do ano letivo. À administração cabe a guarda de documentos necessários ao funcionamento da instituição, tais como livros ponto, atas de reuniões, livros de ocorrências, fotografias de solenidades, livros de contabilidade, registros docentes e discentes e uma infinidade de outros registros. Apesar dessa gama de documentos produzidos, apenas aqueles considerados comprobatórios são salvaguardados, mesmo assim por um curto espaço de tempo. Nesse sentido faz-se necessário refletirmos a respeito dos aspectos legais que envolvem essa salvaguar-da. Passando pelos referenciais da arquivística, bem como de memória, património escolar e de cultura material escolar, nesse trabalho utilizamos autores como Vidal (2005); Frago (2011); Magalhães (2011); Julia (2001); Barletta (2005); Mogarro (2005) e Medeiros (2003).
Palavras-chaves: Instituições escolares. Arquivos. Leis de salvaguarda. Proteção
Abstract: This article presents and discusses the issues of discarding and safeguarding the archives, as these are important sources for the Brazilian education history. Considering that daily school produces an infinity of documents, whether administrative or not, we start to reflect on the processes used by the institution to safeguard and discard them. As far as teachers’ activities are concerned, there are class dia-ries, books, handouts, lesson plans, notebooks and a diversity of pedagogical didactic materials produced throughout the school year. The administration is responsible for the documents custody, necessary for the operation of the institution, such as attendance book, meeting minutes, occurrence books, solemnities photographs, accounting books, teacher and student records and an infinity of other records. Despite this range of documents produced, only those considered to be evidentiary are safeguarded, even for a short period of time. In this sense it is necessary to reflect on the legal aspects that involve this safeguard. Going through archival references, as well as memory, school heritage and school material culture, we use authors such as Vidal (2005); Magalhães (2011); Julia (2001); Barletta (2005); Mogarro (2005) and Medeiros (2003).
Keywords: Educational institutions. Archives. Safeguard laws. Protection
* Este artigo é um recorte de minha tese de doutoramento defendida junto ao programa de pós- graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas, intitulada “Guardiãs da memória escolar: a preservação da História da Educação em duas cidades gaúchas nas primeiras décadas do século XXI” (2016), sob a orientação da Professora Doutora Giana Lange do Amaral.
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
AR
TIG
OS
20
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Introdução
No panorama educativo nacional das últi-
mas décadas, constatam-se inúmeras iniciati-
vas e realizações no que diz respeito à memória
da educação. Estas ocorrências se deram, em
parte pelo apego aos vestígios do que foi vivi-
do nos últimos anos, em parte pelo que Frago
(2011) denomina “furor comemorativo” – pois
muitas escolas completaram, nas primeiras
décadas do século XXI, o seu centenário. No
âmbito da História da Educação é crescente o
interesse pela salvaguarda e organização de
acervos, sejam eles de instituições públicas
ou privadas. Essa preocupação é fundamental
para a preservação da memória e para o estu-
do dos processos de escolarização e da cultura
escolar em geral.
Ao considerar que a escola, no seu coti-
diano, produz uma infinidade de documentos,
sejam eles administrativos ou não, pode-se re-
fletir sobre quais os processos utilizados pela
instituição para a salvaguarda e o descarte dos
mesmos. No que diz respeito às atividades dos
professores, há diários de classe, livros, apos-
tilas, planos de aula, cadernos e uma diversida-
de de materiais didáticos pedagógicos produ-
zidos ao longo do ano letivo. À administração
cabe a guarda de documentos necessários ao
funcionamento da instituição, tais como livros
ponto, atas de reuniões, livros de ocorrências,
fotografias de solenidades, livros de contabi-
lidade, registros docentes e discentes e uma
infinidade de outros registros.
É importante salientar que, atualmente,
muitos desses documentos que antes resulta-
vam em um grande número de pastas, hoje são
armazenados em bancos de dados digitaliza-
dos, que requerem cuidados específicos. Já os
alunos têm em seu poder provas, bilhetes con-
tendo avisos, cadernos, livros, apostilas, agen-
das, fotos e toda uma materialidade que envol-
ve o processo de ensino e aprendizagem. Não
se pode deixar de elencar também, o mobiliário
e materiais didáticos pedagógicos que servem
de apoio aos professores em sala de aula, bem
como os prédios que abrigam as escolas.
Para onde vai à história da educação?
Devido à política de aproveitamento de
salas ociosas nas escolas para transformá-las
em sala de aula, antigos arquivos e bibliotecas
escolares estão sendo obrigados a descartar
todo tipo de material que não esteja em uso.
De acordo com Gusmão (2005) foi nas déca-
das de 1960 e 1970 que o Ministério da Edu-
cação e Cultura autorizou a eliminação de pa-
péis “acumulados nas escolas”. Essa política
do descarte foi criada pela portaria nº 200 de
1962, que determinava a guarda apenas dos
registros que comprovavam a vida funcional
das escolas, professores e alunos. Isso em de-
corrência de uma reorganização no sistema de
ensino, devido à ampliação do número de alu-
nos que passou a ter acesso ao ensino esco-
lar obrigatório de oito anos. Em função dessa
reestruturação do ensino encontramos livros
didáticos, livros ponto, atas e uma infinidade
de outros materiais no lixo ou em sebos1.
Sabe-se que os muitos anos de existência
da escola como instituição, participando ativa-
mente dos repertórios culturais, em diferentes
tempos e contextos, deixou marcas nas memó-
rias dos sujeitos que por ela passaram e ainda
irão passar. É pensando nesse valioso patrimô-
1 No Brasil, a livraria que vende livros usados é comumente conhecida como “sebo”, e, de acordo com Aurélio (2013) equivale-se a “caga-sebo”. Para Bastos (1928) o “sebo” seria a casa de alfabarrista, revendedor de livros e “casa de alfarrábio”. “Caga-sebos”, no século passado era o nome dado aos vendedores de livros usados, de segunda mão, hoje esses são chamados de “sebistas” (MAGALHÃES JÚNIOR, 1974). Prefiro referir-me ao “sebo” mais poeticamente como o faz Brito (1991, p.11) “O sebo é cultura. O sebo é o lugar onde a cultura circula”.A
rqu
ivo
s “v
ivo
s”: o
s arq
uiv
os
esc
ola
res,
le
is d
e s
alv
ag
uard
a e
pro
teção
AR
TIG
OS
21
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
nio, seja ele material ou imaterial, que a análise
do passado escolar é de suma importância para
que possamos rever seus caminhos, direcio-
nando nossas questões para os problemas da
instituição e da comunidade onde ela se insere.
O estudo das instituições educativas, nos
diferentes âmbitos e enfoques, tem se tornado
cada vez mais apreciado pelos historiadores
da educação. De acordo com Magalhães (1996,
p.62), “a historiografia das instituições é uma
condição básica para sua intelecção e tomada
de decisões”. É através dela que o historiador
procura dar sentido às questões impostas pela
complexidade espaço-temporal, pedagógica e
organizacional dessas instituições.
Ressalta-se que na maioria das escolas
brasileiras observa-se uma cultura do descar-
te em relação aos documentos e outros ar-
tefatos escolares. Com relação à guarda dos
documentos, vivenciamos um descaso consi-
derável, em grande parte das instituições. É
prática comum, que anualmente ou em menor
tempo, documentos considerados “inúteis”
para a escola sejam colocados no lixo.
É importante destacar que a linha central
desse trabalho sustenta-se na ideia de que a
cultura material escolar tem uma relação dire-
ta com a construção da memória das institui-
ções educacionais. Esta, por sua vez, é um dos
pressupostos básicos para a garantia da cida-
dania cultural dos sujeitos e da manutenção
de identidades. O diálogo com autores, como
Frago (2009) e Julia (2001), auxilia na compre-
ensão do conceito de cultura escolar. Para am-
bos, a análise dessa cultura, por meio dos arte-
fatos, implica considerar as relações culturais
operadas nas instituições em direção a outros
campos sociais, suas formas e conteúdos, bem
como as transferências culturais operadas, a
partir de outros setores, em direção a essas
instituições.
Sendo assim, a cultura escolar seria uma
cultura derivada da cultura e subordinada a
esta. Para Frago (2011), para além de um con-
junto de teorias e práticas relacionadas à es-
cola, estão os espaços, tempos, normas. Para
cada instituição escolar diferente, existe uma
cultura escolar única, pois todas possuem suas
especificidades. São essas especificidades que
tornam a pesquisa institucional importante.
Nas escolas, apesar dos constantes des-
cartes, encontra-se uma diversidade de arte-
fatos oriundos da cultura escolar que resistem
ao tempo. Dentre esses, pode-se destacar al-
guns livros, sejam eles didáticos, literários e
livros atas. O que, em um primeiro momento,
evidencia a importância que o livro ocupa no
cenário educativo. Conforme afirma Maga-
lhães (2011), o livro é um importante objeto
cultural, ocupando um lugar central, enquanto
fator de sociabilidade da cultura escrita. Ain-
da nessa perspectiva, Mogarro (2005) destaca
que os documentos escritos são privilegiados
em relação a outros objetos.
Nos espaços escolares, além dos livros,
documentos administrativos e pedagógicos
e documentos considerados oficiais, encon-
tram-se, também, alguns cadernos de planeja-
mento de professores e produções dos alunos.
No entanto, mesmo existindo vários documen-
tos que resistiram a intempéries, a condição
de guarda e preservação nem sempre ocorre
adequadamente, criando condições favoráveis
à deterioração e descarte dos mesmos. Perce-
be-se também que a falta de conhecimento é
um dos principais elementos causadores desta
atitude. Somando-se a isto, a ausência de uma
política pública adequada para a salvaguarda
dos materiais. Embora esses descartes possam
parecer desinteressados, muitas vezes estão
permeados por diferentes intencionalidades.
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
AR
TIG
OS
22
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Nesse sentido, uma questão importante
que se coloca é a de que não é possível guardar
tudo. É necessário selecionar, mas para fazer a
seleção é preciso que haja determinados crité-
rios. No entanto, estes não podem estar pau-
tados apenas na lógica administrativa. Devem
ir além, dando voz e visibilidade aos sujeitos,
aos objetos, às produções e práticas escolares.
Seguindo essa premissa, faz-se necessário
refletir sobre esses processos de seleção dos
acervos. Os critérios de descarte devem ser os
mesmos para as diferentes instituições edu-
cacionais? Quem deve definir esses critérios?
Quais os documentos serão considerados his-
tóricos e, portanto, merecem ser salvaguarda-
dos em arquivos permanentes?
A primeira hipótese que levantamos é que
de nada adianta salvaguardar determinado do-
cumento ou objeto se esse não faz sentido à
comunidade escolar.
Os arquivos contemporâneos podem ser
considerados templos de memória. Com as no-
ções de documento ampliadas, áreas como ar-
quivistica, museologia, biblioteconomia, entre
outras, tiveram que rever as questões relacio-
nadas aos arquivos. De acordo com Miranda
(2011, p. 6):
Nesse movimento, os arquivos ganham no-
vos contornos, passam a ser vistos como
espaços de poder e disputa, como espaços
dinâmicos, cujos documentos têm diver-
sos usos potenciais, sendo valorizados e
revalorizados pela sociedade num proces-
so dinâmico. Considerando as abordagens
da Arquivologia, as novas relações entre a
sociedade e os arquivos e o papel dos his-
toriadores na criação de novas instituições
de custódia e na valorização de acervos do-
cumentais de outros atores, coloca-se em
evidência que as instituições de custódia
documental são espaços de trabalho in-
terdisciplinar, responsáveis coletivamente
pela preservação do patrimônio documen-
tal comum.
Nesse sentido a comunidade acadêmica
passou a aceitar que a avaliação e seleção do-
cumental não é neutra, e tem sérias implicações
sobre o conhecimento que se tem do passado e
consequentemente, de suas interpretações no
presente. Os arquivos passam a ser considera-
dos como depositários de diferentes suportes
com diferentes formas narrativas.
De acordo com Tognoli (2010), os arquivos
envolvem algum poder e manipulação, sendo
assim, devem ser selecionados e avaliados
com base na narratividade contextual de cria-
ção, ao invés do conteúdo, englobando tanto
os documentos que representam a voz dos po-
derosos, como os que representam a voz do
marginalizados.
Em se tratando de arquivos escolares,
com base em pesquisas historiográficas, po-
de-se perceber que grande parte dos gestores
de escolas estão interessados apenas no valor
comprobatório dos documentos. As secreta-
rias escolares procuram manter os registros
da vida escolar de alunos e professores, atua-
lizando com frequência os arquivos correntes.
Constata-se também que esse mesmo cuidado
não acontece com a documentação histórica
e os documentos produzidos cotidianamente
pela atividade pedagógica, na maioria das ve-
zes, acumulada em arquivos mortos, ou des-
cartados. Para Peixoto (2000, p. 80),
As instituições escolares não têm, de uma
maneira geral, preocupação com esse ma-
terial como história. A falta de um local
adequado nos estabelecimentos e a au-
sência de funcionários especializados para
a organização de documentos propiciam
a conceituação de “papel velho”, seguido
de descarte prematuro. Esse processo de
descarte é estimulado pelos órgãos de ad-
ministração do sistema que, tendo em vista Arq
uiv
os
“viv
os”
: o
s arq
uiv
os
esc
ola
res,
le
is d
e s
alv
ag
uard
a e
pro
teção
AR
TIG
OS
23
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
a necessidade de racionalização dos servi-
ços administrativos, autorizam as escolas a
promover periodicamente, uma atualização
em seus arquivos, queimando documentos
considerados “velhos”.
As escolas, tanto públicas quanto priva-
das, são responsáveis por guardar e zelar pela
documentação gerada no cotidiano adminis-
trativo, conforme determina a Lei 8159 de 08
de janeiro de 1991. Já os locais definidos para a
guarda desses materiais são os mais variados
possíveis: um canto da biblioteca, um armário
velho na sala do diretor, porões, sótãos e há ar-
quivos que resistem ao tempo, acondicionados
em salas destinadas à merenda escolar. Isso
se dá não só pela falta de espaços adequados
para esse fim, mas pelo descaso dos gestores
na conservação e guarda desses materiais.
Estes documentos comprobatórios do co-
tidiano da instituição escolar constituem
registros que foram produzidos “por insti-
tuições ou indivíduos singulares, tendo em
vista não uma utilização ulterior, e sim, na
maioria das vezes, um objetivo imediato,
espontâneo ou não, sem a consciência da
historicidade, do caráter de ‘fonte’ que po-
deria[m] vir a assumir mais tarde” (ROUS-
SO, 1996, p.87).
Cabe aqui ressaltar que os termos arquivo
corrente e arquivo morto2, significam, respec-
tivamente, o conjunto de documentos, em tra-
mitação ou não, e fonte de consultas frequen-
tes pela instituição que o produziu, a quem
compete a sua administração; e o conjunto de
documentos preservados em caráter definitivo
em função de seu valor.
Para Camargo e Belloto (1996, p.8), “arqui-
vo morto é a denominação comumente utiliza-
da em escolas para designar o depósito onde
se acumulam os documentos já não necessá-
2 O termo arquivo morto de acordo com o dicionário de terminologia arquivística é denominado como arquivo permanente.
rios à administração, mas que ainda guardam
valor legal.” De acordo com Vidal (2005, p.4),
[...] seu fim assemelha-se, distanciando-se
apenas no tempo. Enquanto os primeiros
sofrem destruição progressiva em virtude
da má conservação, os segundos encon-
tram na lixeira seu destino. Por uma espé-
cie de seleção natural, uns e outros sobre-
vivem, testemunhando matizes do trabalho
na escola.
Acredito que essa “seleção natural”, preci-
sa ser problematizada para que no futuro não
tenhamos perdas irreparáveis para a História
da Educação. Ao selecionar o que será sal-
vaguardado, o que será destruído e o tipo de
organização de cada acervo, intencionalmente
ou não, as instituições estão contando ou dei-
xando de contar, uma parte de sua história.
Com efeito, a uma gestão do acto pedagó-
gico de uma forma geral muito selectiva,
relativamente à quantidade e à qualidade
da informação que os intervenientes enten-
dem dever conservar, [...] tem vindo a asso-
ciar-se, por outro lado, a ausência de uma
política esclarecida sobre a conservação,
preservação e organização documental,
pelo que os fundos documentais das insti-
tuições educativas têm ficado dependentes
do arbítrio dos agentes responsáveis e dos
imprevistos que o tempo e a gestão dos es-
paços, por vezes exíguos, permitem (MA-
GALHÃES, 1999, p.75).
É necessário, portanto, voltar o olhar para
os arquivos escolares, para que possamos bus-
car novos paradigmas da teoria arquivística,
da materialidade dos objetos e da história da
educação, que de acordo com Certeau (1982,
p.83):
Não se trata apenas de fazer falar estes
“imensos setores adormecidos da docu-
mentação” e dar voz a um silêncio, ou efeti-
vidade a um possível. Significa transformar
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
AR
TIG
OS
24
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
alguma coisa, que tinha sua posição e seu
papel, em alguma outra coisa que funcio-
na diferentemente (...). A transformação do
“arquivístico” é o ponto de partida e a con-
dição de uma história nova. Está destinada
a representar o mesmo papel que a “máqui-
na” erudita dos séculos XVII e XVIII.
Vale salientar que a noção de documen-
to arquivístico na educação foi recentemente
ampliada. De acordo com Barletta (2011), os
materiais didáticos ou pedagógicos encontra-
dos nos arquivos das escolas são a prova que
precisamos considerar uma (re) definição no
termo arquivo e o que ele abarca.
Mogarro (2005) ressalta a importância
dos arquivos escolares para salvaguarda da
memória das instituições. Para a autora, a es-
cola constitui um universo com uma cultura
própria e historicamente sedimentada, sendo
ela mesma a produtora dos documentos dessa
cultura.
Um constante diálogo entre a Arquivolo-
gia, a Museologia e historiadores da educação
faz-se necessário para que esse importante
patrimônio educativo, que são os acervos, não
se perca. A Arquivologia criada no século XIX,
com a finalidade de garantir o fluxo corrente
de informações em empresas e órgãos públi-
cos, trata o documento na sua importância
legal e institucional. As tabelas de tempora-
lidade buscam garantir a vida do documento
pelo prazo necessário à função que ocupa. De
acordo com essas tabelas, o descarte do do-
cumento é determinado quando o documento
perde a validade.
Para Vidal, (2000) a lógica é a história po-
lítica e econômica das instituições, o resto tem
destino quase certo, o lixo. Ainda de acordo
com a autora, segundo essa lógica, todo o co-
tidiano das relações pessoais estabelecidas na
instituição tende a se perder. Na hora da lim-
peza de final de ano, os primeiros documentos
a serem jogados fora do arquivo morto são os
cadernos de alunos, diários de classe e planos
de aula, enquanto ficam abarrotados de pilhas
e pilhas de Diário Oficial.
Iniciativas de salvaguarda existem, mas
quando acontecem esbarram no descaso dos
gestores, na falta de verbas para a conserva-
ção dos objetos e contratação de funcioná-
rios especializados da área da arquivologia e
da museologia. Para Hilsdorf e Vidal (2004, p.
179), a falta de políticas públicas em favor da
salvaguarda e organização das fontes é res-
ponsável por inúmeras dificuldades com que
se defrontam os pesquisadores brasileiros de
história da educação, principalmente se consi-
derarmos a pluralidade de fontes documentais
solicitadas pelas novas linhas investigativas
desenvolvidas nesse campo. O próximo item
abordará os aspectos legais que envolvem os
arquivos escolares.
Arquivos escolares: aspectos legais
Conforme Vidal (2005), nos últimos anos
a temática dos arquivos tem sido assunto re-
corrente entre os historiadores da educação.
Inúmeros são os relatos de experiências de or-
ganização de acervos institucionais bem como
narrativas sobre as potencialidades da docu-
mentação escolar para a percepção da cultura
escolar pretérita (e presente), publicações de
inventários e guias de arquivo, elaborações de
manuais e reprodução de documentos (digita-
dos ou digitalizados) têm mobilizado investiga-
dores da área da educação.
No entanto, não se pode deixar de regis-
trar que apesar da primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB) lei nº 4.024/61- exi-
gir das instituições escolares a organização de
arquivos para a conservação e guarda de seus Arq
uiv
os
“viv
os”
: o
s arq
uiv
os
esc
ola
res,
le
is d
e s
alv
ag
uard
a e
pro
teção
AR
TIG
OS
25
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
documentos, a maioria das escolas ainda não
se preocupa em preservar seus arquivos.
A legislação brasileira que trata especifi-
camente de arquivos está concentrada basica-
mente na Lei nº 8.159, de 18 de janeiro de 1991,
que “dispõe sobre a política nacional de arqui-
vos públicos e privados e dá outras providên-
cias”, na lei 8.394, de 30 de dezembro de 1991,
que dispõe sobre arquivos presidenciais, e no
Decreto lei nº 4.073 e de 9 de janeiro de 2002,
a qual regulamenta a Lei nº 8.159/91. No entan-
to, a realidade encontrada nas escolas públicas
brasileiras, em geral, é bastante diferente.
De acordo com Zaia (2004), a ideia de que
os arquivos escolares são “lugares de memó-
ria” surgida no final do século XIX, ainda não
chegou à maioria das escolas, uma vez que es-
sas instituições não têm dado a devida impor-
tância ao valor de seus acervos. As Secretarias
de Educação dos Estados e Municípios, res-
ponsáveis administrativamente pela maioria
dessas instituições, também não assumiram
sua responsabilidade para a guarda e proteção
desses arquivos.
O conceito legal para arquivo3 é definido
pela lei nº 8.159, de 18 de janeiro de 1991:
Conjuntos de documentos produzidos ou
recebidos por órgãos públicos, instituições de
caráter público e entidades privadas, em de-
corrência do exercício de atividades específi-
cas, bem como pessoa física, qualquer que seja
o suporte da informação ou a natureza dos do-
cumentos.
Para Medeiros (2004), essa conceituação
é bastante abrangente, nos permitindo ir além
do mero domínio da burocracia, pois abre es-
3 No Brasil, o conselho que regulamenta as questões dos arquivos é o CONARQ (Conselho Nacional de Arquivo) – órgão central do SINAR (Sistema Nacional de Arquivos) – que tem como finalidade definir a política nacional de arquivos públicos e privados, bem como exercer orientação normativa para gestão documental e a proteção legal dos arquivos. Inexistindo uma lei municipal ou estadual específica para a guarda dos arquivos escolares, é o CONARQ que deve estabelecer as diretrizes.
paço para o reconhecimento e proteção de ar-
quivos não burocráticos. A partir dessa concei-
tuação em forma de lei, o arquivo escolar pode
ser definido como um conjunto de documentos
produzidos ou recebidos por escolas públicas
e/ou privadas, em decorrência do exercício de
suas atividades (MEDEIROS, 2004, p.2).
Já quanto ao tipo, os arquivos podem ser
classificados como arquivos públicos e ar-
quivos privados. Essa classificação também
consta da lei e refere-se ao caráter público ou
privado dos documentos no exercício de suas
atividades. Se os conjuntos de documentos fo-
rem produzidos ou recebidos por órgãos pú-
blicos, no exercício de suas funções, o arquivo
será público. Os arquivos públicos são Fede-
rais, Estaduais, do Distrito Federal e Munici-
pais. Quanto às funções do Estado, serão do
Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Portanto, de acordo com a legislação vi-
gente, os arquivos escolares são divididos em
públicos e privados. Naquilo que se refere às
suas atribuições, arquivos de escolas particu-
lares também são considerados de interesse
público e, portanto, protegidos por lei. Dentre
esses documentos, pode-se citar os documen-
tos de transferência, históricos escolares de
alunos e atas de colação de grau, devido ao seu
caráter público. Se uma escola da rede privada
ou pública encerra suas atividades, esses do-
cumentos são transferidos para o poder públi-
co. Conforme Medeiros (2004), mesmo que o
arquivo oriundo de escola privada não esteja
na conceituação legal de arquivo público, este
será público por destinação, automaticamente,
com a extinção da escola que o produziu.
Os documentos escolares em arquivo são
classificados de acordo com seu tipo e uso
como: correntes, intermediários e documentos
de uso permanente. São chamados de arquivos
correntes aqueles que constituem documenta-
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
AR
TIG
OS
26
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
ção em curso, usados para eventuais consul-
tas. Os intermediários são aqueles que não são
usados com freqüência, mas, por razões ad-
ministrativas, aguardam eliminação ou serem
recolhidos à guarda permanente. Por último,
estão os arquivos de valor histórico, probató-
rio e informativo. Estes requerem um cuidado
especial, pois são documentos permanentes.
Essa classificação está prevista por lei para os
arquivos em geral, sendo, portanto, a mesma
utilizada para os arquivos escolares.
Os documentos que compõem os arquivos
escolares têm distintas funções e finalidades,
podendo exercer direito de prova da adminis-
tração escolar ou de direito de pessoas, como
no caso dos históricos de alunos. Nos docu-
mentos escolares, está registrada uma infini-
dade de acontecimentos que passa a contar a
memória da instituição. A obrigatoriedade de
preservação e guarda também está prevista
por lei, e o seu descumprimento sujeito a pe-
nas. Ainda conforme Medeiros (2004, p. 6):
As escolas exercem múnus público e estão
obrigadas a preservarem seus arquivos. Os
arquivos das escolas particulares, quando
extintas estas, serão confiados ao arquivo
público. Os arquivos de Escolas Públicas
ficarão nestas ou, após algum tempo, os
seus conjuntos de documentos permanen-
tes estarão confiados a arquivo público. A
opção da forma de deixar os documentos
nas escolas ou de, decorrido algum tempo,
transferi-los para um arquivo central ou re-
gional será objeto de opção normativa da
administração pública. Observe-se que há
níveis de autonomia de União, Estados, Dis-
trito Federal e Municípios.
A lei também estabelece o direito à con-
sulta dos arquivos públicos aos cidadãos. Esse
princípio da lei é um direito público e um de-
ver da administração de guarda. Para Medeiros
(2004, p.6):
A exigência de cumprimento de referido
direito é uma das tarefas centrais da co-
munidade intelectual, especialmente de
pesquisadores e historiadores. No caso de
arquivos escolares, a situação é terrível:
Arquivos centrais ou regionais geralmente
são depósitos de documentos que existem
apenas graças ao cuidado de alguns fun-
cionários que pressentem a importância
dos documentos. Para a democratização da
pesquisa e do conhecimento, para a produ-
ção de saberes, os pesquisadores da Histó-
ria de Educação precisam elaborar propos-
tas, exigir o cumprimento do princípio de
franqueamento de documentos à consulta,
que só poderá ser otimizado com arquivos
bem organizados.
Outro princípio da lei fundamental para a
proteção dos arquivos escolares é o da inalie-
nabilidade, que significa que os arquivos públi-
cos não podem ser vendidos, doados ou em-
prestados, e devem permanecer em território
brasileiro.
Historiadores da educação devem estar
atentos ao princípio da seleção controlada. Ele
prevê a existência de comissões específicas
e permanentes de avaliação dos documentos.
Para fins de armazenamento, devem ser ana-
lisados, avaliados e selecionados com cautela.
Interessa-nos aqui analisar o último princípio
da lei: Proibição de destruição de documen-
tos: os documentos considerados de valor
permanente e de interesse público e social
não podem ser descartados, desfigurados
ou destruídos. A infração desta lei implica em
responsabilidade penal, civil e administrativa.
Cabe aqui destacar que o Estado do Rio
Grande do Sul recentemente atualizou a le-
gislação existente referente à gestão de do-
cumentos arquivísticos do Estado, a partir do
Decreto lei nº 52.808, de 18 de dezembro de
2015. De acordo com o decreto em questão,
Arq
uiv
os
“viv
os”
: o
s arq
uiv
os
esc
ola
res,
le
is d
e s
alv
ag
uard
a e
pro
teção
AR
TIG
OS
27
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
o Sistema de Arquivos do Rio Grande do Sul
(SIARQ/RS) criado conforme decreto nº 20.818
de 26 de dezembro de 1970, passa a ter como
objetivos:
I – zelar pelo cumprimento dos dispositi-
vos constitucionais e legais que norteiam o
funcionamento e o acesso aos documentos
arquivísticos públicos; II – racionalizar e
padronizar a produção de documentos ar-
quivísticos públicos; III – assegurar a pro-
teção e a preservação da documentação
arquivística do Poder Executivo Estadual;
IV – regular o acesso aos documentos ar-
quivísticos públicos, de acordo com a le-
gislação vigente; V – normatizar o uso de
tecnologias no que tange a gestão de docu-
mentos arquivísticos; e VI – promover o in-
ter-relacionamento entre os poderes, entes
municipais e arquivos privados.
No artigo dois estabelece sobre os órgãos
e entidades que fazem parte do SIARQ/RS. No
parágrafo único Art. 2º “Integram o SIARQ/RS,
todos os órgãos e entidades do Poder Execu-
tivo Estadual”, e em seu parágrafo único esta-
belece: “Aos Municípios do Estado é facultada
a adesão ao Sistema de Arquivos do Estado do
Rio Grande do Sul - SIARQ/RS - por meio da
assinatura de Termo de Adesão pelo respecti-
vo titular do órgão ou entidade”. Sobre a abran-
gência do SIARQ-RS, pode-se observar que o
órgão não possui funcionários suficientes para
fiscalizar o cumprimento das ações previstas
por lei. Sua função seria dar orientação aos ór-
gãos públicos, quando solicitado.
Posto isso, é fundamental que se discuta a
responsabilidade pela preservação desses
arquivos, tratados neste trabalho como
bens culturais.
Considerações finais
A falta de políticas públicas adequadas
para a salvaguarda desses acervos escolares
faz com que apenas os documentos adminis-
trativos, considerados comprobatórios, sejam
preservados, e por apenas um tempo determi-
nado. O descarte de documentos e artefatos da
cultura material escolar sem critérios técnicos
e científicos traz à comunidade escolar e aos
historiadores da educação um imenso prejuízo.
As instituições educacionais – e toda a comuni-
dade com ela envolvida – perdem sua memória
educacional e parte de sua identidade.
Para concluir é importante salientar que
preservar não significa guardar tudo, mas ava-
liar os objetos, a documentação, descartando o
desnecessário. Além disso, oferecer condições
para que o suporte físico seja bem acondicio-
nado e que as informações contidas nesses
objetos tenham uma circulação que justifique
a sua salvaguarda.
Referências
BARLETTA, Jacy Machado. História da educação: As práticas educacionais e suas fontes.
Cadernos Cedem v. 2, n. 1, 2011.
BRASIL, Congresso Nacional. Sistema de Arquivos da Câmara dos Deputados – SIARQ – CD. Ato
da mesa nº 15, de 18 de maio de 1999.
BRASIL, Governo do Estado do Rio de Janeiro. Lei Nº 2.331, de 05 de outubro de 1994.
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
AR
TIG
OS
28
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
BRASIL, Governo do Estado do Rio Grande do Sul - Lei Nº 52.808, de 18 de dezembro de 2015.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), lei nº 4.024/61.
CAMARGO, A.; BELLOTO, Heloisa. Dicionário de terminologia arquivística. São Paulo, 1996.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense–Universitária, 1982.
CONARQ. Resolução nº 1, de 18 de outubro de 1995.
FRAGO, Antonio Viñao. Ideias apagadas. Folha de São Paulo, São Paulo, 8 de janeiro de 2009.
______. Memória, patrimônio y educación, Revista História da Educação, v.15, n.33, jan./abr.2011,
p. 31-62.
GUSMÃO, E.M. Arquivos escolares, memória e cultura. Patrimônio e Memória. V1, n1, Assis,
2005. p. 64-73.
HILSDORF, Maria Lucia Spedo; VIDAL, Diana Gonçalves. O Centro de Memória da Educação
(USP): acervo documental e pesquisas em história da educação. In. MENEZES, Maria Cristina
(Org.). Educação, memória, história: possibilidades, leituras. Campinas, SP: Mercado de Letras,
2004, p.105-130.
MAGALHÃES, Justino.Breve apontamento para a história das instituições educativas. In: J.L.
SANFELICE; D. SAVIANI e J. C. LOMBARDI (Orgs.). História da educação: perspectivas para um
intercâmbio internacional, Campinas: Autores Associados, 1999, p. 67-72.
MEDEIROS, Ruy Hermann Araújo. Arquivos escolares: breve introdução a seu conhecimento.
Revista HistedBR, Campinas, n.14, jun. 2004.
MIRANDA, Márcia Eckert. Historiadores, arquivistas e arquivos. Anais do XXVI Simpósio
Nacional de História – ANPUH, São Paulo, julho 2011.
MOGARRO, Maria J. Os arquivos escolares nas instituições educativas portuguesas. Preservar a
informação, construir a memória. Pro-Posições, v.16, n.1, p.103-116, jan./abr. 2005.
PEIXOTO, Ana Maria Casasanta. O museu da Escola de Minas Gerais face aos desafios das novas
tecnologias. In: Arquivos, fontes e novas tecnologias: questões para a história da educação.
Campinas, SP: Autores Associados; Bragança Paulista, SP: Universidade São Francisco, 2000.
ROUSSO, Henry. O arquivo ou o indício de uma falta. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.9,
n.17, p.85-91, 1996.
VIDAL, Diana. As lentes da história: estudos de história e historiografia da educação no Brasil/
Diana Vidal, Luciano Mendes de Faria Filho. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
ZAIA, lomar. O acervo escolar: organização e cuidados básicos. São Paulo: Centro de Memória
da Educação, 2004.
Arq
uiv
os
“viv
os”
: o
s arq
uiv
os
esc
ola
res,
le
is d
e s
alv
ag
uard
a e
pro
teção
* * *
INIC
IAÇ
ÃO
CIE
NT
ÍFIC
A
29
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
História e memória: os 30 anos do curso de Pedagogia da Universidade Positivo
Jezuina Kohls SchwanzDoutora em Educação (UFPEL); Pedagoga; Especialista em Memória, Identidade e Cultura Material (UFPEL); Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL); Professora da Universidade Positivo.E-mail: [email protected]
Criado em 1988 o curso de Pedagogia da
Universidade Positivo destina-se a formar
professores para a Educação Infantil e para os
cinco anos iniciais do Ensino Fundamental. É
um curso que discute as teorias da Educação
com foco na docência, objetivando a orienta-
ção para a sala de aula e para o processo de
ensinar e aprender, em suas manifestações
concretas. No ano em que completa seus 30
anos de história o projeto intitulado História e
memória: os 30 anos do curso de Pedagogia da
Universidade Positivo pretende colaborar para
a salvaguarda da memória desse importante
curso de formação docente que cresceu junto
com a Universidade.
No panorama educativo nacional das últi-
mas décadas, constatam-se inúmeras iniciati-
vas e realizações no que diz respeito à memó-
ria da educação. Estas ocorrências se deram,
em parte pelo apego aos vestígios do que foi
vivido nos últimos anos, em parte pelo que
Frago (2011) denomina “furor comemorativo”.
No âmbito da História da Educação é crescen-
te o interesse pela salvaguarda e organização
de acervos, sejam eles de instituições públicas
ou privadas. Essa preocupação é fundamental
para a preservação da memória e para o estu-
do dos processos de escolarização e da cultura
escolar em geral.
O estudo das instituições educativas, nos
diferentes âmbitos e enfoques, tem se tornado
cada vez mais apreciado pelos historiadores
da educação. De acordo com Magalhães (1996,
p.62), “a historiografia das instituições é uma
condição básica para sua intelecção e tomada
de decisões”. É através dela que o historiador
procura dar sentido às questões impostas pela
complexidade espaço-temporal, pedagógica e
organizacional dessas instituições.
Salvaguardar a memória de um curso de
formação docente, nesse sentido é fundamen-
tal para a preservação da memória institucio-
nal, e de todos os sujeitos que de uma maneira
ou de outra fizeram parte desses 30 anos de
história, colaborando ativamente para a me-
lhoria da educação no nosso país.
É importante destacar que a linha central
desse projeto sustenta-se na ideia de que a
cultura material escolar, bem como a cultura
imaterial, tem uma relação direta com a cons-
trução da memória das instituições educacio-
nais. Esta, por sua vez, é um dos pressupostos
básicos para a garantia da cidadania cultural
dos sujeitos e da manutenção de identidades.
O diálogo com autores, como Frago (2009) e
Julia (2001), auxilia na compreensão do con-
ceito de cultura escolar. Para ambos, a análise
dessa cultura, por meio dos artefatos, implica
considerar as relações culturais operadas nas
instituições em direção a outros campos so-
ciais, suas formas e conteúdos, bem como as
transferências culturais operadas, a partir de
outros setores, em direção a essas instituições.
Durante os anos de existência do curso,
livros, documentos administrativos e peda-
gógicos e documentos considerados oficiais,
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
INIC
IAÇ
ÃO
CIE
NT
ÍFIC
A
30
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019H
istó
ria e
me
mó
ria: o
s 3
0 a
no
s d
o c
urs
o d
e P
ed
ag
og
ia d
a U
niv
ers
idad
e P
osi
tivo
alguns cadernos de planejamento de profes-
sores e produções dos alunos, audiovisuais,
fotografias foram produzidos e ajudam a com-
por a sua trajetória. Representando a cultura
imaterial podemos pensar nas histórias dis-
centes de docentes, de funcionários e gesto-
res que tiveram parte de suas trajetórias nesse
espaço de formação.
Mogarro (2005) ressalta a importância
dos arquivos educativos para salvaguarda da
memória das instituições. Para a autora, a ins-
tituição educativa constitui um universo com
uma cultura própria e historicamente sedi-
mentada, sendo ela mesma a produtora dos
documentos dessa cultura. Ainda de acordo
com a autora, (2005, p.103),
Esses documentos configuram na sua di-
versidade e variedade, o patrimônio educativo
de cada instituição – o espaço físico (o edifí-
cio e zona envolvente) corporiza esse universo
arquivístico, museológico e bibliográfico – in-
tegram os documentos, portadores de infor-
mações valiosas, que trazem, do passado até
o presente, aspectos da vida da instituição e
que tornam possível escrever o itinerário da
mesma.
A fim de compor as trajetórias docentes e
discentes faremos uso da História Oral, volta-
da não só para o passado do Curso, mas tam-
bém para o presente e interessada em compor
um grande acervo com a utilização da moder-
na tecnologia para que se conservem dados
pouco encontrados em documentações do
passado.
Nesse sentido, a criação de um acervo que
abrigue as diferentes memórias do curso de
Pedagogia da Universidade Positivo visa dar
voz e visibilidade aos sujeitos, aos objetos, às
produções e práticas discentes e docentes de-
senvolvidas no Curso.
Objetivos
O objetivo deste projeto de iniciação cien-
tífica, é o de reconstruir e salvaguardar a his-
tória do curso de Pedagogia da Universidade
Positivo, com ênfase na reconstrução da me-
mória social e institucional, ou seja, daqueles
conteúdos que os documentos escritos não
dizem, da emoção, dos momentos políticos, do
envolvimento pessoal, não apenas com o ob-
jetivo de preencher lacunas sobre o que está
escrito, mas contemplar uma função social,
função essa, de dar outra abordagem para uma
pesquisa que não se limita aos dados escritos,
mas que abre espaço para essa carga emocio-
nal e social que constrói a história dos homens
e da humanidade.
Como objetivos específicos salienta-se
• Constituir um acervo audiovisual de
depoimentos sobre histórias e memórias
relacionadas ao Curso de pedagogia;
• Organizar, higienizar e preservar o acervo
documental histórico;
• Evidenciar a importância do Curso
de Pedagogia no cenário educacional
paranaense.
Procedimentos Metodológicos
A metodologia utilizada, portanto, é a da
documentação e história oral, bem como fon-
tes escritas, periódicos, revistas e fotografias,
dando destaque às relações entre memória e
trajetória, buscando assim contribuir para a
produção do conhecimento a respeito dos cur-
sos de Pedagogia no país.
Seleção, organização, higienização e pre-
servação dos documentos históricos (foto-
INIC
IAÇ
ÃO
CIE
NT
ÍFIC
A
31
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
grafias, documentos, livros, atas e demais re-
gistros oriundos da cultura material escolar
produzidos no Curso)
• coleta de depoimentos orais docentes (an-
tigos professores e gestores, bem como os
atuais);
• coletas de depoimentos orais discentes
(alunos egressos e atuais);
Os depoimentos serão registrados em
arquivo audiovisual, e posteriormente, serão
transcritos; os Depoimentos serão disponibi-
lizados ao público ao final do projeto.
• produção e publicação de artigos acadê-
micos a fim de dar visibilidade ao projeto,
ao curso e a Universidade Positivo.
Resultados esperados
O principal resultado desse projeto será
a preservação e salvaguarda das memórias do
Curso de Pedagogia, que em seus 30 anos de
história tem contribuído para a formação de
centenas de educadores que hoje atuam em
diferentes partes do nosso país. A partir da
pesquisa do passado recorrendo a fontes vi-
vas ainda existentes, recorrendo às memórias
de professores que haviam lecionado no curso
de Pedagogia, bem como à memória de ex-alu-
nas e agentes educacionais que contribuíram
e, ainda contribuem para o conhecimento de
aspectos importantes para a compreensão da
história da educação e formação de profes-
sores em Curitiba, apresenta um importante
passo para a salvaguarda da memória da insti-
tuição, e posteriormente para a criação de um
Centro de Memórias da Educação da UP.
Referências
BOSI. Ecléa. Memória e Sociedade: lembrança de velhos. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
FILHO, Luciano Mendes de Faria. Pesquisa em História da Educação: perspectivas de análise,
objetos e fontes. Belo Horizonte, 1999.
MEIHY, José Cralos S. B. Manual da história oral, Loyola, 1996.
* * *
Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
RE
SU
MO
S
32
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019D
ialo
gan
do
so
bre
alf
ab
eti
zação
: id
eia
s in
icia
is
Dialogando sobre alfabetização: ideias iniciais
Adriana Neves PacondeGraduanda do 4º Ano do Curso de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Osório.
E-mail: [email protected]
Resumo: Durante o processo de alfabetização, de uma criança, são muitas as fases percorridas até a aquisição da escrita e da leitura. Neste percurso, o professor é quem media o conhecimento e propor-ciona o contato do aluno com os diferentes suportes de escrita existentes na sociedade. Todavia se faz necessária a reflexão sobre como se dá esta relação professor - educando no início do processo de al-fabetização, isto é, se é considerado o que a criança revela que sabe sobre a escrita. Para pensar sobre, utiliza-se a pesquisa bibliográfica em autores como Cagliari (1991) e Ferreiro (1985).
Palavras-chave: Alfabetização, professor, aluno.
Ideias iniciais
Segundo Cagliari (1991), no processo de al-
fabetização, há uma hierarquia: o professor é
quem dita as regras (conforme os parâmetros
de nossa língua) e os pequenos as recebem. Na
grande maioria das vezes, o aluno, que está na
condição de inferioridade, acaba por não ser
ouvido pelo professor alfabetizador. Cagliari
(1991) em “Alfabetização e Linguística”, no ca-
pítulo dedicado à escrita, afirma ser necessário
dar vez às crianças e ouvi-las quanto a visão
de escrita delas: “por exemplo: uma criança
pode representar seu nome por um conjunto
de rabiscos. ” (CAGLIARI, 1991, p. 99).
É preciso ensinar o que é o ato da escrita,
as maneiras possíveis para ela, bem como a ar-
bitrariedade dos símbolos e as relações entre
as letras e os sons. Cagliari (1991, p. 100) ar-
gumenta que a situação mais encontrada em
ambientes de alfabetização não é a atividade
de ensinar, “mas da imposição de um modelo.”
Como consequência, encontramos alunos rea-
lizando a mera cópia de textos e não colocando
em prática o aprendizado; formação de pesso-
as que terão aversão à escrita.
De acordo com Ferreiro (1985, p. 8), “a in-
venção da escrita foi um processo histórico de
construção de um sistema de representação,
não um processo de codificação”. As primeiras
escritas infantis aparecem representadas de
forma gráfica: linhas onduladas ou fragmenta-
das, ou de bolinhas e linhas verticais. Para a ava-
liação do aspecto gráfico deve-se atentar para a
qualidade dos traços, a distribuição espacial das
formas, a orientação predominante e a orien-
tação dos caracteres individuais. Ao considerar
os aspectos construtivos, deve-se avaliar o que
se quis representar e os meios para tanto.
Cagliari (1991) apresenta a história da es-
crita, com as fases: pictórica, ideográfica e al-
fabética. Inicialmente surgiram os silabários,
que possuíam sinais específicos para repre-
sentar cada sílaba. O nosso alfabeto se desen-
volve quando os romanos adaptam a escrita
grega, constituindo o sistema alfabético gre-
co-latino. Ainda nas classificações que Caglia-
ri (1991) aponta, há no sistema de escrita, dois
grupos: o baseado no significado, este que tem
na palavra a menor unidade semântica; e o ba-
seado no significante, necessita dos elementos
sonoros para poder ser compreendido.
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
RE
SU
MO
S
33
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
O sistema de escrita do português, além
de possuir o alfabeto e caracteres de nature-
za ideográfica, como os sinais de pontuação,
apresenta a letra correspondente sempre a
um segmento fonético. Diante disso, apesar de
nosso sistema de escrita apresentar “recursos
especiais”, como números, siglas, sinais ideo-
gráficos, ela é essencialmente alfabética, pos-
suindo como base a letra.
Ferreiro (1985), partindo do construtivis-
mo, aponta existirem processos na evolução
da escrita infantil:
“No primeiro período se conseguem as
duas distinções básicas que sustentarão as
construções subsequentes: a diferenciação
entre as marcas gráficas figurativas e as
não-figurativas, por um lado, e a constitui-
ção da escrita como objeto substituto, por
outro. A distinção entre desenhar e escre-
ver é de fundamental importância. Ao se
desenhar se esta no domínio do icônico; as
formas do grafismo importam porque re-
produzem a forma dos objetos. Ao escrever
se esta fora do icônico: as formas do gra-
fismo não reproduzem a forma dos objetos,
nem sua ordenação espacial reproduz o
contorno dos mesmos.” (p. 10)
No período seguinte as crianças já fazem
diferenciação nas formas de produções escri-
tas. Para tanto, elas utilizam um critério deno-
minado “intra-figura” (FERREIRO, 1985, p. 10),
seja pelo eixo quantitativo (quantidade mínima
de letras), ou pelo eixo qualitativo (variação in-
terna necessária para que uma série de grafias
possa ser interpretada).
No passo que segue, se busca diferencia-
ções entre as escritas produzidas para demons-
trar coisas diferentes. Nesse momento as crian-
ças, por exemplo, variam a quantidade de letras
em uma palavra em relação à outra para escre-
ver coisas diferentes, bem como variar a posi-
ção de uma letra, sem modificar a quantidade.
Até aqui, a criança não dá atenção ao sig-
nificante sonoro. A partir da terceira fase, ela
começa “por descobrir que as partes da escri-
ta (suas letras) podem corresponder a outras
tantas partes da palavra escrita (suas sílabas).”
(FERREIRO, 1985, p. 12). Entra-se, portanto,
na fase silábica, que evolui e a criança verifica
que é uma sílaba por letra, sem omitir sílaba e
sem repetir letras.
Diante do exposto, Ferreiro (1985) afirma
a existência de conflitos na fase silábica:
“No mesmo período - embora não necessa-
riamente ao mesmo tempo - as letras po-
dem começar por adquirir valores sonoros
(silábicos) relativamente estáveis, o eixo
que leva a se estabelecer correspondência
com o eixo qualitativo: as partes sonoras
semelhantes entre as palavras começam a
se exprimir por letras semelhantes. E isto
também gera suas formas particulares de
conflito. (..) pelo lado quantitativo, que se
por um lado não basta uma letra por sílaba,
também não se pode estabelecer nenhuma
regularidade duplicando a quantidade de le-
tras por sílaba, pelo lado qualitativo enfren-
tará os problemas ortográficos. ” (p. 13 -14)
Considerações finais
Durante a prática de ensino e aprendi-
zagem, como verificado, precisa-se partir do
conhecimento que a criança traz consigo. Fer-
reiro (1985) corrobora para a necessidade de
mudanças não em métodos de ensino para a
alfabetização, mas sim o olhar para a criança,
não como “um par de olhos, uma mão que pega
um instrumento para marcar e um aparelho fo-
nador que emite sons. Atrás disso há um sujei-
to cognoscente, alguém que pensa, que cons-
trói. ” (p. 17).
Cagliari (1991, p. 138), ao demonstrar como
se dão os “erros” ortográficos dos alfabetizan-
Ad
rian
a N
ev
es P
ac
on
de
RE
SU
MO
S
34
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
dos, afirma que “os alunos levam muitíssimo a
sério (mesmo brincando) a tarefa de aprender
a escrever e põem nisso um grande trabalho
de reflexão, quando estimulados a se auto de-
senvolverem.”
Na análise linguística, há uma categoriza-
ção dos processos encontrados na aquisição
da escrita. São transações fonéticas, uso in-
devido de letras, hipercorreção, modificação
da estrutura segmental das palavras, juntura
e segmentação, forma morfológica diferente,
forma estranha de traçar letras, uso indevido
de letras maiúsculas ou minúsculas, de acen-
tos gráficos, dos sinais de pontuação e proble-
mas sintáticos (CAGLIARI, 1991).
A “transcrição fonética” ocorre com maior
intensidade nas produções de escrita, pois
acontece o espelhamento da fala na escrita,
gerando, por exemplo, “u” em vez de “o”. Ex:
“Tudu e curraiva” (Tudo e com raiva). O lin-
guista denuncia o comportamento de profes-
sores quando avaliam os escritos iniciais: a
desconsideração dos acertos. Para ele os erros
são mais salientes do que os acertos. Mas, há
que se considerar que os erros não são insu-
peráveis e, muito menos os acertos “obra do
acaso.” (CAGLIARI, 1991, p. 145).
Referências
CAGLIARI, Luiz Carlos. 3 cap. Alfabetização e Linguística. 3º Ed. São Paulo: Spicione, 1991.
FERREIRO, Emilia. Cad. Pesq. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. São
Paulo, 1985. 7-17 p.
* * *
Dia
log
an
do
so
bre
alf
ab
eti
zação
: id
eia
s in
icia
is
RE
SU
MO
S
35
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
A valorização e a construção da hipótese do desenho para a criança enquanto instrumento de prática pedagógica no processo de alfabetização e letramento1
Nilson Bispo de Jesus Jr.Graduando do 2º ano de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Osório. Caricaturista, chargista, ilustrador e designer gráfico.E-mail: [email protected]
Estudos sobre a importância do desenho
feito pela criança podem ser encontrados, po-
rém ainda pouco se tem dito, ou pensado, so-
bre a importância do desenho para a criança.
A valorização da influência do desenho como
instrumento útil para a prática pedagógica,
durante o processo de alfabetização e letra-
mento, seu significado e interatividade no de-
senvolvimento da criança, no que diz respeito
a linguagem e expressão, são temáticas e pa-
râmetros propostos neste texto. Considerando
a relevância do desenho no desenvolvimento
da criança, tanto como precursor da escrita,
quanto na representação simbólica, reconhe-
cendo sua presença histórica como ferramen-
ta de construção pedagógica.
Objetivam-se as seguintes ponderações:
Como o desenho poderia ser utilizado de for-
ma instrumentalizada no acompanhamento de
todo o processo de alfabetização e letramen-
to, durante a vivência escolar? De que forma
o desenho feito pela criança e para a criança
pode ser útil para a aquisição do sistema de es-
crita podendo contribuir didaticamente para o
processo de letramento? Uma vez que o dese-
nho media de alguma forma a leitura do mundo
pela criança, como poderia ser valorizado en-
quanto instrumento pedagógico para este fim?
O embasamento teórico desta reflexão se
dá no conceito do desenho como ferramenta
didática para a aprendizagem (Comenius), em
sua ação de instrumentalidade e mediação
do conhecimento (Vygotsky), para a prática
emancipadora da leitura do mundo (Freire)
e a interatividade visando a alfabetização,
letramento e outros saberes. A fundamentação
deste estudo usará como referências os autores:
Comenius (2002), Luquet (2010), Piaget (2010,
2011, 2012), Gardner (1994), Freire (2008, 2013),
Vygotsky (1996, 2008, 2009), Luria (1996),
Ferreiro e Teberosky (1999). Considerando
os diálogos propostos em estudos de Ribeiro
(2011), Pilar (1996), Fassina (2008), Paiva e
Cardoso (2009), Beyer (1996), Ferreira (2015) e
Alexandroff (2010).
A presente abordagem demonstrará o de-
senho durante os estágios de desenvolvimento
da criança, localizados pelos teóricos que fun-
damentaram e trouxeram significativa com-
preensão nos estudos sobre o assunto. Propõe
mostrar que na aprendizagem, o desenho pode
ser usado em todos os estágios do desenvolvi-
mento infantil, de forma interdisciplinar e mul-
tidisciplinar. Nas fases que caracterizam o de-
senho durante o desenvolvimento da criança:
1) Quando nos primeiros anos, a criança é
o protagonista do desenho, explorando
as formas, a imaginação e a coordenação
motora. Partindo das garatujas até a indis-
1 Projeto de iniciação científica atualizado e apresentado no VI Forum de Educação da Universidade Positivo, outubro de 2017, e na XXX Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (SEPE) da UFPR, abril de 2018.
Nilso
n B
ispo
de
Je
sus J
r.
RE
SU
MO
S
36
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
sociação do desenho e da escrita.
2) Quando a criança se apropria do sistema
de escrita e gradativamente vai condicio-
nando o desenho à um referencial estético
de imagem.
3) Quando a criança abandona o desenho
devido a frustração estética. Característi-
ca da entrada da puberdade. Período este
chamado de Realismo Visual por Luquet,
Etapa Formalista Plástica por Vygotsky e
de Pseudo Naturalismo por Piaget.
Num segundo momento, a pesquisa
propõe explorar o questionamento sobre como
a criança constrói a hipótese do desenho.
Tomando como indicação os estudos de
Ferreiro e Teberosky, que aborda a construção
por parte da criança das hipóteses sobre a
aquisição do sistema de escrita, e dos estudos
de Vergnaud a respeito de como a criança
constrói hipóteses sobre o conhecimento
matemático para a resolução de problemas.
Embasado na afirmação de Luria, corroborado
por Gardner, de que a criança é um ser
simbólico, e como tal cria hipóteses sobre os
fenômenos que a cerca. Uma vez que a criança
perpassa pelo período icônico, reconhecido
por vários estudiosos (Luquet, Vygotsky,
Piaget, Lowenfeld, et al.), pergunta-se: Como a
criança cria a hipótese sobre o desenho?
Neste ínterim, será proposto, ainda, enri-
quecer o conceito de didática em seu aspecto
transformador, a luz de Comenius. E, o dese-
nho como objeto de mediação social e sua in-
fluência, levando em consideração sua função
para a com criança, na interação com o mundo.
Referências
ALEXANDROFF, Marlene Coelho. Os caminhos paralelos do desenvolvimento do desenho e
da escrita. Construção psicopedagógica, vol. 18, n.º 17, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542010000200003&lng=pt&nr
m=iso>. Acesso em: 25/10/2017
BEYER, Hugo Otto. O fazer psicopedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein a partir de
Piaget e Vygostky. Porto Alegre: Mediação Editora, 1996.
COMENIUS, Jan Amos. Didática magna. São Paulo: Martin Fontes, 2002.
FASSINA, Marice Kincheski. Desenhação: um estudo sobre o desenho infantil como fonte de
múltiplas possibilidades no ensino fundamental. Santa Catarina, 2008. Disponível em: <http://
www.tede.udesc.br/handle/handle/776>. Acesso em: 25/10/2017
FERREIRA, Larissa David. A importância do desenho na alfabetização infantil. São Paulo, 2015.
Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/simposio2015/publicado/artigo0100.pdf>.
Acesso em: 08/09/2017
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed,
1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.A v
alo
rização
e a
co
nst
rução
da h
ipó
tese
do
de
sen
ho
para
a c
rian
ça e
nq
uan
to
inst
rum
en
to d
e p
ráti
ca p
ed
ag
óg
ica n
o p
roce
sso
de
alf
ab
eti
zação
e le
tram
en
to
RE
SU
MO
S
37
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
GARDNER, Howard. A criança pré-escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
PAIVA, Alcione V. de; CARDOSO, Luana Carolina R. A importância do desenho infantil no processo
de alfabetização. Minas Gerais, 2009. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/49653435/A-
Importancia-do-Desenho-Infantil-no-Processode-Alfabetizacao>. Acesso em: 16/10/2017
PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994.
PILLAR, Analice Dutra. Desenho e construção de conhecimento na criança. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.
RIBEIRO, Marta. Do desenho à ilustração infantil. Lisboa, 2011.Disponível em: <http://repositorio.
ul.pt/bitstream/10451/6343/2/ULFBA_TES498.pdf>. Acesso em: 15/08/2017
VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martin Fontes, 1996.
VYGOTSKY, Lev; LURIA, Alexander; LEONTIEV, Alexis. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. São Paulo: USP, 1988.
* * *
Nilso
n B
ispo
de
Je
sus J
r.
RE
SU
MO
S
38
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
O pedagogo e o processo inclusivo na educação infantil
Giovana Alves RamellaGraduanda do 2º Ano de Pedagogia da Universidade Positivo, Campus Osório.E-mail: [email protected]
Nelly Narcizo de SouzaDoutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná; Pedagoga pela UFPR (2004); Especialsta em Neuropsicologia pela Faculdade Dom Bosco; Especialista em Educação Especial (IBPEX).E-mail: [email protected]
Este trabalho é parte do Projeto de Ini-
ciação Científica realizado na Universida-
de Positivo, sob o título: O PEDAGOGO E O
PROCESSO INCLUSIVO NA EDUCAÇÃO IN-
FANTIL. A Educação Inclusiva, nomenclatura
dada ao movimento da Inclusão Social na esfe-
ra educacional, tem como objetivo primário a
construção de uma comunidade escolar (ges-
tores, professores, alunos, pais e comunida-
de) que acolha as diferenças e promova meios
de aprendizagem para todos, considerando
suas especificidades e potencialidades. (CAR-
VALHO, 2012). Ainda que a inclusão escolar
seja tema de constantes discussões nos con-
textos educativos, há significativa escassez
de estudos referentes ao processo inclusivo
na Educação Infantil, conforme já constatado
por Souza e Minetto (2017). Essa lacuna afeta
uma área da Educação que atende um perío-
do primordial do desenvolvimento humano, a
primeira infância (0 a 3 anos). Autores como
Mendes (2010) e SOUZA (2013) destacam que
as experiências da criança nessa fase propi-
ciam a ela uma rica e intensa aquisição de suas
potencialidades. Desta forma, em se tratando
do contexto da Educação Infantil na perspec-
tiva inclusiva, nos parece ser imprescindível o
entendimento do pedagogo sobre as questões
desenvolvimentais, a fim de identificar condi-
ções de risco ao desenvolvimento, promover
e planejar intervenções, como apontado por
Brofenbrenner (2011). A partir dessas ques-
tões, o objetivo maior deste trabalho foi levan-
tar as principais características do processo
inclusivo do público-alvo da Educação Infantil,
em especial a primeira infância (0 a 3 anos),
com alguma deficiência ou transtorno do de-
senvolvimento a partir das concepções de pro-
fessores/pedagogos que atendem no referido
contexto a população supracitada, e com as
informações coletadas construir material ins-
trucional para auxílio do corpo pedagógico.
O processo metodológico teve início com
a fundamentação teórica e metodológica para
apreensão conceitual por parte da aluna bolsis-
ta. Em seguida, foi feita uma revisão sistemáti-
ca que buscou levantar as principais questões
de artigos publicados no Portal de Periódicos
da CAPES/MEC (intervalo de 2008 a 2018; res-
tritos ao contexto brasileiro), que abordassem
a temática da Educação Inclusiva na primeira
etapa da Educação Básica. Para esta etapa fo-
ram elencados dez descritores como catego-
rias de pesquisa, de modo a delinear o campo
de busca. Foram encontrados 197 textos rela-
cionados aos descritores. Os materiais encon-
trados foram organizados e lidos com intuito
de perceber quais eram as tendências de pes-
quisa na área temática do projeto de pesquisa.
Destes materiais, seis estavam relacionadas à
Educação Infantil e embora constituíssem a
maioria dos tópicos de pesquisa, foram as que
O p
ed
ag
og
o e
o p
roce
sso
in
clu
sivo
na e
du
cação
in
fan
til
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
RE
SU
MO
S
39
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019Revista Pedagógica da UP | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
menos apresentaram resultados, com aproxi-
madamente 15% do total de artigos. Após estas
etapas exploratórias e de construção concei-
tual, procedeu-se com a pesquisa de campo.
O universo da pesquisa foi uma instituição de
Educação Infantil da rede privada, localizada
em Curitiba. Foram participantes deste estudo
sete professoras que atendem crianças entre
0 a 5 anos de idade. Utilizou-se como instru-
mento de coleta de dados um roteiro de per-
guntas semi abertas. As informações foram
coletas via entrevista gravada em áudio, todas
realizadas no contexto de pesquisa em confor-
midade com a disponibilidade das participan-
tes. Os dados foram transcritos na íntegra e
depois analisados a partir de uma abordagem
qualitativa e em conformidade com a análise
de conteúdo de Bardin (1979) e adaptada por
Bolsanello (1998). Em acordo com as entrevis-
tas, foi possível perceber que na percepção
das participantes o pedagogo gestor é aponta-
do como aquele que constrói um projeto peda-
gógico mais inclusivo ou o que conversa com
a família e busca cursos de formação para os
professores. E, de modo geral, o pedagogo não
aparece como apoio para uma escola inclusiva
a partir de uma atuação mais ativa, dinâmica
e ampla. Ou seja, na fala das participantes o
pedagogo gestor está cotidianamente ocupa-
do com aspectos mais distantes da sala de aula
e da organização de um trabalho docente que
seja planejado a partir de princípios inclusivos.
Também foi solicitado que as participantes
apontassem duas questões sobre a escola in-
clusiva que gostariam que um especialista res-
pondesse. Assim, as perguntas em sua maioria
tem tendência de evocarem aspectos práticos,
do cotidiano docente e do fazer pedagógico.
Infere-se que estas dúvidas poderiam ser mote
de discussão com a equipe gestora, pois elas
estão profundamente relacionadas com o co-
tidiano pedagógico. Também foi investigado
qual era o entendimento de educação infantil
inclusiva destas participantes. As informações
apontam para uma percepção de inclusão for-
temente baseada na “participação da criança”
e na “necessidade especial, entendida como
deficiências, síndromes, fortemente voltado
para o déficit ou para o modelo médico.”
Considerando que a revisão sistemática
acusou grande escassez nas pesquisas volta-
das para a formação do profissional da Edu-
cação Infantil no âmbito inclusivo, e que as
entrevistas pontuaram concepções voltadas à
inclusão como a presença da criança com de-
ficiência em classe de ensino regular, perce-
be-se que se fazem necessários momentos de
formação continuada que deem sustentação
para a prática docente. Sendo que um perso-
nagem fundamental para estes momentos de
formação é o pedagogo na função de gestor.
E neste sentido, outro aspecto que é desta-
que na pesquisa é a fragilidade da atuação do
pedagogo neste universo. Ainda que, realiza-
da em um grupo amostral bem pequeno, esta
pesquisa por ter cunho exploratório, permite
inferir que é de suma importância a ampliação
de novos estudos que aprofundem as questões
aqui delineadas. E, em especial, na perspec-
tiva de que o pedagogo é um profissional de
grande relevância no que compete a promo-
ção dos direitos da infância, da construção de
contextos educacionais voltados para crianças
com pouca idade que sejam mais acolhedores
e inclusivos; bem como, de instrumentalizar a
equipe docente de reflexões e informações que
permitam um atendimento em sala de aula que
valorize as singularidades das crianças.
Gio
van
a A
lve
s Ram
ella
| Ne
lly N
arc
izo
de
So
uza
RE
SU
MO
S
40
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Palavras-chave: Educação Infantil, Educação Inclusiva, pedagogo.
Referências
BRONFENBENNER, U.; EVANS, G. Developmental science in the 21st century: Emerging
questions, theoretical models, research designs and empirical findings. Social Development, 9,
115-125. (2000).
CARVALHO, Rosita Edler. Escola inclusiva: a reorganização do trabalho pedagógico. Mediação,
2012.
MENDES, Enicéia Gonçalves. Inclusão marco zero: começando pelas creches / Enicéia Gonçalves
Mendes - 2. ed. - Araraquara, SP; Junqueira&Marin, 2010.
SOUZA, Nelly Narcizo de. Inclusão escolar da criança pequena com necessidades especiais:
concepções de mães, de educadoras da educação infantil e de professoras do atendimento
educacional especializado. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, 2013.
SOUZA, N. N.; MINETTO, Maria de Fátima. O paradigma inclusivo e a educação infantil: qualidade
no atendimento e promoção do desenvolvimento. In: Luize Bueno de Araujo; Vera Lucia Israel.
(Org.). Desenvolvimento da criança: família, escola e saúde. 1ed. Curitiba: Omnipax, 2017, p. 1-22.
* * *
O p
ed
ag
og
o e
o p
roce
sso
in
clu
sivo
na e
du
cação
in
fan
til
TC
C
41
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Avaliação nas escolas organizadas em ciclos
Evaluation in schools organized in cycles
Ana Claudia JunglesE-mail: [email protected]
Gessica Souza JunglesE-mail: [email protected]
Rosiane Aparecida CarvalhoE-mail: [email protected]
Graduandas do 4º ano de Pedagogia, Câmpus Ecoville, sob a orientação da Professora Dra. Jezuina Kohls Schwanz.
Resumo: O presente trabalho é um recorte de nosso artigo de conclusão de curso onde apresentam-os considerações a respeito da avaliação de aprendizagem no sistema de ensino organizado em ciclos. Considerando que a implantação dos sistemas de ciclo, surge para substituir a pedagogia do fracasso, pautada na reprovação e na exclusão daqueles alunos considerados inaptos, a partir de uma ideologia classificatória, buscamos compreender as implicações no sistema de ensino organizado em ciclos de aprendizagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e refletir sobre como o processo de avaliação acontece em uma escola organizada em ciclos. Para tanto utilizamos os referenciais de Mainardes (2009), Hoça (2007) e Gatti ( 2003), bem como documentos administrativos e a legislação educacional.
Palavras-chave: Avaliação, Ciclos, Aprendizagem.
Abstract: The present work is a cutting of our course conclusion article where we present considerations regarding the evaluation of learning in the education system organized in cycles. Considering that the implantation of cycle systems arises to replace the pedagogy of failure, based on the reprobation and exclusion of those students considered inapt, from a classificatory ideology, we seek to understand the implications in the teaching system organized in learning cycles in the Initials Years of Elementary School and reflect on how the evaluation process happens in a school organized in cycles. Therefore, we used the references of Mainardes (2009), Hoça (2007) and Gatti (2003), as well as administrative documents and the educational legislation.
Keywords: Evaluation, Cycles, Learning.
Introdução
No Brasil, ao longo da História da Edu-
cação, a avaliação teve um caráter, excluden-
te e classificatório, com o objetivo de medir
e controlar o desempenho dos alunos. Nesse
contexto a avaliação é utilizada para articular
a reprovação, o aluno é considerado o único
responsável pelo seu fracasso ou pelo seu su-
cesso, sendo assim a educação funciona como
mecanismo de conservação e reprodução da
sociedade, determinando sua posição no meio
em que está inserido.
De acordo com Mainardes (2009) a partir
da década de 1980 surgem, no cenário nacio-
nal, novas propostas no campo da avaliação
educacional, como os ciclos de aprendizagem,
os ciclos de formação e o ciclo inicial de alfa-
betização.
A proposta da organização escolar em ci-
clos foi implantada inicialmente em alguns es-
tados brasileiros, inclusive o município de Curi-
tiba no estado do Paraná. Através da criação
de uma política pública que inseriu o sistema
de organização em ciclos nas escolas de forma
gradativa, substituindo o regime seriado, a fim
An
a C
lau
dia
Ju
ng
les | G
essic
a S
ou
za J
un
gle
s | Ro
sian
e A
pare
cid
a C
arv
alh
o
TC
C
42
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
de melhorar a qualidade de ensino nas escolas e
reduzir a taxa de evasão escolar e reprovação.
Com a implantação dos ciclos, houve a ne-
cessidade de uma reorganização nas escolas.
Passando pela adaptação dos professores para
atuarem no sistema ciclado, por uma nova vi-
são sobre a avaliação da aprendizagem e as
metodologias aplicadas, bem como uma rees-
truturação no currículo pensado para a conti-
nuidade do processo de aprendizagem durante
o ciclo. Assim como, a flexibilidade do currícu-
lo visando abranger a realidade em que a esco-
la e os alunos estão inseridos, sua pluralidade
e diversidade.
O sistema de ciclos
A implantação dos ciclos na Rede Munici-
pal de Educação de Curitiba trouxe uma nova
visão na elaboração do currículo, nos métodos
de ensino, e nas práticas de avaliação. Essa
proposta de ciclos constituiu uma mudança de
foco na elaboração de políticas para a educa-
ção. Com isso, a avaliação passa a ser conside-
rada uma importante ferramenta que favore-
ce a melhoria na qualidade da aprendizagem,
um elemento que luta a favor do aluno, pois
atua como parte integrante e instrumento que
acompanha o andamento do processo de ensi-
no e aprendizagem, tendo como finalidade:
[...] acompanhar os processos de aprendi-
zagem escolar, compreender como eles es-
tão se concretizando, oferecer informações
relevantes para o próprio desenvolvimento
do ensino na sala de aula em seu dia a dia,
para o planejamento e replanejamento con-
tínuo da atividade de professores e alunos
[...] (GATTI 2003, p. 99).
Esse controle deve ser registrado em fi-
chas de acompanhamento, registros do pro-
fessor, relatórios individuais, planilhas e
outras formas que mostrem o caminho per-
corrido durante todas as etapas do processo
ensino-aprendizagem. Segundo os sistemas
de avaliação, o registro do rendimento esco-
lar, deve acontecer pelo parecer descritivo ou
notas, com a definição de médias ou conceitos
mínimos para a aprovação (CURITIBA, 2010).
Considerando que os alunos não apren-
dem todos da mesma forma e ao mesmo tem-
po, as avaliações e registros efetuados pelos
docentes durante o processo de ensino apren-
dizagem, servirão de base para a análise do de-
senvolvimento do aluno ao final do processo,
verificando o avanço da aprendizagem compa-
rando de onde o aluno partiu até onde ele che-
gou. Definindo assim, a progressão do aluno
que poderá ocorrer por:
Progressão simples (PS) – para o estudante
que prossegue normalmente seus estudos
de um ano para o outro, no mesmo ciclo,
ou de um ciclo para outro; Progressão com
apoio (PA) – para o estudante que progri-
de para o ano ou ciclo seguinte, com ne-
cessidade de acompanhamento em algum
componente curricular (CURITIBA, 2012, p.
102-103).
Nesse contexto, o objetivo não é classifi-
car o aluno, mas sim verificar as dificuldades
de aprendizagem para dar o apoio pedagógico
adequado conforme as necessidades de cada
aluno para a superação dessas dificuldades.
Considerações
Com a implantação dos ciclos, a avaliação
passa a ser uma importante ferramenta de in-
formações direcionando o trabalho pedagógi-
co, para que as intervenções pedagógicas ne-
cessárias sejam planejadas e concretizadas da
melhor forma em decorrência de dificuldades
e avanços. Nesta lógica a avaliação prioriza os
Avaliação
nas
esc
ola
s o
rgan
izad
as
em
cic
los
TC
C
43
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
aspectos qualitativos contestando uma avalia-
ção quantitativa e excludente.
Nessa linha, a escola que busca se orga-
nizar em ciclos, acredita que a avaliação é um
instrumento que visa à reflexão da prática do-
cente, pois estes precisam questionar quais os
meios que serão adotados, quais os critérios
e objetivos que serão utilizados na avaliação
para a formação do aluno durante o processo
de ensino-aprendizagem.
Referências
CURITIBA, 2012. Subsídios à organização do trabalho pedagógico nas escolas da rede municipal
de ensino de Curitiba, 2012. Disponível em: <http://multimidia.cidadedoconhecimento.org.br/
CidadeDoConhecimento/lateral_esquerda/menu/downloads/arquivos/8055/download8055.
pdf>. Acesso em: 26 maio 2018.
GATTI, B. A. O professor e a avaliação em sala de aula: estudos em avaliação educacional, São
Paulo, n. 27, jan.-jun. 2003. Disponível em: <http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/
arquivos/1150/1150.pdf>. Acesso em: 26 setembro 2018.
MAINARDES, J. A pesquisa sobre a organização da escolaridade em ciclos no Brasil (2000-2006):
mapeamento e problematizações. In: Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 14, n. 40,
p. 7-23, jan./abr. 2009.
An
a C
lau
dia
Ju
ng
les | G
essic
a S
ou
za J
un
gle
s | Ro
sian
e A
pare
cid
a C
arv
alh
o
* * *
EX
TE
NS
ÃO
44
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Operação Rondon: para além dos muros da universidade
João Felipe Fagundes PortellaGraduando do 3º ano do Curso de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Ecoville. E-mail: [email protected]
Jezuina Kohls SchwanzDoutora em Educação (UFPEL); Pedagoga; Especialista em Memória, Identidade e Cultura Material (UFPEL); Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL); Professora da Universidade Positivo.E-mail: [email protected]
Resumo: Esse trabalho traz uma breve contextualização do projeto e da importância que o mesmo tem na formação dos discentes que participam. O Rondon é um projeto que existe há mais de 50 anos, como iniciativa do ministério da defesa, desenvolvido juntamente com os Ministérios da Educação, Desenvolvi-mento Social e Agrário, Saúde, Meio Ambiente, Integração Nacional, Esporte e a Secretaria de governo da presidência da república. A operação Rondon Regional, é uma iniciativa da UEPG – Universidade Estadual De Ponta Grossa, para desenvolver ações semelhantes ao projeto nacional, porém, na região paranaense.
Palavras-chave: Rondon. Projeto. Extensão universitária.
Conhecendo a Operação Rondon
A ideia de levar a juventude universitária a
conhecer a realidade brasileira e a participar do
processo de desenvolvimento surgiu em 1966,
durante reunião realizada no Rio de Janeiro,
com a participação de universidades do então
Estado da Guanabara, do Ministério da Educa-
ção e Cultural e de especialistas em educação.
O Projeto Rondon foi semeado em 11 de
julho de 1967, quando uma equipe formada por
30 universitários e dois professores de univer-
sidades do antigo Estado da Guanabara, co-
nheceram de perto a realidade amazônica no
então território federal.
A operação Rondon segue os mesmos prin-
cípios que o projeto nacional, mas focando em
trazer as ações para realidades do nosso esta-
do. Alguns dos objetivos do Rondon são: Con-
tribuir para o desenvolvimento e o fortaleci-
mento da cidadania do estudante universitário;
Contribuir com o desenvolvimento susten-
tável, o bem-estar social e a qualidade de
vida nas comunidades carentes, usando as ha-
bilidades universitárias.
A Concepção Política do Projeto Rondon,
estabelece que suas regiões prioritárias de atu-
ação são aquelas que apresentam baixo Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) e exclusão
social, bem como áreas isoladas que necessi-
tem de maior aporte de bens e serviços. Por
essa razão as ações da operação são voltadas a
municípios do Paraná e de estado vizinhos que
apresentam necessidades maiores.
Os trabalhos são desenvolvidos através de
oficinas temáticas, elaboradas pelos rondonis-
tas selecionados, antes da viagem, baseadas
nas necessidades contatadas pelos professo-
res orientadores na viagem percursora.
Para além dos muros da universidade
Imagem 1 - Rondonistas em Porto União, julho de 2018.Op
era
ção
Ro
nd
on
: p
ara
alé
m d
os
mu
ros
da u
niv
ers
idad
eRevista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
EX
TE
NS
ÃO
45
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
O Plano Nacional de Extensão Universitá-
ria (2001, p.7) diz o seguinte:
A extensão, entendida como prática acadê-
mica que interliga a universidade nas suas
atividades de ensino e de pesquisa com as
demandas da maioria da população, possi-
bilita essa formação do profissional cidadão
e se credencia cada vez mais junto à socie-
dade como espaço privilegiado de produção
do conhecimento significativo para a supe-
ração das desigualdades sociais existentes.
Há bem pouco tempo atrás quando faláva-
mos de extensão universitária, esta era associa-
da a ações assistenciais ou com a promoção do
conhecimento teórico através de cursos e semi-
nários. Este tipo de extensão não cumpria com
o seu principal objetivo: aproximar a academia
da sociedade. Hoje a extensão universitária vai
muito além do caráter assistencialista. Hoje te-
mos a união entre sociedade, professores e uni-
versitários, a troca de conhecimentos e a cria-
ção de ideias sustentáveis, que visam à melhoria
das populações atendidas pela operação.
A operação PORTO UNIÃO contou com 20
rondonistas, sendo três professores e 17 uni-
versitários das instituições Universidade Posi-
tivo (UP) e da Universidade Tecnológica Fede-
ral do Paraná (UTFPR), e teve duração de duas
semanas, ocorrendo entre os dias 21 de julho a
4 de agosto de 2018.
O ano 2018 vai ficar gravado em minha me-
mória, quando a convite da professora Jezuina
Kohls Schwanz, me inscrevi na Operação Ron-
don. Ao ser selecionado, tive a responsabilidade
de representar o Curso de Pedagogia da Uni-
versidade Positivo.
Um misto de ansiedade, felicidade e medo
fizeram parte dos momentos que antecederam
a nossa viagem. Ao chegar a Porto União, eu
e demais integrantes do projeto percebemos
que nosso desafio seria grande: unir diferentes
conhecimentos, dos mais variados cursos em
um único propósito, a melhoria da qualidade
de vida da população.
A experiência proporcionada pelo Rondon
é incrível e única. Ela possibilita uma vivência
plena e uma imersão total numa realidade dife-
rente, além dos muros da universidade. Dá-nos
a oportunidade de utilizar toda informação,
técnica, prática e conhecimento desenvolvidos
na universidade em situações reais e com sig-
nificado. Durante a operação temos a chance
de desenvolver e fortalecer nossa autonomia e
cidadania, enquanto contribuímos com comu-
nidades que se enquadram no foco do projeto.
Ter participado do projeto fez com que eu
tivesse certeza que estou no caminho certo, a
Pedagogia é o que eu quero para minha vida,
a experiência fez com que eu percebesse que
amo ensinar, amo estar com as crianças. E
esse foi o bem maior da operação. Amor é uma
palavra que resume o Rondon.
Referências
Fórum Nacional De Pró-Reitores De Extensão Das Universidades Públicas Brasileiras. Plano
Nacional de Extensão Universitária. Natal: 2001.
* * *
Jo
ão
Fe
lipe
Fag
un
de
s Po
rtella
| Je
zu
ina K
oh
ls Sch
wan
z
EX
TE
NS
ÃO
46
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Educadores, escritores, jornalistas, filó-
sofos, cientistas, dentre outros especialistas,
já escreveram sobre a importância da leitura
na vida das pessoas. No entanto, ler é muito
mais do que decodificar códigos linguísticos
ou ter acesso a um mundo de informações. É
um ato que requer aprendizagem e constância.
Embora o senso comum nos diga que “Ler se
aprende lendo”, podemos perceber que essa
prática não tem disso tão comum assim. Da-
dos de 2015 da pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil1, indicam que 44% da população não se
considera leitora. Desse percentual, 28% afir-
mou que o motivo está relacionado ao fato de
não gostarem de ler, 13% dizem não ter paciên-
cia para ler e 10% preferem outras atividades.
Como professora de diferentes disciplinas
do curso presencial de Pedagogia da Universi-
dade Positivo desde 2012, tenho sempre a lei-
tura como um dos eixos que orientam a minha
prática dentro e fora de sala de aula. Na dis-
ciplina de Metodologia da Língua Portuguesa,
por exemplo, incentivo e discuto com os alu-
nos a importância do trabalho com a leitura de
textos de diferentes gêneros, tipologias e su-
portes. Além disso, enfatizo a necessidade do
professor tornar-se leitor, para poder contri-
buir com a formação de novos leitores, e assim
melhorar os dados indicados na pesquisa.
Neste contexto, em 2018 surgiu a oportu-
nidade da realização de um projeto de exten-
são em parceria entre a Universidade Positivo
e o Instituto GRPCOM. Alunos do 3º e 4º ano
do curso presencial de pedagogia foram convi-
dados a participar de forma voluntária do Pro-
jeto Ler e Pensar (LeP), do Instituto GRPCOM
e da Gazeta do Povo. Este importante projeto
de incentivo à leitura e cidadania é destinado à
professores e alunos do Ensino Fundamental
e Médio de escolas e instituições públicas do
Paraná, tendo recebido vários prêmios inter-
nacionais, como reconhecimento das melhores
iniciativas de promoção da leitura no país.
Além disso, a metodologia de uso do jornal
proposta pelo Ler e Pensar (LeP) é reconheci-
da pela Organização das Nações Unidas (ONU)
desde 2010. Ancorados no conceito de educo-
municação, o LeP defende que a utilização do
jornal como recurso pedagógico pode ser de-
senvolvida sob três aspectos: apoio aos conte-
údos didáticos e disciplinas escolares (COM a
mídia); objeto de estudo: os alunos entendem
qual a função da mídia e como o jornalismo é
estruturado por diferentes opiniões (PARA a
Ler e pensar: escrever e inspirar
Camile Gonçalves Hesketh CardosoProfessora do curso presencial de Pedagogia da Universidade Positivo. Pedagoga, especialista em Leitura de Múltiplas Linguagens, mestre em Educação e doutoranda em Educação.
leitura e pensamento
escrita e inspiração
palavras em movimento
dão asas à imaginação
1 Pesquisa realizada pelo IBOPE em 2015, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, com o objetivo de diagnosticar hábitos de leitura no Brasil e promover debates e reflexões sobre este tema.L
er
e p
en
sar:
esc
reve
r e
in
spir
ar
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
EX
TE
NS
ÃO
47
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019C
am
ile G
on
çalv
es H
esk
eth
Card
oso
mídia); possibilidade de autoria, que é quando
os alunos criam jornais nas escolas e se ex-
pressam por meio da mídia (PELA mídia).
Para os idealizadores do projeto, a presen-
ça do jornal no ambiente educativo contribui
para o aprimoramento da expressão dos alu-
nos, desenvolve reflexão e visão crítica, me-
lhora a compreensão dos acontecimentos da
sociedade e incentiva a atuação efetiva na rea-
lidade em que estão inseridos.
Assim, seguindo as etapas previstas no
projeto, os 18 alunos selecionados participa-
ram inicialmente de uma oficina sobre a meto-
dologia do Ler e Pensar (LeP), e depois realiza-
ram na plataforma EAD do Projeto, 4 cursos de
formação online: Letramento Digital; Leitura
Crítica da Mídia; A escola do século XXI: rumo
a educação 4.0; Gestão e avaliação de projetos.
O projeto possibilitou ainda que os alunos
passassem a ser assinantes do Jornal Gazeta
do Povo, pois a partir do mês de setembro até
o final de novembro, cada um tem escrito di-
cas pedagógicas a serem implementadas em
sala de aula, com base em notícias veiculadas
diariamente no site na Gazeta do Povo. Todas
as dicas têm sido publicadas diariamente no
site do Ler e Pensar (LeP) da Gazeta do Povo
e compartilhadas no facebook do curso de
Pedagogia da UP. Além disso, os alunos estão
participando também da elaboração de duas
matérias para o BOLO (Boletim de Leitura
Orientada), informativo mensal com artigos,
dicas e informações relevantes da área.
Segundo Mariane Maio Braga, gestora
estadual do Projeto Ler e Pensar do Instituto
GRPCOM e Gazeta do Povo: “a parceria do
Ler e Pensar (LeP) com o curso de Pedagogia
da Universidade Positivo tem sido enrique-
cedora, acredito que para ambos os lados. O
LeP ganha com conteúdos diferentes e atua-
lizados, enquanto os alunos ampliam seus co-
nhecimentos e suas relações com o mercado.
Além disso, posso destacar o grande interesse
e comprometimento por parte dos alunos da
UP, que têm enviado ótimos conteúdos, todos
dentro dos prazos combinados”.
Os alunos também estão animados com o
projeto e alguns vão relatar suas experiências
em apresentações orais e posters no VII Fó-
rum de Educação da UP no mês de outubro.
No final do ano, todos que cumpriram suas
metas, receberão uma certificação de partici-
pação do Projeto, com o número de horas tra-
balhadas. No entanto, pelos relatos a seguir,
podemos perceber que o valor do projeto para
os alunos tem sido bem maior do que o certi-
ficado de horas complementares que irão ga-
nhar.
“O projeto Ler e Pensar foi uma das
melhores escolhas que eu pude fazer dentro
dos meus quatro anos de graduação. Com
os ensinamentos e reflexões trazidas pelos
módulos do curso, eu me ressignifiquei e
ainda deixei a minha marca com sugestões
para aulas transformadoras. Desejo que as
minhas palavras publicadas levem um pouco
dos conhecimentos que recebi, esperando que
toquem e modifique àqueles que às leem”. (Lígia
Ribas Correia – aluna do 4º ano de Pedagogia
da UP – Unidade Ecoville)
“Ao aceitar participar do Projeto Ler e
Pensar, encarei como um grande desafio a
ser superado. Quando conheci a proposta
do projeto me encantei à primeira vista.
Saber que eu poderia inspirar milhares de
professores a desenvolverem suas práticas
educacionais tem sido algo mágico. Posso
imaginar que um pedacinho de mim estará em
cada desenvolvimento pedagógico feito pelos
professores parceiros. Mas acima de tudo,
o projeto tem ajudado a desenvolver minha
própria prática educacional, descobrindo cada
EX
TE
NS
ÃO
48
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
dia mais que existe um pedagogo muito bom
dentro de mim”. (Fernando Oliveira – aluno do
4º ano de Pedagogia da UP – Unidade Osório)
“Participar do Projeto Ler e Pensar foi uma
experiência muito significativa que o curso de
Pedagogia da Universidade Positivo em par-
ceria com o Instituto GRPCOM e a Gazeta do
Povo me proporcionou. Por meio da proposta
e orientações oferecidas consegui ampliar os
meus conhecimentos sobre educomunicação e
aprimorei a minha escrita. Além de contribuir,
com dicas pedagógicas e outras produções,
para o incentivo à leitura e cidadania”. (Kaoane
Fernandes da Silva – aluna do 3º ano de Peda-
gogia da UP – Unidade Ecoville)
“O projeto Ler e Pensar está me proporcio-
nando um novo olhar sobre a utilização das mí-
dias em sala de aula. Os cursos ofertados foram
esclarecedores e objetivos, trazendo conteúdos
adicionais aos que já tínhamos aprendido na
universidade. Criamos um grupo no whatsa-
pp para compartilharmos ideias e informações
com os colegas participantes do projeto e a
professora orientadora. O projeto tem desen-
volvido o meu interesse por pesquisas acadê-
micas na área midiática e desconstruiu muitos
conceitos errôneos que eu tinha sobre a mídia,
contribuindo significativamente para a minha
formação”. (Karina Meni Macedo – aluna do 3º
ano de Pedagogia da UP – Unidade Osório).
Espero que este instigante projeto de ex-
tensão, assim como o processo de formação
de leitores, seja algo contínuo e não episódi-
co. Que as sementes hoje plantadas, possam
crescer conquistando novos alunos-leitores e
que os frutos sejam colhidos num futuro mais
próximo do que o tempo do plantio descrito
pelo educador Rubem Alves: “Amo aqueles que
plantam árvores mesmo sabendo que nunca se
sentarão em sua sombra. Plantam árvores para
dar sombras e frutos para aqueles que ainda
não nasceram”.
* * *
Le
r e
pe
nsa
r: e
scre
ve
r e
in
spir
ar
RE
LA
TO
S
49
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Reflexões sobre a inclusão na educação infantil a partir da experiência do estágio remunerado
Kauyla Brenda ProssakGraduanda do 2º Ano de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Osório.E-mail: [email protected]
Giovana Alves RamellaGraduanda do 2º Ano de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Osório.E-mail: [email protected]
Nelly Narcizo de SouzaPsicóloga, pedagoga. Professora da Universidade Positivo.E-mail: [email protected]
Resumo: O presente trabalho é resultado de discussões oriundas da disciplina de Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Infantil, atreladas ao relato de experiência de estágio remunerado de uma aluna do segundo ano do curso de graduação em Pedagogia, em Curitiba, Paraná. Pretende-se com este texto proporcionar reflexões que possam colaborar para práticas de estágio mais adequadas e que ampliem a perspectiva do que vem a ser uma abordagem inclusiva na educação infantil. Do ponto de vista da ed-ucação infantil e dos direitos da criança, este relato mostra que há uma lacuna neste aspecto. É impre-scindível perceber que a “criança de inclusão”, é antes de qualquer estereótipo, uma pessoa que necessita de condições para vivenciar sua infância. E, o pedagogo-gestor é figura de grande relevância tanto no que se refere ao acompanhamento do acadêmico estagiário quanto na construção de contextos educacionais mais inclusivos desde a Educação Infantil. Este texto também procura provocar reflexões sobre como a prática de estágio pode ajudar a construir concepções no que se refere à educação inclusiva.
Palavras–chave: Educação infantil; Educação inclusiva; Prática de Estágio.
Introdução
O presente trabalho é resultado de discus-
sões oriundas da disciplina de Fundamentos
Históricos e Filosóficos da Educação Infantil,
atreladas ao relato de experiência de estágio
remunerado de uma aluna do segundo ano do
curso de graduação em Pedagogia, em Curiti-
ba, Paraná. Pretende-se com este texto pro-
porcionar reflexões que possam colaborar
para práticas pedagógicas mais adequadas e
que ampliem a perspectiva do que vem a ser
uma abordagem inclusiva na educação infantil,
bem como, destacar a importância da prática
de estágio como referência de profissionali-
dade para o acadêmico, aqui considerado en-
quanto futuro pedagogo.
Diante das especificidades do referido
relato é fundamental retomar que a educação
infantil, enquanto primeira etapa da educa-
ção básica, deve se constituir como espaço e
tempo de proteção e promoção do desenvol-
vimento e da aprendizagem na infância; tendo
seu atendimento baseado na valorização das
diferentes linguagens das crianças por meio
de experiências de brincar e das relações es-
tabelecidas com o mundo e consigo mesma.
(SOUZA e MINETTO, 2017; DCNEI, Resolução
CNE/CEB nº 5/2009). Outrossim, a relação
deste contexto educacional com o paradigma
da educação inclusiva também é algo que me-
rece destaque e atenção. Portanto, deve ser
tema de pesquisas, de formação e de práticas
com vistas a melhorar o atendimento às crian-
ças com pouca idade que são público alvo da
educação especial.
Kau
yla
Bre
nd
a P
rossa
k | G
iovan
a A
lve
s Ram
ella
| Ne
lly N
arc
izo
de
So
uza
RE
LA
TO
S
50
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019R
efl
exõ
es
sob
re a
in
clu
são
na e
du
cação
in
fan
til a p
art
ir d
a e
xp
eri
ên
cia
do
e
stág
io r
em
un
era
do
Justamente pelo fato da educação infan-
til ser voltada para a primeira infância – faixa
etária entre zero e 06 anos, e, por esta se cons-
tituir em um período que requer grande cuida-
do e atenção, se faz ainda mais fundamental
possibilitar espaços de reflexão e formação
dos profissionais que trabalham com bebês e
crianças com pouca idade que são público alvo
da educação especial.
Outro aspecto a ser considerado para
justificar a relevância deste relato de experi-
ência é a perspectiva de que o estágio, seja o
curricular ou remunerado, pode proporcionar
momentos de formação para os estudantes
que buscam se consolidar profissionalmente
enquanto educadores ou pedagogos. Em espe-
cial os estudantes do curso de graduação em
Pedagogia, podem ter em seus estágios, es-
paços de relação entre as diferentes teorias e
sua aplicação na prática educacional. Ou seja,
o estágio deve ser planejado com a perspectiva
de que é uma experiência formativa, na qual
se faz necessária supervisão criteriosa, bem
como, reflexões e discussões acerca das dife-
rentes demandas encontradas cotidianamente,
conforme já inferido por Ostetto (2008).
Do ponto de vista da educação inclusiva,
Vitta, Vitta e Monteiro (2010) reforçam a im-
portância da possibilidade de bebês e crianças
que são público alvo da educação especial te-
rem oportunidade de estar em contextos regu-
lares de ensino. Nesta mesma direção Sekkel e
Matos (2014) afirmam que a experiência de in-
clusão propiciada na educação infantil tem um
papel significativo para as crianças envolvi-
das, bem como, parece possibilitar uma maior
abertura para o outro e o respeito a suas es-
pecificidades. Também Anhão, Pfeifer e Santos
(2010) apontam em sua pesquisa a relevância
das interações entre crianças pequenas com
Sindrome de Down com crianças com desen-
volvimento típico, indicando o quanto todos se
beneficiam das experiências e possibilidades
deste encontro na educação infantil.
Assim é premissa deste trabalho que a ex-
periência oportunizada na educação infantil
na perspectiva inclusiva é relevante e deve ser
considerada com zelo e atenção tanto da pers-
pectiva da criança, quanto dos profissionais
ali envolvidos, quanto da família que confia na
instituição, como do acadêmico que está esta-
giando. De outro modo, propõe-se que a aten-
ção e o cuidado ao desenvolvimento infantil a
ser realizado em ambientes acolhedores e in-
clusivos deve ser um projeto de comunidade.
A experiência de estágio e as reflexões
possibilitadas
Este relato de experiência traz obser-
vações retiradas da oportunidade de estágio
remunerado que se deu em uma instituição
de educação infantil da rede privada, na qual
a aluna em questão realizou atividade como
“apoio educacional” para uma criança de cinco
anos que apresentava Síndrome de Down.
Inicialmente, as atribuições como estagi-
ária eram bastante amplas, não havendo uma
única função a ser desempenhada: iam de lim-
par a mesa na sala de aula até substituir uma
professora quando necessário. Durante cerca
de seis meses o estágio aconteceu nessa pers-
pectiva mais vasta, realizando diversas ativida-
des dentro da escola até que ela foi solicitada a
realizar a função de “tutora” ou “apoio” de um
aluno recém-chegado na escola e que possuía
Síndrome de Down. A coordenação pedagó-
gica solicitou que a acadêmica desenvolvesse
atividades de apoio “da forma que achasse me-
lhor”, com as adaptações que fossem necessá-
rias e nos espaços que estimulassem o aluno.
Caberia a estagiaria de apoio, além da apren-
RE
LA
TO
S
51
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
dizagem do aluno, sua recreação, sua alimen-
tação e sua higiene, durante seis horas diárias,
cinco dias por semana. Destaca-se que a refe-
rida estagiária não recebeu quaisquer outras
instruções ou apoio técnico – pedagógico para
que pudesse realizar suas novas atribuições.
No caso tomado como objeto de reflexão,
a criança em questão tem cinco anos e está em
uma turma de nível II (três anos). A inserção
desta criança na referida turma se deu após
grande insistência da coordenação da institui-
ção e foi contra o desejo manifesto da família.
Para os familiares a criança deveria ingressar
no primeiro ano do ensino fundamental em
consideração a sua idade. Vale destacar que a
criança, de forma geral, apresenta condições
típicas de desenvolvimento e aprendizagem
esperados para a Síndrome de Down, entre os
quais alterações na fala e em alguns aspectos
motores, mas também apresentava interesses
próprios a sua faixa etária.
A instituição de ensino está inserida na
esfera da metodologia tradicional, com gran-
de ênfase na preparação para a alfabetização.
Desse modo, foi possível verificar que as ati-
vidades propostas ao aluno pareciam fugir
do âmbito lúdico tão necessário à infância e a
educação infantil. Foi possível perceber no re-
pertório de comportamentos da criança certa
resistência em realizar as atividades comuns
aplicadas no nível de ensino em que se en-
contrava. A medida adotada pela coordenação
para lidar com a falta de interesse do aluno foi
encaminhar atividades diferenciadas dos de-
mais alunos, com um nível menor de dificulda-
de. Além disso, nota-se que por diversas vezes
não houve encaminhamento de atividades para
o aluno observado. Com isso, há uma gradativa
exclusão do aluno em relação aos outros. No
entanto, quando alguma atividade é realizada
sem grande resistência, o aluno é enaltecido e
tem as atividades mostradas a toda turma, que
faz elogios e até mesmo aplaude.
Estudos de Peixoto (1983), Thompson
et al (1996) e Andrade (1999) apontaram que
crianças com deficiência que se relacionaram
diariamente com alunos de desenvolvimen-
to típico apresentaram progresso maior em
relação àquelas que ficaram segregadas ao
convívio com seus pares. Entre os aspectos
da convivência, as relações sociais e o desen-
volvimento acadêmico foram os maiores be-
neficiados. No entanto, conforme o estudo de
Freitas (2005) evidenciou, há uma escassez na
espontaneidade das interações entre a criança
com deficiência e a criança de desenvolvimen-
to típico quando na ausência do estímulo feito
pelo docente. Portanto, para que a inclusão do
aluno seja eficaz e completa, é necessário que
o educador seja o mediador da interação en-
tre a criança de desenvolvimento atípico e os
demais nas atividades propostas. A postura do
professor em relação ao aluno ditará a recep-
ção da turma com o mesmo, influenciando o
grau de engajamento e a qualidade do convívio
da criança com seus pares etários. Caso essa
postura não seja praticada, há uma abertura
para a ocorrência de situações de isolamento.
Nota-se que o aluno está inserido em um
contexto de interações majoritariamente uni-
laterais, um exemplo sendo quando a turma
aplaude seus trabalhos - que foram feitos se-
paradamente dos demais. O brincar, segundo
Odom et al (1990), propicia várias oportuni-
dades para que as crianças com deficiências
possam exercitar suas habilidades sociais. No
entanto, este momento deve ser planejado e
supervisionado. Em episódios de brincadeiras
livres, crianças com deficiência tendem a fica-
rem mais isoladas – em contrapartida, com a
instrução do educador, o engajamento aumenta
e as interações são de maior qualidade. Crian-
Kau
yla
Bre
nd
a P
rossa
k | G
iovan
a A
lve
s Ram
ella
| Ne
lly N
arc
izo
de
So
uza
RE
LA
TO
S
52
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019R
efl
exõ
es
sob
re a
in
clu
são
na e
du
cação
in
fan
til a p
art
ir d
a e
xp
eri
ên
cia
do
e
stág
io r
em
un
era
do
ças com dificuldades de linguagem e expressão,
como é o caso do aluno observado, devem ser
constantemente estimuladas para que intera-
jam. Na instituição objeto de estudo, a partir
das experiências e observações, é possível in-
ferir que o método estritamente tradicional e
a falta de planejamento são obstáculos para o
desenvolvimento infantil, para a promoção do
protagonismo infantil e, obviamente para a in-
clusão educacional da criança atendida.
Durante as dificuldades de aprendizado
encontradas, percebeu-se a falta de assis-
tência pedagógica da equipe escolar, devido
a uma visão essencialmente assistencialista
da relação estagiária - criança. Devido a essa
visão, algumas atividades lúdicas adaptadas
sugeridas pela estagiaria eram negadas pela
equipe gestora, sempre sob a desculpa de que
os outros alunos também iriam querer realizar
tal atividade, e isso os desviaria, e também a
professora, do planejamento de aula. Com tais
restrições a escola limita o desenvolvimento e
deixa clara sua descrença em relação às po-
tencialidades do aluno.
O posicionamento do pedagogo gestor e
do professor perante o aluno com deficiên-
cia parece expressar uma concepção de que a
manifestação da síndrome prevalece sobre o
indivíduo enquanto pessoa. Nesse caso, é ob-
servado que o modelo médico de funcionalida-
de, em que a condição sindrômica é vista como
característica primária da pessoa, dita suas
potencialidades na sociedade, influencia desde
o tratamento em sala de aula até o planejamen-
to de atividades e adaptação do currículo.
A criança atendida, embora denominada
“de inclusão”, encontra-se à margem da turma,
em um contexto que resistiu à sua presença
desde o momento em que ela foi matriculada.
Em sala de aula, os esforços para atendê-la
conforme suas especificidades são mínimos,
se não inexistentes, com atividades iguais aos
demais ou com menor nível de dificuldade –
ou, ainda, nem são encaminhadas. A falta de
auxílio entre pedagogo - gestor e o professor de
sala de aula, e a dificuldade em se estabelecer
uma ponte de diálogo entre a escola e a família
compromete o aprendizado do aluno em várias
instâncias. Com isso, o desenvolvimento em
seus diferentes níveis (social, cognitivo e afe-
tivo) do aluno são seriamente comprometidos.
De acordo com Brofenbrenner (2011), a escola
constitui um ambiente rico em interações que
afetam diretamente o desenvolvimento huma-
no – quanto mais a criança for estimulada e
quanto mais a escola encorajá-la, melhor será
o impacto causado.
Considerações finais
O presente relato de estágio evidencia ele-
mentos que empobrecem a perspectiva de se
construir ambientes plenamente inclusivos na
educação infantil e a possibilidade de se for-
marem profissionais mais sensíveis às deman-
das da inclusão de bebes e crianças público
alvo da educação especial neste contexto.
A falta de apoio ou referência de profissio-
nais com maior experiência na prática pedagó-
gica aponta para o fato de que estamos longe
de ter na experiência de estágio momentos de
formação prática com alguma qualidade.
Ainda sobre a realização de estágio, perce-
be-se que esta pode gerar crenças equivocadas,
falhando em sua possibilidade de ampliação do
olhar sobre a alteridade humana ou mesmo de
atender adequadamente seus sujeitos.
Do ponto de vista da educação infantil e
dos direitos da criança pequena, este relato
parece inferir que há lacunas também nes-
te aspecto. É imprescindível perceber que a
“criança de inclusão”, é antes de qualquer es-
RE
LA
TO
S
53
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
tereótipo, uma pessoa que necessita de condi-
ções para vivenciar sua infância.
Por fim, propõe-se a ideia de que é funda-
mental entender que o percurso de formação
do estudante de licenciatura, enfaticamente
o de Pedagogia, necessita de momentos em
que tanto a experiência de estágio curricular,
quando o remunerado sejam ressignificados
em conjunto com a formação teórica e inicial
que ocorre dentro da sala de aula. Dessa for-
ma, situações como esta, relatada neste traba-
lho, pode torna-se oportunidade de reflexão e
de construção de uma identidade docente mais
adequada às demandas cotidianas encontra-
das na esfera prática. Assim como pode-se re-
dimensionar as impressões negativas e limita-
das que apenas contribuem para a segregação
e desumanização do atendimento educacional.
De todo modo, espera-se que as reflexões
aqui contidas auxiliem na percepção de que
a universidade deve ser espaço de formação
verdadeiramente crítica, baseada na relação
entre teoria e prática, com vistas a constituir
sujeitos que antes de serem profissionais que
apenas cumprem sua atribuição, sejam pesso-
as cujo senso de humanidade e respeito ao ou-
tro prevaleça.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 9.394, de
20 de dezembro de 1996.
BRONFENBENNER, U. & EVANS, G. Developmental science in the 21st century: Emerging
questions, theoretical models, research designs and empirical findings. Social Development, 9,
115-125. (2000).
CARVALHO, Rosita Edler. Escola inclusiva: a reorganização do trabalho pedagógico. Mediação,
2012.
MENDES, E.G. Educação inclusiva: realidade ou utopia? Apostila produzida para a Mesa-Redonda
do LIDE. São Paulo, SP: USP. 1999.
MENDES, Enicéia Gonçalves. Inclusão marco zero: começando pelas creches / Enicéia Gonçalves
Mendes - 2. ed. - Araraquara, SP; Junqueira&Marin, 2010.
DE VITTA, DE VITTA, S.R. MONTEIRO. Percepção de professor de educação infantil sobre a
inclusão da criança com deficiência. 04 de novembro de 2010.
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Interação social de crianças com Síndrome
de Down na educação infantil. Universidade de São Paulo, 2010.
SAVIANI, D. Escola e democracia. 24. ed. São Paulo: Cortez, 1991.
SOUZA, Nelly Narcizo de. Inclusão escolar da criança pequena com necessidades especiais:
concepções de mães, de educadoras da educação infantil e de professoras do atendimento
educacional especializado. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, 2013.
SOUZA, N. N.; Minetto, Maria de Fátima . O paradigma inclusivo e a educação infantil: qualidade no
atendimento e promoção do desenvolvimento. In: Luize Bueno de Araujo; Vera Lucia Israel. (Org.).
Desenvolvimento da criança: família, escola e saúde. 1ed.Curitiba: Omnipax, 2017, v. , p. 1-22.
Kau
yla
Bre
nd
a P
rossa
k | G
iovan
a A
lve
s Ram
ella
| Ne
lly N
arc
izo
de
So
uza
RE
LA
TO
S
54
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Relatos de uma trajetória discente: do Magistério à Pedagogia
Ruan Lucas Cardoso ValentinGraduando do 4º Ano de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Ecoville.E-mail: [email protected]
Jezuina Kohls Schwanz Doutora em Educação (UFPEL); Pedagoga; Especialista em Memória, Identidade e Cultura Material (UFPEL); Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL); Professora da Universidade Positivo.E-mail: [email protected]
Resumo: Esse trabalho apresenta-se em forma de relato de experiência e tem como principal objetivo evidenciar os percursos discentes rumo à docência a fim de compreender como o habitus estudantil, e posteriormente o habitus professoral vem sendo adquirido durante esse processo.
Palavras-chave: Trajetória discente. Trajetória docente. Habitus professoral. Percurso.
Palavras iniciais
“Ninguém começa a ser educador numa
certa terça-feira às quatro horas da tarde.
Ninguém nasce educador. A Gente se faz edu-
cador, a gente se forma como educador, per-
manentemente, na prática e na reflexão sobre
a prática”. Paulo Freire
A partir dessa citação passo a refletir so-
bre os caminhos que percorri durante minha
formação docente. Entendo que a formação
inicial de professores insere-se em um contex-
to bem mais amplo de formação, a qual traz em
seu processo histórico, os cursos de Magisté-
rio e posteriormente os cursos de Pedagogia.
Minha trajetória discente rumo à formação do-
cente começa assim: tudo teve início com meu
interesse em cursar magistério (Normal Médio)
no final de 2009. Na época eu não tinha conhe-
cimentos amplos de como seria a formação de
professores, mas, sabia que ao término do cur-
so, estaria qualificado para lecionar nas séries
inicias da Educação Infantil e Fundamental I.
Muitos professores, matérias diversas
que nunca havia ouvido falar. Fui apelidado
por uma das professoras, como sendo um dia-
mante bruto da sala que precisava ser polido,
segundo ela, eu não tinha “cara” e nem jeito
de professor, e muitas das outras me pergun-
taram o porquê eu estava ali e se eu era semi-
narista. Logo já me veio à cabeça que não iria
querer ser um professor com o mesmo pré-jul-
gamento que elas. Fui observando a didática de
alguns professores daquele ano de 2010, e já
conseguia enxergar os pontos bons e os que
não me agradavam muito.
Percebi ao decorrer dos meses que os
conteúdos ensinados na teoria, não eram exer-
cidos na prática diária dos meus educadores,
algo que me deixava muito desanimado e por
horas revoltado (diamante bruto). Como sem-
pre tive o pensamento acelerado queria que as
práticas pedagógicas que eram faladas na aula
de didática, realmente acontecessem na ob-
servação da prática docente dos professores,
entender como se aplicava tudo que eles nos
ensinavam. Raramente isto acontecia.
E o tão temido estágio começa
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
RE
LA
TO
S
55
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Em 2011, tive meu primeiro estágio em con-
tato direto com as tão sonhadas crianças, um
estágio de recreação com: músicas, jogos e tea-
tro em turmas de 2° ao 5° ano. Pesquisei, estru-
turei e apresentei, mas, ainda faltava algo para
chegar ao tipo de professor que eu queria ser.
Bem, tudo que aprendia na teoria, fazia
certo sentido na prática, mas isso não era o
bastante, precisava de algo a mais, eu preci-
sava adquirir uma postura e um perfil de pro-
fessor, apesar da pouca idade, como era o que
queria, fazia com muito empenho.
Meus hábitos se assemelhavam a de al-
guns dos meus professores e outros o inver-
so do que eles agiam em sala, sempre ouvia
o que as crianças tinham a dizer e acatava as
sugestões de brincadeiras que gostariam que
fosse realizada. Eu ainda não sabia como era
ser professor de verdade, apenas realizava re-
creação com os alunos, brincadeiras com um
sentido educativo, mas, não era ainda a tão so-
nhada regência de sala de aula, ao mesmo tem-
po que tinha a vontade, o coração batia forte
e acelerava com um medo de não saber como
agir futuramente.
Muitos foram os aprendizados, aperfeiço-
amentos e vivencias naquele ano. Já não tinha
a mesma postura e habito professoral igual
ao ano anterior, também não havia parado de
aprender e desenvolver minha postura como
educador.
Dentro de todas as teorias e preparos
em sala de aula, o que mais me transformava
em professor, eram os estágios, e neste ano o
estágio não poderia ter tido uma vivencia tão
formativa. Um reforço escolar para crianças/
jovens do 6º ao 9º ano do município vizinho,
uma parceria junto a DIREC 24.
Durante os anos de estágio fui me tor-
nando professor sem perceber, melhorando
meu jeito através dos erros, conselhos, ideias,
teorias, visões, observações do que aconte-
ciam ao meu redor e superação do medo de
não conseguir lidar com tudo aquilo que estava
acontecendo.
No ano de 2015 tudo começa a mudar, in-
gresso no curso de Pedagogia, achando que já
era um professor bem qualificado e que sabia
muito do que seria abordado. Entretanto, o
fato de estar morando em outra cidade, outro
estado diferente da cultura e meio social a qual
vivia, muita coisa mudou, é outro contexto so-
cial, e tudo me proporciona uma vivência bem
diferenciada. Logo, isso me fez ver, como é
constante a mudança de hábito sendo e estan-
do em processo formativo para ser professor.
Talvez não seja mudança, mais sim, um novo
olhar, novos conhecimentos que possibilita-
ram a criação de novas perspectivas.
O curso de Pedagogia da Universidade
Positivo, também me proporcionou estágios
durante todos os anos do curso. Começando
pela Educação Infantil, onde mapeamos o es-
paço e observamos como funciona uma escola
que ensina crianças abaixo do 6 anos de idade.
Pude pela primeira vez observar como é a pos-
tura de um professor homem lecionando nes-
sa faixa etária. O carinho com que envolve as
crianças, a maneira como falar, diferenciando
os tons de voz, conforme momentos distintos
na aula. Uma abordagem diferenciada aos con-
teúdos, o olhar atento para perceber a apren-
dizagem dos pequenos.
A partir dos estágios que realizei ao longo
do curso de Pedagogia, pude perceber o que
é a formação do habitus professoral (SILVA,
2005). Fui me constituindo professor com
os aprendizados, a troca de experiência, a re-
lação professor e alunos, o contato em ouvir
as vivencias dos colegas, as leituras dos tão
renomados autores da educação, a inspiração
dos professores de infância e também no olhar
RE
LA
TO
S
56
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
atento dos professores que muito contribuí-
ram para a minha formação.
A troca com professores da Pedagogia,
que já são doutores, me estimulou a ser um
profissional do mesmo nível de conhecimento
e me cativam com o carisma a qual buscam en-
tender cada aluno e as turmas como um todo.
São particularidades que em análise mais pro-
funda em meu íntimo, consigo perceber que,
todos, buscam nos formar professores mais
humanos, para que possamos ter um contato
e interação com os alunos íntimo e formativo
ao mesmo tempo. Uma coisa, não precisa ser
distante da outra, mas sim, serem trabalhadas
juntas.
Considerações finais
Esse breve relato constitui-se em uma
primeira tentativa de refletir sobre minha tra-
jetória discente, como meu habitus estudantil
(SILVA, 2011) foi se constituindo ao longo do
magistério e posteriormente como estudante
de Pedagogia, bem como o meu habitus pro-
fessoral (SILVA, 2005) que vem se forjando du-
rante os meus anos de estágio.
Todas as vivências de observação e regên-
cia que tive ao longo do curso, amadureceram
ainda mais o meu modo de pensar e ser profes-
sor. Constatei ainda mais, que, nem tudo que
queremos e imaginamos para a educação, nos
será permitido totalmente. Em alguns lugares,
terei que reaprender novos hábitos e integrar
os meus conhecimentos e modos de educar,
conforme o local onde estiver a ensinar.
E esse é o tal habitus professoral, encon-
trado nas palavras de Silva (2005), ele é algo
construído com o tempo, com os aprendizados,
as trocas de experiências, a relação professor
e alunos, o contato em ouvir as vivencias dos
colegas, as leituras dos tão renomados auto-
res da educação, a inspiração dos professores
de infância e também no olhar atento dos pro-
fessores que são intitulados mais favoritos ao
longo da formação.
Cada professor tem seu habitus profes-
soral único, e embora perceba semelhanças
entre eles, em um olhar mais atento vejo que
a relação de cada um com seus alunos se dá
de forma diferenciada e única. Isso faz o pro-
fessor ser único em cada escola e turma que
leciona.
Referências
BOURDIEU, Pierre. A gênese dos conceitos de habitus e de campo. In: BOURDIEU, P. O poder
simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 59-73. Tradução de Fernando Tomaz.
SILVA, Marilda da. O habitus professoral: o objeto dos estudos sobre o ato de ensinar na sala de
aula. Revista Brasileira de Educação. 2005.
SILVA, Marilda da. Habitus professoral e habitus estudantil: uma proposição acerca da formação
de professores. Educação em Revista. 2011.
* * *
IND
ICA
ÇÕ
ES
57
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Indicação de filme inspirador
Gabriela BasilioGraduanda do 1º Ano do Curso de Pedagogia da Universidade Positivo, Câmpus Hauer.
Indicação do livro “Filomenos: o cabrito aflito”
Com a frase “Eu vejo você”, a professora
Erin do filme “Escritores da Liberdade”, nos
faz apertar a cadeira de emoção, ela diz essa
pequena frase impactante para um de seus
alunos que julga ser menos do que realmente
é, demostrando que ela está vendo muito além
de sua aparência, do que a sociedade os fazem
pensar que sejam.
Se lermos o código de ética do pedagogo,
ele se encaixaria perfeitamente nessa frase,
mas será que todos aqueles que já se forma-
ram, ou estão se formando, seguem essa linha
de pensamento?
Com a palavra o autor Anderson Novello:
“A inspiração para esta história veio da
observação dos entornos: estamos cada vez
mais ansiosos, agitados, aflitos, desesperados,
em busca de algo que, às vezes, não sabemos
nominar. E as pessoas que nos cercam nem
Todos deveriam
ser um pouco da
professora Erin, ver
muito além do que
está a sua frente,
mostrar oportunida-
des para seus alunos,
que talvez a única
saída que eles vejam
nem mesmo deve ser
considerado uma opção de saída.
Filme assistido no 1º semestre do Curso de Pedagogia na disciplina de Fundamentos da Educação: Aspectos Filosóficos e Pedagógicos, sob a regência da professora Jezuina Kohls Schwanz.
sempre estão com tempo e paciência para ou-
vir nossos lamentos. Às vezes, depois das nos-
sas lamentações, ouvimos apenas um “Ah, bem
menos!”. Esse jargão foi adaptado para o livro,
que conta a história de um cabritinho “dramá-
tico e carismático” que pede ajuda para vários
animais da fazenda e sempre recebe a seguinte
resposta: “Bem menos, Filomenos”. Os animais
parecem estar cansados dos dramas frequen-
tes do cabrito.
Filomenos, o cabrito aflito, foi ilustrado
pela Silvana Menezes, uma artista de Belo Ho-
rizonte que já ganhou o Prêmio Jabuti, um dos
maiores prêmios da Literatura Infantil brasilei-
ra. Foi publicado pela Editora Cortez, de São
Paulo, uma das editoras mais tradicionais do
país. O livro foi lançado oficialmente em Curi-
tiba, dia 22 de setembro de 2018”.
EX
PR
ES
SÕ
ES
58
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Olá! Somos Jovens Rapazes
Estudante desta instituição
Apaixonados pela pedagogia
E por uma boa educação
O ensino escolar
É uma grande paixão
Pois vê a alegria do aprender em uma criança
Para nós, é uma grande satisfação
Caro amigo, preste atenção
Nesta historia que vou narrar
Um fato muito importante
Que quase não ouvimos falar
A presença masculina na educação infantil
Para criança alfabetizar
Isso porque o professor
Que trabalha com criança
Enfrenta barreira diariamente
Com preconceito e desconfiança
Por pessoas preconceituosas
Que não tem respeito e nem tolerância
Maltratam pessoas de bem
Isso por pura ignorância
A educação infantil
Não é uma coisa isolada
Por isso a ideia que só mulher pode ensinar criança
Tem que ser descartada
Qualquer pessoa pode exercer sua profissão
Basta que esteja preparada
Nunca julgue a capacidade de alguém
Ela deve ser respeitada
Sobre este fato
Precisamos conscientizar
Pois quem é que diz que um homem
Não pode uma criança ensinar?
Isso é uma péssima visão
Que alguém vive alimentar
Fruto do preconceito
Que está em todo lugar
Muitos acham que na educação infantil
Só mulher pode ensinar
Comparando o cuidado materno
Mas essa visão tem que acabar
Pois o professor e a professora da educação escolar
Não é cuidador e nem babá
É alguém que exerce a profissão
A qual escolheu trabalhar
Todos os profissionais
Merecem reconhecimento e respeito
Sejam eles homens ou mulheres
Todos tem o mesmo direito
Mas no ensino escolar
Há um grande desrespeito
Dos 3% do sexo masculino na área
Só alguns são bem aceitos
O restante dos 3%
Esbarra-se no preconceito
Isso é o que revela o senso
Que em 2012 foi feito
Seja qual for o gênero
Raça, condição ou nacionalidade
Se tiver formação, pode ensinar criança
Luzinete Rosa da SilvaCordel apresentado durante o VII Fórum de Educação pelos estudantes de Pedagogia da Universidade Positivo.
Cordel: Presença Masculina na Educação Infantil
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
EX
PR
ES
SÕ
ES
59
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Ou qualquer que seja a idade
Todos são capazes
Basta ter responsabilidade
E exercer a profissão com amor
Carinho e sinceridade
Por isso você que é um pedagogo
Um profissional da educação básica
Que se sente excluído
Neste país chamado Brasil
Segue em frente com seu objetivo
Sem se preocupar com o que ouviu
Pois o importante mesmo é o conhecimento
E a formação que você conseguiu
Lembre-se de muitos outros pedagogos
Que para a educação contribuiu
Exemplo Anísio Teixeira
Um homem que para a educação vivia
Um guerreiro nordestino
Que por uma boa educação tudo fazia
Nascido na pequena cidade de Caetité
No interior da Bahia
Homem que respirava
Educação noite e dia
Anísio Teixeira um grande guerreiro
Um excelente profissional
Deu vida nova a educação no Brasil
E no cenário Mundial
De país como Estados Unidos
Espanha e Portugal
Educador da pedagogia contemporânea
Defensor da educação integral
Também não podemos deixar de falar
De outro cara sensacional
Johann Friedrich Herbart
Cara da pedagogia tradicional
Fundador da pedagogia cientifica
E percussor da pedagogia experimental
Que faleceu aos 65 anos
Mas não se sabe o motivo real
Ah! Também não podemos esquecer de dois caras
Que todo aluno amou
Dois professores com muita inteligência
Que por essa instituição passou
E os seus conhecimentos
Conosco compartilhou
Estamos falando de Celso Klammer
E Anderson Novello
Que deixaram ensinamentos com muito amor e zelo
Por isso você homem
Não precisa se acanhar
Se seu sonho é ser pedagogo
Vai em frente realizar
Não preocupe e nem dê atenção
No que os outros vão falar
Venha aqui para a Positivo
Que encontrará seu lugar
São trinta anos de muito ensinamento
E muita historia pra contar
Educação é uma temática importante
Que merece mais discussão
Mas agora chegou a hora
De encerrar aqui nossa participação
Mas em outro momento oportuno
Daremos continuação
Pois nem um profissional
Pode sofrer descriminação
Seja qual for sua raça
Cultura ou religião
Deixamos nosso carinho a todos os professores
Através desses versos
Saúde, força e proteção
É o que pra vocês, a Deus eu peço
Com um forte abraço
Muita perseverança, alegria e sucesso.
EX
PR
ES
SÕ
ES
60
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Qual o herói?
Cassia AkemiGraduanda do 1º ano de Pedagogia do Câmpus Ecoville.
Como mudar o mundo?
Como fazê-lo melhor?
Sem guerra e destruição,
Com mais amor e união.
Qual será a saída?
Onde está o escape?
Onde estão os heróis?
Quem serão os heróis?
Onde está a solução?
A educação é uma opção?
Ou a única opção?
Qual será a salvação?
Qual será o herói?
Razão ou emoção?
Eis a questão.
Será um beco sem saída?
Será a perdição?
Talvez sim,
Talvez não.
Quem será o herói?
Super - homem?
Homem de ferro?
Um livro?
Ou será a educação?
Guilherme Marchiori
Graduando do 1º ano de Pedagogia do Câmpus Ecoville. Poema produzido na disciplina de Fundamentos da Educação: aspectos filosóficos e pedagógicos, sob a regência da professora Jezuina Kohls Schwanz.
Do oprimido ao corrompido
Ainda espero pelo prometido
Corro tanto sem sair do lugar
Para que lutar?
Das mazelas para o carrasco
Porque fui julgado pelo casaco
Nunca tive um norte
Meu caminho é o da morte
Não luto pelo efêmero
Verso em nós o mesmo tempero
Igualdade não é opressão
De você, espero compreensão
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
EX
PR
ES
SÕ
ES
61
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Paulo Freire
Nilson Bispo de Jesus Jr.Graduando do 2º ano de Pedagogia do Câmpus Osório. Caricaturista, chargista, ilustrador e designer gráfico.
PÁ
GIN
A D
O E
GR
ES
SO
62
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
“Fazer Pedagogia na Universidade Positivo foi a melhor coisa que eu fiz. A
pedagogia me preparou não só para atuar em sala de aula, mas me preparou
para a vida! Minha formatura foi em 2012, sou da turma que entrou em 2009.
Já saí daqui concursada. Graças ao empenho dos professores que nos aju-
davam em tudo, a professora Ivana, a professora Liliamar... Atualmente sou
professora concursada da rede municipal de Curitiba, tenho muito amor pela
minha profissão. Levo muito carinho dos anos de curso”.
Morgana Basso - turma 2009/2012
Atualmente é professora da rede municipal de ensino
de Curitiba e mestranda da UFPR.
Recorte da entrevista concedida a professora doutora Jezuina Kohls Schwanz, real-izada no dia 19 de setembro de 2018, como parte do Projeto de Iniciação Científica História e Memória: os 30 anos do Curso de Pedagogia da Universidade Positivo (2018/2019).
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
FO
RM
AN
DO
S
63
Revista Diálogos Contemporâneos | Curitiba | v. 1 | n. 0 | out./jan. 2018/2019
Formandos do Câmpus Ecoville 2018
Formandos do Câmpus Osório 2018