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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia Rachel Alessandra de Oliveira Coutinho Renck Mídia e Medicina Estética: reflexões sobre o corpo que envelhece MESTRADO EM GERONTOLOGIA SÃO PAULO JANEIRO/2016

Primeiras Páginas Dissertação Rachel 1 · verdade, a negação do envelhecimento e da velhice: ai daquele que não anula os efeitos do tempo sobre os corpos, que despreza

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  • Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo Programa de Estudos Ps-Graduados em Gerontologia

    Rachel Alessandra de Oliveira Coutinho Renck

    Mdia e Medicina Esttica: reflexes sobre o corpo que envelhece

    MESTRADO EM GERONTOLOGIA

    SO PAULO JANEIRO/2016

  • Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo Programa de Estudos Ps-Graduados em Gerontologia

    Mdia e Medicina Esttica: reflexes sobre o corpo que envelhece

    Dissertao apresentada Banca Examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia parcial para obteno do ttulo de MESTRE em Gerontologia, na rea da Gerontologia Social, sob a orientao da Prof. Dr. Vera Lcia Valsecchi de Almeida.

    Rachel Alessandra de Oliveira Coutinho Renck SO PAULO

    JANEIRO/2016

  • BANCA EXAMINADORA ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________

  • AGRADECIMENTOS Agradeo a Deus pela vida e por me dar nimo nos momentos de fraqueza. Agradeo Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo pela oportunidade de agregar aprendizados em minha vida. Agradeo CAPES pelo beneficio recebido atravs da Bolsa; foi ela que permitiu que alcanasse os objetivos acadmicos pr-estabelecidos.

    Agradeo minha famlia pela compreenso, carinho, apoio e, principalmente, por acreditar junto comigo que seria possvel chegar at aqui.

    Agradeo aos professores pelas inesquecveis aulas e pacincia em compartilharem seus saberes. Agradeo ao Rafael Quini Arbeche por toda pacincia, dedicao, apoio e profissionalismo. Agradeo aos colegas do Mestrado; sem a contribuio deles nada seria possvel.

    Agradeo minha querida orientadora, professora Vera, pois tudo isso aqui apresentado comeou por ela; alm de ser dona de um conhecimento magnfico, consegue compartilh-lo de maneira extremamente cuidadosa e carinhosa.Tudo foi concebido e concludo com sua ajuda.

    Agradeo a minha amiga Fabiula Moysspois nossa jornada pela aprendizagem foi lado a lado, os dias bons e os ruins tambm. Obrigada AMIGA!

    Agradeo a voc, leitor, por estar buscando em sua pesquisa minha referncia.

  • minha famlia,

    Lara, Everton,Geni e Jos (in memoriam).

  • poca triste a nossa em que mais difcil

    quebrar um preconceito do que um tomo. Albert Einstein

  • RESUMO INTRODUO:O bombardeio que a mdia prope sobre esttica corporal e formas de se vestir, entre outras, acabam impondo padres que constituem, na verdade, a negao do envelhecimento e da velhice. Que ideal de corpo proposto pela Mdia particularmente pela Medicina Esttica para o Envelhecimento e a Velhice no mbito da Sociedade Brasileira Atual? OBJETIVO: Diante do atual culto aos corpos jovens e sarados e da negao dos sinais exteriores da idade investigar, em ambiente virtual, a relao entre Corpo, Envelhecimento e Velhice. METODOLOGIA:Considerando que o lcus da investigao foi a mdia virtual a abordagem metodolgica proposta recaiu sobre procedimentos qualitativos e, mais precisamente, sobre a Anlise de Contedo (AC). Para o levantamento foram utilizados os seguintes buscadores: Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina Esttica. Com estas orientaes no horizonte os dados foram coletados atravs levantamentos na Web (Internet) do que est sendo veiculado sobre o tema. As matrias foram coletadas nos meses de Outubro e Novembro de 2015 cobrindo, portanto, um perodo de sessenta dias. Por sua ampla utilizao e pelos recursos de que dispe na investigao foi utilizada a ferramenta Google. Nela foram selecionadas, para cada um dos buscadores, todas as matrias das cinco primeiras pginas. Ao registro de cada ttulo seguiu-se uma primeira anlise dos contedos veiculados nos sites.Para a Anlise de Contedo foram selecionadas as palavras e expresses mais recorrentes que, presentes nos discursos sobre os buscadores, revelam os significados associados ao tema. RESULTADOS OBTIDOS: Para o buscador corpo, foram levantados 53 (cinquenta e trs). Para o buscador envelhecimento, resultaram em 75 (setenta e cinco) sites. J o buscador velhice resultou em 70 (setenta) sites.Para o buscador medicina esttica foram 76 (setenta e seis) sites. Todos os sites foram submetidos aos critrios de incluso e excluso do estudo. PALAVRAS CHAVE:Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina Esttica.

  • ABSTRACT INTRODUCTION: O bombing that the media offers about body esthetics e ways of dressing, among others, laying patterns that are end. In fact, the denial of aging and old age. That body ideal is proposed by the media particularly for the Aesthetic Medicine for Aging and Old Age within the framework of the Brazilian Society current? GOAL: Against the current cult of young bodies and healed and denial of outword signal of aging, investigate, in a virtual environment, the relationship between body, aging and old age. METHODOLOGY: Considering that scope of investigation was the virtual media the methodological approach fell on qualitative procedures and, more precisely, on Content Analysis (CA). For this survey the following search engines were used: Body, Aging, Old age e Aesthetic Medicine. With these guidelines in the horizon data were collected through surveys on the Web (Internet) of what is being informed about of theme. The materials were collected in the months of October and November 2015 covering, therefore, a period of sixty days. Due to its wide use and the resources available to the research tool was used Google. It was selected, for each of the searches, all the materials of the first five pages. The registration of each title was followed by a first analysis of broadcast content on the websites. For the content analysis the words were selected and the most frequent expressions, present in discourses on search engines, reveal the meanings associated with the topic. RESULTS: For the search body, they were identified 53 (fifty three). For the search aging, they were identified 75 (seventy five) sites. J o buscador Old Age it resulted 70 (seventy) sites. For the search Aesthetic Medicine were identified 76 (seventy six) sites. All sites were submitted to the inclusion and exclusion criteria of the study. KEYWORDS: Body, Aging, Old age e Aesthetic Medicine.

  • 1

    SUMRIO

    PALAVRAS INICIAIS 02

    CAPTULO I: REVISO DA LITERATURA 09

    CAPTULO II: CORPO E SOCIEDADE: REFLEXES 13

    1. 1. O corpo e a Sociedade: incurses histricas 15

    2. 2. O corpo e a Sociedade do Espetculo 20

    CAPTULO III: MDIA E IMAGEM - A BUSCA DO EU 26

    1. 1. A mdia na busca da imagem ideal 29

    2. 2. A Velhice e o eu diante do espelho: imagens distorcidas 36

    CAPTULO IV OBJETIVOS 44

    1. 1. Objetivo geral 44

    2. 2. Objetivos Especficos 44

    CAPTULO V: ABORDAGEM METODOLGICA,

    PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS, ANLISE INICIAL E

    CATEGORIAS

    45

    1. 1. Da Pesquisa 45

    2. 2. Categorias Construdas 48

    CAPTULO VI: ANLISE DOS DADOS 49

    CAPTULO VII: CORPOS QUE ENVELHECEM E MEDICINA

    ESTTICA

    62

    CONSIDERAES FINAIS 70

    BIBLIOGRAFIA 72

    SITES UTILIZADOS 75

  • 2

    PALAVRAS INICIAIS

    Com a idade, uma outra beleza pode fazer brilhar um rosto, uma beleza modelada de dentro.

    Oliver Clment

    A observao assistemtica de pessoas em processo de

    envelhecimento ao meu redor levou-me a certas inquietaes sobre essa

    fase da vida.

    Lembro-me que sempre observava as pessoas mais velhas, com os

    cabelos brancos; sempre as respeitei muito e gostava de ficar prximo,

    como se estivesse cuidando. Uma vez, no dia das eleies, pedi para meu

    tio Marcos votar em um candidato pois ele era velhinho e eu achava que

    ele merecia ganhar as eleies.

    A ateno sobre o cuidado, o cuidar e cuidar-se nos remete aos

    primrdios da humanidade; se no houvesse tais preocupaes a

    humanidade estaria extinta.

    A enfermagem tem no cuidado o maior pilar da profisso;

    principalmente o zelar pelo prximo. Nela desconhecemos origem social,

    raa/cor, orientao religiosa, sexo, idade etc. No entanto, minhas

    preocupaes sempre foram grandes quando o prximo envolve o

    envelhecimento e as pessoas idosas. Foi ento que passei a refletir sobre as

    influncias do meio no processo de cuidar e, principalmente, sobre o cuidar

    de si.

    Dentre as vrias atividades que desenvolvo, minha participao em

    um grupo religioso levou solicitao para que eu assumisse a direo de

    um grupo da terceira idade. Pensei no ser capaz, mas em conjunto com

    outras colaboradoras fomos em frente. Neste perodo desenvolvemos muitas

    atividades envolvendo a cultura, lazer e sociabilidade dessas pessoas.

    Todos participam de algum grupo social ou at mesmo de vrios; as

    informaes nos circundam, as tendncias, nos seus variados sentidos, nos

    cercam. Inconsciente ou conscientemente vivemos nas malhas da rede e,

    atravs dela, diariamente absorvemos muitas informaes.

  • 3

    O bombardeio que a mdia prope sobre esttica corporal e formas

    de se vestir, entre outras, acabam impondo padres que constituem, na

    verdade, a negao do envelhecimento e da velhice: ai daquele que no

    anula os efeitos do tempo sobre os corpos, que despreza dietas e que ignora

    os apelos da indstria da moda!

    A mdia (em seus vrios veculos) tem um papel significativo na

    opinio pblica e na formao de imagens negativas ou positivas sobre

    algum assunto, tema ou mbito da existncia, sendo que prope, no

    poucas vezes, informaes que degradam o envelhecer ou o ser velho.

    So apelos que revelam sob formas renovadas outra negao da

    velhice; que testemunham a manuteno de esteretipos que, de h muito

    estabelecidos, repem um iderio no qual a velhice encontra-se afastada de

    princpios relacionados beleza, produtividade, sexualidade,

    capacidade de estabelecer relaes satisfatrias de trocas sociais e afetivas.

    Apelos que demonstram a manuteno do perverso e pouco confortvel

    lugar do envelhecimento e da velhice na Sociedade Atual.

    KELLNER discute como os estudos culturais deveriam dar mais

    importncia para mdia,

    Por isso, hoje em dia os estudos culturais deveriam discutir como a mdia e a cultura podem ser transformadas em instrumentos de mudana social. [...] preciso dar mais ateno mdia alternativa do que se fez at agora, refletindo-se mais no modo como a tecnologia da mdia pode ser reconfigurada e usada em favor das pessoas. (2001 p. 426)

    Avanando sobre o tema observamos uma supervalorizao do corpo

    jovem, sendo esta uma das caractersticas da Sociedade Moderna.

    Quando falamos de influncias que nos atingem diariamente e por

    vrios veculos quero dizer que a prpria sociedade impe que a vida diria

    parte de um espetculo; quem solicita, redefine e cobra novas informaes

    somos ns mesmos. Assim sendo, fazemos parte de uma sociedade

    pautada na espetacularizao 1.

    1 Definida frente na pgina seguinte (pg.05 e 06).

  • 4

    necessrio que a preocupao com o envelhecimento seja ampla,

    pois as demandas nele presentes so vrias, envolvendo diferentes reas.

    A histria retrata que o olhar sobre o corpo, sobre o que "belo", foi

    sendo modificada, mas o que relevante que sempre houve uma

    preocupao com as mudanas que acompanham o corpo que envelhece.

    Qualquer novo olhar sobre o assunto torna-o mais relevante e

    permeado de tendncias. A importncia dada ao significado do corpo e da

    beleza mostra uma linha crescente e, com isto, o contraponto : o

    envelhecer agrega ao seu significado um grande sentimento de pesar.

    Cabe, portanto, indagar que razes levam s representaes to

    negativas do envelhecimento e da velhice?.

    Em algumas situaes podemos perceber o quanto a velhice tem se

    tornado um problema na vida cotidiana, principalmente quando falamos da

    velhice do eu e no da do outro.

    MESSY assim se refere fala sobre a forma que se v a velhice:

    A imagem da velhice parece uma imagem "fora", no espelho, imagem que nos apanha quando antecipada e produz uma impresso de inquietante estranheza [...], esta inquietao se enche de temor se nossa imagem no espelho no adere mais imagem da memria, mas antecipa uma imagem vindoura, marcada pela velhice [...]. (1999, p. 14 e 15)

    Focalizar o envelhecimento, percebendo as mudanas na vida do

    outro parece mais fcil, pois quando se fala do envelhecimento do prprio eu

    a negao e o medo aparecem de forma marcante. Como afirma MUCIDA

    como no envelhecemos de uma s vez, ainda bem, percebemos o

    envelhecimento muito mais claramente nos outros do que em ns mesmos

    (2009, p. 23).

    Afirmar a espetacularizao da sociedade significa dizer que toda a

    vaidade que circunda o ciclo da vida acaba por nos influenciar e nos afogar

    nos discursos do "tem que ser" e do "tem que ter". Assim, "tenho que ser

    magra, manequim 38 no mximo"; ou ento "se eu no comprar hoje a nova

    bolsa do Louis Vuitton [...]".

  • 5

    dessa forma que acontece com nossa vida, mas nem sempre

    percebemos as mudanas e cobranas que nos so impostas.

    Outra questo compreender o contexto em que estamos inseridos,

    pois a mulher brasileira, a ttulo de ilustrao, tem muito mais quadril do que

    as norte-americanas; dessa forma nem sempre as tendncias apresentadas

    para moda vo ser as mais ideais para ns.

    Outro fator extremamente importante pensarmos no modelo de

    desenvolvimento econmico vigente no Brasil nas ltimas dcadas; modelo

    que favorece uma minoria em detrimento da maioria da populao. Poucos

    so os que se apropriam da maior parte da riqueza produzida; muitos so os

    que vivem a mngua, que lutam cotidianamente para garantir at mesmo o

    alimento do dia a dia.

    Aps todas as influncias geradas pela sociedade que nos cerca,

    uma das reas que cresceu muito, ganhando dimenses antes impensadas,

    foi o da medicina plstica; ela tem desenvolvido incontveis modos de

    interveno sobre as marcas corporais da idade.

    Os paradigmas que cercam as pessoas idosas ficam evidentes nas

    campanhas publicitrias veiculadas pelos meios de comunicao. Nelas o

    que vemos so, via de regra, idosas que no aparentam a idade que tem

    pois usam tal ou qual produto; so homens e mulheres que, apesar da

    idade, mantm um esprito jovem; pessoas ativas e abertas aos novos

    tempos, que envelhecem longe de camisolas e pijamas; que frequentam

    academias e participam ativamente do mercado de consumo (no mais

    apenas de remdios); enfim, mulheres e homens que marcam presena em

    consultrios e clnicas de cirurgies plsticos no para procedimentos

    corretivos ou reparadores relacionados sade, mas para afastar as marcas

    do tempo em seus corpos.

    Longe de negar os benefcios desses procedimentos, no sobre

    eles que recaem nossas preocupaes centrais; o que interessa o

    desenvolvimento da medicina puramente esttica realizada, hoje em dia, de

    forma indiscriminada e considerando apenas a vontade de uma segunda

  • 6

    pele, afastada da que identifica o envelhecimento e a velhice (pelo menos

    na superfcie dos corpos).

    Essa busca incessante pelo o ideal de beleza no algo novo; as

    discusses revelam que essa preocupao secular. Em cada poca,

    algum pensador, filsofo ou pintor influenciou no que era belo naquele

    momento.

    No Brasil, as ltimas dcadas do sculo XX mostraram um aumento

    expressivo das preocupaes com corpo. Inicialmente estas se

    concentravam nos trajes e na maquiagem, mas em meados deste sculo

    (mais especificamente aps os anos 1950) presenciamos uma exploso de

    prticas e procedimentos relacionados aparncia.

    O processo de globalizao, iniciado muito antes nos pases

    desenvolvidos, repercutiu em meados do sculo XX nos pases em

    desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Com ela inaugurou-se uma nova

    viso de mundo; viso certamente influenciada pelas mdias (em todas as

    suas formas) que conectam e fazem circular informaes de forma cada vez

    mais veloz.

    Nota-se novamente como a sociedade impe mudanas nos modos

    de viver.

    Ao lado dos benefcios da nova viso de mundo, verifica-se que a

    globalizao significou, infelizmente, que a informao veiculada pela mdia

    abriga certa manipulao. Conforme SANTOS (2000, p. 41) a informao

    sobre o que acontece no vem da interao entre as pessoas, mas do que

    veiculado pela mdia, uma interpretao interessada, seno interesseira, dos

    fatos.

    MORRIN (2011) discute o pensamento complexo que, de forma

    bastante, sinttica funciona da seguinte maneira: O todo est na parte e a

    parte est no todo, um influenciando o outro.

    Com isso fica mais fcil relacionar nosso tema com a sociedade do

    espetculo que venho discorrendo.

    Depois de algumas reflexes consigo externar o que me levou a

    escrever uma dissertao com esse tema (CUIDAR): a preocupao de

  • 7

    manter meu prximo bem, talvez at a anulao CUIDAR de SI, para

    transferir o CUIDADO ao outro.

    Lendo e relendo a histria traada por minhas escolhas chego sempre

    presena desse CUIDADO que me ronda. Sinto que daqui para frente vou

    estar do outro lado, ensinando o meu semelhante a importncia da

    EMPATIA e do CUIDAR; educando-o para traar sua histria de vida.

    Utilizo-me do pensamento complexo na verdade somos frutos dele

    para, por meio desse estudo poder compartilhar tanto as minhas reflexes

    como as de minha orientadora, deixando no respostas, mas novas

    perspectivas e indagaes sobre o envelhecimento do corpo.

    Que ideal de corpo proposto pela Mdia particularmente pela

    Medicina Esttica para o Envelhecimento e a Velhice no mbito da

    Sociedade Brasileira Atual?

    Responder a esta indagao constituiu o motivo central que levou

    investigao aqui apresentada.

    Para chegar resposta questo formulada essa dissertao foi

    estruturada nos seguintes captulos:

    Palavras Iniciais: nesta parte descrevo alguns dos motivos que

    me levaram ao envelhecimento e velhice transformando-os em

    tema de investigao. Apresento tambm como este tema se

    insere em foi minha trajetria de vida.

    Captulo I. Reviso Terica: como tema afastado de minha

    formao profissional a reviso terica significou percorrer um

    amplo e rico caminho de descoberta de fontes que antes

    ignoradas, abriram novas possibilidades acadmicas e pessoais.

    Captulo II. Corpo e Sociedade: este captulo mostrou-se

    particularmente necessrio na medida em que contribuiu para

    mapear a partir de reflexes prprias e extradas das fontes

    consultadas, o contexto mais geral no qual se insere tanto o tema

    como os objetivos da investigao. Fao uma rpida incurso

    histrica do processo que levou supervalorizao do corpo e da

  • 8

    beleza; enfim, que transformou o corpo em objeto de consumo e

    investimento.

    Captulo III. Mdia e Imagem: este captulo foi elaborado de modo

    a estabelecer um paralelo entre a busca do eu como imagem

    ideal e as influncias da mdia virtual nesta busca. Enfim, um

    confronto muitas vezes cruel entre a imagem refletida no

    espelho e os ditames que regem a beleza, mesmo entre pessoas

    idosas.

    Captulo IV. Objetivos: nesta parte so apresentados o objetivo

    geral e os objetivos especficos sem os quais nenhuma

    investigao pode ser desenvolvida.

    Captulo V. Metodologia: a expresso metodologia foi

    substituda por abordagem metodolgica e procedimento de

    coleta de dados. Isto porque entendemos que metodologia

    significa estudo do mtodo o que seria pretensioso alm de no

    corresponder ao que foi realizado. Assim, o que apresentado

    corresponde opo pela abordagem metodolgica (qualitativa) e

    ao procedimento de coleta de dados.

    Captulo VI. Anlise de Dados: Aqui apresentada a anlise

    feita partir dos resultados da pesquisa, inclusive, dando

    exemplos da web, para que a anlise seja confrontada diretamente

    com os autores que sustentam a pesquisa.

    Captulo VII. Corpos que Envelhecem e Medicina Esttica:

    Ainda fazendo um gancho com os captulos anteriores, neste de

    forma reflexiva, trao caminhos entre a negao da velhice e as

    correes estticas, entre o que belo e o envelhecimento.

    Captulo VII. Consideraes Finais: Aps toda pesquisa, chego

    a algumas concluses, no que eu tenha a verdade plena, mas

    posso deixar algumas contribuies sobre o tema estudado.

  • 9

    CAPTULO I

    REVISO DA LITERATURA

    O futuro preparado com muita

    antecedncia.

    Carl Jung

    Segundo GRIFFA (2008), desde a antiguidade alguns pensadores

    refletiam sobre o envelhecimento, sobre como prolongar a vida e encontrar

    modos e formas de rejuvenescer; paralelamente, muitos autores

    consideravam a velhice como uma enfermidade crnica comum a todos os

    humanos.

    Percebemos ento que a preocupao com a fase da vida em a

    aparncia no juvenil e a pele no lisa abrigam inmeras inquietaes.

    Para Aristteles, a velhice era vista como doena natural; para SNECA,

    uma doena incurvel (GRIFFA, 2008).

    Diante de tanta negao da velhice e de como ela vista e falada

    IACUB (apud, BORDURDELAIS, p. 72) desenvolveu seguinte definio de

    velho: [...] o corpo ancio apareceu como uma curiosidade prxima ao

    monstruoso.

    Entre os sculos XVIII e XIX, com o positivismo, o humano comeou

    ser olhado de forma diferente; retirou-se a essncia, a subjetividade, e deu-

    se espao para a objetividade.

    Tal fato acabou tornando o humano apenas um corpo mudo ou sem

    voz; ao invs de ouvir a fala do doente, olhava-se para os sinais e sintomas

    da doena. O positivismo redefiniu, em muitas reas, a forma de tratar as

    pessoas. Acabou por desumanizar o humano.

    Na triangulao entre o positivismo, a histria e o envelhecimento,

    temos que, j no sculo XX, os especialistas em medicina trataram a

    questo do envelhecimento a partir de um novo conceito: "a velhice como

    doena em si mesma" (IACUB, p. 71). Ou seja, ser velho era ser decrpito!

  • 10

    O positivismo e o discurso mdico regem, at hoje, os achados, as

    informaes e as anlises, sobre a vida e o corpo, dentre todos os outros

    discursos que permeiam o dia a dia de cada pessoa.

    Ser que o processo de envelhecimento e as mudanas que ele

    ocasiona na vida pessoal e na sociedade sempre andam juntos com o olhar

    negativo e pejorativo de pessoas que ainda no chegaram nesta fase

    (velhice) e buscam "tentar escapar" do ciclo natural, inventando e estudando

    mudanas que enlevariam ou deixariam mascaradas as marcas do tempo?

    NERI (2007, p. 33/34) relata que a medicina empenha-se,

    milenarmente, no enfrentamento da nossa intrnseca vulnerabilidade. No

    comeo do sculo XX, a prpria fundao da gerontologia2 foi marcada pela

    divulgao da descoberta de um tratamento que garantiria o retardamento

    da velhice. Uma grande dicotomia passou a ser vivida neste sculo: a

    velhice como finitude X a medicina antienvelhecimento. Na atualidade,

    essa rea fonte de inmeras iluses (e de polpudos lucros).

    Tornamo-nos diferentes medida que recebemos novas informaes;

    a vida regida por inmeros discursos, sejam eles religiosos, de moda,

    mdico, de produtos, de viagens, inclusive as crianas so bombardeadas

    pela mdia na demonstrao de um brinquedo novo, assim a cada dia todas

    essas informaes so infundidas em cada ser e elas aparecem nas atitudes

    vindouras. Cada um se agarra ao discurso que mais lhe agrada e, por vezes,

    torna-o a verdade a seguir naquele momento refletindo, dessa forma e

    incondicionalmente, as palavras que regem a vida quando se fala de

    envelhecimento o medo e a negao aparecem.

    Os discursos mdico e miditico traam um padro para o ser velho,

    pois a velhice tida como doena e morte; na contramo temos a mdia

    veiculando campanhas sobre o corpo jovem a todo custo. MUCIDA comenta

    sobre o tema:

    Vivemos sob a crena do poder da Cincia, dos objetos e das novas tecnologias para tratar todas as adversidades e o

    2Gerontologia, termo usado pela primeira vez por METCHNICOFF em 1903, do grego gero=

    envelhecimento e logia = estudo, a cincia que se dedica a estudar o processo de envelhecimento

    nas suas dimenses gentico-biolgicos, psicolgica e socioculturais (NERI, 2008).

  • 11

    desamparo da vida. Como super-homens e supermulheres somo convocados a sustentar um mundo sem falhas, e isso recai diretamente sobre a cobrana de permanncia de uma velhice sem marcas. (2009, p. 67)

    A importncia que dada e a preocupao demonstrada pela

    sociedade por ansiar uma resoluo para o envelhecimento notvel;

    muitos investimentos so realizados, inclusive na veiculao de

    propagandas e outros recursos da mdia visual para que a sociedade

    mantenha essa aguada busca.

    De acordo com FERNANDES (in ADAMI et. al.; 2003; p. 236),

    devemos reconhecer, a princpio, que a grande mdia disponibiliza dados e

    imagens que podem estreitar vnculos com a sociedade, a poltica e a

    cultura.

    Esses vnculos so modificados a cada dia, a cada nova propaganda,

    a cada novo produto esttico que surge, a cada novo outdoor que

    colocado. Nisto reside minha inquietao: somos o que vemos, ouvimos e

    sentimos; nosso ser social catequizado diariamente sobre as questes que

    envolvem o envelhecimento e aqui que vejo a importncia da investigao

    proposta.

    O que alinhava o trip (envelhecimento, mdia e medicina plstica),

    que sem um o outro no se completa, pois, se no forem veiculadas na

    mdia escrita, televisiva, visual e virtual propagandas que ditam moda,

    beleza e o que voc precisa ter e/ou ser, os consultrios de medicina

    esttica/plstica perderiam seus clientes.

    Entender o processo do envelhecimento e saber realmente o que

    cada pessoa , ou seja, ter uma atitude mais saudvel, realista e positiva se

    mostra fundamental para a aceitao do ser velho.

    Falar sobre envelhecimento envolve falar sobre as mudanas que

    ocorrem na aparncia, no rosto, nas mos, na pele. Principalmente na

    mudana que o espelho mostra sem disfarces.

    A este ttulo, o poema Retrato, de Ceclia Meireles, exemplar:

    Retrato

    Eu no tinha este rosto de hoje,

    Assim calmo, assim triste, assim magro,

  • 12

    Nem estes olhos to vazios,

    Nem o lbio amargo.

    Eu no tinha estas mos sem fora,

    To paradas e frias e mortas;

    Eu no tinha este corao

    Que nem se mostra.

    Eu no dei por esta mudana,

    To simples, to certa, to fcil:

    - Em que espelho ficou perdida

    a minha face?

    (1958, p. 10)

    Esse cuidado demonstrado pelos seres humanos de zelar por si foi

    sendo apresentado de formas diferentes, segundo o contexto e o perodo

    histrico.

    O corpo comeou a ganhar importncia quando a medicina comeou

    a estud-lo. Conta a histria que no sculo XVIII j faziam autpsias, mas

    por barreiras religiosas e morais, no podiam ser relatados. FOUCAULT

    relata: "[...] a medicina s podia ter acesso ao que fundava cientificamente

    contornando, com lentido e prudncia [...] a religio, a moral e obtusos

    preconceitos opunham abertura de cadveres" (1994; p. 141).

    Assim comeou a desmistificao do corpo; de incio, para entender

    seu funcionamento, uma leitura positivista; depois, com o corpo

    transformado em objeto de desejo, pois no se pode negar a sensualidade

    que o permeia, uma leitura subjetiva.

  • 13

    CAPTULO II

    CORPO E SOCIEDADE: REFLEXES

    O que significa seu corpo? Voc o valoriza ou apenas o utiliza como

    objeto de conquistas? Perguntas fceis, mas que nos colocam a refletir.

    Desde que nascemos temos um corpo fsico e dentro dele existe

    nossa subjetividade, pensamentos, sentimentos. Aprendemos a utiliz-lo,

    tanto fsica como psiquicamente, quando bebs, se estamos com fome, s

    chorar e fazer caretas que ganhamos comida.

    Crescemos e a cada dia vamos descobrindo as potencialidades de

    nossa mquina; vem o equilbrio, a fora, controle de esfncteres, alm da

    descoberta da cognio.

    Junto com tudo isso se soma a descoberta das regras, crenas e da

    cultura. Cada um vai receber ensinamentos distintos; algumas regras sero

    iguais, outras no. Despertamos para o viver em sociedade.

    Desse momento em diante cada ser define como e por onde vai

    caminhar, quais decises vai tomar, o que vai seguir.

    O viver em sociedade traz muitos benefcios e tambm malefcios,

    mas como cada ser individual e tem o livre arbtrio, ele dono de si

    mesmo.

    O indivduo, considerando-se dono de si regido por padres

    estabelecidos socioculturalmente e legalmente institudos; trata seu corpo da

    forma como bem quer, sem pensar ou pensando demais, pois existem os

    dois extremos.

    Todos os dias somos expostos a incontveis influncias; algumas

    passam despercebidas, apesar de deixarem marcas. Toda e qualquer

    deciso tomada hoje nos influenciar em algum outro momento vivido.

    Fica um pouco complicado falar sobre sociedade, cultura e corpo, pois

    na era da internet quase invivel recorrer ao passado para tentar

    desvendar os modismos modernos e ps-modernos. Talvez resida nisto

    nossa deciso de tratar desta articulao.

  • 14

    Alm de fsico e psquico nosso corpo tambm social; desde Ado e

    Eva somos influenciados pela sociedade.

    Muito interessante pensar nisso, pois hoje se busca a longevidade

    desde que ela venha coberta de juventude. Nos tempos mais remotos,

    bblicos, quantos no viveram duzentos anos ou mais? O corpo era mais

    forte? As marcas da idade no existiam? Sei que existem perguntas que no

    vou responder, mas tenho a impresso de muita coisa ter mudado.

    Nosso corpo tem sim uma validade; depende de ns mesmos

    escolhermos onde ele pode chegar e de qual forma, a longevidade sim

    possvel, e ela pode ser muito agradvel.

    Tabus sobre o corpo ainda so grandes, principalmente porque ele

    por vezes como corpo ertico e sensual. Apesar de vivermos em uma

    sociedade bem liberal ainda existem paradigmas sociais.

    Muitos dogmas culturais j foram deixados de lado, o que tem

    influncias sobre nosso modo de vida; cada um tem sua responsabilidade

    consigo mesmo e com o prximo. O que anseio para meu futuro decidido

    hoje!

    Vamos percorrer um pouco a histria do corpo e suas influncias

    modernas; vamos, tambm, perpassar o viver em sociedade e tudo que gira

    ao redor disso. No pretendo de forma alguma, esgotar o assunto, mas

    deixo algumas reflexes que tambm me rodeiam.

    A busca no deveria ser por um ideal, mas pelo equilbrio.

  • 15

    1. O CORPO E A SOCIEDADE: Incurses histricas

    "No existe nada que faa mais velha uma mulher, do que procurar desesperadamente

    parecer mais jovem." Coco Chanel.

    Descrever como a valorizao do corpo vista e incessantemente

    discutida falar de uma sociedade que demonstra grande aptido para

    avaliar o que se v e no exatamente o que existe como essncia em cada

    um. FREUD escreveu que,

    impossvel escapar impresso de que os seres humanos geralmente empregam critrios equivocados, de que ambicionam poder, sucesso e riqueza para si mesmos e os que admiram nos outros enquanto menosprezam os verdadeiros valores da vida. (2014, p. 41).

    Partindo do pressuposto que vivemos cercados de CONSTANTES

    interferncias. Desde que nascemos os valores sociais nos so ensinados;

    porm, ao longo da jornada de nossa vida, alguns se perdem, outros se

    transformam e poucos permanecem intactos.

    Transportando tais reflexes para o foco das mudanas que ocorrem

    no corpo, desde que o homem e a mulher foram concebidos no mundo,

    existem muitos mitos que permeiam tal tema.

    Por muitos sculos o corpo foi visto apenas como material de estudo;

    assim foi como a viso positivista o revelou, mas com o passar dos anos,

    novos conceitos e paradigmas foram sendo mostrados.

    Em Corpos de Passagem SANTANNA trabalha com a valorizao do

    corpo. Uma das passagens da obra bastante sugestiva no que tange

    medicina esttica:

    A medicina tem sua contribuio neste caso: os genes so considerados pacotes de informaes, muitos exames mdicos contam com aparelhos capazes de ler o corpo e de traduzir o seu interior em texto e imagem, que pedem interpretaes especializadas. (2001, p. 67)

    Podemos observar que houve oscilaes na importncia dada ao

    corpo, hoje podemos dizer que existe uma liberdade esperada e pouco a

    pouco concedida ao que diz respeito sobre ele.

  • 16

    Nas observaes de MARQUETTI vemos que, ao longo de muitas

    reflexes e discusses sobre o corpo, cada civilizao trouxe suas

    contribuies. Para os gregos no era s carne (sarx), havia tambm alma

    (psyk), respirao ou esprito (pneuma) e mente (nous). Outros povos

    tambm tinham as suas teorias sobre o corpo e a sua identificao. O que

    podemos afirmar que existe o corpo fsico no qual habita um corpo

    subjetivo.

    Recorrendo histria, mas j com novo olhar sobre o corpo, temos

    que as sociedades antigas j demonstravam preocupaes em relao

    beleza do corpo. MARQUETTI descreve o seguinte,

    Um corpo belo, forte, forjado na luta e nos exerccios caracterizava o heri, o comandante, o rei, em suma, o poder. Pensar as relaes do corpo com a sociedade antiga repensar a sociedade hoje. (2014, p. 20, 21)

    Aqui percebemos que existe uma linha bem tnue entre o belo e o

    bom. No contexto geral, o que se diz por bom algo ou aquilo que quero ter;

    um bem que estimula nosso desejo. A diferena fica ntida quando falamos

    sobre o que belo, pois aqui que se ressalta tal dessemelhana: o belo

    no objeto e desejo, mas pode sim ser admirado. ECO escreve o seguinte:

    "Essas formas de paixo, cime, desejo de possuir, inveja ou avidez, nada

    tm a ver com o sentimento do Belo." (2014, p. 10)

    A cada poca e/ou sculo foi socialmente definido o que se entendia

    por belo. Assim, o que poderia ser belo perante o olha do pintor, nem

    sempre o era para o poeta ou escritor. Cada um apresentava sua

    representao da beleza. ECO afirma:

    Sobre essas bases podemos falar de uma primeira compreenso da Beleza que ligada, entretanto, s diversas artes que a exprimem e no tm um estatuto unitrio: nos hinos, a Beleza se exprime na harmonia do cosmo; na poesia, no encanto que faz os homens se deliciarem; na escultura, na apropriada medida e simetria das partes; na retrica, no ritmo justo. (2014, p. 41)

  • 17

    Dialogando com o autor podemos perceber que falar sobre o corpo

    no uma linha reta; que cada lugar, cada civilizao e cada poca tem

    suas consideraes e relevncias ao assunto.

    O corpo sofre muitas interferncias internas e externas; as diversas

    culturas se apropriam do que tem ao seu redor e do que vivenciam para

    valorizar ou no o corpo fsico.

    Sabe-se que o corpo do homem sempre foi um smbolo de virilidade e

    fora; paralelamente, o corpo da mulher normalmente sinnimo de

    sexualidade e erotismo.

    realmente uma tarefa difcil conversar sobre o corpo dentro da

    sociedade, pois cada uma tem sua singularidade e influncias.

    Discutimos a seguir um pouco sobre a sociedade histrica do Brasil e

    sua posio sobre o corpo e a beleza.

    Em 1500, ano da descoberta do Brasil, nossa terra era povoada por

    diversos grupos indgenas que, cada um a seu modo, embelezava e cuidava

    de seus corpos. As pinturas corporais dessas sociedades so repletas de

    ritos e simbologias at hoje estudados.

    Voltando ao ano da descoberta o que mais surpreendia um indgena

    do que se olhar no espelho? Ver sua imagem refletida, o deslumbre de

    poder observar o eu em um novo formato. Essa experincia era to boa que

    os colonizadores conseguiram tudo o que precisavam em troca de tal

    deslumbre.

    Aqui j podemos perceber que desde o incio da colonizao a

    imagem refletida no espelho correspondia forma como culturalmente

    viviam; dizia muitas coisas e coisas importantes para sua poca.

    Dirigindo nosso olhar para os colonizadores, com normas e hbitos

    culturais muito diferentes, temos que eles se depararam com pessoas que

    mostravam seus corpos nus, pintados e enfeitados com penas coloridas. Na

    carta que Pero Vaz de Caminha escreveu sobre as descobertas ele cita

    como eram as pessoas.

    Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. [...] a feio deles serem pardos, maneira de

  • 18

    avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso tem tanta inocncia como em mostrar o rosto.

    3

    Conhecemos bem a histria da colonizao no Brasil e no vamos

    nos fixar nela. Porm, nas palavras de Pero Vaz de Caminha chama ateno

    para a descrio to detalhada da feio dos ndios, da formosura dos

    corpos e o sobre o nariz bem feito. Mostra-nos, portanto, todas as influncias

    europias que estavam por vir, claro que em todos os sentidos, mas aqui

    vamos focar na beleza e na importncia dos corpos.

    Durante muitos anos foi difcil adornar-se no Brasil; os modismos

    europeus no se encaixavam com o clima tropical. SANTANNA relata que

    O vero de 1908 representou um problema para as senhoras ciosas de

    seus penteados complicados e vestidos de tecidos grossos (2014, p. 20).

    Fica evidente que h muito j existiam tais preocupaes com o corpo

    e com as variadas formas de beleza. No s as mulheres deviam estar

    dentro dos padres estabelecidos; os homens se preocupavam em mostrar

    seu refinamento tambm. SANTANNA continua:

    Para os homens, os chapus e as gravatas inglesas, os monculos e os perfumes franceses, os lenos portugueses, os sapatos italianos e os charutos cubanos foram alguns produtos constituintes da aliana entre refinamento e modernidade. (2014, p. 21).

    interessante verificar como as culturas e os conformismos se

    mostravam na trajetria da beleza; sabemos que as pessoas que no

    estavam dentro de certos padres de vestimentas acabavam por situar-se

    fora de qualquer classificao social.

    De acordo com SANTANNA, A deselegncia poderia trazer

    sofrimentos atrozes, mesmo quando a sua definio permanecia vaga ou

    unicamente concentrada nas vestimentas e no porte fsico (2014, p. 30).

    Em cada categoria social existiam marcas especficas sobre prticas e

    costumes. A prostituta poderia se tatuar e utilizar bastante maquiagem j

    3 In: www.biblio.com.br Acesso em 15/12/2015

    http://www.biblio.com.br/
  • 19

    existente no sculo XIX - mas muitas mulheres de famlias nobres no se

    davam a tal luxo, pois era demasiadamente permissivo.

    Todas as influncias vindas eram recebidas diferentemente em cada

    cidade, a exemplo do Rio de Janeiro, de So Paulo, de Curitiba e de

    Salvador. Cidades que no concebiam da mesma forma o p de arroz; em

    algumas delas at criticavam seu uso, inclusive do carmim que coloria os

    lbios. At hoje cada local tem seus odismos e suas influncias regionais.

    COUTO e GOELLNER relatam que:

    O corpo uma proposio a reaver para sustentar uma identidade remanejvel, revogvel, que o indivduo define e redefine segundo sua prpria vontade. Ele se torna descartvel como tantos outros produtos. (2012, p. 23)

    Nem sempre vemos ou queremos ver tal situao, somos frutos do

    meio em que vivemos muitas coisas j se tornam normal e se eu no fizer

    estou fora do nicho social.

    Frente ao exposto cabe indagar de onde surgiram tais modismos e

    preocupaes com a beleza e com os corpos? Quem ou quando fomos

    obrigados a se submeter a determinados padres estticos? Estas questes

    sero abordadas no prximo captulo.

    Entendo que tudo o que ocorreu desde o descobrimento do pas nos

    influenciam at hoje; ainda somos julgados pelo que vestimos, comemos e

    bebemos. Pode-se reafirmar que vivemos dentro de uma sociedade do

    espetculo.

  • 20

    2. O Corpo e a Sociedade do Espetculo

    Como se percebe, o que estabelece a finalidade da vida simplesmente o programa do princpio do prazer. Sigmund Freud

    Na discusso sobre o belo SOUZA identifica trs aspectos para a

    avaliao da beleza: como ns nos vemos; como as outras pessoas nos

    veem; como somos de fato. (2010)

    So questes muito importantes, pois explicita nossa condio de

    atores da sociedade, com papis a serem descobertos a cada novo dia.

    difcil descrever como vamos estar ao despertar, como estar nosso

    subjetivo ao olharmos no espelho, ainda mais com todo bombardear de

    informaes atuais.

    COUTO e GOELLNER relatam:

    Obviamente, toda inteno de si mensurada socialmente pelas proposies oferecidas no mercado da cosmtica em geral, e por presses sociais, e pela maneira com a qual o ator busca livrar-se de apuros [...]. (2012, p. 22)

    Indireta ou diretamente somos fruto do meio em que vivemos;

    atualmente, com toda a globalizao e o imediatismo, temos todas as

    informaes que julgamos necessrias de forma rpida e clara.

    Voltando a MORIN e ao pensamento complexo, cada um de ns

    influencia o meio e este, de algum modo, tambm nos influencia. Com isto,

    somos autores e atores do espetculo em que vivemos.

    Ao longo da investigao realizada para este trabalho o que

    acabamos de afirmar fica muito claro. Quando inserimos a palavra CORPO

    no buscador a maioria de sites relacionados do dicas de embelezamento,

    sade/bem-estar e tonificao muscular.

    Dos cinquenta e trs sites estudados apenas trs de um total de

    duzentos milhes de sites encontrados contemplavam os critrios de

    incluso e assim participaram do estudo.

  • 21

    O eu aparece quase sempre como autor e protagonista; muitas

    vezes somos coadjuvantes, da nossa prpria histria.

    O sujeito ps-moderno e fragmentrio, aprisionado ao fluxo do consumo e aos sinais que ele deixa perceber de si, externamente, carece de interioridade. [..] O corpo se transforma em narrativa pessoal e em programa ajustado, matria prima a retrabalhar ou a conservar para bem corresponder aos episdios das personagens rebaixadas pelo indivduo. (COUTO e GOELLNER, 2012, p. 23)

    Correlacionando as palavras dos autores acabamos por chegar a

    algumas respostas s perguntas mencionadas no captulo anterior: desde

    que sociedades humanas foram formadas cada uma traa, ao longo do

    tempo, seus ideais de convivncia e suas regras.

    Assim tambm ocorreu com os modismos de beleza e com o corpo.

    Houve quem considerasse muito interessante e belo o corpo malhado dos

    homens; houve tambm quem afirmasse que as mulheres deveriam se

    cobrir, pois assim era o costume.

    Por isso somos atores no espetculo da sociedade. O mais

    intrigante que ns mesmos cobramos, de uma forma ou de outra, mais e

    mais inovaes a cada dia.

    Retomando novamente as influncias do sculo XIX SANTANNA

    traa o que rondava os cabelos femininos,

    Desde o sculo XIX. Os penteados femininos foram pouco a pouco se impondo no meio urbano, [...]. Na dcada de 1920, na cidade paulista de Rio Preto, havia o famoso Instituto de Belleza Marcel. Nos saraus do sculo XIX e nos centros urbanos em desenvolvimento no comeo da Repblica, dizer que algum era elegante figurava um elogio importantssimo. (2014, p. 29,30)

    possvel perceber as influncias da realeza nessa poca; tudo era

    simplesmente pautado nas mulheres europeias. Tudo que vinha de fora do

    pas era esplendoroso e necessrio.

    Novamente vemos o pensamento complexo presente; trazendo para

    os tempos atuais, a internet e a globalizao fizeram as viagens de navio de

    dias virarem apenas um segundo.

  • 22

    Antigamente como hoje tambm existiam as pessoas ditas feias,

    pois, por algum motivo, determinou-se social e culturalmente o que seria a

    feiura. Para SANTANNA, escrevia-se sobre os semblantes medonhos.

    Corpos horrveis, mirrados, raquticos, famlicos ou ento balofos e

    excessivamente panudos (2014, p. 31)

    Padres so impostos desde sempre, regras de vida, condutas, o que

    feio ou bonito; mas na realidade o que precisamos levar em conta de que

    forma gostaramos de viver.

    Perceber tais mudanas de pensamento e aceitar o que acontece no

    mundo no uma tarefa muito fcil, especialmente diante de sociedades

    extremamente machistas e permeadas por paradigmas negativos.

    SANTANNA relata que:

    [...] a partir da dcada de 1960, [...] ocupar-se com a beleza fsica j no mais, via de regra, um tabu, o uso de cosmticos no indica necessariamente um carter duvidoso, a cirurgia plstica livrou-se da ameaa de ser considerada um pecado ou um desrespeito obra divina. (2001, p. 68)

    Claro que existem leis que nos regem e que precisamos respeitar,

    inclusive para que possamos estar livres para decidir qual caminho andar.

    Outro ponto importante que todas as nossas decises atuais

    influenciam o que vamos viver no amanh. Dessa forma fica claro que

    existem certos cuidados a tomar quando decidimos compartilhar algum

    modismo ou realizar algum procedimento esttico.

    So muitos os rtulos socialmente colocados nas pessoas; rtulos

    que impulsionam toda uma indstria seja ela da moda, da beleza do

    envelhecimento ou do corpo.

    Fica muito fcil jogar toda a culpa na medicina antiaging ou no culto

    ao corpo jovem; as modelos que vestem nmero 36 so um desastre!!! Mas

    quem cobra toda essa revoluo acaba por ser a mesma sociedade que a

    critica.

  • 23

    Infeliz ou felizmente, nosso modo de vida gira totalmente ao redor de

    um sistema regido pelo dinheiro; nele o consumo padroniza e molda as

    relaes sociais.

    Influncias, principalmente da mdia, apenas reforam esse

    consumismo exagerado, tornando-o cada dia mais recorrente e normal.

    No captulo que se segue apresento outros detalhes sobre o assunto;

    enfatizamos que a mdia e a esttica se aproveitam, por vezes, da queixa

    da sociedade e veicula novas tcnicas e propagandas bonitas para que a

    Sociedade do Consumo ou do Espetculo continuem seu ciclo de eterna

    novidade.

    Nossa inteno no questionar tais meios; , outrossim,

    desmistificar alguns mitos e tabus que giram em torno da beleza e do corpo

    jovem.

    GUILIANO traz a seguinte questo:

    [...] Sempre me motivou a ideia de pensar no que posso fazer hoje para me preparar melhor para desfrutar das prximas fases. [...] No entanto, sempre fiz questo de manter um estilo de vida saudvel. (2014, p. 10)

    Chamo ateno para o fato de vivermos rodeados de informaes e

    nem sempre estarmos atentos com o nosso prprio eu.

    A discusso que COUTURIER traz exatamente essa. Como

    esteticista em Paris lembra que muitas vezes as pessoas que ela cuida

    esto doentes de informao, pois so tantas que nem sempre fica fcil

    corresponder ao ponto que a sociedade est preconizando naquele

    momento.

    Somos todos seres frgeis procurando melhorar. Os traos de um rosto no so importantes, mas sim sua beleza interior. Beleza que continuar a existir sob o olhar dos outros. (COUTURIER, 2004, p. 16)

    Claro que falar sobre o que feio ou bonito extremamente

    complicado. As normas e padres so impostos pela sociedade e pensar

  • 24

    nisso leva-me teoricamente para outro lugar: Constituio Brasileira. Ela

    reza que perante a lei somos todos iguais.

    Fica muito evidente que os padres normativos de beleza e de moda

    se modificam incessantemente ao passar do tempo, NUNES descreve o

    seguinte:

    Nada mais desagradvel para o indivduo do que ficar Fora de Moda, pois tal fato o exclui, de certa forma o exclui, de certa maneira, do crculo do sucesso e tambm, da aceitao social. (2014, p. 49)

    Continuando discutindo o pensamento de NUNES, a palavra moda

    de origem latina e significa modus, e significa modo, maneira, dessa

    forma, fica tambm bem prxima das palavras moral e costume, assim, a

    moda pode ser considerada uma espcie de moral secular, pois exige

    adequao os sujeitos aos seus ditames estticos, excluindo aqueles que

    no conseguem se submeter ao seu crivo normativo.

    Voltamos novamente sociedade do espetculo, pois acabamos por

    viver dentro de padres e normas que incluem ou excluem os indivduos.

    Quando nos arrumamos para sair, ou mesmo para ir at a academia,

    ou buscar nossos filhos na escola, at mesmo para colocar o lixo na rua,

    vem aquele pensamento, Ser que estou bem vestida (o)? Afirmo que todos

    ns j passamos por isso, pois a preocupao com o que os outros vo

    pensar imensa.

    De acordo com NUNES, o que vestimos uma espcie de

    apresentao pessoal perante nossos interlocutores mais prximos e

    perante a coletividade social com a qual convivemos. (2014 p. 50)

    Na era da informao, do imediatismo e da internet todos esses

    padres so rapidamente internalizados pelos indivduos; cada um, em sua

    particularidade, segue a tendncia que mais lhe agrada. Mas raramente

    encontramos indivduos que se abstm da tal dita moda.

    Na era da hipermodernidade - termo utilizado para identificar o

    tringulo mercado-indivduo-tecnologia - o que leva a informao adiante,

    alm da mdia o consumo. A sociedade de consumo gira ao redor da

    vontade cada vez maior de consumir mais.

  • 25

    Para GUARISO o consumo, ao mesmo tempo em que ajuda a afastar

    o desencanto dirio com os problemas, se transforma num motivo de

    ansiedade por conta do excesso de oferta de novidades. (2014, p. 43)

    Aqui percebemos nitidamente que nem sempre os modismos e as

    tendncias nos colocam de frente com a vitrine; h algo muito mais

    subjetivo, mais ntimo, coisas do ego, ou seja, corremos para tratar doenas

    e machucados da alma pelo consumo.

    Surge ento um ciclo que se torna vicioso; tenho informao, preciso

    comprar e logo aquilo j se tornou ultrapassado e preciso do outro.

    Quando imprensa, em suas diversas modalidades ou veculos,

    passou pela censura muitas coisas deixaram de ser publicadas, faladas e

    mostradas, isso com certeza foi muito difcil e ruim para quem se envolvia

    neste tipo de trabalho. Mas o que dizer da imprensa de hoje, livre ou ser

    que existem manipulaes do que pode ou no?

    A realidade que existem tcnicas que estimulam o leitor, comprador

    ou o ouvinte a parar o que est fazendo e voltar sua ateno para a notcia.

    KELLNER relata que:

    Tais imagens simblicas na propaganda tentam criar uma associao entre os produtos oferecidos e certas caractersticas socialmente desejveis e significativas, a fim de produzir a impresso de que possvel vir a ser certo tipo de pessoa. (2001, p. 319)

    A velocidade das informaes e do que tendncia muito rpida;

    na atualidade a internet, como veculo de comunicao muito utilizado,

    torna-se necessria; quem no tem acesso ou no sabe utilizar fica um

    pouco a margem da sociedade.

    Isso sempre ocorreu nas sociedades e culturas. Quem no se lembra

    da poca dos senhores feudais, ou da poca dos penteados volumosos,

    aquele que no se enquadrava ficava simplesmente excludo.

    No captulo seguinte sero aprofundadas as reflexes sobre a mdia e

    suas influncias.

  • 26

    CAPTULO III

    MDIA E IMAGEM

    Face ao futuro que nos espera, nenhuma referncia, nenhuma autoridade, nenhum dogma e nenhuma certeza se mantm. Descobrimos que a realidade uma criao compartilhada. Estamos todos pensando na mesma rede.

    Pierre Lvy

    Gostaria de iniciar essa seo com um poema que faz um link

    com a seo anterior, como tambm introduz o assunto a seguir, do

    professor Z Maria Eldorado dos Carajs:

    Compra-se Compra-se seres humanos

    Calados, domesticados Que no pensem, nem opinem

    Ao serem questionados. Que no vejam, nem escutem Nem sintam-se incomodados.

    Compra-se seres humanos

    Que sejam modernizados Que andem sempre na moda

    Felizes, etiquetados Que propaguem e que convenam

    At os conscientizados.

    Compra-se seres humanos Totalmente desligados

    Que no gostem de poltica E estejam sempre ocupados Que no sejam de esquerda

    E nem sindicalizados.

    Compra-se seres humanos Famintos, desempregados,

    Indecisos, inseguros, Descalos, descamisados,

    Menores, analfabetos, E at informatizados.

    Compra-se seres humanos

    Idosos, aposentados, Jovens e adolescentes

    De preferncia, os drogados Que sumam-se, consumindo,

    Em tempos globalizados!4

    4 In: www.aminimapalavrablogspot.com.br Acesso em 10/01/2016

    http://www.aminimapalavrablogspot.com.br/
  • 27

    O professor Z Maria, teve uma sensibilidade enorme ao escrever tais

    palavras, falando de consumo, globalizao e de educao.

    Podemos refletir de vrias formas ao ler cada verso, inclusive decidir

    qual desses humanos o eu vai aparentar, e por fim descobrir se vamos

    deixar o consumo na globalizao nos comprar.

    No mundo dos livros que estudei, a autora SANTANNA, profunda

    estudiosa na rea da beleza e do corpo, assim foi uma das autoras mais

    utilizadas na pesquisa, ela conta que antes dos anos 50 a publicidade no

    hesitava em descrever detalhadamente os sofrimentos da falta de beleza,

    pois assim a publicidade atrelava feiura a imagem dos produtos

    anunciados, pois esse pretendiam resolver tal problema. (2005, p. 128/129)

    Passado para os anos 60, toda a imagem da mdia foi modificada, e

    agora as imagens e propagandas receberam um olhar diferenciado. A

    imprensa brasileira foi fortemente pautada sob influncias francesas e norte-

    americanas, onde nas revistas as fotos coloridas com chamativos para

    frmulas de beleza era o que a sociedade feminina queria. SANTANNA

    relata que:

    Nas revistas femininas, as artistas de Hollywood fornecem centenas de receitas para beleza confirmando o crescimento da influncia norte-americana na cultura brasileira. [...] os conselhos de beleza adquirem um tom cosmopolita e informal. Paris no mais o nico ou o principal modelo a seguir. (2005, p. 129)

    Logo surgiu uma exploso de novas tcnicas de marketing na

    colorao de imagens e falar do belo e da beleza agora vencia pudores do

    ano anterior.

    A feira e a beleza recebem novas conotaes, a feiura est presente

    naqueles que querem ser feios, e quem recusa o embelezamento denota

    uma negligncia feminina que deve ser combatida.

    Novamente a espetacularizao da sociedade, em momentos somos

    autores da vida e em outros atores sociais.

    As influncias vo e vem, como se fossem ondas, e j estamos

    acostumados com isso. Quando falamos desse vai e vem, podemos usar

    como exemplo os concursos de beleza, inclusive o Miss Brasil. QUEIROZ

    descreve essa situao:

  • 28

    [...] Alm do que, para ter qualquer margem de sucesso no confronto com as demais concorrentes, a representante brasileira, como se sabe, deve atender aos cnones que os organizadores do certame impem s moas que procedem dos mais diferentes pases como candidatas ao ttulo de Miss Universo [...]. (2000, p. 135)

    Ou seja, a busca pela imagem ideal nunca vai ser cessada, pois

    somos todos diferentes, com caractersticas fsicas diversificadas, e ainda

    contamos com a miscigenao das raas, ser mesmo que tem como definir

    o padro do belo?

    QUEIROZ (2000), ainda nos conta sobre uma pesquisa realizada nos

    Estados Unidos, perguntaram populao o que seria uma norte-

    americana bela, muitos fizeram suas ponderaes, um artista foi incumbido

    de desenhar um rosto baseado nos resultados da pesquisa, sabe qual foi a

    imagem ideal? Totalmente desproporcional, disforme. (p. 135/136)

    Esse resultado nos coloca a pensar, provavelmente a beleza est

    presente na feiura e a feiura na beleza.

    Cada um tem seu olhar, tem sua forma de olhar e de compreender o

    que est vendo. O que a imagem ideal para uns, no para outros.

    Talvez a busca incansvel da beleza se acabaria se vssemos em ns

    mesmos o que temos de belo, nossa prpria imagem refletida no

    biopsicossocial.

    Aps essa bela leitura do poema e das palavras introdutrias, vamos

    conversar um pouco sobre a mdia e suas influncias.

  • 29

    1. A Mdia na Busca da Imagem Ideal.

    A graa seria se esquecer, mas a graa das graas seria amar a si mesmo como

    aos outros. Bernanos

    Retornamos alguns sculos e chegamos ao sculo XVII. LIMA nos

    fala do historiador ingls Robert Southey que nunca esteve no Brasil, mas

    que, utilizando documentos guardados por seu tio, pastor anglicano que

    morou em Lisboa, escreveu a primeira histria do nosso pas, que envolvia

    desde o perodo colonial (descobrimento) at a transferncia da famlia real

    portuguesa em 1808.

    A Histria do Brasil foi publicada em trs volumes no ingls, (1810,

    1817 e 1819); em portugus foi publicado em 1862. Trata-se de um

    importante relato at hoje muito til sobre a histria. Em 2010 saiu uma nova

    edio da obra.

    Com esse relato reafirmamos que a comunicao escrita percorreu

    um grande espao de tempo at ser aceita e utilizada para contar histria.

    Antes existiam os mensageiros entre os povos; pessoas (mensageiros) que

    iam correndo de um lado para o outro levando cartas e documentos.

    Pessoas que, caso a notcia no fosse boa, perdiam suas vidas.

    Durante anos a comunicao entre o povo e seus governantes foi

    precria; sempre houve represso da expressividade popular.

    O dono da terra era o comandante da opinio pblica. Infelizmente,

    trata-se de uma situao ainda muito presente.

    Na histria da comunicao e da mdia do Brasil percebemos toda

    essa influncia; principalmente no que dizia respeito aos governos. Qualquer

    notcia precisava estar de acordo com normas pr-estabelecidas.

    O que dizer dos exlios e do regime militar? Os meios de comunicao

    (que hoje tem sido alterado para mdias) sempre ditaram e impulsionaram a

    opinio pblica e a formao de novas tendncias. LIMA relata que:

    A comunicao midiatizada aquela que constitui o espao onde se forma a opinio pblica no escapa hoje da intermediao

  • 30

    tecnolgica. Estudar a mdia, para alm de suas caractersticas de tecnologia, significa, portanto, estudar as condies de construo da comunicao pblica e de formao da opinio pblica.

    5

    Percebemos, portanto, toda influncia que a mdia tem sobre as

    pessoas; as instituies de ensino tambm j trabalham novas disciplinas

    para que seus alunos consigam entender e aprender a forma de incutir

    novas experincias em seu pblico alvo.

    Essa influncia miditica tambm mostra sua influncia quando nos

    referimos aos pases, um de primeiro mundo, outro terceiro, e questes

    diplomticas tambm ficam ao bel prazer de quem tem mais poder.

    Continuando nas reflexes do autor, LIMA apud FREIRE diz:

    O conceito de Terceiro Mundo ideolgico e poltico, no geogrfico. O chamado Primeiro Mundo possui dentro de si e contra si o seu prprio Terceiro Mundo. E o Terceiro Mundo tem o seu Primeiro Mundo, representado pela ideologia dominante e o poder das classes dirigentes.

    6

    Pensando dessa forma, a imagem cultural do Brasil quanto as mdias

    e a potencialidade de voz no so as que mais chamam ateno, porm

    todas essas influncias coloniais vagarosamente esto sendo modificadas, a

    grande amostra disso a globalizao e a abolio de algumas regras que

    permeavam as comunicaes.

    A importncia do trabalho da mdia inegvel; mas percebe-se que

    ela contribui para traar novos rumos para a sociedade.

    Voltamos um pouco poca em que eram utilizadas tintas e penas

    para a escrita, para entendermos melhor a origem da comunicao escrita.

    MIRANDA escreve:

    A linguagem uma habilidade humana tanto quanto a comunicao em sociedade, porm somente com a passagem da linguagem oral para escrita que se tornou possvel comunicao vencer o tempo e o espao. (2007, p. 11)

    5 In: www.cartamaior.com.br/colunistas/180 Acesso: 14/01/2016

    6 In: www.cartamaior.com.br/colunistas/180 Acesso: 14/01/2016

    http://www.cartamaior.com.br/colunistas/180http://www.cartamaior.com.br/colunistas/180
  • 31

    A comunicao oral sempre foi alvo de problemas, pois um fala o

    outro escuta e pode ou no responder, ou responde atravs de gestos ou

    outro movimento, a partir do momento que evoluiu-se para a comunicao

    escrita, as coisas ficaram um pouco mais fceis de serem compreendidas.

    Continuando na discusso de MIRANDA, desde os tempos pr-

    histricos, a prpria natureza ofereceu ao homem possibilidades e materiais

    em abundncia para fazer seus registros, como pedra, areia, barro, madeira,

    casca e folha de rvore, mas de fato a escrita, que foi inventada pelos

    sumrios, em aproximadamente 3.500 a.C. possibilitou ao homem transmitir

    de forma segura e sem alteraes de contedo, o que geralmente

    aconteciam na transmisso oral.

    Percorremos muitos anos evoluindo tais mtodos de comunicao, e

    chegamos na era da globalizao, tecnologia de ponta e internet. SANTOS

    afirma que:

    No se pode dizer que a globalizao seja semelhante s ondas anteriores, nem mesmo uma continuao do que havia antes, exatamente porque as condies de sua realizao mudaram radicalmente. (2000, p. 141)

    Mudanas nem sempre so aceitas e bem vindas, muitas pessoas

    tem receio do novo, quando a era globalizao comeou ganhar fora posso

    imaginar o que aconteceu entre os pases, quero dizer, o susto que muitos

    levaram. Medo do desconhecido.

    Infelizmente para muitas naes essa reforma que a globalizao

    trouxe, ainda no acessvel.

    Toda essa mudana trouxe enormes benefcios; descobertas so

    apresentadas ao mundo dia aps dia. Podemos conversar com as pessoas a

    quilmetros de distncia; em um minuto coloca-se na internet fotos e vdeos,

    publicamos livremente tudo o que quisermos, pesquisamos e nos divertimos

    no ambiente virtual.

    Tudo isso muito bom. Uma sociedade que nunca seria imaginada

    por Pero Vaz Caminha; em sua carta ao rei que, demorou dias navegando

    para que ele pudesse l-la, intrigante pensarmos nisso. Da mesma forma

  • 32

    que veiculam mensagens boas, temos mensagens ruins, e depende de ns

    mesmos o que vamos deixar passar perante nossos olhos.

    A velocidade das informaes e o imediatismo que a sociedade impe

    parecem caminhar de mos dadas.

    A partir de 1930 os anncios brasileiros ganharam outro olhar, mais

    positivo, a direo do olhar do leitor saiu do passado e virou-se

    definitivamente para o futuro. (SANTANNA, 2014, p. 82)

    Como j comentei, as mudanas foram ocorrendo de forma sutil,

    porm rpida em nosso pas, a sociedade foi se moldando e remoldando

    conforme as tendncias externas.

    Muitos assuntos tidos como tabus at ento, comearam a serem

    resolvidos e falados, como o caso da menstruao e doenas do aparelho

    genital feminino, isso vinculados insero da mulher no ambiente de

    trabalho.

    Novamente SANTANNA relata:

    Os conselhos de beleza e a propaganda daqueles anos, ao divulgarem o valor da satisfao de viver, criavam uma aura de felicidade em torno do consumo bem maior do que no passado. (2014, p. 87)

    Ano de muitas mudanas, 1930 foi marcado pela insero da mulher

    no mercado de trabalho e a mdia mostrava isso, de forma positiva. Agora

    podia mostrar a mulher como consumidora, em 1940 os anunciantes

    focaram suas propagandas na indstria da beleza, trabalhando assim os

    desejos humanos e a psicologia do consumidor.

    Para chamar a ateno do consumidor, a publicidade forma sistemas

    textuais com componentes bsicos inter-relacionados de tal maneira que

    apresentem o produto sob luzes positivas. (KELLNER, 2001, p. 318)

    Perceber o que de fato bom fica ao critrio do ouvinte, telespectador

    ou internauta, o papel da veiculao de informaes de mostrar sempre o

    lado positivo da imagem/produto.

    Nesta mesma discusso, COUTO e GOELLNER relatam o seguinte:

    As tecnologias da informao e da comunicao se misturam ao corpo, redefinem finalmente uma condio humana tornada

  • 33

    caduca, que deve doravante telecarregar sua ltima verso para poder continuar sua jornada. Elas alimentam a liquefao do indivduo ps-moderno. (2012, p. 27)

    Para o marketing quanto mais pessoas alcanadas pela propaganda

    televisiva ou outdoors um trabalho que foi bem realizado, uma idia

    magnfica, e para os consumidores de planto uma oportunidade de obter

    certo produto.

    Com a questo da imagem isso fica bem claro, so sempre

    apresentadas pessoas jovens, elegantes, maquiadas, com uma beleza

    exuberante, sem dizer a questo do peso, sempre so as mais magras.

    Sendo assim, incutidas essas imagens em ns, desde crianas, crescemos

    ento percebendo e repudiando quem ou o que no est de acordo.

    Agora percebam que, vou chegar num dos pontos cruciais da

    pesquisa, se somos catequizados durante anos sobre tais assuntos e

    imagens, o que vamos pensar sobre a velhice e todas as mudanas que o

    passar dos anos nos traz?

    Buscamos ver o queremos ser, e se aprendemos que o

    envelhecimento nos revela algo ruim, vamos sempre buscar o mito do corpo

    jovem.

    Durante minha pesquisa, realizada em ambiente virtual, pude

    perceber o quanto de informaes a rede disponibiliza, tudo que o ser

    humano busca est l. Infelizmente, quando tratamos do assunto deste

    trabalho nos deparamos com uma realidade triste, pois apenas reafirmam a

    negao ao envelhecimento e a velhice.

    Ainda que cheguem a falar bem sobre do envelhecer e da velhice, dos

    cento e quarenta e cinco sites que pesquisei, apenas dezesseis deles

    remetem a algo positivo sobre essa fase da vida, o que no deixa de ser

    interessante, pois ns mesmos, atores de nossa vida, construmos a

    comunicao e veiculamos exatamente o queremos ver e ouvir.

  • 34

    7

    Essa imagem pode nos dizer muito, pois cada um enxerga a mesma

    imagem por diversos ngulos, e todos eles esto certos.

    Assim funciona tambm com imagens de pessoas, animais, e outros

    objetos de consumo.

    Entendo que a busca pelo eu, precisa acontecer primeiro dentro de

    ns mesmos, assim vamos conseguir decidir a qual dos discursos que

    rondam diariamente vamos seguir.

    Se espelhar no outro no ruim, mas tentar de alguma forma se

    encontrar no que o outro ou aparenta ser no deve ser o foco.

    O imediatismo social e as informaes praticamente em nossas mos

    principalmente pela internet acabam por nos confundir, exercem cobranas,

    nos fazem pensar que precisamos ser como os outros so. Se estivermos

    bem e vivendo o nosso eu, conseguiremos filtrar tais coisas e nos agarrar

    ao que nos faz bem.

    Lembrando que a trade do consumo mercado-indivduo-tecnologia,

    faz parte de ns, e ns que a criamos, mas no precisamos nos escravizar

    nela.

    Como alvo de consumismo, agora em muitas reas, o envelhecimento

    tido como uma questo de lucro, o turismo com seus pacotes

    7 In: www.diariodaautoestima.com Acesso 11/01/2016

    http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwicjN3utKLKAhWDIJAKHZBcCwoQjRwIBw&url=http://diariodaautoestima.com/home/cada-um-tem-seu-ponto-de-vista-respeite/&bvm=bv.111396085,d.Y2I&psig=AFQjCNH_1K6v6zSPvFR8EtILPQzndKLH6g&ust=1452624138492162
  • 35

    especializados, os inmeros financiamentos e emprstimos consignados, e

    talvez a maior rea da medicina esttica. A dita antiaging.

    A medicina antienvelhecimento cresce cada dia mais. ALMEIDA

    lembra que anteposto ao envelhecimento, o prefixo anti sinaliza polticas

    de identidade que estabelecem padres e fornecem lies de como ser

    velho sem o ser de fato. (2014; indito, s/p.)

  • 36

    2. A Velhice e o Eu diante do Espelho: imagens

    distorcidas.

    Digo o que vejo

    Diderot

    Ao longo do Mestrado em Gerontologia sempre discutamos que em

    muitas culturas e civilizaes a velhice era vista com respeito e venerao;

    tida como sinnimo de experincia, o saber acumulado ao longo dos anos,

    a prudncia e a reflexo eram valorizados.

    Refletindo sobre as duas temporalidades - Cronos e Kairs - sabe-

    se que o primeiro est relacionado com o tempo do relgio, com a

    cronologia, sendo medido por horas, dias, meses e anos ou pelas estaes

    do ano. J o segundo foge de qualquer cronologia; refere-se s experincias

    vividas e socialmente compartilhadas, qualidade destas. A sociedade

    urbana moderna vive, infelizmente, sob a ditadura do relgio; abandonou a

    experincia e introduziu um ritmo acelerado da vida. Os que no o

    acompanham ficam margem.

    Ter uma vida longa desejo de muitos. No entanto e paradoxalmente

    poucos querem ficar velhos. A explicao desta negao fcil: entre ns

    envelhecer significa estar prximo da morte (fsica, social ou simblica).

    Outros apenas lidam com a cronologia, deixando para trs as experincias,

    MUCIDA, escreve:

    [...] vivncias atuais podem despertar com vigor passagens da vida aparentemente apagadas que surgem como se tivessem ocorrido no dia anterior ou fora do tempo. Esses traos que no se apagam do a sensao de que, afinal, o tempo no passou. (2009, p. 15)

    O envelhecimento nem sempre sinnimo de declnio. A idade,

    certamente, se faz acompanhar por mudanas biolgicas e morfolgicas,

    como quando se deixa de ser um beb para tornar-se uma criana e depois

    um jovem, logo um adulto e assim por diante. Envelhecer, no entanto, no

    significa adoecer.

  • 37

    A pele vai perder a elasticidade? Vai, sim. As rugas chegaro e o

    corpo tende a precisar de mais hidratao. Mas o passar dos anos no

    significa que o corao e o crebro, por exemplo, esto prximos do limite

    final.

    Mudanas ocorrem com tudo e com todos; importa saber quais delas

    aceitar ou negar.

    Sobre isso existem inmeras imagens que retratam os ideais esttico-

    corporais em pocas e culturas distintas.

    Na iconografia, as representaes de Vnus nua se alteram com o

    passar dos anos e tempos.

    XXX MILNIO A. C./ Vnus de Willendorf

    8

    8 In: www.infoescola.com Acesso 18/12/2015

    http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjz9_rC1b_JAhXJW5AKHYwKCdEQjRwIBw&url=http://www.infoescola.com/arqueologia/venus-de-willendorf/&psig=AFQjCNFY85Wh6XXDxtBtsWwDjk_BRc5anA&ust=1449231310573014
  • 38

    SCULO IV A. C./ Vnus de Cnido

    9

    Essas duas representaes imagticas permitem perceber diferentes

    concepes do corpo feminino ao longo do tempo.

    1482. Nascimento da deusa de Vnus, Sandro Botticelli

    10

    9 In: pt.wikipedia.org Acesso 18/12/2015

    10 In: www.mundodafilosofia.com.br Acesso 18/12/2015

    http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiC-5PW2b_JAhXCi5AKHWN5CO4QjRwIBw&url=http://cantinhodosdeuses.blogspot.com/2011/03/deusa-afrodite.html&psig=AFQjCNHvEOwnsg3okW9o7TF_jpHQQPONEQ&ust=1449232409947133http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwihquLG27_JAhXFgZAKHUzWAPYQjRwIBw&url=http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Afrodite&psig=AFQjCNHvEOwnsg3okW9o7TF_jpHQQPONEQ&ust=1449232409947133
  • 39

    Nota-se que com o passar doa anos, os artistas foram mudando as

    formas de traduzir o belo, os traos e a colorao da tela, nos chamam

    ateno hoje, imagina o impacto que tinham na poca.

    1538. Vnus de Urbino. Ticiano Vercellio

    11

    1650. Vnus no espelho. Diego Vlazquez

    12

    11

    In: www.renascimentotarauaca.com.br Acesso 18/12/2015 12

    In: www.virusdaarte.net Acesso 18/12/2015

    http://www.virusdaarte.net/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwis5MXv37_JAhXFEJAKHVd_D8gQjRwIBw&url=http://www.gettyimages.pt/detail/ilustra%C3%A7%C3%A3o/sleeping-venus-or-venus-of-dresden-by-giorgione-gr%C3%A1fico-stock/153338922&psig=AFQjCNHTEPH1eokVmmBW2zUeDT1kS9fPnA&ust=1449234075490656http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwj0xLb64L_JAhVEG5AKHRyBAscQjRwIBw&url=http://virusdaarte.net/velazquez-venus-do-espelho/&psig=AFQjCNF9Y4E-gdZQN1Za2pw8TEnPltKNPw&ust=1449234385463840
  • 40

    Todas as imagens dizem a respeito a deusa de Vnus, cada uma

    delas pintada/esculpida por um artista em uma certa poca, vemos a

    evoluo das formas, das cores e dos traos, mas uma coisa nos chama

    ateno, em todas elas o nu sempre estava presente.

    Tambm podemos ponderar que em nenhum dos seu formatos a

    imagem estava incorreta ou errada, pois era assim que cada artista a

    imaginava/sentia.

    Com essa demonstrao de imagens, gostaria de deixar claro que

    cada um tem o seu ponto de vista em relao a algo, quanto ao

    envelhecimento, cada pessoa enxerga como quer, depende de quais

    influncias ela teve.

    Nas prximas imagens, vou tentar mostrar melhor isso, deixando claro

    que no estou dizendo que uma ou outra est correta, e sim o quanto cada

    uma influencia o modo percebemos a velhice.

    13

    13

    In: www.psivelhiceefamilia.wordpress.com Acesso 12/01/2016

    https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjQmZLny6TKAhUJvZAKHXrADWQQjRwIBw&url=https://psivelhiceefamilia.wordpress.com/&psig=AFQjCNHk-IPm29ocK2FtqhrU_LDBCLx4QA&ust=1452698968138899
  • 41

    14

    Cada imagem fala por si s, aqui coloquei os extremos, a primeira de

    duas pessoas velhas brincado, se divertindo, sorridentes, felizes. J na

    segunda, so duas pessoas velhas tambm, mas agora esto tristes,

    dependentes de cadeiras de rodas, com semblante fechado.

    Duas imagens e impactos visuais totalmente opostos, uma (primeira)

    nos deixa alegres e capaz de at nos tirar um sorriso, a outra, nos remete

    realidade e a solido, uma imagem pesada e pode at fazer nossos olhos

    lacrimejarem.

    As duas imagens so realidade no nosso mundo globalizado, onde a

    mdia enleva nossos sonhos e imaginao, agora podemos seguir dois

    caminhos, o de total negao da velhice e assim ter repdio esta fase, ou

    podemos entender que a vida um ciclo, provavelmente vamos passar por

    ele at seu trmino; Quem no passar por todas as fases da vida, significa

    que o trmino chegou muito cedo.

    14 In: www.webmisericordia.wordpress.com Acesso em 12/01/2016

    http://www.webmisericordia.wordpress.com/https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiJgO_qzKTKAhVKgZAKHch3DrgQjRwIBw&url=https://webmisericordia.wordpress.com/2010/11/page/4/&psig=AFQjCNFDtSdtrGHPJgUq_ywAgDa6fAsyvw&ust=1452699293433296
  • 42

    Albert Camus consegue descrever no poema a seguir o que acontece

    em nossa sociedade, a viso negativa que recai sobre a velhice, mas que de

    uma forma ou de outra, todos pensam ser o mais longevo possvel, essa

    dicotomia convive e por vezes passa despercebida no imediatismo vivido

    hoje.

    Envelhecer

    (Albert Camus)

    "Envelhecer o nico meio de viver muito tempo.

    A idade madura aquela na qual ainda se jovem, porm com muito mais esforo.

    O que mais me atormenta em relao s tolices de minha juventude, no hav-las

    cometido... sim no poder voltar a comet-las.

    Envelhecer passar da paixo para a compaixo.

    Muitas pessoas no chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos

    quarenta.

    Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razo, aos quarenta o juzo.

    O que no belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sbio aos cinquenta,

    nunca ser nem belo, nem forte, nem rico, nem sbio...

    Quando se passa dos sessenta, so poucas as coisas que nos parecem absurdas.

    Os jovens pensam que os velhos so bobos; os velhos sabem que os jovens o so.

    A maturidade do homem voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufrua

    quando se era menino.

    Nada passa mais depressa que os anos.

    Quando era jovem dizia:

    vers quando tiver cinquenta anos.

    Tenho cinquenta anos e no estou vendo nada.

    Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.

    A iniciativa da juventude vale tanto a experincia dos velhos.

    Sempre h um menino em todos os homens.

    A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.

    Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam ss.

    Feliz quem foi jovem em sua juventude e feliz quem foi sbio em sua velhice.

    Todos desejamos chegar velhice e todos negamos que tenhamos chegado.

    No entendo isso dos anos: que, todavia, bom viv-los, mas no t-los."15

    O processo de envelhecimento caminha conosco todos os dias de

    nossa vida, para que uma clula se renove, outra precisou morrer. A pele

    trocada permanentemente, os cabelos nascem sem o nosso controle, as

    unhas crescem, dentre outros fatos que ocorrem internamente em nosso

    corpo que no vemos. Para que a vida ocorra, a morte trabalha e assim ao

    contrrio.

    15 In: www.pensador.uol.com.br Acesso em 11/01/16

    http://www.pensador.uol.com.br/
  • 43

    Cada nova imagem e cada procura no que o outro , ou no que ele

    faz, trazem um grande sentimento de vazio, faz com que o eu se perca

    mais.

    Dentre todas as imagens que nos rondam existe uma que pode

    causar o maior impacto, a nossa refletida no espelho. MUCIDA trabalha esse

    tema e descreve assim:

    De repente, em um dia qualquer, numa espcie de sobressalto, de um olhar desavisado, encontra-se no espelho (que no implica necessariamente o espelho real, pode ser atravs do outro, uma foto, um olhar) uma imagem que escapa e na qual o sujeito no se reconhece. (2009, p. 43)

    Esse no reconhecimento de si mesmo causa dor, traz mal-estar,

    sentimo-nos fora de sintonia com o EU e o mundo, por isso para muitos o

    nico caminho a seguir a operao de defeitos.

    Tenho plena certeza que podemos nos inspirar no meu prximo, mais

    no podemos perder o foco que cada ser um ser individual munido de suas

    caractersticas e formas.

    Muito da no aceitao vem do no encontro com o EU mesmo.

    No prximo captulo, falo sobre a revoluo da medicina esttica e

    suas influncias no mundo ps-moderno. Inclusive na cura do

    envelhecimento.

  • 44

    CAPTULO IV

    OBJETIVOS

    1.1. OBJETIVO GERAL:

    Diante do atual culto aos corpos jovens e sarados e da

    negao dos sinais exteriores da idade, investigar, em

    ambiente virtual, a relao entre Corpo, Envelhecimento e

    Velhice.

    1.2. OBJETIVOS ESPECFICOS:

    Levantar na Internet matrias de divulgao relacionadas aos

    buscadores Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina

    Esttica;

    Identificar como so trabalhadas, no ambiente virtual, as

    mudanas corporais relacionadas ao processo do

    envelhecimento e velhice;

    Levantar informaes relacionadas s diversas prticas de

    medicina esttica e ao lugar ocupado pelas correes

    cirrgicas;

    Estabelecer relaes entre os contedos/percepes

    levantados e identificados e o modelo de sociedade em que

    vivemos (Sociedade Moderna/Sociedade

    Contempornea/Modernidade/Ps-Modernidade).

  • 45

    CAPTULO V

    ABORDAGEM METODOLGICA E

    PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

    1. A Pesquisa

    Considerando que o lcus da investigao foi a mdia virtual a

    abordagem metodolgica proposta recaiu sobre procedimentos qualitativos

    e, mais precisamente, sobre a Anlise de Contedo (AC).

    Segundo MINAYO e GOMES (2012, p. 21), a pesquisa qualitativa

    responde a questes muito particulares [...], trabalha com o universo dos

    significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas, dos valores e das

    atitudes.

    BAUER (apud DURANT, 2014, p. 195) explica que:

    Anlise de Contedo assume, por vezes, um carter longitudinal sendo realizada durante um determinado perodo de tempo. Via de regra um tempo maior que um ms. [...] permitindo detectar flutuaes, regulares e irregulares, no contedo, e interferir mudanas concomitantes no contexto.

    Com estas orientaes no horizonte os dados foram coletados atravs

    levantamentos na Web16 (Internet) sobre o que est sendo veiculado sobre o

    tema sugerido. As matrias foram coletadas, para anlise posterior, nos

    meses de Outubro e Novembro de 2015 cobrindo, portanto, um perodo de

    sessenta dias.

    BAUER ainda relata que os materiais clssicos da AC so textos

    escritos que j foram usados para algum outro propsito [...] mas que

    podem, contudo, ser manipulados para fornecer novas respostas ao

    pesquisador. (2014, p. 195)

    Para o levantamento foram utilizados os seguintes buscadores

    (separados): Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina Esttica.

    16

    Significa teia, rede. In: www.significados.com.br Acesso em: 14/01/2016.

    http://www.significados.com.br/
  • 46

    Para a Anlise de Contedo foram selecionadas as palavras e

    expresses mais recorrentes que, presentes nos discursos sobre os

    buscadores, revelam os significados associados ao tema.

    Por sua ampla utilizao e pelos recursos de que dispe na

    investigao foi utilizada a ferramenta Google. Nela foram selecionadas,

    para cada uma das palavras selecionadas, todas as matrias das cinco

    primeiras pginas. Ao registro de cada ttulo seguiu-se uma primeira

    anlise dos contedos veiculados nos sites.

    A partir dos contedos relacionados aos buscadores veiculados pelos

    emissores das mensagens foram definidos os critrios de excluso. Assim

    sendo, foram excludos sites de artigos acadmicos, seminrios, congressos

    e encontros cientficos, ncleos de pesquisa e vdeos, assim como matrias

    sobre envelhecimento no relacionado a seres humanos, bem como

    publicidade de produtos e servios que iniciam e terminam cada uma das

    pginas.

    Para BARDIN (2009) a anlise de contedo de mensagens tem duas

    funes:

    1. Uma funo heurstica:

    A anlise de contedo enriquece a tentativa exploratria, aumenta

    a propenso descoberta; a anlise de contedo para ver o

    que d;

    2. Uma funo de administrao da prova:

    Hipteses sob a forma de questes ou de afirmaes provisrias

    servindo de diretrizes apelaro para o mtodo de anlise

    sistemtica para serem verificadas no sentido de uma confirmao

    ou de uma informao; a anlise de contedo para servir de

    prova.

  • 47

    Na prtica essas duas funes se complementam. BARDIN afirma

    que:

    A anlise de contedo (seria melhor falar de anlises de contedo) um mtodo muito emprico, dependente do tipo de fala a que se dedica e do tipo de interpretao que se pretende como objetivo. No existe o pronto-a-vestir em anlise de contedo, mas somente algumas regras de base, por vezes, dificilmente transponveis. A tcnica de anlise de contedo adequada ao domnio e ao objetivo pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento, exceto para usos simples e generalizados, como o caso do escrutnio prximo da decodificao e de respostas a perguntas abertas de questionrios cujo contedo avaliado rapidamente por temas. (2009, p. 75)

    O registro das primeiras cinco pginas do Google resultou em cinquenta

    e trs sites para o buscador corpo, sessenta e cinco sites para

    envelhecimento, setenta sites para velhice e setenta e seis sites para

    medicina esttica.

    Os resultados coletados na primeira busca por cada expresso

    previamente selecionada foram objetos de uma primeira leitura para

    incluir/excluir. Os sites includos foram analisados com o auxlio das fontes

    terico-analticas disponveis; esta tarefa contribuiu para a construo e

    definio das categorias para anlise de contedo..

    A internet foi escolhida como o veculo de pesquisa por constituir-se na

    ferramenta mais utilizada atualmente; nela circulam de forma instantnea

    toda informao disponvel no momento da busca.

    Segundo BAUER,

    [...] Os mtodos de pesquisa passam por ciclos de moda e de esquecimento, mas a Word Wide Web

    17 (www) e os arquivos on-

    line, [...] criaram uma grande oportunidade para os dados em forma de texto. medida que o esforo de coletar informaes est tendendo zero, estamos assistindo um renovado interesse na anlise de contedo (AC) e em suas tcnicas, em particular em tcnicas com auxlio de computador. (2014, p. 189/190)

    17