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Silvia Castro www.silviacantaeconta.blogspot.com

Primeiro

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Primeiro Livro de Poesias de Silvia Castro, a partir das aulas do poeta Chacal - na Oficina de Poesia - Biblioteca Pública de Botafogo.

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Silvia Castro

www.silviacantaeconta.blogspot.com

Ao Chacal

com suas portas e janelas

Ao Farani53

pela multiplicidade – E Viva a Diferença!

A minha Filha-Flor

porque ela é...

Nasci

- Vai, disse o anjo...

E fui

Acrobata da palavra

Verso e reverso

Mais um gauche na contramão

Latinoamericanosemdinheironobanco

Às vezes olho

Às vezes cisco

Plurisignificando...

Lambendo a vida até a última ponta

Na dança toda de todos os sabores

E sei

Que um dia passo

pra nascer no quando

E ouvir

- Vai!

E simplesmente ir...

Drummoniando

Poemas Kodak: aos pedaços...

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interessante. Você pode posicionar a caixa de texto em

Visão

No Municipal

Sonha a bailarina

Que sobe na ponta

Das Chinelas sujas

rotas

Então

Faz um "pliê"

Agradece

E sorri

Mas ninguém

...

Tatoo

O Tempo

Ceifa

O passar

Das horas

Karioca Hai não Kai

- reescrevendo Adiron –

Diz a puta na praça e palácio

O peso das ancas no tempo

De prazer, vivo

E não fica um bocejo

“Já sei a eternidade: é puro orgasmo”

Solta sobre o corpo

Na dança dos múltiplos sabores

O amor intumesce

E a fonte

É o rio que se abre

Entre o meu e o teu

No prazer que faz água

E jorra

Das profundezas curvas do meu ventre

Ao cume certo do teu membro

Assim

“Vou beijando

A memória desses beijos”

Os versos em destaque foram escritos por Drummond em seu livro “O Amor Natural”.

Saudade

Toc Toc Toc Cadê você? Toc Toc Toc

O tempo levou...

Kodak Urbano

Passeio Público

No Público Passeio

A moça Feia e a

Pecadora

Caminham no

mesmo passo

Atrás dos sapatos

Que toctoctoctoc

Marcam um nemaí

pra ninguém

O Encontro

Nem ontem

Nem amanhã

Duas pontas

Tecendo um fio

Urgente

Na trama

No drama

da vida

Travinha

Atirei limão maduro Na janela do meu bem Passou boi, passou boiada Por que é que ele não vem?

Toada

Tempo

Tua boca, minha língua

Tempo

Meu ventre, tua coisa

Tempo

O Vôo solitário no entre

Tempo

O caminho livre por sobre os pelos

Tempo

Todo tempo do mundo

p

i

n

g

a

Expurgo

Fiz tudo tão certinho...

Não reclamei, botei vestido de renda

Cruzei as pernas com educação

Não cuspi, nem arrotei, refreei todos os gases

Aprendi a dançar, a limpar a boca no guardanapo

A fazer que sim com a cabeça

A só chorar quando ninguém pudesse ver

A fazer o sinal da cruz

A só responder se me perguntassem

A deixar sempre o último biscoito no prato

Mas aí veio você e minha fome aumentou

Meu vestido de renda revelou meus seios fartos

E das pernas cruzadas adivinhastes a pele doce e branca

O sabor de minha saliva te dei pra conhecer

E os cheiros eram perfumes, entorpecentes

Que me traduziam... E dancei nua pra vc

E fiquei de cara, boca suja com todas as palavras pra te enlouquecer

Joguei fora o guardanapo Corei, chorei, me entreguei, me coloquei na cruz

E perguntava sempre mesmo quando não me respondiam

E por rebelar-me no verso, no reverso, expondo todo esse eu

Te assustei, te parti e agora fico aqui

A refazer o meu bordado pra num encanto

Aprender a voar

E fazer tudo de novo de um outro jeito

E você?

Você vai comigo

Naquilo que eu me tornei depois de tanto você...

Noite alta, lua torta, estrada em linha reta, trôpegos até o mar

Isso que vc tem no bolso é um drops ou felicidade? Felicidade

Abraços

Bocas e línguas e mãos e toda a sorte de sabores em meio à

escuridão

Quem disse que dois corpos não poderiam ocupar o mesmo

espaço errou

Erram

Um brinco de pérolas à direita do pedal do acelerador

Enquanto algo muito duro encosta nela: é o freio de mão,

melhor baixar

Recomeça o jogo

O teto é azul, cinza, verde, preto

Num rompante o joelho encosta no pequeno botão

Do rádio

“Quero inventar um você para mim, vai ser melhor quando te

conhecer...”

Os bancos reclináveis armam uma cama de amar

Libertam-se roupas para todos os lados como se o mundo não

fosse acabar dali a pouco... Agora sim

“Olho no olho e flor no jardim”

A cabeça em maresia repousa sobre o volante que grita

Recomeça o jogo

Agora sim, no pequeno espaço o motor arranca a viajem pra

dentro

“O meu amor corre devagar anda no seu tempo que passa de

vez em vento”

Quase lá... Lá... Lá longe, pequenas luzes Vermelhas,

vermelhas, vermelhas... Vermelhas?

Frida

Sol a pino

na metade do céu

Vísceras Abertas

Dali vão brotando todas a cores

Fio Fátuo de dor e susto

Pulsando

Dando a Forma

É Frida

Esperança...

Estrela na estrada traz pro caminho

Presente que reluz

Pra aquecer o que é vivo

Fio dourado do sol, feito caminho de luz

É pra todo menino

Presente pra batucar, pra tecer destino

Tesouro

Encanto que se encontra

É de dentro pra dentro

Feito Esperança que entra pela janela

E a gente nem sabe o que é...

Bairro Chique

Terra à vista! Terra à vista!

No mar de cimento, numa Avenida chamada Brasil, o calor é sempre de 40 graus

Nadando sobre as águas da chuva ou sob a foice dos raios de sol

E sempre se pode fritar uma dúzia de ovos

Porque as árvores se transformaram em sítios de pau e pedra

Não há flores

OlariaBrásdePinaPavunaIrajáPenhaParadadeLucasJardimAméricaViladaPenhaCordovil

No alto da Avenida

Com a cidade acesa

A Subida da Ladeira

O Primeiro Obstáculo:

Atravessar o mar de lixo, num modelo 1000

Então

Dar de frente com a Torre alta adornada por buracos de bala

Só então subir um sem número de escadas

E aÍ sim: ouvir gargalhada de criança

Apertar o cinto e partir para uma viagem imaginária...

Te chamam bairro Chique

No entanto, mais pareces um bairro fantasma

Onde as almas andam como invisíveis para alguns

Embora sejam feitas de sangue, suor e sonhos

Escondida estás sob a face de um Cristo que abraça e sorri

Estás plantada na mesma cidade das Ipanema, das Tijuca, das Santa Cruz

Mas ninguém te vê

Há que te descobrir...

Santa

Pelas sibilantes ruas de pedra

O jovial serpenteia o antigo

O bonde sinaliza

Com surpresa, o vermelho

que suja

Então

Perplexos

O real invade a fantasia

e nos lembra

que há os que lucram

sob o holocausto

Até as pedras sangram

E Santa chora um rio

Um Rio de sangue

Xadrezinho

Vermelho e Branco Frutinha, suquinho,

pãozinho, goiabada

cascão Ela e Ele O Vento Sopra formigas

saúvas por sobre as

coisas O Sol Pinta a pele, deixa

tudo quente O olhar deles é mais

doce do que cuca de banana E S T A M P I D O

O Xadrez se tinge de

vermelho depois que

Ela tomba As árvores, o céu, os

passos, as cutias emudecem naquele

sábado Em pleno Campo de

Santana Amanhã sai no

jornal

Turbante negro no alto do corpo macilento e branco

Sombra preta esconde o olhar azul

A boca à carmim rumina:

chiclete sem gosto num céu sem dentes

Dois peitos fartos brigam com a blusa

De renda

Turquesa

Cinto largo e marrom:

corda que enforca a barriga

faz força pra ela não pular

Impossível

umbigo salta, protubera

A saia vermelha mostra

Fios pretos escorrendo

da calcinha

Combinando com a flor roxa

no cabelo

A perna desenha um caminho

que vai até

O sapato de salto gasto e fino

Até o pé que amassa

a guimba de cigarro

Vagabundo

Perfume ocre

A mão canta pra quem passa

Arcos, ancas, casas, travestis, transeuntes, bêbados,

Os homens armados,

Os desarmados,

Senhoras, velhos, mocinhas descoladas, rapazes de óculos, artistas, mendigos,

Os que esperam,

Os que vão

cão gato cachorro papagaio

No meio da turba

A voz revela, silencia o barulho e canta doce, doce:

“Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim...”

Para o Menino...

“Quando, seu moço, nasceu meu rebento, não era o momento dele

rebentar...”

Todo dezembro nasce o menino

E no Brasil todo dia é dezembro

Os meninos vão se parindo por aí

E é pra eles toda a sorte de presentes

Rapadura pra adoçar a vida

Farinha pra enganar a fome

Psicotrópicos pra embriagar o olhar

Neste natal de todo dia

Seguem os meninos em holocausto

Ao encontro de um destino na Cruz

Enquanto isso, nós do mesmo planeta,

comemoramos,

Festejamos a chegada do amor vivo na

terra dos homens

“Olha aí, olha aí... É o meu guri...”

Dezembro, 2011