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1 PRINCÍPIOS DE CARTOGRAFÍA BÁSICA VOLUME No. 1 (Capitulos 1 a 7) da Série PRINCÍPIOS DE CARTOGRAFÍA Editor – Coordenador: Paul S. Anderson Incluindo Capítulos Traduzidos do Livro Maps, Distortion and Meaning por Mark S. Monmonier

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PRINCÍPIOS DE CARTOGRAFÍA BÁSICA

VOLUME No. 1 (Capitulos 1 a 7) da Série PRINCÍPIOS DE CARTOGRAFÍA

Editor – Coordenador:

Paul S. Anderson

Incluindo Capítulos Traduzidos do Livro Maps, Distortion and

Meaning por Mark S. Monmonier

Ricardo
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Capítulo 8

A TERCEIRA DIMENSÃO EM CARTAS TOPOGRÁFICAS

8.1 INTRODUÇÃO: ALTITUDE, RELEVO E PONTOS COTADOS

Dois dos aspectos mais importantes dentre as

características físicas de uma área são a altitude e o relevo.

A Altitude é o resultado da diferença vertical entre um

ponto de referencia (normalmente o nível de mar) e um outro

ponto objectivo. Isto fornece a cota de ponto, ou seja, sua

altitude acima do nível do mar. Altitude e cota são

independentes da geomorfologia; portanto, uma cota de 800

metros tanto pode ocorrer numa zona plana ou inclinada,

num vale ou num cume. O que importa e a distancia vertical

até o nível do mar. O mapeamento de altitudes e uma das

principais preocupações dos cartógrafos.

Relevo é o resultado da diferença vertical relativa

(altura) entre vários pontos contidos numa área especifica, e

não se refere a altitudes e cotas. Portanto, zonas com relevo

plano ou acidentado podem acontecer tanto nas grandes

altitudes quanto abaixo do nível do mar. É o relevo, e não

tanto as cotas exactas, que é o principal interesse dos

geógrafos e de muitos outros usuários das cartas

topográficas.

Relevo e altitude são distintos, porém bem

interligados e recebem nas cartas topográficas a mesma

representação, a qual e feita por meio de curvas de nível. As

varias outras maneiras de representa-los estão discutidos no

Capítulo 11.

Na pratica, a medição de altitudes de pontos é um

pouco complexa, devido à curvatura da superfície do

planeta; este assunto será tratado no Capítulo 11. Porem,

para o presente capítulo somente é necessário o conceito de

altitude como a simples distância vertical entre um ponto e o

nível do mar.

Os pontos específicos, que possuem suas cotas

medidas, são marcados nas cartas topográficas com o valor

escrito horizontalmente ao lado de um pequeno "X" ou

triângulo, (Ver a Figura 6.5a que mostra um ponto

trigonométrico no rodapé de uma carta topográfica). A

variedade de símbolos indica os diversos métodos de

medição de cotas, cada qual oferecendo certas vantagens e

certo grau de precisão, os quais serão estudados no capítulo

11. Por enquanto, neste capítulo, as cotas são tratadas como

valores bem exactos.

Nas cartas topográficas, as cotas especificas são

encontradas principalmente nos cumes das elevações, em

cruzamentos de estradas, ou em planícies onde existam

poucas curvas de nível. Elas podem expressar qualquer

altitude em metros (ou pés) inteiros.

8.2 CARACTERÍSTICAS DAS CURVAS DE NÍVEL

8.2.1 Introdução

Um dos aspectos mais importantes das

características físicas de uma área é o relevo. São várias as

maneiras de representá-lo e algumas estão discutidas ao final

deste capítulo

A tradição histórica favorece o uso de curvas de

nível para a representação da altitude e do relevo. É

importante notar que estas curvas são apenas um exemplo

do conceito técnico cartográfico de "isolinhas", que são

contínuas formadas de pontos de mesmo valor; no caso do

relevo, os valores são cotas acima do nível do mar medidas

em metros (ou pés). As curvas de nível não são marcadas

no terreno, porém podem ser identificadas e representadas

cartograficamente. Com ligeiras modificações de

vocabulário, as regras a serem apresentadas neste capítulo

para curvas de nível podem ser adaptadas para isóbaras

(pressão barométrica), isoietas (precipitação) isodapanos

(linhas que mostram o total constante de custos industriais)

e muitos outros tipos de isolinhas.

Define-se como curva de nível uma linha traçada

no mapa que representa outra linha imaginária na superfície

da terra situada a uma elevação constante acima ou mais

abaixo de um plano de referência determinado. Se uma

pessoa quisesse andar sobre uma curva de nível não poderia

ir nem para cima nem para baixo; ela sempre andaria num

mesmo nível, até fazer uma volta completa mesmo se

tivesse que dar uma volta completa em um continente.

O plano de referência ou o ponto zero a partir do

qual mede-se as elevações e, portanto, as curvas de nível, é

geralmente o nível médio do mar, que é o ponto equidistante

entre as marés oceânicas mais altas e as mais baixas. Nessa

marca média a costa oceânica pode ser considerada como a

curva de nível de valor zero, a partir da qual se medem todas

as demais.

Estas curvas devem obedecer certas normas a

serem estudadas neste capítulo. Em sua forma mais sucinta,

são resumidas "Dez Mandamentos das Curvas de Nível":

1. Todos os pontos de uma curva de nível têm a

mesma elevação acima do nível do mar.

2. Os dois extremos de uma curva de nível

eventualmente se encontram sem que a linha dessa

curva de nível durante todo o seu percurso se

junte ou atravesse uma outra curva de nível.

3. Curvas de nunca se bifurcam, ou cruzam entre si

(excepto em situações muito especiais de

penhascos, saltos, falhas geológicas profundas,

etc., que merecem símbolos especiais).

Ricardo
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Figura

3

4. Curvas de nível sempre atravessam

horizontalmente declives.

5. O terreno de um lado da curva de nível sempre é

mais alto que o terreno do outro lado da mesma

curva de nível, em outras palavras, a parte alta do

terreno fica sempre de um lado só da curva de

nível. Portanto o lado de dentro de uma curva de

nível "fechada" é o lado mais alto do terreno,

(menos em depressões que tem um símbolo

especial).

6. O lado alto de uma curva de nível é o lado baixo da

próxima curva, isto é, o terreno entre curvas é

mais alto que uma curva e mais baixo que a outra.

7. Hachuras em curvas de nível apontam o lado baixo

da curva. (se usa geralmente para depressões e

penhascos)

8. Quando uma curva de nível é atravessada por uma

estrada, uma caminho, etc., esta estrada tem um

declive para cima ou para baixo.

9. Curvas de nível têm reentrâncias em forma de v

onde são atravessadas por drenagens. (Os "V" são

a expressão horizontal dos pequenos vales de

drenagem).

10. Curvas de nível muito próximas uma das outras

representam declives mais acentuados do que

curvas afastados entre si, quando tiradas na mesma

escala e com as mesmas equidistâncias verticais

entre as linhas.

Figura 8.1 – Exemplo de equidistancia entre curvas de nivel.

8.2.2 Equidistância das curvas de nível

As curvas de nível devem espaçar-se por igual

mediante medidas verticais. A este espaço, ou seja, à

distância vertical entre as curvas de nível, denomina-se

"equidistância" das curvas de nível. Mede-se a equidistância

das curvas de nível (10 metros na Figura 8.1) verticalmentee nunca na direção horizontal. Os cumes das colinas

raramente coincidem com as equidistância das curvas de

nível. Eles frequentemente são indicados mediante elevações

auxiliares conhecidas. Observe que as elevações das três

colinas da Figura 8.2 estão indicadas por essas elevações

auxiliares conhecidas. No mapa elas são marcadas com um

pequeno "X" indicando a altura do ponto.

A equidistância das curvas de nível varia desde

alguns metros em mapas de grande escala e de regiões

relativamente planas, até varias centenas ou milhares de

metros em mapas de pequena escala e de regiões

montanhosas (compare as equidistância nas Figuras 4.5; 4.8;

e 7.22).

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Fig. 8.1
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Fig. 8.2
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Fig. 4.5; 4.8
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e 7.2

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Figura 8.2 - Os espaços horizontais entre as curvas de nível de um mapa indicam o tipo e o grau de declinação

Figura 8.2a - Formações Escarpadas e Formações Suaves

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Fig. 8.2. -
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Fig. 8.2a -

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VISÃO OBLIQUA - Uma pendente que fica menos íngreme (mais inclinada) para cima é uma pendente convexa

VISTA DE MAPA (acima) - Nota-se que as curvas de nível estão mais separadas na parte suave e mais juntas na parte abrupta do decliveVISTA DO PERFIL (acima, baixo)

Quando as curvas são mais próximas

horizontalmente indicam uma diferença vertical em uma

menor distância planimétrica, portanto, uma maior

inclinação do terreno (compare lados A e B na Figura 8.2b).

Além dos declives constantes, há declives que se suavizam

na descida, formando superfícies côncavas (Figura 8.2b).

Por outro lado, a Figura 8.2c mostra declives convexas, nos

quais aumenta a inclinação na descida. O entendimento

destes aspectos facilitará muito a leitura do relevo em cartas

topográficas.

8.2.3 Efeitos de Drenagem

A drenagem de uma região exerce grande influência

sobre as formas de relevo; a água que escorre sobre a

superfície do terreno produz erosão nas rochas menos duras

caracterizando-o por vales e cumes. Os desenhos "B" e "C"

da Figura 8.3 mostram os efeitos da erosão sobre a colina

lisa do desenho "A". Observe que a drenagem faz

"reentrâncias" nas curvas de nível.

Figura 8.3 - A erosão Fluvial está evidente nas curvas de nível

A Figura 8.4 mostra um modelo típico de vale e

cume. Observe que as curvas de nível que cruzam os cursos

d'água formam um "V" cuja ponta está voltada para direção

das cabeceiras, ou seja, para dentro do morro

horizontalmente.

Figura 8.4 - V's e U's nas curvas de nível

As curvas de nível dobram nos vales formando um

"V" cujo vértice é o fundo desse vale encravado em uma

planície ou montanha que é o caso da Figura 8.3.

Nas interfluviais (entre a drenagem), as curvas

normalmente são mais suaves, assemelhando-se à letra "U".

Dependendo da geologia e da climatologia (pluviosidade),

estas formas em U podem ser muito estreitas em zonas

erodidas, ou bastante largas em zonas com pouca drenagem

definida. Portanto as curvas de nível são intimamente

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Fig. 8.3
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Fig. 8.4
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Fig. 8.3
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Fig. 8.2b
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Fig. 8.2b
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Fig. 8.2c
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Fig. 8.4 -

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relacionadas com o meio ambiente, e podem informar o leitor

sobre várias características da região.

8.2.4 Depressões

Quando uma curva de nível leva pequenos traços

(chamados hachuras) que a circundam toda pelo lado de

dentro, ela indica uma baixada fechada ou depressão, ou seja

um lugar inteiramente circundado por terreno mais alto que

ele. O símbolo cartográfico é denominado "curva de nível de

depressão". A Figura 8.5 mostra duas depressões profundas

J e K.

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Fig. 8.5
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Fig. 8.5

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Quando a depressão está no cume de uma colina,

(como a cratera de um vulcão) a primeira "curva de nível de

depressão" (a mais alta) está a mesma altitude da curva de

nível normal mais alta, que rodeia a depressão (observe J na

Figura 8.7) onde a primeira curva de nível da depressão (a

mais alta) tem uma elevação de 180 metros.

O terreno entre a curva de nível de depressão de

180 e o da curva de nível normal de 180 tem mais de 180 m

de altitude, porém menos de 190. As curvas de nível de

depressão dentro da baixada diminuem proporcionalmente à

equidistância existente entre as curvas de nível. O fundo da

depressão encontra-se a 163 metros de elevação, segundo

indica a elevação auxiliar.

A depressão K não está num cume, portanto está

entre duas curvas normais, uma mais alta que a outra. Neste

caso, a primeira curva de depressão tem o mesmo valor

normal inferior, como se vê no perfil (Figura 8.5c)

Na Figura 8.5a local L é uma pequena baixada que

pode ser definida como um ponto baixo na linha do cume da

montanha entre J e M. Portanto não é uma depressão e não

leva hachuras.

Quando há uma elevação dentro de uma

depressão, a primeira curva de nível que indica um pequeno

monte ou colina leva hachuras em seu exterior, e tem o

mesmo valor que a depressão na qual está localizada.

Por exemplo a curva de nível de depressão na Figura

8.6 está a uma elevação de 230 m. Dentro da depressão há uma

colina com uma curva de nível de 230 m com hachuras em sua

parte externa, indicando assim uma elevação no terreno. O

terreno entre a curva de nível normal de 230 m e o da curva de

nível de depressões é mais alto que 230 m, porém mais baixo

que 240 m. As curvas de nível dentro da base da colina

aumentam proporcionalmente à equidistância das curvas de nível

existentes, que neste caso é de 10 m.

Observa-se que neste caso há três (3) curvas com

a mesma altura de 230 m, para interpretar melhor as curvas

de nível dentro das depressões é bom recordar que todas as

hachuras seguem na direção da base da colina.

Figura 8.6a - Simbolo para uma colina numa depressão

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J e M
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Local L
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Fig. 8.5a
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Fig. 8.5c
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Fig. 8.7
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Fig.
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8.6

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Figura 8.6b - Símbolo para uma colina numa depressão

8.2.5 Valores e variações de curvas de nível

Geralmente, cada quinta curva de nível a partir da

de valor zero é indicada por uma linha mais grossa que o

usual. Esta linha é denominada "curva de nível mestra" ou

"índice" e tem um valor que é múltiplo de cem.

No caso de equidistância de 40 metros, as curvas

índices são de cotas de 200, 400, 600 metros de altitude, ou

seja, múltiplos de 200 (5x40 m). Isto é o normal para as

cartas topográficas brasileiras na escala 1:100.000. Na escala

de 1:50.000 com equidistância de 20 metros, as curvas de

mestras são de cem em cem metros.

As curvas de nível situadas entre as curvas de

nível índice são chamadas "curvas de nível intermediárias"

(Figura 8.7).

As curvas de nível índice ajudam na leitura das

elevações, proporcionando maior rapidez na identificação

do valor da curva e geralmente são fornecidos os valores das

elevações da mesma. São escritos "dentro" (ao lado da

curva) da linha, em contraste com os valores dos pontos

específicos com suas cotas escritas horizontalmente (Leste -

Oeste) ao lado do "X" do ponto.

Por convenção, quase sempre se escreve o valor

de da curva em tal posição para que o leitor fique vendo

para cima da colina quando ler a cota, mesmo se for

necessário girar a carta para ler o número direito

Figura 8.7a - Curvas de Nível Indice e Intermediárias

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(Fig. 8.7).
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Fig. 8.7a -

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Figura 8.8a - Curvas de Nível Suplementares

Figura 8-8b - Curvas de Nível Suplementares

As curvas de nível devem espaçar-se de tal forma

que demonstrem da melhor maneira o contorno do terreno.

De vez em quando é necessário prover uma equidistância de

uma curva de nível que demonstre uma variação nas

elevações dentro da equidistância da curva existente. Este

tipo de curva de nível é denominada "curva de nível

suplementar" ou "auxiliar". Observe a Figura 8.8 onde as

colinas pequenas, que tem uma equidistância menor que os

20 m normais, foram indicados mediante linhas pontilhadas

para curvas de nível suplementares . A depressão no canto

sudeste foi melhor representada com a adição da curva de

nível suplementar "menos 10 m". A curva de nível

suplementar de 10 metros que circunda a base da colina

principal indica claramente ao leitor do mapa onde se efectua

a separação entre planície costeira e as colinas de maior

elevação. Outras curvas de nível suplementares de 30 e 110

metros mostram as mudanças de declives que não foram

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Fig. 8.8
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Fig. 8.8a -
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Fig. 8.8b -

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indicadas pela equidistância das curvas de nível

anteriormente existente.

Os elementos que foram criados pelo homem

exigem frequentemente símbolos especiais, dos quais estão

indicados na Figura 8.9. Observe a estrada que foi construída

através do terreno montanhoso. Contudo, ela varia menos de

20m em toda a sua extensão. Isso foi conseguido fazendo-se

correntes ou colocando aterros nos locais apropriados.

Locais P, R e T estão onde se fez aterros para que a estrada

permaneça no nível. Foram feitos aterros nas partes baixas

com esse mesmo propósito. Observe os símbolos

convencionais que indicam um aterro na estrada. Todas as

curvas de nível, excepto as mais baixas, desaparecem não

apresentam continuidade ao chegar no aterro. O restante dos

símbolos indica-se por hachuras, lembre-se que eles vão na

direção da base da colina. A depressão feita artificialmente

no lado oposto do aterro se indica como uma bacia regular,

excepto a parte que está localizada ao lado do aterro, onde

somente estão presentes as hachuras que simboliza. O

Ponto Q indica corte vertical o que equivale a dizer que foi

retirado parte do terreno para que o caminho permanecesse a

uma elevação constante.

Observe que todas as curvas de nível que

simbolizam o corte unem-se em única linha curva

sustentadora (Q) a qual indica uma escarpa vertical ou, neste

caso, um corte quase vertical. Ponto S indica um corte,

porém não tão íngreme como o de B' e já é possível

desenhar cada curva de nível individualmente. As curvas de

nível retas igualmente espaçadas indicam o local onde se fez

o corte.

Figura 8.9 - Relevo

com influência

humana (a, b)

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Fig. 8.9
Ricardo
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Fig. 8.9-