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1

ARMIN FRANZ ISENMANN

PRINCÍPIOS QUÍMICOS

EM PRODUTOS

COSMÉTICOS E

SANITÁRIOS

Timóteo - MG

2018

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Isenmann, Armin Franz

“Cosméticos sob o olhar do químico” / Armin Franz Isenmann - Timóteo, MG :

2012. 1a Edição

2014. 2a Edição

A partir de 2015:

“Princípios Químicos em Produtos Cosméticos e Sanitários” / Armin Franz Isenmann -

Timóteo, MG

2017. 3ª Edição

Última revisão em 2018; 295 páginas.

Bibliografia

ISBN 978-85-913050-5-6

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Todo mundo usa -

todos os dias!

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1 Objetivos deste livro no âmbito dos cursos técnicos de

química, farmácia e áreas afins.

Este livro descreve as reações químicas e os processos da fabricação de sabão, detergentes e

outros princípios sanitários e mostra quais as formulações dos produtos de limpeza e higiene

pessoal que nós usamos no dia-a-dia. Além disso, fornece muitas formulações caseiras destes

produtos, por vários motivos:

Aplicar os conhecimentos sobre as funcionalidades dos componentes em produtos

cosméticos,

Incentivar o aluno a produzir algo de valor e utilidade, através do qual desenvolve

espírito empreendedor,

Facilitar a comparação entre os produtos caseiros e industrializados, tanto no preço

quanto aos efeitos.

Despertar interesse e abrir perspectivas para um futuro profissional com a própria

fábrica.

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Conteúdo

1 Objetivos deste livro no âmbito dos cursos técnicos de química, farmácia e áreas afins. . 4

2 Aspecto econômico da indústria cosmética ..................................................................... 14

2.1 Insumos do setor HPPC ............................................................................................. 16

3 Classificação dos cosméticos ........................................................................................... 18

4 Cosméticos - seus poderes e suas restrições legais .......................................................... 19

5 Quem conhece sua pele? .................................................................................................. 21

5.1 A pele - nosso maior órgão ........................................................................................ 21

5.1.1 Composição química dos triglicerídeos ............................................................. 25

5.1.2 Ceramidas da nossa pele e seu papel em produtos cosméticos .......................... 31

5.1.3 Esteróis contidos na gordura da pele .................................................................. 31

5.1.4 Esqualeno ........................................................................................................... 32

5.2 Suor ............................................................................................................................ 32

5.3 Disfunções da pele humana - acne............................................................................. 33

5.3.1 Desenvolvimento clínico da acne vulgaris ......................................................... 33

5.3.2 Como os cosméticos podem ajudar? .................................................................. 34

5.4 Envelhecimento da pele ............................................................................................. 36

5.5 Caracterização objetiva da pele humana.................................................................... 37

5.6 Permeação e penetração cutânea por substâncias ativas............................................ 38

5.7 Problemas acerca do cuidado da pele ........................................................................ 39

5.7.1 Limpeza da pele, conforme as diferentes regiões corporais. .............................. 40

6 Creme de pele ................................................................................................................... 41

6.1 Partes funcionais em produtos aplicados na pele ...................................................... 41

6.1.1 Ingredientes típicos em cosméticos para a pele.................................................. 42

6.1.2 Veículos usados nos produtos cosméticos para pele .......................................... 43

6.1.3 Muito grosso ou muito ralo? A reologia dá a resposta. ...................................... 45

6.1.4 Estrutura física do creme comum: a emulsão ..................................................... 46

Ceras auto-emulsionantes ............................................................................................. 47

6.1.5 O papel dos aditivos emolientes em cosméticos tópicos .................................... 47

6.1.6 Sobre os óleos usados em cremes ...................................................................... 48

6.1.7 Lanolina, o aditivo emoliente preferido em cosméticos tópicos ........................ 50

Produção da lanolina .................................................................................................... 50

Composição da lanolina ............................................................................................... 50

Aplicações da lanolina e seus derivados em cosméticos .............................................. 51

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6.1.8 Agentes umectantes ............................................................................................ 52

6.1.9 Conservantes em cremes .................................................................................... 52

6.1.10 Formulação típica de um creme hidratante diurno: ............................................ 53

6.2 Compostos ativos nos cosméticos da pele ................................................................. 53

6.2.1 Vitaminas e sua aplicação tópica........................................................................ 53

A família dos retinóides, vitamina A............................................................................ 54

Vitamina B ................................................................................................................... 56

Vitamina C ................................................................................................................... 57

Vitamina E .................................................................................................................... 58

6.2.2 Hidroxiácidos ..................................................................................................... 59

Alfa-hidroxiácidos ........................................................................................................ 59

Beta-hidroxiácidos ....................................................................................................... 60

6.2.3 Alcoóis e terpenos com efeito benéfico ou terapêutico ...................................... 61

6.2.4 Novo astro no céu dos cosméticos: o ácido hialurônico .................................... 61

6.3 Cada vez mais importante: Protetor Solar ................................................................. 62

6.3.1 Proteção por absorção ....................................................................................... 64

6.3.2 Absorventes de UV usados em cosméticos ........................................................ 65

6.3.3 Mecanismos de absorção da radiação UV .......................................................... 67

6.3.4 Bloqueadores solares .......................................................................................... 70

6.3.5 Filtros UV em formulações cosméticos e o fator FPS ....................................... 72

6.4 Antioxidantes ............................................................................................................. 73

Vitamina C ................................................................................................................... 76

Glutationa ..................................................................................................................... 77

Vitaminas A e E ........................................................................................................... 77

Metais como catalisadores da foto-oxidação ............................................................... 80

6.4.1 Antioxidantes lipofílicos e hidrofílicos .............................................................. 81

6.5 Cosméticos para corrigir manchas na pele (discromias) ........................................... 83

6.5.1 Bronzeador de pele ............................................................................................. 84

7 Produtos de limpeza ......................................................................................................... 87

7.1 O processo de lavagem sob a luz da termodinâmica ................................................. 87

7.2 Sabão tradicional ....................................................................................................... 90

7.2.1 História do sabão ................................................................................................ 90

7.2.2 Produção de sabão .............................................................................................. 91

7.2.3 Aspectos mecanísticos acerca da produção de sabão a partir de gordura .......... 92

Saponificação do éster sob catálise básica ................................................................... 93

Saponificação sob catálise ácida .................................................................................. 94

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7.3 Detergentes sintéticos ("Syndet") .............................................................................. 96

7.3.1 Detergentes aniônicos......................................................................................... 96

Sulfatos de monoalquila ............................................................................................... 96

Sulfonatos de alquilbenzeno ......................................................................................... 98

7.4 Outros tipos de detergentes sintéticos...................................................................... 100

7.4.1 Detergentes catiônicos ...................................................................................... 100

7.4.2 Detergentes zwitteriônicos e betaínas .............................................................. 101

7.4.3 Detergentes não iônicos.................................................................................... 103

7.4.4 Discriminação dos syndets, conforme caráter hidrofílico da sua cabeça ......... 104

7.5 Vista geral sobre os detergentes sintéticos .............................................................. 104

7.6 Comparação entre detergentes sintéticos e o sabão tradicional ............................... 106

7.7 Limpeza da pele humana ......................................................................................... 107

7.8 Sabão em pó e o processo de lavar roupa ................................................................ 107

7.8.1 Ingredientes principais do detergente em pó .................................................... 112

7.8.2 Aditivos no detergente em pó ........................................................................... 114

7.8.3 Sistemas de branqueamento em detergentes em pó ......................................... 118

O ativador TAED ....................................................................................................... 121

Tendências atuais na ativação dos sistemas de branqueamento ................................. 123

7.8.4 Fábrica do sabão em pó .................................................................................... 125

Matérias-primas na fabricação de detergente em pó .................................................. 126

Energia envolvida na produção dos detergentes ........................................................ 128

8 Zelar pelo cabelo ............................................................................................................ 128

8.1 Sobre o cabelo humano ............................................................................................ 129

8.1.1 Desenvolvimento de um cabelo saudável ........................................................ 130

8.2 Objetivos do cuidado de cabelo ............................................................................... 132

8.3 Xampu ..................................................................................................................... 132

8.3.1 Desenvolvimento histórico ............................................................................... 132

8.3.2 Aplicação de xampu ......................................................................................... 132

8.3.3 Critérios de qualidade de xampus .................................................................... 133

8.3.4 Composição do xampu ..................................................................................... 133

Água ........................................................................................................................... 133

Agentes tensoativos principais ................................................................................... 134

Agentes tensoativos auxiliares ................................................................................... 135

8.4 Aditivos em xampus ................................................................................................ 137

8.4.1 Conservantes .................................................................................................... 137

Atenção com formol e glutaraldeído! ......................................................................... 140

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8.4.2 Espessantes ....................................................................................................... 141

8.4.3 Agentes quelantes ............................................................................................. 141

8.4.4 Balanço do pH e o uso de sistemas tampão...................................................... 142

8.4.5 Filtros de UV .................................................................................................... 144

8.4.6 Aditivos organolépticos .................................................................................... 144

8.5 Fábrica de xampu ..................................................................................................... 145

8.6 Xampus especiais .................................................................................................... 146

8.6.1 Xampu para cabelo oleoso ............................................................................... 146

8.6.2 Xampu para cabelo seco ................................................................................... 146

8.6.3 Xampu para cabelo estressado ......................................................................... 147

8.6.4 Xampu com efeito anti-caspa ........................................................................... 147

8.6.5 Xampu com coloração ...................................................................................... 148

8.6.6 Xampu de bebê ................................................................................................. 148

8.6.7 Xampus a seco .................................................................................................. 148

8.6.8 Outros tipos de xampus .................................................................................... 148

8.7 Condicionador de cabelo ......................................................................................... 148

Funcionamento geral do condicionador ..................................................................... 149

Requisitos aos tensoativos catiônicos usados no condicionador ................................ 151

Formas de aplicação do condicionador ...................................................................... 151

8.8 Manipulação da forma do cabelo ............................................................................. 153

8.8.1 Styling gel ........................................................................................................ 153

8.8.2 Ondulação permanente e alizamento capilar .................................................... 155

8.8.3 Laquê de cabelo ................................................................................................ 156

9 Coloração de cabelo ....................................................................................................... 157

9.1 Coloração natural ..................................................................................................... 158

9.2 Coloração permanente do cabelo ............................................................................. 159

9.2.1 Mecanismo do acoplamento do corante ........................................................... 161

9.2.2 A etapa de alvejamento .................................................................................... 163

9.3 Coloração semi-permanente .................................................................................... 163

9.4 Coloração demi-permanente .................................................................................... 163

9.5 Coloração temporária............................................................................................... 164

9.6 Depilação e crescimento do cabelo.......................................................................... 164

10 Repelentes de insetos e inseticidas ................................................................................. 166

11 Desodorante .................................................................................................................... 172

11.1 Excurso: Silicones em cosméticos ....................................................................... 175

12 Higiene bucal .................................................................................................................. 177

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As doenças mais frequentes na boca e suas causas .................................................... 180

Manutenção da saúde bucal e o papel da pasta de dente ............................................ 181

Tendências e suplementos na higiene bucal ............................................................... 187

13 Cosmética decorativa ..................................................................................................... 188

13.1 Batom ................................................................................................................... 188

13.2 Esmalte de unha ................................................................................................... 190

13.3 Maquiagem .......................................................................................................... 193

14 Formulações de produtos cosméticos ............................................................................. 195

Abreviações usadas nas formulações a seguir ............................................................ 199

14.1 Preparo de alguns ingredientes básicos ................................................................ 199

14.1.1 Sobre a pureza da soda utilizada ...................................................................... 199

14.1.2 Sobre as gorduras utilizadas ............................................................................. 199

14.1.3 Preparo da lixívia para o processo da saboaria "a frio". ................................... 200

14.1.4 Receita básica do processo saboeiro "a frio". ................................................... 201

14.1.5 Dicas para sabões refinados ............................................................................. 202

14.1.6 Como preparar um gel d´água transparente ..................................................... 203

14.1.7 Faça seu próprio "brancol" ............................................................................... 203

14.2 Sabão comum para uso geral ............................................................................... 203

14.2.1 Sabão com restos de frituras (óleo usado) ....................................................... 204

14.2.2 Lixívia .............................................................................................................. 205

14.2.3 "Sabão frio" ...................................................................................................... 206

14.2.4 Sabão frio com detergente ................................................................................ 207

14.2.5 Sabão frio com silicato e caulim ...................................................................... 207

14.2.6 Sabão de coco ................................................................................................... 207

14.2.7 Sabonete branco ............................................................................................... 208

14.2.8 Sabão "meio-quente" ........................................................................................ 209

14.2.9 Sabão "quente" ................................................................................................. 209

14.2.10 Sabão transparente feito em caldeira ............................................................ 209

14.2.11 Sabão glicerinado transparente ..................................................................... 210

14.2.12 Sabão líquido de óleo usado ......................................................................... 210

14.2.13 Sabão com álcool .......................................................................................... 211

14.2.14 Base glicerinada fabricada pelo processo alcoólico ..................................... 213

14.2.15 Mais fórmulas caseiras para sabão em barra comum ................................... 213

14.3 Produtos cosméticos para cabelo ......................................................................... 215

14.3.1 Xampu para cabelos normais ........................................................................... 215

14.3.2 Sabonete líquido glicerinado ............................................................................ 215

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14.3.3 Xampu anti-queda ............................................................................................ 216

14.3.4 Xampu de brilho para cabelos secos ................................................................ 217

14.3.5 Xampu neutro para bebê................................................................................... 218

14.3.6 Xampu para cabelo mais brilhante ................................................................... 218

14.3.7 Xampu para cabelo seco e danificado .............................................................. 219

14.3.8 Xampu para raízes oleosas e pontas secas........................................................ 220

14.3.9 Xampu cremoso com manteiga de karitê ......................................................... 221

14.3.10 Xampu para cabelo longo com nutri DNA ................................................... 221

14.3.11 Xampu para cabelo normal ........................................................................... 222

14.3.12 Xampu modificado para cabelo oleoso......................................................... 223

14.3.13 Xampu contra caspas .................................................................................... 223

14.3.14 Xampu para casos graves de caspas ............................................................. 224

14.3.15 “Xampu bomba” para crescimento de cabelo ............................................... 224

14.3.16 Condicionador de cabelo: Creme rinse desembaracante para uso diário 42

. 225

14.3.17 Condicionador de cabelo: Creme rinse 42

.................................................... 226

14.3.18 Condicionador para cabelos oleosos 42

......................................................... 226

14.3.19 Condicionador para cabelo seco 42

.............................................................. 227

14.3.20 Condicionador de cabelo “leave-in” para hidratar o cabelo 42

..................... 228

14.3.21 Umedecedor de cabelo .................................................................................. 228

14.4 Produtos cosméticos para pele e face ................................................................... 229

14.4.1 Veículos para produtos de aplicação tópica na pele ........................................ 229

14.4.2 Produtos hidratantes para a pele corporal 42

.................................................... 232

14.4.3 Creme para a pele facial com problema de acne .............................................. 236

14.4.4 Pasta para a pele facial com problema de acne ................................................ 237

14.4.5 Máscara para a pele facial com problema de acne ........................................... 237

14.4.6 Produtos para a pele envelhecida e/ou com efeito anti-envelhecimento .......... 238

Gel com -hidroxi ácidos ........................................................................................... 238

Creme anti-envelhecimento contendo vitamina A ..................................................... 239

Creme de pele com efeito anti-envelhecimento contendo vitamina E ....................... 239

Gel hidratante contendo protetor solar ....................................................................... 240

14.4.7 Produtos clareadores e esfoliantes para a pele ................................................. 241

Gel-creme clareador (oil-free) 42

............................................................................... 241

Creme esfoliante 42

.................................................................................................... 242

Loção cremosa despigmentante 42

............................................................................. 242

Gel-creme clareador (oil-free) 42

............................................................................... 243

14.4.8 Óleo trifásico .................................................................................................... 244

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14.4.9 Loção tônica adstringente ................................................................................. 244

14.4.10 Sabonete líquido ........................................................................................... 245

14.4.11 Sabonete líquido, receita mais econômica. ................................................... 245

14.4.12 Sabonete para a pele facial com problema de acne 42

................................. 245

14.4.13 Gel pós barba ................................................................................................ 246

14.4.14 Álcool em gel ................................................................................................ 246

14.4.15 Gel para ultrassonografia .............................................................................. 247

14.4.16 Sais de banho ................................................................................................ 247

14.4.17 Desodorante Líquido .................................................................................... 248

14.4.18 Repelente natural de insetos ......................................................................... 248

14.5 Produtos domissanitários de uso geral ................................................................. 249

14.5.1 Água sanitária ................................................................................................... 249

14.5.2 Alvejante com peróxido de hidrogênio. ........................................................... 249

14.5.3 Sabão em pó ..................................................................................................... 250

14.5.4 Sabão em pó, receita 2. ..................................................................................... 250

14.5.5 Detergentes líquidos ......................................................................................... 251

14.5.6 Detergente concentrado .................................................................................... 251

14.5.7 Detergente doméstico ....................................................................................... 251

14.5.8 Detergente industrial. ....................................................................................... 252

14.5.9 Detergente econômico ...................................................................................... 252

14.5.10 Detergente fera.............................................................................................. 253

14.5.11 Detergente líquido, receita caseira I ............................................................. 253

14.5.12 Detergente líquido, receita caseira II ............................................................ 254

14.5.13 Sabão líquido para roupas, Receita 1 ............................................................ 255

14.5.14 Sabão líquido para roupas, Receita 2 ............................................................ 255

14.5.15 Sabão líquido de coco ................................................................................... 255

14.5.16 Desinfetante de pinho, receita I .................................................................... 256

14.5.17 Desinfetante de pinho, receita II ................................................................... 256

14.5.18 Desinfetante de pinho, receita III.................................................................. 256

14.5.19 Desinfetante de pinho, receita IV ................................................................. 257

14.5.20 Desinfetante de eucalipto, receita I ............................................................... 257

14.5.21 Desinfetante de eucalipto, receita II ............................................................. 257

14.5.22 Detergente Multiuso, receita I ...................................................................... 258

14.5.23 Multiuso, receita II: ...................................................................................... 258

14.5.24 Multiuso, receita III: ..................................................................................... 259

14.5.25 Multiuso caseiro ........................................................................................... 260

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14.5.26 Desinfetante caseiro ...................................................................................... 260

14.6 Produtos domissanitários especiais ...................................................................... 260

14.6.1 Pasta de brilho transparente .............................................................................. 260

14.6.2 Sabão pastoso para mecânicos ......................................................................... 261

14.6.3 Brilha-alumínio (contém ácido sulfúrico) ........................................................ 261

14.6.4 Brilha-alumínio (com ácido muriático) ............................................................ 261

14.6.5 Solupan I (Fortíssimo) ...................................................................................... 262

14.6.6 Solupan, receita II............................................................................................. 262

14.6.7 Limpa-vidros .................................................................................................... 263

14.6.8 Cera Líquida ..................................................................................................... 263

14.6.9 Limpa-tudo à base de amoníaco, receita caseira .............................................. 263

14.6.10 Gel "suave" para limpeza .............................................................................. 264

14.6.11 Gel "forte" para limpeza ............................................................................... 264

14.6.12 Desengraxante ácido ..................................................................................... 265

14.6.13 Desengraxante (fórmula industrial básica) ................................................... 265

14.6.14 Desengraxante para alvenaria e pedras ......................................................... 266

14.6.15 Limpa pedras especial, receita I.................................................................... 266

14.6.16 Limpa pedras especial, receita II .................................................................. 266

14.6.17 Desengordurante tipo "Ajax", receita I ......................................................... 267

14.6.18 Desengordurante tipo "Ajax", receita II ....................................................... 267

14.6.19 "Ajax", receita caseira I ................................................................................ 267

14.6.20 "Ajax", receita caseira II ............................................................................... 268

14.6.21 Limpa chassis de caminhão .......................................................................... 268

14.6.22 Lustra-móveis ............................................................................................... 268

14.6.23 Limpa-plásticos ............................................................................................ 269

14.6.24 Limpa-carpetes ............................................................................................. 269

14.6.25 Amaciante de roupas, receita profissional .................................................... 269

14.6.26 Xampu especial para cães e gatos ................................................................. 270

14.6.27 Xampu para automóveis, receita I ................................................................ 270

14.6.28 Xampu para automóveis, receita II ............................................................... 271

14.6.29 Pretinho pneu ................................................................................................ 271

14.6.30 Graxa para sapatos ........................................................................................ 272

14.6.31 Pasta de limpeza para mecânico ................................................................... 272

14.6.32 Pó para matar baratas .................................................................................... 273

14.6.33 Pega-moscas ................................................................................................. 273

14.6.34 Amaciante de roupas, receita caseira ............................................................ 273

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13

14.6.35 Pasta para mecânico, receita caseira ............................................................. 273

14.6.36 Cera para assoalho ........................................................................................ 274

14.6.37 Spray para passar roupas .............................................................................. 274

14.6.38 Passe-bem, receita caseira I .......................................................................... 274

14.6.39 Passe-bem, receita caseira II ......................................................................... 275

14.6.40 Pasta para brilhar o alumínio, receita caseira ............................................... 275

14.6.41 Sabão "doido" ............................................................................................... 275

14.7 Dicas como remover manchas ............................................................................. 276

15 Coleção de sites úteis na internet ................................................................................... 278

Índice das ilustrações e figuras usadas neste livro p. 3 “Cosméticos”, adaptado de http://www.fauske.com/cosmetic-industry

p. 31 “Kernseife”, da página http://www.schoeneseife.de/2010/09/08/seifenausstellung-

seifensammlung-alte-seifen-einblicke-in-unsere-private-sammlung/

p. 38 “Micela”, da página http://www.ehu.eus/biomoleculas/lipidos/lipid34.htm

p. 57 “Absorvente UV”, domínio público da página https://en.wikipedia.org/wiki/Sunscreen

p. 70 “Desenvolvimento dos corantes a partir de proteínas da pele e dihidroxiacetona, via

reação de Maillard”, da página https://themolecularcircus.wordpress.com/2012/11/30/the-

science-of-fake-tan/

p. 65 “Os pormenores da raiz do cabelo”, domínio público da página

https://en.wikipedia.org/wiki/Hair; “folículo piloso”, da página http://www.sandro.com.br/o-

que-e-foliculo-piloso-quantos-foliculos-temos-como-ele-e-2.html

P. 68 “Crisântemo” domínio público da página https://de.wikipedia.org/wiki/Pyrethrine

p. 97 “Carbopol”, da página

https://www.lubrizol.com/CorporateResponsibility/ProductStewardship/Carbopol.html

p. 98 “Hidrogel”, da página http://chemicals.exportersindia.com/industrial-

chemicals/cosmetic-ingredients.htm

p. 102 “Metabolismo da melanina”, da página

http://www.bio.davidson.edu/courses/immunology/students/spring2003/leese/vitiligo.htm

p. 103 “Unidades representativas do polímero de melanina (preto)”, da página

http://www.blackherbals.com/science_of_african_biochemistry.htm

p. 108 “Crescimento de cabelo; before – after”, da página

http://newminoxidilspray.com/apply-minoxidil-spray-rogaine/

p. 109 “Dente”, da página http://ortoquick.blogspot.com.br/2014/01/vamos-conhecer-nossos-

dentes.html

p. 110 “Célula unitária da hidroxiapatita”, da tese de Sakshi Jain, disponível em

http://ethesis.nitrkl.ac.in/1690/2/sakshi's_thesis.pdf

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p. 115 “Cosmética decorativa”, foto do filme Cleopatra com Elizabeth Taylor.

p. 123 “Zeólito A”, da página http://semsci.u-strasbg.fr/zeolithe.htm

p. 127 “Fluxograma da fábrica de detergente em pó”, compermissão da monografia R.N.

Shreve, J.A.Brink Jr, Indústrias de processos químicos, 4a ed. Guanabara Rio de Janeiro 1997

p. 141 “Areômetros”, da página http://profissionaisgeral.tuningblog.com.br/r100/Caldeira-de-

Recuperacao/

2 Aspecto econômico da indústria cosmética

O volume de fatura mundial da indústria cosmética é considerável: em torno de 350 bilhões

de US$ os consumidores gastam por ano para seus produtos de higiene pessoal!

Nos mercados em países industrializados as faturas são estáveis em alto nível, mas nos países

em desenvolvimento e no "3° mundo" estão em crescimento de quase 10% por ano.

Mais forte ainda a indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos: nas

últimas décadas os números referentes ao setor dos cosméticos no Brasil não param de

crescer. Segundo o Panorama do Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos,

divulgado anualmente pela Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos) 1, a indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

teve um crescimento médio, já descontando a inflação, de 10,5% por ano, na média tirada

durante os últimos 15 anos; o faturamento saltou de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 24,9

bilhões em 2009. Junto se desenvolveu a participação das mulheres no mercado de trabalho, a

utilização de tecnologia de ponta e um aumento da produtividade. Em 2014 o setor cresceu

por 11,8% sobre 2013, atingindo um faturamento de 43,2 bilhões de reais (Abihpec 1).

Em relação ao mercado mundial de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC),

conforme dados do Euromonitor de 2013, o Brasil ocupa a terceira posição. É o primeiro

mercado em perfumaria e desodorantes; segundo em produtos para cabelo, linha masculina,

infantil, produtos para banho, depilatórios e proteção solar; terceiro em produtos cosméticos-

cores, quarto em higiene oral e quinto em produtos para pele.

Tab. 1. Cenário mundial do setor HPPC – 2008 2

No. País Preços ao

consumidor

(bilhões de US$)

Crescimento em

%

Participação em %

1 https://www.abihpec.org.br/novo/wp-content/uploads/2015-PANORAMA-DO-SETOR-PO9RTUGUES-

11ago2015.pdf

2 Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Informe Setorial: Estrutura e estratégias da cadeia de higiene

pessoal, perfumaria e cosméticos. Janeiro de 2010; disponível em

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/setorial/inf

orme-14AI.pdf (acesso em 12/2014)

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Mundo todo 333,50 9,1 -

1 Estados Unidos 52,14 -0,1 15,6

2 Japão 33,75 11,9 10,1

3 Brasil 28,77 27,5 8,6

4 China 17,73 22,1 5,3

5 Alemanha 16,86 8,0 5,1

6 França 16,23 6,8 4,9

7 Reino Unido 15,72 -3,5 4,7

8 Rússia 12,38 14,5 3,7

9 Itália 12,25 8,0 3,7

10 Espanha 10,64 10,7 3,2

Total 216,47 6,0 64,9

Existem no Brasil 2.470 empresas atuando no mercado de produtos de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos, sendo que 20 empresas de grande porte, com faturamento líquido

de impostos acima dos R$ 100 milhões, representam 73,0% do faturamento total deste setor.

Em 2006 já teve 15 empresas brasileiras de cosméticos que produziam nanocosméticos,

principalmente para produtos antirrugas, anticelulite, cremes, loções para o corpo, gel anti-

estrias, produtos para a área dos lábios e dos olhos e máscara facial e maquiagem com

fotoprotetor, entre outros.

Tab. 2. As maiores empresas do setor HPPC no Brasil – 2008 2

Diversificadas com atuação em vários mercados Com atuação concentrada em HPPC

Vendas

em

milhões

de US$

Unilever Johnson

&

Johnson

Procter

&

Gamble

Colgate

Palmolive

Natura Boticário Avon

Cosméticos

Mundo 64.350 63.747 83.503 15.329 2.102 ND 10.690

HPPC 15.489 16.054 27.800 9.657

% 24 25 33 63

Brasil 4.570 1.377 953 ND 2.032 1.791 1.021

A Figura 1 discrimina as despesas dos consumidores, conforme a finalidade do produto

cosmético.

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Figura 1. Dados econômicos do setor de cosméticos (valores de 2010, Abihpec)

2.1 Insumos do setor HPPC Estima-se que haja em torno de 1.000 a 1.500 insumos químicos que são utilizados para a

produção de emolientes e hidratantes, fragrâncias, surfactantes, veículos, propelentes, agentes

de consistência (espessantes), corantes e pigmentos, conservantes e ingredientes de uso

específico. A Figura 2 mostra a distribuição das principais substâncias químicas destinadas

para o setor de HPPC e adjacentes 2, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química

(Abiquim) para o ano de 2007.

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Figura 2. Os principais insumos químicos da indústria brasileira de HPPC (% da produção

interna destinada à venda interna; dados de 2007)

Utilizando-se dos principais insumos listados pela Abiquim no Anuário de 2008, percebe-se

que a produção interna é superior à quantidade importada, como é visto na Tab. 3.

Tab. 3. Produção interna e balança comercial dos principais insumos químicos no ano

de 2007 no Brasil (em mil toneladas) 2.

Produção Importação Exportação Consumo

aparente

Lanolinas 1.356,0 300,2 963,9 692,3

Acetofenona 2.347,0 0,2 643,1 1.704,1

Glicerina 7.301,9 60,8 5.434,0 2.028,7

Sílica gel 12.952,0 5.445,8 5.741,4 12.656,4

Nitrocelulose 32.597,1 344,4 21.996,4 10.945,1

Óleo mineral

branco

32.849,0 20.075,0 4.502,3 48.421,7

Ácido esteárico 37.900,0 10.960,9 1.494,7 47.366,2

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Polietileno de

alta densidade

1.022.542,8 108.548,9 379.091,5 752.000,2

Polipropileno 1.293.389,6 166.243,6 245.144,9 1.214.488,3

3 Classificação dos cosméticos

O mercado dos cosméticos pode ser classificado conforme a finalidade do produto (com

exemplos típicos):

Tratamento de pele: sabonete, creme hidratante, clareador, protetor solar, produtos

anti-envelhecimento, produtos de barba.

Cuida de cabelo: xampu, condicionador, laqué e gel para cabelo, alizante e ondulador

permanente, tintas de cabelo, removedores e fortificantes de cabelo, xampus – até

xampus de animais domésticos.

Higiene bucal: pasta de dente, loção bucal, branqueadores.

Cosmética decorativa: batom, maquiagem, esmalte de unha.

Perfumaria.

(A perfumaria representa uma classe importante dentro dos cosméticos, porém é muito

diversificada e não será tratada aqui 3).

Daí podemos definir os produtos cosméticos como misturas de substâncias que são aplicadas

nas pessoas de modo externo, sem exercerem notáveis efeitos sistêmicos. Essa definição deixa

especialmente clara a divisão para a farmácia onde o foco são os produtos que podem curar ou

aliviar doenças e danos corporais.

O órgão responsável pela parte legislativa e o controle dos cosméticos no Brasil é a ANVISA 4 (Agência Nacional de Vigilância Sanitária):

“Produtos cosméticos são aqueles de uso externo nas diversas partes do corpo humano (pele,

sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da

cavidade oral), com o objetivo de limpar, perfumar, alterar sua aparência, corrigir odores

corporais, proteger ou manter em bom estado, conforme RDC nº 211 / 2005.”

A ANVISA categoriza os cosméticos em duas classes, conforme seu grau de risco.

Grau 1: produtos com risco mínimo; estes produtos podem ser registrados com maior

facilidade.

Exemplos de G1: hidratantes, cremes de massagem, shampoos e condicionadores.

Grau2: abrange os produtos com risco potencial. Geralmente são produtos com

indicações específicas que exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem

como informações e cuidados quanto ao modo e restrição de uso. Contém ingredientes

considerados irritantes quando utilizados em altas concentrações; o registro

geralmente é um procedimento mais demorado.

3 Leia sobre os princípios químicos dos perfumes, as fontes naturais e ingredientes sintéticos, e as classes de

odores: G. Ohloff, W. Pickenhagen, P. Kraft, Scent and Chemistry, Wiley-VCH Zürich 2012.

4 http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Cosmeticos

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Sendo assim, foram estabelecidos pela ANVISA testes específicos acerca dos seguintes

critérios:

• Fator de FPS em protetores solares;

• Segurança;

• Irritabilidade primária;

• Eficácia.

Exemplos de produtos da categoria G2 são: produtos antissépticos, anticaspa,

antiperspirantes, bronzeadores e filtro solares, clareadores de cabelo.

Os fatores que determinam se um cosmético é Grau 1 ou Grau 2 são os dizeres na rotulagem e

principalmente os ingredientes utilizados na formulação. Como se vê na Tab. 4, nem sempre é

intuitivo e de fácil compreensão para o consumidor quais produtos cosméticos pertencem a

quê classe...

Tab. 4. Produtos cosméticos cuja aplicação é semelhante, mas sua classificação

conforme o risco é diferente.

Grau de risco 1 Grau de risco 2

Sabonetes faciais, corporais

Xampu para cabelos normais, estressados, oleosos

Pasta de dente comum

Desodorante axilar

Sabonete antisséptico

Xampu anticaspa

Pasta de dente anticárie

Antiperspirante axilar

No sentido ampliado também constam neste setor industrial, os produtos da higienização do

ambiente com os quais nós entramos em contato diariamente:

Sabões para lavar roupa (sabão de coco, sabão em pó, detergente líquido, amaciante)

Limpeza e higienização doméstica (limpa-tudo, detergente de lavar louça,

desinfetantes, removedores de manchas)

Protetores de superfície (lustra-móveis, selador de piso, graxa de couro)

Os efeitos dos cosméticos ao consumidor podem ser resumidos em quatro itens:

1. Contribuir à higiene pessoal,

2. Prevenir danos à saúde humana,

3. Aumentar o nosso bem-estar e nossa autoestima,

4. Facilitar a nossa vida social.

Por outro lado, o produto cosmético não deve ter efeitos terapêuticos!

4 Cosméticos - seus poderes e suas restrições legais

Vamos deixar claro em primeiro lugar: um modo de vida saudável e uma alimentação

consciente, isso inclui um sono abundante e regular, não podem ser repostos por nada que se

diz respeito à beleza externa. Uma falta em algum destes itens se reflete, mais rápido do que

nós queremos, na aparência da nossa pele, unhas ou cabelo. Por outro lado, quem se sente

100% "dentro da sua pele", isto seria a melhor prevenção contra um envelhecimento precoce.

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A persuasão das propagandas é muito grande, falando que o envelhecimento é uma doença

que pode ser tratada. Mas é fato que o nosso corpo, inclusive a nossa pele, sofre mudanças ao

longo dos anos - isso é todo natural. Vale uma regra em geral: quem se sente satisfeito e

estiver com sua consciência em paz, também tem um visual bom e dispõe de uma áurea

positiva!

No entanto, a cosmética pode contribuir uma pequena parte no bem-estar dentro da nossa

própria pele.

Como já definido na introdução, por via da lei, produtos cosméticos são exclusivamente de

aplicação externa, embelezando ou melhorando o estar da sua pele, unhas e cabelo, mas não

adiantam a cura de uma pele doente. Isso implica que os ingredientes de cosméticos não

devem ser absorvidos pela pele e chegar à corrente sanguínea. Além disso, são proibidos

ingredientes que poderiam prejudicar a saúde - mesmo em concentração ainda abaixo da

permitida. Justamente neste critério os limites são bem flexíveis e podem ser, tanto do

produtor como do consumidor, mal interpretados. Lembramos que a lei permite atualmente

substâncias cuja inocuidade não foi comprovada clinicamente.

Desde 1998 os ingredientes em produtos cosméticos devem ser indicados frente ao

consumidor, utilizando a INCI (International Nomenclature of Cosmetic Ingredients).

Desvantagem desta lei: estão sendo usados os nomes em latim (especialmente em caso de

extratos naturais) ou em inglês (em caso de substâncias sintéticas). Quem sabe, por exemplo,

que helianthus annuus simplesmente significa óleo de girassol? Ou prunus dulcis, o óleo de

amêndoa? Todavia, hoje é possível identificar de maneira segura, os ingredientes principais

do produto cosmético em nossa casa.

Em resumo, a ANVISA especifica na sua Resolução 211/2005, Anexo IV, o que deve constar

no rótulo da embalagem primária (que contém o produto cosmético) e secundária (que embala

a embalagem primária), conforme a tabela a seguir. Em casos onde não houver embalagem

secundária, todas as informações devem constar na embalagem primária. E se o frasco ser

muito pequeno para colocar a informação de maneira legível, um aviso deve referir ao folheto

que acompanha o produto cosmético.

Tab. 5. Tabela das normas ANVISA 211/2005 para a rotulagem de produtos

cosméticos.

Item Embalagem

primária secundária

Nome do produto (família do produto e a marca) X X

Número de registro (conforme Resolução 343/2005) X

Lote ou partida (pode ser impresso na tampa) X

Prazo de validade (mês/ano) X

Conteúdo (em mL no caso de produto (semi)líquido ou em

gramas no caso de produto sólido)

X

País de origem X

Identificação do fabricante/importador/titular (nome,

endereço, CNPJ ou CGC)

X

Modo de usar (se for o caso) X X

Advertências / restrições de uso (escritos em extenso) X X

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Rotulagem específica (Res. 211/2005 Anexo V, Decreto

79094/1977, Resolução 215/2005, Pareceres da CATEC)

X

Composição / Ingredientes (conforme nomenclatura INCI) X

Além disso, o Art. 93 do Decreto 79.094/77 (alterado pelo Decreto 83239/79) diz:

“Não poderão constar da rotulagem ou da publicidade e propaganda (...) designações, nomes

geográficos, símbolos, figuras, desenhos ou quaisquer indicações que possibilitem

interpretação falsa, erro ou confusão quanto à origem, procedência, natureza, composição ou

qualidade, ou que atribuam ao produto finalidades ou características diferentes daquelas que

realmente possua”. A responsabilidade legal para a veracidade das informações está com o

fabricante ou importador (detentor do registro).

5 Quem conhece sua pele?

O cuidado da pele é um ponto central na higiene pessoal e compreende a limpeza e o

tratamento da pele, visando o fortalecimento dos mecanismos naturais de proteção e manter a

saúde da pele - tudo isso para um melhor bem-estar.

Segundo a legislação brasileira, os produtos cosméticos não devem causar nenhuma alteração

fisiológica nas células da pele. No entanto, a clientela está cada vez mais exigente aos

produtos de aplicação tópica, sob os aspectos de prevenção, recuperação de lesões e danos

causados pela radiação UV, sinais de envelhecimento (produtos anti-aging), anomalias na

secreção sebácea e sudorípara, disfunções dos melanócitos que causam manchas na pele, etc.

Tudo isso indica uma evolução da cosmética clássica, onde o objetivo era o embelezamento

paliativo, em direção à “Cosmética dermatológica”, onde a aparência cuidada, juvenil e

sustentável se deve às melhorias por dentro. Médicos, farmazêuticos, fisioterapeutas, biólogos

e químicos trabalham juntos para dominar a fisiologia da pele e seus anexos, buscando

produtos tópicos cujos efeitos são cada vez mais estudados e sua eficácia fica otimizada

através do conhecimento do seu mecanismo de ação. Podemos contestar que a cosmetologia

moderna se tornou uma ciência multi-disciplinar.

Antes de analisarmos as necessidades da nossa pele, devemos tomar conhecimento da

estrutura e das partes sensíveis da nossa camada externa.

5.1 A pele - nosso maior órgão Com cerca de 2 m² e 10 a 15% do peso coporal, a pele é nosso maior órgão. Ela é feita de

diversas camadas, conforme mostrado na Figura 3.

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Figura 3. As partes funcionais da pele humana

Identificamos na nossa pele as seguintes partes funcionais:

Stratum corneum (camada córnea; estrato córneo): É a camada mais exterior da pele,

formada por células achatadas (espessura de até 150 µm, que corresponde a uma folha de

papel) e mortas, mais corretamente são queratinizadas. A queratina é uma proteína insolúvel

que impede a penetração de substâncias nocivas de fora. Também presentes nesta camada são

lipídeos que se encontram entre as células achatadas (queratinócitos), em forma de

membranas (multi)lamelares. Estas gorduras são principalmente constituídos pelas ceramidas,

ácidos graxos livres e colesterol (ver Figura 4), elas impedem uma vazão demasiada da água

corporal. Uma consequência de uma stratum corneum bem hidratada é uma pele lisa, elástica

e macia. Os queratinócitos se formam a partir da camada mais externa da epidermis, por

desidratação progressiva e decomposição gradual do citoplasma e do núcleo. Sendo assim,

essas células não participam mais no metabolismo e sofrem desgaste mecânico: em

aproximadamente duas semanas a stratum corneum de uma pessoa jovem se renova

completamente, enquanto esse processo leva em torno de 37 dias em pessoas a partir de 50

anos de idade. Portanto, é completamente normal que uma pessoa saudável perde entre 6 e 14

g de pele queratinizada, todo dia!

Epidermis: células vivas que repõem a stratum coreum. Elas migram à superfície sob

contínuo achatamento, transformando-se aos poucos em stratum corneum. Aqui ocorrem os

processos de queratinização que tornam esta camada especialmente resistente à tração (=

firmeza mecânica) e abrasão. A epidermis representa a barreira principal da pele, não só

contra a entrada de substâncias nocivas do ambiente, mas também protege nosso corpo contra

desidratação excessiva. Ela pode ser subdividida nas seguintes camadas (da mais alta para a

mais profunda):

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Camada córnea > Camada lúcida > Camada granulosa > Camada espinhosa > Camada basal.

A epidermis tem, dependendo da parte do corpo, uma espessura de 0,05 mm até 0,6 mm.

Membrana basal: divisória entre a epidermis e a dermis que consiste, além das

queratinócitos, as células responsáveis pela cor natural da nossa pele. Estes melanócitos

produzem dois tipos de corantes, ambos de natureza polimérica: a feomelanina (melanina

vermelha) e a eumelanina (melanina preta). Ainda antes de terminar sua síntese, estes corantes

são enviados aos queratinócitos, sendo assim que sua distribuição dentro da camada fica mais

perfeita e o efeito protetor contra a luz UV-A mais eficaz. A biossíntese da melanina, partindo

do aminoácido tirosina, é rascunhada na p. 158. Existe uma relação entre o número de

melanócitos e de queratinócitos vizinhos que é cerca de 1:36, ou seja, l melanócito para cada

36 queratinócitos. É importante ressaltar que o melanócito não sofre divisão celular, mas

quando isso acontece origina uma célula cancerosa chamada de melanoma.

Dermis: consiste de fibras firmes de colágeno, fibras elásticas de elastina, ambas intercaladas

por uma matéria gelatinosa (feita de ácido hialurônico e ácido condroitinsulfúrico,

principalmente). Ao contrário das fibras que são insolúveis, a massa gelatinosa é

hidrossolúvel e até higroscópica. No entanto, os polímeros gelatinosos são quimicamente

estáveis e somente se degradam por hidrólise, na presença da enzima hialuronidase. Se isso

acontece em maior taxa, a viscosidade da substância fundamental desta camada diminui e a

derme torna-se mais penetrável (difusão). A matéria fibrosa proporciona estabilidade e

resistência aos ataques mecânicos e químicos do nosso ambiente. A composição das fibras de

colágeno (proteína) e dos polissacarídeos (“ácidos hialurônicos”, ver p. 61) muda ao longo da

vida humana: elas tornam-se mais finas, perdem em elasticidade e força de tensão, e mostram

a tendência de dobrar-se.

A fibra de colágeno merece uma descrição mais detalhada, já que este elemento estrutural é a

proteína mais produzida pelo nosso corpo. Ela possui um tempo de vida na derme de

aproximadamente 60 dias. Ela é degradada pela enzima colagenase; em comparação: a fibra

elástica possui um tempo de vida de cerca de 180 dias e é degradada pela enzima elastase.

Estas enzimas são produzidas em excesso quando se expõe a pele à luz solar, promovendo o

envelhecimento precoce. O colágeno é a proteína mais abundante no organismo, onde cerca

de 80% da massa seca da pele é constituída de colágeno. É sintetizado no retículo

endoplasmático do fibroblasto, iniciado pelo pró-colágeno que por ação de peptidases se

transforma em tropocolágeno, rico em aminoácidos lisina e prolina. Estes sofrem hidroxilação

para transformar o tropocolágeno em colágeno, este rico em hidroxilisina e hidroxiprolina.

Fazem parte dessa reação bioquímica os seguintes cofatores: silício orgânico, ácido ascórbico,

magnésio e cálcio. No organismo humano se encontram vários tipos de colágeno (na literatura

científica se descrevem vinte tipos) que colaboram na formação da pele, mucosas, cartilagens

e ossos.

Voltando à dermis: ela mantém uma rede fina de vasos sanguíneos que sustentam as células

vivas, portanto a expressão “tecido conjuntivo”. Esta camada proporciona elasticidade à pele,

ela tem o papel de almofada macia que pode absorver choques e amenizar batidas. Com 1 a 4

mm de espessura a dermis é a camada mais grossa da nossa pele e pesa em torno de 5 Kg!

A dermis acomoda, além destes componentes principais, diversas células funcionais e

glândulas:

A glândula sebácea (sebo, gordura), a maioria aliadas aos folículos pilosos.

A glândula sudorípara (produz suor),

As terminações nervosas (sentimento de dor, calor e frio)

Os folículos pilosos (onde nasce o cabelo).

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Estes fazem com que em cima da pele encontra-se um filme fino composto de suor e seus

resíduos, sebo e água. Essa mistura representa uma manta de proteção natural cujo pH fica

entre 4 e 6. Esse ambiente ligeiramente ácido tem duas funções: em primeiro lugar ele é uma

barreira contra compostos químicos agressivos. As proteínas da pele são mais estáveis e

protegidas contra a degradação por hidrólise, nesta região de pH. Na média, os aminoácidos,

constituintes das proteínas, têm seu ponto isoelétrico nesta faixa de pH. Em segundo lugar

esse filme acomoda microorganismos. A mistura deste filme contém nutrientes para as

bactérias benéficas que, por sua vez, inibem a disseminação de outros microorganismos,

prejudiciais ou até patogênicos.

A elasticidade da pele depende muito do teor em umidade. Caso o nível em água fique muito

baixo a pele ganha uma aparência seca, nós percebemos sua tensão, cócegas ou até

queimação; ela se solta em forma de lascas (= caspas). Uma pele jovem e saudável se destaca

por fatores de retenção de umidade naturais (inglês: natural moistening factors, NMF 5) que

balanceiam o grau de umidade. Um tratamento da pele com produtos cosméticos pode nivelar

um déficit em umidade, especialmente importante quanto o ar contém menos de 50% de

umidade relativa (o que é o caso nos meses de inverno, em grandes partes do Brasil). A

composição desses cremes e loções será apresentada mais adiante (ver cap. 7.7 na p. 107).

A glândula sebácea produz gorduras, ácidos graxos, triglicerídeos e ésteres simples de alcoóis

graxos, principalmente. Esses lipídeos se misturam com a secreção sudorípara e permanecem

na superfície da pele em forma de emulsão. Podemos afirmar que a gordura tem a função de

reter a umidade dentro das camadas inferiores da pele e assim proteger contra a perda

excessiva de líquido ao meio ambiente. Por outro lado, também formam uma barreira contra

águas contaminadas com quais entramos em contato.

Pele seca, fina, pouco elástica e quebradiça é um problema natural em idosos. Neste estado a

função de barreira da stratum córneum está obsoleta e a evaporação transepidérmica ocorre

numa taxa elevada. Mas também pessoas mais novas podem sofrer de problemas acarretados

pela insuficiência da barreira, especialmente quando um ambiente agressivo entra em contato

frequente com a pele: a exposição repetida a solventes, sabões e desinfetantes, muitas vezes

em conjunto com um clima quente e seco, que podem remover os lipídeos da pele, dessa

forma lesando a barreira cutânea e, consequentemente, aumentando a perda de água.

Tipicamente as mulheres são mais afetadas destas situações, com a consequência de danos e

irritações na pele, principalmente nas mãos.

A composição exata do sebo humano pode variar de pessoa em pessoa. Valores médios são:

Triglicerídeos, cerca de 43%

Ceras (= monoésteres, constituídos de um ácido graxo e um álcool graxo) e ceramidas,

cerca de 23%

Ácidos graxos livres, cerca de 15%

Esqualeno, cerca de 15%

Colesterol e ésteres de esteróis, cerca de 4%.

Além destes compostos, a mistura gordurosa contém ainda proteínas.

5 Outros fatores que contribuem ao NMF e à retenção de água no stratum córneum, são as substâncias

higroscópicas na superfície da pele. Os componentes mais importantes dessa mistura incluem ácido pirrolidona

carboxílico, lactato de sódio, ureia, os íons Cl-, K

+, Na

+, os lactatos,citratos e aminoácidos.

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Colesterol (C27H46O)HO

H

H H

H

Esqualeno (C30H50)

Ceramida (fórmula geral)

Figura 4. Alguns componentes hidrofóbicos, produzidos em menores partes nas glândulas

sebáceas e nos queratinócitos do stratum corneum.

Em seguida, vamos saber mais sobre os componentes principais desse material gorduroso que

se encontra na pele humana, na sequência: os triglicerídeos e ácidos graxos; depois as

ceramidas, os esteróis e finalmente o esqualeno.

5.1.1 Composição química dos triglicerídeos

Todas as gorduras naturais, inclusive as vegetais, são ésteres compostos de ácidos graxos e

um álcool, geralmente representado pela glicerina. Portanto, as gorduras também são

chamadas de "glicerídeos" ou "triglicerídeos".

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Gorduraanimal ou vegetal

"Glicerídeos"

O

O

O

C

O

C

C

O

O

= Éster feito de glicerina (álcool) e três ácidos graxos

Mais ác. oléico, mais líquida a gordura (porco, ganso);mais saturados, mais dura a gordura (sebo de boi)

Regra geral:

Figura 5. Composição geral da gordura animal e vegetal.

As diferenças físicas e químicas entre as gorduras se explicam da estrutura química das

cadeias carbônicas dos ácidos graxos, na Figura 5 abstraídas por linhas onduladas. Existem

em torno de 10 diferentes ácidos graxos que proporcionam mais de 95% dos constituintes em

gorduras naturais. Raras vezes todos os três grupos ácidos graxos dentro do glicerídeo são

idênticos, mas sim, podem ser arranjados de forma randômica. Somente destes detalhes

estruturais podemos esperar 103 diferentes isômeros constitucionais dos glicerídeos - um

número que ainda aumenta pelos isômeros devido à posição exata dos ácidos graxos dentro do

glicerídeo (isto é, em cima, no meio ou em baixo, no esquema da Figura 5).

R C

O

OH

Ácido graxo(ác. carboxílico)

R = cadeia hidrocarbônica saturada (ou com uma insaturação) .

Representação trivial:

COOH

C12: Láurico

Nomes dos ácidos graxos dependem do comprimento da cadeia carbônica:

C14: Mirístico

C16: Palmítico

C18: Esteárico

C18 com uma insaturação: Oléico

Figura 6. Estrutura química e nomes triviais de alguns ácidos graxos mais encontrados nas

gorduras animais e vegetais.

Tab. 6. Relação dos nomes triviais dos ácidos graxos mais comumente encontrados em

gorduras naturais.

No de

carbonos

Cadeia saturada Cadeia mono-

insaturada

Cadeia poli-

insaturada

12 ác. láurico

14 ác. mirístico

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16 ác. palmítico

(também: ác. cetílico)

ác. palmitoléico

18 ác. esteárico ác. oléico ác. linoléico (C18:2);

ác. linolênico

(C18:3).

20 ác. aráquino ác. gadoleínico, ác.

gondo

ác. araquidônico

(C20:4)

22 ác. beênico ác. erúcico

Sendo assim, somente sob grandes esforços cromatográficos é possível separar os

componentes de uma amostra de gordura. Em vez disso, é mais razoável classificar a

composição da gordura, em porcentagens de ácidos graxos, a serem determinadas após a

hidrólise dos ésteres. A seguinte tabela representa a composição de gorduras naturais,

inclusive a da pele humana, em termos dos ácidos graxos hidrolisados. Note que nesta

anotação (X : Y), o primeiro número indica o número de carbonos da cadeia retilínea, o

segundo número representa o número de duplas ligações (no entanto, não indica suas posições

dentro da cadeia carbônica).

Tab. 7. Padrão dos ácidos graxos. Composição natural de alguns óleos vegetais usados

em formulações de cosméticos, em comparação com a gordura da pele humana.

Indicação dos ácidos graxos em % do peso.

Graxa/Óleo 10:0 12:0 14:0 16:0 18:0 18:1 18:2 18:3 20:1 22:1

Óleo de colza

("low erucic")

- - - 1-5 1-4 50-65 15-30 5-13 1-3 0-2

Óleo de colza

("high erucic")

- - - 2-3 1-4 12-24 12-16 7-10 4-6 45-53

Girassol (gênero

antigo)

- - - 3-10 1-10 14-65 20-75 - - -

Girassol (high

oleic)

- - - 3-4 1-2 90-91 3 - - -

Óleo de linho - - - 5-8 2-4 15-25 12-16 50-60 - -

Manteiga de

coco

5-10 45-53 15-21 7-11 2-4 6-8 1-3 - - -

Azeite de dendê

parte interna

3-5 40-52 14-18 6-10 1-4 9-16 1-3 - - -

Azeite de dendê

parte externa

- - 0-2 38-48 3-6 38-44 9-12 - - -

Óleo de soja - - - 7-14 1-5 19-30 44-62 4-11 0-1 -

Óleo de

amendoim

- - 0-1 6-16 1-7 36-72 13-45 0-1 0-2 -

Gordura da 3 26 14 47 3 1

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pele humana

Composição média da gordura de pele humana:

Ácidos graxos saturados:

Ác. palmítico 26%

Ác. esteárico 14%

Ác. mirístico 3%

Ácidos graxos mono-insaturados:

Ác. oléico 47%

Ác. palmitoléico 3%

Ácidos graxos poli-insaturados:

Ác. linoléico 3%

Ác. linolênico 1%

Tab. 8. Classificação de gorduras conforme o grau de insaturação.

Tipo e Fonte Saturados Monoinsaturados Poli insaturados

Total Linoléico

Principalmente

saturadas:

Manteiga 63 33 4 1

Banha 43 47 10 9

Coco 90 8 2 2

Dendê 50 39 11 10

Principalmente

monoinsaturadas:

Oliva 17 73 10 10

Amendoim 18 52 30 30

Canola 6 67 27 17

Ricas em

poliinsaturadas:

Milho 15 30 55 55

Soja 16 24 60 53

Girassol 12 21 67 67

Açafrão 10 15 75 75

Peixe 20-35 20-55 20-50 1

Sardinha 20 55 25 1

Geralmente podemos afirmar: quando mais rica em duplas ligações C=C (contribuinte

principal: o ácido oléico), mais líquida a gordura. Exemplos de gorduras líquidas: banha de

porco, graxa de ganso.

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Por outro lado, alta porcentagem em ácidos graxos saturados torna a gordura mais dura. Seu

ponto de fusão extraordinariamente alto se deve à fácil cristalização deste material (cadeias

carbônicas saturadas são mais flexíveis do que as insaturadas). Este fato será de suma

importância na preparação de batom (ver p. 188). As seguintes tabelas sublinham essa

tendência.

Tab. 9. Alguns ácidos graxos saturados e seus pontos de fusão.

Símbolo numérico Nome do ácido: Ponto de fusão (° C)

C 4:0 Butírico -5,3

C 6:0 Capróico -3,2

C 8:0 Caprílico +6,5

C 10:0 Cáprico 31,6

C 12:0 Láurico 44,8

C 14:0 Mirístico 54,4

C 16:0 Palmítico (= cetílico) 62,9

C 18:0 Esteárico 70,1

C 20:0 Araquídico 76,1

C 24:0 Lignocérico 84,2

Já os ácidos graxos com insaturação (= dupla-ligação C=C) apresentam-se em uma variedade

estrutural bem maior. A posição da dupla-ligação dentro da cadeia carbônica define diferentes

isômeros com diferentes propriedades físicas. Também a geometria ao redor da dupla-ligação,

cis ou trans (melhor falando em Z e E; mais encontrado é o isômero Z) influencia as

propriedades sensivelmente. Não há unanimidade na sigla para denominar esses ácidos, mas a

seguinte tabela mostra uma nomenclatura bastante espalhada.

Tab. 10. Alguns ácidos graxos insaturados, com sigla e ponto de fusão.

Símbolo numérico Nome do ácido: Ponto de fusão (° C)

C 16:1 (9Z) Palmitoléico 0,0

C 18:1 (9Z) Oléico 16,3

C 18:1 (11Z) Vacênico 39,5

C 18:1 (9E) Elaídico 44,0

C 18:2 (9, 12) Linoléico -5,0

C 18:3 (9, 12, 15) Linolênico -11,0

C 20:4 (5, 8, 11, 14) Araquidônico -49,5

Anotamos as seguintes tendências:

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1. Quanto mais comprida a cadeia carbônica, mais alto o ponto de fusão.

2. Os pontos de fusão dos ácidos graxos saturados ficam acima dos insaturados.

3. Quanto mais insaturações, mais baixo o ponto de fusão.

Características dos ácidos graxos mais comuns em plantas e animais:

Número par de átomos de carbono 6

Número de átomos de carbono 14-22, predominando C16 e C18

Duplas ligações não conjugadas (isoladas)

Isomeria cis nas duplas ligações C=C

Cadeias carbônicas não ramificadas

Cadeias puramente carbônicas, sem outros heteroátomos

Existem mais de 800 ácidos graxos encontrados em lípidos naturais, porém só alguns estão

presentes em quantidades e freqüência considerável.

Para a maioria dos usos cosméticos um alto ponto de fusão é indesejado (exceção: batom!).

Portanto, a gordura usada deve ter insaturações. Por outro lado, sabemos que a química dos

alquenos é muito mais rica que a dos alcanos. Especialmente reativos são os alquenos frente

ao oxigênio do ar: ocorrem oxidações em posição (bis)alílica e polimerizações radicalares,

principalmente. Uma prolongada exposição à atmosfera altera o caráter químico de gorduras

insaturadas - certamente um efeito indesejado. Trivialmente falado, o produto rancificou.

Os ácidos graxos, além de serem fixados nos triglicerídeos, também ocorrem em forma livre e

organizados em camdas, na parte exterior da nossa pele. E, finalmente, existem em forma de

ésteres de mono-alcoóis graxos. Matéria mais rica neste tipo de éster é a cera de abelha que

consiste de 75% de palmitato de miricila.

R CH2 OH

Álcool graxo

Representação trivial: CH2OH

Cera:

Éster

CH2O C

O

de álcool graxo e ácido graxo

Exemplo: Cera de abelha contém 75% de palmitato de miricila.

Figura 7. Derivados dos ácidos graxos, naturais e sintéticos, usados na indústria cosmética.

6 O corpo humano não produz ácidos graxos com número impar de carbonos; no entanto, existem os ácidos C15

(pentadecanóico) e C17 (margárico), em até 2% no sebo e nos produtos laticínios gordos. Sendo assim, estes

ácidos, quando encontrados como fosfolípidos no plasma sanguíneo, podem ser usados como indicador para o

consumo destes alimentos.

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A distinção tradicional entre óleos, gorduras e ceras baseia-se no seu estado físico: os

primeiros são líquidos à temperatura ambiente, as gorduras de consistência mole, fundem

abaixo de 45°C, as ceras apresentam-se em massas sólidas, em geral fusíveis acima de 60°C.

5.1.2 Ceramidas da nossa pele e seu papel em produtos cosméticos

As ceramidas, principais componentes lipídicos intercelulares no stratum córneum,

representam barreiras eficientes frente à água. Elas desempenham um papel fundamental na

capacidade de reter a água no dentro da pele e impedem uma evaporação demasiada, uma

ressecagem das células do nosso corpo em geral. As ceramidas encontradas na pele podem ser

classificadas em 6 classes, as quais diferem pelo tipo de cadeia graxa ligada à base esfingóide,

sendo nomeadas de acordo com sua polaridade (estrutura química geral, ver Figura 4). A

ceramida 1 é a mais apolar. As ceramidas são localizadas principalmente no estrato córneo e

são organizados em camadas duplas e múltiplas (compare Figura 25). Neste arranjo elas

exercem o papel importante de barreira lipídica presente no estrato córneo e na epiderme, que

tem a capacidade de reter a água na pele.

As ceramidas são ricas em ácido linoléico (C 18:2), importante para manter a função de

barreira da epiderme, pois controlam a perda transepidérmica de água. A presença de umidade

nas células do estrato córneo é responsável pela maciez e elasticidade da pele jovem e sadia.

O envelhecimento, a luz solar e as variações climáticas resultam numa redução da capacidade

do estrato córneo em reter seu conteúdo de umidade ideal, tornando a pele seca e rugosa.

Devido à importante participação das ceramidas endógenas, na função de barreira para a

manutenção de um nível de hidratação cutânea adequado, formulações cosméticas que as

contêm, muitas vezes, têm sido consideradas potentes hidratantes, porém ainda é necessária a

realização de mais estudos para a avaliação do real benefício proporcionado à pele pelo uso da

ceramida exógena.

5.1.3 Esteróis contidos na gordura da pele

O esterol característico do reino animal é o colesterol (ver Figura 4) que, pode-se dizer, existe

em todas as células animais, em maiores porcentagens no cérebro e espinha medular. Esses

lipídeos precisam ser transportados de um tecido de origem (fígado, onde eles são

sintetizados, ou o intestino, onde são absorvidos) para os tecidos nos quais eles serão

armazenados ou consumidos. O transporte é feito por lipoproteínas plasmáticas que são

agregados moleculares de proteínas transportadoras específicas. O sangue contém na média

1,5 a 2 gramas por litro. Todos os tecidos animais em crescimento necessitam de colesterol

para a síntese de suas membranas; alguns órgãos (glândula adrenal e gônadas, por exemplo)

usam o colesterol como um precursor para a produção dos hormônios esteróides. O colesterol

é também um precursor da vitamina D (produzida sob a influência da radiação UV, ver p. 62).

A matéria prima usada pela indústria química é extraída da medula de animais abatidos nos

matadouros, ou a partir da lanolina (ver em baixo). Os fitoesteróis são extraídos

principalmente da soja e na levedura de cerveja.

O colesterol e seus derivados são essencialmente insolúveis em água; os ésteres do colesterol

são ainda mais hidrofóbicos que o colesterol livre.

Em formulações cosméticas os esteróis são pouco empregados.

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5.1.4 Esqualeno

O esqualeno (ver Figura 4) é um hidrocarboneto de cadeia altamente insaturado. Ao contrário

dos ácidos graxos insaturados, o esqualeno dispõe de um longo trecho de duplas ligações C=C

conjugados – em analogia à vitamina A (Figura 18). É encontrado no óleo de fígado de

tubarão, e também em pequena quantidade em alguns vegetais. Já por isso o esqualeno é

pouco empregado em formulações cosméticas, pois alí se prefere substitui-lo por

hidrocarbonetos saturados e portanto com maior estabilidade química e fotoquímica – além de

serem muito mais fáceis de obtenção e muito mais baratos (é simplesmente óleo mineral).

Os esteróis, como também o esqualeno, a lecitina (= colinas de fosfatidila; fazem parte da

membrana célular lípida) e os tocoferóis (p. 78), são considerados matérias graxas

insaponificáveis, quer dizer, são estáveis frente à reação com a água (= hidrólise).

Por outro lado, como veremos no cap. 7.2, os triglicerídeos, as ceras e de menor grau também

as amidas, podem facilmente ser hidrolisados. Especialmente na presença de bases fortes

(OH-), mas também por ácidos essa hidrólise pode ser catalisada. Portanto, estes substâncias

gordurosas, quando aplicadas em formulações cosméticas, devem encontrar-se em um

ambiente neutro, melhor ainda na presença de um tampão que estabiliza o pH e mantém os

catalisadores da hidrólise ao nível mínimo.

5.2 Suor O humano regula sua temperatura corporal, principalmente por suar. Calor excessivo, por

exemplo, devido a uma atividade física, pode ser atenuado por evaporação de água, cuja

entalpia de evaporação fica em torno de 2400 kJ por litro. Para este fim servem em primeira

linha as glândulas ecrinas que liberam uma secreção aquosa que pode chegar, numa pessoa

adulta, até 4 litros por hora (ou 14 litros por dia). Essas glândulas se encontram na dermis e

produzem cerca de 10 a 15 g.min

-1.m

-2 de suor, cuja evaporação em filme corresponde a um

arrefecimento do corpo de 333 W.m

-2 (o suor que perdemos em forma de gotas, aliás, não

contribui ao regulamento da temperatura corporal). Um adulto perde em torno de 100 a 200

mL de suor por dia, quando não faz grandes atividades físicas.

As glândulas ecrinas se estendem praticamente em cima de todo o corpo humano e produzem

uma secreção transparente e inodora que consiste de mais de 99% de água. Esse suor contém

também eletrólitos, tais como Na+, Cl

-, K

+, lactato, aminoácidos, ácido urocanino, além de

quantidades elevadas de uréia. Além destes, encontram-se neste suor açúcar e ácido ascórbico

(vitamina C), em traços. O pH desta solução fica na região notavelmente ácida, em volta de

4,5. A explicação deste fato é simples: nesta faixa protolítica as proteínas estruturais da pele

são mais protegidas da hidrólise que pode ocorrer no ambiente fortemente ácido, mas também

e principalmente em ambiente alcalino. Essa, aliás, é a explicação porque as caustificações

alcalinas são mais perigosas do que as ácidas! Portanto, o laboratorista deve proteger-se

sempre com os EPI´s adequados quando trabalhar com bases fortes.

Ao contrário das glândulas ecrinas, as glândulas apocrinas somente ocorrem nas regiões

cabeludas do corpo humano, isto são as regiões genitais, as axilas e os mamilos. Estes liberam

um suor que possui, além dos ingredientes mencionados acima, uma secreção leitosa que

contém proteínas e lipídeos; seu pH é aproximadamente neutro (pH 7,2; detalhes ver Tab. 12).

Tab. 11. Composição dos sais minerais no suor (note que os conteúdos indicados podem

variar muito, os elementos em traços até pelo fator 15, dependendo do tipo de

atividade corporal, da alimentação e da duração de suar).

Sais minerais principais Teor em g/L:

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Sódio 0,9

Potássio 0,2

Cálcio 0,015

Magnésio 0,0013

Elementos em traços Teor em mg/L (= ppm):

Zinco 0,4

Cobre 0,3 a 0,8

Ferro 1

Cromo 0,1

Níquel 0,05

Chumbo 0,05

Nota-se da tabela acima que o nosso corpo, através do suor, se libera também de metais que

se tornam tóxicos desde pequenas concentrações. Todavia, podemos afirmar que o suor

humano ainda é hipo-osmótico, em relação ao plasma sanguíneo.

Aliás, suor fresco é praticamente inodor. Somente sua degradação bacteriana, que ocorre

notavelmente depois de 30 minutos na superfície da pele, provoca o mau cheiro, típico do

“suor”. O que ocorre é uma degradação dos ácidos graxos (C12 a C18) contidos

principalmente na secreção apocrina, para compostos de massa molecular menor. Entre os

compostos fedorentos mencionamos o ácido butírico (C4) e o ácido fórmico (C1).

5.3 Disfunções da pele humana - acne

Uma parte da nossa pele é especialmente importante para nossa auto-estima: a face. E

justamente essa pele é especialmente susceptível à perturbações e disfunções, largamente

conhecidas como cravos e espinhas. Trata-se da acne e erupções acneiformes.

A acne pode ser classificada conforme sua origem, em acne primária (ou acne vulgaris) ou

acne secundária (hormonal, cosmética, medicamentosa, solar, etc). Da primeira forma de acne

são especialmente afetados os adolescentes e adultos jovens, onde o início da produção

hormonal favorece o desenvolvimento das lesões na pele. No caso da acne secundária

ocorrem processos mais específicos e os responsáveis pela dermatose devem ser procurados

em fatores externos (até mesmo certos medicamentos, como corticóides e vitaminas do

complexo B, podem mostrar o efeito colateral da acne). Em relação à acne cosmética, os

responsáveis são as matérias-primas com efeito “comedogênico”, onde os exemplos mais

famosos são o óleo mineral, manteiga de cacau, miristato de isopropila.

5.3.1 Desenvolvimento clínico da acne vulgaris

A acne caracteriza-se pelo aparecimento de comedões (= cravos), pápulas, pústulas e, em

casos graves, até cicatrizes. Nesta sequência a doença geralmente se desenvolve:

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1. O comedão é sempre a lesão inicial da acne e pode ou não, progredir para outros tipos

de lesões clínicas. A obstrução dos folículos acarreta o acúmulo do sebo (caps. 5.1.1 a

5.1.4) e pode ocasionar a formação do comedão. Uma vez dilatado e bloqueado o

folículo pode ficar colonizado por bactérias. A pressão exercida pelo crescimento faz

com que o invólucro do folículo se rompa. Para não agravar este perigo, é importante

instruir o paciente acneico para que não esprema suas lesões!

2. Altamente irritante, esta mistura de sebo, bactérias e ácidos graxos livres espalha-se

pela derme, agravando a inflamação e os prejuízos por ela causados. Os glóbulos

brancos deslocam-se rapidamente para a região afetada com o objetivo de atacar as

bactérias. Isso aumenta a inflamação e provoca a formação de pústulas (erupção de

pús). As pápulas, pústulas, nódulos e cistos são então a consequência do tecido

inflamado.

3. Finalmente, as cicatrizes decorrem das complicações das lesões inflamatórias. Os

folículos envolvidos com o aparecimento da acne apresentam queratinização alterada

com queratinócitos mais coesos. A glândula sebácea (que faz parte do folículo piloso)

produz o sebo, que é eliminado na superfície da pele.

5.3.2 Como os cosméticos podem ajudar?

Antigamente, o “tratamento” quase único da acne era esconder as irregularidades da pele,

atráse de uma camada grossa de base corretiva (cap. 13.3). Hoje se conhece melhor os fatores

que contribuem a esta doença do folículo sebáceo, muitas vezes em conjunto:

1. Fatores genéticos

2. Hiperqueratinização folicular,

3. Presença da bactéria Propionibacterium acnes e

4. Aumento da produção sebácea, influenciada por fatores hormonais.

Os cosméticos para peles acneicas têm, principalmente, duas linhas de atuação: redução da

atividade sebácea e controle da proliferação de microorganismos adversários. É interessante

que esses produtos ainda atuem na manutenção do pH natural da pele, na hidratação cutânea e

na proteção solar; esse último fator – muitos não sabem disso – se deve ao fato que um

excesso de sol causa espessamento da camada córnea, que por sua vez facilita a obstrução do

folículo pilo-sebáceo, podendo levar ao surgimento da acne.

É lógico que os ingredientes na formulação que foram descritos acima como

“comedogênicos”, devem ser evitados em produtos voltados ao combate desta doença. Dentre

os veículos cosméticos mais usados nesses produtos são mais indicados os com baixo teor de

gordura e pouco caráter lipofílico, então os géis hidrofílicos e os géis-cremes (oil free, ver

cap. 6.1.2), sendo que ambos devem ser formulados com matérias-primas não comedogênicas

e de preferência hipoalergênicas.

Produtos de limpeza (sabonetes) devem ser bem balanceados para não tirar excessivamente a

oleosidade natural da pele. A secreção do sebo para a superfície da pele é um processo todo

natural, onde atua como proteção às agressões ambientais e protege contra o ressecamento

cutâneo. Se todo o sebo da superfície fosse retirado com uso de sabões muito alcalinos, ou de

produtos inadequados (álcoois, acetona, ésteres, etc.), as glândulas sebáceas responderiam

com uma produção de sebo em maior quantidade, o que é contraproducente à acne.

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Já o tratamento local da acne pode ser realizado pela combinação de procedimentos

medicamentosos e fisioterapêuticos. Em mãos de profissional devidamente capacitado, pode

ser útil o procedimento de limpeza de pele (peeling), com o objetivo de acelerar a resposta ao

tratamento, principalmente, nos pacientes que mexem nos comedões e consequentemente

aumentam o risco de lesões cicatriciais residuais.

O tratamento tópico da acne consiste na utilização única ou combinada de uma série de

fármacos que serão apresentados brevemente a seguir:

Derivados do retinol (tretinoína, isotretinoína, adapaleno),

Os e -hidroxiácidos, inclusive a resorcina,

Peróxido de benzoíla,

Antibióticos,

Ácido azelaico e

Flor de enxofre.

Muitas destas substâncias usadas no tratamento da acne não podem ser usadas em produtos

cosméticos, sendo empregadas em produtos farmacêuticos (adapaleno, ácido retinóico, entre

outros). Outras, porém, são permitidas em cosméticos que visam combater a acne, mas desde

que utilizadas numa concentração autorizada pela ANVISA (exemplos: enxofre até 10%,

ácido salicílico até 2% e o resorcinol até 2% da formulação cosmética). Novamente, é

importante ressaltar que o tratamento medicamentoso vai além da cosmetologia e deve ser

acompanhado por um médico especialista no assunto.

A tretinoína (= forma trans do ácido retinóico) é um agente comedolítico. A aplicação tópica

de tretinoína torna a pele mais sensível ao sol, por isso recomenda-se o uso de protetores

solares durante o tratamento. Melhoras visíveis das comedões costumam iniciar um mês

depois de começar o tratamento. A isotretinoína (forma cis do ácido retinóico) é eficaz contra

acnes severas quando ingerido por via oral.

O adapaleno (derivada do ácido naftóico) tem propriedades

biológicas similares às do ácido retinóico. Apresenta ação

comedolítica e antiinflamatória. Assim como a tretinoína, o

adapaleno tem sido usado topicamente no tratamento da acne

facial.

O ácido glicólico (p. 59) é um -hidroxiácido que ajuda a eliminar

a obstrução do folículo sebáceo, permitindo a livre secreção do sebo; além disso, mostra

efeito esfoliante.

O ácido salicílico (p. 60) é um -hidroxiácido com ação queratolítica (remove a camada córnea). Alguns autores admitem que em concentrações de 0,5 a 3%, teria atividade

queratoplástica, isto é, estimularia a formação da camada córnea, melhorando sua plasticidade

e função. Em concentrações superiores (4 a 20%), no entanto, sua ação é exclusivamente

queratolítica. Acha uso como antiseborréico e em medicações esfoliativas de peles acnéicas,

em concentrações de 2 a 4%, muitas vezes em combinação com a resorcina.

A resorcina (= resorcinol = 1,3-benzenodiol) possui ação queratolítica, antibacteriana e

antifúngica. Em alta concentração (40%) tem sido usada em consultório médico, em

esfoliações (peelings) químicas.

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O peróxido de benzoíla é um agente antimicrobiano eficaz, assim se opõe ao crescimento do

propionibacterium acnes. Vale ressaltar que esta substância facilmente pode liberar radicais

fenilas, por sua vez extremamente reativos (sobre o perigo dos radicais livres, ver cap. 6.4).

No mesmo sentido atuam os antibióticos que levam à diminuição da bactéria e

consequentemente também dos ácidos graxos livres. Afinal, são os ácidos graxos livres que

agravam a inflamação do comedão. Os mais utilizados são a clindamicina (l - 2%) e a

eritromicina (2 - 4 %).

O ácido azelaico (= ácido nonadióico = ácido dicarboxílico de cadeia saturada) também

apresenta ação inibitória ao crescimento do propionibacterium acnes, bloqueando a formação

de ácidos graxos. Utilizado na concentração de 20%, costuma provocar reação irritativa local.

O enxofre elementar, por fim desta lista, tem ação anti-seborréica e também é queratolítica;

porém deve ser usado com cautela em produtos contra a acne, pois há também relatos que

pode ocasionar a formação de comedões.

Alguns produtos cosméticos típicos para pele acnéica são apresentados na p. 236 em seguir.

5.4 Envelhecimento da pele

Os produtos anti-envelhecimento (“anti-aging”) representam um ramo importante dentro dos

cosméticos. Todos nós gostamos da aparência juvenil, por que associamos nisso força e

vitalidade. No entanto, várias mudanças ocorrem ao envelhecermos, entre elas uma redução

da eficiência da circulação, alteração na renovação celular da epidermis e diminuição na

produção de hormônios, que afeta nossa pele, a qual torna-se mais seca, mais fina, enrugada e

menos firme. Sendo assim, o câncer de pele do idoso e o envelhecimento cutâneo vêm sendo

objeto de maior interesse e pesquisa na área curativa e também preventiva.

Uma vez que é mais fácil prevenir o envelhecimento cutâneo do que recuperar a pele

envelhecida seria conveniente que todas as pessoas, ainda jovens, começassem a cuidar com

regularidade de sua pele a fim de usufruir, por muito mais tempo, de uma pele bonita e

saudável. Estes cuidados incluem:

Hidratação. Esse cuidado é imprescindível para conservar a elasticidade e o alto módulo

mecânico da pele, conforme explicado no cap. 6. É importante lembrar que o

ressecamento da pele requer, além da aplicação tópica de formulações hidratantes, a

ingestão de suficiente líquido, evitando grande quantidade de bebidas alcoólicas, para

manter a pele hidratada.

Limpeza diária. Pode ser feita com emulsões de limpeza ou sabonetes líquidos.

Importante é um bom enxague após sua aplicação, para remover resíduos destes produtos

mais completamente possível. Neste lugar lembramos que sabões com pH muito alcalino

limpam bem a pele, mas também catalisam a hidrólise das proteínas cutâneas, portanto

devem ser usados com cautela.

Esfoliação. Uma vez por semana é conveniente aplicar sobre a pele um esfoliante suave

(ex: emulsão com microesferas de polietileno) a fim de eliminar, por efeito mecânico, as

células mortas do estrato córneo.

Tonificação. Geralmente é realizada com soluções que permitem normalizar as

características fisiológicas da pele. A solução tónica deve apresentar pH semelhante ao da

pele e ser produzida com matérias-primas não irritantes e biocompatíveis.

Proteção. A pele deve ser protegida das agressões ambientais. Como explicado no início

do cap. 6.3, isto é em primeiro lugar a radiação ultravioleta emitida pelo sol. Mas a

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radiação UV também pode ser originada artificialmente, por exemplo por lâmpadas de

vapor de Hg, pela queima de certos metais (por exemplo, Mg ou Al) ou pela solda MIG.

A radiação UV promove a formação de radicais livres que fazem, devido à sua alta

reatividade, reações descontroladas com a proteína estrutural da pele, entre outras. Além

desta, mencionamos outros fatores ambientais, tais como vento, poeira, água salgada,

etc., que podem representar estress para a pele. Mas em primeira linha são as formulações

fotoprotetoras que, quando aplicadas diariamente, previnem o envelhecimento precoce da

pele.

A partir da p. 238 encontram-se algumas formulações cosméticas contra o envelhecimento

cutâneo.

5.5 Caracterização objetiva da pele humana

Nas últimas duas décadas, equipamentos de ampla aplicação (para cosmetologia, fisioterapia

estética e dermatologia) têm sido apresentados, dando, então, origem a essas novas

metodologias não invasivas de estudo cutâneo. Dentre esses equipamentos temos como

exemplos (são apresentados pelos nomes fantasias das fábricas):

Corneometer (mede o conteúdo aquoso do estrato córneo),

Sebumeter (mede o teor lipídico),

pHmeter (atividade protônica na superfície da pele úmida),

Mexameter (medição da cor e pigmentação),

Tewameter (mede a perda transepidérmica de água),

Cutometer (mede a viscoelasticidade)

Skin-visiometer (caracteriza a textura superficial da pele).

A medida executada por esses equipamentos permite, com rapidez, e sem qualquer risco ou

desconforto para o paciente, a análise qualitativa ou quantitativa das variáveis citadas, o que corresponde a um avanço significativo na redução dos potenciais de erros de uma apreciação

subjetiva. Desta forma visa-se uma indicação correta e o uso qualitativa e quantitativamente

sensato, de preparações dermatológicas e cosméticos funcionais.

Dentre esses possíveis estudos se destacam a avaliação da hidratação do stratum córneum

(promovida por cosméticos) e a avaliação da influência de formulações tópicas no pH da pele.

A comprovação dos efeitos biológicos das formulações hidratantes é de grande interesse, pois

manter a pele hidratada retarda o envelhecimento cutâneo, bem como previne ou trata certas

doenças de pele.

Igualmente importante é o conhecimento do pH da superfície cutânea. O pH é um importante

indicador funcional da pele, devendo-se principalmente à produção de ácido láctico e

conferindo à superfície cutânea um ambiente ligeiramente ácido (ver Tab. 12). Na faixa de pH

entre 4,2 e 5,6 a pele recebe a melhor proteção bactericida e fungicida. Além disso, as

secreções cutâneas apresentam, ainda, apreciável capacidade tamponante (ver p. 142),

propriedade importante uma vez que o pH da pele é frequentemente alterado em consequência

da utilização de produtos tópicos inadequados ou exposição demasiada a agentes agressivos –

inclusive microorganismos.

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5.6 Permeação e penetração cutânea por substâncias ativas

Os termos penetração ou absorção cutânea são usados para produtos que possuem ação tópica,

ou seja, formulações cosméticas e dermatológicas, enquanto que os termos permeação cutânea

ou absorção transcutânea têm sido mais empregados para produtos de ação sistémica, ou seja,

fármacos transdérmicos.

Como já mencionado na p. 22, o stratum corneum representa a principal barreira para a

permeação de substâncias ativas na pele. Isso ocorre porque se trata de uma região que

contém muitos lipídeos, organizados em camadas lamelares, as quais acabam dificultando a

difusão dos ativos. Os “promotores de absorção” dentro de uma formulação cosmética ou

farmazêutica ocasionam alteração na estrutura do estrato córneo, com finalidade de abaixar,

reversivelmente, sua resistência.

A permeação de substâncias através da pele ocorre então através da epidermis compacta ou

através dos apêndices da pele (exemplo: folículo piloso e glândulas sudoríparas). Porém, os

apêndices da pele ocupam somente uma pequena porcentagem da superfície total da pele e

por isso a permeação através deste caminho é considerada pequena. Já através da epidermis

compacta o ativo pode permear entre os queratinócitos (atravessando o meio intercelular, por

sua vez formado por camadas lamelares de lipídeos) ou através dos queratinócitos (meio

transcelular - permeando as células da epiderme). No meio transcelular o ativo tem que

atravessar os queratinócitos e, depois, difundir-se entre os lipídeos também. Assim, o meio

intercelular torna-se a barreira limitante para a permeação cutânea.

E a facilidade da permeação continua nas camadas inferiores da pele: uma vez que passou

pelas barreiras do stratum corneum e da epidermis, a substância ativa entra na dermis cuja

permeabilidade fica mais alta quanto mais hidratada. Este efeito se consegue pela oclusão dos

poros e fendas nas camadas superiores. A vaselina é o veículo oclusivo mais conhecido (ver

p. 47). Isso deixa claro que substâncias oclusivas ocasionam dois efeitos contrários na pele:

eles dificultam a penetração pelas camadas superiores, mas facilitam a passagem pela dermis.

A permeação certamente depende também da natureza química da substância penetrante.

Falando em uma formulação cosmética ou farmazêutica, isso vale especialmente para o

componente em maior proporção, chamado de “veículo”. Pode-se verificar que o veículo

empregado interfere de maneira bastante importante na permeação cutânea. Este, por si só,

controla a tendência à liberação das substâncias ativas. A interação da substância ativa com o

veículo modula a tendência desta, sendo assim o veículo precisa primeiro liberar a substância

para que esta possa depois permear a pele. A afinidade entre o veículo e a substância ativa

pode ser ajustada acrescentando ou subtraindo cossolventes, ou incorporando substâncias que

formam um complexo com o ativo. A complexação e os aumentos de solvência, tendem a

baixar a atividade de captação da pele, diminuindo a absorção através da pele. Logo, a escolha

de um veículo adequado é muito importante no desenvolvimento de uma formulação

cosmética, pois além de influenciar na estabilidade e no sensorial desta pode ainda

proporcionar, ou não, a penetração da substância ativa na pele.

Certamente a ferramenta mais poderosa de se aumentar a permeabilidade do ativo é a

aditivação pelas já mencionados “promotores de absorção”, que interagem com o stratum

corneum, de maneira que a sua resistência natural fique temporariamente atenuada. Como

exemplos dos promotores químicos de absorção tem-se o dimetilsulfóxido (DMSO), ácido

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láctico, ácido oléico, ácido salicílico, tensoativos, uréia, solventes orgânicos (etanol, metanol,

acetona), entre outros. Porém, nem todos devem ser empregados, pois grande parte deles

ocasionam danos à pele. Então, as exigências aos promotores de absorção são:

Facilitar o transporte, principalmente através da stratum corneum,

Ser inócuos, não causando danos estruturais na pele, nem baixando irreversivelmente suas barreiras de transporte,

Não devem interferir com outros componentes da formulação,

Não devem modificar as características físico-químicas e sensoriais do produto.

Indicar teoricamente qual veículo permite maior penetração das substâncias ativas é de fato

muito difícil, pois a absorção cutânea é um assunto muito complexo uma vez que envolve a

liberação do ativo do seu veículo e a partição e difusão do mesmo para e através da pele.

O aumento da concentração do ativo na formulação também aumenta a permeação na pele,

segundo a lei de transporte mássico (1ª lei de Fick), porém esta estratégia tem severos limites.

Primeiramente por razões de segurança, já que o potencial tóxico do ativo aumenta com a

concentração. Também aumentam drasticamente o risco de irritações da pele, coceiras e ao

extremo: alergias. Para isso existe a regulamentação limitante pela ANVISA. O segundo

argumento contra o uso de ativos em altas concentrações certamente é o elevado custo dos

princípios ativos e o terceiro argumento é fornecida pela própria físico-química: a atividade

normalmente não aumenta de maneira linear com a concentração. Até podemos afirmar que

há um limite superior bem definido, atingido no momento da saturação. Já uma

supersaturação geralmente significa desperdiço da substância ativa, pois o ativo se cristaliza e

não é mais sujeito ao transporte cutâneo. Uma supersaturação pode ocorrer, entre outras

situações, quando um solvente volátil evapora antes que o ativo começou a penetrar a pele,

deixando um excesso na superfície que se cristaliza prontamente.

Além da mobilização química, há também métodos físicos que podem ser usados para

aumentar a permeação de ativos através da pele. Dentre os mais conhecidos pode-se citar a

massagem, o uso de ultrassom (“sonoforese”) e da corrente galvânica (“iontoforese”). O gel

hidrofílico é uma base cosmética que, geralmente, permite boa transmissibilidade das ondas

ultrassônicas e por isso tem sido muito empregado em formulações destinadas à sonoforese.

Já para a iontoforese a condição fundamental é que a substância ativa se apresente na forma

iônica; certamente, a água desionizada é o veículo mais indicado para o transporte dos ativos

ionizados por iontoforese.

Para concluir, quando uma substância química, presente em um veículo, entrar em contato

com a pele, vários fatores podem determinar a penetração cutânea. É trivial mencionar que

ainda têm-se fatores adicionais, como a área de superfície da pele, o tempo de contato com a

pele e a variação da permeabilidade cutânea em diferentes regiões do corpo, que também

influem na penetração.

5.7 Problemas acerca do cuidado da pele O processo de limpeza da nossa pele, geralmente, afeta também a flora bacteriana benéfica

(ver p. 32). Especialmente problemático é o uso frequente de produtos com alto pH, isso

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inclui o sabão tradicional. Os produtos de higienização modernos, portanto, tomam conta

desta carga evitável e permitem um restabelecimento rápido do pH natural da nossa pele.

5.7.1 Limpeza da pele, conforme as diferentes regiões corporais.

Cuidados especiais merecem algumas regiões do corpo, antes de tudo a região íntima, mas

também os olhos, nariz e boca (= mucosas). Isso vale, especialmente, em caso de pessoas

doentes, imobilizadas ou deficientes. São pessoas que não reagem de maneira natural aos

sinais de alerta quanto ao mal estar da sua pele, ou então não conseguem, de força própria,

limpar si mesmos de maneira satisfatória.

A princípio cada região do nosso corpo tem seu próprio pH. A explicação se deve à presença

de duas glândulas sudoríparas diferentes, conforme descrito na p. 32. Aqui alguns exemplos:

Tab. 12. Valores pH encontrados na superfície do corpo humano.

Região pH Região pH

Tornozelos 5,9 Axilas 6,5

Pés 7,2 Tronco 4,7

Coxas 6,1 Mamilos 6,0

Seios 6,1 Pernas 4,5

Cabelo 4,1 Pregas interdigitais 7,0

Rosto 7,0 Mãos 4,5

Costas 4,8 Nádegas 6,4

Vagina 3,5 a 4,5 Saco conjuntival 7,3 a 8,0

Este ambiente, evidentemente, é menos perturbado quando se aplica um produto cosmético

cuja concentração em acidez seja próxima à natural. Na discussão do pH em xampus, na p.

142, este assunto será retomado.

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6 Creme de pele

Cremes de pele, também chamados de cremes hidratantes, representam hoje a família mais

importante no setor cosmético. Especialmente a pele feminina (por ser mais fina e sensível)

requer a reposição frequente de umidade e gordura. De preferência aplicamos um produto

com ingredientes naturais, com óleos e gorduras cuja composição é próxima à da nossa

própria pele (ver última linha da Tab. 7, na p. 27). Além disso, os produtos naturais já contêm

outras substâncias ativas em traços que são altamente valorizadas. Um filme "hidrolípido"

equilibrado proporciona à pele uma aparência fresca e saudável.

Quais são os princípios de ação dos produtos hidratantes? Eles podem atuar aumentando a

absorção percutânea de água ou reduzindo a evaporação desta pela pele. Basicamente,

podemos identificar três princípios que contribuem à retenção de umidade dentro e de baixo

da pele:

1. A absorção percutânea de água pode ser aumentada por substâncias capazes de reter

água (= substâncias higroscópicas, na cosmetologia também chamadas de

umectantes).

2. A evaporação transepidérmica também pode ser diminuída por agentes oclusivos que

criam uma barreira hidrofóbica e reduzem a evaporação de água pela stratum

córneum. Essas substâncias são chamadas de emolientes.

3. Finalmente existem ainda substâncias ativas que penetram na pele e podem alterar a

renovação celular, como por exemplo os -hidroxiácidos.

6.1 Partes funcionais em produtos aplicados na pele Os componentes principais em qualquer produto a ser aplicado em cima da pele, conforme o

cap. 6, podem ser classificados em quatro grupos:

1. O veículo, também chamado de base do produto cosmético: de suma importância para

os efeitos benéficos e a qualidade do produto, certamente é a base da mistura. O valor

do produto quase que exclusivamente depende dos ingredientes da base. O melhor

aditivo não tem o efeito desejado se base for incompatível ou de qualidade

insuficiente. A maioria dos produtos vendidos hoje consiste de uma emulsão, óleo ou

cera, em água; durabilidade satisfatória nesta mistura física proporcionam os

emulsificantes (álcool de cetila, por exemplo) que também se contam à base do

produto. As bases mais usados em cosméticos serão apresentadas a seguir; algumas

receitas para bases de cosméticos para a pele se encontram no cap. 14.4.1.

2. Aditivos (bio)ativos que zelam da pele. Nesta família constam vitaminas e os

protetores solares, mas também a glicerina que tem efeito hidratante na pele, por ser

altamente higroscópica. Os aditivos geralmente representam somente uma pequena

parte da mistura; eles devem ser listados na etiqueta, conforme INCI, na ordem da sua

porcentagem em peso (isso não vale mais para aditivos de <1%). Embora o produto

cosmético consista quase só dos primeiros seis a oito ingredientes indicados na

embalagem, são justamente os demais aditivos, aplicados em quantidades minúsculas,

mas que determinam o preço (alto) do produto acabado.

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3. Agentes auxiliares, com finalidade de conservar (quimica e biologicamente) ou

estabilizar (fisicamente) a mistura emulsificada. Aqui encaixam os antioxidantes,

conservantes e espessantes.

4. Aditivos que aumentam a aceitação organoléptica do produto cosmético, tais como

corantes, pigmentos, perfumes e fragrâncias. Os corantes e pigmentos devem ser

referidos na embalagem, mencionando sua sigla de cinco dígitos, conforme o Colour

Index. Por outro lado, os perfumes, segundo INCI, não precisam ser descriminados na

embalagem, pois são segredos da fábrica. Os óleos etéricos naturais (Tab. 37 na p.

197) são mais valorizados nesta categoria.

O que vale explicitamente para remédios, vale também para os produtos cosméticos: tudo tem

limite! Cuidar e aplicar demais um produto pode causar o efeito oposto que desejado.

Irritações da pele e até alergias ao longo prazo podem ser os resultados quando estes produtos

forem aplicados de forma demasiada.

6.1.1 Ingredientes típicos em cosméticos para a pele

Antes de entrar em detalhes da formulação do cosmético, é importante familiarizar-se com os

componentes básicos, sua função e os representantes típicos, que são:

Água: utiliza-se mais a água desionizada.

Alcoóis: etílico, isopropílico. São utilizados em loções hidroalcoólicas, além de serem

veículos para os perfumes.

Umectantes: compostos poli-hidroxilados, tais como glicerina, sorbitol,

propilenoglicol, mas também a uréia (= derivado do ácido carbônico). Um extrato

natural com qualidades umectantes é de Aloe vera (= babosa). Estes aditivos

higroscópicos, uma vez aplicados em cima do nosso corpo, mantêm a umidade e

evitam assim o ressecamento de pele e cabelo.

Materiais gordurosos: têm efeitos emolientes, lubrificantes e espessantes. São usados

diversos óleos triglicerídeos (ver p. 27 e p. 47), lanolina, ácidos graxos, álcoois

graxos, ésteres graxos, e ceras. Os sintéticos são: óleo silicone e óleo mineral

(vaselina, um hidrocarboneto proveniente do petróleo; mais barato de todos).

Espessantes hidrofílicos: gomas, alginatos, derivados da celulose, resinas e polímeros

acrílicos são componentes orgânicos, cadeias poliméricas onde cada unidade repetitiva

dispõe pelo menos de dois grupos lateriais altamente polares. Assim formam um

colóide hidrofílico que aumenta a viscosidade da formulação. Além destes, são usados

também argilas (bentonita, montmorillonita) em forma de pó fino que igualmente

deixam a formulação mais grossa e tixotrópica, sem afetar seu efeito cosmético e/ou

sua aparência quando aplicados no corpo.

Estabilizantes físicos, biológicos e químicos, a dizer:

o Tensoativos: conforme apresentado no cap. 7.1, estes têm afinidade tanto por

óleo como por água. Estes agentes agem como compatibilizantes físicos, por

estabilizarem as microestruturas em emulsões. Sendo assim, são agentes

emulsificantes, limpadores e espumantes. Exemplos industrializados: Tween,

Span, laurilsulfato de sódio, laurilétersulfato de sódio.

o Conservantes: todas as formulações que contêm água requerem de um sistema

conservante bem desenvolvido e eficaz, para assegurar a inocuidade

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microbiológica do produto e uma vida de prateleira que satisfaz o cliente (ver

p. 52).

o Antioxidantes: são basicamente os mesmos utilizados em medicamentos;

alguns são idênticos com os em alimentos (ver p. 73). Eles protegem aquelas

partes da formulação que contêm grupos funcionais sujeitos à auto-oxidação

(principalmente os grupos C-H em posição alílica).

Essências: aumentam a aceitação organoléptica do produto cosmético. Essa parte da

cosmética não é discutida neste texto (literarura recomendada, ver nota de rodapé 3).

Corantes: também aumentam a aceitação do produto, mas devem ser acrescentados

em quantidades mínimas por serem sensibilizantes (têm potencial alergênico). São

basicamente os mesmos corantes que também são permitidos em alimentos 7.

Substâncias ativas: antioxidantes, anti-aging, anti-caspa, antisséptico, hidratante.

Representam de longe os componentes mais caros em uma formulação cosmética (ver

p. 53).

Estabilizantes de pH: são sistemas de tampão que impedem alterações do pH da

formulação, sejam estas provocadas pelas diversas influências externas ou por reações

lentas dentro da formulação. Exemplos: decomposição hidrolítica de ésteres dos

ácidos graxos fora da faixa 5 < pH < 7 (ver “estabilidade química” discutida na p. 47);

mas também lembramos da principal diferença de um depilatório e um alizante de

cabelo que é o pH (ver p. 164).

6.1.2 Veículos usados nos produtos cosméticos para pele

Algumas informações e classificações técnicas são úteis, para reconhecer os produtos que são

vendidos no setor "higiene" do supermercado. Isso vale especialmente para o tipo de veículo

em que o produto se baseia. Hoje aplicam-se os produtos para a pele com os seguintes

veículos, todos eles de natureza semi-sólida:

Pomada: no sentido mais rigoroso uma pomada é uma mistura à base de um veículo

hidrofóbico, tal como vaselina (= cera microcristalina; proveniente do petróleo) ou, o

que é mais raro hoje em dia, a base de banha de porco ou óleos vegetais. Além das

pomadas medicinais que se compram na farmácia, as segunda mais vendidas (em

termos de fatura em R$) são as pomadas de proteção e cobertura da pele. É essa base

hidrofóbica da pomada que determina a durabilidade da formulação e sua inocuidade

frente à pele. No sentido mais amplo a palavra "pomada" também inclui as

formulações semi-sólidas que podem conter substâncias ativas; neste caso inclui

também as pastas, cremes, emulsões e géis.

Cresa: mistura da consistência entre creme e pomada.

Creme: um creme consiste principalmente de água, óleo/gordura/vaselina e

emulsificantes. Além destes componentes principais ela pode conter de até 2% de

conservantes e agentes antimicrobianos, até 1% corantes cosméticos (inclusive óxido

férrico e brilho de madre-pérola). Mais fácil na preparação são as emulsões óleo em

água (O/W), quer dizer, onde a maior parte é a água. Já as misturas água em óleo

7 A. Isenmann, “Corantes”, Cap. 6.4, disponível no site

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:corantes

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(W/O) e as emulsões mistas (W/O/W ou O/W/O) são mais exigentes na produção, mas

oferecem geralmente as melhores qualidades na aplicação na pele humana. Uma lista

mais diversificada dos ingredientes em cremes hidratantes, ver p. 41.

Loção (vulgarmente chamada de "leite"): tem as mesmas características que o creme,

no entanto contém mais água.

Gel: feitos de formadores de gel: inorgânicos do tipo silicatos de sódio ou polímeros

orgânicos hidrofílicos (ver exemplos na p. 153), além de conterem álcool e

principalmente água. Entre os polímeros orgânicos se destacam:

Materiais hidrossolúveis da natureza (goma adraganta, goma arábica, pectina),

Material semi-sintético (hidroxietilcelulose HEC ou Natrosol,

carboximetilcelulose CMC),

Polímeros sintéticos polivinílicos (poli ácido acrílico ou Carbopol, poli álcool de

vinila, copolímeros destes).

Essa mistura deve ser necessariamente estabilizada contra a degradação microbiana.

Mais recentes são os lipo-géis, que não são feitos à base de água, mas à base de óleo

vegetal. Neste último não se precisa de álcool, daí não precisa lidar com os problemas

acerca de volatilidade. Além disso, os lipo-géis podem funcionar como veículo para

novas combinações de substâncias bioativas que não podem ser encorporadas em géis

tradicionais, devido às suas atividades em diferentes ambientes de pH. Sendo um bom

exemplo, o calcipotriol e betametasom, usados contra a psoríase (= caspas na pele).

Nota-se que no lipo-gel o pH não tem significado, já que o pH é uma propriedade

exclusiva do solvente água.

Gel-creme é uma base semelhante ao gel descrito acima, isto é, principalmente água.

Porém, aqui presente é uma baixa porcentagem de matéria graxa emulsionada. Essa

emulsão O/W recebe então bstante estabilidade pela presença do polímero hidrofílico

que age como colóide protetor e impede a coalescência das gotículas de gordura.

Cosméticos com esta base são também conhecidos como “oil free”, quando contêm

óleos que não causem erupção ou obstrução dos poros (= não comedogênicos, entre

eles: o esqualeno, óleo de macadâmia, óleo de silicone). Estes produtos são

especialmente indicados para peles normais, oleosas e mistas.

Lipossomas são vesículas submicroscópicas, formadas por moléculas anfifílicas,

porém predominantemente lipossolúveis. Os arranjos mais comumente encontrados

são a dupla-camada e o glóbulo, conforme mostrados na Figura 25 na p. 90. Muito

aplicados em forma de lipossomas são os fosfolipídeos, por sua vez especialmente

suave e compatível com a nossa pele. As vesículas multilamelares podem ocasionar

uma liberação prolongada do ativo numa formulação cosmética. Os lipossomas

formam-se espontaneamente quando estes lipídeos são dispersos em um meio aquoso,

dando origem a uma população de vesículas cujo tamanho pode variar entre 50 nm e

alguns micrômetros de diâmetro. Nota-se que essas vesículas são consideradas

incompatíveis com emulsões e preparações alcoólicas. Em emulsões porque os

tensoativos presentes nesta podem provocar a desorganização dos lipossomas

ocasionando sua ruptura, enquanto uma solução alcoólica pode solubilizar as camadas

lipídicas dos lipossomas e tornar-los igualmente instáveis.

Menos usados são os seguintes veículos:

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45

Solução: mistura homogênea de diferentes substâncias. Isto implica a restrição que

somente as hidrofílicas ou somente hidrofóbicas podem ser misturadas. Exemplo:

álcool farmacêutico que é de 70% etanol e 30% água. No entremeio das soluções

verdadeiras e as emulsões são as misturas coloidais que contêm partículas

submicroscópicas, de diâmetros típicos entre 10 e 1000 nm. Quando preparadas

recentemente essas misturas aparecem translúcidas ou fracamente turvas, parecidas às

soluções verdadeiras. Ao decorrer do tempo, porém, as fases se separam e as

partículas crescem, chegando num diâmetro onde espalham fortemente a luz visível.

Daí a mistura aparece inteiramente branca. Aditivos emulsificantes devem estabilizar

essas misturas sensíveis.

Óleos de banho: um óleo cheiroso da família dos terpenos está sendo acrescentado na

água da banheira. Forma-se um filme fino, calmante e bem cheiroso em cima da pele.

Alguns veículos destas categorias gerais e seu preparo, são apresentados no cap. 14.4.1.

6.1.3 Muito grosso ou muito ralo? A reologia dá a resposta.

A reologia é o estudo da resistência contra sua deformação, ofertado por um meio viscoso.

Podemos também falar que a reologia é uma medida quantitativa para a estabilidade mecânica

ou física do meio semi-sólido. Produtos cosméticos tópicos são reologicamente complexos.

As bases semi-sólidas (creme, loção, gel, gel-creme), conforme apresentadas acima possuem

propriedades particulares: elas se deformam facilmente quando aplicadas na pele, e ainda

permanecem aderidas ao corpo, geralmente até serem removidas por transpiração ou limpeza

da pele. Devido a essa particularidade são largamente utilizadas como veículos cosméticos.

Muitas loções e cremes com finalidades cosméticas, são sistemas O/A, e são preparados

usando tensoativos e álcoois graxos. Esses dois componentes podem ser colocados

separadamente durante o processamento do produto, ou então podem ser incorporados já

misturados (ceras auto-emulsionantes, ver p. 47). O álcool graxo interferemuito na reologia

do produto final, e portanto na estabilidade deste. A estrutura de um creme pode influir nas

propriedades físico-químicas e na biodisponibilidade de uma substância ativa. Em vista disso,

tem se notado grande interesse em conhecer e entender a microestrutura de formulações

cosméticas e farmacêuticas. Emulsões geralmente são compostas de emulsificantes, álcoois

graxos, óleos e água, e a estrutura básica de uma emulsão O/A é conhecida como estrutura

"gel network", que representa a maneira pela qual o tensoativo e o álcool graxo interagem

com a água, proporcionando a estrutura da formulação.

No reograma se monitora o torque aplicado a um agitador, enquanto o meio viscoso é mexido

com velocidade progressiva e/ou regressiva. Um creme apresenta, geralmente, uma grande

área de histerese, enquanto que uma estreita área de histerese caracteriza as loções. Algumas

emulsões, principalmente aquelas que possuem tensoativos não iônicos, adquirem

consistência lentamente, e por isso muitas vezes apresentam aumento da viscosidade durante

estocagem de alguns dias. Utilizando-se a reologia, pode-se verificar a consistência do

produto e prever a sua estabilidade no decorrer de seu tempo de prateleira.

A consistência do veículo é um fator importante, principalmente quando a substância ativa

não é muito solúvel no veículo, pois a viscosidade dificultará a difusão desta no veículo,

dificultando, portanto, o seu contato com a pele. Preparações cosméticas, como as emulsões,

são termodinamicamente instáveis, pois apresentam uma grande área de contato entre duas

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fases que, a princípio, são repelentes e mostram a tendência natural de coalescência. Sendo

assim, com o decorrer do tempo apresentam sinais progressivos de instabilidade, com

eventual separação de fases. Logo, o envelhecimento das formulações pode ser previsto por

estudos reológicos. Em alguns minutos de testes pode-se estipular o comportamento do

produto, durante meses e anos.

Sobre os espessantes e a fluência de xampus relata o cap. 8.4.2 (p. 141).

6.1.4 Estrutura física do creme comum: a emulsão

Emulsões são gotículas de água dentro de óleo (W/O) ou gotículas de óleo dentro da água

(O/W). Fator mais importante que define o tipo de emulsão são as proporções dos

ingredientes: naturalmente, a fase contínua deve estar presente em maior proporção.

Lembramos que uma emulsão se caracteriza por ter gotículas bastante pequenas, com

diâmetros na ordem de poucos micrômetros. Assim, as duas fases repelentes, água e óleo,

expõem uma grande área de contato (A). Como vimos na equação do cap. 7.1, isto é

desvantajoso e o sistema se torna instável. Para atenuar a tendência para coalescência, as

emulsões requerem de uma estabilização em forma de um emulsificante, por sua vez uma

substância que se acumula na interface água/óleo, onde abaixa a tensão interfacial (.

Portanto, todos os cremes comercializados contêm emulsificantes que asseguram uma

mistura homogênea e consistência do produto, ao longo prazo. Os compostos que preenchem

este papel já conhecemos: são moléculas anfifílicas, da família dos detergentes.

• Abaixam a tensão interfacial entre a fase oleosa e aquosa, formando micelas microscópicas.

• No caso de detergentes iônicos: introduzem, através da sua carga na cabeça polar, um

excesso de cargas na superfície de cada micela. As micelas entre si se repelem por

eletrostática.

• No caso de detergentes não iônicos: organizam-se em forma de lipossomas ou duplas-

camadas, podendo enluvar e proteger a fase em menor parte.

• Abaixam assim a tendência de as gotículas coalescerem, assim impedem que as fases

se separem, macroscopicamente.

Para classificar os emulsificantes a cosmetologia usa, além das categorias apresentadas no

cap. 7.3, o valor empírico de HLB (Hydrophilic Lipophilic Balance):

valor alto: parte hidrofílica domina; estes emulsificantes são mais indicados para emulsões

O/W.

valor baixo: parte lipofílica domina; usados em emulsões W/O.

A classe de detergentes que melhor se adaptou como emulsificante em cremes da pele, são os

não iônicos que têm como cabeça polar um éter oligomérico de oxietileno:

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47

O

OHn

4 < n < 12,

ou então um açúcar (= poliol), como visto no Tween ou Span (p. 103).

Outros emulsificantes bastante usados em cremes hidratantes são o mono-estearato da

glicerina (não iônico) e o ácido esteárico livre (não iônico, ligeiramente aniônico).

Para se predizer a estabilidade de uma emulsão a longo prazo pode ser aplicada uma

centrifugação. Sob condições padronizadas (muito usados são 3000 rpm por 30 minutos) a

amostra não deve apresentar duas fases distinguíveis pelo olho nu.

Algumas receitas como preparar a base de cremes e outros produtos de uso tópico se

encontram no cap. 14.4.1.

Ceras auto-emulsionantes

A combinação de um tensoativo e um derivado graxo que é predominantemente lipofílico, é

conhecida como “cera auto-emulsionante”. Essa combinação pode ser usada para produzir

emulsões bastante duráveis, enquanto sua manipulação é especialmente confortável. Portanto,

as ceras auto-emulsionantes são bastante vantajosas para pequenos fabricantes de cosméticos,

assim como nas farmácias de manipulação. Elas permitem a fácil e rápida obtenção de cremes

e loções, assim entram favoravelmente em produtos para cabelos, condicionadores “Leave-in”

e para cuidados da pele, entre outros.

Em quase todas tem-se uma quantidade maior de material graxo, tipicamente 10 partes de

álcool graxo para l parte de tensoativo. O material graxo empregado não deve ser inteiramente

hidrofóbico, mas deve ter certo caráter anfifílico. No entanto, ele sozinho não será capaz de

formar uma emulsão aquosa durável. Sua baixa hidrofilia requer da ajuda de um emulsificante

principal (o tensoativo).

O álcool graxo, quando usado com este propósito, também é chamado de emulsificante

auxiliar, emulsificante secundário ou co-emulsificante. Sua principal função é dar viscosidade

à emulsão.

São exemplos de ceras auto-emulsionantes muito comercializadas hoje:

Álcool cetoestearílico + cetoestearil sulfato de sódio (Lanette N ®),

Álcool cetoestearílico + lauril sulfato de sódio (Lanette WB ®),

Álcool cetoestearílico + álcool cetoestearílico etoxilado (Cosmowax ®

, Uniox A ®),

Álcool cetoestearílico + metassulfato de berrentrimônio (Varisoft BTMS ®, Incroquat

behenyl TMS ®).

6.1.5 O papel dos aditivos emolientes em cosméticos tópicos

A incorporação de substâncias ativas hidratantes e emolientes em formulações cosméticas tem

por finalidade opor-se à perda excessiva de umidade da pele.

Além dos lipídeos lamelares situados no estratum córneum e provenientes da síntese lipídica

que ocorre nos queratinócitos durante a renovação celular, existe também, na superfície da

pele humana, uma emulsão natural, ou seja, uma película “hidrolipídica” superficial, a qual é

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formada pela mistura da secreção sudorípara com os lipídios provenientes das glândulas

sebáceas. A presença dessa emulsão protege a pele das agressões ambientais, como por

exemplo o sol, vento, radiação ultravioleta, baixa umidade, etc.

Logo, pode-se dizer que os lipídeos apresentam diferentes finalidades nos produtos

cosméticos. Alguns dentre eles, podem misturar-se à película hidrolipídica da superfície

cutânea formada pela mistura do suor e do sebo e outros podem adicionar-se aos lipídeos

presentes entre os queratinócitos das camadas superficiais da epidermis. Muitos ainda podem

favorecer o toque e assim proporcionar um sensorial agradável.

6.1.6 Sobre os óleos usados em cremes

Todos os cremes contêm óleos, sejam naturais ou sintéticos, os últimos sendo mais baratos.

Dentre os sintéticos se destacam o miristato de isopropila, C13H27-COO-CH(CH3)2, parafinas

provenientes do petróleo, alcoóis graxos ou óleos de silicone, da fórmula geral

HO-(R2SiO)x-H , H3CO-(R2SiO)x-CH3 ou R3SiO-(R2SiO)x-SiR3 (com x = 50 a 100; R =

CH3 ou C2H5). O óleo mais recente nesta família é o dimeticone, um copolímero grafteado de

silicone e oxietileno (ver Figura 55, molécula do meio). Estas e outras aplicações dos

silicones na área dos cosméticos são apresentadas na p. 175.

O

OSi

CH3

CH3

O HHO

x = 50 a 100Miristato de isopropila

Óleo silicone

Os óleos usados em produtos cosméticos devem satisfazer três critérios:

Estabilidade química,

Espalhabilidade e

Oclusividade.

Estabilidade química:

Ésteres somente são estáveis em ambientes entre 5 < pH < 7. Isso certamente restringe a

aplicação de gorduras e óleos naturais. Além disso, os óleos (poli)-insaturados sofrem

facilmente oxidação no ar (“oxidação alílica”, ver p. 73 e Figura 16). Portanto, não devem ser

aplicados em grande quantidade nas formulações comercializadas. Ácidos graxos saturados

são resistentes contra oxidação, mas seus ésteres ainda estão sujeitos à hidrólise – embora sua

hidrofobia inerente torne este processo mais lento. O mais usado, por ser mais barato e

também quimicamente mais estável, é um hidrocarboneto saturado, então uma molécula sem

grupos funcionais que são sujeitos à oxidação, hidrólise ou outro mecanismo de degradação

(inclusive a bacteriana): o óleo de parafina. Trata-se de uma fração do petróleo cujo ponto de

ebulição fica acima do óleo nafta. Altíssima estabilidade química, porém tendências

retrógradas em cosméticos, têm os óleos de silicone, por terem sido o foco de uma discussão

polêmica.

Oclusividade:

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Os óleos, considerados como emolientes em uma formulação cosmética, têm a propriedade de

formar um filme oclusivo para impedir a evaporação de água transepidérmica sem, no

entanto, provocar a obstrução dos poros. Sendo assim, eles retêm a água nas camadas

inferiores da pele. Quando a concentração da água for mais alta na dermis, a pele fica mais

elástica e mais lisa. Além disso, um alto teor em umidade nesta camada ajuda esconder

pequenas ruguinhas. As vaselinas líquidas (óleos minerais; “petrolatum”) e os óleos silicones

são considerados muito oclusivos.

A espalhabilidade depende da natureza química e da viscosidade do óleo. Esse é o critério

que proporciona a sensação de “absorver” na pele - o que não é verdade, pois o óleo se

mantém na camada externa. Mas podemos afirmar que tais emolientes que mostram boa

espalhabilidade, também aumentam o conforto do usuário do creme, pois reduzem a aderência

no tato (toque seco) e o reflexo da luz pela pele tratada. Estes emolientes compensam assim as

insuficiências dos demais ingredientes graxos do creme em espalhabilidade, especialmente

tais com alto ponto de fusão e alta tendência para cristalização (o que é o caso nos álcoois

graxos saturados, por exemplo).

Tendência empírica na espalhabilidade de óleos:

Miristato de isopropila Óleos de silicone óleo de rícino, mamona

(um mono-éster ou cera) (com > 20 unidades de OSiMe2) (triglicerídeo rico em C22)

Outros emolientes frequentemente usados são óleo de côco e cetilésteres.

Além destes critérios principais, os óleos e as demais substâncias emolientes vêm sendo

frequentemente adicionados aos cosméticos de pele porque podem melhorar o sensorial e até

mesmo apresentar algum efeito benéfico, pois na pele humana existe uma série de lipídeos, os

quais são importantes para a manutenção das condições fisiológicas adequadas. E, finalmente,

representam um veículo para os ativos lipofílicos, quer dizer, facilitam o transporte do ativo

até a membrana lipídica (feita de ceramidas, principalmente) onde podem ser absorvidos.

As proporções dos óleos com perfil específico dentro da formulação dependem das exigências

do consumidor ao creme. Ele escolha conforme a ocasião quando usar, a necessidade e do

local onde pretende aplicá-lo:

Creme hidratante diurno (contém predominantemente óleos de alta espalhabilidade)

Creme hidratante noturno (contém predominantemente óleos de alta oclusividade)

Creme facial

Creme íntimo

Creme de pé

Creme de assaduras (creme de bebê)

Creme com protetor solar

Máscaras hidratantes

Cremes especiais (depilação, tintura, etc.)

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50

6.1.7 Lanolina, o aditivo emoliente preferido em cosméticos tópicos

Dentre os vários lipídeos empregados em formulações cosméticas e dermatológicas destaca-se

a lanolina e seus derivados. Na verdade, não é a composição perfeita de lipídeos, mas os

crescentes conhecimentos acerca dos constituintes da pele permitem o desenvolvimento de

formulações tópicas cada vez mais biocompatíveis.

Produção da lanolina

A lanolina se obtem na tosagem da lã dos carneiros, onde sai junto à água de lavagem (com

detergentes). De lá pode ser separada por centrifugação após a adição de ácido. O refinamento

da lanolina crua requer várias etapas, pois as impurezas são de natureza diversificada. A

primeira etapa é o banho em ácido clorídrico/fosfórico diluído, para transformar todos os

sabões em ácidos graxos que por si são insolúveis. Ao mesmo tempo, todas as impurezas

inorgânicas vão ser levadas junto ao ácido diluído. Depois a lavagem da lanolina com água

quente até que a água reaja neutra.

Segue a reconstituição dos sabões usando NaOH (ou soda, Na2CO3). Na presença de etanol ou

i-propanol de 20 a 30%, todos os sabões se solubilizam em podem ser separados, a serem

comercializados a parte. Nesta etapa deve-se evitar um excesso de base, já que ela pode

catalisar a hidrólise das ceras (= ésteres) contidas na lanolina. Seguem novamente lavagens

com água quente.

Um problema recente representam os resíduos de pesticidas com que os carneiros foram

tratados, para combate de carrapatos. Estes, como são lipossolúveis, se acumulam na lanolina.

Para sua remoção se aplica uma destilação a alto vácuo. Um efeito bem vindo desta etapa é a

desodorização, pois a lanolina crua tem um forte cheiro rançoso. E ainda pode ser reduzido

drasticamente o teor de álcoois graxos livres que são responsáveis para a elevada

compatibilidade da lanolina crua com a água. Mais em frente o grau de molhabilidade da

lanolina e seu poder como emulsificante ficarão bastante reduzidos.

Os restos de detergentes, nesta altura do tratamento, já ficam reduzidos abaixo do limite

exigido. Caso contrário, pode-se aplicar uma etapa de extração com um solvente polar, tal

como etanol a 45% ou i-propanol; alternativa é o tratamento de um material adsorvente

finamente particulado (contendo carvão ativado ou argila), seguido por uma filtração.

Uma questão de estética pode impedir uma lanolina naturalmente marrom; daí se aplica um

alvejamento com água oxigenada. Essa etapa, no entanto, pode provocar um elevado cheiro

rançoso, por isso a concentração e as condições neste tratamento devem ser rigorosamente

monitoradas. Também os restos de peróxidos orgânicos no produto tratado devem ser

removidos. Finalmente a etapa de secagem, com ar quente ou vácuo e a aditivação de 200

ppm de BHT (cap. 6.4) como antioxidante. Resulta um produto semi-sólido, quer dizer, uma

cera de ponto de fusão bastante baixo, levemente amarela e com leve cheiro característico.

Composição da lanolina

A lanolina é uma mistura complexa de ésteres de alto peso molecular (até 96%) , esteróis,

ácidos graxos livres (que podem ser removidos pelo tratamento descrito acima) e

hidrocarbonetos. Mais especificamente, os ésteres de cadeia longa da lanolina se devem aos

seguintes constituintes:

Alcoóis graxos

Ácidos graxos

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Hidroxiácidos (cerca de 32% da fração dos ácidos graxos livres)

Dihidroxi-alcoóis (cerca de 7% da fração dos álcoois)

De acordo com estas funções, a cera da lanolina é uma mistura de ésters simples, di-ésteres e

hidroxi-ésteres. Sua hidrólise completa revelou, por enquanto, a presença de 69 alcoóis

alifáticos (C14 a C36), 138 ácidos graxos (C8 a C41) e 6 esteróis! A presença de esteróis

(como ex: colesterol) e principalmente os álcoois graxos livres (até 10% do peso total)

confere à lanolina a propriedade como emulsificante W/O (cap. 6.1.4); ela consegue

incorporar uma quantidade apreciável de água (cerca de duas vezes o seu peso).

Na lanolina existe pequena porcentagem de compostos insaturados, e portanto é pouco sujeito

à rancificação.

Dentre os inconvenientes do uso da lanolina pode-se mencionar:

O cheiro desagradável,

O poder de provocar alergias (cerca de 1% da população se mostra alérgica contra a

lanolina)

A dificuldade de manipulação pelo fato de ser muito viscosa (manipulação e aplicação

da lanolina podem ser bastante melhoradas pela mistura com azeite de oliva, óleos

estéricos, vanilina ou outras fragrâncias lipossolúveis).

Tais inconvenientes têm levado ao desenvolvimento de vários derivados da lanolina.

Aplicações da lanolina e seus derivados em cosméticos

Em formulações cosméticas a lanolina purificada é empregada como co-emulgador, como

lípido fortemente aderente e como sobre-engordurante. A lanolina penetra bem na stratum

corneum e mostra pouca tendência de oxidação (= rancificação). Sendo assim, ela reduz a

evaporação transepidérmica e é um ótimo regulador da umidade da pele.

A lanolina e seus derivados (ver Tab. 13) são substâncias que, geralmente, aumentam o

deslizamento de loções e cremes durante a aplicação e recuperam a lubrificação da pele. Essas

substâncias vêm sendo muito empregadas em formulações de uso tópico porque possuem

excelente desempenho na substituição do sebo humano, proporcionando várias funções

desejadas.

Além dos cremes de pele comum, é utilizada na linha masculina (em sabões de barba), acelera

a cicatrização de feridas e assadaduras, faz parte em produtos para o bebê, cremes para pele

estressada (por exemplo, devido ao contato excessivo com detergentes e agentes químicos);

além destes, é parte essencial em zelador de couro.

Tab. 13. Os derivados da lanolina e suas qualidades em cosméticos 47

Composto Funções e qualidades

Lanolina Agente condicionante da pele e dos cabelos, emoliente, agente co-

emulsionante (auxiliar dos tensoativos)

Alcoóis da

lanolina

Mistura de álcoois graxos obtidos da hidrólise e/ou lavagem da lanolina

crua. Serve como estabilizante de emulsões e condicionador de cabelos.

Aumenta a viscosidade de formulações não aquosas e serve em cremes

como emulgador W/O. Normalmente possui alta porcentagem de colesterol

(~ 28%). Vantagem: não provoca alergias cutâneas.

Lanolina Pelo tratamento da lanolina com anidrido acético. Não contém mais alcoóis

graxos livres. Serve como condicionante para pele e cabelos, é emoliente

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acetilada oclusivo. Possui potencial alergênico reduzido.

Lanolina

etoxilada

Ésteres e éteres de (poli)etilenoglicol, formados pela reação da lanolina com

um excesso definido de oxietileno (temperatura entre 137 e 170 °C;

presença de metóxido de sódio como catalisador). Através do comprimento

da unidade poli-oxietilênica pode-se ajustar a HLB. Sendo assim, o produto

pode se mostrar apenas hidrodispersível, com 20 a 40 equivalentes de

oxietileno se torna até hidrossolúvel. Assim o derivado da lanolina se verte

do emulgador W/O em um emulgador O/W.

6.1.8 Agentes umectantes

A água contida na emulsão do creme certamente é o componente mais importante para ajustar

o balanço de umidade da nossa pele. Mas existe também uma série de outras substâncias

auxiliares para este propósito. Elas ajudam segurar a água dentro das camadas da dermis (ver

p. 21), através do seu caráter higroscópico.

A uréia, H2N-(C=O)-NH2, certamente é uma das substâncias mais eficazes para reter a

umidade na pele. Formulações contendo uréia são frequentemente recomendadas pelos

dermatologistas, para pacientes com pele extremamente seca. Um dos umectantes mais

eficazes da natureza é a babosa (= aloe vera). Em análises profundas foram identificados mais

de 160 substâncias ativas no extrato da babosa, tais como enzimas, vitaminas, minerais e

proteínas. Também é conhecido o efeito de segurar a umidade, de extrato de algas. Mas no

topo da lista dos umectantes utilizados é de longe a glicerina (ou glicerol). Esse poliol é

altamente higroscópico, barato e, muito importante para sua aplicação na dermis: é líquido.

6.1.9 Conservantes em cremes

Sempre presentes em cremes são as substâncias auxiliares de conservação, tanto no sentido

químico como biológico. Isso vale para todos os produtos duráveis que contêm água. Não

acredite quando notado no rótulo: "não contém conservantes". O dito sobre os antioxidantes

(cap. 6.4), também é o papel desta classe de substâncias: retardar a degradação (rancificação)

das gorduras. Além disso, não podemos esquecer o potencial de desenvolvimento de

micróbios dentro do creme, já que todos os nutrientes e também água estão presentes.

Portanto, o consumidor corre o perigo de infecção microbiana quando aplica um produto

vencido. Os conservantes serão discutidos sob os aspectos químicos no cap. 6.4 e sob os

aspectos biológicos no cap. 8.4.

Não se tem unanimidade sobre a quantidade em que esses conservantes devem ser aplicados.

Alguns produtores os colocam em abundância e variedades bastante tóxicas, para assegurar o

nível de micróbios (até as variedades mais raras) em nível zero sobre um longo tempo. Porém,

o melhor é o princípio: usar o mínimo, mas tanto quanto precisa. Alguns óleos já são bastante

duráveis pela composição natural. Óleo de jojoba e o óleo de abacate, por exemplo,

dificilmente rancificam. Além disso, existem conservantes brandos, tais como alcoóis naturais

ou certos óleos etéricos (terpenos). Também pode ser usado como conservante o próprio ácido

benzóico: embora também ocorra na natureza, certamente é mais barato e eficaz usar o

produto sintético. Finalmente, é a Resolução n° 79, de 28 de agosto de 2000, que indica a lista

de conservantes permitidos e as suas respectivas concentrações máximas que podem ser

utilizadas.

Na maioria dos casos de irritações de uma pele sensível, os culpados são os aditivos

conservantes, enquanto os componentes da base somente têm um potencial alergênico muito

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baixo - salvo os casos particulares onde se acharam restos de níquel, provenientes do

catalisador de hidrogenação das gorduras poli-insaturadas, que causaram inconveniência ou

até alergia no consumidor.

6.1.10 Formulação típica de um creme hidratante diurno:

10% óleo éster do ácido octanóico e álcool cetila e estearila

7% álcool graxo álcool cetila e estearila

3% Umectante propilenoglicol

1,5% Emulsificante poliéter feito de álcool cetila e estearila + 6 óxido de etileno

1,5% Emulsificante poliéter feito de álcool cetila e estearila + 12 óxido de etileno

1,2% Conservante Metilparabeno (fórmula ver p. 79)

0,2% Perfume

Além destes, é claro:

76,6% Água

6.2 Compostos ativos nos cosméticos da pele

A indústria oferece seus

produtos com parolas

marcantes, tais como

"Sempre jovem" ou

"Realce sua beleza

natural".

Usam-se extratos e óleos

de plantas tropicais, marinhas,

ervas, algas etc., sempre em concentrações

muito baixas (o que conhecemos dos homeopáticos).

Mas: a eficiência da maioria destas substâncias não é comprovada clinicamente.

Porém, os efeitos fisiológicos de alguns compostos são bem estudados, particularmente

As vitaminas A, C, E e a provitamina B5 (pantenol), e também

Os hidroxi ácidos carboxílicos, especialmente os -hidroxi ácidos (AHA´s) e os -

hidroxiácidos.

6.2.1 Vitaminas e sua aplicação tópica

Quase todos os cremes de pele contêm ainda substâncias que promovem a renovação das

células da pele, proporcionam proteção e uma sensação de bem-estar ao consumidor. Todavia,

uma aplicação de vitaminas através do creme não libera da necessidade de ingestão das

mesmas. Nem mesmo o melhor produto cosmético pode consertar os defeitos devido a uma

alimentação errada ou falta de vitaminas na comida. Além das vitaminas são igualmente

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importantes na comida o ferro, zinco e o selênio, sendo considerados essenciais para uma pele

saudável.

Há aproximadamente um século que associamos as vitaminas com saúde, sendo parte

essencial da nossa comida, ou seja, elas devem ser ingeridas regularmente para manter nosso

corpo em estado saudável. Bem mais recente são os conhecimentos acerca da atividade

metabólica da pele que enfim revelaram que as vitaminas trazem também benefícios à pele

quando aplicadas de forma tópica. Isso repôs a antiga crença que as vitaminas não poderiam

penetrar na pele. E não só os objetivos da cosmética, tais como prevenir, retardar ou impedir

certas mudanças degenerativas associadas ao processo de envelhecimento, mas também o

papel terapêutico das vitaminas tópicas é comprovado hoje, entre estes: atenuar a pele seca e

escamosa e a formação de rugas.

Seguem as apresentações breves destas vitaminas, em ordem alfabética.

A família dos retinóides, vitamina A

A vitamina A ou seu dimero, o -caroteno, são bastante aplicados em produtos indicados para

peles pálidas e secas. Também se usa a vitamina E que, devido à sua estrutura química (p.

77), apóia a formação da camada lípida e ainda tem efeitos antioxidantes em cima da pele.

Pelo último motivo essas vitaminas serão mais uma vez referidas no cap. 6.3. Aqui somente

será mencionado o efeito dos antioxidantes frente à gordura. Tanto as gorduras insaturadas

produzidas nas glândulas sebáceas, como os óleos insaturados dentro da formulação do

creme, podem sofrer oxidação prévia quando em contanto com o ar. Uma vez oxidados eles

mudam as suas características:

Quebra das cadeias carbônicas, levando a moléculas de 4 a 10 carbonos;

Formação de novos grupos funcionais, particularmente aldeídos (ver exemplo na Figura 16);

Aumento do caráter hidrofílico, etc.

Uma gordura com estas características é popularmente chamada de "rancificada" ou

“rançosa”.

A vitamina A encontra-se amplamente distribuída em tecidos vegetais e também em

alimentos de origem animal, como manteiga, gema de ovos e fígado. É conhecida como

retinol e possui a fórmula química C20H24OH:

Vitamina A (retinol)

A forma mais abundante desta vitamina em vegetais, frutas e algas, no entanto, é seu dímero,

o -caroteno (ver Figura 18 na p. 78). Sua produção bioquímica requer 8 unidades

isoprênicas, dispostas em geranil geranil pirofosfato. O caráter altamente apolar do composto

indica seu isolamento através da extração com solvente apolar, por exemplo, hexano. Quando

usado em alimentos, o -caroteno ganha o número E160a. Na natureza, inclusive em nosso corpo, o β-caroteno é um precursor (forma inativa) da vitamina A que é liberada através da

ação da enzima beta-caroteno 15,15´-monooxigenase.

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Se houver a função aldeído em lugar da de álcool, no grupo polar terminal da molécula da

vitamina A, tem-se o retinal, essencial para a visão noturna. Caso haja um grupo carboxila,

tem-se o ácido retinóico, metabólito da vitamina A cuja ação fundamental está associada ao

processo de diferenciação das células epiteliais.

Figura 8. Metabolização da vitamina A

Existem dois isômeros do ácido retinóico: o ácido 11-trans-retinóico (tretinoína) e o ácido 13-

cis-retinóico (isotretinoína). O uso do ácido retinóico não é permitido em produtos

cosméticos, limitando-se aos produtos dermatológicos. A função principal dos retinóides na

pele relaciona-se à hiperproliferação da epiderme (aumento dos estratos espinhoso e

granuloso). Os efeitos estimulantes da vitamina A e de seus derivados, na pele, tendem a

combater as mudanças que ocorrem com o envelhecimento. A pele envelhecida mostra uma

epidermis mais fina, a camada de queratina é também fina e malformada e a camada granular

é reduzida a uma única camada de células contendo grânulos de queratina. Todos esses sinais

de atividade reduzida tendem a ser revertidos pela aplicação tópica de doses adequadas de

vitamina A. Estudos relatam que a aplicação tópica de 10.000 UI/dia de palmitato de retinol

melhora a elasticidade da pele.

Três grupos de derivados da vitamina A são conhecidos:

não aromáticos (ésteres da vitamina A, tretinoína, iso-tretinoína)

mono-aromáticos (etretinato, acitretina, motretinida)

poli-aromáticos (adapaleno, tazaroteno)

Verifica-se que os retinóides possuem diferentes aplicabilidades. O palmitato de retinol é

usado em preparações cosméticas e a tretinoína é indicada para o tratamento tópico da acne e

da pele envelhecida. A isotretinoína é usada, por via sistémica, para o tratamento da acne

enquanto a motretinida e o adapaleno são usados topicamente, também para o mesmo

problema. O etretinato e a acitretina são usados por via sistémica para o tratamento da

psoríase enquanto o tazaroteno é usado para a mesma finalidade, porém por via tópica.

Os ésteres de vitamina A têm sido usados como componentes de formulações cosméticas.

Porém, o papel dos retinóides na regulação do desenvolvimento da pele parece ser melhor

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desempenhado pela tretinoína (= forma trans do ácido retinóico), portanto a atividade do

palmitato de retinol no tecido cutâneo poderá depender da sua conversão em ácido retinóico.

Essa conversão depende da clivagem enzimática da ligação éster e da oxidação do retinol em

ácido retinóico.

A tretinoína foi o primeiro retinóide a ser sintetizado e tem sido usada em produtos tópicos

para o tratamento da acne e para o tratamento do fotoenvelhecimento. Essa melhora foi

relacionada à compactação do stratum córneum, ao aumento da camada granular com maior

espessura da epidermis, aumento do número de mitoses nos queratinócitos, presença de

glicosaminoglicanas. Observou-se clinicamente uma diminuição acentuada das rugas e vincos

e uma melhora na textura e elasticidade da pele.

A iso-tretinoína (= forma cis do ácido retinóico) tem sido usada por via oral, no tratamento da

acne severa.

Pela nossa surpresa, uma aplicação tópica de vitaminas pode ter efeitos superiores à

administração oral delas, pois ocasionam maior concentração da respectiva substância ativa

na pele, fortalecendo o epitélio e permitindo a ação farmacodinâmica. Porém, para que as

vitaminas e seus derivados exerçam seus efeitos na pele é preciso que ocorra penetração

cutânea dessas substâncias ativas. Isso quer dizer que a penetração do palmitato de retinol

depende do veículo no qual é incorporado, ou até mesmo de outras substâncias ativas

acrescentadas na formulação.

A vitamina A e seus derivados são instáveis em presença do oxigênio ou quando expostos à

luz e a altas temperaturas, sendo que os ésteres dessa vitamina oferecem notáveis vantagens

no que diz respeito à estabilidade na formulação cosmética. O palmitato de retinol é o mais

estável dos ésteres da vitamina A. Ele pode ser incorporado diretamente em emulsões e,

ainda, pode ser colocado em gel quando um tensoativo for acrescentado para promover a

uniformidade da dispersão. O palmitato de retinol não deve ser exposto a temperaturas acima

de 45 °C. Os antioxidantes são benéficos na estabilidade química desse éster, sendo o -

tocoferol o mais recomendado (= vitamina E; ver abaixo). O produto cosmético que veicula o

palmitato de retinol deve ter seu pH em torno de 5 a 6, onde a velocidade da sua hidrólise é

mínima. Mas, mesmo tomando todos esses cuidados, não é nada fácil conseguir estabilizar o

palmitato de retinol em formulações cosméticas. Um avanço em aplicabilidade deste éster é

em forma de microcápsulas, por exemplo, em lipossomas (p. 44).

Vitamina B

Outro composto com efeito benéfico é o pantenol (= provitamina do complexo B5, fórmula a

seguir). Mostrou efeito curativo, desde que alcança as camadas inferiores da pele. Uma das

suas possíveis aplicações é o “xampu bomba” (ver p. 224).

HONH OH

OHH

O

Figura 9. D-pantenol, comercializada como Bepantol

O D-pantenol tem sido utilizado em um grande número de formulações cosméticas e

farmacêuticas, como cremes e loções para a face e o corpo, pomadas labiais e batons, xampus

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e condicionadores. O D-pantenol é uma pró-vitamina que, quando aplicada topicamente, é

convertida a ácido pantotênico, por sua vez uma vitamina do grupo do complexo B, que é um

constituinte natural da pele e do cabelo.

A regeneração celular da epiderme é acelerada com a aplicação tópica do pantenol, formando

o epitélio com eleva do nível organizacional das estruturas formadoras da epiderme. Sua

aplicação tópica auxilia na cicatrização de lesões superficiais presentes em queimaduras,

fissuras, escaras e cirurgias plásticas; dermatoses ulcerativas e alérgicas, com bons resultados

estéticos. Também eleva a resistência a inflamações, eritema, alivia coceiras compossível

ação anti-histamínica.

O pantenol está disponível em duas formas: o isômero dextro-rotatório, D-pantenol, ou a

forma racêmica, D,L-pantenol. A atividade fisiológica da forma racêmica é 50% da do

isômero dextro-rotatório. O D-pantenol é um líquido incolor, viscoso, enquanto que o D,L-

pantenol é um pó branco cristalino. Ambas formas são solúveis na fase aquosa da formulação.

Vitamina C

Como será apresentado mais em detalhe na p. 76, a vitamina C (= ácido L-ascórbico) atua

como antioxidante, assim protege a pele contra os perigosos radicais livres. Além disso, esta

vitamina participa como cofator na hidroxilação da hidroxiprolina, importante aminoácido do

tecido conjuntivo, e portanto sua aplicação tópica pode melhorar a elasticidade e firmeza da

pele.

O ácido ascórbico atua também como um inibidor da biossíntese melânica, e por isso o uso

constante pode clarear a pele. Sua biocompatibilidade e a aceitância pelo nosso corpo são

excelentes. Logo, a vitamina C é benéfica para a pele, porém a sua instabilidade em

formulações aquosas e quando expostas ao oxigénio e à luz dificultou por muito tempo o

emprego desta em fórmulas tópicas. O emprego de antioxidantes protetores nas formulações é

ineficaz, na maioria das vezes, já que o próprio ácido ascórbico é um redutor de destaque. A

associação de sulfato de zinco e L-tirosina melhora da estabilidade e eficácia na pele da

vitamina C.

O caminho mais promissor de estabilizar a vitamina C é por sua derivatização. Os derivados

são uma combinação de vitamina C e um fator estabilizante. Exemplos de derivados incluem:

palmitato de ascorbila, fosfato de ascorbil magnésio (VCPMG®).

O palmitato de ascorbila é um éster lipofílico, com pH neutro, que não irrita a pele e apresenta

boa eficácia em formulações tópicas. O VCPMG é um complexo de vitamina C estável em

soluções aquosas (pH 7,0), com capacidade de penetração na pele, no interior da qual libera a

vitamina C intacta - para obtenção dos efeitos benéficos esperados.

Há também um derivado formado por uma mistura de silício orgânico, ácido ascórbico e

pectina (comercializado como Ascorbosilane C®), que visa atuar contra os radicais livres e

promover a hidratação cutânea. A pectina é um polissacarídeo amorfo de alto peso molecular

que funciona como colóide hidrofílico, capaz de formar um gel (em alimentos, por exemplo, a

pectina deixa engrossar geleias). Nesta forma tende a reter água quando aplicada na pele,

ocasionando portanto hidratação cutânea. O silício faz parte da estrutura da elastina, do

colágeno, das proteoglicanas e das glicoproteínas. O teor de silício tende a diminuir com o

envelhecimento. Logo, a sua presença em formulações tópicas tem como objetivo repor o

silício endógeno proporcionando regeneração ao tecido. A concentração usual desta matéria-

prima em formulações cosméticas varia entre 3 a 5%.

Além disso, tem-se empregado a vitamina C ou seus derivados em microcápsulas, nanosferas

e talasferas, visando também à diminuição da oxidação e melhora da eficácia. As talasferas

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com vitamina C, ou com seus derivados, têm dimensões microscópicas, que se rompem na

derme, de forma gradual, para promover um efeito prolongado, ou seja, promovem a liberação

prolongada da vitamina na pele. As nanosferas de vitamina C são cápsulas ainda menores que

as talasferas, e também são capazes de conservar e liberar a vitamina C gradativamente.

A embalagem de um produto acrescido de vitamina C deve ser muito bem escolhida a fim de

prolongar a vida útil do ativo. Quanto menor o contato com oxigênio, maior a vida útil do

ativo. Neste sentido deve-se lembrar que a maioria dos termoplásticos usados como

embalagens, não oferecem grande barreira frente ao oxigênio, enquanto uma camada fina de

metal (por exemplo, o alumínio no Tetrapak) bloqueia o O2 com alta eficiência.

Na formulação cosmética contendo a vitamina C deve-se respeitar a longa lista de substâncias

ativas incompatíveis. No pior caso, uma combinação desvantajosa pode anular os efeitos

benéficos de todos os ingredientes. Sendo assim, os ativos ácidos são incompatíveis com os

alcalinos. Como exemplo de ativos que apresentam incompatibilidades por diferenças de pH

pode-se citar o VCPMG® e o ácido glicólico. Enquanto o VCPMG necessita de pH 7 para se

manter estável, o ácido glicólico precisa de pH ácido para exercer sua função cutânea. Logo

esses dois ativos não devem fazer parte da mesma formulação.

A aplicação tópica de vitamina C eleva consideravelmente os níveis desta vitamina na pele, e

a aplicação regular pode reduzir os sinais da idade, linhas de expressão e flacidez cutânea.

Aumenta a tonicidade da pele, tornando-a brilhante e macia, e não é fotossensibilizante. O

ácido ascórbico é bem aceito pelo sistema imunológico e as reações alérgicas são raras.

Porém, uma temporária sensação de formigamento pode ser sentida nas primeiras semanas de

uso.

Vitamina E

A vitamina E ou tocoferol (ver fórmula na p. 78), foi primeiramente conhecido e aplicado

como remédio que desencadeia as contrações que induzem o parto. Somente nos últimos anos

comprovou-se a ação protetora dessa vitamina no tecido cutâneo. Desde então, a vitamina E

vem sendo utilizada em produtos cosméticos e dermatológicos.

Atualmente, há duas formas utilizadas em cosméticos: a vitamina E livre (forma álcool) e a

vitamina E acetato (forma esterificada). A primeira serve como estabilizante de outros

ingredientes (p.ex. da vitamina A; ver acima), enquanto o papel do éster é ser o ativo principal

da formulação. Nesta forma é uma das vitaminas mais usadas em preparações cosméticas,

pelas relevantes propriedades benéficas que apresenta.

O acetato do tocoferol pode penetrar na pele, por duas vias: pelo stratum córneum ou pelo

folículo piloso (ver cap. 5.6). Uma vez que penetrou, ele é convertido em -tocoferol pela

enzima fosfatase alcalina. Em analogia à vitamina C, o -tocoferol atua como antioxidante in vivo, protegendo a pele de uma série de danos causados pelos radicais livres, especialmente

aqueles induzidos pela luz UV (ver detalhes no cap. 6.3). A vitamina E é um importante

antioxidante que protege as membranas biológicas dos efeitos negativos dos radicais livres,

principalmente pelo fato de a membrana celular ser constituída de ácidos graxos

poliinsaturados, os quais são suscetíveis à oxidação - especialmente os hidrogênios em

posição bis-alílica. A oxidação dos lipídeos insaturados produz hidroperóxidos e fragmentos

destes que aumentam a hidrofilia do lipídeo e interferem na estrutura e função das membranas

biológicas. Uma cascata típica destas reações é mostrada na Figura 16.

A pele contém antioxidantes naturais. Os antioxidantes lipossolúveis da pele são a vitamina E

e as ubiquinonas. Uma vez que hoje os formuladores almejam a utilização de substâncias que

apresentam biocompatibilidade cutânea, a vitamina E, associada ou não a outros antioxidantes

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também encontrados naturalmente na pele, vem sendo muito empregada em formulações

cosméticas. Além de paralizar os radicais livres o -tocoferol acetato ainda tem outras

funções dentro da formulação cosmética:

É umectante (emulsão acrescida de 5%);

Inibe inflamações (pomada acrescida de l a 2%);

É cicatrizante (emulsão acrescida de 5%)

Melhora a microcirculação (pomadas acrescidas de 2%).

6.2.2 Hidroxiácidos

Os hidroxiácidos são valorizados como substâncias ativas em cosméticos, devido ao seu

efeito anti-envelhecimento da pele. Também são usados no tratamento de dermatoses que se

baseiam em hiperqueratinização ou excessivo espessamento da camada córnea. Especialmente

os -hidroxiácidos (ácidos orgânicos de cadeia curta, com a unidade estrutural -CH(OH)-COOH) diminuem o espessamento da camada córnea, sem agirem queratolíticos.

Alfa-hidroxiácidos

Atualmente, várias empresas cosméticas estão interessadas nos -hidroxiácidos (AHA), um

grupo de substâncias naturais encontradas em frutas e em outros alimentos. Os representantes

mais estudados se encontram na Figura 10.

Ácido glicólico ácido málico ácido tartárico ácido lático.

Figura 10. AHAs alifáticos, usados como compostos ativos em cosméticos tópicos.

Vamos olhar mais perto em somente um destes AHAs, o ácido glicólico. É o menor

homólogo da família dos AHAs, pode ser obtido em grandes quantidades pela fermentação da

cana de açúcar, é hidrossolúvel. Em baixas concentrações (até 10%), quando aplicado

topicamente o ácido glicólico diminui a coesão dos queratinócitos, ajudando em distúrbios da

queratinização, como acne, queratose seborréica, ictiose, etc. Em altas concentrações (a partir

de 50%) causa epidermólise, levando à separação epidérmica/dérmica, resultando num

"peeling" profundo.

Hoje em dia, a hiperqueratinização é frequentemente diagnosticada nos consultórios

dermatológicos. Ela ocorre quando há diminuição da descamação celular no estrato córneo,

ou seja, quando há aumento na força coesiva entre os queratinócitos. Essa coesão entre os

queratinócitos se dá pelos desmossomas, e também pelas substâncias intercelulares, as quais

consistem também de glicosaminoglicanas que possuem alta capacidade de se ligarem com a

água. A coesão entre os queratinócitos é enfraquecida com a água (hidratação) e diminui sob a

influência dos AHAs. Ao contrário, aumenta com a desidratação cutânea ou com a deficiência

da vitamina A.

O ácido glicólico livre tem um pKa de 3,83. Isso significa que sua (bio)disponibilidade na

formulação requer de um pH no veículo tão baixo que, quando aplicado em estado puro sobre

a pele, pode produzir inativação do sistema enzimático presente.

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60

Um exemplo: um pH no veículo de 2,5 acarreta uma disponibilidade do ácido glicólico de

96%, com alto poder de penetração no stratum córneum.

No entanto, há muita polêmica em relação ao pH final de uma formulação cosmética, pois se

sabe que tanto substâncias muito ácidas como substâncias básicas podem ser extremamente

irritantes para a pele, a qual possui pH em torno de 4,2 a 5,6 (ver Tab. 12). Por outro lado, a

capacidade do ácido glicólico de estimular a renovação celular diminui com o aumento do pH.

Até hoje essa ambiguidade não está bem resolvida. Os produtos com ácido glicólico podem

mostrar-se irritantes, especialmente no início do tratamento; após certo tempo de aplicação

este efeito nocivo costuma diminuir. O uso regular de um creme com 5% de ácido glicólico

comprovadamente ocasionou melhora na pele fotoenvelhecida.

O ácido mandélico é um -hidroxiácido aromático que atua no tratamento de problemas da

pele como envelhecimento por exposição solar, hiperpigmentação e acne. O peeling deve ser

realizado com ele sobre a pele por poucos minutos, sendo retirado com água. Ver receita na p.

241.

Ácido mandélico

Beta-hidroxiácidos

Apresentamos o ácido salicílico (= ácido 2-hidroxi-benzóico) como representante do grupo

dos -hidroxi ácidos, unidade estrutural característica

–CH(OH)-CH-COOH. Este ácido melhora a aparência da pele fotoenvelhecida, é efetivo na

redução das rugas finas, além de melhorar a textura da pele, pois atua como esfoliante. Ainda

pode ser utilizado no combate à acne, e recentemente foi destacado seu efeito regulador da

oleosidade da pele e seu efeito hidratante. Ao entrar nos poros da pele, ajuda a remover

camadas queratinizadas que, em casos de obstrução do poro, poderão levar à inflamação

localizada.

Finalmente, como já se sabe desde a antiguidade, onde este ácido foi obtido a partir de um

tratamento oxidante da seiva do salgueiro (família salix, portanto o nome), este ácido afina a

camada espessa da pele e age contra bactérias e fungos oportunistas. O último efeito também

é considerado sendo responsável pela cura mais rápida de lesões (efeito anti-inflamatório).

Sendo assim, o ativo pode mostrar efeito benéfico em casos de caspas, dermatite, psoríase,

ictiose e acne.

Para amenizar o problema da irritação cutânea que pode ser ocasionada por este -hidroxiácido, há no mercado alguns derivados do ácido salicílico que apresentam menor

irritação cutânea, podendo ser empregados em formulações cosméticas. Como exemplo pode-

se citar a associação de um silanol orgânico com o ácido salicílico (comercialmente conhecido

por DSB C®), matéria-prima indicada para produtos hidratantes que visam prevenir ou reduzir

eritemas e inflamações. Indicado por exemplo em loções antiacne e produtos de barbear,

sendo a concentração usual a partir de 1%. Há também nano-esferas de ácido salicílico que

liberam gradativamente o ácido salicílico (“sustained release”), protegendo o usuário de uma

possível dermatite de contato ou uma irritabilidade, muitas vezes causada pelos ácidos.

O ácido salicílico é valorizado em produtos cosmético da pele, tais como sabões, detergentes,

loções tônicas, compressas, géis e emulsões fluidas, devido às suas propriedades queratolítica

(= esfoliante) e antimicrobiana.

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Ácido salicílico Ácido benzóico

Um espectro antimicrobiano, mas especialmente antifungo, mostra também o ácido benzóico

(que não é um -hidroxiácido, mas é muito parecido ao ácido salicílico). Seu uso em

cosméticos é largamente aceito, pelo fato de ser permitido como aditivo em alimentos (meio

conservante), porém este ácido pode causar alergias em peles muito sensíveis.

6.2.3 Alcoóis e terpenos com efeito benéfico ou terapêutico

O bisabolol, um álcool terpênico, componente principal no óleo de camomila que mostra

efeito antiinflamatório, mesmo em concentrações baixas de 0,1%. Este e outros óleos

essenciais são referidos na Tab. 37.

CH3

HHO

H3C CH3

CH3

(-) -bisabolol

6.2.4 Novo astro no céu dos cosméticos: o ácido hialurônico

Embora efeito anti-envelhecimento (“anti-aging”) ser um tópico de suma importância dentro

do setor HPPC, neste texto introdutório somente foi abordado lateralmente (cap. 5.4) 8 ;

alguns produtos anti-aging para a pele são apresentados no cap. 14.4.6. Aqui será somente

tratado um representante promissor e recentemente desenvolvido: o ácido hialurônico.

É um biopolímero formado pelo ácido glucurônico e a N-acetilglicosamina. A nossa pele,

quando jovem é tipicamente lisa e elástica. Acharam que neste estado contém muito ácido

hialurônico, uma substância do nosso organismo que preenche os espaços entre as células.

Com o avanço da idade o ácido hialurônico diminui, diminuindo também a hidratação e

elasticidade da pele, o que contribui para o surgimento de rugas.

8 Para maiores informações, ver por exemplo, o blog da “Farmazêutica curiosa”, conforme indicado no anexo

deste livro.

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62

O

OHO

NH

OH

O

O

HOO

OH

OOH

x

Figura 11. Fórmula abstraída do ácido hialurônico (CAS 9004-61-9).

O ácido hialurônico é uma substância presente no organismo de todos os animais, e encontra-

se em todos os órgãos do nosso corpo, em diferentes proporções, sendo que a pele contém

56% do total. No nosso organismo, esta substância é responsável pelo volume da pele, alé de

outras funções (forma dos olhos, lubrificação das articulações), sendo normalmente produzido

e degradado. Este polímero pode ser obtido em concentrações terapêuticas a partir de restos

animais ou a partir da fermentação bacteriana à base da celulose. Este último tem grandes

vantagens, uma vez que permite a sua produção em escala industrial e, por não possuir

proteínas animais, não provoca reações alérgicas, sendo portanto o que nós utilizamos. As

reações que podem ocorrer são alguma vermelhidão no local, pequeno edema (inchaço),

sensação de coceira ou sensibilidade. Porém, quando ocorrem são, em geral, pouco

acentuadas e tendem a sumir em 24 a 48 horas.

Nos anos passados foi então desenvolvida uma rota fermentativa para produzir o ácido

hialurônico a partir da celulose, por meio de bactérias manipuladas. Esse material é utilizado,

além nos produtos cosméticos, também na medicina de reabilitação e na medicina estética – o

que demonstra sua inocuidade. O uso em reabilitação concentra-se por enquanto no

tratamento da artrose. Em estética, o objetivo é preencher rugas ou sulcos, ou simplesmente

dar volume, através da injeção na camada média ou profunda da pele, isto é, uma extensão do

alcance dos cosméticos. São exemplos de áreas da face que podem ser preenchidas com ácido

hialurônico: lábios, sulcos nasogenianos ("bigode chinês"), sulcos nasojugais (olheiras) e

rugas glabelares (raiz do nariz, entre as sobrancelhas). A aplicação pode ser sob anestesia

tópica com creme ou por bloqueio regional com lidocaína. Certamente, uma aplicação do

ácido hialurônico por meio de cosméticos tópicos fica mais fácil e causa menos

inconveniências (inchaço do local da injeção), embora de ser mais demorado até se visses o

efeito.

Já nos produtos cosméticos o ácido hialurônico tem naturalmente efeitos mais súteis, já que a

profundidade de penetração é pequena, então sua atuação se restringe às camadas externas da

pele.

6.3 Cada vez mais importante: Protetor Solar A radiação UV fornece uma alta quantidade de energia de ativação para uma série de reações

radicalares, entre elas a geração de radicais livres a partir de moléculas orgânicas neutras e a

reação da matéria orgânica com o oxigênio atmosférico (que por si já é um radical) formando

hidroperóxidos altamente reativos. Os radicais e espécies reativos gerados dentro da nossa

pele reagem descontroladamente uma grande variedade de grupos funcionais. No pior caso

eles reagem com a DNA contida nas células vivas, e essa degeneração leva à propagação de

informação errada durante a divisão celular. Finalmente pode-se esperar um crescimento

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63

descontrolado de células danificadas – o que se percebe na pele como melanoma maligno, em

outras palavras: câncer de pele!

O ser humano possui mecanismos naturais que o protegem da radiação solar:

Espessamento da camada córnea,

Produção de ácido urocrânico,

Produçã de melanina.

Mas mesmo assim precisamos ser protegidos contra um excesso de radiação UV, para

preveni-nos dos prejuízos que ela pode ocasionar.

É imperativo proteger nossa pele contra a radiação altamente energética!

A não esquecer: a exposição à radiação UV é considerada sendo fator número 1 que acelera o

envelhecimento da pele! A maioria das alterações da pele atribuídas à idade são devido à

exposição acumulada à luz UV. Embora as camadas externas da pele são constantemente

renovadas, os danos causados à pele pela excessiva exposição solar são considerados sendo

cumulativos, ou seja, vão se somando desde a infância. Os síntomos do fotoenvelhecimento

são rugas, manchas, flacidez e ressecamento da pele.

O sol emite radiação eletromagnética em largo espectro de comprimento de ondas. Conforme

a fórmula

chhE

podemos afirmar que, quanto menores os comprimentos de onda , maior a energia E da

radiação (h = constante quântica de Planck; c = velocidade da luz no vácuo). E nem toda

energia é tolerada pela nossa pele, como veremos a seguir. Podemos afirmar que as formas

menos energéticas da radiação, isto são a radiação infravermelha (= calor; > 750 nm) e a luz

visível (400 nm < < 750 nm), não têm efeito nocivo frente à pele, nas quantidades emitidas

pelo sol num dia comum. Por outro lado, a luz UV é mais energética e pode causar danos

severos.

A radiação UV emitida pelo sol geralmente é subdividida em três regiões que têm efeitos

fisiológicos diferenciados:

Luz UV tipo A (320 nm < < 400 nm) penetra a pele profundamente, portanto pode danificar o tecido em grande profundidade. Por outro lado, dentro o espectro UV é a forma menos

agressiva de radiação. Dependendo do tipo de pele, ela promove a produção de melanina (ver

Figura 59 e Figura 60, na p. 158) e causa assim a pigmentação natural. Os melanócitos se

encontram principalmente na epidermis, em maiores concentrações próximo à membrana

basal (isto é a região onde a epidermis encosta na dermis). Para a maioria das pessoas uma

pele bem bronzeada é um importante critério de beleza (para os mecanismos do bronzeado

por radiação UV, ver p. 84).

O UV tipo B, 280 nm < < 320 nm, penetra menos; apenas 10% chegam à dermis, mas

provoca reação de eritema na pele humana (vermelhidão; bolhas, febre, forte sensação de

dor), cerca de 1000 vezes mais do que a UV tipo A. Essa é a radiação que todos temem que já

levaram uma queimadura na praia! UV do tipo B afeta principalmente a camada epidérmica

da pele, ocasionando queimaduras solares. Mas especialmente aquela parte da radiação que

chega à dermis é perigosa, pois causa alterações nas fibras de colágeno e elastina. A

exposição frequente e intensa aos raios UV-B causam lesões ao DNA e suprime a resposta

imunológica da pele, aumentando os riscos de mutações fatais, podendo causar câncer de

pele. Único aspecto positivo deste tipo de radiação: ela estimula a produção de vitamina D.

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64

Finalmente, a luz UV tipo C, 100 nm < < 280 nm, é a forma mais energética no espectro

UV e, portanto, a radiação mais perigosa para humanos. Ainda bem que ela é absorvida

completamente, pela camada de ozônio (por enquanto!).

A posição relativa da radiação UV e da luz visível na escala de comprimento de onda é dada

na Figura 15, na p. 69.

É fácil transformar o comprimento de onda em unidades de energia, através da fórmula 3

1 119,7 10/

/

Afoto A

N h cE kJ mol N h

nm

.

Aplicada ao máximo da emissão solar, perto de 312 nm, obtemos assim 383 kJ . mol

-1. Daí se

vê que a energia da luz UV tipo B já é suficiente para quebrar a maioria das ligações

covalentes simples (energias de dissociação C-X entre 350 e 450 kJ . mol

-1)!

6.3.1 Proteção por absorção 9

Muitas superfícies de material orgânico requerem da proteção contra a radiação solar

agressiva (UV-A e UV-B), tais como madeira, polímeros, resinas, borrachas - e especialmente

a nossa pele!

Solução oferecem os absorventes da luz UV que são pequenas moléculas orgânicas com

grupos cromóforos (grupos carbonilas, principalmente) e um extenso sistema de elétrons conjugados. Sua concentração em formulações de tratamento de superfície fica em torno de

2,5%, enquanto seu efeito protetor depende, conforme a lei de Lambert-Beer (p. 69), da

espessura final do filme seco.

Figura 12. A mesma pessoa, com metade do rosto tratado com absorvente de UV; uma vez

fotografada com câmera comum, outra vez com um filme que capta a região de UV tipo A.

9 No Brasil, os produtos fotoprotetores são definidos como cosmético, de acordo com a Resolução n° 79 do

28/08/2000, editada pela ANVISA. O controle destes produtos é realizado pelo número do Fator de Proteção

Solar (FPS) indicado no rótulo, pela indicação para qual tipo de pele e pela composição de sua formulação. A

Legislação foi atualizada de acordo com a Resolução RDC nº 30, de 01/06/2012.

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65

Os absorventes de luz UV mais frequentemente usados hoje são:

Benzofenonas: são os absorventes clássicos, de eficiência média, baratos; sólidos e

difícil de dissolver na formulação do filtro solar; moderada absorção nas regiões UV-

A e UV-B; muito usados também em verniz para madeira. Exemplo comercializado:

Benzofenona-3 ou Eusolex 4360.

Benzotriazóis: hoje os mais usados; oferece amplo espectro de absorção, cobrindo sozinho toda a faixa UV-A e UV-B. É insolúvel nas maiorias dos solventes, portanto

se utilizam dispersões de partículas microfinas na formulação, parecidas aos filtros

físicos (ver p. 70). Desta forma atua não só como absorvedor, mas também como

refletor e dispersor da luz UV; é eficaz também em tintas e plásticos. Exemplo

comercializado:

Tinosorb M

Triazinas: são os absorvedores de UV mais recentes, mais eficazes, mas também mais caros. Exemplo comercializado:

Tinosorb S.

Oxalanilidas: bloquéiam UV-B e deixam passar UV-A, portanto podem ser usados

em cremes bronzeadores e esmaltes do tipo resinas foto-curadas 10

.

As fórmulas gerais dessas classes de absorventes UV, ver Figura 14 na p. 68. Ocasionalmente,

são também usados malonatos de benzilideno, cianacrilatos e formamidinas.

6.3.2 Absorventes de UV usados em cosméticos

Para os fins cosméticos procuram-se aditivos que atenuam o impacto da radiação solar sobre a

pele, mas não falsificam sua aparência natural, ou seja, moléculas que não absorvem a luz na

região visível (400 a 750 nm), em outras palavras: aditivos incolores.

10

Para endurecer (curar, ramificar ) resinas por meio de radiação UV, geralmente usa-se uma lâmpada que emite

a 366 nm, conhecida como “luz negra”.

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66

Especialmente usados em produtos cosméticos são, de um total de uma dúzia de substâncias:

Ácido sulfônico da cânfora (inglês: Terephthalylidene Dicamphor Sulfonic Acid,

TDSA; nome comercial: Ecamsule, usado em produtos da L´Oreal; outro é

NeoHeliopan MA)

S

O

O

HO

O

S

O

OOH

O

3,3'-(1,4-Phenylenedimethylene)bis[7,7-dimethyl-2-oxo-bicyclo-(2,2,1)hept-1-yl methanesulfonic acid]

Metoxidibenzoilmetano (BMD).

O

O

methoxydibenzoylmethaneMeO

t-Bu

Os dois agentes são absorventes de banda larga, quer dizer, filtram na região de UV-A e UV-

B. Porém, o TDSA, além de se dissolver dificilmente, só absorve numa pequena parte da

região UV-A, portanto é o agente preferido em protetores que prometem ao mesmo tempo um

"bronzeamento saudável". Por outro lado, aqueles produtos que prometem cobrir toda a região

da radiação dura podem ser feitos com o BMD (nomes comerciais: Avobenzona ou Eusolex

9020). Também usados são oxibenzona e bisimidazilatos. De qualquer maneira, é importante

que as substâncias não se degradam sob a influência da radiação, elas devem ser fotoestáveis

por pelo menos 10 horas de irradiação intensa e direta 12

.

Atenção: o BMD possui diversas incompatibilidades, por exemplo, frente ao metoxicinamato

de octila ou aos filtros físicos (ver p. 70). Uma formulação com essas combinações pode

mostrar uma capacidade protetora surpreendentemente baixa!

Atendem também as exigências do consumidor os seguintes derivados:

Derivados da benzofenona: MeO

OH O

Derivados do ácido cinâmico (cinamatos):

O

MeO

O

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67

São uns dos filtros solares mais utilizados em fotoprotetores. Possuem excelente absorção

UV-B, mas baixa absorbância no UV-A. São filtros baratos e eficazes. Exemplo comercial é o

metoxicinamato de octila (Parsol MCX, Neo Heliopan AV).

Derivados do ácido p-aminobenzóico:

O

O

Me2N

Estes filtros, também conhecidos como PABA, foram os primeiros filtros UV patenteados.

Hoje não se usam mais, devido a problemas de estabilidade quando aplicados na pele. Além

disso, houve relatos de hipersensibilidade e dermatite.

Derivados do ácido salicílico (salicilatos): OH

O

O

Também uns dos primeiros filtros utilizados, mas ainda muito utilizados atualmente.

Oferecem boa proteção contra UV-B, são seguros e de fácil manipulação. Exemplo: Salicilato

de octila ou Eusolex OS.

Existem também extratos vegetais com altos teores de substâncias absorvedoras no UV-A e

UV-B, tais como extratos de aloé vera e de amor-perfeito, que se alegram de uma crescente

aplicação em produtos cosméticos fotoprotetores.

6.3.3 Mecanismos de absorção da radiação UV

A absorção na região do UV por uma simples excitação HOMO→LUMO de elétrons é um

fato largamente conhecido. Quanto mais extenso o sistema de elétrons , mais baixa a energia necessária para sua excitação. Isto é, o máximo da absorção fica cada vez mais perto ao

espectro visível. A largura destas bandas de absorção, no entanto, não atende a exigência de

absorção em banda larga que nós esperamos de bons protetores de UV; ela fica na ordem de

≈ 50 nm. Portanto, precisamos de moléculas onde ocorre simultaneamente, além da

excitação dos elétrons , uma mudança estrutural da molécula que tem por consequência o alargamento da banda de absorção, finalizando em uma absorção sobre a inteira região do

UV-B e UV-A.

A maioria dos absorventes UV funciona de maneira semelhante: a luz UV absorvida pela

molécula aumenta a mobilidade de um próton. A mudança deste próton acarreta também uma

mudança de todas as duplas-ligações e assim, todas as distâncias entre os carbonos envolvidos

estão mudando. Isto pode ser chamado de tautomeria, na maioria das moléculas uma

tautomeria ceto-enol. A nova forma tautomérica da molécula, logo após o recebimento da

energia, ainda se encontra num estado excitado, mas logo a seguir retorna ao estado

fundamental sob emissão de calor que é uma forma não destrutiva da energia. O mecanismo é

conhecido como ESIPT (= Excited State Intramolecular Proton Transfer; em Português:

transferência intramolecular de um próton no estado eletronicamente excitado):

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68

N OH

N OH

S1*

S0

S1

S0*

Forma enol Forma ceto

ConversãoExcitação

Relaxação

ESIPT

pela luz UV interna

Figura 13. Esquema de termos simplificado do processo ESIPT; a altura dos termos é

conforme sua energia relativa (S = singleto).

O OH

OR

h

O O

OR

H

Benzofenona

h

h

h

N

N

N

R

R

O

O

H

R

N

N

N

R

R

OH

Benzotriazol

Hidroxifeniltriazina

Oxalanilida

N

N

N

R

R

OH

NN

H

HO

OOR

N

N

N

R

R

O

O

R

H

NN

H

O

O-O

R

H

NN

H

O

OOR

H

Figura 14. Os estados, fundamental e excitado, dos mais importantes absorventes de luz UV.

Note que os primeiros três têm em comum a unidade estrutual de -hidroxifenil.

Outro mecanismo se observe nos derivados do ácido cinâmico e da cânfora, onde a energia

da luz UV provoca uma isomerização cis-trans:

O

O

O

2-ethylhexyl 4-methoxycinnamate

O

O

O

h

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69

3-(4-methylbenzylidene) camphor

O

O

h

Através das cadeias laterais, representados na Figura 14 pelos grupos R, o químico

preparativo tem que ajustar as propriedades, químicas e fotoquímicas, exigidas ao absorvente

UV. Em primeira linha, isso é a região espectral onde a molécula está absorvendo a radiação

(ver Figura 15), em segunda linha a melhor HLB (ver p. 46) para a formulação do produto

cosmético.

Figura 15. Espectros de absorção típicos das classes principais de absorventes da luz UV. A

área cinza do fundo representa a intensidade relativa de emissão da radiação solar, medida

em um dia de primavera com céu azul.

Na entrada deste parágrafo foi mencionada a largura da absorção, sendo um importante

critério de qualidade de um absorvente de UV. Outro fator igualmente importante é sua

eficácia no processo da absorção, ou seja, a altura da curva de absorção conforme mostrada na

Figura 15. O fator crucial na equação de Lambert-Beer que descreve a porcentagem da

radiação absorvida pelo absorvente em função da quantidade de moléculas percorrida

(quantidade = concentração vezes largura da camada), é conhecido na espectroscopia UV-VIS

como extinção, .

dceII 0 Lambert-Beer

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70

I = intensidade da luz que passou pela camada; I0 = intensidade da luz incidente; = extinção

(ou eficiência da absorção); c = concentração do absorvente ao longo do trem de luz; d =

espessura da camada que contem o absorvente.

Identificamos certos grupos funcionais nas moléculas absorventes da luz UV, cuja extinção é

especialmente alta. A elevação de elétrons em níveis energéticos superiores é um processo

quântico para qual valem regras de seleção. Existem os “processos permitidos”, → * ou

→ *, por exemplo, onde atribuímos uma extinção especialmente alta. Neste sentido

especialmente eficazes são as ligações C-H, C=C, mas também o grupo nitro, -NO2 ( → *).

Além destes, existem as “transições proibidas”, tal como n → *, que acarretam uma

absorção menos forte da luz. O representante mais conhecido desta última categoria,

certamente, é o grupo carbonila, C=O. 11

Afinal, podemos identificar vários destas unidades

estruturais em cada um dos representantes absorventes mostrados acima. Muitas vezes são

sistemas mais extensos, onde vários destes grupos estão interligados por conjugação.

A absorção da luz e a validade desta relação devem ser verificadas para cada comprimento de

onda, da luz espectral que incide. Finalmente é a absorção, isto é a taxa 0I

IA , que

proporciona a altura das curvas mostradas na Figura 15.

6.3.4 Bloqueadores solares

Num outro princípio de proteção seguem os componentes nos bloqueadores solares: o

espalhamento da luz incidente. Espalhamento é a reflexão não direcionada, que somente

ocorre nos cantos e arestas de partículas cristalinas. Este espalhamento lhes fornece uma

aparência muito clara, geralmente um branco brilhante. Note-se que neste processo a energia

da radiação não fica retida na partícula - ao contrário dos absorventes descritos acima.

Esses bloqueadores de UV, também chamados de “filtros físicos”, são na maioria dos casos

materiais inorgânicos. São pós finos, inertes e opacos, insolúveis em água e materiais graxos.

Eles formam uma barreira sobre a pele, refletindo, dispersando e, em menor parte, absorvendo

a luz UV. O processo de reflexão/dispersão da luz é também responsável pela translucidez e

opacidade das partículas de filtro físico aplicadas sobre a pele.

Os materiais bloqueadores mais utilizados são: óxido de zinco, dióxido de titânio, talco e

caolim. Além do efeito espalhador de luz o TiO2 (especialmente o rutilo, mas também a

modificação de anatásio) também é capaz de absorver o UV tipo B e pouco do UV tipo A; já

o ZnO absorve nas duas faixas.

Essas substâncias espalham não só a luz UV, mas também na região visível, portanto são

típicos pigmentos brancos. Em um produto cosmético este efeito acarreta uma baixa

aceitação, pois o freguês não quer aparecer “pintado”. Portanto, um processo bastante

aplicado hoje é a produção microcristalina destes minerais. Pela redução do tamanho das

partículas pode ser influenciado o comportamento óptico destes pigmentos minerais. Assim é

possível produzir hoje um bloqueador solar que altera muito pouco o visual da nossa pele. Ao

invés disso, uma câmera que capta também uma parte da luz UV revela também esse

bloqueador: a pessoa que o usa aparece muito brilhante, ou seja, o oposto do efeito mostrado

na Figura 12! Na forma micronizada, com uma média de diâmetros < 1 µm, estes minerais

11

Detalhes da absorção pelos grupos funcionais, ver A.Isenmann, “Corantes”, cap. 3.1; disponível em

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:corantes

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71

refletem muito pouco a luz visível, diminuindo então a tonalidade branca deixada sobre a pele

e gerando uma maior aceitação estética - sem prejudicar o FPS da formulação final.

Os bloqueadores solares, desde que existam como material cristalino, não se degradam

quimicamente. Este fato os eleva acima dos absorvedores UV discutidos acima. Outra

vantagem destes materiais é sua indiferença fisiológica, podemos até atribuir alta

compatibilidade, com peles sensíveis. O óxido de zinco, além de todas essas vantagens, tem

até um efeito curativo frente a lesões da pele, pois é uma substância adstringente com ação

antisséptica, secativa e anti-inflamatória, aumentando o processo de cicatrização.

Os bloqueadores minerais são comercializados em forma de pó seco ou como dispersão (em

óleo silicone, água ou cera). Ao optar pelas dispersões, o processo da manipulação fica mais

fácil e rápido, pois evita-se a formação de agregados. Por outro lado, o custo da dispersão é

maior, além disso pode interferir na viscosidade do produto final. Sendo assim, o tipo da

formulação (emulsão, gel, loção) pode apresentar uma reologia final diferente. Isso vale

também para o FPS e ao sensorial. De qualquer maneira, a formulação deve formar um filme

regular para promover a distribuição homogênea do filtro físico em cima da pele.

Onde os bloqueadores de luz UV são aplicados há muito tempo e com sucesso, é dentro da

embalagem dos produtos cosméticos. Issso vale especialmente para os frascos de plástico que

perdem sua transparência na presença do pó espalhador de luz – eles tornam-se foscos (quer

dizer, não dá mais para ver o que está por dentro). Se a estratégia de marketing do cosmético

o permite, seria certamente melhor para a estabilidade do produto se fosse vendido em uma

destas embalagens foscas.

Atenção: um “bloqueador de luz UV” muito sobreestimado é a água. Quem está dentro da

piscina não é automaticamente protegido de queimaduras! O sequestro constante do calor pela

água não deixa a pessoa sentir a radiação solar – certamente uma situação perigosa.

Tab. 14. Penetração da radiação UV tipos A e B, em água límpida de diferentes

profundidades.

Profundidade em cm

Transparência em %

UV tipo B

290 a 320 nm

UV tipo A

320 a 400 nm

0 100,0 100,0

50 62,5 85,0

100 46,8 77,0

150 37,4 72,0

Já mais eficiente é a proteção pelo vidro. Atrás de uma janela, por exemplo, dentro do carro, a

luz UV tipo B realmente fica retida. Todavia, as radiações menos energéticas, UV tipo A, a

luz visível e especialmente o infravermelho, passam pelo vidro e causam a sensação de calor.

Este aspecto deve ser levado em consideração, especialmente em telhados transparentes da

construção civil.

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72

6.3.5 Filtros UV em formulações cosméticos e o fator FPS

A maioria dos protetores solares comercializados hoje protege, tanto contra UV do tipo A

como do tipo B. Quem aplica este cosmético pode ficar exposto ao sol por mais tempo,

geralmente indicado através do fator de proteção solar "FPS". Note que a maioria dos

absorventes de UV se degrada ao longo de um dia ensolarado 12

.

Além dos componentes típicos para todos os cremes (p. 41), os protetores solares contêm

então um ou mais destes absorventes da radiação UV, em concentrações em torno de 1%

cada. A associação de filtros tem por finalidade chegar a um FPS mais alto e com amplo

espectro de proteção, maior estabilidade, custo compatível, ao mesmo tempo baixo potencial

irritante/alergênico.

A forma mais fácil de aumentar o FPS, aparentemente, é aumentando a concentração dos

filtros na fórmula. Mas assim também se aumenta a carga sobre a pele, ou seja, o potencial de

sensibilização e irritação. Além disso, nem sempre o aumento de concentração de filtro leva a

um aumento proporcional do FPS da formulação e, afinal, existe uma concentração limite

permitida para cada filtro.

Por isso é necessária, no desenvolvimento de fotoprotetores, a “associação de filtros”, seja ele

físico ou químico. O efeito que se procura com a combinação de diferentes princípios ativos

também é conhecido como sinergismo, onde os efeitos benéficos de cada componente se

potencializam; trivialmente falado: um mais um é mais do que dois. Através de uma

combinação favorável (= sinergística) se conseguem os maiores fatores FPS, ao mesmo tempo

uma redução dos custos e do potencial irritante.

Como selecionar os componentes da formulação? No desenvolvimento de protetores solares é importante estabelecer os critérios na

seleção das matérias primas, para conseguir o aproveitamento máximo, racionalizando

o quantitativo e o qualitativo de cada item da formulação, com o objetivo de se obter

um produto adequado dentro dos parâmetros de eficácia, inocuidade, relação

risco/benefício e aceitação do consumidor.

O valor do FPS depende dos tipos e quantidades de filtros solares presentes na

formulação, mas o aumento do FPS não ocorre de forma linear em relação ao aumento

da concentração do filtro. Por outro lado, associações de filtros solares tendem a

potencializar o FPS.

O tipo de veículo, a uniformidade e a espessura do filme depositado sobre a pele

podem alterar o valor do FPS da substância protetora ativa. Portanto, a escolha do

veículo certo ao qual o filtro solar será incorporado é muito importante. Os

fotoprotetores de hoje são formulações cosméticas na forma de emulsões, géis, loções

oil-free, óleos ou soluções, contendo filtros ou bloqueadores solares. É preciso

adequar as formulações para que promovam uma proteção eficaz sem ocasionar

efeitos indesejáveis, como acne (p. 33), por exemplo. Observa-se que o FPS de uma

substância protetora, conforme indicado pela fábrica, sempre depende do veículo. Em

toda consequência isso significa que para cada novo veículo empregado, teria que ser

determinado o novo FPS. Isso mingue bastante o valor prático do FPS e até pode levar

ao engano do consumidor! Em cada caso vale: quanto mais uniforme for o filme sobre

a pele, mais efetiva será a proteção pelo produto.

Algumas matérias primas podem causar alteração no espectro de absorção dos filtros

solares, podendo aumentar ou reduzir o FPS. Alguns emolientes apresentam a

capacidade de solubilizar os filtros solares, o que se torna vantagem nos filtros que

12

N. Tarras-Wahlberg, G. Stenhagen, O. Larkö, A. Rosén, A.-N. Wennberg, O. Wennerström, Changes in

ultraviolet absorption of sunscreens after ultraviolet irradiation, J. Invest. Dermatol. 113 (1999) 547-553.

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73

apresentam baixa solubilidade na base do creme. Assim se evita sua perda por

recristalização na fórmula. Esses emolientes também são capazes de melhorar a

espalhabilidade do produto, de modo a garantir a uniformidade de aplicação,

resultando em um aumento do FPS.

Outros fatores que influem na eficácia dos filtros solares são: pH da preparação,

resistência à água e suor e distribuição das dimensões das partículas. Quanto menor o

tamanho de partículas obtidas, maior será o valor FPS desta substância.

Embora não exista uma relação linear, devemos esperar que, quanto maior o fator FPS, maior

a concentração dos absorventes dentro do produto. Estes representam, ao mesmo tempo, uma

elevada carga para a pele. Portanto, nos países da Europa o número e a quantidade destes

absorventes UV nos produtos cosméticos foram restritos pela lei. Além disso, se obtém

somente pouco prolongamento do efeito protetor quando aplicar um produto com FPS acima

de 20. A diferença entre FPS 50 e FPS 100, por exemplo, não significa o dobro em proteção,

mas apenas um aumento no efeito protetor por 0,1%. Portanto, é melhor limitar o tempo de

exposição ao sol.

Portanto: o único protetor verdadeiro continua sendo a sombra!

6.4 Antioxidantes A incidência solar e o calor não só promovem o bronzeamento da pele, mas também

aumentam, infelizmente, a taxa da sua reação com o oxigênio tripleto do ar, 3O2, uma reação

largamente conhecida como auto-oxidação. Quem protege contra este tipo de reação, além

dos protetores UV descritos acima, é uma série de antioxidantes, também chamados de

sequestradores de radicais livres.

Os antioxidantes também são aditivos indispensáveis em formulações cosméticas, onde

previnem a oxidação das gorduras (= rancificação) contidas na base dos cremes. Sem estes

aditivos a vida útil do produto cosmético seria inaceitavelmente curta. Nos produtos

protetores solares, em particular, os antioxidantes podem, além disso, proteger os próprios

absorventes UV e assim estender o período do seu pleno efeito FPS (p. 72).

Os antioxidantes reprimem então as reações de degradação das partes lipofílicas do produto.

Identificamos as seguintes estruturas químicas que são especialmente susceptíveis à auto-

oxidação:

Hidrogênios em posições benzílica e alílica, isto é, H-C-Ar e H-C-C=C.

Hidrogênios em posição de éteres e tio éteres, H-C-O-C e H-C-S-C.

Hidrogênios ligados ao grupo carbonila (= aldeídos), H-C=O.

Estes hidrogênios são facilmente atacados pelo 3O2 e abstraídos da molécula, na maioria das

vezes em forma de radicais hidroperóxidos, H-O-O.. Estes, por sua vez, podem atacar uma

outra molécula com ligação C-H susceptível, produzindo o oxidante forte, água oxigenada, H-

O-O-H. Finalmente, temos uma reação em cadeia 13

que pode transformar as ligações H-C

acima descritas, em unidades H-O-O-C, entre outras. A partir daí cada uma das estruturas

13

O mecanismo da reação em cadeia e os possíveis produtos consecutivos da auto-oxidação são detalhadamente

descritos em A. Isenmann, “Princípios da Síntese Orgânica”, cap. 1.5; disponível no site

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:pso

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74

mencionadas faz suas típicas reações consecutivas. Isso pode finalizar em polímeros (aumento

da massa molar) ou na quebra de cadeias carbônicas devido a rearranjos (moléculas menores;

uma sequência característica da degradação oxidativa é dada na Figura 16). Além disso,

aumenta o número de grupos polares, especialmente de hidroxilas –OH e carboxilas, -COOH.

As consequências são um elevado caráter hidrofílico e o abaixamento do valor de pH. De

qualquer maneira, essas reações desfiguram a característica do produto cosmético e abaixam

seu valor.

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75

Figura 16. Degradação de matéria graxa (poli)-insaturada, sob a influência de oxigênio

tripleto e luz UV.

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76

Fonte: A. Isenmann, Princípios da Síntese Orgânica, cap. 1.5, disponível no site

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:pso

O efeito do antioxidante no produto cosmético é só um aspecto, outro é seu efeito em cima da

pele. Ao contrário dos absorventes de UV descritos acima, os antioxidantes geralmente não

atuam exclusivamente na superfície do objeto a ser protegido (que seja a nossa pele), mas

também são incorporados na própria massa, neste caso na epidermis. Como essa penetração

profunda do antioxidante pode acarretar efeitos sistêmicos, então o produto deve ser

classificado, rigorosamente segundo o critério estabelecido na p. 19, como remédio e não

como cosmético. Todavia, os antioxidantes são bastante usados em protetores solares e

cremes hidratantes com este propósito. É lógico que os critérios à citotoxicidade destes

antioxidantes são especialmente altos, eles não podem conter contaminações, produtos

paralelos, restos de solvente orgânico, reagentes não convertidos ou resíduos do meio de

extração.

Vamos começar com os antioxidantes produzidos pela própria natureza (ver também cap.

6.2.1), para estudar em seguida os aditivos feitos no laboratório químico.

Vitamina C

O antioxidante mais importante para o nosso bem-estar é a Vitamina C (= L(+)-ácido

ascórbico; ver também p. 57). É uma vitamina hidrossolúvel que se encontra em altas

concentrações em frutas azedas frescas (cítricas, acerola, kiwi, etc.). A falta crônica desta

vitamina causa sangramentos na pele e na gengiva e a perda de dentes. Essa doença conhecida

como o Escorbuto era muito espalhada entre os marinheiros nos séculos passados.

A unidade estrutural característica da vitamina C, com facilidade de efetivar reduções (isto é,

satisfazer um radical com mais um elétron e desta forma desativá-lo) é o endiol, -

(HO)C=C(OH)-. Sua qualidade como redutor é tão pronunciada que este agrupamento ganhou

o nome trivial "redutão". As distâncias interatômicas dentro da molécula da vitamina C são

favoráveis para que o grupo redutão possa estabilizar-se por ligações de hidrogênio, conforme

mostrado na Figura 17 pelas linhas pontilhadas. Anotamos a semelhança estrutural com os

sistemas quinóides da Figura 14 na p. 68. O produto, então a vitamina C oxidada, tem três

grupos cetonas estáveis.

O

H

CH2OH

HO OH

O

H OH

O

H

CH2OH

O O

O

H

H

H OHOxidação

Vitamina C

O

H

CH2OH

O O

O

H OH

=+ 2 e-

Figura 17. Reação do ácido ascórbico como redutor.

O que a vitamina C faz no lugar até onde for transportada sem ser degradada antes (o destino

é a epidermis, principalmente)? Ela entra em contato com os radicais livres, tais como O2, .OH, NO

., NO2

., etc., e entrega seus elétrons o que torna esses radicais em simples ânions que,

por sua vez, não têm mais a reatividade perigosa dos radicais.

Embora todos esses pontos positivos da vitamina C, não devemos esquecer um ponto

problemático na sua aplicação por meio de cosméticos tópicos: sua instabilidade química na

presença de oxigênio do ar. Isso vale somente para o seu estado em solução, não para o ácido

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ascórbico em pó seco. O produto cosmético deve ser, portanto, o máximo protegido e

blindado frente à atmosfera. Isso pode ser estabelecido por embalagens cheias e bem

fechadas, feitas por um material com alta barreira frente ao oxigênio. A proteção ideal, por

exemplo, se obtém usando envelopes de amostras, distribuídos nas drogarias, que têm uma

camada fina de alumínio que bloqueia completamente os gases; Uma vez abertos, seu

conteúdo deve ser completamente usado.

Glutationa

A glutationa (γ-glutamilcisteinilglicina; abrevidada por GSH) é um antioxidante

hidrossolúvel. É o tiol não proteico mais importante nos sistemas vivos. Trata-se de um

tripéptídeo linear, constituído por três aminoácidos: ácido glutâmico, cisteína e glicina, sendo

o grupo tiol da cisteína o local activo responsável pelas suas propriedades bioquímicas. A

GSH existe na maioria das células vivas em concentrações entre 1 e 8 mmol, na sua maior

quantidade no fígado, onde também é produzido. Além de ser um importante antioxidante, a

GSH também tem o papel de suprimento para a cisteína, por sua vez importante aminácido

estrutural na queratina do cabelo.

A glutationa pode encontrar-se na forma reduzida (GSH), conforme a fórmula acima, ou

oxidada (GSSG = forma dimerizada da GSH). Este par também tem importância na analítica,

onde a razão [GSH/GSSG] é utilizada para estimar o estado redox do sistema biológico. Em

situações normais e estados saudáveis a GSSG representa apenas uma pequena fracção da

glutationa total (menos de 10%). A GSH pode, no entanto, também formar dissulfuretos do

tipo GSSR com o tiol da cisteína presente em proteínas.

A glutationa quando aplicada em dosos maiores (de preferência por via oral) tem o efeito de

interromper a biossíntese da melanina, então serve para clarear a pele 14

.

Vitaminas A e E

A natureza providencia também sistemas blindados e/ou altamente conjugados, com

finalidade de sequestrar radicais e/ou absorver radiação UV. Os mais conhecidos são as

cumarinas, dentre elas a vitamina E), e a vitamina A (= retinol, ou então seu precursor

dimérico, o pigmento amarelo -caroteno) 15

.

O

HO

-Tocoferol (= Vitamina E)

14

S. Sonthalia, D. Daulatabad, R. Sarkar. Glutathione as a skin whitening agent: Facts, myths, evidence and

controversies. Indian J Dermatol Venereol Leprol 82 (2016), 262-72. Disponível em:

http://www.ijdvl.com/text.asp?2016/82/3/262/179088

15 Além destes antioxidantes orgânicos, o corpo humano aproveita do efeito antioxidante do elemento em traço

selênio. Note que esse elemento, em quantidades maiores, é altamente tóxico.

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Vitamina A (= -caroteno; fortemente amarelo igual cenoura)

Figura 18. As vitaminas A e E são antioxidantes essenciais para nosso corpo.

Os critérios mais rigorosos referente à toxicidade dos compostos antioxidantes e protetores,

naturalmente, existem para os aditivos em fármacos e alimentos. Portanto, qualquer composto

aprovado em alimentos, como estes dois, também pode ser utilizado em cosméticos.

Há ainda outras substâncias usadas em formulações cosméticas cujo papel é sequestrar

radicais livres. A serem mencionadas somente brevemente:

Flavonoides um grande grupo de metabólitos secundários da classe dos polifenóis,

componentes de baixo peso molecular, encontrados em diversas espécies vegetais (inclusive

aqueles que proporcionam a cor roxa no vinho tinto, em alguns sucos e no chá),

Figura 19. Flavonoides: estrutura básica (à esquerda) e a Quercetina como exemplo de um

antioxidante natural que ainda tem uma série de efeitos farmacológicos beneficiais.

Extratos de plantas, tais como o Ginkgo biloba e a Centella asiática. Com mecanismos

diferentes, mas também no sentido antioxidante, agem os -hidroxi ácidos (p. 59) e alguns derivados da vitamina A, portanto usados na prevenção e recuperação da pele envelhecida.

Os aditivos antioxidantes principais em cosméticos, no entanto, são feitos no laboratório. Os

mais utilizados são BHA (uma mistura de 2-t-butil-4-metoxifenol com 3-t-butil-4-

metoxifenol) e BHT (2,6-di-t-butil-4-metilfenol; ver fórmulas na Figura 20). Não só as

formulações cosméticas aproveitam destes compostos, mas também os fármacos e os

alimentos industrializados; especialmente importantes são esses aditivos em formulações que

contêm flavorizantes ou substâncias bioativas altamente sensíveis. Com estes aditivos pode-se

estender a vida de prateleira do produto por alguns meses. A função química característica

desta família de antioxidantes é o grupo fenólico “blindado”, quer dizer, protegido

estericamente por grupos volumosos. No caso do especialmente ativo BHT identificamos dois

grupos t-butilas, em ambos os lados do grupo fenólico.

Pro-vitamina A

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Bu-t

Bu-t

HO

OBu-t

HO

BHA (2-t-butil-4-metoxifenol)

BHT (2,6-di-t-butil-4-metilfenol)

O

OH

O

Metilparabeno

HO

OH

OH

OO

Galato de n-propila

Figura 20. Fórmulas químicas dos antioxidantes sintéticos frequentemente usados em

cosméticos.

Mas o BHA, BHT, os parabenos e galatos, mostram ainda um outro efeito benéfico nas

formulações cosméticos: eles têm efeitos antimicrobianos (compare Tab. 20 na p. 138).

Muitos aditivos que são permitidos em alimentos são referidos pelas suas siglas "E XXX".

Essa nomenclatura foi também adotada nos produtos cosméticos; os compostos mais

importantes são descritos na Tab. 15.

Tab. 15. Aditivos antioxidantes usados em cosméticos, alimentos e fármacos, junto às

suas siglas E.

Número

E

Substância Aplicações

E 218 Metilparabeno Produtos cosméticos (xampu, gel de banho, etc.)

E 300

E 301

E 302

Ácido ascórbico

Ascorbato sódico

Ascorbato cálcico

Refrigerantes, geléias, leite condensado, salsichas, etc.

E 304 Palmitato de ascorbila Salsichas, caldo de galinha, etc.

E 306-

309

Tocoferóis Óleos vegetais.

E 310

E 311

Galatos Gorduras e óleos para produção profissional, óleos e

gorduras para fritar, condimentos, sopas desidratadas,

pastilhas elásticas, etc.

E 320

E 321

Hidroxianisol butilado

(BHA)

Hidroxi-tolueno butilado

(BHT)

Doces, uvas passas, queijo fundido, manteiga de

amendoim, sopas instantâneas, etc.

Existem diversos ensaios in vitro para quantificar o efeito antioxidante / sequestro de radicais

livres, de uma substância ativa. A princípio trata-se da medição da velocidade com que

radicais livres e estáveis (Figura 21), que foram adicionados à solução da substância em

questão, são desativados. A comparação com um anti-oxidante padrão fornece então um

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“Índice de sequestro de radicais” (Radical Scavange Index); os seguintes radicais podem ser

usados neste teste cinético 16

:

1,1-difenil-2-picrilhidrazila (1,1-diphenyl-2- picrylhydrazyl, DPPH) e sua absorbância

a 517 nm;

Sal de amônio do ácido 2,2’-azinobis-3-etilbenzenotiazolina-6-sulfônico (2,2'-azino-bis (3-ethylbenzthiazoline-6-sulfonic acid, ABTS) e sua absorbância a 734 nm;

Nitroprussiato de sódio (sodium nitroprusside, SNP; fonte de NO∙) e sua absorbância a 540 nm.

DPPH ABTS SNP

Figura 21. Radicais livres estáveis que podem ser usados em testes que ilucidam o “Índice de

sequestro de radicais”.

Metais como catalisadores da foto-oxidação

Os íons metálicos também podem acelerar processos oxidativos e assim promover a

degradação do produto cosmético. Em primeira linha, isso são os íons Fe2+

, Fe3+

, Mn2+

e Cu2+

.

Uma das maneiras de prevenir problemas causados pela presença de íons metálicos é a

utilização de quelantes, onde o EDTA (ver Figura 52) certamente é um dos mais eficazes e

mais utilizados. Os quelantes auxiliam, além disso, na ativação de uma série de conservantes

microbiológicos e aumentam a eficiência em processos de lavagem, por serem abrandadores

da água.

Sendo assim, a eficácia dos antioxidantes pode ser potencializada pelo uso de agentes

quelantes. Muito resumidamente, a sua ação explica-se pelo fato de formarem complexos

estáveis com os metais pesados, M2+

e M3+

. Na forma complexada estes não podem mais

exercer o papel de catalisador da auto-oxidação.

A ausência dos metais pesados, aliás, é um dos motivos por que em quase todos os produtos

cosméticos não se aplica água mineral, mas água destilada e/ou desmineralizada como

veículo. Qualquer traço de dureza, comumente encontrada em água mineral, é prejudicial para

a qualidade e estabilidade da formulação. Além de promoverem a degradação fotolítica, os metais podem:

Falsificar cor e cheiro da formulação,

Formar precipitados insolúveis (por exemplo, sais de Mg2+

e Ca2+

dos ácidos graxos)

16

L. L. Borges et al. Uma abordagem sobre métodos analíticos para determinação da atividade antioxidante em

produtos naturais. Enciclopedia Biosfera 7 (2011), 1-20. Disponível em

http://www.conhecer.org.br/enciclop/2011a/saude/uma_abordagem.pdf

L.R.B. Mariutti et al. Free radical scavenging activity of ethanolic extracts from herbs and spices commercialized

in Brazil. Brazilian Archives of Biology and Technology 51 (2008), 1225-1232. Disponível em

https://dx.doi.org/10.1590/S1516-89132008000600018

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Reduzir o poder detergente dos sabões.

6.4.1 Antioxidantes lipofílicos e hidrofílicos

Os antioxidantes são, quimicamente falado, redutores. São importantes aditivos na maioria

das formulações, pois previnem a degradação dos óleos, principalmente sua parte insaturada

(= duplas ligações C=C), por oxidação. Eles atuam de forma indireta sobre a substância a ser

protegida, ao reagirem com o oxigênio do ar e outros contaminantes oxidantes, antes estes

mesmos podem prejudicar os demais ingredientes oxidáveis da formulação. Sendo assim,

consomem rapidamente o agente oxidante – que muitas vezes é simplesmente o 3O2 do ar.

Os antioxidantes são aplicados, de preferência, na fase oleosa onde estão mais pertos do local a ser protegido. Mas podem ser também dissolvidos na fase aquosa, onde seu efeito

geralmente é menos pronunciado 17

.

Portanto, devemos ter noção sobre o caráter, seja lipofílico ou hidrofílico, do aditivo

antioxidante. Em formulações cosméticas geralmente se adota as seguintes expressões, para

rascunhar a solubilidade do agente ativo:

Termos descritivos Quantidade de solvente para

dissolver 1 grama do ativo

Muito solúvel

Facilmente solúvel

Solúvel

Ligeiramente solúvel

Pouco solúvel

Muito pouco solúvel

Praticamente insolúvel

< 1 mL

1 a 10 mL

a 30 mL

30 a 100 mL

100 a 1000 mL

1 a 10 L

> 10 L

A seguinte lista refere-se a antioxidantes usados em formulações aquosas, junto às

solubilidades e faixas de concentração onde mostram notável efeito. Estes, aliás, também são

permitidos em formulações farmazêuticas.

Ácido ascórbico (pp. 57 e 76): Pó cristalino branco ou levemente amarelado, sem cheiro,

escurece gradativamente quando exposto à luz. É razoavelmente estável enquanto no estado

seco, mas oxida-se rapidamente quando em solução.

Solubilidade: 1 g em 3 mL de água, 1 g em 30 mL de etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,05 a 3,0%.

Glutationa (p. 77): Cristais incolores ou pó cristalino branco ou quase branco. É pouco solúvel

no etanol a 96 % e no cloreto de metilo, mas facilmente solúvel na água.

17

Assim, o local preferido dos antioxidantes é oposto dos aditivos “conservantes” (ver p. 74), que combatem a

contaminação e infestação por microorganismos: estes têm sua maior eficiência na fase aquosa

Leia também em A. Isenmann, “Corantes”, cap. 6.3, disponível em

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:corantes

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Concentração antioxidante efetiva: 0,1 a 2,0%.

Bissulfito de sódio (NaHSO3): Pó branco até levemente amarelado, com odor característico de

SO2, de sabor desagradável. É instável no ar, pois perde gradativamente SO2, outra parte sofre

oxidação ao sulfato.

Solubilidade: 1 g em 4 mL de água, 1 g em 70 mL de etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,1%.

Metabissulfito de sódio (Na2S2O5): Pó branco (incolor) com um odor sulfuroso. Sabor azedo e

salino. Oxida lentamente ao sulfato quando exposto ao ar e à umidade.

Concentração antioxidante efetiva: 0,02 a 1,0%.

Tiossulfato de sódio (Na2S2O3.

5 H2O): Cristais grandes e incolores, higroscópico e

eflorescente no ar. Soluções aquosas são neutras ou levemente alcalinas.

Solubilidade: 1 g em 0,5 mL de água, insolúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,05%.

Menos usado: ácido hipofosforoso, H3PO2 (atenção: sua estrutura química correta é

H2P(=O)OH) ou seu sal, hipofosfito de sódio, NaH2PO2.

Os seguintes antioxidantes são lipossolúveis:

Palmitato de ascorbila (= vitamina C hidrofobizada): Éster, pó branco ou levemente

amarelado, com odor característico.

Solubilidade: muito pouco solúvel em água, pouco em óleos vegetais, solúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,01 a 0,2%.

Butilhidroxianisol (BHA; p. 79): Cera sólida branca até levemente amarelada, com fraco

odor.

Solubilidade: insolúvel em água, facilmente solúvel em etanol ou em propilenoglicol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,005 a 0,01%.

Butilhidroxitolueno (BHT; p. 79): Sólido cristalino branco com odor bem fraco.

Solubilidade: insolúvel em água e em propilenoglicol, mas facilmente solúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,03 a 0,1%.

Galato de propila (p. 79): Pó cristalino branco, com odor muito leve.

Solubilidade: levemente solúvel em água, levemente solúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,005 a 0,15%.

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α-Tocoferol (Vitamina E; pp. 58 e 77): Óleo viscoso, transparente, amarelo que pode ser

amarelo esverdeado. Inodor, instável frente à luz e ao ar.

Solubilidade: insolúvel em água, solúvel em etanol, óleos vegetais e acetona.

Concentração antioxidante efetiva: 0,05 a 2,0%.

6.5 Cosméticos para corrigir manchas na pele (discromias) Discromias são alterações na pigmentação da pele, causadas pela alteração na síntese, na

transferência ou na perda de melanina pela pele. As alterações de pigmentação podem ser

causadas por fatores genéticos, metabólicos, nutricionais, endócrinos, inflamatórios,

infecciosos, neoplásicos, mas também por agentes químicos e físicos. Pode-se também

observar aumento da pigmentação na pele humana em certos desequilíbrios hormonais.

Existem ainda muitos outros fatores patológicos e ainda alguns medicamentos que podem

ocasionar alterações na cor da pele.

As discromias podem ser classificadas como hipercromias (aumento da pigmentação da pele;

manchas escuras) e hipocromias (diminuição da pigmentação da pele; manchas claras). O

combate de manchas escuras é assunto neste, o de manchas claras do próximo capítulo.

Vamos primeiro conhecer algo sobre a melanina, o pigmento da pele (ver estrutura

representativa deste polímero na Figura 60, p. 159). Os melanócitos, situados na epiderme,

são células com prolongamentos que sintetizam esse pigmento, ver retrato ampliado da Figura

3. Estão localizados nas camadas mais profundas da epiderme, entre queratinócitos

adjacentes. Os melanócitos são menos numerosos que os queratinócitos, mas seus

prolongamentos ramificados permitem contactar com todos os queratinócitos da camada basal

(= camada inferior da epiderme). Normalmente há um melanócito, circundado por 30

queratinócitos.

A melanina é formada nos melanócitos por ação de uma enzima denominada de tirosinase

(compare esquema simplificado, Figura 59 na p. 158). Devido à ação da enzima tirosinase, a

tirosina é transformada em DOPA (= dihidroxi fenilalanina) e depois de ocorrerem vários

passos bioquímicos, esta substância é transformada em melanina (eumelanina ou

feomelanina). Quando a atividade desta enzima fica ausente, a melanina não é produzida,

provocando uma condição conhecida como albinismo.

Os grânulos da melanina (= melanossomas) são transferidos para os queratinócitos através da

passagem pelos prolongamentos ramificados. À medida que os queratinócitos alcançam a

superfície cutânea, carregam a melanina, de modo que o pigmento é eliminado da epiderme

por desfolhamento. Os melanócitos estão continuamente em atividade mitótica (= divisão

celular), embora sua divisão seja muito mais lenta do que a dos queratinócitos. À medida que

os melanócitos se dirigem para a superfície, perdem sua habilidade de produzir melanina,

degeneram e morrem.

Há, em média, cerca de 1500 melanócitos por milímetro quadrado de superfície de pele. Sua

distribuição varia com os indivíduos e com as regiões do corpo. Embora a cor da pele humana

pode ter tantas facetas, o número de melanócitos nas diferentes etnias é mais ou menos o

mesmo. As variedades de cor devem-se então às diferenças na atividade dos melanócitos: os

negros têm em sua pele melanócitos mais ativos que os brancos. Depois dos 40 anos, o

número de melanócitos diminui gradualmente, bem como sua atividade de síntese.

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O pigmento melanina localizado na epiderme tem o papel de filtro de luz UV, ele protege os

tecidos inferiores, dos efeitos nocivos desta radiação. A produção de melanina pode ser

aumentada, estimulando-se os melanócitos com doses crescentes de luz UV.

Muitas substâncias ativas têm sido descritas como eficazes no tratamento das discromias,

principalmente no caso das hipercromias. Os despigmentantes, substâncias que atuam

diretamente sobre a região hiperpigmentada, têm sido largamente prescritos pelos

dermatologistas e, algumas são permitidas em formulações cosméticas. Entre os

despigmentantes mais usados atualmente são:

Ácido kójico, um produto de condensação da dihidroxiacetona

Arbutina

Antipollon HT

(um silicato de alumínio sintético, finamente granulado)

Hidroquinona (= p-dihidroxibenzeno)

Ácido fítico,

Vitamina C (inclusive seu complexo com magnésio, conhecido como VCPMG; ver p.

57),

Extraio de uva ursi.

Outras substâncias ativas têm sido também associadas aos despigmentantes, como é o caso

dos -hidroxiácidos (ver p. 59; exemplo: ácido glicólico) e do -hidroxiácidos (ver p. 60; exemplo: ácido salicílico), a fim de obter melhores resultados, pois tais substâncias

promovem esfoliação da pele, ocasionando leve efeito clareador e, muitas vezes, facilitando a

penetração dos principais ativos despigmentantes.

Alguns produtos cosméticos contendo clareadores ou agentes esfoliantes de pele se encontram

no cap. 14.4.7.

6.5.1 Bronzeador de pele

O tratamento das discromias nem sempre é fácil, então deve ser feito sob a orientação de um

especialista, uma vez que as manchas (quer escuras ou claras) podem estar associadas a

doenças mais graves. Um exemplo famoso é o melanoma maligno (= câncer de pele). No

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85

entanto, o uso constante de um filtro solar é um recurso recomendado para a prevenção das

discromias.

A maioria dos casos de hipocromia (= falta de pigmentação) pede um tratamento médico,

onde substâncias ativas para estimular a produção de melanina são aplicadas em

concentrações médias a altas. Essas são, por exemplo, essência de bergamota ou o 8-

metoxipsoraleno.

8- metoxipsoraleno

Um exemplo cada vez mais frequente é o Vitiligo, uma doença não contagiosa na qual ocorre

a perda da pigmentação natural da pele. Trata-se da redução do número ou da função dos

melanócitos. A doença pode surgir em qualquer idade, sendo mais comum em duas faixas

etárias: 10 a 15 anos e 20 a 40 anos.

Dentre os produtos cosméticos se encontram os bronzeadores de pele que são feitos para

clientes que querem atender as expectativas estéticas de uma pele natural, sem ter a

necessidade de expor-se excessivamente à radiação UV que, como vimos acima, pode

acarretar sérios problemas de saúde. O esclarecimento da população sobre os efeitos negativos

da radiação solar e também os avanços em produzir os ingredientes ativos em bronzeadores,

deixaram crescer o mercado deste cosmético nos últimos anos.

São dois mecanismos que contribuem ao bronzeamento natural da pele:

Pigmentação direta: consiste na oxidação da leucomelanina, uma substância incolor,

precursora da melanina, localizada nas células das camadas basais da epiderme

(melanócito, ver Figura 3, detalhe ampliado). Este processo é induzido pelos raios

UV-A; desvantagem: esse bronzeado desaparece rapidamente (em 3 a 24 horas).

Pigmentação indireta: induzida pela radiação UV-B. Grânulos de melanina (fórmula

abstraída na p. 159) são formados na camada basal da pele e migram lentamente para a

superfície, em direção ao stratum córneum. Este bronzeamento dura por mais tempo,

visto que, um tempo longo é necessário para que os grânulos sejam eliminados pela

esfoliação, durante a qual a pele perde o seu bronzeado.

Completamente diferente é a ação do bronzeamento artificial. Um auto-bronzeador provoca a

formação de compostos coloridos junto à camada externa da pele (stratum corneum e

epidermis, ver Figura 3); ele pode ser aplicado em forma de um creme ou como spray e muda

a aparência da pele dentro de uma hora e atinge sua coloração final após 12 horas, tempo que

o ingrediente precisa para reagir completamente com as proteínas da pele.

O ativo bronzeador de longe mais usado é a dihidroxiacetona (DHA), que pode ser usado em

combinação com a eritrulose 18

:

HO OH

O

DHA Eritrulose

HO

O

OH

OH

18

Artigo de revisão disponível em http://www.dermaviduals.com/english/publications/products/self-tanning-

products-a-beautiful-sun-tan-without-sun.html (acesso em 10/2014)

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86

DHA é um pó cristalino branco cujo efeito bronzeador foi descoberto nos anos 1950. Ele se

apresenta no cristal como dimero, no entanto, seu efeito em bronzeadores é maior quando as

moléculas são soltas. Isso se consegue através de um aquecimento em um solvente orgânico,

geralmente álcool etílico. Os dois compostos são completamente não tóxicos (eles até mesmo

fazem parte dentro do ciclo do ácido cítrico).

Identificamos nas estruturas acima o parentesco com os acúcares, e realmente são os mesmos

tipos de reações que provocam a cor marrom em comidas assadas – conhecidas como reações

de Maillard. Realmente, trata-se de uma sequência bastante complexa de reações 19

,

principalmente entre o grupo hidroxila da DHA e os grupos aminas da proteína estrutural e

dos aminoácidos contidos na pele. Os compostos coloridos no final são chamados de

melanoidina.

Atenção: este corante, popularmente conhecido como melanoidina, não protege nosso corpo

notavelmente da radiação UV! Pode-se esperar um FPS máximo de 3 contra UV-A e nenhum

contra UV-B! Portanto não deve ser confundido com a melanina natural!

Figura 22. Desenvolvimento dos corantes a partir de proteínas da pele e a dihidroxiacetona,

via reação de Maillard.

A forma mais comercializada dos bronzeadores é um creme, cuja base foi apresentada no cap.

6.1.4, com 2 a 6% m/m dos ingredientes ativos. Concentrações mais altas são desvantajosas,

já que uma aplicação não cuidadosa deixa a pele facilmente com manchas escuras, de

aparência artificial. Importante na aplicação deste produto é o uso de luvas, pois as palmas da

mão se escurecem também – até mais intensamente do que a pele lisa. Em geral vale: quanto

mais grossa a pele (cotovelos, joelhos, sola do pé, etc.), maior o escurecimento. Como a

coloração pelo bronzeador somente afeta a camada externa da pele, o efeito se perde em

virtude do esfolhamento natural. Portanto, deve ser aplicado repetitivamente em intervalos de

10 dias, aproximadamente.

19

Alguns princípios desta reação são discutidos em A. Isenmann, “Corantes”, Cap. 6.4.6, disponível no site

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:corantes

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87

7 Produtos de limpeza

7.1 O processo de lavagem sob a luz da termodinâmica O sabão e também os detergentes descritos logo a seguir, têm o papel de compatibilizar a

água de lavagem e a sujeira que, na maioria das vezes, é de natureza hidrofóbica. Sem a ajuda

de um compatibilizante a água não terá o poder de fazer um contato estável com a sujeira

(gordurosa) e assim retirá-la do objeto a ser limpado. Pelo contrário: a gordura fica longe da

água e cada uma destas fases tenta minimizar a área de contato. Evidentemente, a energia do

sistema fica menor quando a área da interface, A, é pequena. Isso se evidencia em nosso dia-a-

dia em várias formas bem conhecidas:

Ao sacudir em uma garrafa um pouco de água com óleo de soja, observamos que nos

primeiros instantes a mistura tem aparência turva. Isto se deve às gotículas finas de óleo em

água ou de água em óleo - dependendo dos volumes que se aplicou de cada líquido.

Chamamos essa mistura de emulsão, com gotículas de tamanho típico de poucos micrômetros.

Deixamos essa mistura em repouso, podemos observar o crescimento das gotículas

("coalescência") e após pouco tempo quase todo óleo está boiando em cima da água.

Minimizar a área de contato é uma característica em muitas misturas, líquidos com líquidos

ou líquidos com gases (no entanto, dois gases entre si sempre se misturam perfeitamente).

Outros exemplos são:

Gotas da chuva têm forma arredondada, porque nesta geometria a superfície fica

mínima, em relação ao seu volume.

Quando abrimos uma garrafa de refrigerante, as bolinhas redondas de gás carbônico

estão subindo. Não são cubinhos ou até estrelinhas, porque sua superfície tenta ficar

mínima. Realmente, a superfície da fase líquida fica mínima, também.

Portanto, temos a necessidade de ampliar a expressão para a energia livre de um sistema

binário, pela contribuição da área de contato entre duas fases. Escrevemos:

dAA

Gdp

p

GdT

T

GdG

TpATAp

,,,

,

onde fica claro que a entalpia livre de Gibbs do sistema depende das variáveis 20

temperatura

T, pressão p e área de contato A. Sabemos que os quocientes diferenciais parciais desta

equação, ApT

G

,

e

ATp

G

,

, têm significados físicos discretos. Isso deve ser o caso,

também para o quociente TpA

G

,

, a variação da entalpia livre durante uma variação da

superfície ao deixar temperatura e pressão constantes. Essa grandeza tem a dimensão de

trabalho (ou energia) por área. A mesma dimensão resultará ao fazer a razão entre força e

comprimento, já que a energia é produto de força vezes o caminho. Neste momento temos que

20

Além destes fatores, a energia livre depende também dos potenciais químicos de cada fase.

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realizar que o quociente TpA

G

,

descreve a propriedade de uma camada bidimensional. Se

ele fosse relacionado a um corpo tridimensional, a sua grandeza seria força por área, ou seja,

uma pressão. Uma pressão negativa é uma tensão. Portanto, o quociente diferencial TpA

G

,

é chamado de tensão de superfície, pela maioria dos autores abreviada com “sigma”, .

A tensão de superfície corresponde à energia que temos que gastar para criar uma nova

superfície, mantendo temperatura e pressão constantes.

Com essa definição podemos escrever o diferencial total da entalpia livre na seguinte forma:

dAdpVdTSdG .

S = entropia; V = volume; = tensão de superfície.

Em gases a tensão superficial é pequena, devido às poucas interações entre as moléculas. Mas

em fases condensadas, líquidos e sólidos, essa contribuição à entalpia livre não deve ser

esquecida - especialmente em sistemas finamente dispersos. Lembramos que as contribuições

da superfície tornam-se cada vez mais importantes quanto menores as partículas (gotículas).

Qual agora o papel dos agentes tensoativos? Eles abaixam a tensão superficial .

Sendo assim, o módulo do fator dA diminui; um aumento em superfície causa apenas um

pequeno aumento em energia do sistema - uma desvantagem que pode ser compensada

facilmente pelos outros dois fatores da equação diferencial. Sendo assim, uma dispersão fina

de óleo em água não se torna um sistema "estável", no sentido termodinâmico, mas menos

instável; também podemos descrever o estado de uma dispersão fina, na presença de agente

tensoativo, de metaestável. Ou seja, com ajuda do agente tensoativo conseguimos manter as

gotículas em forma de emulsão, por um tempo prolongado. Isso é o princípio de

funcionamento dos emulsificantes em cremes (ver p. 46); também é a condição básica em

qualquer processo de lavagem, como será explicado mais adiante.

As moléculas de detergentes têm, para este fim, uma parte lipofílica e uma parte hidrofílica,

unidas por uma ligação covalente.

Princípio estrutural de todos os sabões e detergentes, mostrado no estearato de sódio:

COO- Na+

Estearato de sódio

cauda apolar cabeça polar.

Parte hidrofóbica: cadeia hidrocarbônica. Parte hidrofílica: carboxilato.

Figura 23. Princípio molecular das moléculas anfifílicas, mostrado no estearato de sódio.

No processo de lavagem ocorre a solubilização da gordura, em forma de micelas:

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Figura 24. Simulação de uma micela de óleo em água.

Pela formação de micelas a sujeira hidrofóbica ganha uma superfície hidrofílica. As cargas

nesta camada hidrofílica, no entanto, inibem a coalescência das micelas e flutuam na fase

aquosa em forma de suspensão/emulsão.

Acrescentamos o agente tensoativo aos poucos, podem estabelecer-se diferentes arranjos

destas moléculas, resumidas na Figura 25. Acima da concentração que seja necessária para

cobrir toda a interface plana, água/óleo ou água/ar, as moléculas do sabão procuram outras

formas de organizar-se. A mais conhecida é a micela, isto é, esferas submicroscópicas. A

concentração limite inferior é chamada de CMC (concentração de micelas crítica). Micelas

podem ou não, conter a fase repelida no seu interior e desta forma promover a dispersão fina

das duas fases repelentes, em forma de uma emulsão.

O seguinte gráfico contém as mais importantes formas de organização destes ânions

anfifílicos, em ambiente aquoso (sem a presença de óleo, para simplificar). De grande

importância para os produtos cosméticos é a organização das moléculas anfifílicas em forma

de uma camada dupla, menos frequente em vesículas multi-lamelares. Neste caso se fala em

lipossomas (ver p. 44), que servem como veículos para um grande número de substâncias

ativas, especialmente aquelas aplicadas de forma tópica na pele. Entrando em contato com a

epidermis, eles são compatíveis com os lipídeos da pele e entregam o ingrediente ativo. Pela

nossa surpresa, os lipossomas conseguem veicular substâncias de quase qualquer caráter, seja

hidrofílico, anfifílico ou lipofílico.

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Figura 25. Diferentes arranjos de moléculas anfifílicas na água.

7.2 Sabão tradicional Podemos resumir os motivos para o uso de cosméticos na pele:

• Limpeza

• Proteção

• Embelezamento.

Certamente o mais antigo produto de tratamento da pele é o sabão. Ele retira matéria

gordurosa, mas “resseca” a pele. Além disso, o sabão desloca por curto tempo o pH natural da

pele, para a região alcalina. Uma pele saudável, porém, consegue nivelar-se rapidamente – em

geral dentro de 20 a 30 minutos. O sabão é produzido em escala industrial desde o século 19.

Mais do que isso: o sabão é um dos pilares da civilização moderna, porque iniciou uma

revolução da consciência sobre a higiene pessoal, proporcionou uma proteção contra

infecções transmissíveis e facilitou a cura de lesões.

Mas o que possibilitou a ascensão do sabão, ao mesmo tempo o fator número 1 para seu

sucesso até hoje: é barato!

7.2.1 História do sabão

Até o advento da Revolução Industrial, a produção de sabão mantinha-se em pequena escala e

o produto era grosseiro. Andrew Pears iniciou a produção de sabão transparente e de alta

qualidade em 1789, em Londres. Com seu neto, Francis Pears, abriu uma fábrica em

Isleworth em 1862. William Gossage produzia sabão de boa qualidade e preço baixo a partir

dos anos 1850. Robert Spear Hudson passou a produzir um tipo de sabão em pó em 1837,

socando o sabão com pilão. William Hesketh Lever e seu irmão James compraram uma

pequena fábrica de sabão em Warrington (Inglaterra), em 1885, fundando o que ainda é hoje

um dos maiores negócios de sabão do mundo, a Unilever. Estes produtores foram os

primeiros a empregar campanhas publicitárias em larga escala.

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91

7.2.2 Produção de sabão

Sabão é o nome popular para os sais dos ácidos graxos que já conhecemos do cap. 5.1.1. O

sabão é um dos produtos cosméticos mais antigos, ele é feito tradicionalmente a partir de

gorduras que podem ser tanto de origem vegetal como animal. Entram na produção de sabão

tipicamente gorduras de menor valor, impuras ou proveniente da prensagem a quente ou

extraídas por solventes orgânicos. As matérias-primas principais são:

Gorduras vegetais: de côco, dendê, oliva, girassol e soja.

Gorduras animais: sebo de boi, banha de porco, miolo de ossos de restos da carne

industrializada.

Essas gorduras são tratadas a quente com uma base aquosa. Hoje são usadas a soda cáustica

(NaOH) ou potassa cáustica (KOH), antigamente usava-se a soda (Na2CO3) ou a potassa

(K2CO3) para este fim. Neste tratamento que tipicamente dura uma hora, ocorre a

saponificação dos triglicerídeos, os produtos são a glicerina e os sais alcalinos dos ácidos

graxos. O maior avanço na produção industrial representa a linha contínua, inventada cerca de

90 anos atrás. Até então somente foram produzidos os sabões em caldeiras abertas, de

maneira descontínua.

O produto primário da saponificação é

uma emulsão grossa que tem a aparência

de uma goma. Nesta, acrescenta-se uma

quantidade considerável de NaCl. O sal

tem o efeito de separar o sistema em duas

fases, pois torna a fase aquosa mais polar e

assim repelente frente à fase orgânica que

contém os carboxilatos. Além disso, a

dissolução do sal aumenta a densidade da

fase aquosa - o que facilita a separação do

sabão (mais leve). Sendo assim, separa-se

a lixívia aquosa contendo soda cáustica

que foi acrescentada em excesso, a

glicerina e o sal de cozinha, do sabão que bóia em forma de uma camada que facilmente pode

ser decantada. Uma vez separado o sabão cru, ele é lavado com bastante água e um pouco de

soda cáustica, para dissolver restos de impureza. Uma segunda salinização a quente leva ao

produto, o sabão caseiro puro.

Hoje se sabe que o uso de muita água na mistura da saponificação não é necessário – é até

adversário! Ao aplicar a quantidade calculada da base dissolvida em pouca água (ver p. 200),

a etapa da salinização e o isolamento do sabão puro se dispensam. Literalmente tudo que foi

acrescentado na mistura reacional, contribui de alguma forma ao produto final. Neste sentido

e de grande valor, é a permanência da glicerina no sabão, da qual sabemos que tem efeitos

benéficos à pele humana (p. 52). Além disso, a consistência e a aplicabilidade do produto é

outra. O sabão tradicional era bastante duro e tinha um toque relativamente seco (ver imagem

acima), passando na pele e dissolvendo-se em água somente sob um esfregamento enérgico.

Já o sabão glicerinado é macio, lubrificante, umedecido, de fácil aplicação na pele – enfim,

proporciona mais conforto ao consumidor, tanto no momento de ensaboar, como logo depois

do ato de limpeza. E mais um aspecto a não se esquecer: o método moderno não produz as

grandes quantidades de águas servidas que efluíram da produção tradicional.

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92

A consistência do sabão depende, como vimos na Tab. 9, do comprimento e do número de

duplas ligações da cadeia carbônica dos ácidos graxos. Mais influente ainda é o tipo de cátion

que se introduziu através da base e do sal de separação. Ao se aplicar sal de cozinha, NaCl, o

produto fica mais firme e pode ser usado para sabão em barra e sabonete. Por outro lado, ao se

usar potassa, KCl, obtêm-se sabões líquidos, em forma pura da consistência de borra.

Mais produzido é o sabão em barra. É formado em blocos grandes, recortado, moído,

misturado com corantes, fragrâncias e material de carga. Um bonito sabonete se obtém via

calandragem. Nesta etapa ocorre o estiramento dos blocos de sabão em um sistema de rolos (=

calandra) que têm certa temperatura e velocidade. Acontece, através da enorme velocidade

desta máquina, que pequenas bolhas de ar são inclusas - um efeito até desejado, porque assim

o produto ganha um bonito brilho. Última etapa antes da embalagem é a prensagem a quente,

geralmente feito numa máquina injetora (descontínuo) ou numa extrusora (contínuo).

7.2.3 Aspectos mecanísticos acerca da produção de sabão a partir de gordura

A produção de sabão a partir de gordura é uma das reações mais antigas da humanidade.

Curiosamente, até o século 19 ninguém sabia que se trata realmente de uma reação química,

quando cozinhar a gordura junto às cinzas de madeira. O que realmente ocorre é uma

hidrólise lenta do triglicerídeo de ácidos graxos, sob a influência de KOH (= nucleófilo),

presente em alta concentração nas cinzas. Formam-se a glicerina e os sais de potássio dos

ácidos graxos.

A hidrólise de ésteres formando o ácido carboxílico (ou seu sal) e um álcool é conhecida

como "saponificação". A reação química que transforma a gordura (um éster que

identificamos na p. 26 como triglicerídeo) em sabão pode ser formulada em duas etapas: a

hidrólise do éster e a neutralização:

O

O

O

OH

OH

OH

C

C

C

O

O

O

+ 3 H2O + 3 COOH[Catalisador]1)

2) COOH COO-+ OH- + H2O

Sabão

Gordura(éster)

Glicerina Ácido graxo

Ácido graxo

Pela nossa surpresa, a primeira etapa é acelerada, tanto por bases como por ácidos. Isso se

deve às particularidades do grupo carboxila, como será discutido de maneira geral. Para

simplificar os esquemas reacionais a seguir, a fórmula da gordura será abreviada como

R C

O

X ou então

R C

O

O Gli , já que as reatividades nos três grupos funcionais do triglicerídeos são praticamente idênticas.

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Saponificação do éster sob catálise básica

A reação mais realizada no carbono do grupo carboxila é o ataque por nucleófilos. Salvo

poucas exceções, este ataque geralmente segue a sequência de Adição, seguido por

Eliminação ("AE"). O aduto intermediário contém um carbono quaternário que geralmente

é uma espécie não estável. O abandono do grupo X- (em nosso exemplo, X

- é o alcóxido que

levará ao álcool glicerina; Nu- é o hidróxido) ocorre imediatamente, restituindo o carbono sp

2.

Os fatores que são favoráveis a este mecanismo são:

1) Ataque por um nucleófilo forte (que seja pequeno, alta basicidade, alta polarizabilidade);

2) Pouco impedimento estérico ao redor do carbono carboxílico (pequenos grupos R e X);

3) Presença de retiradores de elétrons no grupo R;

4) Estabilidade do grupo abandonador, X-.

Os pontos 3 e 4 providenciam um grupo carboxila com carbono pobre em elétrons (+), conforme ilustrado no esquema a seguir.

R C

O

X

+ Nu- R C

O-

Nu

X

Complexo tetraédrico intermediário

R C

O

Nu

+ X-

plano plano

Figura 26. Sequência A→E da substituição nucleofílica no grupo carboxila.

Em geral, o nucleófilo que sucede esta reação, ao mesmo tempo é uma base forte. Este fato

explica porque o próprio ácido carboxílico (X = OH) não reage conforme este esquema. Uma

catálise básica falha, porque a base iria desprotonar o grupo –OH, muito mais rápido do que

atacar o carbono positivado do grupo carboxila. Uma vez desprotonado, o carbono do grupo

carboxila não possui mais caráter eletrofílico - o que era precondição para o mecanismo

AE. Em caso de ácidos carboxílicos livres se consegue a reação desejada por via da catálise ácida, que será apresentada logo a seguir.

Cada um dos derivados do ácido carboxílico, R-C(O)X, tem uma reatividade diferenciada

frente ao nucleófilo: quanto mais pobre o carbono carboxílico em elétrons, mais facilmente

ocorre o ataque pelo nucleófilo. No experimento acham-se as seguintes reatividades relativas 21

:

Cloreto do ácido > anidrido > éster > ácido carboxílico livre > amida primária > amida N-

substituída > nitrila > carboxilato (ânion do ácido carboxílico).

Nossa atenção está no éster (da gordura). Ele é mais reativo frente ao nucleófilo do que o

próprio ácido carboxílico. Sua reatividade fica entre a do anidrido carboxílico e o ácido

carboxílico livre. Por outro lado, o ânion carboxilato fica no final da sequência de reatividade:

ele não demonstra nenhuma reatividade frente nucleófilos “comuns” - apenas com os

nucleófilos mais fortes, tais como hidreto, H-, ou carbânions, se consegue uma acilação.

21

Um tratamento mais completo do mecanismo das reações no carbono carboxílico, ver

A. Isenmann, “Princípios da Síntese Orgânica”, Cap. 5.2; disponível em

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/sintese/

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+ OH-R C

O

O Gli

lento

R C

O-

OH

O Gli

+ Gli-O-R C

O

OH

+ Gli-O-R C

O

OH

rápido

muito rápido

+ Gli-OHR C

O

O-

Figura 27. Etapas percorridas na saponificação da gordura, sob catálise básica.

A última etapa deste mecanismo faz com que a reação seja praticamente quantitativa, visto

que os produtos intermediários, o ácido graxo livre e a glicerina desprotonada, são removidos

quase completamente do equilíbrio da primeira etapa. Isso explica o bom rendimento das

reações na fabricação de sabão, quando executadas sob catálise básica. Isso é um forte

argumento por que hoje se prefere a catálise básica.

Todavia, a velocidade global da saponificação depende da etapa mais lenta - que é a primeira:

OHésterkv . Ela depende das concentrações do éster e do hidróxido.

Observações:

1) O hidróxido tem um efeito acelerador na hidrólise da gordura, conforme a equação

logo acima. Mesmo assim, deve-se evitar a palavra "catalisador" para o hidróxido

de sódio, já que é consumido nesta reação - o que não está conforme a definição

rigorosa de um catalisador. Um catalisador, no sentido rigoroso deve sair da

reação, na mesma forma que entrou, ou seja, um catalisador não é consumido.

2) O fato de o reagente OH-, em forma de uma solução concentrada de NaOH, não se

mistura com o outro reagente, a gordura, isso causa uma certa inibição no início da

reação da saponificação. Mas logo tiver algum sabão produzido, este age como

compatibilizante que reduz a repelência entre os reagentes. Assim, podemos

afirmar que a saponificação sob catálise básica é sujeita a um efeito auto-catalítico.

Saponificação sob catálise ácida

As reações dos ésteres com diversos nucleófilos podem ser catalisadas não só por bases, mas

também são em geral aceleradas pela presença de ácidos de Brønsted. Frequentemente usados

para esta finalidade são o ácido trifluoracético (TFA) e o ácido fluorídrico; no antigo processo

industrial de Twitchell usava-se uma mistura de ácidos alquilarilssulfônicos com ácido

sulfúrico concentrado. O mecanismo pode ser formulado em cinco etapas, todas elas

completamente reversíveis e equilibradas. E esta vez, o ácido (H+) realmente pode ser

chamado de “catalisador”, por que sai no final da última etapa.

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+ H+R C

O

O Gli

R C

OH

O Gli

K

R C

OH

O Gli

k (lento)

R C

OH

OH2

O Gli

+ H2O+

R C

OH

OH2

O Gli

rápido

R C

OH

OH

O Gli

H

R C

OH

OH

O Gli

H

R COH

OH+ Gli-OH

R COH

OH

rápido

R COH

+ H+O

Evidentemente, o papel do catalisador H+ é o aumento da eletrofilia do carbono carboxílico,

através da protonação do oxigênio vizinho. Isso facilita, na segunda etapa, o ataque de um

nucleófilo bastante fraco - a água. Na terceira etapa ocorre uma migração do próton entro do

compexo tetraédrico, para o grupo O-Gli. Este sai do complexo e o grupo carboxílico se

reforma.

A primeira reação se equilibra rapidamente. Sua constante de equilíbrio é

Héster

ésterHK ; ao empregar um excesso de água pode-se formular a equação cinética da

reação global como: HésterKkésterHkv .

Enquanto a reversibilidade da saponificação básica, descrita acima, foi impedida pela

remoção do carboxilato, a saponificação ácida é livremente reversível. Isto significa que a

reação se desloca à direção reversa, ao trabalhar:

com um excesso de álcool; ou

removendo a água produzida.

Estas seriam, em outras palavras, as medidas a serem tomadas para a esterificação, sob

catálise ácida.

Note que pelo mecanismo descrito aqui não se produz ainda o sabão, mas sim, o ácido

carboxílico livre. Este, ao contrário do sabão, não tem efeito compatibilizante entre as fases da

mistura reacional, aquosa e a gordura. Portanto, mantém-se a incompatibilidade das fases ao

longo de todo o processo - o que explica a velocidade relativamente baixa desta síntese.

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7.3 Detergentes sintéticos ("Syndet") No século 20 os sabões ganharam forte concorrência dos detergentes sintéticos que se

mostraram, na maioria dos aspectos, superiores. Especialmente em formulações de "sabão em

pó", detergente líquido para lavar louça e detergentes especiais, mas também os de uso

industrial, por exemplo, na captação do petróleo ou para tarefas de lubrificação, os

detergentes sintéticos dominam o mercado. Em formulações cosméticas os syndets

geralmente se encontram em um ambiente aquoso com pH 5 - o que seria impossível no caso

do sabão tradicional. Daí não afetam negativamente a acidez natural, produzida pela flora

bacteriana da pele. Estes tipos de detergentes se recomendam para quem os usa com muita

frequência ou para quem tem uma pele especialmente sensível ou queimada.

Em geral, podemos classificar os detergentes sintéticos, conforme a natureza química da

cabeça polar, que seja

um ânion,

um cátion,

contém carga negativa e positiva, em átomos vizinhos (zwitteríon)

contém carga negativa e positiva, em átomos remotos (betaína)

contém agrupamentos polares, porém não dispõe de carga (não iônico).

Por outro lado, a cauda apolar da molécula é sempre representada por uma cadeia comprida

de hidrocarboneto, às vezes em combinação com um anel aromático.

Devido à grande importância dos detergentes aniônicos, esta classe seja apresentada mais em

detalhe, logo a seguir.

7.3.1 Detergentes aniônicos

A cabeça polar desta classe de detergentes tem uma carga negativa. Os protagonistas desta

classe são os alquilbenzenossulfonatos e os sulfatos de alquila à base de alcoóis graxos. Os

mais avançados têm, além do grupo -SO3-, também algumas unidades de oxietileno, -O-CH2-

CH2-. Assim pode-se regular e ajustar o balanço lipofílico-hidrofílico exatamente. Ver

exemplos nas pp. 104 e 133.

Embora os reagentes nos processos da sulfatação e da sulfonação sejam os mesmos, em

palavras ácido sulfúrico e SO3 (= "óleum"), devemos distinguir os produtos. Nos sulfatos cria-

se uma ligação C-O-S em forma de um éster do ácido sulfúrico, enquanto nos sulfonatos se

cria uma nova ligação carbono (aromático)-enxofre, uma síntese da classe de substituição

eletrofílica aromática.

Sulfatos de monoalquila

Vamos primeiro olhar na síntese dos sulfatos. A matéria prima é o ácido graxo, então um

recurso renovável – ao contrário dos sulfonatos descritos logo a seguir, onde todos os edutos

provêm do petróleo.

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Óleo/Gordura

+ H2O[OH-]

ou [H+]

COOH

Catalisador:+ NaOH

COO- Na+

SabãoH2 /

Catalisadorde Ni ou Pd

CH2OHSO3/H2SO4

(Óleum)CH2O S

O

O

OH

Neutralizar com

NaOH

CH2O S

O

O

O- Na+

Detergente sulfato

Figura 28. Cadeia reacional da sulfatação de gordura.

Na primeira etapa se isolam os ácidos graxos livres ou seus sais, a partir da gordura, como

explicado no cap. 7.2.3. Segue uma etapa de redução do grupo –COOH, uma hidrogenação

em autoclave na presença de um catalisador metálico. Note que também as duplas ligações

C=C, eventualmente contidas nos ácidos graxos, se saturam nesta etapa. Resultam os álcoois

graxos que em seguida são tratados com óleum, no tanque da sulfatação. Sob condições

favoráveis se consegue o monoalquilsulfato que, finalmente, é neutralizado por NaOH, uma

atapa altamente exotérmica (ver p. 128) para render o produto final.

A química da sulfatação não é particularmente limpa. Têm-se uma série de produtos paralelos

que minguam a qualidade do produto final, o detergente aniônico. Além disso, há uma perda

de recursos por estes caminhos que a fábrica deve evitar de qualquer forma. Uma regulagem

fina das condições reacionais, particularmente da proporção [óleum: álcool graxo], o tempo

de permanência dentro do reator da sulfatação e a temperatura, são essenciais para o sucesso

desta etapa.

Identificamos as seguintes reações paralelas:

Formação do dialquilsulfato, que pode ser minimizada ao elevar a taxa [óleum : álcool

graxo].

Formação do dialquiléter: o grupo (-O-SO3H) pode também funcionar como grupo

abandonador que facilita a entrada de um grupo (-OH) proveniente de um álcool

graxo. Isso é uma clássica SN2 no carbono 1 do produto que acontece numa

temperatura elevada e sob tempos de permanência prolongados no tanque da

sulfatação.

Não podemos esquecer o efeito oxidante do ácido sulfúrico que, embora ser bastante

fraco (0 a pH 0 = +0,17 V), pode levar aos ácidos graxos, então o reverso da síntese

toda.

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98

CH2HOCH2O S

O

O

OH + CH2O S

O

O

OCH2 + H2O

Dialquilsulfato

Reações paralelas da sulfatação:

CH2HOCH2O S

O

O

OH + CH2O CH2 + H2SO4

Dialquiléter

CH CH2

H OH

Eliminação + óleum CH CH2

1-Alqueno

CH2OH

Oxidação

+ SO3

- SO2

CHO

Oxidação

+ SO3

- SO2

COOH

Álcool Aldeído Ácido

Figura 29. Reações paralelas na sulfatação do álcool graxo.

Sulfonatos de alquilbenzeno

A classe mais importante de detergentes é hoje o sulfonato de arila, da fórmula geral Ar-SO3-

Na+ (em inglês: Linear Alkyl Sulfonate, LAS). Megatoneladas de petróleo, tanto alifáticos

quanto as frações dos aromáticos, são transformados em sulfonatos. Enquanto o preço do

petróleo fica baixo (< U$ 60 por barril), este detergente aniônico certamente domina o

mercado dos agentes de limpeza. A seguir as reações principais envolvidas nesta linha de

produção. A cadeia alifática linear se consegue apenas indiretamente a partir do petróleo, a

dizer do etileno proveniente do craqueamento. Em seguida algumas unidades de H2C=CH2

são juntadas, formando 1-alquenos de comprimento estatísitico, favoravelmente ajustado a 8 -

12 carbonos. Apesar de custos extras desta etapa, ela se tornou essencial na produção do LAS.

Por meio de um catalisador metálico (catalisador de Ziegler) se consegue 1-alquenos com

cadeias carbônicas rigorosamente lineares. Muito pelo contrário aos hidrocarbonetos (alcanos

e alquenos) provenientes diretamente dos processos de craqueamento do petróleo, a dizer, a

fração da gasolina leve. Estes, embora tenham as mesmas massas molares, são cadeias

carbônicas altamente ramificadas (lembra-se do “isooctano”, composto principal na gasolina;

seu nome correto é 2,2,4-trimetilpentano). Os alquenos ramificados, quando usados na

produção de sulfonatos, levam a produtos de má biodegradabilidade. Nos anos 60 do século

passado estes compostos proporcionaram uma espuma persistente e feia nas beiradas dos rios

e lagoas que foram expostos a efluentes. E não só o visual era péssimo: ficou impedida por

esta espuma a permeação dos gases, O2 e CO2, que causou a morte dos peixes e seres

aquáticos. Já nos anos 70 a comunidade ficou esclarecida sobre o efeito colateral destes

alquilsulfonatos ramificados que, a partir daí, não foram mais aceitos pelos consumidores.

Uma lei que impediu a produção desses compostos, no entanto, somente chegou na década de

1980.

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99

n H2C CH2

5 < n < 10

H2C CH2 CHH CH2

n-1AlR3 / Ni

Reação de "Aufbau"

Cat. de Ziegler

H2C CH2 CHH CH2

n-1+

[H2SO4]

Alquilação de

Friedel-Crafts

H2C CH2H CH CH3

n-1

Alquilbenzeno

1-Alqueno

Sulfonação

SO3 / H2SO4

"Óleum"

Neutralização

H2C CH2H CH CH3

n-1H2C CH2H CH CH3

SO3H

n-1

H2C CH2H CH CH3

SO3H

n-1

+ NaOH

H2C CH2H CH CH3

SO3- Na+

n-1

"LAS"

Figura 30. Reações principais envolvidas na produção de alquilsulfonatos lineares.

Também esta cadeia de produção não está livre de reações paralelas. São principalmente a

perda de óleum devido à supersulfonação e a condensação para sulfonas que aumentam os

custos da produção e mínguam a qualidade dos LAS, respectivamente.

SO3H

+ H2SO4 / SO3

SO3H

SO3HSupersulfonação

Dissulfonato

Sulfona

"Óleum"

SO3H

+Condensação

SO

O

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100

Figura 31. Produtos paralelos na sulfonação do aromático.

A indústria de detergentes, junto à indústria de fertilizantes, é a maior consumidora de ácido

sulfúrico. Note que o reagente em si nestas reações é o trióxido de enxofre (SO3 = anidrido do

H2SO4), enquanto o próprio ácido sulfúrico serve como solvente para este reagente gasoso e

ainda atua como catalisador nas duas etapas reacionais, a alquilação de Friedel-Crafts e a

sulfonação. Embora as etapas de sulfonação/sulfatação serem possíveis usando somente ácido

sulfúrico, o emprego de SO3 ajuda reduzir os custos operacionais da fábrica, principalmente

por supressar um subproduto indesejado, o sulfato de sódio, que pode gerar problemas

ambientais. Na prática da sulfonação usa-se, portanto, um ligeiro excesso em SO3 (1 a 4%, em

relação ao alquilbenzeno). Mais do que isso não é recomendado, para não favorecer a

supersulfonação, ver acima. A concentração do SO3 no óleum, no entanto, é sempre mantida

alta: 78,5% em peso, em relação ao ácido sulfúrico concentrado!

Uma abordagem dos problemas ambientais acerca dos alquilbenzenossulfonatos LAS, ver 22

.

7.4 Outros tipos de detergentes sintéticos A finalidade de lavagem e limpeza, tanto do nosso corpo como do nosso ambiente, é o

reinado dos sabões e detergentes aniônicos, como descritos acima. Mas a família das

moléculas anfifílicas ainda tem outros representantes que serão descritos a seguir. Embora a

denominação “detergente” não estiver errada, seria talvez melhor falar no caso destes

compostos de compatibilizantes, surfactantes, estabilizantes, emulsificantes ou até

catalisadores de transferência entre as fases – tudo de acordo com a sua utilidade principal.

Todavia, todos tem uma coisa em comum: uma cauda apolar e uma cabeça polar, conforme

mostrado na Figura 23.

7.4.1 Detergentes catiônicos

A cabeça polar do detergente catiônico é geralmente o grupo amônio quaternário, +NR4, com

R = grupos alquilas; largamente conhecidos como “Quats”. Raras vezes usa-se um fosfônio

(R-PMe3+ ou R-PPh3

+) ou sulfônio (R-SMe2

+), devido ao preço elevado e/ou aspectos

negativos acerca da toxidez destas substâncias.

A produção envolve duas etapas, a partir dos alquenos primários lineares (ver oligomerização

de Ziegler, na Figura 30):

1) A adição iônica de HCl;

2) A substituição nucleofílica do cloreto, por uma amina terciária.

22

J.C.P. Penteado, O.A. El Seoud, L.R.F. Carvalho, Alquilbenzeno sulfonato linear: uma abordagem ambiental e

analítica. Quím. Nova [online]. 2006, vol.29, n.5, pp. 1038-1046.

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101

H2C CH2 CHH CH2

n-1+

[H2SO4]

Adição iônica

SN2

HCl H2C CH2 CHH CH3

Cl

n-1

H2C CH2 CHH CH3

Cl

n-1+ N(CH3)3 H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)3

n-1

Cl-

Sal quaternário de amônio

Figura 32. Síntese do sal quaternário de amônio a partir de alquenos.

O sal quaternário de amônio mais comercializado é o brometo de trimetilcetilamônio. Sua

utilidade principal é como compatibilizante em formulações farmacêuticas. Já o cloreto de

dialquildimetilamônio é um amaciante catiônico de tecidos. E não vamos esquecer que estes

cátions anfifílicos são os principais “catalisadores de transferência entre as fases”, na síntese

química em grande escala, onde transportam bases e nucleófilos da água para a fase

hidrofóbica e vice versa. Por esta técnica foi primeiramente possível obter bons rendimentos a

partir de misturas reacionais na forma de emulsões.

Note que os sais quaternários de amônio têm efeito de limpeza inferior ao dos detergentes

ânionicos, mas são apreciados devido ao efeito antimicrobiano (portanto componente em

desinfetantes domésticos).

Interessante também é a incompatibilidade desta classe com o sabão tradicional e com alguns

detergentes ânionicos, porque pode-se formar um sal de baixa solubilidade, da fórmula [NR4+

R´COO-]. Portanto, no ato de lavar roupa, o amaciante de tecidos sempre deve ser aplicado

em uma etapa subsequente à lavagem principal.

7.4.2 Detergentes zwitteriônicos e betaínas

Os detergentes zwitteriônicos têm uma carga positiva e negativa na sua cabeça. A

curiosidade: essas cargas são localizadas em átomos vizinhos! Quem faz essa estrutura são os

aminóxidos. São detergentes excelentes, porém custam mais caros e são, igual os cationicos

apresentados no tópico anterior, de má biodegradabilidade.

Sua síntese é bastante semelhante à dos sais quaternários de amônio apresentados acima.

Porém, ao se ter uma amina terciária com pelo menos uma cadeia carbônica mais comprida,

em vez da quaternização se efetua aqui uma oxidação, usando água oxigenada de alta

concentração (30%):

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102

SN2H2C CH2 CHH CH3

Cl

n-1+ NH(CH3)2 H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1

+ H2O2

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

O

n-1

Aminóxido

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

O-

n-1

=

Oxidação

Figura 33. O aminóxido, zwitteríon mais conhecido, serve como detergente especial.

Os tensoativos conhecidos na cosmética como “Anfótero” (ver Tab. 35 na p. 195) têm duas

cargas opostas na sua cabeça, no entanto localizadas em átomos distantes. Dependendo do pH

do meio, estas moléculas adquirem carga positiva (no pH ácido) ou negativa (no pH alcalino);

somente no seu ponto isoelétrico as cargas se compensam. Suas características principais em

formulações cosméticas:

Possuem bom poder espumante,

Não são irritantes (são utilizados nos xampus para bebês),

Têm uma boa compatibilidade com a pele.

Potencializa-se seu poder detergente pela adição de tensoativos aniônicos.

Os anfóteros mais conhecidas são as betaínas, isto são derivados dos aminoácidos, por sua vez

monômeros das proteínas naturais, onde o nitrogênio é quaternizado. São muito usados em

formulações de xampus “2 em 1” (ver p. 151). Veremos como exemplo um derivado da

glicina, H3N+-CH2-COO

-, como representante da cabeça polar. A cauda apolar geralmente é

ligada ao nitrogênio.

SN2H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1CH2Cl COO-Na+

Monocloroacetato

+ H2C CH2 CHH CH3

(CH3)2N CH2 COO-

n-1

Derivado da glicina = Betaína

+ NaCl

Figura 34. Síntese de um anfótero do tipo betaína.

Uma surpresa providencia a seguinte rota alternativa. Em vez de se usar o cloroacetato, a

lactona (= éster cíclico) de quatro membros, a propiolactona, funciona também nesta síntese e

reage prontamente com o nucleófilo, a amina terciária. Mas não é o carbono do grupo

carboxílico que sofre ataque. A alta tensão anelar deste composto favorece um ataque no

carbono 3 (no esquema a seguir em negrito), certamente um mecanismo excepcional e raro 23

:

23

T.L. Gresham et al., J. Am. Chem. Soc. 70 (1948) 999.

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103

7.4.3 Detergentes não iônicos

Muitas vezes a presença de átomos de oxigênio em forma de pontes de éter, são responsáveis

pela hidrofilia da cabeça da molécula anfifílica. Em geral, são grupos com átomos altamente

polarizados, portanto serem capazes de estabelecer pontes de hidrogênio com o meio polar.

Interessante nesta classe também são as cabeças em forma de álcool (polióis). Lembramos

que os açúcares são tais moléculas. Sendo assim, os ésteres feitos à base de açúcar e ácido

graxo ou então os éteres a base de açúcar e álcool graxo, são produzidos em grandes

toneladas, a serem usados como emulsificantes na indústria alimentícia (seus poderes de

limpeza, por outro lado, são bastante baixos).

No entanto, a maioria dos detergentes não iônicos é feita por oligomerização a partir do óxido

de etileno (= oxirano; um éter cíclico altamente reativo devido à tensão interna em pequenos

anéis). Essas etapas deixam a molécula de partida, na maioria um álcool graxo, crescer por

poucas unidades de (-CH2-CH2-O-). Não há número exato destas unidades - é sujeito à

estatística. O produto que sai desta etapa tem, na média, 4 a 8 unidades de oxietileno.

Interessante é que tanto ácidos quanto bases têm efeito catalítico na reação do oxietileno.

Emulsões que são estabilizadas por surfactantes não iônicos, são entre os mais aceitadas hoje

em formulações cosméticas, devido à sua insensibilidade frente ao pH e sua boa

compatibilidade química com os demais ingredientes. Um representante bastante utilizado

como surfactante em formulações cosméticas, mas também permitido como aditivo

emulsificante em alimentos, é o polissorbato 80, mais conhecido como Tween 80. É um

líquido amarelo de alta viscosidade, com alto ponto de ebulição e alta solubilidade em água.

Este último é um dos argumentos por que é muito usado em formulações ricas em água, tais

como creme hidratante (p. 53) ou xampu (p. 133).

Figura 35. Estrutura química do Tween 80 (é comercializado como “Span” se w+x+y+z=0).

Ao contrário dos detergentes aniônicos, os surfactantes não iônicos geralmente apresentam

baixos poderes detergentes, sendo assim menos adequados para remover sujeira. Em vez

disso, são usados de preferência como agentes emulsificantes, isto é, estabilizam uma

formulação cremosa e prolongam sua vida de prateleira impedindo a separação das fases

aquosa/oleosa. Como eles mostram baixa tendência para produzir espuma, seu uso em

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104

formulações de sabão em pó para máquinas de lava-roupa automáticas de altas rotações

(tambor horizontal) e em máquinas de lava-louça profissionais pode ser favorável.

7.4.4 Discriminação dos syndets, conforme caráter hidrofílico da sua cabeça

Nota-se um decréscimo da natureza hidrofílica dos surfactantes, de acordo com a natureza

química da cabeça polar:

Ânionica > cátionica > zwitteriônica, dipolar > não iônica.

mais hidrofílica menos hidrofílica

O esquema a seguir já incluiu uma etapa adicional que mostra um produto final que tem, além

de uma parte de oxietilenos, também uma cabeça aniônica. Com esta arquitetura se consegue

uma ajustagem fina do balanço hidrofílico-hidrofóbico (HLB, ver p. 46) e assim o melhor

efeito detergente para cada aplicação. No setor comético estes são conhecidos como “lauril

éter sulfato de sódio”, “laureth sulfato de sódio” ou breve “SLES”.

CH2OH

H2SO4

Detergente sulfato (avançado)

+ n H2C CH2

O

Oxirano(óxido de etileno)

CH2CH2CH2O O H

Oligoetilenóxido (surfactante não iônico; emulsificante)

n

CH2CH2CH2O O SO3Hn

Neutralizar

CH2CH2CH2O O SO3- Na+

n

Figura 36. Produção de lauriléter sulfato de sódio, um surfactante avançado, com parte não

iônica e aniônica na sua cabeça polar.

7.5 Vista geral sobre os detergentes sintéticos Vamos resumir as estruturas moleculares dos mais usados detergentes sintéticos.

a) Surfactantes aniônicos: LAS fórmula geral e exemplo;

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105

(CH2)nH3C CH (CH2)n´ CH3

S OO

O-

onde: n + n´ = 7 a 11

Alquilbenzenossulfonato linear (LAS)Detergente tipicamente usado para lavar louça.

H25C12 SO3-Na+

p-dodecilssulfonato de sódio

Exemplo de LAS

H3C (CH2)11 O S O-

O

O

Laurilsulfato (éster a partir do álcool laurílico)

Detergente aniônico

b) Surfactantes zwitteriônico e betaína;

H23C11 C

O

N

CH3

CH3

CH2 COO-

Detergente da família das betainas

N,N-dimetilglicina acilada

O

NH

NMe2

COO-

Cocoamidopropilbetaina, atualmente a betaína mais utilizada

H3C (CH2)11 N

CH3

CH3

O

Aminóxido a partir da dimetil laurilaminaDetergente zwitter-iônico

c) Surfactante não iônico

H3C (CH2)10 C

O

O CH2 CH2 O H

Oligo oxietil laurato (éster a partir do ácido láurico e óxido de etileno)

Detergente não-iônico

n 3 < n < 8

O

NH

OH

Cocoamidas MEA e DEA

O

NOH

OH

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106

7.6 Comparação entre detergentes sintéticos e o sabão

tradicional O sabão tradicional ainda se usa bastante na limpeza de mãos e do corpo em geral, mas é

relativamente pouco usado nos países industrializados a fim de lavar roupa e louça. Os

tensoativos sintéticos, sulfonatos e sulfatos, dominam esta área. Alguns porcento de sabão,

todavia, podemos ainda achar em formulações de sabão em pó (ver p. 112); a finalidade

nestas é menos a limpeza da roupa, mais o sequestro da dureza da água de lavagem. Os

carboxilatos de cálcio são de baixa solubilidade e podem ser removidos da mistura. Além

disso, esses sais,

Ca(R-COO)2, quando presentes em pequenos cristais, suprimem a formação excessiva de

espuma (= regulador de espuma, ver p. 114).

O espectro dos usos destes detergentes, sulfatos e sulfonatos, é bastante amplo. Todas as

indústrias fazem uso, mas destaca-se sua aplicação na higienização doméstica. De onde vem

este sucesso? Porque os detergentes sintéticos, sulfatos e sulfonatos, mostram-se superior ao

sabão tradicional na sua ação de lavar louça?

Uma explicação, certamente, é um perfeito balanceamento polar/apolar, conforme descrito na

pp. 87 e 46. Mas também deve-se respeitar que o grupo carboxilato (-COO-) no sabão é

proveniente do ácido graxo, então um ácido fraco, enquanto os sulfatos (R-O-SO3-) e

sulfonatos (Ar-SO3-) são parentes do ácido sulfúrico, inegavelmente um ácido forte. Significa

que qualquer acidez na água de lavagem (as origens podem ser restos de molho de tomate,

refrigerante, limão, vinho, vinagre, etc.) consegue facilmente protonar o sabão e transformá-lo

em ácido graxo, por sua vez sem propriedades anfifílicas. Isso não ocorre com os

sulfatos/sulfonatos: ácidos orgânicos e o ácido fosfórico usado em alimentos industrializados,

não têm força suficiente para protonar estes detergentes em quantidades notáveis. Sendo

assim, eles continuam atuando com o mesmo efeito hidrofílico-lipofílico, isto é, com a mesma

eficácia detergente, independente do pH da água do meio de lavagem. Além disso, os

detergentes sintéticos aniônicos não se perdem por reação com os íons de dureza da água,

Ca2+

e Mg2+

. Isso, ao contrário, é o caso com o sabão, pois os carboxilatos destes cátions são

sais de baixa solubilidade e se precipitam imediatamente, quando uma solução de sabão entra

em contato com água dura.

Podemos resumir as desvantagens do sabão tradicional nos seguintes pontos:

O sabão não só remove a sujeira, mas também parte da gordura natural da pele. Isto

pode, especialmente na lavagem excessiva, levar à pele áspera e quebradiça. A

tendência desta "secagem" da pele é atenuada quando se usa sabão com elevado teor

em glicerina (que automaticamente já está no produto quando a saponificação for feita

a frio).

O sabão reage com a água, liberando a base forte hidróxido. Esta, por sua vez, pode

prejudicar o objeto da lavagem, os tecidos e especialmente a nossa pele!

Sabão + Água Ácido graxo + OH-

A explicação desta reação (ver também p. 106): o ácido graxo é apenas um ácido

fraco, portanto seu sal, o sabão, uma base que consegue desprotonar notavelmente a

água.

Essa última explicação mostra mais um ponto fraco do sabão, ácido fraco: quando

encontrar-se em ambiente de caráter ácido (por exemplo, um resto de molho de tomate

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107

ou resto de Coca-Cola, ao lavar louça), o sabão será facilmente protonado. Então

transforma-se em um ácido graxo livre que não tem mais as características anfifílicas,

necessárias para ser um compatibilizante entre a água e a gordura. Ver também cap.

7.6, na p. 106 e o tratado sobre o pH em xampus, na p. 137.

O sabão forma precipitados com os íons M2+

da água dura. Ao contrário do carbonato

de cálcio, esta camada não se restringe à superfície quente, mas pode acontecer

também na fibra do tecido a ser lavado. Sua cor é clara, mas não tem um brilho bonito.

As vantagens do sabão, em comparação aos detergentes sintéticos:

Excelente biodegradabilidade.

Sabões puros (por exemplo, feito de azeite de oliva) são adequados para pessoas

alérgicas, porque as gorduras naturais são mais bem toleradas nestas pessoas do que os

tensoativos artificiais.

Sabões ricos em ácido láurico (C 12:0; em alta concentração no sabão de coco) geram

uma espuma fina e gostosa, especialmente agradável na hora de tomar banho.

É barato.

7.7 Limpeza da pele humana Sabões e detergentes retiram a sujeira oleosa da nossa pele. Ao mesmo tempo, levam embora

as gorduras naturais que são importantes para o nosso bem estar. Quanto menos

gordura na stratum córneum, mais água das camadas inferiores

pode evaporar. Além disso, a própria stratum córneum torna-se

quebradiço e pode rasgar.

Temos a sensação que o processo de lavagem

resseca a nossa pele.

Portanto, os produtos cosméticos de

qualidade têm nas suas formulações

óleos, para re-engraxamento da pele.

Isso parece um paradoxo, já que o

agente tensoativo não diferencia entre

estes óleos e a sujeira da nossa mão.

Certamente, a adição de óleos acarreta

o efeito involuntário de reduzir a

capacidade do detergente como

emulsificante, a fim de dissolver a

sujeira. Concluímos que, do ponto de vista da eficiência das etapas, seja mais sensato

primeiro aplicar a etapa da limpeza (com sabão ou detergentes sintéticos) e depois reengraxar

a pele, usando um creme, conforme descrito no cap. 6.

7.8 Sabão em pó e o processo de lavar roupa O que faz a diferença para o nosso bem-estar e a higiene pessoal, mais do que qualquer

produto aplicado em nós mesmos, é uma roupa limpa que conseguimos com uma lavagem

frequente. Antigamente a maioria dos têxteis era branca e de algodão, as lavadeiras

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108

submeteram a roupa à alta força mecânica, para a remoção de manchas a roupa era cozinhada

e o consumo da água era alto.

Tudo isso mudou nos dias de hoje e o que possibilitou isso, em grande parte, é o avanço nas

formulações dos detergentes usados.

Usamos de preferência roupas coloridas e estampadas, a maioria feita com tecidos

sintéticos ou artificiais.

A remoção de manchas deve ocorrer suavemente para não danificar os corantes, ao mesmo tempo deve ocorrer em tempo hábil e à temperatura ambiente ou ligeiramente

elevada.

A carga microbiológica na roupa lavada é muito baixa, pois os microorganismos contidos na sujeira foram quase completamente eliminados – sem a necessidade de

temperaturas elevadas.

A lavagem é feita automaticamente e sob estress mecânico reduzido, em máquinas de

lavar – o que aumentou muito o conforto da dona de casa.

Os três últimos fatos apontam em uma nova exigência ao processo de lavagem: a meta de lavar de hoje é zelar pela roupa e garantir seu estado perfeito por muito tempo.

Finalmente o consumo da água e o impacto ao ambiente foram reduzidos drasticamente – uma contribuição essencial para a sobrevivência de uma população

em crescimento contínuo.

Um bom resultado ao lavar roupa requer a sinergia entre todos os parâmetros, que são:

química, temperatura, mecânica e tempo.

O progresso no sistema químico de lavagem é fruto de uma intensa pesquisa aplicada, à base

de conhecimentos científicos, que se reflete, além dos resultados cada vez melhores, nas

formulações bastante complexas e otimizadas para dadas condições: enquanto um dos

primeiros detergentes “automáticos”, o Persil da empresa Fritz Henkel (1907), tinha

exatamente quatro ingredientes ativos, podemos esperar nos detergentes de hoje em torno de

40 (!) diferentes compostos (Tab. 16). O aumento em funcionalidade fica evidente ao

comparar o desenvolvimento deste produto ao longo de 140 anos (Figura 37). Note que,

embora as formulações líquidas estão avançando nos últimos anos, o detergente particulado

(portanto: “sabão em pó”) ainda domina de longe o mercado. Em 2012 foram faturados em

torno de 55 bilhões de € (atualmente R$ 250 bilhões) para os agentes de lavar roupa, no

mundo todo.

Figura 37. Desenvolvimento histórico do detergente em pó, mostrado na linha dos produtos

da Henkel:

1878: Henkels Bleich-Soda; um dos primeiros detergentes universais à base de soda

(Na2CO3) e vidro d´água (silicato de sódio).

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109

1907: Persil; primeiro detergente para todo tipo de roupa, à base de perborato e silicato,

daí o nome fanatasia Persil, eficaz numa temperatura logo acima de 60 °C.

Anos

1970:

Persil 70; introdução do branqueamento por oxigênio ativo na presença de um

ativador tal como TAED, TAGU ou NTA que tornam o branqueamento eficaz

acima de 40 °C.

1988: Tide with Bleach; introdução do NOBS.

1994: Persil Power UK; introdução do acelerador Mn-TACN.

2012: Ultra Tide Vivid White & Bright Plus Bleach; catalisador de branqueamento

isento de metal do tipo IQ.

2014: Persil Universal Megaperls; branqueamento sem metais, à base de TAED e

percarbonato, em novo formato de aplicação, eficaz acima de 20 °C.

Fonte: M. Dreja, A. Hätzelt, N. Bluhm, Bleichsysteme für Haushaltswaschmittel (em Alemão), Chemie in

unserer Zeit 52 (2018), 164-176.

Tab. 16. Comparação entre um detergente histórico e uma formulação moderna para

máquina de tambor horizontal. (Fonte: ver Figura 37)

Persil 1907 Persil Megaperls 2017 Funcionalidade

Soda (Na2CO3)

Silicato de sódio

Zeólitos

Carbonato de sódio, sulfato de sódio, citrato de

sódio

Etidronato tetrassódico CAS 7414-83-7

Dietilenotriamina penta(metileno ácido fosfônico)

heptassódico CAS 68155-78-2

Polietilenoglicol 4000

Amido, cloreto de sódio, celulose, caulinita,

dextrina, glicolato de sódio CAS 2836-32-0,

hidróxido de sódio, carbonato de cálcio, dimetil

metil(2-fenilpropil) siloxane CAS 160174-14-1

Sistema

“builder”, sais,

auxílios

Sabão comum

(carboxilato de

sódio)

Ácido benzenossulfônico, derivados alquilados C10

– C13, sais de sódio

Laurilsulfato de sódio

Etoxilatos de ácidos graxos C12 – C18

Ácidos graxos C16 – C18, sais de sódio

Estearato de glicerina

Tensoativos e

sabões

Perborato de sódio

Percarbonato de sódio

TAED, corante

Diestirilbifenil dissulfonato dissódico CAS 27344-

41-8

4,4'-bis[(4-anilino-6-morfolino-1,3,5-triazina-2-

Sistema de

branqueamento e

abrilhantadores

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110

il)amino]estilbeno-2,2'-dissulfonato dissódico CAS

24231-46-7

Cloreto de N,N-hidrazinilmetil morfolínio

Policarboxilato de sódio

Poliacrilato de sódio

Carboximetilcelulose sódica

Polietilenotereftalato sulfonado

Polímeros,

dispersantes

Protease, amilase, lipase, pectato liase, celulase,

mananase Enzimas

Perfume não especificado

Hexilcinamaldeido CAS 101-86-0

Linanool CAS 78-70-6

Salicilato de benzila

Citronelol

Perfume

Ao mesmo tempo que aumentou a complexidade das formulações, a quantidade necessária de

detergente diminuiu bastante. Enquanto na média se usava 275 g do pó em 1975, a dosagem

média em 1998 já caiu para 150 g, já em 2004 para 100 g e em 2016 para 75 g. Isso é uma

economia de 75% em apenas 40 anos, que somente foi possível devido a uma otimização da

fórmula (= quantidades relativas dos componentes), pelo desenvolvimento de componentes

cada vez mais funcionais e eficazes, novos e melhores enzimas, polímeros funcionais e um

sistema de complexantes, confeccionado e adaptados às condições locais.

Hoje podemos esperar deste agente uma limpeza profunda em tempo hábil, inclusive a sujeira

de caráter hidrofóbica (= lipofílica = gordurosa), ao mesmo tempo boa preservação do tecido,

dos detalhes anexos (bordagens, zíperes, botões, etc.), também da nossa máquina de lavar

(dentre dela especialmente as partes metálicas expostas) e, finalmente, a inocuidade frente ao

meio-ambiente (degradabilidade fácil por micróbios).

Os detergentes usados no sabão em pó já foram apresentados: são em primeira linha os

detergentes aniônicos (sulfonato de alquilbenzeno, sulfato do álcool graxo; ver p. 96), em

alguns casos e em menores partes também os não-iônicos (ver p. 103) que são usados nas

formulações de hoje – porém, eles geralmente não fazem mais de 30% do peso do produto.

Antes de analisarmos os ingredientes do sabão em pó, no entanto, vamos refletir sobre as

etapas funcionais que constam do processo de lavar a roupa, para depois melhor entender a

utilidade de cada um dos componentes.

Grosseiramente, o processo de lavagem pode ser dividido em três etapas funcionais:

1. Molhagem completa da superfície do tecido onde está grudada a sujeira.

2. Remoção da sujeira do tecido,

3. Manutenção da sujeira na água, em forma de emulsão (sujeira líquida) ou suspensão

(sujeira sólida).

O sabão clássico e os detergentes promovem cada uma destas etapas. Porém, como a seguinte

tabela mostrará, a formulação de um "sabão em pó" moderno tem muitos componentes, além

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111

destes agentes principais de lavagem. Grosseiramente podemos falar em elementos básicos e

aditivos nesta mistura.

Os elementos básicos são: os surfactantes, os reguladores de espuma e os reforçadores. Neste

grupo podemos ainda discriminar os agentes tensioativos (= surfactantes) e os demais

componentes, também conhecidos como “sistema builder”.

Os aditivos são: inibidores de corrosão, agente anti-redeposição, inibidores de manchas,

abrilhantadores e cianantes, alvejantes, agentes anti-microbianos e perfumes.

Tab. 17. Composição tradicional de um sabão em pó.

Componentes básicos: Função Porcentagem em base

de sólidos secos.

Surfactante(s) orgânicos(s)

(ver cap. 7.3.1, na p. 96)

Molhagem, remoção e manutenção

da sujeira

~ 20 %

Surfactante orgânico

(sulfato de laurila)

Regulador de espuma 5%

Reforçadores (polifosfatos) Apóiam a remoção da sujeira

Sinergismo com o detergente

aniônico

Efeito abrandador da água dura

(trocador de cátions)

até 50%

Carga (sulfato de sódio,

barrilha)

Pouco efeito reforçador; base sólida

do pó; dá consistência ao produto

granular; barateia o produto.

até 30%

Aditivos:

Silicato de sódio com alto

teor em sódio (= vidro

d´água; solúvel)

Inibe a corrosão em partes metálicas. 6 a 9%

Carboximetilcelulose

(CMC)

Inibe a redeposição da sujeira no tecido;

prevenção de depósitos cinzas em cima

da roupa.

< 1,3%

Corantes fluorescentes Abrilha roupa colorida. 0,15%

Corantes ou pigmentos

azuis (= cianante)

Compensa o amarelecimento natural da

roupa.

0,1%

Alvejante Remove colorações em roupa branca. < 2%

Inibidor de manchas Reduz a coloração por íons metálicos de

cobre (em ligas).

0,02%

Agentes antimicrobianos Efeitos germicida e bactericida. < 0,3%

Enzimas Soltam manchas de sangue 0,01%

Perfume Proporciona uma impressão mais limpa 0,1%

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112

da roupa lavada.

Água Carga; aglutinante; proporciona boa

solubilidade do pó.

até 10%

7.8.1 Ingredientes principais do detergente em pó

Os surfactantes já foram apresentados acima (cap. 7.3.1). No sabão em pó aplica-se

geralmente uma mistura de sulfatos e sulfonatos, em proporções variáveis.

O regulador de espuma pode ser da mesma natureza química que os surfactantes principais.

Um exemplo de alta produção de espuma é o sabão de coco, por sua vez rico em ácido láurico

(C 12:0). Por outro lado, existem reguladores totalmente diferentes do surfactante, muitas

vezes em combinação específica com os mesmos. Exemplo é a etanolamida láurica com LAS,

outra combinação é o álcool láurico com sulfato de alquila.

Nesta classe, no entanto, também contam os supressores de espuma excessiva. Em certas

aplicações é vantagem adicionar substâncias de natureza apolar, tais como os ácidos graxos de

longa cadeia (por exemplo, C 22:0), surfactantes não iônicos apolares e, especialmente, os

silicones 24

.

Os reforçadores atuam de várias maneiras. Em primeira linha reforçam o efeito de lavagem

do surfactante. A combinação destes dois componentes pode ser visto como sinergismo

(=efeito melhor do que se espera do somatório dos dois componentes separados). Uma vez a

sujeira está solta do tecido, eles também ajudam prevenir sua redeposição. Contudo, eles

aumentam drasticamente o poder detergente, enquanto os custos de produção (R$/Kg) ficam

reduzidos. Além disso, inibem a ação dos íons da dureza da água. Eles podem ganhar ainda

apoio pelo EDTA (Figura 52), porém este é colocado em quantidade pequena (aditivo) devido

seu custo mais alto. Afinal, podemos afirmar que os polifosfatos, junto à barrilha (ver abaixo)

elevam o pH da água de lavagem, que representa uma condição favorável aos sabões, se

estiverem na fórmula. Lembre-se que os sabões, R-COO-, são sais de ácidos fracos que, ao

ganhar um próton, tornam-se insolúveis e perdem sua força de limpeza.

São principalmente os polifosfatos de massa média (3 a 8 átomos de P) que atuam como

reforçador. A condensação dos fosfatos atenua seu efeito negativo no ambiente,

denomindamente a eutrofização das águas. Enquanto fosfato simples e difosfato são

excelentes nutrientes para algas anaeróbicas, os pirofosfatos têm menos valor nutritivo para

estas plantas.

O P

O-

OH

O-

(Mono)fosfato(V)

+ HPO42-

- H2OO P

O-

O

O-

P

O-

O-

O

Difosfato(V)

+ HPO42-

- H2OO P

O-

O

O-

P

O

O-

O P O

O-

O-

Trifosfato(V)

Figura 38. Reações de condensação que levam aos pirofosfatos.

24

O químico preparador tem muitas vezes que lidar com espuma excessiva em aparelhos de destilação a vácuo.

Daí basta acrescentar uma gotinha de óleo silicone, para que o processo fique mais controlável.

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113

Ao aquecer cuidadosamente os sais do ácido fosfórico, NaH2PO4 . 12 H2O e Na2HPO4

. 2 H2O,

eles perdem sucessivamente a água. Primeiro e logo acima de 100 °C se perde a água da rede

cristalina que é fixada somente via pontes de hidrogênio. Depois se elimina também a água

contida na sua própria fórmula iônica. Assim, chegamos a partir do fosfato, ao difosfato

[P2O7]4-

, trifosfato [P3O10]5-

, tetrafosfato [P4O13]6-

,.... e finalmente ao polifosfato linear da

fórmula geral [PxO3x+1](x+2)-

.

Lembramos que, além destas estruturas lineares (= pirofosfatos; "piro" significa fogo ou

calor), podem também formar-se condensados cíclicos da fórmula generalizada [PxO3x]x-

,

conhecidos como metafosfatos.

O

O2P

PO2

O

OPO2

Trimetafosfato

3-

Tetrametafosfato

4-O2P

O

O2P

O

O

PO2

PO2

O

Figura 39. Os menores homólogos dos metafosfatos.

Afinal, a desidratação contínua pode também levar a estruturas em forma de gaiola, ou seja,

condensados tridimensionais, consumindo cada vez mais grupos hidroxilas livres da fórmula

dos fosfatos. Com essa perda sucessiva de água a fórmula aproxima-se ao polímero

tridimensional conhecido como polifosfato, [P2O5]x, que identificamos como anidrido do

ácido fosfórico. Neste estágio o material torna-se cada vez mais viscoso, parece um xarope,

até que endurece e fica totalmente sólido, duro e praticamente insolúvel 25

.

Na prática isso significa que em certo momento a polimerização dos fosfatos deve ser

interrompida, para ter acesso aos polifosfatos ainda solúveis que servem como reforçadores

em detergente.

A formulação apropriada, dos surfactantes aniônicos com os fosfatos complexos, é

considerada sendo a chave para uma boa limpeza. Logo depois da indústria de fertilizantes, a

indústria de detergentes é a segunda maior consumidora de ácido fosfórico e seus sais.

Nos anos 1980 a empresa Henkel usou pela primeira vez zeólitos, isto são alumossilicatos

alcalinos de estrutura oca (ver Figura 40), visando uma substituição parcial dos pirofosfatos e

metafosfatos. Há mais de 60 anos já se sabe da alta capacidade destes materiais de trocar íons,

especialmente Ca2+

e Mg2+

, por dois Na+. Sendo assim, são excelentes abrandadores da água

dura. Por esta providência se conseguiu reduzir o teor em fosfatos e a eutrofização das lagoas

e rios, mas logo se revelou que os zeólitos causam danos nas estações de tratamento de

esgoto. Portanto, se tenta atualmente substituir os zeólitos pelos silicatos solúveis (= "vidro

d´água", ver abaixo) que também têm efeitos de reforçador e abrandador da água dura.

25

Compare o ensaio da "pérola de fosfato", usada na análise qualitativa inorgânica para identificar íons

metálicos em uma amostra, através da sua cor característica

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114

Figura 40. Esquema molecular de zeólitos, mostrando suas cavidades para hospedar íons e

pequenas moléculas (= "peneira molecular").

Não podemos esquecer também os componentes de carga, usados em muitos sabões em pó.

Estes materiais dão a consistência ao produto granulado e também apóiam o efeito dos

detergentes, mas nem tanto quanto os fosfatos reforçadores. Eles barateiam bastante o produto

final, já que são aplicados em até 30% do peso seco. Por outro lado, a qualidade da

formulação diminui com o uso dos mesmos. É principalmente o sulfato de sódio e a barrilha

(= mistura de soda, Na2CO3, e potassa K2CO3) que são adicionados como carga para aumentar

o peso do produto.

Todos os demais componentes do sabão em pó são considerados sendo aditivos, tipicamente

acrescentados em quantidades menores que 3%.

7.8.2 Aditivos no detergente em pó

Silicatos de sódio são feitos a partir de areia ou quartzo (SiO2) e soda (Na2CO3). Estes dois

minerais são finamente moídos, intensamente misturados e fundidos à alta temperatura (em

torno de 1000 °C). Deste processo sai um material vitrificado cuja fórmula idealizada é

indicada abaixo. A característica mais marcante deste vidro é sua elevada solubilidade na

água - ao contrário das misturas onde também está presente o cálcio (acrescentado em forma

de CaCO3), daí conhecidas como “vidro comum”. Portanto, costuma-se falar, no caso do

sinterizados solúveis, em "vidros d´água". Interessante é que, um dos primeiros detergentes

em pó “automático”, o produto Persil da Henkel (1907), continha vidro d´água como

abrandador e estabilizador do pH 10-11, funcionalidades que hoje largamente são efetuadas

pelos polifosfatos, como vimos acima.

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115

Um vidro, ao contrário de um cristal, não tem os átomos em posições regulares,

consequentemente também não tem uma fórmula definida. As proporções entre o quartzo e a

soda pode variar entre 2 [SiO2 : Na2CO3] 4.

A reação idealizada (por ser de caráter não estequiométrico):

SiO2 + 2 M2CO3 M4SiO4 + 2 CO2

SiO2 + M2CO3 M2SiO3 + CO2

2 SiO2 + M2CO3 M2Si2O5 + CO2

4 SiO2 + M2CO3 M2Si4O9 + CO2 ; com M = Na ou K.

“Vidro d´água”

Figura 41. Reações idealizadas entre o quartzo e a soda que, em conjunto, levam a um

material amorfo e altamente solúvel em água (= vidro d´ água).

Mais comercializada é a solução do vidro d´água de sódio, da composição Na2O : SiO2 = 1 :

(3,4 a 3,5), ou seja, na escala superior da alcalinidade. Usado em sabão em pó, esse material

tem o papel de proteger as partes metálicas durante o processo de lavagem, tanto na roupa

(zipper, botões, fivelas, etc.) como na máquina de lavar. Em misturas detergentes de máquina

de lavar louça, como podemos imaginar, o vidro d´água se torna ainda mais importante do

que no pó para lavar roupa.

Os inibidores de manchas auxiliam na ação dos silicatos, ao proteger as partes metálicas.

Eles aumentam o espectro das ligas a serem protegidas, àquelas que são ricas em cobre, tal

como a prata germânica (60% Cu, 25% Zn, 15% Ni). Para este fim, o benzotriazol tem sido

usado com êxito.

Benzotriazol:

N

N

N

H

A carboximetilcelulose (CMC) é um derivado da celulose, onde alguns grupos hidroxilas

são transformados em éteres que têm no outro final um grupo carboxilato. Essa transformação

faz com que a CMC perca sua regularidade e cristalinidade e torne-se totalmente solúvel na

água (ao contrário da celulose que, como todos sabem do papel, se mantém integralmente em

forma de fibras insolúveis).

HO

H+ Cl CH2 COO-Na+

[OH-]

SN

O

H

CH2-OOC

Na+

Celulose(insolúvel; cristalina)

2-cloroacetato Carboximetilcelulose(solúvel; não cristalina)

Sua estrutura polimérica, por outro lado, fica intocada durante esta derivatização. Sendo

assim, a CMC flutua na água em forma de um novelo estatístico. Ela assume o papel de

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116

colóide protetor. Realmente, precisa-se pouca quantidade deste polímero para proteger o

tecido contra as micelas que se formaram entre o detergente e a sujeira. Desta forma a CMC

retarda ou impede a redeposição da sujeira no tecido - o que seria o reverso do processo de

lavagem. A roupa fica com cores brilhantes e a tendência de assumir uma tonalidade cinzenta

fica baixa. Um papel semelhante à CMC tem o poli-ácido acrílico, também valorizado pelos

seus efeitos como complexante e dispersor.

Os abrilhantadores de tecido tornam-se cada vez mais importantes nas modernas

formulações de pó. São corantes fluorescentes que fazem os tecidos aparecerem mais

brilhantes em virtude da capacidade que possuem para converter a radiação ultravioleta (340 a

370 nm) em luz visível, tipicamente da região azulada de 420 a 470 nm. A promessa no

reclame que parece tão ridícula, um produto que "lava mais branco do que branco", realmente

tem um fundo de verdade: a emissão da quantidade de luz visível que é refletida dos tecidos

tratados com abrilhantador, pode exceder os 100%, ao serem comparados com o tecido limpo

e novo! Esta transformação da luz, ao contrário da fosforescência, ocorre espontaneamente e

se perde logo após apagar a iluminação. Os abrilhantadores (em inglês: optical brightener;

fluorescent brightening agents) compensam em partes o amarelo típico em tecidos velhos, por

refletirem especialmente a luz da região azulada.

Os materiais mais usados com propriedade fluorescente são os estilbenos. Apenas os

estilbenos trans são ativos. Os dois derivados quase que exclusivamente usados na Europa

são:

DAS1 (4,4´-bis-[4-anilino-6-morfolino-1,3,5-triazino-2-yl)amino]estilbeno-2,2´-

dissulfonato dissódico) e

DSBP ou Benetex (4,4-bis-(2-sulfoestireno)-bifenil dissódico).

Outros materiais fluorescentes (também usados em papel branco e diversas tintas) são:

Triazinestilbenos (di, tetra ou hexassulfonado), cumarinas, imidazolinas, diazóis, triazóis,

benzoxazolinas e bifenilestilbenos (estruturas generalizadas ver Figura 42).

SO3-

SO3-

NHR

RHN

N

NN

O

O

N

X

N

X

Y

Y

OR2N

R´´

O

NN

YSO2NH2

N

O

OOI

IIIII

IVV

VI

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117

VII VIII

Figura 42. Grupos de moléculas com efeito fluorescente:

I Derivados do trans-estilbeno (mais produzidos; exemplos comercializados ver estruturas

VII e VIII, logo abaixo)

II Análogo heteroaromático ao estilbeno (hidrofóbico)

III Cumarina (ultrapassado)

IV 1,3-Difenilpirazolina (para lã)

V Naftalimida (bastante resistente)

VI Aromático condensado com heteroaromático (aqui uma triazina)

VII 4,4´-bis-[4-anilino-6-morfolino-1,3,5-triazino-2-yl)amino]estilbeno-2,2´-dissulfonato

(comercial)

VIII 4,4-bis-(2-sulfoestireno)-bifenil (comercial).

Nos últimos anos os abrilhantadores substituiram em grande parte os corantes azuis, também

conhecidos como cianantes. No tecido eles têm um efeito parecido, isto é, compensando o

amarelecimento que vem com a idade da peça. Note que quase todas as fibras, sejam naturais

ou sintéticas, mostram bandas de absorção entre 400 e 500 nm. Mas, ao contrário dos

abrilhantadores, os cianantes não aumentam o brilho, mas apenas compensam o amarelo pela

cor complementar, levando a uma cor extinta - que é cinza. Embora a tendência é reduzir

esses corantes azuis, a maioria dos pós vendidos no Brasil ainda os contém, na faixa de 0,02 a

0,04%.

Também os alvejantes que são tratados à parte no cap. 7.8.3 devido sua importância

funcional no sabão em pó - puderam ser parcialmente substituídos pelos abrilhantadores. Em

alguns países (EUA, Canadá) são até proibidos ou restritos por lei. Também se põe a questão

da segurança, pois estas substâncias apóiam a combustão e já levaram no passado a grandes

incêndios em fábricas de detergente. São denominadamente os peróxidos, mais usados do que

o hipoclorito, devido às temperaturas elevadas aplicadas nas lavandarias européias. Menos

perigosos do que os peróxidos livres da fórmula H2O2 ou então HO2-, são o perborato e o

percarbonato.

A adição de agentes antimicrobianos é importante ao lavar roupas de bebê, mas também é

componente indispensável em limpa-tudo, principalmente usado para limpar o chão da casa e

o banheiro. Esses últimos geralmente contém hipoclorito de sódio, Na+ ClO

-, em solução

alcalina. A produção desta solução é bastante simples e barata; a saber, basta submeter uma

solução de NaCl à eletrólise, usando câmaras abertas sem diafragma.

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118

É evidente que para aplicações diretas em pessoas ou indiretas ao lavar as roupas, o

hipoclorito (que libera cloro ativo) não é adequado - jamais em bebês! Usam-se, portanto,

substâncias que são menos agressivas frente os seres mais desenvolvidos, mas igualmente

tóxicas frente aos microorganismos 26

. Além dos detergentes catiônicos (p. 100), os parabenos

(p. 138), o triclosano (p. 147) e os peróxidos alvejantes (p. 118), são estes os derivados da

acetanilida e salicilanilida que mostram os efeitos desejados, sem afetar a saúde humana.

Acetanilida:

H3CC

NH Ph

O

Salicilanilida: C

OH

O

NHPh

Figura 43. Exemplos de agentes antimicrobianos.

Os perfumes não podem faltar em sabão em pó, nem em detergentes de outros usos

domésticos. O cliente quer associar certo cheiro "limpo" quando aplicar o produto na sua casa. Todavia, este aditivo não contribui de alguma forma, à limpeza.

Na produção do sabão em pó é importante acrescentar o perfume, as enzimas e também o

sistema branqueador, em última etapa para que estas fragrâncias voláteis e termicamente

sensíveis não sejam submetidas a nenhuma etapa operacional estressante que libera muito

calor. Logo depois da adição do perfume o produto é selado e embalado. Ver a sequência das

operações no cap. 7.8.4.

Mencionamos em último lugar um teor de 5% (ou mais) de água, na formulação final do pó.

Essa quantidade é indispensável, porque uma mistura totalmente seca teria solubilidade

insuficiente. Uma queda drástica na sua eficiência de limpeza seria a consequência e restos de

pó iriam grudar em cima da roupa lavada.

Pelos motivos de solubilidade, mas também para proporcionar uma consistência solta ao pó,

um bom controle do teor d´água na sua produção é crucial.

7.8.3 Sistemas de branqueamento em detergentes em pó

O que antigamente se denominava de alvejante, é hoje mais corretamente chamado de

sistema de branqueamento, pelo fato de se terem geralmente dois ou mais componentes

onde um ativa o outro. O resultado é a liberação controlada de oxigênio ativo, um oxidante

poderoso que faz seu efeito na fase inicial do processo de lavagem.

O que o oxigênio ativo faz exatamente? Em primeira linha o oxigênio ativo - também

podemos chama-lo de oxigênio eletrofílico ou oxigênio singleto - ataca sistemas de elétrons ,

conjugados ou C=C isolados, inclusive os que fazem parte em grupos cromóforos.

Cromóforos são as partes coloridas tipicamente contidas em manchas, menos na sujeira

comum, que se encontram em cima do tecido. Essas substâncias coloridas se opõem ao nosso

sentido para estética, então devem ser destruídos ou, pelo menos, descoloridos em parte. O

que acontece é formalmente uma oxidação da ligação C=C, transformando-a em um epóxido

e, após a hidrólise, em um diol vicinal. A seguinte reação onde o ciclohexeno serve como

26

Exceção: nos EUA ainda existe uma grande variedade de produtos para lavar roupa que contém o hipoclorito.

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119

modelo para o grupo cromofórico, deve mostrar o acontecido. Partimos aqui de um perácido,

hoje uma das mais usadas fontes do oxigênio ativo:

- R COOH

H+ / H2O

ou NaOHO

H

O C

O

R

R = -CH3 ou -C6H5

O

OH

OH

Epóxido trans-diol

Neste mecanismo pode-se postular um movimento sincronizado dos elétrons entre os três

átomos que participam na ciclização para o epóxido intermediário. A facilidade com que

ocorre essa epoxidação é um forte argumento para uma reação eletrocíclica.

Os alquenos pobres em elétrons, denominadamente aqueles grupos C=C que estão em

conjugação com um grupo carbonila (a unidade C=C-C=O também é conhecida como

“sistema Michael”), também podem ser atacados por um nucleófilo que se forma no ambiente

alcalino da lixivia de lavagem, a partir do peróxido: o peroxoânion, R-O-O- ou H-O-O

-. Daí o

mecanismo mais provável é o seguinte:

R

OH O–

C–

R

OOH

RO

OH–

+

OH OH

R

O mecanismo desta oxidação pode ser formulado, em toda analogia, com um perácido (ou seu

ânion), em vez do peróxido de hidrogênio (ou seu ânion). Interessante é a observação que o

maior efeito de branqueamento os peróxidos/perácidos mostram no ambiente alcalino, a dizer

entre pH 10 e 11. Isso indica que os ânions, hidorperóxido ou percarboxilato, têm maior efeito

do que os compostos neutros – já que o pKa da água oxigenada fica com 11,64.

No caso ideal a perda da ligação C=C interrompe um sistema mais amplo de elétrons

conjugados, justamente aquele que identificamos como grupo cromóforo (ver uns exemplos

na Figura 75, no final do livro). O resultado é o clareamento, no ideal o sumiço, da mancha

colorida.

Além dos alquenos temos uma série de outros grupos funcionais, menos característicos em

grupos cromofóricos, que também reagem voluntariamente com os peróxidos. A serem

mencionadas as seguintes transformações 27

:

Cetonas para ésteres (Oxidação de Baeyer-Villiger); o éster, logo em seguida, pode

sofrer hidrólise para dois fragmentos menores, que são o carboxilato e o álcool;

Aldeídos para ácidos carboxílicos (instabilidade eletroquímica do grupo –CHO);

Aminas primárias e secundárias para hidroxilaminas;

27

Um artigo de revisão, recente e abrangente: I.A. Yaremenko, V.A. Vil’, D.V. Demchuk,A.O. Terent’ev,

Rearrangements of organic peroxides and related processes. Beilstein J. Org. Chem. 12 (2016), 1647–1748;

disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4979652/pdf/Beilstein_J_Org_Chem-12-

1647.pdf

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120

Aminas terciárias para aminóxidos (um composto zwitteriônico que já foi apresentado

na p. 102);

Compostos com enxofre de baixo NOX, por exemplo, sulfetos, para sulfóxidos ou

sulfonas;

Dicetonas para anidridos.

Em qualquer uma destas reações o sistema de elétrons irá sofrer uma mudança drástica e em

algumas destas reações ocorre a quebra da molécula em fragmentos menores. Ao mesmo

tempo, o composto se torna mais hidrofílico, então solúvel na lixivia da lavagem.

Mas os alvejantes exercem mais um papel importante na lavagem de roupa: eles também

oxidam e então desativam mais de 99,9% dos micróbios! É isso que contribui bastante à saúde

humana - um valor que podemos colocar ainda acima da questão de estética.

Vamos conhecer os branqueadores em particular, em ordem da sua introdução histórica.

O hipoclorito de sódio, NaClO, era um dos primeiros alvejantes usado em tecidos. Ele mostra

forte efeito oxidante – esta vez principalmente provocado pelo cloro que se encontra neste sal

no NOX pouco estável, +1. A solução do hipoclorito, também conhecida como “Eau de

Javel”, até hoje é usada em removedores de manchas – menos em detergentes em pó

(exceção: nos EUA pode ser aplicado na formulação, sim, devido ao curto tempo da etapa de

lavagem principal). É um branqueador forte e rápido – especialmente quando o ambiente se

torna ligeiramente ácido; daí forma-se o ácido hipocloroso que é mais oxidante ainda do que

seu ânion ClO-. Desvantagem do hipoclorito: é muito agressivo e pode danificar também

tecido e/ou estampagem.

A água oxigenada, H2O2, era o primeiro branqueador à base do oxigênio ativo. É usada

exclusivamente em solução aquosa (tentativas do seu isolamento levaram a explosões graves)

e isso é, ao mesmo tempo, a causa das suas limitações em detergente: é incompatível com

outros componentes, especialmente as enzimas. Seu uso fica restrito a poucos produtos

especiais.

Historicamente importante é o perborato sendo a primeira fonte sólida da unidade peróxido, -

O-O-. De longe a maioria dos portadores do oxigênio ativo é aplicada nos detergentes em

forma de um sal. As causas principais são motivos de segurança (tanto na fábrica, tanto na

casa do consumidor) e o prazo de validade do produto que é seriamente afetada pela

incompatibilidade dos oxidantes e alguns ingredientes (especialmente as enzimas). Os

representantes mais importantes dos portadores do oxigênio ativo, hoje são o perborato e o

percarbonato.

No perborato, introduzido com Persil em 1907, a unidade –O-O- representa as pontes entre

duas unidades “BO3”. O perborato de sódio (PBS) é um sal inodoro, branco e solúvel em

água, com a composição idealizada NaBO3. Cristaliza-se como o mono-hidrato, trihidrato ou

tetrahidrato, NaBO3 xH2O (x = 1,3,4). O mono-hidrato e tetra-hidrato são as formas

comercialmente mais importantes. A unidade estrutural básica de perborato de sódio é o ânion

dimérico B2O4(OH)42–

:

O

B

O O

B

OHO

HO

OH

OH .

A tendência hoje é a substituição dos compostos contendo o boro (ácido bórico, boratos,

bórax, inclusive o perborato), devido à toxicidade reprodutiva destes compostos.

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121

O sal mais importante usado como portador do peróxido é hoje o percarbonato, um composto

de adição que facilmente hidrolisa liberando H2O2 já na fase inicial do processo de lavagem.

A liberação do carbonato, ao mesmo tempo, apoia a manutenção do ambiente alcalino da

lixivia:

2 Na2CO3 . 3 H2O2 → 2 Na2CO3 + 3 H2O2

Percarbonato

Por fim de alongar sua vida de prateleira o perborato é encapsulado em uma camada protetora

de outro sal inorgânico - geralmente o sulfato de sódio. Isso o protege da decomposição que

pode ocorrer, expressivamente na presença de íons metálicos, tal como o ferro ou manganês.

Esses metais já têm efeito catalítico na concentração de ppm e decompõem o peróxido (ou

perácido) em seus produtos termodinamicamente mais estáveis, água (ou ácido carboxílico) e

O2. Mas também a umidade contida no produto e os zeólitos aceleram a decomposição do

portador do peróxido. Além disso, dentro da lixivia de lavagem as enzimas fazem efeito

imediato, enquanto a liberação do oxigênio ativo, quando encapsulado, demora alguns

minutos. Esta desfase no ato de lavar roupa é importante para o pleno funcionamento dos dois

ingredientes do detergente. O percarbonato foi introduzido em 1974 pelas empresas Henkel e

Unilever.

Existem branqueadores alternativos ao oxidantes?

A resposta é principalmente sim, mas o branqueamento redutor é usado somente em casos

especiais. Por exemplo, o sulfito de sódio, Na2SO3, pode ser usado em removedores de

manchas. O ponto fraco: algumas manchas descoloridas por este meio podem reoxidar no

varal, ao entrar em contato prolongdo com o ar, e sua coloração reaparece. Além disso, muitos

dos corantes usados na estampagem da roupa são sensíveis frente a redutores, por que se

tornam solúveis e sua cor muda drasticamente (ver a forma “leuco” do anil, por exemplo).

O ativador TAED

Nos últimos anos se conseguiu grande progresso na ativação catalítica dos sistemas de

branqueamento. Isso permite uma limpeza mais profunda da roupa, em tempos mais curtos,

ao mesmo tempo causando menor impacto ao ambiente (quantidades de detergente e água;

temperatura). Quase todos estes sistemas têm como princípio de ação o oxigênio ativo, por

sua vez liberado por peróxidos. Um papel importante têm os aceleradores da decomposição

do composto peróxido, entre os quais se destaca o TAED.

A tetraacetil-etilenodiamina (TAED) não deve ser confundida com o etileno-damina-

tetraacetato (EDTA; p. 142); trata-se de uma amida terciária (fórmula 1 nas Figura 44 e

Figura 45). A TAED se estabeleceu como padrão na sua função de ativador de branqueamento

em detergentes em pó (produção anual: mais de 80.000 toneladas), enquanto os ativadores

aniônicos (p. ex., NOBS = nonanoil-oxi-benzenossulfonato de sódio; Figura 45) e catiônicos

(p. ex., nitriloquats) perderam em importância. Os detergentes universais em pó de hoje têm

em torno de 1-3% da TAED – uma quantidade considerável já que este composto é

consumido em quantidades estequiométricas, conforme mostrado na Figura 45.

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Figura 44. Estruturas dos ativadores de branqueamento mais usados. Marcado em azul: as

partes hidrofóbicas que influenciam na solubilidade e no comportamento de adsorção.

Como a TAED não é muito estável em meio aquoso, ela é aplicada exclusivamente como

grânulos sólidos (na prática via co-extrusão com CMC alcalina), em detergente em pó ou

então como suspensão em detergente líquido anidro. Os grânulos se dissolvem rapida e

completamente na lixivia de lavagem. Em detergentes líquidos hídricos - cujo volume no

mercado está aumentando atualmente - o TAED não é estável e também interagiria com o

agente clareador. Portanto, estes detergentes, por enquanto, são formulados sem sistema de

branqueamento.

A TAED entra em ação através de uma decomposição conhecida como “perhidrólise”,

induzida pela presença de água oxigenada que foi liberada pelo agente de branqueamento –

geralmente o percarbonato. A reação da TAED com água oxigenada é praticamente

quantitativa e acontece sob condições especialmente brandas (pH 10; a partir de 23 °C). Os

produtos são a DAED e o perácido acético (fórmulas 2 e 3 na Figura 45, respectivamente). O

primeiro não tem mais função no ato de lavagem - ele é solúvel e facilmente biodegradável.

De interesse é o segundo, o perácido acético, pois possui propriedades bactericidas, viricidas e

fungicidas e destrói rapidamente mais de 99,99% dos microrganismos contidos na roupa suja.

Como resultado, a combinação de TAED com percarbonato tem um efeito desinfetante e

desodorizante - inalcançado por outras combinações [fonte do H2O2 + acelerador].

Figura 45. A perhidrólise é o princípio do branqueamento por oxigênio ativo, na presença do

acelerador TAED. A aplicação estequiométrica da TAED (portanto evitamos a denominação

“catalisador”) permite abaixar a temperatura do branqueamento a 25 - 40 °C.

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Figura 46. Reações de perhidrólise dos aceleradores alternativos à TAED: NOBS e

nitriloquats. Fonte: ver Figura 37.

Sem a presença da TAED os agentes branqueadores (perborato, percarbonato, etc.)

desenvolveriam sua atividade somente acima de 60 °C. No entanto, o uso da TAED permite o

branqueamento a temperaturas mais baixas; sua melhor eficácia fica logo acima de 40 °C.

Finalmente, a decomposição do perácido acético libera ácido acético e o agente branqueador

principal, o oxigênio singleto. Sendo assim, a TAED contribui indiretamente no controle de

pH durante o ato de lavagem: o processo se inicia com pH 10, mas logo se abaixa devido à

liberação do ácido acético. Essa mudança no pH acelera mais uma vez a degradação da

maioria das manchas em cima do tecido sujo.

A TAED funciona melhor na remoção de manchas hidrofílicas, como chá, café e vinho tinto,

enquanto é menos eficaz com manchas hidrofóbicas, tais como grama, sucos e especiarias

(açafrão; ver Figura 75). Como o perácido acético é um agente oxidante relativamente brando

(diferentemente do hipoclorito de sódio, que ainda é amplamente usado nos EUA), ele afeta

muito pouco as tintas da estampagem e a própria fibra têxtil.

Todavia, podemos constatar que qualquer sistema de branqueamento aplica um estress sobre a

própria fibra têxtil e os corantes de estampagem, uns mais (hipoclorito) e outros menos

(peróxidos); enfim, a fibra perde em resistência contra tração e elasticidade e os corantes

perdem em brilho.

Devido ao seu efeito desinfetante e desodorizante, a combinação [TAED + percarbonato]

também é usada em detergentes para lavar louça e produtos de limpeza para dentaduras.

Tendências atuais na ativação dos sistemas de branqueamento

Como já mencionado, o uso dos ativadores (TAED, NOBS, nitrilquats) deve ser

estequiométrico para serem eficazes. Isso implica um grande consumo e aumenta, tanto os

custos da formulação como a carga para o meio-ambiente. Portanto, tenta-se atualmente achar

verdadeiros catalisadores que promovem a perhidrólise e a liberação do oxigênio ativo.

Uma solução promissor foi introduzida pela Unilever em 1994, com um catalisador metálico,

à base de Mn – em segunda linha pelo Fe. O problema destes catalisadores metálicos é sua

sensibilidade frente aos meios oxidantes e, em consequência, sua coloração nos NOX mais

elevados. Certa estabilidade aos metais nos NOX mais baixos proporciona o ligante quelato

TACN (1,4,7-trimetil-1,4,7-triazaciclononano). Os produtos comerciais que fazem uso deste

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catalisador são o Persil Power, Omo Power e Skip Power. Mostrou-se que a quantidade de

apenas 0,05% destes complexos na formulação podem substituir 5% em TAED. O ponto

negativo nestes catalisadores: são ativos demais, a dizer: após 12 ciclos de lavagem a fibra e

os corantes têxteis podem mostrar massivos danos. Todavia, ainda estão usados em

detergentes de lavar louça e também no branqueamento da celulose e algodão nativos.

Hoje se procura melhoras, basicamente por duas estratégias diferentes: sistemas catalíticos

para a perhidrólise que são isentos de metais, por outro lado sistemas catalíticos que

promovem o efeito branqueador pelo próprio oxigênio do ar. Este último caminho, no entanto,

somente foi realizado, por enquanto, na presença de metais pesados.

Todavia, o desenvolvimento de catalisadores – que na maioria podem ser usados em

combinação com os ativadores estequiométricos clássicos (TAED, etc.) – não parou. Entre os

mais promissores são as oxaziridinas e os compostos dioxiranos. Ambas as classes

promovem, já em concentrações muito baixas, a decomposição dos perácidos orgânicos. O

princípio de ação e alguns exemplos de compostos resultantes das pesquisas mais recentes são

dados na Figura 47.

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Figura 47. Em cima: Ativação catalítica dos perácidos por meio de oxaziridinas e dioxiranos,

sem a necessidade de complexos metálicos.

Em baixo: Precursores dos catalisadores isentos de metais, à base de oxaziridina e

dioxirano.

Fonte: M. Dreja, A. Hätzelt, N. Bluhm, Bleichsysteme für Haushaltswaschmittel (em Alemão), Chemie in

unserer Zeit 52 (2018), 164-176.

7.8.4 Fábrica do sabão em pó

Mais usado na confecção de um produto granulado que deve atender principalmente três

exigências: dissolver-se completa e rapidamente na lixivia de lavagem, mostrar baixa

tendência de formar aglomerados (“pedras”) e, ao mesmo tempo, ter baixo teor de finos.

Consegue-se o gránulo com este perfil por um processamento em três etapas:

1) Preparo de uma suspensão grossa (ingês: slurry) que contêm todos os ingredientes do

produto final que aguentam o ambiente hídrico e o calor aplicado na próxima etapa.

2) Injeção do Slurry com alta pressão, no topo de uma torre chamada de "secador de

atomização". A suspensão úmida é finamente distribuída quando injetada pelos orifícios e

começa a descer na torre, enquanto uma corrente de ar seco e quente vem de baixo, em

contracorrente. O resultado é um granulado mais seco (não totalmente seco!) que deve

ainda ser bem solúvel em água – uma exigência de todos os tipos de máquina de lavar.

3) Em um misturador de baixa rotação este granulado é completado pelos componentes que

são inadequados a serem processados pela torre: o sistema de branqueamento (por que se

decompõe rapidamente quando em contato com água; ver abaixo), as enzimas (biomoléculas termossensíveis) e os perfumes (altamente voláteis).

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Figura 48. Fluxograma da fábrica de detergente em pó. (Fonte: R.N. Shreve, J.A.Brink Jr, Indústrias

de processos químicos, 4a ed. Guanabara Rio de Janeiro 1997)

Matérias-primas na fabricação de detergente em pó

Hoje em dia a maioria dos detergentes para lavar roupa vem em forma granulada. O cliente

espera do produto que se dissolva rapida e completamente, sua distribuição deve ser uniforme

e atingir todas as partes da roupa. O desenho acima representa um processo com que se

consegue produzir grandes quantidades de material particulado que satisfaz estas condições.

Note que o transporte do pó é por via pneumática (ver Figura 48). Pressões e temperaturas

elevadas devem ser evitadas, se não os grânulos grudam e entopem os equipamentos da

fábrica. Além disso, podem formar-se pedaços maiores o que é rejeitado pelo mercado, devido seu manuseio desconfortável e sua má solubilidade.

Tab. 18. Para produzir uma tonelada de detergente acabado, a fábrica precisa as

seguintes matérias:

Produção dos agentes tensoativos: Demais ingredientes:

Alquilbenzeno

(petróleo)

75 Kg Inibidor de corrosão

(vidro d´água)

125 Kg

Álcool graxo

(recurso renovável)

75 Kg Reforçador

(polifosfatos)

500 Kg

Óleum 150 Kg Demais aditivos 30 Kg

NaOH concentrado 200 Kg Água consumida 500 Kg

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Para se produzir uma tonelada de sabão em pó a fábrica mistura os ingredientes

aproximadamente nas seguintes proporções:

Componentes principais: Demais ingredientes:

Sulfônico 150 a 200 Kg Carboximetilcelulose

de sódio

até 10 Kg

Tripolifosfato de sódio 100 a 150 Kg Enzimas até 5 Kg

Zeólitos até 100 Kg Corantes até 200 g

Carbonato de sódio (barrilha) 50 a 100 Kg Branqueadores

ópticos

até 10 Kg

Silicato de sódio (vidro

d´água)

80 a 120 Kg Perfume até 300 g

Sulfato de sódio (carga) até completar 1000

Kg

Segue uma receita de sabão em pó moderno para máquina (quantidade total de uma tonelada),

com a promessa de proteger as cores:

Componentes principais: Ingredientes especiais:

Sulfônico 100 a 150 Kg Alquil-dimetil-

hidroxietil cloreto de

amônio

até 30 Kg

Renex 100 20 a 50 Kg Percarbonato de

sódio

até 80 Kg

Tripolifosfato de sódio 100 a 150 Kg Carboximetilcelulose

de sódio

até 10 Kg

Zeólitos até 100 Kg TAED até 30 Kg

Carbonato de sódio

(barrilha)

100 a 200 Kg Enzimas até 5 Kg

Silicato de sódio 80 a 120 Kg Branqueadores até 10 Kg

Sulfato de sódio até completar 1000 Kg Corantes, perfumes 0,2 Kg; 0,3 Kg

Para sua produção são necessários, ou uma "torre de sopragem", isto é um secador em leito

fluidizado parecido ao secador por atomização (ver Figura 48) ou uma cascata de

misturadores de pó. O misturador é carregado com a barrilha, o tripolifosfato de sódio e

outros pós. O sulfônico é adicionado lentamente. Quando todo o detergente sulfônico for

adicionado, devem ser incorporados 2% de água, o silicato de sódio (solução 40%) e a

solução de branqueadores ópticos. Essa mistura (“slurry”) para secar é descarregada sobre um

piso forrado ou vai então para a torre de sopragem. Na primeira opção passará em seguida por

um triturador para melhorar a sua aparência e suas características de dissolução. O perborato,

as enzimas e os perfumes são os últimos ingredientes no pó, já que esses não devem ser

aquecidos.

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Energia envolvida na produção dos detergentes

Surpreendentemente, a fábrica de detergente não tem gastos em energia térmica- pelo

contrário, ainda sobra energia que pode ser usada para iluminação e outros fins.

Isso se deve à alta exotermia de todas as etapas principais: sulfonação aromática, a sulfatação

de alcoóis graxos, e finalmente, a neutralização dos produtos sulfonados/sulfatados.

Lembramos que o óleum usado no processo causa um ambiente e produtos fortemente ácidos,

a serem neutralizados com grandes quantidades de soda cáustica.

Seguem os balanços energéticos das referidas etapas.

Sulfonação:

R-Ar-H + H2SO4 . SO3 R-Ar-SO3H + H2SO4; H = -420 kJ

.Kg

-1 de R-Ar-H

Sulfatação:

R-CH2OH + SO3 . H2O R-CH2-O-SO3H + H2O;

H = -330 a -350 kJ.Kg

-1 de álcool graxo

Neutralização:

H+ + OH

- H2O ; H = -55,873 kJ

.mol

-1, corresponde a -3100 kJ

.Kg

-1 de água neutra!

Notamos que também as reações paralelas da sulfonação/sulfatação (ver p. 96) são

exotérmicas, porém menos do que as reações principais. Isso implica que a temperatura tem

grande influência, não só na velocidade, mas também à porcentagem com que os produtos

indesejados se formem. Para se ter reações rápidas é preciso uma temperatura elevada

(Equação de Arrhenius); por outro lado, temperaturas baixas favorecem a posição do

equilíbrio de reações exotérmicas. Essa afirmação pode também ser falada na forma negativa:

se a temperatura for muito alta, aquelas reações que são menos exotérmicas são favorecidas; e

todas essas são, como vimos, reações paralelas. Afinal, existe uma temperatura ótima para

cada etapa, onde os dois critérios, velocidade e posição do equilíbrio, são satisfatórios.

Como todas essas reações são rápidas (a neutralização é uma das reações mais rápidas que se

conhece na química em fase líquida!), então há necessidade de um sistema de refrigeração

eficaz. Trocadores de calor devem atingir uma grande área do reator, para sequestrar o calor -

se não haverá perigo de perder o controle sobre o processo que, no pior caso, pode levar à

explosão na fábrica. A sulfonação, por exemplo, quando executada a 50°C, se completa em

aproximadamente 1 a 2 minutos. Neste período liberam-se, como vimos acima, em torno de

100 Kcal, a cada Kg de alquilbenzeno. Ao deixar subir a temperatura demasiadamente, a

mistura escurece e há tendência à supersufonação (ver Figura 31 na p. 100).

8 Zelar pelo cabelo

Como foi feito logo antes de apresentar os produtos cosméticos para a pele, vamos aqui

também apresentar primeiro as particularidades do pelo humano, antes de entrar em detalhes

das formulações (caps. 8.3 a 8.8). Sob o ponto de vista do químico a coloração do cabelo é

especialmente sofisticada, portanto este assunto merece um capítulo a parte (cap. 0).

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8.1 Sobre o cabelo humano Como foi feito no tratamento da pele, vamos primeiro olhar na estrutura do cabelo, para

depois entender melhor o princípio de ação dos ingredientes nos produtos cosméticos.

Figura 49. Os pormenores da raiz do cabelo e do folículo piloso.

O cabelo (diâmetro típico: entre 0,05 e 0,07 mm; em loiros e idosos apenas 0,02 a 0,04 mm)

se constitui, grosseiramente falado, por três camadas: cutícula, córtex e medula. A maior parte

estrutural do cabelo é queratina, um polipeptídeo. A queratina contém 50% de carbono, 23%

de oxigênio, 17% de nitrogênio, 6% de hidrogênio e, muito importante, cerca de 4% de

enxofre em forma do aminoácido cisteína. Sob condições normais o cabelo retém cerca de

10% de umidade, mas este valor pode variar largamente, conforme a intempérie: uma

atmosfera saturada de água e temperatura elevada eleva a umidade do cabelo acima de 30%!

As propriedades mecânicas do cabelo são largamente influenciadas pela presença desta água.

A difusão da água é bastante desacelerada pela presença de substância gordurosa no cabelo;

especialmente a cutícula (ver logo abaixo) acomoda essa barreira de lipídeos, presentes em

forma de ácidos graxos, ceramidas e sulfato de colesterol.

A camada exterior, conhecida como cutícula, é feita de material morto, em forma de escamas

finas e bem fechado. Pode comparar essa construção com uma pinha nova. Na média, 6 a 10

camadas de células achatadas estão sobrepostas nesta camada. Um cabelo saudável e limpo

tem um brilho bonito (reflexão da luz), pois as escamas da cutícula estão bem fechadas e

encaixam nitidamente formando uma superfície lisa. Por outro lado, um cabelo estressado tem

uma superfície irregular e fica de aparência fosca. Note que a cutícula por si é incolor e

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transparente. Substâncias alcalinas abrem essas escamas, um ambiente ácido fecha as

mesmas.

Ao invés desta, o interior do cabelo (medula) ainda contém células vivas e reproduzíveis,

arredondadas e não direcionadas, dispondo de muitos espaços ocos e irregulares. Quanto mais

distante da raiz, mais fina torna-se a medula e termina em cerca de 2 cm acima do couro

cabeludo. As modificações feitas pelo cabeleireiro geralmente não atingem a medula.

Entre essas duas camadas encontra-se o córtex, uma camada grossa que consiste de

microfibrilhas (= hélices compridas de queratina; diâmetro: 7 a 10 nm); algumas centenas de

microfibrilhas juntas formam um tufo de macrofibras (diâmetro: 300 nm), todas elas em

direção ao crescimento do cabelo e bastante resistentes à tração, em torno de 200 N/mm².

Cerca de 20 a 30 destas macrofibras, por sua vez, formam uma célula do córtex (diâmetro: 5

µm). As fibras são interconectadas, principalmente através de pontes de dissulfeto, pontes de

hidrogênio e interações dipolares, por uma massa de junta que proporciona ao cabelo a

elasticidade (módulo E 3000 MPa) e estabiliza a forma macroscópica ao cabelo. O córtex

forma cerca de 80% da massa do cabelo e representa a camada onde são feitos todos os

processos químicos que são relevantes para o cabeleireiro. Ao longo da vida do cabelo as

células do córtex migram para frente e para fora, ficam cada vez mais achatadas e finalmente

transformam-se em escamas da cutícula.

Assim podemos tranquilamente responder uma dúvida frequente: onde o cabelo está

crescendo, pela raiz ou pela ponta? O mais banal que parece, mas essa resposta é de suma

importância no tratamento do cabelo.

O que não foi mostrado na Figura 49, mas que é absolutamente normal numa pessoa saudável,

é a acomodação de um grande número de ácaros na raiz do cabelo que são animais da família

dos aracnídeos.

Em resumo, lembramos-nós do fato que grande parte do cabelo é matéria morta!

Portanto, a melhor forma de zelar pelo cabelo é a prevenção de danos, cuidando dele todos os

dias. Embora se tratar de células sem metabolismo, os fatores nutricionais têm fundamental

importância na saúde do cabelo. Com o atual avanço do conhecimento e de tecnologia na área

cosmética, até sua reestruturação é possível em certos limites.

8.1.1 Desenvolvimento de um cabelo saudável

Aqui vale o mesmo que já foi dito no tratamento da pele: o aparecimento saudável do cabelo

requer um modo de vida saudável. Uma alimentação natural e equilibrada é considerada

sendo o método preventivo mais seguro, para se manter um cabelo bonito por muito tempo. A

taxa do crescimento, o diâmetro e o número absoluto de cabelos que temos na cabeça (até

150.000!), variam largamente devido à genética de cada um. Todavia, podemos indicar

números orientadores onde se encaixam os diferentes tipos de cabelos, conforme sua

coloração típica:

Loiros têm, na média, 150.000 cabelos na cabeça,

Pretos têm 110.000,

Morenos têm 100.000 e

Ruivos cerca de 75.000 cabelos na cabeça.

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131

A densidade fica então em torno de 200 cabelos por cm² do couro cabeludo. Durante sua vida

de 2 a 8 anos (na média 6 anos; geneticamente determinado) a raiz produz cerca de 0,3 a 0,5

mm de novo cabelo por dia 28

, sem interrupção, isto é cerca de 1 cm por mês ou 15 cm por

ano. Note que dentro da raiz se encontram quase exclusivamente as partes vivas do cabelo.

Também podemos afirmar que a parte do cabelo com vida, quer dizer, atividade bioquímica, é

principalmente encontrada no folículo, enquanto quase a totalidade da parte visível é "morta".

Na base da raiz são então produzidas as novas células do cabelo. Outras partes funcionais do

folículo piloso são as glândulas sebáceas que lubrificam o cabelo e os músculos eretores do

pêlo, que são responsáveis por causar os “arrepios”. No corpo humano há cerca de dois

milhões de glândulas tubulares, pequenas e glândulas sudoríparas que produzem fluidos

aquosos, com finalidade de refrescar o corpo por evaporação. Mais importantes para a vida

saudável do cabelo, certamente, são as glândulas posicionadas na abertura do cabelo que

produzem uma secreção gordurosa e lubrificante.

Mas a vida de cada raiz de cabelo é bastante limitada, como já dito, de 6 a 8 anos. Todavia, o

mesmo folículo cabeludo pode regenerar um cabelo completamente novo após a expulsão do

cabelo morto velho. Observa-se que na fase da regeneração o folículo volta para as camadas

mais profundas onde começa o crescimento de células para o novo cabelo. Uma queda de 60 a

100 cabelos por dia é, portanto, absolutamente normal. Somente uma taxa acima de 150 é um

indicativo de perda excessiva que leva, ao longo dos anos, a uma careca. Ao contrário dos

animais essa troca de cabelo não é sincronizada, mas contínua.

Podemos identificar três fases na vida de um cabelo:

1. Fase de crescimento (= fase anágena); 85 a 90 % de todos os cabelos na cabeça

encontram-se nesta fase. Ela dura de 3 a 8 anos - mais em mulheres e menos em

homens.

2. Depois: fase de transição (= fase catágena) de 2 a 3 semanas: o cabelo é solto da raiz,

o folículo se encurta e é expulso em direção à stratum córneum. 1% de todos os

cabelos encontram-se nesta fase.

3. Depois o cabelo entra na fase telógena, isto é, descanso por 2 a 4 meses. Até 18% dos

cabelos da cabeça se encontram nesta fase. O folículo estrangula-se, o cabelo é

desconectado da raiz e não recebe mais nutrientes. É fácil diferenciar entre as fases

anágena e telógena, por que na última o fio se solta com facilidade do bulbo e sua raiz

tem aparência branca.

Note que os pelinhos corporais têm ciclos de vida bem menores. Alguns valores de

orientação: 19 a 26 semanas na perna, 6 a 12 semanas no braço, 4 a 8 semanas no dorso e 4 a

14 semanas no bigode.

Depois da fase telógena ocorre então a perda do cabelo (comprido). Mas logo em seguida um

novo cabelo nasce no mesmo folículo. Como isso ocorre de forma não sincronizada, a troca

de cabelo em uma pessoa saudável não se nota por fora.

No final deste capítulo introdutório uma resposta para milhares de pessoas de diferentes

etnias: o que define a forma natural do seu cabelo?

É um resultado da geometria do cabelo na secção perpendicular: um cabelo perfeitamente

redondo costuma ser liso (típico nos asiáticos), levemente oval é o cabelo ondulado (típico

nos europeus), enquanto o cabelo finamente encaracolado dos negros é fortemente oval.

28

Note que a taxa de crescimento depende da fase lunar: na lua minguante é mais lenta do que na lua crescente.

Além disso, a duração da vida do cabelo em homens é mais curta do que em mulheres.

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Portanto, a indicação do diâmetro do cabelo é difícil (quer dizer, pode variar no mesmo cabelo

entre 0,02 a 0,12 mm).

8.2 Objetivos do cuidado de cabelo O consumidor de produtos cosméticos para o cabelo geralmente mira um dos seguintes

objetivos que são discutidos a seguir:

1. Limpeza

2. Modificação da forma

3. Coloração

4. Crescimento e fortalecimento

5. Remoção do cabelo.

8.3 Xampu

8.3.1 Desenvolvimento histórico

Na antiguidade usava-se sabão comum e água para lavar o cabelo. Devido ao pH elevado

desta água de lavagem algumas pessoas sofreram de queimaduras no couro cabeludo e nos

olhos. Além disso, o sabão junto aos íons de cálcio da água dura forma um sal insolúvel (ver

p. 106) que precipita em cima do cabelo e o proporciona um visual cego. Daí se aplicava

numa segunda etapa um vinagre ou suco de limão diluído que liberou o cabelo desta camada

fina.

No século 19 os cabeleireiros ingleses prepararam os primeiros xampus, ao cozinhar flocos de

sabão junto a extratos de ervas finas em água - uma mistura que deixou o cabelo mais

brilhante e cheiroso. Casey Hebert foi um dos primeiros que produziu xampu em grande

escala. Em uma farmácia em Berlim Hans Schwarzkopf vendeu a partir de 1903 um agente

em pó de lavar cabelo. Somente em 1927 ele desenvolveu o produto líquido - a forma quase

exclusiva dos xampus de hoje.

Os sulfatos de alquilas (ver p. 96) apareceram no mercado em 1932. Estes reagem bem menos

alcalinos do que o sabão e não formam complexos tão estáveis com a dureza da água, do que

o sabão tradicional. Até os anos 1960 este agente foi vendido em forma de pó branco, em

envelopes de papel ou em tubos (nascimento da marca "Schauma" de Schwarzkopf).

Com o desenvolvimento dos alquiletersulfatos nos anos 1960 apareceram produtos que se

provaram muito suaves frente à pele e ao couro cabeludo. Junto ao desenvolvimento da

embalagem de plástico barata o xampu foi, a partir daí, acessível para todos.

8.3.2 Aplicação de xampu

Aplicamos em torno de 10 g de xampu no cabelo molhado. Sob massagem de cerca 1 minuto

o xampu é distribuído. Forma-se uma espuma fina que deve se deixar em repouso por curto

tempo antes de remover todo o produto com bastante água morna. O sebo produzido nas

glândulas sebáceas e os sais inorgânicos que foram expelidos pelo suor, junto aos

aminoácidos, a uréia e o ácido lático (p. 32), pedaçinhos de pele morta, sujeira volátil do

meio-ambiente, ocasionalmente também os resíduos de outros tratamentos cosméticos do

cabelo, são levados embora com este procedimento.

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133

8.3.3 Critérios de qualidade de xampus

Dependendo do custo do produto um xampu pode conter ingredientes baratos ou de alto valor.

Todavia, qualquer xampu deve satisfazer os seguintes critérios gerais:

Alta eficiência na limpeza,

Insensibilidade frente à dureza da água,

Suavidade frente à pele e ao couro cabeludo,

Biodegradabilidade e inocuidade frente ao meio ambiente,

Bons efeitos ao cabelo (boa conservação, pequenos reparos e uma aparência saudável

e brilhante).

Além destes critérios de qualidade funcional, o produto se vende melhor quando seja também

otimizado sob os seguintes aspectos:

Critérios organolépticos: cada produto deve atender seu público-alvo que hoje, quase

sempre, é bastante diversificado (idade, sexo, atividade no dia-a-dia, etc.). Sendo

assim, o cheiro e o visual do produto podem decidir sobre o sucesso do produto –

embora estas qualidades não sejam funcionais.

Espuma fina e abundante: uma espuma cremosa consiste de bolhas pequenas e

uniformes e transmite a sensação de suavidade. No entanto, a espuma contribui

somente pouco à detergência do produto (pode-se atribuir um leve efeito por impedir a

redeposição da sujeira oleosa no cabelo/couro cabeludo).

Viscosidade: todo xampu deve ser de tal viscosidade que não escorra da mão do

consumidor quando for levado ao cabelo. Geralmente, uma viscosidade mais alta é

considerada sendo vantajosa, por dois motivos: primeiro retarda a separação das fases

(ingredientes oleosas e a água como solvente principal), segundo o consumidor

geralmente pensa de quanto mais viscoso o xampu, melhor a qualidade. Mas isso é um

engano: xampus medicinais, por exemplo, nem sempre possuem alta viscosidade, mas

são altamente funcionais.

Embalagem primária e secundária: contribuem também à aceitação pelo cliente. Uma

embalagem com estilo, de tampa ou abertura que facilita a extrusão e a dosagem, um

rótulo que agrada e as promessas que o grupo-alvo gosta de ouvir, sempre ajudam ao

atingir os números de venda.

8.3.4 Composição do xampu

Como vimos acima, um xampu não tem somente a finalidade de limpeza, mas deve atender

uma série de expectativas. Isso explica que ele geralmente é uma mistura complexa de 10 a 20

ingredientes, confecionado para cada grupo-alvo de consumidores. Esses ingredientes

mostram seus efeitos em concentrações bastante variadas. Vamos começar com os

ingredientes principais que, em analogia aos produtos para a pele (p. 41), podermos dividir

em uma parte que representa a base e uma parte de aditivos nos quais constam os agentes

auxiliares, os aditivos (bio)ativos e os aditivos que aumentam a sensação organoléptica.

Água

Em primeiro lugar e com cerca de 70 a 80% consta nesta mistura a água sendo o veículo para

a maioria dos demais ingredientes (ver receita dada na Tab. 22). Deve ser de boa qualidade

microbiológica e química, muitas vezes é usada água destilada e desmineralizada (ver p. 80).

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Agentes tensoativos principais

Em segundo lugar constam certamente os agentes tensoativos principais. Somente eles são

responsáveis para a tarefa principal, a limpeza. Os tensoativos providenciam a mobilização de

gordura e sujeira, grudadas no cabelo. Aplicam-se exclusivamente detergentes sintéticos,

especialmente os alquilsulfatos, alquiletersulfatos e tensoativos anfóteros. A maioria dos

xampus contém entre 10 e 20% destes agentes.

Agente mais utilizado (barato) é o éster feito a partir de álcool graxo e ácido sulfúrico, o

alquilsulfato.

OS

O-

O

O

Sulfato de laurila (detergente e agente espumante)

Os alquilsulfatos foram os primeiros agentes usados em xampus e são utilizados até hoje. São

baratos e destacam-se por grande capacidade de limpeza e formação de uma espuma fina –

especialmente o sulfato de laurila (nas formulações dadas no cap. 14 muitas vezes chamado

de “Lauril” ou LSS). As desvantagens são a sensibilidade notável frente à dureza da água,

má solubilidade em água fria e irritações em peles muito sensíveis. Essas desvantagens,

porém, podem ser compensadas ao misturar com outros agentes tensoativos.

No segundo grupo são os alquiletersulfatos (também conhecidos como LESS) que são menos

sensíveis frente à dureza da água e também menos agressivos contra olhos, pele e o couro

cabeludo. São bons espessantes e repondem bem à adição de eletrólitos, critérios importantes

para a regulagem da viscosidade do produto. Este tipo de surfactante pode ser feito com

balanço hidrofílico-lipofílico, HLB (ver p. 46), sob medida. E mais uma vantagem: o cabelo

lavado com este agente, quando está penteado depois, acumula menos cargas (o que se

percebe em "cabelo esvoaçante").

A síntese é a partir do álcool graxo que é eterificado com poucas unidades de óxido de

etileno. O número exato de unidades de oxietileno em cada molécula de alquiletersulfato é

estatístico, mas a média pode ser ajustada pelas quantidades relativas dos reagentes. Depois

da eterificação o produto ainda é esterificado com ácido sulfúrico para que resulte o "sulfato

eterificado". Muito usadas são combinações destes detergentes feitos de 2 ou 3 unidades de

óxido de etileno e álcool láurico ou miristílico.

Étersulfato esteárico de amônio

NH4+O

OO

S

O

O

O-

Um detergente mais recente é o lauril éter sulfosuccinato de sódio, indicado para produtos

infantis e o uso facial, por ser mais suave ainda do que o LESS.

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Figura 50. O lauril éter sulfosuccinato de sódio, um dos poucos

emulsificantes/detergentes aniônicos que pode conter até duas caudas apolares.

O contra-íon destes detergentes aniônicos, LSS e LESS, geralmente é sódio ou amônio,

introduzidos na etapa da neutralização do ácido na última etapa da sua produção, através de

NaOH ou amônia, respectivamente; em produtos de qualidade especial pode também ser a

trietanolamina (TEA) o neutralizante do produto. Uma análise comparativa mostrou os

seguintes efeitos pelo cátion:

Preço: NH4+ < Na

+ << TEA

Viscosidade: Na+ < NH4

+ < TEA

Poder de espuma: Na+ < NH4

+ < TEA

Solubilidade em água: TEA < NH4+ < Na

+

Estabilidade à hidrólise ácida: TEA < NH4+ < Na

+

Compatibilidade com outros tensoativos: TEA < NH4+ < Na

+

Agentes tensoativos auxiliares

A maioria dos xampus de hoje contém, além dos detergentes supracitados, também

“tensoativos secundários” que exercem um efeito adicional ao tensoativo principal. São

usados em concentrações menores que os detergentes principais, até no máximo 10% da

formulação. Os tensoativos secundários apresentam detergência e espuma fraca se utilizados

sozinhos, mas quando em associação com os primários conseguem uma excelente resposta

final. São usados para melhorar as características dos primários: diminuição da irritabilidade,

melhor condicionamento do cabelo, aumento da viscosidade e maior estabilidade de espuma.

Como sempre em formulações cosméticas, procura-se um efeito sinérgico entre os agentes

tensoativos, evitando incompatibilidades (o que representa o oposto do sinergismo). Assim,

consegue-se economizar em volume do tensoativo principal e o consumidor corre menos

perigo de ser sensível ao produto.

Os agentes mais suaves são considerados os alquil-étercarboxilatos. Porém, sua capacidade

em formar espuma é pequena, portanto são usados em combinação com os alquil-étersulfatos.

Condensados de proteínas e ácidos graxos, como vimos na p. 102, fazem parte dos agentes

tensoativos do tipo betaína (= anfóteros). São materiais com excelente compatibilidade com a

pele e boas qualidades em limpar o cabelo. Porém, sua estrutura é muito próxima à de

material biológico, portanto é sujeito de ataques microbianos, então o produto cosmético

requer de altas quantidades de conservantes. Exemplo dado na p. 104:

cocoamidopropilbetaína.

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136

Os detergentes não-iônicos, como vimos na p. 103, são moléculas anfifílicas que não formam

carga ao entrar em contato com a água. Os tensoativos não iônicos usados para fim de lavar

cabelo são os poliglicosídeos de alquila (isto é, um éter entre um álcool graxo e um açúcar) e

os alcanolamidas de ácido graxo de coco. Eles são mais suaves do que qualquer tensoativo

iônico, além de ter um balanço lipofílico-hidrofílico excelente. Eles não desnaturam o cabelo.

Exemplos dados na p. 104: as cocoamidas MEA e DEA.

Segue uma lista resumida destes co-tensoativos.

Tab. 19. Agentes tensoativos secundários em xampus.

Família de

detergente

Exemplos estruturais

(nomes comerciais)

Qualidades/destaques

Aniônico Lauril éter

sulfosuccinato de

sódio (Texapon SBN,

Laurion SLA).

Mais suave do que o LESS.

Indicado para produtos infantis e de uso facial.

Poder espumante menor e menos resistente à adição de eletrólitos do que o LESS.

Concentração: 18 a 25%.

Betaína (=

anfótero)

Cocoamido

propilbetaína

(Dehyton KB,

Betainon CAPB)

Estabilizador de espuma.

Agente condicionante, proporciona uma

excelente penteabilidade.

Associado a aniônicos aumenta a viscosidade dos xampus.

Concentração: 3 – 6%

Betaína (=

anfótero)

Cocoanfocarboxiglici

nato de Sódio

(Dehyton G, Betainon

AC 50, Ampholak

XCE)

Estabilizador de espuma.

É o menos irritante dos tensoativos anfóteros, sendo o principal co-tensoativo utilizado em

produtos infantis.

Excelente para reduzir a irritabilidade causada

pelos tensoativos primários.

Não deve ser utilizado como único tensoativo, pois possui grande afinidade pelo cabelo

podendo deixar resíduos.

Concentração: 3 – 6%

Não iônico Dietanolamida de

Ácidos Graxos de

Coco (Comperlan

KD)

Alto poder espessante: aumentam a reserva de viscosidade do sistema permitindo uma maior

absorção de água e uma maior resistência a

eletrólitos.

Estabilizador de espuma: auxiliam a solubilização de vários componentes que tendem

a diminuir o poder de espuma dos tensoativos

aniônicos (óleos, ésteres graxos, lanolina),

conferindo maior estabilidade ao sistema.

Possui efeito sobre-engordurante devido sua

estrutura graxa e seu baixo poder de detergência,

reduzindo o efeito de ressecamento produzido

pelos tensoativos aniônicos.

Concentração utilizada: 1 a 5%

Não iônico Lauril poliglicosídeo Estabilizante de espuma e doador de viscosidade.

Extremamente suave (pele e olhos).

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137

(Plantaren 1200)

Utilizado para formular xampus sem alcanolamidas.

Não iônico Decil poliglicosídeo

(Plantaren 2000)

Pode ser utilizado como tensoativo primário em

algumas formulações.

Baixo poder irritativo.

Concentração utilizada: 4 – 12%.

(fonte: http://www.farmaceuticacuriosa.com/p/cosmeticos_17.html)

Os demais ingredientes em xampus, em ordem de quantidade decrescente, são presentes em

menos de 3% do peso do produto e podem ser resumidos em auxiliares funcionais,

substâncias ativas e aditivos organolépticos. Sobre o papel de aditivos re-engraxantes (ou

sobre-engordurantes) em xampus e condicionadores, ver p. 149.

8.4 Aditivos em xampus

8.4.1 Conservantes

Já discutimos a estabilidade da formulação cosmética, a ser correto a estabilidade física (testes

reológicos; coalescência em cremes; separação das fases aquosa/oleosa) e química

(antioxidantes; auto-oxidação; tamponagem). Agora ainda precisamos falar sobre sua

estabilidade biológica, ou seja, a prevenção de uma contaminação microbiana.

Existem sinais visíveis que indicam a contaminação microbiana de um produto cosmético:

A mudança de coloração (crescimento de microrganismos pigmentados; produção de ácidos que afetem os corantes sensíveis ao pH; mofos coloridos);

Produção de gases (fermentação causada por bactérias ou leveduras);

Produção de odores (compostos sulfurados voláteis e mal cheirosos).

Mudança da viscosidade, que pode levar, num estágio avançado de contaminação, até a desestabilização física e/ou química do produto.

Estas observações certamente significam o fim da validade do produto e visam seu descarte.

Mais preocupante, no entanto, são casos onde não há indicações visíveis, mas sim, a presença

de microrganismos patogênicos.

Os microrganismos podem ser introduzidos nos produtos cosméticos por:

Equipamentos ou recipientes usados na fábrica,

Falta de rotinas, higiene e boas práticas de fabricação.

Contaminação da matéria-prima. Especialmente os produtos de origem botânica, como gomas naturais, proteínas e amidos podem hospedar microrganismos e possibilitar seu

crescimento.

A qualidade da água que na maioria dos produtos semi-sólidos representa a maior parte da formulação, é de suma importância. Jamais deve-se usar a água da caixa; já

mais segura é a água tratada diretamente da rede pública. No entanto, o cloro (presente

em 1 a 3 ppm), a ferrugem da tubulação e os sais minerais prejudicam a qualidade

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sensorial do cosmético, portanto se usa, quase exclusivamente, água destilada e

possivelmente desmineralizada, por meio de trocadores de íons.

A embalagem do produto cosmético pode ser contaminada. Portanto, a fábrica deve

usar somente embalagens recentemente produzidas e transportadas em caixas bem

fechadas.

E não vamos esquecer que a formulação também pode facilmente ser contaminada na mão do

consumidor, por exemplo, ao enfiar um dedo sujo no pote de creme ou sugar um excesso de

xampu da mão, de volta ao frasco....

Devido a um teor de > 70% de água, ao lado de potenciais nutrientes (ver formulação típica

de um xampu na Tab. 22), os xampus devem ser protegidos contra uma infestação por

bactérias, fungos e outros germes. Somente em poucas exceções podem-se dispensar estes

agentes biocidas (teor ultra-alto de tensoativos; curto prazo de armazenamento; embalagem

estéril ou amostra de uso único). Preferencialmente, os conservantes devem ser adicionados à

fase aquosa, já que esta é mais sujeita ao ataque microbiano do que a fase oleosa. No entanto,

outros componentes presentes em uma emulsão podem também favorecer o crescimento de

microorganismos, tais como os emulsificantes naturais (exemplos são a goma arábica, goma

adraganta), óleos vegetais (exemplo: óleo de amendoim que pode conter espécies de

aspergillus), até parafinas líquidas que podem acomodar espécies de penicillium.

Grandes avanços foram feitos nos últimos anos, ao produzir os xampus em máquinas

herméticas, livres de germes. Também todos os ingredientes são rigorosamente esterilizados

antes da formulação do produto na fábrica. Sendo assim, o produto, pelo menos enquanto está

na embalagem fechada e intacta, é salvo de degradação microbiana.

Segue uma lista de alguns conservantes que são permitidos como aditivos em cosméticos,

conforme a Resolução No. 79, de 28 de agosto de 2000. Note que alguns destes aditivos têm

ainda outros efeitos, como por exemplo, desodorante, antioxidante, etc. Só que daí se aplicam

outras concentrações do que aqui indicadas.

Tab. 20. Principais conservantes usados em cosméticos líquidos e remédios de uso

externo, incluindo os xampus (ver as fórmulas químicas logo abaixo).

Nome Comercial Espectro de

ação

Estabilidade

pH

Incompatibilidade

s

Conc.

usual

Ác. Sórbico

(ou sorbato

de potássio)

Ác. sórbico Fungos,

leveduras,

pouca

atividade

microbiana

2,5 a 6,0 Tween 80 (p. 103) 0,05 a

0,2%

2-bromo-2-

nitropropano

-1,3-diol

Bronopol Gram +,

gram – (mais

ativo), fungos

(menos ativo)

5 a 7 Cisteína,

tioglicolato,

tiossulfato,

metabissulfito

0,01 a

0,1%

Bisguanida

catiônica

Clorexidina Gram +,

gram -,

pseudômonas

(menos

ativo), fungos

5 a 8 Tensoativos

aniônicos,

alginatos de sódio,

pode ser

parcialmente

0,01

%

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(menos ativo) inativado por

lecitina e tween 80

Triclorofeno

xifenol

Triclosano Gram +,

gram -,

antiséptico

bucal.

4 a 8 Tensoativos não

iônicos do tipo

polietilenoglicol.

0,05

%

Imidazoli-

dinil uréia

Germall 115 Gram +,

gram -

3 a 9,0 Avobenzona 0,03 a

0,5%

Metilparaben

o

Nipagin Fungos e

leveduras

3 a 9,5 Gelatina, proteína,

metilcelulose,

tween 80.

0,02 a

0,3%

Propilparabe

no

Nipazol Fungos e

leveduras

3 a 9,5 Gelatina, proteína,

metilcelulose,

tween 80.

0,01 a

0,6%

Triclosano

O

Cl

Cl

OH

Cl

5-cloro-2-(2,4-diclorof enoxi)f enol

OH

O

Ácido sórbico

HO OHBr NO2

Bronopol

H2N NH

NH2

NH NH

Bisguanida

NH HN

NH

NH

NHNHNH

HN

HN

HN

Cl ClClorexidina

Germall 115

Imidazolidinil uréia

HN

N NH

NH

NH

NH

O OO

O

HO

N

HN

O

O

OH

Figura 51. Fórmulas dos conservantes antimicrobianos da Tab. 20.

Bastante usada em formulações cosméticas é a imidazolidinil ureia, um conservante

antimicrobiano solúvel em água, efetivo entre pH 3,0 a 9,0; ele apresenta efeito sinérgico

quando associado aos parabenos (= ésteres do ácido p-hidroxibenzóico, ver Figura 20),

principalmente contra fungos. Uma formulação cosmética acrescida de 0,5% de imidazolidinil

ureia, 0,2% de metil parabeno e 0,1% de propilparabeno está protegida também contra várias

espécies do género Pseudomonas.

Os parabenos são muito empregados em formulações cosméticas porque apresentam baixa

toxicidade, são eficazes contra um amplo espectro de microorganismos (agem contra a

maioria dos fungos e bactérias gram +) e são de baixo custo. É bastante comum utilizar-se

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140

combinações de dois ou mais ésteres do ácido p-hidroxibenzóico, pois tais misturas

apresentam um efeito antimicrobiano mais acentuado. Ponto negativo dos parabenos: eles têm

baixa solubilidade em água, portanto não devem ser os únicos conservantes usados em

formulações aquosas especialmente susceptíveis à infestação microbiana, tais como géis, gel-

cremes e loções.

Neste contexto é bom lembrar que alguns agentes emulsificantes podem atenuar ou até

mesmo, neutralizar o efeito antimicrobiano destes conservantes. Um exemplo famoso é a

combinação de tween 80 (p. 103) com os parabenos (p. 79).

Conservantes quase sempre são aplicados juntos aos antioxidantes (ver cap. 6.4) que, por sua

vez, previnem a degradação da fase oleosa por oxidação. Bastante usados em xampus são

concentrados contendo uréia, parabenos, fenoxietanol, metildibromoglutaronitrila, ácido

benzóico e ácido salicílico. Nesta lista, os últimos dois representam os conservantes mais

expressivos.

Atenção com formol e glutaraldeído!

Antigamente usava-se também o formaldeído como conservante. Este, porém, tem alto

potencial alergênico na pele, é lagrimogênico - nem falar do seu potencial carcinogênico.

Portanto, sua reputação é péssima.

O formaldeído (H2CO; a solução aquosa é conhecida como formalina ou formol), mais

recentemente foi substituído em partes pelo glutaraldeído, OHC-(CH2)3-CHO, por sua vez um

esterilizante igualmente irritante, no entanto menos carcinogênico. O uso de formol e

glutaraldeído são regularizados pela ANVISA, segundo a qual estas substâncias têm uso

seguro e permitido em produtos cosméticos capilares, mas apenas na função de conservante

(com limite superior no produto acabado de 0,2% e 0,1%, respectivamente) e somente se

forem usados durante a fabricação do produto. Por outro lado, é proibido o desvio da

finalidade desses aldeídos, como, por exemplo, o uso de formol ou de glutaraldeído com a

função de alizamento, por não ser previsto na legislação. Igualmente proibido é o acréscimo

de formol (ou qualquer substância dele derivada) ou glutaraldeído ao produto acabado (pronto

para uso) que é considerado infração sanitária (Lei nº 6.437 / 1977) e crime hediondo de

acordo com o Código Penal.

De acordo com a RDC nº 162 / 2001, é obrigatória a inclusão da expressão de advertência

“Contém formaldeído” para produtos cuja concentração de formaldeído seja superior a 0,05%

no produto final.

Especialmente as formulações caseiras de higienização doméstica, referidas no cap. 14.3,

contêm um elevado teor de formol. O leitor deve estar ciente do seu potencial patogênico,

tanto na fabricação como na aplicação do produto final. Aqui alguns sintomos, conforme

ANVISA: irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro

cabeludo, queda do cabelo, ardência e lacrimejamento dos olhos, falta de ar, tosse, dor de

cabeça, ardência e coceira no nariz, devido ao contato direto com a pele ou com vapor. Várias

exposições podem causar também boca amarga, dores de barriga, enjôos, vômitos, desmaios,

feridas na boca, narina e olhos, e câncer nas vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe,

traquéia e brônquios).

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141

8.4.2 Espessantes

São adicionados para aumentar a viscosidade do xampu e, também, uma qualidade reológica

que se conhece como “tixotropia”. Especialmente essa última qualidade é de vantagem, pois o

xampu líquido, após sair da embalagem, deve permanecer na palma da mão até o momento de

ser aplicado no cabelo. Tixotropia é o fenômeno do aumento da viscosidade de um fluido logo

após cessar a força de cisalhamento (aplicado no ato da extrusão da embalagem). Assim, o

xampu permanece no local onde foi depositado, em vez de escorrer por entre os dedos. No

reograma (ver p. 45) a tixotropia se evidencia como histerese extraordinariamente grande –

muitas vezes acompanhada por um valor onset elevado (quer dizer, somente após aplicar a

força de cisalhamento acima de um valor limite, a amostra começa a fluir). O fenômeno da

tixotropia se explica com a formação de uma rede tridimensional sobremolecular, bem

comparável com um gel.

O espessante mais eficaz, ao mesmo tempo o mais barato, certamente é o sal de cozinha,

NaCl. Ele aumenta a viscosidade do xampu até um valor máximo; a partir de certa

concentração (na ordem de 0,4 g/L), no entanto, qualquer quantidade de sal adicionada a mais

leva a uma diminuição da viscosidade – sem possibilidade de correção. A explicação deste

fenômeno fica na organização supramolecular das micelas na formulação do xampu 29

. No

entanto, os cabelereiros alegam efeitos negativos sobre a aparência do cabelo, sua hidratação e

sua penteabilidade, quando o teor do sal no xampu for muito alto.

Portanto, xampus de qualidade superior contêm polímeros hidrossolúveis como espessantes.

Estes se apresentam em forma de cadeias poliméricas não ramificadas, altamente flexíveis, de

massa molar não muito alta e repletos de grupos polares nas suas unidades repetitivas. Na fase

aquosa eles assumem a conformação de um novel frouxo que pode se interpenetrar com

outros novels da espécie. Através destes entrelaçamentos se explicam as qualidades reológicas

desejadas. Os mais usados são a hidroxietilcelulose (também conhecida como HEC ou

Natrosol), o poli-ácido acrílico (Carbopol 2020, estrutura ver p. 154) e os polietilenoglicóis

HO-(CH2-CH2-O)x-H de baixa massa (PEG 4000, PEG 6000 ou PEG DOE 120). Além disso,

notou-se um efeito espessante do glutamato, por sua vez a única molécula nesta lista que não

é polimérica.

Note que em pasta de dente (p. 177), onde o fenômeno da tixotropia também é altamente

desejado, este efeito se consegue através da incorporação de uma elevada taxa de material

cristalino, fina e uniformemente distribuída: sílicas, argilas, cal, soda, etc.

8.4.3 Agentes quelantes

Agentes quelantes ou complexantes caranguejo, tais como EDTA ou triácido nitriloacético,

fazem parte em algumas formulações (atenção: não confundir o complexante EDTA com a

TAED que foi apresentada na p. 122 como acelerador de branqueamento, sem atividade como

quelante). Eles têm o papel de fixar íons de ferro, contidos em nossa água de abastecimento,

que poderiam falsificar perfumes ou corantes. Ao mesmo tempo, retêm todos os outros íons

29

A. F. G. Ferreira Jr et al., O efeito do sal nas propriedades do xampú e sua relação com a estrutura miscelar.

IX Simpósio de Base Experimental das Ciências Naturais da Universidade Federal do ABC - 12 e 13 de agosto

de 2011; disponível no site (acesso em 09/2015)

http://becn.ufabc.edu.br/guias/processos_transformacao/resumo/PT_AA_N_02.pdf

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142

que contribuem à dureza da água, então tornam o processo da lavagem do cabelo mais eficaz

(assunto relacionado, ver p. 80).

H2C CH2 NN

HOOC

+Na -OOC

COO- Na+

COOH

Figura 52. Fórmula do EDTA (etileno diamino tetraacetato bissódico) e seu complexo

quelante com íons metálicos M2+

ou M3+

.

8.4.4 Balanço do pH e o uso de sistemas tampão

A Tab. 12 (p. 40), forneceu alguma idéia acerca do pH da pele humana. A formulação do

produto cosmético, em particular de um xampu, deve ser de tal forma que o impacto do ato da

lavagem sobre o cabelo e o couro cabeludo é mínimo, para evitar irritações e minimizar a

probabilidade de reações adversas do nosso corpo.

Para relembrar: o pH expressa a concentração de prótons no veículo que é, neste caso, a água

no xampu, em caso de cremes de pele a região 5 < pH < 7 onde as concentrações de H+ e OH

-,

por sua vez catalisadores da hidrólise das gorduras naturais, devem ser mantidas mínimas;

mas também em cima da nossa pele, onde o suor e o filme natural de umidade na superfície

exercem efeitos refrigerantes e/ou protetores contra microorganismos – sem promover a

hidrólise dos polipeptídeos estruturais. Sendo assim, o pH não deve ser confundido com a

força de acidez de certa substância soluta (por sua vez expressa no valor pKa). Somente

indiretamente o pH tem a ver com a força de um ácido:

Um pH baixo (= concentração de H+ alta no ambiente) pode reprimir o grau de desprotonação

de um ácido fraco (= pKa alto).

Mas: Um pKa baixo (= ácido forte) não implica um pH baixo, pois isso dependerá ainda da

concentração do ácido neste ambiente. Também não devemos concluir que um pH baixo é

causado pela força de certo ácido, já que poderiam contribuir ainda outros ácidos presentes ao

pH deste ambiente.

Certamente é correto afirmar que um sabão, por sua vez a base do ácido graxo (= ácido fraco)

somente se apresenta como ânion quando a concentração de prótons no ambiente for bastante baixa, ou seja, pH alto. Caso contrário, quer dizer pH baixo, o carboxilato será protonado, e

na forma do ácido graxo livre seu efeito de limpeza é praticamente nulo.

Já nos detergentes sintéticos a situação é diferente: os sulfonatos e sulfatos são os ânions de

ácidos fortes, portanto até uma alta concentração de H+ no ambiente não será suficiente para

inativar estes compostos, ou seja, transformá-los em ácido sulfônico e monoalquilsulfato,

respectivamente. Portanto, os syndets mantêm seus poderes de limpeza, até mesmo em

ambiente ácido.

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143

É justamente essa a situação nos xampus cujo pH, no ideal, deve coincidir com o natural do

cabelo e do couro cabeludo. Um pH baixo (= ambiente ácido) é capaz de selar as cutículas dos

fios. Um cabelo com as cutículas seladas e alinhadas é um cabelo capaz de reter a hidratação e

os nutrientes nos fios, é um cabelo com brilho e saudável. Por outro lado, o pH alcalino abre

as cutículas; um cabelo com as cutículas abertas é o que chamamos de um cabelo poroso, não

sendo capaz de reter a hidratação ou qualquer tipo de nutriente, portanto torna-se um cabelo

frágil e sem vida.

O ideal para xampus é um pH em torno de 5 e 6, dessa forma não danifica as cutículas. Uma

exceção são xampus anti-resíduos (ver anti-caspa, p. 147) que possuem pH em torno de 8.

Também fora da faixa habitual são os xampus de bebê (p. 148) que possuem pH 7,2 que é o

mesmo pH da lágrima, por isso não arde os olhinhos do bebê. Por outro lado, as máscaras,

condicionadores (p. 148), e “leave-ins” devem possuir um pH mais baixo ainda (pH 3,5 a 4,5)

que o do xampu convencional, para selar as cutículas.

O pH, na maioria das formulações, é ajustado e estabilizado por meio de sistemas tampão:

Um sistema tampão é uma solução aquosa de um ácido fraco e seu sal, ambos em

concentrações aproximadamente iguais.

Em xampus se aprovaram especialmente o sistema citrato/ácido cítrico 30

; menos usados são

os sistemas lactato/ácido lático, fosfato/ácido fosfórico e bórax/ácido bórico.

1,3-Dicloro acetona

Ácido cítrico

H2C

C O

H2C Cl

Cl+ HCN + 2 KCN

- 2 KCl

H2C

C

H2C Cl

Cl

OH

CN

Hidrólise

H2C

C

H2C Cl

Cl

OH

COOH

H2C

C

H2C CN

CN

OH

COOH

HidróliseH2C

C

H2C COOH

COOH

OH

COOH

Figura 53. Síntese industrial do ácido cítrico/citrato, atualmente o sistema mais usado para

estabilizar o pH em xampus.

O ajuste fino do pH que se deseja manter dentro do produto cosmético, pode ser alcançado ao

variar gradativamente a relação entre o ácido e seu sal. Isso seja mostrado nos dois sistemas

mais usados, o citrato e o fosfato.

Tab. 21. Valores de pH estabilizados em função da composição do sistema tampão.

pH Ácido

cítrico

Citrato de sódio

dihidratado

pH Fosfato de

sódio dibásico,

Fosfato de sódio

monobásico,

30

Curiosidade: o citrato de cálcio é um dos poucos sais que é menos solúvel à quente do que no frio.

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144

[g/L] [g/L] Na2HPO4 [g/L] NaH2PO4 [g/L]

2,5 64,4 7,8 4,5 0,9 45,5

3,0 57,4 17,6 5,0 2,2 44,8

4,0 40,6 41,2 5,5 4,4 43,7

4,5 30,8 54,9 6,0 17,8 36,8

5,0 19,6 70,6 6,5 37,4 26,7

6,0 4,2 92,1 7,0 57,8 7,4

6,5 1,8 95,6 8,0 83,7 2,8

8,5 87,2 0,9

Ao se manter essas relações indicadas para o ácido fraco e seu sal, o valor do pH sempre será

este, independente das concentrações absolutas. Por outro lado, ao aumentar as concentrações

de ambos os ingredientes, a capacidade de estabilizar o pH na formulação aumenta. Mais uma

regra geral: quanto mais semelhantes as concentrações molares de ácido e seu sal, maior a

capacidade de tampão. Uma alta estabilidade do pH será necessário, por exemplo, num

preparado alizante de cabelo (ver p. 155 e p. 164).

8.4.5 Filtros de UV

Para finalizar a lista dos aditivos funcionais em xampus, mencionamos ainda os absorventes

de UV (compare cap. 6.3.2). Durante o século 20 estes tinham mais a função de proteger o

próprio xampu contra auto-oxidação, do que o cabelo ou a pele. Especialmente alguns

corantes podem degradar-se quando a embalagem do xampu for transparente. Estabilizantes

nas regiões UV e azul são eficazes para este fim; os mais usados são derivados da

benzofenona e da cânfora (ver p. 64). Somente com o surgimento de filtros solares catiônicos

tornou-se possível formular shampoos e condicionadores que realmente exerçam um efeito

protetor frente à queratina dos cabelos. Estes filtros solares são resinas catiônicas com

propriedades de filtro UV-B. Possuem elevada substantividade (isto é, permanecem após o

tratamento em cima do fio) devido ao seu caráter catiônico, protegendo os cabelos dos danos

causados pela exposição ao sol.

Exemplos comerciais são: tosilato de dimetipabamido lauridimônio (Escalol HP 610) e o

cloreto de cinamidopropil trimetilamônio (Incroquat UV 283).

Me2N

NH

NMe2

O

C12H25

Ts-

Escalol HP

NH

O

NMe3 Cl-

Incroquat

8.4.6 Aditivos organolépticos

Finalmente, têm-se em todos os xampus do mercado perfumes, corantes ou enfeites ópticos.

Único objetivo destes é a atração do cliente, mas não atendem nenhum dos critérios de

qualidade listados na p. 133. Para o brilho de madre-pérola, por exemplo, aplicam-se finos

cristais em forma de lamínulas, feitos de novos ésteres de ácidos graxos, tal como o distearato

de glicerina cuja consistência parece às ceras. Algumas alcanolamidas de ácidos graxos e

sabões de zinco ou magnésio mostram o mesmo efeito. Por outro lado, as micas, por sua vez

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145

minerais esfoliados da pedra natural de granito, não se aplicam em xampus - mais em

cosméticos coloridos (maquiagem, batom, esmalte, etc.) como agentes de brilho; ver cap. 13.

Tab. 22. Receita de um xampu comercial típico.

Ingrediente Teor em % Função

Água 72,7 − 85,7 Solvente; matriz

Sulfato de lauril amônio 10 − 20 Meio de limpeza primário

Amida de laurila DEA 3−5 Estabilizante de espuma

Tampão de citrato 0,5 - 1 Estabiliza o pH

Perfume 0,5 Cheiro agradável

EDTA dissódico 0,2 Complexante

Metilparabeno 0,08 Conservante

Propilparabeno

Sal de cozinha

0,05

0,04

Conservante

Espessante

FD&C Orange No. 4 0,002 Corante 31

FD&C Yellow No. 5 0,001 Corante

8.5 Fábrica de xampu A produção da maioria dos xampus ocorre de maneira descontínua, em bateladas de aço

inoxidável equipadas com um agitador de rotações baixas. Todos os ingredientes são

misturados nesta batelada, enquanto a sequência da adição é bem definida. As temperaturas

são desde temperatura ambiente até no máximo 70 °C. No procedimento a frio pode se tornar

necessário fundir, dissolver ou misturar os ingredientes sólidos. Isso deve ser feito antes de

adicioná-los à mistura-base na batelada, para não correr o perigo de uma distribuição não

homogênea. Depois dos ingredientes principais segue, a temperatura ambiente, a adição dos

perfumes e conservantes. O condicionamento fino dos valores tais como pH e a viscosidade,

ocorre somente depois de acrescentar e homogeneizar todos os demais ingredientes.

Finalmente o produto é embalado.

As etapas em detalhe:

Os ingredientes principais, a água, os tensoativos e os reguladores de espuma, são bombeados

na batelada e, se for preciso, aquecidos a 60 a 70 °C. Depois seguem os demais ingredientes

aos poucos, um depois do outro, a serem misturados e homogeneizados. Quanto ao acréscimo

de um ingrediente sólido, tal como cera, um aditivo em pó ou corante, este deve ser levado ao

estado fundido ou dissolvido, antes de se juntar à mistura. Se não podem permanecer grãos

compactos na formulação que não só comprometem a estética do produto, mas também

podem representar um perigo para o consumidor devido à alta concentração local. Como

31

Informe-se sobre o largo espectro de corantes e pigmentos, no livro "Corantes", disponível em:

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:corantes

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146

solvente serve, nestes casos, uma parte da água da receita ou uma parte de outro ingrediente

líquido da mistura. Em casos de ingredientes poliméricos ou espessantes recomenda-se um

inchaço prévio (= dispersão coloidal liofílica), na maioria das vezes feita em água morna.

Óleos de perfume que geralmente são acrescentados em penúltima etapa e a frio, pode

requerer um agente compatibilizante, de preferência um tensoativo não iônico ou óleo de

mamona epoxidado, para se distribuir uniformemente na formulação do xampu - cujo caráter

é predominantemente hidrofílico. Também ao acréscimo do(s) conservante(s) é de suma

importância manter temperatura ambiente, já que estes podem facilmente deteriorar a

temperaturas elevadas.

No final do procedimento da formulação e em penúltima etapa, ocorre o nivelamento do pH

usando um ácido (ácido cítrico) ou uma base (NaOH). Esta regulagem influencia

sensivelmente a viscosidade da mistura, portanto devem-se ajustar as qualidades reológicas

em última etapa. Mais ainda pode influenciar na viscosidade, a presença de um eletrólito

forte. Portanto, aplica-se um sal, de preferência cloreto de sódio ou cloreto de amônio ou os

respectivos sulfatos, para ajustar a viscosidade sem notavelmente mexer no pH. Já em

pequenas concentrações estes sais provocam um aumento pronunciado da viscosidade 32

.

Somente as maiores fábricas de xampu dispõem de linhas de produção contínuas. Estas

misturas ocorrem a frio, enquanto todos os ingredientes em forma soluta são acrescentados

por meio de bombas dosadoras de membrana, dentro de um misturador estático.

8.6 Xampus especiais

8.6.1 Xampu para cabelo oleoso

Pessoas com uma produção elevada de sebo pelas glândulas sebáceas precisam lidar com o

problema de o cabelo rapidamente ganhar um visual oleoso e descuidado. Nos homens a

causa para essa disfunção pode ser uma elevada produção do hormônio testosterona. Em

casos gerais a produção do sebo também depende de fatores do meio ambiente e até de fatores

de estress. Jovens geralmente têm que lidar mais com esse problema do que pessoas idosas.

Para estes casos existem xampus que reprimem a produção do sebo. Usa-se um condensado

de proteína com ácido abietina; também servem extratos de plantas que são ricos em taninos

(por exemplo, extrato de casca do carvalho, semente de uva, etc.). Os taninos exercem um

efeito adstringente, isto é, a coagulação de proteínas solutas. Através desta coagulação espera-

se entupir as glândulas sebáceas e assim reduzir sua secreção.

Dizem que lavar o cabelo com muita frequência leva a um aumento da produção de sebo,

então deixa o cabelo oleoso mais rapidamente. Mas isso não é comprovado 33

.

8.6.2 Xampu para cabelo seco

Quando o cabelo um dia depois da última lavagem ainda apresenta-se quebradiço, sem brilho

e seco, é indicado usar um xampu para cabelo seco. As glândulas sebáceas produzem muito

pouco sebo. Os aditivos ajudam o pentear, alisam os cabelos e impedem "cabelo voando".

Esses aditivos são óleos vegetais, lecitina, lanolina, proteínas hidrolisadas, colágeno e

32

A tendência hoje é usar menos sais em xampus, pois interferem negativamente ao bem-estar do cabelo e couro

cabeludo (resseca o cabelo).

33 Como também não é comprovado que cabelos ou pêlos, quando cortados ou barbeados com muita frequência,

crescem mais rapidamente.

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147

queratina parcialmente hidrolisada. As quantidades usadas e as combinações destes aditivos

sempre são sujeitas ao segredo da fábrica.

8.6.3 Xampu para cabelo estressado

O cabelo pode ser danificado, pela incidência de luz UV, pelo tratamento cosmético do cabelo

(coloração; ondulação permanente) ou por contato com agentes químicos (ácidos ou bases).

Mecanicamente o cabelo está sofrendo por pentear frequente. Infelizmente e ao contrário de

muitas promessas de certos produtos cosméticos, um cabelo danificado não pode ser

consertado, mas apenas seu visual temporariamente corrigido e sua penteabilidade melhorada,

ao usar o xampu certo. Esses xampus contêm os mesmos ingredientes que foram descritos no

xampu para cabelo seco, porém em concentrações mais altas. Também recomenda-se, em

casos graves, aplicar separadamente um óleo e/ou uma tintura fortificante.

8.6.4 Xampu com efeito anti-caspa

O couro cabeludo pode desprender partes maiores de pele morta. Não é uma doença, mas

prejudica o visual da pessoa na sociedade e assim sua auto-estimativa. Neste caso pode-se

aplicar um xampu anti-caspa. Este tem o efeito de soltar rigorosamente os pedaços de pele do

couro cabeludo e do cabelo. Uma aplicação prolongada pode até impedir a formação

excessiva de novas caspas. Certamente não é a única causa, mas temos certeza que contribui à

formação de caspas um fungo no couro cabeludo. Sendo assim, em testes clínicos pôde ser

comprovado que a aplicação ininterrupta de um xampu com agente fungostático, por um

período de 6 a 8 semanas, realmente suprime a formação de novas caspas. Já o efeito de

agentes bactericidas é menos fundamentado. Esses agentes são aplicados em concentrações de

aproximadamente 1%. O que ajuda também é a lavagem mais frequente do cabelo.

Agentes fungostáticos: Agentes bacterizidas:

Cl

O

N

tBu

O

N

Climbazol(forma racémica)

N

O

SN

O

Zn

S

Piritiona de zinco.

S

Se Se

Se

SS

S S

1,2,3-Se3S5

O

Cl

OH

Cl

Cl

Triclosano

Figura 54. Agentes fungostáticos e bacterizidas, usados em xampu anti-caspa.

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148

O triclosano (Figura 51) é um agente antisséptico efetivo contra bactérias gram negativas,

bem como gram positivas. É eficaz também contra fungos e bolores. É usado, além dos

xampus anti-caspa, em medicamentos, sabonetes, loções, desodorantes e cremes dentais.

8.6.5 Xampu com coloração

As fábricas deste tipo de cosmético prometem um aumento no brilho do cabelo, com nova

tonalidade. Pode ser verdade, mas essa nova cor sai logo com a próxima lavagem. Também

uma melhor proteção contra radiação UV não é comprovada.

8.6.6 Xampu de bebê

Os xampus de bebê são especialmente suaves frente à pele e às partes mucosas do corpo.

Usam-se para este fim tensoativos não iônicos, adicionalmente proteínas hidrolisadas e

extrato de camomila, ambos com efeito acalmante comprovado.

8.6.7 Xampus a seco

Trata-se de uma mistura em pó que permite a limpeza do cabelo sem o uso de água. O pó

ressorve a gordura e sujeira do cabelo. Após um curto período de tratamento o pó pode ser

removido do cabelo por meio de aspiração ou escova.

Hoje é pouco usada esta forma de limpeza, mas se restringe a casos de emergência, por

exemplo quando não há água ou quando o consumidor é impedido de se lavar com água. Mas

este produto é bastante usado no cuidado de animais domésticos peludos.

8.6.8 Outros tipos de xampus

Existem géis de banho que já contêm os ingredientes necessários para cuidar do cabelo.

Sendo assim, somente se precisa de um cosmético para o corpo inteiro.

Certos xampus para animais de estimação contêm, além dos ingredientes comuns, também

remédios, isto é, agentes com efeito sistêmico. Estes podem ser para liberá-los de pulgas,

piolhos e carrapatos.

8.7 Condicionador de cabelo

A queratina do cabelo humano possui um grande número de aminoácidos e, portanto, há uma

grande probabilidade de se encontrar grupos ácidos carboxílicos livres no cabelo. Ainda, as

condições climáticas e tratamentos químicos (que são frequentemente processos oxidativos,

ver p. 73) aos quais o cabelo está sujeito, aumentam a natureza polar e o número de grupos

carboxilatos (-COO-) na sua superfície. De uma forma mais quantitativa podemos afirmar que

a queratina capilar tem um ponto isoelétrico baixo, pH = 3,7. Já que o pH dos xampus ou do

sabão que se usa na limpeza do cabelo, operam a um pH mais elevado (os tensoativos usados

nos xampus mostram estabilidade hidrolítica até um pH em torno de 6,0), a queratina tende a

ficar carregada negativamente. Em consequência os fios de cabelo atraem compostos com

carga positiva. Não é surpresa que o composto ativo mais importante dos condicionadores é

um membro da família dos detergentes catiônicos (ver p. 100), geralmente um sal quaternário

de amônio. Um representante típico é o brometo de cetil trimetil amônio.

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149

Funcionamento geral do condicionador

O mecanismo de ação do condicionador baseia-se no conceito de substantividade, isto é, a

aderência, mesmo após o enxague com bastante água morna, das substâncias apropriadas para

modificar as propriedades superficiais do cabelo. Podemos mencionar quatro diferentes ações

do condicionador frente ao cabelo:

1. Neutralizar as excedentes cargas negativas,

2. Suavizar as escamas da cutícula,

3. Amaciar a queratina estrutural,

4. Aumentar a elasticidade do cabelo em função do seu teor em umidade,

5. Reengraxar o cabelo recém lavado.

A carga positiva presente na parte hidrofílica do tensoativo catiônico permite que o produto

apresente substantividade ao cabelo, isto é, tem a capacidade de permanecer no fio capilar

mesmo após o enxágue. A substantividade do condicionador é maior, quanto mais lesado e

poroso estiver o cabelo. Sem cargas excedentes as escamas do cabelo ficam mais fechadas e a

superfície do cabelo mais lisa e com brilho.

Proteínas hidrolisadas são substâncias altamente polares, bastante próximas às da própria

queratina. Isso leva a uma elevada compatibilidade e aderência ao fio capilar. As microfibrilas

ganham mais espaço uma à outra e, em consequência o cabelo fica mais elástico e macio.

Os agentes umidificadores, como a glicerina e o propilenoglicol, são componentes muitas

vezes adicionados aos produtos para cabelos porque também os condicionam uma vez que

retêm a umidade, aumentando a flexibilidade e o brilho deles.

Os sobre-engordurantes repõem parte da oleosidade perdida durante o processo de lavagem,

além de exercerem ação estabilizadora de espuma (importante em xampu “2 em 1”) e

melhoram a viscosidade das formulações. Assim fornecem brilho e maleabilidade aos fios do

cabelo. Exemplos são:

Alcanolamidas de ácido graxo de coco,

Óleos e ceras: lanolina e lanolina etoxilada (0,5 – 2%), óleo de jojoba, macadâmia e

amêndoas (0,5 – 2%), manteiga de Karité (0,5 – 1%).

Ésteres de ácidos graxos.

Substâncias ativas que visam recuperar cabelos danificados também são frequentemente

empregadas em condicionadores capilares. A ruptura dos fios capilares normalmente é

resultante das tensões química e/ou mecânica exercidas sobre eles. Repetidos

descoloramentos ou tingimentos, assim como o uso de loções ou cremes alisantes, são

prejudiciais aos cabelos. Por esse motivo há um grande interesse em fórmulas que tratam os

cabelos. Para um resultado final adequado, é necessário que as substâncias ativas

incorporadas nos condicionadores se fixem aos cabelos. As substâncias empregadas com

maior frequência são as vitaminas e os derivados de proteínas, os quais, sob condições

especiais (ex: baixo peso molecular e baixa solubilidade em água) podem apresentar afinidade

com a queratina.

O acetato do -tocoferol (derivado da vitamina E, ver p. 77) é adsorvido ao córtex do cabelo onde mostra ação curativa, sendo assim uma substância interessante para ser usada em

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150

produtos para cabelos. Os cabelos não são danificados somente por processos como

permanente ou descoloração, mas também pela ação diária do tempo, estando a radiação solar

entre as influências mais lesivas. O uso de condicionador acrescido de 2% do éster citado

diminui os efeitos nocivos do sol sobre os cabelos, reduzindo o clareamento de cabelos

escuros depois de exposição solar.

Em resumo, um condicionador moderno pode conter os seguintes componentes:

Água (= veículo)

Tensoativos catiônicos (geralmente um sal quaternário de amônio; em inglês: quats; ver p. 100)

Agentes umectantes,

Proteínas estruturais (queratina e colágeno hidrolisados, ver “xampu para cabelo

seco”),

Reguladores de pH (tampão; pH < 5),

Óleos (p. ex. óleo de jojoba), lubrificantes, silicones,

Substâncias ativas (que são muitas vezes sob sigilo da fábrica)

Protetor solar

Agentes antistáticos e, como sempre em misturas com água,

Conservantes.

H3C Si

CH3

CH3

O Si O Si O Si CH3

CH3

CH3

CH3

R

CH3

CH3x y

onde R =z

PEG 12-Meticone (copolímero)

CH2 CH2 O H

Poliquaternium 10 (derivado da celulose)

O

OH

O

O

OH

O

x

y

OH

Me3N

Cl-

(Antiséptico, antistático)

(Emoliente, anf if ílico)

NMe3Cloreto de cetrimônio

Cl-

(Antistático)

Figura 55. Ingredientes típicos em condicionador de cabelo

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151

Requisitos aos tensoativos catiônicos usados no condicionador

Como exemplos de agentes condicionadores têm-se as proteínas hidrolisadas e os polímeros

catiônicos. Mas a ação principal vem do agente tensoativo catiônico (como exemplo, o cloreto

de cetil trimetil amônio) que tem a capacidade de condicionar o fio capilar, pois as cargas

negativas na superfície dos cabelos retêm os quaternários por forças de Coulomb. Logo, o

próprio creme rinse pode condicionar os cabelos, isto é, deixá-los macios; ele não se solta

completamente do fio, nem mesmo sob enxague rigoroso.

Embora os tensoativos catiônicos sejam multifuncionais, precisam ser empregados nas

formulações de maneira moderada devido ao seu potencial de irritação, pois muitas vezes,

dependendo da concentração e da estrutura química, são tóxicos podendo irritar os olhos e a

pele. Porém, com o avanço da indústria de matérias-primas, têm-se hoje muitos tensoativos

catiônicos com baixa toxicidade e alta suavidade, tanto que alguns já estão sendo usados até

mesmo em emulsões para os cuidados da pele; como exemplo têm-se os derivados de metil

glicosídeo. A carga positiva do tensoativo catiônico pode ser atraída também pelas proteínas

da pele.

Uma forma relativamente recente de aplicar o condicionador é dentro do xampu “2 em 1”.

Ainda lembramos-nós da incompatibilidade inerente dos detergentes catiônicos com os

aniônicos tipicamente contidos nos xampus (p. 100). Frequentemente, os aniônicos são

substituídos nestes produtos pelos tensoativos betaínas (=anfóteros; mais caros). Hoje se

conhecem, além disso, alguns tensoativos catiônicos que apresentam compatibilidade com

tensoativos aniônicos permitindo o desenvolvimento dos xampus “2 em l”, ou seja que

limpam e condicionam ao mesmo tempo. Os agentes condicionadores mais promissores, no

entanto, são os polímeros catiônicos. São substâncias que vêm sendo empregadas com

sucesso em xampus “2 em l”, pois se depositam em pequena concentração no cabelo a partir

do xampu (proporcionando o efeito condicionador), não se acumulam no fio capilar (são

hidrossolúveis), não são irritantes e nem interferem na formação de espuma ou no poder de

limpeza da formulação. Ver um exemplo para este ingrediente na Figura 55, “Poliquaternium

10”.

Formas de aplicação do condicionador

Há diferentes tipos de cosméticos condicionadores utilizados hoje em dia. Um tipo é o

condicionador tradicional que deve ser aplicado depois o xampu e a seguir enxaguado.

Condicionadores clássicos geralmente possuem fórmulas parecidas com as dos “cremes

rinse” a serem apresentado logo a seguir, porém são acrescidos também de uma substância

que ocasiona o condicionamento capilar, ou seja, deixam o cabelo macio. Os condicionadores

possuem grande afinidade pela queratina e conferem propriedades físicas favoráveis aos fios,

tais como: elasticidade, suavidade, maciez (aumentando a aderência das escamas da cutícula

capilar) e facilidade no penteado úmido e seco, pois ocasionam diminuição da eletricidade

estática.

O condicionador clássico é aplicado depois do tratamento com xampu (que já deve ser tirado

do cabelo por enxague rigoroso) e tem por objetivo selar o cabelo. Geralmente é aplicado no

cabelo para ficar aí por 30 s até alguns minutos, para depois ser lavado com bastante água

morna. Por este procedimento a maioria do produto é removida, enquanto na superfície do

cabelo somente permanece um filme fino do produto. Enquanto o xampu abriu ligeiramente

as escamas da cutícula (ver Figura 49) para efetuar sua limpeza, o condicionador proporciona

ao cabelo um ambiente mais ácido do que o xampu para que as pequenas fendas entre as

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152

escamas fossem fechadas. Mais aplicados são valores de pH em torno de 4,0, estabilizados

por meio de tampão de citrato (ver Tab. 21). Além disso, acrescenta-se gordura nesta mistura,

para o reengraxamento do cabelo. Muito usado hoje também são lubrificantes de caráter

anfifílico, do tipo silicone (p. ex. o meticone na Figura 55; ver também p. 107 e excurso na p.

175). Ambos os ingredientes servem para suavizar a superfície dos cabelos, aumentando

assim o brilho e diminuir a atração entre os cabelos, tornando-os mais soltos e criando o

“efeito de volume” referido na publicidade. O cabelo muda visivelmente, seu brilho e sua

elasticidade aumentam e sua penteabilidade também. Além disso, diminui-se a tendência de o

cabelo comprido se dividir nas pontas – o que se conhece como frizz.

Igualmente, os produtos da família dos “cremes rinse” são destinados ao enxágue capilar

(depois do uso do xampu), para facilitar o pentear dos cabelos. São constituídos

principalmente de agente sobreengordurante e espessante, água, conservante, essência e,

como já dito acima, um tensoativo catiônico. Eles apresentam tipicamente um pH ácido

(normalmente pH = 4,0), para proporcionar brilho aos cabelos. Produtos que possuem pH

próximo ao ponto isoelétrico da queratina ocasionam brilho aos cabelos. Os xampus, por

outro lado, não tendem a apresentar pH tão ácido porque valores extremos de pH podem

ocasionar reações de hidrólise nos tensoativos aniônicos. O tensoativo catiônico adere-se ao

fio capilar e diminui o embaraçamento durante o pentear enquando o cabelo está molhado;

além disso, como neutraliza a carga negativa do cabelo, elimina a atração estática, evitando

que o cabelo seco fique esvoaçado.

Outro tipo é o condicionador “leave-in”, que é aplicado no cabelo seco ou úmido antes do

penteado. Este último permanece no cabelo, ou seja não é enxaguado. Os agentes antistáticos

contidos neste produto ajudam na hora de pentear, deixando o cabelo deitado onde o

consumidor o deseja. Sem estes, cargas negativas podem acumular-se na superfície dos

cabelos, com o resultado de repulsão eletrostática - o que dificulta bastante o penteado. Para

esta finalidade servem tensoativos catiônicos (ver p. 100) ou polímeros com cargas positivas.

Certamente, o xampu “2 em 1” mencionado acima é uma das formas mais sofisticadas de se

aplicar um condicionamento ao cabelo. Os detergentes neste produto que proporcionam a

limpeza do cabelo não devem mostrar incompatibilidade com os detergentes catiônicos

usados como condicionador. Isso ocorre principalmente devido à baixa solubilidade do sal

formado entre esses dois componentes que se precipita e então não pode mais excercer

devidamente sua ação. Uma solução do problema pode ser uma substituição (parcial) dos

aniônicos, por detergentes da família das betaínas (p. 101) que, sob as condições balanceadas

de pH do produto, não mostram afinidade excessiva aos catiônicos do condicionador. Outra

estratégia é a substituição do detergente catiônico tipicamente usado em condicionador aparte,

por um polímero que carrega as cargas positivas. Representante mais recente deste tipo de

polímero é o ionene, da fórmula geral

[-N+Me2-(CH2)3-N

+Me2-(CH2)6)-]x

. 2x Cl

-

Segue uma formulação típica deste cosmético; mais receitas você encontra a partir do cap.

14.3.16.

Tab. 23. Formulação de um xampu “2 em 1”.

Ingrediente Porcentagem (%m/m) Marca comercial

Lauret sulfato de sódio 12,9 Texapon N 70

Cocoamidopropil betaína 7,5 Dehyton PK 45

Glicosídeo de côco / 2,0 Lamesoft PO 65

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153

oleato de glicerol

Polímero catiônico 0,2

Perfume 0,3

Conservante 0,1

NaCl não indicado

Ácido cítrico não indicado

Água o restante até 100%

pH 5,5

Viscosidade 6000 mPa.s

(Fonte: W. Seipel, Polymers and active ingredients suitable for the development of shampoo formulations.

Disponível no site http://www.skin-care-forum.basf.com/en/articles/hair/publication-year/2003/)

Finalmente, mencionamos os reparadores de cabelo, que são tônicos aplicados sobre o fio

seco e recém-lavado. Geralmente são vendidos em embalagens pequenas (10 mL) cujo

conteúdo é usado em uma só vez. Embora seja impossível consertar um cabelo quebrado, este

cosmético pelo menos melhora o visual do cabelo estressado. O estresse pode ser devido a

colorações repetitivas, produtos alizantes/ondulatórios, agentes alcalinos (inclusive o sabão

tradicional), radicais e substâncias agressivas pela atmosfera e, para não esquecer um dos

fatores mais perigosos, a exposição excessiva à radiação UV.

Além de óleos – inclusive óleos de silicone – estes tônicos contêm substâncias que visam

recuperar o cabelo danificado. Para este fim eles devem ser substanciais, quer dizer, não

devem sair completamente do cabelo com a próxima lavagem. Os ingredientes ativos mais

usados são as vitaminas, A, E e do complexo B5, assim que os derivados de proteínas

hidrolisados. Estes últimos, devido à baixa massa molecular e, ao mesmo tempo, reduzida

solubilidade em água, podem se fixar em cima do cabelo onde mostram grande

compatibilidade com a queratina.

8.8 Manipulação da forma do cabelo Os seguintes produtos cosméticos com finalidade de fixar ou manipular a forma do cabelo são

os mais comercializados hoje:

Gel

Ondulação permanente

Laquê

"Mousse"

8.8.1 Styling gel

O gel de penteados contém mais de 90% de água. Os formadores do gel são polímeros

hidrofílicos, frouxamente ramificados. Como são compatíveis com a água, eles incham

prontamente e se soltam do cabelo na hora de tomar banho, o que garante sua remoção fácil

do cabelo. O gel geralmente contém uma menor porcentagem de álcool, principalmente para

providenciar uma evaporação do solvente mais rápida, encurtar assim o tempo de secagem do

produto. Uma pequena porcentagem de agente emoliente providencia suficiente elasticidade

no estado “seco” e impede a soltura de pedaços de polímero seco – o que teria como

consequência um aparecer fosco do cabelo. Como sempre em formulações onde constam

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substâncias orgânicas ao lado da água, não podem faltar os conservantes (ver p. 137), que

neste caso devem ter caráter hidrofílico. Em formulações de cosméticos para a pele ainda

consta um ingrediente higroscópico, tais como propilenoglicol ou glicerina, que se opõem à

tendência de o gel hidrofílico ressecar e deixar em cima da pele uma crosta dura. Instruções

para o preparo do gel, ver p. 203.

a)

x

NO

x

Poli vinil pirrolidona (PVP)Poli ácido acrílico (Carbopol)

CO-O

Na+/H+

b)

O

O

O

O

Éter alílico do pentaeritritol

O

O

O

O

CO

CO

OC

OC

Tetraacrilato do pentaeritritol

c)

d)

Figura 56. Hidrogéis: a) formadores poliméricos dos géis; b) ramificadores (crosslinker);

c) estrutura molecular de um gel; d) produto semi-sólido transparente.

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O Carbopol (também chamado de “Carbômero”) é um dos mais usados formadores de gel. É

basicamente um poli ácido acrílico onde as cadeias (por si rigorosamente lineares, ver Figura

56 a) podem ser frouxamente ramificadas. O polímero por si se solubiliza somente pouco na

água; para desenvolver completamente seu potencial como espessante deve-se acrescentar

uma base, tal como trietanolamina ou hidróxido de sódio. Daí os grupos ácidos carboxílicos

se transformam em grupos carboxilatos, por sua vez muito mais solúvel em água. A cadeia

polimérica começa a esticar-se e o novelo do polímero se abre, acomodando agora grande

quantidade de água ao seu redor. O Carbopol serve como espessante e gera géis com maior

viscosidade entre 6,5 < pH < 7,5. Em estado seco este polímero é um pó branco e leve, mas

quando em contato com a água o material se incha e, dependendo da qualidade das

ramificações – pode reter a água em até 1000 vezes do seu próprio peso! Esse é o motivo para

que a maior consumidora deste material é a fábrica de fraldas (Pampers, por exemplo).

Nos cosméticos em geral o Carbopol é usado nos mais diversos produtos, tais como produtos

de pele (especialmente para peles oleosas e mistas), cabelo, unha, maquiagem ou creme

dental. Nestas formulações o polímero ajuda manter uma distribuição uniforme de um sólido

insolúvel dentro da água. Além disso, é veículo para substâncias ativas hidrofílicas. Em

algumas formulações pode haver incompatibilidade entre a substância ativa e o Carbopol – na

maioria das vezes devido ao caráter ácido-base do último. Daí recomenda-se usar polímeros

hidrossolúveis de caráter não iônico, tal como a hidroxietilcelulose HEC (ver p. 46). Também

convem ressaltar que alguns géis possuem incompatibilidade com eletrólitos, especialmente

frente ao NaCl. Em outras formulações, envolvendo líquidos (emulsões), os espessantes

impedem a separação macroscópica das fases, aquosa e oleosa. Sendo assim, eles têm o papel

de colóide protetor para fases finamente dispergidas. Um efeito secundário muito bem vindo é

o ajuste da viscosidade do produto cosmético, aumentando sua consistência e impedindo o

fluxo livre – muitas vezes importantes critérios de qualidade (como foi discutido no caso do

xampu, ver p. 141).

8.8.2 Ondulação permanente e alizamento capilar

Um reagente químico provoca a quebra de uma estrutura importante na queratina: é a quebra

redutiva das pontes de dissulfeto (feitos pelo aminoácido cisteína), usando ácido tioglicol.

HS

O

O-

NH4+

Sal de amônio do ácido tioglicol (= redutor).

Geralmente se usa o sal do ácido tioglicol (pKa,1 = 3,83; pKa,2 = 9,1) por que se precisa um

ambiente moderadamente alcalino para abrir a cutícula do cabelo. Mas também por que o

ácido livre tem um cheiro forte e muito desagradável.

Através de um contato intenso com o córtex do cabelo este redutor ataca então a unidade

estrutural que se estabeleceu entre duas unidades de cisteína, logo conhecida como cistina

(Figura 57, fórmula de baixo). O redutor mesmo se oxida ao composto dimérico, -OOC-CH2-S-S-CH2-COO

-. Uma vez a ponte de dissulfeto da cistina quebrou, as duas

unidades de cisteína estão soltas. Agora o cabelo está bem maleável e pode assumir a forma

segundo o desejo do cliente. A reação reversa, ou seja, o estabelecimento da ponte de dissulfeto entre outros pares de cisteínas pode ser provocada por oxidantes, tipicamente por

água oxigenada de baixa concentração.

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HO

O

SH

NH2

OxidaçãoRedução

OH

O

HS

NH2

HO

O

S

NH2

OH

O

S

NH2

Cisteína

Cistina

Figura 57. Reação química acerca da ligação de dissulfeto, por sua vez mais importante para

a estrutura quaternária da queratina e responsável pela forma do cabelo.

Processo da ondulação permanente:

Além da quebra das pontes de dissulfeto, cerca de 10% dos aminoácidos são solubilizados,

pois as condições são fortemente alcalinas.

Resulta um cabelo mais fino e mais mole. Enrolado em rolinhos de cabelo ou alisado,

conforme os desejos. Nesta nova forma o cabelo é reoxidado usando H2O2 - o que devolve

grande parte da firmeza original ao cabelo tratado.

A ondulação permanente se perde com o crescimento do cabelo ou a sua troca. Um tratamento

repetido do mesmo cabelo, às vezes em combinação com coloração, o deixa cada vez mais

fraco, quebradiço e menos elástico.

Escova progressiva (Alizamento):

O mesmo princípio ativo que vimos na ondulação permanente está também contido nos

produtos alizantes, bastante valorizados pelas etnias negras cujo cabelo mostra a tendência

para ondulação demasiada, sendo assim difícil um penteado macio e com pouco volume.

Desde o xampu sem sal é o produto preferido entre os profissionais da escova progressiva, ele

se tornou comum nas prateleiras das farmácias e supermercados.

Penteado com secador:

Enquanto a quebra da ponte de dissulfeto (= cistina) requer um redutor poderoso do tipo

tioglicolato, as pontes de H e as demais interações dipolares entre as fibrilhas da queratina são

soltos com maior facilidade: um simples penteado (= estiramento prolongado, talvez sob a

influência de calor do secador) é suficiente para quebrá-las. É lógico que a nova forma do

cabelo por este método é menos durável, a dizer, se perde com o próximo ciclo de

lavagem/secagem.

8.8.3 Laquê de cabelo

O laquê é uma solução de polímeros bastante solúveis em água, aplicada em forma de aerosol.

Em forma de gotículas finas se deposita em cima do cabelo e o solvente evaporiza

rapidamente. O que permanece são muitos "pontos de solda", entre os cabelos.

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Um problema ambiental e também de saúde para os cabeleireiros profissionais representa o

solvente orgânico contido no laquê: mais usados são alcoóis (isopropanol e etanol),

organoclorados e fluorados (CH2Cl2; ultrapassados!), hidrocarbonetos gasosos ou altamente

voláteis, tais como propano/butano/pentano.

CH CH2 CH CH2

N O O

C O

CH3

x

y

Poli-N-vinilpirrolidona-co-vinilacetato (mais usado na Europa)

CH2 CH

OCH3

CH CH

C

OH

O C O

OEtx

Copolímero alternado de anidrido maléico / vinilmetiléter, esterificado pela metade (mais

usado nas Américas)

Figura 58. Polímeros formadores de filme em laquê.

9 Coloração de cabelo

Os motivos mais frequentes para se colorir o cabelo são:

Tampar cabelo branco de idade

Atender a moda regional ou ficar mais atrativo

Restaurar a cor original em cabelo que foi danificado, quer por tratamentos químicos

anteriores, quer pela incidência do sol.

Para este fim o(a) cliente tem várias opções cujas características, vantagens e desvantagens

serão discutidas a seguir:

Coloração permanente

Semi-permanente

Demi-permanente e

Temporária

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Estima-se que 40% de todas as mulheres nos países industrializados coloram frequentemente

seu cabelo.

9.1 Coloração natural Antes de entrar nos tratamentos do cabelo, vamos questionar de que depende a coloração

natural do cabelo. Os responsáveis são partículas submicroscópicas de melanina embutidas

dentro da queratina (a queratina em si é incolor). Se for loiro, castanho ou preto, isso só

depende da concentração e dos diferentes arranjos da melanina dentro do cabelo. Somente o

ruivo se deve a um segundo pigmento, um complexo peptídico contendo Fe (III). Um

resultado de pesquisas recentes indica a causa de cabelo branco a partir de certa idade: é

devido ao mau funcionamento de um mecanismo de defesa natural que degrada peróxidos,

especialmente H2O2.

Figura 59. Metabolismo da melanina

A melanina é um polímero de estrutura bastante complexa (comparável com a lignina da

madeira). Portanto, a seguinte figura mostra apenas unidades típicas e não uma estrutura

exata. Nota-se a abundância de duplas ligações conjugadas. Essas contêm elétrons bastante

móveis: ao longo de todo sistema conjugado esses elétrons podem ser deslocados, sem grande

gasto em energia. Tipicamente a energia da luz visível é suficiente para tal ação. Portanto,

este material absorve a luz - sua aparência fica escura.

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Figura 60. Unidades representativas do polímero de melanina (= preto)

Dentro das células que formam posteriormente o córtex (ver Figura 49 na p. 129) a melanina

é produzida, em células chamadas de melanócitos. É um corante que se deposita nesta camada

interna, sendo assim protegida pelas escamas da cutícula. Quanta melanina se encontra lá, isso

depende principalmente da etnia da pessoa.

Tab. 24. Concentração de melanina no cabelo, em função da etnia da pessoa hospedeira.

Etnia Concentração média em eumelanina

Cabelo japonês negro 2,0%

Cabelo italiano castanho 1,1%

Cabelo escocês ruivo 0,3%

Cabelo escandinavo louro 0,06%

Cabelo albino 0%

9.2 Coloração permanente do cabelo A estrutura folhosa da cutícula permite sua abertura por reagentes químicos, em geral, por

bases. Neste processo o cabelo incha e através de pequenas fendas entre as escamas é possível

intercalar as pequenas moléculas do corante artificial ou seus precursores. O reagente que

melhor consegue abrir estes pequenos espaços é a amônia, mas também existem outros

agentes alcalinos a serem usados para este fim (trietanolamina; carbonato de sódio, ver seção

"Demi-permanente").

O método mais espalhado de se obter uma coloração permanente é por meio de oxidantes

fortes. Geralmente usada é a água oxigenada, H2O2, que tem várias funções neste processo:

1. Atacar e descolorir a melanina natural do cabelo ("alourar"),

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160

2. Ativar o componente de acoplamento do corante reativo,

3. Oxidar a forma preliminar do corante acoplado (= "forma leuco"), para sua forma

colorida final.

Quais são os componentes básicos da mistura de coloração permanente?

1) A amônia que abre a cutícula do cabelo

2) 1,4-diaminobenzeno (tradicional), 4-aminofenol ou 2,5-diaminotolueno (mais moderno).

Esse componente é tipicamente um aromático para-dissubstituído, chamado de “precursor A”

do corante.

3) Outra molécula pequena aromática que faz o papel do componente de acoplamento com o

precursor A, é tipicamente um aromático meta-dissubstituído e pode conter grupos fenólicos.

Este vamos chamar de “componente B” do corante ou "nuanceador", porque através dele é

possível fazer um ajuste mais fino da cor final.

4) O oxidante já mencionado em cima.

Os critérios a estes materiais:

• Nem os agentes reativos, nem o produto final devem ser muito tóxicos. Esta condição

é, até hoje, um problema mal resolvido, já que o 1,4-diaminobenzeno (também

conhecido como p-fenilenodiamina) e alguns dos seus derivados são

comprovadamente carcinogêneos.

• O cliente exige dos componentes A e B alta seletividade de entrar na queratina do

cabelo, mas não no couro cabeludo ou até na pele do rosto. Essa condição é mais bem

atendida pela técnica descrita acima, do que por uma fixação direta da tinta no cabelo

(isto é, por meio de uma nova ligação covalente, criada entre o corante e certo

aminoácido da proteína da cutícula; nesta técnica o perigo é maior de atingir também

partes da pele que tem uma estrutura química muito próxima à do cabelo).

Os agentes ativos da coloração permanente são aplicados através de um veículo, geralmente

um gel inerte que não faz quaisquer reações paralelas com estes componentes, mas que torna

o procedimento da tintura confortável e fácil (que pode ser feita até em casa).

A maioria dos produtos é vendida em duas formulações inicialmente separadas que devem ser

misturadas no instante da aplicação:

Solução 1 contém a água oxigenada (= solução de peróxido de hidrogênio) que

branqueia a melanina dos cabelos e catalisa a reação de formação dos pigmentos

definitivos.

Solução 2 é uma solução amoniacal e os precursores dos corantes (às vezes também corantes já formados); o papel do amoníaco: “abrir” as escamas da cutícula e fixar os

corantes em cima do córtex.

Os precursores dos corantes começam a penetrar na cutícula mesmo antes de terem reagidos

completamente - o que explica a coloração inicial mais clara e o tempo de espera para que a

cor definitiva se desenvolva.

Os componentes A e B que acoplam diretamente em cima do córtex são, afinal, responsáveis

pela grande durabilidade da coloração. O acoplamento leva a uma molécula A-B bem maior

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161

do que os precursores que assim acha dificilmente o caminho para fora, através da pequena

fenda da cutícula de onde A e B vieram.

9.2.1 Mecanismo do acoplamento do corante

O funcionamento da coloração permanente de cabelos aproveita plenamente da grande

descoberta de Rudolf Fischer (1911) e em seguida da intensa pesquisa aplicada no campo da

fotografia colorida, que levou finalmente ao processo “Agfacolor”, em 1936. É a química dos

corantes azometinas, onde um nitrogênio eletrofílico – tipicamente uma anilina – ataca um

carbono aromático ou um carbono proveniente de um composto 1,3-dicarbonilado (= derivado

do ácido malônico). Marcante nestas reações todas é a geração de um nitrogênio eletrofílico,

por sua vez uma reatividade raramente realizada por este elemento, por oxidação em uma

etapa prévia.

Sendo assim, o mecanismo do acoplamento oxidativo envolve três etapas:

1. Oxidação do 1,4-diaminobenzeno (ou derivado dele), levando ao estado ativado chamado

de quinóide ou diimina, por sua vez portador do nitrogênio eletrofílico.

NH2

NH2

1,4-diamina Diimina

NH

NH

[O]

+ H2O

- OH-

NH2

NH

2. Reação desta diimina com o componente B de acoplamento. A diimina, mais ainda sua

forma protonada, representa um eletrófilo que pode atacar o aromático B, por sua vez rico em

elétrons. Portanto, este acoplamento é uma substituição eletrofílica no aromático (SE).

NH

+H2N

NH2

NH2

SE

Forma "leuco"

H2N

HN

NH2

NH2

3. Da etapa 2 resulta um produto acoplado, porém ainda incolor. Essa forma, conhecida como

“leuco”, deve ser oxidada para fornecer o corante final. Também esta etapa, como já foi a

primeira, é estabelecida pela água oxigenada.

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H2N

HN

NH2

NH2

[O]

Corante f inal

H2N

N

NH2

NH2+

+H2N

N

NH2

NH2

H2N

N

NH2+

NH2

Forma "leuco"

Os diferentes tons e matizes são obtidos com diferentes concentrações e misturas dos reagentes. Mas a maior influência sobre a cor tem a natureza química do componente B.

Dentre o largo espectro de possíveis componentes de acoplamento podemos identificar três

categorias, conforme a tonalidade:

Acopladores azuis são 1,3-diaminobenzeno e seus derivados (na Figura 61: composto

F).

Acopladores vermelhos são fenóis e naftóis, tais como 3-aminofenol, 5-amino-2-

metilfenol e -naftol (na Figura 61: A e B). Acoplamento entre 2,5-diaminotolueno e

3-aminofenol fornece um corante magenta-marrom, enquanto a combinação 2,5-

diaminotolueno com -naftol dá púrpura.

Acopladores amarelo-esverdeados são resorcinol, 4-clororresorcinol e os benzodioxóis

(na Figura 61: D e E). Estes componentes produzem corantes de absorção em larga

faixa que dão uma aparência mais natural no cabelo. A combinação de 2,5-

diaminotolueno com resorcinol fornece um corante marrom com toque de verde.

O

O

H2N OH H2N OH

OH

HO OH H2N NH2

A B C

D E F

Figura 61. Componentes de acoplamento: três vermelhos (A, B, C), dois amarelo-

esverdeados (D, E) e um azul (F).

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163

9.2.2 A etapa de alvejamento

Como dito acima (p. 159), um papel importante do componente H2O2 é a destruição, parcial

ou total, dos corantes naturais, a melanina. Para este fim a água oxigenada é aplicada em uma

mistura com amônia cujo papel é "abrir" as escamas externas do cabelo. Na maioria dos casos

de branqueamento o cabelo, porém, não fica simplesmente loiro, mas pode acontecer que

permanece uma tonalidade em direção ao vermelho de cobre ou uma cor excessivamente

dourada. Geralmente o cliente, logo após alvejar o cabelo, aplica uma tinta, permanente ou

semi-permanente, cuja tonalidade pode ser até mais clara que a cor original. Ao aplicar tintas

sem alvejar antes, por outro lado, somente podem ser alcançados tons mais escuros, mas não

mais claros do que o natural.

Atenção: ao usar H2O2 em concentração e/ou duração errada, o novo corante pode ser

destruído! Portanto, nestas colorações é importante seguir exatamente as recomendações da

fábrica. Mais adequada seria uma concentração de até 6% H2O2. Espalhou-se uma falsa

informação de que águas oxigenadas de 3 ou 4% não tenham efeito alvejante suficiente. Isso

foi refutado: mesmo uma solução de apenas 1,9% é capaz de alourar o cabelo, de uma

maneira especialmente branda. Única inconveniência é que o oxidante deve ser aplicado por

mais tempo, mas o resultado é um loiro bonito, sem muita tonalidade "metálica".

9.3 Coloração semi-permanente A coloração semi-permanente, também chamada de tonalizante, geralmente é aplicado em

forma de mousse ou xampu. Esta formulação tem moléculas de corante menores do que a

coloração temporária (ver em baixo, p. 164), que podem então acomodar-se, em partes, entre

as escamas da cutícula. Por este fato a coloração vai permanecer durante 4 ou 5 lavagens com

xampu, até no máximo duas semanas. Os produtos semi-permanentes têm pouco ou até

nenhum revelador, isto quer dizer, amônia e/ou H2O2. Portanto, é um produto recomendável

para quem tem cabelo muito fino ou danificado. Todavia, os semi-permanentes ainda podem

conter alguns componentes bastante tóxicos, tais como a p-fenilenodiamina.

A cor final atingida num cabelo, como sempre, depende de vários fatores:

da cor original do cabelo,

da porosidade e dos micro-rasgos na cutícula,

do tempo e da concentração com que o produto foi aplicado.

Pequenas diferenças em tonalidade ao longo da cabeça são inevitáveis. Mas afinal, é

justamente esta pequena inomogeneidade que proporciona ao cabelo uma aparência mais

natural, em comparação à cor sólida de uma coloração permanente. Infelizmente, isto também

implica que é mais difícil esconder cabelo branco. Especialmente quando o cabelo branco está

aumentando em número, é difícil tampar a cor indesejada por uma coloração semi-

permanente. Quem ainda não se decide para uma coloração permanente pode optar, neste

caso, para madeixas claras em cima do cabelo escuro, desta maneira levando embora a

atenção do público para os cabelos brancos.

9.4 Coloração demi-permanente Os corantes na mistura conhecida como "demi-permanente" são basicamente os mesmos que

na coloração permanente, só o agente alcalino para abrir as escamas da cutícula é diferente:

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164

em vez de usar a amônia, por sua vez agente mais eficaz, usam-se os reagentes mais suaves,

etanolamina ou carbonato de sódio. Além desta substituição, as colorações demi-permanentes

contêm bem menos H2O2, já que este aqui tem apenas o papel de revelador do corante,

enquanto não é o objetivo destruir o corante natural do cabelo. Com este produto podem-se

obter apenas colorações mais escuras, mas não mais claras. Os agentes alcalinos são menos

eficazes do que na coloração permanente. A consequência que essa técnica ataca menos a

estrutura do cabelo, então é menos estressante para o cabelo do que uma coloração

permanente.

Sendo assim, os demi-permantes são mais eficazes para tampar cabelo branco do que os semi-

permanentes, mas menos rigorosos do que os permanentes.

As vantagens dos demi-permanentes, em comparação com os permanentes, são sutis, mas

muito apreciadas pelo consumidor:

A melanina não é atingida pela técnica, portanto a coloração final é gradativa e

aparece mais natural.

Os reagentes agem de forma mais branda, especialmente importante em aplicações no cabelo já danificado ou com falta de nutrientes.

Este corante sai ao longo de 20 a 28 lavagens com xampu, portanto o crescimento do cabelo (pelo lado da raiz!) é menos percebível.

É mais fácil trocar a coloração - se for desejado.

Afinal, os produtos demi-permanentes contêm corantes permanentes e especialmente os

compostos mais escuros são muitas vezes mais duráveis do que indicado na embalagem.

9.5 Coloração temporária Quando ir à festa, seja carnaval, Halloween ou qualquer baile de máscara, podemos optar pela

coloração temporária. São corantes que ficam apenas aderidas na superfície do cabelo. As

moléculas são maiores e até misturas com pigmentos (insolúveis) podem ser usados. São

aplicadas em forma de lavagens ou “leave-ins”, isto é, em forma de mousse, gel ou aerossol.

A aparência destes corantes é muito mais clara e viva do que os outros produtos descritos

acima. Após uma lavagem o corante sai completamente - a não ser que o cabelo estava

demasiadamente danificado e quebradiço: daí alguma parte do corante pode se acomodar nas

pequenas fendas por mais alguns dias.

9.6 Depilação e crescimento do cabelo Para adiantar um assunto acerca das formulações de cosméticos depiladores e alizantes de

cabelo crispo: o ingrediente ativo é o mesmo nestes produtos, a dizer, o ácido tioglicol (ver p.

155). A grande diferença entre estes dois produtos faz quase unicamente o pH da formulação.

Um pH moderadamente alcalino e estabilizado (por meio de um tampão, no caso o sistema

NH3/sal de amônio) quebra somente aquela parte das pontes de cistina dentro da queratina que proporciona ao cabelo sua estabilidade macroscópica (= direção do cabelo). Por outro lado,

um pH fortemente alcalino leva ao enfraquecimento muito maior que, no final, permite sua

quebra em qualquer ponto, fato que promove a remoção fácil do fio.

Depilação:

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165

O ácido tioglicol que já conhecemos da ondulação permanente (ver p. 155), é o agente

principal em cremes de depilação. Aqui está aplicado sob condições fortemente alcalinas (pH

12 a 13) e por um tempo prolongado. Provoca-se assim a hidrólise demasiada da proteína,

além da quebra das pontes de cistina (ver Figura 57 na p. 156) do cabelo, após a qual o cabelo

pode ser removido com bastante facilidade.

Crescimento:

Um desafio muito maior para os cientistas aplicados é o oposto, o crescimento do cabelo. A

esperança de aproximadamente 60% de todos os homens acima de 40 anos (e 25% das

mulheres), infelizmente, continua uma "caixa preta".

Embora que temos na média 100.000 cabelos na cabeça, um indicativo de queda excessiva é a

perda de 100 ou mais cabelos por dia. Por estar em questão a vaidade das pessoas, a

manifestação de alopecia (= calvície = ausência de cabelo) representa cerca de 8% das

consultas dermatológicas. A mais frequente forma da queda de cabelo é androgenética (=

herança). Nesta, a raiz do cabelo (folículo) reage sensivelmente a certos hormônios sexuais

masculinos, especialmente a dihidrotestosterona (DHT), formados e presentes no couro

cabeludo. O cabelo cujo folículo é atacado definha-se e morre aos poucos. Atualmente,

acredita se menos na quantidade dos hormônios liberados sendo responsável pela queda. Mais

provável é uma hiperssensibilidade da raiz do cabelo frente a estes compostos mensageiros. A

maioria dos casos são homens, mas também mulheres a partir de certa idade podem sofrer

desta forma de queda. O dito acima se refere ao cabelo na região da testa e continua na parte

superior da cabeça. De natureza diferente são os cabelos formados na parte traseira da cabeça

e dos lados que pertencem aos pelos corporais e, portanto, não têm a mesma sensibilidade

frente aos hormônios. Uma técnica aplicada hoje em pessoas com careca parcial é o

transplante do cabelo traseiro para o topo da cabeça. É uma cirurgia demorada, dolorosa e

cara.

A esperança ainda está no tratamento químico-farmacêutico da queda de cabelo. Um agente

eficaz se achou nos EUA. O efeito desejado mostra-se após três meses de aplicação diária.

N

N

N NH2

O-

H2N

Minoxidil

Figura 62. Minoxidil (aplicação externa, duas vezes por dia) ajuda em 30 a 40% dos casos.

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166

O minoxidil reverte o processo de miniaturização do pêlo na AAG ao normalizar o ciclo do

folículo, prolongando a fase anágena (ver p. 130) ou de crescimento. Além de estimular a

vascularização do couro cabeludo permitindo uma melhor oxigenação da região problema, o

minoxidil estimula a multiplicação das células da raiz do cabelo.

Efeitos colaterais desta substância ativa:

• coceira no couro cabeludo

• ressecamento

• descamamento

• irritação

• queimação no couro cabeludo.

Outro tipo de tratamento é interno, por Finasterida. Este hormônio (dosagem típica: 1 mg por

dia, por via oral; este medicamento foi originalmente desenvolvido para o tratamento da

próstata) bloqueia a produção do hormônio DHT, mas acarreta também uma série de efeitos

sistêmicos, então deve ser aplicado somente após consulta crítica.

Outra descoberta recente também foi acidental: um remédio desenvolvido para controlar a

progressão de glaucomas e hipertensão ocular, a Latanoprosta (no Brasil conhecido como

Xalatan), mostrou efeitos forificante e intensivante ao crescimento do cabelo. Estudos

clínicos estão em andamento.

Uma fórmula alternativa de um xampu caseiro que promove o crescimento do cabelo se

baseia principalmente em uma dose alta de vitamina A, acompanhada pela vitamina B5 (=

pantenol; p. 56); uma formulação típica é apresentada na p. 224 como “Xampu bomba”.

Aliás: quem acredita que cortar o cabelo com maior frequência (inclusive a barba e os

pelinhos nas pernas e regiões genitais) acarreta uma elevada taxa de crescimento ou aumenta

os pêlos em número, errou. O corte não influencia nos fatores naturais de desenvolvimento do

cabelo.

10 Repelentes de insetos e inseticidas

Um dos repelentes sintéticos com maior eficácia é a N,N-Dietil-meta-toluamida (DEET).

Protege contra picadas de carrapatos (que transmite as doenças lyme, maculosa e babese) e

picadas de mosquitos (que transmitem a dengue, malária, febre amarela, leishmaniose). A

DEET interfere nos receptores sensoriais dos mosquitos, inibindo a tentativa de se

alimentarem do sangue de mamíferos; os detalhes do mecanismo de ação da DEET ainda não

foram esclarecidos.

A síntese da DEET ocorre em duas etapas: a primeira etapa é a ativação do carbono

carboxílico por meio de cloreto de tionila, SOCl2, transformando o ácido livre em seu cloreto

que mostra uma reatividade elevada frente a nucleófilos (ver mecanismo na p. 93). Já a

segunda é a substituição nucleofílica do cloreto pela dietilamina que fornece a DEET em alto

rendimento.

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167

CH3

COOH

Ácido m-tolúico

SOCl2

em Et2O

CH3

COCl

Cloreto de m-toluila

- HCl

- SO2

Et2NH

em Et2O

- HCl

N,N-dietil-m-toluamida"DEET"

CH3

C

O

NEt2

Figura 63. Síntese da DEET

Atualmente, a grande maioria dos repelentes comerciais contém DEET como composto ativo.

Desenvolvido para o exército dos EUA em 1946, essa substância se encontra à venda para a

população em geral desde os anos 1950. No Brasil, as principais marcas deste repelente são

Autan, Exposis, Off e Repelex. O que pode variar de uma marca ou apresentação para outra é a

concentração da DEET na formulação. Uma concentração maior não necessariamente

significa que o repelente seja mais forte ou eficaz. Quanto maior a concentração de DEET,

maior o tempo de ação, não a sua potência. Alguns estudos mostram que concentrações acima

de 30% de DEET não trariam grandes vantagens em termos de duração da ação do repelente.

Ainda assim, algumas apresentações possuem 50% de DEET.

Tab. 25. Os principais produtos repelentes de mosquitos, comercialmente disponíveis no

Brasil.

Princípio

ativo

Produto

(fábrica)

Apresentação Concentração

% (m/m)

Idade

permitida

Tempo de

ação

DEET Autan

(Johnson

Ceras)

aerossol, loção,

spray

6-9 >2 anos Até 2 horas

OFF (Johnson

Ceras)

loção, spray 6-9 >2 anos Até 2 horas

OFF kids

(Johnson

Ceras)

loção 6-9 >2 anos Até 2 horas

OFF (Johnson

Ceras)

aerossol 14 >12 anos Até 6 horas

Super Repelex

(Reckitt

Benckis)

spray, loção

aerossol

14,5

11,05

>12 anos Até 6 horas

Super Repelex

kids (Reckitt

Benckis)

gel 7,34 >2 anos Até 4 horas

Icaridina Exposis adulto

(Osler)

gel, spray 50 > 12 anos Até 5 horas

Exposis

Extreme

(Osler)

spray 25 >10 anos Até 10 horas

Exposis

infantil (Osler)

spray 25 > 2 anos Até 10 horas

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168

IR3535 Loção

antimosquito

(Johnson &

Johnson)

loção (não fornecido) > 6 meses Até 4 horas

Esbiotrina

(e/ou

permetrina)

SBP elétrico

(Reckitt

Benckiser)

aerossol

ambiental

2% (n. f.) Até 48

noites

Óleo de

citronela

Citromim

(Weleda)

spray 1,2 >2 anos Até 2 horas

Adaptado de: G. Pimentel Stefani et al., Repelentes de insetos: recomendações para uso em crianças. Rev. Paul.

Pediatr. 27 (2009) 81-89.

No entanto, apesar da eficácia contra os insetos, a DEET é motivo de polêmicas em relação à

sua segurança para a saúde das pessoas, em especial das crianças. Apesar do uso em larga

escala no mercado de repelentes, a ANVISA em portaria publicada em dezembro de 2009 não

recomenda o uso de concentrações acima de 30% no Brasil. Ainda, concentrações acima de

10% não devem ser aplicadas em crianças menores que 6 meses e concentrações de 11 a 30%

não devem ser usadas em crianças menores de 12 anos. De acordo com este parecer, efeitos

adversos em humanos têm sido objeto de discussão, sendo que as crianças têm-se mostrado

mais sensíveis aos efeitos neurotóxicos que os adultos. A ANVISA afirma ainda em seu

parecer de 2009, que a associação de protetores solares e DEET em uma mesma formulação,

bem como a aplicação simultânea de formulações contendo estas substâncias, podem

interferir na eficácia das mesmas.

A Universidade de Duke realizou uma pesquisa em 2002 que verificou lesões às células

cerebrais de alguns animais de laboratório devido à constante exposição à DEET. Este mesmo

estudo concluiu que a exposição persistente dos produtos com DEET em sua composição

pode levar a sintomas como dores de cabeça frequentes, perda de memória, fadiga e

problemas respiratórios.

Por causa de tanta polêmica em relação à segurança da DEET e uma pesquisa que constatou

resistência do mosquito da dengue frente à DEET, aparecem no mercado cada vez mais

repelentes de insetos totalmente livre de DEET.

Icaridina

Um substituto aprovado é a 1-(1-metilpropoxicarbonil)- 2-(2-hidroxietil)piperidina, conhecida

como “Icaridina”. Essa substância, eficaz contra os insetos e carrapatos, foi desenvolvida pela

Bayer e logo em seguir laboratórios franceses lançaram um produto chamado Exposis. O

repelente passou a ser usado, a partir de 2001, pelos exércitos da Alemanha, da Áustria e da

Suíça. O produto funcionou e entrou recentemente no programa de combate de mosquitos

tropicais. Não possui polêmicas em relação à saúde humana e ainda é eficiente contra o Aedes

aegyptii por 7 horas, Culex quinquefasciatus e Anopheles evansiae por 3,5 horas e carrapatos

Rhipicephalus sanguineus por até 2 horas. A Icaridina evapora lentamente durante 10 horas –

ainda melhor do que a DEET que age por 20 minutos com alta eficácia e em diante sofre um

declínio notável.

Atenção: Quando há perfumes adocicados nos repelentes, eles fazem o efeito contrário:

atraem os insetos em vez de afastá-los (no mercado atual, infelizmente, a maioria possui

perfume).

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169

N O

OH

O

Icaridina

A icaridina dispõe de dois centros quirais. Embora cada um dos quatro estereoisômeros tem

suas distintas qualidades farmacológicas, o produto comercial é uma mistura de todos os

isômeros ópticos, em quantidades aproximadamente iguais (= mistura racêmica).

Outros repelentes sintéticos:

Dimetilftalato:

O

O

O

OCH3

CH3

A produção técnica ocorre igualmente em duas etapas, a partir do anidrido ftálico e metanol.

A primeira etapa (rápida) é a metanólise formando o monometiléster ftálico. A segunda etapa

de esterificação é bem mais lenta, então requer a presença de catalisadores ácidos. Como se

trata, além disso, de uma reação equilibrada, a água liberada nesta etapa deve ser retirada

continuamente (por meio de um Dean Stark Trap), se não os rendimentos são muito baixos.

Etilbutilacetilaminopropionato (IR3535; Patente EP1675997A1), um parente do (raro)

aminoácido, -alanina.

H3C N O CH3

O

CH3O

Esbiotrina

A esbiotrina não é só um repelente (quer dizer, que afasta os insetos), mas também um

inseticida (que mata a praga). Outros inseticidas semelhantes são a permetrina e a

deltametrina (comercial: K-Othrine). São da família das piretróides cuja unidade estrutural

característica é um anel de ciclopropano. A substância-

mãe é a piretrina, vem da natureza e é o veneno principal

nos cristântemos.

No mercado brasileiro é oferecido como aerossol a ser

espalhado no ambiente, em pequenas quantidades e aos

poucos, através de um aparelho elétrico. Assim se

consegue, conforme a fábrica, afastar os pernilongos por

até 48 noites, a partir de apenas 35 mL de uma emulsão de

2% da substância ativa em querosene / água / propelente

butano.

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170

C O

O

O

Esbiotrina Permetrina

Cl

Cl

C O

O

O

Deltametrina

Br

BrC O

O

O

HC

CN

Praletrina

Figura 64. Os piretróides são os inseticidas mais usados no combate de mosquitos.

Repelentes de fontes naturais

Uma receita caseira de repelente natural se encontra na p. 248, onde os ingredientes principais

são os extratos da erva citronela e da semente do cravo da Índia 34

.

As substâncias são bem cheirosas, tanto no cravo quanto na citronela, pertencem à família dos

terpenos que são hidrocarbonetos alicíclicos com tipicamente 10 carbonos; já os

“sesquiterpenos” têm 15 carbonos.

Compostos ativos no cravo:

Eugenol (ou eugeniol; ver fórmula abaixo) ocorre entre 72 e 90% no óleo essencial extraído

da cemente do cravo da Índia, formando o composto que mais contribui ao aroma do tempero.

O eugeniol possui também propriedades antissépticas e anestésicas. Um kg de brotos secos

rende aproximadamente 150 ml de eugenol. Outros importantes componentes deste óleo

essencial: acetil eugenol, -cariofileno, vanilina, ácido crategolico, taninos, ácido galotânico,

salicilato de metila (analgésico), os flavonóides da eugenina, canferol, ramnetina, eugenitina;

triterpenóides como ácido oleanólico estigmasterol e campesterol e sesquiterpenos diversas.

Óleo de citronela (= capim limão):

Na forma de óleo, loções e cremes aplicados sobre a pele, o óleo de citronela protege contra

picadas do mosquito Aedes aegyptii (famoso por transmitir a febre de dengue) e borrachudos,

num período de poucas horas, devendo ser reaplicado constantemente.

Existem dois quimiotipos da citronela:

Tipo Ceilão:

34

Y. Trongtokit, Y. Rongsriyan, N. Komalamisra, L. Apiwathnasom. Comparative repellency of 38 essential oils

against mosquito bites. Phytother Res.4 (2005) 303-309.

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171

geraniol (18-20%), limoneno (9-11%), metil-isoeugenol (7-11%), citronelol (6-8%), e

citronelal (5-15%).

Tipo Java:

citronelal (32-45%), geraniol (11-13%), acetato de geraniol (3-8%), limoneno (1-4%).

As proporções mais elevadas de geraniol e citronelal no tipo Java tornam este óleo mais

interessante para a indústria de perfumaria.

O

Citronelal

OH

Geraniol

Limoneno

O

O

Metil isoeugenol

EugenolHO

H3CO

Figura 65. Terpenos principais nos óleos essenciais que mostram efeito repelente frente a

mosquitos.

O óleo extraído da folha de eucalipto Corymbia citriodora, através do princípio ativo p-

mentano-3,8-diol (PMD) é capaz de repelir os mosquitos transmissores do vírus do Nilo

ocidental. A seguinte síntese mostra a proximidade química dos óleos de eucalipto e a

citronela 35

(não mostrando as particularidades nos centros assimétricos).

O

Citronelal Isopulegolp -Mentano-3,8-diol

OH OH

HO

CO2 / H2O CO2 / H2O

PMD

O óleo de Nim (também conhecido como Neem), a fonte é a azadirachta indica, uma árvore

de origem indiana, é relativamente recente no mercado brasileiro. A extração da fonte vegetal

deve ocorrer a frio. Sua substância ativa é a azadirachtina que, devido à sua complexidade

35

Haiyang Cheng et al., Cyclization of citronellal to p-menthane-3,8-diols in water and carbon dioxide. Green

Chem. 11 (2009) 1227-1231.

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172

estereoquímica (19 centros assiméticos!), não pode ser sintetizada em escala industrial, por

enquanto 36

:

Azadirachtina

O composto geralmente é apresentado como mistura emulsionável à base de ésteres de ácidos

graxos, na concentração de 1 a 2%. Esse produto é apropriado para agricultura orgânica e

tradicional no controle de pragas em geral. Um litro deste produto rende 100 litros de emusão

em água que se aplica pelo borrifador no ambiente, na dose de 10 ml/m² em zonas urbanas e

rurais. Concentrações bem mais altas devem ser aplicadas, diretamente em pessoas ou animais

domésticos.

O óleo de nim é um inseticida natural, eficaz contra larvas e mosquitos da Aedes aegyptii e a

espécie de mosca branca Bemisia argentifolii. Ainda pode ser usado no controle de mais de

400 tipos de insetos e pragas, tais como: lagartas, pulgões, bicudos, ácaros, percevejos e

outros. Efeitos secundários do nim, igualmente bem vindos em nossa pele: ajuda na

recuperação de queimaduras provocadas pelo sol, altas temperaturas e até produtos químicos.

Como quase todos os extratos vegetais, este produto é sujeito à degradação pelo calor e a luz.

Ver uma lista de óleos essenciais utilizados na cosmética, na Tab. 39 (p. 202).

Curiosidades:

Até o óleo de soja foi recentemente descrito sendo repelente de insetos.

A nepetalactona, de origem natural da planta Nepeta, possui um poder de até 10 vezes

superior do que os repelentes atuais para alguns insetos, sendo capaz de repelir até baratas e se mostra venenoso para algumas espécies de moscas.

Isso mostra que ainda estamos longe de conhecer o alto potencial da natureza contra essas

pragas...

11 Desodorante

Um desodorante (inglês: Antiperspirant Deodorant, APDO) é um produto utilizado para

eliminar os odores desagradáveis produzidos pelos microorganismos na nossa pele, a partir do

suor – especialmente o da transpiração apócrina (p. 32).

Como vimos na p. 32, o suor contém algumas substâncias químicas, entre outros ácidos

carboxílicos de até 5 carbonos, 2-metilfenol (= o-cresol), 4-metilfenol (= p-cresol) e uréia, que

36

G. E. Veitch, E. Beckmann, B. J. Burke, A. Boyer, C. Ayats, S. V. Ley, Synthesis of Azadirachtin: A Long but

Successful Journey / A Relay Route for the Synthesis of Azadirachtin. Angew. Chem. 119 (2007), 7777–7779.

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173

podem levar a cheiros desagradáveis. Porém, o suor fresco produzido pelas glândulas

sudoríparas apócrinas, não tem cheiro ruim. Mas a mistura dos compostos mencionados acima

é alimento para bactérias que produzem as substâncias fedorentas.

As estratégias mais importantes do controle do cheiro corporal são:

Tampar o mau cheiro por substâncias aromáticas (ervas, extratos, óleos essenciais,

perfume, etc.)

Controle dos microorganismos que fazem parte do processo de decomposição do suor.

Redução da atividade das glândulas sudoríparas (anti-transpirantes).

Outros mecanismos, tais como a absorção de moléculas cheirosas (por talco, pedra em pó,

etc.), a inibição de enzimas que aceleram a decomposição do suor e o controle de processos

de oxidação via antioxidantes (ver p. 73) são de menor importância.

Há muito tempo, o odor do suor já era associado a animalidade que os povos civilizados

tentavam eliminar. Durante o Império Romano, os homens após o banho, colocavam nas

axilas almofadas contendo substâncias aromáticas. No início do século XX começou-se a

produzir nos Estados Unidos um desodorante composto por uma mistura de sulfatos de

potássio e alumínio, KAl(SO4)2 . 12 H2O, um cristal conhecido como "alúmen". Após a

Segunda Guerra Mundial o uso do desodorante praticamente se espalhou por todo o ocidente.

Atualmente muitos desodorantes apresentam na sua composição bicarbonato de sódio

(NaHCO3) que reage com os ácidos carboxílicos produzindo sais inodoros. Igualmente usado

é o cloreto de alumínio, AlCl3 (aq). O Al3+

forma complexos estáveis com os ânions presentes

no suor e assim sequestra o mau cheiro. Além disso, este íon é considerado entupir os canais

sudoríparos.

Atualmente, os desodorantes são usados praticamente em todas as partes do corpo, nas axilas,

no cabelo, nos pés, nas genitálias, inclusive nas roupas, para aromatizar ambientes e, até em

animais domésticos.

As variedades de desodorantes disponíveis no comércio são muitas: aromatizados ou não,

com ou sem álcool, com ou sem agentes bactericidas (triclosano na p. 147; acetanilida e

salicilanilida na p. 118), apresentados sob as formas de creme, spray, gel, stick ou roll-on.

Os "anti-transpirantes", finalmente, ocasionam a obstrução de mais ou menos 50% das

glândulas sudoríparas. É a estratégia hoje mais aplicada neste tipo de produto cosmético.

Muito usados com esta finalidade são os complexos, monoméricos e poliméricos, de Zr4+

e

Al3+

com hidróxido, cloreto e glicina. A reação desta mistura em água é moderadamente

ácida. As partes fluidas do complexo migram para dentro dos canais do suor, onde se

solidificam pelo menos parcialmente, formando um colóide e assim entopem e interrompem

por determinado tempo (cerca de 10 horas) o fluxo do suor à superfície da pele. Infelizmente,

desta maneira também reduzem a eliminação de toxinas, portanto podem provocar processos

infecciosos nas glândulas, tais como furúnculos. Outra desvantagem desta formulação é que

pode manchar as camisas na região das axilas e deixa uma resina amarela, dura e rígida em

cima do tecido (esse último defeito pode ser removido ao tratar com vinagre; ver dicas na p.

276).

Muitos APDOs contêm bactericidas (ver Tab. 20 na p. 138), para impedir o processo

infeccioso. O consumidor com pele sensível é aconselhado raspar os pêlos da zona problema,

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174

para reduzir o perigo de acumular as bactérias. Mas em casos hipersensíveis vale usar

desodorantes com pouco efeito anti-transpirante.

Tab. 26. Formulação típica de um APDO stick. (Fonte: http://chemistscorner.com/basic-

cosmetic-formulating-antiperspirant/).

Substância/complexo ativo Função % m/m

Ciclopentassiloxano

(ciclometicone)

Suporte volátil 15 – 45%

Álcool estearílico co-gelificante; inibe cristalização. 14 – 18%

Alumínio Zircônio

Tetraclorohidrex Glicina

Ingrediente ativo; tampa os poros sudoríparos. 10 – 25%

Vaselina líquida, óleo de

amendoim, ésteres graxos

Suporte não volátil; aumenta o conforto em cima

da pele; reduz a visibilidade (manchas brancas).

8 – 20%

Óleo de mamona

parcialmente hidrogenado.

Formador de gel; dá consistência ao stick. 4 – 8%

PEG-8 diestearato Emulsificante, agente clarificante, solvente.

Incorporação e retenção das fragrâncias. Reduz a

aderência do APDO na pele e na roupa.

0 – 5%

Amido, talco, hectorita de

diestearalcônio

Agentes de dispersão e espessantes. Melhoram a

estética durante e depois da aplicação.

0 – 4%

Perfume Tampa o mau odor do suor decomposto por

bactérias. Atende as espectativas do consumidor.

0,5%

Parabenos Antioxidante; protege as partes insaturadas dos

ingredientes graxos.

0,05%

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175

11.1 Excurso: Silicones em cosméticos Na formulação acima encontramos novamente com produtos de silicone, sendo essa uma das

aplicações mais antigas destes produtos “orgânicos com coluna inorgânica” (ver Figura 67).

Hoje encontramos os silicones em praticamente todos os tipos de cosméticos, nos segmentos

mais diversificados, desde cuidar do cabelo, higiene, cuidar da pele, protetores solares e até

em cosméticos decorativos. Esse material achou grande aceitação no setor HPPC por que é

considerado, por enquanto, fisiologicamente indiferente. Interessante é que suas

características físicas variam fortemente em função da massa molecular: os silicones de baixa

massa são gases, cadeias de 5 a 10 unidades repetitivas e os silicones cíclicos são líquidos de

alta volatilidade, os de massas médias são óleos ralos (lubrificantes; alta espalhabilidade), os

de alta massa apresentam-se como óleos viscosos (aditivos anti-espuma), até chegar num

material borrachoso quando a massa se torna infinita devido a ramificações.

Além das cadeias abertas os silicones podem apresentar-se numa constituição cíclica (na

cosmetologia designados como “ciclometicone”), contendo 4 ou mais unidades de –O-SiMe2.

Sua arquitetura altamente simétrica implica baixo caráter polar, assim promove a volatilidade

do composto – um efeito do qual se faz uso na aplicação em APDOs (ver logo acima). Além

disso, é um ótimo veículo para os ingredientes do cosmético – especialmente para as partes

gordurosas. Estas podem alcançar a pele ou o cabelo de maneira uniforme e espalhar-se até

nos pequenos poros, fendas e sulcos. O calor de evaporação dos silicones, no entanto, é

extraordinariamente baixo, portanto não se sente um resfriamento em cima da pele.

SiOO

Si

OSiO

Si

O

Si

ou

Me2Si

OSiMe2

O

SiMe2

O

SiMe2

O

SiMe2

O

Figura 66. Decametil ciclopentassiloxano, um líquido de evaporação fácil (6x mais rápida

do que a água) e sem notável efeito refrigerante, bastante usado em desodorantes.

O primeiro uso dos silicones em produtos cosméticos foi documentado nos anos 1950, onde

foram aplicados em creme de mão para reduzir a oleosidade. Logo depois foram aplicados

também em cremes corporais e em seguida em desodorantes. Um importante ramo onde os

silicones entraram abrange os produtos para cabelo. Funções aminas foram incorporadas nos

silicones, tornando-os mais valiosos em mousse de penteado e em condicionadores. Os

xampus logo conhecidos como “2 em 1” requerem silicones de alta massa molar, líquidos ou

em forma de emulsão. Mais recente é a aplicação de silicones elastoméricos, em forma de

dispersões finas, que proporcionam uma nova dimensão no que diz respeito ao tato sedoso da

pele tratada.

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176

A prova de

água;

aumentar FPS Protetor solar

Condicionar Xampu 2 em 1

Estabilizar

frente à luz;

Estabilizar

espuma

Sabonete

líquido

Proteger;

suprimir

espuma Cremes de

mão e

pomadas

Espalhar

oleos, secar,

suprimir

manchas

brancas.

Condicionar

Cabelo

Proteger

Contra spliss

em cabelo

Sentir leve e sem

graxa

Produtos “Oil-

Free”

Tato seco,

sedoso

Creme corporal

Desodorante

Stick, roll-on e

aerosol

Lubrificar

Loção pré-

barba,

Desodorantes

macio/sólido e

aerosóis

Sentir-se livre

a longo termo

Maquiagem

básica

Sedoso, anti-

aderente, regula a

compatib. com

água

Produtos

transparentes

Base não

volátil

Desodorante,

condiciona-dor

Gel

transparente

Visual natural

Cabelo estiloso

Sentimento

sedoso

Creme de pele

Impedir

transferência

Produtos colorantes

com tato seco Creme de pele

Anti-branco

Gel

desodorante

transparente

Brilho Reparador de

cabelo

Intensificar

coloração e

aumentar

resistência Coloração de

cabelo

1950 1960 1970 1980 1990 2000

Figura 67. Cronologia dos silicones no setor dos cosméticos.

(Fonte: http://www.dowcorning.com/content/publishedlit/chapter16.pdf).

Hoje, no entanto, se forma certa resistência entre os cabelereiros profissionais, contra os

produtos altamente siliconados. Eles alegam que, embora penteabilidade, volume e brilho do

cabelo recém-tratado sejam incomparáveis, este efeito se reverte ao longo do tempo e pode

danificar o cabelo. O silicone forma uma película fechada e resistente na superfície da

cutícula do cabelo e impede assim a entrada de umidade e nutrientes ao cabelo. Um cabelo

mais seco e rígido perde consequentemente sua elasticidade e pode levar prejuízos por danos

mecânicos. Além disso, o sobrepeso da camada de silicone, segundo aos cabelereiros, deixa

aparecer o cabelo “sem vida”.

A síntese dos silicones [um tratamento mais detalhado, ver artigo A. Isenmann, “Silicones”, disponível no

site http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:artigotecnico:quimica:inicio] é através da hidrólise

controlada de alquilclorossilanos, destes especialmente o dimetildiclorossilano:

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177

x Me2SiCl2

+ H2O

- HClx "Me2Si(OH)2"

- H2OHO Si

Me

Me

O H

x

x = 20 a 50 em silicones linearesx = 3, 4, 5,... em silicones cíclicos

Atualmente a Dow Corning é a produtora lider mundial dos silicones.

Fim do excurso.

12 Higiene bucal

O esmalte do dente é constituído de hidroxiapatita e representa o material ósseo mais duro

do nosso corpo (na escala de Mohs: 5). Os cristalitos da hidroxiapatita se apresentam no

hábito de agulhas finas de comprimentos de até 300 m, formando tufos por arranjo denso e paralelo, em direção à superfície (ver estrutura fina do esmalte, na Figura 68). Quase que

exclusivamente o material do esmalte de de natureza mineral, enquanto as partes de proteínas

são muito baixas. A superfície do dente saudável, por outro lado, consiste de uma película

fina de proteína. Remarcável é a alta resistência do esmalte a trincas e quebras catastróficas.

Embora sua alta dureza o esmalte se mostra menos quebradiço e mais tenaz como, por

exemplo, uma cerâmica artificial.

Logo abaixo do esmalte encontra-se a dentina. Esse material é quase idêntico ao dos ossos. É

principalmente feito de hidroxiapatita, mas esta vez são cristalitos menores, na ordem de

nanômetros; além disso, o material é microporoso, repleto de fibrilhas de colágeno (diâmetro

de alguns 100 nm). Os canais finos se estendem do nervo (situado na polpa), mostrando

radialmente para fora. É isso que causa tanta dor de dente, quando por exemplo, a dentina fica

exposta frente ao ambiente bucal, devido a uma lesão ou o recuo da gengiva. Daí o contato

com comida fria, quente e azeda provocam uma sensação tão desagradável. Sendo assim, as

partes orgânicas na dentina são bem mais altas do que no esmalte.

Finalmente, no mais interior do dente, na polpa, se encontram os nervos e os vasos

sangüíneos.

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178

Figura 68. Partes funcionais do dente.

A hidroxiapatita tem a fórmula sumária Ca5(PO4)3(F,Cl,OH). Nesta se vê que os ânions

hidróxido (principal), cloreto e fluoreto ocorrem em quantidades variadas e podem repor-se

mutuamente na grade cristalina da apatita. Sob restrições até o ânion carbonato pode ser

incorporado neste cristal. Simplificando, podemos "construir" esse cristal misto através das

seguintes reações 37

:

3 Ca2+

+ 2 PO43-

→ Ca3(PO4)2

3 Ca3(PO4)2 + CaF2 → 2 Ca5(PO4)3F

37

R.R. da Silva, G.A.L. Ferreira, J.A. Baptista, F.V. Diniz, A química e a conservação dos dentes, Quimica Nova

na Escola, 13 (2001) 3-8.

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179

Figura 69. Célula unitária da hidroxiapatita.

A saliva tem várias funções que promovem a saúde bucal:

Enxágue;

Efeito antimicrobiano, através das enzimas Lisocima e Lactoferrina;

Efeito tampão para normalizar o pH depois de uma perturbação por comida ácida;

Remineralização dos dentes.

O último argumento fica em destaque, por que opõe-se ao desgaste natural da superfície

dentária. Especialmente importante é a concentração de cálcio e de fosfato (ver Tab. 27), pois

estes íons contribuem ao produto iônico do ambiente que provocará a deposição da

hidroxiapatita em cima de superfícies gastas do dente. A saliva é então supersaturada no que

diz respeito ao fosfato de cálcio. Podemos afirmar que na superfície dos dentes ocorre sempre

ou desmineralização ou remineralização – dependendo da nossa atividade.

A saliva é de 99% água; os demais componentes são eletrólitos e substâncias orgânicas, tais

como enzimas e proteínas estruturais (Tab. 28). O pH da saliva fica entre 6,0 e 7,5.

Tab. 27. Eletrólitos e suas concentrações, na saliva (valores médios)

Íons Concentração em mmol.L

-1

Cálcio, total 1,43

Fosfato, total 5,10

Cloreto 23,2

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180

Sódio 10,1

Potássio 22,7

Amônio 4,35

Magnésio 0,21

Tab. 28. Compostos orgânicos contidos na saliva e suas funções.

Classe Função fisiológica

Amilase Degradação do amido.

Lisozima Atividade antimicrobiana, pelo ataque à membrana celular do micróbio.

Lactoferrina Atividade antimicrobiana através da alta afinidade ao ferro.

Peroxidase Atividade antimicrobiana através da aglutinação das bactérias, para

agregados maiores.

Estaterina Imede a precipitação precoce do fosfato de cálcio.

Anticorpos Impede a adesão de bactérias; melhora a fagozitose.

As doenças mais frequentes na boca e suas causas

A doença bucal número Um no mundo é a cárie dentária. Pode ser discriminada em cárie do

esmalte e cárie na dentina. A cárie é causada por bactérias tais como streptococcus mutans

que se proliferam em uma camada fina em cima do dente, conhecida como placa. Os

microorganismos transformam partes da comida – especialmente os açúcares – em ácidos que

por sua vez corroem a hidroxiapatita. Um dos ácidos principais que se forma por este caminho

é o ácido lático. Uma alimentação consciente, com reduzido consumo de açúcar, abaixa o

risco de danos no dente pela cárie.

Em casos de limpeza, insuficiente e sobre um período mais prolongado, se corre o perigo de o

fosfato de cálcio fornecido pela saliva ser implementado na placa. Daí se forma uma camada

dura, conhecida como tartar ou tártaro, que uma escovação rotineira não consegue mais

remover. Essa camada prejudica igualmente a remineralização do dente.

Comida ou bebida com elevada acidez também pode corroer os dentes – mesmo na ausência

das bactérias acima mencionadas. Neste caso se fala da erosão por ácidos:

Ca5(PO4)3(OH) + 4 H+ 5 Ca

2+(aq) + 3 HPO4

2-(aq) + H2O

As fontes mais frequentes destes agressores são refrigerantes, frutas e sucos cídricos, vinho,

mas também o ácido refluxado do estômago (“bulimia”). Na Tab. 29 são listados alguns

alimentos com potencial agressivo nos dentes. A hipótese que bebidas sem açúcar (“diet”)

corroem menos osdentes, pelo menos no que diz respeito ao ataque por ácidos, não pode ser

confirmado a partir desta lista (ver Coca Cola verso Coca Cola light). Por outro lado,

alimentos ácidos que, ao mesmo tempo, contêm elevado teor em cálcio e/ou fosfato,

aumentam a tolerância dentária, já que estes íons deslocam o equilíbrio da dissolução para o o

lado da hidroxiapatita sólida. Em destaque neste sentido: laticínios tais como iogurte ou

queijos.

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181

Em destaque a última coluna da Tab. 29: uma dissolução notável do mineral dos dentes ocorre

quando a alimentação provoca uma queda do pH na boca, abaixo do valor crítico indicado.

Tab. 29. Alimento ácidos que podem ter efeito corrosivo nos dentes 38

.

Alimento pH [Ca2+

] em mmol [PO43-

] em

mmol

pH crítico

Coca Cola 2,5 1,1 5,0 5,1

Coca Cola light 2,6 0,8 4,9 5,2

Icetea 2,9 0,5 0,1 6,2

Suco de maçã 3,4 2,0 1,7 5,1

Vinho branco 3,6 1,3 4,4 5,1

Pêssego 3,3 1,2 6,0 5,1

Kiwi 3,3 3,4 4,5 4,8

Laranja 3,6 2,2 1,3 5,2

Iogurte 3,9 43,3 34,3 3,9

Cada vez mais pessoas estão reclamando de hipersensibilidade cervical. Especialmente

desagradável é o contato dos dentes afetados com alimentos frios e quentes, mas também alto

nível de acidez causa dor. A causa deste desconforto é um acesso livre à dentina. As causas

pode ser várias:

Perda de esmalte devido ao desgaste mecânico;

Recuo da gengiva, principalmente causado por inflamação (“parodontita”);

Escovação exagerada, no que diz respeito à frequência e à pressão exercida na escova;

Técnica errada de escovação e/ou uso de uma escova muito dura;

Uso indevido de pastas com efeito branqueador (Whitening), produtos que frequentemente contém derivados peróxidos e/ou sílicas muito grossas, com elevado

potencial de abrasão.

A meta de uma pasta dental moderna deve ser, portanto, a prevenção eficaz destas doenças,

tanto no dente como na gengiva.

Manutenção da saúde bucal e o papel da pasta de dente

Embora uma escovação frequente, com a técnica certa e uma alimentação saudável devem ser

suficientes para a preservação dos dentes, uma pasta de dente (dentifrício), sem dúvida,

facilita manter a higiene bucal. Os abrasivos microcristalinos contidos na pasta ajudam na

remoção eficaz da placa bacteriana, responsável pela cárie dentária.

Vale lembrar que a técnica da escovação é mais importante do que a frequência e a duração

do ato de limpeza. Erros cometidos nos movimentoda da escova e na pressão sobre ela,

38

M. Epple, J. Enax, Moderne Zahnpflege aus chemischer Sicht, Chemie in unserer Zeit 52 (2018),2-12 (artigo

em alemão).

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182

geralmente não podem ser compensados por um tempo prolongado da escovação. Sobre o

momento ótimo da aplicação não tem unanimidade. Certamente, uma escovação

imediatamente depois da refeição ajuda a manter a higiene bucal, pois remove restos de

comida. Por outro lado, o esmalte ainda é fraco, pois comidas e bebidas ácidas atacaram a

superfície e dissolvem ou amolecem a hidroxiapatita. Uma escovação imediata, portanto,

remove uma quantidade considerável deste mineral. Então, especialmente pessoas que já têm

dentes danificados, são aconselhadas esperar depois da refeição por cerca de uma hora,

período dentro do qual a hidroxiapatita é restaurada pela influência da saliva. Aliás, mastigar

um chiclete sem açúcar ajuda a remineralização dos dentes, pois intensiva a produção de

saliva e seu contato com os dentes.

Não se recomenda aplicar bicarbonato na escovação caseira. Este sal, por ser bastante grosso

e muito abrasivo, requer uma aplicação por jato, uma técnica que fica, por enquanto,

preservado para o consultório do dentista.

Os formadores de espuma contribuem a manter distância entre os dentes e a placa uma vez

removida; uma fonte de fluoreto contribui à dureza e resistência do esmalte contra o ataque

bacteriano e, finalmente, os óleos essenciais mascaram (por um curto momento) o mau cheiro

que pode desenvolver-se na boca, devido a restos de comida em decomposição. Um sistema

tampão neutro a levemente alcalino (ver p. 143) na pasta de dente ajuda a normalizar o pH na

boca, assim prevenindo a erosão dentária por ácidos.

Tab. 30. Ingredientes funcionais na formula de uma pasta de dente universal.

Efeito Substâncias ativas

Profilaxia de

cárie

Fluoretos (NaF, SnF2, Na2PO3F, NR4+F

-)

Combate mau

hálito

Sais do zinco (prendem os compostos malcheirosos de enxofre, precipitam

em forma de ZnS)

Anti-placa; anti-

gingivite

Triclosano, SnCl2, SnF2, ZnCl2, citrato de zinco

Anti-tártaro Polifosfatos (inibem o crescimento de cristais de apatita)

Dessensibilizante

cervical

Dessensibilizam o nervo: citrato de potássio, KNO3;

Selam os canais abertos da dentina: sais do Sr2+

, SnF2, Fosfossilicatos de

sódio, CaCO3/arginina, hidroxiapatita.

Abrasão e

limpeza

mecânica

Sílica microcristalina, CaCO3, CaHPO4.2H2O, pirofosfato de cálcio,

hidroxiapatita.

Espuma; tensida Laurilssulfato de sódio, betaína de cocoamidopropil, NR4+F

-

Tab. 31. Composição (em % de massa) de alguns dentifrícios comercializados no Brasil.

Componente

funcional

% Colgate

(herbal)

Sensodyne

(original)

Gessy

(cristal)

Sorriso

(ação total)

Abrasivo 20

-

Silicato de sódio Óxido de

titânio; óxido

Carbonato de

cálcio; dióxido de

Carbonato de

cálcio; Silicato de

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183

55 de cálcio silício, fosfato

trissódico; silicato

de sódio

sódio

Solvente 15

25

Água Água Água Álcool etílico;

água

Umectante 20

35

Polietilenoglicol Glicerina - -

Espumante 1

2

Lauril sulfato de

sódio

Igpon Lauril sulfato de

sódio; extrato de

juá

Lauril sulfato de

sódio

Aglutinante;

espessante

1

3

Carboximetil

celulose;

carragenato; goma

celulosa

Cellosize Carboximetil

celulose (sal de

sódio)

Carboximetil

celulose

Corante e

edulcorante

1

2

Sacarina; sorbitol;

Verde 7

Sacarina

sódica;

sorbitol;

corante

vermelho

Sorbitol; sacarina Xilitol; sorbitol;

sacarina sódica

Aromatizante 1

-

2

Extratos de

eucaliptos

globulus, mirra,

manzanila,

melaleuca, sálvia

Aromas (não

especificados)

Óleo de hortelã Aromas (não

especificados)

Conservante 1

-

2

Metilparabeno - Formaldeído Metilparabeno;

Triclosano

Agente

terapêutico

0

-

1

Monofluorofosfato

de sódio; Eugenol

Cloreto de

Estrôncio;

carbonato de

cálcio

Monofluorofosfato

de sódio

Monofluorofosfato

de sódio

Adaptado de: R.R. da Silva et al., A química e a conservação dos dentes, Química Nova na Escola 13

(2001) 3-8.

Hoje existem no mercado, além das pastas universais, também pastas de dente para grupos

específicos. A serem mencionadas:

Pastas universais (ingredientes principais: partículas abrasivas, espessantes, tensidas,

fontes de fluoreto numa concentração padrão de 1450 ppm, aromatizantes).

Pastas sensitivas (contêm substâncias dessensibilizantes, tais como sais de potássio ou

então substâncias que ajuda a selar as túbuli da dentina, tais como hidroxiapatita ou

carbonato de cálcio; potencial abrasivo reduzido para proteger uma dentina exposta).

Pastas infantis (potencial abrasivo extremamente baixo; omissos os aditivos

antimicrobianos, tais como triclosano ou sais de zinco; teor em fluoreto reduzido a 500

ppm, flavorizantes diferenciados com menos efeito refrescor).

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184

Pastas branqueadoras (abrasivos de granulação grossa, peróxidos).

O desenvolvimento mais recente nos dentifrícios são as pastas em gel e pastas líquidas. Para

se obter um produto translúcido as partículas sólidas contidas na pasta não devem ser maiores

do que um micrômetro, a fim de reprimir o efeito de espalhamento de luz, que tipicamente

acontece nas arestas e cantos dos cristais maiores; além disso, devem-se procurar

componentes (líquidos) que proporcionam uma mudança gradativa no índice de refração,

entre o material particulado e o veículo líquido da pasta.

O princípio que todos os produtos têm em comum:

• Remoção mecânica da flora de bactérias (“placa”) que causa a cárie. Para este fim

serve um material micro ou nano-cristalino a ser aplicado para causar uma abrasão

controlada.

• Endurecimento da dentina por fluoreto: a hidroxiapatita, composto principal do

esmalte dental, contém OH- como ânion natural. Este, quando reposto por F

-, deixa o

esmalte mais duro.

O fluoreto pode ser visto como adjuvante na proteção contra a cárie 39

. Até hoje os

mecanismos de ação do flúor são disputados. Fato é que a reposição do OH- por F

- na

hidroxiapatita ocorre com grande facilidade. Uma explicação mais antiga do efeito anti-cárie

se baseia no raio iônico efetivo do hidróxido: visto uma rotação quase livre dentro do cristal, é

de 153 pm, o do fluoreto de apenas 119 pm. Já o cloreto é de 167 pm de diâmetro, portanto

tem o efeito oposto do fluoreto, isto é, afrouxa a estrutura cristalina do fosfato de cálcio.

Pesquisas em dentes do tubarão, porém, reveraram uma dureza comparável aos dentes

humanas, enquanto o material do dente animal é quase puro fluoroapatita.

Hoje se acredita que o F- tem um efeito acelerador, no que diz respeito ao crescimento da

hidroxiapatita. A concentração do fluoreto (muito baixa!) se restringe às camadas mais

externas do dente; CaF2 não pôde ser comprovado. A fluoroapatita, devido à maior

supersaturação, cristaliza mais prontamente do que a hidroxiapatita. Logo que a fluoroapatita

deu início à cristalização, a hidroxiapatita continua crescendo em cima dela. Sendo assim, a

fluorapatita faz o papel de germeador dos cristalitos, dando início mais rápido à

remineralização dos dentes. Essencial neste processo, todavia, é a presença de saliva, nossa

fonte dos íons Ca2+

e HPO42-

.

Importante é saber que a liberação do F- pode ser imediata, no caso do NaF e no

aminofluoreto, ou acontece aos poucos durante a escovação, no caso do fluoreto estanoso e no

monofluorofosfato de sódio.

Fluoreto de sódio, NaF, um sal bem solúvel na água. A liberação do F- é imediata.

Fluoreto estanoso, SnF2, um composto covalente (!) que requer de uma hidrólise brévia

para liberar o fluoreto, conforme

SnF2 + 2 OH- → Sn(OH)2 + 2 F

-

Essa dissolução é acelerada por temperatura e pH elevadas; podemos concluir que no

ambiente bucal ela ocorre somente aos poucos.

Monofluorofosfato de sódio, Na2PO3F.

39

M.T.B.Araújo et al., Ação do fluoreto de dentifrícios sobre o esmalte dentário. R. Ci. Méd. Biol. 1 (2002), 16-

32, disponível em https://portalseer.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/4058/2956

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185

No ambiente aquoso ocorre a dissociação em 2 Na+ e PO3F

2-. A liberação do fluoreto, no

entanto, requer da hidrólise do ânion onde a ligação P-F tem caráter covalente, conforme

PO3F2-

+ OH- → PO4

3- + F

-

Em analogia ao SnF2 essa reação ocorre somente aos poucos, dentro dos 1 a 2 minutos do ato

de escovação, ou então posteriormente, quando o fluorofosfato adsorvido ao dente é

hidrolisado, sob a influência de enzimas. O monofluorofosfato é compatível com o carbonato

de cálcio como abrasivo.

Os compostos orgânicos que liberam o fluoreto, são conhecidos como

“aminofluoretos” (Figura 70). Estes sais quaternários de amônio liberam o fluoreto

imediatamente. O cátion nestes compostos tem um efeito antibacteriano – um efeito

bem vindo na formulação do pasta de dente.

Aminofluoreto Dectafluor

(correto: hidrofluoreto de amina)

Olafluor Monofluorofosfato

Figura 70. Fórmulas das fontes de fluoreto usados em pasta de dente.

A dosagem dos compostos fluorados é limitado pela ANVISA: a concentração máxima em

pasta de dente é de [F-] = 0,15% m/m. A concentração mais típica em pastas para adultos é de

0,145%, ou seja, 1450 ppm. Em preparados para crianças deve encontrar-se bem menos

fluoreto, já que em fase de crescimento o perigo de uma fluorose, isto é, a incorporação

demasiada de fluoreto nos dentes e ossos, é mais alto. A consequência pode ser uma

descoloração amarela perpêtua dos dentes.

Tab. 32. Receita típica de pasta de dente (em gel translúcido):

Quantidade em

peso

Função Agente ativo

22% Formador de gel; edulcorante Glicerina

15% Abrasivo Silicagel grosso

10% Formador de gel e abrasivo Silicagel fino

8% Adoçante e regulador de consistência Sorbita 60%

1,5% Espessante Carboximetil celulose

1,5% Espumante Laurilsulfato de sódio

1,0% Sabor Óleo de aroma (ver Tab. 37)

0,8% Prevenção de cárie Monofluorfosfato de sódio.

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186

0,3% Conservante Triclosan

40,1% Veículo e solvente Água

Os abrasivos mais usados hoje:

Sílica em gel, de ganularidade controlada de ~20µm. (A mesma substância de granulometria

menor, ~5µm, serve como base do gel, por ser transparente e ter um índice de refração

favorável (próximo a 1,00 - o índice da água). O controle da granulometria se consegue

através de técnicas sol-gel.

Também usados, mas de aparência branca, são o carbonato de cálcio, o óxido de titânio TiO2,

o carbonato de cálcio CaCO3 e o fosfato de dicálcio dihidrato CaHPO4 . 2 H2O, em

granulometrias entre 12 e 14 µm. A chave para uma boa limpeza por estes abrasivos é, além

do tamanho das partículas, sua forma, dureza e o quebradiço dos cristalitos.

Mencionamos neste lugar uma incompatibilidade, entre o abrasivo CaCO3 e a fonte de

fluoreto livre, NaF. Nesta combinação se precipita CaF2, já que o produto de solubilidade

deste sal é apenas 3,9.10

-11 mol

3.L

-3. Esse problema pode ser contornado, ou pelo uso de sílica

com abrasivo, ou pelo uso de um composto fluorado covalente, tal como o monofluorofosfato

de sódio.

Cuidado com bicarbonato! O NaHCO3 é um antigo agente abrasivo caseiro, mas deve ser

usado somente pelo dentista, através de jato fino com água pressurizada. Aplicado em casa

através da escova, pode causar abrasão demasiada, inclusive causar o recuo da gengiva!

Os demais componentes da pasta de dente (função indireta):

Tensoativo: fornece uma boa sensação de limpeza devido à formação de espuma; realmente

contribui pouco à limpeza, já que a quantidade de impurezas oleosas em cima dos dentes é

pouca. Mas o cliente não aceita produtos sem desenvolvimento de espuma. O laurilsulfato de

sódio (“lauril”; SLS; ver p. 133) certamente é o mais usado formador de espuma, mas

igualmente bem funcionam lauroil sarcosinato de sódio e o metil cocoil taurato de sódio.

Adoçante (= edulcorante): deve-se usar uma substância que não é alimento para as bactérias

da cárie. Muito usados são a glicerina, o sorbitol, xilitol e a sacarina; os primeiros três têm ao

mesmo tempo o papel de umectantes.

CH2OH

OHH

HHO

OHH

OHH

CH2OH

Sorbitol(glicose reduzida)

CH2OH

CH2OH

OH

HO

OHH

H

H

Xilitol(xilose reduzida)

S

NH

O

O O

Sacarina

A síntese da sacarina é em três etapas, a partir do cloreto do ácido o-metilbenzossulfônico:

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187

CH3

SO2Cl

+ NH3

- HCl

CH3

SO2NH2

[O] COOH

SO2NH2

[H+]

- H2OSacarina

Figura 71. Síntese da sacarina

Branqueador: o amarelamento é um processo natural em dentes saudáveis e prossegue

especialmente rápido com o consumo de certos alimentos (chá preto, café) e pela fumaça de

cigarros. No entanto, não é conforme nosso ideal estético, já que dentes brancos insinuam

limpeza. Portanto, muitos produtos contém branqueadores. Certamente o mais usado é a água

oxigenada, H2O2 em até 2%, mas também se aplica o aduto peróxido de uréia.

Flavorizantes (ver também Tab. 37 na p. 197) provocam uma sensação fresca (cool; fresh)

durante a aplicação da pasta e logo depois. São essências naturais, tais como canela, cravo da

índia 40

, mas especialmente mentol e óleo da menta.

Os produtos comerciais contêm uma série de aditivos que promovem sua estética, tais como

corantes e pigmentos de efeitos especiais. Mas também a aplicabilidade da pasta de dente

deve ficar confortável e inalterada durante sua vida útil de um mês ou mais. Para este fim

aplicam-se aditivos reológicos (polímeros hidrofílicos; espessantes) e umectantes que

proporcionam uma fácil extrusão da pasta do tubo, retardam sua secagem e impedem o

gotejamento da escova de dente (tixotropia). Como aditivos reológicos usam-se

Tragacant, uma goma natural,

Goma guar e outras gomas à base da celulose,

Carboximetil celulose,

Carragenina, um polissacarídeo a partir de algas.

Como umectantes funcionam os polióis mencionados acima.

Tendências e suplementos na higiene bucal

O que cada vez mais se aplica nas pastas de dente de hoje são “conceitos biomiméticos”. Isto

quer dizer, imitando o material da natureza. Em pasta de dente, isto são então materiais tais

como fosfatos de cálcio com elevado grau amorfo, a própria hidroxiapatita e os fosfatos de

tricálcio. Ao contrário do fluoreto, estas substâncias não são regulamentadas pela lei.

Certamente, a aplicação destes materiais, até em concentrações maiores, é uma medida

inofensiva que promove a remineralização dos dentes. Um aspecto negativo, no entanto, tem

estes ativos frente à formação da placa mineralizada, conhecida como tártaro.

Quando a cuida rotineira da higiene bucal for insuficiente ou impedida, por exemplo, após

uma cirurgia bucal, pode-se optar por preparados alternativos. Bastante aprovado é o enxágue

bucal, no qual o princípio antibacteriano (= anti-placa) se deve à clorohexidina:

40

O óleo de cravo da índia tem também um efeito anestético, muito bem vindo em pastas para dentes

hipersensíveis.

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188

Clorohexidina (abreviada: CHX)

A aplicação deste ativo, quer caseira ou profissional, pode ser em forma de lacas ou

enxaguantes. A CHX destrói a membrana celular das bactérias e se destaca por um efeito

sustentado. Efeito negativo: ela promove o amarelamento dos dentes.

13 Cosmética decorativa

Há milhares de anos que a humanidade sente a necessidade de transmitir uma mensagem aos

outros, simplesmente através da aparência.

Os motivos podem ser:

• Religião

• Guerra

• Festa, alegria

• Status social e, lógico:

• Motivos sexuais!

A maioria dos preparados cosméticos descritos até então contém corantes em pequena

porcentagem, para proporcionar um visual mais atraente ao produto. Nos produtos

decorativos, no entanto, esta coloração é imperativa, para alcançar sua meta no usuário.

13.1 Batom As clientes têm as maiores expectativas neste produto cosmético. Não deve quebrar nem

borrar, mas também não deve ser muito duro para não dificultar a aplicação ou até machucar

os lábios da usuária. Além disso, deve aguentar temperaturas elevadas sem derreter, não deve

separar seus componentes gordurosos, nem devem cristalizar os ingredientes, corantes e/ou

gorduras. O produto deve aderir bem nos lábios ("prova a beijos") e, em caso geral, deve

mostrar um alto brilho.

Cerca de 70% do batom é a base gordurosa (triglicerídeo, a base de óleo vegetal ou sebo) e

25% são ceras (monoéster de ácido e álcool graxos). Ambos devem mostrar um ponto de

fusão de 65 a 70 °C. O objetivo na preparação do batom é bem contrário do que um químico

preparativo costuma visar: através de uma mistura mais heterogênea possível de ceras e

gorduras, tenta-se estender a região de amolecimento da base que vai, no ideal, desde 15 até

60 °C. Além disso, a tendência para cristalização fica diminuída quanto mais diversificada a

composição.

Os ingredientes gordurosos do batom podem ser discriminados entre solidificadores e

diluentes. Como ceras solidificadoras se usam, principalmente, cera de abelha (ver fórmula na

p. 30), cera de carnuba e candelila (a última é obtida de um feno nativo no Mexico e nos

EUA). Como diluentes servem os óleos de mamona, amendoim ou jojoba. Estes têm também

o papel de dispersar uniformemente os corantes e/ou pigmentos dentro da massa.

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189

A maioria das bases gordurosas de batom é feita de óleo de amendoim, óleo de mamona;

estes podem ser parcialmente hidrogenados (H2/catalisador de Pd) para

a) aumentar seu ponto de fusão e

b) abaixar a degradabilidade das gorduras frente ao oxigênio, um processo conhecido como

rancificação (ver cap. 6.4).

Além disso, o batom pode conter alcoóis graxos, por exemplo, álcool cetílico. O

isopropilmiristato e triglicerídeos sintéticos, finalmente, têm o papel de dissolver e acomodar,

de maneira mais homogênea possível, todos os ingredientes lipofílicos do batom, tornando-o

macio e suave.

A fase de ceras contém, em proporções variáveis, cera de abelha, cera de carnuba, cera de lã

(lanolina) e parafinas (a partir do petróleo). Especialmente a cera de carnuba aumenta, já em

concentração de 5%, o ponto de amolecimento do batom que, sem esse ingrediente, seria

muito baixo. A cera de abelha, por outro lado, proporciona na mistura uma boa consistência,

sem apresentar-se duro; além disso, aumenta a aderência nos lábios.

O teor em corantes e pigmentos, juntos chamados de laca, pode ser de até 10%, mas

raramente ultrapassa 7%. Em primeira linha usam-se pigmentos minerais ou hidrossolúveis,

depositados sobre suportes inertes e microcristalinos (= pó ultrafino), tais como caolina,

hidróxido de alumínio e dióxido de titânio. De suma importância neste preparado cosmético é

uma dispersão uniforme e fina dos corantes dentro da base. Mais adequados hoje são

compostos orgânicos heterocíclicos e óxidos de ferro; em segunda linha são usados também

produtos idênticos aos naturais, especialmente o -caroteno (desvantagem deste: é pouco

estável frente à oxidação).

A porcentagem dos pigmentos é de 5 a 10%. Eles devem ser trabalhados e misturados

primeiramente na fase gordurosa líquida, geralmente a uma temperatura perto de 60 °C,

formando uma mistura concentrada chamada de “Master-batch”. Somente quando se atingiu o

grau de dispersão satisfatório este é misturados

com os demais componentes da massa. Ainda de

temperatura elevada ocorre a moldagem por

injeção - menos usada é a extrusão da massa

pronta.

A lei de cosméticos impõe exigências bastante

altas ao batom sob o critério da toxicidade dos

ingredientes, já que partes dele podem chegar na

área bucal e no estômago. Isso vale

expressivamente, também para os protetores

labiais incolores. Especialmente aqueles produtos

que antigamente eram vendidos com o predicado

"prova a beijos", continham eosinas e corantes

que foram contaminados por metais pesados. Os

batons de cores a pastel contém hoje guanina ou

TiO2, um pó atóxico, prova à radiação solar e com

boa aderência nos lábios. O alto brilho que imita

umidade nos lábios pode ser alcançado através de

uma mistura de mica e TiO2.

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190

Tab. 33. Exemplo de receita de um batom

Quantidade

em peso

Classe Substância específica

15% Álcool graxo Álcool cetílico

26% Ceras Cera de abelha

10% Ceras Cera de carnuba

10% Ceras Cera de candelila

10% Ceras Cera microcristalina

10% Óleo Óleo de mamona

5% Éster de ácido graxo Octanoato de cetila,

octanoato de estearila

4% Óleo Óleo de parafina

0,1% Antioxidante α-tocoferol

5% Pigmentos

(inorgânicos: óxidos férricos, rutilo;

orgânicos: conforme liberados pela FDA 41

)

Mistura de diversos

pigmentos, conforme a

tonalidade.

0,0% Água

O último item desta tabela parece trivial, mas é um fato importante. Pois deste jeito o produto

não fica sujeito à decomposição microbiana e então não requer de conservantes!

13.2 Esmalte de unha

Esmaltes para as unhas, em mão e pé, devem ser provas d´ água, resistentes aos agentes de

limpeza comuns, devem ser elásticos e plásticos, mas não moles. Além disso, é comum polir

o esmalte após sua aplicação e secagem. A maioria das clientes exige também que o esmalte

seque rapidamente e dure por pelo menos uma semana sem se soltar das beiradas da unha.

Porém, a cliente deve ser ciente de que um produto de secagem rápida geralmente também

desfolha mais facilmente da unha.

Um dos primeiros critérios ao esmalte de unha, no entanto, é seu brilho. Portanto, o mercado

oferece esmaltes em 4 a 5 diferentes graus de brilho superficial.

O receio de que a unha não possa respirar debaixo do esmalte não tem substância. A queratina

da unha, igual as pontas do cabelo e à stratum córneum da pele, é matéria morta, sem

respiração notável, isente de vasos sanguíneos e nervos. No entanto, o esmalte pode conter

algumas substâncias agressivas ou tóxicas à pele, tanto como solventes que podem transportar

os mesmos através da unha e chegar no circuito sanguíneo.

41

Uma vista geral sobre os corantes e pigmentos orgânicos permitidos pela Food and Drug Administration, em

alimentos e cosméticos, ver A. Isenmann, “Corantes”, cap. 6.4; disponível no site

http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/bd:livro:quimica:corantes

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191

A aplicabilidade depende principalmente da viscosidade - em particular espera-se um efeito

tixotrópico e viscosidade estrutural, isto é: ao aumentar o gradiente de cisalhamento (= na

hora de aplicar com pincel) a viscosidade deve ser baixa, mas engrossa logo depois de ficar

em repouso, em cima da unha (não gotejar). Neste momento crítico o esmalte não deve

engrossar rápido demais, para estabelecer o “derreter” e ficar liso, brilhante e sem estrias.

Os componentes básicos do esmalte (em ordem da quantidade):

Cerca de 80% são solventes voláteis, tais como acetato de etila, acetato de butila ou

lactato de etila. A acetona, embora seja um excelente solvente, não é usado devido ao

efeito colateral de ressecar a unha (= eluir as partes naturais em gordura).

Um polímero que forma um filme liso e fechado. O material padrão, desde mais de 60

anos, é a nitrocelulose 42

, às vezes em mistura com poliacrilatos. De qualquer maneira

a solução em polímeros fica perto do grau de saturação.

Aditivos ao polímero que asseguram sua elasticidade. São plastificantes do tipo éster

do ácido ftálico ou óleo de mamona (epoxidado).

Resinas especiais, por exemplo, toluenossulfonamida-formaldeído, aumentam a

durabilidade do esmalte e sua aderência em cima da unha.

Pigmentos minerais ou corantes orgânicos sintéticos.

Efeito de metálico ou um brilho especial do tipo madrepérola, se consegue com

oxicloreto de bismuto, BiOCl, “prateado de peixe” (escamas de peixe ricas em

guanina; hoje pouco usado), mas especialmente com a mica processada (proveniente

de minerais tais como a pedra de sabão ou granito) ou estearatos de magnésio/zinco.

Para evitar a sedimentação dos pigmentos que são naturalmente insolúveis nos demais

ingredientes, os esmaltes geralmente contêm espessantes do tipo ácido silícico

coloidal (= “vidro d´água)”, estearatos de zinco ou alumínio.

Nuances para mais claro se consegue com TiO2, para aumentar a tonalidade vermelha

servem os óxidos de ferro.

Parâmetros a serem otimizados:

• Formação de um filme contínuo,

• Superfície lisa, que pode ser brilhante ou fosca,

• Facilidade de aplicar,

• Secagem rápida,

• Elasticidade, resistência,

• Durabilidade e firmeza em cima da unha,

• Ser fácil de se remover (comumente feito com acetona; alternativa é o acetato de etila,

mais brando ainda é o acetato de amila, também conhecido como “óleo de banana”),

• Critério mais recente: baixo potencial alergênico (por exemplo, provocado pelo

formaldeído, epóxidos, acrilatos e o tolueno), baixa toxicidade dos solventes

(especialmente perigoso para as atendentes nos salões de beleza).

42

Atenção: este nome popular não reflete a natureza química deste material. Embora seja feito a partir de

celulose (algodão) e ácido nitrificante (mistura de ácido nítrico e ácido sulfúrico), o produto não contém o grupo

nitro (ligação C-NO2), mas sim, é um éster feito a partir do grupo hidroxila da celulose e o ácido nítrico (ligação

característica: C-O-NO2). Mais correto seria então chamar este produto de “nitrato da celulose”.

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192

Tab. 34. Formulação típica de esmalte de unha vermelho (quantidades indicadas em %

de massa):

No. Função Composto química % m/m

1 Solvente Acetato de butila 27,00

2 Solvente Acetato de etila 23,20

3 Solvente Tolueno 12,00

4 Formador de filme Nitrocelulose (flegmatizada

com 30% de isopropanol)

13,00

5 Resina Resina de tosilamida-

formaldeído

9,00

6 Plastificante Dibutilftalato 7,00

7 Solvente Álcool isopropílico 5,00

8 Espessante Hectorita de estearalcônio 1,50

9 Plastificante Cânfora 0,95

10 Antioxidante Benzofenona 0,15

11 Corante / pigmento TiO2 0,50

12 Corante / pigmento C.I. Vermelho 7 (laca de Ca) 0,50

13 Corante / pigmento C.I. Vermelho 34 (laca de Ca) 0,20

O processamento desta mistura é geralmente em 4 etapas, tipicamente feito em uma batelada

com agitação poderosa, à temperatura ambiente ou levemente elevada:

1) A nitrocelulose, umedecida com cerca de 30% de i-propanol, é adicionada ao acetato de

butila sob agitação vigorosa.

2) Seguem os demais solventes, plastificantes, resinas e aditivos de tixotropia (= espessantes).

O processo de agitação é continuado até se obter uma solução clara, conhecida como “base do

esmalte”. A base pode ser mantida em estoque em maiores quantidades, dentro das normas de

segurança.

O acabamento do esmalte de unha ocorre por mistura homogênea dos corantes e/ou

pigmentos. Especialmente os últimos são aplicados, favoravelmente em forma de master

batch, isto é, uma mistura concentrada dos pigmentos em solventes compatíveis com a receita

do esmalte. Em caso de se usar um solvente nesta etapa, sua alíquota nas etapas 1 e 2 deve ser

devidamente reduzida, para não ultrapassar a porcentagem total indicada para o produto final.

Este procedimento facilita a distribuição uniforme das partículas dos pigmentos coloridos e

pigmento de enfeite especial (por exemplo, efeito metálico, madrepérola ou glitter) dentro da

base:

3) Preparo do master batch ou, pelo menos, a mistura uniforme de todos os corantes e

pigmentos (na receita acima os itens 11 a 13); nesta etapa recomenda-se acrescentar o

plastificante (item 6 da mistura sobrecitada). Como todos esses ingredientes são sólidos, usa-

se para este propósito um moinho, de bolas ou de chapas.

4) Adicionar o master batch à batelada principal, sob agitação rigorosa, no entanto sem

introduzir notavelmente bolhas de ar.

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193

Segue uma etapa de filtração e o envase.

Certos plastificantes, especialmente o dibutilftalato (ingrediente 6 da fórmula acima), foram

sujeitos de discussões polémicas. Embora seu potencial tóxico/alergênio é bastante baixo, as

fábricas de esmalte evitam estes aditivos, para não cair fora da graça da clientela. Já mais

preocupante é o uso do tolueno como co-solvente e também das resinas endurecedoras que

contêm formaldeído: o elevado potencial alergênico destes ingredientes já foi comprovado.

A fábrica de esmaltes deve tomar precauções de segurança extraordinárias (motores elétricos

blindados; aterramento dos equipamentos, estocagem dos ingredientes em salas provas a

explosões, etc.). A nitrocelulose é altamente inflamável - dependendo do grau de nitração,

pode-se tornar um explosivo! Também os solventes utilizados são voláteis e altamente

inflamáveis.

13.3 Maquiagem O que será dito sobre a base da maquiagem facial vale em geral também para as variações

coloridas, tais como blush, rouge ou sombra. Nestes, aplicam-se pigmentos coloridos que são

rigorosamente delimitados pelas leis nacionais (informações ver

http://www.anvisa.gov.br/cosmeticos/legis/especifica_registro.htm).

A base de maquiagem tem o papel de mascarar irregularidades da pele facial, que podem ser

oriundas de feridas, espinhas, manchas de sol (sardas), cicatrizes, verrugas, pintas,

queimaduras, velhice etc. O produto cosmético não só suaviza a tonalidade, mas também,

dentro dos limites, as irregularidades tópicas.

As bases, hoje comercializadas em uma gama de variedades como emulsão, bolos secos e

prensados, sticks, pós prensados ou soltos, são misturas de colorantes e partículas incolores

que altamente espalham a luz. Alguns produtos têm na sua formulação aditivos funcionais,

tais como emolientes para a pele, protetores de UV (p. 64) ou substâncias “anti-aging” (p.

61). Aquelas formulações que contiverem umidade (emulsões, por exemplo) requerem

naturalmente de aditivos preservantes microbianos (p. 137) e antioxidantes (p. 79). E todos

contêm perfumes – certamente um ingrediente que não atribui vantagens para a pele e sua

aparência, mas que agrada ao cliente.

Os ingredientes primários em maquiagens são os pigmentos brancos de TiO2, ZnO e CaCO3.

A caolina, um mineral igualmente branco, serve como pigmento e massa de nivelamento ao

mesmo tempo. Todos esses pós têm a propriedade de fortemente espalhar a luz visível, em

menor grau também a luz UV, e desta maneira tampar a coloração natural da pele. Por outro

lado, as finalidades do talco (um mineral parecido à pedra de sabão) são: material de

nivelamento e adjuvante na distribuição uniforme dos ingredientes dentro da formulacão.

Também usados nesta função são a mica finamente moída (Figura 72) e a sericita - ambas são

sedimentos minerais.

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194

(a)

(b)

Figura 72. (a) Ocorrência natural da mica, um mineral muit abundante no Brasil. (b)

Fórmula química generalizada da mica, mostrando sua arquitetura em camadas que têm

espessuras adequadas para refletir a luz visível, junto ao efeito reforçador da interferência.

Um efeito especial proporcionam também o oxicloreto de bismuto, BiOCl, e o estearato de

magnésio que, quando finamente moidos, dão um brilho e uma aparência mais viva ao rosto

da usuária – semelhante ao efeito da mica. Finalmente, os óxidos do ferro são usados quase

exclusivamente, para adaptar a tonalidade do produto à coloração natural do rosto da cliente.

Esses pigmentos existem nas mais diversas tonalidades, desde o amarelo claro, marrom,

vermelho até o preto. Sendo assim, se consegue ajustar todos os tons desejados através da

mistura e co-moagem destes óxidos nas proporções certas, sem implicar toxicidade.

C.I. Pigment Yellow

42

C.I. Pigment Red 101,

tonalidade amarelada

C.I. Pigment Red 101,

tonalidade azulada

Marrom (= mistura de

C.I. Pigment Red 101

+ Pigment Black 11

C.I. Pigment Black 11

Figura 73. Os pigmentos à base de óxido férrico.

(adaptado de: https://de.wikipedia.org/wiki/Eisenoxidpigment)

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195

14 Formulações de produtos cosméticos

Essa secção contém formulações básicas, tanto de produtos cosméticos tradicionais caseiros,

como os mais elaborados para produção industrial. O objetivo é proporcionar as primeiras

idéias e conceitos básicos ao iniciante em produção de cosméticos. No entanto, é

imprescindível informar-se, após a escolha de uma receita, sobre as variações que existem no

mercado, para adequar o respectivo produto à sua finalidade. Além de material abundante na

internet, acessível por meio das máquinas de busca gerais, pode consultar a literatura indicada

na p. 278, adiante.

As formulações a seguir contêm a listagem dos ingredientes, conforme seu nome comercial.

Como isso difere muitas vezes do nome científico, estão relacionados os componentes mais

importantes, junto ao(s) sinônimos(s) e sua função dentro do cosmético.

Tab. 35. Relação de alguns ingredientes em cosméticos, junto aos nomes comerciais.

Produto

comercial

Nome científico Aplicações

Água destilada destilada e

desmineralizada

Água isenta de sais e bactérias.

Lanete Álcool

cetoestearílico

Agente de consistência para cremes, loções e

condicionadores capilares.

Amida Dietilonamida de

ácidos graxos de

côco a 80% ou

90%.

Espessante sobreengordurante e estabilizante de

espuma em formulações de xampu, repondo a

oleosidade que foi retirada pela ação dos tensoativos.

Anfótero Cocoamidopropil

betaína

Reforça a ação dos tensoativos primários, diminui a

irritabilidade, aumenta a viscosidade e estabilidade da

espuma.

BHT, ionol 2,6-di t-butil 4-

metilfenol (Butil

Hidroxi Tolueno)

Antioxidante para soluções oleosas, para evitar a

rancificação.

Benzoato de

benzila

Escabicida, acaricida, peiculicida.

Carbomida Uréia Hidratante de pele, conserta a stratum córneum

(reepitelizante) com leve efeito sistêmico.

Cânfora Rubefaciente e levemente analgésico.

Carbopol 940 Poli-ácido acrílico Polímero que dá consistência de gel (a base d´água).

Carbowax 4000 Polietilenoglicol

(PEG)

Polímero hidrossolúvel, líquido ou sólido, dependendo

da sua massa molar, usado como lubrificante,

espessante, solvente, plastificante, carregador de

umidade (agente higroscópico) e agente de

desmoldagem. Usados em sabões, detergentes e em

cremes hidratantes.

Cloridróxido de

alumínio

Adstringente e anti-perspirante, fecha os poros da pele.

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196

Croda Base concentrada para cremes e loções.

EDTA Etileno Diamina

Tetra Acetato

dissódico

Sequestrante das impurezas (cátions) que

comprometem a estabilidade das formulações;

sequestro da dureza da água no ato de lavagem.

Glicerina

bidestilada

Ação anti-séptica, laxativa e emoliente.

Genapol,

Texapon

Lauril éter sulfato

de sódio

Tensoativo aniônico, espumante, adequado em

produtos de detergência e limpeza.

Luivicol, PVPK

90

Polivinil

pirrolidona

Agente de fixação em géis.

Mentol Álcool sólido, mono-terpeno, extraído da hortelã

japonesa, também sintético. Ação refrescante,

vasodilatador, analgésico, acalma coceiras.

Miristato de

isopropila

Cera líquida, muito fluida, facilmente absorvida pela

pele. É usado em lugar de óleos vegetais já que não

rancifica.

Nipagim,

Nipazol

Parabenos Sistema sinérgico de conservantes, ataca

microorganismos. Nipagim mais hidrofílico, Nipazol

mais lipofílico.

Zonen MI Mistura de

isotiazolinonas

Conservante, pode ser utilizado em lugar dos

parabenos (geralmente 19 gotas a cada litro ou

quilograma de produto cosmético)

Pantenol D-pantenol Excelente capacidade de reter umidade da pele,

tratamento de cabelo seco, proporciona aparência

natural e elasticidade.

Propilenoglicol Umectante, compatibiliza as fases hidrofílicas-

lipofílicas, solvente para diversas essências.

Quaternário Cloreto de cetil

trimetil de amônio

Tensoativo catiônico, agente molhante, emulsificante,

bacterizida, anti-estático em condicionadores e cremes

capilares (não deve ser usado em formulações com

tensoativos aniônicos, pois forma um sal pouco

solúvel).

Renex Nonilfenol

etoxilado

Tensoativo não iônico, feito pela condensação entre

nonilfenol e óxido de etileno. As quantidades relativas

dos reagentes determinam a HLB (definição ver p. 46).

Silicones Polidimetilsiloxano Polímero líquido hidrofóbico (repele os umectantes),

protege pele e cabelo contra ação nociva de soluções

aquosas, com efeito anti-transpirante, emoliente.

Surfaz BP,

Cutina AGS

Base perolada para xampus e sabonete líquido.

Triclosan,

Irgasan DP300

ou G11

Fenoxifenol

policlorado

Conservante: bacteriostático, germicida.

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197

Trietanolamina N(CH2-CH2OH)3 Base moderada a forte, regulador de pH, dá

consistência em cremes e géis, contraíon em sabões e

detergentes para alérgicos.

Tween, Span Sorbatos Tensoativos não iônicos: éster entre um ácido graxo e

um açúcar, podendo (Tween) ou não (Span) conter

unidades de oxietileno.

Segue uma lista de produtos naturais muito utilizados em cosméticos.

Tab. 36. Produtos naturais e extratos, usados em cosméticos.

Nome comercial Finalidade

Colágeno natural Fluído viscoso, termo-sensível, contendo 3% de colágeno puro extraído

de tecido bovino. É indicado para tratamento de pele seca, desidratada e

envelhecida. Corrige danos causados pela radiação solar, combate rugas.

É usado na formulação em 2 a 10%.

Elastina Proteína termo-estável (= resiste à fervura). Aumenta a elasticidade da

pele, portanto é usada no tratamento de celulite e rugas. Ajuda em reter a

umidade natural da pele, na restauração e no condicionamento de tecidos.

É hidratante para cabelo. É usado de 1 a 10%.

Placenta Gel líquido feito de placenta bovina, promove a regeneração celular,

usado em cosméticos anti-envelhecimento. Concentração: 1 a 5%.

Proteína Extrato de tecido animal, tem a finalidade de fornecer nutrientes à pele e

ao cabelo. Possui efeito restaurador, protetor, confere uma textura

agradável à pele e maciez, volume e brilho ao cabelo. Retém a umidade

da pele e protege o cabelo de substâncias agressivas do ambiente.

Lanolina Substância gordurosa extraída da lã do carneiro; é usado como emoliente.

Concentração: 1%.

Manteiga de

Karité

Emoliente para pele e cabelo, extraído de uma árvore africana.

Queratina Protetor da pele, extraído de uma árvore africana.

Segue uma lista de essências naturais (= extratos de plantas obtidos por meio de arraste a

vapor) e seus efeitos em cosméticos e remédios. Isso já implica que esses óleos são bastante

inofensivos e geralmente podem ser ingeridos. Além disso, acredita-se que muitos destes

óleos da família dos terpenos têm efeitos terapêuticos espirituais e por isso são afiliados a

crenças e tradições.

Tab. 37. Essências naturais

Fonte da essência Efeitos

Alecrim Calmante, memória, tônico cardíaco

Alfazema Limpeza astral, analgésico, diurético

Almíscar Extroversão, autoconfiança

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198

Amêndoas Relacionamentos, amizade, alívio de dor

Arruda Afasta energia negativa, cicatrizante, anti-séptico

Baunilha Relaxante, purificante

Benjoin Sucesso, desodorante, expectorante

Bergamota Autoconfiança, stress, ansiedade.

Camomila Purificador, insônia, analgésico muscular

Canela Negócios, estimulante das funções pulmonares e cardíacas

Cânfora Eliminação de líquidos, refresca a mente, acumula a energia do

ambiente

Cedro Honra, riqueza, vias respiratórias, faz parte em muitos perfumes

masculinos.

Citronela Renova o fluxo de energia, estimulante, refrescante

Cravo da Índia Força, cicatrizante, estimulante

Dama da noite Paixão, antitóxico, diurético, laxante

Erva cidreira Calmante

Erva doce Harmonia, laxante, flatulência

Eucalipto Purificador, clareia a mente

Flor de laranjeira Prosperidade, calmante

Gerânio Repositor hormonal, antidepressivo, equilibra relacionamentos

Hortelã Refrescante, dores de cabeça, gripe e resfriado

Jasmim Confiança, otimismo

Lavanda Insônia, calmante, analgésico

Laranja (folha) Iniciativa e agilidade

Limão Alívio de tensões e stress

Maçã Amizade, antidepressivo, enxaqueca

Mel Energia positiva, unificador, atrai dinheiro

Mirra Inspiração, sedativa, estimulante pulmonar

Pogostemon

(Patchouli)

Afrodisíaco, tônico, bactericida

Pinho Saúde, harmonização mental, tranquilidade

Rosa Amor, antidepressivo, antiinflamatório

Sândalo Meditação, expectorante, antidepressivo, tônico

Verbena Sensualidade, estimulante do fígado e da digestão

Violeta Espiritualidade, aquecimento do amor

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199

Abreviações usadas nas formulações a seguir

qsp 100% Quantidade suficiente para completar a fórmula a 100 % em massa.

qs Quantidade suficiente (medida subjetiva)

14.1 Preparo de alguns ingredientes básicos

14.1.1 Sobre a pureza da soda utilizada

Soda 99 (= grau de pureza, em massa) é a soda mais forte, ela é encontrada em escamas

ou perolada (bolinhas), com 1 Kg desta soda cortam-se 6 Kg de gorduras.

Soda líquida - com 1 Kg desta soda cortamos apenas 3 Kg de gordura.

Soda de pacote comercial comprada em supermercado - com 1 Kg dela cortam-se até 4,5

Kg de gorduras, depende da marca.

Potassa (= hidróxido de potássio) é um caustificante especial para se fazer sabões em

pasta ou líquidos. Com 1 Kg dela cortam-se 6 Kg de gorduras.

Normalmente, para se neutralizar 1 Kg de sulfônico 90% (agente tensoativo usado

principalmente em detergentes líquidos, ver p. 251 adiante) usa-se 110 g de soda 99% ou 220

g de soda líquida. Esta proporção pode variar conforme a concentração do sulfônico, de

fabricante para fabricante. Mais comum é o sulfônico de 90%.

14.1.2 Sobre as gorduras utilizadas

Podem ser usados óleos de soja, mamona, milho, girassol, coco, sebo bovino, gorduras de

porco, óleo usado da cozinha, gordura hidrogenada, etc. As proporções entre gorduras e soda

indicadas abaixo oferecem como resultado um sabão alcalino com grande poder de limpeza.

Se quiser um sabão menos alcalino use a proporção de 1 Kg de soda 99% com 6,5 Kg de

gorduras. Mais detalhes, ver a Tab. 38.

Tab. 38. Índice de saponificação de diferentes gorduras e óleos.

1 Kg de gordura ou óleo precisa para

saponificação completa

Gramas de soda cáustica 99% (soda

líquida é o dobro):

Sebo bovino

Manteiga de cacau

Banha de porco

Babaçu

Amendoim

Óleo de coco

Estearina

Óleo de palma

138 g até 143g

137 g

de 138 até 139,5g

176 g

133 g até 140 g

181 g até 188 g

141 g

140 g até 146 g

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200

Óleo de oliva

Gordura vegetal

Óleo de linhaça

Óleo de girassol

Óleo de algodão

Óleo mamona

Óleo de milho

Óleo de soja

134 g até 140g

136 g até 140 g

134 g até 138 g

134 g até 137g

137 g até 140 g

128 g até 130 g

136 g ate 138 g

137 g até 139 g

14.1.3 Preparo da lixívia para o processo da saboaria "a frio".

É um erro preparar pequena quantidade de massa saponífera. É muito pouco. A massa foge do

ponto, perde calorias e endurece muito rápido. Costuma-se a preparar sempre quilos da

seguinte maneira dependendo das gorduras que usará.

Se tiver mais gorduras saturadas do que óleos, então aumente a quantidade de água da lixívia,

se tiver mais óleos diminua, variando assim:

1° Caso:

1 Kg de soda 99% com dois litros de água = total 3 Kg de lixívia ou então medir para ver

quantos mL tem. (Complete com água até chegar aos 2450 mL). Ou usar em gramas ou usar

em mL. Essa quantidade de água é para quando usar mais óleos na saponificação.

(especialmente adequado para o processo a frio)

2° Caso:

1 Kg de soda 99% com 3 litros de água (quando diminuir os óleos insaturados e aumentar as

gorduras saturadas).

3° Caso:

1 Kg de soda 99% com 4 litros de água (quando tem mais sebo do que óleo). O sebo é uma

gordura altamente saturada.

Detalhe: com esta quantidade de lixívia, para fazer sabão alcalino pode ser usado 6 Kg e um

pouquinho de gorduras, se quiser mais alcalino coloque apenas 6 Kg. No caso de sabonete,

com essa quantidade toda de lixívia tem que se colocar 7 Kg de gorduras (óleos) para não

ficar super alcalino. Isto é uma média, já que cada gordura ou óleo tem um ponto de

saponificação próprio, ou seja, a relação entre soda e gordura (ver Tab. 38).

Para fazer uma quantidade menor, por exemplo: usando apenas 500 g de gorduras (óleos),

divida os três quilos de lixívia do 1°CASO por sete, que são os sete quilos de gorduras, o que

vai dar, aproximadamente, 430 g de lixívia para 1 Kg de gorduras (óleos), se vai fazer com

meio quilo de gorduras, então divida 430 g por 2 = 215 g de lixívia a ser usada.

Se quiser usar em unidades de milílitros (por não ter uma balança de precisão em casa), basta

ver quantos mL deu na lixívia toda e repartir por sete e ir dividindo. A experiência mostrou: 1

Kg de soda e 2 litros de água, no outro dia deve render exatamente 2450 mL (pode ajustar

acrescentando /tirando alguma lixívia). Usando 2450 mL : 7 = 350 mL, para 1 Kg de

gorduras.

Pode acontecer que sua receita vira um tijolo duro, por usar mais gordura do que óleo. Então,

pode ser colocado um pouco mais de água na lixívia que ainda ficaria duro suficiente. Por

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201

outro lado, se fizer uma receita com mais óleos, então não pode abusar da água, se não fica

mole.

Nas formulações de sabão descritas abaixo, bons resultados se obtém com as seguintes

quantidades relativas:

5 Kg de sebo e 1 Kg de óleo de soja, com lixívia do 3° caso (ver acima). Se for colocar 2 Kg

de sebo e 4 Kg de óleo, então deve-se usar lixívia do 2° caso, se fizer uma receita só com óleo

usado é melhor aplicar a lixívia do 1° caso.

Mais sobre a lixívia em geral, recorra à p. 205.

14.1.4 Receita básica do processo saboeiro "a frio".

Indicada a quantidade mínima; se preparar menos que isso, dará os problemas já mencionados

acima.

450 g de gordura hidrogenada (dessas de fazer glacê de bolo)

50 g de óleo de mamona

215 g de lixívia do 2° caso ou então 175 mL do 1° caso (caso aumentar para 2450 mL a

lixívia).

Temperatura das gorduras = 50°C.

Temperatura da lixívia = 40 °C.

Despejar vagarosamente a lixívia sobre as gorduras e mexer até começar a engrossar, daí entra

com o corante (a base de óleo) e a essência ou óleo essencial e os óleos insaponificáveis com

vitaminas etc.

Se for usar essência à base de óleo, convém misturá-la com um pouco de dipropilenoglicol ou

serve o propilenoglicol. Se usar essência à base de água nem precisa. Despejar na forma

forrada com plástico e cubrir, embrulhar e esperar 24 h, abrir, cortar e guardar fechado para

“curar”, pelo menos uma semana. Caso o produto fica duro demais, basta colocar na lixívia

usada na receita um pouquinho mais de água. Se quiser mais espuma, coloque uns 20 mL de

lauril (optativo).

Se quiser colocar outros óleos (girassol, canola, soja, milho, azeite, coco, palma) na receita,

basta ir diminuindo na quantidade de gordura hidrogenada. Não altere a quantidade de

mamona. Mas, se for dobrar, dobre a mamona também e por aí vai.

Exemplos:

300 g de gordura de coco + 100 g de óleo de canola + 100 g de azeite

350 g de banha suína + 100 g de sebo bovino + 50 g de óleo de milho

300 g de sebo bovino + 100 g de coco + 100 g de óleo de soja

450 g de sebo bovino + 50 g de azeite

250 g de coco + 150 g de palma + 100 de soja.

Experimente outras combinações - o que vale no final é sua própria experiência! Nunca

esqueça anotar exatamente o que realmente entrou na receita e, claro, o resultado e os pontos

fracos que devem ser melhorados no próximo produto. Observe que o percentual de

saturados é sempre maior, isto é para se conseguir um sabonete com maior grau de dureza.

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202

Se quiser fazer só com óleos também dá, mas na hora de preparar a lixívia tem que colocar

menos água, por ex: 1 Kg de soda 99% com apenas um litro de água. A estearina (ou ácido

esteárico) é muito utilizada para dar maior dureza aos sabonetes. Costuma-se usar de 10 g a

20 g dela na receita de 1 Kg de óleos e gorduras. Ela entra na conta também. Tire 10 g ou 20 g

de algum óleo e substitua por ela.

14.1.5 Dicas para sabões refinados

Dica geral: Não se esqueça de usar o EDTA na água (= sequestrante dos metais de dureza).

Quando a massa do sabonete começa a engrossar, daí é um bom momento para acrescentar os

aditivos (corantes, essências ou óleos essenciais, ervas, argila, etc.), que vão dar um toque

especial ao seu sabonete. Segue uma lista de óleos que podem ser acrescentados.

Tab. 39. Óleos vegetais usados na saboaria e seus efeitos.

Óleo / Manteiga Efeito / comentário

Semente de uva Fonte de vitaminas revitalizadoras e regenerativas.

Rosa mosqueta ideal para peles secas

Macadâmia um excelente antioxidante

Linhaça poderoso hidratante

Jojoba antiinflamatório e antioxidante

Gérmem de trigo Hidratante especial

Cenoura Emoliente

Camélia Umectante

Amêndoas doces para peles ressecadas

Abacate proporciona maciez e flexibilidade à pele e cabelos

Manteiga de cacau amacia e lubrifica a pele

Manteiga de abacate devolve a elasticidade à pele

Manteiga de karitê protege e confere emoliência

Costuma-se usar cerca de uma colher de chá (tanto dos óleos como das manteigas) para cada

receita destas indicadas abaixo – com meio quilo de gorduras. Se fizer um quilo coloque uma

colher de sopa.

Outros aditivos (aromatizante, corante, alguns até têm efeitos homeopáticos; compare Tab.

37):

Pó de folhas de alecrim

Gel de babosa

Argila (branca, rosa, verde, vermelha)

Arroz em pó (bata no liquidificador).

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203

Canela em pó

Gengibre em pó

Noz moscada em pó.

Chocolate em pó.

Pó de café (2 colheres rasas) para tirar cheiros das mãos!

Outros ao seu critério!

Costuma-se colocar uma colher de sopa de qualquer um deles já diluídos em uma parte de

óleo (2 colheres de óleo) que vai usar na receita. Alguns nem precisa. O chocolate precisa.

Corantes e essências:

O que faz o diferencial do seu produto no mercado é o que foge do comum. Como a qualidade

desses produtos varia muito, costuma-se usar cerca de 10 mL até 30 mL de essência ou óleo

essencial por Kg de gorduras utilizadas na receita. O corante deve ser de natureza oleosa; as

quantidades ficam ao seu critério.

14.1.6 Como preparar um gel d´água transparente

Um gel translúcido e bastante estável se obtém com Carbopol (ou Carbomer) - um polímero

hidrofílico, poli-ácido acrílico. Fazer gel de barba, álcool gel, desodorante em gel, gel para

penteado de cabelo, etc. A quantidade utilizada varia conforme a consistência do gel que se

quer, podendo ser utilizado de 40 g a 130 g de Carbopol para cada 10 litros de água, ou seja,

de 4 g a 13 g por litro de água. Detalhes químicos, ver Figura 56, na p. 154.

14.1.7 Faça seu próprio "brancol"

Misture 10 g de soda em um litro de água

Misture 200 g de cal em outro litro de água

Junte os dois. Pronto. Agite antes de usar. Não guarde em garrafas de refrigerantes, nem em

vidro. Guarde em garrafas de amaciante ou de água sanitária que são de PE ou PP.

14.2 Sabão comum para uso geral Os seguintes roteiros referem o procedimento de produzir alguns quilogramas de sabão, para

uso caseiro. Já em escala de técnico (= produção na ordem de uma tonelada por dia) a ser

realizado em microempresa, junto à discriminação de custos, encontra-se no site do SEBRAE-

ES 43

.

43

Variados sites do SEBRAE-ES contêm informações acerca da fabricação de sabão em pequena e média escala:

“Fábrica de sabão em barra” e “Fábrica de sabão de glicerina”, em

http://vix.sebraees.com.br/ideiasnegocios/arquivos/; outro repositório: http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds

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204

14.2.1 Sabão com restos de frituras (óleo usado) 44

Ingredientes:

6 Kg de óleo (equivalente a quase 6,5 litros)

1 Kg de soda 99. Se usar soda de supermercado use apenas 5 litros de gordura.

2 litros de água.

Tem gente que coloca detergente, sabão em pó, pinho, maizena, com o objetivo de

compatibilizar as fases, oleosa e aquosa, especialmente no início da reação. A repelência

natural entre a gordura e a lixívia atrapalha um contato intenso dos reagentes, portanto um

aditivo compatibilizante acelera consideravelmente a reação da saponificação. Mas, a

princípio e com um pouco de paciência, não precisa nada disso.

Se quiser, pode colocar uma colher de essência de eucalipto.

Modo de fazer:

Dissolva a soda na água um dia antes ou pelo menos 8 h antes para que ela esfrie.

Esta solução tem o nome agora de "lixívia" (ver p. 200).

Esquente o óleo (apenas morno), coe em uma lata (nada de alumínio), misture a essência (se

for usar), despeje a lixívia e mexa com uma ripa até que comece a engrossar e despeje numa

caixa de madeira forrada com plástico ou dentro de caixinhas vazias de leite ou em outras

forminhas de polietileno. O tempo para cortar fica em torno de 5 horas. Se fizer à tarde, corte

no outro dia, se fizer cedo, corte à tarde. O corte pode ser feito com faca ou um pedaço de fio

de aço amarrado em dois pedacinhos de cabo de vassoura ou a alternativa apresentada no

início.

Podemos substituir metade do óleo usado por sebo de boi, então a receita aceita mais um litro

de água. A quantidade de água varia conforme o tipo de gordura se é saturada (sólida) ou

insaturada (líquida). As saturadas são os sebos e as banhas e as insaturadas são os óleos.

Podemos substituir e fazer com 4 Kg de sebo e 2 Kg de óleo, então a receita aceita 4 litros de

água.

Detalhe interessante:

Quando o sabão é feito com mais gorduras saturadas, ele engrossa mais rapidamente, então, o

tempo de ficar mexendo é mais curto, cerca de 5 a 10 minutos.

Outro detalhe: pode-se até colocar mais água, daí o sabão fica mais mole, demora mais tempo

mexendo e se a temperatura não for respeitada (sempre morna), a receita pode desandar. Tudo

isso é feito fora do fogo.

Se a receita desandar, então temos que levá-la ao fogo para corrigir, então deverá observar

outro ponto no sabão, é o ponto de fio (sabão quente). A qualidade desse sabão varia

conforme a gordura usada. Ele fica mais duro e branco se forem usados sebo e coco. Ele vai

fazer mais espuma quando tem óleo ou coco. Estas formulações aceitam também uns 200 mL

de "Lauril" (= laurilétersulfato de sódio ou simplesmente LESS), esse produto é usado para

aumentar a quantidade de espuma dos sabões, sabonetes, xampus e detergentes em geral. Ele

deve ser misturado na lixívia, antes de despejá-la na gordura morna.

44

Encontram-se muitas formulações no site http://www.scribd.com/doc/6335666/40/VOCE-PODE-FAZER-O-

SEU-PROPRIO-BRANCOL.

Também foram traduzidas algumas formulações do alemão, da página: http://mathechemie.de/kosmetik.htm

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205

14.2.2 Lixívia

A expressão histórica para o papel da lixívia na produção dos sabões é “cortar a gordura”.

Para tal finalidade já conhecemos as proporções certas de [gordura : base cáustica : água] (ver

p. 200). Aqui mais uma vez a relação e os detalhes do preparo da lixívia que é nada outro do

que a base cáustica dissolvida em água. A base quase exclusivamente usada aqui e na

produção de sabonete em geral, é a soda cáustica, NaOH.

Tab. 40. Conversão de algumas concentrações usuais na saboeria.

Útil para que tipo de

gordura

Graus Baumé Porcento mássico

de NaOH

Gramas de

NaOH por Litro

Sebo, palma, coco (todos

saturados, sólidos). 20 °Bé 14,4% 167,1 g/L

30% saturados (sólidos), 70%

insaturados (líquidos) 30 °Bé 23,5% 296 g/L

Óleos líquidos. 50 °Bé 49%

(saturado a 15 °C)

745 g/L

(saturado a 15 °C)

Além disso, a solubilidade do NaOH em água depende fortemente da temperatura: 42 g a 0

°C, 109 g a 20 °C e 342 g de NaOH a 100 °C são solúveis em apenas 100 mL de água! E

como já mencionado acima, essa reação é bastante exotérmica.

Na prática, isso significa:

Quando usamos um quilo de soda cáustica pura 99% dissolvida em 1,5 L de água, vamos

obter uma lixívia a 50 ° Baumé, se usarmos 3 litros de água ela cai para 30 ° Baumé e se

usarmos 5,5 L de água, cai para 20 ° Baumé. A soda líquida já vem na graduação de 50 °

Baumé. Essa graduação é medida com um instrumento chamado de "areômetro" 45

que mede a

densidade de líquidos. É um tubinho de vidro fechado com chumbinho no fundo e uma escala

e que, quando mergulhado no líquido, flutua. Quando mais concentrada a solução, maior a sua

densidade, então o areômetro é mais sustento. Faz-se a leitura no nível do líquido. Mas

atenção: as densidades (antigamente chamadas de pesos específicos) dos ingredientes não são

aditivas! Famoso exemplo é a mistura de 1 L de água com 1 L de álcool, que dá cerca de 1,9

L de mistura. Isso explica o sucesso deste equipamento simples até hoje. O areômetro bem

aferido e usado na temperatura indicada, mostra a graduação de maneira confiável. Ela é

geralmente indicada em graus Baumé, ou simplesmente "°Bé".

Costuma-se trabalhar com lixívia a 30 ° Bé.

45

Não confundir com "aerômetro", que é outro instrumento de medir a densidade de gases.

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206

Figura 74. Alguns tipos comerciais de areômetros, usados em diferentes líquidos.

14.2.3 "Sabão frio"

Frio mesmo ele não é. Isto porque as gorduras devem ser ligeiramente aquecidas para se

tornarem líquidos manuseáveis. Além disso, a exotermia da saponificação também eleva a

temperatura do processo. As proporções de sebo e óleo devem ser experimentadas na prática,

no entanto aqui algumas sugestões.

1º exemplo

3 Kg de sebo + 3 Kg de óleo usado

1 Kg de soda forte

3 litros de água

0,5 Kg de caulim (o caulim serve para dar peso ao sabão = carga)

Preparo:

Dissolva a soda um dia antes na água. Depois aqueça o sebo junto com o óleo - tem que ficar

morninho (em torno de 45°C). Dissolva o caulim na lixívia e despeje sobre as gorduras e mexa até

começar a engrossar. Mexa, pare, mexa, pare. Começou a engrossar, é só despejar na forma.

A recomendação "mexa – pare – mexa - pare..." porque não precisa ficar mexendo

constantemente. O tempo que demora em começar a engrossar vai depender da quantidade de

óleo usado, ou seja, menos óleo ele engrossa mais depressa. No final, o resultado é o mesmo.

2º exemplo

4 Kg de sebo + 1 Kg de óleo

Nessa pode colocar 4 litros de água. O restante é tudo igual. O caulim também, se coloca se

quiser.

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3º exemplo

6 Kg de sebo + meio copo de sulfônico - ou: 5.5 Kg de sebo + 0,5 Kg de óleo + meio copo de

detergente sulfônico.

1kg de soda forte - soda 99%.

Aqueça o sebo e misture o sulfônico. Soda + 4 litros de água e o restante é igual.

4º exemplo

1 Kg de sebo + 5 quilos de óleo

3 litros de água e o restante é tudo igual.

14.2.4 Sabão frio com detergente

4 Kg de sebo

2 Kg de óleo usado ou novo (pode ser gordura de porco)

1 Kg de soda forte

Água: até 4 litros

1 frasco de detergente de coco (ou outro)

Preparo

Igualzinho aos anteriores (frio), sendo que o detergente será colocado no sebo morninho,

misture bem e depois vem a soda (lixívia).

14.2.5 Sabão frio com silicato e caulim

4 Kg de sebo

2 Kg de óleo usado ou banha de porco ou gordura de fritura ou mesmo gordura de coco

1 Kg de soda 99% (soda pura forte) ou 2 Kg de soda líquida.

Meio quilo de caulim

Silicato: de meio quilo até 1 Kg

Água: até 4 litros

Preparo

Dissolva a soda na água um dia antes! Leve o sebo com o óleo ao fogo e espere derreter. É

imperativo nesta receita que fique morninho. Se estiver quente, espere mornar, senão o sabão

“desanda”. Agora misture o silicato com a lixívia, mexa bem, acrescente o caulim e misture

bem e agora vá despejando tudo isso no sebo mexendo até que comece a engrossar e depois

despeje na forma. Se for usar "soda fraca", destas de supermercado, então diminua a

quantidade de óleo - coloque 1 litro de óleo, isso mesmo (1 litro é menos que 1 Kg), diminua

um pouco da água e um pouco do silicato (meio quilo).

14.2.6 Sabão de coco

4 Kg de sebo

2 Kg de gordura de coco

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1 Kg de soda forte

Meio quilo de caulim (branco)

Água : até 4 litros

Essência de coco: dependendo da qualidade da essência vai até 100 mL (cerca de 6 a 9 mL

por Kg de sabão acabado). É bom diluir a essência em um pouquinho de propilenoglicol, ou

glicerina, ou Renex, ou mesmo num pouquinho de detergente neutro e coloque depois da

soda.

Preparo:

Siga as instruções do sabão frio com caulim acima. A quantidade de água determina a dureza

do sabão.

Esta é uma receita bastante econômica. A quantidade de coco pode ser aumentada e a

quantidade de sebo reduzida.

14.2.7 Sabonete branco

2,5 Kg de sebo (clarificado e desodorizado)

3,5 Kg de gordura de coco

Meio quilo de óleo de oliva. O azeite é caro, mas pode ser substituído por óleos de palma ou

mesmo coco, ou rícino ou mamona. Até mesmo com óleo de soja se obtém um resultado

satisfatório. Importa só: o total de gorduras é de 6,5 Kg. Para sabonetes podemos colocar até 7

Kg de gorduras, a cada 1 Kg de soda 99%, assim ele fica bem menos alcalino.

Esse assunto, "processamento a frio", está descrito mais detalhadamente, na p. 201.

Caulim - se quiser - meio quilo. Não é necessário caulim. A função do caulim é dar peso ao

produto.

Água: até 4 litros - colocando menos ele fica mais duro.

Essência - escolha uma boa, dilua como na receita anterior.

Corante: se for colorir o sabonete, dilua o corante em água quente e coloque na massa antes

da essência. Melhor usar o corante de base oleosa!

Se quiser, pode colocar "lauril" líquido (mais espuma) - até uns 300 mL diluídos na água da

soda antes de despejá-la nas gorduras.

Preparo:

Igual aos anteriores (frio). Serve também, em vez das formas profissionais, um tubo de PVC

com uma tampa na parte de baixo que encaixe e retire. Pode colocar por dentro do tubo um

saquinho de plástico fino, assim vai ficar fácil de retirar, depois é só cortar as fatias com um

arame. Pode também pulverizar o tubo por dentro com glicerina ou estearina que ficará fácil

também para retirar. É só tirar a tampa e empurrar. Pode ser também desses tubos de papelão

duro, dar uma amassadinha nele até que fique oval, colocar um saquinho de plástico por

dentro e despejar a massa do sabonete dentro. Pode ser também em caixinhas de leite longa

vida. Use sua criatividade!

Todos os sabonetes de massa branca ou colorida que se compra nos supermercados, a

princípio, são feitos assim.

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209

14.2.8 Sabão "meio-quente"

As proporções de sebo e soda são as mesmas dos sabões dos roteiros anteriores, com duas

diferenças:

Você vai usar restos de sabão e vai colocar mais água. Assim: Coloque 3 litros de água num

tambor que possa levar ao fogo. Dissolva a soda nessa água, coloque os pedaços de sabão de

outra receita nesta mistura e leve ao fogo. De 1 a 2 Kg de pedaços. Essa mistura no fogo vai

derreter os pedaços. Retire do fogo e despeje o sebo que já está derretido e morninho nesta

mistura, mexa bem e coloque mais uns 3 litros de água fria e mexa, pare, que ele engrossa

rapidamente. É só despejar na forma. Se quiser colocar caulim misture-o na água fria que vai

por último. Corante e essência se quiser.

14.2.9 Sabão "quente"

Proceder tudo conforme o sabão meio quente, deixar engrossar e endurecer ainda no tambor

(não despejar na forma). 10 minutos depois que ele ficou meio duro dentro do tambor, voltar

ao fogo (se tiver uma caldeirinha com vapor - melhor ainda), fazendo “furos” na massa até o

fundo do tambor com a ripa da agitação. Fazer vários furos que ele vai começar a respirar e

“bufar”. Então começa um ponto diferente, ou seja, ele vai dar “ponto de fio”.

Depois que ficou tudo homogêneo, uma massa lisa e bonita e só despejar na forma e, se deu

tudo certo, então sorrie - você aprendeu vários segredos da saboaria!

14.2.10 Sabão transparente feito em caldeira

Ingredientes:

1ª Opção:

1,5 Kg de sebo de carneiro ou banha de porco

2,5 Kg de gordura de coco

2,0 Kg de óleo de rícino ou mamona (eles melhoram a transparência, porém não se pode

colocar muito deles porque são ruim de espumar)

1 Kg de soda 99

2 litros de água ou 3 litros

2 Kg de lixívia de sal e potassa a 18 ° Bé

1 Kg de glicerina ou meio de glicerina e meio de sorbitol ou tudo de sorbitol (este sorbitol

substitui a glicerina e é mais barato)

0,5 Kg de silicato alcalino (= "vidro d´água") que será dissolvido junto com a lixívia de soda.

2ª Opção:

Pode colocar 4 Kg de sebo de boi industrial clarificado e desodorizado (próprio para sabão de

1ª) e 2 Kg de óleo de coco (isso corresponde, aproximadamente, à proporção usada nas

grandes indústrias) e o restante tudo igual.

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3ª Opção:

Você mesmo pode adequar outras proporções!

Modo de Preparar:

1) Fazer a lixívia de soda, aquele processo de dissolver a soda na água um dia antes.

2) Derreta as gorduras na caldeira e deixe ficar bem morninho, acrescente a lixívia de soda

como se fosse fazer um sabão frio, mexa bem e aguarde uns 15 minutos.

Para fazer aquela lixívia de sal e potassa, use o areômetro (ver Figura 74). Pegue 2 litros de

água e vá colocando sal comum até atingir o nível de 8 ° Bé no areômetro, agora vá

colocando potassa (= KOH) já dissolvida em água, vá colocando até atingir a marca de 18 °

Bé. Essa é a lixívia de sal e potassa ajustada.

O sabão fica mais macio com potassa. Voltando lá em cima depois dos 15 minutos – mais ou

menos - agora vem a etapa da "caldeira" em fogo brando até a massa se tornar translúcida e

espessa (é o ponto de sabão quente), agora vem a lixívia de sal e potassa e depois a glicerina

com o que o sabão se torna muito fluido. Verte-se para as formas.

Processo de extrusão:

A massa saponífera deverá ser moída para receber a essência. Esta massa segue por uma rosca

sem fim até a cabeça da extrusora quente, onde a massa se agrega e será prensada e forçada a

sair por um pequeno orifício, já com o formato de sabão e na saída o fio de corte completa. A

transparência desse sabão não é imediata, ela ocorrerá após total resfriamento. No caso do

sabonete também, porém ao sair da extrusora ainda sem formato definitivo ele segue para a

prensa onde receberá a marca da fábrica e o formato.

14.2.11 Sabão glicerinado transparente

Se for fazer massa de sabonete, não coloque silicato. Vai aparecer o tal de propilenoglicol

que, além de melhorar a consistência da massa, é hipoalergênico. E outras substâncias que

você lê no rótulo dos tais (trieta, ácido cítrico, etc.). A água usada deverá receber EDTA ou

outro sequestrante. Pode-se economizar glicerina, substituindo (não toda) por açúcar (xarope

de água e açúcar ao fogo) na proporção de 2 Kg de açúcar para meio de água.

14.2.12 Sabão líquido de óleo usado

1ª Opção

Ingredientes:

4 litros de óleo usado ( pode ser novo se quiser)

1 Kg de soda forte 99%

5 litros de álcool combustível

20 a 30 litros de água

Essência se quiser a critério

Preparo:

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Dilua a soda em 3 litros de água e deixe de lado. Esquente bem o óleo em uma lata e misture

o álcool - devagar - porque deverá “frigir” devido à alta temperatura do óleo. (Se quiser, pode

também misturar antes o álcool com a soda e despejar no óleo).

Agora despejar a soda e mexer constantemente até que mude de cor (cor de coca cola ou até

mais clarinho) e deverá formar uma natinha por cima e uma espuminha. Se isto não acontecer

é porque não ocorreu a saponificação, então leve cuidadosamente ao fogo para ganhar calor,

retire e mexa até que saponifique. O restante da água deverá estar meio-quente para ser

acrescentada. Ele fica meio aguado mesmo (se colocar pouca água, quando esfriar ele turva e

vira uma pasta sem qualidade), mas é um sabão forte que poderá ser usado para deixar roupas

sujas de molho, limpeza de pisos, quintal etc. Pode até ser usado como detergente para lavar

louças, desde que se usem luvas.

2ª Opção:

3 litros de óleo,

1 Kg de soda (Caveira, Yara, etc) destas que se compra no supermercado,

4 litros de álcool e

Água de 15 a 25 litros.

3ª Opção (mais fraco):

5,5 litros de óleo,

1 Kg de soda 99%,

5 litros de álcool e

20 a 30 litros de água.

4ª Opção (também mais fraco)

4 litros de óleo,

4 litros de álcool,

1 Kg de soda do supermercado e

15 a 20 litros de água.

Não hesite de variar essas opções, conforme suas experiências, ajustando e ver como o

processamento e produto ficam melhores.

Existe uma soda própria para fazer sabão líquido, a potassa (= KOH):

1 Kg dela equivale a 1 Kg da soda 99%. Com esta soda você pode usar um mínimo de água e

obter desde uma pasta transparente até um sabão mais espesso (grosso) ou ir aumentando a

quantidade de água na proporção que desejar.

14.2.13 Sabão com álcool

Neste tipo de sabão sempre temos que usar uma porcentagem maior de gorduras saturadas.

Não dá para fazer só com óleo (insaturado), porque vira uma pasta sem qualidade. Da mesma

forma, a qualidade das gorduras agregadas (sebo industrial, coco, estearina), melhoram

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212

bastante o produto final. (Este tipo de sabão ganha uma transparência devido aos

componentes: álcool, açúcar, glicerina, propilenoglicol, sorbitol).

Ingredientes:

4 Kg de sebo de boi ou gordura de coco ou gordura de porco (saturados).

2 Kg de óleo (soja) pode ser óleo usado. Pode ser também 1 Kg de óleo de soja e outro quilo

de óleo de mamona.

1 Kg de soda 99 ou 2 Kg de soda líquida ou 1,3 Kg de soda do mercado.

Até 4 litros de água

Até 4,5 litros de álcool (comprado no posto de gasolina) sem aditivos.

1 Kg de açúcar (refinado ou cristal).

Pode-se colocar até 3 Kg de açúcar!

Pode-se colocar 300 mL de lauril (misturado na lixívia). Lauril líquido 28%. Existe em pó,

também.

"Lixívia" é a solução de soda cáustica em água e que descansou pelo menos 8 horas. Atenção:

nunca guardar a lixívia em recipiente de vidro, pois este material se dissolve e ataca a

vidraria!

Modo de preparar:

Dissolva a soda em 3 litros de água um dia antes (mexa bem). No outro dia: Dissolva o quilo

do açúcar no outro litro da água que sobrou e leve ao fogo até levantar fervura, desligue e

reserve.

Numa lata esquente as gorduras (entre 60 ° e 70 ° C).

Despeje o álcool (longe do fogo!) e mexa bem. O certo seria aquecer um pouco o álcool

porque ele é gelado e rouba calor da gordura, mas teria que ser em banho-maria.

Alternativamente, esquente mais as gorduras (a cerca de 80 °C), porque quando se coloca o

álcool nelas, elas esfriam. Agora despeje a lixívia (se for usar o lauril, misture-o agora na

lixívia) e vá mexendo até que mude de cor, forme uma espuminha e uma nata sobrenadante e

exale um cheiro de sabão misturado com álcool. Se você erguer a ripa e formar um fio que

endurece, é porque deu certo.

(Se quiser, pode também misturar o álcool na lixívia antes de despejar nas gorduras quentes).

Tudo isso deverá acontecer em menos de 10 minutos.

Se começar a demorar, então é porque as gorduras não estavam quentes o suficiente. Neste

caso, leve a lata um pouco ao fogo até que ganhe calor e então ocorrerá a saponificação.

Muito cuidado, com álcool e fogo! Agora despeje devagar aquele açúcar e vá mexendo. Se

quiser pode colocar essência de eucalipto, espere esfriar um pouco. É que, quando ocorre a

saponificação, a temperatura chega a mais de 90 ° C. Este tipo de sabão demora em "travar"

(= endurecer). Então dá tempo de testar, colocar um pouquinho numa colher que, em poucos

minutos, deve endurecer. Estes tipos de sabões devem ter um tempo de maturação antes de

usá-los, pelo menos uma semana (para que amadureçam, quer dizer, cristalizam). Estas

receitas são sempre baseadas em 1 Kg de soda 99, se não quiser aplicar as quantidades

indicadas, divida tudo por 2 ou 3 ou 4. O processo é o mesmo.

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14.2.14 Base glicerinada fabricada pelo processo alcoólico

Ingredientes:

5 Kg de gordura de coco (óleo de coco babaçu)

1 Kg de óleo de mamona (= óleo de rícino)

0,5 Kg de sebo industrial (clarificado e desodorizado) ou meio quilo de ácido esteárico

conhecido por estearina dupla ou tripla ação.

1 Kg de soda 99 ou 2 Kg de soda líquida

4 litros de álcool (do posto sem aditivos)

2 litros de água deionizada

1 Kg de açúcar refinado

12 gramas de EDTA tetrassódico (= sequestrante que retira os íons de cálcio, magnésio e ferro

da água)

12 gramas de BHT (= antioxidante)

Até aqui, é uma base simples.

Ela pode e deve ser enriquecida com (indicadas as massas máximas):

200 g de glicerina (é umectante e ajuda na transparência)

200 g de propilenoglicol (é um solvente que auxilia no derretimento e é anti-alergênico).

300 mL de lauril (é agente espumante)

200 mL de amida sintética – é a amida 90 (= agente amaciante, melhora a viscosidade e

flexibilidade).

Essa amida 90 é também conhecida como "amida cosmética", própria para sabonete, xampu,

etc. Ela é diferente das amidas 60 e 80 usadas em detergentes que são meio amareladas.

Procedimento:

O processo é o mesmo do sabão com álcool referido anteriormente. O lauril deverá ser

colocado na lixívia, e o açúcar, logo após a saponificação. Os demais ingredientes quando

amornar a massa saponífera.

Nesta receita também pode misturar a lixívia (soda) com o álcool antes de despejar nas

gorduras. Existe outra maneira de preparar esta base, fazendo-se uma massa de sabonete

branco frio, picando-se no outro dia e derretendo em caldeira ou banho-maria com lauril,

propileno e depois entra o açúcar ou sorbitol, a glicerina e uma quantidade reduzida de álcool.

Você já pode fazer o sabonete diretamente com esta massa, basta respeitar a temperatura e

acrescentar a essência, o corante, etc...

14.2.15 Mais fórmulas caseiras para sabão em barra comum

Receita a) Para produzir 13 Kg de sabão sólido e eficaz:

8 L Água pura

1 Kg Soda cáustica em escamas

2 L Óleo de cozinha (pode ser usado e filtrado)

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2 copos Detergente

1 copo Sabão em pó

1 L Sebo de boi derretido

2 copos ou 4 colheres de fubá ou maizena.

Preparo:

A lixívia pode ser preparada na hora, usando a metade da água e a soda cáustica. Na outra

metade da água dissolver o detergente, o sabão em pó e a maizena. O óleo de cozinha e o sebo

derreter em um balde no banho-maria, tirar do fogo quando chegar em 50 a 60 °C.

Acrescentar a lixívia em jato fino, mexendo vigorosamente com a colher de pau. Acrescentar

também a solução dos detergentes e continuar mexendo por aproximadamente 10 minutos.

Logo a mistura começa a engrossar, despejar nos moldes. Deixar resfriar e desmoldar no

outro dia.

Receita b): Para um rendimento de 500 g de sabão:

280 g Sebo de boi

60 g Soda cáustica

50 g Breu socado em pó

100 g Caulim

300 mL Água

Os utensílios: uma lata ou panela, uma colher de pau ou pedaço de madeira e uma saboneteira

ou caixinha de madeira que serve para molde do sabonete.

Procedimento:

Derreter o sebo. Depois junte a soda cáustica e o breu, continuar batendo vigorosamente.

Quando estiverem bem misturados, retirar a mistura do fogo e adicionar aos poucos o caulim

e a água sem deixar de bater. Quando alcançar uma pasta homogênea, derramar nas formas e

deixar esfriar. Se quiser colorir o sabão, é misturar umas gotinhas de anilina de cozinha da cor

desejada em pouca água quente e juntar à mistura antes de resfriar.

O sabão adquire a melhor consistência após 24 h de fabricação.

Receita C)

Ingredientes:

500 mL Óleo de fritura (peneirado)

Soda cáustica até o ponto de saturação

100 mL Álcool

100 mL Água

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Os utensílios: um balde ou vasilha de plástico, uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo

de vassoura) e uma saboneteira ou caixinha de madeira que serve para molde do sabonete.

Procedimento:

Colocar o álcool e a água no balde. Adicionar a soda cáustica até o ponto de saturação.

Despejar o óleo esquentado (70 °C) em jato fino e, ao mesmo tempo, agitar com o bastão.

Colocar nas formas e esperar endurecer.

14.3 Produtos cosméticos para cabelo

14.3.1 Xampu para cabelos normais

Rendimento 1 litro.

Lauril éter sulfato de sódio (LESS) a 30% (líquido). 220 mL

Cocoamidapropilbetaína a 30%. 30 mL

Dietanolamida de ácido graxo de coco (amida 90) 20 mL

Extrato de camomila. 5 mL

EDTA dissódico (= sequestrante de metais) 1 mL

Metilparabeno ("nipagin") 1 mL

Água deionizada 720 mL

Ácido cítrico solução a 20%, em quantidade suficiente para corrigir o pH (neutro)

Sal para engrossar em quantidade suficiente.

Cuidado excesso em sal pode turvar o produto. Pode ser sal de cozinha ou sulfato de

magnésio (“sal amargo”).

Essência e corante a gosto.

Modo de fazer:

Diluir em metade da água o lauril e o cocoamidapropilbetaína. Em 100 mL da água adicionar

o corante, o extrato de camomila, o EDTA, misturar bem e juntar à solução anterior sempre

mexendo vagarosamente. No restante da água junte o metilparabeno, a essência e a

dietanolamida. Junte à solução anterior, corrija o pH (5,5 a 6) e adicione o sal para engrossar.

14.3.2 Sabonete líquido glicerinado

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 550 mL

EDTA 1 g

Ácido cítrico 1 mL

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216

Zonem MI 0,5 mL

Lauril éter sulfato de sódio 150 mL

Laurion SLA 120 mL.

Anfótero betaínico 30 mL

Extrato de aloe-vera 10 mL

Glicerina líquida 50 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 30 mL

Essência 10 mL

Fase C:

Água deionizada 40 mL

Glucamate DOE 120 10 g

Fase D:

Ácido cítrico 8 mL

Como fazer:

Adicionar os produtos da fase A.

Solubilizar (misturar a fase B e adicionar sobre a fase A).

Aquecer a fase C até completa solubilização e adicionar sobre A + B, e homogeneizar.

Adicionar a fase D e homogeneizar.

14.3.3 Xampu anti-queda

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Lauril éter sulfato de sódio 220 mL

Anfótero betaínico 30 mL

Zonem MI 0,5 mL

Bioex capilar 0,5 mL

Proteínam ou prótrigo. 5 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90). 30 mL

Essência 10 mL

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217

Fase C:

Água deionizada 648 mL

Glucamate DOE-120 6 g

Fase D:

Ácido cítrico 5 g

Anfótero betaínico (se necessário; até a viscosidade desejada).

Como fazer:

Misturar um a um os itens da fase A. Adicionar a fase B sobre a fase A previamente

solubilizada. Aquecer a fase C até total solubilização, resfriar e adicionar sobre A/B.

Adicionar a fase D e homogeneizar.

14.3.4 Xampu de brilho para cabelos secos

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 564 mL

Lauril éter sulfato de sódio 250 mL

Ácido cítrico 0,5 g

Methilan EGS 30 g

Polímero JR-5. 60 mL

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 20 mL

Glucamate DOE-120 15 g

Fase B:

Zonem MI 0,1 mL

Anfótero betaínico 50 mL

Fase C:

Extrato de mel 15 mL

Óleo de semente de uva hidrossolúvel 10 mL

Essência 10 mL

Como fazer:

Aquecer a fase A até total solubilização e dissolução. Adicionar a fase B sob agitação

constante. Adicionar aos poucos a fase C e homogeneizar.

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14.3.5 Xampu neutro para bebê

(Rendimento 1 litro)

Fase A:

Água deionizada 530 mL

Laurion SLA 260 mL

Anfótero betaínico. 30 mL

Zonem MI. 0,5 mL

Ácido cítrico 0,5 mL

EDTA 2 g

Glucquat 125 30 mL

Softan algodão 15 mL

Polímero JR-5 50 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 30 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Água deionizada 50 mL

Glucamate DOE-120 5 g

Fase D:

Ácido cítrico para acertar pH 7.

Anfótero betaínico (se necessário), até viscosidade desejada

Como fazer:

Misturar um a um os itens da fase A. Adicionar a fase B sobre a fase A previamente

solubilizada. Aquecer a fase C até total solubilização, resfriar e adicionar sobre A + B. Fazer

os ajustes com a fase D e homogeneizar.

14.3.6 Xampu para cabelo mais brilhante

(Rendimento 1 litro)

Fase A:

Água deionizada 580 mL

EDTA 1 g

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219

Ácido cítrico 0,6 mL

Zonem MI. 0,5 mL

Laurion SLA 120 mL

Anfótero betaínico 30 mL

Extrato de aloe-vera 10 mL

Glicerina líquida 50 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco 30 mL

Essência 10 mL

Fase C:

Água deionizada 40 mL

Glucamate DOE-120. 10 g

Fase D:

Ácido cítrico 8 mL

Como fazer:

Adicionar os produtos da fase A. Solubilizar (misturar) a fase B e adicionar sobre a fase A.

Aquecer a fase C até completa solubilização e adicionar sobre A + B, homogeneizar.

Adicionar a fase D e homogeneizar.

14.3.7 Xampu para cabelo seco e danificado

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 680 mL

EDTA . 1 g

Ácido cítrico 0,5 g

Zonem MI.. 0,5 mL

Lauril éter sulfato de sódio 220 mL

Base perolada 10 g

Anfótero betaínico 30 mL

Polímero JR-5. 10 mL

Glucam E-20 5 mL

Extrato de gérmen de trigo. 3 mL

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220

Extrato de aveia.. 3 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco....(amida cosmética 90) 30 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Ácido cítrico.. 5 g

Como fazer:

Adicionar os produtos da fase A. Solubilizar (misturar) a fase B e adicionar sobre a fase A.

Adicionar a fase C e homogeneizar.

14.3.8 Xampu para raízes oleosas e pontas secas

(Rendimento 1 litro)

Fase A:

Água deionizada 680 mL

EDTA 1 g

Ácido cítrico. 0,5 g

Zonem MI 0,5 mL

Lauril éter sulfato de sódio 240 mL

Anfótero betaínico. 30 mL

Polímero OX-5 10 mL

Extrato de alecrim. 5 mL

Extrato de hortelã 5 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco.(amida cosmética 90) 28 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Ácido cítrico, para ajustar pH 6,0

Como fazer:

Adicionar os produtos da fase A. Solubilizar a fase B e adicionar a fase A. Adicionar a fase C

e homogeneizar. Adicionar mais anfótero betaínico se desejar mais viscosidade.

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221

14.3.9 Xampu cremoso com manteiga de karitê

Rendimento 500 mL.

Fase A:

Laurilétersulfato de sódio 135 mL

Anfótero Betaínico 20 mL

PCA Na 10 mL

Glicerina líquida 5 mL

EDTA 0,5 g

Zonen MI 0,5 mL

Agua deionizada 305 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 10 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Manteiga de karité 5 g

Polymol HE 10 mL

Fase D:

Ácido cítrico (sol. 50%) 2 mL

Proteína hidrolisada 10 mL

Como fazer:

Misturar os itens da fase A um a um e homogeneizar. Adicionar a fase B sobre a fase A e

homogeneizar. Aquecer a fase C até completa solubilização. Adicionar sobre a mistura A/B.

Adicionar a fase D.

14.3.10 Xampu para cabelo longo com nutri DNA

(Rendimento 1 litro)

Fase A:

Lauril Éter Sulfato de Sódio 200 mL.

Laurion SLA 80 mL

Anfótero betaínico 30 mL

Glucquat 125 30 mL

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222

Polímero JR-5 50 mL

Nutri DNA 30 mL

Zonem MI 0,4 mL

Ácido cítrico 3 mL

Agua deionizada 600 mL

Dietanolamida de coco (amida 90) 30 mL

Essência 5 mL

Fase B:

Glucamate DOE 120 10 g

Água deionizada 30 mL

Fase C:

Ácido cítrico (até atingir pH 6,0) 25 mL

Como fazer:

Aquecer a água juntamente com Glucamate DOE na fase B até total dissolução. Adicionar

todos os produtos da fase A em um recipiente e homogeneizar. Adicionar a fase B sobre a

fase A sob agitação constante. Adicionar a fase C e medir pH se necessário.

Para as seguintes formulações de xampu você precisa de uma mistura de agentes tensoativos:

50 g de Facetensid

30 g de Betaína

4 g de Sanfteen

Esses três tensoativos são misturados com um bastão de vidro. Especialmente o Sanfteen

demora para homogeneizar. Mais tarde, porém, quando acrescentar a água nas formulações

finais, ele se dissolve sem problemas.

14.3.11 Xampu para cabelo normal

0,5 g de Guar de cabelo HT

105 mL de água recém fervida ou destilada

84 g de "Mistura HT"

2 g de D-pantenol

6 mL de essência de plantas HT

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223

4 g de Vithaar HT

1 mL de suco de limão concentrado

12 g de Rewoderm

Opcional: 2 mL (ou 60 gotas) de BioKons HT ou 40 gotas de Paraben K (= conservantes)

O guar de cabelo misturar em um béquer com a água, depois o pó em jato fino sempre

mexendo. Essa mistura acrescentar na mistura de tensoativos (receita acima). Depois

acrescentar os agentes que zelam pela pele, o D-panthenol, a essência de plantas HT e Vithaar

HT. Para acertar o pH da mistura (pH 7) usar o concentrado de limão. Bem no final

acrescentar o Rewoderm em jato fino.

Se for preciso, conservar esse xampu com os conservantes indicados.

14.3.12 Xampu modificado para cabelo oleoso

20 mL de xampu (comercial, para cabelo normal ou feito em casa)

1 gema de ovo

5 gotas de óleo de alecrim

Modo de fazer:

Xampu, gema de ovo e o óleo de alecrim misturar bem com batedor de cozinha até a

consistência ficar homogênea e cremosa.

Esse xampu deve ser usado imediatamente após o preparo.

14.3.13 Xampu contra caspas

20 mL de conhaque (ou pinga)

1 gema de ovo

80 mL xampu (comercial, para cabelo normal ou feito em casa)

Modo de fazer:

Gema de ovo e conhaque misturar bem com uma colher, até a massa ficar cremosa.

Acrescentar o xampu e continuar mexendo até homogêneo. Embalar esse xampu numa garrafa

limpa. Esse produto tem uma durabilidade de ~6 semanas.

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224

14.3.14 Xampu para casos graves de caspas

10 gotas de óleo de melaleuca

84 g de mistura de tensoativos (ver acima, p. 222)

0,5 g de guar de cabelo

2 colheres de chá de Pirocton Olamin .

110 mL de água recém fervida ou destilada.

5 mL (2 colheres de chá) de extrato de bétula.

1 mL de suco de limão concentrado.

12 g (5 colheres de chá) Rewoderm.

opcional: 2 mL (60 gotas) de BioKons ou 40 gotas de Paraben K (conservantes).

Modo de fazer:

O óleo de melaleuca é misturado com a mistura de tensoativos. O guar de cabelo e o Pirocton

Olamin são misutados em um béquer seco, para depois serem dissolvidos em água. O pó é

dissolvido em pouca água e acrescentada à mistura de tensoativos. Depois é acrescentar o

extrato de bétula. Para ajustar o pH usar o concentrado de limão. Finalmente, acrescentar em

jato fino, o Rewoderm. Se for preciso, conservar esse xampu com os conservantes indicados.

14.3.15 “Xampu bomba” para crescimento de cabelo

Há comentários na internet 46

sobre uma formulação de xampu, de três ingredientes simples,

baratos e fáceis de encontrar, que promete fazer o cabelo crescer de 4 a 7 cm por mês.

(lembre-se: a média de crescimento normal do cabelo é de 1,25 cm por mês, ver cap. 8.1).

Não é o objetivo de julgar sobre esses relatos, mas deve-se lembrar do risco potencial que se

corre quando aplicar um produto caseiro nas concentrações erradas. Isso deve ser mostrado no

exemplo do Monovin A, uma solução altamente concentrada da vitamina A (em forma de

éster do retinol) em um óleo vegetal - um produto que não foi feito para ser utilizado em seres

humanos (você o acha em agropecuárias, onde é vendido como fortificante para cavalos!). O

excesso de algumas vitaminas pode ser até mais prejudicial do que a deficiência delas. Isso é

mais preocupante ainda no caso das vitaminas lipossolúveis, como a vitamina A, que são

armazenadas no corpo por mais tempo e não têm o seu excesso eliminado com tanta rapidez.

Alguns dos sintomas da intoxicação por excesso de vitamina A são enjôo, fraqueza,

sonolência, dores musculares e abdominais, visão turva, febre, anemia, diarreia, ressecamento

das mucosas, problemas no fígado e, o incrível que parece, queda de cabelo.

Cada frasco de Monovin A de 20 mL contém 2.000.000 UI (UI= unidades internacionais; 1

UI de vitamin A ≙ 0,3 µg de -caroteno ≙ 0,6 µg de retinol). A receita do xampu bomba pede 3 mL, o que dá 300.000 unidades diárias. A recomendação diária de vitamina A é de 2.300

para mulheres e 3.000 unidades para homens. A dose máxima considerada segura para seres

humanos é de 10.000 unidades diárias.

46

Ver blog http://www.chegadequeda.com.br/verdade-sobre-shampoo-bomba-monovin-a/ ou http://monovin-

a.com/shampoo-bomba-monovin-a-bepantol/

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225

É claro que o Monovin A é diluído no shampoo, então você não passa 3 mL inteiros na

cabeça toda vez que lava os cabelos com o xampu bomba. Além disso, não se sabe se o tempo

que ele fica em contato com o seu couro cabeludo durante a lavagem é suficiente pra

promover qualquer absorção significativa nos folículos capilares e assim na corrente

sanguínea. Enfim, o resultado dessa conta é imprevisível...

Outro aspecto importante relacionado à vitamina A no xampu bomba é sua conservação e

estabilidade. Como é sujeito à auto-oxidação (ver p. 77), os antioxidantes contidos na

formulação do xampu-base com certeza não seriam suficientes para garantir uma longa vida

de prateleira do xampu bomba. O que certamente ajuda é o armazém do produto num frasco

bem fechado, escuro e/ou opaco.

Menos polêmico é o uso do Bepantol, uma fórmula líquida de dexpantenol (substância que é

convertida no nosso corpo em ácido pantotênico, ou seja, vitamina B5; fórmula ver p. 56).

Ele ajuda a promover a cicatrização e a hidratação da pele, e é utilizado tradicionalmente no

tratamento de pequenas feridas, assaduras e fissuras na pele e nas mucosas. Isso

possivelmente explica os relatos de cabelos mais bonitos, brilhantes e macios com seu uso no

xampu bomba.

Receita:

300 ml de um xampu qualquer, desde que não tenha sal.

1 a 3ml de Monovin A (se tiver cabelo oleoso melhor utilizar uma quantidade de

Monovin menor, caso contrário, maior).

25 ml de Bepantol liquido

Modo de usar:

Use em média 2 a 3 vezes por semana, durante três meses. Dê uma pausa de 1 mês após esse

período e se for necessário volte a usar novamente.

14.3.16 Condicionador de cabelo: Creme rinse desembaracante para uso

diário 47

Componente Função %

A)

Metassulfato de berrenil

trimônio e cetoestearilico

Propilparabeno

Metilparabeno

Emulsionante catiônico e

agente de consistência

Conservante

Conservante

2,00

0,05

0,15

B)

Água destilada

Veículo/solvente

qsp 100,00

C)

Ácido cítrico (solução 10%)

Regulador do pH;

estabilizante

q.s.

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226

Como fazer:

Aquecer A e B até 80 - 85°C, separadamente. Verter Bem A com agitação, mantendo a

temperatura por uns 10 minutos. Resfriar com agitação moderada. Ajustar o pH com a fase C

para aproximadamente 4,0.

14.3.17 Condicionador de cabelo: Creme rinse 47

Componente Função %

A)

Álcool ceio estearílico

Propilparabeno

Metilparabeno

Agente de consistência

Conservante

Conservante

3,50

0,05

0,15

B)

Cloreto de cetil trímetil

amônio (solução 50%)

Água destilada

Emulificante, agente

antiestático.

Veículo/solvente

2,00

qsp 100,00

C)

Essência

Aditivo olfativo

q.s.

D)

Ácido cítrico (solução 10%)

Acidificante

q.s.

Como fazer:

Aquecer A e B até 80 - 85°C, separadamente. Verter B em A com agitação, mantendo a

temperatura por uns 10 minutos. Resfriar com agitação moderada. Acrescentar C e

homogeneizar bem. Ajustar o pH com a fase D para aproximadamente 4,0.

14.3.18 Condicionador para cabelos oleosos 47

Componente Função %

A)

Hidroxietilcelulose

Fenoxietanol e parabenos

Água destilada

Espessante

Conservante

Veiculo

1,50

0,30

qsp 100,00

B)

Cloreto de cetil trimetil

amônio (solução 50%)

Água destilada

Emulificante, agente anti-

estático.

Veículo/solvente

1,00

30,00

C)

Dimeticone copoliol

Agente condicionador

2,00

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227

D)

Essência

Aditivo olfativo

q.s.

E)

Ácido cítrico (solução 10%)

Acidulante

q.s.

Como fazer:

Aquecer A até 80 - 85°C, com agitação. Misturar os componentes da fase B, adicioná-los à

fase A e agitar. Adicionar as fases C e D, mantendo a agitação. Ajustar o pH com a fase E

para aproximadamente 4,0.

14.3.19 Condicionador para cabelo seco 47

Componente Função %

A)

Álcool ceto estearilico

Propilparabeno

Metilparabeno

Óleo de silicone

Agente de consistência

Conservante

Conservante

Emoliente

4,00

0,05

0,15

0,50

B)

Cloreto de cetil trimetil

amónio (a 50%)

Propilenoglicol

Água destilada

Emulsionante catiônico,

agente anti-estático.

Umectante

2,00

3,00

qsp 100,00

C)

Extrato de aloe vera

Aminoácidos da seda

Hidratação capilar

Hidratação e

condicionamento

2,00

1,00

D)

Essência

Aditivo olfativo

q.s.

E)

Ácido cítrico (solução 10%)

Acidulante

q.s.

Como fazer:

Aquecer A e B até 80 - 85°C, separadamente. Verter B em A com agitação, mantendo a

temperatura por uns 10 minutos. Resfriar com agitação moderada. Acrescentar C e

homogeneizar bem. Acrescentar D e homogeneizar bem. Ajustar o pH com a fase E para

aproximadamente 4,0.

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228

14.3.20 Condicionador de cabelo “leave-in” para hidratar o cabelo 47

Componente Função %

A)

Metassulfato de berrenil

trimônio e cetoestearílico

Álcool ceto estearilico

Estearato de octila

Fenoxietanol e parabenos

Emulsionante catiõnico e

agente de consistência

Agente de consistência,

sobreengordurante

Emoliente

Conservantes

2,00

1,00

1,00

0,50

B)

Água destilada

Veículo

qsp 100,00

C)

Aminoácidos do trigo

Hidratação e

condicionamento capilar

2,00

D)

Essência

Aditivo olfativo

q.s.

E)

Ácido cítrico (solução 10%)

Acidulante

q.s.

Modo de fazer:

Aquecer A e B até 80 - 85°C, separadamente. Verter B em A com agitação, mantendo a

temperatura por uns 10 minutos. Resfriar com agitação moderada. Acrescentar C e D e

homogeneizar. Ajustar o pH com a fase E para aproximadamente 4,0.

14.3.21 Umedecedor de cabelo

Rendimento 1 Kg.

Componente Função Quantidade

Fase A:

Água deionizada

Carbopol (=metilparabeno)

Nipagim

Germall 115

Uréia

Veículo

Espessante

Antioxidante, conservante

Conservante antimicrobiano

Umectante

860 mL

1 g

1 g

3 mL

20 g

Fase B:

Propilenoglicol

Trietanolamina

Umectante

Umectante, regulador de pH

50 mL

5 mL

Fase C:

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229

Ciclometicone DC 1401

Vitamina E

D-Pantenol

Ceramidas.

Alizante

Vitamina ativa

Vitamina ativa

Fortificante

30 mL

10 mL

10 g

10 mL

Como fazer:

Adicionar a fase A em um recipiente e deixar descansar 24 horas. Após as 24 horas, bater e

peneirar por completo (não descartando nada). Adicionar a fase B na ordem até total

homogeneização. Adicionar a fase C.

14.4 Produtos cosméticos para pele e face

14.4.1 Veículos para produtos de aplicação tópica na pele 47

a) Base para Cremes (= emulsão de alta viscosidade) e loções (= emulsão de baixa

viscosidade)

Fases e Componentes Função % mássico

para creme

% mássico

para loção

A)

Cera auto-emulsionante não

iônica (ver p. 47)

Óleo de amêndoas

Butilhidroxitolueno

Propilparabeno

Espessante,

emulsionante

Emoliente

Antioxidante

Conservante

15,00

2,00

0,05

0,05

7,00

1,00

0,05

0,05

B)

Propilenoglicol

Metilparabeno

Água destilada

Umectante

Conservante

Veiculo

5,00

0,15

qsp 100,00

5,00

0,15

qsp 100,00

Como fazer:

Aquecer, separadamente, as fases A e B até 75- 80 °C. Verter a fase B sobre a fase A, sob

agitação constante. Agitar moderadamente, até atingir temperatura inferior à 40 °C.

b) Gel aniônico

47

Adotado de G. Riccileonardi, Cosmetologia Aplicada; referência indicada no anexo deste livro.

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230

Fases e Componentes Função % mássico

A)

Polímeros do ácido acrílico

Água destilada

Espessante

Veículo

1,00

qsp 100,00

B)

Propilenoglicol

Metildibromoglutaronitrila

e fenoxietanol

Umectante

Conservantes

5,00

0,10

C)

Trietanolamina

Alcalinizante

qs

Como fazer:

Em um béquer misturar os componentes da fase A. Em um cálice misturar os componentes da

fase B e homogeneizar bem. Verter B sobre A, homogeneizar e deixar em repouso.

Acrescentar C aos poucos até pH 6,5 - 7,0.

c) Gel não iônico para a pele

Fases e Componentes Função % mássico

Hidroxietilcelulose

Propilenoglicol

Imidazolidinil ureia

Metilparabeno

Água destilada

Espessante

Umectante

Conservante

Conservante

Veículo

2,00

5,00

0,50

0,15

qsp 100,00

Como fazer:

Em um béquer misturar todos os componentes. Aquecer até 65 – 70 °C: agitação. Tirar do

aquecimento e manter agitação até temperatura inferior a 40 °C.

d) Gel-creme, aniônico, para a pele.

Fases e Componentes Função % mássico

A)

Polímeros do ácido acrílico

Água destilada

Espessante

Veiculo

1,00

qsp 100,00

B)

Propilenoglicol

l-

Umectante

Conservantes

5,00

0,10

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231

Metildibromoglutaronitrila

e fenoxietanol

C)

Trietanolamina

Alcalinizante

qs

D)

Óleo mineral

Tensoativo

Emoliente

Emulsificante

2,00 qs

Como fazer:

Em um bequer misturar os componentes da fase A. Em um cálice misturar os componentes da

fase B e homogeneizar bem. Verter B sobre A, homogeneizar e deixar em repouso.

Acrescentar C, aos poucos, até pH 6,5 - 7,0. Acrescentar D e homogeneizar.

e) Gel creme, não iônico

Fases e Componentes Função % mássico

A)

Hidroxietilcelulose

Propilenoglicol

Imidazolidinil uréia

Metilparabeno

Água destilada

Espessante

Umectante

Conservante

Conservante

Veiculo

2,00

5,00

0,50

0,15

qsp 100,00

B)

Óleo mineral

Tensoativo

Emoliente,

emulsificante

2,00 qs

Como fazer:

Em um bequer misturar todos os componentes da fase A. Aquecer sob agitação até 65 – 70

°C. Tirar do aquecimento e manter agitação até temperatura inferior a 40 °C. Adicionar os

componentes da fase B e homogeneizar.

f) Gel creme “Oil free”, aniônico

Fases e Componentes Função % mássico

A)

Polímeros do ácido acrílico

Água destilada

Espessante

Veiculo

1,00

qsp 100,00

B)

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232

Propilenoglicol

Metildibromoglutaronitrila

e fenoxietanol

Umectante

Conservantes

5,00

0,10

C)

Trietanolamina

Alcalinizante

qs

D)

Óleo de silicone

Tensoativo

Emoliente

Emulsificante

2,00

qs

Como fazer:

Em um béquer misturar os componentes da fase A. Em um cálice misturar os componentes da

fase B e homogeneizar bem. Verter B sobre A, homogeneizar e deixar em repouso.

Acrescentar C, aos poucos, até pH 6,5- 7,0. Acrescentar D e homogeneizar.

a) Gel creme “Oil free”, não iônico

Fases e Componentes Função % mássico

A)

Hidroxietilcelulose

Propilenoglicol

Imidazolidinil ureia

Metilparabeno

Água destilada

Espessante

Umectante

Conservante

Conservante

Veículo

2,00

5,00

0,50

0,15

qsp 100,00

B)

Óleo de silicone

Tensoativo

Emoliente

Emulsificante

2,00

qs

Como fazer:

Em um béquer misturar todos os componentes da fase A. Aquecer até 65 - 70°C, sob agitação.

Tirar do aquecimento e manter agitação até temperatura inferior a 40°C. Adicionar os

componentes da fase B e homogeneizar.

14.4.2 Produtos hidratantes para a pele corporal 47

a) Creme hidratante, receita padrão.

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233

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante (ver p.

47)

Esqualano

-tocoferol

Propil parabeno

Agente de consistência e emulsionante

Emoliente

Antioxidante

Conservante

15,00

3,00

0,04

0,10

B)

Imidazolidinil ureia

Água destilada

Metilparabeno

Glicerina

Glutationa

Conservante

Veículo

Conservante

Umectante

Antioxidante

0,50

qsp 100,00

0,20

10,00

0,30

C)

Palmitato de retinol

-tocoferol acetato

Epitelizante

Hidratante

1,0

1,0

Modo de fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 °C. Verter B sobre A, sob agitação constante.

Resfriar sob agitação. Acrescentar C e homogeneizar.

b) Cold Cream com ureia 20%.

O Cold Cream é uma base dermatológica para cremes com propriedade hidratante,

lubrificante e refrescante. Ele tem ação intradérmica, sendo indicado para pele seca

garantindo proteção e limpeza. A ureia ajuda nesse processo com seu alto grau de

solubilidade em água, sua capacidade de reter a água (higroscopia) e assim prolongar o

período de ação hidratante.

Segue a receita para 5 Kg de Cold Cream.

Componentes Função Quantidade

A)

Propilenoglicol

Ureia

Água deionizada

Umectante e emoliente

Acalmante, umectante

Veículo

200 mL

1 Kg

2,6 L

B)

BHT

Lanette N

Óleo de amêndoas

Antioxidante

Cera auto-emulsionante

Componente hidrofóbico oclusivo com

2,5 g

625 g

300 mL

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234

Vaselina líquida

diversas propriedades, tais como

bactericida, fungicida, anestésica,

antioxidante, anticarcinogênica, etc.

Lubrificante para melhorar a

espalhabilidade

500 mL

C)

Nipagin, Nipazol

Conservante

50 mL

Modo de fazer:

Dissolver a ureia na água e acrescentar o propilenoglicol, tudo à temperatura ambiente (fase

A). Misturar a Lanette N com o óleo de amêndoas, a vaselina e o BHT (fase B). Aquecer as

fases A e B separadamente, sob agitação, a 70 °C. Verter a fase A sobre a B sob agitação

constante. Desligar o aquecimento e a 50 °C acrescentar o conservante (fase C) sob agitação

leve.

d) Creme hidratante com ceramidas (ver p. 31)

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante

(ver p. 47)

Esqualano

Miristato de isopropila

Monoestearato de glicerila

Álcool ceto-estearilico

Base líquida de absorção

Lanolina acetilada

Propilparabeno

Butil-hidróxi-tolueno (BHT)

Ceramida III

Emulsionante primário e

agente de consistência

Emoliente

Emoliente

Emulsionante secundário

Agente de consistência

Emoliente

Emoliente

Conservante

Antioxidante

Hidratante

7,00

4,00

2,50

1,50

1,00

1,00

1,00

0,05

0,50

2,00

B)

Metilparabeno

Imidazolidinil ureia

Glicerina

Água destilada

Conservante

Conservante

Umectante

Veiculo

0,15

0,50

7,00

qsp 100,00

Modo de fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 "C. Verter A sobre B, sob agitação constante.

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235

e) Loção cremosa hidratante para o corpo

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante

(ver p. 47)

Álcool estearilico

Lactato de cetila

Óleo mineral

Vaselina sólida

Óleo de silicone

Metassulfato de berrenil trimônio

e álcool ceto-estearilico

Propilparabeno

Agente de consistência e

emulsificante

Agente de consistência

Emoliente

Emoliente

Emoliente

Emoliente

Tensoativo catiônico e

agente de consistência

Conservante

2,00

3,00

1,50

1,00

2,00

0,50

2,00

0,05

B)

Glicerina

Metilparabeno

Agua destilada

Umectante

Conservante

Veículo

8,00

1,50

qsp 100,00

C)

Essência

Perfume

qs

Modo de fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 °C. Verter B sobre A, sob agitação constante.

Resfriar sob agitação. Acrescentar C e homogeneizar.

e) Gel hidratante

Componentes Função % mássico

A)

Ácido poliacrílico (Carbopol

ou Carbomer)

Água destilada

Espessante

Veiculo

0,50

qsp 100,00

B)

Glicerina

Umectante

5,00

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236

Metil dibromo glutaronitríla e

fenoxietanol

Conservante 0,20

C)

Escleroglucan

Hidratante

5,00

D)

Trietanolamina

Neutralizante

qs

Modo de fazer:

Misturar A em um béquer. Misturar B em um cálice e verter sobre A. Adicionar C e

homogeneizar muito bem. Adicionar D sobre A + B +C até pH 6,5.

f) Gel hidratante com efeito anti-acne

Componentes Função % mássico

A)

Imidazolidinil uréia

Metilparabeno

Água destilada

Conservante

Conservante

Veiculo

0,50

0,15

qsp 100,00

B)

Poliacrilato de glicerila

Espessante

18,00

C)

Extrato glicólico de Aloe vera (= babosa)

Extrato glicólico de própolis

Hidratante

Antisséptico, cicatrizante

3,00

5,00

Modo de fazer:

Aquecer A até 75-80°C. Resfriar, adicionar B sobre A e agitar até formar gel. Adicionar C e

homogeneizar bem.

14.4.3 Creme para a pele facial com problema de acne

Gel-creme com ácido salicílico.

Componentes Função % mássico

A)

Hidroxietilcelulose

Fenoxietanol e parabenos

Propilenoglicol

Espessante

Conservante

Umectante

2,00

0,50

5,00

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237

EDTA

Água destilada

Agente quelante

Veiculo

0,10

qsp 100,00

B)

Microemulsão de silicone e tensoativo

Emoliente e emulsificante

2,00

C)

Acido salicilico

Propilenoglicol

Esfoliante

Agente molhante

1,00

qs

Como preparar:

Levar os componentes da fase A ao fogo (até aprox. 65°C), misturando-os durante o

aquecimento, até total homogeneização. Verter a fase B sobre a fase A e misturar bem.

Triturar o ácido salicílico, molhando-o com propilenoglicol e verter, aos poucos A+B sobre C,

misturando bem.

14.4.4 Pasta para a pele facial com problema de acne

Pasta de enxofre à base d´água.

Nota: esta fórmula, embora ser de aplicação tópica, tem efeitos sistêmicos, portanto pode ser

classificada como remédio. Devido sua inocuidade, porém, é permitida como cosmética.

Componentes Função % mássico

A)

Enxofre

Óxido de zinco

Talco

Anti-seborréico

Adstringente

Absorvente

2,00

25,00

25,00

B)

Glicerina

Metilbromoglutaronitrila e fenoxietam

Água destilada

Umectante

Conservante

Veiculo

25,00

0,10

qsp 100,00

Como preparar:

Em um gral, pulverizar A. Misturar B em um cálice e adicionar B sobre A, aos poucos,

misturando com o pistilo de forma a obter uma pasta homogénea.

14.4.5 Máscara para a pele facial com problema de acne

Componentes Função % mássico

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238

A)

Propilenoglicol

Metilparabeno

Agua destilada

Umectante

Conservante

Veiculo

4,00

0,18

qsp 100,00

B)

Propilparabeno

Álcool ceto-estearílico

Álcool cetílico

Palmitato de cetila

Estearato de octila

Álcool ceto-estearílico etoxilado

Conservante

Doador de viscosidade

Dosador de viscosidade

Doador de viscosidade, emoliente

Emoliente

Emulsificante

0,02

4,00

6,00

2,00

4,00

3,00

C)

Argila verde

Agua destilada

Cicatrizante, adstringente

Veiculo

20,00

qs

Como preparar:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 "C. Verter A sobre B, sob agitação constante. Pré-

misturar a fase C, colocando água na argila até ficar na consistência de uma massa mole e

incorporar na emulsão quando esta atingir a temperatura aproximada de 40 °C.

14.4.6 Produtos para a pele envelhecida e/ou com efeito anti-envelhecimento

Gel com -hidroxi ácidos

Tanto o ácido glicólico como o ácido lático (p. 59), têm efeito esfoliante. Eles retiram o

excesso das células mortas da stratum corneum, deixando assim caminho livre para uma

queratinização regular a partir da epidermis.

Componentes Função % mássico

A)

Hidroxietilcelulose

Imidazolidinil ureia

Metilparabeno

Glicerina

Agua destilada

Espessante

Conservante

Conservante

Umectante

Veículo

2,00

0,50

0,20

5,00

qsp 100,00

B)

Acido glicólico

Alternativa: Ácido lático

Esfoliantes

5,00

C)

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239

Trietanolamina Neutralizante qs para pH 4,0

Como fazer:

Aquecer A até 70-75 °C sob agitação até homogeneizar. Adicionar B. Adicionar C até pH 4,0.

Creme anti-envelhecimento contendo vitamina A

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante

(ver p. 47)

Esqualano

Propilparabeno

Agente de consistência e

emulsionante

Emoliente

Conservante

15,00

3,00

0,10

B)

Metilparabeno

Imidazolidinil uréia

Glutationa

Glicerina

Água destilada

Conservante

Conservante

Antioxidante

Umectante

Veículo

0,20

0,50

0,30

10,00

qsp 100,00

C)

-tocoferol

Palmitato de retinol

Antioxidante

Epitelizante

0,04

1,0

(ou 10.000UI/g)

Como fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 °C. Verter B sobre A, sob agitação constante.

Resfriar sob agitação. Acrescentar C e homogeneizar.

Creme de pele com efeito anti-envelhecimento contendo vitamina E

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante

(ver p. 47)

Óleo de macadâmia

Agente de consistência e

emulsionante

Emoliente

15,00

2,00

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240

Propilparabeno Conservante 0,10

B)

Metilparabeno

Glicerina

Água destilada

Imidazolidinil ureia

Conservante

Umectante

Veículo

Conservante

0,20

10,00

qsp 100,00

0,50

C)

-tocoferol

-tocoferol acetato

Antioxidante

Hidratante

0,04

5,00

Como fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 °C. Verter B sobre A, sob agitação constante.

Resfriar sob agitação. Acrescentar C e homogeneizar.

Gel hidratante contendo protetor solar

Componentes Função % mássico

A)

Ácido poliacrílico (Carbopol ou

Carbomer)

Agua destilada

Espessante

Veiculo

0,8

qsp 100,00

B)

Glicerina

Metildibromoglutaronitrila e

fenoxietanol

Umectante

Conservantes

5,00

0,20

C)

Trietanolamina

Neutralizante

qs

D)

Lipossomas contendo fatores

umectantes naturais (NMF; p. 24)

Filtro solar UV-A/UV-B

hidrossolúvel

Hidratante

Protetor solar

3,00

8,00

Como fazer:

Misturar A em um béquer. Misturar B em um cálice e verter sobre A. Adicionar C sobre A +

B até pH = 6,5. Adicionar D e homogeneizar.

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241

14.4.7 Produtos clareadores e esfoliantes para a pele

Gel-creme clareador (oil-free) 47

Componentes Função % mássico

A)

Poli-ácido acrílico

Água destilada

EDTA

Espessante

Veiculo

Agente quelante

0,80

qsp 100,00

1,00

B)

Metil dibromo glutaronitrila e

fenoxietanol

Glicerina

Conservante

Umectante

0,20

5,00

C)

Trietanolamina

Neutralizante

qs pH=4,0

D)

Microemulsão de silicone e

tensoativo

Emoliente e emulsionante

4,00

E)

Fosfato de ascorbil-magnésio

(VCPMG)

Clareador, anti-radicais livres

3,00

Como fazer:

Misturar A em um béquer. Misturar B em um cálice e verter sobre A. Deixar em repouso por

12 horas. Adicionar C sobre (A + B) até pH = 6,5. Verter D e homogeneizar. Adicionar E e

homogeneizar.

Creme com ácido mandêlico

Indicado para o tratamento de problemas da pele como envelhecimento por exposição solar,

hiperpigmentação e acne. O peeling deve ser realizado com ele sobre a pele por poucos

minutos, sendo retirado com água. Note que este produto, conforme o espectro de atividade

do ácido mandélico, encaixa-se igualmente no cap. 14.4.6.

A seguinte receita rende 30 g de gel-creme.

Componentes Função Quantidade

A)

Ácido mandêlico

Álcool etílico 70 °GL

Despigmentante, anti-acne, anti-

envelhecimento

Solvente, antibacteriano

12 g

3 mL

B)

Gel Natrosol (= HEC; ver p. 43)

Formador de gel

qsp 30 g

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242

Como fazer:

Triturar o ácido mandélico com pistilo e dissolver o pó em álcool 70 ºGL (fase A). Completar

com Gel Natrosol (fase B) até o chegar em 30g. Misturar bem com espátula.

Creme esfoliante 47

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante não

iônica

Esqualano

Lecitina hidrogenada

Agente de consistência e

emulsionante

Emoliente

Emulsificante

8,00

2,00

1,00

B)

Glicerina

Água destilada

Umectante

Veículo

3,00

qsp 100,00

C)

Metil-dibromo-glutaronitrila e

fenoxietanol

Propilenoglicol

Conservantes

Umectante

0,20

2,00

D)

Acido glicólico

Agente esfoliante

5,00

Como fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 °C. Verter B sobre A, sob agitação constante.

Resfriar sob agitação. Misturar os componentes da fase C e verter sobre (A + B) e

homogeneizar muito bem. Acrescentar D e homogeneizar.

Loção cremosa despigmentante 47

Componentes Função % mássico

A)

Base auto-emulsionante não

iônica

Estearato de octila

BHT

Agente de consistência e

emulsionante

Emoliente

Antioxidante

8,00

5,00

0,05

B)

Glicerina

Umectante

5,00

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243

Fenoxietanol e parabenos

Água destilada

Conservantes

Veículo

0,50

qsp 100,00

C)

Silicone volátil

Emoliente

2,00

D)

Metabissulfíto de sódio

Extrato de uva-ursi

Antioxidante

Despigmentante

0,30

5,00

Como fazer:

Aquecer A e B separadamente até 75-80 °C. Verter B sobre A, sob agitação constante.

Resfriar sob agitação. Acrescentar a fase C e homogeneizar bem. Misturares componentes da

fase D e adicionar sobre a fase anterior.

Gel-creme clareador (oil-free) 47

Componentes Função % mássico

A)

Poli-ácido acrílico

Água destilada

EDTA

Fenoxietanol e parabenos

Propilenoglicol

Espessante

Veículo

Agente quelante

Conservantes

Umectante

1,00

qsp 100,00

1,00

0,50

5,00

B)

Trietanolamina

Neutralizante

qs pH=4,0

C)

Copolímero de

divinildimeticone/dimeticone e

álcoois graxos C12-C13

etoxilados

Emoliente e emulsionante

5,00

D)

Ascorbosilane C

Clareador, anti-radicais livres

5,00

Como fazer:

Misturar A em um béquer. Deixar em repouso por 12 horas. Verter B até pH = 6,5. Adicionar

C e homogeneizar. Adicionar D e homogeneizar.

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244

14.4.8 Óleo trifásico

Ingredientes:

400 mL de Sorbitol 70

10 mL de Proteinam (= colágeno)

0,5 mL de Zonem MI

Corante hidrossolúvel (a gosto)

200 mL de Cetrol HE

400 mL de óleo mineral USP (= vaselina líquida)

Corante lipossolúvel (a gosto)

5 mL de Essência (de maracujá, por exemplo)

Como fazer:

1. Dissolver o corante hidrossolúvel em água desmineralizada e separar.

2. Aparte disso, adicionar a Proteinam e o Zonem do sorbitol até ficar totalmente homogêneo.

3. Adicionar solução da etapa 1 sobre a mistura da etapa 2 até ficar homogêneo.

4. Adicionar o Cetrol HE na mistura da etapa 3.

5. Dissolver o corante lipossolúvel no óleo mineral, em seguida adicionar a essência.

6. Adicionar a mistura da etapa 5 à solução da etapa 4, agitando aos poucos.

Observação: Neste preparado forma-se um produto leitoso que, aos poucos, vai separando em

3 fases.

14.4.9 Loção tônica adstringente

Recomendada para pele acneica.

Componentes Função % mássico

A)

Alantoina

Metilparabeno

Imidazolidiniluréia

Glicerina

EDTA

Agua destilada

Regenerador de tecido

Conservante

Conservante

Umectante

Agente quelante

Veículo

0,20

0,20

0,50

5,00

0,10

qsp 100,00

B)

Extrato glicólico de hamamelis

Adstringente

3,00

Como preparar:

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245

Aquecer A até 75°C. Resfriar e transferir para um cálice. Adicionar B e homogeinizar.

14.4.10 Sabonete líquido

Ingredientes:

300 g de lauril

50 g de coco amida propil betaína (a 30 %) (suavidade)

30 g de dietanolamida de ácido graxo de coco (= agente espumante e espessante)

Também denominado de amida 90 ou "amida cosmética".

50 g de agente perolizante (se quiser)

40 g de poliquatérnium 7 (= agente condicionante), também conhecido por Mirapol 550.

10 g de EDTA dissódico

10 g de metilparabeno (= conservante)

Meio litro de água deionizada - ou mais, até uns 650 mL.

Sal para engrossar (quantidade suficiente; cuidado: com muito sal perde a transparência e a

massa desanda)

Ácido cítrico (solução a 20%) para neutralizar o pH (quantidade suficiente; fazer teste com

papel de tornassol umedecido).

Modo de fazer:

Diluir em metade da água o lauril, a betaína, o poliquatérnium e perolizante. Se for usar

corante, dissolva-o em 50 mL de água junto com o EDTA e misture com a solução anterior.

No restante da água colocamos o metilparabeno, a essência e a amida. Corrigir o pH com o

ácido cítrico, até pH 6 a 7.

14.4.11 Sabonete líquido, receita mais econômica.

250 mL de lauril, 30 mL de dieta, 1 g de metil, 1 g de EDTA, 4 mL de ácido cítrico a 20%, 10

mL de essência, corante (pouco), 700 mL de água, 2 colheres de perolizante, 120 mL de

cocoamida, 10 mL de óleo de amêndoas hidrossolúvel, e 10 mL de glicerina bidestilada.

Colocar o lauril, a dieta, o metil, o EDTA, o ácido cítrico, a essência, o corante e a água em

um recipiente e mexer sem fazer espuma até ficar bem homogêneo. Adicionar o cocoamida e

depois de atingir a viscosidade, acrescentar o óleo de amêndoas, a base perolada e a glicerina.

14.4.12 Sabonete para a pele facial com problema de acne 47

Componentes Função % mássico

A)

Lauríl éter sulfato de sódio

Cocoanfocarboxiglicinato

Dietanolamida de ácido graxo de coco

Fenoxietanol e parabenos

Lanolina etoxilada

Tensoativo aniônico

Tensoativo anfótero

Sobreengordurante, espessante

Conservante

Emoliente

27,00

3,00

2,00

0,20

1,00

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246

Água destilada Veiculo qsp 100,00

B)

Triclosan (Irgasan DP 300)

Tintura de calêndula

Propilenoglicol

Bactericida

Antisséptico

Umectante

0,10

1,00

5,00

C)

Acido cítrico

Essência de hortelã

Acidificante

Perfume

qs

qs

Como preparar:

Preparar a fase A misturando vagarosamente os componentes da fórmula um a um por ordem

da lista até total homogeneização. Misturar a fase B e adicioná-la sobre a fase A e misturar

bem. Adicionar a Fase C em A+B. Homogeneizar.

14.4.13 Gel pós barba

Preparar 400 mL de gel (400 mL de água com 2 g de carbopol)

1 grama de alantoína (= regenerador de ação hidratante),

100 g de propilenoglicol (= umectante)

2 g de triclosan (= bactericida)

450 g de álcool etílico

60 g de óleo de amêndoas etoxilado (= emoliente)

4 g de essência (a gosto)

4 g de "nipagin" (= metilparabeno; é conservante)

12 g de trietanolamina (= neutralizante)

1 litro de água deionizada

Modo de fazer:

Misture os 400 mL de gel na água deionizada, espere meia hora, acrescente a trietanolamina e

depois os demais componentes agitando bem. Você pode aumentar a viscosidade do gel

aumentando a quantidade de carbopol.

14.4.14 Álcool em gel

30 litros de água

300g a 400 g de Carbopol ("Carbomer")

70 litros de álcool etílico (compre no posto, sem aditivos) = Álcool hidratado 93 ° GL

100 a 150 g de Trietanolamina (= neutralizante)

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247

Modo de fazer:

Dissolver o carbopol na água lentamente sob forte agitação, se necessário aquecer ou deixar

de repouso por 24 horas até que se dissolva completamente. Depois, em temperatura

ambiente, adicionar o álcool e lentamente a trietanolamina. Pela seguinte medida o gel fica

mais viscoso: segunda pesagem de 400 g de carbopol e 150 g de trietanolamina. Se quiser

mais viscoso ainda é só aumentar proporcionalmente o carbopol e a trietanolamina nas

mesmas quantidades de água e álcool.

Observação: Pode-se colocar mais água, até 1:1 (um de álcool e um de água), já que o produto

final não tem a finalidade de ser um combustível (fogo) - nem deve ser. Rende mais e lucra-se

mais! Se aumentar a quantidade de água, aumente a quantidade do "carbomer",

proporcionalmente.

14.4.15 Gel para ultrassonografia

Rendimento 1 Kg.

Fase A:

Carbopol 10 g

Água deionizada 930mL

Nipagim 1 g

BHT 0,5 g

EDTA 0,5 g

Fase B:

Propilenoglicol 50mL

Trietanolamina 8 mL

Como fazer:

Adicionar a fase A em um recipiente e deixar descansar 24 horas. Após as 24 horas

homogeneizar bem até total dissolução do carbopol. Passar em uma peneira (não descartando

nada). Incorporar a fase B sob agitação constante.

14.4.16 Sais de banho

Ingredientes:

1 Kg de sal cisne

180 g sulfato de magnésio ("sal amargo")

10 mL de propilenoglicol

30 mL de essência

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10 mL de álcool de cereais (pode ser o álcool 70% comprado na farmácia).

100 g de lauril em pó

Corante se quiser.

Como fazer:

Colocar o sal em uma forma refratária no forno já quente e deixe por 20 minutos em

temperatura baixa. Retire, cubra com papel alumínio e espere esfriar. Em um borrifador

coloque o propileno, o álcool, a essência e o corante e borrife por cima do sal, espere mais 5

minutos e misture o sulfato e o lauril. O lauril é para fazer espuma, caso não queira espuma,

não coloque o lauril.

14.4.17 Desodorante Líquido

1,5 L de álcool de cereais

5 gramas de triclosan (= bactericida; tem o nome também de Irgasan DP 300).

50 mL de essência a gosto

70 mL de propilenoglicol

650 mL de água destilada

120 mL de oxicloreto de alumínio (= antiperspirante).

Modo de Fazer:

Dissolver todos os componentes no álcool, acrescentar a água e misturar muito bem.

14.4.18 Repelente natural de insetos

A seguinte receita afasta os pernilongos por 3 horas ou mais. Para preparar 4 L deste repelente

(suficiente para uma família por um ano), precisa-se:

4 L álcool 92°

800 mL óleo corporal (óleo de amêndoa)

100 g Cravos da índia

100 mL Essência de citronela

Alternativa: 200 g folhas frescas de citronela

Modo de preparar:

A partir do material vegetal: Colocar cerca de 4 colheres de sopa de cravos da índia numa

garrafa PET vazia e limpa. Encher a garrafa ao máximo possível com a folha de citronela

(cuidado: a folha pode cortar a mão!). Completar com álcool (que pode também ser do posto

de gasolina) e deixar curtir por 5 dias à temperatura ambiente, sacudindo o conteúdo de vez

em quanto. Decantar o líquido para outra garrafa PET vazia e limpa. Este extrato já pode ser

aplicado como repelente de mosquitos, de preferência por meio de um borrifador. O líquido

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tornou-se verde escuro, mas não mancha visivelmente a pele. Uma mancha na roupa sai

facilmente na próxima lavagem.

A receita do repelente pode ser ainda melhorada através da seguinte medida que prevê o uso

de óleo corporal. O óleo tem duas funções na pele: protege-a contra resseca e dificulta o

pouso e a mordida do mosquito. Enquanto usuários com pele seca agradecem esses efeitos,

outros podem sentir a sensação oleosa como desvantagem. Acrescentar à garrafa onde foi

feita a extração com álcool, uma garrafinha (100 mL) de óleo de amêndoa. Sacudir várias

vezes e deixar por um dia. Assim a extração do material vegetal se torna bem completa.

Deixar a garrafa no sol por alguns minutos (isso deixa o óleo menos viscoso) e despejar o

óleo aromatizado na garrafa onde tem o extrato a álcool. Após sacudir esta mistura o produto

pode ser aplicado.

Em caso de usar essências em vez de material vegetal, o procedimento é mais fácil e rápido

ainda, além de produzir um produto incolor. Acrescentar 100 mL da essência da citronela e

100 mL do óleo corporal a 2 L de álcool. Sacudir bem e transferir num borrifador (através de

um filtro de café, pois pode conter pequenas partículas que entopem o orifício). Sacudir antes

de aplicar na pele.

Esse produto é bem cheiroso e isento de substâncias perigosas. O óleo de cravos tem um

efeito anestésico e pode causar uma sensação de queima por curto tempo quando aplicado em

partes mucosas da pele (lábios, olhos, genitais). O custo, caso feito à base do material vegetal,

é somente 5% dos produtos comerciais.

14.5 Produtos domissanitários de uso geral

14.5.1 Água sanitária

Ingredientes:

1 litro de cloro

4 litros de água

2 colheres rasas de barrilha (= carbonato de sódio). É um produto usado em piscina para corrigir o pH. O papel principal da barrilha aqui é alvejante. Algumas pessoas

costumam colocar também uma colher de soda para ficar mais forte (limpeza pesada).

Se quiser perfumar basta colocar 5 mL de essência e 5 mL de Renex (nonilfenol).

Modo de fazer:

Dissolva a barrilha na água (se for colocar a soda, dissolva junto com a barrilha) e depois

acrescente o cloro. Mexa bem. Deixe repousar por 24 h antes de usar.

Não colocar em garrafas transparentes, pois perde o efeito!

14.5.2 Alvejante com peróxido de hidrogênio.

(Receita especial, para roupas coloridas)

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Ingredientes:

5 Kg de lauril sulfato de sódio a 28%

1 Kg de nonilfenol etoxilado (também conhecido por Renex)

Até 1,5 Kg de pirofosfato de sódio (= alcalinizante e abrandador)

0,5 Kg de ácido tetrametilenofosfônico (= sequestrante)

5 Kg de peróxido de hidrogênio (= alvejante)

Corante (pouco)

Água para completar 100 litros.

Modo de preparar:

Em 30% da água a ser utilizada, adicionar o ácido tetrametileno, o peróxido, o corante e

reservar. Em 50% da água a ser utilizada, solubilizar vagarosamente (para evitar formação de

espuma) os seguintes produtos: lauril, nonilfenol, e adicionar à fase anterior. Em 10 litros de

água adicionar o pirofosfato de sódio e reservar. Na mistura do lauril e dos outros

componentes, adicionar o restante da água e corrigir o pH da mistura entre 5 e 6, com a

solução de pirofosfato, para dar estabilidade ao peróxido.

14.5.3 Sabão em pó

(alta qualidade)

Rendimento: 1,1 Kg

Ingredientes:

600 g de barrilha

100 mL de sulfônico

50 mL de Renex

100 g de tripolifosfato

150 g de metassilicato

100 g de lauril em pó

Essência e corante a gosto.

Modo de fazer:

Colocar 400 g da barrilha com o sulfônico e misture bem mesmo. Adicionar o renex e

misturar bem. Juntar o tripolifosfato e misturar bem. Adicionar o metassilicato e misturar bem

(se preferir, colocar uma luva misturar com as mãos). Acrescentar o lauril e misturar bem e

por fim o restante da barrilha. Acrescentar a essência e/ou corante. Se ficar meio granulado,

passar por uma peneira.

14.5.4 Sabão em pó, receita 2.

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1600 g de barrilha

4200 g de laurilsulfato de sódio em pó

3000 g de tripolifosfato de sódio

1200 g de dodecilbenzenossulfonato de sódio ("maranil")

Esses valores em peso podem ser adaptados e obter uma formulação diferente e mais

econômica. É só misturar obedecendo a seqüência da anterior e está pronto. É claro que o

sabão em pó industrial não é esse, isto porque, para fazê-lo precisaríamos de instalações de

porte industrial com maquinários apropriados e também a formulação é outra (ver Figura 48

na p. 126 e Tab. 17 na p. 111, respectivamente).

14.5.5 Detergentes líquidos

14.5.6 Detergente concentrado

6 Kg de sulfônico

6 Kg de amida

600 g de soda

60 litros de água.

Modo de fazer:

Dissolva a soda em 2 litros da água. Dissolva o sulfônico em 30 litros da água bem

lentamente. Colocar a soda para neutralizar. O pH deve ficar em torno de 7. Adicionar a

amida mexendo sempre. Colocar o restante da água e engrossar com sal de cozinha (cisne) ou

sal próprio "Sulfatol", ou sal grosso (de churrasco), ou sulfato de sódio, ou sal refinado,

sempre diluídos em água. A recomendação é usar sal amargo (= sulfato de magnésio) por ser

mais eficaz.

14.5.7 Detergente doméstico

Nota: Informe-se antes sobre a periculosidade do “Formol” = solução de formaldeído! (Ver

também os avisos na p. 140.)

3 Kg de sulfônico

2 Kg de amida

300 g de Trietanolamina

100 g de formol (por exemplo, "lysoform") ou ácido cítrico ou ácido bórico em menor

quantidade, porque eles também baixam o pH e são conservantes.

330 g de soda 99% (pode-se usar qualquer outra soda, desde que haja controle sobre o pH com a fitinha)

90 litros de água.

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Opcional: colocar 0,5 Kg de lauril líquido - fica melhor ainda! Este "lauril" é um agente

espumante. Ele é usado em sabonete líquido, xampu, detergente, sabonete de base glicerinada,

pasta de dente, entre outros. Comercial é lauril líquido (de 28%, 30%, 50% e 70%) e lauril em

pó (equivale a 100%). Costuma-se usar o 28% e o 30%.

Dissolva a soda separadamente, depois o sulfônico em metade da água, acrescente a soda, a

amida, o restante da água, a trietanolamina, o formol, essência e corante se quiser e sal para

engrossar.

Cuidado: um excesso de sal pode turvar o produto!

Outras proporções:

Alternativa 2:

3 Kg de sulfônico, 3 Kg de amida, l Kg de lauril, 100 g de formol, 330 g de soda 99% ou 660

g de soda líquida e 90 litros de água, sal para engrossar, essência e corante se quiser.

Alternativa 3:

3 Kg de sulfônico, 2 Kg de amida, 1 Kg de lauril, 330 g de soda, 100 g (ou mL) de formol e

90 litros de água, sal para engrossar, essência e corante se quiser.

Essência: mais ou menos 300 mL nestas formulações.

14.5.8 Detergente industrial.

Rende 100 Kg de produto.

6 Kg de sulfônico

660 g de soda 99% (controlar o pH)

90 L de água

Sal para engrossar.

O procedimento é idêntico ao descrito acima.

14.5.9 Detergente econômico

1 Kg de lauril líquido

0,5 Kg de sulfônico

200 g de amida

15 litros de água

Salmoura até espessar (faça uma salmoura com 15 colheres de sal + 300 mL de água)

Soda diluída em água (o suficiente para corrigir o pH), em torno de 55 g da soda 99%

ou 110 g da soda líquida.

Corante e essência a gosto

Preparo:

Misture bem o sulfônico com 3 litros da água, acrescente a soda (pH em torno de 7), depois a

amida, depois o lauril, depois a salmoura para engrossar.

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CUIDADO: O excesso de salmoura pode turvar!

Por último a essência e o corante.

Dica: Cada vez que diminuir a quantidade de sulfônico, aumentar a quantidade de lauril!

(O lauril é mais em conta, o produto final tem excelente qualidade e o custo será menor).

14.5.10 Detergente fera

Componente Quantidade

Sulfônico 3 a 8 Kg

Soda (diluída) o suficiente para corrigir o pH

Trietanolamina 0,5 a 3 Kg

Lauril até 3 Kg

Amida (60 ou 80) até 1 Kg

Sulfato de magnésio até 1 Kg

Sulfato de sódio 200 g até 1 Kg

Cloreto de sódio até 1 Kg

Hidroxietilcelulose até 300 g

Fragrância/corante/conservante a seu critério

Bactericida até 800 g

EDTA dissódico (este não é alcalino) até 100 g

Extrato vegetal até 5 g

Água até completar os 100 litros

Dissolva o sulfônico em uns 30 litros da água, corrija o pH, coloque a amida, o lauril, a

trietanolamina. O sulfato deverá ser dissolvido em água quente (60°C) antes de colocar. O

restante da água e os demais ingredientes, engrosse e verifique novamente o pH. O EDTA em

pó deverá ser dissolvido na água que você vai usar.

14.5.11 Detergente líquido, receita caseira I

Essa receita tradicional fornece ~ 5 L de detergente, portanto deve-se arrumar frascos de

plástico suficientes antes de começar.

Ingredientes:

200 g Sabão comum ralado

1 Colher de sopa de água sanitária

1 Colher de sopa de soda cáustica

3 Colheres de sopa de sabão em pó

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4,5 L Água da torneira

Os utensílios: uma lata ou panela; uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo de

vassoura).

Procedimento:

Ralar o sabão bem fino e colocar em um recipiente com um litro de água. Para derreter é levar

ao fogo. Quando estiver tudo dissolvido, adicionar o sabão em pó e a soda cáustica. Sempre

batendo vigorosamente, retirar do fogo e juntar a água sanitária quando estiver resfriado um

pouco. Ainda batendo, juntar o restante da água aos poucos. Está pronto para ser embalado

(não esquece etiquetar devidamente os frascos, contendo o nome, data de fabricação e os

ingredientes menos a água!).

Observações:

1. Não pode usar uma panela de alumínio.

2. Existe essa receita também onde a água sanitária foi substituída, pelo mesmo volume

de querosene.

14.5.12 Detergente líquido, receita caseira II

Rendimento: aproximadamente 6 L.

Ingredientes:

1 barra Sabão de coco

1 L Água fervendo

4 L Água fria

1 copo Suco de limão (coado)

Os utensílios: uma lata ou panela, uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo de

vassoura), um ralador de cozinha, 1 coador ou peneira.

Procedimento:

Ralar o sabão de coco. Ferver 1 L de água e adicionar as raspas de sabão lá dentro, mexendo

com o pau até dissolver tudo de maneira homogênea. Desligar o fogo e colocar 4 L de água

fria e um copo de limão. Mexer bem até embalar.

Não esqueça etiquetar o produto!

Observações:

a) Essa receita contém um produto natural, portanto sua validade é naturalmente limitada.

b) Misturar o produto logo antes de usar.

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14.5.13 Sabão líquido para roupas, Receita 1

3 Kg de Sulfônico

3 Kg de Amida

500 g de Tripolifosfato de sódio

330 g de Soda 99% ou 660 g de soda líquida. (confira o pH com a fitinha).

300 g de Brancol

90 L de água

Corante azul

Sal para engrossar.

Se quiser pode colocar 0,5 Kg de Lauril.

O procedimento é o mesmo descrito no "Detergente", ver acima.

14.5.14 Sabão líquido para roupas, Receita 2

5 Kg de ácido sulfônico

1 Kg de trietanolamina

2 Kg de nonilfenol etoxilado

1 Kg de soda líquida

1 Kg de tripolifosfato de sódio

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Diluir a soda em 80 litros da água e acrescente o tripolifosfato sempre mexendo bem.

Adicionar o sulfônico lentamente depois a trietanolamina e o nonil, sempre mexendo para

homogeneizar bem. Acertar o pH entre 6,5 a 7,5. Colocar o restante da água.

14.5.15 Sabão líquido de coco

60 litros de água

1 Kg de trietanolamina

12 Kg de soda líquida (seria melhor 6 Kg de potassa em pastilhas)

10 Kg de óleo de mamona

18 Kg de óleo de coco

1 Kg de agente perolizante.

Modo de preparar:

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Se for usar potassa, primeiro dissolva a potassa na água. Misturar os produtos acima na ordem

e aqueça até 80°C. Espere esfriar e adicione corante e a essência.

14.5.16 Desinfetante de pinho, receita I

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; ver também os

avisos na p. 140.)

2 litros do detergente já preparado anteriormente

1 litro de pinho (essência)

300 mL de formol

200 mL de brancol

95 litros de água

Corante (pouco)

Modo de preparar:

Misture o detergente com a essência, acrescente a água, o formol e depois de homogeneizado

colocar o brancol e o corante.

14.5.17 Desinfetante de pinho, receita II

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140)

10 Kg de ricinoleato de sódio

4 Kg de óleo de pinho

2 litros de formol a 37%

6 litros de álcool hidratado do posto

200 mL de EDTA a 30%

Água para completar 100 litros.

Modo de preparar:

Misture o óleo de pinho com o ricinoleato até ficar bem homogêneo, depois adicione a água, o

álcool, o formol e o EDTA sempre mexendo.

14.5.18 Desinfetante de pinho, receita III

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140)

10 Kg de ricinoleato de potássio

8 Kg de óleo de pinho

2 litros de formol a 37%

11 litros de álcool hidratado do posto

200 mL de EDTA a 30%

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Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Misture o pinho com o ricinoleato mexendo bem até ficar bem homogêneo. Depois acrescente

a água, o álcool, o formol e o EDTA sempre mexendo bem. Se quiser pode colocar corante.

14.5.19 Desinfetante de pinho, receita IV

Nota: Informe-se antes sobre a periculosidade do “Formol” = solução aquosa de formaldeído;

p. 140.

2 Kg de ricinoleato de potássio

12 Kg de sabão líquido de coco

4 Kg de óleo de pinho

2 litros de formol a 37%

6 litros de álcool hidratado do posto

200 mL de EDTA a 30%

Água para completar 100 litros.

Modo de preparar:

Misture o pinho com o ricinoleato depois coloque o sabão, adicione a água, o álcool, o formol

e o EDTA, sempre mexendo bem. Corar a gosto.

14.5.20 Desinfetante de eucalipto, receita I

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140)

100 L de água

0,5 L de formol

1 L de essência de eucalipto

0,5 L de brancol

5 L do detergente já preparado anteriormente ou pode ser 2 litros de um produto chamado de ricinoleato.

Modo de fazer:

Misture o detergente com a essência, acrescente a água e depois o formol e o brancol.

14.5.21 Desinfetante de eucalipto, receita II

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; ver também os

avisos na p. 140.)

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1 Kg de óleo de eucalipto

7 Kg de ricinoleato de sódio

1 Kg de nonilfenol etoxilado

300 g de soda líquida

250 g de brancol

0,5 L de formol a 37%

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

No recipiente maior misture o óleo de eucalipto com o ricinoleato, misturar bem e acrescentar

metade da água. Em outro recipiente misturar a outra metade da água com o nonil, a soda e o

formol e misturar bem. Agora despejar no recipiente maior, misturar bem e acrescentar o

brancol. O pH deve ficar em torno de 9 e 9,5.

14.5.22 Detergente Multiuso, receita I

Rendimento 100 L.

2 Kg de sulfônico

2 Kg de amida

5 Kg de uréia (técnica)

2 Kg de tripolifosfato de sódio

4,7 Kg de solução de amônia a 24%

3 Kg de sulfato de sódio

2 Kg de brancol

80 litros de água (vai um pouquinho mais, até completar 100 litros)

Modo de fazer:

Dissolva o sulfônico em 40 litros da água, sempre mexendo com cuidado para não formar

espuma, acrescente a amônia, depois a amida. Dilua o sulfato em um pouco de água (dos 40

que sobraram) e acrescente, dilua o tripolifosfato em parte da água a 70°C e acrescente, dilua

a uréia e acrescente e depois o brancol.

14.5.23 Multiuso, receita II:

Rendimento 100 L.

2 Kg de ácido sulfônico

650 g de soda líquida

1 Kg de tripolifosfato de sódio

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1 Kg de ricinoleato ou então Nonilfenol etoxilado

8 Kg de Butilglicol

100 g de óleo de pinho

85 litros de água (vai um pouquinho mais, até completar 100 litros)

Modo de preparar:

Diluir o sulfônico em parte da água e acrescentar a soda já diluída em um pouco da água. Em

outro recipiente dissolver o tripolifosfato em parte da água a 70°C, sempre mexendo bem.

Misturar com o sulfônico e sob agitação acrescentar aos poucos o nonil, o butil e o óleo de

pinho.

14.5.24 Multiuso, receita III:

Rendimento 100 L. (Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de

formaldeído; p. 140).

1,5 Kg de ácido sulfônico

0,5 Kg de nonilfenol etoxilado

4 Kg de butilglicol

2,5 litros de álcool (pode ser combustível)

400 g de soda líquida (se for da 99%, coloque só 200g diluída em água)

1,5 de fosfato trissódico (= tripolifosfato de sódio)

100 g de EDTA tetrassódico (o EDTA já vem em solução a 30%)

50 g de barrilha (=carbonato de sódio)

50 mL de formol a 37%

Corante a critério.

Água para completar 100 litros

Como fazer:

Diluir o sulfônico em aprox. 30 litros de água, colocar a soda diluída em um pouco de água.

Medir o pH que deve ficar entre 7 e 8. Deixar menos que 8 porque depois a barrilha levanta o

pH novamente. Acrescentar o nonil, o butil e o álcool aos poucos. Em outro recipiente diluir o

tripolifosfato em aprox. 10 litros de água quente, junto com a barrilha e acrescentar na

primeira mistura. Mexer bem.

Diluir o EDTA em um pouco de água e acrescentar ao primeiro preparado. Diluir o formol em

um pouco de água e acrescentar também. Completar a água que faltar até dar 100 litros.

Conferir o pH: se ficou acima de 8 e deseje baixar, coloque ácido cítrico diluído em água. O

ácido cítrico, além de baixar o pH, é também conservante. Este ácido pode então ser usado em

qualquer fórmula, seja detergente, base glicerinada, sabão com álcool, etc.; é comercializado

em pó.

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14.5.25 Multiuso caseiro

1 litro de água,

1 colher de vinagre

1 colher de sal amoníaco (pó)

1 colher de bicarbonato de sódio (pó)

1 colher de bórax (em pó; também vendido como "ácido bórico", embora este nome

seja errôneo); alternativa: "lysoform" líquido

2 colheres de detergente

Modo de fazer:

Em um litro de água morna (cerca de 45º C), coloque uma colher de sopa de vinagre, uma

colher de sopa de sal amoníaco, uma colher de sopa de bicarbonato de sódio, uma colher de

sopa de bórax ou o lysoform e as duas colheres de detergente. Utilize em qualquer tipo de

limpeza, em substituição aos multiusos convencionais.

14.5.26 Desinfetante caseiro

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140.)

40 mL de detergente

10 mL de brancol (opcional)

10 mL de formol

6 mL de "Renex"

12 mL de essência

Água para completar 2 litros

Modo de fazer:

Misture em pouco de água o detergente, renex, formol, brancol, essência. Coloque numa

garrafa PET e complete os dois litros com água.

14.6 Produtos domissanitários especiais

14.6.1 Pasta de brilho transparente

2250 g de ácido graxo de arroz

500 g de potassa

7 L de água

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300 g de trietanolamina

Modo de preparar:

Diluir a potassa em 1 litro da água e reservar. Leve ao fogo o restante da água com o ácido

graxo até ferver. Adicione aos poucos a potassa e mexa vagarosamente com intervalos, até

endurecer. Pare. Depois de fria adicione a trietanolamina mexendo com cuidado para não

fazer espuma. Deixe em repouso. A transparência total dar-se-á após 24 horas.

Dica: um pouco de lixívia sódica engrossa mais essa pasta!

14.6.2 Sabão pastoso para mecânicos

Fazer como a pasta acima, apenas colocando 50 Kg de pó de mármore ou areia branca fina e

mais 3 litros de água. Pode-se colocar 300 g de brancol e corante e aromatizar com óleo de

pinho ou eucalipto.

14.6.3 Brilha-alumínio (contém ácido sulfúrico)

Este é o brilha-alumínio líquido.

90 litros de água

4 Kg de ácido sulfônico (o mesmo usado para fazer o detergente)

2250 g de ácido sulfúrico

2,5 Kg de fluorídrico (devagar!)

Modo de preparar:

Seguir a ordem dos produtos acima, mas cuidado com o manuseio dos ácidos (despejar

lentamente; usar óculos de proteção). Agitar bem e está pronto. Corante: opcional, verde ou

azul.

14.6.4 Brilha-alumínio (com ácido muriático)

90 litros de água

3 Kg de sulfônico

800 g de fluorídrico (devagar!)

5 litros de ácido muriático (devagar!)

100 mL de formol a 37%

100 gramas de lauril (LESS)

Modo de preparar:

Seguir a ordem dos produtos acima, mas cuidado com o manuseio dos ácidos (despejar

lentamente; usar óculos de proteção). Agitar bem e está pronto. Corante: opcional, verde ou

azul.

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14.6.5 Solupan I (Fortíssimo)

155 litros de água

5.300 gramas de amidex

5.300 gramas de tripolifosfato

2.600 gramas de sulfônico

1 litro e meio de gasolina

30 Kg de soda líquida

200 mL de formol a 37%

1º modo de fazer:

Dissolva o sulfônico na água, depois coloque a soda (já dissolvida em uma parte da água),

depois o tripolifosfato, já dissolvido em parte da água a 70°C, depois amidex já diluído em parte

da água e depois a gasolina e o formol. Sempre mexendo bem!

2º modo de fazer:

Misture o sulfônico com a gasolina muito bem, acrescente parte da água, depois a soda

líquida já dissolvida em parte da água, depois o tripolifosfato já dissolvida em parte da água a

70°C e depois a amidex já diluída em parte da água, e finalmente o formol.

14.6.6 Solupan, receita II

3 Kg de sulfônico

6 Kg de soda líquida

3 Kg de lauril

2 Kg de tripolifosfato de sódio

10 Kg de silicato de sódio alcalino

2 Kg de barrilha (carbonato de sódio)

75 litros de água

Modo de fazer:

1 - Dissolva o sulfônico em 20 litros da água, depois acrescente a soda (já dissolvida em parte

da água (10 litros).

2 - Em outro recipiente com 20 litros da água dissolva a barrilha mexendo bem, junte o

silicato, mexa bem, depois misture o lauril sempre mexendo bem.

3 - Em outro recipiente o tripolifosfato de sódio deverá ser dissolvido em 25 litros da água em

temperatura de cerca de 70°C sob agitação durante uns 30 minutos. Agora misture o

recipiente 3 com o recipiente 2 e depois junte tudo no recipiente 1, sempre mexendo bem.

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14.6.7 Limpa-vidros

110 g de sulfônico

450 g de amônia a 24% (amoníaco)

14 litros de álcool 96 GL (álcool hidratado do posto)

35 g de soda líquida (o suficiente para atingir pH entre 10 e 10,5)

Corante azul na quantidade que quiser.

85 litros de água (vai um pouquinho mais, até completar 100 litros)

Modo de fazer:

Coloque toda a água em um recipiente, dissolva o sulfônico depois coloque a soda, a amônia,

o álcool e o corante. O resultado final é um líquido transparente de baixa viscosidade.

14.6.8 Cera Líquida

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140.)

4 Kg de base (em escamas)

0,5 L de formol - pode usar o "Lysoform" comercial

100 litros de água

300 mL de essência

Corante a gosto

Modo de fazer:

Ferver metade da água, dissolver a base e acrescentar o restante da água e os demais produtos.

14.6.9 Limpa-tudo à base de amoníaco, receita caseira

Rendimento aproximadamente 10 L.

50 mL Sabão em pó

100 g Sabão em barra ralado

100 g Sabão de coco ralado

100 mL Amoníaco

9 L Água

Os utensílios: um balde de 15 L, uma panela, uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo

de vassoura).

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Como fazer:

Ralar os sabões bem fino e levar-los ao fogo para derreter em 2 L de água. Após a dissolução

do sabão retirar do fogo e, ao bater vigorosamente, juntar em jato fino o sabão em pó.

Adicionar o restante da água lentamente e sempre batendo, até que toda mistura forme um

creme homogêneo. Ainda batendo, acrescentar o amoníaco e logo guardar em recipiente bem

fechado. Etiquetar o frasco!

Observações:

a) Antes de usar, agitar bastante o recipiente.

b) Para limpeza pesada o preparado deve ser usado de forma pura.

c) Para limpeza geral usar o produto diluído em água de torneira. O produto pode ser usado

para limpeza geral da casa - desde o fogão até o assoalho.

14.6.10 Gel "suave" para limpeza

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140)

1 Kg de lauril líquido

300 g de amida

4 mL de formol a 37%

3 litros de água

50 g de sal

5 mL de essência

Modo de preparar:

Misturar o lauril com a amida até obter uma pasta. Adicionar a água e mexer bem até

dissolver. Adicionar o sal até obter a textura desejada. Cuidado: o excesso de sal pode turvar o

produto. Acrescente a essência e está pronto.

14.6.11 Gel "forte" para limpeza

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140)

1 Kg de sulfônico

1 Kg de amida

1 Kg de lauril líquido

15 litros de água (mais ou menos)

50 mL de formol a 37%

Soda suficiente para obter pH 8

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Sal para engrossar

Modo de preparar:

Dissolva o sulfônico na água, corrija o pH com a soda, acrescente a amida, o lauril e o formol

e o sal para engrossar.

14.6.12 Desengraxante ácido

Rendimento 100 L.

Atenção: este procedimento requer completo EPI, inclusive luvas de borracha. Recomenda-se,

além disso, trabalhar em um lugar bem ventilado ou em uma capela de exaustão.

4,5 Kg de ácido sulfônico

4,5 Kg de ácido fluorídrico

3 Kg de ácido muriático

Corante Vermelho Basonil (pouco)

Água: o suficiente para completar 100 litros

Modo de preparar:

Em 50 litros da água dissolva lentamente o sulfônico, adicione lentamente o ácido fluorídrico,

e depois lentamente o muriático e vá mexendo até engrossar, em seguida corar e colocar o

restante da água. Deverá adquirir cor lilás devido à reação do vermelho Basonil com os

ácidos.

14.6.13 Desengraxante (fórmula industrial básica)

Rendimento 100 Kg.

50 litros de água

10 Kg de sulfônico (90%)

25 litros de querosene desodorizado

5 Kg de soda líquida (50%)

8 Kg de tripolifosfato de sódio

2 Kg de isobutildiglicol

Modo de Preparo

1 - Sob agitação constante, adicionar o ácido sulfônico (PBC V1 90%) com metade da água

até a total dissolução.

2 – Dissolver o tripolisosfato de sódio separado em água quente, junte o isobutildiglicol e

adicionar a mistura.

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266

3 - Juntar hidróxido de sódio à mistura.

4 - Finalmente, adicionar o querosene desodorizado com o restante da água.

14.6.14 Desengraxante para alvenaria e pedras

Rendimento 100 L.

4,5 Kg de sulfônico

7,5 de ácido fluorídrico

3 Kg de ácido muriático

Água: o suficiente para completar 100 litros

Corante a escolher

Modo de preparar: Idêntico ao anterior.

14.6.15 Limpa pedras especial, receita I

Rendimento 100 L

2 Kg de sulfônico

12 Kg de ácido muriático

Corante a escolher

Água para completar 100 litros

Modo de preparar: Idêntico ao anterior.

14.6.16 Limpa pedras especial, receita II

Rendimento 100 L

4 Kg de sulfônico

10 Kg de ácido fluorídrico

Corante a escolher

Água para completar 100 litros

Modo de preparar: Idêntico ao anterior

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267

14.6.17 Desengordurante tipo "Ajax", receita I

Rendimento 100 L

20 Kg de detergente (já preparado antes ou comprado por este fim)

2 Kg de amoníaco 24%

2 Kg de brancol

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Em metade da água dilua o detergente e acrescente o amoníaco, adicione o brancol sempre

mexendo bem e o restante da água.

14.6.18 Desengordurante tipo "Ajax", receita II

Rendimento 100 L

10 Kg de sulfônico

3 Kg de dietanolamina (é a amida) pode ser a 90 ou a 60

4 Kg de butilglicol

3,5 Kg de etilglicol

3 Kg de nonilfenol etoxilado

1,3 Kg de soda líquida

3 Kg de amoníaco 24%

2 Kg de brancol

Água suficiente para completar 100 litros.

Modo de preparar:

Em metade da água dissolva o sulfônico e em seguida coloque a soda já diluída em um pouco

da água. Adicione a dietanolamina, o butil, o etil, o nonil, o amoníaco, o restante da água e o

brancol.

14.6.19 "Ajax", receita caseira I

0,5 L de detergente

5 mL de brancol

25 mL de amoníaco

0,5 L de água.

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Basta misturar o detergente na água, colocar o amoníaco e o brancol.

14.6.20 "Ajax", receita caseira II

100 g de amoníaco líquido ou 3 pacotinhos de amoníaco em pó (compra no mercado)

0,5 Kg de sobras de sabão

3 litros de água

Caldo de 1 limão taiti e caldo de dois limões galegos.

Modo de preparar:

Picar bem o sabão e levar ao fogo parra derreter com um pouco da água, depois junte os

outros ingredientes e o restante da água, sempre mexendo bem e engarrafar. Serve para

limpeza em geral e para deixar roupas encardidas e guardanapos de molho.

Como esse produto contém produtos naturais, sua durabilidade é limitada. Recomenda-se usar

este produto dentro de um mês.

14.6.21 Limpa chassis de caminhão

50 Kg de silicato de sódio alcalino

2 Kg de trietanolamina

1 Kg de nonilfenol etoxilado

2 Kg de fosfato trissódico

2 Kg de soda líquida ou 1 Kg de soda 99%

43 litros de água

Modo de preparar:

Misture o silicato em metade da água, adicione a trietanolamina, o nonil, o fosfato e a soda

sempre agitando e coloque o restante da água.

14.6.22 Lustra-móveis

14 g de sabão amarelo ralado

24 g de cera amarela

30 mL de aguarrás

30 mL de óleo de linhaça

200 mL de água da torneira

Modo de fazer:

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Coloque na panela o sabão para derreter. Após a dissolução completa, junte a cera. Quando

estiver derretido, acrescente a água aos poucos. Retire do fogo e, sem parar de mexer, junte a

aguarrás e o óleo de linhaça. Deixe em repouso por 30 min. Agitar sempre antes de usar.

14.6.23 Limpa-plásticos

12 litros de álcool do posto (álcool hidratado)

1 Kg de amoníaco 24%

600 mL de formol 37%

1 Kg de ácido acético

8 Kg de detergente concentrado

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Dilua o detergente em toda a água da receita, acrescente o amoníaco sempre mexendo bem, o

ácido acético, o álcool e o formol.

14.6.24 Limpa-carpetes

2,5 Kg de lauril líquido

1 Kg de nonilfenol etoxilado

0,5 L de amoníaco líquido 24%

Água até completar 100 litros

Modo de preparar:

Em metade da água diluir o lauril, em seguida o amoníaco e depois o nonil e corante azul ou

verde bem suave. Acrescente o restante da água.

14.6.25 Amaciante de roupas, receita profissional

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140.)

4 Kg de quaternário de amônio (= base amaciante)

300 g de ácido graxo de sebo hidrogenado (= lubrificante de fibras)

100 mL de EDTA dissódico (= sequestrante)

100 mL de formol a 37% (= conservante)

200 a 500 mL de perfume (à escolha)

Opcional: 200 mL de protetor de cores (se quiser)

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270

Espessante: Para ficar mais espesso use até (1 Kg/ 1 litro) de monoestearato de

glicerina ou álcool cetoestearílico.

Água até completar 100 litros.

Preparação:

Em metade da água a 60°C diluir o quaternário mexendo bem e deixar em repouso. No

restante da água fria (em separado) coloque o EDTA e o formol e misture com o quaternário

sempre mexendo bem com uma pá de madeira, acrescente o perfume e o corante. O pH

deverá ficar em torno de 4,5. Se precisar corrigir o pH, dilua um pouco de ácido cítrico em

água e vá acrescentando até corrigir.

Atenção: Se quiser melhorar esta formulação, mude apenas a quantidade do quaternário

colocando até 7 Kg. O restante deve ficar inalterado!

14.6.26 Xampu especial para cães e gatos

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Lauril Éter Sulfato de Sódio 230 mL

Zonem MI 0,5 mL

Silkion 20 mL

Dietanolamida de coco.(amida 90 cosmética) 30 mL

Água deionizada 750 mL

Glucamate DOE 8 g

Ácido cítrico 10 mL

Corante a gosto

Essência 10 mL

Fase B:

Anfótero betaínico 50 mL

Como fazer:

Aquecer a água juntamente com Glucamate DOE até total dissolução. Ao esfriar, colocar

todos os outros produtos da fase A e homogeneizar. Incorporar a fase B (se achar necessário)

até a quantidade de 50 mL. Medir o pH, deverá estar na faixa de 6,0.

14.6.27 Xampu para automóveis, receita I

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140.)

4 Kg de sulfônico

1 Kg de amida 60

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3 Kg de "Denvercryl EJ 30" (= resina acrílica)

2 Kg de tripolifosfato de sódio

1 Kg de soda líquida (se usar soda em escamas 99%: coloque apenas meio quilo, diluída em água)

100 mL de formol a 37%

Corante (fluoresceína) a critério (tem que dissolver o corante em água)

Água para completar 100 litros

Preparo:

É melhor dissolver o tripolifosfato separado em água meio quente.

Dissolva o sulfônico em parte da água e coloque quase toda a soda, adicione o "Denver" e sob

agitação a amida, o tripolifosfato e acerte o pH para 7 com o restante da soda.

Adicione o formol e depois o corante e o restante da água.

14.6.28 Xampu para automóveis, receita II

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140.)

13 Kg de sulfônico

2,5 Kg de tripolifosfato

1 Kg de renex (nonil etoxilado 9,5)

1 Kg de trietanolamina

1,5 Kg de silicato de sódio neutro.

3 kg de metassilicato de sódio

1,3 Kg de soda líquida (soda em escamas 99% use apenas 650 g diluída em água)

100 mL de formol 37%.

Corante (fluoresceina) a critério

Água para completar 100 litros

Preparo:

Dissolver o tripolifosfato em parte da água meio quente, acrescente o meta, o silicato a

trietanolamina,a soda (não toda), o nonil, o sulfônico (sob agitação), o formol, o corante,

acerte o pH com o restante da soda entre 8,5 e 9, complete os 100 litros de água.

14.6.29 Pretinho pneu

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; p. 140.)

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Glicerina 12 Kg

Álcool (pode ser do posto de gasolina) 11 litros

Nonilfenol etoxilado (= renex) 200 g

Formol a 37% 100 mL

Corante azul solúvel em água

Água para completar 100 litros.

Preparo:

Sob agitação coloque na água: o nonil, a glicerina, o álcool, o formol e corante.

14.6.30 Graxa para sapatos

40 g de cera de abelha

6 g de cera preparada conforme descrito na p. 274, "Cera para assoalho".

15 mL de aguarrás

2 g de anilina (não comestível) na cor desejada.

Utensílios: para preparar um banho-maria, usar duas panelas, uma de 2 L, metade cheia de

água, e outra de 1 L que cabe na primeira.

Modo de fazer:

Esquentar no banho-maria a cera de abelha junto à cera de assoalho preparada anteriormente.

Tire do fogo logo estiver derretida. Dissolve a anilina no aguarrás e acrescente às ceras

derretidas. Derramar em pequenas latinhas com tampa.

14.6.31 Pasta de limpeza para mecânico

Oleína 1 Kg

Óleo de soja 1 Kg

Potassa cáustica (= hidróxido de potássio) 400 g

Água 1 litro

Dolomita em pó 10 Kg

(Dolomita é um mineral de roxa formado por carbonato duplo de cálcio e magnésio)

Preparo:

Diluir a potassa em água e deixar esfriar. Aquecer a oleína junto com o óleo de soja até 60°C,

retirar do fogo e acrescentar a potassa fria aos poucos mexendo vagarosamente. Depois de

formar uma pasta acrescente a dolomita também aos poucos sempre mexendo, deixe esfriar e

embale.

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273

14.6.32 Pó para matar baratas

Ingredientes:

100 g de farinha de trigo

100 g de ácido bórico

50 g de açúcar

Anilina comestível para dar uma cor.

Modo de fazer:

Misture os ingredientes, coloque-os em tampinhas, ou papel nos lugares preferidos pelas

baratas.

14.6.33 Pega-moscas

Ingredientes:

50 g de mel de abelha

200 g de óleo de soja ou de mamona

750 g de breu

Modo de preparar:

Coloque em uma panela o breu e o óleo e leve-os ao fogo para derreter, junte o mel agitando

sempre. Aplicar com pincel esta mistura em tiras de papel pardo previamente furado, a ser

pendurado com linha de pescar no teto.

14.6.34 Amaciante de roupas, receita caseira

100 g de sabonete de sua preferência, ralado.

100 mL de glicerina

100 mL de leite de rosas

5 litros de água

Modo de preparar:

Rale o sabonete e leve ao fogo com um litro da água para derreter. Retire do fogo, junte o

resto da água, o leite de rosas e a glicerina em jato fino.

Antes de usar agite vigorosamente este produto.

14.6.35 Pasta para mecânico, receita caseira

200 g de sabão comum (pode ser sobras)

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274

50 g de barrilha (= carbonato de sódio; compra-se em lojas de piscina).

2 Kg de areia fina

100 mL de água

Modo de preparar:

Rale o sabão e derreta em água quente. Deixe esfriar e junte a barrilha e a areia, batendo para

formar uma pasta.

Dica: esse produto fica menos abrasivo, especialmente não arranha um tanto as unhas, se

substituir os 2 Kg de areia, por 1 Kg de serragem de madeira.

14.6.36 Cera para assoalho

1 L de querosene

12 sacos plásticos de leite (bem limpos)

210 g de parafina

Xadrez para colorir

Modo de preparar:

Colocar a parafina em uma panela ou lata e leve ao fogo para dereter. Quando estiver bastante

quente (saíndo fumaça), acrescente os sacos de plástico que foram recortados em pedaços

menores. Deixar 10 minutos sem mexer, depois mexe até tornar-se um mingau de cor cinza

homogênea. Retire do fogo junte aos poucos o querosene, agitando sempre até formar um

creme. No final adicione o xadrez na cor que corresponde ao seu piso (verde para ardósia;

vermelho para lajetão). Quando deseja aplicar em tacos e tábuas coloridas, é melhor deixar

incolor, então não coloque o xadrez.

14.6.37 Spray para passar roupas

1 L de água

1 colher de sopa rasa de maizena

1 colher de amaciante de roupas

2 colheres de álcool

Modo de preparar:

Faça um mingau com a maisena e a água no fogo. Deixe esfriar e junte o álcool (ou um

perfume) e o amaciante.

14.6.38 Passe-bem, receita caseira I

1 copo de amaciante de roupas

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275

1 copo de água

1 copo de álcool

Preparo:

Mistura-se tudo muito bem e usa-se com um spray para passar roupas.

14.6.39 Passe-bem, receita caseira II

1 L de água de torneira

1 colher de sopa rasa de amido de milho

1 colher de sopa de amaciante de roupas (pode ser do produto caseiro preparado antes)

2 colheres de sopa de álcool ou do seu perfume preferido.

Modo de fazer:

Faça um mingau com o amido de milho e a água. Deixar resfriar e juntar o álcool ou o

perfume e o amaciante de roupas.

Agite bem antes de usar e aplique via borrifador.

14.6.40 Pasta para brilhar o alumínio, receita caseira

200 g de sobras de sabão bem picado

2 colheres de açúcar

2 colheres de vinagre ou suco de limão.

1 copo de água

Modo de preparar:

Leve tudo ao fogo para derreter e coloque em potes de polietileno.

14.6.41 Sabão "doido"

4 Kg de sebo

1 Kg de soda fraca ( de pacote comprado no supermercado) e dissolva em 2 litros de água fria

1 frasco de detergente

0,5 Kg de polvilho doce ou fubá de milho

1 copo de "pinho Sol" (= desinfetante)

1 copo de sabão em pó

6 litros de água, sendo 3 litros de água morna e 3 litros de água fria.

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276

Modo de fazer:

Em 3 litros de água fria dissolva o sabão em pó, o detergente, o polvilho ou fubá e acrescente

os 3 litros de água morna e mexa bem. Junte tudo isso com o sebo meio quente e depois

despejar a soda mexendo, parando, mexendo, parando até começar a engrossar. Despejar em

forma de madeira forrada com plástico ou dentro de caixinha vazia de leite ou caixa plástica,

etc.

14.7 Dicas como remover manchas Sob alvejamento (branqueamento) se entende a mudança da coloração de manchas –

principalmente aquena em roupas – para tonalidades mais claras. Nós consumidores percebem

essas manchas como especialmente persistentes, por exemplo:

Futas vermelhas (responsáveis são os corantes da família das antocianinas);

Grama, algas, espinafre, etc. (responsável: clorofila);

Cenoura, tomate, pimentão (carotinóides vermelhos);

Curry, mostarda, açafrão (curcuminas amarelas);

Café, chá, chocolate (antocianinas e ácidos húmicos marrons);

Vinho tinto, frutas claras, chá (curtumes marrons).

Os representantes mais importantes destes corantes naturais são ilustrados na Figura 75.

Todos eles têm em comum um sistema de duplas ligações conjugadas formando um sistema

mais ou menos extenso. Alguns destes sitemas contêm um grupo polar (geralmente um grupo

carbonila C=O) que polariza sobre o sistema conjugado inteiro, do tipo --

+-

--

+-

--...

Como já vimos no cap. 7.8.3, são principalmente os oxidantes que conseguem clivar ou, no

caso mais ameno, hidroxilar estes sistemas. O resultado desta interrupção do sistema

conjugado é a perda de cor ou, pelo menos, um clareamento da mancha escura. Além disso, a

introdução de grupos hidroxilas aumenta a hidrofilia dos compostos, então facilita a remoção

pela frota de lavagem.

Além dos sistemas de branqueamento encontrados nos detergentes comerciais, existe uma

série de reagentes “caseiros” que também ajudam na remoção destas feiuras.

Batom

Use benzina.

Café

Use água morna, glicerina, ácido tartárico (20%) e água oxigenada.

Chocolate

Use água quente com sabão ou água oxigenada.

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277

Desodorante

Manchas amarelas na região das axilas das camisas e uma resina dura e rígida em cima da

fibra, podem ser removidas ao tratar com vinagre.

Ferrugem

Use água morna e sumo de limão. Alternativa: ácido oxálico, solução concentrada em água.

Frutas

Use água morna, sumo de limão, ácido acético (10%) ou vinagre forte incolor.

Manteiga, cera e graxa:

Coloque a mancha entre duas folhas de papel e passe com ferro quente. Depois aplique

benzina, éter, talco ou água quente com sabão.

Mofo

Use água morna e ácido tartárico (20%).

Sangue

Use água fria, sal de cozinha (5%), amoníaco, água morna com sabão e água oxigenada.

Sopas

Use benzina, água quente com sabão.

Tinta de escrever

Use água morna, suco de limão e leite azedo.

Tinta a óleo

Remova a tinta e aplique uma mistura de álcool e essência de terpentina ("Aguarrás"). Após

10 minutos, aplique benzol.

Vinho

Use água morna e ácido tartárico (20%).

Outras manchas não especificadas

Misture amoníaco, éter, benzina e "aguarrás".

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278

Figura 75. Substâncias coloridas com caráter hidrofóbico se mostram mais persistentes no

ato de lavagem: (1) clorofila da grama, (2) cianidina de frutas vermelhas, (3) curcumina do

tempero curry, (4) licopina do tomate.

15 Coleção de sites úteis na internet

Os seguintes sites foram visitados entre 02/2015 e 10/2016.

Cosmetics & Toiletries Brasil

Periódico online e gratuito: http://www.cosmeticsonline.com.br/2011/

Também: http://www.cosmeticsonline.com.br/2011/edicoes-anteriores

Revista Racine

Periódico online, gratuito. Publicação direcionada a profissionais farmacêuticos que atuam em

farmácias comunitárias e hospitalares e nas áreas de ensino universitário e outros serviços de

saúde públicos e privados. Disponível em http://www.racine.com.br/ir/institucional/revistas/

Site com informações acerca dos compostos ativos em formulações cosméticas, juntas aos

mecanismos de ação, fornecedores e nomes dos produtos comerciais. Contém ainda as classes

importantes dos produtos anti-envelhecimento, que não fazem parte deste livro:

http://www.farmaceuticacuriosa.com/p/cosmeticos_17.html

Informações sobre a fabricação de produtos de limpeza feitos artesanalmente– Ingredientes e

modo de fazer:

http://www.herbario.com.br/atual03/2311oleosveg.htm

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279

Site com fórmulas de diversos produtos de higiene, entre estes sabonetes líquidos e

glicerinados:

http://planeta.terra.com.br/educacao/portaldaescola/formulas.htm

Site com formulações de diversos tipos de sabonete:

http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Contém informações sobre a preparação de sabão:

http://www.cdcc.sc.usp.br/quimica/experimentos/sabao.html

Informações sobre o processo produtivo do sabão:

http://www.cecae.usp.br/Aprotec/respostas/RESP04.htm

Informações sobre a fabricação de sabão em barra:

http://www.sebraema.com.br/diversos/responde_sabao.htm

Site tem em seu conteúdo receita diversos tipos de sabonete:

http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Texto com fórmulas de fabricação de sabão:

http://www.ca.ufsc.br/qmc/prodlimpeza/sabaocomum/sabaocomum.htm

Máquinas para sabão: www.fenoquimica.com.br

Fórmulas de produtos: www.mrformula.com.br

Sabonete: http://geocities.yahoo.com.br/barradesabao

Óleos essências: http://aromalandia.isonfire.com

Sódio: http://www.sodiumstearate.com/sodiummyristate.htm

Sabonetes cold:

www.lush.com.br

http://www.countryrosesoap.com/handmade.htm#Top

Receita, passo a passo, de que você não acredita que é sabonete. Pensa que é doce:

http://home.exetel.com.au/lozniz/Whipped/index.htm

http://www.geocities.com/blueaspenoriginals/

Sites de cold process:

http://www.banlieusardises.com/soins/archives/001025.html

http://operasavon.free.fr/fabrication.htm

Informações produtos de limpeza: http://www.herbario.com.br/atual103/2311oleosbeg.htm

Fórmulas diversos produtos: http://planeta.terra.com.br/educacao/portaldaescola/formulas.htm

Diversos tipos de sabonetes: http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Preparação de sabão: http://www.cdcc.sc.usp.br/quimica/experimentos/sabao.html

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280

Processo produtivo do sabão: http://www.cecae.usp.br/Aprotec/respostas/RESP04.htm

Sabão em barra: http://www.sebraema.com.br/diversos/responde_sabao.htm

Tipos de sabonetes: http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Fórmulas de fabricação de sabão:

http://www.ca.ufsc.br/qmc/prodlimpeza/sabaocomum/sabaocomum.htm

Óleos essenciais do fabricante: http://www.georgesbroemme.com.br/produtos.html

Fórum de formulações: www.inforum.insite.com.br/2312

Produtos e essências e formulações:

http://www.farmanilquima.com.br/produtos.htm

http://www.emfal.com.br

Materiais relacionados ao assunto:

www.mrformula.com.br

www.cosmeticnow.com.br

E-books:

Gislaine Riccileonardi, Cosmetologia Aplicada; disponível em

https://drive.google.com/file/d/0B1V8uV0hW1SJLUNOUmEydWJhOVE/view

Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás, Manual de Diretrizes (contém as boas

práticas de produção e controle); disponível no site:

https://drive.google.com/file/d/0B1V8uV0hW1SJU0J1bFVtaHEwRGs/view

Tem outro site bastante interessante, não só sobre cosméticos:

www.enciclopediapopular.com.br

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281

Índice remissivo

°Bé, 205

1,4-diaminobenzeno, 160, 161

2 em 1, 102, 149, 151, 152, 175, 176

2,5-diaminotolueno, 160, 162

4-aminofenol, 160

8-metoxipsoraleno, 85

abacate, 52, 202

Abacate, 202

abandonador, 93, 97

abelha, 30, 188, 189, 190, 272, 273

Abihpec, 14, 16

abrandador, 111, 113, 250

Abrasivo, 182, 185

abrasivos, 181, 186

abrilhantadores, 111, 116, 117

absorção, 64, 65, 67, 69, 70, 72, 117, 136,

162, 173, 225

absorver, 23, 49, 70, 77

AC 50, 136

acetanilida, 118, 173

acetato de amila, 191

acetato de butila, 191, 192

acetato de etila, 191

acetilglicosamina, 61

Acetofenona, 17

acetona, 34, 39, 83, 191

acidez, 40, 96, 106, 142

ácido abietina, 146

ácido acrílico, 44, 141, 155, 195, 203, 230,

231, 241, 243

ácido ascórbico, 23, 32, 57, 58, 76, 77

Ácido ascórbico, 79, 81

ácido bórico, 143, 251, 260, 273

ácido cítrico, 86, 143, 146, 210, 245, 251,

259, 270

Ácido esteárico, 17

Acido glicólico, 238, 242

ácido glicólico, 35, 58, 59, 60, 84, 238

Ácido glicólico, 59

Ácido kójico, 84

ácido láctico, 37, 39

ácido lático, 59, 132, 143, 238

ácido málico, 59

ácido malônico, 161

ácido oléico, 39

ácido retinóico, 35, 55, 56

ácido salicílico, 35, 39, 60, 84, 236, 237

ácido tartárico, 59, 276, 277

ácido tioglicol, 155, 164, 165

ácido urocrânico, 63

ácidos graxos, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 33,

42, 91, 92, 97, 112, 129, 135, 144, 149,

172, 195

Acidulante, 227, 228

acitretina, 55

acne, 33, 34, 35, 36, 55, 56, 59, 60, 72,

236, 237, 245

acoplamento, 160, 161, 162

acrilatos, 191

açúcar, 32, 59, 103, 210, 212, 213, 273,

275

adapaleno, 35, 55

aditivos reológicos, 187

Adoçante, 185, 186

adrenal, 31

Aedes aegyptii, 168, 170, 172

aerômetro, 205

Agfacolor, 161

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282

Aglutinante, 183

água oxigenada, 50, 101, 155, 159, 160,

161, 163, 187, 276, 277

AHA, 53, 59

alanina, 169

Alantoina, 244

alcanolamidas, 136, 144

Alcanolamidas, 149

Álcool cetílico, 190, 238

álcool de cereais, 248

álcool de cetila, 41

álcool graxo, 53, 97, 98, 103, 110, 128,

134

alecrim, 202, 220, 223

Alecrim, 197

alergias, 39, 42, 51, 61

Alfazema, 197

algodão, 191, 199, 218

alílica, 30, 48

alizante, 18, 43, 144

alizantes, 153, 156, 164

Almíscar, 197

aloe vera, 52, 227

aloe-vera, 216, 219

alourar, 159, 163

alquilbenzeno, 100, 110, 128

alquilbenzenossulfonatos, 96, 100

alquil-étercarboxilatos, 135

alquil-étersulfatos, 135

alquilsulfonatos, 98, 99

alúmen, 173

alvejantes, 111, 117

amaciante, 19, 101, 203, 213, 269, 274,

275

amêndoas, 149, 229, 245, 246

amendoim, 27, 79, 138, 174, 188, 189

amida, 93, 213, 215, 216, 217, 218, 220,

221, 222, 245, 251, 252, 253, 258, 264,

265, 267, 270, 271

amida 90, 213, 215, 222, 245, 270

aminoácidos, 24, 32, 86, 102, 132, 148,

156

amônio, 100, 101, 127, 135, 145, 146, 148,

151, 155, 164, 196, 226, 269

anágena, 131, 166

anfifílica, 103

anfifílicas, 46, 90, 106, 107, 136

anfifílicos, 89, 101

Anfótero, 102, 195, 216, 217, 218, 219,

220, 221, 270

anfóteros, 102, 134, 136

anilina, 161, 214, 272

anti-aging, 21, 36, 43, 61, 193

Antibióticos, 35

anti-caspa, 43, 143, 147, 148

anti-envelhecimento, 18, 36, 59, 241

antifungo, 61

antiinflamatório, 61, 198, 202

antimicrobiana, 60

antimicrobiano, 61, 101

Antioxidantes, 43, 73, 81

Antipollon HT, 84

antisséptico, 19, 43, 148

antistáticos, 150, 152

anti-transpirantes, 173

ANVISA, 18, 19, 20, 35, 39, 64, 140, 168

APDO, 172, 174

apócrina, 172

apocrinas, 32

Araquídico, 29

Araquidônico, 29

Arbutina, 84

areômetro, 205, 210

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283

argila, 50, 202, 238

Argila, 202, 238

Aromatizante, 183

Arruda, 198

Ascorbosilane, 57, 243

aspergillus, 138

atomização, 125, 127

auto-emulsionante, 229, 233, 234, 235,

239, 242

auto-estima, 33

aveia, 220

Avobenzona, 66, 139

Avon, 15

azadirachta indica, 171

Azadirachtina, 172

azeite, 51, 107, 201, 208

azelaico, 35, 36

azometinas, 161

babaçu, 213

Babaçu, 199

babosa, 52, 202

bactérias, 24, 60, 62, 138, 148, 173, 174,

184, 186, 195

bactericida, 37, 111, 198, 246, 248

banha, 28, 43, 91, 201, 207, 209

Banha, 28, 199

barrilha, 111, 112, 114, 127, 249, 250, 251,

259, 262, 274

batom, 18, 29, 30, 188, 189, 190

Baumé, 205

Baunilha, 198

bebê, 49, 117, 143, 148, 218

bebês, 102, 118

Bemisia argentifolii, 172

Benjoin, 198

benzilideno, 65

benzofenona, 66, 144

Benzofenona, 65, 192

Benzofenonas, 65

benzóico, 52, 61, 140

Benzotriazóis, 65

benzoxazolinas, 116

Bepantol, 56, 225

bergamota, 85

Bergamota, 198

berrenil, 225, 228, 235

betaína, 96, 102, 105, 135, 152, 195, 245

Betaína, 136, 222

Betainon, 136

betametasom, 44

bétula, 224

BHA, 78, 79, 82

BHT, 50, 78, 79, 82, 195, 213, 234, 242,

247

bicarbonato, 173, 186, 260

bigode chinês, 62

biodegradabilidade, 98, 101, 107

Bioex, 216

BioKons, 223, 224

bisabolol, 61

Bisguanida, 138

Bissulfito de sódio, 82

blindado, 77, 78

blush, 193

BMD, 66

Boticário, 15

brancol, 203, 256, 257, 258, 260, 261, 267,

268

Brancol, 255

Branqueador, 187

Breu, 214

brometo de cetil trimetil amônio, 148

Bronopol, 138

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284

Brønsted, 94

bronzeador, 85, 86

Butilhidroxianisol, 82

Butilhidroxitolueno, 82, 229

butírico, 33

Ca2+

, 106, 113, 178

cabelo branco, 157, 158, 163, 164

cabelo voando, 146

cacau, 33, 199, 202

CaCO3, 114, 186, 193

café, 187, 203, 249

calandragem, 92

calcipotriol, 44

calêndula, 246

Camélia, 202

camomila, 61, 148, 215

Camomila, 198

câncer de pele, 36, 63

candelila, 188, 190

Canela, 198, 203

cânfora, 66, 68, 144

Cânfora, 192, 195, 198

carbomer, 247

Carbomer, 203, 235, 240, 246

Carbômero, 155

Carbomida, 195

carbopol, 246, 247

Carbopol, 13, 44, 141, 155, 195, 203, 228,

235, 240, 246, 247

Carbowax, 195

Carboximetil celulose, 183

carboximetilcelulose, 44, 115

carnuba, 188, 189, 190

caroteno, 54, 77, 189

carragenato, 183

Carragenina, 187

carrapatos, 50, 148, 166, 168

carvalho, 146

Casey Hebert, 132

caspas, 24, 44, 60, 147, 223, 224

catágena, 131

caulim, 206, 207, 208, 209, 214

Caulim, 208, 214

Cedro, 198

Centella asiática, 78

cera auto-emulsionante, 47

ceramidas, 22, 24, 25, 31, 49, 129, 234

Cetrol, 244

cianacrilatos, 65

cianantes, 111, 117

ciclometicone, 174, 175

cinamatos, 66

cinâmico, 66, 68

cisteína, 77, 129, 155

cistina, 155, 156, 164, 165

citrato, 143, 145, 152

cítrico, 143, 153, 215, 216, 217, 218, 219,

220, 221, 222, 225, 226, 227, 228, 245,

246, 259, 270

citronela, 168, 170, 171, 248, 249

Citronela, 198

clarear, 57, 77

clindamicina, 36

cloreto de alumínio, 173

Clorexidina, 138

cloroacetato, 102

CMC, 89, 111, 115

coalescência, 46, 87, 89

coco, 19, 27, 107, 112, 136, 149, 199, 201,

204, 205, 207, 208, 209, 211, 212, 213,

215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222,

245, 254, 255, 257, 263, 270

côco, 49, 91, 152, 195

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285

cocoamida, 245

cocoamidapropilbetaína, 215

Cocoamidapropilbetaína, 215

Cocoamido, 136

colágeno, 23, 57, 63, 146, 150, 197, 244

colesterol, 22, 31, 51, 129

Colesterol, 24

Colgate Palmolive, 15

Colour Index, 42

comedões, 33, 35, 36

comedogênicos, 34

Comperlan, 136

Complexante, 145

condicionador, 18, 51, 149, 150, 151, 152,

226

conservantes, 16, 42, 43, 52, 81, 135, 138,

139, 140, 154, 190, 196, 223, 224, 251

Conservantes, 42, 52, 137, 140, 150, 228

Copolímero, 157, 243

corantes, 13, 16, 42, 43, 86, 92, 116, 117,

141, 144, 145, 160, 161, 162, 163, 164,

187, 188, 189, 190, 191, 192, 202

Corantes, 43, 70, 81, 86, 111, 127, 145,

190, 203

córnea, 22, 23, 34, 35, 59, 63

Corneometer, 37

córtex, 129, 130, 149, 155, 159, 160

Cosmowax, 47

craqueamento, 98

cravo da Índia, 170

Cravo da Índia, 198

cravos, 33, 248, 249

Cravos da índia, 248

creme, 18, 43, 44, 49, 52, 53, 54, 62, 73,

85, 86, 103, 107, 151, 155, 173, 175,

264, 274

cremes rinse, 151, 152

Cresa, 43

cristântemos, 169

Croda, 196

crosslinker, 154

cumarinas, 77, 116

cutícula, 129, 130, 149, 151, 155, 159,

160, 161, 163, 176

Cutometer, 37

Dama da noite, 198

DAS1, 116

DEET, 166, 167, 168

Dehyton, 136, 152

demi-permanente, 163

Demi-permanente, 157, 159

dendê, 27, 91

dentifrícios, 182, 184

depiladores, 164

depilatório, 43

dermatite, 60, 67

dermatoses, 57, 59

dermis, 23, 32, 49, 52, 63

Dermis, 23

desinfetantes, 19, 101

desmossomas, 59

desodorante, 138, 172, 173, 176, 198, 203

despigmentante, 242

DHA, 85, 86

DHT, 165, 166

diazóis, 116

Dibutilftalato, 192

dietanolamida, 215, 245

Dietanolamida, 136, 215, 216, 217, 218,

219, 220, 221, 222, 245, 270

dihidrotestosterona, 165

dihidroxiacetona, 13, 84, 85, 86

diimina, 161

dimeticone, 48, 243

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286

Dimeticone, 226

Dimetilftalato, 169

dimetilsulfóxido, 38

dipropilenoglicol, 201

Discromias, 83

DMSO, 38

DNA, 63, 221, 222

dodecilbenzenossulfonato, 251

DOE, 141, 216, 217, 218, 219, 222, 270

Dolomita, 272

DOPA, 83

DSB C, 60

DSBP, 116

ecrinas, 32

EDTA, 80, 112, 127, 141, 142, 145, 196,

202, 210, 213, 215, 218, 219, 220, 221,

236, 241, 243, 244, 245, 247, 253, 256,

257, 259, 269, 270

edulcorante, 183

Elaídico, 29

elastina, 23, 57, 63

Elastina, 197

embalagem, 20, 41, 42, 58, 71, 92, 132,

133, 138, 141, 144, 164

emoliente, 50, 51, 153, 196, 197, 238, 246

Emoliente, 197, 202, 227, 228, 229, 231,

232, 233, 234, 235, 237, 238, 239, 241,

242, 243, 245

emolientes, 16, 42, 49, 72, 193

emulsificante, 46, 47, 50, 51, 103, 107,

196, 231, 235, 237

emulsificantes, 41, 42, 43, 45, 46, 47, 88,

103, 138

endiol, 76

engraxamento, 107

envelhecimento, 19, 20, 21, 23, 31, 37, 46,

54, 55, 57, 61, 197, 238, 239, 278

Enxofre, 237

Enzimas, 111, 127

eosinas, 189

epidermis, 22, 23, 36, 38, 48, 55, 63, 76,

85, 89, 238

Epidermis, 22

epidermólise, 59

Epitelizante, 233, 239

epóxidos, 191

eritromicina, 36

eritrulose, 85

Erva cidreira, 198

Erva doce, 198

esbiotrina, 169

Escalol, 144

escamas, 129, 130, 149, 151, 159, 160,

163, 191, 199, 213, 263, 271

Escleroglucan, 236

Escorbuto, 76

escova progressiva, 156

esfoliação, 84, 85

Esfoliação, 36

esfoliante, 35, 36, 60, 238, 242

Esfoliante, 237

ESIPT, 67, 68

Espalhabilidade, 48

espalhamento, 70, 184

espessante, 136, 141, 152, 155, 183, 195,

245

Espessante, 145, 185, 192, 195, 226, 229,

230, 231, 232, 235, 236, 238, 240, 241,

243, 270

espessantes, 16, 42, 134, 141, 146, 174,

187, 191, 192

espinhas, 33

espuma, 98, 103, 106, 107, 111, 112, 132,

133, 134, 135, 136, 145, 149, 151, 175,

176, 182, 186, 195, 201, 204, 208, 245,

248, 250, 258, 261

Espumante, 183, 185

Esqualano, 233, 234, 239, 242

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287

esqualeno, 25, 32, 44

Esqualeno, 24

Essências, 43, 197

estearato, 47, 88, 194

Estearato de octila, 228, 238, 242

estearatos de magnésio, 191

esteárico, 27, 28, 47, 202, 213

Esteárico, 29

estearila, 53, 190

Estearina, 199

estilbenos, 116

Estrôncio, 183

Etnia, 159

etretinato, 55

eucalipto, 171, 204, 212, 257, 258, 261

Eucalipto, 198

eugenol, 170

Eugenol, 170, 183

eumelanina, 23, 83, 159

Eusolex, 65, 66, 67

extrusão, 133, 141, 187, 189, 210

Facetensid, 222

facial, 15, 49, 134, 136, 193

fenoxietanol, 140, 230, 231, 235, 240, 241,

242

Fenoxietanol, 226, 228, 236, 242, 243, 245

feomelanina, 23, 83

filtros físicos, 65, 66, 70

Fischer, 161

Flavorizantes, 187

fluoresceina, 271

fluorescent brightening agents, 116

fluoreto, 178, 182, 184

folículo piloso, 13, 34, 38, 58, 129, 131

formaldeído, 140, 191, 192, 193, 251, 256,

257, 259, 260, 263, 264, 269, 270, 271

formalina, 140

formamidinas, 65

fórmico, 33

formol, 140, 251, 252, 256, 257, 258, 259,

260, 261, 262, 263, 264, 265, 269, 270,

271, 272

fosfato, 57, 112, 113, 143, 182, 184, 186,

259, 268

fosfônio, 100

fotoenvelhecimento, 56, 63

FPS, 19, 64, 71, 72, 73, 86, 176

fragrâncias, 16, 42, 92, 118, 174

Friedel-Crafts, 100

frizz, 152

fubá, 214, 275, 276

fungicida, 37

fungos, 60, 138, 148

fungostático, 147

Galato, 82

Galatos, 79

Gel, 44, 153, 176, 197, 202, 246, 247, 264

gel network, 45

Gel-creme, 44, 230, 236, 241, 243

gema de ovo, 223

Gengibre, 203

Gerânio, 198

Germall, 139, 228

Gérmem de trigo, 202

gérmen de trigo, 219

Gibbs, 87

Ginkgo biloba, 78

girassol, 20, 91, 199, 201

glândula sebácea, 23, 24

glândula sudorípara, 23

glicerídeo, 26

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288

glicerina, 25, 41, 42, 47, 52, 91, 92, 93, 94,

106, 144, 149, 154, 186, 203, 208, 209,

210, 212, 213, 245, 270, 272, 273, 276

Glicerina, 17, 183, 185, 196, 216, 219,

221, 233, 234, 235, 237, 238, 239, 240,

241, 242, 244, 272

glicerinado, 91, 210, 215

glicerol, 52, 152

glitter, 192

Glucam, 219

Glucamate, 216, 217, 218, 219, 222, 270

Glucquat, 218, 221

glutamato, 141

glutaraldeído, 140

glutaronitríla, 235

glutationa, 77

Glutationa, 77, 81, 233, 239

goma adraganta, 44, 138

goma arábica, 44, 138

Goma guar, 187

gônadas, 31

Gossage, 90

GSH, 77

GSSG, 77

guanina, 189, 191

guar, 223, 224

Guar, 222

H2SO4, 100, 128

hamamelis, 244

HCl, 100

HEC, 44, 141, 155

Hectorita, 192

helianthus annuus, 20

Henkel, 113

hialurônico, 61, 62

hidrogenação, 53, 97

hidrolipídica, 47, 48

Hidroquinona, 84

hidroxiácidos, 35, 41, 53, 59, 60, 84

hidroxiapatita, 13, 177, 178, 179, 184

hidroxietilcelulose, 44, 141, 155

Hidroxietilcelulose, 226, 230, 231, 232,

236, 238, 253

high erucic, 27

high oleic, 27

hipercromias, 83, 84

hiperqueratinização, 59

Hiperqueratinização, 34

hipoalergênico, 210

hipoclorito, 117, 118

hipocromias, 83

histerese, 45, 141

HLB, 46, 52, 69, 104, 134, 196

HOMO, 67

hortelã, 183, 196, 220, 246

Hortelã, 198

HPPC, 14, 15, 16, 17, 61, 175

Hudson, 90

Icaridina, 167, 168, 169

imidazolidinil, 139

Imidazolidinil, 230, 231, 232, 233, 234,

236, 238, 239, 240

Imidazolidiniluréia, 244

imidazolinas, 116

INCI, 20, 21, 41, 42

incompatibilidade, 95, 101, 151, 152, 155

Incroquat, 47, 144

índice de refração, 184, 186

inflamação, 60

inibidores de corrosão, 111

insumos, 16, 17

íntima, 40

íntimo, 49

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289

ionene, 152

iontoforese, 39

IR3535, 168, 169

Irgasan, 196, 246, 248

Isenmann, 2, 43, 70, 73, 81, 86, 93, 176,

190

isobutildiglicol, 265

isoelétrico, 24, 102, 148, 152

isooctano, 98

isopropilmiristato, 189

isotiazolinonas, 196

isotretinoína, 35, 55

iso-tretinoína, 55

Jasmim, 198

Johnson & Johnson, 15, 168

jojoba, 52, 188

Jojoba, 202

JR-5, 217, 218, 219, 222

K2CO3, 91, 114

karitê, 202, 221

KCl, 92

KOH, 91, 92, 210, 211

K-Othrine, 169

L´Oreal, 66

lactato de etila, 191

lactona, 102

Lambert-Beer, 64, 69

Lanete, 195

Lanette, 47, 233, 234

lanolina, 31, 42, 50, 51, 52, 136, 146, 149,

189

Lanolina, 50, 51, 52, 197, 234, 245

laquê, 156, 157

Laranja, 198

LAS, 98, 99, 100, 104, 105, 112

Latanoprosta, 166

laureth, 104

láurico, 26, 112, 134

Láurico, 29

lauril, 47, 104, 134, 145, 186, 201, 208,

212, 213, 215, 245, 248, 250, 252, 253,

261, 262, 264, 265, 269

Lauril, 134, 136, 183, 196, 204, 212, 215,

216, 217, 219, 220, 221, 253, 255, 270

Laurilétersulfato, 221

laurilsulfato, 42, 186, 251

Laurion, 136, 216, 218, 219, 221

Lavanda, 198

leave-in, 152, 228

Leave-in, 47

lecitina, 32, 138, 146

LESS, 134, 135, 136, 204, 215, 261

leuco, 160, 161

leucomelanina, 85

Lever, 90

Lignocérico, 29

Limão, 198

limoneno, 171

Linear Alkyl Sulfonate, 98

Linhaça, 202

linoléico, 27, 28, 31

Linoléico, 28, 29

linolênico, 27, 28

Linolênico, 29

liofílica, 146

lipofílico, 81, 96, 106, 134, 136, 196

lipo-géis, 44

lipossomas, 44, 56, 89

Lipossomas, 44, 240

lixívia, 91, 200, 201, 202, 204, 205, 206,

207, 209, 210, 212, 213, 214, 261

Loção, 44, 168, 176

louça, 19, 96, 104, 106, 107, 115

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290

low erucic, 27

LSS, 134, 135

Luivicol, 196

LUMO, 67

luz negra, 65

lysoform, 251, 260

macadâmia, 44, 149, 239

Macadâmia, 202

madre-pérola, 43, 144

Maillard, 13, 86

maizena, 204, 214, 274

mamona, 49, 146, 174, 188, 189, 190, 191,

199, 201, 208, 209, 212, 213, 255, 273

manchas, 19, 21, 63, 83, 84, 86, 111, 115,

174, 176, 193, 276, 277

manteiga de Karité, 149

maranil, 251

margárico, 30

master batch, 192

Master-batch, 189

medula, 31, 129, 130

melanina, 13, 23, 63, 77, 83, 84, 85, 86,

158, 159, 160, 163, 164

melanócitos, 21, 23, 63, 83, 84, 85, 159

melanoidina, 86

Membrana basal, 23

Mentol, 196

Metabissulfíto, 243

Metabissulfito de sódio, 82

metafosfatos, 113

metassilicato, 250, 271

Metassulfato, 225, 228, 235

Methilan, 217

meticone, 152

Metilbromoglutaronitrila, 237

Metildibromoglutaronitrila, 230, 231, 240

metilparabeno, 215, 245, 246

Metilparabeno, 53, 79, 139, 145, 183, 215,

225, 226, 227, 229, 230, 231, 232, 233,

234, 235, 236, 238, 239, 240, 244

Metoxidibenzoilmetano, 66

Mexameter, 37

Mg2+

, 106, 113

mica, 189, 191, 193, 194

micelas, 46, 88, 89, 116, 141

microcápsulas, 56, 57

Microemulsão, 237, 241

milho, 199, 201, 275

minoxidil, 13, 166

miristato, 48

Miristato, 49, 196, 234

mirístico, 26, 28

Mirístico, 29

miristílico, 134

mistura racêmica, 169

mitótica, 83

Monoestearato, 234

Monofluorofosfato de sódio, 183

Monovin, 224, 225

mosquitos, 166, 167, 168, 170, 171, 248

motretinida, 55

mousse, 163, 164, 175

Mousse, 153

mucosas, 18, 40, 148, 224, 225, 249

Na2CO3, 91, 114, 115

NaCl, 91, 92, 117, 141, 153

nano-esferas, 60

nanosferas, 57

NaOH, 91, 94, 97, 126, 135, 146, 205

Natrosol, 44, 141

Natura, 15

Neem, 171

Neo Heliopan, 67

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291

NeoHeliopan, 66

Nepeta, 172

nepetalactona, 172

Nim, 171

Nipagim, 196, 228, 247

nipagin, 215, 246

Nipagin, 139

Nipazol, 139, 196

nitrocelulose, 191, 192, 193

Nitrocelulose, 17, 192

NMF, 24, 240

nonilfenol, 196, 249, 250, 255, 258, 259,

267, 268, 269

nucleófilo, 92, 93, 95, 102

Nutri, 222

O/W, 43, 46

O/W/O, 44

Oclusividade, 48

oil free, 34, 44

Oil free, 231, 232

oil-free, 72, 241, 243

oléico, 27, 28

Oléico, 29

Oleína, 272

óleo de banana, 191

óleo de jojoba, 149, 150

óleo de mamona epoxidado, 146

Óleo mineral, 17, 231, 235

oleosidade, 149, 175, 195

óleum, 96, 97, 99, 100, 128

Óleum, 126

olfativo, 226, 227, 228

oligomerização, 100, 103

ondulação permanente, 147, 156, 165

optical brightener, 116

organolépticos, 133, 137, 144

OX, 220

Oxalanilidas, 65

oxicloreto de alumínio, 248

oxicloreto de bismuto, 191, 194

óxido de etileno, 53, 103, 134, 196

Óxido de zinco, 237

óxidos de ferro, 189, 191

óxidos do ferro, 194

oxietileno, 46, 48, 96, 103, 134

oxirano, 103

ozônio, 64

PABA, 67

Palmitato de cetila, 238

palmítico, 27, 28

Palmítico, 29

palmitoléico, 27, 28

Palmitoléico, 29

pantenol, 53, 56, 57, 196, 222

panthenol, 223

Paraben K, 223, 224

parabenos, 79, 118, 139, 140, 196, 226,

228, 236, 242, 243, 245

Parabenos, 174, 196

parafina, 48, 190, 274

Parsol, 67

Patchouli, 198

PCA, 221

Pears, 90

peeling, 35, 59

PEG, 141, 174, 195

penetração, 22, 38, 39, 56, 57, 60, 62, 76,

84

penicillium, 138

pentadecanóico, 30

penteabilidade, 136, 141, 147, 152, 176

perfumes, 18, 42, 111, 118, 127, 141, 144,

168, 193, 198

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292

petrolatum, 49

p-fenilenodiamina, 160, 163

pigmentos, 16, 42, 70, 111, 145, 160, 164,

187, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194

pinga, 223

pinho, 204, 256, 257, 259, 261, 275

Pinho, 198

piolhos, 148

piretrina, 169

piretróides, 169, 170

Pirocton Olamin, 224

pirofosfato, 54, 250

pirofosfatos, 112, 113

Placenta, 197

Plantaren, 136, 137

Plastificante, 192

PMD, 171

Poliacrilato de glicerila, 236

poliacrilatos, 191

Polietileno, 18

polifosfatos, 111, 112, 113, 126

polióis, 103, 187

Polipropileno, 18

poliquatérnium, 245

polissorbato, 103

Polivinil pirrolidona, 196

Pomada, 43

ponte de dissulfeto, 155, 156

potassa, 91, 92, 114, 209, 210, 211, 255,

256, 260, 261, 272

Potassa, 199, 272

Procter & Gamble, 15

propilenoglicol, 42, 53, 82, 149, 154, 201,

208, 210, 212, 213, 237, 246, 247, 248

Propilenoglicol, 196, 227, 228, 229, 230,

231, 232, 236, 237, 238, 242, 243, 246,

247

Propilparabeno, 139, 145, 225, 226, 227,

229, 234, 235, 238, 239

propiolactona, 102

Propionibacterium, 34

própolis, 236

Proteinam, 244

Proteínam, 216

prótrigo, 216

prunus dulcis, 20

psoríase, 44, 60

pulgas, 148

PVPK, 196

qs, 199, 230, 231, 232, 235, 236, 237, 238,

240, 241, 243, 246

qsp, 199, 225, 226, 227, 228, 229, 230,

231, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238,

239, 240, 241, 242, 243, 244, 245

quaternário, 93, 100, 101, 148, 269, 270

quats, 150

queratina, 22, 55, 77, 129, 130, 144, 147,

148, 149, 150, 151, 152, 153, 155, 156,

158, 160, 164, 190

queratinócitos, 22, 23, 25, 34, 38, 47, 48,

56, 59, 83

queratolítica, 35, 36, 60

querosene, 169, 254, 265, 274

quinóide, 76, 161

rancificação, 52, 73, 189, 195

rancificada, 54

rançosa, 54

redutão, 76

re-engraxantes, 137

renex, 250, 260, 271, 272

Renex, 127, 196, 208, 249, 250, 260

reologia, 45

repelentes, 46, 89, 166, 167, 168, 169, 172

resorcina, 35

retinol, 35, 54, 55, 56, 77, 224, 233, 239

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293

Rewoderm, 223, 224

rícino, 49, 208, 209, 213

ricinoleato de potássio, 256, 257

rinse, 151, 225, 226

rouge, 193

rutilo, 190

sabão caseiro, 91

sabão em pó, 19, 90, 96, 104, 106, 110,

111, 112, 114, 115, 118, 127, 204, 214,

251, 253, 254, 264, 275, 276

saboaria, 200, 202, 209

Sacarina, 183

sal amargo, 215, 247, 251

salgueiro, 60

salicilanilida, 118, 173

salicílico, 60, 67, 140

salix, 60

Salmoura, 252

Sândalo, 198

Sanfteen, 222

sardas, 193

Schwarzkopf, 132

sebácea, 21, 34

sebáceas, 54, 131, 132, 146

sebo, 23, 24, 30, 34, 35, 48, 51, 91, 132,

146, 188, 199, 200, 201, 204, 206, 207,

208, 209, 211, 212, 213, 214, 269, 275,

276

Sebo de boi, 214

SEBRAE, 203

Sebumeter, 37

semi-permanente, 163

Semi-permanente, 157

semi-sólidas, 43

semi-sólidos, 137

sericita, 193

siglas E, 79

Sílica, 17, 186

silicone, 42, 44, 48, 49, 71, 112, 152, 153,

175, 176, 227, 232, 235, 237, 241

silicones, 48, 49, 112, 150, 175, 176

Silkion, 270

sinergística, 72

Skin-visiometer, 37

SLES, 104

SN2, 97

SO3, 96, 98, 100, 106, 128

sobre-engordurantes, 137, 149

soda 99, 199, 200, 202, 204, 207, 208, 209,

211, 212, 213, 251, 252, 268

Soda 99, 199, 255

Softan, 218

soja, 27, 87, 91, 172, 199, 201, 208, 212,

272, 273

sonoforese, 39

sórbico, 138

sorbitol, 42, 183, 186, 209, 212, 213, 244

Span, 42

sticks, 193

stratum coreum, 22

stratum córneum, 85, 107, 131, 190, 195

Suco de limão, 254

sudorípara, 21, 24, 48

sudoríparas, 38, 131, 173

sulfatação, 96, 97, 98, 100, 128

sulfato de sódio, 47, 100, 104, 111, 114,

152, 183, 196, 215, 216, 217, 219, 220,

245, 250, 251, 258

Sulfatol, 251

sulfatos, 96, 106, 112, 132, 142, 146, 173

sulfonação, 96, 100, 128

sulfonas, 99

sulfonatos, 96, 98, 106, 112, 142

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294

sulfônico, 66, 127, 142, 199, 207, 250,

251, 252, 253, 255, 258, 259, 261, 262,

263, 264, 265, 266, 267, 270, 271

sulfosuccinato, 134, 136

sulfúrico, 94, 96, 97, 100, 106, 134, 191,

261

suor, 23, 24, 32, 33, 73, 132, 142, 172,

173, 174

supersufonação, 128

surfactantes, 16, 103, 104, 111, 112, 113

Surfaz, 196

sustained release, 60

Syndet, 96

Syndets, 96

talasferas, 57

talco, 70, 173, 174, 193, 277

Talco, 237

taninos, 146, 170

tautomeria, 67

tazaroteno, 55

TDSA, 66

TEA, 135

telógena, 131

tensão de superfície, 88

tensão superficial, 88

tensoativos, 88, 102, 106, 107, 126, 134,

135, 136, 138, 145, 148, 151, 152, 195,

196, 222, 223, 224

terpenos, 45, 52, 170, 197

tetrametilenofosfônico, 250

Tetrapak, 58

Tewameter, 37

Texapon, 136, 152, 196

TFA, 94

Tinosorb, 65

tintura, 49, 147, 160

TiO2, 70, 189, 191, 192, 193

Tiossulfato de sódio, 82

tirosina, 23, 57, 83

tixotropia, 141, 187, 192

tocoferóis, 32

tocoferol, 56, 58, 59, 149, 190, 233, 239,

240

tolueno, 79, 191, 193, 234

toxidez, 100

Tragacant, 187

tretinoína, 35, 55, 56

Triazinas, 65

triazóis, 116

Triclosan, 196, 246

triclosano, 118, 148, 173

Triclosano, 139, 183

trietanolamina, 135, 155, 159, 246, 247,

252, 253, 255, 261, 268, 271

Trietanolamina, 197, 228, 230, 231, 232,

236, 238, 240, 241, 243, 246, 247, 251,

253

trifluoracético, 94

triglicerídeos, 24, 25, 30, 32, 42, 91, 92,

189

trimetilcetilamônio, 101

tripolifosfato, 127, 250, 251, 255, 258,

259, 262, 265, 271

Tween, 42, 103, 138

tween 80, 138, 139, 140

Twitchell, 94

ubiquinonas, 58

ultrassom, 39

Umectante, 53, 183, 196, 202, 227, 229,

230, 231, 232, 233, 234, 235, 236, 237,

238, 239, 240, 241, 242, 243, 244, 246

Umectantes, 42, 52

Unilever, 15, 90

Uniox, 47

uréia, 32, 39, 42, 52, 132, 139, 140, 172,

187, 231, 236, 239, 258

UV tipo A, 63, 64, 70, 71

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295

UV tipo B, 63, 64, 70, 71

UV tipo C, 64

uva ursi, 84

Vacênico, 29

vanilina, 51, 170

Varisoft, 47

vaselina, 38, 43, 244

VCPMG, 57, 58, 84, 241

Verbena, 198

vidro d´água, 111, 113, 115, 126, 127, 191,

209

vidros d´água, 114

Violeta, 198

viscosidade, 23, 42, 45, 47, 49, 51, 71,

103, 133, 134, 135, 136, 137, 141, 145,

146, 149, 155, 191, 195, 213, 217, 218,

220, 229, 238, 245, 246, 263

vitamina, 32, 54, 63, 76, 77, 149, 224, 225

vitamina A, 32, 54, 55, 56, 58, 59, 77, 78,

224, 239

vitamina D, 31

vitaminas, 33, 41, 52, 53, 54, 56, 58, 149,

153, 201, 202, 224

Vithaar, 223

Vitiligo, 85

W/O, 44, 46

W/O/W, 44

Xadrez, 274

Xalatan, 166

xampu bomba, 56, 224, 225

Xampu bomba, 166, 224

zeólitos, 113, 114

Zeólitos, 127

Ziegler, 98, 100

ZnO, 70, 193

Zonem, 216, 217, 218, 219, 220, 222, 244,

270

Zonen, 196, 221

zwitteríon, 96, 102