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1 ARMIN FRANZ ISENMANN PRINCÍPIOS QUÍMICOS EM PRODUTOS COSMÉTICOS E SANITÁRIOS Timóteo - MG 2016

PRINCÍPIOS QUÍMICOS EM PRODUTOS …sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/_media/bd:livro:quimica:...2 Isenmann, Armin Franz Cosméticos sob o olhar do químico / Armin Franz Isenmann -

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ARMIN FRANZ ISENMANN

PRINCÍPIOS QUÍMICOS

EM PRODUTOS

COSMÉTICOS E

SANITÁRIOS

Timóteo - MG

2016

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Isenmann, Armin Franz

Cosméticos sob o olhar do químico / Armin Franz Isenmann - Timóteo, MG :

2012. 1a Edição

2014. 2a Edição

A partir de 2015:

Princípios Químicos em Produtos Cosméticos e Sanitários / Armin Franz Isenmann -

Timóteo, MG

Bibliografia

ISBN 978-85-913050-5-6

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Todo mundo usa -

todos os dias!

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1 Objetivos deste livro no âmbito dos cursos técnicos de

química, farmácia e áreas afins.

Este livro descreve as reações químicas e os processos da fabricação de sabão, detergentes e

outros princípios sanitários e mostra quais as formulações dos produtos de limpeza e higiene

pessoal que nós usamos no dia-a-dia. Além disso, fornece muitas formulações caseiras destes

produtos, por vários motivos:

Aplicar os conhecimentos sobre as funcionalidades dos componentes em produtos

cosméticos,

Incentivar o aluno a produzir algo de valor e utilidade, através do qual desenvolve

espírito empreendedor,

Facilitar a comparação entre os produtos caseiros e industrializados, tanto no preço

quanto aos efeitos.

Despertar interesse e abrir perspectivas para um futuro profissional com a própria

fábrica.

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Conteúdo

1 Objetivos deste livro no âmbito dos cursos técnicos de química, farmácia e áreas afins. ..4

2 Aspecto econômico da indústria cosmética ................................................................... 12

2.1 Insumos do setor HPPC .......................................................................................... 14

3 Classificação dos cosméticos ........................................................................................ 15

4 Cosméticos - seus poderes e suas restrições legais ......................................................... 16

5 Cuidado da pele ............................................................................................................ 18

5.1 A pele - nosso maior órgão ..................................................................................... 18

5.1.1 Composição da gordura natural da pele ........................................................... 20

5.1.2 Suor ................................................................................................................ 25

5.2 Problemas acerca do cuidado da pele ...................................................................... 26

5.2.1 Limpeza da pele, conforme as diferentes regiões corporais. ............................. 26

5.3 Produtos aplicados diretamente em nossa pele ........................................................ 27

6 Produção do sabão ........................................................................................................ 29

6.1 História do sabão .................................................................................................... 29

6.2 Produção de sabão .................................................................................................. 30

6.3 Aspectos mecanísticos acerca da produção de sabão a partir de gordura ................. 31

6.3.1 Saponificação do éster sob catálise básica........................................................ 32

6.3.2 Saponificação sob catálise ácida ...................................................................... 33

7 O processo de lavagem sob a luz da termodinâmica ...................................................... 35

8 Detergentes sintéticos ("Syndet") .................................................................................. 38

8.1 Detergentes aniônicos ............................................................................................. 38

8.2 Comparação entre detergentes sintéticos e o sabão tradicional ................................ 42

8.3 Detergentes catiônicos ............................................................................................ 42

8.4 Detergentes zwitteriônicos e betaínas ..................................................................... 43

8.5 Detergentes não iônicos .......................................................................................... 44

8.5.1 Discriminação dos syndets, conforme caráter hidrofílico da sua cabeça ........... 45

8.6 Vista geral sobre os detergentes sintéticos .............................................................. 46

8.7 Limpeza da pele humana ........................................................................................ 47

9 Cremes de pele ............................................................................................................. 47

9.1.1 A base de cada creme: a emulsão ..................................................................... 48

9.1.2 Sobre os óleos usados em cremes .................................................................... 49

9.1.3 Umectantes...................................................................................................... 51

9.1.4 Conservantes em cremes ................................................................................. 52

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9.1.5 Formulação típica de um creme hidratante diurno: ........................................... 52

9.2 Compostos ativos nos cosméticos da pele ............................................................... 53

9.2.1 Novo astro no céu dos cosméticos: o ácido hialurônico.................................... 54

9.3 Cada vez mais importante: Protetor Solar ............................................................... 55

9.3.1 Proteção por absorção ..................................................................................... 55

Filtros UV em formulações cosméticos e o fator FPS ................................................ 58

Mecanismos de absorção da radiação UV.................................................................. 59

9.3.2 Bloqueadores solares ....................................................................................... 62

9.3.3 Antioxidantes .................................................................................................. 63

Antioxidantes lipofílicos e hidrofílicos ...................................................................... 66

9.3.4 Bronzeador de pele .......................................................................................... 68

10 Repelentes de insetos e inseticidas ................................................................................ 70

11 Desodorante .................................................................................................................. 75

11.1 Excurso: Silicones em cosméticos ....................................................................... 77

12 Zelar pelo cabelo .......................................................................................................... 79

12.1 Sobre o cabelo humano ....................................................................................... 79

12.1.1 Desenvolvimento de um cabelo saudável ......................................................... 81

12.2 Objetivos do cuidado de cabelo ........................................................................... 82

12.3 Xampu ................................................................................................................ 83

12.3.1 Desenvolvimento histórico .............................................................................. 83

12.3.2 Aplicação de xampu ........................................................................................ 83

12.3.3 Critérios de qualidade de xampus .................................................................... 83

12.3.4 Composição do xampu .................................................................................... 84

12.3.5 Conservantes e outros aditivos em xampus ...................................................... 85

Conservantes ............................................................................................................. 85

Espessantes ............................................................................................................... 87

Agentes quelantes ..................................................................................................... 88

Balanço do pH e o uso de sistemas tampão................................................................ 88

Filtros de UV ............................................................................................................ 90

12.4 Fábrica de xampu ................................................................................................ 91

12.5 Xampus especiais................................................................................................ 92

12.5.1 Xampu para cabelo oleoso ............................................................................... 92

12.5.2 Xampu para cabelo seco .................................................................................. 92

12.5.3 Xampu para cabelo estressado ......................................................................... 92

12.5.4 Xampu com efeito anti-caspa........................................................................... 93

12.5.5 Xampu com coloração ..................................................................................... 93

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12.5.6 Xampu de bebê................................................................................................ 93

12.5.7 Xampus a seco ................................................................................................ 94

12.5.8 Outros tipos de xampus ................................................................................... 94

12.6 Condicionador de cabelo ..................................................................................... 94

12.7 Manipulação da forma do cabelo ......................................................................... 95

12.7.1 Styling gel ....................................................................................................... 96

12.7.2 Ondulação permanente e alizante capilar ......................................................... 97

Atenção com formol! ................................................................................................ 98

12.7.3 Laquê de cabelo .............................................................................................. 99

13 Coloração de cabelo .................................................................................................... 100

13.1 Coloração natural .............................................................................................. 100

13.2 Coloração permanente do cabelo ....................................................................... 102

13.2.1 Mecanismo do acoplamento do corante ......................................................... 103

13.2.2 A etapa de alvejamento ................................................................................. 105

13.3 Coloração semi-permanente .............................................................................. 105

13.4 Coloração demi-permanente.............................................................................. 105

13.5 Coloração temporária ........................................................................................ 106

13.6 Depilação e crescimento do cabelo .................................................................... 106

14 Higiene bucal .............................................................................................................. 108

15 Cosmética decorativa .................................................................................................. 113

15.1 Batom ............................................................................................................... 113

15.2 Esmalte de unha ................................................................................................ 115

15.3 Maquiagem ....................................................................................................... 118

16 Sabão em pó e o processo de lavar roupa .................................................................... 118

16.1.1 Ingredientes principais do detergente em pó .................................................. 120

16.1.2 Aditivos no detergente em pó ........................................................................ 122

16.2 Matérias-primas na fabricação de detergente em pó .......................................... 126

16.3 Energia envolvida na produção de detergentes .................................................. 128

16.4 Vantagens e desvantagens do sabão, em comparação com os detergentes sintéticos

129

17 Formulações de produtos cosméticos .......................................................................... 130

17.1 Preparo de alguns ingredientes básicos .............................................................. 134

17.1.1 Sobre a pureza da soda utilizada .................................................................... 134

17.1.2 Sobre as gorduras utilizadas .......................................................................... 134

17.1.3 Preparo da lixívia para o processo da saboaria "a frio". .................................. 135

17.1.4 Receita básica do processo saboeiro "a frio". ................................................. 136

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17.1.5 Dicas para sabões refinados ........................................................................... 137

17.1.6 Como preparar um gel d´água transparente .................................................... 138

17.1.7 Faça seu próprio "brancol" ............................................................................ 138

17.2 Sabão comum para uso geral ............................................................................. 138

17.2.1 Sabão com restos de frituras (óleo usado) ..................................................... 138

17.2.2 Lixívia ........................................................................................................... 139

17.2.3 "Sabão frio" ................................................................................................... 140

17.2.4 Sabão frio com detergente ............................................................................. 141

17.2.5 Sabão frio com silicato e caulim .................................................................... 141

17.2.6 Sabão de coco ............................................................................................... 142

17.2.7 Sabonete branco ............................................................................................ 142

17.2.8 Sabão "meio-quente" ..................................................................................... 143

17.2.9 Sabão "quente" .............................................................................................. 143

17.2.10 Sabão transparente feito em caldeira .......................................................... 143

17.2.11 Sabão glicerinado transparente ................................................................... 144

17.2.12 Sabão líquido de óleo usado ....................................................................... 144

17.2.13 Sabão com álcool ....................................................................................... 146

17.2.14 Base glicerinada fabricada pelo processo alcoólico .................................... 147

17.2.15 Mais fórmulas caseiras para sabão em barra comum .................................. 147

17.3 Produtos cosméticos comuns e higienização doméstica ..................................... 149

17.3.1 Sabonete líquido ............................................................................................ 149

17.3.2 Receita mais econômica. ............................................................................... 149

17.3.3 Xampu para cabelos normais ......................................................................... 150

17.3.4 Sabonete líquido glicerinado ......................................................................... 150

17.3.5 Xampu anti-queda ......................................................................................... 151

17.3.6 Xampu de brilho para cabelos secos .............................................................. 152

17.3.7 Xampu neutro para bebê ................................................................................ 152

17.3.8 Xampu para cabelo mais brilhante ................................................................. 153

17.3.9 Xampu para cabelo seco e danificado ............................................................ 154

17.3.10 Xampu para raízes oleosas e pontas secas .................................................. 155

17.3.11 Xampu cremoso com manteiga de karitê .................................................... 156

17.3.12 Xampu para cabelo longo com nutri DNA ................................................. 156

17.3.13 Xampu para cabelo normal ........................................................................ 157

17.3.14 Xampu modificado para cabelo oleoso ....................................................... 158

17.3.15 Xampu contra caspas ................................................................................. 158

17.3.16 Xampu para casos graves de caspas ........................................................... 159

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17.3.17 Umedecedor de cabelo ............................................................................... 159

17.3.18 Água sanitária ............................................................................................ 160

17.3.19 Alvejante com peróxido de hidrogênio. ...................................................... 160

17.3.20 Sabão em pó .............................................................................................. 161

17.3.21 Sabão em pó, receita 2. .............................................................................. 161

17.3.22 Detergentes líquidos .................................................................................. 162

17.3.23 Detergente concentrado.............................................................................. 162

17.3.24 Detergente doméstico................................................................................. 162

17.3.25 Detergente industrial. ................................................................................. 163

17.3.26 Detergente econômico ............................................................................... 163

17.3.27 Detergente fera .......................................................................................... 164

17.3.28 Detergente líquido, receita caseira I ........................................................... 164

17.3.29 Detergente líquido, receita caseira II .......................................................... 165

17.3.30 Sabão líquido para roupas, Receita 1 .......................................................... 166

17.3.31 Sabão líquido para roupas, Receita 2 .......................................................... 166

17.3.32 Sabão líquido de coco ................................................................................ 166

17.3.33 Desinfetante de pinho, receita I .................................................................. 167

17.3.34 Desinfetante de pinho, receita II ................................................................. 167

17.3.35 Desinfetante de pinho, receita III ............................................................... 167

17.3.36 Desinfetante de pinho, receita IV ............................................................... 168

17.3.37 Desinfetante de eucalipto, receita I ............................................................. 168

17.3.38 Desinfetante de eucalipto, receita II ........................................................... 168

17.3.39 Detergente Multiuso, receita I .................................................................... 169

17.3.40 Multiuso, receita II:.................................................................................... 169

17.3.41 Multiuso, receita III: .................................................................................. 170

17.3.42 Multiuso caseiro ........................................................................................ 170

17.3.43 Desinfetante caseiro ................................................................................... 171

17.4 Produtos cosméticos e de limpeza especiais ...................................................... 171

17.4.1 Sais de banho ................................................................................................ 171

17.4.2 Óleo trifásico ................................................................................................. 172

17.4.3 Gel pós barba ................................................................................................ 172

17.4.4 Gel para ultrassonografia ............................................................................... 173

17.4.5 Álcool em gel ................................................................................................ 173

17.4.6 Desodorante Líquido ..................................................................................... 174

17.4.7 Repelente natural de insetos .......................................................................... 174

17.4.8 Pasta de brilho transparente ........................................................................... 175

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17.4.9 Sabão pastoso para mecânicos ....................................................................... 175

17.4.10 Brilha-alumínio (contém ácido sulfúrico) ................................................... 175

17.4.11 Brilha-alumínio (com ácido muriático) ...................................................... 175

17.4.12 Solupan I (Fortíssimo) ............................................................................... 176

17.4.13 Solupan, receita II ...................................................................................... 176

17.4.14 Limpa-vidros ............................................................................................. 177

17.4.15 Cera Líquida .............................................................................................. 177

17.4.16 Limpa-tudo à base de amoníaco, receita caseira ......................................... 177

17.4.17 Gel "suave" para limpeza ........................................................................... 178

17.4.18 Gel "forte" para limpeza............................................................................. 178

17.4.19 Desengraxante ácido .................................................................................. 179

17.4.20 Desengraxante (fórmula industrial básica).................................................. 179

17.4.21 Desengraxante para alvenaria e pedras ....................................................... 180

17.4.22 Limpa pedras especial, receita I ................................................................. 180

17.4.23 Limpa pedras especial, receita II ................................................................ 180

17.4.24 Desengordurante tipo "Ajax", receita I ....................................................... 181

17.4.25 Desengordurante tipo "Ajax", receita II ...................................................... 181

17.4.26 "Ajax", receita caseira I ............................................................................. 181

17.4.27 "Ajax", receita caseira II ............................................................................ 182

17.4.28 Limpa chassis de caminhão ........................................................................ 182

17.4.29 Lustra-móveis ............................................................................................ 182

17.4.30 Limpa-plásticos ......................................................................................... 183

17.4.31 Limpa-carpetes .......................................................................................... 183

17.4.32 Amaciante de roupas, receita profissional .................................................. 183

17.4.33 Xampu especial para cães e gatos ............................................................... 184

17.4.34 Xampu para automóveis, receita I .............................................................. 184

17.4.35 Xampu para automóveis, receita II ............................................................. 185

17.4.36 Pretinho pneu ............................................................................................. 185

17.4.37 Graxa para sapatos ..................................................................................... 186

17.4.38 Pasta de limpeza para mecânico ................................................................. 186

17.4.39 Pó para matar baratas ................................................................................. 187

17.4.40 Pega-moscas .............................................................................................. 187

17.4.41 Amaciante de roupas, receita caseira .......................................................... 187

17.4.42 Pasta para mecânico, receita caseira ........................................................... 187

17.4.43 Cera para assoalho ..................................................................................... 188

17.4.44 Spray para passar roupas ............................................................................ 188

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17.4.45 Passe-bem, receita caseira I ........................................................................ 188

17.4.46 Passe-bem, receita caseira II ...................................................................... 189

17.4.47 Pasta para brilhar o alumínio, receita caseira .............................................. 189

17.4.48 Sabão "doido" ............................................................................................ 189

17.5 Dicas como remover manchas ........................................................................... 190

18 Coleção de sites úteis na internet ................................................................................. 191

Índice das ilustrações e figuras usadas neste livro p. 3 “Cosméticos”, adaptado de http://www.fauske.com/cosmetic-industry

p. 31 “Kernseife”, da página http://www.schoeneseife.de/2010/09/08/seifenausstellung-

seifensammlung-alte-seifen-einblicke-in-unsere-private-sammlung/

p. 38 “Micela”, da página http://www.ehu.eus/biomoleculas/lipidos/lipid34.htm

p. 57 “Absorvente UV”, domínio público da página https://en.wikipedia.org/wiki/Sunscreen

p. 70 “Desenvolvimento dos corantes a partir de proteínas da pele e dihidroxiacetona, via

reação de Maillard”, da página https://themolecularcircus.wordpress.com/2012/11/30/the-

science-of-fake-tan/

p. 65 “Os pormenores da raiz do cabelo”, domínio público da página

https://en.wikipedia.org/wiki/Hair; “folículo piloso”, da página http://www.sandro.com.br/o-

que-e-foliculo-piloso-quantos-foliculos-temos-como-ele-e-2.html

P. 68 “Crisântemo” domínio público da página https://de.wikipedia.org/wiki/Pyrethrine

p. 97 “Carbopol”, da página

https://www.lubrizol.com/CorporateResponsibility/ProductStewardship/Carbopol.html

p. 98 “Hidrogel”, da página http://chemicals.exportersindia.com/industrial-

chemicals/cosmetic-ingredients.htm

p. 102 “Metabolismo da melanina”, da página

http://www.bio.davidson.edu/courses/immunology/students/spring2003/leese/vitiligo.htm

p. 103 “Unidades representativas do polímero de melanina (preto)”, da página

http://www.blackherbals.com/science_of_african_biochemistry.htm

p. 108 “Crescimento de cabelo; before – after”, da página

http://newminoxidilspray.com/apply-minoxidil-spray-rogaine/

p. 109 “Dente”, da página http://ortoquick.blogspot.com.br/2014/01/vamos-conhecer-nossos-

dentes.html

p. 110 “Célula unitária da hidroxiapatita”, da tese de Sakshi Jain, disponível em

http://ethesis.nitrkl.ac.in/1690/2/sakshi's_thesis.pdf

p. 115 “Cosmética decorativa”, foto do filme Cleopatra com Elizabeth Taylor.

p. 123 “Zeólito A”, da página http://semsci.u-strasbg.fr/zeolithe.htm

p. 127 “Fluxograma da fábrica de detergente em pó”, compermissão da monografia R.N.

Shreve, J.A.Brink Jr, Indústrias de processos químicos, 4a ed. Guanabara Rio de Janeiro 1997

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12

p. 141 “Areômetros”, da página http://profissionaisgeral.tuningblog.com.br/r100/Caldeira-de-

Recuperacao/

2 Aspecto econômico da indústria cosmética

O volume de fatura mundial da indústria cosmética é considerável: em torno de 350 bilhões

de US$ os consumidores gastam por ano para seus produtos de higiene pessoal!

Nos mercados em países industrializados as faturas são estáveis em alto nível, mas nos países

em desenvolvimento e no "3° mundo" estão em crescimento de quase 10% por ano.

Mais forte ainda a indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos: nas

últimas décadas os números referentes ao setor dos cosméticos no Brasil não param de

crescer. Segundo o Panorama do Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos,

divulgado anualmente pela Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos) 1, a indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

teve um crescimento médio, já descontando a inflação, de 10,5% por ano, na média tirada

durante os últimos 15 anos; o faturamento saltou de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 24,9

bilhões em 2009. Junto se desenvolveu a participação das mulheres no mercado de trabalho, a

utilização de tecnologia de ponta e um aumento da produtividade. Em 2014 o setor cresceu

por 11,8% sobre 2013, atingindo um faturamento de 43,2 bilhões de reais (Abihpec 1).

Em relação ao mercado mundial de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC),

conforme dados do Euromonitor de 2013, o Brasil ocupa a terceira posição. É o primeiro

mercado em perfumaria e desodorantes; segundo em produtos para cabelo, linha masculina,

infantil, produtos para banho, depilatórios e proteção solar; terceiro em produtos cosméticos-

cores, quarto em higiene oral e quinto em produtos para pele.

Tab. 1. Cenário mundial do setor HPPC – 2008 2

No. País Preços ao

consumidor

(bilhões de US$)

Crescimento em

%

Participação em %

Mundo todo 333,50 9,1 -

1 Estados Unidos 52,14 -0,1 15,6

2 Japão 33,75 11,9 10,1

3 Brasil 28,77 27,5 8,6

4 China 17,73 22,1 5,3

5 Alemanha 16,86 8,0 5,1

6 França 16,23 6,8 4,9

7 Reino Unido 15,72 -3,5 4,7

1 https://www.abihpec.org.br/novo/wp-content/uploads/2015-PANORAMA-DO-SETOR-PO9RTUGUES-

11ago2015.pdf

2 Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Informe Setorial: Estrutura e estratégias da cadeia de higiene

pessoal, perfumaria e cosméticos. Janeiro de 2010; disponível em

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/setorial/inf

orme-14AI.pdf (acesso em 12/2014)

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13

8 Rússia 12,38 14,5 3,7

9 Itália 12,25 8,0 3,7

10 Espanha 10,64 10,7 3,2

Total 216,47 6,0 64,9

Existem no Brasil 2.470 empresas atuando no mercado de produtos de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos, sendo que 20 empresas de grande porte, com faturamento líquido

de impostos acima dos R$ 100 milhões, representam 73,0% do faturamento total deste setor.

Em 2006 já teve 15 empresas brasileiras de cosméticos que produziam nanocosméticos,

principalmente para produtos antirrugas, anticelulite, cremes, loções para o corpo, gel anti-

estrias, produtos para a área dos lábios e dos olhos e máscara facial e maquiagem com

fotoprotetor, entre outros.

Tab. 2. As maiores empresas do setor HPPC no Brasil – 2008 2

Diversificadas com atuação em vários mercados Com atuação concentrada em HPPC

Vendas

em

milhões

de US$

Unilever Johnson

&

Johnson

Procter

&

Gamble

Colgate

Palmolive

Natura Boticário Avon

Cosméticos

Mundo 64.350 63.747 83.503 15.329 2.102 ND 10.690

HPPC 15.489 16.054 27.800 9.657

% 24 25 33 63

Brasil 4.570 1.377 953 ND 2.032 1.791 1.021

A Fig. 1 discrimina as despesas dos consumidores, conforme a finalidade do produto

cosmético.

Fig. 1. Dados econômicos do setor de cosméticos (valores de 2010, Abihpec)

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2.1 Insumos do setor HPPC Estima-se que haja em torno de 1.000 a 1.500 insumos químicos que são utilizados para a

produção de emolientes e hidratantes, fragrâncias, surfactantes, veículos, propelentes, agentes

de consistência (espessantes), corantes e pigmentos, conservantes e ingredientes de uso

específico. A Fig. 2 mostra a distribuição das principais substâncias químicas destinadas para

o setor de HPPC e adjacentes 2, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química

(Abiquim) para o ano de 2007.

Fig. 2. Os principais insumos químicos da indústria brasileira de HPPC (% da

produção interna destinada à venda interna; dados de 2007)

Utilizando-se dos principais insumos listados pela Abiquim no Anuário de 2008, percebe-se

que a produção interna é superior à quantidade importada, como é visto na Tab. 3.

Tab. 3. Produção interna e balança comercial dos principais insumos químicos no ano

de 2007 no Brasil (em toneladas) 2.

Produção Importação Exportação Consumo

aparente

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15

Lanolinas 1.356,0 300,2 963,9 692,3

Acetofenona 2.347,0 0,2 643,1 1.704,1

Glicerina 7.301,9 60,8 5.434,0 2.028,7

Sílica gel 12.952,0 5.445,8 5.741,4 12.656,4

Nitrocelulose 32.597,1 344,4 21.996,4 10.945,1

Óleo mineral

branco

32.849,0 20.075,0 4.502,3 48.421,7

Ácido esteárico 37.900,0 10.960,9 1.494,7 47.366,2

Polietileno de

alta densidade

1.022.542,8 108.548,9 379.091,5 752.000,2

Polipropileno 1.293.389,6 166.243,6 245.144,9 1.214.488,3

3 Classificação dos cosméticos

O mercado dos cosméticos pode ser classificado conforme a finalidade do produto (com

exemplos típicos):

Tratamento de pele: sabonete, creme hidratante, protetor solar, produtos de barba.

Cuida de cabelo: xampu, laqué e gel para cabelo, alizante e ondulador permanente,

tintas de cabelo, removedores e fortificantes de cabelo, xampus – até xampus de

animais domésticos.

Higiene bucal: pasta de dente, loção bucal, branqueadores.

Cosmética decorativa: batom, maquiagem, esmalte de unha.

(A perfumaria representa mais uma classe importante dentro dos cosméticos, porém é muito

diversificada e não será tratada aqui 3).

Daí podemos definir os produtos cosméticos como misturas de substâncias que são aplicadas

nas pessoas de modo externo, sem exercerem notáveis efeitos sistêmicos. Essa definição deixa

especialmente clara a divisão para a farmácia onde o foco são os produtos que podem curar ou

aliviar doenças e danos corporais.

O órgão responsável pela parte legislativa e o controle dos cosméticos no Brasil é a ANVISA 4 (Agência Nacional de Vigilância Sanitária):

“Produtos cosméticos são aqueles de uso externo nas diversas partes do corpo humano (pele,

sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da

cavidade oral), com o objetivo de limpar, perfumar, alterar sua aparência, corrigir odores

corporais, proteger ou manter em bom estado, conforme RDC nº 211 / 2005.”

A ANVISA categoriza os cosméticos em duas classes, conforme seu grau de risco.

3 Leia sobre os princípios químicos dos perfumes, as fontes naturais e ingredientes sintéticos, e as classes de

odores: G. Ohloff, W. Pickenhagen, P. Kraft, Scent and Chemistry, Wiley-VCH Zürich 2012.

4 http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Cosmeticos

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Grau 1: produtos com risco mínimo; estes produtos podem ser registrados com maior

facilidade.

Exemplos de G1: hidratantes, cremes de massagem, shampoos e condicionadores.

Grau2: abrange os produtos com risco potencial. Geralmente são produtos com

indicações específicas que exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem

como informações e cuidados quanto ao modo e restrição de uso. Contém ingredientes

considerados irritantes quando utilizados em altas concentrações; o registro

geralmente é um procedimento mais demorado.

Sendo assim, foram estabelecidos pela ANVISA testes específicos acerca dos seguintes

critérios:

• Fator de FPS em protetores solares;

• Segurança;

• Irritabilidade primária;

• Eficácia.

Exemplos de produtos da categoria G2 são: produtos antissépticos, anticaspa,

antiperspirantes, bronzeadores e filtro solares, clareadores de cabelo.

Os fatores que determinam se um cosmético é Grau 1 ou Grau 2 são os dizeres na rotulagem e

principalmente os ingredientes utilizados na formulação.

No sentido ampliado também constam neste setor industrial, os produtos da higienização do

ambiente com o qual nós entramos em contato diariamente:

Sabões para lavar roupa (sabão de coco, sabão em pó, detergente líquido, amaciante)

Limpeza e higienização doméstica (limpa-tudo, detergente de lavar louça,

desinfetantes, removedores de manchas)

Protetores de superfície (lustra-móveis, selador de piso, graxa de couro)

Os efeitos dos cosméticos ao consumidor podem ser resumidos em quatro itens:

1. Contribuir à higiene pessoal,

2. Prevenir danos à saúde humana,

3. Aumentar o nosso bem-estar e nossa autoestima,

4. Facilitar a nossa vida social.

Por outro lado, o produto cosmético não deve ter efeitos terapêuticos!

4 Cosméticos - seus poderes e suas restrições legais

Vamos deixar claro em primeiro lugar: um modo de vida saudável e uma alimentação

consciente, isso inclui um sono abundante e regular, não podem ser repostos por nada que se

diz respeito à beleza externa. Uma falta em algum destes itens se reflete, mais rápido do que

nós queremos, na aparência da nossa pele, unhas ou cabelo. Por outro lado, quem se sente

100% "dentro da sua pele", isto seria a melhor prevenção contra um envelhecimento precoce.

A persuasão das propagandas é muito grande, falando que o envelhecimento é uma doença

que pode ser tratada. Mas é fato que o nosso corpo, inclusive a nossa pele, sofre mudanças ao

longo dos anos - isso é todo natural. Vale uma regra em geral: quem se sente satisfeito e

estiver com sua consciência em paz, também tem um visual bom e dispõe de uma áurea

positiva!

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No entanto, a cosmética pode contribuir uma pequena parte no bem-estar dentro da nossa

própria pele.

Como já definido na introdução, por via da lei, produtos cosméticos são exclusivamente de

aplicação externa, embelezando ou melhorando o estar da sua pele, unhas e cabelo, mas não

adiantam a cura de uma pele doente. Isso implica que os ingredientes de cosméticos não

devem ser absorvidos pela pele e chegar à corrente sanguínea. Além disso, são proibidos

ingredientes que poderiam prejudicar a saúde - mesmo em concentração ainda abaixo da

permitida. Justamente neste critério os limites são bem flexíveis e podem ser, tanto do

produtor como do consumidor, mal interpretados. Lembramos que a lei permite atualmente

substâncias cuja inocuidade não foi comprovada clinicamente.

Desde 1998 os ingredientes em produtos cosméticos devem ser indicados frente ao

consumidor, utilizando a INCI (Interntational Nomenclature of Cosmetic Ingredients).

Desvantagem desta lei: estão sendo usados os nomes em latim (especialmente em caso de

extratos naturais) ou em inglês (em caso de substâncias sintéticas). Quem sabe, por exemplo,

que helianthus annuus simplesmente significa óleo de girassol? Ou prunus dulcis, o óleo de

amêndoa? Todavia, hoje é possível identificar de maneira segura, os ingredientes principais

do produto cosmético em nossa casa.

Em resumo, a ANVISA especifica na sua Resolução 211/2005, Anexo IV, o que deve constar

no rótulo da embalagem primária (que contém o produto cosmético) e secundária (que embala

a embalagem primária), conforme a tabela a seguir. Em casos onde não houver embalagem

secundária, todas as informações devem constar na embalagem primária. E se o frasco ser

muito pequeno para colocar a informação de maneira legível, um aviso deve referir ao folheto

que acompanha o produto cosmético.

Tab. 4. Tabela das normas ANVISA 211/2005 para a rotulagem de produtos

cosméticos.

Item Embalagem

primária secundária

Nome do produto (família do produto e a marca) X X

Número de registro (conforme Resolução 343/2005) X

Lote ou partida (pode ser impresso na tampa) X

Prazo de validade (mês/ano) X

Conteúdo (em mL no caso de produto (semi)líquido ou em

gramas no caso de produto sólido)

X

País de origem X

Identificação do fabricante/importador/titular (nome,

endereço, CNPJ ou CGC)

X

Modo de usar (se for o caso) X X

Advertências / restrições de uso (escritos em extenso) X X

Rotulagem específica (Res. 211/2005 Anexo V, Decreto

79094/1977, Resolução 215/2005, Pareceres da CATEC)

X

Composição / Ingredientes (conforme nomenclatura INCI) X

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Além disso, o Art. 93 do Decreto 79.094/77 (alterado pelo Decreto 83239/79) diz:

“Não poderão constar da rotulagem ou da publicidade e propaganda (...) designações, nomes

geográficos, símbolos, figuras, desenhos ou quaisquer indicações que possibilitem

interpretação falsa, erro ou confusão quanto à origem, procedência, natureza, composição ou

qualidade, ou que atribuam ao produto finalidades ou características diferentes daquelas que

realmente possua.”. A responsabilidade legal para a veracidade das informações está com o

fabricante ou importador (detentor do registro).

5 Cuidado da pele

O cuidado da pele é um ponto central na higiene pessoal e compreende a limpeza e o

tratamento da pele, visando o fortalecimento dos mecanismos naturais de proteção e manter a

saúde da pele - tudo isso para um melhor bem-estar.

Antes de analisarmos as necessidades da nossa pele, devemos tomar conhecimento da

estrutura e das partes sensíveis da nossa camada externa.

5.1 A pele - nosso maior órgão A pele é feita de diversas camadas, conforme mostrado na Fig. 3.

Fig. 3. As partes funcionais da pele humana

Identificamos na nossa pele as seguintes partes funcionais:

Stratum corneum (camada córnea): células achatadas mortas. Não participam mais no

metabolismo e sofrem desgaste mecânico. É a camada mais exterior da pele.

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Epidermis: células vivas que repõem a stratum coreum migram à superfície, sob contínuo

achatamento. Aqui ocorrem os processos de queratinização que tornam esta camada

especialmente resistente à tração (= firmeza mecânica) e abrasão.

Membrana basal: divisória entre a epidermis e a dermis, contendo as células responsáveis

pela cor natural da nossa pele.

Dermis: fibras de colágeno, intercaladas por uma matéria gelatinosa. É conhecido como

tecido conjuntivo. Esta camada proporciona elasticidade à pele, ela tem o papel de almofada

macia que pode absorver choques e amenizar batidas.

A matéria fibrosa proporciona estabilidade e resistência aos ataques mecânicos e químicos do

nosso ambiente. A composição das fibras de colágeno (proteína) e dos polissacarídeos

(“ácidos hialurônicos”, ver p. 54) muda ao longo da vida humana: elas tornam-se mais finas,

perdem em elasticidade e força de tensão, e mostram a tendência de dobrar-se.

A dermis acomoda diversas glândulas:

A glândula sebácea (sebo, gordura),

A glândula sudorípara (produz suor),

Os folículos pilosos (onde nasce o cabelo).

Estes fazem com que em cima da pele encontra-se um filme fino composto de suor e seus

resíduos, sebo e água. Essa mistura representa uma manta de proteção natural cujo pH fica

entre 4 e 6. Esse ambiente ligeiramente ácido tem duas funções: em primeiro lugar ele é uma

barreira contra compostos químicos agressivos. As proteínas da pele são mais estáveis e

protegidas contra a degradação por hidrólise, nesta região de pH. Na média, os aminoácidos,

constituintes das proteínas, têm seu ponto isoelétrico nesta faixa de pH. Em segundo lugar

esse filme acomoda microorganismos. A mistura deste filme contém nutrientes para as

bactérias benéficas que, por sua vez, inibem a disseminação de outros microorganismos,

prejudiciais ou até patogênicos.

A elasticidade da pele depende muito do teor em umidade. Caso o nível em água fique muito

baixo a pele ganha uma aparência seca, nós percebemos sua tensão, cócegas ou até

queimação; ela se solta em forma de lascas (= caspas). Uma pele jovem e saudável se destaca

por fatores de retenção de umidade naturais (inglês: natural moistening factors, NMF) que

balanceiam o grau de umidade. Um tratamento da pele com produtos cosméticos pode nivelar

um déficit em umidade, especialmente importante quanto o ar contém menos de 50% de

umidade relativa (o que é o caso nos meses de inverno, em grandes partes do Brasil). A

composição desses cremes e loções será apresentada mais adiante (ver cap. 8.7 na p. 47).

A glândula sebácea produz gorduras - ácidos graxos, triglicerídeos e ésteres simples de

alcoóis graxos, principalmente - que permanecem na superfície da pele em forma de emulsão.

Essa gordura tem a função de reter a umidade dentro das camadas inferiores da pele e assim

proteger contra a perda excessiva de líquido ao meio ambiente. Por outro lado, também

formam uma barreira contra águas contaminadas com quais entramos em contato.

A composição exata do sebo humano pode variar de pessoa em pessoa. Valores médios são:

Triglicerídeos, cerca de 43%

Ácidos graxos livres, cerca de 15%

Ceras (= monoésteres), cerca de 23%

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Esqualeno, cerca de 15%

Colesterol cerca de 4%

Além destes compostos, a mistura gordurosa contém ainda proteínas.

Em seguida vamos conhecer mais sobre os componentes principais desse material

hidrofóbico, os triglicerídeos e ácidos graxos.

Colesterol (C27H46O)HO

H

H H

H

Esqualeno (C30H50)

5.1.1 Composição da gordura natural da pele

Todas as gorduras naturais, inclusive as vegetais, são ésteres compostos de ácidos graxos e

um álcool, geralmente representado pela glicerina. Portanto, as gorduras também são

chamadas de "glicerídeos" ou "triglicerídeos".

Gorduraanimal ou vegetal

"Glicerídeos"

O

O

O

C

O

C

C

O

O

= Éster feito de glicerina (álcool) e três ácidos graxos

Mais ác. oléico, mais líquida a gordura (porco, ganso);mais saturados, mais dura a gordura (sebo de boi)

Regra geral:

Fig. 4. Composição geral da gordura animal e vegetal.

As diferenças físicas e químicas entre as gorduras se explicam da estrutura química das

cadeias carbônicas dos ácidos graxos, na Fig. 4 abstraídas por linhas onduladas. Existem em

torno de 10 diferentes ácidos graxos que proporcionam mais de 95% dos constituintes em

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gorduras naturais. Raras vezes todos os três grupos ácidos graxos dentro do glicerídeo são

idênticos, mas sim, podem ser arranjados de forma randômica. Somente destes detalhes

estruturais podemos esperar 103 diferentes isômeros constitucionais dos glicerídeos - um

número que ainda aumenta pelos isômeros devido à posição exata dos ácidos graxos dentro do

glicerídeo (isto é, em cima, no meio ou em baixo, no esquema da Fig. 4).

R C

O

OH

Ácido graxo(ác. carboxílico)

R = cadeia hidrocarbônica saturada (ou com uma insaturação) .

Representação trivial:

COOH

C12: Láurico

Nomes dos ácidos graxos dependem do comprimento da cadeia carbônica:

C14: Mirístico

C16: Palmítico

C18: Esteárico

C18 com uma insaturação: Oléico

Fig. 5. Estrutura química e nomes triviais de alguns ácidos graxos mais

encontrados nas gorduras animais e vegetais.

Tab. 5. Relação dos nomes triviais dos ácidos graxos mais comumente encontrados em

gorduras naturais.

No de

carbonos

Cadeia saturada Cadeia mono-

insaturada

Cadeia poli-

insaturada

12 ác. láurico

14 ác. mirístico

16 ác. palmítico

(também: ác. cetílico)

ác. palmitoléico

18 ác. esteárico ác. oléico ác. linoléico (C18:2);

ác. linolênico

(C18:3).

20 ác. aráquino ác. gadoleínico, ác.

gondo

ác. araquidônico

(C20:4)

22 ác. beênico ác. erúcico

Sendo assim, somente sob grandes esforços cromatográficos é possível separar os

componentes de uma amostra de gordura. Em vez disso, é mais razoável classificar a

composição da gordura, em porcentagens de ácidos graxos, a serem determinadas após a

hidrólise dos ésteres. A seguinte tabela representa a composição de gorduras naturais,

inclusive a da pele humana, em termos dos ácidos graxos hidrolisados. Note que nesta

anotação (X : Y), o primeiro número indica o número de carbonos da cadeia retilínea, o

segundo número representa o número de duplas ligações (no entanto, não indica suas posições

dentro da cadeia carbônica).

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Tab. 6. Padrão dos ácidos graxos. Composição natural de alguns óleos vegetais usados

em formulações de cosméticos, em comparação com a gordura da pele humana.

Indicação dos ácidos graxos em % do peso.

Graxa/Óleo 10:0 12:0 14:0 16:0 18:0 18:1 18:2 18:3 20:1 22:1

Óleo de colza

("low erucic")

- - - 1-5 1-4 50-65 15-30 5-13 1-3 0-2

Óleo de colza

("high erucic")

- - - 2-3 1-4 12-24 12-16 7-10 4-6 45-53

Girassol (gênero

antigo)

- - - 3-10 1-10 14-65 20-75 - - -

Girassol (high

oleic)

- - - 3-4 1-2 90-91 3 - - -

Óleo de linho - - - 5-8 2-4 15-25 12-16 50-60 - -

Manteiga de

coco

5-10 45-53 15-21 7-11 2-4 6-8 1-3 - - -

Azeite de dendê

parte interna

3-5 40-52 14-18 6-10 1-4 9-16 1-3 - - -

Azeite de dendê

parte externa

- - 0-2 38-48 3-6 38-44 9-12 - - -

Óleo de soja - - - 7-14 1-5 19-30 44-62 4-11 0-1 -

Óleo de

amendoim

- - 0-1 6-16 1-7 36-72 13-45 0-1 0-2 -

Gordura da

pele humana

3 26 14 47 3 1

Composição média da gordura de pele humana:

Ácidos graxos saturados:

Ác. palmítico 26%

Ác. esteárico 14%

Ác. mirístico 3%

Ácidos graxos mono-insaturados:

Ác. oléico 47%

Ác. palmitoléico 3%

Ácidos graxos poli-insaturados:

Ác. linoléico 3%

Ác. linolênico 1%

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Tab. 7. Classificação de gorduras conforme o grau de insaturação.

Tipo e Fonte Saturados Monoinsaturados Poli insaturados

Total Linoléico

Principalmente

saturadas:

Manteiga 63 33 4 1

Banha 43 47 10 9

Coco 90 8 2 2

Dendê 50 39 11 10

Principalmente

monoinsaturadas:

Oliva 17 73 10 10

Amendoim 18 52 30 30

Canola 6 67 27 17

Ricas em

poliinsaturadas:

Milho 15 30 55 55

Soja 16 24 60 53

Girassol 12 21 67 67

Açafrão 10 15 75 75

Peixe 20-35 20-55 20-50 1

Sardinha 20 55 25 1

Geralmente podemos afirmar: quando mais rica em duplas ligações C=C (contribuinte

principal: o ácido oléico), mais líquida a gordura. Exemplos de gorduras líquidas: banha de

porco, graxa de ganso.

Por outro lado, alta porcentagem em ácidos graxos saturados torna a gordura mais dura. Seu

ponto de fusão extraordinariamente alto se deve à fácil cristalização deste material (cadeias

carbônicas saturadas são mais flexíveis do que as insaturadas). Este fato será de suma

importância na preparação de batom (ver p. 113). As seguintes tabelas sublinham essa

tendência.

Tab. 8. Alguns ácidos graxos saturados e seus pontos de fusão.

Símbolo numérico Nome do ácido: Ponto de fusão (° C)

C 4:0 Butírico -5,3

C 6:0 Capróico -3,2

C 8:0 Caprílico +6,5

C 10:0 Cáprico 31,6

C 12:0 Láurico 44,8

C 14:0 Mirístico 54,4

C 16:0 Palmítico (= cetílico) 62,9

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C 18:0 Esteárico 70,1

C 20:0 Araquídico 76,1

C 24:0 Lignocérico 84,2

Já os ácidos graxos com insaturação (= dupla-ligação C=C) apresentam-se em uma variedade

estrutural bem maior. A posição da dupla-ligação dentro da cadeia carbônica define diferentes

isômeros com diferentes propriedades físicas. Também a geometria ao redor da dupla-ligação,

cis ou trans (melhor falando em Z e E; mais encontrado é o isômero Z) influencia as

propriedades sensivelmente. Não há unanimidade na sigla para denominar esses ácidos, mas a

seguinte tabela mostra uma nomenclatura bastante espalhada.

Tab. 9. Alguns ácidos graxos insaturados, com sigla e ponto de fusão.

Símbolo numérico Nome do ácido: Ponto de fusão (° C)

C 16:1 (9Z) Palmitoléico 0,0

C 18:1 (9Z) Oléico 16,3

C 18:1 (11Z) Vacênico 39,5

C 18:1 (9E) Elaídico 44,0

C 18:2 (9, 12) Linoléico -5,0

C 18:3 (9, 12, 15) Linolênico -11,0

C 20:4 (5, 8, 11, 14) Araquidônico -49,5

Anotamos as seguintes tendências:

1. Quanto mais comprida a cadeia carbônica, mais alto o ponto de fusão.

2. Os pontos de fusão dos ácidos graxos saturados ficam acima dos insaturados.

3. Quanto mais insaturações, mais baixo o ponto de fusão.

Características dos ácidos graxos mais comuns em plantas e animais:

Número par de átomos de carbono

Número de átomos de carbono 14-22, predominando C16 e C18

Duplas ligações não conjugadas (isoladas)

Isomeria cis nas duplas ligações C=C

Cadeias carbônicas não ramificadas

Cadeias puramente carbônicas, sem outros heteroátomos

Existem mais de 800 ácidos graxos encontrados em lípidos naturais, porém só alguns estão

presentes em quantidades e freqüência considerável.

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Para a maioria dos usos cosméticos um alto ponto de fusão é indesejado (exceção: batom!).

Portanto, a gordura usada deve ter insaturações. Por outro lado, sabemos que a química dos

alquenos é muito mais rica que a dos alcanos. Especialmente reativos são os alquenos frente

ao oxigênio do ar: ocorrem oxidações em posição alílica e polimerizações radicalares,

principalmente. Uma prolongada exposição à atmosfera altera o caráter químico de gorduras

insaturadas - certamente um efeito indesejado. Trivialmente falado, o produto rancificou.

Os ácidos graxos, além de serem fixados nos triglicerídeos, também ocorrem em forma de

ésteres de mono-alcoóis graxos. Matéria mais rica neste tipo de éster é a cera de abelha que

consiste de 75% de palmitato de miricila.

R CH2 OH

Álcool graxo

Representação trivial: CH2OH

Cera:

Éster

CH2O C

O

de álcool graxo e ácido graxo

Exemplo: Cera de abelha contém 75% de palmitato de miricila.

Fig. 6. Derivados dos ácidos graxos, naturais e sintéticos, usados na indústria

cosmética.

5.1.2 Suor

O humano regula sua temperatura corporal, principalmente por suar. Calor excessivo, por

exemplo, devido a uma atividade física, pode ser atenuado por evaporação de água, cuja

entalpia de evaporação fica em torno de 2400 kJ por litro. Para este fim servem em primeira

linha as glândulas ecrinas que liberam uma secreção aquosa que pode chegar, numa pessoa

adulta, até 4 litros por hora (ou 14 litros por dia). Essas glândulas se encontram na dermis e

produzem cerca de 10 a 15 g.min

-1.m

-2 de suor, cuja evaporação em filme corresponde a um

arrefecimento do corpo de 333 W.m

-2 (o suor que perdemos em forma de gotas, aliás, não

contribui ao regulamento da temperatura corporal). Um adulto perde em torno de 100 a 200

mL de suor por dia, quando não faz grandes atividades físicas.

As glândulas ecrinas se estendem praticamente em cima de todo o corpo humano e produzem

uma secreção transparente e inodora que consiste de mais de 99% de água. Esse suor contém

também eletrólitos, tais como Na+, Cl

-, K

+, lactato, aminoácidos, ácido urocanino, além de

quantidades elevadas de uréia. Além destes, encontram-se neste suor açúcar e ácido ascórbico

(vitamina C), em traços. O pH desta solução fica na região notavelmente ácida, em volta de

4,5. A explicação deste fato é simples: nesta faixa protolítica as proteínas estruturais da pele

são mais protegidas da hidrólise que pode ocorrer no ambiente fortemente ácido, mas também

e principalmente em ambiente alcalino. Essa, aliás, é a explicação porque as caustificações

alcalinas são mais perigosas do que as ácidas! Portanto, o laboratorista deve proteger-se

sempre com os EPI´s adequados quando trabalhar com bases fortes.

Ao contrário das glândulas ecrinas, as glândulas apocrinas somente ocorrem nas regiões

cabeludas do corpo humano, isto são as regiões genitais, as axilas e os mamilos. Estes liberam

um suor que possui, além dos ingredientes mencionados acima, uma secreção leitosa que

contém proteínas e lipídeos; seu pH é aproximadamente neutro (pH 7,2; detalhes ver Tab. 11).

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Tab. 10. Composição dos sais minerais no suor (note que os conteúdos indicados podem

variar muito, os elementos em traços até pelo fator 15, dependendo do tipo de

atividade corporal, da alimentação e da duração de suar).

Sais minerais principais Teor em g/L:

Sódio 0,9

Potássio 0,2

Cálcio 0,015

Magnésio 0,0013

Elementos em traços Teor em mg/L (= ppm):

Zinco 0,4

Cobre 0,3 a 0,8

Ferro 1

Cromo 0,1

Níquel 0,05

Chumbo 0,05

Nota-se da tabela acima que o nosso corpo, através do suor, se libera também de metais que

se tornam tóxicos desde pequenas concentrações. Todavia, podemos afirmar que o suor

humano ainda é hipo-osmótico, em relação ao plasma sanguíneo.

Aliás, suor fresco é praticamente inodor. Somente sua degradação bacteriana, que ocorre

notavelmente depois de 30 minutos na superfície da pele, provoca o mau cheiro, típico do

“suor”. O que ocorre é uma degradação dos ácidos graxos (C12 a C18) contidos

principalmente na secreção apocrina, para compostos de massa molecular menor. Entre os

compostos fedorentos mencionamos o ácido butírico (C4) e o ácido fórmico (C1).

5.2 Problemas acerca do cuidado da pele O processo de limpeza da nossa pele, geralmente, afeta também a flora bacteriana benéfica

(ver p. 25). Especialmente problemático é o uso frequente de produtos com alto pH, isso

inclui o sabão tradicional. Os produtos de higienização modernos, portanto, tomam conta

desta carga evitável e permitem um restabelecimento rápido do pH natural da nossa pele.

5.2.1 Limpeza da pele, conforme as diferentes regiões corporais.

Cuidados especiais merecem algumas regiões do corpo, antes de tudo a região íntima, mas

também os olhos, nariz e boca (= mucosas). Isso vale, especialmente, em caso de pessoas

doentes, imobilizadas ou deficientes. São pessoas que não reagem de maneira natural aos

sinais de alerta quanto ao mal estar da nossa pele, ou então não conseguem, de força própria,

limpar-se mesmos de maneira satisfatória.

A princípio cada região do nosso corpo tem seu próprio pH. A explicação se deve à presença

de duas glândulas sudoríporas diferentes, conforme descrito na p. 25. Aqui alguns exemplos:

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Tab. 11. Valores pH encontrados na superfície do corpo humano.

Região pH Região pH

Tornozelos 5,9 Axilas 6,5

Pés 7,2 Tronco 4,7

Coxas 6,1 Mamilos 6,0

Seios 6,1 Pernas 4,5

Cabelo 4,1 Pregas interdigitais 7,0

Rosto 7,0 Mãos 4,5

Costas 4,8 Nádegas 6,4

Vagina 3,5 a 4,5 Saco conjuntival 7,3 a 8,0

Este ambiente, evidentemente, é menos perturbado quando se aplica um produto cosmético

cuja concentração em acidez seja próxima à natural. Na discussão do pH em xampus, na p.

88, este assunto será retomado.

5.3 Produtos aplicados diretamente em nossa pele

Algumas informações e classificações técnicas são úteis, para reconhecer os produtos que são

vendidos no setor "higiene" do supermercado.

Sabão comum (ver cap. 6): na maioria das vezes sais de sódio (mais raramente sais de

potássio) dos ácidos graxos. Os produtos de maior qualidade ainda contêm grandes

partes da glicerina que, durante o processo tradicional da hidrólise e lixívia a alta

temperatura, se separa da fase hidrofóbica (ver p. 30). Lavar-se com sabão desloca por

curto tempo o pH natural da pele, para a região alcalina. Uma pele saudável, porém,

consegue nivelar-se rapidamente – em geral dentro de 20 a 30 minutos.

Syndets para o corpo (ver cap. 8, p. 38): os agentes tensoativos já vêm em formulações

com pH 5 - o que seria impossível no caso do sabão tradicional (ver p. 129). Daí não

afetam negativamente a acidez natural, produzida pela flora bacteriana da pele. Estes

tipos de detergentes se recomendam para quem os usa com muita frequência ou para

quem tem uma pele especialmente sensível ou queimada.

Pomada: no sentido mais rigoroso uma pomada é uma mistura à base de um veículo

hidrofóbico, tal como vaselina (= cera microcristalina; proveniente do petróleo) ou, o

que é mais raro hoje em dia, a base de banha de porco ou óleos vegetais. Além das

pomadas medicinais que se compram na farmácia, as segunda mais vendidas (em

termos de fatura em R$) são as pomadas de proteção e cobertura da pele. É essa base

hidrofóbica da pomada que determina a durabilidade da formulação e sua inocuidade

frente à pele. No sentido mais amplo a palavra "pomada" também inclui as

formulações semi-sólidas que podem conter substâncias ativas; neste caso inclui

também as pastas, cremes, emulsões e géis.

Cresa: mistura da consistência entre creme e pomada.

Creme: um creme consiste principalmente de água, óleo/gordura/vaselina e

emulsificantes. Além destes componentes principais ela pode conter de até 2% de

conservantes e agentes antimicrobianos, até 1% corantes cosméticos (inclusive óxido

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férrico e brilho de madre-pérola). Mais fácil na preparação são as emulsões óleo em

água (O/W), quer dizer, onde a maior parte é a água. Já as misturas água em óleo

(W/O) e as emulsões mistas (W/O/W ou O/W/O) são mais exigentes na produção, mas

oferecem geralmente as melhores qualidades na aplicação na pele humana. Uma lista

mais diversificada dos ingredientes em cremes hidratantes, ver p. 47.

Loção (vulgarmente chamada de "leite"): tem as mesmas características que o creme,

no entanto contém mais água.

Gel: feitos de formadores de gel (inorgânicos do tipo silicatos de sódio ou polímeros

hidrofílicos orgânicos; ver exemplos na p. 96), álcool e água. Essa mistura deve ser

necessariamente estabilizada contra a degradação microbiana. Mais recentes são os

lipo-géis, que não são feitos à base de água, mas à base de óleo vegetal. Neste último

não se precisa de álcool, daí não precisa lidar com os problemas acerca de

volatilidade. Além disso, os lipo-géis podem funcionar como veículo para novas

combinações de substâncias bioativas que não podem ser encorporadas em géis

tradicionais, devido às suas atividades em diferentes ambientes de pH. Sendo um bom

exemplo, o calcipotriol e betametasom, usados contra a psoríase (= caspas na pele).

Nota-se que no lipo-gel o pH não tem significado, já que é uma propriedade exclusiva

do solvente água.

Protetor solar (ver p. 55): são cremes, loções ou géis que contêm substâncias com

efeito filtro de luz UV. Muitos produtos contêm, além de moléculas orgânicas com

efeito absorvente da luz UV (p. 55), também óxidos inorgânicos micronizados (TiO2,

ZnO, Al2O3, CaCO3) que mostram um forte efeito de espalhar a luz, isto é, disseminar

a radiação incidente em todas as direções do espaço (p. 62).

Solução: mistura homogênea de diferentes substâncias. Isto implica a restrição que

somente as hidrofílicas ou somente hidrofóbicas podem ser misturadas. Exemplo:

álcool farmacêutico que é de 70% etanol e 30% água. No entremeio das soluções

verdadeiras e as emulsões são as misturas coloidais que contêm partículas

submicroscópicas, de diâmetros típicos entre 10 e 1000 nm. Quando preparadas

recentemente essas misturas aparecem translúcidas ou fracamente turvas, parecidas às

soluções verdadeiras. Ao decorrer do tempo, porém, as fases se separam e as

partículas crescem, chegando num diâmetro onde espalham fortemente a luz visível.

Daí a mistura aparece inteiramente branca. Aditivos emulsificantes devem estabilizar

essas misturas sensíveis.

Óleos de banho: um óleo cheiroso da família dos terpenos está sendo acrescentado na

água da banheira. Forma-se um filme fino, calmante e bem cheiroso em cima da pele.

Os componentes principais em qualquer produto a ser aplicado em cima da pele, conforme o

cap. 5.3, podem ser classificados em quatro grupos:

1. A base: de suma importância para os efeitos benéficos e a qualidade do produto,

certamente é a base da mistura. O valor do produto quase que exclusivamente depende

dos ingredientes da base. O melhor aditivo não tem o efeito desejado se base for

incompatível ou de qualidade insuficiente. A maioria dos produtos vendidos hoje

consiste de uma emulsão, óleo ou cera, em água; durabilidade satisfatória nesta

mistura física proporcionam os emulsificantes (álcool de cetila, por exemplo) que

também se contam à base do produto.

2. Aditivos (bio)ativos que zelam da pele. Nesta família constam vitaminas e os

protetores solares, mas também a glicerina que tem efeito hidratante na pele, por ser

altamente higroscópica. Os aditivos geralmente representam somente uma pequena

parte da mistura; eles devem ser listados na etiqueta, conforme INCI, na ordem da sua

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porcentagem em peso (isso não vale mais para aditivos de <1%). Embora o produto

cosmético consista quase só dos primeiros seis a oito ingredientes indicados na

embalagem, são justamente os demais aditivos, aplicados em quantidades minúsculas,

mas que determinam o preço (alto) do produto acabado.

3. Agentes auxiliares, com finalidade de conservar (quimica e biologicamente) ou

estabilizar (fisicamente) a mistura emulsificada. Aqui encaixam os antioxidantes,

conservantes e espessantes.

4. Aditivos que aumentam a aceitação organoléptica do produto cosmético, tais como

corantes, pigmentos, perfumes e fragrâncias. Os corantes e pigmentos devem ser

referidos na embalagem, mencionando sua sigla de cinco dígitos, conforme o Colour

Index. Por outro lado, os perfumes, segundo INCI, não precisam ser descriminados na

embalagem, pois são segredos da fábrica. Os óleos etéricos naturais são mais

valorizados nesta categoria.

O que vale explicitamente para remédios, vale também para os produtos cosméticos: tudo tem

limite! Cuidar e aplicar demais um produto pode causar o efeito oposto que desejado.

Irritações da pele e até alergias ao longo prazo podem ser os resultados quando estes produtos

forem aplicados de forma demasiada.

6 Produção do sabão

Podemos resumir os motivos para o uso de cosméticos na pele:

• Limpeza

• Proteção

• Embelezamento.

Certamente o mais antigo produto de tratamento da pele é o sabão. Ele retira matéria

gordurosa, mas “resseca” a pele. O sabão é produzido em escala industrial desde o século 19.

Mais do que isso: o sabão é um dos pilares da civilização moderna, porque iniciou uma

revolução da consciência sobre a higiene pessoal, proporcionou uma proteção contra

infecções transmissíveis e facilitou a cura de lesões.

Mas o que possibilitou a ascensão do sabão, ao mesmo tempo o fator número 1 para seu

sucesso até hoje: é barato!

6.1 História do sabão Até o advento da Revolução Industrial, a produção de sabão mantinha-se em pequena escala e

o produto era grosseiro. Andrew Pears iniciou a produção de sabão transparente e de alta

qualidade em 1789, em Londres. Com seu neto, Francis Pears, abriu uma fábrica em

Isleworth em 1862. William Gossage produzia sabão de boa qualidade e preço baixo a partir

dos anos 1850. Robert Spear Hudson passou a produzir um tipo de sabão em pó em 1837,

socando o sabão com pilão. William Hesketh Lever e seu irmão James compraram uma

pequena fábrica de sabão em Warrington (Inglaterra), em 1885, fundando o que ainda é hoje

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um dos maiores negócios de sabão do mundo, a Unilever. Estes produtores foram os

primeiros a empregar campanhas publicitárias em larga escala.

6.2 Produção de sabão Sabão é o nome popular para os sais dos ácidos graxos que já conhecemos do cap. 5.1.1. O

sabão é um dos produtos cosméticos mais antigos, ele é feito tradicionalmente a partir de

gorduras que podem ser tanto de origem vegetal como animal. Entram na produção de sabão

tipicamente gorduras de menor valor, impuras ou proveniente da prensagem a quente ou

extraídas por solventes orgânicos. As matérias-primas principais são:

Gorduras vegetais: de côco, dendê, oliva, girassol e soja.

Gorduras animais: sebo de boi, banha de porco, miolo de ossos de restos da carne

industrializada.

Essas gorduras são tratadas a quente com uma base aquosa. Hoje são usadas a soda cáustica

(NaOH) ou potassa cáustica (KOH), antigamente usava-se a soda (Na2CO3) ou a potassa

(K2CO3) para este fim. Neste tratamento que tipicamente dura uma hora, ocorre a

saponificação dos triglicerídeos, os produtos são a glicerina e os sais alcalinos dos ácidos

graxos. O maior avanço na produção industrial representa a linha contínua, inventada cerca de

90 anos atrás. Até então somente foram produzidos os sabões em caldeiras abertas, de

maneira descontínua.

O produto primário da saponificação é

uma emulsão grossa que tem a aparência

de uma goma. Nesta, acrescenta-se uma

quantidade considerável de NaCl. O sal

tem o efeito de separar o sistema em duas

fases, pois torna a fase aquosa mais polar e

assim repelente frente à fase orgânica que

contém os carboxilatos. Além disso, a

dissolução do sal aumenta a densidade da

fase aquosa - o que facilita a separação do

sabão (mais leve). Sendo assim, separa-se

a lixívia aquosa contendo soda cáustica

que foi acrescentada em excesso, a

glicerina e o sal de cozinha, do sabão que bóia em forma de uma camada que facilmente pode

ser decantada. Uma vez separado o sabão cru, ele é lavado com bastante água e um pouco de

soda cáustica, para dissolver restos de impureza. Uma segunda salinização a quente leva ao

produto, o sabão caseiro puro.

Hoje se sabe que o uso de muita água na mistura da saponificação não é necessário – é até

adversário! Ao aplicar a quantidade calculada da base dissolvida em pouca água (ver p. 135),

a etapa da salinização e o isolamento do sabão puro se dispensam. Literalmente tudo que foi

acrescentado na mistura reacional, contribui de alguma forma ao produto final. Neste sentido

e de grande valor, é a permanência da glicerina no sabão, da qual sabemos que tem efeitos

benéficos à pele humana (p. 51). Além disso, a consistência e a aplicabilidade do produto é

outra. O sabão tradicional era bastante duro e tinha um toque relativamente seco (ver imagem

acima), passando na pele e dissolvendo-se em água somente sob um esfregamento enérgico.

Já o sabão glicerinado é macio, lubrificante, umedecido, de fácil aplicação na pele – enfim,

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proporciona mais conforto ao consumidor, tanto no momento de ensaboar, como logo depois

do ato de limpeza. E mais um aspecto a não se esquecer: o método moderno não produz as

grandes quantidades de águas servidas que efluíram da produção tradicional.

A consistência do sabão depende, como vimos na Tab. 8, do comprimento e do número de

duplas ligações da cadeia carbônica dos ácidos graxos. Mais influente ainda é o tipo de cátion

que se introduziu através da base e do sal de separação. Ao se aplicar sal de cozinha, NaCl, o

produto fica mais firme e pode ser usado para sabão em barra e sabonete. Por outro lado, ao se

usar potassa, KCl, obtêm-se sabões líquidos, em forma pura da consistência de borra.

Mais produzido é o sabão em barra. É formado em blocos grandes, recortado, moído,

misturado com corantes, fragrâncias e material de carga. Um bonito sabonete se obtém via

calandragem. Nesta etapa ocorre o estiramento dos blocos de sabão em um sistema de rolos (=

calandra) que têm certa temperatura e velocidade. Acontece, através da enorme velocidade

desta máquina, que pequenas bolhas de ar são inclusas - um efeito até desejado, porque assim

o produto ganha um bonito brilho. Última etapa antes da embalagem é a prensagem a quente,

geralmente feito numa máquina injetora (descontínuo) ou numa extrusora (contínuo).

6.3 Aspectos mecanísticos acerca da produção de sabão a

partir de gordura A produção de sabão a partir de gordura é uma das reações mais antigas da humanidade.

Curiosamente, até o século 19 ninguém sabia que se trata realmente de uma reação química,

quando cozinhar a gordura junto às cinzas de madeira. O que realmente ocorre é uma

hidrólise lenta do triglicerídeo de ácidos graxos, sob a influência de KOH (= nucleófilo),

presente em alta concentração nas cinzas. Formam-se a glicerina e os sais de potássio dos

ácidos graxos.

A hidrólise de ésteres formando o ácido carboxílico (ou seu sal) e um álcool é conhecida

como "saponificação". A reação química que transforma a gordura (um éster que

identificamos na p. 20 como triglicerídeo) em sabão pode ser formulada em duas etapas: a

hidrólise do éster e a neutralização:

O

O

O

OH

OH

OH

C

C

C

O

O

O

+ 3 H2O + 3 COOH[Catalisador]1)

2) COOH COO-+ OH- + H2O

Sabão

Gordura(éster)

Glicerina Ácido graxo

Ácido graxo

Pela nossa surpresa, a primeira etapa é acelerada, tanto por bases como por ácidos. Isso se

deve às particularidades do grupo carboxila, como será discutido de maneira geral. Para

simplificar os esquemas reacionais a seguir, a fórmula da gordura será abreviada como

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R C

O

X ou então

R C

O

O Gli , já que as reatividades nos três grupos funcionais do

triglicerídeos são praticamente idênticas.

6.3.1 Saponificação do éster sob catálise básica

A reação mais realizada no carbono do grupo carboxila é o ataque por nucleófilos. Salvo

poucas exceções, este ataque geralmente segue a sequência de Adição, seguido por

Eliminação ("AE"). O aduto intermediário contém um carbono quaternário que geralmente

é uma espécie não estável. O abandono do grupo X- (em nosso exemplo, X

- é o alcóxido que

levará ao álcool glicerina; Nu- é o hidróxido) ocorre imediatamente, restituindo o carbono sp

2.

Os fatores que são favoráveis a este mecanismo são:

1) Ataque por um nucleófilo forte (que seja pequeno, alta basicidade, alta polarizabilidade);

2) Pouco impedimento estérico ao redor do carbono carboxílico (pequenos grupos R e X);

3) Presença de retiradores de elétrons no grupo R;

4) Estabilidade do grupo abandonador, X-.

Os pontos 3 e 4 providenciam um grupo carboxila com carbono pobre em elétrons (+),

conforme ilustrado no esquema a seguir.

R C

O

X

+ Nu- R C

O-

Nu

X

Complexo tetraédrico intermediário

R C

O

Nu

+ X-

plano plano

Fig. 7. Sequência A→E da substituição nucleofílica no grupo carboxila.

Em geral, o nucleófilo que sucede esta reação, ao mesmo tempo é uma base forte. Este fato

explica porque o próprio ácido carboxílico (X = OH) não reage conforme este esquema. Uma

catálise básica falha, porque a base iria desprotonar o grupo –OH, muito mais rápido do que

atacar o carbono positivado do grupo carboxila. Uma vez desprotonado, o carbono do grupo

carboxila não possui mais caráter eletrofílico - o que era precondição para o mecanismo

AE. Em caso de ácidos carboxílicos livres se consegue a reação desejada por via da catálise

ácida, que será apresentada logo a seguir.

Cada um dos derivados do ácido carboxílico, R-C(O)X, tem uma reatividade diferenciada

frente ao nucleófilo: quanto mais pobre o carbono carboxílico em elétrons, mais facilmente

ocorre o ataque pelo nucleófilo. No experimento acham-se as seguintes reatividades relativas 5:

Cloreto do ácido > anidrido > éster > ácido carboxílico livre > amida primária > amida N-

substituída > nitrila > carboxilato (ânion do ácido carboxílico).

5 Um tratamento mais completo do mecanismo das reações no carbono carboxílico, ver

A. Isenmann, “Princípios da Síntese Orgânica”, Cap. 5.2; disponível em

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/sintese/

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Nossa atenção está no éster (da gordura). Ele é mais reativo frente ao nucleófilo do que o

próprio ácido carboxílico. Sua reatividade fica entre a do anidrido carboxílico e o ácido

carboxílico livre. Por outro lado, o ânion carboxilato fica no final da sequência de reatividade:

ele não demonstra nenhuma reatividade frente nucleófilos “comuns” - apenas com os

nucleófilos mais fortes, tais como hidreto, H-, ou carbânions, se consegue uma acilação.

+ OH-R C

O

O Gli

lento

R C

O-

OH

O Gli

+ Gli-O-R C

O

OH

+ Gli-O-R C

O

OH

rápido

muito rápido

+ Gli-OHR C

O

O-

Fig. 8. Etapas percorridas na saponificação da gordura, sob catálise básica.

A última etapa deste mecanismo faz com que a reação seja praticamente quantitativa, visto

que os produtos intermediários, o ácido graxo livre e a glicerina desprotonada, são removidos

quase completamente do equilíbrio da primeira etapa. Isso explica o bom rendimento das

reações na fabricação de sabão, quando executadas sob catálise básica. Isso é um forte

argumento por que hoje se prefere a catálise básica.

Todavia, a velocidade global da saponificação depende da etapa mais lenta - que é a primeira:

OHésterkv . Ela depende das concentrações do éster e do hidróxido.

Observações:

1) O hidróxido tem um efeito acelerador na hidrólise da gordura, conforme a equação

logo acima. Mesmo assim, deve-se evitar a palavra "catalisador" para o hidróxido

de sódio, já que é consumido nesta reação - o que não está conforme a definição

rigorosa de um catalisador. Um catalisador, no sentido rigoroso deve sair da

reação, na mesma forma que entrou, ou seja, um catalisador não é consumido.

2) O fato de o reagente OH-, em forma de uma solução concentrada de NaOH, não se

mistura com o outro reagente, a gordura, isso causa uma certa inibição no início da

reação da saponificação. Mas logo tiver algum sabão produzido, este age como

compatibilizante que reduz a repelência entre os reagentes. Assim, podemos

afirmar que a saponificação sob catálise básica é sujeita a um efeito auto-catalítico.

6.3.2 Saponificação sob catálise ácida

As reações dos ésteres com diversos nucleófilos podem ser catalisadas não só por bases, mas

também são em geral aceleradas pela presença de ácidos de Brønsted. Frequentemente usados

para esta finalidade são o ácido trifluoracético (TFA) e o ácido fluorídrico; no antigo processo

industrial de Twitchell usava-se uma mistura de ácidos alquilarilssulfônicos com ácido

sulfúrico concentrado. O mecanismo pode ser formulado em cinco etapas, todas elas

completamente reversíveis e equilibradas. E esta vez, o ácido (H+) realmente pode ser

chamado de “catalisador”, por que sai no final da última etapa.

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+ H+R C

O

O Gli

R C

OH

O Gli

K

R C

OH

O Gli

k (lento)

R C

OH

OH2

O Gli

+ H2O+

R C

OH

OH2

O Gli

rápido

R C

OH

OH

O Gli

H

R C

OH

OH

O Gli

H

R COH

OH+ Gli-OH

R COH

OH

rápido

R COH

+ H+O

Evidentemente, o papel do catalisador H+ é o aumento da eletrofilia do carbono carboxílico,

através da protonação do oxigênio vizinho. Isso facilita, na segunda etapa, o ataque de um

nucleófilo bastante fraco - a água. Na terceira etapa ocorre uma migração do próton entro do

compexo tetraédrico, para o grupo O-Gli. Este sai do complexo e o grupo carboxílico se

reforma.

A primeira reação se equilibra rapidamente. Sua constante de equilíbrio é

Héster

ésterHK ; ao empregar um excesso de água pode-se formular a equação cinética da

reação global como: HésterKkésterHkv .

Enquanto a reversibilidade da saponificação básica, descrita acima, foi impedida pela

remoção do carboxilato, a saponificação ácida é livremente reversível. Isto significa que a

reação se desloca à direção reversa, ao trabalhar:

com um excesso de álcool; ou

removendo a água produzida.

Estas seriam, em outras palavras, as medidas a serem tomadas para a esterificação, sob

catálise ácida.

Note que pelo mecanismo descrito aqui não se produz ainda o sabão, mas sim, o ácido

carboxílico livre. Este, ao contrário do sabão, não tem efeito compatibilizante entre a fases da

mistura reacional, aquosa e a gordura. Portanto, mantém-se a incompatibilidade das fases ao

longo de todo o processo - o que explica a velocidade relativamente baixa desta síntese.

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7 O processo de lavagem sob a luz da termodinâmica

O sabão e também os detergentes descritos logo a seguir, têm o papel de compatibilizar a

água de lavagem e a sujeira que, na maioria das vezes, é de natureza hidrofóbica. Sem a ajuda

de um compatibilizante a água não terá o poder de fazer um contato estável com a sujeira

(gordurosa) e assim retirá-la do objeto a ser limpado. Pelo contrário: a gordura fica longe da

água e cada uma destas fases tenta minimizar a área de contato. Evidentemente, a energia do

sistema fica menor quando a área da interface, A, é pequena. Isso se evidencia em nosso dia-a-

dia em várias formas bem conhecidas:

Ao sacudir em uma garrafa um pouco de água com óleo de soja, observamos que nos

primeiros instantes a mistura tem aparência turva. Isto se deve às gotículas finas de óleo em

água ou de água em óleo - dependendo dos volumes que se aplicou de cada líquido.

Chamamos essa mistura de emulsão, com gotículas de tamanho típico de poucos micrômetros.

Deixamos essa mistura em repouso, podemos observar o crescimento das gotículas

("coalescência") e após pouco tempo quase todo óleo está boiando em cima da água.

Minimizar a área de contato é uma característica em muitas misturas, líquidos com líquidos

ou líquidos com gases (no entanto, dois gases entre si sempre se misturam perfeitamente).

Outros exemplos são:

Gotas da chuva têm forma arredondada, porque nesta geometria a superfície fica

mínima, em relação ao seu volume.

Quando abrimos uma garrafa de refrigerante, as bolinhas redondas de gás carbônico

estão subindo. Não são cubinhos ou até estrelinhas, porque sua superfície tenta ficar

mínima. Realmente, a superfície da fase líquida fica mínima, também.

Portanto, temos a necessidade de ampliar a expressão para a energia livre de um sistema

binário, pela contribuição da área de contato entre duas fases. Escrevemos:

dAA

Gdp

p

GdT

T

GdG

TpATAp

,,,

,

onde fica claro que a entalpia livre de Gibbs do sistema depende das variáveis 6 temperatura

T, pressão p e área de contato A. Sabemos que os quocientes diferenciais parciais desta

equação, ApT

G

,

e

ATp

G

,

, têm significados físicos discretos. Isso deve ser o caso,

também para o quociente TpA

G

,

, a variação da entalpia livre durante uma variação da

superfície ao deixar temperatura e pressão constantes. Essa grandeza tem a dimensão de

trabalho (ou energia) por área. A mesma dimensão resultará ao fazer a razão entre força e

comprimento, já que a energia é produto de força vezes o caminho. Neste momento temos que

6 Além destes fatores, a energia livre depende também dos potenciais químicos de cada fase.

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realizar que o quociente TpA

G

,

descreve a propriedade de uma camada bidimensional. Se

ele fosse relacionado a um corpo tridimensional, a sua grandeza seria força por área, ou seja,

uma pressão. Uma pressão negativa é uma tensão. Portanto, o quociente diferencial TpA

G

,

é chamado de tensão de superfície, pela maioria dos autores abreviada com “sigma”, .

A tensão de superfície corresponde à energia que temos que gastar para criar uma nova

superfície, mantendo temperatura e pressão constantes.

Com essa definição podemos escrever o diferencial total da entalpia livre na seguinte forma:

dAdpVdTSdG .

S = entropia; V = volume; = tensão de superfície.

Em gases a tensão superficial é pequena, devido às poucas interações das moléculas. Mas em

fases condensadas, líquidos e sólidos, essa contribuição à entalpia livre não deve ser

esquecida - especialmente em sistemas finamente dispersos. Lembramos que as contribuições

da superfície tornam-se cada vez mais importantes quanto menores as partículas (gotículas).

Qual agora o papel dos agentes tensoativos? Eles abaixam a tensão superficial .

Sendo assim, o módulo do fator dA diminui; um aumento em superfície causa apenas um

pequeno aumento em energia do sistema - uma desvantagem que pode ser compensada

facilmente pelos outros dois fatores da equação diferencial. Sendo assim, uma dispersão fina

de óleo em água não se torna um sistema "estável", no sentido termodinâmico, mas menos

instável: Também podemos descrever o estado de uma dispersão fina, na presença de agente

tensoativo, de metaestável. Ou seja, com ajuda do agente tensoativo conseguimos manter as

gotículas em forma de emulsão, por um tempo prolongado. Isso é o princípio de

funcionamento dos emulsificantes em cremes (ver p. 48); também é a condição básica em

qualquer processo de lavagem, como será explicado mais adiante.

As moléculas de detergentes têm, para este fim, uma parte lipofílica e uma parte hidrofílica,

unidas por uma ligação covalente.

Princípio estrutural de todos os sabões e detergentes, mostrado no estearato de sódio:

COO- Na+

Estearato de sódio

cauda apolar cabeça polar.

Parte hidrofóbica: cadeia hidrocarbônica. Parte hidrofílica: carboxilato.

No processo de lavagem ocorre a solubilização da gordura, em forma de micelas:

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Fig. 9. Simulação de uma micela de óleo em água.

Pela formação de micelas a sujeira hidrofóbica ganha uma superfície hidrofílica. As cargas

nesta camada hidrofílica, no entanto, inibem a coalescência das micelas e flutuam na fase

aquosa em forma de suspensão/emulsão.

Acrescentamos o agente tensoativo aos poucos, podem estabelecer-se diferentes arranjos

destas moléculas, resumidas na Fig. 10. Acima da concentração que seja necessária para

cobrir toda a interface plana, água/óleo ou água/ar, as moléculas do sabão procuram outras

formas de organizar-se. A mais conhecida é a micela, isto é, esferas submicroscópicas. A

concentração limite inferior é chamada de CMC (concentração de micelas crítica). Micelas

podem ou não, conter a fase repelida no seu interior e desta forma promover a dispersão fina

das duas fases repelentes, em forma de uma emulsão.

O seguinte gráfico contém as mais importantes formas de organização destes ânions

anfifílicos, em ambiente aquoso (sem a presença de óleo, para simplificar):

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Fig. 10. Diferentes arranjos de moléculas anfifílicas na água.

8 Detergentes sintéticos ("Syndet")

No século 20 os sabões ganharam forte concorrência dos detergentes sintéticos que se

mostraram, na maioria dos aspectos, superiores. Especialmente em formulações de "sabão em

pó", detergente líquido para lavar louça e detergentes especiais, mas também os de uso

industrial, por exemplo, na captação do petróleo ou para tarefas de lubrificação, os

detergentes sintéticos dominam o mercado.

Em geral, podemos classificar os detergentes sintéticos, conforme a natureza química da

cabeça polar, que seja

um ânion,

um cátion,

contém carga negativa e positiva, em átomos vizinhos (zwitteríon)

contém carga negativa e positiva, em átomos remotos (betaína)

contém agrupamentos polares, porém não dispõe de carga (não iônico).

Por outro lado, a cauda apolar da molécula é sempre representada por uma cadeia comprida

de hidrocarboneto, às vezes em combinação com um anel aromático.

8.1 Detergentes aniônicos A cabeça polar tem uma carga negativa. Nesta classe encaixam os alquilbenzenossulfonatos e

os sulfatos de alquila à base de alcoóis graxos. Os mais avançados têm, além do grupo -SO3-,

também algumas unidades de oxietileno, -O-CH2-CH2-. Assim pode-se regular e ajustar o

balanço lipofílico-hidrofílico exatamente. Ver exemplos nas pp. 46 e 84.

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Embora os reagentes nos processos da sulfatação e da sulfonação sejam os mesmos, em

palavras ácido sulfúrico e SO3 (= "óleum"), devemos distinguir os produtos. No primeiro cria-

se uma ligação C-O-S em forma de um éster do ácido sulfúrico, enquanto a segunda síntese

leva a uma nova ligação carbono (aromático)-enxofre, uma síntese da classe de substituição

eletrofílica aromática.

Vamos olhar na síntese dos sulfatos. A matéria prima é o ácido graxo, então um recurso

renovável – ao contrário dos sulfonatos descritos logo a seguir, onde todos os edutos provêm

do petróleo.

Óleo/Gordura

+ H2O[OH-]

ou [H+]

COOH

Catalisador:+ NaOH

COO- Na+

SabãoH2 /

Catalisadorde Ni ou Pd

CH2OHSO3/H2SO4

(Óleum)CH2O S

O

O

OH

Neutralizar com

NaOH

CH2O S

O

O

O- Na+

Detergente sulfato

Fig. 11. Cadeia reacional da sulfatação de gordura

Na primeira etapa se isolam os ácidos graxos livres ou seus sais, a partir da gordura, como

explicado no cap. 6.3. Segue uma etapa de redução do grupo –COOH, uma hidrogenação em

autoclave na presença de um catalisador metálico. Note que também as duplas ligações C=C,

eventualmente contidas nos ácidos graxos, se saturem nesta etapa. Resultam os álcoois graxos

que em seguida são tratados com óleum, no tanque da sulfatação. Sob condições favoráveis se

consegue o monoalquilsulfato que, finalmente, é neutralizado por NaOH, uma atapa altamente

exotérmica (ver p. 128) para render o produto final.

A química da sulfatação não é particularmente limpa. Têm-se uma série de produtos paralelos

que minguam a qualidade do produto final, o detergente aniônico. Além disso, há uma perda

de recursos por estes caminhos que a fábrica deve evitar de qualquer forma. Uma regulagem

fina das condições reacionais, particularmente da proporção óleum: álcool graxo, o tempo de

permanência dentro do reator da sulfatação e a temperatura, são essenciais para o sucesso

desta etapa.

Identificamos as seguintes reações paralelas:

Formação do dialquilsulfato, que pode ser minimizada ao elevar a taxa [óleum : álcool

graxo].

Formação do dialquiléter: o grupo (-O-SO3H) pode também funcionar como grupo

abandonador que facilita a entrada de um grupo (-OH) proveniente de um álcool

graxo. Isso é uma clássica SN2 no carbono 1 do produto que acontece numa

temperatura elevada e sob tempos de permanência prolongados no tanque da

sulfatação.

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Não podemos esquecer o efeito oxidante do ácido sulfúrico que, embora ser bastante

fraco (0 a pH 0 = +0,17 V), pode levar aos ácidos graxos, então o reverso da síntese

toda.

CH2HOCH2O S

O

O

OH + CH2O S

O

O

OCH2 + H2O

Dialquilsulfato

Reações paralelas da sulfatação:

CH2HOCH2O S

O

O

OH + CH2O CH2 + H2SO4

Dialquiléter

CH CH2

H OH

Eliminação + óleum CH CH2

1-Alqueno

CH2OH

Oxidação

+ SO3

- SO2

CHO

Oxidação

+ SO3

- SO2

COOH

Álcool Aldeído Ácido

Fig. 12. Reações paralelas na sulfatação do álcool graxo.

Sulfonatos

A classe mais importante de detergentes é hoje o sulfonato de arila, da fórmula geral Ar-SO3-

Na+ (em inglês: Linear Alkyl Sulfonate, LAS). Megatoneladas de petróleo, tanto alifáticos

quanto as frações dos aromáticos, são transformados em sulfonatos. Enquanto o preço do

petróleo fica baixo (< U$ 60 por barril), este detergente aniônico certamente domina o

mercado dos agentes de limpeza. A seguir as reações principais envolvidas nesta linha de

produção. A cadeia alifática linear se consegue apenas indiretamente a partir do petróleo, a

dizer do etileno proveniente do craqueamento. Em seguida algumas unidades de H2C=CH2

são juntadas, formando 1-alquenos de comprimento estatísitico, favoravelmente ajustado a 8 -

12 carbonos. Apesar de custos extras desta etapa, ela se tornou essencial na produção do LAS.

Por meio de um catalisador metálico (catalisador de Ziegler) se consegue 1-alquenos com

cadeias carbônicas rigorosamente lineares. Muito pelo contrário aos hidrocarbonetos (alcanos

e alquenos) provenientes diretamente do craqueamento, da fração da gasolina leve. Estes,

embora tenham as mesmas massas molares, são cadeias carbônicas altamente ramificadas

(lembra-se do “isooctano”, composto principal na gasolina; seu nome correto é 2,2,4-

trimetilpentano). Os alquenos ramificados, quando usados na produção de sulfonatos, levam a

produtos de má biodegradabilidade. Nos anos 60 do século passado estes compostos

proporcionaram uma espuma persistente e feia nas beiradas dos rios e lagoas que foram

expostos a efluentes. E não só o visual era péssimo: ficou impedida por esta espuma a

permeação dos gases, O2 e CO2, que causou a morte dos peixes e seres aquáticos. Já nos anos

70 a comunidade ficou esclarecida sobre o efeito colateral destes alquilsulfonatos ramificados

que, a partir daí, não foram mais aceitos pelos consumidores. Uma lei que impediu a produção

desses compostos, no entanto, somente chegou na década de 1980.

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n H2C CH2

5 < n < 10

H2C CH2 CHH CH2

n-1AlR3 / Ni

Reação de "Aufbau"

Cat. de Ziegler

H2C CH2 CHH CH2

n-1+

[H2SO4]

Alquilação de

Friedel-Crafts

H2C CH2H CH CH3

n-1

Alquilbenzeno

1-Alqueno

Sulfonação

SO3 / H2SO4

"Óleum"

Neutralização

H2C CH2H CH CH3

n-1H2C CH2H CH CH3

SO3H

n-1

H2C CH2H CH CH3

SO3H

n-1

+ NaOH

H2C CH2H CH CH3

SO3- Na+

n-1

"LAS"

Fig. 13. Reações principais envolvidas na produção de alquilsulfonatos lineares.

Também esta cadeia de produção não está livre de reações paralelas. São principalmente a

perda de óleum devido à supersulfonação e a condensação para sulfonas que aumentam os

custos da produção e mínguam a qualidade dos LAS, respectivamente.

SO3H

+ H2SO4 / SO3

SO3H

SO3HSupersulfonação

Dissulfonato

Sulfona

"Óleum"

SO3H

+Condensação

SO

O

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Fig. 14. Produtos paralelos na sulfonação do aromático.

A indústria de detergentes, junto à indústria de fertilizantes, é a maior consumidora de ácido

sulfúrico. Note que o reagente em si nestas reações é o trióxido de enxofre (SO3 = anidrido do

H2SO4), enquanto o próprio ácido sulfúrico serve como solvente para este reagente gasoso e

ainda atua como catalisador nas duas etapas reacionais, a alquilação de Friedel-Crafts e a

sulfonação. Embora as etapas de sulfonação/sulfatação serem possíveis usando somente ácido

sulfúrico, o emprego de SO3 ajuda reduzir os custos operacionais da fábrica, principalmente

por supressar um subproduto indesejado, o sulfato de sódio, que pode gerar problemas

ambientais. Na prática da sulfonação usa-se, portanto, um ligeiro excesso em SO3 (1 a 4%, em

relação ao alquilbenzeno). Mais do que isso não é recomendado, para não favorecer a

supersulfonação, ver acima. A concentração do SO3 no óleum, no entanto, é sempre mantida

alta: 78,5% em peso, em relação ao ácido sulfúrico concentrado!

8.2 Comparação entre detergentes sintéticos e o sabão

tradicional O espectro dos usos destes detergentes, sulfatos e sulfonatos, é bastante amplo. Todas as

indústrias fazem uso, mas destaca-se sua aplicação na higienização doméstica. De onde vem

este sucesso? Porque os detergentes sintéticos, sulfatos e sulfonatos, mostram-se superior ao

sabão tradicional na sua ação de lavar louça?

Uma explicação, certamente, é um perfeito balanceamento polar/apolar, conforme descrito na

pp. 35 e 48. Mas também deve-se respeitar que o grupo carboxilato (-COO-) no sabão é

proveniente do ácido graxo, então um ácido fraco, enquanto os sulfatos (R-O-SO3-) e

sulfonatos (Ar-SO3-) são parentes do ácido sulfúrico, inegavelmente um ácido forte. Significa

que qualquer acidez na água de lavagem (as origens podem ser restos de molho de tomate,

refrigerante, limão, vinho, vinagre, etc.) consegue facilmente protonar o sabão e transformá-lo

em ácido graxo, por sua vez sem propriedades anfifílicas. Isso não ocorre com os

sulfatos/sulfonatos: ácidos orgânicos e o ácido fosfórico usado em alimentos industrializados,

não têm força suficiente para protonar estes detergentes em quantidades notáveis. Sendo

assim, eles continuam atuando com o mesmo efeito hidrofílico-lipofílico, isto é, com a mesma

eficácia detergente, independente do pH da água do meio de lavagem. Além disso, os

detergentes não se perdem por reação com os íons de dureza da água, Ca2+

e Mg2+

. Uma lista

mais completa das vantagens/desvantagens dos detergentes sintéticos, ver p. 129.

8.3 Detergentes catiônicos A cabeça polar do detergente catiônico é geralmente o grupo amônio quaternário,

+NR4, com

R = grupos alquilas. Raras vezes usa-se um fosfônio (R-PMe3+ ou R-PPh3

+) ou sulfônio (R-

SMe2+), devido ao preço elevado e/ou aspectos negativos acerca da toxidez destas

substâncias.

A produção envolve duas etapas, a partir dos alquenos primários lineares (ver oligomerização

de Ziegler, na Fig. 13):

1) A adição iônica de HCl;

2) A substituição nucleofílica do cloreto, por uma amina terciária.

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H2C CH2 CHH CH2

n-1+

[H2SO4]

Adição iônica

SN2

HCl H2C CH2 CHH CH3

Cl

n-1

H2C CH2 CHH CH3

Cl

n-1+ N(CH3)3 H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)3

n-1

Cl-

Sal quaternário de amônio

Fig. 15. Síntese do sal quaternário de amônio a partir de alquenos.

O sal quaternário de amônio mais comercializado é o brometo de trimetilcetilamônio. Sua

utilidade principal é como compatibilizante em formulações farmacêuticas. Já o cloreto de

dialquildimetilamônio é um amaciante catiônico de tecidos. E não vamos esquecer que estes

cátions anfifílicos são os principais “catalisadores de transferência entre as fases”, na síntese

química em grande escala, onde transportam bases e nucleófilos da água para a fase

hidrofóbica e vice versa. Por esta técnica foi primeiramente possível obter bons rendimentos a

partir de misturas reacionais na forma de emusões.

Note que os sais quaternários de amônio têm efeito de limpeza inferior ao dos detergentes

ânionicos, mas são apreciados devido ao efeito antimicrobiano (portanto componente em

desinfetantes domésticos).

Interessante também é a incompatibilidade desta classe com o sabão tradicional e com alguns

detergentes ânionicos, porque pode-se formar um sal de baixa solubilidade, da fórmula

[NR4+ R´COO

-]. Portanto, no ato de lavar roupa, o amaciante de tecidos sempre deve ser

aplicado em uma etapa subsequente à lavagem principal.

8.4 Detergentes zwitteriônicos e betaínas Os detergentes zwitteriônicos têm uma carga positiva e negativa na sua cabeça. A

curiosidade: essas cargas são localizadas em átomos vizinhos! Quem faz essa estrutura são os

aminóxidos. São detergentes excelentes, porém custam mais caros e são, igual os cationicos

apresentados no tópico anterior, de má biodegradabilidade.

Sua síntese é bastante semelhante à dos sais quaternários de amônio apresentados acima.

Porém, ao se ter uma amina terciária com pelo menos uma cadeia carbônica mais comprida,

em vez da quaternização se efetua aqui uma oxidação, usando água oxigenada de alta

concentração (30%):

SN2H2C CH2 CHH CH3

Cl

n-1+ NH(CH3)2 H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1

+ H2O2

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

O

n-1

Aminóxido

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

O-

n-1

=

Oxidação

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Fig. 16. O aminóxido, zwitteríon mais conhecido, serve como detergente especial.

Também os detergentes do tipo betaína têm duas cargas opostas na sua cabeça, no entanto

localizadas em átomos distantes. As betaínas mais conhecidas são os aminoácidos, por sua

vez monômeros das proteínas naturais. Sendo assim, a glicina, H3N+-CH2-COO

-, muitas vezes

representa a cabeça polar nesta classe de detergentes. A cauda apolar na classe dos

detergentes dipolares geralmente é ligada ao nitrogênio.

Os tensoativos conhecidos na cosmética como “Anfótero” (ver Tab. 26 na p. 130), muito

usados em formulações de xampus “2 em 1”, geralmente são da classe das betaínas.

SN2H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1CH2Cl COO-Na+

Monocloroacetato

+ H2C CH2 CHH CH3

(CH3)2N CH2 COO-

n-1

Derivado da glicina = Betaína

+ NaCl

Fig. 17. Aminoácidos são exemplos para betaínas.

Uma surpresa providencia a seguinte rota alternativa. Em vez de se usar o cloroacetato, a

lactona (= éster cíclico) de quatro membros, a propiolactona, funciona também nesta síntese e

reage prontamente com o nucleófilo, a amina terciária. Mas não é o carbono do grupo

carboxílico que sofre ataque. A alta tensão anelar deste composto favorece um ataque no

carbono 3 (no esquema a seguir em negrito), certamente um mecanismo excepcional e raro 7:

H2C CH2 CHH CH3

N(CH3)2

n-1+ H2C CH2 CHH CH3

(CH3)2N (CH2)2 COO-

n-1

Propiolactona

H2C CH2

O C

O

8.5 Detergentes não iônicos Muitas vezes a presença de átomos de oxigênio em forma de pontes de éter, são responsáveis

pela polaridade da cabeça da molécula anfifílica. Interessante nesta classe também são as

cabeças em forma de álcool (polióis). Lembramos que os açúcares são tais moléculas. Sendo

assim, os ésteres feitos à base de açúcar e ácido graxo ou então os éteres a base de açúcar e

álcool graxo, são produzidos em grandes toneladas, a serem usados como emulsificantes na

indústria alimentícia (seus poderes de limpeza, por outro lado, são bastante baixos).

No entanto, a maioria dos detergentes não iônicos é feita por oligomerização a partir do óxido

de etileno (= oxirano; um éter cíclico altamente reativo devido à tensão interna em pequenos

anéis). Essas etapas deixam a molécula de partida, na maioria um álcool graxo, crescer por

7 T.L. Gresham et al., J. Am. Chem. Soc. 70 (1948) 999.

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poucas unidades de (-CH2-CH2-O-). Não há número exato destas unidades - é sujeito à

estatística. O produto que sai desta etapa tem, na média, 4 a 8 unidades de oxietileno.

Interessante é que tanto ácidos quanto bases têm efeito catalítico na reação do oxietileno.

8.5.1 Discriminação dos syndets, conforme caráter hidrofílico da sua cabeça

Nota-se um decréscimo da natureza hidrofílica dos surfactantes, ao se ter cabeça

Ânionica > cátionica > zwitteriônica, dipolar > não iônica.

mais hidrofílica menos hidrofílica

O esquema a seguir já incluiu uma etapa adicional que mostra um produto final que tem, além

de uma parte de oxietilenos, também uma cabeça aniônica. Com esta arquitetura se consegue

uma ajustagem fina do balanço hidrofílico-hidrofóbico (HLB, ver p. 48) e assim o melhor

efeito detergente para cada aplicação. No setor comético são conhecidos como “lauril éter

sulfato de sódio”, “laureth sulfato de sódio” ou breve “SLES”.

CH2OH

H2SO4

Detergente sulfato (avançado)

+ n H2C CH2

O

Oxirano(óxido de etileno)

CH2CH2CH2O O H

Oligoetilenóxido (surfactante não iônico; emulsificante)

n

CH2CH2CH2O O SO3Hn

Neutralizar

CH2CH2CH2O O SO3- Na+

n

Fig. 18. Produção de lauriléter sulfato de sódio, um surfactante avançado, com parte

não iônica e aniônica na sua cabeça polar.

Ao contrário dos detergentes aniônicos, os surfactantes não iônicos geralmente apresentam

baixos poderes detergentes, sendo assim menos adequados para remover sujeira. Em vez

disso, são usados de preferência como agentes emulsificantes, isto é, estabilizam uma

formulação cremosa e prolongam sua vida de prateleira impedindo a separação das fases

aquosa/oleosa. Como eles mostram baixa tendência para produzir espuma, seu uso em

formulações de sabão em pó para máquinas de lava-roupa automáticas de altas rotações

(tambor horizontal) e em máquinas de lava-louça profissionais pode ser favorável.

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8.6 Vista geral sobre os detergentes sintéticos

(CH2)nH3C CH (CH2)n´ CH3

S OO

O-

onde: n + n´ = 7 a 11

Alquilbenzenossulfonato linear (LAS)Detergente tipicamente usado para lavar louça.

H25C12 SO3-Na+

p-dodecilssulfonato de sódio

Exemplo de LAS

H3C (CH2)11 O S O-

O

O

Laurilsulfato (éster a partir do álcool laurílico)

Detergente aniônico

H23C11 C

O

N

CH3

CH3

CH2 COO-

Detergente da família das betainas

N,N-dimetilglicina acilada

O

NH

NMe2

COO-

Cocoamidopropilbetaina, atualmente a betaína mais utilizada

H3C (CH2)11 N

CH3

CH3

O

Aminóxido a partir da dimetil laurilaminaDetergente zwitter-iônico

H3C (CH2)10 C

O

O CH2 CH2 O H

Oligo oxietil laurato (éster a partir do ácido láurico e óxido de etileno)

Detergente não-iônico

n 3 < n < 8

O

NH

OH

Cocoamidas MEA e DEA

O

NOH

OH

Fig. 19. Moléculas dos mais usados detergentes sintéticos:

a) Surfactante aniônico: LAS fórmula geral e exemplo; b) Surfactante

zwitteriônico e betaína; c) Surfactante não iônico.

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47

Uma abordagem dos problemas ambientais acerca dos alquilbenzenossulfonatos LAS, ver 8.

8.7 Limpeza da pele humana Sabões e detergentes retiram a sujeira oleosa da nossa pele. Ao mesmo tempo, levam embora

as gorduras naturais que são importantes para o nosso bem estar. Quanto menos

gordura na stratum córneum, mais água das camadas inferiores

pode evaporar. Além disso, a própria stratum córneum torna-se

quebradiço e pode rasgar.

Temos a sensação que o processo de lavagem

resseca a nossa pele.

Portanto, os produtos cosméticos de

qualidade têm nas suas formulações

óleos, para re-engraxamento da pele.

Isso parece um paradoxo, já que o

agente tensoativo não diferencia entre

estes óleos e a sujeira da nossa mão.

Certamente, a adição de óleos acarreta

o efeito involuntário de reduzir a

capacidade do detergente como

emulsificante, a fim de dissolver a

sujeira. Concluímos que, do ponto de vista da eficiência das etapas, seja mais sensato

primeiro aplicar a etapa da limpeza (com sabão ou detergentes sintéticos) e depois reengraxar

a pele, usando um creme, conforme descrito logo a seguir.

9 Cremes de pele

Cremes de pele, também chamados de cremes hidratantes, representam hoje a família mais

importante no setor cosmético. Especialmente a pele feminina (por ser mais fina e sensível)

requer a reposição frequente de umidade e gordura. De preferência aplicamos um produto

com ingredientes naturais, com óleos e gorduras cuja composição é próxima à da nossa

própria pele (ver última linha da Tab. 6, na p. 22). Além disso, os produtos naturais já contêm

outras substâncias ativas em traços que são altamente valorizadas. Um filme "hidrolípido"

equilibrado proporciona à pele uma aparência fresca e saudável.

Antes de entrar em detalhes da formulação do cosmético, é importante familiarizar-se com os

componentes básicos, sua função e os representantes típicos, que são (ver também lista de

categorias na p. 27):

Água: utiliza-se mais a água desionizada.

Alcoóis: etílico, isopropílico. São utilizados em loções hidroalcoólicas, além de serem

veículos para os perfumes.

8 PENTEADO, José Carlos P.; EL SEOUD, Omar A., CARVALHO, Lilian R. F.. Alquilbenzeno sulfonato

linear: uma abordagem ambiental e analítica. Quím. Nova [online]. 2006, vol.29, n.5, pp. 1038-1046.

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48

Umectantes: compostos poli-hidroxilados, tais como glicerina, sorbitol,

propilenoglicol, mas também a uréia (derivado do ácido carbônico). Mantêm a

umidade, evitando o ressecamento da pele e dos cabelos.

Materiais gordurosos: têm efeitos emolientes, lubrificantes e espessantes. São usados

diversos óleos triglicerídeos (ver p. 22 e p. 49), lanolina, ácidos graxos, álcoois

graxos, ésteres graxos, e ceras. Os sintéticos são: óleo silicone e óleo mineral (=,

hidrocarboneto; barato).

Espessantes hidrofílicos: gomas, alginatos, derivados da celulose, resinas e polímeros

acrílicos são componentes orgânicos, cadeias poliméricas onde cada unidade repetitiva

dispõe pelo menos de dois grupos lateriais altamente polares. Assim formam um

colóide hidrofílico que aumenta a viscosidade da formulação. Além destes, são usados

também argilas (bentonita, montmorillonita) em forma de pó fino que igualmente

deixam a formulação mais grossa e tixotrópica, sem afetar seu efeito cosmético e/ou

sua aparência quando aplicados no corpo.

Tensoativos: conforme apresentado no cap. 7, estes têm afinidade tanto por óleo como

por água. São agentes emulsificantes, limpadores e espumantes. Exemplos

industrializados: Tween, Span, laurilsulfato de sódio, laurilétersulfato de sódio.

Conservantes: todas as formulações que contêm água requerem de um sistema

conservante bem desenvolvido e eficaz, para assegurar a inocuidade microbiológica do

produto e uma vida de prateleira que satisfaz o cliente (ver p. 52).

Antioxidantes: são basicamente os mesmos utilizados em medicamentos; alguns são

idênticos com os em alimentos (ver p. 63). Eles protegem aquelas partes da

formulação que contêm grupos funcionais sujeitos à auto-oxidação (principalmente os

C=C).

Essências: aumentam a aceitação organoléptica do produto cosmético. Essa parte da

cosmética não é discutida neste texto (literarura recomendada, ver nota de rodapé 3, na

p. 12).

Corantes: também aumentam a aceitação do produto, mas devem ser acrescentados

em quantidades mínimas por serem sensibilizantes (têm potencial alergênico). São

basicamente os mesmos corantes que também são permitidos em alimentos 9.

Substâncias ativas: anti-aging, anti-caspa, antisséptico, hidratante. Representam de

longe o componente mais caro em uma formulação cosmética (ver p. 53).

Estabilizantes de pH: são sistemas de tampão que impedem alterações do pH da

formulação, sejam estas provocadas pelas diversas influências externas ou por reações

lentas dentro da formulação. Exemplos: decomposição hidrolítica de gorduras (ver

“estabilidade química” discutida na p. 49); mas também lembramos da principal

diferença de um depilatório e um alisante de cabelo que é o pH (ver p. 106).

9.1.1 A base de cada creme: a emulsão

Emulsões são gotículas de água dentro de óleo (w/o) ou gotículas de óleo dentro da água

(o/w). Fator mais importante que define o tipo de emulsão são as proporções dos ingredientes:

naturalmente, a fase contínua deve estar presente em maior proporção.

9 A. Isenmann, “Corantes”, Cap. 6.4, disponível no site

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/

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Lembramos que uma emulsão se caracteriza por ter gotículas bastante pequenas, com

diâmetros na ordem de poucos micrômetros. Assim, as duas fases repelentes, água e óleo,

expõem uma grande área de contato (A). Como vimos na equação do cap. 7, isto é

desvantajoso e o sistema se torna instável. Para atenuar a tendência para coalescência, as

emulsões requerem de uma estabilização em forma de um emulsificante, por sua vez uma

substância que se acumula na interface, onde abaixa a tensão interfacial, .

Portanto, todos os cremes comercializados contêm emulsificantes que asseguram uma

mistura homogênea e consistência do produto, ao longo prazo. Os compostos que preenchem

este papel já conhecemos: são moléculas anfifílicas, da família dos detergentes.

• Abaixam a tensão interfacial entre a fase oleosa e aquosa, formando micelas

microscópicas.

• Introduzem, através da sua carga na cabeça polar, um excesso de cargas na superfície

de cada micela. As micelas entre si se repelem por eletrostática.

• Abaixam assim a tendência de as gotículas coalescerem, assim impedem que as fases

se separem, macroscopicamente.

Para classificar os emulsificantes se usa o valor empírico de HLB (Hydrophilic Lipophilic

Balance):

valor alto: parte hidrofílica domina; estes emulsificantes são mais indicados para emulsões

O/W.

valor baixo: parte lipofílica domina; usados em emulsões W/O.

A classe de detergentes que melhor se adaptou como emulsificante em cremes da pele, são os

não iônicos que têm como cabeça polar um éter oligomérico de oxietileno.

O

OHn

4 < n < 12

Outros emulsificantes bastante usados em cremes hidratantes são o mono-estearato da

glicerina e o ácido esteárico livre.

9.1.2 Sobre os óleos usados em cremes

Todos os cremes contêm óleos, sejam naturais ou sintéticos, os últimos sendo mais baratos.

Dentre os sintéticos se destacam o miristato de isopropila, C13H27-COO-CH(CH3)2, parafinas

provenientes do petróleo, alcoóis graxos ou óleos de silicone, da fórmula geral

HO-(R2SiO)x-H , H3CO-(R2SiO)x-CH3 ou R3SiO-(R2SiO)x-SiR3 (com x = 50 a 100; R =

CH3 ou C2H5). O óleo mais recente nesta família é o dimeticone, um copolímero grafteado de

silicone e oxietileno (ver Fig. 34, molécula do meio). Estas e outras aplicações dos silicones

na área dos cosméticos são apresentadas na p. 77.

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50

O

OSi

CH3

CH3

O HHO

x = 50 a 100Miristato de isopropila

Óleo silicone

Os óleos usados em produtos cosméticos devem satisfazer três critérios:

Estabilidade química,

Espalhabilidade e

Oclusividade.

Estabilidade química:

Ésteres somente são estáveis em ambientes entre 5 < pH < 7. Isso certamente restringe a

aplicação de gorduras e óleos naturais. Além disso, os óleos (poli)-insaturados sofrem

facilmente oxidação no ar (“oxidação alílica”). Portanto, não devem ser aplicados em grande

quantidade nas formulações comercializadas. Ácidos graxos saturados são resistentes contra

oxidação, mas seus ésteres ainda estão sujeitos à hidrólise. O mais usado, por ser mais barato

e também quimicamente mais estável, é o óleo de parafina. Trata-se de uma fração do

petróleo cujo ponto de ebulição fica acima do óleo Diesel. Tendências retrógradas têm os

óleos de silicone, por terem sido o foco de uma discussão polêmica.

Oclusividade:

Os óleos, considerados como emolientes em uma formulação cosmética, têm a propriedade de

formar um filme oclusivo para impedir a evaporação de água transepidérmica sem, no

entanto, provocar o fechamento dos poros. Sendo assim, eles retêm a água nas camadas

inferiores da pele. Quando a concentração da água for mais alta na dermis, a pele fica mais

elástica e mais lisa. Além disso, um alto teor em umidade nesta camada ajuda esconder

pequenas ruguinhas. As vaselinas líquidas (óleos minerais; “petrolatum”) e os silicones são

considerados muito oclusivos.

A espalhabilidade depende da natureza química e da viscosidade do óleo. Esse é o critério

que proporciona a sensação de “absorver” na pele - o que não é verdade, pois o óleo se

mantém na camada externa. Mas podemos afirmar que tais matérias graxas que mostram boa

espalhabilidade (também conhecidas como emolientes), aumentam o conforto do usuário do

creme, pois reduzem a aderência no tato (toque seco) e o reflexo da luz da pele tratada. Os

emolientes compensam assim as insuficiências em espalhabilidade dos demais ingredientes

graxos do creme mencionados acima, especialmente tais com alto ponto de fusão e alta

tendência para cristalização (onde entram os álcoois graxos saturados, por exemplo).

Tendência empírica na espalhabilidade de óleos:

Miristato de isopropila Óleos de silicone óleo de rícino, mamona

(um mono-éster ou cera) (com > 20 unidades de SiMe2) (triglicerídeo rico em C22)

Outros emolientes frequentemente usados são óleo de côco e cetilésteres.

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51

As proporções dos óleos com perfil específico dentro da formulação dependem das exigências

do consumidor ao creme. Ele escolha conforme a ocasião quando usar, a necessidade e do

local onde pretende aplicá-lo:

Creme hidratante diurno

Creme hidratante noturno

Creme facial

Creme íntimo

Creme de pé

Creme de assaduras (creme de bebê)

Creme com protetor solar

Máscaras hidratantes

Cremes especiais (depilação, tintura, etc.)

9.1.3 Umectantes

A água contida na emulsão do creme certamente é o componente mais importante para ajustar

o balanço de umidade da nossa pele. Mas existe também uma série de outras substâncias

auxiliares para este propósito. Elas ajudam segurar a água dentro das camadas da dermis (ver

p. 18), através do seu caráter higroscópico.

A uréia, H2N-(C=O)-NH2, certamente é uma das substâncias mais eficazes para reter a

umidade na pele. Formulações contendo uréia são frequentemente recomendadas pelos

dermatologistas, para pacientes com pele extremamente seca. Um dos umectantes mais

eficazes da natureza é a babosa (= aloe vera). Em análises profundas foram identificados mais

de 160 substâncias ativas no extrato da babosa, tais como enzimas, vitaminas, minerais e

proteínas. Também é conhecido o efeito de segurar a umidade, de extrato de algas. Mas no

topo da lista dos umectantes utilizados é de longe a glicerina (ou glicerol). Esse poliol é

altamente higroscópico, barato e, muito importante para sua aplicação na dermis: é líquido.

Quase todos os cremes de pele contêm ainda substâncias que promovem a renovação das

células da pele, proporcionam proteção e uma sensação de bem-estar ao consumidor. Certas

vitaminas têm essas propriedades: a vitamina A ou o -caroteno são bastante aplicados em

produtos indicados para peles pálidas e secas. Também se usa a vitamina E que, devido à sua

estrutura química (p. 65), apóia a formação da camada lípida e ainda tem efeitos

antioxidantes. Pelo último motivo essas vitaminas serão descritas no cap. 9.3. Aqui somente

será mencionado o efeito dos antioxidantes frente à gordura. Tanto as gorduras insaturadas

produzidas nas glândulas sebáceas, como os óleos dentro da formulação do creme, podem

sofrer oxidação prévia quando em contanto com o ar. Uma vez oxidados eles mudam as suas

características:

Quebra das cadeias carbônicas, levando a moléculas de 4 a 10 carbonos;

Formação de novos grupos funcionais, particularmente aldeídos;

Aumento do caráter hidrofílico, etc.

Uma gordura com estas características é popularmente chamada de "rancificada" ou

“rançosa”.

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Todavia, uma aplicação de vitaminas através do creme não libera da necessidade de ingestão

das mesmas. Nem mesmo o melhor produto cosmético pode consertar os defeitos devido a

uma alimentação errada ou falta de vitaminas na comida. Além das vitaminas são igualmente

importantes na comida o ferro, zinco e o selênio, sendo considerados essenciais para uma pele

saudável.

9.1.4 Conservantes em cremes

Sempre presentes em cremes são as substâncias auxiliares de conservação, tanto no sentido

químico como biológico. Isso vale para todos os produtos duráveis que contêm água. Não

acredite quando notado no rótulo: "não contém conservantes". O dito acima (p. 51) sobre os

antioxidantes, também é o papel desta classe de substâncias: retardar a degradação

(rancificação) das gorduras. Além disso, não podemos esquecer o potencial de

desenvolvimento de micróbios dentro do creme, já que todos os nutrientes e também água

estão presentes. Portanto, o consumidor corre o perigo de infecção microbiana quando aplica

um produto vencido. Os conservantes serão discutidos sob os aspectos químicos no cap. 9.3.3

e sob os aspectos biológicos no cap. 12.3.5.

Não se tem unanimidade sobre a quantidade em que esses conservantes devem ser aplicados.

Alguns produtores os colocam em abundância e variedades bastante tóxicas, para assegurar o

nível de micróbios (até as variedades mais raras) em nível zero sobre um longo tempo. Porém,

o melhor é o princípio: usar o mínimo, mas tanto quanto precisa. Alguns óleos já são bastante

duráveis pela composição natural. Óleo de jojoba e o óleo de abacate, por exemplo,

dificilmente rancificam. Além disso, existem conservantes brandos, tais como alcoóis naturais

ou certos óleos etéricos (terpenos). Também pode ser usado como conservante o próprio ácido

benzóico: embora também ocorra na natureza, certamente é mais barato e eficaz usar o

produto sintético.

Na maioria dos casos de irritações de uma pele sensível, os culpados são os aditivos

conservantes, enquanto os componentes da base somente têm um potencial alergênico muito

baixo - salvo os casos particulares onde se acharam restos de níquel, provenientes do

catalisador de hidrogenação das gorduras poli-insaturadas, que causaram inconveniência ou

até alergia no consumidor.

9.1.5 Formulação típica de um creme hidratante diurno:

10% óleo éster do ácido octanóico e álcool cetila e estearila

7% álcool graxo álcool cetila e estearila

3% Umectante propilenoglicol

1,5% Emulsificante poliéter feito de álcool cetila e estearila + 6 óxido de etileno

1,5% Emulsificante poliéter feito de álcool cetila e estearila + 12 óxido de etileno

1,2% Conservante Metilparabeno (fórmula ver p. 66)

0,2% Perfume

Além destes, é claro:

76,6% Água

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9.2 Compostos ativos nos cosméticos da pele A indústria oferece seus

produtos com parolas

marcantes, tais como

"Sempre jovem" ou

"Realce sua beleza

natural".

Usam-se extratos e óleos

de plantas tropicais, marinhas,

ervas, algas etc., sempre em concentrações

muito baixas (o que conhecemos dos homeopáticos).

Mas: a eficiência da maioria destas substâncias não é comprovada clinicamente.

Porém, os efeitos fisiológicos de alguns compostos são bem estudados, por exemplo:

O bisabolol, um álcool terpênico, componente principal no óleo de camomila que mostra

efeito antiinflamatório, mesmo em concentrações baixas de 0,1%. Este e outros óleos

essenciais são referidos na Tab. 28.

CH3

HHO

H3C CH3

CH3

(-) -bisabolol

Outro composto com efeito benéfico é o pantenol (= provitamina B5, fórmula a seguir).

Mostrou efeito curativo, desde que alcança as camadas inferiores da pele.

HONH OH

OHH

O

D-pantenol

Também o ácido salicílico (= ácido 2-hidroxi-benzóico) é valorizado em produtos cosmético

da pele, tais como sabões, detergentes, loções tônicas, compressas, géis e emulsões fluidas,

devido às suas propriedades queratolítica (= esfoliante) e antimicrobiana. Como já se sabe

desde a antiguidade, onde este ácido foi obtido a partir de um tratamento oxidante da seiva do

salgueiro (família salix), este ácido afina a camada espessa da pele e age contra bactérias e

fungos oportunistas. O último efeito também é considerado sendo responsável pela cura mais

rápida de lesões (efeito anti-inflamatório). Sendo assim, o ativo pode mostrar efeito benéfico

em casos de caspas, dermatite, psoríase, ictiose e acne. Recentemente foi destacado, ainda,

seu efeito regulador da oleosidade da pele e seu potencial hidratante: ao entrar nos poros da

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pele, ajuda a remover camadas queratinizadas que, em casos de obstrução do poro, poderão

levar à inflamação localizada.

Um espectro antimicrobiano, mas especialmente antifungo, mostra também o ácido benzóico.

Seu uso na cosmética é largamente aceito, pelo fato de ser permitido como aditivo em

alimentos (meio conservante), porém este ácido pode causar alergias em peles muito

sensíveis.

9.2.1 Novo astro no céu dos cosméticos: o ácido hialurônico

O ácido hialurônico é um biopolímero formado pelo ácido glucurônico e a N-

acetilglicosamina. A nossa pele, quando jovem é tipicamente lisa e elástica. Acharam que

neste estado contém muito ácido hialurônico, uma substância do nosso organismo que

preenche os espaços entre as células. Com o avanço da idade o ácido hialurônico diminui,

diminuindo também a hidratação e elasticidade da pele, o que contribui para o surgimento de

rugas.

Ácido hialurônico (CAS 9004-61-9):

O

OHO

NH

OH

O

O

HOO

OH

OOH

x

O ácido hialurônico é uma substância presente no organismo de todos os animais, e encontra-

se em todos os órgãos do nosso corpo, em diferentes proporções, sendo que a pele contém

56% do total. No nosso organismo, esta substância é responsável pelo volume da pele, alé de

outras funções (forma dos olhos, lubrificação das articulações), sendo normalmente produzido

e degradado. Este polímero pode ser obtido em concentrações terapêuticas a partir de restos

animais ou a partir da fermentação bacteriana à base da celulose. Este último tem grandes

vantagens, uma vez que permite a sua produção em escala industrial e, por não possuir

proteínas animais, não provoca reações alérgicas, sendo portanto o que nós utilizamos. As

reações que podem ocorrer são alguma vermelhidão no local, pequeno edema (inchaço),

sensação de coceira ou sensibilidade. Porém, quando ocorrem são, em geral, pouco

acentuadas e tendem a sumir em 24 a 48 horas.

Nos anos passados foi então desenvolvida uma rota fermentativa para produzir o ácido

hialurônico a partir da celulose, por meio de bactérias manipuladas. Esse material é utilizado,

além nos produtos cosméticos, também na medicina de reabilitação e na medicina estética – o

que demonstra sua inocuidade. O uso em reabilitação concentra-se por enquanto no

tratamento da artrose. Em estética, o objetivo é preencher rugas ou sulcos, ou simplesmente

dar volume, através da injeção na camada média ou profunda da pele, isto é, uma extensão do

alcance dos cosméticos. São exemplos de áreas da face que podem ser preenchidas com ácido

hialurônico: lábios, sulcos nasogenianos ("bigode chinês"), sulcos nasojugais (olheiras) e

rugas glabelares (raiz do nariz, entre as sobrancelhas). A aplicação pode ser sob anestesia

tópica com creme ou por bloqueio regional com lidocaína. Certamente, uma aplicação do

ácido hialurônico por meio de cosméticos tópicos fica mais fácil e causa menos

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inconvenientes (inchaço do local da injeção), embora de ser mais demorado até se visses o

efeito.

Já nos produtos cosméticos o ácido hialurônico tem naturalmente efeitos mais súteis, já que a

profundidade de penetração é pequena, então sua atuação se restringe às camadas externas da

pele.

9.3 Cada vez mais importante: Protetor Solar A radiação solar geralmente é subdividida em três regiões que têm efeitos fisiológicos

diferenciados:

Luz UV tipo A (320 < < 400 nm) penetra a pele profundamente, portanto pode danificar o

tecido em grande profundidade. Por outro lado, dentro o espectro UV é a forma menos

agressiva de radiação. Dependendo do tipo de pele, ela promove a produção de melanina (ver

Fig. 37 e Fig. 38, na p. 101) e causa assim a pigmentação natural. Para a maioria das pessoas

uma pele bem bronzeada é um importante critério de beleza.

O UV tipo B, 280 < < 320 nm, penetra menos (apenas 10% chegam à dermis), mas provoca

reação de eritema na pele humana, cerca de 1000 vezes mais do que a UV tipo A. Essa é a

radiação que todos temem que já levaram uma queimadura na praia! UV do tipo B afeta

principalmente a camada epidérmica da pele, ocasionando queimaduras solares, levando ao

eritema, edema e dor. A exposição frequente e intensa aos raios UV-B causam lesões ao DNA

e suprime a resposta imunológica da pele, aumentando os riscos de mutações fatais, podendo

causar câncer de pele. Único aspecto positivo deste tipo de radiação: ela estimula a produção

de vitamina D.

Finalmente, a luz UV tipo C, 100 < < 280 nm, é a forma mais energética e, portanto, a

radiação mais perigosa para humanos. Ainda bem que ela é absorvida, quase completamente,

na camada de ozônio.

A posição relativa da radiação UV e da luz visível na escala de comprimento de onda é dada

na Fig. 23, na p. 61.

É fácil transformar o comprimento de onda em unidades de energia, através da fórmula 3

1 119,7 10/

/

Afoto A

N h cE kJ mol N h

nm

.

Aplicada ao máximo da emissão solar, perto de 312 nm, obtemos 383 kJ . mol

-1. Daí vê que a

energia da luz UV tipo B já é suficiente para quebrar a maioria das ligações covalentes

simples!

9.3.1 Proteção por absorção 10

Muitas superfícies de material orgânico requerem da proteção contra a radiação solar

agressiva (UV-A e UV-B), tais como madeira, polímeros, resinas, borrachas - e especialmente

a nossa pele!

10 No Brasil, os produtos fotoprotetores são definidos como cosmético, de acordo com a Resolução n° 79 do

28/08/2000, editada pela ANVISA. O controle destes produtos é realizado pelo número do Fator de Proteção

Solar (FPS) indicado no rótulo, pela indicação para qual tipo de pele e pela composição de sua formulação. A

Legislação foi atualizada e de acordo com a Resolução RDC nº 30, de 01/06/2012.

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Solução oferecem os absorventes da luz UV que são pequenas moléculas orgânicas com

grupos cromóforos (grupos carbonilas, principalmente) e um extenso sistema de elétrons

conjugados. Sua concentração em formulações de tratamento de superfície fica em torno de

2,5%, enquanto seu efeito protetor depende, conforme a lei de Lambert-Beer (p. 62), da

espessura final do filme seco.

Fig. 20. A mesma pessoa, com metade do rosto tratado com absorvente de UV; uma

vez fotografada com câmera comum, outra vez com um filme que capta a região de

UV tipo A.

Os absorventes de luz UV mais frequentemente usados hoje são:

Benzofenonas: são os absorventes clássicos, de eficiência média, baratos; sólidos e

difícil de dissolver na formulação; moderada absorção nas regiões UV-A e UV-B;

muito usados também em verniz para madeira. Exemplo comercializado:

Benzofenona-3 ou Eusolex 4360.

Benzotriazóis: hoje os mais usados; oferece amplo espectro de absorção, cobrindo

sozinho toda a faixa UV-A e UV-B. È insolúvel nas maiorias dos solventes, portanto

se utilizam dispersões de partículas microfinas na formulação, parecidas aos filtros

físicos (ver p. 62). Desta forma atua como absorvedor, refletor e dispersor da luz UV;

é eficazes também em tintas e plásticos. Exemplo comercializado: Tinosorb M.

Triazinas: são os absorvedores de UV mais recentes, mais eficazes, mas também mais

caros.

Oxalanilidas: bloquéiam UV-B e deixam passar UV-A, portanto podem ser usados

em cremes bronzeadores e esmaltes do tipo resinas foto-curadas 11

.

As fórmulas gerais dessas classes de absorventes UV, ver Fig. 22 na p. Fig. 2260.

Ocasionalmente, são também usados malonatos de benzilideno, cianacrilatos e formamidinas.

11 Para endurecer (curar, ramificar ) resinas por meio de radiação UV, geralmente usa-se uma lâmpada que emite

a 366 nm, conhecida como “luz negra”.

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Para os fins cosméticos procuram-se aditivos que atenuam o impacto da radiação solar sobre a

pele, mas não falsificam sua aparência natural, ou seja, moléculas que não absorvem a luz na

região visível (400 a 750 nm; aditivos incolores).

Especialmente usados em produtos cosméticos são, de um total de uma dúzia de substâncias:

Ácido sulfônico da cânfora (inglês: Terephthalylidene Dicamphor Sulfonic Acid,

TDSA; nome comercial: Ecamsule, usado em produtos da L´Oreal; outro é

NeoHeliopan MA)

S

O

O

HO

O

S

O

OOH

O

3,3'-(1,4-Phenylenedimethylene)bis[7,7-dimethyl-2-oxo-bicyclo-(2,2,1)hept-1-yl methanesulfonic acid]

Metoxidibenzoilmetano (BMD).

O

O

methoxydibenzoylmethaneMeO

t-Bu

Os dois agentes são absorventes de banda larga, quer dizer, filtram na região de UV-A e UV-

B. Porém, o TDSA, além de ser de dissolução difícil, somente absorve numa pequena parte da

região UV-A, portanto é o agente preferido em protetores que prometem ao mesmo tempo um

"bronzeamento saudável". Por outro lado, aqueles produtos que prometem cobrir toda a região

da radiação dura podem ser feitos com o BMD (nomes comerciais: Avobenzona ou Eusolex

9020). Também usados são oxibenzona e bisimidazilatos. De qualquer maneira, é importante

que as substâncias não se degradem sob a influência da radiação, elas devem ser fotoestáveis

por pelo menos 10 horas de irradiação intensa e direta.

Atenção: o BMD possui diversas incompatibilidades, por exemplo, frente ao metoxinamato

de octila ou aos filtros físicos (ver p. 62). Uma formulação com essas combinações pode

mostrar uma capacidade protetora surpreendentemente baixa!

Atendem também as exigências do consumidor os seguintes derivados:

Derivados da benzofenona: MeO

OH O

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Derivados do ácido cinâmico (cinamatos):

O

MeO

O

São uns dos filtros solares mais utilizados em fotoprotetores. Possuem excelente absorção

UV-B, mas baixa absorbância no UV-A. São filtros baratos e eficazes. Exemplo comercial é o

“metoxinamato de octila” (Parsol MCX, Neo Heliopan AV).

Derivados do ácido p-aminobenzóico:

O

O

Me2N

Estes filtros, também conhecidos como PABA, foram os primeiros filtros UV patenteados.

Hoje não se usam mais, devido a problemas de estabilidade quando aplicados na pele. Além

disso, houve relatos de hipersensibilidade e dermatite.

Derivados do ácido salicílico (salicilatos): OH

O

O

Também uns dos primeiros filtros utilizados, mas ainda muito utilizado atualmente. Oferecem

boa proteção contra UV-B, são seguros e de fácil manipulação. Exemplo: Salicilato de octila

ou Eusolex OS.

Filtros UV em formulações cosméticos e o fator FPS

A maioria dos protetores solares comercializados hoje protege, tanto contra UV do tipo A

como do tipo B. Quem aplica este cosmético pode ficar exposto ao sol por mais tempo,

geralmente indicado através do fator de proteção solar "FPS". Note que a maioria dos

absorventes de UV se degrada ao longo de um dia ensolarado 12

.

Além dos componentes típicos para todos os cremes (p. 47), os protetores solares contêm

então um ou mais destes absorventes da radiação UV, em concentrações em torno de 1%

cada. A associação de filtros tem por finalidade chegar a um FPS mais alto e com amplo

espectro de proteção, maior estabilidade, custo compatível e baixo potencial

irritante/alergênico.

A forma mais fácil de aumentar o FPS, aparentemente, é aumentando a concentração dos

filtros na fórmula. Mas assim também se aumenta a carga sobre a pele, ou seja, o potencial de

sensibilização e irritação. Além disso, nem sempre o aumento de concentração de filtro leva a

um aumento proporcional do FPS da formulação e, afinal, existe uma concentração limite

permitida para cada filtro.

12 N. Tarras-Wahlberg, G. Stenhagen, O. Larkö, A. Rosén, A.-N. Wennberg, O. Wennerström, Changes in

ultraviolet absorption of sunscreens after ultraviolet irradiation, J. Invest. Dermatol. 113 (1999) 547-553.

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Por isso é necessária, no desenvolvimento de fotoprotetores, a associação de filtros, seja ele

físico ou químico. Através de uma combinação favorável (sinérgica) se conseguem os

maiores fatores FPS, ao mesmo tempo uma redução dos custos e do potencial irritante.

Como selecionar os componentes da formulação?

No desenvolvimento de protetores solares é importante estabelecer os critérios na

seleção das matérias primas, para conseguir o aproveitamento máximo, racionalizando

o quantitativo e o qualitativo de cada item da formulação, com o objetivo de se obter

um produto adequado dentro dos parâmetros de eficácia, inocuidade, relação

risco/benefício e aceitação do consumidor.

O valor do FPS depende dos tipos e quantidades de filtros solares presentes na

formulação, mas o aumento do FPS não ocorre de forma linear em relação ao aumento

da concentração do filtro. Por outro lado, associações de filtros solares tendem a

potencializar o FPS.

O tipo de veículo, a qualidade e a espessura do filme depositado sobre a pele podem

alterar o valor do FPS. Quanto mais uniforme for o filme sobre a pele, mais efetiva

será a proteção pelo produto.

Algumas matérias primas podem causar alteração no espectro de absorção dos filtros

solares, podendo aumentar ou reduzir o FPS. Alguns emolientes apresentam a

capacidade de solubilizar os filtros solares, o que se torna vantagem nos filtros que

apresentam baixa solubilidade na base do creme. Assim se evita sua perda por

recristalização na fórmula. Esses emolientes também são capazes de melhorar a

espalhabilidade do produto de modo a garantir a uniformidade de aplicação,

resultando em um aumento do FPS.

Outros fatores que influem na eficácia dos filtros solares são: pH da preparação,

resistência à água e suor e distribuição das dimensões das partículas. Quanto menor o

tamanho de partículas obtidas, maior será o valor do FPS.

Embora não existir uma relação linear, podemos afirmar que quanto maior o fator FPS, maior

a concentração dos absorventes dentro do produto. Estes representam, ao mesmo tempo, uma

elevada carga para a pele. Portanto, nos países da Europa o número e a quantidade destes

absorventes UV nos produtos cosméticos foram restritos pela lei. Além disso, se obtém

somente pouco prolongamento do efeito protetor quando aplicar um produto com FPS acima

de 20. A diferença entre FPS 50 e FPS 100, por exemplo, não significa o dobro em proteção,

mas apenas um aumento no efeito protetor por 0,1%. Portanto, é melhor limitar o tempo de

exposição ao sol.

Portanto: o único protetor verdadeiro continua sendo a sombra!

Mecanismos de absorção da radiação UV

A absorção na região do UV por uma simples excitação HOMO→LUMO de elétrons é um

fato largamente conhecido. Quanto mais extenso o sistema de elétrons , mais baixa a energia

necessária para sua excitação. Isto é, o máximo da absorção fica cada vez mais perto ao

espectro visível. A largura destas bandas de absorção, no entanto, não atende a exigência de

absorção em banda larga que nós esperamos de bons protetores de UV; ela fica na ordem de

< 50 nm. Portanto, precisamos de moléculas onde ocorre simultaneamente, além da

excitação dos elétrons , uma mudança estrutural que acarreta o alargamento da banda de

absorção, finalizando em uma absorção acima das inteiras regiões do UV-B / UV-A.

A maioria dos absorventes UV funciona de maneira semelhante: a luz UV absorvida pela

molécula aumenta a mobilidade de um próton. A mudança deste próton acarreta também uma

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mudança de todas as duplas-ligações. Isto pode ser chamado de tautomeria, na maioria das

moléculas uma tautomeria ceto-enol. A nova forma tautomérica da molécula, logo após o

recebimento da energia, ainda se encontra num estado excitado, mas logo a seguir retorna ao

estado fundamental sob emissão de calor que é uma forma não destrutiva da energia. O

mecanismo é conhecido como ESIPT (= Excited State Intramolecular Proton Transfer; em

Português: transferência intramolecular de um próton no estado eletronicamente excitado):

N OH

N OH

S1*

S0

S1

S0*

Forma enol Forma ceto

ConversãoExcitação

Relaxação

ESIPT

pela luz UV interna

Fig. 21. Esquema de termos simplificado do processo ESIPT; a altura dos termos é

conforme sua energia relativa (S = singleto).

O OH

OR

h

O O

OR

H

Benzofenona

h

h

h

N

N

N

R

R

O

O

H

R

N

N

N

R

R

OH

Benzotriazol

Hidroxifeniltriazina

Oxalanilida

N

N

N

R

R

OH

NN

H

HO

OOR

N

N

N

R

R

O

O

R

H

NN

H

O

O-O

R

H

NN

H

O

OOR

H

Fig. 22. Os estados, fundamental e excitado, dos mais importantes absorventes de luz

UV. Note que os primeiros três têm em comum a unidade estrutual de -

hidroxifenil.

Por outro lado, nos derivados do ácido cinâmico e da cânfora a energia da luz UV provoca

uma isomerização cis-trans:

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O

O

O

2-ethylhexyl 4-methoxycinnamate

O

O

O

h

3-(4-methylbenzylidene) camphor

O

O

h

Através das cadeias laterais, representados na Fig. 22 pelos grupos R, o químico preparativo

tem que ajustar as propriedades, químicas e fotoquímicas, exigidas ao absorvente UV. Em

primeira linha, isso é a região espectral onde a molécula está absorvendo a radiação (ver Fig.

23), em segunda linha a HLB (ver p. 48) ótima para a formulação do produto cosmético.

Fig. 23. Espectros de absorção típicos das classes principais de absorventes da luz

UV. A área cinza do fundo representa a intensidade relativa de emissão da radiação

solar, medida em um dia de primavera com céu azul.

Na entrada deste parágrafo foi mencionada a largura da absorção sendo um importante critério

de qualidade de um absorvente de UV. Outro fator igualmente importante é sua eficácia no

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processo da absorção, ou seja, a altura da curva de absorção conforme mostrada na Fig. 23. O

fator crucial na equação de Lambert-Beer que descreve a porcentagem da radiação absorvida

pelo absorvente em função da quantidade de moléculas percorrida (quantidade = concentração

vezes largura da camada), é conhecido na espectroscopia UV-VIS como extinção, .

dceII 0 Lambert-Beer

I = intensidade da luz que passou pela camada; I0 = intensidade da luz incidente; = extinção

(ou eficiência da absorção); c = concentração do absorvente ao longo do tem de luz; d =

espessura da camada que contem o absorvente.

Identificamos certos grupos funcionais nas moléculas absorventes da luz UV, cuja extinção é

especialmente alta. A elevação de elétrons em níveis energéticos superiores é um processo

quântico para qual valem regras de seleção. Existem os “processos permitidos”, → * ou

→ *, onde atribuímos uma extinção especialmente alta. Neste sentido especialmente eficazes

são as ligações C-H, C=C, mas também o grupo nitro, -NO2 ( → *). Além destes, existem

as “transições proibidas”, tal como n → *, que acarretam uma absorção menos forte da luz.

O representante mais prominentes desta última categoria, certamente, é o grupo carbonila,

C=O. 13

Afinal, podemos identificar muitos destas unidades estruturais nos representantes

absorventes mostrados acima, muitas vezes em sistemas mais extensos, onde vários destes

grupos estão interligados por conjugação.

A absorção da luz e a validade desta relação devem ser verificadas para cada comprimento de

onda, da luz espectral que incide. Finalmente é a absorção, isto é a taxa 0I

IA , que

proporciona a altura das curvas mostradas na Fig. 23.

9.3.2 Bloqueadores solares

Num outro princípio de proteção seguem os componentes nos bloqueadores solares: o

espalhamento da luz incidente. Espalhamento é a reflexão não direcionada, que somente

ocorre nos cantos e arestas de partículas cristalinas. Este espalhamento lhes fornece uma

aparência muito clara, geralmente um branco brilhante. Note-se que neste processo a energia

da radiação não fica retida na partícula - ao contrário dos absorventes descritos acima.

Esses bloqueadores de UV, também chamados de “filtros físicos”, são na maioria materiais

inorgânicos. São pós finos, inertes e opacos, insolúveis em água e materiais graxos. Eles

formam uma barreira sobre a pele, refletindo, dispersando e, em menor parte, absorvendo a

luz UV. O processo de reflexão/dispersão da luz é também responsável pela translucidez e

opacidade das partículas de filtro físico aplicadas sobre a pele.

Os materiais bloqueadores mais utilizados são: óxido de zinco, dióxido de titânio, talco e

caolim. O TiO2 (especialmente o rutil, mas também a modificação de anatásio) é capaz de

absorver o UV tipo B e pouco do UV tipo A; já o ZnO absorve nas duas faixas.

Essas substâncias espalham não só a luz UV, mas também na região visível, portanto são

típicos pigmentos brancos. Em um produto cosmético este efeito acarreta uma baixa

aceitação, pois o freguês não quer aparecer “pintado”. Portanto, um processo bastante

13 Detalhes da absorção pelos grupos funcionais, ver A.Isenmann, “Corantes”, cap. 3.1; disponível em

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/corantes/index.html

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aplicado hoje é a produção microcristalina destes minerais. Pela redução do tamanho das

partículas pode ser influenciado o comportamento óptico destes pigmentos minerais. Assim é

possível produzir hoje um bloqueador solar que altera muito pouco o visual da nossa pele (ao

invés disso, uma câmera que capta também uma parte da luz UV revela também esse

bloqueador: a pessoa que o usa aparece muito brilhante, ou seja, o oposto do efeito mostrado

na Fig. 20!). Na forma micronizada, com uma média de diâmetros < 1 µm, estes minerais

refletem muito pouco a luz visível, diminuindo então a coloração branca deixada sobre a pele

e gerando uma maior aceitação estética - sem prejudicar o FPS da formulação final.

Outra vantagem destes materiais é sua indiferença, podemos até atribuir alta compatibilidade,

com peles sensíveis.

Os bloqueadores minerais podem ser comprados nas formas de pós secos e dispersões (em

silicone, água ou cera). Ao optar pelas dispersões, o processo da manipulação fica mais fácil e

rápido, pois evita-se a formação de agregados. Por outro lado, o custo da dispersão é maior e

pode interferir na viscosidade do produto final. Sendo assim, o tipo da formulação (emulsão,

gel, loção) pode apresentar resultados finais diferentes, tanto em relação ao FPS quanto ao

sensorial. De qualquer maneira, a formulação deve formar um filme regular para promover a

distribuição homogênea do filtro físico.

Atenção: um “bloqueador de luz UV” muito sobreestimado é a água. Quem está dentro da

piscina não é automaticamente protegido de queimaduras!

Tab. 12. Penetração da radiação UV tipos A e B, em água límpida de diferentes

profundidades.

Profundidade em cm

Transparência em %

UV tipo B

290 a 320 nm

UV tipo A

320 a 400 nm

0 100,0 100,0

50 62,5 85,0

100 46,8 77,0

150 37,4 72,0

Já mais eficiente é a proteção pelo vidro. Atrás de uma janela, por exemplo, dentro do carro, a

luz UV tipo B realmente fica retida. Todavia, as radiações menos energéticas, UV tipo A, a

luz visível e especialmente o infravermelho, passam pelo vidro e causam a sensação de calor.

Este aspecto deve ser levado em consideração, especialmente em telhados transparentes da

construção civil.

9.3.3 Antioxidantes

A incidência solar e o calor não só promovem o bronzeamento da pele, mas também

aumentam, infelizmente, a taxa da sua reação com o oxigênio tripleto do ar, 3O2, uma reação

largamente conhecida como auto-oxidação. Quem protege contra este tipo de reação, além

dos protetores UV descritos acima, é uma série de antioxidantes, também chamados de

sequestradores de radicais livres, a serem apresentados a seguir.

Mais importante, no entanto, é a presença dos antioxidantes para o próprio produto cosmético,

onde aumentam sua vida útil e reprimem as reações de degradação (especialmente as da

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rancificação nos componentes gordurosos). Portanto, exercem o papel de conservante no

produto acabado.

Identificamos as seguintes estruturas químicas que são especialmente susceptíveis à auto-

oxidação:

Hidrogênios em posições benzílicas e alílicas, H-C-Ar e H-C-C=C.

Hidrogênios em posição de éteres e tio éteres, H-C-O-C e H-C-S-C.

Hidrogênios ligados ao grupo carbonila (= aldeídos), H-C=O.

Estes hidrogênios são facilmente atacados pelo 3O2, abstraídos da molécula que, por sua vez,

pode-se tornar objeto de reação com outra molécula de 3O2 ou outra molécula com dupla-

ligação C=C. Finalmente, temos uma reação em cadeia 14

que transforma as ligações H-C em

H-O-O-C, onde cada uma das acima mencionadas estruturas faz suas típicas reações

consecutivas. Isso pode finalizar em polímeros (aumento da massa molar) ou na quebra de

cadeias carbônicas devido a rearranjos (moléculas menores). Além disso, aumenta o número

de grupos polares, especialmente de hidroxilas –OH e carboxilas, -COOH. As consequências

são um elevado caráter hidrofílico e o abaixamento do valor de pH. De qualquer maneira,

essas reações desfiguram a característica do produto cosmético e abaixam seu valor.

Ao contrário dos anteriores, estes protetores geralmente não são aplicados na superfície do

objeto a ser protegido (que foi, no caso, a nossa pele), mas são incorporados na própria massa

do corpo. Como essa penetração profunda do antioxidante acarreta efeitos sistêmicos, então

deve ser classificado, segundo o critério estabelecido na p. 16, como remédio e não como

cosmético. Todavia, é bastante usado em protetores solares, também. É lógico que os critérios

à citotoxicidade dos antioxidantes são especialmente altos - já que geralmente são ingeridos

junto à nossa comida diária.

O antioxidante mais importante para o nosso bem-estar é a Vitamina C (L(+)-ácido

ascórbico). É uma vitamina hidrossolúvel que se encontra em altas concentrações em frutas

azedas frescas (cítricas, acerola, kiwi, etc.). A falta crônica desta vitamina causa sangramentos

na pele e na gengiva e a perda de dentes. Essa doença conhecida como "escorbuto" era muito

espalhada entre os marinheiros nos séculos passados. A unidade estrutural com facilidade de

efetivar reduções (isto é, satisfazer um radical com mais um elétron e desta forma desat ivá-lo)

é o endiol, -(HO)C=C(OH)-. Sua qualidade como redutor é tão pronunciada que este

agrupamento ganhou o nome trivial "redutão". As distâncias interatômicas dentro da molécula

da vitamina C são favoráveis para que o grupo redutão possa estabilizar-se por ligações de

hidrogênio. Anotamos a semelhança estrutural com o sistema quinóide do item anterior. O

produto, então a vitamina C oxidada, tem três grupos cetonas estáveis.

14 O mecanismo da reação em cadeia e os possíveis produtos consecutivos da auto-oxidação são detalhadamente

descritos em A. Isenmann, “Princípios da Síntese Orgânica”, cap. 1.5; disponível no site

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/sintese/index.html

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O

H

CH2OH

HO OH

O

H OH

O

H

CH2OH

O O

O

H

H

H OHOxidação

Vitamina C

O

H

CH2OH

O O

O

H OH

=+ 2 e-

A natureza providencia também sistemas blindados e/ou altamente conjugados, com

finalidade de sequestrar radicais e/ou absorver radiação UV. Os mais conhecidos são as

cumarinas (dentre elas a vitamina E), e a vitamina A (também conhecida como -caroteno) 15

.

O

HO

-Tocoferol (= Vitamina E)

Vitamina A (= -caroteno; fortemente amarelo igual cenoura)

Os critérios mais rigorosos referente à toxicidade dos compostos antioxidantes e protetores,

naturalmente, existem para os aditivos em fármacos e alimentos. Portanto, qualquer composto

aprovado em alimentos também pode ser utilizado em cosméticos.

Os aditivos antioxidantes mais utilizados em cosméticos, remédios e alimentos

industrializados, cujo objetivo é a conservação do próprio insumo, são BHA (uma mistura de

2-t-butil-4-metoxifenol com 3-t-butil-4-metoxifenol) e BHT (2,6-di-t-butil-4-metilfenol; ver

fórmulas abaixo). Especialmente importantes são esses aditivos em formulações que contêm

flavorizantes ou substâncias bioativas altamente sensíveis. Com estes aditivos pode-se

estender a vida de prateleira do produto por alguns meses. Em analogia ao antioxidante

apresentado acima, observamos na molécula do BHT o grupo fenólico que é blindado, desta

vez por dois grupos t-butilas.

15 Além destes antioxidantes orgânicos, o corpo humano aproveita do efeito antioxidante do elemento em traço

selênio. Note que esse elemento, em quantidades maiores, é altamente tóxico.

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Bu-t

Bu-t

HO

OBu-t

HO

BHA (2-t-butil-4-metoxifenol)

BHT (2,6-di-t-butil-4-metilfenol)

O

OH

O

Metilparabeno

HO

OH

OH

OO

Galato de n-propila

BHA, BHT assim que os parabenos e galatos, mostram ao mesmo tempo um efeito

antimicrobiano (ver Tab. 16 na p. 85) que é muito bem vindo em formulações cosméticos.

Muitas das substâncias que são permitidas em alimentos são denominadas pelas suas siglas "E

XXX". Essa nomenclatura foi também adotada em produtos cosméticos; os compostos mais

importantes são descritos na Tab. 13.

Tab. 13. Aditivos antioxidantes usados em cosméticos, alimentos e fármacos, junto às

suas siglas E.

Número

E

Substância Aplicações

E 218 Metilparabeno Produtos cosméticos (xampu, gel de banho, etc.)

E 300

E 301

E 302

Ácido ascórbico

Ascorbato sódico

Ascorbato cálcico

Refrigerantes, geléias, leite condensado, salsichas, etc.

E 304 Palmitato de ascorbila Salsichas, caldo de galinha, etc.

E 306-

309

Tocoferois Óleos vegetais.

E 310

E 311

Galatos Gorduras e óleos para produção profissional, óleos e

gorduras para fritar, condimentos, sopas desidratadas,

pastilhas elásticas, etc.

E 320

E 321

Hidroxianisol butilado

(BHA)

Hidroxi-tolueno butilado

(BHT)

Doces, uvas passas, queijo fundido, manteiga de

amendoim, sopas instantâneas, etc.

Antioxidantes lipofílicos e hidrofílicos

Os antioxidantes são importantes aditivos na maioria das formulações, pois previnem a

degradação dos óleos, principalmente sua parte insaturada (= duplas ligações C=C), por

oxidação. Eles atuam de forma indireta sobre a substância a ser protegida, ao reagirem com o

oxigênio do ar e outros contaminantes oxidantes, antes mesmo do ingrediente oxidável. Sendo

assim, consomem o agente oxidante rapidamente. Todavia, os antioxidantes são aplicados, de

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preferência, na fase oleosa onde estão mais pertos do local a ser protegido. Mas podem ser

também dissolvidos na fase aquosa, onde seu efeito geralmente é menos pronunciado 16

.

Portanto, devemos ter noção sobre o caráter, seja lipofílico ou hidrofílico, do aditivo

antioxidante em formulações cosméticas.

A seguinte lista refere-se a antioxidantes usados em formulações aquosas, junto às

solubilidades e faixas de concentração onde mostram notável ação. Estes, aliás, também são

permitidos em formulações farmazêuticas.

Ácido ascórbico: Pó cristalino branco ou levemente amarelado, sem cheiro, escurece

gradativamente quando exposto à luz. É razoavelmente estável enquanto no estado seco, mas

oxida-se rapidamente quando em solução.

Solubilidade: 1 g em 3 mL de água, 1 g em 30 mL de etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,05 a 3,0%.

Bissulfito de sódio (NaHSO3): Pó branco até levemente amarelado, com odor característico de

SO2, de sabor desagradável. É instável no ar, pois perde gradativamente SO2, outra parte sofre

oxidação ao sulfato.

Solubilidade: 1 g em 4 mL de água, 1 g em 70 mL de etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,1%.

Metabissulfito de sódio (Na2S2O5): Pó branco (incolor) com um odor sulfuroso. Sabor azedo e

salino. Oxida lentamente ao sulfato quando exposto ao ar e à umidade.

Concentração antioxidante efetiva: 0,02 a 1,0%.

Tiossulfato de sódio (Na2S2O3.

5 H2O): Cristais grandes e incolores, higroscópico e

eflorescente no ar. Soluções aquosas são neutras ou levemente alcalinas.

Solubilidade: 1 g em 0,5 mL de água, insolúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,05%.

Os seguintes antioxidantes são lipossolúveis:

Palmitato de ascorbila: Pó branco ou levemente amarelado, com odor característico.

Solubilidade: muito pouco solúvel em água, pouco em óleos vegetais, solúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,01 a 0,2%.

Butilhidroxianisol (BHA): Cera sólida branca até levemente amarelada, com fraco odor.

Solubilidade: insolúvel em água, facilmente solúvel em etanol ou em propilenoglicol.

16 Assim, o local preferido dos antioxidantes é oposto dos aditivos “conservantes” (ver p. 74), que combatem a

contaminação e infestação por microorganismos: estes têm sua maior eficiência na fase aquosa

Leia também em A. Isenmann, “Corantes”, cap. 6.3, disponível em

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/corantes/index.html

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Concentração antioxidante efetiva: 0,005 a 0,01%.

Butilhidroxitolueno (BHT): Sólido cristalino branco com odor bem fraco.

Solubilidade: insolúvel em água e em propilenoglicol, mas facilmente solúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,03 a 0,1%.

Galato de propila: Pó cristalino branco, com odor muito leve.

Solubilidade: levemente solúvel em água, levemente solúvel em etanol.

Concentração antioxidante efetiva: 0,005 a 0,15%.

α-Tocoferol (Vitamina E): Óleo viscoso, transparente, amarelo que pode ser amarelo

esverdeado. Inodor, instável frente à luz e ao ar.

Solubilidade: insolúvel em água, solúvel em etanol, óleos vegetais e acetona.

Concentração antioxidante efetiva: 0,05 a 2,0%.

9.3.4 Bronzeador de pele

Os bronzeadores de pele são produtos cosméticos feitos para clientes que querem atender as

expectativas estéticas de uma pele natural, sem ter a necessidade de expor-se excessivamente

à radiação UV que, como vimos acima, pode acarretar sérios problemas de saúde. O

esclarecimento da população sobre os efeitos negativos da radiação solar e também os

avanços em produzir os ingredientes ativos em bronzeadores, deixaram crescer o mercado

deste cosmético nos últimos anos.

São dois mecanismos que contribuem ao bronzeamento natural da pele:

Pigmentação direta: consiste na oxidação da leucomelanina, uma substância incolor,

precursora da melanina, localizada nas células das camadas externas da epiderme

(melanócito, ver Fig. 3, detalhe ampliado). Este processo é induzido pelos raios UV-

A; desvantagem: esse bronzeado desaparece rapidamente (3 a 24 horas).

Pigmentação indireta: induzida pela radiação UV-B. Grânulos de melanina (fórmula

abstraída na p. 101) são formados na camada basal da pele e migram lentamente para a

superfície, em direção ao stratum córneum. Este bronzeamento dura mais tempo, visto

que, um tempo longo é necessário para que os grânulos sejam eliminados pela

esfoliação, durante a qual a pele perde o seu bronzeado.

No entanto, um auto-bronzeador provoca a formação de compostos coloridos junto à camada

externa da pele (stratum corneum e epidermis, ver Fig. 3); ele pode ser aplicado em forma de

um creme ou como spray e muda a aparência da pele dentro de uma hora e atinge sua

coloração final após 12 horas, tempo que o ingrediente precisa para reagir completamente

com as proteínas da pele.

O ingrediente de longe mais usado é a dihidroxiacetona (DHA), que pode ser usado em

combinação com a eritrulose 17

:

17 Artigo de revisão disponível em http://www.dermaviduals.com/english/publications/products/self-tanning-products-a-beautiful-sun-tan-without-sun.html (acesso em 10/2014)

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69

HO OH

O

DHA Eritrulose

HO

O

OH

OH

DHA é um pó cristalino branco cujo efeito bronzeador foi descoberto nos anos 1950. Ele se

apresenta no cristal como dimero, no entanto, seu efeito em bronzeadores é maior quando as

moléculas são soltas. Isso se consegue através de um aquecimento em um solvente orgânico,

geralmente álcool etílico. Os dois compostos são completamente não tóxicos (eles até mesmo

fazem parte dentro do ciclo do ácido cítrico).

Identificamos nas estruturas acima o parentesco com os acúcares, e realmente são os mesmos

tipos de reações que provocam a cor marrom em comidas assadas – conhecidas como reação

de Maillard. Realmente, trata-se de uma sequência bastante complexa de reações 18

,

principalmente entre o grupo hidroxila do DHA e os grupos aminas da proteína estrutural e

dos aminoácidos contidos na pele. O composto colorido no final é chamado de melanoidina.

Atenção: este corante, melanoidina, não protege nosso corpo notavelmente da radiação UV:

no máximo um FPS de 3 contra UV-A e nenhum contra UV-B! Portanto não deve ser

confundido com a melanina natural!

Fig. 24. Desenvolvimento dos corantes a partir de proteínas da pele e a

dihidroxiacetona, via reação de Maillard.

A forma mais comercializada dos bronzeadores é um creme, cuja base foi apresentada no cap.

9.1.1, com 2 a 6% m/m dos ingredientes ativos. Concentrações mais altas são desvantajosas,

já que uma aplicação não cuidadosa deixa a pele facilmente com manchas. Importante na

aplicação deste produto é o uso de luvas, pois as palmas da mão se escurecem também – até

mais intensamente do que a pele lisa. Em geral vale: quanto mais grossa a pele (cotovelos,

joelhos, etc.), maior o escurecimento. Como a coloração pelo bronzeador somente afeta a

camada externa da pele, o efeito se perde em virtude do esfolhamento natural. Portanto, deve

ser aplicado repetitivamente em intervalos de 10 dias, aproximadamente.

18 Alguns princípios desta reação são discutidos em A. Isenmann, “Corantes”, Cap. 6.4.6, disponível no site

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/

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10 Repelentes de insetos e inseticidas

Um dos repelentes sintéticos com maior eficácia é a N,N-Dietil-meta-toluamida (DEET).

Protege contra picadas de carrapatos (que transmite a doença de Lyme) e picadas de

mosquitos (que transmitem a dengue, malária e febre amarela). A DEET interfere nos

receptores sensoriais dos mosquitos, inibindo a tentativa de se alimentarem do sangue de

mamíferos; os detalhes do mecanismo de ação da DEET ainda não foram esclarecidos.

A síntese da DEET ocorre em duas etapas: a primeira etapa é a ativação do carbono

carboxílico por meio de cloreto de tionila, SOCl2, transformando o ácido livre em seu cloreto

que mostra uma reatividade elevada frente a nucleófilos. Já a segunda é a substituição

nucleofílica do cloreto pela dietilamina que fornece a DEET em alto rendimento.

CH3

COOH

Ácido m-tolúico

SOCl2

em Et2O

CH3

COCl

Cloreto de m-toluila

- HCl

- SO2

Et2NH

em Et2O

- HCl

N,N-dietil-m-toluamida"DEET"

CH3

C

O

NEt2

Fig. 25. Síntese da DEET

Atualmente, a grande maioria dos repelentes comerciais contém DEET como composto ativo.

Desenvolvido para o exército dos EUA em 1946, essa substância se encontra à venda para a

população em geral desde os anos 1950. No Brasil, as principais marcas deste repelente são

Autan, Exposis, Off e Repelex. O que pode variar de uma marca ou apresentação para outra é a

concentração da DEET na formulação. Uma concentração maior não necessariamente

significa que o repelente seja mais forte ou eficaz. Quanto maior a concentração de DEET,

maior o tempo de ação, não a sua potência. Alguns estudos mostram que concentrações acima

de 30% de DEET não trariam grandes vantagens em termos de duração da ação do repelente.

Ainda assim, algumas apresentações possuem 50% de DEET.

Tab. 14. Os principais produtos repelentes de mosquitos, comercialmente disponíveis no

Brasil.

Princípio

ativo

Produto

(fábrica)

Apresentação Concentração

% (m/m)

Idade

permitida

Tempo de

ação

DEET Autan

(Johnson Ceras)

aerossol, loção,

spray

6-9 >2 anos Até 2 horas

OFF (Johnson

Ceras)

loção, spray 6-9 >2 anos Até 2 horas

OFF kids (Johnson

Ceras)

loção 6-9 >2 anos Até 2 horas

OFF (Johnson

Ceras)

aerossol 14 >12 anos Até 6 horas

Super Repelex

(Reckitt

Benckis)

spray, loção

14,5

>12 anos Até 6 horas

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aerossol 11,05

Super Repelex

kids (Reckitt

Benckis)

gel 7,34 >2 anos Até 4 horas

Icaridina Exposis adulto

(Osler)

gel, spray 50 > 12 anos Até 5 horas

Exposis

Extreme (Osler)

spray 25 >10 anos Até 10 horas

Exposis

infantil (Osler)

spray 25 > 2 anos Até 10 horas

IR3535 Loção antimosquito

(Johnson &

Johnson)

loção (não fornecido) > 6 meses Até 4 horas

Esbiotrina

(e/ou

permetrina)

SBP elétrico (Reckitt

Benckiser)

aerossol

ambiental

2% (n. f.) Até 48 noites

Óleo de

citronela

Citromim (Weleda)

spray 1,2 >2 anos Até 2 horas

Adaptado de: G. Pimentel Stefani et al., Repelentes de insetos: recomendações para uso em crianças. Rev. Paul.

Pediatr. 27 (2009) 81-89.

No entanto, apesar da eficácia contra os insetos, a DEET é motivo de polêmicas em relação à

sua segurança para a saúde das pessoas, em especial das crianças. Apesar do uso em larga

escala no mercado de repelentes, a ANVISA em portaria publicada em dezembro de 2009 não

recomenda o uso de concentrações acima de 30% no Brasil. Ainda, concentrações acima de

10% não devem ser aplicadas em crianças menores que 6 meses e concentrações de 11 a 30%

não devem ser usadas em crianças menores de 12 anos. De acordo com este parecer, efeitos

adversos em humanos têm sido objeto de discussão, sendo que as crianças têm-se mostrado

mais sensíveis aos efeitos neurotóxicos que os adultos. A ANVISA afirma ainda em seu

parecer de 2009, que a associação de protetores solares e DEET em uma mesma formulação,

bem como a aplicação simultânea de formulações contendo estas substâncias, podem

interferir na eficácia das mesmas.

O departamento de Farmacologia da Universidade de Duke realizou uma pesquisa em 2002

que verificou lesões às células cerebrais de alguns animais de laboratório devido à constante

exposição a repelentes com DEET. Este mesmo estudo concluiu que a exposição persistente

dos produtos com DEET em sua composição pode levar a sintomas como dores de cabeça

frequentes, perda de memória, fadiga e problemas respiratórios.

Por causa de tanta polêmica em relação à segurança do DEET e uma pesquisa que constatou

resistência do mosquito da dengue frente à DEET, aparecem no mercado cada vez mais

repelentes de insetos totalmente livre de DEET.

Icaridina

Um substituto aprovado é a 1-(1-metilpropoxicarbonil)- 2-(2-hidroxietil)piperidina, conhecida

como “Icaridina”. Essa substância, eficaz contra os insetos e carrapatos, foi desenvolvida pela

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Bayer e logo em seguir laboratórios franceses lançaram um produto chamado Exposis. O

repelente passou a ser usado, a partir de 2001, pelos exércitos da Alemanha, da Áustria e da

Suíça. O produto funcionou e está sendo novamente usado para combater mosquitos tropicais.

Não possui polêmicas em relação à saúde humana e ainda é eficiente contra o Aedes aegyptii

por 7 horas, Culex quinquefasciatus e Anopheles evansiae por 3,5 horas e carrapatos

Rhipicephalus sanguineus por até 2 horas. A Icaridina evapora durante 10 horas seguidas,

diferentemente do DEET, que age por 20 minutos com alta eficácia seguidos por um declínio

notável.

Atenção: Quando há perfumes adocicados nos repelentes, eles fazem o efeito contrário:

atraem os insetos, e não os afastam (no mercado atual, a maioria possui perfume).

N O

OH

O

Icaridina

A icaridina dispõe de dois centros quirais. Embora cada um dos quatro estereoisômeros tem

suas distintas qualidades farmacológicas, o produto comercial é uma mistura de todos os

isômeros ópticos, em quantidades aproximadamente iguais (= mistura racêmica).

Outros repelentes sintéticos:

Dimetilftalato:

O

O

O

OCH3

CH3

A produção técnica ocorre igualmente em duas etapas, a partir do anidrido ftálico e metanol.

A primeira etapa (rápida) é a metanólise formando o semimetiléster ftálico. A segunda etapa

de esterificação é bem mais lenta, então requer a presença de catalisadores ácidos. Como se

trata, além disso, de uma reação equilibrada, a água liberada nesta etapa deve ser retirada

continuamente (por meio de um Dean Stark Trap), se não os rendimentos são muito baixos.

Etilbutilacetilaminopropionato (IR3535; Patente EP1675997A1), um parente do (raro)

aminoácido, -alanina.

H3C N O CH3

O

CH3O

Esbiotrina

A esbiotrina não é só um repelente (quer dizer, que afasta os insetos), mas também um

inseticida (que mata a praga). Outros inseticidas semelhantes são a permetrina e a

deltametrina (comercial: K-Othrine). São da família das piretróides cuja unidade estrutural

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característica é um anel de ciclopropano. A substância-

mãe é a piretrina, vem da natureza e é o veneno principal

nos cristântemos.

No mercado brasileiro é oferecido como aerossol a ser

espalhado no ambiente, em pequenas quantidades e aos

poucos, através de um aparelho elétrico. Assim se

consegue, conforme a fábrica, afastar os pernilongos por

até 48 noites, a partir de apenas 35 mL de uma emulsão de

2% da substância ativa em querosene / água / propelente

butano.

C O

O

O

Esbiotrina Permetrina

Cl

Cl

C O

O

O

Deltametrina

Br

BrC O

O

O

HC

CN

Fig. 26. Os piretróides são os inseticidas mais usados no combate de mosquitos.

Repelentes de fontes naturais

Uma receita caseira de repelente natural se encontra na p. 174, onde os ingredientes principais

são os extratos da erva citronela e da semente do cravo da Índia 19

.

As substâncias são bem cheirosas, tanto no cravo quanto na citronela, pertencem à família dos

terpenos que são hidrocarbonetos alicíclicos com tipicamente 10 carbonos; já os

“sesquiterpenos” têm 15 carbonos.

Compostos ativos no cravo:

Eugeniol (ver fórmula abaixo) ocorre entre 72 e 90% no óleo essencial extraído da cemente

do cravo da Índia, formando o composto que mais contribui ao aroma do tempero. Eugeniol

possui propriedades anti-sépticas e anestésicas. Um kg de brotos secos rende

aproximadamente 150 ml de eugenol. Outros importantes componentes deste óleo essencial:

acetil eugenol, beta-cariofileno, vanilina, ácido crategolic, taninos, ácido gallotannic,

salicilato de metila (analgésico), o eugenin flavonóides, canferol, ramnetina, eugenitin;

triterpenóides como ácido oleanólico estigmasterol e campesterol e sesquiterpenos diversas.

Óleo de citronela (capim limão):

19 Y. Trongtokit, Y. Rongsriyan, N. Komalamisra, L. Apiwathnasom. Comparative repellency of 38 essential oils

against mosquito bites. Phytother Res.4 (2005) 303-309.

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Na forma de óleo, loções e cremes aplicados sobre a pele, o óleo de citronela protege contra

picadas do mosquito Aedes aegypti (famoso por transmitir a febre de dengue) e borrachudos,

num período de poucas horas, devendo ser reaplicado constantemente.

Existem dois quimiotipos da citronela:

Tipo Ceilão:

geraniol (18-20%), limoneno (9-11%), metil-isoeugenol (7-11%), citronelol (6-8%), e

citronelal (5-15%).

Tipo Java:

citronelal (32-45%), geraniol (11-13%), acetato de geranilo (3-8%), limoneno (1-4%).

As proporções mais elevadas de geraniol e citronelal no tipo Java tornam-no mais

interessante para a indústria de perfumaria.

O

Citronelal

OH

Geraniol

Limoneno

O

O

Metil isoeugenol

EugenolHO

H3CO

Fig. 27. Terpenos principais nos óleos essenciais que mostram efeito repelente frente

a mosquitos.

O óleo extraído da folha de eucalipto Corymbia citriodora, através do princípio ativo p-

mentano-3,8-diol (PMD) é capaz de repelir os mosquitos transmissores do vírus do Nilo

ocidental. A seguinte síntese mostra a proximidade química dos óleos de eucalipto e a

citronela 20

(não mostrando as particularidades nos centros assimétricos).

O

Citronelal Isopulegolp -Mentano-3,8-diol

OH OH

HO

CO2 / H2O CO2 / H2O

PMD

20 Haiyang Cheng et al., Cyclization of citronellal to p-menthane-3,8-diols in water and carbon dioxide. Green

Chem. 11 (2009) 1227-1231.

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O óleo de Nim (também conhecido como Neem), a fonte é a azadirachta indica, uma árvore

de origem indiana, é relativamente recente no mercado brasileiro. A extração da fonte vegetal

deve ocorrer a frio. Sua substância ativa é a azadirachtina que, devido à sua complexidade

estereoquímica (19 centros assiméticos!), não pode ser sintetizada em escala industrial, por

enquanto 21

:

Azadirachtina

O composto geralmente é apresentado como mistura emulsionável à base de ésteres de ácidos

graxos, na concentração de 1 a 2%. Esse produto é apropriado para agricultura orgânica e

tradicional no controle de pragas em geral. Um litro deste produto rende 100 litros de emusão

em água que se aplica pelo borrifador no ambiente, na dose de 10 ml/m² em zonas urbanas e

rurais. Concentrações bem mais altas devem ser aplicadas, diretamente em pessoas ou animais

domésticos.

O óleo de nim é um inseticida natural, eficaz contra larvas e mosquito Aedes aegyptii a

espécie de mosca branca Bemisia argentifolii. Ainda pode ser usado no controle de mais de

400 tipos de insetos e pragas, tais como: lagartas, pulgões, bicudos, ácaros, percevejos e

outros. Efeitos secundários do nim, igualmente bem vindos em nossa pele: ajuda na

recuperação de queimaduras provocadas pelo sol, altas temperaturas e até produtos químicos.

Como quase todos os extratos vegetais, este produto é sujeito à degradação pelo calor e a luz.

Ver uma lista de óleos essenciais utilizados na cosmética, na Tab. 30 (p. 137).

Curiosidades:

Até o óleo de soja foi recentemente descrito sendo repelente de insetos.

O Nepetalactone, de origem natural da planta Nepeta, possui um poder de até 10 vezes

superior para alguns insetos, sendo capaz de repelir até baratas e se mostra venenoso

para algumas espécies de moscas.

Isso mostra que ainda estamos longe de conhecer o alto potencial da natureza contra essas

pragas.

11 Desodorante

Um desodorante (inglês: Antiperspirant Deodorant, APDO) é um produto utilizado para

eliminar os odores desagradáveis produzidos pelos microorganismos na nossa pele, a partir do

suor – especialmente o da transpiração apócrina (p. 25).

21 G. E. Veitch, E. Beckmann, B. J. Burke, A. Boyer, C. Ayats, S. V. Ley, Synthesis of Azadirachtin: A Long but

Successful Journey / A Relay Route for the Synthesis of Azadirachtin. Angew. Chem. 119 (2007), 7777–7779.

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Como vimos na p. 25, o suor contém algumas substâncias químicas, entre outros ácidos

carboxílicos de até 5 carbonos, 2-metilfenol (= o-cresol), 4-metilfenol (= p-cresol) e uréia, que

podem levar a cheiros desagradáveis. Porém, o suor fresco produzido pelas glândulas

sudoríparas apócrinas, não tem cheiro ruim. Mas a mistura dos compostos mencionados acima

é alimento para bactérias que produzem as substâncias fedorentas.

As estratégias mais importantes do controle do cheiro corporal são:

Tampar o mau cheiro por substâncias aromáticas (ervas, extratos, óleos essenciais,

perfume, etc.)

Controle dos microorganismos que fazem parte do processo de decomposição do suor.

Redução da atividade das glândulas sudoríparas (anti-transpirantes).

Outros mecanismos, tais como a absorção de moléculas cheirosas (por talco, pedra em pó,

etc.), a inibição de enzimas que aceleram a decomposição do suor e o controle de processos

de oxidação via antioxidantes (ver p. 63) são de menor importância.

Há muito tempo, o odor do suor já era associado a animalidade que os povos civilizados

tentavam eliminar. Durante o Império Romano, os homens após o banho, colocavam nas

axilas almofadas contendo substâncias aromáticas. No início do século XX começou-se a

produzir nos Estados Unidos um desodorante composto por uma mistura de sulfatos de

potássio e alumínio, KAl(SO4)2 . 12 H2O, um cristal conhecido como "alúmen". Após a

Segunda Guerra Mundial o uso do desodorante praticamente se espalhou por todo o ocidente.

Atualmente muitos desodorantes apresentam na sua composição bicarbonato de sódio

(NaHCO3) que reage com os ácidos carboxílicos produzindo sais inodoros. Igualmente usado

é o cloreto de alumínio, AlCl3 (aq). O Al3+

forma complexos estáveis com os ânions presentes

no suor e assim sequestra o mau cheiro. Além disso, este íon é considerado entupir os canais

sudoríparos.

Atualmente, os desodorantes são usados praticamente em todas as partes do corpo, nas axilas,

no cabelo, nos pés, nas genitálias, inclusive nas roupas, para aromatizar ambientes e, até em

animais domésticos.

As variedades de desodorantes disponíveis no comércio são muitas: aromatizados ou não,

com ou sem álcool, com ou sem agentes bactericidas (triclosano na p. 93; acetanilida e

salicilanilida na p. 125), apresentados sob as formas de creme, spray, gel, stick ou roll-on.

Os "anti-transpirantes", finalmente, ocasionam a obstrução de mais ou menos 50% das

glândulas sudoríparas. É a estratégia hoje mais aplicada neste tipo de produto cosmético.

Muito usado com esta finalidade são os complexos, monoméricos e poliméricos, de Zr4+

e

Al3+

com hidróxido, cloreto e glicina. A reação desta mistura em água é moderadamente

ácida. As partes fluidas do complexo migram para dentro dos canais do suor, onde solidificam

pelo menos parcialmente, formando um colóide e assim entopem interrompem por

determinado tempo (cerca de 10 horas) o fluxo do suor à superfície da pele. Infelizmente,

desta maneira também reduzem a eliminação de toxinas, portanto podem provocar processos

infecciosos nas glândulas, tais como furúnculos. Outra desvantagem desta formulação é que

pode manchar as camisas na região das axilas e deixa uma resina amarela, dura e rígida em

cima do tecido (esse último defeito pode ser removido ao tratar com vinagre; ver dicas na p.

190).

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Muitos APDOs contêm bactericidas (ver Tab. 16 na p. 85), para impedir o processo

infeccioso. O consumidor com pele sensível é aconselhado raspar os pelos da zona problema,

para reduzir o perigo de acumular as bactérias. Mas em casos hipersensíveis vale usar

desodorantes com pouco efeito anti-transpirante.

Tab. 15. Formulação típica de um APDO stick. (Fonte: http://chemistscorner.com/basic-

cosmetic-formulating-antiperspirant/).

Substância/complexo ativo Função % m/m

Ciclopentassiloxano

(ciclometicone)

Suporte volátil 15 – 45%

Álcool estearílico co-gelificante; inibe cristalização. 14 – 18%

Alumínio Zircônio

Tetraclorohidrex Glicina

Ingrediente ativo; tampa os poros sudoríparos. 10 – 25%

Vaselina líquida, óleo de

amendoim, ésteres graxos

Suporte não volátil; aumenta o conforto em cima

da pele; reduz a visibilidade (manchas brancas).

8 – 20%

Óleo de mamona

parcialmente hidrogenado.

Formador de gel; dá consistência ao stick. 4 – 8%

PEG-8 distearato Emulsificante, agente clarificante, solvente.

Incorporação e retenção das fragrâncias. Reduz a

aderência do APDO na pele e na roupa.

0 – 5%

Amido, talco, hectorita de

diestearalcônio

Agentes de dispersão e espessantes. Melhoram a

estética durante e depois da aplicação.

0 – 4%

Perfume Tampa o mau odor do suor decomposto por

bactérias. Atende as espectativas do consumidor.

0,5%

Parabenos Antioxidante; protege as partes insaturadas dos

ingredientes graxos.

0,05%

11.1 Excurso: Silicones em cosméticos Na formulação acima encontramos novamente com produtos de silicone, sendo essa uma das

aplicações mais antigas destes produtos “orgânicos com coluna inorgânica” (ver Fig. 29).

Hoje encontramos os silicones em praticamente todos os tipos de cosméticos, nos segmentos

mais diversificados, desde cuidar do cabelo, higiene, cuidar da pele, protetores solares até em

cosméticos decorativos. Esse material achou grande aceitação neste setor por que é

considerado, por enquanto, fisiologicamente indiferente. Interessante é que suas

características físicas variam fortemente em função da massa molecular: os silicones de baixa

massa são gases, cadeias de 5 a 10 unidades repetitivas e os silicones cíclicos são líquidos de

alta volatilidade, os de massas médias são óleos ralos (lubrificantes; alta espalhabilidade), os

de alta massa apresentam-se como óleos viscosos (aditivos anti-espuma), até chegar num

material borrachoso quando a massa se torna infinita devido a ramificações.

Além das cadeias abertas os silicones podem apresentar-se numa constituição cíclica (na

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cosmética designados como “ciclometicone”), contendo 4 ou mais unidades de –O-SiMe2.

Sua arquitetura altamente simétrica implica baixo caráter polar, assim promove a volatilidade

deste composto – um efeito do qual se faz uso na aplicação em APDOs (ver logo acima).

Além disso, é um ótimo veículo para os ingredientes do cosmético – especialmente para as

partes gordurosas. Estas podem alcançar a pele ou o cabelo de maneira uniforme e espalhar-

se até nos pequenos poros, fendas e sulcos. O calor de evaporação dos silicones, no entanto, é

extraordinariamente baixo, portanto não se sente um resfriamento em cima da pele.

SiOO

Si

OSiO

Si

O

Si

ou

Me2Si

OSiMe2

O

SiMe2

O

SiMe2

O

SiMe2

O

Fig. 28. Decametil ciclopentassiloxano, um líquido de evaporação fácil (6x mais

rápida do que água) e sem notável efeito refrigerante, bastante usado em

desodorantes.

O primeiro uso dos silicones em produtos cosméticos foi documentado nos anos 1950, onde

foram aplicados em creme de mão para reduzir a oleosidade. Logo depois foram aplicados

também em cremes corporais e em seguida em desodorantes. Um importante setor onde os

silicones entraram abrange os produtos para cabelo. Funções aminas foram incorporadas nos

silicones, tornando-os mais valiosos em mousse de penteado e em condicionadores. Os

xampus logo conhecidos como “2 em 1” requerem silicones de alta massa molar, líquidos ou

em forma de emulsão. Mais recente é a aplicação de silicones elastoméricos, em forma de

dispersões finas, que proporcionam uma nova dimensão no que diz respeito ao tato sedoso da

pele tratada.

A prova de

água;

aumentar

fps Protetor solar

Condicionar Xampu 2 em 1

Estabilizar

frente à luz;

Estabilizar

espuma Sabonete líquido

Proteger;

suprimir

espuma Cremes de

mão e

pomadas

Espalhar

oleos, secar,

suprimir

manchas

brancas.

Condicionar

Cabelo

Proteger

Contra spliss em cabelo

Sentir leve e

sem graxa “Oil-Free”

Tato seco,

sedoso Creme

corporal

Desodorante

Stick, roll-on Lubrificar

Loção pré-Sentir-se

livre a

Sedoso, anti-

aderente,

Base não

volátil

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e aerosol barba,desodorantes

macio/sólido e

aerosóis

longo termo

Maquiagem

básica

regula a

compatib. com

água Produtos transparentes

Desodorante,

condiciona-

dor

Gel

transparente Visual natural

Cabelo estiloso

Sentimento

sedoso Creme de

pele

Impedir

transferência Produtos

colorantes

com tato

seco Creme de

pele

Anti-

branco Gel

desodorante

transparente

Brilho Cabelo

Intensificar

coloração e

aumentar

resistência Coloração de cabelo

1950 1960 1970 1980 1990 2000

Fig. 29. Cronologia dos silicones no setor dos cosméticos. (Fonte:

http://www.dowcorning.com/content/publishedlit/chapter16.pdf).

Hoje, no entanto, se forma certa resistência entre os cabelereiros profissionais, contra os

produtos altamente siliconados. Eles alegam que, embora penteabilidade, volume e brilho do

cabelo recém-tratado forem incomparáveis, este efeito se reverte ao longo do tempo e pode

danificar o cabelo. O silicone forma uma película fechada e resistente na superfície da

cutícula do cabelo e impede assim a entrada de umidade e nutrientes ao cabelo. Um cabelo

mais seco e rígido perde consequentemente sua elasticidade e pode levar prejuízos por danos

mecânicos. Além disso, o sobrepeso da camada de silicone, segundo aos cabelereiros, deixa

aparecer o cabelo “sem vida”.

A síntese dos silicones [um tratamento mais detalhado, ver artigo A. Isenmann, “Silicones”, disponível no

site http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/artigos/] é através da hidrólise

controlada de alquilclorossilanos, destes especialmente o dimetildiclorossilano:

x Me2SiCl2

+ H2O

- HClx "Me2Si(OH)2"

- H2OHO Si

Me

Me

O H

x

x = 20 a 50 em silicones linearesx = 3, 4, 5,... em silicones cíclicos

Atualmente a Dow Corning é a produtora lider mundial dos silicones.

Fim do excurso.

12 Zelar pelo cabelo

12.1 Sobre o cabelo humano Como foi feito no tratamento da pele, vamos primeiro olhar na estrutura do cabelo, para

depois entender melhor o princípio de ação dos ingredientes nos produtos cosméticos.

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80

Fig. 30. Os pormenores da raiz do cabelo e do folículo piloso.

O cabelo (diâmetro típico: entre 0,05 e 0,07 mm; em loiros e idosos apenas 0,02 a 0,04 mm)

se constitui, grosseiramente falado, por três camadas: cutícula, córtex e medula. A maior parte

estrutural do cabelo é queratina, um polipeptídeo. A queratina contém 50% de carbono, 23%

de oxigênio, 17% de nitrogênio, 6% de hidrogênio e, muito importante, cerca de 4% de

enxofre em forma do aminoácido cisteína. Sob condições normais o cabelo retém cerca de

10% de umidade, mas este valor pode variar largamente, conforme a intempérie: uma

atmosfera saturada de água e temperatura elevada eleva a umidade do cabelo acima de 30%!

As propriedades mecânicas do cabelo são largamente influenciadas pela presença desta água.

A difusão da água é bastante desacelerada pela presença de substância gordurosa no cabelo;

especialmente a cutícula (ver logo abaixo) acomoda essa barreira de lipídeos, presentes em

forma de ácidos graxos, ceramidas e sulfato de colesterol.

A camada exterior, conhecida como cutícula, é feita de material morto, em forma de escamas

finas e bem fechado. Pode comparar essa construção com uma pinha nova. Na média, 6 a 10

camadas de células achatadas estão sobrepostas nesta camada. Um cabelo saudável e limpo

tem um brilho bonito (reflexão da luz), pois as escamas da cutícula estão bem fechadas e

encaixam nitidamente formando uma superfície lisa. Por outro lado, um cabelo estressado tem

uma superfície irregular e fica de aparência fosca. Note que a cutícula por si é incolor e

transparente. Substâncias alcalinas abrem essas escamas, um ambiente ácido fecha as

mesmas.

Ao invés desta, o interior do cabelo (medula) ainda contém células vivas e reproduzíveis,

arredondadas e não direcionadas, dispondo de muitos espaços ocos e irregulares. Quanto mais

distante da raiz, mais fina torna-se a medula e termina em cerca de 2 cm acima do couro

cabeludo. As modificações feitas pelo cabeleireiro geralmente não atingem a medula.

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Entre essas duas camadas encontra-se o córtex, uma camada grossa que consiste de

microfibrilhas (= hélices compridas de queratina; diâmetro: 7 a 10 nm); algumas centenas de

microfibrilhas juntas formam um tufo de macrofibras (diâmetro: 300 nm), todas elas em

direção ao crescimento do cabelo e bastante resistentes à tração, em torno de 200 N/mm².

Cerca de 20 a 30 destas macrofibras, por sua vez, formam uma célula do córtex (diâmetro: 5

µm). As fibras são interconectadas, principalmente através de pontes de dissulfeto, pontes de

hidrogênio e interações dipolares, por uma massa de junta que proporciona ao cabelo a

elasticidade (módulo E 3000 MPa) e estabiliza a forma macroscópica ao cabelo. O córtex

forma cerca de 80% da massa do cabelo e representa a camada onde são feitos todos os

processos químicos que são relevantes para o cabeleireiro. Ao longo da vida do cabelo as

células do córtex migram para frente e para fora, ficam cada vez mais achatadas e finalmente

transformam-se em escamas da cutícula.

Assim podemos tranquilamente responder uma dúvida frequente: onde o cabelo está

crescendo, pela raiz ou pela ponta? O mais banal que parece, mas essa resposta é de suma

importância no tratamento do cabelo.

O que não foi mostrado na Fig. 30, mas que é absolutamente normal numa pessoa saudável, é

a acomodação de um grande número de ácaros na raiz do cabelo que são animais da família

dos aracnídeos.

Em resumo, lembramos-nós do fato que grande parte do cabelo é matéria morta!

12.1.1 Desenvolvimento de um cabelo saudável

Aqui vale o mesmo que já foi dito no tratamento da pele: o aparecimento saudável do cabelo

requer um modo saudável de vida. Uma alimentação natural e equilibrada é considerada

sendo o método preventivo mais seguro, para se manter um cabelo bonito por muito tempo. A

taxa do crescimento, o diâmetro e o número absoluto de cabelos que temos na cabeça (até

150.000!), variam largamente devido à genética de cada um. Todavia, podemos indicar

números orientadores onde se encaixam os diferentes tipos de cabelos, conforme sua

coloração típica:

Loiros têm na média 150.000 cabelos na cabeça,

Pretos têm 110.000,

Morenos têm 100.000 e

Ruivos cerca de 75.000 cabelos na cabeça.

A densidade fica então em torno de 200 cabelos por cm² do couro cabeludo. Durante sua vida

de 2 a 8 anos (na média 6 anos; geneticamente determinado) a raiz produz cerca de 0,3 a 0,5

mm de novo cabelo por dia 22

, sem interrupção, isto é cerca de 1 cm por mês ou 15 cm por

ano. Note que dentro da raiz se encontram quase exclusivamente as partes vivas do cabelo.

Também podemos afirmar que a parte do cabelo com vida, quer dizer, atividade bioquímica, é

principalmente encontrada no folículo, enquanto quase a totalidade da parte visível é "morta".

Na base da raiz são então produzidas as novas células do cabelo. Outras partes funcionais do

folículo piloso são as glândulas sebáceas que lubrificam o cabelo e os músculos eretores do

pêlo, que são responsáveis por causar os “arrepios”. No corpo humano há cerca de dois

milhões de glândulas tubulares, pequenas e glândulas sudoríparas que produzem fluidos

22 Note que a taxa de crescimento depende da fase lunar: na lua minguante é mais lenta do que na lua crescente.

Além disso, a duração da vida do cabelo em homens é mais curta do que em mulheres.

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aquosos, com finalidade de refrescar do corpo por evaporação. Mais importantes para a vida

saudável do cabelo, certamente, são as glândulas posicionadas na abertura do cabelo

produzem uma secreção gordurosa e lubrificante.

Mas a vida de cada raiz de cabelo é bastante limitada, como já dito, de 6 a 8 anos. Todavia, o

mesmo folículo cabeludo pode regenerar um cabelo completamente novo após a expulsão do

cabelo morto velho. Observa-se que na fase da regeneração o folículo volta para as camadas

mais profundas onde começa o crescimento de células para o novo cabelo. Uma queda de 60 a

100 cabelos por dia é, portanto, absolutamente normal. Somente uma taxa acima de 150 é um

indicativo de perda excessiva que leva, ao longo dos anos, a uma careca. Ao contrário dos

animais essa troca de cabelo não é sincronizada, mas contínua.

Podemos identificar três fases na vida de um cabelo:

1. Fase de crescimento (= fase anágena); 85 a 90 % de todos os cabelos encontram-se

nesta fase. Ela dura de 3 a 8 anos - mais em mulheres e menos em homens.

2. Depois: fase de transição (= fase catágena) de 2 a 3 semanas: o cabelo é solto da raiz,

o folículo se encurta e é expulso em direção à stratum córneum. 1% de todos os

cabelos encontram-se nesta fase.

3. Depois o cabelo entra na fase telógena, isto é, descanso por 2 a 4 meses. Até 18% dos

cabelos da cabeça se encontram nesta fase. O folículo estrangula-se, o cabelo é

desconectado da raiz e não recebe mais nutrientes.

Depois desta fase ocorre a perda do cabelo (comprido). Mas logo em seguida um novo cabelo

nasce no mesmo folículo. Como isso ocorre de forma não sincronizada, a troca de cabelo em

uma pessoa saudável não se nota por fora.

No final deste capítulo introdutório uma resposta para milhares de pessoas de diferentes

etnias: o que define a forma natural do seu cabelo?

É um resultado da geometria do cabelo na secção: um cabelo perfeitamente redondo costuma

ser liso (típico nos asiáticos), levemente oval é o cabelo ondulado (típico nos europeus),

enquanto o cabelo finamente encaracolado dos negros é fortemente oval. Portanto, a indicação

do diâmetro do cabelo é difícil (quer dizer, pode variar no mesmo cabelo entre 0,02 a 0,12

mm).

12.2 Objetivos do cuidado de cabelo O consumidor de produtos cosméticos para o cabelo geralmente mira um dos seguintes

objetivos que são discutidos a seguir:

1. Limpeza

2. Modificação da forma

3. Coloração

4. Crescimento e fortalecimento

5. Remoção do cabelo (raro).

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83

12.3 Xampu

12.3.1 Desenvolvimento histórico

Na antiguidade usava-se sabão comum e água para lavar o cabelo. Devido ao pH elevado

desta água de lavagem algumas pessoas sofreram de queimaduras no couro cabeludo e nos

olhos. Além disso, veremos (p. 129) que o sabão junto aos íons de cálcio da água dura forma

um sal insolúvel que precipita em cima do cabelo e o proporciona um visual cego. Daí se

aplicava numa segunda etapa um vinagre ou suco de limão diluído que liberou o cabelo desta

camada fina.

No século 19 os cabeleireiros ingleses prepararam os primeiros xampus, ao cozinhar flocos de

sabão junto a extratos de ervas finas em água - uma mistura que deixou o cabelo mais

brilhante e cheiroso. Casey Hebert foi um dos primeiros que produziu xampu em grande

escala. Em uma farmácia em Berlim Hans Schwarzkopf vendeu a partir de 1903 um agente

em pó de lavar cabelo. Somente em 1927 ele desenvolveu o produto líquido - a forma quase

exclusiva dos xampus de hoje.

Os sulfatos de alquilas (ver p. 38) apareceram no mercado em 1932. Estes reagem bem menos

alcalinos do que o sabão e não formam complexos tão estáveis com a dureza da água, do que

o sabão tradicional. Até os anos 1960 este agente foi vendido em forma de pó branco, em

envelopes de papel ou em tubos (nascimento da marca "Schauma" de Schwarzkopf).

Com o desenvolvimento dos alquiletersulfatos nos anos 1960 apareceram produtos que se

provaram muito suaves frente à pele e ao couro cabeludo. Junto ao desenvolvimento da

embalagem de plástico barata o xampu foi, a partir daí, acessível para todos.

12.3.2 Aplicação de xampu

Aplicamos em torno de 10 g de xampu no cabelo molhado. Sob massagem de cerca 1 minuto

o xampu é distribuído. Forma-se uma espuma fina que deve se deixar em repouso por curto

tempo antes de remover todo o produto com bastante água morna. O sebo produzido nas

glândulas sebáceas e os sais inorgânicos que foram expelidos pelo suor, junto aos

aminoácidos, a uréia e o ácido lático (p. 25), pedaçinhos de pele morta, sujeira volátil do

meio-ambiente, ocasionalmente também os resíduos de outros tratamentos cosméticos do

cabelo, são levados embora com este procedimento.

12.3.3 Critérios de qualidade de xampus

Dependendo do custo do produto um xampu pode conter ingredientes baratos ou de alto valor.

Todavia, qualquer xampu deve satisfazer os seguintes critérios gerais:

Alta eficiência na limpeza

Insensibilidade frente à dureza da água

Suavidade frente à pele

Espuma fina e abundante

Biodegradabilidade

Bons efeitos ao cabelo (boa conservação, pequenos reparos e uma aparência saudável

e brilhante).

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12.3.4 Composição do xampu

Embora um xampu "somente" tem a finalidade de limpeza, ele geralmente é uma mistura

complexa de 10 a 20 ingredientes, confeccionado para um grupo-alvo de consumidores. Esses

ingredientes mostram seus efeitos em concentrações bastante variadas.

Além da água os agentes tensoativos representam a base desta mistura. Somente eles são

responsáveis para a tarefa principal, a limpeza. Os demais ingredientes, em ordem de

quantidade decrescente, podem ser resumidos em auxiliares e substâncias ativas.

Os tensoativos providenciam a mobilização de gordura e sujeira grudadas no cabelo.

Aplicam-se exclusivamente detergentes sintéticos, especialmente os alquilsulfatos,

alquiletersulfatos e tensoativos anfóteros. Xampu contém apenas entre 10 a 20% destes

agentes tensoativos.

Agente mais utilizado é o éster feito a partir de álcool graxo e ácido sulfúrico, o alquilsulfato.

O contra-íon deste detergente aniônico geralmente é sódio ou amônio.

OS

O-

O

O

Sulfato de laurila (detergente e agente espumante)

Os alquilsulfatos foram os primeiros agentes usados em xampus e são utilizados até hoje. São

baratos e destacam-se por grande capacidade de limpeza e formação de uma espuma fina –

especialmente o sulfato de laurila (nas formulações dadas no cap. 17 muitas vezes chamado

de “Lauril”). As desvantagens são a sensibilidade notável frente à dureza da água, má

solubilidade em água fria e irritações em peles muito sensíveis. Essas desvantagens, porém,

podem ser compensadas ao misturar com outros agentes tensoativos.

No segundo grupo são os alquiletersulfatos que são menos sensíveis frente à dureza da água e

também menos agressivos contra olhos, pele e o couro cabeludo. Este tipo de surfactante pode

ser feito com balanço hidrofílico-lipofílico, HLB (ver p. 48), sob medida. E mais uma

vantagem: o cabelo lavado com este agente, quando está penteado depois, acumula menos

cargas (o que se percebe em "cabelo esvoaçante").

A síntese é a partir do álcool graxo que é eterificado com poucas unidades de óxido de

etileno. O número exato de unidades de oxietileno em cada álcool graxo é estatístico, mas a

média pode ser ajustada pelas quantidades relativas dos reagentes. Depois da eterificação o

produto ainda é esterificado com ácido sulfúrico para que resulte o "sulfato eterificado".

Muito usadas são combinações destes detergentes feitos de 2 ou 3 unidades de óxido de

etileno e álcool láurico ou miristílico.

Étersulfato esteárico de amônio

NH4+O

OO

S

O

O

O-

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85

Os agentes mais suaves são considerados os alquiletercarboxilatos. Porém, sua capacidade em

formar espuma é pequena, portanto são usados em combinação com os alquiletersulfatos.

Condensados de proteínas e ácidos graxos, como vimos na p. 44, fazem parte dos agentes

tensoativos do tipo betaína. São materiais com excelente compatibilidade com a pele e boas

qualidades em limpar o cabelo. Porém, sua estrutura é muito próxima à de material biológico,

portanto é sujeito de ataques microbianos, então requer altas quantidades de conservantes.

Sulfoésteres do ácido succínico são bastante suaves e têm alta capacidade de formar espuma.

Poliglicosídeos de alquila são hoje os únicos tensoativos não iônicos usados para fim de lavar

cabelo. Eles são mais suaves do que qualquer tensoativo iônico, além de ter um balanço

lipofílico-hidrofílico excelente.

São chamados de co-tensoativos quando exercem um efeito adicional ao tensoativo principal.

Assim, consegue-se economizar em volume do tensoativo principal e o consumidor corre

menos perigo de ser sensível ao produto.

Finalmente, têm-se em todos os xampus do mercado perfumes, corantes ou enfeites ópticos.

Único objetivo destes é a atração do cliente, mas não atendem nenhum dos critérios de

qualidade listados na p. 83. Para o brilho de madre-pérola, por exemplo, aplicam-se finos

cristais em forma de lamínulas, feitos de novos ésteres de ácidos graxos, tal como o distearato

de glicerina cuja consistência parece às ceras. Algumas alcanolamidas de ácidos graxos e

sabões de zinco ou magnésio mostram o mesmo efeito.

12.3.5 Conservantes e outros aditivos em xampus

Conservantes

Devido a um teor de > 70% de água, ao lado de potenciais nutrientes (ver formulação típica

de um xampu na Tab. 18), os xampus devem ser protegidos contra uma infestação por

bactérias, fungos e outras germes. Somente em poucas exceções podem-se dispensar estes

agentes biocidas (teor ultra-alto de tensoativos; curto prazo de armazenamento; embalagem

estéril). Preferencialmente, os conservantes devem ser adicionados à fase aquosa, já que esta é

mais sujeita ao ataque microbiano do que a fase oleosa. No entanto, outros componentes

presentes em uma emulsão podem também favorecer o crescimento de microorganismos, tais

como os emulsificantes naturais (exemplos são a goma arábica, goma adraganta), óleos

vegetais (exemplo: óleo de amendoim que pode conter espécies de aspergillus), até parafinas

líquidas que podem acomodar espécies de penicillium.

Grandes avanços foram feitos nos últimos anos, ao produzir os xampus em máquinas

herméticas, livres de germes. Também todos os ingredientes são rigorosamente esterilizados

antes da formulação do produto na fábrica. Sendo assim, o produto, pelo menos enquanto está

na embalagem fechada e intacta, é salvo de degradação microbiana.

Tab. 16. Principais conservantes usados em cosméticos líquidos e remédios de uso

externo, incluindo os xampus (ver as fórmulas químicas logo abaixo).

Nome Comercial Espectro de

ação

Estabilidade

pH

Incompatibilidade

s

Conc.

usual

Ác. Sórbico Ác. sórbico Fungos, 2,5 a 6,0 Tween 80 0,05 a

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leveduras,

pouca

atividade

microbiana

0,2%

2-bromo-2-

nitropropano

-1,3-diol

Bronopol Gram +,

gram – (mais

ativo), fungos

(menos ativo)

5 a 7 Cisteína,

tioglicolato,

tiossulfato,

metabissulfito

0,01 a

0,1%

Bisguanida

catiônica

Clorexidina Gram +,

gram -,

pseudômonas

(menos

ativo), fungos

(menos ativo)

5 a 8 Tensoativos

aniônicos,

alginatos de sódio,

pode ser

parcialmente

inativado por

lecitina e tween 80

0,01

%

Triclorofeno

xifenol

Triclosano Gram +,

gram -,

antiséptico

bucal.

4 a 8 Tensoativos não

iônicos do tipo

polietilenoglicol.

0,05

%

Imidazolidini

l uréia

Germall 115 Gram +,

gram -

3 a 9,0 Avobenzona 0,03 a

0,5%

Metilparaben

o

Nipagin Fungos e

leveduras

3 a 9,5 Gelatina, proteína,

metilcelulose,

tween 80.

0,02 a

0,3%

Propilparabe

no

Nipazol Fungos e

leveduras

3 a 9,5 Gelatina, proteína,

metilcelulose,

tween 80.

0,01 a

0,6%

Triclosano

O

Cl

Cl

OH

Cl

5-cloro-2-(2,4-diclorof enoxi)f enol

OH

O

Ácido sórbico

HO OHBr NO2

Bronopol

H2N NH

NH2

NH NH

Bisguanida

NH HN

NH

NH

NHNHNH

HN

HN

HN

Cl ClClorexidina

Germall 115

Imidazolidinil uréia

HN

N NH

NH

NH

NH

O OO

O

HO

N

HN

O

O

OH

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Fig. 31. Fórmulas dos conservantes antimicrobianos da Tab. 16.

Neste contexto é bom lembrar que alguns agentes emulsionantes podem atenuar ou até

mesmo, neutralizar o efeito microbiano destes conservantes. Um exemplo famoso é a

combinação de tween 80 com os parabenos.

Conservantes quase sempre são aplicados juntos a antioxidantes (ver cap. 9.3.3) que, por sua

vez, previnem a degradação da fase oleosa por oxidação. Bastante usados em xampus são

concentrados contendo uréia, p-hidroxibenzoatos de alquila (= "parabenos", ver p. 66),

fenoxietanol, metildibromoglutaronitrila, ácido benzóico e ácido salicílico. Nesta lista, os

últimos dois representam os conservantes.

Antigamente usava-se também o formaldeído como conservante. Este, porém, tem alto

potencial alergênico na pele - nem falar do seu potencial carcinogênico. Portanto, sua

reputação é péssima. A quantidade deste conservante tóxico é limitada por lei, nos cosméticos

comerciais a < 0,2% (mais informações legais sobre o formol, ver p. 98).

Espessantes

São adicionados para aumentar a viscosidade do xampu e, também, uma qualidade reológica

que se conhece como “tixotropia”. Especialmente essa última qualidade é de vantagem, pois o

xampu líquido, após sair da embalagem, deve permanecer na palma da mão até o momento de

ser aplicado no cabelo. Tixotropia é o fenômeno do aumento da viscosidade de um fluido logo

após cessar a força de cisalhamento (aplicado no ato da extrusão da embalagem). Assim, o

xampu permanece no local onde foi depositado, em vez de escorrer por entre os dedos.

O espessante mais eficaz, ao mesmo tempo o mais barato, certamente é o sal de cozinha,

NaCl. Ele aumenta a viscosidade do xampu até um valor máximo; a partir de certa

concentração (na ordem de 0,4 g/L), no entanto, qualquer quantidade de sal adicionada a mais

leva a uma diminuição da viscosidade – sem possibilidade de correção. A explicação deste

fenômeno fica na organização supramolecular das micelas na formulação do xampu 23

. No

entanto, os cabelereiros alegam efeitos negativos sobre a aparência do cabelo, sua hidratação e

sua penteabilidade, quando o teor do sal no xampu for muito alto.

Xampus de qualidade superior contêm polímeros hidrossolúveis como espessantes. Estes se

apresentam em forma de cadeias poliméricas não ramificadas, altamente flexíveis, de baixa

massa molar e repletos de grupos polares nas suas unidades repetitivas. Na fase aquosa eles

assumem a conformação de um novel frouxo que pode se interpenetrar com outros novels da

espécie. Através destes entrelaçamentos se explicam as qualidades reológicas desejadas. Os

mais usados são a hidroxietilcelulose (Natrosol), o poli-ácido acrílico (Carbopol 2020,

estrutura ver p. 97) e os polietilenoglicóis HO-(CH2-CH2-O)x-H de baixa massa (PEG 4000,

PEG 6000 ou PEG DOE 120). Além disso, notou-se um efeito espessante do glutamato, única

molécula nesta lista que não é polimérica.

23 A. F. G. Ferreira Jr et al., O efeito do sal nas propriedades do xampú e sua relação com a estrutura miscelar.

IX Simpósio de Base Experimental das Ciências Naturais da Universidade Federal do ABC - 12 e 13 de agosto

de 2011; disponível no site (acesso em 09/2015)

http://becn.ufabc.edu.br/guias/processos_transformacao/resumo/PT_AA_N_02.pdf

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Agentes quelantes

Agentes quelantes ou complexantes, tais como EDTA ou triácido nitriloacético, fazem parte

em algumas formulações. Porém, estes somente têm o papel de fixar íons de ferro, contidos

em nossa água de abastecimento, que poderiam falsificar perfumes ou corantes. Ao mesmo

tempo, retêm todos os outros íons que contribuem à dureza da água, então tornam o processo

da lavagem do cabelo mais eficaz.

H2C CH2 NN

HOOC

+Na -OOC

COO- Na+

COOH

Fig. 32. Fórmula do EDTA (Etileno Diamino Tetra Acetato bissódico) e seu

complexo quelante com íons M2+

ou M3+

.

Balanço do pH e o uso de sistemas tampão

A Tab. 11 (p. 27), forneceu alguma idéia acerca do pH da pele humana. A formulação do

produto cosmético, em particular de um xampu, deve ser de tal forma que o impacto do ato da

lavagem sobre o cabelo e o couro cabeludo é mínimo, para evitar irritações e minimizar a

probabilidade de reações adversas do nosso corpo.

Para relembrar: o pH expressa a concentração de prótons no veículo que é, neste caso, o suor

ou o filme natural de umidade em cima da nossa pele. Sendo assim, o pH não deve ser

confundido com a força de acidez de certa substância soluta (por sua vez expressa no valor

pKa). Somente indiretamente o pH tem a ver com a força de um ácido:

Um pH baixo (= concentração de H+ alta no ambiente) pode reprimir o grau de desprotonação

de um ácido fraco (= pKa alto).

Mas: Um pKa baixo (= ácido forte) não implica um pH baixo, pois isso dependerá ainda da

concentração do ácido neste ambiente. Também não devemos concluir que um pH baixo é

causado pela força de certo ácido, já que poderiam contribuir ainda outros ácidos presentes ao

pH deste ambiente.

Certamente é correto afirmar que um sabão, por sua vez a base do ácido graxo (= ácido fraco)

somente se apresenta como ânion quando a concentração de prótons no ambiente for bastante

baixa, ou seja, pH alto. Caso contrário, quer dizer pH baixo, o carboxilato será protonado, e

na forma do ácido graxo livre seu efeito de limpeza é praticamente nulo.

Já nos detergentes sintéticos a situação é diferente: os sulfonatos e sulfatos são os ânions de

ácidos fortes, portanto até uma alta concentração de H+ no ambiente não será suficiente para

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inativar estes compostos, ou seja, transformá-los em ácido sulfônico e monoalquilsulfato,

respectivamente. Portanto, os syndets mantêm seus poderes de limpeza, até mesmo em

ambiente ácido.

É justamente essa a situação nos xampus cujo pH, no ideal, deve coincidir com o natural do

cabelo e do couro cabeludo. Um pH ácido é capaz de selar as cutículas dos fios. Um cabelo

com as cutículas seladas e alinhadas é um cabelo capaz de reter a hidratação e os nutrientes

nos fios, é um cabelo com brilho e saudável. Por outro lado, o pH alcalino abre as cutículas;

um cabelo com as cutículas abertas é o que chamamos de um cabelo poroso, não sendo capaz

de reter a hidratação ou qualquer tipo de nutriente, portanto torna-se um cabelo frágil e sem

vida.

O ideal para xampus é um pH em torno de 5 e 6, dessa forma não danifica as cutículas. Uma

exceção são xampus anti-resíduos (ver anti-caspa, p. 93) que possuem pH em torno de 8.

Também fora da faixa habitual são os xampus de bebê (p. 93) que possuem pH 7,2 que é o

mesmo pH da lágrima, por isso não arde os olhinhos do bebê. Por outro lado, as máscaras,

condicionadores (p. 94), e “leave-ins” devem possuir um pH mais baixo ainda (pH 3,5 a 4,5)

que o do shampoo, para selar as cutículas.

O pH, na maioria das formulações, é ajustado e estabilizado por meio de sistemas tampão, em

xampus especialmente o sistema citrato/ácido cítrico 24

; menos usados são os sistemas

lactato/ácido lático, fosfato/ácido fosfórico e bórax/ácido bórico.

1,3-Dicloro acetona

Ácido cítrico

H2C

C O

H2C Cl

Cl+ HCN + 2 KCN

- 2 KCl

H2C

C

H2C Cl

Cl

OH

CN

Hidrólise

H2C

C

H2C Cl

Cl

OH

COOH

H2C

C

H2C CN

CN

OH

COOH

HidróliseH2C

C

H2C COOH

COOH

OH

COOH

Fig. 33. Síntese industrial do ácido cítrico/citrato, atualmente o sistema mais usado

para estabilizar o pH em xampus.

O ajuste fino do pH que se deseja manter dentro do produto cosmético, pode ser alcançado ao

variar gradativamente a relação entre o ácido e seu sal. Isso seja mostrado nos dois sistemas

mais usados, o citrato e o fosfato.

Tab. 17. Valores de pH estabilizados em função da composição do sistema tampão.

pH Ácido

cítrico

Citrato de sódio

dihidratado

pH Fosfato de

sódio dibásico,

Fosfato de sódio

monobásico,

24 Curiosidade: o citrato de cálcio é um dos poucos sais que é menos solúvel à quente do que no frio.

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90

[g/L] [g/L] Na2HPO4 [g/L] NaH2PO4 [g/L]

2,5 64,4 7,8 4,5 0,9 45,5

3,0 57,4 17,6 5,0 2,2 44,8

4,0 40,6 41,2 5,5 4,4 43,7

4,5 30,8 54,9 6,0 17,8 36,8

5,0 19,6 70,6 6,5 37,4 26,7

6,0 4,2 92,1 7,0 57,8 7,4

6,5 1,8 95,6 8,0 83,7 2,8

8,5 87,2 0,9

Ao se manter essas relações indicadas para o ácido fraco e seu sal, o valor do pH sempre será

este, independente das concentrações absolutas. Por outro lado, ao aumentar as concentrações

de ambos os ingredientes, a capacidade de estabilizar o pH na formulação aumenta. Mais uma

regra geral: quanto mais semelhantes as concentrações molares de ácido e seu sal, maior a

capacidade de tampão. Uma alta estabilidade do pH será necessário, por exemplo, num

preparado alizante de cabelo (ver p. 97 e p. 106).

Filtros de UV

Para finalizar a lista dos aditivos em xampus, mencionamos ainda os absorventes de UV

(compare p. 58). Durante o século 20 estes tinham mais a função de proteger o próprio xampu

contra auto-oxidação, do que o cabelo ou a pele. Especialmente alguns corantes podem

degradar-se quando a embalagem do xampu for transparente. Estabilizantes nas regiões

vermelho e azul são eficazes para este fim; os mais usados são derivados da benzofenona e da

cânfora (ver p. 55). Somente com o surgimento de filtros solares catiônicos tornou-se possível

formular shampoos e condicionadores que realmente exerçam um efeito protetor da queratina

dos cabelos. Estes filtros solares são resinas catiônicas com propriedades de filtro UV-B.

Possuem elevada substantividade, devido ao seu caráter catiônico, protegendo os cabelos dos

danos causados pela exposição ao sol.

Exemplos comerciais são: dimetipabamido lauridimônio tosilato (Escalol HP 610) e o cloreto

de cinamidopropil trimetilamônio (Incroquat UV 283).

Me2N

NH

NMe2

O

C12H25

Ts-

Escalol HP

NH

O

NMe3 Cl-

Incroquat

Tab. 18. Receita de um xampu comercial típico.

Ingrediente Teor em % Função

Água 72,7−85,7 Solvente; matriz

Sulfato de lauril amônio 10−20 Meio de limpeza primário

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91

Amida de laurila DEA 3−5 Estabilizante de espuma

Sal de cozinha 0,5 Espessante

Perfume 0,5 Cheiro agradável

EDTA dissódico 0,2 Complexante

Metilparabeno 0,08 Conservante

Propilparabeno 0,05 Conservante

FD&C Orange No. 4 0,002 Corante 25

FD&C Yellow No. 5 0,001 Corante

12.4 Fábrica de xampu A produção da maioria dos xampus ocorre de maneira descontínua, em bateladas de aço

inoxidável equipadas com um agitador de rotações baixas. Todos os ingredientes são

misturados nesta batelada, enquanto a sequência da adição é bem definida. As temperaturas

são desde temperatura ambiente até no máximo 70 °C. No procedimento a frio pode se tornar

necessário fundir, dissolver ou misturar os ingredientes sólidos. Isso deve ser feito antes de

adicioná-los à mistura-base na batelada, para não correr o perigo de uma distribuição não

homogênea. O condicionamento fino dos valores tais como pH e a viscosidade, ocorre

somente depois de acrescentar e homogeneizar todos os demais ingredientes. Finalmente o

produto é embalado.

As etapas em detalhe:

Os ingredientes principais, a água, os tensoativos e os reguladores de espuma, são bombeados

na batelada e, se for preciso, aquecidos a 60 a 70 °C. Depois seguem os demais ingredientes

aos poucos, um depois do outro, a serem misturados e homogeneizados. Quanto ao acréscimo

de um ingrediente sólido, tal como cera, um aditivo em pó ou corante, este deve ser levado ao

estado fundido ou dissolvido, antes de se juntar à mistura. Se não podem permanecer grãos

compactos na formulação que não só comprometem a estética do produto, mas também

podem representar um perigo para o consumidor devido à alta concentração local. Como

solvente serve, nestes casos, uma parte da água da receita ou uma parte de outro ingrediente

líquido da mistura. Em casos de ingredientes poliméricos ou espessantes recomenda-se um

enchimento prévio (= dispersão coloidal liofílica), na maioria das vezes feita em água morna.

Óleos de perfume que geralmente são acrescentados em penúltima etapa e a frio, pode

requerer um agente compatibilizante, de preferência um tensoativo não iônico ou óleo de

mamona epoxidado, para se distribuir uniformemente na formulação do xampu - cujo caráter

é predominantemente hidrofílico. Também ao acréscimo do(s) conservante(s) é de suma

importância manter temperatura ambiente, já que estes podem facilmente deteriorar a

temperaturas elevadas.

No final do procedimento da formulação e em penúltima etapa, ocorre o nivelamento do pH

usando um ácido (ácido cítrico) ou uma base (NaOH). Esta regulagem influencia

sensivelmente a viscosidade da mistura, portanto devem-se ajustar as qualidades reológicas

em última etapa. Mais ainda pode influenciar na viscosidade, a presença de um eletrólito

25 Informe-se sobre o largo espectro de corantes e pigmentos, no livro "Corantes", disponível em:

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/

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forte. Portanto, aplica-se um sal, de preferência cloreto de sódio ou cloreto de amônio ou os

respectivos sulfatos, para ajustar a viscosidade sem notavelmente mexer no pH. Já em

pequenas concentrações estes sais provocam um aumento pronunciado da viscosidade 26

.

Somente as maiores fábricas de xampu dispõem de linhas de produção contínuas. Estas

misturas ocorrem a frio, enquanto todos os ingredientes em forma soluta são acrescentados

por meio de bombas dosadoras de membrana, dentro de um misturador estático.

12.5 Xampus especiais

12.5.1 Xampu para cabelo oleoso

Pessoas com uma produção elevada de sebo pelas glândulas sebáceas precisam lidar com o

problema de o cabelo rapidamente ganhar um visual oleoso e descuidado. Nos homens a

causa para essa disfunção pode ser uma elevada produção do hormônio testosterona. Em

casos gerais a produção do sebo também depende de fatores do meio ambiente e até de fatores

de estress. Jovens geralmente têm que lidar mais com esse problema do que pessoas idosas.

Para estes casos existem xampus que reprimem a produção do sebo. Usa-se um condensado

de proteína com ácido abietina; também servem extratos de plantas que são ricos em taninos

(por exemplo, extrato de casca do carvalho, semente de uva, etc.). Os taninos exercem um

efeito adstringente, isto é, a coagulação de proteínas solutas. Através desta coagulação espera-

se entupir as glândulas sebáceas e assim reduzir sua secreção.

Dizem que lavar o cabelo com muita frequência leva a um aumento da produção de sebo,

então deixa o cabelo oleoso mais rapidamente. Mas isso não é comprovado 27

.

12.5.2 Xampu para cabelo seco

Quando o cabelo um dia depois da última lavagem ainda apresenta-se quebradiço, sem brilho

e seco, é indicado usar um xampu para cabelo seco. As glândulas sebáceas produzem muito

pouco sebo. Os aditivos ajudam o pentear, alisam os cabelos e impedem "cabelo voando".

Esses aditivos são óleos vegetais, lecitina, lanolina, proteínas hidrolisadas, colágeno e

queratina parcialmente hidrolisada. As quantidades usadas e as combinações destes aditivos

sempre são sujeitas ao segredo da fábrica.

12.5.3 Xampu para cabelo estressado

O cabelo pode ser danificado, pela incidência de luz UV, pelo tratamento cosmético do cabelo

(coloração; ondulação permanente) ou por contato com agentes químicos (ácidos ou bases).

Mecanicamente o cabelo está sofrendo por pentear frequente. Infelizmente e ao contrário de

muitas promessas de certos produtos cosméticos, um cabelo danificado não pode ser

consertado, mas apenas seu visual temporariamente corrigido e sua penteabilidade melhorada,

ao usar o xampu certo. Esses xampus contêm os mesmos ingredientes que foram descritos no

xampu para cabelo seco, porém em concentrações mais altas. Também recomenda-se, em

casos graves, aplicar separadamente um óleo e/ou uma tintura fortificante.

26 A tendência hoje é usar menos sais em xampus, pois interferem negativamente no bem-estar do cabelo e couro

cabeludo.

27 Como também não é comprovado que cabelos ou pêlos, quando cortados ou barbeados com muita frequência,

crescem mais rapidamente.

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12.5.4 Xampu com efeito anti-caspa

O couro cabeludo pode desprender partes maiores de pele morta. Não é uma doença, mas

prejudica o visual da pessoa na sociedade e assim sua auto-estimativa. Neste caso pode-se

aplicar um xampu anti-caspa. Este tem o efeito de soltar rigorosamente os pedaços de pele do

couro cabeludo e do cabelo. Uma aplicação prolongada pode até impedir a formação

excessiva de novas caspas. Certamente não é a única causa, mas temos certeza que contribui à

formação de caspas um fungo no couro cabeludo. Sendo assim, em testes clínicos pôde ser

comprovado que a aplicação ininterrupta de um xampu com agente fungostático, por um

período de 6 a 8 semanas, realmente suprime a formação de novas caspas. Já o efeito de

agentes bactericidas é menos fundamentado. Esses agentes são aplicados em concentrações de

aproximadamente 1%. O que ajuda também é a lavagem mais frequente do cabelo.

Agentes fungostáticos: Agente bacterizida:

Cl

O

N

tBu

O

N

Climbazol(forma racémica)

N

O

SN

O

Zn

S

Piritiona de zinco.

S

Se Se

Se

SS

S S

1,2,3-Se3S5

O

Cl

OH

Cl

Cl

Triclosano

O triclosano é um agente anti-séptico efetivo contra bactérias gram negativas, bem como

gram positivas. É eficaz também contra fungos e bolores. É usado, além dos xampus anti-

caspa, em medicamentos, sabonetes, loções, desodorantes e cremes dentais.

12.5.5 Xampu com coloração

As fábricas deste tipo de cosmético prometem um aumento no brilho do cabelo, com nova

tonalidade. Pode ser verdade, mas essa nova cor sai logo com a próxima lavagem. Também

uma melhor proteção contra radiação UV não é comprovada.

12.5.6 Xampu de bebê

Os xampus de bebê são especialmente suaves frente à pele e às partes mucosas do corpo.

Usam-se para este fim tensoativos não iônicos, adicionalmente proteínas hidrolisadas e

extrato de camomila, ambos com efeito acalmante comprovado.

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12.5.7 Xampus a seco

Trata-se de uma mistura em pó que permite a limpeza do cabelo sem o uso de água. O pó

ressorve a gordura e sujeira do cabelo. Após um curto período de tratamento o pó pode ser

removido do cabelo por meio de aspiração ou escova.

Hoje é pouco usada esta forma limpeza, mas se restringe a casos de emergência, por exemplo

quando não há água ou quando o consumidor é impedido de se lavar com água. Mas este

produto é bastante usado no cuidado de animais domésticos peludos.

12.5.8 Outros tipos de xampus

Existem géis de banho que já contêm os ingredientes necessários para cuidar do cabelo.

Sendo assim, somente se precisa de um cosmético para o corpo inteiro.

Certos xampus para animais de estimação contêm, além dos ingredientes comuns, também

remédios, isto é, agentes com efeito sistêmico. Estes podem ser para liberá-los de pulgas,

piolhos e carrapatos.

12.6 Condicionador de cabelo

O condicionador aplicado diretamente após o tratamento com xampu tem por objetivo selar o

cabelo. Geralmente é aplicado no cabelo para ficar aí por 30 s até alguns minutos, para depois

ser lavado com bastante água morna. Por este procedimento a maioria do produto é removida,

enquanto na superfície do cabelo somente permanece um filme fino do produto. Enquanto o

xampu abriu ligeiramente as escamas da cutícula (ver Fig. 30) para efetuar sua limpeza em

ambiente alcalino, o condicionador proporciona ao cabelo um ambiente moderadamente ácido

e fecha as pequenas aberturas. Além disso, acrescenta-se gordura nesta mistura, para o

reengraxamento do cabelo. Muito usado hoje também são lubrificantes de caráter anfifílico,

do tipo silicone (p. ex. meticone na Fig. 34; ver também p. 47 e excurso na p. 77). Ambos os

ingredientes servem para suavizar a superfície dos cabelos, aumentando assim o brilho e

diminuir a atração entre os cabelos, tornando-os mais soltos e criando o efeito de volume

referido na publicidade. O cabelo muda visivelmente, seu brilho e sua elasticidade aumentam

e sua penteabilidade também. Além disso, diminui-se a tendência de o cabelo comprido se

dividir nas pontas – o que se conhece como frizz.

Agentes antistáticos ajudam na hora de pentear, deixando o cabelo deitado onde o consumidor

o deseja. Sem estes, cargas negativas podem acumular-se na superfície dos cabelos, com o

resultado de repulsão eletrostática - o que dificulta bastante o penteado. Para esta finalidade

servem tensoativos catiônicos (ver p. 42) ou polímeros com cargas positivas.

Portanto, um condicionador moderno contém:

Tensoativos catiônicos (inglês: quats; ver p. 42)

Agentes umectantes,

Proteínas estruturais (queratina e colágeno hidrolisado, ver “xampu para cabelo

seco”),

Reguladores de pH (tampão; sempre em torno de pH 5),

Óleos (p. ex. óleo de jojoba), lubrificantes, silicones,

Agentes antistáticos e, como sempre em misturas com água,

Conservantes.

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95

H3C Si

CH3

CH3

O Si O Si O Si CH3

CH3

CH3

CH3

R

CH3

CH3x y

onde R =z

PEG 12-Meticone (copolímero)

CH2 CH2 O H

Poliquaternium 10 (derivado da celulose)

O

OH

O

O

OH

O

x

y

OH

Me3N

Cl-

(Antiséptico, antistático)

(Emoliente, anf if ílico)

NMe3Cloreto de cetrimônio

Cl-

(Antistático)

Fig. 34. Ingredientes típicos em condicionador de cabelo

Uma forma relativamente recente de aplicar o condicionador é no xampu “2 em 1”. Segue

uma formulação típica deste cosmético.

Tab. 19. Formulação de um xampu “2 em 1”. (Fonte: W. Seipel, Polymers and active

ingredients suitable for the development of shampoo formulations. Disponível no site

http://www.skin-care-forum.basf.com/en/articles/hair/publication-year/2003/)

Ingrediente Porcentagem (%m/m) Marca comercial

Lauret sulfato de sódio 12,9 Texapon N 70

Cocoamidopropil betaína 7,5 Dehyton PK 45

Glicosídeo de côco /

oleato de glicerol

2,0 Lamesoft PO 65

Polímero catiônico 0,2

Perfume 0,3

Conservante 0,1

NaCl não indicado

Ácido cítrico não indicado

Água o restante até 100%

pH 5,5

Viscosidade 6000 mPa.s

12.7 Manipulação da forma do cabelo Os seguintes produtos cosméticos com finalidade de fixar ou manipular a forma do cabelo são

os mais comercializados hoje:

Gel

Ondulação permanente

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96

Laquê

"Mousse"

12.7.1 Styling gel

O gel de penteados contém mais de 90% de água. Os formadores do gel são polímeros

hidrofílicos, frouxamente ramificados. Como são compatíveis com a água, eles enchem

prontamente e se soltam do cabelo na hora de tomar banho, o que garante sua remoção fácil

do cabelo. O gel geralmente contém uma menor porcentagem de álcool, principalmente para

providenciar uma evaporação do solvente mais rápida, encurtar assim o tempo de secagem do

produto. Uma pequena porcentagem de agente emoliente providencia suficiente elasticidade

no estado “seco” e impede a soltura de pedaços de polímero seco – o que teria como

consequência um aparecer fosco do cabelo. Como sempre em formulações onde constam

substâncias orgânicas ao lado da água, não podem faltar os conservantes (ver p. 85).

Instruções para o preparo do gel, ver p. 138.

a)

x

NO

x

Poli vinil pirrolidona (PVP)Poli ácido acrílico (Carbopol)

CO-O

Na+/H+

b)

O

O

O

O

Éter alílico do pentaeritritol

O

O

O

O

CO

CO

OC

OC

Tetraacrilato do pentaeritritol

c)

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97

d)

Fig. 35. Hidrogéis: a) formadores poliméricos dos géis; b) ramificadores

(crosslinker); c) estrutura molecular de um gel; d) produto transparente.

O Carbopol (também chamado de “Carbomer”) é um dos mais usados formadores de gel. É

basicamente um poli-ácido acrílico onde as cadeias (por si rigorosamente lineares, ver Fig. 35

a) podem ser frouxamente ramificadas. Em estado seco este polímero é um pó branco e leve,

mas quando em contato com a água o material se incha e, dependendo da qualidade das

ramificações – pode reter a água em até 1000 vezes do seu próprio peso! Esse é o motivo para

que a maior consumidora deste material é a fábrica de fraldas (Pampers, por exemplo).

Nos cosméticos em geral o carbopol é usado nos mais diversos produtos, tais como produtos

de pele, cabelo, unha, maquiagem ou creme dental. Nestas formulações o polímero ajuda

manter uma distribuição uniforme de um sólido insolúvel dentro da água. Em outras

formulações, envolvendo líquidos (emulsões), ele prevém a separação macroscópica das

fases, aquosa e oleosa. Sendo assim, ele tem o papel de colóide protetor para fases finamente

dispergidas. Um efeito secundário muito bem vindo é o ajuste da viscosidade do produto

cosmético, aumentando sua consistência e impedindo o fluxo livre – muitas vezes importantes

critérios de qualidade (como foi discutido no caso do xampu, ver p. 87).

12.7.2 Ondulação permanente e alizante capilar

Um reagente químico provoca a quebra de uma estrutura importante na queratina: é a quebra

redutiva das pontes de dissulfeto (feitos pelo aminoácido cisteína), usando ácido tioglicol.

HS

O

O-

NH4+

Sal de amônio do ácido tioglicol (= redutor).

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HO

O

SH

NH2

OxidaçãoRedução

OH

O

HS

NH2

HO

O

S

NH2

OH

O

S

NH2

Cisteína

Cistina

Fig. 36. Reação química acerca da ligação de dissulfeto, por sua vez mais importante

para a estrutura quaternária do cabelo.

Processo da ondulação permanente:

Além da quebra das pontes de dissulfeto, cerca de 10% dos aminoácidos são solubilizados,

pois as condições são fortemente alcalinas.

Resulta um cabelo mais fino e mais mole. Enrolado em rolinhos de cabelo ou alisado,

conforme os desejos. Nesta nova forma o cabelo é reoxidado usando H2O2 - o que devolve

grande parte da firmeza original ao cabelo tratado.

Enquanto a quebra da ponte de dissulfeto (= cistina) requer um redutor poderoso do tipo

tioglicolato, as pontes de H e as demais interações dipolares entre as fibrilhas da queratina são

soltos com maior facilidade: um simples penteado (= estiramento prolongado, talvez sob a

influência de calor do secador) é suficiente para quebrá-las.

A ondulação permanente se perde com o crescimento do cabelo ou a sua troca. Um tratamento

repetido do mesmo cabelo, às vezes em combinação com coloração, o deixa cada vez mais

fraco, quebradiço e menos elástico.

O mesmo princípio ativo que vimos na ondulação permanente está também contido nos

produtos alizantes, bastante valorizados pelas etnias negras cujo cabelo mostra a tendência

para ondulação demasiada, sendo assim difícil um penteado macio e com pouco volume.

Atenção com formol!

Neste lugar vale mencionar o uso de um conservante bem antigo, mas infelizmente com

potencial patogênico: o formaldeído (H2CO; a solução aquosa é conhecida como formalina ou

formol); mais recente é o uso do glutaraldeído, OHC-(CH2)3-CHO. O uso do formol e

glutaraldeído são regularizados pela ANVISA, segundo a qual estas substâncias têm uso

seguro e permitido em produtos cosméticos capilares, mas apenas na função de conservante

(com limite máximo de 0,2% e 0,1%, respectivamente) e durante a fabricação do produto,

somente. O que está proibido é o desvio de uso dessas substâncias, como, por exemplo, o uso

de formol ou de glutaraldeído com a função de alisamento, por não ser previsto na legislação.

Igualmente proibido é o acréscimo de formol (ou qualquer substância dele derivada) ou

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glutaraldeído ao produto acabado (pronto para uso) que é considerado infração sanitária (Lei

nº 6.437 / 1977) e crime hediondo de acordo com o Código Penal.

De acordo com a RDC nº 162 / 2001, é obrigatória a inclusão da expressão de advertência

“Contém formaldeído” para produtos cuja concentração de formaldeído seja superior a 0,05%

no produto final.

Especialmente as formulações caseiras de higienização doméstica, referidas no cap. 17.3,

contêm um elevado teor de formol. O leitor deve estar ciente do seu elevado potencial

patológico, tanto na fabricação como na aplicação do produto final. Aqui alguns sintomos,

conforme ANVISA: irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do

couro cabeludo, queda do cabelo, ardência e lacrimejamento dos olhos, falta de ar, tosse, dor

de cabeça, ardência e coceira no nariz, devido ao contato direto com a pele ou com vapor.

Várias exposições podem causar também boca amarga, dores de barriga, enjôos, vômitos,

desmaios, feridas na boca, narina e olhos, e câncer nas vias aéreas superiores (nariz, faringe,

laringe, traquéia e brônquios), podendo até levar a morte.

12.7.3 Laquê de cabelo

O laquê é uma solução de polímeros bastante solúveis em água, aplicada em forma de aerosol.

Em forma de gotículas finas se deposita em cima do cabelo e o solvente evaporiza

rapidamente. O que permanece são muitos "pontos de solda", entre os cabelos.

Um problema ambiental e também de saúde para os cabeleireiros profissionais representa o

solvente orgânico contido no laquê: mais usados são alcoóis (isopropanol e etanol),

organoclorados e fluorados (CH2Cl2; ultrapassados!), hidrocarbonetos gasosos ou altamente

voláteis, tais como propano/butano/pentano.

Formadores de filme:

CH CH2 CH CH2

N O O

C O

CH3

x

y

Poli-N-vinilpirrolidona-co-vinilacetato (mais usado na Europa)

Copolímero alternado de anidrido maléico / vinilmetiléter, esterificado pela metade (mais

usado nas Américas):

CH2 CH

OCH3

CH CH

C

OH

O C O

OEtx

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100

13 Coloração de cabelo

Os motivos mais frequentes para se colorir o cabelo são:

Tampar cabelo branco de idade

Atender a moda regional ou ficar mais atrativo

Restaurar a cor original em cabelo que foi danificado, quer por tratamentos químicos

anteriores, quer pela incidência do sol.

Para este fim o(a) cliente tem várias opções cujas características, vantagens e desvantagens

serão discutidas a seguir:

Coloração permanente

Semi-permanente

Demi-permanente e

Temporária

Estima-se que 40% de todas as mulheres nos países industrializados coloram frequentemente

seu cabelo.

13.1 Coloração natural Antes de entrar nos tratamentos do cabelo, vamos questionar de que depende a coloração

natural do cabelo. Os responsáveis são partículas submicroscópicas de melanina embutidas

dentro da queratina (a queratina em si é incolor). Se for loiro, castanho ou preto, isso só

depende da concentração e dos diferentes arranjos da melanina dentro do cabelo. Somente o

ruivo se deve a um segundo pigmento, um complexo peptídico contendo Fe (III). Um

resultado de pesquisas recentes indica a causa de cabelo branco a partir de certa idade: é

devido ao mau funcionamento de um mecanismo de defesa natural que degrada peróxidos,

especialmente H2O2.

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101

Fig. 37. Metabolismo da melanina

A melanina é um polímero de estrutura bastante complexa (comparável com a lignina da

madeira). Portanto, a seguinte figura mostra apenas unidades típicas e não uma estrutura

exata. Nota-se a abundância de duplas ligações conjugadas. Essas contêm elétrons bastante

móveis: ao longo de todo sistema conjugado esses elétrons podem ser deslocados, sem grande

gasto em energia. Tipicamente a energia da luz visível é suficiente para tal ação. Portanto,

este material absorve a luz - sua aparência fica escura.

Fig. 38. Unidades representativas do polímero de melanina (preto)

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Dentro do córtex (ver Fig. 30 na p. 80) a melanina é produzida nos melanócitos e se deposita

nesta camada interna, sendo assim protegida pela cutícula, um material morto e duro em

escamas. A estrutura folhosa da cutícula, no entanto, permite sua abertura por reagentes

químicos. Neste processo o cabelo incha e através de pequenas fendas entre as escamas é

possível intercalar as pequenas moléculas do corante (artificial). O reagente que melhor

consegue abrir estes pequenos espaços é a amônia, mas também existem outros agentes

alcalinos a serem usados para este fim (trietanolamina; carbonato de sódio, ver seção "Demi-

permanente").

13.2 Coloração permanente do cabelo O método mais espalhado de se obter uma coloração permanente é por meio de oxidantes

fortes. Geralmente usada é a água oxigenada, H2O2, que tem várias funções neste processo:

1. Atacar e descolorir a melanina natural do cabelo ("alourar")

2. Ativar o componente de acoplamento do corante reativo

3. Oxidar a forma preliminar do corante acoplado (= "forma leuco"), para sua forma

colorida final.

Quais são os componentes básicos da mistura de coloração?

1) A amônia que abre a cutícula do cabelo

2) 1,4-diaminobenzeno (tradicional), 4-aminofenol ou 2,5-diaminotolueno (mais moderno).

Esse componente é tipicamente um aromático para-dissubstituído, chamado de “precursor A”

do corante.

3) Outra molécula pequena aromática que faz o papel do componente de acoplamento com o

precursor A, é tipicamente um aromático meta-dissubstituído e pode conter grupos fenólicos.

Este vamos chamar de “componente B” do corante ou "nuanceador", porque através dele é

possível fazer um ajuste mais fino da cor final.

4) O oxidante já mencionado em cima.

Os critérios a estes materiais:

• Nem os agentes reativos, nem o produto final devem ser muito tóxicos. Esta condição

é, até hoje, um problema mal resolvido, já que a p-fenilenodiamina e alguns dos seus

derivados são comprovadamente carcinogêneos.

• O cliente exige alta seletividade de entrar na queratina do cabelo, mas não no couro

cabeludo ou até na pele do rosto. Essa condição é mais bem atendida pela técnica

descrita acima, do que por uma fixação direta da tinta no cabelo (isto é, por meio de

uma nova ligação covalente, criada entre o corante e certo aminoácido da proteína da

cutícula; nesta técnica o perigo é maior de atingir também partes da pele que tem uma

estrutura química muito próxima à do cabelo).

Além destes agentes ativos a tinta é aplicada através de um veículo, geralmente um gel inerte

que não faz quaisquer reações paralelas com estes componentes, mas que torna o

procedimento da tintura confortável e fácil (pode ser feita em casa).

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A maioria dos produtos é vendida em duas formulações inicialmente separadas que devem ser

misturadas no instante da aplicação:

Solução 1 contém a água oxigenada (solução de peróxido de hidrogênio) que

branqueia a melanina dos cabelos e catalisa a reação de formação dos pigmentos

definitivos.

Solução 2 é uma solução amoniacal e os precursores dos corantes (às vezes também

corantes já formados); o papel do amoníaco: “abrir” as escamas da cutícula e fixar os

corantes em cima do córtex.

Os precursores dos corantes começam a penetrar na cutícula mesmo antes de terem reagidos

completamente - o que explica a coloração inicial mais clara e o tempo de espera para que a

cor definitiva se desenvolva.

Os componentes A e B que acoplam diretamente em cima do córtex são, afinal, responsáveis

pela grande durabilidade da coloração. O acoplamento leva a uma molécula A-B bem maior

do que os precursores que assim acha dificilmente o caminho para fora, através da pequena

fenda da cutícula de onde A e B vieram.

13.2.1 Mecanismo do acoplamento do corante

O mecanismo do acoplamento oxidativo envolve três etapas:

1. Oxidação do 1,4-diaminobenzeno (ou derivado dele), levando ao estado ativado de

quinona ou diimina.

NH2

NH2

1,4-diamina Diimina

NH

NH

[O]

+ H2O

- OH-

NH2

NH

2. Reação desta diimina com o componente B de acoplamento. A diimina, mais ainda sua

forma protonada, representa um eletrófilo que pode atacar o aromático B, por sua vez rico em

elétrons. Portanto, este acoplamento é uma substituição eletrofílica no aromático (SE).

NH

+H2N

NH2

NH2

SE

Forma "leuco"

H2N

HN

NH2

NH2

3. Da última etapa resulta um produto acoplado, porém ainda incolor. Essa forma, conhecida

como “leuco”, deve ser oxidada para fornecer o corante final. Também esta etapa, como já foi

a primeira, é estabelecida pela água oxigenada.

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H2N

HN

NH2

NH2

[O]

Corante f inal

H2N

N

NH2

NH2+

+H2N

N

NH2

NH2

H2N

N

NH2+

NH2

Forma "leuco"

Os diferentes tons e matizes são obtidos com diferentes concentrações e misturas dos

reagentes. Mas a maior influência sobre a cor tem a natureza química do componente B.

Dentre o largo espectro de possíveis componentes de acoplamento podemos identificar três

categorias, conforme a tonalidade:

Acopladores azuis são 1,3-diaminobenzeno e seus derivados (na Fig. 39: F).

Acopladores vermelhos são fenóis e naftóis, tais como 3-aminofenol, 5-amino-2-

metilfenol e -naftol (na Fig. 39: A e B). Acoplamento entre 2,5-diaminotolueno e 3-

aminofenol fornece um corante magenta-marrom, enquanto a combinação 2,5-

diaminotolueno com -naftol dá púrpura.

Acopladores amarelo esverdeados são resorcinol, 4-clororresorcinol e os benzodioxóis

(na Fig. 39: D e E). Estes componentes produzem corantes de absorção em larga faixa

que dão uma aparência mais natural no cabelo. A combinação de 2,5-diaminotolueno

com resorcinol fornece um corante marrom com toque de verde.

O

O

H2N OH H2N OH

OH

HO OH H2N NH2

A B C

D E F

Fig. 39. Componentes de acoplamento: três vermelhos (A, B, C), dois amarelo-

esverdeados (D, E) e um azul (F).

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13.2.2 A etapa de alvejamento

Como dito acima (p. 102), um papel importante do componente H2O2 é a destruição, parcial

ou total, dos corantes naturais, a melanina. Para este fim a água oxigenada é aplicada em uma

mistura com amônia cujo papel é "abrir" as escamas externas do cabelo. Na maioria dos casos

de branqueamento o cabelo, porém, não fica simplesmente loiro, mas pode acontecer que

permanece uma tonalidade em direção ao vermelho de cobre ou uma cor excessivamente

dourada. Geralmente o cliente, logo após alvejar o cabelo, aplica uma tinta, permanente ou

semi-permanente, cuja tonalidade pode ser mais clara que a cor original. Ao aplicar tintas sem

alvejar antes, por outro lado, somente podem ser alcançados tons mais escuros, mas não mais

claros do que o natural.

Atenção: ao usar H2O2 em concentração e/ou duração errada, o novo corante pode ser

destruído! Portanto, nestas colorações é importante seguir exatamente as recomendações da

fábrica. Mais adequada seria uma concentração de até 6% H2O2. Espalhou-se uma falsa

informação de que águas oxigenadas de 3 ou 4% não tenham efeito alvejante suficiente. Isso

foi refutado: mesmo uma solução de apenas 1,9% é capaz de alourar o cabelo, de uma

maneira especialmente branda. Única desvantagem é que o oxidante deve ser aplicado por

mais tempo, mas o resultado é um loiro bonito, sem muita tonalidade "metálica".

13.3 Coloração semi-permanente A coloração semi-permanente (tonalizante, geralmente aplicado em forma de mousse ou

xampu) tem moléculas de corante menores que a coloração temporária (ver em baixo, p. 106),

portanto podem acomodar-se, em partes, entre as escamas da cutícula. Por este fato a

coloração vai permanecer durante 4 ou 5 lavagens de xampu, no máximo duas semanas. Os

produtos semi-permanentes têm pouco ou até nenhum revelador, isto quer dizer, amônia e/ou

H2O2. Portanto, é um produto recomendável para quem tem cabelo muito fino ou danificado.

Todavia, os semi-permanentes ainda podem conter alguns componentes bastante tóxicos, tais

como a p-fenilenodiamina.

A cor final atingida num cabelo, como sempre, depende de vários fatores:

da cor original do cabelo,

da porosidade e dos micro-rasgos na cutícula,

do tempo e da concentração com que o produto foi aplicado.

Pequenas diferenças em tonalidade ao longo da cabeça são inevitáveis. Mas afinal, é

justamente esta pequena inomogeneidade que deixa o cabelo de aparência mais natural, em

comparação à cor sólida de uma coloração permanente. Infelizmente, isto também implica

que é mais difícil esconder cabelo branco. Especialmente quando o cabelo branco está

aumentando em número, é difícil tampar a cor indesejada por uma coloração semi-

permanente. Quem ainda não se decide para uma coloração permanente pode optar, neste

caso, para madeixas claras em cima do cabelo escuro, desta maneira levando embora a

atenção do público para os cabelos brancos.

13.4 Coloração demi-permanente Os corantes na mistura conhecida como "demi-permanente" são exatamente os mesmos que

na coloração permanente, só o agente alcalino para abrir as escamas da cutícula é diferente:

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em vez de usar a amônia, por sua vez agente mais eficaz, usam-se os reagentes mais suaves,

etanolamina ou carbonato de sódio. Além desta substituição, as colorações demi-permanentes

contêm bem menos H2O2, já que este aqui tem apenas o papel de revelador do corante,

enquanto não é o objetivo destruir o corante natural do cabelo. Como os agentes alcalinos são

menos eficazes neste produto, podem-se obter apenas colorações mais escuras, mas não mais

claras. A vantagem desta técnica é que ataca menos a estrutura do cabelo, então é menos

estressante para o cabelo do que uma coloração permanente.

Sendo assim, os demi-permantes são mais eficazes para tampar cabelo branco do que os semi-

permanentes, mas menos rigorosos do que os permanentes.

As vantagens dos demi-permanentes, em comparação com os permanentes, são sutis, mas

muito apreciadas pelo consumidor:

A melanina não é atingida pela técnica, portanto a coloração final é gradativa e

aparece mais natural.

Os reagentes agem de forma mais branda, especialmente importante em aplicações no

cabelo já danificado ou com falta de nutrientes.

Este corante sai ao longo de 20 a 28 lavagens com xampu, portanto o crescimento do

cabelo (pelo lado da raiz!) é menos percebível.

É mais fácil trocar a coloração - se for desejado.

Afinal, os produtos demi-permanentes contêm corantes permanentes e especialmente os

compostos mais escuros são muitas vezes mais duráveis do que indicado na embalagem.

13.5 Coloração temporária Quando ir à festa, seja carnaval, Halloween ou qualquer baile de máscara, podemos optar pela

coloração temporária. São corantes que ficam apenas aderidas na superfície do cabelo. As

moléculas são maiores e até misturas com pigmentos (insolúveis) podem ser usados. São

aplicadas em forma de lavagens, em forma de mousse, gel ou aerossol. A aparência destes

corantes é muito mais clara e viva do que os outros produtos descritos acima. Após uma

lavagem o corante sai completamente - a não ser que o cabelo estava demasiadamente

danificado e quebradiço: daí alguma parte do corante pode se acomodar nas pequenas fendas

por mais alguns dias.

13.6 Depilação e crescimento do cabelo Para adiantar um assunto acerca das formulações de cosméticos depiladores e alizantes de

cabelo crispo: o ingrediente ativo é o mesmo nestes produtos, a dizer, o ácido tioglicol (ver p.

97). A grande diferença entre estes dois produtos faz quase unicamente o pH da formulação.

Um pH moderadamente alcalino e estabilizado (por meio de um tampão, no caso o sistema

NH3/sal de amônio) quebra somente aquela parte das pontes de cistina dentro da queratina que

proporciona ao cabelo sua estabilidade macroscópica (= direção do cabelo). Por outro lado,

um pH fortemente alcalino leva ao enfraquecimento muito maior que, no final, permite sua

quebra em qualquer ponto, fato que promove a remoção fácil do fio.

Depilação:

O ácido tioglicol que já conhecemos da ondulação permanente (ver p. 97), é o agente

principal em cremes de depilação. Aqui está aplicado sob condições fortemente alcalinas (pH

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12 a 13) e por um tempo prolongado. Provoca-se assim a hidrólise demasiada da proteína,

além da quebra das pontes de cistina (ver Fig. 36 na p. 98) do cabelo, após a qual o cabelo

pode ser removido com bastante facilidade.

Um desafio muito maior para os cientistas aplicados é o oposto, o crescimento do cabelo. A

esperança de aproximadamente 60% de todos os homens acima de 40 anos (e 25% das

mulheres), infelizmente, continua uma "caixa preta". Embora que temos na média 100.000

cabelos na cabeça, um indicativo de queda excessiva é a perda de 100 ou mais cabelos por

dia. Por estar em questão a vaidade das pessoas, a manifestação de alopecia (= ausência de

cabelo) representa cerca de 8% das consultas dermatológicas. A mais frequente forma da

queda de cabelo é androgenética (= herança). Nesta, a raiz do cabelo (folículo) reage

sensivelmente a certos hormônios sexuais masculinos, especialmente a dihidrotestosterona

(DHT), formados e presentes no couro cabeludo. O cabelo cujo folículo é atacado definha-se

e morre aos poucos. Atualmente, acredita se menos na quantidade dos hormônios liberados

sendo responsável pela queda. Mais provável é uma hiperssensibilidade da raiz do cabelo

frente a estes compostos mensageiros. A maioria dos casos são homens, mas também

mulheres a partir de certa idade podem sofrer desta forma de queda. O dito acima se refere ao

cabelo na região da testa e continua na parte superior da cabeça. De natureza diferente são os

cabelos formados na parte traseira da cabeça e dos lados que pertencem aos pelos corporais e,

portanto, não têm a mesma sensibilidade frente aos hormônios. Uma técnica aplicada hoje em

pessoas com careca parcial é o transplante do cabelo traseiro para o topo da cabeça. É uma

cirurgia demorada, dolorosa e cara.

A esperança ainda está no tratamento químico-farmacêutico da queda de cabelo. Um agente

eficaz se achou nos EUA. O efeito desejado mostra-se após três meses de aplicação diária.

N

N

N NH2

O-

H2N

Minoxidil

Fig. 40. Minoxidil (aplicação externa, duas vezes por dia) ajuda em 30 a 40% dos

casos.

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O minoxidil reverte o processo de miniaturização do pelo na AAG ao normalizar o ciclo do

folículo, prolongando a fase anágena (ver p. 81) ou de crescimento. Além de estimular a

vascularização do couro cabeludo permitindo uma melhor oxigenação da região problema, o

minoxidil estimula a multiplicação das células da raiz do cabelo.

Efeitos colaterais desta substância ativa:

• coceira no couro cabeludo

• ressecamento

• descamamento

• irritação

• queimação no couro cabeludo.

Outro tipo de tratamento é interno, por finasterida. Este hormônio (dosagem típica: 1 mg por

dia, por via oral; este medicamento foi originalmente desenvolvido para o tratamento da

próstata) bloqueia a produção do hormônio DHT, mas acarreta também uma série de efeitos

sistêmicos, então deve ser aplicado somente após consulta crítica. Outra descoberta recente

também foi acidental: um remédio desenvolvido para controlar a progressão de glaucomas e

hipertensão ocular, a Latanoprosta (no Brasil conhecido como Xalatan), mostrou efeitos

forificante e intensivante ao crescimento do cabelo. Estudos clínicos estão em andamento.

Aliás: quem acredita que cortar o cabelo com maior frequência (inclusive a barba e os

pelinhos nas pernas e regiões genitais) acarreta uma elevada taxa de crescimento ou aumenta

os pelos em número, errou. O corte não influencia nos fatores naturais de desenvolvimento do

cabelo.

14 Higiene bucal

O esmalte do dente é constituído de hidroxiapatita e representa o material ósseo mais duro

do nosso corpo (na escala de Mohs: 5). Logo abaixo do esmalte encontra-se a dentina. Os

nervos e os vasos sangüíneos estão localizados na polpa.

Uma curiosidade: os dentes são feitos do mesmo material que os ossos, porém com menos

fosfato na sua composição.

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A hidroxiapatita tem a fórmula sumária Ca5(PO4)3(F,Cl,OH). Nesta se vê que os ânions

hidróxido, cloreto e especialmente o fluoreto ocorrem em quantidades variadas e podem

repor-se mutuamente na grade cristalina da apatita. Sob restrições até o ânion carbonato pode

ser incorporado neste cristal. Simplificando, podemos "construir" esse cristal misto através

das seguintes reações 28

:

3 Ca2+

+ 2 PO43-

→ Ca3(PO4)2

3 Ca3(PO4)2 + CaF2 → 2 Ca5(PO4)3F

Fig. 41. Célula unitária da hidroxiapatita.

Embora uma escovação frequente, com a técnica certa e uma alimentação saudável devem ser

suficientes para a preservação dos dentes, uma pasta de dente (dentifrício), sem dúvida,

facilita manter a higiene bucal. Os abrasivos contidos na pasta ajudam na remoção da placa

bacteriana, responsável pela cárie dentária; os formadores de espuma contribuem a manter

distância entre os dentes e a placa uma vez removida; uma fonte de fluoreto contribui à dureza

e resistência do esmalte contra o ataque bacteriano e, finalmente, os óleos essenciais

mascaram (por um curto momento) o mau cheiro que pode desenvolver-se na boca, devido a

restos de comida em decomposição.

28 R.R. da Silva, G.A.L. Ferreira, J.A. Baptista, F.V. Diniz, A química e a conservação dos dentes, Quimica

Nova na Escola, 13 (2001) 3-8.

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Tab. 20. Composição típica de dentifrícios (em % de massa) e alguns representantes

comercializados no Brasil.

Componente

funcional

% Colgate

(herbal)

Sensodine

(original)

Gessy

(cristal)

Sorriso

(ação total)

Abrasivo 20

-

55

Silicato de sódio Óxido de titânio; óxido

de cálcio

Carbonato de cálcio; dióxido de

silício, fosfato

trissódico; silicato de sódio

Carbonato de cálcio; Silicato de

sódio

Solvente 15

25

Água Água Água Álcool etílico;

água

Umectante 20

35

Polietilenoglicol Glicerina - -

Espumante 1

2

Lauril sulfato de

sódio

Igpon Lauril sulfato de

sódio; extrato de

juá

Lauril sulfato de

sódio

Aglutinante;

espessante

1

3

Carboximetil

celulose; carragenato; goma

celulosa

Cellosize Carboximetil

celulose (sal de sódio)

Carboximetil

celulose

Corante e

edulcoante

1

2

Sacarina; sorbitol; Verde 7

Sacarina sódica;

sorbitol;

corante

vermelho

Sorbitol; sacarina Xilitol; sorbitol; sacarina sódica

Aromatizante 1

-

2

Extratos de

eucaliptos

globulus, mirra, manzanila,

melaleuca, sálvia

Aromas (não

especificados)

Óleo de hortelã Aromas (não

especificados)

Conservante 1

-

2

Metilparabeno - Formaldeído Metilparabeno;

Triclosano

Agente

terapêutico

0

-

1

Monofluorofosfato de sódio; Eugenol

Cloreto de Estrôncio;

carbonato de

cálcio

Monofluorofosfato de sódio

Monofluorofosfato de sódio

Adaptado de: R.R. da Silva et al., A química e a conservação dos dentes, Química Nova na Escola 13

(2001) 3-8.

O desenvolvimento mais recente nos dentifrícios são as pastas em gel e pastas líquidas. Para

se obter um produto translúcido as partículas sólidas contidas na pasta não devem ser maiores

do que um micrômetro, a fim de reprimir o efeito de espalhamento de luz, que tipicamente

acontece nas arestas e cantos dos cristais maiores; além disso, devem-se procurar

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componentes (líquidos) que proporcionam uma mudança gradativa no índice de refração,

entre o material particulado e o veículo líquido da pasta.

O princípio que todos os produtos têm em comum:

• Remoção mecânica da flora de bactérias (“placa”) que causa a cárie. Para este fim

serve um material microcristalino a ser aplicado para causar uma abrasão controlada.

• Endurecimento da dentina por fluoreto: a hidroxiapatita, composto principal do

esmalte dental, contém OH- como ânion natural. Este, quando reposto por F

-, deixa o

esmalte mais duro.

A explicação deste último efeito e da facilidade de reposição de OH- por F

-, deve-se procurar

no raio iônico efetivo do hidróxido: visto uma rotação quase livre dentro do cristal, é de 153

pm, o do fluoreto de apenas 119 pm. Já o cloreto é de 167 pm de diâmetro, portanto tem o

efeito oposto do fluoreto, isto é, afrouxa a estrutura cristalina do fosfato de cálcio.

O fluoreto pode ser visto como adjuvante na proteção contra a cárie. Os sais que liberam F-

em pasta de dente geralmente são o fluoreto de sódio, monofluorofosfato de sódio, Na2PFO3,

ou fluoreto estanoso, SnF2.

Tab. 21. Receita típica de pasta de dente (em gel translúcido):

Quantidade em

peso

Função Agente ativo

22% Formador de gel Glicerina

15% Abrasivo Silicagel grosso

10% Formador de gel e abrasivo Silicagel fino

8% Adoçante e regulador de consistência Sorbita 60%

1,5% Espessante Carboximetilcelulose

1,5% Espumante Laurilsulfato de sódio

1,0% Sabor Óleo de aroma (ver Tab. 28)

0,8% Prevenção de cárie Monofluorfosfato de sódio.

40,1% Veículo e solvente Água

Os abrasivos mais usados hoje:

Sílica em gel, de ganularidade controlada de ~20µm. (A mesma substância de granulometria

menor, ~5µm, serve como base do gel, por ser transparente e ter um índice de refração

favorável (próximo a 1,00 - o índice da água).

Também usados (mas de aparência branca) são o carbonato de cálcio, CaCO3, e o fosfato de

dicálcio dihidrato, CaHPO4 . 2 H2O, em granulometrias entre 12 e 14 µm. A chave para uma

boa limpeza por estes abrasivos é, além do tamanho das partículas, sua forma, dureza e o

quebradiço dos cristalitos.

Cuidado com bicarbonato! O NaHCO3 é um antigo agente abrasivo caseiro, mas deve ser

usado somente pelo dentista, através de jato fino com água pressurizada. Aplicado em casa

através da escova, pode causar abrasão demasiada, inclusive causar o recuo da gengiva!

Os demais componentes da pasta de dente (função indireta):

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Tensoativo: fornece uma boa sensação de limpeza devido à formação de espuma; realmente

contribui pouco à limpeza, já que a quantidade de impurezas oleosas em cima dos dentes é

pouca. Mas o cliente não aceita produtos sem desenvolvimento de espuma. O laurilsulfato de

sódio (“lauril”; SLS; ver p. 84) certamente é o mais usado formador de espuma, mas

igualmente bem funcionam lauroil sarcosinato de sódio e o metil cocoil taurato de sódio.

Adoçante: deve-se usar uma substância que não é alimento para as bactérias da cárie. Muito

usados são a glicerina, o sorbitol, xilitol e a sacarina; os primeiros três têm ao mesmo tempo o

papel de umectantes.

CH2OH

OHH

HHO

OHH

OHH

CH2OH

Sorbitol(glicose reduzida)

CH2OH

CH2OH

OH

HO

OHH

H

H

Xilitol(xilose reduzida)

S

NH

O

O O

Sacarina

A síntese da sacarina é em três etapas, a partir do cloreto do ácido o-metilbenzossulfônico:

CH3

SO2Cl

+ NH3

- HCl

CH3

SO2NH2

[O] COOH

SO2NH2

[H+]

- H2OSacarina

Branqueador: o amarelamento é um processo natural em dentes saudáveis e prossegue

especialmente rápido com o consumo de certos alimentos (chá preto, café) e pela fumaça de

cigarros. No entanto, não é conforme nosso ideal estético, já que dentes brancos insinuam

limpeza. Portanto, muitos produtos contém branqueadores. Certamente o mais usado é a água

oxigenada, H2O2 em até 2%, mas também se aplica o peróxido de uréia.

Flavorizantes (ver também Tab. 28 na p. 132) provocam uma sensação fresca durante a

aplicação da pasta e logo depois. São essências naturais, tais como canela, cravo da índia 29

,

mentol e menta.

Os produtos comerciais contêm uma série de aditivos que promovem sua estética, tais como

corantes e pigmentos de efeitos especiais. Mas também a aplicabilidade da pasta de dente

deve ficar confortável e inalterada durante sua vida útil de um mês ou mais. Para este fim

aplicam-se aditivos reológicos (polímeros hidrofílicos; espessantes) e umectantes que

proporcionam uma fácil extrusão da pasta do tubo, retardam sua secagem e impedem o

gotejamento da escova de dente (tixotropia). Como aditivos reológicos usam-se

Tragacant, uma goma natural,

Goma guar e outras gomas à base da celulose,

Carboximetilcelulose,

Carragenina, um polissacarídeo a partir de algas.

29 O óleo de cravo da índia tem também um efeito anestético, muito bem vindo em pastas para dentes

hipersensíveis.

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113

Como umectantes funcionam os polióis mencionados acima.

15 Cosmética decorativa

Há milhares de anos que a humanidade sente a necessidade de transmitir uma mensagem aos

outros, simplesmente através da aparência.

Os motivos podem ser:

• Religião

• Guerra

• Festa, alegria

• Status social e, lógico:

• Motivos sexuais!

A maioria dos preparados cosméticos descritos até então contém corantes em pequena

porcentagem, para proporcionar um visual mais atraente ao produto. Nos produtos

decorativos, no entanto, esta coloração é imperativa, para alcançar sua meta no usuário.

15.1 Batom As clientes têm as maiores expectativas neste produto cosmético. Não deve quebrar nem

borrar, mas também não deve ser muito duro para não dificultar a aplicação ou até machucar

os lábios da usuária. Além disso, deve aguentar temperaturas elevadas sem derreter, não deve

separar seus componentes gordurosos, nem devem cristalizar os ingredientes, corantes e/ou

gorduras. O produto deve aderir bem nos lábios ("prova a beijos") e, em caso geral, deve

mostrar um alto brilho.

Cerca de 70% do batom é a base gordurosa (triglicerídeo, a base de óleo vegetal ou sebo) e

25% são ceras (monoéster de ácido e álcool graxos). Ambos devem mostrar um ponto de

fusão de 65 a 70 °C. O objetivo na preparação do batom é bem contrário do que um químico

preparativo costuma visar: através de uma mistura mais heterogênea possível de ceras e óleos,

tenta-se estender a região de amolecimento da base que vai, no ideal, desde 15 até 60 °C.

Os ingredientes gordurosos do batom podem ser discriminados entre solidificadores e

diluentes. Como ceras solidificadoras se usam, principalmente, cera de abelha (ver fórmula na

p. 25), cera de carnuba e candelila (a última é obtida de um feno nativo no Mexico e nos

EUA). Como diluentes servem os óleos de mamona, amendoim ou jojoba. Estes têm também

o papel de dispersar uniformemente os corantes e/ou pigmentos dentro da massa.

A maioria das bases gordurosas de batom é feita de óleo de amendoim, óleo de mamona;

estes podem ser parcialmente hidrogenados (H2/catalisador de Pd) para

a) aumentar seu ponto de fusão e

b) abaixar a degradabilidade das gorduras frente ao oxigênio, um processo conhecido como

rancificação (ver cap. 9.3.3).

Além disso, contém alcoóis graxos, por exemplo, álcool cetílico. O isopropilmiristato e

triglicerídeos sintéticos, finalmente, têm o papel de dissolver e acomodar, de maneira mais

homogênea possível, todos os ingredientes lipofílicos do batom, tornando-o macio e suave.

A fase de ceras contém, em proporções variáveis, cera de abelha, cera de carnuba, cera de lã

(lanolina) e parafinas (a partir do petróleo). Especialmente a cera de carnuba aumenta, já em

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concentração de 5%, o ponto de amolecimento do batom que, sem esse ingrediente, seria

muito baixo. A cera de abelha, por outro lado, proporciona na mistura uma boa consistência,

sem apresentar-se duro; além disso, aumenta a aderência nos lábios.

O teor em corantes e pigmentos, juntos chamados de laca, pode ser de até 10%, mas

raramente ultrapassa 7%. Em primeira linha usam-se pigmentos minerais ou hidrossolúveis,

depositados sobre suportes inertes e microcristalinos (= pó ultrafino), tais como caolina,

hidróxido de alumínio e dióxido de titânio. De suma importância neste preparado cosmético é

uma dispersão uniforme e fina dos corantes dentro da base. Mais adequados hoje são

compostos orgânicos heterocíclicos e óxidos de ferro; em segunda linha são usados também

produtos idênticos aos naturais, especialmente o -caroteno (desvantagem deste: é pouco

estável frente à oxidação).

A porcentagem dos pigmentos é de 5 a 10%. Eles devem ser trabalhados e misturados

primeiramente na fase gordurosa, formando uma mistura concentrada chamada de “Master-

batch”. Somente quando se atingiu o grau de

dispersão satisfatório este é misturados com os

demais componentes da massa. Ainda de

temperatura elevada ocorre a moldagem por

injeção - menos usada é a extrusão da massa

pronta.

A lei de cosméticos impõe exigências bastante

altas ao batom sob o critério da toxicidade dos

ingredientes, já que partes dele podem chegar na

área bucal e no estômago. Isso vale

expressivamente, também para os protetores

labiais incolores. Especialmente aqueles produtos

que antigamente eram vendidos com o predicado

"prova a beijos", continham eosinas e corantes

que foram contaminados por metais pesados. Os

batons de cores a pastel contém hoje guanina ou

TiO2, um pó atóxico, prova à radiação solar e com

boa aderência nos lábios. O alto brilho que imita

umidade nos lábios pode ser alcançado através de

uma mistura de mica e TiO2.

Tab. 22. Exemplo de receita de um batom

Quantidade

em peso

Classe Substância específica

15% Álcool graxo Álcool cetílico

26% Ceras Cera de abelha

10% Ceras Cera de carnuba

10% Ceras Cera de candelila

10% Ceras Cera microcristalina

10% Óleo Óleo de mamona

5% Éster de ácido graxo Octanoato de cetila,

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octanoato de estearila

4% Óleo Óleo de parafina

0,1% Antioxidante α-tocoferol

5% Pigmentos

(inorgânicos: óxidos férricos, rutilo;

orgânicos: conforme liberados pela FDA 30

)

Mistura de diversos

pigmentos, conforme a

tonalidade.

0,0% Água

O último item desta tabela parece trivial, mas é um fato importante. Pois deste jeito o produto

não fica sujeito à decomposição microbiana e então não requer de conservantes!

15.2 Esmalte de unha

Esmaltes para as unhas, em mão e pé, devem ser provas d´ água, resistentes aos agentes de

limpeza comuns, devem ser elásticos e de plásticos, mas não moles. Além disso, é comum

polir o esmalte após sua aplicação e secagem. A maioria das clientes exige também que o

esmalte seque rapidamente e dure por pelo menos uma semana sem se soltar das beiradas da

unha. Porém, a cliente deve ser ciente de que um produto de secagem rápida geralmente

também desfolha mais facilmente da unha.

Um dos primeiros critérios ao esmalte de unha, no entanto, é seu brilho. Portanto, o mercado

oferece esmaltes em 4 a 5 diferentes graus de brilho superficial.

O receio de que a unha não possa respirar debaixo do esmalte não tem substância. A queratina

da unha, igual às pontas do cabelo e à stratum córneum da pele, é matéria morta, sem

respiração notável, isente de vasos sanguíneos e nervos. No entanto, o esmalte pode conter

algumas substâncias agressivas ou tóxicas à pele, tanto como solventes que podem transportar

os mesmos através da unha e até o circuito sanguíneo.

A aplicabilidade depende principalmente da viscosidade - em particular espera-se um efeito

tixotrópico e viscosidade estrutural, isto é: ao aumentar o gradiente de cisalhamento (= na

hora de aplicar com pincel) a viscosidade deve ficar baixa, mas engrossa logo depois de ficar

em repouso, em cima da unha (não goteja). Neste momento crítico o esmalte não deve

engrossar rápido demais, para estabelecer o “derreter” e ficar liso e sem estrias.

Os componentes básicos do esmalte (em ordem da quantidade):

Cerca de 80% são solventes voláteis, tais como acetato de etila, acetato de butila ou

lactato de etila. A acetona, embora seja um excelente solvente, não é usado devido ao

efeito colateral de ressecar a unha (= eluir as partes naturais em gordura).

30 Uma vista geral sobre os corantes e pigmentos orgânicos permitidos pela Food and Drug Administration, em

alimentos e cosméticos, ver A. Isenmann, “Corantes”, cap. 6.4; disponível no site

http://www.timoteo.cefetmg.br/site/sobre/cursos/quimica/repositorio/livros/corantes/index.html

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Um polímero que forma um filme liso e fechado. O material padrão, desde mais de 60

anos, é a nitrocelulose 31

, às vezes em mistura com poliacrilatos. De qualquer maneira

a solução em polímeros fica perto do grau de saturação.

Aditivos ao polímero que asseguram sua elasticidade. São plastificantes do tipo éster

do ácido ftálico ou óleo de mamona (epoxidado).

Resinas especiais, por exemplo, toluenossulfonamida-formaldeído, aumentam a

durabilidade do esmalte e sua aderência em cima da unha.

Pigmentos minerais ou corantes orgânicos sintéticos.

Efeito de metálico ou um brilho especial do tipo madrepérola, se consegue com

oxicloreto de bismuto, BiOCl, “prateado de peixe” (escamas de peixe ricas em

guanina; hoje pouco usado), mas especialmente com a mica processada (proveniente

de minerais tais como a pedra de sabão ou granito) ou estearatos de magnésio/zinco.

Para evitar a sedimentação dos pigmentos que são naturalmente insolúveis nos demais

ingredientes, os esmaltes geralmente contêm espessantes do tipo ácido sílico coloidal

(vidro d´água), estearatos de zinco ou alumínio.

Nuances para mais claro se consegue com TiO2, para aumentar a tonalidade vermelha

óxidos de ferro.

Parâmetros a serem otimizados:

• Formação de um filme contínuo,

• Superfície lisa, que pode ser brilhante ou fosca,

• Facilidade de aplicar,

• Secagem rápida,

• Elasticidade, resistência,

• Durabilidade e firmeza em cima da unha,

• Ser fácil de se remover (comumente feito com acetona),

• Critério mais recente: baixo potencial alergênico (por exemplo, provocado pelo

formaldeído, epóxidos, acrilatos e o tolueno), baixa toxicidade dos solventes

(especialmente perigoso para as atendentes nos salões de beleza).

Tab. 23. Formulação típica de esmalte de unha vermelho (quantidades indicadas em %

de massa):

No. Função Composto química % m/m

1 Solvente Acetato de butila 27,00

2 Solvente Acetato de etila 23,20

3 Solvente Tolueno 12,00

4 Formador de filme Nitrocelulose (flegmatizada

com 30% de isopropanol)

13,00

31 Atenção: este nome popular não reflete a natureza química deste material. Embora seja feito a partir de

celulose (algodão) e ácido nitrificante (mistura de ácido nítrico e ácido sulfúrico), o produto não contém o grupo

nitro (ligação C-NO2), mas sim, é um éster feito a partir do grupo hidroxila da celulose e o ácido nítrico ligação

C-O-NO2). Mais correto seria então chamar este produto de “nitrato de celulose”.

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5 Resina Resina de tosilamida-

formaldeído

9,00

6 Plastificante Dibutilftalato 7,00

7 Solvente Álcool isopropílico 5,00

8 Espessante Hectorita de estearalcônio 1,50

9 Plastificante Cânfora 0,95

10 Antioxidante Benzofenona 0,15

11 Corante / pigmento TiO2 0,50

12 Corante / pigmento C.I. Vermelho 7 (laca de Ca) 0,50

13 Corante / pigmento C.I. Vermelho 34 (laca de Ca) 0,20

O processamento desta mistura é geralmente em 4 etapas, tipicamente feito em uma batelada

com agitação poderosa, à temperatura ambiente ou levemente elevada:

1) A nitrocelulose, umedecida com cerca de 30% de i-propanol, é adicionada ao acetato de

butila sob agitação vigorosa.

2) Seguem os demais solventes, plastificantes, resinas e aditivos de tixotropia (= espessantes).

O processo de agitação é continuado até se obter uma solução clara, conhecida como “base do

esmalte”. A base pode ser mantida em estoque em maiores quantidades, dentro das normas de

segurança.

O acabamento do esmalte de unha ocorre por mistura homogênea dos corantes e/ou

pigmentos. Especialmente os últimos são aplicados, favoravelmente em forma de master-

batch, isto é, uma mistura concentrada dos pigmentos em solventes compatíveis com a receita

do esmalte. Em caso de se usar um solvente nesta etapa, sua alíquota nas etapas 1 e 2 deve ser

devidamente reduzida, para não ultrapassar a porcentagem total indicada para o produto final.

Este procedimento facilita a distribuição uniforme das partículas dos pigmentos coloridos e

pigmento de enfeite especial (por exemplo, efeito metálico, madrepérola ou glitter) dentro da

base:

3) Preparo do master-batch ou, pelo menos, a mistura uniforme de todos os corantes e

pigmentos (na receita acima os itens 11 a 13); nesta etapa recomenda-se acrescentar o

plastificante (item 6 da mistura sobrecitada). Como todos esses ingredientes são sólidos, usa-

se para este propósito um moinho, de bolas ou de chapas.

4) Adicionar o master-batch à batelada principal, sob agitação rigorosa, no entanto sem

introduzir notavelmente bolhas de ar.

Segue uma etapa de filtração e o envase.

Certos plastificantes, especialmente o dibutilftalato (ingrediente 6 da fórmula acima), foram

sujeitos de discussões polémicas. Embora seu potencial tóxico/alergênio é bastante baixo, as

fábricas de esmalte evitam estes aditivos, para não cair fora da graça da clientela. Já mais

preocupante é o uso do tolueno como co-solvente e também das resinas endurecedoras que

contêm formaldeído: o elevado potencial alergênico destes ingredientes já foi comprovado.

A fábrica de esmaltes deve tomar precauções de segurança extraordinárias (motores elétricos

blindados; aterramento dos equipamentos, estocagem dos ingredientes em salas provas a

explosões, etc.). A nitrocelulose é altamente inflamável - dependendo do grau de nitração,

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pode-se tornar um explosivo! Também os solventes utilizados são voláteis e altamente

inflamáveis.

15.3 Maquiagem O que será dito sobre a base da maquiagem facial vale em geral também para as variações

coloridas, tais como blush ou sombra. Nestes, aplicam-se pigmentos coloridos que são

rigorosamente delimitados pelas leis nacionais (informações ver

http://www.anvisa.gov.br/cosmeticos/legis/especifica_registro.htm).

A base de maquiagem tem o papel de mascarar irregularidades da pele facial, que podem ser

oriundas de feridas, espinhos, manchas de sol (sardas), cicatrizes, verrugas, pintas,

queimaduras, etc. O produto cosmético não só suaviza a tonalidade, mas também, dentro dos

limites, as irregularidades tópicas.

As bases, hoje comercializadas em uma gama de variedades como emulsão, bolos secos e

prensados, sticks, pós prensados ou soltos, são misturas de colorantes e partículas incolores

que altamente espalham a luz. Alguns produtos têm na sua formulação aditivos funcionais,

tais como emolientes para a pele, protetores de UV (p. 55) ou substâncias “anti-aging” (p.

54). Aquelas formulações que contiverem umidade (emulsões, por exemplo) requerem

naturalmente de aditivos preservantes microbianos (p. 85) e antioxidantes (p. 66). E todos

contêm perfumes – certamente um ingrediente que não atribui vantagens para a pele e sua

aparência, mas que agrada a cliente.

Os ingredientes primários em maquiagens são os pigmentos brancos de TiO2, ZnO e CaCO3.

A caolina, um mineral igualmente branco, serve como pigmento e massa de nivelamento ao

mesmo tempo. Todos esses pós têm a propriedade de fortemente espalhar a luz visível, em

menor grau também a luz UV, e desta maneira tampar a coloração natural da pele. Por outro

lado, as finalidades do talco (um mineral parecido à pedra de sabão) são: material de

nivelamento e adjuvante na distribuição uniforme dos ingredientes dentro da formulacão.

Também usados nesta função são a mica e a sericita (igualmente rochas minerais). Um efeito

especial proporcionam o oxicloreto de bismuto, BiOCl, e o estearato de magnésio que,

quando finamente moidos, dão um brilho e uma aparência mais viva ao rosto da usuária.

Finalmente, os óxidos do ferro são usados quase exclusivamente, para adaptar a tonalidade do

produto à coloração natural do rosto da cliente. Esses pigmentos existem nas mais diversas

tonalidades, desde o amarelo claro, marrom, vermelho até o preto. Sendo assim, se consegue

ajustar todos os tons desejados através da mistura e co-moagem destes óxidos nas proporções

certas, sem implicar toxicidade.

16 Sabão em pó e o processo de lavar roupa

Os detergentes usados no sabão em pó já foram apresentados: são em primeira linha os

detergentes aniônicos (sulfonato de alquilbenzeno, sulfato do álcool graxo; ver p. 38), em

alguns casos e em menores partes também os não-iônicos (ver p. 44) que são usados nas

formulações de hoje. Antes de analisarmos os ingredientes do sabão em pó, no entanto, vamos

refletir sobre as etapas funcionais que constam do processo de lavar a roupa, para depois

melhor entender a utilidade de cada um dos componentes.

Grosseiramente, o processo de lavagem pode ser dividido em três etapas funcionais:

1. Molhagem completa da superfície do tecido onde está grudada a sujeira.

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2. Remoção da sujeira do tecido,

3. Manutenção da sujeira na água, em forma de emulsão (sujeira líquida) ou suspensão

(sujeira sólida).

O sabão clássico e os detergentes promovem cada uma destas etapas. Porém, como a seguinte

tabela mostrará, a formulação de um "sabão em pó" moderno tem muitos componentes, além

destes agentes principais de lavagem. Grosseiramente podemos falar em elementos básicos e

aditivos nesta mistura.

Os elementos básicos são: os surfactantes, os reguladores de espuma e os reforçadores.

Os aditivos são: inibidores de corrosão, agente anti-redeposição, inibidores de manchas,

abrilhantadores e cianantes, alvejantes, agentes anti-microbianos e perfumes.

Tab. 24. Composição de "sabão em pó"

Componentes básicos: Função Porcentagem em base

de sólidos secos.

Surfactante(s) orgânicos(s)

(ver cap. 8.1, na p. 38)

Molhagem, remoção e manutenção

da sujeira

~ 20 %

Surfactante orgânico

(sulfato de laurila)

Regulador de espuma 5%

Reforçadores (polifosfatos) Apóiam a remoção da sujeira

Sinergismo com o detergente

aniônico

Efeito abrandador da água dura

(trocador de cátions)

até 50%

Carga (sulfato de sódio,

barrilha)

Pouco efeito reforçador; base sólida

do pó.

Baratear o produto.

até 30%

Aditivos:

Silicato de sódio com alto

teor em sódio (= vidro

d´água; solúvel)

Inibe a corrosão em partes metálicas. 6 a 9%

Carboximetilcelulose

(CMC)

Inibe a redeposição da sujeira no tecido. < 1,3%

Corantes fluorescentes Abrilha roupa colorida. 0,15%

Corantes ou pigmentos

azuis (= cianante)

Compensa o amarelecimento natural da

roupa.

0,1%

Alvejante Remove colorações em roupa branca. < 2%

Inibidor de manchas Reduz a coloração por íons metálicos de

cobre (em ligas).

0,02%

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Agentes antimicrobianos Efeitos germicida e bactericida. < 0,3%

Enzimas Soltam manchas de sangue 0,01%

Perfume Proporciona uma impressão mais limpa

da roupa lavada.

0,1%

Água Carga; aglutinante; proporciona boa

solubilidade do pó.

até 10%

16.1.1 Ingredientes principais do detergente em pó

Os surfactantes já foram apresentados acima (cap. 8). No sabão em pó aplica-se geralmente

uma mistura de sulfatos e sulfonatos, em proporções variáveis.

O regulador de espuma pode ser da mesma natureza química que os surfactantes principais.

Um exemplo de alta produção de espuma é o sabão de coco, por sua vez rico em lauril (C

12:0). Por outro lado, existem reguladores totalmente diferentes do surfactante, muitas vezes

em combinação específica com os mesmos. Exemplo é a etanolamida láurica com LAS, outra

combinação é o álcool láurico com sulfato de alquila.

Nesta classe, no entanto, também contam os supressores de espuma excessiva. Em certas

aplicações é vantagem adicionar substâncias de natureza apolar, tais como os ácidos graxos de

longa cadeia (por exemplo, C 22:0), surfactantes não iônicos apolares e, especialmente, os

silicones 32

.

Os reforçadores atuam de várias maneiras. Em primeira linha reforçam o efeito de lavagem

do surfactante. A combinação destes dois componentes pode ser visto como sinergismo (=

melhor efeito que se espera do somatório dos dois componentes separados). Uma vez a sujeira

está solta do tecido, eles também ajudam prevenir sua redeposição. Contudo, eles aumentam

drasticamente o poder detergente, enquanto os custos de produção ficam reduzidos. Além

disso, inibem a ação dos íons da dureza da água. Eles podem ganhar ainda apoio pelo EDTA,

porém este é colocado em quantidade pequena (aditivo) devido seu custo mais alto. Afinal,

podemos afirmar que os polifosfatos, junto à barrilha (ver abaixo) elevam o pH da água de

lavagem, que representa uma condição favorável aos sabões, se estiverem na fórmula.

Lembre-se que os sabões, R-COO-, são sais de ácidos fracos que, ao ganhar um próton,

tornam-se insolúveis e perdem sua força de limpeza.

São principalmente os polifosfatos de massa média (3 a 8 átomos de P) que atuam como

reforçador. A condensação dos fosfatos atenua seu efeito negativo no ambiente,

denomindamente a eutrofização das águas. Enquanto fosfato simples e difosfato são

excelentes nutrientes para algas anaeróbicas, os pirofosfatos têm menos valor nutritivo para

estas plantas.

32 O químico preparador tem muitas vezes que lidar com espuma excessiva em aparelhos de destilação a vácuo.

Daí basta acrescentar uma gotinha de óleo silicone, para que o processo fique mais controlável.

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O P

O-

OH

O-

(Mono)fosfato(V)

+ HPO42-

- H2OO P

O-

O

O-

P

O-

O-

O

Difosfato(V)

+ HPO42-

- H2OO P

O-

O

O-

P

O

O-

O P O

O-

O-

Trifosfato(V)

Fig. 42. Reações de condensação que levam aos pirofosfatos.

Ao aquecer cuidadosamente os sais do ácido fosfórico, NaH2PO4 . 12 H2O e Na2HPO4

. 2 H2O,

eles perdem sucessivamente a água. Primeiro e logo acima de 100 °C se perde a água da rede

cristalina que é fixada somente via pontes de hidrogênio. Depois se elimina também a água

contida na sua própria fórmula iônica. Assim, chegamos a partir do fosfato, ao difosfato

[P2O7]4-

, trifosfato [P3O10]5-

, tetrafosfato [P4O13]6-

,.... e finalmente ao polifosfato linear da

fórmula geral [PxO3x+1](x+2)-

.

Lembramos que, além destas estruturas lineares (= pirofosfatos; "piro" significa fogo ou

calor), podem também formar-se condensados cíclicos da fórmula generalizada [PxO3x]x-

,

conhecidos como metafosfatos.

O

O2P

PO2

O

OPO2

Trimetafosfato

3-

Tetrametafosfato

4-O2P

O

O2P

O

O

PO2

PO2

O

Fig. 43. Os menores homólogos dos metafosfatos.

Afinal, a desidratação contínua pode também levar a estruturas em forma de gaiola, ou seja,

condensados tridimensionais, consumindo cada vez mais grupos hidroxilas livres da fórmula

dos fosfatos. Com essa perda sucessiva de água a fórmula aproxima-se ao polímero

tridimensional conhecido como polifosfato, [P2O5]x, que identificamos como anidrido do

ácido fosfórico. Neste estágio o material torna-se cada vez mais viscoso, parece um xarope,

até que endurece e fica totalmente sólido, duro e praticamente insolúvel (compare o ensaio da

"pérola de fosfato", usada na análise qualitativa inorgânica para identificar íons metálicos em

uma amostra, através da sua cor característica).

Na prática isso significa que em certo momento a polimerização dos fosfatos deve ser

interrompida, para ter acesso aos polifosfatos ainda solúveis que servem como reforçadores

em detergente.

A formulação apropriada, dos surfactantes aniônicos com os fosfatos complexos, é

considerada sendo a chave para uma boa limpeza. Logo depois da indústria de fertilizantes, a

indústria de detergentes é a segunda maior consumidora de ácido fosfórico e seus sais.

Nos anos 1980 a empresa Henkel usou pela primeira vez zeólitos, isto são alumossilicatos

alcalinos de estrutura oca (ver Fig. 44), visando uma substituição parcial dos pirofosfatos e

metafosfatos. Há mais de 60 anos já se sabe da alta capacidade destes materiais de trocar íons,

especialmente Ca2+

e Mg2+

por 2 Na+. Sendo assim, são excelentes abrandadores da água

dura. Por esta providência se conseguiu reduzir o teor em fosfatos e a eutrofização das lagoas

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e rios, mas logo se revelou que os zeólitos causam danos nas estações de tratamento de

esgoto. Portanto, se tenta atualmente substituir os zeólitos pelos silicatos solúveis (= "vidro

d´água", ver abaixo) que também têm efeitos de reforçador e abrandador da água dura.

Fig. 44. Esquema molecular de zeólitos, mostrando suas cavidades para hospedar

íons e pequenas moléculas (= "peneira molecular").

Não podemos esquecer também os componentes de carga, usados em muitos sabões em pó.

Estes materiais apóiam também o efeito dos detergentes, mas nem tanto quanto os fosfatos

reforçadores. Eles barateiam bastante o produto final, já que são aplicados em até 30% do

peso seco. Por outro lado, a qualidade da formulação diminui com o uso dos mesmos. É

principalmente o sulfato de sódio e a barrilha (= mistura de soda, Na2CO3, e potassa K2CO3)

que são adicionados como carga para aumentar o peso do produto.

Todos os demais componentes do sabão em pó são considerados sendo aditivos, tipicamente

acrescentados em quantidades menores que 3%.

16.1.2 Aditivos no detergente em pó

Silicatos de sódio são feitos a partir de areia ou quartzo (SiO2) e soda (Na2CO3). Estes dois

minerais são finamente moídos, intensamente misturados e fundidos à alta temperatura (em

torno de 1000 °C). Deste processo sai um material vitrificado cuja fórmula idealizada é

indicada abaixo. A característica mais marcante deste vidro é sua elevada solubilidade na

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água, ao contrário das misturas onde também está presente o cálcio (em forma de CaCO3), daí

conhecidas como vidro comum. Portanto, costuma-se falar em "vidros d´água".

Um vidro, ao contrário de um cristal, não tem os átomos em posições regulares,

consequentemente também não tem uma fórmula definida. As proporções entre o quartzo e a

soda pode variar entre 2 [SiO2 : Na2CO3] 4.

A reação idealizada (por ser de caráter não estequiométrico):

2 Si O2 + M2CO3 M2Si2O5 + CO2 ; com M = Na ou K.

Vidro d´água

Mais comercializada é a solução do vidro d´água de sódio, da composição Na2O : SiO2 = 1 :

(3,4 a 3,5), ou seja, na escala superior da alcalinidade. Usado em sabão em pó, esse material

tem o papel de proteger as partes metálicas durante o processo de lavagem, tanto na roupa

(zipper, botões, fivelas, etc.) como na máquina de lavar. Em misturas detergentes de máquina

de lavar louça, como podemos imaginar, o vidro d´água é indispensável.

Os inibidores de manchas auxiliam na ação dos silicatos, ao proteger as partes metálicas.

Eles aumentam o espectro das ligas a serem protegidas, àquelas que são ricas em cobre, tal

como a prata germânica (60% Cu, 25% Zn, 15% Ni). Para este fim, o benzotriazol tem sido

usado com êxito.

Benzotriazol:

N

N

N

H

A carboximetilcelulose (CMC) é um derivado da celulose, onde alguns grupos hidroxilas são

transformados em éteres que têm no final um grupo carboxilato. Essa transformação faz com

que a CMC perda sua regularidade e cristalinidade e torne-se totalmente solúvel na água (ao

contrário da celulose que, como todos sabem do papel, se mantém em forma de fibras

insolúveis).

HO

H+ Cl CH2 COO-Na+

[OH-]

SN

O

H

CH2-OOC

Na+

Celulose(insolúvel; cristalina)

2-cloroacetato Carboximetilcelulose(solúvel; não cristalina)

Sua estrutura polimérica, por outro lado, fica intocada durante esta derivatização. Sendo

assim, a CMC flutua na água em forma de um novelo estatístico. Ela tem o papel de colóide

protetor. Realmente, precisa-se pouca quantidade deste polímero para proteger o tecido contra

as micelas que se formaram entre o detergente e a sujeira. Desta forma a CMC retarda ou

impede a redeposição da sujeira no tecido - o que seria o reverso do processo de lavagem.

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124

Os abrilhantadores de tecido tornam-se cada vez mais importantes nas modernas

formulações de pó. São corantes fluorescentes que fazem os tecidos aparecerem mais

brilhantes em virtude da capacidade que possuem para converter a radiação ultravioleta (340 a

370 nm) em luz visível, tipicamente da região azulada de 420 a 470 nm. A promessa no

reclame que parece tão ridícula, um produto que "lava mais branco do que branco", realmente

tem um fundo de verdade: a emissão da quantidade de luz visível que é refletida dos tecidos

tratados com abrilhantador, pode exceder os 100%, ao comparados com o tecido limpo e

novo! Esta transformação da luz, ao contrário da fosforescência, ocorre espontaneamente e se

perde logo após apagar a iluminação. Os abrilhantadores (em inglês: optical brightener;

fluorescent brightening agents) compensam em partes o amarelo típico em tecidos velhos, por

refletirem especialmente a luz da região azulada.

Os materiais mais usados com propriedade fluorescente são os estilbenos. Apenas os

estilbenos trans são ativos. Os dois derivados quase que exclusivamente usados na Europa

são:

DAS1 (4,4´-bis-[4-anilino-6-morfolino-1,3,5-triazino-2-yl)amino]estilbeno-2,2´-

dissulfonato dissódico) e

DSBP (4,4-bis-(2-sulfoestireno)-bifenil dissódico).

Outros materiais fluorescentes (também usados em papel branco e diversas tintas) são:

Triazinestilbenos (di, tetra ou hexassulfonado), cumarinas, imidazolinas, diazóis, triazóis,

benzoxazolinas e bifenilestilbenos (estruturas generalizadas ver Fig. 45).

SO3-

SO3-

NHR

RHN

N

NN

O

O

N

X

N

X

Y

Y

OR2N

R´´

O

NN

YSO2NH2

N

O

OOI

IIIII

IVV

VI

Fig. 45. Grupos de moléculas com efeito fluorescente:

I Derivados do trans-estilbeno (mais produzido)

II Análogo heteroaromático ao estilbeno (hidrofóbico)

III Cumarina (ultrapassado)

IV 1,3-Difenilpirazolina (para lã)

V Naftalimida (bastante resistente)

VI Aromático condensado com heteroaromático (aqui uma triazina).

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Nos últimos anos os abrilhantadores substituiram em grande parte os corantes azuis, também

conhecidos como cianantes. No tecido eles têm um efeito parecido, isto é, compensando o

amarelecimento que vem com a idade da peça. Note que quase todas as fibras, sejam naturais

ou sintéticas, mostram bandas de absorção entre 400 e 500 nm. Mas, ao contrário dos

abrilhantadores, os cianantes não aumentam o brilho, mas apenas compensam o amarelo pela

cor complementar, levando a uma cor extinta - que é cinza. Embora a tendência é reduzir

esses corantes azuis, a maioria dos pós vendidos no Brasil ainda os contém, na faixa de 0,02 a

0,04%.

Também os alvejantes puderam ser parcialmente substituídos pelos abrilhantadores. Em

alguns países (EUA, Canadá) são até proibidos ou restritos por lei. Também se põe a questão

da segurança, pois estas substâncias apóiam a combustão e já levaram no passado a grandes

incêndios em fábricas de detergente. São denominadamente os peróxidos, mais usados do que

o hipoclorito, devido às temperaturas elevadas aplicadas nas lavandarias européias. Menos

perigosos do que os peróxidos livres da fórmula O22-

, são os perboratos, onde a unidade –O-

O- representa as pontes entre duas unidades “BO3”. O perborato de sódio (PBS) é um sal

inodoro, branco e solúvel em água, com a composição idealizada NaBO3. Cristaliza-se como

o mono-hidrato, trihidrato ou tetrahidrato, NaBO3 xH2O (x = 1,3,4). O mono-hidrato e tetra-

hidrato são as formas comercialmente mais importantes. A unidade estrutural básica de

perborato de sódio é o ânion dimérico B2O4(OH)42–

:

O

B

O O

B

OHO

HO

OH

OH .

Uma famosa marca de sabão em pó é Persil da empresa Henkel (Alemanha). Este nome

fantasia vem de perboratos e silicatos (ver acima, "vidro d´água").

A adição de agentes antimicrobianos é importante ao lavar roupas de bebê, mas também é

componente indispensável em limpa-tudo, principalmente usado para limpar o chão da casa e

o banheiro. Esses últimos geralmente contém hipoclorito de sódio, Na+ ClO

-, em solução

alcalina. A produção desta solução é bastante simples e barata; a saber, basta submeter uma

solução de NaCl à eletrólise, usando câmaras abertas sem diafragma.

É evidente que para aplicações diretas em pessoas ou indiretas ao lavar as roupas, o

hipoclorito (que libera cloro ativo) não é adequado - jamais em bebês! Usam-se, portanto,

substâncias que são menos agressivas frente os seres mais desenvolvidos, mas igualmente

tóxicas frente aos microorganismos. Além dos detergentes catiônicos (p. 42), os parabenos (p.

85) e o triclosano (p. 93), são estes os derivados da acetanilida e salicilanilida que mostram os

efeitos desejados, sem afetar a saúde humana.

Acetanilida:

H3CC

NH Ph

O

Salicilanilida: C

OH

O

NHPh

Fig. 46. Exemplos de agentes antimicrobianos.

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Os perfumes não podem faltar em sabão em pó, nem em detergentes de outros usos

domésticos. O cliente quer associar certo cheiro "limpo" quando aplicar o produto na sua

casa. Todavia, este aditivo não contribui de alguma forma, à limpeza.

Na produção do sabão em pó é importante acrescentar o perfume em última etapa, para que

estas fragrâncias voláteis não sejam submetidas a nenhuma etapa operacional que libere muito

calor. Logo depois da adição do perfume o produto é selado e embalado.

Mencionamos em último lugar um teor de 5% (ou mais) de água, na formulação final do pó.

Essa quantidade é indispensável, porque uma mistura totalmente seca teria solubilidade

insuficiente. Uma queda drástica na sua eficiência de limpeza seria a consequência e restos de

pó iriam grudar em cima da roupa lavada.

Pelos motivos de solubilidade, mas também para proporcionar uma consistência solta ao pó,

um bom controle do teor d´água na sua produção é crucial. Mais usado na confecção do pó é

hoje um equipamento chamado de "secador de atomização". É uma torre onde o material

particulado e úmido é carregado de cima, finamente distribuído por meio de orifícios e alta

pressão, enquanto uma corrente de ar seco e quente vem de baixo, em contracorrente.

Fig. 47. Fluxograma da fábrica de detergente em pó. (Fonte: R.N. Shreve, J.A.Brink Jr,

Indústrias de processos químicos, 4a ed. Guanabara Rio de Janeiro 1997)

16.2 Matérias-primas na fabricação de detergente em pó Hoje em dia a maioria dos detergentes para lavar roupa vem em forma granulada. O cliente

espera do produto que se dissolva rapida e completamente, sua distribuição deve ser uniforme

e atingir todas as partes da roupa. O desenho acima representa um processo com que se

consegue produzir grandes quantidades de material particulado que satisfaz estas condições.

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Note que o transporte do pó é por via pneumática (ver Fig. 47). Pressões e temperaturas

elevadas devem ser evitadas, se não os grânulos grudam e entopem os equipamentos da

fábrica. Além disso, podem formar-se pedaços maiores o que é rejeitado pelo mercado,

devido seu manuseio desconfortável e sua má solubilidade.

Tab. 25. Para produzir uma tonelada de detergente acabado, a fábrica precisa as

seguintes matérias:

Produção dos agentes tensoativos: Demais ingredientes:

Alquilbenzeno

(petróleo)

75 Kg Inibidor de corrosão

(vidro d´água)

125 Kg

Álcool graxo

(recurso renovável)

75 Kg Reforçador

(polifosfatos)

500 Kg

Óleum 150 Kg Demais aditivos 30 Kg

NaOH concentrado 200 Kg Água consumida 500 Kg

Para se produzir 100 Kg de sabão em pó a fábrica mistura os ingredientes nas seguintes

proporções:

Componentes principais: Demais ingredientes:

Sulfônico 15 a 20 Kg Carboximetilcelulose

de sódio

até 1 Kg

Tripolifosfato de sódio 10 a 15 Kg Enzimas até 0,5 Kg

Zeólitos até 10 Kg Corantes até 20 g

Carbonato de sódio (barrilha) 5 a 10 Kg Branqueadores

ópticos

até 1 Kg

Silicato de sódio (vidro

d´água)

8 a 12 Kg Perfume até 30 g

Sulfato de sódio (carga) até completar 100

Kg

Segue uma receita de sabão em pó moderno para máquina (quantidade 100 Kg), com a

promessa de proteger as cores:

Componentes principais: Ingredientes especiais:

Sulfônico 10 a 15 Kg Alquil-dimetil-

hidroxietil cloreto de

amônio

até 3 Kg

Renex 100 2 a 5 Kg Perborato de sódio até 10 Kg

Tripolifosfato de sódio 10 a 15 Kg Carboximetilcelulose

de sódio

até 1 Kg

Zeólitos até 10 Kg EDTA até 3 Kg

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Carbonato de sódio (barrilha) 10 a 20 Kg Enzimas até 0,5 Kg

Silicato de sódio 8 a 12 Kg Branqueadores até 1 Kg

Sulfato de sódio até completar 100

Kg

Corantes, perfumes 20 g; 30 g

Para sua produção são necessários ou uma "torre de sopragem", isto é um secador em leito

fluidizado parecido ao secador por atomização (ver Fig. 47) ou uma cascata de misturadores

de pó. O misturador é carregado com a barrilha, o tripolifosfato de sódio e outros pós. O

sulfônico é adicionado lentamente. Quando todo o detergente sulfônico for adicionado, devem

ser incorporados 2% de água, o silicato de sódio (solução 40%) e a solução de branqueadores

ópticos. Essa mistura é descarregada sobre um piso forrado (ou vai então para a torre de

sopragem), para secar e depois passará por um triturador para melhorar a sua aparência.

Perborato, enzimas e perfumes são os últimos, já que esses ingredientes não devem ser

aquecidos.

16.3 Energia envolvida na produção de detergentes Surpreendentemente, a fábrica de detergente não tem gastos em energia - pelo contrário, ainda

sobra energia que pode ser usada para iluminação e outros fins.

Isso se deve à alta exotermia de todas as etapas principais: sulfonação aromática, a sulfatação

de alcoóis graxos, e finalmente, a neutralização dos produtos sulfonados/sulfatados.

Lembramos que o óleum usado no processo causa um ambiente e produtos fortemente ácidos,

a ser neutralizado com grandes quantidades de soda cáustica.

Seguem os balanços energéticos das referidas etapas:

Sulfonação:

R-Ar-H + H2SO4 . SO3 R-Ar-SO3H + H2SO4; H = -420 kJ

.Kg

-1 de R-Ar-H

Sulfatação:

R-CH2OH + SO3 . H2O R-CH2-O-SO3H + H2O;

H = -330 a -350 kJ.Kg

-1 de álcool graxo

Neutralização:

H+ + OH

- H2O ; H = -55,873 kJ

.mol

-1, corresponde a -3100 kJ

.Kg

-1 de água neutra!

Notamos que também as reações paralelas da sulfonação/sulfatação (ver p. 38) são

exotérmicas, porém menos do que as reações principais. Isso implica que a temperatura tem

grande influência, não só na velocidade, mas também à porcentagem com que os produtos

indesejados se formem. Para se ter reações rápidas é preciso uma temperatura elevada (Eq. de

Arrhenius); por outro lado, temperaturas baixas favorecem a posição do equilíbrio de reações

exotérmicas. Essa afirmação pode também ser falada na forma negativa: se a temperatura for

muito alta, aquelas reações que são menos exotérmicas são favorecidas; e todas essas são,

como vimos, reações paralelas. Afinal, existe uma temperatura ótima para cada etapa, onde os

dois critérios, velocidade e posição do equilíbrio, são satisfeitos.

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Como todas essas reações são rápidas (a neutralização é uma das reações mais rápidas que se

conhece na química em fase líquida!), então há necessidade de um sistema de refrigeração

eficaz. Trocadores de calor devem atingir uma grande área do reator, para sequestrar o calor -

se não haverá perigo de perder o controle sobre o processo que, no pior caso, pode levar à

explosão na fábrica. A sulfonação, por exemplo, quando executada a 50°C, se completa em

aproximadamente 1 a 2 minutos. Neste período liberamos, como vimos acima, em torno de

100 Kcal, a cada Kg de alquilbenzeno. Ao deixar subir a temperatura demasiadamente, a

mistura escurece e há tendência à supersufonação.

16.4 Vantagens e desvantagens do sabão, em comparação com

os detergentes sintéticos O sabão tradicional ainda se usa bastante na limpeza de mãos e do corpo em geral, mas é

relativamente pouco usado nos países industrializados a fim de lavar roupa. Os tensoativos

sintéticos, sulfonatos e sulfatos, dominam esta área. Alguns porcento de sabão, todavia,

podemos ainda achar em formulações de sabão em pó (ver p. 120); a finalidade nestas é

menos a limpeza da roupa, mais o sequestro da dureza da água de lavagem. Os carboxilatos

de cálcio são de baixa solubilidade e podem ser removidos da mistura. Além disso, esses sais,

Ca(R-COO)2, quando presentes em pequenos cristais, suprimem a formação excessiva de

espuma (= regulador de espuma, ver p. 122).

Podemos resumir as desvantagens do sabão tradicional nos seguintes pontos:

O sabão não só remove a sujeira, mas também parte da gordura natural da pele. Isto

pode, especialmente na lavagem excessiva, levar à pele áspera e quebradiça. A

tendência desta "secagem" da pele é atenuada quando se usa sabão com elevado teor

em glicerina (que automaticamente já está no produto quando a saponificação for feita

a frio).

O sabão reage com a água, liberando a base forte hidróxido. Esta, por sua vez, pode

prejudicar o objeto da lavagem, os tecidos e especialmente a nossa pele!

Sabão + Água Ácido graxo + OH-

A explicação desta reação (ver também p. 42): o ácido graxo é apenas um ácido fraco,

portanto seu sal, o sabão, uma base que consegue desprotonar notavelmente a água.

Essa última explicação mostra mais um ponto fraco do sabão, ácido fraco: quando

encontrar-se em ambiente de caráter ácido (por exemplo, um resto de molho de tomate

ou resto de coca-cola, ao lavar louça), o sabão será facilmente protonado. Então

transforma-se em um ácido graxo livre que não tem mais as características anfifílicas,

necessárias para ser um compatibilizante entre a água e a gordura. Ver também cap.

8.2, na p. 42 e o tratado sobre o pH em xampus, na p. 85.

O sabão forma precipitados com os íons M2+

da água dura. Ao contrário do carbonato

de cálcio, esta camada não se restringe à superfície quente, mas pode acontecer

também na fibra do tecido a ser lavado. Sua cor é clara, mas não tem um brilho bonito.

As vantagens do sabão, em comparação aos detergentes sintéticos:

Excelente biodegradabilidade.

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Sabões puros (por exemplo, feito de azeite de oliva) são adequados para pessoas

alérgicas, porque as gorduras naturais são mais bem toleradas nestas pessoas do que os

tensoativos artificiais.

Sabões ricos em lauril (C 12:0, em alta concentração no sabão de coco) geram uma

espuma fina e gostosa, especialmente agradável na hora de tomar banho.

17 Formulações de produtos cosméticos

Essa secção contém formulações básicas, tanto de produtos cosméticos tradicionais caseiros,

como os mais elaborados para produção industrial. O objetivo é proporcionar as primeiras

idéias e conceitos básicos ao iniciante em produção de cosméticos. No entanto, é

imprescindível informar-se, após a escolha de uma receita, sobre as variações que existem no

mercado, para adequar o respectivo produto à sua finalidade. Além de material abundante na

internet, acessível por meio das máquinas de busca gerais, pode consultar a literatura indicada

na p. 191 adiante.

As formulações a seguir contêm a listagem dos ingredientes, conforme seu nome comercial.

Como isso difere muitas vezes do nome científico, estão relacionados os componentes mais

importantes, junto ao(s) sinônimos(s) e sua função dentro do cosmético.

Tab. 26. Relação de alguns ingredientes em cosméticos, junto aos nomes comerciais.

Produto

comercial

Nome científico Aplicações

Água destilada destilada e

desmineralizada

Água isenta de sais e bactérias.

Lanete Álcool

cetoestearílico

Agente de consistência para cremes, loções e

condicionadores capilares.

Amida Dietilonamida de

ácidos graxos de

côco a 80% ou

90%.

Espessante sobreengordurante e estabilizante de

espuma em formulações de xampu, repondo a

oleosidade que foi retirada pela ação dos tensoativos.

Anfótero Cocoamidopropil

betaína

Reforça a ação dos tensoativos primários, diminui a

irritabilidade, aumenta a viscosidade e estabilidade da

espuma.

BHT, ionol 2,6-di t-butil 4-

metilfenol (Butil

Hidroxi Tolueno)

Antioxidante para soluções oleosas, para evitar a

rancificação.

Benzoato de

benzila

Escabicida, acaricida, peiculicida.

Cânfora Rubefaciente e levemente analgésico.

Carbopol 940 Poli-ácido acrílico Polímero que dá consistência de gel (a base d´água).

Carbowax 4000 Polietilenoglicol

(PEG)

Polímero hidrossolúvel, líquido ou sólido, dependendo

da sua massa molar, usado como lubrificante,

espessante, solvente, plastificante, carregador de

umidade (agente higroscópico) e agente de

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desmoldagem. Usados em sabões, detergentes e em

cremes hidratantes.

Cloridróxido de

alumínio

Adstringente e anti-perspirante, fecha os poros da pele.

Croda Base concentrada para cremes e loções.

EDTA Etileno Diamina

Tetra Acetato

dissódico

Sequestrante das impurezas (cátions) que

comprometem a estabilidade das formulações;

sequestro da dureza da água no ato de lavagem.

Glicerina

bidestilada

Ação anti-séptica, laxativa e emoliente.

Genapol,

Texapon

Lauril éter sulfato

de sódio

Tensoativo aniônico, espumante, adequado em

produtos de detergência e limpeza.

Luivicol, PVPK

90

Polivinil

pirrolidona

Agente de fixação em géis.

Mentol Álcool sólido, mono-terpeno, extraído da hortelã

japonesa, também sintético. Ação refrescante,

vasodilatador, analgésico, acalma coceiras.

Miristato de

isopropila

Cera líquida, muito fluida, facilmente absorvida pela

pele. É usado em lugar de óleos vegetais já que não

rancifica.

Nipagim,

Nipazol

Parabenos Sistema sinérgico de conservantes, ataca

microorganismos. Nipagim mais hidrofílico, Nipazol

mais lipofílico.

Zonen MI Mistura de

isotiazolinonas

Conservante, pode ser utilizado em lugar dos

parabenos (geralmente 19 gotas a cada litro ou

quilograma de produto cosmético)

Pantenol D-pantenol Excelente capacidade de reter umidade da pele,

tratamento de cabelo seco, proporciona aparência

natural e elasticidade.

Propilenoglicol Umectante, compatibiliza as fases hidrofílicas-

lipofílicas, solvente para diversas essências.

Quaternário Cloreto de cetil

trimetil de amônio

Tensoativo catiônico, agente molhante, emulsificante,

bacterizida, anti-estático em condicionadores e cremes

capilares (não deve ser usado em formulações com

tensoativos aniônicos, pois forma um sal pouco

solúvel).

Renex Nonilfenol

etoxilado

Tensoativo não iônico, feito pela condensação entre

nonilfenol e óxido de etileno. As quantidades relativas

dos reagentes determinam a HLB (definição ver p. 48).

Silicones Polidimetilsiloxano Polímero líquido hidrofóbico (repele os umectantes),

protege pele e cabelo contra ação nociva de soluções

aquosas, com efeito anti-transpirante, emoliente.

Surfaz BP, Base perolada para xampus e sabonete líquido.

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Cutina AGS

Triclosan,

Irgasan DP300

ou G11

Fenoxifenol

policlorado

Conservante: bacteriostático, germicida.

Trietanolamina N(CH2-CH2OH)3 Base moderada a forte, regulador de pH, dá

consistência em cremes e géis, contraíon em sabões e

detergentes para alérgicos.

Carbomida Uréia Hidratante de pele, conserta a stratum córneum

(reepitelizante) com leve efeito sistêmico.

Segue uma lista de produtos naturais muito utilizados em cosméticos.

Tab. 27. Produtos naturais e extratos, usados em cosméticos.

Nome comercial Finalidade

Colágeno natural Fluído viscoso, termo-sensível, contendo 3% de colágeno puro extraído

de tecido bovino. É indicado para tratamento de pele seca, desidratada e

envelhecida. Corrige danos causados pela radiação solar, combate rugas.

É usado na formulação em 2 a 10%.

Elastina Proteína termo-estável (= resiste à fervura). Aumenta a elasticidade da

pele, portanto é usada no tratamento de celulite e rugas. Ajuda em reter a

umidade natural da pele, na restauração e no condicionamento de tecidos.

É hidratante para cabelo. É usado de 1 a 10%.

Placenta Gel líquido feito de placenta bovina, promove a regeneração celular,

usado em cosméticos anti-envelhecimento. Concentração: 1 a 5%.

Proteína Extrato de tecido animal, tem a finalidade de fornecer nutrientes à pele e

ao cabelo. Possui efeito restaurador, protetor, confere uma textura

agradável à pele e maciez, volume e brilho ao cabelo. Retém a umidade

da pele e protege o cabelo de substâncias agressivas do ambiente.

Lanolina Substância gordurosa extraída da lã do carneiro; é usado como emoliente.

Concentração: 1%.

Manteiga de

Karité

Emoliente para pele e cabelo, extraído de uma árvore africana.

Queratina Protetor da pele, extraído de uma árvore africana.

Segue uma lista de essências naturais (= extratos de plantas obtidos por meio de arraste a

vapor) e seus efeitos em cosméticos e remédios. Isso já implica que esses óleos são bastante

inofensivos e geralmente podem ser ingeridos. Além disso, acredita-se que muitos destes

óleos da família dos terpenos têm efeitos terapêuticos espirituais e por isso são afiliados a

crenças e tradições.

Tab. 28. Essências naturais

Fonte da essência Efeitos

Alecrim Calmante, memória, tônico cardíaco

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Alfazema Limpeza astral, analgésico, diurético

Almíscar Extroversão, autoconfiança

Amêndoas Relacionamentos, amizade, alívio de dor

Arruda Afasta energia negativa, cicatrizante, anti-séptico

Baunilha Relaxante, purificante

Benjoin Sucesso, desodorante, expectorante

Bergamota Autoconfiança, stress, ansiedade.

Camomila Purificador, insônia, analgésico muscular

Canela Negócios, estimulante das funções pulmonares e cardíacas

Cânfora Eliminação de líquidos, refresca a mente, acumula a energia do

ambiente

Cedro Honra, riqueza, vias respiratórias, faz parte em muitos perfumes

masculinos.

Citronela Renova o fluxo de energia, estimulante, refrescante

Cravo da Índia Força, cicatrizante, estimulante

Dama da noite Paixão, antitóxico, diurético, laxante

Erva cidreira Calmante

Erva doce Harmonia, laxante, flatulência

Eucalipto Purificador, clareia a mente

Flor de laranjeira Prosperidade, calmante

Gerânio Repositor hormonal, antidepressivo, equilibra relacionamentos

Hortelã Refrescante, dores de cabeça, gripe e resfriado

Jasmim Confiança, otimismo

Lavanda Insônia, calmante, analgésico

Laranja (folha) Iniciativa e agilidade

Limão Alívio de tensões e stress

Maçã Amizade, antidepressivo, enxaqueca

Mel Energia positiva, unificador, atrai dinheiro

Mirra Inspiração, sedativa, estimulante pulmonar

Pogostemon

(Patchouli)

Afrodisíaco, tônico, bactericida

Pinho Saúde, harmonização mental, tranquilidade

Rosa Amor, antidepressivo, antiinflamatório

Sândalo Meditação, expectorante, antidepressivo, tônico

Verbena Sensualidade, estimulante do fígado e da digestão

Violeta Espiritualidade, aquecimento do amor

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17.1 Preparo de alguns ingredientes básicos

17.1.1 Sobre a pureza da soda utilizada

Soda 99 (= grau de pureza, em massa) é a soda mais forte, ela é encontrada em escamas

ou perolada (bolinhas), com 1 Kg desta soda cortam-se 6 Kg de gorduras.

Soda líquida - com 1 Kg desta soda cortamos apenas 3 Kg de gordura.

Soda de pacote comercial comprada em supermercado - com 1 Kg dela cortam-se até 4,5

Kg de gorduras, depende da marca.

Potassa (= hidróxido de potássio) é um caustificante especial para se fazer sabões em

pasta ou líquidos. Com 1 Kg dela cortam-se 6 Kg de gorduras.

Normalmente, para se neutralizar 1 Kg de sulfônico 90% (agente tensoativo usado

principalmente em detergentes líquidos, ver p. 162 adiante) usa-se 110 g de soda 99% ou 220

g de soda líquida. Esta proporção pode variar conforme a concentração do sulfônico, de

fabricante para fabricante. Mais comum é o sulfônico de 90%.

17.1.2 Sobre as gorduras utilizadas

Podem ser usados óleos de soja, mamona, milho, girassol, coco, sebo bovino, gorduras de

porco, óleo usado da cozinha, gordura hidrogenada, etc. As proporções entre gorduras e soda

indicadas abaixo oferecem como resultado um sabão alcalino com grande poder de limpeza.

Se quiser um sabão menos alcalino use a proporção de 1 Kg de soda 99% com 6,5 Kg de

gorduras. Mais detalhes, ver a Tab. 29.

Tab. 29. Índice de saponificação de diferentes gorduras e óleos.

1 Kg de gordura ou óleo precisa para

saponificação completa

Gramas de soda cáustica 99% (soda

líquida é o dobro):

Sebo bovino

Manteiga de cacau

Banha de porco

Babaçu

Amendoim

Óleo de coco

Estearina

Óleo de palma

Óleo de oliva

Gordura vegetal

Óleo de linhaça

Óleo de girassol

Óleo de algodão

138 g até 143g

137 g

de 138 até 139,5g

176 g

133 g até 140 g

181 g até 188 g

141 g

140 g até 146 g

134 g até 140g

136 g até 140 g

134 g até 138 g

134 g até 137g

137 g até 140 g

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135

Óleo mamona

Óleo de milho

Óleo de soja

128 g até 130 g

136 g ate 138 g

137 g até 139 g

17.1.3 Preparo da lixívia para o processo da saboaria "a frio".

É um erro preparar pequena quantidade de massa saponífera. É muito pouco. A massa foge do

ponto, perde calorias e endurece muito rápido. Costuma-se a preparar sempre quilos da

seguinte maneira dependendo das gorduras que usará.

Se tiver mais gorduras saturadas do que óleos, então aumente a quantidade de água da lixívia,

se tiver mais óleos diminua, variando assim:

1° Caso:

1 Kg de soda 99% com dois litros de água = total 3 Kg de lixívia ou então medir para ver

quantos mL tem. (Complete com água até chegar aos 2450 mL). Ou usar em gramas ou usar

em mL. Essa quantidade de água é para quando usar mais óleos na saponificação.

(especialmente adequado para o processo a frio)

2° Caso:

1 Kg de soda 99% com 3 litros de água (quando diminuir os óleos insaturados e aumentar as

gorduras saturadas).

3° Caso

1 Kg de soda 99% com 4 litros de água (quando tem mais sebo do que óleo). O sebo é uma

gordura altamente saturada.

Detalhe: com esta quantidade de lixívia, para fazer sabão alcalino pode ser usado 6 Kg e um

pouquinho de gorduras, se quiser mais alcalino coloque apenas 6 Kg. No caso de sabonete,

com essa quantidade toda de lixívia tem que se colocar 7 Kg de gorduras (óleos) para não

ficar super alcalino. Isto é uma média, já que cada gordura ou óleo tem um ponto de

saponificação próprio, ou seja, a relação entre soda e gordura (ver Tab. 29).

Para fazer uma quantidade menor, por exemplo: usando apenas 500 g de gorduras (óleos),

divida os três quilos de lixívia do 1°CASO por sete, que são os sete quilos de gorduras, o que

vai dar, aproximadamente, 430 g de lixívia para 1 Kg de gorduras (óleos), se vai fazer com

meio quilo de gorduras, então divida 430 g por 2 = 215 g de lixívia a ser usada.

Se quiser usar em unidades de milílitros (por não ter uma balança de precisão em casa), basta

ver quantos mL deu na lixívia toda e repartir por sete e ir dividindo. A experiência mostrou: 1

Kg de soda e 2 litros de água, no outro dia deve render exatamente 2450 mL (pode ajustar

acrescentando /tirando alguma lixívia). Usando 2450 mL : 7 = 350 mL, para 1 Kg de

gorduras.

Pode acontecer que sua receita vira um tijolo duro, por usar mais gordura do que óleo. Então,

pode ser colocado um pouco mais de água na lixívia que ainda ficaria duro suficiente. Por

outro lado, se fizer uma receita com mais óleos, então não pode abusar da água, se não fica

mole.

Nas formulações de sabão descritas abaixo, bons resultados se obtém com as seguintes

quantidades relativas:

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5 Kg de sebo e 1 Kg de óleo de soja, com lixívia do 3° caso (ver acima). Se for colocar 2 Kg

de sebo e 4 Kg de óleo, então deve-se usar lixívia do 2° caso, se fizer uma receita só com óleo

usado é melhor aplicar a lixívia do 1° caso.

Mais sobre a lixívia em geral, recorra à p. 139.

17.1.4 Receita básica do processo saboeiro "a frio".

Indicada a quantidade mínima; se preparar menos que isso, dará os problemas já mencionados

acima.

450 g de gordura hidrogenada (dessas de fazer glacê de bolo)

50 g de óleo de mamona

215 g de lixívia do 1° caso ou então 175 mL do 1° caso (caso aumentar para 2450 mL a

lixívia).

Temperatura das gorduras = 50°C.

Temperatura da lixívia = 40 °C.

Despejar vagarosamente a lixívia sobre as gorduras e mexer até começar a engrossar, daí entra

com o corante (a base de óleo) e a essência ou óleo essencial e os óleos insaponificáveis com

vitaminas etc.

Se for usar essência à base de óleo, convém misturá-la com um pouco de dipropilenoglicol ou

serve o propilenoglicol. Se usar essência à base de água nem precisa. Despejar na forma

forrada com plástico e cubrir, embrulhar e esperar 24 h, abrir, cortar e guardar fechado para

“curar”, pelo menos uma semana. Caso o produto fica duro demais, basta colocar na lixívia

usada na receita um pouquinho mais de água. Se quiser mais espuma, coloque uns 20 mL de

lauril (optativo).

Se quiser colocar outros óleos (girassol, canola, soja, milho, azeite, coco, palma) na receita,

basta ir diminuindo na quantidade de gordura hidrogenada. Não altere a quantidade de

mamona. Mas, se for dobrar, dobre a mamona também e por aí vai.

Exemplos:

300 g de gordura de coco + 100 g de óleo de canola + 100 g de azeite

350 g de banha suína + 100 g de sebo bovino + 50 g de óleo de milho

300 g de sebo bovino + 100 g de coco + 100 g de óleo de soja

450 g de sebo bovino + 50 g de azeite

250 g de coco + 150 g de palma + 100 de soja.

Experimente outras combinações - o que vale no final é sua própria experiência! Nunca

esqueça anotar exatamente o que realmente entrou na receita e, claro, o resultado e os pontos

fracos que devem ser melhorados no próximo produto. Observe que o percentual de

saturados é sempre maior, isto é para se conseguir um sabonete com maior grau de dureza.

Se quiser fazer só com óleos também dá, mas na hora de preparar a lixívia tem que colocar

menos água, por ex: 1 Kg de soda 99% com apenas um litro de água. A estearina (ou ácido

esteárico) é muito utilizada para dar maior dureza aos sabonetes. Costuma-se usar de 10 g a

20 g dela na receita de 1 Kg de óleos e gorduras. Ela entra na conta também. Tire 10 g ou 20 g

de algum óleo e substitua por ela.

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17.1.5 Dicas para sabões refinados

Dica geral: Não se esqueça de usar o EDTA na água (= sequestrante dos metais de dureza).

Quando a massa do sabonete começa a engrossar, daí é um bom momento para acrescentar os

aditivos (corantes, essências ou óleos essenciais, ervas, argila, etc.), que vão dar um toque

especial ao seu sabonete. Segue uma lista de óleos que podem ser acrescentados.

Tab. 30. Óleos vegetais usados na saboaria e seus efeitos.

Óleo / Manteiga Efeito / comentário

Semente de uva Fonte de vitaminas revitalizadoras e regenerativas.

Rosa mosqueta ideal para peles secas

Macadâmia um excelente antioxidante

Linhaça poderoso hidratante

Jojoba antiinflamatório e antioxidante

Gérmem de trigo Hidratante especial

Cenoura Emoliente

Camélia Umectante

Amêndoas doces para peles ressecadas

Abacate proporciona maciez e flexibilidade à pele e cabelos

Manteiga de cacau amacia e lubrifica a pele

Manteiga de abacate devolve a elasticidade à pele

Manteiga de karitê protege e confere emoliência

Costuma-se usar cerca de uma colher de chá (tanto dos óleos como das manteigas) para cada

receita destas indicadas abaixo – com meio quilo de gorduras. Se fizer um quilo coloque uma

colher de sopa.

Outros aditivos (aromatizante, corante, alguns até têm efeitos homeopáticos; compare Tab.

28):

Pó de folhas de alecrim

Gel de babosa

Argila (branca, rosa, verde, vermelha)

Arroz em pó (bata no liquidificador).

Canela em pó

Gengibre em pó

Noz moscada em pó.

Chocolate em pó.

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Pó de café (2 colheres rasas) para tirar cheiros das mãos!

Outros ao seu critério!

Costuma-se colocar uma colher de sopa de qualquer um deles já diluídos em uma parte de

óleo (2 colheres de óleo) que vai usar na receita. Alguns nem precisa. O chocolate precisa.

Corantes e essências:

O que faz o diferencial do seu produto no mercado é o que foge do comum. Como a qualidade

desses produtos varia muito, costuma-se usar cerca de 10 mL até 30 mL de essência ou óleo

essencial por Kg de gorduras utilizadas na receita. O corante deve ser de natureza oleosa; as

quantidades ficam ao seu critério.

17.1.6 Como preparar um gel d´água transparente

Um gel translúcido e bastante estável se obtém com CARBOPOL (ou CARBOMER) - um

polímero hidrofílico, poli-ácido acrílico. Fazer gel de barba, álcool gel, desodorante em gel,

gel para penteado de cabelo, etc. A quantidade utilizada varia conforme a consistência do gel

que se quer, podendo ser utilizado de 40 g a 130 g de CARBOPOL para cada 10 litros de

água, ou seja, de 4 g a 13 g por litro de água. Detalhes químicos, ver Fig. 35, na p. 97.

17.1.7 Faça seu próprio "brancol"

Misture 10 g de soda em um litro de água

Misture 200 g de cal em outro litro de água

Junte os dois. Pronto. Agite antes de usar. Não guarde em garrafas de refrigerantes, nem em

vidro. Guarde em garrafas de amaciante ou de água sanitária que são de PE ou PP.

17.2 Sabão comum para uso geral Os seguintes roteiros referem o procedimento de produzir alguns quilogramas de sabão, para

uso caseiro. Já em escala de técnico (= produção na ordem de uma tonelada por dia) a ser

realizado em microempresa, junto à discriminação de custos, encontra-se no site do SEBRAE-

ES 33

.

17.2.1 Sabão com restos de frituras (óleo usado) 34

Ingredientes:

33 Variados sites do SEBRAE-ES contêm informações acerca da fabricação de sabão em pequena e média escala:

“Fábrica de sabão em barra” e “Fábrica de sabão de glicerina”, em

http://vix.sebraees.com.br/ideiasnegocios/arquivos/; outro repositório: http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds

34 Encontram-se muitas formulações no site http://www.scribd.com/doc/6335666/40/VOCE-PODE-FAZER-O-

SEU-PROPRIO-BRANCOL.

Também foram traduzidas algumas formulações do alemão, da página: http://mathechemie.de/kosmetik.htm

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6 Kg de óleo (equivalente a quase 6,5 litros)

1 Kg de soda 99. Se usar soda de supermercado use apenas 5 litros de gordura.

2 litros de água. Nada mais.

Tem gente que coloca detergente, sabão em pó, pinho, maizena, com o objetivo de

compatibilizar as fases, oleosa e aquosa, especialmente no início da reação. A repelência

natural entre a gordura e a lixívia atrapalha um contato intenso dos reagentes, portanto um

aditivo compatibilizante acelera consideravelmente a reação da saponificação. Mas, a

princípio e com um pouco de paciência, não precisa nada disso.

Se quiser, pode colocar uma colher de essência de eucalipto.

Modo de fazer:

Dissolva a soda na água um dia antes ou pelo menos 8 h antes para que ela esfrie.

Esta solução tem o nome agora de "lixívia" (ver p. 135).

Esquente o óleo (apenas morno), coe em uma lata (nada de alumínio), misture a essência (se

for usar), despeje a lixívia e mexa com uma ripa até que comece a engrossar e despeje numa

caixa de madeira forrada com plástico ou dentro de caixinhas vazias de leite ou em outras

forminhas de polietileno. O tempo para cortar fica em torno de 5 horas. Se fizer à tarde, corte

no outro dia, se fizer cedo, corte à tarde. O corte pode ser feito com faca ou um pedaço de fio

de aço amarrado em dois pedacinhos de cabo de vassoura ou a alternativa apresentada no

início.

Podemos substituir metade do óleo usado por sebo de boi, então a receita aceita mais um litro

de água. A quantidade de água varia conforme o tipo de gordura se é saturada (sólida) ou

insaturada (líquida). As saturadas são os sebos e as banhas e as insaturadas são os óleos.

Podemos substituir e fazer com 4 Kg de sebo e 2 Kg de óleo, então a receita aceita 4 litros de

água.

Detalhe interessante:

Quando o sabão é feito com mais gorduras saturadas, ele engrossa mais rapidamente, então, o

tempo de ficar mexendo é mais curto, cerca de 5 a 10 minutos.

Outro detalhe: pode-se até colocar mais água, daí o sabão fica mais mole, demora mais tempo

mexendo e se a temperatura não for respeitada (sempre morna), a receita pode desandar. Tudo

isso é feito fora do fogo.

Se a receita desandar, então temos que levá-la ao fogo para corrigir, então deverá observar

outro ponto no sabão, é o ponto de fio (sabão quente). A qualidade desse sabão varia

conforme a gordura usada. Ele fica mais duro e branco se forem usados sebo e coco. Ele vai

fazer mais espuma quando tem óleo ou coco. Estas formulações aceitam também uns 200 mL

de "Lauril" (= laurilétersulfato de sódio ou simplesmente LESS), esse produto é usado para

aumentar a quantidade de espuma dos sabões, sabonetes, xampus e detergentes em geral. Ele

deve ser misturado na lixívia, antes de despejá-la na gordura morna.

17.2.2 Lixívia

Normalmente devemos preparar a lixívia para a produção dos sabões para facilitar sua entrada

nas gorduras. Quando usamos uma soda pura 99% dissolvida em 1,5 L de água, vamos obter

uma lixívia a 50 ° Baumé, se usarmos 3 litros de água ela cai para 30 ° Baumé e se usarmos

5,5 L de água, cai para 20 ° Baumé. A soda líquida já vem na graduação de 50 ° Baumé. Essa

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graduação é medida com um instrumento chamado de "areômetro" 35

que mede a densidade

de líquidos. É um tubinho de vidro fechado com chumbinho no fundo e uma escala e que,

quando mergulhado no líquido, flutua. Quando mais concentrada a solução, maior a sua

densidade, então o areômetro é mais sustento. Faz-se a leitura no nível do líquido. Mas

atenção: as densidades (antigamente chamadas de pesos específicos) dos ingredientes não são

aditivas! Famoso exemplo é a mistura de 1 L de água com 1 L de álcool, que dá cerca de 1,9

L de mistura. Isso explica o sucesso deste equipamento simples até hoje. O areômetro bem

aferido e usado na temperatura indicada, mostra a graduação de maneira confiável. Ela é

geralmente indicada em graus Baumé, ou simplesmente "°Bé".

Costuma-se trabalhar com lixívia a 30 ° Bé.

Fig. 48. Alguns tipos comerciais de areômetros, usados em diferentes líquidos.

17.2.3 "Sabão frio"

Frio mesmo ele não é. Isto porque as gorduras devem ser ligeiramente aquecidas para se

tornarem líquidos manuseáveis. Além disso, a exotermia da saponificação também eleva a

temperatura do processo. As proporções de sebo e óleo devem ser experimentadas na prática,

no entanto aqui algumas sugestões.

1º exemplo

3 Kg de sebo + 3 Kg de óleo usado

1 Kg de soda forte

3 litros de água

0,5 Kg de caulim (o caulim serve para dar peso ao sabão = carga)

35 Não confundir com "aerômetro", que é outro instrumento de medir a densidade de gases.

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Preparo:

Dissolva a soda um dia antes na água. Depois aqueça o sebo junto com o óleo - tem que ficar

morninho (em torno de 45°C). Dissolva o caulim na lixívia e despeje sobre as gorduras e mexa até

começar a engrossar. Mexa, pare, mexa, pare. Começou a engrossar, é só despejar na forma.

A recomendação "mexa, pare,..." porque não precisa ficar mexendo constantemente. O tempo

que demora em começar a engrossar vai depender da quantidade de óleo usado, ou seja,

menos óleo ele engrossa mais depressa. No final, o resultado é o mesmo.

2º exemplo

4 Kg de sebo + 1 Kg de óleo

Nessa pode colocar 4 litros de água. O restante é tudo igual. O caulim também, se coloca se

quiser.

3º exemplo

6 Kg de sebo + meio copo de sulfônico - ou: 5.5 Kg de sebo + 0,5 Kg de óleo + meio copo de

detergente sulfônico.

1kg de soda forte - soda 99%.

Aqueça o sebo e misture o sulfônico. Soda + 4 litros de água e o restante é igual.

4º exemplo

1 Kg de sebo + 5 quilos de óleo

3 litros de água e o restante é tudo igual.

17.2.4 Sabão frio com detergente

4 Kg de sebo

2 Kg de óleo usado ou novo (pode ser gordura de porco)

1 Kg de soda forte

Água: até 4 litros

1 frasco de detergente de coco (ou outro)

Preparo

Igualzinho aos anteriores (frio), sendo que o detergente será colocado no sebo morninho,

misture bem e depois vem a soda (lixívia).

17.2.5 Sabão frio com silicato e caulim

4 Kg de sebo

2 Kg de óleo usado ou banha de porco ou gordura de fritura ou mesmo gordura de coco

1 Kg de soda 99% (soda pura forte) ou 2 Kg de soda líquida.

Meio quilo de caulim

Silicato: de meio quilo até 1 Kg

Água: até 4 litros

Preparo

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Dissolva a soda na água um dia antes. Leve o sebo com o óleo ao fogo e espere derreter. É

imperativo nesta receita que fique morninho. Se estiver quente, espere mornar, senão o sabão

“desanda”. Agora misture o silicato com a lixívia, mexa bem, acrescente o caulim e misture

bem e agora vá despejando tudo isso no sebo mexendo até que comece a engrossar e depois

despeje na forma. Se for usar "soda fraca", destas de supermercado, então diminua a

quantidade de óleo - coloque 1 litro de óleo, isso mesmo (1 litro é menos que 1 Kg), diminua

um pouco da água e um pouco do silicato (meio quilo).

17.2.6 Sabão de coco

4 Kg de sebo

2 Kg de gordura de coco

1 Kg de soda forte

Meio quilo de caulim (branco)

Água : até 4 litros

Essência de coco: dependendo da qualidade da essência vai até 100 mL (cerca de 6 a 9 mL

por Kg de sabão acabado). É bom diluir a essência em um pouquinho de propilenoglicol, ou

glicerina, ou Renex, ou mesmo num pouquinho de detergente neutro e coloque depois da

soda. Preparo:

Siga as instruções do sabão frio com caulim acima. A quantidade de água determina a dureza

do sabão.

Esta é uma receita bastante econômica. A quantidade de coco pode ser aumentada e a

quantidade de sebo reduzida.

17.2.7 Sabonete branco

2,5 Kg de sebo (clarificado e desodorizado)

3,5 Kg de gordura de coco

Meio quilo de óleo de oliva. O azeite é caro, mas pode ser substituído por óleos de palma ou

mesmo coco, ou rícino ou mamona. Até mesmo com óleo de soja se obtém um resultado

satisfatório. Importa só: o total de gorduras é de 6,5 Kg. Para sabonetes podemos colocar até 7

Kg de gorduras, a cada 1 Kg de soda 99%, assim ele fica bem menos alcalino.

Esse assunto, "processamento a frio", está descrito mais detalhadamente, na p. 136.

Caulim - se quiser - meio quilo. Não é necessário caulim. A função do caulim é dar peso ao

produto.

Água: até 4 litros - colocando menos ele fica mais duro.

Essência - escolha uma boa, dilua como na receita anterior.

Corante: se for colorir o sabonete, dilua o corante em água quente e coloque na massa antes

da essência. Melhor usar o corante de base oleosa!

Se quiser, pode colocar "lauril" líquido (mais espuma) - até uns 300 mL diluídos na água da

soda antes de despejá-la nas gorduras.

Preparo:

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Igual aos anteriores (frio). Serve também, em vez das formas profissionais, um tubo de PVC

com uma tampa na parte de baixo que encaixe e retire. Pode colocar por dentro do tubo um

saquinho de plástico fino, assim vai ficar fácil de retirar, depois é só cortar as fatias com um

arame. Pode também pulverizar o tubo por dentro com glicerina ou estearina que ficará fácil

também para retirar. É só tirar a tampa e empurrar. Pode ser também desses tubos de papelão

duro, dar uma amassadinha nele até que fique oval, colocar um saquinho de plástico por

dentro e despejar a massa do sabonete dentro. Pode ser também em caixinhas de leite longa

vida. Use sua criatividade!

Todos os sabonetes de massa branca ou colorida que se compra nos supermercados, a

princípio, são feitos assim.

17.2.8 Sabão "meio-quente"

As proporções de sebo e soda são as mesmas dos sabões dos roteiros anteriores, com duas

diferenças:

1) Você vai usar restos de sabão e vai colocar mais água. Assim: Coloque 3 litros de água

num tambor que possa levar ao fogo. Dissolva a soda nessa água, coloque os pedaços de

sabão de outra receita nesta mistura e leve ao fogo. De 1 a 2 Kg de pedaços. Essa mistura no

fogo vai derreter os pedaços. Retire do fogo e despeje o sebo que já está derretido e morninho

nesta mistura, mexa bem e coloque mais uns 3 litros de água fria e mexa, pare, que ele

engrossa rapidamente. É só despejar na forma. Se quiser colocar caulim misture-o na água fria

que vai por último. Corante e essência se quiser.

17.2.9 Sabão "quente"

Proceder tudo conforme o sabão meio quente, deixar engrossar e endurecer ainda no tambor

(não despejar na forma). 10 minutos depois que ele ficou meio duro dentro do tambor, voltar

ao fogo (se tiver uma caldeirinha com vapor - melhor ainda), fazendo “furos” na massa até o

fundo do tambor com a ripa da agitação. Fazer vários furos que ele vai começar a respirar e

“bufar”. Então começa um ponto diferente, ou seja, ele vai dar “ponto de fio”.

Depois que ficou tudo homogêneo, uma massa lisa e bonita e só despejar na forma e, se deu

tudo certo SORRIA, você aprendeu vários segredos da saboaria.

17.2.10 Sabão transparente feito em caldeira

Ingredientes:

1ª Opção:

1,5 Kg de sebo de carneiro ou banha de porco

2,5 Kg de gordura de coco

2,0 Kg de óleo de rícino ou mamona (eles melhoram a transparência, porém não se pode

colocar muito deles porque são ruim de espumar)

1 Kg de soda 99

2 litros de água ou 3 litros

2 Kg de lixívia de sal e potassa a 18 ° Bé

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1 Kg de glicerina ou meio de glicerina e meio de sorbitol ou tudo de sorbitol (este sorbitol

substitui a glicerina e é mais barato)

0,5 Kg de silicato alcalino (= "vidro d´água") que será dissolvido junto com a lixívia de soda.

2ª Opção:

Pode colocar 4 Kg de sebo de boi industrial clarificado e desodorizado (próprio para sabão de

1ª) e 2 Kg de óleo de coco (isso corresponde, aproximadamente, à proporção usada nas

grandes indústrias) e o restante tudo igual.

3ª Opção:

Você mesmo pode adequar outras proporções!

Modo de Preparar:

1) Fazer a lixívia de soda, aquele processo de dissolver a soda na água um dia antes.

2) Derreta as gorduras na caldeira e deixe ficar bem morninho, acrescente a lixívia de soda

como se fosse fazer um sabão frio, mexa bem e aguarde uns 15 minutos.

Para fazer aquela lixívia de sal e potassa, use o areômetro (ver Fig. 48). Pegue 2 litros de água

e vá colocando sal comum até atingir o nível de 8 ° Bé no areômetro, agora vá colocando

potassa (= KOH) já dissolvida em água, vá colocando até atingir a marca de 18 ° Bé. Pronto,

essa é a lixívia de sal e potassa ajustada. O sabão fica mais macio com potassa. Voltando lá

em cima depois dos 15 minutos – mais ou menos - agora vem a etapa da "caldeira" em fogo

brando até a massa se tornar translúcida e espessa (é o ponto de sabão quente), agora vem a

lixívia de sal e potassa e depois a glicerina com o que o sabão se torna muito fluido. Verte-se

para as formas.

Não acabou ainda. Agora vem o processo de extrusão. A massa saponífera deverá ser moída

para receber a essência. Esta massa segue por uma rosca sem fim até a cabeça da extrusora

quente, onde a massa se agrega e será prensada e forçada a sair por um pequeno orifício, já

com o formato de sabão e na saída o fio de corte completa. A transparência desse sabão não é

imediata, ela ocorrerá após total resfriamento. No caso do sabonete também, porém ao sair da

extrusora ainda sem formato definitivo ele segue para a prensa onde receberá a marca da

fábrica e o formato.

17.2.11 Sabão glicerinado transparente

Se for fazer massa de sabonete, não coloque silicato. Vai aparecer o tal de propilenoglicol

que, além de melhorar a consistência da massa, é hipoalergênico. E outras substâncias que

você lê no rótulo dos tais (trieta, ácido cítrico, etc.). A água usada deverá receber EDTA ou

outro sequestrante. Pode-se economizar glicerina, substituindo (não toda) por açúcar (xarope

de água e açúcar ao fogo) na proporção de 2 Kg de açúcar para meio de água.

17.2.12 Sabão líquido de óleo usado

1ª Opção

Ingredientes:

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4 litros de óleo usado ( pode ser novo se quiser)

1 Kg de soda forte 99%

5 litros de álcool combustível

20 a 30 litros de água

Essência se quiser a critério

Preparo:

Dilua a soda em 3 litros de água e deixe de lado. Esquente bem o óleo em uma lata e misture

o álcool - devagar - porque deverá “frigir” devido à alta temperatura do óleo. (Se quiser, pode

também misturar antes o álcool com a soda e despejar no óleo).

Agora despejar a soda e mexer constantemente até que mude de cor (cor de coca-cola ou até

mais clarinho) e deverá formar uma natinha por cima e uma espuminha. Se isto não acontecer

é porque não ocorreu a saponificação, então leve cuidadosamente ao fogo para ganhar calor,

retire e mexa até que saponifique. O restante da água deverá estar meio-quente para ser

acrescentada. Ele fica meio aguado mesmo (se colocar pouca água, quando esfriar ele turva e

vira uma pasta sem qualidade), mas é um sabão forte que poderá ser usado para deixar roupas

sujas de molho, limpeza de pisos, quintal etc. Pode até ser usado como detergente para lavar

louças, desde que se usem luvas.

2ª Opção:

3 litros de óleo,

1 Kg de soda (Caveira, Yara, etc) destas que se compra no supermercado,

4 litros de álcool e

Água de 15 a 25 litros.

3ª Opção (mais fraco):

5,5 litros de óleo,

1 Kg de soda 99%,

5 litros de álcool e

20 a 30 litros de água.

4ª Opção (também mais fraco)

4 litros de óleo,

4 litros de álcool,

1 Kg de soda do supermercado e

15 a 20 litros deágua.

Não hesite de variar essas opções, conforme suas experiências, ajustando e ver como o

processamento e produto ficam melhores.

Existe uma soda própria para fazer sabão líquido, a potassa (= KOH):

1 Kg dela equivale a 1 Kg da soda 99%. Com esta soda você pode usar um mínimo de água e

obter desde uma pasta transparente até um sabão mais espesso (grosso) ou ir aumentando a

quantidade de água na proporção que desejar.

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17.2.13 Sabão com álcool

Neste tipo de sabão sempre temos que usar uma porcentagem maior de gorduras saturadas.

Não dá para fazer só com óleo (insaturado), porque vira uma pasta sem qualidade. Da mesma

forma, a qualidade das gorduras agregadas (sebo industrial, coco, estearina), melhoram

bastante o produto final. (Este tipo de sabão ganha uma transparência devido aos

componentes: álcool, açúcar, glicerina, propilenoglicol, sorbitol).

Ingredientes:

4 Kg de sebo de boi ou gordura de coco ou gordura de porco (saturados).

2 Kg de óleo (soja) pode ser óleo usado. Pode ser também 1 Kg de óleo de soja e outro quilo

de óleo de mamona.

1 Kg de soda 99 ou 2 Kg de soda líquida ou 1,3 Kg de soda do mercado.

Até 4 litros de água

Até 4,5 litros de álcool (comprado no posto de gasolina) sem aditivos

1 Kg de açúcar (refinado ou cristal).

Pode-se colocar até 3 Kg de açúcar!

Pode-se colocar 300 mL de lauril (misturado na lixívia). Lauril líquido 28%. Existe em pó,

também.

"Lixívia" é a solução de soda cáustica em água e que descansou pelo menos 8 horas. Atenção:

nunca guardar a lixívia em recipiente de vidro, pois este material se dissolve e estraga a

vidraria!

Modo de preparar:

Dissolva a soda em 3 litros de água um dia antes (mexa bem). No outro dia: Dissolva o quilo

do açúcar no outro litro da água que sobrou e leve ao fogo até levantar fervura, desligue e

reserve.

Numa lata esquente as gorduras (entre 60 ° e 70 ° C).

Despeje o álcool (longe do fogo!) e mexa bem. O certo seria aquecer um pouco o álcool

porque ele é gelado e rouba calor da gordura, mas teria que ser em banho-maria.

Alternativamente, esquente mais as gorduras (a cerca de 80 °C), porque quando se coloca o

álcool nelas, elas esfriam. Agora despeje a lixívia (se for usar o lauril, misture-o agora na

lixívia) e vá mexendo até que mude de cor, forme uma espuminha e uma nata sobrenadante e

exale um cheiro de sabão misturado com álcool. Se você erguer a ripa e formar um fio que

endurece, é porque deu certo.

(Se quiser, pode também misturar o álcool na lixívia antes de despejar nas gorduras quentes).

Tudo isso deverá acontecer em menos de 10 minutos.

Se começar a demorar, então é porque as gorduras não estavam quentes o suficiente. Neste

caso, leve a lata um pouco ao fogo até que ganhe calor e então ocorrerá a saponificação.

Muito cuidado, com álcool e fogo! Agora despeje devagar aquele açúcar e vá mexendo. Se

quiser pode colocar essência de eucalipto, espere esfriar um pouco. É que, quando ocorre a

saponificação, a temperatura chega a mais de 90 ° C. Este tipo de sabão demora em "travar" (=

endurecer). Então dá tempo de testar, colocar um pouquinho numa colher que, em poucos

minutos, deve endurecer. Estes tipos de sabões devem ter um tempo de maturação antes de

usá-los, pelo menos uma semana (para que amadureçam, quer dizer, cristalizam). Estas

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receitas são sempre baseadas em 1 Kg de soda 99, se não quiser aplicar as quantidades

indicadas, divida tudo por 2 ou 3 ou 4. O processo é o mesmo.

17.2.14 Base glicerinada fabricada pelo processo alcoólico

Ingredientes:

5 Kg de gordura de coco (óleo de coco babaçu)

1 Kg de óleo de mamona ou rícino

0,5 Kg de sebo industrial (clarificado e desodorizado) ou meio quilo de ácido esteárico

conhecido por estearina dupla ou tripla ação.

1 Kg de soda 99 ou 2 Kg de soda líquida

4 litros de álcool (do posto sem aditivos)

2 litros de água deionizada

1 Kg de açúcar refinado

12 gramas de EDTA tetrassódico (= sequestrante que retira os íons de cálcio, magnésio e ferro

da água)

12 gramas de BHT (= antioxidante)

Até aqui, é uma base simples.

Ela pode e deve ser enriquecida com (indicadas as massas máximas):

200 g de glicerina (é umectante e ajuda na transparência)

200 g de propilenoglicol (é um solvente que auxilia no derretimento e é anti-alergênico).

300 mL de lauril (é agente espumante)

200 mL de amida sintética – é a amida 90 (= agente amaciante, melhora a viscosidade e

flexibilidade).

Essa amida 90 é também conhecida como "amida cosmética", própria para sabonete, xampu,

etc. Ela é diferente das amidas 60 e 80 usadas em detergentes que são meio amareladas.

Procedimento:

O processo é o mesmo do sabão com álcool referido anteriormente. O lauril deverá ser

colocado na lixívia, e o açúcar, logo após a saponificação. Os demais ingredientes quando

amornar a massa saponífera.

Nesta receita também pode misturar a lixívia (soda) com o álcool antes de despejar nas

gorduras. Existe outra maneira de preparar esta base, fazendo-se uma massa de sabonete

branco frio, picando-se no outro dia e derretendo em caldeira ou banho-maria com lauril,

propileno e depois entra o açúcar ou sorbitol, a glicerina e uma quantidade reduzida de álcool.

Você já pode fazer o sabonete diretamente com esta massa, basta respeitar a temperatura e

acrescentar a essência, o corante, etc...

17.2.15 Mais fórmulas caseiras para sabão em barra comum

Receita a) Para produzir 13 Kg de sabão sólido e eficaz:

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8 L Água pura

1 Kg Soda cáustica em escamas

2 L Óleo de cozinha (pode ser usado e filtrado)

2 copos Detergente

1 copo Sabão em pó

1 L Sebo de boi derretido

2 copos ou 4 colheres de fubá ou maizena.

Preparo:

A lixívia pode ser preparada na hora, usando a metade da água e a soda cáustica. Na outra

metade da água dissolver o detergente, o sabão em pó e a maizena. O óleo de cozinha e o sebo

derreter em um balde no banho-maria, tirar do fogo quando chegar em 50 a 60 °C.

Acrescentar a lixívia em jato fino, mexendo vigorosamente com a colher de pau. Acrescentar

também a solução dos detergentes e continuar mexendo por aproximadamente 10 minutos.

Logo a mistura começa a engrossar, despejar nos moldes. Deixar resfriar e desmoldar no

outro dia.

Receita b): Para um rendimento de 500 g de sabão:

280 g Sebo de boi

60 g Soda cáustica

50 g Breu socado em pó

100 g Caulim

300 mL Água

Os utensílios: uma lata ou panela, uma colher de pau ou pedaço de madeira e uma saboneteira

ou caixinha de madeira que serve para molde do sabonete.

Procedimento:

Derreter o sebo. Depois junte a soda cáustica e o breu, continuar batendo vigorosamente.

Quando estiverem bem misturados, retirar a mistura do fogo e adicionar aos poucos o caulim

e a água sem deixar de bater. Quando alcançar uma pasta homogênea, derramar nas formas e

deixar esfriar. Se quiser colorir o sabão, é misturar umas gotinhas de anilina de cozinha da cor

desejada em pouca água quente e juntar à mistura antes de resfriar.

O sabão adquire a melhor consistência após 24 h de fabricação.

Receita c)

Ingredientes:

500 mL Óleo de fritura (peneirado)

Soda cáustica até o ponto de saturação

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100 mL Álcool

100 mL Água

Os utensílios: um balde ou vasilha de plástico, uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo

de vassoura) e uma saboneteira ou caixinha de madeira que serve para molde do sabonete.

Procedimento:

Colocar o álcool e a água no balde. Adicionar a soda cáustica até o ponto de saturação.

Despejar o óleo esquentado (70 °C) em jato fino e, ao mesmo tempo, agitar com o bastão.

Colocar nas formas e esperar endurecer.

17.3 Produtos cosméticos comuns e higienização doméstica

17.3.1 Sabonete líquido

Ingredientes:

300 g de lauril

50 g de coco amida propil betaína (a 30 %) (suavidade)

30 g de dietanolamida de ácido graxo de coco (= agente espumante e espessante)

Também denominado de amida 90 ou "amida cosmética".

50 g de agente perolizante (se quiser)

40 g de poliquatérnium 7 (= agente condicionante), também conhecido por Mirapol 550.

10 g de EDTA dissódico

10 g de metilparabeno (= conservante)

Meio litro de água deionizada - ou mais, até uns 650 mL.

Sal para engrossar (quantidade suficiente; cuidado: com muito sal perde a transparência e a

massa desanda)

Ácido cítrico (solução a 20%) para neutralizar o pH (quantidade suficiente; fazer teste com

papel de tornassol umedecido).

Modo de fazer:

Diluir em metade da água o lauril, a betaína, o poliquatérnium e perolizante. Se for usar

corante, dissolva-o em 50 mL de água junto com o EDTA e misture com a solução anterior.

No restante da água colocamos o metilparabeno, a essência e a amida. Corrigir o pH com o

ácido cítrico, até pH 6 a 7.

17.3.2 Receita mais econômica.

250 mL de lauril, 30 mL de dieta, 1 g de metil, 1 g de EDTA, 4 mL de ácido cítrico a 20%, 10

mL de essência, corante (pouco), 700 mL de água, 2 colheres de perolizante, 120 mL de

cocoamida, 10 mL de óleo de amêndoas hidrossolúvel, e 10 mL de glicerina bidestilada.

Colocar o lauril, a dieta, o metil, o EDTA, o ácido cítrico, a essência, o corante e a água em

um recipiente e mexer sem fazer espuma até ficar bem homogêneo. Adicionar o cocoamida e

depois de atingir a viscosidade, acrescentar o óleo de amêndoas, a base perolada e a glicerina.

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17.3.3 Xampu para cabelos normais

Rendimento 1 litro.

Lauril éter sulfato de sódio (LESS) a 30% (líquido). 220 mL

Cocoamidapropilbetaína a 30%. 30 mL

Dietanolamida de ácido graxo de coco (amida 90) 20 mL

Extrato de camomila. 5 mL

EDTA dissódico (= sequestrante de metais) 1 mL

Metilparabeno ("nipagin") 1 mL

Água deionizada 720 mL

Ácido cítrico solução a 20%, em quantidade suficiente para corrigir o pH (neutro)

Sal para engrossar em quantidade suficiente.

Cuidado excesso em sal pode turvar o produto. Pode ser sal de cozinha ou sulfato de

magnésio (sal amargo).

Essência e corante a gosto.

Modo de fazer:

Diluir em metade da água o lauril e o cocoamidapropilbetaína. Em 100 mL da água adicionar

o corante, o extrato de camomila, o EDTA, misturar bem e juntar à solução anterior sempre

mexendo vagarosamente. No restante da água junte o metilparabeno, a essência e a

dietanolamida. Junte à solução anterior, corrija o pH (5,5 a 6) e adicione o sal para engrossar.

17.3.4 Sabonete líquido glicerinado

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 550 mL

EDTA 1 g

Ácido cítrico 1 mL

Zonem MI 0,5 mL

Lauril éter sulfato de sódio 150 mL

Laurion SLA 120 mL.

Anfótero betaínico 30 mL

Extrato de aloe-vera 10 mL

Glicerina líquida 50 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 30 mL

Essência 10 mL

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Fase C:

Água deionizada 40 mL

Glucamate DOE 120 10 g

Fase D:

Ácido cítrico 8 mL

Manipulação:

Adicionar os produtos da fase A.

Solubilizar (misturar a fase B e adicionar sobre a fase A).

Aquecer a fase C até completa solubilização e adicionar sobre A + B, e homogeneizar.

Adicionar a fase D e homogeneizar.

17.3.5 Xampu anti-queda

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Lauril éter sulfato de sódio 220 mL

Anfótero betaínico 30 mL

Zonem MI 0,5 mL

Bioex capilar 0,5 mL

Proteínam ou prótrigo. 5 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90). 30 mL

Essência 10 mL

Fase C:

Água deionizada 648 mL

Glucamate DOE-120 6 g

Fase D:

Ácido cítrico 5 g

Anfótero betaínico (se necessário; até a viscosidade desejada).

Manipulação:

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Misturar um a um os itens da fase A;

Adicionar a fase B sobre a fase A previamente solubilizada;

Aquecer a fase C até total solubilização, resfriar e adicionar sobre A/B;

Adicionar a fase D e homogeneizar.

17.3.6 Xampu de brilho para cabelos secos

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 564 mL

Lauril éter sulfato de sódio 250 mL

Ácido cítrico 0,5 g

Methilan EGS 30 g

Polymero JR-5. 60 mL

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 20 mL

Glucamate DOE-120 15 g

Fase B:

Zonem MI 0,1 mL

Anfótero betaínico 50 mL

Fase C:

Extrato de mel 15 mL

Óleo de semente de uva hidrossolúvel 10 mL

Essência 10 mL

Manipulação:

Aquecer a fase A até total solubilização e dissolução;

Adicionar a fase B sob agitação constante;

Adicionar aos poucos a fase C e homogeneizar.

17.3.7 Xampu neutro para bebê

Rendimento 1 litro

Fase A:

Água deionizada 530 mL

Laurion SLA 260 mL

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153

Anfótero betaínico. 30 mL

Zonem MI. 0,5 mL

Ácido cítrico 0,5 mL

EDTA 2 g

Glucquat 125 30 mL

Softan algodão 15 mL

Polímero JR-5 50 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 30 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Água deionizada 50 mL

Glucamate DOE-120 5 g

Fase D:

Ácido cítrico para acertar pH 7.

Anfótero betaínico (se necessário), até viscosidade desejada

Manipulação:

Misturar um a um os itens da fase A;

Adicionar a fase B sobre a fase A previamente solubilizada;

Aquecer a fase C até total solubilização, resfriar e adicionar sobre A + B;

Fazer os ajustes com a fase D e homogeneizar.

17.3.8 Xampu para cabelo mais brilhante

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 580 mL

EDTA 1 g

Ácido cítrico 0,6 mL

Zonem MI. 0,5 mL

Laurion SLA 120 mL

Anfótero betaínico 30 mL

Extrato de aloe-vera 10 mL

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Glicerina líquida 50 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco 30 mL

Essência 10 mL

Fase C:

Água deionizada 40 mL

Glucamate DOE-120. 10 g

Fase D:

Ácido cítrico 8 mL

Manipulação:

Adicionar os produtos da fase A;

Solubilizar (misturar) a fase B e adicionar sobre a fase A;

Aquecer a fase C até completa solubilização e adicionar sobre A + B, homogeneizar;

Adicionar a fase D e homogeneizar.

17.3.9 Xampu para cabelo seco e danificado

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 680 mL

EDTA . 1 g

Ácido cítrico 0,5 g

Zonem MI.. 0,5 mL

Lauril éter sulfato de sódio 220 mL

Base perolada 10 g

Anfótero betaínico 30 mL

Polímero JR-5. 10 mL

Glucam E-20 5 mL

Extrato de gérmen de trigo. 3 mL

Extrato de aveia.. 3 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco....(amida cosmética 90) 30 mL

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Essência 3 mL

Fase C:

Ácido cítrico.. 5 g

Manipulação:

Adicionar os produtos da fase A;

Solubilizar (misturar) a fase B e adicionar sobre a fase A;

Adicionar a fase C e homogeneizar.

17.3.10 Xampu para raízes oleosas e pontas secas

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Água deionizada 680 mL

EDTA 1 g

Ácido cítrico. 0,5 g

Zonem MI 0,5 mL

Lauril éter sulfato de sódio 240 mL

Anfótero betaínico. 30 mL

Polímero OX-5 10 mL

Extrato de alecrim. 5 mL

Extrato de hortelã 5 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco.(amida cosmética 90) 28 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Ácido cítrico, para ajustar pH 6,0

Manipulação:

Adicionar os produtos da fase A;

Solubilizar a fase B e adicionar a fase A;

Adicionar a fase C e homogeneizar;

Adicionar mais anfótero betaínico se desejar mais viscosidade.

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17.3.11 Xampu cremoso com manteiga de karitê

Rendimento 500 mL.

Fase A:

Laurilétersulfato de sódio 135 mL

Anfótero Betaínico 20 mL

PCA Na 10 mL

Glicerina líquida 5 mL

EDTA 0,5 g

Zonen MI 0,5 mL

Agua deionizada 305 mL

Fase B:

Dietanolamida de coco (amida cosmética 90) 10 mL

Essência 3 mL

Fase C:

Manteiga de karité 5 g

Polymol HE 10 mL

Fase D:

Ácido cítrico (sol. 50%) 2 mL

Proteína hidrolisada 10 mL

Manipulação:

Misturar os itens da fase A um a um e homogeneizar;

Adicionar a fase B sobre a fase A e homogeneizar;

Aquecer a fase C até completa solubilização. Adicionar sobre a mistura A/B.

Adicionar a fase D.

17.3.12 Xampu para cabelo longo com nutri DNA

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Lauril Éter Sulfato de Sódio 200 mL.

Laurion SLA 80 mL

Anfótero betaínico 30 mL

Glucquat 125 30 mL

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Polímero JR-5 50 mL

Nutri DNA 30 mL

Zonen MI 0,4 mL

Ácido cítrico 3 mL

Agua deionizada 600 mL

Dietanolamida de coco (amida 90) 30 mL

Essência 5 mL

Fase B:

Glucamate DOE 120 10 g

Água deionizada 30 mL

Fase C:

Ácido cítrico (até atingir pH 6,0) 25 mL

Manipulação:

Aquecer a água juntamente com Glucamate DOE na fase B até total dissolução;

Adicionar todos os produtos da fase A em um recipiente e homogeneizar;

Adicionar a fase B sobre a fase A sob agitação constante;

Adicionar a fase C e medir pH se necessário.

Para as seguintes formulações de xampu você precisa de uma mistura de agentes tensoativos:

50 g de Facetensid

30 g de Betaína

4 g de Sanfteen

Esses três tensoativos são misturados com um bastão de vidro. Especialmente o Sanfteen

demora para homogeneizar. Mais tarde, porém, quando acrescentar a água nas formulações

finais, ele se dissolve sem problemas.

17.3.13 Xampu para cabelo normal

0,5 g de Guar de cabelo HT

105 mL de água recém fervida ou destilada

84 g de "Mistura HT"

2 g de D-panthenol

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6 mL de essência de plantas HT

4 g de Vithaar HT

1 mL de suco de limão concentrado

12 g de Rewoderm

opcional: 2 mL (ou 60 gotas) de BioKons HT ou 40 gotas de Paraben K (= conservantes)

O guar de cabelo misturar em um béquer com a água, depois o pó em jato fino sempre

mexendo. Essa mistura acrescentar na mistura de tensoativos (receita acima). Depois

acrescentar os agentes que zelam pela pele, o D-panthenol, a essência de plantas HT e Vithaar

HT. Para acertar o pH da mistura (pH 7) usar o concentrado de limão. Bem no final

acrescentar o Rewoderm em jato fino.

Se for preciso, conservar esse xampu com os conservantes indicados.

17.3.14 Xampu modificado para cabelo oleoso

20 mL de xampu (comercial, para cabelo normal ou feito em casa)

1 gema de ovo

5 gotas de óleo de alecrim

Modo de fazer:

Xampu, gema de ovo e o óleo de alecrim misturar bem com batedor de cozinha até a

consistência ficar homogênea e cremosa.

Esse xampu deve ser usado imediatamente após o preparo.

17.3.15 Xampu contra caspas

20 mL de conhaque (ou pinga)

1 gema de ovo

80 mL xampu (comercial, para cabelo normal ou feito em casa)

Modo de fazer:

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Gema de ovo e conhaque misturar bem com uma colher, até a massa ficar cremosa.

Acrescentar o xampu e continuar mexendo até homogêneo. Embalar esse xampu numa garrafa

limpa. Esse produto tem uma durabilidade de ~6 semanas.

17.3.16 Xampu para casos graves de caspas

10 gotas de óleo de melaleuca

84 g de mistura de tensoativos (ver acima, p. 157)

0,5 g de guar de cabelo

2 colheres de chá de Pirocton Olamin

110 mL de água recém fervida ou destilada

5 mL (2 colheres de chá) de extrato de bétula

1 mL de suco de limão concentrado

12 g (5 colheres de chá) Rewoderm

opcional: 2 mL (60 gotas) de BioKons ou 40 gotas de Parabeno K (conservantes)

Modo de fazer:

O óleo de melaleuca é misturado com a mistura de tensoativos. O guar de cabelo e o Pirocton

Olamin são misutados em um béquer seco, para depois serem dissolvidos em água. O pó é

dissolvido em pouca água e acrescentada à mistura de tensoativos. Depois é acrescentar o

extrato de bétula. Para ajustar o pH usar o concentrado de limão. Finalmente, acrescentar em

jato fino, o Rewoderm. Se for preciso, conservar esse xampu com os conservantes indicados.

17.3.17 Umedecedor de cabelo

Rendimento 1 Kg.

Fase A:

Água deionizada 860 mL

Carbopol 1 g

Nipagim 1 g

Germall 115 3 mL

Uréia 20 g

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Fase B:

Propilenoglicol 50 mL

Trietanolamina 5 mL

Fase C:

Ciclometicone DC 1401 30 mL

Vitamina E 10 mL

D-Pantenol 10 g

Ceramidas. 10 mL

Manipulação:

Adicionar a fase A em um recipiente e deixar descansar 24 horas;

Após as 24 horas, bater e peneirar por completo (não descartando nada);

Adicionar a fase B na ordem até total homogeneização;

Adicionar a fase C.

17.3.18 Água sanitária

Ingredientes:

1 litro de cloro

4 litros de água

2 colheres rasas de barrilha (= carbonato de sódio). É um produto usado em piscina para

corrigir o pH. O papel principal da barrilha aqui é alvejante. Algumas pessoas costumam

colocar também uma colher de soda para ficar mais forte (limpeza pesada).

Se quiser perfumar basta colocar 5 mL de essência e 5 mL de renex (nonilfenol).

Modo de fazer:

Dissolva a barrilha na água (se for colocar a soda, dissolva junto com a barrilha) e depois

acrescente o cloro. Mexa bem. Deixe repousar por 24 h antes de usar.

Não colocar em garrafas transparentes, pois perde o efeito!

17.3.19 Alvejante com peróxido de hidrogênio.

(Receita especial, para roupas coloridas)

Ingredientes:

5 Kg de lauril sulfato de sódio a 28%

1 Kg de nonilfenol etoxilado (também conhecido por Renex)

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Até 1,5 Kg de pirofosfato de sódio (= alcalinizante e abrandador)

0,5 Kg de ácido tetrametilenofosfônico (= sequestrante)

5 Kg de peróxido de hidrogênio (= alvejante)

Corante (pouco)

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Em 30% da água a ser utilizada, adicionar o ácido tetrametileno, o peróxido, o corante e

reservar. Em 50% da água a ser utilizada, solubilizar vagarosamente (para evitar formação de

espuma) os seguintes produtos: lauril, nonilfenol, e adicionar à fase anterior. Em 10 litros de

água adicionar o pirofosfato de sódio e reservar. Na mistura do lauril e dos outros

componentes, adicionar o restante da água e corrigir o pH da mistura entre 5 e 6, com a

solução de pirofosfato, para dar estabilidade ao peróxido.

17.3.20 Sabão em pó

(alta qualidade)

Rendimento: 1,1 Kg

Ingredientes:

600 g de barrilha

100 mL de sulfônico

50 mL de renex

100 g de tripolifosfato

150 g de metassilicato

100 g de lauril em pó

Essência e corante a gosto

Modo de fazer:

Colocar 400 g da barrilha com o sulfônico e misture bem mesmo. Adicionar o renex e

misturar bem. Juntar o tripolifosfato e misturar bem. Adicionar o metassilicato e misturar bem

(se preferir, colocar uma luva misturar com as mãos). Acrescentar o lauril e misturar bem e

por fim o restante da barrilha. Acrescentar a essência e/ou corante. Se ficar meio granulado,

passar por uma peneira.

17.3.21 Sabão em pó, receita 2.

1600 g de barrilha

4200 g de laurilsulfato de sódio em pó

3000 g de tripolifosfato de sódio

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1200 g de dodecilbenzenossulfonato de sódio ("maranil")

Esses valores em peso podem ser adaptados e obter uma formulação diferente e mais

econômica. É só misturar obedecendo a seqüência da anterior e está pronto. É claro que o

sabão em pó industrial não é esse, isto porque, para fazê-lo precisaríamos de instalações de

porte industrial com maquinários apropriados e também a formulação é outra (ver Fig. 47 na

p. 126 e Tab. 24 na p. 119, respectivamente).

17.3.22 Detergentes líquidos

17.3.23 Detergente concentrado

6 Kg de sulfônico

6 Kg de amida

600 g de soda

60 litros de água.

Modo de fazer:

Dissolva a soda em 2 litros da água. Dissolva o sulfônico em 30 litros da água bem

lentamente. Colocar a soda para neutralizar. O pH deve ficar em torno de 7. Adicionar a

amida mexendo sempre. Colocar o restante da água e engrossar com sal de cozinha (cisne) ou

sal próprio "Sulfatol", ou sal grosso (de churrasco), ou sulfato de sódio, ou sal refinado,

sempre diluídos em água. A recomendação é usar sal amargo (= sulfato de magnésio) por ser

mais eficaz.

17.3.24 Detergente doméstico

Nota: Informe-se antes sobre a periculosidade do “Formol” = solução de formaldeído! (Ver

também os avisos na p. 97.)

3 Kg de sulfônico

2 Kg de amida

300 g de Trietanolamina

100 g de formol (por exemplo, "lysoform") ou ácido cítrico ou ácido bórico em menor

quantidade, porque eles também baixam o pH e são conservantes.

330 g de soda 99% (pode-se usar qualquer outra soda, desde que haja controle sobre o pH

com a fitinha)

90 litros de água.

Opcional: colocar 0,5 Kg de lauril líquido - fica melhor ainda! Este "lauril" é um agente

espumante. Ele é usado em sabonete líquido, xampu, detergente, sabonete de base glicerinada,

pasta de dente, entre outros. Comercial é lauril líquido (de 28%, 30%, 50% e 70%) e lauril em

pó (equivale a 100%). Costuma-se usar o 28% e o 30%.

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Dissolva a soda separadamente, depois o sulfônico em metade da água, acrescente a soda, a

amida, o restante da água, a trietanolamina, o formol, essência e corante se quiser e sal para

engrossar.

Cuidado: um excesso de sal pode turvar o produto!

Outras proporções:

Alternativa 2:

3 Kg de sulfônico, 3 Kg de amida, l Kg de lauril, 100 g de formol, 330 g de soda 99% ou 660

g de soda líquida e 90 litros de água, sal para engrossar, essência e corante se quiser.

Alternativa 3:

3 Kg de sulfônico, 2 Kg de amida, 1 Kg de lauril, 330 g de soda, 100 g (ou mL) de formol e

90 litros de água, sal para engrossar, essência e corante se quiser.

Essência mais ou menos 300 mL nestas formulações.

17.3.25 Detergente industrial.

Rende 100 Kg de produto.

6 Kg de sulfônico

660 g de soda 99% (controlar o pH)

90 L de água

Sal para engrossar.

O procedimento é idêntico ao descrito acima.

17.3.26 Detergente econômico

1 Kg de lauril líquido

0,5 Kg de sulfônico

200 g de amida

15 litros de água

Salmoura até espessar (faça uma salmoura com 15 colheres de sal + 300 mL de água)

Soda diluída em água (o suficiente para corrigir o pH), em torno de 55 g da soda 99% ou 110

g da soda líquida.

Corante e essência a gosto

Preparo:

Misture bem o sulfônico com 3 litros da água, acrescente a soda (pH em torno de 7), depois a

amida, depois o lauril, depois a salmoura para engrossar.

CUIDADO: O excesso de salmoura pode turvar!

Por último a essência e o corante.

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Dica: Cada vez que diminuir a quantidade de sulfônico, aumentar a quantidade de lauril!

(O lauril é mais em conta, o produto final tem excelente qualidade e o custo será menor).

17.3.27 Detergente fera

Componente Quantidade

Sulfônico 3 a 8 Kg

Soda (diluída) o suficiente para corrigir o pH

Trietanolamina 0,5 a 3 Kg

Lauril até 3 Kg

Amida (60 ou 80) até 1 Kg

Sulfato de magnésio até 1 Kg

Sulfato de sódio 200 g até 1 Kg

Cloreto de sódio até 1 Kg

Hidroxietilcelulose até 300 g

Fragrância/corante/conservante a seu critério

Bactericida até 800 g

EDTA dissódico (este não é alcalino) até 100 g

Extrato vegetal até 5 g

Água até completar os 100 litros

Dissolva o sulfônico em uns 30 litros da água, corrija o pH, coloque a amida, o lauril, a

trietanolamina. O sulfato deverá ser dissolvido em água quente (60°C) antes de colocar. O

restante da água e os demais ingredientes, engrosse e verifique novamente o pH. O EDTA em

pó deverá ser dissolvido na água que você vai usar.

17.3.28 Detergente líquido, receita caseira I

Essa receita tradicional fornece ~ 5 L de detergente, portanto deve-se arrumar frascos de

plástico suficientes antes de começar.

Ingredientes:

200 g Sabão comum ralado

1 Colher de sopa de água sanitária

1 Colher de sopa de soda cáustica

3 Colheres de sopa de sabão em pó

4,5 L Água da torneira

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Os utensílios: uma lata ou panela; uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo de

vassoura).

Procedimento:

Ralar o sabão bem fino e colocar em um recipiente com um litro de água. Para derreter é levar

ao fogo. Quando estiver tudo dissolvido, adicionar o sabão em pó e a soda cáustica. Sempre

batendo vigorosamente, retirar do fogo e juntar a água sanitária quando estiver resfriado um

pouco. Ainda batendo, juntar o restante da água aos poucos. Está pronto para ser embalado

(não esquece etiquetar devidamente os frascos, contendo o nome, data de fabricação e os

ingredientes menos a água!).

Observações:

1. Não pode usar uma panela de alumínio.

2. Existe essa receita também onde a água sanitária foi substituída, pelo mesmo volume

de querosene.

17.3.29 Detergente líquido, receita caseira II

Rendimento: aproximadamente 6 L.

Ingredientes:

1 barra Sabão de coco

1 L Água fervendo

4 L Água fria

1 copo Suco de limão (coado)

Os utensílios: uma lata ou panela, uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo de

vassoura), um ralador de cozinha, 1 coador ou peneira.

Procedimento:

Ralar o sabão de coco. Ferver 1 L de água e adicionar as raspas de sabão lá dentro, mexendo

com o pau até dissolver tudo de maneira homogênea. Desligar o fogo e colocar 4 L de água

fria e um copo de limão. Mexer bem até embalar.

Não esquece etiquetar o produto!

Observações:

a) Essa receita contém um produto natural, portanto sua validade é naturalmente limitada.

b) Misturar o produto logo antes de usar.

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17.3.30 Sabão líquido para roupas, Receita 1

3 Kg de Sulfônico

3 Kg de Amida

500 g de Tripolifosfato de sódio

330 g de Soda 99% ou 660 g de soda líquida. (confira o pH com a fitinha).

300 g de Brancol

90 L de água

Corante azul

Sal para engrossar.

Se quiser pode colocar 0,5 Kg de Lauril.

O procedimento é o mesmo descrito no "Detergente", ver acima.

17.3.31 Sabão líquido para roupas, Receita 2

5 Kg de ácido sulfônico

1 Kg de trietanolamina

2 Kg de nonilfenol etoxilado

1 Kg de soda líquida

1 Kg de tripolifosfato de sódio

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Diluir a soda em 80 litros da água e acrescente o tripolifosfato sempre mexendo bem.

Adicionar o sulfônico lentamente depois a trietanolamina e o nonil, sempre mexendo para

homogeneizar bem. Acertar o pH entre 6,5 a 7,5. Colocar o restante da água. Pronto.

17.3.32 Sabão líquido de coco

60 litros de água

1 Kg de trietanolamina

12 Kg de soda líquida (seria melhor 6 Kg de potassa em pastilhas)

10 Kg de óleo de mamona

18 Kg de óleo de coco

1 Kg de agente perolizante

Modo de preparar:

Se for usar potassa, primeiro dissolva a potassa na água. Misturar os produtos acima na ordem

e aqueça até 80°C. Espere esfriar e adicione corante e a essência.

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17.3.33 Desinfetante de pinho, receita I

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; ver também os

avisos na p. 97.)

2 litros do detergente já preparado anteriormente

1 litro de pinho (essência)

300 mL de formol

200 mL de brancol

95 litros de água

Corante (pouco)

Modo de preparar:

Misture o detergente com a essência, acrescente a água, o formol e depois de homogeneizado

colocar o brancol e o corante.

17.3.34 Desinfetante de pinho, receita II

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído)

10 Kg de ricinoleato de sódio

4 Kg de óleo de pinho

2 litros de formol a 37%

6 litros de álcool hidratado do posto

200 mL de EDTA a 30%

Água para completar 100 litros.

Modo de preparar:

Misture o óleo de pinho com o ricinoleato até ficar bem homogêneo, depois adicione a água, o

álcool, o formol e o EDTA sempre mexendo.

17.3.35 Desinfetante de pinho, receita III

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído)

10 Kg de ricinoleato de potássio

8 Kg de óleo de pinho

2 litros de formol a 37%

11 litros de álcool hidratado do posto

200 mL de EDTA a 30%

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Misture o pinho com o ricinoleato mexendo bem até ficar bem homogêneo. Depois acrescente

a água, o álcool, o formol e o EDTA sempre mexendo bem. Se quiser pode colocar corante.

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17.3.36 Desinfetante de pinho, receita IV

Nota: Informe-se antes sobre a periculosidade do “Formol” = solução aquosa de formaldeído!

2 Kg de ricinoleato de potássio

12 Kg de sabão líquido de coco

4 Kg de óleo de pinho

2 litros de formol a 37%

6 litros de álcool hidratado do posto

200 mL de EDTA a 30%

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Misture o pinho com o ricinoleato depois coloque o sabão, adicione a água, o álcool, o formol

e o EDTA, sempre mexendo bem. Corar a gosto.

17.3.37 Desinfetante de eucalipto, receita I

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído)

100 L de água

0,5 L de formol

1 L de essência de eucalipto

0,5 L de brancol

5 L do detergente já preparado anteriormente ou pode ser 2 litros de um produto chamado de

ricinoleato.

Modo de fazer:

Misture o detergente com a essência, acrescente a água e depois o formol e o brancol.

17.3.38 Desinfetante de eucalipto, receita II

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído; ver também os

avisos na p. 97.)

1 Kg de óleo de eucalipto

7 Kg de ricinoleato de sódio

1 Kg de nonilfenol etoxilado

300 g de soda líquida

250 g de brancol

0,5 L de formol a 37%

Água para completar 100 litros

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Modo de preparar:

No recipiente maior misture o óleo de eucalipto com o ricinoleato, misturar bem e acrescentar

metade da água. Em outro recipiente misturar a outra metade da água com o nonil, a soda e o

formol e misturar bem. Agora despejar no recipiente maior, misturar bem e acrescentar o

brancol. O pH deve ficar em torno de 9 e 9,5.

17.3.39 Detergente Multiuso, receita I

Rendimento 100 L.

2 Kg de sulfônico

2 Kg de amida

5 Kg de uréia (técnica)

2 Kg de tripolifosfato de sódio

4,7 Kg de solução de amônia a 24%

3 Kg de sulfato de sódio

2 Kg de brancol

80 litros de água (vai um pouquinho mais, até completar 100 litros)

Modo de fazer:

Dissolva o sulfônico em 40 litros da água, sempre mexendo com cuidado para não formar

espuma, acrescente a amônia, depois a amida. Dilua o sulfato em um pouco de água (dos 40

que sobraram) e acrescente, dilua o tripolifosfato em parte da água a 70°C e acrescente, dilua

a uréia e acrescente e depois o brancol.

17.3.40 Multiuso, receita II:

Rendimento 100 L.

2 Kg de ácido sulfônico

650 g de soda líquida

1 Kg de tripolifosfato de sódio

1 Kg de ricinoleato ou então Nonilfenol etoxilado

8 Kg de Butilglicol

100 g de óleo de pinho

85 litros de água (vai um pouquinho mais, até completar 100 litros)

Modo de preparar:

Diluir o sulfônico em parte da água e acrescentar a soda já diluída em um pouco da água. Em

outro recipiente dissolver o tripolifosfato em parte da água a 70°C, sempre mexendo bem.

Misturar com o sulfônico e sob agitação acrescentar aos poucos o nonil, o butil e o óleo de

pinho.

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17.3.41 Multiuso, receita III:

Rendimento 100 L. (Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de

formaldeído).

1,5 Kg de ácido sulfônico

0,5 Kg de nonilfenol etoxilado

4 Kg de butilglicol

2,5 litros de álcool (pode ser combustível)

400 g de soda líquida (se for da 99%, coloque só 200g diluída em água)

1,5 de fosfato trissódico (= tripolifosfato de sódio)

100 g de EDTA tetrassódico (o EDTA já vem em solução a 30%)

50 g de barrilha (=carbonato de sódio)

50 mL de formol a 37%

Corante a critério.

Água para completar 100 litros

Preparação:

Diluir o sulfônico em aprox. 30 litros de água, colocar a soda diluída em um pouco de água.

Medir o pH que deve ficar entre 7 e 8. Deixar menos que 8 porque depois a barrilha levanta o

pH novamente. Acrescentar o nonil, o butil e o álcool aos poucos. Em outro recipiente diluir o

tripolifosfato em aprox. 10 litros de água quente, junto com a barrilha e acrescentar na

primeira mistura. Mexer bem.

Diluir o EDTA em um pouco de água e acrescentar ao primeiro preparado. Diluir o formol em

um pouco de água e acrescentar também. Completar a água que faltar até dar 100 litros.

Conferir o pH: se ficou acima de 8 e deseje baixar, coloque ácido cítrico diluído em água. O

ácido cítrico, além de baixar o pH, é também conservante. Este ácido pode então ser usado em

qualquer fórmula, seja detergente, base glicerinada, sabão com álcool, etc.; é comercializado

em pó.

17.3.42 Multiuso caseiro

1 litro de água,

1 colher de vinagre

1 colher de sal amoníaco (pó)

1 colher de bicarbonato de sódio (pó)

1 colher de bórax (em pó; também vendido como "ácido bórico", embora este nome seja

errôneo); alternativa: "lysoform" líquido

2 colheres de detergente

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Modo de fazer:

Em um litro de água morna (cerca de 45º C), coloque uma colher de sopa de vinagre, uma

colher de sopa de sal amoníaco, uma colher de sopa de bicarbonato de sódio, uma colher de

sopa de bórax ou o lysoform e as duas colheres de detergente. Utilize em qualquer tipo de

limpeza, em substituição aos multiusos convencionais.

17.3.43 Desinfetante caseiro

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído.)

40 mL de detergente

10 mL de brancol (opcional)

10 mL de formol

6 mL de "Renex"

12 mL de essência

Água para completar 2 litros

Modo de fazer:

Misture em pouco de água o detergente, renex, formol, brancol, essência. Coloque numa

garrafa PET e complete os dois litros com água.

17.4 Produtos cosméticos e de limpeza especiais

17.4.1 Sais de banho

Ingredientes:

1 Kg de sal cisne

180 g sulfato de magnésio ("sal amargo")

10 mL de propilenoglicol

30 mL de essência

10 mL de álcool de cereais (pode ser o álcool 70% comprado na farmácia).

100 g de lauril em pó

Corante se quiser.

Procedimento:

Colocar o sal em uma forma refratária no forno já quente e deixe por 20 minutos em

temperatura baixa. Retire, cubra com papel alumínio e espere esfriar. Em um borrifador

coloque o propileno, o álcool, a essência e o corante e borrife por cima do sal, espere mais 5

minutos e misture o sulfato e o lauril. O lauril é para fazer espuma, caso não queira espuma,

não coloque o lauril.

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17.4.2 Óleo trifásico

Ingredientes:

400 mL de Sorbitol 70

10 mL de Proteinam (= colágeno)

0,5 mL de Zonem MI

Corante hidrossolúvel (a gosto)

200 mL de Cetrol HE

400 mL de óleo mineral USP (= vaselina líquida)

Corante lipossolúvel (a gosto)

5 mL de Essência (de maracujá, por exemplo)

Procedimento:

1. Dissolver o corante hidrossolúvel em água desmineralizada e separar.

2. Aparte disso, adicionar a Proteinam e o Zonem do sorbitol até ficar totalmente homogêneo.

3. Adicionar solução da etapa 1 sobre a mistura da etapa 2 até ficar homogêneo.

4. Adicionar o Cetrol HE na mistura da etapa 3.

5. Dissolver o corante lipossolúvel no óleo mineral, em seguida adicionar a essência.

6. Adicionar a mistura da etapa 5 à solução da etapa 4, agitando aos poucos.

Observação: Neste preparado forma-se um produto leitoso que, aos poucos, vai separando em

3 fases.

17.4.3 Gel pós barba

Preparar 400 mL de gel (400 mL de água com 2 g de carbopol)

1 grama de alantoína (= regenerador de ação hidratante),

100 g de propilenoglicol (= umectante)

2 g de triclosan (= bactericida)

450 g de álcool etílico

60 g de óleo de amêndoas etoxilado (= emoliente)

4 g de essência (a gosto)

4 g de "nipagin" (= metilparabeno; é conservante)

12 g de trietanolamina (= neutralizante)

1 litro de água deionizada

Modo de fazer:

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Misture os 400 mL de gel na água deionizada, espere meia hora, acrescente a trietanolamina e

depois os demais componentes agitando bem. Você pode aumentar a viscosidade do gel

aumentando a quantidade de carbopol.

17.4.4 Gel para ultrassonografia

Rendimento 1 Kg.

Fase A:

Carbopol 10 g

Água deionizada 930mL

Nipagim 1 g

BHT 0,5 g

EDTA 0,5 g

Fase B:

Propilenoglicol 50mL

Trietanolamina 8 mL

Manipulação:

Adicionar a fase A em um recipiente e deixar descansar 24 horas;

Após as 24 horas homogeneizar bem até total dissolução do carbopol;

Passar em uma peneira (não descartando nada);

Incorporar a fase B sob agitação constante.

17.4.5 Álcool em gel

30 litros de água

300g a 400 g de Carbopol ("Carbomer")

70 litros de álcool etílico (compre no posto, sem aditivos) = Álcool hidratado 93 ° GL

100 a 150 g de Trietanolamina (= neutralizante)

Modo de fazer:

Dissolver o carbopol na água lentamente sob forte agitação, se necessário aquecer ou deixar

de repouso por 24 horas até que se dissolva completamente. Depois, em temperatura

ambiente, adicionar o álcool e lentamente a trietanolamina. Pela seguinte medida o gel fica

mais viscoso: segunda pesagem de 400 g de carbopol e 150 g de trietanolamina. Se quiser

mais viscoso ainda é só aumentar proporcionalmente o carbopol e a trietanolamina nas

mesmas quantidades de água e álcool.

Observação: Pode-se colocar mais água, até 1:1 (um de álcool e um de água), já que o produto

final não tem a finalidade de ser um combustível (fogo) - nem deve ser. Rende mais e lucra-se

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mais! Se aumentar a quantidade de água, aumente a quantidade do "carbomer",

proporcionalmente.

17.4.6 Desodorante Líquido

1,5 L de álcool de cereais

5 gramas de triclosan (= bactericida; tem o nome também de Irgasan DP 300).

50 mL de essência a gosto

70 mL de propilenoglicol

650 mL de água destilada

120 mL de cloridróxido de alumínio (= antiperspirante).

Modo de Fazer:

Dissolver todos os componentes no álcool, acrescentar a água e misturar muito bem.

17.4.7 Repelente natural de insetos

A seguinte receita afasta os pernilongos por 3 horas ou mais. Para preparar 4 L deste repelente

(suficiente para uma família por um ano), precisa-se:

4 L álcool 92°

800 mL óleo corporal (óleo de amêndoa)

100 g Cravos da índia

100 mL Essência de citronela

Alternativa: 200 g folhas frescas de citronela

Modo de preparar:

A partir do material vegetal: Colocar cerca de 4 colheres de sopa de cravos da índia numa

garrafa PET vazia e limpa. Encher a garrafa ao máximo possível com a folha de citronela

(cuidado: a folha pode cortar a mão!). Completar com álcool (que pode também ser do posto

de gasolina) e deixar curtir por 5 dias à temperatura ambiente, sacudindo o conteúdo de vez

em quanto. Decantar o líquido para outra garrafa PET vazia e limpa. Este extrato já pode ser

aplicado como repelente de mosquitos, de preferência por meio de um borrifador. O líquido

tornou-se verde escuro, mas não mancha visivelmente a pele. Uma mancha na roupa sai

facilmente na próxima lavagem.

A receita do repelente pode ser ainda melhorada através da seguinte medida que prevê o uso

de óleo corporal. O óleo tem duas funções na pele: protege-a contra resseca e dificulta o

pouso e a mordida do mosquito. Enquanto usuários com pele seca agradecem esses efeitos,

outros podem sentir a sensação oleosa como desvantagem. Acrescentar à garrafa onde foi

feita a extração com álcool, uma garrafinha (100 mL) de óleo de amêndoa. Sacudir várias

vezes e deixar por um dia. Assim a extração do material vegetal se torna bem completa.

Deixar a garrafa no sol por alguns minutos (isso deixa o óleo menos viscoso) e despejar o

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óleo aromatizado na garrafa onde tem o extrato a álcool. Após sacudir esta mistura o produto

pode ser aplicado.

Em caso de usar essências em vez de material vegetal, o procedimento é mais fácil e rápido

ainda, além de produzir um produto incolor. Acrescentar 100 mL da essência da citronela e

100 mL do óleo corporal a 2 L de álcool. Sacudir bem e transferir num borrifador (através de

um filtro de café, pois pode conter pequenas partículas que entopem o orifício). Sacudir antes

de aplicar na pele.

Esse produto é bem cheiroso e isento de substâncias perigosas. O óleo de cravos tem um

efeito anestésico e pode causar uma sensação de queima por curto tempo quando aplicado em

partes mucosas da pele (lábios, olhos, genitais). O custo, caso feito à base do material vegetal,

é somente 5% dos produtos comerciais.

17.4.8 Pasta de brilho transparente

2250 g de ácido graxo de arroz

500 g de potassa

7 L de água

300 g de trietanolamina

Modo de preparar:

Diluir a potassa em 1 litro da água e reservar. Leve ao fogo o restante da água com o ácido

graxo até ferver. Adicione aos poucos a potassa e mexa vagarosamente com intervalos, até

endurecer. Pare. Depois de fria adicione a trietanolamina mexendo com cuidado para não

fazer espuma. Deixe em repouso. A transparência total dar-se-á após 24 horas.

Dica: um pouco de lixívia sódica engrossa mais essa pasta!

17.4.9 Sabão pastoso para mecânicos

Fazer como a pasta acima, apenas colocando 50 Kg de pó de mármore ou areia branca fina e

mais 3 litros de água. Pode-se colocar 300 g de brancol e corante e aromatizar com óleo de

pinho ou eucalipto.

17.4.10 Brilha-alumínio (contém ácido sulfúrico)

Este é o brilha-alumínio líquido.

90 litros de água

4 Kg de ácido sulfônico (o mesmo usado para fazer o detergente)

2250 g de ácido sulfúrico

2.5 Kg de fluorídrico (devagar!)

17.4.11 Brilha-alumínio (com ácido muriático)

90 litros de água

3 Kg de sulfônico

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800 g de fluorídrico (devagar!)

5 litros de ácido muriático (devagar!)

100 mL de formol a 37%

100 gramas de lauril (LESS)

Modo de preparar (os dois acima):

Seguir a ordem dos produtos acima, mas cuidado com o manuseio dos ácidos (despejar

lentamente; usar óculos de proteção). Agitar bem e está pronto. Corante: opcional, verde ou

azul.

17.4.12 Solupan I (Fortíssimo)

155 litros de água

5.300 gramas de amidex

5.300 gramas de tripolifosfato

2.600 gramas de sulfônico

1 litro e meio de gasolina

30 Kg de soda líquida

200 mL de formol a 37%

1º modo de fazer:

Dissolva o sulfônico na água, depois coloque a soda (já dissolvida em uma parte da água),

depois o tripolifosfato, já dissolvido em parte da água a 70°C, depois amidex já diluído em parte

da água e depois a gasolina e o formol. Sempre mexendo bem!

2º modo de fazer:

Misture o sulfônico com a gasolina muito bem, acrescente parte da água, depois a soda

líquida já dissolvida em parte da água, depois o tripolifosfato já dissolvida em parte da água a

70°C e depois a amidex já diluída em parte da água, e finalmente o formol.

17.4.13 Solupan, receita II

3 Kg de sulfônico

6 Kg de soda líquida

3 Kg de lauril

2 Kg de tripolifosfato de sódio

10 Kg de silicato de sódio alcalino

2 Kg de barrilha (carbonato de sódio)

75 litros de água

Modo de fazer:

1 - Dissolva o sulfônico em 20 litros da água, depois acrescente a soda (já dissolvida em parte

da água (10 litros).

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2 - Em outro recipiente com 20 litros da água dissolva a barrilha mexendo bem, junte o

silicato, mexa bem, depois misture o lauril sempre mexendo bem.

3 - Em outro recipiente o tripolifosfato de sódio deverá ser dissolvido em 25 litros da água em

temperatura de cerca de 70°C sob agitação durante uns 30 minutos. Agora misture o

recipiente 3 com o recipiente 2 e depois junte tudo no recipiente 1, sempre mexendo bem.

17.4.14 Limpa-vidros

110 g de sulfônico

450 g de amônia a 24% (amoníaco)

14 litros de álcool 96 GL (álcool hidratado do posto)

35 g de soda líquida (o suficiente para atingir pH entre 10 e 10,5)

Corante azul na quantidade que quiser.

85 litros de água (vai um pouquinho mais, até completar 100 litros)

Modo de fazer:

Coloque toda a água em um recipiente, dissolva o sulfônico depois coloque a soda, a amônia,

o álcool e o corante. O resultado final é um líquido transparente de baixa viscosidade.

17.4.15 Cera Líquida

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído.)

4 Kg de base (em escamas)

0,5 L de formol - pode usar o "Lysoform" comercial

100 litros de água

300 mL de essência

Corante a gosto

Modo de fazer:

Ferver metade da água, dissolver a base e acrescentar o restante da água e os demais produtos.

17.4.16 Limpa-tudo à base de amoníaco, receita caseira

Rendimento aproximadamente 10 L.

50 mL Sabão em pó

100 g Sabão em barra ralado

100 g Sabão de coco ralado

100 mL Amoníaco

9 L Água

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Os utensílios: um balde de 15 L, uma panela, uma colher de pau ou pedaço de madeira (cabo

de vassoura).

Procedimento:

Ralar os sabões bem fino e levar-los ao fogo para derreter em 2 L de água. Após a dissolução

do sabão retirar do fogo e, ao bater vigorosamente, juntar em jato fino o sabão em pó.

Adicionar o restante da água lentamente e sempre batendo, até que toda mistura forme um

creme homogêneo. Ainda batendo, acrescentar o amoníaco e logo guardar em recipiente bem

fechado. Etiquetar o frasco!

Observações:

a) Antes de usar, agitar bastante o recipiente.

b) Para limpeza pesada o preparado deve ser usado de forma pura.

c) Para limpeza geral usar o produto diluído em água de torneira. O produto pode ser usado

para limpeza geral da casa - desde o fogão até o assoalho.

17.4.17 Gel "suave" para limpeza

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído)

1 Kg de lauril líquido

300 g de amida

4 mL de formol a 37%

3 litros de água

50 g de sal

5 mL de essência

Modo de preparar:

Misturar o lauril com a amida até obter uma pasta. Adicionar a água e mexer bem até

dissolver. Adicionar o sal até obter a textura desejada. Cuidado: o excesso de sal pode turvar o

produto. Acrescente a essência e está pronto.

17.4.18 Gel "forte" para limpeza

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído)

1 Kg de sulfônico

1 Kg de amida

1 Kg de lauril líquido

15 litros de água (mais ou menos)

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50 mL de formol a 37%

Soda suficiente para obter pH 8

Sal para engrossar

Modo de preparar:

Dissolva o sulfônico na água, corrija o pH com a soda, acrescente a amida, o lauril e o formol

e o sal para engrossar.

17.4.19 Desengraxante ácido

Rendimento 100 L.

Atenção: este procedimento requer completo EPI, inclusive luvas de borracha. Recomenda-se,

além disso, trabalhar em um lugar bem ventilado ou em uma capela de exaustão.

4,5 Kg de ácido sulfônico

4,5 Kg de ácido fluorídrico

3 Kg de ácido muriático

Corante Vermelho Basonil (pouco)

Água: o suficiente para completar 100 litros

Modo de preparar:

Em 50 litros da água dissolva lentamente o sulfônico, adicione lentamente o ácido fluorídrico,

e depois lentamente o muriático e vá mexendo até engrossar, em seguida corar e colocar o

restante da água. Deverá adquirir cor lilás devido à reação do vermelho Basonil com os

ácidos.

17.4.20 Desengraxante (fórmula industrial básica)

Rendimento 100 Kg.

50 litros de água

10 Kg de sulfônico (90%)

25 litros de querosene desodorizado

5 Kg de soda líquida (50%)

8 Kg de tripolifosfato de sódio

2 Kg de isobutildiglicol

Modo de Preparo

1 - Sob agitação constante , adicionar o ácido sulfônico (PBC V1 90%) com metade da água

até a total dissolução.

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2 – Dissolver o tripolisosfato de sódio separado em água quente, junte o isobutildiglicol e

adicionar a mistura.

3 - Juntar hidróxido de sódio à mistura.

4 - Finalmente, adicionar o Querosene desodorizado com o restante da água

17.4.21 Desengraxante para alvenaria e pedras

Rendimento 100 L.

4,5 Kg de sulfônico

7,5 de ácido fluorídrico

3 Kg de ácido muriático

Água: o suficiente para completar 100 litros

Corante a escolher

Modo de preparar: Idêntico ao anterior.

17.4.22 Limpa pedras especial, receita I

Rendimento 100 L

2 Kg de sulfônico

12 Kg de ácido muriático

Corante a escolher

Água para completar 100 litros

Modo de preparar: Idêntico ao anterior.

17.4.23 Limpa pedras especial, receita II

Rendimento 100 L

4 Kg de sulfônico

10 Kg de ácido fluorídrico

Corante a escolher

Água para completar 100 litros

Modo de preparar: Idêntico ao anterior

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17.4.24 Desengordurante tipo "Ajax", receita I

Rendimento 100 L

20 Kg de detergente (já preparado antes ou comprado por este fim)

2 Kg de amoníaco 24%

2 Kg de brancol

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Em metade da água dilua o detergente e acrescente o amoníaco, adicione o brancol sempre

mexendo bem e o restante da água.

17.4.25 Desengordurante tipo "Ajax", receita II

Rendimento 100 L

10 Kg de sulfônico

3 Kg de dietanolamina (é a amida) pode ser a 90 ou a 60

4 Kg de Butilglicol

3,5 Kg de Etilglicol

3 Kg de Nonilfenol etoxilado

1,3 Kg de soda líquida

3 Kg de amoníaco 24%

2 Kg de brancol

Água suficiente para completar 100 litros

Modo de preparar:

Em metade da água dissolva o sulfônico e em seguida coloque a soda já diluída em um pouco

da água. Adicione a dietanolamina, o butil, o etil, o nonil, o amoníaco, o restante da água e o

brancol.

17.4.26 "Ajax", receita caseira I

0,5 L de detergente

5 mL de brancol

25 mL de amoníaco

0,5 L de água

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Basta misturar o detergente na água, colocar o amoníaco e o brancol.

17.4.27 "Ajax", receita caseira II

100 g de amoníaco líquido ou 3 pacotinhos de amoníaco em pó (compra no mercado)

0,5 Kg de sobras de sabão

3 litros de água

Caldo de 1 limão taiti e caldo de dois limões galegos

Modo de preparar:

Picar bem o sabão e levar ao fogo parra derreter com um pouco da água, depois junte os

outros ingredientes e o restante da água, sempre mexendo bem e engarrafar. Serve para

limpeza em geral e para deixar roupas encardidas e guardanapos de molho.

Como esse produto contém produtos naturais, sua durabilidade é limitada. Recomenda-se usar

este produto dentro de um mês.

17.4.28 Limpa chassis de caminhão

50 Kg de silicato de sódio alcalino

2 Kg de trietanolamina

1 Kg de nonilfenol etoxilado

2 Kg de fosfato trissódico

2 Kg de soda líquida ou 1 Kg de soda 99%

43 litros de água

Modo de preparar:

Misture o silicato em metade da água, adicione a trietanolamina, o nonil, o fosfato e a soda

sempre agitando e coloque o restante da água.

17.4.29 Lustra-móveis

14 g de sabão amarelo ralado

24 g de cera amarela

30 mL de aguarrás

30 mL de óleo de linhaça

200 mL de água da torneira

Modo de fazer:

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Coloque na panela o sabão para derreter. Após a dissolução completa, junte a cera. Quando

estiver derretido, acrescente a água aos poucos. Retire do fogo e, sem parar de mexer, junte a

aguarrás e o óleo de linhaça. Deixe em repouso por 30 min. Agitar sempre antes de usar.

17.4.30 Limpa-plásticos

12 litros de álcool do posto (álcool hidratado)

1 Kg de amoníaco 24%

600 mL de formol 37%

1 Kg de ácido acético

8 Kg de detergente concentrado

Água para completar 100 litros

Modo de preparar:

Dilua o detergente em toda a água da receita, acrescente o amoníaco sempre mexendo bem, o

ácido acético, o álcool e o formol.

17.4.31 Limpa-carpetes

2,5 Kg de lauril líquido

1 Kg de nonilfenol etoxilado

0,5 L de amoníaco líquido 24%

Água até completar 100 litros

Modo de preparar:

Em metade da água diluir o lauril, em seguida o amoníaco e depois o nonil e corante azul ou

verde bem suave. Acrescente o restante da água.

17.4.32 Amaciante de roupas, receita profissional

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído.)

4 Kg de quaternário de amônio (= base amaciante)

300 g de ácido graxo de sebo hidrogenado (= lubrificante de fibras)

100 mL de EDTA dissódico (= sequestrante)

100 mL de formol a 37% (= conservante)

200 a 500 mL de perfume (à escolha)

Opcional: 200 mL de protetor de cores (se quiser)

Espessante: Para ficar mais espesso use até (1 Kg/ 1 litro) de monoestearato de glicerina ou

álcool cetoestearílico.

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Água até completar 100 litros.

Preparação:

Em metade da água a 60°C diluir o quaternário mexendo bem e deixar em repouso. No

restante da água fria (em separado) coloque o EDTA e o formol e misture com o quaternário

sempre mexendo bem com uma pá de madeira, acrescente o perfume e o corante. O pH

deverá ficar em torno de 4,5. Se precisar corrigir o pH, dilua um pouco de ácido cítrico em

água e vá acrescentando até corrigir.

Atenção: Se quiser melhorar esta formulação, mude apenas a quantidade do quaternário

colocando até 7 Kg. O restante deve ficar inalterado!

17.4.33 Xampu especial para cães e gatos

Rendimento 1 litro.

Fase A:

Lauril Éter Sulfato de Sódio 230 mL

Zonen MI 0,5 mL

Silkion 20 mL

Dietanolamida de coco.(amida 90 cosmética) 30 mL

Água deionizada 750 mL

Glucamate DOE 8 g

Ácido cítrico 10 mL

Corante a gosto

Essência 10 mL

Fase B:

Anfótero betaínico 50 mL

Manipulação:

Aquecer a água juntamente com Glucamate DOE até total dissolução;

Ao esfriar, colocar todos os outros produtos da fase A e homogeneizar;

Incorporar a fase B (se achar necessário) até a quantidade de 50 mL;

Medir o pH, deverá estar na faixa de 6,0.

17.4.34 Xampu para automóveis, receita I

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído.)

4 Kg de sulfônico

1 Kg de amida 60

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3 Kg de "Denvercryl EJ 30" (= resina acrílica)

2 Kg de tripolifosfato de sódio

1 Kg de soda líquida (se usar soda em escamas 99%: coloque apenas meio quilo, diluída em

água)

100 mL de formol a 37%

Corante (fluoresceína) a critério (tem que dissolver o corante em água)

Água para completar 100 litros

Preparo:

É melhor dissolver o tripolifosfato separado em água meio quente.

Dissolva o sulfônico em parte da água e coloque quase toda a soda, adicione o "Denver" e sob

agitação a amida, o tripolifosfato e acerte o pH para 7 com o restante da soda.

Adicione o formol e depois o corante e o restante da água.

17.4.35 Xampu para automóveis, receita II

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído.)

13 Kg de sulfônico

2,5 Kg de tripolifosfato

1 Kg de renex (nonil etoxilado 9,5)

1 Kg de trietanolamina

1,5 Kg de silicato de sódio neutro.

3 kg de metassilicato de sódio

1,3 Kg de soda líquida (soda em escamas 99% use apenas 650 g diluída em água)

100 mL de formol 37%.

Corante (fluoresceina) a critério

Água para completar 100 litros

Preparo:

Dissolver o tripolifosfato em parte da água meio quente, acrescente o meta, o silicato a

trietanolamina,a soda (não toda), o nonil, o sulfônico (sob agitação), o formol, o corante,

acerte o pH com o restante da soda entre 8,5 e 9, complete os 100 litros de água.

17.4.36 Pretinho pneu

(Informe-se antes sobre a periculosidade do formol = solução de formaldeído.)

Glicerina 12 Kg

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Álcool (pode ser do posto de gasolina) 11 litros

Nonilfenol etoxilado (renex) 200 g

Formol a 37% 100 mL

Corante azul solúvel em água

Água para completar 100 litros.

Preparo:

Sob agitação coloque na água: o nonil, a glicerina, o álcool, o formol e corante.

(uma receitinha simples que corre pela net é: 500 mL de glicerina, 250 mL de água e 250 mL

de álcool para fazer 1 litro do produto- fica mais caro).

17.4.37 Graxa para sapatos

40 g de cera de abelha

6 g de cera preparada conforme descrito na p. 188, "Cera para assoalho".

15 mL de aguarrás

2 g de anilina (não comestível) na cor desejada.

Utensílios: para preparar um banho-maria, usar duas panelas, uma de 2 L, metade cheia de

água, e outra de 1 L que cabe na primeira.

Modo de fazer:

Esquentar no banho-maria a cera de abelha junto à cera de assoalho preparada anteriormente.

Tire do fogo logo estiver derretida. Dissolve a anilina no aguarrás e acrescente às ceras

derretidas. Derramar em pequenas latinhas com tampa.

17.4.38 Pasta de limpeza para mecânico

Oleína 1 Kg

Óleo de soja 1 Kg

Potassa cáustica (= hidróxido de potássio) 400 g

Água 1 litro

Dolomita 10 Kg

(Dolomita é um mineral de roxa formado por carbonato duplo de cálcio e magnésio)

Preparo:

Diluir a potassa em água e deixar esfriar. Aquecer a oleína junto com o óleo de soja até 60°C,

retirar do fogo e acrescentar a potassa fria aos poucos mexendo vagarosamente. Depois de

formar uma pasta acrescente a dolomita também aos poucos sempre mexendo, deixe esfriar e

embale.

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17.4.39 Pó para matar baratas

Ingredientes:

100 g de farinha de trigo

100 g de ácido bórico

50 g de açúcar

Anilina comestível para dar uma cor.

Modo de fazer:

Misture os ingredientes, coloque-os em tampinhas, ou papel nos lugares preferidos pelas

baratas.

17.4.40 Pega-moscas

Ingredientes:

50 g de mel de abelha

200 g de óleo de soja ou de mamona

750 g de breu

Modo de preparar:

Coloque em uma panela o breu e o óleo e leve-os ao fogo para derreter, junte o mel agitando

sempre. Aplicar com pincel esta mistura em tiras de papel pardo previamente furado, a ser

pendurado com linha de pescar no teto.

17.4.41 Amaciante de roupas, receita caseira

100 g de sabonete de sua preferência, ralado.

100 mL de glicerina

100 mL de leite de rosas

5 litros de água

Modo de preparar:

Rale o sabonete e leve ao fogo com um litro da água para derreter. Retire do fogo, junte o

resto da água, o leite de rosas e a glicerina em jato fino.

Antes de usar agite vigorosamente este produto.

17.4.42 Pasta para mecânico, receita caseira

200 g de sabão comum (pode ser sobras)

50 g de barrilha (= carbonato de sódio; compra-se em lojas de piscina).

2 Kg de areia fina

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100 mL de água

Modo de preparar:

Rale o sabão e derreta em água quente. Deixe esfriar e junte a barrilha e a areia, batendo para

formar uma pasta.

Dica: esse produto fica menos abrasivo, especialmente não arranha um tanto as unhas, se

substituir os 2 Kg de areia, por 1 Kg de serragem de madeira.

17.4.43 Cera para assoalho

1 L de querosene

12 sacos plásticos de leite (bem limpos)

210 g de parafina

Xadrez para colorir

Modo de preparar:

Colocar a parafina em uma panela ou lata e leve ao fogo para dereter. Quando estiver bastante

quente (saíndo fumaça), acrescente os sacos de plástico que foram recortados em pedaços

menores. Deixar 10 minutos sem mexer, depois mexe até tornar-se um mingau de cor cinza

homogênea. Retire do fogo junte aos poucos o querosene, agitando sempre até formar um

creme. No final adicione o xadrez na cor que corresponde ao seu piso (verde para ardósia;

vermelho para lajetão). Quando deseja aplicar em tacos e tábuas coloridas, é melhor deixar

incolor, então não coloque o xadrez.

17.4.44 Spray para passar roupas

1 L de água

1 colher de sopa rasa de maizena

1 colher de amaciante de roupas

2 colheres de álcool

Modo de preparar:

Faça um mingau com a maisena e a água no fogo. Deixe esfriar e junte o álcool (ou um

perfume) e o amaciante.

17.4.45 Passe-bem, receita caseira I

1 copo de amaciante de roupas

1 copo de água

1 copo de álcool

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Preparo:

Mistura-se tudo muito bem e usa-se com um spray para passar roupas.

17.4.46 Passe-bem, receita caseira II

1 L de água de torneira

1 colher de sopa rasa de amido de milho

1 colher de sopa de amaciante de roupas (pode ser do produto caseiro preparado antes)

2 colheres de sopa de álcool ou do seu perfume preferido.

Modo de fazer:

Faça um mingau com o amido de milho e a água. Deixar resfriar e juntar o álcool ou o

perfume e o amaciante de roupas.

Agite bem antes de usar e aplique via borrifador.

17.4.47 Pasta para brilhar o alumínio, receita caseira

200 g de sobras de sabão bem picado

2 colheres de açúcar

2 colheres de vinagre ou suco de limão.

1 copo de água

Modo de preparar:

Leve tudo ao fogo para derreter e coloque em potes de polietileno.

17.4.48 Sabão "doido"

4 Kg de sebo

1 Kg de soda fraca ( de pacote comprado no supermercado) e dissolva em 2 litros de água fria

1 frasco de detergente

0,5 Kg de polvilho doce ou fubá de milho

1 copo de "pinho Sol" (= desinfetante)

1 copo de sabão em pó

6 litros de água, sendo 3 litros de água morna e 3 litros de água fria.

Modo de fazer:

Em 3 litros de água fria dissolva o sabão em pó, o detergente, o polvilho ou fubá e acrescente

os 3 litros de água morna e mexa bem. Junte tudo isso com o sebo meio quente e depois

despejar a soda mexendo, parando, mexendo, parando até começar a engrossar. Despejar em

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forma de madeira forrada com plástico ou dentro de caixinha vazia de leite ou caixa plástica,

etc.

17.5 Dicas como remover manchas Batom

Use benzina.

Café

Use água morna, glicerina, ácido tartárico (20%) e água oxigenada.

Chocolate

Use água quente com sabão ou água oxigenada.

Desodorante

Manchas amarelas na região das axilas das camisas e uma resina dura e rígida em cima da

fibra, podem ser removidas ao tratar com vinagre.

Ferrugem

Use água morna e sumo de limão. Alternativa: ácido oxálico, solução concentrada em água.

Frutas

Use água morna, sumo de limão, ácido acético (10%) ou vinagre forte incolor.

Manteiga, cera e graxa:

Coloque a mancha entre duas folhas de papel e passe com ferro quente. Depois aplique

benzina, éter, talco ou água quente com sabão.

Mofo

Use água morna e ácido tartárico (20%).

Sangue

Use água fria, sal de cozinha (5%), amoníaco, água morna com sabão e água oxigenada.

Sopas

Use benzina, água quente com sabão.

Tinta de escrever

Use água morna, suco de limão e leite azedo.

Tinta a óleo

Remova a tinta e aplique uma mistura de álcool e essência de terpentina ("Aguarrás"). Após

10 minutos, aplique benzol.

Vinho

Use água morna e ácido tartárico (20%).

Outras manchas não especificadas

Misture amoníaco, éter, benzina e "aguarrás".

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18 Coleção de sites úteis na internet

Site com informações acerca dos compostos ativos em formulações cosméticas, juntas aos

mecanismos de ação, fornecedores e nomes dos produtos comerciais. Contém ainda as classes

importantes dos produtos anti-envelhecimento e de despigmentação, que não fazem parte

deste livro:

http://www.farmaceuticacuriosa.com/p/cosmeticos_17.html

Informações sobre a fabricação de produtos de limpeza feitos artesanalmente– Ingredientes e

modo de fazer:

http://www.herbario.com.br/atual03/2311oleosveg.htm

Site com fórmulas de diversos produtos de higiene, entre estes sabonetes líquidos e

glicerinados:

http://planeta.terra.com.br/educacao/portaldaescola/formulas.htm

Site com formulações de diversos tipos de sabonete:

http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Contém informações sobre a preparação de sabão:

http://www.cdcc.sc.usp.br/quimica/experimentos/sabao.html

Informações sobre o processo produtivo do sabão:

http://www.cecae.usp.br/Aprotec/respostas/RESP04.htm

Informações sobre a fabricação de sabão em barra:

http://www.sebraema.com.br/diversos/responde_sabao.htm

Site tem em seu conteúdo receita diversos tipos de sabonete:

http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Texto com fórmulas de fabricação de sabão:

http://www.ca.ufsc.br/qmc/prodlimpeza/sabaocomum/sabaocomum.htm

Máquinas para sabão: www.fenoquimica.com.br

Fórmulas de produtos: www.mrformula.com.br

Sabonete: http://geocities.yahoo.com.br/barradesabao

Óleos essências: http://aromalandia.isonfire.com

Sódio: http://www.sodiumstearate.com/sodiummyristate.htm

Sabonetes cold:

www.lush.com.br

http://www.countryrosesoap.com/handmade.htm#Top

Receita, passo a passo, de que você não acredita que é sabonete. Pensa que é doce:

http://home.exetel.com.au/lozniz/Whipped/index.htm

http://www.geocities.com/blueaspenoriginals/

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Sites de cold process:

http://www.banlieusardises.com/soins/archives/001025.html

http://operasavon.free.fr/fabrication.htm

Informações produtos de limpeza: http://www.herbario.com.br/atual103/2311oleosbeg.htm

Fórmulas diversos produtos: http://planeta.terra.com.br/educacao/portaldaescola/formulas.htm

Diversos tipos de sabonetes: http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Preparação de sabão: http://www.cdcc.sc.usp.br/quimica/experimentos/sabao.html

Processo produtivo do sabão: http://www.cecae.usp.br/Aprotec/respostas/RESP04.htm

Sabão em barra: http://www.sebraema.com.br/diversos/responde_sabao.htm

Tipos de sabonetes: http://www.arteducacao.pro.br/tecnicas/sabonetes.htm

Fórmulas de fabricação de sabão:

http://www.ca.ufsc.br/qmc/prodlimpeza/sabaocomum/sabaocomum.htm

Óleos essenciais do fabricante: http://www.georgesbroemme.com.br/produtos.html

Fórum de formulações: www.inforum.insite.com.br/2312

Produtos e essências e formulações:

http://www.farmanilquima.com.br/produtos.htm

http://www.emfal.com.br

Materiais relacionados ao assunto:

www.mrformula.com.br

www.cosmeticnow.com.br

Tem outro site bastante interessante: www.enciclopediapopular.com.br