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PÉROLA CRISTINA FARIAS ALVES PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTAÇÃO CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR Londrina 2013

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Page 1: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

PEacuteROLA CRISTINA FARIAS ALVES

PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTACcedilAtildeO

CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR

Londrina

2013

PEacuteROLA CRISTINA FARIAS ALVES

PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTACcedilAtildeO

CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia Orientador Prof Dr Ruth Youko Tsukamoto

Londrina 2013

PEacuteROLA CRISTINA FARIAS ALVES

PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTACcedilAtildeO

CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Orientador Prof Dr Ruth Youko Tsukamoto

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof Dr Alice Yatiyo Asari

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof Dr Ederval Everson Batista

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina _____de ___________de _____

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a minha orientadora Professora Ruth natildeo soacute pela

constante orientaccedilatildeo neste trabalho mas sobretudo pela sua paciecircncia que teve

comigo durante todo o periacuteodo da pesquisa me auxiliando me apoiando e

ensinando da melhor forma sobre como elaborar a pesquisa e me orientando sobre

quais caminhos eu deveria percorrer

Aos meus pais Marta e Raimundo que aleacutem do apoio me ajudaram

muito durante as entrevistas de campo sempre colaborando com muitas informaccedilotildees

aleacutem de me acompanhar durante as visitas com os assentados

Gostaria de agradecer tambeacutem algumas pessoas que contribuiacuteram

para o desenvolvimento da pesquisa tio Izaias tia Zezinha e tio Nozinho atraveacutes de

informaccedilotildees acerca da organizaccedilatildeo do acampamento e a atuaccedilatildeo do MST e todo o

processo de implantaccedilatildeo do assentamento Sem estas informaccedilotildees detalhadas a

pesquisa teria sido muito mais difiacutecil

Agradeccedilo tambeacutem ao meu primo Glauber Yure minha cunhada

Leidiane meus irmatildeos Silas Hocmone Tamar e Ramom que me auxiliaram nas

tabulaccedilotildees de dados durante a pesquisa

Aos amigos Camila Ketery Thiago Saab Naibi Jaime Deidy

Fernanda que me incentivaram para a conclusatildeo da pesquisa salientando sua

importacircncia para minha carreira profissional

A minha amiga e soacutecia Ivone Gomes Borges pela paciecircncia que

teve comigo durante minhas faltas ao trabalho

E por fim mais um agradecimento especial ao meu ex colega de

trabalho Renato Rugene de Carvalho pelo exemplo de dedicaccedilatildeo e carinho pelas

coisas boas da vida me ensinando bons valores dos quais jamais esquecerei

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problemas e Desafios da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

RESUMO

Este trabalho busca objetivar os problemas e condiccedilotildees em que se encontram

os produtores rurais da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo

Camponesa em Ortigueira-PR referente a produccedilatildeo agriacutecola familiar bem como a

ocupaccedilatildeo e uso do solo e as tendecircncias de seu desenvolvimento O estudo foi

realizado atraveacutes de pesquisas de campo aplicadas para uma amostra de 25

famiacutelias sendo possiacutevel entender as relaccedilotildees de trabalho e produccedilatildeo niacutevel

socioeconocircmico e tecnoloacutegico aleacutem de problemaacuteticas que envolvem o processo de

surgimento da comunidade Para isso buscou-se investigar aspectos produtivos e

econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento compreender os

mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel socioeconocircmico

das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria vida dos assentados

Palavras-chave Comunidade Cozinhador Assentamento Rural Produccedilatildeo Agriacutecola Familiar Reforma Agraacuteria

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problems and Challenges of the Community Cozinhador Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa in Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

ABSTRACT

This work seeks to objectify the problems and conditions in which they are farmers of the Community Cozinhador in Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR referring to family farming as well as the occupation and use of land and its development trends The study was conducted through field research applied to a sample of 25 families being possible to understand the labor and relations production socio-economic status and technological as well as issues involving the process of community emergence For this we sought seeks to investigate performance and economic aspects establishing the dynamics of the settlement understanding the mechanisms of commercialization of production characterize the socioeconomic status of families settled investigate the life history of the settlers

Key words Community Cooker Rural Settlement Family Farms Agrarian Reforms

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 2: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

PEacuteROLA CRISTINA FARIAS ALVES

PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTACcedilAtildeO

CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia Orientador Prof Dr Ruth Youko Tsukamoto

Londrina 2013

PEacuteROLA CRISTINA FARIAS ALVES

PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTACcedilAtildeO

CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Orientador Prof Dr Ruth Youko Tsukamoto

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof Dr Alice Yatiyo Asari

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof Dr Ederval Everson Batista

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina _____de ___________de _____

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a minha orientadora Professora Ruth natildeo soacute pela

constante orientaccedilatildeo neste trabalho mas sobretudo pela sua paciecircncia que teve

comigo durante todo o periacuteodo da pesquisa me auxiliando me apoiando e

ensinando da melhor forma sobre como elaborar a pesquisa e me orientando sobre

quais caminhos eu deveria percorrer

Aos meus pais Marta e Raimundo que aleacutem do apoio me ajudaram

muito durante as entrevistas de campo sempre colaborando com muitas informaccedilotildees

aleacutem de me acompanhar durante as visitas com os assentados

Gostaria de agradecer tambeacutem algumas pessoas que contribuiacuteram

para o desenvolvimento da pesquisa tio Izaias tia Zezinha e tio Nozinho atraveacutes de

informaccedilotildees acerca da organizaccedilatildeo do acampamento e a atuaccedilatildeo do MST e todo o

processo de implantaccedilatildeo do assentamento Sem estas informaccedilotildees detalhadas a

pesquisa teria sido muito mais difiacutecil

Agradeccedilo tambeacutem ao meu primo Glauber Yure minha cunhada

Leidiane meus irmatildeos Silas Hocmone Tamar e Ramom que me auxiliaram nas

tabulaccedilotildees de dados durante a pesquisa

Aos amigos Camila Ketery Thiago Saab Naibi Jaime Deidy

Fernanda que me incentivaram para a conclusatildeo da pesquisa salientando sua

importacircncia para minha carreira profissional

A minha amiga e soacutecia Ivone Gomes Borges pela paciecircncia que

teve comigo durante minhas faltas ao trabalho

E por fim mais um agradecimento especial ao meu ex colega de

trabalho Renato Rugene de Carvalho pelo exemplo de dedicaccedilatildeo e carinho pelas

coisas boas da vida me ensinando bons valores dos quais jamais esquecerei

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problemas e Desafios da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

RESUMO

Este trabalho busca objetivar os problemas e condiccedilotildees em que se encontram

os produtores rurais da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo

Camponesa em Ortigueira-PR referente a produccedilatildeo agriacutecola familiar bem como a

ocupaccedilatildeo e uso do solo e as tendecircncias de seu desenvolvimento O estudo foi

realizado atraveacutes de pesquisas de campo aplicadas para uma amostra de 25

famiacutelias sendo possiacutevel entender as relaccedilotildees de trabalho e produccedilatildeo niacutevel

socioeconocircmico e tecnoloacutegico aleacutem de problemaacuteticas que envolvem o processo de

surgimento da comunidade Para isso buscou-se investigar aspectos produtivos e

econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento compreender os

mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel socioeconocircmico

das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria vida dos assentados

Palavras-chave Comunidade Cozinhador Assentamento Rural Produccedilatildeo Agriacutecola Familiar Reforma Agraacuteria

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problems and Challenges of the Community Cozinhador Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa in Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

ABSTRACT

This work seeks to objectify the problems and conditions in which they are farmers of the Community Cozinhador in Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR referring to family farming as well as the occupation and use of land and its development trends The study was conducted through field research applied to a sample of 25 families being possible to understand the labor and relations production socio-economic status and technological as well as issues involving the process of community emergence For this we sought seeks to investigate performance and economic aspects establishing the dynamics of the settlement understanding the mechanisms of commercialization of production characterize the socioeconomic status of families settled investigate the life history of the settlers

Key words Community Cooker Rural Settlement Family Farms Agrarian Reforms

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 3: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

PEacuteROLA CRISTINA FARIAS ALVES

PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ASSENTAMENTO LIBERTACcedilAtildeO

CAMPONESA EM ORTIGUEIRA-PR

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Orientador Prof Dr Ruth Youko Tsukamoto

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof Dr Alice Yatiyo Asari

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof Dr Ederval Everson Batista

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina _____de ___________de _____

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a minha orientadora Professora Ruth natildeo soacute pela

constante orientaccedilatildeo neste trabalho mas sobretudo pela sua paciecircncia que teve

comigo durante todo o periacuteodo da pesquisa me auxiliando me apoiando e

ensinando da melhor forma sobre como elaborar a pesquisa e me orientando sobre

quais caminhos eu deveria percorrer

Aos meus pais Marta e Raimundo que aleacutem do apoio me ajudaram

muito durante as entrevistas de campo sempre colaborando com muitas informaccedilotildees

aleacutem de me acompanhar durante as visitas com os assentados

Gostaria de agradecer tambeacutem algumas pessoas que contribuiacuteram

para o desenvolvimento da pesquisa tio Izaias tia Zezinha e tio Nozinho atraveacutes de

informaccedilotildees acerca da organizaccedilatildeo do acampamento e a atuaccedilatildeo do MST e todo o

processo de implantaccedilatildeo do assentamento Sem estas informaccedilotildees detalhadas a

pesquisa teria sido muito mais difiacutecil

Agradeccedilo tambeacutem ao meu primo Glauber Yure minha cunhada

Leidiane meus irmatildeos Silas Hocmone Tamar e Ramom que me auxiliaram nas

tabulaccedilotildees de dados durante a pesquisa

Aos amigos Camila Ketery Thiago Saab Naibi Jaime Deidy

Fernanda que me incentivaram para a conclusatildeo da pesquisa salientando sua

importacircncia para minha carreira profissional

A minha amiga e soacutecia Ivone Gomes Borges pela paciecircncia que

teve comigo durante minhas faltas ao trabalho

E por fim mais um agradecimento especial ao meu ex colega de

trabalho Renato Rugene de Carvalho pelo exemplo de dedicaccedilatildeo e carinho pelas

coisas boas da vida me ensinando bons valores dos quais jamais esquecerei

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problemas e Desafios da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

RESUMO

Este trabalho busca objetivar os problemas e condiccedilotildees em que se encontram

os produtores rurais da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo

Camponesa em Ortigueira-PR referente a produccedilatildeo agriacutecola familiar bem como a

ocupaccedilatildeo e uso do solo e as tendecircncias de seu desenvolvimento O estudo foi

realizado atraveacutes de pesquisas de campo aplicadas para uma amostra de 25

famiacutelias sendo possiacutevel entender as relaccedilotildees de trabalho e produccedilatildeo niacutevel

socioeconocircmico e tecnoloacutegico aleacutem de problemaacuteticas que envolvem o processo de

surgimento da comunidade Para isso buscou-se investigar aspectos produtivos e

econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento compreender os

mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel socioeconocircmico

das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria vida dos assentados

Palavras-chave Comunidade Cozinhador Assentamento Rural Produccedilatildeo Agriacutecola Familiar Reforma Agraacuteria

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problems and Challenges of the Community Cozinhador Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa in Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

ABSTRACT

This work seeks to objectify the problems and conditions in which they are farmers of the Community Cozinhador in Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR referring to family farming as well as the occupation and use of land and its development trends The study was conducted through field research applied to a sample of 25 families being possible to understand the labor and relations production socio-economic status and technological as well as issues involving the process of community emergence For this we sought seeks to investigate performance and economic aspects establishing the dynamics of the settlement understanding the mechanisms of commercialization of production characterize the socioeconomic status of families settled investigate the life history of the settlers

Key words Community Cooker Rural Settlement Family Farms Agrarian Reforms

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 4: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a minha orientadora Professora Ruth natildeo soacute pela

constante orientaccedilatildeo neste trabalho mas sobretudo pela sua paciecircncia que teve

comigo durante todo o periacuteodo da pesquisa me auxiliando me apoiando e

ensinando da melhor forma sobre como elaborar a pesquisa e me orientando sobre

quais caminhos eu deveria percorrer

Aos meus pais Marta e Raimundo que aleacutem do apoio me ajudaram

muito durante as entrevistas de campo sempre colaborando com muitas informaccedilotildees

aleacutem de me acompanhar durante as visitas com os assentados

Gostaria de agradecer tambeacutem algumas pessoas que contribuiacuteram

para o desenvolvimento da pesquisa tio Izaias tia Zezinha e tio Nozinho atraveacutes de

informaccedilotildees acerca da organizaccedilatildeo do acampamento e a atuaccedilatildeo do MST e todo o

processo de implantaccedilatildeo do assentamento Sem estas informaccedilotildees detalhadas a

pesquisa teria sido muito mais difiacutecil

Agradeccedilo tambeacutem ao meu primo Glauber Yure minha cunhada

Leidiane meus irmatildeos Silas Hocmone Tamar e Ramom que me auxiliaram nas

tabulaccedilotildees de dados durante a pesquisa

Aos amigos Camila Ketery Thiago Saab Naibi Jaime Deidy

Fernanda que me incentivaram para a conclusatildeo da pesquisa salientando sua

importacircncia para minha carreira profissional

A minha amiga e soacutecia Ivone Gomes Borges pela paciecircncia que

teve comigo durante minhas faltas ao trabalho

E por fim mais um agradecimento especial ao meu ex colega de

trabalho Renato Rugene de Carvalho pelo exemplo de dedicaccedilatildeo e carinho pelas

coisas boas da vida me ensinando bons valores dos quais jamais esquecerei

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problemas e Desafios da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

RESUMO

Este trabalho busca objetivar os problemas e condiccedilotildees em que se encontram

os produtores rurais da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo

Camponesa em Ortigueira-PR referente a produccedilatildeo agriacutecola familiar bem como a

ocupaccedilatildeo e uso do solo e as tendecircncias de seu desenvolvimento O estudo foi

realizado atraveacutes de pesquisas de campo aplicadas para uma amostra de 25

famiacutelias sendo possiacutevel entender as relaccedilotildees de trabalho e produccedilatildeo niacutevel

socioeconocircmico e tecnoloacutegico aleacutem de problemaacuteticas que envolvem o processo de

surgimento da comunidade Para isso buscou-se investigar aspectos produtivos e

econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento compreender os

mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel socioeconocircmico

das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria vida dos assentados

Palavras-chave Comunidade Cozinhador Assentamento Rural Produccedilatildeo Agriacutecola Familiar Reforma Agraacuteria

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problems and Challenges of the Community Cozinhador Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa in Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

ABSTRACT

This work seeks to objectify the problems and conditions in which they are farmers of the Community Cozinhador in Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR referring to family farming as well as the occupation and use of land and its development trends The study was conducted through field research applied to a sample of 25 families being possible to understand the labor and relations production socio-economic status and technological as well as issues involving the process of community emergence For this we sought seeks to investigate performance and economic aspects establishing the dynamics of the settlement understanding the mechanisms of commercialization of production characterize the socioeconomic status of families settled investigate the life history of the settlers

Key words Community Cooker Rural Settlement Family Farms Agrarian Reforms

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 5: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problemas e Desafios da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

RESUMO

Este trabalho busca objetivar os problemas e condiccedilotildees em que se encontram

os produtores rurais da Comunidade Cozinhador do Assentamento Libertaccedilatildeo

Camponesa em Ortigueira-PR referente a produccedilatildeo agriacutecola familiar bem como a

ocupaccedilatildeo e uso do solo e as tendecircncias de seu desenvolvimento O estudo foi

realizado atraveacutes de pesquisas de campo aplicadas para uma amostra de 25

famiacutelias sendo possiacutevel entender as relaccedilotildees de trabalho e produccedilatildeo niacutevel

socioeconocircmico e tecnoloacutegico aleacutem de problemaacuteticas que envolvem o processo de

surgimento da comunidade Para isso buscou-se investigar aspectos produtivos e

econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento compreender os

mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel socioeconocircmico

das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria vida dos assentados

Palavras-chave Comunidade Cozinhador Assentamento Rural Produccedilatildeo Agriacutecola Familiar Reforma Agraacuteria

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problems and Challenges of the Community Cozinhador Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa in Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

ABSTRACT

This work seeks to objectify the problems and conditions in which they are farmers of the Community Cozinhador in Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR referring to family farming as well as the occupation and use of land and its development trends The study was conducted through field research applied to a sample of 25 families being possible to understand the labor and relations production socio-economic status and technological as well as issues involving the process of community emergence For this we sought seeks to investigate performance and economic aspects establishing the dynamics of the settlement understanding the mechanisms of commercialization of production characterize the socioeconomic status of families settled investigate the life history of the settlers

Key words Community Cooker Rural Settlement Family Farms Agrarian Reforms

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 6: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

ALVES Peacuterola Cristina Farias Problems and Challenges of the Community Cozinhador Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa in Ortigueira-PR 2013 88 folhas Trabalho de Conclusatildeo de Curso Bacharel em Geografia ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2013

ABSTRACT

This work seeks to objectify the problems and conditions in which they are farmers of the Community Cozinhador in Settlement Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira-PR referring to family farming as well as the occupation and use of land and its development trends The study was conducted through field research applied to a sample of 25 families being possible to understand the labor and relations production socio-economic status and technological as well as issues involving the process of community emergence For this we sought seeks to investigate performance and economic aspects establishing the dynamics of the settlement understanding the mechanisms of commercialization of production characterize the socioeconomic status of families settled investigate the life history of the settlers

Key words Community Cooker Rural Settlement Family Farms Agrarian Reforms

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 7: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Brasil ndash Assentamentos Rurais- 1985 a 2000 Ndeg Total27

Graacutefico 2 ndash Brasil ndash Assentados Oficiais de Reforma agraacuteria- 1995 a 2006 28

Graacutefico 3 ndash Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural 58

Graacutefico 4 ndash Nuacutemero de Produtores que utilizam insumos agriacutecolas 63

Graacutefico 5 ndash Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados 68

Graacutefico 6 - Ndeg de assentados entrevistados e o ndeg de cabeccedilas de gado69

Graacutefico 7 ndash Uso da terra na comunidade Cozinhador70

Graacutefico 8 ndash Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado76

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 8: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

LISTA DE FOTOS E IMAGENS

Imagem 1 ndash Vista parcial do assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa 46

Foto 1 ndash Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa46

Imagem 2 ndash Coleacutegio Izaias Rafael da Silva47

Foto 2 ndash Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva 48

Foto 3 ndash Colocircnia da Comunidade Cozinhador49

Imagem 3 - Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas

Transparanaacute50

Imagem 4- Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede51

Imagem 5-Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca 52

Imagem 6 - Vista parcial da Comunidade Cozinhador54

Foto 4 ndash Ponte de Concreto do Rio Apucarana55

Foto 5 - Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade

Cozinhador56

Foto 6 ndash Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na comunidade Cozinhador68

Foto 7 - Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador72

Foto 8 - Casa de alvenaria de um assentado75

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 9: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 ndash Lei ndeg 4 504 de 196418

Quadro 2 ndash Da Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria21

Tabela 1 ndash Estrutura Fuacutendiaacuteria Brasileira - 2003 22

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-

200633

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-200634

Tabela 4 ndash Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas57

Tabela 5 - Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento57

Tabela 6 ndash Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo64

Tabela 7 - Utilizam matildeo de obra temporaacuteria65

Tabela 8 - Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio66

Tabela 9 - Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)66

Tabela 10 - Ndeg de lotes com pessoas (qualquer indiviacuteduo da famiacutelia) que recebemou

natildeo aposentadoria76

Tabela 11 - Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa famiacutelia77

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

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Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

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mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

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porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

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ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

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as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

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vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 10: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

9

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA 13

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil 15

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos 22

23 Os assentamentos do INCRA no Brasil 26

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS30 31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa37

32 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento41

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento43

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura45

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO54

41 Perfil dos assentados na Comunidade Cozinhador57

42 Repasses de lotes no Assentamento59

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho62

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo66

441 Pecuaacuteria de leite67

442 Produccedilatildeo Agriacutecola70

443 A Cultura do eucalipto na comunidade Cozinhador 71

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas74

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS79

6 REFEREcircNCIAS81

APEcircNDICE83

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

Page 11: PROBLEMAS E DESAFIOS DA COMUNIDADE COZINHADOR DO ...€¦ · Gráfico 6 - N° de assentados entrevistados e o n° de cabeças de gado.....69 Gráfico 7 ... 4.3 O uso da terra e as

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho baseia-se num estudo em uma das comunidades do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em Ortigueira - PR conquistado com o apoio

do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) regularizado em 1998 O

Assentamento eacute composto por 412 famiacutelias assentadas divididas entre oito

comunidades que foram denominadas conforme a atividade exercida anteriormente agrave

implantaccedilatildeo do Assentamento como infraestrutura construiacuteda e caracteriacutesticas do

meio natural A comunidade do Cozinhador escolhida para o desenvolvimento deste

trabalho tem suas peculiaridades devido agrave procedecircncia dos assentados

anteriormente a formaccedilatildeo do assentamento sendo os mesmos oriundos de diversos

estados brasileiros de regiotildees comuns assim como as perspectivas das famiacutelias

acerca da atividade desenvolvida no lote

Busca-se entender partes da dinacircmica agraacuteria brasileira tendo a concentraccedilatildeo

fundiaacuteria como pano de fundo da luta pela terra por aqueles que natildeo tem acesso agrave

ela ou mesmo pouca terra Numa estrutura fundiaacuteria no qual 01 dos imoacuteveis deteacutem

135 da aacuterea total em hectares muitas vezes natildeo cumprindo a funccedilatildeo social da

terra ou seja produzir alimentos para a populaccedilatildeo enquanto 316 dos imoacuteveis

possui uma aacuterea de apenas 18 sendo ocupada pelos pequenos produtores rurais

que alimentam a populaccedilatildeo brasileira segundo os dados da Estrutura Agraacuteria

Brasileira do ano de 2003 conforme a tabela 1 da pagina 22

Para o desenvolvimento deste trabalho buscou-se investigar aspectos

produtivos e econocircmicos que estabelecem a dinacircmica do Assentamento

compreender os mecanismos de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo caracterizar o niacutevel

socioeconocircmico das famiacutelias assentadas investigar a histoacuteria de vida dos

assentados

A escolha da realizaccedilatildeo desta pesquisa nesta comunidade estaacute relacionada

com o fato da famiacutelia da autora deste trabalho ter participado do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento sendo um dos primeiros a chegarem ao local Isto

contribuiu para que a pesquisa fosse realizada contendo relatos de acontecimentos

desde a formaccedilatildeo do assentamento

Apoacutes o resgate do processo de ocupaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo desses assentados

discutir se - agrave os problemas e as condiccedilotildees em que se encontram agrave produccedilatildeo

agriacutecola as relaccedilotildees de produccedilatildeo as formas de utilizaccedilatildeo das terras e as tendecircncias

de seu desenvolvimento por meio de pesquisas de campo em uma das comunidades

do Assentamento Esta comunidade denominada Cozinhador conta com 37 famiacutelias

11

assentadas as quais tem origem nordestina do interior de Satildeo Paulo e Estado do

Paranaacute

Foi aplicado um questionaacuterio para 25 famiacutelias desta comunidade para

entender a histoacuteria de vida e as perspectivas dos assentados apoacutes 15 anos de

formaccedilatildeo do Assentamento sendo importante para a anaacutelise e a compreensatildeo das

praacuteticas socioculturais e do desenvolvimento dos assentados

A partir de meados da deacutecada de 1980 passou a surgir um expressivo nuacutemero

de assentados graccedilas a atuaccedilatildeo dos movimentos sociais rurais atraveacutes da ocupaccedilatildeo

de fazendas consideradas improdutivas O Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) se destacou como um dos mais eficientes no processo de luta pela

Reforma Agraacuteria e para entender o papel desse movimento social e sua forma de

organizaccedilatildeo analisaremos como foi sua atuaccedilatildeo no acampamento que acabou por

originar o Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa e a aacuterea escolhida para a presente

pesquisa aleacutem de compreender como ocorreu a aquisiccedilatildeo das fazendas por meio do

Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INCRA) e o MST tendo em

vista que trecircs fazendas foram desapropriadas para tal finalidade

Para o desenvolvimento deste trabalho foi incrementado uma breve

contextualizaccedilatildeo do tema Reforma Agraacuteria ressaltando seus conceitos seus

problemas inerentes agrave sua implementaccedilatildeo e assim entender o verdadeiro objetivo

por meio de leituras teoacutericas realizadas em relaccedilatildeo a este tema Abordamos tambeacutem

a questatildeo fundiaacuteria no Brasil relacionando fatores fundamentais que causaram a

concentraccedilatildeo de terras no Brasil desde seu processo de colonizaccedilatildeo evidenciando

os vaacuterios momentos poliacuteticos e histoacutericos em que muitas leis foram sancionadas

mas que natildeo foram eficientes no processo de desconcentraccedilatildeo da terras no paiacutes

Pelo fato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ter e tem exercido um

papel fundamental no processo de concretizaccedilatildeo de poliacuteticas de assentamento no

Brasil procuramos entender neste trabalho como ocorreu a criaccedilatildeo do MST e seus

objetivos assim como uma breve anaacutelise dos assentamentos do INCRA no Brasil

demonstrando atraveacutes de dados que a concentraccedilatildeo fundiaacuteria continua arraigada na

sociedade brasileira

No segundo item Municiacutepio de Ortigueira formaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das terras

tratamos de resgatar o processo de ocupaccedilatildeo do municiacutepio e a atual configuraccedilatildeo

com a presenccedila de assentamentos rurais dentre eles o nosso objeto de estudo

Assim procuramos entender as origens do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

um dos maiores do Estado do Paranaacute

12

No terceiro e uacuteltimo item Comunidade Cozinhador formaccedilatildeo e

desenvolvimento procuramos verificar os objetivos traccedilados por meio de pesquisa

em campo para analisar a atual situaccedilatildeo dos assentados dessa comunidade que

hoje natildeo conta com a atuaccedilatildeo do MST

13

2 CONTEXTUALIZANDO O TEMA REFORMA AGRAacuteRIA

Antes de discutir o processo de reforma agraacuteria no Brasil suas problemaacuteticas

e contradiccedilotildees torna-se necessaacuterio entender este conceito que em diversas

ocasiotildees tem-se utilizado em conversas discursos e ateacute mesmo em textos

cientiacuteficos muitas vezes de forma equivocada

[] ao responder a pergunta ldquoo que eacute Reforma Agraacuteriardquo o expositor oficial da Agecircncia para o Desenvolvimento Internacional (AID) do Departamento de Estado dos Estados Unidos lembrava que as definiccedilotildees a respeito variam dependendo se estaacute a favor ou contra a Reforma Agraacuteria Natildeo obstante a reuniatildeo em que esse e outros temas baacutesicos foram discutidos adotou autecircntico conceito pelo qual se considerou ldquoReforma Agraacuteriardquo ou ldquoReforma do Regime de Tendecircncia da Terrardquo 1 ndash redistribuiccedilatildeo do direito de propriedade sobre a terra eou 2 - concessatildeo de seguranccedila longos prazos e baixos preccedilos para as terras ocupadas em forma precaacuteria ambas as situaccedilotildees devem ocorrer em aacutereas onde jaacute existia alguma infra-estrutura (SILVA 1971 p 17)

Para o autor existem trecircs medidas que podem melhorar o setor agriacutecola

simples instrumento de poliacutetica modificaccedilotildees nas estruturas existentes e reformas

propriamente ditas Para ele as mudanccedilas instrumentais com o intuito de realizar

Reforma Agraacuteria raramente conduzem a qualquer transformaccedilatildeo substancial na

estrutura da economia uma vez que dizem respeito apenas agrave utilizaccedilatildeo de

mudanccedilas quantitativas como satildeo os aumentos de impostos ou a modificaccedilatildeo nas

taxas de arrendamento ou parceria

O autor entatildeo esclarece em sua visatildeo a diferenccedila entre as gradaccedilotildees de

poliacuteticas agriacutecolas de um lado a reduccedilatildeo da taxa de juro para o financiamento de

adubos como um mero instrumento de poliacutetica a introduccedilatildeo de um sistema de

financiamento integral constituiria uma mudanccedila na estrutura que regulamenta a

utilizaccedilatildeo deste importante insumo agriacutecola a nacionalizaccedilatildeo da induacutestria de adubos

representaria uma reforma

Muitos outros autores tecircm procurado estabelecer uma anaacutelise do termo

Reforma Agraacuteria relacionando com as poliacuteticas governamentais no Brasil Oliveira

(2007) discute o termo Reforma Agraacuteria no qual relaciona agraves lutas e revoltas

camponesas e accedilotildees de governos visando modificar a estrutura agraacuteria nas regiotildees

no qual diferencia estes dois casos o primeiro como revoluccedilatildeo agraacuteria e o segundo

relacionada a ideia de uma reforma

Para este mesmo autor no capitalismo a terra transformada em mercadoria

tem um preccedilo mas natildeo tem valor pelo fato de natildeo ser produto criado pelo trabalho

humano

14

Portanto a concentraccedilatildeo da terra natildeo eacute igual agrave concentraccedilatildeo do capital ao contraacuterio revela a irracionalidade do meacutetodo que retira capital do processo produtivo imobilizando-o sob a forma de propriedade capitalista da terra Jaacute a concentraccedilatildeo do capital eacute aumento de poder de exploraccedilatildeo eacute aumento da capacidade produtiva do trabalhador eacute aumento portanto da capacidade de extraccedilatildeo do trabalho natildeo-pago da mais-valia (OLIVEIRA 2007 p 66)

Assim para o autor a Reforma Agraacuteria historicamente aparece no capitalismo

como necessidade do capital resolver a questatildeo social advinda da concentraccedilatildeo de

terras e assim os maiores problemas sempre foram os obstaacuteculos das

desapropriaccedilotildees ou seja Tiacutetulo da Diacutevida Ativa (TDA) quando o estado paga o

proprietaacuterio pelas desapropriaccedilotildees com o dinheiro agrave vista ele cria condiccedilotildees para

que o mesmo receba o dinheiro retido na terra como forma de capital E eacute assim que

residem historicamente os problemas centrais das reformas agraacuterias sob o

capitalismo que tem sido movimentos conjunturais para tentar atenuar as pressotildees

sociais advindas da concentraccedilatildeo de terras

Pode-se dizer segundo as declaraccedilotildees de Oliveira (2007) que a Reforma

Agraacuteria somente ocorre quando o estado desapropria e reparte a terra para

pequenos produtores poreacutem natildeo devolve nenhum capital para o antigo proprietaacuterio

em troca caso contraacuterio seria o mesmo que desconcentrar e concentrar novamente

Os exemplos de Reforma Agraacuteria que tecircm surgido no campo tecircm a estrateacutegia

da expansatildeo do capitalismo no campo esgotando a possibilidade de reproduccedilatildeo da

produccedilatildeo camponesa transformando aqueles que comeccedilam a concentrar a terra em

pequenos capitalistas

Desse modo esse processo eacute contraditoacuterio pois ao mesmo tempo em que ele ocorre abre para os camponeses novos horizontes histoacutericos em que a subordinaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da renda da terra aos grandes monopoacutelios capitalistas geram para eles (os camponeses) a perspectiva e necessidade de luta natildeo soacute pela propriedade da terra mas sobretudo a luta contra o capital (OLIVEIRA 2007 p 67)

Para entender melhor o autor eacute soacute pensar nas maneiras como o capitalista ao

inveacutes de adquirir a terra subordina o agricultor a produzir o que ele precisa

explorando este e sua famiacutelia para trabalhar na propriedade por uma renda miacutenima e

desproporcional ao relacionar o excesso de trabalho e o fato de ser o proprietaacuterio da

terra

Assim para Oliveira (2007 p 68) este processo que cria a necessidade da

Reforma Agraacuteria natildeo resolve e eacute por estes caminhos contraditoacuterios que o modo

capitalista de produccedilatildeo cria condiccedilotildees para sua reproduccedilatildeo ampliada e a Reforma

Agraacuteria natildeo pode ser entendida como soluccedilatildeo para estas contradiccedilotildees pois resolve

15

mais as questotildees do modo capitalista de produccedilatildeo do que da agricultura E assim o

autor define que

A reforma agraacuteria constitui-se portanto em um conjunto de accedilotildees governamentais realizadas pelos paiacuteses capitalistas visando modificar a estrutura fundiaacuteria de uma regiatildeo ou de um paiacutes todo Ela eacute feita atraveacutes de mudanccedilas na distribuiccedilatildeo da propriedade e ou posse da terra e da renda com vista a assegurar melhorias nos ganhos sociais poliacuteticos culturais teacutecnicos econocircmicos (crescimento da produccedilatildeo agriacutecola) e de reordenaccedilatildeo do territoacuterio Este conjunto de atos de governo deriva de accedilotildees coordenadas resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que geralmente exprime um conjunto de decisotildees governamentais ou a

doutrina de um texto legal (OLIVEIRA 2007p 68)

E para o referido autor existe uma diferenccedila entre Reforma e Revoluccedilatildeo

Agraacuteria a primeira provoca apenas alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o

modo capitalista de produccedilatildeo jaacute a segunda implica na transformaccedilatildeo da estrutura

fundiaacuteria visando a construccedilatildeo de outra sociedade

Assim se torna contraditoacuterio pensar numa Revoluccedilatildeo Agraacuteria num paiacutes no

qual a estrutura econocircmica eacute capitalista pois uma revoluccedilatildeo sempre modifica a

estrutura social do paiacutes e natildeo significa apenas distribuiccedilatildeo de terras

Parte-se portanto nesta interpretaccedilatildeo do estabelecimento de uma diferenccedila conceitual entre reforma e revoluccedilatildeo agraacuteria A reforma agraacuteria provoca alteraccedilotildees na estrutura fundiaacuteria sem alterar o modo capitalista de produccedilatildeo existente em diferentes sociedades A revoluccedilatildeo agraacuteria implica necessariamente na transformaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria realizada de forma simultacircnea com toda a estrutura social existente visando agrave construccedilatildeo de outra sociedade (OLIVEIRA 2007 p 68)

Continuando as ideias do autor pode-se dizer que no Brasil o que tem

acontecido durante os diferentes momentos poliacuteticos e histoacutericos do paiacutes eacute apenas

uma tentativa de fazer uma Reforma Agraacuteria Se analisarmos os dados da Tabela 1

sobre Estrutura Fundiaacuteria Brasileira 2003 na pagina 22 apresentados pelo INCRA

tem acontecido apenas a natildeo intenccedilatildeo de realizar esta reforma na estrutura agraacuteria

do paiacutes

21 Reforma Agraacuteria e a luta pela terra no Brasil

A distribuiccedilatildeo fundiaacuteria se deu de forma desigual e violenta desde os

primoacuterdios da colonizaccedilatildeo brasileira De um lado pessoas com extensas quantidades

de terras e de outro aquelas que sequer tinham onde morar e muito menos produzir

No periacuteodo da colonizaccedilatildeo no Brasil e seu processo de povoamento foi

adotado o sistema de sesmarias isto eacute grandes extensotildees de terras para pessoas

que tinham condiccedilotildees de exploraacute-las aleacutem de serem doadas para um pequeno

16

porcentual de pessoas natildeo incluindo neste processo o acesso dos imigrantes

pobres ou seja aqueles que natildeo detinham meios de produccedilatildeo e muito menos os

escravos Estas terras eram passadas de pai para filho e denominadas de Capitanias

Hereditaacuterias ldquoO modelo colonial do Brasil se constituiu por meio de trecircs

componentes fundamentais na organizaccedilatildeo social sendo a grande propriedade

fundiaacuteria a monocultora de exportaccedilatildeo e o trabalho escravordquo (MIRALHA 2006

p19)

Neste contexto pode-se afirmar que a grandes extensotildees de terras e o

sistema de monocultura satildeo heranccedilas do periacuteodo colonial assim como o importante

papel das pequenas propriedades que desde o principio se destacaram pelo cultivo

dos produtos alimentiacutecios jaacute que as grandes propriedades sempre se destacaram na

monocultura de produtos de exportaccedilatildeo Diante disso

[] os pequenos produtores natildeo passavam na maioria das vezes de simples agregados dos grandes proprietaacuterios de terras e de escravos os quais lhe cediam por empreacutestimo pequenos lotes de terra para cultivo em troca de serviccedilos de todo o tipo inclusive de capangagem Os referidos produtores cultivavam gecircneros alimentiacutecios para seu proacuteprio sustento e para o consumo dos pequenos mercados locais e de cidades mais proacuteximas [] eles eram frequentemente paupeacuterrimos vivendo em condiccedilotildees materiais apenas um pouco melhor que a dos escravos [] de um modo geral todavia as culturas de subsistecircncia nunca deixaram de constituir atividades secundaacuterias e subsidiaacuterias em relaccedilatildeo agraves grandes lavouras escravistas de exportaccedilatildeo (MIRALHA 2006 p 14-16)

Contudo com a aboliccedilatildeo da escravatura a situaccedilatildeo natildeo se modificou os

escravos foram substituiacutedos por europeus que eram atraiacutedos para o Brasil nesta

eacutepoca para trabalhar como assalariados ou seja a grande propriedade dominante

em toda a histoacuteria do paiacutes se consagrou como modelo socialmente reconhecido em

toda a sua histoacuteria pois foi ela quem recebeu o estiacutemulo poliacutetico que procurou

modernizaacute-la e assegurar sua reproduccedilatildeo ao contraacuterio da pequena propriedade que

sempre ocupou um lugar secundaacuterio na sociedade brasileira (WANDERLEY 2001)

Uma pequena parcela da populaccedilatildeo que obteve pequenas extensotildees

territoriais os siacutetios passou a desenvolver a agricultura baseada no trabalho familiar

(MARQUES 2005) Contudo estes trabalhadores natildeo tinham significacircncia nenhuma

para a sociedade da eacutepoca ou seja a ocupaccedilatildeo de pequenas faixas de terras para

delas extrair o sustento era considerado insignificante para a economia que vigorava

na eacutepoca da colonizaccedilatildeo

Eram verdadeiros siacutetios volantes que se estabeleciam atravessando no tempo e no espaccedilo todo periacuteodo colonial mas estendendo suas raiacutezes ateacute os tempos mais recentes Esses tipos que foram a gecircnese dos pequenos agricultores no Brasil sempre foram tidos como

17

ldquovadiosrdquo ldquoociososrdquo e qualificaccedilotildees semelhantes Sempre foram considerados como marginais pelas autoridades da colocircnia e pela ideologia dominante na eacutepoca (GRAZIANO DA SILVA 1978 apud MARQUES 2005 p 9)

Com este quadro agraacuterio do periacuteodo colonial que com o passar do tempo foi

se intensificando resultou nesta desigualdade de terras na sociedade brasileira

[] por forccedila da grande concentraccedilatildeo da propriedade fundiaacuteria que caracteriza a economia agraacuteria brasileira bem como das demais circunstacircncias econocircmicas sociais e poliacuteticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentraccedilatildeo a utilizaccedilatildeo da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada em beneficio de uma reduzida minoria (PRADO JR 1981 p 15)

Foi a partir destas problemaacuteticas no rural brasileiro que comeccedilaram a surgir os

movimentos sociais no campo que resultam de um processo de luta da classe

expropriada ou seja a luta para conquistar e permanecer na terra atraveacutes do acesso

a poliacuteticas agraacuterias que compensem sua trajetoacuteria de exclusatildeo que lhe foi

historicamente imposta (MARQUES 2005) E assim os assentamentos de reforma

agraacuteria tem sido de fundamental importacircncia para a consolidaccedilatildeo do produtor nestes

espaccedilos atraveacutes de lutas para conquistar o direito a um pedaccedilo de chatildeo e o apoio do

Estado para se reproduzir social e economicamente

No Brasil as primeiras propostas de leis relacionadas com a Reforma Agraacuteria

surgiram apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1946 baseadas nos artigos 141 e 147 em

que era garantido o direito de propriedade exceto em desapropriaccedilatildeo por

necessidade e utilidade puacuteblica e interesse social poreacutem mediante indenizaccedilatildeo por

dinheiro (LARANJEIRA 1983 apud OLIVEIRA 2007 p 104)

Para Oliveira (2007) os primeiros movimentos sociais se iniciaram com o

objetivo de organizaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e luta no campo brasileiro Estes conflitos

marcaram sua participaccedilatildeo em finais da deacutecada de 1940 1950 e de 1960

denominadas em alguns lugares como ldquoLigas Camponesasrdquo nascidas muitas vezes

como sociedade beneficiente dos defuntos organizadas principalmente no Nordeste

brasileiro nas lutas dos camponeses foreiros moradores rendeiros pequenos

proprietaacuterios e trabalhadores assalariados rurais da Zona da Mata contra o latifuacutendio

Foi com este movimento que a luta pela Reforma Agraacuteria no Brasil ganhou dimensatildeo

nacional tornando-se o primeiro movimento social de luta pela Reforma Agraacuteria que

ensaiou uma organizaccedilatildeo de caraacuteter nacional contagiando muitos trabalhadores

rurais e tambeacutem urbanos

O movimento das Ligas Camponesas tem portanto que ser entendido natildeo como um movimento local mas como manifestaccedilatildeo nacional de um estado de tensatildeo e injusticcedilas a que estavam submetidos os camponeses e trabalhadores assalariados do campo e

18

as profundas desigualdades nas condiccedilotildees gerais do desenvolvimento capitalista no paiacutes (OLIVEIRA 2007 p 108)

Em 1962 foi promulgada a lei ndeg 4132 em que definia os casos de

desapropriaccedilatildeo por interesse social que corresponde aoldquo aproveitamento de todo

bem improdutivo ou explorado sem correspondecircncia com as necessidades de

habitaccedilatildeo trabalho e consumo dos centros de populaccedilatildeo a que deve ou possa suprir

por seu destino econocircmicordquo (OLIVEIRA 2007 p 114) Foi considerado apenas um

passo para ser aprovada a primeira lei de reforma agraacuteria no paiacutes

Ainda segundo o mesmo autor na eacutepoca o entatildeo presidente Joatildeo Goulart

mesmo considerando esta lei um avanccedilo do ponto de vista legal ainda achava

insuficiente pois sua meta era buscar a aprovaccedilatildeo da reforma agraacuteria com emenda

constitucional atraveacutes do pagamento das terras desapropriadas por tiacutetulos da diacutevida

puacuteblica que tinham baixo valor de mercado Reduzia-se o valor da propriedade

desapropriada para fins da reforma agraacuteria Contudo todas as outras tentativas de

Reformas de Base durante seu governo foram descartadas com o golpe militar de

1964 com movimentos sindicais desarticulados e os liacutederes presos e exilados

O Estatuto da Terra sendo uma das leis de Reforma Agraacuteria criado pelo

regime militar previa as desapropriaccedilotildees por interesse social e ao mesmo tempo

forneceu bases para a modernizaccedilatildeo da agricultura

As metas desta lei se resumem com a promessa de execuccedilatildeo da reforma

Agraacuteria e desenvolvimento da agricultura Nesta mesma lei fica definida uma

classificaccedilatildeo das propriedades rurais que compreendem

Quadro 1

Art 4ordm Para os efeitos desta Lei definem-se

I - Imoacutevel Rural o preacutedio ruacutestico de aacuterea contiacutenua qualquer que seja a sua localizaccedilatildeo que se destina agrave exploraccedilatildeo extrativa agriacutecola pecuaacuteria ou agro-industrial quer atraveacutes de planos puacuteblicos de valorizaccedilatildeo quer atraveacutes de iniciativa privada

II - Propriedade Familiar o imoacutevel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua famiacutelia lhes absorva toda a forccedila de trabalho garantindo-lhes a subsistecircncia e o progresso social e econocircmico com aacuterea maacutexima fixada para cada regiatildeo e tipo de exploraccedilatildeo e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros

III - Moacutedulo Rural a aacuterea fixada nos termos do inciso anterior

IV - Minifuacutendio o imoacutevel rural de aacuterea e possibilidades inferiores agraves da propriedade familiar

V - Latifuacutendio o imoacutevel rural que

a) exceda a dimensatildeo maacutexima fixada na forma do artigo 46 sect 1deg aliacutenea b desta Lei tendo-se em vista as condiccedilotildees ecoloacutegicas sistemas agriacutecolas regionais e o fim a que se destine

b) natildeo excedendo o limite referido na aliacutenea anterior e tendo aacuterea igual ou superior agrave dimensatildeo do moacutedulo de propriedade rural seja mantido inexplorado em relaccedilatildeo agraves possibilidades fiacutesicas econocircmicas e sociais do meio com fins especulativos ou seja deficiente ou inadequadamente explorado de modo a

19

vedar-lhe a inclusatildeo no conceito de empresa rural

VI - Empresa Rural eacute o empreendimento de pessoa fiacutesica ou juriacutedica puacuteblica ou privada que explore econocircmica e racionalmente imoacutevel rural dentro de condiccedilatildeo de rendimento econocircmico Vetado da regiatildeo em que se situe e que explore aacuterea miacutenima agricultaacutevel do imoacutevel segundo padrotildees fixados puacuteblica e previamente pelo Poder Executivo Para esse fim equiparam-se agraves aacutereas cultivadas as pastagens as matas naturais e artificiais e as aacutereas ocupadas com benfeitorias

VII - Parceleiro aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em aacuterea destinada agrave Reforma Agraacuteria ou agrave colonizaccedilatildeo puacuteblica ou privada

VIII - Cooperativa Integral de Reforma Agraacuteria (CIRA) toda sociedade cooperativa mista de natureza civil Vetado criada nas aacutereas prioritaacuterias de Reforma Agraacuteria contando temporariamente com a contribuiccedilatildeo financeira e teacutecnica do Poder Puacuteblico atraveacutes do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria com a finalidade de industrializar beneficiar preparar e padronizar a produccedilatildeo agropecuaacuteria bem como realizar os demais objetivos previstos na legislaccedilatildeo vigente

IX - Colonizaccedilatildeo toda a atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econocircmico da terra pela sua divisatildeo em propriedade familiar ou atraveacutes de Cooperativas Vetado

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se considera latifuacutendio

a) o imoacutevel rural qualquer que seja a sua dimensatildeo cujas caracteriacutesticas recomendem sob o ponto de vista teacutecnico e econocircmico a exploraccedilatildeo florestal racionalmente realizada mediante planejamento adequado

b) o imoacutevel rural ainda que de domiacutenio particular cujo objeto de preservaccedilatildeo florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento pelo oacutergatildeo competente da administraccedilatildeo puacuteblica

Art 5deg A dimensatildeo da aacuterea dos moacutedulos de propriedade rural seraacute fixada para cada zona de caracteriacutesticas econocircmicas e ecoloacutegicas homogecircneas distintamente por tipos de exploraccedilatildeo rural que nela possam ocorrer

Paraacutegrafo uacutenico No caso de exploraccedilatildeo mista o moacutedulo seraacute fixado pela meacutedia ponderada das partes do imoacutevel destinadas a cada um dos tipos de exploraccedilatildeo considerados

Fonte Brasil lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964

Assim para Martins (1983) o Estatuto da Terra tinha como objetivo primordial o

desenvolvimento da empresa rural em uma tentativa de conciliar a redistribuiccedilatildeo de

terras com o avanccedilo do capitalismo no campo

Martins (1999 p79) salienta o fato de que grandes proprietaacuterios de terras

organizados atraveacutes da Sociedade Rural Brasileira de Satildeo Paulo deram decisivo

apoio agrave preparaccedilatildeo do Golpe Militar de 1964 Para este mesmo autor

As resistecircncias e temores dos proprietaacuterios de terra logo que ficou claro que os militares estavam trabalhando num projeto de reforma agraacuteria desdobraram-se em iniciativas para desestabilizar ou radicalizar o novo regime O regime militar poreacutem produziu uma legislaccedilatildeo suficientemente ambiacutegua para dividir os proprietaacuterios de terra e assegurar ao mesmo tempo o apoio ao grande capital inclusive o apoio do grande capital multinacional

Assim para Martins (1999) o conceito de latifuacutendio imposto pelos militares era

ainda mais radical que o do governo anterior de esquerda poreacutem havendo uma

20

distinccedilatildeo entre terras desapropriaacuteveis e natildeo desapropriaacuteveis sendo incluiacutedos entre

as desapropriaacuteveis ateacute mesmo os minifuacutendios ou incluiacutedos nas terras penalizaacuteveis

pela taxaccedilatildeo que era o principal instrumento da reforma As empresas rurais eram

bem vistas pelo Estado indicando uma Reforma Agraacuteria orientada na modernizaccedilatildeo

e aceleraccedilatildeo do capitalismo na agricultura

Ao contraacuterio do que ocorria com o modelo claacutessico da relaccedilatildeo entre a terra e capital em que a terra (e a renda territorial isto eacute o preccedilo da terra) eacute reconhecida como entrave agrave circulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo do capital no modelo brasileiro o empecilho agrave reproduccedilatildeo capitalista do capital na agricultura natildeo foi removido por uma reforma agraacuteria mas pelos incentivos fiscais (MARTINS 1999 p79-80)

Assim o regime militar procurou modernizar a propriedade da terra afastando

uma possiacutevel reforma agraacuteria que levasse agrave expropriaccedilatildeo de grandes proprietaacuterios

de terras introduzindo a tecnificaccedilatildeo e alterando as relaccedilotildees de trabalho no campo

com a introduccedilatildeo de maacutequinas e adubos

Mesmo com muitas leis sendo sancionadas em ldquofavorrdquo da Reforma Agraacuteria a

falta de vontade poliacutetica os processos burocraacuteticos e a repressatildeo contra qualquer

conflito nesta fase impediram que esta reforma acontecesse de fato

Em 1985 no periacuteodo denominado de ldquoNova Republicardquo que consistiu na

transiccedilatildeo da Ditadura Militar para o Estado de Direito Democraacutetico um de seus

projetos prioritaacuterios foi a Reforma Agraacuteria anunciada durante o IV Congresso

Nacional dos Trabalhadores Rurais sendo feitas articulaccedilotildees para a elaboraccedilatildeo do I

Plano Nacional de Reforma Agraacuteria aprovado em 1985

O primeiro Plano Nacional de Reforma Agraacuteria (PNRA) criado em 1985

adota alguns princiacutepios sendo a funccedilatildeo social da propriedade as empresas rurais

natildeo seratildeo desapropriadas a reforma agraacuteria natildeo atingiraacute as terras que estiverem

produzindo os pequenos e meacutedios agricultores natildeo seratildeo atingidos pelas

desapropriaccedilotildees e estas seratildeo pagas mediante indenizaccedilatildeo

O I PNRA jaacute trazia retrocessos em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra como por exemplo o artigo (artigo 2deg sect 29 do Decreto n9 91766) onde estaacute expresso que se evitaraacute sempre que possiacutevel a desapropriaccedilatildeo de latifuacutendios Outro ponto foram os imoacuteveis que tivessem grande presenccedila de arrendataacuterios eou parceiros onde as disposiccedilotildees legais fossem respeitadas Dessa forma o I PNRA jaacute apareceu trazendo distorccedilotildees em relaccedilatildeo ao Estatuto da Terra (OLIVEIRA 2007 p 108)

Segundo o mesmo autor os anos posteriores demonstraram o fracasso da

Reforma Agraacuteria pois entre os anos de 1985 e 1986 apenas 5 das metas

estabelecidas para assentamento de famiacutelias foram atingidas e este ritmo continuou

lento nos anos posteriores

21

Somente com a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute que passou a conter uma legislaccedilatildeo

destinadas agrave poliacutetica agriacutecola e fundiaacuteria com os artigos 184 agrave 191 representados no

quadro 2

Quadro 2

CAPIacuteTULO III DA POLIacuteTICA AGRIacuteCOLA E FUNDIAacuteRIA E DA REFORMA AGRAacuteRIA

Regulamento

Art 184 Compete agrave Uniatildeo desapropriar por interesse social para fins de reforma agraacuteria o imoacutevel rural que natildeo esteja cumprindo sua funccedilatildeo social mediante preacutevia e justa indenizaccedilatildeo em tiacutetulos da diacutevida agraacuteria com claacuteusula de preservaccedilatildeo do valor real resgataacuteveis no prazo de ateacute vinte anos a partir do segundo ano de sua emissatildeo e cuja utilizaccedilatildeo seraacute definida em lei

sect 1ordm - As benfeitorias uacuteteis e necessaacuterias seratildeo indenizadas em dinheiro sect 2ordm - O decreto que declarar o imoacutevel como de interesse social para fins de reforma agraacuteria autoriza a Uniatildeo a

propor a accedilatildeo de desapropriaccedilatildeo sect 3ordm - Cabe agrave lei complementar estabelecer procedimento contraditoacuterio especial de rito sumaacuterio para o

processo judicial de desapropriaccedilatildeo sect 4ordm - O orccedilamento fixaraacute anualmente o volume total de tiacutetulos da diacutevida agraacuteria assim como o montante de

recursos para atender ao programa de reforma agraacuteria no exerciacutecio sect 5ordm - Satildeo isentas de impostos federais estaduais e municipais as operaccedilotildees de transferecircncia de imoacuteveis

desapropriados para fins de reforma agraacuteria Art 185 Satildeo insuscetiacuteveis de desapropriaccedilatildeo para fins de reforma agraacuteria I - a pequena e meacutedia propriedade rural assim definida em lei desde que seu proprietaacuterio natildeo possua outra II - a propriedade produtiva Paraacutegrafo uacutenico A lei garantiraacute tratamento especial agrave propriedade produtiva e fixaraacute normas para o

cumprimento dos requisitos relativos a sua funccedilatildeo social Art 186 A funccedilatildeo social eacute cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente segundo criteacuterios e

graus de exigecircncia estabelecidos em lei aos seguintes requisitos I - aproveitamento racional e adequado II - utilizaccedilatildeo adequada dos recursos naturais disponiacuteveis e preservaccedilatildeo do meio ambiente III - observacircncia das disposiccedilotildees que regulam as relaccedilotildees de trabalho IV - exploraccedilatildeo que favoreccedila o bem-estar dos proprietaacuterios e dos trabalhadores Art 187 A poliacutetica agriacutecola seraacute planejada e executada na forma da lei com a participaccedilatildeo efetiva do setor de

produccedilatildeo envolvendo produtores e trabalhadores rurais bem como dos setores de comercializaccedilatildeo de armazenamento e de transportes levando em conta especialmente

I - os instrumentos creditiacutecios e fiscais II - os preccedilos compatiacuteveis com os custos de produccedilatildeo e a garantia de comercializaccedilatildeo III - o incentivo agrave pesquisa e agrave tecnologia IV - a assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural V - o seguro agriacutecola VI - o cooperativismo VII - a eletrificaccedilatildeo rural e irrigaccedilatildeo VIII - a habitaccedilatildeo para o trabalhador rural sect 1ordm - Incluem-se no planejamento agriacutecola as atividades agro-industriais agropecuaacuterias pesqueiras e

florestais sect 2ordm - Seratildeo compatibilizadas as accedilotildees de poliacutetica agriacutecola e de reforma agraacuteria Art 188 A destinaccedilatildeo de terras puacuteblicas e devolutas seraacute compatibilizada com a poliacutetica agriacutecola e com o plano

nacional de reforma agraacuteria sect 1ordm - A alienaccedilatildeo ou a concessatildeo a qualquer tiacutetulo de terras puacuteblicas com aacuterea superior a dois mil e

quinhentos hectares a pessoa fiacutesica ou juriacutedica ainda que por interposta pessoa dependeraacute de preacutevia aprovaccedilatildeo do Congresso Nacional

sect 2ordm - Excetuam-se do disposto no paraacutegrafo anterior as alienaccedilotildees ou as concessotildees de terras puacuteblicas para fins de reforma agraacuteria

Art 189 Os beneficiaacuterios da distribuiccedilatildeo de imoacuteveis rurais pela reforma agraacuteria receberatildeo tiacutetulos de domiacutenio ou de concessatildeo de uso inegociaacuteveis pelo prazo de dez anos

Paraacutegrafo uacutenico O tiacutetulo de domiacutenio e a concessatildeo de uso seratildeo conferidos ao homem ou agrave mulher ou a ambos independentemente do estado civil nos termos e condiccedilotildees previstos em lei

Art 190 A lei regularaacute e limitaraacute a aquisiccedilatildeo ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa fiacutesica ou juriacutedica estrangeira e estabeleceraacute os casos que dependeratildeo de autorizaccedilatildeo do Congresso Nacional

Art 191 Aquele que natildeo sendo proprietaacuterio de imoacutevel rural ou urbano possua como seu por cinco anos ininterruptos sem oposiccedilatildeo aacuterea de terra em zona rural natildeo superior a cinquumlenta hectares tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famiacutelia tendo nela sua moradia adquirir-lhe-aacute a propriedade

Paraacutegrafo uacutenico Os imoacuteveis puacuteblicos natildeo seratildeo adquiridos por usucapiatildeo Fonte BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988

Haacute que observar que a nova Constituiccedilatildeo mesmo instituindo o processo de

reforma agraacuteria foi considerada uma vitoacuteria para os latifundiaacuterios em relaccedilatildeo ao

ldquocaraacuteter insuscetiacutevel de desapropriaccedilatildeo da propriedade produtiva e transferiram para

22

a legislaccedilatildeo complementar a fixaccedilatildeo das normas para o cumprimento dos requisitos

relativos agrave sua funccedilatildeo social da terrardquo (OLIVEIRA 2007 p 129)

O II PNRA elaborado em 2003 destaca 11 metas sendo a primeira delas de

400000 mil novas famiacutelias assentadas a segunda com 500000 mil famiacutelias com

posses regularizadas e a terceira com 150000 mil famiacutelias beneficiadas com o

Creacutedito Fundiaacuterio ateacute o ano de 2006

Contudo segundo Oliveira (2007) estas metas jamais foram cumpridas pois

referente a Meta 1 apenas 33 foram concluiacutedas ou seja um terccedilo do que foi

prometido

E assim a reforma agraacuteria na nova fase em que vivia o paiacutes apoacutes o periacuteodo de

repressatildeo comeccedilou da mesma forma como os militares haviam tratado este

processo

A tabela 1 do ano de 2003 demonstra a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

refletindo a natildeo Reforma Agraacuteria

Tabela 1

Estrutura fundiaacuteria Brasileira 2003

Fonte Oliveira (2007apud INCRA-situaccedilatildeo em agosto de 2003 in II PNRA Brasiacutelia 2003)

Nota-se que existem 6847 imoacuteveis com 5000 ou mais hectares cada

um representando apenas 01 do total de imoacuteveis e concentrando 135 das

terras do paiacutes e apenas 18 das terras estatildeo distribuiacutedas para 1 338711 imoacuteveis

com menos de 10 hectares para cada um Isso demonstra que os esforccedilos atraveacutes

dos movimentos sociais no campo em busca de uma verdadeira Reforma Agraacuteria

obteve pouquiacutessimos resultados frente agrave tamanha concentraccedilatildeo de terras no paiacutes

22 A criaccedilatildeo do MST e seus objetivos

Segundo Steacutedile (2005) a gecircnese do MST foi determinada por vaacuterios fatores

um deles o aspecto socioeconocircmico das transformaccedilotildees que a agricultura brasileira

23

sofreu na deacutecada de 1970 que foi o periacuteodo mais raacutepido e mais intenso da

mecanizaccedilatildeo da lavoura brasileira

Com o incentivo da tecnificaccedilatildeo da agricultura no periacuteodo militar

principalmente com o aumento das aacutereas de cultivo da monocultura como a soja

cana de accediluacutecar laranja dentre outros produtos intensificou a quantidade de

trabalhadores assalariados no campo agravando ainda mais a situaccedilatildeo do produtor

familiar desenvolvido pelos parceiros porcenteiros e pequenos proprietaacuterios

Essa poliacutetica que ficou conhecida como modernizaccedilatildeo conservadora promoveu o crescimento econocircmico da agricultura ao mesmo tempo que concentrou ainda mais a propriedade da terra expropriando e expulsando mais de 30 milhotildees de pessoas que migraram para as cidades e para outras regiotildees brasileiras (FERNANDES 1996 p 49)

Mesmo com toda a repressatildeo neste periacuteodo os movimentos de luta pela terra

no campo continuaram e um fator que contribuiu para isto foi a participaccedilatildeo da Igreja

Catoacutelica atraveacutes da Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) como espaccedilo de socializaccedilatildeo

a respeito da organizaccedilatildeo camponesa

A gecircnese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistecircncia dos trabalhadores contra a expropriaccedilatildeo a expulsatildeo e o trabalho assalariado O Movimento comeccedilou a ser formado no Centro-Sul desde 7 de setembro de 1979 quando aconteceu a ocupaccedilatildeo da Gleba Macali em Ronda Alta no Rio Grande do Sul Essa foi uma das accedilotildees que resultaram na gecircnese do MST Muitas outras accedilotildees dos trabalhadores sem terra que aconteceram nos estados de Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul fazem parte da gecircnese do Movimento (FERNANDES 1996 p 50)

Assim segundo o autor cada luta era considerada como um grande passo

para a consolidaccedilatildeo deste Movimento que dentre seus objetivos se destacam a luta

pela Reforma Agraacuteria por uma sociedade mais justa fraterna e ldquoacabarrdquo como o

capitalismo assim como integrar a categoria dos sem terra trabalhadores rurais

arrendataacuterios meeiros pequenos pequenos proprietaacuterios etc

O MST como o movimento socio-territorial rural mais organizado no final do Seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI representa no conjunto da histoacuteria recente deste paiacutes mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra Essa luta camponesa revela a todos interessados na questatildeo agraacuteria um lado novo e moderno Natildeo se estaacute diante de um processo de luta para natildeo deixar a terra mas sim diante um processo de luta para entrar na terra (OLIVEIRA 2007 p 139)

Essas terras tecircm servido de palco de lutas por este movimento satildeo em sua

maioria improdutivas e estatildeo sendo utilizadas como reserva de valor e patrimonial

das classes dominantes Parte desta classe de trabalhadores que se juntou para

24

lutar no movimento em sua maioria satildeo expropriados da terra ou seja jaacute

trabalharam no campo durante um periacuteodo de suas vidas e foram espoliados

Trata-se pois de uma luta de expropriados que na maioria das vezes experimentaram a proletarizaccedilatildeo urbana ou rural mas que resolveram construir o futuro baseado na negaccedilatildeo do presente Natildeo se trata pois de uma luta que apenas revela uma nova opccedilatildeo de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira mas revela muito mais revela uma estrateacutegia de luta acreditando ser possiacutevel hoje a construccedilatildeo de uma nova sociedade Uma nova sociedade dotada de justiccedila dignidade e cidadania (OLIVEIRA 2007 p 139)

Segundo o mesmo autor vaacuterios outros movimentos sociais surgiram no

campo e na cidade em busca de seus objetivos contudo o MST sempre foi um dos

mais organizados e com abrangecircncia em acircmbito nacional Surgiu na deacutecada de 1980

como movimento de massa e de luta pela reforma agraacuteria Tem demonstrado ser um

movimento poliacutetico e ideoloacutegico com claros objetivos no qual natildeo se limita apenas agrave

conquista da terra mas uma luta por justiccedila direitos iguais e coletividade

Dentre a massa de pessoas que acompanham o movimento em busca de um

pedaccedilo de terra muitos satildeo filhos de pequenos proprietaacuterios que apoacutes constituir

famiacutelia com o desejo de possuir sua proacutepria terra entram no movimento em busca

desta conquista outros jaacute trabalharam no campo desde que nasceram e chegando agrave

cidade em busca de emprego muitos por falta de melhores perspectivas se

submeteram ao trabalho como boacuteia fria ou seja aqueles que moram nas cidades e

vatildeo para o campo trabalhar por dia ou ateacute mesmo mensalmente muito comum no

interior de Satildeo Paulo para a colheita de laranja e o corte de cana-de-accediluacutecar

Existem tambeacutem muitos daqueles que viveram toda a vida trabalhando em

fazendas como rendeiros parceiros e meeiros mas nunca tiveram a oportunidade de

trabalhar na sua proacutepria terra e viram uma oportunidade ao ingressarem na luta

junto ao movimento

Satildeo diversas as origens daqueles que acompanham o movimento na luta pela

terra e melhores condiccedilotildees de vida e em sua maioria pessoas que jaacute tiveram

experiecircncias no campo e desejam voltar conquistando seu proacuteprio pedaccedilo de chatildeo

Segundo Oliveira (2007) durante o governo Fernando Henrique Cardoso na

deacutecada de 1990 os conflitos em relaccedilatildeo agrave terra crescem alcanccedilando um patamar

bem maior que na deacutecada de 1980 principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Centro-Sudeste como na regiatildeo Sul Poreacutem estes conflitos foram reprimidos com

extrema violecircncia policial matando muitos camponeses em luta pela terra fato que

se justifica em razatildeo deste governo ter sido apoiado pelos ruralistas como

25

sustentaccedilatildeo poliacutetica o que ainda proporcionou a prorrogaccedilatildeo das diacutevidas destes

latifundiaacuterios

Para este mesmo autor nos primeiros seis anos de seu governo (FHC) e as

pressotildees do movimento conseguiu assentar 373210 famiacutelias em 3505

assentamentos rurais poreacutem estes dados incluem regularizaccedilotildees fundiaacuterias

remanescentes de quilombos assentamentos extrativistas os projetos Casulo e

Ceacutedula Rural e os projetos de Reforma Agraacuteria propriamente dito o que demonstra

natildeo uma intenccedilatildeo do governo frente a reforma agraacuteria mas sim uma resposta agrave

pressatildeo social

Entre as justificativas do MST na luta pela terra tem-se a produccedilatildeo de gecircneros

alimentiacutecios natildeo eacute prioridade nas grandes propriedades do paiacutes no qual se configura

principalmente pela monocultura Muitos estudos jaacute foram feitos em relaccedilatildeo aos

fatores negativos que trazem este cultivo que vatildeo desde fatores ambientais a

econocircmicos Um dos exemplos eacute cana - de accediluacutecar muito cultivado no interior de Satildeo

Paulo e outras regiotildees do Brasil em que milhares de trabalhadores satildeo explorados

com peacutessimas condiccedilotildees de trabalho expostos a riscos de sauacutede e acidentes de

trabalho aleacutem de natildeo existir nenhuma perspectiva de melhora de vida

Por outro lado se estes trabalhadores fossem despedidos deste trabalho

caso ocorresse uma modernizaccedilatildeo e os cortadores de cana fossem substituiacutedos por

maacutequinas isto resultaria em uma grande massa de trabalhadores rurais

desempregados Assim a Reforma Agraacuteria poderia desempenhar seu papel

proporcionando terra para estes trabalhadores e possibilitando todo o apoio teacutecnico e

financeiro com creacuteditos mais baratos para a produccedilatildeo familiar

Vaacuterios aspectos demonstram que a pequena propriedade possui diversos

pontos positivos para a populaccedilatildeo brasileira

[] a pequena propriedade que deteacutem apenas 20 da aacuterea ocupada do Brasil foi responsaacutevel por 46 do valor da produccedilatildeo agropecuaacuteria e por 43 da renda gerada no campo Enquanto isso as grandes propriedades que controlam mais de 44 da aacuterea ocupada total foram responsaacuteveis por apenas 21 do valor da produccedilatildeo e 23 da renda gerada As meacutedias propriedades que controlam 36 da superfiacutecie ocupada ficaram com a diferenccedila ou seja 32 do valor da produccedilatildeo e 34 da renda (OLIVEIRA 2007 p151)

Dentre estes a pequena propriedade eacute aquela de 100 haacute Na qual o produtor

familiar estaacute inserido e que luta cada dia pela permanecircncia na terra pois mesmo com

a experiecircncia que deteacutem no trabalho do campo natildeo tem sido tarefa faacutecil sua

reproduccedilatildeo Vaacuterios fatores contribuem para esta luta diaacuteria tais como o pequeno

potencial para fazer financiamentos para a produccedilatildeo e as dificuldades de comprar

26

insumos dificuldades para quitar as diacutevidas de financiamento junto ao banco baixo

ou nenhum niacutevel de tecnologia e como consequumlecircncia eacute adotado um estilo de trabalho

manual por falta de maquinaacuterios causando o encolhimento da produccedilatildeo Fica claro

tambeacutem a limitaccedilatildeo enfrentada para ter acesso ao mercado consumidor devido agrave

falta de infra-estrutura e informaccedilatildeo sobre preccedilos e mercados

Esta ineficiecircncia na comercializaccedilatildeo tambeacutem reflete a falta de um

planejamento mais cuidadoso na escolha dos produtos a serem cultivados

esbarrando assim em problemas como variaccedilatildeo de preccedilo da produccedilatildeo causando

muitas vezes prejuiacutezos aleacutem de perda da lavoura por fatores climaacuteticos Estes

fatores fazem o pequeno produtor aleacutem de lutar pela terra posteriormente muito mais

para permanecer nela

Eacute pensando nestas problemaacuteticas que as instacircncias governamentais precisam

dar todo apoio possiacutevel ao produtor familiar do contraacuterio a sobrevivecircncia dos

produtores fica comprometida pois a renda adquirida na terra eacute insuficiente para

cobrir os custos de produccedilatildeo e inviabiliza os financiamentos para a proacutexima safra

criando uma tendecircncia de cultura de subsistecircncia e impossibilitando o

desenvolvimento econocircmico de sua reproduccedilatildeo

Mesmo assim diversas experiecircncias de pequenos produtores se estruturaram

e se desenvolveram tornando competitivos no mercado de trabalho mesmo sem o

devido apoio para sua permanecircncia na propriedade As estrateacutegias do sucesso desta

categoria de produtos exigem reflexotildees do que precisa ser feito para uma possiacutevel

reproduccedilatildeo em relaccedilatildeo ao apoio governamental aleacutem do planejamento em relaccedilatildeo

ao produto a ser cultivado de acordo com as demandas de mercado e a maneira

como esta produccedilatildeo seraacute comercializada Assim o MST natildeo tem como objetivo

apenas a conquista da terra mas pressupotildee estrateacutegias de lutas para que os

produtores familiares permaneccedilam nela

23 Os Assentamentos do INCRA no Brasil

Pode-se afirmar que no Brasil nunca foi implantada realmente a Reforma

Agraacuteria mas sim poliacuteticas de assentamentos pois muitas leis tecircm sido implantadas

desde muito antes do periacuteodo de ditadura militar que mascaram o verdadeiro

propoacutesito da Reforma Agraacuteria

O graacutefico 1 sobre o nuacutemero de assentamentos rurais entre os anos 1985 e

2000 demonstra que mesmo com a repressatildeo frente aos movimentos sociais no

campo muitas famiacutelias foram assentadas principalmente nas regiotildees do Nordeste e

Amazocircnia e mesmo que estes nuacutemeros sejam muito inferiores ao nuacutemero de

27

ocupaccedilotildees de terras neste periacuteodo os assentamentos implantados satildeo bem

superiores em relaccedilatildeo aos anos anteriores

Graacutefico 1

Fonte Oliveira 2007

Ateacute mesmo os dados publicados sobre famiacutelias assentadas natildeo refletem a

realidade os nuacutemeros mostram que a Reforma Agraacuteria estaacute acontecendo mas na

praacutetica ateacute regularizaccedilotildees fundiaacuterias e outras formas foram incluiacutedas na contagem

afim de mascarar a realidade Segundo Oliveira (2007 p 168) eacute preciso deixar claro

os conceitos de acesso agrave terra colocado em praacutetica no Brasil

1 Reforma Agraacuteria refere-se somente aos assentamentos decorrentes de accedilotildees desapropriatoacuterias de grandes propriedades improdutivas compra de terra e retomada de terras puacuteblicas griladas 2 Regularizaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se ao reconhecimento do direito das famiacutelias (populaccedilotildees tradicionais extrativistas ribeirinhos pescadores posseiros etc) jaacute existentes nas aacutereas objeto da accedilatildeo (flonas resex agroextrativistas desenvolvimento social fundo de pastos etc) 3 Reordenaccedilatildeo Fundiaacuteria refere-se aos casos de substituiccedilatildeo eou reconhecimento de famiacutelias presentes nos assentamentos jaacute existentes eou para garantir seus acessos agraves poliacuteticas puacuteblicas 4 Reassentamentos Fundiaacuterios de famiacutelias Atingidas por Barragens referente aos proprietaacuterios ou com direitos adquiridos em decorrecircncia de grandes obras de barragens e linhas de transmissatildeo de energia realizadas pelo Estado eou empresas concessionaacuterias eou privadas

Ateacute mesmo famiacutelias assentadas desde o governo de Getuacutelio Vargas do ano de

1942 foram incluiacutedos como famiacutelias assentadas em 2005 durante o mandato do

presidente Lula Mesmo que tenham sido incluiacutedas em poliacuteticas puacuteblicas deste

governo natildeo poderiam ser contadas nas metas de Reforma Agraacuteria

28

O graacutefico 2 demonstra claramente o total dos assentamentos oficiais de

Reforma Agraacuteria do governo FHC e Lula Os dados estatildeo muito longe de cumprirem

as metas1 que foram propostas de acordo com os planos de Reforma Agraacuteria

Os movimentos sociais foram derrotados pois saiacuteram enganados nas reuniotildees de acompanhamento onde sempre ouviram o discurso de que a reforma agraacuteria seria feita Mas os grandes derrotados foram os camponeses em geral e com eles uma parte da sociedade brasileira que permanece na esperanccedila de que um dia a diacutevida social da reforma agraacuteria seja verdadeiramente paga (OLIVEIRA 2007 p 172)

Graacutefico 2

Fonte Adaptado pela autora 2014

Dentre estes camponeses existem aqueles que haacute anos enfrentam as piores

condiccedilotildees de vida acampados debaixo de lona e enfrentando as mais diversas

dificuldades que vatildeo desde o quesito alimentaccedilatildeo escolas para seus filhos sofrendo

com as intempeacuteries climaacuteticas e principalmente sem a certeza de que todo o

sofrimento valeraacute a pena pois natildeo existe uma certeza de receber seu pedaccedilo de

terra

A falta de vontade dos diversos governos que prometeram a Reforma Agraacuteria

e nunca cumpriram reforccedila a crenccedila de que a luta ainda seraacute grande por muito

tempo deve-se perguntar como andam aqueles que por sorte ou acaso vieram a

conquistar seu pedaccedilo de terra Entretanto a Reforma Agraacuteria natildeo eacute completa

apenas com a distribuiccedilatildeo de terras mas sim com o apoio para que o produtor

familiar permaneccedila e se reproduza nela Que ele tenha condiccedilotildees de se desenvolver

como produtor no mercado e fazer a diferenccedila no cenaacuterio econocircmico do paiacutes

fortalecendo ainda mais esta classe

1 Ver metas na p 21

29

Para que isto aconteccedila eacute preciso apoio maciccedilo do governo nestes

assentamentos formados por meio de cursos e apoio teacutecnico facilitando a aquisiccedilatildeo

de insumos e de financiamentos com juros mais baixos Caso contraacuterio estas

famiacutelias assentadas dificilmente poderatildeo investir na propriedade e obter resultados

significativos para poderem se reproduzir caso contraacuterio muitas restaratildeo viver da

agricultura de subsistecircncia ou vender seus direitos na propriedade para tentar a sorte

nas cidades

30

3 MUNICIPIO DE ORTIGUEIRA FORMACcedilAtildeO E DISTRIBUICcedilAtildeO DAS TERRAS

O municiacutepio de Ortigueira foi criado em 1952 possui uma populaccedilatildeo de

23646 mil estimadas para o ano de 2013 com uma aacuterea territorial de

aproximadamente 2432255 km2 e 758 metros de altitude segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2013)

O mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ortigueira do qual se

configura como um dos municiacutepios de maior extensatildeo no Paranaacute ocupando a terceira

posiccedilatildeo do estado Este municiacutepio tem suas raiacutezes no processo de ocupaccedilatildeo por

posseiros e grileiros

O povoamento de grande parte do municiacutepio de Tibagi que por sinal constituiacutea uma aacuterea significativa do estado do Paranaacute especialmente a noroeste se formou na sua maioria pela figuras do chamado ldquocaboclordquo sendo soacute em parte colonizada por imigrantes europeus Nesta localidade surgiria o nuacutecleo que daria origem a cidade de Ortigueira que posteriormente se emanciparia de Tibagi formando o municiacutepio de Ortigueira (ALVES 2004 p 56)

Ainda segundo o mesmo autor este municiacutepio se iniciou com uma Vila

denominada Vila de Queimadas e que fazia parte do municiacutepio de Tibagi por volta de

1920 Em 1921 a vila comeccedila a se estruturar e eacute elevada a categoria de Distrito

Judiciaacuterio

A frente de expansatildeo formada pelos ldquocaboclosrdquo constituiacutea-se principalmente pelos safristas posseiros e grileiros que tinham em Queimadas um ponto de apoio inclusive para se chegar ao Terceiro Planalto paranaense Na deacutecada de 1920 devido ao tipo de povoamento da aacuterea se esboccedilava uma lenta organizaccedilatildeo econocircmica estruturada principalmente com a cidade de Tibagi considerada centro de referecircncia (ALVES 2004 p 60)

Assim com a ocupaccedilatildeo da Vila de Queimadas o acesso agrave terra se deu por

ldquocaboclosrdquo que a posseavam e desta ocupaccedilatildeo predominaram os latifuacutendios e terras

devolutas constituindo um povoamento espontacircneo e desordenado (BERNARDES

1952 p 69 apud ALVES 2004)

31

Mapa 1

Fonte Alves 2004

32

Segundo Alves (2004) estes primeiros povos que chegaram ao atual

municiacutepio muitos iniciaram uma agricultura de subsistecircncia principalmente os que

apossavam pequenas aacutereas mas aqueles que se apoderavam de aacutereas mais

significativas natildeo tinham o objetivo de trabalhar e produzir na terra mas sim

transformaacute-la em reserva de valor para no futuro vendecirc-la como renda

capitalizada Esta praacutetica se dava atraveacutes dos grileiros e os conflitos nesta regiatildeo

eram constantes pois a acumulaccedilatildeo de terras por parte deles se dava tanto pela

forccedila expulsando os posseiros ou entatildeo mantinham os mesmos trabalhando em

suas posses e lhe cobravam o foro Tanto os posseiros como os grileiros tem como

uma das primeiras atividades desenvolvidas a criaccedilatildeo de porcos por meio da safra2

e da agricultura de subsistecircncia praticada por posseiros

Assim a suinocultura foi mantida ateacute a deacutecada de 1960 e em menor

quantidade ateacute inicio da deacutecada de 1980 jaacute a agricultura de subsistecircncia no modo

de produccedilatildeo familiar se manteve ateacute os dias atuais ou seja ateacute 2004

Desta forma ao entender a forma como se deu a territorializaccedilatildeo deste

municiacutepio percebe-se que as grandes propriedades atuais satildeo heranccedilas do modo

como foram ocupadas as terras desta aacuterea pois a disputa de terras que culminou

na expropriaccedilatildeo de posseiros deu iniacutecio a uma composiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria

agraacuteria altamente concentradora Atraveacutes das tabelas 2 e 3 seraacute possiacutevel identificar

como se encontra a concentraccedilatildeo de terras neste municiacutepio bem como as

mudanccedilas ocorridas desde a deacutecada de 1960 ateacute o Censo Agropecuaacuterio de 2006

2 Para entender a criaccedilatildeo de porcos por meio de safra segundo Wachowicz (1987) consistia na

derrubada de 20 a 50 alqueires queimada da mata plantaccedilatildeo de milho batata doce e aboacutebora Quando as culturas estavam chegando a eacutepoca de colher o safrista percorria a regiatildeo comprando os porcos dos sitiantes Todos eram colocados em mangueirotildees e soltos quando o milho comeccedilava a amarelar

33

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo das terras por estabelecimentos em Ortigueira 1960-2006

--- Estes dados natildeo constam no Censo Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Nuacutemero de Estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 2580 555 3523 592 3182 574 3168 598 3080 538 1634 454

10 a menos de 20

--- --- 809 174 1116 188 1080 195 920 174 1127 197 728 202

20 a menos de 50

--- --- 716 154 777 130 738 134 676 127 814 143 569 158

50 a menos de 100

--- --- 281 60 262 44 246 44 215 40 272 47 181 50

Menos de 100 1387 869 4386 943 5678 954 5246 947 4979 939 5293 925 3112 864

100 a menos de 200

--- --- 162 35 157 26 134 24 136 26 167 29 143 39

200 a menos de 500

--- --- 82 18 89 16 111 20 130 24 182 32 144 40

500 a menos de 1 000

--- --- 16 03 15 02 37 07 43 08 59 10 57 15

100 a menos de 1000

204 128 260 56 261 44 282 51 309 58 408 71 344 95

1000 a menos de 5000

--- --- 5 01 12 02 11 019 11 019 20 039 20 05

5000 a menos de 13000

--- --- 1 00 2 00 2 001 2 001 2 001 --- ---

1000 a menos de 13000

5 03 6 01 14 02 13 02 13 02 22 04 20 05

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 122 36

Total 1596 1000 4652 1000 5953 1000 5541 1000 5301 1000 5723 1000 3598 1000

34

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo das terras por aacuterea ocupada em Ortigueira 1960-2006

-- Estes dados natildeo constam no Censo

As informaccedilotildees de produtor sem aacuterea natildeo constam no Censo poreacutem o valor total eacute apresentado como 100 Fonte IBGE ndash Censo Agriacutecola de 1960 e Censos Agropecuaacuterios do Paranaacute de 1970 a 2006 Org Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

Grupo de aacuterea total

(haacute)

Aacuterea dos estabelecimentos

1960 1970 1975 1980 1985 199596 2006

Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Ndeg Menos de 10

--- --- 11996 81 16745 96 14857 81 14067 72 13474 55 5907 30

10 a menos de 20

--- --- 11525 78 15808 91 15289 83 13247 68 16680 69 10870 56

20 a menos de 50

--- --- 22370 151 24414 140 22573 123 20902 108 24014 99 17064 88

50 a menos de 100

--- --- 20201 137 18832 109 17687 96 15356 79 19190 79 12853 66

Menos de 100

33641 354 66092 447 75799 436 70406 383 63572 327 73358 302 46694 242

100 a menos de 200

--- --- 22829 156 22651 130 19213 105 19457 100 23855 95 20979 109

200 a menos de 500

--- --- 24956 168 26414 152 32159 175 40143 206 55597 230 45499 236

500 a menos de 1 000

--- --- 10761 73 10108 58 26541 144 30623 158 39690 165 39552 205

100 a menos de 1000

46090 483 58546 397 59173 340 77913 424 90223 464 119142 490 106030 551

1000 a menos de 5000

--- --- 12191 83 22214 128 23095 126 20366 104 30081 124 25537 132

5000 a menos de 13000

--- --- 10854 73 16551 96 12316 67 20302 105 20310 84 --- ---

1000 a menos de 13000

15522 163 23045 156 38765 224 35411 193 40668 209 50391 208 25537 132

Produtor sem aacuterea

--- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Total 95253 1000 147682 1000 173737 1000 183736 1000 194469 1000 242891 1000 25537 1000

35

Como se observa na tabela 2 os estabelecimentos com menos de 10

hectares desde 1975 veio decaindo ateacute 2006 com uma diferenccedila de 4638 numa

escala de tempo de 30 anos aproximadamente Em geral os estabelecimentos com

aacuterea inferior a 100 hectares com um total de 1387 em 1960 representado por

869 na eacutepoca teve seu auge em 1975 com 5678 representando 954 e foi

declinando chegando em 2006 com 864 do total ou seja aproximadamente

5480 inferior agrave 30 anos atraacutes Mas continua com maior significado em nuacutemero de

estabelecimentos

Observando os dados dos estabelecimentos com 100 a 1000 hectares o

qual em 1960 contava com um total de 204 estabelecimentos representando 128

observa-se um acreacutescimo nos anos seguintes chegando a 408 na deacutecada de 1990

poreacutem com uma porcentagem menor de 71 dos estabelecimentos e chegando a

95 em 2006

Em relaccedilatildeo aos estabelecimentos por aacuterea ocupada de 1000 a 13000

hectares representou em 1960 segundo a tabela 3 163 da aacuterea ocupada para

apenas 5 unidades representando apenas 03 dos estabelecimentos Jaacute em 2006

a aacuterea destes estabelecimentos possui 132 da aacuterea ocupada para 05

representando apenas 20 estabelecimentos

Percebe-se entatildeo que as unidades que possuem ateacute 100 hectares mesmo

estando em maior nuacutemero de estabelecimentos representando 864 das unidades

no censo de 2006 perdem em porcentagem de aacuterea ocupada do grupo de

estabelecimentos de 100 a 1000 hectares pois em 2006 a aacuterea ocupada com ateacute

100 hectares representa 242 enquanto a outra classe ocupava 551 da aacuterea

total ocupada com uma diferenccedila de 30 a mais para os estabelecimentos de 100

a 1000 hectares

A aacuterea ocupada pelo grupo de 1000 a 13000 hectares teve sua maior

concentraccedilatildeo de terras no periacuteodo que resultou no censo de 1975 com 224 da

aacuterea ocupada e veio declinando para em 2006 possuir 132 do total de aacuterea

Contudo esta porcentagem de aacuterea que diminuiu neste grupo 10

aproximadamente foi transferida para o grupo de 100 a 1000 hectares que passou

de 483 em 1960 para 551 em 2006

A partir da anaacutelise destes dados percebe-se que mesmo com a reparticcedilatildeo de

terras de alguns latifuacutendios como eacute o caso das antigas fazendas que resultaram no

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa em 1998 com a criaccedilatildeo de mais de 400

36

estabelecimentos entre 10 e 20 hectares natildeo possibilitou uma reversatildeo na

concentraccedilatildeo de terras do municiacutepio pois segundo os dados da tabela 3 a aacuterea dos

estabelecimentos passou de 69 em 1996 para 56 em 2006 bem como o nuacutemero

de estabelecimentos que passa de 1727 em 1996 para 628 em 2006 conforme

apresentado na tabela 2 O que natildeo altera em nada a problemaacutetica da concentraccedilatildeo

de terras no municiacutepio

Se considerarmos que houve uma diminuiccedilatildeo do nuacutemero de

estabelecimentos do grupo de 1000 a 13000 mil hectares entre 1960 com 163 e

2006 com 132 esta porcentagem foi transferida para o grupo das meacutedias

propriedades (de 100 a 1000 hectares) como representado na tabela 3 no qual

entre 1960 e 2006 o nuacutemero destes estabelecimentos vai de 48 para 551

Contudo nota-se que a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de Ortigueira

continua extremamente acentuada pois desde o censo de 1960 ateacute 2006 ocorreu

um aumento da porcentagem de aacuterea para o grupo de estabelecimentos de 100 a

1000 hectares e em contrapartida uma retraccedilatildeo de mais de 10 da aacuterea do grupo

de estabelecimentos de 0 a 100 hectares

Assim Ortigueira tem sido nos uacuteltimos anos alvo da atuaccedilatildeo de movimentos

de luta pela terra como o MST e a maioria destas fazendas ocupadas geralmente

se reproduz economicamente pela criaccedilatildeo de gado mas em relaccedilatildeo a grande

quantidade de terras e o reduzido nuacutemero de cabeccedilas de gado podem ser

consideradas como terras improdutivas que se manteacutem como reserva de valor pois

o gado tem a finalidade de apenas demonstrar alguma atividade e ldquomaquiarrdquo que

estaacute cumprindo a funccedilatildeo social da terra3 Terras que poderiam estar sendo

cultivadas com as mais diversas atividades e beneficiando a sociedade como um

todo

Atualmente a economia de Ortigueira eacute basicamente agropecuaacuteria em

decorrecircncia do relevo acidentado e maior facilidade no tratamento das pastagens O

municiacutepio possui segundo o IBGE 2012 o maior rebanho de bovino e de bubalinos

com 140150 e 360 cabeccedilas respectivamente do Estado do Paranaacute e por vaacuterios

anos foi o maior produtor de mel do Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

3 Para Oliveira 2007 conforme a Poliacutetica Agriacutecola e Fundiaacuteria da Reforma Agraacuteria a funccedilatildeo social

da terra eacute cumprida quando haacute um aproveitamento racional adequado utilizaccedilatildeo dos recursos naturais e preservaccedilatildeo do meio ambiente exploraccedilatildeo com o bem estar do proprietaacuterio e dos trabalhadores

37

Ortigueira eacute o municiacutepio que mais produz mel no estado do Paranaacute sendo

responsaacutevel por 10 da produccedilatildeo do estado Eacute tambeacutem o segundo maior produtor

de mel do Brasil Segundo dados do IBGE de 2011 foram produzidos no municiacutepio

510 toneladas de mel em 2010 (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA

2013)

O municiacutepio tambeacutem guarda uma das maiores reservas remanescentes de

Mata Atlacircntica do Paranaacute A florada de plantas nativas como assapeixe capixingui

gabiroba pitanga lixa gurucaia aroeira vermelha entre outras garantem a

variedade e qualidade do mel da regiatildeo (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ORTIGUEIRA 2013)

Com esse cenaacuterio trabalha-se o desenvolvimento econocircmico e social

atrelado ao desenvolvimento rural sustentaacutevel A apicultura passou a ser uma fonte

de renda alternativa e suplementar para famiacutelias que vivem no interior do municiacutepio

e tiram o sustento da produccedilatildeo rural O programa APIS de Apicultura Integrada e

Sustentaacutevel envolve a parceria da Prefeitura Municipal com o Sebrae a Emater e a

Apomel (Associaccedilatildeo dos Produtores Ortigueirenses de Mel) em busca da

sustentabilidade no setor (PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA 2013)

31 A Origem do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

A ocupaccedilatildeo original do Assentamento aconteceu por meio das trecircs fazendas

denominadas Renato e Ricardo Simotildees Transparanaacute e Santa Paula ambas

conquistadas por meio de conflitos entre posseiros4 e safristas5 que praticavam a

agricultura de subsistecircncia e grileiros que buscavam a aquisiccedilatildeo dessas aacutereas

mediante a expulsatildeo destes agricultores O safrismo desenvolvido por estes

agricultores era tambeacutem praticado em todo o municiacutepio sendo caracterizado pelo

cultivo de roccedilas de milho cuja produccedilatildeo destinava-se exclusivamente agrave

alimentaccedilatildeo de porcos criados de forma caipira e que apoacutes periacuteodo de engorda

eram comercializados em Tibagi (MARQUES 2005 p 31)

4 Segundo Oliveira 2007 Posseiros satildeo aqueles camponeses que se recusando a pagar com

renda abrem a seu modo a posse em terras devolutas puacuteblicas ou mesmo privadas 5 Neste sistema o safrista desenvolvia a exploraccedilatildeo mista da terra posseada cultivando o solo para a

produccedilatildeo de milho concomitante com o cultivo de produtos para a subsistecircncia (a roccedila) como o arroz e feijatildeo sendo que quando estivesse perto da colheita os porcos (corte magro) eram soltos na roccedila laacute ficando ateacute engordarem e se obter o porco tipo banha (ALVES 2004 p64)

38

Apoacutes o processo de grilagem6 a principal atividade desenvolvida nestas

terras foi agrave pecuaacuteria e para tal o desmatamento definitivo da aacuterea foi condiccedilatildeo

essencial para a formaccedilatildeo de pastagem o que ocorreu mediante parceria

envolvendo o proprietaacuterio e agricultores arrendataacuterios via matildeo de obra familiar

Assim o fazendeiro cedia uma parcela de terras ao arrendataacuterio para o cultivo de

gratildeos sendo parte da produccedilatildeo obtida pelos agricultores destinada ao pagamento

pela utilizaccedilatildeo das terras

Em sua forma menos desenvolvida ou seja preacute-capitalista (porque ela teve existecircncia anterior ao modo capitalista de produccedilatildeo) ela eacute diretamente produto excedente por exemplo eacute a fraccedilatildeo da produccedilatildeo entregue pelo parceiro ao proprietaacuterio da terra como pagamento pela autorizaccedilatildeo que este lhe daacute para cultivar a terra Portanto produto excedente eacute a parcela da produccedilatildeo aleacutem da parte necessaacuteria eacute subsistecircncia do trabalhador (OLIVEIRA 2007 p 43)

Dessa maneira se estabelecia as relaccedilotildees de trabalho nestas terras aleacutem de

outras exigecircncias por parte do fazendeiro para estes arrendataacuterios no fim do

periacuteodo do arrendamento

Apoacutes o teacutermino do contrato que se estendia por um periacuteodo de trecircs a quatro

anos o arrendataacuterio se comprometia iniciar o plantio de gramiacuteneas ao desocupar a

terra sendo tarefa obrigatoacuteria pois caso contraacuterio o arrendataacuterio poderia pagar

multas por natildeo cumprir o acordo

No inicio da deacutecada de 1980 a aacuterea que compunha a RR apresentava consideraacutevel conjunto de benfeitorias destacando-se a presenccedila de um silo graneleiro aleacutem de Serraria e Cozinhador destinados ao beneficiamento de madeiras extraiacutedas do desmatamento local ou provenientes de outros estados principalmente do Mato Grosso do Sul Tal mateacuteria prima foi amplamente utilizada no piqueteamento e delimitaccedilatildeo da fazenda (MARQUES 2005 p33)

Contudo segundo informaccedilotildees obtidas com os proacuteprios assentados o

fazendeiro se encontrava endividado e sem perspectivas para continuar tocando a

fazenda em razatildeo do seu estado de abandono em que se encontrava no momento

que iniciou o processo de acampamento

Nenhuma outra atividade era exercida aleacutem de algumas cabeccedilas de gado

espalhadas em toda a aacuterea que compunha a fazenda as mangueiras de tratamento

de gado se encontravam em peacutessimo estado com a madeira apodrecendo e

destelhadas o barracatildeo para armazenamento e secagem dos gratildeos abandonado e

6 Jaacute a grilagem segundo o Dicionaacuterio online de Portuguecircs eacute o ato de apossar de terras mediante

falsos tiacutetulos de propriedade

39

sem utilizaccedilatildeo natildeo havia estradas e o deslocamento somente era possiacutevel pelas

pessoas atraveacutes de animais por estreitos carreadores na mata fechada

Natildeo haacute muitas informaccedilotildees a respeito sobre as iniciativas de negociaccedilatildeo

desta fazenda se foram por parte da ocupaccedilatildeo do MST ou do INCRA ou ateacute

mesmo do proacuteprio fazendeiro O que se sabe segundo alguns assentados eacute que

natildeo ocorreu resistecircncia ao movimento pois quando acamparam nestas terras o

boato era de que jaacute estavam negociadas

O mapa 2 apresenta os assentamentos e comunidades do municiacutepio de

Ortigueira O acampamento foi formado em 1997 na antiga fazenda Renato e

Ricardo Simotildees sendo mais conhecida como fazenda ldquoRRrdquo com uma aacuterea de

692752 hectares que foram divididas para 170 famiacutelias (MARQUES 2005)

Houve entatildeo uma segunda fase de formaccedilatildeo do assentamento quando

foram desapropriadas as fazendas de Santa Paula e Transparanaacute com mais 242

famiacutelias assentadas numa aacuterea de 487248 hectares No entanto com relaccedilatildeo a

esta fase houve dificuldades de informaccedilotildees pois o Plano de assentamento da

fazenda ldquoRRrdquo eacute o uacutenico documento referente ao assentamento (MARQUES 2005)

Assim estas duas fases de distribuiccedilatildeo de terras resultaram na formaccedilatildeo do

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

40

Mapa 2

Fonte Joseacute Alves 2004 e adaptado pelo autor deste trabalho 2013

41

3 2 Formas de Ocupaccedilatildeo ndash Fase do Acampamento

O acampamento iniciou sua primeira fase entre novembro e dezembro de

1997 no interior da antiga fazenda Ricardo e Renato Simotildees nas proximidades da

sede da fazenda Esta aacuterea infraestrutura do local em relaccedilatildeo agraves colocircnias7 no qual

moravam antigos funcionaacuterios da fazenda aleacutem de um barracatildeo onde funcionava o

processo de secagem e armazenamento de gratildeos no periacuteodo da produccedilatildeo Os

acampados aproveitaram sua estrutura para se acomodarem melhor durante o

periacuteodo de luta pela conquista dessas terras

O acampamento foi organizado pelo MST com famiacutelias oriundas das diversas

regiotildees do paiacutes no qual se destaca uma parcela do nordeste especialmente do

estado da Bahia outras do interior de Satildeo Paulo principalmente dos municiacutepios de

Matatildeo e Araraquara outras vieram do sudoeste do Paranaacute principalmente dos

municiacutepios de Realeza Capanema e cidades vizinhas Muitas outras famiacutelias

tambeacutem foram incluiacutedas neste processo como os antigos funcionaacuterios destas

fazendas que tiveram direito em conseguir seu lote Outras eram filhos de famiacutelias

de assentamentos vizinhos como eacute o caso do Assentamento Aacutegua da Prata mais

popularmente denominado de Incratildeo localizado no municiacutepio de Tamarana

A maioria das famiacutelias que veio do interior de Satildeo Paulo e sudoeste do

Paranaacute soube do acampamento atraveacutes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da

cidade de Matatildeo que em conjunto com o MST reuniam pessoas para o

acampamento Contudo estas famiacutelias natildeo vieram diretamente para Ortigueira na

antiga RR pois estavam acampadas na fazenda Ingaacute em Bela Vista do Paraiacuteso

Segundo relato dos que participaram deste acampamento o local chegou a reunir

cerca de trecircs mil famiacutelias

A organizaccedilatildeo do MST no acampamento se dava com a divisatildeo de grupos

que variavam entre 10 a 15 famiacutelias cada grupo tinha seu coordenador e havia

outro geral que comandava o acampamento junto com outros integrantes do MST

Cada coordenador dos grupos convocava reuniotildees para repassar informaccedilotildees

novas em relaccedilatildeo aos lotes ou para a resoluccedilatildeo de algum problema sobre o

conviacutevio das famiacutelias quando o assunto era mais complexo ou um problema muito

7 O termo colocircnias se refere a um grupo de casas de mesmo padratildeo que foram construiacutedas na

eacutepoca da fazenda com o objetivo de hospedar trabalhadores temporaacuterios e moradias para funcionaacuterios

42

grande todos eram convocados em reuniotildees gerais no qual o liacuteder geral

comandava as reuniotildees

Por meio de depoimento de familiares as reuniotildees geralmente eram muito

agitadas e iniciadas com muito entusiasmo no qual o liacuteder gritava a sigla ldquoMSTrdquo e

todos respondiam ldquoEssa luta eacute praacute valerrdquo ldquoReforma Agraacuteriardquo e todos diziam

novamente ldquoUma luta de todosrdquo logo todos diziam num coro ldquoOcupar Resistir

Produzirrdquo Apoacutes o teacutermino da reuniatildeo eram repetidas estas mesmas frases para

finalizar e todos poderiam se retirar

O movimento tambeacutem punia com muita severidade aqueles que cometiam

algum delito no acampamento quando este era muito grave a puniccedilatildeo chegava a

ser a expulsatildeo do indiviacuteduo o roubo por exemplo era um delito que desde que

provado o crime era passiacutevel de expulsatildeo Quanto a outros delitos como beber

desrespeitar algum liacuteder do movimento ou de qualquer outro acampado este era

chamado para conversar primeiramente com o coordenador grupal e se natildeo fosse

resolvido o problema era levado para a coordenaccedilatildeo geral em que decidiam como

resolver o problema

No que diz respeito a alimentaccedilatildeo cada famiacutelia recebia uma cesta mensal do

governo atraveacutes do INCRA composta por macarratildeo arroz feijatildeo oacuteleo e farinha de

milho o restante da feira deveria ser complementada pelos acampados

trabalhando fora geralmente por dia nas fazendas vizinhas A situaccedilatildeo soacute foi

menos dificultosa para aqueles que recebiam o beneficio da aposentadoria e

mesmo sendo uma pequena quantia fazia a diferenccedila dentre aqueles que eram

obrigados a procurar trabalho escasso na regiatildeo aleacutem de que este beneficio natildeo foi

problema para os que desejavam possuir um lote jaacute que alguns dos entrevistados

jaacute estavam aposentados no momento da distribuiccedilatildeo dos lotes

Aqueles que saiam para trabalhar nos assentamentos ou fazendas vizinhas

eram obrigados a caminhar cerca de 10 agrave 20 quilocircmetros passavam a semana

trabalhando por dia ou por empreita roccedilando pastos ou colhendo cafeacute e retornavam

nos fins de semana Quando a distacircncia era menor muitos iam e voltavam todos os

dias para o acampamento

Em relaccedilatildeo ao deslocamento para a cidade circulavam dois ocircnibus de

particulares que transportavam para as cidades de Tamarana sendo 35 km de

distacircncia deste municiacutepio ateacute o assentamento de segunda a saacutebado uma vez por

dia e para Ortigueira trecircs vezes por semana devido agrave longa distacircncia ou seja 64

43

km e maacutes condiccedilotildees das estradas o que tornava o valor da passagem mais caro

Por este motivo desde o processo da fase do acampamento as relaccedilotildees comerciais

e sociais dos assentados com Tamarana foi sempre mais forte do que com

Ortigueira

Para ocupar o tempo no acampamento aconteciam algumas atividades como

jogar futebol e aos domingos tomar banho no rio ou ateacute mesmo conversas

descontraiacutedas nos barracos muitos tomando cafeacute e outros chimarratildeo entre os que

vieram do Sul do estado

O processo de acampamento na antiga fazenda RR durou um ano e trecircs

meses e durante a distribuiccedilatildeo dos lotes cada grupo foi para uma aacuterea da fazenda

que foram denominadas conforme as caracteriacutesticas fiacutesicas e histoacutericas do local

33 A Organizaccedilatildeo do MST no Assentamento

Assim como no acampamento o MST continuou com a mesma forma de

organizaccedilatildeo no Assentamento as famiacutelias continuaram divididas em grupos e cada

comunidade era composta por dois ou trecircs grupos dependendo da quantidade de

famiacutelias Cada grupo tinha seu coordenador que era responsaacutevel por resolver os

problemas e trazer informaccedilotildees para a comunidade Sendo assim a organizaccedilatildeo do

assentamento se deu nesta eacutepoca de forma integrada

O primeiro benefiacutecio recebido pelos assentados foi a assistecircncia teacutecnica

vinculada ao MST Contudo este apoio teacutecnico se restringiu apenas agraves

necessidades de elaboraccedilatildeo de projetos para obtenccedilatildeo dos benefiacutecios existentes

fora este periacuteodo natildeo houve segundo relato dos assentados acompanhamento e

assistecircncia teacutecnica no Assentamento

Em siacutentese a organizaccedilatildeo do movimento apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento

se restringiu em conjunto com o INCRA na divisatildeo e distribuiccedilatildeo dos lotes suporte

na organizaccedilatildeo e regularizaccedilatildeo dos documentos exigidos na retirada dos

benefiacutecios

Poreacutem sua interferecircncia no assentamento durou pouco tempo pois comeccedilou

a se desestabilizar por volta do ano de 2002 devido a atitudes dos liacutederes que natildeo

foram bem vistos pelos assentados Dentre estas atitudes cita-se agrave ocupaccedilatildeo de

lotes de pessoas jaacute assentadas de forma violenta e por motivos considerados

irrelevantes

44

Numa destas ocasiotildees em que um dos assentados contrariando as

regrasideologias do movimento vendeu seu lote e mesmo natildeo sendo o primeiro a

realizar tal atitude no assentamento poucos dias depois teve o lote invadido por um

grupo de assentados dentre eles alguns coordenadores do MST Na mesma noite

compareceu um dos quais expressou opiniatildeo contraria aquela invasatildeo Este mesmo

foi baleado no local (lote invadido) e sobrevivendo ao ocorrido alguns dias depois

toda a sua famiacutelia foi expulsa do assentamento (pai e irmatildeos) tambeacutem titulares de

lotes no assentamento

Estas famiacutelias partiram levando a roupa do corpo deixando todos seus

pertences tais como moacuteveis de casa animais e plantaccedilotildees na propriedade

Aleacutem destes lotes muitos assentados de outras comunidades foram

colocados na lista do movimento para uma futura ocupaccedilatildeo (a lista que tanto

comentavam) o objetivo era causar medo aos assentados para que natildeo

desafiassem as decisotildees tomadas pelos liacutederes do movimento pois mesmo natildeo

acontecendo estas expropriaccedilotildees de certa forma causaram muito temor e aversatildeo

dos assentados frente agraves medidas praticadas no assentamento pelo movimento

Diante disso os assentados mesmo conscientes de que o MST foi

fundamental para assegurar a conquista do lote passaram a se afastar do

movimento A primeira estrateacutegia ocorreu com a criaccedilatildeo de associaccedilotildees com a

finalidade exercer a mesma funccedilatildeo do movimento em relaccedilatildeo aos benefiacutecios

governamentais pois ateacute entatildeo somente era possiacutevel a obtenccedilatildeo dos benefiacutecios

governamentais atraveacutes do movimento mas no momento em que as associaccedilotildees

criadas possuiacuteam a mesma capacidade de regularizar documentaccedilotildees para o

acesso a estes benefiacutecios muitos assentados se viram livres da interferecircncia do

MST

Gradativamente o MST foi perdendo sua forccedila jaacute que a maioria dos

assentados deixou de apoiaacute-lo mais da metade dos que compunham as lideranccedilas

na eacutepoca repassaram os direitos ou trocaram seus lotes com beneficiaacuterios de

outros assentamentos e o restante jaacute natildeo manteacutem viacutenculo com o movimento

Na pesquisa em campo verificou-se claramente que o Movimento natildeo

apresenta mais interferecircncia no assentamento pois nenhum dos proprietaacuterios

entrevistados possui viacutenculo com o MST e aqueles que possuem um maior

entendimento da poliacutetica deste movimento acreditam em sua eficaacutecia na luta pela

45

conquista da terra Soacute natildeo concordam com as medidas que foram tomadas no

assentamento apoacutes sua formaccedilatildeo

Outros assentados jaacute natildeo partilham desta mesma opiniatildeo principalmente

entre aqueles que adquiriram a propriedade mediante a compra responderam

enfaticamente durante a pesquisa que satildeo contra a atuaccedilatildeo do movimento em

decorrecircncia da ldquobadernardquo que promovem durante sua atuaccedilatildeo na ocupaccedilatildeo de

fazendas atraveacutes de quebradeiras e matanccedila de gado dos fazendeiros provocando

muita destruiccedilatildeo na propriedade alheia

Existem ainda muitos assentados em outras comunidades que foram

liacutederes na eacutepoca da atuaccedilatildeo do Movimento no Assentamento satildeo os poucos que

sobraram jaacute que em sua maioria venderam ou trocaram suas propriedades em

outros assentamentos Poreacutem natildeo existe nenhuma relaccedilatildeo efetiva do Movimentos

com estes antigos liacutederes e nem interferecircncia poliacutetica deles no assentamento

34 Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Organizaccedilatildeo e Infra-estrutura

A demarcaccedilatildeo definitiva dos lotes soacute ocorreu por meio do INCRA no ano

2000 Foram contempladas 412 famiacutelias divididas em 8 comunidades

As comunidades foram formadas aproveitando a organizaccedilatildeo preacute- existente

no periacuteodo do acampamento que eram constituiacutedas por moradores da mesma

procedecircncia anterior na fase de acampamento ou seja cada uma delas agrupavam

famiacutelias que vieram da mesma regiatildeo Assim muitas famiacutelias vizinhas dos lotes se

conhecem desde muito antes do acampamento muitas vezes possuindo os

mesmos haacutebitos e culturas Estas comunidades apresentadas mais detalhadamente

daqui por diante foram denominadas de acordo com a atividade exercida na eacutepoca

em que a aacuterea pertencia agraves antigas fazendas

1) A comunidade da Sede como se observa na foto 1 eacute o local onde se

encontra a antiga casa do fazendeiro e tambeacutem as colocircnias com casas proacuteximas as

outras algumas de madeira e outras de alvenaria onde moravam os antigos

funcionaacuterios da fazenda aleacutem de uma capela espaccedilos de festa campo de futebol

que atualmente satildeo utilizados como aacuterea de lazer pelos assentados Pela imagem 1

eacute possiacutevel identificar os espaccedilos de lazer concentrados proacuteximo a antiga casa do

fazendeiro assim como as estradas que datildeo acesso ao restante do Assentamento

46

Imagem 1

Vista parcial do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Google Earth 2013

Foto 1

Posto de sauacutede Libertaccedilatildeo Camponesa

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Na foto 1 tem-se o Posto de Sauacutede do Assentamento localizado na

comunidade Sede Atende a todos os moradores do assentamento com um meacutedico

47

oferecendo atendimento a cada 15 dias fornecendo remeacutedios de uso mais comum

e em caso de enfermidades mais seacuterias satildeo encaminhados para a cidade de

Ortigueira e em casos mais extremos ateacute mesmo para Ponta Grossa e Curitiba

Existe ainda um carro destinado agrave sauacutede permanecendo de plantatildeo no

assentamento para em casos de urgecircncia fazer o transporte do indiviacuteduo doente

imediatamente ateacute a unidade de atendimento

Recentemente foi construiacuteda no assentamento (inaugurada em 2012) a

Escola Estadual ldquoIzaias Rafael da Silvardquo de ensino fundamental e meacutedio

comportando cerca de 400 alunos sendo considerado um dos maiores coleacutegios

rurais da Ameacuterica Latina Foram colocados quatro ocircnibus e duas kombis para o

transporte escolar dos alunos Na foto 2 se visualiza a vista aeacuterea do coleacutegio

tambeacutem localizado na comunidade Sede A foto 3 ilustra a vista parcial da aacuterea de

recreaccedilatildeo do coleacutegio

Imagem 2

Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

48

Foto 2

Aacuterea de recreaccedilatildeo do Coleacutegio Izaias Rafael da Silva

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A escola tem oferecido cursos na modalidade Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

(EJA) que vatildeo desde o ensino fundamental ateacute o ensino meacutedio beneficiando muitos

moradores do assentamento desprovidos de escolarizaccedilatildeo Aleacutem disso tem

proporcionado alguns postos de emprego para moradores do assentamento e

estimulando outros para a conclusatildeo de cursos superiores principalmente nas

disciplinas de licenciatura visando no futuro se empregar como professores nesta

instituiccedilatildeo de ensino Assim a prefeitura de Ortigueira tem disponibilizado o

transporte destes estudantes para os municiacutepios de Apucarana e Jandaia do Sul

no qual alguns alunos estudam na modalidade Estudo a Distacircncia (EaD) e outros

presenciais

Existem ainda no assentamento outro meio de transporte disponibilizado

pela prefeitura de Ortigueira para transportar pessoas portadoras de deficiecircncia

para a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) deste municiacutepio O

transporte eacute feito todos os dias da semana exceto nos dias de muita chuva em

razatildeo da precariedade das estradas do assentamento

2) A comunidade da Mangueira conforme a foto 6 se refere ao local onde

existia a principal mangueira da fazenda para abrigo e tratamento de animais

3) Jaacute a denominaccedilatildeo da comunidade ldquoAs duas casinhasrdquo foram usadas

como ponto de referecircncia daquela localidade conforme a foto 3 na eacutepoca tambeacutem

foram utilizadas para moradia de funcionaacuterios e durante algum tempo no periacuteodo

da implantaccedilatildeo do assentamento serviu como escola para o ensino fundamental

anos iniciais

49

4) As comunidades Transparanaacute (Imagem 3) e Santa Paula (Imagem 4) satildeo

denominaccedilotildees de quando eram fazendas anterior ao processo de Assentamento

5) A comunidade Campanini conforme (Imagem 5) se refere agrave aacuterea de uma

fazenda anterior agrave implantaccedilatildeo do assentamento que foi incorporada (mediante

compra) pelos proprietaacuterios da fazenda RR

6) A comunidade Alto da Serra (Imagem 5) foi denominada pela ocorrecircncia

de relevo extremamente acidentado com presenccedila remanescente de araucaacuterias

(MARQUES 2005)

7) Aacutegua Branca (Imagem 5) recebeu tal denominaccedilatildeo como referecircncia aos

aspectos naturais como eacute o caso do Coacuterrego Aacutegua Branca

8) A comunidade do Cozinhador como pode-se observar na Imagem 4 refere

ao local onde houve o tratamento de madeira para a construccedilatildeo de cercas da

fazenda mas tal estrutura natildeo fazem parte da paisagem atual desta comunidade

As estruturas que ainda existem da eacutepoca da antiga fazenda satildeo a mangueira

usada para o tratamento dos animais assim como a Colocircnia dos antigos

funcionaacuterios da fazenda usada como moradia de filhos de assentados que

constituiacuteram famiacutelias apoacutes a formaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem para

funcionaacuterios do Posto de Sauacutede e da Escola Existe tambeacutem um barracatildeo do qual

natildeo se sabe qual sua utilizaccedilatildeo no passado mas que atualmente eacute utilizado para as

reuniotildees e almoccedilos promovidos pela associaccedilatildeo desta comunidade

Foto 3

Colocircnia da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de campo Foto autora 2012

50

Imagem 3 Vista aeacuterea das Comunidades Mangueira Duas Casinhas e Transparanaacute

Fonte Google Earth 2012

51

Imagem 4 Vista aeacuterea das Comunidades Santa Paula Cozinhador e Sede

Fonte Google Earth 2012

52

Imagem 5 Vista aeacuterea das comunidades Alto da Serra Campanini e Aacutegua Branca

Fonte imagens aeacutereas Google Earth 2012

As comunidades apresentadas nas imagens 3 4 e 5 compotildeem o

Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa no qual o rio Apucarana corta toda a

extensatildeo da aacuterea do Assentamento assim como os demais coacuterregos de menor

extensatildeo Pode-se observar tambeacutem o relevo bastante acidentado em todas as

comunidades com a presenccedila de muitos morros assim como diversas Aacutereas de

Preservaccedilatildeo Permanente (APP)

As estradas visualizadas satildeo as que datildeo acesso agraves comunidades e aos lotes

dos assentados todas sem pavimentaccedilatildeo sendo muitas vezes um problema o

deslocamento no periacuteodo das chuvas Satildeo diversos os tipos de lavouras cultivadas

no Assentamento poreacutem pelas fotos percebe-se a predominacircncia das aacutereas de

pastagens principalmente onde o relevo eacute mais movimentado

54

4 COMUNIDADE COZINHADOR FORMACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO

A comunidade de Cozinhador eacute composta por 37 lotes dentre os quais foram

entrevistados na pesquisa de campo 25 assentados

Atraveacutes do relato dos assentados durante a pesquisa de campo as maiores

dificuldades encontradas no iniacutecio do assentamento foram ausecircncia de recursos

para produccedilatildeo frente o retardamento dos benefiacutecios governamentais para compra

de insumos e instrumentos agriacutecolas aleacutem de outros investimentos como compra de

cabeccedilas de gado e cercamento das propriedades

A imagem 6 apresenta a comunidade Cozinhador sendo delimitada pelo rio

Apucarana que corta praticamente toda extensatildeo do Assentamento

Imagem 6

Vista parcial da Comunidade Cozinhador

Fonte Imagens Google Earth 2013

Sua localizaccedilatildeo delimitada pelo principal rio que atravessa o assentamento o

rio Apucarana faz com que os uacutenicos dois acessos desta comunidade para os

municiacutepios de Ortigueira e Tamarana sejam realizados com a travessia por estes

rios Na eacutepoca durante parte da fase de acampamento e logo apoacutes a implantaccedilatildeo

55

do assentamento natildeo existia ponte nestas duas saiacutedas deixando os moradores

desta comunidade ilhados no periacuteodo das chuvas e durante o periacuteodo das secas os

moradores faziam esta travessia com passagens improvisadas por meio de troncos

de aacutervores e arames Contudo no periacuteodo das chuvas estes acessos eram

carregados pela correnteza tornando dificultosa a travessia dos assentados A

situaccedilatildeo foi tatildeo complicada chegando a causar trecircs mortes de moradores desta

comunidade que durante a travessia no rio acabaram sendo levados pela

correnteza no periacuteodo anterior a construccedilatildeo das pontes

Aleacutem do rio Apucarana existem diversos coacuterregos ribeirotildees e nascentes que

em muitos casos foram usados para delimitar os lotes O relevo fortemente ondulado

eacute predominante no assentamento aleacutem da existecircncia de muitas aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente principalmente nas proximidades de rios Mesmo assim eacute

possiacutevel o plantio de lavouras onde o relevo permite e nos locais mais ondulados eacute

mais propiacutecio para a criaccedilatildeo de gado

Na foto 4 vecirc se o Rio Apucarana no local onde natildeo havia ponte ateacute o ano de

2002 quando foi construiacuteda com recursos do governo estadual possibilitando o

acesso do Cozinhador ao restante do Assentamento assim como para o municiacutepio

de Ortigueira

Foto 4 Ponte de Concreto do Rio Apucarana

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Estas dificuldades foram muito maiores principalmente para os alunos que

frequumlentavam a escola no distrito de Briolacircndia localizado a aproximadamente vinte

quilocircmetros do assentamento Eram obrigados a atravessar o rio de madrugada em

travessias improvisadas feitas com toras de madeira e arames pelos proacuteprios

56

moradores da comunidade para as pessoas se equilibrarem Contudo no periacuteodo

das chuvas todas estas travessias improvisadas eram carregadas pela correnteza

das aacuteguas obrigando a passar semanas sem comparecer a escola e os moradores

ficavam impedidos de se deslocar para outros locais do assentamento

Problemas de infra-estrutura comunicaccedilatildeo moradia transporte e locomoccedilatildeo

atraveacutes de peacutessimas estradas moradias desconfortaacuteveis aleacutem de outros problemas

fizeram parte da vida de muitos assentados por mais de trecircs anos

Em relaccedilatildeo agrave sauacutede as dificuldades natildeo apresentaram menores proporccedilotildees

A proximidade do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa com o assentamento Aacutegua

da Prata no municiacutepio de Tamarana fizeram com que muitas famiacutelias procurassem

neste municiacutepio amparo em relaccedilatildeo agrave sauacutede muitas delas ateacute transferiram seus

tiacutetulos a fim de facilitar o atendimento de sua famiacutelia no posto de sauacutede e ateacute

mesmo no hospital de Tamarana Assim muitas gestantes andavam cerca de 10

quilocircmetros a cavalo para serem atendidas atravessando rio e correndo seacuterios

riscos tanto para a sauacutede da matildee quanto do bebecirc

Hoje nas duas estradas principais da Comunidade Cozinhador que datildeo

acesso para os municiacutepios de Tamarana e Ortigueira contam com pontes

construiacutedas uma delas com verbas do governo do estado jaacute a segunda ilustrada na

foto 5 (Principal acesso da Comunidade Cozinhador para o Assentamento Aacutegua da

Prata e o municiacutepio de Tamarana) em data recente 2011 com recursos e matildeo de

obra dos proacuteprios moradores do assentamento

Foto 5

Ponte construiacuteda em 2011 pelos Assentados da Comunidade Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

57

41 Perfil dos assentados da Comunidade Cozinhador

Nesta comunidade existem traccedilos que os diferenciam das outras

comunidades principalmente com relaccedilatildeo agrave procedecircncia das famiacutelias que

permaneceram juntas desde a fase do acampamento Estas famiacutelias satildeo oriundas

principalmente do nordeste do interior de Satildeo Paulo e do sudoeste do Paranaacute Nas

tabelas 4 e 5 pode-se observar o local de nascimento assim como a procedecircncia

dos chefes de famiacutelias assentadas antes de participarem do processo de

implantaccedilatildeo do acampamento O estado do Paranaacute representa uma maior

porcentagem ou seja 60 das famiacutelias Contudo 52 satildeo pessoas que adquiriram

o lote mediante a ldquocomprardquo e natildeo participaram da fase do acampamento Os dois

outros estados como Bahia e Satildeo Paulo em relaccedilatildeo procedecircncia satildeo de moradores

que participaram do acampamento e do processo de assentamento

Tabela 4

Local de nascimento dos chefes de famiacutelias entrevistadas

Naturalidade Ndeg Bahia 1 4

Minas Gerais 4 16

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 17 68

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Tabela 5

Local de procedecircncia dos chefes de famiacutelia anterior ao Assentamento

Procedecircncia antes do assentamento Ndeg Bahia 7 28

Minas Gerais 0 0

Satildeo Paulo 3 12

Paranaacute 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Assim esta comunidade obteve um aumento da porcentagem de proprietaacuterios

que nasceram e tem sua origem anterior ao assentamento no estado do Paranaacute

Devido agrave venda (repasse) dos lotes dos primeiros assentados a terceiros permitindo

que pessoas do proacuteprio estado do Paranaacute tivessem acesso a essas terras Caso natildeo

houvesse ocorrido esta praacutetica as aacutereas de procedecircncia dos assentados estariam

bem mais distribuiacutedas entre os outros Estados

Mesmo assim nota-se na tabela 5 que 28 dos entrevistados desta

comunidade vieram do estado da Bahia sendo todos de uma mesma regiatildeo deste

58

estado Isto ocorreu porque um morador do estado da Bahia ao viajar para o Estado

de Satildeo Paulo especificamente para o municiacutepio de Matatildeo participou de reuniotildees do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais desta cidade que incentivavam muitas famiacutelias a

irem para esta regiatildeo do Paranaacute e assim conquistar um lote de terras via MST O

respectivo morador trouxe consigo trecircs filhos para tentar assegurar um lote e

retornando para a Bahia a passeio levou a noticia da promessa destas terras

ocasionando a vinda de mais cinco famiacutelias desta mesma aacuterea (municiacutepio de Serra

do Ramalho-BA) para o acampamento

Dos 12 que vieram do Estado de Satildeo Paulo tambeacutem satildeo da mesma

regiatildeo (cidade de Matatildeo-SP) pois participaram das mesmas reuniotildees do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais O nuacutemero dos que vieram destas regiotildees especiacuteficas soacute

natildeo satildeo maiores em decorrecircncia das famiacutelias que venderam os seus direitos do lote

Segundo a pesquisa de campo 88 dosas chefes de famiacutelias entrevistados

nasceram na aacuterea rural enquanto apenas 12 nasceram em aacuterea urbana Mesmo

com 12 nascidos na aacuterea urbana apenas 8 eram desprovidos de experiecircncia no

trabalho rural antes de chegarem ao assentamento

Assim 92 dos entrevistados jaacute possuiacuteam experiecircncia no campo seja na

pecuaacuteria no cultivo de lavouras sendo proprietaacuterios filhos de proprietaacuterios

parceiros eou outros Muitos deles ateacute tentaram viver nas cidades durante uma

temporada mas decidiram que a vida no campo poderia ser mais compatiacutevel com os

costumes e experiecircncias vividas O graacutefico 3 apresenta a condiccedilatildeo de trabalho

daqueles que moraram na aacuterea rural

Graacutefico 3

Fonte Trabalho de campo 2013

Muitos que participaram do acampamento e conquistaram os lotes 16 (64)

foram donos de uma propriedade rural ou eram filhos de proprietaacuterios Dentre os

assentados que possuiacuteam uma propriedade rural (documentados no proacuteprio nome)

Condiccedilatildeo do Trabalhador (produtor) rural

163

3

3

era proprietaacuterio

parceiro

boacuteia fria

outros

59

anterior a implantaccedilatildeo do assentamento satildeo famiacutelias que vieram do estado da

Bahia Levando em consideraccedilatildeo as poliacuteticas do MST em que uma das condiccedilotildees

para conquistar um lote deve ser um indiviacuteduo desprovido de terras (propriedades

rurais) a justificativa dos ex- proprietaacuterios assentados deve-se ao fato de que suas

propriedades estavam localizadas em regiotildees secas com terras improdutivas

Sendo assim estas justificativas foram suficientes para garantir um lote no

assentamento

42 Repasses de lotes no Assentamento

Muitas das famiacutelias entrevistadas (52) natildeo participaram do processo de

implantaccedilatildeo do assentamento e o repasse dos lotes tornou-se cada vez mais

comum no Assentamento Sendo assim restam nesta comunidade 48 das famiacutelias

que estatildeo no Assentamento desde o iniacutecio de sua implantaccedilatildeo e que participaram

do acampamento Este processo tornou-se comum apoacutes a ausecircncia da influecircncia do

MST no assentamento pois o movimento sempre coibiu esta praacutetica de repasse de

direito de lotes mediante a comercializaccedilatildeo

Nestes aspectos o INCRA apresentou a ResoluccedilatildeoINCRACD ndeg 09 de 17

de maio de 2012 a Instruccedilatildeo NormativaINCRANordm71 de 17052012 o qual

ldquonormatiza as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de

constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamento de reforma agraacuteriardquo no

qual o Art 19 diz que

Quando houver indiacutecios de que beneficiaacuterios da reforma agraacuteria esteja atuando como intermediaacuterio na negociaccedilatildeo indevida de parcelas ou cometendo outras irregularidades relacionadas ao programa o Superintendente Regional de oficio ou mediante provocaccedilatildeo determinaraacute a instauraccedilatildeo de procedimento previsto no art 11 desta norma Art 11 Em caso de irregularidades que natildeo impliquem rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo o beneficiaacuterio deveraacute ser sobre estas advertido fixando-se lhe prazos para sanaacute-las sect 1deg Em caso de descumprimento do prazo a ser estipulado na forma do caput ou de reiteraccedilatildeo na praacutetica de irregularidades pelo beneficiaacuterio deveraacute ser instaurado procedimento administrativo nos termos desta Subseccedilatildeo visando a rescisatildeo contratual ou invalidaccedilatildeo do tiacutetulo e consequumlente retomada da parcela sect 2deg Enquanto natildeo regularizada sua situaccedilatildeo o beneficiaacuterio natildeo poderaacute receber quaisquer creacuteditos ou outros benefiacutecios da reforma agraacuteria Art 20 As ocupaccedilotildees decorrentes desta compra e venda de aacutereas de Reforma Agraacuteria natildeo suscetiacuteveis de regularizaccedilatildeo seratildeo comunicadas ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal (INCRA - Instruccedilatildeo Normativa 2012)

60

Desta forma os casos de repasse de lotes no assentamento mesmo que em

processo lento vem sendo em sua maioria regularizados pelo INCRA mesmo que

este oacutergatildeo governamental nunca estivesse de acordo com esta praacutetica no

Assentamento

Muitos dos que ldquovenderamrdquo o direito do lote no assentamento fizeram de

acordo com inuacutemeras justificativas tais como fixar moradia proacuteximo a parentes

doentes ou voltar para o lugar de procedecircncia anterior ao assentamento junto aos

familiares ou ateacute mesmo com a convicccedilatildeo de que a situaccedilatildeo financeira poderia

melhorar fixando moradia fora do assentamento

Os preccedilos destes lotes comercializados variam muito em cada caso a

exemplo de um deles vendido no ano de 2002 por 15 mil reais jaacute em 2006 estava

em 80 mil reais contudo no ano de 2009 houve lotes vendidos por

aproximadamente 40 mil reais ou seja os preccedilos natildeo seguem um acreacutescimo

cronoloacutegico pois dependem do valor que cada assentado atribui ao seu lote aleacutem

da urgecircncia de cada um em se desfazer do mesmo por problemas familiares ou em

decorrecircncia de outros fatores

Grande parte dos assentados ldquocompradoresrdquo de lotes de terceiros jaacute

conheciam o assentamento seja atraveacutes de conhecidos ou familiares assentados

Dentre os lotes comercializados alguns foram comprados logo apoacutes a implantaccedilatildeo

do assentamento

Para ocorrer este processo de transferecircncia faz-se necessaacuterio a presenccedila da

Associaccedilatildeo em que o assentado se encontra vinculado e do INCRA Cada

assentado que almeja vender seu lote procura a associaccedilatildeo apresenta as

justificativas pelos quais pretende vender o lote tais como problemas de famiacutelia

como doenccedilas e outros problemas Neste processo o comprador eacute apresentado agrave

comunidade sendo elaborada pela associaccedilatildeo uma ata que funciona como um

termo de consentimento dos assentados agrave entrada de um novo morador

Neste processo o INCRA se faz necessaacuterio em conjunto com a associaccedilatildeo

para a regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo destes lotes

Contudo nem sempre acontece desta forma pois muitos lotes satildeo vendidos

sem a avaliaccedilatildeo da comunidade e em decorrecircncia disto encontram problemas na

regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo Este fato dificulta o acesso aos financiamentos de

custeio de produccedilatildeo ou para obter quaisquer outros benefiacutecios agrave fundo perdido Em

relaccedilatildeo a estes lotes com problemas na documentaccedilatildeo perante o INCRA este adota

61

alguma providecircncia e em casos extremos pode ocorrer ateacute a substituiccedilatildeo da famiacutelia

que se encontra na propriedade

Dos novos moradores que adquiriram o direito agrave propriedade mediante o

pagamento todos jaacute trabalhavam na aacuterea rural mesmo que somente por algum

tempo geralmente satildeo filhos de proprietaacuterios de lotes em assentamentos vizinhos

ou sitiantes dos municiacutepios vizinhos como Apucarana Faxinal antigos moradores de

Londrina Tamarana e ateacute mesmo de outras regiotildees do municiacutepio de Ortigueira Em

sua maioria sobreviviam da produccedilatildeo de leite exercendo a mesma atividade no

assentamento

Dos lotes 13 lotes ldquovendidosrdquo na comunidade Cozinhador segundo as

entrevistas feitas com 25 famiacutelias 10 jaacute foram regularizados pelo INCRA e 03 se

encontram com problemas na documentaccedilatildeo aguardando a regularizaccedilatildeo

Dos entrevistados 88 estatildeo associados agrave Associaccedilatildeo de Desenvolvimento

Agropecuaacuterio da Libertaccedilatildeo Camponesa (ADALC) Os outros 13 estatildeo associados

em outras existentes no Assentamento pois cada comunidade tem sua proacutepria

associaccedilatildeo Assim aqueles que natildeo estatildeo satisfeitos com a associaccedilatildeo de sua

comunidade migram para outra

Segundo a opiniatildeo dos entrevistados a associaccedilatildeo natildeo tem proporcionado

grandes benefiacutecios aleacutem da regularizaccedilatildeo da documentaccedilatildeo de proprietaacuterios que

ldquocompraramrdquo lotes no assentamento Assim justificam o fato de serem associados

para estarem preparados quando necessitarem de algum apoio frente as

dificuldades ou conquista de benefiacutecios governamentais pois satildeo as associaccedilotildees

que trazem as informaccedilotildees sobre os benefiacutecios e ainda tem o papel fundamental na

retirada destes recursos do contraacuterio as pessoas que natildeo estatildeo organizadas em

associaccedilotildees ficam impossibilitadas de serem contemplados com estes recursos

Cada associado deve contribuir com trecircs reais mensais para que permaneccedila

associado

Dentre os benefiacutecios governamentais recebidos apoacutes o processo de

implantaccedilatildeo do assentamento tem-se o fomento no ano de 2000 destinado ao

auxilio alimentaccedilatildeo e a compra de instrumentos como paacute enxada arado e outros

instrumentos baacutesicos utilizados no cultivo Em 2001 foram beneficiados com o

Programa de Creacutedito Especial para Reforma Agraacuteria (PROCERA) como era

denominado na eacutepoca no valor de R$ 950000 a ser utilizado na construccedilatildeo de

cercas para o lote comprar instrumentos para a produccedilatildeo e algumas cabeccedilas de

62

gado de leite com o intuito de que as famiacutelias tivessem meios de produccedilatildeo para se

reproduzir

Este creacutedito deveria ser pago apoacutes trecircs anos da retirada do beneficio o qual

seria parcelado em dez vezes e com um rebate de 40 do total (R$ 380000) e as

parcelas seriam de R$ 57000 sendo quitados em um periacuteodo de dez anos

No ano de 2001 tambeacutem foram beneficiados com o fundo de habitaccedilatildeo no

valor de R$ 250000 destinado agrave construccedilatildeo de casas um valor muito abaixo do

necessaacuterio para construir uma moradia digna Assim em 2012 receberam o

equivalente a R$ 800000 advindos de fundo perdido e destinados agrave reformas de

casas o que natildeo foi suficiente para esse objetivo pois de acordo com as pesquisas

de campo cerca de 90 dos assentados entrevistados se encontram em fase de

construccedilatildeo e mais de 50 do total natildeo possuem condiccedilotildees financeiras para

executar o acabamento das casas

Isto ocorreu porque o primeiro benefiacutecio para habitaccedilatildeo foi insuficiente para a

construccedilatildeo de casas de alvenaria e foram substituiacutedas por madeira No entanto

quando beneficiados com a reforma das moradias em 2012 ao inveacutes de utilizarem o

benefiacutecio para reformar derrubaram as paredes de madeira e tentaram construir

casas de alvenaria cujo valor natildeo foi suficiente para terminar a obra

Por esse motivo 75 dos assentados que participaram do processo de

assentamento e que foram beneficiados com os recursos do PROCERA Fomento e

Habitaccedilatildeo consideram que natildeo foram suficientes para realizar as atividades do lote

Dentre as reclamaccedilotildees acerca das atividades que natildeo conseguiram realizar

tem-se construccedilatildeo de cercas para a delimitaccedilatildeo do sitio a moradia sem terminar

formaccedilatildeo de pastagens construccedilatildeo de represas maquinaacuterios para o cultivo

mangueira para o gado e diacutevidas no banco Ou seja estas satildeo as atividades que

muitos desejam realizar e se encontram sem condiccedilotildees financeiras

43 O uso da terra e as relaccedilotildees de trabalho

Dentre os maquinaacuterios e instrumentos utilizados para produccedilatildeo o trator eacute o

mais utilizado entre os assentados Satildeo alugados dos assentados que possuem este

maquinaacuterio pois satildeo poucos os que se dispotildeem Assim o processo de produccedilatildeo

torna-se muito caro para o pequeno agricultor pois o custo de aragem de terras

custa R$ 8000hora aleacutem disso em terrenos que apresentam solos muito

compactados eacute preciso gradear o mesmo local por duas ou mais vezes

63

Outros instrumentos utilizados na produccedilatildeo satildeo arado manual puxados por

forccedila animal bomba de pulverizaccedilatildeo de agrotoacutexicos manual triturador utilizados

para fazer quirera para os pintinhos e triturar napiecirc para o gado

Em relaccedilatildeo aos insumos agriacutecolas utilizados para a produccedilatildeo conforme o

graacutefico 4 o adubo eacute o mais usado pelos assentados seguido dos inseticidas e do

calcaacuterio Muitos dos produtores durante a pesquisa enfatizaram as dificuldades

encontradas para a utilizaccedilatildeo do calcaacuterio no solo uma vez que este produto eacute muito

caro no mercado aumentando ainda mais as despesas admitem que eacute um produto

indispensaacutevel para corrigir a acidez do solo e fornece caacutelcio e magneacutesio para a

nutriccedilatildeo das plantas

Durante as pesquisas de campo quando questionados em relaccedilatildeo agraves

dificuldades de produccedilatildeo muitos responderam que o solo eacute bom desde que muito

bem adubado e calcariado Assim muitas vezes esse custo com adubos e outros

insumos torna-se oneroso e nem sempre satildeo recompensados no momento da

comercializaccedilatildeo em razatildeo do preccedilo baixo dos produtos

Foram relatadas outras dificuldades na produccedilatildeo tais como a ausecircncia de

recursos financeiros problemas climaacuteticos como a falta de chuvas logo apoacutes o

plantio e excesso no periacuteodo da colheita ocasionando a perda de toda uma

produccedilatildeo A cultura do feijatildeo evidencia estas dificuldades citadas pois no periacuteodo da

colheita esta lavoura depende de um tempo de seca para que o produto esteja em

condiccedilotildees de ser colhido entretanto com chuvas excessivas o produto fica

manchado perdendo assim o valor no mercado

Graacutefico 4

Fonte Trabalho de campo 2013

O relevo acidentado impossibilita fazer a gradeaccedilatildeo das terras na preparaccedilatildeo

do solo dificultando o processo de produccedilatildeo Outros deixaram de produzir com a

Ndeg de produtores que utilizam insumos agriacutecolas

0

5

10

15

20

25

adubos inseticida calcaacuterio herbicida fungicida pesticida

64

justificativa de que falta matildeo de obra na propriedade jaacute que moram sozinhos

(apenas uma pessoa ou o casal) e natildeo compensa contratar algueacutem

Em siacutentese as maiores dificuldades elencadas por estes produtores satildeo a

falta de recursos financeiros para investirem principalmente na compra de insumos

como o calcaacuterio adubos inseticidas horas de trator para gradear as terras

sementes de qualidade e muitos dos que arriscam produzir com tecnologia correm

o risco de no periacuteodo da comercializaccedilatildeo serem obrigados a vender a produccedilatildeo por

um preccedilo baixo natildeo cobrindo os custos de produccedilatildeo

As relaccedilotildees de trabalho no assentamento variam entre matildeo de obra familiar

incluindo a troca de dias de serviccedilo e contrataccedilatildeo de matildeo de obra em periacuteodo

temporaacuterio

Praticamente 100 das propriedades utilizam agrave matildeo de obra familiar nos

afazeres do lote Esta praacutetica se torna comum diante das exigecircncias de matildeo de obra

no processo de produccedilatildeo

Jaacute em relaccedilatildeo agraves trocas de dia de serviccedilo (tabela 6) consiste num produtor

ajudar no trabalho de outra propriedade natildeo por dinheiro denominadas de ajuda

muacutetua ou seja como diz o ditado ldquouma matildeo lava a outrardquo Como diz Tavares dos

Santos (1998) apud Oliveira (2007 p 41) haacute um conjunto dos elementos estruturais

da produccedilatildeo camponesa dentre eles estaacute a

b)- a ajuda muacutetua entre os camponeses - eacute a praacutetica que eles empregam para suprir em determinados momentos a forccedila de trabalho familiar entre essas praacuteticas estaacute o mutiratildeo ou a troca pura e simples de dias de trabalho entre eles esse processo aparece em funccedilatildeo de os camponeses natildeo disporem de rendimentos monetaacuterios necessaacuterios para pagar trabalhadores assalariados

Esta praacutetica mesmo acontecendo entre alguns assentados representa

apenas 40 das famiacutelias quando contam com vizinhos proacuteximos ou com pessoas

da mesma famiacutelia

Tabela 6

Produtores que utilizam o sistema de trocas de dia de serviccedilo Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 10 40

Natildeo utilizam 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

No assentamento este tipo de relaccedilatildeo de trabalho ocorre geralmente na

colheita de lavouras como o milho feijatildeo e arroz por serem produtos que natildeo

65

podem tomar chuvas em excesso durante a colheita e depende de um grande

nuacutemero de pessoas Por outro lado eacute comum na construccedilatildeo de casas

principalmente durante a cobertura do telhado praacutetica que depende de vaacuterias

pessoas para que seja concretizado no mesmo dia

A contrataccedilatildeo de matildeo de obra temporaacuteria tambeacutem tem sido muito usual no

assentamento principalmente por aqueles que cultivam lavouras em grande escala

(mais de 10 hectares) jaacute que a meacutedia dos lotes fica entre 12 e 22 hectares assim

exigem muita matildeo de obra no periacuteodo de colheitas Dentre os proprietaacuterios

pesquisados segundo dados da tabela 7 alguns chegam a contratar cerca de 10

pessoas seja para as colheitas de milho cafeacute roccedilagem de pasto e outras

atividades Valeria aqui lembrar as ideias de Tavares dos Santos afirmando que

a jornada de trabalho assalariada - aparece na unidade de produccedilatildeo camponesa como complemento da forccedila de trabalho familiar em momentos criacuteticos do ciclo agriacutecola nos quais as tarefas exigem rapidez e muitos braccedilos essa forccedila de trabalho assalariada na unidade camponesa pode em determinados momentos comeccedilar a ser permanente e o camponecircs passa entatildeo a combinar as duas forccedilas de trabalho a familiar e a assalariada (TAVARES DOS SANTOS 1998 apud OLIVEIRA 2007 p 41)

Tabela 7

Utilizam matildeo de obra temporaacuteria Alternativas Ndeg absoluto

Utilizam 13 52

Natildeo utilizam 12 48

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Existem ainda nesta comunidade muitos assentados que trabalham fora

temporariamente (ver tabela 8) ou seja vatildeo para as cidades proacuteximas ao

assentamento passam um periacuteodo de (geralmente) uma semana trabalhando e

retornam todos os fins de semana para sua propriedade Esta praacutetica ocorre

principalmente entre as famiacutelias com dificuldades de sobreviver apenas do

rendimento da propriedade para o sustento da famiacutelia Denomina-se trabalho

acessoacuterio conforme Tavares dos Santos (1998) apud Oliveira (2007)

o trabalho acessoacuterio - eacute o meio atraveacutes do qual o camponecircs transforma-se periodicamente em trabalhador assalariado recebendo via de regra por periacuteodo de trabalho essa transformaccedilatildeo perioacutedica constitui uma fonte de renda monetaacuteria suplementar na unidade camponesa

66

Tabela 8

Trabalhou fora em periacuteodo temporaacuterio Alternativas Ndeg absoluto

Sim 4 16

Natildeo 21 84

Total 25 100

Fonte Trabalho de campo 2013

Estes 16 de proprietaacuterios que trabalharam fora em periacuteodo temporaacuterio em

sua grande maioria prestam serviccedilos de servente ou de pedreiro na construccedilatildeo civil

Nos lotes do assentamento eacute exigecircncia as terras estarem ocupadas caso

contraacuterio corre-se o risco de perder o lote No caso dos que se ausentam para

trabalhar fora temporariamente a famiacutelia (mulher e filhos) permanece no lote para

natildeo dar o caraacuteter de abandono Caso o assentado natildeo tenha famiacutelia basta que

apenas algum parente mais proacuteximo permaneccedila no lote

44 Financiamentos para custeio de produccedilatildeo

Nesta comunidade satildeo poucos os agricultores que fazem financiamentos para

custeio de produccedilatildeo muitas satildeo as justificativas para que esta praacutetica seja pouco

utilizada entre os agricultores

Tabela 9

Financiamento para custeio de produccedilatildeo (PRONAF)

Alternativas Ndeg absoluto

Recebem 3 12

Natildeo recebem 22 88

Total 25 100 Fonte Trabalho de campo 2013

Conforme a tabela 9 apenas 12 dos entrevistados tem feito financiamentos

para custeio de produccedilatildeo Satildeo muitas as razotildees em relaccedilatildeo a esta pequena

porcentagem Os outros 88 que natildeo fazem o financiamento elencaram o fato de

natildeo ser compensatoacuterio dado as formas de pagamento do creacutedito que se tornam

dificultosas para quitar o valor integral apoacutes um ano da retirada do financiamento

pois ocorrem durante o processo de produccedilatildeo muitos gastos com investimentos que

podem ultrapassar os lucros esperados apoacutes a comercializaccedilatildeo ficando

impossibilitados de quitar o financiamento

Aleacutem dos produtores que partilham desta opiniatildeo existem aqueles

impossibilitados de fazerem financiamentos junto ao banco principalmente os que

participaram do processo inicial de assentamento quando foram beneficiados com o

67

PROCERA e que natildeo foram quitados pela maioria destes assentados Os que

tiveram acesso ao PRONAF se declaram da seguinte forma

[] jaacute peguei o PRONAF mas na hora de pagar perdi mais do que ganhei entatildeo decidi que natildeo vou pegar mais faccedilo minha lavoura do meu proacuteprio bolso assim sei que natildeo vou ter grandes prejuiacutezos (assentado comunidade Cozinhador)

Haacute aqueles que se interessam em obter financiamentos mas estatildeo

impossibilitados pela falta de regularizaccedilatildeo do lote Ainda existem aqueles que natildeo

pretendem investir no cultivo de lavoura mas apenas na criaccedilatildeo de gado

441 Pecuaacuteria de leite

A criaccedilatildeo de gado leiteiro no assentamento tem assegurado grande parte da

renda para a sobrevivecircncia dos assentados pois o cultivo de gratildeos deixou de ser a

principal atividade econocircmica desenvolvida diferentemente do inicio da implantaccedilatildeo

do assentamento

A ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados com o

banco ausecircncia de apoio financeiro para custeio de produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos

e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos assentados O graacutefico

5 demonstra a quantidades de cabeccedilas de gado por produtores

O graacutefico 5 representa a quantidade de litros de leite retirados por dia e o

respectivo nuacutemero de produtores

Dentre os assentados que ldquotiramrdquo ateacute 10 litros de leite por dia geralmente natildeo

comercializam mas apenas utilizam para o proacuteprio consumo contudo acima de 15

litros jaacute satildeo destinados para a comercializaccedilatildeo No periacuteodo das entrevistas na

pesquisa de campo (julho a setembro de 2013) o preccedilo do litro do leite pago pelas

empresas Camila Lacticiacutenio de Rosaacuterio do Ivaiacute - PR e Lacticiacutenios Tamalat de

Tamarana-PR era de R$ 080

Observe que praticamente a metade dos assentados entrevistados possui

entre 1 e 5 cabeccedilas e chegando a quatro produtores com mais de 31 cabeccedilas

Estes produtores de leite nunca receberam apoio teacutecnico para a realizaccedilatildeo

desta atividade sempre trabalharam por conta proacutepria com as relaccedilotildees estritamente

baseadas entre o produtor e a empresa de lacticiacutenios Muitos deles sofrem com a

baixa produccedilatildeo durante o inverno pois a geada resseca boa parte do pasto

diminuindo a produccedilatildeo de leite e o rendimento do produtor

68

Graacutefico 5

Fonte Trabalho de campo 2013

A foto 6 ilustra um dos assentados tratando do gado de com sal alimento

complementar que deve ser dado de 130 a 160 gramas por dia para cada animal e

ao fundo uma lavoura de milho Segundo este assentado que trabalha fora em

periacuteodo temporaacuterio durante a semana e retornando nos fins de semana para

resolver os problemas do lote estaacute fazendo um investimento em gado para que no

futuro sobreviva apenas do leite e natildeo precise mais trabalhar fora pois a sua alegria

eacute estar cuidando do gado e do lote

Foto 6

Vista parcial da criaccedilatildeo de gado leiteiro na Comunidade Cozinhador

Gado leiteiro do assentado um dos primeiros moradores do assentamento e que participou do processo de implantaccedilatildeo assim como um dos maiores produtores de leite desta comunidade Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Quantidade de litros de leite por ndeg de assentados

163

3

1

2

0 a 10

11 a 20

21 a 30

31 a 40

41 ou mais

69

Graacutefico 6

Ilustra o ndeg de assentados entrevistados e o nuacutemero aproximado de cabeccedilas de gado que possuem

apresentado claramente que a maior parte dos produtores (11 dos entrevistados) possuem de 0 a 5

cabeccedilas de gado

Fonte Trabalho de campo 2013

As uacutenicas alternativas para evitar a baixa produccedilatildeo de leite nesta eacutepoca do

ano eacute a plantaccedilatildeo de cana e aveia evitando que as vacas leiteiras diminuam

drasticamente a produccedilatildeo de leite

Haacute produtores de leite que comercializam maior quantidade pela sua condiccedilatildeo

teacutecnica inclusive utilizando a ordenha mecacircnica que permite obter maior

quantidade num curto espaccedilo de tempo

Os pagamentos geralmente satildeo feitos em cheques entregues pelo proacuteprio

coletor de leite (funcionaacuterio da empresa) no assentamento os quais podem ser

descontados imediatamente

[] tudo o que conseguimos investir no lote foi com o dinheiro do leite eacute um investimento garantido ao contraacuterio das lavouras de feijatildeo e arroz que jaacute nos deram muitos prejuiacutezos Assentado com mais de 110 cabeccedilas de gado na comunidade Cozinhador 2013)

Destes assentados que possuem muitas cabeccedilas de gado na comunidade

geralmente alugam pasto de outros jaacute que a quantidade de terras de cada lote

torna-se insuficiente para a formaccedilatildeo de pasto para muitas cabeccedilas

Em geral os assentados que sobrevivem desta atividade econocircmica estatildeo

satisfeitos pois consideram a uacutenica maneira de assegurar uma renda mensal para a

sobrevivecircncia da famiacutelia Dentre os que natildeo vendem o leite produzido em razatildeo de

sua menor quantidade geralmente fazem queijo para o proacuteprio consumo e haacute um

70

caso especifico no qual um assentado faz requeijatildeo e comercializa para os

moradores desta mesma comunidade

442 Produccedilatildeo Agriacutecola

O graacutefico 7 apresenta os produtos cultivados na comunidade Cozinhador

aleacutem do pasto no qual se destacam o milho cultivados no final e iniacutecio do ano a

soja e com maior significado em aacuterea o eucalipto

Vale salientar que o milho mesmo representando um dos trecircs produtos mais

cultivados nesta comunidade esta produccedilatildeo natildeo visa a comercializaccedilatildeo mas sim o

proacuteprio consumo principalmente como raccedilatildeo das aves Jaacute 100 da produccedilatildeo de

soja satildeo destinados para o comeacutercio produzidos por apenas quatro assentados

desta comunidade representando 10 da produccedilatildeo por aacuterea nesta comunidade

Esta produccedilatildeo significativa desses produtores se justifica pela alta do preccedilo do

produto no mercado pois na uacuteltima safra 20112012 chegou em meacutedia a R$

6000saca

O eucalipto eacute o produto mais cultivado chegando a 11 da aacuterea perde

apenas para as pastagens como se observa no graacutefico 8 no qual representa 65 da

aacuterea ocupada

Graacutefico 7

Fonte Trabalho de Campo 2013

A aacuterea de pastagens ocupa uma proporccedilatildeo maior em relaccedilatildeo agraves outras

culturas pois mesmo aqueles que desenvolvem outras culturas como o eucalipto a

soja o milho entre outros contam com uma porcentagem das terras para pastagem

pois via de regra a maioria destes produtores possuem ao menos uma vaca de

leite Os poucos que natildeo possuem gado utilizam a aacuterea de pastagens para alugar

aos proprietaacuterios com mais cabeccedilas de gado

Uso da terra na Comunidade Cozinhador

11

10

2

9

1

1

1

65

Eucalipto

Soja

Feijatildeo

Milho

Vassoura

Cafeacute

Arroz

Pasto

71

Dentre os outros produtos apresentados no graacutefico apenas a vassoura e o

cafeacute satildeo para fins comerciais mas existe apenas um uacutenico assentado que cultiva

vassoura e dois assentados produzem o cafeacute para o comeacutercio o que justifica a

pequena porcentagem de aacuterea produzida

443 A cultura do eucalipto no Cozinhador

A cultura do eucalipto foi introduzida na comunidade Cozinhador no ano de

2002 pelo entatildeo assentado Jean Moreira de Souza de 73 anos de idade

Atualmente mora apenas com sua esposa de 70 anos e estatildeo desde a formaccedilatildeo do

acampamento na antiga fazenda RR aleacutem de fazer parte do grupo de famiacutelias

vindas do interior do estado da Bahia especificamente do municiacutepio de Serra do

Ramalho

Segundo o Sr Jean apoacutes trecircs anos como assentado lutando por melhores

condiccedilotildees de vida em sua propriedade percebeu apoacutes muitas experiecircncias mal

sucedidas que a agricultura estava deixando a desejar em relaccedilatildeo ao retorno

financeiro Foi entatildeo que no ano de 2002 participando de uma reuniatildeo com ldquoo

pessoal do meio ambienterdquo (natildeo soube explicar quem eram) segundo ele veio a

conhecer a cultura do eucalipto A reuniatildeo feita por um teacutecnico agriacutecola foi com o

objetivo de incentivar o pessoal do assentamento no plantio plantaccedilatildeo desta cultura

aleacutem de apresentar as formas de cultivo e a promessa de um expressivo retorno

financeiro

Segundo este mesmo informante foram plantados na eacutepoca 3500 peacutes com

um custo de aproximadamente R$ 100000 Apoacutes trecircs anos do periacuteodo de

plantaccedilatildeo conseguiu com essa renda liquidar a diacutevida do PROCERA junto ao

banco sobrando parte deste retorno financeiro para outros investimentos em sua

propriedade Atualmente este tem cerca de 5 hectares de eucaliptos com a garantia

de ser o melhor investimento para quem natildeo tem matildeo de obra ter um custo baixo e

um expressivo retorno financeiro A foto 14 mostra o cultivo de eucalipto deste

assentado com dois anos apoacutes seu primeiro corte

Segundo este mesmo agricultor apoacutes todos os cortes (trecircs ou quatro cortes

feitos em intervalos de 3 anos ou mais) desta cultura e a sua retirada o solo

continua feacutertil tanto quanto antes no qual poderaacute replantar esta mesma cultura ou

qualquer outra lavoura que desejar

72

Segundo as pesquisas realizadas com os plantadores desta cultura no

Cozinhador com exceccedilatildeo do seu Jean foram incentivados pelo fato de alguns

agricultores dos assentamento vizinho (Aacutegua da Prata) terem demonstrado que

havia um expressivo retorno financeiro Assim iniciaram o plantio desta inclusive

comprando mudas de um produtor deste mesmo assentamento

Foto 7

Plantaccedilatildeo de eucalipto no Cozinhador

Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

A introduccedilatildeo desta cultura foi estimulada pelo seu baixo custo financeiro e

de pouca matildeo-de-obra exigida apoacutes o plantio Mesmo sem assistecircncia teacutecnica ou

qualquer outro apoio durante sua implantaccedilatildeo nesta comunidade muitos passaram

a introduzir esta cultura

[] eacute uma linha de produccedilatildeo que daacute um retorno melhor pode plantar sem medo de prejuiacutezo que mesmo com um pouco de demora vocecirc vai ter um retorno financeiro todo este gadinho que tenho aqui foi comprado com dinheiro de eucalipto (Assentado da comunidade Cozinhador)

O principal fator que atrai os agricultores para a plantaccedilatildeo desta cultura eacute o

fato de natildeo ter custo alto nem trabalho apoacutes o periacuteodo de plantaccedilatildeo pois depois de

formado natildeo necessita mais de cuidados restando apenas esperar a eacutepoca do corte

que demora de 3 a 4 anos em sua primeira fase

Apesar de tudo nem todos os agricultores que introduziram esta cultura em

sua propriedade estatildeo satisfeitos alegando principalmente o tempo de espera para

um retorno financeiro o baixo preccedilo sem quaisquer acreacutescimos aleacutem da falta de

73

transporte que os torna obrigados a vender a produccedilatildeo por um preccedilo bem abaixo do

mercado para intermediaacuterios

A produccedilatildeo desta cultura em sua grande maioria eacute destinada para as

serrarias e agrave faacutebrica de papel em Tamarana assim como para Londrina Maringaacute e

Apucarana utilizados para cujos preccedilos de um metro cuacutebico vendidos diretamente

nestas empresas variam entre R$ 4500 e R$ 5000msup3 O intermediaacuterio ganha

praticamente o mesmo valor que o produtor com o trabalho de apenas cortar e

carregar a produccedilatildeo Por falta de matildeo de obra na colheita do eucalipto o produtor

deixa toda a funccedilatildeo do corte e carregamento das toras por conta do intermediaacuterio

fato que acaba por retirar boa parte do lucro destes agricultores

Com a aceleraccedilatildeo da transformaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola em produccedilatildeo de mercadorias a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo primitiva de venda direta do produtor aos consumidores tornou-se praticamente impossiacutevel pois quanto maiores eram as distacircncias e a duraccedilatildeo das viagens aos mercados para os quais o camponecircs produzia mais difiacutecil era vender diretamente aos consumidores Tornava-se assim necessaacuterio o intermediaacuterio comerciante que passou a figurar entre o produtor e o consumidor Assim o produtor perdia o contato com os consumidores e perdia tambeacutem a visatildeo do proacuteprio mercado (OLIVEIRA 2007 p18)

Nesse sentido caso o produtor tivesse condiccedilotildees de comercializar

diretamente com o consumidor o lucro seria bem maior do que entregando nas

matildeos de intermediaacuterios

Aleacutem disso o tempo esperado pelo retorno financeiro eacute muito longo e soacute

podem retirar de 3 a 4 cortes de cada plantaccedilatildeo apoacutes estes cortes as plantas natildeo

se desenvolvem mais como antes transformando em apenas troncos finos que natildeo

servem para o comeacutercio

Apoacutes o processo dos cortes eacute preciso retirar a cultura e de acordo com os

produtores pode ser feito apenas com veneno (sem nenhum trabalho) havendo

controveacutersias em relaccedilatildeo ao desgaste ou natildeo do solo Alguns arriscam dizer que ao

contraacuterio do que dizem em relaccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo do solo apoacutes a retirada desta

cultura o solo continua ainda mais feacutertil do que outrora

[] tem retorno e natildeo tem custo e a terra continua feacutertil no lugar de plantaccedilatildeo renova a terra depois eacute soacute passar veneno para matar os tocos e pode planta lavoura e ateacute eucalipto novamente (Assentado Comunidade Cozinhador)

Com base nas pesquisas realizadas para a plantaccedilatildeo de um hectare desta

cultura satildeo gastos aproximadamente R$ 100000 no periacuteodo de plantaccedilatildeo sendo

74

incluiacutedos gradeaccedilatildeo de terras mudas adubaccedilatildeo agrotoacutexicos e matildeo-de-obra com

plantio e outros cuidados durante os primeiros seis meses Apoacutes quatro anos eacute

possiacutevel retirar o primeiro corte com um rendimento de aproximadamente R$

300000 reais livres de quaisquer outros encargos Apoacutes um periacuteodo de trecircs ou

quatro anos em mais dois cortes desta plantaccedilatildeo eacute possiacutevel retirar o mesmo

rendimento livres de quaisquer outros custos

Dentre os produtores que cultivam o eucalipto no Cozinhador todos

utilizaram investimentos proacuteprios sem auxilio de financiamentos Dos 11 plantadores

de eucalipto para o comeacutercio nesta comunidade seis agricultores consideram os

preccedilos de venda satisfatoacuterios e destes plantadores 10 consideram a melhor forma

de investir na propriedade com a garantia de natildeo perder a produccedilatildeo com baixos

custos pouca matildeo de obra e retorno financeiro sem riscos de prejuiacutezo

ldquoNatildeo pretendo mais plantar o preccedilo estaacute muito baixo e dizem que a terra

fica fraca vou acabar com a cultura e plantar pasto e cana para o gadordquo

ldquoTem retorno sem muito trabalho ainda mais que produzi minhas proacuteprias

mudas sem precisar comprar se natildeo fosse o eucalipto estava muito piorrdquo

Satildeo divergentes as opiniotildees dos que plantam esta cultura na comunidade

assim como o que pretendem fazer apoacutes todos os cortes da lavoura de eucalipto

Dentre elas o plantio de pastagens na terra plantio de soja e outros desejam fazer

o replantio de eucalipto no mesmo local

A plantaccedilatildeo de eucaliptos torna-se um fator negativo em pequenas

propriedades principalmente quando esta cultura eacute implantada utilizando

integralmente a aacuterea do lote e assim descumprindo a funccedilatildeo social da terra que por

ser um bem natural necessaacuterio a todos aqueles que a deteacutem devem cumprir sua

funccedilatildeo social com intuito de satisfazer a sociedade

45 Perspectivas das famiacutelias assentadas

Durante a pesquisa de campo numa das questotildees apresentadas foram

indagados sobre o preccedilo que venderia seu lote de acordo com o valor que cada um

atribuiria ao seu legado Os preccedilos alcanccedilaram variaccedilotildees entre R$ 350000 a R$

2000000ha

O tamanho das propriedades do assentamento varia entre 12 e 19 hectares

ao multiplicar pela meacutedia dos valores atribuiacutedos pelos assentados ou seja em torno

de R$ 1000000 o hectare As propriedades saem em meacutedia no valor de 150000

75

reais tal quantia natildeo proporciona a compra de mais que uma casa razoaacutevel num

bairro de periferia das cidades Mesmo com estas suposiccedilotildees feitas a partir das

entrevistas percebe-se que a meacutedia dos lotes vendidos no assentamento ainda se

encontram muito abaixo deste valor cerca de R$ 8000000 para 19 hectares de

acordo com o lote vendido de maior valor recentemente no assentamento Tal valor

pode ser considerado muito abaixo para um comeccedilo de vida em outras regiotildees

Foto 8

Casa de alvenaria de um assentado

Casa de um assentado da Comunidade Cozinhador que participou do acampamento e

implantaccedilatildeo do Assentamento e tambeacutem um dos pioneiros no cultivo do eucalipto Fonte Trabalho de Campo Foto autora 2013

Esta casa eacute uma das poucas que natildeo estatildeo em fase de construccedilatildeo na

Comunidade foi construiacuteda parte com recursos governamentais mas concluiacuteda com

recursos do proacuteprio assentado

Em geral as famiacutelias do assentamento estatildeo bem equipadas em relaccedilatildeo aos

moacuteveis e eletrodomeacutesticos de casa Como se observa no graacutefico 9 praticamente

100 dos domiciacutelios possuem aacutegua encanada da comunidade energia eleacutetrica e

outros eletrodomeacutesticos Satildeo os meios de transporte mais especificamente motos e

carros que existem em menor porcentagem entre as famiacutelias e contam tambeacutem com

computadores que foram detectados em casas de famiacutelias onde residem

adolescentes eou estudantes

76

Graacutefico 8

Moacuteveis e Eletrodomeacutesticos por assentado

Fonte Trabalho de Campo 2013

Dentre as famiacutelias que natildeo possuem aparelhos de TV natildeo se justifica pela

ausecircncia de recursos financeiros e sim por opccedilatildeo religiosa

De acordo com as pesquisas de campo 100 das famiacutelias assentadas estatildeo

satisfeitas com o lote pois mesmo com as dificuldades pretendem continuar no

assentamento e lutar por uma vida melhor Muitas estatildeo lutando para quitar suas

diacutevidas no banco atraveacutes da cultura do eucalipto outras gostam do assentamento

por ser um lugar tranquumlilo e bom para criar os filhos com um baixo custo de vida e

longe da violecircncia das cidades E ainda existem aqueles que pelo fato de terem

trabalhado na aacuterea rural durante toda a vida natildeo pretendem se desfazer da

propriedade pois consideram um solo feacutertil para qualquer tipo de produccedilatildeo

Existem no assentamento muitos proprietaacuterios que recebem a aposentadoria

ou um integrante da famiacutelia com o benefiacutecio De acordo com a tabela 10 satildeo 36

dos assentados entrevistados com o benefiacutecio no qual para a maioria eacute a principal

fonte de renda para a sobrevivecircncia da famiacutelia

Tabela 10

Ndeg de lotes com pessoas (qualquer individuo da famiacutelia) que recebemou natildeo

aposentadoria Alternativas Ndeg absoluto Recebem 9 36

Natildeo recebem 16 64

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

77

Tabela 11

Ndeg de lotes com pessoas que recebemou natildeo Bolsa Famiacutelia Ndeg absoluto Recebem 10 40

Natildeo recebem 15 60

Total 25 100 Fonte Trabalho de Campo 2013

Outro benefiacutecio governamental recebido pelas famiacutelias assentadas eacute o Bolsa

Famiacutelia (tabela 11) principalmente entre os assentados com crianccedilas eou

adolescentes que frequumlentam a escola Assim como o beneficio da aposentadoria o

Bolsa Famiacutelia muitas vezes serve como uma fonte de renda para a sobrevivecircncia

destas famiacutelias

Pocircde-se constatar por meio das pesquisas de campo que a renda anual das

famiacutelias varia entre R$ 200000 a R$ 800000 entre as que possuem menor poder

aquisitivo e entre R$ 1200000 a R$ 4800000 para as mais abastadas dentre

estas famiacutelias se encontram as que recebem algum beneficio de aposentadoria

trabalham fora em periacuteodo temporaacuterio ou possuem um emprego no proacuteprio

assentamento e outras com grande quantidade de cabeccedilas de gado em que

sobrevivem da renda da produccedilatildeo de leite ou da venda de gado

Abaixo seratildeo pontuadas sugestotildees e opiniotildees dos assentados durante as

pesquisas de campo

1) Em relaccedilatildeo agraves atividades no qual desejam investir com a renda adquirida

na propriedade muitos pretendem investir em pastagens remeacutedios e raccedilotildees em

razatildeo de acreditarem que este investimento pode trazer mais seguranccedila financeira

Para os que pretendem investir no cultivo de lavouras investem em

maquinaacuterios adubos e inseticidas e outros insumos Haacute ainda os que desejam

investir em cabras para a produccedilatildeo de leite em razatildeo de sua valorizaccedilatildeo no

mercado atual tambeacutem na apicultura criaccedilatildeo de carneiros e reforma de casas Satildeo

todos possiacuteveis investimentos pretendidos pelos moradores desta comunidade

2) Satildeo diversas as opiniotildees em relaccedilatildeo a atuaccedilatildeo governamental no setor

agriacutecola e o que pode ser feito para melhorar o desenvolvimento dos pequenos

agricultores Dentre elas se destaca mais financiamentos com juros baixos e

facilidades de pagamento com reduccedilatildeo da burocracia para retirada destes

benefiacutecios pois este processo muitas vezes desgastantes causam gastos e o

78

tempo do produtor sem a garantia de serem aprovados pelo banco em razatildeo da

grande quantidade de documentos exigidos

Outros acreditam que as instacircncias governamentais deveriam facilitar o

escoamento da produccedilatildeo aleacutem de controlar os preccedilos dos produtos no periacuteodo da

comercializaccedilatildeo para que o produtor natildeo corra riscos de prejuiacutezos na lavoura aleacutem

de assistecircncia financeira caso o produtor venha a perder a produccedilatildeo ou seja obter

um seguro agriacutecola

Proporcionar melhores infra-estruturas na aacuterea rural como melhores

estradas facilitando o transporte de produccedilatildeo como fornecer insumos agriacutecolas

(calcaacuterio adubos sementes) proporcionando menores custos de produccedilatildeo e maior

rendimento apoacutes a comercializaccedilatildeo

Resumidamente o que ao agricultor deseja eacute que o governo proporcione

suporte teacutecnico e financeiro desde a preparaccedilatildeo das terras ateacute o periacuteodo de

comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo

3) 13 do 19 entrevistados que possuem filhos no assentamento gostariam

que seus filhos pudessem permanecer na propriedade principalmente para

auxiliarem no trabalho muitos dos quais se preocupam com a idade avanccedilada e a

permanecircncia dos filhos seria eficaz para continuarem ldquotocandordquo a propriedade

O restante 6 assentados se revelam a favor de que os filhos morem nas

cidades com o intuito de se aprimorarem nos estudos e profissionalmente para

garantir no futuro uma melhor situaccedilatildeo financeira do que os pais

4) Eacute de praxe que os assentamentos rurais em sua maioria natildeo possuem

titulaccedilatildeo de terras ou seja uma documentaccedilatildeo definitiva que garanta seguranccedila

juriacutedica de posse das terras dos assentados Assim quando questionados sobre a

intenccedilatildeo de obter o titulo da propriedade dos 25 entrevistados 3 acreditam que a

titulaccedilatildeo definitiva eacute um ponto negativo jaacute que o INCRA deixaraacute de influenciar no

assentamento atraveacutes de benefiacutecios a fundo perdido que poderiam receber aleacutem de

acreditarem que o governo deixaraacute de amparar os assentados

Outros 22 proprietaacuterios que satildeo a favor de receberem a titulaccedilatildeo definitiva

acreditam numa maior seguranccedila no direito de propriedade pois poderatildeo trabalhar

fora despreocupados sem risco de perder o lote assim como obter melhores

facilidades de financiamento para produccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da propriedade jaacute que

muitos dos que desejam ldquocomprarrdquo um lote no assentamento sentem-se mais

seguros jaacute desde que a propriedade possua titulaccedilatildeo definitiva

79

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Durante o desenvolvimento da pesquisa de campo foi possiacutevel entender a

dinacircmica de organizaccedilatildeo desta comunidade suas maneiras de reproduzir enquanto

assentado de Reforma Agraacuteria

No processo de produccedilatildeo agriacutecola percebe-se uma desorientaccedilatildeo

decorrente da ausecircncia de profissionais teacutecnicos endividamento dos assentados

com o banco a ausecircncia de apoio financeiro durante a produccedilatildeo preccedilos baixos

durante a comercializaccedilatildeo e muitos outros fatores contribuiacuteram para uma diminuiccedilatildeo

da produccedilatildeo de gratildeos e o surgimento de outros caminhos para a sobrevivecircncia dos

assentados

Dentre estas possibilidades a criaccedilatildeo de gado leiteiro e o cultivo de

eucaliptos se destacam como atividades em maior desenvolvimento nesta

comunidade Mesmo assim estas atividades natildeo fazem jus em relaccedilatildeo a quantidade

de famiacutelias e de hectares de terras

Nota-se a ausecircncia de perspectivas em relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo ou qualquer

outra atividade que possibilite o desenvolvimento destas famiacutelias enquanto

pequenos produtores familiares Em comparaccedilatildeo com o iniacutecio da formaccedilatildeo do

assentamento no qual a produccedilatildeo de gratildeos era uma forte atividade desenvolvida

entre os assentados atualmente percebe-se uma draacutestica mudanccedila neste sentido

Alguns abandonaram estas estrateacutegias de produccedilatildeo em razatildeo de benefiacutecios

da aposentadoria que devido a natildeo dependecircncia da sobrevivecircncia com outras

atividades deixaram de produzir em grande escala para fins comerciais e passaram

a cultivar apenas para o auto consumo do lote

Muitas das reclamaccedilotildees que surgiram durante as pesquisas de trabalho de

campo foram a falta de recursos financeiros para custeio de produccedilatildeo jaacute que grande

parte dos assentados se encontra impossibilitada de conseguir creacuteditos junto ao

banco e mesmo aqueles que poderiam obtecirc-los natildeo o fazem As taxas de juros

muito altos fatores climaacuteticos ou ateacute mesmo preccedilos baixos devido ao excesso de

produccedilatildeo no periacuteodo da colheita e a exploraccedilatildeo de intermediaacuterios que compram a

produccedilatildeo ganhando livre boa parte do lucro dos agricultores satildeo as causas de um

enfraquecimento das atividades no assentamento

Diante destes problemas muitos acreditam que o governo deveria possibilitar

maior orientaccedilatildeo teacutecnica com financiamentos a juros mais baixos e diminuiccedilatildeo da

80

burocracia para obter estes creacuteditos aleacutem de um seguro caso ocorra a perda da

produccedilatildeo em relaccedilatildeo a eventos climaacuteticos baixo custo de insumos agriacutecolas como

adubos venenos e sementes e apoio no processo de comercializaccedilatildeo para que natildeo

ocorram decreacutescimos dos preccedilos durante a colheita

No entanto eacute possiacutevel compreender que o assentamento se encontra num

estado de abandono em relaccedilatildeo a ausecircncia de apoio teacutecnico e direcionamento dos

assentados para investimento em atividades que gerem renda tornando possiacutevel o

processo de reproduccedilatildeo do pequeno produtor familiar

81

6 REFEREcircNCIAS ALVES J A dinacircmica do municiacutepio de Ortigueira (PR) e a reproduccedilatildeo social dos produtores familiares uma anaacutelise das comunidades rurais de Pinhalzinho e Vila Rica 2004 Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Estadual Paulista Satildeo Paulo BRASIL lei ndeg 4 504 de 30 de novembro de 1964 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil-1988 DICIONAacuteRIO ONLINE DE PORTUGUEcircS Disponiacutevel em httpwwwdiciocombrgrilagem Acesso em 18012014 FERNANDES Bernardo Manccedilano MST Formaccedilatildeo e territorializaccedilatildeo Satildeo Paulo Hucitec 1996 GOOGLE EARTH Disponiacutevel em httpswwwgooglecombrmapsplaceOrtigueira+-+PR-241320925090750311448mdata=3m11e34m23m11s0x94ebd950717f69e70xfcdbeedf12f50db62012 Acesso 14112013 GRAZIANO DA SILVA J A Reforma Agraacuteria no Brasil Frustraccedilatildeo Camponesa ou Instrumento de Desenvolvimento Zahar Editores Rio de Janeiro 1971 GRAZIANO J S (org) Estrutura Agraacuteria e produccedilatildeo de subsistecircncia na agricultura brasileira Satildeo Paulo Editora Hucitec 1978 INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACcedilAtildeO E REFORMA AGRAacuteRIA (INCRA) Instruccedilatildeo normativaINCRAndeg71 de 17 de maio de 2012 Normativa as accedilotildees e medidas a serem adotadas pelo INCRA nos casos de constataccedilatildeo de irregularidades em projetos de assentamentos de Reforma Agraacuteria Resoluccedilatildeo INCRAcdndeg9 de 17 de maio de 2012 Seccedilatildeo VII INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA (IBGE) Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=411730ampsearch=parana|ortigueira Acesso em 30092013 MARTINS J de S O poder do atraso ensaios de sociologia da histoacuteria lenta Satildeo Paulo Hucitec 1999 MARTINS J de S Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Petroacutepolis Vozes 1983 MARQUES P M A Reproduccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no Norte Paranaense Estudo do Assentamento Libertaccedilatildeo Camponesa Ortigueira ndash Paranaacute 2005 53 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Estadual de Londrina Londrina 2005 MEDEIROS Leonilde Servolo de Reforma Agraacuteria no Brasil Histoacuteria e Atualidade da luta pela terra 1deg edccedilatildeo Satildeo Paulo 2003

82

MIRALHA W Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje 2006 Disponiacutevel em lt httpwww2fctunespbrnerarevistas08MiralhaPDFgt Acesso em 15 abr 2012 OLIVEIRA U A Modo capitalista de produccedilatildeo agricultura e reforma agraacuteria 1ordf ediccedilatildeo FFLCH Satildeo Paulo 2007 PRADO JRC A questatildeo agraacuteria no Brasil 4 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1979 PREFEITURA MUNICIPAL DE ORTIGUEIRA Disponiacutevel em httpportalortigueiraprgovbrpgsobreortigueiraestatisticas Acesso em 10112013 SILVA J G A Reforma Agraacuteria no Brasil Rio de Janeiro Zahar editores 1971 Steacutedile J P O debate na esquerda 1960-1980 1ordf ediccedilatildeo2005 WACHOWICZ R C Norte velho norte pioneiro Curitiba Paranaacute Vicentina 1987 WANDERLEY N M Raiacutezes histoacutericas do campesinato brasileiro In TEDESCO (Org) Agricultura familiar realidades e perspectivas 3 Ed Passo Fundo- RS UPF 2001

83

7 APEcircNDICE

84

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE GEOCIEcircNCIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

TRABALHO DE CONCLUSAtildeO DE CURSO

ASSENTAMENTO RURAL LIBERTACcedilAtildeO CAMPONESA ndash ORTIGUEIRA- PR

Data

Nome da propriedade ndeg do loteaacuterea

Nome do entrevistado

SOBRE O ENTREVISTADO

1 Onde nasceu Municiacutepio Estado

( ) aacuterea rural ( ) aacuterea urbana

2 Quais foram os municiacutepios que o senhor (a) jaacute morou ateacute chegar neste Assentamento

3 Jaacute havia trabalhado na aacuterea rural ( ) sim ( ) natildeo ( ) era proprietaacuterio ( ) parceiro ( )

boacuteia fria ( ) outros (especificar)

4 Vocecirc participou do processo de implantaccedilatildeo do Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Quando

chegou

a) Como ficou sabendo deste lote

b) Quanto pagou pelo lote

c) O INCRA jaacute regularizou a situaccedilatildeo da compra ( ) sim ( ) natildeo

5 Passou por algum acampamento antes de conseguir este lote ( ) sim ( ) natildeo Onde

Por quanto tempo

6 Quais as foram as dificuldades encontradas para a conquista da terra

7 O que faziam antes de chegar ao acampamento

8 Como tiveram conhecimento deste lugar e porque resolveu acampar

9 Como era a propriedade antes da implantaccedilatildeo deste assentamento

85

10 Como foi a escolha dos lotes

11 Como foi definido o tamanho dos lotes E qual a aacuterea deste

12 Estaacute satisfeito com a aacuterea escolhida ( ) sim ( ) natildeo Porque

13 A conquista da terra foi pacifica ( ) Sim ( ) Natildeo Como foi

14 Quais foram os benefiacutecios governamentais durante o tempo de assentado e seus

respectivos valores

15 O dinheiro foi suficiente para realizar as atividades no lote ( ) Sim ( ) Natildeo Por que

16 Quais as dificuldades encontradas no inicio do Assentamento

PERFIL DA FAMIacuteLIA

17 Nome Sexo Idade Parentesco Escolarid Locnasc Loctrab e

funccedilatildeo

Renda

USO E OCUPACcedilAtildeO DO SOLO

18

Tipos de

culturaatividades Aacuterea Ocupada

Destproduccedilatildeo (munic

estado) Valor meacutedio da

comercializaccedilatildeo

Periacuteodo da

safra comeacutercio Gasto

PRODUCcedilAtildeO DE LEITE

86

19 Gado quantas cabeccedilasQuantidade de leite

Destino da produccedilatildeo

20 Recebe alguma orientaccedilatildeo teacutecnica ( ) Sim ( ) Natildeo De quem

21 Quais satildeo as formas de pagamento ( ) Cheque ( ) Conta no Banco ( ) Dinheiro

22 Qual o preccedilo do litro do leiteEacute satisfatoacuterioPorque

INSTRUMENTOS E PERSPECTIVAS DE PRODUCcedilAtildeO

23 Que tipos de maquinaacuteriosinstrumentos satildeo utilizados na propriedade

24 Como adquiriu estas maacutequinas

25 Utiliza ( ) Adubos ( ) Inseticida ( ) Calcaacuterio ( ) Herbicida ( ) fungicida ( )

Pesticida ( ) Inseticida

26 Faz financiamento pelo PRONAF ( ) sim ( ) natildeo Que tipo ( ) custeio ( )

investimento Tem conseguido pagar o Banco ( ) sim ( ) natildeo Qual banco

Caso negativo Por

que

27 Tem enfrentado dificuldades para produzir

Quais

28 Qual o tipo de solo e quanto custa um hectare de sua propriedade

29 Possui ( ) Aacutegua encanada ( ) outra forma de capitaccedilatildeo- qual ( )

Energia Eleacutetrica ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogatildeo (Maq de lavar ( ) Aparelho de som (

) automoacutevel ( ) Moto ( ) Computador ( ) Antena paraboacutelica

RELACcedilOtildeES DE TRABALHO

30 Trabalha com matildeo de obra familiar ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas

31 Utiliza o sistema de troca de dias de serviccedilo (mutiratildeo) ( ) sim ( ) natildeo Em que tipo de

trabalho

32 Contrata matildeo de obra temporaacuteria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas Em que

eacutepoca do ano

87

33 Contrata matildeo de obra assalariada ( ) sim ( ) natildeo Para quais atividades

34 Algueacutem da famiacutelia trabalha fora em periacuteodo temporaacuterio (com residecircncia fixa no lote) (

) sim ( ) natildeo Em que tipo de trabalho

35 Algueacutem da famiacutelia recebe aposentadoria ( ) Sim ( ) Natildeo Quantas pessoas (

) Bolsa famiacutelia (quantos)

COMERCIALIZACcedilAtildeO

36 O senhor vende a produccedilatildeo para intermediaacuterios ( ) sim ( ) natildeo Quais produtos

( )

supermercado (o que) ( )

Ceasa (o que)

37 Eacute associadoa a alguma associaccedilatildeo Qual

Quais satildeo os benefiacutecios

EUCALIPTO

38 Porque escolheu plantar esta cultura

39 Satildeo quantos hectares de plantio

40 Quem vende as mudas ( ) assistecircncia teacutecnica (De quem)

41 Considera os preccedilos de venda satisfatoacuterios ( ) Sim ( ) Natildeo Por

que

42 Quem transporta a produccedilatildeo ( ) proacuteprio ( ) paga frete R$

43 Para quem vendeFormas de pagamento

Preccedilo do metro

44 Quantos cortes por anoCusto da

produccedilatildeo

45 Tem contrato com alguma induacutestria ( ) sim ( ) natildeo Qual

46 O Sr pega algum financiamento para o custeio desta cultura ( ) sim ( ) natildeo

Quanto

47 Estaacute satisfeito com a plantaccedilatildeo desta cultura

88

48 Qual a vida uacutetil do eucalipto (quantos cortes) O que

pensa sobre isto

49 O que o Sr acha da implantaccedilatildeo da Klabin no municiacutepio de Ortigueira

OPINIOtildeES E PERSPECTIVAS

50 De modo geral o Sr Estaacute satisfeito com o resultado obtido em sua

propriedade

51 Qual aproximadamente a renda anual de sua famiacutelia a partir das atividades desenvolvidas

dentro e tambeacutem fora da propriedade O que estaacute sendo investido na propriedade com esta

renda

52 Pretende continuar no Assentamento ( ) sim ( ) natildeo Por que

53 Como o Sr vecirc a atuaccedilatildeo governamental em relaccedilatildeo ao setor agriacutecola

O que

precisa ser feito

54 Pretende que seus filhos permaneccedilam na propriedade ( ) sim ( ) natildeo Por

que

55 O Sr jaacute tem o tiacutetulo deste lote ( ) sim ( ) natildeo Gostaria de ter

56 Qual a sua opiniatildeo em relaccedilatildeo ao MST E qual a contribuiccedilatildeo deste movimento para o

Sr

57 Manteacutem viacutenculos com o MST ( ) sim ( ) natildeo Como participa

Por que

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