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11/01/2021 Número: 0807999-78.2017.8.20.5001 Classe: AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Órgão julgador: 6ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Natal Última distribuição : 13/12/2017 Valor da causa: R$ 152.229,89 Assuntos: Abuso de Poder, Acumulação de Proventos Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? NÃO Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM TJRN PJe - Processo Judicial Eletrônico Partes Procurador/Terceiro vinculado MPRN - 22ª Promotoria Natal (AUTOR) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RN (AUTOR) JESSICA MESQUITA DE ARAUJO (RÉU) FRANCISCO BARROS DIAS (ADVOGADO) ANDERSON GURGEL DANTAS (ADVOGADO) NOARA RENEA VIEIRA DE ALENCAR BARROS DIAS (ADVOGADO) RAUL ROCHA CHAVES (ADVOGADO) RAYAN OLIVEIRA FERNANDES (ADVOGADO) ANTONIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES (RÉU) FRANCISCO BARROS DIAS (ADVOGADO) ANDERSON GURGEL DANTAS (ADVOGADO) NOARA RENEA VIEIRA DE ALENCAR BARROS DIAS (ADVOGADO) RAUL ROCHA CHAVES (ADVOGADO) RAYAN OLIVEIRA FERNANDES (ADVOGADO) Estado do Rio Grande do Norte (TERCEIRO INTERESSADO) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 63727 980 18/12/2020 08:16 Sentença Sentença

PROCESSO: 0807999-78.2017.8.20.5001 - AÇÃO CIVIL DE

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11/01/2021

Número: 0807999-78.2017.8.20.5001

Classe: AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Órgão julgador: 6ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Natal Última distribuição : 13/12/2017

Valor da causa: R$ 152.229,89

Assuntos: Abuso de Poder, Acumulação de Proventos

Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? NÃO

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

TJRNPJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

MPRN - 22ª Promotoria Natal (AUTOR)

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RN (AUTOR)

JESSICA MESQUITA DE ARAUJO (RÉU) FRANCISCO BARROS DIAS (ADVOGADO)

ANDERSON GURGEL DANTAS (ADVOGADO)

NOARA RENEA VIEIRA DE ALENCAR BARROS DIAS

(ADVOGADO)

RAUL ROCHA CHAVES (ADVOGADO)

RAYAN OLIVEIRA FERNANDES (ADVOGADO)

ANTONIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES (RÉU) FRANCISCO BARROS DIAS (ADVOGADO)

ANDERSON GURGEL DANTAS (ADVOGADO)

NOARA RENEA VIEIRA DE ALENCAR BARROS DIAS

(ADVOGADO)

RAUL ROCHA CHAVES (ADVOGADO)

RAYAN OLIVEIRA FERNANDES (ADVOGADO)

Estado do Rio Grande do Norte (TERCEIRO INTERESSADO)

Documentos

Id. Data daAssinatura

Documento Tipo

63727980

18/12/2020 08:16 Sentença Sentença

Page 2: PROCESSO: 0807999-78.2017.8.20.5001 - AÇÃO CIVIL DE

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

PODER JUDICIÁRIO

COMARCA DE NATAL

SEXTA VARA DA FAZENDA PÚBLICA

 

AUTOS Nº 0807999-78.2017.8.20.5001

NATUREZA DO FEITO: AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA.

PARTE PROMOVENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE –

22ª Promotoria de Natal/RN.

PARTE PROMOVIDA: JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO e ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE

MEIRELLES.

 

 

. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. “IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

” DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DOSERVIDORA FANTASMA

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. OCUPAÇÃO DE “FUNÇÃO

”. EXERCÍCIO CONCOMITANTE DE ATIVIDADESGRATIFICADA

INCOMPATÍVEIS COM O CUMPRIMENTO DA JORNADA DE

TRABALHO. PARTICIPAÇÃO EM PROGRAMA DE MOBILIDADE

ESTUDANTIL, EM OUTRO PAÍS, PELO PERÍODO DE CINCO MESES,

COM RECEBIMENTO DE REMUNERAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO

ART. 9º, CAPUT E INCISO XI, DA LEI Nº 8.429/92. ATO IMPROBO

CONFIGURADO. DEMANDADO QUE ATUAVA COMO AGENTE

PÚBLICO DE FATO. SUPERIOR HIERÁRQUICO DA PROMOVIDA.

CIÊNCIA DAS IRREGULARIDADES CONSTATADAS. ART. 10,

INCISO XII, DA LEI ESPECÍFICA. SANÇÃO DE PERDA DA FUNÇÃO

PÚBLICA AFASTADA. EXTINÇÃO DO FEITO, COM RESOLUÇÃO

DE MÉRITO. PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS PEDIDOS.

 

Vistos.

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE em desfavor de

JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO e de ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES,

regularmente qualificados, requerendo a condenação dos demandados nas sanções previstas no art. 12,

incisos I e II, da Lei nº 8.429/92, respectivamente, e o afastamento, em definitivo, de ANTÔNIO

CARLOS DANTAS DE MEIRELLES das funções exercidas na Assembleia Legislativa.

 

Relata que: foi instaurado o Procedimento Investigatório Criminal nº(i)

116.2016.000309, cujo propósito inicial era investigar os contornos criminais da conduta de JÉSSICA

MESQUITA DE ARAÚJO, diante de relatos de que teria percebido remuneração correspondente a cargo

comissionado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte (ALERN), sem contudo,

desempenhar as atribuições que lhe eram inerentes, configurando hipótese de “ ”; servidora fantasma (ii)

foi apurado que a demandada foi servidora do órgão entre os meses de julho de 2011 e fevereiro de 2016,

e, durante o período, desempenhou inúmeras atividades incompatíveis com o efetivo exercício do seu

cargo/função; a promovida participou de programa de mobilidade estudantil internacional durante o(iii)

primeiro semestre do ano de 2012, em intercâmbio entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte

e a Universidade do Aveiro, em Portugal, e, durante o período em que fixou residência no exterior,

permaneceu nos quadros da ALERN, recebendo a correspondente remuneração, e sem formalizar

requerimento de afastamento; ao retornar de Portugal, JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO teria(iv)

retomado suas atividades acadêmicas de ensino superior na UFRN, cursando disciplinas nos períodos da

noite e da manhã, quando deveria estar cumprindo expediente na ALERN; além disso, acumulou o(v)

curso de graduação em Administração na UFRN com um estágio remunerado não obrigatório na

Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), no período de 15 de janeiro de 2013 a 06 de

janeiro de 2014, e com carga horária de 6h (seis horas) diárias; com o encerramento do seu vínculo de(vi)

estágio, ainda cursando a graduação na UFRN, a demandada foi contratada pela COSERN para exercer o

cargo de Agente Econômico Financeiro, com carga horária de 8 (oito) horas/dia, cujo contrato vigorou do

dia 07 de janeiro de 2014 a 02 de julho de 2014; pouco antes do encerramento do seu vínculo com a(vii)

UFRN e após o término do contrato com a COSERN, a demandada matriculou-se em curso especializado

na preparação para exames de ingresso em universidades, visando a provação no vestibular de medicina

da Universidade Potiguar (UnP); após quase um ano de preparação, frequentando as aulas do(viii)

supracitado curso, que, em sua maioria, eram ministradas no período da manhã, a demandada foi

aprovada no curso de graduação em Medicina na Universidade Potiguar; JÉSSICA MESQUITA DE(ix)

ARAÚJO teria ingressado na graduação em Medicina no dia 19 de junho de 2015, e cursou, naquele

semestre, o primeiro período do curso, sendo matriculada para segundo período no primeiro semestre

letivo de 2016; ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES, o qual é tio materno do Deputado(x)

Estadual Ricardo José Meirelles da Motta e exercia função de chefia em seu gabinete, de maneira

informal, indicou a demandada para o cargo/função exercido na ALERN.

 

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Juntada de mídia digital (ID 6913924).

 

Notificados, os promovidos ofereceram defesa prévia (ID 10072246).

 

O feito foi redistribuído para este Juízo em 13 de dezembro de 2017, devido às

alterações promovidas pela Resolução nº 35/2017-TJRN, DJe 06.09.2017, e Portaria Conjunta nº 57, de

07 de dezembro de 2017/CGJ-TJRN.

 

Manifestação do promovente (ID 25203855).

 

Inicial recebida. Tutela de urgência indeferida (ID 25290319).

 

CITADOS, JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO e ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE

MEIRELLES ofertaram contestação (ID 27538695). Asseveram que: as atividades desempenhadas por(i)

JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO consistiam no assessoramento político, realizando tarefas em quase

sua totalidade de forma externa em diversas modalidades, como o transporte de assistidos por programas

governamentais, entregas de documentos, formulação de relações da população assistida,

acompanhamento das atividades públicas do Deputado, entre outros; quando convocada para a função(ii)

gratificada, pactuou-se a tratar de atividades de assessoria política, sem atribuição administrativa ou

expediente no interior da Assembleia Legislativa; as atividades desempenhadas pela demandada não(iii)

impediram que realizasse as funções de assessoria política, com ampla possibilidade de conciliação das

tarefas; sobre a participação em programa de mobilidade estudantil internacional, recebeu autorização(iv)

verbal do gabinete do parlamentar; a graduação no curso de Medicina não pode se caracterizar como(v)

atividade pública ou trabalhista incompatível com cargo público; quanto a ANTÔNIO CARLOS DE(vi)

MEIRELLES, sua conduta se limitou à mera sugestão, sem que tivesse poder de nomear ou exonerar a

demandada, inexistindo, ainda, dever de fiscalização, uma vez que não exercia cargo oficial ou recebia

remuneração para o desempenho daquelas responsabilidades.

 

IMPUGNAÇÃO (ID 32635745).

 

Notificado, o ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE requereu ingresso no polo

ativo como assistente litisconsorcial (ID 41567719).

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Após intimação, os demandados pediram a oitiva de testemunhas (ID 43075066).

 

Decisão de saneamento, na qual foram fixados os seguintes pontos controvertidos: “se:

(i) JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO de percebeu remuneração correspondente a cargo comissionado

na ALRN, sem desempenhar as atribuições que lhe eram inerentes, conforme marco temporal delimitado

na inicial; e (ii) ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES concorreu para a nomeação de JÉSSICA

MESQUITA DE ARAÚJO ao cargo de provimento em comissão na Assembleia Legislativa, com

cooperação para que referida pessoa percebesse remuneração sem desempenhar qualquer atividade em

contraprestação.” (ID 51895528).

 

Designada Audiência de Instrução e Julgamento (ID 54154571), a qual foi reaprazada,

em face da situação epidemiológica atual (ID 55490884).

 

AUDIÊNCIA ATERMADA (ID 59664101), com oitiva das testemunhas:

– FERNANDO ANTÔNIO BRANDÃO SUASSUNA;

– TÁLIA MAIA LOPES; e

– MARINA TEODORO DA TRINDADE.

 

Continuação da audiência atermada (ID 61095199), com inquirição das seguintes

testemunhas, arroladas pelo demandante:

– VITOR NEVES GOMES; e

– MARIA ELIANE PEREIRA NUNES.

 

Razões finais apresentadas pelas partes (IDs 62133573 e 62864531).

 

É o relatório.

 

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D E C I D O :

 

Pretende o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE  a

condenação dos demandados nas sanções previstas no art. 12, incisos I e II, da Lei nº 8.429/92,

respectivamente, sob o fundamento de que praticaram os atos de improbidade administrativa, requerendo,

inclusive, o afastamento, em definitivo, de ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES das funções

exercidas na Assembleia Legislativa.

 

O pedido é procedente, em parte, conforme fundamentação infra.

 

A caracterização do ato como improbo independe da existência de prejuízo ou lesão ao

erário, bastando a comprovação da culpa, nas hipóteses de lesão ao erário, e do dolo latu sensu ou

genérico, consistente na vontade de livre e consciente de praticar a conduta contrária ao ordenamento e,

nas hipóteses de ato que importe em enriquecimento ilícito ou violação aos princípios administrativos,

conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

 

“PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO

RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ACÓRDÃO

DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE DEMONSTRA A PRESENÇA DO

ELEMENTO SUBJETIVO. SÚMULA 7/STJ. DANO AO ERÁRIO. NÃO

CONSTITUIÇÃO DE PENA. CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA DO

PREJUÍZO CAUSADO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. O

entendimento do STJ é que, para que seja reconhecida a tipificação da

conduta do réu como incurso nas prescrições da Lei de Improbidade

Administrativa, é necessária a demonstração do elemento subjetivo,

consubstanciado pelo dolo para os tipos previstos nos artigos 9º e 11 e, ao

menos, pela culpa, nas hipóteses do artigo 10. 2. Na hipótese dos autos, o

Tribunal de origem expressamente afirmou a atuação dolosa do agravante,

porquanto "restou comprovada a má-fé do ex-prefeito e das empresas

licitantes e seus representantes, fraudando-se processo licitatório; ato de

improbidade previstos na Lei n° 8.429/92, mais precisamente em seus

artigos 10, VIII, o que ocasionou prejuízo ao erário, uma vez que a verba

pública não foi devidamente utilizada" (e-STJ fl. 1946). Rever tal premissa

esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 3. O ressarcimento não constitui sanção

propriamente dita, mas sim consequência necessária do prejuízo causado.

Caracterizada a improbidade administrativa por dano ao Erário, a

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devolução dos valores é imperiosa e deve vir acompanhada de pelo menos

uma das sanções legais previstas no art. 12 da Lei n. 8.429/1992. A

propósito: REsp 1.302.405/RR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda

 Turma, DJe 2/5/2017. 4. Agravo interno não provido. (In. AgInt no REsp

1616365/PE. Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, Primeira Turma, j.

23/10/2018) (grifos acrescidos).

 

Do mesmo modo, “O Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido

de que para a configuração dos tipos ímprobos previstos na Lei 8.429/1992, especificamente os atos que

importem enriquecimento ilícito (art. 9º da LIA), causem prejuízo ao erário (art. 10 da LIA) e atentem

contra os princípios da administração pública (art. 11 da LIA), é indispensável a presença de elemento

subjetivo (em regra, conduta dolosa para todos os tipos e, excepcionalmente, culpa grave para ato lesivo

– ao erário art. 10 da LIA), não sendo admitida a atribuição de responsabilidade objetiva em sede de

” (Cf. REsp 1713044 / SP, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES,improbidade administrativa

Segunda Turma, STJ, j. 07.11.2019, DJe 21.09.2020).

 

Com efeito, a Lei da Improbidade Administrativa objetiva sancionar os praticantes de

atos dolosos ou de má-fé no trato da coisa pública, tipificando como ímprobas as condutas que importam

enriquecimento ilícito (art. 9º), que causam prejuízo ao erário (art. 10), decorrentes de concessão ou

aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário (art. 10-A) e, ainda, que violem os princípios da

Administração Pública (art. 11).

 

Nesse sentido, a interpretação da Lei nº 8.429/1992 não pode levar à punição

indiscriminada de todos os atos ilegais praticados pelos agentes públicos como se fossem atos de

improbidade, alterando a própria essência normativa. O elemento culpabilidade, no âmago do ato de

improbidade, se apurará, em regra, a título de dolo, sendo que o art. 10, da Lei nº 8.429/92 alude à sua

ocorrência de forma culposa.

 

Conforme a jurisprudência do TJRN, "a improbidade é categoria de ilícito mais grave

que a ilegalidade. Apenas os atos que, além de ilegais, se mostrarem fruto da desonestidade ou má-fé do

agente público caracterizam a improbidade. Logo, apenas é possível a caracterização de um ato como de

improbidade administrativa quando há desonestidade por parte do administrador. A conduta ilegal só se

 torna ímproba se revestida de má-fé do agente público." (In.  AC 024537-7, Rel. Des. JOÃO

REBOUÇAS, j. 26/05/2015 e AC 2014.018679-8, Rel. Des. JOÃO REBOUÇAS, j. 12/05/2015).

 

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Dessa maneira, a improbidade é a ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento

subjetivo da conduta do agente. A configuração de ato de improbidade administrativa, com a aplicação de

suas severas sanções, pressupõe que o agente atue com má-fé, dolo ou culpa grave, no intuito de realizar

malversação do patrimônio público. Atos ilegais não são automaticamente ímprobos, sendo preciso que se

analise a presença de elemento subjetivo por parte do agente.

 

No caso dos autos, é relatado que JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO foi servidora da

Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norteno período compreendido entrejulho de 2011 e

fevereiro de 2016, com desempenho deatividades incompatíveis com o efetivo exercício do seu

cargo/função. Além disso, ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES, o qual exercia, de maneira

informal, a função de chefia de gabinete, teria sido responsável pela indicação do nome da demandada

para o cargo.

 

 

I. JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO.

 

Conforme a documentação que instrui a inicial, JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO

teve designação realizada pelo Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte,

para exercer a Função Gratificada da Assembleia Legislativa – FGAL1E, criada pela Resolução nº

020/2001, de 22 de novembro de 2001, consolidada pela Resolução nº 025/2008, a partir de 01 de julho

de 2011, nos termos da Portaria nº 467/2011-GPAL (ID 9489398 – p. 19).

 

A função gratificada ocupada pela demandada foi criada pela Resolução nº 020, de 22 de

dezembro de 2001, que dispõe organizacional da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do

Norte, e estabelece, em seu art. 111:

 

“Art. 111. Ficam criados os cargos de Secretário Geral da Presidência, a

Seção de Recepção da Presidência, a Chefia de Gabinete da Primeira

Secretaria, a Secretaria Executiva da Primeira Secretaria, a Chefia de

Gabinete do Procurador Geral, a Secretaria Executiva do Procurador

Geral, a Assessoria de Planejamento Estratégico, a Assessoria Técnica da

Presidência, a Assessoria de Cerimonial, a Assessoria de Relações Públicas,

a Chefia de Gabinete da Secretaria Administrativa, a Secretaria Executiva

do Gabinete do Secretaria Administrativa, a Chefio de Gabinete da

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Secretaria Legislativa, a Secretaria Executiva do Gabinete da Secretaria

Legislativa, a Chefia de Gabinete da Secretaria de Informática. a Secretaria

Executiva do Gabinete da Secretaria de Infomática, Chefias de Gabinete de

Deputados, Motorista de Gabinete Parlamentar,Função Gratificada

FGAL-01. FGA L-02, FGAL-03, quantificados nesta Resolução.” (grifos

acrescidos)

 

Importante consignar que as funções de confiança (ou gratificadas) devem ser exercidas

exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, por força do que dispõe o art. 37, inciso V, da

Constituição da República de 1988, o que não era o caso da promovida.

 

Além disso, os elementos constantes nos autos demonstram que JÉSSICA MESQUITA

DE ARAÚJO exercia atividades incompatíveis com a sua jornada de trabalho na Assembleia Legislativa

do Rio Grande do Norte, por meio de: a) graduação em Administração, pela UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN, com, inclusive, participação em programa de

mobilidade estudantil internacional; b) contrato de estágio e de trabalho com a COSERN; c) curso

preparatório para o vestibular de Medicina; e d) graduação no curso de Medicina, na Universidade

Potiguar - UnP.

 

A documentação que instrui a inicial indica que a demandada cursava Bacharelado em

Administração, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, quando ingressou nos

quadros da ALERN. Consta nos autos histórico escolar referente ao curso de “Administração –

Bacharelado – Presencial – Noturno”, no qual ingressou no primeiro semestre letivo do ano de 2009

(2009.1), com colação de grau em 11 de agosto de 2014 (ID 9489125 – ps. 19/21), o qual aponta que “foi

autorizado a mobilidade estudantil do tipo EXTERNA, INTERNACIONAL, na Instituição de Ensino

Superior Universidade de Aveiro, localizada em Portugal, na Cidade de Aveiro, durante o(s) período(s)

letivo(s) de 2012.1.

 

No mesmo sentido, dados do Sistema de Tráfego Internacional (STI), da Polícia

Federal, confirmam que JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO saiu do Brasilem 04 de fevereiro de 2012,

retornando em 19 de julho do mesmo ano (ID 9489125 – p. 27), o que corresponde ao período em que

esteve participando do programa de mobilidade estudantil (semestre letivo 2012.1).

 

Os relatórios de frequência encaminhados pela UFRN permitem concluir que a

demandada cursou a maior parte das disciplinas do curso de Administração no período noturno, contudo,

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há registro das disciplinas de “Gestão da Tecnologia da Informação”, no semestre letivo 2012.2,

lecionada no horário “35M34” (terça e quintas-feiras pela manhã, terceiro e quarto horários), na qual

foram registradas 14 (quatorze) faltas da demandada (ID 9489276 – p. 13/15); no mesmo semestre letivo,

a promovida cursou, também, a disciplina “Legislação Social e Trabalhista”, às segundas e quartas-feiras

pela manhã, nos terceiro e quarto horários (24M34), com aprovação sem registro de faltas (ID 989301 –

p. 10/12).

 

Consta nos autos, ainda, que a demandada cursou a disciplina de “Administração

”, no semestre letivo 2012.3 (turma de férias), no período de 11 a 31 de julho, de segunda aFinanceira II

sexta-feira pela manhã, do terceiro ao sexto horário (23456M3456), com um total de 17 (dezessete) faltas

(ID 9489301 – ps. 13/15).

 

Sobre os seus vínculos de estágio e trabalho nos anos de 2013 e 2014, em resposta a

ofício enviado pelo Ministério Público Estadual, a COSERN informou que JÉSSICA MESQUITA DE

ARAÚJO exerceu as seguintes funçõesnaquela empresa:

 

“a) ESTÁGIO com carga horária de 6 horas/dia, turno matutino, no período

entre 15/01/2013 à 06/01/2014, matrícula 983874. Cópia do Termo de

Compromisso de Estágio em anexo.

b) AGENTE ECONÔMICO FINANCEIRO, com carga horária de 8

horas/dia, no período entre 0701/2014 a 02/07/2014, matrícula 957005.

.” (ID 9489142 – p. 05).Cópia de Contrato de Trabalho em anexo

 

Com efeito, os documentos que instruem o procedimento instaurado no âmbito do

Ministério Público Estadual comprovam vínculo de trabalho com a COSERN, no período de 07 de janeiro

de 2014 a 01 de julho do mesmo ano, conforme informação do Ministério do Trabalho e Emprego (ID

9489125 – p. 07).

 

No curso da instrução processual, VITOR NEVES GOMES, testemunha arrolada pela

parte demandante, relatou que JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO foi estagiária da COSERN no ano de

2013, e contratada como funcionária no ano seguinte, até junho ou julho de 2015; que o estágio era de

06h/dia, com início às 8h00; após ser efetivada como funcionária, o horário de trabalho era de 08h00 às

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17h30min; era assídua, não faltava, e realizava todas as atividades solicitadas, motivo pelo qual foi

contratada como empregada; não tinha ciência de que a demandada tinha outra atividade, na mesma

época; e que JÉSSICA MESQUITA saiu da COSERN para se dedicar aos estudos em Medicina.

 

Por seu turno, a testemunha MARIA ELIANE PEREIRA NUNES, que trabalhava no

setor de gestão de pessoas da COSERN,afirmou que não se recorda de JÉSSICA MESQUITA DE

ARAÚJO. Porém, que a COSERN exige o trabalho de 08h/dia, de forma presencial, durante o dia (manhã

e tarde), não sendo possível a conciliação com outro trabalho no mesmo horário.

 

No que se refere ao curso preparatório para o vestibular de Medicina, de acordo com os

registros do Lógico Cursos Aliados, JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO frequentou a instituição, em

dias úteis e em horário diurno, nos seguintes períodos/horários/disciplinas: (i) 30.09.2014 a 04.11.2014,

nas terças-feiras, das 07h45min às 12h00, na turma de Física; (ii)de 25.09.2014 a 06.11.2014, nas

quintas-feiras, das 07h30min às 11h30min, na turma de Matemática; (iii)de 01.10.2014 a 22.10.2014, nas

quartas-feiras, das 0h30min às 12h30min, na turma de História/Geografia, com registro de falta nos dois

primeiros dias; (iv)de 05.08.2014 a 20.10.2014, nas segundas-feiras, das 08h00 às 12h00, na turma de

Português, com registro de falta em 06 (seis) dias;(v) de 26.09.2014 a 24.10.2014, nas quintas-feiras, na

turma de Química, no horário de 08h00 às 12h15min (ID 9489406).

 

No ano seguinte (2015),a demandada cursou as seguintes disciplinas, no mesmo curso

preparatório: (i)de 23.01.2015 a 04.09.2015, a disciplina de Física, nas sextas-feiras, das 07h30min às

11h45min, com 07 (sete_ registros de falta, sendo 05 (cinco) a partir do mês de agosto; (ii)de 28.01.2015

a 08.07.2015, nas quartas-feiras, das 12h31min às 13h30min, na turma de Inglês, com 04 (quatro)

registros de faltas; (iii)de 27.01.2015 a 19.08.2015, na turma de Matemática, nas terças-feiras, das

07h30min às 11h30min, com 05 (cinco) registros de faltas, sendo 04 (quatro) a partir do mês de julho; (iv)

de 21.01.2015 a 22.07.2015, nas quartas-feiras, de 07h30min às 12h30min, na turma de

História/Geografia, com 05 (cinco) registros de faltas; (v) de 29.01.2015 a 16.07.2015, na turma de

Português, às quintas-feiras, no horário de 08h00 às 12h00, com 04 (quatro) registros de faltas; e (vi)no

período de 19.01.2015 a 13.07.2015, na turma de Química, às quintas-feiras, das 07h30min às 12h00, com

01 (um) registro de falta; (IDs9489406 e 9489425).

 

Por fim, conforme declaração do Secretário-Geral da Universidade Potiguar - UnP,

JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO ingressou no curso de Medicina (Bacharelado), em tempo integral

(manhã e tarde), em 19 de junho de 2015, por meio de processo seletivo vestibular, com matrícula inicial

no primeiro período no segundo semestre letivo de 2015, tendo renovado sua matrícula para o semestre

letivo de 2016.1 e, na época, estava cursando as disciplinas referentes ao segundo período do curso.

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Page 12: PROCESSO: 0807999-78.2017.8.20.5001 - AÇÃO CIVIL DE

 

AtestemunhaFERNANDO ANTÔNIO BRANDÃO SUASSUNA, coordenador do

curso de Medicina na UnP de 2009 a 2019, asseverou que as atividades da graduação são desenvolvidas

nos períodos da manhã e tarde, havendo, ainda, muitas aulas no turno da noite. Relatou, ainda,que pela

manhã, as atividades têm início por volta das 07h30min e vão até às 12h45min, e a tarde das 13h30min às

18h10min. Finalizou seu depoimento afirmando que não há como compatibilizar as atividades do curso,

durante o dia, com atividades profissionais.

 

Por sua vez, TÁLIA MAIA LOPES, arrolada pela parte promovida, aduziu que tem

conhecimento que a demandada foi nomeada para trabalhar no gabinete do Deputado Estadual Ricardo

Motta, trabalhando fora das dependências da Assembleia, nas bases políticas do Deputado; que é comum,

nas Assessorias dos Parlamentares, o trabalho externo, em bases políticas no interior, o que foi

regulamentado por lei; que JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO é pessoa de boa índole, e rigorosa ao

extremo em tudo o que faz e que não sabe informar se a demandada prestou serviços à Assembleia

Legislativa no período em que esteve em Portugal e não tinha conhecimento quanto aos vínculos com a

COSERN.

 

MARINA TEODORO DA TRINDADE, testemunha arrolada pela parte promovida,

afirmou que tem conhecimento de que JÉSSICA MESQUITA prestava serviços de Assessoria

Parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, mas não sabe informar o

horário de trabalho ou “ ”; alegou não saber afirmar o horário emse tinha que ir para algum canto certo

que a promovida frequentou o curso de Administração; que a demandada sempre foi muito responsável e

não era satisfeita com o cargo político, por isso buscou outros trabalhos; que tem conhecimento de que os

ocupantes de cargo de Assessoria Parlamentar exercem muitas tarefas externas.

 

Em sua defesa, JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO aduz que as suas atividades na

Assembleia Legislativa consistiam no assessoramento político, realizando tarefas em quase sua totalidade

de forma externa em diversas modalidades, como o transporte de assistidos por programas

governamentais, entregas de documentos, formulação de relações da população assistida,

acompanhamento das atividades públicas do Deputado, entre outros; que quando convocada para a função

gratificada, pactuou-se a tratar de atividades de assessoria política, sem atribuição administrativa ou

expediente no interior da Assembleia Legislativa, pelo que seriam compatíveis com as demais tarefas que

exercia (graduação em Administração, vínculos com a COSERN, curso preparatório para vestibular de

Medicina e graduação em Medicina).

 

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Page 13: PROCESSO: 0807999-78.2017.8.20.5001 - AÇÃO CIVIL DE

A Lei nº 9.485/2011, que dispunhasobre a estrutura organizacional das unidades

administrativas da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, na época dos fatos

relatados, estabelece que os gabinetes dos Deputados constituem-se como unidades administrativas

autônomas, sendo organizados e dirigidos sob a responsabilidade direta e exclusiva do Deputado

respectivo, indicando quem deva ser nomeado para assessorá-lo (art. 1º, caput e parágrafo único).

 

Conforme relatado, a promovida foi designada para exercer função gratificada

(FGAL-03), criada pela Resolução nº 020/2001, não se enquadrando em nenhum dos cargos de cada

gabinete trazidos pela Lei nº 9.485/2011, quais sejam: Agente Administrativo Parlamentar; Assessor

Chefe de Gabinete, Assessor Técnico de Gabinete; Assessor Especial Parlamentar; Assessor Técnico

Parlamentar; Assistente Político; Auxiliar Parlamentar; Assistente Técnico de Comunicação; Secretário

de Gabinete Parlamentar; Motorista de Gabinete Parlamentar; Técnico de Processamento de Dados

Parlamentar.

 

No caso da requerida, não existia vínculo por cargo efetivo nem por cargo em comissão,

mas pela função gratificada “FGAL-03”.

 

Ademais, ainda que fosse reconhecida a legalidade do vínculo, a prestação dos serviços

de “transporte de assistidos por programas governamentais, entregas de documentos, formulação de

relações da população assistida, acompanhamento das atividades públicas do Deputado” não se mostra

passível de realização nos horários comprometidos com as atividades diversas comprovadamente

desempenhadas por JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO, como, por exemplo, cumprir jornada de

trabalho das 08h00 às 17h30min, na COSERN; frequentar aulas no curso de Medicina, das 07h30min às

18h10e, em maior gravidade e contrassenso, residir em outro país durante 05 (cinco) meses, recebendo a

contraprestação pelo seu vínculo com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte.

 

Assim, a baixíssima (senão inexistente)carga horária desempenhada por JÉSSICA

MESQUITA DE ARAÚJO, diante do comprovado exercício de diversas atividades incompatíveis com a

função desempenhada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, uma vez que

percebeu a remuneração no período de julho de 2011 a fevereiro de 2016, sem a devida contraprestação,

constitui elemento suficiente para enquadrar a conduta no art. 9º, capute inciso XI, da Lei de Improbidade

Administrativa:

 

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Page 14: PROCESSO: 0807999-78.2017.8.20.5001 - AÇÃO CIVIL DE

"Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial

indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:

(...)

 

XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas

ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no

art. 1° desta lei."

 

Portanto, ao agir desta forma, a conduta da demandada configura o tipo descrito pelo art.

9º, e inciso XI, da Lei nº 8.429/92, na medida em que auferiu vantagem indevida, com acréscimo aocaput

seu patrimônio, às expensas do erário estadual.

 

Além disso, a conduta da promovida pode também ser enquadrada no art. 11, caput, da

Lei nº 8.429/92:

 

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os

deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às

instituições, e notadamente:

(…)”

 

Quanto ao elemento subjetivo, o dolo verifica-se na hipótese na medida em que há

vontade livre e consciente de praticar a conduta ofensiva fora dos ditames legais, recebendo por função

gratificada – registre-se, sem cargo público correlato – sem contraprestação da carga horária. Aliás, a

testemunha MARINA TEODORO DA TRINDADE destacou que a promovida queixava-se de

insatisfação com o cargo político, buscando, por isso, outras atividades.

 

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Outrossim, a demonstração de dolo genérico mostra-se suficiente para os atos de

improbidade previstos no art. 11, da Lei nº 8.429/92, não sendo necessário o dolo específico (Cf. AgRg no

AREsp 778907 / MT, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, j. 05.05.2016, DJe 25.05.2016)

 

No que se refere à condenação por ato de improbidade administrativa por servidores que

percebem a regular remuneração, sem a necessária contrapartida (jornada de trabalho), há precedente do

Superior Tribunal de Justiça - STJ:

 

“IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. "FUNCIONÁRIO FANTASMA".

PERCEPÇÃO DE VENCIMENTOS SEM A CORRESPONDENTE

CONTRAPRESTAÇÃO LABORAL. AUTONOMIA DE CONDUTA.

DESNECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO

COM OUTRO AGENTE PÚBLICO. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. DOLO

CONFIGURADO. INTELIGÊNCIA DO ART. 9º, CAPUT, DA LEI Nº

8.429/92. SANÇÕES APLICADAS DE FORMA PROPORCIONAL E

RAZOÁVEL. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. Ressai claro dos

autos que havia um vínculo jurídico-funcional entre a Administração e a

ré, que, na condição de Secretária Parlamentar da Câmara dos

Deputados, percebeu remuneração por quase dez anos, sem a necessária

contrapartida laboral. 2. A pessoa vinculada à Administração que,

confessadamente, aufere remuneração dos cofres públicos sem haver

trabalhado pratica ato de improbidade autônomo, que não reclama a

simultânea responsabilização de eventual partícipe. Patenteada sua

condição de agente pública, está a recorrente legitimada para figurar no

polo passivo da ação de improbidade, de per se, sem a necessidade de

formação de litisconsórcio passivo com outro também agente público. 3.

Acrescente-se que, ante o arcabouço fático delineado no acórdão, restou

claramente evidenciado o dolo na conduta da recorrente, ensejadora de

inegável enriquecimento ilícito. Tal comportamento, sem dúvida, revela-se

suficiente para caracterizar o ato de improbidade capitulado no art. 9º,

caput, da Lei nº 8.429/92. 4. Tendo em mira a diretriz dosimétrica

estampada no parágrafo único do art. 12 da LIA ("[...] o juiz levará em

conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial

obtido pelo agente"), as razões do recurso especial não lograram

demonstrar que, na espécie, as sanções aplicadas devessem ser decotadas à

conta de suposta falta de proporcionalidade ou razoabilidade. 5. Recurso

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especial desprovido.” (In.REsp 1434985/DF, Rel. Min. NAPOLEÃO

NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Min. SÉRGIO KUKINA, Primeira

Turma, j. 06/05/2014, DJe 28/08/2014) (grifos acrescidos).

 

Assim, considerando a extensão do dano, a promovida deve suportar as sanções previstas

no art. 12, inciso I, da Lei de Improbidade Administrativa.

 

II. ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES.

 

Ao demandado ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES é imputada a

indicação de JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO para a assunção da função gratificada na Assembleia

Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte.

 

Conforme a inicial, ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES era funcionário

voluntário no gabinete do parlamentar do seu sobrinho RICARDO MOTTA, então Deputado Estadual, e,

apesar de exercer, de maneira informal, a função de chefia de gabinete, por mais de 15 (quinze) anos,

jamais teve sua situação funcional formalizada pela instituição.

 

Registre-se que independem de prova, nos termos art. 374, inciso II, do Código de

Processo Civil: (i)o fato de o demandado ter indicado JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO para o

exercício da função gratificada; e (ii)o fato de ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES

desempenhar, de maneira informal, a função de chefia no gabinete do então Deputado Estadual

RICARDO MOTTA, porquanto confessados pela parte demandada em contestação e em alegações finais:

 

“ (…) O Demandado, movido por espírito público de prestar serviços à

sociedade, e de acompanhar os trabalhos desempenhados pelo Gabinete do

Deputado Estadual Ricardo Motta, atuava voluntariamente e sem qualquer

remuneração na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, não

obtendo nenhum benefício ou vantagem ilícita como reflexo dessa atividade,

isto é, sem qualquer irregularidade que apresentasse prejuízo ao patrimônio

público.

 

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No caso em análise, o agir do Demandado se limitou a mera sugestão, visto

não ser dotado de qualquer poder para nomeação ou exoneração, nem

mesmo dever de fiscalização, justamente por não exercer qualquer cargo

oficial ou receber qualquer remuneração pública para o desempenho desta

(…)” (ID 27538695 – p. 07/08).responsabilidade.

 

Sendo assim, considerando que ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES foi

responsável pela indicação de JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO à função pública, cumpre perquirir

acerca da possibilidade de sua condenação por ato de improbidade administrativa sob dois aspectos: a)

enquanto agente sem situação funcional regularizada; e b) se a mera indicação da promovida ao cargo, é

suficiente a configurar ato de improbidade administrativa, uma vez que a nomeação da servidora foi ato

de responsabilidade do Presidente daquele órgão.

 

A situação de ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES enquadra-se no que a

doutrina denomina de “agente de fato”. Sobre o assunto, leciona CARVALHO FILHO:

 

“A doutrina refere-se a um grupo de agentes que, mesmo sem ter uma

investidura normal e regular, executam uma função pública em nome do

Estado. São os denominados agentes de fato, nomenclatura empregada para

distingui-los dos agentes de direito. O ponto marcante dos agentes de fato é

que o desempenho da função pública deriva de situação excepcional, sem

prévio enquadramento legal, mas suscetível de ocorrência no âmbito da

Administração, dada a grande variedade de casos que se originam da

dinâmica social.” (In. Manual de Direito Administrativo, 2018, p. 711/712).

 

Os agentes de fato podem ser enquadrados em duas categorias, sendo (i) agentes

necessários, quando praticam atos e executam atividades excepcionalmente, em colaboração com o Poder

Público, como, por exemplo, em situações emergenciais; e (ii) agentes putativos, que desempenham uma

atividade pública com presunção de legitimidade, embora sem investidura conforme os ditames legais.

 

Na hipótese vertente, há de se concluir que ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE

MEIRELLES atuava como agente putativo, uma vez que figurou na Assembleia Legislativa por mais de

15 (quinze) anos, de forma que não se vislumbra situação emergencial no caso concreto.

 

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Para os efeitos da Lei de Improbidade Administrativa, reputa-se agente público “todo

aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,

contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas

entidades mencionadas no artigo anterior” (art. 2º). Além disso, o art. 3º, do mesmo diploma legal,

estabelece que “as disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo

agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob

”.qualquer forma direta ou indireta

 

Neste sentido, tanto os agentes públicos de direito quanto os agentes públicos de fato

podem ser sujeitos ativos da improbidade. Destacam DANIEL AMORIM e RAFAEL CARVALHO:

 

“Ao utilizar a expressão agente público, o art. 2.º da Lei 8.429/1992

pretendeu abarcar toda e qualquer espécie de agente. Além dos agentes

públicos de direito, que possuem vínculos formais com a Administração, a

norma abrange, também, os denominados agentes de fato, que desempenham

” ( Manual deatividades públicas sem vínculo formal com o Estado. In.

Improbidade Administrativa, 2018, p. 68).

 

Entendimento diverso implicaria, inclusive, em acobertar a prática de atos ímprobos por

agente público de fato, uma vez que não seria sancionado como aqueles regularmente investidos na

função pública.

 

Desse modo, concluída a análise quanto à possibilidade de ANTÔNIO CARLOS

DANTAS MEIRELLES, na condição de agente público de fato, ser sujeito ativo de ato de improbidade

administrativa, passa-se à análise da conduta que lhe foi imputada.

 

Conforme destacado, o demandado afirma ter sido o responsável pela indicação do

nome de JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO para a função gratificada assumida, bem como sua

manutenção no cargo sem o devido cumprimento da jornada de trabalho.

 

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Como tese de defesa, o demandado afirma que sua conduta limitou-se à mera indicação

do nome da promovida, de forma que não foi responsável pela sua nomeação, a qual, competiu ao

Presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o que se verifica, de fato, nos termos da

Portaria nº 467/2011-GPAL (ID 9489398 – p. 19).

 

Nesse contexto, não se infere conduta dolosa, ainda que genérica, na indicação do nome

da demandada para ocupar a função pública, porquanto inexistem, nos autos, elementos que indiquem

interesse de ANTÔNIO CARLOS DANTAS MEIRELLES em beneficiá-la.

 

Além disso, não é possível afirmar que o demandado tinha prévia ciência do

comportamento a ser adotado por JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO enquanto integrante no quadro de

pessoal do órgão, tendo em vista, ainda, que a demandada sempre se mostrou pessoa responsável e de boa

índole, conforme depoimentos testemunhais de TÁLIA MAIA LOPES e de MARINA TEODORO DA

TRINDADE.

 

No entanto, é imperioso reconhecer que o ANTÔNIO CARLOS DANTAS

MEIRELLES tinha ciência da ausência de cumprimento da carga horária, de forma integral, por JÉSSICA

MESQUITA DE ARAÚJO, uma vez que, na prática, era o seu superior hierárquico, conforme revela o

depoimento da demandada no curso do Procedimento Investigatório Criminal nº 116.2016.000309.

 

Aliás, em contestação, a demandada afirma que a participação em programa de

mobilidade estudantil foi devidamente comunicada ao gabinete do parlamentar, tendo recebido

autorização verbal para cumprir o programa. Outrossim, em depoimento prestado pelo demandado no

curso da investigação criminal, o próprio ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES confirmou

ter ciência do afastamento da promovida para a participação em intercâmbio e que naquele período não

foi realizada nenhuma atividade.

 

Desse modo, ao permitir que a promovida deixasse de cumprir a jornada de trabalho

para a qual era remunerada, o promovido incorreu na figura de improbidade administrativa prevista no art.

10, inciso XII, da Lei nº 8.429/92:

 

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao

erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda

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patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens

ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

(…)

 

XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça

ilicitamente;”

 

Consigne-seque o art. 10, da Lei de Improbidade Administrativa, sanciona também a

conduta culposa, na modalidade de "culpa grave". Considerando o contexto fático, é possível apontar ao

menos culpa grave do promovido - senão dolo genérico ou específico - ao permitir a manutenção da

servidora “fantasma” no órgão, sem adoção das providências administrativas cabíveis.

 

Assim, considerando a extensão do dano, o demandado também deve suportar as sanções

previstas no art. 12, inciso II, da Lei de Improbidade Administrativa.

 

III. PRETENSÃO DE AFASTAMENTO DE ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE

MEIRELLES.

 

Na exordial, o promovente requereu, expressamente, o afastamento de ANTÔNIO

CARLOS DANTAS DE MEIRELLES dos quadros da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande

do Norte.

 

O art. 12, inciso II, da Lei de Improbidade Administrativa prevê a perda da função

pública como uma das sanções passíveis de aplicação nas hipóteses previstas no art. 10, do mesmo

diploma legal.

 

Importante salientar que “a sanção da perda do cargo público prevista entre aquelas do

art. 12 da Lei n. 8.429/1992 não está relacionada ao cargo ocupado pelo agente ímprobo ao tempo do

trânsito em julgado da sentença condenatória, mas sim àquele (cargo) que serviu de instrumento para a

" (Cf. AgRg no AREsp 369.518/SP, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, Primeiraprática da conduta ilícita

Turma, DJe 28/03/2017 – grifos acrescidos).

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Neste sentido, ao tempo da conduta ilícita, ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES exercia a função de chefia, de maneira informal, no gabinete do então Deputado Estadual RICARDO MOTTA, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte.

Ademais, é fato público e notório (art. 374, inciso I, do CPC) que RICARDO JOSÉ MEIRELLES DA MOTTA foi Deputado Estadual do Rio Grande do Norte no período de 01 de fevereiro de 1990 a 31 de janeiro de 2019, não mais integrando, portanto, os quadros da Assembleia Legislativa deste Estado.

É de se reconhecer, em razão disso, a ocorrência de fato extraprocessual que traz como consequência o inequívoco desinteresse no processamento desse pedido, impondo-se, outrossim, a conclusão pela perda superveniente do objeto.

Dessa maneira, conclui-se que a função pública anteriormente ocupada por ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES não mais subsiste, devendo ser afastada, portanto, a aplicação da sanção de perda da função pública.

IV - D I S P O S I T I V O

 

POSTO ISSO, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO por sentença, para que

produza seus jurídicos e legais efeitos, PARCIALMENTE PROCEDENTE, os pedidos formulados na

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIZAÇÃO PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA nº 0807999-78.2017.8.20.5001, movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE em face de JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO e de

ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES, regularmente qualificados, para:

 

(a) CONDENAR os promovidos, de forma solidária, JÉSSICA MESQUITA DE

ARAÚJO e de ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES ao ressarcimento ao

erário no valor de R$ 152.229,89 (cento e cinquenta e dois mil, duzentos e vinte e nove

reais e oitenta e nove centavos), equivalente ao prejuízo suportado pelo erário estadual

em decorrência do pagamento da remuneração da promovida, sem a correspondente

contraprestação;

 

DETERMINAR a suspensão dos direitos políticos de JÉSSICA MESQUITA DE(b)

ARAÚJO e de ANTÔNIO CARLOS DANTAS DE MEIRELLES, pelos prazos de 08

(oito) anos e 05 (cinco) anos, respectivamente; e

 

(c) DETERMINAR a proibição de JÉSSICA MESQUITA DE ARAÚJO e ANTÔNIO

CARLOS DANTAS DE MEIRELLES contratarem com o Poder Público ou receberem

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por

intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelos prazos de 10 (dez)

anos e 05 (cinco) anos, respectivamente.

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O valor da condenação deverá ser atualizado pelo INPC e acrescido de juros de mora,

no mesmo percentual que remunera a caderneta da poupança, ambos incidentes desde a data do efetivo

prejuízo.

 

Extingo o feito com resolução de mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do Código de

Processo Civil.

 

Os promovidos arcarão com o pagamento das custas processuais.

 

Sem condenação em honorários advocatícios.

 

Na hipótese de interposição de recurso, intime-se a parte recorrida para apresentar

contrarrazões no prazo legal e, em seguida, independentemente de juízo de admissibilidade (art. 1.010, §

3 , do Código de Processo Civil), remetam-se os autos ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.o

 

Oficie-se ao Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte,

com cópia desta decisão.

 

 

Após o trânsito em julgado, nos termos da Resolução nº 44/2007, do CNJ, incluam-se os

dados da condenação no Cadastro Nacional de Condenados por Ato de Improbidade Administrativa.

 

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

 

Natal/RN, data registrada no sistema.

 

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Page 23: PROCESSO: 0807999-78.2017.8.20.5001 - AÇÃO CIVIL DE

FRANCISCO SERÁPHICO DA NÓBREGA COUTINHO

Juiz de Direito

(documento assinado digitalmente na forma da Lei n°11.419/06)

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