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PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NA BACIA DO RIBEIRÃO PIRANGUÇÚ NO MUNICÍPIO DE ITAJUBÁ: UMA ANÁLISE AMBIENTAL
Maria Soledade Villas Boas. Centro Universitário de Itajubá/ Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá. e-
mail: [email protected] Helena Mendonça Faria. Centro Universitário de Itajubá/ Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá. e-mail:
Resumo:
O objetivo deste trabalho é caracterizar o tipo de desenvolvimento urbano que vem
ocorrendo na área da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Piranguçú, situada no município de Itajubá, no
sul de Minas gerais. Esta caracterização tem como finalidade verificar os possíveis impactos e a
mudança da qualidade de vida ocorrida para a população envolvida com o processo de urbanização
e industrialização recentemente ocorrido.
1. INTRODUÇÃO
O processo de expansão urbana é um tema que necessita de maior exploração e sua
avaliação é muito importante para estudos de referência e compreensão dos fatores correlacionantes
ao crescimento urbano. Fica implícito nesse fenômeno que mesmo sendo planejado, o crescimento
urbano se faz de modo dinâmico à medida que depois de implantadas as estruturas, novas
características podem se juntar de maneira desordenada, fundamentadas nas empresas e comércio aí
existentes. Há uma modificação também de aspectos sociais e a população local poderá ser
agregada e/ou segregada no meio físico, a partir do núcleo de trabalho e de renda existentes na área.
1.1- A BACIA DO RIBEIRÃO PIRANGUÇÚ
Os bairros que fazem parte da bacia do Ribeirão Piranguçú no município de Itajubá-MG
eram historicamente de natureza agropecuária, formados por fazendeiros da região e seus
agregados, constituindo uma população basicamente de agricultores e pecuaristas. Um estudo mais
detalhado da área mostra a fundação do bairro Piedade, em 1914, com o culto à imagem de Nossa
Senhora da Piedade, trazendo para o bairro e para a cidade fluxo de atração turística religiosa no
mês de agosto quando ocorre o dia da festa em homenagem a santa. O bairro do Rebourgeon foi
criado na década de 80 pelo construtor Benedito Pereira dos Santos como um loteamento planejado.
Os demais bairros tiveram crescimento lento a partir de uma população de origem rural. Estas
informações são provenientes de relatos dos moradores locais.
A partir da década de 80 vem se notando um crescimento urbano na área estudada, que tem
se acelerado nos últimos cinco anos. A implantação de indústrias de grande porte como a Mahle, a
Areva, a Helibrás e outras menores além de uma malha viária que liga Itajubá a PIRANGUÇÚ-MG,
trouxeram consigo uma aceleração do aumento populacional e de pontos comerciais, especialmente
os ligados ao comércio de automóveis.
A bacia ainda é situada em trecho próximo à BR 459 que liga Poços de Caldas-MG à
Lorena-SP, interligando as rodovias Federais Presidente Dutra e Fernão Dias.
A área ocupada faz parte da Bacia do Rio Piranguçú, que teve instalado, ao longo das três
últimas décadas, na maior parte de sua planície de inundação, indústrias e loteamentos adjacentes.
Existe uma ocupação de parte das encostas, sendo que até os topos de morros são também
ocupados.
Figura 1: Imagem de Satélite da Bacia do Ribeirão Piranguçu Fonte: www.googleearth.com.br. Acessado em 22 de maio de 2009.
Figura 2: Parte da Bacia Hidrográfica do rio Piranguçú estudada neste trabalho.
Fonte: IBGE (1991)
Figura3: Vista da Bacia do Ribeirão Piranguçú. Foto: Vilas Boas, M. S, outubro de 2008.
Existem domicílios que ocupam terrenos às margens do rio, fora do padrão estabelecido pelo
Plano Diretor do Município. Atualmente boa parte da planície de inundação é ainda utilizada pela
atividade agropecuária, que aos poucos vai cedendo terreno para a urbanização.
Figura 4: Trecho do Distrito Industrial I, às margens da BR 459. Foto; Vilas Boas, M. S.
abril de 2008.
1.2- ANÁLISE AMIENTAL
Existem inúmeras conceituações quando se discute análise ambiental. Na tabela 1 abaixo são
apresentados alguns destes conceitos importantes, tais como: fator ambiental, área de influência,
etc.: A Tabela 1 mostra uma revisão de conceitos Importantes para a análise ambiental:
Tabela 1: Conceitos Importantes para a Análise Ambiental
Conceito Definição Autor
Alteração ambiental Mudanças ocorridas de forma espontânea ou induzida, física ou funcional, de conjunto de fatores ambientais devido a pelo menos uma intervenção ambiental.
TAUK, 1995
Área de influência (AI) Local que poderá sofrer impactos diretos ou indiretos decorrentes de AT existente ou prevista.
TAUK
Áreas de influência direta (AID)
Áreas aptas a sofrer impactos diretos de AT que venham a ocorrer.
TAUK
Área de influência indireta (AII)
Locais que se limitam com áreas de influência direta, aptas a sofrer impactos de fenômenos secundários.
TAUK
Áreas de intervenção (AIT) Locais onde serão implantadas permanente ou temporariamente AT previstas.
TAUK
Atividades transformadoras (AT)
Processo, antrópico ou não, que venha a alterar um ecossistema, e seus fatores ambientais e/ou relações ambientais e ciclos ecológicos.
TAUK, 1995
Cenários ambientais Representação de um espaço biogeofísico com os elementos que o constituem e da dinâmica que apresentam com fim de conhecimento e decisões.
TAUK, 1995
Cenário alvo Depuração do cenário tendencial. TAUK, 1995
Cenário atual Quadro ambiental diagnosticado na área de estudo ambiental compreendendo suas estruturas orgânica e funcional.
TAUK, 1995
Cenário de sucessão Prognóstico de cenário atual considerando além das transformações que a região está propensa às alterações ambientais sucedentes de projetos vistos e aprovados para a região.
TAUK, 1995
Cenário tendencial Prognóstico do cenário atual considerando as mudanças em que a região está propensa.
TAUK, 1995
Estudos de impactos ambientais (EIA)
Pressupõe critérios de avaliação, mais simples se houver Planejamento Ambiental; macro zoneamento ou planos diretores;
FRANCO, 2001
Fator ambiental (FA) Sistema que sobrevive diante das relações que mantém com outros fatores.
TAUK, 1995
Fator de ameaça Qualquer unidade, instrumento ou processo relacionado à ação transformadora, que possa causar impacto negativo devido ao seu potencial de impactos negativos.
TAUK, 1995
Fator de oportunidade Qualquer unidade, instrumento ou processo, que cause benefícios ambientais devido ao seu potencial para impactos positivos.
TAUK, 1995
Fenômenos emergentes Mudança de comportamento e funcionalidade em um ou mais F.A., causada por pelo menos uma alteração ambiental.
TAUK, 1995
Impactos ambientais (IA) Processos que perturbam, descaracterizam, destroem características, condições e processos, no ambiente natural.
FRANCO, 2001
Intervenção ambiental Ação ou decisão que introduz, concreta ou virtualmente,
permanente ou temporariamente, pelo menos um fator ambiental em um lugar, que venha a gerar ou induzir a transformação de fatores locais.
TAUK, 1995
Planejamento Empreendimento, projeto, sonho e intenção. FRANCO, 2001
Planejamento ambiental Planejamento territorial estratégico, econômico ecológico, sócio-cultural, agrícola e paisagístico;
FRANCO, 2001
Potencialidade ambiental Possibilidade ambiental de se beneficiar de atividades ocorrentes favorecendo a qualidade ambiental resultante da região.
TAUK, 1995
Qualidade ambiental Efeito resultante da dinâmica de adaptação e mecanismos de auto superação dos ecossistemas. Resulta da ação conjunta da necessidade e do acaso.
TAUK, 1995
Qualidade de vida Qualidade ambiental relacionada ao fator Homem. TAUK, 1995
1.3- PROCESSOS DE EXPANSÃO URBANA E MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS
A urbanização pode trazer melhorias para a qualidade de vida aos habitantes de uma região
(SANTOS, 1981), mas também ocasionar danos ambientais que refletem nesta mesma qualidade de
vida tais como: poluição atmosférica, do solo, do ar e da água (GUERRA e CUNHA, 2000).
De acordo com CHIQUITO (2006) a questão do crescimento urbano nas cidades de porte
médio tem sido negligenciada pelos estudiosos da geografia urbana e merece um maior
aprofundamento.
Segundo LIMA (1998) a expansão desordenada pode provocar problemas com a
acessibilidade intra-urbana da população. O autor fez dois tipos de levantamentos nas cidades de
São Carlos-SP e Araraquara-SP: um de separação espacial e outro em relação gravitacional.
Comprovando que o índice de acessibilidade intra-urbano nas cidades de estudo piorou com o
crescimento das duas cidades.
De acordo com BUENO e GUIDUCLI (2004) o espaço urbano tem mostrado uma tendência
de não socialização, nos aspectos de habitação e espacialidade geográfica. Existindo uma separação
social e espacial de acordo com o nível de renda e agrupamentos relativos.
A expansão urbana deve ser analisada em dois fatores primordiais: o espacial e o
populacional.
Esses dois aspectos podem ser caracterizados como fatores ambientais, pois ambos fazem
parte de um ecossistema formado pela fusão de suas particularidades. O processo de crescimento
urbano não pode ocorrer senão pela integração desses fatores que são partes integrantes do ambiente
e modificam e/ou são modificados pela ação transformadora de um dos componentes (LIMA, 1998)
Um estudo ambiental em uma área urbana em expansão pode envolver vários fatores que
são decorrentes das ações aí realizadas, como a instalação de indústrias, o crescimento populacional
e de infra-estrutura urbana, aterros e terraplanagens e mudanças na paisagem natural.
Cada ação pode gerar um determinado tipo de impacto, que poderá afetar a área direta ou
indiretamente, positiva ou negativamente, e poderá ser temporário ou permanente, atingindo o
próprio local ou o seu entorno.
Um trabalho de análise de crescimento econômico deverá analisar os itens de crescimento
populacional, infra-estrutura urbana, os vários tipos de impactos ambientais sofridos no local e
entorno. A acessibilidade intra-urbana e intermunicipal da população envolvida, os tipos de
migração ocorrentes na região e os projetos ambientais desenvolvidos pelas indústrias e instituições
presentes na mesma (Tauk, 1995).
2- MATERIAL E MÉTODOS
O estudo na bacia do Piranguçú foi caracterizado por observação da paisagem e coleta de
fotografias antigas e atualizadas da região e cartas geográficas da área. Obteve-se uma percepção do
crescimento da área através dos estudos realizados, principalmente por comparação de dados e de
imagens obtidas via internete e de fotografias do local. Foram também realizadas visitas a campo e
confecção de material fotográfico.
3- RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1- O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NA BACIA DO PIRANGUÇÚ:
TRANSFORMAÇÕES E IMPACTOS AMBIENTAIS
A avaliação realizada aponta para uma ocupação intensa a partir dos anos 70 e mais
acentuada a partir do início deste século. A acelerada expansão, no entanto tem mostrado fatores
positivos e negativos tanto no ambiente físico como no humano.
Figura 5: Local onde atualmente é o Distrito Industrial de Itajubá, chamado na época de
Campo de Aviação. Fonte: www.conexão Itajubá.
Figura 6: Pista de Pouso do Aero Clube de Itajubá onde atualmente se encontra o Distrito
Industrial de Itajubá. Fonte: www.conexão Itajubá. :
Figura 7: Vista atual do Distrito Industrial I. Foto: Vilas Boas, outubro de 2008.
Figura 8: Vista do Atual distrito industrial I . Foto: Vilas Boas, outubro de 2008.
Os benefícios decorrentes da implantação de indústrias poderão ser notados na melhoria de
qualidade de vida da população residente, e no aumento da migração permanente e/ou pendular.
No entanto a infra-estrutura urbana necessária à comodidade populacional não seguiu o
mesmo ritmo da urbanização. Não possuindo o principal núcleo habitacional da bacia, um
supermercado, uma farmácia, padaria e outros pontos comerciais que possam atender a população,
que precisa se deslocar para outros pontos da cidade em busca desses equipamentos e serviços
urbanos.
No bairro Santos Dumont onde se concentra a maior quantidade de indústrias e o maior
índice de crescimento pode-se constatar um aumento relativo do fator ruído, de poluição visual ao
longo da malha viária, mas o impacto mais forte é percebido na planície de inundação, onde para
serem implantadas a estrutura industrial e predial realiza-se aterros. Essa ação transformadora do
ambiente é irreversível e poderá afetar principalmente o curso do Ribeirão e ocasionar a
transferência das cheias para a margem oposta, onde existem residências. Mais recentemente foi
feito um aterro ao longo da margem direita do leito do rio com tendências a causar assoreamento do
canal, o que aumentará a probabilidade de inundações cada vez maiores tanto na região como
também nas margens do rio Sapucaí, onde o ribeirão deságua a poucos metros do local aterrado.
È importante lembrar também que as alterações sofridas durante o processo de urbanização
na área estudada promoveram a formação de ilhas de calor, pois cada edificação instalada provoca
uma mudança do albedo, resultando em uma alteração do microclima local. Pode se notar
modificações tanto na temperatura quanto no regime pluvial.
Figura 9: Vista da Ponte sobre o Ribeirão Piranguçu na BR 459, no Distrito Industrial de
Itajubá-MG.
Figura 10: Vista de parte do Distrito Industrial de Itajubá
Figura 11: Aterro às margens do Ribeirão Piranguçú indústrias instaladas na bacia
hidrográfica do Pirangucú, área aterrada para instalação de indústria. Foto: Vilas Boas, M. S. Abril
de 2008.
Entende-se por aglomeração urbana o espaço urbano distinto por uma determinada atividade
econômica. Este será chamado fragmentado quando dividido em espaços diferenciados. A bacia do
Ribeirão Piranguçú é um exemplo de aglomeração urbana fragmentada, cujo desenvolvimento
ocorre em cada núcleo de maneira diferenciada. Entretanto a concentração industrial promove o
deslocamento pendular para a região, tanto de moradores internos como de cidades circunvizinhas.
As indústrias disponibilizam transportes para seus funcionários, na circulação intra-urbana e
intermunicipal. Esta movimentação pendular promove a integração de todos os núcleos
populacionais com os demais núcleos e também com a sede do município de Itajubá e de
aglomerações externas, principalmente com relação às atividades de trabalho.
4- CONCLUSÕES
Em um ambiente onde a expansão urbana já é uma realidade e cujos impactos já podem ser
detectados as ações devem ser voltadas à priorização de monitoramento. A área em estudo possui
ampla potencialidade de crescimento espontâneo e seu monitoramento deve ser cuidadosamente
estruturado para que os impactos negativos ora verificados possam ser minimizados e os positivos
serem valorizados. A verificação de novos modelos de atuação no ambiente para que sejam
atenuados os riscos a que estejam sujeitos o local em análise e seu entorno devem ser efetuados.
Estes novos modelos deverão integrar o planejamento e a gestão urbana.
Diante das discussões em questão sugerem-se para a área de estudo, a bacia do Rio
Piranguçú no município de Itajubá, as seguintes ações: a criação de áreas verdes; a recuperação da
mata ciliar nas margens do ribeira, o estudo prévio de impactos e implantação de pontos de
comércio voltados à população, para que a mesma não tenha que se deslocar para o centro da cidade
em busca de materiais de necessidade básica para o seu sustento, diminuindo os gastos com
transportes e melhorando a qualidade de vida nos bairros.
De maneira geral, sugere-se que ocorra por parte do governo municipal e das indústrias
locais, incentivo no sentido de uma maior valorização dos espaços cênicos como um bem a ser
preservado, para que haja real aproveitamento do patrimônio natural existente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
BUENO, Edir de Paiva e GUIDUCLI, Odeibler S. A Geografia e o estudo da segregação sócio-
espacial Revista Geografia, Rio Claro, v. 29, nº. 29, p. 71-85, jan./abril. 2004.
CHIQUITO, Elisângela de Almeida. Expansão urbana e meio ambiente: o caso de Franca–SP.
Escola de engenharia de São Carlos/USP, 2006. Disponível em www.teses.usp.br/teses. acessível
em 29/06/2008
FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento ambiental para uma cidade sustentável. 2ª
edição, São Paulo, editora Annablume, FAPESP, 2001.
LIMA, Renato da Silva. Expansão urbana e acessibilidade: o caso das cidades médias brasileiras.
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), 1998. Disponível em
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18137/tde-25062002-155026/. Acessível em 29/06/2008
TAUK, S. M. (ORG.). Análise Ambiental: Uma visão multidisciplinar. 2ª ED.REV. e AMPL.. São
Paulo, Ed. da Universidade Estadual Paulista, 1995.