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CURSO DE DIREITO PROCESSO PENAL I PROFESSOR : RENÉ ALMEIDA PROCESSO PENAL I Conteúdo Programático 1. Direito Processual Penal 1.1. Conceito, evolução e finalidade 1.2. Características 1.3. Princípios e garantias 1.4. Fontes 2. Lei processual penal 2.1. Interpretação e aplicação 2.2. Lei processual no tempo 2.3. Lei processual no espaço 3. Sistemas Processuais 3.1. Sistema Inquisitivo 3.2. Sistema Acusatório 3.3. Sistema Misto 4. Procedimentos de investigação preliminar 5. Inquérito Policial 5.1. Conceito e finalidade 5.2. Natureza jurídica 5.3. Características 5.4. Valor probante ou probatório 5.5. Procedimentos e prazos 5.6. Encerramento, arquivamento e desarquivamento

Processo Penal - Estácio

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CURSO DE DIREITO

PROCESSO PENAL I

PROFESSOR : RENÉ ALMEIDA

PROCESSO PENAL I

Conteúdo Programático

1. Direito Processual Penal

1.1. Conceito, evolução e finalidade

1.2. Características

1.3. Princípios e garantias

1.4. Fontes

2. Lei processual penal

2.1. Interpretação e aplicação

2.2. Lei processual no tempo

2.3. Lei processual no espaço

3. Sistemas Processuais

3.1. Sistema Inquisitivo

3.2. Sistema Acusatório

3.3. Sistema Misto

4. Procedimentos de investigação preliminar

5. Inquérito Policial

5.1. Conceito e finalidade

5.2. Natureza jurídica

5.3. Características

5.4. Valor probante ou probatório

5.5. Procedimentos e prazos

5.6. Encerramento, arquivamento e desarquivamento

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6. Ação Penal

6.1. Conceito, características, classificação, condições e pressupostos

6.2. Princípios

6.3. A ação pública incondicionada

6.4. A ação pública condicionada

6.5. A ação privada

7. Denúncia e queixa

7.1. Conceito, finalidade, características e prazos

7.2. Recebimento, aditamento e rejeição

8. Ação civil “ex delicto”

9. Jurisdição e competência

10. Questões e processos incidentes

11. Sujeitos processuais

REFERÊNCIAS BÁSICAS

● NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3 ed. São Paulo: RT, 2007.

● OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 10 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008.

● TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. Vols. 1 e 2. São Paulo: Saraiva, 2007.

● ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Princípios Fundamentais do Processo Penal. São Paulo: RT, 1973.

● BRASIL, Código de processo penal. 48.ed.São Paulo: Saraiva. 2008.

● JARDIM, Afrânio Silva. Bases Constitucionais para um Processo Penal Democrático in Direito Processual Penal. 7 ed, Rio de Janeiro, Forense, 1999.

● CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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● CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. São Paulo, Edicamp, 2001.

● MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas.

● MOREIRA, Rômulo de Andrade. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2003._________. Direito Processual Penal. Salvador: Podivm, 2007.

● RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11 ed. Rio de Janeiro, Lumen Júris, 2006.

● TAVORA, Nestor & ALENCAR, Rosmar A.R.C de. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Podivm, 2009.

CONCEITO

Direito Processual Penal é o conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das lides penais, por meio da aplicação do Direito Penal objetivo.

Na definição de José Frederico Marques, “é o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares” (Elementos de direito processual penal, 2. ed., Forense, v. 1, p.20).

CONTEUDO DO PROCESSO PENAL

A finalidade do processo é propiciar a adequada solução jurisdicional do conflito de interesses entre o Estado-Administração e o infrator, através de uma sequência de atos que compreendam a formulação da acusação, a produção das provas, o exercício da defesa e o julgamento da lide.

O processo compreende:

● Instauração de uma relação jurídica processual triangularizada pelo juiz (sujeito imparcial a quem compete a solução da lide) e pelas partes (acusação no polo ativo e defesa no polo passivo)

● A realização de uma sequência ordenada de atos, chamadas de procedimentos, art. 394 do CPP a qual abrange, necessariamente, a formulação de uma acusação (pública ou privada) o exercício do direito de defesa, a produção das provas requeridas pelos polos acusatórios e defensivo e a decisão final.

CARACTERÍSTICAS

a) Autonomia: o direito processual não é submisso ao direito material, isto porque tem princípios e regras próprias.

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b) Instrumentalidade: é o meio para fazer atuar o direito material penal, consubstanciado o caminho a ser seguido para a obtenção de um provimento jurisdicional válido.

c) Normatividade: é uma disciplina normativa, de caráter dogmático, inclusive com codificação própria (Código de Processo Penal: Dec-Lei nº 3.689/41)

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS E CONSTITUCIONAIS

● Princípio da Verdade Real: no processo penal, devem ser realizadas as diligências necessárias e adotadas todas as providências cabíveis para tentar descobrir como os fatos realmente se passaram, de forma que o jus puniendi seja exercido com efetividade em relação àquele que praticou ou concorreu para a infração penal. O juiz tem o dever de investigar como os fatos se passaram na realidade, não se conformando com a verdade formal constante dos autos. (art. 156,II do CPP, Lei nº 11.690/2008). Art. 5.º, LXIII, da CF e do art. 186 do CPP.

● Princípio ne procedat judex ex officio ou da iniciativa das partes: O juiz não pode dar início ao processo sem a aprovação da parte. Cabe ao Ministério Público promover privativamente a ação penal pública (CF, 129,I) e ao ofendido, a ação penal privada, inclusive a subsidiária da pública (CPP, arts. 29 e 30; CF, art. 5º, LXI). Neste contexto, os artigos 26 e 531, CPP, não foram recepcionados pela Constituição de 1988, não se admitindo mais que nas contravenções penais a ação penal tenha início por portaria baixada pelo delegado ou magistrado (chamava de judicialiforme).

● Princípio do devido processo legal: Consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a lei. O art. 5º, inc. LIV da CF assegura que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.

● Vedação à utilização de provas ilícitas: São aquelas que afrontam direta ou indiretamente garantias tuteladas pela Constituição Federal, não poderão, em regra, ser utilizadas no processo criminal como fator de convicção do juiz. Constituem uma limitação de natureza constitucional (art. 5º., LVI) ao sistema do livre convencimento estabelecido no ar. 155 do CPP, segundo o qual o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial. Ver art. 157 do CPP.

● Princípio da presunção de inocência ou de não culpabilidade ou estado de inocência: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (art. 5º, LVII, CF). O reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença condenatória transitada e julgado.

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● Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais: As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas (Art. 93,IX, da CF; art. 381 do CPP). É atributo constitucional-processual que possibilita às partes a impugnação das decisões tomadas no âmbito do Poder Judiciário, conferindo, ainda, à sociedade a garantia de que essas deliberações não resultam de posturas arbitrárias, mas sim de um julgamento imparcial, realizado de acordo com a lei.

● Princípio da publicidade: Previsto expressamente no art. 93, IX, 1ª parte, da CF e no art. 792, caput, do CPP, representa o dever que assiste ao Estado de atribuir transparência a seus atos, reforçando, com isso, as garantias da independência, imparcialidade e responsabilidade do juiz.

Na definição Julio Fabbrini Mirabete, “os direitos de assistência, pelo público em geral, dos atos processuais, a narração dos atos processuais e a reprodução de seus termos pelos meios de comunicação e a consulta dos autos e obtenção de cópias, extratos e certidões de quaisquer deles” (Código de Processo Penal, 11. ed. São Paulo: atlas, 2003. pg. 1841).

Essa garantia não é absoluta, exceções chamada publicidade restrita – CF, art. 5º., inciso X e inciso LX, no CPP, art. 201 § 6º e art. 485 § 2º, art. 793 § 1º. Legislação especial Lei 9.296/1996, art. 1º e mais recente Lei 12.015/2009, art. 234-B, do CP.

● Princípio da imparcialidade do juiz: Significa que o magistrado, situando-se no vértice da relação processual triangular entre ele, a acusação e a defesa, deve possuir capacidade objetiva para solucionar a demanda, vale dizer, julgar de forma absolutamente neutra, vinculando-se apenas às regras legais e ao resultado da análise das provas do processo. O juiz interessado deve ser afastado, e os permissivos legais para tanto se encontram no artigo 254 do CPP (hipóteses de suspeição) e no art.252 (hipótese de impedimentos). Reconhecida ex officio pelo juiz.

● Princípio da isonomia processual: As partes em juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratados de forma igualitária. É o desdobramento do principio da garantia constitucional assegurada pela CF, no art. 5º., caput, ao dispor que todas as pessoas serão iguais perante a lei em direitos e obrigações.

● Princípio do Contraditório: Trata-se do direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos atos e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se a respeito e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão jurisdicional. Art. 5º., LV, da CF, no CPP, art. 409 e art. 479.

● Princípio da ampla defesa: Implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor) (CF, art. 5º, LV), e o de prestar assistência

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jurídica integral e gratuita aos necessitados (CF, art. 5º, LXXIV), no CPP, após ouvir a acusação arts. 402, 403, e 534.

● Princípio do duplo grau de jurisdição: Assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, através do sistema recursal, onde as decisões do juízo a quo podem ser reapreciada pelos tribunais. Decorre da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário, incumbindo-se a Constituição, nos arts. 102, II e III, 105, II e III, 108, II, de outorga competência recursal aos diversos tribunais do pais. Sumula 347 STJ. “o conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão”.

● Principio do juiz natural: Consagra que ninguém será processado nem sentenciado se não pela autoridade competente, art. 5º., LIII, da CF. E a vedação constitucional à criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, inc. XXXVII da CF) Em outras palavras, tal principio impede a criação casuística de tribunais pós-fato, para apreciar um determinado caso.

● Princípio do promotor natural: Também deflui da regra constante do art. 5º, LIII, da CF, e significa que ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público, dotado de amplas garantias pessoais e institucionais, de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições previamente fixadas e conhecidas. O STF, em plenário vedou a designação casuística de promotor (HC 67.759/RJ, rel. Min. Celso de Mello).

● Princípio da legalidade ou obrigatoriedade: Os órgão aos quais é atribuída a persecução penal não possuem poderes discricionários para agir em determinadas situações segundo critérios de conveniência e oportunidade. A autoridade policial é obrigado a instaurar o inquérito policial sempre que tomar conhecimento da ocorrência de um crime. Também o Ministério Público esta obrigado ao ajuizamento da ação pública quando dispuser dos elementos necessários a essa finalidade.

● Princípio da oficialidade: os órgão incumbidos da persecução penal devem proceder ex officio, não devendo aguardar provocação de quem quer que seja, ressalvados os casos de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação do ofendido (CPP, arts. 5º, §§ 4º e 5º, e 24).

● Princípio do impulso oficial: uma vez instaurado o processo criminal, o juiz, de oficio, ao encerrar cada etapa procedimental, deve determinar que se passe à seguinte, sem que,para esse fim, seja necessário requerimento das partes. Justifica-se o principio na circunstância de que ao Estado compete o jus puniendi, que o seu interesse em exercê-lo independe de ser titular da ação penal o Ministério Público ou o particular.

● Princípio da oficialidade: Possui fundamento legal nos arts. 129, I, e 144, § 4º.,ambos da CF, bem como no art. 4º. Do CPP. Importa, no sistema vigente, em atribuir a determinados órgãos do Estado a apuração de fatos delituosos (persecução penal), bem como aplicação da pena que vier,

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eventualmente, a ser fixada. Assim, à autoridade policial e ao Ministério Público incumbida a atividade persecutória, enquanto aos órgãos do Poder Judiciário caberá a prestação jurisdicional penal, todos, como se vê, órgãos públicos.

● Princípio da indisponibilidade: A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial (CPP, art. 17) e o Ministério Público não pode desistir da ação penal pública, nem de recurso interposto (CPP, arts. 42 e 576). Exceção, mais uma vez, nos crimes de ação penal de iniciativa privada, em que se admite o perdão, a perempção e a desistência, dada a disponibilidade sobre o conteúdo do processo.

● Princípio da identidade física do juiz: Consiste na vinculação obrigatória do juiz aos processos cuja instrução tivesse iniciado, de sorte que não poderia o feito ser sentenciado por magistrado distinto. Esta consagrado em nível infraconstitucional pela Lei 11.719/2008 ao CPP, no art, 399, § 2º., estabelecendo que o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

● Princípio do in dubio pro reo ou favor rei: A dúvida sempre beneficia o acusado. Se houver duas interpretações, deve-se optar pela mais benéfica; na duvida, absolve-se o réu, por insuficiência de provas; só a defesa possui certos recursos, como os embargos infringentes; só cabe ação rescisória penal em favor do réu (revisão criminal). O juiz absolverá o réu quando não houver provas suficientes para a condenação, art. 386, VII do CPP.

Obs.: na decisão de pronúncia, adota-se o in dubio pro societate.

FONTES

Conceito: Entende-se a origem e a forma como se exteriorizam as normas, os preceitos e os princípios jurídicos que informam o processo penal e cuja observância é condição para seu desenvolvimento regular. Classificam-se em fontes materiais (são aquelas que criam o direito) e fontes formais (são aquelas que revelam o direito).

● Fontes materiais ou fontes substanciais ou fontes de produção: É o Estado. Compete privativamente à União legislar sobre direito processual (CF, art. 22, I). Lei complementar federal pode autorizar os Estados a legislar em processo penal, sobre questões especificas de interesse local (art. 22, parágrafo único, da CF). A União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas (art. 24, I, e §§ 1º e 2º, da CF). Sobre procedimento em matéria processual, a competência para legislar é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, conforme o inciso XI do art. 24 da CF.

● Fonte formal ou fonte de revelação de cognição ou de classificação: Traduzem as formas pelas quais o direito se exterioriza.

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▪ Fontes formais imediatas ou diretas: as leis (CF, legislação infraconstitucional–direito penitenciário/custas dos serviços forenses/processo do juizado de pequenas causas/procedimentos em matéria processual, os tratados, convenções e regras de direito internacional / § 3º do art. 5º da CF-EC nº 45/2004).

▪ Fontes formais mediatas ou indiretas: compreendem-se os princípios gerais do direito, a analogia, os costumes, a doutrina, e a jurisprudência.

A doutrina: consiste na opinião manifestada pelos operadores do direito ou estudiosos sobre determinado tema.

Os princípios gerais de direito: exteriorizam-se, muitas vezes, por meio dos brocardos jurídicos, “ o direito não socorre a quem dormem”; “ o réu não poderá ser obrigado à auto-incriminação”; “o juiz conhece o direito”, enfim apesar de não estarem escrita informam o sistema jurídico.

A analogia: consiste em estender a um caso não previsto aquilo que o legislador previu para outro caso,desde que em igualdade de condições. Sumula 696 do STF.

Os costumes: são regras de conduta reiterada, às quais se agrega uma consciência de obrigatoriedade.

A jurisprudência: é o entendimento consubstanciado em decisões judiciais reiteradas sobre um determinado assunto.

A depender dos princípios que venham a informá-lo, o processo penal materializa-se em inquisitivo, acusatório e misto. É o que Tourinho Filho enquadra como tipos de processo.

SISTEMA PROCESSUAIS PENAIS

● Sistema inquisitivo: Típico dos sistemas ditatoriais, é o que concentra em figura única (juiz) as funções de acusar, defender e julgar. Não há contraditório ou ampla defesa. O procedimento é escrito e sigiloso. O julgador inicia de oficio a persecução, colhe as provas e profere decisão. O réu, mero figurante, submeter-se ao processo numa condição de absoluta sujeição, sendo em verdade mais um objeto da persecução do que sujeito de direitos. (Adepto-Denilson Feitosa / art. 5º., II; art. 156; art. 311 do CPP)

● Sistema acusatório: É o adotado no Brasil. Tem por características fundamentais: separação entre as funções de acusar, defender e julgar, conferidas a personagens distintos. Os princípios do contraditório, da ampla defesa e da publicidade regem todo processo; o órgão julgador é dotado de imparcialidade; o sistema de apreciação das provas é o do livre convencimento motivado. É de se destacar que a existência do inquérito policial não descaracteriza o sistema acusatório, pois se trata de uma fase pré-processual, que visa dar embasamento à formação da opinio delicti pelo titular da ação penal, onde não há partes, contraditório ou ampla defesa.

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Contudo, essa regra de ser o inquérito puramente inquisitivo deve ser aplicada com cautela, máxime quando se esta diante de produção de provas que não seja passível de ratificação em juízo. (art. 93, IX; art. 5º., LIV; LV; LVII da CF).

● Sistema misto: Aquele que abrange duas fases processuais distintas: uma, a fase inquisitiva, destituída de contraditório, publicidade e ampla defesa, na qual são realizadas uma investigação preliminar e uma instrução preparatória, sob o comando do juiz; e outra, a fase do julgamento, em que são asseguradas ao acusado todas as garantias do processo acusatório, em especial a isonomia processual, o direito de manifestar-se a defesa depois da acusação e a publicidade.

LEI PROCESSUAL PENAL: EFICÁCIA NO TEMPO E NO ESPAÇO

Por eficácia da norma processual compreende-se a sua aptidão para produzir efeito. No âmbito do processo penal, essa eficácia não é absoluta, encontrando limitação em determinados fatores, entre os quais sobressaem:

● Fatores de ordem espacial: são aqueles que, sustentados em aspectos de territorialidade, impõe à norma a produção de seus efeitos em determinados lugares e não em outros.

● Fatores de ordem temporal: corresponde ao período de atividade ou extratividade (retroatividade e ultratividade) da lei, tornando-a apta a vigorar e produzir seus efeitos apenas em determinados intervalo de tempo.

LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

Adotou o art. 1º do CPP o principio da territorialidade como regra geral de solução de conflitos:

Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; (apreciado por tribunal estrangeiros)

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); (não são julgados pelo poder judiciário e sim Poder legislativo)

III - os processos da competência da Justiça Militar;(art.124 da CF, Justiça Militar para julgar crimes militar)

IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); (art. 109, IV, CF)

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V - os processos por crimes de imprensa.

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

O art. 2º do CPP dispõe que a lei processual penal será aplicada desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Incide o principio do efeito imediato ou da aplicação imediata da lei processual, significando que o tempo rege a forma como deve revestir-se o ato processual e os efeitos que dele podem decorrer. Logo, se no curso de um processo criminal sobrevier nova lei processual, os atos já realizados sob a égide da lei anterior manterão sua validade normal. Contudo, os atos posteriores serão praticados segundo os termos da nova normatização.

Ex. de retroatividade: preso por trafico em 2005, lei 6.368/1976, entrada da lei 11.343/2006.

Ex. de ultratividade: Lei nº 8.072/90 crime hediondos, progressão de regime só com um sexto da pena, lei nº 11.464/07, atribui nova redação com o mínimo de dois quinto da pena se o condenado for primário ou três quinto se reincidente. Súmula vinculante nº 26.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

Interpretação é a atividade que consiste em extrair da norma seu exato alcance real significado. Deve buscar a vontade da lei , não importando vontade de quem fez.

● Quanto ao sujeito que a elabora:

a) Autentica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração do texto. Pode ser contextual (feita pelo próprio texto interpretado) ou posterior (quando feita após a entrada em vigor da lei). Ex. art.327 do CP, conceito de funcionário público.

b) Doutrinário ou cientifico: feita pelos estudiosos do direito. Ex. Artigos cientifico - doutrinários.

c) Judicial ou jurisprudencial: feita pelos órgãos jurisdicional

● Quanto aos meios empregados:

a) Interpretação gramatical, literal ou sintática: considera a letra fria da lei, vale dizer, o sentido literal dos termos incorporados ao texto legal

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b) Interpretação teleológica ou lógica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico. Ex. art. 109 IX da CF, “crimes cometidos a bordo de navio”.

● Quanto ao resultado:

a) Interpretação declarativa: busca corresponder o sentido das palavras expressas no texto interpretado com a vontade da lei, evitando restringir-lhes ou aumentar-lhe o significado. Ex. art. 141, III, do CP, “varias pessoas”, possui o sentido de “mais de duas pessoas”.

b) Interpretação restritiva: Ocorre quando o intérprete conclui que a letra escrita da lei foi além de sua vontade, impondo-se, pois, restringir-lhe o alcance até que se consiga chegar ao sentido real. Ex. o art. 806, § 2º, do CPP determina que a falta de preparo importará em deserção do recurso interposto.

c) Interpretação extensiva: Ocorre quando o intérprete detecta que a letra escrita da lei encontra-se aquém de sua vontade, impondo-se, se assim, estender-lhe o alcance para que se possa chegar ao verdadeiro significado. Ex. art. 581 do CPP elenca as hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito.

d) Interpretação progressiva (adaptativa ou evolutiva): É aquela que, ao longo do tempo, adapta-se às mudanças político-sociais e às necessidades do presente. Ex. art. 68 do CPP. (Defensor Público na comarca)

INQUÉRITO POLICIAL

۷ Conceito;

۷ Natureza jurídica;

۷ Finalidade do Inquérito Policial;

۷ Destinação;

۷ Características;

۷ Formas de instauração do Inquérito Policial;

۷ Diligências Investigatórias;

۷ Indiciamento;

۷ Incomunicabilidade do indiciado preso;

۷ Prazo para conclusão do inquérito;

۷ Arquivamento do Inquérito Policial;

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۷ Recursos cabíveis.

CONCEITO

“Inquérito Policial é, pois, o conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para a apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”. (Fernando da Costa Tourinho Filho. Processo Penal, 17ª ed., p. 109).

“O inquérito policial é uma peça escrita, preparatória da ação penal, de natureza inquisitiva”. (Vicente Greco Filho. Manual de Processo Penal, 3ª ed., p. 81)

“Inquérito Policial é todo procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários à apuração da pratica de uma infração penal e de sua autoria. Trata-se de uma instrução provisória, preparativa, informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária, como auto de flagrante, exames periciais, etc”. (Julio Fabbrini Mirabete. Processo Penal, 7ª ed., p.78).

TERMO CIRCUNSTANCIADO

Esse termo circunstanciado nada mais é senão um boletim de ocorrência, simplificando-se toda a formalidade do inquérito policial. (art. 69 e 77, § 1º da lei), Lavrado pela autoridade policial (delegado de policia), no qual constará uma narração dos fatos, bem como a indicação da vitima, do autor do fato e das testemunham número máximo de três seguindo em anexo um boletim médico ou prova equivalente, quando necessário comprovar a materialidade delitiva (dispensando o laudo de exame de corpo de delito). Será encaminhado ao Juizado de Pequenas Causas Criminais. Não haverá prisão em flagrante, quando o autor assumir o compromisso de comparecer ao juizado, ficando proibida a lavratura do auto de prisão em flagrante, independente do pagamento de fiança. (art. 69, parágrafo único da lei).

Será cabível em relação às infrações de menor potencial ofensivo, que são:

● Contravenções (Decreto-Lei nº 3688/41);

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● Crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento especial. Ex. desacato.

POLÍCIA JUDICIÁRIA E POLÍCIA ADMINISTRATIVA

● Polícia Administrativa ou de Segurança

De caráter eminentemente preventivo, com o seu papel ostensivo de atuação, impedir a ocorrência de infrações. No exercício dessa função, atua a policia com discricionariedade e independente de autorização judicial. Ex: Policia Militar dos Estados.

● Polícia Judiciária (art.4º. Do CPP)

De atuação repressiva, age após a ocorrência de infração, visando angariar elementos para apuração da autoria e constatação da materialidade delitiva possibilitando assim a instauração de ação penal pelo MP (persecução penal) contra os respectivos autores. Ex: Policia Federal (art.144 § 1º, IV da CF) e Policia Civil (art. 144, § 4º).

NATUREZA JURÍDICA

Procedimento administrativo, portanto, não se trata de processo.

Explica Rogério Sanches:” também por se tratar de um procedimento administrativo é que se entende que eventuais vícios nesta fase não afetam a ação penal, gerando efeitos apenas no âmbito do inquérito policial.Desse modo se, por exemplo, na prisão em flagrante não se expedir nota de culpa, a consequência será o relaxamento da prisão com a liberação do preso, não evitando, contudo, que venha a ser processado mais à frente.”

FINALIDADE

Apurar crime e autoria

DESTINAÇÃO

Destina-se a servir de base para uma futura ação penal (art. 12, CPP)

Art. 12 O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.

CARACTERÍSTICAS

● ESCRITO – não existe inquérito oral (art. 9, CPP)

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Art. 9. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Atente: O art. 405, § 1º, CPP, modificado pela Lei nº 11.719/08

● INSTRUMENTAL – é o instrumento utilizado pelo Estado para reunir prova e materialidade e indícios de autoria.

● OBRIGATORIO – havendo um mínimo de elementos o delegado deve instaurar o IP.

● DISPENSAVEL – quando o MP contar com provas autônomas poderá dispensar o IP. (art. 39, § 5°, CPP).

Art. 39. (...)

§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia

● INFORMATIVO – os elementos reunidos no IP só servem para a propositura da ação penal, jamais para sustentar uma condenação.

● SIGILOSO – não há publicidade, visto que é necessário para a eficiência da investigação. No entanto, poderá tomar parte do inquérito o Juiz, Promotor e Advogado. (art. 20, CPP).

Art. 20 A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

Art. 7º São direitos do advogado:

XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos;

● INQUISITIVO – não há contraditório e ampla defesa em sede do IP. Porque não existe lide, partes, logo não há conflito de interesses.

● INDISPONIBILIDADE – o delegado não pode arquivar inquérito policial (art. 17, CPP).

Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

● DISCRICIONARIEDADE – o delegado conduz as investigações da forma que entende mais eficiente, não atende a um rito seqüencial vinculatório de diligências (art. 14, CPP).

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Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

● OFICIALIDADE – o delegado de policia é autoridade que preside o inquérito policial, constitui-se em órgão oficial do Estado (art.144, §4° da CF).

● OFICIOSIDADE – havendo crime de ação penal incondicionada, a autoridade policial deve atuar de oficio, instaurando o inquérito e apurando os fatos. (art. 5º., I, CPP).

● TEMPORÁRIO – com a garantia da razoável duração do IP, não pode ser por prazo indeterminado.

FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO

۷ Requisição: exigência para a realização de algo, fundamentada em lei. Não se confunde com ordem, pois nem o representante do MP, nem tampouco o juiz, são superiores hierárquicos do delegado de policia. (Principio da obrigatoriedade da ação penal pública)

۷ Requerimento: Solicitação, passível de indeferimento, daí porque não possui a mesma força de uma requisição.

۷ Representação: Consiste na exposição de um fato, acrescida da sugestão de providências.

1) Crime de ação penal privada: Requerimento do ofendido e representante legal. (art. 5º, § 5º CPP)

2) Crime de ação penal pública condicionada: Representação do ofendido e Requisição do Ministro da Justiça. (art. 5º, § 4º, CPP)

3) Ação penal pública incondicionada: (art. 5º. I, II, §1º, 2º)

● De Ofício; é instaurado por portaria (art. 5º I)

● Mediante requisição da autoridade judiciária ou do ministério público;

(art.5º, II)

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● A requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo;

Neste caso, a peça inaugural poderá ser a própria petição da vitima ou portaria do delegado.

Art. 5º. (...)

§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

● Flagrante;

● Noticia oferecida por qualquer do povo. É conhecida como Delatio Criminis. a) delação simples (mero aviso de crime, sem qualquer solicitação), b) delação postulatória ( se dá a noticia do fato e se pede a instauração do inquérito) c) delatio criminis anônima (Disque Denuncia - antes de instaurar o inquérito deve verificar a veracidade da noticia/STF (art. 5º, § 3º CPP).

NOTITIA CRIMINIS

É o conhecimento pela autoridade, espontânea ou provocado, de um fato delituoso.

● Cognição imediata/direta (espontânea): A autoridade policial toma conhecimento de fato delituoso por meio de suas atividades rotineiras jornais.

● Cognição mediata/indireta (provocado): A autoridade policial toma conhecimento do fato por expediente escrito. Ocorre quando a própria vitima provoca a atuação da autoridade policial, bem como quando o promotor requisita sua atuação.

Obs: Delatio criminis: é a denominação dada à comunicação feita por qualquer pessoa do povo à autoridade policial (ou membro do MP ou Juiz) acerca da ocorrência de infração penal que caiba ação penal pública incondicionada (art. 5º, § 3º do CPP). Pode ser feita oralmente ou por escrito.

● Cognição coercitiva: A autoridade policial toma conhecimento do fato pela apresentação do individuo preso em flagrante.

DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS (art. 6° do CPP)

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

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I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

INDICIAMENTO

Indiciar é atribuir à autoria de uma infração penal a uma pessoa. Porém existem exceções. Membros do Ministério Público e Magistrado não poderão ser indiciados.

Art. 33. São prerrogativas do magistrado:

Parágrafo único. Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.

Art. 18. São prerrogativas dos membros do Ministério Público da União:

Parágrafo único. Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por membro do Ministério Público da União, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá imediatamente os autos ao Procurador-Geral da República, que designará membro do Ministério Público para prosseguimento da apuração do fato. O mesmo será aplicável aos membros dos Ministérios Públicos Estaduais.

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INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO PRESO (art. 21, do CPP)

Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. ( Não foi recepcionado pela nova ordem constitucional ).

Art. 5º. (...)

LXII da CF. “A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada”.

Art. 136. (...) CF

§ 3º. Na vigência do estado de defesa:

IV – é vedada a incomunicabilidade do preso.

PRAZO PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO

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CONCLUSÃO DO IP (art. 10, § 1° do CPP)

Neste momento, determina o CPP que a autoridade policial faça minucioso relatório do que houver apurado, encaminhando, a seguir, os autos de procedimento a juízo (art. 10, § 1º, CPP) juntamente com os instrumentos e objetos que interessarem à prova (art. 11 do CPP).

No relatório, a autoridade policial deverá limitar-se a declinar as providencias realizadas, resumir os depoimentos prestados e as

CPP Réu preso/Regra 10 dias

CPP Réu solto/Regra 30 dias

CPPM Réu preso 20 dias

CPPM Réu solto 40 dias

Justiça Federal

Réu preso 15 dias

Pode ser dobrado

Justiça Federal

Réu solto 30 dias

Pode ser dobrado

Nova Lei de Drogas

Réu preso 30 dias

Admite-se uma prorrogação

Nova Lei de Drogas

Réu solto 90 dias

Admite-se uma prorrogação

Crimes Contra a Economia Popular

Réu solto/preso 10 dias

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versões da vitima e do investigado, mencionar o resultado das diligencias perpretadas durante as investigações, indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas e a partir de tudo isso, expor o seu entendimento acerca da tipicidade do delito investigado, de sua autoria e materialidade.

Em nenhuma hipótese será licito ao delegado examinar ou tecer considerações no relatório acerca de aspectos relativos à ilicitude da conduta ou à culpabilidade do indiciado. O relatório é o momento adequado para que o delegado de policia proceda à classificação do crime.

Art. 10, (...)

§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao juiz competente. (Tem Estados-membros, que o TJ determina que o inquérito seja remetido as Centrais de Inquérito do Ministério Público).

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Tal providencia só cabe ao juiz, a requerimento do MP (CPP, art. 28), que é o exclusivo titular da ação penal pública (CF,art. 129, I). O juiz jamais poderá determinar o arquivamento do inquérito, sem previa manifestação do MP; se o fizer, da decisão caberá correição parcial).

Se o juiz discordar do pedido de arquivamento do representante ministerial, deverá remeter os autos ao procurador-geral de justiça, o qual poderá oferecer denuncia, designar outro promotor para fazê-lo, ou insistir no arquivamento, quando, então, estará o juiz obrigado a atendê-lo (CPP, art. 28).

Súmula 524 do STF, dispondo que “arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas”.

Fundamentos (hipóteses) de acordo com a doutrina o inquérito policial poderá ser arquivado de acordo com os seguintes fundamentos:

1) Atipicidade; (STF/HC-84.812) em hipóteses de manifesta atipicidade da conduta é possível à impetração de HC pleiteando o trancamento da ação penal.

2) Excludente da ilicitude;

3) Excludente de culpabilidade;

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4) Causa extinta da punibilidade;

5) Ausência de elementos informativos quanto à autoria e materialidade.

Obs: Na hipótese de arquivamento por falta de provas a decisão só faz coisa julgada formal. Ou seja, poderá reabrir o processo (STF – HC 80.560 e HC 85.156).

Procedimento do arquivamento

a) Arquivamento na Justiça Estadual à Discordando o Juiz, ele remeterá os autos ao Procurador de Justiça, eis as possibilidades: (Art. 28 do CPP).

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

۷ Oferecer a denúncia;

۷ Requisitar diligências;

۷ Designar outro membro do MP para oferecer a denúncia;

۷ Insistir do pedido de arquivamento (nesse caso o Juiz estará obrigado a arquivar).

b) Arquivamento na Justiça Federal / Militar da União à

Discordando o Juiz, os autos serão remetidos à câmara de coordenação e revisão, seja ela do MPF, MPM, ou do MPDFT.

Obs: A manifestação da câmara é meramente opinativa, ou seja, quem decidirá é o PGR.

c) Arquivamento na Justiça Eleitoral à (Art. 357, § 1º da Lei 4.737/65) “Código Eleitoral”.

Art. 357. Verificada a infração penal, o Ministério Público oferecerá a denúncia dentro do prazo de dez dias.

§ 1º Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento da comunicação, o juiz, no caso

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de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa da comunicação ao Procurador Regional, e este oferecerá a denúncia, designará outro promotor para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Ou seja, discordando o Juiz do pedido de arquivamento fará remessa dos autos ao Procurador-regional eleitoral (é um Procurador da República que atua perante os tribunais).

d) Arquivamento na Justiça Militar da União à (Art. 14, I, c, da Lei 8.457/92).

Art. 14. Compete ao Juiz-Auditor Corregedor:

I – proceder às correições:

c) nos autos de inquérito mandados arquivar pelo Juiz-Auditor, representando ao Tribunal, mediante despacho fundamentado, desde que entenda existente indícios de crime e de autoria.

Ou seja, se o Juiz auditor deferir o pedido de arquivamento formulado pelo MPM, discordando o Juiz auditor-corregedor poderá representar ao STM. Se o STM julgar procedente este pedido remete os autos a câmara de coordenação e revisão do MPM (para manifestação opinativa e posteriormente ao Procurador-geral da Justiça Militar).

e) Arquivamento implícito à O inquérito policial traz dois indiciados, o MP oferece denúncia contra um, não denunciando e nem pedindo arquivamento contra o outro. Será que nesse caso ocorreu um arquivamento implícito? Resposta: Doutrina e Jurisprudência não admitem o arquivamento implícito, pois, toda a decisão do MP deve ser fundamentada.

f) Arquivamento indireto à o MP pede a remessa dos autos à Justiça competente e o Juiz discorda. Nesse caso aplica-se por analogia o art. 28 do CPP. Ex. crime de competência da justiça federal – moeda falsa.

Recursos Cabíveis:

Em regra, a decisão de arquivamento é irrecorrível, ou seja, não cabe recurso. No entanto, existem exceções:

● Crime contra a economia popular à caberá o recurso de oficio. (art. 7º, da Lei 1.521/51).

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● Contravenção do jogo do bicho e corrida de cavalos à caberá recurso em sentido estrito.

● Juiz que arquiva inquérito de oficio à caberá correição parcial.

CONDUÇÃO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MP

l Fundamentos contrários:

a) Atenta contra o sistema acusatório – cria um desequilíbrio entre acusação e defesa;

b) MP é dotado do poder de requisição – assim cabe a ele requisitar diligencias ou requisitar a instauração de inquérito policial, porém, o MP não pode presidir um inquérito policial. A presidência do inquérito é atribuição exclusiva da polícia judiciária.

c) Falta de previsão legal e instrumentos aptos para a investigação.

l Fundamentos favoráveis: (entendimento majoritário)

a) Doutrina/teoria dos poderes implícitos (McCullouch x Maryland – 1819 – surgimento na Suprema Corte Norte Americana): ao conceder uma atividade fim a determinado órgão ou instituição a CF teria implícita e simultaneamente concedido todos os meios necessários para que tal objetivo fosse atingido. CF, art. 129, I – MP como titular da ação penal. Informativo do STF 538, HC 91661 de marco de 2009 – acolheu esta teoria.

b) Polícia judiciária não se confunde com polícia investigativa: somente a polícia judiciária é exclusiva da policia civil e polícia federal. Constituem a polícia investigativa polícia, COAF, CPI e MP.

c) Procedimento investigatório criminal: (regulado pelo CNMP – resolução n° 13) é um instrumento de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido por um membro do Ministério Público, com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, fornecendo elemento para o oferecimento ou não de denúncia.

AÇÃO PENAL PRIVADA

Conceito: é aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade para a propositura da ação penal à vitima ou a seu representante legal. Vale ressaltar, que mesmo na ação privada, o Estado continua sendo o único titular do direito de punir e, portanto, da pretensão punitiva.

O direito de punir todo aquele que cometeu um ilícito penal (jus puniendi) é sempre do Estado. Tanto é assim que somente o Estado, através do juiz, pode aplicar uma pena. Para exercer, em nome do Estado, o direito de acusar em juízo (jus accusationis), há um órgão oficial especialmente concebido para esse fim que é o Ministério Público. Em determinadas

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situações, porém, o Estado transfere ao particular o direito de acusar. Ou seja, o jus accusationis que, normalmente, tem como titular o MP, em hipóteses expressamente previstas na lei, é transferido para o particular. É o que ocorre na ação penal privada.

São três motivos que justificam a existência da ação penal privada:

a) O delito atingiu de forma imediata (direta) a vitima e apenas de forma mediata (indireta) a sociedade.

b) O bem jurídico atingido é muito particular, pessoal,subjetivo, por isso, cabe ao ofendido decidir se quer ou não o processo.

O chamado strepitus processus ou strepitus judicii, ou seja, o escândalo do processo

Fundamento: evitar que o escândalo processual provoque no ofendido um mal maior do que a impunidade do criminoso, decorrente da propositura da ação penal.

Titular: o ofendido ou seu representante legal (CP, art. 100, § 2°, CPP, art. 30). O autor denomina-se querelante e o réu, querelado. No caso de morte do ofendido, o direito de queixa passa a seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art.31).

l Princípio da oportunidade ou conveniência: o ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua conveniência, ao contrario da pública. Neste caso a autoridade policial se deparar com uma situação de flagrante delito de ação privada, ela só poderá prender o agente se houver expressa autorização do particular (CPP, art. 5°, § 5°).

l Princípio da disponibilidade: a decisão de prosseguir ou não até o final é do ofendido. É uma decorrência do principio da oportunidade.

l Princípio da indivisibilidade: previsto no art. 48 do CPP, o ofendido pode escolher entre propor ou não a ação. Não pode, escolher dentre os ofensores qual irá processar. Ou processa todos, ou não processa nenhum. O MP, não pode aditar a queixa para nela incluir os outros ofensores, porque estaria invadindo a legitimação do ofendido.

l Princípio da intranscendência: a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do participe da infração penal, não podendo se estender a quaisquer outras pessoas.

Espécies de ação penal privada: Exclusivamente privada ou propriamente dita, personalíssima, subsidiária da pública.

Exclusivamente privada, ou propriamente dita

Pode ser proposta pelo ofendido, se maior de 18 anos e capaz; por seu representante legal, se o ofendido for menor de 18 anos; ou, no caso de

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morte do ofendido ou declaração de ausência, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31)

Ação privada personalíssima

Sua titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício vedado até mesmo ao seu representante legal, inexistindo, ainda, sucessão por morte ou ausência. Falecendo o ofendido, nada há de que se fazer a não ser aguardar a extinção da punibilidade do agente. Só há um exemplo que é o crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento, previsto no CP, artigo 236, parágrafo único. Obs. Seria também o adultério, mais foi revogado este artigo.

Se o ofendido for menor de 18 anos, ou ter enfermidade mental, não poderá ser exercida, devido a incapacidade. Resta apenas aguardar a cessação da sua incapacidade.

Ação privada personalíssima

Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de Impedimento

Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

Subsidiária da pública

Proposta nos crimes de ação pública, condicionada ou incondicionada, quando o MP deixar de fazê-lo no prazo legal. É a única exceção prevista na própria CF, à regra da titularidade exclusiva do MP sobre ação pública (CF, art. 5°, LIX, e 129, I).

Só tem lugar no caso de inércia do MP, jamais na hipótese de arquivamento, conforme entendimento pacifico do STF.

Ação penal secundária

É aquela em que a lei estabelece um titular ou uma modalidade de ação penal para determinado crime, mas, mediante surgimento de circunstancias especiais, prevê, secundariamente, uma nova espécie de ação para aquela mesma infração.

Exemplo: crimes contra a dignidade sexual, a ação penal contemplada é pública condicionada à representação do ofendido (CP, art. 255 caput), se a vitima é menor de 18 anos, passará a ser pública incondicionada (CP, art. 255, § único)

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Crimes de ação penal privada no CP

a) calúnia, difamação e injuria (arts. 138, 139 e 140 caput)

b) Dano (art. 163)

c) Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 164 c/c o art. 167) etc.

Prazo da ação penal privada

O ofendido ou seu representante legal poderão exercer o direito de queixa dentro do prazo de seis meses, sob pena de decadência, contado do dia em que vierem a saber quem foi o autor do crime ( CPP, art. 38).

Queixa é a petição inicial na ação penal privada, formulada pela vitima (querelante), assim como a denuncia é na ação penal pública , subscrita pelo MP.

■ DECADÊNCIA: prevista no arts. 38, do CPP e 103, do CP. Consiste na perda do direito de ação por não ter sido ele exercido dentro do prazo legal. É de seis meses e começa a fluir da data em que o ofendido toma conhecimento sobre quem é o autor do ilícito penal.

■ PEREMPÇÃO: prevista no art. 60, do CPP, ele importa na perda do direito de prosseguir com ação penal privada e é aplicada ao querelante que demonstra desinteresse pelo processo. Ex. quando o querelante não comparece a ato relevante do processo ou deixa de pedir a condenação do querelado nas alegações finais.

■ RENÚNCIA: consiste na desistência do direito de ação pela vitima. Antes de ajuizada a ação, tácita ou expressamente, o ofendido revela que não irá propô-la.

■ PERDÃO: representa a desistência do querelante da ação penal privada que promoveu, por ter desculpado o querelado. Só é possível , depois de iniciada a ação penal. Depende da aceitação do querelado.

Obs: se o querelante processou vários querelados e depois os perdoou, caso um deles não aceite o perdão, o processo deverá continuar somente em relação a ele (art. 51 do CPP). Também o perdão em relação a um dos querelados, se estende aos demais (art. 106, I, CP, e 51 do CPP) desde que todos aceite.

DENÚCIA OU QUEIXA

A denúncia é peça inicial acusatória da ação penal pública e a queixa, da ação penal privada. Ambas devem conter os mesmos requisitos, sendo que diferenciam, formalmente, pelo subscritor: a denúncia é oferecida pelo MP, e queixa, pelo ofendido ou por seu representante legal.

Requisitos da Denúncia e da Queixa-Crime (art. 41 do CPP)

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a) Exposição do fato

Deve-se atribuir ao acusado o fato com todas as suas circunstâncias. A descrição minuciosa do fato é essencial para o exercício do direito de defesa do acusado (art. 5°, LV, da CF).

No caso de concurso de agentes, deve-se pormenorizar a conduta de cada um dos acusados.

b) Qualificação do acusado ou esclarecimento que possibilitem sua identificação

É o conjunto de dados que compõem a identidade civil. É a individualização do acusado. A denúncia ou a queixa deve ser oferecida contra a pessoa certa (nome, apelido, data e local de nascimento, traços característicos etc.).

c) Classificação jurídica do crime

O autor da ação penal deverá indicar o dispositivo legal em que se enquadra a conduta do acusado. A tipificação poderá ser alterada até a sentença, do que se depreende que o juiz não deve rejeitar a peça inicial, caso entenda estar errada a tipificação (art. 383 do CPP).

d) Rol de testemunha da acusação

O momento oportuno para apresentação do rol de testemunhas, para acusação, é a petição inicial. Tal requisito é facultativo e o número de testemunhas dependerá do procedimento.

e) Pedido de condenação

Não precisa ser expresso, bastando que esteja implícito na peça.

f) O endereçamento da petição

O endereçamento equivocado não impede o recebimento da denúncia, tratando-se de mera, irregularidade sanável com a remessa ou recebimento dos autos pelo juízo competente (é a posição do STF, RHC 60.126 – 1982)

g) O nome, o cargo e a posição funcional do denunciante.

h) A assinatura: a falta de assinatura não invalida a peça, se não houver dúvidas quanto à sua autenticidade.

Requisitos Específicos da Queixa-Crime

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A queixa apresenta um requisito a mais que a denúncia, além daqueles comuns a ambas, qual seja: a constituição de advogado via procuração, com poderes especiais, que deverá ser anexada à queixa-crime.

Da procuração deverão constar expressamente os poderes especiais do procurador, o nome do querelado e a menção do fato criminoso que a ele se imputará (art. 44 do CPP).

As falhas e as omissões da queixa no tocante a formalidade poderão ser sanadas a qualquer tempo até a sentença.

O MP pode aditar a queixa para nela incluir circunstâncias que possam influir na caracterização do crime e na sua classificação, ou ainda na fixação da pena (dia, hora, local, meios, modos, motivos, dados pessoais do querelado etc.) (CPP, art.45).Não poderá, entretanto, aditar a queixa para imputar aos querelados novos crimes, nem incluir novos ofensores, estaria invadindo a legitimidade do ofendido.

Causas de Rejeição da Denúncia ou Queixa (art. 43 do CPP)

a) O fato narrado evidentemente não constituir crime;

b) Quando estiver extinta a punibilidade;

c) For manifesta a ilegitimidade da parte.

Da decisão que rejeitar a denúncia ou a queixa caberá recurso em sentido estrito (RESE), previsto no art. 581, inciso I do CPP.

Da decisão que receber denúncia ou queixa, e assim instaurar a ação penal, caberá habeas corpus para trancamento da ação penal, no caso de falecer justa causa (indícios de autoria e prova da materialidade) para a propositura e instauração (art. 648, I do CPP).

AÇÃO CIVIL EX DELICTO

CONCEITO

Trata-se da ação ajuizada pelo ofendido, na esfera civil, para obter indenização pelo dano causado pela infração penal, quando existente. O dano pode ser material ou moral, ambos sujeitos à indenização, ainda que cumulativa. Art. 91, I do CP. De tal forma que, uma vez transitada em julgado a sentença condenatória proferida pelo juiz penal, pode a vitima, seu representante legal ou seus herdeiros, promoverem, no âmbito civil, ação de reparação de dano, segundo prevê expressamente o art. 63, do CPP.

Logo, reconhecida a responsabilidade do agente pela pratica de um crime, diz-se que essa sentença criminal faz coisa julgada no civil, onde será apenas liquidada.

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Caso ocorra um homicídio culposo e ainda não ocorreu uma condenação, cumpre aos herdeiros a comprovação da culpa do agente. O parágrafo único do art. 64, do CPP, permite ao juiz da ação civil a suspensão deste processo, pelo prazo máximo de um ano (art.265, IV, a, e § 5° do CPC), até que julgue a ação criminal, tudo como forma de evitar decisões conflitantes.

A sentença penal condenatória – repita-se – torna certa a obrigação de indenizar.

Não impedem, ainda, propositura da ação civil, nos termos do art. 67, do CPP:

a) O despacho de arquivamento do inquérito policial ou das peças de informações;

b) A decisão que julga extinta a punibilidade;

c) A sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime (art.386, III);

d) As Sentenças absolutórias proferidas com base no art. 386, II, IV, V e VI, do CPP.

Por exemplo, se o réu foi absolvido porque não existia prova suficiente para a condenação (art. 386,VI), nada impede que, no juízo civil, o autor da ação produza a prova que faltou na esfera criminal. Ou ainda, se o réu é absolvido porque o fato não constitui infração penal (art. 386, III), pode ser que tal fato configure um ilícito civil, passível de indenização.

A legitimidade para propositura da ação, nos termos do art. 63, do CPP, é do ofendido, de seu representante legal e de seus herdeiros. Ou, ainda, do MP quando, segundo o art. 68, o titular do direito à reparação for pobre. A legitimidade passiva é do autor do crime. A competência para a execução da sentença penal condenatória art. 575, IV, CPP, e no juízo civil (arts. 94 e 100, CPC

JURISDIÇÃO

Conceito: É a função estatal exercida com exclusividade pelo poder judiciário (em razão da independência e da imparcialidade de seus membros) consistente na aplicação de normas de ordem jurídica a um caso concreto com a conseqüente solução do litígio.

É o poder atribuído ao juiz de dizer o direito, isto é, o poder conferido ao juiz de julgar. É própria do Poder Judiciário.

PRINCÍPIOS

No âmbito do processo penal, rege-se a jurisdição pelos seguintes princípios:

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a) Indeclinabilidade da jurisdição à o Juiz não pode recusar a jurisdição, ou seja, tem que decidir.

b) Princípio do juiz natural à (também denominado juiz legal, juiz competente ou juiz constitucional). Tem fundamento no art. 5º, XXXVIII e LIII, CF. “LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.

c) Investidura: é necessário ser magistrado; só quem estiver legalmente investido como juiz de direito e se encontrar no exercício das respectivas funções pode desempenhar a jurisdição.

d) Inércia: o magistrado depende da iniciativa das partes, não podendo iniciar, ex officio, uma ação judicial.

e) Improrrogabilidade: salvo em situações excepcionais expressamente previstas, um juiz não pode invadir a competência de outro.

f) Indelegabilidade: este princípio é conseqüência do juiz natural, impedindo que venha um juiz a delegar sua jurisdição a órgão distinto.

g) Irrecusabilidade (ou inevitabilidade): não podem as partes recusar a atuação de determinado juiz, salvo nos casos de impedimento ou suspeição.

h) Unidade: a jurisdição é uma só, ou seja, exercida com a finalidade de aplicação do direito objetivo ao caso concreto.

i) Correlação ou relatividade: o juiz, ao proferir sentença, deverá observar a exata correspondência entre sua decisão e o pedido incorporado à denuncia e à queixa.

Características

Três são as características fundamentais que devem estar presentes na jurisdição para que possa cumprir sua finalidade de aplicação do direito objetivo ao caso concreto e, desse modo, obter a justa composição da lide.

1) Órgão adequado: a jurisdição deve ser exercida pelo juiz (juiz de direito, desembargador ou ministro), vale dizer, autoridade integrante do poder Judiciário.

2) Contraditório: seu exercício deve implicar permissão às partes em propugnar seus interesses em igualdade de condições.

3) Procedimento: necessária a estrita observância ao modelo legal previsto em lei, o que corresponde à seqüência de atos previamente determinada para a pratica dos atos que conduzirão o processo à fase da sentença.

Page 31: Processo Penal - Estácio

Lei processual que modifica a competência:

Lei posterior pode modificar a competência? Ex: crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil – antigamente era a Justiça Militar, mas depois de da Lei nº. 9.299/1996 passou a ser competente o Tribunal do Júri. Os processos que estavam na 1ª instância foram encaminhados para o Tribunal do Júri, porque a lei tem aplicação imediata. Assim, lei que altera competência tem aplicação imediata (art. 2º, CPP) - Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior – princípio da aplicação imediata – “tempus regium actum”), aos processos em andamento na 1ª instância. Não viola o princípio do juiz natural porque o Tribunal do Júri já existia e não foi criado para julgar estes delitos.

Para a doutrina, lei que altera a competência somente poderia ser aplicada aos crimes cometidos após a sua vigência (Ada P. Grinouver e Tourinho Filho), porém para a jurisprudência, lei que altera a competência tem aplicação imediata aos processos em andamento, salvo se já houvesse sentença relativa ao mérito, hipótese em que o processo deveria seguir na jurisdição em que ela foi prolatada. Aplica-se o art. 2° do CPP. (STF HC 76.510).

COMPETÊNCIA

Conceito: É a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional pode conhecer e julgar determinados litígios.

Espécies de Competência

a) Em razão da matéria “ ratione materiae ” à estabelecida em razão da natureza do crime praticado; (competência absoluta) jurisdição especial (eleitoral, militar, trabalhista) ou à jurisdição comum (federal ou estadual)

b) Em razão da pessoa “ r atione personae ” à estabelecida em virtude da função exercida pelo agente; (competência absoluta)

d) c) Em razão do local “ ratione loci ” à de acordo com o local em

que foi praticado ou Competência funcional à fixada conforme função que cada órgão jurisdicional exerce no processo.

■ por fase do processo: de acordo com a fase em que o processo estiver um órgão jurisdicional diferente exercerá a competência. Ex: procedimento bifásico do Tribunal do Júri.

Page 32: Processo Penal - Estácio

■ por objeto do juízo: cada órgão jurisdicional exerce a competência sobre determinadas questões a serem decidias no processo. Ex: no Tribunal do Júri os jurados decidem matéria referente a existência do crime e autoria, enquanto o juiz presidente é responsável pela fixação da pena.

■ por grau de jurisdição: é a chamada competência recursal.

Alguns autores ainda dividem em competência horizontal (por fase do processo e por objeto do juízo) e vertical (por grau de jurisdição).consumou-se o crime, ou a o local da residência do seu autor. (competência relativa) art. 69.

Diferença entre competência absoluta e relativa:

Competência absoluta Competência relativa

Regra de interesse público. Regra de interesse da parte.

Improrrogável/ imodificável Prorrogável/derrogável

Nulidade absoluta :

- pode ser argüida a qualquer momento;

- prejuízo presumido.

Nulidade relativa:

- deve ser argüida em momento oportuno, sob pena de preclusão;

- o prejuízo deve ser comprovado.

Pode ser declarado de ofício. Pode ser declarado de ofício

Competência em razão da matéria, em razão da pessoa e funcional.

Competência territorial, competência por distribuição e por prevenção

Guia de Fixação de Competência (Grinover, Scarance, Magalhães)

Deve-se passar por ele sempre quando se estiver na dúvida quanto à competência.

A) Competência de jurisdição : qual é a justiça competente? Justiça comum ou especial?

Page 33: Processo Penal - Estácio

B) Competência originária: o acusado tem foro privilegiado por prerrogativa de função?

C) Competência de foro ou territorial: qual é a Comarca competente?

Ex.: informativo 519 STF: cidadão liga do Rio de Janeiro para uma senhora em Santos constrangendo (extorsão mediante seqüestro). De quem seria a competência territorial, Rio de Janeiro ou Santos? Em regra, em processo penal é no local da consumação da infração, onde a vítima foi constrangida (Santos).

D) Competência de juízo : qual é a vara competente?

E) Competência interna ou de juiz: qual é o juiz competente?

Ex.: geralmente há um juiz titular e um substituto.

F) Competência recursal : para onde vai o recurso (qual o órgão recursal competente)?

Justiças Competentes:

Pode-se dividir a Justiça em especial e comum:

A) Justiça especial : dentre a Justiça especial há:

■ Justiça Militar;

■ Justiça Eleitoral;

■ Justiça do Trabalho;

■ Justiça Política ou Extraordinária (Senado). Julgar o presidente e o vice, por crime de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes das Forças Armadas

B) Justiça comum : subdivide-se em:

■ Justiça Federal;

■ Justiça Estadual.

JUSTIÇA ESPECIAL

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR

Foi estabelecida pelo texto constitucional de 1988, do qual se infere a seguinte divisão: Justiça Militar Estadual e Justiça Militar Federal.

A Justiça Militar Estadual só julga os militares dos estados (polícia militar e corpo de bombeiros), não julgando civis.

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A justiça militar estadual estava na iminência de ser extinta. Mas foi

modificada no art. 125, parágrafo 4° da CF, introduzindo-se a competência cível parar julgar ações judiciais contra atos disciplinares.

Ressalta-se que quando a vítima for civil em crime doloso a competência é do júri e que os juízes militares são agora denominados juízes de direito e não mais juízes auditores.

O parágrafo 5° do art. 125 também diz que os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais disciplinares são agora julgados singularmente pelo juiz de direito sem a participação do Conselho. E o Conselho de Justiça agora é presidido pelo juiz de direito, antigamente era presidido pelo oficial mais antigo.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Observação: Na Justiça Militar dos Estados o órgão de acusação é o Ministério Público Estadual.

Observação: O órgão de segunda instancia na Justiça Militar dos Estados é o TJ, sendo exceções os Estados do RGS, MG, SP, que tem seus Tribunais Militares.

Observação: Justiça Militar Estadual – (não julga civil) – só julga PM’S e Bombeiros Militares.

Observação: Crime praticado por um membro da força nacional (policial militar/bombeiro) de quem é a competência?

Resposta: Justiça Militar. (Súmula 78, STJ). “78. Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa”.

Observação: Crime de abuso de autoridade praticado por militar, quem julga?

Resposta: Abuso de autoridade, tortura, crimes hediondos não são crimes militares, portanto, não são julgados pela justiça militar. (Súmula 172, STJ). “172. Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”.

Observação: (Súmula 75, STJ). “75. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal”.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR FEDERAL

A justiça Militar da União está prevista no art. 124 caput e julga tanto civis quanto militares. Esta não foi alvo da emenda que alterou a competência da justiça militar estadual.

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Observação: Na Justiça Militar da União tem o Ministério Público Militar.

Observação: O órgão de segunda instância na Justiça Militar da União é o STM.

Observação: Justiça Militar Federal – julga membros das forças armadas e civis (exemplo: dano ao patrimônio das forças armadas).

EX. Soldado do exercito abandona seu posto de serviço e com um fuzil; que portava pratica delito de roubo contra uma padaria. De quem é competência? Com a revogação do art. 9º, II, f pela Lei n. 9.299/96, crime praticado por militar fora do serviço com arma da corporação é da competência da Justiça Comum. Nesse exemplo, o crime de roubo seria julgado pela justiça estadual, enquanto que o crime de abandono de posto seria julgado pela JMU (HC 90279).

O julgamento de crimes militares, que podem ser:

a) crime propriamente militar: é a infração específica e funcional do militar (somente o militar pode praticar). Ex.: art. 187 do CPM (deserção).

b) crime impropriamente militar: apesar de comum em sua natureza, cuja prática é possível a qualquer cidadão (civil ou militar) passa a ser considerado crime militar porque praticado em uma das condições do art. 9º do CPM. Ex.: pensionista que recebe pensão dos cofres do Exército que morre, os entes próximos deixam de comunicar isso para ficar recebendo essa pensão. Isso é estelionato contra o patrimônio sobre a administração militar (art. 251 c/c art. 9º, III, a do CPM).

Observação: Quem julga homicídio doloso envolvendo Militares em serviço?

Resposta: Depende.

• Militar contra civil à Tribunal do Júri (art. 9º, parágrafo único do CPM);

• Civil que mata PM em serviço à Tribunal do Júri;

• Civil que mata militar das forças armadas em serviço à Justiça Militar da União (STJ – HC/ 91.003).

• Soldado que mata soldado em serviço à se pertence à União, compete a Justiça Militar da União; se militar do Estado, competirá a justiça militar estadual.

• Militar da União que mata militar do Estado à para o STM competente será a justiça militar da União. Para o STF e STJ os militares dos Estados são considerados civis e, portanto, a competência será do Tribunal do Júri.

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• PM que mata militar das Forças Armadas em serviço à Justiça Militar da União.

• Se os jurados desclassificarem para homicídio culposo, a competência não é do juiz presidente, mas sim da justiça militar (STF – RHC/80.718).

Observação: (Súmula 06, STJ). “6. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em

situação de atividade”. à (Súmula cancelada). Se o delito de transito envolve viatura militar em serviço a competência será da justiça militar, seja a vítima militar, seja vítima civil.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL

Prevista, primordialmente, na Constituição Federal, nos arts. 118 a 121, destina-se ao processo e julgamento dos crimes eleitorais tipificados na legislação pertinente. Embora se concentre no Código Eleitoral (Lei 4.737/1965) a maior parte dos tipos penais eleitorais, a este é necessário acrescentar as disposições existentes em leis extravagantes, isto é, outras leis que editadas posteriormente introduziram outros comportamentos típicos visando a adaptar a realidade jurídica às necessidades, peculiares e tecnologia existentes em cada momento histórico.

Compete a ela processar e julgar os crimes eleitorais e conexos.

Questões:

■ Crime eleitoral conexo a homicídio doloso. De quem é a competência? Há separação de processos. O crime eleitoral é julgado pela Justiça eleitoral, ao passo que o delito de homicídio será julgado pelo Tribunal do Júri.

■ Crime cometido contra juiz eleitoral à À competência será da Justiça Federal, pois se trata de um funcionário público federal. (STJ – CC/45.552).

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição (Art. 114, IV, CF).

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

IV – os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

Caso um juiz do trabalho dê voz de prisão a uma pessoa à quem será competente para julgar o HC será o TRF.

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Um juiz estadual julgando um processo trabalhista que vem a

decretar a prisão do depositário infiel à Neste caso o HC deverá ser impetrado no TRT.

A Emenda Constitucional nº. 45/2004 não atribuiu competência criminal genérica a Justiça do Trabalho. (STJ – CC/59.978).

A JT pode julgar um crime, por exemplo, contra a organização do trabalho? O STF entende que não há essa competência. Para o STF, a JT não tem competência criminal genérica para processar e julgar delitos contra a organização do trabalho (ADI 3684).

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA POLÍTICA OU EXTRAORDINÁRIA:

É do Senado Federal, que está no art. 52, I da CRFB/88:

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I – processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

Essa competência estabelecida pela Constituição é em sentido estrito.

Logo, o Senado não tem competência criminal, porque teoricamente ele não está julgando um crime, mas sim uma infração político-administrativa.

Se for crime, a competência é do STF.

JUSTIÇA COMUM

JUSTIÇA FEDERAL

Havendo conexão entre crimes estaduais e federais prevalece à competência da Justiça Federal. (Súmula 122, STJ).

Súmula n. 122 - STJ

“Compete a Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal”.

Homicídio de Policial Militar conexo com crime federal à

competência do Tribunal do Júri da Justiça Federal.

Hipóteses do art. 109, IV, CF.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades

Page 38: Processo Penal - Estácio

autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

l Crimes políticos à estão previstos na Lei 7.170/83 “Lei de Segurança Nacional”. Para que possa falar em crime político, necessita de dois requisitos: Motivação política, Lesão real ou potencial pelos bens jurídicos tutelados pelo art. 1º, da Lei 7.170/83.

Observação: (Art. 102, II, b, CF). “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: II – julgar, em recurso ordinário: b) o crime político”. (Ou seja, será julgado por um juiz federal, e o ROC vai diretamente para o STF, sendo este livre para julgar questões de fato e de direito).

l Detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas:

Observação: Correios à no caso de exploração direta da atividade pela EBCT a competência é da Justiça Federal. Mas, se o crime for praticado contra uma franquia a competência será da Justiça Estadual. (STJ – HC/39.200).

Observação: (Art. 297, § 4º, CP). “Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. § 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de

prestação de serviços”. à A competência é da Justiça Federal, pois é contra interesse de uma autarquia federal.

Observação: Fundação Pública federal é espécie de autarquia, portanto, nos crimes praticados contra fundação pública, a competência recairá sobre a Justiça Federal.

Observação: Conselhos têm natureza autárquica e a competência, portanto, é da Justiça Federal. (STJ – CC/61.121).

Observação: Crimes contra a OAB à competência da Justiça Federal.

Observação: Crimes praticados contra sociedade de economia mista à

competência da Justiça Estadual. (Súmula 42, STJ). “42. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento”.

Observação: Justiça Federal não julga contravenções penais nem atos infracionais, art.109, IV, da CF/88. (se um juiz federal comete uma contravenção será julgado pelo TRF).

Page 39: Processo Penal - Estácio

l Bens da união e sua competência (art. 20, CF).

Observação: Se o bem for tombado pela União será competente a Justiça Federal. Se for tombado por um estado-membro competente será a Justiça Estadual.

Observação: (Súmulas 208 e 209, STJ). “208. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal”. “209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”. (STJ – RHC/ 14.870).

Observação: Competência no crime de contrabando e descaminho à

Competente será o Juiz Federal do local da apreensão dos bens (Súmula 151, STJ). “151. A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens”.

Observação: Competência no crime de uso de passaporte falso à O crime de uso de passaporte falso se consuma no local de embarque, independente de o policial federal ter percebido ou não a falsificação (súmula 200, STJ). “200. O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou”. (STJ – CC/46.728).

Observação: Crime praticado por ou contra funcionário público

federal no exercício das suas funções à Competência da Justiça Federal. (Súmula 147, STJ). “147. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função”. (Se o funcionário público federal em diligência “exercício de suas funções” pára em um posto de gasolina e mata o frentista, não há o que se falar em “exercício de suas funções”).

Observação: (Súmulas 98 e 254, TFR). “98. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra servidor público federal, no exercício de suas funções e com estas relacionadas”.

l Falsificação “interesse da união” e sua competência:

Observação: Falsificação de certificado de conclusão de cursos de

1º e 2º graus. à (Súmula 31, TFR). “31. Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsificação ou de uso de certificado de conclusão de curso de 1º e 2º graus, desde que não se refira a estabelecimento federal de ensino ou a falsidade não seja de assinatura de funcionário federal”.

Observação: Falsa anotação em carteira de trabalho sem prejuízo

para União à (Súmula 62, STJ). “62. Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e

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Previdência Social, atribuído à empresa privada”. (se ocorre prejuízo para União a competência será da Justiça Federal).

Observação: Falsificação e uso relativo a estabelecimento

particular à (Súmula 104, STJ) “104. Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino”.

Observação: Papel moeda grosseiro à (Súmula 73, STJ). “73. A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”.

Observação: Falsificação e falso testemunho na Justiça do Trabalho

à (Súmula 200, TFR e 165, STJ). “200. Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de falsificação ou de uso de documento falso perante a Justiça do Trabalho”. “165. Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista”.

Observação: Falsificação e determinação da competência à a competência será determinada pelo ente responsável pela emissão do documento. Por sua vez, no crime de uso a competência será determinada pelo ente prejudicado pela conduta. (STF – HC/ 85.773); (STF – HC/ 84.533); (STJ – HC/44.701).

Observação: Falsificação de carteira de habilitação de Arrais-

amador à (é atribuição da Marinha do Brasil expedir carteira, razão pela qual a competência para o julgamento da falsificação de carteira de Arrais-amador será firmada na Justiça Militar). (STJ – CC/41.960). Para o STF a competência será da Justiça Federal.

l Crimes ambientais “interesse da união” e sua competência:

Observação: (Súmula 91, STJ) à “Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna”. (Súmula cancelada).

Observação: Em regra os julgamentos dos crimes ambientais são de competência da Justiça Estadual.

Observação: Patrimônio nacional não é tão somente de

competência da União STF. RE -335.929 à (art. 225, § 4º, CF) “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,

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inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”. à A competência poderá ser dos Estados-membros.

Observação: Um crime ambiental será de competência federal quando o bem for da União. (Ex: Rios que fazem divisa entre Estados; reserva federal).

Observação: Crime ambiental flagrado pelo IBAMA à não tem o condão de ser levado para a Justiça Federal. Permanece na Justiça Estadual.

Observação: Crime de extração de recurso minerais à será competente a Justiça Federal. Art. 55 da Lei 9.605/98

Observação: “Rádio pirata” – Competência da Justiça Federal à (Art. 183, Lei nº. 9.472/97 c/c art. 21, XI, CF). “Art. 21. Compete à União: XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais”.

“Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação: Pena – detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais)”.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

Dois requisitos para incidência do inciso V:

■ Previsão criminal em tratado ou convenção internacional;

■ Internacionalidade do resultado relativamente à conduta delituosa.

Observação: Tráfico internacional de drogas à (Art. 70, da lei nº.

11.343/2006) à Competência da Justiça Federal. Observe que a substância deve ser considerada entorpecente nos dois países (de entrada e saída da droga). Pois, senão, a competência será da justiça estadual (exemplo: do argentino que é flagrado com “tubos de lança-perfume”; holandês que é flagrado no terminal do aeroporto com maconha).

Observação: Tráfico internacional cometido por militar em avião da

FAB à Competência da Justiça Federal. (STF – CC/ 7.087).

Observação: Tráfico internacional de pessoas art. 231, CP à

Competência da Justiça Federal.

Observação: Crime de pedofilia pela internet à Se for um e-mail enviado para outra pessoa residente no Brasil não existe internacionalidade,

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portanto, será competente a Justiça Estadual. Por outro lado, se for feito um site estará configurado a internacionalidade “está ao acesso de todos na rede mundial”, configurando, portanto, a competência da Justiça Federal.

Competência territorial, pouco importa a localização do provedor, sendo a competência territorial determinada pelo local de onde emanaram as imagens pornográficas. Será competência da justiça federal. Art. 241, a, do ECA.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Observação: Tráfico internacional de armas art. 18 da Lei,

10.826/03 à Competência da Justiça Federal

Observação: Transferência Internacional de criança ou adolescente

para o Exterior art. 239, ECA à Competência da Justiça Federal.

Observação: Adulteração de combustíveis, competência da Justiça

Estadual à Esta prevista no (art. 1º, da Lei nº. 8.176/91 “Crimes Contra a

Ordem Econômica”). à Competência da Justiça Estadual. (STJ – CC/32.092); (STF – RE/502.915);

Observação: Crime de pedofilia pela internet à Se for um e-mail enviado para outra pessoa residente no Brasil não existe internacionalidade, portanto, será competente a Justiça Estadual. Por outro lado, se for feito um site estará configurado a internacionalidade “está ao acesso de todos na rede mundial”, configurando, portanto, a competência da Justiça Federal.

Competência territorial, pouco importa a localização do provedor, sendo a competência territorial determinada pelo local de onde emanaram as imagens pornográficas. Será competência da justiça federal. Art. 241, a, do ECA.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Observação: Tráfico internacional de armas art. 18 da Lei,

10.826/03 à Competência da Justiça Federal.

Observação: Transferência Internacional de criança ou adolescente

para o Exterior art. 239, ECA à Competência da Justiça Federal.

Observação: Adulteração de combustíveis, competência da Justiça

Estadual à Esta prevista no (art. 1º, da Lei nº. 8.176/91 “Crimes Contra a

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Ordem Econômica”). à Competência da Justiça Estadual. (STJ – CC/32.092); (STF – RE/502.915);

Observação: Crimes contra economia popular – competência da

Justiça Estadual à (Súmula 498, STJ). “498. Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a economia popular”.

Observação: Crime de lavagem de capitais à Em regra a competência é da Justiça Estadual. No entanto, será da competência da Justiça Federal quando praticado contra o sistema financeiro ou quando o crime antecedente for da competência da Justiça Federal. (STJ – HC/11.462); (STJ – RHC/11.918).

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;

Navio à Somente as embarcações aptas para navegação em alto mar.

Aeronaves à (Art. 106, do Código Brasileiro de Aeronáutica) “considera-se aeronave todo aparelho manobrável em vôo que possa sustentar-se e circular em espaço aéreo mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas”. (Observa-se que não há a necessidade de motor, portanto, asa-delta, planador, são aeronaves).

Observação: Aeronave em solo ou no ar – competência da Justiça

Federal à Pouco importa se encontra-se em solo ou no ar, em ambos os casos a competência será da Justiça Federal (STJ – RHC/86.998 – RE 463.500).

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

XI – a disputa sobre direitos indígenas.

Crimes contra índio à (Súmula 140, STJ). “140. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure autor ou vítima”.

Observação: Crime praticado atentando aos direitos indígenas –

competência da Justiça Federal à (exemplo: conflito de terra envolvendo índios e garimpeiros).

Observação: Crime de genocídio praticado contra índios à em regra a competência é do Juiz singular Federal, no entanto, se praticado mediante homicídios, o agente deverá responder pelo crime de genocídio em concurso formal impróprio com os delitos de homicídio em continuidade delitiva. Nesse caso os homicídios serão julgados por um tribunal do Júri

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Federal, que exercerá força atrativa em relação ao crime de genocídio. (STF – RE/351.487).

Questões:

Crime praticado por meio da internet contra correntista da CEF. Pessoa que tem acesso aos dados do correntista da CEF (conta São Paulo) passa a efetuar pagamento com débito na conta corrente, estando o réu na BA. O crime mencionado é o de furto qualificado pela fraude, tendo como vitima a instituição financeira e o prejudicado o correntista. A competência é da justiça federal, visto que a vítima é uma empresa pública. Consuma-se o delito de furto no local em que a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima, ou seja, no exemplo dado, no local onde mantida a conta corrente da qual foram subtraídos os valores. (STJ CC 67343).

JUSTIÇA ESTADUAL

Trata-se de competência residual, abarcando tudo aquilo que não for de competência das jurisdição especiais e da jurisdição comum federal.

COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.

Observação: a expressão “foro privilegiado” é errada e não deve ser utilizada.

Regras importantes:

1) Crime cometido antes do exercício da função: a partir do momento em que o agente assume o exercício da função, altera-se a competência. Art. 84 CPP:

Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.

2) Cessado o exercício da função, cessa também a competência por prerrogativa de função.

Ex.: deputado que renuncia ao mandado e estava respondendo por tentativa de homicídio, neste caso, a competência retorna à primeira instância. (STF, AP 333)

3) crime cometido durante o exercício funcional: súmula 394 do STF (cometido o crime durante o exercício prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício), que foi cancelada em

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25/08/99; o STF alterou seu entendimento, passando a dizer que a prerrogativa é em razão da função. Lei 10.628/02 alterou art. 84, CPP.

4) Crime cometido após o exercício funcional: não tem direito a foro com prerrogativa de função (súmula 451 do STF – a competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessão definitiva do exercício funcional).

5) Pouco importa o local da infração: membros do MPU que atuam na primeira instância são julgados pelo respectivo TRF (CF - Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral), salvo nos crimes eleitorais.

OBS: Crime cometido por Procurador-Regional da República: atua perante o TRF, julgado pelo STJ.

6) Acusado com foro por prerrogativa de função não tem direito ao duplo grau de jurisdição: a ser entendido como a possibilidade de um reexame integral da sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado a órgão diverso do que a proferiu. Todavia, na hipótese de promotor de justiça julgado pelo TJ, nada impede a interposição dos denominados recursos extraordinários (RHC 79785, STF).

OBS: STF, HC 69325 – crime cometido em co-autoria com titular de foro por prerrogativa de função: súmula 704 do STF – mesmo nas hipóteses de conexão e continência é possível a separação dos processos – art. 80, CPP:

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Distribuição da competência por prerrogativa de função:

1) Membros do CNJ e CNMP : em relação aos crimes de responsabilidade serão julgados pelo Senado (art. 52, II da CF). O constituinte quando da EC/45 não tratou da competência para julgar os membros destes Conselhos quando se tratar de crime comum. Os cidadãos e os advogados que compõe o CNJ (art. 103-A da CF), não possuem foro por prerrogativa de função.

2) Membros do MP e da Magistratura: membros do MP estadual são julgados pelo respectivo TJ, salvo em relação a crimes eleitorais quando serão julgados pelo TER. Membros do MPU que atuam na primeira instância são julgados pelo respectivo TRF, salvo em relação a crimes eleitorais (serão julgados pelo TER). Os juízes estaduais são julgados por seu TJ, salve

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em relação a crimes eleitorais. Juízes da União (Federais, Trabalho e União) serão julgados pelo respectivo TRF.

3) suplente de Senador: não tem foro; tem mera expectativa de ter foro, ou seja, só quando assumir.

4) deputado federal licenciado: não tem direito a foro por prerrogativa de função.

5) juiz aposentado compulsoriamente em processo administrativo : não tem foro por prerrogativa de função (STF, HC 89677).

6) juiz de primeiro grau convocado para atuar como desembargador : será julgado pelo TJ (STJ, HC 86218).

7) TSE: no art. 22, d, do Código Eleitoral – a maioria da doutrina entende que este artigo não foi recepcionado pela CF. Os ministros do TSE serão julgados pelo STF.

8) Prefeitos Municipais: de acordo com o art. 29, X, CF são julgados pelo TJ: X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;

Crimes comuns, inclusive doloso contra a vida é competência do TJ e não do Tribunal do Júri. Se praticar crime federal é julgado pelo TRF; se praticar crime eleitoral é julgado pelo TER; se praticar crime de responsabilidade será julgado pela Câmara Municipal. Vide Súmula 702 do STF; se praticar crime militar federal será julgado pelo STM.

9) Vereador: em alguns Estados eles possuem (PI e RJ). Na maioria, portanto, não tem foro por prerrogativa.

Competência territorial:

Competência de natureza relativa.

Em regra a competência territorial é determinada pelo lugar da consumação da infração penal. Em se tratando de crime tentado será determinado pelo local do último ato executório (art. 70 do CPP).

A) fraude por meio da internet: furto qualificado pela fraude (mas não são todos, cuidado – pacote turístico fraudulento é estelionato). Consuma-se o delito de furto no local em que o bem é retirado da esfera de disponibilidade da vítima, ou seja, no local em que está situada a agência bancária do prejudicado.

B) pornografia praticada por meio da internet: consuma-se o crime do art. 241 do ECA com a publicação das imagens, sendo irrelevante para a fixação da competência a localização do provedor de acesso a internet (STJ, CC 29886).

C) apropriação indébita: determina-se o foro competente com base no local onde deveria ser realizada a prestação de contas.

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D) crimes formais: consuma-se no local em que a vítima é constrangida. Ex.: ligações efetuadas de Bangu e a vitima está em Santos que é constrangida a entregar dinheiro em São Paulo – sendo um crime de extorsão, portanto formal, é competente o local onde a vítima foi constrangida, qual seja , em Santos. São Paulo é apenas o local do exaurimento.

Competência pelo domicílio ou residência do réu:

a) Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência será firmada pelo domicilio do réu (CPP, art. 72 caput);

b) Se o réu tiver mais de um domicilio, a competência será firmada pela prevenção (CPP, art. 72, § 1°);

c) Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (CPP, art. 72, § 2/);

d) no caso ação penal exclusivamente privada, o querelante poderá preferir o foro do domicilio ou residência do réu, em vez do foro do local do crime, ainda que este seja conhecido (CPP, art. 73);

e) Domicilio é o lugar onde a pessoa se estabelece com ânimo definitivo, onde exerce suas ocupações habituais ( CC/2002, arts. 70 e 71)

f) No caso de pessoa ter vários domicílios, qualquer um será considerado como tal (CC/2002, art. 71).

Conexão e Continência.

Observação: são critérios que não determinam a competência, mas sim alteram.

Conexão (art. 76, CPP):

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

I – se, ocorrendo duas ou mais infrações/, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas (intersubjetiva por simultaneidade)/, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar (intersubjetiva por concurso)/, ou por várias pessoas, umas contra as outras (intersubjetiva por reciprocidade);

1) Conexão Intersubjetiva à Envolve vários crimes e várias pessoas obrigatoriamente:

a) Intersubjetiva por simultaneidade à Também conhecida como conexão subjetivo-objetiva, ocorre quando duas ou mais infrações praticadas ao mesmo tempo por diversas pessoas ocasionalmente reunidas.

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(Ex: caminhão da Skol que tomba na estrada e cada pessoa subtrai um caixa de cerveja).

b) Intersubjetiva por concurso à Duas ou mais infrações cometidas por duas ou mais pessoas em concurso, embora diversos o tempo e lugar. (Ex: quadrilha especializada no roubo de cargas).

c) Intersubjetiva por reciprocidade à Duas ou mais infrações cometida por diversas pessoas, umas contra as outras. (Ex: rixa). Os fatos são conexos e devem ser reunidos em um mesmo processo.

2) Conexão Objetiva / Lógica / Material à Quando um crime ocorre para facilitar a execução de outro, ou para ocultar, garantir vantagem ou impunidade a outra. (art. 76, II).

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

Ex. o traficante que mata o policial para garantir a venda das drogas a seus clientes.

Conexão Instrumental / probatória / processual à a prova de um crime influencia na existência de outro.

III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

Ex: crime antecedente (tráfico) e lavagem de capitais.

Continência : duas espécies:

1) continência por cumulação subjetiva: ocorre quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração penal. (CPP, art. 77, I). Aqui o vinculo se estabelece entre os agentes e não entre as infrações

2) continência por cumulação objetiva: ocorre nas hipóteses de concurso formal de crimes,

( o sujeito pratica uma única conduta, dando causa a dois ou mais resultados) Ex. motorista imprudente, dirigindo perigosamente (única conduta), perde o controle e atropela nove pedestre, matando-os (nove homicídios culposos) aberratio ictus ( o sujeito erra na execução e atinge pessoa diversa da pretendida ou, ainda, atinge quem pretendia e, além dele, terceiro inocente) e aberratio delicti (o sujeito quer praticar um crime, mas, por erro na execução, realiza outro, ou, ainda, realiza o crime pretendido e o querido) (art. 70, 73 e 74, CPP). Ex. Juninho irritado como o preço elevado do terno, joga uma pedra na vitrine, para produzir um dano

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na loja; quebra o vidro, e por erro, fere a vendedora (dano e lesão corporal culposa). Todas as causas devem ser julgadas pelo mesmo juiz.

Efeitos da conexão e da continência : enseja a reunião de processo; um dos juízos exerce força atrativa devendo avocar os processos que corram perante os outros juízos, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Súmula 235 do STJ. “235 - A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”.

■ Crime do júri e crime comum à a força atrativa é do tribunal do júri, salvo em relação a crimes militares e eleitorais.

■ No concurso entre jurisdição comum e a especial à prevalece a especial.

Observação: quem tem força atrativa em virtude da comarca?

Resposta: (art. 78, II, a, b, c, CPP). “Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: II – no concurso de jurisdições da mesma categoria: a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos”.

Separação de processos à (em quais hipóteses, havendo conexão e continência haverá a separação de processos?).

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152.

§ 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

■ No concurso entre a justiça comum e a militar à haverá separação obrigatória de processos.

■ Concurso entre a justiça comum e os juizados da infância e adolescência.

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■ Doença mental superveniente em relação a um dos acusado à

suspensão do processo para o “doente” e prosseguimento para os demais.

SUJEITOS PROCESSUAIS

CONCEITO

São as diversas pessoas que intervêm, direta ou indiretamente, no curso do processo, visando à pratica de determinados atos

a) Sujeitos principais ou essenciais: são aqueles cujas existência é fundamental para que se tenha uma relação jurídica processual, regularmente instaurada. Consiste ma figura do juiz, do acusador (MP ou querelante) e do acusado.

b) Sujeitos secundários, acessórios ou colaterais: são aqueles que embora não imprescindível à formação do processo, nele poderão intervir a titulo eventual com o objetivo de deduzir uma determinada pretensão. São os assistentes, os auxiliares da justiça e os terceiros, interessados ou não, que atuam no processo.

JUIZ CRIMINAL

A rigor sujeito processual não é o juiz, mas o Estado-Juiz, em nome do qual aquele atua.Como sujeito imparcial, cuja razão de estar no processo reside na realização pacifica do direito material penal, que, como se sabe, não pode ser voluntariamente aplicado pelas partes, mas substituindo a vontade destas e dizendo, no caso concreto, qual o direito substancial aplicável.

A lei confere ao juiz determinados poderes que são:

Poderes de policia ou administrativos:

A lei confere ao juiz determinados poderes que são:

1) Poderes de policia ou administrativos: Consiste em praticar atos mantenedores da ordem do decoro no transcorrer do processo. Para esse fim poderá requisitar a força policial. Ex. art. 794 do CPP, que confere ao juiz poder de policia para manter a ordem na audiência ou sessão; do art. 792, § 1º, art. 497 do CPP (Lei 11.689/08).

2) Poderes jurisdicionais: são aqueles relativos à condução do processo, tais como a colheita de provas, a tomada de decisões no processo criminal e a execução do comando sentencial.

● Poderes-meios

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■ Atos ordinatórios: são aqueles incorporados aos despachos de mero expediente e que tem por objetivo conduzir o processo, isto é, que ele alcance se desiderato com prolação da sentença final. Ex. determinação da citação do réu, designação de audiência de oitiva de testemunhas, aberturas de prazo legais etc.

■ Atos instrutórios: são aqueles praticados com a finalidade de angariar elementos de convicção capazes de permitir ao juiz a aplicação adequada do direito material e dessa forma, compor a lide. Ex. deferimento de diligencias requeridas pelo MP por ocasião do oferecimento da denuncia, atendimento do pedido da defesa no sentido de que um novo interrogatório do réu seja realizado (art. 196 do CPP), requisição de documentos (art. 234 do CPP)

● Poderes-fins

Compreendendo os de decisão e os de execução (efetivar um resultado). Ex. decretação de prisão provisória, concessão de liberdade provisória, arbitramento e concessão de fiança, extinção de punibilidade do agente, absolvição ou condenação.

OBS: além dos poderes citados, também confere a lei aos magistrados funções anômalas, que não se incluem em nenhuma das classificações mencionadas. Ex. requisitar a instauração de inquérito policial em relação a crime de ação pública de que tenha conhecimento, receber a representação do ofendido (art. 39 CPP) presidir auto de prisão em flagrante (art. 307 do CPP) etc.

Prerrogativas e vedações

A fim de assegurar a imparcialidade do órgão judicante, atributo essencial à jurisdição, a ordem constitucional confere à magistratura as seguintes garantias:

● Vitaliciedade (art. 95, I da CF), é adquirida pelo juiz após 2 anos de exercício no cargo. A perda deste só lhe pode ser imposta por sentença judicial, proferida em ação própria, transitada e julgada.

● Inamovibilidade (art. 95, II da CF), confere ao magistrado estabilidade no cargo do qual é titular, só podendo ser compulsoriamente removido por razões de interesse público (art. 93 VIII da CF).

● Irredutibilidade de subsidio (art. 95 III, da CF), assegura ao juiz independência funcional, resguardando-o de perseguições de ordem financeira por parte de governantes.

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Vedações ao juiz

São limitações estabelecidas ao juiz coma a finalidade de impedir que exerça outras atividades capazes de comprometer as funções atinentes à magistratura. Encontra-se no art. 95 parágrafo único da CF.

MINISTÉRIO PÚBLICO

É instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbido-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127, caput). Na esfera penal, o MP é instituição de caráter público que representa o Estado- Administração, expondo ao Estado-Juiz a pretensão punitiva.

Prerrogativas e vedações

a) Ao MP como um todo:

■ estruturação em carreira;

■ relativa autonomia administrativa e orçamentária (art. 127, § 2° da CF)

■ limitações à liberdade do chefe do Executivo para nomeação e destituição do procurador-geral (art. 128, §§ 1° a 4° da CF)

■ vedação de promotores ad hoc (art. 129, § 2° da CF).

b) Aos seus membros, em particular

■ Ingresso na carreira mediante concurso público de provas e titulos;

■ Vitaliciedade (art. 128, § 5°, I, a da CF);

■ inamovibilidade (art. 128, § 5°, I, b, da CF);

■ Irredutibilidade de subsídios (art. 39, § 4° da CF).

Vedações

Consiste nas limitações estabelecidas, primordialmente, pelo art. 128, § 5°, II da CF)

Princípios que informam o MP

Três são os princípios atinentes à instituição ministerial, em consonância com o disposto no art. 127, §§ 1° e 2°. Da CF:

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● Unidade: significa que os membros fazem parte de uma mesma instituição, esta chefiada por um Procurador-Geral.

● Independência: O órgão do MP, no exercício das suas funções, é independente, não se sujeitando à ordem ou ao entendimento de quem quer que seja, inclusive do procurador-geral.

Autonomia funcional e administrativa (art. 127, § 2°, da CF)

A primeira expressa a capacidade da instituição de autogovernar-se, emitindo regulamentos internos, organizando serviços, criando novos cargos etc. A segunda confere-lhe para resolver questões internas de ordem administrativa. Ex. férias, nomeações, aposentadoria, etc.

ACUSADO

É o sujeito passivo da relação processual. Enquanto transcorre a investigação, deve-se denominá-lo de indiciado, se, formalmente, apontado como suspeito pelo Estado. No momento do oferecimento da denuncia, o correto é chamá-lo de denunciado ou imputado. Após o recebimento da denuncia, torna-se acusado ou réu. Tratando-se de queixa, denomina-se querelado.

IDENTIFICAÇÃO

É a individualização do acusado perante as demais pessoas, ditada pela necessidade em se certificar que aquela submetida ao processo é a mesma à qual se imputam os fatos. Não é por outro motivo que o art. 41 do CPP exige que da denuncia ou da queixa constante a qualificação do acusado ou os esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo.

PRESENÇA, DIREITO AO SILÊNCIO E REVELIA

Com o advento das Leis 11.689/08 e 11.719/08, que alteraram as regras relativas ao procedimento do júri e comum, todos os atos instrutórios (oitiva de testemunhas, interrogatório etc.) foram concentrados numa única audiência, de forma que num mesmo momento processual poderão ser realizadas a defesa técnica e a autodefesa. Salienta-se, que a presença do réu em juízo não é indispensável, ficando a critério deste comparecer ou não, conforme entender mais conveniente.

É indispensável, todavia, sob pena de nulidade absoluta, que ele seja validamente citado ou então intimado a comparecer em juízo.

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Em juízo, como forma de manifestação da autodefesa, o réu pode optar por calar-se, tal como lhe faculta o art. 5°, LXIII da CF, sem que possa extrair qualquer presunção em seu desfavor.

“O silencio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa” (parágrafo único do art. 186 do CP)

Se regularmente citado ou validamente intimado a comparecer em juízo, o réu deixar de fazê-lo sem motivo, o processo seguirá à sua revelia, tornando-se desnecessário proceder a sua posterior intimação para qualquer ato do processo, salvo da sentença.

O réu que se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá a citação por hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 do CPC. Neste caso se não comparecer será nomeado defensor dativo.

DEFENSOR

A defesa que a lei torna indispensável é a técnica, desempenhada por pessoa legalmente habilitada (advogado). A CF, no art. 133, considera indispensável à administração da justiça o advogado, dispositivo legal, art. 2° da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB). Que pode ser exercida ainda que contra a vontade do representado, ou mesmo na sua ausência.

O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 a 100 salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis (CPP, art. 265).

● Defensor constituído, nomeado pelo réu através de procuração.

● Defensor dativo, se o réu não possuir o juiz nomear-lhe-á um.

CURADOR

Com o Código Civil de 2002 ficaram revogados todos os dispositivos do CPP que tratavam da nomeação de curador ao réu menor de 21 anos, bem como da nulidade pelo descumprimento dessa exigência.

Só se pode falar em nomeação de curador ao réu que, já ao tempo da infração penal, era portador de doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, capazes de afetar sua capacidade de entendimento ou vontade.

ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO

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É posição ocupada pelo ofendido, que atua no polo ativo, ao lado do MP ( CPP, art. 268, que “ em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do MP, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no art. 31 do CPP – cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do ofendido”).

Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1o, e 598.

§ 1o O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das provas propostas pelo assistente.

§ 2o O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado.

Art. 272. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente.

Art. 273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão.

PROVAS

1) CONCEITO

Provar significa demonstrar a verdade de uma afirmação ou de um fato. “A prova constitui, pois, o instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no processo”. (CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, 2004, p. 349).

Segundo ensinamento do Professor Mirabete quando refere que “provar é produzir um estado de certeza, na consciência e mente do juiz, para sua convicção, a respeito da existência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou falsidade de uma afirmação sobre uma situação de fato que se considera de interesse para uma decisão judicial ou solução de um processo”.

Sem duvida alguma, o tema referente à prova é o mais importante de toda ciência processual, já que as provas constituem os olhos do processo, o alicerce sobre o qual se ergue toda a dialética processual. Sem provas idôneas e validas, de nada adianta desenvolverem-se aprofundados debates doutrinários e variadas vertentes jurisprudenciais sobre temas jurídicos, pois a discussão não terá objeto.

2. Natureza jurídica.

O direito a prova é um desdobramento lógico do direito de ação e do direito de defesa.

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3. Finalidade da prova.

Tem como finalidade a formação da convicção do juiz.

4. Destinatários da prova.

Toda essa atividade que é desenvolvida ao longo do processo tem como destinatário a entidade decidente, ou seja, o órgão jurisdicional (juiz, tribunal, câmara, turma etc.).

5. Sujeito da prova.

Os sujeitos da prova são as pessoas responsáveis pela produção da prova. (Exemplo: vítima, testemunha, perito e etc.).

6. Fonte de prova.

Fonte de prova é tudo que indica algum fato ou afirmação que necessita ser provada (exemplo: denúncia).

Obs: Para a professora Ada Pellegrini Grinover o interrogatório é uma fonte de prova, logo a confissão do réu, por exemplo, deve ser provada. No entanto, prevalece que, o interrogatório além de ser um meio de prova é também um meio de defesa.

7. Meios de prova.

Cumpre observar que, meios de prova difere de prova. “Meio de prova é o mecanismo empregado para obtenção de um conteúdo, este sim a prova em si. Desta forma a testemunha não é ‘prova’, mas seu depoimento sim; a interceptação não é prova, mas o conteúdo da degravação”. (CHOUKR, 2007, p. 304).

Provas são instrumentos aptos à formação da convicção do juiz.

Em outras palavras, é tudo aquilo que alguém tem à sua disposição, para poder provar, direta ou indiretamente, o que se alega no processo.

No processo penal não vigora o princípio da taxatividade, mas sim o da liberdade das provas. Assim, é possível se valer de provas: a) típicas (ou nominadas), que são aquelas previstas no CPP, como também das b) atípicas (inominadas), que são aquelas não previstas no CPP.

Segundo Nestor Távora e Rosmar Antonni, esta não-taxatividade pode ser extraída do art. 155 do CPP, em seu parágrafo único.

(CPP, art. 155, Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil). Ex. O menor tem que provar se é menor através da certidão de nascimento.

Súmula 74, STJ. “Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil”. Mirabete cita outro exemplo “assim,

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por exemplo, o casamento prova-se pela certidão do registro (art. 1.543, CC)”.

Por obvio a liberdade das provas encontra limites:

No processo penal podem ser utilizados quaisquer meios de prova, ainda que não especificados na lei, desde que não sejam inconstitucionais, ilegais ou imorais.

Exceções ao princípio da liberdade das provas:

Art. 207, CPP: São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

b) Art. 479, CPP: Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

8) Forma da prova

É o modo pelo qual a prova é produzida. Segundo a doutrina, os modos são:

■ Oral (expressa pela afirmação de uma pessoa);

■ Documental;

■ Material: é tudo que deriva do objeto do próprio crime (ex.: faca, revólver, taco etc.).

A doutrina costuma, ainda, classificar a prova, quanto à sua causa, em real ou pessoal. A primeira é aquela emergente do fato (ex.: fotografias, pegadas etc.). A pessoal é a que decorre do conhecimento de alguém em razão do thema probandum (ex.: confissão, testemunha, declarações da vítima).

9. Elementos da prova.

São as afirmações ou fatos que devem ser provados (fato probando).

● Deve ser provado o fato narrado, tanto pela acusação quanto para defesa;

● Devem ser provados os costumes; (Ex. repouso noturno no furto – CP, art. 155 § 1°)

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● Deve ser provado o direito estrangeiro; direito estadual e municipal. (o art. 337, CPC, é aplicado subsidiariamente no processo penal. “Art. 337 - A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.

● Deve ser provado o fato não contesto ou incontroverso

Não existe confissão presumida no processo penal, por mais que o acusado confesse a acusação. “Ao contrário do Processo Civil, os fatos incontroversos, que são aqueles alegados por uma parte e reconhecidos pela outra, precisam de demonstração probatória” (Nestor).

● Regulamentos e portarias

Obs.: se a portaria é complemento de uma norma penal em branco, presume-se que o juiz a conhece. Ex.: Portaria 344 da ANVISA.

Por outro lado, não devem ser provados:

● Os fatos notórios; são fatos do conhecimento público. Ex. Dilma é Presidente.

● Fatos axiomáticos; são os fatos evidentes. Ex. da putrefação do cadáver, dispensa prova morte.

● Fatos inúteis; não possuem nenhuma relevância na decisão da causa. Ex. as preferências sexuais de individuo acusado de crime de furto.

● Presunções legais (é uma conclusão firmada pela própria lei).

■ Presunção absoluta “iure et de iuri” à é aquela que não admite prova em contrário. Ex: inimputabilidade do menor de 18 anos.

■ Presunção relativa “iuris tantum” à é aquela que admite prova em contrário.

10. Classificação das provas.

10.1 - Quanto ao objeto :

a) Prova direta à é aquela que recai diretamente sobre o fato probando. Ex. o testemunho prestado por determinada pessoa que presenciou um homicídio.

b) Prova indireta à também chamada de prova indiciária. É a circunstância técnica conhecida e provada que autoriza por indução a conclusão da existência de outra circunstância. Ex. álibi

Observação: é possível uma condenação com base em uma prova indireta?

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Resposta: Sim. (exemplo: “caso Isabela”; ninguém viu a prática do crime “prova indireta”; mas através dos exames periciais produzidos, autoriza a indução e conclusão de se chegar a uma condenação).

10.2 - Quanto ao sujeito :

a) prova pessoal à é aquela que emana de pessoa. Ex: testemunha que viu o crime, o interrogatório, os laudos periciais.

b) prova real à é aquela externa e indistinta da pessoa. Ex: uma arma com as impressões digitais, o cadáver.

10.3 - Quanto à forma ou aparência :

a) prova testemunhal; resultante do depoimento prestado por sujeito estranho ao processo sobre fatos de seu conhecimento pertinentes ao litígio;

b) prova documental; produzida por meios de documentos;

c) prova material à obtida por meio químico, físico ou biológico. Ex. exames, vistorias, corpo de delitos etc.

10.4 - Quanto ao efeito :

a) prova plena à é aquela que produz um juízo de certeza necessária para uma sentença condenatória.

b) prova semi-plena à é aquela que gera um juízo de probabilidade (serve para o oferecimento da denúncia; para decretação de medidas cautelares). Ex. prova para o decreto de prisão preventiva.

11. Princípios das provas.

11.1 - Princípio do indubio pro reo à também chamado de princípio da não presunção de culpabilidade. Deriva do princípio da presunção de inocência. Tem como fundamento constitucional o art. 5º, LVII. “LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

11.2 - Princípio da busca da verdade pelo juiz à no processo penal o juiz deve buscar a verdade, não devendo se limitar por uma produção probatória das partes. (art. 156, CPP). No processo penal brasileiro em virtude da adoção de um sistema acusatório flexível, admite-se a produção de provas pelo juiz de ofício de forma subsidiária. (art. 156, CPP).

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de oficio:

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I – ordenar mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas, consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida.

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligencias para dirimir duvida sobre ponto relevante.

11.3 - Princípio da comunhão das provas à a prova produzida por uma parte pode ser aproveitada por outra.

11.4 - Princípio do contraditório à consiste na ciência bilateral e possibilidade de contrariar as provas produzidas pela outra parte.

Observação: e interceptação telefônica durante o processo, como fica o contraditório e a ampla defesa?

Resposta: Na interceptação telefônica o contraditório é diferido (adiar, procrastinar), ou seja, enquanto a interceptação estiver em andamento não tem que se dar ciência a parte contrária “também pudera!!”. No entanto, uma vez designado o interrogatório é indispensável o acesso da defesa ao conteúdo do inquérito, inclusive o laudo de degravação.

11.5 - Princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas à (art. 5º, LVI, CF). “LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. O fundamento da inadmissibilidade são as garantias dos direitos fundamentais.

● Provas obtidas por meios ilícitos à São aquelas que violam uma regra de direito material; Ex: torturar alguém para confessar.

● Provas obtidas por meios ilegítimos à violam normas de direito processual penal, ou legislação processual penal extravagante. Ex: exibição de documento no Tribunal do Júri que não tenha sido juntado aos autos em 3 dias antes da audiência.

Observação: “essa distinção entre provas ilícitas e ilegítimas” é uma diferença feita pela Professora Ada Pellegrini Grinover.

11.6 - Princípio da não auto-incriminação à também conhecido por “nemo tenetur se detegere”. Tem fundamento constitucional no art. 5º, LXIII “Art. 5º (...) LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. Além do mais o Pacto de São Jose da Costa Rica também dispõe do “nemo tenetur se detegere” no seu art. 8º, §2º, g “Art. 8 (...) §2º. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”. O Pacto de São Jose da

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Costa Rica (Convenção Americana dos Direitos Humanos) foi ratificado pelo Decreto 678/1992.

11.6.1- Conseqüências do princípio da não auto-incriminação:

O réu tem direito ao silêncio, e tal silêncio não poderá ser interpretado contra ele (art. 198, CPP). Em uma breve leitura do art. 198, CPP, dá pra perceber que a parte final não foi recepcionada pela Constituição Federal, vejamos:

Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, (mas poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz).

O réu pode mentir de maneira defensiva, tal conduta não constitui crime. Porém, se a mentira for agressiva (é aquela que imputa a terceiro fato criminoso), o acusado responderá pelo crime de denunciação caluniosa.

O réu tem o direito de não praticar nenhum comportamento incriminador (exemplo: reconstituição de crime; utilização de bafômetro “produções de prova contra si mesmo”). “Destarte, através do princípio do nemo tenetur se detegere, o sujeito passivo não pode ser compelido a declarar ou mesmo participar de acareações, reconstituições, fornecer material para realização de exames periciais (exame de sangue, DNA, escrita etc.) etc. Sendo a recusa um direito, obviamente não pode ao mesmo tempo ser considerado um delito”. (LOPES JR, 2005, p. 353).

O réu tem o direito de não produzir prova incriminatória que envolva o corpo humano.

■ Provas invasivas à são aquelas que envolvem o corpo humano e implicam na extração de alguma parte dele ou em sua invasão física. (exemplo: puxar um fio de cabelo, tirar sangue, extrair saliva).

■ Provas não invasivas à constituem numa inspeção ou verificação corporal, e não implicam na extração de alguma parte do corpo humano.

Observação: Pode apreender lixo?

Resposta: Enquanto o lixo tiver dentro da casa esta protegido pela inviolabilidade do domicilio, portanto, depende de mandado de busca e apreensão. Por outro lado, o lixo que esta fora da casa poderá ser apreendido, uma vez que foi recusado. (Exemplo: Caso Vilma “mãe de Pedrinho”; Caso Glória Trevi “Cantora mexicana” (STF – Reclamação/2.040).

Rcl-QO 2040/DF - DISTRITO FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM NA RECLAMAÇÃO. Relator (a): Min. NÉRI DA SILVEIRA. Julgamento: 21/02/2002.

EMENTA: - Reclamação. Reclamante submetida ao processo de Extradição n.º 783, à disposição do STF. 2. Coleta de material

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biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de DNA, para averigüação de paternidade do nascituro, embora a oposição da extraditanda. 3. Invocação dos incisos X e XLIX do art. 5º, da CF/88. 4. Ofício do Secretário de Saúde do DF sobre comunicação do Juiz Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do DF ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte - HRAN, autorizando a coleta e entrega de placenta para fins de exame de DNA e fornecimento de cópia do prontuário médico da parturiente. 5. Extraditanda à disposição desta Corte, nos termos da Lei n.º 6.815/80. Competência do STF, para processar e julgar eventual pedido de autorização de coleta e exame de material genético, para os fins pretendidos pela Polícia Federal. 6. Decisão do Juiz Federal da 10ª Vara do Distrito Federal, no ponto em que autoriza a entrega da placenta, para fins de realização de exame de DNA, suspensa, em parte, na liminar concedida na Reclamação. Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte, quanto à realização da coleta da placenta do filho da extraditanda. Suspenso também o despacho do Juiz Federal da 10ª Vara, na parte relativa ao fornecimento de cópia integral do prontuário médico da parturiente.

Gravação feita pela imprensa com o preso - gravação de conversa informal entre policiais e o preso.

Essas gravações feitas sem a advertência formal quanto ao direito ao silêncio constituem prova ilícita, pois violam o art. 5º, inciso LXIII da CF.

12. Prova emprestada.

É aquela produzida em um processo e levada a outro a título de prova documental. É possível a prova emprestada, desde que seja observado o contraditório e a ampla defesa.

Observação: “Não se admite prova emprestada quando transplantada de inquérito policial”. (CAPEZ, 2010, p. 380).

Observação: é possível interceptação telefônica em matéria cível ou matéria administrativa?

Resposta: Em regra, a interceptação telefônica só pode ser autorizada com fins de investigação criminal ou instrução processual penal, no entanto, uma vez produzida a prova, será possível sua utilização a título de prova emprestada de natureza cível ou administrativa.

13. Sistemas de valoração da prova.

13.1 - Sistema da certeza moral ou íntima convicção do Juiz à O juiz não precisa fundamentar sua conclusão, ou seja, a decisão é matéria

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exclusiva do seu pensamento. No plenário do Júri esse é o sistema adotado, pois os jurados não precisam fundamentar sua decisão.

13.2 - Sistema da certeza moral do legislador à é também conhecido como sistema tarifário das provas ou sistema tarifado. Aqui, a Lei atribui valor a cada prova, cabendo ao Juiz, simplesmente fazer a somatória. Alguns doutrinadores enxergam no art. 168, CPP vestígios desse sistema.

13.3 - Sistema da livre convicção do Juiz à também conhecido por “persuasão racional; livre convencimento ou da verdade real”. Aqui, “O juiz tem liberdade para formar sua convicção, não está preso a qualquer critério legal de prefixação de valores probatórios”. (CAPEZ, 2010, p. 381). De acordo com o art. 93, IX, CF, esse é o sistema vigente no Brasil.

13.3.1- Conseqüências do sistema da livre convicção do Juiz:

■ Não existe prova de valor absoluto; toda prova tem valor relativo;

■ O juiz deve valorar todas as provas produzidas no processo;

■ Só são válidas as provas constantes do processo, portanto, conhecimento privados do juiz não são válidos.

Indicado na exposição de motivos do CPP, está previsto no art. 93, IX, CF, e 155, CPP, sendo a regra:

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Alterado pela EC-000.045-2004)

14. Ônus da prova.

É o encargo que a parte tem de provar a veracidade do fato alegado. Em outras palavras, ônus da prova seria “o encargo atribuído à parte de provar aquilo que alega. A determinação legal do ônus da prova vem expressa no art. 156 do CPP, vejamos:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante

14.1 - O ônus do Ministério Público no processo:

● Existência de fato penalmente ilícito;

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● Autoria;

● Relação de causalidade;

● Dolo e culpa.

Observação: Teoria da cegueira deliberada à "willful blindness" ou "conscious avoidance doctrine". É uma teoria oriunda do Direito Norte Americano A teoria da cegueira deliberada serve para justificar a atitude de quem prefere manter-se deliberadamente ignorante, inerte ou propositadamente "cego". Cegueira deliberada está ligada ao fato inusitado da avestruz esconder a cabeça debaixo da terra. Tal teoria vem sendo aplicada no direito brasileiro nos casos de crimes de lavagem de capitais. Pois, nos crimes de lavagem de capitais, quando o agente deliberadamente evita a consciência quanto à origem dos valores, por conseqüência, assume o risco de produzir o resultado, portanto, responde o agente a título de dolo eventual pelo delito de lavagem de capitais.

Ex.: dono de loja de veículos em uma cidade beira-mar. Um sujeito chega e compra vários veículos em dinheiro. O dono da loja tem a obrigação de comunicar operações suspeitas (caso do Bacen), mas prefere não saber a origem do dinheiro.

Se o agente deliberadamente evita o conhecimento quanto à origem ilícita dos bens, responde a título de dolo eventual pelo crime de lavagem de capitais.

14.2 - Ônus da defesa no processo:

● Fatos extrínsecos (ex: casamento; pagamento);

● Fatos impeditivos (excludentes da tipicidade e da culpabilidade);

● Fatos modificativos (excludentes da ilicitude).

15. Prova Pericial.

15.1 - Conceito de prova pericial à “É um meio de prova que consiste em um exame elaborado por pessoa, em regra profissional, dotada de formação e conhecimento específicos, acerca de fatos necessários ao deslinde da causa”. (CAPEZ, 2006, p. 316).

15.2 - Laudo pericial à é o documento elaborado pelo perito. Sendo composto por quatro partes:

a) Laudo pericial ou preâmbulo (contém os nomes e as qualificações dos peritos);

b) Exposição de tudo que é observado;

c) Fundamentação;

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d) Respostas aos quesitos.

15.3 Quem determinará as perícias à tanto a autoridade policial como o juiz podem determinar a realização de perícias, seja de ofício ou a requerimento faz partes.

Observação: Qual a perícia que não pode ser determinada pela autoridade policial?

Resposta: Incidente de insanidade mental. (CPP, art. 149, § 1°)

15.4 - Momento de realização do laudo pericial à em regra, o exame de corpo de delito não é necessário para o exame do processo. No entanto, existe uma exceção que é o laudo de constatação de drogas.

15.5 - Número de peritos à basta apenas 01 (um) oficial. Os peritos ainda podem ser:

15.5.1- Oficiais à “é aquele que presta compromisso de bem fielmente servir e exercer a função quando assume o cargo, ou seja, quando após o regular concurso de provas e títulos, vem a ser nomeado e investido no cargo de perito”. (CPEZ, 2006, p. 321).

15.5.2- Não oficiais ou louvado à “Tais peritos são também chamados de peritos leigos ou ad hoc e deverão ser sempre profissionais de curso superior”. (DEL-CAMPO, 2007, p. 17). Preceitua o art. 159 § 1° “na falta de perito oficial, o exame será realizado por (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área especifica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”.

§ 2º que “Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo”. Caso haja a ausência de compromisso não haverá nulidade, mas uma mera irregularidade.

15.6 – Do exame de Corpo de delito à é o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal, ou seja, representa a materialidade do crime. “Algumas infrações penais como a injuria verbal, não deixam vestígios (delicta facti transeuntis). Outras, como o homicídio ou a maioria dos delitos patrimoniais, deixam modificações no mundo material que podem ser percebidas por nossos sentidos ou por aparelhos especiais (delicta facti permanentis). Nesses casos é necessária a realização do exame de corpo de delito, cujo resultado será posteriormente apresentado sob forma de minucioso relatório”. (CAPEZ, 2010, p. 391).

Observação: qual a diferença entre corpo de delito e exame de corpo de delito?

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Resposta: “O exame de corpo de delito é um ato em que os peritos descrevem suas observações e se destina a comprovar a existência do delito; o corpo de delito é o próprio crime em sua tipicidade”. (CAPEZ, 2010, p. 391).

15.7 - Exame de corpo de delito direito e indireto à no direto, o exame é feito diretamente sobre o corpo de delito (janela arrombada, cadáver). Já no indireto, o exame pericial é feito a partir das declarações das testemunhas. Podendo esta, suprir a falta do exame pericial. (STF – HC/69.591).

16. Sistemas de apreciação do laudo pericial

I. Sistema vinculatório

II. Sistema liberatório

No sistema vinculatório, o juiz fica vinculado a o laudo pericial, enquanto que, no sistema liberatório, o magistrado pode rejeitá-lo, no todo ou em parte.

Por conta do sistema do livre convencimento motivado, o juiz, de modo algum, fica preso ao exame pericial.

art. 182 do CPP:

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

17. Ausência do exame de corpo de delito direto

Caso não haja exame de corpo de delito direto, sendo ainda possível fazê-lo, o processo estará contaminado por uma nulidade absoluta (art. 564, III, “b”).

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;

Porém, caso, ao final do processo, não haja a comprovação do corpo de delito, deve o juiz absolver o acusado por ausência de prova da materialidade.

18. Assistente técnico: é uma novidade, porque era exclusivo do processo civil. É pessoa dotada de conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos que traz ao processo informações especializadas relacionadas ao objeto da perícia.

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Diferença com o perito:

1) o assistente é auxiliar das partes e o perito é auxiliar do juiz (dever de imparcialidade, sujeito as causas de impedimento ou suspeição).

2) O perito - sendo oficial ou não - é considerado, no exercício de suas funções, funcionário público (art. 327 do CP). Assim, se realizar uma perícia falsa responde pelo art. 342 do CP (falsa perícia).

3) o assistente é parcial. Por isso, eventuais falsidades cometidas pelo assistente não caracterizam o crime de falsa perícia podendo a depender da hipótese tipificar o crime de falsidade ideológica.

Diante do teor dos § 4º, 5º e 6º do art. 159 do CPP, a intervenção do assistente somente é possível em juízo e após a conclusão dos exames feitos pelos peritos, ou seja, não se admite a intervenção do assistente na fase de investigação.

§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.

§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.

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