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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 1 Aula de 19 de Setembro de 2013 Apresentação. O Direito Fiscal é um ramo do Direito Público, sendo composto por: i. REGRAS PROCESSUAIS – indicam quais são os instrumentos jurídicos que fazem valer os direitos fixados nos códigos de direito material: Código de Procedimento e Processo Tributário (regras do procedimento e do processo tributário) LGT (princípios e regras gerais que pautam o direito processual e o direito material) Código do Processo nos Tribunais Administrativos PARTICULARIDADE: a contraparte é sempre a Administração Tributário (área ‘’mega’’ eficaz) ii. REGRAS DE DIREITO MATERIAL CIRS CIRC Cód. Imposto de Selo Cód. Benefícios Fiscais PROCESSO TRIBUTÁRIO FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA MESTRADO FORENSE 2013/2014

Processo Tributáriox

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Aula de 19 de Setembro de 2013

Apresentação.

O Direito Fiscal é um ramo do Direito Público, sendo composto por:

i. REGRAS PROCESSUAIS – indicam quais são os instrumentos jurídicos

que fazem valer os direitos fixados nos códigos de direito material:

• Código de Procedimento e Processo Tributário (regras do

procedimento e do processo tributário)

• LGT (princípios e regras gerais que pautam o direito processual e

o direito material)

• Código do Processo nos Tribunais Administrativos

PARTICULARIDADE: a contraparte é sempre a Administração

Tributário (área ‘’mega’’ eficaz)

ii. REGRAS DE DIREITO MATERIAL

• CIRS

• CIRC

• Cód. Imposto de Selo

• Cód. Benefícios Fiscais

PROCESSO TRIBUTÁRIO

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

MESTRADO FORENSE

2013/2014

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PROCEDIMENTO PROCESSO

Reage-se contra actos da

Administração Tributária com vista à

sua nulidade

Requer-se a um juíz/arbitro que se

substitua à Administração Tributária,

de modo a proceder à anulação ou

revogação de um acto por aquela

praticado.

PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO = FASE GRACIOSA = FASE

ADMINISTRATIVA DO PROCESSO

O procedimento tributário pode também designar-se por fase graciosa uma vez

que no tempo da monarquia pedia-se ao Rei que desse a sua graça. Esta fase do

processo não é graciosa por ser grátis!

Na fase graciosa, o meio por excelência que o contribuinte pode usar é a

reclamação graciosa. Note-se que cabe sempre ao contribuinte a decisão de

recorrer primeiro à utilização de um meio gracioso ou se vai logo para tribunal.

(▲ irá sair no exame!)

EXAME: com toda a certeza irá sair um meio gracioso.

A fase judicial é composta, essencialmente, por duas vias: pela acção

administrativa especial e pela impugnação judicial.

No processo executivo, ao contrário dos outros ramos do Direito, a

Administração Tributária tem o benefício de excussão prévia, que funciona na

lógica do ‘’primeiro paga-se e depois discute-se’’.

TRABALHO

• Análise de Jurisprudência

• Escolha dos Grupos e dos Temas – Aula 10 de Outubro

• Apresentação Oral – Aulas 12 e 19 de Dezembro

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MÉTODO DE AVALIAÇÃO

• Preparação das Aulas e Participação Activa nas Aulas

• Elaboração do Trabalho

• Exame Final (3 de Janeiro)

Aula de 26 de Setembro de 2013

I – INTRODUÇÃO

OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E A TUTELA JURISDICIONAL

EFECTIVA

A CRP económica possui um vasto leque de normas, regulando grande parte

desta matéria. Como dizia o Prof. Saldanha Sanches, os impostos são os

maiores actos abalativos do Estado sobre a propriedade privada. E mesmo

assim, o TC tem chumbado muitas medidas fiscais.

Nos termos do artigo 268.º da CRP consagram-se os ‘’Direitos e Garantias dos

Administrados’’:

• N.º1 e 2: Direito à Informação e Consulta, excepto se estiverem sob

segredo judicial;

• N.º3: Direito à notificação dos actos (▲é extremamente importante e de

certeza que sairá um vício destes no exame);

• N.º4: Direito à Tutela Jurisdicional Efectiva (▲muito importante! Sairá

no exame!);

• N.º5: Direito à impugnação das normas administrativas com eficácia

externa, sendo que os particulares não podem reagir contra actos

interlocutórios. Apenas podem reagir contra actos definitivos (Princípio

da Impugnação Unitária).

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• N.º6: Direito a obter uma decisão por parte da Administração, uma vez

que o contribuinte tem sempre que obter uma decisão por parte da

Administração. Não pode ficar sem resposta. Existem prazos para que a

Administração Tributária responda, sendo que se não o fizer considera-

se indeferido (INDEFERIMENTO TÁCITO): do silêncio retira-se uma

decisão. Ou seja, caso a Administração Tributária não decida forma-se na

ordem jurídica dos contribuintes um acto tácito de indeferimento.

DIREITO OU PRINCÍPIO À TUTELA JURISDICIONAL EFECTIVA – ART.

268.º/4 CRP

A um direito corresponderá sempre um meio adequado para reagir no caso de

esse direito ser ‘’ferido’’. Na lei processual há-de haver um expediente

adequado para fazer valer esse direito, quer seja em sede administrativa, quer

seja em sede judicial. Ou seja, a um direito material corresponderá sempre o

direito processual de reclamar, reconhecer ou impugnar.

▲ No início de um caso prático é necessário começar por este princípio (‘’A um

direito material corresponde um direito processual de impugnar, recorrer e

exigir’’).

O Direito ou Princípio à Tutela Jurisdicional Efectiva impõe que para todo e

qualquer conflito que mereça composição judicial seja possível encontrar um

Tribunal competente e um meio processual que confira proteccção adequada e

suficiente aos interesses dignos de tutela jurídica.

Ao contrário do que sucede no Direito Administrativo, para o Direito

Tributário, a Teoria da Definitividade continua a ser relevante. O artigo 268.º/5

CRP exige que, independentemente da forma do acto, é necessário existir um

meio de reacção.

O CPTA, no seu artigo 2.º, identifica o princípio da tutela jurisdicional efectiva

introduzindo no contencioso administrativo a velha máxima do processo civil

de que ‘’a cada direito corresponde uma acção’’, isto é, que a cada direito ou

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interesse legalmente protegido corresponde uma tutela adequada na

jurisdicição administrativa.

ACTO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA ACTO TRIBUTÁRIO

Não fixa um valor a pagar. Por

exemplo, de uma decisão quanto ao

reconhecimento de um benefício

fiscal, poderá existir:

- Recurso Hierárquico (CPPT);

- Acção Administrativa Especial

(CPTA);

-Reclamação Graciosa (CPPT)

Normalmente é um acto de liquidação

adicional, sendo que desta poderá

existir:

- Reclamação Graciosa (CPPT);

- Impugnação Judicial (CPPT);

- Recurso Hierárquico (CPPT)

Existe uma certa incoerência lógica entre o Contencioso Administrativo e o

Processo Tributário: o legislador constitucional quando formulou o artigo

268.º/5 e consagragou que o princípio em análise era ‘’independente da sua

(leia-se do acto) forma’’ não considerou a Teoria da Definitividade do Acto,

tendo apenas como base o facto de que havendo um direito, terá de haver um

meio de reacção para o discutir.

O Princípio à Tutela Jurisdicional Efectiva desdobra-se em três vertentes:

i. No plano da tutela declarativa (defende/visa reconhecer um direito);

ii. No plano da tutela cautelar (prévio à declaração de um direito) e, por

fim,

iii. No plano da tutela executiva.

O Princípio à Tutela Jurisdicional Efectiva é aplicável a todos os ramos do

Direito Administrativo:

• Reconhecimento de Direitos e Interesses;

• Impugnação de Actos Adoptados;

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• Obtenção da prática de actos devidos;

• Medidas Cautelares.

Note-se que no processo tributário, estes últimos quatro pontos conseguem ser

todos alcançados através de um único meio: impugnação judicial.

Nos termos do artigo 9.º da LGT, existe mais uma manifestação deste princípio,

tratando o referido artigo do acesso à justiça tributária.

Quanto ao sistema fiscal, nos termos do artigo 103.º/2 da CRP, ‘’os impostos

são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as

garantias dos contribuintes’’. Assim, as matérias sobre as garantias dos

contribuintes são, à semelhança dos impostos, criadas/modificadas por Lei

estando portanto estas matérias sob a protecção dos Princípios da Legalidade e

da Reserva (Relativa) da Lei da Assembleia da República. Ou seja, esta norma

consagra uma das garantias do contribuintes, conduzindo a que as regras

processuais tributárias apenas possam ser alteradas directamente pela

Assembleia da República, ainda que o impulso seja dado pela bancadada

parlamentar à qual corresponde o Governo ou pelo Governo, se este tiver uma

autorização da Assembleia da República. Se não tiver essa autorização, o que o

Governo poderá fazer é fazer com que a bancada parlamentar apresente a

proposta como sua. Mas o Governo sozinho não as pode alterar.

Nos termos do artigo 8.º da LGT consagra-se o Princípio da Legalidade

Tributária.

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O PROCESSO TRIBUTÁRIO, O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E

A ARBITRAGEM

PROCESSO TRIBUTÁRIO: conjunto de regras que estabelecem os mecanismos

de emanação dos actos tributários ou em matéria tributária e, bem assim, os

meios de tutela dos administrados dentro da relação jurídica tributária.

PROCEDIMENTO � FASE ADMINISTRATIVA

PROCESSO � FASE JUDICIAL

A sua natureza assenta no facto de ser um ramo do Direito Administrativo, isto

é, existe um lítigio de direito público em que o Estado é o sujeito activo da

relação jurídica e o particular o sujeito passivo.

Quanto ao seu objecto, tal assenta no facto de visar a sindicância, administrativa

ou judicial, de toda a actividade administrativa em matéria tributária.

Os lítigios puramente administrativos são resolvidos pela legislação

administrativa, ou seja, pelo CPA, CPTA, etc.

ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA: o processo arbitral como meio processual

alternativo aos meios processuais judiciais. Sendo ‘’arbitrável’’ mais do que é

‘’impugnável’’. A decisão arbitral em regra é uma melhor decisão, uma vez que

o árbitro é especializado em Direito Fiscal, ao contrário do que pode suceder

com o juíz. Além disso, a arbitragem é muito mais rápida: tem de haver uma

decisão num prazo de 6 meses.

Pode ser efectuada num Tribunal Comum (o contribuinte não escolhe os

árbitros) ou num Tribunal Especializado (o contribuinte escolhe os árbitros).

Note-se que os árbitros têm de ser juridicas de reconhecido mérito na área fiscal

e com 10 anos ou mais de experência.

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A Arbitragem Tributária existe há cerca de três anos em Portugal. Antes da

arbitragem, a Administração Tributária raramente ganhava processos. Com a

Arbitragem isso mudou muito.

Na arbitragem, sendo as audiências públicas, existe discussão oral em sede de

Julgamento, o que não sucede na impugnação oficial (apenas as testemunhas

são ouvidas em sede de audiência de julgamento e, muitas vezes, o juiz

dispensa ouvi-las).

CONTENCIOSO DE MERA

ANULAÇÃO

CONTENCIOSO DE PLENA

JURISDIÇÃO

Limita-se a anular o acto, isto é, possui

um conteúdo anulatório da sentença

ou da decisão arbitral.

Anulação do acto e prática do acto

legalmente devido, isto é, possui um

conteúdo condenatório da sentença ou

da decisão arbitral.

O Processo Tributário, actualmente, é entendido como Contencioso de Plena

Jurisdição: discutiu-se na doutrina se seria ‘’contencioso de mera anulação’’,

mas sendo um Ramo do Direito Administrativo, o CPTA colheu a ‘’plena

jurisdição’’, em 2004. Deste modo, existe condenação à prática do acto devido,

sempre que haja elementos e, além disso, existe condenação no pagamento de

juros, para além do pedido. Está presente o princípio da

oficiosidade/oficialidade (esta última terminologia é da preferência do

Conselheio Jorge Lopes de Sousa) e da investigação ou do inquisitório, nos

termos do artigo 13.º CPPT, artigo 99.º da LGT e artigo 144.º do CPPT (entre

outros).

DECLARAÇÃO ------------ LIQUIDAÇÃO ------------- PAGAMENTO

����

Estas fases confundem-se na Auto Liquidação

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O objecto do processo tributário assenta nos actos tributários, os quais, de

grosso modo, se traduzem em actos de liquidações de tributos como:

• LIQUIDAÇÕES ADICIONAIS (exemplo de IRS): tornam certa e exigivel

uma determinada dívida. A regra assenta em ser a

Administração/Estado que liquida. Contudo, ultimamente a

Administração tem vindo a delegar esta função nos contribuintes: estes

liquidam e a Administração vem, se quiser, verificar se a auto liquidação

foi bem feita. Dentro do prazo de caducidade e após uma inspecção, a

Administração descontente com a auto liquidação procede a uma

liquidação adicional (tanto na liquidação como na auto liquidação).

• ACTOS DE AUTOLIQUIDAÇÃO (exemplo: IRS, IRC e IVA): o

contribuinte substitui-se à Administração Tributária porque é obrigado

por lei a tal, por exemplo, é se obrigado por lei a entregar a declaração de

IRS;

• LIQUIDAÇÕES OFICIOSAS: não existiu liquidação nem auto liquidação,

sendo que a a Administração Tributária substitui-se ao contribuinte e

emite ela mesma a liquidação. Ou seja, o contribuinte não faz a auto

liquidação seja porque (1) não a entregou (exemplo: não entregou a

declaração de IRS); (2) não lhe deram elementos suficientes para isso.

Este é o meio usado para as manifestações de riqueza.

• ACTOS DE RETENÇÃO NA FONTE: pode ser a título de imposto por

conta ou definitiva (exemplo: não residentes; acontece quando uma

entidade que é devedora do sujeito passivo desconta parte do valor em

divida para entre à Administração Tributária. A lei reconhece capacidade

ao substituto tributário, ou seja aquele que retém.

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• ACTOS DE PAGAMENTO POR CONTRA: quem retém são os

contribuintes que vão adiantando imposto ao Estado (exemplo: pessoas

colectivas, empresários em nome individual, profissionais liberais, etc.)

NOTA: liquidação e auto liquidação enquanto verdadeiros actos tributários!

Os impostos são devidos em função da verificação de um facto tributário, que

pode ser de formação instantânea (ocorre na data em que se dá) ou pode ser de

formação sucessiva (exemplo: IRS – 31 de Dezembro/ano).

A tutela administrativa e judicial está prevista no CPPT, no RJAT e na LGT.

O objecto do processo tributário assenta igualmente nos actos em matéria

tributária, ou seja, todos os outros actos suceptíveis de afectar direitos

tributários.

A tutela administrativa e judicial está prevista no CPTA e no RJAT.

FONTES DO DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO

• LEI GERAL TRIBUTÁRIA: contém os princípios do procedimento e

processo tributário, a enunciação de regras fundamentais, a previsão de

direitos específicos de caracter geral (por exemplo normas sobre

pagamento de juros) e a previsão específica do mecanismo da revisão

dos actos tributários (artigo 78.º) e do pedido de revisão da matéria

colectável (artigo 91.º).

• CÓDIGO DE PROCEDIMENTO E DE PROCESSO TRIBUTÁRIO:

encerra os princípios do procedimento e processo tributário, as regras

fundamentais sobre procedimentos específicos (derrogação do sigilo

bancário, reconhecimento de benefícios) os mecanismos tutelares da via

administrativa e da via judicial para atacar os actos tributários e regras

da execução fiscal.

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• REGIME JURÍDICO DA ARBITRAGEM EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA:

disciplina a arbitrahem como meio alternativo à resolução jurisdicional

de conflitos em matéria tributária.

• REGIME GERAL DAS INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS: disciplina as

infracções tributárias sejam elas contra-ordenações ou crimes.

• REGIME COMPLEMENTAR DAS INSPECÇÕES TRIBUTÁRIAS: regula

o procedimento das inspecções tributárias efectuadas pela

Administração Tributária aos contribuintes.

• CÓDIGOS AVULSOS: CIRC, CIRS, CIVA, CIMT, CIMI, etc.

INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS TRIBUTÁRIAS E

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Nos termos do artigo 11.º da LGT encontra-se consagrada a forma de

interpretação das normas processuais tributárias.

Na interpretação das normas processuais são aplicáveis as regras gerais sobre

interpretação e aplicação das leis contidas no CC, ou seja o artigo 9.º com

algumas ressalvas:

i. Segundo o artigo 11.º da LGT, a menos que a lei fiscal diga que, do ponto

de vista jurídico, um determinado conceito deve ter um sentido diferente

para efeitos fiscais, deve-se entender esse conceito da mesma forma que

se entende na lei geral. Exemplo: residente em termos fiscais é diferente

de residente em termos de direito civil; com a aquisição do direito de

propriedade passa-se o mesmo (é uma noção mais ampla no direito

fiscal). Os termos próprios do direito tributário são interpretados de

acordo com os conceitos e regras deste ramo de Direito (exemplo: o

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conceito de benefício fiscal está definido no artigo 2.º do EBF), salvo se a

lei o excepcionar.

ii. Como já defendia o Professor Saldanha Sanches deveremos atribuir

maior ponderação ao elemento teleológico da interpretação, ou seja,

levar principalmente em contra ‘’a justificação social da lei’’. Segundo a

Teoria da Materialidade Subjacente ou da Prevalência da Substância

sobre a Forma, na dúvida deve-se se aplicar a regra da ‘’substância

económica’’ dos factos tributários. Note-se que o Princípio da

Prevalência da Substância sobre a Forma é muito importante para o

Direito Fiscal, na medida em que não interessa o nome que as partes lhe

deram, o que interessa é o que as partes quiseram.

iii. Em termos fiscais, é proibida a interpretação de lacunas através da

interpretação analógica, mas apenas quanto a matérias reservadas à

competência da Assembleia da República. Quanto a todas as outras

matérias (todas as que não são reservadas à AR) são passíveis de

integração de lacunas.

▲ Pergunta de Exame Oral: Existe integração de lacunas em Direito Fiscal? Sim,

mas apenas quanto às matérias que não são de competência reservada da

Assembleia da República.

Quanto à importância das orientações administrativas e sua validade é

necessário ter em consideração que as orientações administrativas genéricas que

compõem o que se designa muitas vezes de direito circular constituem

regulamentos internos, que vinculam os serviços da administração tributária a

uma data interpretação da lei sem, no entando, vincularem nem os tribunais

nem tão pouco os contribuintes ou, por outras palavras, constituem normas de

interpretação que se dirigem liminarmente aos serviços da administração

tributária – artigo 55.º CPPT. Existem dois tipos de orientações genéricas:

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• CIRCULARES: mais comuns da DGCI, pelas de maior importância,

assumidamente voltadas para o exterior e subscritas pelo Director-Geral;

• OFÍCIOS CIRCULARES E OS OFÍCIOS CIRCULADOS: textos mais

estreitos, formalmente dirgidiso aos serviços e subscritos pelo Director-

Geral, no primeiro caso, ou pelos Subdirectores-Gerais de cada área

funcional.

A Professora Carla Castelo Trindade considera que as circulares são a maior

fonte de Direito Fiscal, a mais mediata. Circulares, Oficios, não interessa o

nome. São feitas pela Administração Tributária e apenas são vinculativas para

esta. Contudo, o comportamento dos trabalhadores da Administração, ao

abrigo destas circulares vai ter consequências para os contribuintes.

Quanto à questão de saber se serão fonte de direito, na opinião do Professor

Sérgio Vasques, seguramente que as circulares constituem normas jurícias, que

projectam os seus efeitos na esfera da administração, vinculando o subalterno à

interpretação da lei ditada pelo superior hierárquico, mas não se pode dizer que

representem em si mesmas fontes do direito fiscal por não constituirem

parametro de validade dos actos praticados pela administração, que hão-de

encontrar esse parâmetro de validade nas normas legais que as circulares visam

interpretar. Vale isto dizer também que os tribunais não estão obrigados a fazer

da lei a mesma interpretação que a administração tributária cristaliza no seu

direito circular, do mesmo modo que os contribuintes não estão obrigados a

seguir na interpretação da lei as mesmas orientações que através das circulares

se dirigem aos serviços.

Já na opinião do Professor João Gama, a função das orientações genéricas no

actual Direito Fiscal é a regulação de condutas dos contribuintes, devendo ser

ultrapassado o dogma da eficácia interna e serem retirados os verdadeiros

efeitos da natureza regulamentar.

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Independentemente da discussão o certo é que o artigo 68.º-A da LGT dispõe no

seu n.º3, que a Administração Tributária deve proceder à conversão das

informações vinculativas ou de outro tipo de entendimento prestado aos

contribuintes em circulares administrativas, sempre que tenha sido colocada

questão de direito relevante e esta tenha sido apreciada no mesmo sentido em

três pedidos de informação ou seja previsível que o venha a ser. Dispõe ainda

no n.º2 do mesmo artigo que não são invocáveis retroactivamente perante os

contribuintes que tenham agido com base numa intepretação plausível e de boa

fé da lei as orientações genéricas que ainda não estivessem em vigor ao

momento em que ocorre o facto tributário.

O contribuinte não pode reagir contra uma circular, uma vez que não é um acto

em matéria tributária ou um acto da administração, não sendo em princípio

lesivo. Contudo, os contribuintes poderão impugnar um acto que resulta desta,

uma vez que segundo o Princípio da Eficácia Externa os particulares

encontram-se obrigados perante a circular. É de notar que uma orientação

administrativa só vincula um particular na medida da sua legalidade

(manifestação do Princípio da Legalidade).

Nos termos do artigo 12.º LGT consagra-se o mecanismo da aplicação da lei

tributária no tempo.

• REGRA GERAL EM MATÉRIA TRIBUITÁRIA: proibição da aplicação

retroactiva da lei enquanto corolário do princípio da segurança jurídica

(artigo 103.º/3 CRP).

Não é uma regra absoluta, na medida em que a segurança jurídica pode

ser sacrificada em prole de outros valores constitucionais que no caso

concreto se mostrem mais relevantes como por exemplo poderá suceder

em caso de guerra, catástrofe natural, epidemia ou grave crise financeira.

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ACÓRDÃO n.º 399/2010 TC: o TC olhou ao circunstacionalismo em que

surgiu o agravamento do IRC, olhou ao concreto impacto da medida

sobre os contribuintes e à discussão pública feita nos meses anteriores à

sua introdução, e ponderou as alternativas à disposição do legislador,

bem como o relevo dos interesses políticos e financeiros em causa.

REGRA ESPECIAL EM MATÉRIA PROCESSUAL TRIBUTÁRIA: aplicação

imediata (com protecção dos direitos e garantias legítimos).

Os factos tributários podem ser de:

• FORMAÇÃO INSTÂNTANEA (exemplo: IMI): o facto nasce e morre na

mesma altura, podendo a lei entrar em vigor no dia a seguir.

• FORMAÇÃO SUCESSIVA (exemplo: em Setembro de 2013, o Governo

aprova um Decreto-Lei autorizado a alterar a tributação dos estudantes

do Mestrado Forense na UCP): tem de se presumir o facto tributário;

presume-se, no exemplo anterior, que o facto tributário ocorre a 31 de

Dezembro, portanto, só se podia aplicar a partir de 1 de Janeiro.

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RETROACTIVIDADE RETROSPECTIVIDADE

Existe quando a lei fiscal dispõe sobre

factos tributários passados, seja

aqueles que se formaram já por

completo, seja aqueles cuja formação

se encontra ainda em curso.

A CRP proibe-a: trata-se da aplicação

da lei fiscal a factos anteriores, sendo

que os factos tributários podiam ser

de formação sucessiva ou instantânea.

Exemplo:

- facto tributário de formação

instantânea: IS, IMI e IVA

- Lei 1/1/2013: todas as casas

compradas até 1/12/2012 pagam mais

10% de imposto � PROIBIDO

- facto tributário de formação

sucessiva: IRS e IRC

- Lei 1/1/2012: todos os

rendimentos recebidos até 31/1/2012

vão pagar mais 10% de imposto �

PROIBIDO

Existe quando a lei nova, pese embora

disponha quanto a factos futuros, lesa

expectativas fundadas no passado.

A CRP admite. Os factos tributários

podem ser de formação instantanea

ou sucessiva.

É uma retroactividade imprópria.

Existe uma contradição face às

expectativas, uma vez que existe a

aplicação da lei fiscal a expectativas

anteriores

Exemplo: tributação das mais valias

das acções.

- facto de formação instantânea: não

existe! A regra geral é a de que trata-

se de retroactividade.

- facto de formação sucessiva:

compra acções a 1/1/2013. Vende a

1/3/2013. Ganha 100. Em 30/10/2013

a lei é alteradas e estas mais valias

tornam-se tributadas � PERMITIDO

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Antes do Professor Sérgio Vasques defender a Teoria da Retrospectividade

(teoria alemã), já o Professor Casalta Nabais, que distinguia entre a

retroactividade forte e fraca, entendia que a retroactividade fraca deveria ser

permitida – mas a CRP não o permitia.

▲ No exame sairá certamente uma questão quanto à aplicação da lei no tempo.

A LGT é a Magna Carta do Direito Fiscal.

O PAPEL DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA NO DIREITO

PROCESSUAL TRIBUTÁRIO

• PAPEL DA DOUTRINA COMO FONTE IMEDIATA DE DIREITO –

auxiliar na interpretação dos conceitos e normas; mas o direito fiscal é

uma área em que pouco se escreve

• PAPEL DA DOUTRINA ADMINISTRATIVA COMO FONTE MEDIATA

DE DIREITO – auxiliar na interpretação dos conceitos e normas e vale na

medida da sua legalidade.

• PAPEL DA JURISPRUDÊNCIA – não há vinculação à regra do

‘’precedente’’, mas a jurisprudência dos Tribunais Superiores é muito

relevante (Acórdãos para Fixação de Jurisprudência (a Oposição de

Acórdãos)). A maior parte dos processos do STA são de fiscal. A sua

secção produz muita jurisprudência e muito opinitiva. E muito boa!

É necessário atender ainda ao:

• REGIME DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA

• REGIME GERAL DAS INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS: os processos

contra-ordenacionais e os crimes fiscais são julgados nos tribunais

comuns. Os processos fiscais são julgados na secção de fiscal dos

Tribunais Administrativos e Fiscais, mas os crimes fiscais são julgados

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nos Tribunais Comuns. Contudo, por exemplo, no caso do crime de

fraude fiscal é complicado, porque é precisso provar o intuito

fraudelento e os juízes dos tribunais comuns podem não perceber de

fiscal.

• REGIME COMPLETAMENTAR DO PROCEDIMENTO DE INSPECÇÃO

TRIBUTÁRIA: o acto de liquidação – tornar certo, líquido e exigivel o

crédito tributário – é que dá inicio a tudo:

� LIQUIDAÇÃO

� Auto Liquidação (feita pelo contribuinte)

� Hetero Liquidação (feita pela Administração Tributária)

� Pode existir LIQUIDAÇÃO ADICIONAL, sendo necessário que

anteriormente tenha existido liquidação. Com uma liquidação

adicional existe sempre uma inspecção (RCPIT), que pode ser

interna ou externa: a Administração Tributária pode inspeccionar

o que quiser no prazo de 4 anos (antes do direito à liquidação

caducar).

� Por seu lado, uma LIQUIDAÇÃO OFICIOSA consiste em a

Administração Tributária descobrir algo que o contribuinte não

declarou ou porque não houve liquidação. A Administração

Tributária substitui-se ao contribuinte.

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CONCEITOS ESSENCIAIS DO DIREITO FISCAL

• QUANTO À RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA (TITULO II LGT)

SUJEITO ACTIVO (ARTIGO 18.º/1 e 2 LGT): o sujeito activo da relação jurídica

tributária é a entidade de direito público titular do direito de exigir o

cumprimento das obrigações tributárias, quer directamente quer através de

representante. É o Estado.

SUJEITO PASSIVO (ARTIGO 18.º/3 e 4): o sujeito passivo é a pessoa singular

ou colectiva, o património ou a organização de facto ou de direito que, nos

termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação tributária, seja como

contribuinte directo, subjectivo ou responsável.

CONTRIBUINTE: aquele que suporta economicamente o imposto.

RESPONSÁVEL SUBSIDIÁRIO: entidade que a lei considera que caso o sujeito

passivo não cumpra, possa lhe ser exigivel tal (exemplo: gestor de uma

empresa).

Pode intentar uma acção (1) quem declarar o imposto; (2) quem retém o

imposto e (3) o responsável subsidiário.

• QUANTO AO DOMÍCILIO, RESIDÊNCIA E ESTABELECIMENTO

ESTÁVEL

DOMÍCILIO (ARTIGO 19.º LGT): é aquele que é comunicado à Administração

Tributária quer seja a residência habitual no caso de pessoas singulares ou a

sede no caso de pessoas colectivas. O contribuinte só é devidamente notificado

se esta for para o seu domícilio fiscal, devendo este indicá-lo à Administração.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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RESIDÊNCIA/ESTABELECIMENTO ESTÁVEL: qualificação que faz com que

as pessoas singulares ou colectivas sejam consideradas como sujeitas a

tributação em território nacional dependendo, naturalmente, da existência de

factos sujeitos a imposto.

• RESIDÊNCIA (ARTIGO 16.º CIRS e ARTIGO 4.º CIRC) É definida em

função do imposto, este conceito. Contudo, de grosso modo, uma

entidade tributada em Portugal é tributada relativamente a todos os

rendimentos, sendo que se estiver fora de Portugal é tributada apenas

quanto aos rendimentos obtidos em Portugal.

• ESTABELECIMENTO ESTÁVEL (ARTIGO 5.º CIRC): não se trata de

personalidade jurídica, mas apenas de tribunar uma entidade que gera

rendimentos. É quem não tem personalidade jurídica. Tem de existir um

responsável subdiário, sendo que à semelhança do devedor inicial, ele

poderá contestar a liquidação ou proceder ao pagamento.

Se o representante fiscal não for notificado tal gera uma irregularidade. O

representante fiscal é obrigatório nos seguintes casos:

• Quanto aos incapazes;

• Quanto aos não residentes com estabelecimento estável em Portugal.

É de notar que embora o estabelecimento estável seja uma entidade não

residente em Portugal, a verdade é que podem existir entidades não residentes

em Portugal que (1) não tenham estabelecimento estável e (2) não tenham

representante fiscal.

A representação fiscal é necessária quanto se trate de uma discussão processual

e quando seja necessário o cumprimento de obrigações declarativas.

Estão assim sujeitos a imposto em Portugal os residentes em Portugal (ou os

detentores de um estabelecimento estável) e os não residentes que obtenham

rendimentos em território nacional.

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• QUANTO À SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA (ARTIGO 20.º LGT): verifica-se quando o

imposto é exigido a pessoa diferente do sujeito passivo através do mecanismo

da retenção na fonte; o substituto tributário é aquele que na retenção na fonte

vai arrecadar o imposto por conta do sujeito passivo.

• SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA COM RETENÇÃO NA FONTE: nesta o

substituto é a fonte dos rendimentos do contribuinte, pelo que ao

substituto cabe reter dada percentagem desses valores. Dá portanto lugar

a duas obrigações fundamentais, uma obrigação de retenção e uma

obrigação de entrega e constitui a técnica de intermediação característica

dos impostos sobre o rendimento.

• SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA SEM RETENÇÃO NA FONTE: nesta o

contribuinte é a fonte dos rendimentos do substituido, pelo que a tareda

deste é a de cobrar o tributo juntamente com os valores que tem a haver.

Trata-se assim dos casos em que o substituto é credor do contribuinte

substituído, obrigando-o a lei, primeiro, a cobrar o tributo juntamente

com os valores que tenha a receber do contribuinte substituído, depois, à

entrega do tributo assim cobrado ao Estado.

• QUANTO À RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA

REPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA (ARTIGO 23.º e 24.º LGT): quando existem

outros sujeitos responsáveis em segundo grau pelo pagamento de dívidas

tributárias. Exemplo: gerentes e administradores.

• SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA COM RETENÇÃO NA FONTE (ARTIGO

28.º LGT): a responsabilidade é diferente em função do tipo de retenção

em falta. Não é o sujeito passivo que entrega a % da retenção da fonte ao

Estado: é o substituto tributário (é quem por nome e por conta do sujeito

passivo vai cumprir obrigações fiscais dos sujeitos passivos)

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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA SEM RETENÇÃO NA FONTE: as regras de

responsabilidade do artigo 28.º LGT não foram pensadas para estes casos.

Coloca-se a entidade credora a cobrar a sua dívida e imposto. Exemplo: taxa

audiovisual: quando se paga a conta da luz paga-se logo a taxa. O substituto

tributário tem capacidade tributária (exemplo: a EDP pode discutir em juízo se

o Estado achar que está a entregar mais ou menos em relação ao imposto).

Ou seja, existem duas formas de o Estado antecipar receita:

• RETENÇÃO NA FONTE

� TEMPORÁRIA (REGRA)

� LEBERATÓRIA/DEFINITIVA (EXCEPÇÃO)

• PAGAMENTO POR CONTA

É de notar que a regra geral em Portugal, quanto á retenção na fonte, assenta

em ela ser por conta. Contudo, podem existir situações em que a retenção na

fonte seja efectuada a título definitivo, sob pena de Ineficácia da magistratura

fiscal no controlo das declarações:

• Depende do tipo de sujeito em causa, sendo definitiva no caso dos não

residentes;

• Depende do tipo de rendimento.

EXAME ORAL: Imagine-se a EDP. Deve-se um total de 12 (10 a título de conta e

2 a título de imposto). Se se pagar apenas 4, a que corresponde este valor?

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Aula de 3 a 10 de Outubro de 2013

II – PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO

PRINCÍPIOS DO PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO: DA

DECISÃO, DO INQUISITÓRIO, DA COLABORAÇÃO, DA ADEQUAÇÃO

PROCESSUAL E DA TUTELA JURISIDICIONAL EFECTIVA, ETC.

Nos termos do artigo 55.º LGT encontram-se consagrados os Princípios (gerais)

do Direito Fiscal, mais precisamente, do procedimento tributário.

Os Princípios Gerais do Procedimento Tributário – artigo 55.º LGT – vai ser o

pilar de muita coisa, nomeadamente: qual é o interesse público (legalidade) e a

celeridade (prazo para se pronunciar).

Para o ‘’interesse público’’, encontrando-se relacionado com a legalidade, tal

manifesta-se mesmo que seja desfavorável para a Administração Tributária ou

não (exemplo: tenha de realizar uma liquidação adicional ou devolver imposto).

A Administração Tributária tem prazos para agir, sendo que se não o fizer

forma-se um acto de indeferimento tácito:

• 10 dias para actos de mero expediente

• 4 meses para os restantes actos.

A Administração Tributária encontra-se então vinculada (1) à prossecução do

interesse público, (2) ao princípio da legalidade, (3) ao princípio da igualdade,

(4) ao princípio da proporcionalidade, (5) ao princípio da justiça, (6) aos

princípios da imparcialidade e da celeridade e (7) ao princípio do respeito da

garantia dos administrados.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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PRINCÍPIOS (ESPECÍFICOS) DO PROCESSO E PROCEDIMENTO

TRIBUTÁRIO

NA LGT NO CPPT

Princípio da Decisão – artigo 56.º e

57.º

Direito à Fundamentação e correcta

notificação – artigo 36.º

Princípio do Inquisitório – artigo 58.º

(A Administração Tributária encontra-

se obrigada à descoberta da verdade

material)

Princípio do Contraditório – artigo

45.º

Princípio da Colaboração – artigo 59.º Princípio da Proporcionalidade –

artigo 46.º

Princípio da Participação – artigo 60.º

(todos têm de ser ouvidos).

Princípio do Duplo Grau de Decisão –

artigo 47.º

Direito à Informação – artigo 67.º Princípio Cooperação (dupla vertente)

– artigo 48.º e 49.º Direito à Confidencialidade – artigo

64.º

Direito à Fundamentação – artigo 77.º

(STA: a fundamentação tem de

integrar o itinerário cognoscitivo, sob

pena de ser inválida).

Princípio da Impugnação Unitária –

artigo 54.º

LEGITIMIDADE E CAPACIDADE TRIBUTÁRIA

LEGITIMIDADE/PERSONALIDADE TRIBUTÁRIA (ARTIGO 16.º LGT): é

definida como a susceptibilidade de ser sujeito nas relações jurídicas tributárias,

sendo também aplicável ao processo tributário. O dependente não é sujeito

passivo, portanto não tem legitimidade tributária – a legitimidade tributária

refere-se àquele momento. Ou seja, susceptibilidade de alguém ser sujeito

passivo de imposto.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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CAPACIDADE TRIBUTÁRIA (ARTIGO 16,º LGT): tem capacidade tributária

quem tiver personalidade tributária, ou seja, quem for sujeito nas relações

jurídicas tributárias. Há ‘’extensão’’ da capacidade tributária ao (1)

representante fiscal, (2) gestor de negócios e (3) cônjuge. Ou seja,

susceptibilidade de alguém, em juízo, exercer os seus direitos ou discutir uma

questão tributária (em regra, coincidem na mesma entidade).

REGRA: Quem tem legitimidade tributária também tem capacidade tributária.

Excepções:

• Incapazes

• Estabelecimento estável

EXAME ORAL: o incapaz não possui capacidade tributária (quem a tem é o

representante fiscal). E personalidade tributária?

NOTA:

• FASE GRACIOSA: o interlocutor e contraparte é a Administração

Tributária. É fase graciosa até à entrega da Petição Inicial;

• FASE JUDICIAL: o interlocutor é o juíz, sendo a contraparte a

Administração Tributária. Aqui pede-se o reconhecimento da legalidade

do pedido e não o seu deferimento (como acontece na PI).

▲ Na resolução dos casos práticos é necessário dizer qual é o pedido e a

fundamentação.

PRAZOS PROCESSUAIS – REGRAS APLICÁVEIS

Nos termos do artigo 20.º CPPT consagra-se a matéria respeitante à contagem

de prazos.

• CONTAGEM DOS PRAZOS DE PROCEDIMENTO E DE

IMPUGNAÇÃO: segue as regras do disposto no artigo 279.º CC

Representante

Fiscal

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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����

O mesmo é dizer que na contagem dos prazos para a prática de todos os

actos durante o procedimento e até à entrgea da petição inicial de

impugnação judicial (inclusivé) não se inclui o dia em que ocorre o

evento (por exemplo o dia em que se recebe a notificação) – é o chamado

dia zero. É a partir deste dia (zero) que o prazo começa a correr, sendo

que o prazo se conta de forma contínua e caso termine a um sábado,

domingo ou feriado, se transfere para o primeiro dia útil seguinte.

Ou seja, o dia da notificação é o diz 0, sendo o primeiro dia do prazo o

dia seguinte. O prazo corre seguido, desconsidera-se as férias e os

feriados. Se o prazo terminar a um sábado/domingo/feriado transfere-se

para o primeiro dia útil seguinte.

• CONTAGEM DOS PRAZOS PROCESSUAIS: segue as regras previstas

no CPC (artigos 144.º e seguintes).

����

O mesmo é dizer que os prazos para a prática de todos os actos durante o

processo (ou seja pós entrega da petição inicial de impugnação judicial)

são contínuos, suspendo-se durante as férias judiciais, e quando o prazo

terminar em dia em que os tribunais se encontrem encerrados tranfere-se

o seu termo para o primeiro dia útil seguinte.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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OUTROS PRAZOS:

• SENTENÇAS: são proferidas em 20 dias e os despachos em 5 dias ou 10

dias dependendo se são ou não de mero expediente (artigo 21.º CPPT);

• PROMOÇÕES DO MP: o MP dispoe de 15 dias para a prática de actos

em tribunais de 1ª instância e de 30 dias nos tribunais superiores (artigo

22..º CPPT)

• PRAZO GERAL (APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA): 10 dias (artigo 23.º

CPPT)

• PASSAGEM DE CERTIDÕES: a regra são 3 dias para os processsos

infromatizados e 5 dias para os não informatizados (diminuição de prazo

com a Lei do OE para 2012).

Existem outros prazos quanto a subida de reclamações, recursos, etc.

Não está prevista na Lei qualquer cominação expressa para o incumprimento

de prazos pela Administração Tributária, pelo MP e os pelos Tribunais, pelo

que se coloca a questão de saber se não existirão mesmo consequências ao

abrigo do princípio da legalidade.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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PRAZOS DE PROCEDIMENTO E

DE IMPUGNAÇÃO – ARTIGO 279.º

CC

PRAZOS PROCESSUAIS – ARTIGO

144.º CPC

Prazos do Procedimento com a

entrega da PI

Prazos para o Processo

Dia em que se considera notificado é o

dia 0 (não conta!)

Dia em que se considera notificado é o

dia 0 (não conta!)

O primeiro dia do prazo é o dia

imediatamente a seguir ao dia 0,

sendo isto independente de ser ou não

dia útil

O primeiro dia do prazo é o dia

imediatamente a seguir ao dia 0,

sendo isto independente de ser ou não

dia útil.

Prazo corrido: não há suspensão ou

interrupção.

Interrompe-se nas férias judiciais – no

caso de o último dia determinar no

decurso destas.

O último dia do prazo, caso termine a

um sábado/domingo/feriado

transfere-se para o 1.º dia útil seguinte

O último dia do prazo, caso termine a

um sábado/domingo/feriado

transfere-se para o 1.º dia útil seguinte

O prazo não se interrompe durante as

férias judiciais. Se terminar em tempo

destas, e se for um dia útil, então o

prazo termina nesse dia (não se espera

que os tribunais voltem a abrir!).

Se o último dia do prazo terminar em

tempo de férias judiciais transfere-se

para o 1.º dia em que os tribunais

reabrirem. Contudo, o prazo não se

interrompe porque conta-se nas férias

judiciais.

Não existirá uma violação do Princípio da Legalidade ao a lei não prever qual a

consequência para o não cumprimento dos prazos pelo MP, pelos Tribunais,

pela Administração Tributária, etc?

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 29

PROVA: MEIOS E ÓNUS

Nos termos do artigo 74.º e 75.º consagram-se os princípios (gerais) de prova.

A regra é a de que o ónus de prova de factos constitutivos de direitos recai

sobre quem os invoque (e não sobre quem tem o direito). Contudo, a declaração

do contribuinte gera uma presunção de veracidade.

Note-se que o ónus da prova é diferente da presunção de veracidade: os

contribuintes continuam a ter o ónus da prova sobre o que consta das suas

declarações! As presunções de veracidade de que goza a declaração do

contribuinte é afastada nalguns casos.

São ainda regras neste âmbito o facto de a avaliação dos rendimentos a atributar

ser efectuada com base nos elementos constantes da declaração, os quais gozam

de uma presunção de veracidade. A presunção de veracidade das declarações

não afasta o ónus probatório dos factos nele invocados, a menos que os dados

em causa sejam elementos na posse da Administração Tributária.

Esta presunção de veracidade de que goza a declaração do contribuinte é

afastada nos seguintes casos, sendo que o ónus probatório será da

Administração Tributária (quanto aos factos que se passam a enunciar):

• Omissões, inexactidões ou erros que impeçam o conhecimento da

realidade – artigo 75.º/2 LGT;

• Falta de cumprimento dos deveres de esclarecimento da situação

tributária – artigo 75.º/2 LGT;

• Afastamento, para menos, da matéria tributável, sem razão justificativa

dos indicadores objectivos de base técnico científica – artigo 75.º/2 LGT;

• Afastamento, para menos, dos rendimentos declarados, sem razão

justificativa, dos padrões fixados para as manifestações de fortuna

evidenciadas pelo sujeito passivo nos termos do artigo 89.º-A da LGT –

artigo 75.º/2 LGT.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Esta presunção de veracidade significa que a prova é pleníssima: tem de se

provar que o que está na declaração é falso (a Administração Tributária tem um

ónus de prova acrescido). Nos casos em que a presunção de veracidade é

afastada, cabe à Administração demonstrar que nos encontramos num dos

casos referidos.

Existe uma inversão do ónus probatório se se provar que os factos invocados

nas declarações não são credíveis, cabe ao contribuinte provar a verdade

material quanto à sua situação tributária (o ónus probatório é do sujeito

passivo). Exemplo: métodos de avaliação indirecta.

IMPUGNABILIDADE DOS ACTOS EM FUNÇÃO DA SUA NATUREZA

(ACTO TRIBUTÁRIO, ACTO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA E REGIME

ESPECIAL DA ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA)

ACTOS TRIBUTÁRIOS ACTOS EM MATÉRIA

TRIBUTÁRIA

Ambos alteram a situação jurídica do contribuinte/sujeito passivo (para bom e

para mal), podendo conferir ou negar um direito.

Acto pelo qual se fixa o

imposto/tributo a pagar (mas há

excepções)

Mesmo quando se nega um direito,

este acto não dá de forma imediata e

autonomamente lugar a pagamento

de imposto.

É um acto definitivo e autónomo Também pode ser definitivo, mas em

regra é um acto dependente.

PROCEDIMENTO (LGT e CPPT)

- Recurso Hierárquico

- Reclamação Graciiosa

PROCESSO (LGT e CPPT)

- Impugnação Judicial

PROCEDIMENTO (LGT e CPPT)

- Recurso Hierárquico

- Reclamação Graciiosa

PROCESSO (CPTA)

- Acção Administrativa Especial

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Exemplos de Actos em Matéria Tributária

i. Acto pelo qual se nega o reconhecimento de um benefício fiscal: não é

um acto autónomo e fixa um instituto a pagar e não se pode impugnar

judicialmente, apenas podendo-se intentar uma acção administrativa

especial;

ii. Uma empresa pede que se lhe seja reconhedido que não tem dívidas ao

fisco, porque se quer candidatar a um concurso público;

iii. Qualificação como residente habitual ou não.

ACTOS TRIBUTÁRIOS: são aqueles que, de grosso modo, se traduzem em

actos de liquidações de tributos como (1) liquidações adicionais, (2) liquidações

oficiosas, (3) actos de autoliquidação, (4) actos de retenção na fonte e (5) actos

de pagamento por conta. A tutela administrativa e judicial está prevista no

CPPT, no RJAT e na LGT, sendo os meios tutelares primordiais a reclamação e a

impugnação judicial ou a arbitragem.

ACTOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA: são todos os outros actos suceptíveis de

afectar direitos tributários. A tutela administrativa está prevista no CPPT e na

LGT e a tutela judicial prevista no CPTA e no RJAT, sendo os meios tutelares

primordiais o recurso hierarquico e a acção administrativa especial ou

arbitragem.

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O regime especial da arbitragem tributária encontra-se consagrado no artigo

2.º/1 alinea b) RJAT:

• Actos de determinação da matéria tributável – em sede de IRC ‘’lucro

tributável’’ (exemplo: correcções a prejuízos fiscais ou a benefícios fiscais

quando do Relatório de Inspecção não há lugar a imposto a pagar);

• Actos de determinação da matéria colectável (de grosso modo Relatórios

de Inspecção);

• Actos de fixação de valores patrimoniais.

A LGT aplica-se a impostos, contribuições cobradas pela Administração

Tributária e pelo IGF. O CPPT aplica-se a contribuições para a Segurança Social,

porque a lei de bases desta remete para o CPPT. Portanto, aplica-se

independentemente de quem seja o credor da Administração Tributária. Aplica-

se a todos os impostos, tributos cobrados pela Adminitração Tributária (todos

menos os da Região Autónoma da Madeira).

A EXISTÊNCIA DE PROCEDIMENTO ESPECIAIS EM MATÉRIA

TRIBUTÁRIA

• O PEDIDO DE INFORMAÇÃO VINCULATIVA

Nos termos do artigo 68.º LGT e do artigo 57.º CPPT consagra-se o mecanismo

da informação vinulativa. Trata-se do direito a obter informação sobre o caso

concreto.

À semelhança das circulares, a Administração Tributária fica vinculada. Não

vincula o contribuinte, mas apenas a Administração. É o contribuinte que chega

à Administração e faz uma pergunta. A Administração fica vinculada pela sua

resposta. Em regra não a pde vir contrariar. Este é o único expediente que dá

segurança ao contribuinte quanto ao ‘’sim’’. Pode ser urgente: aqui, o

indeferimento tácito, como regra, quando não há resposta da Administração,

Com limitações introduzidas pela Portaria n.º 112-A/2011, de 22 de Março (Portaria de Vinculação)

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não se verifica.. É um género de parecer. Depois da resposta, a Administração

não pode vir a contrariá-la. Este mecanismo paga-se e a Professora Carla

Castelo Trindade acha que se deve pagar bem: para o particular ter noção do

que está a pedir à Administração e para responsabilizar a Administração. A

vantagem para o contribuinte é a segurança jurídica. A desvantagem é que já se

‘’abriu o jogo muito cedo’’, pois se a Administração disser que não, o

contribuinte já sabe que não pode fazer aquilo.

Segundo o Professor Saldanha Sanches, a informação vinculativa só cede

perante decisão judicia se esta não tiver sido proposta pela Administração

Tributária contra o contribuinte. Irá ser proposta então por quem? O

contribuinte, na prática, não vem depois de uma informação vinculativa dizer

que afinal tinha de pagar imposto .. é uma hipotese puramente teórica.

A informação vinculativa tem que ser decidida no prazo máximo de 150 dias

(prazo maior que o prazo geral de 4 meses do artigo 57.º LGT) com os efeitos do

artigo 67.º/18 LGT em caso de incumprimento do prazo.

Mediante justitificação do requerente, a informação vinculativa pode ser

solicitada com caracter de urgencia e ser prestada em 90 dias (alteração de

2013).

Exame: certamente sairá algo relacionado com o artigo 67.º e 68.º, ambos da

LGT, e o artigo 57.º CPPT.

A informação vinculativa pode ser pedida com caracter de urgencia:

• É efectuada com pagamento de emolumentos (de 25 a 250 UC);

• Tem que ser decidida no prazo máximo de 120 dias para resposta com

deferimento tácito restrito a um período de tributação.

A caducidade e a revogação da informação vinculativa é possível nos termos do

artigo 68.º/15 e 16.º LGT.

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Com a prestação de informações vinculativas existe:

• Vinculação da Administração Tributária ao conteúdo da informação

prestada, uma vez notificada (só cede perante decisão judicial, mas a

acção judicial não pode ser proposta pela própria Administração

Tributária contra o contribuinte, na opinião do Professor Saldanha

Sanches);

• Condenação em sanção pecuniária calculada segundo regras de

litigância de má fé se a Administração Tributária actuar em juízo contra

o teor de informações vinculativas prestadas, nos termos do artigo

104.º/1 LGT.

Não há duvidas que as informações vinculativas vinculam a Administração

Tributária, mas coloca-se a questão de saber se vincula também o contribuinte.

E poderá ser aproveitada por outros contribuintes? A informação só é

vinculativa para os contribuintes na medida da sua legalidade.

Quem fica vinculado com a Informação Vinculativa?

Nos termos do disposto no artigo 68.º/16 da LGT, a Administração Fiscal que

prestou a informação vinculativa é obrigada a agir relativamente a esse sujeito

em conformidade com a informação prestada, enquanto esta permanecer em

vigor.

A informação vinculativa – que é essencialmente um meio de garantia dos

contribuintes – não obriga quem a haja solicitado. Se a resposta não for

considerada aceitável pelo destinatário este a propósito dos casos concretos de

aplicação desse entendimento poderá recorrer para os tribunais (se estes

sufragarem de uma opinião diferente da Administração, esta fica, naturalmente

constituida no dever de obediência do sentenciado – n.º 14).

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E vincula os outros particulares? A Administração Fiscal está obrigada ao

Princípio da Legalidade. As informações vinculativas vinculam um particular

na medida da sua legalidade. Assim sendo, um outro particular pode alegar

que, sendo uma situação igual, lhe deve ser aplicada a mesma solução, porque a

Administração Fiscal está obrigada ao Princípio da Legalidade e não poderia,

portanto, agir de forma contrária à informação vinculativa que já prestou a

outro particular.

• O RECONHECIMENTO DE BENEFÍCIOS FISCAIS

O Reconhecimento de Benefícios Fiscais consiste num procedimento especial

em relação à reclamação graciosa. A decisão deste reconhecimento é, em regra,

um acto em matéria tributária. Só seguimos este mecanismo quando os

benefícios fiscais estão sujeitos a reconhecimento, ou seja, quando não são

automáticos. Da decisão de reconhecimento do benefício fiscal podemos

apresentar recurso hierárquico: deste podemos intentar uma acção

administrativa especial, porque se trata de um acto em matéria tributária.

Nos termos do artigo 65.º CPPT, o reconhecimento de benefícios fiscais é um

mecanismo necessário ao usufruto dos benefícios fiscais sujeitos a

reconhecimento e serve para os sujeitos passivos poderem provar que têm

direito a um determinado benefício, extensão e alcance. O pedido deve ser

instruido com os elementos necessários ao reconhecimento. Nos termos do

artigo 60.º LGT, existe audição prévia antes do indeferimento. Os prazos

encontram-se previstos no artigo 65.º/3 CPPT e dependem de se tratarem ou

não de benefícios fiscais relativos a factos tributários sujeitos a retenção na fonte

a título definitivo.

Em caso de indeferimento do reconhecimento existe recurso hierarquico e

depois acção administrativa especial.

����

O Recurso Hierárquico, neste caso, é necessário?

Page 36: Processo Tributáriox

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O procedimento de reconhecimento de benefícios fiscais é autómono

relativamente ao da liquidação do imposto em causa. Significa isto que o direito

ao benefício fiscal (quando não reconhecido) não pode ser invocado em

impugnação da liquidação, diferentemente do que acontece relativamente aos b

benefícios fiscais automáticos. A apresinção judicial da legalidade da decisão

que indeferiu, total ou parcialmente, um pedido de reconhecimento de um

benefício fiscal revestirá, assim, a forma de acção administrativa especial (Ac.

STJ 25.06.2009). A decisão sobre o reconhecimento de benefícios fiscais envolve,

por vezes, a concessão à Administração Fiscal de uma margem de

discricionariedade técnica, uma ‘’folga’’ ao preenchimento dos conceitos

indeterminados utilizados pela lei. Os tribunais entendem que o modo como a

Administração exercer tais poderes discriconários não é judicialmente sindiável,

salvo em casos de manifesto desvio ao poder (Ac. STA 03/02/2010). Segundo o

Professor Rui Duarte Morais tem as maiores dúbidas em sufragar este

entendimento que se manifesta desconforme o entendimento do TJUE. A parte

final do artigo 65.º/4 CPPT estabelece que em casos de inferimento há lugar a

recurso hierárquico nos termos do CPPT. Esta disposição parece susceptivel de

provocar equivocos. A existencia da possibilidade de recurso hierarquico é a

regra no ordenamento procedimental tributário (artigo 80.º LGT e artigo 66.º

CPPT). Disposições legais especiais só se justificam quando estejam em causa

recursos hierarquicos necessarios, quando a possibilidade de acesso aos

tribunais esteja condicionada pelo esgotamento da via administrativa. O que é

hoje uma verdadeira excepçao. Ora, a norma em causa não parece configurar

um caso de recurso hierarquico necessário, mais não parece ser que uma

reafirmação pontual da regra geral. Ou seja, entende o professor que o

interessado é livre de optar por utilizar este meio de garantia ou de imediato

recorrer da decisão judicial de indeferimento. Como já foi referido, o recurso de

uma decisão que indeferia um pedido de reconhecimento de um benefício fiscal

não cabe no ambito do processo de impugnaçao. O recurso contencioso

revestirá a forma de acção administrativa especial, regulado no CPPT (artigo

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 37

97.º/2 CPPT) a ser interposta no prazo de 3 meses contados do acto de

indeferimento expresso (artigo 58.º/1 alinea b) CPPTA.

Deste modo, temos que o Recurso Hierárquico do artigo 65.º/4 é:

• Para a Jurisprudência e para a Professora Carla Castelo Trindade:

necessário;

• Para o Professor Rui Duarte Morais: não é necessário;

• Para o Professor Vasco Pereira da Silva: é um recurso hierárquico

necessário inconstitucional.

• A APLICAÇÃO DE NORMAS ANTI-ABUSO

A aplicação de normas anti-abuso é um mecanismo previsto no artigo 63.º

CPPT, tendo sido muito alterado com a Lei do OE para 2012.

Trata-se de um procedimento específico e porque pode ter repercussões

gravíssimas para os sujeitos passivos é um procedimento com regras ‘’mais

garantísticas’’.

A decisão da Administração de aplicação da norma geral anti-abuso, em rigor,

de liquidação de tributos com base no disposto do n.º2 do artigo 38.º LGT está

sujeita a um dever de fundamentação especial (descrição do negócio, etc.), tem

de ser autorizada pelo dirigente máximo do serviço e está sujeita a regras sobre

o direito de audição especiais, com prazo alargado de 30 dias.

É muito dificil para a Administração accionar a cláusula geral anti-abuso. Só foi

accionada uma vez (ou duas?), não existindo jurisprudência sobre ela, com

expecção a do CAAD.

Exemplo: securitizar créditos: estado fez issto quanto aos créditos dos

contribuintes; as empresas pretendiam fazer o mesmo quanto a prejuízos

relevantes para a cautelar. A CGAA permite questionar se estas operações têm

algum substracto económico ou se apenas têm intuito fraudelento. Existe o

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 38

Princípio da Liberdade Económica com este procedimento, a fim de que seja

garantístico para os contribuintes. A Administração tem de fundamentar: (1)

porque está a aplicar a CGAA; (2) se se encontram verificados os pressupostos

da CGAA e (3) tem de ser autorizada pelo chefe máximo.

NOTA: Existem duas foram da Administração Tributária calcular a matéria

colectável:

• Avaliação Directa (Regra): de acordo com o lucro real;

• Avaliação Indirecta: quando a Administração Tributária não tem os

documentos necessários ou o contribuinte não lhe permite ter acesso.

• O PROCEDIMENTO DE INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA

O procedimento de inspecção tributária encontra-se consagrado no artigo 63.º

LGT e no RCPIT.

Trata-se de um mecanismo especial que permite à Administração confirmar se a

nossa informação está correcta ou não. Faz um relatório com a sua decisão. Se

não concorda, emite uma liquidação adicional/oficiosa. O fundamento desta é o

relatório, sendo nesta que se verificam as invalidades e é este que tem de ser

discutido – ilegalidade antecendente do acto consequente. É uma causa de

suspensão do prazo de caducidade deixando-o de ser nos casos em que

ultrapassa o prazo de 6 meses. O contribuinte é tributado através de métodos

indiciários da Administração Tributária. Há um mecanismo de reacção do

contribuinte a isto: revisão da matéria colectável.

O Procedimento de Inspecção Tributária pode ser:

• Externo (nas instalações do contribuinte) ou interno (nas finanças);

• Geral ou Especial;

• Relativo apenas a um período de tributações ou a vários.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 39

Tal encontra-se sujeito aos princípios da verdade material, da

proporcionalidade, do contraditório e da cooperação e visa a descoberta da

verdade, tendo como limites as regras do sigilo profissional e do sigilo bancário

(processo próprio).

PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO: encontra-se consagrado no artigo 9.º RCPIT

cominando o desrespeito por este princípio por parte dos sujeitos passivos na

eventual aplicação de métodos indirectos nos termos do artigo 10.º RCPIT. Ou

seja, o contribuinte tem de colaborar com a Administração, excepto se a sua

actuação for desproporcional. Na lei encontram-se fixados os casos em que os

sujeitos passicvos se podem opor (violação da reserva da visa privada, sigilo

bancário, etc.).

PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE: encontra-se previsto no artigo 63.º/4 LGT

e vincula a irrepetibilidade dos actos externos de inspecção, salvo em casos de

factos supervenientes (artigo 63.º/4 LGT – para proteger o princípio da

segurança jurídica) ou da confirmação de elementos declarados ou de terceiros.

Os actos de inspecção tributária têm, via de regra, uma natureza preparatória,

não sendo portanto impugnáveis directamente, salvo:

• Sejam actos imediatamente lesivos, nos termos do artigo 11.º RCPIT;

• Os relatórios de inspecção se realizem através de arbitragem.

Ou seja, não há lugar a ser impugnado através de uma acção administrativa

especial, porque não se trata de um acto definitivo, salvo se for imediatamente

lesivo (casos de oposição). O particular reagirá do acto definitivo: acto de

liquidação adicional.

Quanto à classificação deste procedimento: externos e internos; geral ou parcial

(âmbito) e um ou vários períodos de tributação (extensão).

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Quanto aos poderes da Inspecção Tributária, tais assentam:

• No livre acesso às instações e dependências da entidade inspeccionada;

• Ter à disposição as instalações adequadas ao exercício das suas funções

em condições de diginidade e eficácia;

• No direito ao exame, requisição e reprodução de documentos, mesmo

quando em suporte informático, em poder dos sujeitos passivos ou

outros obrigados tributários;

• No direito à obtenção de informações e ao exame dos documentos ou

outros elementos em poder de quaisquer serviços do Estado (central,

local e regional), de associações públicas, de empresas públicas, de IPSS e

de pessoas colectivas de utilidade pública;

• No direito à toca de correspondência, em serviço, com quaisquer

entidades públicas ou privadas sobre questões relacionadas com o

desenvolvimento da sua actuação;

• No direito ao esclarecimento, pelos técnicos oficiais de contas e revisoes

oficiais de contras, da situação tributária das entidades a quem prestem

ou tenham prestado serviço;

• No direito à adopção, nos termos do presente diplima, das medidas

cautelares adequadas à aquisição e conservação da prova.

O prazo de inspecção têm a duração de 6 meses, podendo ser prorrogável por 2

períodos de 3 meses (ligação com a suspensão do prazo de caducidsde do artigo

46.º LGT).

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 41

O procedimento inicia-se com a entrega da ordem de serviço e conclui-se com a

emissão do relatório final de inspecção (importa distinguir a conclusão dos

actos e a conclusão do procedimento).

Nos termos do artigo 63.º/5 e 6 LGT consagram-se os fundamentos de oposição

à inspecção:

• O acesso à habitação do contribuinte;

• A consulta de elementos abrangisos pelo segredo profissional, bancário

ou qualquer outro dever de sigilo legalmente resgulado, salvo os casos

de consentimento do titular – deixou de abranger o Sigilo Bancário (PEC

II – Setembro 2010);

• O acesso a factos da vida intíma dos cidadãos;

• A violação dos direitos de personalidade e doutros direitos, liberdades e

garantias dos cidadãos, nos termos e limites previstos na CRP e na lei.

Em caso de legítima oposição, a prossecução do procedimento depende de

autorização judicial.

O Procedimento de Inspecção e a Caducidade

Nos termos do disposto no artigo 45.º da LGT, a Administração tem 4 anos para

emitir os actos de liquidação dos impostos, sob pena de caducidade do direito à

liquidação.

Nos termos do artigo 36.º RCPIT, o procedimento de inspecção tributária tem

um prazo máximo de 6 meses, podendo ser prorrogável por dois períodos de 3

meses.

A questão da contagem do tempo de duração da inspecção externa é importante

na medida em que está directamente associada à suspensão do prazo de

caducidade do direito à liquidação – artigo 46.º/1 LGT.

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• Data do início do procedimento de inspecção externa: inspeccionado

assivou (ou recusou-se a assinar) o exemplar que determinou a

realização da inspecção;

• Data da conclusão do procedimento de inspecção externa: data em que o

interessado foi notificado da decisão final (projecto de relatório)

Deste a data do inicio até à data da conclusão determina-se a duração do

procedimento de inspecção externa, sendo descontado o tempo em que a

duração de tal prazo se deve considerar suspenso.

Se a duração do procedimento de inspecção externa:

• For inferior a 6 meses: o prazo de suspensão de caducidade do direito à

liquidação é acrescido do tempo de duração da inspecção;

• Se for superior a 6 meses: não há lugar a qualquer acréscimos aos prazos

gerais de caducidade do direito à liquidação – artigo 45.º LGT. RATIO:

‘’penalizar’’ as inspecção demoradas e penaliza-se a prática

administrativa de as inspecções terem, sistematicamente, lugar apenas

quando está prestes a expirar o prazo de caducidade do direito à

liquidação.

Segundo o STA, o prolongamento da inspecção, para além do prazo de 6 meses,

apenas tem consequências ao nível da (não) suspensão do prazo de caducidade,

não constituindo irregularidade procidemental invalidante das liquidações dele

decorrentes.

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• A TRIBUTAÇÃO POR MANIFESTAÇÕES DE FORTUNA

A tributação por manifestações de fortuna encontra-se consagrada nos termos

do artigo 89.º-A LGT.

Só existe tributação adicional se o contribuinte não conseguir provar a origem

dos rendimentos. Certos indícios podem levar a que a Administração inicie o

processo. A prova a fazer é entre o que é declarado e os incrementos

patrimonios não sujeitos a imputação (por isso é necessário provar a sua origem

(exemplo: doação do Sr. Berardo). ‘’Ser rico não é inconstitucional’’. Se não

conseguir provar a sua origem das duas uma: ou regulariza a situação (é é lhe

aplicada uma coima) ou a Administração Tributária tributa.

Sempre que existam manifestações não justificadas de fortuna, há lugar a uma

avaliação indirecta dos rendimentos passando os mesmos a ser considerados,

para efeitos de IRC, como rendimentos da Categoria G. Existe uma discrepância

entre o valor declarado pelo contribuinte e aquele que realmente aufere

(demonstrado por sinais exteriores).

São índices de manifestações de fortuna:

• Os casos previstos na Tabela das manifestações de fortuna tipificadas no

artigo 89.º-A/4 LGT (tipicidade fechada);

• Os casos em que haja um acréscimo patrimonial superior a € 100.000 e

falta de apresentação de declaração ou divergência – remissão para o

artigo 87.º/1 al. f) LGT.

Quanto às caracteristicas deste procedimento:

• Fundamentação especial e direito à audição – artigo 60.º LGT;

• Sujeito passivo pode provar que a manifestação é justificável, quanto à

fonte do rendimento caindo sobre este o ónus da prova;

• Impugnação judicial com efeito suspensivo da liquidação;

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• Procedimento implica averiguação da situação bancária, ou seja

levantamento automático do sigilo bancário, nos casos dos indicios de

manifestação de fortuna serem os do artigo 87.º/1 al. f) LGT;

• O sujeito passivo pode sempre regularizar a situação.

• O LEVANTAMENTO DO SIGILO BANCÁRIO

O levantamento do sigilo bancário encontra-se regulado no artigo 63.º-B LGT.

O regime do levantamento do sigilo bancário tem sofrido uma certa evolução:

• ANTES DE 2009: o levantamento do sigilo bancário nunca era

automático, era sempre precedido de autorização do interessado e/ou

tribunal, salvo raras excepcções;

• DESDE DE 2009: passou a ser automático em casos específicos (exemplo:

indícios de crime ou falta de veracidade das declarações, benefícios

fiscais, elementos declarados, etc.)

• OE/2011: passou a ser automático quando haja dívidas comprovada sà

administração fiscal ao fisco ou segurança social.

O levantamento do sigilo bancário é directo quanto a familiares e pessoas

próximas? Não. E o modo de reacção é diferente. Tem de se fundamentar de

uma forma especial: dar as razões de facto e de direito (artigo 63.º-B LGT) para

que haja levabtamento do sigilo bancário.

Quanto ao sujeito passivo, se nos encontramos numa alinea do artigo 63.º-B

LGT, há levantamento automático do sigilo bancário sem necessidade de uma

acusação prévia. Quanto a familiares e pessoas próximas, é necessário que

exista audiência prévia, na qual estes podem explicar à Administração

Tributária porque é que não cabem em nenuma das alineas da norma em

análise e, assim, não pode haver levantamento do sigilo bancário.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Quanto ás caracteristicas desde procedimento de levantamento do sigilo

bancário com as alterações introduzidas em 2009:

• Extensão a familiares e outras pessoas com relação especial – artigo 63.º-

B/2 LGT;

• Necessidade de fundamentação específica devendo a Administração

Tributária mencionar expressamente os ‘’motivos concretos’’ para a

tomada de decisão – artigo 63.º-B/4 LGT;

• Notificação da decisão em 30 dias após a emissão – artigo 63.º-B/4 LGT;

• Audição prévia dos familiares ou terceiros – artigo 63.º-B/5 LGT;

• Definição do conceito de ‘’documentos bancários’’ – artigo 63.º-B/10

LGT.

O processo especial de impugnação da derrogação do sigilo bancário resulta da

conjugação do artigo 63.º-B LGT e do artigo 146.º-B CPPT:

• Apresentar em 10 dias a contar da notificação da derrogação qual deve

ocorrer em 30 dias;

• EFEITO DEVOLUTIVO DA IMPUGNAÇÃO quando esta é efectuada

pelo sujeito passivo, ou seja, não suspende a utilização dos danos;

• EFEITO SUSPENSIVO DA IMPUGNAÇÃO quando esta é efectuada por

terceiros e familiares;

Em caso de anulação da derrogação, os elementos obtidos não podem ser

usadas pela AT.. quais são as consequências práticas?

O Orçamento do Estado para 2012, que veio alterar a LGT, passou a prever a

obrigatoriedade de todos os pagamentos respeitantes a faturas ou documentos

equivalentes de valor igual ou superior a mil euros serem efectuados através de

meio de pagamento que permita a identificação do respectivo destinatário,

designadamente tranferência bancária, cheque nominativo ou débito directo,

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assimo com a obrigatoriedade de as instituições bancárias comunicarem à AT, a

qualquer momento e a pedido desta, a informação sobre fluxos de pagamentos

com cartões de crédito e débito, efectuadas por seu intermédio, aos sujeitos

passivos da Categoria B de IRS e IRC.

Existem três intervenientes: Banco, contribuinte e Administração Tributária. O

funcionário do banco também fica obrigado ao sigilo bancário quanto reven o

pedido de levanyamento do sigilo bancário. O particular poderá reagir através

de um processo especial de impugnação da derrogação do sigilo bancário

(artigo 63.º-B LGT e artigo 146.º-B CPPT). Se o tribunal declarar que o

levantamento é inválido, se a Administração já sabe, através do levantamento

do sigilo bancário ilegal, que o contribuinte tinha uma conta com um milhão

nas Cayman irá usar outro meio para chegar ao €. Se a Administração

Tributária não levantar o sigilo bancários os tribunais podiam sempre.

Pedido de Informação Vinculativa PROCEDIMENTO PROCESSO

AT AMT AT AMT

Pedido de Reconhecimento de

Benefícios Fiscais; Tributação por

Manifestação de Fortuna;

levantamento do Sigilo bancário

(enquanto fundamento de aplicação

dos métodos indirectos); P.E. Reacção

X AT: Inspecção Tributária; CGAA;

Direitos: Procedimento de Inspecção;

Indirectos: procedimento de avaliação

indirecta com pedido de revisão da

matéria colectável (acto tributário)

Reclamção

Graciosa;

Recurso

Hierárquic

o;

Revisão

Oficiosa.

Recurso

Hierárquico

Impugnação

Judicial

Acção Administrativa

Especial

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 47

Aulas de 17 e de 24 de Outubro de 2013

III – GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES

O DIREITO À INFORMAÇÃO

Nos termos do artigo 268.º/1 CRP, existe o direito geral dos administrados a: (1)

ser informados sobre o andamento dos processo em que sejam directamente

interessados, e (2) conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem

tomadas.

Nos termos do artigo 67.º da LGT existe um alargamento do conteúdo: o direito

geral do sujeito passivo a ser informado, por escrito, no prazo de 10 dias, sobre:

(1) a fase em que se encontra o procedimento e a data previsivel para a

conclusão deste, (2) a sua concreta situação tributária, e (3) sobre a existência,

teor e autoria de denúncias dolosas não confirmadas sobre a sua situação

tributária (artigo 67.º alinea b) e artigo 70.º/3 LGT). Nos termos do disposto no

artigo 59.º/3 alinea a), b), f), g), i), j), l), m) e n) consagram-se vários deveres de

colaboração da administração para com o contribuinte que se traduzem em

deveres de informar ou de facultar o acesso à informação.

Nos termos do disposto no artigo 57.º CPPT consagra-se o direito dos sujeitos

passivos e outros interessados ou seus representantes legais a solicitar

informações prévias vinculativas: sobre a sua situação tributária ou sobre os

pressupostos de benefícios fiscais. Nos termos do disposto no artigo 56.º CPPT,

a Administração Tributária disponibilizará para consulta aos contribuintes uma

base de dados permanentemente actualizada da qual constem as orientações

genéricas emitidas que visem a uniformização da interpretação e aplicação das

normas tributárias pelos serviços.

Se a Administração se recusar a informar o contribuinte (não emitir uma

certidão ou não deixar o contribuinte consultar o processo) pode existir acção

de intimação para um comportamento. Esta acção visa obrigar a administração

tributária a informar o contribuinte sobre a sua situação. Segundo o Conselheiro

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Jorge Lopes de Sousa esta acção visa apenas assegurar o direito à informação,

não podendo ser usada para mais nada (posição da Jurisprudência). Recorde-se

que apenas no caso das informações vinculativas é que o silêncio da

Administração Tributária não conduz a um acto de indeferimento tácito.

DIREITO À FUNDAMENTAÇÃO E À NOTIFICAÇÃO

Nos termos do artigo 268.º/3 CRP consagra-se o direito geral dos administrados

à fundamentação e à notificação das decisões que se traduz: (1) no direito a

serem infromados na forma prescrita na lei sobre o andamento dos processos

em que sejam directamente interessados, e (2) no direito a terem a

fundamentação expressa e acessível dos actos que afectem direitos ou interesses

legalmente protegidos (fundamento: racionalidade da decisão e criação de

condições materiais de defesa).

É necessário proceder à seguinte distinção, nos termos da LGT:

• REGRA GERAL: a decisão de procedimento é sempre fundamentada

por meio de sucinta exposição das razões de facto e de direito que a

motivaram, podendo a fundamentação consistir em mera declaração de

concordância com os fundamentos de anteriores pareceres, informações

ou propostas, incluindo os que integrem o relatório da fiscalização

tributária – artigo 77.º/1 e 2 LGT;

• REGRAS ESPECIAIS

� Relações Especiais – artigo 77.º/3 LGT;

� Tributação por Métodos Indirectos – artigo 77.º/4 e 5 LGT;

� Levantamento Administrativo do Sigilo Bancário – artigo 63.º-

B/4 LGT

� Reversão contra responsáveis subsidiários – artigo 23.º/4 LGT

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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A consequência da falta ou insuficiência da fundamentação assenta na

ilegalidade determinante da anulabilidade do acto (vício intrinseco do acto). Tal

é fundamento de reclamação ou impugnação ou recurso ao tribunal arbitral –

artigo 99.º alinea c) CPPT.

A consequência da falta de notificação assenta na ineficácia da decisão, isto

porque a notificação da decisão é condição de eficácia desta nos termos do

artigo 77.º/6 LGT, devendo a notificação seguir as regras de forma previstas

nos artigos 35.º a 43.º CPPT.

A notificação conterá sempre a decisão, os seus fundamentos, os meios de

defesa para reagir contra o acto notificado, a identificação da entidade que o

praticou e a indicação, sendo caso disso, que o praticou no uso de delegação ou

subdelegação de competências – artigo 36.º/2 CPPT.

Nos termos do artigo 35.º/4 CPPT, qualquer funcionário da administração

tributária, no exercício das suas funções, promove a identificação e a citação.

Em suma..

Nos termos do disposto no artigo 268.º/3 CRP consagra-se o direito à

informação e à fundamentação; nos termos do disposto no artigo 77.º da LGT

consagra-se o direito á fundamentação, sendo que este decompõem-se no

seguinte:

• Razões de facto: segundo o STA é necessário o itenerário cognoscitivo da

Administração Tributária, ou seja o particular tem de se conseguir

colocar na posição daquela;

• Razões de direito, sob pena de, se o acto não as contiver, não se encontrar

validamente fundamentado;

• Meios de defesa e prazos.

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A Falta de Fundamentação (vício: ilegalidade; consequência: anulabilidade) é

diferente de uma fundamentação ilegal ou insuficiente.

Há casos em que a fundamentação deve ser mais cuidada, pois existe uma

maior ingerência do Estado. Exemplo: fazer uso da CGAA e também na decisão

de matéria colectável através de métodos indirectos. Também nos casos de

sigilo bancário e de manifestação de fortuna exige-se um dever especial de

fundamentação – este é acrescido.

A falta de fundamentação ou a fundamentação indevida é vício intrinseco ou

extrinseco? A Professora Serena Neto gosta muito desta distinção, mas para a

Professora Carla Castelo Trindade tal é irrelevante, uma vez que o resultado é o

mesmo.

Em Direito Fiscal a regra geral é a da anulabilidade, existindo apenas nulidade

se o acto for praticado por um órgão incompetente.

A regra geral é que existe dever de fundamentação, mas no caso dos

procedimentos especiais a Administração Tributária possui um dever acrescido

de fundamentação.

Exame: estando em causa um acto tributário ou um acto em matéria tributária:

• Identificar a causa de pedir: fundamento da acção (exemplo:

ilegalidade);

identificar o pedido: anulabilidade (regra geral), nulidade (excepção:

quando um acto tributário é praticado por um órgão incompetente –

único caso) ou inexistência.

NOTIFICAÇÃO CITAÇÃO

‘’Dar a conhecer’’ – artigo 35.º a 43.º

CPPT

A legalidade do acto não depende da

‘’Chamar para’’

A citação é como a mãe: só há uma!

A citação é apenas para o processo

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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notificação. Se um acto tributário não

for dado a conhecer é inexistente:

pode ser sanado se o sujeito passivo

actuar como se tivesse sido chamado

ou tivesse tido conhecimento de tal

pela Administração Tributária A

inexistência é um vício sanável.

executivo.

Só se cita uma vez para o processo de

execução fiscal: só existe no acto

tributário quando há lugar a

pagamento de imposto e o

contribuinte não paga nem

suspense(*). Só existe processo de

execução fiscal depois de o sujeito

passivo ser citado.

(*) Só existe suspensão quando (1) o

sujeito passivo discute a legalidade da

dívida ou (2) preste garantia (em

regra, garantia bancária)

FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO FALTA DE NOTIFICAÇÃO

(INSUFICIENTE)

Ilegalidade Inexistência

Artigo 36.º/2: se a notificação não

contiver os fundamentos o acto é

ilegal.

Nos casos de vícios da notificação, por exemplo se o contribuinte tinha de ser

notificado através de carta registada com aviso de recepção e apenas foi através

de carta registada tal conduz à ineficácia, mas ele conhece e é por isto que se

entende que este vício deve ser sanável.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Carta Registada com Aviso de Recepção: as notificações revestem diferentes

formas, consoante a importãncia do acto notificado. Revestem esta forma as que

tinham por objecto actos dos contribuintes ou a sua convocação para sssitirem

ou participarem em actos ou diligências (artigo 38.º/1 CPPT e artigo 39.º/5

CPPT; exemplo: direito de audição). A inobservância da forma prevista para a

notificação consiste numa irregularidade processual que se considerará sanada

se não tiver afectado os direitos de defesa do notificado, nomeadamente

quando se demonstre que a notificação foi, por ele, efectiva e atempadamente

recebida.

Dever (da AT) e Direito (do Contribuinte) de Fundamentação: pelas razões que

motivaram o dever de fundamentação acontece relativamente a todo o acto

conclusivo de um procedimento tributário, mesmo quando favorável ao

interessado (a decisão do procedimento é sempre fundamentada – artigo 77.º/1

LGT). O que se compreende, pois, como vimos, o conhecimento da

fundamentação não é só do interesse do destinatário, mas também de toda a

comunidade, na medida emq ue se exprime a legalidade, igualdade,

imparcialidade e transparência da actividade administrativa. O conteúdo, a

profundidade, exigivel à fundamentação dependera, necessariamente, do caso

concreto. Normalmente, afirma-se que a fundamentação tem que ser expressa,

clara, congruente e suficiente. O exigivel é – utilizando um dizer habitual da

nossa jurisprudência – que a fundamentação permita a um destinatário normal

entender o itenerario cognostivo e valorativo constante do acto, de modo a que

fique a saber a razão pela qual se decidiu assim e não de outro modo. O facto de

os actos tributários serem estritamente vinculados, de a decissão decorrer

directamente da lei não exclui a obrigação de serem fundamentadas. Esta é uma

querela definitivamente ultrapassada. A vinculação estrita não se reflecte na

existência do dever de fundamentação, mas sim no conteúdo da

fundamentação. Esta constituirá, essencialmente, na demonstração da

verificação, no caso concreto, da hipotese da nossa legal, não havendo lugar à

motivação do conteúdo concreto da decisão (à explanação das razões pelaos

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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quais se decidiu nesse sentido e não noutro, pois que, por regra, a decisão (a

única possível) a ser tomada resulta directamente da lei. Daí que a expressa

previsão do artigo 77.º/2 LGT de uma fundamentação simplificada. Para

determinadas situações, a lei consagra a obrigação de uma fundamentação com

especial densidade, especificando ‘’questões’’ sobre as quais há que tomar

posição expressa. Exemplo: artigo 77.º/3 a 5 LGT e o artigo 60.º/7 da LGT

(relativo aos elementos novos suscitados em sede de audição prévia) e ainda o

artigo 92.º/7 LGT. A falta de fundamentação é um vicio determinante da

anulabilidade do acto.

Atendendo ao artigo 37.º CPPT, quando um acto não contém os elementos

essenciais (fundamentação de facto e de direito) e quando não é validamente

notificado, o acto, de per si é ilegal na medida em que é insuficiente; é

deficiente. Antes de reclamar ou impugnar, há um meio que permite ao

contribuinte dirigir-se à AT e dizer-lhe que o acto não se encontra completo,

apresentando-lhe as falhas: artigo 37.º CPPT. Segundo esta norma, a

fundamentação e a notificação são te tal forma importantes que o contribuinte

pode não estar capaz de recorrer (reclamação, impugnação, etc) sem que o acto

esteja completo: deste modo, o legislador criou o meio do artigo 37.º/1 CPPT. O

acto não esta conforme porque nao contem a fundamentação de facto e de

direito e não foi notificado ou nao contém meios de defesa. O artigo 37.º/2

CPPT diz que se o contribuinte fizer isso o prazo para reclamar que é de 120

dias ou impugnar que é de 3 meses só se conta quando a AT notificar o

contribuinte da resposta a este requerimento.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 54

CONSELHEIRO LOPES DE SOUSA:o contribuinte tem esta faculdade que é

quase como um dever uma vez que se não utilizar o expediente do artigo 37.º

parece que fica como que conformado com estas ilegalidades do acto e por isso

nao pode depois em reclamação ou impugnação alegar estas ilegalidades. A

Professora Carla Castelo Trindade nao concorda com isto. Quando no caso

pratico do exame se disser que o acto tributário continha isto ou aquilo ou nao

se disser nada há que colocar que a liquidação adicional de IRC tem que conter

x elementos ao abrigo do Princípio da Fundamentação e Princípio da

Notificação: caso a liquidação adicional não contenha estes elementos o

contribuinte pode e dever utilizar O mecanismo do artigo 37.º, sendo que o

prazo de reclamação e impugnação só se conta como foi referido anteriormete.

O artigo 37.º enquanto poder ou dever? Na mente do legislador o artigo 37.º

existe para proteger o contribuinte de não conseguir exercer o direito de reagir.

Nos termos do disposto no artigo 133.º/4 CPPT consagra-se uma excepção à

regra geral do inferimento tácito: reclamação graciosa necessária no caso de

pagamento por conta (nota: quanto ao montante a entregar pelo contribuinte

titular de rednimentos da Categoria B a título de pagamento por conta, não é

exigivel que quando a AT notifique o contribuinte do seu pagamento no valor

se X, este saiba que é X+1 e o comunique à AT). Outro caso em que existe

deferimento tácito é nos casos de pedidos de informações vinculativas urgentes.

PRINCÍPIO DA DECISÃO

INDEFERIMENTO TÁCITO DEFERIMENTO TÁCITO

ARTIGO 57.º/2 LGT – 4 meses

Recurso Hierárquico – 30 dias

Informações Vinculativas – ARTIGO

68.º/6 LGT – 90 dias

Reclamação Graciosa Necessária a

título de pagamento por conta – 90

dias

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PROFESSORA SERENA CABRITA NETO – A FUNDAMENTAÇÃO DOS

ACTOS

1. GENERALIDADES

Ainda que as decisões administrativas se baseiem nas declarações apresentadas

pelo contribuinte, pelo menos numa segunda fase do procedimento em que a

Administração procede à verificação desses factos, terá de existir um acto

praticado pela Administração. Esse acto pode ser classificado como sendo o

culminar do procedmento, o qual se terá fundado, ou não, em actos praticados

pelo contribuinte ao abrigo dos seus deveres de cooperação.

Com vista a proteger os contribuintes de abusos ou da má aplicação da lei, é

tradição jurídica recente obrigar a AT a fundamentar os seus actos, à

semelhança do que sucede no direito administrativo em geral. Deste modo, a

par da existência de pesados deveres de cooperação que impenhem sobre os

contribuintes, qualquer afastamento da declaração do contribuinte na avaliação

dos seus rendimentos, por parte da Administração, terá de ocorrer no âmbito

estritamente fixado na lei, obedecendo a um especial ónus de fundamentação.

Nos termos do artigo 77.º da LGT, encontra-se a obrigação de AT fundamentar

a sua decisão por meio de sucinta exposição das razões de facto e de direito que

a motivaram, não bastando mera indicação dos factos, mas exigindo-se a

indicação de quais normas aplicáveis ao caso.

A Fundamentação tem pois de ser efectuada em termos tais que possibilite ao

contribuinte ter os elementos mínimos que lhe permitam aferir da legalidade do

acto. Exemplo: nota de liquidação de IRS que é enviada anualmente aos

contribuintes – apresenta suscintamente os valores que serviram de base ao

cálculo do imposto e apresenta sinteticamente as normas jurídicas aplicáveis.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 56

É esta obrigatoriedade de fundamentar os actos que garante ao contribuinte a

possibilidade de poder reagir contra os mesmos. O vício de ausência ou

defificiente fundamentação do acto administrativo tributário é um vício

perfeitamente autonomizado e distonto dos meros vícios formais, uma vez que

o mesmo afecta intrinsecamente o acto tributário quanto à sua validade interna

e não apenas a sua exteriorização.

No fundo, o dever de fundamamentação dos actos é o instituto que permite

afastar a arbitrariedade, obrigando a Administração a dizer quais as razões da

sua decisão, permitindo ao contribuinte reagir em caso de discordância. Se não

impendisse sobre a Administração Tributária este dever, aliado ao poder

intrinseco do Estado face aos cidadãos, não restaria a estes qualquer hipotese de

defesa, uma vez que as decisões administrativas tornam-se iam irrecorríveis por

indeterminadas.

A importância da fundamentação é tal que o artigo 125.º CPPT determina a

sanção da nulidade no caso da sentença judicial deixar de abarcar as razões de

facto e de direito que motivaram à decisão.

A consagração do dever geral de fundamentação dos actos tributários nao é

mais do que a confirmação da especial importância que o princípio da

legalidade encerra nas matérias em que existe uma desigualdade de posições

entre os sujeitos envolvidos, como é o caso do direito tributário.

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2. A PARTICIPAÇÃO DO CONTRIBUINTE NA FORMAÇÃO DA

DECISÃO

O artigo 60.º LGT consagrou no nosso sistema tributário o princípio da

participação do contribuinte na formação da decisão tributária, para evitar

litigios desnecessários, bem como consequentes delongas no processo. O n.º2

dispõe que a audição prévia do contribuinte poderá ser dispensada quando a

decisao seja tomada com base nos elementos por si fornecidos.

Aliado ao dever de proceder segundo os ditames da boa fé, o princípio da

participação pode ser visto como um dos elementos chave para resolução de

muitos litigios aparentes, que vão inevitavelemente surgindo. No entando, a

norma constante do artigo 60.º LGT tem suscitado enorme dúvidas:

• O n.º1 menciona uma mera faculdade (‘’pode’’), ao invés de prescrever

um comando imperativo para a Administração (deve), quando é certo

que os casos em que a participação do contribuinte pode ser dispensada

estão taxativamente previstos no n.º2 do artigo 60.º LGT, não sendo de

aplicar os casos de dispensa de audição previstos no artigo 103.º CPA;

• O legislador, com vista a evitar dificuldades interpretativas, não

consagragou expressamente a obrigatoriedade de se ouvir o contribuinte

quer quando a questões de facto, quer quanto a questões de direito. Bem

como o concomitante dever de a AT se pronunciar sobre as objecções de

direito suscitadas pelos sujeitos passivos, o que tem levado a

interpretações restritivas desta norma por parte da AT, sendo estas para

a autora ilegais.

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Caso a AT viole a norma quanto à participação do contribuinte, nomeadamente

através da não notificação ao contribuinte para este apresentar os seus

argumentos ou, simplesmente, não atendendo aos argumentos eventualmente

apresentados (entenda-se explicando expressamente as razões da aceitação e da

rejeição dos mesmos), a autora defende que poderá ser requerida a anulação do

acto tributário em causa, a nível gracioso, com base na preterição de uma

formalidade essencial, sendo neste caso o prazo da reclamação graciosa

alargado para um ano (artigo 70.º/2 CPPT). Em caso de indeferimento, o

contribuinte poderá ainda impugnar o acto de liquidação, com o mesmo

fundamento invocado para a reclamação.

Obviamente que por razões de economia processual e de justiça material, o acto

apenas deverá ser anulado no caso de se verificar que a falta de audição prévia

do contribuinte prejudicou a sua posição ou defesa da sua posição na formação

do acto tributario. No entando, esta situação não deverá servir como justificação

para a Administração se furtar à notificação para a audição prévia, nos casos

previstos no artigo 60.º LGT, uma vez que na maior parte dos casos, só após a

participação do contribuinte será possível aferir qual a sua utilidade para

reforço da posição processual deste.

3. A NOTIFICAÇÃO AO CONTRIBUINTE

FUNDAMENTAÇÃO DO ACTO

TRIBUTÁRIO

NOTIFICAÇÃO DA

FUNDAMENTAÇÃO

As ilegalidades da fundamentação

geral a possibilidade de se requerer a

anulação do mesmo; anulação do acto

por v

As ilegalidades ou omissões na

comunicação ao contribuinte geram

unicamente a

ineficácia/irregularidade, dessa

comunicação, que não inquina a a

validade do acto podendo

inclusivamente ser sanáveis.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 59

Nos termos do artigo 36.º CPPT dispõe-se que quaisquer notificações efectuadas

ao contribuinte contenham sempre a menção da decisão, dos seus fundamentos,

dos meios de defesa e do prazo para reagir à decisão, bem como a indicação da

entidade que praticou o acto e se o fez no uso de delegação ou subdelegação de

competência.

Nos termos do artigo 37.º CPPT concede-se um prazo de 30 dias ao contribuinte

para requerer a notificação dos requisitos referidos anteriormente que tenham

sido omitidos na notificação ou, em alternativa, a passagem de certidão que

contenha esses elementos. O uso dessa faculdade determina que o prazo para a

reclamação, recurso, impugnação ou outro meio judicial se conte apenas a partir

da nova notificação ou da entrega da certidão requerida.

Esta possibilidade de sanação da nulidade da notificação por falta de

fundamentação não pretendeu retirar importância à necessidade de

fundamentação dos actos, mas apenas conferir a possibilidade de se

aproveitarem, ao abrigo do princípio da economica processual e do princípio do

aproveitamento do acto administrativo os actos praticados pela Administração,

devendo esta corrigi-los, designadamente quando a falta resulta da notificação e

não da própria fundamentação.

Existe o problema de saber se numa situação de omissão ou errónea

fundamentação deverá o acto administrativo prevalecer, ainda que em

detrimento da posição do contribuinte, ou se deverá subsistir sempre a hipotese

de anulação do acto (Ac. STA 96: determinou a invalidade do acto de liquidação

por haver omissão da sua fundamentação, distinguindo perfeitamente essa

situação da inrregularidade ou falta de notificação, a qual gera a mera ineficácia

do acto). A solução é de dificil resolução, podendo parecer fácil quando a AT

actua ao abrigo de poderes vinculados e sim dificil quando actua ao abrigo de

poderes discricionários. Contudo, ainda quanto aos actos praticados ao abrigo

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de poderes vinculados e directamente previstos na lei, não se pode deixar de

referir que, mesmo quando a estes, o dever de fundamentação subsiste. A

interpretação correcta do actual regime parece-nos ser, aliás, a existência

permanente do dever de fundamentação, deve esse que será obviamente mais

ténue no caso de actos praticados pela AT ao abrigo de poderes vinculados ou

no caso de avaliação directa dos rendimentos. A questão é que, se a

Administração não fundamentar o seu acto, não é possível ao contribuinte saber

se as normas jurídicas estão a ser correctamente aplicadas, sendo que essa

situação será ainda mais relevante se estivermos, por exemplo, perante uma

situação de aplicação de métodos de avaliação indirecta dos rendimentos.

Pode-se entender, embora com alguma perplexidade, que a solução adoptada

pelo legislador assenta que certos actos não fundamentos podem vir a produzir

efeitos no caso de o contribuinte não requerer atempadamente a sua

rectificação. Para a autora, esta interpretação é desconforme com o artigo 268.º

CRP: para salvaguarda da posição do contribuinte, não podemos deixar de

considerar que a falta de fundamentação de um acto, principalmente em

matérias onde a Administração devide ao abrigo de poderes descricionários, é

motivo para requerer a anulação do mesmo, sob pena de a AT poder vir a

beneficiar da inércia do contribuinte, deturpando-se, dessa forma, o escopo

constitucional.

4. A FORMA DE NOTIFICAÇÃO

O artigo 38.º/1 CPPT dispõe claramente que as notificações ao contribuinte

terão de ser efectuadas por carta registada com aviso de recepção, sempre que

tenham por objecto actos ou decisões susceptíveis de alterarem a situação

tributária dos contribuintes ou a convocação para estes assitirem ou

participarem em actos ou diligências.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 61

O artigo 38.º/3 CPPT dispõe que as restantes notificações serão efectuadas por

mera carta registada.

O artigo 38.º/4 CPPT introduz a regra que, no caso das liquidações dos

impostos periódicos, efectuadas nos prazos de lei, as notificações serão

efectuadas por via postal simples, ou seja, sem registo.

Dificuldades têm existido quando a compatibilização da regra da notificação

por carta registada com aviso de recepção (n.º1), sempre que se altere a situação

tributária, com o facto de as liquidações nos impostos periódicos poderem ser

feitas por carta simples, pois estas liquidações alteram, por si, a situação

tributária do contribuinte (n.º4).

Existem duas interpretações possíveis quanto à compatibilização do artigo

38.º/1 e 4:

i. Numa interpretação mais lteral das norma sem causa, sempre que a

notificação de um imposto periódico, como o IRS, seja feita no prazo

previsto na lei – ocorrendo a exclusão da aplicação de métodos indirectos

ou a liquidação adicional decorrente de um processo de inspecção – a

notificação deverá ser feita por via postal simples, restando a notificação

por cara registada com aviso de recepção apenas para os casos em que há

alteração da situação tributária, ou seja sempre que a liquidação não se

baseie na declaração do próprio contribuinte;

ii. Numa interpretação menos literal, toda e qualquer liquidação, de

qualquer imposto (periódico ou não) altera a situação tributária do

contribuinte, pelo que a notificação da liquidação deverá ser sempre feita

por via postal registada com aviso de recepção, deixando a previsão da

notificação por via postal simples esvaziada de conteúdo.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 62

Para a Professora Serena Cabrita Neto, a norma prevista no n.º4 do artigo 38.º

CPPT vem excepcionar o previsto no n.º1 do mesmo artifo, o que é corroborado

pela sistematização da norma. Assim, no caso dos impostos periódicos, e

somente nestes, desde que as liquidações sejam efectuadas no prazo previsto na

lei e, portanto se baseiem nos rendimentos declarados pelo próprio contribuinte

a notificação da mesma poderá ser por via postal simples. Razões:

• O contribuinte sabe e tem a expectativa de pagar o imposto segundo

aquilo que declarou;

• Os sujeitos da relação jurídica tributária, a Administração e o

contribuinte cumpriram a lei e a liquidação foi expedida dentro do prazo

legal, pelo que o contribuinte tem igualmente a expectativa de recever a

notificação dentro de certo prazo, findo o qual deixará de ter certezas

sobre a sorte da sua liquidação.

• No nosso sistema encontra-se consagrado o conceito de domicilio fiscal,

o que reforça a ideia de que o envio da notificação da liquidação para o

domicilio declarado pelo proprio contribuinte, por via postal simples,

será um meio mais seguro para a notificação de liquidação normal de

qualquer imposto periodico.

5. NOTIFICAÇÃO DAS PESSOAS COLECTIVAS

Nos termos do artigo 41.º/1 CPPT, as pessoas colectivas e sociedades deverão

ser citadas ou notificadas na pessoa de um dos seus administradores ou

gerentes, na sua sede, na residência destes ou em qualquer lugar onde se

encontrem. O n.º2 dispoe que, na impossibilidade de se efectuar na pessoa do

representante, por este não ser encontrado pelo funcionário, a citação ou a

notificação dever-se-á realizar na pessoa de qualquer empregado, capaz de

transmitir os termos do acto, desde que o mesmo se encontre no local onde

normalmente funcione a administração da pessoa colectiva ou sociedade.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 63

O artigo 36.º/1 CPPT estabelece que os actos em matéria tributária que afectem

os direitos e interesses legítimos dos contribuintes apenas produzirão os seus

efeitos em relação a estes quando lhes sejam validamente notificados. O artigo

39.º CPPT estabelece normas relativas à forma da notificação e aos

procedimentos a adoptar para a efectivação das mesmas.

A notificação das pessoas colectivas deverá seguir sempre a forma pessoal, a

efectivar na pessoa de algum dos seus gerentes, de qualquer emnpregado ou

mesmo de alguém que esteja em condições de transmitir os termos do acto, que

se encontre no local onde normalmente funcione a administração da pessoa

colectiva ou a sociedade.

A norma do artigo 39.º CPPT constitui a regra geral quanto á forma e perfeição

dos actos de notificação, sendo afastada no caso de se tratar de pessoas

colectivas, uma vez que para estas é estabelecedido um regime especial,

consubstanciado na notificação pessoal de algum dos seus administradores ou

representantes. Na eventualidade de não ser encontrado qualquer membro dos

órgãos da gerência ou administração da pessoa colectiva no local da sede,

impõe-se à AT tentar a notificação do ente colectivo por carta registada com

aviso de recepção para a residências de alguns gerentes (ou mesmo do seu

representante, no caso de uma sucurssal de pessoa colectiva não residente), ou

para o local onde estes se encontrem.

Caso não sejam cumpridos os requisitos próprios para a notificação das pessoas

colectivas estremos perante a preterição de formalidades essenciais, as quais se

reconduzem à invalidade da notificação, argumento que pode ser invocado em

defesa da pessoa colectiva contra a Administração. Em determinados casos, a

invocação da preterição destas formalidades pode eventualmente implicar a

impossibilidade de haver nova notificação, desta feita com pleno cumprimento

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 64

da lei, em virtude do decurso do prazo de caducidade para liquidação dos

tributos.

O DIREITO DE PARTICIPAÇÃO

Sempre que a Administração Tributária praticar um acto que possa interferir

com o contribuinte tem de o notificar do projecto do acto tributário,

apresentando o fundamento e concedendo ao contribuinte um prazo para se

poder manifestar. A Administração Tributária está obrigada a responder nos

argumentos apresentados pelo contribuinte – direito à informação. O

contribuinte pode decidir manifestar-se ou pode não fazer nada: pode ser uma

questão de estratégia (ou não) entregar o argumento à Administração

Tributária. Há que ver, num caso prático, s eé vantajoso exercer direito de

audição ou não. Segundo o STA, a falta do direito de audição cola com a falta

do direito de fundamentação. O acto é anulável por vícios de fundamentação se

se concedeu ao contribuinte o direito à audição, mas não se teve em conta a

fundamentação deste. Um acto tributário que se torne definitivo sem dundada

oportunidade de exercer o direito de audição é anulável por violação do direito

à participação.

Nos termos do disposto no artigo 267.º/5 CRP consagra-se o direito de

participação dos cidadãos na formação das decisões que lhes digam respeito.

Desde 1991 existe a audiência prévia no procedimento administrativo (artigo

100.º e seguintes CPA), desde 1999, no CPT, existe apenas no processo de

contra-ordenação fiscal; na LGT, desde 1999, existe o direito de audição prévia

no artigo 60.º; no artigo 60.º RCPIT existe audição nos actos de inspecção.

É necessário, atendendo às normas da LGT, considerar a seguinte distinção:

• REGRA GERAL: o sujeito passivo tem o direito a ser ouvido antes

� Da liquidação que não se faça com base na sua declaração de

imposto – artigo 60.º/1 alinea a) e n.º2;

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 65

� Do indeferimento, total ou partcial, dos seus pedidos,

reclamações, recursos ou petições – artigo 60.º/1 alinea b) e n.º2, a

contrario;

� Da revogação de qualquer benefício ou acto administrativo em

matéria fiscal que os afecta – artigo 60.º/1 alinea c);

� Da tomada de decisão de aplicar métodos indirectos de avaliação

da sua matéria tributária, quando não haja lugar a relatório de

inspecção – artigo 60.º/1 alinea d);

� Da conclusão do relatório de inspecção tributária – artigo 60.º/1

alinea d)

• REGRAS ESPECIAIS: antes da reversão, mesmo nos casos de presunção

legal de culpa (cfr. Artigo 23.º/4 LGT e Circular 13/99, DSTJ)

Este direito, nos termos do disposto no artigo 60.º/3 e 6 LGT, é exercido do

seguinte modo:

• Envio de carta registada para o domicilio fiscal do contribuinte

marcando um prazo (de 15 a 25 dias) para que este exerça oralmente ou

por escrito o seu direito;

• Dela constará necessáriamente o projecto de decisão a adoptar e a

fundamentação da mesma;

• Se o contribuinte exercer o direito de ser ouvido, os elementos novos que

sjeam por ele trazidos ao procedimento deverão ser tomados em conta na

fundamentação da decisão.

Quanto às consequências da falta de incumprimento pela Administração

Tributária:

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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• Se o dever de audição foi apenas formalmente cumprido: o acto (de

reversão) é anulável por falta de fundamentação – vício intrínseco (Ac.

TCA – Norte de 27/03/07);

• Se a Administração Tributária não se pronuncia sobre os novos factos

trazidos ao processo, a decisão administrativa é anulável, por vício de

forma, em razão da deficiente fundamentação – vício extrínseco (Ac. STA

de 7/12/05)

Exame: há sempre um vício de notificação.

Oral: o direito à informação não se resume à audição prévia (direito de audição:

o contribuinte não está obrigado a exerce-lo): a Administração Tributária tem de

se pronunciar sobre os meus argumentos?

Exame: independentemente do caso é sempre necessário dar a nossa opinião.

Exemplo ‘’em minha opinião, eu aconselharia o X a só exercer o direito de

audição quanto a Y’’.

O DIREITO A JUROS INDEMNIZATÓRIOS

JUROS INDEMNIZATÓRIOS –

artigo 43.º LGT

Pagos pela Administração Tributária

ao contribuinte quando este pagou

uma prestação indevida.

JUROS MORATÓRIOS – artigo 44.º

LGT

Devidos pelo contribuinte à

Administração Tributária pela falta de

pagamento do imposto/dívida

tributária.

JUROS COMPENSATÓRIOS

Devidos pelo contrbuinte à

Administração Tributária pelo atraso

na liquidação.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 67

Para saber quando é que o crédito se constitui é necessário saber quando

ocorreu o facto tributário. Exemplo da Casa da Professora Carla Castelo

Trindade: devia ter pago o imposto três anos após a venda da casa, uma vez

que não investiu:

• Facto Tributário: 31 de Dezembro de 2009

• Facto Tributário: suspendeu-se até 31 de Dezembro de 2012

• Juros de Mora começaram a contar a 1 de Janeiro de 2013

Na liquidação oficiosa são devidos juros de mora e juros compensatórios. Se a

Administração Tributária liquidou oficiosamente 8:

• Durante a suspensão indevida: juros compensatórios;

• Quando a suspensão deixa de se verificar: juros de mora.

Por sua vez, caso estejamos face a uma liquidação adicional:

Os juros indemnizatórios traduzem-se em a Administração ter algo que não é

dela: contribuinte não foi reembolsado daquilo que devia ou contribuinte pagou

mais do que devia.

Os juros de mora só são devidos quando na esfera jurídica da AT já se

consolidou o direito ao imposto (IRC e IVA: autoliquidação; IRS: liquidação,

sendo que o contribuinte apenas tem de entregar uma declaração).

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 68

Nos termos do artigo 43.º da LGT, os juros indemnizatórios são devidos pela

AT ao contribuinte (contra-face aos juros compensatórios).

Aquando da questão de saber quando é que são devidos, é necessário ter em

consideração que em caso de erro na liquidação imputável aos serviços,

reconhecido em reclamação graciosa ou impugnação judicial – c/ pagamento de

dívida tributária em montante superior ao legalmente devido. Equipara-se ao

erro imputável aos serviços o erro resultante da declaração do contribuinte

quando este tenha seguido no seu preenchimento orientações genéricas da

Administração Tributária devidamente publicadas – ficção legal.

Os juros indemnizatórios são devidos:

• Quando não seja cumprido o prazo legal de restituição oficiosa dos

tributos;

• Quando o acto tributário tenha sido anulado por iniciativa da AT, a

partir do 30.º dia posterior à decisão, sem que tenha sido processada a

nota de crédito;

• Quando a revisão do acto tributário por iniciativa do contribuinte se

efectuar mais de um ano após o pedido deste, salvo se o atraso não for

imputável.

A fim de apurar como são os juros indemnizatórios devidos, é necessário

atender ao disposto no artigo 61.º CPPT que consagra a regra de processamento

de juros indemnizatórios, sendo que em resumo são processados oficiosamente

(Ofício Circulado 60.052, de 3/10/06 /substitui o entendimento anterior,

constante do ofício circulado 60.049, de 14/09/2005).

TAXA

Indemnizatórios = compensatórios = civis = 4% ao ano

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Os de mora seguem as mesmas regras das dívidas ao Estado - A taxa de juros

de mora é a definida na lei geral para as dívidas ao Estado – 6,112% nos termos

do Aviso n.º 17289/2012, de 28 de Dezembro - e outras entidades públicas,

excepto no período que decorre entre a data do termo do prazo de execução

espontânea de decisão judicial transitada em julgado e a data do pagamento da

dívida relativamente ao imposto que deveria ter sido pago por decisão judicial

transitada em julgado, em que será aplicada uma taxa equivalente ao dobro

daquela.

A CADUCIDADE E A PRESCRIÇÃO

� A CADUCIDADE DO DIREITO À LIQUIDAÇÃO

A Caducidade é uma garantia do particular (manifestação do Princípio da

Segurança Jurídica). É um direito do contribuinte. A AT só tem direito a

liquidar. A caducidade conta-se a partir da verificação do facto tributário.

Nos termos do disposto no artigo 45.º da LGT, a regra é a de que Administração

tributária dispõe de 4 anos para emitir os actos de liquidação de impostos

(mesmo adicionais/correctivos) sob pena de caducidade do direito à liquidação

– devendo os mesmos ser notificados neste prazo (art. 35.º e seguintes do CPPT)

Quanto à questão do termo inicial do prazo:

• Impostos periódicos – a partir do termo do ano em que se verificou o

facto tributário;

• Impostos obrigação única – a partir da data em que o facto tributário

ocorreu;

• IVA (desde 1/1/2003) – a partir do (início) do ano civil seguinte àquele

em que se verificou a exigibilidade do imposto;

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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• IRS cobrados por retenção na fonte a título definitivo (dd 1/1/2005) - a

partir do (início) do ano civil seguinte áquele em que se verificou o facto

tributário.

Nos termos do disposto no artigo 46.º da LGT, quanto à suspensão do prazo de

caducidade do direito à liquidação, a regra é a de que são vários os eventos que

suspendem e interrompem o prazo de caducidade do direito à liquidação.

Quanto ao meio adequado para atacar o vício da falta de notificação da

liquidação do tributo no prazo de caducidade é necessário atender quer à regra,

quer à excepção:

• Regra: a via adequada para reagir com este fundamento é a oposição (e

não a impugnação) porque a notificação é um requisito de eficácia da

liquidação, não uma causa de ilegalidade desta;

• Excepção: porém, se a própria liquidação ocorreu findo o prazo de

caducidade, o vício é intrínseco ao próprio acto (gerador de ilegalidade)

pelo que pode/deve ser atacada por via da impugnação.

� PRESCRIÇÃO

Nos termos do disposto no artigo 48.º da LGT, a AT dispõe de um prazo geral

de 8 anos para cobrar as dívidas tributárias – já liquidadas. Trata-se de um

prazo para a cobrança e não para a liquidação.

A prescrição de uma dívida tributária, a qual é de conhecimento oficioso nos

termos do art. 175.º do CPPT, tem por efeito torná-la inexigível coercivamente,

não a torna ilegal, pelo que não é fundamento de impugnação mas de Oposição

(art. 204.º, alínea d) do CPPT).

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 71

Nos termos do disposto no artigo 49.º da LGT, quanto à suspensão do prazo de

prescrição, a regra é a de que são vários os eventos que suspendem e

interrompem o prazo de prescrição.

No Orçamento de Estado para 2007 ocorreu a revogação do n.º2 do artigo 49.º

da LGT, que previa que a interrupção se transformava em mera suspensão se o

processo estivesse parado há mais de um ano, por facto não imputável ao

contribuinte.

A interrupção passa a ter lugar uma única vez, com o facto interruptivo que se

verificar em primeiro lugar (citação, reclamação. recurso hierárquico,

impugnação e pedido de revisão oficiosa).

Tal é aplicável aos prazos de prescrição em curso objecto de interrupção (cfr.

artigo 91.º Lei OE/2007).

CADUCIDADE PRESCRIÇÃO

Direito à Liquidação Após a liquidação

Liquidação: ‘’entregar o papelinho/declaração’’; tornar certa, liquida e exigivel

a divida tributária.

Um imposto prescrito continua a ser devido pelo contribuinte, uma vez que este

tem a obrigação natural de o pagar; mas a AT é que não o pode exigir.

Aulas de 31 de Outubro e de 7 de Novembro de 2013

IV – A FASE GRACIOSA DO PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO

A RECLAMAÇÃO GRACIOSA. OS SEUS FUNDAMENTOS E

MECANISMO

Nos termos do disposto nos artigos 68.º a 75.º do CPPT, a fase graciosa consiste

numa fase administrativa, mais concretamente numa fase procedimental, sendo

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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o meio gracioso tributário ‘’por excelência’’. Tal fase tem como objectivo a

anulação do acto tributário.

Nos termos do disposto no artigo 69.º CPPT, a reclamação graciosa tem como

características: não possuir formalidades especiais (não se exige advogado e

pode ser feita oralmente), ser sem custas, existir uma limitação dos meios

probatórios e a inexistência de efeito suspensivo automático do eventual

processo de execução fiscal (só com prestação simultânea de garantia – art. 199º

CPPT).

Atendendo ao disposto no artigo 70.º - que remete para o artigo 99.º - ambos do

CPPT, coloca-se a questão de saber quais os actos que podem ser objecto de

reclamação graciosa, ou seja se podem ser actos em matéria tributária ou apenas

actos tributários. Pode ser objecto de reclamação graciosa “Qualquer

ilegalidade”…designadamente (elenco exemplificativo):

• Errónea qualificação e quantificação de rendimentos, lucros, valores

patrimoniais e outros factos tributários;

• Incompetência;

• Ausência ou vício da fundamentação (para a reclamação graciosa é

indiferente o acto não estar de todo fundamentado ou só estar parte

dele);

• Preterição de outras formalidades legais

Nos termos do disposto no artigo 70.º - que remete para o artigo 102.º - ambos

do CPPT, o prazo para se fazer uso da reclamação graciosa é de 120 dias:

• Contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º, n.º 1 do CPPT;

• Contados a partir de sentença superveniente.

Exemplo: X foi notificado a 1 de Junho de 2010 de uma liquidação adicional de

IRS. Tem 30 dias para proceder ao pagamento. O prazo para a reclamação

graciosa só se inicia a partir do fim desses 30 dias. Se agisse antes do prazo de

30 anos existia uma extemporalidade: nestes casos, a AT considera que a

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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reclamação graciosa foi feita no primeira dia do prazo, ou seja que foi feita

correctamente (princípio da colaboração). A extemporalidade é diferente da

intemporalidade, ou seja nos casos em que tal é feita fora do prazo e

consequentemente não pode ser aceite. Deste modo, após o decurso dos 30 dias,

o contribuinte poderá reclamar graciosamente (120 dias) ou impugnar

judicialmente (3 meses).

Perante uma liquidação adicional, pode-se optar pela reclamação graciosa ou

pela impugnação judicial. Sabemos que se optarmos pela reclamação graciosa,

podemos sempre, depois, impugnar judicialmente.

Se apresentar reclamação graciosa, o prazo que se conta imediatamente a seguir

é o 4 meses – indeferimento expresso ou tácito. Com o indeferimento tácito

posso proceder ao recurso hierarquico ou impugnar judicialmente.

Com o inferimento tacito, o contribuinte nao apresenta reclamação graciosa.

Fora do prazo de 4 meses, o contribuinte é notificado do indeferimento

expresso. O contribuinte pode sempre reagir. Mas e se o contribuinte tiver

apresentado reclamação graciosa e depois tiver impugnado? Enquanto se

discute a questão, a Administração procede ao indeferimento expresso.

Quanto ao local de entrega este será ou o Serviço Periférico Local (Serviço de

Finanças) ou por transmissão electrónica de dados. Se o serviço onde se entrega

for territorialmente incompetente, ao abrigo do princípio da cooperação, este

órgão incompetente tem a obrigação de enviar para o órgão competente: mas

isto tem efeitos só quando a reclamação dá entrada no órgão competente, ou

seja só neste momento é que se começa a contar o prazo para o indeferimento

tácito. A reclamação não tem de ser entregue em articulado, com todas as

formalidades que lhe são inerentes.

Nos termos do disposto nos artigos 71.º a 75.º, ambos do CPPT, a reclamação

graciosa possui ainda como características:

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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• Possibilidade limitada de cumulação de pedidos e de coligação de

reclamantes, sob autorização do órgão instrutor sempre dependente da

identidade de tributo, do órgão competente e dos fundamentos de facto e

de direito (Artigos 71.º e 72.º do CPPT);

• A reclamação é:

� dirigida ao órgão periférico regional (Direcção de Finanças);

� É instruída pelo órgão periférico local (Serviço de Finanças);

� É decidida pelo órgão periférico regional ou pelo Director de

Serviços nos casos de actos praticados na sequência de

procedimentos inspectivos ou ainda pelo órgão periférico local

(Serviço de Finanças) nos casos de menor valor - Artigos 73.º e 75.º

do CPPT;

• Possibilidade de apensação de reclamações (artigo 74.º CPPT).

Na Reclamação Graciosa admite-se cumulação de pedidos e cologação de

autores (exemplo: substituto tributário e substituído), sendo que tal encontra-se

dependente de:

• Estar em causa o mesmo tributo;

• O mesmo órgão competente;

• Os mesmos fundamentos de facto e de direito.

Exemplo: estamos a falar do valor patrimonial da nossa casa. Queremos discutir

liquidações adicionais de IMI e IMT – temos de fazer separado.

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A RECLAMAÇÃO GRACIOSA EM CASOS ESPECIAIS: RETENÇÃO NA

FONTE, PAGAMENTOS POR CONTA E AUTOLIQUIDAÇÕES

No termos do disposto nos artigos 131.º e 132.º do CPPT, pode existir

reclamação graciosa necessária nos seguintes casos:

• Reclamação Graciosa nos casos de erro na autoliquidação – reclamação

“necessária”, excepto se se tratar de matéria de direito e/(ou) a

declaração tiver sido efectuada com base em orientações genéricas da

Administração tributária - prazo especial de 2 anos após apresentação da

declaração (artigo do 131.º CPPT);

• Reclamação Graciosa nos casos de retenção na fonte - reclamação

“necessária”, excepto se se tratar de matéria de direito e/(ou) a

declaração tiver sido efectuada com base em orientações genéricas da

Administração tributária - prazo especial de 2 anos após o termo do ano

em que ocorreu o pagamento indevido (artigo do 132.º CPPT);

• Reclamação Graciosa nos casos de pagamento por conta - reclamação

“necessária” - prazo especial de 30 dias após o pagamento indevido.

Deferimento tácito em 90 dias (artigo do 133.º CPPT).

Nos termos do artigo 132.º/1 CPPT, o substituto tem sempre reclamação

graciosa necessária; o substituído só tem reclamação graciosa necessária quando

a retenção na fonte é a título definitivo. E quando o substituto entrega menos do

que aquilo que reteve? A lei não regulou do ponto de vista do substituto,

porque este não vai reclamar; o substituido é que vai mas isso depende ser de

retençao na fonte a titulo definitivo ou a titulo de imposto por conta. Se for

entregue a menos, já há intervenção da AT, protanto nao faz sentido que exista

Reclamação Graciosa Necessária (ate porque vai reclamar da AT porque? Se

quem não entregou foi o substituto).

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QUANDO É QUE RECLAMOS GRACIOSAMENTE E QUANDO É QUE

IMPUGNAMOS?

����

1) Estamos perante um acto tributário (impugnação judicial) ou um acto em

matéria tributária (acção administrativa especial)?

2) Quando ocorreu a notificação do acto tributário?

3) É um acto validamente emitido (prazo de caducidade do direito à

liquidação)?

4) Quando se começa a contar o prazo para reclamar ou para impugar? S se

tem de proceder ao pagamento, o prazo de reclamação/impugnação só

se começa a contar após o termino do prazo para o pagamento

voluntário

5) Quando é que o prazo para a reclamação/impugnação começa e acaba?

6) Qual o fundamento para reclamar e para impugnar?

� Em regra reclama-se, uma vez que não tem custas, não tem

formalidades (não se é obrigado a constituir advogado), após esta

poder-se-á sempre impugnar e não há nada a perder (excepto 4

meses);

� Contudo, existindo já uma circular no sentido contrário ao nosso

fundamento, a Professora Carla Castelo Trindade defende a

impugnação judicial. Segundo a professora só se deve reclamar

quando se trata de prova (exemplo: se aceita o documento ou

não). Vícios de ilegalidade, falta de fundamentação, etc – casos em

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que se opta pela impugnação. Isto funciona bem na advocacia

empresarial. Mas em casos de IMI, IS, IRS, ou seja casos mais

pequenas, é mais comum a reclamação. Se já se sabe que a AT não

concorda, seria parvo conceder os argumentos de direito que

usamos, posteriormente, na impugnação judicial. Nestes casos,

para evitar que AT se prepare é melhor impugnar logo. Não é

liquido que se reclame logo ou que se impugne logo.

A AVALIAÇÃO INDIRECTA E O PEDIDO DE REVISÃO DA MATÉRIA

COLECTÁVEL

Em regra, os contribuintes são tributados sob o seu rendimento real. Por vezes,

os contribuintes não querem msitrar a sua contabilidade e nesse caso a AT tem

de estimar, podendo mesmo assim o contribuinte opor-se.

� AVALIAÇÃO DIRECTA

Em regra, a avaliação dos rendimentos a tributar é efectuada com base nos

elementos constantes da declaração, os quais gozam de uma presunção de

veracidade, esta é afastada nos seguintes casos:

• Omissões, inexactidões ou erros que impeçam o conhecimento da

realidade;

• Falta de cumprimento dos deveres de esclarecimento da situação

tributária;

• Afastamento para menos, da matéria tributável, sem razão justificativa,

dos indicadores objectivos de base técnico-científica;

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• Afastamento para menos, dos rendimentos declarados, sem razão

justificativa, dos padrões fixados para as manifestações de fortuna

(artigo 89º-A da LGT).

A presunção de veracidade das declarações não afasta o ónus probatório dos

factos nelas invocados, a menos que os dados em causa sejam elementos na

posse da Administração Tributária.

� AVALIAÇÃO INDIRECTA (artigo 81.º a 90.º da LGT)

A fundamentação da avaliação indirecta deve conter:

• Fundamentação de facto e direito à semelhança dos demais actos

tributários e ainda os motivos da impossibilidade da comprovação e

quantificação directa e exacta da matéria tributável;

• Menção dos critérios utilizados pela Administração Tributária para a

qualificação e quantificação da matéria tributável;

• Menção da ponderação dos factores que influenciaram a determinação

do seu resultado.

Ou seja, a AT tem de fundamentar porque é que não consegue tributar através

da avaliação directa, de acordo com o lucro real e:

• Indicar os meios de defesa;

• Fundamentação de facto e de direito;

• Ponderação dos factores que influenciaram a determinação do seu

resultado.

Perante a impossibilidade de avaliação directa procede-se à avaliação indirecta,

dando inicio à inspecção.

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Os indicadores objectivos de base técnico científica nunca foram publicados em

Portugal.

Após a fixação da matéria colectável pode-se proceder ao pedido de revisão da

matéria colectável (este meio só serve para os casos em que a AT fixa a matéria

colectável através de métodos indirectos), sendo esta diferente do pedido de

revisão oficiosa (não tem nada a ver com a matéria tributável) � motivo de

chumbo no exame‼

Nos termos do disposto no artigo 91.º da LGT, consagra-se o pedido de revisão

da matéria colectável, colocando-se a questão de saber, uma vez fixada a

avaliação da matéria colectável por métodos indirectos, quem pode pedir a

Revisão da Matéria Colectável:

• O sujeito passivo a quem foi promovida a fixação com fundamento na

impossibilidade de comprovação e quantificação directa e exacta da

matéria tributável; e

• O sujeito passivo a quem foi promovida a fixação com fundamento no

afastamento significativo dos indicadores objectivos de actividade de

base técnico-científica.

A CRP diz que todos os contribuintes – singulares ou colectivos -, quanto à

tributação dos rendimentos, tal é realizada de acordo com o rendimento real, a

menos que aqueles prefiram o regime simplificado (que só existe para o IRS).

Segundo este regime, a AT faz uma presunção da factura do contribuinte

(exemplo: 70 de proveito e 30 de lucro), não se sabendo deste modo o lucro real

ao certo. Adoptando o regime simplificado, os contribuintes estão a admitir

que a sua tributação do rendimento será realizada por métodos indirectos de

tributação e não de acordo com a sua tributação Real. Além disso quando se

entra para o regime simplificado ter-se-á de lá ficar durante algum tempo.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 80

A lei exclui a possibilidade de revisão da matéria tributável aos contribuintes

que se encontrem sujeitos ao regime simplificado de tributação – acesso

opcional. Por definição, o regime simplificado seria um método indirecto

(estabelece presunções), sendo que a este regime, não se pode apresentar

pedido de revisão da matéria colectável.

Este pedido deverá observar as seguintes formalidades:

• Apresentação em requerimento próprio dirigido ao Director de Finanças;

• Prazo de apresentação: 30 dias após a notificação da decisão da aplicação

dos métodos de avaliação indirecta;

• Indicação do perito do contribuinte;

• Indicação do desejo de intervenção do Perito Independente;

• Fundamentação das razões que, na óptica do requerente, determinam: a

não verificação da impossibilidade da quantificação directa; a errada

quantificação/qualificação da matéria colectável.

Nos termos do disposto no artigo 92.º da LGT, a discussão quanto ao pedido de

revisão da matéria colectável encontra-se vedada quer das correcções

meramente aritméticas, quer de outras questões de Direito, com excepção da

discussão sobre a verificação dos pressupostos de aplicação da avaliação

indirecta.

Quanto às formalidades e efeitos do procedimento salienta-se que:

• Apresentação do Pedido – em 30 dias;

• Marcação da reunião de Peritos – em 15 dias – visa o acordo sobre a

quantificação da matéria colectável.

• O Perito Independente intervirá apenas se tiver sido requerido pelo

sujeito passivo;

• Conclusão do Procedimento – em 30 dias a contar da apresentação do

Pedido.

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• Durante a pendência do processo: EFEITO SUSPENSIVO da liquidação –

o pedido de revisão da matéria colectável suspende a tributação

• Se o Perito Independente votar favoravelmente ao contribuinte, o

procedimento tutelar mantém igualmente EFEITO SUSPENSIVO.

Se a decisão (quanto ao pedido de revisão da matéria colectável) for

desfavorável ao sujeito passivo, este poderá:

• Conformar-se com a decisão e pagar a liquidação de imposto emitida;

• Apresentar reclamação graciosa – com base noutros vícios – no prazo de

120 dias a contar dos factos constantes do artigo 102.º do CPPT;

• Apresentar Impugnação Judicial, invocando todos os vícios da mesma,

incluindo os da avaliação indirecta – a apresentar em 90 dias a contar dos

factos constantes do artigo 102.º do CPPT (ou após o indeferimento

expresso ou tácito da Reclamação apresentada).

PROFESSORA SERENA CABRITA NETO: AVALIAÇÃO DIRECTA E

INDIRECTA

1. AVALIAÇÃO DIRECTA E AVALIAÇÃO INDIRECTA

Em Direito Tributário onde dos princípios mais importantes é o da tipicidade,

segundo o qual é condição para a liquidação de um imposto a existência de um

facto tributário previamente definido e previsto na lei. No caso de IRS, por

exemplo, o facto tributário que fundamenta a existência do imposto é a

obtenção do rendimento, que se determina e quantifica de forma diversa,

consoante as diferentes categorias de rendimentos.

A segurança jurídica determina que o processo de apuramento do imposto a

pagar deva ser claro, preciso e perfeitamente transparente uma vez que se

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suporta em regras legalmente definidas – AVALIAÇÃO DIRECTA, uma vez

que se fundamenta sem qualquere tipo de mediação na verificação da existência

do facto tributário.

AVALIAÇÃO INDIRECTA: O imposto é liquidado com base num rendimento

(pois é quanto aos impostos sobre o rendimento que este regime tem grande

margem de aplicabilidade), que não se constata nem se quantifica

directamentre, pelas regras de cada imposto, mas que é proveniente da

verificação de certos indicios ou indices que presumem a sua existência e

quantificação. É exactamente na avaliação indirecta que a AT, ao abrigo do

princípio da investigação, para aferir a verdadeira situação material do

contribuinte terá de apurar os rendimentos mediante os elementos indiciarios

que tiver a disposição, fornecidos ou não pelo contribuinte.

A avaliação indirecta, face à avaliação directa, é um processo de quantificação

da obrigação tributável menos rigoroso e mais permeável à ocorrência de erro,

para além de se fundamentar em critérios com uma relevante margem de

subjectividade. A avaliação indirecta é potencialmente geradora de menor

justiça e de maior insegurança. Devido a tal, o sistema jurídico fiscal português

atribuiu à avaliação indirecta um caracter de subsidiariedade (artigo 85.º/1 e

81.º LGT), segundo os quais esta só é aplicável quando não for possível calcular

a matéria colectável directamente segundo os critérios próprios de cada tributo.

Em suma, cabendo à AT efectuar a avaliação dos rendimentos, ao abrigo do

princípio da investigação, mediante as declarações apresentadas pelo

contribuinte, cabe-lhe igualmente fiscalizar da regularidade e fidelidade dessas

declarações. Caso a AT entenda, fundamentadamente, que a avaliação directa

de rendimentos não é possivel nos termos enunciados na lei, poderá aplicar os

métodos de avaliação indirecta. O ónus de provar que a avaliação directa não é

possível é da AT, a qual terá de afastar a presunção de veracidade da declaração

do sujeito passivo, decorrente do artigo 75.º LGT. Apenas no caso de ficar

provado que não é de todo possível avaliar directamente os rendimentos do

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sujeito passivo e estejam preenchidas as condições previstas no artigo 87.º LGT,

a AT poderá lançar mão dos métodos de avaliação indirecta, cabendo-lhe a

prova da verificação dos pressupostos de aplicação dos mesmos. Não basta que

seja dificil ou oneroso promover a avaliação directa dos rendimentos do

contribuinte: a lei exige que se faça prova de uma impossibilidade.

A tributação indirecta poderá, excepcionalmente, assumir um caracter não

subsidiário, designadamente nos casos de tributação através de regimes

simplificados: nestes casos há lugar a uma utilização de indices, identicos para

determinados grupos de contribuintes, atraves dos quais é apurada a matéria

colectavel, ainda que com base num volume de negocios declarado pelo

contribuinte.

2. A CADUCIDADE E A PRESCRIÇÃO DOS TRIBUTOS

Tanto a prescrição como a caducidade, independentemente de a avaliação ser

realizada com recurso a métodos directos ou indirectos, visam proteger os

cidadãos, na medida em que mesmos sabem que, findo determinado prazo, a

sua situação jurídico-tributária se consolida.

CADUCIDADE – ARTIGO 45.º LGT PRESCRIÇÃO – ARTIGO 48.º LGT

Refere-se ao direito de liquidar os

tributos, ou seja o prazo em que AT

dispõe para promover a liquidação

dos tributos, o qual se fixa

actualmente em 4 anos, excepto nos

casos especiais previstos nos n.º2 e 3

do artigo 45.º LGT(*)

Refere-se a todas as situações

suceptíveis de gerar dívidas

tributárias, mesmo aquelas em que

tenha ocorrido liquidação. O prazo é

de 8 anos.

(*) Artigo 45.º/2 LGT: refere-se a determinadas situações de aplicação de

métodos indirectos ou de erro evidenciado na declação do sujeito passivo, em

que o prazo de caducidade é de três anos; n.º3 refere-se aos casos em que se

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trata de reporte de prejuízos, caso em que a caducidade dá-se no termo do

prazo para exercício do direito (aqui podendo ultrapassar os 4 anos do prazo

geral):

Nos termos do artigo 204.º/1 al. D) e ) tanto a prescrição como a caducidade são

fundamentos de oposição à execução.

CONTAGEM DOS PRAZOS NA CADUCIDADE:

• IMPOSTOS SOBRE O RENDIMENTO (IRS E IRC)/IMPOSTOS DE

OBRIGAÇÃO CONTINUADA: uma vez que o facto tributário só se

completa no final de cada ano fiscal, repetindo-se ou sucedendo-se no

tempo tantas vezes quanto os períodos em que decorra tal actividade, o

dies ad quem começa a contar-se a partir do termo do ano em que se

verificou o facto tributário – artigo 45.º/4 LGT.

• IMPOSTOS DE OBRIGAÇÃO ÚNICA: o prazo de caducidade começa

a contar-se a partir da data em que o facto tributário ocorreu. Excepção:

IVA, uma vez que, a+esar de conceptualmente configurar um imposto de

obrigação única, o legislador oridinário, ponto fim, da pior forma,

acrescente-se, a uma querela doutrinale jurisprudencial, determinou que

o prazo de caducidade começava a contar-se a partir do ínico do ano civil

seguinte àquele em que se verificou a exigibilidade do imposto.

� Para efeitos de caracterização dos impostos como de obrigação única

ou de caracter continuado, julgamos que deverá atender-se à natureza de

cada prestação tributária e não ao imposto na sua globalidade, bem como

analisar o caracter sucessivo ou individualizado da formação da

obrigação tributária.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 85

Ou seja, há situações que se podenriam reconduzir, em tese, a ambas as figuras,

embora acabem por ser consumidas pela caducidade, cujo prazo de decurso se

verifica inevitavelmente primeiro. Em ambos os institutos podem-se verificar

causas de interrupção e de suspensão (artigo 46.º e 49.º LGT). No artigo 46.º/1,

48.º/3 e 49.º/2 prevêm-se normas que visam penalizar a Administração

Tributária em caso de lentidão na decisão.

3. A DECLARAÇÃO DO CONTRIBUINTE E OS DEVERES DE

COOPERAÇÃO

Adoptou-se no direito tributário regras estabelecidas na lei comercial (obrigação

de manutenção dos registos contabilísticos, por exemplo), culminando no facto

de ser o próprio contribuinte quem declara ao fisco a qualidade e a quantidade

dos rendimentos que obteve, baseado em elementos de quem ele dispõe.

Presumem-se verdadeiras e de boa fé as declarações dos contribuintes

apresentadas nos termos previstos na lei, bem como os dados e apuramentos

inscritos na sua contabilidade ou escrita – artigo 75.º/1 LGT.

A presunção de validade das declarações dos contribuintes tem como limite o

cumprimento dos deveres de cooperação (exemplo: mero dever declarativo, por

parte do contribuinte; obrigatoriedade de manutenção, por parte deste, de uma

série de registos e elementos que, organizados da forma disposta pela lei,

comprovem os factos tributários declarados). No momento em que AT, no

decorrer das suas actividades de fiscalização, verificar que as regras subjacentes

à correcta fundamentação dos valores declarados não foram cumpridas, poderá

questionar esses mesmos valores – artigo 75.º/2 LGT (enuncia os factos que

permitem ilidir a presunção da validade das declarações do contribuinte, entre

os quais se destaca a ocorrência de omissões, erros ou inexactidões que

incidicem uma falsa declaração o afastamento significativo para menos dos seus

índices de rentabilidade face aos índices mediso do sector em que actua ou

especialmente no caso do IRS, o afastamento para menos face aos padroes de

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rendimento que razoavelmente possam permitir as manifestações de foruna

evidenciadas pelo sujeito passivo.

É nestas situações em que é ponderável o recurso à avaliação indirecta e à

utilização de métodos indiciários. Uma vez que o contribuinte não cumpriu os

deveres de cooperação a que estava sujeito poder-se-à aplicar uma forma de

quantificação do rendimento colectável potencialmente menos justa e mais

insegura, para além da aplicação de sanções próprias (RGIT).

Deste modo, verifica-se que a violação de deveres de cooperação, por parte do

contribuinte, corresponde a um necessário alargamento dos poderes de

investigação da AT, sendo mesmo assim necessário que se verifiquem os

pressupostos previstos nos artigos 87.º e 88.º LGT, de forma a limitar o uso

indevido deste regime de quantificação, pressupostos esses que devem ser

enunciados pela AT na fundamentação do ato de aplicação dos métodos de

avaliação indirecta.

4. REGIME GERAL DA LGT

A LGT passou a designar a determinação da matéria colectável através de

índices por avaliação indirecta ou métodos indirectos, em vez da denominação

tradicional de métodos indiciários.

Tal deve-se ao facto de nem sempre os métodos indirectos serem indiciários

(exemplo: caso em que há recurso do critério da determinação indirecta dos

rendimentos a tributar, através da matéria tributável do ano ou anos mais

próximos que se encontre determinada pelo sujeito passivo em determinado

exercício, num exercício sucessivo.

Nos termos do artigo 90.º LGT, o legislador prevê a determinação da matéria

colectavel através de métodos indirectos não só através de idncies que outrora

estavem previstos no próprio CIRC mas também a critérios como o da

localização e dimensão da actividade exercida, o dos custos presumidos em

funçai das condições concretas do exercício da actividade, o da matéria

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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tributável do ano ou anos mais próximos que se encontre determinada pela AT

e do valor de mercado dos bens ou serviços tributados. O legislador quis

garantir que este tipo de tributação por índices não se afasta totalmente do lucro

real, fazendo apelo a mais elementos que permitam efectuar uma avaliação

indirecta, mais justa.

5. ÓNUS DA PROVA

Nos termos do artigo 74.º LGT, a regra geral quanto à distribuição do ónus da

prova, é que este dever racai sobre quem invocar os factos.

Para que a AT possa afastar a presunção de veracidade da declação do

contribuinte terá de provar a inexistência e insuficiência da contabilidade, a

ocultação de factos relevantes na mesma, as suas irregularidades, omissões e

discrepância com a realidade. Esta pesada exigência probatória resulta na

necessidade de contenção doas poderes da AT, tutelando assim os interesses

dos contribuintes numa matéria de natureza sensível.

O grau de fundamentação dos actos exigidos a nível de aplicação de métodos

indirectos é, obviamente, elevado, devendo essa fundamentação estar

concretuizada num acto processual que respeite as exigências legais e que

permita ao sujeito passivo, destinario do ato, conhecer de facto e de direito as

razoes que levaram a AT a afastar a veracidade dos elementos por si

declarados, sob pena de invalidade do ato tributário

Nos termos do artigo 100.º CPPT encontramos expressa uma dualidade de

princípios: por um lado, o dever de prova e de fundamentação atribuído à AT,

relativo à verificação e quantificação de um determiando facto tributário; por

outro lado, no caso de se demonstrar impossível a tributação com base na

declaração apresentada (ou não) pelo sujeito passivo e se proceder á avaliação

indirecta, a transferência para o contribuinte do ónus de provar que a AT errou

na determinação da matéria colectavel.

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Nos termos das alíneas c) e d) do artigo 87.º LGT a distribuição do ónus da

prova é mais equilibrada, nomeadamente no caso de a matéria tributável ser

significativamente inferior aquela que resultaria da aplicação dos métodos

indicadores técnico científicos ou se se afastar dos pradroes de rendimento que

razoavelmente possam permitir as manifestações de fortuna declaradas. Nestes

casos, cabe ao sujeito passivo apresentar na declaração razoes justificativas

desse afasamento; caso não o faça poderão ser-lhe aplicados, quase

automaticamente, os métodos indirectos é portanto sob o contribuinte que

impende o ónus de provar as razoes daquele devio, ab initio

6. A TUTELA DO CONTRIBUINTE

Quando a AT aplica fundamentadamente os métodos indiciários existe uma

inversão do ónus da prova: é ao contribuinte que cabe alegar e provar a

inaplicabilidade desses métodos através dos meios tutelares, administrativos e

judiciais previstos na lei. O meio de defesa de excelência contra a aplicação dos

métodos indirectos é o pedido de revisão da matéria colectavel (artigo 91.º

LGT).

Antes da entrada em vigor da LGT, o contribuinte sujeito à avaliação por

métodos indirectos não podia discutir a justeza da aplicação desse método de

avaliação na Comissão de Revisão, nem mesmo das chamadas correcções

técnicas efectuadas pela AT, remetendo-se esta discussão para a reclamação

graciosa ou para a impugnação judicial do ato. Na comissão de revisão apenas

podia discutir as questões relativas à quantificação da matéria tributável

resltante da aplicação dos métodos indirectos e nada mais.

Com a LGT a situação alterou-se: o legislador quis dar uma hipótese ao

contribuinte de poder discutir, de imediato e com efeito suspensivo da

liquidação, a legalidade da própria aplicação dos métodos indirectos, ao mesmo

tempo que se aprecia a questão da quantificação do lucro tributável dai

resultante (artigo 86.º/5. E 91.º/14 LGT). Esta previsão legal funcionou como

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um decantador de litígios fazendo apenas chegar ao tribunal as situações mais

importantes e controversas.

O sujeito alvo da aplicação de avaliação por métodos indirectos poderá lançar

mao de outros meios tutelares: a reclamação graciosa e o recurso hierárquico,

em sede administrativa ou graciosa e a impugnação judicial.

7. A TRIBUTAÇÃO PELAS MANIFESTAÇÕES DE FORTUNA

A criação do controlo das alterações de fortuna dos contribuintes traduz uma

tentativa de modernização da AT, permitindo confrontar os contribuintes coma

informação que eles próprios lhe fornecem, ultrapassando-se o problema do

pesado ónus da prova, que impende sobre a AT na aplicação dos métodos

indirectos. Ao transferir-se para o contribuinte o dever de declarar os bens que

possu e de justificar as alterações significativas do seu património esta se a

possibilitar uma melhor fiscalização e a contribuir para o combate à fraude e

evasão fiscal.

Sempre que existam desvios injustificados as presunções do artigo 89.º LGT, o

contribuinte ficará sujeito à aplicação de métodos indirectos aos seus

rendimentos, sem maior necessidade de justificação. Obviamente que foram

salvaguardas pelo legislador as situações que podem gerar uma alteração

excepcional no património do sujeito passivo (heranças recebidas por exemplo).

A REVISÃO DOS ACTOS TRIBUTÁRIOS: ARTIGO 78.º DA LGT

O pedido de revisão dos actos tributários é uma revisão oficiosa. Pede-se à AT

que reveja o acto que pratiou. Pode ser pedida pela própria AT ou pelo

contribuinte.

Nos termos do disposto no artigo 78.º da LGT consagra-se o Pedido de Revisão

dos actos tributários que assenta no facto de:

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• ser um Pedido “extraordinário”, dirigido à entidade que praticou o acto

(não é uma anulação);

• o “erro na autoliquidação” também pode ser alvo de revisão;

• Prazos de apresentação são mais alargados que as restantes vias

graciosas:

Quanto aos tipos e prazos de revisão é de salientar o seguinte:

• Por iniciativa do Sujeito Passivo: no prazo da “reclamação administrativa”

(15 dias? 120dias?), com fundamento em qualquer ilegalidade;

• Por iniciativa da Administração Tributária, no prazo de 4 anos ou a todo

o tempo se o tributo não tiver sido pago, com base em “erro dos

serviços”;

• Por autorização do dirigente máximo do serviço, no prazo de 3 anos a

contar do acto tributário, com fundamento em “injustiça grave ou

notória” – ver n.º 5 do art. 78º LGT.

• Independentemente de iniciativa, no prazo de 4 anos, com fundamento

em duplicação de colecta.

• A todo o tempo quando o imposto não foi pago.

Em regra, só apresenta pedido de revisão oficiosa quando já passaram todos os

outros prazos. A Professora Carla Castelo Trindade entende que este pedido

não devia existir, porque o Princípio da Segurança Jurídica deveria ser melhor

acautelado. O outro prazo de 4 anos que também conhecemos é o da

caducidade.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 91

Podemos salientar duas questões que foram discutidas na Jurisprudência do

STA:

• Questão polémica: efeito suspensivo com prestação de garantia

“sempre”? – artigo 169.º do CPPT não menciona a revisão. Ac. Recente

do STA afirma que não. Evolução no sentido de afastar o efeito

suspensivo, mesmo com prestação de garantia, a menos que a revisão

tenha sido apresentada no prazo da reclamação. Ou seja, tem sido

discutida a legalidade em sede de reclamação graciosa ou de recurso

hierárquico quando ao efeito suspensivo se manter ou não. No

entendimento do STA quando se apresenta pedido de revisão oficiosa no

prazo da reclamação graciosa existe suspensão.

• Questão pacífica: a revisão reabre a porta à via contenciosa; da decisão

de revisão oficiosa pode-se impugar, já existe efeito suspensivo. Isto é

extremamente esquizofrénico: nãi impugnou nem reclamou no tempo

certo, a AT vem dizer que não há fundamento para rever e, depois,

então, já se pode impugar.

O RECURSO HIERÁRQUICO

O recurso hierárquico é optivo. Os actos em matéria tributária não se reclama,

faz-se recurso. Os actos tributários são reclamáveis e depois recorríveis. É

digirido em regra ao Sr. Ministro das Finaças.

Nos termos do disposto no artigo 80.º da LGT e nos artigos 66.º a 67.º do CPPT

consagra-se o recurso hierárquico, sendo que este:

• Para além do “duplo grau de decisão”, é possível recorrer para o mais

alto superior hierárquico do autor do acto – Ministro, Secretário de

Estado, Director Geral dos Impostos;

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• Prazo de apresentação: interposto em 30 dias a contar da notificação do

acto - subida em 15 dias para o órgão decisor;

• Prazo especial de decisão: 60 dias – excepciona o artigo 57.º da LGT –

prazo especial de “indeferimento tácito”.

Quanto à natureza e efeitos do Recurso Hierárquico:

• Regra: efeito devolutivo e natureza facultativa – alteração dos efeitos

com entrada em vigor do CPTA (art. 51.º CPTA) – todas as decisões

passam a ser recorríveis contenciosamente (antes só os casos do artigo

76º/2 CPPT);

• Excepção: Recurso Hierárquico necessário, em alguns casos residuais;

• Relação com reclamação e recurso contencioso – artigo 76º/2 do CPPT –

sempre que o Recurso Hierárquico seja interposto da decisão de uma

Reclamação, o mesmo é sempre passível de impugnação judicial ou de

arbitragem.

Existe algum caso em que o Recurso Hierárquico seja necessário?

Nos termos do artigo 65.º/4 CPPT qual é o acto em matéria tributária? Há

benefícios fiscais que são automáticos e outros que estão sujeitos a

reconhecimento. É o reconhecimento do acto em matéria tributária. Há recurso

hierárquico necessário.

O prazo do indeferimento tácito do recurso hierárquico é de 60 dias: é um prazo

muito curto, pelo que o dito ónus do contribuinte não fica colocado em causa.

Não pode optar logo, mas o resultado acaba por ser o mesmo.

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Aulas de 14 e 21 de Novembro de 2013

ACTO TRIBUTÁRIO ACTO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA

- 120 DIAS PARA RECLAMAR

GRACIOSAMENTE (pedido de

revisão oficiosa): DA DECISÃO..

- RECURSO HIERARQUICO – 30

DIAS

- IMPUGNAÇÃO JUDICIAL – 3

MESES

PRAZO DE INDEFERIMENTO

TÁCITO DA RECLAMAÇÃO

GRACIOSA: 4 MESES

PRAZO DE INDEFERIMENTO

TÁCITO DO RECURSO

HIERÁRQUICO: 60 DIAS

- 30 DIAS PARA RECURSO

HIERÁRQUICO: DA DECISÃO..

- IMPUGNAÇÃO JUDICIAL – 3

MESES

O Acto Tributário com Prestação de

Garantia conduz à suspensão do

processo executivo.

- 30 DIAS PARA RECORRER

HIERARQUICAMENTE: DA

DECISÃO

- ACÇÃO ADMINISTRATIVA

ESPECIAL – 3 MESES

PRAZO DE INDEFERIMENTO

TÁCITO DO RECURSO

HIERÁRQUICO: 60 DIAS

- 3 MESES PARA ACÇÃO

ADMINISTRATIVA ESPECIAL

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PROFESSORA SERENA CABRITA NETO – OS MEIOS TUTELARES

ADMINISTRATIVOS

1. O PEDIDO DE REVISÃO DA MATÉRIA COLECTÁVEL E O PERITO

INDEPENDENTE

O PEDIDO DE REVISÃO

O meio específico de reacção por parte do contribuinte à aplicação dos métodos

de avaliação indirecta é o pedido de revisão da matéria colectável – artigo 91.º e

seguintes da LGT. A especidade deste procedimento reside (1) no facto de

aquele pedido ser dos poucos meios tutelares com efeito suspensivo imediato

da liquidação do imposto, em que o princípio solve et repete é

excepcionalmente afastado e (2) estamos face a um procedimento de caracter

mais informal – consubstanciado num encontro entre o perioto nomeado pelo

contribuinte e o perito da AT, em que se visa essencialmente a obtenção de um

acordo entre ambos, mediante o qual se fixa a quantia a liquidar (artigo 92.º

LGT).

O legislador conferiu poderes à AT para que esta possa ceder, dentro dos

limites da actuação pautada pelo princípio da legalidade, na sua posição, com

vista a um acordo, cedência essa que acaabra por ser financeiramente inócua

(ou mesmo benéfica) face a económica gerada pela finalização rápida e eficaz do

conflito.

Quanto às restantes questões de direito, não se confere ao contribuinte a

possibilidade de as contestar mediante este tipo de reclamação, por ser entender

que a verdadeira essência da mesma reside nas questões de quantificação da

matéria colectavel, sendo qye a nível da matéria de direito apenas interessara

discutir, por uma questão prejudicial, se se verificaram ou não os pressupostos

de aplicação dos métodos indirectos. Ficaram igualmente apartadas da

aplicação deste regime as chamadas correcçoes meramente aritméticas ou

correcçoes técnicas da matéria tributável que sejam decorrentes quer de

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imposição legal quer aquelas que possam ser objecto de recurso hierárquico

com efeito suspensivo da liquidação.

Em todos os casos mencionados que ficam apartados do pedido de revisão, o

sujeito passivo poderá lançar mao dos restantes meios tutelares (com maior

relevo para a reclamação graciosa) por forma a promover a defesa nesses

pontos.

O PERITO INDEPENDENTE

O perito independente participara na reunião a ocorrer entre os vogais do

contribuinte e da AT, podendo ser requerido quer pelo contribuinte quer pela

AT.

A ocorrer a intervenção do perito independente, a decisão que vier a ser

proferida pela AT devera fundamentar a adesão ou rejeição, ainda que parcial,

ao parecer do perito. Ou seja, a intervenção do perito independente pode

representar uma contribuição valida na resolução de questões de maior

complexidade, ainda que a sua intervenção não esteja confinada as questões

mais complexas e representa uma acréscimo as garantias de imparcialidade

(perito como espécie de juiz) na apreciação das questões controvertidas. A

intervenção do perito independente vem reforçar o ónus de fundamentação por

parte do órgão decisor da AT, ónus esse que funciona como uma garantia

acrescida para o contribuinte.

No caso de o parecer deste ser no mesmo sentido daquele proferido pelo perito

do contribuinte, e se a AT decidir em sentido diferente, a reclamação ou a

impugnação subsequentes terão igualmente efeito suspensivo – existe uma

presunção de razão ao contribuinte.

O legislador não previu qual a solução a dar ao caso em que o perito

independente dê razão parcial a ambas as partes (exemplo: concordar com a

aplicação de métodos indirectos, mas não concordar com a aplicação dos

critérios escolhidos pela AT para quantificar a matéria colectável presumida.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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A falta do perito do contribuinte à reunião entre peritos se não for justificada ou

for reiterada vale como desistência da reclamação apresentada – artigo 91.º/6

LGT (desigualdade entre contribuinte e AT). A falta de perito independente não

obsta à realização da reunião podendo o mesmo apresentar as suas observações

no prazo de 5 dias a seguir à reunião – artigo 91.º/7.

Este procedimento não se encontra sujeito a encargos para o contribuinte,

mesmo em caso de indeferimento, a menos que se veriquem cumulativamente

as circunstancias previstas no artigo 91.º/9 LGT, caso em que podra ser

aplicado ao sujeito passivo um agravamento ate cinco por cento da colecta

reclamada, o qual sera exigido a titulo de custas.

2. A REVISÃO DOS ACTOS TRIBUTÁRIOS

Este meio processual, consagrado no artigo 78.º LGT, destina-se apenas à

revisão dos actos tributários stricto sensu, ou seja, aqueles referentes à

liquidação de determinado tributo e não a outros actos da AT. Este facto, aliado

ao facto de a reclamação graciosa consumir grande parte dos fundamentos para

a revisão, acaba por retringir fortemente o seu âmbito de utilização.

Em determinados casos, a reclamação assume um caracter obrigatório, razão

pela qual a revisão é muitas vezes preterida em favor daquela.

REVISÃO RECLAMAÇÃO

Pretende-se que a AT reveja a sua

actuação, corrigindo um erro ou uma

injustiça manifesta e notória

Visa-se obter a anulação de um

determinado ato com base na sua

ilegalidade, a ordenar pelo órgão

hierarquicamente superior ao órgão

que praticou o ato inicial, baseado em

fundamentos correctos determinados

na lei.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 98

Este instituto determina que os actos de liquidação poderão ser revistos pela

entidade que os praticou, a pedido do sujeito passivo, no prazo estipulado para

a reclamação graciosa ou por inciativa da AT, no prazo de 4 anos a contar da

liquidação ou a todo o tempo se o tributo ainda não tiver sido pago, com base

em erro imputável aos serviços. Existe também a faculdade de revisão do ato no

prazo de 3 anos com fundamento em injustiça grave ou notória.

Como pedido dirigido ao próprio órgão que praticou o ato, não podemos

considerar este mecanismo como um recurso, uma vez que a sua apreciação não

é feita por entidade hierarquicamente superior ou diversa daquela que tiver

praticado o ato. No entando, este mecanismo deverá ser a solução preferencial

sempre que estejamos perante a ocorrência de erros evidentes em que é dada

uma nova oportunidade à Administração para os corrigir ou quando a situação

não permita ao contribuinte recorrer à reclamação. Esta possibilidade de

revisão é importante para AT, uma vez que lhe permite corrigir erros e

injustiças automaticamente, sem necessitar de requerimentos ou procedimentos

específicos – é uma porta aberta para a reparação rápida de erros cometidos.

Este prazo de 4 anos, aliado ao prazo de caducidade para a liquidação e ao

parazo para intentar acção residual para o reconhecimento de um direito ou

interesse em matéria tributaria é o corolário da fixação do quadriénio como o

prazo a partir do qual a situação tributaria materual do contribuinte se

consolida definitivamente, sem mais possibilidade de alteração.

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3. O RECURSO HIERÁRQUICO

Semelhante ao que sucede no direito administrativo, no direito tributário

consagrou-se a possibilidade de o contribuinte recorrer de todas as decisões da

AT para o mais elevado alto superor hierárquico do autor do ato, desde que o

recurso seja interposto no prazo de 30 dias apos a notificação do ato (artigo 66.º

CPPT e 80.º da LGT). Como contraposto da recorribilidade dos actos tributários,

o legislador consagrou o princípio do duplo frau de decisão (artigo 47.º CPPT),

o qual veio restringir apenas a dois órgãos da mesma administração a

apreciação do ato.

O recurso hierárquico tem natureza meramente facultativa e o seu efeito é

devolutivo ou seja não suspende a execução da decisão, à excepção dos casos

em que a lei especialmente atribui efeito suspensivo. Mas mesmo nestes casos o

CPPT limita a tribuiçao do efeito suspensivo somente à parte da decisão

recorrida e não a todo o ato, confirmando o caracter excepcional da atribuição

do efeito suspensivo aos recursos em sede de direito tributário.

A decisão do recurso hierárquico tem de ser proferida no prazo de 60 dias –

artigo 66.º/5 CPPT – e não no prazo estipulado para a generalidade dos actos

de 4 meses (artigo 57.º/1 LGT). Deste modo, entende-se que estamos face a

uma clara derrogação do prazo geral para a formação da presunção de

indeferimento tácito, a qual, neste caso, ocorrerá após os 60 dias. Note-se que o

prazo da decisão de 60 dias só começa a contar a partir da data da remessa do

processo para o órgão decisor (artigo 175.º/1 CPA, aplicável por remissão da

alínea d) do n.º2 CPPT). Assim sendo é forçoso admitir que o contribuinte

recorrente possa requerer que lhe seja facultada informação sobe a data de

remessa do processo, nos termos do artigo 67.º LGT, que consagra o direito à

informação, por parte do contribuinte, sobre a fase em que se encontra o

procedimento e o tempo previsível para a sua conclusão.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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A regra geral quanto a este tipo de recursos é a de que o mesmo é facultativo (e

com efeito meramente devolutivo (artigo 67.º CPPT e 80.º LGT), ou seja as

deciões proferidas em sede de apreciação destes recursos – quando meramente

confirmativas da decisão anterior – sendo posteriores do acto final do

procedimento (o acto definidor da situação jurídico tributária) não serão em

regra contenciosamente impugnáveis, o que torna aconselhável a sua utilização,

salvo quando expressamente a lei disponha de forma diversa.

O legislador tem vindo a suprimir progressivamente os casos de recurso

hierárquico obrigatório, com efeito suspensivo do acto recorrido. Significa esta

obrigatoriedade que o contribuinte apenas poderá recorrer aos tribunais, para

obter a sindicância de determinados actos da AT, após ter apresentado recurso

para o mais elevado superior hierarquico do órgão que pratico o acto.

Nestes casos, especificamente previstos na lei, da decisao que indeferisse,

expressamente, o recurso hierarquico, cabia ate à reforma do contencioso

administrativo recurso contencioso de anulação dirigido ao tribunal tributario

de 1.ª instância competente, no prazo de 60 dias. No caso de indeferimento

tacito o prazo era de 1 ano.

Questão diversa são os casos (residuais) em que se prevê a possibilidade de

dedução de recurso hierárquico sem se conferir ao mesmo qualquer efeito

suspensivo, antes remetendo para as regras gerais do CPPT. Segundo o

Conselheiro Jorge Lopes de Sousa, a remissão para as regras do CPPT

determina o caracter facultativo destes recursos hierarquicos, pelo que a decisao

que confirme a decisao proferida não será contenciosamente impugnável, em

obediência ao artigo 80.º LGT.

Nos casos em que o recurso hierárquico é meramente facultativo e a reclamação

graciosa é obrigatória, ainda que o sujeito passivo opte por interpor o primeiro

em detrimento da segunda, perderá a possibilidade de recorrer judicialmente

de uma decisão desfavorável, uma vez que é condição necessária da

impugnação judicial a prévia reclamação do acto.

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Nos termos do artigo 76.º CPPT prevê-se expressamente a recorribilidade

judicial da decisão que venha a incidir sobre o indeferimento do recurso

hierarquico deduzido, por sua vez, de uma reclamação graciosa. Nos termos do

n.º2, a decisão que vier a recair sobre o recurso hierárquico é, segundo as regras

ainda em vigor, passível de recurso contencioso (actualmente: acção

administrativa especial), a menos que já tenha sido deduzida impugnação

judicial com o mesmo fundamento. É uma solução excepcional que possibilita a

abertura da via judicial da decisão que vier a recair sobre o recurso hierarquico,

ainda que o mesmo confirme a decisão incidente sobre a reclamação graciosa, e

sem que aquele recurso deixe de assumir um caracter facultativo. O legislador

quis possibilitar que a decisão emanada do recurso hierarquico fosse recorrivel.

Quanto ao meio processual mais adequado nos casos em que esteja em causa a

apreciação a legalidade de um acto de liquidação, isto, não obstante o legislador

se referir expressamente, no n.º2 do artigo 96.º CPPT, o qual se estabelece que,

sempre que esteja em causa a aprecriação de um acto de de liquidação, o meio

processual mais adequado é a impugnação judicial. Na opiniao da autora, o

meio processual adequado será a impugnação judicial, sempre que a

reclamação graciosa e o recurso hierarquico subsequente versem sobre um acto

de liquidação.

Uma das limitações do recurso hierarquico assenta em só se poder recorrer

quando exista uma cadeira hierárquica ou quando o acto não tenha sido

praticado pelo órgão que está no topo da hierarquia. Contudo, também tem as

suas vantagens: por exemplo, de uma decisão que indefira a entrega de uma

declaração ou que calcule erroneamente o montante dos pagamentos por conta

a efectuar por um contribuinte, o contribuinte poderá recorrer para o Chefe da

Repartição das Finanças, requerendo a revisão do acto.

Em suma, toda e qualquer decisão tomada por um órgão da AT, em sede de

liquidação, embora deste acto tributário não caiba recurso hierárquico, mas sim

reclamação graciosa ou outro, é susceptivel de recurso hierárquico.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Toda e qualquer decisão emanada por um órgão da AT é passível de recurso

hierarquico, desde que seja tomada por um órgão desta, colocando-se a questão

de saber se a decisão resultante do pedido de revisão da matéria colectável é

uma decisão emanada de um orgão da administração: no plano teórico e de

acordo com a LGT:

• no caso de não existir acordo, é ao órgão da AT competente para a

fixação da matéria tributável que cabe decidir, tendo em conta o parecer

de ambos os peritos, pelo que à partida nada parece obstar ao recurso

hierarquico dessa nova decisão;

• no caso de existir acordo, não se coloca sequer o problema já que, nesse

caso, o recurso por parte do contribuinte não tem cabimento (seria venire

contra factum proprium)

4. RECLAMAÇÃO GRACIOSA

FUNDAMENTOS

Nos termos do artigo 68.º e seguintes CPPT é facultada ao contribuinte a

possibilidade de requerer a anulação total ou parcial de qualquer acto

tributário, através de reclamação graciosa dirigida ao órgão periférico regional

da AT, reclamação que pode ter qualquer dos fundamentos previstos para a

impugnação judicial. A diferença entre esta e a impugnação judicial é que a

primeira é dirigida a um órgão da AT e a segunda aos tribunais.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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RECLAMAÇÃO GRACIOSA RECURSO HIERÁRQUICO

Pretende-se que o órgão periférico

regional, em regra o Director Distrital

das Finanças, anule determinado acto

tributário, desde que o contribuinte

invoque os fundamentos previstos no

artigo 99.º CPPT

Visa-se apenas que a decisão seja

revista pelo superior hierárquico do

agente que praticou o acto, que o

confirmará ou revogará, não existindo

nenhuma limitalºao quando aos

fundamentos a apresentar. Isto é, no

fundo prende-se com uma

confirmação (ou não) da decisão pelo

superior hierárquico de quem

praticou o acto, conferindo-se uma

nova hipotese à Administração

Tributária, para que esta reveja ou

confirme determinada decisão.

Nos termos do artigo 68.º/2 CPPT não pode ser deduzida reclamação graciosa

quando tiver sido proposta impugnação judicial com os mesmos fundamentos.

EFEITOS E PRAZOS

Vigora a regra da inexistência do efeito suspensivo da reclamação graciosa, a

menos que o contribuinte preste garantia adequada, situação que é a regra para

os recursos em sede de processo tributário.

Nos termos do artigo 70.º/1, o prazo de reclamação graciosa é de 120 dias

contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º/1, ambos do CPPT, mas é

necessário aindar tomar em consideração a norma do artigo 70.º/4 CPPT.

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DEFERIMENTO E INDEFERIMENTO

A AT está vinculada a emanar uma decisão pronunciando-se sobre os pedidos

formulados pelos contribuintes – princípio da decisão (artigo 56.º LGT).

Para impedir que o incumprimento, por parte da AT, do seu dever de decidir

com celeridade em todos os casos, obstasse indefinidamente ao controlo judicial

das suas decisões, deu-se a possibilidade de os cidadãos poderem, findo

determinado prazo, invocar um indeferimento (tácito) presumido, para efeitos

de contagem do prazo para impugnar o acto. A partir desse criado

indeferimento inicia-se a contagem do prazo para impugnar judicialmente a

decisão.

• Artigo 102.º/1 al. d) – a impugnação judicial poderá ser proposta no

prazo de 3 meses a contar da formação da presunção de indeferimento

tácito da decisão da reclamação graciosa ou da decisão de recurso

hierárquico

• Artigo 102.º/2 – quando existir indeferimento expresso da reclamação

graciosa, o prazo de impugnação será de 15 dias após a notificação.

NOTA: A Professora Carla Castelo Trindade entende que esta norma

também se pode extender aos casos de indeferimento expresso do

recurso hierárquico!

Note-se contudo que ainda que a AT profira a decisão após o decurso da

presunção de indeferimento tácito, da qual o contribuinte não tenha recorrido,

este tem a possibilidade de impugnar judicialmente, colocando-se a questão de

saber em que prazo: se tiver ocorrido indeferimento epresso após o decurso da

formação da presunção de indeferimento tácito, o contribuinte dispõe e 15 dias

para impugnar tal indeferimento – aplica-se o artigo 102.º/2 CPPT.

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V – A FASE JUDICIAL DO PROCESSO TRIBUTÁRIO

A IMPUGNAÇÃO JUDICIAL

No Direito Administrativo há o Princípio da Reformatio in Pejus, ou seja da

reclamação não se pode obter uma responda ainda mais prejudicial do que a

resposta que já foi dada. No processo tributário este princípio não existe.

A Impugnação Judicial, enquanto fase judicial processual, encontra-se

consagrada no artigo 97.º CPPT. A menos que exista inquirição de testemunhas

não há fase oral. O Processo Judicial Tributário compreende:

• Impugnação judicial de liquidação de tributos, fixação matéria tributável,

do indeferimento (expresso ou tácito) de reclamações graciosas, de actos

administrativos em matéria tributária que comportem a apreciação da

legalidade da liquidação, do agravamento à colecta em virtude de

reclamação ou recurso infundado e de actos de fixação de valores

patrimoniais;

• Impugnação de providências cautelares aplicadas pela Administração

Tributária independentemente de serem ou não judiciais; tanto a AT

como o contribuinte podem interpor providências cautelares um contra o

outro, mas têm tramitações e exigências diferentes;

• Acções para reconhecimento de um direito ou interesse em matéria

tributária; são acções residuais, sendo a impugnação judicial a magna

carta;

• Meios processuais acessórios como a consulta documentos, a passagem

certidões, a produção antecipada de prova e a execução de julgados;

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 106

• Intimação para um comportamento; só serva para a passagem de

certidões, de resto trata-se da extensão do Princípio da decisão, portanto,

a AT não pode ser obrigada por um juíz (acções residuais).

• Reclamação judicial contra actos ilegais;

• Oposição em sede de Execução Fiscal – questão de exigibilidade; não se

discute a legalidade (o meio deve ser a impugnação judicial e sim a sua

exigibilidade). Um imposto que seja pago ainda que já tenha decorrido o

prazo de prescrição já não pode vir a ser discutido (direito a reembolso),

porque se trata de uma obrigação natural. Ou seja, a divida já não seria

exigivel, mas como é legal torna-se uma obrigação natural. Contudo, se a

liquidação for emitida depois do prazo devido tal é ilegal e deste modo o

meio adequado seria a impugnação judicial. Se for uma questão de

caducidade, se for da notificação (questão de eficácia) discute-se na

oposição (porque é uma questão de exigibilidade), se for da liquidação e

consequente também da notificação discute-se em impugnação judicial (é

uma questão de ilegalidade).

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 107

OPOSIÇÃO

Dívida não é oponível ao

contribuinte (questão de

inexigibilidade)

IMPUGNAÇÃO JUDICIAL

Dívida ilegal

Prescrição: trata da inexigibilidade da

dívida que ainda é legal (oposição à

execução tributária)

Caducidade do direito à liquidação

Liquidação emitida dentro do prazo

de caducidade, mas não foi notificado

(notificação enquanto condição de

eficácia): inoponibilidade

Liquidação emitida fora do prazo de

caducidade e notificada fora desse

prazo: ilegalidade

(*) se se pagar uma dívida ilegal

(emitida fora do prazo de caducidade)

não se pode pedir o reembolso porque

é uma obrigação natural: a dívida

exigivel não é reembolsável ≠ dívida

que não era exigível (dívida ilegal)

que é reembolsável

• “Recurso Contencioso” – actualmente (desde 2004) Acção

Administrativa Especial: de actos em matéria tributária que não

comportem a apreciação da legalidade da liquidação - CPTA

A Impugnação Judicial é o meio judicial tributário ‘’por excelência’’, e nos

termos do disposto no artigo 99.º CPPT, visa a anulação de actos tributários.

Quanto à questão de saber quais são os fundamentos, a norma em análise diz

expressamente ‘’Qualquer ilegalidade’’, designadamente:

• Errónea qualificação e quantificação de rendimentos, lucros, valores

patrimoniais e outros factos tributários;

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 108

• Incompetência;

• Ausência ou vício da fundamentação;

• Preterição de outras formalidades legais

Nos termos do disposto no artigo 102.º CPPT consagra-se a matéria dos prazos,

sendo estes de:

• 90 dias (contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º/1 CPPT)

• 15 dias (contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º/2 CPPT)

A Impugnação Judicial possui ainda como características:

• Possibilidade limitada de cumulação de pedidos e de coligação de

impugnantes, sempre dependente da identidade de tributo, dos

fundamentos de facto e de direito e do tribunal competente (Artigo 104.º

do CPPT);

• Possibilidade de apensação, sob autorização do juiz e verificadas as

condições de cumulação (Artigo 105.º do CPPT);

• A petição é dirigida ao Juiz do Tribunal Tributário e é apresentada: no

Tribunal ou no Serviço de Finanças – remessa a Tribunal em 5 dias

(Artigo 103.º do CPPT); é por este motivo (poder ser apresentada ao

Serviço de Finanças) que ainda se considera a petição inicial como um

prazo procedimental.

• Tem efeito suspensivo do processo de execução fiscal mediante a

apresentação de garantia em 10 dias, após notificação do tribunal (Artigo

103.º, n.º 4 do CPPT);

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 109

• A petição deve ter forma articulada, deve indicar o valor do processo e a

prova a produzir – Artigo 113.º - meios gerais de prova – Artigo 114.º e ss

(Artigo 108.º do CPPT);

• A contestação da Fazenda Pública deverá ser apresentada em 90 dias

(sem efeito cominatório) – remessa em conjunto com o processo

Administrativo – Artigo 110.º e 111.º do CPPT; o representante da

fazenda pública é o advogado desta (trabalha para o Estado, na Expo).

Actualmente, dentro dos primeiros 30 dias dos 90 dias, a AT pode alterar

o objecto ou o pedido do acto tributário. Em regra a AT contesta e o Juíz

dispensa a audição de testemunhas.,

• Possibilidade de revogação do acto tributário até ao termo do prazo de

Contestação (Artigo 112.º do CPPT);

Atendendo ao disposto nos artigos 113.º a 122.º, todos no CPPT, depois da

Contestação e eventual resposta às excepções suscitadas pela Fazenda Pública

ou pelo MP, o Juiz conhece logo o pedido (cfr. Artigo 113.º/2 e n.º 1) ou segue-

se a fase da Inquirição de Testemunhas / produção de prova (não há lugar a

“julgamento” em audiência). Em seguida, as partes são notificadas para alegar

de Direito, por escrito em prazo não superior a 30 dias (Artigo 120.º do CPPT).

A fase seguinte é a prolação da sentença (Artigo 122.º do CPPT).

Seguido de uma reclamação graciosa, tendo um recurso hierárquico indeferido,

o prazo é de 30 dias. O legislador não pensou no Recurso Hierárquico enquanto

meio gracioso a seguir à Reclamação Graciosa. Quando ao efeito suspensivo do

processo enquanto se discute a legdalidade da divida o legislador nada di em

relação ao Recurso Hierárquico. Mas tem se entendido que o objectivo é o

mesmo, portanto, deve manter-se o efeito suspensivo. O indeferimento

expresso da reclamação graciosa ou do recurso hierárquico são prazos

diferentes. Para a Professora Carla Castelo Trindade, pelo sim e pelo não,

entrega-se dentro do prazo de 15 dias os dois. Quem defende que tem os

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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mesmos efeitos que a reclamação graciosa, ou seja o efeito suspensivo, tem de

defender que o prazo é de 15 dias e não de 3 meses, a fim de se ser coerente.

A ACÇÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL

A Acção Administrativa Especial encontra-se consagrada no artigo 97.º/2 CPPT

e no artigo 50.º CPTA, sendo o meio judicial tributário ‘’subsidiário’’. Visa a

anulação do acto em matéria tributária, ou seja é um meio tutelar utilizado em

todos os casos não incluídos noutros meios e sempre que não esteja em causa a

‘’legalidade do acto de liquidação’’.

Exame Oral: a acção administrativa especial tem efeito suspensivo? Não. O que

aqui se discute é a (i)legalidade do acto em matéria tributária, que directa ou

indirectamente não dá lugar a imposto a pagar. Teria efeito suspensivo para

que? Há despacho saneador.

A Acção Administrativa Especial possui como características:

• A interpor em 3 meses (não são 90 dias!) a contar a partir da

notificação/publicação do acto (Artigo 58.º do CPTA);

• Tem efeito devolutivo do processo… a menos que se pudesse prestar

garantia – se a questão for de quantificação;

• Segue o Processo Judicial Administrativo: contém despacho saneador

(facultativo); aplicação dos meios gerais de prova;

• A apresentação da petição inicial é junto do Tribunal e não do Serviço de

Finanças (Artigo 78.º do CPTA);

• Forma articulada e obrigatoriedade de identificação do Acto e da

Entidade que o praticou;

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• Contestação da “Entidade Requerida” em 30 dias (Artigo 81.º do CPTA).

A ACÇÃO PARA RECONHECIMENTO DE UM DIREITO

A Professora Carla Castelo Trindade acha que esta acção devia ser eliminada.

Atendendo ao disposto no artigo 145.º CPPT, a Acção para Reconhecimento de

um Direito corresponde à “acção declarativa de simples apreciação”, em

matéria tributária, ou seja declara a existência de direitos ouinteresses, mas não

promove a condenação da Administração tributária.

O seu prazo de interposição é de 4 anos após a constituição do direito ou

conhecimento da lesão.

A Acção para Reconhecimento de um Direito segue a tramitação do processo de

impugnação.

A Acção para Reconhecimento de um Direito tem uma natureza

subsidiária/complementar, isto é, sempre que a acção se mostre ser o “meio

mais adequado para assegurar a tutela plena, eficaz e efectiva” (jurisprudência STA

tem esvaziado a sua utilidada).

A INTIMAÇÃO PARA UM COMPORTAMENTO

Atendendo ao disposto no artigo 147.º CPPT, a Intimação para um

Comportamento tem o seu âmbito de aplicação sempre que a Administração

tributária esteja em omissão da prática de qualquer prestação jurídica que lese o

direito ou interesse legítimo do particular, o mesmo pode requerer a sua

prática. É aplicável “a todo o tempo” e a Administração tributária responde em

15 dias, com posterior decisão sumária do Juiz; é uma acção urgente.

É o meio aplicável sempre que a acção se mostre ser o “meio mais adequado para

assegurar a tutela plena, eficaz e efectiva” (a jurisprudência neste caso tem sido

benevolente na aplicação desta acção). Deste modo, não é portanto o meio

adequado para executar decisões transitadas, nem para obter certidões, consulta

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 112

de documentos, nem tão pouco, para obter uma decisão da Administração

Tributária (artigos 56.º e 57.º LGT).

A doutrina tem defendido que quando temos um indeferimento tácito e

precisamos de uma resposta, esta não é o meio adequado. A melhor forma será

esperar: porque não há um direito para que possa intentar acção para

reconhecimento de um direito. Para a execução de sentenças há uma acção

especial. No CPTA existe uma acção semelhante: condenação da AT à prática

do acto devido.

OS MEIOS DE ACÇÃO CAUTELAR

Os Meios de Acção Cautelar (da Administração fora dos Tribunais) encontram-

se regulados nos termos do disposto nos artigos 135.º e seguintes CPPT).

Quando adoptados pela Administração fora dos Tribunais (providências

administrativas) conduzem a que a impugnação pelo interessado seja realizada

em 15 dias após a sua realização/conhecimento, nos termos do disposto no

artigo 144.º CPPT.

Além de ser um processo de caracter urgente, é necessário o ónus de invocar as

razões de facto e de direito que justificam a anulação da providência. Não

possui efeito suspensivo: efeito ‘’sui generis’’ de abstenção de prática de actos

que possam comprometer o processo.

Por outro lado, quando adoptados pela Administração fora dos tribunais

(providências administrativas), mas se a providência se referir a uma apreensão

de bens, tal implica que a impugnação seja realizada pelo proprietário ou

detentor dos bens aprendidos a contar da notificação dos actos de apreensão.

Continua a ser um processo de caracter urgente e não tem efeito suspensivo

(não está expressamente previsto na lei).

Quando ao Arresto e ao Arrolamento, é igualmente um processo de caracter

urgente, recaindo o ónus de alegação de fundado receio de dissipação na

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Administração Tributária. Note-se que tanto o Arresto como o Arrolamento

podem ser decretados quanto a responsáveis subsidiários. A impugnação é feita

pelos interessados, nos termos do CPC.

Os meios de acção cautelar, por parte dos particulares, encontram-se regulados

nos termos do artigo 147.º/6 CPPT e do artigo 112.º e seguintes do CPTA.

Quando forem adoptados pelos particulares contra a Administração, fora dos

Tribunais), ocorre a aplicação das regras da Intimação para um Comportamento

às providências cautelares (artigo 147.º/6 CPPT). O ónus de alegação do

fundado receio de uma lesão pertence ao contribuinte. É uma providência

cautelar inomicada contra actos da Administração em geral, tendo legitimidade

os cidadãos com legitimidade para intentar uma acção principal impugnatória

(artigo 112.º e seguintes CPTA).

Em suma..

• Providências Cautelares Administrativas: adoptadas pela AT fora dos

tribuinais. No direito tributário há o princípio do primeiro paga-se e

depois discute-se. Aqui o que é relevante é o pagamento de uma dívida

tributária que, para a AT é legal. Caso o devido não seja paso, a AT torna

a divida exequivel e executável tendo apenas que mitir a divida e

instaurar um processo executivo tributário. Este processo executivo é

atipico. Quem executa é o Serviço de Finanças. Não há intervenção

judicial como seria normal. O sujeiro passivo pode impugnar as

providencias cautelares administrativas – caracter urgente. Tem de

provar que nao há razões de facto e de direito para o decretamento desta

providencia (mas não deve ser a AT a provar isto?). Esquizofrénico: AT

emite uma providência para proteger o seu direito. O artigo 143.º e 144.º

CPPT tratam de coisas diversas: proviencias cautelares em que ha lugar à

apreensão de bens – de caracter urgente sem efeito suspensivo. Mais

gravosas.

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 114

• Providências Cautelares dos Particulares contra a AT: seguem as regras

da intimação para um comportamento. Ao contrário da AT temos de

provar o fundado receio do conteibuinte. A Professora Carla Castelo

Trindade acha que na lei, a existir, o que faz sentido é o princípio do in

dubio pro contribuinte. A CRP preve a tipicidade do imposto. Impede-se

a interpretação analógica. O princípio do primeiro paga-se e depois

discute-se é diferente do princípio do in dubio pro fisco.

OS MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS

Os meios processuais acessórios encontram-se regulados nos termos do artigo

146.º a 146.º-D do CPPT.

• MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS GERAIS (artigo 146.º CPPT)

� A Intimação para passagem de certidão/consulta de processos;

� Produção Antecipada de Prova;

� Execução de Julgados (actualmente especificamente regulado no

CPTA).

Podem ser intentadas a todo o tempo; remissão para as regras do CPTA.

A Impugnação pelos interessados é regulada nos termos do CPC.

• MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS ESPECIAIS (artigo 146.º-A a D

CPPT)

� Tramitação do processo de derrogação do sigilo bancário, quer na

óptica do recurso interposto pelo contribuinte quer na óptica do

pedido de autorização da Administração Tributária;

� Tramitação do Processo de Tributação por Manifestação de

Fortuna.

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OS RECURSOS JURISDICIONAIS

Os Recursos Jurisdicionais encontram-se regulados nos termos do disposto nos

artigos 279.º e seguintes do CPPT, existindo os seguintes tipos dos mesmos:

• Das decisões de 1ª instância CABE RECURSO para um dos Tribunais

Centrais Administrativos (sul ou norte), sentenças e/ou despachos

interlocutórios;

• Das decisões de 1ª instância CABE RECURSO per saltum, para o STA se a

matéria for só de direito e se se aceitar todos os factos fixados pelo juíz

em 1.ª instância. Há transito em julgado da sentença de 1.ª Instância

quando já não é recorrível. Torna-se recorrível no prazo de 10 dias após a

notificação às duas partes. Após a apresentação de recurso, o tribunal

(TCA ou STA) aceita ou não. Se aceitar notificar para, no prazo de 15

dias, apresentar notificação à parte que está a recorrer. E depois notifica a

parte recorrida. Todos os prazos de impugnação judicial são reduzidos a

metade nos recursos.

• Das decisões do Tribunal Central Administrativos(sul ou norte), em 2ª

instância (nos termos do ETAF, o TCA pode decidir recursos em 1ª

instância, em certas situações), CABE RECURSO para o STA, com base

em oposição de Acórdãos/Julgados:

i. Começa-se do mais recente para o mais antigo;

ii. Não pode haver um acórdão que o contradiga (TCA diz o que

que, mas o STA revogou-o);

iii. Acórdão tem de ser de um tribunal superior

O STA só conhece de questões de Direito.

Quando exista oposição dos julgados e esteja perante uma causa de valor

inferior a ¼ da alçada civil ou esteja no TCA e queira recorrer para o STA é

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 116

necessário apresentar os acórdãos – fundamentos. Após o recebimento e

aceitação – prazo de 8 dias para oposição. Se for aceite existem novas alegações.

Se não – recurso para Conferência no TCA.

Os Recursos Juridicionais possuem como características:

• As decisões em que o valor da causa não ultrapasse ¼ das alçadas cíveis

são irrecorríveis – excepto no caso de oposição de julgados (Artigo 280.º,

n.ºs 4 e 5 do CPPT);

• São processados como os “agravos em processo civil” – revogação do

agravo no CPC...aplica-se a Apelação (Artigo 281.º do CPPT).

• A interposição do recurso é feita em 10 dias;

• A motivação apresentada em 15 dias a contar da aceitação, excepto nos

processos urgentes (motiv. imediata) e redução dos prazos para metade

(excepto o da interposição do recurso) (Artigo 282.º e 283.º).

Nos termos do disposto no artigo 284.º CPPT, a opsoição de Julgados efectua-se

nos seguintes termos:

• O Requerimento inicial, individualizando os “acórdãos fundamento” da

oposição e local da publicação – um por cada tema em discussão (STA);

• Em 8 dias após o recebimento: 1ºas alegações demonstrativas da

oposição;

• Se for aceite a oposição – 2ªs alegações;

• Se for rejeitada – recurso “findo”, com possibilidade de recurso para a

conferência TCA (= CPC).

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 117

Nos termos do disposto no artigo 285.º CPPT, os recursos dos despachos

interlocutórios efectuam-se do seguinte modo:

• O Requerimento inicial, a apresentar em 10 dias, acompanhado da

respectiva motivação (alegações de recurso) – idêntico ao CPC;

• Sobe com a decisão final, excepto se comprometer o seu efeito útil

(subida imediata).

NOTA: quando há substituição tributaria, representante ou substituído,

gestores ou administradores, há como que duas hierarquias de

responsabilidade.

Aulas de 28 de Novembro e 5 de Dezembro de 2013

VI – A COBRANÇA COERCIVA DOS CRÉDITOS FISCAIS

A COBRANÇA COERCIVA DOS CRÉDITOS DO ESTADO

Segundo o Princípio do solve et repete, nos termos do disposto no artigo 148.º

CPPT, a execução fiscal visa a cobrança de: (1) tributos e os seus juros; (2)

coimas; (3) outras dívidas ao Estado e (4) Reembolsos/Reposições a Favor do

Estado.

Uma liquidação adicional não paga possui força executória. Não é necessário

intentar processo executivo. Aqui, a AT emite uma declaração executiva. O

Estado tem o beneficio de excussão prévia: os tribunais públicos são o sustento

do Estado. Mas, já não será assim em relação à legalidade da dívida, quando o

contribuinte presta garantia. A garantia é a de 123% da quantia exequenta.

Portanto, o Estado não corre nenhum risco. Exige-se que o contribuinte discuta

a legalidade da dívida. Só se aplica a casos em que não se paga porque o

contribuinte não concorda e não quando, por exemplo, não tem dinheiro.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 118

O que a lei exige para a eligibilidade do processo executivo é a forma e não a

garantia. Nos termos do artigo 169.º CPPT é necessário fazer uma interpretação

correctiva.

Nos termos do artigo 78.º a 95.º-C CPPT estamos na fase de cobrança e não

ainda na fase de execução. É importante para entender isto o artigo 148.º e o

artigo 278.º CPPT.

DO PROCESSO

A liquidação não paga dá lugar à certidão de dívida (decisão judicial e esta, sim,

é um título executivo). Para suspender o processo tributário é preciso discutir a

legalidade da dívida e prestar garantia.

Perante a liquidação o contribuinte pode pagar o todo ou parte ou não pagar

nada (porque não conhece, porque não tem dinheiro ou porque não quer

(discute a legalidade, presta garantia, senão o processo continua a correr), sendo

com base na motivação do sujeito passivo que nós vamos discutir o que fazer.

Exemplo: a 31 de Março de 2008 X auto liquidou 50 a título de IRC. Em 2011, a

AT, após inspecção tributária, conclui que X deveria ter pago a 31 de Março de

2008 60 em vez de 50, pelo que vai emitir uma liquidação adicional de + 10,

acrescido de juros compensatórios (desde a data em que a declaração devia ter

sido entregue até á data da notificação da liquidação adicional). Os juros

compensatórios são liquidados com a própria divida. X é notificado para pagar

a 1/1/2012. A AT confere, em regra, 30 dias para proceder ao pagamento

voluntário da divida. No caso, o prazo para pagar era até 1.2.2012. Portanto, dia

2 já se comecavam a contar e a pagar os juros moratórios. A sua base é a

liquidação adicional: juros sobre juros. A AT pode executar: liquidações, juros,

coimas, outras dívidas ao Estado, reembolsos ao Estado, etc. É informático: a

AT instaura o processo e notifica o contribuinte disso.

Nos termos do disposto no artigo 149.º CPPT, quanto ao órgão da execução,

este será o serviço de finanças ou o tribunal.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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• REGRA GERAL DE COMPETÊNCIA

� Serviço de Finanças do domicilio ou da sede do Executado;

ou

� Serviço de Finanças da situação dos bens ou da liquidação

• REGRA ESPECIAL DE COMPETÊNCIA PARA EXECUÇÃO DE

COIMAS

� Local onde tiver corrido o processo contra-ordenacional

Nos termos do disposto nos artigos 162.º e 163.º regula-se a matéria quanto aos

títulos executivos, sendo que estes possuem como requisitos os seguintes:

• Entidade emissora / promotora da execução;

• Assinatura / Chancela ou assinatura electrónica avançada;

• Data de emissão do título;

• Nome e domicílio dos devedores;

• Natureza e proveniência da dívida;

• Montante por extenso;

• Data a partir do qual são devidos juros e importância “base”.

O título executivo será a certidão de divida, com os requisitos constantes no

artigo 163.º CPPT. Como é tudo informático, actualmente raramente existem

nulidades.

A execução será nula caso os requisitos faltem ou não puderem ser suprimidos

por prova documental, nos termos do disposoto no artigo 165.º alinea b) CPPT.

Nos termos do disposto no artigo 188.º a 194.º CPPT regula-se o mecanismo de

operação da citação.

Nos termos do disposto no artigo 190.º CPPT, consagram-se os requisitos da

citação (título executivo, prazos de oposição, prazo e formas de pagamento).

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Nos termos do disposto no artigo 191.º e 192.º regulam-se as formas de citação:

• Citação por via postal simples ou por email se não ultrapassar as 250 UC

(actualmente, a Unidade de Conta encontra-se fixada no montante de €

120, 00).

• Nos demais casos: citação pessoal, nos termos do CPC.

A execução será nula quando exista falta de citação, quando possa prejudicar a

defesa do executado, nos termos do disposto no artigo 165.º alinea a).

Nos termos do disposto no artigo 169.º CPPT e do artigo 52.º da LGT consagra-

se a matéria da prestação de garantias.

A Prestação de Garantias visa obter a suspensão da execução:

• Art. 169.º CPPT e 52.º LGT – suspensão em caso de discussão da

legalidade ou exigibilidade da dívida exequenda com prestação

simultânea de garantia;

• Em 2010, o Art. 169.º passou a admitir a possibilidade de prestar garantia

antecipada;

� Se perante execução tributária o executado quiser suspender a

execução terá de discutir a legalidade do acto e prestar garantia.

Hoje permite a prestação de garantia antes da citação para o

processo – para que o contribuinte possa pedir certidões de

inexistencia de divida ao Estado (não à Segurança Social).

� A discussão da legalidade é feita por reclamação graciosa,

impugnação judicial e recurso jurisdicional. Então e se após

indeferimento expresso da reclamação graciosa o executado

apresentar recurso hierarquico? Parece que nestes casos o artigo

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Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 121

diz que, neste caso, a AT pode efectuar a garantiar. Isto não faz

sentido: hoje é pacifico na doutrina que tem o mesmo efeito, com o

recurso hierarquico mantém-se o efeito suspensivo. Outra coisa

seria dizer que quem paga imposto não poderia recorrer: isto

violaria o princípio da tutela efectiva.

� Pode-se prestar garantia ate ao prazo mais longo para discutir a

legalidade (3 meses). A AT diz que se garantia for paga no prazo

de 30 dias o valor é aquele, mas se se quiser pagar mais tende o

valor a aumentar, porque será necessário recalcular o valor devido

aos juros de mora.

� A garantia não caduca – é ad eternum (mesmo quando se vai para

tribunal.

• Art. 170.º CPPT e art. 52.º/4 LGT – casos de dispensa de prestação de

garantia, mas isto nunca acontece.

• O contribuinte que suspenda a execução mediante a prestação de

garantia tem a sua “situação tributária regularizada”

Nos termos do disposto no artigo 195.º e 199.º CPPT, os tipos de garantia – que

visam obter a suspensão da execução – podem ser:

• Constituição de hipoteca legal ou penhor (artigo 195.º CPPT);

• Garantia bancária, caução, seguro-caução, etc (artigo 199.º CPPT).

Para obtenção da suspensão de execução, o valor da garantia será:

DÍVIDA + JUROS DE MORA + CUSTAS + 25%

A REVERSÃO CONTRA RESPONSÁVEIS SUBSIDIÁRIOS

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 122

Se a AT não conseguir, através da execução ao devedor principal, fazer-se pagar

pode reverter para o responsável subsidiário.

Nos termos do disposto nos artigos 157.º CPPT e artigo 23.º da LGT consagram-

se os tipos de reversão:

• Contra adquirentes de bens com direito de sequela;

• Contra possuidores (ex. IMI);

• Contra substitutos tributários (ex. Retenção na fonte);

• Contra funcionários;

• Contra membros de corpos sociais (com funções de administração) e

responsáveis técnicos (art. 24º LGT);

• Contra titular de EIRL;

• Contra Liquidatários de Sociedades;

• Contra Gestores de Bens de Não Residentes.

Nos termos do disposto no artigo 23.º da LGT, a responsabilidade subsidiária

efectiva-se por reversão no processo de execução fiscal. Ou seja:

• Fundada insuficiência de bens penhoráveis do devedor principal, sem

prejuízo da excussão prévia do património do devedor principal;

• Precedida de audição prévia do resp. subsidiário;

• Resp. subsidiário paga sem juros de mora e custas se pagar no prazo da

Oposição;

• Responsabilidade do devedor principal mantém-se

Nos termos do disposto no artigo 23.º da LGT, atendendo ao benefício de

excussão, o responsável subsidiário está salvaguardado, porque só pode ser

executado depois o devedor principal ser atacado e se provar que não pagou. A

responsabilidade subsidiária é por definição o opsoto da reversão (forma

jurídica de chamar ao processo o responsável subsidiária), uma vez que a

responsabilidade do devedor principal mantém-se, sendo que se durante a

reversão ele tiver património suficiente mantém-se o seu dever de pagar. No

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 123

fim, existe direito de regresso por parte do substituto tributário face ao devedor

principal.

Quando devide reverter a execução tributária para o responsável subsidiário, a

AT tem de fundamentar a reversão.

Nos termos do disposto no artigo 24.º da LGT, quanto aos responsáveis

subsidiários, é necessário atender quais as caracteristicas da reversão dos

gestores:

• Pessoas/entidades com funções de gestão nas pessoas colectivas, ainda

que somente “de facto”, são subsidiariamente responsáveis:

• Pelas dívidas geradas no período de exercício de funções ou cujo período

de pagamento tenha ocorrido depois deste – COM CULPA pela

insuficiência do património (ónus da prova da Administração);

• Pelas dívidas cujo prazo legal de pagamento tenha terminado no seu

período de funções quando não provem não lhes ser imputável a falta de

pagamento – PRESUNÇÃO DE CULPA (ónus da prova do revertido).

• Ónus da prova da ausência de culpa é do responsável subsidiário –

alínea b) do art. 24.º ou sempre que, nos termos da al. a) a mesma seja

alegada pela AT;

• Caso especial da reversão de coimas – inconstitucionalidade do art. 8º do

RGIT? Jurisprudência do TC e STA (2009).

• Assistem ao responsável subsidiário os mesmos meios de defesa que

assistem ao resp. principal – Reclamação, Impugnação, Oposição,

Reclamação (art. 276.º CPPT).

A OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO: PRAZOS, REGIME E TRAMITAÇÃO

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 124

Nos termos do disposto no artigo 203.º CPPT consagra-se o mecanismo de

operação de oposição à reversão.

A oposição à execução é um meio judicial em que se discute a exigibilidade da

dívida tributária. Exemplo: liquidação legal, mas a notificação é fora do prazo –

não se discute a legalidade e sim a exigibilidade da divida em oposiçao.

A Oposição à Rervsão visa atacar as causas de inexigibilidade da dívida (não as

causas de “ilegalidade” da dívida em execução):

• A dirigir ao tribunal de 1ª instância – mas é apresentado no órgão da

execução fiscal em 30 dias a contar da citação ou do conhecimento

superveniente do facto;

• Segue os trâmites do processo de Impugnação;

• Suspende a execução mediante a prestação de garantia

Os fundamentos para a oposição à execução encontram-se consagrados no

artigo 204.º CPPT e são:

• Inexistência do Tributo;

• Ilegitimidade do Executado – casos de reversão;

• Falsidade do título;

• Prescrição – vide art. 175º CPPT;

• Falta de notificação da liquidação no prazo de caducidade;

• Pagamento/anulação da dívida;

• Duplicação de Colecta – vide art. 175º CPPT;

• Ilegalidade da dívida, sempre que não possa ter sido suscitada

anteriormente, por falta de meio processual;

• Qualquer outro fundamento – a provar por documento.

DA RECLAMAÇÃO E DO RECURSO DOS ACTOS PRATICADOS EM

SEDE DE EXECUÇÃO PARA O TRIBUNAL

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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Nos termos do disposto no artigo 276.º CPPT consagra-se o mecanismo da

Reclamação das Decisões do Órgão da Execução.

A Reclamação das Decisões do Órgão da Execução visa atacar as decisões do

órgão da execução:

• A dirigir ao tribunal pelo Executado ou terceiro que seja afectado, mas é

apresentada no órgão da execução;

• Fundamentos alargados – qualquer ilegalidade da execução ou dos seus

incidentes (prestação de garantia, etc.) – equivale a um “recurso” judicial

• A apresentar em 10 dias a contar da lesão – contendo a alegação dos

fundamentos e conclusões;

• Efeito devolutivo com excepções – art. 278º/3 – prejuízo irreparável –

jurisprudência do STA

• STA “alargou” por via jurisprudencial os casos de suspensão e subida

imediata.

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PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE

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A Reclamação Judicial é um meio (urgente) utilizado sempre que o executado

não concorda com algum acto praticado pelo órgão da decisão. Exemplo: é tipo

uma reclamação, a penhora é excessiva, a garantia que foi fixada pora aquele

não respeita os 20%, etc – tudo o que é mero expediente na execução.