Upload
maria-luisa-lobo
View
237
Download
4
Embed Size (px)
Citation preview
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 1
Aula de 19 de Setembro de 2013
Apresentação.
O Direito Fiscal é um ramo do Direito Público, sendo composto por:
i. REGRAS PROCESSUAIS – indicam quais são os instrumentos jurídicos
que fazem valer os direitos fixados nos códigos de direito material:
• Código de Procedimento e Processo Tributário (regras do
procedimento e do processo tributário)
• LGT (princípios e regras gerais que pautam o direito processual e
o direito material)
• Código do Processo nos Tribunais Administrativos
PARTICULARIDADE: a contraparte é sempre a Administração
Tributário (área ‘’mega’’ eficaz)
ii. REGRAS DE DIREITO MATERIAL
• CIRS
• CIRC
• Cód. Imposto de Selo
• Cód. Benefícios Fiscais
PROCESSO TRIBUTÁRIO
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
MESTRADO FORENSE
2013/2014
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 2
PROCEDIMENTO PROCESSO
Reage-se contra actos da
Administração Tributária com vista à
sua nulidade
Requer-se a um juíz/arbitro que se
substitua à Administração Tributária,
de modo a proceder à anulação ou
revogação de um acto por aquela
praticado.
PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO = FASE GRACIOSA = FASE
ADMINISTRATIVA DO PROCESSO
O procedimento tributário pode também designar-se por fase graciosa uma vez
que no tempo da monarquia pedia-se ao Rei que desse a sua graça. Esta fase do
processo não é graciosa por ser grátis!
Na fase graciosa, o meio por excelência que o contribuinte pode usar é a
reclamação graciosa. Note-se que cabe sempre ao contribuinte a decisão de
recorrer primeiro à utilização de um meio gracioso ou se vai logo para tribunal.
(▲ irá sair no exame!)
EXAME: com toda a certeza irá sair um meio gracioso.
A fase judicial é composta, essencialmente, por duas vias: pela acção
administrativa especial e pela impugnação judicial.
No processo executivo, ao contrário dos outros ramos do Direito, a
Administração Tributária tem o benefício de excussão prévia, que funciona na
lógica do ‘’primeiro paga-se e depois discute-se’’.
TRABALHO
• Análise de Jurisprudência
• Escolha dos Grupos e dos Temas – Aula 10 de Outubro
• Apresentação Oral – Aulas 12 e 19 de Dezembro
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 3
MÉTODO DE AVALIAÇÃO
• Preparação das Aulas e Participação Activa nas Aulas
• Elaboração do Trabalho
• Exame Final (3 de Janeiro)
Aula de 26 de Setembro de 2013
I – INTRODUÇÃO
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E A TUTELA JURISDICIONAL
EFECTIVA
A CRP económica possui um vasto leque de normas, regulando grande parte
desta matéria. Como dizia o Prof. Saldanha Sanches, os impostos são os
maiores actos abalativos do Estado sobre a propriedade privada. E mesmo
assim, o TC tem chumbado muitas medidas fiscais.
Nos termos do artigo 268.º da CRP consagram-se os ‘’Direitos e Garantias dos
Administrados’’:
• N.º1 e 2: Direito à Informação e Consulta, excepto se estiverem sob
segredo judicial;
• N.º3: Direito à notificação dos actos (▲é extremamente importante e de
certeza que sairá um vício destes no exame);
• N.º4: Direito à Tutela Jurisdicional Efectiva (▲muito importante! Sairá
no exame!);
• N.º5: Direito à impugnação das normas administrativas com eficácia
externa, sendo que os particulares não podem reagir contra actos
interlocutórios. Apenas podem reagir contra actos definitivos (Princípio
da Impugnação Unitária).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 4
• N.º6: Direito a obter uma decisão por parte da Administração, uma vez
que o contribuinte tem sempre que obter uma decisão por parte da
Administração. Não pode ficar sem resposta. Existem prazos para que a
Administração Tributária responda, sendo que se não o fizer considera-
se indeferido (INDEFERIMENTO TÁCITO): do silêncio retira-se uma
decisão. Ou seja, caso a Administração Tributária não decida forma-se na
ordem jurídica dos contribuintes um acto tácito de indeferimento.
DIREITO OU PRINCÍPIO À TUTELA JURISDICIONAL EFECTIVA – ART.
268.º/4 CRP
A um direito corresponderá sempre um meio adequado para reagir no caso de
esse direito ser ‘’ferido’’. Na lei processual há-de haver um expediente
adequado para fazer valer esse direito, quer seja em sede administrativa, quer
seja em sede judicial. Ou seja, a um direito material corresponderá sempre o
direito processual de reclamar, reconhecer ou impugnar.
▲ No início de um caso prático é necessário começar por este princípio (‘’A um
direito material corresponde um direito processual de impugnar, recorrer e
exigir’’).
O Direito ou Princípio à Tutela Jurisdicional Efectiva impõe que para todo e
qualquer conflito que mereça composição judicial seja possível encontrar um
Tribunal competente e um meio processual que confira proteccção adequada e
suficiente aos interesses dignos de tutela jurídica.
Ao contrário do que sucede no Direito Administrativo, para o Direito
Tributário, a Teoria da Definitividade continua a ser relevante. O artigo 268.º/5
CRP exige que, independentemente da forma do acto, é necessário existir um
meio de reacção.
O CPTA, no seu artigo 2.º, identifica o princípio da tutela jurisdicional efectiva
introduzindo no contencioso administrativo a velha máxima do processo civil
de que ‘’a cada direito corresponde uma acção’’, isto é, que a cada direito ou
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 5
interesse legalmente protegido corresponde uma tutela adequada na
jurisdicição administrativa.
ACTO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA ACTO TRIBUTÁRIO
Não fixa um valor a pagar. Por
exemplo, de uma decisão quanto ao
reconhecimento de um benefício
fiscal, poderá existir:
- Recurso Hierárquico (CPPT);
- Acção Administrativa Especial
(CPTA);
-Reclamação Graciosa (CPPT)
Normalmente é um acto de liquidação
adicional, sendo que desta poderá
existir:
- Reclamação Graciosa (CPPT);
- Impugnação Judicial (CPPT);
- Recurso Hierárquico (CPPT)
Existe uma certa incoerência lógica entre o Contencioso Administrativo e o
Processo Tributário: o legislador constitucional quando formulou o artigo
268.º/5 e consagragou que o princípio em análise era ‘’independente da sua
(leia-se do acto) forma’’ não considerou a Teoria da Definitividade do Acto,
tendo apenas como base o facto de que havendo um direito, terá de haver um
meio de reacção para o discutir.
O Princípio à Tutela Jurisdicional Efectiva desdobra-se em três vertentes:
i. No plano da tutela declarativa (defende/visa reconhecer um direito);
ii. No plano da tutela cautelar (prévio à declaração de um direito) e, por
fim,
iii. No plano da tutela executiva.
O Princípio à Tutela Jurisdicional Efectiva é aplicável a todos os ramos do
Direito Administrativo:
• Reconhecimento de Direitos e Interesses;
• Impugnação de Actos Adoptados;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 6
• Obtenção da prática de actos devidos;
• Medidas Cautelares.
Note-se que no processo tributário, estes últimos quatro pontos conseguem ser
todos alcançados através de um único meio: impugnação judicial.
Nos termos do artigo 9.º da LGT, existe mais uma manifestação deste princípio,
tratando o referido artigo do acesso à justiça tributária.
Quanto ao sistema fiscal, nos termos do artigo 103.º/2 da CRP, ‘’os impostos
são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as
garantias dos contribuintes’’. Assim, as matérias sobre as garantias dos
contribuintes são, à semelhança dos impostos, criadas/modificadas por Lei
estando portanto estas matérias sob a protecção dos Princípios da Legalidade e
da Reserva (Relativa) da Lei da Assembleia da República. Ou seja, esta norma
consagra uma das garantias do contribuintes, conduzindo a que as regras
processuais tributárias apenas possam ser alteradas directamente pela
Assembleia da República, ainda que o impulso seja dado pela bancadada
parlamentar à qual corresponde o Governo ou pelo Governo, se este tiver uma
autorização da Assembleia da República. Se não tiver essa autorização, o que o
Governo poderá fazer é fazer com que a bancada parlamentar apresente a
proposta como sua. Mas o Governo sozinho não as pode alterar.
Nos termos do artigo 8.º da LGT consagra-se o Princípio da Legalidade
Tributária.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 7
O PROCESSO TRIBUTÁRIO, O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E
A ARBITRAGEM
PROCESSO TRIBUTÁRIO: conjunto de regras que estabelecem os mecanismos
de emanação dos actos tributários ou em matéria tributária e, bem assim, os
meios de tutela dos administrados dentro da relação jurídica tributária.
PROCEDIMENTO � FASE ADMINISTRATIVA
PROCESSO � FASE JUDICIAL
A sua natureza assenta no facto de ser um ramo do Direito Administrativo, isto
é, existe um lítigio de direito público em que o Estado é o sujeito activo da
relação jurídica e o particular o sujeito passivo.
Quanto ao seu objecto, tal assenta no facto de visar a sindicância, administrativa
ou judicial, de toda a actividade administrativa em matéria tributária.
Os lítigios puramente administrativos são resolvidos pela legislação
administrativa, ou seja, pelo CPA, CPTA, etc.
ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA: o processo arbitral como meio processual
alternativo aos meios processuais judiciais. Sendo ‘’arbitrável’’ mais do que é
‘’impugnável’’. A decisão arbitral em regra é uma melhor decisão, uma vez que
o árbitro é especializado em Direito Fiscal, ao contrário do que pode suceder
com o juíz. Além disso, a arbitragem é muito mais rápida: tem de haver uma
decisão num prazo de 6 meses.
Pode ser efectuada num Tribunal Comum (o contribuinte não escolhe os
árbitros) ou num Tribunal Especializado (o contribuinte escolhe os árbitros).
Note-se que os árbitros têm de ser juridicas de reconhecido mérito na área fiscal
e com 10 anos ou mais de experência.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 8
A Arbitragem Tributária existe há cerca de três anos em Portugal. Antes da
arbitragem, a Administração Tributária raramente ganhava processos. Com a
Arbitragem isso mudou muito.
Na arbitragem, sendo as audiências públicas, existe discussão oral em sede de
Julgamento, o que não sucede na impugnação oficial (apenas as testemunhas
são ouvidas em sede de audiência de julgamento e, muitas vezes, o juiz
dispensa ouvi-las).
CONTENCIOSO DE MERA
ANULAÇÃO
CONTENCIOSO DE PLENA
JURISDIÇÃO
Limita-se a anular o acto, isto é, possui
um conteúdo anulatório da sentença
ou da decisão arbitral.
Anulação do acto e prática do acto
legalmente devido, isto é, possui um
conteúdo condenatório da sentença ou
da decisão arbitral.
O Processo Tributário, actualmente, é entendido como Contencioso de Plena
Jurisdição: discutiu-se na doutrina se seria ‘’contencioso de mera anulação’’,
mas sendo um Ramo do Direito Administrativo, o CPTA colheu a ‘’plena
jurisdição’’, em 2004. Deste modo, existe condenação à prática do acto devido,
sempre que haja elementos e, além disso, existe condenação no pagamento de
juros, para além do pedido. Está presente o princípio da
oficiosidade/oficialidade (esta última terminologia é da preferência do
Conselheio Jorge Lopes de Sousa) e da investigação ou do inquisitório, nos
termos do artigo 13.º CPPT, artigo 99.º da LGT e artigo 144.º do CPPT (entre
outros).
DECLARAÇÃO ------------ LIQUIDAÇÃO ------------- PAGAMENTO
����
Estas fases confundem-se na Auto Liquidação
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 9
O objecto do processo tributário assenta nos actos tributários, os quais, de
grosso modo, se traduzem em actos de liquidações de tributos como:
• LIQUIDAÇÕES ADICIONAIS (exemplo de IRS): tornam certa e exigivel
uma determinada dívida. A regra assenta em ser a
Administração/Estado que liquida. Contudo, ultimamente a
Administração tem vindo a delegar esta função nos contribuintes: estes
liquidam e a Administração vem, se quiser, verificar se a auto liquidação
foi bem feita. Dentro do prazo de caducidade e após uma inspecção, a
Administração descontente com a auto liquidação procede a uma
liquidação adicional (tanto na liquidação como na auto liquidação).
• ACTOS DE AUTOLIQUIDAÇÃO (exemplo: IRS, IRC e IVA): o
contribuinte substitui-se à Administração Tributária porque é obrigado
por lei a tal, por exemplo, é se obrigado por lei a entregar a declaração de
IRS;
• LIQUIDAÇÕES OFICIOSAS: não existiu liquidação nem auto liquidação,
sendo que a a Administração Tributária substitui-se ao contribuinte e
emite ela mesma a liquidação. Ou seja, o contribuinte não faz a auto
liquidação seja porque (1) não a entregou (exemplo: não entregou a
declaração de IRS); (2) não lhe deram elementos suficientes para isso.
Este é o meio usado para as manifestações de riqueza.
• ACTOS DE RETENÇÃO NA FONTE: pode ser a título de imposto por
conta ou definitiva (exemplo: não residentes; acontece quando uma
entidade que é devedora do sujeito passivo desconta parte do valor em
divida para entre à Administração Tributária. A lei reconhece capacidade
ao substituto tributário, ou seja aquele que retém.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 10
• ACTOS DE PAGAMENTO POR CONTRA: quem retém são os
contribuintes que vão adiantando imposto ao Estado (exemplo: pessoas
colectivas, empresários em nome individual, profissionais liberais, etc.)
NOTA: liquidação e auto liquidação enquanto verdadeiros actos tributários!
Os impostos são devidos em função da verificação de um facto tributário, que
pode ser de formação instantânea (ocorre na data em que se dá) ou pode ser de
formação sucessiva (exemplo: IRS – 31 de Dezembro/ano).
A tutela administrativa e judicial está prevista no CPPT, no RJAT e na LGT.
O objecto do processo tributário assenta igualmente nos actos em matéria
tributária, ou seja, todos os outros actos suceptíveis de afectar direitos
tributários.
A tutela administrativa e judicial está prevista no CPTA e no RJAT.
FONTES DO DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO
• LEI GERAL TRIBUTÁRIA: contém os princípios do procedimento e
processo tributário, a enunciação de regras fundamentais, a previsão de
direitos específicos de caracter geral (por exemplo normas sobre
pagamento de juros) e a previsão específica do mecanismo da revisão
dos actos tributários (artigo 78.º) e do pedido de revisão da matéria
colectável (artigo 91.º).
• CÓDIGO DE PROCEDIMENTO E DE PROCESSO TRIBUTÁRIO:
encerra os princípios do procedimento e processo tributário, as regras
fundamentais sobre procedimentos específicos (derrogação do sigilo
bancário, reconhecimento de benefícios) os mecanismos tutelares da via
administrativa e da via judicial para atacar os actos tributários e regras
da execução fiscal.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 11
• REGIME JURÍDICO DA ARBITRAGEM EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA:
disciplina a arbitrahem como meio alternativo à resolução jurisdicional
de conflitos em matéria tributária.
• REGIME GERAL DAS INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS: disciplina as
infracções tributárias sejam elas contra-ordenações ou crimes.
• REGIME COMPLEMENTAR DAS INSPECÇÕES TRIBUTÁRIAS: regula
o procedimento das inspecções tributárias efectuadas pela
Administração Tributária aos contribuintes.
• CÓDIGOS AVULSOS: CIRC, CIRS, CIVA, CIMT, CIMI, etc.
INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS TRIBUTÁRIAS E
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO
Nos termos do artigo 11.º da LGT encontra-se consagrada a forma de
interpretação das normas processuais tributárias.
Na interpretação das normas processuais são aplicáveis as regras gerais sobre
interpretação e aplicação das leis contidas no CC, ou seja o artigo 9.º com
algumas ressalvas:
i. Segundo o artigo 11.º da LGT, a menos que a lei fiscal diga que, do ponto
de vista jurídico, um determinado conceito deve ter um sentido diferente
para efeitos fiscais, deve-se entender esse conceito da mesma forma que
se entende na lei geral. Exemplo: residente em termos fiscais é diferente
de residente em termos de direito civil; com a aquisição do direito de
propriedade passa-se o mesmo (é uma noção mais ampla no direito
fiscal). Os termos próprios do direito tributário são interpretados de
acordo com os conceitos e regras deste ramo de Direito (exemplo: o
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 12
conceito de benefício fiscal está definido no artigo 2.º do EBF), salvo se a
lei o excepcionar.
ii. Como já defendia o Professor Saldanha Sanches deveremos atribuir
maior ponderação ao elemento teleológico da interpretação, ou seja,
levar principalmente em contra ‘’a justificação social da lei’’. Segundo a
Teoria da Materialidade Subjacente ou da Prevalência da Substância
sobre a Forma, na dúvida deve-se se aplicar a regra da ‘’substância
económica’’ dos factos tributários. Note-se que o Princípio da
Prevalência da Substância sobre a Forma é muito importante para o
Direito Fiscal, na medida em que não interessa o nome que as partes lhe
deram, o que interessa é o que as partes quiseram.
iii. Em termos fiscais, é proibida a interpretação de lacunas através da
interpretação analógica, mas apenas quanto a matérias reservadas à
competência da Assembleia da República. Quanto a todas as outras
matérias (todas as que não são reservadas à AR) são passíveis de
integração de lacunas.
▲ Pergunta de Exame Oral: Existe integração de lacunas em Direito Fiscal? Sim,
mas apenas quanto às matérias que não são de competência reservada da
Assembleia da República.
Quanto à importância das orientações administrativas e sua validade é
necessário ter em consideração que as orientações administrativas genéricas que
compõem o que se designa muitas vezes de direito circular constituem
regulamentos internos, que vinculam os serviços da administração tributária a
uma data interpretação da lei sem, no entando, vincularem nem os tribunais
nem tão pouco os contribuintes ou, por outras palavras, constituem normas de
interpretação que se dirigem liminarmente aos serviços da administração
tributária – artigo 55.º CPPT. Existem dois tipos de orientações genéricas:
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 13
• CIRCULARES: mais comuns da DGCI, pelas de maior importância,
assumidamente voltadas para o exterior e subscritas pelo Director-Geral;
• OFÍCIOS CIRCULARES E OS OFÍCIOS CIRCULADOS: textos mais
estreitos, formalmente dirgidiso aos serviços e subscritos pelo Director-
Geral, no primeiro caso, ou pelos Subdirectores-Gerais de cada área
funcional.
A Professora Carla Castelo Trindade considera que as circulares são a maior
fonte de Direito Fiscal, a mais mediata. Circulares, Oficios, não interessa o
nome. São feitas pela Administração Tributária e apenas são vinculativas para
esta. Contudo, o comportamento dos trabalhadores da Administração, ao
abrigo destas circulares vai ter consequências para os contribuintes.
Quanto à questão de saber se serão fonte de direito, na opinião do Professor
Sérgio Vasques, seguramente que as circulares constituem normas jurícias, que
projectam os seus efeitos na esfera da administração, vinculando o subalterno à
interpretação da lei ditada pelo superior hierárquico, mas não se pode dizer que
representem em si mesmas fontes do direito fiscal por não constituirem
parametro de validade dos actos praticados pela administração, que hão-de
encontrar esse parâmetro de validade nas normas legais que as circulares visam
interpretar. Vale isto dizer também que os tribunais não estão obrigados a fazer
da lei a mesma interpretação que a administração tributária cristaliza no seu
direito circular, do mesmo modo que os contribuintes não estão obrigados a
seguir na interpretação da lei as mesmas orientações que através das circulares
se dirigem aos serviços.
Já na opinião do Professor João Gama, a função das orientações genéricas no
actual Direito Fiscal é a regulação de condutas dos contribuintes, devendo ser
ultrapassado o dogma da eficácia interna e serem retirados os verdadeiros
efeitos da natureza regulamentar.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 14
Independentemente da discussão o certo é que o artigo 68.º-A da LGT dispõe no
seu n.º3, que a Administração Tributária deve proceder à conversão das
informações vinculativas ou de outro tipo de entendimento prestado aos
contribuintes em circulares administrativas, sempre que tenha sido colocada
questão de direito relevante e esta tenha sido apreciada no mesmo sentido em
três pedidos de informação ou seja previsível que o venha a ser. Dispõe ainda
no n.º2 do mesmo artigo que não são invocáveis retroactivamente perante os
contribuintes que tenham agido com base numa intepretação plausível e de boa
fé da lei as orientações genéricas que ainda não estivessem em vigor ao
momento em que ocorre o facto tributário.
O contribuinte não pode reagir contra uma circular, uma vez que não é um acto
em matéria tributária ou um acto da administração, não sendo em princípio
lesivo. Contudo, os contribuintes poderão impugnar um acto que resulta desta,
uma vez que segundo o Princípio da Eficácia Externa os particulares
encontram-se obrigados perante a circular. É de notar que uma orientação
administrativa só vincula um particular na medida da sua legalidade
(manifestação do Princípio da Legalidade).
Nos termos do artigo 12.º LGT consagra-se o mecanismo da aplicação da lei
tributária no tempo.
• REGRA GERAL EM MATÉRIA TRIBUITÁRIA: proibição da aplicação
retroactiva da lei enquanto corolário do princípio da segurança jurídica
(artigo 103.º/3 CRP).
�
Não é uma regra absoluta, na medida em que a segurança jurídica pode
ser sacrificada em prole de outros valores constitucionais que no caso
concreto se mostrem mais relevantes como por exemplo poderá suceder
em caso de guerra, catástrofe natural, epidemia ou grave crise financeira.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 15
ACÓRDÃO n.º 399/2010 TC: o TC olhou ao circunstacionalismo em que
surgiu o agravamento do IRC, olhou ao concreto impacto da medida
sobre os contribuintes e à discussão pública feita nos meses anteriores à
sua introdução, e ponderou as alternativas à disposição do legislador,
bem como o relevo dos interesses políticos e financeiros em causa.
REGRA ESPECIAL EM MATÉRIA PROCESSUAL TRIBUTÁRIA: aplicação
imediata (com protecção dos direitos e garantias legítimos).
Os factos tributários podem ser de:
• FORMAÇÃO INSTÂNTANEA (exemplo: IMI): o facto nasce e morre na
mesma altura, podendo a lei entrar em vigor no dia a seguir.
• FORMAÇÃO SUCESSIVA (exemplo: em Setembro de 2013, o Governo
aprova um Decreto-Lei autorizado a alterar a tributação dos estudantes
do Mestrado Forense na UCP): tem de se presumir o facto tributário;
presume-se, no exemplo anterior, que o facto tributário ocorre a 31 de
Dezembro, portanto, só se podia aplicar a partir de 1 de Janeiro.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 16
RETROACTIVIDADE RETROSPECTIVIDADE
Existe quando a lei fiscal dispõe sobre
factos tributários passados, seja
aqueles que se formaram já por
completo, seja aqueles cuja formação
se encontra ainda em curso.
A CRP proibe-a: trata-se da aplicação
da lei fiscal a factos anteriores, sendo
que os factos tributários podiam ser
de formação sucessiva ou instantânea.
Exemplo:
- facto tributário de formação
instantânea: IS, IMI e IVA
- Lei 1/1/2013: todas as casas
compradas até 1/12/2012 pagam mais
10% de imposto � PROIBIDO
- facto tributário de formação
sucessiva: IRS e IRC
- Lei 1/1/2012: todos os
rendimentos recebidos até 31/1/2012
vão pagar mais 10% de imposto �
PROIBIDO
Existe quando a lei nova, pese embora
disponha quanto a factos futuros, lesa
expectativas fundadas no passado.
A CRP admite. Os factos tributários
podem ser de formação instantanea
ou sucessiva.
É uma retroactividade imprópria.
Existe uma contradição face às
expectativas, uma vez que existe a
aplicação da lei fiscal a expectativas
anteriores
Exemplo: tributação das mais valias
das acções.
- facto de formação instantânea: não
existe! A regra geral é a de que trata-
se de retroactividade.
- facto de formação sucessiva:
compra acções a 1/1/2013. Vende a
1/3/2013. Ganha 100. Em 30/10/2013
a lei é alteradas e estas mais valias
tornam-se tributadas � PERMITIDO
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 17
Antes do Professor Sérgio Vasques defender a Teoria da Retrospectividade
(teoria alemã), já o Professor Casalta Nabais, que distinguia entre a
retroactividade forte e fraca, entendia que a retroactividade fraca deveria ser
permitida – mas a CRP não o permitia.
▲ No exame sairá certamente uma questão quanto à aplicação da lei no tempo.
A LGT é a Magna Carta do Direito Fiscal.
O PAPEL DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA NO DIREITO
PROCESSUAL TRIBUTÁRIO
• PAPEL DA DOUTRINA COMO FONTE IMEDIATA DE DIREITO –
auxiliar na interpretação dos conceitos e normas; mas o direito fiscal é
uma área em que pouco se escreve
• PAPEL DA DOUTRINA ADMINISTRATIVA COMO FONTE MEDIATA
DE DIREITO – auxiliar na interpretação dos conceitos e normas e vale na
medida da sua legalidade.
• PAPEL DA JURISPRUDÊNCIA – não há vinculação à regra do
‘’precedente’’, mas a jurisprudência dos Tribunais Superiores é muito
relevante (Acórdãos para Fixação de Jurisprudência (a Oposição de
Acórdãos)). A maior parte dos processos do STA são de fiscal. A sua
secção produz muita jurisprudência e muito opinitiva. E muito boa!
É necessário atender ainda ao:
• REGIME DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA
• REGIME GERAL DAS INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS: os processos
contra-ordenacionais e os crimes fiscais são julgados nos tribunais
comuns. Os processos fiscais são julgados na secção de fiscal dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, mas os crimes fiscais são julgados
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 18
nos Tribunais Comuns. Contudo, por exemplo, no caso do crime de
fraude fiscal é complicado, porque é precisso provar o intuito
fraudelento e os juízes dos tribunais comuns podem não perceber de
fiscal.
• REGIME COMPLETAMENTAR DO PROCEDIMENTO DE INSPECÇÃO
TRIBUTÁRIA: o acto de liquidação – tornar certo, líquido e exigivel o
crédito tributário – é que dá inicio a tudo:
� LIQUIDAÇÃO
� Auto Liquidação (feita pelo contribuinte)
� Hetero Liquidação (feita pela Administração Tributária)
� Pode existir LIQUIDAÇÃO ADICIONAL, sendo necessário que
anteriormente tenha existido liquidação. Com uma liquidação
adicional existe sempre uma inspecção (RCPIT), que pode ser
interna ou externa: a Administração Tributária pode inspeccionar
o que quiser no prazo de 4 anos (antes do direito à liquidação
caducar).
� Por seu lado, uma LIQUIDAÇÃO OFICIOSA consiste em a
Administração Tributária descobrir algo que o contribuinte não
declarou ou porque não houve liquidação. A Administração
Tributária substitui-se ao contribuinte.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 19
CONCEITOS ESSENCIAIS DO DIREITO FISCAL
• QUANTO À RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA (TITULO II LGT)
SUJEITO ACTIVO (ARTIGO 18.º/1 e 2 LGT): o sujeito activo da relação jurídica
tributária é a entidade de direito público titular do direito de exigir o
cumprimento das obrigações tributárias, quer directamente quer através de
representante. É o Estado.
SUJEITO PASSIVO (ARTIGO 18.º/3 e 4): o sujeito passivo é a pessoa singular
ou colectiva, o património ou a organização de facto ou de direito que, nos
termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação tributária, seja como
contribuinte directo, subjectivo ou responsável.
≠
CONTRIBUINTE: aquele que suporta economicamente o imposto.
RESPONSÁVEL SUBSIDIÁRIO: entidade que a lei considera que caso o sujeito
passivo não cumpra, possa lhe ser exigivel tal (exemplo: gestor de uma
empresa).
Pode intentar uma acção (1) quem declarar o imposto; (2) quem retém o
imposto e (3) o responsável subsidiário.
• QUANTO AO DOMÍCILIO, RESIDÊNCIA E ESTABELECIMENTO
ESTÁVEL
DOMÍCILIO (ARTIGO 19.º LGT): é aquele que é comunicado à Administração
Tributária quer seja a residência habitual no caso de pessoas singulares ou a
sede no caso de pessoas colectivas. O contribuinte só é devidamente notificado
se esta for para o seu domícilio fiscal, devendo este indicá-lo à Administração.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 20
RESIDÊNCIA/ESTABELECIMENTO ESTÁVEL: qualificação que faz com que
as pessoas singulares ou colectivas sejam consideradas como sujeitas a
tributação em território nacional dependendo, naturalmente, da existência de
factos sujeitos a imposto.
• RESIDÊNCIA (ARTIGO 16.º CIRS e ARTIGO 4.º CIRC) É definida em
função do imposto, este conceito. Contudo, de grosso modo, uma
entidade tributada em Portugal é tributada relativamente a todos os
rendimentos, sendo que se estiver fora de Portugal é tributada apenas
quanto aos rendimentos obtidos em Portugal.
• ESTABELECIMENTO ESTÁVEL (ARTIGO 5.º CIRC): não se trata de
personalidade jurídica, mas apenas de tribunar uma entidade que gera
rendimentos. É quem não tem personalidade jurídica. Tem de existir um
responsável subdiário, sendo que à semelhança do devedor inicial, ele
poderá contestar a liquidação ou proceder ao pagamento.
Se o representante fiscal não for notificado tal gera uma irregularidade. O
representante fiscal é obrigatório nos seguintes casos:
• Quanto aos incapazes;
• Quanto aos não residentes com estabelecimento estável em Portugal.
É de notar que embora o estabelecimento estável seja uma entidade não
residente em Portugal, a verdade é que podem existir entidades não residentes
em Portugal que (1) não tenham estabelecimento estável e (2) não tenham
representante fiscal.
A representação fiscal é necessária quanto se trate de uma discussão processual
e quando seja necessário o cumprimento de obrigações declarativas.
Estão assim sujeitos a imposto em Portugal os residentes em Portugal (ou os
detentores de um estabelecimento estável) e os não residentes que obtenham
rendimentos em território nacional.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 21
• QUANTO À SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA (ARTIGO 20.º LGT): verifica-se quando o
imposto é exigido a pessoa diferente do sujeito passivo através do mecanismo
da retenção na fonte; o substituto tributário é aquele que na retenção na fonte
vai arrecadar o imposto por conta do sujeito passivo.
• SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA COM RETENÇÃO NA FONTE: nesta o
substituto é a fonte dos rendimentos do contribuinte, pelo que ao
substituto cabe reter dada percentagem desses valores. Dá portanto lugar
a duas obrigações fundamentais, uma obrigação de retenção e uma
obrigação de entrega e constitui a técnica de intermediação característica
dos impostos sobre o rendimento.
• SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA SEM RETENÇÃO NA FONTE: nesta o
contribuinte é a fonte dos rendimentos do substituido, pelo que a tareda
deste é a de cobrar o tributo juntamente com os valores que tem a haver.
Trata-se assim dos casos em que o substituto é credor do contribuinte
substituído, obrigando-o a lei, primeiro, a cobrar o tributo juntamente
com os valores que tenha a receber do contribuinte substituído, depois, à
entrega do tributo assim cobrado ao Estado.
• QUANTO À RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA
REPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA (ARTIGO 23.º e 24.º LGT): quando existem
outros sujeitos responsáveis em segundo grau pelo pagamento de dívidas
tributárias. Exemplo: gerentes e administradores.
• SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA COM RETENÇÃO NA FONTE (ARTIGO
28.º LGT): a responsabilidade é diferente em função do tipo de retenção
em falta. Não é o sujeito passivo que entrega a % da retenção da fonte ao
Estado: é o substituto tributário (é quem por nome e por conta do sujeito
passivo vai cumprir obrigações fiscais dos sujeitos passivos)
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 22
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA SEM RETENÇÃO NA FONTE: as regras de
responsabilidade do artigo 28.º LGT não foram pensadas para estes casos.
Coloca-se a entidade credora a cobrar a sua dívida e imposto. Exemplo: taxa
audiovisual: quando se paga a conta da luz paga-se logo a taxa. O substituto
tributário tem capacidade tributária (exemplo: a EDP pode discutir em juízo se
o Estado achar que está a entregar mais ou menos em relação ao imposto).
Ou seja, existem duas formas de o Estado antecipar receita:
• RETENÇÃO NA FONTE
� TEMPORÁRIA (REGRA)
� LEBERATÓRIA/DEFINITIVA (EXCEPÇÃO)
• PAGAMENTO POR CONTA
É de notar que a regra geral em Portugal, quanto á retenção na fonte, assenta
em ela ser por conta. Contudo, podem existir situações em que a retenção na
fonte seja efectuada a título definitivo, sob pena de Ineficácia da magistratura
fiscal no controlo das declarações:
• Depende do tipo de sujeito em causa, sendo definitiva no caso dos não
residentes;
• Depende do tipo de rendimento.
EXAME ORAL: Imagine-se a EDP. Deve-se um total de 12 (10 a título de conta e
2 a título de imposto). Se se pagar apenas 4, a que corresponde este valor?
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 23
Aula de 3 a 10 de Outubro de 2013
II – PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL TRIBUTÁRIO
PRINCÍPIOS DO PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO: DA
DECISÃO, DO INQUISITÓRIO, DA COLABORAÇÃO, DA ADEQUAÇÃO
PROCESSUAL E DA TUTELA JURISIDICIONAL EFECTIVA, ETC.
Nos termos do artigo 55.º LGT encontram-se consagrados os Princípios (gerais)
do Direito Fiscal, mais precisamente, do procedimento tributário.
Os Princípios Gerais do Procedimento Tributário – artigo 55.º LGT – vai ser o
pilar de muita coisa, nomeadamente: qual é o interesse público (legalidade) e a
celeridade (prazo para se pronunciar).
Para o ‘’interesse público’’, encontrando-se relacionado com a legalidade, tal
manifesta-se mesmo que seja desfavorável para a Administração Tributária ou
não (exemplo: tenha de realizar uma liquidação adicional ou devolver imposto).
A Administração Tributária tem prazos para agir, sendo que se não o fizer
forma-se um acto de indeferimento tácito:
• 10 dias para actos de mero expediente
• 4 meses para os restantes actos.
A Administração Tributária encontra-se então vinculada (1) à prossecução do
interesse público, (2) ao princípio da legalidade, (3) ao princípio da igualdade,
(4) ao princípio da proporcionalidade, (5) ao princípio da justiça, (6) aos
princípios da imparcialidade e da celeridade e (7) ao princípio do respeito da
garantia dos administrados.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 24
PRINCÍPIOS (ESPECÍFICOS) DO PROCESSO E PROCEDIMENTO
TRIBUTÁRIO
NA LGT NO CPPT
Princípio da Decisão – artigo 56.º e
57.º
Direito à Fundamentação e correcta
notificação – artigo 36.º
Princípio do Inquisitório – artigo 58.º
(A Administração Tributária encontra-
se obrigada à descoberta da verdade
material)
Princípio do Contraditório – artigo
45.º
Princípio da Colaboração – artigo 59.º Princípio da Proporcionalidade –
artigo 46.º
Princípio da Participação – artigo 60.º
(todos têm de ser ouvidos).
Princípio do Duplo Grau de Decisão –
artigo 47.º
Direito à Informação – artigo 67.º Princípio Cooperação (dupla vertente)
– artigo 48.º e 49.º Direito à Confidencialidade – artigo
64.º
Direito à Fundamentação – artigo 77.º
(STA: a fundamentação tem de
integrar o itinerário cognoscitivo, sob
pena de ser inválida).
Princípio da Impugnação Unitária –
artigo 54.º
LEGITIMIDADE E CAPACIDADE TRIBUTÁRIA
LEGITIMIDADE/PERSONALIDADE TRIBUTÁRIA (ARTIGO 16.º LGT): é
definida como a susceptibilidade de ser sujeito nas relações jurídicas tributárias,
sendo também aplicável ao processo tributário. O dependente não é sujeito
passivo, portanto não tem legitimidade tributária – a legitimidade tributária
refere-se àquele momento. Ou seja, susceptibilidade de alguém ser sujeito
passivo de imposto.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 25
CAPACIDADE TRIBUTÁRIA (ARTIGO 16,º LGT): tem capacidade tributária
quem tiver personalidade tributária, ou seja, quem for sujeito nas relações
jurídicas tributárias. Há ‘’extensão’’ da capacidade tributária ao (1)
representante fiscal, (2) gestor de negócios e (3) cônjuge. Ou seja,
susceptibilidade de alguém, em juízo, exercer os seus direitos ou discutir uma
questão tributária (em regra, coincidem na mesma entidade).
REGRA: Quem tem legitimidade tributária também tem capacidade tributária.
Excepções:
• Incapazes
• Estabelecimento estável
EXAME ORAL: o incapaz não possui capacidade tributária (quem a tem é o
representante fiscal). E personalidade tributária?
NOTA:
• FASE GRACIOSA: o interlocutor e contraparte é a Administração
Tributária. É fase graciosa até à entrega da Petição Inicial;
• FASE JUDICIAL: o interlocutor é o juíz, sendo a contraparte a
Administração Tributária. Aqui pede-se o reconhecimento da legalidade
do pedido e não o seu deferimento (como acontece na PI).
▲ Na resolução dos casos práticos é necessário dizer qual é o pedido e a
fundamentação.
PRAZOS PROCESSUAIS – REGRAS APLICÁVEIS
Nos termos do artigo 20.º CPPT consagra-se a matéria respeitante à contagem
de prazos.
• CONTAGEM DOS PRAZOS DE PROCEDIMENTO E DE
IMPUGNAÇÃO: segue as regras do disposto no artigo 279.º CC
Representante
Fiscal
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 26
����
O mesmo é dizer que na contagem dos prazos para a prática de todos os
actos durante o procedimento e até à entrgea da petição inicial de
impugnação judicial (inclusivé) não se inclui o dia em que ocorre o
evento (por exemplo o dia em que se recebe a notificação) – é o chamado
dia zero. É a partir deste dia (zero) que o prazo começa a correr, sendo
que o prazo se conta de forma contínua e caso termine a um sábado,
domingo ou feriado, se transfere para o primeiro dia útil seguinte.
Ou seja, o dia da notificação é o diz 0, sendo o primeiro dia do prazo o
dia seguinte. O prazo corre seguido, desconsidera-se as férias e os
feriados. Se o prazo terminar a um sábado/domingo/feriado transfere-se
para o primeiro dia útil seguinte.
• CONTAGEM DOS PRAZOS PROCESSUAIS: segue as regras previstas
no CPC (artigos 144.º e seguintes).
����
O mesmo é dizer que os prazos para a prática de todos os actos durante o
processo (ou seja pós entrega da petição inicial de impugnação judicial)
são contínuos, suspendo-se durante as férias judiciais, e quando o prazo
terminar em dia em que os tribunais se encontrem encerrados tranfere-se
o seu termo para o primeiro dia útil seguinte.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 27
OUTROS PRAZOS:
• SENTENÇAS: são proferidas em 20 dias e os despachos em 5 dias ou 10
dias dependendo se são ou não de mero expediente (artigo 21.º CPPT);
• PROMOÇÕES DO MP: o MP dispoe de 15 dias para a prática de actos
em tribunais de 1ª instância e de 30 dias nos tribunais superiores (artigo
22..º CPPT)
• PRAZO GERAL (APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA): 10 dias (artigo 23.º
CPPT)
• PASSAGEM DE CERTIDÕES: a regra são 3 dias para os processsos
infromatizados e 5 dias para os não informatizados (diminuição de prazo
com a Lei do OE para 2012).
Existem outros prazos quanto a subida de reclamações, recursos, etc.
Não está prevista na Lei qualquer cominação expressa para o incumprimento
de prazos pela Administração Tributária, pelo MP e os pelos Tribunais, pelo
que se coloca a questão de saber se não existirão mesmo consequências ao
abrigo do princípio da legalidade.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 28
PRAZOS DE PROCEDIMENTO E
DE IMPUGNAÇÃO – ARTIGO 279.º
CC
PRAZOS PROCESSUAIS – ARTIGO
144.º CPC
Prazos do Procedimento com a
entrega da PI
Prazos para o Processo
Dia em que se considera notificado é o
dia 0 (não conta!)
Dia em que se considera notificado é o
dia 0 (não conta!)
O primeiro dia do prazo é o dia
imediatamente a seguir ao dia 0,
sendo isto independente de ser ou não
dia útil
O primeiro dia do prazo é o dia
imediatamente a seguir ao dia 0,
sendo isto independente de ser ou não
dia útil.
Prazo corrido: não há suspensão ou
interrupção.
Interrompe-se nas férias judiciais – no
caso de o último dia determinar no
decurso destas.
O último dia do prazo, caso termine a
um sábado/domingo/feriado
transfere-se para o 1.º dia útil seguinte
O último dia do prazo, caso termine a
um sábado/domingo/feriado
transfere-se para o 1.º dia útil seguinte
O prazo não se interrompe durante as
férias judiciais. Se terminar em tempo
destas, e se for um dia útil, então o
prazo termina nesse dia (não se espera
que os tribunais voltem a abrir!).
Se o último dia do prazo terminar em
tempo de férias judiciais transfere-se
para o 1.º dia em que os tribunais
reabrirem. Contudo, o prazo não se
interrompe porque conta-se nas férias
judiciais.
Não existirá uma violação do Princípio da Legalidade ao a lei não prever qual a
consequência para o não cumprimento dos prazos pelo MP, pelos Tribunais,
pela Administração Tributária, etc?
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 29
PROVA: MEIOS E ÓNUS
Nos termos do artigo 74.º e 75.º consagram-se os princípios (gerais) de prova.
A regra é a de que o ónus de prova de factos constitutivos de direitos recai
sobre quem os invoque (e não sobre quem tem o direito). Contudo, a declaração
do contribuinte gera uma presunção de veracidade.
Note-se que o ónus da prova é diferente da presunção de veracidade: os
contribuintes continuam a ter o ónus da prova sobre o que consta das suas
declarações! As presunções de veracidade de que goza a declaração do
contribuinte é afastada nalguns casos.
São ainda regras neste âmbito o facto de a avaliação dos rendimentos a atributar
ser efectuada com base nos elementos constantes da declaração, os quais gozam
de uma presunção de veracidade. A presunção de veracidade das declarações
não afasta o ónus probatório dos factos nele invocados, a menos que os dados
em causa sejam elementos na posse da Administração Tributária.
Esta presunção de veracidade de que goza a declaração do contribuinte é
afastada nos seguintes casos, sendo que o ónus probatório será da
Administração Tributária (quanto aos factos que se passam a enunciar):
• Omissões, inexactidões ou erros que impeçam o conhecimento da
realidade – artigo 75.º/2 LGT;
• Falta de cumprimento dos deveres de esclarecimento da situação
tributária – artigo 75.º/2 LGT;
• Afastamento, para menos, da matéria tributável, sem razão justificativa
dos indicadores objectivos de base técnico científica – artigo 75.º/2 LGT;
• Afastamento, para menos, dos rendimentos declarados, sem razão
justificativa, dos padrões fixados para as manifestações de fortuna
evidenciadas pelo sujeito passivo nos termos do artigo 89.º-A da LGT –
artigo 75.º/2 LGT.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 30
Esta presunção de veracidade significa que a prova é pleníssima: tem de se
provar que o que está na declaração é falso (a Administração Tributária tem um
ónus de prova acrescido). Nos casos em que a presunção de veracidade é
afastada, cabe à Administração demonstrar que nos encontramos num dos
casos referidos.
Existe uma inversão do ónus probatório se se provar que os factos invocados
nas declarações não são credíveis, cabe ao contribuinte provar a verdade
material quanto à sua situação tributária (o ónus probatório é do sujeito
passivo). Exemplo: métodos de avaliação indirecta.
IMPUGNABILIDADE DOS ACTOS EM FUNÇÃO DA SUA NATUREZA
(ACTO TRIBUTÁRIO, ACTO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA E REGIME
ESPECIAL DA ARBITRAGEM TRIBUTÁRIA)
ACTOS TRIBUTÁRIOS ACTOS EM MATÉRIA
TRIBUTÁRIA
Ambos alteram a situação jurídica do contribuinte/sujeito passivo (para bom e
para mal), podendo conferir ou negar um direito.
Acto pelo qual se fixa o
imposto/tributo a pagar (mas há
excepções)
Mesmo quando se nega um direito,
este acto não dá de forma imediata e
autonomamente lugar a pagamento
de imposto.
É um acto definitivo e autónomo Também pode ser definitivo, mas em
regra é um acto dependente.
PROCEDIMENTO (LGT e CPPT)
- Recurso Hierárquico
- Reclamação Graciiosa
PROCESSO (LGT e CPPT)
- Impugnação Judicial
PROCEDIMENTO (LGT e CPPT)
- Recurso Hierárquico
- Reclamação Graciiosa
PROCESSO (CPTA)
- Acção Administrativa Especial
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 31
Exemplos de Actos em Matéria Tributária
i. Acto pelo qual se nega o reconhecimento de um benefício fiscal: não é
um acto autónomo e fixa um instituto a pagar e não se pode impugnar
judicialmente, apenas podendo-se intentar uma acção administrativa
especial;
ii. Uma empresa pede que se lhe seja reconhedido que não tem dívidas ao
fisco, porque se quer candidatar a um concurso público;
iii. Qualificação como residente habitual ou não.
ACTOS TRIBUTÁRIOS: são aqueles que, de grosso modo, se traduzem em
actos de liquidações de tributos como (1) liquidações adicionais, (2) liquidações
oficiosas, (3) actos de autoliquidação, (4) actos de retenção na fonte e (5) actos
de pagamento por conta. A tutela administrativa e judicial está prevista no
CPPT, no RJAT e na LGT, sendo os meios tutelares primordiais a reclamação e a
impugnação judicial ou a arbitragem.
ACTOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA: são todos os outros actos suceptíveis de
afectar direitos tributários. A tutela administrativa está prevista no CPPT e na
LGT e a tutela judicial prevista no CPTA e no RJAT, sendo os meios tutelares
primordiais o recurso hierarquico e a acção administrativa especial ou
arbitragem.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 32
O regime especial da arbitragem tributária encontra-se consagrado no artigo
2.º/1 alinea b) RJAT:
• Actos de determinação da matéria tributável – em sede de IRC ‘’lucro
tributável’’ (exemplo: correcções a prejuízos fiscais ou a benefícios fiscais
quando do Relatório de Inspecção não há lugar a imposto a pagar);
• Actos de determinação da matéria colectável (de grosso modo Relatórios
de Inspecção);
• Actos de fixação de valores patrimoniais.
A LGT aplica-se a impostos, contribuições cobradas pela Administração
Tributária e pelo IGF. O CPPT aplica-se a contribuições para a Segurança Social,
porque a lei de bases desta remete para o CPPT. Portanto, aplica-se
independentemente de quem seja o credor da Administração Tributária. Aplica-
se a todos os impostos, tributos cobrados pela Adminitração Tributária (todos
menos os da Região Autónoma da Madeira).
A EXISTÊNCIA DE PROCEDIMENTO ESPECIAIS EM MATÉRIA
TRIBUTÁRIA
• O PEDIDO DE INFORMAÇÃO VINCULATIVA
Nos termos do artigo 68.º LGT e do artigo 57.º CPPT consagra-se o mecanismo
da informação vinulativa. Trata-se do direito a obter informação sobre o caso
concreto.
À semelhança das circulares, a Administração Tributária fica vinculada. Não
vincula o contribuinte, mas apenas a Administração. É o contribuinte que chega
à Administração e faz uma pergunta. A Administração fica vinculada pela sua
resposta. Em regra não a pde vir contrariar. Este é o único expediente que dá
segurança ao contribuinte quanto ao ‘’sim’’. Pode ser urgente: aqui, o
indeferimento tácito, como regra, quando não há resposta da Administração,
Com limitações introduzidas pela Portaria n.º 112-A/2011, de 22 de Março (Portaria de Vinculação)
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 33
não se verifica.. É um género de parecer. Depois da resposta, a Administração
não pode vir a contrariá-la. Este mecanismo paga-se e a Professora Carla
Castelo Trindade acha que se deve pagar bem: para o particular ter noção do
que está a pedir à Administração e para responsabilizar a Administração. A
vantagem para o contribuinte é a segurança jurídica. A desvantagem é que já se
‘’abriu o jogo muito cedo’’, pois se a Administração disser que não, o
contribuinte já sabe que não pode fazer aquilo.
Segundo o Professor Saldanha Sanches, a informação vinculativa só cede
perante decisão judicia se esta não tiver sido proposta pela Administração
Tributária contra o contribuinte. Irá ser proposta então por quem? O
contribuinte, na prática, não vem depois de uma informação vinculativa dizer
que afinal tinha de pagar imposto .. é uma hipotese puramente teórica.
A informação vinculativa tem que ser decidida no prazo máximo de 150 dias
(prazo maior que o prazo geral de 4 meses do artigo 57.º LGT) com os efeitos do
artigo 67.º/18 LGT em caso de incumprimento do prazo.
Mediante justitificação do requerente, a informação vinculativa pode ser
solicitada com caracter de urgencia e ser prestada em 90 dias (alteração de
2013).
Exame: certamente sairá algo relacionado com o artigo 67.º e 68.º, ambos da
LGT, e o artigo 57.º CPPT.
A informação vinculativa pode ser pedida com caracter de urgencia:
• É efectuada com pagamento de emolumentos (de 25 a 250 UC);
• Tem que ser decidida no prazo máximo de 120 dias para resposta com
deferimento tácito restrito a um período de tributação.
A caducidade e a revogação da informação vinculativa é possível nos termos do
artigo 68.º/15 e 16.º LGT.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 34
Com a prestação de informações vinculativas existe:
• Vinculação da Administração Tributária ao conteúdo da informação
prestada, uma vez notificada (só cede perante decisão judicial, mas a
acção judicial não pode ser proposta pela própria Administração
Tributária contra o contribuinte, na opinião do Professor Saldanha
Sanches);
• Condenação em sanção pecuniária calculada segundo regras de
litigância de má fé se a Administração Tributária actuar em juízo contra
o teor de informações vinculativas prestadas, nos termos do artigo
104.º/1 LGT.
Não há duvidas que as informações vinculativas vinculam a Administração
Tributária, mas coloca-se a questão de saber se vincula também o contribuinte.
E poderá ser aproveitada por outros contribuintes? A informação só é
vinculativa para os contribuintes na medida da sua legalidade.
Quem fica vinculado com a Informação Vinculativa?
�
Nos termos do disposto no artigo 68.º/16 da LGT, a Administração Fiscal que
prestou a informação vinculativa é obrigada a agir relativamente a esse sujeito
em conformidade com a informação prestada, enquanto esta permanecer em
vigor.
A informação vinculativa – que é essencialmente um meio de garantia dos
contribuintes – não obriga quem a haja solicitado. Se a resposta não for
considerada aceitável pelo destinatário este a propósito dos casos concretos de
aplicação desse entendimento poderá recorrer para os tribunais (se estes
sufragarem de uma opinião diferente da Administração, esta fica, naturalmente
constituida no dever de obediência do sentenciado – n.º 14).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 35
E vincula os outros particulares? A Administração Fiscal está obrigada ao
Princípio da Legalidade. As informações vinculativas vinculam um particular
na medida da sua legalidade. Assim sendo, um outro particular pode alegar
que, sendo uma situação igual, lhe deve ser aplicada a mesma solução, porque a
Administração Fiscal está obrigada ao Princípio da Legalidade e não poderia,
portanto, agir de forma contrária à informação vinculativa que já prestou a
outro particular.
• O RECONHECIMENTO DE BENEFÍCIOS FISCAIS
O Reconhecimento de Benefícios Fiscais consiste num procedimento especial
em relação à reclamação graciosa. A decisão deste reconhecimento é, em regra,
um acto em matéria tributária. Só seguimos este mecanismo quando os
benefícios fiscais estão sujeitos a reconhecimento, ou seja, quando não são
automáticos. Da decisão de reconhecimento do benefício fiscal podemos
apresentar recurso hierárquico: deste podemos intentar uma acção
administrativa especial, porque se trata de um acto em matéria tributária.
Nos termos do artigo 65.º CPPT, o reconhecimento de benefícios fiscais é um
mecanismo necessário ao usufruto dos benefícios fiscais sujeitos a
reconhecimento e serve para os sujeitos passivos poderem provar que têm
direito a um determinado benefício, extensão e alcance. O pedido deve ser
instruido com os elementos necessários ao reconhecimento. Nos termos do
artigo 60.º LGT, existe audição prévia antes do indeferimento. Os prazos
encontram-se previstos no artigo 65.º/3 CPPT e dependem de se tratarem ou
não de benefícios fiscais relativos a factos tributários sujeitos a retenção na fonte
a título definitivo.
Em caso de indeferimento do reconhecimento existe recurso hierarquico e
depois acção administrativa especial.
����
O Recurso Hierárquico, neste caso, é necessário?
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 36
O procedimento de reconhecimento de benefícios fiscais é autómono
relativamente ao da liquidação do imposto em causa. Significa isto que o direito
ao benefício fiscal (quando não reconhecido) não pode ser invocado em
impugnação da liquidação, diferentemente do que acontece relativamente aos b
benefícios fiscais automáticos. A apresinção judicial da legalidade da decisão
que indeferiu, total ou parcialmente, um pedido de reconhecimento de um
benefício fiscal revestirá, assim, a forma de acção administrativa especial (Ac.
STJ 25.06.2009). A decisão sobre o reconhecimento de benefícios fiscais envolve,
por vezes, a concessão à Administração Fiscal de uma margem de
discricionariedade técnica, uma ‘’folga’’ ao preenchimento dos conceitos
indeterminados utilizados pela lei. Os tribunais entendem que o modo como a
Administração exercer tais poderes discriconários não é judicialmente sindiável,
salvo em casos de manifesto desvio ao poder (Ac. STA 03/02/2010). Segundo o
Professor Rui Duarte Morais tem as maiores dúbidas em sufragar este
entendimento que se manifesta desconforme o entendimento do TJUE. A parte
final do artigo 65.º/4 CPPT estabelece que em casos de inferimento há lugar a
recurso hierárquico nos termos do CPPT. Esta disposição parece susceptivel de
provocar equivocos. A existencia da possibilidade de recurso hierarquico é a
regra no ordenamento procedimental tributário (artigo 80.º LGT e artigo 66.º
CPPT). Disposições legais especiais só se justificam quando estejam em causa
recursos hierarquicos necessarios, quando a possibilidade de acesso aos
tribunais esteja condicionada pelo esgotamento da via administrativa. O que é
hoje uma verdadeira excepçao. Ora, a norma em causa não parece configurar
um caso de recurso hierarquico necessário, mais não parece ser que uma
reafirmação pontual da regra geral. Ou seja, entende o professor que o
interessado é livre de optar por utilizar este meio de garantia ou de imediato
recorrer da decisão judicial de indeferimento. Como já foi referido, o recurso de
uma decisão que indeferia um pedido de reconhecimento de um benefício fiscal
não cabe no ambito do processo de impugnaçao. O recurso contencioso
revestirá a forma de acção administrativa especial, regulado no CPPT (artigo
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 37
97.º/2 CPPT) a ser interposta no prazo de 3 meses contados do acto de
indeferimento expresso (artigo 58.º/1 alinea b) CPPTA.
Deste modo, temos que o Recurso Hierárquico do artigo 65.º/4 é:
• Para a Jurisprudência e para a Professora Carla Castelo Trindade:
necessário;
• Para o Professor Rui Duarte Morais: não é necessário;
• Para o Professor Vasco Pereira da Silva: é um recurso hierárquico
necessário inconstitucional.
• A APLICAÇÃO DE NORMAS ANTI-ABUSO
A aplicação de normas anti-abuso é um mecanismo previsto no artigo 63.º
CPPT, tendo sido muito alterado com a Lei do OE para 2012.
Trata-se de um procedimento específico e porque pode ter repercussões
gravíssimas para os sujeitos passivos é um procedimento com regras ‘’mais
garantísticas’’.
A decisão da Administração de aplicação da norma geral anti-abuso, em rigor,
de liquidação de tributos com base no disposto do n.º2 do artigo 38.º LGT está
sujeita a um dever de fundamentação especial (descrição do negócio, etc.), tem
de ser autorizada pelo dirigente máximo do serviço e está sujeita a regras sobre
o direito de audição especiais, com prazo alargado de 30 dias.
É muito dificil para a Administração accionar a cláusula geral anti-abuso. Só foi
accionada uma vez (ou duas?), não existindo jurisprudência sobre ela, com
expecção a do CAAD.
Exemplo: securitizar créditos: estado fez issto quanto aos créditos dos
contribuintes; as empresas pretendiam fazer o mesmo quanto a prejuízos
relevantes para a cautelar. A CGAA permite questionar se estas operações têm
algum substracto económico ou se apenas têm intuito fraudelento. Existe o
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 38
Princípio da Liberdade Económica com este procedimento, a fim de que seja
garantístico para os contribuintes. A Administração tem de fundamentar: (1)
porque está a aplicar a CGAA; (2) se se encontram verificados os pressupostos
da CGAA e (3) tem de ser autorizada pelo chefe máximo.
NOTA: Existem duas foram da Administração Tributária calcular a matéria
colectável:
• Avaliação Directa (Regra): de acordo com o lucro real;
• Avaliação Indirecta: quando a Administração Tributária não tem os
documentos necessários ou o contribuinte não lhe permite ter acesso.
• O PROCEDIMENTO DE INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA
O procedimento de inspecção tributária encontra-se consagrado no artigo 63.º
LGT e no RCPIT.
Trata-se de um mecanismo especial que permite à Administração confirmar se a
nossa informação está correcta ou não. Faz um relatório com a sua decisão. Se
não concorda, emite uma liquidação adicional/oficiosa. O fundamento desta é o
relatório, sendo nesta que se verificam as invalidades e é este que tem de ser
discutido – ilegalidade antecendente do acto consequente. É uma causa de
suspensão do prazo de caducidade deixando-o de ser nos casos em que
ultrapassa o prazo de 6 meses. O contribuinte é tributado através de métodos
indiciários da Administração Tributária. Há um mecanismo de reacção do
contribuinte a isto: revisão da matéria colectável.
O Procedimento de Inspecção Tributária pode ser:
• Externo (nas instalações do contribuinte) ou interno (nas finanças);
• Geral ou Especial;
• Relativo apenas a um período de tributações ou a vários.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 39
Tal encontra-se sujeito aos princípios da verdade material, da
proporcionalidade, do contraditório e da cooperação e visa a descoberta da
verdade, tendo como limites as regras do sigilo profissional e do sigilo bancário
(processo próprio).
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO: encontra-se consagrado no artigo 9.º RCPIT
cominando o desrespeito por este princípio por parte dos sujeitos passivos na
eventual aplicação de métodos indirectos nos termos do artigo 10.º RCPIT. Ou
seja, o contribuinte tem de colaborar com a Administração, excepto se a sua
actuação for desproporcional. Na lei encontram-se fixados os casos em que os
sujeitos passicvos se podem opor (violação da reserva da visa privada, sigilo
bancário, etc.).
PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE: encontra-se previsto no artigo 63.º/4 LGT
e vincula a irrepetibilidade dos actos externos de inspecção, salvo em casos de
factos supervenientes (artigo 63.º/4 LGT – para proteger o princípio da
segurança jurídica) ou da confirmação de elementos declarados ou de terceiros.
Os actos de inspecção tributária têm, via de regra, uma natureza preparatória,
não sendo portanto impugnáveis directamente, salvo:
• Sejam actos imediatamente lesivos, nos termos do artigo 11.º RCPIT;
• Os relatórios de inspecção se realizem através de arbitragem.
Ou seja, não há lugar a ser impugnado através de uma acção administrativa
especial, porque não se trata de um acto definitivo, salvo se for imediatamente
lesivo (casos de oposição). O particular reagirá do acto definitivo: acto de
liquidação adicional.
Quanto à classificação deste procedimento: externos e internos; geral ou parcial
(âmbito) e um ou vários períodos de tributação (extensão).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 40
Quanto aos poderes da Inspecção Tributária, tais assentam:
• No livre acesso às instações e dependências da entidade inspeccionada;
• Ter à disposição as instalações adequadas ao exercício das suas funções
em condições de diginidade e eficácia;
• No direito ao exame, requisição e reprodução de documentos, mesmo
quando em suporte informático, em poder dos sujeitos passivos ou
outros obrigados tributários;
• No direito à obtenção de informações e ao exame dos documentos ou
outros elementos em poder de quaisquer serviços do Estado (central,
local e regional), de associações públicas, de empresas públicas, de IPSS e
de pessoas colectivas de utilidade pública;
• No direito à toca de correspondência, em serviço, com quaisquer
entidades públicas ou privadas sobre questões relacionadas com o
desenvolvimento da sua actuação;
• No direito ao esclarecimento, pelos técnicos oficiais de contas e revisoes
oficiais de contras, da situação tributária das entidades a quem prestem
ou tenham prestado serviço;
• No direito à adopção, nos termos do presente diplima, das medidas
cautelares adequadas à aquisição e conservação da prova.
O prazo de inspecção têm a duração de 6 meses, podendo ser prorrogável por 2
períodos de 3 meses (ligação com a suspensão do prazo de caducidsde do artigo
46.º LGT).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 41
O procedimento inicia-se com a entrega da ordem de serviço e conclui-se com a
emissão do relatório final de inspecção (importa distinguir a conclusão dos
actos e a conclusão do procedimento).
Nos termos do artigo 63.º/5 e 6 LGT consagram-se os fundamentos de oposição
à inspecção:
• O acesso à habitação do contribuinte;
• A consulta de elementos abrangisos pelo segredo profissional, bancário
ou qualquer outro dever de sigilo legalmente resgulado, salvo os casos
de consentimento do titular – deixou de abranger o Sigilo Bancário (PEC
II – Setembro 2010);
• O acesso a factos da vida intíma dos cidadãos;
• A violação dos direitos de personalidade e doutros direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos, nos termos e limites previstos na CRP e na lei.
Em caso de legítima oposição, a prossecução do procedimento depende de
autorização judicial.
O Procedimento de Inspecção e a Caducidade
Nos termos do disposto no artigo 45.º da LGT, a Administração tem 4 anos para
emitir os actos de liquidação dos impostos, sob pena de caducidade do direito à
liquidação.
Nos termos do artigo 36.º RCPIT, o procedimento de inspecção tributária tem
um prazo máximo de 6 meses, podendo ser prorrogável por dois períodos de 3
meses.
A questão da contagem do tempo de duração da inspecção externa é importante
na medida em que está directamente associada à suspensão do prazo de
caducidade do direito à liquidação – artigo 46.º/1 LGT.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 42
• Data do início do procedimento de inspecção externa: inspeccionado
assivou (ou recusou-se a assinar) o exemplar que determinou a
realização da inspecção;
• Data da conclusão do procedimento de inspecção externa: data em que o
interessado foi notificado da decisão final (projecto de relatório)
Deste a data do inicio até à data da conclusão determina-se a duração do
procedimento de inspecção externa, sendo descontado o tempo em que a
duração de tal prazo se deve considerar suspenso.
Se a duração do procedimento de inspecção externa:
• For inferior a 6 meses: o prazo de suspensão de caducidade do direito à
liquidação é acrescido do tempo de duração da inspecção;
• Se for superior a 6 meses: não há lugar a qualquer acréscimos aos prazos
gerais de caducidade do direito à liquidação – artigo 45.º LGT. RATIO:
‘’penalizar’’ as inspecção demoradas e penaliza-se a prática
administrativa de as inspecções terem, sistematicamente, lugar apenas
quando está prestes a expirar o prazo de caducidade do direito à
liquidação.
Segundo o STA, o prolongamento da inspecção, para além do prazo de 6 meses,
apenas tem consequências ao nível da (não) suspensão do prazo de caducidade,
não constituindo irregularidade procidemental invalidante das liquidações dele
decorrentes.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 43
• A TRIBUTAÇÃO POR MANIFESTAÇÕES DE FORTUNA
A tributação por manifestações de fortuna encontra-se consagrada nos termos
do artigo 89.º-A LGT.
Só existe tributação adicional se o contribuinte não conseguir provar a origem
dos rendimentos. Certos indícios podem levar a que a Administração inicie o
processo. A prova a fazer é entre o que é declarado e os incrementos
patrimonios não sujeitos a imputação (por isso é necessário provar a sua origem
(exemplo: doação do Sr. Berardo). ‘’Ser rico não é inconstitucional’’. Se não
conseguir provar a sua origem das duas uma: ou regulariza a situação (é é lhe
aplicada uma coima) ou a Administração Tributária tributa.
Sempre que existam manifestações não justificadas de fortuna, há lugar a uma
avaliação indirecta dos rendimentos passando os mesmos a ser considerados,
para efeitos de IRC, como rendimentos da Categoria G. Existe uma discrepância
entre o valor declarado pelo contribuinte e aquele que realmente aufere
(demonstrado por sinais exteriores).
São índices de manifestações de fortuna:
• Os casos previstos na Tabela das manifestações de fortuna tipificadas no
artigo 89.º-A/4 LGT (tipicidade fechada);
• Os casos em que haja um acréscimo patrimonial superior a € 100.000 e
falta de apresentação de declaração ou divergência – remissão para o
artigo 87.º/1 al. f) LGT.
Quanto às caracteristicas deste procedimento:
• Fundamentação especial e direito à audição – artigo 60.º LGT;
• Sujeito passivo pode provar que a manifestação é justificável, quanto à
fonte do rendimento caindo sobre este o ónus da prova;
• Impugnação judicial com efeito suspensivo da liquidação;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 44
• Procedimento implica averiguação da situação bancária, ou seja
levantamento automático do sigilo bancário, nos casos dos indicios de
manifestação de fortuna serem os do artigo 87.º/1 al. f) LGT;
• O sujeito passivo pode sempre regularizar a situação.
• O LEVANTAMENTO DO SIGILO BANCÁRIO
O levantamento do sigilo bancário encontra-se regulado no artigo 63.º-B LGT.
O regime do levantamento do sigilo bancário tem sofrido uma certa evolução:
• ANTES DE 2009: o levantamento do sigilo bancário nunca era
automático, era sempre precedido de autorização do interessado e/ou
tribunal, salvo raras excepcções;
• DESDE DE 2009: passou a ser automático em casos específicos (exemplo:
indícios de crime ou falta de veracidade das declarações, benefícios
fiscais, elementos declarados, etc.)
• OE/2011: passou a ser automático quando haja dívidas comprovada sà
administração fiscal ao fisco ou segurança social.
O levantamento do sigilo bancário é directo quanto a familiares e pessoas
próximas? Não. E o modo de reacção é diferente. Tem de se fundamentar de
uma forma especial: dar as razões de facto e de direito (artigo 63.º-B LGT) para
que haja levabtamento do sigilo bancário.
Quanto ao sujeito passivo, se nos encontramos numa alinea do artigo 63.º-B
LGT, há levantamento automático do sigilo bancário sem necessidade de uma
acusação prévia. Quanto a familiares e pessoas próximas, é necessário que
exista audiência prévia, na qual estes podem explicar à Administração
Tributária porque é que não cabem em nenuma das alineas da norma em
análise e, assim, não pode haver levantamento do sigilo bancário.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 45
Quanto ás caracteristicas desde procedimento de levantamento do sigilo
bancário com as alterações introduzidas em 2009:
• Extensão a familiares e outras pessoas com relação especial – artigo 63.º-
B/2 LGT;
• Necessidade de fundamentação específica devendo a Administração
Tributária mencionar expressamente os ‘’motivos concretos’’ para a
tomada de decisão – artigo 63.º-B/4 LGT;
• Notificação da decisão em 30 dias após a emissão – artigo 63.º-B/4 LGT;
• Audição prévia dos familiares ou terceiros – artigo 63.º-B/5 LGT;
• Definição do conceito de ‘’documentos bancários’’ – artigo 63.º-B/10
LGT.
O processo especial de impugnação da derrogação do sigilo bancário resulta da
conjugação do artigo 63.º-B LGT e do artigo 146.º-B CPPT:
• Apresentar em 10 dias a contar da notificação da derrogação qual deve
ocorrer em 30 dias;
• EFEITO DEVOLUTIVO DA IMPUGNAÇÃO quando esta é efectuada
pelo sujeito passivo, ou seja, não suspende a utilização dos danos;
• EFEITO SUSPENSIVO DA IMPUGNAÇÃO quando esta é efectuada por
terceiros e familiares;
Em caso de anulação da derrogação, os elementos obtidos não podem ser
usadas pela AT.. quais são as consequências práticas?
O Orçamento do Estado para 2012, que veio alterar a LGT, passou a prever a
obrigatoriedade de todos os pagamentos respeitantes a faturas ou documentos
equivalentes de valor igual ou superior a mil euros serem efectuados através de
meio de pagamento que permita a identificação do respectivo destinatário,
designadamente tranferência bancária, cheque nominativo ou débito directo,
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 46
assimo com a obrigatoriedade de as instituições bancárias comunicarem à AT, a
qualquer momento e a pedido desta, a informação sobre fluxos de pagamentos
com cartões de crédito e débito, efectuadas por seu intermédio, aos sujeitos
passivos da Categoria B de IRS e IRC.
Existem três intervenientes: Banco, contribuinte e Administração Tributária. O
funcionário do banco também fica obrigado ao sigilo bancário quanto reven o
pedido de levanyamento do sigilo bancário. O particular poderá reagir através
de um processo especial de impugnação da derrogação do sigilo bancário
(artigo 63.º-B LGT e artigo 146.º-B CPPT). Se o tribunal declarar que o
levantamento é inválido, se a Administração já sabe, através do levantamento
do sigilo bancário ilegal, que o contribuinte tinha uma conta com um milhão
nas Cayman irá usar outro meio para chegar ao €. Se a Administração
Tributária não levantar o sigilo bancários os tribunais podiam sempre.
Pedido de Informação Vinculativa PROCEDIMENTO PROCESSO
AT AMT AT AMT
Pedido de Reconhecimento de
Benefícios Fiscais; Tributação por
Manifestação de Fortuna;
levantamento do Sigilo bancário
(enquanto fundamento de aplicação
dos métodos indirectos); P.E. Reacção
X AT: Inspecção Tributária; CGAA;
Direitos: Procedimento de Inspecção;
Indirectos: procedimento de avaliação
indirecta com pedido de revisão da
matéria colectável (acto tributário)
Reclamção
Graciosa;
Recurso
Hierárquic
o;
Revisão
Oficiosa.
Recurso
Hierárquico
Impugnação
Judicial
Acção Administrativa
Especial
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 47
Aulas de 17 e de 24 de Outubro de 2013
III – GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES
O DIREITO À INFORMAÇÃO
Nos termos do artigo 268.º/1 CRP, existe o direito geral dos administrados a: (1)
ser informados sobre o andamento dos processo em que sejam directamente
interessados, e (2) conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem
tomadas.
Nos termos do artigo 67.º da LGT existe um alargamento do conteúdo: o direito
geral do sujeito passivo a ser informado, por escrito, no prazo de 10 dias, sobre:
(1) a fase em que se encontra o procedimento e a data previsivel para a
conclusão deste, (2) a sua concreta situação tributária, e (3) sobre a existência,
teor e autoria de denúncias dolosas não confirmadas sobre a sua situação
tributária (artigo 67.º alinea b) e artigo 70.º/3 LGT). Nos termos do disposto no
artigo 59.º/3 alinea a), b), f), g), i), j), l), m) e n) consagram-se vários deveres de
colaboração da administração para com o contribuinte que se traduzem em
deveres de informar ou de facultar o acesso à informação.
Nos termos do disposto no artigo 57.º CPPT consagra-se o direito dos sujeitos
passivos e outros interessados ou seus representantes legais a solicitar
informações prévias vinculativas: sobre a sua situação tributária ou sobre os
pressupostos de benefícios fiscais. Nos termos do disposto no artigo 56.º CPPT,
a Administração Tributária disponibilizará para consulta aos contribuintes uma
base de dados permanentemente actualizada da qual constem as orientações
genéricas emitidas que visem a uniformização da interpretação e aplicação das
normas tributárias pelos serviços.
Se a Administração se recusar a informar o contribuinte (não emitir uma
certidão ou não deixar o contribuinte consultar o processo) pode existir acção
de intimação para um comportamento. Esta acção visa obrigar a administração
tributária a informar o contribuinte sobre a sua situação. Segundo o Conselheiro
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 48
Jorge Lopes de Sousa esta acção visa apenas assegurar o direito à informação,
não podendo ser usada para mais nada (posição da Jurisprudência). Recorde-se
que apenas no caso das informações vinculativas é que o silêncio da
Administração Tributária não conduz a um acto de indeferimento tácito.
DIREITO À FUNDAMENTAÇÃO E À NOTIFICAÇÃO
Nos termos do artigo 268.º/3 CRP consagra-se o direito geral dos administrados
à fundamentação e à notificação das decisões que se traduz: (1) no direito a
serem infromados na forma prescrita na lei sobre o andamento dos processos
em que sejam directamente interessados, e (2) no direito a terem a
fundamentação expressa e acessível dos actos que afectem direitos ou interesses
legalmente protegidos (fundamento: racionalidade da decisão e criação de
condições materiais de defesa).
É necessário proceder à seguinte distinção, nos termos da LGT:
• REGRA GERAL: a decisão de procedimento é sempre fundamentada
por meio de sucinta exposição das razões de facto e de direito que a
motivaram, podendo a fundamentação consistir em mera declaração de
concordância com os fundamentos de anteriores pareceres, informações
ou propostas, incluindo os que integrem o relatório da fiscalização
tributária – artigo 77.º/1 e 2 LGT;
• REGRAS ESPECIAIS
� Relações Especiais – artigo 77.º/3 LGT;
� Tributação por Métodos Indirectos – artigo 77.º/4 e 5 LGT;
� Levantamento Administrativo do Sigilo Bancário – artigo 63.º-
B/4 LGT
� Reversão contra responsáveis subsidiários – artigo 23.º/4 LGT
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 49
A consequência da falta ou insuficiência da fundamentação assenta na
ilegalidade determinante da anulabilidade do acto (vício intrinseco do acto). Tal
é fundamento de reclamação ou impugnação ou recurso ao tribunal arbitral –
artigo 99.º alinea c) CPPT.
A consequência da falta de notificação assenta na ineficácia da decisão, isto
porque a notificação da decisão é condição de eficácia desta nos termos do
artigo 77.º/6 LGT, devendo a notificação seguir as regras de forma previstas
nos artigos 35.º a 43.º CPPT.
A notificação conterá sempre a decisão, os seus fundamentos, os meios de
defesa para reagir contra o acto notificado, a identificação da entidade que o
praticou e a indicação, sendo caso disso, que o praticou no uso de delegação ou
subdelegação de competências – artigo 36.º/2 CPPT.
Nos termos do artigo 35.º/4 CPPT, qualquer funcionário da administração
tributária, no exercício das suas funções, promove a identificação e a citação.
Em suma..
Nos termos do disposto no artigo 268.º/3 CRP consagra-se o direito à
informação e à fundamentação; nos termos do disposto no artigo 77.º da LGT
consagra-se o direito á fundamentação, sendo que este decompõem-se no
seguinte:
• Razões de facto: segundo o STA é necessário o itenerário cognoscitivo da
Administração Tributária, ou seja o particular tem de se conseguir
colocar na posição daquela;
• Razões de direito, sob pena de, se o acto não as contiver, não se encontrar
validamente fundamentado;
• Meios de defesa e prazos.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 50
A Falta de Fundamentação (vício: ilegalidade; consequência: anulabilidade) é
diferente de uma fundamentação ilegal ou insuficiente.
Há casos em que a fundamentação deve ser mais cuidada, pois existe uma
maior ingerência do Estado. Exemplo: fazer uso da CGAA e também na decisão
de matéria colectável através de métodos indirectos. Também nos casos de
sigilo bancário e de manifestação de fortuna exige-se um dever especial de
fundamentação – este é acrescido.
A falta de fundamentação ou a fundamentação indevida é vício intrinseco ou
extrinseco? A Professora Serena Neto gosta muito desta distinção, mas para a
Professora Carla Castelo Trindade tal é irrelevante, uma vez que o resultado é o
mesmo.
Em Direito Fiscal a regra geral é a da anulabilidade, existindo apenas nulidade
se o acto for praticado por um órgão incompetente.
A regra geral é que existe dever de fundamentação, mas no caso dos
procedimentos especiais a Administração Tributária possui um dever acrescido
de fundamentação.
Exame: estando em causa um acto tributário ou um acto em matéria tributária:
• Identificar a causa de pedir: fundamento da acção (exemplo:
ilegalidade);
identificar o pedido: anulabilidade (regra geral), nulidade (excepção:
quando um acto tributário é praticado por um órgão incompetente –
único caso) ou inexistência.
NOTIFICAÇÃO CITAÇÃO
‘’Dar a conhecer’’ – artigo 35.º a 43.º
CPPT
A legalidade do acto não depende da
‘’Chamar para’’
A citação é como a mãe: só há uma!
A citação é apenas para o processo
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 51
notificação. Se um acto tributário não
for dado a conhecer é inexistente:
pode ser sanado se o sujeito passivo
actuar como se tivesse sido chamado
ou tivesse tido conhecimento de tal
pela Administração Tributária A
inexistência é um vício sanável.
executivo.
Só se cita uma vez para o processo de
execução fiscal: só existe no acto
tributário quando há lugar a
pagamento de imposto e o
contribuinte não paga nem
suspense(*). Só existe processo de
execução fiscal depois de o sujeito
passivo ser citado.
(*) Só existe suspensão quando (1) o
sujeito passivo discute a legalidade da
dívida ou (2) preste garantia (em
regra, garantia bancária)
FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO FALTA DE NOTIFICAÇÃO
(INSUFICIENTE)
Ilegalidade Inexistência
Artigo 36.º/2: se a notificação não
contiver os fundamentos o acto é
ilegal.
Nos casos de vícios da notificação, por exemplo se o contribuinte tinha de ser
notificado através de carta registada com aviso de recepção e apenas foi através
de carta registada tal conduz à ineficácia, mas ele conhece e é por isto que se
entende que este vício deve ser sanável.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 52
Carta Registada com Aviso de Recepção: as notificações revestem diferentes
formas, consoante a importãncia do acto notificado. Revestem esta forma as que
tinham por objecto actos dos contribuintes ou a sua convocação para sssitirem
ou participarem em actos ou diligências (artigo 38.º/1 CPPT e artigo 39.º/5
CPPT; exemplo: direito de audição). A inobservância da forma prevista para a
notificação consiste numa irregularidade processual que se considerará sanada
se não tiver afectado os direitos de defesa do notificado, nomeadamente
quando se demonstre que a notificação foi, por ele, efectiva e atempadamente
recebida.
Dever (da AT) e Direito (do Contribuinte) de Fundamentação: pelas razões que
motivaram o dever de fundamentação acontece relativamente a todo o acto
conclusivo de um procedimento tributário, mesmo quando favorável ao
interessado (a decisão do procedimento é sempre fundamentada – artigo 77.º/1
LGT). O que se compreende, pois, como vimos, o conhecimento da
fundamentação não é só do interesse do destinatário, mas também de toda a
comunidade, na medida emq ue se exprime a legalidade, igualdade,
imparcialidade e transparência da actividade administrativa. O conteúdo, a
profundidade, exigivel à fundamentação dependera, necessariamente, do caso
concreto. Normalmente, afirma-se que a fundamentação tem que ser expressa,
clara, congruente e suficiente. O exigivel é – utilizando um dizer habitual da
nossa jurisprudência – que a fundamentação permita a um destinatário normal
entender o itenerario cognostivo e valorativo constante do acto, de modo a que
fique a saber a razão pela qual se decidiu assim e não de outro modo. O facto de
os actos tributários serem estritamente vinculados, de a decissão decorrer
directamente da lei não exclui a obrigação de serem fundamentadas. Esta é uma
querela definitivamente ultrapassada. A vinculação estrita não se reflecte na
existência do dever de fundamentação, mas sim no conteúdo da
fundamentação. Esta constituirá, essencialmente, na demonstração da
verificação, no caso concreto, da hipotese da nossa legal, não havendo lugar à
motivação do conteúdo concreto da decisão (à explanação das razões pelaos
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 53
quais se decidiu nesse sentido e não noutro, pois que, por regra, a decisão (a
única possível) a ser tomada resulta directamente da lei. Daí que a expressa
previsão do artigo 77.º/2 LGT de uma fundamentação simplificada. Para
determinadas situações, a lei consagra a obrigação de uma fundamentação com
especial densidade, especificando ‘’questões’’ sobre as quais há que tomar
posição expressa. Exemplo: artigo 77.º/3 a 5 LGT e o artigo 60.º/7 da LGT
(relativo aos elementos novos suscitados em sede de audição prévia) e ainda o
artigo 92.º/7 LGT. A falta de fundamentação é um vicio determinante da
anulabilidade do acto.
Atendendo ao artigo 37.º CPPT, quando um acto não contém os elementos
essenciais (fundamentação de facto e de direito) e quando não é validamente
notificado, o acto, de per si é ilegal na medida em que é insuficiente; é
deficiente. Antes de reclamar ou impugnar, há um meio que permite ao
contribuinte dirigir-se à AT e dizer-lhe que o acto não se encontra completo,
apresentando-lhe as falhas: artigo 37.º CPPT. Segundo esta norma, a
fundamentação e a notificação são te tal forma importantes que o contribuinte
pode não estar capaz de recorrer (reclamação, impugnação, etc) sem que o acto
esteja completo: deste modo, o legislador criou o meio do artigo 37.º/1 CPPT. O
acto não esta conforme porque nao contem a fundamentação de facto e de
direito e não foi notificado ou nao contém meios de defesa. O artigo 37.º/2
CPPT diz que se o contribuinte fizer isso o prazo para reclamar que é de 120
dias ou impugnar que é de 3 meses só se conta quando a AT notificar o
contribuinte da resposta a este requerimento.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 54
CONSELHEIRO LOPES DE SOUSA:o contribuinte tem esta faculdade que é
quase como um dever uma vez que se não utilizar o expediente do artigo 37.º
parece que fica como que conformado com estas ilegalidades do acto e por isso
nao pode depois em reclamação ou impugnação alegar estas ilegalidades. A
Professora Carla Castelo Trindade nao concorda com isto. Quando no caso
pratico do exame se disser que o acto tributário continha isto ou aquilo ou nao
se disser nada há que colocar que a liquidação adicional de IRC tem que conter
x elementos ao abrigo do Princípio da Fundamentação e Princípio da
Notificação: caso a liquidação adicional não contenha estes elementos o
contribuinte pode e dever utilizar O mecanismo do artigo 37.º, sendo que o
prazo de reclamação e impugnação só se conta como foi referido anteriormete.
O artigo 37.º enquanto poder ou dever? Na mente do legislador o artigo 37.º
existe para proteger o contribuinte de não conseguir exercer o direito de reagir.
Nos termos do disposto no artigo 133.º/4 CPPT consagra-se uma excepção à
regra geral do inferimento tácito: reclamação graciosa necessária no caso de
pagamento por conta (nota: quanto ao montante a entregar pelo contribuinte
titular de rednimentos da Categoria B a título de pagamento por conta, não é
exigivel que quando a AT notifique o contribuinte do seu pagamento no valor
se X, este saiba que é X+1 e o comunique à AT). Outro caso em que existe
deferimento tácito é nos casos de pedidos de informações vinculativas urgentes.
PRINCÍPIO DA DECISÃO
INDEFERIMENTO TÁCITO DEFERIMENTO TÁCITO
ARTIGO 57.º/2 LGT – 4 meses
Recurso Hierárquico – 30 dias
Informações Vinculativas – ARTIGO
68.º/6 LGT – 90 dias
Reclamação Graciosa Necessária a
título de pagamento por conta – 90
dias
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 55
PROFESSORA SERENA CABRITA NETO – A FUNDAMENTAÇÃO DOS
ACTOS
1. GENERALIDADES
Ainda que as decisões administrativas se baseiem nas declarações apresentadas
pelo contribuinte, pelo menos numa segunda fase do procedimento em que a
Administração procede à verificação desses factos, terá de existir um acto
praticado pela Administração. Esse acto pode ser classificado como sendo o
culminar do procedmento, o qual se terá fundado, ou não, em actos praticados
pelo contribuinte ao abrigo dos seus deveres de cooperação.
Com vista a proteger os contribuintes de abusos ou da má aplicação da lei, é
tradição jurídica recente obrigar a AT a fundamentar os seus actos, à
semelhança do que sucede no direito administrativo em geral. Deste modo, a
par da existência de pesados deveres de cooperação que impenhem sobre os
contribuintes, qualquer afastamento da declaração do contribuinte na avaliação
dos seus rendimentos, por parte da Administração, terá de ocorrer no âmbito
estritamente fixado na lei, obedecendo a um especial ónus de fundamentação.
Nos termos do artigo 77.º da LGT, encontra-se a obrigação de AT fundamentar
a sua decisão por meio de sucinta exposição das razões de facto e de direito que
a motivaram, não bastando mera indicação dos factos, mas exigindo-se a
indicação de quais normas aplicáveis ao caso.
A Fundamentação tem pois de ser efectuada em termos tais que possibilite ao
contribuinte ter os elementos mínimos que lhe permitam aferir da legalidade do
acto. Exemplo: nota de liquidação de IRS que é enviada anualmente aos
contribuintes – apresenta suscintamente os valores que serviram de base ao
cálculo do imposto e apresenta sinteticamente as normas jurídicas aplicáveis.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 56
É esta obrigatoriedade de fundamentar os actos que garante ao contribuinte a
possibilidade de poder reagir contra os mesmos. O vício de ausência ou
defificiente fundamentação do acto administrativo tributário é um vício
perfeitamente autonomizado e distonto dos meros vícios formais, uma vez que
o mesmo afecta intrinsecamente o acto tributário quanto à sua validade interna
e não apenas a sua exteriorização.
No fundo, o dever de fundamamentação dos actos é o instituto que permite
afastar a arbitrariedade, obrigando a Administração a dizer quais as razões da
sua decisão, permitindo ao contribuinte reagir em caso de discordância. Se não
impendisse sobre a Administração Tributária este dever, aliado ao poder
intrinseco do Estado face aos cidadãos, não restaria a estes qualquer hipotese de
defesa, uma vez que as decisões administrativas tornam-se iam irrecorríveis por
indeterminadas.
A importância da fundamentação é tal que o artigo 125.º CPPT determina a
sanção da nulidade no caso da sentença judicial deixar de abarcar as razões de
facto e de direito que motivaram à decisão.
A consagração do dever geral de fundamentação dos actos tributários nao é
mais do que a confirmação da especial importância que o princípio da
legalidade encerra nas matérias em que existe uma desigualdade de posições
entre os sujeitos envolvidos, como é o caso do direito tributário.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 57
2. A PARTICIPAÇÃO DO CONTRIBUINTE NA FORMAÇÃO DA
DECISÃO
O artigo 60.º LGT consagrou no nosso sistema tributário o princípio da
participação do contribuinte na formação da decisão tributária, para evitar
litigios desnecessários, bem como consequentes delongas no processo. O n.º2
dispõe que a audição prévia do contribuinte poderá ser dispensada quando a
decisao seja tomada com base nos elementos por si fornecidos.
Aliado ao dever de proceder segundo os ditames da boa fé, o princípio da
participação pode ser visto como um dos elementos chave para resolução de
muitos litigios aparentes, que vão inevitavelemente surgindo. No entando, a
norma constante do artigo 60.º LGT tem suscitado enorme dúvidas:
• O n.º1 menciona uma mera faculdade (‘’pode’’), ao invés de prescrever
um comando imperativo para a Administração (deve), quando é certo
que os casos em que a participação do contribuinte pode ser dispensada
estão taxativamente previstos no n.º2 do artigo 60.º LGT, não sendo de
aplicar os casos de dispensa de audição previstos no artigo 103.º CPA;
• O legislador, com vista a evitar dificuldades interpretativas, não
consagragou expressamente a obrigatoriedade de se ouvir o contribuinte
quer quando a questões de facto, quer quanto a questões de direito. Bem
como o concomitante dever de a AT se pronunciar sobre as objecções de
direito suscitadas pelos sujeitos passivos, o que tem levado a
interpretações restritivas desta norma por parte da AT, sendo estas para
a autora ilegais.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 58
Caso a AT viole a norma quanto à participação do contribuinte, nomeadamente
através da não notificação ao contribuinte para este apresentar os seus
argumentos ou, simplesmente, não atendendo aos argumentos eventualmente
apresentados (entenda-se explicando expressamente as razões da aceitação e da
rejeição dos mesmos), a autora defende que poderá ser requerida a anulação do
acto tributário em causa, a nível gracioso, com base na preterição de uma
formalidade essencial, sendo neste caso o prazo da reclamação graciosa
alargado para um ano (artigo 70.º/2 CPPT). Em caso de indeferimento, o
contribuinte poderá ainda impugnar o acto de liquidação, com o mesmo
fundamento invocado para a reclamação.
Obviamente que por razões de economia processual e de justiça material, o acto
apenas deverá ser anulado no caso de se verificar que a falta de audição prévia
do contribuinte prejudicou a sua posição ou defesa da sua posição na formação
do acto tributario. No entando, esta situação não deverá servir como justificação
para a Administração se furtar à notificação para a audição prévia, nos casos
previstos no artigo 60.º LGT, uma vez que na maior parte dos casos, só após a
participação do contribuinte será possível aferir qual a sua utilidade para
reforço da posição processual deste.
3. A NOTIFICAÇÃO AO CONTRIBUINTE
FUNDAMENTAÇÃO DO ACTO
TRIBUTÁRIO
NOTIFICAÇÃO DA
FUNDAMENTAÇÃO
As ilegalidades da fundamentação
geral a possibilidade de se requerer a
anulação do mesmo; anulação do acto
por v
As ilegalidades ou omissões na
comunicação ao contribuinte geram
unicamente a
ineficácia/irregularidade, dessa
comunicação, que não inquina a a
validade do acto podendo
inclusivamente ser sanáveis.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 59
Nos termos do artigo 36.º CPPT dispõe-se que quaisquer notificações efectuadas
ao contribuinte contenham sempre a menção da decisão, dos seus fundamentos,
dos meios de defesa e do prazo para reagir à decisão, bem como a indicação da
entidade que praticou o acto e se o fez no uso de delegação ou subdelegação de
competência.
Nos termos do artigo 37.º CPPT concede-se um prazo de 30 dias ao contribuinte
para requerer a notificação dos requisitos referidos anteriormente que tenham
sido omitidos na notificação ou, em alternativa, a passagem de certidão que
contenha esses elementos. O uso dessa faculdade determina que o prazo para a
reclamação, recurso, impugnação ou outro meio judicial se conte apenas a partir
da nova notificação ou da entrega da certidão requerida.
Esta possibilidade de sanação da nulidade da notificação por falta de
fundamentação não pretendeu retirar importância à necessidade de
fundamentação dos actos, mas apenas conferir a possibilidade de se
aproveitarem, ao abrigo do princípio da economica processual e do princípio do
aproveitamento do acto administrativo os actos praticados pela Administração,
devendo esta corrigi-los, designadamente quando a falta resulta da notificação e
não da própria fundamentação.
Existe o problema de saber se numa situação de omissão ou errónea
fundamentação deverá o acto administrativo prevalecer, ainda que em
detrimento da posição do contribuinte, ou se deverá subsistir sempre a hipotese
de anulação do acto (Ac. STA 96: determinou a invalidade do acto de liquidação
por haver omissão da sua fundamentação, distinguindo perfeitamente essa
situação da inrregularidade ou falta de notificação, a qual gera a mera ineficácia
do acto). A solução é de dificil resolução, podendo parecer fácil quando a AT
actua ao abrigo de poderes vinculados e sim dificil quando actua ao abrigo de
poderes discricionários. Contudo, ainda quanto aos actos praticados ao abrigo
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 60
de poderes vinculados e directamente previstos na lei, não se pode deixar de
referir que, mesmo quando a estes, o dever de fundamentação subsiste. A
interpretação correcta do actual regime parece-nos ser, aliás, a existência
permanente do dever de fundamentação, deve esse que será obviamente mais
ténue no caso de actos praticados pela AT ao abrigo de poderes vinculados ou
no caso de avaliação directa dos rendimentos. A questão é que, se a
Administração não fundamentar o seu acto, não é possível ao contribuinte saber
se as normas jurídicas estão a ser correctamente aplicadas, sendo que essa
situação será ainda mais relevante se estivermos, por exemplo, perante uma
situação de aplicação de métodos de avaliação indirecta dos rendimentos.
Pode-se entender, embora com alguma perplexidade, que a solução adoptada
pelo legislador assenta que certos actos não fundamentos podem vir a produzir
efeitos no caso de o contribuinte não requerer atempadamente a sua
rectificação. Para a autora, esta interpretação é desconforme com o artigo 268.º
CRP: para salvaguarda da posição do contribuinte, não podemos deixar de
considerar que a falta de fundamentação de um acto, principalmente em
matérias onde a Administração devide ao abrigo de poderes descricionários, é
motivo para requerer a anulação do mesmo, sob pena de a AT poder vir a
beneficiar da inércia do contribuinte, deturpando-se, dessa forma, o escopo
constitucional.
4. A FORMA DE NOTIFICAÇÃO
O artigo 38.º/1 CPPT dispõe claramente que as notificações ao contribuinte
terão de ser efectuadas por carta registada com aviso de recepção, sempre que
tenham por objecto actos ou decisões susceptíveis de alterarem a situação
tributária dos contribuintes ou a convocação para estes assitirem ou
participarem em actos ou diligências.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 61
O artigo 38.º/3 CPPT dispõe que as restantes notificações serão efectuadas por
mera carta registada.
O artigo 38.º/4 CPPT introduz a regra que, no caso das liquidações dos
impostos periódicos, efectuadas nos prazos de lei, as notificações serão
efectuadas por via postal simples, ou seja, sem registo.
Dificuldades têm existido quando a compatibilização da regra da notificação
por carta registada com aviso de recepção (n.º1), sempre que se altere a situação
tributária, com o facto de as liquidações nos impostos periódicos poderem ser
feitas por carta simples, pois estas liquidações alteram, por si, a situação
tributária do contribuinte (n.º4).
Existem duas interpretações possíveis quanto à compatibilização do artigo
38.º/1 e 4:
i. Numa interpretação mais lteral das norma sem causa, sempre que a
notificação de um imposto periódico, como o IRS, seja feita no prazo
previsto na lei – ocorrendo a exclusão da aplicação de métodos indirectos
ou a liquidação adicional decorrente de um processo de inspecção – a
notificação deverá ser feita por via postal simples, restando a notificação
por cara registada com aviso de recepção apenas para os casos em que há
alteração da situação tributária, ou seja sempre que a liquidação não se
baseie na declaração do próprio contribuinte;
ii. Numa interpretação menos literal, toda e qualquer liquidação, de
qualquer imposto (periódico ou não) altera a situação tributária do
contribuinte, pelo que a notificação da liquidação deverá ser sempre feita
por via postal registada com aviso de recepção, deixando a previsão da
notificação por via postal simples esvaziada de conteúdo.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 62
Para a Professora Serena Cabrita Neto, a norma prevista no n.º4 do artigo 38.º
CPPT vem excepcionar o previsto no n.º1 do mesmo artifo, o que é corroborado
pela sistematização da norma. Assim, no caso dos impostos periódicos, e
somente nestes, desde que as liquidações sejam efectuadas no prazo previsto na
lei e, portanto se baseiem nos rendimentos declarados pelo próprio contribuinte
a notificação da mesma poderá ser por via postal simples. Razões:
• O contribuinte sabe e tem a expectativa de pagar o imposto segundo
aquilo que declarou;
• Os sujeitos da relação jurídica tributária, a Administração e o
contribuinte cumpriram a lei e a liquidação foi expedida dentro do prazo
legal, pelo que o contribuinte tem igualmente a expectativa de recever a
notificação dentro de certo prazo, findo o qual deixará de ter certezas
sobre a sorte da sua liquidação.
• No nosso sistema encontra-se consagrado o conceito de domicilio fiscal,
o que reforça a ideia de que o envio da notificação da liquidação para o
domicilio declarado pelo proprio contribuinte, por via postal simples,
será um meio mais seguro para a notificação de liquidação normal de
qualquer imposto periodico.
5. NOTIFICAÇÃO DAS PESSOAS COLECTIVAS
Nos termos do artigo 41.º/1 CPPT, as pessoas colectivas e sociedades deverão
ser citadas ou notificadas na pessoa de um dos seus administradores ou
gerentes, na sua sede, na residência destes ou em qualquer lugar onde se
encontrem. O n.º2 dispoe que, na impossibilidade de se efectuar na pessoa do
representante, por este não ser encontrado pelo funcionário, a citação ou a
notificação dever-se-á realizar na pessoa de qualquer empregado, capaz de
transmitir os termos do acto, desde que o mesmo se encontre no local onde
normalmente funcione a administração da pessoa colectiva ou sociedade.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 63
O artigo 36.º/1 CPPT estabelece que os actos em matéria tributária que afectem
os direitos e interesses legítimos dos contribuintes apenas produzirão os seus
efeitos em relação a estes quando lhes sejam validamente notificados. O artigo
39.º CPPT estabelece normas relativas à forma da notificação e aos
procedimentos a adoptar para a efectivação das mesmas.
A notificação das pessoas colectivas deverá seguir sempre a forma pessoal, a
efectivar na pessoa de algum dos seus gerentes, de qualquer emnpregado ou
mesmo de alguém que esteja em condições de transmitir os termos do acto, que
se encontre no local onde normalmente funcione a administração da pessoa
colectiva ou a sociedade.
A norma do artigo 39.º CPPT constitui a regra geral quanto á forma e perfeição
dos actos de notificação, sendo afastada no caso de se tratar de pessoas
colectivas, uma vez que para estas é estabelecedido um regime especial,
consubstanciado na notificação pessoal de algum dos seus administradores ou
representantes. Na eventualidade de não ser encontrado qualquer membro dos
órgãos da gerência ou administração da pessoa colectiva no local da sede,
impõe-se à AT tentar a notificação do ente colectivo por carta registada com
aviso de recepção para a residências de alguns gerentes (ou mesmo do seu
representante, no caso de uma sucurssal de pessoa colectiva não residente), ou
para o local onde estes se encontrem.
Caso não sejam cumpridos os requisitos próprios para a notificação das pessoas
colectivas estremos perante a preterição de formalidades essenciais, as quais se
reconduzem à invalidade da notificação, argumento que pode ser invocado em
defesa da pessoa colectiva contra a Administração. Em determinados casos, a
invocação da preterição destas formalidades pode eventualmente implicar a
impossibilidade de haver nova notificação, desta feita com pleno cumprimento
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 64
da lei, em virtude do decurso do prazo de caducidade para liquidação dos
tributos.
O DIREITO DE PARTICIPAÇÃO
Sempre que a Administração Tributária praticar um acto que possa interferir
com o contribuinte tem de o notificar do projecto do acto tributário,
apresentando o fundamento e concedendo ao contribuinte um prazo para se
poder manifestar. A Administração Tributária está obrigada a responder nos
argumentos apresentados pelo contribuinte – direito à informação. O
contribuinte pode decidir manifestar-se ou pode não fazer nada: pode ser uma
questão de estratégia (ou não) entregar o argumento à Administração
Tributária. Há que ver, num caso prático, s eé vantajoso exercer direito de
audição ou não. Segundo o STA, a falta do direito de audição cola com a falta
do direito de fundamentação. O acto é anulável por vícios de fundamentação se
se concedeu ao contribuinte o direito à audição, mas não se teve em conta a
fundamentação deste. Um acto tributário que se torne definitivo sem dundada
oportunidade de exercer o direito de audição é anulável por violação do direito
à participação.
Nos termos do disposto no artigo 267.º/5 CRP consagra-se o direito de
participação dos cidadãos na formação das decisões que lhes digam respeito.
Desde 1991 existe a audiência prévia no procedimento administrativo (artigo
100.º e seguintes CPA), desde 1999, no CPT, existe apenas no processo de
contra-ordenação fiscal; na LGT, desde 1999, existe o direito de audição prévia
no artigo 60.º; no artigo 60.º RCPIT existe audição nos actos de inspecção.
É necessário, atendendo às normas da LGT, considerar a seguinte distinção:
• REGRA GERAL: o sujeito passivo tem o direito a ser ouvido antes
� Da liquidação que não se faça com base na sua declaração de
imposto – artigo 60.º/1 alinea a) e n.º2;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 65
� Do indeferimento, total ou partcial, dos seus pedidos,
reclamações, recursos ou petições – artigo 60.º/1 alinea b) e n.º2, a
contrario;
� Da revogação de qualquer benefício ou acto administrativo em
matéria fiscal que os afecta – artigo 60.º/1 alinea c);
� Da tomada de decisão de aplicar métodos indirectos de avaliação
da sua matéria tributária, quando não haja lugar a relatório de
inspecção – artigo 60.º/1 alinea d);
� Da conclusão do relatório de inspecção tributária – artigo 60.º/1
alinea d)
• REGRAS ESPECIAIS: antes da reversão, mesmo nos casos de presunção
legal de culpa (cfr. Artigo 23.º/4 LGT e Circular 13/99, DSTJ)
Este direito, nos termos do disposto no artigo 60.º/3 e 6 LGT, é exercido do
seguinte modo:
• Envio de carta registada para o domicilio fiscal do contribuinte
marcando um prazo (de 15 a 25 dias) para que este exerça oralmente ou
por escrito o seu direito;
• Dela constará necessáriamente o projecto de decisão a adoptar e a
fundamentação da mesma;
• Se o contribuinte exercer o direito de ser ouvido, os elementos novos que
sjeam por ele trazidos ao procedimento deverão ser tomados em conta na
fundamentação da decisão.
Quanto às consequências da falta de incumprimento pela Administração
Tributária:
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 66
• Se o dever de audição foi apenas formalmente cumprido: o acto (de
reversão) é anulável por falta de fundamentação – vício intrínseco (Ac.
TCA – Norte de 27/03/07);
• Se a Administração Tributária não se pronuncia sobre os novos factos
trazidos ao processo, a decisão administrativa é anulável, por vício de
forma, em razão da deficiente fundamentação – vício extrínseco (Ac. STA
de 7/12/05)
Exame: há sempre um vício de notificação.
Oral: o direito à informação não se resume à audição prévia (direito de audição:
o contribuinte não está obrigado a exerce-lo): a Administração Tributária tem de
se pronunciar sobre os meus argumentos?
Exame: independentemente do caso é sempre necessário dar a nossa opinião.
Exemplo ‘’em minha opinião, eu aconselharia o X a só exercer o direito de
audição quanto a Y’’.
O DIREITO A JUROS INDEMNIZATÓRIOS
JUROS INDEMNIZATÓRIOS –
artigo 43.º LGT
Pagos pela Administração Tributária
ao contribuinte quando este pagou
uma prestação indevida.
JUROS MORATÓRIOS – artigo 44.º
LGT
Devidos pelo contribuinte à
Administração Tributária pela falta de
pagamento do imposto/dívida
tributária.
JUROS COMPENSATÓRIOS
Devidos pelo contrbuinte à
Administração Tributária pelo atraso
na liquidação.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 67
Para saber quando é que o crédito se constitui é necessário saber quando
ocorreu o facto tributário. Exemplo da Casa da Professora Carla Castelo
Trindade: devia ter pago o imposto três anos após a venda da casa, uma vez
que não investiu:
• Facto Tributário: 31 de Dezembro de 2009
• Facto Tributário: suspendeu-se até 31 de Dezembro de 2012
• Juros de Mora começaram a contar a 1 de Janeiro de 2013
Na liquidação oficiosa são devidos juros de mora e juros compensatórios. Se a
Administração Tributária liquidou oficiosamente 8:
• Durante a suspensão indevida: juros compensatórios;
• Quando a suspensão deixa de se verificar: juros de mora.
Por sua vez, caso estejamos face a uma liquidação adicional:
Os juros indemnizatórios traduzem-se em a Administração ter algo que não é
dela: contribuinte não foi reembolsado daquilo que devia ou contribuinte pagou
mais do que devia.
Os juros de mora só são devidos quando na esfera jurídica da AT já se
consolidou o direito ao imposto (IRC e IVA: autoliquidação; IRS: liquidação,
sendo que o contribuinte apenas tem de entregar uma declaração).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 68
Nos termos do artigo 43.º da LGT, os juros indemnizatórios são devidos pela
AT ao contribuinte (contra-face aos juros compensatórios).
Aquando da questão de saber quando é que são devidos, é necessário ter em
consideração que em caso de erro na liquidação imputável aos serviços,
reconhecido em reclamação graciosa ou impugnação judicial – c/ pagamento de
dívida tributária em montante superior ao legalmente devido. Equipara-se ao
erro imputável aos serviços o erro resultante da declaração do contribuinte
quando este tenha seguido no seu preenchimento orientações genéricas da
Administração Tributária devidamente publicadas – ficção legal.
Os juros indemnizatórios são devidos:
• Quando não seja cumprido o prazo legal de restituição oficiosa dos
tributos;
• Quando o acto tributário tenha sido anulado por iniciativa da AT, a
partir do 30.º dia posterior à decisão, sem que tenha sido processada a
nota de crédito;
• Quando a revisão do acto tributário por iniciativa do contribuinte se
efectuar mais de um ano após o pedido deste, salvo se o atraso não for
imputável.
A fim de apurar como são os juros indemnizatórios devidos, é necessário
atender ao disposto no artigo 61.º CPPT que consagra a regra de processamento
de juros indemnizatórios, sendo que em resumo são processados oficiosamente
(Ofício Circulado 60.052, de 3/10/06 /substitui o entendimento anterior,
constante do ofício circulado 60.049, de 14/09/2005).
TAXA
Indemnizatórios = compensatórios = civis = 4% ao ano
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 69
Os de mora seguem as mesmas regras das dívidas ao Estado - A taxa de juros
de mora é a definida na lei geral para as dívidas ao Estado – 6,112% nos termos
do Aviso n.º 17289/2012, de 28 de Dezembro - e outras entidades públicas,
excepto no período que decorre entre a data do termo do prazo de execução
espontânea de decisão judicial transitada em julgado e a data do pagamento da
dívida relativamente ao imposto que deveria ter sido pago por decisão judicial
transitada em julgado, em que será aplicada uma taxa equivalente ao dobro
daquela.
A CADUCIDADE E A PRESCRIÇÃO
� A CADUCIDADE DO DIREITO À LIQUIDAÇÃO
A Caducidade é uma garantia do particular (manifestação do Princípio da
Segurança Jurídica). É um direito do contribuinte. A AT só tem direito a
liquidar. A caducidade conta-se a partir da verificação do facto tributário.
Nos termos do disposto no artigo 45.º da LGT, a regra é a de que Administração
tributária dispõe de 4 anos para emitir os actos de liquidação de impostos
(mesmo adicionais/correctivos) sob pena de caducidade do direito à liquidação
– devendo os mesmos ser notificados neste prazo (art. 35.º e seguintes do CPPT)
Quanto à questão do termo inicial do prazo:
• Impostos periódicos – a partir do termo do ano em que se verificou o
facto tributário;
• Impostos obrigação única – a partir da data em que o facto tributário
ocorreu;
• IVA (desde 1/1/2003) – a partir do (início) do ano civil seguinte àquele
em que se verificou a exigibilidade do imposto;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 70
• IRS cobrados por retenção na fonte a título definitivo (dd 1/1/2005) - a
partir do (início) do ano civil seguinte áquele em que se verificou o facto
tributário.
Nos termos do disposto no artigo 46.º da LGT, quanto à suspensão do prazo de
caducidade do direito à liquidação, a regra é a de que são vários os eventos que
suspendem e interrompem o prazo de caducidade do direito à liquidação.
Quanto ao meio adequado para atacar o vício da falta de notificação da
liquidação do tributo no prazo de caducidade é necessário atender quer à regra,
quer à excepção:
• Regra: a via adequada para reagir com este fundamento é a oposição (e
não a impugnação) porque a notificação é um requisito de eficácia da
liquidação, não uma causa de ilegalidade desta;
• Excepção: porém, se a própria liquidação ocorreu findo o prazo de
caducidade, o vício é intrínseco ao próprio acto (gerador de ilegalidade)
pelo que pode/deve ser atacada por via da impugnação.
� PRESCRIÇÃO
Nos termos do disposto no artigo 48.º da LGT, a AT dispõe de um prazo geral
de 8 anos para cobrar as dívidas tributárias – já liquidadas. Trata-se de um
prazo para a cobrança e não para a liquidação.
A prescrição de uma dívida tributária, a qual é de conhecimento oficioso nos
termos do art. 175.º do CPPT, tem por efeito torná-la inexigível coercivamente,
não a torna ilegal, pelo que não é fundamento de impugnação mas de Oposição
(art. 204.º, alínea d) do CPPT).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 71
Nos termos do disposto no artigo 49.º da LGT, quanto à suspensão do prazo de
prescrição, a regra é a de que são vários os eventos que suspendem e
interrompem o prazo de prescrição.
No Orçamento de Estado para 2007 ocorreu a revogação do n.º2 do artigo 49.º
da LGT, que previa que a interrupção se transformava em mera suspensão se o
processo estivesse parado há mais de um ano, por facto não imputável ao
contribuinte.
A interrupção passa a ter lugar uma única vez, com o facto interruptivo que se
verificar em primeiro lugar (citação, reclamação. recurso hierárquico,
impugnação e pedido de revisão oficiosa).
Tal é aplicável aos prazos de prescrição em curso objecto de interrupção (cfr.
artigo 91.º Lei OE/2007).
CADUCIDADE PRESCRIÇÃO
Direito à Liquidação Após a liquidação
Liquidação: ‘’entregar o papelinho/declaração’’; tornar certa, liquida e exigivel
a divida tributária.
Um imposto prescrito continua a ser devido pelo contribuinte, uma vez que este
tem a obrigação natural de o pagar; mas a AT é que não o pode exigir.
Aulas de 31 de Outubro e de 7 de Novembro de 2013
IV – A FASE GRACIOSA DO PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
A RECLAMAÇÃO GRACIOSA. OS SEUS FUNDAMENTOS E
MECANISMO
Nos termos do disposto nos artigos 68.º a 75.º do CPPT, a fase graciosa consiste
numa fase administrativa, mais concretamente numa fase procedimental, sendo
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 72
o meio gracioso tributário ‘’por excelência’’. Tal fase tem como objectivo a
anulação do acto tributário.
Nos termos do disposto no artigo 69.º CPPT, a reclamação graciosa tem como
características: não possuir formalidades especiais (não se exige advogado e
pode ser feita oralmente), ser sem custas, existir uma limitação dos meios
probatórios e a inexistência de efeito suspensivo automático do eventual
processo de execução fiscal (só com prestação simultânea de garantia – art. 199º
CPPT).
Atendendo ao disposto no artigo 70.º - que remete para o artigo 99.º - ambos do
CPPT, coloca-se a questão de saber quais os actos que podem ser objecto de
reclamação graciosa, ou seja se podem ser actos em matéria tributária ou apenas
actos tributários. Pode ser objecto de reclamação graciosa “Qualquer
ilegalidade”…designadamente (elenco exemplificativo):
• Errónea qualificação e quantificação de rendimentos, lucros, valores
patrimoniais e outros factos tributários;
• Incompetência;
• Ausência ou vício da fundamentação (para a reclamação graciosa é
indiferente o acto não estar de todo fundamentado ou só estar parte
dele);
• Preterição de outras formalidades legais
Nos termos do disposto no artigo 70.º - que remete para o artigo 102.º - ambos
do CPPT, o prazo para se fazer uso da reclamação graciosa é de 120 dias:
• Contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º, n.º 1 do CPPT;
• Contados a partir de sentença superveniente.
Exemplo: X foi notificado a 1 de Junho de 2010 de uma liquidação adicional de
IRS. Tem 30 dias para proceder ao pagamento. O prazo para a reclamação
graciosa só se inicia a partir do fim desses 30 dias. Se agisse antes do prazo de
30 anos existia uma extemporalidade: nestes casos, a AT considera que a
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 73
reclamação graciosa foi feita no primeira dia do prazo, ou seja que foi feita
correctamente (princípio da colaboração). A extemporalidade é diferente da
intemporalidade, ou seja nos casos em que tal é feita fora do prazo e
consequentemente não pode ser aceite. Deste modo, após o decurso dos 30 dias,
o contribuinte poderá reclamar graciosamente (120 dias) ou impugnar
judicialmente (3 meses).
Perante uma liquidação adicional, pode-se optar pela reclamação graciosa ou
pela impugnação judicial. Sabemos que se optarmos pela reclamação graciosa,
podemos sempre, depois, impugnar judicialmente.
Se apresentar reclamação graciosa, o prazo que se conta imediatamente a seguir
é o 4 meses – indeferimento expresso ou tácito. Com o indeferimento tácito
posso proceder ao recurso hierarquico ou impugnar judicialmente.
Com o inferimento tacito, o contribuinte nao apresenta reclamação graciosa.
Fora do prazo de 4 meses, o contribuinte é notificado do indeferimento
expresso. O contribuinte pode sempre reagir. Mas e se o contribuinte tiver
apresentado reclamação graciosa e depois tiver impugnado? Enquanto se
discute a questão, a Administração procede ao indeferimento expresso.
Quanto ao local de entrega este será ou o Serviço Periférico Local (Serviço de
Finanças) ou por transmissão electrónica de dados. Se o serviço onde se entrega
for territorialmente incompetente, ao abrigo do princípio da cooperação, este
órgão incompetente tem a obrigação de enviar para o órgão competente: mas
isto tem efeitos só quando a reclamação dá entrada no órgão competente, ou
seja só neste momento é que se começa a contar o prazo para o indeferimento
tácito. A reclamação não tem de ser entregue em articulado, com todas as
formalidades que lhe são inerentes.
Nos termos do disposto nos artigos 71.º a 75.º, ambos do CPPT, a reclamação
graciosa possui ainda como características:
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 74
• Possibilidade limitada de cumulação de pedidos e de coligação de
reclamantes, sob autorização do órgão instrutor sempre dependente da
identidade de tributo, do órgão competente e dos fundamentos de facto e
de direito (Artigos 71.º e 72.º do CPPT);
• A reclamação é:
� dirigida ao órgão periférico regional (Direcção de Finanças);
� É instruída pelo órgão periférico local (Serviço de Finanças);
� É decidida pelo órgão periférico regional ou pelo Director de
Serviços nos casos de actos praticados na sequência de
procedimentos inspectivos ou ainda pelo órgão periférico local
(Serviço de Finanças) nos casos de menor valor - Artigos 73.º e 75.º
do CPPT;
• Possibilidade de apensação de reclamações (artigo 74.º CPPT).
Na Reclamação Graciosa admite-se cumulação de pedidos e cologação de
autores (exemplo: substituto tributário e substituído), sendo que tal encontra-se
dependente de:
• Estar em causa o mesmo tributo;
• O mesmo órgão competente;
• Os mesmos fundamentos de facto e de direito.
Exemplo: estamos a falar do valor patrimonial da nossa casa. Queremos discutir
liquidações adicionais de IMI e IMT – temos de fazer separado.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 75
A RECLAMAÇÃO GRACIOSA EM CASOS ESPECIAIS: RETENÇÃO NA
FONTE, PAGAMENTOS POR CONTA E AUTOLIQUIDAÇÕES
No termos do disposto nos artigos 131.º e 132.º do CPPT, pode existir
reclamação graciosa necessária nos seguintes casos:
• Reclamação Graciosa nos casos de erro na autoliquidação – reclamação
“necessária”, excepto se se tratar de matéria de direito e/(ou) a
declaração tiver sido efectuada com base em orientações genéricas da
Administração tributária - prazo especial de 2 anos após apresentação da
declaração (artigo do 131.º CPPT);
• Reclamação Graciosa nos casos de retenção na fonte - reclamação
“necessária”, excepto se se tratar de matéria de direito e/(ou) a
declaração tiver sido efectuada com base em orientações genéricas da
Administração tributária - prazo especial de 2 anos após o termo do ano
em que ocorreu o pagamento indevido (artigo do 132.º CPPT);
• Reclamação Graciosa nos casos de pagamento por conta - reclamação
“necessária” - prazo especial de 30 dias após o pagamento indevido.
Deferimento tácito em 90 dias (artigo do 133.º CPPT).
Nos termos do artigo 132.º/1 CPPT, o substituto tem sempre reclamação
graciosa necessária; o substituído só tem reclamação graciosa necessária quando
a retenção na fonte é a título definitivo. E quando o substituto entrega menos do
que aquilo que reteve? A lei não regulou do ponto de vista do substituto,
porque este não vai reclamar; o substituido é que vai mas isso depende ser de
retençao na fonte a titulo definitivo ou a titulo de imposto por conta. Se for
entregue a menos, já há intervenção da AT, protanto nao faz sentido que exista
Reclamação Graciosa Necessária (ate porque vai reclamar da AT porque? Se
quem não entregou foi o substituto).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 76
QUANDO É QUE RECLAMOS GRACIOSAMENTE E QUANDO É QUE
IMPUGNAMOS?
����
1) Estamos perante um acto tributário (impugnação judicial) ou um acto em
matéria tributária (acção administrativa especial)?
2) Quando ocorreu a notificação do acto tributário?
3) É um acto validamente emitido (prazo de caducidade do direito à
liquidação)?
4) Quando se começa a contar o prazo para reclamar ou para impugar? S se
tem de proceder ao pagamento, o prazo de reclamação/impugnação só
se começa a contar após o termino do prazo para o pagamento
voluntário
5) Quando é que o prazo para a reclamação/impugnação começa e acaba?
6) Qual o fundamento para reclamar e para impugnar?
� Em regra reclama-se, uma vez que não tem custas, não tem
formalidades (não se é obrigado a constituir advogado), após esta
poder-se-á sempre impugnar e não há nada a perder (excepto 4
meses);
� Contudo, existindo já uma circular no sentido contrário ao nosso
fundamento, a Professora Carla Castelo Trindade defende a
impugnação judicial. Segundo a professora só se deve reclamar
quando se trata de prova (exemplo: se aceita o documento ou
não). Vícios de ilegalidade, falta de fundamentação, etc – casos em
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 77
que se opta pela impugnação. Isto funciona bem na advocacia
empresarial. Mas em casos de IMI, IS, IRS, ou seja casos mais
pequenas, é mais comum a reclamação. Se já se sabe que a AT não
concorda, seria parvo conceder os argumentos de direito que
usamos, posteriormente, na impugnação judicial. Nestes casos,
para evitar que AT se prepare é melhor impugnar logo. Não é
liquido que se reclame logo ou que se impugne logo.
A AVALIAÇÃO INDIRECTA E O PEDIDO DE REVISÃO DA MATÉRIA
COLECTÁVEL
Em regra, os contribuintes são tributados sob o seu rendimento real. Por vezes,
os contribuintes não querem msitrar a sua contabilidade e nesse caso a AT tem
de estimar, podendo mesmo assim o contribuinte opor-se.
� AVALIAÇÃO DIRECTA
Em regra, a avaliação dos rendimentos a tributar é efectuada com base nos
elementos constantes da declaração, os quais gozam de uma presunção de
veracidade, esta é afastada nos seguintes casos:
• Omissões, inexactidões ou erros que impeçam o conhecimento da
realidade;
• Falta de cumprimento dos deveres de esclarecimento da situação
tributária;
• Afastamento para menos, da matéria tributável, sem razão justificativa,
dos indicadores objectivos de base técnico-científica;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 78
• Afastamento para menos, dos rendimentos declarados, sem razão
justificativa, dos padrões fixados para as manifestações de fortuna
(artigo 89º-A da LGT).
A presunção de veracidade das declarações não afasta o ónus probatório dos
factos nelas invocados, a menos que os dados em causa sejam elementos na
posse da Administração Tributária.
� AVALIAÇÃO INDIRECTA (artigo 81.º a 90.º da LGT)
A fundamentação da avaliação indirecta deve conter:
• Fundamentação de facto e direito à semelhança dos demais actos
tributários e ainda os motivos da impossibilidade da comprovação e
quantificação directa e exacta da matéria tributável;
• Menção dos critérios utilizados pela Administração Tributária para a
qualificação e quantificação da matéria tributável;
• Menção da ponderação dos factores que influenciaram a determinação
do seu resultado.
Ou seja, a AT tem de fundamentar porque é que não consegue tributar através
da avaliação directa, de acordo com o lucro real e:
• Indicar os meios de defesa;
• Fundamentação de facto e de direito;
• Ponderação dos factores que influenciaram a determinação do seu
resultado.
Perante a impossibilidade de avaliação directa procede-se à avaliação indirecta,
dando inicio à inspecção.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 79
Os indicadores objectivos de base técnico científica nunca foram publicados em
Portugal.
Após a fixação da matéria colectável pode-se proceder ao pedido de revisão da
matéria colectável (este meio só serve para os casos em que a AT fixa a matéria
colectável através de métodos indirectos), sendo esta diferente do pedido de
revisão oficiosa (não tem nada a ver com a matéria tributável) � motivo de
chumbo no exame‼
Nos termos do disposto no artigo 91.º da LGT, consagra-se o pedido de revisão
da matéria colectável, colocando-se a questão de saber, uma vez fixada a
avaliação da matéria colectável por métodos indirectos, quem pode pedir a
Revisão da Matéria Colectável:
• O sujeito passivo a quem foi promovida a fixação com fundamento na
impossibilidade de comprovação e quantificação directa e exacta da
matéria tributável; e
• O sujeito passivo a quem foi promovida a fixação com fundamento no
afastamento significativo dos indicadores objectivos de actividade de
base técnico-científica.
A CRP diz que todos os contribuintes – singulares ou colectivos -, quanto à
tributação dos rendimentos, tal é realizada de acordo com o rendimento real, a
menos que aqueles prefiram o regime simplificado (que só existe para o IRS).
Segundo este regime, a AT faz uma presunção da factura do contribuinte
(exemplo: 70 de proveito e 30 de lucro), não se sabendo deste modo o lucro real
ao certo. Adoptando o regime simplificado, os contribuintes estão a admitir
que a sua tributação do rendimento será realizada por métodos indirectos de
tributação e não de acordo com a sua tributação Real. Além disso quando se
entra para o regime simplificado ter-se-á de lá ficar durante algum tempo.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 80
A lei exclui a possibilidade de revisão da matéria tributável aos contribuintes
que se encontrem sujeitos ao regime simplificado de tributação – acesso
opcional. Por definição, o regime simplificado seria um método indirecto
(estabelece presunções), sendo que a este regime, não se pode apresentar
pedido de revisão da matéria colectável.
Este pedido deverá observar as seguintes formalidades:
• Apresentação em requerimento próprio dirigido ao Director de Finanças;
• Prazo de apresentação: 30 dias após a notificação da decisão da aplicação
dos métodos de avaliação indirecta;
• Indicação do perito do contribuinte;
• Indicação do desejo de intervenção do Perito Independente;
• Fundamentação das razões que, na óptica do requerente, determinam: a
não verificação da impossibilidade da quantificação directa; a errada
quantificação/qualificação da matéria colectável.
Nos termos do disposto no artigo 92.º da LGT, a discussão quanto ao pedido de
revisão da matéria colectável encontra-se vedada quer das correcções
meramente aritméticas, quer de outras questões de Direito, com excepção da
discussão sobre a verificação dos pressupostos de aplicação da avaliação
indirecta.
Quanto às formalidades e efeitos do procedimento salienta-se que:
• Apresentação do Pedido – em 30 dias;
• Marcação da reunião de Peritos – em 15 dias – visa o acordo sobre a
quantificação da matéria colectável.
• O Perito Independente intervirá apenas se tiver sido requerido pelo
sujeito passivo;
• Conclusão do Procedimento – em 30 dias a contar da apresentação do
Pedido.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 81
• Durante a pendência do processo: EFEITO SUSPENSIVO da liquidação –
o pedido de revisão da matéria colectável suspende a tributação
• Se o Perito Independente votar favoravelmente ao contribuinte, o
procedimento tutelar mantém igualmente EFEITO SUSPENSIVO.
Se a decisão (quanto ao pedido de revisão da matéria colectável) for
desfavorável ao sujeito passivo, este poderá:
• Conformar-se com a decisão e pagar a liquidação de imposto emitida;
• Apresentar reclamação graciosa – com base noutros vícios – no prazo de
120 dias a contar dos factos constantes do artigo 102.º do CPPT;
• Apresentar Impugnação Judicial, invocando todos os vícios da mesma,
incluindo os da avaliação indirecta – a apresentar em 90 dias a contar dos
factos constantes do artigo 102.º do CPPT (ou após o indeferimento
expresso ou tácito da Reclamação apresentada).
PROFESSORA SERENA CABRITA NETO: AVALIAÇÃO DIRECTA E
INDIRECTA
1. AVALIAÇÃO DIRECTA E AVALIAÇÃO INDIRECTA
Em Direito Tributário onde dos princípios mais importantes é o da tipicidade,
segundo o qual é condição para a liquidação de um imposto a existência de um
facto tributário previamente definido e previsto na lei. No caso de IRS, por
exemplo, o facto tributário que fundamenta a existência do imposto é a
obtenção do rendimento, que se determina e quantifica de forma diversa,
consoante as diferentes categorias de rendimentos.
A segurança jurídica determina que o processo de apuramento do imposto a
pagar deva ser claro, preciso e perfeitamente transparente uma vez que se
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 82
suporta em regras legalmente definidas – AVALIAÇÃO DIRECTA, uma vez
que se fundamenta sem qualquere tipo de mediação na verificação da existência
do facto tributário.
AVALIAÇÃO INDIRECTA: O imposto é liquidado com base num rendimento
(pois é quanto aos impostos sobre o rendimento que este regime tem grande
margem de aplicabilidade), que não se constata nem se quantifica
directamentre, pelas regras de cada imposto, mas que é proveniente da
verificação de certos indicios ou indices que presumem a sua existência e
quantificação. É exactamente na avaliação indirecta que a AT, ao abrigo do
princípio da investigação, para aferir a verdadeira situação material do
contribuinte terá de apurar os rendimentos mediante os elementos indiciarios
que tiver a disposição, fornecidos ou não pelo contribuinte.
A avaliação indirecta, face à avaliação directa, é um processo de quantificação
da obrigação tributável menos rigoroso e mais permeável à ocorrência de erro,
para além de se fundamentar em critérios com uma relevante margem de
subjectividade. A avaliação indirecta é potencialmente geradora de menor
justiça e de maior insegurança. Devido a tal, o sistema jurídico fiscal português
atribuiu à avaliação indirecta um caracter de subsidiariedade (artigo 85.º/1 e
81.º LGT), segundo os quais esta só é aplicável quando não for possível calcular
a matéria colectável directamente segundo os critérios próprios de cada tributo.
Em suma, cabendo à AT efectuar a avaliação dos rendimentos, ao abrigo do
princípio da investigação, mediante as declarações apresentadas pelo
contribuinte, cabe-lhe igualmente fiscalizar da regularidade e fidelidade dessas
declarações. Caso a AT entenda, fundamentadamente, que a avaliação directa
de rendimentos não é possivel nos termos enunciados na lei, poderá aplicar os
métodos de avaliação indirecta. O ónus de provar que a avaliação directa não é
possível é da AT, a qual terá de afastar a presunção de veracidade da declaração
do sujeito passivo, decorrente do artigo 75.º LGT. Apenas no caso de ficar
provado que não é de todo possível avaliar directamente os rendimentos do
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 83
sujeito passivo e estejam preenchidas as condições previstas no artigo 87.º LGT,
a AT poderá lançar mão dos métodos de avaliação indirecta, cabendo-lhe a
prova da verificação dos pressupostos de aplicação dos mesmos. Não basta que
seja dificil ou oneroso promover a avaliação directa dos rendimentos do
contribuinte: a lei exige que se faça prova de uma impossibilidade.
A tributação indirecta poderá, excepcionalmente, assumir um caracter não
subsidiário, designadamente nos casos de tributação através de regimes
simplificados: nestes casos há lugar a uma utilização de indices, identicos para
determinados grupos de contribuintes, atraves dos quais é apurada a matéria
colectavel, ainda que com base num volume de negocios declarado pelo
contribuinte.
2. A CADUCIDADE E A PRESCRIÇÃO DOS TRIBUTOS
Tanto a prescrição como a caducidade, independentemente de a avaliação ser
realizada com recurso a métodos directos ou indirectos, visam proteger os
cidadãos, na medida em que mesmos sabem que, findo determinado prazo, a
sua situação jurídico-tributária se consolida.
CADUCIDADE – ARTIGO 45.º LGT PRESCRIÇÃO – ARTIGO 48.º LGT
Refere-se ao direito de liquidar os
tributos, ou seja o prazo em que AT
dispõe para promover a liquidação
dos tributos, o qual se fixa
actualmente em 4 anos, excepto nos
casos especiais previstos nos n.º2 e 3
do artigo 45.º LGT(*)
Refere-se a todas as situações
suceptíveis de gerar dívidas
tributárias, mesmo aquelas em que
tenha ocorrido liquidação. O prazo é
de 8 anos.
(*) Artigo 45.º/2 LGT: refere-se a determinadas situações de aplicação de
métodos indirectos ou de erro evidenciado na declação do sujeito passivo, em
que o prazo de caducidade é de três anos; n.º3 refere-se aos casos em que se
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 84
trata de reporte de prejuízos, caso em que a caducidade dá-se no termo do
prazo para exercício do direito (aqui podendo ultrapassar os 4 anos do prazo
geral):
Nos termos do artigo 204.º/1 al. D) e ) tanto a prescrição como a caducidade são
fundamentos de oposição à execução.
CONTAGEM DOS PRAZOS NA CADUCIDADE:
• IMPOSTOS SOBRE O RENDIMENTO (IRS E IRC)/IMPOSTOS DE
OBRIGAÇÃO CONTINUADA: uma vez que o facto tributário só se
completa no final de cada ano fiscal, repetindo-se ou sucedendo-se no
tempo tantas vezes quanto os períodos em que decorra tal actividade, o
dies ad quem começa a contar-se a partir do termo do ano em que se
verificou o facto tributário – artigo 45.º/4 LGT.
• IMPOSTOS DE OBRIGAÇÃO ÚNICA: o prazo de caducidade começa
a contar-se a partir da data em que o facto tributário ocorreu. Excepção:
IVA, uma vez que, a+esar de conceptualmente configurar um imposto de
obrigação única, o legislador oridinário, ponto fim, da pior forma,
acrescente-se, a uma querela doutrinale jurisprudencial, determinou que
o prazo de caducidade começava a contar-se a partir do ínico do ano civil
seguinte àquele em que se verificou a exigibilidade do imposto.
� Para efeitos de caracterização dos impostos como de obrigação única
ou de caracter continuado, julgamos que deverá atender-se à natureza de
cada prestação tributária e não ao imposto na sua globalidade, bem como
analisar o caracter sucessivo ou individualizado da formação da
obrigação tributária.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 85
Ou seja, há situações que se podenriam reconduzir, em tese, a ambas as figuras,
embora acabem por ser consumidas pela caducidade, cujo prazo de decurso se
verifica inevitavelmente primeiro. Em ambos os institutos podem-se verificar
causas de interrupção e de suspensão (artigo 46.º e 49.º LGT). No artigo 46.º/1,
48.º/3 e 49.º/2 prevêm-se normas que visam penalizar a Administração
Tributária em caso de lentidão na decisão.
3. A DECLARAÇÃO DO CONTRIBUINTE E OS DEVERES DE
COOPERAÇÃO
Adoptou-se no direito tributário regras estabelecidas na lei comercial (obrigação
de manutenção dos registos contabilísticos, por exemplo), culminando no facto
de ser o próprio contribuinte quem declara ao fisco a qualidade e a quantidade
dos rendimentos que obteve, baseado em elementos de quem ele dispõe.
Presumem-se verdadeiras e de boa fé as declarações dos contribuintes
apresentadas nos termos previstos na lei, bem como os dados e apuramentos
inscritos na sua contabilidade ou escrita – artigo 75.º/1 LGT.
A presunção de validade das declarações dos contribuintes tem como limite o
cumprimento dos deveres de cooperação (exemplo: mero dever declarativo, por
parte do contribuinte; obrigatoriedade de manutenção, por parte deste, de uma
série de registos e elementos que, organizados da forma disposta pela lei,
comprovem os factos tributários declarados). No momento em que AT, no
decorrer das suas actividades de fiscalização, verificar que as regras subjacentes
à correcta fundamentação dos valores declarados não foram cumpridas, poderá
questionar esses mesmos valores – artigo 75.º/2 LGT (enuncia os factos que
permitem ilidir a presunção da validade das declarações do contribuinte, entre
os quais se destaca a ocorrência de omissões, erros ou inexactidões que
incidicem uma falsa declaração o afastamento significativo para menos dos seus
índices de rentabilidade face aos índices mediso do sector em que actua ou
especialmente no caso do IRS, o afastamento para menos face aos padroes de
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 86
rendimento que razoavelmente possam permitir as manifestações de foruna
evidenciadas pelo sujeito passivo.
É nestas situações em que é ponderável o recurso à avaliação indirecta e à
utilização de métodos indiciários. Uma vez que o contribuinte não cumpriu os
deveres de cooperação a que estava sujeito poder-se-à aplicar uma forma de
quantificação do rendimento colectável potencialmente menos justa e mais
insegura, para além da aplicação de sanções próprias (RGIT).
Deste modo, verifica-se que a violação de deveres de cooperação, por parte do
contribuinte, corresponde a um necessário alargamento dos poderes de
investigação da AT, sendo mesmo assim necessário que se verifiquem os
pressupostos previstos nos artigos 87.º e 88.º LGT, de forma a limitar o uso
indevido deste regime de quantificação, pressupostos esses que devem ser
enunciados pela AT na fundamentação do ato de aplicação dos métodos de
avaliação indirecta.
4. REGIME GERAL DA LGT
A LGT passou a designar a determinação da matéria colectável através de
índices por avaliação indirecta ou métodos indirectos, em vez da denominação
tradicional de métodos indiciários.
Tal deve-se ao facto de nem sempre os métodos indirectos serem indiciários
(exemplo: caso em que há recurso do critério da determinação indirecta dos
rendimentos a tributar, através da matéria tributável do ano ou anos mais
próximos que se encontre determinada pelo sujeito passivo em determinado
exercício, num exercício sucessivo.
Nos termos do artigo 90.º LGT, o legislador prevê a determinação da matéria
colectavel através de métodos indirectos não só através de idncies que outrora
estavem previstos no próprio CIRC mas também a critérios como o da
localização e dimensão da actividade exercida, o dos custos presumidos em
funçai das condições concretas do exercício da actividade, o da matéria
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 87
tributável do ano ou anos mais próximos que se encontre determinada pela AT
e do valor de mercado dos bens ou serviços tributados. O legislador quis
garantir que este tipo de tributação por índices não se afasta totalmente do lucro
real, fazendo apelo a mais elementos que permitam efectuar uma avaliação
indirecta, mais justa.
5. ÓNUS DA PROVA
Nos termos do artigo 74.º LGT, a regra geral quanto à distribuição do ónus da
prova, é que este dever racai sobre quem invocar os factos.
Para que a AT possa afastar a presunção de veracidade da declação do
contribuinte terá de provar a inexistência e insuficiência da contabilidade, a
ocultação de factos relevantes na mesma, as suas irregularidades, omissões e
discrepância com a realidade. Esta pesada exigência probatória resulta na
necessidade de contenção doas poderes da AT, tutelando assim os interesses
dos contribuintes numa matéria de natureza sensível.
O grau de fundamentação dos actos exigidos a nível de aplicação de métodos
indirectos é, obviamente, elevado, devendo essa fundamentação estar
concretuizada num acto processual que respeite as exigências legais e que
permita ao sujeito passivo, destinario do ato, conhecer de facto e de direito as
razoes que levaram a AT a afastar a veracidade dos elementos por si
declarados, sob pena de invalidade do ato tributário
Nos termos do artigo 100.º CPPT encontramos expressa uma dualidade de
princípios: por um lado, o dever de prova e de fundamentação atribuído à AT,
relativo à verificação e quantificação de um determiando facto tributário; por
outro lado, no caso de se demonstrar impossível a tributação com base na
declaração apresentada (ou não) pelo sujeito passivo e se proceder á avaliação
indirecta, a transferência para o contribuinte do ónus de provar que a AT errou
na determinação da matéria colectavel.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 88
Nos termos das alíneas c) e d) do artigo 87.º LGT a distribuição do ónus da
prova é mais equilibrada, nomeadamente no caso de a matéria tributável ser
significativamente inferior aquela que resultaria da aplicação dos métodos
indicadores técnico científicos ou se se afastar dos pradroes de rendimento que
razoavelmente possam permitir as manifestações de fortuna declaradas. Nestes
casos, cabe ao sujeito passivo apresentar na declaração razoes justificativas
desse afasamento; caso não o faça poderão ser-lhe aplicados, quase
automaticamente, os métodos indirectos é portanto sob o contribuinte que
impende o ónus de provar as razoes daquele devio, ab initio
6. A TUTELA DO CONTRIBUINTE
Quando a AT aplica fundamentadamente os métodos indiciários existe uma
inversão do ónus da prova: é ao contribuinte que cabe alegar e provar a
inaplicabilidade desses métodos através dos meios tutelares, administrativos e
judiciais previstos na lei. O meio de defesa de excelência contra a aplicação dos
métodos indirectos é o pedido de revisão da matéria colectavel (artigo 91.º
LGT).
Antes da entrada em vigor da LGT, o contribuinte sujeito à avaliação por
métodos indirectos não podia discutir a justeza da aplicação desse método de
avaliação na Comissão de Revisão, nem mesmo das chamadas correcções
técnicas efectuadas pela AT, remetendo-se esta discussão para a reclamação
graciosa ou para a impugnação judicial do ato. Na comissão de revisão apenas
podia discutir as questões relativas à quantificação da matéria tributável
resltante da aplicação dos métodos indirectos e nada mais.
Com a LGT a situação alterou-se: o legislador quis dar uma hipótese ao
contribuinte de poder discutir, de imediato e com efeito suspensivo da
liquidação, a legalidade da própria aplicação dos métodos indirectos, ao mesmo
tempo que se aprecia a questão da quantificação do lucro tributável dai
resultante (artigo 86.º/5. E 91.º/14 LGT). Esta previsão legal funcionou como
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 89
um decantador de litígios fazendo apenas chegar ao tribunal as situações mais
importantes e controversas.
O sujeito alvo da aplicação de avaliação por métodos indirectos poderá lançar
mao de outros meios tutelares: a reclamação graciosa e o recurso hierárquico,
em sede administrativa ou graciosa e a impugnação judicial.
7. A TRIBUTAÇÃO PELAS MANIFESTAÇÕES DE FORTUNA
A criação do controlo das alterações de fortuna dos contribuintes traduz uma
tentativa de modernização da AT, permitindo confrontar os contribuintes coma
informação que eles próprios lhe fornecem, ultrapassando-se o problema do
pesado ónus da prova, que impende sobre a AT na aplicação dos métodos
indirectos. Ao transferir-se para o contribuinte o dever de declarar os bens que
possu e de justificar as alterações significativas do seu património esta se a
possibilitar uma melhor fiscalização e a contribuir para o combate à fraude e
evasão fiscal.
Sempre que existam desvios injustificados as presunções do artigo 89.º LGT, o
contribuinte ficará sujeito à aplicação de métodos indirectos aos seus
rendimentos, sem maior necessidade de justificação. Obviamente que foram
salvaguardas pelo legislador as situações que podem gerar uma alteração
excepcional no património do sujeito passivo (heranças recebidas por exemplo).
A REVISÃO DOS ACTOS TRIBUTÁRIOS: ARTIGO 78.º DA LGT
O pedido de revisão dos actos tributários é uma revisão oficiosa. Pede-se à AT
que reveja o acto que pratiou. Pode ser pedida pela própria AT ou pelo
contribuinte.
Nos termos do disposto no artigo 78.º da LGT consagra-se o Pedido de Revisão
dos actos tributários que assenta no facto de:
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 90
• ser um Pedido “extraordinário”, dirigido à entidade que praticou o acto
(não é uma anulação);
• o “erro na autoliquidação” também pode ser alvo de revisão;
• Prazos de apresentação são mais alargados que as restantes vias
graciosas:
Quanto aos tipos e prazos de revisão é de salientar o seguinte:
• Por iniciativa do Sujeito Passivo: no prazo da “reclamação administrativa”
(15 dias? 120dias?), com fundamento em qualquer ilegalidade;
• Por iniciativa da Administração Tributária, no prazo de 4 anos ou a todo
o tempo se o tributo não tiver sido pago, com base em “erro dos
serviços”;
• Por autorização do dirigente máximo do serviço, no prazo de 3 anos a
contar do acto tributário, com fundamento em “injustiça grave ou
notória” – ver n.º 5 do art. 78º LGT.
• Independentemente de iniciativa, no prazo de 4 anos, com fundamento
em duplicação de colecta.
• A todo o tempo quando o imposto não foi pago.
Em regra, só apresenta pedido de revisão oficiosa quando já passaram todos os
outros prazos. A Professora Carla Castelo Trindade entende que este pedido
não devia existir, porque o Princípio da Segurança Jurídica deveria ser melhor
acautelado. O outro prazo de 4 anos que também conhecemos é o da
caducidade.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 91
Podemos salientar duas questões que foram discutidas na Jurisprudência do
STA:
• Questão polémica: efeito suspensivo com prestação de garantia
“sempre”? – artigo 169.º do CPPT não menciona a revisão. Ac. Recente
do STA afirma que não. Evolução no sentido de afastar o efeito
suspensivo, mesmo com prestação de garantia, a menos que a revisão
tenha sido apresentada no prazo da reclamação. Ou seja, tem sido
discutida a legalidade em sede de reclamação graciosa ou de recurso
hierárquico quando ao efeito suspensivo se manter ou não. No
entendimento do STA quando se apresenta pedido de revisão oficiosa no
prazo da reclamação graciosa existe suspensão.
• Questão pacífica: a revisão reabre a porta à via contenciosa; da decisão
de revisão oficiosa pode-se impugar, já existe efeito suspensivo. Isto é
extremamente esquizofrénico: nãi impugnou nem reclamou no tempo
certo, a AT vem dizer que não há fundamento para rever e, depois,
então, já se pode impugar.
O RECURSO HIERÁRQUICO
O recurso hierárquico é optivo. Os actos em matéria tributária não se reclama,
faz-se recurso. Os actos tributários são reclamáveis e depois recorríveis. É
digirido em regra ao Sr. Ministro das Finaças.
Nos termos do disposto no artigo 80.º da LGT e nos artigos 66.º a 67.º do CPPT
consagra-se o recurso hierárquico, sendo que este:
• Para além do “duplo grau de decisão”, é possível recorrer para o mais
alto superior hierárquico do autor do acto – Ministro, Secretário de
Estado, Director Geral dos Impostos;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 92
• Prazo de apresentação: interposto em 30 dias a contar da notificação do
acto - subida em 15 dias para o órgão decisor;
• Prazo especial de decisão: 60 dias – excepciona o artigo 57.º da LGT –
prazo especial de “indeferimento tácito”.
Quanto à natureza e efeitos do Recurso Hierárquico:
• Regra: efeito devolutivo e natureza facultativa – alteração dos efeitos
com entrada em vigor do CPTA (art. 51.º CPTA) – todas as decisões
passam a ser recorríveis contenciosamente (antes só os casos do artigo
76º/2 CPPT);
• Excepção: Recurso Hierárquico necessário, em alguns casos residuais;
• Relação com reclamação e recurso contencioso – artigo 76º/2 do CPPT –
sempre que o Recurso Hierárquico seja interposto da decisão de uma
Reclamação, o mesmo é sempre passível de impugnação judicial ou de
arbitragem.
Existe algum caso em que o Recurso Hierárquico seja necessário?
�
Nos termos do artigo 65.º/4 CPPT qual é o acto em matéria tributária? Há
benefícios fiscais que são automáticos e outros que estão sujeitos a
reconhecimento. É o reconhecimento do acto em matéria tributária. Há recurso
hierárquico necessário.
O prazo do indeferimento tácito do recurso hierárquico é de 60 dias: é um prazo
muito curto, pelo que o dito ónus do contribuinte não fica colocado em causa.
Não pode optar logo, mas o resultado acaba por ser o mesmo.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 93
Aulas de 14 e 21 de Novembro de 2013
ACTO TRIBUTÁRIO ACTO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA
- 120 DIAS PARA RECLAMAR
GRACIOSAMENTE (pedido de
revisão oficiosa): DA DECISÃO..
- RECURSO HIERARQUICO – 30
DIAS
- IMPUGNAÇÃO JUDICIAL – 3
MESES
PRAZO DE INDEFERIMENTO
TÁCITO DA RECLAMAÇÃO
GRACIOSA: 4 MESES
PRAZO DE INDEFERIMENTO
TÁCITO DO RECURSO
HIERÁRQUICO: 60 DIAS
- 30 DIAS PARA RECURSO
HIERÁRQUICO: DA DECISÃO..
- IMPUGNAÇÃO JUDICIAL – 3
MESES
O Acto Tributário com Prestação de
Garantia conduz à suspensão do
processo executivo.
- 30 DIAS PARA RECORRER
HIERARQUICAMENTE: DA
DECISÃO
- ACÇÃO ADMINISTRATIVA
ESPECIAL – 3 MESES
PRAZO DE INDEFERIMENTO
TÁCITO DO RECURSO
HIERÁRQUICO: 60 DIAS
- 3 MESES PARA ACÇÃO
ADMINISTRATIVA ESPECIAL
PROCESSO TRIBUTÁRIO
Maria Luísa Lobo – 2013/2014
PROCESSO TRIBUTÁRIO
2013/2014
MESTRADO FORENSE
Page 94
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 95
PROFESSORA SERENA CABRITA NETO – OS MEIOS TUTELARES
ADMINISTRATIVOS
1. O PEDIDO DE REVISÃO DA MATÉRIA COLECTÁVEL E O PERITO
INDEPENDENTE
O PEDIDO DE REVISÃO
O meio específico de reacção por parte do contribuinte à aplicação dos métodos
de avaliação indirecta é o pedido de revisão da matéria colectável – artigo 91.º e
seguintes da LGT. A especidade deste procedimento reside (1) no facto de
aquele pedido ser dos poucos meios tutelares com efeito suspensivo imediato
da liquidação do imposto, em que o princípio solve et repete é
excepcionalmente afastado e (2) estamos face a um procedimento de caracter
mais informal – consubstanciado num encontro entre o perioto nomeado pelo
contribuinte e o perito da AT, em que se visa essencialmente a obtenção de um
acordo entre ambos, mediante o qual se fixa a quantia a liquidar (artigo 92.º
LGT).
O legislador conferiu poderes à AT para que esta possa ceder, dentro dos
limites da actuação pautada pelo princípio da legalidade, na sua posição, com
vista a um acordo, cedência essa que acaabra por ser financeiramente inócua
(ou mesmo benéfica) face a económica gerada pela finalização rápida e eficaz do
conflito.
Quanto às restantes questões de direito, não se confere ao contribuinte a
possibilidade de as contestar mediante este tipo de reclamação, por ser entender
que a verdadeira essência da mesma reside nas questões de quantificação da
matéria colectavel, sendo qye a nível da matéria de direito apenas interessara
discutir, por uma questão prejudicial, se se verificaram ou não os pressupostos
de aplicação dos métodos indirectos. Ficaram igualmente apartadas da
aplicação deste regime as chamadas correcçoes meramente aritméticas ou
correcçoes técnicas da matéria tributável que sejam decorrentes quer de
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 96
imposição legal quer aquelas que possam ser objecto de recurso hierárquico
com efeito suspensivo da liquidação.
Em todos os casos mencionados que ficam apartados do pedido de revisão, o
sujeito passivo poderá lançar mao dos restantes meios tutelares (com maior
relevo para a reclamação graciosa) por forma a promover a defesa nesses
pontos.
O PERITO INDEPENDENTE
O perito independente participara na reunião a ocorrer entre os vogais do
contribuinte e da AT, podendo ser requerido quer pelo contribuinte quer pela
AT.
A ocorrer a intervenção do perito independente, a decisão que vier a ser
proferida pela AT devera fundamentar a adesão ou rejeição, ainda que parcial,
ao parecer do perito. Ou seja, a intervenção do perito independente pode
representar uma contribuição valida na resolução de questões de maior
complexidade, ainda que a sua intervenção não esteja confinada as questões
mais complexas e representa uma acréscimo as garantias de imparcialidade
(perito como espécie de juiz) na apreciação das questões controvertidas. A
intervenção do perito independente vem reforçar o ónus de fundamentação por
parte do órgão decisor da AT, ónus esse que funciona como uma garantia
acrescida para o contribuinte.
No caso de o parecer deste ser no mesmo sentido daquele proferido pelo perito
do contribuinte, e se a AT decidir em sentido diferente, a reclamação ou a
impugnação subsequentes terão igualmente efeito suspensivo – existe uma
presunção de razão ao contribuinte.
O legislador não previu qual a solução a dar ao caso em que o perito
independente dê razão parcial a ambas as partes (exemplo: concordar com a
aplicação de métodos indirectos, mas não concordar com a aplicação dos
critérios escolhidos pela AT para quantificar a matéria colectável presumida.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 97
A falta do perito do contribuinte à reunião entre peritos se não for justificada ou
for reiterada vale como desistência da reclamação apresentada – artigo 91.º/6
LGT (desigualdade entre contribuinte e AT). A falta de perito independente não
obsta à realização da reunião podendo o mesmo apresentar as suas observações
no prazo de 5 dias a seguir à reunião – artigo 91.º/7.
Este procedimento não se encontra sujeito a encargos para o contribuinte,
mesmo em caso de indeferimento, a menos que se veriquem cumulativamente
as circunstancias previstas no artigo 91.º/9 LGT, caso em que podra ser
aplicado ao sujeito passivo um agravamento ate cinco por cento da colecta
reclamada, o qual sera exigido a titulo de custas.
2. A REVISÃO DOS ACTOS TRIBUTÁRIOS
Este meio processual, consagrado no artigo 78.º LGT, destina-se apenas à
revisão dos actos tributários stricto sensu, ou seja, aqueles referentes à
liquidação de determinado tributo e não a outros actos da AT. Este facto, aliado
ao facto de a reclamação graciosa consumir grande parte dos fundamentos para
a revisão, acaba por retringir fortemente o seu âmbito de utilização.
Em determinados casos, a reclamação assume um caracter obrigatório, razão
pela qual a revisão é muitas vezes preterida em favor daquela.
REVISÃO RECLAMAÇÃO
Pretende-se que a AT reveja a sua
actuação, corrigindo um erro ou uma
injustiça manifesta e notória
Visa-se obter a anulação de um
determinado ato com base na sua
ilegalidade, a ordenar pelo órgão
hierarquicamente superior ao órgão
que praticou o ato inicial, baseado em
fundamentos correctos determinados
na lei.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 98
Este instituto determina que os actos de liquidação poderão ser revistos pela
entidade que os praticou, a pedido do sujeito passivo, no prazo estipulado para
a reclamação graciosa ou por inciativa da AT, no prazo de 4 anos a contar da
liquidação ou a todo o tempo se o tributo ainda não tiver sido pago, com base
em erro imputável aos serviços. Existe também a faculdade de revisão do ato no
prazo de 3 anos com fundamento em injustiça grave ou notória.
Como pedido dirigido ao próprio órgão que praticou o ato, não podemos
considerar este mecanismo como um recurso, uma vez que a sua apreciação não
é feita por entidade hierarquicamente superior ou diversa daquela que tiver
praticado o ato. No entando, este mecanismo deverá ser a solução preferencial
sempre que estejamos perante a ocorrência de erros evidentes em que é dada
uma nova oportunidade à Administração para os corrigir ou quando a situação
não permita ao contribuinte recorrer à reclamação. Esta possibilidade de
revisão é importante para AT, uma vez que lhe permite corrigir erros e
injustiças automaticamente, sem necessitar de requerimentos ou procedimentos
específicos – é uma porta aberta para a reparação rápida de erros cometidos.
Este prazo de 4 anos, aliado ao prazo de caducidade para a liquidação e ao
parazo para intentar acção residual para o reconhecimento de um direito ou
interesse em matéria tributaria é o corolário da fixação do quadriénio como o
prazo a partir do qual a situação tributaria materual do contribuinte se
consolida definitivamente, sem mais possibilidade de alteração.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 99
3. O RECURSO HIERÁRQUICO
Semelhante ao que sucede no direito administrativo, no direito tributário
consagrou-se a possibilidade de o contribuinte recorrer de todas as decisões da
AT para o mais elevado alto superor hierárquico do autor do ato, desde que o
recurso seja interposto no prazo de 30 dias apos a notificação do ato (artigo 66.º
CPPT e 80.º da LGT). Como contraposto da recorribilidade dos actos tributários,
o legislador consagrou o princípio do duplo frau de decisão (artigo 47.º CPPT),
o qual veio restringir apenas a dois órgãos da mesma administração a
apreciação do ato.
O recurso hierárquico tem natureza meramente facultativa e o seu efeito é
devolutivo ou seja não suspende a execução da decisão, à excepção dos casos
em que a lei especialmente atribui efeito suspensivo. Mas mesmo nestes casos o
CPPT limita a tribuiçao do efeito suspensivo somente à parte da decisão
recorrida e não a todo o ato, confirmando o caracter excepcional da atribuição
do efeito suspensivo aos recursos em sede de direito tributário.
A decisão do recurso hierárquico tem de ser proferida no prazo de 60 dias –
artigo 66.º/5 CPPT – e não no prazo estipulado para a generalidade dos actos
de 4 meses (artigo 57.º/1 LGT). Deste modo, entende-se que estamos face a
uma clara derrogação do prazo geral para a formação da presunção de
indeferimento tácito, a qual, neste caso, ocorrerá após os 60 dias. Note-se que o
prazo da decisão de 60 dias só começa a contar a partir da data da remessa do
processo para o órgão decisor (artigo 175.º/1 CPA, aplicável por remissão da
alínea d) do n.º2 CPPT). Assim sendo é forçoso admitir que o contribuinte
recorrente possa requerer que lhe seja facultada informação sobe a data de
remessa do processo, nos termos do artigo 67.º LGT, que consagra o direito à
informação, por parte do contribuinte, sobre a fase em que se encontra o
procedimento e o tempo previsível para a sua conclusão.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 100
A regra geral quanto a este tipo de recursos é a de que o mesmo é facultativo (e
com efeito meramente devolutivo (artigo 67.º CPPT e 80.º LGT), ou seja as
deciões proferidas em sede de apreciação destes recursos – quando meramente
confirmativas da decisão anterior – sendo posteriores do acto final do
procedimento (o acto definidor da situação jurídico tributária) não serão em
regra contenciosamente impugnáveis, o que torna aconselhável a sua utilização,
salvo quando expressamente a lei disponha de forma diversa.
O legislador tem vindo a suprimir progressivamente os casos de recurso
hierárquico obrigatório, com efeito suspensivo do acto recorrido. Significa esta
obrigatoriedade que o contribuinte apenas poderá recorrer aos tribunais, para
obter a sindicância de determinados actos da AT, após ter apresentado recurso
para o mais elevado superior hierarquico do órgão que pratico o acto.
Nestes casos, especificamente previstos na lei, da decisao que indeferisse,
expressamente, o recurso hierarquico, cabia ate à reforma do contencioso
administrativo recurso contencioso de anulação dirigido ao tribunal tributario
de 1.ª instância competente, no prazo de 60 dias. No caso de indeferimento
tacito o prazo era de 1 ano.
Questão diversa são os casos (residuais) em que se prevê a possibilidade de
dedução de recurso hierárquico sem se conferir ao mesmo qualquer efeito
suspensivo, antes remetendo para as regras gerais do CPPT. Segundo o
Conselheiro Jorge Lopes de Sousa, a remissão para as regras do CPPT
determina o caracter facultativo destes recursos hierarquicos, pelo que a decisao
que confirme a decisao proferida não será contenciosamente impugnável, em
obediência ao artigo 80.º LGT.
Nos casos em que o recurso hierárquico é meramente facultativo e a reclamação
graciosa é obrigatória, ainda que o sujeito passivo opte por interpor o primeiro
em detrimento da segunda, perderá a possibilidade de recorrer judicialmente
de uma decisão desfavorável, uma vez que é condição necessária da
impugnação judicial a prévia reclamação do acto.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 101
Nos termos do artigo 76.º CPPT prevê-se expressamente a recorribilidade
judicial da decisão que venha a incidir sobre o indeferimento do recurso
hierarquico deduzido, por sua vez, de uma reclamação graciosa. Nos termos do
n.º2, a decisão que vier a recair sobre o recurso hierárquico é, segundo as regras
ainda em vigor, passível de recurso contencioso (actualmente: acção
administrativa especial), a menos que já tenha sido deduzida impugnação
judicial com o mesmo fundamento. É uma solução excepcional que possibilita a
abertura da via judicial da decisão que vier a recair sobre o recurso hierarquico,
ainda que o mesmo confirme a decisão incidente sobre a reclamação graciosa, e
sem que aquele recurso deixe de assumir um caracter facultativo. O legislador
quis possibilitar que a decisão emanada do recurso hierarquico fosse recorrivel.
Quanto ao meio processual mais adequado nos casos em que esteja em causa a
apreciação a legalidade de um acto de liquidação, isto, não obstante o legislador
se referir expressamente, no n.º2 do artigo 96.º CPPT, o qual se estabelece que,
sempre que esteja em causa a aprecriação de um acto de de liquidação, o meio
processual mais adequado é a impugnação judicial. Na opiniao da autora, o
meio processual adequado será a impugnação judicial, sempre que a
reclamação graciosa e o recurso hierarquico subsequente versem sobre um acto
de liquidação.
Uma das limitações do recurso hierarquico assenta em só se poder recorrer
quando exista uma cadeira hierárquica ou quando o acto não tenha sido
praticado pelo órgão que está no topo da hierarquia. Contudo, também tem as
suas vantagens: por exemplo, de uma decisão que indefira a entrega de uma
declaração ou que calcule erroneamente o montante dos pagamentos por conta
a efectuar por um contribuinte, o contribuinte poderá recorrer para o Chefe da
Repartição das Finanças, requerendo a revisão do acto.
Em suma, toda e qualquer decisão tomada por um órgão da AT, em sede de
liquidação, embora deste acto tributário não caiba recurso hierárquico, mas sim
reclamação graciosa ou outro, é susceptivel de recurso hierárquico.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 102
Toda e qualquer decisão emanada por um órgão da AT é passível de recurso
hierarquico, desde que seja tomada por um órgão desta, colocando-se a questão
de saber se a decisão resultante do pedido de revisão da matéria colectável é
uma decisão emanada de um orgão da administração: no plano teórico e de
acordo com a LGT:
• no caso de não existir acordo, é ao órgão da AT competente para a
fixação da matéria tributável que cabe decidir, tendo em conta o parecer
de ambos os peritos, pelo que à partida nada parece obstar ao recurso
hierarquico dessa nova decisão;
• no caso de existir acordo, não se coloca sequer o problema já que, nesse
caso, o recurso por parte do contribuinte não tem cabimento (seria venire
contra factum proprium)
4. RECLAMAÇÃO GRACIOSA
FUNDAMENTOS
Nos termos do artigo 68.º e seguintes CPPT é facultada ao contribuinte a
possibilidade de requerer a anulação total ou parcial de qualquer acto
tributário, através de reclamação graciosa dirigida ao órgão periférico regional
da AT, reclamação que pode ter qualquer dos fundamentos previstos para a
impugnação judicial. A diferença entre esta e a impugnação judicial é que a
primeira é dirigida a um órgão da AT e a segunda aos tribunais.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 103
RECLAMAÇÃO GRACIOSA RECURSO HIERÁRQUICO
Pretende-se que o órgão periférico
regional, em regra o Director Distrital
das Finanças, anule determinado acto
tributário, desde que o contribuinte
invoque os fundamentos previstos no
artigo 99.º CPPT
Visa-se apenas que a decisão seja
revista pelo superior hierárquico do
agente que praticou o acto, que o
confirmará ou revogará, não existindo
nenhuma limitalºao quando aos
fundamentos a apresentar. Isto é, no
fundo prende-se com uma
confirmação (ou não) da decisão pelo
superior hierárquico de quem
praticou o acto, conferindo-se uma
nova hipotese à Administração
Tributária, para que esta reveja ou
confirme determinada decisão.
Nos termos do artigo 68.º/2 CPPT não pode ser deduzida reclamação graciosa
quando tiver sido proposta impugnação judicial com os mesmos fundamentos.
EFEITOS E PRAZOS
Vigora a regra da inexistência do efeito suspensivo da reclamação graciosa, a
menos que o contribuinte preste garantia adequada, situação que é a regra para
os recursos em sede de processo tributário.
Nos termos do artigo 70.º/1, o prazo de reclamação graciosa é de 120 dias
contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º/1, ambos do CPPT, mas é
necessário aindar tomar em consideração a norma do artigo 70.º/4 CPPT.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 104
DEFERIMENTO E INDEFERIMENTO
A AT está vinculada a emanar uma decisão pronunciando-se sobre os pedidos
formulados pelos contribuintes – princípio da decisão (artigo 56.º LGT).
Para impedir que o incumprimento, por parte da AT, do seu dever de decidir
com celeridade em todos os casos, obstasse indefinidamente ao controlo judicial
das suas decisões, deu-se a possibilidade de os cidadãos poderem, findo
determinado prazo, invocar um indeferimento (tácito) presumido, para efeitos
de contagem do prazo para impugnar o acto. A partir desse criado
indeferimento inicia-se a contagem do prazo para impugnar judicialmente a
decisão.
• Artigo 102.º/1 al. d) – a impugnação judicial poderá ser proposta no
prazo de 3 meses a contar da formação da presunção de indeferimento
tácito da decisão da reclamação graciosa ou da decisão de recurso
hierárquico
• Artigo 102.º/2 – quando existir indeferimento expresso da reclamação
graciosa, o prazo de impugnação será de 15 dias após a notificação.
NOTA: A Professora Carla Castelo Trindade entende que esta norma
também se pode extender aos casos de indeferimento expresso do
recurso hierárquico!
Note-se contudo que ainda que a AT profira a decisão após o decurso da
presunção de indeferimento tácito, da qual o contribuinte não tenha recorrido,
este tem a possibilidade de impugnar judicialmente, colocando-se a questão de
saber em que prazo: se tiver ocorrido indeferimento epresso após o decurso da
formação da presunção de indeferimento tácito, o contribuinte dispõe e 15 dias
para impugnar tal indeferimento – aplica-se o artigo 102.º/2 CPPT.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 105
V – A FASE JUDICIAL DO PROCESSO TRIBUTÁRIO
A IMPUGNAÇÃO JUDICIAL
No Direito Administrativo há o Princípio da Reformatio in Pejus, ou seja da
reclamação não se pode obter uma responda ainda mais prejudicial do que a
resposta que já foi dada. No processo tributário este princípio não existe.
A Impugnação Judicial, enquanto fase judicial processual, encontra-se
consagrada no artigo 97.º CPPT. A menos que exista inquirição de testemunhas
não há fase oral. O Processo Judicial Tributário compreende:
• Impugnação judicial de liquidação de tributos, fixação matéria tributável,
do indeferimento (expresso ou tácito) de reclamações graciosas, de actos
administrativos em matéria tributária que comportem a apreciação da
legalidade da liquidação, do agravamento à colecta em virtude de
reclamação ou recurso infundado e de actos de fixação de valores
patrimoniais;
• Impugnação de providências cautelares aplicadas pela Administração
Tributária independentemente de serem ou não judiciais; tanto a AT
como o contribuinte podem interpor providências cautelares um contra o
outro, mas têm tramitações e exigências diferentes;
• Acções para reconhecimento de um direito ou interesse em matéria
tributária; são acções residuais, sendo a impugnação judicial a magna
carta;
• Meios processuais acessórios como a consulta documentos, a passagem
certidões, a produção antecipada de prova e a execução de julgados;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 106
• Intimação para um comportamento; só serva para a passagem de
certidões, de resto trata-se da extensão do Princípio da decisão, portanto,
a AT não pode ser obrigada por um juíz (acções residuais).
• Reclamação judicial contra actos ilegais;
• Oposição em sede de Execução Fiscal – questão de exigibilidade; não se
discute a legalidade (o meio deve ser a impugnação judicial e sim a sua
exigibilidade). Um imposto que seja pago ainda que já tenha decorrido o
prazo de prescrição já não pode vir a ser discutido (direito a reembolso),
porque se trata de uma obrigação natural. Ou seja, a divida já não seria
exigivel, mas como é legal torna-se uma obrigação natural. Contudo, se a
liquidação for emitida depois do prazo devido tal é ilegal e deste modo o
meio adequado seria a impugnação judicial. Se for uma questão de
caducidade, se for da notificação (questão de eficácia) discute-se na
oposição (porque é uma questão de exigibilidade), se for da liquidação e
consequente também da notificação discute-se em impugnação judicial (é
uma questão de ilegalidade).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 107
OPOSIÇÃO
Dívida não é oponível ao
contribuinte (questão de
inexigibilidade)
IMPUGNAÇÃO JUDICIAL
Dívida ilegal
Prescrição: trata da inexigibilidade da
dívida que ainda é legal (oposição à
execução tributária)
Caducidade do direito à liquidação
Liquidação emitida dentro do prazo
de caducidade, mas não foi notificado
(notificação enquanto condição de
eficácia): inoponibilidade
Liquidação emitida fora do prazo de
caducidade e notificada fora desse
prazo: ilegalidade
(*) se se pagar uma dívida ilegal
(emitida fora do prazo de caducidade)
não se pode pedir o reembolso porque
é uma obrigação natural: a dívida
exigivel não é reembolsável ≠ dívida
que não era exigível (dívida ilegal)
que é reembolsável
• “Recurso Contencioso” – actualmente (desde 2004) Acção
Administrativa Especial: de actos em matéria tributária que não
comportem a apreciação da legalidade da liquidação - CPTA
A Impugnação Judicial é o meio judicial tributário ‘’por excelência’’, e nos
termos do disposto no artigo 99.º CPPT, visa a anulação de actos tributários.
Quanto à questão de saber quais são os fundamentos, a norma em análise diz
expressamente ‘’Qualquer ilegalidade’’, designadamente:
• Errónea qualificação e quantificação de rendimentos, lucros, valores
patrimoniais e outros factos tributários;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 108
• Incompetência;
• Ausência ou vício da fundamentação;
• Preterição de outras formalidades legais
Nos termos do disposto no artigo 102.º CPPT consagra-se a matéria dos prazos,
sendo estes de:
• 90 dias (contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º/1 CPPT)
• 15 dias (contados a partir dos factos previstos no artigo 102.º/2 CPPT)
A Impugnação Judicial possui ainda como características:
• Possibilidade limitada de cumulação de pedidos e de coligação de
impugnantes, sempre dependente da identidade de tributo, dos
fundamentos de facto e de direito e do tribunal competente (Artigo 104.º
do CPPT);
• Possibilidade de apensação, sob autorização do juiz e verificadas as
condições de cumulação (Artigo 105.º do CPPT);
• A petição é dirigida ao Juiz do Tribunal Tributário e é apresentada: no
Tribunal ou no Serviço de Finanças – remessa a Tribunal em 5 dias
(Artigo 103.º do CPPT); é por este motivo (poder ser apresentada ao
Serviço de Finanças) que ainda se considera a petição inicial como um
prazo procedimental.
• Tem efeito suspensivo do processo de execução fiscal mediante a
apresentação de garantia em 10 dias, após notificação do tribunal (Artigo
103.º, n.º 4 do CPPT);
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 109
• A petição deve ter forma articulada, deve indicar o valor do processo e a
prova a produzir – Artigo 113.º - meios gerais de prova – Artigo 114.º e ss
(Artigo 108.º do CPPT);
• A contestação da Fazenda Pública deverá ser apresentada em 90 dias
(sem efeito cominatório) – remessa em conjunto com o processo
Administrativo – Artigo 110.º e 111.º do CPPT; o representante da
fazenda pública é o advogado desta (trabalha para o Estado, na Expo).
Actualmente, dentro dos primeiros 30 dias dos 90 dias, a AT pode alterar
o objecto ou o pedido do acto tributário. Em regra a AT contesta e o Juíz
dispensa a audição de testemunhas.,
• Possibilidade de revogação do acto tributário até ao termo do prazo de
Contestação (Artigo 112.º do CPPT);
Atendendo ao disposto nos artigos 113.º a 122.º, todos no CPPT, depois da
Contestação e eventual resposta às excepções suscitadas pela Fazenda Pública
ou pelo MP, o Juiz conhece logo o pedido (cfr. Artigo 113.º/2 e n.º 1) ou segue-
se a fase da Inquirição de Testemunhas / produção de prova (não há lugar a
“julgamento” em audiência). Em seguida, as partes são notificadas para alegar
de Direito, por escrito em prazo não superior a 30 dias (Artigo 120.º do CPPT).
A fase seguinte é a prolação da sentença (Artigo 122.º do CPPT).
Seguido de uma reclamação graciosa, tendo um recurso hierárquico indeferido,
o prazo é de 30 dias. O legislador não pensou no Recurso Hierárquico enquanto
meio gracioso a seguir à Reclamação Graciosa. Quando ao efeito suspensivo do
processo enquanto se discute a legdalidade da divida o legislador nada di em
relação ao Recurso Hierárquico. Mas tem se entendido que o objectivo é o
mesmo, portanto, deve manter-se o efeito suspensivo. O indeferimento
expresso da reclamação graciosa ou do recurso hierárquico são prazos
diferentes. Para a Professora Carla Castelo Trindade, pelo sim e pelo não,
entrega-se dentro do prazo de 15 dias os dois. Quem defende que tem os
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 110
mesmos efeitos que a reclamação graciosa, ou seja o efeito suspensivo, tem de
defender que o prazo é de 15 dias e não de 3 meses, a fim de se ser coerente.
A ACÇÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL
A Acção Administrativa Especial encontra-se consagrada no artigo 97.º/2 CPPT
e no artigo 50.º CPTA, sendo o meio judicial tributário ‘’subsidiário’’. Visa a
anulação do acto em matéria tributária, ou seja é um meio tutelar utilizado em
todos os casos não incluídos noutros meios e sempre que não esteja em causa a
‘’legalidade do acto de liquidação’’.
Exame Oral: a acção administrativa especial tem efeito suspensivo? Não. O que
aqui se discute é a (i)legalidade do acto em matéria tributária, que directa ou
indirectamente não dá lugar a imposto a pagar. Teria efeito suspensivo para
que? Há despacho saneador.
A Acção Administrativa Especial possui como características:
• A interpor em 3 meses (não são 90 dias!) a contar a partir da
notificação/publicação do acto (Artigo 58.º do CPTA);
• Tem efeito devolutivo do processo… a menos que se pudesse prestar
garantia – se a questão for de quantificação;
• Segue o Processo Judicial Administrativo: contém despacho saneador
(facultativo); aplicação dos meios gerais de prova;
• A apresentação da petição inicial é junto do Tribunal e não do Serviço de
Finanças (Artigo 78.º do CPTA);
• Forma articulada e obrigatoriedade de identificação do Acto e da
Entidade que o praticou;
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 111
• Contestação da “Entidade Requerida” em 30 dias (Artigo 81.º do CPTA).
A ACÇÃO PARA RECONHECIMENTO DE UM DIREITO
A Professora Carla Castelo Trindade acha que esta acção devia ser eliminada.
Atendendo ao disposto no artigo 145.º CPPT, a Acção para Reconhecimento de
um Direito corresponde à “acção declarativa de simples apreciação”, em
matéria tributária, ou seja declara a existência de direitos ouinteresses, mas não
promove a condenação da Administração tributária.
O seu prazo de interposição é de 4 anos após a constituição do direito ou
conhecimento da lesão.
A Acção para Reconhecimento de um Direito segue a tramitação do processo de
impugnação.
A Acção para Reconhecimento de um Direito tem uma natureza
subsidiária/complementar, isto é, sempre que a acção se mostre ser o “meio
mais adequado para assegurar a tutela plena, eficaz e efectiva” (jurisprudência STA
tem esvaziado a sua utilidada).
A INTIMAÇÃO PARA UM COMPORTAMENTO
Atendendo ao disposto no artigo 147.º CPPT, a Intimação para um
Comportamento tem o seu âmbito de aplicação sempre que a Administração
tributária esteja em omissão da prática de qualquer prestação jurídica que lese o
direito ou interesse legítimo do particular, o mesmo pode requerer a sua
prática. É aplicável “a todo o tempo” e a Administração tributária responde em
15 dias, com posterior decisão sumária do Juiz; é uma acção urgente.
É o meio aplicável sempre que a acção se mostre ser o “meio mais adequado para
assegurar a tutela plena, eficaz e efectiva” (a jurisprudência neste caso tem sido
benevolente na aplicação desta acção). Deste modo, não é portanto o meio
adequado para executar decisões transitadas, nem para obter certidões, consulta
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 112
de documentos, nem tão pouco, para obter uma decisão da Administração
Tributária (artigos 56.º e 57.º LGT).
A doutrina tem defendido que quando temos um indeferimento tácito e
precisamos de uma resposta, esta não é o meio adequado. A melhor forma será
esperar: porque não há um direito para que possa intentar acção para
reconhecimento de um direito. Para a execução de sentenças há uma acção
especial. No CPTA existe uma acção semelhante: condenação da AT à prática
do acto devido.
OS MEIOS DE ACÇÃO CAUTELAR
Os Meios de Acção Cautelar (da Administração fora dos Tribunais) encontram-
se regulados nos termos do disposto nos artigos 135.º e seguintes CPPT).
Quando adoptados pela Administração fora dos Tribunais (providências
administrativas) conduzem a que a impugnação pelo interessado seja realizada
em 15 dias após a sua realização/conhecimento, nos termos do disposto no
artigo 144.º CPPT.
Além de ser um processo de caracter urgente, é necessário o ónus de invocar as
razões de facto e de direito que justificam a anulação da providência. Não
possui efeito suspensivo: efeito ‘’sui generis’’ de abstenção de prática de actos
que possam comprometer o processo.
Por outro lado, quando adoptados pela Administração fora dos tribunais
(providências administrativas), mas se a providência se referir a uma apreensão
de bens, tal implica que a impugnação seja realizada pelo proprietário ou
detentor dos bens aprendidos a contar da notificação dos actos de apreensão.
Continua a ser um processo de caracter urgente e não tem efeito suspensivo
(não está expressamente previsto na lei).
Quando ao Arresto e ao Arrolamento, é igualmente um processo de caracter
urgente, recaindo o ónus de alegação de fundado receio de dissipação na
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 113
Administração Tributária. Note-se que tanto o Arresto como o Arrolamento
podem ser decretados quanto a responsáveis subsidiários. A impugnação é feita
pelos interessados, nos termos do CPC.
Os meios de acção cautelar, por parte dos particulares, encontram-se regulados
nos termos do artigo 147.º/6 CPPT e do artigo 112.º e seguintes do CPTA.
Quando forem adoptados pelos particulares contra a Administração, fora dos
Tribunais), ocorre a aplicação das regras da Intimação para um Comportamento
às providências cautelares (artigo 147.º/6 CPPT). O ónus de alegação do
fundado receio de uma lesão pertence ao contribuinte. É uma providência
cautelar inomicada contra actos da Administração em geral, tendo legitimidade
os cidadãos com legitimidade para intentar uma acção principal impugnatória
(artigo 112.º e seguintes CPTA).
Em suma..
• Providências Cautelares Administrativas: adoptadas pela AT fora dos
tribuinais. No direito tributário há o princípio do primeiro paga-se e
depois discute-se. Aqui o que é relevante é o pagamento de uma dívida
tributária que, para a AT é legal. Caso o devido não seja paso, a AT torna
a divida exequivel e executável tendo apenas que mitir a divida e
instaurar um processo executivo tributário. Este processo executivo é
atipico. Quem executa é o Serviço de Finanças. Não há intervenção
judicial como seria normal. O sujeiro passivo pode impugnar as
providencias cautelares administrativas – caracter urgente. Tem de
provar que nao há razões de facto e de direito para o decretamento desta
providencia (mas não deve ser a AT a provar isto?). Esquizofrénico: AT
emite uma providência para proteger o seu direito. O artigo 143.º e 144.º
CPPT tratam de coisas diversas: proviencias cautelares em que ha lugar à
apreensão de bens – de caracter urgente sem efeito suspensivo. Mais
gravosas.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 114
• Providências Cautelares dos Particulares contra a AT: seguem as regras
da intimação para um comportamento. Ao contrário da AT temos de
provar o fundado receio do conteibuinte. A Professora Carla Castelo
Trindade acha que na lei, a existir, o que faz sentido é o princípio do in
dubio pro contribuinte. A CRP preve a tipicidade do imposto. Impede-se
a interpretação analógica. O princípio do primeiro paga-se e depois
discute-se é diferente do princípio do in dubio pro fisco.
OS MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS
Os meios processuais acessórios encontram-se regulados nos termos do artigo
146.º a 146.º-D do CPPT.
• MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS GERAIS (artigo 146.º CPPT)
� A Intimação para passagem de certidão/consulta de processos;
� Produção Antecipada de Prova;
� Execução de Julgados (actualmente especificamente regulado no
CPTA).
�
Podem ser intentadas a todo o tempo; remissão para as regras do CPTA.
A Impugnação pelos interessados é regulada nos termos do CPC.
• MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS ESPECIAIS (artigo 146.º-A a D
CPPT)
� Tramitação do processo de derrogação do sigilo bancário, quer na
óptica do recurso interposto pelo contribuinte quer na óptica do
pedido de autorização da Administração Tributária;
� Tramitação do Processo de Tributação por Manifestação de
Fortuna.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 115
OS RECURSOS JURISDICIONAIS
Os Recursos Jurisdicionais encontram-se regulados nos termos do disposto nos
artigos 279.º e seguintes do CPPT, existindo os seguintes tipos dos mesmos:
• Das decisões de 1ª instância CABE RECURSO para um dos Tribunais
Centrais Administrativos (sul ou norte), sentenças e/ou despachos
interlocutórios;
• Das decisões de 1ª instância CABE RECURSO per saltum, para o STA se a
matéria for só de direito e se se aceitar todos os factos fixados pelo juíz
em 1.ª instância. Há transito em julgado da sentença de 1.ª Instância
quando já não é recorrível. Torna-se recorrível no prazo de 10 dias após a
notificação às duas partes. Após a apresentação de recurso, o tribunal
(TCA ou STA) aceita ou não. Se aceitar notificar para, no prazo de 15
dias, apresentar notificação à parte que está a recorrer. E depois notifica a
parte recorrida. Todos os prazos de impugnação judicial são reduzidos a
metade nos recursos.
• Das decisões do Tribunal Central Administrativos(sul ou norte), em 2ª
instância (nos termos do ETAF, o TCA pode decidir recursos em 1ª
instância, em certas situações), CABE RECURSO para o STA, com base
em oposição de Acórdãos/Julgados:
i. Começa-se do mais recente para o mais antigo;
ii. Não pode haver um acórdão que o contradiga (TCA diz o que
que, mas o STA revogou-o);
iii. Acórdão tem de ser de um tribunal superior
O STA só conhece de questões de Direito.
Quando exista oposição dos julgados e esteja perante uma causa de valor
inferior a ¼ da alçada civil ou esteja no TCA e queira recorrer para o STA é
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 116
necessário apresentar os acórdãos – fundamentos. Após o recebimento e
aceitação – prazo de 8 dias para oposição. Se for aceite existem novas alegações.
Se não – recurso para Conferência no TCA.
Os Recursos Juridicionais possuem como características:
• As decisões em que o valor da causa não ultrapasse ¼ das alçadas cíveis
são irrecorríveis – excepto no caso de oposição de julgados (Artigo 280.º,
n.ºs 4 e 5 do CPPT);
• São processados como os “agravos em processo civil” – revogação do
agravo no CPC...aplica-se a Apelação (Artigo 281.º do CPPT).
• A interposição do recurso é feita em 10 dias;
• A motivação apresentada em 15 dias a contar da aceitação, excepto nos
processos urgentes (motiv. imediata) e redução dos prazos para metade
(excepto o da interposição do recurso) (Artigo 282.º e 283.º).
Nos termos do disposto no artigo 284.º CPPT, a opsoição de Julgados efectua-se
nos seguintes termos:
• O Requerimento inicial, individualizando os “acórdãos fundamento” da
oposição e local da publicação – um por cada tema em discussão (STA);
• Em 8 dias após o recebimento: 1ºas alegações demonstrativas da
oposição;
• Se for aceite a oposição – 2ªs alegações;
• Se for rejeitada – recurso “findo”, com possibilidade de recurso para a
conferência TCA (= CPC).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 117
Nos termos do disposto no artigo 285.º CPPT, os recursos dos despachos
interlocutórios efectuam-se do seguinte modo:
• O Requerimento inicial, a apresentar em 10 dias, acompanhado da
respectiva motivação (alegações de recurso) – idêntico ao CPC;
• Sobe com a decisão final, excepto se comprometer o seu efeito útil
(subida imediata).
NOTA: quando há substituição tributaria, representante ou substituído,
gestores ou administradores, há como que duas hierarquias de
responsabilidade.
Aulas de 28 de Novembro e 5 de Dezembro de 2013
VI – A COBRANÇA COERCIVA DOS CRÉDITOS FISCAIS
A COBRANÇA COERCIVA DOS CRÉDITOS DO ESTADO
Segundo o Princípio do solve et repete, nos termos do disposto no artigo 148.º
CPPT, a execução fiscal visa a cobrança de: (1) tributos e os seus juros; (2)
coimas; (3) outras dívidas ao Estado e (4) Reembolsos/Reposições a Favor do
Estado.
Uma liquidação adicional não paga possui força executória. Não é necessário
intentar processo executivo. Aqui, a AT emite uma declaração executiva. O
Estado tem o beneficio de excussão prévia: os tribunais públicos são o sustento
do Estado. Mas, já não será assim em relação à legalidade da dívida, quando o
contribuinte presta garantia. A garantia é a de 123% da quantia exequenta.
Portanto, o Estado não corre nenhum risco. Exige-se que o contribuinte discuta
a legalidade da dívida. Só se aplica a casos em que não se paga porque o
contribuinte não concorda e não quando, por exemplo, não tem dinheiro.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 118
O que a lei exige para a eligibilidade do processo executivo é a forma e não a
garantia. Nos termos do artigo 169.º CPPT é necessário fazer uma interpretação
correctiva.
Nos termos do artigo 78.º a 95.º-C CPPT estamos na fase de cobrança e não
ainda na fase de execução. É importante para entender isto o artigo 148.º e o
artigo 278.º CPPT.
DO PROCESSO
A liquidação não paga dá lugar à certidão de dívida (decisão judicial e esta, sim,
é um título executivo). Para suspender o processo tributário é preciso discutir a
legalidade da dívida e prestar garantia.
Perante a liquidação o contribuinte pode pagar o todo ou parte ou não pagar
nada (porque não conhece, porque não tem dinheiro ou porque não quer
(discute a legalidade, presta garantia, senão o processo continua a correr), sendo
com base na motivação do sujeito passivo que nós vamos discutir o que fazer.
Exemplo: a 31 de Março de 2008 X auto liquidou 50 a título de IRC. Em 2011, a
AT, após inspecção tributária, conclui que X deveria ter pago a 31 de Março de
2008 60 em vez de 50, pelo que vai emitir uma liquidação adicional de + 10,
acrescido de juros compensatórios (desde a data em que a declaração devia ter
sido entregue até á data da notificação da liquidação adicional). Os juros
compensatórios são liquidados com a própria divida. X é notificado para pagar
a 1/1/2012. A AT confere, em regra, 30 dias para proceder ao pagamento
voluntário da divida. No caso, o prazo para pagar era até 1.2.2012. Portanto, dia
2 já se comecavam a contar e a pagar os juros moratórios. A sua base é a
liquidação adicional: juros sobre juros. A AT pode executar: liquidações, juros,
coimas, outras dívidas ao Estado, reembolsos ao Estado, etc. É informático: a
AT instaura o processo e notifica o contribuinte disso.
Nos termos do disposto no artigo 149.º CPPT, quanto ao órgão da execução,
este será o serviço de finanças ou o tribunal.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 119
• REGRA GERAL DE COMPETÊNCIA
� Serviço de Finanças do domicilio ou da sede do Executado;
ou
� Serviço de Finanças da situação dos bens ou da liquidação
• REGRA ESPECIAL DE COMPETÊNCIA PARA EXECUÇÃO DE
COIMAS
� Local onde tiver corrido o processo contra-ordenacional
Nos termos do disposto nos artigos 162.º e 163.º regula-se a matéria quanto aos
títulos executivos, sendo que estes possuem como requisitos os seguintes:
• Entidade emissora / promotora da execução;
• Assinatura / Chancela ou assinatura electrónica avançada;
• Data de emissão do título;
• Nome e domicílio dos devedores;
• Natureza e proveniência da dívida;
• Montante por extenso;
• Data a partir do qual são devidos juros e importância “base”.
O título executivo será a certidão de divida, com os requisitos constantes no
artigo 163.º CPPT. Como é tudo informático, actualmente raramente existem
nulidades.
A execução será nula caso os requisitos faltem ou não puderem ser suprimidos
por prova documental, nos termos do disposoto no artigo 165.º alinea b) CPPT.
Nos termos do disposto no artigo 188.º a 194.º CPPT regula-se o mecanismo de
operação da citação.
Nos termos do disposto no artigo 190.º CPPT, consagram-se os requisitos da
citação (título executivo, prazos de oposição, prazo e formas de pagamento).
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 120
Nos termos do disposto no artigo 191.º e 192.º regulam-se as formas de citação:
• Citação por via postal simples ou por email se não ultrapassar as 250 UC
(actualmente, a Unidade de Conta encontra-se fixada no montante de €
120, 00).
• Nos demais casos: citação pessoal, nos termos do CPC.
A execução será nula quando exista falta de citação, quando possa prejudicar a
defesa do executado, nos termos do disposto no artigo 165.º alinea a).
Nos termos do disposto no artigo 169.º CPPT e do artigo 52.º da LGT consagra-
se a matéria da prestação de garantias.
A Prestação de Garantias visa obter a suspensão da execução:
• Art. 169.º CPPT e 52.º LGT – suspensão em caso de discussão da
legalidade ou exigibilidade da dívida exequenda com prestação
simultânea de garantia;
• Em 2010, o Art. 169.º passou a admitir a possibilidade de prestar garantia
antecipada;
� Se perante execução tributária o executado quiser suspender a
execução terá de discutir a legalidade do acto e prestar garantia.
Hoje permite a prestação de garantia antes da citação para o
processo – para que o contribuinte possa pedir certidões de
inexistencia de divida ao Estado (não à Segurança Social).
� A discussão da legalidade é feita por reclamação graciosa,
impugnação judicial e recurso jurisdicional. Então e se após
indeferimento expresso da reclamação graciosa o executado
apresentar recurso hierarquico? Parece que nestes casos o artigo
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 121
diz que, neste caso, a AT pode efectuar a garantiar. Isto não faz
sentido: hoje é pacifico na doutrina que tem o mesmo efeito, com o
recurso hierarquico mantém-se o efeito suspensivo. Outra coisa
seria dizer que quem paga imposto não poderia recorrer: isto
violaria o princípio da tutela efectiva.
� Pode-se prestar garantia ate ao prazo mais longo para discutir a
legalidade (3 meses). A AT diz que se garantia for paga no prazo
de 30 dias o valor é aquele, mas se se quiser pagar mais tende o
valor a aumentar, porque será necessário recalcular o valor devido
aos juros de mora.
� A garantia não caduca – é ad eternum (mesmo quando se vai para
tribunal.
• Art. 170.º CPPT e art. 52.º/4 LGT – casos de dispensa de prestação de
garantia, mas isto nunca acontece.
• O contribuinte que suspenda a execução mediante a prestação de
garantia tem a sua “situação tributária regularizada”
Nos termos do disposto no artigo 195.º e 199.º CPPT, os tipos de garantia – que
visam obter a suspensão da execução – podem ser:
• Constituição de hipoteca legal ou penhor (artigo 195.º CPPT);
• Garantia bancária, caução, seguro-caução, etc (artigo 199.º CPPT).
Para obtenção da suspensão de execução, o valor da garantia será:
DÍVIDA + JUROS DE MORA + CUSTAS + 25%
A REVERSÃO CONTRA RESPONSÁVEIS SUBSIDIÁRIOS
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 122
Se a AT não conseguir, através da execução ao devedor principal, fazer-se pagar
pode reverter para o responsável subsidiário.
Nos termos do disposto nos artigos 157.º CPPT e artigo 23.º da LGT consagram-
se os tipos de reversão:
• Contra adquirentes de bens com direito de sequela;
• Contra possuidores (ex. IMI);
• Contra substitutos tributários (ex. Retenção na fonte);
• Contra funcionários;
• Contra membros de corpos sociais (com funções de administração) e
responsáveis técnicos (art. 24º LGT);
• Contra titular de EIRL;
• Contra Liquidatários de Sociedades;
• Contra Gestores de Bens de Não Residentes.
Nos termos do disposto no artigo 23.º da LGT, a responsabilidade subsidiária
efectiva-se por reversão no processo de execução fiscal. Ou seja:
• Fundada insuficiência de bens penhoráveis do devedor principal, sem
prejuízo da excussão prévia do património do devedor principal;
• Precedida de audição prévia do resp. subsidiário;
• Resp. subsidiário paga sem juros de mora e custas se pagar no prazo da
Oposição;
• Responsabilidade do devedor principal mantém-se
Nos termos do disposto no artigo 23.º da LGT, atendendo ao benefício de
excussão, o responsável subsidiário está salvaguardado, porque só pode ser
executado depois o devedor principal ser atacado e se provar que não pagou. A
responsabilidade subsidiária é por definição o opsoto da reversão (forma
jurídica de chamar ao processo o responsável subsidiária), uma vez que a
responsabilidade do devedor principal mantém-se, sendo que se durante a
reversão ele tiver património suficiente mantém-se o seu dever de pagar. No
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 123
fim, existe direito de regresso por parte do substituto tributário face ao devedor
principal.
Quando devide reverter a execução tributária para o responsável subsidiário, a
AT tem de fundamentar a reversão.
Nos termos do disposto no artigo 24.º da LGT, quanto aos responsáveis
subsidiários, é necessário atender quais as caracteristicas da reversão dos
gestores:
• Pessoas/entidades com funções de gestão nas pessoas colectivas, ainda
que somente “de facto”, são subsidiariamente responsáveis:
• Pelas dívidas geradas no período de exercício de funções ou cujo período
de pagamento tenha ocorrido depois deste – COM CULPA pela
insuficiência do património (ónus da prova da Administração);
• Pelas dívidas cujo prazo legal de pagamento tenha terminado no seu
período de funções quando não provem não lhes ser imputável a falta de
pagamento – PRESUNÇÃO DE CULPA (ónus da prova do revertido).
• Ónus da prova da ausência de culpa é do responsável subsidiário –
alínea b) do art. 24.º ou sempre que, nos termos da al. a) a mesma seja
alegada pela AT;
• Caso especial da reversão de coimas – inconstitucionalidade do art. 8º do
RGIT? Jurisprudência do TC e STA (2009).
• Assistem ao responsável subsidiário os mesmos meios de defesa que
assistem ao resp. principal – Reclamação, Impugnação, Oposição,
Reclamação (art. 276.º CPPT).
A OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO: PRAZOS, REGIME E TRAMITAÇÃO
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 124
Nos termos do disposto no artigo 203.º CPPT consagra-se o mecanismo de
operação de oposição à reversão.
A oposição à execução é um meio judicial em que se discute a exigibilidade da
dívida tributária. Exemplo: liquidação legal, mas a notificação é fora do prazo –
não se discute a legalidade e sim a exigibilidade da divida em oposiçao.
A Oposição à Rervsão visa atacar as causas de inexigibilidade da dívida (não as
causas de “ilegalidade” da dívida em execução):
• A dirigir ao tribunal de 1ª instância – mas é apresentado no órgão da
execução fiscal em 30 dias a contar da citação ou do conhecimento
superveniente do facto;
• Segue os trâmites do processo de Impugnação;
• Suspende a execução mediante a prestação de garantia
Os fundamentos para a oposição à execução encontram-se consagrados no
artigo 204.º CPPT e são:
• Inexistência do Tributo;
• Ilegitimidade do Executado – casos de reversão;
• Falsidade do título;
• Prescrição – vide art. 175º CPPT;
• Falta de notificação da liquidação no prazo de caducidade;
• Pagamento/anulação da dívida;
• Duplicação de Colecta – vide art. 175º CPPT;
• Ilegalidade da dívida, sempre que não possa ter sido suscitada
anteriormente, por falta de meio processual;
• Qualquer outro fundamento – a provar por documento.
DA RECLAMAÇÃO E DO RECURSO DOS ACTOS PRATICADOS EM
SEDE DE EXECUÇÃO PARA O TRIBUNAL
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 125
Nos termos do disposto no artigo 276.º CPPT consagra-se o mecanismo da
Reclamação das Decisões do Órgão da Execução.
A Reclamação das Decisões do Órgão da Execução visa atacar as decisões do
órgão da execução:
• A dirigir ao tribunal pelo Executado ou terceiro que seja afectado, mas é
apresentada no órgão da execução;
• Fundamentos alargados – qualquer ilegalidade da execução ou dos seus
incidentes (prestação de garantia, etc.) – equivale a um “recurso” judicial
• A apresentar em 10 dias a contar da lesão – contendo a alegação dos
fundamentos e conclusões;
• Efeito devolutivo com excepções – art. 278º/3 – prejuízo irreparável –
jurisprudência do STA
• STA “alargou” por via jurisprudencial os casos de suspensão e subida
imediata.
PROCESSO TRIBUTÁRIO MESTRADO FORENSE
Maria Luísa Lobo – 2013/2014 Page 126
A Reclamação Judicial é um meio (urgente) utilizado sempre que o executado
não concorda com algum acto praticado pelo órgão da decisão. Exemplo: é tipo
uma reclamação, a penhora é excessiva, a garantia que foi fixada pora aquele
não respeita os 20%, etc – tudo o que é mero expediente na execução.