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'tenção: Verdade!" Arquivos Privados e Renovação das Práticas Historiográficas Christophe Prochasson Foi há cerca de 20 anos que os historiadores franceses se voltaram com uma espécie de gula irreprimível para aquilo que convém chamar de fontes privadas. Voltarei ao contexto ativo desse interesse na segunda parte desta reflexão. Até então, os papéis pessoais atraíam muito mais os historiadores da literatura ou da arte, que santificavam profissionalmente as notas das lavadeiras dos grandes homens. Hoje, O desenvolvimento da história cultural e da história das elites tornou as fontes privadas, não mais fontes excepcionais capazes de acrescentar um pouco de sal a uma narrativa austera ou de fornecer (enfim!) a chave do mistério da criação, mas fontes comuns, que se tenta conservar como se conservam as fontes administrativas ou estatísticas. Essa evolução traduz uma mudança fundamental de sensibilidade historiográfica que alguns podem inter- pretar como sinal de uma "crise" e outros, talvez mais perspicazes, vêem como uma modificação da relação com a história como disciplina científica, com o tempo e, de modo mais geral, com os fenômenos observados. Historiador das No: Esta lradução e de Dora Rha. 105

PROCHASSON, Christophe_Atenção Verdade

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Atenção Verdade

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  • ''Ateno: Verdade!" Arquivos Privados e Renovao das

    Prticas Historiogrficas

    Christophe Prochasson

    Foi h cerca de 20 anos que os historiadores franceses se voltaram com uma espcie de gula irreprimvel para aquilo que convm chamar de fontes privadas. Voltarei ao contexto ativo desse interesse na segunda parte desta reflexo. At ento, os papis pessoais atraam muito mais os historiadores da literatura ou da arte, que santificavam profissionalmente as notas das lavadeiras dos grandes homens. Hoje, O desenvolvimento da histria cultural e da histria das elites tornou as fontes privadas, no mais fontes excepcionais capazes de acrescentar um pouco de sal a uma narrativa austera ou de fornecer (enfim!) a chave do mistrio da criao, mas fontes comuns, que se tenta conservar como se conservam as fontes administrativas ou estatsticas. Essa evoluo traduz uma mudana fundamental de sensibilidade historiogrfica que alguns podem interpretar como sinal de uma "crise" e outros, talvez mais perspicazes, vem como uma modificao da relao com a histria como disciplina cientfica, com o tempo e, de modo mais geral, com os fenmenos observados. Historiador das

    Nota: Esta lraduo e de Dora Rocha.

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    elites culturais francesas na poca contempornea e portanto ator, eu mesmo, desse movimento do qual peso as virtudes e os perigos, pretendo desenrolar aqui, impudicamente, o fio de uma experincia que no desejo absolutamente propor como modelo historio grfico.

    A prtica dos arquivos privados

    Nenhuma lei enquadra verdadeiramente os arquivos privados na Frana. A lei de 3 de janeiro de 1979 se refere sobretudo aos arquivos pblicos. A prpria definio que nela dada, no ttulo In, aos arquivos privados, o em funo dos arquivos pblicos.

    ! As nicas menes mais precisas concemem patrimonial i

    zao dos arquivos privados, alguns dos quais podem ser considerados, assim como o so os arquivos pblicos, componentes de uma memria nacional a ser protegida. No mais, as condies de acesso e de utilizao dos arquivos privados dependem unicamente das clusulas estipuladas por seus proprietrios. Nenhum prazo legal estabelecido pela lei, e no existe nenhuma obrigao, para o proprietrio, de depositar seu arquivo numa instituio pblica. A legislao atribui portanto um poder considervel ao detentor do arquivo privado, que se toma assim o parceiro principal do pesquisador (ou do conservador que recupera o arquivo por doao, legado, depsito ou compra), quando no se arvora, ele prprio, em produtor de histria.

    Essa definio jurdica, inteiramente passiva, nem sempre corresponde, alm disso, s prticas reais dos atores. Os historiadores da poltica sabem que a distino entre "arquivos pblicos" e "arquivos privados" com freqncia esbarra no amlgama que tanto polticos quanto funcionrios s vezes fazem na gesto de seus papis pessoais. Em alguns casos, a apropriao ilegal de fundos pblicos por pessoas privadas foi alis uma sorte: assim, foi possvel remediar a destruio dos arquivos do Ministrio das Finanas em 1871 graas a uma parte dos "arquivos privados" dos funcionrios do rgo. Problema semelhante se coloca para as associaes: os arquivos dos movimentos da Resistncia criados durante a ocupao alem so fundos privados, enquanto os dos Comits Departamentais de Libertao (CDL) ou das Foras Francesas do Interior (FFI) so em princpio pblicos. 2 Claro est, portanto, que a transparncia arquivstica que alguns reclamam

    3 na gesto dos arquivos pblicos no est nem um pouco perto

    de ser atingida no que conceme enorme massa de fundos privados.

    Farei aqui, para a rea da histria cultural e poltica que habitualmente me interessa mais, uma tentativa de definiao classificatria de outra natureza. Distingo trs grandes tipos de documentao que constituem o man dos historiadores em geral: os arquivos administrativos, os arquivos privados, e as

    obras, publicadas ou no. E o que eu chamaria a qualidade da inteno que presidiu

  • Arquivos Privados c Renovao das Prticas Historiogrficas

    o nascimento do arquivo que pemlite considerar de maneira distinta esses trs tipos. Os arquivos privados pendem para o lado da intimidade, na medida em que no foram chamados, no momento de sua elaborao, a atingir um nvel de oficialidade ou de notoriedade que caracteriza os dois outros tipos. Os mais "autnticos" desses arquivos - voltarei a essa noo - entram, de alguma maneira, na histria (ou seja, vm fundamentar o discurso dos historiadores) revelia dos seus produtores. Esse fato explica as dificuldades que os historiadores por vezes encontram junto aos detentores de tais arquivos, que hesitam em divulg-los, sobretudo quando se trata de public-los, total ou parcialmente. A publicao, que torna pblico o arquivo privado, no muda a natureza deste, mesmo que diminua seu preo simblico no seio de uma profisso grande consumidora do "novo".

    As categorias desses arquivos que os historiadores sempre sonham em revelar, como que para melhor assentar sua legitimidade de "pesquisador" (o "pesquisador" torna-se ento um "descobridor", ou melhor, um "explorador" no sentido arqueolgico do termo), so numerosas: correspondncias, dirios ntimos, cadernetas e agendas, dossis de trabalho e dossis de imprensa, notas de toda espcie etc. Essa documentao deve constituir uma base arquivstica til para a histria da construo de uma obra ou de uma personalidade. Ela constitui aquilo com que sonha todo historiador da cultura, todo bigrafo que corre atrs da miragem daquele dossi completo no qual se encontrariam a um s tempo o produto final, sua posteridade e ainda as diferentes etapas que conduziram at ele. Os historiadores nao deixam de perseguir o mesmo sonho daqueles dois jovens que procuraram o escritor Andr Maurois para lhe propor o fantstico projeto de umas cenas "Edies da Imortalidade":

    Aqui est um tipo de livro inteiramente novo que concebemos. Gostaramos de dedicar um volume a cada um dos grandes homens do nosso tempo, de todas as partes do mundo. Seria possvel ler nesse livro um texto, de preferncia indito, em que cada um exporia a essncia da sua obra, ou a sua concepo do seu ofcio; uma biografia escrita por um outro homem de talento; um disco com a voz do heri permitiria ouvi-lo lendo um dos seus textos favoritos; um filme mostrando-o em seu ambiente habitual fixaria para o fuTUro a sua pessoa fsica. Haveria tambm um manuscrito autgrafo, alguns desenhos, as impresses das suas maos.4

    E uma pena, embora no fundo talvez seja uma sorte para a liberdade do historiador, mas um tal "livro" no existe. Pois antes o sentimento da disperso que prevalece naquele que persegue os arcanos da criao. Nenhuma instituio de arquivo detm todos os arquivos de um poltico, de um escritor, de um artista

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    ou de um sbio, a despeito da existncia de lugares mais ou menos especializados na guarda de arquivos: na Fr'dna, por exemplo, o Office Universitaire de Recherches Socialistes, o Institut de Recherches Marxistes, o Institut Charles de

    ,

    Gaulle, o Institut pour la Mmoire de l'Edition Contemporaine, a Bibliotheque Victor Cousin, o Institut Franais d'Histoire Sociale etc. Os casos mais comuns so os de dispersa0 dos arquivos privados em pequenas bibliotecas ou obscuros centros de documentao, ou, como mais freqente, nas mos de particulares.

    Essa anarquia na guarda dos fundos produz uma grande dificuldade de localizao. Como adivinhar que uma correspondncia importante do antroplogo durkheimiano Robert Hem se encontra, por exemplo, no College de France, ou como saber que a do socialista Georges Renard, antigo professor do College de France, est reunida na Bibliotheque Historique de la Ville de Paris? Mais que nunca, nesse tipo de coisa, quase sempre o acaso que guia a pesquisa primria, aquela que permite aos historiadores constituir seus prprios fundos de arquivos.

    A dificuldade aumenta quando os arquivos privados so guardados por particulares. Ao obstculo da localizao - descobrir descendentes nem sempre uma empresa muito fcil -, somam-se os delicados problemas ligados interveno de uma pessoa estranha no interior de uma memria familiar. A violao da intimidade que a pesquisa histrica inevitavelmente perpetra deve sempre dar lugar a compensaes afetivas. Os entraves que a entrevista oral geralmente encontra exigem estratgias de contornamento prximas daquelas a que podem ter de recorrer os historiadores que trabalham com fundos privados. Procedimentos visando a criar confiana, que podem s vezes resultar numa cumplicidade amigvel ou mesmo numa amizade franca e plena, constituem a base de toda aproximao. Sem eles, nada possvel. O respeito pelas lendas familiares, pelos mitos e pelas referncias, um conhecimento mnimo da biografia dos descendentes e dos conflitos que podem dividi-los impoem uma modstia ao comportamento do pesquisador que pode capacit-lo a obter informaes ou leituras suscetveis de esclarecer a sua prpria. Faltar a encontros ou tratar sem muito tato a memria familiar levam a resultados desastrosos e fecham as portas dos arquivos privados ao pesquisador.

    Gostaria de citar trs exemplos reais que me parecem refletir a escala habitual dos comportamentos dos proprietrios de arquivos privados. O primeiro probe qualquer forma de colaborao sem afirm-lo abertamente. Os descendentes guardam o fundo para "fazer alguma coisa com ele": uma biografia, uma publicao de arquivos, uma doao. O segundo deseja que historiadores profissionais valorizem o fundo, mas sob controle. Fecha uma parte da documentao (ao menos num primeiro momento), os papis so trazidos com prudncia, a conta-gotas. As informaes muito ntimas so

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    ocultadas. O arquivo privado perde a sua riqueza: tende a se transformar em arquivo pblico, revelando apenas o mais banal, o mais conveniente ou o mais desculpvel. Ele deve sustentar uma mitologia que a famlia est encarregada de proteger. Vrios graus, claro, separam os integristas da memria dos mais liberais. Nessa configurao, o historiador pellllanece sob vigilncia e, conseqentemente, sua histria tambm.

    Resta o caso mais excepcional, no qual eu gostaria de me deter aqui. Um dos fundos de manuscritos mais importantes da Bibliotheque Nationale o que constitui o conjunto dos papis do escritor Jean-Richard Bloch. Autor hoje pouco conhecido, seu papel intelectual e poltico foi importante na primeira metade do sculo XX. Homem de esquerda, engajado nas flleiras do Partido Socialista antes da Primeira Guerra Mundial, depois muito prximo do Partido Comunista nos anos 1930, Bloch esteve envolvido em vrios debates culturais e polticos franceses da poca. Uns 15 anos depois da sua morte (1948), sua mulher decidiu organizar seus papis a fim de do-los Bibliotheque Nationale. Desde ento, a famlia, a mulher de Bloch e, depois da morte desta em 1975, seus fllhos, particularmente sua filha Claude, puseram disposio dos historiadores o conjunto dos arquivos de que estes precisavam e, mais ainda, lhes asseguraram uma total liberdade de leitura e de interpretao, sem a qual eles no poderiam exercer verdadeiramente o seu ofcio.

    As ligaes estabelecidas pela famlia com os historiadores so exemplares de liberalidade. Cheguei a conversar a esse respeito com a filha do escritor, Claude, de tal maneira sua tolerncia me parecia extraordinria e quase nica em minha experincia de historiador vido por arquivos daquela natureza. Ela me afirmou que tudo aquilo lhe parecia natural e que, doravante, seu pai pertencia histria. Ela homenageava assim a sua memria. Aceitava, sem a menor reticncia aparente, que meus colegas e eu prprio entrssemos na intimidade de uma vida familiar. Aturava todas as nossas indiscries. Ns sabamos de tudo: a data das doenas infantis assim como os amores adlteros de seu pai, sobre os quais, alis, ela no hesitou um dia em nos esclarecer. No contente de sua generosidade em matria de arquivos, sua presena foi muitas vezes decisiva no esclarecimento de pOntoS obscuros. No se pode negar que com o desaparecimento das primeiras testemunhas o fundo perde uma parte do seu sentido, mesmo que possa recobrir outras.

    COlIseqiillcias para as lJrticas historiogrfrcas

    O interesse crescente pelos arquivos privados corresponde a uma mudana de rumo fundamental na histria das prticas historiogrficas. Dois fatores, ligados alis um ao outro, me parecem ser capazes de esclarecer o gosto

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    pelo arquivo privado. O primeiro o impulso experimentado pela histria cultural e, mais particularmente, a multiplicao dos trabalhos sobre os intelectuais. O segundo est vinculado mudana da escala de observao do social, que levou, sobretudo pela via da micro-histria e da antropologia histrica, a um interesse por fontes menos seriais e mais qualitativas.

    Os cnones tradicionais da histria social, alicerados em procedimentos quantitativos, se aplicavam mal histria dos intelectuais, categoria que se presta pouco a ser apreendida nos telmos de uma estatstica tradicional. As abordagens que prevaleceram - com poucas excees, verdade (por exemplo os trabalhos de Christophe Charie) - privilegiaram as fontes qualitativas. Os intelectuais, e as elites culturais em geral, freqentemente deixavam atrs de si uma massa importante de escritos pessoais da qual os historiadores podiam se apropriar. A publicao de correspondncias, de dirios ou de cadernos inditos muitas vezes facilitou o trabalho daqueles que tentavam entenderas bastidores da vida cultural e poltica numa perspectiva externalista que se recusava histria das idias tradicionais. Ao apresentar os dossis de trabalho utilizados pelo historiador da Revoluo Francesa Augustin Cochin, Fred Schrader observa com razo: "O caso Cochin a demonstrao de que os fundos de arquivos privados esto longe de terem sido suficientemente levados em considerao pela histria francesa contempornea. Ele atesta de maneira gritante que uma consulta e uma explorao sistemticas desses fundos continua sendo necessria para se oder apresentar proposies fundamentadas no campo da histria intelectual."

    Tomarei dois exemplos. O primeiro a histria das revistas, que deixou de se reduzir ao estado de monografias fechadas sobre si mesmas, informandonos apenas sobre as datas do primeiro e do ltimo numro ou sobre contedos. Com a reconstituio das correspondncias que provocaram, as revistas se tornaram meios intelectuais cuja observao informa sobre o funcionamento e a anatomia da vida cultural. Foi pela anlise da revista fundada por Jean-Richard Bloch em 1910,EEffort, que cheguei sua correspondncia, da qual uma parte importante dedicada vida da revista.

    Editor da correspondncia trocada por Marc Bloch e Lucien Febvre (500 cartas em 15 anos), Bertrand Mller conseguiu valoriz-la como uma pea decisiva para toda a histria dos Annales :

    Isto significa dizer, em outras palavras, que a definio desse programa, a organizao intelectual e material da revista constituram ao mesmo tempo o pretexto, a dinmica e o quadro da relaao epistolar dos dois, relao essa que, a contar de fevereiro de 1928, se

    ,

    prolongou por cerca de quinze anos. E evidentemente essa relao intensa, voltada prioritariamente para o bom andamento de um empreendimento editorial e cientfico, que constitui o principal interesse

  • Arquivos Privados c Renovao das Prticas Historiogrficas

    da correspondncia que publicamos aqui; ela nos permite ler de certa forma a "crnica" quase cotidiana da revista; ela revela a antecmara onde se elaborou uma das principais transformaes das cincias sociais deste sculo. Esta correspondncia, mesmo que no contenha todos os arquivos da revista, constitui uma de suas peas-mestras; uma fonte excepcional, tambm, porque nica. Com efeito, afora estas cartas e os fascculos que compem a coleo da revista, no subsiste nenhum documento importante sobre a sua histria.6

    A correspondncia to centrada na revista que no existe nenhum vestgio de troca de cartas anterior a 1928 e que ela no vista por nenhum dos dois missivistas como um lugar de encontro intelectual, e sim como um simples "meio de ao e de administrao". Ela serve alis, s vezes, para prolongar, de modo estritamente utilitrio, conversas interrompidas, mas exclui qualquer tipo de debate de alto teor intelectual que os dois homens certamente no deviam deixar de ter oralmente. No se encontrar portanto, nesse conjunto, os vestgios que todo historiador dos intelectuais procura avidamente: os que se presume que a marurao secreta de uma obra deva deixar.

    Pois no tipo de arquivo que as correspondncias privadas constituem/ exatamente o segredo que o historiador procura descobrir, insatisfeito com as

    ,

    manifestaes pblicas dos homens com os quais habirualmente lida. E tentador poder pr fim, com esses arquivos, a uma espcie de hegemonia que a histria internalista das obras exerce na histria intelectual. A nova histria cultural das cincias encontrou apoio neles. A correspondncia deve vir desvendar uma espcie de verdade. Procura-se, nela, fazer carem as mscaras: o caso das cartas enviadas a Jules Guesde por Paul Lafargue confessando-lhe lamentar a posio neutralista que o movimento marxista havia assumido durante o caso Dreyfus e indicando assim as graves discordncias existentes no interior de um movimento poltico. Ou, ainda, de uma carta de J acques Bainville, historiador da Action Franaise, na qual ele se confessa dreyfusista, um pouco maneira do duque de Guermantes: "Quando soube [ ... ) que o tenente-coronel Henry havia cometido uma fraude fiquei estarrecido e [ ... ) minhas idias se transformaram inteiramente. Sou neste momento, tambm eu, dreyfusista [ ... ) tenho pressa de que a reviso seja feita."S Tambm se poder ver, s vezes, correspondncias revelarem opinies no expressas por razes que conviria esclarecer: o silncio to eloqente de Roger Martin du Gard durante a Primeira Guerra Mundial ou os acessos anti-semitas de Paul Lautaud.

    As armadilhas que as correspondncias estendem aos historiadores so no entanto numerosas. A impresso de pegar desprevenido o autor de uma carta que se destinava unicamente ao seu correspondente, o sentimento de violar uma intimidade, garantia de autenticidade, quando no de verdade, so s vezes

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    bastante enganadores. Existem correspondncias que traem uma autoconscincia que no engana ningum. Existem cartas ou documentos privados cujo autor mal disfara o desejo, talvez inconsciente, de torn-los, o quanto antes, documentos pblicos. A conservao sistemtica da correspondncia recebida por um intelectual e s vezes mesmo as cpias de algumas de suas prprias cartas ( o caso de Jean-Richard Bloch) sempre me intrigaram. As razes que levam a um tal comportamento me parecem indicar uma conscincia da histria que vem pr um limite inegvel autenticidade. Nada corre o risco de ser mais falso do que a "bela carta" ou o arquivo privado "que se basta a si mesmo", que "to revelador", H a algumas armadilhas preparadas.

    Romper a inevitvel relao afetiva que se estabelece entre o historiador e seu material epistolar (do qual brotam muito mais emoes e comparaes consigo prprio do que das sries estatsticas ou dos documentos administrativos) passa pela objetivao desse material, pela sua construo como fonte. A separao das correspondncias por gnero ou por categorias socioculturais aparentemente um dos caminhos mais eficazes. Tenho a impresso, por ter lido muitas delas, que existe um gnero de correspondncias de intelectuais vinculados universidade na Frana do fim do sculo XIX no qual encontramos as mesmas frmulas

    \J os mesmos temas, a mesma organizao interna e s vezes os mesmos boatos .... Christophe Charle, historiador do social, utilizou alis com freqncia as correspondncias para avaliar de maneira mais completa as estratgias universitrias que ele percebe, por seu lado, mais friamente. 10 Deve-se alis notar que essa documentao raramente abre espao para discusses elevadas ou pessoais, alm de algumas frmulas de praxe sobre a sade ou o tempo. Os escritores da mesma poca, em relao aos quais sempre se pode suspeitar de um desejo de ver sua correspondncia ser um dia publicada, so em geral muito mais eloqentes e, em resumo, se pem muito mais em cena do que os intelectuais universitrios. Conviria igualmente analisar os modelos ocultos, consciente ou inconscientemente retomados pelos missivistas, eles prprios por vezes grandes leitores das correspondncias dos intelecruais que os precederam.

    Uma fonte epistolar freqentemente citada, mas ainda muito pouco analisada na sua serialidade, poderia dar lugar a estudos estruturais do mesmo tipo. Refiro-me ao conjunto extraordinrio formado pelas correspondncias trocadas durante a Primeira Guerra Mundial. As elites, a, no so mais as nicas envolvidas. Durante a guerra, todo mundo escreve, ainda mais num pas em que a Repblica deu a todos esse formidvel poder. O que eu dizia acima a respeito do gnero prprio das correspondncias de intelectuais universitrios ou de escritores poderia ser mantido para as correspondncias de soldados. Veremos a narraes baseadas em representaes comuns do real, nas quais s vezes bastante difcil distinguir o que tem a ver com experincias realmente vividas do

  • Arquivos Privados e Rellovao das Prticas Historiogrficas

    que tem a ver com experincias que circulam como modelos de vida guerreira. Jamais o projeto proposto por Marc Bloch em seu artigo de 1921, publicado na Revue de Synthese, sobre a histria das "notcias falsas" encontrou uma jazida arquivstica to extensa como a constituda pelas correspondncias de guerra. Podemos, a, acompanhar passo a passo os boatos. Vemos, a, as lendas hericas ou cheias de horrores se elaborarem e circularem.

    O florescimento da histria cultural entendida como histria das instituies e das elites no o nico fator que explica a importncia hoje conferida aos arquivos privados. A crise da histria social labroussiana abriu espao para modelos de anlise em que os indivduos desempenham um papel importante. Esperamos assim encontrar os motivos das suas aes nos vestgios escritos que eles deixaram, por detrs das suas aes pblicas, por detrs das suas obras ou dos seus trabalhos. Em associao com uma cultura poltica sensvel fala dos pobres, e muitas vezes em sintonia com um regionalismo militante que tambm se ope monopolizao da fala pejo centro parisiense, voltou-se a dar vida a escritos privados que jaziam no fundo dos aImrios ou dos stos.

    Trata-se menos, aqui, de correspondncias do que de dirios ntimos ou de lembranas. Traumatismo maior da histria contempornea, a Primeira Guerra Mundial foi um perodo de grande produo de documentos desse tipo. Desejosa de entender o conflito em termos diferentes daqueles que durante muito tempo foram os nicos fornecidos pela histria poltica e militar, a nova historiografia da Primeira Guerra Mundial se apropria dessas fontes privadas.

    O que nos ensina a observao da guerra no "nvel do cho"? este o eixo escolhido por esses historiadores. No nos espantaremos ponanto de ver um deles, Stphane Audoin-Rouzeau, ublicar recentemente os papis de guerra de um soldado clebre : Marc Bloch.

    !

    N o passado, J ean-N orton Cru, animado por um movimento semelhante, executado talvez de maneira ingnua, reuniu e analisou depoimentos privados (mas publicados) sobre a guerra. Suas justificaes cientficas merecem ser examinadas, pois esclarecem um tipo de relao com os arquivos privados caracterizado por uma busca da verdade, ou, melhor dizendo, talvez, da autenticidade: "A histria no-militar ganhou muito em exatido nos ltimos cem anos graas a uma prtica, de um lado, e graas a uma atitude moral, de outro. Sua nova prtica consiste em no se contentar com os documentos oficiais ou provenientes dos grandes personagens; ela se ps a pesquisar todos os documentos possveis, os que dizem respeito a detalhes da vida provincial, os que provm das testemunhas mais humildes. A atitude a da imparcialidade cientfica [ ... ],,12 Todo o trabalho de Nonon Cru consiste em fazer uma separao entre o verdadeiro e o falso com base numa triagem em que so distinguidos os "testemunhos" vividos de homens do fr01lt, marcados com o selo de urna psicologia

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    singular, e as "narrativas de segunda mo". No fim da obra uma classificao recapitula as fontes por ordem de valor: "Digamos, resumindo, que se trata principalmente do valor de verdade, no verdade dogmtica, absoluta ou transcendental, mas verdade humana, verdade da testemunha sincera que diz o que fez, viu e sentiu, verdade acessvel a todo homem inteligente que sabe ver, refletir

    ,

    e sentir. E a verdade que o historiador, o psiclogo, o socilogo, prezam num depoimento [ ... ]".13 Para Nonon Cru, em Waterloo, o valor de verdade dos fatos registrados por Fabrcio maior do que o da narrativa dos oficiais mais graduados do exrcito de Napoleo.

    Essa pressa em apontar o autntico na fonte pessoal, como se esta refletisse um desnudamento do humano, faz parte de um discurso ingnuo sobre os arquivos privados. Encontramos vestgios disso, por exemplo, num manual dedicado ao assunto: "Assim os arquivos privados, espelho verdadeiro da vida de seus autores [ ... ]"14

    Em relao Primeira Guerra Mundial, ainda, os clebres Cahiers de Louis Barthas, "cabo-tanoeiro" morto em 1952, publicados pela primeira vez em 1978, tornaram-se uma espcie de testemunho clssico da guerra de 1914, assim como foi o de Polbio para a guerra da Macednia. Sua autenticidade, que embasa sua autoridade de testemunha, se apia na tradio, ainda que alguns historiadores tenham podido mostrar o carter profundamente fabricado desse documento: "Contudo sua qualidade e sua originalidade, que tocaram de pronto todos os leitores, o situam no nvel das narrativas reconhecidas como as mais indubitveis e lhe do, ponanto, um valor geral de primeira ordem.,,

    15 Frases tornadas

    cannicas, tiradas da narrativa de Barthas, circulam para fornecer provas. Caberia, naturalmente, nos interrogarlllos sobre as razes dessa santificao. Barthas apresenta todas as caractersticas do soldado "verdadeiro": operrio de esquerda, oriundo da provncia (escapando portanto da embriaguez literria parisiense), militar de baixa patente, "marido modelo, amoroso e fiel",

    16 como ele se apresenta a si mesmo. Deveramos nos dar ao trabalho de analisar os procedimentos e as motivaes por meio das quais uma fonte privada obtm um estatuto de fonte oficial, geralmente aps ter sido publicada, mas nem sempre.

    No certo que historiadores mais precavidos tenham sido sempre mais vigilantes, inclusive em relao a um outro tipo de arquivo. O documento pessoal parece sempre trazer uma mensagem de verdade. Em 1985, Michelle Perrot e Georges Ribeill publicaram Le journal intime de Caroline B., descoberto por acaso num passeio pelo "mercado das pulgas" de Saint-Ouen. Os dois autores no escondem em sua apresentao do texto toda a subjetividade que presidiu sua publicao e sua elevao posio de fonte representativa, adjetivo que se deveria sempre manejar com a mais extrema precauo quando aplicado s fontes qualitativas (mas talvez tambm, alis, s sries qualitativas!):

  • Arquivos Privados e Rmovao das Prticas Historiogrficas

    o carter quase etnogrfico deste texto desde o incio nos chamou a atenao. Na sua repetio, na sua banalidade mesma, ele testemunhava um modo de vida e de pensamento abolido, inclusive nas suas manifestaes de piedade, cujos ritos se tomaram to estranhos para ns. Era, vista cotidianamente, a partir de dentro, uma certa "civilizao dos cosrumes" que durante muito tempo perseguiu a sociedade francesa como um modelo de perfeio.

    Mas tambm, passadas as primeiras pginas, que cheiram a exame de conscincia, um certo tom pessoal nos prendeu. Fomos tocados pela expresso de um sofrimento, de um desejo, o esboo logo abandonado de uma aventura, e o consentimento final ao irremedivel destino das mulheres: um casamento arranjado do qual se tenta fazer uma uniao por escolha. Fomos sensibilizados por esse trajeto de uma desconhecida, mulher entre todas as mulheres. T ivemos vontade de lhe dar a palavra, que ela talvez nunca tivesse tomado.17

    Daniel Roche, que publicou, alis na mesma coleao "Archives Prives", o dirio do vidreiro Jacques-Louis Mntra, teve diante dele uma atitude semelhante. Acontece que Ribeill e Perrot no ficaram mudos diante do dirio de Caroline Brame. Eles se lanaram numa pesquisa que fez desse dirio, associado a outros documentos de arquivos privados (uma correspondncia) e pblicos (o registro civil), o centro de uma investigao sociolgica.

    Melhor: a crtica externa do dirio veio enriquecer a sua crtica interna e limitar a sua "autenticidade". No que o dirio se revelasse falso, uma farsa montada por um temperamento matreiro. Mas ele tampouco era o reflexo exato da alma, nem mesmo marcava uma etapa na histria da construo do indivduo

    - .

    na epoca contemporanea. O dirio encontrado de Caroline Brame no era, ao que tudo indica,

    sua primeira verso. Parecia ter sido copiado por ela mesma, revelando assim uma de suas funes: a rememorao. Assim tambm, o dirio no constitui o espao de liberdade absoluta em cujo quadro se manifesta uma personalidade estiolada sob o peso das obrigaoes sociais. Ele no o nico confidente de uma vida.

    No casamento de Caroline Brame, o dirio afastado em benefcio do marido e o pudor nunca deixa de pesar sobre ele: "Cdigos irreprimveis presidem a apresentao de si e tomam ilusria a transparncia. Temos que traduzir os sinais, ler nas entrelinhas, captar as alusoes, nos insinuar nas brechas

    -

    e nas falhas, dominar as lacunas e as meias-palavras. Avido do segredo das almas, o historiador - sacrilgio? - gostaria de ser Deus. Ou, na impossibilidade, Freud!,,18 A correspondncia de Caroline revela muitQ mais sobre ela do que o

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    seu dirio, no qual faltam as confidncias mais ntimas: no h nada ou quase nada sobre a alimentao ou os cuidados com o corpo. Nada sobre a sexualidade, a tcnica ou a poltica.

    Seria portanto bastante ingnuo cair nas armadilhas de um adjetivo ostentado. A imimidade do dirio apenas vem nos informar sobre os aspectos de uma apresentao de si para si (s vezes para os outros, no caso dos escritores e de alguns artistas, saturados de sua conscincia de si mesmos). Todos os trabalhos de Philippe Lejeune, especialista no assunto, esto voltados para a introduo da dvida no enunciado ntimo. Ele diz isso muito bem a propsito dos dirios de moas no sculo XIX:

    Esses cadernos so "obras de moas" como os seus bordados, os seus cadernos de estudos. Elas compem neles a sua imagem moral como a imagem da sua silhueta na psique .

    E uma questo, portanto, no fundo, de psicossociologia. Pois o espelho em que elas se olham no verdadeiramente um espelho. Seu eu est pintado nele de antemo. Pede-se a elas que adeqem sua imagem a modelos. Elas entram nesse jogo, como fazer diferente? Algumas tentam virar o jogo em proveito prprio, criar para si uma identidade ... pessoal. 19 O dirio se apresenta como uma prtica social. Essa prtica responde

    portanto a normas e cdigos que preciso decifrar. A espontaneidade, a transparncia que alguns reconhecem nos dirios revelam uma cegueira diante de uma fonte dotada de encantos enfeitiadores: "O dirio uma prtica educativa entre outras. Deve contribuir para a educao moral ( o exame de conscincia cotidiano) e ensinar a escrever ( o exerccio de redao). As pessoas tm um caderno para fazer isso, ao lado de outros cadernos ... Fazem progressos no tocante virtude e ao estilo (ou ao menos ortografia)."

    ZO

    Seria preciso valorizar particularmente outras categorias de arquivos privados, menos explcitas que as correspondncias e os dirios ntimos e mais propcias a revelar informaes brutas mas pobres de significaao: o caso, me parece, dos dossis de trabalho, onde se pode ver a matria-prima de uma obra em vias de elaborao, das cadernetas de anotaes ou dos blocos de croquis, das agendas nas quais podem ser percebidas as redes de conhecimentos e as hierarquias relacionais que as animam.

    Eu me ative ao tipo de fonte que hoje atrai com mais facilidade os historiadores e no qual eles s vezes se perdem. Alguns deles confundem o esprito cientfico com a mania do colecionador e s vezes reduzem o prmio da pesquisa felicidade das descobertas ao sabor do acaso. Os historiadores da literatura conhecem bem os monoplios que se estabelecem em torno dos

  • Arquivos Privados c Renovao das Prticas Historiogrficas

    arquivos do "grande homem". Essa relao com a fonte privada induz prticas de pesquisa desastrosas nas quais a descoberta material prevalece sobre a inveno intelectual.

    Nem por isso deixa de ser verdade que o interesse pelos arquivos privados corresponde ao desenvolvimento de novas perspectivas historiogrficas. A sensibilidade diversidade das escalas de observao na histria social pode ganhar a histria cultural.

    Se os arquivos privados no nos ensinam alguma coisa de "mais verdadeiro", eles nos asseguram uma mudana de foco. Era alis nesses termos que Jean-Norton Cru defendia, com unhas e dentes, a importncia do testemunho direto sobre a guerra. O texto que se segue poderia quase passar por um manifesto contemporneo em favor da micro-histria:

    Isso quer dizer que os documentos de estado-maior so inutilizveis) Certamente no. S eles permitem conceber o conjunto, tratar do geral, e sem isso no poderia haver histria. Mas o geral constitudo da multido de fatos particulares; tratar do geral sem consultar aqueles que agiram, sofreram, viveram em detalhe fatos particulares, criar, a partir de todas as peas, um geral dissociado de qualquer realidade, tentar conceber e contar o sonho que seria uma guerra de especialistas. Com efeito, os documentos de estado-maior no so uma realidade por si; eles s contm de real aquele real que lhes foi transmitido da frente de combate, e essa transmisso comporta perdas srias, como uma espcie de perda de corrente.

    A esse fator de erro se soma o faSCnio exercido pelas grandes batalhas sobre os historiadores militares e sobre seus leitores. Nosso esprito tem uma forte tendncia a conceber abstraes e a consider-las como realidades objetivas. Falamos da batalha do Marne como se fosse um fato, e queremos tentar contar, explicar, julgar esse fato. A batalha do Mame, no estado atual dos nossos conhecimentos, quase no passa de uma abstrao; uma noo cmoda que nos permite conceber mais claramente o conjunto das batalhas do Ourcq, dos dois Morins, de Vitry etc. Essas prprias batalhas s tm realidade na medida em que resumem os engajamentos de corpos de exrcito, divises, regimentos, companhias etc., para chegar at o soldado individual que a realidade nrimordial, aquela que d vida noo abstrata de batalha do Marne.

    2I

    E com essa linha de conduta, e no com os mtodos de uma histria presa s crenas arquivsticas, que as fontes privadas podero nos dizer algo diferente sobre os homens em sua histria.

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    estudos histricos 1998 - 21

    Notas

    1. "Art. 90 - Os arquivos privados so o conjunto dos documentos definidos no anigo lOque no entram no campo de aplicao do artigo 3 acima" [que define os arquivos pblicos: CCI) Os documentos que procedem da atividade do Estado, das coletividades locais, dos estabelecimentos e das empresas pblicas; 2) Os documentos que procedem da atividade dos organismos de direito privado encarregados da gesto dos servios pblicos ou de uma misso de servio pblico; 3) As minutas e repenrios dos funcionrios pblicos ou ministeriais. "], citado em Threse Charmasson, Christiane Demeulenaere-Douyere, Catherine Gaziello, Denise Ogilvie, Les archives personnelles des scientifiques, Paris, Archives NationaJes, J995, p.65-66.

    2. Jean Favier et Oanile Neirinck (dir.), La pratique archivistique franaise, Paris, Archives Nationales, 1993 : "Le cadre juridique" por Herv Bastien et alii, p. 70.

    3. Por exemplo, e num gnero militante, Sonia Combe,Archives interdites. Les peurs

    franaises face l'Histoire contemporaine, Paris, Albin Michel, 1994.

    4. Andr Mamais, "Neuve immonaIit", Les Nouvelles Littraires, 7 out. 1948.

    5. Fred E. Schrader, "Ralisme catholique ct sociologie de la Rvolution: le projet historiographiquc di Augustin Cochin (1909-1916)", Mil NcufCent. Revue d'Histoire 11llellectuelle, 7, 1989, p. 169.

    6. Marc Bloch, Lucien Febvre, Corrcspondance, edio estabelecida, apresentada e anotada por Bertrand

    Mller, t. I: La nnissance des Annales, 1928-1933, Paris, Fayard, 1994, p. VI. 7. Ver a reflexo esboada no nmero especial da revista Mil NeufCent. Revue d'Histoire Imellectuelle, 8, 1990: "Les correspondances dans la vie intellectuelle" .

    8. Henri Rollet, uJ acques Bainville, dreyfusard", Reuue d'Histcire Diplomatique, 1981, 1, p. 67.

    9. Entre muitos exemplos: Correspondance entre Charles Andler et Lucien Herr, 1891-1926, edio estabelecida, apresentada e anotada por Antoinette Blum, Paris, Presses de l'Ecole Normale Suprieure, 1992.

    10. Cf Christophe Charle,La Rpublique des universitaires, 1870-1940, Paris, Le Seuil, 1994.

    11. Marc Bloch, Ecrits de gume, 1914-1918. Textos reunidos e apresentados por Etienne Blach. Introduo de Stphane Audoin-Rouzeau, Paris, Colin, 1997.

    12. Jean-Norton Cru, Tmoins. Essa; d'analyse el de critique des souvenirs de combattants dits enfra.ais de 1915 1928, Paris, Les EtinceIles, 1929, reed., Naney, Presses Universitaires de Nancy, 1993, p. 2.

    13. Ibid., p. 661. 14. Franoise Hildesheimer, Les archives prives. Le traitement des archives personnelles,familiales, associatives, Paris, Editions Christian, 1990, p. 17.

    15. Pierre BarraI, ,cLes cahiers de Louis Banhas", em Sylvie Caucanas e Rmy Cazals (ed.), Traces de 14-18. Actes du colloque de Carcassonne, Carcassonne, Les Audois, 1997, p. 21.

    16. Citado ibid. 17. Michelle Perrot et Georges Ribeill, Le joumal intime de Caroline B., Paris, Arthaud-Montalba, "Archives Prives", 1985, p. 8.

  • Arquivos Privados c Renovao das Prticas Historiogrfrcas

    18. Ibid., p. 173.

    19. Philippe Lejeune,Le moi des demoiselles. Enqute sur le journal de jeune filie, Paris, Seuil, 1993, p. 11.

    20. Ibid., p. 20. Se Lejeune considera o dirio ntimo uma prtica c diz trabalhar no com um "gnero", mas com um "campo" (as adolescentes solteiras ou menores de 25 anos), Alain Girard, em seu trabalho clssico (Le jaurnal intime, Paris, PUF, 1963, 2' ed. 1986), fala em gnero literrio.

    21. Jean-Nartoo Cru, Tmoins .... Op.CiL, p.20.

    PaJavraschave: arquivos privados, correspondncia pessoal, dirios ntimos, prticas historiogrficas, histria cultural, elites intelectuais, Primeira Guerra Mundial.

    (Recebido para publicao em novembro de 1997)

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