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Editorial Desde tempos remotos da civilização, quando aprendemos a gravar em livros nossa história, o homem busca conhecer a si mesmo.Ter idéia do que aconteceria, evoluir, aprender e passar o conhecimento às gerações futuras. Na época da Grécia antiga, discutia-se os assuntos em praça pública, de tal forma que todos podiam ouvir e ser ouvidos. Criou-se o conceito de democracia, que vinha do grego Demos (povo) + Kratos (poder). Antes disso, porém, criaram o conceito de Philosofia (amigo do conhecimento). Naquela época, os gregos refletiam muito acerca do que tinham e chegavam a conclusões que hoje nos pareceriam banais. Mas isso é conhecido como o berço de todas as ciências. Antes de ser o que é, cada uma delas teve o seu desenvolvimento e um conhecimento novo sempre é embasado em uma questão que se prova à exaustão. Logo, todo e qualquer conhecimento adquirido é fruto de um questionamento filosófico. De uma verdade que se prova falsa ou verdadeira. O que pretendemos com o blog é justamente isso: Provar um pouco do saber filosófico das verdades que pomos à prova.Verdade ou mentira, colocamos em pratos limpos os questionamentos que surgem para que você, leitor, veja com seus próprios olhos o que é a verdade e o que é a mentira. Convidamos vocês a entrarem no mundo do conhecimento! http://semprecabe.blogspot.com “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” - João 8:32 Ano I Nº 02 Novembro de 2009 Tempos mais que modernos Divisão ocorre pela falta de recursos O nde se acha justiça em um lugar onde não há (ou pelo menos não se vê) a presença de poder público? É, pode ser que isso soe estranho à primeira vista, mas não foi o que eu vi durante uma viagem para o Sul do Pará, no município de Re- denção, cidade agradável e segura relativamente, mas onde falta mais ajuste em uma região de conflitos e necessidades. A história começa na falta de sinalização da estrada e os gigantescos buracos encontrados após o muni- cípio de Marabá. Ao se atravessar a primeira ponte, nota-se o tamanho do atraso: Apenas uma via de mão de direção em uma das cidades mais importantes do Estado. Dizem que o trem passa ao meio, mas não pude ver. Depois dali, é só atraso: O celular não pega na maioria das cidades que cruzam a estrada, a não ser que você tenha ou um TIM ou um Vivo. Embora a Amazônia Celular tenha sido comprada pela OI, uma funciona e a outra não. Na pista, os buracos dão medo em quem se acostumou com algumas estradas do interior da região nordeste. Pior: Os prefeitos dos municípios daquela região não podem sequer mexer na estrada por se tratar de rodovia, por vezes, Federal. Na contramão do atraso político, há a prosperidade financeira em cidades onde as pessoas tem seu veícu- lo próprio, quase não importando qual o ordenado do mês. Confesso que, em matéria de dinheiro, ganha-se pouco. Mas, pelo menos em Redenção, quase todas as pessoas tem sua moto. Há fartura de possibilidades de ganho financeiro e moradia não parece ser proble- ma. Afora a parte onde a estrada cruza com Eldorado do Carajás, não há o que comemorar: É pobreza mesmo. Choupanas tomam conta do canteiro, num valão, e, mais adiante, sem-terras construíram o que parece ser a casa de palha dos três porquinhos em um terreno que se assemelha a uma vila. Eram poucas as placas do Governo. Porém, as obras prometidas não tinham nenhum indicativo de importância do povo que ali vive. Mais se tira do que se põe de volta, tal como na época da colonização do Brasil. Enquanto gritam os muitos, parece que a única providência no sentido de ajudar aquele povo, foi alterar o DDD: De 91 para 94. E a vida segue assim: Sem motivos para comemo- rar por lá. Até que os barões do Pará resolvam retirar o impecilho e atender as preces daquela região, eles (e nós) teremos perdido muito dinheiro. Uma das poucas obras do governo na PA 150: falta sinalização e sobram buracos em estrada perigosa

Verdade II

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Page 1: Verdade II

Editorial

Desde tempos remotos da civilização, quando aprendemos a gravar em livros nossa história, o homem busca conhecer a si mesmo. Ter idéia do que aconteceria, evoluir, aprender e passar o conhecimento às gerações futuras. Na época da Grécia antiga, discutia-se os assuntos em praça pública, de tal forma que todos podiam ouvir e ser ouvidos. Criou-se o conceito de democracia, que vinha do grego Demos (povo) + Kratos (poder). Antes disso, porém, criaram o conceito de Philosofia (amigo do conhecimento).

Naquela época, os gregos refletiam muito acerca do que tinham e chegavam a conclusões que hoje nos pareceriam banais. Mas isso é conhecido como o berço de todas as ciências. Antes de ser o que é, cada uma delas teve o seu desenvolvimento e um conhecimento novo sempre é embasado em uma questão que se prova à exaustão. Logo, todo e qualquer conhecimento adquirido é fruto de um questionamento filosófico. De uma verdade que se prova falsa ou verdadeira.

O que pretendemos com o blog é justamente isso: Provar um pouco do saber filosófico das verdades que pomos à prova. Verdade ou mentira, colocamos em pratos limpos os questionamentos que surgem para que você, leitor, veja com seus próprios olhos o que é a verdade e o que é a mentira.

Convidamos vocês a entrarem no mundo do conhecimento!

http://semprecabe.blogspot.com

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” - João 8:32

Ano I • Nº 02 • Novembro de 2009

Tempos mais que modernos

Divisão ocorre pela falta de recursosO

nde se acha justiça em um lugar onde não há (ou pelo menos não se vê) a presença de poder público? É, pode ser que isso soe estranho à primeira vista, mas não foi o que eu vi durante

uma viagem para o Sul do Pará, no município de Re-denção, cidade agradável e segura relativamente, mas onde falta mais ajuste em uma região de confl itos e necessidades.

A história começa na falta de sinalização da estrada e os gigantescos buracos encontrados após o muni-cípio de Marabá. Ao se atravessar a primeira ponte, nota-se o tamanho do atraso: Apenas uma via de mão de direção em uma das cidades mais importantes do Estado. Dizem que o trem passa ao meio, mas não pude ver. Depois dali, é só atraso: O celular não pega na maioria das cidades que cruzam a estrada, a não ser que você tenha ou um TIM ou um Vivo. Embora a Amazônia Celular tenha sido comprada pela OI, uma funciona e a outra não. Na pista, os buracos dão medo em quem se acostumou com algumas estradas do interior da região nordeste. Pior: Os prefeitos dos municípios daquela região não podem sequer mexer na estrada por se tratar de rodovia, por vezes, Federal.

Na contramão do atraso político, há a prosperidade fi nanceira em cidades onde as pessoas tem seu veícu-lo próprio, quase não importando qual o ordenado do mês. Confesso que, em matéria de dinheiro, ganha-se pouco. Mas, pelo menos em Redenção, quase todas as pessoas tem sua moto. Há fartura de possibilidades de ganho fi nanceiro e moradia não parece ser proble-ma. Afora a parte onde a estrada cruza com Eldorado do Carajás, não há o que comemorar: É pobreza mesmo. Choupanas tomam conta do canteiro, num valão, e, mais adiante, sem-terras construíram o que parece ser a casa de palha dos três porquinhos em um terreno que se assemelha a uma vila.

Eram poucas as placas do Governo. Porém, as obras prometidas não tinham nenhum indicativo de importância do povo que ali vive. Mais se tira do que se põe de volta, tal como na época da colonização do Brasil. Enquanto gritam os muitos, parece que a única providência no sentido de ajudar aquele povo, foi alterar o DDD: De 91 para 94.

E a vida segue assim: Sem motivos para comemo-rar por lá. Até que os barões do Pará resolvam retirar o impecilho e atender as preces daquela região, eles (e nós) teremos perdido muito dinheiro.

Verdade,justiça

Uma das poucas obras do governo na PA 150: falta sinalização e sobram buracos em estrada perigosa

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Alternância de podere Constituição neles

Honduras venceu. Hugo Chávez per-deu. Este é o verdadeiro confronto que se trava naquele pequeno país da América Central: entre o cha-vismo e o antichavismo. Todas as

armas são válidas contra o bolivarianismo, essa exótica mistura de esquerdismo velho, populis-mo novo e antissemitismo delirante? A resposta é não. Só as armas que a democracia represen-tativa oferece e que são, não por acaso, as mais eficientes contra essa trapaça política.

O único desdobramento, a esta altura impro-vável, que daria a vitória ao tiranete venezuelano seria a reinstalação, com plenos poderes, de Manuel Zelaya na Presidência e a realização do plebiscito inconstitucional que detonou a crise. Era essa a proposta do socialista chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, e de Celso Amorim, ministro das Relações Exterio-res do PT, ideólogo e operador do desastrado “Imperialismo Megalonanico”, cruza patética de Gigante Adormecido com Anão Hiperativo.

A despeito de muito sofrimento, Honduras sairá desta crise com o triunfo de dois princípios. O primeiro é o da subordinação dos Poderes a uma Constituição democraticamente instituí-da. O segundo é o princípio da alternância do poder. Os bolivarianos só dão por realizado seu propósito quando conseguem sabotar esses dois pilares. Negue-se isso a eles e suas bravatas, suas bandeiras, suas tropas de choque, seus jornalistas de aluguel vão se desbotando até sumir na paisa-gem da própria insignificância.

A pobre Honduras foi o primeiro país a dizer “Não!”, para escândalo das entidades multilate-rais, imensas burocracias repletas de si mesmas e de antiamericanismo. A resistência dos hondure-nhos nos alerta para o fato de que a democracia tem direito legítimo à rebelião. A democracia

Se os militares de outros países, em outros momentos da história, tivessem agido como os hondurenhos de agora, muito horror teria sido evitado

tem direito de se rebelar contra a mentira, contra a conspiração bem concertada da “esquerda”, esse chapelão sob o qual se abrigam o latifundiá-rio Zelaya, o liberticida clássico Robert Mugabe, do Zimbábue, o coronel Chávez e até ambien-talistas e o segundo time vasto dos que “lutam por um mundo melhor”, desatentos ao fato de que o remédio é muito pior do que os males que pretendem combater.

Sobre Honduras caiu uma tempestade dessas mentiras. A mãe de todas elas é a que vê um gol-pe na destituição de Zelaya. Só se pode sustentar que houve um golpe em Honduras ignorando-se o que diz a Constituição daquele país. Não é por outro motivo que o Plano Arias, base de um possível entendimento para pôr fim à crise, já previa a volta de Zelaya à Presidência, mas não ao poder. O primeiro a reagir contra esse arranjo, o Acordo de San José, foi Chávez, o chefe de Zelaya. Reconheça-se que faltou o chamado “devido processo legal” para retirar do país o presidente deposto. Mas não faltou para depô-lo. Um conjunto de artigos da Constituição justifica a deposição, decidida pela Corte Suprema e exe-cutada disciplinadamente pelos militares.

Os militares são um capítulo importante nessa história. Quando Zelaya deu a ordem aos generais para fazerem o plebiscito mesmo contra a decisão da Justiça, eles correram a consultar uma equipe de advogados. Foram informados de que, ao obedecerem à ordem presidencial e desafiarem a Justiça, estariam violando a Cons-tituição. Tivessem os homens de farda cumprido a determinação de Zelaya, estaria consumado o verdadeiro golpe. Se os militares de outros pa-íses, em outros momentos da história, tivessem agido como os hondurenhos de agora, muito horror teria sido evitado.

O Brasil sai diminuído dessa história. Em nome da “democracia”, permite que sua embai-xada se transforme em base de uma tentativa de levante. Ao agir assim o Brasil rasgou a Conven-ção de Viena e a Carta da OEA. Paradoxalmente, exigiu dos “golpistas” o respeito, que é devido, à inviolabilidade da representação diplomática. Ora, é apenas má propaganda exigir de “golpis-tas” – que, em o sendo, não teriam compromisso com formalidades – o respeito às leis, enquanto como país democrático o Brasil se sinta livre para desrespeitá-las. O que se desenha é um con-fronto entre “golpistas decorosos” e “democratas criminosos”? Servir a Chávez está enlouquecen-do nossa diplomacia.

Reinaldo AzevedoJornalista • Blog na Veja online

O Senador norte-americano Richard Lugar (Republicano-Indiana) terminou seu firme (e realista) pronunciamento com uma exortação para o Brasil ser menos intrometido do que vem sendo até este momento. É difícil entender sob que preceito do direito internacio-nal o Brasil insiste em apoiar e hospedar um homem cuja irresponsabilidade preten-deu violar a Constituição de seu país e hoje espera que o mundo ignore o direito de os hondurenhos se dirigirem às urnas eleitorais para recuperar o destino de seu próprio país.

Onde estava o Brasil ou a OEA, quando o Sr. Zelaya estava procurando um refe-rendo ilegal para conseguir sua reeleição? Ambos permane-ceram silenciosos e ausentes na questão da Venezuela, precursora desta confusão. O desejo de o Brasil permane-cer cego diante dos múltiplos excessos de Hugo Chávez foi maior do que seu papel de cão de guarda na região.

O Presidente Lula, seu infeliz Chanceler Amorim e o nefasto Marco Aurelio Garcia são claramente parte do problema e não parte de sua solução. Estes três brasileiros deveriam preocupar-se mais com o precedente que criam todos os dias, ao ignorarem as violações de Chávez a cada cláusula da Carta Democrá-tica da OEA que permaneça no seu caminho – e contra o óbvio desejo – de milhões de hondurenhos.

Apoio para Zelaia pode custar caroao BrasilCésar MaiaEconomista • Ex-Blog

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Sexo no Celular - Essa cena todos já viram. A primeira vez que aconteceu no Brasil foi no sul - e lá as crianças precisa-ram mudar de cidade. Agora foi a vez de Belém. Os jovens bem sabiam do risco que corriam. Claro, não foi a primeira vez. (out/2009)

Nicarágua: Constitui-ção do país desrespeitada pelo STF de lá. (César Maia - out/2009)

Brasil: Gari tenta sacar R$ 2 e recebe mais de R$ 5 mil. Ele devolveu o valor excedente (O Globo - out/2009)

Nobel de Gorbatchev - É fato que o ex-líder soviéti-co foi agraciado com o Nobel da Paz por defender reformas como a Glasnost e a Perestroika, que culminaram com o fi m do comunismo no leste europeu. (out/2009)

Kruschev também foi razo-ável no episódio dos mísseis em Cuba e merece certa distinção por retirá-los. (out/2009)

Divisão do Estado - Quem já viajou pelas estradas que ligam a região metropolitana ao sul do Estado sabe: O Pará precisa ser dividido. Porém, há o perigo que o novo estado do Carajás continue deixando seus concidadãos às escuras, por falta (ou malversação) das verbas para corrigir seus problemas. Quando se os resolverão? (nov/2009)

Verdades - Lula está com um problemão. Pergunta que não quer calar: Porque, no caso dos atletas cubanos, não agiu de forma semelhante? (nov/2009)

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Na Argentina não háordem para as coisasArtigo de Eduardo Fidanza para o La Nación, periódico de maior circulação da Argentina, sobre Anormia.

O primeiro e talvez o mais grave defi niu o histo-riador Tulio Halperín Donghi: “Se há um elemento que caracteriza a vida política argentina é a recí-proca negação de legitimidade das forças que nela se enfrentam, agravada porque estas não coincidem nem nos critérios aplicáveis para reconhecer essa legitimidade”.

O segundo é consequência do primeiro. Chama-rei de demarcação de territórios. As elites argentinas, como animais, fi xam obsessivamente os limites de seus espaços de ação e pretendem reinar sem intro-missões ou limites.

O terceiro é o descolamento entre poder e autorida-de. Como ninguém reconhece legitimidade ao outro, na Argentina cada setor se dedica a exercer o poder. O poder sem legitimidade reduz-se à pura força. Há que ser prepotente, avançar, apertar, atropelar, ocupar espaços, depredar.

O quarto é a falta de consenso a respeito do perfi l institucional do país. A classe dirigente não se põe de acordo com que tipos de instituições deveriam reger a sociedade.

O quinto é a utilização do Estado para fi ns partidá-rios. Esse fenômeno é, em geral, uma tentação irre-

sistível e alcançou na Argentina níveis intoleráveis. Implica, como tantas vezes se tem repetido, numa confusão entre Estado, Governo e Partido. Chegar ao governo supõe apropriar-se do Estado como instru-mento arbitrário de acumulação de poder.

O sexto é a deserção do Estado de suas funções básicas. Lá se vão duas décadas que nossa classe diri-gente discute se o Estado deveria intervir ativamente na economia ou deveria limitar-se a garantir serviços essenciais. Tivemos uma década para cada posição.

O sétimo é a fragmentação e perda de identidade das forças políticas. A decadência dos partidos, o uso arbitrário do poder estatal, as máscaras do peronismo, os problemas da UCR para governar, a inexistência de direita e esquerda apresentáveis, entre outros, pro-duziram a atomização e a dissolução das identidades políticas.

O oitavo é o autismo. As elites, enrascadas em suas lutas facciosas, perderam a noção de que vivem em uma região com graves problemas. Com isso há uma perda de tempo (se não imbecilidade) em viver dila-pidando oportunidades, debatendo temas do passado, praticando a desunião e dando as costas à realidade.

O nono é a desigualdade. É certo que se trata de um problema mundial de difícil solução, mas a Ar-gentina é o país que se tornou mais desigual em me-nos tempo.

O décimo fator é um signo de governos irresponsá-veis. Quando a economia vai bem, se gasta e reparte sem prever tempos piores. Se induz a crer que não há limites. Quando o bom tempo termina, cada setor se crê com o direito a seguir reclamando a quota prometida

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Inversão de valoresA imprensa é uma defensora dos interesses da sociedade. Se esta não pode defender àquela, pode-se dizer que se está em uma ditadura. Este é o expediente de maus atores.

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Políticos do governo e da oposi-ção coincidem num ponto: a lei de controle dos meios audiovi-suais é um suporte estratégico dos Kirchner para a eleição pre-

sidencial de 2011. A distância da eleição e a proximidade dessas manobras mostram que a sucessão segue sendo um assunto traumático. Essa sucessão tão distante está provocando um enorme desperdício de esforços quando deveria estar tratando do federalismo, reforma tributária, política energética e pobreza. Tudo está suspenso em nome da eleição de 2011. A imposta-ção do temperamento hegemônico sobre o republicano de nossa democracia relega a um segundo plano o que é vital, enquanto se esquentam os motores das eleições.

Esse debate remonta a duas con-cepções dos séculos 18 e 19. Uma é o princípio da legitimidade do governo limitado: o monopólio mais perigoso é o monopólio dos governos. A lei deve ter a virtude suficiente para cor-tar as asas da concentração do poder, em especial do Estado. Outra é o prin-

cípio baseado na expressão majoritária da democracia, ou seja, o tenso contraponto entre o público e o privado, a soberania do povo, que se manifesta pela maioria, tem a faculdade de influir com energia sobre a opinião. A capacidade de síntese com que Perón resumia suas ideias é demonstrada nesta frase de 1951: “A preparação da opinião pública em um país soberano é parte da soberania que exerce o governo”. Em resumo: é a articulação estatal sobre os meios de comunicação, reduzidos a um aparato oficial de difusão.

É difícil encontrar nas experiências con-cretas das democracias uma circunstância na qual prevaleça absolutamente uma ou outra concepção. Os comportamentos — privado e público — estão misturados. A dinâmica da imprensa privada, guiada pela inovação, conduz ao crescimento e a expansão. A dinâmica do poder do Estado conduz a aplicar regulações. Os efeitos estatizantes são muito mais graves quando os governantes assumem o cargo presi-dencial com uma espécie de mandato de refundação do país, baseado em uma ver-dade superior a de seus contrários. Daí a estabelecer que os meios de comunicação

sejam fabricantes de uma consciência falsa no público, aplicada por seus proprietários, a distância é curta.

Se as verdades são só aquelas que transmitem os governantes é lógico pensar que as imagens que circulam na sociedade sejam produto de um engano deliberado. Rompida esta membrana, a verdade do po-der poderá refulgir sem intermediários, em um vínculo transparente com o povo que o elegeu. Os problemas explodem quando os governantes sofrem a inclemência de uma realidade que não se ajusta a esses esque-mas. Nesta encruzilhada entre o que é e o que o poder supõe ser, se agita e estremece o ânimo por alcançar o triunfo eleitoral.

Há 60 anos já se dizia que a Argentina possui um sistema que não reconhece lealmente a derrota. Esse sistema ainda persiste. A eleição parlamentar de junho traçou limites e mostrou a necessidade de pactuar políticas, mas a resposta do gover-no foi saltar para frente e desconhecer o que realmente ocorreu, agregando que esse resultado eleitoral foi apenas o produto das deformações instrumentadas pela impren-sa. Com teoria semelhante, a vontade livre do povo e a autonomia da cidadania têm escasso valor. Esses atributos só são valio-

sos quando se acoplam à von-tade do governante. Ainda há tempo de mudar esse rumo. Do contrário, nosso regime constitucional corre sérios ris-cos de empantanar-se depois de 10 de dezembro (posse dos novos parlamentares). Ruge o leão? Ou é tão só um gato encurralado que lança rugidos sem tom nem som?

Natálio BotanaEspecial • La Nación

Campanhas mos-tram o que seria do mundo sem a imprensa.