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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 1 PROC.TRT/SP: 0003012-26.2012.5.020000 DISSÍDIO COLETIVO JURÍDICO SUSCITANTE: ETOILE DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA, SPG DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA, AVENUE DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA, SANIT MARTIN DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA E EPC DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA. SUSCITADOS: 01. SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE SANTO ANDRÉ. 02. SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE GUARULHOS. 03. SINDICATO DOS CONCESSIONÁRIOS E DISTRIBUIDORES DE VEÍCULOS NO ESTADO DE SÃO PAULO SINCODIV. 04. FEDERAÇÃO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Vistos, etc. Em linhas gerais, as empresas suscitantes discutem o disposto na cláusula 06, a qual prevê a identificação e limitação prévia do trabalho autorizado em domingos. Nos meses de fevereiro a dezembro de 2012, houve a pré- determinação de quais serão os dias em que se haverá expediente junto às empresas concessionárias e distribuidoras de veículos. As suscitantes transcrevem a cláusula às fls. 11. Também é objeto de análise pelas suscitantes as cláusulas 03 e 04, as quais estão

PROC.TRT/SP: 0003012-26.2012.5.020000 DISSÍDIO … · Nesse contexto temos o Direito do Trabalho, como um conjunto de normas, princípios e institutos que visam atenuar os antagonismos

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

1

PROC.TRT/SP: 0003012-26.2012.5.020000

DISSÍDIO COLETIVO JURÍDICO

SUSCITANTE: ETOILE DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA, SPG

DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA, AVENUE DISTRIBUIDORA DE

VEÍCULOS LTDA, SANIT MARTIN DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA

E EPC DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA.

SUSCITADOS:

01. SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE SANTO ANDRÉ.

02. SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE GUARULHOS.

03. SINDICATO DOS CONCESSIONÁRIOS E DISTRIBUIDORES DE

VEÍCULOS NO ESTADO DE SÃO PAULO – SINCODIV.

04. FEDERAÇÃO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DO ESTADO DE SÃO

PAULO.

Vistos, etc.

Em linhas gerais, as empresas suscitantes discutem o

disposto na cláusula 06, a qual prevê a identificação e

limitação prévia do trabalho autorizado em domingos. Nos

meses de fevereiro a dezembro de 2012, houve a pré-

determinação de quais serão os dias em que se haverá

expediente junto às empresas concessionárias e

distribuidoras de veículos. As suscitantes transcrevem a

cláusula às fls. 11. Também é objeto de análise pelas

suscitantes as cláusulas 03 e 04, as quais estão

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transcritas às fls. 10.

O teor da causa de pedir indica: (a) ilegalidade da

cláusula quanto à proibição do funcionamento em todos os

domingos do mês; (b) inconstitucionalidade da cláusula

quanto à proibição do funcionamento em todos os domingos do

mês; (c) ilegalidade da cláusula de proibição de celebração

de acordo coletivo para o trabalho aos domingos; (d)

ilegalidade da cláusula perante a Lei 12.529/2011; (e) mão-

de-obra suficiente para resguardar a folga a cada dois

domingos por mês para os empregados das empresas

suscitantes; (f) os domingos são utilizados pelos clientes

para fins de conhecimento dos veículos automotores.

As suscitantes indicam uma proposta para efeito de

dissídio coletivo e eventual acordo (fls. 34/38).

Indicam as suscitadas a necessidade da interpretação

da cláusula coletiva, com “fumus boni iuris” e o “periculum

in mora”, solicitando a concessão de uma liminar

No pedido, em linhas sucintas, articulam: (a)

concessão da liminar sem a oitiva da parte contrária; (b)

intimação para que as suscitadas informem a respeito da

proposta de conciliação; (c) caso a proposta se mostre

infrutífera, a decretação da inconstitucionalidade,

ilegalidade e ineficácia da previsão contida na cláusula

06, que prevê a limitação do funcionamento das lojas em

apenas dois domingos por mês, assegurando, as suscitantes o

direito aos dois domingos por mês a título de folgas

obrigatórias coincidentes para os seus empregados;

honorários advocatícios.

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Há a juntada de procurações e documentos (fls.

46/242).

A Dra. Sonia Maria Prince Franzini, Desembargadora

Vice-Presidente Judicial, consoante a r. determinação de

fls. 244, deliberou pela distribuição imediata dos autos,

sem a realização da proposta conciliatória por envolver

matéria de direito, sendo que os autos foram distribuídos

ao gabinete deste Relator em 17.04.2012 às 15:20 horas.

É o relatório.

DECIDE-SE:

01. Competência para as tutelas de urgência.

De acordo com o art. 79, VII, do Regimento Interno

deste Tribunal, compete ao relator deferir ou indeferir

liminares em pedidos de tutela de urgência.

Pela doutrina, tutelas de urgência são as que:

“têm por objetivo resguardar direito

(tutela cautelar), antecipar o próprio

provimento de mérito (tutela antecipatória)

ou impedir que um dano iminente aconteça

(tutela inibitória)” (MAURO SCHIAVI. Manual

de Direito Processual do Trabalho. 4ª ed.

São Paulo: LTr, 2011, p. 1.146).

02. Razoabilidade no não acatamento da proposta de

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conciliação das empresas suscitantes.

Razão assiste à Desembargadora Vice-Presidente

Judicial, quanto à natureza desta demanda e a razoabilidade

na ausência da concretização da proposta conciliatória

ofertada pelas empresas suscitantes.

O que demonstra esta assertiva é o desdobramento

ocorrido nos autos:

PROCESSO TRT/SP SDC Nº 0000285-

94.2012.5.02.0000

DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA JURÍDICA

SUSCITANTES: SPG DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS

LTDA. e OUTRAS 12

SUSCITADOS: SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS DE

SÃO PAULO e SINDICATO DOS CONCESSIONÁRIOS E

DISTRIBUIDORES DE VEÍCULOS DO ESTADO DE SÃO

PAULO - SINCODIV

Como relator desta demanda, tenho a honra de ser o

juiz revisor dos autos: SDC Nº 0000285-94.2012.5.02.0000.

Nestes autos, não houve a possibilidade de acordo

entre as partes para a solução da pendência jurídica quanto

à interpretação de idêntica cláusula de outra convenção

coletiva, a qual também limita o labor em dois domingos por

mês e em datas pré-determinadas.

03. Cabimento do dissídio coletivo de natureza

jurídica.

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O dissídio coletivo de natureza jurídica objetiva a

interpretação de uma norma jurídica existente, que pode ser

uma lei de aplicação particular de determinada categoria,

uma convenção coletiva, um acordo coletivo, um contrato

coletivo ou uma sentença normativa.

A presente ação objetiva que seja analisada o teor das

cláusulas 03, 04 e 06 do instrumento normativo da

categoria.

A OJ 7 da SDC do Tribunal Superior do Trabalho

estabelece que:

“Não se presta o dissídio coletivo de

natureza jurídica à interpretação de normas

de caráter genérico, a teor do disposto no

art. 216, II, do RITST”.

Não serve o dissídio coletivo de natureza jurídica

para a interpretação de normas genéricas, como é o caso de

dispositivos legais.

A rigor, não é o caso dos autos a aplicação da OJ 07

do TST.

Nos presentes autos, o que temos é a interpretação de

uma cláusula normativa, a qual é possível de ser efetuada,

de acordo com a doutrina, bem como em face do que consta da

inteligência do art. 216, II, do Regimento Interno do

Tribunal Superior do Trabalho.

Não se pode esquecer que o dissídio coletivo de

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natureza jurídica é um procedimento de conhecimento do tipo

declaratório.

Visa tão somente estabelecer o alcance de uma norma

jurídica da categoria. Vale dizer, não cria e nem

estabelece novas cláusulas ou condições de trabalho.

04. Análise da causa de pedir. “Fumus boni iuris”.

Quanto ao mérito, a discussão básica reside na

cláusula 06.

A cláusula oriunda de legítima discussão no âmbito da

categoria econômica e da categoria profissional, quanto ao

seu conteúdo, limita o trabalho aos domingos à base de dois

dias no mês, inclusive, com a pré-determinação de quais

seriam os dias a serem laborados pelos empregadores.

O que os suscitantes discutem é se a cláusula poderia

limitar, face à existência de vários princípios

constitucionais, o direito quanto ao exercício da sua

atividade econômica.

A imposição de dois dias pré-determinados dentro de

cada mês e em toda a vigência da cláusula normativa

implicaria em ofensa a livre iniciativa, a propriedade

privada, a livre concorrência e a busca do pleno emprego,

princípios de natureza constitucional (art. 1º, IV; art.

170, II, IV e VIII).

As empresas suscitantes têm por atividade econômica o

comércio de veículos automotores, empregando vasta mão-de-

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obra, tendo direito, em um sistema capitalista, a gerir a

sua atividade econômica, desde que respeite uma série de

normas, não só constitucionais, como infraconstitucionais.

A indagação que se faz é se a limitação da abertura em

dois domingos por mês e em datas pré-determinadas se

apresenta razoável e não estaria cerceando este direito das

suscitantes quanto à gestão das suas atividades

empresariais.

O descanso semanal remunerado é um direito

constitucional e que repousa em um intervalo de vinte e

quatro horas consecutivas, remunerado pelo empregador.

O inciso XV do art. 7º da Carta Política de 1988

assegura que a folga deverá coincidir de forma preferencial

aos domingos.

A cláusula assegura folgas semanais coincidentes aos

domingos para todos os trabalhadores, sendo que o objeto

desta demanda não discute esta imposição, inclusive, as

entidades suscitantes apontam que o efetivo desejo é que

possam funcionar em todos os domingos do mês, respeitando o

direito dos seus empregados que tenham folgas semanais em

dois domingos por mês.

Se o objetivo precípuo da cláusula normativa é

resguardar o direito constitucional do empregado que a sua

folga coincida a cada número de semanas com o domingo de

forma necessária, temos que é irrelevante a obrigatoriedade

de o empregador fechar em alguns domingos de forma

obrigatória.

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Basta que o empregador, respeitando ao comando maior

da cláusula, estabeleça escalas de trabalho, as quais

respeitem que a folga coincida, dentro de cada mês, com

dois domingos por mês. Este intuito é amplamente assegurado

pelas suscitantes na formulação das suas razões.

Não vejo como a autonomia privada coletiva pode

ingerir na execução da atividade econômica de cada empresa

integrante do universo da categoria econômica.

As entidades sindicais têm o poder de auto-

regulamentação das condições sociais e econômicas no seio

das empresas e do universo de seus trabalhadores, contudo,

como nenhum poder, esta auto-regulamentação não é e nem

pode ser absoluta.

Mostra-se absoluta esta imposição quando, via

negociação coletiva, indica a cada empresa do segmento

econômico, quais são os domingos do mês é que poderão abrir

as suas portas, como se fosse possível negar que cada

empregador tenha as suas peculiaridades e estratégias para

o implemento de suas metas.

Não se pode negar que o aspecto do lucro é a essência

do mundo capitalista, sendo que o legislador constituinte

de 1988 estabeleceu como um dos objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil, a livre iniciativa.

Contudo, ao lado da livre iniciativa, traz a plena

indicação dos valores sociais do trabalho.

A interpretação desejada pelas empresas suscitantes

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não viola o disposto no art. 7º, XXVI, da CF, como também

não ofende o direito de que a folga semanal seja de forma

preferencial com o domingo.

O que se pretende é que a cláusula seja considerada

ineficaz, visto que determinam a obrigatoriedade de número

de dias e em datas pré-determinadas de quais serão os

domingos em que as empresas poderão exercer a sua atividade

econômica.

Não vejo como se possa equiparar o valor social do

trabalho com a livre iniciativa, quando se assegura a folga

semanal em dois domingos por mês, contudo, limita, sem

razoabilidade que o empregador seja obrigado somente a

abrir em dois domingos por mês para que este direito seja

respeitado.

É plenamente possível equilibrar, de um lado, o

respeito quanto ao implemento de duas folgas obrigatórias

aos domingos em um mês, e de outro, o direito do empresário

em abrir todos os domingos ao mês.

Não vejo como este equilíbrio pretendido com a

interpretação desejada pelas suscitantes possa violar a

autonomia privada coletiva quando da redação original da

cláusula.

O mais importante é que esta interpretação da cláusula

assegura não só a associação do valor social do trabalho

com a livre iniciativa, como também assegura o respeito à

dignidade do trabalhador, ao respeitar o direito a folga

semanal e de forma preferencial ao domingo.

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A República Federativa do Brasil tem como um dos seus

fundamentos a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III).

Não é possível o esboço de um conceito abstrato da

dignidade da pessoa humana. Trata-se de um conceito

jurídico indeterminado.

Apesar de ser um conceito jurídico indeterminado,

pode-se afirmar que a dignidade da pessoa humana implica em

um conjunto de direitos, tais como: paz, prosperidade,

educação, moradia, igualdade de direitos e oportunidades.

Vale dizer: a dignidade da pessoa humana é a plenitude

concreta de todos os direitos fundamentais para que todos

os seres humanos gozem de um tratamento idêntico e

realístico quanto às condições de vida em sociedade.

Nesse contexto temos o Direito do Trabalho, como um

conjunto de normas, princípios e institutos que visam

atenuar os antagonismos decorrentes da relação trabalho e

capital, estabelecendo regras de proteção ao trabalhador.

O Enunciado 1 da 1ª Jornada de Direito Material e

Procesual na Justiça do Trabalho (realizada em nov./07)

dispõe:

“DIREITOS FUNDAMENTAIS. INTERPRETAÇÃO E

APLICAÇÃO. Os direitos fundamentais devem

ser interpretados e aplicados de maneira a

preservar a integridade sistêmica da

Constituição, a estabilizar as relações

sociais e, acima de tudo, a oferecer a

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devida tutela ao titular do direito

fundamental. No Direito do Trabalho, deve

prevalecer o princípio da dignidade da

pessoa humana”.

Como dito, a interpretação desejada pelas empresas

suscitantes não viola ou ofende a dignidade do trabalhador,

pois, respeita o direito a folga e valoriza que esta seja a

cada dois domingos de forma necessária aos domingos.

Os direitos sociais representam uma dimensão dos

direitos fundamentais do homem, logo são direitos de todos,

porém o exercício de tais direitos pressupõe um tratamento

diferente para as pessoas que, em função de condições

sociais, físicas ou econômicas, não possam gozar desses

direitos. E, por fim, sintetiza o ideal da democracia

econômica e social no sentido de proporcionar igualdade aos

cidadãos no que concerne às diversas formas de atuação

estatal.

José Afonso da Silva entende que os direitos sociais à

luz do direito positivo, não adotando uma classificação

rígida, podem ser agrupados em: (a) direitos relativos ao

trabalhador; (b) os concernentes à seguridade social

(saúde, previdência e assistência social); (c) os relativos

à cultura e à educação; (d) os concernentes à moradia; (e)

os que se relacionam à família, adolescente e idoso; (f) os

relativos ao meio ambiente.

Por sua vez, os direitos sociais dos trabalhadores, na

ordem constitucional de 1988, são divididos em: (a) os

relativos às relações individuais de trabalho (art. 7º);

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(b) os concernentes às relações coletivas de trabalho

(arts. 8º a 11).

Os direitos sociais previstos no ordenamento

constitucional são normas de ordem pública, logo são

invioláveis e inarredáveis pela vontade das partes

contraentes da relação trabalhista.

O art. 1º, IV, CF, estabelece os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa como um dos fundamentos do

Estado Democrático de Direito. Por sua vez, o caput do art.

170 assegura que a ordem econômica será fundada na

valorização do trabalho humano e na livre iniciativa. Em

face da conjugação desses dispositivos, torna-se evidente

que o trabalho humano e a livre iniciativa são os

fundamentos da ordem constitucional econômica.

A base constitucional da ordem econômica é regulada

nos arts. 170 a 192, sendo dividida em quatro capítulos, a

saber: (a) dos princípios gerais da atividade econômica

(arts. 170 a 181); (b) da política urbana (arts. 182 e

183); (c) da política agrária e fundiária e da reforma

agrária (arts. 184 a 191); (d) do sistema financeiro

nacional (art. 192).

Não pretendemos analisar todos os capítulos da Carta

Política de 1988.

O que nos interessa é o realce dos princípios

constitucionais que norteiam a atividade econômica, como:

(a) soberania nacional; (b) propriedade privada; (c) função

social da propriedade; (d) livre concorrência; (e) defesa

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do consumidor; (f) defesa do meio ambiente; (g) redução das

desigualdades regionais e sociais; (h) busca do pleno

emprego; (i) tratamento favorecido para as empresas de

pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que

tenham sua sede e administração no País (art. 170, I a IX).

A ordem econômica, adotando os princípios acima

citados, tem como fim assegurar a todos existência digna,

visando à justiça social e fundando-se na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa.

Abordando a questão da ordem econômica, Tercio Sampaio

Ferraz Junior e outros prelecionam:

“O fundamento está ‘na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa.

Primeiro, a expressão ‘fundada’, ‘fundar’,

‘fundamento’. A ideia é a de ‘base’, de

‘raiz’, uma espécie de lugar comum retórico

de essência, ao mesmo tempo ‘causa per

quam’ e ‘conditio sine qua non’. Ou seja,

sem ambos não há ordem econômica

(‘conditio’), onde quer que haja ordem

econômica, ambos estão presentes (‘causa’).

Por respeito à evidência repita-se que não

se trata de uma descrição mas de uma

prescrição. Não se diz que assim seja,

sempre, em qualquer circunstância, mas que

assim deve ser visto e aceito, como

disposição inicial: principialidade. Os

dois fundamentos são, porém, distintos. A

‘livre iniciativa’ é um modo qualificado de

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agir, presente em todos os momentos, já

perfeita e acabada naquilo em que consiste:

a iniciativa não se torna mais ou menos

livre; como fundamento, ou há ou não há

livre iniciativa; já no caso da

‘valorização do trabalho humano’, o acento

está na ‘valorização’, portanto num ato de

apreciar e fazer realizar o que se

considera bom: o trabalho humano.

‘Valorização do trabalho humano’ significa,

assim, a legitimidade da Ordem, desde que

construída sobre um empenho, constante e

permanente, de promover a dignidade humana

do trabalho na atividade econômica.”1

A interpretação desejada pelas empresas suscitantes

respeita o direito à livre iniciativa, que implica em dizer

como haverá a gestão das suas atividades econômicas, que

não pode ser limitada por dias pré-determinados, contudo,

de forma simultânea respeita o direito social dos seus

empregados de que a folga coincida, necessariamente, com

dois domingos ao mês.

Está perfeitamente demonstrado, sem a oitiva da parte

contrária, a presença do “fumus boni iuris”.

05. Análise do “Periculum in Mora”.

A letra “a” do pedido pleiteia a concessão da liminar

1

FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio; DINIZ, Maria Helena; GEORGAKILAS,

Ritinha A. Stevenson. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e

eficácia, p. 44.

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para que as suscitadas tenham o direito de funcionar em

todos os domingos mensais, sem que esteja obrigado ao

pagamento de multa em favor da entidade sindical

profissional ou decorrente de autuação administração

proveniente do Ministério do Trabalho e Emprego.

Se há a demonstração do “fumus boni iuris”, patente

também está o prejuízo sofrido pelas suscitantes, quanto à

proibição de não poderem abrir as suas portas no exercício

do direito constitucional da livre iniciativa. As

suscitantes estão autorizadas a abrir aos domingos (todos

no mês).

Esta medida de urgência é tomada como medida cautelar

inominada, dentro do que é facultada a aplicação do poder

geral de cautela, na aplicação subsidiária (art. 769, CLT)

dos arts. 798 e 799 do CPC.

Contudo, as empresas suscitantes ficam obrigadas a

respeitar as folgas semanais obrigatórias aos domingos

(dois domingos por mês), formulando, assim, escala adequada

para tanto.

A escala deverá observar a inteligência de que a folga

ao domingo ocorra domingo sim domingo não.

Esta parte da concessão da medida liminar será

cumprida pelas suscitantes e se houver a sua violação,

ficará responsável pela multa de R$ 1.000,00, por cada

empregado e por cada dia de domingo violado (obrigatório

para a folga semanal). Esta multa tem amparo no art. 461, §

5º, do CPC.

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Em caráter de urgência, a Secretaria da SDC deverá

citar às entidades sindicais suscitadas para que ofereçam

as suas respostas em 05 dias.

Estamos indicando o prazo de cinco dias face à

urgência da matéria e dentro da inteligência do parágrafo

único do art. 860 da CLT.

Estamos adotando o prazo de cinco dias, como prazo

mínimo, na essência da inteligência do art. 841 da CLT.

Citem-se as entidades sindicais suscitadas.

Intimem-se as empresas suscitantes e as entidades

sindicais suscitadas do inteiro teor desta determinação.

CONCLUSÃO.

Ante o teor acima, determina-se:

a) a letra “a” do pedido pleiteia a concessão da

liminar para que as suscitadas tenham o direito de

funcionar em todos os domingos mensais, sem que esteja

obrigado ao pagamento de multa em favor da entidade

sindical profissional ou decorrente de autuação

administração proveniente do Ministério do Trabalho e

Emprego. Diante da demonstração do “fumus boni iuris” e do

“periculum in mora”, as empresas suscitantes estão

autorizadas a abrir aos domingos (todos no mês). Esta

medida de urgência é tomada como medida cautelar inominada,

dentro do que é facultada a aplicação do poder geral de

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cautela, na aplicação subsidiária (art. 769, CLT) dos arts.

798 e 799 do CPC. Contudo, as empresas suscitantes ficam

obrigadas a respeitar as folgas semanais obrigatórias aos

domingos (dois domingos por mês), formulando, assim, escala

adequada para tanto. A escala deverá observar a

inteligência de que a folga ao domingo ocorra domingo sim

domingo não. Esta parte da concessão da medida liminar será

cumprida pelas suscitantes e se houver a sua violação,

ficará responsável pela multa de R$ 1.000,00, por cada

empregado e por cada dia de domingo violado (obrigatório

para a folga semanal). Esta multa tem amparo no art. 461, §

5º, do CPC.

b) Em caráter de urgência, a Secretaria da SDC deverá

citar às entidades sindicais suscitadas para que ofereçam

as suas respostas em 05 dias. Estamos indicando o prazo de

cinco dias face à urgência da matéria e dentro da

inteligência do parágrafo único do art. 860 da CLT. Estamos

adotando o prazo de cinco dias, como prazo mínimo, na

essência da inteligência do art. 841 da CLT.

Citem-se as entidades sindicais suscitadas.

Intimem-se as empresas suscitantes e as entidades

sindicais suscitadas do inteiro teor desta determinação.

Após o cumprimento destas determinações e o decurso do

prazo às entidades sindicais suscitadas, remetam-se os

autos ao Ministério Público do Trabalho para o seu parecer.

Na sequência, após a resposta do MPT, haverá a

inclusão dos autos para a próxima sessão designada,

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observados os trâmites legais.

São Paulo, 23 de abril de 2012.

FRANCISCO FERREIRA JORGE NETO

DESEMBARGADOR FEDERAL DO TRABALHO