35
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO PROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ___ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO – CAPITAL Inquérito Civil nº 1.34.001.006913/2012-38 Procedimento Administrativo nº 1.34.001.006126/2014-58 Resumo: “CIDADANIA. INSS. Crianças e adolescentes abrigados em unidades de acolhimento no Estado de São Paulo. Atuação para regularização documental, bem como concessão de benefícios previdenciários eventualmente devidos, notadamente auxílio-reclusão e pensão por morte.” O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que esta subscrevem, no exercício de suas funções constitucionais e legais, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento nas alíneas “a” e “c” do inciso VII do artigo 6º da Lei Complementar n. 75/1993 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), nos artigos 3º e 5º, inciso I, da Lei n. 7.347/1985, na Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), nos artigos 7 e 8, da Convenção sobre os Direitos das Crianças; artigos 1.1., 3, 18, 19 e 20, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), artigos 201, V e VIII e 208 e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente e demais disposições legais aplicáveis à espécie, bem como nos elementos colhidos no inquérito civil em epígrafe, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de tutela provisória de urgência em face das seguintes pessoas jurídicas de direito público: UNIÃO , pessoa jurídica de direito público, interno, com representação nesta seção judiciária pela Procuradoria-Regional da União da 3ª

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

  • Upload
    vodat

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA___ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO – CAPITAL

Inquérito Civil nº 1.34.001.006913/2012-38Procedimento Administrativo nº 1.34.001.006126/2014-58Resumo: “CIDADANIA. INSS. Crianças e adolescentes abrigados em unidades de acolhimento no Estadode São Paulo. Atuação para regularização documental, bem como concessão de benefícios previdenciárioseventualmente devidos, notadamente auxílio-reclusão e pensão por morte.”

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores daRepública que esta subscrevem, no exercício de suas funções constitucionais elegais, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento nasalíneas “a” e “c” do inciso VII do artigo 6º da Lei Complementar n. 75/1993 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), nos artigos 3º e 5º, inciso I, da Lei n.7.347/1985, na Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), nosartigos 7 e 8, da Convenção sobre os Direitos das Crianças; artigos 1.1., 3, 18, 19 e20, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da CostaRica), artigos 201, V e VIII e 208 e seguintes do Estatuto da Criança e doAdolescente e demais disposições legais aplicáveis à espécie, bem como noselementos colhidos no inquérito civil em epígrafe, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICAcom pedido de tutela provisória de urgência

em face das seguintes pessoas jurídicas de direito público:

UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, interno, comrepresentação nesta seção judiciária pela Procuradoria-Regional da União da 3ª

Page 2: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

22

Região, situada na Avenida Paulista, nº 1.374, 7º andar, Bela Vista - São Paulo / SP,CEP 01310-937, endereço eletrônico: [email protected], telefone (11) 3506-2800;

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS,autarquia federal, com representação nesta seção judiciária pela ProcuradoriaRegional junto ao INSS em São Paulo – SP, situada na Rua Consolação, nº 1.875,9º andar, Consolação, São Paulo – SP, CEP: 01301-100, endereço eletrônico:[email protected], telefones (11) 3506-2200 e (11) 3506-2426;

ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito públicointerno, com representação nesta seção judiciária pela Procuradoria Geral doEstado, situada na Rua Pamplona, 227 – Jardim Paulista – CEP 01405-902 – SãoPaulo (SP), (11) 3372-6405 ou 6406 – Serviço de Informação ao Cidadão – SIC,não consta endereço eletrônico oficial no site para informação1;

FUNDAÇÃO CENTRO DE ATENDIMENTOSOCIOEDUCATIVO AO ADOLESCENTE (FUNDAÇÃO CASA), entidadeinstituída pela Lei nº185 de 12 de dezembro de1973, modificada pelas Leis nºs 985de 26 de abril de 1976, 12.469 de 22 dedezembro de 2006, com sede na RuaFlorêncio de Abreu n.º 848, bairro da Luz, município de São Paulo-SP, Cep. 01030-001, inscrita no Cadastro Nacional dePessoa Jurídica do Ministério da Fazenda sob n.º44.480.283/0001-91;

MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito públicointerno, com representação nesta seção judiciária pela Procuradoria Geral doMunicípio, situada no Viaduto do Chá, 15 – 10º andar – Cep: 01002-020, e-mail:[email protected],

pelos fatos e fundamentos a seguir elencados:

1 CONTENCIOSO GERAL - Procurador do Estado Chefe: Olavo José Justo Pezzotti

Representa a Fazenda do Estado em juízo, como autora, ré, assistente ou oponente, nas ações cíveis,trabalhistas e em processos especiais, tais como ações civis públicas e ações populares. Defende oEstado em ações movidas por funcionários públicos e por particulares. Atua, também, nos mandados desegurança e mandados de injunção impetrados contra autoridade estadual, exceto aquelas relacionadascom matéria tributária ou financeira.

Endereço: Rua Maria Paula, 67, Centro, São Paulo-SP, CEP: 01319-000Telefone: (11)3291-7179, (11) 3130-9000, FAX(11)3242-9069email: NÃO CONSTA

http://www.pge.sp.gov.br/apresentacoes/ViewApresentacao.aspx?id_unidade=40210200000081&radical=14&OqueMostrar=31&Grupo=40110500000090 (acesso em 25/04/2018)

2 PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO - PGMProcurador-Geral do Município: RICARDO FERRARI NOGUEIRAChefe de Gabinete: LUCIANA SANTANA NARDICoordenador Geral do Contencioso Judicial: MARIA TEREZA GOMES DA SILVA

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/justica/menu/index.php?p=247955 (acesso em 25/04/2018)

Page 3: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

33

I – DOS FATOS

1. Trata-se do procedimento administrativo nº 1.34.001.006126/2014-58,instaurado em setembro de 2014, a partir de release elaborado pela Assessoria deComunicação da Procuradoria da República em São Paulo, sobre iniciativa doMinistério Público Federal, em conjunto com o Ministério Público Estadual, nosentido de viabilizar o recebimento de benefícios previdenciários de pensão pormorte (arts. 74 a 79, Lei nº 8.213/91) e auxílio-reclusão (art. 80, Lei nº 8.213/91)por crianças e adolescentes abrigados em entidades de acolhimento (fls. 03/06, PA1.34.001.006126/2014-58).

2. O projeto original começou com o levantamento de direitosprevidenciários de crianças e adolescentes acolhidos pelo Estado na circunscriçãode Piracicaba, com a arrecadação de documentos e envio ao Juizado EspecialFederal de Americana, para averiguação de eventual vínculo dos genitores com aPrevidência e posterior pedido de benefícios.

3. A atuação se mostrou viável e muito proveitosa para as crianças eadolescentes e acabou por despertar nos dirigentes dos abrigos e assistentes sociaisuma nova possibilidade de auxiliar os acolhidos. Isso porque o Ministério PúblicoFederal verificou que os dirigentes de entidades de acolhimento, guardiães legais decrianças e adolescentes, conforme o artigo 92, §1º, do ECA, ignoravam a própriaexistência de tais direitos ou então não vinham buscando o seu atendimento, razõespelas quais o requerimento de benefícios previdenciários não vinha sendopostulado.

4. Essa parceria inicial entre o Ministério Público Federal e o MinistérioPúblico do Estado de São Paulo pretendeu esclarecer aos dirigentes de entidades deacolhimento a existência desses direitos e criar um fluxo para a verificação docabimento e a consequente busca dos benefícios previdenciários:

“Essas crianças estão sob a responsabilidade do Estado, cabe a nóstutelar seus direitos e investigar, com zelo, todas as possibilidades deprestações estatais que lhes são devidas.” Raquel Silvestre,Procuradora da República

5. O fluxo testado em Piracicaba/Americana foi o seguinte (fl. 05, PA1.34.001.006126/2014-58): ENTIDADES/ABRIGOS: encaminham cópia dacertidão de nascimento das crianças e adolescentes, bem como os dadosqualificativos dos pais e avós e indicação sobre morte ou prisão deles >>>>MINISTÉRIO PÚBLICO: analisa os dados e encaminha ao >>>> JUIZADOESPECIAL FEDERAL em Americana, no qual correm sob sigilo

Page 4: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

44

* projeto executado em parceria com o MP/SP e tem o acompanhamento do Centrode Apoio Operacional (CAO) de Infância e Juventude do MP/SP)

6. Inclusive, para viabilizar o recebimento desses recursos, o BancoCentral do Brasil atendeu os termos da Recomendação nº 02/2014/PFDC (PA nº1.00.000.002893/2014-86) e expediu ato normativo permitindo e autorizando asentidades bancárias oficiais e privadas a abrirem contas bancárias titularizadas porcrianças e adolescentes em acolhimento institucional ou familiar, sobresponsabilidade do dirigente da entidade, mediante Guia de Acolhimento3 (fls.08/15, PA 1.34.001.006126/2014-58).

7. A intenção era expandir o projeto para outras cidades, porém oSupremo Tribunal Federal assentou posição quanto à necessidade de negativa doINSS, antes de ser levada a demanda ao Judiciário4. Assim, a Procuradoria Regionaldos Direitos do Cidadão, numa tentativa de ampliá-lo e efetivamente implementarum fluxo prático e constante para regularização documental e concessãoadministrativa e automática de benefícios previdenciários às crianças e adolescentesem unidades de acolhimento no Estado de São Paulo, sem a necessidade de recorrerao Judiciário, promoveu seguidas reuniões e tratativas com representantes daFundação CASA, da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Socialde São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de

3 Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderádeterminar, dentre outras, as seguintes medidas: (…) § 3º Crianças e adolescentes somente poderão serencaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ounão, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamenteconstará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) VigênciaI - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos; (Incluídopela Lei nº 12.010, de 2009)II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº12.010, de 2009) III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº12.010, de 2009) IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.

4 Tema 350 - Prévio requerimento administrativo como condição para o acesso ao Judiciário.Relator: MIN. ROBERTO BARROSO Leading Case: RE 631240

“Não há como caracterizar lesão ou ameaça de direito sem que tenha havido um prévio requerimento dosegurado. O INSS não tem o dever de conceder o benefício de ofício. Para que a parte possa alegar que seudireito foi desrespeitado é preciso que o segurado vá ao INSS e apresente seu pedido”, afirmou o ministro.

O relator observou que prévio requerimento administrativo não significa o exaurimento de todas asinstâncias administrativas. Negado o benefício, não há impedimento ao segurado para que ingresse noJudiciário antes que eventual recurso seja examinado pela autarquia. Contudo, ressaltou não havernecessidade de formulação de pedido administrativo prévio para que o segurado ingresse judicialmente compedidos de revisão de benefícios, a não ser nos casos em que seja necessária a apreciação de matéria defato. Acrescentou ainda que a exigência de requerimento prévio também não se aplica nos casos em que aposição do INSS seja notoriamente contrária ao direito postulado.”

Page 5: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

55

São Paulo e do INSS (fls. 20/23, 230/231, 285, 453/454, 485/493, 504/507,512/514, 521, 544/545, do PA 1.34.001.006126/2014-58, bem como fls. 16/26,29/51, 53/58, 59/69, 76/83, 88/89, 93/94, 108/156, do Inquérito Civil nº1.34.001.006913/2012-38), porém, sob diversas escusas, os órgãos e secretariasenvolvidos não adotaram providências nesse sentido e protelaram, por 4 anos,qualquer iniciativa concreta e eficaz nesse sentido, conforme se demonstrará.

8. Aliás, o Inquérito Civil nº 1.34.001.006913/2012-38, que segue emanexo, foi instaurado, visando justamente intermediar uma solução que tornasseágil, eficiente e segura a troca de informações entre a Secretaria de AdministraçãoPenitenciária do Estado de São Paulo e o INSS, no tocante à obtenção do atestadode permanência carcerária, documento obrigatório para a concessão do benefícioprevidenciário de auxílio-reclusão (art. 80, Lei nº 8.213/91), tudo com o objetivo detambém facilitar os requerimentos de tal benefício pelas famílias dos presos (seusdependentes econômicos) que, no mais das vezes, encontram-se em situação devulnerabilidade social e econômica. E, anote-se, por relevante, que a instauraçãodo aludido inquérito civil deu-se por representação do Exmo. Juiz FederalFlademir Jerônimo Belinati Martins, conforme constou do tópico final dasentença que Sua Excelência proferiu, aos 28.09.2012, nos autos do processo nº0001750-92.2012.403.6112, 3ª Vara Federal de Presidente Prudente-SP (fls.05/09, do IC).

9. Portanto, no que diz respeito a esse objetivo, qual seja, oestabelecimento de fluxo de informações entre o INSS e a Secretaria deAdministração Penitenciária do Estado de São Paulo, para fins de expedição deatestado de permanência carcerária (art. 80, Lei nº 8.213/91), este Órgão Ministerialdesde o final do ano de 2012, vem envidando esforços, sem sucesso, para que taisórgãos busquem um protocolo de entendimento quanto ao tema (art. 204, I,Constituição Federal e art. 86, Lei nº 8.069/90 – ECA).

10. Sobre este tema (atestado de permanência carcerária), vale aindadois registros. O primeiro referente a levantamento por amostragem, realizado poreste Órgão Ministerial, detectando vários casos de fraudes na expedição de taldocumento, implicando inclusive em responsabilizações criminais (fls. 156/170, dosautos do Inquérito Civil nº 1.34.001.006913/2012-38), de modo que um fluxoseguro de informações entre o INSS e a Secretaria de Administração Penitenciáriado Estado de São Paulo, mostra-se imperioso inclusive para evitar prejuízos aoerário. O segundo que se tentou inclusive levar o tema ao Gabinete de Conciliaçãodo E. Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que no final do ano de 2017informou que analisaria a questão a partir de janeiro/2018, mas até o momento nãohouve providência qualquer, ao menos que tenha sido comunicada ao MinistérioPúblico Federal (vide fls. 170/179, dos autos do Inquérito Civil nº1.34.001.006913/2012-38), denotando-se que a observância de prioridade absolutadeterminada pelo art. 227, da Constituição Federal, não tem merecido a devidaatenção.

Page 6: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

66

II – DO DIREITO

11. Da conjugação dos arts. 6º, 193 e 227 da Constituição Federal, é deverda família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, comabsoluta prioridade e entre outros direitos, os direitos previdenciários. Sãoelucidativas e pedagógicas as diretrizes traçadas no plano constitucional acerca daproteção a ser conferida às crianças e adolescentes, exigindo-se dos gestorespúblicos especial atenção, a ser imprescindivelmente dispensada a este público-alvo, notadamente quando a situação de vulnerabilidade for agravada por condiçõespeculiares (como é o caso de crianças abrigadas, sem lar e família):

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, amoradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção àmaternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma destaConstituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo obem-estar e a justiça sociais.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, àsaúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, àdignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, alémde colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,violência, crueldade e opressão.(…)

§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;(...)§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á emconsideração o disposto no art. 204.

Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadascom recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além deoutras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normasgerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programasàs esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e deassistência social;

12. O disciplinamento constitucional não deixa qualquer dúvida e émandatório, de modo a não abrir ressalvas, exigindo dos gestores públicos seusmelhores e prioritários esforços, inclusive de coordenação de ações governamentaisvisando a proteção desse grupo vulnerável. Mas não é só, pois no plano

Page 7: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

77

internacional essa preocupação também é intensa, conforme se verifica desde aDeclaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança e a Declaração dosDireitos da Criança adotada pelas Nações Unidas em 1959, reconhecida pelaDeclaração Universal dos Direitos do Homem, pelo Pacto Internacional sobre osDireitos Civis e Políticos (nomeadamente nos art. 23 e 24), pelo Pacto Internacionalsobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (nomeadamente o art. 10) e pelosestatutos e instrumentos pertinentes das agências especializadas e organizaçõesinternacionais que se dedicam ao bem-estar da criança.

13. Assim, o Tratado da Convenção sobre os Direitos da Criança,aprovada na Resolução n°44/25 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 denovembro de 1989, também possui cláusulas protetivas explícitas, específicas eexpressas acerca da temática aqui desenvolvida, indispensáveis ao bomdesenvolvimento de uma vida digna e ao exercício da própria cidadania. Normaincorporada ao direito pátrio e através da qual do Brasil assumiu compromissos:

Decreto nº 99.710, de 21/11/1990 - Promulga a Convenção sobre os Direitos daCriança5

Artigo 2

1. Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção eassegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinçãoalguma, independentemente de raça, cor, sexo, idioma, crença, opinião política oude outra índole, origem nacional, étnica ou social, posição econômica,deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seuspais ou de seus representantes legais.

2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar aproteção da criança contra toda forma de discriminação ou castigo por causa dacondição, das atividades, das opiniões manifestadas ou das crenças de seus pais,representantes legais ou familiares.

Artigo 3

1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicasou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãoslegislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.

2. Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e ocuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em consideração osdireitos e deveres de seus pais, tutores ou outras pessoas responsáveis por elaperante a lei e, com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas eadministrativas adequadas.

3. Os Estados Partes se certificarão de que as instituições, os serviços e osestabelecimentos encarregados do cuidado ou da proteção das crianças cumpramcom os padrões estabelecidos pelas autoridades competentes, especialmente no

5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm (acesso em 27/04/2018)

Page 8: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

88

que diz respeito à segurança e à saúde das crianças, ao número e à competênciade seu pessoal e à existência de supervisão adequada.

Artigo 4

Os Estados Partes adotarão todas as medidas administrativas, legislativas e deoutra índole com vistas à implementação dos direitos reconhecidos na presenteConvenção. Com relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, os EstadosPartes adotarão essas medidas utilizando ao máximo os recursos disponíveis e,quando necessário, dentro de um quadro de cooperação internacional.

Artigo 7

1. A criança será registrada imediatamente após seu nascimento e terá direito,desde o momento em que nasce, a um nome, a uma nacionalidade e, na medida dopossível, a conhecer seus pais e a ser cuidada por eles.

2. Os Estados Partes zelarão pela aplicação desses direitos de acordo com sualegislação nacional e com as obrigações que tenham assumido em virtude dosinstrumentos internacionais pertinentes, sobretudo se, de outro modo, a criança setornaria apátrida.

Artigo 8

1. Os Estados Partes se comprometem a respeitar o direito da criança depreservar sua identidade, inclusive a nacionalidade, o nome e as relaçõesfamiliares, de acordo com a lei, sem interferências ilícitas.

2. Quando uma criança se vir privada ilegalmente de algum ou de todos oselementos que configuram sua identidade, os Estados Partes deverão prestarassistência e proteção adequadas com vistas a restabelecer rapidamente suaidentidade.

14. No mesmo sentido, os artigos 1.1., 3, 18 e 19, da ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), marco legaligualmente integrado ao direito pátrio e através da qual do Brasil assumiucompromissos:

Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992 - Promulga a Convenção Americanasobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembrode 1969.

Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos

1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos eliberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoaque esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça,cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza,origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outracondição social.

Page 9: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

99

Artigo 3. Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica

Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica.

Artigo 18. Direito ao nome

Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de umdestes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediantenomes fictícios, se for necessário.

Artigo 19. Direitos da criança

Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição de menorrequer por parte da sua família, da sociedade e do Estado.

15. Aliançado à norma constitucional e às Convenções Internacionaiscitadas, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, garante:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentaisinerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata estaLei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades efacilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as criançase adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo,raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal dedesenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região elocal de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou acomunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma denegligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punidona forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitosfundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela sedirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, ea condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas emdesenvolvimento.

Título II - Dos Direitos FundamentaisCapítulo II - Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e àdignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitosde direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da

Page 10: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1010

imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços eobjetos pessoais.

Título III - Da PrevençãoCapítulo I - Disposições Gerais

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dosdireitos da criança e do adolescente.

Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção especialoutras decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará emresponsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta Lei.

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:(...)II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia deproteção social e de prevenção e redução de violações de direitos, seusagravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)(...)IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças eadolescentes desaparecidos;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e doadolescente.(...)

Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintesobrigações, entre outras:(...)IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade aoadolescente;

V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculosfamiliares;(...)XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àquelesque não os tiverem;

XX - manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias doatendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços,sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences edemais dados que possibilitem sua identificação e a individualização doatendimento.

§ 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidadesque mantêm programas de acolhimento institucional e familiar. (Redação dadapela Lei nº 12.010, de 2009)(...)

Page 11: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1111

16. E para assegurar a observância e o cumprimento de todos essesdireitos, o Estatuto da Criança e do Adolescente traz a “Articulação” como pontocentral da política de atendimento à criança e ao adolescente, tendo em conta que,para efetiva implementação da desejada proteção integral aos direitos e interessesinfanto-juvenis, é necessária uma ação conjunta, coordenada, corresponsável,incisiva e solidária, tanto do Poder Público (União, Estados e municípios)quanto da sociedade civil organizada e entidades:

Título I - Da Política de AtendimentoCapítulo I - Disposições Gerais

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

17. A coordenação de tais ações e iniciativas, de responsabilidade de todasas esferas estatais, visa construir e assegurar uma verdadeira “rede de proteção” aosdireitos das crianças e adolescentes, mormente em situação de abandono evulnerabilidade. Assim, o ECA dispõe (grifos nossos):

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poderpúblico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes àvida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, àprofissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivênciafamiliar e comunitária.(...)

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:(...)II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criançae do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos osníveis, assegurada a participação popular paritária por meio de organizaçõesrepresentativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;(...)IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aosrespectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;(...)IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e doadolescente que favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e doadolescente e seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 100…. Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças eadolescentes são os titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bemcomo na Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Page 12: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1212

II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquernorma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dosdireitos de que crianças e adolescentes são titulares; (Incluído pela Lei nº 12.010,de 2009)

III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivaçãodos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pelaConstituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é deresponsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas degoverno, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade daexecução de programas por entidades não governamentais; (Incluído pela Lei nº12.010, de 2009)

IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atenderprioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, semprejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito dapluralidade dos interesses presentes no caso concreto; (Incluído pela Lei nº12.010, de 2009)(...)VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve serefetuada logo que a situação de perigo seja conhecida; (Incluído pela Lei nº12.010, de 2009)(…)

18. Como se vê, as três esferas estatais (União, Estados e Municípios) sãocorresponsáveis solidariamente pela garantia dos direitos infanto-juvenis e pelacriação de um “Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente”,cujos parâmetros de implementação estão, inclusive, disciplinados nas Resoluçõesnº 112 e 113, ambas de 2006, do CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DACRIANÇA E DO ADOLESCENTE – CONANDA e inclui a manutenção de bancode informações e a comunicação ágil e eficaz entre os atores, reconhecendo asfalhas existentes no monitoramento das políticas e diretrizes de garantia dos direitosdas crianças e adolescentes:

RESOLUÇÃO Nº 112 DE 27 DE MARÇO DE 2006 - CONANDADispõe sobre os parâmetros para a formação continuada dos operadores dosistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente: (…)1.Formação como necessária e estratégica

Na consolidação do Sistema de Garantias dos Direitos das Crianças e dosAdolescentes e na efetivação do novo paradigma estabelecido pela ConstituiçãoFederal (art. 227), pela Convenção sobre os Direitos da Criança e pelo Estatutoda Criança e do Adolescente - ECA, algumas dificuldades são apontadas poratores do Sistema e por crianças, adolescentes e familiares, outras se evidenciamno monitoramento e avaliações de fluxos dos processos de promoção, defesa econtrole dos direitos, o que comprova a existência de inúmeros desafios natransição do padrão histórico, cultural, de percepção e atitude, ainda muitocontaminado pelo antigo modelo do Código de Menores.

Page 13: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1313

Há incompreensões, dificuldades e inadequações quanto a papéis e funções dosatores, superposições e competições de instâncias do Sistema, heranças históricas,políticas, administrativas e de mentalidade, concepções equivocadas de infância eadolescência, cultura de violências, fraca mobilização e articulação e falta deredes horizontais que respondam às necessidades e garantam direitos, problemasque se aprofundam com a falta de informações e de integração dasdiversas políticas públicas referentes a crianças e adolescentes.

A sociedade brasileira avançou na construção da Lei 8069 – Estatuto da Criançae do Adolescente. Entretanto, ainda é um desafio para o Estado, a família e asociedade a implementação de políticas que garantam a concretização dos direitosenunciados nesta lei.

Nesse contexto os processos de formação são absolutamente estratégicos eaparecem como uma das demandas prioritárias nas discussões sobre aconcretização e fortalecimento do Sistema de Garantias, especialmente naestruturação e aprimoramento dos Conselhos Municipais de Direitos da Criança edo Adolescente e Conselhos Tutelares.

Ainda que políticas para crianças e adolescentes estejam presentes na agendapolítica e social dos vários níveis de gestão governamental, elas ainda sãoinsuficientes para as mais de sessenta e um milhões de pessoas que compõem asinfâncias e adolescências brasileiras, com disparidades nacionais enormes, comcrianças e adolescentes vivendo em situações de alta e altíssima vulnerabilidade,expostos pela sociedade de classes a vários tipos de violências decorrentes deposições econômicas precárias, desigualdades regionais, negação de direitoseducacionais e de saúde física e mental entre outros, situações agravadas porcondições de gênero, raça/etnia, orientação sexual, deficiência, situaçãogeográfica e de moradia. (...)O desafio é provocar o compromisso de toda a sociedade brasileira em reconhecersuas crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, garantindo uma vida dignacom oportunidades de desenvolvimento e de participação.

Frente à necessidade de fortalecer o Sistema de Garantias de Direitos, osprocessos de formação de atores são fundamentais e estratégicos. (...)4.Objetivos dos Processos de Formação

Os processos de formação continuada devem ter como objetivos: (...)- Promover ampla formação articulada e conjunta, para membros de organizaçõesda sociedade civil e do governo, priorizando os atores do Sistema de Garantiasdos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. (...)- Aprimorar os instrumentais para agilizar o fluxo e a eficiência dos processosde promoção, defesa e controle dos direitos das crianças e dos adolescentes. (...)- Consolidar e disseminar o paradigma e a cultura do marco legal, sensibilizandopara o interesse da criança e do adolescente, como prioridade absoluta naspolíticas públicas, orçamentos e atendimentos, envolvendo todos os atores doSistema de Garantias, a sociedade civil e o governo. (...)

Page 14: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1414

6.Bancos de informações

Recomenda-se a construção de bancos de informações a partir de diagnósticos,levantamentos e reconhecimentos locais de materiais, de formadores eprofissionais, de metodologias e métodos de formação e de atendimento na áreada criança e do adolescente. (...)9.Estratégias para fortalecimento das formações

O desenvolvimento de algumas estratégias e táticas podem facilitar e adensar os processos formativos, tais como: (...)- Sistema de comunicação permanente e ágil entre os diferentes níveis doSistema de Garantia Consolidação do SIPIA 6 incluindo variáveis necessárias aoaprofundamento de diagnósticos.(…)

RESOLUÇÃO CONANDA Nº 113 DE 19/04/2006 - CONANDADispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento doSistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.

CAPÍTULO VIII - DA GESTÃO DO SISTEMA DE GARANTIA DOS DIREITOSDA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 25. A estrutura governamental, em nível federal, contará com um órgãoespecífico e autônomo, responsável pela política de atendimento dos direitoshumanos de crianças e adolescentes, com as seguintes atribuições mínimas:(Redação dada pela Resolução CONANDA nº 117, de 11.07.2006, DOU12.07.2006 )

I - articular e fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e doAdolescente;

II - funcionar prioritariamente como núcleo estratégico-conceitual, para apromoção dos direitos humanos da infância e adolescência, no âmbito nacional;

6 Sobre o Sipia:O SIPIA é um sistema nacional de registro e tratamento de informações sobre a garantia e defesa dosdireitos fundamentais preconizados no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. O SIPIA tem uma saídade dados agregados em nível municipal, estadual e nacional e se constitui em uma base única nacional paraformulação de políticas públicas no setor. SIPIA-CT Web a base do sistema é o Conselho Tutelar, para o qual se dirigem de imediato as demandassobre a violação ou o não atendimento aos direitos assegurados da criança e do adolescente.O Sistema opera sobre uma base comum de dados, definida como Núcleo Básico Brasil - NBB - colhidos eagrupados homogeneamente nas diferentes Unidades Federadas, através de instrumento único de registro.O NBB permite que o sistema processe um núcleo de dados em torno do qual se constrói um conjunto,também comum, de informações agregadas que fluem do nível municipal para o estadual e do estadual parao federal.O SIPIA fundamenta-se no Estatuto e tem três objetivos primordiais:• operacionalizar na base a política de atendimento dos direitos, ou seja, possibilitar a mais objetiva ecompleta leitura possível da queixa ou situação da criança ou adolescente, por parte do Conselho Tutelar;• encaminhar a aplicação da medida mais adequada com vistas ao ressarcimento do direito violado parasanar a situação em que se encontra a criança ou adolescente;• subsidiar as demais instâncias - Conselhos de Direitos e autoridades competentes - na formulação e gestãode políticas de atendimento.http://www.sipia.gov.br/CT/?x=fH9RQiDIwLxgXMctIqaWPA (acesso em 30/04/2018)

Page 15: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1515

III - manter sistema de informação para infância e adolescência, em articulaçãocom as esferas estadual e municipal;

IV - apoiar técnica e financeiramente o funcionamento das entidades e unidadesde execução de medidas de proteção de direitos e de medidas socioeducativas;(...)

Art. 26. … § 2º O órgão federal previsto no artigo anterior deverá assegurar que os estados,o Distrito Federal e os municípios estejam conscientes de suas obrigações emrelação à efetivação das normas de proteção à criança e à juventude,especialmente do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Convenção sobre osDireitos da Criança, da Constituição Federal e de que os direitos previstosnessas normas legais têm que ser implementados em todos os níveis,em regime de prioridade absoluta, por meio de legislações, políticase demais medidas apropriadas.

Art. 27. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípiosorganizarão, em regime de colaboração, os sistemas estaduais,distrital e municipais, tanto de defesa de direitos, quanto de atendimentosocioeducativo. (Redação dada ao caput pela Resolução CONANDA nº 117, de11.07.2006, DOU 12.07.2006 )

19. Pois bem. Infelizmente mesmo diante desse panorama que não deixadúvidas sobre a necessidade de empenho dos gestores públicos, a realidade é dedescaso e falta de compromisso com o tema. Veja-se que considerando taisresponsabilidades e a necessidade de manutenção de cadastro com dadosdocumentais das crianças e adolescentes encaminhados para abrigamento ouacolhimento, bem como de seus pais, para verificação da possibilidade de concessãode benefícios sociais e previdenciários, de pensão por morte (Lei nº 8.213/91, arts.74/79) e auxílio-reclusão (art. 80)7, várias foram as iniciativas, providências e osesforços envidados pelo Ministério Público Federal, desde 2014, no sentido de

7 Art. 77. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em parte iguais.(Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) § 2º O direito à percepção de cada cota individual cessará:(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) (…) II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, deambos os sexos, ao completar vinte e um anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência intelectualou mental ou deficiência grave; (Redação dada pela Lei nº 13.183, de 2015) III - para filho ou irmãoinválido, pela cessação da invalidez; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)

Art. 79. Não se aplica o disposto no art. 103 desta Lei ao pensionista menor, incapaz ou ausente, na formada lei.

Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes dosegurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço.

Parágrafo único. O requerimento do auxílio-reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivorecolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a apresentação de declaração depermanência na condição de presidiário.

Page 16: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1616

sensibilizar os órgãos e entidades envolvidos nesta política pública, na busca deuma solução viável para a criação de um cadastro completo e atualizado de criançase adolescentes abrigados e seus genitores/responsáveis, de um fluxo deencaminhamento de informações ao INSS para cruzamento de informações everificação da qualidade de segurado dos pais/responsáveis legais, para, ao final,implementar direitos legais assegurados a essas crianças e adolescentes, que lhespossam garantir um futuro um pouco menos dramático, através de algum tipo deauxílio financeiro do sistema de seguridade social, caso façam jus a algumbenefício.

20. O ECA dispõe em seus artigos 101, § 3º, inciso I e 102, §1º, que aGuia de Acolhimento, documento através do qual crianças e adolescentes sãoencaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional,deverá conter, obrigatoriamente, dentre outros dados, a identificação do menor e aqualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos; se o caso,deverá haver regularização do registro civil.

21. Aliás, o direito à dignidade e ao respeito obviamente inicia-se com odireito à identificação formal, jurídica e sua regularização documental, comindicação de seus dados básicos, como data e local de nascimento, filiação etc.Inclusive, questões envolvendo o direito das crianças ao registro de nascimento e aregularização de situações em que há omissão/negligência das famílias já foi objetoda Ação Civil Pública nº 0005687-25.2012.403.6108 – 1ª Vara Federal emBauru/SP, na qual se pretende impor à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística – IBGE a obrigação de fazer consistente em prestar as informaçõesnecessárias para a identificação de crianças que se encontram lesadas em seusdireitos fundamentais (direito ao nome, à nacionalidade, à cidadania, àpersonalidade jurídica e à dignidade), pois não se acham regularmente registradasnos Cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais (não documentadas).

22. Como destacado naqueles autos, pelo Ministério Público Federal, oregistro de nascimento e a regularização documental em geral é providência básicapara a fruição e o exercício pleno de outros direitos pelas crianças e adolescentes,tais como os ligados à educação, à saúde, à profissionalização, etc.

23. E, embora passadas quase três décadas deste a determinaçãolegal (ECA), conforme retratado no Inquérito Civil (autos em anexo), logo nasprimeiras reuniões com a Secretaria Municipal de Assistência e DesenvolvimentoSocial de São Paulo – SMADS e a Secretaria de Administração Penitenciária doEstado de São Paulo já ficou demonstrada a carência de informações confiáveis noscadastros:

a) reunião de 21/10/2014 (fls. 20/21, PA 1.34.001.006126/2014-58): existem 10.280crianças e adolescentes internadas em unidades da Fundação Casa, bem como que parcela delesjá são beneficiários do auxílio-reclusão, pois já existe um trabalho realizado pelas assistentessociais da Fundação, para possibilitar o recebimento de tal benefício; a Secretaria de Justiça e

Page 17: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1717

Defesa da Cidadania afirmou que existe em torno de 10.000 crianças/adolescentes em unidades deacolhimento, somente na cidade de São Paulo e se prontificou a buscar junto à SecretariaMunicipal de Assistência e Desenvolvimento Social, que cuida da Proteção Especial relacionada aessas crianças e adolescentes que se encontram em unidades de acolhimento, a existência dedados consolidados das crianças acolhidas (notadamente dados documentais); a Procuradoria-Geral de Benefícios do INSS, através do Dr. Bruno Bianco Leal, se prontificou a facilitar o fluxode informações e a realização de cruzamento de dados e a Secretaria de AdministraçãoPenitenciária a fornecer informações a respeito de atestado de permanência carcerária, para finsdo trabalho que se pretende realizar.

b) reunião de 12/11/2014 (fl. 23, PA 1.34.001.006126/2014-58): pela técnica daProteção Especial da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo- SMADS, foi informado que os casos de crianças acolhidas, de pais falecidos ou presos, queensejariam o direito aos benefícios em referência, representam aproximadamente 2% do total decrianças e adolescentes acolhidas, considerados os dados colhidos no momento do acolhimento, oque não significa que um dos pais possa já ter cumprido pena de prisão ou, então, falecido após omomento do acolhimento; pelo PRDC, foi realçado que a prisão ou o falecimento dos pais podeocorrer após o acolhimento da criança, e não apenas no momento do acolhimento, o que tambémpossibilitaria a concessão de algum benefício; esclareceu ainda que pode ocorrer da prisão e suasoltura ter ocorrido antes do acolhimento, situação que também permitiria o recebimento deauxílio-reclusão, desde que algum dos pais tenha contribuído para o INSS, requisito tambémnecessário para a concessão da pensão por morte; assim, provavelmente haveriam mais casos emque é possível a concessão de tais benefícios previdenciários; o PRDC registrou ainda que, quantoàs planilhas com os dados das crianças acolhidas, seria interessante a inclusão de dadosqualificativos dos pais das crianças e adolescentes (data de nascimento, nome da mãe, CPF, RG,PIS ou ainda título eleitoral), pois a partir de tais dados, poderá se verificar quais são seguradosdo INSS, a fim de possibilitar eventual recebimento dos benefícios de auxílio-reclusão (no caso deegressos do sistema prisional) ou pensão por morte (no caso de óbito); a SMADS se comprometeu,então, a verificar a possibilidade da inclusão dos dados dos pais, nas planilhas preenchidasmensalmente, para que possam ser utilizadas, em futuro próximo, no objetivo pretendido, peranteo INSS.

24. Essa precariedade na coleta de dados foi confirmada posteriormentepela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social em São Pauloque, às fls. 31/32 (PA 1.34.001.006126/2014-58), informou que osencaminhamentos realizados pelos Conselhos Tutelares de São Paulo, de crianças eadolescentes, para acolhimento, tem se dado eventualmente com oacompanhamento de seus documentos e excepcionalmente com a documentaçãodos genitores ou eventuais guardiões.

25. Lamentavelmente, mesmo após várias diligências da ProcuradoriaRegional dos Direitos do Cidadão, inclusive com expedição de Recomendação atodos os Conselhos Tutelares da cidade de São Paulo8 (fls. 36/170, reiteração às fls.250/282, PA 1.34.001.006126/2014-58) e das respostas supostamente satisfatórias(212/221, 226, 228, 237/238, 239/241, 243/246, 248, 289/291, 317/319, 328/351,8 Exortando-os para os seus deveres legais e recomendando adoção de todas as providências que estiveremao alcance para que, quando do encaminhamento das crianças e adolescentes para abrigamento ouacolhimento, seja providenciado, concomitantemente, o envio de seus documentos (originais ou cópias), bemcomo de cópias ou números dos documentos de seus genitores ou guardiães, notadamente certidão denascimento, documentos de identidade e CPF (cadastro de pessoa física)

Page 18: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1818

372/451, 457/4599 - PA 1.34.001.006126/2014-58), fato é que as planilhas einformações de fls. 492/495, 497/499, 505, 521/538 e 544/546 (PA1.34.001.006126/2014-58), demonstram que a Secretaria Municipal de Assistênciae Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo não mantém registro degrande parte dos dados solicitados através do Ofício de fl. 49010 (PA1.34.001.006126/2014-58), que possibilitariam a verificação da qualidade desegurado dos genitores da criança/adolescente pelo INSS.

26. A mesma falha foi constatada nos registros mantidos pela FundaçãoCASA (fls. 491, 506/507 - PA 1.34.001.006126/2014-58), que inclusive afirmou, àsfls. 512/513 (PA 1.34.001.006126/2014-58), que a coleta de dados dos genitoresdos adolescentes, de modo a possibilitar o recebimento dos auxílios em questão, nãofazia parte de sua rotina de coleta de dados.

27. Com a situação atual desses cadastros não se pode obter, de formacompleta e segura, os dados necessários para viabilizar a avaliação pelo INSS dodireito de tais crianças e adolescentes ao recebimento de benefícios previdenciáriospor crianças e adolescentes abrigados em entidades de acolhimento, sequer deforma judicial (pois para ajuizar medida judicial com tal objetivo, há, de qualquer modo, que seter em mãos os dados dos genitores para verificar a qualidade de segurados), quanto menos demaneira administrativa, proativa e mais célere.

28. O INSS, por sua vez, instado a colaborar na criação de um fluxo deencaminhamento de dados (papel, meio digital etc), sobre as crianças e adolescentesabrigadas em unidades de acolhimento ou internadas na Fundação Casa, em SãoPaulo, para verificação da qualidade de segurado de seus genitores e, se o caso,implantação administrativa de benefícios previdenciários (fls. 25, 29, PA1.34.001.006126/2014-58), opôs vários obstáculos, como “inversão de fluxo” naatuação da autarquia, custos, insuficiência de dados, dentre outros:

Fls. 230/231 - PA 1.34.001.006126/2014-58 (grifos nossos): “… a solicitação,encaminhada via correspondência eletrônica, foi tratada com as áreas do Instituto

9 No sentido de que já envidam esforços para o encaminhamento dos documentos referidos naRecomendação junto ao termo da Guia de Acolhimento, salvo atendimentos repentinos, em situação de rua,abandono ou outras, que requerem proteção imediata, onde não conseguem dados suficientes para localizar afamília e acessar tais documentos, ou ainda, quando a vulnerabilidade social é tanta que os próprios genitoresou responsáveis também estão sem documentos.10 Visando averiguar a necessidade de instauração de inquérito civil sobre os fatos noticiados nos autos (art.2º, § 4º, Resolução nº 23/2007, do CNMP), solicito-lhe, com fulcro no artigo 8º, inciso II, da LeiComplementar nº 75/93, que, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, sejam-me prestadas as informaçõesabaixo, sobre crianças e adolescentes abrigadas ou internadas em unidades da cidade de São Paulo, com ofim de verificar se têm direito a receber pensões ou auxílios-reclusão (o arquivo poderá ser enviado emformato de planilha digital para o e-mail [email protected]): 1 - Nome completo dacriança/adolescente; 2 - Data de Nascimento da criança/adolescente; 3 - Nome do pai e mãe dacriança/adolescente; 4 - CPF do pai e mãe da criança/adolescente; 5 - Data de nascimento do pai e mãe dacriança/adolescente; 6 - Nome da avó paterna ou materna da criança/adolescente; Havendo informação doitem 4, os itens 5 e 6 poderão ser dispensados, contudo será útil sejam informados. Por fim anoto que estesubscritor já adiantou o assunto e a necessidade de tais dados, mediante contato com a Sra. Maria deFátima Leite da Silva dessa Coordenadoria de Proteção Social Especial.

Page 19: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

1919

Nacional do Seguro Social – INSS responsáveis pelo atendimento e processamentodos requerimentos de benefícios previdenciários.

3. Desde logo foi verificada dificuldade ante a inversão, no fluxo proposto, dalógica utilizada pelo INSS nas suas atividades. O Instituto, no processamento derequerimento de benefícios, atua em posição passiva, recebendo os requerimentosdos interessados, acompanhados de eventual documentação comprobatória e, apartir daí, processando-os e habilitando-os na forma da lei. O fluxo propostonecessita, 'a priori”, da inversão da lógica apresentada, haja vista competir, nestecaso, ao INSS identificar os possíveis beneficiários, passando, assim, a atuar demaneira pró-ativa na concessão de tais benefícios.

4. Embora consciente da importância dada pela Constituição Federal àimplementação dos direitos das crianças e dos adolescentes, conforme alertadopor V. Exa. diante das dificuldades operacionais resultantes da inversão de lógicaapontada, não foi ainda possível ao INSS desenhar um fluxo passível de atender àdemanda apresentada.”

Fls. 285/286, PA 1.34.001.006126/2014-58 - reunião, realizada na PRDC em06/02/2015: os representantes do INSS reiteraram que estavam com dificuldadespara implantação do fluxo de documentos e cruzamento de dados para concessão,administrativamente e de maneira proativa, implementação dos benefíciosprevidenciários às crianças abrigadas, sob alegação de custo elevado e eficiênciaduvidosa, pela dependência de dados referentes aos pais dos menores.

Fls. 453/454, PA 1.34.001.006126/2014-58: quanto à sugestão do PRDC sobrepossível utilização do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos(CNCA – Resolução CNJ nº 93/2009), desenvolvido pelo Conselho Nacional deJustiça, mais uma vez, o INSS argumentou dificuldades na obtenção de dados (fls.453/454 - PA 1.34.001.006126/2014-58) e concluiu que nem o Cadastro Nacionalde Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCAA), nem o Cadastro Nacional deAdoção (CNA) possuem as informações que serviriam de suporte para a melhoratuação do INSS na concessão de benefícios (fls. 475, 477/479, 483 - PA1.34.001.006126/2014-58).

29. Novas reuniões e tratativas (17/03/2016 – fls. 485/489; 08/06/2016 –fls. 500/504, fls. 518/520 e 548/554 - PA 1.34.001.006126/2014-58) comrepresentantes do INSS, inclusive contando com o auxílio do Centro de Apoio doMinistério Público do Estado de São Paulo, da Corregedoria do Tribunal de Justiçade São Paulo e Conselho Nacional de Justiça, na tentativa de estabelecerconcretamente um fluxo de documentos e informações, criar formulário de dados,atualização cadastral contínua de crianças e adolescentes abrigados (o que ficaria acargo da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social doMunicípio de São Paulo e da Fundação CASA) e concessão administrativa dosbenefícios previdenciários, porém nada foi resolvido.

30. Toda esse esforço de enfrentamento da questão e dedicação, de formaconsensual e na esfera administrativa, foram frustrados pelo jogo de “empurra”,descaso e leniência (muito ao contrário da prioridade absoluta que o marco legal

Page 20: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2020

exige) por parte das entidades rés (seus órgãos e gestores), que se limitam econformam em dizer que não dispõem de dados suficientes e atualizados sobreos abrigados, não se comprometem efetivamente com as propostas ministeriaise não apresentam uma proposta diversa sequer para solucionar a questão.

31. E como já ressaltado, a lei, em razão da vulnerabilidade das crianças eadolescentes e especialmente da complexidade das situações vivenciadas pelascrianças e adolescentes abrigados, estipulou como alguns dos pilares, da política deatendimento a essas crianças e adolescentes, a articulação entre os agentes, aagilidade e eficiência na comunicação intersetorial e a viabilização através de umamultiplicidade de ações nas áreas de políticas sociais básicas, serviços deprevenção, assistência supletiva, proteção jurídico-social e defesa de direitos.

32. A propósito, pede-se vênia para citar excerto irreparável, do Prefáciosubscrito por Olympio de Sá Sotto Maior Neto11 na obra Digiácomo, Murillo JoséECA: Estatuto da Criança e do Adolescente anotado e interpretado / Murillo JoséDigiácomo, Ideara de Amorim Digiácomo. -- 2. ed. -- São Paulo: FTD, 201112

(grifos nossos):

“Formulado com o objetivo de intervir positivamente na tragédia de exclusãoexperimentada pela nossa infância e juventude, o Estatuto da Criança e doAdolescente apresenta duas propostas fundamentais, quais sejam: a) garantir queas crianças e adolescentes brasileiros, até então reconhecidos como merosobjetos de intervenção da família e do Estado, passem a ser tratados comosujeitos de direitos; b) o desenvolvimento de uma nova política de atendimento àinfância e juventude, informada pelos princípios constitucionais dadescentralização político-administrativa (com a consequente municipalização dasações) e da participação da sociedade civil. Entretanto, no quadro real demarginalidade em que se encontra a grande maioria da população brasileira(integrante do país que se transformou em ‘campeão mundial' das desigualdadessociais), sabemos que padecem especialmente as nossas crianças e adolescentes,vítimas frágeis e vulneradas pela omissão da família, da sociedade e,principalmente, do Estado, no que tange ao asseguramento dos seus direitosfundamentais. Diante de um contexto de desassistência e abandono(calcula-se a existência de cerca de 40 milhões de carentes eabandonados), almeja-se que as regras de cidadania contempladasno ordenamento jurídico em prol da população infanto-juvenil nãopermaneçam meras ‘declarações retóricas, ‘exortações morais',singelos ‘conselhos' ao administrador e, porque assim tomadas,postergadas na sua efetivação ou relegadas ao abandono. É que ascrianças e adolescentes vítimas do holocausto permanente ditado pelas absurdastaxas de mortalidade, as que apresentam lesões celebrais irreversíveisdecorrentes da subnutrição, as que sobrevivem nas ruas através da esmoladegradante, bem como as que não têm acesso à educação ou à saúde, não podemmais aguardar que a ‘natureza das coisas' ou o ‘processo histórico' venham aintervir para a materialização daquilo que lhes foi prometido no ordenamento

11 Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná12 http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/marista/eca_anotado_digiacomo_2012.pdf (acesso em 30/04/2018)

Page 21: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2121

jurídico brasileiro como garantia de dignidade a quem se encontra em peculiarfase de desenvolvimento. Então, convém admitir que a lei - ainda que dereconhecida excelência - não tem o condão de, por si só, alterar a realidadesocial. O que transforma a sociedade é, na verdade, o efetivo exercício dosdireitos previstos na lei, a partir de uma atuação firme e decidida daqueles que,de uma forma ou de outra, detém o poder e, por via de consequência, aresponsabilidade para criar as condições e os meios indispensáveis ao exercíciode tais direitos. Dessa maneira, consideradas nossas iniquidades (políticas,sociais e econômicas) e na perspectiva da construção de condições mais justas eigualitárias (capazes, por isso mesmo, de instalar relações sociais solidárias epacíficas), pretende-se, nessa atual quadra histórica, que as forças progressistasda sociedade brasileira venham a intervir de maneira mais incisiva (e positiva)na implementação das regras do Estatuto da Criança e do Adolescente , comopor diversas vezes destacado ao longo da presente obra. Também, para além daespontânea atividade do administrador público em favor das crianças eadolescentes (afinal, como sempre dizem eles, não é delas que depende o futurodo País?), o Sistema de Justiça - sob a égide do princípioconstitucional da prioridade absoluta à criança e ao adolescente(art. 227, caput, da Constituição Federal) - deve atuar, quandonecessário, com efetiva preferência, afinco e eficiência namaterialização das promessas de cidadania para a populaçãoinfanto-juvenil existentes na Constituição Federal e,principalmente, no Estatuto da Criança e do Adolescente(cumprindo os operadores do direito com responsabilidade não sóprofissional, mas também política, social e ética), de molde a elevarem dignidade especialmente as funções do Poder Judiciário, doMinistério Público e da Defensoria Pública. Assim sendo, se éverdade que, como dito acima, por si só a lei nada transforma, nãoresta dúvida que um Sistema de Justiça atuante reúne plenascondições de fazer dela um importante instrumento detransformação da realidade de descaso em que vive boa parte dapopulação infanto-juvenil, chamando à responsabilidade (e mesmoresponsabilizando civil e administrativamente, tal qual previsto nosarts. 208 e 216, da Lei nº 8.069/1990) os governantes que se omitemem cumprir seus deveres legais e constitucionais para com nossascrianças e adolescentes. (…)Então, é fundamental a intervenção de todos no sentido da existência depolíticas públicas capazes de fazer das crianças e adolescentes efetivamentesujeitos de direito, garantindo-se a plena efetivação de seus direitosfundamentais, com a mais absoluta prioridade, tal qual preconizado de maneiraexpressa pelo art. 4º, caput e parágrafo único, da Lei nº 8.069/1990, como reflexodireto do comando supremo emanado do já citado art. 227, caput, de nossa CartaMagna.

33. Feitas todas essas considerações, não se mostra aceitável a mera“transferência de responsabilidade” e o atendimento “segmentado”, submetendo ascrianças e adolescentes abrigados (que, portanto, encontram-se em situação de

Page 22: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2222

extrema vulnerabilidade) à violação de direitos, no caso, sem a proteção, quandocabível, de benefícios do sistema de seguridade social.

34. Por outras palavras, é inegável que a política de atendimento,desenhada em nosso marco legal, exige a intervenção de diversos órgãos, entidadese autoridades (notadamente públicas) e que, embora detentoras de tarefas própriase/ou exclusivas, têm igual e solidária corresponsabilidade na identificação e soluçãodos problemas existentes, tanto no plano individual quanto coletivo do atendimentoàs crianças e adolescentes abrigados.

35. Diante, portanto, dessa postura, no mínimo descompromissada, dosagentes responsáveis (entidades rés) pelo zelo na garantia de todos os direitos dascrianças e adolescentes abrigados, caracterizada está, desenganadamente, a afrontaao comando constitucional que determina seja observada absoluta prioridade nosdireitos à dignidade e ao respeito da criança, ficando evidenciada a negligênciavedada que afronta flagrantemente o marco legal que trata do tema, negando aconcretização de direitos e garantias elevados à categoria de direitos fundamentais.

36. A cláusula constitucional é impositiva. Revela, portanto,determinação inflexível e absoluta. E essa ordem se destina à família, à sociedade eao Estado, para que sejam colocadas as crianças a salvo de toda a forma denegligência. É um dever indeclinável. Não comporta a fiel execução desse ditame,perante qualquer razão que seja, nenhuma forma de temperamento. Não pode haverdesculpas, entreves administrativos e burocráticos que se sobreponham essaabsoluta prioridade conferida pelo marco legal.

37. Assim, ante tudo que se tem exposto, em termos dos direitosgarantidos tanto no plano interno como internacional, o relevo que possuem osdireitos que estão envolvidos na presente causa impõem o esforço máximo deatuação conjugada de todas as esferas estatais e da sociedade para garantir suafruição pelas crianças e adolescente que se encontram na aqui narrada situação denegligência, expressamente reprovável ou reprovada no texto constitucional (art.227, C.F.).

III - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALE DA ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA

38. É a própria Constituição da República que atribui ao MinistérioPúblico a sagrada missão de defender os direitos individuais indisponíveis – art.127, caput.

39. A mesma Carta Política, pelas configurações próprias que possui, nãohesitou em trazer um Ministério Público mais participativo e forte, ligado,necessariamente, aos temas de maior relevo no cenário pátrio. A respeitosa

Page 23: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2323

doutrina, lecionando acerca das Funções Essenciais à Justiça, auxilia nacompreensão da dimensão e dignidade da atuação ministerial:

“A Constituição de 1988 deferiu uma atenção ao Ministério Público inédita nahistória do Brasil e de difícil paralelo no direito comparado. A instituição, quemau era mencionada em outros diplomas constitucionais, tem o seu caráterpermanente e essencial à função jurisdicional do Estado proclamado erobustecido na Carta em Vigor.(…)Como quer que seja, não há dúvida quanto à vinculação essencial e indissociávelentre o Ministério Público e o primado da lei. O Ministério Público é fiscal da leie da sua execução. Como essa fiscalização se exerce, inclusive, no planoconstitucional, dado que compete ao Ministério Público velar pelo respeito à LeiFundamental, o MP assume a condição de órgão essencial do Estado, porque astarefas a seu cargo são daquelas essenciais à própria conceituação do Estadoenquanto nação politicamente organizada.

Em nosso ordenamento jurídico, por exemplo, a titularidade da ação direta dedeclaração de inconstitucionalidade, a cargo do Procurador-Geral da República;a incumbência que o constituinte entregou ao MP de defender a ordem jurídica, oregime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis; além datitularidade exclusiva a (sic) da ação penal pública, tudo isso põe em evidência aimportância do Ministério Público como órgão de controle das atividades sociaise da conformidade dos governos com as finalidades constitucionais do próprioEstado”13.

40. Da mesma forma, no rol de atribuições que lhe são outorgadas pelaLei Complementar nº 75/93 – Lei que lhe confere organicidade – encontra-se aprevisão segundo a qual a atuação ministerial deve se dar, pela via da ação civilpública, nos casos em que se vise proteger os direitos individuais indisponíveis.

Art. 6º Compete ao Ministério Público da União:(…)VII - promover o inquérito civil e a ação civil pública para:

a) a proteção dos direitos constitucionais(…)c) a proteção dos interesses individuais indisponíveis, difusos e coletivos, relativosàs comunidades indígenas, à família, à criança, ao adolescente, ao idoso, àsminorias étnicas e ao consumidor;(...)

41. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, por seu turno, reforçaainda mais a legitimidade ministerial no caso em tela e a adequação da via eleita:

Art. 201. Compete ao Ministério Público:(...)

13 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; GONET BRANCO, Paulo Gustavo. Curso deDireito Constitucional. Ed. Saraiva. 3ª ed. 2008. p. 994 e 995.

Page 24: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2424

V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interessesindividuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive osdefinidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;(...)VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados àscrianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciaiscabíveis;(...)XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e osprogramas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativasou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;

Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade porofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao nãooferecimento ou oferta irregular:(...)VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, àinfância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes quedele necessitem;(...)Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteçãojudicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância eda adolescência, protegidos pela Constituição e pela lei.

§ 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outrosinteresses individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância e daadolescência, protegidos pela Constituição e pela Lei. (Renumerado do Parágrafoúnico pela Lei nº 11.259, de 2005)

Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos,consideram-se legitimados concorrentemente:

I - o Ministério Público;(...)§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da Uniãoe dos estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

Capítulo VII - Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos

Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, sãoadmissíveis todas as espécies de ações pertinentes.

§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do Código deProcesso Civil.(...)

42. O ordenamento jurídico é induvidoso quanto à legitimidade doMinistério Público para a propositura de medidas judiciais que postula a tutela dedireitos indisponíveis, de forma geral e, especialmente, das crianças e adolescentes..

Page 25: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2525

IV - DA LEGITIMIDADE PASSIVA

43. Como visto exaustivamente, o Estatuto da Criança e do Adolescente éinconteste ao dispor que a política de atendimento dos direitos da criança e doadolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais enão-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios(art. 86).

44. Embora o atendimento rotineiro e ordinário às crianças e adolescentesabrigados seja prestado pelos municípios, cabe à União e aos Estados prestarem oapoio técnico e financeiro para que os municípios possam construir suas “redes” ou“sistemas” de proteção” infanto-juvenis14.

45. Por se tratar de responsabilidade intersetorial, comum e solidária detodos os entes federados (art. 86, art. 88, IX e art. 100 par. único, III, Lei nº8.069/90 - ECA), detêm as entidades rés legitimidade passiva para serem aquidemandadas pois, conforme se comprovou, se omitem, adotando postura passiva,que flerta com a negligência, deixando de implementar medidas administrativasconcretas para assegurar direitos às crianças e aos adolescentes, maisespecificamente sob a perspectiva da seguridade social. Veja-se que na seara dasaúde, onde também presente a solidariedade de responsabilidade dos entes estatais,o Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do RE 855178, em 05.03.2015,sob o regime de repercussão geral, decidiu que “O tratamento médico adequado aosnecessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidáriados entes federados . O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles,isoladamente, ou conjuntamente."

46. Daí decorre, a princípio, a legitimidade da União, responsávelmaior pela coordenação, fortalecimento e eficiência do Sistema de Garantia dosDireitos da Criança e do Adolescente e que é omissa na regulamentação emanutenção de um cadastro confiável de dados de crianças e adolescentes abrigadose na implementação de uma política que garanta a concessão dos devidos diretosprevidenciários a esses cidadãos vulneráveis. A União também é responsável pelofinanciamento, pela destinação de recursos necessários para viabilizar a criaçãodesse cadastro e desse fluxo de informações entre os agentes (entidades, abrigos eINSS), conforme prevê a própria Resolução do CONANDA:

RESOLUÇÃO CONANDA Nº 113 DE 19/04/2006 - CONANDA

14 Art. 100…. Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: (Incluído pela Lei nº 12.010,de 2009)III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados acrianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamenteressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo damunicipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades nãogovernamentais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

Page 26: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2626

Dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento doSistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Art. 27 - § 1º Caberá à União a coordenação desses programas e serviços deexecução das medidas específicas de proteção de direitos e de execução dasmedidas socioeducativas, integrando-os no campo maior da política deatendimento de direitos da criança e do adolescente e exercendo função normativade caráter geral e supletiva dos recursos necessários ao desenvolvimento dossistemas estaduais, distrital e municipais.(...)Art. 28. Incumbe à União:

I - elaborar os Planos Nacionais de Proteção de Direitos Humanos e deSocioeducação, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e osmunicípios;

II - prestar assistência técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aosmunicípios para o desenvolvimento de seus sistemas de proteção especial dedireitos e de atendimento socioeducativo, no exercício de sua função supletiva;

III - colher informações sobre a organização e funcionamento dos sistemas,entidades e programas de atendimento e oferecer subsídios técnicos para aqualificação da oferta;(...)V - instituir e manter processo nacional de avaliação dos sistemas, entidades eprogramas de atendimento.

§ 1º Para o cumprimento do disposto nos incisos III e V, a União terá livre acessoàs informações necessárias em todos os sistemas, entidades e programas deatendimento.

§ 2º As funções de natureza normativa e deliberativa da competência da Uniãoserão exercidas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente- CONANDA, e as funções de natureza executiva, pela Presidência da República,através da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

É missão do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) desenvolver políticaspúblicas voltadas à promoção dos direitos da criança e do adolescente. Tal missãoé executada pela Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente(SNDCA). Acompanhe nessa área as ações da Secretaria, cujas atribuiçõesincluem, entre outras:Coordenar as ações e medidas governamentais referentes à criança e aoadolescente;Coordenar a produção, a sistematização e a difusão das informações relativas àcriança e ao adolescente;Coordenar ações de fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) decrianças e adolescentes;Coordenar a política nacional de convivência familiar e comunitária;Coordenar a política do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo(Sinase);Coordenar o Programa de Proteção de Adolescentes Ameaçados de Morte(PPCAAM);

Page 27: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2727

Coordenar o enfrentamento ao abuso e exploração sexual de crianças eadolescentes;Exercer a secretaria-executiva do Conselho Nacional dos Direitos da Criança edo Adolescente (Conanda)[disponóvel em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes> acessoaos 05 maio 2018]

47. A legitimidade passiva do Estado de São Paulo, por sua vez,decorre de três aspectos. O primeiro porque é o responsável pelo cadastro deficienteque mantém das crianças e adolescentes internados na Fundação Centro deAtendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA), instituição vinculada àSecretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, como constatado às fls.491, 506/507 e 512/513, PA 1.34.001.006126/2014-58. O segundo aspecto decorreda inapetência da Secretaria de Administração Penitenciária (apesar da exortação doMinistério Público Federal) em disponibilizar para o INSS a base de dados depessoas que se encontram recolhidas no sistema prisional ou, então, dialogar com aautarquia previdenciária visando estabelecer um canal de comunicação rápidavisando expedir, para o órgão previdenciário, atestados de permanência carcerária(art. 80, par. único, Lei nº 8.213/91), para averiguação da possibilidade deconcessão automática do benefício de auxílio-reclusão às crianças e adolescentesabrigados que porventura fizerem jus (vide docs. de fls. 20/21, PA1.34.001.006126/2014-58, bem como fls. 22/26, 50, 53/58, 59/60, 76/83, 88/89,93/94, 108/150, do IC 1.34.001.006913/2012-38). O terceiro aspecto situa-se nacorresponsabilidade pela elaboração de planos estaduais de defesa de direitosinfanto-juvenis, criação de normas, programas e regulações eventualmentenecessárias e atuação conjunta com os municípios, dentre outras atuações, sem certoque o que aqui se postula inclui-se em tais atribuições institucionais:

RESOLUÇÃO CONANDA Nº 113 DE 19/04/2006 - CONANDADispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento doSistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Art. 29. Incumbe aos Estados:

I - elaborar os planos estaduais de defesa de direitos e de atendimentosocioeducativo, em colaboração com os municípios;

II - instituir, regular e manter seus sistemas de defesa de direitos e de atendimentosocioeducativo, respeitadas as diretrizes gerais dos respectivos Planos Nacionais;

III - criar e manter os programas de defesa de direitos e de atendimentosocioeducativo, para a execução das medidas próprias;

IV - baixar normas complementares para a organização e funcionamento dos seussistemas de defesa de direitos e de atendimento e dos sistemas municipais;

V - estabelecer, com os municípios, as formas de colaboração para a oferta dosprogramas de defesa de direitos e de atendimento socioeducativo em meio aberto;e

Page 28: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2828

VI - apoiar tecnicamente os municípios e as entidades sociais para a regularoferta de programas de defesa de direitos e de atendimento socioeducativo emmeio aberto.

Parágrafo único. As funções de natureza normativa e deliberativa relacionadas àorganização e funcionamento dos sistemas referidos, em nível estadual, serãoexercidas pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

48. A legitimidade passiva do Município de São Paulo, em moldessemelhantes à do Estado, situa-se na atuação insuficiente na criação e manutençãode cadastro completo e atualizado das crianças e adolescentes acolhidos nos abrigosmunicipais (fls. 2315, 31/3216 - PA 1.34.001.006126/2014-58), atividade deresponsabilidade da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Socialde São Paulo – SMADS. Anote-se ainda quanto a tal ponto que, apesar dosConselhos Tutelares terem acatado a Recomendação do Ministério Público Federalpara envidar esforços de coletar e encaminhar documentação mais completa dascrianças e adolescentes que encaminham para os abrigos, através da Guia deAcolhimento, fato é que as tratativas finais de criar um fluxo de documentos,formulário de dados e uma forma de atualização cadastral contínua de crianças eadolescentes abrigados, o que ficaria a cargo da Secretaria Municipal de Assistênciae Desenvolvimento Social do Município de São Paulo, foram frustradas (vide fls.485/504, 518/520 e 548/554 - PA 1.34.001.006126/2014-58).

49. E, da mesma forma que os demais agentes, o Município de SãoPaulo deve agir proativamente e prioritariamente na proteção dos direitos dascrianças e adolescentes:

RESOLUÇÃO CONANDA Nº 113 DE 19/04/2006 - CONANDADispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento doSistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Art. 30. Incumbe aos Municípios: (Redação dada pela Resolução CONANDA nº117, de 11.07.2006, DOU 12.07.2006 )

15 Fl. 23, PA 1.34.001.006126/2014-58: (…) pelo PRDC, foi realçado que a prisão ou o falecimento dos pais pode ocorrerapós o acolhimento da criança, e não apenas no momento do acolhimento, o que também possibilitaria a concessão dealgum benefício; esclareceu ainda que pode ocorrer da prisão e sua soltura ter ocorrido antes do acolhimento, situação quetambém permitiria o recebimento de auxílio-reclusão, desde que algum dos pais tenha contribuído para o INSS, requisitotambém necessário para a concessão da pensão por morte; assim, provavelmente haveriam mais casos em que é possívela concessão de tais benefícios previdenciários; o PRDC registrou ainda que, quanto às planilhas com os dados dascrianças acolhidas, seria interessante a inclusão de dados qualificativos dos pais das crianças e adolescentes (data denascimento, nome da mãe, CPF, RG, PIS ou ainda título eleitoral), pois a partir de tais dados, poderá se verificar quais sãosegurados do INSS, a fim de possibilitar eventual recebimento dos benefícios de auxílio-reclusão (no caso de egressos dosistema prisional) ou pensão por morte (no caso de óbito); a SMADS se comprometeu, então, a verificar a possibilidade dainclusão dos dados dos pais, nas planilhas preenchidas mensalmente, para que possam ser utilizadas, em futuro próximo,no objetivo pretendido, perante o INSS.

16Às fls. 31/32, PA 1.34.001.006126/2014-58, reconheceu que os encaminhamentos realizados pelos Conselhos Tutelaresde São Paulo, de crianças e adolescentes, para acolhimento, tem se dado eventualmente com o acompanhamento deseus documentos e excepcionalmente com a documentação dos genitores ou eventuais guardiões, situação confirmadapelas planilhas e informações de fls. 492/495, 497/499, 505, 521/538 e 544/546 - PA 1.34.001.006126/2014-58.

Page 29: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

2929

I - instituir, regular e manter os seus sistemas de defesa de direitos e deatendimento socioeducativo, respeitadas as diretrizes gerais dos Planos Nacionaise Estaduais, respectivos;

II - criar e manter os programas de defesa de direitos e de atendimentosocioeducativo para a execução das medidas de meio aberto; e

III - baixar normas complementares para a organização e funcionamento dosprogramas de seus sistemas de defesa de direitos e de atendimento socioeducativo.(...)§ 2º As funções de natureza normativa e deliberativa relacionadas à organização efuncionamento dos sistemas municipais serão exercidas pelo Conselho Municipaldos Direitos da Criança e do Adolescente.

50. A legitimidade do INSS, no caso, é consequência do fato de que aautarquia é a responsável pela articulação com os demais agentes para a criação deum fluxo de informações, cruzamento de dados e implantação dos benefíciosprevidenciários, observados, obviamente, os requisitos legais. Tal legitimidadepassiva igualmente decorre do fato de que, desde o final de 2012, vem sendoexortada, sem sucesso, pelo autor, a estabelecer um fluxo de informações com aSecretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (vide fls. 16/21,28/49, 51/51-v, 59/60, 61/69, 151/156, dos autos do Inquérito Civil nº1.34.001.006913/2012-38).

51. Aliás, há notícia de que a autarquia previdenciária já vemimplementando a concessão automática de benefícios previdenciários17 (o quedemonstra a plena viabilidade operacional do que aqui postulado).

52. Também não se desconhece que o Conselho Nacional de Justiça jáhá algum tempo vem tentando criar um cadastro mais robusto, com mais dadosdocumentais sobre as crianças e adolescentes abrigados, conforme notícias queconstam de do site oficial do Conselho18, que se encontram juntadas aos autos doprocedimento em epígrafe (volume 3). Todavia ainda não há iniciativa que tenhaconcretizado de forma efetiva com dados documentais necessários para as medidasrequeridas na presente ação (vide informação de fl. 475, PA 1.34.001.006126/2014-58), em que pese esteja o tema sob a advertência constitucional de que deve sertratado pelo Estado (gestores públicos) com prioridade absoluta (art. 227,Constituição Federal)

17 Vide: <https://www.inss.gov.br/inss-amplia-beneficios-que-podem-ser-concedidos-sem-necessidade-de-ida-a-uma-agencia-do-instituto/> - Acesso em 05 maio 2018;Vide: <https://extra.globo.com/noticias/economia/inss-passa-liberar-pensao-por-morte-de-forma-automatica-partir-de-maio-22453256.html> - Acesso em 05 maio 2018.18 Vide: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84850-cadastro-do-cnj-de-acolhimento-e-adocao-de-crianca-sera-unificado> Acesso em 06 maio 2018Vide: <http://www.cnj.jus.br/noticias/68254-aprovada-criacao-do-cadastro-nacional-de-criancas-e-adolescentes-acolhidos> Acesso em 06 maio 2018

Page 30: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

3030

V - COMPETÊNCIA

53. Sobre a competência da Justiça Federal para a apreciação da presentematéria, dispõem a Constituição e o ECA:

CF - Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federalforem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto asde falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiçado Trabalho;

ECA - Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do localonde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competênciaabsoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e acompetência originária dos tribunais superiores.

§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciáriaem que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato quedeu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no DistritoFederal.

54. Nesse sentido:

“... A regra da competência da Justiça Federal, in casu, está no art. 109, inciso I,da Constituição Federal, que, pacífico na jurisprudência e na doutrina, é rationepersonae. Assim, aos Juízes Federais compete processar e julgar as causas em quea União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas nacondição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as deacidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.Noutras palavras, presente ente federal na lide, na forma do citado art. 109, incisoI, da Constituição Federal, a competência é da Justiça Federal. ...”(AG 200701000452217, JUIZ FEDERAL JAMIL ROSA DE JESUS (CONV.),TRF1 - TERCEIRA TURMA, 04/12/2009)

“... A competência cível da Justiça Federal é definida ratione personae, consoanteo art. 109, I, da Carta Magna de 1988. Consectariamente, somente a JustiçaFederal está constitucionalmente habilitada a proferir sentença que vincule aUnião, ainda que negando a sua legitimação passiva, a teor do que dispõe aSúmula 150/STJ. Precedentes: CC 95.607/CE, Rel. Ministro TEORI ALBINOZAVASCKI, DJ 08/09/2008; CC 32529/DF, Rel. Ministro CASTRO FILHO,SEGUNDA SEÇÃO, DJ 16/09/2002, sendo irrelevante a natureza da controvérsiaposta à apreciação. ...” (STJ – Conflito de Competência 114/187/MA, RelatorMINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em23/02/2011, DJe 31/03/2011).

VI – DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ( FUMUS BONI IURIS EPERICULUM IN MORA) E DE EVIDÊNCIA

Page 31: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

3131

55. Como sabido, o Estado, ao proibir ao administrado a autotutela,assumiu o poder-dever de solucionar os conflitos, devendo, pois, conferir aosjurisdicionados o direito à tutela adequada, tempestiva e efetiva.

56. Discorrendo sobre o direito à adequada tutela jurisdicional, LuizGuilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart ensinam que19:

É necessário que ao tempo do processo seja conferido o seu devido valor, uma vezque, no seu escopo básico de tutela dos direitos, o processo terá uma maiorcapacidade para atender aos anseios do cidadão, quanto mais prontamente tutelaro direito do autor que tem razão.Quando é reivindicado um bem da vida, o tempo do processo sempre prejudica oautor que tem razão, beneficiando na mesma proporção o réu que não a tem.(...)Se é evidente que a tutela jurisdicional deve ser prestada, na medida do possível,de forma rápida, e que para tanto é imprescindível uma boa organizaçãojudiciária e sobretudo um número razoável de magistrados bem preparados,também é certo que o procedimento, em sua estrutura técnica, deve contermecanismos que viabilizem uma distribuição racional do tempo do processo.Nessa perspectiva, a tutela antecipatória, baseada em fundado receio de dano ouem abuso de direito de defesa, é fundamental para o bom desempenho do PoderJudiciário. Nessa linha, é correto dizer que a tutela antecipatória também égarantida pelo princípio constitucional da inafastabilidade (art. 5º da CF).(...)Quando se fala em tutela ‘efetiva’, deseja-se chamar a atenção para a necessidadede a tutela jurisdicional poder realizar concretamente os direitos, e não apenasdeclará-los (ou proclamá-los, pois a lei já cuida disso) ou condenar o demandado(na verdade exortar o réu a adimplir a sentença, que, em caso de não observânciaespontânea, apenas sujeita-se à ação de execução).”

57. A concessão de medida liminar em ação civil pública encontraprevisão legal expressa no artigo 12, caput, da Lei nº 7.347/85 e, ante a ausência,neste diploma, de previsão acerca dos requisitos para o deferimento da medidaliminar, aplicam-se as regras do Código de Processo Civil atinentes à tutelaantecipatória, já mencionadas alhures, podendo-se destacar o artigo 300, verbis:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultadoútil do processo.

58. O primeiro requisito legal exigido para a concessão da tutela deurgência, fumus boni iuris decorre de todos os fatos e fundamentos expostos,mormente no tocante à plena ciência das autoridades responsáveis da situaçãodeficitária do cadastro de crianças e adolescentes abrigados, da omissão no

19In Manual do processo de conhecimento: a tutela jurisdicional através do processo de conhecimento,Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2001, pág. 52.

Page 32: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

3232

exercício de suas responsabilidades e, por consequência, da conivência com a ilegalfrustração de direitos sociais de crianças em situação de vulnerabilidade.

59. O segundo requisito reside na ineficácia do provimento somente aofinal do processo - periculum in mora, porquanto os direitos fundamentais orasuscitados, de aplicabilidade imediata, deveriam estar sendo observados, comabsoluta prioridade, desde a promulgação da Carta Magna, ainda mais quando, noplano infraconstitucional foram editadas normas que vieram a reforçar essadeterminação constitucional que, de resto, também foram acentuadas por tratadosinternacionais sobre direitos humanos, aos quais o Brasil aderiu e incorporou aodireito pátrio. Tal quadro normativo portanto é revelador da gravidade da omissãodos réus nos seus misteres.

60. Há quatro anos o Ministério Público Federal tenta exaustivamente(mas sem sucesso) entabular uma solução extrajudicial, exortando os gestorespúblicos a adotar medidas efetivas, fluxo de trabalho através do qual se possaimplementar direitos de seguridade social às crianças e adolescentes. Enquanto osgestores patinam nas alegadas dificuldades burocráticas e operacionais, boa partedas crianças e adolescentes em condição de vulnerabilidade, continuam privados doacesso seus direitos previdenciários, direitos esses que poderiam ter impacto paraamenizar inclusive a segurança alimentar desse público-alvo no futuro.

61. Assim, presentes os requisitos necessários à concessão de tutelaliminar, requer o Ministério Público Federal o seu deferimento, para o fim de impor,conforme art. 213, § 1º do ECA20 e art. 497, caput, do Código de Processo Civil:

a) à UNIÃO a obrigação de fazer consistente na elaboração, em caráter de urgência,no prazo máximo de 90 (noventa) dias, de norma regulamentadora, de carátercompulsório, com a criação de cadastro unificado e integrado para todos osabrigos que acolham crianças e adolescentes, onde deverão constar, além dos dadospessoais dos abrigados, os dados de qualificação dos genitores ou responsáveislegais (data de nascimento, filiação, CPF etc), que deverá ser mantido atualizado,salvo impossibilidade devidamente justificada pelo responsável pela entidadeacolhedora, cadastro este cujo acesso deverá ser disponibilizado ao INSS, parapossibilitar a concessão ex officio, de benefícios de pensão por morte (arts. 74 a 79,Lei nº 8.213/91) e auxílio-reclusão (art. 80, Lei nº 8.213/91), quando cabíveis edevidos às crianças e adolescentes abrigados;

b) ao ESTADO DE SÃO PAULO e MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, obrigação defazer consistente na adoção de todas as providências administrativas e operacionais(através de seus órgãos com atuação na temática) para criação, em caráter de

20 ECA - Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juizconcederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado práticoequivalente ao do adimplemento.§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimentofinal, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu.

Page 33: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

3333

urgência, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, de um cadastro unificado eintegrado (no âmbito de cada ente) para todos os abrigos que acolham crianças eadolescentes, onde deverão constar, além dos dados pessoais dos abrigados, osdados de qualificação dos genitores ou responsáveis legais (data de nascimento,filiação, CPF etc), dados que deverão ser mantidos atualizados, alvoimpossibilidade devidamente justificada pelo responsável pela entidade acolhedora,cadastro este cujo acesso deverá ser disponibilizado ao INSS, para possibilitar aconcessão ex officio, de benefícios de pensão por morte (arts. 74 a 79, Lei nº8.213/91) e auxílio-reclusão (art. 80, Lei nº 8.213/91), quando cabíveis e devidos àscrianças e adolescentes abrigados;

c) à UNIÃO, ESTADO DE SÃO PAULO e MUNICÍPIO DE SÃO PAULO,obrigação de fazer consistente na destinação de recursos financeiros e treinamentode recursos humanos necessários para implantação do cadastro mencionado nasalíneas anteriores, no prazo máximo de 90 (noventa) dias após expedição daregulamentação pela UNIÃO, comprovando-se nos autos;

d) à Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA)obrigação de fazer consistente na adoção de todas as providências administrativas eoperacionais (através de seus órgãos com atuação na temática) para criação ouincremento, em caráter de urgência, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, de umcadastro unificado e integrado que contenha todos dados pessoais de crianças eadolescentes internados (sob sua responsabilidade), além dos dados de qualificaçãodos genitores ou responsáveis legais (data de nascimento, filiação, CPF etc),cadastro este cujo acesso deverá ser disponibilizado ao INSS, para possibilitar aconcessão ex officio, de benefícios de pensão por morte (arts. 74 a 79, Lei nº8.213/91) e auxílio-reclusão (art. 80, Lei nº 8.213/91), quando cabíveis e devidos àscrianças e adolescentes internados;

e) ao ESTADO DE SÃO PAULO (através da Secretaria de AdministraçãoPenitenciária – SAP) e ao INSS, obrigação de fazer consistente na adoção de todasas providências administrativas e operacionais necessárias, para estabelecer umfluxo de troca de informações ágil que permita a expedição (pela SAP) de atestadosde permanência carcerária (art. 80, par. único, Lei nº 8.213/91) e o recebimento(pelo INSS) de tal documento (preferencialmente de forma eletrônica), parapossibilitar a concessão ex officio, de auxílio-reclusão, quando cabíveis e devidos àscrianças e adolescentes internados e abrigados;

f) ao INSS, obrigação de fazer para, a partir do acesso ao cadastro mencionado nasalíneas anteriores, bem como dos atestados de permanência carcerária, concederadministrativamente, ex officio e no prazo legal (art. 41-A, § 5º, Lei nº 8.213/91), osbenefícios de pensão por morte (arts. 74 a 79, Lei nº 8.213/91) e auxílio-reclusão(art. 80, Lei nº 8.213/91), quando cabíveis e devidos às crianças e adolescentesinternados e abrigados, comprovando-se tal medida nos autos da presente ação,através de relatórios trimestrais, pelo prazo mínimo de dois anos (conquanto

Page 34: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

3434

mantendo, doravante e perenemente, este procedimento de concessão ex officio detais benefícios previdenciários);

g) a todos os réus a obrigação de fazer no sentido de, dentro de suas atribuições ecompetências institucionais, providenciar o necessário (mormente administrativa eoperacionalmente) para que os valores dos benefícios concedidos na forma da alíneaanterior sejam depositados em conta poupança bancária (preferencialmente naCaixa Econômica Federal, considerada que é a instituição financeira de fomento deações sociais e de políticas públicas governamentais), para saque futuro, quando osbeneficiários adquirem a maioridade e plena capacidade para os atos da vida civilnos termos dos arts. 3°, 4° e 5°, do Código Civil, bem como da Carta CircularBACEN n° 3.667. de 01/08/2014;

d) como medida de imposição para o cumprimento de tais obrigações de fazer,pugna-se seja observado o que disciplina a lei processual para obtenção de tutelaque confira eficácia para o resultado prático equivalente – arts. 213 e 214 da Lei nº8.069/90 c/c arts. 497, 536 e 537, Código de Processo Civil), inclusive notificando-se pessoalmente as autoridades envolvidas, quais sejam, o Presidente do INSS, oSecretário de Administração Penitenciária e o Governador do Estado de São Paulo,ao Presidente da Fundação CASA, ao Prefeito do Município de São Paulo e aosMinistros da Justiça e dos Direitos Humanos.

VII – DOS DEMAIS PEDIDOS

62. Desta forma, sob a perspectiva da construção argumentativa aquiconstruída, o Ministério Público Federal requer:

a) o recebimento e a autuação da presente petição inicial, juntamente com oprocedimento que a instrui e a acompanha;

b) sejam os réus citados, bem como sejam confirmadas, em sentença definitiva asobrigações de fazer requeridas a título de tutela provisória de urgência/evidência,condenando-se definitivamente as entidades rés quanto a tais obrigações, bem comoa comprovar nos autos através de relatórios sintéticos o cumprimento de taisobrigações, descrevendo as medidas e providências práticas e operacionaisadotadas, sempre que determinado pelo Juízo, de ofício ou a requerimento do autor;

c) embora desnecessária, caso Vossa Excelência entenda cabível, propugna-se pelaprodução de provas por todos os meios em direito admitidos, mormente oitiva,como testemunhas, dos representantes de órgãos, conselhos, associações e entidadesa serem oportunamente indicadas;

Page 35: PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO … · de São Paulo – SMADS, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de ... Flademir Jerônimo Belinati Martins, conforme

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃOPROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

3535

d) requer-se, após apreciado o pedido de tutela de urgência ou de evidência, sejadesignada audiência de conciliação na forma do artigo 319, VII, do Código deProcesso Civil.

e) a condenação das entidades rés ao pagamento de danos morais(extrapatrimoniais) coletivos, pela omissão e negligência na tutela e implantaçãode rotinas administrativas e operacionais (com prioridade absoluta – art. 227, C.F.)visando conferir direitos de seguridade social para crianças e adolescentes abrigadose internados, em valor não inferior a R$ 100.000,00 para cada entidade ré, a serrecolhido para o Fundo de que trata o art. 13 da Lei nº 7.347/85 (vide: AC00164217920004036100, JUIZ CONVOCADO RUBENS CALIXTO, TRF3 - TERCEIRATURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:25/02/2011 PÁGINA: 811).

Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

São Paulo, 21 de maio de 2018.

PEDRO ANTONIO DE OLIVEIRA MACHADOProcurador da República

RAQUEL CRISTINA REZENDE SILVESTRE Procuradora da República