Produção de mudas de UVA

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  • 7/22/2019 Produo de mudas de UVA

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    Gilmar Barcelos Kuhn,Eng. Agrn.,

    Embrapa Uva e Vinho,Caixa Postal 130,CEP 95700-000

    Bento Gonalves, RS

    Ronaldo AugustoRegla

    Tcnico Agrcola,Embrapa Uva e Vinho,

    Caixa Postal 130,CEP 95700-000

    Bento Gonalves, RS

    Adriano MazzaroloTcnico Agrcola,

    Embrapa Uva e Vinho,Caixa Postal 130,CEP 95700-000

    Bento Gonalves, RS

    ISSN 1516-5914

    74

    Circular

    Tcn

    ica

    Bento Gonalves, RS

    Abril, 2007

    Produo de mudas de videira (Vitis spp.)

    por enxertia de mesa

    Autores

    Ministrio da Agricultura,

    Pecuria e Abastecimento

    Introduo

    No Brasil, a videira vem sendo explorada comercialmente a mais de um sculo

    e se firmou como atividade scio-econmica de importncia relevante,

    inicialmente, em regies de clima temperado dos Estados do Rio Grande do

    Sul, Santa Catarina, So Paulo e Minas Gerais e, posteriormente, em regies

    de clima tropical e semi-tropical, especialmente, no Submdio do Vale do Rio

    So Francisco em reas baianas e pernambucanas, no Norte do Paran, no

    Noroeste de So Paulo e no Norte de Minas Gerais. Mais recentemente, ocultivo da videira tem se expandido bastante para diversas localidades, inclusive

    para regies do Pas sem nenhuma tradio em viticultura, como o Centro-

    Oeste e a Campanha Gacha.

    Para o desenvolvimento de uma vitivinicultura rentvel, fator preponderante

    que os vinhedos sejam implantados com mudas de boa qualidade, com

    sanidade e pureza varietal comprovada e dentro dos padres estabelecidos

    pela legislao oficial.

    A muda de videira obtida atravs da multiplicao vegetativa, seja utilizando-se estacas da produtora, em plantio direto, conhecida por p-franco, ou

    atravs do processo de enxertia. A muda de p-franco utilizada somente

    para cultivares americanas (Vitis labrusca)e hbridas, conhecidas como uvas

    comuns, por apresentarem certa tolerncia filoxera (Daktylosphaera vitifoliae),

    enquanto que a muda enxertada obrigatria para as uvas finas (Vitis vinifera)

    por serem muito suscetveis a essa praga. A produo da muda por enxertia

    mais recomendada, mesmo quando se trata de uvas comuns, pois a utilizao

    do porta-enxerto, alm de assegurar um controle mais eficiente da filoxera,

    pode agregar outras vantagens, como melhorar a qualidade da uva, conferir

    maior resistncia a doenas de solo, maior adaptao a diferentes tipos desolos, maior precocidade, etc.

    A muda preparada pelo processo de enxertia resulta da unio do garfo (enxerto),

    que a parte do ramo da cultivar produtora (copa), com 1 ou 2 gemas, a um

    porta-enxerto enraizado ou a uma estaca do porta-enxerto no enraizada, neste

    caso chamada enxertia de mesa.

    No Brasil, a tcnica tradicionalmente empregada pelos viticultores e viveiristas

    a enxertia em porta-enxerto enraizado no campo, feita atravs de garfagem

    no topo, realizada na fase de repouso da planta (enxertia de lenho maduro)e com menor freqncia no perodo de plena vegetao (enxertia verde).

    Eventualmente, tambm empregada, por alguns produtores, a tcnica de

    enxertia de gema ou borbulhia no vero.

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    2 Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Na Europa, a enxertia de campo praticamentedesapareceu, sendo substituda pela enxertia demesa, tcnica que avanou e consolidou-se nosltimos 50 anos. Nessa tcnica, os cortes realizadosno garfo (enxerto) e na estaca do porta-enxerto so

    do tipo dupla-fenda inglesa que pode ser feito amo ou a mquina, ou do tipo mega que somentepode ser feito com auxlio da mquina. No Brasil,embora tenha se comeado a empregar essa tcnicaa nvel comercial, a no mais de cinco anos, emespecial nos Estados do Rio Grande do Sul e MinasGerais, j se produziu, em 2006, uma quantidadeaproximada de 400.000 mudas por esse processo.

    A seguir sero feitas algumas consideraes e odetalhamento do processo de produo de mudasde videira atravs da tcnica de enxertia de mesa,tipo mega.

    Consideraes e detalhamento da

    tcnica de enxertia de mesa

    A enxertia de mesa uma tcnica bastanteespecializada e deve ser adotada somente porviveirista que esteja seguro do domnio de todas assuas etapas para a produo da muda, incluindo omanejo adequado dos matrizeiros; a coleta, aconservao e o preparo do material de propagao;a execuo da enxertia e parafinagem; o manuseioe controle dos enxertos durante e aps a foragem;e, o bom manejo das mudas no viveiro. Pode-sedizer que uma tcnica obrigatria para o mdioe grande viveirista que deseje atender s grandesdemandas anuais do mercado, onde, alm do preo, necessrio rapidez na execuo da enxertia(enxerto/homem/dia), produo da muda no prazomximo de 12 meses e ter padro de qualidadecompetitivo em relao muda importada.

    Algumas vantagens que justificam empregar atcnica de enxertia de mesa em substituio tradicional enxertia de inverno no campo so:

    - Na enxertia de mesa a muda fica pronta para sercomercializada em um ano, j na enxertia decampo so necessrios dois anos;

    - Atravs da enxertia de mesa possvel se fazerde trs a cinco mil enxertos/homem/dia, enquantona enxertia de campo de 300 a 500 enxertos;

    - A operao de enxertia de mesa pode ser realizada

    sem interferncias climticas, enquanto na enxertia

    de campo deve-se evitar perodos chuvosos ou de

    sol direto muito intenso;

    - Com a tcnica da enxertia de mesa h maiorfacilidade para produzir muda dentro dos padres

    oficiais exigidos (soldadura, enraizamento, distncia

    da insero das razes at o calo de enxertia),

    enquanto na enxertia de campo se torna mais

    difcil, pois a soldadura ocorre em ambiente natural

    sem controle de temperatura e umidade, alm dos

    enxertos ficarem mais expostos a contaminaes,

    especialmente quando so cobertos com solo.

    H, porm, desvantagens nesta tcnica que justificama opo do pequeno viveirista ou do viticultor em

    continuar produzindo a muda pela tradicional enxertia

    de campo, entre as quais:

    - O custo de produo na enxertia de mesa se torna

    mais elevado, principalmente na fase inicial, pela

    necessidade de equipamentos como cmara

    quente, cmara fria, mquina de enxertia, caixas

    plsticas, e alguns insumos importados, como a

    cera de enxertia, lminas para mquina, etc.;

    - A pega da enxertia de mesa est entre 50% a

    80%, enquanto na enxertia de campo, de modo

    geral, fica acima de 90%.

    Origem do material de propagao

    O material de propagao, estaca do porta-enxerto

    e gema da produtora (copa), deve ser obtido de

    planta matriz com garantias de sanidade e deidentificao varietal e com manejo adequado

    (adubao equilibrada, tratamentos fitossanitrios,

    poda verde, produo de uva limitada) para produo

    de ramos bem formados, amadurecidos e com

    acmulo satisfatrio de reservas. Quando no se

    dispe de matriz com sanidade comprovada

    (certificada), do porta-enxerto quanto da copa, e,

    como muito difcil selecionar plantas sadias no

    campo, aconselha-se obter o material de propagao

    (estacas e gemas) em viveirista ou entidades quedisponham de plantas matrizes de boa procedncia.

    Na falta desta fonte, recomenda-se, especialmente

    da copa, o acompanhamento por mais de um ciclo

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    3Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    para evitar a perda de umidade (Fig. 1). Antes de

    colocar o material na cmara fria, importante

    proceder a sua hidratao, por imerso total ou em

    p em gua, por um perodo de 24 horas. Estes

    cuidados so importantes, pois se os ramos da

    videira perderem gua em quantidade equivalentea at 20% do seu peso, ocorrero prejuzosconsiderveis nas etapas de formao da muda,

    como a m soldadura dos enxertos, fraca emisso

    de razes e morte da estaca ou do enxerto. O perodo

    mximo de conservao recomendado para o

    material de propagao de 90 dias, embora, se

    necessrio, o perodo pode ser prolongado, fazendo-

    se inspees mais seguidas para evitar perda da

    qualidade do material, em especial, pela proliferao

    de patgenos.

    Detalhamento da tcnica de enxertia

    de mesa

    Preparo do material e enxertia. O porta-enxerto

    cortado em estacas de 28 cm a 30 cm, sendo o

    corte na base feito logo abaixo do n e, tambm,

    so eliminadas todas as gemas da estaca. Os

    enxertos so cortados com uma gema, deixando-

    se pouco mais de 5 cm do entren abaixo da gema.O material assim preparado (Fig. 2) deve permanecer

    em cmara fria e retirado aos poucos, conforme a

    necessidade diria para enxertia. Antes da enxertiaas estacas e os enxertos devem ser reidratados,

    submergindo-os em gua, por um perodo de 24

    horas, e aps colocados na mesa ao alcance da

    mo do enxertador, facilitando a escolha (dimetro)

    do material no momento da enxertia.

    A enxertia, normalmente, feita usando a mquinacom corte do tipo mega. A mquina fixada a

    uma mesa e manejada com o p, por meio de um

    pedal (Fig. 3). Numa primeira operao feito o

    corte no enxerto que fica preso na lmina da

    mquina e numa segunda operao feito o corte

    no porta-enxerto e, simultaneamente, seu encaixe(unio) ao enxerto.

    Proteo do enxerto com cera (parafinagem).

    Conforme a enxertia vai sendo executada, os enxertosso mergulhados em cera quente (70C a 80C),cobrindo at abaixo do corte de unio do enxerto

    (Fig. 4), para evitar o ressecamento e a penetrao

    vegetativo e a marcao de plantas aparentementesadias para se retirar as gemas. importante que

    as plantas selecionadas sejam adultas, com idademnima de 4 anos. Deve-se escolher plantas combom vigor, produtivas, com maturao uniforme da

    uva e sem qualquer tipo de sintoma nas folhas,ramos e tronco. No site www.cnpuv.embrapa.br daEmbrapa Uva e Vinho, a Circular Tcnica n 50 trazinformaes mais detalhadas sobre a seleo de

    plantas matrizes sem sintomas de doenas,especialmente de viroses.

    Coleta e conservao do material

    de propagao

    A coleta das estacas do porta-enxerto e das gemasda produtora (copa) deve ser feita quando a plantaest em dormncia (sem folhas) e com os ramos

    totalmente amadurecidos. Somente devem seraproveitados os ramos que vegetaram na ltimaestao de crescimento, ou seja, ramos do ano e,no caso da produtora, o ramo do ano deve terbrotado em ramo do ano anterior, ou seja, evitar osramos ladres originados do tronco ou de ramosvelhos, pois tm a tendncia de produzirem poucoscachos.

    Aps a coleta, os ramos do porta-enxerto sotransportados para galpes onde so limpos ecortados em varas ou estacas de 28 a 30 cm, comdimetro de 7 a 12 mm, sendo, em seguida,enfeixados e identificados. Da mesma forma, osramos da cultivar produtora so podados epreparados em varas com 8 - 10 gemas, comdimetro de 6 a 12 mm, ou ainda, cortados no

    tamanho adequado para enxertia, com apenas uma

    gema e com 5 a 8 cm de comprimento.

    De imediato, aps seu preparo, o material deve sercolocado em cmara fria com temperatura entre2C e 4C e umidade do ar acima de 95% para umaconservao adequada at o momento da enxertia,minimizando ao mximo as perdas de gua e desubstncias de reserva. Alm disso, a temperaturabaixa vai favorecer a quebra da dormncia, quando

    no campo no ocorreu o nmero de horas de frio

    necessrio. Se a cmara fria no dispuser de controlede umidade, para manter o ambiente com a umidaderecomendada, o material de propagao deve seracondicionado em plstico resistente e bem vedado,

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    de agentes patognicos, especialmente de fungos

    e de bactrias. De imediato, os enxertos so

    mergulhados em gua para resfriamento. Para se

    ter uma noo de consumo de cera nesta operao,

    em mdia, necessrio em torno de 0,8 g por

    enxerto.

    A cera utilizada formulada especialmente para

    enxertia, sendo a Rebwachs W.F., de origem alem,

    uma das mais conhecidas. Esta cera contm um

    regulador de crescimento (0,00175% de cido 2,5

    dichlorobenzico) e um produto antifngico (0,1%

    de oxiquinoleina), ambos importantes para a

    formao do calo; o primeiro para favorecer a

    multiplicao das clulas (calo) e o segundo para

    proteger contra o ataque de podrido por fungo(Botrytis sp). Pode-se utilizar outros tipos de ceras

    (mastiques) conhecidas e usadas em fruticultura no

    Brasil, porm necessrio que tenham boa

    elasticidade e no sofram ressecamento e rachadura

    quando expostos ao sol no viveiro, de modo a

    manter a proteo do enxerto por um perodo

    prolongado. Mesmo assim, essas ceras alternativas

    tm a desvantagem de no dispor, em sua

    constituio, do regulador de crescimento e do

    produto antifngico, a no ser que se prepare umaformulao com a incorporao desses produtos.

    Foragem dos enxertos. Terminada a parafinagem,

    os enxertos so colocados em caixas para serem

    submetidos foragem em sala com aquecimento,

    o que promove a soldadura dos enxertos ou a

    formao do calo de enxertia. Para o acondi-

    cionamento dos enxertos, a alternativa, ainda, muito

    utilizada pelos viveiristas europeus, o emprego

    de caixas de madeira ou de plstico, que sopreenchidas intercalando-se com uma camada de

    serragem umidecida, ou outro substrato inerte, e

    uma camada de enxertos (Fig. 5), at o completo

    preenchimento da caixa. No fundo da caixa e sobre

    os enxertos, colocar, tambm, uma camada de

    serragem. Deve-se tomar o cuidado ao acomodar

    os enxertos nas caixas de modo que a regio da

    enxertia permanea num mesmo nvel, para facilitar

    as observaes de formao do calo de soldadura

    dos enxertos durante a foragem.

    Mais recentemente a utilizao de caixas com

    serragem tem sido substituda por caixas plsticas

    vedadas, com uma camada dgua no fundo. Neste

    caso, o preenchimento feito com a caixa inclinada

    (Fig 4) e os enxertos so colocados, bem juntos,

    at o seu completo preenchimento (Fig. 6). Aps,

    a caixa vedada com plstico preto e estocada em

    cmara fria (Fig. 7) at o momento de ser submetida foragem. Quando o nmero de caixas cheias for

    suficiente para preencher a sala de foragem,

    transportam-se as caixas da cmara fria e, d-se

    incio foragem. A sala de foragem deve ser

    mantida no escuro e com temperatura inicial, no

    primeiro e segundo dia, em torno de 25C. A partir

    do terceiro dia, eleva-se a temperatura para 28C

    a 30C e adiciona-se gua no fundo da caixa, num

    nvel de 3 cm a 5 cm de altura, para manter a

    umidade relativa, ao nvel dos enxertos. Para cadalitro de gua colocado na caixa, deve-se adicionar

    2 mL a 3 mL de gua sanitria (2,5% de hipoclorito

    de sdio), para evitar a deteriorao da gua e,

    tambm, 40 mg de sulfato de cobre, para inibir a

    formao de razes no porta-enxerto. A vedao

    individual da abertura de cada caixa com cobertura

    de plstico preto importante para manter a umidade

    relativa dentro da caixa, de preferncia, acima de

    90%. O plstico deve ser retirado quando, na maioria

    das caixas, os enxertos j apresentam boa soldadura.At se completar o perodo de foragem, o plstico

    deve ficar solto em cima das caixas para manter o

    ambiente mido.

    As principais vantagens da foragem na gua so:

    maior praticidade e rapidez no preenchimento das

    caixas, evita-se o manuseio com fungicida para

    tratamento da serragem; acomoda-se cerca de 30%

    mais de enxertos por caixa; menor custo de produo;

    reduz a emisso das razes no porta-enxerto; e,diminui a formao excessiva do calo.

    No Brasil, os viveiristas que esto utilizando o mtodo

    de enxertia de mesa na produo de mudas de

    videira tm optado, em sua maioria, pela foragem

    dos enxertos na gua.

    O perodo de foragem tem uma durao mdia

    de 20 dias, embora possa variar em alguns dias

    em funo da cultivar produtora, do porta-enxertoe regularidade do aquecimento na sala de foragem

    e, ainda, pela condio nutricional e de

    amadurecimento fisiolgico do material de

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    propagao utilizado. Por isso, deve-se fazer

    observaes dirias (Fig. 8) para acompanhar o

    andamento da formao do calo e para o controle

    da podrido cinzenta (Botrytis sp), caso aparea

    nos enxertos. O momento de retirada de cada caixa

    da sala de foragem est muito relacionado coma vivncia e prtica do viveirista ou da pessoa que

    faz esse controle. O ideal que a maioria dos

    enxertos da caixa estejam com o calo de soldadura

    abrangendo todo o contorno do enxerto (Fig. 9),

    evitando, porm, um crescimento excessivo do calo,

    o que resultar em m cicatrizao da muda, alm

    de consumir, desnecessariamente, reservas de

    nutrientes da estaca, necessrias para o desenvol-

    vimento inicial da muda no viveiro, antes da emisso

    das razes.

    Antes da retirada da sala de foragem, as caixas

    devem permanecer na sala por mais um dia, sem

    acobertura plstica e com iluminao para adaptao

    e enrijecimento do calo de enxertia. Aps as caixas

    so transportadas para um galpo, trocada a gua

    e deixada por 3 a 4 dias para aclimatao, em

    temperatura ambiente.

    Uso de promotores de enraizamento. Quandose deseja utilizar produtos promotores de

    enraizamento, deve-se aproveitar o tempo que as

    mudas ficam em aclimatao nas caixas para aplicar

    o tratamento. No momento da troca da gua das

    caixas se adiciona o produto na concentrao

    desejada. Um dos produtos utilizados com maior

    freqncia o cido Indolbutrico (AIB) na

    concentrao de 150 ppm, por 48 horas, ou 1.500

    ppm, por 30 segundos. No preparo da soluo, o

    AIB dissolvido, separadamente, em lcool (etlico,metlico) numa proporo, aproximada, de 100 mg

    do produto para 20 mL de lcool. Aps, bem

    homogeneizado, completa-se com gua o volume

    total da soluo. A quantidade da soluo a ser

    colocada na caixa, no momento do tratamento, deve

    ser suficiente para deixar a base dos enxertos

    imersos de 2 cm a 3 cm. Tomar cuidado para

    escorrer bem a gua das caixas onde esto os

    enxertos, antes de colocar a soluo, para no

    alterar a concentrao do AIB.

    Reparafinagem. Terminado o tempo de aclimatao

    e o tratamento com AIB, os enxertos devem ser

    retirados das caixas e selecionados, aproveitando

    somente os enxertos com o calo da enxertia bem

    formado. Neste momento tambm se faz o desponte

    dos brotos do enxerto e eliminam-se as razes que

    cresceram no porta-enxerto.

    Aps a seleo e o descarte dos enxertos mal

    formados, os demais so submetidos a uma segunda

    parafinagem com cera pura (sem o hormnio e o

    produto antifngico), aquecida a 80C - 85C, para

    proteg-los contra o ressecamento aps o plantio

    no campo (Fig. 10). Nessa parafinagem, a cera deve

    proteger o enxerto e a parte do porta-enxerto que

    fica acima do solo, aps o plantio. Em seguida ao

    banho de cera quente, os enxertos so mergulhados

    na gua para resfriar. O consumo de cera nessaparafinagem fica em torno de 1,5 g por enxerto.

    Plantio dos enxertos no viveiro

    Os enxertos preparados por enxertia de mesa,

    normalmente, so plantados em viveiro no campo.

    Entretanto, pode-se optar pelo plantio em vasos,

    sacos plsticos ou outros recipientes, permitindo,

    assim, que as mudas sejam desenvolvidas em

    estufas. Embora esta opo seja mais dispendiosa,principalmente quanto ao transporte da muda,

    alguns viveiristas se utilizam deste sistema para

    atenderem determinados nichos de mercado fora

    da poca de plantio de mudas de raiz nua e, em

    particular, porque as mudas podem ser fornecidas

    no mesmo ano da enxertia (Fig. 11).

    Escolha da rea para o viveiro. O local ideal

    para a implantao do viveiro deve ser em regio

    com temperatura do ar em torno de 25C, comumidade relativa do ar elevada e que no esteja

    sujeita a ocorrncias freqentes de ventos fortes.

    Preferencialmente escolher reas planas ou

    levemente inclinadas, nunca cultivada com videira,

    ou pelo menos no decorrer dos ltimos 12 anos.

    Alm disso, o viveiro deve ficar a uma distncia,

    mnima, de 50 m de outros vinhedos e, se possvel,

    localizado na parte mais alta do terreno, de modo

    a evitar receber gua de escorrimento que podetrazer pragas e doenas.

    indispensvel que a rea escolhida esteja prxima

    5Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

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    de fonte de gua para irrigao das mudas,

    especialmente em regies sujeitas a estiagens,

    ventos e baixa umidade relativa do ar, fatores que

    favorecem a desidratao dos enxertos.

    Em relao ao tipo de solo, prefervel os solosarenosos; bem drenados; com profundidade sufi-

    ciente para o crescimento de razes bem formadas

    (sem enovelamento); e, que tenha boa disponibilidade

    de matria orgnica.

    Tambm necessrio se conhecer o histrico do

    solo com relao a plantios anteriores, excluindo

    as reas que eventualmente j tiveram focos de

    pragas, especialmente, a prola-da-terra

    (Eurhizococcus brasiliensis) e de fungos de solo,como Armillaria mellea, Rosellinea necatrix,

    Phythophtora cinnamomi, Cylindrocarpon destructans

    e Fusarium oxisporiumf. sp. herbemontis.

    Outro cuidado importante no utilizar o mesmo

    solo, sucessivamente, devendo-se deix-lo em

    repouso ou com culturas anuais, por trs anos,

    antes de reutiliz-lo novamente como viveiro.

    Preparo do solo e plantio dos enxertos. Casoa rea esteja muito infestada com ervas daninhas,

    conveniente fazer uma aplicao de herbicida ou

    roada e limpeza e, aps, subsolar, arar e gradear.

    Retirar amostras do solo e encaminhar para anlise.

    Diante do resultado da anlise, se necessrio, fazer

    a correo do pH e a adubao recomendada.

    O solo tem que ficar bem preparado (solto), de

    modo a facilitar as demais operaes para

    implantao do viveiro e o desenvolvimento das

    mudas.

    Aps, com a encanteiradeira (rotativa) preparar

    canteiros com altura aproximada de 15 cm,

    distanciados 50 cm uns dos outros (Fig. 12). A

    largura dos canteiros deve ser em torno de 1 m,

    suficiente para se colocar duas fileiras de enxertos,

    distanciadas 30 cm. Em seguida, deve-se cobrir os

    canteiros com plstico preto, mantendo as bordas

    do plstico cobertas com terra para evitar a suaretirada pelo vento. Aps colocado, o plstico deve

    ser perfurado, no espaamento de plantio, de

    preferncia nas primeiras horas da manh quando

    o plstico ainda est bem esticado. A perfurao

    pode ser manual, utilizando um suporte com duas

    fileiras de dentes (pinos de ferro ou madeira), fixa-

    dos no espaamento do plantio (Fig. 13). Outro

    modo que facilita e reduz muito o tempo de

    colocao do plstico a utilizao de uma mquinaespecfica para este fim que vai acoplada ao trator

    e que, numa nica operao, coloca o plstico, tapa

    as bordas com terra e perfura no espaamento que

    os enxertos devem ser plantados (Fig. 14). Deve-se

    ter o cuidado de cobrir o canteiro com o plstico

    somente quando o solo esteja com boa umidade,

    o que fundamental para que ocorra bom

    enraizamento dos enxertos.

    O plantio dos enxertos deve ser feito com o plsticoj perfurado, nunca aproveitar o prprio enxerto

    como ferramenta para fazer o furo no plstico na

    hora de plantar, pois a parte do plstico corres-

    pondente ao furo pode ficar aderida base da esta-

    ca, dificultando ou impedindo o enraizamento.

    No plantio do enxerto, o espaamento na linha deve

    ser em torno de 5 cm (20 enxertos por metro

    linear) e numa profundidade de, aproximadamente,

    metade a dois teros do comprimento do enxerto.

    Manejo das mudas no viveiro

    Irrigao. Terminado o plantio dos enxertos, se a

    regio sujeita estiagem e a umidade do ar

    baixa, deve-se fazer irrigao por asperso nos

    primeiros 3 a 5 dias (Fig. 15) para manter a umidade

    do ar alta, evitando a desidratao dos enxertos.

    Alm disso, a irrigao por asperso favorece a

    compactao do solo em torno dos enxertos,

    facilitando o enraizamento. No caso de no se dispor

    de um sistema de irrigao por asperso, fazer a

    irrigao manual com mangueira (Fig. 16). Passado

    esse perodo inicial de adaptao dos enxertos no

    viveiro, deve-se optar pela irrigao por gotejamento

    com a colocao da mangueira abaixo da lona

    plstica no canteiro. No gotejamento, h uma

    considervel economia no consumo de gua e

    permite a adubao das mudas via fertirrigao,alm de evitar molhar a parte area da muda (folhas),

    reduzindo o aparecimento de doenas, especialmente

    do mldio (Plasmopara viticola).

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    7Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Tratamentos fitossanitrios. Alm das pragas e

    doenas j mencionadas, que, obrigatoriamente,

    devem estar excludas no momento da escolha da

    rea para a implantao do viveiro e as viroses,

    cujo controle somente pode ser feito com o emprego

    de material de propagao sadio, existem algumasdoenas e pragas de ocorrncia comum e que

    precisam ser controladas no decorrer do

    desenvolvimento das mudas. Entre as pragas, embora

    possam ocorrer cochonilhas, pulges e caros, que

    devem ser controladas, a maior preocupao com

    as formigas cortadeiras. Deve-se manter o local

    roado, inclusive a redondeza, e fazer observaes

    freqentes visando controlar esta praga que pode,

    numa nica noite, devastar grande parte da rea

    folhar de muitas mudas.

    Em relao s doenas, a maior preocupao

    com a antracnose (varola, carvo, olho de

    passarinho), causada pelo fungo Elsinoe ampelina,

    e o mldio (mufa, peronospora) causada pelo fungo

    Plasmopara viticola, especialmente na primavera e

    parte do vero, quando a incidncia desses fungos

    pode ser intensa. Devem-se fazer observaes dirias

    quando as condies climticas so favorveis e,aplicar os tratamentos com fungicidas aos primeiros

    sinais destas doenas. No caso da antracnose, os

    primeiros sintomas so pequenas manchas castanho-

    escuras nas folhas, que evoluem para necrose e

    perfurao da folha; as condies climticas

    favorveis para a antracnose so de temperaturas

    amenas associadas umidade alta (precipitao,

    nevoeiro, neblina), o que comum no Sul do Brasil,

    especialmente na primavera. Quanto ao mldio,

    recomendvel aplicar fungicidas quando aparecemas primeiras manchas nas folhas, mancha-de-leo

    (verde-clara) na face superior, que evolui para a

    ocorrncia na face inferior do tecido afetado, de

    uma penugem branca (frutificao do fungo); a

    infeco do mldio favorecida pela ocorrncia de

    temperaturas em elevao (acima de 20C)

    associadas umidade alta que resulte na formao

    de gua livre na superfcie das folhas. Na dvida,

    quanto identificao de pragas e doenas ou na

    definio dos defensivos a aplicar, procurar a

    orientao de agrnomos e da assistncia tcnica

    mais prxima.

    Desponte das mudas. Outra prtica que deve ser

    conduzida regularmente o desponte das mudas,

    cortando a ponta dos brotos, sempre que as mudas

    atingirem em torno de 60 cm de altura. Essa prtica

    provoca o engrossamento dos ramos e evita o

    acamamento, melhorando a ventilao entre asmudas, alm disso facilita e melhora a eficcia dos

    tratamentos fitossanitrios (Fig. 17).

    Arranquio e seleo da muda. As mudas devem

    permanecer no viveiro at o total amadurecimento

    dos ramos (lignificao), quando, ento, esto aptas

    para serem arrancadas. O arranquio das mudas

    pode ser manual com enxado, porm demanda

    muita mo-de-obra e se torna demorado. Existe

    implemento confeccionado especialmente para este

    fim, que vai acoplada tomada de fora do trator

    (Fig. 18) e funciona muito bem em solos leves,

    menos argilosos e sem excesso de umidade. Nos

    solos mais pesados, especialmente quando midos,

    a mecanizao torna-se pouco eficiente. Existem

    outras alternativas de implementos de fabricao

    caseira, que so puxados por um trator e funcionam

    relativamente bem. As mudas, aps arrancadas,

    so transportadas para um galpo onde soselecionadas e o sistema radicular lavado. Devem

    ser aproveitadas as mudas que apresentam soldadura

    uniforme em toda circunferncia do enxerto; ramo

    principal bem desenvolvido e, principalmente, com

    sistema radicular bem formado (Fig . 19).

    Preparo da muda para comercializao

    As mudas devem ser preparadas pelo viveirista

    antes da comercializao. As razes devem estar

    limpas (lavadas) podendo ser podadas a 10 cm

    de comprimento ou deixadas intactas e o ramo

    principal podado para ficar apenas duas gemas.

    Se o viticultor adquiriu uma muda sem estar podada,

    como descrito anteriormente, no momento do plantio

    no local definitivo, esta muda dever ser podada,

    deixando as razes com 10 cm e a haste principal

    com apenas duas gemas (Fig. 20).

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    8 Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Fig. 1. Conservao de material vegetativo em cmara friasem controle de umidade em pacote ou caixa, vedado comfilme plstico (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 2. Tamanho da estaca do porta-enxerto (direita) e dogarfo da copa (esquerda) para enxertia de mesa (Foto:Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 3. Mquina de enxertia tipo mega mostrando aprimeira operao da enxertia: colocao do garfo (enxerto)

    para o corte (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 4. Banho de cera aps a operao de enxertia (Foto:Andriano Mazzarolo).

    Fig. 5. Foragem dos enxertos em caixas com serragem;Acondicionamento dos enxertos em camadas na caixa(esquerda) e caixa cheia (direita) (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 6. Foragem dos enxertos em caixa plstica com guano fundo. Acondicionamento dos enxertos na caixa (Foto:Adriano Mazzarolo).

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    9Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Fig. 7. Conservao em cmara fria das caixas com enxertos,aguardando o momento da foragem na cmara quente

    (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 8. Enxertos na cmara quente. Retirada do plsticopara obervar a formao do calo durante a foragem (Foto:Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 9. Trmino da foragem na cmara quente. Enxertosmostrando o calo formado no local dos cortes da enxertia(Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 10. Enxerto plantado no viveiro. Toda a parte expostaao sol deve ficar protegida pela cera (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 11. Plantio do enxerto em saco plstico sob estufacom cobertura plstica (Foto: Gilmar B. Kuhn).

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    10 Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Fig. 12. Preparo dos canteiros.A - Detalhe dalateral da encanteiradeira (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    A

    Fig. 13. Perfurao manual da lona plstica: Uso de suportede madeira com pinos colocados de acordo com oespaamento do plantio nas duas filas do canteiro (Foto:Adriano Mazzarolo).

    Fig. 14. Colocao do plstico no canteiro. Mquina acopladaao trator que estende, tapa as bordas e perfura o plsticonuma nica operao (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 15. Irrigao do viveiro por asperso (Foto: Murillo A.Regina).

    Fig. 16. Irrigao do viveiro de modo manual (Foto: AdrianoMazzarolo).

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    11Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Fig. 17. Mudas no viveiro mantidas despontadas a umaaltura de 50 - 60 cm.A - Detalhe do canteiro (Foto: GilmarB. Kuhn).

    A AA

    Fig. 18. Mquina para arrancar mudas no viveiro.A - Detalheda mquina vista de frente (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 19. Mudas mostrando o sistema radicular lavado ebem formado (Foto: Gilmar B. Kuhn).

    Fig. 20. Mudas preparadas para o plantio. Ramo podado,deixando-se apenas duas gemas e razes com 10 cm decomprimento (Foto: Gilmar B. Kuhn).

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    12 Produo de mudas de videira (Vitis spp.) por enxertia de mesa

    Circular

    Tcnica, 74

    Exemplares desta edio podem ser adquiridos na:Embrapa Uva e Vinho

    Rua Livramento, 515 - C. Postal 13095700-000 Bento Gonalves , RSFone: (0xx)54 3455-8000

    Fax: (0xx)54 3451-2792http://www.cnpuv.embrapa.br

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    Pecuria e Abastecimento

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    Publicaes

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