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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MODALIDADE DE PRODUÇÃO QUÍMICO-BIOLÓGICA. PRODUÇÃO DE POLI-BETA-HIDROXIBUTIRATO ATRAVÉS DE GLUCONACETOBACTER DIAZOTROPHICUS. Rômulo dos Santos Aguiar. Rio de Janeiro 2012

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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MODALIDADE DE PRODUÇÃO QUÍMICO-BIOLÓGICA.

PRODUÇÃO DE POLI-BETA-HIDROXIBUTIRATO ATRAVÉS

DE GLUCONACETOBACTER DIAZOTROPHICUS.

Rômulo dos Santos Aguiar.

Rio de Janeiro

2012

RÔMULO DOS SANTOS AGUIAR.

Aluno do curso de Ciências biológicas.

Matrícula: 0913800198

PRODUÇÃO DE POLI-BETA-HIDROXIBUTIRATO

ATRAVÉS DE GLUCONACETOBACTER DIAZOTROPHICUS.

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao curso de graduação em Ciências

Biológicas – Modalidade de produção

químico-biológica, da Universidade Estadual

da Zona Oeste, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Ciências

Biológicas sob orientação da professora

Vânia Lúcia Muniz de Pádua.

Orientadora: Dr. Vânia Lúcia Muniz de Pádua.

Laboratório de Biologia - UEZO

Co-orientadora: Dr. Cristiane Pimentel Victório

Laboratório de Biologia – UEZO

Rio de Janeiro

Dezembro de 2012

A282 Aguiar, Rômulo dos Santos.

Produção de poli-beta-hidroxibutirato através de

Gluconacetobacter diazotrophicus / Rômulo dos Santos

Aguiar. — 2012.

31 f.; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Ciências Biológicas)— Centro Universitário Estadual

da Zona oeste, Rio de Janeiro, 2012.

Bibliografia: f. 22-24.

1. Cana-de-açúcar. 2. Polihidroxibutirato. 3.

Plástico biodegradável. I. Título.

CDD 633.61

ii

PRODUÇÃO DE POLI-BETA-HIDROXIBUTIRATO ATRAVÉS DE

GLUCONACETOBACTER DIAZOTROPHICUS.

Elaborado por Rômulo dos Santos Aguiar.

Aluno do curso de Ciências Biológicas da UEZO

Este trabalho de graduação foi analisado e aprovado com grau:__________

Rio de Janeiro, _____ de dezembro de 2012.

_______________________________________________________

Doutor: Ronaldo Figueiró Portella Pereira (Examinador 1) – UEZO.

_______________________________________________________

Mestre: Adriano Arnóbio José da Silva e Silva (Examinador 2) – UEZO.

_______________________________________________________

Dra. Vânia Lúcia Muniz de Pádua (presidente) – UEZO.

RIO DE JANEIRO, RJ-BRASIL

DEZEMBRO/2012

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me proporcionado esta oportunidade única

de poder cursar uma instituição de nível superior, sem Ele provavelmente não chegaria

nem no início dessa caminhada, pois é dEle que provém minha força, minha ousadia e

inspiração.

Agradeço a minha orientadora, professora Vânia, por sua orientação, por me

transmitir seus conhecimentos, por sua paciência no decorrer desse trabalho,

principalmente por me ensinar que os valores éticos para execução de um trabalho

acadêmico se estendem além de uma sala de aula e a todos os meus professores que

colaboraram com a construção do meu aprendizado ao longo de toda minha trajetória

acadêmica.

Agradeço também a minha mãe Rosângela, minha heroína, por todo apoio e

compreensão oferecido durante esses quatro anos, mesmo quando discordávamos de algo,

ela sempre soube o que é o melhor para mim.

Aos meus colegas da turma 2009.1, foram quatro anos de parceria,

companheirismo, aprendizado e crescimento mútuo. Vou sentir saudades das festinhas

surpresas que já nem eram tão surpresas, das caminhadas até o centro de Campo Grande

com a “Célula coesa” (Rafael – O arrogante, Marcelle – A que se acha feia, Yasmim – A

Benhê, Alessandra – A eterna folhinha, Pedro – Pai de todos, Agatha – A pequenininha,

Felipe – O distraído e sem contar que ninguém esquecerá do famoso “bate aqui... coração”.

Além da “célula”, agradeço as amizades que construi ao longo do tempo, Juliana Chal,

Cristiane Farinelle, Cristiane Porto, Nataly, Ezaine, Valéria, Ranúzia, Bárbara, Josílio,

Vanessa, Tamires, Amanda e Luana.

Agradeço também a ajuda e companheirismo de todos os meus queridos amigos,

Diogo Wosny, Ramon, Zé, Sônia, David, Rodrigo, Tony e Gisele, que tornaram meus dias

os mais divertidos e mais felizes, amo vocês e não abro mão.

Ao Nathan Regis que tem estado sempre ao meu lado, não deixando com que eu

desanime ou olhe pra trás, acreditando em mim, mesmo quando eu não tinha motivos para

acreditar... Adoro-te garoto!

A toda equipe de colaboradores, técnicos e laboratoristas que estão sempre nos

auxiliando com experimentos, preparo de soluções e até mesmo, dicas para elaboração do

trabalho de conclusão de curso.

E que a paz de Deus que excede todo entendimento abençoe a todos que de alguma

forma contribuíram para a conclusão desse trabalho.

iv

Resumo

Os produtos plásticos derivados do petróleo são amplamente utilizados na medicina, na

indústria alimentícia, brinquedos, utensílios domésticos etc. Entretanto, a exigência das leis

ambientais e a conscientização da sociedade mundial em preservar o meio ambiente têm

levado a pesquisas de novos produtos que utilizem recursos renováveis. A obtenção de

plásticos biodegradáveis, dentre eles o polihidroxibutirato (PHB) adquirido a partir de

sistemas bacterianos, constitui-se em uma importante e inovadora proposta para a

substituição dos plásticos convencionais. A Gluconacetobacter diazotrophicus é uma

bactéria que interage naturalmente com a cana-de-açúcar, promovendo a fixação de

nitrogênio atmosférico, além, de produzir fitorreguladores, promovendo o

desenvolvimento da vegetal. Após análise do genoma, completamente sequenciado, foram

identificadas proteínas envolvidas na biossíntese do polímero biodegradável,

demonstrando assim que G. diazotrophicus, possui potencial para produção de

polihidroxibutirato. O objetivo principal desse trabalho é avaliar o potencial de produção

do biopolímero pela bactéria, através de análise in silico das proteínas envolvidas na via do

metabolismo do butanoato, tornando uma investigação útil para os demais, no sentido de

que seja inovador e relevante, podendo assim, futuramente empregar G. diazotrophicus a

indústria do plástico biodegradável.

Palavras-chave: Cana-de-açúcar, polihidroxibutirato, plástico biodegradável.

v

Abstract

The plastic products derived from petroleum are widely used in medicine, food, toys,

household items etc. However, the requirement of environmental laws and awareness of

society in preserving the global environment have led to research new products that use

renewable resources. Obtaining biodegradable plastics, among them polyhydroxybutyrate

(PHB) purchased from bacterial systems, constitutes an important and innovator proposal

for substitution of conventional plastics. The Gluconacetobacter diazotrophicus is a

bacterium that interacts naturally with cane sugar, promoting the fixation of atmospheric

nitrogen, in addition, to produce plant hormones, promoting the development of the plant.

After analysis of the genome completely sequenced were identified proteins involved in

the biosynthesis of the biodegradable polymer, thus demonstrating that G. diazotrophicus,

has potential for production of polyhydroxybutyrate. The main objective of this study is to

evaluate the potential for biopolymer production by the bacterium through in silico

analysis of proteins involved in metabolism via butanoate, making research useful for

others, in the sense that is innovative and relevant, and thus can in future employ G.

diazotrophicus industry of biodegradable plastic.

Keywords: Sugarcane, polyhydroxybutyrate, plastic biodegradable.

vi

SUMÁRIO

Página

Resumo............................................................................................................................iv

Abstract............................................................................................................................v

1. Introdução....................................................................................................................1

1.1. Gluconacetobacter diazotrophicus................................................................1

1.2. O que é plástico?............................................................................................3

1.3. Os diferentes tipos de plásticos.....................................................................5

1.3.1. Polipropileno...................................................................................5

1.3.2. Polietileno.......................................................................................6

1.3.3. Poliestireno.....................................................................................6

1.3.4. Polibutileno.....................................................................................7

1.3.5. PVC (Policloreto de vinila)............................................................7

1.4. Processos de reaproveitamento e destino dos resíduos plásticos..................8

1.4.1 Incineração.......................................................................................8

1.4.2 Reciclagem.......................................................................................9

1.4.3. Plásticos Biodegradáveis................................................................9

2. Justificativa.................................................................................................................13

3. Objetivos.....................................................................................................................13

3.1. Objetivos gerais............................................................................................13

3.2. Objetivos específicos....................................................................................13

4. Materiais e métodos....................................................................................................14

4.1. Análise in silico.....................................................................................14

4.2. Quantificação de PHB............................................................................15

5. Resultados e discussão................................................................................................17

6. Conclusão....................................................................................................................21

Referências Bibliográficas...............................................................................................22

1

1 – INTRODUÇÃO:

1.1 – Gluconacetobacter diazotrophicus:

A Gluconacetobacter diazotrophicus (figura 1) é uma bactéria encontrada nos

espaços intercelulares de diversas plantas de famílias como Poaceae, Convolvulaceae,

Rubiaceae e Bromeliaceae, além de interagir naturalmente com a cana-de-açucar, onde é

bastante abundante e considerada modelo de estudo de interação planta-bactéria (Muñoz-

Rojas e Caballero-Mellado, 2003). Uma vez presente no tecido vegetal, a G.

diazotrophicus, estabelece uma relação benéfica com a planta, produzindo fitorreguladores,

dentre eles vitaminas, hormônios e outras substâncias de interesse vegetal, possuindo ainda

ação antagonista a agentes patogênicos, além de fixar nitrogênio atmosférico, sendo

responsável por até 70% do nitrogênio incorporado a biomassa vegetal (Muñoz-Rojas e

Caballero-Mellado, 2001).

O aumento da contribuição ao desenvolvimento vegetal pode levar à redução do

uso de fertilizantes e adubos nitrogenados, acarretando na diminuição dos custos de

produção e gerando um impacto ambiental e social positivo, reduzindo a contaminação do

ar e das águas pluviais em decorrência do acúmulo de nitratos e outros produtos tóxicos.

Além disso, um de seus hospedeiros naturais, a cana-de-açúcar, apresenta uma importância

significativa no setor agrícola, uma vez que o Brasil é atualmente o seu maior produtor

Figura 1: Gluconacetobacter diazotrophicus PAL5

2

mundial, com produção de cerca de 27 milhões de toneladas de açúcar e 17 bilhões de

litros de álcool/ano, (Conab, 2005) levando a uma economia de 29,16 milhões de U$

dólares/ano no país (Döbereiner, 1992; Baldani et al., 1997; Olivares, 1997; James e

Olivares, 1998).

Muitas bactérias patogênicas, simbiontes e comensais são capazes de transitar entre

a vida no ambiente e no hospedeiro, e devem adaptar-se às mudanças repentinas na

disponibilidade de nutrientes, assim como à resposta de defesa secundária do hospedeiro

(Jefferson, 2004). G. diazotrophicus, por exemplo, deve-se adaptar à interação com

insetos, esporos de fungos e principalmente a diferentes espécies de plantas e em diferentes

circunstâncias. Um exemplo particularmente importante da adaptação bacteriana é a

capacidade de crescer como biofilme como parte de uma comunidade séssil encoberta de

polímeros secretados pela própria bactéria (Jefferson, 2004). O ciclo de desenvolvimento

de um biofilme, embora organizado com fases distintas, ocorre com uma liberdade

fenotípica que permite que as bactérias se adaptem às alterações impostas pelo ambiente ao

qual estão submetidas. A transição entre um estado e outro é feita de maneira controlada e

é altamente complexa sob o ponto de vista fisiológico, bioquímico e molecular (O’ Toole

et al., 1999). O biofilme parece ser um modo de crescimento bacteriano que fornece as

condições básicas para que permaneça em um nicho favorável, enquanto as culturas

planctônicas seriam na verdade um artefato in vitro (Jefferson, 2004).

A formação de biofilme por G. diazotrophicus pôde ser observada sobre lã-de-vidro

através de microscopia eletrônica de varredura, onde foi analisado o padrão de biofilme de

uma bactéria selvagem e uma mutante deficiente na formação de biofilme (Figura 2)

A B C

D E F

A B

Figura 2: Estudo comparativo por microscopia eletrônica de varredura do padrão de biofilme

formado pela bactéria selvagem (A) e a mutante EAL na formação de biofilme (B). Pádua et al.,

2010

3

O genoma de G. diazotrophicus PAL5 foi depositado pela primeira vez no banco de

genomas do NCBI (Nacional Center for Biotechnology information) em dezembro de 2007

e atualizado em julho de 2008, sendo composto por 3.944.163 pares de nucleotídeos

dispostos em um único cromossomo circular (número de acesso AM889285; 3,944,163 bp)

e dois plasmídeos (Plasmídeo pGDIPal5I com número de acesso AM889287 e tamanho

38,818 bp e plasmídeo pGDIPal5II com número de acesso AM889286 e tamanho 16,610

bp) (Bertalan et al., 2009). Após o sequenciamento de seu DNA e durante o trabalho de

anotação do seu genoma, foram identificadas sequencias codificantes de proteínas

componentes de vias biológicas importantes para a formação de biofilme, sendo que

algumas eram compartilhadas com aquelas que estão ligadas à síntese de um polímero da

família dos polihidroxialcanoatos, um bioplástico. Os bioplásticos são importantes no

mecanismo bacteriano relacionado à adaptação e sobrevivência, conforme sugerido abaixo,

e o biofilme também. A identificação de rotas metabólicas ligadas à síntese de

polihidroxialcanoatos é uma forte sugestão de que G. diazotrophicus, possui potencial para

ser empregada na indústria dos plásticos biodegradáveis.

1.2 – O que é o Plástico?

A palavra plástico deriva do grego plastikó, “próprio para ser moldado ou

modelado”. (Andrade et al.2001). São materiais macromoleculares que podem ser

moldados sob ação de temperatura e pressão; são basicamente constituídos por ligações

covalentes entre carbonos que se repetem ao longo de uma cadeia denominada cadeia

polimérica. (Mano e Mendes, 1999).

Os produtos plásticos derivados do petróleo são largamente utilizados na construção

civil, medicina, no setor automobilístico, na indústria farmacêutica, alimentícia, utensílios

domésticos, brinquedos, calçados etc. O plástico é um produto muito versátil e ganhou um

grande espaço no mercado por ser um material barato, leve e durável e tornando-se

indispensável em nosso cotidiano, (Cangemi et al. 2005) o plástico possui propriedades

interessantes como o isolamento térmico e elétrico, além de ser resistente à corrosão.

Entretanto, devido às inúmeras vantagens e benefícios que os produtos plásticos nos

oferecem, o uso dos mesmos vem aumentando significativamente nos últimos anos em

4

todo o mundo conforme mostra a tabela 1, chegando a mais de duzentos e sessenta e cinco

milhões de toneladas de plástico produzidos por ano no mundo (Plastics Europe, 2011),

consequentemente aumentando a quantidade de resíduos plásticos descartados no meio

ambiente (Franchetti e Marconato, 2006). Devido a sua alta durabilidade e resistência, os

plásticos sintéticos podem levar décadas e até séculos degradando no ambiente, além disso,

a ausência de leis ambientais e conscientização da sociedade mundial em preservar o meio

ambiente, tem tornado, o acúmulo desses resíduos ocasionados pelo descarte inadequado

um dos grandes agravos ambientais de nosso século.

O consumo de plásticos no Brasil tem se tornado cada vez mais crescente. Segundo

dados da ABIPLAST (2010), o brasileiro possui um consumo per capita médio de 28 kg de

plástico por ano. Ainda com base nessa pesquisa foi observada uma produção de quase 5,2

milhões de toneladas de plástico de origem petroquímica no ano de 2009, quando também

foi registrado um consumo de 5,4 milhões de toneladas, como ilustram respectivamente as

figuras 3 e 4.

Tabela 1: Produção mundial de plásticos em milhões de toneladas.

Fonte: Plastics Europe, 2011.

5

1.3 – Os diferentes tipos de plástico:

Os plásticos são divididos em dois grandes grupos: os plásticos termorrígidos e os

termoplásticos.

Os plásticos termorrígidos, como o próprio nome sugere, são plásticos que uma vez

moldados e endurecidos, não podem ser novamente fundidos. Desta forma estes plásticos

não oferecem condições para serem reaproveitados através da reciclagem, como é o caso

de plásticos usados na indústria automobilística, em telhas transparentes etc. (Guamá et al.

2008).

Os termoplásticos por sua vez são sensíveis à temperatura, podendo ser facilmente

moldados sob ação de temperatura e pressão. O processo pode ser repetido várias vezes,

tornando viável a reciclagem dos mesmos (Parente, 2006). Os principais termoplásticos

são: Polipropileno, polietileno, poliestireno, polibutileno e o PVC ou policloreto de vinila.

Figura 3: Produção do setor de produtos plásticos no Brasil (em

milhões de toneladas). Fonte: ABIPLAST, 2010.

Figura 4: Consumo aparente de produtos plásticos no Brasil (em

milhões de toneladas). Fonte: ABIPLAST, 2010.

6

1.3.1 – Polipropileno:

O polipropileno (PP) tem origem no grupo dos polímeros poliolefínicos e é um dos

mais importantes plásticos de massa. De aspecto transparente ou opaco, incolor ou colorido

em todas as cores e tonalidades, embora a sua cor natural seja o branco leitoso, é obtido a

partir da polimerização do propileno, que resulta da destilação do petróleo, num

procedimento semelhante ao do polietileno de alta densidade (PEAD), isto é, sob pressão e

na presença de catalisadores (Santos et al., 2004). O polipropileno é amplamente

empregado em todo o mundo no setor automobilístico, utensílios domésticos, brinquedos,

embalagens, isolamentos de cabos elétricos, dentre outras funções atendidas pelas suas

características de baixa densidade associada a alta rigidez e dureza. A estrutura química do

polipropileno é mostrada abaixo.

1.3.2 – Polietileno:

O polietileno é considerado o polímero mais comum, pela cadeia simples (CH2-

CH2)n. Possui alta produção em escala mundial, sendo o polímero mais barato. O

polietileno é sintetizado a partir da polimerização do etileno. São flexíveis, parcialmente

cristalinos e inertes à maioria dos produtos químicos comuns, devido a sua natureza

parafínica, seu alto peso molecular e sua estrutura parcialmente cristalina. Além disso, os

polímeros etilênicos podem não apresentar toxicidade, podendo ser usados em contato com

alimentos e produtos farmacêuticos (Coutinho et al, 2003).

Figura 5: Estrutura química do polipropileno

7

1.3.3 – Poliestireno:

O poliestireno é um plástico que se obtém através da polimerização do estireno (um

líquido oleoso, incolor e de forte odor). Caracteriza-se por ser um material muito frágil,

apesar das vantagens que são: Resistência a humidade, brilhante, inodoro e não ser

prejudicial à saúde (Gorni, 2003). O poliestireno é amplamente empregado na indústria por

ser um material leve, econômico e de fácil manuseio, sendo utilizado na construção civil e

confecção de caixas térmicas para armazenamento de bebidas e alimentos, sendo

popularmente conhecido como isopor (Costa, 2007). Na figura 6, é mostrada a estrutura

química do poliestireno.

1.3.4 – Polibutileno:

O polibutileno caracteriza-se por ser um termoplástico de elevada resistência

mecânica, tal característica, o permite ser usado em tubulações e sistemas de tubos

aquecidos, uma vez que ele permite com que a velocidade do fluído aumente sem causar

problemas de abrasão. Possui elevada flexibilidade mesmo a baixas temperaturas e

Figura 6: Estrutura química do poliestireno

8

resistência a alguns agentes químicos como o cloro e agentes físicos como radiação UV

(Cobrigas, 2009).

1.3.5 – PVC (Policloreto de vinila):

O PVC é o material ideal para as mais diversas aplicações. É o único termoplástico

que não é 100% derivado do petróleo, contendo em peso, 57% de cloro e 43% de eteno

(Nunes et al, 2002).

O policloreto de vinila consiste em um plástico que se obtém por polimerização do

cloreto de vinilo. A fórmula geral do PVC é (CH2-CHCl)n. É um material termoplástico

tenaz e rígido, mas que por ação de plastificantes pode se tornar flexível e elástico (Gorni,

2003).

Devido a sua resistência à corrosão é empregado na elaboração de placas, tubos,

placas, folhas e peças moldadas para torneiras e materiais de construção, isolantes de cabos

elétricos e também um ponto de partida para fabricação de fibras e vernizes. Apesar de ser

um termoplástico de vasta aplicação, em elevadas temperaturas pode liberar cloreto de

hidrogênio que acumula-se na atmosfera, gerando assim um grave problema relacionado à

eliminação dos seus desperdícios (Vieira, 2001).

Atualmente, o PVC é o segundo termoplástico mais consumido em todo o mundo,

com uma demanda mundial superior a 27 milhões de toneladas no ano de 2001, sendo a

capacidade mundial de produção de resinas de PVC estimada em cerca de 31 milhões de

toneladas/ano. Dessa demanda total, o Brasil foi responsável pelo consumo de cerca de

2,5% de resinas de PVC. Esses dados mostram o potencial de crescimento da demanda de

resinas de PVC no Brasil, uma vez que o consumo per capita, na faixa de 4,0 kg/hab/ano,

ainda é baixo quando comparado ao de outros países (Nunes et al, 2002).

1.4 – Processos de reaproveitamento e destino dos resíduos plásticos:

Todos os plásticos possuem em comum o fato de não serem biodegradáveis, pois

são de origem petrolífera, podendo levar até séculos degradando no ambiente. Mas existe

uma crescente demanda por sua produção e consumo, resultando na elaboração de algumas

9

estratégias que visam minimizar os impactos causados pelo acúmulo de resíduos plásticos.

Algumas das estratégias empregadas são citadas abaixo:

1.4.1– Incineração:

É o termo usado para designar a combustão do lixo municipal. Um incinerador

apropriadamente projetado e operado permite que a redução de volume de material a ser

aterrado seja substancial. Em muitos países, a incineração é realizada para a conversão de

resíduos plásticos em energia. Deve-se levar em conta que o valor energético dos plásticos

é equivalente ao de um óleo combustível (37,7 MJ/kg) e, por esta razão, podem-se

constituir em valiosa fonte energética (Cepis, 2004).

Apesar da vantagem citada acima, a incineração ainda não é utilizada em grande

escala devido ao elevado custo dos fornos de aquecimento e por ser um método

potencialmente arriscado. Alguns plásticos como o cloreto de polivinila (PVC), quando em

combustão liberam na atmosfera gases tóxicos, como o ácido clorídrico (HCl), uma

substância tóxica, que quando acumulada na atmosfera pode gerar chuva ácida (Franchetti

e Marconato, 2006). A reação da combustão do PVC está representada abaixo:

1.4.2 – Reciclagem:

É um método viável de reaproveitamento dos resíduos plásticos oriundos de lixões,

sucatas e sistemas de coleta seletiva que são fundidos e transformados em novos produtos

que poderão futuramente ser comercializados (Cangemi et al., 2005).

Os programas de educação desenvolvidos nas escolas, comunidades e empresas

estão dando suporte para a implantação de projetos de coleta seletiva, os quais, além de

auxiliarem na geração de empregos e na conservação do meio ambiente, fornecem também

matéria-prima de melhor qualidade para a indústria de reciclagem (Pires, 2002).

A reciclagem de plásticos envolve um grande trabalho prévio de separação,

identificação e limpeza dos materiais. Apesar desta demanda, o material reciclado é cerca

de 50% mais barato que o polímero na forma virgem. No mundo, cerca de 20% dos

2[CH2CHCl]n + 5O2 → 2HCl + 4CO2 + 2H2O

10

plásticos são reciclados. No Brasil, a reciclagem vem crescendo em volume e aumentando

a diversidade e qualidade dos produtos reciclados (Franchetti e Marconato, 2006).

Apesar da grande vantagem apresentada pela reciclagem, ainda há grandes desafios

tais como:

►Dificuldade na separação dos diversos tipos de plásticos.

►Escassez de indústrias interessadas em comprar o material separado.

►Dificuldade em garantir um fornecimento contínuo de matéria – prima de boa qualidade

aos compradores.

1.4.3 – Plásticos Biodegradáveis:

Os plásticos biodegradáveis, também denominados plásticos biológicos ou

bioplásticos, foram descobertos há cerca de 10 anos e ainda possuem uma participação

mínima no mercado internacional (Franchetti e Marconato, 2006). Diferente dos plásticos

convencionais derivados do petróleo, os bioplásticos uma vez lançados no meio ambiente,

são degradados por microrganismos em um curto espaço de tempo, podendo com relativa

facilidade integrar-se totalmente à natureza, sem causar danos à mesma, representando

assim uma alternativa sustentável. Uma substância é biodegradável se os microrganismos

presentes no meio ambiente forem capazes de convertê-la a substâncias mais simples,

existentes naturalmente em nosso meio (Snyder, 1995).

Em função de ser um material biodegradável, o bioplástico é considerado uma

alternativa interessante para minimizar os impactos decorrentes de resíduos plásticos.

Pesquisas com bioplástico vêm ocorrendo em todo o mundo, algumas envolvendo testes

empregando óleo de mamona, cana-de-açúcar, beterraba, ácido lático, milho e proteína de

soja, entre materiais de origem vegetal (Viveiros, 2003) e de origem microbiana (Squio e

Aragão, 2004; Franchetti e Marconato, 2006).

Polímeros da família dos polihidroxialcanoatos (PHAs), que são produzidos por

algumas bactérias a partir de açúcares, possuem propriedades semelhantes às dos plásticos

petroquímicos, com a vantagem de poderem ser biodegradados por microrganismos

11

presentes no meio ambiente, em curto espaço de tempo, após o descarte. O principal

representante dos PHAs é o poli-β-hidroxibutirato (PHB), semelhante ao polímero

sintético, polipropileno (PP), em propriedades físicas e mecânicas (Franchetti e Marconato,

2006). O polihidroxibutirato (Figura 7) serve a muitas bactérias como uma maneira de

armazenar no interior celular, materiais que podem servir de reserva para obtenção de

carbono e como fonte de energia para o caso de ausência de algum nutriente, podendo

acumular até 90% de seu peso seco (Figura 8).

Estes biopolímeros possuem propriedades físico-químicas e termoplásticas muito

similares aos plásticos de origem petroquímica. São completamente biodegradáveis e

biocompatíveis, produzidos a partir de matérias-primas renováveis, podendo ser reciclados

e incinerados sem a geração de produtos tóxicos, o que os torna de grande aplicabilidade

Figura 7: Estrutura química do polihidroxibutirato.

Figura 8: Fotomicrografia eletrônica de células bacterianas contendo grânulos do polímero

biodegradável, da família dos polihidroxialcanoatos (PHA) acumulados no seu interior.

Fonte: SILVA et al., 2007.

12

em relação aos plásticos petroquímicos e possíveis candidatos a sua substituição (Byrom,

1987; Hanggi, 1995; Steinbuchel & Fuchtenbusch, 1998).

O PHB pode ser amplamente utilizado na produção de embalagens de produtos de

limpeza, higiene pessoal, recipientes para ferramentas agrícolas e vasos para mudas de

plantas. Além disso, por ser biocompatível e facilmente absorvido pelo organismo humano,

pode ser empregado na área médico-farmacêutica, prestando-se à fabricação de fios de

sutura, próteses ósseas e cápsulas que liberam gradualmente medicamentos na corrente

sanguínea (Bohmert et al., 2002).

Algumas bactérias encontradas livremente na natureza - solo, água, plantas e

efluentes - são responsáveis pela transformação de substratos em polihidroxialcanoatos

(Byrom, 1987), e vem se tornando um valioso objeto de estudo nos últimos anos. Dentre os

microrganismos produtores de PHAs, existe a bactéria Cupriavidus necator (Figura 9), que

atualmente possui um amplo emprego na indústria dos bioplásticos, produzindo um

polímero de alto peso molecular utilizando uma grande variedade de substratos orgânicos

como frutose, glicose, acetato, lactato, glutamato, entre outros (Fiorese, 2008). Além dessa

bactéria existem outros microrganismos produtores de PHA já descritos, como por

exemplo Burkholderia sacchari, Bacillus megaterium e Pseudomonas oleovarans. Alguns

microrganismos estão sendo foco de estudos avaliativos sobre o potencial de produção do

polímero biodegradável, como é o caso da Gluconacetobacter diazotrophicus, o nosso

objeto de estudo.

Figura 9: Cupriavidus necator em fase de produção. Fonte: AMPE,

1995; SUDESH et al., 2000.

13

2 – JUSTIFICATIVA:

Considerando a grande demanda mundial de produtos plásticos e o constante apelo por

uma política de conservação do meio ambiente, o presente trabalho busca elucidar como

um interessante caminho pode ser traçado a partir do potencial desenhado na estrutura do

genoma de G. diazotrophicus, podendo ser empregada na indústria do plástico

biodegradável, utilizando como substrato principal, o bagaço da cana-de-açúcar.

3 – OBJETIVOS:

3.1 – Objetivos gerais:

Abrir espaço para novas pesquisas qualitativas, a fim de avaliar o potencial de

produção de biopolímero plástico por G. diazotrophicus, contribuindo futuramente para a

preservação ambiental e para o aumento do conhecimento e o desenvolvimento de soluções

tecnológicas e inovadoras para a substituição dos plásticos que causam poluição.

3.2 – Objetivos específicos:

O presente trabalho tem como principal objetivo, realizar a análise in silico das

proteínas relacionadas na síntese de PHB com posterior quantificação por cromatografia

gasosa, através do método descrito por Riss e Mai, 1988.

14

4 – MATERIAIS E MÉTODOS:

4.1. Análise in silico:

A sequência da proteína poly-beta-hydroxybutyrate polymerase de Cupriavidus

necator (sinônimo Ralstonia eutropha) H16 (P23608.1) do Genkbank, um banco de dados

de sequências de DNA e de aminoácidos localizado no Centro Nacional de Informação

Biotecnológica – NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), foi empregada como base para

identificação do seu ortólogo no genoma de G. diazotrophicus. O NCBI fornece um

conjunto de ferramentas de bioinformática para analisar estas sequencias de DNA e de

aminoácidos, como o Blast (Basic Local Aligment Search Tool), que permite comparar a

sequencia de interesse, com base na similaridade identificada em um “alinhamento local”,

com todas as sequências de domínio público depositadas no Banco (Altschul et al., 1997).

Há várias modalidades de BLAST. A modalidade adotada neste trabalho foi o

tBLASTx, onde a informação Query (segmento de DNA pesquisado e usado como isca) e

base de dados (Subject) são sequências de nucleotídios. Antes mesmo de verificar a

homologia, o programa realiza as seis traduções possíveis de cada sequência de

nucleotídios, ou seja, tanto a seqüência pesquisada quanto cada uma das presentes na base

de dados são transformadas em seis proteínas. Esta etapa é interessante já que as proteínas

de dois organismos são mais parecidas entre si que os nucleotídios que as codificam. Após

realizar todas as traduções possíveis, o programa faz alinhamentos entre seus resultados e

devolve para proteína Query - proteína Subject. Nesta análise, apenas uma das seis leituras

possui significado biológico; as demais geram resultados que são descartados.

Neste trabalho só existe interesse em comparar a sequencia de interesse de C.

necator H16 àquelas depositadas no Banco e derivadas de G. diazotrophicus PAL5. C.

necator foi adotada como ponto de partida já que acumula o biopolímero em até 90% de

seu peso seco, quando exposta a altas concentrações de açúcar (Pohlmann et al., 2006).

O resultado da análise por BLAST serviu para a identificação de sequências com

similaridade suficiente dentro do Banco Query de G. diazotrophicus permitindo atribuir a

mesma função do segmento de DNA usado para a busca (derivada de C. necator), que teve

a função conhecida experimentalmente.

Um parâmetro calculado pelo BLAST é mostrado como valor "E". Este valor

15

expressa o grau de similaridade, sendo que quanto menor, menor a chance da identidade

achada na comparação das sequencias ser por acaso.

Além do BLAST, a análise in silico prosseguiu empregando outras Bases de dados

mais comuns como as que são abrigadas pelo Instituto TIGR - Instituto para Pesquisa em

Genômica (www.biochipnet.com/node/2103) e o banco de dados de proteínas Pfam

(http://pfam.sanger.ac.uk/).

Com base no programa Clustaw, abrigado no Instituto de Bioinformática Europeu -

European Molecular Biology Laboratory (EBI– EMBL) (http://www.ebi.ac.uk/), as

sequencias identificadas como PHB sintase em G. diazotrophicus, bem como a sequência

de C. necator utilizada como isca e outras sequencias ortólogas derivadas de bactérias já

integradas à indústria e produtoras do biopolímero de interesse foram alinhadas. O Clustaw

realiza múltiplos alinhamentos com sequenciais de DNA e de proteínas para a construção

das árvores filogenéticas. Embora o programa permita a personalização dos parâmetros de

alinhamento múltiplo para a construção da árvore filogenética, este trabalho utilizou a

configuração padrão oferecida, já que atendia às necessidades. As aproximações evolutivas

apresentadas através das árvores filogenéticas são uma maneira de entender a relação entre

os dados usados na comparação.

O banco KEGG (http://www.genome.ad.jp/kegg) é a representação computacional

completa da célula e do organismo, permitindo a predição, com altos níveis de

complexidade, dos processos celulares a partir de informações moleculares e genômicas.

Este Banco possui dados de genomas e de vias metabólicas de várias espécies; sendo

também útil para o estudo das vias relacionadas à produção de PHB em G. diazotrophicus

e de bactérias relacionadas, com interesse industrial.

4.2 Quantificação de PHB:

Para quantificação da massa de PHB acumulado pela bactéria seguiu-se o método

da propanólise visando a posterior análise por cromatografia gasosa, segundo método

descrito por Riss e Mai (1988). Este método é baseado na hidrólise e transesterificação do

P(3HB) com propanol e ácido clorídrico, levando à formação de um éster, o 3-

hidroxibutirato de propila, que é quantificado por cromatografia gasosa.

16

Foram utilizadas culturas de G. diazotrophicus PAL5 cultivadas em meio DYGS

com a seguinte composição em g L-1

: Glicose, 2; peptona, 1,5; extrato de levedura, 2;

KH2PO4, 0,5; MgSO4.7H2O, 0,5; ácido glutâmico, 1,5; completados com água destilada até

1000 ml; pH 6,0; à 30ºC, durante 24 horas em tubos Falcon de 30 ml. Em seguida, o meio

contendo a cultura foi lavado com água destilada estéril, em uma proporção 1:10

(meio/água), e sucessivamente foram realizadas duas centrifugações à 4000rpm à 5 ºC por

20 minutos cada uma.

A massa de bactérias obtidas após a centrifugação foi lavada duas vezes com água

destilada estéril e posteriormente transferida para tubos de vidro com vedação, com auxílio

de 2 ml de propanólise.

A propanólise consiste numa solução com proporção de 1 ml de ácido clorídrico: 4

ml de propanol, totalizando 5 ml de solução.

Após a transferência do pellet bacteriano com auxílio da propanólise, para os tubos

de vidro, foram adicionados 2 ml de dicloroetano, os tubos foram vedados e aquecidos em

banho-maria a 100 ºC durante 2 horas. Após o tempo de aquecimento, retirou-se do banho,

para resfriamento, o reagente dos tubos foi evaporado por completo, mesmo os tubos

estando hermeticamente fechados, tornando-se necessária a repetição do experimento mais

duas vezes, porém, ainda assim não foi obtido sucesso. Segundo Riss e Mai, após as duas

horas de aquecimento, os tubos deveriam ser retirados do banho-maria, e após

resfriamento, adicionados 4 ml de água destilada estéril, tornando-se possível a observação

de uma separação de fases: Uma fase orgânica e uma fase aquosa. Da fase orgânica, eram

extraídos 2 ml e desse volume eram adicionados 0,2 ml de uma solução de 40mg/ml de

benzoato de etila em propanol que funciona como um padrão interno para a cromatografia

gasosa. Após o preparo das amostras, alíquotas de 0,2 µl eram injetadas no cromatógrafo

gasoso e quantificadas.

17

5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO:

O alinhamento por BLAST da proteina PHB polymerase da R. eutropha H16 com a da

G. diazotrophicus PAL 5 revelou uma similaridade significativa, conforme evidenciado na

figura 9.

Foi realizada uma análise complementar a partir da busca de domínios conservados

funcionais, usando as bases de dados mais comuns como os abrigados pelo Instituto TIGR-

Instituto para Pesquisa em Genômica (www.biochipnet.com/node/2103) e o banco de

dados de proteínas Pfam (http://pfam.sanger.ac.uk/).

A análise revelou similaridade com o domínio TIGR01836: PHA_synth_III_C (E-

value: 2.20e-34), correspondente a função sintase de ácido poli (R)-hidroxialcanóico classe

III, subunidade PHAc . Este representa a subunidade PHAc de uma forma heterodimérica

ácido de Poli hidroxialcanóico sintase (PHA). Excetuando-se os PHAc de Bacillus

megaterium, todos os membros exigem Pha e (TIGR01834) para a atividade e são

designadas de classe III. Esta enzima constrói polímeros de ésteres de carbono para

armazenamento de energia que se acumulam nas inclusões bacterianas.

Figura 9: Matriz de ponto (alinhamento local por Blast2 seq) mostrando similaridade entre as sequências

de poly-beta-hidroxibutirato sintase de Ralstonia eutropha H16, uma bactéria produtora de PHB e de G.

diazotrophicus (similaridade = 5/9 = 56%) A relação ao nível de sequência sugere funções comuns.

18

Com base nos resultados obtidos através da análise dos domínios conservados,

tornou-se possível construir uma árvore filogenética baseada na proteína poli-beta-

hidroxibutirato sintase de G. diazotrophicus e ortólogos de bactérias produtoras de PHB

(Figura 12).

Figura 10: Domínios conservados na proteína “poli-beta-hidroxibutirato polimerase” (PhaC) de G.

diazotrophicus. Superfamília Pha_N representa a região N-terminal de PhaC. O domínio PHA_synth_III_C está

normalmente presente no heterodímero PhC classe III, junto ao transportador PhaE, que não está presente em G.

diazotrophicus. Sintases de PHA da classe IV assemelham-se aos da classe III, requisitando, entretanto o

regulador PhaR (ver figura 11).

Figura 11: Domínios conservados na proteína “Regulador de síntese de polihidroxialcanoato”. PHB/PHA

“accumulation regulator” (PHB_acc) é o domínio de ligação direta do PHA ao DNA. O repressor de síntese de

polihidroxialcanoato PhaR regula a sua própia expressão, a produção da cobertura dos grânulos de PHB e das

enzimas que direcionam o fluxo de carbono para a produção de polímeros PHB para armazenamento.

Pseudomonas sp. 61-3 (patent 5968805) Pseudomonas sp.

Ralstonia eutropha Azohydromonas lata

Rhodobacter sphaeroides (patent 5849894) Vibrio sp.

Sinorhizobium meliloti (patent 7829697) Rhodospirillum rubrum

Gluconacetobacter diazotrophicus Azospirillum sp. Acidiphilium multivorum Xanthomonas campestris

89

100

67

100

92 53

54

54

100

0.2 Figura 12: Filograma comparativo entre diferentes espécies produtoras de PHB.

19

A árvore filogenética representada na figura 13 faz uma comparação entre a

proteína PHB sintase em diferentes espécies de microrganismo produtores de PHB sendo

alguns atualmente empregados na indústria. Foi realizado alinhamento múltiplo utilizando

o programa Clustal através do método Neighbor-Joining. O alinhamento computou os

domínios conservados e informações de similaridade.

A via metabólica do butanoato (figura 13) foi construída a partir dos bancos de

dados do genoma de G. diazotrophicus (http://www.kegg.jp/kegg/docs/plea.html). Onde

temos em destaque a poli-beta-hidroxibutirato sintase (2.3.1) e a acetoacetyl-CoA

reductase (1.1.1.36), que participam promovendo de forma eficaz a ligação do

hidroxibutiril-CoA a uma molécula de polihidroxialcanoico.

Figura 13: Via do metabolismo do butanoato (butirato).

20

Após a ligação das moléculas de hidroxibutiril-CoA e polihidroxialcanoico, reações de

oxiredução, ocorrem obtendo-se como produto final, o polihidroxibutirato + coenzima A

conforme ilustra a figura 14.

Figura 14: Hidroxibutiril sofre oxiredução, a fim de se obter coenzima A e polihidroxibutirato.

21

6 – CONCLUSÃO:

A análise usando EMBOSS Needle com as seqüências de Ralstonia eutropha H16 e

Gluconacetobacter diazotrophicus descreveu um ótimo alinhamento global revelando 56%

de similaridade entre ambas, indicando relação estrutural e funcional. Procedimentos

adicionais são necessários para uma caracterização mais detalhada, mas G. diazotrophicus

apresenta potencial para a produção de polihidroxibutirato, apresentando grandes

perspectivas de ser empregada na indústria de bioplástico, utilizando como fonte de

carbono principal o açúcar da cana, integrando-o à indústria de cana-de-açúcar, podendo

assim ser usado na elaboração de produtos que não irão prejudicar o ambiente, causados

pelos produtos plásticos convencionais que levam anos para serem completamente

degradados no ambiente.

22

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