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Proposta de: María Olatz Cases Vincent Brackelaire Produto 3: Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

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Proposta de:

María Olatz Cases

Vincent Brackelaire

Versão 2.1

Abril 2007

Produto 3:Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores

Ecológicos

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROSSIGLAS E ACRÔNIMOS

APRESENTAÇÃO - 6

Parte I: Marco Conceitual

1 O Que Entendemos por Corredor? - 92 A Função Vital do Corredor e suas Características - 13 3 O Sistema de Gestão do Corredor - 17

3.1 O Que Entendemos por Gestão do Corredor? - 173.2 As Principais Ferramentas para a Gestão de Corredores - 183.3 Os Elementos Transversais da Gestão do Corredor - 203.4 A Estrutura de Gestão - 22

4 O Enfoque Ecossistêmico na Gestão do Corredor - 255 Os Componentes do Corredor - 28

5.1 As Unidades de Conservação - 285.2 As Terras Indígenas - 285.3 As Terras Quilombolas - 305.4 As Áreas de Interstício - 315.5 A Área Marinha - 325.6 O Espaço Urbano - 335.7 O Capital Humano e Social - 345.8 O Componente Institucional - 34

6 Instrumentos Legais para a Gestão do Corredor - 356.1 Atual Embasamento Legal da Gestão do Corredor - 356.2 Propostas para o Reforço Legal da Gestão do Corredor - 37

7 Os Corredores além das Fronteiras - 38

Parte II: Constituição do Corredor

8 A Motivação para a Constituição do Corredor - 419 As Etapas para a Constituição do Corredor - 42

9.1 Surgimento da Idéia de Corredor - 429.2 Desenho Preliminar do Corredor - 429.3 Análise dos Principais Atores Sociais ou Grupos de Interesse - 449.4 Consultas Iniciais sobre a Idéia e Limites do Corredor - 45

10 Considerações sobre as Escalas Espacial e Temporal - 4611 O Processo de Integração dos Atores Sociais - 4712 As Condições Mínimas de Partida - 48

Roteiro Metodológico para a Gestão de

Corredores Ecológicos

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

Parte III: Planejamento do Corredor

13 O Que Entendemos por Planejamento do Corredor? - 5014 As Características Ideais do Planejamento - 50

14.1 As Dimensões do Planejamento - 5014.2 O Método de Planejamento a ser Aplicado no Corredor - 5214.3 O Diagnóstico do Corredor - 52

15 As Etapas do Planejamento - 5415.1 Organização do Planejamento - 5415.2 Diagnóstico do Corredor - 5515.3 Integração e Avaliação Estratégica da Informação - 5615.4 Identificação das Diretrizes para o Futuro - 5815.5 Detalhamento da Estratégia - 6015.6 Aprovação do Plano - 61

16 O Conteúdo do Plano de Gestão - 6217 A Priorização para o Trabalho no Corredor - 63

Parte IV: Implementação do Corredor

18 O Que Entendemos por Implementação do Corredor? - 6519 As Formas de Implementação do Corredor - 66

19.1 A Implementação de Forma Paralela ao Planejamento - 6619.2 A Implementação Mediante Projetos - 6619.3 A Implementação Mediante a Articulação Inter-institucional - 6619.4 A Atuação de cada Instituição de forma Coordenada - 67

20 Recomendações para o Sucesso da Implementação - 67

Parte V: Monitoramento e Avaliação do Corredor

21 Embasamento Teórico do Monitoramento e Avaliação - 7022 As Etapas do Monitoramento e Avaliação - 72

22.1 Elaboração do Plano de Monitoramento da Efetividade - 7222.2 Implementar o Plano de Monitoramento da Efetividade - 7422.3 Realização do Monitoramento do Desempenho - 74 22.4 Apresentação dos Resultados ao Comitê de Gestão - 74

23 Exemplos de Indicadores para o Monitoramento da Efetividade - 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS - 78

REFERÊNCIAS

GLOSSÁRIO

ANEXOS

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - O Sistema de Gestão do Corredor Central da Amazônia

Quadro 2 - A Estrutura Institucional do Corredor Biológico Meso-Americano

Quadro 3 - O Corredor de Biodiversidade do Xingu, caso emblemático de participação indígena num corredor

Quadro 4 - O desafio das sobreposições entre TIs e UCs

Quadro 5 - Porção Marinha do Corredor Central da Mata Atlântica – CCMA

Quadro 6 - Brasil e Bolívia formam o Corredor Ecológico Guaporé/ Itenez-Mamoré

Quadro 7 - Definição do espaço geográfico do Corredor Central da Amazônia

Quadro 8 - O Sistema de Monitoria e Avaliação do PDA (Subprograma de Projetos Demonstrativos)

Quadro 9 - Indicadores para o Sistema de Monitoramento Ecológico do Corredor Biológico Meso-Americano – México

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Divisão do documento.

Figura 2 - Exemplo dos três formatos de corredores.

Figura 3 - O Ciclo de Gestão do Corredor.

Figura 4 - Diagrama das ferramentas e elementos transversais da gestão do corredor.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

SIGLAS E ACRÔNIMOS

APA Área de Proteção AmbientalARIE Área de Relevante Interesse EcológicoCEBRAC Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio CulturalCI Conservação Internacional do BrasilCONAMA Conselho Nacional do Meio AmbienteESEC Estação EcológicaFLONA Floresta NacionalFLOE Floresta EstadualFUNAI Fundação Nacional do ÍndioFVA Fundação Vitória AmazônicaGEF Fundo de Meio Ambiente das Nações UnidasGTA Grupo de Trabalho AmazônicoGTZ Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit - GmbH (Agência Alemã de

Cooperação Técnica)IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisIBIO Instituto BioAtlânticaICV Instituto Centro de VidaIEPA Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do AmapáIESB Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da BahiaINPA Instituto Nacional de Pesquisas da AmazôniaIPAAM Instituto de Proteção Ambiental do AmazonasIPE Instituto de Pesquisas EcológicasMMA Ministério do Meio AmbienteNUC Núcleo de Unidades de Conservação do IBAMAONG Organização Não-governamentalPCE Projeto Corredores EcológicosPARE Parque EstadualPARNA Parque NacionalPI Proteção IntegralPROBIO Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica

BrasileiraRDS Reserva de Desenvolvimento SustentávelRESEX Reserva ExtrativistaREBIO Reserva BiológicaSNUC Sistema Nacional de Unidades de ConservaçãoTI Terra IndígenaUS Uso SustentávelWWF World Wild Life Fund

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

APRESENTAÇÃOOs Corredores Ecológicos são estratégias que surgiram para aumentar a eficácia

na conservação da biodiversidade. No Brasil existem várias experiências que vêm sendo implantadas pela iniciativa governamental e não-governamental com diferentes termos, como corredores ecológicos, biológicos, de biodiversidade, etc. Este documento visa oferecer a base metodológica para a gestão dos corredores ecológicos no Brasil, perante a diversidade de táticas e estratégias que estão sendo implementadas. Seu objetivo é apresentar os aspectos metodológicos gerais da implantação de corredores para que sirvam de suporte, apoio ou sustentáculo quando forem aplicados à realidade local de cada corredor, sem a intenção de criar uma camisa-de-força.

Em outras palavras, os lineamentos aqui apresentados serão a base para o desenvolvimento de estratégias específicas. Em cada local existem diferentes objetivos, escalas de trabalho e graus de alteração nos ecossistemas, que obrigam a aplicar a metodologia de forma diferenciada. A aplicação do roteiro metodológico ao caso concreto deverá ser feita com bom senso e de acordo com os conhecimentos científicos e tradicionais de cada corredor. É muito difícil, quase impossível, estabelecer uma fórmula que contemple toda a complexidade ambiental, cultural, social, institucional, política e econômica de cada corredor.

O caráter abrangente deste documento leva a adotar uma abordagem mais generalista do que específica, podendo haver algumas lacunas metodológicas que serão sanadas com a aplicação destes lineamentos na prática. Devido ao caráter generalista, se optou por utilizar apenas o termo corredores, sem adjetivos que o qualificassem (biológico, ecológico, de biodiversidade, etc.). Todos esses corredores pretendem primordialmente favorecer o fluxo da diversidade biológica, diferenciando-se na forma como se aborda o fluxo de informações, decisões e benefícios dos bens e serviços ambientais dentro do corredor.

Pretende-se também, com este documento, nivelar a compreensão da gestão dos corredores e sua dinâmica, esclarecendo as idéias sobre os seus componentes e como estes podem interagir. A proposta aqui apresentada para a sua gestão é a pedagogia da prática: somente aprenderemos a trabalhar com corredores, trabalhando com corredores1. De acordo com esse modelo, a gestão deve vir acompanhada do monitoramento e da avaliação contínuos. Nesse caso, a revisão e complementação deste roteiro metodológico também são obrigatórias para os próximos anos.

Há mais um outro desafio na proposta de um roteiro metodológico para a gestão de corredores. Questiona-se como propor a gestão do todo (o corredor), se ainda não existem todas as respostas metodológicas para a gestão de seus componentes (as unidades de conservação, as terras indígenas, as terras quilombolas, as áreas de interstício e outros). Como mencionado anteriormente, apenas a prática da gestão dos corredores poderá verificar a validez da proposta e até quê ponto a estratégia de corredor é apropriada no 1 Adaptado de MARTINHO (2001). Ele escreveu sobre as redes sociais: “Só aprenderemos a fazer rede fazendo rede”.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de

Corredores Ecológicos

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

Brasil para conciliar as áreas protegidas e os diversos tipos de uso e ocupação dos recursos naturais numa experiência de gestão territorial como estratégia de conservação.

Este documento foi elaborado levando em consideração numerosos documentos técnicos sobre as experiências de corredores no Brasil e no mundo, e compilando informações de diversas fontes, as quais aparecem nas referências. Contudo, vale a pena destacar a influência recebida dos resultados do I e II Seminários sobre Corredores Ecológicos no Brasil, organizados pelo IBAMA em novembro de 2001 e setembro de 2004; e da Oficina “Aplicação do Enfoque Ecossistêmico à Gestão de Corredores em América do Sul”, organizada pela UICN-Sul em Quito (Equador) em Junho de 2004. Também está fortemente baseado nos documentos produzidos pela UICN sobre o enfoque ecossistêmico, principalmente após a leitura de SHEPHERD (2005) e SMITH e MALTBY (2003).

O documento foi dividido em cinco partes, como aparece na Figura no 1.

A primeira parte trata sobre o marco conceitual para a gestão de corredores, apresentando a base e lineamentos essenciais que devem orientar todas as etapas do ciclo de gestão. As outras quatro consideram essas diferentes etapas, descrevendo suas particularidades e orientando sobre os aspectos metodológicos. Essas etapas não acontecem de forma estanque e isoladamente. O mais provável é que exista uma sobreposição entre umas e outras ao longo do processo da gestão dos corredores.

Cada uma das partes do documento inicia-se com uma apresentação que introduz o que vai ser tratado posteriormente, além de embasar cada etapa dentro do ciclo de gestão. Quando necessário, é feito um embasamento teórico antes de abordar os aspectos metodológicos e são apresentados quadros com exemplos de iniciativas concretas.

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Figura 1 - Divisão do documento.

Roteiro Metodológico para a

Gestão de Corredores

Parte I:Marco Conceitual

Parte II: Constituição

Parte III: Planejamento

Parte IV: Implementaçã

o

Parte V: Monitoramento

e Avaliação

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Roteiro Metodológico para

a Gestão de Corredores

Parte I:Marco

Conceitual

Parte II: Constituição

Parte III: Planejamento

Parte IV: Implementação

Parte V: Monitoramento e Avaliação

Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

ApresentaçãoNesta primeira parte do documento,

apresenta-se o marco conceitual da gestão de corredores ecológicos no Brasil. O marco conceitual contextualiza a gestão de corredores abordando os conceitos essenciais e as principais idéias relacionadas com os distintos componentes que formam os corredores e os processos que nele acontecem. Também considera alguns pensamentos preliminares sobre como esses componentes e processos estão conectados.

Inicialmente, aborda-se a evolução do conceito de corredor, no mundo e no Brasil. Também, descreve-se sua função vital e suas características gerais, em relação com as variáveis ambiental, social, política, institucional e econômica.

Depois, é oferecida uma visão panorâmica da gestão do corredor, refletindo sobre a gestão adaptativa e o enfoque ecossistêmico no âmbito dos corredores. O Sistema de Gestão do Corredor também é descrito, detalhando os diferentes elementos dessa estrutura organizacional e oferecendo exemplos de sistemas de gestão de dois corredores.

Por último, é contextualizada a gestão dos corredores no marco jurídico atual, propondo uma série de medidas para complementá-lo.

Salienta-se que todos esses elementos do marco conceitual perpassam todas as fases do ciclo de gestão, pelo que devem ser considerados, em maior ou menor medida, na constituição, planejamento, implementação e monitoramento do corredor.

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Tópicos:

Parte I:Marco

Conceitual

1 O Que Entendemos por Corredor?2 A Função Vital do Corredor e suas

Características3 O Sistema de Gestão do Corredor

3.1 O Que Entendemos por Gestão do Corredor?

3.2 As Principais Ferramentas para a Gestão de Corredores

3.3 Os Elementos Transversais da Gestão do Corredor

3.4 A Estrutura de Gestão4 O Enfoque Ecossistêmico na

Gestão do Corredor5 Os Componentes do Corredor

5.1 As Unidades de Conservação5.2 As Terras Indígenas5.3 As Terras Quilombolas5.4 As Áreas de Interstício5.5 A Área Marinha5.6 O Espaço Urbano5.7 O Capital Humano e Social5.8 O Componente Institucional

6 Instrumentos Legais para a Gestão do Corredor

6.1 Atual Embasamento Legal da Gestão do Corredor

6.2 Propostas para o Reforço Legal da Gestão do Corredor

7 Os Corredores além das Fronteiras

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

1 O Que Entendemos por Corredor?A figura corredor surgiu no âmbito da biologia da conservação para designar o

elemento que conecta dois núcleos de hábitats com o fim de garantir o fluxo genético entre as populações de animais e plantas neles existentes e a continuidade dos processos ecológicos. Na ecologia da paisagem, o corredor também é entendido como um elemento linear de aparente homogeneidade e que se distingue da matriz da paisagem. Por muito tempo, o termo corredor foi atribuído exclusivamente ao formato ou disposição utilizados para possibilitar a conectividade entre fragmentos de hábitats, concebendo-se como um vínculo ou conexão, linear ou contínua, entre eles (BENNETT, 1999).

Entretanto, diversas experiências que aplicaram na prática esse conceito de corredor mostraram que era possível garantir a conectividade mediante outros arranjos de hábitats, como as pedras de passo (stepping stones) e os mosaicos de hábitats. Essas outras configurações continuaram, na maioria dos casos, sendo designadas como corredores. Assim, um mesmo vocábulo (corredor) foi atribuído a vários formatos e conceitos, ainda que todos com o mesmo propósito principal.

Algumas dessas novas configurações consideram escalas de espaço e tempo maiores, bem como uma maior abrangência dos objetivos, incluindo a promoção do desenvolvimento social e econômico. Portanto, em alguns casos, o termo corredor representa exclusivamente um vínculo ou conexão entre fragmentos de hábitats; e, em outros, expressa um conceito mais abrangente, referindo-se a um território onde se busca um novo equilíbrio entre as necessidades de conectividade para garantir a permanência dos ecossistemas ao longo prazo, a qualidade de vida dos habitantes da região e a dinâmica econômica prevalecente, com base em critérios ecológicos, econômicos e sociais.

A relação entre a escala espacial de trabalho e a abrangência dos objetivos diferencia três formatos de corredores. O propósito ou objetivo dos três tipos é a conservação da maior diversidade biológica possível, no mais longo prazo, favorecendo o fluxo genético e a continuidade dos processos ecológicos mediante a conectividade. Entretanto:

Os corredores lineares ou outros arranjos similares englobam superfícies menores e estão focados quase que exclusivamente na conservação da biodiversidade. São nexos ou conectores entre unidades de conservação já criadas.

Os corredores com formato de mosaicos de hábitats englobam superfícies maiores e também consideram a conservação da biodiversidade, porém, seu foco se expande para o desenvolvimento sustentável. A maioria deste tipo de corredores está constituída apenas por unidades de conservação e por terras indígenas, formando corredores de áreas protegidas.

Por último, os corredores que abrangem territórios maiores ou biorregiões lidam com dezenas de milhões de hectares e acrescentam aos objetivos de conservação e desenvolvimento sustentável, o objetivo de distribuição eqüitativa de bens e serviços ambientais. Além das unidades de conservação e terras indígenas, seus limites englobam áreas de interstício, onde se busca promover atividades ambientalmente sustentáveis e a melhora da qualidade de vida de seus moradores.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

Figura 2 - Exemplo dos três formatos de corredores.

Corredor que conecta unidades de conservação

Corredor de áreas protegidas

Corredor biorregional

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

As organizações governamentais e não-governamentais que trabalham com corredores utilizam o termo acompanhado de um adjetivo explicativo com a intenção de explicitar melhor qual é a estratégia de corredor que está sendo desenvolvida. Assim, existem corredores biológicos, ecológicos, de conservação ou de biodiversidade. No entanto, não existe um padrão, brasileiro ou internacional, para sua denominação; nem uma correspondência fixa entre o nome, a escala e seus objetivos, o que deixa ainda mais difícil a sua sistematização2.

No Brasil, os corredores surgiram oficialmente no panorama da conservação em 1997 com o estudo do Dr. Marcio Ayres3 e outros pesquisadores que, inspirados pela experiência do Corredor Biológico Meso-Americano, identificaram cinco corredores ecológicos na Amazônia e dois na Mata Atlântica para o Projeto Corredores Ecológicos do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). Nessa primeira proposta, o corredor ecológico foi conceituado como:

“Grandes extensões de ecossistemas florestais biologicamente prioritários na Amazônia e na Mata Atlântica, delimitados em grande parte por conjuntos de unidades de conservação (existentes ou propostas) e pelas comunidades ecológicas que contém” (AYRES et. al., 2005:23).

No ano 2000, a Lei nº 9.985, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, definiu no seu artigo 2º, inciso XIX, os corredores ecológicos como:

Corredores ecológicos: “porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais” (Lei 9.985/00, art. 2º, inciso XIX).

É importante destacar as diferenças conceituais entre a definição legal de corredor ecológico da Lei nº 9.985/00 e as outras, pois essa é a única que considera o corredor apenas como elemento conector e as outras expressam uma abordagem de gestão territorial.

Em 2001, durante o I Seminário sobre Corredores Ecológicos no Brasil, realizado pelo IBAMA em conjunto com a Agência de Cooperação Internacional do Japão, se tentou estabelecer um conceito de corredores ecológicos que fosse consenso entre os especialistas. A partir desse Seminário, o IBAMA utiliza como conceito de corredor ecológico (ARRUDA e DE SÁ, 2004:1834):

“Corredores Ecológicos são ecossistemas naturais ou seminaturais que garantem a manutenção das populações biológicas e a conectividade entre as áreas protegidas. São geridos como unidades de planejamento visando a conservação da biodiversidade, o uso sustentável dos recursos naturais e a repartição eqüitativa das

2 Sobre a discussão internacional a respeito da nomenclatura e conceito de corredores, vide CRACCO e GUERRERO (2004:4 e 69) e BENNET e MULONGOY (2006).3 AYRES, J. M. et al. Os corredores ecológicos das florestas tropicais do Brasil. Belém: Sociedade Civil Mamirauá, 2005. 256 p. 4 ARRUDA, M. e NOGUEIRA DE SÁ, L.F. (organizadores). Corredores Ecológicos: Uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil. Brasília: IBAMA, 2004:183.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

riquezas para as presentes e futuras gerações.

No início de 2006, uma publicação conjunta entre o Ministério do Meio Ambiente e a Aliança para a Conservação da Mata Atlântica5 para o Corredor Central da Mata Atlântica, conseguiu chegar a alguns consensos. Primeiramente, se reconheceu que “o termo ‘corredor ecológico’, usado pelo Ministério do Meio Ambiente, e ‘corredor de biodiversidade’ usado pela Aliança para Conservação da Mata Atlântica, referem-se à mesma estratégia de gestão da paisagem e são tratados como sinônimos” nesse documento (BRASIL, 2006:10). Segundo, o conceito de corredor foi reformulado:

“Um corredor corresponde a uma grande área de extrema importância biológica, composta por uma rede de unidades de conservação entremeadas por áreas com variados graus de ocupação humana e diferentes formas de uso da terra, na qual o manejo é integrado para garantir a sobrevivência de todas as espécies, a manutenção de processos ecológicos e evolutivos e o desenvolvimento de uma economia regional forte, baseada no uso sustentável dos recursos naturais” (BRASIL, 2006:10).

Também existem outros conceitos desenvolvidos por cada organização não-governamental que trabalha com corredores6 (Conservation International do Brasil, The Nature Conservancy, WWF-Brasil).

Atualmente, existem no Brasil aproximadamente vinte experiências de corredores em andamento e outras em estágio inicial7. Após a análise comparativa dessas experiências brasileiras, concluiu-se que cada uma utiliza o conceito de corredor mais adequado à forma como se está trabalhando. Entretanto, todas as experiências possuem elementos comuns em relação com a função vital do corredor e suas características básicas desejáveis, as quais serão descritas no item seguinte.

5 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. O Corredor Central da Mata Atlântica: uma nova escala de conservação da Biodiversidade. Ministério do Meio Ambiente, Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Conservação Internacional, 2006.6 Em SANDERSON et al. (2003:10) também se afirma que os corredores de paisagens (“landscape corridors”), os corredores ecológicos e os corredores de conservação se referem à mesma estratégia integrada de conservação, ainda que variem algo na terminologia e nas definições.7 O ANEXO A apresenta um mapa com essas iniciativas de corredores.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

2 A Função Vital do Corredor e suas CaracterísticasNeste documento, a função vital do corredor é entendida como aquele papel

principal que desempenha, ou aquela finalidade natural e própria que lhe é atribuída que, quando ausente, o corredor se descaracteriza como tal8. A função vital comum aos três formatos de corredores é: preservar a diversidade genética, de espécies, de ecossistemas e de paisagens, favorecendo o fluxo genético e a continuidade dos processos ecológicos no mais longo prazo, mediante a manutenção ou restauração da conectividade entre remanescentes mais ou menos intactos de hábitats e a promoção da inclusão social e da qualidade de vida das populações residentes.

Portanto, o principal meio para preservar a diversidade dentro do corredor é a manutenção ou restauração da conectividade, devendo considerar-se tanto a conectividade estrutural, em relação com o tamanho, forma, número, tipo e configuração dos componentes do corredor; quanto a conectividade funcional, em relação com as interações e processos entre os distintos elementos espaciais. Os princípios da biologia da conservação e a ecologia da paisagem relacionados com o conceito de conectividade devem ser aplicados na gestão do corredor.

No caso dos corredores lineares, eles mesmos são os elementos que garantem a conectividade, atuando como conectores entre remanescentes de hábitats. No caso dos corredores de áreas protegidas, a questão principal é a manutenção da conectividade, pois geralmente já está garantida pela própria presença das áreas protegidas. No caso dos corredores biorregionais, será necessário manter a conectividade ou restaurá-la mediante conectores lineares e outros mecanismos, dependendo do seu estado de conservação. Na maioria das experiências brasileiras, esses elementos de conexão dentro dos corredores biorregionais também são denominados de corredores, corredores biológicos ou mini-corredores.

Para desempenhar sua função vital, o corredor deve possuir algumas características desejáveis em relação com as variáveis ambientais, sociais, econômicas, políticas e institucionais. As características desejáveis para as três modalidades de corredores são:

CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS NO CORREDOR

Variável ambiental: Variável social: Variável econômica, política e institucional:

Presença de unidades de conservação já decretadas, terras indígenas e terras quilombolas;

Presença de espécies de fauna indicadoras da boa saúde dos ecossistemas;

Presença de indivíduos de

Existência de valores culturais e imateriais significativos;

Entendimento e apropriação do conceito de corredor por parte da sociedade para que este subsista no longo prazo;

Interesse político para trabalhar no formato de corredor e considerá-lo nos mais altos níveis do executivo (ex. junto à secretaria de planejamento, governador, etc.);

Coordenação entre

8 A função vital do corredor foi discutida durante o I Seminário sobre Corredores Ecológicos e, ainda que houvesse consenso sobre a mesma nesse momento, não se aplica à modalidade de corredores lineares. A função vital identificada nessa ocasião foi: “conciliar a conservação da biodiversidade com o processo de desenvolvimento socioeconômico regional, para a redução das desigualdades e a promoção da saudável qualidade de vida das populações residentes” (1º Seminário Corredores).

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

espécies endêmicas;

Presença de hábitats de reprodução e alimentação para espécies de importância;

Presença de hábitats importantes para o deslocamento de espécies de fauna de importância para a saúde do ecossistema;

Presença e conservação de recursos hídricos;

Importância como rota migratória;

Presença de um mosaico de hábitats contínuos de diferentes gradientes de conservação (inclusive com áreas degradadas de alta resiliência), representativos na escala da paisagem;

Tamanho e largura do corredor apropriados, como hábitat em si e como meio de deslocamento de espécies;

Heterogeneidade de hábitats;

Estabilidade da riqueza de espécies;

Existência de áreas prioritárias para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade do PROBIO (Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira).

Pleno envolvimento de todos os atores sociais existentes na área;

Disponibilidade e apoio dos atores locais para contribuir com o uso adequado dos recursos naturais;

Processos de participação social;

Presença de tradição de uso do solo em harmonia com a natureza;

Presença de populações indígenas e tradicionais;

Certo grau de organização e participação local;

Foro de debate entre os diferentes atores sociais.

iniciativas de desenvolvimento e de conservação;

Existência de oportunidades de geração de renda a partir do uso sustentável dos recursos naturais;

Priorização política para programas de incentivos;

Não existem grandes conflitos pela propriedade da terra;

Existência de incentivos fiscais e de fomento;

Articulação e integração institucional.

(Adaptado de PROYECTO PARA LA CONSOLIDACIÓN DEL CORREDOR BIOLÓGICO MESOAMERICANO, 2002)

Contudo, as modalidades de corredores possuem especificidades em relação a:

O grau de alteração nos seus ecossistemas;

As escalas de trabalho utilizadas;

A percentagem de áreas protegidas no seu interior;

Os objetivos de conservação, de desenvolvimento sustentável e unidade de gestão ambiental integrada e participativa ou ordenamento territorial (incluindo geração e distribuição eqüitativa de bens e serviços ambientais); e,

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

A intensidade das abordagens ambiental, econômica, social, cultural, institucional e de cidadania.

Porém, essas diferenças não os descaracterizam como corredores.

Cabe salientar que a função vital e as características fundamentais antes descritas também são comuns a outras estratégias de conservação e gestão territorial, como os mosaicos de unidades de conservação e as Reservas da Biosfera.

O mosaico de unidades de conservação e o corredor constituído em sua maioria por áreas protegidas possuem muitas semelhanças, principalmente em seu formato (ambos estão constituídos exclusivamente por unidades de conservação) e sua finalidade; e algumas diferenças na escala espacial, pois os corredores de áreas protegidas existentes costumam ser maiores que os mosaicos de unidades de conservação, e no modelo de gestão, ainda que haja mais diversidade de atores nos corredores. A experiência de mosaicos de unidades de conservação ainda é muito incipiente no Brasil, o que impede realizar uma análise mais aprofundada. As diferenças e semelhanças entre os corredores e os mosaicos são apresentadas no seguinte quadro comparativo9:

CORREDORES E MOSAICOSSEMELHANÇAS DIFERENÇAS

Ambas as figuras não dispõem de instrumento normativo legal específico dispondo sobre regras.

A figura do mosaico tem seu foco na gestão integrada para fortalecer as áreas protegidas; o foco do corredor está no ordenamento territorial, o desenvolvimento econômico e o fortalecimento das áreas protegidas.

O corredor visa principalmente a restauração e manutenção da conectividade.

O mosaico precisa de regulamentação, conforme aparece no SNUC.

O mosaico só existe se houver áreas protegidas justapostas ou próximas; o corredor não exige necessariamente áreas protegidas, embora a grande maioria dos corredores esteja formada por áreas protegidas.

O mosaico pode ser uma ferramenta para a formação dos corredores.

O mosaico é importante como fórum de discussão; já o corredor é um importante fórum executivo.

A população tem que se apropriar do conceito de corredor.

Há uma maior diversidade de atores no corredor.

As Reservas da Biosfera e a modalidade biorregional de corredor apresentam elementos conceituais e de operacionalização muito similares, não havendo consenso entre os especialistas sobre as suas diferenças. SANDERSON et al. (2003:17) explicam que os corredores podem ser considerados como “uma extensão lógica” do conceito de Reserva da Biosfera, pois apresentam uma área exterior às unidades de conservação muito maior. Em todo caso, existem exemplos onde ambas coincidem ou se sobrepõem no mesmo espaço geográfico, como o Corredor Central da Amazônia e a Reserva da Biosfera da Amazônia

9 Este quadro foi elaborado pelos participantes da Oficina de Consulta sobre Metodologias de Gestão de Corredores Ecológicos no Brasil, que aconteceu em Brasília, em Novembro de 2006.

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Central; e, também, o Corredor Central da Mata Atlântica e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Em ambos os casos, os sistemas de gestão do corredor e da reserva são os mesmos, para evitar a duplicidade de estruturas. As diferenças e semelhanças entre os corredores e as Reservas da Biosfera são apresentadas no seguinte quadro comparativo10:

CORREDORES E RESERVAS DA BIOSFERASEMELHANÇAS DIFERENÇAS

Ambas estão formadas por mosaicos de paisagem com graus de conservação e proteção.

Ambas são estratégias includentes de conservação e de desenvolvimento sustentável.

Ambas integram diferentes fóruns. Ambas são modelos de gestão integrada

e de ordenamento territorial.

A área núcleo das Reservas da Biosfera é necessariamente uma unidade de conservação de proteção integral. A área núcleo dos corredores pode ser qualquer tipo de área relevante.

As Reservas da Biosfera possuem relevância internacional e podem ter como apelo aspectos culturais. Os corredores admitem ter apenas relevância local.

Em relação com as ações que são implementadas: as Reservas da Biosfera detêm um caráter de fórum; os corredores requerem a implementação de ações.

Em relação com a estrutura de gestão: a Reserva da Biosfera já possui uma estrutura padrão; no corredor, há mais flexibilidade nas estruturas de gestão.

A Reserva da Biosfera possui apelo turístico e para o financiamento internacional; o corredor, não.

Observação: As diferenças e semelhanças não estão relacionadas nem com o tamanho nem com a distancia com relação às unidades de conservação.

Por último, é possível que existam experiências de corredor biorregional com escala e objetivos mais abrangentes que possam ser equiparadas com os projetos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS ou outras iniciativas de desenvolvimento local. A partir da segunda metade dos anos 90, o DLIS surge como um meio de combater a pobreza, promover a inclusão social e gerar oportunidades de trabalho e renda. Entretanto, os corredores surgem como um meio de conservar a diversidade biológica. Ainda, enquanto o foco principal do DLIS é a qualidade de vida, o foco do corredor é a diversidade biológica. Contudo, é possível que as estratégias de atuação e metodologias sejam as mesmas ou muito similares, já que nos corredores as unidades de conservação, terras indígenas e terras quilombolas são concebidas como peças fundamentais do desenvolvimento local. Por isso é importante se articular com essas iniciativas e incluí-las dentro do trabalho do corredor para incrementar as sinergias.

10 Este quadro foi elaborado pelos participantes da Oficina de Consulta sobre Metodologias de Gestão de Corredores Ecológicos no Brasil, que aconteceu em Brasília, em Novembro de 2006.

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3 O Sistema de Gestão do Corredor3.1 O Que Entendemos por Gestão do Corredor?

O termo gestão provém do campo da administração de empresas e, neste âmbito, começa a ser utilizado preferencialmente em substituição aos termos administração ou gerenciamento. A gestão é entendida como um ciclo no qual são tomadas decisões sobre os objetivos que se desejam atingir; são executadas ações para atingir esses objetivos; são avaliados os resultados atingidos; e são corrigidas as ações de forma sistemática. O ciclo de gestão está constituído por essas etapas: planejamento, implementação, monitoramento e avaliação.

No âmbito das áreas protegidas, o termo gestão também vem sendo empregado em substituição ao termo manejo por considerá-lo mais completo e para diferenciá-lo da intervenção direta sobre os recursos naturais. Entretanto, os termos gestão e manejo são usados como sinônimos muito frequentemente. No caso dos corredores, o termo gestão está mais consolidado em todas as experiências brasileiras, as quais se referem à gestão de corredores.

A gestão do corredor é o conjunto de ações indispensáveis para que o corredor exerça sua função vital com sucesso, considerando de forma sistemática e cíclica o seu planejamento, a implementação, o monitoramento, a avaliação e o re-planejamento para introduzir as mudanças necessárias.

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Identificação do corredor

Planejamento

Implementação

Monitoramento e Avaliação

O Ciclo de Gestão do Corredor

Sistema de

Gestão

Figura 3 - O Ciclo de Gestão do Corredor.

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3.2 As Principais Ferramentas para a Gestão de Corredores

A informação e o enfoque adaptativo são as principais ferramentas para a gestão de corredores; porém, a gestão também deve estar apoiada no formato de trabalho em redes, a busca e o estabelecimento de alianças e a resolução de conflitos.

A informação

A principal ferramenta da gestão é a informação, pelo que se deve organizar um sistema de coleta, sistematização e divulgação de informações sobre o corredor desde o início de seu estabelecimento, considerando todas as formas de conhecimento. Porém, a falta de informação também não deve ser uma justificativa para a falta de ação, pois todos os processos que acontecem no corredor não ficam estáticos enquanto é gerada a informação necessária para embasar a gestão. Além de que é impossível controlar todas as variáveis e componentes que interagem no corredor. Uma gestão estática, que assume a necessidade de ter a certeza total da situação, enxerga de uma forma muito simplista um corredor. Não é necessário conhecer profundamente todos os elementos e processos, mas apenas ter um entendimento mínimo de como funcionam.

O enfoque adaptativo

O enfoque adaptativo é utilizado na tomada de decisões quando não há suficientes informações. O modelo de gestão adaptativa contribui para reforçar os processos de planejamento e implementação onde existe um grau importante de incerteza, com eventos não controlados continuamente. Sob o enfoque de gestão adaptativa, se reconhece que o manejo dos recursos naturais é sempre experimental e que cada fase do ciclo da gestão é um aprendizado; portanto, o manejo é melhorado com base no que se vai aprendendo (IUCN, 2000).

A gestão adaptativa se fundamenta na continuidade do ciclo do planejamento, a implementação, o monitoramento contínuo e a avaliação para agir corretivamente e, assim, controlar as incertezas e as conseqüências do manejo. O requisito da gestão adaptativa é o controle imediato das conseqüências dos atos, para detectar os desvios dos objetivos marcados e eliminar-los progressivamente. Portanto, a base da gestão adaptativa consiste no monitoramento continuo dos objetivos e dos indicadores que sinalizam quando se está interferindo no meio. Quando os objetivos estão longe de ser atingidos ou os indicadores mostram um impacto no meio, a gestão deve ser redirecionada, introduzindo os ajustes necessários. Em cada fase, mais informação é gerada para saber adaptar-se às mudanças necessárias. Por conseguinte, a informação e o conhecimento são as bases para melhorar as práticas da gestão (Adaptado de COURRAU, 2004:248-262).

O formato de trabalho em redes

Uma peculiaridade da gestão de corredores é que já existem instituições e organizações não-governamentais que implementam ações no seu interior, principalmente no caso dos corredores de áreas protegidas e nos corredores biorregionais. Também, já há uma repartição de competências entre as esferas municipal, estadual e federal e dentro de cada esfera, por setores, o que dificulta a gestão do corredor pelo grande número de atores governamentais envolvidos. No corredor, geralmente não existe uma única instituição com a suficiente capacidade e autoridade para implementar toda a gama de ações que ele demanda. Por conseguinte, não é necessária a constituição de uma estrutura específica paralela para a implementação de atividades, pois já existem instituições governamentais competentes e organizações não-governamentais atuantes.

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Nesse contexto, o trabalho em redes constitui-se na forma mais apropriada para aproveitar esse capital social do corredor. Cada uma das associações, organizações ou instituições que atuam no corredor representa um nó e, quando interconectados, constituir-se-á uma rede de trabalho. O trabalho em rede pressupõe (adaptado de MARTINHO, 2001:24-30):

Valores e objetivos compartilhados;

Autonomia dos atores que compõem a rede, pois numa rede não há subordinação;

Motivações e vontade que engaje os atores a entrar ou permanecer na rede;

Participação social com legitimidade;

Multiliderança, pois uma rede não possui hierarquia;

Descentralização;

Múltiplos níveis ou segmentos autônomos.

O formato de rede é uma forma eficaz de articulação entre os diversos elementos para compartilhar informações, ganhar capilaridade e interagir dentro do corredor. Dessa forma, se fomentam sinergias e os diferentes atores se fortalecem reciprocamente.

A busca e o estabelecimento de alianças

Outra estratégia obrigatória para a gestão dos corredores é buscar e estabelecer alianças11 que possibilitem realizar todas as ações previstas. As alianças devem ser constituídas com todo tipo de organizações, instituições e associações que estejam estabelecidas no corredor, com capacidade suficiente para cumprir o que for acordado. Por exemplo, devem ser estabelecidas alianças com outros ministérios, como o de Planejamento, da Integração Regional, das Cidades, da Agricultura ou da Educação, bem como com órgãos de extensão rural, com Prefeituras ou com organizações ambientalistas e sociais.

Para o estabelecimento de alianças será necessário desenvolver a capacidade de identificar potenciais aliados, negociar as alianças desde uma perspectiva eqüitativa, por exemplo, usando a abordagem ganha-ganha12, e monitorar continuamente sua efetividade. Em todo momento, se deverão realizar esforços para a busca contínua do fortalecimento das parcerias locais.

A resolução de conflitos

Por último, a gestão de corredores precisa incorporar em diferentes momentos elementos das técnicas de negociação e/ou resolução de conflitos para solucionar de forma profissional e metódica as divergências que não podem ser ignoradas, privilegiando aquelas metodologias que se baseiam em princípios melhor do que em posições13.

Por conseguinte, a gestão do corredor deve concentrar-se principalmente no gerenciamento da informação para subsidiar a tomada de decisões, na formação de redes 11 Adaptado de ARGUEDAS et. al. (2004:148).12 A abordagem ganha-ganha (do inglês win-win) é utilizada nas técnicas de negociação e na resolução de conflitos. Consiste em negociar buscando benefícios para ambos os lados. Desta forma, os acordos são mais respeitados e efetivos.13 Por exemplo, a metodologia de resolução de conflitos do Projeto de Negociação da Universidade de Harvard. Vide FISHER, URY e PATTON (2003).

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de trabalho, na busca de alianças e na negociação e/ou resolução dos conflitos que possam surgir.

3.3 Os Elementos Transversais da Gestão dos Corredores

Em todas as fases do ciclo da gestão existem outros elementos indispensáveis para o sucesso dos corredores que devem ser desenvolvidos de forma transversal. Esses elementos são:

A comunicação

A comunicação é um componente fundamental na gestão do corredor, além de ser a base da participação. Ela é essencial para:

Conhecer as necessidades, interesses, preferências, restrições e potencialidades dos diferentes atores envolvidos;

Garantir sua integração no trabalho de corredor; e,

Conseguir a credibilidade na estratégia de gestão que se está propondo.

A comunicação deve partir de um princípio básico: a utilização de uma linguagem comum. Também, não deve ser entendida como um mero processo unilateral de transmissão de informação. Deve entender-se como um processo interativo, no qual se proporciona e se recebe informação de forma clara e compreensível para todas as partes.

A comunicação desempenha um papel importante durante a implementação do corredor e deve ser levada a cabo em três dimensões:

Comunicação interna: clara e com um fluxo estabelecido entre os parceiros;

Entre os atores locais: comunicação includente, com internalização das informações;

Divulgação (marketing) para o público em geral.

A participação

A participação nos corredores deve ser a mais ampla possível, em todas as fases da gestão, de todos os setores da sociedade e do governo. Uma participação adequada depende de tempo e de recursos financeiros, portanto, deve ser previamente planejada com o máximo de detalhe, inclusive porque o processo decisório coletivo é extremamente complexo. Contudo, o sucesso da gestão do corredor depende diretamente do nível e abrangência da participação.

A estratégia e métodos utilizados para garantir a gestão realmente participativa dependerão das condições do corredor. Recomenda-se que as formas de participação escolhidas levem em conta as tradições e valores da população local, bem como seus próprios mecanismos e procedimentos participativos. Sempre que possível se deve utilizar suas próprias redes sociais locais.

Também se há de levar em conta o estágio da implementação do corredor. A participação pode ser desenvolvida de forma gradual, estendendo-se o processo desde áreas ou iniciativas piloto até atingir toda a extensão do corredor. Em todo caso, os mecanismos de participação devem considerar a diversidade de atores sociais e oferecer

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oportunidades a todos os grupos interessados em participar. Durante as reuniões e oficinas não se deve obrigar os participantes ao consenso. As divergências porventura surgidas deverão ser evidenciadas e circunstanciadas conforme os assuntos tratados, identificando os caminhos ou estratégias alternativas para sua negociação ou minimização.

A participação deve acontecer em todas as fases do ciclo de gestão do corredor:

No seu estabelecimento, mediante consultas sobre o interesse no corredor e os seus limites;

No seu planejamento, mediante um processo conjunto de tomada de decisões;

Na constituição de alianças para a atuação conjunta;

No monitoramento da sua efetividade; e,

Na prestação de contas dos recursos utilizados, que procedam de um fundo específico para o corredor.

O principal instrumento para efetivar a participação é o Comitê de Gestão do corredor, mas não pode ser o único. É necessário estabelecer outros foros de discussão e de tomadas de decisão para garantir uma completa participação de todos os envolvidos.

A transparência

A transparência é um requisito para exercer a participação, pois é uma forma de obter a credibilidade e a confiança necessárias para os processos participativos. A transparência também está vinculada diretamente à comunicação. Quando existam falhas na comunicação, a transparência será questionada.

A capacitação

A capacitação deve ser entendida na sua forma mais abrangente, mas principalmente deve ter como objetivo a potenciação da liderança e o desenvolvimento de capacidades no nível local. A gestão de um corredor supõe a realização de mudanças: mudanças no uso dos recursos naturais, mudanças nos modelos de gestão ambiental, mudanças nos modelos de tomadas de decisão, etc. As mudanças nem sempre são aceitas por todas as partes, havendo oposição principalmente entre aqueles que têm sucesso sob as condições atuais. Em qualquer caso, os agentes das mudanças são as pessoas, pelo que se deve investir no fortalecimento de capacidades.

Os públicos-alvos prioritários da capacitação deverão ser:

A Unidade de Gestão do Corredor;

As comunidades e suas lideranças;

Os técnicos das unidades de conservação federais, estaduais e municipais;

Os políticos e administradores do mais alto escalão dos órgãos federais, estaduais e municipais, ou seja, os tomadores de decisão;

Os jornalistas e profissionais dos meios de comunicação.

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As ferramentas para a gestão do corredor e os seus elementos transversais são apresentadas no seguinte diagrama.

Figura 4 - Diagrama das ferramentas e elementos transversais da gestão do corredor.

3.4 A Estrutura de Gestão

Já foi mencionado que usualmente encontramos dentro do corredor numerosas instituições governamentais e não-governamentais com competência para a implementação de ações. Porém, dentro do ciclo de gestão dos corredores ainda falta responder quem dessas instituições toma as decisões, como elas são tomadas e, também, quem realiza o acompanhamento e avaliação das ações para que o corredor exerça a sua função vital de forma efetiva. Ou seja, como é o Sistema de Gestão do corredor.

Primeiramente, salienta-se que não pode haver um modelo único de gestão para todos os corredores, pois devem ser consideradas as características próprias de cada corredor, sua constituição e planejamento.

Idealmente, será necessário estabelecer um sistema de gestão do corredor constituído por um Comitê de Gestão para a tomada das decisões e uma Secretaria Executiva para a coordenação de ações. Porém, esta simples estrutura pode desmembrar-se em vários sub-comitês e sub-secretarias para regiões específicas no caso de corredores mais extensos e complexos. Também poderão ser criadas Câmaras Técnicas dentro do Comitê de Gestão para tratar de assuntos temáticos.

O Sistema de Gestão do Corredor deverá ser dinâmico, iniciando-se com uma estrutura mais simples nos primeiros estágios de sua implantação até poder adquirir estruturas mais complexas, que realmente representem o seu contexto social.

Comunicação

Participação

Transparência

Capacitação

Alianças

Informação

Trabalho em rede

Resolução de

conflitos

Gestão Adaptativa do Corredor

Função Vital do Corredor

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O Comitê de Gestão

O Comitê de Gestão é a instância mediante a qual será exercida a gestão ambiental compartilhada do corredor, com foco na conservação da diversidade biológica. Os comitês são uma forma de controle social com um potencial muito grande para influenciar nas decisões administrativas. Para que eles sejam efetivos, é necessário que sejam paritários, representativos e, ao mesmo tempo, exista a legitimidade de seus representantes, sempre que possível. Deve haver paridade entre a sociedade e os órgãos governamentais e, dentro do lado governamental, também deverá haver paridade entre as três esferas (federal, estadual e municipal). Também, sua efetividade está diretamente relacionada com a existência de alguma instituição que atue como impulsora dos processos dentro do comitê.

O Comitê de Gestão será integrado por órgãos federais, estaduais, ONGs, associações locais, cooperativas e/ou sindicatos. Será constituído levando-se em conta a análise dos atores e sua importância para a consolidação do corredor, buscando-se compor as diversas forças presentes. O Comitê de Gestão deverá ser implantado gradualmente, ou seja, o número das instituições e entidades irá aumentando conforme vai aumentando a integração com os diversos atores sociais.

O Comitê de Gestão desenvolverá suas competências de acordo com um regimento interno que refletirá os princípios e lineamentos da gestão bioregional. O regimento interno deverá especificar quais decisões deterão caráter deliberativo e quais consultivo, de acordo com as características específicas de cada corredor. O Comitê de Gestão do corredor tomará decisões com caráter deliberativo nas questões sobre o seu planejamento e monitoramento; as recomendações (portanto, caráter consultivo) serão emitidas em relação com a atuação de outros órgãos. O Comitê de Gestão de cada corredor estará atrelado ao Conselho Nacional de Meio Ambiente, para quem encaminhará aquelas decisões que precisem de força coercitiva para sua execução.

Sua presidência será escolhida na primeira reunião do Comitê por um mandato de 2 anos, sendo exercida alternadamente por uma organização governamental e não-governamental. A estrutura de gestão do corredor será reforçada com instrumentos legais, como uma portaria do Ministério do Meio Ambiente.

O Comitê será extremamente funcional, evitando-se a excessiva burocracia. Em áreas de sobreposição entre Corredores e Reservas da Biosfera, os Conselhos poderão ser únicos.

A Secretaria Executiva

A Secretaria Executiva se encarregará de disseminar o conceito dos Corredores e informações sobre o corredor ao nível local; realizará a coordenação geral das ações de cada ator do corredor, impulsionará e coordenará as atuações que precisem de investimentos públicos e promoverá o estabelecimento de acordos estratégicos de colaboração e coordenação entre as diferentes organizações governamentais e não-governamentais. Inicialmente, estará ligada a uma instância que possa conciliar as diferentes competências e iniciativas que convergem no corredor.

A coordenação geral e o impulso do corredor poderão ser feitos pelo IBAMA, pela OEMA, uma organização não-governamental ou desde o Gabinete do Governador. Independentemente de como é feita a coordenação, o Gabinete do Governador de cada estado deve ser prontamente envolvida na iniciativa para que se favoreça a coordenação institucional e das atividades setoriais de desenvolvimento.

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Quadro 1 - O Sistema de Gestão do Corredor Central da Amazônia

Fonte: SDS/UCE; MMA/UCG; Rede GTA. Plano de Gestão do Corredor Central da Amazônia. Manaus: mimeo, 2005.

Quadro 2 - A Estrutura Institucional do Corredor Biológico Meso-Americano

Fonte: MILLER, K.; CHANG, E.; JOHNSON, N. En Busca de un Enfoque Común para el Corredor Biológico Mesoamericano. Washington: World Resources Institute, 2001.

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4 O Enfoque Ecossistêmico na Gestão do CorredorO Enfoque Ecossistêmico é uma estratégia para a gestão integrada dos recursos

terrestres, hídricos e vivos, que está sendo apoiada e desenvolvida pela UICN para introduzir os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica na tomada de decisões. Esse enfoque foi adotado em 1995 pela 2ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica como marco de ação principal. Em 2000, após um longo processo de consulta e discussão, a 5ª Conferência das Partes emitiu a Decisão V/6, onde foram apresentados os doze princípios do Enfoque Ecossistêmico e a metodologia operacional para sua aplicação.

A proposta do Enfoque Ecossistêmico não é um método ou modelo novo; é uma abordagem que engloba o melhor do que foi aprendido na conservação nos últimos anos. O caráter diferenciador deste enfoque, frente a outras muitas abordagens integradas, radica na proposta de balancear:

a utilização de metodologias científicas apropriadas que lidam com as estruturas, processos, funções e interações entre organismos e seu meio ambiente; e,

a colocação das pessoas no centro do manejo da biodiversidade.

Portanto, o Enfoque Ecossistêmico pode ser entendido como uma compilação ou sistematização de outras estratégias integradas para cumprir os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica. É um marco metodológico geral para apoiar decisões na elaboração de políticas e no planejamento (UNEP/CBD/COP7, 2004; UNEP/CBD/COP5, 2000; SMITH e MALTBY, 2003).

O Enfoque Ecossistêmico está estreitamente ligado à atuação no formato de corredor, pois ambas as iniciativas pretendem conciliar a conservação com o desenvolvimento sustentável. Uma primeira aproximação do enfoque ecossistêmico à gestão de corredores foi feita por ANDRADE (2004). No seguinte quadro, são listados os 12 princípios do enfoque ecossistêmico incluindo os aspectos que ANDRADE (2004) recomenda levar em conta para a aplicação do enfoque ecossistêmico nos corredores:

PRINCÍPIOS DO ENFOQUE ECOSSISTÊMICO E ASPECTOS A CONSIDERAR PARA SUA APLICAÇÃO A CORREDORES

Princípio 1: A eleição dos objetivos da gestão dos recursos terrestres, hídricos e vivos deve estar em mãos da sociedade.- Embasar o planejamento e ordenamento do corredor em decisões sociais.- Articular as prioridades de conservação com outras formas de uso da terra.- Avaliar os sistemas de planejamento e ordenamento existentes.- Identificar os principais conflitos pelo uso e ocupação do território.- Identificar os principais envolvidos e estabelecer mecanismos de participação de todos.Princípio 2: A gestão deve estar descentralizada, ao nível apropriado mais baixo.- Estabelecer a escala da estratégia, segundo os objetivos e prioridades de conservação.- Priorizar o conhecimento da estrutura político-administrativa e níveis de gestão de áreas protegidas nacionais, regionais, etc.- Identificar os níveis de gestão mais apropriados para cada objetivo.Princípio 3: Os administradores de ecossistemas devem ter em conta os efeitos (reais ou possíveis) de suas atividades nos ecossistemas adjacentes e em outros ecossistemas.- Considerar a avaliação do impacto das formas atuais do uso da terra com os sistemas de áreas protegidas e funcionalidade ecológica regional.- Pesquisar o estado de fragmentação dos ecossistemas e sua relação com as formas de uso da

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terra existentes.- Avaliar o impacto do uso da terra sobre o funcionamento dos ecossistemas.- Avaliar a dinâmica temporal dos ecossistemas e sua articulação com as áreas protegidas.Princípio 4: Reconhecendo os possíveis benefícios derivados de sua gestão, é necessário compreender e manejar o ecossistema num contexto econômico. Este tipo de programa de gestão de ecossistemas deveria:a) Diminuir as distorções do mercado que repercutem negativamente na diversidade biológica;b) Orientar os incentivos para promover a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica;c) Procurar, na medida do possível, incorporar os custos e os benefícios do ecossistema.- Pesquisar sobre incentivos econômicos orientados à promoção da conservação, restauração e conectividade de ecossistemas.- Estabelecer mecanismos de valoração e pagamento por serviços ambientais, associados à conservação, restauração e promoção da conectividade.Princípio 5: A conservação da estrutura e o funcionamento dos ecossistemas deveria ser um objetivo prioritário do enfoque ecossistêmico para manter os serviços dos ecossistemas.- Aumentar o conhecimento da estrutura e função dos ecossistemas e estabelecer uma linha-base, incluindo processos essenciais, como a fragmentação.- Identificar as estratégias de manejo e práticas orientadas à restauração e promoção da conectividade.- Conhecer o papel que cumprem os diferentes componentes estruturais e funcionais dos ecossistemas na conectividade, tanto biofísicos como culturais (fluxos, cercas vivas, etc.)Princípio 6: A gestão dos ecossistemas deve ser realizada dentro dos limites de seu funcionamento.- Caracterizar o uso da terra, sua dinâmica e influência em áreas protegidas e áreas prioritárias de conservação.- Identificar práticas não sustentáveis e estabelecer mecanismos de melhora que promovam a conservação e a conectividade.- Caracterizar os processos de fragmentação e sua relação com paisagens culturais.- Estender o conceito de espaços protegidos além dos seus limites administrativos.- Estabelecer sistemas de monitoramento e avaliação permanentes.Princípio 7: O enfoque ecossistêmico se deve aplicar às escalas espaciais e temporais apropriadas.- Determinar o tipo de conectividade requerida, segundo o problema de conservação e o nível de gestão.- Definir escalas de trabalho segundo os objetivos de conservação.- Estabelecer critérios para a análise multitemporal e estabelecer demandas adicionais de informação.- Definir sistemas de amostragem e verificação de informação no campo, através de avaliações ecológicas rápidas, etc.Princípio 8: Reconhecendo as diversas escalas temporais e os efeitos retardados que caracterizam os processos dos ecossistemas, se deveriam estabelecer objetivos de longo prazo na gestão dos ecossistemas.- Estabelecer a conectividade e a articulação de áreas protegidas entre si e com outras formas de uso do solo dentro de modelos de gestão de longo prazo, pois são processos de longo prazo.- Utilizar indicadores de monitoramento dos benefícios e impactos dos modelos de gestão que permitam uma permanente avaliação.- Criar um sistema de monitoramento que permita detectar mudanças no longo prazo na estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.- Desenhar cenários futuros com base em diferentes opções de intervenção e para diferentes períodos de tempo (50, 25, 10, 5 anos) em função de aspectos de pressão: crescimento da população e mudanças no uso da terra.Princípio 9: A gestão deve reconhecer que mudanças no ecossistema são inevitáveis.

- Identificar as principais situações de risco e incerteza que possam alterar a viabilidade dos ecossistemas.- Avaliar os efeitos genéricos da mudança global na conectividade.

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- Realizar a modelagem do impacto dessas situações sobre o estado dos ecossistemas e as prioridades de conservação.- Definir opções de conectividade para cada tipo de situação de risco.- Avaliar a capacidade de resiliência do ecossistema para cada tipo de perturbação.- Incluir o princípio da precaução, sempre que necessário.Princípio 10: O enfoque ecossistêmico deve buscar o equilíbrio apropriado e a integração entre a conservação e o uso da diversidade biológica.- Articular objetivos de conservação com uso sustentável.- Articular paisagens culturais e naturais com fins de conservação.- Buscar a participação de todos os setores e a identificação de diferentes opções de conservação e uso.- Sustentar-se em alianças e acordos de gestão entre o setor público, ONGs, comunidades e outros atores do território.Princípio 11: O enfoque ecossistêmico deve considerar todas as formas de informação relevante, incluindo os conhecimentos, as inovações e as práticas científicas, indígenas e locais.- Garantir que as decisões de consolidação de estratégias de conectividade e corredores contem com informação adequada, atualizada, confiável e nos níveis de gestão apropriados.- Garantir que a informação biofísica e sócio-econômica necessária seja correspondente com a escala de trabalho e os objetivos propostos.- Incluir outros esquemas e formas de conhecimento da biodiversidade.Princípio 12: O enfoque ecossistêmico deve envolver todos os setores relevantes da sociedade e das disciplinas científicas.- Identificar os setores relevantes da sociedade, tanto desde o ponto de vista local, como regional e nacional.- Realizar uma revisão conjunta das políticas dos diferentes setores e identificar áreas de conflito e compatibilidade.- Estabelecer mecanismos de comunicação para compartilhar informação sobre metas, atividades e resultados.- Consolidar redes de distribuição de informações.- Definir espaços de discussão e negociação sobre diferentes aproximações e interesses.- Estabelecer alianças estratégicas com todos os beneficiários e setores envolvidos.- Promover a formulação e implementação de códigos de conduta para a implementação de práticas responsáveis de manejo.- Considerar os interesses de todos os setores envolvidos, com o fim de garantir uma distribuição justa e eqüitativa dos benefícios.

Fonte: Tradução ao português de UNEP/CBD/COP5, 2000; e ANDRADE, A. 2004, p. 17-20.

Em vista disso, os princípios do enfoque ecossistêmico devem ser considerados no estabelecimento, planejamento e implementação de corredores. Contudo, a UICN reconhece que não existe uma única via de aplicação do Enfoque Ecossistêmico, devendo-se considerar os diferentes princípios de maneira flexível e dar a cada um a relevância apropriada de acordo com as circunstâncias locais.

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5 Os Componentes do CorredorSem esquecer que o corredor é mais do que a soma de suas partes, neste item

serão considerados alguns aspectos particulares de cada um dos componentes do Corredor: seu papel dentro do corredor, as limitações e fortalezas de cada componente para o trabalho no formato de corredor, as possibilidades de atuação e as abordagens específicas.

5.1 As Unidades de Conservação

Em todas as experiências brasileiras de corredores, as unidades de conservação são a sua espinha dorsal, junto com outras áreas protegidas. Elas são elementos fundamentais, pois conservam amostram representativas dos ecossistemas e protegem as populações que serão os objetos de conservação dos corredores. Portanto, é muito importante que estejam implantadas e consolidadas, com suficientes recursos humanos e financeiros e com os seus instrumentos de gestão (Plano de Manejo elaborado e Conselho funcionando).

Em muitas ocasiões, os gestores das unidades de conservação são os motores do estabelecimento dos corredores, além de ser a única presença institucional em locais afastados, portanto, representam um papel fundamental nos primeiros passos do corredor.

Por outro lado, as unidades de conservação são uma referência básica e uma peça fundamental para o desenvolvimento sustentável local e regional, principalmente as de uso sustentável. As unidades de conservação de uso sustentável dentro do corredor são importantes ao possibilitar opções produtivas compatíveis com a sustentabilidade dos recursos naturais e contribuir ao desenvolvimento local.

As Reservas Particulares do Patrimônio Natural são um instrumento muito adequado para a manutenção da conectividade em paisagens muito fragmentados. Portanto, deve-se dar ênfase à criação e consolidação destas unidades de conservação no espaço do corredor.

5.2 As Terras Indígenas

As terras indígenas também desempenham um papel muito importante nos corredores, pois, principalmente na região amazônica, ainda encontram-se em bom estado de conservação. As terras indígenas contribuem com a função vital do corredor como hábitats importantes de vida silvestre, registro cultural, cenários de desenvolvimento local, incorporação de novos componentes da biodiversidade (por exemplo, cultivares manejados), amortecimento das pressões, etc. A maioria dos corredores existentes no Brasil possui terras indígenas no seu interior.

Os corredores constituem um ambiente propicio para a aproximação construtiva entre as unidades de conservação e as terras indígenas, integrando-as num conglomerado de figuras territoriais cuja combinação vira justamente uma estratégia de conservação e desenvolvimento sustentável.

A presença de terras indígenas dentro do corredor pressupõe necessariamente o apoio dos próprios índios, a sua protagônica participação na gestão do corredor e a efetiva compatibilidade entre a política de conservação e seus projetos de futuro. Desta maneira, a

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gestão de corredores não é possível sem um profundo trabalho com as organizações e comunidades indígenas, considerando suas prioridades, tempos e ritmos próprios.

Por outra parte, as numerosas demarcações de terras indígenas realizadas no Brasil permitiram desenvolver com os povos indígenas metodologias de participação (por exemplo, no Alto Rio Negro, no Vale do Javari, etc) que podem ser de muita ajuda em relação com a metodologia participativa na gestão de corredores. As lições aprendidas pelos povos indígenas na incipiente gestão das terras indígenas devem ajudar na gestão de corredores. Geralmente, a metodologia participativa para a demarcação foi a base para metodologias de gestão interna da terra indígena e de gestão das relações com o entorno político e social (por exemplo, o processo de trabalho entre a FOIRN e o Governo para construir políticas públicas).

Em relação com os povos isolados, a gestão dos corredores deverá respeitar a política de isolamento sem buscar a participação dos povos isolados nos processos do corredor. O desafio do corredor serão a proteção e a conservação absoluta das suas terras, inclusive mediante meios coercitivos. O Brasil é o único país de América Latina que apresenta uma política de proteção total destes povos com respeito ao seu isolamento como estratégia de sobrevivência frente a sua extrema vulnerabilidade. Do outro lado das fronteiras, estão sendo estabelecidos para a proteção dos povos isolados diversos tipos de áreas protegidas como Reservas territoriais, Parques nacionais, etc. Estas áreas podem de maneira transfronteiriça alcançar os corredores do Brasil.

Quadro 3 - O Corredor de Biodiversidade do Xingu, caso emblemático de participação indígena num corredor

O Xingu representa um bom exemplo de dinâmica social e institucional para a gestão territorial em forma de mosaico e corredor. Com aproximadamente 26 milhões de hectares, a Bacia Hidrográfica do Rio Xingu forma um dos maiores corredores de biodiversidade do Brasil e constitui um dos últimos trechos de floresta contínua daquela região. O Corredor reúne um conjunto de 18 Terras Indígenas (24 etnias) e um mosaico de Unidades de Conservação de proteção integral e uso sustentável identificadas como áreas de alta importância para a conservação da biodiversidade. Predominam as terras indígenas, notadamente as dos Kaiapó (12 milhões). O mosaico de UCs da "Terra do Meio" (interflúvio Xingu -Iriri) interligou as terras Kaiapó a outras TIs situadas mais ao norte. No centro da parte da bacia que pertence ao Mato Grosso está o Parque Indígena do Xingu e as TIs vizinhas, com quase quatro milhões de hectares. Vivem ali populações ribeirinhas, indígenas, extrativistas e agricultores familiares, configurando uma grande sociodiversidade.

Se o essencial de uma boa governança encontra-se na divisão do poder entre atores com interesses diferentes coordenando sua ação num espaço comum, o caso do Xingu pode ser considerado emblemático. No Corredor de Biodiversidade do Xingu, está sendo realizado um grande esforço nesse sentido, com apoio da sociedade civil, em particular a través da criação ou consolidação dos espaços institucionais onde os grupos sociais tradicionais, geralmente marginalizados, tanto indígenas quanto pequenos produtores, podem exercer um controle social dos processos e participar nos debates e decisões com relação às políticas do corredor, assim como na definição de rumos, objetivos e ações.

Quadro 4 - O desafio das sobreposições entre TIs e UCs

Existem diversos estudos que demonstram a importância de realizar a conservação com base na combinação entre UCs e TIs. No Brasil, são quase 13 milhões de hectares sobrepostos, representando 55 casos de sombreamento – áreas coincidentes – entre Terras Indígenas e Unidades de Conservação da natureza, muitas delas no âmbito de corredores ecológicos. Por causa disso, existe um debate em torno da contribuição dos povos indígenas para a preservação ambiental nas áreas sobrepostas. Estatísticas ajudam a defender a tese de que as terras indígenas têm um valor inquestionável para os índios e para a preservação ambiental. O Instituto Socioambiental (ISA) constata que as áreas indígenas sofreram um desmatamento, em 2003, da ordem de 1,14%, nas unidades de conservação federais o número chegou a 1,4% e, nas estaduais, 7,01%; fora das áreas protegidas, o índice de desmatamento no país, em 2003,

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foi de 18,96%14. Outro estudo do Centro de Pesquisa de Woods Hole (Massachusetts, EUA)15, com base em imagens de satélite, mostra que as terras indígenas são tão boas, ou melhores que parques nacionais para conter a destruição da mata. Esta situação confere um papel estratégico a muitos povos indígenas já que suas terras conservam importantes reservatórios de biodiversidade, os quais combinados com seus conhecimentos tradicionais permitem pensar em mercados sustentáveis de produtos da floresta. A probabilidade é grande que os casos de superposições aconteçam em particular no âmbito dos corredores de conservação, já que os corredores quase sempre integram as duas figuras territoriais.

Desta maneira é importante que as conclusões sobre superposições do estudo do ISA sejam tomadas em conta na configuração e gestão dos corredores de conservação que incluem os dois tipos de figuras territoriais: Os casos de UCs criadas em áreas de ocupação de populações nativas configuram um exemplo emblemático de

sobreposições de diferentes valores, tradições e concepções, configurando por isso um desafio ambiental . A conclusão para os corredores é a necessidade de mapear claramente os conflitos antes de organizar os espaços de negociação e gestão dentro de corredores.

São as frentes de grilagem de terras e ligadas a extração predatória de recursos naturais que esbulham em escala tanto as UCs quanto as TIs; enquanto ambientalistas e indigenistas brigam entre eles, os seus inimigos objetivos avançam. Os corredores constituem um ambiente propicio a uma aproximação construtiva; é na pratica da gestão dos corredores que podem sair propostas criativas que visem integrar o SNUC com as TIs.

No mapa de áreas prioritárias para a conservação no Brasil (PROBIO), as TIs compõem 40,1% da área total de Áreas de Extrema Importância, 36,4% do total das Áreas de Muito Alta Importância, e 25% do total das Áreas de Alta Importância, aparecendo como peça fundamental em qualquer sistema integrado de áreas protegidas.

Da extensão total de TIs, 99% ficam na Amazônia, onde vivem 60% da população indígena brasileira. Significa que os outros 40% que estão no Leste, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil estão confinados em 1% da extensão das terras. Assim é natural que alguns povos tenham melhores condições do que outros para implementar estratégias próprias de conservação dos recursos naturais, e que os conflitos tendem a se intensificar nestas ultimas regiões onde a extensão das UCs também é diminuta . Esta situação implica que a gestão de corredores na Amazônia terá uma dinâmica diferente daquelas outras regiões, devido a pressões e interesses diferentes.

5.3 As Terras Quilombolas

O Decreto nº 4.887,   de 20 de novembro de 2003 regulamentou o procedimento para a identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal. Porém, o INCRA só estabeleceu os procedimentos a serem seguidos em 2005, mediante a Instrução Normativa n. 20, de 19 de setembro de 2005, pelo que o número de Terras Quilombolas reconhecidas ainda não é muito grande.

As comunidades Quilombolas são principalmente rurais, dedicadas à agricultura de subsistência, caça, pesca, extrativismo mineral ou vegetal e/ou artesanato. Em regra, são comunidades muito vulneráveis que vivem excluídas da maioria das políticas públicas, sendo prioritário o trabalho em prol da cidadania e sua inserção social.

14 RICARDO, Fanny. “Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Natureza – O Desafio das Sobreposições”. São Paulo: ISA, 2006.

15 NEPSTAD, Daniel; ALENCAR, Ane; SANTILLI, Márcio; ROLLA, Alicia. in "Conservation Biology", fevereiro 2006.

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5.4 As Áreas de Interstício

As áreas de interstício são aquelas áreas dentro do corredor que não são unidades de conservação, terras indígenas ou terras quilombolas. De acordo com a propriedade da terra, a maior parte das áreas de interstício é de propriedade privada, mas também poderá haver terras públicas. De acordo com a sua destinação, as áreas de interstício costumam ser o local onde são desenvolvidas as principais atividades econômicas do corredor, ainda que também existam dentro das áreas de interstício espaços especialmente protegidas como as reservas legais16 e as áreas de preservação permanente17. Portanto, as áreas de interstício poderão apresentar diversos graus de intervenção humana e de conservação.

Nos corredores lineares e nos corredores de áreas protegidas, as áreas de interstício são muito pequenas ou quase inexistentes. Elas são elementos característicos dos corredores biorregionais.

Dependendo do seu estado de conservação, dentro das áreas de interstício será necessário identificar mini-corredores para interligar fragmentos florestais bem conservados. Nesse sentido, as reservas legais e as áreas de preservação permanente são importantes instrumentos de conexão. Porém, também podem ser implantados outros mecanismos que garantam a conectividade funcional dos ecossistemas, pelo que será essencial o envolvimento com os proprietários particulares.

Em muitos corredores, as áreas de interstícios estão submetidas a grandes pressões sobre os seus recursos naturais, pelo que se deverão concentrar esforços para implementar ações de fiscalização e vigilância de forma integrada entre todos os órgãos.

Nas áreas de interstício deve-se priorizar o envolvimento do setor privado, desde o grande empresário até o pequeno produtor. O grande empresário desempenha um importante papel como propulsor da economia local. Ainda que o principal objetivo do setor privado seja a maximização do lucro, é necessário envolver de forma gradual aos empresários locais para demonstrar os mútuos benefícios que advêm de um processo de desenvolvimento sustentável regional. O envolvimento dos grandes empresários nas ações do corredor vai ao encontro dos novos padrões empresariais de responsabilidade ética, social e ambiental, o que favorece sobremaneira a busca de alianças privadas dentro do corredor.

O envolvimento do setor privado também é importante por ser usuário dos bens e serviços ambientais (consumidor de recursos naturais, uso do meio ambiente como depósito de resíduos, etc). Por conseguinte, se deve trabalhar em prol da valorização do meio ambiente para que o setor produtivo se oriente à diferenciação dos bens e serviços mediante a incorporação de elementos mais eficientes desde o ponto de vista ambiental e

16 Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas (art. 1º, parágrafo 2º, inciso III, do Código Florestal, Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965).17 Área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º do Código Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (art. 1º, parágrafo 2º, inciso II, do Código Florestal, Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965).

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social. Com isso, o empresariado conseguirá introduzir-se em novos segmentos do mercado.

Os pequenos produtores devem ser envolvidos com o intuito de tornar mais sustentável a exploração dos recursos naturais e a produção agrícola e aumentar a renda familiar. Portanto, devem ser realizadas ações para a diversificação da produção, o beneficiamento local dos produtos, o seu escoamento, sua comercialização e a capacitação na gestão de negócios. Como fonte de geração de riqueza, se deve buscar a eficiência das cadeias produtivas e do ciclo dos produtos para incentivar o desenvolvimento local econômico desde um enfoque de competitividade territorial. Assim, deve-se organizar uma oferta territorial eficiente e apropriada de produtos e serviços que complementem as empresas já instaladas.

Portanto, nas áreas de interstício deve-se promover e incentivar, principalmente:

Certos tipos de atividades que não prejudiquem a sustentabilidade dos recursos naturais e/ou que repliquem a composição e estrutura do hábitat original, como os sistemas agro-florestais, os sistemas de “cabruca” (cacau com sombra) ou as atividades extrativistas;

O planejamento das reservas legais para que as áreas de propriedades circunvizinhas estejam próximas ou formando mosaicos como forma de garantir a conectividade;

Instrumentos para a valorização econômica de bens e serviços ambientais como certificação ambiental, sistemas de certificação de origem, metodologias de “boas práticas”, etc;

A restauração dos ecossistemas degradados;

A melhoria da qualidade de vida das populações, possibilitando o acesso a bens e serviços básicos;

O aumento do nível de renda de seus moradores.

5.5 As Áreas Marinhas18

A conservação ambiental através da implementação de corredores ecológicos também constitui uma estratégia indicada para o ambiente marinho. As áreas marinhas dos corredores apresentam peculiaridades em relação à porção terrestre, devido à conectividade natural entre áreas costeiro-marinhas, decorrentes de correntes e outros processos oceânicos, assim como das migrações dos animais e a dispersão de adultos e larvas de diversos animais marinhos.

A conservação das áreas marinhas está intensamente relacionada aos usos que acontecem nas áreas costeiras adjacentes e à utilização sustentável dos recursos naturais. No ambiente marinho a estratégia do corredor deve estar orientada ao estabelecimento de uma rede de áreas protegidas marinhas e ao ordenamento dos usos e atividades nas suas zonas de amortecimento, incluindo a identificação de zonas intangíveis, constituindo áreas de exclusão que atuam como corredores.

18 Fonte: Anna Verônica Szabo. Projeto Corredores Ecológicos. Unidade de Coordenação Estadual da Bahia. E-mail: [email protected]

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Quadro 5 - Porção Marinha do Corredor Central da Mata Atlântica – CCMA

A Porção Marinha do CCMA abrange uma área de 8.000.000 ha. Entre as ações indicadas para a Fase II do Projeto Corredores Ecológicos no CCMA, está o planejamento das ações relativas à porção marinha, na Área Focal do Complexo dos Abrolhos. Na área estão inseridas quatro Unidades de Conservação (UCs): o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, a Área de Proteção Ambiental Ponta da Baleia Abrolhos, a Reserva Extrativista Marinha do Corumbau e o Parque Marinho Recife de Fora. Uma nova UC encontra-se em processo de criação, a Reserva Extrativista Marinha do Cassurubá que abrange a maior área de manguezais da região. O projeto também contempla a proposta de um corredor entre as UCs, englobando os principais recifes de corais e estuários do extremo sul da Bahia.

O planejamento das ações se dará através de oficina participativa, com representantes dos principais setores envolvidos. O planejamento refere-se especialmente a área focal, mas também deverá contemplar a elaboração de macro-diretrizes para toda a porção marinha do CCMA e estratégias de implementação dos mini-corredores marinhos. As linhas gerais propostas para o planejamento são: Fiscalização e Monitoramento; Planejamento e Gestão de Unidades de Conservação e Áreas de Interstício.

É importante salientar que outras ações na área marinha foram contempladas no planejamento da Fase II do CCMA, incluindo a implantação do plano de fiscalização para a região marinha, elaboração e/ou revisão dos Planos de Manejo das UCs, implementação de Programas de Manejo, disseminação da importância do corredor e implantação de pólos comunitários para beneficiamento e comercialização de pescado. Além das ações previstas, outras já se encontram em curso, inseridas em projetos implementados por instituições parceiras do PCE.

Fonte: Anna Verônica Szabo. Projeto Corredores Ecológicos. Unidade de Coordenação Estadual da Bahia. E-mail: [email protected]

5.6 O Espaço Urbano

Existem corredores que possuem núcleos urbanos no seu interior. Inclusive, algumas grandes cidades encontram-se dentro de corredores, como o Rio de Janeiro dentro do Corredor Serra do Mar ou Manaus dentro do Corredor Central da Amazônia.

As ações dentro do espaço urbano poderão ser priorizadas ou não, dependendo das características intrínsecas de cada corredor. Em qualquer caso, serão necessárias alianças com o executivo municipal e com organizações locais para a implementação de atividades. As intervenções podem estar dirigidas a:

Estabelecer corredores urbanos;

Fortalecer a gestão ambiental municipal, principalmente no tratamento dos resíduos sólidos;

Elaborar planos diretores;

Criar áreas verdes;

Criar unidades de conservação municipais;

Promover políticas e diretrizes para a conservação dos recursos hídricos;

Estimular a sensibilização ambiental.

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5.7 O Capital Humano e Social

Este componente refere-se ao conjunto de habitantes que moram no corredor junto com suas associações ou organizações e as inter-relações que derivam dos contatos sociais, com base na confiança e a reciprocidade. O sucesso do corredor na preservação da diversidade e como palco do desenvolvimento sustentável depende diretamente da implicação da sociedade local através de um processo onde predomine a horizontalidade e o empoderamento dos atores locais, o que se garante mediante a proposta do trabalho em rede, da forma anteriormente descrita.

Este componente apresenta algumas limitações. As limitações das organizações locais são a insuficiente capacitação, as dificuldades de organização e a falta de recursos financeiros para lutar pelo seus direitos de forma mais ativa. Não obstante, suas fortalezas são a existência de um conjunto de relações de ajuda mútua entre os diferentes componentes das organizações e, em numerosas ocasiões, entre as próprias organizações; e seu valioso conhecimento tradicional sobre os recursos naturais do corredor.

O grande desafio é desenvolver ações orientadas a:

A cidadania e a inclusão social;

O empoderamento dos grupos sociais, com o desenvolvimento de capacidades para buscar sua autonomia individual e coletiva.

A construção de alianças, onde os parceiros estejam satisfeitos desde um enfoque ganha-ganha; e,

A efetivação de forma apropriada do controle social da gestão do corredor.

Salienta-se que em muitos corredores o componente humano está constituído por povos e comunidades tradicionais, como seringueiros, castanheiros, caiçaras, babaçueiros, caipiras, jangadeiros, pantaneiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, marisqueiros, etc. Portanto, aqui também se devem respeitar as particularidades culturais e as formas tradicionais de vida, organização e produção, com suas prioridades, tempos e ritmos próprios. Em todo momento, a interação com os povos e comunidades tradicionais será realizada em harmonia com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, aprovada mediante o Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.  

5.8 O Componente Institucional

Este último componente refere-se às instituições governamentais das três esferas que desenvolvem atividades localmente no âmbito do corredor.

As principais limitações das instituições governamentais são a falta de capacitação e a escassez de recursos humanos e financeiros para uma intervenção mais efetiva. Essas limitações impedem a realização de deslocamentos a lugares muito distantes das cidades, prejudicando a atuação local das instituições. Entretanto, em ocasiões podemos encontrar instituições de duas ou das três esferas trabalhando no mesmo local e sobre um mesmo assunto, o que pode implicar na sobreposição de ações ou, pior ainda, em intervenções

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contraditórias. Ou, também, dentro da mesma esfera de governo pode ser comum encontrar políticas públicas e atuações discrepantes.

Portanto, o principal desafio é conseguir a articulação das três esferas de governo e a integração das diferentes políticas setoriais. Depois, a capacitação, a valorização e o estímulo do funcionário público para o eficiente desempenho de suas funções.

6 Instrumentos Legais para a Gestão do Corredor6.1 Atual Embasamento Legal da Gestão do Corredor

A figura de corredor ecológico se viu reforçada legalmente mediante a Lei do SNUC, Lei n. 9.985 de 2000, no seu art. 2º, inciso XIX, onde estipula-se o conceito de corredor ecológico. De acordo com este dispositivo, os corredores ecológicos são:

XIX – corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.

Outros dispositivos que tratam especificamente sobre corredores ecológicos são: Lei Dispositivo Matéria

Lei n. 9.985 de 2000

Sistema Nacional de Unidades de Conservação

Art. 2º, inciso XIX

Conceito de corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.

Art. 5º, inciso XIII

O SNUC será regido por diretrizes que busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.

Art. 25, § 1º e § 2o

As unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos.O órgão responsável pela administração da unidade estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos de uma unidade de conservação.Os limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1o

poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente.

Art. 27, § 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.

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Art. 20, § 6o O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade.

Art. 38 A ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservância aos preceitos desta Lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à flora, à fauna e aos demais atributos naturais das unidades de conservação, bem como às suas instalações e às zonas de amortecimento e corredores ecológicos, sujeitam os infratores às sanções previstas em lei.

Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002

Regulamenta a Lei do SNUC

Art. 11, caput e parágrafo único

Os corredores ecológicos, reconhecidos em ato do Ministério do Meio Ambiente, integram os mosaicos para fins de sua gestão.Na ausência de mosaico, o corredor ecológico que interliga unidades de conservação terá o mesmo tratamento da sua zona de amortecimento.

Art. 20, inciso VIII

Compete ao conselho de unidade de conservação manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto na unidade de conservação, em sua zona de amortecimento, mosaicos ou corredores ecológicos;

Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002

Institui a Política Nacional da Biodiversidade.

AnexoObjetivo específico 11.1.3.

É um objetivo da Política Nacional da Biodiversidade: Planejar, promover, implantar e consolidar corredores ecológicos e outras formas de conectividade de paisagens, como forma de planejamento e gerenciamento regional da biodiversidade, incluindo compatibilização e integração das reservas legais, áreas de preservação permanentes e outras áreas protegidas.

Decreto nº 750, de 1993

Art. 7º Fica proibida na Mata Atlântica a exploração de vegetação que tenha a função de proteger espécies da flora e fauna silvestres ameaçadas de extinção, formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou em estágio avançado e médio de regeneração, ou ainda de proteger o entorno de unidades de conservação, bem como a utilização das áreas de preservação permanente, de que tratam os arts. 2º e 3º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965.

Resolução Nº 09, de 24 de Outubro de 1996, do CONAMA

Conceito de corredores entre remanescentes: Corredor entre remanescentes caracteriza-se como sendo faixa de cobertura vegetal existente entre remanescentes de vegetação primária em estágio médio e avançado de regeneração, capaz de propiciar habitat ou servir de área de trânsito para a fauna residente nos remanescentes.

Portanto, sobre os corredores ecológicos existem as seguintes orientações legais:

O conceito legal é o de elemento de conexão entre unidades de conservação;

É objetivo da Política Nacional da Biodiversidade implantar corredores ecológicos;

Todas as categorias de manejo poderão estar interconectadas por corredores ecológicos, salvo Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural;

Os limites do corredor poderão ser estabelecidos no momento da criação da UC ou posteriormente;

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Os corredores devem ser reconhecidos por ato do Ministério do Meio Ambiente;

É possível estabelecer normas para a regulamentação da ocupação e uso dos recursos do corredor no momento da criação da UC ou posteriormente;

O Plano de Manejo da UC deve abranger a área dos corredores;

Quem causar danos ou infringir a Lei do Snuc e seu regulamento fica sujeito às sanções da lei;

O conselho da unidade de conservação se deve manifestar sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto no corredor.

Além dessas, a gestão dos corredores ecológicos poderá se utilizar de todos os dispositivos legais relativos à proteção de seus recursos, como o Código Florestal, Lei de Crimes Ambientais, Política Nacional de Meio Ambiente, Lei dos Recursos Hídricos, etc.

6.2 Propostas para o Reforço Legal da Gestão do Corredor

Existem as seguintes propostas para reforçar legalmente a gestão dos corredores, ainda que não haja consenso sobre eles:

a) Medidas legais de forma geral para todos os corredores, mediante um instrumento regulamentador, como uma instrução normativa do Ministério do Meio Ambiente, com um conceito de corredor mais próximo da realidade e com a regulamentação de sua gestão, para ter um embasamento legal mínimo;

b) Medidas legais específicas para cada corredor:

b.1) Oficializar a constituição do corredor mediante portaria ou decreto da instituição federal, estadual ou municipal que seja mais apropriada para a constituição do corredor com a identificação de seus limites.

Porém, esses processos legais podem trazer desconfiança a proprietários privados ou outros parceiros e, assim, prejudicar o processo de gestão participativa e bioregional.

Quando o corredor é constituído mediante o consenso e a participação de todos os atores envolvidos, sendo reconhecidos seus limites pelas organizações de base e com processos de parcerias em andamento, não é necessária uma base legal adicional. Inclusive, poderia ocasionar o engessamento do corredor.

O corredor já detém o suficiente grau de proteção jurídica mediante diferentes legislações ambientais e não precisaria de proteção adicional.

As portarias para o estabelecimento de corredores são defendidas porque dão um respaldo legal ao corredor e não são impositivas demais por não estabelecer proibições.

b.2) Oficializar o Sistema de Gestão do Corredor, formalizando o comitê gestor do corredor e sua secretaria executiva. Entretanto, a Lei do SNUC e seu Decreto só dispõem sobre comitês para as unidades de conservação e mosaicos pelo que não existiria a figura legal de comitê de gestão do corredor.

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c) Os termos de cooperação técnica necessários para a articulação dos diferentes atores na implementação de ações dentro do corredor.

7 Os Corredores além das FronteirasDo outro lado das fronteiras do Brasil também existem diferentes tipos de áreas

protegidas contíguas às brasileiras que devem ser consideradas na constituição dos corredores, já que complementam e contribuem na preservação da biodiversidade e na garantia do fluxo genético. Essas áreas protegidas podem constituir um corredor do outro lado da fronteira, ou não, mas, uma vez identificada a sua importância para o corredor brasileiro, será necessário iniciar ações em prol de uma atuação coordenada a ambos lados das fronteiras.

Existe pouca descrição da metodologia usada no âmbito da maioria dos corredores ecológicos fronteiriços, devido à novidade dos processos. A cooperação básica inicial entre dois ou três paises no âmbito de um corredor em construção deverá considerar as seguintes ações:

Identificar as ações de conservação que estão sendo executadas em ambos os lados da fronteira e combinar o que se pode fazer de forma conjunta.

Integrar os atores existentes do outro lado da fronteira nos trabalhos de estabelecimento, planejamento e implementação, inclusive na estrutura de gestão, quando possível.

Realizar acordos locais informais para o intercâmbio de informações e metodologias de atuação, a decisão sobre a forma de sistematização das informações e formação do banco de dados e a realização de publicações conjuntas.

Verificar a existência de um instrumento legal guarda-chuva para embasar a cooperação entre as instituições. Podem ser tratados ou acordos de cooperação multilaterais (como o Tratado de Cooperação Amazônica) ou bilaterais, como fizeram a Bolívia e o Peru para o Corredor de Conservação Vilcabamba-Amboró. Devem ter cláusulas específicas sobre a cooperação para a conservação dos recursos naturais. O Brasil já assinou acordos de cooperação desta natureza com a maioria dos países vizinhos.

Propor ao Ministério das Relações Exteriores o interesse da cooperação no corredor fronteiriço e envolve-lo.

Realizar reuniões de intercambio de informação e de planejamento para a atuação coordenada nas áreas fronteiriças, a capacitação conjunta de guardas ou vigilantes e a coordenação do controle no terreno.

O corredor deve ser colocado na agenda política das duas nações envolvidas para facilitar a atuação conjunta das instituições e contribuir ao desenvolvimento de um marco político para a região.

Caso não exista um respaldo legal para a atuação conjunta, recomenda-se promover a cooperação no nível da sociedade civil local, incluindo, quando possível, a presença de entidades governamentais. Existem casos promissórios de cooperação bi- ou trinacional promovida pela sociedade civil, onde o respaldo oficial foi construído gradativamente para consolidar a atuação conjunta; como por exemplo, na fronteira da Região da Cabeça do Cachorro, onde organizações não-governamentais e organizações

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indígenas do Brasil, da Colômbia e da Venezuela, trabalham juntos através das fronteiras, convidando, quando possível, entidades governamentais.

É claro que zona de fronteira significa também área de conflitos, o que não facilita o trabalho de cooperação nem as estratégias de conservação, pelo que se recomenda ainda buscar parcerias com o Ministério de Defesa. Tudo isso reforça a necessidade de difundir continuamente nos ministérios de assuntos exteriores dos paises envolvidos, informações sobre os programas e projetos de apoio técnico na região de fronteira, não somente para evitar a desinformação, senão também para mostrar a qualidade do trabalho técnico e servir de referencia para os governos, propiciando o surgimento de oportunidades de cooperação.

Quadro 6 - Brasil e Bolívia formam o Corredor Ecológico Guaporé/ Itenez-Mamoré

A primeira reunião técnica sobre o Corredor Ecológico Guaporé/Itenez Mamoré, realizada pelo PNUD/PLANAFLORO, contou com a participação de técnicos da Bolívia e Brasil (Porto Velho/RO), em julho de 1997. Deste evento surgiu a iniciativa de efetivar o Corredor Ecológico e incorporar uma série de unidades de conservação existente nos estados brasileiros de Rondônia e Mato Grosso com áreas protegidas de diferentes categorias da Bolívia no Departamento de Pando, Beni e Santa Cruz.

A reunião de Porto Velho-RO, em julho de 1997, serviu para que técnicos e autoridades de ambos países trabalhassem em uma primeira sessão técnica, apresentando às instituições, seus objetivos e necessidades, com trabalhos que permitiram a análise de pontos de coincidência e suas áreas de complementação. Os resultados dos trabalhos da primeira reunião estão em uma Memória específica do evento, onde se apresentam os sistemas de áreas protegidas da Bolívia, Mato Grosso e Rondônia e, também, a experiência brasileira com o Banco Mundial PPG-7 que naquela época iniciava o financiamento de outros corredores ecológicos.

A segunda reunião técnica do Corredor Ecológico Guaporé /Itenez-Mamoré, realizou-se no mês de dezembro de 1997, na sede Flor de Oro do Parque Nacional Noel Kempff/Bolívia, esta reunião foi para operacionalizar a implementação do Corredor, com ênfase no desenvolvimento da estratégia de implantação, caracterizando suas aptidões e elaborando um plano de ação que deveria ser coordenado por um comitê ad hoc, composto por membros das delegações. Nessa reunião, elaborou-se um documento denominado “Carta de Flor de Ouro”, para divulgar a iniciativa e sua importância junto às autoridades políticas de ambos os países, no sentido de firmar-se um acordo binacional entre Brasil e Bolívia.

Os fundamentos jurídicos do trabalho no Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré são:

O Tratado de Cooperação Amazônica entre Bolívia, Brasil, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, assinado em Brasília na data de 03.07.1978, que apresenta vários artigos que respaldam a realização do Corredor Ecológico.

O Convênio entre o Governo da Republica Federativa do Brasil para a Preservação e Conservação e Fiscalização dos Recursos Naturais na Área Fronteiriça assinado em Brasília no mês de agosto de 1990, ainda em vigor, que apresenta cláusulas que após a análise conjunta encaixam perfeitamente a iniciativa de Corredor Ecológico.

A Decisión de Lima. Esta resolução foi assinada por todos os Ministros do Meio Ambiente da América Latina em 1998. Neste documento os Ministros se comprometem a propiciar acordos bilaterais ou multilaterais visando o planejamento conjunto de atividades em espaços protegidos transfronteiriços e a atualização e aperfeiçoamento dos marcos de modo conceitual em legal dos sistemas nacionais das áreas protegidas para considerar os parques nacionais e outras categorias estritas como espaços-núcleo de estratégias biorregionais.

Fonte: IBAMA. Projeto de Conservação e Manejo Sustentável dos Ecossistemas Presentes no Corredor Ecológico Guaporé/Itenez-Mamoré. Porto Velho: mímeo, 2001.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

ApresentaçãoO objetivo da Parte II é mostrar como iniciar os

trabalhos para a constituição de um corredor, antes de passar para o seu planejamento; portanto, indicar-se-ão os primeiros passos necessários para o estabelecimento do corredor desde o momento em que um grupo de pessoas fica motivado com a idéia de trabalhar nesse formato.

A maioria das vezes, esta fase de implantação dos corredores não é explicitada no histórico dos corredores. De fato, poucas experiências brasileiras mencionam esta fase de forma explícita. Porém, ela é muito importante para o sucesso do corredor, pois representa o momento em que se buscam as primeiras alianças, o apoio financeiro e as oportunidades de atuação, além de ser o momento em que se identificam aqueles elementos que têm que ser inicialmente considerados, como a escala de trabalho.

Na fase de constituição é quando se iniciam os trabalhos de integração dos diferentes atores sociais para o trabalho do corredor, porém, esta atividade deve ser visualizada como um processo ao longo de toda a vida do corredor.

As etapas aqui descritas não são as únicas que poderão ser desenvolvidas para o estabelecimento do corredor. Outras atividades poderão ser necessárias de acordo com as características locais e as circunstâncias específicas de cada corredor. Inclusive, algumas das etapas agora descritas poderão fazer parte da seguinte fase de planejamento.

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Parte II:Constituição

Roteiro Metodológico para

a Gestão de Corredores

Parte I:Marco

Conceitual

Parte II: Constituição

Parte III: Planejamento

Parte IV: Implementação

Parte V: Monitoramento

e Avaliação

8 A Motivação para a Constituição do Corredor

9 As Etapas para a Constituição do Corredor9.1 Surgimento da Idéia de

Corredor9.2 Desenho Preliminar do

Corredor9.3 Análise dos Principais Atores

Sociais ou Grupos de Interesse9.4 Consultas Iniciais sobre a Idéia

e Limites do Corredor10 Considerações sobre as Escalas

Espacial e Temporal11 O Processo de Integração dos

Atores Sociais12 As Condições Mínimas de

Partida

Tópicos:

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

8 A Motivação para a Constituição do CorredorA maioria dos corredores surge como a idéia de um grupo de pessoas ante a

constatação de determinados problemas ambientais numa determinada área. As indicações da necessidade de estabelecer um corredor podem ser, dentre outras:

A constatação da fragmentação da paisagem, com pequenos resíduos da matriz original;

A percepção da dinâmica da paisagem, onde os ecossistemas alterados estão aumentando;

A constatação de mudanças de hábitos da população que podem levar a uma degradação ambiental;

A pressão de certos grupos de atores sociais, que demandam uma maior atenção aos seus problemas sociais e ambientais;

A necessidade da preservação de paisagens sustentáveis mantendo os processos ecossistêmicos (bio-físicos), incluindo a viabilidade de espécies.

Essas indicações podem aparecer de forma isolada ou conjugada. Elas podem ser o resultado de um levantamento que esteja sendo realizado no marco de um programa ou projeto já existentes; ou podem ser o resultado de um levantamento que já esteja sendo feito com o propósito específico de estabelecer um corredor. Contudo, na maioria das vezes essas indicações aparecem de forma difusa e baseada em percepções pessoais, incompletas ou parciais.

O grupo inicial de pessoas que fica motivado para o estabelecimento do Corredor pode ser representativo tanto da sociedade local como de instâncias mais afastadas da área, como ONGs nacionais ou órgãos governamentais federais, o que influenciará posteriormente na estratégia de consulta e integração dos diferentes atores sociais. Caso o corredor tenha surgido nas instâncias locais, se deverá iniciar um processo de envolvimento dos atores sociais de baixo para cima (estratégia bottom-up); caso tenha surgido em instâncias mais centralizadas, se deverá iniciar um processo de envolvimento de cima para baixo (estratégia top-down)19.

19 As expressões bottom-up e top-down referem-se ao enfoque metodológico ascendente ou descendente que é utilizado, neste caso, para a construção do corredor; porém, esses termos são próprios da teoria de sistemas e são amplamente usados em muitos âmbitos do conhecimento como na sociologia, informática, psicologia, arquitetura, etc. A estratégia ascendente bottom-up é usada quando surge uma iniciativa por parte dos diferentes componentes da sociedade e suas organizações de base para ir subindo os diferentes degraus do poder e influenciar nas decisões públicas. Essa estratégia se opõe ao enfoque descendente top-down pelo qual os processos nascem das altas hierarquias governamentais e mediante a mobilização e a conscientização chegam até as bases.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

9 As Etapas para a Constituição do Corredor9.1 Surgimento da Idéia de Corredor

Constatar a necessidade de trabalhar no formato de corredor;

Formar um Grupo de Trabalho Inicial;

Estabelecer alianças iniciais para apoio técnico, político e financeiro;

Constituir o banco de dados do corredor.

O Grupo de Trabalho Inicial tem como função principal organizar o estabelecimento do corredor e a sua coordenação. Estará formado por uma ou várias instituições governamentais ou não-governamentais, não há regra fixa. Todas as informações existentes sobre o corredor deverão ser compiladas no formato de banco de dados para subsidiar a tomada de decisões. O Grupo de Trabalho Inicial deverá buscar a integração institucional e de fóruns já existentes, quando possível.

9.2 Desenho Preliminar do Corredor

A definição dos limites do corredor é uma das decisões mais complexas e relevantes para a sua gestão, com grandes implicações socioeconômicas, ecológicas, institucionais e de gestão. Portanto, aconselha-se a identificação dos limites mediante aproximações sucessivas ao longo do tempo, levando em consideração diversos critérios que serão identificados de acordo com as características locais e a dinâmica regional.

O primeiro desenho do corredor poderá ser traçado pelo Grupo de Trabalho Inicial de forma independente ou com a participação de pesquisadores e/ou representantes de instituições governamentais e não-governamentais e da sociedade local. Neste momento, trata-se apenas de identificar o desenho preliminar do corredor que servirá como base para a análise dos principais atores sociais do corredor e as consultas iniciais. Portanto, é apenas a proposta preliminar para uma discussão posterior, mais abrangente e participativa.

A identificação dos limites deve ser realizada com fundamento em critérios previamente identificados. De uma maneira geral, entende-se por critério aquela característica ou propriedade que serve de base para comparação, julgamento ou apreciação. Para a identificação dos limites do corredor são utilizados critérios ecológicos, estéticos, sócio-econômicos, institucionais, de gestão, etc. A prática no trabalho de corredores demonstra que o principal critério para a sua delimitação é a existência de unidades de conservação já criadas ou terras indígenas reconhecidas, o que pode ser denominado de conectividade legal. As terras quilombolas também podem ser consideradas inicialmente.

Porém, além desse critério deverão ser utilizados outros levando em consideração a função vital do corredor, a conectividade estrutural e funcional e/ou os problemas que se pretendem resolver ou minimizar. Recomenda-se que sejam identificados primeiramente os critérios de decisão para depois aplicá-los e desenhar os limites.

De forma geral, podemos identificar vários grupos de critérios:

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

a) os critérios físicos, relativos a bacias hidrográficas, principalmente; e unidades geomorfológicas, quando conveniente;

b) os critérios ecológicos, principalmente relativos às ecorregiões20;

c) os critérios funcionais, relativos às questões da paisagem, como fragmentação (tamanho, diversidade e proximidade do fragmentos) e representatividade;

d) os critérios culturais, relativos às manifestações humanas e ao envolvimento do homem com a natureza;

e) os critérios político-administrativos, relativos a limites municipais, estaduais ou nacionais;

f) os critérios de gestão, relacionados com a capacidade e viabilidade da gestão do corredor (como, por exemplo, a presença de parceiros em uma determinada área) e com outras considerações administrativas e legais (como, por exemplo, sinergias com políticas públicas);

g) os critérios de tempo, relativos à priorização da implementação e a sua viabilidade no longo prazo.

Esses critérios devem ser aplicados como filtros que vão conformando um espaço determinado, com base nas informações existentes. Ainda que não contemplados nessa listagem, os critérios da conveniência e oportunidade também devem ser considerados nos momentos finais do desenho para aumentar ou diminuir os limites. Os critérios de conveniência e oportunidade são aquelas circunstâncias adequadas e vantajosas que induzem à inclusão de uma determinada área; ou, também, são aquelas situações prejudiciais e contrárias que levam à exclusão de certa área. Exemplos de conveniência e oportunidade são a inclusão das sedes municipais e estaduais dentro dos limites do corredor, a inclusão de espaços submetidos à alta pressão antrópica ou a exclusão de áreas onde existam políticas públicas anteriores conflitantes com a idéia de corredor.

Desta forma, o desenho preliminar do corredor deverá ser realizado segundo os seguintes passos:

Conseguir os mapas e imagens de satélite da região;

Identificar a conectividade legal, ou seja, as unidades de conservação já decretadas, as terras indígenas já identificadas ou homologadas e as terras quilombolas já reconhecidas;

Identificar outras áreas relevantes para a conservação, protegidas ou não;

Definir os critérios de identificação de limites;

Aplicar mediante mapas os critérios anteriormente definidos a partir das áreas protegidas e as áreas relevantes;

Desenhar os limites preliminares;

20 Aqui, entende-se como ecorregião o conjunto geograficamente distinto de comunidades naturais que compartem uma grande maioria de espécies e dinâmicas ecológicas e similares condições ambientais e interagem ecologicamente de forma crítica para sua persistência no longo prazo. Sobre as ecorregiões de América Latina e Caribe, consultar DINERSTEIN et al. (1995).

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

Apurar os limites identificados de acordo com os critérios de gestão e os critérios de conveniência e oportunidade.

Salienta-se a importância de ajustar os limites buscando sinergias com outras políticas públicas federais, estaduais ou municipais e de acordo com os limites municipais; tampouco é recomendável deixar uma parte de uma área protegida fora do limite do corredor.

Todo o processo de desenho preliminar do corredor deve ficar devidamente registrado para poder realizar a sua posterior divulgação e consulta.

Quadro 7 - Definição do espaço geográfico do Corredor Central da Amazônia

Ao longo da construção do Projeto Corredores Ecológicos, os limites do Corredor Central da Amazônia variaram significativamente. Os primeiros traços dos limites focavam principalmente a distribuição e a riqueza da biodiversidade da região do interflúvio dos rios Solimões/Negro com a grande várzea formada pelo Solimões, com os rios Japurá, Jutaí e Juruá. Com a execução da Fase 1, após a realização dos estudos técnicos e oficinas participativas, foi criada uma nova visão de como manter as florestas em pé, assim, os limites do CCA também começaram a integrar os parâmetros sociais e, evidentemente, a nova configuração das áreas protegidas na região.

O limite proposto para a segunda fase do Projeto Corredores Ecológicos, se fundamenta no resultado destes estudos e de oficinas específicas realizadas para este fim. Os principais critérios para definição da área, ainda consideram os conceitos de Conectividade entre o sistema de Áreas Protegidas e Complementaridade Biológica (composição) como fundamentais. Outros critérios ajudaram a definir o perímetro, como incluir integralmente os limites das áreas protegidas existentes, tipos de vegetação, representação das diferentes assembléias da fauna (principalmente mamíferos), os limites das bacias hidrográficas, a representatividade geomorfológica e as paisagens únicas.

Assim, a região do Corredor Central da Amazônia está localizada em quase sua totalidade no Estado do Amazonas, na bacia central do Rio Solimões, ocupando uma área aproximada de 52.305.674 ha. Este corredor corta as bacias hidrográficas dos rios Negro e Solimões, além de cortar diversos outros rios de primeira grandeza, tais como: Juruá, Japurá, Jutaí, Tefé, Uatumã . No interior do perímetro do CCA também existe a Reserva da Biosfera da Amazônia Central, ainda não implementada, e mais quatro sítios do patrimônio mundial natural (Parque Nacional do Jaú, Estação Ecológica de Anavilhanas e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e Amanã), que somente reforça a relevância mundial do local e a urgência de ações concretas de conservação e desenvolvimento. O Corredor Central da Amazônia engloba uma grande variabilidade de fauna e flora, abundância de peixe, de estado de conservação significativo tanto das florestas, como das belezas cênicas da região, como matas, cachoeiras, rios, igarapés e cavernas. Os limites também englobam 33 municípios com diferente grau de envolvimento e priorização em relação ao CCA. De uma forma geral, podemos classificar os municípios.

Fonte: SDS/UCE; MMA/UCG; Rede GTA. Plano de Gestão do Corredor Central da Amazônia. Manaus: mimeo, 2005.

9.3 Análise dos Principais Atores Sociais ou Grupos de Interesse do Corredor

Nesta etapa, realizar-se-á a análise dos principais atores sociais ou grupos de interesse encontrados dentro dos limites preliminares do corredor. Consideram-se como atores sociais, grupos de interesse ou partes interessadas àquelas instituições, pessoas, organizações, associações e/ou outros grupos de pessoas formais ou informais que tenham algum tipo de interesse no corredor ou que sejam afetados pela atuação no formato de corredor. Recomendam-se os seguintes passos:

Identificar os principais atores sociais que são importantes para o corredor.

Caracterizar esses grupos, principalmente em relação com:

Como utilizam os recursos naturais?

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

O que esperam do corredor? Quais são seus verdadeiros interesses?

Seus interesses são compatíveis com o propósito do corredor?

Existe alguma forma de compensação por algum interesse que seja oposto ao propósito do corredor?

Quais suas potencialidades e limitações para o corredor?

Quais são suas formas de organização social e tomada de decisão?

Quais são os principais canais de divulgação de informações?

Identificar e/ou estabelecer foros de grupos de interesse com reuniões regulares.

9.4 Consultas Iniciais sobre a Idéia e Limites do Corredor

Neste momento, serão realizadas consultas iniciais sobre a idéia de corredor e os seus limites.

As consultas iniciais deverão ser realizadas mediante seminários ou oficinas nos municípios ou localidades mais significativos. Inclusive, talvez seja necessário realizar consultas por grupos específicos, como grupos de interesse, grupos indígenas, grupos de instituições governamentais, etc. Devem ser considerados e aproveitados os foros já existentes. As informações geradas na etapa anterior servirão para preparar a estratégia das consultas e a discussão dos limites preliminares.

Nestas consultas se deverá explicar o conceito de corredor e quais são as suas implicações de forma geral e para cada grupo de interesse, além de justificar, o porquê do trabalho no formato de corredores. Os limites do corredor também deverão ser explicados, justificados e consultados. Como os limites do corredor foram identificados com base nas informações existentes, também se deve deixar claro que poderão ser revistos à luz de novos dados.

Os limites do corredor já foram apurados pelos critérios físicos, ecológicos, funcionais, culturais, político-administrativos, de gestão, de tempo, de conveniência e de oportunidade e agora serão submetidos, portanto, aos critérios democráticos e de envolvimento.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

10 Considerações sobre as Escalas Espacial e TemporalOs corredores atualmente em funcionamento no Brasil variam de tamanho, desde

vários centos de milhares de hectares até vários milhões de hectares. De acordo com SHEPHERD (2005), o tamanho apropriado do corredor é aquele que mantém as capacidades funcionais e é viável no longo prazo, permite conseguir uma capacidade de manejo, conhecimentos e experiências e leva em consideração os limites administrativos e legais.

Idealmente o corredor deveria ser tão extenso quanto possível, ao menos o suficiente para incluir populações viáveis das espécies-chave. O tamanho do corredor também dependerá da dinâmica das pressões sobre o meio ambiente. Porém, conforme o tamanho do corredor aumenta, o conceito perde sua utilidade como unidade operacional. (SANDERSON et al., 2003:11-23).

O tamanho do corredor também influencia na administração das informações que são geradas, posto que quanto menor é o corredor, mais simples é a sistematização e espacialização dos dados; e na facilidade de garantir a participação e a individualização dos problemas principais (SANTOS, 2004:41).

Portanto, os critérios ecológicos são importantes, mas a escala também deve considerar a capacidade de gestão e a capacidade para realizar parcerias. Caso existam partes do corredor onde não seja possível a colaboração de nenhuma organização social ou instituição, os limites deverão ser repensados buscando um balanço entre o ideal e o possível.

Em relação com a representação gráfica das informações, recomendam-se as escalas de detalhe, como 1:50.000 ou maiores, para a resolução de problemas específicos; e escalas de 1:100.000 até 1:250.000 para o planejamento geral, sempre levando em conta o tamanho do corredor (SANTOS, 2004:48).

Em relação com a sua configuração, não há formas pré-estabelecidas ou arranjos espaciais específicos, pois o grau de alteração dos ecossistemas e a dinâmica do desenvolvimento são os que normalmente modelam o formato do corredor (SANDERSON et al., 2003:23).

Quanto à escala temporal, o trabalho no formato do corredor deve ser pensado no longo prazo. O corredor deve permanecer além da vida de um projeto, que usualmente é de cinco anos. Assim, o horizonte temporal do planejamento do corredor deve ser como mínimo de 10 anos, e idealmente de 20 anos. Contudo, será inevitável que algumas metas requeiram de modificações ou adaptações no caminho para alcançá-las.

Também se deve considerar que cada um dos componentes do corredor tem entendimentos diferenciados do tempo. O tempo para os comunitários e populações tradicionais e indígenas corre em outra velocidade e os ritmos das comunidades devem ser respeitados.

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11 O Processo de Integração dos Atores SociaisO envolvimento e a participação dos diferentes grupos sociais são elementos

importantes que influenciam na capacidade de gestão do território quando se trabalha no formato de corredor e, consequentemente, também influenciam no grau de exeqüibilidade das ações. O corredor não deve ser considerado como de responsabilidade exclusiva do grupo inicial de pessoas. De nada serve desenhar um corredor de grande tamanho com pouco envolvimento e participação social, onde apenas uns poucos envolvidos implementarão ações. A eficácia do corredor na consecução dos seus objetivos está diretamente influenciada pela participação social dos grupos diretamente atingidos.

Portanto, a partir da primeira formulação da proposta de corredor se deve iniciar um processo de integração de todos os atores sociais que culminará com a formação do Comitê do corredor. Entretanto, muitos atores sociais, principalmente os grupos mais vulneráveis, costumam estar excluídos do processo de gestão territorial, mesmo quando a gestão é do território deles, pelo que esse processo de integração deve também estar inicialmente comprometido com o fortalecimento e a institucionalização legítima dos grupos mais vulneráveis.

A integração dos atores sociais deve ser feita de forma gradual, aumentando o número de alianças em cada fase do ciclo de gestão. O processo de integração social dependerá da fase do corredor e de suas peculiaridades:

Na fase da constituição inicial do corredor, se devem orientar ações à identificação e caracterização dos atores sociais mais importantes e ao levantamento dos foros já constituídos e mais utilizados nessa área.

Na fase do planejamento, se deve aprofundar no conhecimento e caracterização desses grupos e iniciar sua mobilização para participarem efetivamente da gestão do corredor; mas ao mesmo tempo em que se planeja, se devem iniciar atividades de fortalecimento e apoio à organização dos grupos sociais mais vulneráveis.

Após a instituição do Comitê de gestão do corredor, a capacitação contínua e o fortalecimento organizacional devem ser considerados em todo momento para que o Comitê funcione efetivamente.

Por outro lado, a maioria dos diferentes atores envolvidos com o corredor são partes coletivas, pelo que necessariamente se deverá trabalhar a legitimidade dos representantes dos diferentes grupos.

Durante a implementação do Comitê, deve ser promovida a socialização de resultados para a efetiva participação e controle social.

A informação, a comunicação, a transparência, a participação e o trabalho em redes descritos no item do marco conceitual do corredor são elementos fundamentais dentro do processo de integração dos atores sociais, que devem perpassar todas as fases do ciclo de gestão do corredor. A consolidação do corredor deve ser um processo de inclusão onde se incentive um ambiente de confiança entre todos os grupos sociais em prol dos objetivos do corredor.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

12 As Condições Mínimas de PartidaNo final desta fase, as condições mínimas necessárias para a próxima fase do

planejamento são:

O Grupo de Trabalho Inicial já organizado e com uma dinâmica própria de trabalho.

Os limites do corredor identificados preliminarmente e acordados com os principais atores.

Alianças constituídas com alguns setores da sociedade e com algumas instituições.

Constituição do banco de dados do corredor.

Existência de linhas de financiamento específicas para o corredor, ou fundos específicos.

Ações já definidas para a mobilização dos atores importantes e ausentes do processo de construção do corredor.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

ApresentaçãoNesta parte do documento, apresenta-

se a metodologia para elaborar o planejamento do corredor. Inicialmente, se oferece um embasamento teórico analisando-se o papel do planejamento no Corredor e suas características ideais.

A análise do papel do planejamento no corredor é necessária para assentar um entendimento comum sobre o que se pretende conseguir no final do processo do planejamento e para que vai servir. As características idéias do planejamento são discutidas quanto às dimensões do planejamento, o método a ser aplicado e a forma de realizar o diagnóstico do corredor.

Após esse embasamento, são abordadas as diferentes etapas do planejamento, descrevendo-se os passos necessários dentro de cada uma. O produto desse processo será um Plano de Gestão do Corredor, cujo conteúdo é apresentado nesta parte do documento.

Por último, ainda será necessário avaliar a necessidade de priorizar áreas e/ou

temas estratégicos dentro do corredor. As intervenções dentro do corredor poderão ser iniciadas em áreas prioritárias onde se concentrem os recursos humanos e financeiros. Também, as intervenções poderão acontecer em todo o corredor, priorizando-se certas temáticas identificadas como emergenciais.

Parte III:Planejamento

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Tópicos:

Que Entendemos por Planejamento do Corredor?As Características Ideais do PlanejamentoAs Dimensões do PlanejamentoO Método de Planejamento a ser

Aplicado no CorredorO Diagnóstico do Corredor

As Etapas do PlanejamentoOrganização do PlanejamentoDiagnóstico do CorredorIntegração e Avaliação

Estratégica da InformaçãoIdentificação das Diretrizes para

o FuturoDetalhamento da EstratégiaAprovação do Plano

Conteúdo do Plano de GestãoA Priorização para o Trabalho no

Corredor

Roteiro Metodológico para

a Gestão de Corredores

Parte I:Marco

Conceitual

Parte II: Constituição

Parte III: Planejamento

Parte IV: Implementaçã

o

Parte V: Monitoramento e Avaliação

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

13 O Que Entendemos por Planejamento do Corredor?21

O planejamento é uma fase essencial dentro ciclo de gestão adaptativa, pois é quando se estabelecem os objetivos que se desejam alcançar com o corredor e as estratégias para atingi-los.

O corredor como espaço de gestão ambiental integrada precisa de um senso de unidade, direção e propósito, de forma que todos os atores sociais caminhem de forma coordenada, na mesma direção e com os mesmos objetivos. Por conseguinte, o planejamento do corredor deve ser concebido como um processo onde as diferentes partes envolvidas construam a visão desejada para o futuro e as estratégias e ações para sua concretização.

O produto do processo do planejamento é um Plano de Gestão que representará a concordância de vontades para um determinado fim. O plano deverá apresentar um conjunto coerente de grandes prioridades e de decisões que orientarão a construção do futuro do corredor em um horizonte de longo prazo.

Durante esse processo, os planejadores deverão buscar a convergência de esforços e atuar como os catalisadores de outros processos que estejam acontecendo dentro do corredor, originando e ativando reações positivas ou minimizando os aspectos negativos. Ao mesmo tempo, os planejadores deverão atuar como os canalizadores de ações e recursos financeiros na direção pretendida. As ações e as iniciativas em andamento que sejam relevantes para o desenvolvimento local deverão ser articuladas de forma que exista uma racionalidade central das decisões nesse espaço geográfico.

De forma complementar, o processo de planejamento do corredor também deverá influenciar as políticas e programas públicos em andamento ou previstos para a construção de vantagens competitivas, garantir a credibilidade da estratégia no longo prazo, constituir as alianças necessárias em prol da implementação do plano e promover a resolução ou minimização dos conflitos existentes (ou, ao menos iniciar o processo para isso).

14 As Características Ideais do Planejamento do Corredor14.1 As Dimensões do Planejamento

Em todo planejamento, as peculiaridades do que se está planejando influenciam diretamente sobre a metodologia a ser utilizada e a abrangência espacial, temporal, temática e de envolvimento.

O corredor é um espaço onde é necessário realizar uma gestão ambiental com uma visão sistêmica do território e de forma participativa, com a integração e o compromisso das diferentes partes envolvidas e o pleno engajamento da sociedade. Portanto, devido às particularidades dos corredores como unidades de gestão territorial, o planejamento deve integrar quatro dimensões, considerando os aspectos bio-físicos e ecológicos, sócio-econômicos, antropológicos, político-institucionais e econômico-financeiros.

21 Adaptado de CASES (2005).

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

A dimensão bio-física e ecológica é indispensável, pois os corredores surgem pela necessidade de garantir ou restaurar a conectividade, compreendendo uma gradação de hábitats desde mais intactos a menos intactos.

A dimensão sócio-econômica também é fundamental, visto que no seu interior ocorrem diferentes usos do território, desde proteção integral até usos agrícolas, extrativistas, pecuários e outros, inclusive outros mais impactantes. Os corredores são habitados por populações que, na maioria dos casos e principalmente na região amazônica, se caracterizam pela dependência direta dos recursos naturais para sua manutenção e pela sua exclusão do gozo dos direitos fundamentais, indispensáveis para uma existência digna. Populações excluídas dos bens e serviços sociais não poderão manter por longo prazo seu compromisso com os objetivos de conservação.

A dimensão antropológica é necessária porque os corredores estão constituídos por Terras Indígenas e Terras Quilombolas e existem também outros povos e comunidades tradicionais no seu interior, com populações de diversas origens étnicas e diferentes graus de relações com a sociedade moderna e níveis de integração com as instituições. Existem ações em andamento de apoio aos povos indígenas e quilombolas e a outros povos e comunidades tradicionais e sistemas específicos de educação e saúde que é preciso considerar, trabalhando com as organizações sociais quando existirem, ou com os antropólogos e organizações que acompanham as populações em questão, para facilitar a comunicação intercultural e garantir participação e controle social.

A dimensão político-institucional não pode ser dispensada, pois a espinha dorsal dos corredores está constituída por unidades de conservação e terras indígenas, legalmente instituídas; além disso, é necessário que exista efetivamente a coordenação e cooperação de atividades entre instituições dos três níveis governamentais e com as não-governamentais. No âmbito do corredor podemos encontrar uma complexa malha institucional de competências e esferas (já que existem alguns assuntos que são tratados pelos três níveis governamentais, como meio ambiente, questões indígenas, produção rural, dentre outros) sem que se perceba uma melhora na eficiência das ações. E, ao mesmo tempo, não existe uma atuação palpável in loco das instituições, pois apesar do esforço de algumas para executar um trabalho nas pontas, são poucas as que realmente chegam à escala de comunidade.

Por último, se vislumbra na estratégia de corredores uma aparente oposição entre desenvolvimento e conservação, que dificulta ou impede o engajamento de muitos setores da sociedade por desconfiança na proposta. A pesar do aparente esquecimento institucional nesses espaços, os corredores estão inseridos em um contexto econômico onde se encontram projetos de desenvolvimento na escala macroeconômica, que surgem de cima para baixo e não deixam lucros líquidos no local. Portanto, a dimensão econômico-financeira do planejamento tem a função de envolver os principais agentes econômicos, impor um viés ambiental nos projetos de desenvolvimento e buscar medidas de compensação econômica adaptadas à realidade. É necessário também entender o manejo dos ecossistemas no contexto econômico para reduzir as distorções do mercado que afetam negativamente a diversidade biológica (SEPHERD, 2005).

Conseqüentemente, o planejamento do corredor deve examinar e ponderar cada uma dessas dimensões e suas inter-relações. Caso o faça de forma parcial, o aspecto desconsiderado limitará a consecução dos objetivos propostos.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

14.2 O Método de Planejamento a ser Aplicado no Corredor

A complexidade do corredor, a abordagem multidimensional, a velocidade das transformações e a escala temporal indicam o planejamento estratégico como o mais apropriado para os corredores, entre os diferentes métodos existentes. As características do planejamento estratégico que justificam sua escolha são (adaptado de SILVA, 2003:67):

a visão de longo prazo;

a visão sistêmica e multidisciplinar da realidade;

a identificação e promoção das vantagens competitivas;

uma maior flexibilidade de decisão;

a concentração nos temas críticos e nas oportunidades e problemas;

a participação dos principais envolvidos.

Entretanto, em algumas ocasiões, é necessário complementar o planejamento estratégico com outras técnicas para adaptar-se ao objeto do planejamento. No caso dos corredores, o planejamento estratégico precisa ser complementado na análise da situação inicial para incorporar a dimensão bio-física e ecológica; e no momento da escolha das possibilidades futuras, mediante a utilização dos cenários do planejamento prospectivo, para incorporar as variáveis da dimensão sócio-econômica e político-institucional.

O planejamento estratégico também precisa incorporar em diferentes momentos elementos das técnicas de resolução de conflitos para solucionar de forma profissional e metódica as divergências que não possam ser ignoradas.

14.3 O Diagnóstico do Corredor22

A identificação da situação de partida ou diagnóstico do corredor serve para explicar a realidade, compreender como funciona, quais são as suas limitações e seus recursos, e refletir sobre tudo isso, para poder ser realista no momento de identificar onde queremos chegar e embasar as decisões de gestão.

O diagnóstico não deve ser realizado na forma do planejamento tradicional. O diagnóstico tradicional precisa do conhecimento profundo da realidade para realizar um planejamento determinista; no entanto, o planejamento estratégico caracteriza-se por saber lidar com a incerteza. Para ele, até a ausência de informação é uma fonte valiosa de informação, não sendo motivo suficiente para paralisar a ação. Portanto, não se trata de conhecer profundamente a realidade em todos os seus aspectos. Não se deve realizar o diagnóstico apenas para saber por saber e sim para embasar onde queremos chegar, focalizando no papel do planejamento nos corredores.

O primeiro problema na hora de realizar o diagnóstico inicial está em decidir que temas devem ser abordados e em que profundidade. Quanto maior seja o aprofundamento no diagnóstico, mais cara será a elaboração do plano e mais tempo levará. Portanto, a

22 Adaptado de CASES (2005).

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solução está em identificar o que é estratégico para embasar a gestão, levando sempre em conta a gestão adaptativa e os princípios do enfoque ecossistêmico.

Considerando a função vital do corredor, o diagnóstico deverá ser orientado sob o enfoque da ecologia da paisagem. Sob esta ótica, o corredor deverá ser analisado em três aspectos (SANTOS, 2004):

Sua estrutura, considerando os padrões e as relações de distribuição entre elementos espaciais: o número, o tamanho, a forma e a distância dos fragmentos, o tipo do elemento, o padrão de distribuição espacial dos elementos, a heterogeneidade de usos, a conectividade, a longitude de barreiras (estradas e outros), o número de conexões, entre os elementos;

Sua função, em relação aos fluxos de espécies, energia e matéria entre esses elementos espaciais; e,

As mudanças na paisagem, considerando as alterações da sua estrutura e função através do tempo, principalmente a variação qualitativa e quantitativa do uso e ocupação ao longo do tempo.

Além desse enfoque da paisagem, também é estratégico para a gestão do corredor considerar:

A relevância ecológica ou significância do corredor, principalmente quanto a sua integridade, diversidade, vulnerabilidade, endemismos, espécies ameaçadas, representatividade, raridade, unicidade e outros valores naturais, sociais, culturais e econômicos.

As pressões ou ameaças sobre os recursos naturais e culturais que nele ocorrem, identificando sua localização, os agentes, sua importância e sua intensidade.

Os atores sociais do corredor, reconhecendo suas atribuições e papéis, suas potencialidades, suas limitações, suas expectativas e seus temores.

A sócio-economia do corredor, salientando a análise de gênero, étnica e etária.

As políticas públicas e projetos privados.

A forma como essas informações serão coletadas dependerá das características dos corredores. Contudo, os diagnósticos rápidos (Avaliação Ecológica Rápida e os Diagnósticos Participativos), combinados com sistemas de informação geográfica, são metodologias que permitem ter um conhecimento expedito das características do corredor.

Na escolha das informações a serem levantadas, recomenda-se:

Dar prioridade às informações que vão ter uma aplicação específica e imediata.

Considerar, de forma justa, a experiência e o conhecimento das populações locais.

Considerar a geopolítica do local.

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15 As Etapas do PlanejamentoCom essas diretrizes, agora serão descritas de forma geral as etapas do processo

do planejamento e os elementos essenciais de cada uma delas. Esses elementos são considerados como indispensáveis para a realização do planejamento, a pesar de que a metodologia estratégica possa considerar outros elementos adicionais dentro de seu escopo. Aqui serão colocadas apenas as orientações básicas, salientando que, na prática, esses elementos devem ajustar-se às características de cada corredor em questão.

O planejamento será deslanchado pelo Grupo Inicial de Trabalho, que formará uma Equipe de Planejamento. As etapas do processo são:

Organização do Planejamento

Diagnóstico do Corredor

Integração e Avaliação estratégica da informação

Identificação das Diretrizes para o Futuro

Detalhamento da Estratégia

Aprovação do Plano

15.1 Organização do Planejamento

O processo de planejamento deve iniciar-se com o detalhamento e a concretização das diferentes etapas aqui propostas para o caso específico de cada corredor. Em todo momento, deve considerar-se a especificidade local para adaptar as etapas e atividades descritas, detalhando cada uma delas. Esta etapa será desenvolvida mediante os seguintes passos:

Constituir a Equipe de Planejamento.

Levantar os estudos pré-existentes sobre o corredor, inclusive os instrumentos de ordenamento territorial disponíveis.

Definir como e quando vão ser realizados o envolvimento e a participação dos diferentes atores sociais.

Elaborar o Cronograma de Trabalho.

O Cronograma de Trabalho deve conter todas as atividades e sub-atividades necessárias para o planejamento, com indicação dos responsáveis, custos e tempo de execução.

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15.2 Diagnóstico do Corredor

O diagnóstico do corredor será realizado preferencialmente pelas instituições de pesquisa e universidades existentes dentro do corredor mediante acordos de cooperação, como fruto das primeiras alianças constituídas.

Os levantamentos que sejam realizados devem estar orientados ao embasamento das decisões que devem ser tomadas para que o corredor atinja os seus objetivos. As atividades desta etapa são:

Complementar a base cartográfica e banco de imagens do corredor.

Realizar os estudos referentes à estrutura, função e mudanças da paisagem.

Os estudos referentes à estrutura da paisagem devem considerar os padrões e as relações de distribuição entre os diferentes elementos espaciais; ou seja:

os tipos de elementos que aparecem na paisagem;

o padrão de distribuição espacial desses elementos

o número de conexões entre os elementos;

o número, o tamanho, a forma e a distância dos fragmentos;

a heterogeneidade de usos;

a longitude de barreiras (estradas e outros), etc.

Os estudos referentes à função da paisagem abordam os fluxos de espécies, energia e matéria entre esses elementos espaciais.

Os estudos relativos às mudanças na paisagem devem considerar as alterações da sua estrutura e função através do tempo, principalmente a variação qualitativa e quantitativa do uso e ocupação ao longo do tempo e o efeito de borda (SANTOS, 2004:142-147).

Aprofundar a análise dos atores sociais.

Na fase de estabelecimento do corredor foram identificados os principais atores sociais. Agora deve-se ampliar o levantamento sobre os atores sociais e aprofundar sua caracterização, reconhecendo:

suas atribuições e papéis;

suas potencialidades;

suas limitações;

suas expectativas;

seus temores;

os efeitos do corredor sobre cada ator e os efeitos de cada ator sobre o corredor (MORALES et al., 1999).

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Realizar a análise das pressões sobre o corredor.

As pressões ou ameaças sobre os recursos naturais e culturais que ocorrem no corredor serão identificadas em oficinas com os principais atores sociais, identificando sua localização (onde?), os agentes (quem?), sua importância e sua intensidade (alta-média-baixa). Essas informações serão processadas no formato de mapa e de tabela.

Realizar os levantamentos sócio-econômicos.

O levantamento sócio-econômico deverá considerar indicadores que realmente representem a realidade local. Deverá contemplar os seguintes temas, salientando a análise de gênero, étnica e etária:

Aspectos demográficos (núcleos populacionais, migração, taxas de crescimento populacional, estrutura da população, distribuição e densidade populacional, etnias);

Índice de Desenvolvimento Humano;

Existência de serviços públicos (saúde, água, luz, saneamento básico);

Aspectos econômicos (atividades produtivas ou de serviços, com quantificação da produção, quando possível), incluindo a análise das tendências econômicas;

Formas de ocupação do solo e apropriação dos recursos naturais;

Aspectos culturais (atitudes e valores, aspectos étnicos, sítios e valores de relevância histórica e cultural, percepção das populações a respeito do meio).

Identificar a dominialidade federal, estadual, municipal e privada dentro do corredor.

Inicialmente, a classificação das terras de acordo com a sua propriedade federal, estadual, municipal e privada já oferece suficiente informação para o planejamento. Caso exista informação consistente sobre o cadastro da propriedade particular, também se deverá considerar no planejamento.

Levantar os projetos governamentais e privados em andamento e em planejamento.

Realizar reuniões com as lideranças locais.

Realizar reuniões e visitas com todos os usuários e interessados.

Compilar todas as informações e dados gerados nesta etapa em um documento preliminar.

15.3 Integração e Avaliação Estratégica da Informação

Agora deve realizar-se a integração e a avaliação estratégica de toda a informação obtida durante o diagnóstico. A avaliação estratégica possibilita a percepção das relações de interdependência entre os diferentes aspectos identificados no diagnóstico. Porém, salienta-se que o diagnóstico está fundamentado em dados e informações que possuem limitações e, portanto, a informação deve ser avaliada seguindo a abordagem da gestão adaptativa.

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Como resultado desta etapa, serão identificados os valores naturais, sociais, culturais e econômicos do corredor, sua Matriz de Debilidades, Ameaças, Fortaleças e Oportunidades e sua Missão. Também, se devem avaliar os limites do corredor à luz de todas as informações disponíveis. As principais atividades desta etapa são:

Produzir um ou vários mapas-síntese com todas as informações que podem ser mapeadas.

O mapa-síntese será elaborado pela Equipe de Planejamento mediante a sobreposição dos diversos temas levantados durante o diagnóstico.

Realizar Reuniões Técnicas com especialistas para identificar os valores naturais, sociais, culturais e econômicos do corredor.

Os especialistas deverão ser conclusivos quanto a sua integridade, diversidade, vulnerabilidade, endemismos, espécies ameaçadas, representatividade, raridade, unicidade, potencial econômico, etc., dentre outros critérios para destacar os valores naturais, sociais, culturais e econômicos do corredor.

Elaborar a Matriz FOFA mediante oficinas com os principais envolvidos.

A avaliação estratégica do corredor considera a análise dos seus pontos positivos e negativos, que se expressam na forma de fraquezas ou debilidades, oportunidades, fortalezas e ameaças (Matriz FOFA ou DAFO23). As debilidades e as fortalezas são as variáveis intrínsecas ao corredor e controláveis; as primeiras provocam uma situação desfavorável e as segundas uma situação favorável ao corredor. As ameaças e as oportunidades são as variáveis externas ao corredor e não controláveis; as primeiras podem criar condições desfavoráveis e as segundas condições favoráveis para o corredor.

Os pontos positivos e negativos identificados também se podem ponderar de acordo com diversos critérios, como gravidade, urgência ou tendência; ou pode ser realizada uma avaliação mais completa, mapeando e interpretando as interações entre oportunidades e ameaças frente às forças e debilidades para visualizar os efeitos do conjunto. Desta forma, é possível identificar as oportunidades mais acessíveis, as ameaças com maior potencial de impacto, as forças mais atuantes e as debilidades mais prejudiciais (Adaptado de OLIVEIRA, 2001).

MATRIZ DAFO

DEBILIDADES OU FRAQUEZASCondições ou características intrínsecas ao

corredor que dificultarão sua gestão?

AMEAÇAS OU PROBLEMASSituações, tendências ou fatos externos ao corredor

que podem prejudicar sua gestão?

FORÇASCondições ou características próprias do

corredor que contribuirão ou auxiliarão em sua gestão?

OPORTUNIDADESSituações, tendências ou fatos externos ao corredor

que podem contribuir e auxiliar em sua gestão?

23 A matriz FOFA é uma ferramenta do planejamento estratégico utilizada para analisar o estado atual de uma organização. Consiste na análise do ambiente interno e externo dessa organização para identificar quais são os fatores positivos, negativos, internos e externos que favorecem ou prejudicam na consecução dos seus objetivos. Esses fatores são denominados de forças (positivo e interno), oportunidades (positivo e externo), fraquezas ou debilidades (negativo e interno) e ameaças (negativo e externo). As iniciais desses fatores formam o nome da matriz FOFA ou DAFO.

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Avaliar os limites do corredor.

Com as informações levantadas, devem-se avaliar os limites preliminares do corredor, analisando a pertinência dos critérios previamente estabelecidos e considerando outros novos, se for o caso.

Realizar Reuniões Técnicas para identificar a Missão do Corredor.

A missão expressa para que serve o corredor, ou seja, qual a razão de sua existência, sua utilidade ou propósito para o longo prazo. A missão exerce uma função orientadora e delimitadora das ações. Deve-ser identificada com base nas características distintivas do corredor e na integração de todas as informações temáticas do diagnóstico.

A missão pode estar relacionada com (INRENA, 2005:53):

Comunidades ecológicas: Agrupações de espécies que se localizam juntas na paisagem (p.ex. associações vegetais).

Conjuntos especiais de comunidades ecológicas, os quais podem ser comunidades que conformam uma paisagem; estejam vinculados mediante processos ecológicos ou gradientes ambientais; ou, formem uma unidade robusta, coesiva e distinguível.

Espécies: Espécies nativas e/ou ameaçadas, de importância especial; espécies focais (guarda-chuvas); agrupações de espécies e espécies de importância global (espécies bandeira).

Agro-ecossistemas: Plantas nativas cultivadas, espaços de aplicação de conhecimentos tradicionais do uso do solo compatíveis com a conservação, formas tradicionais de apropriação dos recursos naturais, etc.

Unidades integradas da paisagem: uma integração desde o natural e o cultural pela significância de seus componentes, pela interação entre os mesmos ou pela conectividade dessa paisagem com outras.

Formações geológicas singulares.

Patrimônio cultural: Restos arqueológicos, Sítios sagrados ou Patrimônio cultural vivo.

Todos os resultados da avaliação estratégica serão incorporados ao documento preliminar.

15.4 Identificação das Diretrizes para o Futuro

As diretrizes para o ordenamento do corredor serão estabelecidas mediante sua visão de futuro, os seus objetivos estratégicos e os resultados. Para identificar onde queremos chegar com o corredor, se integrará a técnica prospectiva de cenários com o conceito estratégico de “Visão de Futuro”. Ambas as ferramentas se complementam na concepção do futuro, pois mediante os cenários se cria uma visão de futuro de forma técnica e normativa, para depois incorporar os valores sociais e as aspirações da sociedade.

Caso a construção de cenários seja muito complexa devido às características do corredor, se poderão trabalhar apenas os aspectos da temporalidade que mais afetam ao corredor.

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Aplicar a técnica de construção de cenários futuros

No primeiro momento, a Equipe de Planejamento elaborará os cenários futuros do corredor, levando em consideração os valores do corredor, o mapa de pressões, a análise de atores e a matriz DAFO. Para isso, são realizadas simulações de tendências baseadas em supostos coerentes, como projeção de tendências históricas, as quais são analisadas por métodos como a análise de tendência de impacto, a análise do impacto integrativo, Delphi, etc. (OLIVEIRA, 2001; OLIVEIRA, 1991). Desta forma, são gerados três tipos de cenários, o pessimista ou negativo, o otimista ou positivo e o médio, e são avaliadas as implicações.

Discutir os cenários futuros ou trabalhar com temporalidade em Oficinas e identificar a Visão de Futuro

Os cenários futuros serão apresentados e discutidos em reuniões públicas ou oficinas para incorporar o componente valorativo dos diferentes atores sociais do corredor e construir a Visão de Futuro. Caso seja utilizada a técnica da temporalidade, se deve construir com esses atores uma imagem do corredor em três momentos diferentes: no passado (onde estávamos?), no presente (onde estamos?) e no futuro (onde queremos chegar?).

A visão de futuro é a imagem de como queremos que o corredor seja em 20 anos, o sonho ou desejo que se deseja atingir. É o cenário desejado no longo prazo, onde devem convergir objetivos e estratégias de conservação, desenvolvimento sustentável local e distribuição eqüitativa de bens e serviços ambientais. É um estado futuro ideal e representa o ápice do desenvolvimento do corredor. Deve construir-se como uma declaração que defina a percepção do que os principais atores do corredor querem que o corredor chegue a ser.

No planejamento estratégico, defende-se que a visão de futuro é importante não tanto pelo seu conteúdo e o que dispõe, mas pelo seu processo de elaboração e envolvimento com todos os atores sociais. A elaboração da visão de futuro deve ser um processo carregado de emoção, considerando os valores e anseios de quem a está formulando. A visão deve tocar as pessoas em diferentes apelos quanto ao senso de realização e de compromisso e à habilidade de contribuir para alcançar os objetivos. A visão de futuro deve possuir um aspecto visionário e utópico para inspirar e motivar as pessoas a realizar as ações necessárias. A visão de futuro deve ser o suficientemente elevada e genérica para contemplar todos os envolvidos e grupos de interesse num sentido compartilhado do futuro desejado (Adaptado de CHIAVENATO e SAPIRO, 2003:64-69).

Realizar Reuniões Técnicas para definição dos objetivos estratégicos e resultados.

A Equipe de Planejamento realizará reuniões técnicas para definir os objetivos estratégicos e resultados. Os objetivos estratégicos são identificados a partir dos valores do corredor, as pressões sobre os recursos naturais, a análise de atores e dos aspectos culturais e a matriz DAFO. Os objetivos estratégicos são as diferentes macro-transformações que se pretendem alcançar para atingir a visão de futuro do corredor. Os objetivos estratégicos serão desdobrados em resultados.

15.5 Detalhamento da Estratégia

Uma vez formulada a estratégia do corredor no longo prazo, mediante sua Visão de Futuro, seus objetivos estratégicos e seus resultados, é necessário detalhar como vai ser

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atingida. Para isso, a Equipe de Planejamento definirá as metas que se necessitam alcançar em cada qüinqüênio para cada resultado e, posteriormente, as atividades do primeiro qüinqüênio.

Realizar Reuniões Técnicas para o estabelecimento das metas.

A Equipe de Planejamento desdobrará os resultados em metas a serem atingidas a cada 5 anos, utilizando o formato da seguinte tabela:

Tabela 1: Tabela de metas

Estratégia Metas para o 1º qüinqüênio

Metas para o 2º qüinqüênio

Metas para o 3º qüinqüênio

Metas para o 4º qüinqüênio

Objetivo estratégico 1:

Resultado 1.1:

Resultado 1.2:

...

Resultado 1.n:

     

Objetivo estratégico 2:

Resultado 2.1:

Resultado 2.2:

...

Resultado 2.n:

...

Objetivo estratégico n:

Resultado n.1:

Resultado n.2:

...

Resultado n.n:

   

Essas metas são a base para o monitoramento e avaliação do avanço da implementação do Plano (monitoramento de desempenho). As metas identificadas pela Equipe de Planejamento poderão ser discutidas com os principais envolvidos na elaboração do plano, ou por setores, discutindo cada grupo de metas com os relacionados diretamente com elas.

Identificar as atividades que necessitam ser implementadas nos cinco primeiros anos.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

A Equipe de Planejamento estabelecerá as atividades que serão implementadas nos cinco primeiros anos da implementação para a concretização das metas, identificando os principais responsáveis e as formas de implementação.

Organizar os objetivos, resultados e atividades em Programas e Projetos.

A estrutura em programas e projetos é muito aconselhável para os corredores, pois permite que cada programa seja executado pela instituição competente ou, ainda, que projetos de um mesmo programa sejam apresentados a diferentes instituições financiadoras, de acordo com as linhas de financiamento disponíveis, ou sejam executados em parcerias com organizações não-governamentais.

Assim, o planejamento do corredor deverá ter uma estrutura similar à seguinte figura:

Figura 5: Estrutura do planejamento do corredor.

Identificar os procedimentos para o monitoramento do desempenho do Plano.

O monitoramento do desempenho consiste na verificação do grau de cumprimento das metas do Plano. O monitoramento do Plano deverá ser realizado periodicamente em cada qüinqüênio, confrontando os resultados do desempenho com a efetividade da estratégia.

15.6 Aprovação do Plano

Compilar o documento preliminar do Plano de Gestão.

Submeter a versão preliminar do Plano ao Comitê de Gestão do corredor.

Enviar formalmente a versão preliminar do Plano às Secretarias Estaduais e outras instituições.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

O Plano deverá ser enviado oficialmente às diferentes Secretarias Estaduais e instituições com competências nas ações incluídas para parecer.

Apresentar o Plano em consulta pública.

Incluir as recomendações recebidas.

Apresentar a versão final do Plano ao Comitê de Gestão

Encaminhar a versão final do Plano ao Governador(a), Presidente(a) do IBAMA e Ministro(a) de Meio Ambiente.

16 O Conteúdo do Plano de GestãoDe acordo com esta proposta, o conteúdo mínimo do Plano de Gestão será:

1 Introdução

2 Descrição do Corredor

2.1 Panorama geral dos limites do Corredor

2.2 Unidades de Conservação

2.3 Terras Indígenas

2.4 Terras Quilombolas

2.5 Áreas de interstício

3 Diagnóstico do Corredor

3.1 Aspectos estruturais e funcionais da conectividade no Corredor

3.2 Relevância ecológica, social, cultural e econômica do Corredor

3.3 Pressões e ameaças do Corredor

3.4 Principais atores sociais do Corredor

3.5 Aspectos sócio-econômicos do Corredor

3.6 Políticas públicas e projetos privados no Corredor

4 Planejamento estratégico do Corredor

4.1 Breve descrição do processo do planejamento

4.2 Missão e Visão de Futuro do Corredor

4.3 Objetivos estratégicos e resultados

4.4 Metas para os próximos 5 anos

4.5 Programas e Projetos

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

5 Monitoramento e Avaliação do Plano

REFERÊNCIAS

ANEXOS

17 A Priorização para o Trabalho no CorredorApesar dos benefícios que podem sobrevir do trabalho no formato de corredor,

existem muitos desafios que devem ser enfrentados na sua gestão, pois se está tentando harmonizar múltiplas variáveis da conservação, do desenvolvimento sustentável e da distribuição eqüitativa dos bens e serviços ambientais, o que não é simples. Ante esse desafio, a priorização dentro do corredor se apresenta como uma estratégia cautelosa para garantir o sucesso de forma paulatina, e, inclusive, como forma de ganhar experiência na gestão do corredor.

A priorização dentro do corredor pode ser espacial, temática ou temporal, ou, ainda, uma combinação de todas elas:

A priorização espacial privilegiará áreas-piloto, escolhidas conforme a critérios previamente definidos, onde serão iniciadas as atividades.

A priorização temática privilegiará a implementação de certas atividades, as quais acontecerão ao longo de todo o corredor, por exemplo, atividades extrativas, de capacitação, manejo florestal, pesca, etc.

A priorização temporal recortará a implementação em fases ou etapas, avançando gradativamente na implementação do corredor.

A priorização mista combina ambos os critérios, identificando-se certas áreas onde apenas se implementarão os temas previamente escolhidos.

Em casos especiais, recomenda-se a realização de um zoneamento ecológico-econômico no interior do corredor, ainda que não existam corredores no Brasil que tenham realizado o seu zoneamento. Salienta-se que o zoneamento é apenas uma das ferramentas de ordenamento territorial que podem ser utilizadas para a priorização espacial, mas podem ser usadas outras.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

ApresentaçãoA Parte IV trata sobre a implementação dos

corredores. A implementação do corredor consiste na realização de determinadas ações para levar à prática esse conceito. Certamente, a implementação do corredor acontecerá principalmente mediante a execução do seu planejamento, mas também existem outras possibilidades para sua efetivação quando não existam os recursos para o seu planejamento ou este seja muito demorado.

Primeiramente, serão realizadas algumas considerações gerais sobre a implementação. Depois, salienta-se a necessidade de iniciar a implementação do corredor ao mesmo tempo em que se realiza o seu planejamento, pois durante esse processo ele não se mantém estático, sendo necessário realizar certas intervenções de forma paralela ao planejamento.

Uma vez realizado o planejamento, os corredores são implementados mediante a execução dos projetos que foram planejados, a articulação inter-institucional e a coordenação da atuação “corrente” de cada instituição.

Por último, serão comentados alguns fatores-chave para o sucesso da implementação.

Roteiro Metodológico para

a Gestão de Corredores

Parte I:Marco

Conceitual

Parte II: Constituição

Parte III: Planejamento

Parte IV: Implementação

Parte V: Monitorament

o da Efetividade

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Tópicos:

O Que Entendemos por Implementação do Corredor?As Formas de Implementação dos CorredoresA Implementação de Forma

Paralela ao PlanejamentoA Implementação Mediante

ProjetosA Implementação Mediante a

Articulação Inter-institucional

A Atuação de cada Instituição de forma Coordenada

Recomendações para o Sucesso da Implementação

Parte IV:Implementaçã

o

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

18 O Que Entendemos por Implementação do Corredor?A implementação do Corredor é entendida desde dois pontos de vista, de acordo

com as duas acepções do termo24:

de forma geral, é empregado para considerar todas as providências necessárias para levar à prática a idéia de corredor; e,

de forma mais específica, é utilizado para referir-se à implementação do Plano de Gestão do corredor.

A implementação do corredor, portanto, não se limita apenas à execução do seu Plano de Gestão, já que também há a necessidade de executar outras ações concretas de articulação, coordenação e mobilização não contempladas no planejamento.

A percepção de que existem outras formas alternativas de implementação do conceito de corredor permite que não se fique parado na ausência do planejamento, o qual, ainda que importante, requer muitos recursos humanos e materiais. Quando não há um planejamento formal, recomenda-se a realização de planejamentos simplificados para orientar a priorização das providências que devem ser tomadas, de forma emergencial.

De qualquer forma, o planejamento do corredor não é a condição suficiente para a efetiva implantação do mesmo, pois em muitas ocasiões, os planos elaborados de forma participativa, apresentados às instituições e aprovados não são implementados. Em outras ocasiões, os planos deixam de conseguir os seus objetivos não porque sejam ruins, mas porque são implementados de maneira inadequada. A implementação é a fase mais difícil do ciclo da gestão, mais do que o planejamento, pois consiste em levar à prática as mudanças propostas. Alem disso, quanto mais o plano represente uma mudança radical, mais difícil será sua realização25.

Por outro lado, quanto maior for o corredor, mais difícil será a sua implementação ao aumentar o grau de complexidade natural, social, cultural e institucional. Por conseguinte, quando o tamanho e as características do corredor assim o justifiquem, recomenda-se a divisão espacial do corredor em regiões com certas similaridades naturais, sociais, culturais e de gestão. Em cada região do corredor deverão ser estabelecidas estruturas de gestão no formato de rede ligadas ao Comitê de Gestão do corredor.

24 O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa oferece duas acepções do verbo implementar: “1. Dar execução a (um plano, programa ou projeto). 2. Levar à prática por meio de providências concretas”. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª ed. ver. e aum. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1986.

25 Adaptado de GORMAN (2001:349-350) à gestão de corredores.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

19 As Formas de Implementação dos Corredores19.1 A Implementação de forma Paralela ao Planejamento

Durante o planejamento, os diferentes atores e variáveis que interagem no corredor não ficam estáticos, sendo necessário iniciar algumas atividades básicas de implementação como, por exemplo, a divulgação, a capacitação, a articulação inter-institucional e a coordenação de ações. Também, um dos temas que é sempre considerado nos primeiros estágios dos corredores é a fiscalização, coordenando-se esforços e estabelecendo estratégias conjuntas de atuação e otimização dos recursos humanos e financeiros.

Em qualquer caso, as atividades implementadas de forma paralela ao planejamento devem considerar todas as dimensões do desenvolvimento sustentável (ambiental, econômico e social), pois ainda que não se disponha do plano, não se pode perder a visão integrada ecossistêmica.

19.2 A Implementação mediante Projetos

O formato final do planejamento do corredor é na forma de programas e projetos para facilitar a sua implementação e financiamento. As ações do Plano de Gestão para cada qüinqüênio poderão ser executadas através de um único projeto de financiamento, mas o mais provável é que sejam executadas mediante vários projetos, devido à sua heterogeneidade temática.

Os projetos poderão ser apresentados a diferentes instituições de financiamento de acordo com as prioridades de cada uma. A Secretaria Executiva do corredor deverá tomar providências para apresentar os projetos aos financiadores e canalizar recursos financeiros, nacionais ou internacionais. Os projetos deverão ser acompanhados pelo Comitê de Gestão do corredor.

19.3 A Implementação mediante a Articulação Inter-institucional

A implementação mediante a articulação inter-institucional consiste na ligação ou junção de várias instituições para a atuação conjunta. Com isso, pretende-se otimizar os recursos humanos e financeiros de cada instituição. A articulação inter-institucional é muito recomendada num contexto de escassez e de limitações, pois se somam os meios de cada instituição, minimizando as lacunas de cada um. A articulação inter-institucional é muito utilizada na gestão das unidades de conservação e nas atividades de fiscalização e licenciamento ambiental.

A articulação inter-institucional deve formalizar-se de forma oficial, mediante termos de cooperação, ou mediante simples agendas de trabalho, onde fiquem definidos os papéis da cada uma das partes.

O Comitê de Gestão do corredor detém um papel muito importante na busca de sinergias entre as distintas instituições e na promoção da inserção dos objetivos do corredor nas políticas públicas de planejamento municipais, estaduais e federais. A Secretaria Executiva do corredor deverá incentivar a articulação dos diferentes atores, realizando os papéis de mediadora e facilitadora desses processos. O trabalho em forma de redes sociais também favorece a cooperação e a articulação institucional.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

19.4 A Atuação de cada Instituição de forma Coordenada

Para a implementação do corredor, também é importante que cada instituição desempenhe suas atribuições de forma coordenada com as outras. Na maioria dos corredores já existem organizações não-governamentais que trabalham no corredor ou instituições governamentais que desenvolvem suas atividades conforme a suas competências. Portanto, deve-se realizar um esforço importante de coordenação institucional, tanto setorialmente como entre as diferentes esferas federal, estadual e municipal, para não repetir ações ou, o que é pior, buscar objetivos opostos. A coordenação da atuação corrente de cada instituição também otimiza recursos humanos e financeiros e, aumenta a efetividade da implementação do corredor.

O Comitê de Gestão do corredor também é a figura mais apropriada para buscar a ação coordenada. Assim, a Secretaria Executiva do corredor deve incentivar a coerência e a integração entre as políticas públicas setoriais, entre programas e projetos setoriais e entre os incentivos fiscais e a conservação, principalmente.

20 Recomendações para o Sucesso da ImplementaçãoPara aumentar as possibilidades de sucesso, recomenda-se focar nos fatores-

chave da implementação que estão aqui descritos. Embora não possam ser considerados como a garantia absoluta de sucesso, devem ser realizados esforços para incorporá-los nas estruturas de gestão dos corredores e na sua própria dinâmica. Os fatores-chave de sucesso que devem ser considerados são26:

O corredor deve ser considerado no longo prazo.

O corredor não deve ser considerado como um projeto, que tem começo, meio e fim; o corredor deve ser considerado como um modelo de desenvolvimento para o futuro. Infelizmente, a tendência é que existam projetos específicos para o estabelecimento ou o planejamento do corredor e após o término desses projetos parece como se o corredor também terminasse. Deve ficar claro para todos que o corredor deve perpetuar-se após a vida dos projetos que são implantados. Os projetos específicos apenas contribuem com a operacionalização das metas que se pretendem atingir, mas não devem ser a única possibilidade de atuação no corredor para que quando acabem ainda existam outras alternativas de atuação.

Deve evitar-se iniciar a constituição do corredor por ser a novidade da temporada.

Ou seja, algo que está na moda e chama a atenção, atraindo os meios de comunicação e as fontes de financiamento. Portanto, antes de propor o estabelecimento do corredor deve-se avaliar se não existem outras figuras de conservação e gestão territorial que se adaptem melhor às características do espaço geográfico e aos objetivos pretendidos, como o mosaico de unidades de conservação, as Reservas da Biosfera, o Plano Diretor do Município ou o Zoneamento Ambiental.

Uma vez proposta a idéia de corredor como a estratégia mais adequada, deve haver persistência, apesar das resistências à idéia de corredor.

26 Adaptado de COSTA (2005: 257-263 e 276-279) à gestão de corredores.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

As novidades sempre atraem resistência e o corredor é uma abordagem relativamente nova. Além do mais, ainda não existem experiências de longo prazo com resultados convincentes.

Porém, deve haver flexibilidade para adaptações durante a implementação.

Como o corredor e para o longo prazo, acontecerão mudanças inesperadas durante o andamento do processo, como: mudanças bruscas no Grupo Inicial de Trabalho, na Equipe de Planejamento, no Comitê de Gestão ou na Secretaria Executiva; dificuldades financeiras gerando a interrupção de atividades em execução; reorganizações inesperadas e inoportunas de instituições; novas prioridades, programas e iniciativas; mudanças na legislação ou nas regulamentações, etc. De fato, a nossa realidade é muito dinâmica devendo haver possibilidades de propor alterações quando imprevistos aconteçam.

Deve evitar-se o foco no aqui-e-agora.

O corredor é uma estratégia sistêmica e de longo prazo, portanto, se deve evitar uma ação imediatista ou concentrar-se em apenas um dos seus componentes e no curto prazo.

Deve evitar-se o trinômio: Muita análise, pouca síntese e nenhuma ação.

A atuação dentro do corredor tem que estar embasada em um bom diagnóstico, porém, deve evitar-se a paralisia da ação entanto que se procede à coleta e análise das informações. Um diagnóstico completo consume muito tempo, esforços e dinheiro, enquanto que as pressões ao corredor continuam acontecendo.

Deve haver a sistematização das lições aprendidas, sucessos e fracassos na gestão do corredor e sua ampla divulgação.

A sistematização das lições aprendidas é essencial desde o enfoque da gestão adaptativa, mas também contribui para a multiplicação do conceito de corredor e a extensão dessa abordagem.

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Roteiro Metodológico para

a Gestão de Corredores

Parte I:Marco

Conceitual

Parte II: Constituição

Parte III: Planejamento

Parte IV: Atuação

Parte V: Monitoramento

e Avaliação

Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

ApresentaçãoNesta parte do documento, apresentam-

se as orientações metodológicas para o monitoramento e a avaliação da gestão do corredor.

No ciclo de gestão, a etapa de implementação sucede-se a do planejamento. Desde o início da implementação será necessário desenvolver um contínuo monitoramento para medir o grau de consecução dos objetivos propostos e avaliar a necessidade de corrigir os desvios. Portanto, o monitoramento e a avaliação são mais um instrumento da gestão que permitem manter o rumo em direção à visão futura desejada.

Neste documento, o monitoramento do corredor deve ser entendido no seu significado mais abrangente, incluindo tanto o monitoramento da implementação do plano de gestão (desempenho) quanto o monitoramento dos impactos do corredor na conservação da

biodiversidade e na qualidade de vida das populações humanas (efetividade).

Parte V:Monitoramento

e Avaliação

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Tópicos:

Embasamento Teórico do Monitoramento e a AvaliaçãoAs Etapas do Monitoramento e AvaliaçãoElaboração do Plano de

Monitoramento da Efetividade

Implementar o Plano de Monitoramento da Efetividade

Realização do Monitoramento do Desempenho

Apresentação dos Resultados ao Comitê de Gestão

Exemplos de Indicadores para o Monitoramento da Efetividade

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21 Embasamento Teórico do Monitoramento e AvaliaçãoO monitoramento e avaliação são essenciais para a gestão adaptativa, pois

reduzem a incerteza causada pela insuficiência de informação (EUROPARC, 2005). O monitoramento é o processo contínuo de recopilação de informação sobre os indicadores previamente escolhidos. A avaliação é a realização de juízos de valor, a partir da informação gerada pelo monitoramento contínuo, sobre os resultados das ações e o impacto que se está produzindo, e a posterior proposta de modificações no planejamento. A avaliação é a interpretação dos dados coletados durante o monitoramento e a tomada de decisões sobre a necessidade de corrigir a gestão.

Existem dois tipos de monitoramento. Aqui se denominará monitoramento do desempenho, ou seguimento, à verificação periódica do grau de cumprimento daquilo que foi planejado no Plano de Gestão do corredor. O monitoramento do desempenho será realizado com base nas metas estabelecidas no Plano de Gestão.

O segundo tipo de monitoramento será designado como monitoramento da efetividade, que consiste na análise dos efeitos e impactos provocados pela atuação no corredor no longo prazo. O monitoramento da efetividade oferece uma idéia do impacto do plano, ou seja, do grau de transformação que se está alcançando em relação com a visão de futuro pretendida. O monitoramento da efetividade será realizado mediante a prévia elaboração de um Plano de Monitoramento da Efetividade.

O Plano de Monitoramento da Efetividade deverá ser formulado imediatamente depois da finalização do Plano de Gestão do corredor. O plano de monitoramento conterá os indicadores escolhidos, os protocolos ou procedimentos para sua coleta e tratamento, os pontos de amostragem, a periodicidade da coleta, os responsáveis e a forma como se incorporarão os resultados da avaliação à gestão.

É importante considerar que o monitoramento requer uma visão de longo prazo, pois é necessária uma seqüência temporal prolongada para que as informações coletadas brindem resultados que possam ser adequadamente interpretados. Portanto, o monitoramento demanda continuidade de recursos humanos e materiais.

A metodologia aqui proposta para o monitoramento da efetividade é o Modelo de Forças Motrizes, Estado, Resposta –FER, o qual é uma variante do Modelo PER (Pressão–Estado–Resposta) elaborado pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE,1998). O modelo PER retrata a relação de causalidade entre as atividades humanas, o estado do meio ambiente e a reação social decorrente das transformações havidas. O modelo PER é amplamente utilizado por diversas organizações internacionais, inclusive, tem sido adotado pela Convenção da Diversidade Biológica27.

As Nações Unidas adaptaram esse modelo para mensurar a efetividade das ações em direção ao desenvolvimento sustentável, criando o Modelo de Forças Motrizes, Estado, Resposta –FER (Nações Unidas, 2001). Este modelo apresenta a vantagem de que pode ser ajustado de acordo com a precisão necessária de acordo à escala e as particularidades 27 CONVENTION ON BIOLOGICAL DIVERSITY. Monitoring and Indicators: Designing National-Level Monitoring Programmes and Indicators. UNEP/CBD/SBSTTA/9/10. Ninth Meeting of the Subsidiary Body on Scientific, Technical and Technological Advice. Montreal, 10 al 14 de noviembre de 2003. Montreal: mimeo, 2003. Disponible em: http://www.biodiv.org/doc/meetings/sbstta/sbstta-09/official/sbstta-09-10-en.pdf. Acesso em: 04/12/2006.

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da área. Portanto, pode ser adaptado para o monitoramento da conectividade dentro do corredor e às peculiaridades de cada caso. Prefere-se pela sua simplicidade frente a outros como o modelo FPSIR (Forças motrizes-Pressão-Situação-Impacto-Resposta) desenvolvido e utilizado pela Agência Européia de Meio Ambiente.

Os componentes do Modelo Força Motriz – Estado – Resposta são:

Força Motriz: atividades humanas, processos e modelos que impactam o desenvolvimento sustentável.

Estado: é o estado do desenvolvimento sustentável.

Resposta: são as opções de políticas públicas e outras repostas para realizar mudanças em direção ao desenvolvimento sustentável.

No modelo FER, o termo pressão foi substituído por força motriz para incluir indicadores sociais, econômicos e institucionais. O marco de referência FER desenvolvido pelas Nações Unidades apresenta três tipos de indicadores horizontalmente e as diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável verticalmente: as dimensões social, econômica, ambiental e institucional. Para cada dimensão foram identificados tema e subtemas, os quais podem ser ajustados às circunstâncias do local que se pretende monitorar. No anexo, foi incluída o marco de referência dos indicadores das Nações Unidas de forma ilustrativa, os quais deverão ser adaptados ao monitoramento dos corredores (CSD, sd).

O monitoramento de corredores ecológicos deverá ser realizado de acordo com os seguintes lineamentos:

Inserido em todas as etapas;

Participativo;

Internalização do plano de monitoramento nos órgãos governamentais;

Sustentabilidade;

Gradual e adaptativo;

Comparativo dentro e fora do corredor;

Indicadores quantitativos e qualitativos;

Acesso livre aos resultados.

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22 As Etapas do Monitoramento e Avaliação22.1 Elaboração do Plano de Monitoramento da Efetividade

Estabelecer os critérios de requisitos para determinar os indicadores de efetividade.

Realizar Reunião Técnica para identificar os temas e subtemas e os seus indicadores de pressão, estado e resposta.

A Reunião Técnica acontecerá com a participação dos principais pesquisadores envolvidos na elaboração do Plano de Gestão. Os indicadores de pressão estarão relacionados com as pressões que foram identificadas no diagnóstico do corredor.

Os indicadores que se escolham deverão ser apropriados para cada processo e para as escalas espacial e temporal correspondentes.

Preparar a matriz de monitoramento da efetividade.

Após a definição dos indicadores, deve-se identificar a metodologia e a periodicidade do seu levantamento e os responsáveis. A matriz de monitoramento poderá ter o seguinte formato:

Matriz de Monitoramento. Indicadores de Forças Motrizes-Estado-Resposta. Fonte: Adaptado de Nações Unidas (2001).Dimensão Tema Subtemas Indicadores Como? Quem? Quando?Ambiental Atmosfera Mudança climática

Camada de ozônioQualidade do Ar

Uso do Solo AgriculturaFlorestasDesertificaçãoUrbanização

Marítimo e Costeiro

Zona CosteiraPesca

Águas doces Quantidade de águaQualidade de água

Biodiversidade EspéciesProcessos EcológicosÁreas NúcleoPaisagem

Social Equidade PobrezaIgualdade de gênero, étnica e etária

Saúde Estado nutricionalMortalidadeSaneamento básicoAtendimento pré-natalÁgua potável

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Educação Nível educacionalAlfabetização

Moradia Condições da moradia

Segurança CriminalidadeDemografia Dinâmica

populacionalEconômica Estrutura

econômicaDesempenho econômicoComércioAspectos financeiros

Modelos de consumo e produção

Consumo de materiaisUso de energiaGestão de resíduosTransporte

Institucional Gestão Marco legalMarco administrativo

Capacidade institucional

Acesso à informaçãoAprendizagem

Identificar as necessidades de capacitação para executar o monitoramento.

Calcular o custo da proposta de monitoramento e avaliar a sua viabilidade.

Um plano de monitoramento completo pode resultar extremamente dispendioso, tanto pelas necessidades de capacitação como pelo custo com recursos humanos e equipamentos, pelo que será necessário avaliar sua viabilidade. Caso seja necessário, se realizarão ajustes dos indicadores para maximizar a informação e minimizar os custos. Outra possibilidade é aplicar o plano de monitoramento de forma gradativa, identificando distintos grupos de indicadores que se irão aplicando conforme vai aumentando a capacidade de gestão, os recursos humanos e financeiros do corredor ou o número de alianças. Inicialmente, se poderá começar com indicadores cuja coleta seja mais fácil e simples.

Estabelecer a linha-base (base-line).

Será necessário ter um ponto de referência inicial sobre os indicadores. Para isso, se escolherão pontos de amostragem onde os indicadores serão coletados para estabelecer a linha de base antes das atuações.

Formatar o banco de dados de indicadores de efetividade.

Identificar a freqüência da avaliação e seus procedimentos.

Consolidar o Plano de Monitoramento

Além da matriz de monitoramento, as informações sobre a linha-base e as necessidades de capacitação, o plano de monitoramento deverá ser consolidado com o seu orçamento.

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22.2 Implementar o Plano de Monitoramento da Efetividade

É importante começar o monitoramento com qualquer informação que esteja disponível e gradualmente ir melhorando a quantidade e qualidade das informações que são coletadas. Também recomenda-se iniciar a implementação do Plano de Monitoramento em áreas-piloto para testar previamente os indicadores do plano.

De qualquer forma, implementar um Plano de Monitoramento no longo prazo é algo custoso pelo que se deveriam buscar parcerias entre várias instituições e com as comunidades locais.

Uma vez que o Plano de Monitoramento começa a fornecer informações, é importante verificar se a escolha e desenho dos indicadores são apropriados ou são necessários ajustes. A avaliação do Plano de Monitoramento poderá ser feita por uma entidade independente para assegurar um processo mais objetivo (Convention on Biological Diversity, 2003).

22.3 Realização do Monitoramento do Desempenho

Analisar anualmente a consecução das metas do Plano de Gestão.

As metas do Plano de Gestão serão analisadas conforme a tabela seguinte:

Objetivos e resultados Metas Quanto foi alcançado?

Avaliação dos desvios

Causa dos desvios

Ações corretivas

Avaliar os desvios entre o planejado e o implementado.

Propor medidas corretivas.

22.4 Apresentação dos Resultados do Monitoramento ao Comitê de Gestão

Os resultados do monitoramento do desempenho e da efetividade serão compilados em relatórios que serão apresentados anualmente ao Comitê de Gestão do corredor para a tomada de decisões e para a divulgação entre os diferentes atores.

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Quadro 8 - O Sistema de Monitoria e Avaliação do PDA (Subprograma de Projetos Demonstrativos)

O Sistema de Monitoria e Avaliação é um conjunto de critérios, instrumentos e ferramentas que são organizados com a finalidade de responder as perguntas chave e indicadores que compõem o Plano de Monitoria do PDA e de cada projeto.

O conjunto de indicadores deve ser monitorado a partir de quatro instrumentos principais de diagnóstico e avaliação, realizados em diferentes momentos ao longo do processo de implementação do projeto: a) diagnóstico inicial; b) avaliação de meio termo, c) avaliação final e d) Relatório de Avaliação da Implementação Semestral – RAIS, no qual se consolida a avaliação das atividades realizadas durante o semestre. Para organizarmos a utilização destes diferentes instrumentos no monitoramento dos indicadores elaboramos o Plano de Monitoria, o qual articula o que queremos e como iremos monitorar.

O Sistema de Monitoria e Avaliação do PDA engloba um conjunto de atividades realizadas em parceria pelos projetos e pela Secretaria Técnica; estes instrumentos devem ser utilizados ao longo do processo de implementação do projeto.

Modelo de Plano de MonitoriaObjetivo do Projeto:Objetivo do Plano de Monitoria:

ResultadosEsperados

Perguntaschaves

O quemedir?(indicador)

Onde? (em quecomunidades,com quantasfamílias? quepúblico alvo)

Quando? Como medir ?(que ferramentasserão utilizadosex. mapa falado,entrevistas,diagrama de Venn)

Quem?participa e éresponsávelpela coletade dados?

Espaços paraas análises eas discussões(reuniões,fóruns, etc.)

1.

2.

3.

4.

Fonte: MMA. Guia Prático para Elaboração do Plano de Monitoria de seu Projeto. PDA / MATA ATLÂNTICA. CORREDORES ECOLÓGICOS. VERSÃO 05/2006. Brasília: mímeo, 2006.Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/pda/_arquivos/Download%20-%20Guia%20de%20monitoria%20Corredores%20Ecologicos.pdf. Acesso em: 02/12/2006.

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23 Exemplos de Indicadores para o Monitoramento da EfetividadeA seguir, são apresentados exemplos de indicadores para o monitoramento da

efetividade em corredores28:DIMENSÃO AMBIENTAL:

Áreas efetivamente conectadas; Índice de conectividade; Evolução do número de processos de averbação de reserva legal; Qualidade das águas; Planos de Manejo de UC elaborados e implantados; Espécies de especial interesse para a conservação/espécies chave

(ameaçadas/endêmicas); Aumento do número de UC (área e representatividade); Evolução da cobertura vegetal; Índice de desmatamento; Número de projetos ambientais novos no Corredor; Número de focos de calor; Número de mini/micro / pequenos Corredores Ecológicos (corredores biológicos). Evolução do número de autos de infração emitidos; Número de brigadas para combate a incêndios florestais; Consumo de um determinado produto de origem animal ou vegetal; Índice de eficiência no manejo de UC.

DIMENSÃO SOCIAL: Índice de adesão comunitária por diferentes segmentos; Programas de educação ambiental; Presença de representantes nas reuniões do Comitê; Grau de cumprimento das deliberações do Comitê; IDH dos municípios envolvidos; Propostas/ iniciativas espontâneas que se somam ao projeto central; Número de organizações sociais novas/ formação de redes.

DIMENSÃO ECONÔMICA: Aumento da disponibilidade de emprego; Iniciativas de sistemas agroflorestais e cultivo orgânico; Número de novos projetos e ações de desenvolvimento sustentável; Porcentagem de atividades econômicas licenciadas; Valor agregado aos produtos.

DIMENSÃO INSTITUCIONAL: Quantidade de recursos investidos; Novas legislações pertinentes no âmbito do Corredor Ecológico; Número de multiplicadores capacitados (e resultados); Número de indeferimentos de licenças de empreendimento de alto impacto. Evolução do número dos parceiros engajados; Percentual de prefeituras atuantes; Número de instituições atuantes.

Quadro 9 - Indicadores para o Sistema de Monitoramento Ecológico do Corredor Biológico Meso 28 Procedentes da Oficina sobre Metodologia Aplicada na Implementação de Corredores Ecológicos, organizada pelo IBAMA em 2004. Fonte: IBAMA (2004).

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Americano – México

Categoria Indicador recomendado TipoCobertura terrestre 1. Status de fragmentação de bosques

2. Status de fragmentação de áreas úmidas3. Mudança na fragmentação de florestas4. Mudança na fragmentação de áreas úmidas

Capital ecológico

Biodiversidade 5. Status da diversidade de ecossistemas6. Status da diversidade de espécies (categoria de risco)*7. Status da diversidade de espécies (N total)8. Status do hábitat remanescente de espécies individuais **.9. Status da diversidade beta/gamma*10. Status da diversidade beta/gamma (N total)11. Status da diversidade por grupo funcional***12. Status composto do hábitat funcional****13. Mudança na diversidade de ecossistemas (potencial)14. Mudança na diversidade de ecossistemas (N habitat)15. Mudança na diversidade de espécies16. Mudanças na diversidade beta/gamma17. Status composto de riqueza de hábitat/espécies18. Status de riqueza/fragmentação

Capital ecológico

Produtividade primária 19. Status de índice de vegetação20. Mudanças no NDVI21. Status de áreas foliares22. Mudanças em áreas foliares

Desempenho ecológico

Funcionamento hidrológico

23. Status de perigo hidrológico normal climático24. Mudança no perigo hidrológico normal climático25. Status de perigo hidrológico eventos extremos26. Mudança no perigo hidrológico eventos extremos

Desempenho ecológico

Estressores 27. Status de acessibilidade por caminhos28. Status de acessibilidade por localidades29. Status de fragmentação antropogênica (caminhos)30. Status de fragmentação antropogênica (agropecuário)31. Status de fragmentação antropogênica (zonas urbanas)32. Mudança na fragmentação por caminhos33. Mudança na fragmentação por zonas urbanas34. Mudança na fragmentação por áreas agropecuárias

Pressão antropogênica

Indicadores de integridade ecológica

35. Conservação de florestas (1) – antropogênico (27-31)36. Grau de conservação (1. 5. 7. 19) – efeito antropogênico (27-31)37. Hábitat remanescente (8) – efeito antropogênico (específico à

espécie)38. Hábitat remanescente (11) – efeito antropogênico (27-28)39. Diversidade beta (10) – efeito antropogênico (27-31)40. Diversidade/grupos (17) – efeito antropogênico (27-31)

Global

* Por grupo taxonômico** 34 espécies para mamíferos, 37 para aves, 10 para répteis e 7 para anfíbios,181 espécies vegetais*** Por grupos funcionais (requerimentos de hábitat), 4 grupos*** Composto por grupos funcionais (4 x número de espécies no grupo taxonômico)

Fonte: CENTRO DE INVESTIGACIÓN EN GEOGRAFÍA Y GEOMÁTICA “ING. JORGE L. TAMAYO”. Primera fase del Sistema de Evaluación y Monitoreo para el Corredor Biológico Mesoamericano – México (Componente de Geomática). INFORME FINAL. México: mímeo, 2005. Disponível em: http://www.cbmm.gob.mx/consultoriasweb/concluidas/compa/Centro%20%20GEO%20A.C/informe%20final.pdf. Acesso em: 10/12/2006.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

CONSIDERAÇÕES FINAISO conceito de corredor passou de ser apenas utilizado no campo da biologia da

conservação e da ecologia da paisagem para representar uma figura de gestão territorial e bioregional. Os corredores ecológicos são agora concebidos com uma visão multidimensional e de longo prazo onde acontecem numerosas interações ecológicas, econômicas, políticas, institucionais, sociais e culturais. Uma visão integrada e abrangente e que perceba as numerosas interligações dentro do corredor e com o exterior é necessária para obter maiores sucessos na consecução dos objetivos dos corredores.

O propósito deste roteiro é o de apresentar os lineamentos gerais que são a base para a gestão, cabendo agora aos gestores de cada corredor perceber a melhor forma de aplicar a metodologia ao caso concreto. O importante é que o espaço físico delimitado pelo corredor chegue a possuir um senso de unidade, direção e propósito para o longo prazo, havendo a convergência de esforços nessa direção.

Como explicado em numerosos pontos do roteiro, a participação dos principais grupos sociais é essencial para o sucesso do corredor como figura de gestão bioregional. A participação que se deseja é a de construção e implementação conjuntas de propostas com os diretamente envolvidos, de uma maneira includente e empoderadora ao mesmo tempo. Portanto, é necessário ser cientes que esses processos participativos são demorados e custosos, levando, na maioria das vezes, mais tempo e recursos humanos e financeiros dos inicialmente previstos.

Adicionalmente, deve ser considerado que o processo decisório coletivo também é um processo muito complexo, pois leva em conta os interesses de todas as partes envolvidas, buscando o mínimo denominador comum. Em muitas ocasiões, esses interesses são muito difíceis de conciliar, prolongando-se ainda mais os processos na busca de estratégias alternativas. Em qualquer caso, a plena participação dos atores locais sempre terá um efeito direto e positivo sobre a efetividade da gestão do corredor.

Por último, vale destacar que o estabelecimento de uma estrutura de gestão sólida, deliberativa, com representação paritária e legitimidade é essencial para que o corredor tenha alguma significância no contexto político local.

A pesar de todos esses desafios, está em nossas mãos conseguir que os corredores desempenhem eficaz e eficientemente o seu papel de preservar a diversidade genética, com respeito a diversidade social e cultural, de promover o desenvolvimento sustentado, de garantir a distribuição eqüitativa dos bens e serviços ambientais e de incentivar a inclusão social e a qualidade de vida das populações residentes.

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Roteiro Metodológico para a Gestão de

Corredores Ecológicos

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

GLOSSÁRIO

Área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º do Código Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (art. 1º, parágrafo 2º, inciso II, do Código Florestal, Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965).

Ecorregião: o conjunto geograficamente distinto de comunidades naturais que compartem uma grande maioria de espécies e dinâmicas ecológicas e similares condições ambientais e interagem ecologicamente de forma crítica para sua persistência no longo prazo. Sobre as ecorregiões de América Latina e Caribe, consultar DINERSTEIN et al. (1995).

Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (art. 3º, inciso I, Decreto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007).

Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas (art. 1º, parágrafo 2º, inciso III, do Código Florestal, Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965).

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ANEXO A - Mapa dos corredores existentes no Brasil

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Roteiro Metodológico para a Gestão de Corredores Ecológicos

ANEXO B - Matriz de indicadores para o desenvolvimento sustentável desenvolvida pelas Nações UnidasApresenta-se esta matriz de indicadores a modo de exemplo. Os indicadores deverão ser adaptados ao monitoramento dos corredores. Disponível em: http://www.un.org/esa/sustdev/natlinfo/indicators/isdms2001/table_4.htm. Acesso em: 01/06/06. (Tradução do inglês)

SOCIALTema Subtema Indicador

   Equidade

Pobreza % da população que vive na pobreza Índice de Gini de desigualdade de ingressosTaxa de desemprego

Igualdade entre os gêneros

Relação entre o salário médio das mulheres e o salário médio dos homens

     Saúde

Estado nutricional Estado nutricional das criançasMortalidade Taxa de mortalidade das crianças < de 5 anos

Esperança de vida ao nascerSaneamento Porcentagem da população com adequado

saneamento básicoÁgua Potável População com acesso a água potável Serviços de saúde Porcentagem da população com acesso a serviços

primários de saúde Imunização contra doenças infantis infecciosas Taxa de uso de anticoncepcionais

Educação Nível educacional Taxa de escolarização do ensino fundamental Taxa de adultos com educação secundária

Alfabetização Taxa de alfabetização de adultosMoradia Condições de vida Superfície disponível por pessoaSegurança Criminalidade Número de delitos por cada 1.000 habitantesPopulação Mudanças populacionais Taxa de crescimento da população

População dos assentamentos humanos convencionais e não convencionais

MEIO AMBIENTETema Subtema Indicador

Atmosfera Mudanças climáticas Emissões de gases do efeito estufa Camada de ozônio Consumo de substâncias que reduzem a camada

de ozônio Qualidade do ar Concentração de poluentes em áreas urbanas

  Uso do solo

 Agricultura Área de cultivos permanentes Uso de fertilizantes Uso de pesticidas agrícolas

Florestas Percentagem de área florestal Intensidade da produção florestal

Desertificação Percentagem de solo afetada pela desertificação Urbanização Área de assentamentos urbanos formais e

informais Marítimo e Costeiro

Zona Costeira Concentração de algas na zona costeira Percentagem da população total morando na zona costeira

Pesca Captura anual das principais espécies

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Águas continentais

Quantidade de água Percentagem de utilização da água superficial e subterrânea

Qualidade da água Quantidade de oxigênio dissolvido Concentração de coliformes fecais em águas doces

Biodiversidade Ecossistemas Área de ecossistemas-chave Percentagem de áreas protegidas

Espécies Abundância de espécies-chave

ECONÔMICOTema Subtema Indicador

  Estrutura econômica

Desempenho econômico Produto Interno Bruto per capita Investimentos em relação a PIB

Comércio Proporção do comércio de bens e serviços Estado financeiro Taxa da dívida em relação com o PIB

Total de ajuda internacional para o desenvolvimento recebida como percentagem do Produto Interior Neto

   Modelos de consumo e produção

Consumo de material Intensidade do uso de materiais Uso da energia Consumo anual de energia per capita

Consumo de fontes de energia renováveis Intensidade do uso da energia

Geração e gestão de resíduos

Geração de resíduos industriais e municipais Geração de resíduos perigosos Gestão de resíduos radioativos Reciclagem e reutilização de resíduos

Transporte Distância de viagem per capite e por meio de transporte

INSTITUTIONALTema Subtema Indicador

Marco institucional

Implementação estratégica do desenvolvimento sustentável

Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável

Cooperação internacional Implementação de acordos globais ratificados  Capacidade institucional

Acesso à informação Número de subscrições de Internet por 1.000 habitantes

Infra-estrutura de comunicação

Linhas telefônicas por 1.000 habitantes

Ciência e Tecnologia Percentagem de gasto em pesquisa e desenvolvimento

Preparação para o desastre e capacidade de resposta

Perda econômica e humana devido a desastres naturais

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