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PRODUTO FINAL DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA A FUNÇÃO DA ALIMENTAÇÃO: CONTEÚDO MATEMÁTICO E SOCIAL LUCAS DA SILVA MOREIRA BAURU 2016

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PRODUTO FINAL DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

A FUNÇÃO DA ALIMENTAÇÃO: CONTEÚDO MATEMÁTICO E SOCIAL

LUCAS DA SILVA MOREIRA

BAURU

2016

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LUCAS DA SILVA MOREIRA

A FUNÇÃO DA ALIMENTAÇÃO: CONTEÚDO MATEMÁTICO E SOCIAL

Produto da dissertação de Mestrado “A Interdisciplinaridade no Ensino da Matemática Pela Perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica: Superando a Pedagogia de Projetos” apresentada ao Programa de Pós Graduação Docência para a Educação Básica, Faculdade de Ciências, UNESP – Universidade Estadual Paulista – Campus de Bauru. Sob orientação do Prof. Dr. José Roberto Boettger Giardinetto.

BAURU

2016

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LUCAS DA SILVA MOREIRA

A FUNÇÃO DA ALIMENTAÇÃO: CONTEÚDO MATEMÁTICO E SOCIAL

Banca Examinadora:

Presidente: Prof. Dr. José Roberto Boettger Giardinetto

Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Bauru

Titular: Profa. Dra. Mara Sueli Simão Moraes

Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Bauru

Titular: Profa. Dra. Maria do Carmo de Sousa

Instituição: Universidade Federal de São Carlos – São Carlos/SP.

BAURU

2016

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RESUMO

Essa sequência didática é oriunda da Dissertação de Mestrado “A Interdisciplinaridade no Ensino da Matemática Pela Perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica: Superando a Pedagogia de Projetos” do Programa de Pós-graduação do Mestrado Profissional em Docência para Educação Básica. Possui por objetivo geral, nortear a ação pedagógica a fim de promover a apropriação do conceito de função do 1º grau como um instrumento matemático construído ao longo da história da humanidade e além disso, contribuir para o desenvolvimento da consciência crítica sobre aspectos da realidade social, em alunos da 1ª série do ensino médio. Para isso, é utilizada a proposta metodológica da Pedagogia Histórico-Crítica, a partir do tema político social (Moraes et al, 2008), alimentação. É apresentado ao longo da descrição metodológica, momentos em que a interdisciplinaridade pode contribuir para o aprofundamento do conteúdo. Espera-se que a sequência didática não seja vista como um manual ou receituário, mas como um exemplo de organização para ação pedagógica, a fim de propiciar a apropriação de conteúdos matemáticos para alunos da educação básica.

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 6

2 SEQUENCIA DIDATICA ........................................................................................ 11

2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 11

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 11

2.3 PRÁTICA SOCIAL INICIAL ................................................................................. 11

2.3.1 Tema Político-Social, a Alimentação. ........................................................... 13

2.3.2 Funções ....................................................................................................... 14

2.4 PROBLEMATIZAÇÃO ......................................................................................... 15

2.5 INSTRUMENTALIZAÇÃO ................................................................................... 16

2.5.1 Relação de dependência entre duas grandezas, a proporcionalidade ......... 17

2.5.2 Noção de Variável ........................................................................................ 18

2.5.3 Ideia fundamental do Conceito de Função ................................................... 19

2.5.4 Introduzindo o Conceito de Domínio e Imagem ........................................... 20

2.5.5 Definição de Função .................................................................................... 22

2.5.6 A Função do 1º grau .................................................................................... 23

2.5.7 Gráfico da função do 1º grau ....................................................................... 26

2.5.8 Atividades ..................................................................................................... 29

2.6 CATARSE ........................................................................................................... 30

2.7 PRÁTICA SOCIAL FINAL .................................................................................... 30

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Essa sequência didática é norteada pela perspectiva da Pedagogia Histórico-

Crítica (PHC). Não é objetivo desse documento apresentar os fundamentos teóricos

de tal pedagogia, pois esses foram apresentados na dissertação de mestrado,

origem desse produto, porém é necessário explicitar suas principais características

para que o professor possa transpor com mais facilidade essa proposta, à sua

prática pedagógica.

Assim, em se tratando da metodologia da PHC, Saviani coloca que:

Uma pedagogia articulada com os interesses populares [...] estará interessada em métodos de ensino eficazes. Tais métodos situar-se-ão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de um e de outros. Serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. (SAVIANI apud MARSIGLIA, 2001, p.22)

A partir de tais pressupostos, Saviani apresenta uma proposta metodológica

para a efetivação da teoria na prática educativa e que será a estrutura dessa

sequência didática.

Os momentos dessa metodologia, que se baseia este trabalho, constituem de:

“Prática social inicial do conteúdo”, “Problematização”, “Instrumentalização”,

“Catarse” e “Prática social final do conteúdo” (SAVIANI, 2011) os quais serão

descritos a seguir.

Cumpre, entretanto, esclarecer que os passos descritos isolados da teoria

que o embasa, não caracteriza o método da PHC. Ou seja, a simples aplicação de

tais momentos, como uma receita, desvinculada do compromisso político proposto

pela teoria, é contraditório aos ideais de tal método. Nas palavras de MARSIGLIA:

Na verdade, a apresentação de “passos” é um recurso didático que foi utilizado para fazer analogia as pedagogias tradicional e nova, sendo mais adequado a PHC a menção a momentos, visto a interdependência existente entre as etapas. São, portanto, momentos que se articulam todas as vezes que se quer ensinar algo. A problematização exige a instrumentalização e esta nada será se não houver apropriação dos instrumentos. (MARSIGLIA, 2011, p.26)

Dessa forma, apenas por fins didáticos, a seguir, apresentaremos cada etapa

separadamente, divididas pelos momentos que definem a metodologia da PHC.

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- Prática Social Inicial

Gasparin (2012, p.13) define esse passo como “uma primeira leitura da

realidade, um contato inicial com o tema a ser estudado”. Ela deve ser o ponto de

partida de toda a ação pedagógica.

No início de cada unidade de ensino, professor e alunos encontram-se em determinados momentos históricos e em determinados patamares de conhecimento da prática social, que podem ser semelhantes em algumas dimensões e diferentes em outras. Assim, diante de algum conteúdo novo a ser ensinado, professor e alunos posicionam-se diferentemente. Podemos afirmar que podem ocorrer, também, posicionamentos semelhantes, embora em situações mais raras (MATIAZZO-CARDIA, 2009, p.76).

Assim, a prática social é referente ao que o professor e os alunos sabem a

respeito daquele conteúdo ou tema. Por exemplo, no ensino da multiplicação na

matemática. Ao propor uma problemática como: “João comprou 20 doces a 5 reais

cada. Quanto João gastou no total?”. Os alunos que não conhecem o instrumento da

multiplicação poderiam resolver esse problema efetuando uma série de 20 adições,

de cinco em cinco. Essa ação se configura como prática social inicial dos alunos, ou

seja, nesse ponto os alunos demonstram que se apropriaram apenas do instrumento

da adição.

- Problematização

É nessa etapa que o professor alinhará seus objetivos de ensino com a

temática social colocada para a discussão na etapa anterior. É o momento de

levantar questionamentos sobre a prática social e o conteúdo, é a criação de “um

desafio, ou seja, a criação de uma necessidade para que o educando através de sua

ação, busque o conhecimento” (GASPARIN, 2012, p.33)

Para tornar claro esse momento, podemos recorrer ao exemplo do ensino da

multiplicação apresentado anteriormente. Ao verificar que os alunos responderam a

questão dos doces por meio da operação da adição, o professor poderia propor um

problema em que esse instrumento matemático não fosse o suficiente para sua

resolução, ou mesmo inviável. Por exemplo, “A mãe de João, gostou muito dos

doces que ele comprou, e resolveu comprar em grande quantidade para distribuir

durante sua festa de aniversário. Após fazer a lista de convidados, a mãe de João

constatou que precisaria comprar 255 doces. Quanto ficaria no total para comprar

essa quantidade de doces? ”.

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É evidente que realizar 255 operações de adição, de cinco em cinco,

demoraria muito tempo, isto é, é inviável. Nesse ponto, há a necessidade de outro

instrumento matemático, no caso a multiplicação. Podemos constatar que a lógica

histórica se faz presente nesse momento, pois os alunos são levados às mesmas

necessidades que a humanidade enfrentou para a criação desse instrumento, é

claro, sem refazer todo o percurso histórico.

Criada a necessidade de conhecimento do outro instrumento matemático, é

encontrado o momento de partir para o próximo passo, a instrumentalização.

- Instrumentalização

Marsiglia (2011) define esse momento como o de “oferecer condições para

que o aluno adquira o conhecimento”. E Gasparin (2012) o define “como o caminho

pelo qual o conteúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para que o

assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transformem-no em instrumento de

construção pessoal e profissional”.

É nessa etapa que o professor transmitirá o conhecimento escolar aos seus

alunos.

- Catarse

É o momento que o conceito cientifico é incorporado pelos alunos tornando-se

instrumento intencional de reflexão da prática social. É a “síntese do cotidiano e do

científico, do teórico e do prático a que o educando chegou, marcando sua nova

posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção social e sua

reconstrução na escola” (GASPARIN, 2012, p.124).

Esse momento se configura na plena dominação do instrumento adquirido

durante a aplicação do mesmo na prática social. Por exemplo, voltando ao caso do

ensino da multiplicação, o professor conseguirá observar se houve a catarse,

quando os alunos passarem a utilizar o novo instrumento matemático aprendido na

resolução de outros problemas, isto é, quando o aluno, sozinho, não recorrer as

operações de adição para resolver problemas semelhantes, a catarse estará

atingida.

Um ponto importante a se esclarecer é que a catarse pode acontecer em

qualquer etapa do processo de ensino. No decorrer de cada momento o professor

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deve estar atento as produções de seus alunos ainda que não haja uma avaliação

formal. MARSIGLIA (2011, p.24) alerta que “a catarse não se dá em um ponto

exclusivo, pois se trata da síntese, que vai acontecendo de maneira cada vez mais

aprofundada”.

É fato que cada aluno, em sua especificidade, aprende de forma e tempo

diferentes. Por isso o professor precisa ter a sensibilidade de fazer adequações ou

saber esperar o momento da catarse de cada aluno. Se ela não acontecer em tempo

oportuno o professor deverá mudar sua estratégia retomando os momentos

anteriores. Outro ponto importante é que na escola o professor poderá estar

trabalhando com alunos com deficiências ou dificuldades de aprendizagem e o

ensino para estes deverá ser planejado de acordo suas limitações, ou seja, os

objetivos e as estratégias dos momentos anteriores deverão estar adequados as

necessidades de tais alunos, sem que isso signifique a má qualidade do ensino.

Prática social final

A prática social final é a mesma do primeiro momento. No entanto a

diferenciação está no entendimento que o aluno possui da sua realidade agora

mediada pelo conteúdo escolar por ele aprendido. É o momento de colocar em

prática na sociedade os seus novos conhecimentos de forma transformadora.

Gasparin (2012) aponta a possibilidade da criação de um plano de ação incidente na

própria sociedade visando a transformação social.

Enfim, esperamos que com essa pequena introdução o professor possa ter

compreendido, ainda que basicamente os princípios básicos da PHC.

Ressaltamos que a teoria é muito mais abrangente e profunda. E por isso,

convidamos o professor que queira aprofundar seus conhecimentos sobre essa

pedagogia a conhecer as obras de Dermeval Saviani, Newton Duarte, Ana Carolina

Galvão Marsiglia, João Luiz Gasparin entre outros autores que abordam a

Pedagogia Histórico-Critica.

A seguir será apresentada uma sugestão de aplicabilidade dos fundamentos

da PHC por meio de uma sequência didática. Não se pretende caracterizar um

método fechado a partir desta. Neste caso recebe o nome de sequência didática

apenas para definir a ordem inicial das ações a serem realizadas durante as aulas.

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Enfatizamos que esta sequência foi elaborada pensando na realidade dos

alunos da escola onde ela foi desenvolvida e as atividades assim como a ordem

cronológica pode ser alterada em função da realidade do professor e seu público-

alvo. Para deixar claro de como foi concebida essa sequência didática,

reproduzimos a seguir o desenho do produto.

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2 SEQUENCIA DIDÁTICA

Série: 1ª série do Ensino Médio

Conteúdo: Função do 1º Grau

2.1 OBJETIVO GERAL

Apropriação do conceito de Função do 1º grau como instrumento para adquirir

consciência crítica sobre aspectos da realidade social.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Sistematizar a relação existente entre dois conjuntos e a partir deles encontrar

a lei de formação de uma função;

● Aprender o conceito científico de funções;

● Reconhecer uma função do 1º grau em contexto do cotidiano;

● Construir e analisar o gráfico da função do 1º grau a partir de dados reais;

● Analisar o sinal da função do 1º grau;

● Utilizar o conceito matemático “funções” para analisar criticamente os hábitos

alimentares impostos pela sociedade capitalista.

.

2.3 PRÁTICA SOCIAL INICIAL

Recursos: Lápis, borracha, caneta e Xerox do texto.

A primeira ação pedagógica na metodologia da PHC é a definição do

conteúdo matemático a ser socializado com os alunos. Para essa sequência

didática, o conteúdo a ser abordado será a função do 1º grau, enquanto saber

elaborado e sistematizado ao longo da história da humanidade. Tendo escolhido o

conteúdo, pertencente ao saber elaborado, o desafio do professor será a

transformação desse saber, em uma forma didático-pedagógica própria para garantir

a apropriação por parte do aluno, sua versão escolar. Ou seja, o professor pode

promover estratégias, selecionar atividades, traçar percursos que deixe o conteúdo

assimilável pelos alunos.

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Daí surge o problema da transformação do saber elaborado em saber escolar. Essa transformação é o processo através do qual selecionam-se, do conjunto do saber sistematizado, os elementos relevantes para o crescimento intelectual dos alunos e que possibilite a sua assimilação. Assim, a questão central da pedagogia é o problema das formas, dos processos, dos métodos; certamente, não considerados em si mesmos, pois as formas só fazem sentido na medida em que viabilizam o domínio de determinados conteúdos (SAVIAVI, 2008, p.79)

Fica claro, por meio da explicação do autor apresentada acima, que para

cada conteúdo a ser abordado na escola, demanda uma estratégia diferente para a

sua concretização enquanto objeto de estudo dos alunos.

A forma escolhida para esse trabalho, isto é, para transformar a função do 1º

grau em um saber assimilável para os alunos da 1ª série do Ensino Médio, foi a

vinculação com um tema político-social, a saber, a alimentação. Essa escolha foi

realizada com base nos resultados positivos encontrados nos trabalhos de Alonso

(2004), Ueno (2004), Matiazzo-Cardia (2009), Moraes et al (2008), entre outros, que

utilizaram os temas político-sociais para nortear toda a ação pedagógica nas aulas

de matemática.

O tema alimentação foi escolhido a partir da necessidade dos alunos da

escola para onde essa sequência didática foi planejada. Por meio do diálogo com os

alunos, foi possível observar entre eles, problemas relativos à má-alimentação e as

violências verbais que são ocasionadas devido a obesidade ou ao baixo-peso.

Outros assuntos poderiam ter sido abordados, como por exemplo, os temas

sugeridos por Moraes et al (2008) em “Educação Matemática e temas político-

sociais”, a poluição e a exploração dos trabalhadores da indústria de couro, por meio

do texto “Indústria do couro gera problemas ao ambiente e à população” (MORAES,

2008, p. 22 a 27); entre outros assuntos que possibilitam a vinculação do conteúdo

com uma prática social imediata.

Nesse trabalho temos a mesma preocupação demonstrada por Moraes et al

(2008) no que se refere ao compromisso em “garantir a abordagem sistematizada e

científica dos conteúdos matemáticos” (MORAES, 2008, p. 5). Como a mesma

autora completa,

A forma de envolvê-los com questões político-sociais relevantes e as diversas oportunidades de problematização garantiram a vinculação com a prática social (inicial e final), facilitando a ocorrência da catarse ou apropriação efetiva do conhecimento, momento em que se pode constatar a eficácia da prática pedagógica. (MORAES, 2008, p. 5)

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Dessa forma, a prática social inicial dos alunos será levantada sobre o que

eles conhecem sobre o conceito de função e ao tema alimentação. Enfatizamos que

esta junção é apenas um recurso pedagógico e não um quesito da metodologia da

PHC.

À luz do que foi discutido até aqui, faz-se necessário a explanação dos

aspectos que serão explorados a partir do tema social alimentação e do conceito de

função.

2.3.1 Tema Político-Social, a Alimentação.

O tema social escolhido para essa sequência didática foi alimentação e

saúde. Além de ser um tema transversal previsto pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN) é um problema que vem atingindo esta nova geração de

adolescentes significativamente gerando obesidade e vários problemas de saúde

como colesterol, diabetes, problemas cardíacos entre outros.

Vários fatores são associados a esse problema. Um deles é a influência da

mídia que serve aos interesses do capitalismo. Grandes empresas alimentícias

dominam o mercado com seus produtos industrializados onde o objetivo é vender e

lucrar. Não se preocupam com os danos à saúde que a má alimentação pode

causar.

Nesse sentido, o professor deve investigar qual o nível de conhecimento e

criticidade que seus alunos possuem sobre esse tema. Para isso, sugerimos aqui a

leitura e análise de um texto informativo sobre a questão das doenças geradas pela

má alimentação. Não definiremos um texto padrão para essa atividade, mas cabe ao

professor selecionar um texto que faça jus a sua realidade imediata. Essa leitura

poderá ser individual ou coletiva a critério do professor.

Ao final da leitura, a análise do texto deverá ser direcionada por meio do

diálogo e da escrita estimulando os alunos a pensarem sobre os pontos mais

importantes do texto, visando a sistematização das principais ideias contidas no

mesmo.

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Além da discussão do texto, o professor pode elaborar questões a respeito do

mesmo para que os alunos escrevam suas impressões iniciais e desta forma, o

professor poderá avaliar o nível de compreensão dos alunos para orientar e

direcionar a interpretação do mesmo.

Nesse ponto é importante que o professor peça para que os seus alunos

socializem entre si seus hábitos alimentares. Ao final das aulas as questões e os

hábitos alimentares devem estar registrados no caderno do aluno, montando um

“cardápio”.

Para promover o conhecimento da totalidade possível, em uma perspectiva

interdisciplinar, o professor pode solicitar uma breve pesquisa na internet ou em

parceria com aulas de diferentes disciplinas dos seguintes tópicos:

● O que são calorias, carboidratos, proteínas, gorduras saturadas, gorduras

trans, fibra alimentar e sódio;

● Os valores nutricionais recomendados para uma boa alimentação;

● Os valores nutricionais dos alimentos que são mais consumidos por eles;

● As principais empresas do ramo alimentício do mundo;

● Os valores das tabelas nutricionais dos principais alimentos produzidos por

essas empresas;

● O montante acumulado por essas empresas.

2.3.2 Funções

A necessidade histórica para a criação do conceito de função foi o desejo do

homem em dominar a natureza, isto é, prever, descrever, sistematizar os fenômenos

naturais a fim de suprir suas necessidades, que ao longo da história foi se

complexificando. Diante disso, o homem ao observar a natureza e suas

regularidades, e depois de um longo processo, criou as leis quantitativas, e assim, o

conceito de função (Caraça, 1984).

Tendo em vista que essa etapa se trata do levantamento da prática social

inicial dos alunos, é imprescindível leva-los a sentir a mesma necessidade que levou

à criação do instrumento matemático a partir do seu contexto social, isto é, a

necessidade da criação das leis quantitativas. Para isso, nos reportaremos ao tema

político-social da alimentação mencionado anteriormente.

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Para a observação das regularidades, podemos estabelecer uma relação

entre dois conjuntos, utilizando as tabelas nutricionais contidas nos alimentos que

faz parte do cotidiano dos alunos. Sendo assim, o professor pode solicitar aos

alunos que tragam de casa recortes de embalagens onde consta a tabela nutricional

ou propiciar exemplos para que os mesmos analisem.

A partir da análise das tabelas pesquisadas, o professor pode discutir com

seus alunos o valor diário recomendado para uma pessoa e a quantidade de cada

nutriente fornecido pelos alimentos. É importante que neste primeiro momento os

alunos já trabalhem com tabelas nutricionais de produtos naturais e industriais.

As tabelas nutricionais apresentam a quantidade, em gramas e porcentagem,

de substâncias como as quilocalorias (kcal), carboidratos, proteínas, gorduras trans,

entre outros. O professor pode escolher qualquer um dos nutrientes para

estabelecer uma correspondência entre a quantidade ingerida e o total da

substância adquirida no organismo. A título de exemplo, utilizaremos as calorias

contidas em uma fatia de pizza, que é de 141kcal.

Juntamente aos alunos o professor pode propor a criação de uma tabela, da

seguinte forma:

Unidades 0 1 2 3 ... ?

Quilocalorias 0 141 282 423 ... ?

Nesse ponto, o professor deve investigar os conhecimentos que os alunos

possuem para determinar a quantidade de quilocalorias adquiridas para completar a

tabela, conforme as unidades forem aumentando. É possível, que os alunos

respondam usando apenas o conceito de proporcionalidade e o algoritmo da

multiplicação. A partir deste momento, podemos partir para o próximo momento na

metodologia da PHC, a problematização.

2.4 PROBLEMATIZAÇÃO

Analisadas as tabelas nutricionais, de produtos naturais e industrializados, os

alunos devem comparar com o cardápio que eles montaram no início. E de posse

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dos dados obtidos o professor deverá instigar alguns questionamentos entre os seus

alunos, por exemplo:

● Quantas quilocalorias uma pessoa adquire ao consumir 1 colher de arroz? E

2? 3? E 10 ?”

● As quantidades de nutrientes diários consumidos pelos alunos estão

adequadas a uma boa alimentação?

● Se uma pessoa consumir dois produtos no dia de uma das empresas

pesquisadas acima quantas calorias ela irá adquirir? E no mês?

● Qual o capital aplicado por cada aluno nas empresas pesquisadas? E por

toda a sala de aula? Pela cidade? Pelo País?

● É possível generalizar uma fórmula que apresente a quantidade de calorias

adquiridas em função da quantidade de porções consumidas?

● O consumo de alimentos industrializados fornece mais quantidades de

quilocalorias sê comparado aos alimentos de fontes naturais?

● Como estabelecer uma lei quantitativa que nos forneça a quantidade de

calorias que uma pessoa ainda pode ingerir ao final do dia?

● É possível projetar o lucro de uma empresa, sabendo que a mesma investe

R$ 1,00 para cada produto e o vende por R$ 3,50?

Outras perguntas poderão ser feitas visando à relação do tema com o

conteúdo a ser estudado.

Para criar a lei quantitativa que forneça a quantidade de quilocalorias

consumidas ou fornecidas, os alunos precisarão de um novo conceito, no caso as

funções. É neste momento, criada a necessidade de superação do conhecimento

empírico, que o professor deverá apresentar o conteúdo que a sociedade produziu

ao longo de sua história para auxiliar na resolução de problemas parecidos, neste

caso, a função.

2.5 INSTRUMENTALIZAÇÃO

Recursos: Lápis, borracha, caneta, papel milimetrado, computador com Geogebra,

régua, livro didático, caderno do professor e aluno (SEE).

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É nesse ponto que o professor deve socializar entre os alunos os

instrumentos criados ao longo da história da humanidade, que ajudam a responder

as questões que foram levantadas na problematização.

Tendo em vista que não foi utilizado ainda o termo “dependência” com os

alunos, é importante analisar as tabelas nutricionais novamente, mediante a

inserção de tal termo para os instrumentalizar com a linguagem matemática. Sendo

assim, a partir das tabelas, serão estabelecidas as primeiras relações de

dependências entre duas grandezas.

2.5.1 Relação de dependência entre duas grandezas, a proporcionalidade

A partir das tabelas nutricionais pesquisadas o professor poderá propor a

análise das diversas substâncias como os carboidratos, as proteínas, as gorduras, o

sódio, entre outros presentes nas tabelas. Porém, conforme mencionamos

anteriormente, neste trabalho trataremos somente a quantidade de quilocalorias.

O aluno deve ser instigado a encontrar a relação de dependência entre duas

grandezas a partir da mediação do professor. Para atingir este propósito, vamos

retomar a primeira questão levantada na problematização.

“Quantas quilocalorias uma pessoa adquire ao consumir 1 colher de arroz? E

2? 3? E 10?”

Para responder à questão, o aluno deve pesquisar quantas kcal, tem uma

porção de arroz. Nesse exemplo, vamos supor que cada porção de arroz, tem uma

quantidade energética correspondente a 41kcal.

É provável que os alunos respondam essa questão usando o conceito de

multiplicação. A partir das respostas dos alunos o professor pode construir na lousa

uma tabela da seguinte forma:

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Quantidade de colheres de arroz Quilocalorias

1 41

2 82

3 123

10 410

Neste momento é necessário analisar as respostas dos alunos e diagnosticar

se eles já notaram a relação de proporcionalidade existente entre a quantidade de

colheres de arroz e a quantidade de quilocalorias. Esta constatação é importante,

uma vez que a proporcionalidade está diretamente relacionada com as funções.

Para exemplificar, ao dobrar a quantidade de arroz, dobra-se a quantidade de

quilocalorias, ao triplicar a quantidade de arroz, triplica-se também a quantidade de

quilocalorias e assim por diante. Por meio da proporcionalidade o aluno consegue

compreender que existe uma correspondência entre o conjunto das quilocalorias e o

conjunto das quantidades de colheres de arroz.

Temos então a ideia fundamental da função que servirá de base para a

elucidação da lei quantitativa que relaciona os conjuntos estabelecidos pelas

quilocalorias e pelas colheres de arroz.

2.5.2 Noção de Variável

Pode-se observar que não houve a generalização por meio do uso de

variáveis até o presente momento. E como vimos anteriormente, esse é o próximo

passo para chegar ao conceito de função. Dessa maneira, é necessário então

apresentar o conhecimento científico aos alunos.

Neste sentido, o conceito que define pode ser assim descrito:

Seja (E) um conjunto qualquer de números, conjunto finito ou infinito, e convencionemos representar qualquer dos seus elementos por um símbolo, por ex.: x. A este símbolo, representativo de qualquer dos elementos do conjunto (E), chamamos de variável. (CARAÇA, 1984, p. 127)

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O professor neste momento pode apresentar diversos exemplos práticos de

variáveis para que os alunos compreendam a sua relação com a definição

matemática. Por exemplo: Em uma amostra de bactérias presentes no leite, o

número que representa a quantidade de bactérias pode ser representado por “b”;

nos conjuntos das quilocalorias fornecidos por um determinado alimento, o número

que representa a quantidade de quilocalorias consumidas pode ser representado

pela variável “x”; e assim por diante.

Desta forma, admitiremos a varável “x” como representante do conjunto da

quantidade de porções de arroz e “y” a quantidade de quilocalorias. Os alunos

devem perceber que a relação existente entre os conjuntos, é unívoca e no sentido

de “x” para “y”.

2.5.3 Ideia fundamental do Conceito de Função

Compreendido o conceito de variável, o professor deverá esclarecer aos

alunos que a relação existente na tabela que eles descreveram, se trata de uma

função, ou seja, a quantidade de quilocalorias que uma pessoa adquire ao comer

arroz está em função da quantidade de colheres de arroz que ela consome. Este é o

momento ideal para apresentar aos alunos a notação f(x).

Ao se apropriar da notação f(x), o professor poderá propor a criação de outra

tabela, agora criada utilizando o novo conhecimento. Sendo assim:

Número de colheres de arroz (x) Quantidade de quilocalorias

consumidas f(x) = y

1 41

2 2 . 41 = 82

3 3 . 41 = 123

. .

. .

x x . 41 = f(x) = y

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Nota-se que a fórmula matemática para descrever a relação existente entre

as grandezas já aparece de forma intuitiva na criação da tabela. Se isso não ocorrer,

o professor deve propiciar outros exemplos para que todos os alunos se apropriem

deste novo conhecimento. Espera-se que ao final da tabela os alunos tenham

encontrado a seguinte fórmula matemática:

y = f(x) = 41.x

O mesmo procedimento pode ser realizado com as outras tabelas nutricionais

para a assimilação da criação da lei quantitativa pelos alunos. Adotando como

exemplos as disponibilizadas neste trabalho, os alunos deverão chegar as seguintes

leis:

• Arroz – f(x) = 41x;

• Feijão – g(x) = 58x;

• BigMac – h(x) = 504x;

• Coxinha de frango – l(x) = 224x;

• Abacaxi – a(x) = 70x;

É importante ressaltar neste momento que estamos trabalhando com um caso

específico da função do 1º grau, que é a função afim.

2.5.4 Introduzindo o Conceito de Domínio e Imagem

Após constatada a apropriação dos alunos sobre a generalização algébrica

dos casos de função, o professor poderá abordar o conceito de Domínio e Imagem

da função. Por exemplo, ao questionar sobre a possibilidade de atribuir valores

negativos a x, os alunos podem chegar à conclusão que não é possível uma pessoa

adquirir -3 colheres de arroz, porém é possível que ela consuma ½ colher, logo os

valores possíveis para “x” serão os racionais positivos, ou seja, Q*.1 Uma vez

compreendida essa relação o professor pode solicitar aos seus alunos a

representação desse conjunto através de diagramas, onde é viável também a

1 Neste ponto os alunos podem demonstrar dificuldades sobre o conceito de conjuntos numéricos. O professor

deve estar atento para realizar esse diagnóstico e revisar se necessário esse conhecimento.

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criação do conjunto dos valores possíveis de “y” que serão os Números Reais (R).

Como segue:

A B

É imprescindível que o professor, após ter estabelecido as primeiras relações

a partir das respostas dos alunos, apresente o conhecimento científico, utilizando a

linguagem matemática, de modo que o conjunto A seja denominado Domínio da

função e representado por Dom(f), e B, o Contradomínio da função CD(f).

A partir da análise dos dois conjuntos o professor deve instigar os alunos a

notarem a correspondência unívoca existente entre o conjunto A e o B, ou seja, para

cada valor do conjunto A é possível relacionar com um único valor de B, os quais

serão chamados de Imagem de “x” pela função f para x A e y B.

Os alunos precisam reconhecer a relação de interdependência que existe

entre os valores no conjunto A com os contidos no conjunto B. Optamos em

direcionar essa atividade pela teoria dos conjuntos, por julgar que os alunos

conseguiriam visualizar de forma mais clara, a interdependência existente entre os

1

2

3

1/2

41

82

123

20,5

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conjuntos, e assim, poder empregar a mesma noção nos diferentes fenômenos que

viessem a serem analisados.

2.5.5 Definição de Função

Desse modo, chegamos a conceituação moderna de função, apresentada por

Riemmann-Dirichelet, no final do século XIX, como:

Sejam x e y duas variáveis representativas de conjuntos de números; diz-se que y é função de x e escreve-se y = f(x), se entre as duas variáveis existe

uma correspondência unívoca no sentido x y. A x chama-se variável

independente, a y variável dependente. (CARAÇA, 1984, p.129)

É preciso esclarecer que em Caraça (1984), o autor afirma que embora esse

conceito tenha ganho em generalidade, o mesmo afastou o conceito de função da

sua origem histórica. Contudo, aos objetivos dessa sequência didática, esse

conceito é o bastante para dar continuidade ao ato educativo da socialização do

conceito de função.

Deve-se ter em vista que um dos principais objetivos dessa sequência

didática é a apropriação do conteúdo de função do 1º grau. Assim, é necessário que

o mesmo compreenda e identifique as relações de correspondência entre variáveis

em diferentes contextos.

Sendo assim, utilizaremos exemplos do Caderno do Professor e do Aluno da

Secretaria Estadual da Educação de São Paulo para que os alunos apliquem e

exercitem o ato de expressar algebricamente relações de dependências entre duas

grandezas.

Exemplos:

1. Expresse algebricamente os exemplos abaixo: a) O perímetro p de um quadrado é diretamente proporcional ao seu lado a. R: O perímetro p de um quadrado é uma função de seu lado a. No caso, p = f(a) = 4a. Se o lado a aumenta, o perímetro p aumenta proporcionalmente. O perímetro p é direta mente proporcional ao lado a, sendo a constante de proporcionalidade igual a 4. b) A diagonal d de um quadrado é diretamente proporcional ao seu lado a. R: A diagonal d de um quadrado é uma função do lado a; ela é diretamente proporcional ao lado a. Temos, neste caso, d = a 2. A constante de proporcionalidade é k = 2. c) O comprimento C de uma circunferência é diretamente proporcional ao seu diâmetro d.

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R: O comprimento C de uma circunferência é uma função do diâmetro d; no caso, C é diretamente proporcional a d, e temos C = f(d) = π/d, ou seja, a constante de proporcionalidade é k = π. Também podemos escrever C = 2πr, onde r é o raio da circunferência. 2. Um prêmio P da loteria deve ser dividido em partes iguais, cabendo um valor x a cada um dos n ganhadores. Considerando um prêmio P de R$ 400 mil, preencha a tabela a seguir e expresse a relação de interdependência entre x e n.

R: A partir do fato de que os R$ 400 mil serão divididos em partes iguais entre os n ganhadores, concluímos que a cada um deles corresponderá um valor x, sendo n * x = 400 000, ou seja, n e x são inversamente

proporcionais: x = f(n) = .

3. O valor a ser pago por uma pessoa para abastecer com combustível seu automóvel varia proporcionalmente em função da quantidade de litros de combustível utilizada. Isso significa dizer que o preço é uma função da quantidade de litros de combustível que abastece o automóvel. Vamos imaginar que o litro da gasolina custe R$ 2,50. Denotando por P o preço a ser pago e por ℓ a quantidade de litros de gasolina com que um automóvel é abastecido, pede-se: a) Complete a tabela a seguir, que relaciona P com ℓ.

b) Qual é o preço a ser pago quando se abastece o carro com 10 litros? R: 25 litros. c) Observando a tabela, concluímos que P e ℓ são grandezas diretamente proporcionais, isto é, P/ℓ = constante = k, ou seja, P = f(ℓ) = k/ℓ. Determine o valor de k. R: P/ℓ = 2,5 P = f(ℓ) = 2,5 * ℓ; portanto, k = 2,5. (CADERNO DO PROFESSOR, Matemática, 1ª série do Ensino Médio, SÃO PAULO, 2014, p. 63).

2.5.6 A Função do 1º grau

Depois de explorado o conceito de função para a criação das leis

quantitativas, podemos partir para o caso específico de uma função, a função do 1º

grau.

Para responder a um dos questionamentos levantados na problematização,

que se trata de estabelecer uma lei quantitativa que forneça a quantidade de calorias

que uma pessoa ainda pode ingerir ao final do dia, utilizaremos o valor diário (VD)

presente nas tabelas nutricionais que mensura a quantidade diária de calorias que

uma pessoa pode consumir a 2000kcal.

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Podemos criar uma lei quantitativa, para uma pessoa que pretende manter a

sua dieta sem extrapolar o valor diário recomendado de 2000kcal, que forneça a

quantidade de quilocalorias que ela ainda pode consumir no dia. Por exemplo, ao

consumir 700kcal em um lanche, 1000kcal no almoço, essa pessoa poderá consumir

apenas 300kcal até o final do dia para que permaneça em sua dieta de 2000kcal,

pois 2000 – 700 – 1000 = 300kcal.

Sistematizando a relação acima, temos que a quantidade de calorias que

ainda podem ser consumidas pode ser representada por “y” e as calorias

consumidas por “x”. Logo, y = 2000 – x.

Para que os alunos compreendam tais noções, o professor pode apresentar a

seguinte situação: Joana foi ao médico e este a solicitou manter uma dieta com base

no VD de 2000kcal. Contudo, Joana teria que realizar quatro refeições por dia e

dispor de 3 porções de arroz e 6 porções de feijão em duas delas. O médico não

restringiu Joana de consumir qualquer alimento, desde que não ultrapasse o valor

recomendado. Sabendo que cada porção de arroz fornece 41kcal e feijão 58kcal,

como elaborar uma lei quantitativa que ajude a Joana controlar o consumo de

calorias por dia?

É importante que o professor permita a discussão entre os alunos para que os

mesmos estabeleçam suas hipóteses de resposta. Deve-se atentar para o caráter de

mediador que o professor precisa manter entre o conhecimento científico e o

espontâneo. Sendo assim, o professor não pode fornecer a resposta de imediato,

mas possibilitar por meio de suas intervenções que os alunos atinjam o resultado

esperado.

Os alunos devem chegar à conclusão que Joana terá um consumo fixo de

quilocalorias por dia provenientes das porções de arroz e feijão contabilizando

942kcal, pois 6 porções arroz dá 246kcal e 12 porções de feijão, resulta em 696kcal,

logo, a somatória de ambos dá 942kcal.

Do VD, temos que Joana pode consumir 2000 – 942, ou seja, 1058

quilocalorias.

Temos aqui uma relação simples de dependência, onde o valor de

quilocalorias que ainda podem ser consumidas (y), depende da quantidade de

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quilocalorias já consumidas (x). Esta dependência pode ser escrita como a lei

matemática de y = 1058 – x.

Outra situação pode ser gerada a partir deste mesmo problema.

Joana gosta muito de docinhos, mas precisa controlar a sua dieta como o

médico recomendou. Ela precisa de uma lei que a forneça a quantidade de

quilocalorias que pode ser destinada aos docinhos, tendo em vista que eles não

podem ser caracterizados como uma refeição. Para facilitar o cálculo, Joana come

no café da tarde, o mesmo que ela comeu no café da manhã.

Para este problema, a lei quantitativa pode ser definida como y = 1058 – 2x,

onde “x” é a quantidade de calorias consumidas no café da manhã e “y” a

quantidade de calorias que poderá ser destinada aos docinhos. Os alunos podem

perguntar porque o coeficiente 2 para “x”. Logo, deverá ser explicado que o valor de

quilocalorias consumidas no café da manhã é repetido no café da tarde, ou seja, ele

aparece duas vezes.

Assim, se Joana consumir 300 kcal no café da manhã, a quantidade de

calorias que poderá ser consumida por meio dos docinhos, será definida por: y =

1058 – 2.300, logo, Joana poderá comer docinhos até 458kcal.

A partir de tais situações, o professor poderá instigar os alunos a chegarem

na generalização da lei de uma função, chegando a f(x) = ax + b. E assim,

conceituar a função do 1º grau, como qualquer função f de IR em IR dada por uma

lei da forma f(x) = ax + b, onde “a” e “b” são números reais dados e a ≠ 0.

Os alunos podem criar outras leis quantitativas relativas a função do 1º grau,

a partir da análise do consumo de cada alimento separadamente. Por exemplo,

pode-se analisar a relação “quantas quilocalorias eu poderei adquirir depois de x

colheres de arroz”. Analisando a tabela nutricional do arroz, que apresenta 41kcal

por porção, chegamos a lei da função: y = 2000 - 41x, onde “x” é a quantidade de

colheres de arroz e “y” o valor de quilocalorias que a pessoa ainda poderá consumir

naquele dia. O valor fixo nesta função, é o valor diário recomendado do consumo de

quilocalorias fornecidos pelas tabelas nutricionais.

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2.5.7 Gráfico da função do 1º grau

Já foram desenvolvidas até esse ponto a relação entre duas grandezas, o

conceito de função, função definidas por fórmulas, conceitos de domínio,

contradomínio e Imagem. A partir deste momento, será desenvolvido o estudo do

gráfico de uma função.

O gráfico é importante neste estudo pois ele se apresenta como um recurso

visual na análise do crescimento e decrescimento do consumo de calorias de

diferentes alimentos. Trata-se do aluno conseguir comparar o ganho de calorias que

os alimentos industrializados oferecem aos alimentos saudáveis.

Para iniciar esse estudo, o professor poderá solicitar aos alunos que retomem

as leis quantitativas que fornecem o consumo de calorias por alimento que eles

pesquisaram para fim de comparação.

Utilizando os exemplos do início da sequência didática, temos que:

● Arroz – f(x) = 41x;

● Feijão – g(x) = 58x;

● BigMac – h(x) = 504x;

● Coxinha de frango – l(x) = 224x;

● Abacaxi – a(x) = 70x.

O professor poderá lançar um desafio para à análise dessas funções a partir

de seus gráficos. Por exemplo, como comparar a evolução do consumo de calorias

dos alimentos listados em um período de 15 dias se a pessoa comer uma porção por

dia de cada alimento?

Para resolver esse problema, a utilização dos gráficos das funções é a melhor

opção. O professor deve mostrar isso aos alunos fazendo com que eles construam

no sistema cartesiano o gráfico correspondente a cada função separadamente por

meio da atribuição de valores para x, exemplo:

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X y

0 0

1 41

2 82

3 123

10 410

Figura 15: Gráfico de função do 1º grau.

O gráfico deve ser construído em papel milimetrado pelos próprios alunos. Ao

localizar os pontos e depois os ligar, os alunos chegarão a uma reta crescente. Este

é o momento para o professor justificar que toda função do 1º grau irá gerar uma

reta, crescente ou decrescente, dependendo do sinal adotado pelo coeficiente de x.

No entanto, a linguagem matemática aqui utilizada pode ser desconhecida pelos

alunos, neste caso o professor deve retomar os significados de cada palavra.

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Para tornar as aulas diferenciadas e mais atrativas aos alunos, recomenda-se

a construção dos demais gráficos pelo software Geogebra2.

Após construídos todos os gráficos, o professor deverá solicitar a construção

de todas as funções no mesmo gráfico. Como segue:

Figura 16: Comparação do consumo de quilocalorias por alimentos.

Quando analisamos o gráfico acima constatamos que a evolução do consumo

de calorias adquiridas em 15 dias em produtos como o arroz, feijão e o abacaxi são

muito inferiores se comparados aos produtos industrializados. É evidente ao

visualizar os gráficos das funções “h” e “l” que o crescimento do consumo de calorias

é estrondoso, de maneira que as retas do gráfico se tornam impossíveis de analisar

já nos quatro primeiros dias.

É importante que o professor discuta entre os alunos os prejuízos a saúde

que o consumo descontrolado de calorias pode ocasionar. Essa discussão poderá

ser realizada a partir de uma pesquisa prévia dos alunos ou mesmo em parceria

com professores de outras áreas como a química, biologia, física ou educação física.

2 O software Geogebra é gratuito e disponível na internet. Ele permite realizar construções geométricas, inserir

funções, equações entre outras funcionalidades. Para saber mais, está disponível um tutorial de utilização pelo endereço eletrônico: http://static.geogebra.org/help/docupt_PT.pdf.

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2.5.8 Atividades

Para que haja a apropriação do conceito de função do 1º grau enquanto

conteúdo matemático, apenas estes exemplos são insuficientes. É imprescindível

que os alunos apliquem esses conhecimentos em situações diversas da que foi

apresentada. Para tanto, é necessário a disponibilização de situações problemas e

exercícios. Para esse fim, é viável selecionar em livros didáticos atividades que

contemplem o conteúdo em questão em diferentes contextos. Os alunos poderão

resolver a tais problemas individualmente ou em grupo de acordo com o critério

estabelecido pelo professor.

Conforme os alunos forem se apropriando dos conhecimentos, o professor

deverá retomar os questionamentos que foram levantados durante a

problematização.

No entanto, não se poderá perder de vista o pensamento crítico que norteia

este trabalho. Desta forma, em parceria com o professor de sociologia, pode-se

resgatar temas como o consumismo, capitalismo e a cultura de massa que tem na

sua dinâmica o lucro. Durante essas discussões, o professor pode estabelecer a

relação com as grandes empresas do ramo alimentício que em sua busca

desenfreada por lucros deixam de lado os cuidados com a saúde.

Nesse sentido, o professor poderá propor a análise dos rendimentos de uma

empresa famosa de hambúrgueres, como por exemplo o McDonalds. Sabendo que

a empresa gasta mensalmente um valor fixo de R$ 1000,00 para fabricar seus

produtos e que cada lanche sai ao consumidor a um valor de R$ 5,00, quanto à

empresa deve vender para começar a lucrar?

Para representar essa situação pode-se estabelecer uma relação matemática

na forma de y = 5x – 1000, onde “y” é o lucro e “x” a quantidade de hambúrgueres

vendidos no mês. Ao analisar essa função os alunos deverão chegar à conclusão

que a empresa começará a lucrar a partir da venda de 200 lanches vendidos. Neste

momento o professor poderá solicitar a seus alunos que busquem em sua cidade a

quantidade média de lanches vendidos em um mês em uma empresa como a

McDonalds e posteriormente, que relacionem com as propagandas circuladas pela

mídia e o incentivo ao consumo.

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Além disso, os alunos podem pesquisar quanto custa a produção dos

produtos naturais, de preferência os locais como a agricultura familiar e quanto custa

ao consumidor. Em seguida, expressar por meio de funções e analisar as taxas de

crescimento do consumo de quilocalorias a partir de seus gráficos.

Há muitas outras relações que podem ser feitas pelo professor para propiciar

a apropriação dos conceitos matemáticos seus alunos e cabe a cada um definir qual

a melhor metodologia para atingir esse fim.

2.6 CATARSE

O momento catártico se caracteriza pela superação do conhecimento inicial,

até então sincrético, caótico para o conhecimento em sua forma sintética, como

totalidade concreta. É o momento que o aluno demonstra que sabe utilizar o novo

instrumento apropriado em sua prática.

Isso posto, espera-se que no decorrer da sequência didática, os alunos

compreendam que a má alimentação é a causa de diversas doenças e tenha se

apropriado de elementos do novo instrumento matemático, a função.

Dessa forma, os objetivos da sequência didática somente estarão atingidos se

os alunos tiverem se apropriado do conceito de função do 1º grau como instrumento

matemático historicamente construído pela humanidade, de maneira que ele possa

operar este instrumento na análise e intervenção da prática social.

O processo avaliativo para essa sequência didática pode ser determinado por

avaliações escritas, apresentação de seminários, análise das discussões, enfim, o

instrumento fica a critério do professor, desde que ele apresente com clareza os

avanços e as dificuldades encontradas pelos alunos.

2.7 PRÁTICA SOCIAL FINAL

Esse momento sinaliza o final da sequência didática, porém, não o final do

processo de apropriação do conceito de função. Muitas outras relações que incidem

sobre esse conceito, serão abordados ao longo do ensino médio. No entanto, nesse

momento, é esperado que os alunos demonstrem uma mudança na sua visão

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sincrética em direção a visão sintética a respeito do conteúdo matemático e do tema

alimentação nas suas dimensões político-sociais.

Assim, a prática social final referente ao conteúdo matemático, se configura

com a utilização do novo instrumento matemático incorporado, na resolução de

problemas que antes era resolvido sem o devido instrumento.

Relacionado ao tema político-social, espera-se que os alunos tenham

compreendido que os excessos de quilocalorias são provenientes da má

alimentação, ou seja, o consumo de determinados alimentos, sobretudo os

industrializados, fornecem ao corpo humano uma quantidade exacerbada desta

energia. Esta constatação deverá ficar evidente por meio do recurso da elaboração

de um gráfico, onde será possível comparar o fornecimento de quilocalorias de

alimentos como arroz, feijão, frutas com os famosos lanches de uma empresa

multinacional.

Devido ao caráter político intrínseco a PHC, é esperado que os alunos

tenham o interesse em socializar e aplicar na prática os novos conhecimentos

apropriados. Isso aconteceu nos trabalhos de Alonso (2004), Ueno (2004), Matiazzo-

Cardia (2009), que ao abordar os temas político-sociais, motivaram os alunos a se

mobilizarem de tal maneira que os mesmos elaborararam meios de intervenção na

prática. Por exemplo, o envio de uma carta a CPFL, em Alonso (2004), questionando

a empresa a respeito dos impostos que vinham sendo cobrados na conta de energia

elétrica. Por isso, esperamos que ao final dessa sequência didática, os alunos

sintam o desejo e o comprometimento de intervenção na sociedade.

Dessa forma, o professor poderá propor aos alunos, em parceria com os

professores de Arte e Língua Portuguesa, a confecção de informativos sobre o que é

alimentação saudável e os riscos à saúde que geram a má alimentação. É

importante que os alunos incluam nesse trabalho a crítica feita as grandes empresas

do ramo alimentício que em sua busca desenfreada por lucros, esvaziam-se da

preocupação com o bem-estar social.

Esse é apenas um exemplo de como o resultado da apropriação do conteúdo

poderá retornar a sociedade de forma colaborativa. Outras sugestões podem ser

incorporadas como a construção de uma horta orgânica na escola em parceria com

o professor de biologia, a criação de um vídeo informativo divulgado nas redes

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sociais, entre outros. Contudo, é importante que os alunos sintam a necessidade

desta socialização e que principalmente tenham autonomia para a criação dos

mesmos.

Para finalizar, é necessário esclarecer que as condições sociais impostas pela

sociedade capitalista já são em si um empecilho para a difusão de práticas

alternativas da prática social. Não podemos delegar à escola a função de mudar as

conjecturas capitalistas pois, este é um problema exterior a ela. Porém a discussão

para a necessidade de superação deste sistema deve ser pano de fundo nas

práticas escolares.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se por meio dessa sequência didática, a apropriação do conteúdo

matemático de função do 1º grau, por alunos da 1ª série do ensino médio. Da

mesma forma, essa sequência didática foi elaborada procurando propiciar o

desenvolvimento da interdisciplinaridade e a reflexão crítica por meio de um tema

político-social.

Assim, em vários momentos foram citadas as contribuições de professores de

outras disciplinas com o propósito de que conceitos científicos pertencentes a outras

áreas do conhecimento fossem desenvolvidos em uma totalidade possível com o

aprofundamento necessário em cada aula. Porém, se essas relações não

acontecerem a princípio, é esperado que a interdisciplinaridade apareça como um

movimento dos próprios alunos.

Isso aconteceu, nos trabalhos de Ueno (2004), Alonso (2004), entre outros,

que ao trabalhar os temas político-sociais, desenvolveram nos alunos o interesse

pelo conteúdo. Dessa maneira, os mesmos se encarregaram de solicitar a ajuda dos

professores de outras áreas, visando o aprofundamento tanto do conteúdo quanto

do tema político-social.

Nesse momento, o professor pode estar se perguntando se esse trabalho não

pode ser caracterizado como um projeto. Na verdade, ele vai além de um projeto e

se diferencia da então chamada Pedagogia de Projetos.

A maior diferença reside no foco ao conteúdo. Para a pedagogia de projetos,

o conteúdo é refém do projeto, isto é, primeiramente encontra-se um problema do

cotidiano e um objetivo a alcançar. Os conteúdos são selecionados posteriormente

como meios para atingir a esses objetivos que geralmente não extrapolam o

empírico. São propostos problemas que atuam dentro do pragmatismo social sem

estabelecer qualquer crítica ao regime capitalista pois julga esta crítica estar fora do

cotidiano do aluno.

Neste trabalho ocorre o oposto, o projeto, se assim o professor quiser

chamar, é refém do conteúdo. Inicialmente é definido o conceito científico que se

pretende socializar com os alunos, (neste caso foi a função do 1º grau) e

posteriormente são definidos os meios para esse fim de maneira que extrapolem o

conhecimento imediato que os mesmos possuem do assunto. Outro fator relevante é

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a relação da prática social que atua não de forma a reproduzir a sociedade

capitalista, mas em denunciar e criticar suas relações para a sua superação.

Diante do exposto, fica evidente que este trabalho não caracteriza um método

fechado em si mesmo. Nem poderia ser diferente uma vez que a premissa da PHC é

a transmissão dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. Os

conteúdos científicos estão no centro das ações e a transformação social é o

resultado esperado pelas mediações do saber escolar.

Esperamos que essa sequência didática sirva como um incentivo e um

exemplo para práticas pedagógicas comprometidas com a socialização do saber

escolar as futuras gerações, “com métodos que vão além dos tradicionais e novos”

(SAVIANI, 2011, p. 62).

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REFERÊNCIAS

ALONSO, Elén Patricia. Uma abordagem político-social para o ensino de

Funções no Ensino Médio. 2004. 239f. Dissertação (Mestrado em Educação para a

Ciência) – Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2004.

CARAÇA, Bento de Jesus. Conceitos Fundamentais da Matemática. 1. ed. Lisboa:

Editora Livraria Sá da Costa, 1984. 318.

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5. ed.

rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2012. – (Coleção educação

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