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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Departamento de Sociologia
Sociologia do Desenvolvimento 2013/01
Prof. Antonio Davis Cattani
Alunos:
Beatriz Consuelo Stark
Simone Vieira da Silva
Stefan Azevedo Vargas
Ricardo Gausmann Pfitscher
O LIVRO: Produzir para viver: os caminhos da produo no capitalista.
Boaventura de Sousa Santos (org.) - Editora Record, 2002 - 514 pginas.
Este volume faz parte de uma coleo que rene diversos estudos sobre como, em
diferentes pases, os grupos sociais menos favorecidos se organizam para resistir contra
a excluso social produzida pela globalizao neoliberal. O projeto - composto de sete
volumes e realizado em seis pases - frica do Sul, Brasil, Colmbia, ndia,
Moambique e Portugal - teve por objetivo analisar iniciativas e movimentos de
resistncia e de formulao de alternativas em vrios domnios sociais. Dirigido pelo
socilogo portugus Boaventura de Sousa Santos, envolveu 69 pesquisadores e foram
analisadas 60 iniciativas, movimentos ou organizaes.
INTRODUO
Introduo: para ampliar o cnone da produo.
Boaventura de Sousa Santos Csar Rodrigues
Pontos principais da introduo
Introduo
A histria do capitalismo: uma histria de lutas e resistncia e de crticas a esses
valores e prticas.
Sc. XVIII - Luta dos camponeses ingleses contra a sua integrao forada nas
fbricas protocapitalistas
Apropriao privada das terras comunais.
(At) Lutas contemporneas nas comunidades indgenas nos pases perifricos e
semiperifricos contra a explorao de seus territrios ancestrais.
Movimentos operrios e sociais.
O capitalismo tem sido desde sempre confrontado e desafiado.
Sc. XXI
Urgente: pensar e lutar por alternativas econmicas e sociais.
Por duas razes:
1. A ideia de que no h alternativas ao capitalismo conseguiu um nvel de
aceitao que no tem precedentes na histria do capitalismo mundial.
As elites polticas, econmicas e intelectuais conservadoras impulsionaram com
tamanha agressividade as polticas e o pensamento neoliberal, segundo o qual
no h alternativa nenhuma ao capitalismo neoliberal, ganhando credibilidade
inclusive entre os crculos polticos e intelectuais progressistas.
O reavivamento (nas dcadas anteriores) da ideia de utopia do mercado
autoregulado sob a forma do neoliberalismo contemporneo, porm sem o
surgimento simultneo de lutas e pensamentos crticos (que passaram para a
defenciva).
2. O modelo de economias socialistas centralizadas, enquanto alternativa
sistmica ao capitalismo no mais vivel nem desejvel.
Ex. colapso desses sistemas nofinal de 80 e incio de 90. URSS.
Sobre as ALTERNATIVAS e o estudo de casos deste livro
Pretende-se centrar a ateno simultaneamente na viabilidade e no potencial
emancipatrio das mltiplas alternativas que tem sido formuladas e praticadas
por todo o mundo.
A viabilidade de tais alternativas depende em boa medida da capacidade de
sobreviver no contexto do domnio do capitalismo.
As alternativas representam formas de organizao econmica baseadas nos
princpios de igualdade, de solidariedade e de proteo do meio ambiente.
Igualdade: os frutos de trabalho so distribudos de maneira equitativa pelos
seus produtores e participao de todos nas tomadas de decises. Ex.
cooperativas.
Solidariedade: o que uma pessoas recebe depende de suas necessidades e sua
contribuio depende de suas capacidades.
Proteo ao meio ambiente: a escala e o processo de produo ajustam-se a
imperativos ecolgicos, mesmo quando contrariam crescimento econmico.
Estas alternativas so possibilidades de formas de conceber e organizar a vida
econmica que implicam reformas radicais dentro do capitalismo baseadas
em princpios no capitalistas.
A anlise das alternativas foram feitas a partir da hermenutica das
emergncias (paradigma emergente): interpreta as formas de como as
organizaes, movimentos e comunidades resistem a hegemonia do capitalismo
e aderem a alternativas econmicas baseadas em princpios no-capitalistas.
No pretendem substituir o capitalismo de um s golpe, mas tornar mais
incmoda sua reproduo e hegemonia.
As alternativas compreendem desde pequenas unidades de produo locais
(associaes de moradores, cooperativas...) at propostas de coordenao
macroeconmica e jurdica global (direitos trabalhistas e leis ambientais).
Variam sua relao com o sistema capitalista: podem ser compatveis com o
sistema de maercado e empresas capitalistas, mas podem ser radicais implicando
o abandono ou transformao da produo capitalista.
TRS CARACTERSTICAS NEGATIVAS DAS ECONOMIAS
CAPITALISTAS
1. O capitalismo sistematicamente produz desigualdades de recurso e de poder.
Desigualdade entre as classes sociais (rendimentos desiguais).
A separao entre capital e trabalho + subordinao do trabalho ao capital.
A apropriao privada dos bens pblicos.
Na tradio feminista: diferenas de classe reforam as diferenas de gnero
(sociedade patriarcal).
Teorias crticas de base racial: opresso entre raas e explorao econmica
se alimentam mutuamente.
2. Formas de sociabilidade empobrecidas, baseadas no benefcio pessoal em
lugar da solidariedade.
Reduo da sociabilidade ao intercmbio.
Relaes de concorrncia exigidas pelo mercado capitalista.
3. Explorao crescente dos recursos naturais, mesmo ques condies fsicas de vida na Terra se encontram em perigo.
Superar a dicotonomia REFORMA X REVOLUO
Reformas revolucionrias:
Empreender reformas e iniciativas que surjam dentro do sistema capitalista em que
vivemos, mas que facilitem e dem credibilidade a formas de organizao econmica e
de sociabilidade no capitalistas.
UM MAPA DE ALTERNATIVAS DE PRODUO
1. AS FORMAS COOPERATIVAS DE PRODUO
A) A TRADIO COOPERATIVA
O pensamento e a prtica cooperativista modernos so to antigos quanto o
capitalismo industrial. (Primeiras cooperativas, 1826 na Inglaterra reao ao
empobrecimento provocado pela converso macia de camponeses e pequenos
produtores em trabalhadores de fbricas).
O pensamento associativista e a prtica cooperativa desenvolveram-se como
alternativa ao individualismo liberal e, tambm, ao socialismo centralizado.
Enquanto teoria social o Associativismo: cooperao e mutualidade, papel
central na sociedade civil.
Enquanto prtica econmica o Cooperativismo: inspira-se nos valores de
autonomia, democracia participativa, igualdade, equidade e solidariedade.
Princpios do cooperativismo:
1. O vnculo aberto e voluntrio,
2. O controle democrtico por parte dos membros,
3. A participao econmica dos membros,
4. A autonomia e a independncia em relao ao Estado e outras organizaes,
5. O compromisso com a educao dos membros da cooperativa,
6. A cooperao entre cooperativas,
7. Contribuio para o desenvolvimento da comunidade e em que est inserida.
Sobre as Cooperativas
Opinio prevalecente nas Cincias sociais:
Tem tendido a ser de que as cooperativas so intrinsecamente instveis, por estarem
presas a um dilema estrutural.
Estruturas democrticas as tornam mais lentas nas tomadas de decises,
Necessidade de investimentos considerveis de capital que s podem ser obtidos
apelando para investidores externos, cuja influncia desvirtua o esprito da
mesma.
A que se deve o ressurgimento do interesse?
Quatro razes fundamentais.
1. Apesar de as cooperativas estarem baseadas em valores e princpios no
capitalistas (contrrio a separao entre capital e trabalho e subordinao deste
quele) sempre foram concebidas e operaram como unidades produtivas no
mercado.
2. Trabalhadores-proprietrios tem mais incentivo econmico e moral para dedicar
o seu tempo e esforo ao trabalho, beneficiando-se diretamente quando a
cooperativa prospera. (diminui drasticamente os custos de superviso).
O mercado atual exige: flexibilidade s alteraes da demanda, motivao e
participao ativa e inovadora dos trabalhadores, insero em rede de
cooperao econmica formada por outras empresas flexveis e instituies
culturais, educativas e polticas. Resumindo: uma empresa formada em uma
economia cooperativa.
3. Como os trabalhadores so tambm os proprietrios, a difuso das cooperativas
tem um efeito igualitrio direto sobre a distribuio da propriedade na economia,
diminuindo os nveis de desigualdade e estimulando o crescimento econmico.
4. As cooperativas geram tambm benefcios no econmicos para os seus
membros e comunidade em geral, contrariando os efeitos desiguais da economia
capitalista.
As cooperativas de trabalhadores ampliam a democracia participativa at o
mbito econmico e, com isso, estendem o princpio de cidadania gesto das
empresas.
O CASO EXEMPLAR:
O COMPLEXO COOPERATIVO DE MANDRAGN (ESPANHA)
B) ASSOCIATIVISMO E SOCIALISMO:
DO SOCIALISMO CENTRALIZADO AO SOCIALISMO DE MERCADO
Teorias econmicas socialistas: preferncia manifesta pelo planejamento
centralizado da economia (desde o sec. XIX at meados do sc. XX).
Socialismo Centralizado: medo do mercado, da economia plural e da
concorrncia.
Socialismo de mercado: a partir da anlise da inviabilidade do modelo
sovitico.
Segundo o socialismo de mercado, no existe uma relao necessria entre
mercado e capitalismo. O Mercado um mecanismo de coordenao das
decises econmicas descentralizadas. Por si prprio, o Mercado no gera os
nveis de desigualdade e alienao que caracterizam o capitalismo.
possvel ento, fazer reformas radicais no regime da propriedade e de outras
instituies, de modo que os mercados facilitem a concretizao de objetivos
socialistas. Exige-se, em especial, que as empresas sejam propriedades dos
trabalhadores, ou seja, que funcionem como cooperativas de trabalhadores.
Crticas ao socialismo de mercado:
O mercado inevitavelmente produz desigualdade econmica e gera tipos de
sociabilidade individualista, sendo ambos opostos aos princpios socialistas.
2. AS ECONOMIAS POPULARES E O DESENVOLVIMENTO
ALTERNATIVO NA PERIFERIA E NA SEMIPERIFERIA
1. AS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO ALTERNATIVO
A ideia de desenvolvimento
Dominou as discusses e as polticas econmicas dos pases pobres por mais de
meio sc.
Aps Segunda Guerra Projeto de Desenvolvimento - proposta de acelerao
econmica dos pases perifricos por meio de programas nacionais
internacionais como meio de eliminar o fosso entre pases desenvolvidos e
subdesenvolvidos.
Projetos de Desenvolvimentos concebidos e implementados a partir de cima
sem a participao das comunidades afetadas.
Ideia centrada na acelerao do crescimento econmico (setor industrial),
implicando a marginalizao de outros objetivos sociais, econmicos e polticos
(participao democrtica na tomada de decises, distribuio equitativa dos
frutos de desenvolvimento e preservao do meio ambiente).
A teoria do DESENVOLVIMENTO ALTERNATIVO
Incio dos anos 70,
Descontentamento face abordagem tradicional do desenvolvimento.
Pressupostos e Propostas (Coluna vertebral)
Uma das principais fontes de energia e idias nas crticas globalizao neoliberal.
Anlises tericas e os trabalhos empricos variados.
1. Uma crtica estrita racionalidade econmica.
Sacrifcio de bens e valores no-econmicos: sociais (igualdade), poltico
(participao democrtica), culturais (diversidade tnica) e naturais (meio
ambiente).
Contra a ideia de que a economia uma esfera independente da vida social.
O desenvolvimento econmico deve promover melhorias nas condies de vida
para a populao em geral.
2. Prope um desenvolvimento de base (de baixo para cima). Sociedade civil
(comunidades organizadas).
A iniciativa e o poder de deciso deve residir na sociedade civil, longe de ser
competncia exclusiva do Estado e elites econmicas.
3. Privilegia a escala do local.
4. O desenvolvimento alternativo ctico em relao a uma economia centrada
exclusivamente em formas de produo capitalista quanto a um regime
econmico centralizado e controlado pelo estado.
Propes alternativas baseadas em iniciativas coletivas.
Favorece estratgias econmicas autnomas, autogesto das empresas populares
e construo de poder comunitrio. (crtica ao paternalismo estatal).
Linhas principais de pensamentos e aes
1. Movimentos sociais, ONGs, comunidades e setores governamentais continuam a
promover formas associativas de produo. (associaes de moradores,
cooperativas de trabalhadores).
2. Movimento Ecologista desenvolvimento sustentvel.
3. Movimentos Feministas reconhecimento da contribuio do trabalho feminino
no desenvolvimento econmico, polticas que aliviem a dupla carga de trabalho,
etc.
4. Programas de apoio econmico s classes populares (microcrditos).
Um fenmeno de dois gumes crditos em si mesmo X subsistncia.
5. Movimentos sociais populares.
Promover acesso a recursos como terra e habitao. MST. Passagem de nibus.
6. Retorno ao local ou relocalizao.
Os vazios das abordagens ao desenvolvimento alternativo (limitaes)
nfase exclusiva na escala local.
ALTERNATIVAS AO DESENVOLVIMENTO
(rejeio total do paradigma hegemnico)
Alternativas ao Desenvolvimento
X
Desenvolvimento Alternativo
As propostas coincidem parcialmente com os defensores do desenvolvimento
alternativo..
Radicalizam a crtica noo de crescimento e, conseqentemente, exploram
alternativas ps-desenvolvimentistas.
Crtica radical a ideia de desenvolvimento sustentvel.
Equivalente a crescimento sustentvel uma contradio.
O crescimento econmico impossvel sustentar sem a destruio de recursos.
Desenvolvimento sustentvel: desenvolvimento sem crescimento.
Ecofeminismo - Contra a reivindicao da importncia das mulheres no
desenvolvimento, pois deve-se estabelecer um novo paradigma de
desenvolvimento.
Reivindicao da diversidade cultural e da diversidade de formas de produzir e
entender a produo.
A fonte de alternativas ao desenvolvimento encontra-se nas culturas hbridas e
minoritrias.
Limitaes: nfase quase exclusiva na escala local, comunitria.
CONCLUSO: NOVE TESES SOBRE AS ALTERNATIVAS DE PRODUO
TESE 1
As alternativas de produo no so apenas econmicas: o seu potencial
emancipatrio e as suas perspectivas de xito dependem, em boa medida, da
integrao que consigam entre processos de transformao econmica e processos
culturais, sociais e polticos.
Observar a crtica exclusiva racionalidade econmica. Observar as dinmicas no-econmicas culturais, sociais, afetivas e polticas. As alternativas so holsticas e seu xito depende das dinmicas e processos
econmicos e no-econmicos se sustentam mutuamente dentro delas.
TESE 2
O xito das alternativas de produo depende da sua insero em redes de
colaborao e apoio mtuo.
Observar a crtica ao individualismo e s formas desgastadas de sociabilizao
capitalista .
Promover redes de mtuo apoio:sindicatos, ONGs, fundaes, cooperativas,
movimentos sociais... e at alianas com companhias capitalistas.
TESE 3
As lutas pela produo alternativa devem ser impulsionadas dentro e fora do
Estado.
Para no ceder o terreno poltico ao poder econmico hegemnico.
Mobilizar os recursos do Estado a favor dos setores populares.
Continuar a formar alternativas ao status quo.
Desconfianas:
Risco de cooptao das alternativas por parte do estado.
Passividade deste perante os problemas das classes populares.
Perigo de que as iniciativas fiquem dependentes da ajuda estatal.
TESE 4
As alternativas de produo devem ser vorazes em termos de escala.
Expandir redes de apoio e solidariedade em nvel global.
TESE 5
A radicalizao da democracia participativa e da democracia econmica so duas
faces da mesma moeda.
Em outras palavras, o objetivo estender o campo de ao da democracia do campo
poltico para o econmico e apagar, desta forma, a separao artificial entre poltica e
economia que o capitalismo e a economia liberal estabeleceram.
TESE 6
Existe uma estreita conexo entre as lutas pela produo alternativa e as lutas
contra a sociedade patriarcal.
As mulheres no so apenas objeto de opresso de gnero, mas as principais vtimas de
explorao e marginalizao econmica.
TESE 7
As formas alternativas de conhecimento so fontes alternativas de produo.
TESE 8
Os critrios para avaliar o xito ou o fracasso das alternativas econmicas devem
ser gradualistas e inclusivos.
Pacincia da utopia
Observar o carter holstico alm do econmico.
TESE 9
As alternativas de produo devem estar em relao de sinergia (mutuabilidade)
com alternativas de outras esferas da economia e da sociedade.
Comrcio
Investimento
Imigrao
Tributao
BIBLIOGRAFIA
SANTOS, Boaventura Santos. Para ampliar o cnone da produo. In
SANTOS, B.S. Produzir para viver. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira,
PP.23/77.