Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante
Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
180 p.; il.
CDD 780
apresentação Muito bem-vindos futuros colegas professores de
música. Toda
caminhada, por mais longe que nos leve, começa com o primeiro
passo. Se este é o seu primeiro contato com o estudo do violão você
terá um longo e gratificante caminho a desbravar, caso já tenha
domínio do instrumento acreditamos que poderá encontrar nas
próximas páginas conteúdo útil para o seu aperfeiçoamento musical,
bem como ideias e mediações úteis em sua atuação profissional como
educador musical.
O intuito deste Livro Didático é lhe apresentar os primeiros
elementos do estudo do violão com embasamento teórico no campo
pedagógico- didático, bem como conteúdo e dicas práticas para suas
aulas de música.
O material foi desenvolvido com foco no violão popular, no entanto,
se desejar, mais tarde, seguir pelo estudo do violão erudito, já
terá conhecido os elementos técnicos básicos que também lhe serão
úteis, uma vez que as técnicas de execução estudadas procuram
manter as orientações apresentadas nos métodos de violão erudito,
que devem, ao nosso ver, serem aproveitadas também no violão
popular a fim de obter os melhores resultados com o menor esforço
técnico.
Espero poder contribuir de alguma forma para facilitar essa
grandiosa, difícil e muito gratificante tarefa que escolhemos como
nossa missão de vida: a de propiciar as pessoas os elementos
técnicos de mais uma forma de comunicação. A música nos permite
emitir e receber mensagens de maneira muito intensa e quase
instintiva, sem limites de idioma.
Nosso papel como educadores musicais é continuar mantendo essa
linguagem viva ao longo dos tempos por meio de todo arcabouço
técnico já desenvolvido, e estimular o surgimento de novas formas
de expressão musical.
Prof. Fabiano Humberto Pintarelli
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim,
tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para
você que já é veterano, há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os
acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de
2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais
prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi
aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo
o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração
de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações
sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital.
Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo,
UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei
para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que
complementam o assunto em questão.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que
recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais
impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar
seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi
disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um
código que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa
ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR
Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar
seus estudos!
UNI
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um
novo conhecimento.
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do
livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por
meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de
aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos
pensados e construídos na intenção de auxiliar seu
crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
.............................................................................................1
TÓPICO 1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
...............................................................3 1
INTRODUÇÃO
.......................................................................................................................................3
2 UMA BREVE HISTÓRIA DO VIOLÃO
............................................................................................3
2.1 O VIOLÃO NA MÚSICA POPULAR
............................................................................................7
3 CAMPO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
......................................................................................8
4 CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO E CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS
..........................10
RESUMO DO TÓPICO
1........................................................................................................................20
AUTOATIVIDADE
.................................................................................................................................21
4 RITMO INICIAL 1 – MÚSICA 1 – PRIMEIROS ACORDES
.......................................................46 4.1 RITMO
INICIAL 1 – MÚSICA 2 – PRIMEIROS ACORDES
.....................................................50 4.2
REPERTÓRIO EXTRA DO RITMO INICIAL 1
..........................................................................51
4.3 EXERCÍCIO DE ESTÍMULO À COMPOSIÇAO
.........................................................................54
LEITURA COMPLEMENTAR
...............................................................................................................55
RESUMO DO TÓPICO
3........................................................................................................................58
AUTOATIVIDADE
.................................................................................................................................59
TÓPICO 1 – TABLATURA, DEDILHADOS E RITMO 2
.................................................................63
1 INTRODUÇÃO
.....................................................................................................................................63
2 ORIGENS E LEITURA DE TABLATURA
........................................................................................63
sumárIo
VIII
3 LEVADA RÍTMICA 2 – MÚSICA 1
...................................................................................................72
3.1 MÚSICA FOLCLÓRICA NACIONAL
.........................................................................................74
3.2 LEVADA RÍTMICA 2 – MÚSICA 2
...............................................................................................75
3.3 REPERTÓRIO EXTRA
....................................................................................................................77
3.4 EXERCÍCIO DE ESTÍMULO À COMPOSIÇÃO
.........................................................................79
1 INTRODUÇÃO
.....................................................................................................................................83
2 ESCALA DIATÔNICA MAIOR
.........................................................................................................83
AUTOATIVIDADE
.................................................................................................................................84
3 CAMPO HARMÔNICO DIATÔNICO MAIOR
............................................................................86
TÓPICO 1 – CAMPO HARMÔNICO DE TÉTRADES, TÉTRADES COM SÉTIMA, LEVADA
RÍTMICA CANÇÃO 2/4, ACORDES COM PESTANA ........................129
1 INTRODUÇÃO
...................................................................................................................................129
2 TÉTRADES - CAMPO HARMÔNICO MAIOR E MENOR
.....................................................129
2.1 ACORDES COM SÉTIMA – ESTRUTURA E DIGITAÇÃO
....................................................133
IX
3.1 LEVADA RÍTMICA CANÇÃO – MÚSICA
1.............................................................................139
3.2 CONTEXTUALIZANDO A CANÇÃO
......................................................................................140
3.3 LEVADA RÍTMICA CANÇÃO – MÚSICA
2.............................................................................141
3.4 REPERTÓRIO EXTRA DA LEVADA RÍTMICA -
CANÇÃO..................................................142 3.5
PESTANA – CONCEITO E EXERCÍCIOS TÉCNICOS
............................................................142 3.6
EXERCÍCIO TÉCNICO – DESENHO DA ESCALA MENOR NATURAL
............................144
4 INVERSÃO DE ACORDES
..............................................................................................................157
RESUMO DO TÓPICO
2......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE
...............................................................................................................................162
3 INVERSÕES DE ACORDES – TRÍADES MENORES
................................................................169
3.1 TRANSPOSIÇÃO TONAL
...........................................................................................................171
TEÓRICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• descrever em linhas gerais o desenvolvimento histórico do violão
partindo da antiguidade;
• citar algumas das importantes contribuições do violão para nossa
Música Popular Brasileira;
• ter consciência acerca do campo profissional que o violonista
pode explorar conforme suas opções de estudo;
• compreender as principais características técnicas do instrumento
e como estas influenciam na sonoridade final;
• relacionar as contribuições das teorias de Vygotsky e Ana Mae
Barbosa para sua atuação profissional;
• dominar as convenções básicas da escrita violonística, como
nomenclaturas, sinais, e demais códigos;
• identificar e selecionar a postura mais adequada para estudo e
prática ao violão; • descrever corretamente a afinação de cada
corda solta, bem como a
distribuição das notas pelo braço do instrumento; • executar as
levadas e rítmicas, e canções exemplo, apresentadas na unidade; •
dominar a execução dos acordes apresentados nas canções exemplo da
unidade; • compreender a leitura e dominar a utilização das cifras
para violão.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO TÓPICO 2 –
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO TÓPICO 3 – ELEMENTOS PRÁTICOS
INICIAIS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim
absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 UNIDADE 1
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico conheceremos um pouco da origem
do violão. A
partir da antiguidade, onde temos registros confiáveis da
existência de instrumentos similares até o surgimento, no século
XIX, do modelo clássico até hoje utilizado.
Tendo em vista o foco deste livro, veremos apenas as linhas gerais
do desenvolvimento do instrumento. Falaremos acerca do campo de
atuação profissional para o violonista e professor de violão ou
música. Das vantagens práticas de domínio desse instrumento que
figura entre os mais populares, senão o mais popular, do Brasil. Em
seguida trataremos da construção e das partes do violão e como elas
afetam no desempenho musical. Veremos a importância de conhecer os
materiais de construção e manutenção de seu violão. Trataremos
também das informações necessárias para uma escolha consciente do
tipo de violão que você pode comprar de acordo com o uso que
pretende fazer dele: qual modelo, quais cordas mais adequadas e a
relação custo-benefício.
2 UMA BREVE HISTÓRIA DO VIOLÃO Diversas fontes apontam que o
violão, com o desenho que conhecemos
hoje, surgiu na Espanha no final do século XIX pelas mãos do
luthier Antonio de Torres Jurado. Em 1825, o também espanhol
Dionísio Aguado publicou Escuela de Guitarra, considerado um dos
primeiros métodos para violão de 6 cordas. Aguado também
estabeleceu convenções técnicas que ainda são muito usadas até
nossos dias, principalmente no violão erudito.
FIGURA 1 – VIOLÃO DE ANTONIO DE TORRES JURADO, 1859
FONTE: <https://www.guyguitars.com/images/torres1859.jpg>.
Acesso em: 10 ago. 2019.
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
4
Antes de chegar a esse formato o instrumento teve uma longa e não
muito bem definida trajetória. Existem diversas teorias sobre a
origem do instrumento, no entanto, nenhuma delas é considerada
unanimidade.
Quando se trata de registros, os mais antigos são encontrados na
Mesopotâmia e no Egito, os quais mostram instrumentos de corda como
harpas de casco de tartaruga, liras e taburs.
No estandarte de Ur, uma placa de madeira entalhada encontrada no
sul do atual Iraque e datada de 2600 a.C., pode-se ver no final da
primeira linha de figuras um tocador de lira aparentemente
acompanhando um cantor.
FIGURA 2 - LIRA DO ESTANDARTE DE UR - 2600 a.C.
FONTE: Adaptado de
<https://ensinarhistoriajoelza.com.br/estandarte-de-ur/>.
Acesso em: 12 ago. 2019.
Já neste afresco de uma tumba, datado de 1425 a.C., nos arredores
da cidade egípcia de Luxor, podemos ver um grupo de músicos com uma
harpa uma espécie de tabur (visualmente talvez o mais parecido com
o violão) e um tipo de tambor.
FIGURA 3 - AFRESCO EGÍPCIO - 1425 a.C.
FONTE: <http://www.touregypt.net/images/touregypt/rek5.jpg>.
Acesso em: 12 ago. 2019.
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
5
Podemos ver nas imagens a seguir mais algumas etapas mais recentes
da evolução não linear, visto que se desenvolveu ao longo de muitos
séculos em diversos países e culturas diferentes, que levou ao
instrumento que temos hoje:
FIGURA 4 - CÍTARA GREGA - 490 a.C.
FONTE: <http://greciantiga.org/img/g/gi002.jpg>. Acesso em:
10 ago. 2019.
FIGURA 5 - GUITARRA MOURISCA - SEC. XI A XII
FONTE:
<https://www.cursodeviolaoclub.com/images/ancestral-violao.jpg>.
Acesso: em 10 ago. 2019.
FONTE:
<https://i1.wp.com/folhasnocaminho.nalanda.org.br/wp-content/uploads/2013/06/
alaude.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2019
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
6
FONTE:
<http://www.diabolus.org/workshop/vihuela/vihuela.jpg>.
Acesso em: 11 ago. 2011.
A origem do violão não foi, e talvez nunca seja, totalmente
rastreada, há divergências entre as teorias. Alguns acreditam que
seja originário da kithara grega (uma espécie de harpa), outros que
seja descendente do alaúde.
Para Bartolini (2015), durante o século XVI, existiu além do alaúde
e da vihuela um instrumento chamado guitarra. E o violão teria se
desenvolvido a partir desse último.
“Os espanhóis chamavam-na de ‘guitarra’, os italianos de ‘chitarra’
ou ‘chitarino’, os franceses de ‘guiterre’ ou ‘guiterne’ e os
ingleses de ‘gittern’. A guitarra era menor que vihuela e,
geralmente possuía quadro ordens (quatro pares de cordas)”
(BARTOLINI, 2015, p. 34).
Ainda segundo o autor (BARTOLINI, 2015), no final do século XVI
surgiu uma nova versão da guitarra, atribuída ao espanhol Vicente
Espinel (1550-1624), uma guitarra com 5 pares de cordas. Acerca da
mudança do número de cordas veja o comentário de outro importante
violonista espanhol Gaspar Sanz (1629- 1679): “[...] em Madri, o
maestro Espinel, espanhol, acrescentou a quinta [corda], [...] os
franceses, italianos e demais nações, imitando-nos, acrescentaram
também às suas guitarras a quinta, e por isso a chamam de guitarra
espanhola” (SANZ, 1979 apud BARTOLINI, 2015, p. 36).
O próximo passo rumo ao desenvolvimento do violão foi com o padre
Miguel Garcia. Mais um violonista espanhol, como você já percebeu
os espanhóis tiveram um importante papel no desenvolvimento da
história do violão. Ele acrescentou mais dois pares de cordas tendo
criado uma guitarra de 7 pares. Esta, no entanto, logo caiu em
desuso ficando apenas com 6 pares. Em seguida esses 6 pares se
tornaram cordas simples e, como vimos no início deste texto, a
partir do século XIX o violão já tem o formato e a afinação que
usamos hoje.
Em se tratando de instrumento tão popular e de variadas
influências, parece coerente afirmar que seu desenvolvimento foi
bastante complexo, talvez possamos comparar o desenvolvimento do
instrumento ao das obras folclóricas que são uma somatória de
influências e alterações que as tornam anônimas e difíceis de
datar, apresentando lacunas nas tentativas de rastrear sua origem
passo a passo.
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
7
2.1 O VIOLÃO NA MÚSICA POPULAR
A história do violão no Brasil está embricada com a própria
formação de nossa música popular, e ambas são também resultado
direto de nossa história social. O instrumento tem forte ligação
com os países ibéricos, sendo que Portugal, como nosso colonizador,
nos influenciou de maneira mais incisiva. Como a nossa música, o
violão percorreu caminhos ligados aos desdobramentos
sócio-históricos acontecidos em nosso país. O violão teve, e ainda
tem, papel bastante relevante no surgimento e evolução de nossa
música popular. De fato, quando observamos os principais estilos
musicais que se desenvolveram em nossa história musical, o violão
está presente como um ator relevante na maioria deles.
Podemos, em uma análise rápida, apontar três exemplos de caminhos
pelos quais o violão indiretamente, como instrumento de cultura,
influenciou nossa música popular. O primeiro foi com a chegada dos
colonizadores portugueses. O segundo por meio da influência da
cultura hispânica presente nos nossos países vizinhos: Argentina,
Uruguai, Paraguai. Um terceiro caminho foi a influência da cultura
americana no período pós-guerra.
Com a colonização portuguesa vieram na bagagem, desde muito cedo,
sua cultura e costumes. Os padres jesuítas já faziam amplo uso da
música e de instrumentos musicais na catequização dos índios e mais
tarde em seus colégios. Para falar mais especificamente do violão
daremos um salto até o século XVIII e XIX onde a modinha portuguesa
foi um desses elementos culturais trazidos pelos portugueses. A
modinha em particular tem influência marcante na nossa música
popular até os dias de hoje. A música sertaneja, por exemplo, ainda
carrega os fortes traços da modinha tais como o romantismo, as
lamúrias amorosas nos temas, a “sofrência” como hoje é chamado o
“sertanejo universitário”. A canção lamuriosa é típica da cultura
portuguesa como evidencia o Fado, um dos estilos mais importantes
da música portuguesa. O uso da expressão “moda sertaneja” também é
um exemplo da herança das antigas modinhas portuguesas que foram
muito populares no século XIX no Brasil. A Modinha teve todo um
percurso de desenvolvimento que não cabe aqui detalhar, mas de fato
foi amplamente difundida no Brasil tanto nos salões das classes
mais abastadas quanto nas ruas pelo povo.
Podemos ver nesse relato do viajante Gustavo Beyer, citado por
BARTOLINI (2015), publicado em Estocolmo em 1814, um pouco do
cenário musical de São Paulo da época onde estão presentes a
modinha e a guitarra espanhola sendo executada principalmente pelas
mulheres segundo o registro do viajante:
Nunca vi olhos mais expressivos, dentes mais bonitos e pés mais
mimosos do que nelas — poder-se-ia crer estar em Stockolmo. Canto e
música são talentos communs que ellas revelam com a mesma graça e
facilidade. O primeiro consiste principalmente nas conhecidas
modinhas e os instrumentos mais frequentes são o piano, a harpa, a
guitarra [violão] e o orgam, dos quaes a guitarra é o mais commum e
tocado até entre o povo do campo (BEYER, 1908 apud BARTOLINI, 2015,
p. 46).
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
8
No sul do país, no Rio Grande do Sul principalmente, o violão
marcou presença na cultura musical por outro caminho também ligado
aos países Ibéricos, nesse caso mais marcadamente a Espanha. A
música gaúcha, ainda bastante presente no RS, características da
música espanhola por meio da forte ligação cultural com os países
de colonização espanhola como Argentina,Uruguai e Paraguai. Ritmos
muitos usados na música gaúcha como a Milonga e o chamamé por
exemplo, são executados ao violão e claramente possuem elementos de
influência espanhola.
A cultura americana chegou com força no Brasil no período pós
Segunda Guerra, no que concerne ao violão, a influência mais clara
e que deixou um legado na nossa música popular foi a que deu origem
a Bossa-Nova. Influenciados principalmente pelo Jazz, grandes
músicos das décadas de 50 e 60 criaram um novo jeito de tocar
violão que fez muito sucesso no país e também pelo mundo
todo.
Esses breves exemplos servem para ilustrar um pouco da importância
do violão no desenvolvimento da nossa MPB. Para um aprofundamento
no tema da História da MPB e da presença do violão nesse processo,
você pode consultar as várias obras sobre o tema da MPB de José
Ramos Tinhorão, Vasco Mariz, Jairo Severiano, Zuza Homem de Melo,
entre outros. Embora com lacunas regionais, visto que tratam quase
exclusivamente da música do eixo Rio-São Paulo, são ótimas obras
para a contextualização das canções e dos estilos musicais das
diferentes épocas da música brasileira.
3 CAMPO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Nos versos da canção País Tropical
de Jorge Ben Jor, “Eu tenho um fusca e
um violão, Sou Flamengo, e tenho uma ‘nêga’ chamada Tereza”, o
artista expôs entre outras paixões nacionais, o fato de que o
violão faz parte dos elementos marcantes de nossa cultura. Por
motivos que poderiam ser alvo de uma pesquisa mais aprofundada, o
violão parece ser de fato um instrumento pelo qual o brasileiro tem
alguma predileção antiga.
Com base em nossa experiência profissional, para o professor de
música o domínio desse instrumento é de grande utilidade no dia a
dia, tanto em escolas de ensino regular quanto em escolas livres de
música. O violão também tem outras facilidades como instrumento de
estudo como o preço mais acessível para instrumentos de qualidade
razoável, a facilidade de encontrar peças para manutenção e a
relativa abundância de escolas e professores para iniciar os
estudos no instrumento. Todos esses motivos nos fazem acreditar que
para o profissional da música não faltam motivos para escolher este
instrumento para dedicar seu tempo de estudo.
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
9
Nas escolas de ensino regular o violão tem a vantagem de ser um
instrumento portátil, leve, que se adapta bem a praticamente todos
os estilos musicais tendo em vista a variedade de atividades que o
professor de música pode desenvolver. Sem com isso perder a
característica de ser um instrumento bastante completo
musicalmente, permitindo acompanhar canções ou realizar
performances solo.
O violão também tem boa aceitação com os vários níveis de ensino,
desde os anos iniciais onde as crianças se encantam com simples
canções acompanhadas ao violão, passando pelos adolescentes que vão
curtir a canção do momento tocada pelo professor ao violão,
propiciando um primeiro mote para discussões mais aprofundadas
sobre os temas estudados. Também no ensino médio será fácil
encontrar canções que discutam as inquietações dessa fase da vida e
introduza temas para o ensino da música ou da arte. Também não será
difícil realizar um trabalho em grupo para ensino do
instrumento.
Em relação às aulas particulares do instrumento, na maioria das
escolas de música se poderá notar que o violão costuma ser um dos
protagonistas em relação à quantidade de alunos matriculados o que,
na prática, significa um mercado de trabalho mais amplo em
praticamente qualquer cidade do Brasil.
Grosso modo, o violão tem duas vertentes de estudo que são o violão
popular, tocado como acompanhamento harmônico de canções abrangendo
um reportório de canções populares geralmente estudado por meio de
cifras e tablaturas, e o violão erudito com repertório mais focado
em música erudita, e tendo um estudo com maior rigor técnico e
normalmente por meio de partituras. Esta ultima modalidade é menos
difundida em todo o mundo como a música erudita de modo geral. No
Brasil também parece contribuir o fato de que, de modo geral, o
brasileiro tem uma predileção pela canção em detrimento da música
instrumental, onde temos alguns poucos temas conhecidos pelo grande
público. O que não impede que a carreira de concertista seja também
um caminho para o violonista. Hoje com as novas tecnologias temos
casos de violonista eruditos no Brasil com centenas de milhares de
visualizações de seus vídeos na WEB por pessoas de todo
mundo.
Como apontam Pereira e Gloeden (2012) em artigo sobre o tema, nas
últimas décadas o violão tem tido importância crescente também na
música erudita nacional:
[...] sua presença no ambiente da música de concerto no Brasil é
algo consumado, pelo menos há cinco décadas: o instrumento
participa da programação de séries de concertos internacionais,
figura nos festivais de música e é ensinado em cursos de música
erudita - tanto em nível superior como em conservatórios e escolas
de nível médio). Possui ainda considerável número de registros
fonográficos, superando quantitativamente, inclusive, a produção de
instrumentos tradicionais da música de concerto (PEREIRA; GLOEDEN,
2012, p. 68).
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
10
O que vimos parece mostrar que há um campo profissional amplo a ser
explorado pelo violonista no Brasil, evidentemente isso deve ir ao
encontro da paixão pelo instrumento que é o que lhe fará permanecer
as horas necessárias estudando para desenvolver o domínio do
instrumento.
4 CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO E CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS
Neste tópico abordaremos a construção do instrumento, muito
provavelmente você não pretenda construir seu próprio violão, mas o
conhecimento das características técnicas de sua construção
certamente lhe será útil também como instrumentista e na
compreensão do que se pode esperar em matéria de timbre,
sonoridade, e outras características importantes para o resultado
musical.
Incialmente, vejamos a interessante imagem retirada de Zaczéski
(2018) na qual temos uma imagem bastante clara dos elementos
estruturais do violão.
FIGURA 8 – VISÃO EXPLODIDA DO VIOLÃO
FONTE: Zaczéski et al. (2018, p. 3)
Identificado com o número 1 temos o fundo do violão. Juntamente com
as laterais e o tampo formam a caixa de ressonância do instrumento.
As cordas tangidas vibram transmitindo a vibração para o cavalete e
depois para o tampo que, juntamente com o fundo e as laterais,
amplificam as vibrações e, por consequência, o som produzido.
Geralmente fundo e laterais são confeccionados com a mesma madeira,
sendo madeiras mais nobres e maciças nos violões de melhor
qualidade, e madeira de menor qualidade e laminada em instrumentos
mais
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
11
simples e de menor preço. Além do que já mencionamos, as laterais
(identificadas com o número 2) têm uma característica interessante
que é o processo como são moldadas. As lâminas finas de madeira, já
na largura e comprimento correto, são molhadas e aquecidas em uma
prensa para se conseguir o formato final.
O tampo (número 3 na figura anterior) é uma das peças mais
importantes na sonoridade do violão, ele funciona como uma membrana
que vibra por meio da vibração que as cordas lhe transmitem. Junto
com o leque harmônico são os principais responsáveis pelas
características sonoras do instrumento. Para poder vibrar
adequadamente precisa ser construído com uma madeira maleável,
flexível, mas, ao mesmo tempo, resistente para suportar a tração
que as cordas vão exercer por meio do cavalete. São utilizadas
algumas madeiras em sua construção, mas as mais usadas são o cedro
canadense e o abeto (pinho europeu). É importante perceber que
existem instrumentos com tampo de madeira laminada e de madeira
maciça, os primeiros são instrumentos geralmente de menor preço e
com qualidade sonora inferior, já os instrumentos de madeira maciça
são de melhor qualidade e por consequência maior preço. No centro
do tampo, identificada com o número 11, temos a boca por onde o som
tem passagem para sair da caixa acústica.
O braço (8) e a cabeça do violão (7) são construídos de um mesmo
bloco de madeira, embora a cabeça seja separada do braço por um
corte em ângulo e colada no ângulo contrário ao corte o que lhe dá
essa angulação em relação ao resto do braço. Em muitos violões,
principalmente os que usam cordas de aço, é feita uma fenda no
centro do braço e colocado um tensor de metal para que se possa
ajustar possíveis torções ao longo do tempo. Sobre essa fenda onde
fica o tensor é colada a escala (9), feita de madeira diferente do
braço é a parte aonde propriamente nossos dedos da mão esquerda vão
entrar em contato com o instrumento para executar os acordes e
notas. No braço também é instalada a pestana (6), feita de osso de
boi ou plástico ela é o ponto inicial da extensão de corda que pode
ser tocada. A parte utilizável da corda inicia na pestana e vai até
o rastilho (5), também feito de osso, plástico ou grafite e é
responsável por transmitir as vibrações ao cavalete (4) e ao tampo.
Por fim, o salto (10) tem a finalidade de ajudar na sustentação do
braço e auxiliar na colagem das laterais.
Ainda quanto à questão estrutural da construção do violão,
falaremos de umas das partes mais importantes do violão, o leque
harmônico, também conhecido por alguns como a alma do violão. Ele
consiste numa estrutura de barras de madeiras coladas embaixo do
tampo com basicamente duas funções: reforçar estruturalmente o
tampo para que aguente a tensão que as cordas exercem ao serem
esticadas e, tendo em vista que o tampo funciona como uma membrana
vibratória, as barras do leque harmônico também alteram o resultado
sonoro pelo seu posicionamento e pelo aumento da massa resultante
de sua colagem ao tampo. Ou seja, o tampo com diferentes desenhos
de leque harmônico pode vibrar diferente e resultar em sonoridades
com características distintas. Zaczéski (2018) nos apresenta um
interessante apanhado histórico de alguns importantes construtores
de violões.
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
12
FIGURA 9 – MODELOS DE LEQUE HARMÔNICO 1
FONTE: ZACZÉSKI et al. (2018, p. 5)
Além dessas partes estruturais temos outras partes que ainda não
foram apresentadas, as diretamente ligadas a questões de utilidade
prática ou estética.
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
13
FONTE:
<https://comoaprendertocarviolao.com/wp-content/uploads/2016/08/violao-partes.png>.
Acesso em: 28 ago. 2019.
As tarraxas são fixadas na cabeça do violão e servem para controlar
a tensão das cordas e, por consequência, a afinação. São geralmente
feitas de aço e plástico.
A pestana ou o nut, como também é conhecido por ser sua
nomenclatura em inglês, normalmente é feita de plástico ou de osso
em violões de melhor qualidade. É na pestana que se inicia a seção
vibrante da corda.
A partir da pestana podemos notar várias divisões ao longo do
braço, essas divisórias de metal encaixadas e coladas na madeira do
braço são chamadas de trastes e o espaço entre um traste e outro
chamamos de casa.
O mosaico é um trabalho feito em marchetaria que circunda a boca do
violão com a função reforçar a madeira bem como com função
estética.
Estas são as partes que você terá que conhecer para que durante o
processo de estudo compreenda os termos usados e para que, como
instrumentista, tenha um pouco de conhecimento de seu instrumento.
Ao longo do livro entraremos em mais detalhes acerca de alguns
deles à medida que for necessário.
4.1 ENCORDOAMENTOS: DIFERENÇAS E CARACTERÍSTICAS
Para o leigo no assunto pode parecer simplesmente que cordas de
violão são todas iguais, que basta instalar o que encontrarmos mais
em conta e à mão e tudo bem. Na verdade a questão é um pouco mais
complexa e o uso de cordas inadequadas pode inclusive danificar um
violão de forma irreversível. Um exemplo muito comum são pessoas
que tem violões de nylon sem tensor no braço, projetados para
aguentar uma determinada tração das cordas, onde são instaladas
cordas de aço, as quais exercem uma tração muito maior, acabando
por arrancar
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
14
o cavalete ou mesmo o tampo ou causando com o empenamento do braço
de modo irreversível. Temos que ter em mente que os violões, tanto
estruturalmente quanto acusticamente, já são projetados para o uso
de determinado tipo de corda.
Por isso é importante que saibamos um pouco sobre as cordas que
utilizaremos em nosso instrumento, além de evitar danos ao
instrumento e a corda bem escolhida também nos entregará a
sonoridade que desejamos e as características certas para o tipo de
uso que faremos dela.
Na antiguidade, as cordas da maioria dos instrumentos de corda eram
produzidas de tripa de animal e mais tarde de arame. Nos dias
atuais, no que diz respeito ao violão temos basicamente dois tipos.
As cordas de nylon e as cordas de aço. Quanto ao material existem
algumas combinações que podem variar de acordo com a empresa que
produz as cordas. Em um violão clássico com cordas de nylon as três
primeiras cordas, as primas, são nuas, isto significa que são
apenas um fio de nylon único. Os bordões, 4ª 5ª e 6ª cordas são
feitos de um fio de aço ou nylon revestido com outro fio que pode
variar de bronze, prata ou outro material. Num violão de cordas de
aço, a terceira corda pode ser, em alguns casos, também
revestida.
IMPORTANTE
FIGURA 11 – CORDA COM ALMA DE NYLON REVESTIDA COM FIO
METÁLICO
FONTE:
<https://www.viamusical.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Cordas-revestidas.png>.
Acesso em: 29 ago. 2019.
Para que acorda emita determinada nota temos 3 variáveis que
precisam ser ajustadas: o comprimento da corda, a tensão que ela
está esticada, sendo esta regulada na tarraxa, e o diâmetro da
corda. Uma corda mais grossa terá mais massa e vibrará mais
lentamente produzindo notas mais graves.
Na hora de escolhermos as cordas temos várias opções que são
classificadas conforme a tensão em diversos degraus de acordo o
fabricante, mas que geralmente vão de extra leve, leve, média,
pesada e extra pesada. O diâmetro de cada corda varia também se
forem de aço ou de nylon.
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
15
As cordas extra leves oferecem a vantagem de propiciar menor
resistência quando pressionadas contra a escala do violão, por
outro lado emitem um som com menos intensidade e menor
duração.
Por outro lado as cordas pesadas por terem uma tensão maior exigem
uma força um pouco maior para serem tocadas, embora tenham a
vantagem de produzir maior volume de som e uma maior sustentação do
mesmo.
Vejamos no quadro a seguir a diferença de diâmetros, expresso em
polegadas, de dois jogos de cordas da mesma marca disponíveis no
mercado, sendo o primeiro jogo de cordas de baixa tensão e o
segundo cordas de alta tensão.
QUADRO 1 – DIÂMETROS DAS CORDAS DE NYLON
JOGO DE CORDAS DE BAIXA TENSÃO JOGO DE CORDAS DE ALTA TENSÃO 1ª=
.028 1ª= 0,0295 2ª= .032 2ª =0,0334 3ª= .040 3ª= 0,0413 4ª= .0285
4ª= 0,0305 5ª= .0325 5ª= 0,0360 6ª= .0435 6ª= 0,0450
FONTE: O autor
No caso das cordas de aço elas têm diâmetros diferentes das cordas
de nylon como podemos ver no quadro seguinte.
QUADRO 2 – DIÂMETROS DAS CORDAS DE AÇO
JOGO DE CORDAS DE TENSÃO EXTRA LEVE JOGO DE CORDAS DE ALTA TENSÃO
1ª = .010 1ª= .014 2ª= .014 2ª= .018 3ª= .023 3ª= .027 4ª= .030 4ª=
.039 5ª= .039 5ª= .049 6ª= .047 6ª= .059
FONTE: O autor
A escolha das cordas está ligada ao estilo de música que
pretendemos tocar e também ao violão que possuímos, mas, de modo
geral, acreditamos que para o iniciante as cordas mais leves ou
médias são mais adequadas, já que vão possibilitar uma digitação
mais confortável de notas e acordes, e também porque, no momento
inicial, os ganhos de sonoridade podem não ser tão perceptíveis ao
iniciante, para compensar a dificuldade extra causada por cordas de
ação muito pesada.
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
16
4.2 ESCOLHA DO INSTRUMENTO ADEQUADO
Durante os anos lidando com educação musical, e mais
especificamente ensinando violão, ouvimos muitas vezes alunos ou
pais de alunos afirmando que para iniciar comprariam um violão
qualquer, ou pegariam um emprestado de algum parente que o guardou
por anos em cima de algum armário. Embora seja perfeitamente
compreensível, essa ideia provavelmente já ajudou a acabar com a
carreira de alguns instrumentistas antes dela começar.
Ao longo desta parte do texto falaremos um pouco sobre como
escolher um instrumento adequado para iniciar os estudos, ou mesmo
como escolher um instrumento já de qualidade para seguir por um bom
tempo com o mesmo violão.
O problema com a ideia de iniciar os estudos com um instrumento
qualquer, para posteriormente investir em um melhor, é que às vezes
o instrumento é tão mal construído que torna quase impossível,
mesmo para um músico experiente, executar até as músicas mais
simples nele. Mesmo que seja possível tocar, isso será
desconfortável e exigirá tanto esforço que o estudante,
principalmente a criança, perderá logo o estímulo de estudar.
Também o resultado sonoro não causa uma experiência agradável ao
ouvido. Já tivemos a oportunidade de tocar com violões de preço
muito baixo que simplesmente não afinavam, tinham altura de cordas
três ou quatro vezes acima do recomendado. Eram de fato violões que
impossibilitavam o estudo sério do instrumento. O ideal é que para
comprar seu primeiro instrumento você faça uma boa pesquisa de
violões com boa relação custo-benefício e compre o melhor
instrumento que couber no seu orçamento. Se você tiver que desistir
de tocar que não seja pelo uso de um péssimo instrumento.
Quanto à escolha do tipo de cordas de seu violão, a sonoridade do
aço e do nylon são características de gêneros musicais distintos e
vão depender também do gosto particular do músico. Os violonistas
profissionais geralmente acabam tendo vários violões para o uso
adequado com cada estilo. No entanto, para iniciar os estudos
acredito que o mais indicado sejam violões clássicos com cordas de
nylon. Como já dissemos, os motivos são porque as cordas de nylon
são mais leves, exigem menos força na digitação e vão causar menos
danos nas pontas dos dedos ainda não calejados, principalmente se o
aluno for uma criança, caso em que é melhor insistir no uso de um
violão de nylon. Isso não significa que não seja possível iniciar
os estudos com qualquer outro tipo de violão desde que esteja
adequadamente regulado e permita uma execução minimamente
cômoda.
Os tipos mais comuns de violões que encontramos no mercado, e sendo
utilizados por artistas por todo o mundo são: clássico, folk, flat,
jumbo. Nos últimos anos têm surgido também alguns instrumentos com
design e técnicas inovadores.
O tipo mais comum de violão é o clássico, utilizado para o estudo
do violão
erudito, o qual é praticamente unanimidade. No Brasil seu uso
também é muito comum na MPB em estilos como o samba, bossa-nova,
choro. Na maioria das vezes esse modelo vem equipado com cordas de
nylon, mas é também encontrado com
TÓPICO 1 | CARACTERÍSTICAS GERAIS DO VIOLÃO
17
encordoamento de aço, caso em que a estrutura interna é reforçada
para suportar a maior tração que as cordas exercem. O braço desse
modelo costuma ser o mais largo em relação aos outros modelos.
Entre os músicos de samba e choro, esse modelo clássico também pode
ser encontrado em versões com 7 cordas sendo acrescentada uma corda
mais grave afinada em Si ou Dó. Essa corda é adicionada acima da 6ª
corda em um violão já construído para esse fim.
FIGURA 12 – VIOLÃO MODELO CLÁSSICO
FONTE:
<https://http2.mlstatic.com/violo-di-giorgio-classico-38-D_NQ_NP_844211-
MLB20514882660_122015-F.jpg>. Acesso em: 5 set. 2019.
É difícil quantificar, mas provavelmente o segundo modelo de violão
mais utilizado pelo mundo seja o violão conhecido como Folk. Esse
modelo utiliza cordas de aço e tem vantagens e desvantagens como
qualquer modelo. Como sua caixa de ressonância é maior e mais
profunda que o modelo clássico ele costuma ter bastante sonoridade,
sendo ideal para bases de estilos como pop, rock, sertanejo
universitário, entre outros.
O braço do violão folk é mais estreito facilitando a digitação de
acordes com distância maior entre os dedos, por outro lado, se você
tiver dedos mais grossos poderá ficar mais complicado montar alguns
acordes. O som desse modelo também é interessante para solos e
introduções mais elaboradas por ter um som potente e claro. Uma das
desvantagens é que no palco ele pode acabar gerando ruídos e
microfonias por conta de sua grande projeção sonora e efeitos de
retorno da amplificação. Também seu tamanho é um pouco
desconfortável para muitas horas de apresentação.
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
18
FONTE:
<https://madeinbrazil.fbitsstatic.net/img/p/violao-aco-folk-104-el-di-
giorgio-69970/256453.jpg?w=800&h=800&v=no-change>.
Acesso em: 5 set. 2019.
O violão Flat é um pouco menos conhecido pelo público em geral. Por
ter características que se adaptam muito bem no palco,
principalmente em apresentações profissionais de grande porte, é
mais utilizado por músicos profissionais principalmente de MPB.
Nesse modelo podemos ter a sonoridade das cordas de nylon em um
violão ergonomicamente mais confortável, leve e com menor risco de
problemas técnicos causados pela amplificação, já que a maioria
deles não tem a boca no tampo. Essa é uma vantagem quando utilizado
no palco, por outro lado, há uma desvantagem para o uso acústico,
já que tem uma sonoridade menos intensa uma vez que praticamente
não tem caixa de ressonância. Além disso, a principal diferença
para o modelo clássico é a altura da caixa de ressonância que mede
mais ou menos a metade, e por volta de um terço da altura quando
comparado com um violão folk.
FIGURA 14 – VIOLÃO MODELO FLAT
FONTE:
<https://www.cheirodemusica.com.br/violao-caimbe-flat-6-ra-nylon-escuro-fosco-c-
recorte-e-afinador-p190>. Acesso em: 5 set. 2019.
19
Nos modelos equipados com cordas de aço ainda vamos mencionar o
modelo Jumbo. Ideal para bases e estilos que necessitem de um som
mais forte e encorpado, esse modelo tem a desvantagem de ter a
caixa de ressonância grande sendo menos confortável principalmente
para pessoas com tipo físico menor.
FIGURA 15 – VIOLÃO MODELO JUMBO
FONTE:
<http://cdn1.solojavirtual.com/arquivos_loja/46147/Fotos/thumbs3/produto_
Foto1_10059282.jpeg?cache=20190514 >. Acesso em: 5 set.
2019.
Para o uso infantil existem violões especificamente construídos
para cada idade e são classificados em um quarto, um meio, três
quartos do modelo normal conforme a figura a seguir:
FIGURA 16 – TAMANHO DOS VIOLÕES INFANTIS
FONTE:
<https://www.musicalbras.com.br/image/data/musicalbras/departamentos/
informacoes/violoes/violoes-tamanho.png >. Acesso em: 5 set.
2019.
Neste tópico, você aprendeu que:
• O violão tem origem ainda não definida, mas, de qualquer modo,
teve bastante influência espanhola e o modelo clássico que temos
hoje surgiu no final do século XIX pelas mãos do luthier Antonio de
Torres Jurado.
• O violão teve, e ainda tem, papel preponderante no
desenvolvimento de nossa música popular, estando presente na
maioria dos estilos que aqui se desenvolveram.
• Em relação ao mercado de trabalho, nos dias atuais, o violonista
encontra ainda um campo relativamente amplo de exploração
profissional.
RESUMO DO TÓPICO 1
21
1 A respeito da bossa-nova e da importância do violão na gênese de
nossa música popular brasileira, Taborda (2011) nos diz, na
introdução de seu livro, que pretende em sua obra acerca do violão
brasileiro “[...] esmiuçar aquela que se tornaria a grande
realização do instrumento: servir de suporte harmônico aos gêneros
típicos formadores da música popular. A presença do violão no
desempenho da sustentação rítmico-harmônica revelou-se, em alguns
casos, aspecto identificador do próprio gênero musical a que servia
de base. Basta lembrar a importância que assumiu na música
brasileira o chamado baixo- cantante, realizado pelo acompanhamento
violonístico, e, mais recentemente, a batida ‘bossa-nova’, que
transpôs para o violão o padrão de acompanhamento que tipifica o
próprio gênero” (TABORDA, 2011, p. 11).
Com base nessas afirmações e no que estudamos no primeiro tópico
classifique as sentenças em verdadeira (V) ou falsa (F), e
selecione a seguir a alternativa CORRETA:
( ) No Brasil os gêneros musicais foram importados da Europa, por
meio dos Portugueses, e aqui permaneceram iguais até os dias de
hoje, uma vez que o violão não mudou seu desenho desde o século XIX
com a criação de Antonio de Torres Jurado.
( ) A bossa-nova é considerada um gênero musical genuinamente
brasileiro, mesmo sofrendo grande influência do Jazz, e o violão
teve importante influência na gênese desse ritmo.
( ) No sul do país o violão influenciou os gêneros de música gaúcha
com características ligadas aos países vizinhos de colonização
espanhola.
( ) O violão no Brasil ganhou importância relevante como
instrumento de solo e o acompanhamento de canções ficou em segundo
plano na nossa MPB.
( ) Eventos culturais pós Segunda Guerra não tiveram qualquer
influência nos caminhos do violão no Brasil e na sua influência na
MPB.
a) ( ) V – F – V – F – F. b) ( ) F – V – V – F – F. c) ( ) V – V –
F – F – F. d) ( ) F – V – V – F – F.
2 Assinale a alternativa que liste as partes do violão em ordem
decrescente de relevância para o resultado do timbre do
instrumento.
a) ( ) Trastes, leque harmônico, cordas, tampo, tarraxas. b) ( )
Tarraxas, tampo, cordas, leque harmônico, trastes. c) ( ) Cordas,
tampo, leque harmônico, trastes, tarraxas. d) ( ) Tampo, trastes,
leque harmônico, tarraxas, cordas.
AUTOATIVIDADE
22
3 Escreva um breve relato, que poderá ser socializado com os
colegas de curso, acerca de sua relação com o violão. Alguns pontos
podem servir de guia como: qual sua história com o instrumento?
Você já toca, está iniciando, tem algum familiar violonista? Qual
sua expectativa quanto ao instrumento, pretende que seja seu
instrumento principal? Não pretende ir além do suficiente para
cursar a disciplina? Qual a relação do violão com seus estilos
musicais e artistas preferidos? E qualquer outra informação que
julgue importante quanto à relação entre o violão e sua história de
vida.
23
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO Neste segundo tópico, tendo em vista o fato de o
caderno ser direcionado a
acadêmicos de licenciatura em música, trataremos dos pressupostos
pedagógicos e didáticos que guiaram a elaboração do caderno, para
que sirvam também como possibilidades de ferramentas de uso do
futuro professor.
Conheceremos um pouco da teoria do psicólogo e teórico da educação
russo Lev S. Vygotsky, mais precisamente abordaremos seu conceito
de Zona de desenvolvimento proximal ZDP.
Também teremos contato com a teoria da uma das mais respeitadas
arte-educadoras brasileiras, Ana Mae Barbosa, que por meio de sua
abordagem triangular possibilitou um ensino da arte mais consciente
e estruturado, baseado em estratégias que pensam a arte como uma
atividade bem mais complexa do que o simples ensino técnico de um
fazer artístico.
2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE VYGOTSKY Como você irá ter a
oportunidade de estudar em disciplina específica nas
próximas fases do curso, existem diversas linhas pedagógicas e
didáticas para o ensino da música. Provavelmente você chegará à
conclusão que nenhuma delas dará conta de abarcar todas as
especificidades dos alunos reais que terá durante sua carreira
profissional, e que será necessário lançar mão de aspectos de todas
elas como ferramentas mais adequadas para as demandas que surgirem
com os diferentes alunos e situações.
Neste livro adotamos alguns pressupostos pedagógicos que escolhemos
entre tantas possibilidades para elaborar esse material, por
acreditarmos na importância dos mesmos e por que foram utilizados
em nossa prática pedagógica e musical de modo geral.
O primeiro pressuposto, embora pareça óbvio, tem sido esquecido ao
longo de muito tempo na publicação de métodos para o estudo de
instrumentos: a constatação da ideia que o aprendizado não dá
saltos. Pessoalmente estudei diversos métodos instrumentais que
iniciavam de forma simples, com lições
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
24
graduadas coerentemente, e logo em seguida traziam conteúdos em um
nível que desestimulava a continuar os estudos. Claro que muitos
deles pressupõem a presença de um professor, mas, de qualquer modo,
a lacuna é um fato constantemente presente nos métodos para
diversos instrumentos.
Nesse sentido, é que adotamos como pressuposto pedagógico na
elaboração deste Livro Didático, o conceito de “zona de
desenvolvimento proximal” (ZDP). Elaborado pelo psicólogo Lev S.
Vygotsky como parte de sua teoria histórico-cultural do
desenvolvimento e aprendizagem, resumidamente pode ser assim
conceituado:
A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de
desenvolvimento real, constituído por funções já consolidadas pelo
sujeito, que lhe permitem realizar tarefas com autonomia, e o nível
de desenvolvimento potencial, caracterizado pelas funções que,
segundo Vygotsky, estariam em estágio embrionário e não
amadurecidas (SOUZA; ROSSO, 2011, p. 5897).
Na prática, o primeiro ponto para o professor de violão que recebe
um aluno novo ou uma turma, é avaliar qual o desenvolvimento real
do estudante naquele momento. Digamos, por hipótese, que nosso
estudante não tenha nenhum conhecimento do instrumento, o próximo
passo é estabelecer o nível de desenvolvimento potencial, que vamos
dizer que seja aprender a identificar e nomear as partes do
instrumento. O espaço entre o estudante chegar à escola com
“nenhum” conhecimento, e aprender a identificar as partes do
instrumento será a ZDP. Na teoria de Vygotsky, esse desenvolvimento
acontece no indivíduo por meio da mediação de outro sujeito mais
experiente. Aí entra o papel do professor, que será o de mediador
do processo de aprendizagem juntamente com o material didático e
outras formas de intermediação do sujeito com a cultura já
historicamente construída.
No caso do estudo do violão lidamos com duas formas de
desenvolvimento que precisamos ter claro em nossas práticas de
estudo e ensino. A parte teórica, que diz respeito a entender os
conceitos referentes ao estudo do instrumento e da música de modo
geral, e a parte mecânica, que diz respeito à capacidade das mãos
de executarem aquilo que racionalmente já está compreendido. A
atenção do professor mediador deve então voltar-se para os dois
aspectos e procurar promover o desenvolvimento de ambos, na medida
em que se fizerem necessários.
A teoria histórico-cultural também pode nos oferecer um conceito
interessante da avaliação. Nessa perspectiva, avaliar significa
diagnosticar, avaliamos para verificar se o desenvolvimento está
ocorrendo ou não, e para que, com base nesse diagnóstico, provocar
novas mediações no sentido de promover a chegada ao nosso
objetivo.
TÓPICO 2 | PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICO-DIDÁTICOS
25
Uma vez atingido, o objetivo se torna um novo ponto de partida, um
novo ponto de desenvolvimento real, e a partir dele estabelecemos
novo ponto potencial. Nossa atenção precisa estar voltada para que
esses degraus sejam escolhidos cuidadosamente, para que não se
tornem muito altos, que desestimulem o estudante. Devem sempre
significar etapas para um avanço contínuo até o maior potencial que
cada um pode desenvolver.
Nesse sentido, tendo em vista as características do ensino à
distância, serão sugeridas práticas didáticas de modo que você,
acadêmico, também atue como mediador e avaliador de seu processo de
aprendizagem, de modo que também já desenvolva e exercite práticas
úteis para o exercício da profissão.
3 A ABORDAGEM TRIANGULAR DE ANA MAE BARBOSA Como segundo ponto de
apoio metodológico utilizaremos a Abordagem
Triangular, desenvolvida pela arte-educadora Ana Mae Barbosa. Esta
proposta de abordagem de ensino da arte foi desenvolvida
inicialmente para as artes visuais, mais especificamente no Museu
de Arte Contemporânea da USP. Hoje encontramos relatos de sua
utilização nos mais diversos campos da arte, como a dança, o teatro
e a música entre outros. Pode-se dizer que é a metodologia mais
utilizada na arte- educação brasileira e que seus conceitos estão
de acordo com a nova Base Nacional Comum Curricular que está sendo
implementada na educação básica.
Atualmente, em livro no qual revisa sua teoria, Barbosa (2014)
define sua abordagem como uma figura de ziguezague entre os três
lados do triângulo: produção, contextualização, e leitura. Para a
autora não uma sequência fixa, a produção pode gerar a leitura ou a
contextualização, pode-se iniciar em qualquer um dos três pilares e
seguir na direção de qualquer um.
FIGURA 17 – ABORDAGEM TRIANGULAR
FONTE: O autor
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
26
Machado (2010) pode nos ajudar a compreender o que é a abordagem e
cada um de seus vértices. Quanto à abordagem ela nos diz que:
Os três eixos da aprendizagem artística que a compõe delimitam
claramente conjuntos possíveis de ações complementares e
interconectadas. Ações que podem se manifestar concretamente em
redes intermináveis de relações. A abordagem Triangular faz
precisamente isto: delimita os contornos do conhecimento artístico,
estruturando um campo de ações que conduzem processos de
aprendizagem, específicos dessa forma de conhecimento humano
(MACHADO, 2010, p. 64).
Quanto à definição dos três pilares da abordagem, é importante
compreender que são conceitos amplos que não se limitam ao
significado simples das palavras chaves. Quanto ao eixo da produção
pode-se entendê-lo como um conceito que:
[...] envolve ações de configuração (toda vez que alguém produz uma
forma) ou seja: - refere-se à realização de uma escultura, dança,
música, filme ou outras formas de produção artística; - refere-se à
produção de pensamentos sobre arte, por exemplo, quando alguém
escreve um texto dando forma a ideias; refere-se a experiências de
leitura, quando alguém, diante de uma obra de arte, configura para
si mesmo uma forma significativa de encontro com aquela obra
(MACHADO, 2010, p. 65).
Quando tratamos de música, ainda temos que levar em conta a questão
de que a música é produzida cada vez que é tocada, cada
interpretação é de certa forma uma composição. Nesse caso
poderíamos apenas considerar a execução da obra como produção. No
entanto, optamos, durante a elaboração deste livro, em propiciar
momentos de estímulo à composição musical, geralmente esquecida na
educação musical. Muitas vezes percebe-se até certa barreira em
músicos profissionais quanto à criação de obras originais, o que,
no campo das artes visuais, é estimulado desde os primeiros
momentos do aprendizado.
O segundo vértice do triângulo é a leitura da obra de arte, a
respeito da leitura podemos compreendê-la conforme aponta Machado
(2010, p. 65):
O eixo da LEITURA refere-se aos encontros (que costumo chamar de
conversas) com obras de arte e outras tantas construções simbólicas
das culturas envolvendo, por exemplo, desde espaços urbanos, meios
de comunicação até objetos utilitários. Esse eixo nomeia, então, a
aprendizagem da experiência estética, que envolve também nosso
contato com formas da natureza. Ler tem o sentido de reconhecer e
compreender poeticamente códigos e principalmente o sentido de dar
combustível ao universo de imagens internas significativas
responsáveis pelo vigor conceptivo humano.
TÓPICO 2 | PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICO-DIDÁTICOS
27
Nesse sentido, quando tratamos de música, a leitura da obra pode
ser compreendida como exercícios de percepção sonora no sentido
mais amplo possível. Os códigos musicais precisam ser reconhecidos,
compreendidos, resignificados, num processo de fruição da obra
musical que, por meio desses processos e de uma série de outros
processos, como o fazer artístico e a contextualização, estruturam
o processo como se aprende e se cria arte.
Esse processo tenta simular o processo “natural” com o qual o
artista interage com a arte dentro do fluxo dos seus processos
(MACHADO 2010). Para Barbosa (2014), é importante frisar que o
conceito de leitura em sua Abordagem Triangular: “[...] sugere uma
interpretação para a qual colaboram uma gramática, uma sintaxe, um
campo de sentido decodificável e a poética pessoal do
decodificador” (BARBOSA, 2014, p. 32).
A contextualização é o terceiro pilar da abordagem proposta por Ana
Mae Barbosa. Ainda segundo Machado (2010, p. 66), este eixo:
[...] abarca as ações que focalizam, por meio da reflexão, os
diferentes contextos da arte: a história, a cultura,
circunstâncias, histórias de vida, estilos e movimentos artísticos.
Trata-se da aprendizagem de formulações sobre o fenômeno artístico
em diferentes planos de realidade e de acordo com diferentes níveis
de compreensão. Esse eixo contém, assim, uma ampla gama de
discursos fruto: da pesquisa teórica, da leitura de formas e da
pesquisa durante o processo do fazer artístico.
A contextualização nos permite uma aproximação com a obra de arte
que se assemelha com o ato de conhecer uma pessoa, à medida que nos
aproximamos dela, ouvimos sua história de vida, conhecemos sua
origem social, suas subjetividades e a pessoa pode passar ao nosso
olhar uma significação muito diferente do primeiro contato que
tivemos. Assim também para o artista ou para o estudante de música
a fruição de uma determinada obra ou sua interpretação pode ser
alterada pela pesquisa contextual da mesma.
Além dos aspectos mencionados, a contextualização vai ao encontro
das diretrizes apontadas na Base Comum Curricular Nacional, no
sentido que as competências desenvolvidas busquem promover a
criticidade do estudante, e que:
Nesse sentido, as manifestações artísticas não podem ser reduzidas
às produções legitimadas pelas instituições culturais e veiculadas
pela mídia, tampouco a prática artística pode ser vista como mera
aquisição de códigos e técnicas. A aprendizagem de Arte precisa
alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social,
permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores (BRASIL,
2016, p. 193).
Também acreditamos que a adoção da abordagem triangular pode
abarcar as seis dimensões que a BCCN sugere que devam ser
articuladas para o ensino da arte e que:
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
28
[...] de forma indissociável e simultânea, caracterizam a
singularidade da experiência artística. Tais dimensões perpassam os
conhecimentos das Artes visuais, da Dança, da Música e do Teatro e
as aprendizagens dos alunos em cada contexto social e cultural. Não
se trata de eixos temáticos ou categorias, mas de linhas maleáveis
que se interpenetram, constituindo a especificidade da construção
do conhecimento em Arte na escola. Não há nenhuma hierarquia entre
essas dimensões, tampouco uma ordem para se trabalhar com cada uma
no campo pedagógico (BRASIL, 2016, p. 194).
Veja na íntegra o texto da BNCC, onde são apontadas e definidas
essas seis dimensões:
• Criação: refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam,
produzem e constroem. Trata-se de uma atitude intencional e
investigativa que confere materialidade estética a sentimentos,
ideias, desejos e representações em processos, acontecimentos e
produções artísticas individuais ou coletivas. Essa dimensão trata
do apreender o que está em jogo durante o fazer artístico, processo
permeado por tomadas de decisão, entraves, desafios, conflitos,
negociações e inquietações.
• Crítica: refere-se às impressões que impulsionam os sujeitos em
direção a novas compreensões do espaço em que vivem, com base no
estabelecimento de relações, por meio do estudo e da pesquisa,
entre as diversas experiências e manifestações artísticas e
culturais vividas e conhecidas. Essa dimensão articula ação e
pensamento propositivos, envolvendo aspectos estéticos, políticos,
históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais.
• Estesia: refere-se à experiência sensível dos sujeitos em relação
ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo e
aos diferentes materiais. Essa dimensão articula a sensibilidade e
a percepção, tomadas como forma de conhecer a si mesmo, o outro e o
mundo. Nela, o corpo em sua totalidade (emoção, percepção,
intuição, sensibilidade e intelecto) é o protagonista da
experiência.
• Expressão: refere-se às possibilidades de exteriorizar e
manifestar as criações subjetivas por meio de procedimentos
artísticos, tanto em âmbito individual quanto coletivo. Essa
dimensão emerge da experiência artística com os elementos
constitutivos de cada linguagem, dos seus vocabulários específicos
e das suas materialidades.
• Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à
abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas
artísticas e culturais. Essa dimensão implica disponibilidade dos
sujeitos para a relação continuada com produções artísticas e
culturais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos
sociais.
• Reflexão: refere-se ao processo de construir argumentos e
ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos
criativos, artísticos e culturais. É a atitude de perceber,
analisar e interpretar as manifestações artísticas e culturais,
seja como criador, seja como leitor (BRASIL, 2016, p.
194-195).
FONTE: BRASIL. Base nacional comum curricular. Brasília, DF:
Ministério da Educação; Secretaria da Educação Básica, 2016. p.
194-195. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso
em: 28 set. 2019.
ATENCAO
29
RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que:
• Há diversas concepções pedagógicas e didáticas para o ensino da
música e todas elas podem nos fornecer ferramentas para o
aprimoramento profissional, com intuito de resolver as demandas do
dia a dia da sala de aula e as especificidades de cada
estudante.
• A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) é um conceito que faz
parte da teoria histórico-cultural, elaborada pelo psicólogo Lev S.
Vygotsky, um dos grandes teóricos da educação
• A zona de desenvolvimento proximal é o espaço entre o nível de
desenvolvimento real, constituído por funções já consolidadas pelo
sujeito, que lhe permitem realizar tarefas com autonomia, e o nível
de desenvolvimento potencial, caracterizado pelas funções que o
indivíduo tem potencial para desenvolver.
• Na teoria sócio-histórica de Vygotsky, o primeiro passo para a
aprendizagem é o diagnostico do atual estado de desenvolvimento
real do aprendiz.
• O professor, dentro da concepção Vygotskyana, tem papel de
mediador do sujeito com o conhecimento já socialmente
construído.
• A avaliação, nessa perspectiva sócio-histórica, busca verificar o
atual nível de desenvolvimento, de modo que, com base nesse
diagnóstico, possamos realizar mediações visando promover tal
desenvolvimento rumo a um novo nível real de conhecimento.
• A Abordagem Triangular, desenvolvida pela arte-educadora Ana Mae
Barbosa, é baseada em três pilares: a produção, contextualização e
a leitura.
• A Base Comum Curricular Nacional traçou como base para o ensino
da arte na educação fundamental seis dimensões: criação, crítica,
estesia, expressão, fruição e reflexão.
30
1 (ENADE, 2014) Vygotsky descreveu a zona de desenvolvimento
proximal como a distância entre o nível de desenvolvimento real,
que se costuma determinar por intermédio da solução independente de
problemas, e o nível de desenvolvimento potencial determinado pela
solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes. VYGOTSKY, L. Pensamento
e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989 (adaptado).
Para criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir, é
fundamental que, nas situações de aprendizagem, o professor.
FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/9135984>. Acesso em: 13
jan. 2020.
a) ( ) Destaque erros e equívocos cometidos pelos alunos e espere
que encontrem o problema.
b) ( ) Indique o erro e a resposta correta, propondo, sempre que
necessário, novas situações de aprendizagem.
c) ( ) Elogie os resultados obtidos pelos alunos, mesmo que ruins,
para não os desestimular, corrigindo-os em seguida.
d) ( ) Forneça pistas aos alunos e fique atento ao curso do
raciocínio destes, reformulando questões ou problemas sempre que
for necessário.
2 “A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam
pela
percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de
materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da
cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita
vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver
saberes musicais fundamentais para sua inserção e participação
crítica e ativa na sociedade” (BRASIL, 2016, p. 196).
Com base no trecho da Base Nacional Comum Curricular, o qual se
trata dos princípios norteadores da educação musical, podemos
afirmar que a Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa:
a) ( ) Não está alinhada com esta proposta, visto ser focada apenas
na formação técnica do músico, dando prioridade ao resultado da
performance musical.
b) ( ) Vai ao encontro desses princípios, já que contribui para a
formação de um cidadão consciente da realidade social que o
cerca.
c) ( ) Está de acordo com os princípios da Base Nacional Comum
Curricular, já que toma a produção artística como meta principal da
educação no campo da arte.
d) ( ) É incongruente com a Base Nacional Comum Curricular no
sentido que a Abordagem Triangular não corresponde à uma
perspectiva sócio- histórica da educação.
AUTOATIVIDADE
31
3 Com base na Abordagem Triangular, elabore uma atividade prática
para uma aula de música de modo geral, ou do instrumento que você
toca, utilizando como guia os três pilares: produção, leitura e
contextualização. Tente utilizar os três, mas lembre-se que não é
necessário que os três sejam utilizados sempre em suas práticas,
eles funcionam como possibilidades por onde podemos
transitar.
32
33
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO Neste terceiro tópico da Unidade 1 iniciaremos a
explicação dos primeiros
elementos mais direcionados à prática no violão. Conheceremos a
postura correta e outros elementos técnicos iniciais. Conheceremos
a localização das notas em todo o braço do violão e aprenderemos a
realizar a afinação do instrumento.
Veremos os primeiros acordes, levadas rítmicas e as primeiras
canções utilizadas como repertório de estudo. Por fim,
apresentaremos uma proposta de estímulo à composição musical e uma
leitura complementar relacionada com o conteúdo da unidade.
2 POSTURA E ABORDAGEM TÉCNICA INICIAL Para o domínio de qualquer
instrumento musical são necessárias muitas
horas de estudo, durante alguns anos. Para este tipo de estudo,
pequenos detalhes de postura e técnica podem fazer a diferença
tanto no resultado sonoro, quanto na saúde e bem estar do músico.
Ao longo do tempo, por meio de tentativas, os violonistas chegaram
a certas posturas que hoje são consideradas como mais indicadas. Se
você parar para observar alguns vídeos de violonistas renomados,
verá que não há uma postura padrão entre eles, elas podem variar
dependendo do estilo musical e da adaptação pessoal do músico,
mesmo assim existem posturas tecnicamente mais eficientes.
Depois da escolha adequada do instrumento, o segundo ponto é a
escolha do assento para ser utilizado durante os estudos. O ideal é
que você utilize uma cadeira com assento plano e sem nenhum tipo de
encosto para os braços, para evitar qualquer tipo de desequilíbrio,
má postura, e torções na coluna. Uma cadeira levemente acolchoada
também será interessante já que você permanecerá muito tempo na
mesma posição. Evite cadeiras com rodas uma vez que você não terá a
firmeza e equilíbrio necessários, o que tornará toda execução mais
difícil.
34
UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
FIGURA 18 – CADEIRA COM DESIGN IDEAL PARA VIOLÃO
FONTE:
<https://novomundo.vteximg.com.br/arquivos/ids/1670156-1000-1000>.
Acesso em: 20 set. 2019.
Embora existam outras possibilidades, vamos tratar aqui de duas
posturas que são as mais conhecidas e utilizadas pelos violonistas,
a postura popular e a postura clássica.
FIGURA 19 – POSTURA VIOLÃO POPULAR
FONTE:
<http://3.bp.blogspot.com/-JRa_HBJiIXo/Tb37xlrQZdI/AAAAAAAAAOc/Cc8qjSZ-wFA/s400/ar07.jpg>.
Acesso em: 20 set. 2019.
A postura popular é, de modo geral, talvez a mais utilizada. Isso
não significa que seja a mais indicada ou a mais eficiente. Se
observarmos a Figura 19, ou tentarmos colocar o violão nesta
postura, podemos perceber que o instrumento está basicamente
apoiado na perna direita, o que permite que faça um movimento de
gangorra, ficando desequilibrado tanto no sentido vertical quanto
horizontal. Com o braço direito exercendo peso na parte de trás do
instrumento ele ficará mais desequilibrado, e quando soltarmos a
mão esquerda para fazer um salto um pouco maior no braço haverá um
desequilíbrio que dificultará a execução. A nosso ver, esta postura
permite a execução de acompanhamentos fáceis e músicas simples, no
entanto, à medida que a dificuldade cresce, esta postura irá
dificultar sua evolução como violonista.
Para evitar isso sugerimos que, desde o início, você se habitue a
tocar com a postura clássica, mais comum no estudo do violão
erudito, mas que, ao nosso ver, traz muito mais benefícios também
no estudo do violão popular, porque facilita a execução de qualquer
música.
TÓPICO 3 | ELEMENTOS PRÁTICOS INICIAIS
35
FONTE:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_T%C3%A1rrega>.
Acesso em: 20 set. 2019.
Na Figura 20 vemos um dos maiores nomes do violão mundial, o
espanhol Francisco Tarrega (1852 -1909), executando a postura
clássica ainda hoje utilizada. Observe que neste caso temos três
pontos de apoio, possibilitando que a mão esquerda, e mesmo a
direita, possam ter seus movimentos livres sem precisar suportar o
instrumento na posição. Nesta postura também temos maior liberdade
do cotovelo esquerdo em relação ao corpo, no caso da postura
anterior este movimento fica bem limitado.
Na postura clássica, nos sentamos na ponta da cadeira com a perna
esquerda acompanhando a direção da perna da cadeira e serve como
primeiro ponto de apoio. A perna direita fica afastada de modo a
servir de apoio para a parte traseira do violão. E o terceiro ponto
de apoio é o peito do violonista.
Observe também que a perna esquerda permanece apoiada em um
banquinho de modo que cabeça do violão fica na altura do ombro do
instrumentista. Nos dias de hoje é possível encontrar à venda
apoios para o pé com esta finalidade, com regulagens de altura. Mas
nada impede que você faça um de madeira com a altura adequada à sua
estrutura corporal. A altura do banquinho é indicada nos métodos de
violão como próxima de 15 cm do chão.
FIGURA 21 – APOIO REGULÁVEL PARA O PÉ
FONTE: <http://twixar.me/qvtT>. Acesso em: 20 set.
2019.
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UNIDADE 1 | CONHECENDO O INSTRUMENTO E PRIMEIROS ELEMENTOS PRÁTICOS
E TEÓRICOS
FIGURA 22 – POSTURA DA MÃO DIREITA
FONTE: Adaptado de
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_T%C3%A1rrega>.
Acesso em: 20 set. 2019.
Neste recorte da postura clássica (Figura 22), veja como a linha
pontilhada indica um detalhe importante em relação à postura da mão
direita. Veja que ela está relaxada, não acompanha a linha do
braço, ao invés disso, aponta para o chão. Esta postura relaxada
deve ser adotada como norma para todo corpo. Braços, ombros,
pernas, mãos e dedos devem sempre permanecer relaxados, é
importante manter vigilância sobre estes detalhes no início dos
estudos para evitar vícios de execução difíceis de serem
corrigidos. Hoje também estão sendo desenvolvidos e comercializados
no Brasil apoios que são acoplados no violão para substituir o
banquinho (Figura 23).
FIGURA 23 – APOIO ERGONÔMICO PARA VIOLÃO
FONTE: <http://twixar.me/T4tT>. Acesso em: 20 set.
2019.
Outro aspecto técnico importante está relacionado ao formato e
comprimento das unhas. Quanto à mão esquerda a definição é simples,
as unhas devem ser mantidas sempre cu