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PROFESSIONAL MAGAZINE ANO 5 · Edição 15 · Abr.Mai.Jun.’2018 Especial: O ENDIVIDAMENTO, UM OLHAR ALÉM DOS NÚMEROS Luiz Correia Martins Pereira, CFP ® e Maria Angela de Azevedo Nunes, CFP ® SEGUROS E PREVIDÊNCIA: PROTEÇÃO NO PLANEJAMENTO FINANCEIRO DIRCEU BRAGA INVESTIMENTOS: A TECNOLOGIA APLICADA A OTIMIZAÇÃO DE PORTFOLIOS ANDRÉ CHEDE, CFP ® CONSCIENTIZAÇÃO FINANCEIRA: BALANÇO DA SEMANA ENEF 2018 MARCELA NAVARRO ARGENTIN, CFP ®

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PROFESSIONALM A G A Z I N EANO 5 · Edição 15 · Abr.Mai.Jun.’2018

Especial:

O ENDIVIDAMENTO,UM OLHAR ALÉM DOS NÚMEROSLuiz Correia Martins Pereira, CFP® eMaria Angela de Azevedo Nunes, CFP®

SEGUROS E PREVIDÊNCIA:PROTEÇÃO NO PLANEJAMENTO FINANCEIRODIRCEU BRAGA

INVESTIMENTOS:A TECNOLOGIA APLICADA A OTIMIZAÇÃO DE PORTFOLIOSANDRÉ CHEDE, CFP®

CONSCIENTIZAÇÃO FINANCEIRA:BALANÇO DA SEMANA ENEF 2018MARCELA NAVARRO ARGENTIN, CFP®

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EditorialFrancisco Levy CFP®

EspecialLuiz Correia Martins Pereira, CFP® e Maria Angela de Azevedo Nunes, CFP®

Conscientização FinanceiraMarcela Navarro Argentin, CFP®

InvestimentosAndré Chede, CFP® e Lucca Portes

EntrevistaLuiz Severiano Ribeiro, CFP®

Seguros e PrevidênciaDirceu Braga

Conduta ProfissionalConselho de Ética Planejar

Indicações de LeituraOrlando Niegski Neto, CFP®

Planejamento Financeiro PessoalMárcia Scaramela, CFP®

pag. 3

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SUMÁRIO

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Editorial

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EDITORIAL

CAROS ASSOCIADOS,

As questões de elevação das taxas de juros americanas e as discussões dos EUA e China sobre o comercio e tarifas, iniciaram um processo de fortalecimento do dólar e aversão ao risco que, por sua vez, trouxe uma pressão adicional aos países emergentes. Principalmente, para aqueles com fundamentos mais frágeis, atingindo de maneira brutal países como Argentina e Turquia, o que acabou por afetar a região como um todo, elevando os níveis de CDS , mas, principalmente amplificando a desvalorização cambial já em curso por conta do fortalecimento global do dólar. No Brasil, as taxas de juros, em patamares historicamente baixos e as indefinições do processo eleitoral direcionado para uma tendência de polarização, fizeram do Real uma das moedas com maior desvalorização nos últimos 12 meses e,

consequentemente, penalizaram os níveis de taxas de juros futuras e os demais ativos de risco locais.

Neste ambiente incerto, nossos profissionais se deparam com um ambiente exatamente inverso ao que descrevi no início do ano, quando existia um apetite talvez exagerado ao risco. O momento exige cuidados, mas novamente aproveito este espaço editorial para lembrar o importante papel do Planejador Financeiro de ir além do noticiário de curto prazo e fazer o cliente que se encontra avesso ao risco, se questionar sobre o quanto desta aversão já não se encontra incorporado aos preços e evitar um processo exagerado de conservadorismo. Novamente trago o alerta de que o perfil de risco não deve ser alterado por movimentos cíclicos, embora movimentos táticos podem e devem ser feitos. É de grande importância, no momento atual, o papel do planejador financeiro experiente mostrar tranquilidade e saber questionar, pontuar e refletir conjuntamente os prós e contras de alteração dos portfolios de maneira ponderada e não simplesmente acompanhar a tendência natural de euforia e depressão que os noticiários normalmente promovem mostrando a importância de um bom dimensionamento de risco e um bom processo de suitability, evitando o pânico pelas eventuais perdas ou o arrependimento em um eventual movimento futuro de recuperação de preços.

UMA BOA LEITURA!

Planejador financeiro certificado desde 2007.

Atuou principalmente em tesouraria e assets nas mesas de operações de câmbio, renda fixa e renda variável. Atuou nos últimos 10 anos junto a clientes no aconselhamento e gestão de fortunas como Head da Área de Investimentos, Produtos e Serviços do Banco UBS e como Estrategista Chefe do Itaú Private Bank.

Francisco Levy CFP®

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Especial

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O ENDIVIDAMENTO, UM OLHARALÉM DOS NÚMEROS

Luiz Correia Martins Pereira, CFP® e Maria Angela de Azevedo Nunes, CFP®

Fica cada vez mais evidente, a importância da profissão do Planejador Financeiro como o agente que pode auxiliar a transformar a vida das pessoas.

Essa importância extrapola números, dados e estratégias mais objetivas, para que o cliente possa atingir suas metas e objetivos. Além de ser o profissional que conhece produtos e soluções técnicas sobre finanças, seu entendimento da dinâmica comportamental, dos valores e das crenças do cliente, somado a sua realidade financeira, é o que irá possibilitar, juntamente com as habilidades e competências profissionais requeridas, conhecer o cliente em profundidade para que se possam traçar as melhores estratégias e atender, da maneira mais consistente possível, suas demandas.

Somos guiados por emoções e impulsos, isso sem falar nas distorções de percepção. O cliente está emocionalmente envolvido, e os vieses cognitivos

levam a várias falhas no processo de decisão e a erros sistemáticos. É aí que entra o nobre papel do Planejador Financeiro, que trará uma visão externa e imparcial, além da racionalidade necessária para auxiliar o cliente a tomar as melhores decisões e tornar-se protagonista de sua vida financeira. Vale sempre lembrar que, independentemente das estratégias apresentadas, a decisão final sempre será do cliente.

O Planejador Financeiro consegue ter a visão do todo, inclusive se o cliente se autoengana ou sabota – mesmo que inconscientemente – e em que situações, se um determinado comportamento influencia, positiva ou negativamente, os componentes do plano financeiro e se os objetivos e as demandas não são conflitantes.

Muitas vezes, os clientes não têm uma visão real de sua situação financeira, não fazem orçamento e levam

em consideração apenas os grandes números em sua contabilidade mental. Isso independe de credo, renda, educação, nível social e idade. Até mesmo empresários que, a princípio, aprenderam a ter um controle maior sobre as finanças da empresa, quando se trata da vida financeira pessoal ou familiar, não fazem um fluxo de caixa e muito menos um orçamento. Quem atende cliente, já presenciou o susto que eles levam quando apresentamos os números e um orçamento detalhado, quando percebem que aquela aparente tranquilidade financeira que pensavam ter e que seria eterna, não representa a realidade e, se não houver uma mudança na dinâmica financeira da pessoa ou da família, a saúde financeira estará em risco.

Normalmente os componentes emocionais ficam ainda mais exacerbados quando o indivíduo está em uma situação mais delicada, como o endividamento.

As situações de endividamento, que normalmente

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trazem um estresse grande, podem levar a um esgotamento emocional e cognitivo. A pessoa entra em um “túnel” e tudo que enxerga é a dívida e todas as consequências do momento, ou então o indivíduo é tomado de um otimismo excessivo sobre sua capacidade de pagamento e uma crença infundada de que ele conseguirá encontrar uma saída “mágica”. Ele acaba postergando o enfrentamento da questão e não toma uma atitude. A situação acaba se estendendo por mais tempo e, no afã de encontrar uma solução, acaba entrando num ciclo vicioso que pode, inclusive, levar ao superendividamento.

O Planejador Financeiro será o elemento que resgatará o cliente do “túnel”, aliviando sua carga mental, apresentando alternativas factíveis e uma saída para aquela situação.

Vários motivos podem levar ao endividamento: planejamento baseado em premissas erradas, falta de uma reserva de emergência, descontrole emocional, compras compulsivas, doenças ou simplesmente o fato de a pessoa não ter absolutamente nenhum controle financeiro e viver um dia após o outro como se não houvesse amanhã.

Posso citar casos de famílias que tinham um alto padrão de vida e que, por inúmeras razões, veem-se

com uma renda insuficiente. Possuem um patrimônio relevante com baixa liquidez, em que o custo de propriedade desses bens só agrava a situação. Para piorar, percebe-se que têm uma ligação emocional ou questões complexas de sucessão que os impedem de reorganizar suas finanças. A situação vai se arrastando e o resultado é previsível. Quantos não são os clientes que, apesar de terem recursos e investimentos com liquidez, utilizam o cheque especial e entram no rotativo do cartão por puro descontrole. Ou casos em que o provedor da família até tem um certo controle financeiro, mas, enquanto ele faz um tremendo esforço de poupança, os outros membros da família drenam os recursos com um apetite quase inesgotável.

Atendi clientes que não tinham consciência do nível de endividamento e da consequência que isso trazia para o fluxo de caixa, sem falar no comprometimento da renda e da capacidade de poupança ao longo do tempo. Pior, enquanto tinham renda e mesmo que ela estivesse comprometida por anos, não se sentiam devedores.

Engana-se quem acha que isso se aplica somente aos menos favorecidos, com menor nível de renda e escolaridade. Dados estatísticos referentes aos perfis socioeconômicos dos consumidores par ticipantes do Programa de Apoio ao Superendividado (PAS), da Fundação Procon-SP, ajudam a desmistificar essa realidade.

“O Planejador Financeiro será o elemento que resgatará o cliente do “túnel”, aliviando sua carga mental, apresentando alternativas factíveis e uma saída para aquela situação.”

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Quase que na totalidade das vezes, a forma como o Planejador Financeiro aborda o problema e encaminha o processo, independentemente da qualidade técnica da análise e das soluções encontradas, poderá determinar o sucesso ou não da implementação das ações necessárias.

Apenas para exemplificar algumas questões importantes que são respondidas de forma diferente de acordo com a análise do perfil de cada cliente:

• Como chegar ao cliente – que muitas vezes se surpreende com as consequências das dívidas que contratou e entra em choque ao perceber isso – e demonstrar mais objetiva e claramente por quanto tempo sua renda está comprometida e o quanto isso compromete sua qualidade de vida, sua segurança financeira no futuro e sua liberdade de tomada de decisões?

• Como abordar o cliente de forma a não trazer mais estresse para uma situação que já é desgastante?

• Como apontar que muitas vezes a possível solução para reorganizar sua vida financeira passará pela venda de um bem do qual ele não quer se desfazer ou pela necessidade de baixar o padrão de vida?

• Como auxiliá-lo a conseguir o necessário engajamento da família na reorganização financeira?

ENTRE AS PRINCIPAIS CAUSAS DAS DÍVIDAS ESTÃO:

Descontrole financeiro 42,02%Desemprego 19,81%

Redução de renda 18,71%Doença 7,63%

Negócio não deu certo 4,69%Emprestou o nome 3,06%

Separação 3%Óbito 1,01%

Não respondeu 0,05%

Ou seja, o descontrole financeiro aparece como o principal responsável pelas dívidas e o cartão de crédito aparece como o principal produto do superendividamento.

POR FAIXA DE RENDA,

até R$ 1.500 – 24,18%De 1.501 a 3.000 – 33,34%

3.001 a 4.500 – 18,79%4.501 a 6.000 – 9,91%6.001 a 10.000 9,65%

E acima de 10.000 – 4,12%

EM RELAÇÃO À ESCOLARIDADE,

Não alfabetizado 0,06%Não informado 2,31%

Ensino fundamental 11,05%Pós-graduado 11,45% Ensino médio 35,32%

Ensino superior 39,27%24,15% são do setor público e 75,15% do setor privado

57,67% são sexo feminino e 42,33% masculino

A maioria dos problemas de endividamento não decorre das dívidas que são programadas e, por isso, temos que ter muito cuidado ao indicar o nível de endividamento “ideal” para o cliente, pois, dependendo das premissas utilizadas e da relação dele com as finanças, qualquer deslize pode levar a uma situação insustentável.

A ATUAÇÃO DO PLANEJADOR FRENTE A ESSES DESAFIOS

Diante de um cenário de maior desgaste ou estresse do cliente, o papel do Planejador Financeiro torna-se ainda mais importante e desafiador. Por mais objetivos que os números possam ser, como nós já sabemos, não há uma solução padrão quando lidamos com a individualidade das pessoas e suas famílias.

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Especial

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• Como engajá-lo para implementar uma estratégia que o ajude a sair do endividamento no prazo mais curto possível, mesmo que para isso, alguns objetivos tenham que ser deixados de lado a princípio?

Como o processo de Planejamento Financeiro é integrado, alguns clientes talvez estejam entrando em contato com os outros componentes do Plano Financeiro pela primeira vez. É preciso que o Planejador Financeiro tenha sensibilidade e cuidado para tratar com o cliente, pois, na maior parte dos casos, o cliente está estressado e com a autoestima “abalada”, principalmente quando se dá conta de que foram suas atitudes que o levaram ao endividamento. Se ele se sentir mais sobrecarregado ainda, pode ser que desista ou sabote, pelo menos parcialmente, a implementação do Plano. As estratégias objetivas são várias, passam pela renegociação das dívidas, de maneira a possibilitar

que sejam pagas, com um custo menor e um prazo adequado, para dar folga para o cliente se reorganizar, venda de bens, alternativas para aumento de renda, readequação do portfólio, entre outros. Mas a melhor estratégia só será possível e terá maior probabilidade de sucesso na fase de implementação, se o Planejador, desde a primeira reunião, quando se começa a definir a relação e a se fazer o levantamento dos dados quantitativos e qualitativos, despir-se de preconceitos e julgamentos e realmente entender o cliente e sua realidade. Você perceberá que a qualidade da Plano Financeiro irá atingir outro patamar e uma grande satisfação por todo esse trabalho quando, ao longo do tempo, nas reuniões de acompanhamento, notar a evolução e a transformação virtuosa que foi capaz de causar na vida das pessoas.

Agradecimentos: Diógenes Donizete Silva e Neide Ayoub (Fundação Procon – SP). Maria Angela de Azevedo Nunes, CFP®

Planejadora Financeira Certificada desde 2009.

Economista pela UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com extensão em Psicologia Econômica pela FIPECAFI. Consultora e Administradora de Valores Mobiliários autorizada pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários. É sócia da Moneyplan - Consultoria em Planejamento Financeiro e Educação Financeira. Foi diretora do Banco Itamarati, da BCN Alliance Capital Management e do Banco BCN - Grupo Bradesco e docente do Curso de Planejamento Financeiro do INSPER – Instituto de Ensino e Pesquisa.

Luiz Correia Martins Pereira, CFP®

Planejador Financeiro Certificado desde 2006.

Administrador de Empresas com pós em Marketing e curso de extensão em Psicologia Econômica. Com mais de 17 anos de experiência profissional em instituições financeiras onde atuou na área de produtos, como regional de Investimentos e Private Banker, atua como Coach e Planejador Financeiro Pessoal. Escreve sobre planejamento e educação financeira.

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Conscientização Financeira

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BALANÇO DA SEMANA ENEF 2018

Marcela Navarro Argentin, CFP®

A Planejar aumentou a sua participação e importância na sociedade brasileira com as ações da Semana Nacional de Educação Financeira 2018. Foram realizados 299 eventos em todo o Brasil alcançando mais de dez mil pessoas. Nos últimos anos, iniciaram-se ações digitais também, foram cinco lives realizadas no Estadão que geraram juntas mais de 100 mil visualizações. Toda essa atuação só foi possível devido à participação de 215 voluntários que atuaram nessa causa de disseminar a conscientização financeira à população.

Um pouquinho de como esse projeto se iniciou...As ações de voluntariado conjunto dos profissionais CFP® no Brasil tiveram início na ExpoMoney em 2009. Em outubro de 2015 foi criada a Comissão deConscientização Financeira da Planejar, com a parceria da CVM, a Planejar inicia de maneira mais ativa as

atuações para conscientização financeira. Em 2016 ocorreu a primeira atuação na Semana Nacional de Educação Financeira com a parceria da CVM – foram 57 eventos realizados em todo o país. Já em 2017, dobramos a atuação e foram realizados 131 eventos, atingindo um público de cerca de sete mil pessoas.

Os eventos divulgam a existência da Enef (Estratégia Nacional de Educação Financeira), uma política de Estado criada em 2010 para incluir a Educação Financeira no ensino fundamental e médio no Brasil. Essa iniciativa é liderada pelo Conef (Conselho Nacional de Educação Financeira), do qual fazem parte quatro órgãos reguladores de mercado (Banco Central, CVM, Susep e Previc), três ministérios (Ministério da Educação, Ministério da Fazenda e Ministério daJustiça) e quatro entidades do setor privado (B3, ANBIMA, Febraban e CNSEG), além de envolver

vários outros atores do mercado financeiro na disseminação da educação financeira em nosso país, por meio da oferta de eventos e atividades gratuitas para a população. O objetivo da ação é despertar a consciência da população brasileira sobre a importância de cuidar das suas finanças pessoais.

Desde o início dos anos 2000, o G20 (o grupo dos países que representam as 20 maiores economias do mundo) aponta a falta de alfabetização financeira como um dos principais problemas deste início de século XXI. A OCDE, responsável por colocar em prática as políticas do G20, criou, para trabalhar esse tema, um networking internacional, em que diversos países trocam experiências sobre as ações locais que estão fazendo para promover a educação financeira entre as suas populações. Embora o Brasil seja um país com desempenho ruim no Pisa, o levantamento

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Conscientização Financeira

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realizado pela OCDE, que estuda o nível de educação financeira da população jovem (jovens de 15 anos), as práticas adotadas aqui, incluindo a Semana Enef e a própria Enef, são consideradas entre as mais avançadas do mundo.

Em 2018, assim como nas ações anteriores, os voluntários atuaram tanto na captação de espaços gratuitos para a realização dos eventos, como no trabalho voluntário de divulgação e realização das palestras e atendimento em clínicas financeiras por todo o Brasil.

A Comissão de Conscientização Financeira, composta por uma equipe de voluntários também, preparou o treinamento desses voluntários e o material a ser utilizado para a realização das palestras e clínicas financeiras. Dessa forma foi possível que a mensagem final desejada fosse disseminada de maneira uniforme.

Neste ano desenvolvemos 5 temas de palestras diferentes, conforme o objetivo de cada público. Os temas abrangeram o planejamento financeiro básico para todas

as idades, jovens, 50+, endividados e investidores. Com a divisão dos temas, conseguimos estar mais próximo do público final e aumentar a aplicabilidade das orientações do planejamento financeiro.

A ideia central é conscientizar a população sobre a importância do planejamento para a vida, mostrando para as pessoas que os objetivos e sonhos podem ser alcançados se elas estiverem com as suas finanças pessoais em ordem, e que saber lidar bem com o dinheiro faz parte de uma vida com equilíbrio.

Ter uma semana no ano focada na realização de eventos para levar conscientização financeira para a população é muito importante, porque a união de esforços amplia a possibilidade de construir um olhar para a sustentabilidade na busca do bem-estar financeiro, e a força que a comunidade de profissionais CFP tem para trabalhar a disseminação da educação financeira.

A experiência de ser voluntário atuando na conscientização financeira traz a oportunidade de

praticarmos a Educação e a Ética, através de um assunto que faz parte do nosso dia a dia e que para muitos é um grande tabu. As ações de educação financeira promovidas pelos profissionais CFP têm o poder de transformar vidas e mudar o destino do país, uma vez que uma população mais bem-educada financeiramente será mais capaz de tomar melhores decisões financeiras, o que é importante para a sustentabilidade de todo o sistema econômico-financeiro do país. É gratificante fazer parte dessa grande ação.O Brasil está vivendo um período promissor de transformações nas relações humanas e sociais. A cidadania está aflorando e precisamos aproveitar esse despertar. Dividir nosso conhecimento nos torna profissionais ainda melhores, e com isso podemos nos tornar também pessoas melhores.

Para participar dessa ação, entre em contato com a Planejar e fique atento para os convites que são enviados por e-mail. As inscrições para se voluntariar começarão em meados de janeiro de 2019, você terá toda a orientação e apoio para fazer diferença em nosso país.

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Conscientização Financeira

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VISÃO DA PLANEJAR: PLANEJAMENTO FINANCEIRO TRANSFORMA A VIDA DAS PESSOAS.

Planejadora Financeira certificada desde 2012.

Economista com MBA em Finanças. Banker no segmento de Private Banking, atua no mercado financeiro desde 2005 no Planejamento Financeiro pessoal de grandes famílias. Como membro da Comissão de Conscientização Financeira, em 2018 participou da coordenação da Semana Enef na Planejar.

Gratidão pela oportunidade de participar dessa importante ação.

Marcela Navarro Argentin, CFP®

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Investimentos

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A TECNOLOGIA APLICADAÀ OTIMIZAÇÃO DE PORTFÓLIOS

André Chede, CFP® e Lucca Portes

INTRODUÇÃO

Apesar da óbvia dificuldade em prever o que irá acontecer no futuro e, por consequência, indicar os investimentos que melhor irão performar no médio, curto e longo prazo, imagino que muitos profissionais que atuam na área de investimentos já devem ter se deparado com algum cliente investidor que indagou o porquê de não ter recebido indicação de uma determinada aplicação que, em dado momento, foi muito melhor que as outras.

Por exemplo: o Dólar no começo deste ano (2018) bateu a casa dos R$ 3,15. Contudo, não seria fácil imaginarmos que em pleno ano eleitoral, certamente a cotação se aproximaria dos R$ 4,00? Não valeria sempre a pena termos uma moeda forte dentro do portfólio de investimentos, sobretudo em momentos de turbulência e indefinição?

Recentemente, durante uma palestra, um investidor indagou-me acerca do mesmo contexto. Repliquei o seu questionamento querendo saber se na sua opinião ainda valeria a pena investir em Dólar, assim

como perguntei o que aconteceu em cenário similar em 2002, quando, frente à eminente possibilidade de vitória do então candidato Luís Inácio Lula da Silva, a moeda norte-americana alcançou R$ 4,00.

Quem aplicou em Dólar em setembro de 2002 mantendo tal posição, precisou esperar 16 anos para ver a recuperação do valor nominal. A título de curiosidade, nesse período a inflação acumulada medida pelo IPCA foi de 170%, o CDI foi de 590% e Ibovespa de 740%!

A hipótese dos Mercados Eficientes de que “os mercados financeiros são eficientes em relação à informação” coexiste com a concepção antagônica da irracionalidade nas oscilações dos preços dos ativos. Parece até que, quanto mais nitidamente enxergamos o futuro, maiores são as chances de errarmos o que de fato irá acontecer. Certos movimentos ficam evidentes depois que já ocorreram, mas não são previsíveis antes de acontecer, e tal comportamento é previsto no Viés da Previsão Retrospectiva, pertencente a denominada Heurística da Confirmação.

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Investimentos

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Por isso, a teoria mais aceita no mundo, no que tange à recomendação e gerenciamento de carteiras de investimentos, é aquela que busca o equilíbrio e a diversificação. Ou seja, neste modelo, os investidores nunca terão o melhor resultado possível, da mesma forma que jamais terão o pior. De tal modo, buscar-se-ão os retornos adequados com base no nível de risco assumido. Mesmo assim, ainda é bastante desafiadora a busca pela melhor carteira de investimentos possível para cada perfil de investidor.

Contudo, há razões para acreditar que as recentes evoluções tecnológicas e computacionais estejam em vias de incrementar a forma como os portfólios de investimentos são montados e gerenciados, criando condições que possibilitem tanto profissionais como investidores a tomarem decisões mais assertivas e conscientes.

CAPACIDADE COMPUTACIONAL

Conhecido como o pai da ciência, Alan Turing é a inspiração que me trouxe para essa nova área de pesquisa e motivou-me a compartilhar um pouco desse conhecimento adquirido nesta coluna da CFP Magazine.

Turing foi um brilhante matemático, lógico e criptoanalista, cujas descobertas se tornaram a base para a tecnologia atual. Este britânico teve um papel

decisivo durante a segunda guerra mundial, sendo considerado, pelo célebre Winston Churchill, como responsável pela principal contribuição individual para a vitória dos Aliados.

O cientista, que teve a sua vida retratada em 2014 no filme O Jogo da Imitação, liderou a equipe que conseguiu quebrar a encriptografia do sistema de comunicação nazista, permitindo aos aliados acessarem informações estratégicas e, consequentemente, vencer a guerra.

Em 1950 no período pós-guerra, Turing publicou o artigo “Computing Machinery and Intelligence” introduzindo um teste cujo objetivo era medir a capacidade de as máquinas exibirem comportamentos inteligentes equivalentes aos seres humanos. Este teste ficou conhecido como Teste de Turing e marcou o início do debate sobre a capacidade de emular o pensamento humano, deflagrando os primórdios do que hoje chamamos de Inteligência Artificial.

A TEORIA (AINDA) POUCO APLICADA À PRÁTICA

Existem diversos estudos (destacados ao lado), publicados por profissionais reconhecidos internacionalmente que podem contribuir de maneira determinante para a escolha e gestão dos investimentos que, apesar de sua importância, não

Índice de Sharpe – método de avaliação risco x retorno, que pode ser utilizado para ativos individuais ou para carteiras inteiras, desenvolvido por William Sharpe, nobel de Economia em 1990.

Teoria do Portfólio – utiliza o princípio da diversificação e das correlações dos ativos, para otimizar a carteira de investimentos, desenvolvido por Harry Markowitz, nobel de Economia também em 1990.

Teoria da Perspectiva – apresenta os vieses comportamentais que influenciam a maneira como o ser humano realiza a gestão de risco, e o consequente impacto na tomada de decisão, desenvolvido por Daniel Kahnemann, nobel de Economia em 2002.

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Investimentos

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investidor, tornando-se de tempos em tempos apenas uma exigência a ser cumprida para evitar o bloqueio da conta.

Os questionários de análise do Perfil do Investidor, conhecidos como API ou Suitability, deveriam ir além do objetivo regulamentar (de delimitar o que aquele investidor está habilitado ou não a aplicar), e de fato se transformarem em uma ferramenta de auxílio no processo decisório de investimento.

Tratando este tema de maneira protocolar, as instituições financeiras podem estar perdendo uma enorme oportunidade. Desenvolver um questionário que permita um entendimento profundo de quem é aquele investidor, o que ele busca e quais as suas necessidades – alinhado a uma ferramenta capaz de proporcionar uma experiência agradável e intuitiva – certamente contribuiria para uma abordagem melhor, dando o pontapé inicial para uma relação mais duradoura.

são acessíveis e são pouco empregados em prol do investidor comum.

Nesse sentido observa-se que a evolução tecnológica, o baixo custo de processamento e o desenvolvimento de ferramentas estão cada vez mais próximos de, conforme o jargão do mercado financeiro, “fechar esse gap” entre a teoria e a prática, fazendo com que as carteiras de investimentos indicadas ao investidor explorem (em sua magnitude) tudo o que sabemos, contribuindo positivamente para melhorar a performance, diminuir o risco e ajudá-lo na tomada de decisão.

PERFIL DO INVESTIDOR

Para a maioria dos profissionais do mercado financeiro este é um assunto incômodo, pois, da forma como é tratado, traz pouco ou nenhum benefício prático ao

Além de ser útil para conhecer melhor o cliente e estreitar o relacionamento, um questionário de Identificação do Cliente é uma singular oportunidade de elevar a quantidade e a qualidade da base de dados, gerando mais valor ao negócio. Preste atenção nas maiores empresas do segmento de tecnologia: tudo o que elas fazem é acessar diversos dados, tratá-los e utilizá-los de forma que se gere valor, produzindo oportunidades e vantagens competitivas.

BASE DE DADOS

É comum ouvir dizer que estamos na Era da Informação ou Conhecimento, pois tudo o que queremos saber está a apenas um clique de distância. E é justamente dessa forma que o Google define o seu Propósito Transformador Massivo: “Organizar a informação do mundo”.

Podemos considerar que uma base de dados

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Investimentos

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não possui significado relevante e não conduz a nenhuma compreensão. A informação é justamente a ordenação e organização dos dados de forma a transmitir significado e obter compreensão dentro de um determinado contexto.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recentemente lançou o Portal Dados Abertos CVM, que foi idealizado no contexto da Lei de Acesso à Informação (LAI). Através deste canal disponibilizaram-se dados que até então eram restritos apenas aos profissionais do mercado, possibilitando assim que qualquer empresa ou cidadão possa baixar e tratar dados de todas as companhias abertas do Brasil ou de todos os fundos de investimento em operação.

O passo que foi dado pela CVM é importante, mas ainda bastante tímido se formos olhar para o mercado internacional, e até mesmo para como as próprias instituições financeiras brasileiras estão se organizado, em que o número de APIs (Application Programming Interface) e as possibilidades de integração com outros sistemas crescem a cada dia, mostrando que o caminho a ser percorrido pela entidade que regula o mercado de capitais ainda é bastante longo.

O JOGO DA IMITAÇÃO

Agora voltamos ao ponto inicial da nossa discussão:

como oferecer a melhor carteira de investimentos para cada perfil de investidor?

O propósito pode parecer simples, mas a busca pelo seu resultado é complexa. A solução perfeita depende de tantas variáveis que jamais será encontrada, mas certamente existe um bom espaço para evolução.

Existem diversas empresas no mundo que têm buscado, através da matemática e da tecnologia, maneiras de otimizar as carteiras de investimentos. Essa abordagem naturalmente tem desembarcado no Brasil nos últimos anos por meio do conceito de Robo Advisor.

No filme O Jogo da Imitação, Alan Turing busca desenvolver uma máquina capaz de quebrar o Enigma, nome dado ao sistema que realizava a criptografia da comunicação nazista. O Jogo então era descobrir a criptografia e a Imitação veio justamente da criação de uma máquina capaz de imitar o trabalho humano, porém com uma capacidade de processamento muito maior.

De forma análoga, trazendo essa ideia para a construção de portfólios, para as empresas de Robo Advisor o jogo é entender as necessidades de cada investidor, e a imitação consistiria em replicar os atributos de uma carteira entalhada à mão por um artesão financeiro. E tudo isso em uma fração de

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Investimentos

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segundos, permitindo escalar o atendimento dos investidores ao mesmo tempo que se mantém a qualidade do serviço.

As principais diferenças entre essas empresas estão, em primeiro lugar, na maneira como compõem o portfólio – algumas utilizam títulos de renda fixa e valores mobiliários diretamente, enquanto outras realizam todo o trabalho através de Fundos de Investimento – e, em segundo, na forma como está programado o seu Algoritmo de Recomendação.

O algoritmo, segundo sua definição científica, é uma sequência finita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar problemas. Muitos desses problemas são complexos demais para que um ser humano resolva, isso sem falar da quantidade de tempo necessário.

Além disso, a geração e armazenamento de carteiras permite, a médio prazo, a aplicação de algoritmos de Inteligência Computacional e Aprendizagem de Máquina. Assim, o sistema “aprende” com erros e acertos, podendo ajustar seus parâmetros, para que se possa chegar cada vez mais próximo da ferramenta ideal para geração de portfólios de investimentos.

Para entendermos aonde isso pode chegar, vale a pena conhecer um pouco mais da história do programa

AlphaGo, retratada em filme de mesmo nome em 2017. O AlphaGo é um software de computador que joga o jogo de tabuleiro Go e foi desenvolvido pela DeepMind, uma empresa de inteligência artificial do Google. O Go é um jogo milenar de tabuleiro chinês que possui um número de possibilidades de jogadas tão grande, que mesmo para uma supermáquina é impossível prever todos os movimentos possíveis (diferentemente do que ocorre no Xadrez, por exemplo). O desafio do referido programa era desenvolver capacidades humanas para aprender e a inventar jogadas, tendo, assim, chances de derrotar os melhores jogadores do mundo.

Podemos perceber que os negócios estão se movimentando em uma direção e velocidade que evidenciam grandes transformações nos próximos anos. No Brasil e no mundo, temos visto o surgimento de várias fintechs, insurtechs e outras techs, com modelos e propostas de atividades inovadoras. A maioria vai “morrer”, juntar-se com outras ou ser engolida por algum player maior e mais preparado. Contudo, é importante enquanto profissionais do mercado, estarmos atentos e aptos para também inovar, ou preparados para absorver esse choque. Afinal, no fim das contas, gerar valor ao cliente é imprescindível! E quem conseguir “imitar” melhor nesse jogo, entendendo com antecedência os anseios e necessidades de cada investidor, terá maiores chances de sagrar-se vencedor.

Graduando em Ciência da Computação pela PUC-PR, é programador da Turing Tecnologia Consultoria. Possui conhecimento nas linguagens C, C++, Python e Swift, banco de dados MySQL e MongoDB. Experiência em mineração e armazenamento de dados.

Lucca Portes

Planejador Financeiro certificado desde 2013.

Engenheiro de Produção pela PUC-PR. Profissional do Mercado financeiro desde 2008, é fundador da Phi Investimentos e sócio fundador da Turing Tecnologia Consultoria. Consultor Financeiro credenciado na CVM, Analista Financeiro de Investimentos CNPI, Corretor de Seguros todos os ramos pela SUSEP, Planejador Financeiro CFP® pela PLANEJAR, e professor de finanças na pós-graduação da PUC-PR.

André Chede, CFP®

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Conduta Profissional

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ENTREVISTA:LUIZ SEVERIANO RIBEIRO, CFP®

Qual a pergunta mais frequente dos seus clientes?

Resposta: A principal dúvida dos clientes atualmente tem sido em relação ao retorno dos seus investimentos em um cenário de juros mais baixos.

Qual o maior desafio do planejador financeiro hoje?

Resposta: Entender a necessidade e o objetivo de investimento de cada cliente e ter a capacidade de se comunicar de forma simples e didática são atributos fundamentais de um bom planejador financeiro.

Atualmente, mais do que nunca, o planejador tem um papel fundamental de ajudar as famílias na readequação de seus gastos garantindo a perpetuação do poder de compra.

Outro papel que considero importante é deixar claro

para o investidor os riscos de produtos mais complexos para um perfil de cliente que estava acostumado a ter altos retornos com boa liquidez e baixo risco.

As exigências e necessidades dos clientes têm mudado nos últimos anos? Como o planejador deve se adaptar às novas demandas?

Resposta: Sem dúvida. A demanda orientada a produtos conservadores diminuiu, principalmente no último ano, e o planejador financeiro precisa estar pronto para fazer a melhor recomendação de forma a acompanhar a transição do perfil de risco das famílias. Ele precisa entender cada vez mais sobre produtos complexos e ter a capacidade de explicar isso de forma que o investidor possa tomar uma decisão consciente.

Como as novidades tecnológicas, os aplicativos principalmente, têm ajudado o planejador financeiro?

“Atualmente, mais do que nunca, o planejador tem um papel fundamental de ajudar as famílias na readequação de seus gastos garantindo a perpetuação do poder de compra.”

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Conduta Profissional

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Resposta: A tecnologia está democratizando o conhecimento sobre investimentos. Aplicativos hoje permitem acesso mais fácil e rápido a diferentes alternativas de produtos de forma instantânea e simples.

Como a volatilidade no mercado brasileiro tem afetado os clientes e como o papel do planejador pode ser um diferencial no momento?

Resposta: O investidor brasileiro estava acostumado a retornos elevados com baixa exposição ao risco. Com a queda da taxa de juros, buscando a manutenção desses retornos, os clientes vêm optando por investimentos de maior volatilidade e nem sempre estão preparados para as potenciais perdas. Nesse cenário, o planejador financeiro tem papel fundamental em esclarecer as características e os riscos de cada investimento, garantindo uma carteira alinhadas às necessidades, aos objetivos e ao perfil de cada cliente.

Qual a importância da reciclagem educacional e profissional do planejador? Quais são as suas fontes de atualização?

Resposta: O mercado financeiro, especialmente no Brasil, vem evoluindo muito rapidamente com a oferta cada vez maior de produtos alternativos e estruturas de investimento mais complexas. O planejador precisa

acompanhar esta evolução, estando pronto para orientar os clientes sobre as particularidades de cada instrumento financeiro.

Certificações e modelos de educação continuada, como o da Planejar, são ótimas ferramentas para isso. Eu, particularmente, também tenho dedicado atenção a outros temas como tecnologia e uso de dados que entendo que podem gerar um impacto muito positivo na experiência do cliente.

Planejador Financeiro Certificado desde 2007

Graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pós-graduado CSS – Certificate of Special Studies in Management pela Harvard University Extension School.

Diretor do Itaú Private Bank desde outubro de 2015, responsável pelas áreas comercial, investimentos, crédito, planejamento e operações do negócio com aproximadamente 400 profissionais sob gestão.

Ocupou anteriormente as posições de diretor comercial do Private e head do segmento Ultra High e está no Itaú desde 2002.

Luiz Severiano Ribeiro, CFP®

“O investidor brasileiro estava acostumado a retornos elevados com baixa exposição ao risco.”

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Seguros e Previdência

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PROTEÇÃO NOPLANEJAMENTO FINANCEIRO

Dirceu Braga

Existe oportunidade para o planejador financeiro? Qual o potencial benefício para seu cliente?

No texto abaixo me proponho a discutir a ideia de proteção em um planejamento financeiro. Também pensaremos um pouco mais sobre o produto Seguro de Vida e sua importância. E aproveito esta introdução para expressar a honra em participar na CFP Magazine, afinal é uma grande responsabilidade escrever para especialistas na área.

Quero começar citando uma frase que gosto muito:

“Quem planeja tem futuro, quem não planeja tem destino.”

Fica nítido que, quando pensamos em futuro, surgem inúmeras variáveis, sobremaneira em um país com características tão inconstantes como o nosso. É neste ponto que devemos ressaltar a importância dos seguros.

Ao tentar conceituar o que é um seguro, podemos encontrar as seguintes definições:

SEGURO:“Contrato mediante o qual uma pessoa denominada Segurador se obriga, mediante o recebimento de um prêmio, a indenizar outra pessoa, denominada Segurado, do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no contrato” (Circular Susep 354/07).

SEGURO DE PESSOAS:“Estes seguros têm por objetivo garantir o pagamento de uma indenização ao segurado e aos seus beneficiários, observadas as condições contratuais e as garantias contratadas. Como exemplos de seguros de pessoas, temos: seguro de vida, seguro funeral, seguro de acidentes pessoais, seguro educacional, seguro viagem, seguro prestamista, seguro de diária por internação hospitalar, seguro desemprego (perda de renda), seguro de diária de incapacidade temporária, seguro de perda de certificado de habilitação de voo.”

(Normas específicas de Seguros de Pessoas: Coberturas de Risco – Resolução CNSP 117/2004, Circular SUSEP302/2005 e Circular SUSEP 317/2006. Cobertura por Sobrevivência – Resolução CNSP 140/2005 com redação alterada pela Resolução CNSP 148/2006 e Circular Susep 339/2007).

E ao tentar explorar um pouco mais o seguro de vida, podemos em termos simplificados, abordar dois aspectos distintos.

O primeiro deles é a sua forma de contratação, que pode ser individual ou coletiva. Nos seguros coletivos, conhecidos também como seguro de vida em grupo, os segurados aderem a uma apólice contratada por um estipulante, que tem poderes de representação dos segurados perante a seguradora. É um seguro temporário, geralmente anual, com a possibilidade de renovação, mas importante frisar que não de uma forma automática, ou seja, ele pode ser cancelado de forma unilateral. O termo “grupo” deriva do aspecto

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Seguros e Previdência

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de cobrir risco por morte de um conjunto de pessoas previamente determinado, unido por algum interesse comum (por exemplo, os funcionários de uma mesma empresa).

Já o seguro de vida individual tem como referência a vida de um único segurado, formando uma relação direta entre o segurado e a seguradora, embora também possa ser realizado sobre mais de uma vida em uma mesma apólice, mas com participantes com alguma forte relação profissional ou pessoal (por exemplo, casais, sócios etc.). As indenizações neste tipo de produto podem ser pagas em forma de capital ou combinadas (com capital e renda). De um modo geral, são seguros de prazo mais longo.

O segundo aspecto é sua forma de cobertura, e duas possibilidades são abertas: cobertura por sobrevivência e cobertura por risco. A cobertura por sobrevivência, garante o pagamento do capital segurado, pela sobrevivência do segurado ao período de diferimento contratado, ou pela compra, mediante pagamento único, de renda imediata, através dos fundos formados para esse fim. A cobertura por risco garante o pagamento de uma indenização ao segurado e aos seus beneficiários por ocasião de algum evento adverso à vida de uma pessoa.

E pelo ponto de vista fiscal, temos alguns incentivos

interessantes. Existe isenção tributária dos valores pagos em indenização de seguro de vida. Na declaração do imposto de renda, esse montante entra na linha de Rendimentos Isentos e Não Tributáveis. Não existe imposto de renda dos ganhos financeiros das reservas dos seguros de vida e previdência enquanto não ocorre sua retirada. E uma última característica, não fiscal, mas sim legal, é que a indenização paga não entra em inventário. Vale ressaltar que todas as possibilidades têm suas vantagens e desvantagens e será sempre importante avaliar qual a modalidade mais adequada para cada necessidade.

De acordo com a Planejar, o planejamento financeiro conta com seis as áreas que devem ser abordadas para o desenvolvimento de um Planejamento Financeiro completo e eficaz.

Uma boa apólice de seguro de vida ajuda a encorpar a Gestão dos Riscos; pode garantir a liquidez financeira durante a fase de Sucessão, apresenta soluções do ponto de vista Tributário e, é claro, deverá estar alinhada às necessidades durante toda a preparação da aposentadoria.

E como montar uma apólice ideal?Imagine, por exemplo, uma pessoa de 35 anos de idade, casada e com 2 filhos, bom salário mensal, algum capital disponível para aplicação no mercado

“Uma boa apólice de seguro de vida ajuda a encorpar a Gestão dos Riscos”

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Seguros e Previdência

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financeiro, sem uma herança importante e que ainda depende de produzir riqueza ao longo dos anos, para obter uma aposentadoria confortável e independente.

ESSA PESSOA ENFRENTA DOIS GRANDES RISCOS FINANCEIROS A SEREM CONSIDERADOS:

• Viver muito, e encontrar as soluções mais adequadas de acumulação de patrimônio;

• Viver pouco, e não ter tempo de construir riqueza para si e seus dependentes, seja por morte prematura ou por invalidez permanente (conforme o artigo 42 da Lei 8.213/91, invalidez constitui “a condição apresentada pelo indivíduo de incapacidade e insuscetibilidade de reabilitação profissional para o exercício de atividade capaz de garantir a subsistência”. Mas, para que se faça jus à indenização securitária, os diversos julgados têm se manifestado no sentido de caracterizar a invalidez total e permanente quando o indivíduo se torna inválido para a prática do trabalho que exercia anteriormente, e não para toda e qualquer atividade remunerada. A aposentadoria concedida pelo INSS é prova hábil à comprovação da invalidez, ainda que as regras regentes dos benefícios ofertados pelo órgão previdenciário oficial e aqueles oferecidos pelos seguros privados não se confundam quanto às suas naturezas).

Assim, com esse perfil traçado, e considerando as três fases patrimoniais (Construção, Manutenção e Sucessão Patrimonial) podemos entender que esta pessoa está na fase de Construção do Patrimônio e, nesta fase, uma apólice de seguro de vida deverá ser uma das bases para esse planejamento.

Mas como indicar uma boa apólice de seguro de Vida a esse cliente apenas com essas informações disponíveis?

Não haveria um mínimo adequado, mesmo sem uma análise mais aprofundada?

Na minha opinião, sim!

Estudos indicam que uma boa apólice de seguro de vida deve conter pelo menos estes três capitais:

1. Garantir liquidez da abertura do inventário (Impostos, custas, honorários, etc.).

Um processo de inventário pode se arrastar por meses e até mesmo por anos até que os herdeiros consigam receber a herança a que têm direito, e isso tem tornado cada vez mais comum a procura por soluções que agilizam o recebimento de valores com muito menos burocracia.

Essa busca por liquidez pode ser preenchida pelo seguro de vida individual, por não se enquadrar como herança nos processos de inventário.

Construção/ AcumulaçãoPatrimonial

Plano deSaúde

Plano deInvestimentos

Plano deSeguros

“Viver Muito” “Viver Pouco”

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Seguros e Previdência

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O pagamento da indenização deve ser feito em no máximo 30 dias após a seguradora receber todos os documentos necessários (este prazo é uma determinação da resolução de número 117/2004 do Conselho Nacional de Seguros Privados e da circular de número 302/2005 da Superintendência de Seguros Privados – Susep).

2. Garantir mínimo de 3 a 5 anos da renda ou despesa da família e/ou dependentes financeiros.

O tempo para uma família se recompor financeiramente após a morte de um membro provedor varia. Mas, para calcular quanto a família precisará para sua manutenção, podem-se somar os gastos pessoais de cada membro até que consiga se manter sozinho, além dos gastos da casa e dívidas (é a mesma conta feita pelas seguradoras quando cai um avião e precisam indenizar as famílias das vítimas).

3. Garantir a formação educacional dos filhos até 24 anos em média.

Cálculo feito para pagar as mensalidades escolares e, depois, a faculdade até 24 anos, quando em tese esse tutelado teria condições de entrar no mercado de trabalho (vale lembrar que desses valores para os três capitais podem ser deduzidos os recebimentos de

pensão por morte da Previdência Social, observando as regras introduzidas pela Lei 13.135/15).

Como referência de custo, podemos dizer que até 10% da renda é um percentual que deveria caber no orçamento. Hoje já temos produtos modernos e acessíveis, e as coberturas variam das mais básicas até as muito completas.

Portanto, apenas com essas três contas iniciais, já seremos capazes de indicar um capital mínimo adequado a esse cliente, de forma imparcial, sem a preocupação com a venda de um produto específico.

Assim creio que que há boa oportunidade de incluir uma apólice no Planejamento Financeiro de seus clientes, não acham?

Agora que já falamos sobre esse importante produto, vamos falar um pouco sobre o mercado segurador no Brasil.

A contratação do seguro de vida, não costuma fazer parte do planejamento financeiro dos brasileiros. O assunto permanece ainda desconhecido para a maioria das pessoas.

O que nos leva também a imaginar que a pequena

“Como referência de custo, podemos dizer que até 10% da renda é um percentual que deveria caber no orçamento.”

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Seguros e Previdência

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Dirceu Braga é formado em Direito pela PUC-SP, pós-graduado em Marketing pela Ibmec, pós-graduado em Seguros e Resseguros pela Funenseg e certificado pela Susep.

Possui mais de 35 anos de experiência profissional no mercado financeiro e de seguros, trabalhando nos bancos Itaú, Auxiliar, Unibanco e Citibank.

Em seguros desde 2007, foi Diretor Técnico da Citibank Corretora de Seguros; na Mongeral Aegon, trabalhou com o produto Private Solutions e atualmente está na Zurich Seguros, com seguro de vida para Associações.

parte da população que possui um seguro de vida provavelmente não tem o capital adequado com sua real necessidade e convivem com a falsa sensação de que estão protegidos, além de frequentemente não informar aos beneficiários sobre a proteção adquirida.

Apenas para estabelecer um paralelo entre os serviços de seguro de vida nos países desenvolvidos e no Brasil, podemos citar países como Estados Unidos, Japão e muitos da Europa em que quase 10% do PIB é decorrente de seguros de vida (no Brasil o valor ainda não chega a 1,5%).

Não obstante, o Brasil tem se mostrado um ambiente próspero para o mercado de seguros. Com uma população de mais de 208 milhões de pessoas, um mercado em desenvolvimento e a baixa taxa de penetração de seguros atual, o país abre caminho para grandes oportunidades no setor.

Segundo levantamento da CNSeg, durante o ano passado (2017) o mercado de seguros pagou à sociedade mais de R$ 277 bilhões em benefícios, indenizações, resgates e sorteios, num mercado pujante de prêmios e comissões. Na divisão por ramos, somente a cobertura de seguros de pessoas retornou um montante de R$ 71,6 bilhões.

Também conta a favor do setor a expectativa média de vida no mundo, que aumentou cinco anos entre 2000 e

2015, o maior crescimento desde os anos 60, de modo que agora a média de vida global se situa em 71,4 anos, de acordo com Organização Mundial da Saúde (no Brasil, a expectativa de vida é de 75 anos, segundo a OMS). Ao viver mais, torna-se mister um bom planejamento de vida!

Portanto, o mercado segurador está em crescimento e repleto de oportunidades. Momento mais do que adequado para o seguro de vida como integrante de um bom planejamento!

Para finalizar, permitam-me dividir alguns sites de consulta com vocês:

http://www.ens.edu.br : Escola Nacional de Seguros, instituição no Brasil autorizada a ministrar cursos para formação de Corretores de Seguros.

http://www.tudosobreseguros.org.br: Tudo Sobre Seguros. É uma iniciativa da Escola Nacional de Seguros que tem como propósito melhorar a compreensão do público sobre os aspectos mais importantes do mercado de seguros, previdência privada e capitalização.

http://www.cqcs.com.br Centro de Qualificação do Corretor de Seguros. Notícias do mercado segurador.

Dirceu Braga

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Conduta Profissional

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A FÁBULA DAS ABELHAS

Nenhuma sociedade sobrevive sem leis. A sociedade precisa de regras para viver em coletividade, de acordo com alguns princípios. Não apenas de forma genérica, mas grupos sociais, empresas, organizações, classes profissionais precisam de códigos de ética, para conter abusos, porque há vícios e desvios que põem em risco o modus vivendi social comumente aceito. Como disse o autor Benjamin Disraeli, “quando os homens são puros, as leis são inúteis; quando os homens são corruptos, as leis são quebradas”. Sem respeito a códigos de ética e conduta universais e às leis, naturalmente não teríamos chegado aqui. São elas que protegem o bem comum e garantem os direitos fundamentais do cidadão. Estes devem ser recorrentemente atualizados, reformulados e adaptados, pois o ser humano é mais cíclico e mutável que a água.

Vamos olhar por outro prisma, o de Bernard Mandeville. Tentemos nos inserir nas colmeias

descritas por ele em sua obra A Fábula das Abelhas, publicada pela primeira vez em 1714 e republicada numa versão mais completa em 1723. Esta obra até hoje é utilizada como embasamento às questões éticas e causa várias reações a vários pensadores importantes. O outro título usado pelo autor foi Vícios Privados, Benefícios Públicos, o que já dá uma ideia melhor do seu conteúdo central.

Mandeville defendia aquilo que era entendido como o vício dos homens – como a ganância, inveja, vaidade e orgulho – era fundamental para a prosperidade da nação. O desejo humano na busca do autointeresse teria como consequência não intencional um caráter estabilizador para a sociedade. O “bem comum” não seria um produto da retidão das pessoas, de suas virtudes, mas sim dos seus vícios individuais. Mandeville tentou explicar a origem da moral como uma domesticação da mente

selvagem. O comportamento dito moral teria surgido das reações de criaturas egoístas às opiniões de outros, porque essas opiniões têm consequências tangíveis importantes ao seu próprio bem-estar. Para Mandeville, uma das maiores razões de tão poucas pessoas se compreenderem é porque os escritores estão sempre ensinando como os homens deveriam ser, enquanto poucos se dão ao trabalho de mostrar como eles realmente são.

Entrando com ele na história, o autor conta, de forma irônica, como os vícios de cada abelha em particular eram vitais para a prosperidade econômica de toda a colmeia. A colmeia era formada por dois grupos: os canalhas assumidos e os canalhas dissimulados. Ali existia todo tipo de vícios: inveja, orgulho, avareza, ganância, mas também a lei, a justiça e a crença divina. Todos os vícios individuais traziam algum benefício coletivo. Para sustentar a ganância de uma abelha,

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Conduta Profissional

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por exemplo, eram necessárias várias outras abelhas trabalhando em diversas áreas e construindo tudo aquilo que os grandes vícios de uma abelha desejava. Não fossem esses vícios, não haveria a justiça (não haveria quem defender, quem acusar ou quem julgar), o avanço tecnológico não faria sentido, não haveria competição, e a economia não circularia.

Mas as próprias abelhinhas viciosas começaram a reclamar da falta de honestidade, pregavam como ideal as virtudes e condenavam os vícios, e acabaram tendo seu pedido atendido – Júpiter colocou um fim nos vícios. Todas eram virtuosas agora. Mas não foi preciso muito tempo para que o desemprego começasse a surgir em larga escala, e a economia da colmeia ficasse totalmente estagnada. Faltavam regras, faltavam códigos de boas práticas de conduta e ética.

Todos esses vícios eram fundamentais para a prosperidade da Nação. Essa busca pelo autointeresse teria como consequência não intencional um caráter estabilizador para a sociedade. O “bem comum” não seria um produto da bondade das pessoas, das suas virtudes, mas sim dos seus vícios individuais.

A virtude moral, segundo Mandeville, ocorre em detrimento da sociedade, afetando seu comércio e seu progresso intelectual. Em sua fábula, é o vício

liberado pelos instintos de competição e reprodução – e não a virtude produzida pelos instintos de proteção e sobrevivência – que determina o autointeresse dos homens, a inovação e a reprodução ampliada do capital, estimulando a sociedade rumo ao progresso econômico.

Isso posto, percebemos que a falta de um padrão ético de conduta leva a uma ganância viciosa pela riqueza, uma busca individualista de autointeresse que inspirou Adam Smith quanto à atitude do laissez-faire*. Como uma sociedade pode chegar a um estado virtuoso sem seguir padrões mínimos universais de ética? Como viver sem responsabilidades assumidas, sigilos respeitados, humildade e honestidade entre as pessoas, bem como a competência na condução das coisas? Como viver sem um código de ética?

De fato, qualquer ação econômica do homem, inclusive as contrárias ao seu impulso natural, acabam por gerar benefício aos outros por efeitos multiplicadores. Interessante como podemos associar o texto de Mandeville com a nossa vida atual, não? O autor deixa claro que vícios são importantes e inseparáveis das grandes sociedades, mas devem ser reprovados ou mesmo punidos quando viram crimes, e combatidos quando em excesso. Aí entram os códigos de conduta e ética.

“Mas as próprias abelhinhas v i c i o s a s co m e ç a r a m a reclamar da falta de honestidade, pregavam como ideal as virtudes e condenavam os vícios, e acabaram tendo seu pedido atendido – Júpiter colocou um fim nos vícios.”

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O Conselho de Ética está ciente disso, conte com ele para tratar dúvidas e dividir questionamentos sobre quaisquer assuntos relacionados ao tema. Abaixo, a fábula:

«Uma grande colmeia, de abelhas repleta,Que viviam em luxuosidade completa,Porém tão famosa por leis e açãoQuanto por copiosa população,Constituía o grande manancialDo saber científico e industrial.Não havia abelhas com governo melhor,Com mais contentamento, inconstância menor;Não eram escravas da tirania,Nem sofriam com democracia,Mas tinham reis, que errar não podiam,Pois seu poder as leis comediam.Embora o enxame a fértil colmeia abarrotasse,Essa multidão fazia com que ela prosperasse;Milhões procuravam dar satisfaçãoMútua a sua cupidez e ostentação;Outros tantos entravam na lidaPara ver sua obra destruída.Abasteciam o mundo com sobra,Mas tinham mais trabalho que mão-de-obra.Alguns, com pouco esforço e grande capital,Faziam negócios de lucro monumental;Outros, condenados a foices e espadasE a todas essas árduas empreitadasEm que, voluntariamente, infelizes suavamPara poder comer, as forças esgotavam;

Assim, o vício fomentava o engenhoQue, unido ao tempo e ao bom desempenho,Propiciava da vida as comodidades,Seus prazeres, confortos e facilidades,A tal extremo que mesmo os miseráveisViviam melhor que os ricos do passado,E nada podia ser acrescentado.Como é vã dos mortais a felicidade!Soubessem eles da precariedade,E de que, cá em baixo, a perfeiçãoNão pode dos deuses ser concessão,Teriam os animais se contentadoCom ministros e governo instalados.Porém eles, a cada sobrevento,Como seres perdidos e sem tento,os políticos e as armas maldiziam,Enquanto “Abaixo os desonestos!” rugiam.Os próprios defeitos podiam tolerar,Mas dos demais, barbaramente, nem pensar!(…)A menor coisa que um erro mostrasse,Ou que os negócios públicos trancasse,E todos os velhacos gritavam aos céus:

“Se ao menos houvesse honestidade, oh céus!”Mercúrio sorria ante o descaramento,Já outros chamavam de falta de tentoProtestar sempre contra o mais amado.Mas Júpiter, de indignação tomadoE, por fim, irritado, jurou de vezLivrar a colmeia da fraude. E assim fez.

Outros ainda a mistérios estavam votados,Aos quais poucos aprendizes eram encaminhadosQue não requeriam senão o impudor,E sem um centavo podiam se imporComo parasitas, gigolôs, ladrões,Punguistas, falsários, magos, charlatões,E todos os que, por inimizadeAo honesto labor, com sagacidadeTiravam vantagem considerávelDa lida do vizinho incauto e afável.Chamavam-nos canalhas, mas os diligentes,Exceto o nome, não agiam diferente.De todos os negócios a fraude era parte,Nenhuma profissão era isenta dessa arte.(…)Assim, o vício em cada parte vivia,Mas o todo, um paraíso constituía;Temidos na guerra, na paz incensados,Pelos estrangeiros eram respeitados,E, de riquezas e vidas abundante,Entre as colmeias era a preponderante.Tais eram as bênçãos daquele estado;Seus crimes tornavam-no abastado;E a virtude, que com a politicagemAprendera bastante malandragem,Tornara-se, pela feliz influência,Amiga do vício; por consequência,O pior elemento em toda a multidãoRealizava algo para o bem da nação.(…)

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Conduta Profissional

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No mesmo momento em que ela partiaDe honestidade o coração se enchia;Tal como para Adão, se lhes revelaramAqueles crimes dos quais se envergonharam,Que então, em silêncio, confessaram,E ante sua torpeza coraram,Como menino de mau comportamentoQue pela cor denuncia o pensamento,Imaginando, ao ser olhado,Que os outros vêm o seu passado.(…)Vede agora na colmeia renomadaHonestidade e negócios de mão dada;O show terminou; foi-se rapidamente,E mostrou-se com face bem diferente.Pois não apenas foram-se emborOs que gastavam muito a toda hora,Como multidões, que deles dependiam,Para viver, forçadas, também partiam.

Era inútil buscar outra profissão,Pois vaga não se achava em toda nação.

À medida que minguaram orgulho e luxo, Gradativamente deixaram os mares, Agora não os mercadores, mas companhias. Fecharam fábricas inteiras. Todas as artes e ofícios foram abandonados. O contentamento, ruína da indústria, Fê-lo apreciar seu estoque caseiro E não buscar nem cobiçar mais.Assim, poucos permaneceram na vasta colmeia; Não puderam manter nem a centésima parte Contra as afrontas dos numerosos inimigos, A quem, valentemente, enfrentavam, Até encontrar algum refúgio bastante fortificado, Onde morriam ou defendiam seu território. Não houve mercenários em seu exército; Bravamente, lutaram eles próprios. Sua coragem e integridade Foram finalmente coroadas com a vitória. Triunfaram, porém não sem custo, Pois milhares de abelhas pereceram. Calejadas dos árduos trabalhos e exercícios, Consideraram vicio a própria comodidade, O que aperfeiçoou de tal modo sua moderação, Que, para evitar extravagâncias, Voaram para uma árvore oca, Abençoadas com satisfação e honestidade.”

Bernard Mandeville (1670-1733) compôs “A Fábula das Abelhas ou Vícios Privados, Benefícios Públicos” em 1714. Médico holandês radicado na Inglaterra, inspirou-se num poema satírico publicado anonimamente, em 1705, cujo título era “A Colmeia Ruidosa ou Canalhas Feitos Honestos”.

* Laissez-faire, em francês, simboliza o liberalismo econômico, na versão mais pura de capitalismo, em que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência, apenas com regulamentos suficientes para proteger os direitos de propriedade.

Conselho de Ética - Planejar

“Because impudence is a vice, it does not follow that modesty is a virtue; it is built upon shame, a passion in our nature, and may be either good or bad according to the actions performed from that motive.”

Bernard de Mandeville

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Indicação de Leitura

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INDICAÇÕES DE LEITURAA LÓGICA DO CISNE NEGRO (THE BLACK SWAN),DE NASSIN NICHOLAS TALEB

Um Cisne Negro é um evento com três características básicas: é imprevisível, gera consequências impactantes e, depois que acontece, busca-se formas de precaução e identificação antecipada. Os Cisnes Negros são outliers que sustentam quase toda grande ocorrência no mundo; e no mercado financeiro não é diferente. O sucesso inicial surpreendente do Google e seu tamanho nos dias de hoje foi um Cisne Negro, assim como a queda do World Trade Center em 11 de Setembro de 2001.

Por que não reconhecemos o fenômeno antes que ele ocorra? Parte, da resposta, segundo o autor, deve-se ao fato de, em geral, nos limitarmos ao aprendizado de conteúdo específico e a percepção dos Cisnes Negros depender da sabedoria em diversas áreas do conhecimento. Nos aprofundamos naquilo que já sabemos, e deixamos de aprender o desconhecido. Com isso, ficamos vulneráveis ao que parece impossível por simplificar, categorizar e achar que o mundo é linear. Enquanto isso, grandes eventos positivos ou negativos surpreendem a todos, e transformam os mercados e a sociedade.

Neste livro fantástico, que recomendo para pessoas de qualquer área, Nassim Nicholas Taleb, professor e estudioso dos problemas relacionados à sorte, à incerteza, à probabilidade e ao conhecimento, oferece truques simples para lidar com os Cisnes Negros e tirar proveito deles através de uma nova visão de mundo.

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INDICAÇÕES DE LEITURA

A ÚNICA COISA, GARY KELLER, JAY PAPASAN

Planejador Financeiro certificado desde Fevereiro de 2017.

Profissional com experiência de 15 anos atuando em análise de investimentos, planejamento financeiro e sucessório de clientes Private em seguradoras e bancos. É Atuário formado pela UNESA/RJ e cursando MBA em Finanças e Banking pela LAUREATE UNIVERSITY.

Orlando Niegski Neto, CFP®

Um provérbio Russo diz “Se você persegue dois coelhos ao mesmo tempo, não vai pegar nenhum dos dois.” A ÚNICA COISA traz conceitos simples que defendem que devemos nos concentrar no que é mais importante na nossa vida pessoal e no trabalho. Ao enfocar a sua energia numa ÚNICA COISA de cada vez os resultados serão alcançados! Aprendemos também com este livro que quando queremos a melhor chance de obter êxito em qualquer coisa que desejamos, ser simples é muito importante. Com isso, fica fácil compreender que resultados extraordinários são diretamente determinados por quão específico pode tornar seu foco.

Mais do que uma “fórmula” para viver melhor, os autores deste livro dão-lhe o segredo para, de forma eficiente, atingir os resultados que sempre ambicionou. Gary Keller e Jay Papasan revelam neste texto, muito ilustrado, os passos para viver com um propósito, prioridades e produtividade e assim conseguir resultados motivadores e de alta performance.

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MEUS AXIOMASDE MERCADO

Márcia Scaramela, CFP®

Há muito tempo trabalhando no mercado financeiro, presenciei vários momentos de incerteza e volatilidade, ainda mais na área de assessoria em investimentos no Brasil. Ao longo dos anos gastei muitas horas com leitura e criei o hábito de manter uma lista de citações em meu bloco de notas do celular, as quais recorro nos momentos difíceis diante das intempéries do mercado. Sabe quando você precisa voltar ao eixo diante de uma respiração acelerada, bochecha ruborizada e sabe que deve evitar ao máximo uma atitude errada? Pois bem, tais citações me acalmam. Claro, cometi alguns poucos erros na tomada de decisão, mas tenho a certeza que rever tais escritos me ajudaram, na grande maioria das vezes, nesses modestos 31 anos de mercado financeiro.

Resolvi dividir com vocês tais citações, talvez lhe sejam úteis. Tomara! Como poderão perceber elas tratam de questões sobre investimentos e até um pouco de finanças comportamentais, alertando sobre algumas coisas que devemos ficar atentos. Eu mesma estou relendo tudo, principalmente pelo fato de que economistas, financistas e o jornalista da TV diz que 2018 será um ano de volalitidade.

1. Conhecimento em profundidade diferencia! Muitos estudos contemporâneos nos provam que a mente é um músculo. No livro “Antifragile”, Nassim Taleb explora a taxa de sobrevivência dos sistemas gerais, e que os sistemas que melhor se adaptam às situações em mudança são aqueles que estão longe de se quebrar sob pressão, se adaptam e melhoram em vez disso, da mesma forma que estressar o sistema com coisas como treinos melhora a capacidade muscular. E isso advém com muita leitura e investimento em conhecimento. O que concluímos com isso? A análise superficial não lhe trará retornos diferenciados no curto prazo, busque quem tenha profundidade intelectual. Isso é um verdadeiro mantra pra mim. O anseio por conhecimento, o hábito

de ler e procurar outros vieses de conhecimento e uma voraz necessidade de aprendizado torna alguém diferenciado. Procuro sempre ler sobre os mais diversos assuntos aqui e acolá, de forma que, para a indicação de investimento, dou nota alta para os gestores e instituições com esse perfil.

2. Cuidado com o canto das sereias! Discursos sedutores, que turvam nossa visão e não nos deixam ver os arrecifes ou o perigo mortal das profundezas existem nos investimentos. Não necessariamente um fundo que não tem volatilidade não corre risco... Aliás, ele pode estar escondendo riscos de ruína.

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Temos que valorizar a volatilidade entendendo-a e desconfiar da ausência dela.

3. Olha a onda, olha a onda! Como já escreveu o Sábio no livro bíblico de Eclesiastes: “O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada novo debaixo do sol”. Antes de entrar numa “onda” da moda recomendamos novamente: cuidado! No efeito “manada” normalmente se vê mais pessoas machucadas do que ilesas, e isto vale para as ondas de investimentos exóticos, alternativos ou novos, como para a tomada de decisão nos momentos de tensão. Quem não se lembra do Boi Gordo? Minha avó aconselhava água com açúcar, eu recomendo apenas: obtenha mais informações, converse com especialistas.

4. Desconfie de quem tem confiança demais! Importante: a começar da sua! Barberis e Thaler chamam a atenção para os investidores que tendem a confiar demasiadamente na própria capacidade de tomar decisões de investimentos financeiros, com a crença otimista de que são capazes de escolher aplicações que terão melhores resultados que a média do mercado. O excesso de confiança aparece com a adoção da estratégia de comprar e vender no momento certo: comprar antes que os preços subam e vender antes que eles caiam. Um dos riscos dessa estratégia é estar fora do mercado durante alta acentuada. Com que margem de erro esse investidor pode conviver para achar que essa estratégia supera a estratégia simples de comprar e manter? E, do outro lado da moeda, interessante como a insegurança e a prática de duvidar de si mesmo faz de alguns gestores seres especiais. Confiança demais gera menosprezo do risco de obtenção de resultados ruins e ilude a respeito da sensação de controle sobre condições futuras que, absolutamente, não têm nenhuma ingerência. A humildade faz bem e evita o viés de confirmação, que nos deixa vulneráveis aos cisnes negros, os tais eventos considerados raros, de alto impacto e imprevisíveis, retratados por Taleb.

Curiosidade: O termo Cisne Negro remete a uma história. No séc XVII pensava-se que todos os cisnes fossem brancos. Por mais cisnes que fossem vistos,

eles eram todos brancos. Até que, na Austrália, foi descoberto o primeiro cisne negro. Apesar de milhares de anos de observações de cisnes brancos, bastou um único evento de cisne negro para derrubar a hipótese de que “todos os cisnes são brancos”. Desde então o termo é usado para denominar a fraqueza do nosso processo de raciocínio indutivo.

5. Será que aquilo que você vê é tudo o que existe? Daniel Kahneman, um teórico israelense das finanças comportamentais, que combina a economia com a ciência cognitiva para explicar o comportamento aparentemente irracional da gestão do risco pelos seres humanos (ganhador do prêmio Nobel de economia em 2002), nos alerta que temos que tomar cuidado com o pensamento linear sem espionar o

“outro lado da força”. Emitimos conceitos o tempo

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todo, mas nem sempre nos preocupamos com a validade deles. E cada coisa que dizemos se atinge alguém, pode provocar efeitos duradouros. Temos de tomar cuidado não só com o que emitimos, mas também com o que recebemos. Ainda mais em fase de internet e de Wikipedia que, mesmo com seus valores inegáveis, podem provocar problemas diversos. É importante adquirir senso crítico e conhecer os dois lados da história – nem que seja pelo prazer da confusão, que pode levar ao esclarecimento, cedo ou tarde. Fuja de quem lhe diz “o que não está ali não existe, portanto não compõe nosso campo de análise”.

6. “Ei, está tudo sempre bem!” - Será possível? Os mais célebres operadores de Wall Street jamais esconderam que o estado de quase permanente preocupação é parte do seu estilo de vida. Mas eles não se queixam do modo como vivem. Se fossem obrigados a escolher entre preocupações e pobreza, certamente prefeririam as preocupações. O nível de risco que assumem a maior parte do tempo dá

preocupações suficientes. Charlie Munger nos ensinou que: “99% dos problemas que ameaçam a nossa civilização vem de uma contabilidade muito otimista. E, no entanto, esses malditos contadores com seus desejos de pureza matemática querem devotar exatamente a mesma atenção para contabilidade que é muito pessimista como a que devotam para a contabilidade muito otimista – o que é loucura.” Contabilidade otimista quer dizer supervalorizar ativos, receitas e vantagens, e subestimar passivos, despesas e desvantagens. Simples assim. Esse problema atinge empresas, organizações e governos. E são essas três coisas que comandam o mundo moderno.

7. De novo o bom Taleb: cuidado com a falácia da narrativa! Em “A lógica do cisne negro”, ele cita, como exemplo, a cobertura do canal Bloomberg (de finanças) no dia em que Saddam Hussein foi capturado: uma hora, quando o mercado estava em queda, o canal afirmava que isso era devido a uma insegurança acerca do futuro do Iraque pós-Saddan. Outra hora o mercado estava em alta - e o canal prontamente passou a culpar a euforia pela captura de Saddam por esse aumento. Ou seja, o problema surge quando ocorrem novos eventos, e tentamos acomodá-los nas nossas histórias, multiplicando assim as racionalizações. Não ancore seu barquinho de dinheiro na praia dos que costumam dizer “todo mês de dezembro a bolsa sobe” ou “depois que isso acontece, vem isso”, e até mesmo:

É importante adquirir senso crítico e conhecer os dois lados da história

“por conta disso, isso ocorre”. Cuidado com os que gostam de contar histórias, de resumir e simplificar, ou seja, de reduzir a dimensão das questões.

8. No futuro, alguém vai aparecer e vai fazer ainda melhor. Citando novamente uma passagem de Charlie Munger: “Ben Graham tinha uma mente

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formidável, e ele também tinha uma clareza na forma de escrever, e nós conversamos muitas vezes sobre o poder que tinha algumas ideias simples, se fossem

totalmente compreendidas. E isso aconteceu com as ideias de Graham que vieram para mim indiretamente através do Warren [Buffett], e algumas diretamente de Graham. A parte interessante para mim foi que o Buffett antigo protégée de Graham – que por sinal Buffett foi o melhor aluno que Graham teve em seus 30 anos ensinando na Universidade de Columbia

– se tornou melhor que o próprio professor. Esse é um resultado natural – como Newton disse, ‘Se eu enxerguei mais longe que algum outro homem,

foi porque subi nos ombros de gigantes’. Então, Warren subiu nos ombros de Graham, mas acabou enxergando mais que Graham. Não tenho nenhuma dúvida que alguém aparecerá e se sairá melhor do que nós nos saímos.“

Charlie Munger dá um tapa na cara daqueles que se acham geniais e assume que apesar do desempenho extraordinário dele e de Warren Buffett, pessoas mais jovens subirão em seus ombros para enxergar mais além. E isso acontece em todas as áreas da vida — o aprendiz superando o mestre. A lição aqui é: não se preocupe se alguém subir nas suas costas para enxergar mais além. Vamos aceitar que não somente os grandes figurões ou os velhos gestores são os top-tops do mercado.

Planejadora financeira certificada desde 2015.

Iniciou sua carreira em 1986 no Lloyds Bank, tendo atuado em diversos bancos de renome, tais quais BankBoston e Itaú, com experiência em Tesouraria, Investimentos e Derivativos para clientes institucionais e corporativos. Em 2003 foi Head do Private do Opportuntiy por 6 anos. Desde 2010 é sócia na TAG e atua com advisory de investimentos. É membro do Conselho de Ética da Planejar; Membro da Comissão de Gestores Independentes na Anbima. Bacharel em Economia e MBA - Fundação Dom Cabral, com Post-MBA pela Kellogg School of Management Liderança e Negociação.

Márcia Scaramela, CFP®

Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes

Isaac Newton

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Educação Continuada

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EDUCAÇÃO CONTINUADA

QUIZhttps://pt.surveymonkey.com/r/Quiz_CFPMagazine15

VALE 2 CRÉDITOS NO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

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ProfessionalANO 5 · Edição 15 · Abr.Mai.Jun.’2018