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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 PROFESSORES BRASLEIROS: FORMAÇÃO E PERFIL TOZETTO, Susana Soares (UEPG)¹ WENGZYNSKI, Cristiane Danielle (UEPG)² MARTINEZ, Flavia. Wegrzyn (UEPG)² BULLATY, Andréia (UEPG)² MACENHAN, Camila (UEPG) 3 NICOLITTO, Mayara (UEPG) 3 Introdução A discussão apresentada nesse texto se originou nos estudos do grupo de pesquisa sobre o trabalho docente GEPTRADO. As pesquisas e estudos do grupo desenvolvidas baseiam-se em autores como: Sacistán, Perez Gomez, Aplle, Popkewitz, Hargreaves, Charlot, Imbernón, Nóvoa, Gatti, Saviani, Oliveira, Moraes, Marin. Os integrantes do grupo realizam investigações sobre a epistemologia do trabalho docente sob dois enfoques: formação de professores e prática educativa. O grupo realiza os encontros de forma quinzenal, nas dependências da UEPG e no ano de 2011 realizamos amplas reflexões a respeito dos aspectos sociais, políticos e culturais do trabalho docente por meio da obra O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam (UNESCO, 2004). Sendo assim, analisamos quem são os professores brasileiros, com o objetivo de entender a gênese dos problemas de diferentes aspectos relacionados ao contexto educativo como: as políticas educacionais que embasam a educação brasileira, as representações sociais construídas sobre a educação, a demanda institucional dos cursos de formação de professores, o espaço geográfico entre outros. ______________________________ ¹Doutora em Educação Escolar, professora adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Educação, do Programa de Pós Graduação (Mestrado/Doutorado), e líder do grupo de pesquisa sobre o trabalho docente (GEPTRADO), contato: [email protected] ² Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG. ³ Acadêmicas do Curso de Pedagogia da UEPG

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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PROFESSORES BRASLEIROS: FORMAÇÃO E PERFIL

TOZETTO, Susana Soares (UEPG)¹

WENGZYNSKI, Cristiane Danielle (UEPG)²

MARTINEZ, Flavia. Wegrzyn (UEPG)²

BULLATY, Andréia (UEPG)²

MACENHAN, Camila (UEPG)3

NICOLITTO, Mayara (UEPG)3

Introdução

A discussão apresentada nesse texto se originou nos estudos do grupo de

pesquisa sobre o trabalho docente GEPTRADO. As pesquisas e estudos do grupo

desenvolvidas baseiam-se em autores como: Sacistán, Perez Gomez, Aplle, Popkewitz,

Hargreaves, Charlot, Imbernón, Nóvoa, Gatti, Saviani, Oliveira, Moraes, Marin. Os

integrantes do grupo realizam investigações sobre a epistemologia do trabalho docente

sob dois enfoques: formação de professores e prática educativa.

O grupo realiza os encontros de forma quinzenal, nas dependências da UEPG e

no ano de 2011 realizamos amplas reflexões a respeito dos aspectos sociais, políticos e

culturais do trabalho docente por meio da obra O perfil dos professores brasileiros: o

que fazem, o que pensam, o que almejam (UNESCO, 2004).

Sendo assim, analisamos quem são os professores brasileiros, com o objetivo de

entender a gênese dos problemas de diferentes aspectos relacionados ao contexto

educativo como: as políticas educacionais que embasam a educação brasileira, as

representações sociais construídas sobre a educação, a demanda institucional dos cursos

de formação de professores, o espaço geográfico entre outros. ______________________________

¹Doutora em Educação Escolar, professora adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Educação, do Programa de Pós Graduação (Mestrado/Doutorado), e líder do grupo de pesquisa sobre o trabalho docente (GEPTRADO), contato: [email protected] ² Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG. ³ Acadêmicas do Curso de Pedagogia da UEPG

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É preciso um novo olhar sobre os professores brasileiros, considerando a visão

que eles possuem a respeito da educação e os problemas apontados como: a falta de

tempo para a realização do planejamento, a falta de recursos materiais e o grande

número de alunos nas turmas.

A partir das leituras, analisamos alguns aspectos relacionados com a formação

inicial e continuada dos professores, como: a idade, estado civil e escolaridade dos pais

dos profissionais. Os dados obtidos levaram em consideração a divisão do país em

regiões, logo, constatou-se que nas regiões sul e sudeste existem mais professores com

ensino superior com formação pedagógica. Também observamos outro fato importante

que é a proporção de professores que têm consciência de seu papel político.

Esta informação derivou da relação entre os professores das instituições públicas

e privadas. Nosso grupo também debateu sobre a implementação de políticas públicas e

seu efeito na educação, revelando que alguns projetos não foram efetivados no tempo

previsto, como por exemplo, o plano de carreira para o magistério. Realizamos estudos

sobre a identidade social dos professores, a qual demonstrou ser marcada pela

feminização da profissão e também pela desvalorização da docência em decorrência da

crença de que no trabalho do professor há pouca autonomia, por isso, é visto como um

mero executor das ordens do Estado.

Tais afirmações nos levam a refletir a respeito do fato de que os professores

ainda desconhecem o seu papel na luta política pela implementação de melhores

condições de trabalho.

A aparente satisfação dos professores com a profissão é um ponto que pode ser

destacado, pois a maior parte dos profissionais aspira permanecer na carreira docente.

Desta forma, apontaremos a necessidade dos planos de carreira, aumentos salariais e dos

incentivos à formação para que a escola esteja preparada para atuar na emancipação dos

sujeitos e não na mera transmissão do saber de forma dissociada.

É preciso que os professores tenham acesso às tecnologias, aos meios de

comunicação, às atividades culturais para que construam uma visão mais ampla dos

fatos presentes na sociedade, trazendo para a sala tais temáticas e explorando a

capacidade de reflexão dos alunos.

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O processo de formação da identidade dos professores que vem a definir seu

perfil e suas possíveis ações no futuro é historicamente e socialmente constituído.

Assim, buscamos compreendê-lo não apenas como algo pronto, mas como uma

reconstrução constante e sujeita a mudanças, na qual a formação de professores é um

conceito chave e que pode possibilitar melhorias na educação brasileira. Estamos

vivendo em uma época de alteraçao tanto do conceito da educação quanto do conceito

de professor.

Formação: a construção da docência

A complexidade de fatores que permeiam a questão da formação é bastante

abrangente e está ligada ao desenvolvimento da escola, do ensino, do currículo e da

profissão docente.

Para além da aprendizagem da matéria a ser dada em sala de aula, a formação de

professores traz consigo aspectos relevantes que constituem o ser professor. Neste

sentido, a formação de professores vem sendo foco de análise por vários estudos e

pesquisas nas últimas décadas, o que demonstra a relevância da proposição de um debate

sobre o tema, com vistas a promover os avanços necessários no entendimento do processo de

formação dos professores. (UNESCO, 2004).

Nunca se falou tanto em formação de professores, como nos dias atuais

colocando em evidência os professores e seus saberes. “O debate em torno do

professorado é um dos pólos de referência do pensamento sobre a educação, objeto

obrigatório da investigação educativa e pedra angular dos processos de reforma dos

sistemas educativos.” (SACRISTÁN, 1999, p.64). O conhecimento e a experiência

profissional como lócus da prática educativa, traz a luz reflexões acerca das questões

que permeiam a profissão docente.

Os estudos sobre a formação docente implicam, um conhecimento histórico das

relações que estruturam tal formação considerando o professor como sujeito inserido

num debate para além do campo de sua atuação. Na revisão da literatura, o

levantamento histórico-documental do processo de formação de professores de acordo

com Nóvoa (1995) verifica-se que a função docente desenvolveu-se de maneira

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subsidiária, constituindo-se como ocupação secundária de religiosos ou leigos, tendo

como origem as congregações religiosas, que se transformaram em verdadeiras

congregações docentes.

Apenas a partir do final do século XVIII é que se institui uma licença ou

autorização do Estado, para atuar como professor, a qual é concebida por meio de um

exame a fim de estabelecer determinados critérios para o exercício da função docente.

A criação desta licença é um momento decisivo do processo de profissionalização da actividade docente, uma vez que facilita a definição de um perfil de competências técnicas, que servirá de base ao recrutamento dos professores e ao delinear de uma carreira docente ( NÓVOA, 1995, p. 17).

A licença para lecionar, fornecida pelo Estado, sinaliza um avanço considerável

na formalização da profissão professor, pois é estabelecido alguns critérios que servem

de subsídios para a caracterização da profissão professor. A intervenção do Estado

provoca uma homogeneização do grupo dos professores, porém de maneira controversa,

nota-se que apesar dos professores estarem amparados por um documento legal, a fim

de exercer a atividade docente, quando a missão de educar cede lugar à prática de um

ofício, as motivações originais que constituem a gênese da profissão não desaparece.

A criação das primeiras instituições de formação de professores datam do século

XIX, através da consolidação das escolas normais, que de acordo com Nóvoa (1995, p.

18) “as escolas normais estão na origem de uma verdadeira mutação sociológica do

corpo docente: o velho mestre-escola é definitivamente substituído pelo novo professor

de instrução primária”. Fato este, que representa uma conquista importante do

professorado como um todo.

Com advento das escolas normais, com o intuito além de formar professores,

vem contribuir para a socialização dos docentes, assim como para a gênese de uma

cultura profissional. Esse período é um momento importante para compreensão da

ambigüidade do estatuto dos professores.

Ao longo do século XIX consolida-se uma nova imagem do professor, que cruza as referências ao magistério docente, ao apostolado e ao sacerdócio, com a humildade e a obediência devidas aos funcionários

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públicos, tudo isto envolto numa auréola algo mística de valorização das qualidades de relação e de compreensão da pessoa humana (NÓVOA, 1995, p.16 ).

A história da profissão docente é marcada por contradições. Partindo desse

pressuposto vários autores abordam a desprofissionalização (ou proletarização) a que os

professores têm estado sujeitos no decorrer da história da formação.

Conhecer o professor, sua formação básica e como ele se constrói ao longo da

sua carreira profissional são fundamentais para que se compreendam as práticas

pedagógicas dentro das escolas. Entendemos que se tornar professor, é um processo de

longa duração, de novas aprendizagens e sem um fim determinado (NOVOA, 1995).

Portanto, formar um professor, ou formar-se professor leva tempo e demanda

investimento, principalmente intelectual.

O significado da palavra formação é complexo e possui diferentes significados

relativos ao contexto no qual é empregado. Segundo o dicionário Houaiss de Língua

Portuguesa, referem-se [...] “ato, efeito ou modo de formar, constituir, criação; conjunto

de conhecimentos e de habilidades específicos a um determinado campo de utilidade

prática intelectual” (2001, p. 1372). A formação está ligada ao conceito de constituir-se,

dar ou receber forma, desenvolver o conhecimento. A abrangência desse conceito não se

reduz apenas ao significado exposto acima, mas está intimamente ligado ao seu caráter

histórico e filosófico que lhe é conferido. No entanto, as definições para este termo

comungam da mesma idéia, de algo incompleto e em construção.

A formação de professores, como refere Nóvoa (1995, p.18)

[...] é mais do que um lugar de aquisição de técnicas de conhecimentos, mas o momento chave da socialização e da configuração profissional. O futuro professor irá trabalhar com seres humanos, que possuem como característica própria a pluralidade, que apresentam realidades diferentes, culturas diversas, problemas distintos. Nessa perspectiva, técnicas educativas pouco contribuem, já que o trabalho em sala de aula é dinâmico, e precisa ser contextualizado por parte do professor.

Desta maneira, a formação docente implica num processo de aprendizagem que

se constrói a partir de um conhecimento que lhe é próprio e das relações no qual o

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professor em formação está inserido. Tal processo influencia diretamente seu trabalho e

os indivíduos do contexto educativo fazendo face ao momento vivido, definido pelo

currículo vigente e as políticas que regulamentam a formação.

A aprendizagem da docência é um processo que envolve uma formação

estruturada ao longo da sua vida. Abrange tanto as esferas individuais, relativas ao

sujeito em formação, quanto às esferas sociais, relativas ao contexto que cerca esse

indivíduo, devendo ainda estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que possa

fornecer aos docentes, autonomia, a fim de facilitar as dinâmicas de autoformação.

Como nos lembra Nóvoa (1995) o processo de formação implica um

investimento pessoal, um afazer livre e criativo sobre a sua trajetória e seus próprios

projetos, com vista à consolidação de uma identidade, uma identidade profissional. Pois

“O professor é uma pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor” (NIAS,

apud NOVOA, 1995, p. 25).

Assim, a formação docente se configura como um movimento contínuo de

desenvolvimento profissional, que se inicia no cotidiano escolar e prossegue ao longo

da vida, estando para além dos momentos especiais de aperfeiçoamento e abrangendo

questões relativas a salário, carreira, clima de trabalho, estruturas, níveis de participação

e decisão. A formação de professores desta forma perpassa diferentes esferas da

sociedade por ser esta uma valiosa ferramenta de mudança social ou de manutenção

desta, conforme o modelo de formação vigente.

A formação de professores, como desenvolvimento profissional, é resultado da

reflexão sobre a ação, amparada por todo o pensamento que tenha sido capaz de dar

sentido a realidade educativa, pois de acordo com Sacristán (1999, p.10)

Os professores serão profissionais mais respeitados quando puderem explicar a razão de seus atos, os motivos pelos quais tomam umas decisões e não outras, quando apararem suas ações na experiência depurada de seus colegas e quando souberem argumentar tudo isso numa linguagem além do senso comum, incorporando as tradições de pensamento que mais contribuíram para extrair o significado da realidade do ensino institucionalizado. Para transformar, é preciso ter consciência e compreensão das dimensões que se entrecruzam na prática dentro da qual nos movemos”.

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Desta maneira, a formação de professores pode constituir o docente dotando-o

de instrumentos intelectuais e também práticos, que possam auxiliar no entendimento da

situação concreta de sala de aula e de todo o movimento que está subjacente a ela, bem

como na construção de estratégias de pensamento, de percepção que permitam

vislumbrar a realidade de sua profissão. Pois a formação não se edifica por meio de

acumulação, seja de cursos, de conhecimentos ou mesmo de técnicas, mas através de

um trabalho de reflexão crítica sobre suas próprias práticas e uma de reconstrução

constante de uma identidade pessoal.

É urgente a necessidade de compreender e conhecer as aspirações, as concepções

sobre a educação dos futuros professores assim como a sua formação a partir da análise

dos processos históricos e formativos que os constituíram num tempo e espaço

determinados, o contexto de seu trabalho a luz das questões mais relevantes de suas

ações.

O perfil dos professores brasileiros

De acordo com a pesquisa realizada, utilizando como fonte documental o

Instituto Nacional Pesquisas (BRASIL, 2010), o Censo Escolar (BRASIL, 2010) e Gatti

(2009) que teve como finalidade identificar o perfil dos docentes, apontamos dados

além da formação escolar e profissional.

Trazemos à luz aspectos de cunho individual e social, como sexo, faixa etária,

estado civil, constituição familiar, autoclassificação social, mobilidade, trajetórias,

situação profissional, escolaridade e habilitação para o exercício da docência.

Verificamos que os professores atuantes possuem uma visão pessimista em relação à

educação.

Como nos lembra Tardif (2000) o trabalho modifica a identidade do trabalhador,

pois trabalhar não é somente fazer alguma coisa, mas fazer alguma coisa de si mesmo.

Nesta perspectiva, é que se nota a relevância de se compreender quem são os

professores e em que chão estes se encontram, assim percebe-se a urgência de

ressignifcar alguns paradigmas que ainda embasam a construção do ser professor.

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Com o advento da ampliação do acesso e da oferta o corpo docente que sofreu o

ônus de, financiar a expansão do ensino com o rebaixamento de seus salários e a

duplicação ou triplicação da jornada de trabalho (CURY, apud UNESCO, 2004, p. 37).

Os professores apontam como problemas a falta de tempo para planejar, não havendo

espaço em suas atividades cotidianas para a reflexão de sua prática, assim como a falta

de recursos materiais e humanos.

Realizando uma análise mais detalhada dos dados coletados e analisados

constata-se que os professores são representados em sua maioria por mulheres,

totalizando 81,3% de todo o professorado, possuindo a média de idade de 37 anos,

sendo a grande maioria casados. Há maior parte dos professores homens classificam-se

chefes de família, representados por 72% contra apenas 29% das professoras mulheres

que atuam como chefes de família.

Segundo aponta André (2002) a enorme discrepância entre o número de

mulheres e o de homens envolvidos no magistério, deve-se a ampliação do mercado de

trabalho, decorrente da expansão do atendimento escolar, como da procura dos homens

por novas profissões que ofereciam melhores salários.

A maioria dos professores se encontra trabalhando nos municípios do interior do

País, e nos municípios com menos de 100 mil habitantes o número de professoras é

maior do que a de professores, já nos municípios mais populosos o número de

professores é maior do que a de professoras. Uma boa parte dos docentes atua na região

sudeste, representando 45% da classe. 65% dos professores afirmam que possuem renda

familiar entre 2 a 10 salários mínimos.

Constata-se que os professores com renda familiar entre dois salários mínimos

apontam como principal problema o controle da disciplina em sala de aula. Assim

percebe-se que de acordo com a renda familiar os problemas apontados pelos

professores são diferentes, pois a visão que os mesmos possuem, ou seja, a compreensão

dos mesmos para se ter uma educação de melhor qualidade são múltiplas.

Dados sobre a relação dos docentes e cultura adquirem peculiar relevância, pois

trazem à tona dimensões da vida social que auxilia a compreensão da educação e do

papel dos professores na sociedade.

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Se a escola é concebida como centro de formação, é esperado que as atividades

ligadas à cultura, como música, literatura, cinema, entre outras, sejam partes

importantes do processo educativo. Nogueria e Catani (1998) corroboram com a

afirmação quando apontam as influências do capital cultural na trajetória escolar,

colocando fim ao mito do dom ou das qualidades inatas para o alcance do sucesso

escolar, e afirmando que o capital cultural do professor contribui para sua atuação na

escola.

Como Aproximadamente 1/3 dos professores se autoclassificam como pobres, as

atividades culturais mais praticadas pelos professores, como assistir fitas de vídeo e

freqüentar bibliotecas, notadamente são as mais comuns entre os professores, por maior

facilidade de acesso e também pelo baixo custo. Apontamentos que identificam os

professores em classes sociais são consideravelmente marcadas pelos estudos que

costumam discutir a respeito da profissionalização e da pauperização da categoria dos

professores.

Abordando a questão da pauperização dos professores, particularmente os da

rede pública, (ASSIS, apud, UNESCO, 2004, p. 62) apresenta a seguinte análise:

O professor é um profissional que tem que ler, viajar, escrever, ter acesso aos bens de cultura e isso durante muitas décadas foi sendo destruído e alijado de seu alcance. Eu não acredito que foi só para o professor, foi para toda a população de profissionais do país, mas em particular isso deixa uma marca extremamente perniciosa no professor. Porque um profissional, que não tem uma preparação prévia e uma atualização em serviço e condições de se tornar um cidadão e um profissional cada vez mais sábio, mais experiente, mais cidadão, para o seu bairro, mas uma pessoa que se vê como integrante deste planeta com toda cultura que a inteligência humana tem criado, se ele não tem a possibilidade do acesso, como é que ele abre caminhos na escola?

Nota-se que as atividades culturais dos professores pertencentes à rede pública

se tornam restritas, e ficam comprometidas devido à situação socioeconômica do

professor. Nessa perspectiva a instituição escolar vive um paradoxo, uma inversão de

papéis, pois acaba por produzir a exclusão dos grupos cujos universos culturais não

correspondem aos padrões dominantes.

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Em contrapartida, os professores que trabalham em instituições privadas

possuem renda mais elevada quando comparados aos professores que trabalham em

escolas públicas, e maior acesso a atividades culturais, porém, são os professores que

pertencem a rede pública que participam com maior frequência de associações de cunho

político. Um dado que chama a atenção é em relação à proporção de professores que

não tem consciência de que seu papel é político, principalmente entre os professores

mais jovens.

Em relação à educação dos filhos dos professores, 54% se encontram

matriculados em escolas privadas, dado esse que leva a suposição que os professores

não consideram o ensino público de qualidade, dado esse que merece uma atenção e

reflexão por parte da classe de professores, do poder público, como da sociedade como

um todo. A formação desses professores também merece um olhar mais atento, pois a

pesquisa revela que a região norte e centro-oeste são as que possuem os índices mais

altos de professores que não possuem habilitação para o exercício do magistério, e não a

almejam.

A formação dos professores deve ser constante, não se limitando a formação do

ensino médio. Da mesma forma a formação do ensino superior deve ser analisada

criteriosamente, bem como a formação contínua, ou seja, a formação inicial e/ou

continuada deve ser vista como um elemento fundamental para o crescimento do

profissional. Assim, a formação seja na universidade ou ao longo do exercício do

magistério deverá ter subsídios necessários para o desenvolvimento de uma prática

consciente e reflexiva.

Não podemos deixar de incorporar a essa discussão sobre o perfil dos

professores brasileiros, a percepção dos mesmos sobre as situações vividas em seu dia-

a-dia, seja no trabalho ou externo a ele. Este debate tem inicio no entendimento da

finalidade da educação, a qual foi apresentada pelos mesmos, tida como mais

importante formar cidadãos conscientes 72,2% e buscando desenvolver a criatividade e

o espírito crítico 60,5%; ora se mostrou presente a pouca relevância atribuída ao

transmitir conhecimentos atualizados 16,7% e básicos 8,9%. Esta opinião tem sua

vertente na valorização dos sujeitos e a preocupação com a formação de atitudes, e

outras decorrentes da critica ao ensino conteudista, no qual esse ensino é mecânico, e o

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professor se encontra como mero transmissor de conhecimento e pouco reflexivo.

(UNESCO, 2004).

Quando se apresenta as mudanças nas políticas educacionais na década de 1990,

os professores se mostram favoráveis as mesmas nos diferentes aspectos, entre eles

estão: a nova estrutura da educação básica, proposta pela Lei de Diretrizes e Bases, com

aprovação de 87, 7% dos professores, os Parâmetros Curriculares Nacionais, com a

pretensão de estabelecer competências e nortearem o conteúdo da educação, com uma

concordância de 86,2% dos professores, assim como, contou com o aval dos mesmos

em 74,8% no Plano Nacional e Educação e também cerca de 79,6% concordam com a

criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério. (UNESCO, 2004).

No que diz respeito aos efeitos que a LDB exerce sobre suas condições de

trabalho, os professores as vêem apropriadas. Por volta de 60% dos professores ainda

considera que a grande contribuição da LDB, são as inovações pedagógicas e a

democratização de acesso a educação por todos. Também se tem uma visão positiva da

organização do ensino e a participação dos professores na tomada de decisões, assim

como nas condições de trabalho e na infra-estrutura dos estabelecimentos de ensino,

onde trabalham e por último, em especifico referente ao currículo escolar, com a

inclusão de novos temas relacionados às questões atuais (educação sexual, religião,

música, analise das situações políticas e sociais atuais, a analise da TV e outros meios

de comunicação, a violência e a prevenção de uso de drogas), os professores se

manifestam favoráveis a essas temáticas.(UNESCO, 2004).

É relevante pontuar que a situação considerada como um problema gira em torno

do universo do exercício desse professor, nas atividades do dia-a-dia. O estudo ainda

deixa evidente que o apoio no seio familiar é um grande impulsor da aprendizagem do

aluno, aliado a relação entre o mesmo e o professor.

A situação que os professores mais consideram como um problema para o exercício de suas atividades profissionais é o tempo disponível para a correção de provas, cadernos etc. (69,3%)- A segunda situação mais mencionada é o tempo disponível para o desenvolvimento das tarefas (54,9%). A terceira é manter a disciplina entre os alunos (54,8%). As características sociais dos alunos

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(51,7%) e a relação com os pais (44,8%), ocupam, respectivamente, a quarta e a quinta posição. (UNESCO, 2004, p.117). (Grifos do autor).

Quando na década de 1990, se tem mudanças na sociedade como um todo, a

escola e os professores não ficam indiferentes e se transformam, assumindo novos

papéis. De acordo com o estudo da Unesco (2004) 17,3% dos professores que

identificam como transmissores de cultura e conhecimento, entendida como visão

bancaria do professor, já em contrapartida, 79,2% entendem o papel do professor como

um facilitador/mediador da aprendizagem dos seus discentes, enquanto 3,4% não se

familiarizam com nenhum dos enunciados.

É a nova LDB que propicia discussões em torno da formação docente, em busca

de um intelectual crítico, reflexivo e de um agente social. Com base nessa lei e na visão

dos professores, a formação inicial e a continuada precisam ocorrer em instituições de

ensino superior, com interesses e a pertinência do temas ao aperfeiçoamento. Quando se

volta para as condições de trabalho, a satisfação e as aspirações dos professores

observa-se que os mesmos, estão favoráveis ao aumento do trabalho em equipe, do

calendário escolar anual, tendo apoio nos estudos de Coelho e Cavalieri que defendem a

permanência na escola como um direito a qualidade da educação. (UNESCO, 2004).

Outra questão ligada aos professores, no campo das aspirações é que 50,2% dos

mesmos pretendem continuar na função atual nos próximos anos e 10,7% deles, tem

como objetivo ir a outra profissão. No que se refere aos valores sociais, os professores

tendem a defender condutas que são consideradas aceitáveis pela sociedade e menos

flexíveis com os comportamentos da vida pessoal. Ainda trazemos que na visão dos

professores, para se melhorar e diminuir a criminalidade é preciso se oferecer uma

educação de qualidade aos jovens e juntamente resolver os problemas de emprego,

assuntos estes tratados no estudo da Unesco (2004). Ao realizar um balanço geral, a

Unesco (2004) deixa evidente que o perfil dos professores da educação básica brasileira,

é impulsionado pelos fatores econômicos, políticos e social. Inicia-se da premissa de

que na última década se tem um agravamento da discussão do papel do professor e de

sua identidade, sendo depositada sobre o professor nesse contexto a responsabilidade do

fracasso escolar.

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Não podemos reduzir o perfil desses profissionais apenas a situação educacional,

ele é mais abrangente, e envolve diversos fatores.

Há, certamente, professores com bom nível de competências e habilidades profissionais, social e eticamente comprometidos com seu trabalho. Entretanto, as deficiências de formação inicial e a insuficiente oferta de formação continuada, aliadas a outros fatores desestimulantes, têm resultado num grande contingente de professores mal preparados para as exigências mínimas da profissão (domínio dos conteúdos, sólida cultura geral, domínio dos procedimentos de docência, bom senso pedagógico). Há dificuldades dos professores em lidar com novos problemas sociais e psicológicos que acompanham os alunos que entram na escola (familiares, de saúde, de comportamento social, concorrência dos meios de comunicação, desemprego, migração...). Mais uma vez, não se trata de culpabilizar os professores, eles não respondem sozinhos pelos fracassos da escola, atrás deles estão as políticas educacionais, os baixos salários, a formação profissional insuficiente, a falta de condições de trabalho, falta de estrutura de coordenação e acompanhamento pedagógico etc. Mas para quem gostaria de ver as crianças e jovens aprendendo cidadania, dominando conceitos das disciplinas escolares, desenvolvendo seus processos e habilidades de pensamento... não há como não se decepcionar com os resultados apresentados. (LIBANEO, apud, UNESCO, 2004, p. 170).

Dessa maneira, compreender quem é o professor e em que condições se fazem

professores é de extrema importância para estabelecer novas exigência e

responsabilidades, buscando romper com os estigmas e estereótipos, promovendo uma

proximidade do magistério do tempo e espaço de hoje.

É com base nesse contexto, que os dados pesquisados centram em ampliar a

visão sobre o sistema educacional brasileiro, se observando como o professor se insere

no mesmo, assim como apresentou-se um perfil demográfico, cultural, social e

profissional dos professores do ensino fundamental e médio.

Considerações finais

O objetivo de discutir o perfil dos professores brasileiros é uma tarefa ampla

e complexa. Portanto, o texto apresentado é um breve recorte do estudo em questão. A

trajetória profissional da docência no Brasil abrange uma ampla discussão, envolve

estudo detalhado, visto que as diferenças regionais são imensas no território nacional.

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Partindo da perspectiva que o sujeito aprende a ser professor, também ao

longo da carreira, seu processo formativo ganha importância. Os indicadores teóricos da

formação de professores apontam a necessidade de rompermos com a visão pragmatista

da formação para o exercício da docência.

Temos ambigüidades e desigualdades no processo formativo da docencia,

entretanto, o desenvolvimento profissional deve considerar e reconhecer o professor

como sujeito de um fazer e de um saber próprio. Sujeito que necessita ser respeitado em

sua inteligência, suas angustias e em seus questionamentos. Então, é preciso abrir

espaço de discussão do processo de formação desse profissional, manifestando o desejo

concreto em políticas públicas que realmente contemplem a profissionalização da

categoria.

REFERÊNCIAS

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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