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profilaxia da tuberculose A ciência médica dispõe de duas armas para combater as doenças : a terapêutica e a profilaxia. Se a terapêutica, ainda até há pouco era tudo, actualmente a profilaxia tende a constituir os fundamentos da medicina do futuro. Porque se a terapêutica pretende salvar o doente, a profilaxia consegue sal- var a humanidade. O doente procura o médico para que o cure dos seus males; mas no futuro a me- dicina irá ao encontro da humanidade para lhe evitar a doença. No dia em que a ciência médica tivesse conseguido curar todas as doenças não teria ainda atingido nem metade do seu fim; este seria uma realidade no dia em que a medicina soubesse evitar todas as doenças. O caminho a seguir para a consecução eficaz deste fim ó sem dúvida, por vezes, bastante cruel. Numa grande maioria das doenças, sobretudo nas que mais profun- damente ferem a humanidade, êle implica o sacrifício do doente, o seu isolamento, a sua eliminação da sociedade. E' o sacrifício do indivíduo pela colectividade que a pro- filaxia impõe. Quanto mais humanista a medicina se vai tornando, mais deshumana se torna. Este facto é bem evidente no que res- peita à tuberculose, um dos maiores flage- los que nos tempos modernos dizima a humanidade. A tuberculose existe porque existe o bacilo de Koch; e o bacilo de Koch per- siste porque há tuberculosos. E' este cír- culo vicioso que eterniza a doença; mas a medicina contemporânea fornece elementos que teoricamente permitem quebrar o cír- culo vicioso, e a humanidade só espera que as organizações sociais realizem os dados bem concretos da medicina para que o fla- gelo seja aniquilado, se não totalmente, pelo menos em grande parte. A profilaxia da tuberculose, como a de quási todas as doenças infecciosas, pode fazer-se de três modos : 1.° Destruir o agente causal (o bacilo); 2.° Fazer desaparecer o doente (isola- mento ) ; 3.° Suprimir os meios de transmissão do bacilo dos indivíduos doentes para os indivíduos sãos. Qual destes três modos de acção ó o mais praticável ? Eficazmente, nenhum. Não podemos destruir todos os bacilos de Koch, o que implicaria, ou a destruição do doente (fonte do bacilo), ou a cura radi- cal da doença (ainda não conseguida) ; Não podemos apagar da face da terra todos os tuberculosos, nem isolá-los de tal modo que todo o contacto entre eles e o resto da humanidade fosse nulo ; Não podemos evitar totalmente o con- tágio, que muitas vezes pode fazer-se até sem que o suspeitemos. Mas por uma acção combinada e bem orientada daqueles três elementos profilác- ticos, é possível reduzir tanto o domínio da tuberculose, que num futuro mais ou menos afastado ela se poderia considerar pratica- mente extinta. De facto, pela prática duma higiene conveniente nós podemos destruir o bacilo que mais directamente nos ameaça, o que vive mais perto de nós; podemos afastar o doente e rodeá-lo de cuidados e carinhos que atenuem este isolamento, facilitando assim a cura e preservando-nos do contá- gio ; finalmente, por uma organização bem estudada, podemos combater eficazmente todos os meios que favorecem o entreteni- mento da doença. A profilaxia da tuberculose deve come- çar no próprio dia em que o homem nasce para o mundo. Melhor: ela deveria começar muito antes.. .

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pro f i l ax ia da tuberculose

A ciência médica dispõe de d u as a rmas p a r a c o m b a t e r as doenças : a t e r apêu t i ca e a profilaxia.

Se a t e rapêu t i ca , a inda a té h á pouco era t u d o , a c t u a l m e n t e a profilaxia t ende a cons t i tu i r os fundamen tos da medic ina do fu turo . P o r q u e se a t e r apêu t i ca p re t ende sa lvar o doen te , a profilaxia consegue sal­v a r a h u m a n i d a d e .

O doen te p r o c u r a o médico p a r a que o cure dos seus m a l e s ; m a s no futuro a me­dicina i rá ao encon t ro da h u m a n i d a d e p a r a lhe ev i ta r a doença.

No dia em que a ciência médica t ivesse consegu ido cura r t odas as doenças não t e r i a a inda a t ingido n e m m e t a d e do seu fim; es te só seria u m a rea l idade no dia em que a medic ina soubesse ev i t a r t o d a s as doenças .

O caminho a segu i r p a r a a consecução eficaz des te fim ó sem dúvida , po r vezes , b a s t a n t e cruel . N u m a g r a n d e maior ia das doenças , sobre tudo n a s que mais profun­d a m e n t e ferem a h u m a n i d a d e , êle implica o sacrifício do doente , o seu i so lamento , a sua e l iminação da sociedade. E ' o sacrifício do ind iv íduo pela colect iv idade que a pro­filaxia impõe . Quan to mais h u m a n i s t a a med ic ina se va i t o rnando , ma i s d e s h u m a n a se t o rna .

E s t e facto é bem evidente no que res­pe i ta à tubercu lose , u m dos maiores flage­los que n o s t e m p o s modernos diz ima a h u m a n i d a d e .

A tube rcu lose existe p o r q u e exis te o baci lo de K o c h ; e o bacilo de K o c h per­s is te p o r q u e h á tube rcu losos . E ' es te cír­culo vicioso que e tern iza a d o e n ç a ; mas a medic ina c o n t e m p o r â n e a fornece e lementos que t eo r i camen te pe rmi tem quebra r o cír­culo vicioso, e a h u m a n i d a d e só espera que as o rgan izações sociais realizem os dados b e m concre tos da medic ina pa ra que o fla­gelo seja an iqu i lado , se não to t a lmen te , pe lo menos em g r a n d e p a r t e .

A profilaxia da tubercu lose , como a de quás i todas as doenças infecciosas, pode fazer-se de t r ê s modos :

1.° D e s t r u i r o agen te causal (o baci lo) ; 2.° F a z e r desaparece r o doen te ( i so la­

m e n t o ) ; 3.° Supr imi r os meios de t r ansmis são

do bacilo dos ind iv íduos doen tes p a r a os indiv íduos sãos .

Qual des tes t r ê s m o d o s de acção ó o mais pra t icáve l ?

Ef icazmente , n e n h u m . Não p o d e m o s des t ru i r todos os baci los

de Koch , o que impl icar ia , ou a des t ru ição do doente (fonte do bacilo) , ou a cura r ad i ­cal da doença (a inda n ã o conseguida) ;

Não p o d e m o s a p a g a r da face da t e r ra todos os tube rcu losos , nem isolá-los de ta l modo que t odo o con tac to en t r e eles e o res to da h u m a n i d a d e fosse nulo ;

Não p o d e m o s evi tar t o t a l m e n t e o con­tág io , que m u i t a s vezes pode fazer-se a té sem que o suspe i t emos .

Mas po r u m a acção combinada e bem o r i en tada daqueles t rês e lementos profilác­t icos , é poss ível reduz i r t a n t o o domínio da tubercu lose , que n u m futuro mais ou menos afas tado ela se poder ia cons iderar p ra t i ca ­men te ex t in ta .

D e facto, pela p r á t i ca d u m a h ig iene convenien te nós podemos des t ru i r o bacilo que mais d i rec tamente nos ameaça, o que vive ma i s per to de n ó s ; podemos afas tar o doen te e rodeá-lo de cu idados e ca r inhos que a t e n u e m este i so lamento , faci l i tando ass im a cura e p rese rvando-nos do con tá ­gio ; finalmente, por u m a organ ização bem e s t u d a d a , podemos combate r ef icazmente t odos os meios que favorecem o en t re ten i ­m e n t o da doença .

A profilaxia da tubercu lose deve come­çar no própr io dia em que o h o m e m nasce p a r a o m u n d o .

Me lho r : ela dever ia começar m u i t o a n t e s . . .