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PROGRAMA APRENDIZAGEM PARA O 3º MILÊNIO (A3M): IDENTIFICANDO PROCESSOS DE MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM ESPAÇOS INTEGRADOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM Teresinha de Jesus Araújo Nogueira 1 , Lívia Veleda de Sousa e Melo 2 , Sergio Antônio de Andrade Freitas 3 , Letícia Lopes Leite 4 , Harineide Macedo 5 1 Universidade de Brasília/CEAD/[email protected] 2 Universidade de Brasília/CEAD/ [email protected] 3 Universidade de Brasília/DEG/[email protected] 4 Universidade de Brasília/CEAD/[email protected] 5 Universidade de Brasília/CEAD/Harineide Macedo Resumo A mediação pedagógica na contemporaneidade envolve o ensino e a aprendizagem como processos interligados, compreendendo a forma simbiótica entre o espaço físico e o tecnológico, como formas ampliadas de aula por meio do ambiente presencial e do digital. Estes espaços são complementares, mundos conectados e mesclados nas diversas formas de se buscar informações e construir conhecimento. Para romper com a padronização na forma de ensinar, avaliar e perceber a aprendizagem emergem mudanças na educação superior. Esses processos requerem mediações pedagógicas inovadoras, ações colaborativas, reflexivas e críticas. Este estudo parte do problema: de que forma o processo de mediação pedagógica está sendo modificado na educação superior tendo em vista a inovação educacional? Objetiva analisar as práticas pedagógicas de professores na modalidade presencial e o uso de espaços conectados. É uma pesquisa qualitativa, participante, que busca a análise de conteúdo por meio de documentação indireta, entre outras fontes, que revelam ações e práticas pedagógicas identificadas e apoiadas pelo Programa Aprendizagem para o 3º Milênio (A3M), desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB). A análise revela parte das metodologias utilizadas e suas características inovadoras. Observa-se que os professores buscam redesenhar suas aulas a partir de uma concepção ativa de educação e que o Programa A3M está contribuindo para a socialização e a institucionalização de práticas pedagógicas inovadoras na UnB. Palavras-chave: Mediação pedagógica. Metodologia ativa. Inovação educacional. Abstract Pedagogical mediation in the contemporary world involves teaching and learning as interconnected processes, including the symbiotic form between physical and technological space, as extended forms of classroom through the classroom and digital environment. These spaces are complementary, worlds connected and merged in the various ways of seeking information and building knowledge. To break with standardization in the way of teaching, assessing and perceiving learning emerge changes in higher education. These processes require innovative pedagogical mediations, collaborative, reflexive and critical actions. This study starts from the problem: in what way is the pedagogical mediation process being modified in higher education with a view to educational innovation? It aims to analyze the pedagogical practices of teachers in the classroom and the use of connected spaces. It is a qualitative, participant research that seeks content analysis through indirect documentation, among other sources, that reveal pedagogical actions and practices identified and supported by the 3rd Millennium Learning Program (A3M), developed at the University of Brasília (UnB). The analysis reveals part of the methodologies used and their innovative characteristics. It is observed that teachers

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PROGRAMA APRENDIZAGEM PARA O 3º MILÊNIO (A3M): IDENTIFICANDO PROCESSOS DE MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM

ESPAÇOS INTEGRADOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Teresinha de Jesus Araújo Nogueira1, Lívia Veleda de Sousa e Melo2, Sergio Antônio de Andrade Freitas3, Letícia Lopes Leite4, Harineide Macedo5

1Universidade de Brasília/CEAD/[email protected]

2 Universidade de Brasília/CEAD/ [email protected]

3 Universidade de Brasília/DEG/[email protected]

4 Universidade de Brasília/CEAD/[email protected]

5 Universidade de Brasília/CEAD/Harineide Macedo

Resumo – A mediação pedagógica na contemporaneidade envolve o ensino e a aprendizagem como processos interligados, compreendendo a forma simbiótica entre o espaço físico e o tecnológico, como formas ampliadas de aula por meio do ambiente presencial e do digital. Estes espaços são complementares, mundos conectados e mesclados nas diversas formas de se buscar informações e construir conhecimento. Para romper com a padronização na forma de ensinar, avaliar e perceber a aprendizagem emergem mudanças na educação superior. Esses processos requerem mediações pedagógicas inovadoras, ações colaborativas, reflexivas e críticas. Este estudo parte do problema: de que forma o processo de mediação pedagógica está sendo modificado na educação superior tendo em vista a inovação educacional? Objetiva analisar as práticas pedagógicas de professores na modalidade presencial e o uso de espaços conectados. É uma pesquisa qualitativa, participante, que busca a análise de conteúdo por meio de documentação indireta, entre outras fontes, que revelam ações e práticas pedagógicas identificadas e apoiadas pelo Programa Aprendizagem para o 3º Milênio (A3M), desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB). A análise revela parte das metodologias utilizadas e suas características inovadoras. Observa-se que os professores buscam redesenhar suas aulas a partir de uma concepção ativa de educação e que o Programa A3M está contribuindo para a socialização e a institucionalização de práticas pedagógicas inovadoras na UnB.

Palavras-chave: Mediação pedagógica. Metodologia ativa. Inovação educacional.

Abstract – Pedagogical mediation in the contemporary world involves teaching and learning as interconnected processes, including the symbiotic form between physical and technological space, as extended forms of classroom through the classroom and digital environment. These spaces are complementary, worlds connected and merged in the various ways of seeking information and building knowledge. To break with standardization in the way of teaching, assessing and perceiving learning emerge changes in higher education. These processes require innovative pedagogical mediations, collaborative, reflexive and critical actions. This study starts from the problem: in what way is the pedagogical mediation process being modified in higher education with a view to educational innovation? It aims to analyze the pedagogical practices of teachers in the classroom and the use of connected spaces. It is a qualitative, participant research that seeks content analysis through indirect documentation, among other sources, that reveal pedagogical actions and practices identified and supported by the 3rd Millennium Learning Program (A3M), developed at the University of Brasília (UnB). The analysis reveals part of the methodologies used and their innovative characteristics. It is observed that teachers

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seek to redesign their classes from an active conception of education and that the A3M Program is contributing to the socialization and institutionalization of innovative pedagogical practices in UnB.

Keywords: Pedagogical mediation. Active methodology. Educational innovation.

1 Introdução

Compreendendo que a mediação pedagógica em nível superior depende das escolhas metodológicas que fazem os profissionais de educação, a Universidade de Brasília, em 2017, lançou o Programa Aprendizagem para o Terceiro Milênio (Programa A3M), com o intuito de incentivar práticas pedagógicas inovadoras presentes em todos os campi da universidade. A forma encontrada para executar tal proposta foi por meio da publicação de um Edital de fomento às ações educativas que buscam formas diferenciadas de construir conhecimentos, em especial, pelo uso de metodologias ativas de aprendizagem.

Portanto, este estudo busca refletir sobre a mediação pedagógica na modalidade presencial de professores que desenvolvem projetos inovadores, identificados e apoiados pelo Programa A3M, desenvolvido na Universidade de Brasília por meio do Centro de Educação a Distância (CEAD). Para melhor compreensão da pesquisa realizada, destacam-se questionamentos como: por que o CEAD desenvolve um programa educacional buscando novas experiências de aula no ensino presencial? Qual o objetivo e a relevância deste programa?

Faz necessário, igualmente, refletir sobre o atual cenário educativo, que envolve novos meios e formas de relacionamento entre as pessoas com os veículos de comunicação, produzindo formas diferenciadas de interação e aprendizagem. Observamos que esse cenário induz a processos de transformação social, cultural e, de forma específica, influencia nas formas de relacionamento entre alunos/alunos e alunos/professores, no âmbito das instituições de educação superior.

Nesse processo de transformações rápidas e contínuas, mudam-se as concepções, os significados e os paradigmas relacionados à aprendizagem. Convivemos, assim, com mudanças radicais na aula presencial, pois esta não é mais a principal fonte de informações e a principal forma de produção de conhecimento. Surgem novas discussões sobre, por exemplo: mediação e midiatização; inovação educacional e metodologias ativas ensino híbrido; sala de aula invertida. Parte dos conceitos é abordada na primeira seção deste trabalho, por serem fundamentais para o delineamento de uma reflexão crítica sobre o tema.

Por se tratar de uma pesquisa social, portanto qualitativa, buscamos Minayo (2002, p. 21-22), para justificar o delineamento teórico-metodológico, visando amparar questões particulares acerca da mediação pedagógica de professores da UnB envolvidos em processo seletivo para apoiar ações inovadoras por meio do Programa A3M. Consideramos que: trabalhar com a pesquisa qualitativa, significa trabalhar com “[...] o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes [...]”.

Perseguindo o pensamento deste mesmo autor, a pesquisa se desenvolve de forma espiral, em sua dinâmica “[...] se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em

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conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói em um ritmo próprio e particular [...]” (MINAYO, 2002, p. 25).

Seguindo esse processo de construção em espiral, que inicia em um problema e termina com um “produto provisório”, originando novos questionamentos, partimos do problema: de que forma a universidade atua no processo de mediação pedagógica tendo em vista a inovação educacional e os novos contextos de aprendizagem?

Para obtermos possíveis respostas a esta questão, temos por objetivo: analisar as práticas pedagógicas de professores na modalidade presencial e as metodologias utilizadas que possibilitam o uso de espaços conectados e mesclados, proporcionando o que se denomina de ensino híbrido. Nessa perspectiva, outras questões surgiram: quais metodologias são utilizadas pelos professores na UnB e como estas possibilitam ou exigem novas formas de trabalho (mediação pedagógica) do professor? O que se considera inovador nessas ações?

Entre as formas de abordagem técnica utilizadas na pesquisa, destaca-se a observação participante durante as ações realizadas no Programa A3M, utilizando-se de: entrevistas, conversas informais com os professores, encontros temáticos, vídeos e outros. Na realização da pesquisa, reconhecendo as subjetividades que envolvem pesquisadores e objeto investigado, buscamos compreender o campo de pesquisa como um universo a se revelar, motivo pelo qual não trabalhamos com hipóteses.

Para melhor compreensão do estudo proposto, o texto está estruturado em três momentos. Inicialmente temos uma introdução. Na segunda seção propomos uma breve apresentação dos paradigmas e significados relevantes para a compreensão do estudo e do lugar do qual falamos. Na terceira seção, apresentamos a estrutura institucional do Programa A3M e a discussão dos resultados encontrados.

2 Novos paradigmas e significados na educação

A inovação educacional, o uso de tecnologias digitais de informação e comunicação, bem como a mediação e a midiatização pedagógica são temas que aparecem nas discussões atuais sobre a educação. A sociedade contemporânea, em se tratando da América Latina, exercita processos democráticos e articula políticas de igualdade com políticas de identidade, em que as pressões sociais se fazem cada vez mais fortes e as instituições educativas não conseguem corresponder e responder às demandas sociais. Destacamos a afirmação de Candau (2012, p. 13) sobre uma questão necessária às discussões em relação à educação, que visa considerar “[...] a interculturalidade um elemento central neste processo de ‘reinventar a escola’ [universidade], articulando igualdade e diferença e construindo saberes e práticas comprometidos com o fortalecimento da democracia e da emancipação social”. Interculturalidade esta, presente na diversidade de propostas selecionadas pelo A3M. Consideramos que a emancipação social perpassa pela necessidade de se possibilitar a construção da autonomia durante o processo educativo.

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É relevante traçar uma breve discussão sobre essa questão, apesar de não ser este o foco de nosso olhar, mas, por considerar a multidimensionalidade da educação e a necessidade de reconhecermos que o aluno é um ser inserido neste contexto. Para discutir a educação, precisamos perceber essas subjetividades e dimensões. Destacamos também o pensamento de Candau (2012, p. 21), quando afirma: “A nossa formação histórica está marcada pela eliminação do ‘outro’ [...]”. Essa questão se revela na educação e nas relações de ensino e aprendizagem, que historicamente mantém uma estrutura de poder (professor) e de aluno (sem luz), ser passivo.

Sobre este conceito de aluno, alguns estudiosos consideram ser um mito ver o aluno nessa concepção de ser sem luz. Ao buscarmos o dicionário “Houaiss” sobre a etimologia da palavra "aluno", encontramos: “lat. Alumnus, i "criança de peito, lactente, menino, aluno, discípulo", derivado do verbo alére, "fazer aumentar, crescer, desenvolver, nutrir, alimentar, criar, sustentar, produzir, fortalecer etc."; (DICIONÁRIO HOUAISS).

Ao contrário da concepção histórica, defendemos a palavra aluno, aqui utilizada, como ser ativo e capaz de crescer, de se desenvolver, de se nutrir, alimentar e ser alimentado, criar, produzir, um ser capaz de construir sua própria história. Nisto consiste a mudança de paradigma na educação: transformar a concepção de ensinar e aprender, de “ser aluno” e “ser professor”. A sociedade contemporânea regida pelo paradigma da complexidade, paradigma sistêmico, requer mudanças profundas no perfil da relação “ensinar e aprender” e de seus sujeitos “professor e aluno”. O professor mantém seu papel de orientador, mediador, gestor desse processo que requer promoção da autonomia do aluno.

Segundo Vasconcellos (2002), o paradigma newtoniano-cartesiano apresenta como pressuposto a fragmentação e a visão dualista de mundo; o corpo e a mente; a filosofia e a ciência; entre objetividade e subjetividade. Como todas as coisas, também esse paradigma conservador apresenta vantagens e desvantagens. Autores como Behrens e Oliari (2007), Moraes (1997), Behrens (2003; 2006), apontam como vantagem em comum, o desenvolvimento científico-tecnológico que temos hoje. Porém, esse mesmo paradigma promoveu e ainda promove a desumanização e o isolamento provocado pela competitividade.

Essa visão de ciência balizou a educação, a universidade e as instituições educativas em geral e, de forma específica, essa prática pedagógica do professor ainda é vigente na educação superior em decorrência do histórico de construção dos sistemas educacionais. Com a necessidade de mudanças, novos desafios são constatados, segundo Zabala (2002, p.24), “[...] a evolução de um saber unitário para uma diversificação em múltiplos camposcientíficos notavelmente desconectados uns dos outros levou a necessidade de busca demodelos que compensem essa dispersão do saber”. Hoje a educação requer a inter-relação ea interconectividade do novo milênio que se inicia, requer mudanças de significados nosprocessos educativos.

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2.1 CONTEXTOS E SIGNIFICADOS: UM OLHAR PELA LENTE DA COMPLEXIDADE

O contexto atual, século XXI, início de um novo milênio, representa na concepção de Moran (2017, p. 1), “[...] um mundo em profunda transformação [...]”. Para atender as demandas oriundas desse contexto, a educação precisa passar também por transformações profundas. Conforme o autor é necessário que a educação, enquanto processo, seja “[...] muito mais flexível, híbrida, digital, ativa, diversificada. Os processos de aprendizagem são múltiplos, contínuos, híbridos, formais e informais, organizados e abertos, intencionais e não intencionais”.

O contexto educacional hoje busca a inovação, com inúmeros caminhos de aprendizagem individual e colaborativa, necessita de integrar presencial e online (a distância) de forma simultânea e com profundidade. Requer mudanças de paradigmas, conforme proposto por Morin (2000, 2001a, 2001b), Moran (2017); Moran; Masetto; Behrens (2005). Para Moran (2017, p. 1), a educação presencial e a distância, necessitam:

[...] incorporar todas as possibilidades que as tecnologias digitais trazem: a flexibilidade, o compartilhamento, ver-nos e ouvir-nos com facilidade, desenvolvimento de projetos em grupo e individualmente, visualização do percurso de cada um, possibilidade de criar itinerários mais personalizados. Precisa incorporar também todas as formas de aprendizagem ativa que ajudam os alunos a desenvolver as competências cognitivas e socioemocionais. Mais que educação a distância podemos falar de educação flexível, online.

De acordo com Morin (2001a, p. 55) “[...] a educação do futuro deve ser responsável para que a idéia (sic) de unidade da espécie humana não apague a idéia (sic) de diversidade e que a da sua diversidade não apague a de unidade. Há uma unidade humana. Há uma di-versidade humana.” A teoria da complexidade propõe, de modo sucinto, à superação do mo-delo newton-cartesiano de educação e dos paradigmas da ciência moderna, que não aten-dem mais aos novos contextos educacionais.

Nesta mesma perspectiva, Braga (2012) afirma que vivemos em um contexto no qual se observa um processo de aceleração e diversificação nas formas de interação social media-dos. A partir dessa conjuntura, esse autor traz relevantes contribuições ao propor a midiati-zação como “processo interacional de referência”, de maneira que a mídia não é externa à sociedade. Portanto, a sociedade produz sua realidade a partir de interações sociais, e ao mesmo tempo, a sociedade também produz os processos interacionais que constroem sua realidade.

Nesses novos contextos, surge a reformulação de antigos conceitos, como o termo mediação. Outros termos emergem de acordo com as demandas sociais como, por exemplo, o termo midiatização, cujo conceito ainda está em fase de construção, buscando significadosque o representem. A midiatização não se reduz ao uso de aparatos tecnológicos com novaspossibilidades de interação. O conceito, como explica Hepp (2014, p. 45), abrange a “inter-relação entre as mudanças da mídia e da comunicação, e da cultura e da sociedade”. A midi-atização não é objeto deste estudo, mas está relacionada às novas demandas para a inova-ção educacional.

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A inovação educacional é um processo contextualizado, que agrega novos sentidos à prática pedagógica, em sua multidimensionalidade e dimensões. Fullan (2000), Messina (2001), entre outros pesquisadores, apresentam o significado da inovação diferente de um simples acontecimento ou mudança. Também não tem fim em si mesma, mas constitui-se em um meio para transformar os sistemas educacionais.

O professor, neste contexto de transformações, aparece como mediador das oportunidades de produção de conhecimento dos alunos, de forma a buscar novas possibilidades e não ser apenas um mero transmissor. Um inovador de suas práticas pedagógicas procurando fazer com que o aluno pense, elabore problemas e busque soluções, procure seus próprios caminhos de aprendizagem.

Desenvolver a mediação pedagógica, considerando esse cenário, requer que o professor se torne “[...] provocador, contraditor, facilitador, orientador. [...]”. Nesse processo de mediação, o professor tem que obter conhecimento profundo sobre o conteúdo e o contexto no qual se insere, relacionando-o de forma dialógica à realidade do aluno, para que o aluno previamente tenha conhecimento do tema que será tratado e, por sua vez, busquerefazer, reconstruir “[...] para si, tornando-o seu, dando-lhe um novo sentido (GASPARIN,2007, p.113-114).

Na mediação pedagógica, o professor fornece os instrumentos necessários ao sujeito e intervém a favor da aprendizagem. Conforme Gasparin (2007, p.115) “a mediação implica, portanto, em releitura, reinterpretação e ressignificação do conhecimento.” O foco da mediação na aprendizagem do aluno é possibilitar que este use o pensamento para aprender e não o conteúdo em si, para que esse construa o conhecimento, não pelo simples uso da memorização e repetição. O aluno é construtor de suas ideias e projetos.

A aprendizagem, nessa ótica, ultrapassa o ensino tradicional, diferenciando-se na questão de tornar o conhecimento apenas como informação a ser lembrada. Segundo Adriana Pelizzari (2002, p. 2), “As ideias (sic) de Ausubel, cujas formulações iniciais são dos anos 60, encontram-se entre as primeiras propostas psicoeducativas que tentam explicar a aprendizagem escolar e o ensino a partir de um marco distanciado dos princípios condutistas (sic)”, que consistem em uma aprendizagem significativa. Mas, compreendemos que a aprendizagem não se resume apenas ao cognitivo, ela envolve todas as dimensões do ser, por exemplo, a psicológica, que envolve emoção e a afetividade, percebidas no acolhimento e nas relações professor/aluno e aluno/aluno. Toda mediação pedagógica precisa voltar-se para o processo de aprendizagem do aluno, o que implica em reconstrução do saber.

Preocupa o novo contexto em que os alunos estão inseridos. Palfrey e Gasser (2011), Prensky (2001), afirmam que os nascidos depois da década de 1980 são chamados “nativos digitais”, possuem acesso e habilidades para utilizar as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). Estes interagem por meio de uma cultura comum, mas de forma diferente, contrastando com o professor que, em maioria, ainda está voltado para o paradigma quantitativo, conservador. Diante desse contexto virtual, os professores precisam buscar meios de atuar, compreender o ciberespaço. Pierre Lévy (1999), na década passada, advertia sobre o crescimento do ciberespaço, resultante de um movimento internacional de

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jovens, segundo ele ávidos por novas experiências coletivas, por novas formas de comunicação diferentes das mídias clássicas propostas nas instituições educativas. Vivemos um novo espaço de comunicação. Enquanto educadores, precisamos conhecer e explorar as potencialidades positivas desta nova possibilidade que abrange todos os campos: econômico, político, cultural e humano. E, de forma direta, reflete no campo educativo.

Ressaltamos a proposta de Moran (2015, p. 7) utilizando metodologias ativas para mudar a educação superior. O autor aponta a importância do “modelo híbrido”, pois possibilita a mediação pedagógica, o desenvolvimento de problemas e projetos. Alguns exemplos de metodologias ativas citadas pelo autor:

[...] metodologias ativas como a Aprendizagem por pares (Peer Instruction), por times e outros. O Peer Instruction é uma das metodologias inovadoras aplicadas por professores nos diversos cursos. Outros métodos utilizados são PBL – Project Based Learning (aprendizagem por meio de projetos ou de problemas); TBL – Team-based Learning (aprendizagem por times), WAC – Writing Across the Curriculum (escrita por meio das disciplinas) e Study Case (estudo de caso).

Destacamos outras metodologias: Sala de Aula Invertida (Flipped Classrom) - metodologia desenvolvida há alguns anos nos EUA, o método inverte a lógica de organização da sala de aula; Gamificação - possibilita a aprendizagem colaborativa, mais sistematizada e utiliza as técnicas dos jogos (gamificação por si só não é propriamente um jogo); Simulações realísticas - metodologia apoiada por tecnologias de alta complexidade, muito utilizada na área de saúde, mas pode ser adaptada a qualquer temática, replica experiências da vida real; Aprendizagem Híbrida (Blended Learning, ou B-learning) - considerada como derivada do E-learning, é um sistema de formação, usa conteúdos a distância, normalmente pela internet, mas inclui necessariamente situações presenciais (blended – algo misto, combinado); E-learning - recurso pedagógico facilmente mobilizável em distintos ambientes de ensino (presencial – ensino híbrido e EAD).

Independente do uso de metodologias ou métodos inovadores, a abertura e a manutenção da interlocução que permeia uma interação dialógica são condições necessárias para uma prática pedagógica mediadora. Destacamos também, a relevância do perfil do professor como “[...] um supervisor, um animador, um incentivador dos alunos na instigante aventura [de produzir] conhecimento”. (MORAN, 2017, p. 1).

3 MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA COM USO DE METODOLOGIAS ATIVAS INOVADORAS NOS CURSOS DA UnB

O Programa A3M busca a integração de práticas inovadoras que estão ocorrendo na UnB de forma isolada, tendo como meta a institucionalização de processos educacionais inovadores por meio de conhecimento e de reutilização entre os professores. O A3M contempla a fala de Morin (2007, p. 20) ao propor “substituir um pensamento que está separado por outro que está ligado”. Neste sentido, o “Programa Aprendizagem para o 3º

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Milênio (A3M) é uma resposta institucional às mudanças no cenário educacional em virtude das transformações tecnológicas e da facilidade no acesso à informação, fatores que modificaram o perfil do estudante”. (SOBRE O PROGRAMA, 2018, p. 1).

Implantado em 2017, o A3M é coordenado pelo Centro de Educação a Distância – CEAD/UnB, em parceria com os Decanatos Acadêmicos e outros órgãos da instituição. Objetiva “[...] atuar junto à comunidade UnB na identificação, valorização e promoção de ações educacionais inovadoras”. (SOBRE O PROGRAMA, 2018, p. 1).

Por que o CEAD está à frente desse Programa? Como forma de integrar o presencial e online (a distância) e disponibilizar um portfólio de práticas educacionais inovadoras, com recursos e possibilidades metodológicas. O que possibilitará a difusão e replicabilidade destas práticas pelos professores da universidade, assim como a produção de novas propostas, para uso nas modalidades presencial e EAD, promovendo a institucionalização da inovação educacional.

Com base nas fontes investigadas, projetos submetidos aos Editais do A3M1 e site do Programa A3M2, observa-se os primeiros passos para a institucionalização da inovação educacional na UnB. Além do site, o A3M criou um canal no Youtube3 para divulgação dos vídeos relacionados às ações do Programa e uma página no Facebook4 para divulgação das ações e interação com a comunidade acadêmica.

Na Ilustração 01, evidenciamos o ambiente virtual no qual serão disponibilizados os resultados do Programa em termos de metodologias e de recursos educacionais desenvolvidos e aprimorados. Já o Portfólio de metodologias, processos e aplicativos, para serem usados nos cursos da UnB, está em processo de desenvolvimento e visa apresentar um mecanismo de indexação destas metodologias.

Nos dois editais promovidos pelo Programa A3M (2017 e 2018), foram identificadas mais de cem propostas de metodologias inovadoras na UnB (Quadro 01). Os critérios utilizados pelos avaliadores no processo de seleção tiveram por base, entre outros, a qualidade da inovação, a aplicabilidade e a capacidade de atuar positivamente no processo de ensino e aprendizagem na UnB. Os projetos foram avaliados por três professores diferentes, de forma individual e, um conjunto deles encontra-se em processo de desenvolvimento.

1 O Programa Aprendizagem para o 3º Milênio lançou dois editais: Edital DEG/DAC/CEAD n.0001/2017 e Edital CEAD/DEG n.01/2018.

2 O site do Programa A3M foi lançado em junho de 2018 e pode ser consultado por meio do link: http://www.a3m.cead.unb.br/.

3 https://www.youtube.com/channel/UCy7jr0VrfNHllYFmzZv9Z3g

4 https://www.facebook.com/a3munb/

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Ilustração 01: Portfólio de metodologias e recursos educacionais Portal A3M

Fonte: Site A3M, http://www.a3m.cead.unb.br/projetos, 2018.

Os editais previram um limite orçamentário para financiamento. Por isso, apenas 12 propostas foram incluídas com fomento em 2017, mais 14 projetos decidiram executar sem fomento. No Edital de 2018, 22 propostas receberam fomento. Não se sabe ainda quantos professores executarão sem fomento. Esse levantamento será realizado no segundo semestre de 2018. Estes projetos serão a fonte principal dos recursos expostos futuramente no Portal A3M. O Programa Aprendizagem para o 3º Milênio certamente contribuirá para promover a inovação educacional, especialmente por focar nas novas formas de aprender.

Quadro 01: Quantitativo de projetos identificados e no Programa A3M (2017 e 2018)

Propostas submetidas Propostas aprovadas

Edital 2017 91 80

Edital 2018 50 47

Fonte: autores, 2018.

No site do A3M é possível visualizar os projetos em andamento. De acordo com o CEAD, os projetos serão lançados gradativamente, à medida que os materiais multimídia estiverem prontos. Os projetos estão sendo entrevistados pela equipe do centro, para facilitar a divulgação e o entendimento da proposta. Na última consulta realizada pelos autores, havia 10 projetos disponíveis, apenas dois incluindo vídeos.

Estes projetos divulgados pelo CEAD no Portal A3M (Ilustração 02) representam novas possibilidades de mediação pedagógica, por meio de inovações metodológicas. Interessante observar que estas inovações podem ser utilizadas tanto no ensino presencial quanto no ensino a distância. Merece também destaque a mesclagem destas duas modalidades, tornando o ensino híbrido. A Portaria nº 1.134 de 2016, parágrafo § 1º, permite a oferta

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online de parte dos cursos presenciais desde que esta oferta não ultrapasse 20% (vinte por cento) da carga horária total do curso, possibilitando a institucionalização desta prática.

As propostas do A3M podem apoiar os professores dos diversos cursos da UnB a atender as demandas pedagógicas advindas também da necessidade de atender a estes novos formatos.

Ilustração 02: Projetos A3M (propostas inovadoras na UnB)

Fonte: Site A3M/, http://www.a3m.cead.unb.br/projetos, 2018.

No Quadro 02 apresentamos, de forma resumida, a proposta de cada um dos dez projetos mostrados no site, destacando a mediação pedagógica proposta.

Quadro 02: Mediação pedagógica nos cursos de graduação da UnB – uso da abordagem ensino híbrido e metodologias ativas

Projetos Descrição Características de inovação educacional (análise dos

autores)

Objetiva ser um espaço de produção e difusão de conhecimentos referentes à história, cultura, religiosidade, diáspora e às questões relacionadas à violência e violação de direitos da população negra, por meio da aplicação de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Educação por pesquisa (para atuar na produção de mídias), alunos ativos na produção do conhecimento; integração com políticas de inclusão social da comunidade e aprendizagem colaborativa.

Construção de Metodologias de aprendizagem que favorecem o protagonismo do estudante e têm como objetivos utilizar metodologias inovadoras, que potencializam o trabalho colaborativo e envolvem mais professores e estudantes. Reflexo na aprendizagem e melhora da evasão que é muito alta na

1- Metodologias baseadas em métodos ativos e colaborati-vos.

2- Utilização de ensino com pesquisa, Project Based Learn-ing (PBL), Flipped classrom, Gamificação, blended learning. Desenvolvimento em diferen-tes ambientes propiciando

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disciplina. Possibilita engajamento e aprendizagem individual e compartilhada. Totalmente replicável.

envolvimento da comunidade acadêmica e da sociedade em geral.

Inclusão social de alunos surdos tanto na comunidade acadêmica como nas escolas. Integração de alunos no processo de inclusão de pessoas com deficiência. Possibilita a formação de professores.

Realiza pesquisa em escola pública e mediação pedagógica por meio de celular, principalmente pelo WhatsApp. Também utiliza computadores, e ensino híbrido. Aproxima professor e aluno, aluno e aluno. Favorece a acessibilidade e inclusão de alunos surdos na educação superior.

Utiliza plataformas virtuais de aprendizagem para produção de recursos didáticos para o ensino de ciências. A iniciativa é uma das formas de auxiliar alunos que possuem dificuldade com conteúdos essenciais no início do curso de Ciências Naturais, garantindo, assim, o acolhimento desses alunos.

Inclusão e acolhimento dos alunos. Possibilita a aprendizagem colaborativa (trocas de material e discussão pelo ambiente virtual), aprendizagem por pesquisa e ensino híbrido.

Desenvolve um aplicativo web (software) a fim de mediar o processo de ensino e aprendizagem de Libras por meio de games. Visa oferecer material adequado com a modalidade viso-espacial da língua aos estudantes surdos e não surdos. Utiliza o APP, uma ferramenta que proporcionará conhecimento, comunicabilidade e fomento à Libras.

Mediação por meio de jogos, possibilitando aprendizagem ativa e colaborativa, por meio da modalidade viso-espacial. Introduz na comunidade acadêmica a segunda língua L2. Possibilita a formação de professores e o reflexo direto na aprendizagem em todas as áreas de conhecimento. Contribui para a acessibilidade por meio do ensino de Libras.

Trabalha não só a parte lógica e sintática da programação, mas também o lado belo e lúdico da computação [...] mostrando como usar a computação para aumentar o seu poder cognitivo, de forma que o estudante aplique o que aprendeu nessa disciplina na sua vida profissional.

Tem reflexo no ensino e na aprendizagem da computação, inclusão digital e de pensamento lógico. Facilita o uso da programação no cotidiano do aluno e professor. Aprendizagem colaborativa, parte das dificuldades dos alunos e da elaboração de conceitos disponíveis na plataforma, com base no ensino com pesquisa.

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Combina um conjunto de metodologias educacionais com as tecnologias que lhe sejam condizentes, utilizando as características dos modernos Sistemas Tutores Inteligentes (STI) na realização de um processo educacional personalizado e mais autônomo, a contento das expectativas atuais nas habilidades discentes.

Possibilita o uso de um sistema denominado SAE – Sistema Tutor Inteligente, proporcionando informações relevantes para o acompanhamento do desempenho do aluno.

Promove a aprendizagem na administração’ estuda e desenvolve a utilização de estímulos visuais de arte e meios interativos digitais em disciplinas do curso de administração da UnB. Esta técnica didática já foi utilizada em duas disciplinas.

Desperta a curiosidade e engajamento dos estudantes, ao desenvolver competências de organização e produção artística na produção de conhecimentos em administração.

Construção de um portal de entrada para a utilização de ferramentas virtuais e educacionais que trabalhem em interconexão didática e complementar. As investigações visam criar atividades didático-pedagógicas em ambientes virtuais em três dimensões, o metaverso, promovendo os conceitos de presença, imersão e de pertencimento à comunidade de aprendizagem.

Busca promover a aprendizagem utilizando plataforma virtual em 3D. Proporciona engajamento dos alunos na relação com os professores e conteúdos da disciplina. Envolve aprendizagem colaborativa, por meio de Simulação realística em ensino híbrido.

Utilização de história em quadrinhos, tirinhas ou contos infantis para o ensino e aprendizagem de conceitos de cálculo de variáveis e cálculo vetorial, em situações do dia a dia, a fim de verificar a aprendizagem dos discentes na disciplina de Cálculo.

Utiliza arte e criatividade para ensinar conceitos matemáticos. Possibilita o lúdico no ensino de cálculo, desfazendo mitos em relação à disciplina que tem alto índice de evasão.

Fonte: site A3M - http://www.a3m.cead.unb.br/projetos/uso-de-hqs-no-ensino-de-calculo, 2018.

Nas análises realizadas, constatamos a utilização de metodologias ativas e colaborativas e o uso de espaços conectados. São utilizadas diferentes metodologias, destacando-se: aula dialogada, ensino com pesquisa, simulações, aprendizagem baseada em projetos e ou problemas, aula invertida, aprendizagem eletrônica, ensino híbrido, gamificação e utilização de arte na mediação pedagógica.

Os coordenadores buscam combinar “[...] aprendizagem ativa e híbrida com tecnologias móveis [...]”, defendidas por Moran (2017). O autor também afirma que essa combinação “[...] é poderosa para desenhar formas interessantes de ensinar e aprender”, fato observado nos projetos analisados, em que a ênfase está na aprendizagem do aluno

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como sujeito protagonista desse processo. A mediação pedagógica dos professores envolvidos, em geral, apresenta características de inovação, criatividade e envolvimento direto com o aluno. Estimula a experimentação, o desenho e a criatividade. Confirmamos a aprendizagem híbrida tem por característica a flexibilidade, a mistura e compartilhamento de espaços e tempos, de atividades, materiais, técnicas e tecnologias que constituem o processo ativo.

Muito embora a Portaria nº 1.134 de 2016 (20% a distância no ensino presencial) não tenha sido institucionalizada na UnB, os professores da UnB já utilizam o espaço virtual, por meio do ensino híbrido, evidenciado nos projetos selecionados pelo Programa A3M.

As práticas apresentadas possibilitam processos de mediação pedagógica que promovem o envolvimento, a integração às atividades propostas pelo professor, o estímulo à participação de todos e à colaboração. Os professores se preocupam em criar um ambiente acolhedor para que os alunos desenvolvam o sentimento de pertença ao grupo (MAFESSOLI, 2003). Uma condição fundamental para que haja uma ação pedagógica mediadora é um desejo mútuo de interação, entre professor e alunos, quer seja presencial ou online. Neste sentido, Kenski (2003, p. 143) afirma que “não somos profissionalmente diferentes apenas porque estamos em um novo ambiente, seja ele presencial ou não. Em princípio, somos sempre os mesmos profissionais, professores”. No entanto, os novos espaços requerem habilidades específicas, novas competências, com uma multiplicidade de papéis.

4 Conclusões

Em um contexto geral, é mister concordar com os autores sobre a necessidade de mudanças nos paradigmas educacionais ainda presentes neste milênio. Em uma sociedade complexa no qual a educação universitária segue a visão pedagógica tradicional, mesclada por práticas que buscam mudanças, o desafio da formação integral dos alunos perpassa não apenas pela inclusão das tecnologias emergentes em seus cotidianos escolares, mas por mediações docentes e opções metodológicas que visem à formação para a diversidade e a cidadania em um mundo plural.

Em resposta ao problema que estimulou este estudo, concluímos que a UnB vem atuando no processo educativo e incentivando inovações pedagógicas. Observamos que o Programa A3M apoia institucionalmente profissionais que estão buscando transformações na forma de ensinar (mediação pedagógica inovadora). O Programa oportuniza espaços de socialização e de discussão de ações pedagógicas diferentes, bem como a institucionalização dessas práticas que ocorrem de forma isolada na UnB.

As metodologias e os recursos educacionais identificados no A3M privilegiam a interação e a interatividade como elementos estruturantes da mediação pedagógica. Ressaltamos que essas práticas poderão ser aprimoradas e aplicadas em outras áreas, cursos ou disciplinas. Inferimos, igualmente, que o Programa A3M potencializa a aprendizagem e poderá ter reflexos na formação de profissionais protagonistas de sua própria história e, principalmente, capazes de contribuir para uma sociedade mais humana.

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