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PETI MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME SECRETARIA NACIONAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL GERÊNCIA DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – UNICEF Brasília, maio de 2004 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PETI

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PETI

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME

SECRETARIA NACIONAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTODA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

GERÊNCIA DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃODO TRABALHO INFANTIL

FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – UNICEF

Brasília, maio de 2004

Análise Situacional doPrograma de Erradicação

do Trabalho Infantil

PETI

2Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Ministério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome - MDS

Patrus Ananias de SouzaMinistro

Secretaria Nacional de Assistência Social

Márcia Helena Carvalho LopesSecretária Nacional

Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF

Reiko NiimiRepresentante

Maria America UngarettiCoordenadora do Projeto de Erradicação do Trabalho Infantil

Grupo de Trabalho do PETI

Milda Lourdes Pala Moraes - MDSCoordenadora

Eliane Araque dos Santos – Ministério Público do Trabalho - MPTFrederico Fernandes de Souza – Fórum Nacional de Secretarias de Assistência Social -FONSEASIsa Maria de Oliveira – Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil- FNPETIIvanna Sant’Ana Torres – Ministério da Educação - MECJosé Adelar Cuty da Silva – Ministério do Trabalho e Emprego – MTEMagdalena Sophia Oliveira Pinheiro Villar de Queiroz – Ministério da Educação - MECMaria America Ungaretti – UNICEFMaria Izabel da Silva – Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente -CONANDAMaurício Correia de Mello – Ministério Público do Trabalho - MPTPedro Américo Furtado de Oliveira – Organização Internacional do Trabalho - OITRafael Setúbal Arantes – Secretaria Especial de Direitos Humanos - SEDHTania Mara Garib – Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social -CONGEMASTarcízio Ildefonso Costa Junior – Secretaria Especial de Direitos Humanos - SEDH

Equipe de Apoio

Vera Lúcia Campelo da Silva – Gerência do PETIPatrícia Félix de Lima – Gerência do PETI

Equipe Técnica

Ana Gonçalves de Macedo Santos – ConsultoraMaria America Ungaretti - CoordenadoraMagdalena Sophia Oliveira Pinheiro Villar de Queiroz - RevisoraMilda Lourdes Pala Moraes

Realização

Fundo das Nações Unidas para InfânciaFórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

3 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

SumárioIntrodução 5

Capítulo I.

Contextualização da temática 7

1.1 Quadro teórico e estatístico 71.2 Quadro jurídico 81.3 Principais ações realizadas 9

Capítulo II.

Caracterização do PETI 13

2.1 Estrutura do Programa 132.2 Histórico 13

Capítulo III.

Descrição e análise dos dados 17

3.1 Considerações sobre os procedimentos metodológicos 173.2 Caracterização do PETI nos estados e municípios 183.3 Educação 223.4 Jornada ampliada 243.5 Família 303.6 Dados gerais 32

3.6.1 Impacto do PETI nos índices do trabalho infantil 323.6.2 Atuação das Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil 333.6.3 Gestão do PETI 34

3.7 Comparativo entre dados de 2000 e 2003 36

Capítulo IV.

Descrição e análise das informações 43

4.1 Aspectos negativos do PETI 434.2 Aspectos positivos do PETI 44

Capítulo V.

Considerações finais 47

Referências bibliográficas 51

ANEXOS 53

Anexo 1 – Lista de siglas 53Anexo 2 – Lista de gráficos e tabelas 55Anexo 3 – Intervenções estratégicas do governo federal 57Anexo 4 – Informações sobre análises do PETI 61Anexo 5 – Questionários 65

Sumário

5 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

IntroduçãoNa perspectiva das populações em situação de precariedade econômica e social, observa-seuma importante vulnerabilidade e desqualificação social que, não raras vezes, evolui paraum estado de exclusão propriamente dita. A pobreza intensa, além da carência de bensmateriais, coloca o indivíduo numa realidade de vulnerabilidade e degradação. Os pobressão cidadãos incompletos e os excluídos não são cidadãos. Portanto, há uma diferençasubstancial entre o pobre que está incluído no mercado de trabalho, embora com baixose injustos salários, e o excluído deste mercado. Um dos grandes problemas que enfrenta oBrasil é, sem dúvida, o desemprego crescente e, portanto, o aumento da vulnerabilidade ede situações de exclusão de um número, também crescente, de grande parte da população.O desemprego permanente, as dificuldades de inserção profissional e a desqualificaçãosocial são experiências muito humilhantes e perigosas.

O tema da exclusão é extremamente complexo, sobretudo na perspectiva socioeconômica.O que está em seu bojo são relações de poder, implicando em produção de imaginários esubjetividades. Há uma subjetividade, não emancipada, produzida no pobre e no excluídoe um imaginário de fracasso social. Pobres e excluídos, via de regra, nos programasassistencialistas, são responsabilizados pela sua condição. A vulnerabilidade e a exclusãoproduzem vários itinerários: salariais, conjugais, escolares etc. De maneira global, pode-sedizer que a exclusão é um processo, uma construção regulada, ordenada, singularmentecoerente.

1

Portanto, discutir a prevenção e a erradicação do trabalho infantil e a conseqüente inclu-são social e escolar das crianças e adolescentes, requer, necessariamente, que se analise eapresente propostas visando a inclusão social de suas famílias, pois vive-se um tempo noqual grande parte da população brasileira tem seus direitos violados. Deve-se fazer umenorme esforço para a construção da cidadania. Cidadania entendida como pleno exercí-cio dos direitos sociais, civis e políticos.

O Brasil apresentou, em 1980, cerca de 6,9 milhões de crianças e de adolescentes emsituação de trabalho. Em 1992, registrou 9,6 milhões com idade entre 5 a 17 anos. Em1995, este número decresce para 9,5 milhões. Porém, é somente em 1998 que este quadroé alterado de modo significativo, totalizando cerca de 7,7 milhões de crianças e adolescen-tes, enquanto que em 1999 foram reduzidos para 6,6 milhões. De acordo com a PNAD2001, cerca de 5,5 milhões de crianças e adolescentes, com idade entre 5 e 17 anos, encon-tram-se em situação de trabalho precoce. Destes, cerca de 300 mil estão na faixa etária de5 a 9 anos, 2,8 milhões têm idade entre 10 e 15 anos e 2,4 milhões se encontram entre os16 e 17 anos de idade. As origens deste fenômeno são múltiplas: a pobreza e a miséria; aslimitações do sistema educacional; e as restrições impostas pelos aspectos culturais.

Entre as iniciativas empreendidas pelo governo federal para alteração da exploração laboralde crianças e de adolescentes, registra-se o Programa de Erradicação do Trabalho infantil- PETI, beneficiando, em 2003, cerca de 810.000 mil crianças e adolescentes (dados demarço de 2004), em 27 unidades federativas e 2.601 municípios. O PETI tem se destacadopor sua relação direta com a diminuição da exploração do trabalho de crianças e adoles-centes no Brasil.

O desenho do Programa compreende três eixos de atuação: a concessão da Bolsa CriançaCidadã, a manutenção da jornada ampliada e o trabalho realizado junto às famílias,objetivando atingir as três principais raízes do problema. O benefício monetário represen-ta uma alternativa à escassez de acesso a bens e serviços básicos. A jornada ampliada

1 Documento apresentado nos seminários

Monitoramento da Inclusão e SucessoEscolar, promovido pela Missão criança emconjunto com o UNICEF nas escolasmunicipais de Aracaju, Goiânia e PortoAlegre, no quadro do projeto Monitoramentoda Inclusão e Sucesso Escolar de criançasoriundas do trabalho infantil, Porto Alegre,dezembro de 2004.

Introdução

6Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

oferece atividades socioeducativas e culturais, fomentando o processo de aprendizado dascrianças e dos adolescentes envolvidos. O trabalho com as famílias envolve o desenvolvi-mento de ações socieducativas e de geração de emprego e renda.

O presente relatório apresenta os dados e informações obtidos pela “Análise Situacionaldo PETI”, registra o cenário atual, seus aspectos positivos e negativos e aponta estratégiasque podem subsidiar a sua revisão e adequação às atuais necessidades.

Foi adotada como metodologia a elaboração e aplicação de um instrumento para coleta dedados e informações, constando de dois questionários, sendo um destinado às unidadesfederativas e outro remetido aos governos municipais. O referido instrumento foi enca-minhado para as 27 unidades da federação e para os 2.601 municípios atendidos pelo PETI.

Foram consolidadas informações prestadas por 23 governos estaduais e Distrito Federal e1.603 municípios. A sistematização dos dados e informações dos estados do Acre, Rondôniae Roraima não foi incorporada, tendo em vista o não recebimento do instrumento notempo estabelecido pela Gerência Nacional do PETI.

As informações consolidadas compreendem um universo de cerca de 62% do total demunicípios inseridos no PETI, 319.792 famílias e 500.663 crianças e adolescentes, repre-sentando aproximadamente 62% do atendimento, sendo que 52% são oriundas da áreaurbana e 48% da área rural.

O número estimado de crianças e adolescentes que ainda trabalham, segundo informa-ções fornecidas pelos municípios da amostra é de 345.711, destacando-se a existência detrabalho infantil na agricultura em geral, no trabalho doméstico, no comércio em feiras eambulantes e nos lixões.

O documento consta de cinco capítulos e anexos. O capítulo I caracteriza a problemáticano Brasil, considerando os aspectos estatísticos, jurídicos e as ações implementadas. Ocapítulo II apresenta a caracterização do Programa, incluindo o desenho e a análise sobresua execução. O capítulo III registra e analisa os dados obtidos por meio dos questioná-rios preenchidos pelos estados e municípios. O capítulo IV assinala a análise dos aspectosnegativos e positivos, enquanto que o capítulo V, destaca as considerações finais, indi-cando algumas recomendações.

Foram ainda registradas as intervenções estratégicas do governo federal, como o PlanoNacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente,elaborado pela Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil – CONAETI, queapesar de deliberado pelo CONANDA, não foi ainda aprovado pelo governo federal. Odocumento registra, também, informações sobre o Programa de Transferência de Rendacom Condicionalidades (Bolsa Família) e o Plano Nacional de Atendimento Integral àFamília – PAIF (Anexo 3).

Além disso, apresenta, como referências para a análise empreendida no presente docu-mento, um estudo, uma pesquisa e uma avaliação realizados sobre o PETI por distintasinstituições (Anexo 4).

Apesar da exigüidade de tempo para sua realização e da metodologia utilizada, os resulta-dos obtidos permitem indicar algumas recomendações que podem ser pertinentes para oplano de ação a ser elaborado pelo Grupo de Trabalho encarregado de apresentar estraté-gias e ações, com vistas ao reordenamento do PETI, considerando seus limites e desafiosem termos metodológicos e estratégicos para a inclusão social e escolar de crianças eadolescentes envolvidos em situação de trabalho infantil.

7 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Contextualizaçãoda temática1.1 Quadro teórico e estatístico

Em âmbito nacional, o trabalho infantil, nestas últimas duas décadas, vem obtendo espe-cial atenção da sociedade civil organizada, do poder público, dos empregadores, dos traba-lhadores e das agências de cooperação internacional.

Delimitou-se por trabalho infantil o mesmo conceito estabelecido pelo Plano Nacionalde Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente (2003): “todoo trabalho desempenhado por crianças e adolescentes com idade mínima de início ao trabalho inferiora 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos”. Ressalta-se que os documentosinternacionais, referentes neste texto, reconhecem a criança como aquela pessoa comidade inferior a 18 anos

2.

O UNICEF (2004), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD, 2001,apresenta que no Brasil, cerca de 5,5 milhões de crianças e adolescentes (entre cinco e 17anos) encontram-se em situação de trabalho; destes, cerca de 300 mil estão na faixa etáriade 5 a 9 anos, 2,8 milhões têm idade de 10 a 15 anos e 2,4 milhões se encontram entre os16 e 17 anos de idade.

Em comparação, entre os anos de 1999 e 2001, pode-se aferir que houve uma redução, emtermos absolutos, do trabalho infantil em aproximadamente 1,15 milhão, sendo quedestes a maior parte (cerca de 750 mil) está compreendida na faixa etária de 10 a 15 anos.A redução, em termos relativos

3, ocorreu da seguinte maneira: na faixa etária de 5 a 9

anos de idade de 24%, 18% na faixa etária de 10 a 15 anos, enquanto que entre 16 e 17 anoshouve um decréscimo de 8%.

Em 2001, quanto à proporção de pessoas ocupadas em relação ao total da população, ouseja, o índice ocupacional, registra-se que 1,8% das crianças entre 5 e 9 anos trabalhavam,14% entre 10 e 15, e 35% daquelas entre 16 e 17.

Comparando o ano de 1999 ao de 2001 (UNICEF, 2004), identifica-se que, segundo as grandesregiões, houve redução de trabalho infantil em todo país, em diferentes proporções, sendo queeste processo foi mais intenso, em termos absolutos, no Nordeste, especialmente na faixa etáriade 10 a 15 anos de idade, e em termos relativos, correspondente à mesma faixa etária, no CentroOeste e no Norte urbano

4. Os estados que apresentaram maior incidência de trabalho infantil na

faixa etária de 5 a 15 anos, em termos absolutos, foram Bahia, Minas Gerais e Maranhão. Houveuma alteração na distribuição setorial do trabalho infantil, a qual consistiu em diminuição dasatividades agrícolas e em aumento na participação das atividades comerciais e de serviços.

Sobre a caracterização5 do trabalhador infantil, ressalta-se que este é em sua maioria do

sexo masculino, com ressalvas ao trabalho infantil doméstico; mais de 50% são de cor negra(pardos e pretos); 43% dos trabalhadores são brancos; 0,5% indígenas; e 0,5% amarelos.

A zona rural agrega mais trabalhadores com idade entre 5 e 15 anos, predominandotambém o setor agrícola nessa faixa etária. Em contrapartida, os adolescentes que traba-lham com idade entre 16 e 17 anos estão sobretudo na zona urbana.

2 Os dados da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio – PNAD/2001 foramsistematizados englobando a faixa etária de5 a 17 anos, influenciando a distribuiçãodas informações dispostas neste documento.

3 Esta análise leva em consideração as

variações demográficas no período.

4 Alguns dos resultados por unidades

federativas, em especial, aqueles da RegiãoNorte e do Distrito Federal, bem como osdados referentes às crianças com idadeentre cinco e nove anos possuíram umamargem de erro alta merecendo necessáriacautela em sua análise.

5 Dados apresentados pelo Plano Nacional

de Prevenção e Erradicação do TrabalhoInfantil e Proteção ao TrabalhadorAdolescente (2003).

Capítulo I

Contextualizaçãoda temática

8Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Quanto à remuneração, quase metade dos trabalhadores infantis não possuem qualquerremuneração por seu trabalho. Do ponto de vista educacional, cerca de 22,7% das criançase adolescentes que trabalham no país, estão fora da escola, concentrando-se esse percentualnaqueles com idade entre 16 e 17 anos.

As crianças e os adolescentes que trabalham, registram nível de escolarização inferior aodaquelas que não trabalham, sendo que as crianças e adolescentes trabalhadores estãocom idade mais avançada para a série cursada em relação às crianças e adolescentes quenão trabalham.

1.2 Quadro jurídico

A normatização legal brasileira sobre o trabalho infantil tem como premissa a doutrina daproteção integral à criança e ao adolescente, garantindo seus direitos com prioridadeabsoluta.

O trabalho infantil no Brasil deve ser analisado, do ponto de vista jurídico, a partir dosseguintes documentos: Constituição Federal (1988), Convenção sobre os Direitos daCriança (1989), Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT (1942) e Estatuto da Criança edo Adolescente - ECA (1990). Outros documentos que merecem destaque são as Con-venções nºs 138 e 182, da Organização Internacional do Trabalho – OIT, ratificadas peloBrasil.

A Carta Magna, ao legislar sobre os direitos fundamentais do trabalho no Artigo 7º, afirmaser proibido o trabalho a qualquer pessoa com idade inferior a 16 anos, salvo na condiçãode aprendiz, sendo permitida esta condição a partir dos 14 anos

6. Todavia, o trabalho

noturno, perigoso, insalubre ou degradante, não é permitido em nenhuma hipótese parapessoas com menos de 18 anos.

Em 1989, a Organização das Nações Unidas - ONU estabeleceu a Convenção sobre Direitosda Criança, sob a ótica de proteção e defesa da criança. Esta Convenção registra, entreoutras garantias, em seu Artigo 32, a proteção contra a exploração sexual

7, trabalho

perigoso ou que produza efeitos negativos à educação, que seja nocivo à saúde, ao desen-volvimento físico, mental, espiritual, moral ou social.

A CLT traz como exigência que o adolescente que tenha menos de 18 anos de idade, porocasião da rescisão contratual trabalhista, deverá ter assistência do responsável, sendoproibido exercer serviços noturnos, atividades em locais insalubres, perigosos ou prejudi-ciais à moral, trabalhos na rua, praças e logradouros públicos, salvo mediante autorizaçãojudicial. No caso de adolescente com idade legal para trabalhar, o empregador deverágarantir o tempo necessário à freqüência escolar.

Foi sancionada pelo Presidente da República, em 1990, a Lei nº 8.069, denominada Esta-tuto da Criança e do Adolescente - ECA, a qual surge para regulamentar o estabelecido naConstituição Federal no que se refere aos direitos das crianças e dos adolescentes. O ECAafirma a necessidade de implementação de um Sistema de Garantia de Direitos – SGD e deum Sistema de Proteção.

O ECA, em seus Artigos 60 a 69, legisla sobre a proteção do adolescente trabalhador.Entre os conteúdos desta Lei, merece atenção do legislador, do poder público e da soci-edade civil, a questão da guarda

8, que pode ser confundida com a facilidade para o

desenvolvimento do trabalho infantil doméstico. Vale assinalar que: “o parágrafo da lei,na forma como está elaborado, permite abusos, facultando o uso da guarda no emprego de criançase jovens no serviço doméstico privado, descaracterizando, assim, a finalidade da guarda como ins-trumento de proteção e ocultando a exploração infanto-juvenil das meninas trabalhadoras domés-ticas” (OIT, 2003).

6 A idade para ingresso no mercado de

trabalho foi alterada pela EmendaConstitucional nº20/98, a qual estabelece aidade mínima para o trabalho de 16 anos,salvo na condição de aprendiz a partir dos

14 anos de idade.

7 O Artigo 34 deste documento retoma a

questão da proteção contra todas as formasde abuso e exploração sexual.

8 A questão da guarda de adolescentes

trazidos de outra comarca com a finalidadede prestação de serviços domésticos, é

atribuída como infração administrativa:“deixar de apresentar à autoridade

judiciária de seu domicílio, no prazo decinco dias, com o fim de regularizar aguarda, adolescentes trazidos de outra

comarca para a prestação de serviçodoméstico, mesmo que autorizado pelos pais

ou responsável” (Artigo 248, ECA, 1990).

9 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

O Estatuto estabelece, ainda, mecanismos como os Conselhos dos Direitos e Tutelares,tratados pelos Artigos 88, 131 e 132, para a garantia dos direitos legislados. Esses Conse-lhos são co-responsáveis no processo de erradicação do trabalho infantil.

Outro documento de suma importância para a análise do trabalho infantil no Brasil é aConvenção nº138, da Organização Internacional do Trabalho - OIT, de 1973. Essa Con-venção estabelece a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho, chamando aten-ção para a necessidade de uma política nacional de erradicação do trabalho infantil eprevendo a elevação progressiva da idade mínima de ingresso em atividades laborais. Dasrestrições exigidas, ficou estabelecida como idade mínima aquela não inferior à conclusãoda escolaridade compulsória e, em qualquer hipótese, não menor que 15 anos.

A Convenção nº 138 foi ratificada pelo Brasil apenas em 2001, enquanto que a Convençãonº 182, também da OIT, de 1999, foi ratificada em 2000. A Convenção nº 182 estabelece aproibição das “piores formas de trabalho infantil”, bem como a elaboração e implementaçãode programas para sua eliminação. Como piores formas estão expressas todas as formas deescravidão, de prostituição, de tráfico de entorpecentes, que prejudiquem a saúde, a segu-rança ou a moral das crianças e dos adolescentes. Em 2002, a ONU apresentou o documen-to final de sua Sessão Especial sobre a Criança, denominado Um Mundo para Crianças

9.

1.3 Principais ações realizadas

As ações implementadas de prevenção e erradicação do trabalho infantil e os agentespartícipes de tais ações são inúmeros. Serão destacados alguns deles, porém, não se tem apretensão de abarcar todos, uma vez que não é o objetivo deste documento.

Em âmbito internacional a problemática do trabalho infantil está inserida no deba-te realizado em torno da questão dos direitos humanos, cujo eixo é a proteção dosdireitos dos excluídos e vulneráveis, tendo como estratégia relevante a mobilizaçãoda sociedade civil contra todos os tipos de exclusão, discriminação e repressão. Pormeio de tratados, a comunidade internacional tem buscado a garantia de melhoriadas condições de vida dos indivíduos, visando assegurar-lhes seus direitos funda-mentais

10.

Cabe à OIT a proteção dos direitos humanos no que se refere às esferas econômica etrabalhista, estando o combate ao trabalho infantil sob sua alçada. Sua contribuição temsido registrada, desde 1992, por meio do Programa Internacional para Eliminação doTrabalho Infantil – IPEC

11. Este Programa, juntamente com parceiros locais, vem elabo-

rando diagnósticos, estudos de casos, pesquisas e avaliações com objetivo de erradicar otrabalho infantil.

O UNICEF tem por mandato participar da aplicação da Convenção sobre os Direitos daCriança. A prevenção e a erradicação do trabalho infantil constam da cooperação técni-ca e financeira desde a década de 90. A participação na definição de políticas,implementação de programas e projetos, elaboração de metodologias e estratégias ino-vadoras, registro de boas práticas para o enfrentamento do trabalho infantil e atendi-mento direto de crianças e de adolescentes, constituem as ações prioritárias de suaprogramação no Brasil.

Das ações realizadas em âmbito nacional, cabe destaque a criação do FNPETI, em 1994,com o apoio do UNICEF e da OIT, constituído atualmente por 73 entidades: represen-tantes do governo, dos trabalhadores, dos empresários, ONGs, Fóruns Estaduais deErradicação do Trabalho Infantil, Procuradoria Geral da República e Ministério Públicodo Trabalho. O FNPETI tem por finalidade viabilizar um espaço de articulação emobilização dos atores sociais institucionais relacionados com políticas e programasdestinados a prevenir e erradicar o trabalho infantil no país.

9 O Mundo para Crianças define como

metas: (i) promover vidas saudáveis(combatendo os ciclos de pobreza einacessibilidade a serviços sociais básicos);(ii) acesso à educação de qualidade(visando garantir às crianças o acesso aoensino primário de boa qualidade, gratuitoe obrigatório e que estas concluam seusestudos); (iii) proteger as crianças contra osmaus-tratos, a exploração e a violência(objetiva empreender esforços naeliminação das piores formas de trabalhoinfantil, como definido na Convenção nº182; proteger as crianças dos impactos dosconflitos armados e eliminar o tráfico e aexploração sexual de crianças e garantir asmesmas proteção em geral); (iv) combatero HIV/AIDS (visando reduzir o número dehomens e mulheres jovens com idade entre15 a 24 anos infectados pelo HIV; promovera diminuição no número de lactantesinfectadas e criar e fortalecer mecanismosde apoio aos órfãos e meninas e meninosinfectados).

10 Análise e recomendações para a melhor

regulamentação e cumprimento danormativa nacional e internacional sobre otrabalho de crianças e adolescentes noBrasil. ANTÃO DE CARVALHO, HenriqueJosé; GOMES, Ana Virgínia; MOURÃOROMERO, Adriana; SPRANDEL, MárciaAnita y VILLAFAÑE UDRY, Tiago. OIT.Brasília, 2003.

11 “O Programa Internacional para a

Eliminação do Trabalho Infantil – IPECtem como um de seus objetivos analisar alegislação vigente nos países do MercadoComum do Sul – MERCOSUL,identificando as lacunas existentes frente aoconjunto de convenções, recomendações,normas e tratados internacionais referentesao tema do trabalho infantil” OIT, 2003.

10Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

O governo federal vem se comprometendo com a prevenção e erradicação do trabalhoinfantil por meio do desenvolvimento e aplicação da legislação e por ações desenvolvidaspelo poder executivo. O então Ministério da Previdência e Assistência Social – Secretariade Estado de Assistência Social contribuiu para prevenção e erradicação do trabalho in-fantil por intermédio dos programas Sentinela e PETI.

O Programa Sentinela destina-se a combater o abuso e a exploração sexual de crianças e deadolescentes, tendo como metas programáticas a implantação de centros de referência,serviços para o atendimento do público-alvo e promoção de ações de mobilização dasociedade e instituições

12.

O PETI foi implantado em 1996 com o objetivo de “retirar crianças e adolescentes de 7 a 15anos de idade do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante, ou seja,daquele trabalho que coloca em risco sua saúde e sua segurança” (Manual Operacional doPETI, 2002).

O Programa possui três eixos de atuação: concessão da Bolsa Criança Cidadã, execução dajornada ampliada e trabalho com as famílias (educativo e de geração de emprego e renda).O PETI prevê, ainda, o controle social por meio das Comissões de Erradicação do TrabalhoInfantil, Conselhos de Direitos da Criança, Conselhos de Assistência Social e ConselhosTutelares.

Desde 2000, o PETI estabeleceu parceria junto ao Ministério do Trabalho e Emprego -MTE, por meio de um Termo de Cooperação Técnica. Essa ação teve como finalidadeimplementar conjuntamente as ações voltadas à erradicação do trabalho infantil. EsseTermo prevê que uma vez identificada, nas fiscalizações realizadas pelo MTE, a existênciade crianças e adolescentes em situação de trabalho precoce, estas terão prioridade deingresso no PETI. Outro aspecto pactuado consiste na delegação de competência ao MTEpara supervisionar a jornada ampliada.

O MTE vem contribuindo para o objetivo de erradicação do trabalho infantil, intensifi-cando a fiscalização do trabalho infanto-juvenil, bem como delimitando os procedimen-tos adotados pelos auditores fiscais do trabalho (Instrução Normativa nº 01/2002), emparceria com os Conselhos Tutelares, entidades sindicais e Ministério Público do Trabalho– MPT. Cabe ao MTE a competência de mapeamento dos focos de trabalho infantil noBrasil. Outra medida efetivada por esse Ministério foi a criação dos Grupos Especiais deCombate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente – GECTIPAs

13. Esses

grupos, instalados nas 27 unidades federativas, foram instituídos no âmbito das Delegaci-as Regionais do Trabalho – DRTs.

O MTE instituiu e coordena a CONAETI. Sua primeira atribuição foi a elaboração de umaproposta de Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção aoTrabalhador Adolescente e, em seqüência, se dedicará a revisão da legislação brasileira eproporá adequações, adaptando-a às Convenções 138 e 182 da OIT. Estabeleceu, tambémcomo meta, a revisão da Portaria nº 20, de 13 de setembro de 2001, a qual regulamenta asatividades consideradas perigosas, penosas, insalubres e degradantes, proibidas a qual-quer pessoa que não tenha completado 18 anos de idade.

A Secretaria Especial de Direitos Humanos – SEDH, ligada a Presidência da República,também vem atuando na problemática do trabalho infantil, especialmente no que tangeàs atividades ilícitas, na implementação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violên-cia Sexual Infanto-Juvenil e no Programa Presidente Amigo da Criança

14.

O enfrentamento do trabalho infantil conta também com a participação do MPT, queinstituiu a Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e doAdolescente, que tem como principal objetivo “integrar as Procuradorias Regionais do

12 Para maiores esclarecimentos recorrer apublicação: SECRETÁRIA DE ESTADO

DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Relatório deGestão da Assistência Social 2001. SEAS/

MPAS. Brasília, 2002.

13 Os GECTIPAs, criados pela Portaria

MTE/SIT No.07/2000 advém daSecretaria de Inspeção do Trabalho - SIT.

14 Este Programa surge como um

desdobramento do Relatório da SessãoEspecial da Assembléia Geral das NaçõesUnidas sobre a Criança, em 2002, a qualestabeleceu as metas das Nações Unidas

para o Milênio.

11 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Trabalho em uma atuação uniforme e coordenada de combate ao trabalho infantil e deregularização do trabalho do adolescente, assim como fomentar a troca de experiências ediscussões sobre a temática.” A Coordenadoria estabeleceu metas prioritárias, definiu asdiretrizes a serem seguidas e as parcerias que viabilizarão as ações efetivas. Entre as metasprioritárias eleitas, estão o combate ao trabalho infantil doméstico, o trabalho de criançase adolescentes nos lixões e em atividades ilícitas (tráfico de drogas e exploração sexual).

No âmbito da sociedade civil organizada podem ser destacadas as importantes ações de-senvolvidas por diferentes e inúmeras organizações não governamentais como a Agênciade Notícias dos Direitos da Infância – ANDI, Cáritas Diocesana, Fórum Nacional dosDireitos da Criança – Fórum DCA, Fórum Nacional Lixo e Cidadania, Instituto AyrtonSenna, Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, Instituto de EstudosSócio-Econômicos – INESC, Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua –MNMMR, Missão Criança e Movimento de Organização Comunitária – MOC, entre ou-tras.

Outros atores fundamentais são as centrais sindicais e o setor patronal. As centrais sindi-cais têm se posicionado publicamente contra o trabalho infantil e realizado ações especí-ficas, participando junto com os representantes dos empregadores no FNPETI.

Além disso, desde 1996, a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança vem articulandocadeias produtivas para a pactuação de não empregar crianças, apoiar a escola e investirnos fundos municipais. Desenvolve também o Programa Empresa Amiga da Criança queestimula o crescimento do número de empresas engajadas no enfrentamento do trabalhoinfantil.

As ações dirigidas à prevenção e erradicação do trabalho infantil alcançaram relativosucesso, conforme a análise dos dados da PNAD/2001

15, apresentando uma diminuição do

trabalho infantil. Este decréscimo acontece no período de 1995 a 1996, fato que pode tercomo fatores causadores: o crescimento econômico, a estabilização monetária e a eleva-ção real do salário mínimo em 1995, confirmando a relação entre pobreza e trabalhoinfantil.

Em 1999 e 2001, nota-se uma redução nos índices de trabalho infantil. A influência doPETI nesse resultado é reafirmada por uma relação estatística comprovável entre reduçãodo número de crianças e adolescentes trabalhadores e a elevação do número de crianças eadolescentes atendidas pelo PETI, por unidade federativa. O alto nível de correlação entreessas duas variáveis é expresso pelo coeficiente de correlação de 0,91. Ressalta-se que ocoeficiente de correlação “expressa a relação entre duas variáveis. Os valores do coeficien-te de correlação variam entre -1 (máxima correlação negativa), 0 (inexistência absolutade correlação) e +1 (máxima correlação positiva)” (UNICEF, 2004).

A evolução do trabalho infantil nesses anos estabelece uma conexão que merece desta-que: o PETI teve papel fundamental para a diminuição dos índices de trabalho precoce noBrasil. Relacionando os dados do PETI com as informações sobre as variações quantitati-vas de crianças e adolescentes inseridos no trabalho infantil, pode-se aferir que “o aumen-to no número de crianças atendidas pelo PETI no período 1999 e 2001 corresponde a 72por cento da redução no número de crianças trabalhadoras (na faixa de 5 a 15 anos)ocorrida no período”

16.

15A Evolução do Trabalho Infantil no Brasil

de 1999 a 2001.UNICEF. Rio deJaneiro,2004.

16A Evolução do Trabalho Infantil no Brasil

de 1999 a 2001,UNICEF. Rio deJaneiro,2004.

13 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Caracterizaçãodo PETI2.1 Estrutura do Programa

O PETI tem como objetivo a erradicação do trabalho infantil. Os eixos do Programa são orepasse da Bolsa Criança Cidadã; a execução da jornada ampliada; e o trabalho com asfamílias, que se subdivide em duas naturezas: socioeducativo e de geração de emprego erenda.

O público-alvo é a família que tenha filho (s) na faixa etária de 7 a 15 anos de idade, osquais devem estar inseridos em alguma das formas de trabalho caracterizadas como peri-gosas, penosas, insalubres ou degradantes, regulamentadas pela Portaria nº 20, publicadaem 2001, pelo MTE. Terão prioridade as famílias com renda per capita de até ½ saláriomínimo.

Os valores da Bolsa Criança Cidadã e da jornada ampliada são diferenciados segundo asáreas rural e urbana. Os valores da Bolsa são de R$25,00 para a área rural e de R$40,00 paraárea urbana, sendo que para os municípios com população abaixo de 250.000 habitantes,o valor é de R$25,00, independente da localização geográfica. Para execução da jornadaampliada, são disponibilizados para a área urbana R$10,00 por criança e adolescente,enquanto que para a área rural, R$20,00.

Os critérios de permanência da família no Programa são os seguintes: todos os filhos commenos de 16 anos devem estar preservados de qualquer forma de trabalho infantil; acriança e/ou adolescente participante do PETI deverá ter freqüência escolar mínima de75% e o mesmo percentual de freqüência nas atividades propostas pela jornada ampliada;e as famílias beneficiadas deverão participar das atividades socioeducativas e dos progra-mas e projetos de geração de emprego e renda ofertados. O tempo de permanência noPrograma é determinado pela idade da criança e do adolescente, sendo também critériopara desligamento a conquista da emancipação financeira da família.

O financiamento do Programa e sua gestão estão sob a responsabilidade das três esferas dopoder público. O recurso repassado aos Fundos Estaduais de Assistência Social e aos Fun-dos Municipais de Assistência Social, está alocado no Fundo Nacional de AssistênciaSocial.

2.2 Histórico

O marco inicial do enfrentamento do trabalho infantil ocorreu nos fornos de carvão e nacolheita da erva-mate de 14 municípios do estado do Mato Grosso do Sul, tendo ao longodos anos uma expansão significativa, tanto em termos de atendimento, quanto nadisponibilização de recursos para a execução das atividades. A normatização está efetivadapela Portaria nº 458, de 4 de Outubro de 2001/SEAS.

O PETI conta com inúmeros parceiros, entre eles: MTE, MPT, FNPETI, OIT, UNICEF eFórum Nacional Lixo e Cidadania. Destaca-se a atuação dos gestores locais e dos membros

Capítulo II

Caracterização do PETI

14Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

17Para efeitos de análise foramconsiderados os dados e informações deagosto de 2003 fornecidos pela Gerência

Nacional do PETI. No entanto, osdados disponibilizados em março de

2004 mostram que o PETI atendeu em2003, 810.823 crianças e adolescentes.

18 Para efeitos de análise foramconsiderados os dados e informações deagosto de 2003 fornecidos pela Gerência

Nacional do PETI. No entanto, osdados disponibilizados em março de

2004 mostram que o PETI contou em2003 com R$508.455.464,00. Em abrilde 2004, a Gerência Nacional do PETIinformou que o orçamento de 2003 foi

de R$478.455.467,00, diferentementedos dados apresentados pela Folha de

São Paulo em 13 de março de 2004, queindicou R$507,5 milhões como

orçamento de 2003 e efetivamente gastoR$405 milhões.

das Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil como agentes estratégicos de funda-mental importância para construção e sucesso do PETI.

Nos Gráficos I e II apresenta-se a evolução do Programa.

Fonte: Relatório de Gestão 2001 – PETI e Gerência Nacional do PETI, Brasília, agosto 2003. 17

Fonte: Relatório de Gestão 2001 – PETI e Gerência Nacional do PETI, Brasília, agosto 2003. 18

Nota-se que do primeiro ano de execução do Programa para o ano de 1998, o atendimentocresceu cerca de 3.000%, enquanto que os recursos disponibilizados elevaram-se na pro-porção de 4.000%. De 1999 para 2001, o Programa apresentou um crescimento de cerca de500% em termos de atendimento e 350% de recursos aplicados. A ampliação da coberturado Programa de 2001 para 2003 (dados de agosto), em termos de atendimento, implicouna inserção de apenas 59.795 crianças e adolescentes, representando um incrementomuito pequeno, que pode indicar uma desaceleração do Programa. Quando 2002 é com-parado com 2003, verifica-se uma estagnação em termos de atendimento e uma diminui-ção dos recursos financeiros.

O PETI atendeu, no ano de 2003, tomando por referência o mês de agosto, 809.148 crian-ças e adolescentes, sendo que, destes, 497.001 eram oriundas da zona rural e 312.147 dazona urbana, contemplando 2.601 municípios das 27 unidades da federação. Os recursosdisponibilizados pela esfera federal nem sempre são proporcionais à variação do atendi-mento realizado, ou seja, a relação entre o número de crianças e de adolescentes a sereminseridos e o volume de recursos a serem utilizados depende do mês em que os beneficiários

15 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

são incluídos no Programa. Comparando os orçamentos do PETI em 2001 e 2002 (GráficoII), percebe-se um incremento que não representa, proporcionalmente, um acréscimosignificativo em termos de expansão do atendimento. As justificativas apontadas são autilização parcial do orçamento de 2002 para reconhecimento de dívidas de 2001, nãoempenhadas em face de indisponibilidade de limite orçamentário para tanto, e a utiliza-ção de parte do orçamento de 2002 para o atendimento de adolescentes de 15 anos emsituação de risco extremo, nas estratégias operadas pelos Programas Agente Jovem deDesenvolvimento Social e Humano e Sentinela.

Houve uma redução nos recursos aplicados no PETI pela esfera federal em 2003, mas quenão ocasionou diminuição no número de crianças e adolescentes atendidos, tendo existi-do, ao contrário, um ligeiro aumento em relação ao ano de 2002. A diminuição dos recur-sos não afetou diretamente o público atendido pelo PETI, já que se estima que o impactoda redução tenha recaído sobre a jornada ampliada e outras ações desenvolvidas peloPrograma, em especial as de geração de emprego e renda. O desembolso mensal de recursosdo Programa, tomando como base o mês de agosto de 2003, foi da ordem deR$37.189.245,00. Destes, R$22.566.955,00 foram destinados à concessão da Bolsa CriançaCidadã e R$14.622.290,00 repassados aos municípios para manutenção da jornada ampli-ada. Os recursos disponibilizados e o atendimento efetivado representam que o governofederal tem assumido, ainda que de forma limitada, os compromissos com o enfrentamentodo problema.

17 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Descrição e análisedos dados

3.1 Considerações sobre os procedimentos metodológicos

Os dados a serem apresentados foram obtidos pelos questionários enviados aos estados emunicípios beneficiados pelo Programa. Os instrumentos de coleta de informações sãodiferenciados segundo as unidades da federação e municípios. Algumas observações de-vem ser tecidas frente às dificuldades para consolidação dos dados e informações:

(1) os questionários não foram submetidos a teste piloto junto aos gestores ou responsá-veis pelo Programa, o que inviabilizou possíveis correções prévias;

(2) os informantes não foram capacitados para o correto preenchimento dos questionári-os;

(3) o tempo para o envio, preenchimento e tabulação dos dados não atendeu a realidade devários municípios e estados que, por esse motivo, não devolveram os instrumentos preen-chidos;

(4) as respostas, em sua maioria, não alcançaram 100% dos informantes, ocorrendo atémesmo um caso de município que devolveu o instrumento sem qualquer resposta, fatoque levou à decisão de desconsiderá-lo;

(5) os dados obtidos em determinadas questões suscitam dúvidas, visto que exigiriammonitoramento sistemático e específico, como por exemplo a melhoria na capacidade deler, de escrever e de interpretar das crianças e dos adolescentes inseridos no PETI;

(6) os instrumentos excluem percepções de atores importantes sobre o tema, como porexemplo, os empresários locais, o setor educacional, o terceiro setor, as crianças e osadolescentes e as famílias;

(7) os questionários são constituídos, em sua maioria, por questões objetivas. Quanto àsquestões subjetivas, além de consolidarem um quadro de diversidades, não foram respon-didas de modo satisfatório, registrando, em sua maioria, percentuais sem relevância esta-tística, apesar da importância das mesmas para assinalar as dificuldades para erradicaçãodo trabalho infantil;

(8) algumas informações dessa análise, ao serem comparadas aos dados obtidos pela avali-ação nacional do Programa realizada em 2000 e cujos dados foram publicados em 2001,indicaram categorizações diferenciadas, dificultando o processo;

(9) determinados dados e informações apresentados no Relatório de Gestão da AssistênciaSocial 2001, publicado pela Secretaria de Estado de Assistência Social – SEAS/MPAS emjunho de 2002, não coincidem com determinados dados e informações fornecidos pelaGerência Nacional do PETI - Ministério da Assistência Social, em novembro de 2003.

Capítulo III

Descrição e análise dos dados

18Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Além disso, os dados apresentados pela Gerência Nacional do PETI, em 2004, são tambémdivergentes em termos dos recursos financeiros alocados.

A seguir, apresentam-se a descrição e a análise dos dados. A disposição das informaçõesobedeceu a mesma categorização estabelecida no questionário.

3.2 Caracterização do PETI nos estados e municípios

Foram enviados questionários para as 27 unidades da federação e os 2.601 municípiosinseridos no PETI. Foram recebidos preenchidos 24 questionários de estados e 1.603 demunicípios, conforme demonstrativo no quadro abaixo:

Os estados do Acre, Rondônia e Roraima não encaminharam os questionários preenchi-dos em tempo determinado, assim como não foi possível incluir na consolidação asinformações das capitais de Rio Branco, Manaus, Curitiba, Recife, Rio de Janeiro e PortoAlegre.

A Tabela 1 mostra as capitais e estados que não encaminharam os questionários preenchi-dos, fato que poderia ter sido evitado, se a articulação com os Fóruns de Erradicação doTrabalho Infantil tivesse sido realizada para efetivação do processo de coleta de dados einformações.

As informações acima indicam que em oito unidades da federação, nem mesmo 50% dosmunicípios encaminharam o questionário. Entre estas, quatro são oriundas da RegiãoNorte do Brasil. Além disso, 13 unidades da federação não conseguiram encaminhar 60%dos questionários dos municípios atendidos em cada localidade. A única unidade da fede-ração que atingiu 100% dos questionários encaminhados foi o Distrito Federal, o qualpossui uma realidade peculiar, pois em seu território não existem municípios.

Os questionários foram encaminhados via Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos –ECT e por meio de correio eletrônico, sendo confirmado o recebimento, pelos informantesda esfera estatal. Os dados que não foram obtidos pelos estados e municípios podem indi-car algumas dificuldades, tais como: os gestores não tiveram tempo hábil ou informaçõessuficientes para o encaminhamento dos questionários; a ECT não conseguiu entregartodos os instrumentos aos municípios destinados no período proposto; os informantesnão estavam sensibilizados para a importância do fornecimento dos dados; os municípiostiveram receio de disponibilizar dados que pudessem não refletir a realidade com exati-dão; ou até mesmo não se encontravam preparados para o envio das informações, seja doponto de vista financeiro, ou do monitoramento do Programa. Estas considerações mere-cem maior investigação.

Os 1.603 municípios analisados representam cerca de 62% do total de municípios inseri-dos no PETI, contemplando um universo de 319.792 famílias e 500.663 crianças e adoles-centes, ou seja, em torno de 62% do universo total atendido. Das informações prestadascom relação à distribuição geográfica das famílias, identificou-se que cerca de 48% sãooriundas da área rural e aproximadamente 52% da área urbana.

Nos municípios analisados, quanto à distribuição geográfica das famílias atendidas, cercade 80% responderam a questão, ou seja, esta realidade reflete 49% dos municípios atendi-dos pelo PETI.

Das crianças e adolescentes contemplados na análise, 52% são oriundas da área urbanacontra 48% da área rural. Esta informação foi prestada por 100% dos municípios, podendoconfirmar que, quanto ao repasse de recursos, os municípios parecem estar seguros oudisponibilizam com maior facilidade as informações solicitadas, ou ainda, esta questão foimelhor elaborada quando comparada às demais.

19 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Quanto ao sexo, 46% são meninas e 54% são meninos, enquanto que, na classificaçãosegundo a cor, 35% são da cor branca, 46% são pardos e 15% da cor preta (perfazendo 61%de negros), 2% são amarelos e 2% são indígenas.

Os dados apresentados nessa análise podem estar indicando alteração em áreas detrabalho infantil, registrando um limitado decréscimo nos índices de trabalho in-fantil rural. Os meninos ainda prevalecem nas atividades laborais, corroborando as

Tabela 1 – Número de estados e municípios atendidos pelo PETI e número deestados e municípios que enviaram o questionário (em números absolutos e %)

Fontes: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003; edados consolidados pela Gerência Nacional do PETI, Brasília, agosto de 2003.

UF Municípios Municípios que Questionários QuestionáriosPETI responderam % das capitais dos Estados

Acre 17 5 29,4 Não Não

Alagoas 102 52 51,0 sim Sim

Amapá 16 10 62,5 sim Sim

Amazonas 55 30 54,5 não Sim

Bahia 93 72 77,4 sim Sim

Ceará 64 54 84,4 sim Sim

Distrito Federal 1 1 100 sim Sim

Espírito Santo 64 39 60,9 sim Sim

Goiás 207 140 67,6 sim Sim

Maranhão 131 63 48,1 sim Sim

Mato Grosso 39 33 84,6 sim Sim

Mato Grosso do Sul 77 73 94,8 sim Sim

Minas Gerais 188 130 69,1 sim Sim

Pará 124 60 48,4 sim Sim

Paraíba 122 67 54,9 sim Sim

Paraná 155 102 65,8 não Sim

Pernambuco 157 80 51,0 não Sim

Piauí 221 109 49,3 sim Sim

Rio de Janeiro 47 23 48,9 não Sim

Rio Grande do Norte 139 76 54,7 sim Sim

Rio Grande do Sul 27 11 40,7 não Sim

Rondônia 44 21 47,7 sim Não

Roraima 13 4 30,8 sim Não

Santa Catarina 164 127 77,4 sim Sim

São Paulo 160 102 63,8 sim Sim

Sergipe 75 53 70,7 sim Sim

Tocantins 99 66 66,7 sim Sim

Total 2601 1603 61,6

20Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

informações anteriores, porém, registra-se que no trabalho infantil doméstico estarealidade se inverte. Ressalta-se que o PETI conta em seu atendimento com criançase adolescentes oriundas desse tipo de atividade, mesmo não sendo considerada comopior forma de trabalho infantil.

Quanto ao aspecto de raça/cor, um dado merece destaque: o número de crianças e adoles-centes trabalhadores negros é superior aqueles de cor branca, confirmando que a questãoracial está estreitamente vinculada às questões socioeconômicas.

Foi informada a existência de 8.316 centros/espaços/núcleos destinados à jornada ampli-ada, sendo identificado que cerca de 58% estão localizados na zona rural e 42% na zonaurbana, sendo mais representativo o número de centros informados pelos estados deBahia, Goiás e Minas Gerais.

Atuam na jornada ampliada 19.443 monitores, dos quais 40% estão lotados na zona rurale 60% na zona urbana. Apesar de haver maior concentração de crianças oriundas da áreaurbana, o maior número de centros/espaços/núcleos de jornada ampliada está localizadoem áreas rurais, porém, um maior número de monitores está lotado na zona urbana.

De acordo com informações encaminhadas à Gerência Nacional do PETI, normalmente nazona rural os espaços ocupados para a realização da jornada ampliada são escolas rurais, asquais geralmente são em maior número e pequenas, contando com número reduzido decrianças. A zona rural conta com recursos humanos escassos; por vezes, um único monitorexecuta todas as ações, enquanto na zona urbana há a diversidade de ações com monitorescapacitados para tarefas específicas. Na zona urbana há a probabilidade maior da existên-cia de salas mais amplas, com uma demanda de crianças e adolescentes por sala tambémmaior, exigindo, às vezes, a presença de mais de um monitor por sala.

O número estimado de crianças e adolescentes que ainda trabalham, conforme informaçõesfornecidas pelos municípios, é de 345.711. Esta informação foi disponibilizada por cerca de69% dos municípios compreendidos na amostra, representando 43% do universo total dosmunicípios beneficiados com o PETI. Indaga-se se a dificuldade para emissão dessa informa-ção foi em função da insuficiência de mecanismos de averiguação que expressem o quanti-tativo de crianças e adolescentes que trabalham nas localidades em estudo.

As tabelas a seguir apresentam, em termos percentuais, as atividades por eles apontadas,segundo distribuição por área.

Das atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes que ainda trabalham na áreaurbana, ganha destaque o trabalho infantil doméstico, sendo que este tipo de exploraçãoexiste em cerca de 69% dos municípios. Provavelmente o sistema de denúncia e outrosmecanismos para identificação do trabalho infantil doméstico esteja contribuindo para avisualização de tal situação de trabalho precoce.

Há um percentual significativo de respostas que evidenciam o quantitativo de municípi-os (22%) onde se encontram crianças e adolescentes em atividades de exploração sexual,enquanto que nos estados, cerca de 54% registraram também esta situação. A implanta-ção do Programa Sentinela deveu-se, entre outros fatores, pela ineficiência e inadequaçãodo PETI frente a este tipo de exploração do trabalho, o qual requer formas de intervençãoespecíficas, distintas das aplicadas pelo Programa em análise.

Outro tipo de trabalho infantil, não menos importante, indicado pela Tabela 2, é o comér-cio (tráfico) de drogas. Esta situação requer cuidados para além do acesso aos direitossociais, visto que é atividade ilícita e que garante à criança e ao adolescente envolvidos,não somente uma condição econômica favorável, mas incorpora um certo empoderamentoda pessoa frente aos seus pares.

21 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Das atividades elencadas na área rural (Tabela 3), registra-se o baixo índice de municípiosque indicam crianças e adolescentes em trabalhos desenvolvidos com o sisal, destacando-se o trabalho que vem sendo desenvolvido na região sisaleira da Bahia. No entanto, apesardas ações realizadas representarem melhorias para as famílias beneficiadas, elas não alte-raram a situação de pobreza dessas populações (Souza, 2002).

Tabela 2 – Atividades econômicas desenvolvidas pelas crianças e adolescentestrabalhadores por município (%)

Fontes: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Área urbana

Atividades Municípios

Trabalho doméstico 69,43

Comércio em feiras e ambulante 60,45

Lixão, catadores de lixo 31,50

Engraxate 30,07

Exploração sexual 21,90

Flanelinha 14,22

Comércio de drogas 12,35

Fontes: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Tabela 3 – Atividades econômicas desenvolvidas pelas crianças e adolescentestrabalhadores por município (%)

Área rural

Atividades Municípios

Agricultura em geral 72,68

Olaria/cerâmica 16,72

Carvoaria 12,41

Madeireira 7,05

Corte de cana 5,68

Fumicultura 4,80

Garimpo, pedreiras, mineração 4,62

Sisal 1,87

Houve elevado número de municípios e estados que indicaram como atividades, a catego-ria “outros”; nas informações prestadas pelos estados foram cerca de 54% (13), enquantoque nos municípios 34% (537). A inexatidão do item “outros” limita a análise proposta,apontando para a necessidade de mapeamento das atividades agregadas a esse termo gené-rico.

Quanto às atribuições executadas pelos governos estaduais na gestão do PETI, apartir dos dados coletados junto aos estados, 92% (22 estados) registraram a realiza-ção de supervisão e monitoramento do PETI em âmbito municipal; 88% (21 estados)informaram dar apoio ao funcionamento da Comissão Estadual de Erradicação doTrabalho Infantil; e 83% (20 estados) mencionaram a capacitação de equipes técni-cas municipais. Dados tão significativos levariam a crer que os estados exercem deforma relevante seu papel, porém, 35% dos municípios (555) apontaram como fatorde estrangulamento para a implantação e execução do PETI a falta de apoio dogoverno estadual e, apenas três estados informaram complementar o recurso desti-nado à jornada ampliada.

22Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

3.3 Educação

Segundo as respostas apresentadas pelos municípios conforme Gráfico III, o percentualde freqüência escolar das crianças e adolescentes do PETI é superior a 74% em 89% dosmunicípios, o que demonstra que a exigência da freqüência mínima vem sendo obedecidana grande maioria dos municípios da amostra, enquanto que cerca de 11% indicaramfreqüência inferior a 74%.

Para o recebimento da Bolsa é necessário que seja cumprida freqüência mínima na escolae na jornada ampliada, caso contrário, suspende-se a bolsa até que a freqüência mínimaexigida seja alcançada. Diante dos dados indicados no Gráfico III, registra-se a necessida-de de verificar as estratégias utilizadas em âmbito municipal para a situação daquelesbeneficiados que não alcançam a freqüência mínima exigida e a responsabilidade da redeeducacional diante do cenário apresentado.

Alguns estados adotaram como norma complementar do PETI o encaminhamento ao

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

23 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

governo do estado pelos municípios, do controle da freqüência escolar e da jornada ampli-ada, o que pode ter sido fator contribuinte para a garantia das informações pelos municí-pios. Enfim, a supervisão dos gestores estaduais pode desencadear um processo de maiorcontrole das ações desenvolvidas pelo Programa.

Os Gráficos IV e V mostram os percentuais de evasão e repetência escolar das crianças e dosadolescentes atendidos pelo PETI.

Diante dos dados apresentados, registra-se que os fatores constitutivos desta realidadenão podem se reduzir à execução do PETI, pois o processo de implantação do Programaocorreu em momentos diferentes para cada localidade e a análise do sucesso escolar re-quer a incorporação de diferentes variáveis que não foram consideradas.

Além disso, não há dados e informações registrando que os municípios realizaram análi-ses de situação anteriores à implantação do PETI, com vistas a uma avaliação referente àtrajetória escolar das crianças e adolescentes após sua incorporação ao PETI.

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na Análise Situacional doPETI, 2003.

O questionamento sobre como foram aferidas as informações acerca dos impactos do PETIna vida escolar da criança e do adolescente, apresenta-se como necessário diante do cená-rio de ausência histórica de efetiva articulação entre as políticas públicas brasileiras.Confiar credibilidade absoluta às informações prestadas, seria reconhecer que omonitoramento, pelo menos em âmbito da coleta de dados, do processo escolar das crian-ças e dos adolescentes do PETI, ocorre de maneira satisfatória.

Merece ser aprofundado como o PETI realiza a sua proposta pedagógica em relação àquelaadotada nas atividades da rede educacional local. Registra-se ainda que determinadasunidades da federação consolidam os mecanismos de acompanhamento e monitoramentodos municípios de forma eventual e superficial.

Conforme o Gráfico VI, pode ser verificado que cerca de 92% das mães não concluíram oensino fundamental, o que demonstra a reprodução do ciclo de pobreza e vulnerabilidadesocial, estando essas famílias mais suscetíveis à necessidade de inserção de crianças eadolescentes no trabalho precoce.

24Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

De acordo com o Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileiras (UNICEF,2003), o nível educacional da mãe tem impacto direto na situação econômica da criançae do adolescente. No entanto, apesar da escolaridade da mãe representar aspecto impor-tante nas situações de iniqüidade, esta não pode ser considerada determinante devido àdiversidade de fatores interdependentes que geram a iniqüidade da sociedade brasileira.

3.4 Jornada ampliada

Nas informações disponibilizadas pelos municípios sobre a jornada ampliada, verificou-seque 58% do universo investigado garantem uma carga horária média de mais de 4h diári-as, enquanto que cerca 40% oferecem 3h diárias, 3% disponibilizam 2h e 0,2% apenas 1h.Os dados obtidos nos municípios quando questionados sobre a carga horária semestral decapacitação para os monitores estão indicados no Gráfico VII.

Nos questionários oriundos dos estados, 64% do universo analisado responderam sobre amédia de horas semestral de capacitação oferecida aos monitores, sendo que cerca de 33%das respostas registraram de 11h a 20h, 27% até 10h, 20% de 21h a 30h e 20% acima de 30h.

Os informantes dos estados (83%) afirmaram que uma de suas atribuições é a capacitaçãode equipe técnica. Todavia, a carga horária destinada a capacitação dos monitores parece

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.1 9

19 Segundo a Lei 9394/96 – Lei de

Diretrizes e Bases da Educação, os níveis demodalidade de educação e ensino devem ser

classificados como educação básica,formada pela educação infantil, ensino

fundamental e ensino médio, sendo de 1ª a 5

ª

série – primeira fase do ensinofundamental; de 6

ª a 8

ª série – segunda fase

do ensino fundamental; segundo grauincompleto – ensino médio incompleto;segundo grau completo – ensino médio

completo. As questões referentes ao grau deescolaridade não obedeceram às categorias

definidas pela legislação em vigor.

25 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

estar sendo objeto de intervenção limitada das esferas do poder público. Destaca-se aindaa ausência de uma proposta básica de capacitação para os monitores do PETI, com exten-são a todo território nacional, porém passível de adequações frente às realidades regionaise locais. Ressalta-se que as diretrizes do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT contem-plam como prioridade a formação de educadores, incluindo a capacitação dos monitores.Os estados e municípios, através de suas comissões de emprego, devem estabelecer essaprioridade em seus planos, a partir das demandas identificadas.

Quanto à seleção dos monitores pelos municípios, pode-se identificar que um mesmomunicípio possui mais de uma maneira para seleção. As formas que apresentaram maiorimportância podem ser verificadas no Gráfico VIII.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

No que tange aos dados registrados pelos estados, cerca de 29% dos questionáriostraziam informações sobre as formas de seleção dos monitores. Destes, aproximada-mente 17% indicaram “outros”, 8% prova escrita e 4% indicação política. Quandoperguntados se contratam os monitores, 29% (7) dos estados informaram positiva-mente, sendo que destes, 8% responderam que com carteira assinada e 21% sem cartei-ra assinada.

A impossibilidade de generalização no que concerne às respostas dos estados, pode ser umindicativo da ausência da maior parte dos governos estaduais no processo de contrataçãode monitores, ficando a cargo dos municípios arcar com as despesas de pessoal. Estespodem contar com 30% dos recursos repassados para execução da jornada ampliada, pelaesfera federal, para pagamento dos monitores.

De acordo com os municípios, a contratação dos monitores é realizada diretamente pelosmunicípios (76%) e não está, em sua maioria, vinculada à assinatura da carteira (81% dosmunicípios). O Gráfico IX indica as formas de contratação apresentadas. É relevante onúmero de monitores que ainda está contratado de forma irregular, sem a garantia dosdireitos trabalhistas. Cerca de 26% dos municípios informaram como dificuldade paraimplantação e implementação do PETI, a viabilização dos monitores.

A problemática das diversas formas de contratação dos monitores está relacionada àslimitações dispostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A natureza da transferência derecursos federais ao município pelo PETI não permite a contratação dos monitores peloregime estatutário, pois esta forma de contratação exige o aumento permanente de recei-tas ou a redução permanente de despesas.

26Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

As crianças e os adolescentes do PETI sofrem o reflexo de contratações estabelecidas deforma precária, onde os monitores não estão subordinados a padrões mínimos de contratação,gerando relações de trabalho fragilizadas e possíveis interferências políticas na escolha depessoal para a execução da jornada ampliada. A qualidade do serviço prestado decorre tam-bém das questões trabalhistas geradas entre monitores e seus contratantes.

Quanto à relação do número de crianças e adolescentes por monitores, as informaçõesadvindas dos municípios mostraram que: 43% dos municípios analisados registram umamédia de até 25 crianças por monitor; em 31% dos casos a relação é de 26 a 30 crianças,18% das respostas registraram uma média de 31 a 40 crianças e 9% dos municípios infor-maram que a relação é de 40 crianças e adolescentes para cada monitor.

No que concerne ao percentual de freqüência das crianças e dos adolescentes na jornadaampliada, cerca de 87% dos municípios informaram que é acima de 74%; 11% indicaram estarentre 60% e 74%; 1% até 50% e 1% entre 51% e 59%. Aproximadamente, 14% das crianças e dosadolescentes não conseguem alcançar a freqüência mínima exigida na jornada ampliada.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

27 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Os Gráficos X e XI mostram os dados obtidos quanto à evasão na jornada ampliada e suasprincipais causas. Percebe-se pelos dados apresentados que a realidade educacional naescola regular e na jornada ampliada, ainda não conseguiu responder ao problema dainclusão escolar. Entre as principais causas de evasão da jornada ampliada, as duas primei-ras apontam para questões vinculadas a situações de trabalho que, mesmo eventuais,afetam o desempenho das crianças e dos adolescentes na jornada.

Vale destacar que o fracasso escolar (evasão, repetência, abandono) para ser superado,precisaria ter as zonas de vulnerabilidade e exclusão erradicadas. Esta é uma questãoextremamente importante, acarretando a reflexão, sobretudo sobre a escola pública e ajornada ampliada e o papel que desempenha o educador e o monitor face aos pobres.

A qualidade da educação formal na escola pública e nas ações educativas da jornada ampli-ada deve ser um compromisso político. Neste sentido, o educador e o monitor têm tam-bém uma enorme importância política, principalmente porque o educador e o monitorafetam o educando, podendo o educador influenciar sobre os aspectos positivos ou nega-tivos do encontro escolar. O encontro positivo para o educando influencia a produção deuma subjetividade positiva e um imaginário sobre si e sua classe social vinculada à realida-de do Brasil e do mundo. O encontro negativo afeta o educando pobre, o decompõe einculca nele a responsabilidade do fracasso escolar, intensificando o risco de exclusãoescolar. Aliás, a escola praticamente não reflete sobre si e sobre suas responsabilidades emrelação ao processo de aprendizagem dos educandos. Os fracassos são vistos como respon-sabilidade dos próprios educandos.

Sobre as causas da evasão da jornada ampliada (Gráfico XI), convém registrar que determi-nados informantes tiveram dificuldades em responder a questão conforme solicitava oenunciado, devendo os resultados serem vistos com a devida cautela.

A escola e a jornada ampliada empobrecidas de tempo e de recursos, a primeira, isolada dacultura e sua pedagogia separada da vida social, tem enorme incapacidade de realizar-secomo eixo de ligação vertical entre o passado e o futuro e como um elo horizontal entre afamília e a comunidade. Esse lugar deve ser reconquistado, mas nunca mistificado. Educa-ção e aprendizagens não são mitos, mas realidades que exigem esforço, regularidade erigor.

A educação deve ser vista como uma experiência de trabalho e a escola como de um espaçode esforço e rigor persistentes. A permissividade da escola e o ensino como seqüêncialúdica, centrados nos aparentes interesses exclusivos dos educandos, podem estar escon-

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

28Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

dendo uma enorme indiferença com as classes pobres, conforme indicado por Lévi-Strausse trabalhado por Carlos Rodrigues Brandão.

A Tabela 4 demonstra os materiais e serviços oferecidos às crianças e adolescentes najornada ampliada pelos municípios.

Tabela 5 – Atividades desenvolvidas com as crianças e adolescentes na jornadaampliada por município (%)

Fontes: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Atividades Municípios

Atividades esportivas 94,51

Reforço escolar 94,14

Atividade de lazer e recreativa 92,20

Atividades culturais 86,34

Atividades artísticas 85,28

Atividades de construção da cidadania 62,32

Acesso à informática 18,78

Iniciação ao trabalho (profissionalização) 15,91

Tabela 4 – Materiais e serviços oferecidos às crianças e adolescentes na jornadaampliada por município (%)

Fontes: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Materiais e serviços Municípios

Alimentação 97,88

Materiais escolares 90,46

Materiais esportivos 89,15

Uniformes 81,78

Materiais artísticos 77,54

Brinquedos pedagógicos 76,98

Assistência odontológica 51,28

Assistência médica 48,53

Computadores 16,53

Os materiais e serviços menos significativos foram: assistência odontológica (51%), assis-tência médica (49%) e oferta de computadores (17%), evidenciando uma articulação limi-tada da jornada ampliada, não somente com a rede regular de ensino, como também como sistema de saúde. A Tabela 5 demonstra as atividades desenvolvidas com as crianças e osadolescentes na jornada ampliada.

Cerca de 16% dos municípios informaram que é desenvolvida iniciação ao trabalho, o quecontraria as diretrizes e normas do Programa. O objetivo da jornada ampliada é direcionara criança e o adolescente ao seu processo de aprendizado e melhoria do seu desenvolvi-mento, não fazendo parte da sua proposta a execução de atividades voltadas para iniciaçãoao trabalho, profissionalização ou semi-profissionalização. Tal fato, pode evidenciar en-tendimento diverso dos objetivos da jornada ampliada por parte de alguns gestores muni-cipais, uma vez que, em termos absolutos, esse entendimento foi apresentado por 255municípios. O dado registra também a preocupação de gestores municipais na garantia do

29 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

acesso ao mercado de trabalho. A situação de pobreza, conjugada à ausência ou escassaperspectiva de trabalho, nos centros urbanos e nas áreas rurais, induz as famílias, ospróprios adolescentes e diversas entidades municipais, a criarem mecanismos para o in-gresso no mercado de trabalho.

O PETI propicia condições à criança e ao adolescente atendidos de terem acesso a bens eserviços, em especial ao direito à educação, garantindo-lhe também alimentação. No en-tanto, ao ser desligado do Programa questiona-se sobre as alternativas propostas às famí-lias nesta situação, pois o caráter assistencialista do Programa dificulta a emancipação dasfamílias.

O Gráfico XII mostra o custo médio per capita da jornada ampliada por município.

Cerca de 61% dos municípios registraram que o custo médio per capita é de até R$25,00, oque se distancia muito dos valores repassados pelo governo federal (R$20,00 per capita paraárea rural e R$10,00 per capita para área urbana), tendo em vista que a análise compreende,em sua maioria, beneficiados da área urbana. Esses dados remetem a conclusão de que ovalor repassado pelo governo federal não corresponde às necessidades dos custos paraexecução da jornada ampliada. Assinala-se que cerca de 20% dos municípios disponibilizamacima de R$40,00 para o custo médio per capita.

O montante destinado à jornada ampliada nos municípios deve ser analisado tendo comoreferência as seguintes situações: a realidade fiscal de determinados municípios que nãotêm como arcar com uma contrapartida maior; a inadequação dos valores atuais do repas-se por criança e adolescente efetivados pelo governo federal; a questão de decisão políticae financeira quanto ao montante de recursos que é destinado no orçamento do municípiopara as atividades da jornada e a necessidade de buscar fontes de recursos alternativas àcomplementação da jornada.

Os dados obtidos sobre a complementaridade dos recursos financeiros para a jornadaampliada foram de apenas três estados (13%). Daqueles que responderam, dois (9%) assi-nalaram que a complementação per capita mensal estava compreendida na faixa de R$11 aR$25,00 e um (4%) informou que sua complementação se inseria na faixa de R$26,00 aR$40,00. Esses dados reafirmam a ausência de grande parcela dos estados nacomplementaridade dos recursos para a jornada. O questionário indicava que somentedeveria responder a esta questão aquelas unidades federativas que realizassem acomplementação. Talvez por esta condicionalidade o percentual de respostas tenha sidotão baixo.

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na Análise Situacional doPETI, 2003.

30Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

No Gráfico XIII verifica-se a distribuição da escolaridade dos monitores.

O Gráfico XIII mostra que há diversidade na escolaridade dos monitores, face à falta denormatização para a admissão dos mesmos. Registra-se que quase 1/3 dos monitores nãopossuem 2º grau completo, o que possivelmente tem reflexo negativo nas ações executa-das. A problemática do trabalho infantil está associada também a fatores culturais queindependem do grau de escolaridade.

3.5 Família

De acordo com as informações dos municípios, foi realizado cadastramento único dasfamílias do PETI em cerca de 96% dos municípios, sendo que aproximadamente 89% jáefetivaram mais de 70% do cadastramento das famílias. Vale enfatizar que a efetivação docadastramento único pode representar uma fonte de informação sobre questões impor-

Serviços Municípios

Reunião para sensibilização e conscientização 84,65

Encaminhamento aos serviços de saúde 67,94

Escolarização 53,52

Acesso à informação 52,78

Apoio psicossocial 48,35

Geração de trabalho e renda 47,72

Socialização e lazer 46,35

Acesso à cultura 35,12

Ampliação do universo informacional 34,56

Qualificação e requalificação profissional 32,75

Assistência advocatícia 22,96

Outros 22,58

Nenhum 2,25

Tabela 6 – Serviços oferecidos às famílias beneficiadas pelo PETI por municípios (%)

Fontes: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

31 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

tantes, como, por exemplo, dados sobre a realidade do atendimento das crianças e dosadolescentes oriundos do trabalho precoce.

A divergência de informações entre estados e municípios suscita a indagação de quãoconfiável são as informações ali registradas. Cabe lembrar o desastroso processo deimplementação do cadastro, por parte do governo federal, sem nenhuma articulaçãomais efetiva com os estados.

Sobre as reuniões socioeducativas realizadas com as famílias, questão não remetida aosestados, foi informado por 56% dos municípios que a média de horas mensal é de 1h a 2h,23% é de 3h, 15% mais de 4h, e 6% informaram não realizar reuniões.

Quanto aos serviços oferecidos às famílias, as informações prestadas pelos municípiosestão registradas na Tabela 6.

A questão sobre os serviços oferecidos às famílias do PETI, quando remetida aos estados,demonstrou os seguintes resultados: em aproximadamente 58% das respostas foi infor-mado que era oferecido qualificação e requalificação profissional; cerca de 46% acesso àinformações; 46% geração de trabalho e renda; e 42% reuniões para sensibilização econscientização. Em 2002, foram disponibilizados, a todas unidades federativas, recursosdestinados à geração de emprego e renda para as famílias do PETI, o que remete a conclu-são que todos estados deveriam ao menos oferecer programas de geração de emprego erenda às famílias do Programa.

Quando questionados acerca do percentual de pais inseridos em programas ou projetos degeração de emprego e renda, os municípios prestaram as seguintes informações: 46%revelam que até 30% dos pais estão inseridos, 36% assinalaram 0%, enquanto 14% regis-traram de 31% a 70%, e 3% acima de 70%.

Dos municípios analisados, aproximadamente 73% informaram haver dificuldadesna participação dos pais em programas de geração de emprego e renda, sendo estadificuldade atribuída, principalmente, em 38% dos casos, à resistência da família emparticipar (medo de perder a bolsa); 36% responsabilizaram a limitação de progra-mas ou projetos; 31% atribuíram a ausência daqueles; 19% à dificuldade de acessoaos programas e projetos existentes; e 12% dada a pouca atratividade de programas eprojetos.

O medo de perder a bolsa, como fator preponderante na questão da inserção em projetos degeração de emprego e renda, remete à necessidade de análise da eficácia desses projetos, eaponta a relação de dependência estabelecida pelo repasse da bolsa. Todavia, experiênciasexitosas registradas, demonstram que os programas de geração de emprego e renda, quan-do realizados mediante planejamento adequado, dimensionam as potencialidades do Pro-grama, superando os desafios.

Cerca de 69% dos municípios informaram que até 50% dos pais e/ou responsáveis,estão inseridos em projetos de escolarização ou educação para adultos, em detrimentode 24% que não inseriram nenhum pai e/ou responsável na ação, e aproximadamente8% assinalaram que tal inserção ocorria com 50% ou mais dos pais e/ou responsáveisbeneficiados pelo Programa. Assinala-se que sobre a escolarização das mães obteve-se100% de respostas dos municípios, enquanto a segunda indagação - inserção em pro-jetos ou programas de escolarização ou educação para adultos -, atingiu um percentualde 94%.

A articulação ineficiente entre a política de assistência social e a política de educação éconstatada, não somente nas atividades da jornada ampliada, mas também na situação deescolaridade dos responsáveis pelas crianças e adolescentes atendidos pelo PETI.

32Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

3.6 Dados gerais

Os dados gerais foram consolidados obedecendo as seguintes informações: impacto doPETI nos índices de trabalho infantil; atuação das Comissões de Erradicação do TrabalhoInfantil; e gestão do PETI.

3.6.1 Impacto do PETI nos índices de trabalho infantil

Na maioria dos estados e municípios ocorreu redução do trabalho infantil, conformeinformação registrada por 100% dos estados e cerca de 98% dos municípios analisados. Noentanto, não ocorreu erradicação do trabalho infantil, segundo informação assinaladapor cerca de 88% dos estados e em torno de 69% dos municípios (Tabela 7).

Cerca de 40% dos municípios informaram que a cobertura do Programa está entre 40% a 69%,enquanto que 29% registraram que está entre 70% e 99%, 26% informaram que é de até 39%da demanda e somente 5% registraram 100%. Destaca-se que esses dados mereceriam maioratenção face às dificuldades que os municípios enfrentam para mensurar, com confiabilidadedevida, o quantitativo de crianças e adolescentes inseridos no trabalho infantil.

Considerando-se que o Programa atua tomando por referência as demandas apresentadaspelos municípios, o elevado percentual de municípios atendidos pelo PETI que não alcan-çaram a cobertura de 100% permite duas interpretações: as demandas apresentadas paraatendimento no Programa pelos municípios não refletem, de fato, a realidade do trabalhoinfantil na localidade, levando a apresentação de demandas subdimensionadas, sem ne-nhum respaldo em diagnósticos precisos sobre a realidade do trabalho precoce; a inefici-ência de políticas de prevenção do trabalho infantil associada à fragilidade dos mecanis-mos de fiscalização e monitoramento, resulta na inserção contínua de novas crianças eadolescentes no trabalho precoce.

Quanto ao abandono de crianças e de adolescentes do Programa, foi verificada a seguintesituação: aproximadamente 71% dos municípios informaram que o percentual de abando-no é de até 10%, 20% registraram que não ocorre abandono e 6% assinalaram que o percentualde abandono gira entre 11% a 20%, enquanto que 3% informaram estar acima de 20%.

Pela Tabela 8 registra-se uma migração elevada, sendo este o principal motivo de abando-no do Programa. Essa migração pode se dar em função da procura por atividade geradorade renda, ou em função de situações de pobreza. Todavia, tal análise merece maioraprofundamento. O fato da maioria dos municípios indicar a migração não significa,necessariamente, o principal motivo de abandono do Programa. O percentual reflete adimensão do universo que respondeu à questão. A mudança para outro programa pode seroriginada pela possibilidade de outras intervenções mais favoráveis do ponto de vista dasfamílias.

Outra observação diz respeito a ausência ou ineficiência de um sistema de informaçõesque possibilite a flexibilidade para a realização do remanejamento de crianças e adoles-

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Erradicação do Estados Municípiostrabalho infantil

SIM 12,50 26,59

NÃO 87,50 69,49

NÃO SABE 3,92

Tabela 7 – Erradicação do trabalho infantil por estado e município (%)

33 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

centes de um município para outro, de forma articulada, em face da mudança residencial,não sendo necessária a retirada da criança ou do adolescente do Programa. Há dificuldadede identificação do motivo da criança não querer mais participar (cerca de 31%), devido àausência de investigação qualitativa adequada. Além disso, a análise da Tabela 8 fica pre-judicada por não ter sido identificado qualitativamente o que se denominou por “outros”.Os dados quanto ao percentual de retirada do trabalho de crianças e adolescentes inseri-dos no PETI registraram, segundo os municípios, as seguintes situações: 49% informaramque de 80% a 99%; 28% indicaram que menos de 80% efetivamente foram retiradas dotrabalho; e 23% registraram que todas as crianças e adolescentes foram retiradas do traba-lho precoce.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Tabela 8 – Motivos de abandono das crianças e adolescentes do PETI pormunicípio (%)

Motivos Municípios

Mudança domiciliar de estado e/ou município 73,42

Criança não quer continuar no PETI 31,19

Valor da Bolsa 20,09

Mudança para outro programa 19,28

Outros 23,33

Cerca de 47% dos municípios analisados indicaram não existirem crianças e adolescentesatendidos no PETI que ainda trabalham nos horários vagos, nas férias escolares, à noite,ou nos finais de semana. Porém, 37% dos municípios informaram que existem casos decrianças e adolescentes atendidos pelo PETI que ainda trabalham em seus tempos vagos, e16% não souberam informar.

As informações apresentadas indicam duas hipóteses: as ações desenvolvidas pelo Progra-ma não estão rompendo com a cultura de que o trabalho enobrece a criança e/ou o adoles-cente que trabalha, e/ou o recurso disponibilizado às famílias não é suficiente para garan-tir sua sobrevivência, obrigando as mesmas a inserirem seus filhos no mercado de traba-lho, nos horários vagos.

3.6.2 Atuação das Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil

As questões referentes às Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil trataram da suacriação e funcionamento, composição e parcerias.

Cerca de 73% dos municípios informaram que a Comissão foi criada oficialmente e estáfuncionando; 19% assinalaram que foi criada oficialmente e não está funcionando; 5%não foi criada oficialmente e está funcionando e 3% não foi criada oficialmente e não estáfuncionando. Os dados apresentados pelos municípios remetem à conclusão de que aexigência de criação da Comissão para implantação do PETI não está sendo obedecidaplenamente. Em cerca de 96% dos estados, foram criadas e estão funcionando; enquanto4% registraram que foram criadas oficialmente e não estão funcionando. Quanto à com-posição das Comissões, as respostas emitidas pelos estados e municípios pode ser verificadana Tabela 9.

Observa-se que a participação dos Conselhos Setoriais, de Direitos e Tutelares ainda élimitada e sem a devida qualificação, na composição das Comissões, tanto estadual quantomunicipal, assim como a representação de empregados e empregadores, demonstrandoausência de segmentos importantes no processo de prevenção e erradicação do trabalhoinfantil.

34Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Cerca de 96% dos estados e 86% dos municípios informaram que, entre os representantesdas Comissões, encontram-se membros da Secretaria de Educação. Estes resultados mere-cem ser aprofundados, pois uma das questões relevantes a serem tratadas no reordenamentodo PETI, refere-se à desarticulação entre o sistema educacional e o PETI.

Sobre o quantitativo de reuniões realizadas nos últimos 12 meses, no caso das Comis-sões Estaduais, as duas respostas mais representativas foram: seis reuniões (45% dosEstados) e 12 reuniões (27% das respostas estaduais). Segundo os municípios, em setratando das Comissões Municipais, cerca de 35% daquelas se reuniram menos de 4vezes nos últimos 12 meses, 28% se reuniram 6 vezes, 20% quatro vezes, 13% doze vezes,4% mais de 12 vezes.

O fato das Comissões se reunirem de forma tão esporádica, sem dúvida compromete ofuncionamento do Programa, uma vez que o mesmo não é monitorado de forma sistemá-tica e contínua, possibilitando a ocorrência de falhas, inadequações, desvios, irregularida-de etc. Para assegurar um acompanhamento adequado do Programa, seria necessário queas Comissões se reunissem minimamente uma vez a cada mês, o que possibilitaria a iden-tificação de possíveis problemas e a busca de soluções para os mesmos.

Quanto às parcerias estabelecidas no âmbito das Comissões Municipais com as organiza-ções governamentais - OGs e organizações não governamentais - ONGs, os resultadosdemonstraram que aproximadamente 78% dos municípios estabelecem parcerias, sendoque cerca de 72% informaram com Secretarias Municipais; 39% com igrejas; 30% comONGs; 21% com sindicatos; e 18,4% com outros parceiros.

3.6.3 Gestão do PETI

A análise realizada buscou identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos estadose municípios para implantação e execução do PETI. A Tabela 10 demonstra os resultadosobtidos.

A limitação de recursos financeiros pode ser oriunda do baixo co-financiamento de al-guns estados e municípios que nem sempre priorizam o PETI em seus orçamentos, con-tando apenas com os recursos repassados pelo governo federal e aqueles exigidos por leipara contrapartida

21. Além disso, os recursos financeiros repassados pela esfera federal

não são suficientes para responder a demanda existente.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Tabela 9 – Composição das comissões de erradicação do trabalho infantil porestado e município (%)

Componentes Estados Municípios

Conselhos setoriais 33,33 29,13

Conselhos de Direitos 62,50 51,22

Conselhos Tutelares 25,00 53,34

Representante de empregados 33,33 18,84

Representante de empregadores 25,00 11,92

Ministério Público do Trabalho 20 - 16,78

Ministério do Trabalho e Emprego 100 10,11

Representante da Secretaria de Educação 95,83 85,96

Representante de outras Secretarias 87,50 23,52

Organizações não governamentais 95,83 68,43

Outros 54,17 31,57

20 A participação do MPT não foi incluída

como categoria no questionário remetido aosestados, quando perguntava sobre os

participantes na Comissão de Erradicaçãodo Trabalho Infantil. Vale ressaltar que oMPT participa em diversas Comissões de

Erradicação do Trabalho Infantil.

21 Registra-se que há diferenciação entre co-financiamento entre municípios e estados,

sendo que nos casos de municípiosdescentralizados os estados não efetuam co-

financiamento para a execução doPrograma.

35 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

A dificuldade na disponibilização de espaços físicos para realização da jornada ampliada éagravada pela limitada articulação dos municípios com o sistema educacional,inviabilizando a otimização dos espaços existentes. Registra-se que esta é uma dificuldadeque possui equivalência diferenciada entre estados (84%) e municípios (57%).

O valor da bolsa foi apontado como impasse para implantação do PETI. Além disso, oatraso no repasse da mesma é motivo para retorno das crianças e adolescentes ao trabalho.

Quanto ao transporte para acesso à escola ou à jornada ampliada, esta dificuldade torna-semaior na área rural, que não conta com escolas e pólos de jornada ampliada de fácil acesso,o que requer muitas vezes a disponibilidade de transportes para essas crianças e adoles-centes, conforme informações fornecidas pela Gerência Nacional do PETI.

Outra dificuldade foi a pouca ou nenhuma sensibilização da família, tendo relação estrei-ta com aspectos enraizados de reduzida ou inexistente participação das famílias comosujeitos no desenvolvimento de intervenções sociais públicas, preponderando o paradigmada cultura assistencialista, mas também a compreensão do trabalho como um valor que sesobrepõe à educação. Como mencionado, não se registraram trabalhos que desconstruamos mitos que perpassam a questão do trabalho infantil.

A condicionalidade da Certidão Negativa de Débito para fins de repasse surge como aspec-to negativo. Segundo informações da Gerência Nacional do PETI, o índice de inadimplênciados municípios gira em torno de 30%, impossibilitando o repasse de recursos, o quemuitas vezes prejudica a execução do PETI e penaliza as famílias. Ressalta-se que estadificuldade é apontada de modo mais enfático pelos estados (71%), levando à hipótese quehá um alto número de municípios que ainda não é descentralizado.

Alguns aspectos negativos coincidem entre estados e municípios, com valores percentuaissignificativos: a limitação de recursos financeiros, custo da jornada ampliada, espaço físi-

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Dificuldades Estados Municípios

Limitação de recursos financeiros 79,17 80,10

Pouco ou nenhuma mobilização política ou social 25,00 15,91

Escolas não comportavam as crianças 16,67 15,10

Espaço físico para realização da jornada ampliada 83,83 56,52

Transporte para acesso à escola ou jornada ampliada 66,67 35,68

Falta de informação sobre o PETI 22 - 18,96

Falta de apoio do governo estadual 23 - 34,62

Viabilização dos monitores 24 - 26,26

Custo da jornada ampliada 54,17 58,58

Pouca ou nenhuma sensibilização das famílias 33,33 34,81

Valor da bolsa 33,33 37,93

Ausência de escolas 4,17 7,11

Atrativos de outros programas 16,67 14,16

Condicionalidade da CND para repasse de recursos 70,83 23,96

Pouca ou nenhuma sensibilização dos gestores municipais 45,83 6,80

Outros 12,50 6,05

Tabela 10 – Dificuldades para a implantação e execução do PETI por estado emunicípio (%)

22 Esta categoria não constava doquestionário enviado aos estados.

23 Idem.

24 Idem.

36Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

co para realização da jornada ampliada, pouca ou nenhuma sensibilização das famílias e ovalor da bolsa. Entre eles, dois (limitação de recursos financeiros e valor da bolsa) estãorelacionados diretamente à questão do financiamento do Programa.

Verifica-se na Tabela 11 as informações prestadas pelos estados e municípios com relaçãoaos resultados obtidos pelo PETI.

Fonte: questionários preenchidos pelos municípios compreendidos na Análise Situacional do PETI, 2003.

Tabela 11 – Principais resultados do PETI por estado e município (%)

Resultados Estados Municípios

Melhoria na qualidade do ensino 54,17 82,78

Melhoria na auto-estima da criança, adolescente e/ou família 25,00 94,82

Melhoria no desenvolvimento físico das crianças 62,50 83,09

Melhoria no comércio local 70,83 64,94

Melhoria na qualidade de vida das famílias 87,50 85,53

Fortalecimento dos laços familiares 79,17 67,25

Mobilização social contra o trabalho infantil 54,17 75,30

Melhoria no aproveitamento, desempenho escolar da criançae adolescente 91,67 86,46

Ampliação do conhecimento das crianças e adolescentes 87,50 83,59

Melhoria na capacidade de geração de renda da família 58,33 57,83

Redução do trabalho infantil 95,83 90,89

Compreensão dos malefícios do trabalho infantil 66,67 67,44

Outros 4,17 2,18

Alguns resultados ganham maior visibilidade nos municípios, em detrimento do resulta-do apontado pelos estados. São eles: melhoria na qualidade de ensino, melhoria na auto-estima da criança, do adolescente e/ou da família, melhoria no desenvolvimento físico dascrianças e mobilização social contra o trabalho infantil.

A maioria dos municípios (64%) considerou que o PETI atinge o objetivo proposto de retirara criança e o adolescente do trabalho. Outros 35% consideraram que o PETI não o atinge e 1%não soube responder. O não cumprimento do objetivo é atribuído a: as metas não atendem ademanda (37%); o valor da bolsa não é suficiente (28%); a cultura do trabalho infantil é aindamuito forte (23%); a jornada ampliada não é suficientemente atrativa (5%); e outros (8%).

Quanto à principal fragilidade do PETI, o trabalho com as famílias merece destaque por tersido elencado por 40% dos municípios. Outras fragilidades enfatizadas foram: forma depagamento das bolsas às famílias (24%); participação e controle social (17%); propostapedagógica do PETI (6%); e outros (13%).

De modo geral, a análise dos dados indica que as ações relativas à educação, jornada ampli-ada e famílias para prevenção e erradicação do trabalho infantil, requerem conhecimentodetalhado sobre as suas características e conseqüências, por parte de todos os encarrega-dos da implementação do Programa. No entanto, este requisito ainda não está garantido.

3.7 Comparativo entre dados de 2000 e 2003

Em 2000, eram atendidos pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil 394.969crianças e adolescentes de 975 municípios das 27 unidades da federação. Comparativa-mente, em 2003, o PETI atendeu 809.148 crianças e adolescentes (dados de agosto de2003) em 2.601 municípios, nas 27 unidades federativas.

37 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

25 A metodologia utilizada, a aplicação dos

questionários e os resultados apresentados de2000, foi realizada pela Gerência Nacionaldo PETI da Secretaria de Estado deAssistência Social.

Fonte: Relatório de Gestão 2001 - PETI e questionários respondidos pelos municípios na Análise Situacional doPETI, 2003.

Tabela 12 – Freqüência à escola das crianças e dos adolescentes atendidos pelo PETIpor município (%)

2000 2003

Freqüência Municípios Freqüência Municípios

Acima de 74% 92 Acima de 74% 89,42

De 60% a 74% 6 De 60% a 74% 8,98

Até 50% 2 De 50% a 59% 0,53

Até 49% 1,06

Fonte: Relatório de Gestão 2001 - PETI e questionários respondidos pelos municípios na Análise Situacional doPETI, 2003.

Tabela 13 – Repetência escolar das crianças e dos adolescentes atendidos peloPETI por município (%)

2000 2003

Repetência Municípios Repetência Municípios

0% 32 0% 17,66

Até 10% 53 Até 10% 64,27

De 11% a 20% 11 De 11% a 20% 15,65

Acima de 20% 4 Acima de 20% 2,42

A avaliação nacional do PETI, realizada em 2000, contou com 65% dos municípios aten-didos (637). Esse universo compreendia 271.649 crianças e adolescentes, o que represen-tava 69% da população atendida. Os instrumentos de avaliação refletiam a realidade de167.990 famílias, 5.975 centros de jornada ampliada e 10.467 monitores.

A análise situacional do PETI, em 2003, teve como universo 1.603 municípios (62%), douniverso total atendido, os quais representam 500.663 crianças e adolescentes beneficia-dos, o que significa 62% daqueles atendidos e 319.792 famílias. As informações refletem arealidade de 8.316 centros de jornada ampliada e 19.443 monitores.

Em 2003, a metodologia empregada na Análise Situacional do PETI, foi similar a avaliaçãodo Programa empreendida em 2000

25. No entanto, há a possibilidade de que, em um ou

outro momento avaliado, o levantamento dos dados e das informações pode não ter refle-tido adequadamente a realidade. A disposição da comparação obedeceu aos aspectos esta-belecidos no instrumento de avaliação, ou seja, dados quanto à educação, à jornada ampli-ada, à família e aos dados gerais.

Quanto à educação (Tabela 12), foram identificados os seguintes dados:

A análise comparativa aponta que, quanto à freqüência escolar mínima exigida, ocorreuuma diminuição da porcentagem de municípios que informaram que as crianças e adoles-centes alcançaram patamares de freqüência superiores a 74%. Esta diminuição pode ter sedado pela ineficiência dos mecanismos de monitoramento do PETI, como também pelalimitada atuação do setor educacional.

As porcentagens apresentam que o índice de repetência escolar ainda é alto (Tabela 13), oque pode indicar que a qualidade das atividades da jornada ampliada apresenta-seinsatisfatória. Outras explicações podem ser assinaladas, tais como os mecanismos doprocesso de aprendizagem das crianças e dos adolescentes estão desarticulados e as auto-

38Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

ridades locais parecem não valorizar a questão. É corrente a reclamação, segundo a Gerên-cia Nacional do PETI, de ausência de propostas pedagógicas conjuntas entre o sistemaeducacional regular e as atividades desenvolvidas pelo PETI.

As questões referentes aos índices de evasão, aprovação escolar e melhoria na capacidadede ler, escrever e interpretar foram remetidas aos municípios, em 2003, de forma diferentedaquela elaborada em 2000, não permitindo comparação. Além disso, esses indicadoresrequerem processos de validação mais complexos do que o preenchimento de um questi-onário, pois os mesmos não integram os mecanismos de monitoramento do PETI.

Na Tabela 14 indicam-se dados referentes à jornada ampliada.

Fonte: Relatório de Gestão 2001 - PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

2000 2003

Crianças/Monitor Municípios Criança/Monitor Municípios

Até 25 39 Até 25 43,26

De 25 à 30 22 De 26 à 30 30,65

De 30 à 40 18 De 31 à 40 17,51

Acima de 40 21 40 8,58

Tabela 15 – Relação entre nº de crianças e adolescentes versus monitor por município (%)

Fonte: Relatório de Gestão 2001 - PETI e questionários respondidos pelos municípios na Análise Situacional doPETI, 2003.

Tabela 14 – Média de horas diária oferecida na jornada ampliada por município (%)

2000 2003

Média de horas Municípios Média de horas Municípios

4h 77 Acima de 4h 57,50

3h 21 3h 39,64

2h 2 2h 2,67

1h 0,19

A média de horas diária oferecida na jornada ampliada diminuiu. Esta informação leva aoquestionamento do possível descumprimento, por parte dos gestores locais, das normasdo Programa, exigindo análise mais aprofundada. A pesquisa indica uma tendência deredução na carga horária da jornada ampliada, já que, em 2000, 77% dos municípiospossuíam uma carga de 4 horas, contra 57,5% em 2003.

A distribuição de crianças e adolescentes por monitor se alterou entre os três anos, regis-trando uma relação mais próxima à recomendada pelas diretrizes do Programa em cerca de74% dos municípios, ou seja, até 30 crianças por monitor, o que pode representar umavanço e a preocupação dos municípios em aperfeiçoar o trabalho na jornada ampliada.

A escolaridade apontada em 2000 refletia condições diferenciadas às expostas em 2003,havendo um acréscimo de profissionais com nível superior (de 21% em 2000 para cerca de28% em 2003) e uma diminuição na admissão de monitores com segundo grau completoou incompleto (em 2000 representava 70% e em 2003 aproximadamente 63%).

Houve acréscimo da inserção dos pais das crianças e dos adolescentes do PETI em progra-mas ou projetos de geração de emprego e renda. Nota-se que ocorreu uma diminuição

39 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 16 – Escolaridade dos monitores da jornada ampliada por município (%)

2000 2003

Escolaridade Municípios Escolaridade Municípios

Superior 21 Superior completo 9,55

2º Grau 70 Superior incompleto 18,84

De 6ª a 8ª 7 2º Grau completo 40,96

De 1ª a 5ª 2 2º Grau incompleto 21,81

De 6ª a 8ª 6,13

De 1ª a 5ª 2,71

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na Análise Situacional doPETI, 2003.

2000 2003

Inserção GR Municípios Inserção GR Municípios

Acima de 70% 3 Acima de 70% 3,45

De 31% à 70% 8 De 31% à 70% 14,28

Até 30% 35 Até 30% 46,48

0% 54 0% 35,79

Tabela 17 – Inserção de pais em programas ou projetos de geração de emprego e renda pormunicípio (%)

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 18 – Inserção de pais em programas ou projetos de escolarização ou educação paraadultos por município (%)

2000 2003

Escolarização Municípios Escolarização Municípios

Acima de 70% 1 Acima de 70% 1,93

De 51% à 70% 4 De 51% à 70% 5,87

Até 50% 57 Até 50% 68,67

0% 38 0% 23,53

significativa no percentual de 0%, e uma alteração nos percentuais superiores a 0% einferiores a 70%, o que pode ser justificado pela implementação dos programas e projetosde geração de emprego e renda, financiados pela então Secretaria de Estado de AssistênciaSocial – SEAS. No entanto, ainda que se reconheça tal situação, esses percentuais nãogarantem resultados desejáveis de qualificação para o trabalho, não promovendo comeficácia condições de melhoria financeira das famílias atendidas.

Verifica-se também a baixa inserção dos pais em projetos de escolarização ou educaçãopara adultos. Enquanto estratégias significativas nos eixos que fortaleçam a famílianão forem desencadeadas pelo PETI, continuará havendo grande possibilidade de pre-domínio do assistencialismo e, como tal, será reproduzida a tutela empreendida his-toricamente pelo Estado, distanciando-se da perspectiva de promoção das famíliasatendidas.

Diante das diferentes categorias de análise, indicadas na Tabela 19, a comparação dosdados entre os dois períodos não pode ser realizada.

40Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 22 – Crianças e adolescentes retirados do trabalho inseridos no PETI por município (%)

2000 2003

Crianças e adolescentes Municípios Crianças e adolescentes Municípiosretirados do trabalho retirados do trabalho

100% 53 100% 22,63

Abaixo de 100% 47 De 80% à 99% 49,45

Abaixo de 80% 27,92

Os dados da Tabela 20 demonstram expressivo aumento no índice de abandono de crian-ças e adolescentes do PETI, o que pode ser explicado, entre outros fatores, pela implanta-ção de outros programas federais, como por exemplo, o Bolsa Escola, que não estabelecia,em suas normas, a condicionalidade das crianças não trabalharem e remetia ao municípioa responsabilidade pela execução de ações socioeducativas no contraturno, oportunizandoàs famílias serem contempladas pelo Programa e, ainda, contarem com umacomplementação da renda familiar, advinda do trabalho dos seus filhos, em período con-trário ao da escola. Segundo relatos da Gerência Nacional do PETI, ocorreu um númerosignificativo de famílias que optaram pelo Bolsa Escola, em detrimento do PETI.

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 19 – Cobertura do PETI por município (%)

2000 2003

Cobertura do PETI Municípios Cobertura do PETI Municípios

De 51% à 70% 4 100% 5,47

Até 50% 58 70% à 99% 29,20

0% 38 40% à 69% 39,62

Até 39% 25,71

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 20 – Abandono das crianças e adolescentes do PETI por município

2000 2003

Abandono do PETI Municípios Abandono do PETI Municípios

Acima de 20% 2,82

De 11% a 20% 3 De 11% à 20% 6,15

Até 10% 52 Até 10% 70,81

0% 45 0% 20,23

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 21 – Redução do trabalho infantil após a implantação do PETI por município (%)

2000 2003

Trabalho Infantil Municípios Trabalho Infantil Municípios

SIM 98 SIM 98,43

NÃO 2 NÃO 0,56

NÃO SABE 1

41 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 23 – Principais dificuldades para implantação e execução do PETI em 2000 e 2003por município (%)

2000 2003

Dificuldades % Dificuldades %

Limitação de recursos financeiros 81 Limitação de recursos financeiros 80,10para contrapartida

Espaços físicos para realização da 71 Custo da jornada ampliada 58,58jornada ampliada

Transporte para acesso à escola ou à 57 Espaços físicos para realização da 56,52jornada ampliada jornada ampliada

Escolas não comportavam as crianças 32 Valor da bolsa 37,93

Pouca ou nenhuma mobilização 20 Transporte para acesso à escola ou 35,68política ou social à jornada ampliada

Fonte: Relatório de Gestão 2001- PETI e questionários respondidos pelos municípios na AnáliseSituacional do PETI, 2003.

Tabela 24 – Principais resultados do PETI em 2000 e 2003 por município (%)

2000 2003

Resultados % Resultados %

Melhoria na auto-estima da criança e 98 Melhoria na auto-estima da criança, 94,82adolescente e/ou família adolescente e/ou família

Melhoria na qualidade de vida das famílias 95 Redução do trabalho infantil 90,89

Melhoria no desenvolvimento físico 93 Melhoria no aproveitamento e 86,46das crianças desempenho escolar da criança e

adolescente

Melhoria na qualidade de ensino 92 Melhoria na qualidade de vida 85,53das famílias

Fortalecimento dos laços familiares 86 Ampliação do conhecimento das 83,59crianças e adolescentes

Melhoria no comércio local 71 Melhoria no desenvolvimento físico 83,09das crianças

Após três anos, as dificuldades do Programa permanecem similares. É interessante notarque a primeira dificuldade remete à questão financeira. Em 2003, a maioria dos municípi-os destaca entre as principais dificuldades, três vinculadas às questões financeiras, o quenão ocorreu em 2000, podendo traduzir a acentuada queda dos valores, em termos reais,repassados pelo Programa. Registra-se que no Plano Plurianual 2004–2007, o PETI sofreusignificativo corte no seu orçamento, quando comparado com os orçamentos aprovados edisponibilizados para os anos anteriores.

A redução do trabalho infantil é apontada, em 2000 e 2003, como um resultado das açõesdo Programa por cerca de 98% dos municípios, o que reflete sua importância, enquantoestratégia de retirada de crianças e adolescentes do mundo do trabalho.

Em 2000, 53% dos municípios informaram que 100% das crianças saíram do trabalho,enquanto que em 2003 esta porcentagem é reduzida a 23% dos municípios. Essespercentuais expõem a fragilidade dos mecanismos de monitoramento, de fiscalização daexecução e outros fatores como a insuficiência de recursos disponibilizados pelo Progra-ma. Porém, a comparação fica prejudicada pelo fato de que as variáveis consideradas em2000 são inadequadas para registrar tal questão.

43 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Descrição e análisedas informaçõesNeste capítulo apresenta-se, para fins de análise das informações, as seguintes categorias:concepção, gestão, participação e controle social e financiamento. Além disso, são tam-bém considerados os mecanismos de monitoramento e avaliação do Programa, que quan-do existentes, são limitados, em grande parte dos estados e municípios.

4.1 Aspectos negativos do PETI

Os aspectos negativos incluíram questões relacionadas à concepção, apresentando algu-mas considerações sobre o desenho do Programa. Na gestão foram elencados registrosreferentes à execução. A participação e o controle social indicam informações relaciona-das ao envolvimento de representação da sociedade. O financiamento relaciona as princi-pais dificuldades apontadas para operacionalização em termos de recursos disponibilizados.

4.1.1 Quanto à concepção

• Dificuldade no atendimento para as crianças e adolescentes inseridos em determi-nados tipos de atividades consideradas como piores formas, como as atividades ilícitas(tráfico de drogas e narcoplantio e exploração sexual). Inexistência de uma propostaestratégica adequada para a promoção da inclusão social das famílias, garantindo suaparticipação nas atividades socioeducativas e no desenvolvimento de ações geradoras derenda. Vinculação da bolsa à criança, reforçando a concepção da criança como provedorado lar.

• Limitada participação qualificada de outros atores do Sistema de Garantia de Direi-tos, como os Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos, Conselhos Setoriais (Assis-tência Social) e os Conselhos Tutelares, assim como de representantes de empregadores eempregados. O PETI e o FNPETI foram fundamentais para a redução do trabalho infantil.No entanto, percebe-se a ausência de segmentos importantes para o enfrentamento daquestão nos diferentes espaços de concepção, execução, monitoramento e avaliação. Aconcepção do trabalho infantil como requisito para o desenvolvimento da criança e doadolescente perpassa ainda grande parte da sociedade brasileira.

4.1.2 Quanto à gestão

• Atraso no repasse de recursos foi explicitado por cerca de 31% dos municípios,sendo um dos mais representativos aspectos negativos apontados. Levanta-se como hipó-tese que tal fato se deve às dificuldades de ordem financeira e operacional enfrentadas pelogoverno federal para efetivação dos pagamentos mensais (indisponibilidade, insuficiên-cia de recursos orçamentários e/ou financeiros); ao sistema e forma de repasse de recursos,o que acarreta freqüentes problemas, implicando em constantes atrasos; e acondicionalidade do repasse à Certidão Negativa de Débito, sendo impedimento não só aoPETI, mas a todos os programas federais de assistência social. Assinala-se que a forma dopagamento da bolsa pode ser reconhecida como entrave na medida que traz a exigência daintermediação de bancos oficiais, o que acaba por onerar os municípios, os quais sãoobrigados a custear as despesas e taxas bancárias cobradas.

Capítulo IV

Descrição e análisedas informações

44Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

• Inexistência de uma proposta pedagógica referencial para a jornada ampliada; e adesarticulação entre as ações realizadas na rede regular de ensino e na jornada ampliadaque contribuem para os resultados limitados em termos de aprendizagem das crianças eadolescentes.

• Oferta insuficiente para o atendimento das demandas existentes foi apontada poraproximadamente 21% dos municípios, refletindo a existência de significativo númerode crianças que ainda trabalham e que não são contempladas com o Programa. O PETI, emsua trajetória, apresentou um crescimento expressivo em termos de atendimento, desde asua criação até 2002, tendo sofrido uma inexpressiva expansão desde então.

• Espaços físicos inadequados e insuficientes para a realização da jornada ampliadasignificam um fator de estrangulamento para execução do Programa. Há relatos à Gerên-cia Nacional do PETI de jornadas ampliadas que são realizadas em espaços cedidos porescolas, associações, igrejas, clubes, centros comunitários, galpões etc, que nem semprecontemplam instalações apropriadas para o desenvolvimento de atividades específicascom crianças e adolescentes. As dificuldades são maiores nas zonas rurais e, principal-mente, nas regiões Norte e Nordeste, que apresentam maiores índices de pobreza, confor-me informações também fornecidas pela Gerência Nacional. A inexistência de espaçofísico, por vezes, pode ser compreendida como falta de articulação. A desarticulação entreas políticas públicas e o desinteresse de secretarias afins para integração de programasestão presentes quando se menciona os desafios para execução do Programa.

• Reduzida capacitação dos monitores, ausência de uma proposta básica de capacitaçãoe forma precária de contração são indicadas também como problemas pelos municípios.Vale registrar que os governos estaduais, com raras exceções, nada ou pouco investem noPrograma, ficando sua execução sob total responsabilidade dos municípios.

4.1.3 Quanto à participação e controle social

• Desinteresse das famílias em participar ativamente das ações do Programa foi indi-cado como um dos principais pontos negativos pelos municípios. Tal fragilidade pode sedar devido a pouca atuação da sociedade na operacionalização do Programa; a falta deações que promovam a participação da família; a fatores culturais e políticasassistencialistas, entre outros aspectos. No entanto, registra-se a ausência de estratégiasbásicas, em âmbito federal, que direcionem para a inclusão social das famílias do PETI.

4.1.4 Quanto ao financiamento

• Insuficiência de recursos, seja em termos dos valores da bolsa, da jornada ampliadae para pagamento dos monitores, é apontada por grande parte dos municípios, sinalizan-do a necessidade de ampliação dos recursos destinados ao Programa. Desde sua criação, em1996, o PETI opera, de modo geral, com os mesmos valores per capita. No início do Progra-ma o valor da bolsa não foi estipulado em âmbito federal. Em 2000, quando houve anormatização em âmbito federal do valor per capita a ser adotado, em alguns estados,diminuíram. Decorridos mais de sete anos de criação do PETI, tais valores encontram-sedefasados, exigindo, cada vez mais, maior participação financeira dos municípios na suaexecução.

4.2 Aspectos positivos do PETI

O trabalho infantil faz parte da agenda política do poder público. A busca de soluçõesconjuntas estimula uma compreensão esclarecedora do fenômeno e das causas dessa pro-blemática, possibilitando o estabelecimento de metas factíveis. Sublinha-se como pontopositivo apontado por 48% dos municípios e 75% dos estados, a incidência do PETI nosíndices de redução e erradicação do trabalho infantil.

45 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Os estados e municípios apontaram, ainda como principais pontos positivos, as seguintesinformações: melhoria na qualidade de vida da criança e da família e da auto-estima dacriança; construção e resgate da cidadania e inserção social das crianças, adolescentes esuas famílias; ajuda financeira às famílias; permanência das crianças na escola e na jornadaampliada; geração de renda para as famílias, melhoria da qualidade de vida da criança e suafamília, representando importante ajuda financeira às famílias; incremento de recursosque movimenta a economia dos municípios.

Convém sublinhar que, de modo geral, todos os aspectos positivos indicados merecemestudos qualitativos aprofundados, utilizando outras metodologias e incluindo a voz dascrianças e adolescentes e, em especial, de suas famílias.

47 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Considerações finaisO fenômeno do trabalho infantil, até a década de 80, não era reconhecido como negativopela sociedade brasileira, persistindo a concepção que o “trabalho é solução para a crian-ça”. Para a elite o trabalho infantil consistia numa medida preventiva, enquanto que paraos pobres era uma maneira de sobrevivência. A criança trabalhadora era sinônimo devirtude, e aprender a brincar, divertir-se e vivenciar o caráter lúdico e contemplativo dealgumas atividades, era perda de tempo.

A partir da década de 90, o trabalho infantil passou a ser questionado, porém convencer osgrupos sociais excluídos social e economicamente e sensibilizar os segmentos mais favo-recidos, ainda constituem grandes desafios para o enfrentamento do problema. Os mitos,as tradições e os costumes permanecem profundamente arraigados em grande parte dasociedade brasileira.

26

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil tem obtido resultados positivos des-de sua implantação, em 1996. A temática no Brasil é uma referência em políticaspúblicas e integra a agenda política de determinados dirigentes políticos. As ações doPETI e do FNPETI também contribuíram para a redução de 9,5 milhões de crianças eadolescentes da faixa etária de 5 à 17 anos trabalhando em 1995, para 5,5 milhões em2001.

Apesar dos avanços, muitos desafios ainda precisam ser superados. Neste sentido o gover-no federal decidiu realizar uma Análise Situacional do PETI em 2003, a fim de identificaros aspectos merecedores de mudanças e apresentar recomendações.

Conforme dados da PNAD de 2001, havia cerca de 3,1 milhões de crianças e adolescentesde 5 a 15 anos inseridos no trabalho. O PETI beneficiou 810.823 (dados de 2003, forneci-dos pela Gerência Nacional do PETI, em março de 2004) crianças e adolescentes entre 7 e15 anos. Portanto, o número de crianças e adolescentes a ser retirado do trabalho infantilainda é expressivo e o orçamento, apesar de sua evolução, não tem sido condizente com ademanda.

O Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalha-dor Adolescente, elaborado pela CONAETI em setembro de 2003 e deliberado peloCONANDA, ainda não foi lançado pelo governo federal.

O FNPETI, os fóruns estaduais de prevenção e erradicação do trabalho infantil e os fórunsestaduais e municipais lixo e cidadania, presentes em praticamente todos os estados dafederação, são identificados pelos movimentos sociais, como importantes espaços paramobilização e articulação. No entanto, os fóruns estaduais deparam-se com grandes limi-tações para seu funcionamento, não contando com apoio regular e sistemático das insti-tuições governamentais, exceto das DRTs/MTE e MPT.

Além disso, o Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente preparadopelo MTE não tem sido publicado desde 2001, contendo as informações colhidas no âm-bito dos GECTIPAs, instituídos em cada DRT. A apresentação atualizada desse importanteinstrumento, prevista para lançamento no primeiro semestre de 2004, permitirá diagnos-ticar as situações de trabalho infantil de forma mais precisa.

Capítulo V

Considerações finais

26 A análise feita sobre o marco simbólico-cultural apresentada no Plano Nacional dePrevenção e Erradicação do TrabalhoInfantil e Proteção ao TrabalhadorAdolescente detalha com maisprofundidade esta questão.

48Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Os dados e as informações obtidas pela presente Análise evidenciam uma série de proble-mas relacionados à concepção, gestão, financiamento, participação e controle social e,especialmente, ao monitoramento e avaliação dos resultados do Programa.

O universo da Análise Situacional do PETI apresentou o seguinte perfil: (i) predomínio decrianças e adolescentes oriundos da área urbana e do sexo masculino; (ii) preponderânciade crianças e adolescentes da raça negra (pretos e pardos); e (iii) maior número de centrosde jornada ampliada na zona rural, apesar do público analisado se encontrar em maiorquantidade na zona urbana.

A limitada articulação entre a jornada ampliada e a rede educacional mereceu destaque naanálise, pois representa uma das principais dificuldades para o funcionamento adequado dajornada ampliada, considerada por todos os participantes como o eixo estratégico do PETI.Constata-se, ainda, a inexistência de uma proposta básica, em âmbito federal com as neces-sárias adequações regionais e locais, de capacitação e contratação de profissionais encarre-gados da jornada ampliada. Os monitores que executam as atividades propostas não sãodevidamente capacitados, sendo significativo o número de municípios que registraram nãooferecer nenhuma capacitação. Soma-se a este impasse a fragilidade do sistema de seleção ea disparidade entre as formas de contratação estabelecidas pelos diferentes municípios.

Ressalta-se a inexistência de uma proposta estratégica e de metodologias para a promoçãodas famílias, ainda que o Ministério defina como princípio a centralidade na família,através de ações socioeducativas, escolarização e geração de emprego e renda. Esta situa-ção agrava-se, quando a Análise indica que a escolaridade das mães beneficiadas com oPETI se limita, sobretudo, ao ensino fundamental, destacando-se, também, um índicerelevante de mães sem escolaridade alguma.

As Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil apresentam um trabalho descontinuado,no que tange ao seu papel, mensurado por sua criação oficial, implantação e número dereuniões realizadas.

De modo geral, os conselhos de defesa dos direitos da criança e do adolescente, os conse-lhos setoriais (Assistência Social em particular) e os conselhos tutelares, atores impres-cindíveis no sistema de garantia de direitos, não têm tido participação qualificada nasComissões de Erradicação do Trabalho Infanto-Juvenil. Outros atores fundamentais aoenfrentamento do trabalho infantil, como os representantes dos empregadores e dos em-pregados, também não contribuem de forma mais efetiva nas referidas Comissões.

Diante dos principais resultados obtidos cabem algumas recomendações, organizadas deacordo com a concepção, gestão, financiamento, participação e controle, monitoramentoe avaliação.

(i) Concepção

• Redefinir as diretrizes e normas nacionais do PETI para solucionar os problemasapresentados em termos da concepção, da gestão do atendimento, da participação dosdiferentes atores, do monitoramento e avaliação e dos recursos financeiros, considerandoas especificidades regionais e locais, os grupos étnicos, gênero, bem como, os distintostipos de atividades, nos quais as crianças e adolescentes estão inseridos;

• Incentivar a articulação das políticas públicas (assistência social, educação, saúde,cultura e esporte), na perspectiva de fortalecimento dos municípios, das famílias e doSistema de Garantia de Direitos;

• Ampliar a faixa etária do PETI para atendimento à todas as crianças e os adolescen-tes abaixo de 16 anos, em consonância com a legislação brasileira em vigor, que se encon-

49 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

trem em situação de trabalho precoce, priorizando as atividades consideradas perigosas,penosas, insalubres ou degradantes, mas não excluindo as demais atividades econômicas;

• Definir os custos diretos e indiretos necessários para a prevenção e erradicação dotrabalho infantil no país, estabelecendo as metas e os respectivos custos para aimplementação do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil eProteção ao Trabalhador Adolescente;

• Regularizar um sistema de recursos humanos que efetivamente atenda à preven-ção e erradicação do trabalho infantil, contando com a participação de cada instância(federal, estadual e municipal), com a devida definição de atribuições, papéis e responsa-bilidades, incluindo as famílias;

• Redefinir parâmetros conceituais para a jornada ampliada, pactuando nitidamenteas atribuições da assistência social, da educação, da saúde, da cultura e do esporte, bemcomo das esferas federal, estadual e municipal;

• Definir uma proposta pedagógica básica para o PETI, em conjunto com o setoreducacional, promovendo sua ampla articulação com os estados e municípios, fortalecen-do os programas que visam a aprendizagem e a aceleração dos alunos em defasagem idade/série, de acordo com as especificidades regionais e locais, grupos étnicos e gênero;

• Definir estratégias e metodologias básicas dirigidas às famílias, com vistas às açõeseducativas, especialmente quanto à escolarização e geração de trabalho e renda,potencializando as famílias atendidas através do acesso à terra, ao trabalho e ao mercado,assim como disponibilizando maior investimento financeiro para as mesmas;

• Desenhar estratégias alternativas, compreendidas pelo PETI ou não, que contem-plem as situações específicas de trabalho infantil na exploração sexual para fins comerci-ais, no tráfico de drogas e narcoplantio e no trabalho infantil doméstico.

ii) Gestão

• Efetivar o cadastramento único das famílias, facilitando o seu gerenciamento e adisponibilização de dados sobre o Programa e sobre o trabalho infantil no país;

• Viabilizar o pagamento das bolsas do PETI por intermédio de cartão magnético;

• Garantir o repasse dos recursos para os estados e municípios com regularidade,proporcionando condições para plena execução do Programa, evitando, assim, atrasos nopagamento das bolsas às famílias e o retorno temporário de crianças e adolescentes aotrabalho;

• Desvincular o repasse de recursos do PETI da Certidão Negativa de Débitos junto aoINSS.

iii) Financiamento

• Ampliar os recursos destinados ao financiamento do Programa, revendo e atuali-zando os valores per capita adotados;

• Articular junto aos estados e municípios os critérios de co-financimento do Pro-grama, bem como identificar outras fontes de recursos;

• Disponibilizar recursos específicos para geração de trabalho e renda destinados àsfamílias, com vistas a sua promoção.

50Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

iv) Participação e Controle Social

• Promover a participação das crianças e adolescentes, das famílias, dos conselhosdos direitos e tutelares, conselhos de assistência social, dos fóruns estaduais e municipaisde defesa dos direitos da criança, fóruns estaduais e municipais de prevenção e erradicaçãodo trabalho infantil, fóruns estaduais e municipais de lixo e cidadania, por meio de meca-nismos e instrumentos que permitam o controle social. A participação e o controle socialdos diferentes atores deverá ser refletida na construção de uma cultura reivindicatória eno empoderamento dos mesmos;

• Garantir o funcionamento dos instrumentos e mecanismos de participação e con-trole social dos diferentes atores sociais envolvidos na prevenção e erradicação do traba-lho infantil, por meio de apoio técnico e financeiro.

v) Monitoramento e Avaliação

• Desenvolver mecanismos e instrumentos para a implementação de um sistema demonitoramento e avaliação;

• Fortalecer e capacitar as Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil, a fim deque seja promovida a sua efetiva participação na implementação do Programa;

• Definir o processo de avaliação do PETI referendado pelas metodologias de avalia-ção pesquisadas sobre a temática, realizando parcerias com universidades ou instituiçõesde pesquisa, possibilitando um processo mais eficiente, eficaz e efetivo;

• Promover a articulação com os conselhos dos direitos, conselhos tutelares, conse-lhos de assistência social, fóruns e comissões estaduais e municipais de erradicação dotrabalho infantil, com o intuito de garantir um processo de acompanhamento regular esistemático;

• Definir, em âmbitos municipal, estadual e federal, dados e informações básicasfactíveis, a serem recolhidas e tabuladas periodicamente;

• Definir indicadores de insumo, de produto, de processo e de impacto;

• Contribuir para a implementação da meta incluída no Mundo para as Crianças,assinado na Assembléia Geral das Nações Unidas em 2002, sobre a Proteção contra osMaus-Tratos, a Exploração e a Violência. A meta é a seguinte: “tomar medidas imediatase efetivas para eliminar as piores formas de trabalho infantil, como definido na Convenção182 da OIT, e desenvolver e implementar estratégias para eliminar o trabalho infantil queseja contrário às normas internacionais aceitáveis.” O indicador a ser utilizado é o númeroe percentual de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos de idade ocupados.

51 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Referênciasbibliográficas

Referências bibliográficas

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52Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

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UNICEF. Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileiras. Diversidade e Eqüidade pelagarantia dos direitos de cada criança e adolescente. Brasília, 2003.

53 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Lista de siglas

ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

CND – Certidão Negativa de Débito

CONAETI – Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil

CONANDA – Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

CONGEMAS – Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social

DRT – Delegacia Regional do Trabalho

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FNPETI – Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

FONSEAS – Fórum Nacional de Secretarias de Assistência Social

Fórum DCA – Fórum Nacional dos Direitos da Criança

GECTIPA – Grupo Especial de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao TrabalhadorAdolescente

IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBRAD – Instituto Brasileiro de Administração para o Desenvolvimento

INESC – Instituto de Estudos Sócio-Econômicos

IPEC – Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil

MAS – Ministério da Assistência Social

MDS – Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC – Ministério da Educação

MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua

MOC – Movimento de Organização Comunitária

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

MPT – Ministério Público do Trabalho

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NAPP – Núcleo de Assessoria Planejamento e Pesquisa

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONU – Organizações das Nações Unidas

PAIF – Plano Nacional de Atendimento Integral à Família

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

POMMAR/USAID – Prevenção Orientada a Meninos e Meninas em Situação de Risco

SEAS – Secretaria de Estado de Assistência Social

SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos

SGD – Sistema de Garantia de Direitos

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

Anexo 1

Lista de siglas

55 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Lista degráficos e tabelas

Anexo 2

Lista degráficos e tabelas

Gráficos

Gráfico I - Evolução do número de crianças e adolescentes atendidos pelo PETI de1996 a 2003 (em números absolutos)

Gráfico II – Evolução dos recursos aplicados no PETI pela esfera federal de 1996 a2003 (R$)

Gráfico III – Freqüência das crianças e adolescentes oriundos do PETI na escola pormunicípio (%)

Gráfico IV – Evasão escolar das crianças e adolescentes oriundos do PETI pormunicípio (%)

Gráfico V - Repetência escolar das crianças e adolescentes oriundos do PETI pormunicípio (%)

Gráfico VI – Escolaridade das mães das crianças e adolescentes inseridos no PETI pormunicípio (%)

Gráfico VII – Média de horas semestral de capacitação oferecida aos monitores pormunicípio (%)

Gráfico VIII – Formas de seleção dos monitores por município (%)

Gráfico IX – Formas de contratação de monitores por município (%)

Gráfico X – Evasão das crianças e adolescentes da jornada ampliada pormunicípio (%)

Gráfico XI – Principais causas da evasão da jornada ampliada por município (%)

Gráfico XII – Custo médio per capita da jornada ampliada por município (%)

Gráfico XIII – Escolaridade dos monitores do PETI por município (%)

Tabelas

Tabela 1 - Número de estados e municípios atendidos pelo PETI e número de estadose municípios que enviaram o formulário (em números absolutos e %)

Tabela 2 - Atividades econômicas desenvolvidas pelas crianças e adolescentestrabalhadores por município – área urbana (%)

56Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Tabela 3 – Atividades econômicas desenvolvidas pelas crianças e adolescentestrabalhadores por município – área rural (%)

Tabela 4 – Materiais e serviços oferecidos às crianças e adolescentes na jornadaampliada por município (%)

Tabela 5 - Atividades desenvolvidas com as crianças e adolescentes na jornadaampliada por município (%)

Tabela 6 - Serviços oferecidos às famílias beneficiadas pelo PETI por município (%)

Tabela 7 – Erradicação do trabalho infantil por estado e município (%)

Tabela 8 - Motivos de abandono pelas crianças e adolescentes do PETI pormunicípio (%)

Tabela 9 - Composição das comissões de erradicação do trabalho infantil por estadoe município (%)

Tabela 10 - Dificuldades para a implantação e execução do PETI por estado emunicípio (%)

Tabela 11 - Principais resultados do PETI por estado e município (%)

Tabela 12 - Freqüência à escola das crianças e dos adolescentes atendidos pelo PETIpor município (%)

Tabela 13 - Repetência escolar das crianças e dos adolescentes atendidos pelo PETIpor município (%)

Tabela 14 - Média de horas diária oferecida na jornada ampliada por município (%)

Tabela 15 - Relação entre nº de crianças e adolescentes versus monitor pormunicípio (%)

Tabela 16 – Escolaridade dos monitores da jornada ampliada por município (%)

Tabela 17 - Inserção de pais em programas ou projetos de geração de emprego e rendapor município (%)

Tabela 18 - Inserção de pais em programas ou projetos de escolarização ou educaçãopara adultos por município (%)

Tabela 19 - Cobertura do PETI por município (%)

Tabela 20 - Abandono das crianças e adolescentes do PETI por município (%)

Tabela 21 – Redução do trabalho infantil após a implantação do PETI pormunicípio (%)

Tabela 22 - Crianças e adolescentes retirados do trabalho inseridos no PETI pormunicípio (%)

Tabela 23 - Principais dificuldades para implantação e execução do PETI em 2000 e2003 por município (%)

Tabela 24 - Principais resultados do PETI em 2000 e 2003 por município (%)

57 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Intervençõesestratégicasdo governo federalA nova gestão do governo federal, iniciado em 2003, está implementando ações em pro-gramas específicos com intuito de combate à pobreza e à miséria. No desenvolvimento deações que visam contemplar a população vulnerabilizada do ponto de vista socioeconômico,incidindo também, ainda que de forma tangencial, no público-alvo do PETI, cabe destacaros seguintes programas ou planos: Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Traba-lho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente; Programa de Transferência de Rendacom Condicionalidades (Bolsa Família); e Plano Nacional de Atendimento Integral àFamília - PAIF.

3.1 Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção aoTrabalhador Adolescente

Em setembro de 2002 foi instituída a Comissão Nacional de Erradicação do TrabalhoInfantil – CONAETI, sob a coordenação do MTE. O objetivo prioritário da CONAETI era aelaboração do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalha-dor Adolescente.

O referido Plano foi construído seguindo as diretrizes estabelecidas pelo FNPETI para aformulação de uma Política Nacional de Combate ao Trabalho Infantil

27, mas avançou

indicando outras estratégias, considerando as limitações verificadas no decorrer daimplementação das ações do PETI e FNPETI. O Plano contém as seguintes dimensõesestratégicas: a) análise, promoção de estudos e pesquisas, integração e sistematização dedados sobre todas as formas de trabalho infantil; b) análise do arcabouço jurídico relativoa todas as formas de trabalho infanto-juvenil; c) monitoramento, avaliação, controlesocial e fiscalização para a prevenção e erradicação do trabalho infantil; d) garantia deuma escola pública e de qualidade para todas crianças e adolescentes; e) implementaçãode ações integradas de saúde; f) promoção de ações integradas na área de comunicação; g)promoção e fortalecimento da família na perspectiva de sua emancipação e inclusão soci-al; h) garantia da consideração da eqüidade e da diversidade; i) enfrentamento das formasespecíficas de trabalho infantil (crianças envolvidas em atividades ilícitas, no trabalhoinfantil doméstico e nas atividades informais das zonas urbanas); j) promoção da articu-lação institucional quadripartite. (Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Traba-lho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente, 2003, p.24). Assinala-se que essePlano ainda não foi lançado pelo governo federal.

3.2 Programa de Transferência de Renda com Condicionalidades(Bolsa Família)

A proposta governamental consiste na consolidação de um conjunto de estratégias soci-ais que não tenham como características a fragmentação, a dispersão de ações e asetorialização

28. Os eixos estratégicos são: (i) planejamento e avaliação; (ii) participação

Anexo 3

Intervenções estratégicasdo governo federal

27 “ O Fórum Nacional de Prevenção e

Erradicação do Trabalho Infantil,consolidou no ano de 2000 uma proposta dediretrizes da política nacional seguindo seiseixos: (a)integração e sistematização dedados;(b)análise do arcabouço jurídicorelativo ao trabalho infanto-juvenil;(c)articulação institucional entre governos,trabalhadores, empregadores e ONGs;(d)garantia de escola de qualidade;(e)implementação de um controle efiscalização efetivos;(f) melhoria da rendafamiliar e promoção do desenvolvimentolocal integrado e sustentável”FNPETI,2000, p.9.

28 A construção deste momento do texto foi

subsidiada pelo discurso proferido pelo SrRicardo Henriques, Secretário Executivo doMinistério da Assistência Social, em suaapresentação sobre o Programa realizadaem 21 de novembro de 2003, na reunião doFórum Nacional de Prevenção eErradicação do Trabalho Infantil.

58Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

social e consolidação da cidadania; e (iii) integração dos programas sociais que compõema rede de serviços.

A integração dos programas sociais é constituída por três esferas: o repensar e redefinir opacto federativo (a delimitação clara das competências de cada ente da federação, ondeocorra a descentralização e integração entre as diferentes instâncias do poder público); acoordenação entre os programas sociais federais; e a coordenação entre a política econô-mica e a política social.

Neste contexto, surge como estratégia de um dos eixos acima expostos, o Programa deTransferência de Renda com Condicionalidades, também identificado como ProgramaBolsa Família, que tem por sustentação: (i) transferência de renda; (ii) condicionalidadespara a efetivação da entrega do benefício; e (iii) complementaridade por meio de progra-mas coordenados que estejam direcionados ao atendimento das famílias beneficiárias doPrograma Bolsa Família. Esta ação tem por objetivos o combate à pobreza, à fome e à outrassituações de privações de direitos básicos às famílias atendidas; além da promoção dasegurança alimentar e nutricional e do acesso à rede de serviços públicos, especialmenteaqueles universais, ou seja, saúde, educação e assistência social. Com vistas à otimizaçãode recursos, o Programa tem por finalidade aumentar a efetivação da utilização dos gastospúblicos, onde ocorrerá a unificação dos recursos a serem repassados, ampliação dos mes-mos e racionalização destes.

O público-alvo para o atendimento constitui-se daquelas famílias em situação de extre-ma pobreza, isto é, que contabilizam como renda per capita o valor de até ¼ do saláriomínimo por mês

29, e daquelas famílias caracterizadas como pobres, ou seja, com renda per

capita até ½ salário mínimo por mês, e que tenham crianças e/ou adolescentes de 0 a 15anos. O valor do benefício às famílias em situação de extrema pobreza é de R$50,00. Acomplementação é contabilizada em R$15,00 por criança, até o limite máximo de trêsbenefícios por família. O máximo a ser recebido por família, na concepção desse Programacorresponde ao montante de R$95,00, com o benefício pago mensalmente pela CaixaEconômica Federal

30, sendo seu recebimento efetuado preferencialmente pela mãe.

O processo de unificação de transferência de renda tem incorporado quatro programasfederais

31: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás, sendo que

todos os beneficiários dos programas citados continuarão a receber o benefício atual até aconsolidação da migração para o Programa Bolsa Família. Para o recebimento do benefíciosão exigidas da família algumas condicionalidades, localizadas, sobretudo, no âmbito dasaúde e da educação. Sobre a saúde constitui-se como fator condicional o acompanha-mento em saúde das gestantes (pré-natal e pós-natal), nutrizes e crianças de 0 a 6 anos(inclusive acompanhamento de calendário vacinal para gestantes e crianças compreendi-das neste faixa etária). Quanto ao setor educacional, é exigida a freqüência escolar dascrianças e dos adolescentes de 6 a 15 anos de idade. Para fins de sustentabilidade, o BolsaFamília conta com programas complementares que deverão ser viabilizados pelas trêsesferas do poder público: federal, estadual e municipal.

Alguns fatores diferenciais trazidos por essa estratégia federal podem ser destacados: acentralidade na família, o aumento do valor médio do benefício em relação aos programasincorporados, a unificação dos critérios de seleção e dos benefícios e a integração dascondicionalidades, entre outros.

3.3 Plano Nacional de Atendimento Integral à Família - PAIF

O PAIF tem por meta garantir os direitos dos cidadãos e promover o desenvolvimentosocial do ponto de vista da prevenção e superação das desigualdades sociais. O público-alvo do PAIF é a família em situação de vulnerabilidade em função de fatoressocioeconômicos, sendo que cada município delimitará com maior precisão a definição de

29 Inicialmente o Programa utilizará comocritério de elegibilidade o valor da renda

per capita, como descrito acima.

30 O repasse de recurso às famílias se dará

por intermédio de um cartão bancário comum número de identificação único.

31 Informações apresentadas pelo então

Ministério da Assistência Social, por meioda Diretoria de Desenvolvimento da

Política de Assistência Social.

59 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

família a ser beneficiada. O Plano a compreende como beneficiada e parceira na consolida-ção das atividades. A família “é todo núcleo de pessoas que convive em determinado lugar,durante um período de tempo, e que se acham unidas por laços consangüíneos, afetivosou de solidariedade” (PAIF, 2003, p.18).

Para a implantação do PAIF serão necessários dois eixos articulados: a instalação na loca-lidade de Centros de Referência da Assistência Social e a potencialização de Redes deProteção Social existentes no município. O PAIF se estabelece por meio de co-financia-mento entre as esferas do poder público, cabendo ao governo federal, após elencadas asprioridades definidas pelos municípios

32 beneficiados, o repasse dos recursos aprovados

para cada projeto, sendo utilizado como base de cálculo o valor de R$30,00 por famíliaatendida.

Vale assinalar que as intervenções estratégias do governo federal ainda encontram-se nafase inicial de implementação, não permitindo nenhuma avaliação.

32 Cada município levantará a demanda e

oferta de serviços frente ao diagnóstico dasproblemáticas apresentadas pelo mesmo,em seqüência apresentará a proposta deimplantação dos serviços necessários àproteção e à promoção social das famíliasatendidas.

61 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Informações sobreanálises do PETIOs programas sociais no Brasil, de modo geral, não são sistematizados e analisados regu-larmente. No entanto, o PETI vem sendo, desde sua implantação, objeto de diferentesestudos, pesquisas e avaliações.

O relatório da Oficina sobre metodologias de avaliação de programas de prevenção eerradicação do trabalho infantil, realizada em 2003, pelo FNPETI com apoio técnico efinanceiro do UNICEF, registra a preocupação de instituições para a validação demetodologias que viabilizem a avaliação de programas e ações de prevenção e combate aotrabalho infantil. Nessa Oficina foram apresentadas e discutidas pesquisas realizadas peloNAPP/Fundação Abrinq; pelo IBRAD/OIT; e pelo POMMAR/USAID.

Das avaliações realizadas realça-se o trabalho empreendido pela Universidade Federal dePernambuco, em 2002, o qual tinha como objetivo avaliar o Programa Complementardo PETI, desenvolvido pelo MOC/UNICEF, na região sisaleira da Bahia.

A partir da percepção de diferentes sujeitos que se interrelacionam para a realização do PETI,o processo de avaliação pretendeu averiguar o desenvolvimento que as famílias atendidaspelo PETI, da região sisaleira da Bahia, conseguiram pela implantação do Programa (1997)até meados de 2002; identificar o desenvolvimento dos adolescentes que participaram daimplantação e execução do PETI/UNICEF – MOC, nestes cinco anos; e mapear as mudançasna educação, na economia e na cultura, especificamente dos municípios.

Os informantes foram subdivididos em grupos, ou seja, protagonistas (mães, pais e adoles-centes), agentes diretos (professores, monitores, orientadores sociais e agentes de família),agentes indiretos (Prefeitos, Secretários de Ação Social, Secretários de Educação, DiretoresEscolares, Presidentes de Sindicatos e Grupos Gestores) e sujeitos externos (Associações,Empresários e Comerciantes). Foram entrevistados 1.459 informantes. Destes, 416 (28,51%)adolescentes, 377 (25,84%) pais e mães, 287 (19,67%) professores, 201 (13,78%) monitores,9 (0,62%) orientadores sociais, 39 (2,67%) agentes de família, 15 (1,03%) Prefeitos, 13 (0,89%)Secretários de Ação Social, 15 (1,03%) Secretários de Educação, 16 (1,10%) Diretores Esco-lares, 14 (0,96%) Presidentes de Sindicatos, 17 (1,16%) Grupos Gestores, 15 (1,03%) Associ-ações, 10 (0,68%) empresários e 15 (1,03%) comerciantes.

Os procedimentos metodológicos utilizados para a efetivação da pesquisa compreende-ram três momentos principais. O primeiro consistiu na aplicação de instrumentos (ques-tionários, dinâmicas, observações, levantamento de bibliografias, seminários, entrevistase reunião), com intuito de construir a base de dados para avaliação. A segunda etapaconstituiu-se na construção dos dados mediante as informações obtidas e o terceiro mo-mento destinou-se a interpretação das informações.

Segundo esta avaliação, as famílias passaram a ser identificadas, na região, como “as famí-lias do PETI”, sendo que o filho ou a filha ocupa o papel de provedor do lar, visto que orecebimento da bolsa está condicionado à freqüência da criança ou do adolescente àescola e à jornada ampliada. Os pais, diante dessa situação, trazem consigo um sentimento

Anexo 4

Informações sobreanálises do PETI

62Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

de desmoralização, porém, existe uma certa resignação frente à situação de pobreza emiséria.

Com relação à escolarização dos membros da família do PETI, a avaliação apresenta quenão houve alterações significativas na região após os cinco anos de implantação do Pro-grama, dado não dissociado da realidade brasileira. Quanto ao acesso a serviços adequadosde saneamento básico (água, esgoto e coleta de lixo), nenhuma família entrevistada usu-fruía desses serviços, agravando a situação pela insignificante assistência médica de quedispunha a população estudada.

O PETI é associado pelos entrevistados à bolsa e à obrigatoriedade da freqüência à escola eà jornada ampliada, sendo por vezes apontado que o “PETI é a jornada ampliada”. A bolsa,segundo as famílias, ganha uma conotação de favor e representa acesso a determinadosbens de consumo, permitindo às crianças e aos adolescentes a permanência na escola.Porém, mesmo com a bolsa, ainda existem crianças e adolescentes inseridos no Programaque trabalham. O valor do benefício representa a possibilidade das famílias de adquiriralimentação, roupa, calçado e remédio. O espaço inadequado para jornada ampliada ouausência deste foi apresentado como uma reclamação corrente. Uma das exigências colo-cadas às famílias é a participação destas em atividades propostas na jornada ampliada. Estaexigência é indicada como um problema. No entanto, a participação dos pais no processoescolar e na jornada ampliada não aparece explicitado para nenhum dos sujeitos envolvi-dos no processo do PETI/MOC – UNICEF.

Vale registrar que comparativamente, por meio dos resultados dos exames do Sistema deAvaliação do Ensino Básico - SAEB (2002), o desempenho dos alunos do PETI da regiãosisaleira é melhor que aquele alcançado pelos demais estudantes da Região Nordeste.

Quanto à situação dos adolescentes analisados, verificou-se que por vezes se constróiuma cultura simbólica que não é respaldada por uma cultura material. O públicoanalisado não apresentou significativas alterações no que tange a seus aspectos eco-nômicos. Os atores entrevistados percebem que os benefícios estão sendo trazidospara a região, todavia é suscitada a indagação se a localidade necessita de benefícios oude investimentos produtivos

33. A população atingida reconhece a seriedade do traba-

lho desenvolvido pelo MOC, porém, há a necessidade de combinar as ações do PETI aoutros programas, para construir maior interação entre processos de caráter econô-mico e educativo-culturais.

O relatório do projeto de capacitação de agentes multiplicadores da jornadaescolar ampliada realizado em 52 municípios de (07) microrregiões do estado de Alagoas,compunham o projeto Alvorada/PETI, desenvolvido pela OIT/SEAS, que tinha comoobjetivo retratar a implementação, o acompanhamento e o monitoramento do projeto decapacitação desenvolvido no período de julho de 2001 a abril de 2002. Essa capacitaçãoalcançou 300 pessoas inseridas no setor público e terceiro setor.

O universo de estudo compreendeu a microrregião da Mata Alagoana (16 municípios),microrregião de Serrana dos Quilombos (3 municípios), microrregião de Arapiraca (8municípios), microrregião de Batalha (7 municípios), microrregião de Traipú (3 municí-pios), microrregião de Santana do Ipanema (10 municípios), microrregião de Serrana doSertão Alagoano (5 municípios) e a capital ( Maceió).

A metodologia utilizada na capacitação foi composta pelas etapas de divulgação,mobilização e sensibilização dos municípios; visitas às localidades para identificação dasituação das jornadas ampliadas; aplicação dos dois módulos de capacitação; e assessoriaaos municípios no processo de multiplicação das informações. O relatório apresentou ocenário onde se desenvolveu a ação, descreveu o processo de capacitação intensiva e a açãonos municípios.

33 Investimento produtivo foi compreendidocomo “ reforma agrária, crédito agrícola e

processo educativos mais intensos econsistentes, tanto no aspecto organizativo,

econômico-social e cultural, quanto nosescolares”(p.300).

63 Análise Situacional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI

Esse projeto de capacitação de agentes multiplicadores da jornada escolar ampliada, tam-bém traz em seus registros aspectos importantes quanto à visão dos gestores municipaissobre a jornada ampliada. Quanto à compreensão do que seja a jornada escolar ampliada,47,8% dos gestores municipais associaram à mesma, a inserção, permanência e sucessoescolar; 30,5% destacaram sua contribuição para o desenvolvimento físico, psicossocial,moral e afetivo; e 21,7% ressaltaram o seu papel na retirada das crianças e adolescentes dotrabalho precoce, em conseqüência, a melhoria da qualidade de vida das famílias. Sobre ainfraestrutura e a disponibilidade de material para a execução da jornada ampliada, cercade 40% dos gestores alagoanos não avaliaram os aspectos relacionados à qualidade e ade-quação da alimentação, material didático e recreativo, espaço físico, entre outros. Porém,aqueles 60% que avaliaram, demonstraram o seguinte quadro: 30% avaliaram positiva-mente a grande parte dos itens; cerca de 10% avaliaram de forma negativa, tendo destaquea questão do transporte.

Quanto à articulação entre as secretarias municipais de educação e de assistência social, apesquisa registrou a seguinte situação: 99% dos gestores municipais de Alagoas afirma-ram existir articulação, mas é destacado que esta articulação se limitava, em muitos casos,à questão do espaço físico para o funcionamento da jornada ampliada, ao fornecimento detransporte, à doação de material didático e ao controle de freqüência das crianças naescola.

Outra questão proposta foi quanto às facilidades para o desenvolvimento das atividades dajornada ampliada. Cerca de 26% dos gestores alagoanos registraram o apoio do Prefeito ede outras secretarias; 8,7% evidenciaram a parceria com as famílias; 6,5% relacionaramcomo facilidade à assiduidade das crianças; 6,1% registraram o compromisso da equipe;4,3% a parceria com a sociedade civil; e 10,5% indicaram outros aspectos.

As dificuldades apontadas para execução da jornada ampliada foram: 50% registraram osatrasos no pagamento das bolsas e do repasse dos recursos para jornada (neste momento,muitas foram as reclamações para com o valor do recurso destinado ao custeio das ativida-des); 24% dos gestores apontaram o espaço físico para realização da jornada ampliada e34,8% destacaram a falta de recursos humanos para a execução do Programa no município.

Destaca-se também, o relatório do desenvolvimento e experimentação de umametodologia para apoiar a avaliação de impacto de ações para a erradicação dotrabalho infantil desenvolvido pela OIT/IBRAD, que tinha como objetivo apresentara validação da metodologia de avaliação de impacto de ações para a erradicação do traba-lho infantil, tendo por referência a aplicação do modelo nas áreas pilotos estabelecidaspela então SEAS e o IPEC/OIT.

O universo do estudo constou de 12 municípios de diferentes regiões do país. Na regiãoNorte, estado do Pará, municípios de Abaetetuba e Ananindeuá. Na região Nordeste,estado do Ceará, municípios de Barreira e Quixadá; estado de Alagoas, municípios deBatalha e Arapiraca. Na região Centro Oeste, estado Mato Grosso do Sul, municípios deGuia Lopes da Laguna e Sidrolândia. Na região Sul, estado de Paraná, municípios deGuarapuava e Fazenda Rio Grande. Na região Sudeste, estado de Minas Gerais, municípiosde Três Corações e Varginha.

O processo metodológico constou de diferentes momentos: o primeiro momento desti-nou-se ao levantamento dos indicadores a partir de bases de dados secundários; o segundomomento consistiu em pesquisa de campo, com aplicação de questionários. Foram aplica-dos seis tipos de questionários, segundo atores sociais investigados. Os atores seleciona-dos foram as crianças, as famílias, o governo, a sociedade civil, empresários, diretores eprofessores. O terceiro estágio consistiu na aplicação da técnica – Grupo Focal, por meioda qual os participantes foram estimulados a dialogar uns com os outros. Os grupos foramrealizados nos municípios de Varginha – MG, Arapiraca – AL e Guarapuava – PR.

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QuestionáriosAnexo 5

QuestionáriosEste questionário tem o objetivo de colher informações acerca de diferentes aspectos doPrograma de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, no âmbito do seu ESTADO. Suasrespostas serão de extrema importância e serão utilizadas para o contínuo aperfeiçoamen-to do Programa.

Desde já agradecemos a sua colaboração.

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Questionário dos MunicípiosEste questionário tem o objetivo de colher informações acerca de diferentes aspectos doPrograma de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, no âmbito do seu MUNICÍPIO. Suasrespostas serão de extrema importância e serão utilizadas para o contínuo aperfeiçoamen-to do Programa.

Desde já agradecemos a sua colaboração.

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