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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM BIOCIÊNCIA ANIMAL FERNANDA VICCINI INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE PAPILOMAVÍRUS EM CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM PELE E MUCOSA DE CÃES Cuiabá 2019

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM

BIOCIÊNCIA ANIMAL

FERNANDA VICCINI

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE PAPILOMAVÍRUS EM CARCINOMA DE

CÉLULAS ESCAMOSAS EM PELE E MUCOSA DE CÃES

Cuiabá 2019

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FERNANDA VICCINI

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE PAPILOMAVÍRUS EM CARCINOMA DE

CÉLULAS ESCAMOSAS EM PELE E MUCOSA DE CÃES

Dissertação apresentada à UNIC, como requisito oficial para a obtenção do título de Mestre em Biociência Animal. Orientador: Prof. Dr. Alexandre Mendes Amude

Cuiabá 2019

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FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

V631i VICCINI, Fernanda Investigação molecular de papilomavírus em carcinoma de células escamosas em pele e mucosa de cães. / Fernanda Viccini - Cuiabá, MT 2019 Xi. f.; cm. 55 p.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Ensino de stricto sensu, como requisito oficial para obtenção do título de Mestre em Biociência Animal. Área de concentração em Saúde Animal. Universidade de Cuiabá - UNIC, 2019. Orientador: Prof. º Dr. Alexandre Mendes Amude

1. Neoplasia. 2. Vírus. 3. Queratinócitos. CDU: 619:616.9:636

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FERNANDA VICCINI

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE PAPILOMAVÍRUS EM CARCINOMA DE

CÉLULAS ESCAMOSAS EM PELE E MUCOSA DE CÃES

Dissertação apresentada à UNIC, no Mestrado em Biociência Animal, área e concentração em Saúde Animal como requisito oficial para a obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________ Prof. Dr. Alexandre Mendes Amude

UNIC

__________________________________ Profª. Drª. Glaucenyra Cecília Pinheiro da Silva

UNIC

__________________________________ Prof. Dr. Carlos Eduardo Fonseca Alves

UNESP

Cuiabá, 11 de setembro 2019.

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Dedico este trabalho ao meu amado e eterno pai. Sei o quanto está orgulhoso,

mesmo que do outro lado da vida.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pois sei que nada disso seria possível se não tivesse a permissão dele.

Aos meus pais por terem me concedido o que tenho de mais precioso: a vida. Obrigada por tudo. Sei que sempre fizeram o melhor que podiam nas condições que tinham.

A toda minha família pelo carinho, torcida, segurança e confiança depositadas em meus sonhos.

Ao meu marido Cesar Guimaraes Galli Jr, por todo apoio e incentivo na minha busca constante por conhecimento. Eu te amo.

Ao meu orientador Prof. Alexandre Mendes Amude, não só pela trajetória no mestrado, mas sim por todo ensinamento compartilhado desde a graduação. Obrigada por ter me incentivado a entrar nessa vida da pesquisa, com certeza foi uma experiência incrível.

À Profª. Michele Lunardi, por toda ajuda e incentivo na realização deste trabalho. Você foi uma chave muito importante para que esse trabalho acontecesse. Agradeço também a toda equipe do laboratório de biologia molecular da Universidade de Cuiabá, em especial a Glaucenyra Cecília Pinheiro, por toda ajuda nesses últimos meses. Muito obrigada por toda dedicação e empenho que teve comigo.

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INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE PAPILOMAVÍRUS EM CARCINOMA DE

CÉLULAS ESCAMOSAS EM PELE E MUCOSA DE CÃES

RESUMO

VICCINI, F. Investigação molecular de papilomavírus em carcinoma de células

escamosas em pele e mucosa de cães. 2019. Dissertação (Mestrado Biociência

Animal) – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2019.

Com o aumento da expectativa de vida dos animais de companhia, veio também a maior incidência de doenças, entre elas, o câncer. Os tumores cutâneos são as neoplasias mais encontradas nos animais domésticos e o carcinoma de células escamosas (CCE) representa um grande vilão nesse complexo tumoral. O CCE ocorre com mais frequência na pele, leitos ungueais, mucosas orais e oculares. O papilomavírus (PV) apresenta intenso epiteliotropismo por células epiteliais escamosas cutâneas e de mucosas. Já foi relatada a infecção do PV em vários tumores cutâneos e de mucosas, sejam eles malignos ou benignos, sendo o CCE o tumor onde o PV tem sido mais descrito. Alguns estudos também detectaram o PV em casos isolados de carcinomas in situ e várias placas epidérmicas pigmentadas em cães. Estes estudos, em sua grande maioria, foram realizados em casos isolados, ou lesões em regiões específicas como CCE orais. O presente estudo é inédito no Brasil, quando se trata da relação do CCE e PV em lesões neoplásicas cutâneas e de mucosas. Foram selecionados 27 blocos parafinados de CCE de cães; 23 de pele, 03 de leitos ungueais e 01 de mucosa oral. A partir desses blocos foram realizados exames de PCR para detecção molecular do PV. Os resultados encontrados confirmaram um percentual de 29,6 % de positividade, que também é o maior percentual verificado até o presente momento. Demonstrando que existe esta correlação e que baseado nas técnicas utilizadas a incidência da associação do PV ao CCE pode ser ainda subestimada. Palavras-chave: Neoplasia, vírus, queratinócitos.

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ABSTRACT VICCINI, F. Molecular investigation of the Papilomavirus in squamous carcinoma cells on the skin and mucosa of dogs.2019. Dissertação (Mestrado Biociência Animal) – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2019.

As the life expectancy of companion animals grows, so does the greater incidence of diseases, among them, cancer. Cutaneous tumors are the most found neoplasias in domestic animals and the Squamous Cell Carcinoma (SCC) represents a great villain in this tumorous complex. The SCC occurs more frequently on the skin, on the nail beds and on the oral and eye mucosas. The papillovirus (PV) presents intense epithelialtropism for cutaneous and mucosal epithelial squamous cells. It has already been related in several cutaneous and mucosal tumors, be them malignant or benign. Being the SCC, the tumor where the PV has been more described. A few studies have also detected PV in isolated cases of carcinoma in situ and in several pigmented epidermal moles in dogs. These studies were carried out most of the time in isolated cases or in specific region injures, like oral SCC. There aren’t studies that evaluate the participation of PV in cutaneous and mucosal neoplastic injures in Brazil yet. In this study, 27 dog’s paraffined blocks of SCC have been selected; 23 of skin, 03 of nail beds, 01 of oral mucosa. From these blocks onwards PCR exams were performed for molecular detection of PV. The final results confirmed a percentage of 29.6% of positivity, which is also the highest percentage verified until now. Showing that there is a correlation and based on the techniques used, the incidence of PV associated with SCC may be yet underestimated.

Keywords: Neoplasia, virus, keratinocytes.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Trabalhos que relataram a correlação de CCE com a infecção viral pelo

PV. ............................................................................................................................ 32

Tabela 2. Oligonucleotídeos iniciadores utilizado na amplificação dos genes de

papilomavirus em carcinomas de pele e mucosas de cães. ..................................... 46

Tabela 3. Marcação de banda em amostras parafinadas e congeladas utilizando os

diferentes Primers. .................................................................................................... 48

Tabela 4. Marcação do primer MY09/11 nas amostras. ............................................ 49

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Papiloma oral.. ........................................................................................... 16

Figura 2. Papiloma oral. ............................................................................................ 16

Figura 3. Papiloma cutâneo em região de orelha. ..................................................... 17

Figura 4. Placas pigmentadas.. ................................................................................. 19

Figura 5. Carcinoma in situ interdigital.. .................................................................... 21

Figura 6. Carcinoma in situ facial. ............................................................................. 21

Figura 7. Ceratose actínica.. ..................................................................................... 23

Figura 8. Ceratose actínica.. ..................................................................................... 23

Figura 9 Carcinoma basocelular em focinho.. ........................................................... 24

Figura 10. CCE em dígito.. ........................................................................................ 27

Figura 11. CCE em região ventral..............................................................................27

Figura 12. CCE em superfície de córnea.. ................................................................ 28

Figura 13. CCE oral .................................................................................................. 29

Figura 14. Representação esquemática de como a ação do papilomavírus pode

promover CEC em pele lesada pelo sol . .................................................................. 30

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LISTA DE ABREVIATURAS

BISC Carcinoma bowenoide in situ

CCE Carcinoma de Células escamosas

CPV Canis familiaris papilomavirus

DNA Ácido desoxirribonucleico

FFEP Fixadas em formol e embebidas em parafina

HPV Papiloma vírus humano

ICTV Comitê Internacional de Taxonomia dos Vírus

PV Papilomavírus

UV Raio ultravioleta

UVA Raio ultravioleta B

UVB Raio ultravioleta A

ICTV

Comitê Internacional de Taxonomia dos Vírus

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 12

2.1 PAPILOMAS VÍRUS CANINO ................................................................................... 12

2.1.1Taxonomia ..................................................................................................... 13

2.1.2 Infecção Viral ............................................................................................... 14

2.1.3 Papiloma Oral .............................................................................................. 16

2.1.4 Papiloma Cutâneo ....................................................................................... 17

2.1.5 Placas Virais Pigmentadas ........................................................................ 18

2.2 A PELE E O CÂNCER ................................................................................................ 19

2.3 CARCINOMAS CUTÂNEOS ..................................................................................... 20

2.3.1 Carcinoma Bowenoide ............................................................................... 21

2.3.2 Ceratose Actínica ........................................................................................ 22

2.3.3 Carcinoma Basocelular .............................................................................. 24

2.3.4 Carcinoma de células escamosas ............................................................ 25

2.4 CARCINOMA DE CELULA ESCAMOSADE MUCOSAS ..................................... 28

2.4.1 Olho ........................................................................................................... 28

2.4.2 Cavidade oral ........................................................................................... 29

2.5 ATUAÇÃO DO PAPILOMAVIRUS NA ONCOGÊNESE ....................................... 30

3 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 33

4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 41

4.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 41

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 41

5. ARTIGO ................................................................................................................ 42

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 43

MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 44

DIAGNÓSTICO MOLECULAR ........................................................................................ 44

Extração de ácido Nucleico .......................................................................................... 44

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Reação de cadeia da polimerase ................................................................................ 45

RESULTADOS .......................................................................................................... 47

VALIDAÇÃO DA SELEÇÃO DOS PRIMERS E PROTOCOLOS DE EXTRAÇÃO

DE DNA E REAÇÃO DA PCR ......................................................................................... 47

DISCUSSÃO ............................................................................................................. 51

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54

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INTRODUÇÃO

Existem diversas doenças neoplásicas, todavia, nenhuma possui origem única,

são provenientes de causas variadas. Desta forma, o estudo das neoplasias é de

fundamental importância para a compreensão de suas causas, tipos e formas de

tratamento (DIAS et al., 2015). O grande número de tumores cutâneos em cães se

deve ao fato que a pele é o maior órgão do corpo e representa a barreira física entre

o ambiente e organismo (JONES et al., 2000). Além de possuir exposição direta aos

fatores oncogênicos, propiciando as formações neoplásicas (MEDLEAU et al., 2009).

As neoplasias se caracterizam como novas formações que indicam um

crescimento anormal do tecido e que acaba se desenvolvendo mais rápido que os

tecidos normais em sua volta, de forma descoordenada e persistente (ALMEIDA et al.,

2005). Dentre as neoplasias mais frequentes em cães domésticos, é possível citar os

carcinomas de células escamosas (CCE), que apresenta elevada prevalência em

pacientes de idade avançada (SOUZA et al., 2006).

O CCE é um tumor maligno que afeta as células produtoras de queratina, ou

seja, os queratinócitos. Também pode ser descrito como carcinoma de células

espinhosas, carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide. Sua patogenia está

associada principalmente a exposição à luz UV, falta de pigmentação na epiderme e

alopecia (RIBEIRO et al., 2010). Além disso, a pele possui inúmeras células e há um

alto índice de renovação celular sendo susceptível a mutações (MURPHY, 2006).

O PV canino já é bem caracterizado por induzir neoformações benignas

provocadas pela infecção de células epiteliais por PV espécie específico. Sabe-se que

estes possuem oncogenes virais responsáveis pelo crescimento e divisão das células

epiteliais do hospedeiro, assim como pela indução de um quadro de instabilidade

genética e mutações cromossômicas, podendo resultar em replicação e diferenciação

celular, resultando em neoplasias malignas (HNILICA, 2009).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 PAPILOMAVÍRUS CANINO

Verrugas foram registradas no folclore durante séculos em seres humanos.

Uma causa viral de verrugas foi confirmada em 1907, e o primeiro papilomavírus

humano (PV) foi totalmente sequenciado em 1982 (DANOS et al., 1982). A primeira

evidência de que os PV podem causar câncer foi relatada estudos em coelhos em

1935 (ROUS; BEARD, 1935). Isto foi seguido em 1981 em demonstração de avanço

que os PV causam a maioria dos cânceres de colo de útero em humanos (ZUR

HAUSEN et al., 1981).

Nos cães, as verrugas transmissíveis foram observadas pela primeira vez em

1898, com uma etiologia viral confirmada em 1959 (NICHOLLS, 1999). Usando

microscopia de luz e eletrônica, a evidência da etiologia da PV foi sugerida em 1969

e o primeiro PV canino foi totalmente sequenciado em 1994 (DELIUS et al., 1994). Em

contraste, como os PV raramente causam papilomas em gatos, a primeira evidência

da doença induzida pela PV nesta espécie não foi relatada até 1990 (CARNEY et al.,

1990), entretanto, o primeiro PV de gatos domésticos foi totalmente sequenciado em

2002 (TACHEZY et al., 2002).

Nos anos subsequentes à estes estudos iniciais de PV, tipos adicionais de PV

foram identificados e associados com uma gama alargada de doenças caninas e

felinas. Além do mais, é sabido que os fatores do hospedeiro desempenham um papel

significativo na determinação de que a doença causará um quadro clinicamente

relevante (MUNDAY, 2017). As lesões na cavidade oral são a principal forma de

apresentação clínica da papilomatose em cães. A papilomatose oral ocorre

preferencialmente nos lábios, língua, palato, mucosa da faringe e esôfago. Papilomas

oculares ocorrem em conjuntiva, córnea e margem palpebral. As lesões se

desenvolvem nos cães predominantemente entre um a cinco meses, regredindo na

maioria dos casos quatro a oito semanas após o início das lesões, podendo,

ocasionalmente, tenderem a cronicidade (CHAMBERS, 1959; CALVERT, 1990).

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2.1.1Taxonomia

A papilomatose canina é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus

da família Papillomaviridae, gênero Lambda papilomavírus (CALVERT, 2006). Esta

família pode ser considerada uma das mais antigas e extensas, com uma grande

diversidade genética, sendo o Papilomavírus humano (HPV) o que possui mais tipos

identificados, com 205 tipos descritos até o momento no banco de dados

Papilomavirus Episteme (VAN DOORSLAER, 2013).

O Comitê Internacional de Taxonomia dos Vírus (ICTV) classifica os PVs

quanto ao gênero de acordo com o alfabeto grego. Já as espécies possuem o mesmo

nome do gênero mais uma numeração arábica ao final deste nome, o que vai

diferenciá-las. Os gêneros de CPV aprovadas pelo ICTV são: Chipapilomavírus

(ChiPVs), Lambda papilomavírus (LambdaPVs) e Taupapilomavírus (TauPVs). E as

espécies aprovadas são: ChiPV 1; ChiPV 2; ChiPV 3; TauPV 1; TauPV 2; LambdaPV

2; e LambdaPV 3. Para identificação de um novo tipo, deve-se ter uma diferença de

mais de 10% em relação ao tipo mais próximo já conhecido. Diferenças entre 2 e 10%

entre as sequências definem um novo subtipo e menos de 2% uma nova variante (DE

VILLIERS et al., 2004).

Os papilomavírus são altamente espécie/tecido – específicos, são vírus

icosaédricos pequenos, não envelopados, que infectam os estratificados epitélio

escamoso de muitas espécies de mamíferos, seres humanos, animais domésticos e

selvagens, assim como algumas espécies aviárias e reptilianas. Seu genoma circular

de DNA de cadeia dupla tem cerca de 8000 pares de bases e inclui cinco ou seis

quadros de leitura aberta precoce (E) e dois tardios (L) (MUNDAY; PASAVENTO,

2017). A ausência de envelope confere maior resistência do vírus no ambiente.

Apresentam termo estabilidade e são resistentes ao pH ácido, ao éter e aos solventes

lipídicos (CALVERT, 2006).

Na comunidade científica os PV são conhecidos pela nomenclatura

baseada no nome científico do hospedeiro e o tipo de papilomavirus identificado. Para

o papilomavírus canino é utilizado o nome “Canis familiaris papilomavírus” (CPV)

acrescentando ao final do nome, a numeração da identificação do tipo, com exceção

para o CPV1 que também é conhecido como “Canis familiaris oral papilomavírus 1”

(BERNARD et al., 2010). Atualmente, 18 tipos Canis familiaris papilomavirus (CPV)

foram totalmente sequenciados e classificados como Lambapapillomavirus,

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14

Taupapillomavirus e Chipapillomavirus. No entanto, sequências curtas dos tipos de

PV foram amplificados a partir de cães e gatos, sugerindo que os novos tipos de PV

serão reconhecidos de ambas as espécies no futuro (LUFF, 2012; MUNDAY, 2016).

2.1.2 Infecção Viral

Os vírus da família Papillomaviridae infectam diferentes espécies de mamíferos

e aves e caracterizam-se pela propriedade oncogênica, que é responsável pela

produção de lesões tumorais benignas e malignas, nos epitélios cutâneos e mucoso.

A infecção por membros da família Papillomaviridae ocasionam enfermidades

semelhantes nas diversas espécies acometidas e está amplamente distribuída em

todo o mundo (ALFIERI et. al, 2002).

No ciclo de infecção do PV, que acompanha o ciclo celular dos ceratinócitos,

primeiramente, os genes iniciais do vírus são expressos no núcleo das células na

camada basal da epiderme e há a replicação do DNA viral; depois a expressão destes

genes fica baixa e o genoma do vírus epissomal, ocorrendo centenas de amplificações

do DNA viral por célula (LANGE; FAVROT, 2011; LANGE, 2013; YHEE, 2010).

Para o início, bem-sucedido, de infeção produtiva, as partículas infecciosas

precisam penetrar nas células da camada basal, o que requer na maioria dos casos,

a ruptura do epitélio. Contudo, em todos os casos, a infeção inicial é seguida por um

período de latência viral, durante o qual o genoma viral sofre replicação como

elementos extra cromossômicos autônomos. Após a diferenciação de células basais

no epitélio em maturação, a expressão dos genes do capsídeo é induzida a produzir

vírus maduro e as correspondentes lesões macroscópicas visíveis. O desfecho da

infeção por PV depende da patogenicidade intrínseca da cepa de PV e da imunidade

do hospedeiro e também da sua base genética (FAVROT, 2015).

A diferenciação dos ceratinócitos resulta na expressão das proteínas PV E6

e E7 que promovem replicação da célula suprabasal normalmente pós-mitótica e

permitir a amplificação em larga o genoma viral. Expressão das proteínas do capsídeo

PV (L1 e L2) e a montagem viral ocorre quando a célula infectada atinge o epitélio

superior. Vírus carregados de papiloma queratinócitos maduros são desprendidos da

superfície epitelial com a subsequente ruptura de essas células, liberando virions

infecciosos (DOORBAR et al., 2012).

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15

A apresentação clínica de uma infecção por PV é largamente determinada

pelo grau de proliferação induzida pelo PV. A maioria dos tipos de PV aumenta apenas

levemente a proliferação celular e a replicação ocorre, lentamente na ausência de

lesões visíveis (DOORBAR et al., 2012). Alternativamente, uma minoria dos tipos de

PV aumenta acentuadamente a replicação celular, resultando em produção de um

grande número de partículas virais. Tais infecções causam epitelialidade marcada

pela hiperplasia que é visível clinicamente como um papiloma (verrugas) (MUNDAY,

2014). Como a maioria da replicação viral ocorre nas camadas epiteliais externas na

ausência de lise celular, as infecções por PV frequentemente causam apenas uma

fraca resposta imune do hospedeiro (DOORBAR, 2006).

No entanto, quando ocorre uma reação imunológica, a resposta pode ser

subdividida em humoral e imunidade mediada por células. A produção de anticorpos

IgG circulantes bloqueia a entrada do PV para as células basais, prevenindo novas

infecções por este tipo de PV, embora os não influenciam a resolução de uma infecção

por PV estabelecida (NICHOLLS, 1999). O desenvolvimento de uma resposta

mediada por células resulta na resolução de infecções estabelecidas. Como há

variação intra-individual no tempo de resposta do organismo, para montar uma

resposta mediada por células, há também uma variação no tempo para resolver um

papiloma clinicamente visível. Como relatado anteriormente, a resolução também

pode ser adiada em animais imunossuprimidos (DOORBAR, 2017).

Na maioria dos cães e gatos, a infecção por PV é inaparente (MUNDAY,

2011; LANGE, 2011). Estas infecções geralmente não resultam em hiperplasia

epitelial visível, porque o sistema imunológico é capaz de impedir o PV de modificar a

regulação normal das células epiteliais. No entanto, se houver mudanças no

hospedeiro há maior expressão da proteína PV, a hiperplasia epitelial resultante em

produzir uma lesão. Atualmente, os fatores do hospedeiro que determinam se a

infecção por PV causar uma lesão hiperplásica visível são pouco compreendidas

(EGAWA; DOORBAR, 2017).

No entanto, a imunossupressão parece predispor ao desenvolvimento de

algumas lesões induzidas por PV (CALLAN et al., 2005) e a freqüência aumentada de

placas pigmentadas em certas raças de cão (NARAMA et al., 2005; LUFF et al., 2016)

sugere que fatores genéticos também podem influenciar se uma infecção por PV

permanece assintomática ou resulta em doença clínica.

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16

2.1.3 Papiloma Oral

Papilomas orais causados pelo CPV-1 (anteriormente chamado de PV oral

canina) são comuns em cães jovens e ou imunocomprometidos (LANGE; FAVROT,

2011). A epidemiologia da infecção pelo CPV-1 é pobremente entendida. Existem

relatos de surtos de papilomatose oral canina, sugerindo que a doença pode ser

adquirida através do contato com cães afetados. No entanto, uma vez que os cães

são comumente infectados de forma inaparente pelo CPV-1, evitar cães com

papilomas pode não sersuficiente para prevenir a doença (LANGE et al., 2011).

A papilomatose oral, demonstradas nas figuras 1 e 2, é caracterizada pelo

aparecimento de pequenos papilomas pedunculados (1 – 2 cm de comprimento) na

cavidade oral, podendo estender-se desde a gengiva até o palato. Os animais podem

apresentar também lesões ao redor da boca e olhos. As implicações dessa forma de

papilomatose são a dificuldade de alimentação e o mal estar. Todavia, a maioria dos

cães não apresentam sinais de doença, embora haja relatos raros de doença extensa

que interfere com a alimentação ou respiração (ALFIERI, 2002).

A histopatologia revela uma massa exofítica composta por epitélio dobrado

espessado, muitas vezes com numerosas alterações celulares induzidas por PV. A

maioria dos papilomas orais caninos regride espontaneamente e a excisão cirúrgica

raramente é necessária. A regressão é devido ao desenvolvimento de uma célula

mediada por resposta imune. Em papilomas induzidos experimentalmente, a

resolução tipicamente ocorre dentro de 8 semanas. No entanto, a resolução dos

Figura 2. Papiloma oral. Fonte: MOURA,2012. Figura 1. Papiloma oral. Fonte: REGALADO IBARRA, 2018.

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papilomas naturais parece ser mais variável, com resolução que pode levar até 12

meses em alguns cães (NICHOLLS; STANLEY, 1999).

Numerosos tratamentos para acelerar a resolução de papilomas orais foram

propostos, mas a maioria não foi avaliada em estudos apropriados. Há relatos raros

de papilomas orais persistentes e repetidamente recorrentes. Acredita-se que estes

se desenvolvam devido a uma resposta imune ineficaz mediada por células contra

células (ALFIERI, 2002). A maioria dos cães não tem outros sinais detectáveis de

imunossupressão, sugerindo uma deficiência imunológica específica para PVs. Estes

cães podem desenvolver papilomatose extensa e pode estar predisposto a CCE

(REGALADO, 2016).

2.1.4 Papiloma Cutâneo

Os papilomas cutâneos caninos têm sido associados aos CPV-1, 2, 6 e 7

(LANGE, 2009). A maioria se desenvolve em cães jovens, presumivelmente no

momento da primeira infecção pelo PV causal. Os papilomas cutâneos podem ser

únicos ou múltiplos. Podem ocorrer em qualquer parte do corpo, mas são mais

comuns na face, ouvidos, como demonstrado na figura 3, e extremidades (GROSS et

al., 2005).

Histologicamente, papilomas podem ser subdivididos em papilomas

exofíticos, nos quais a epiderme dobrada se projete acima da superfície da pele e

papilomas invertidos, nos quais o epitélio dobrado está contido dentro de uma

estrutura em forma verrucosa (CAMPBELL, 1988; MUNDAY, 2017). A resolução

espontânea é esperada, embora os papilomas persistentes tenham sido observados

Figura 3. Papiloma cutâneo em região de ouvido. Fonte: MUNDAY, 2017.

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e a progressão de papilomas invertidos induzidos por CPV-2 para CCE foi relatada

em vários cães em uma colônia de pesquisa de cães imunocomprometidos

(GOLDSCHMIDT et al., 2006).

2.1.5 Placas Virais Pigmentadas

Placas pigmentadas caninas estão associadas a um número de tipos de

Chipapillomavirus (TOBLER, 2008; LANGE, 2012; LUFF et al., 2015). A papilomatose

também pode se desenvolver na forma de placas pigmentadas múltiplas que ocorrem

com maior freqüência em cães mais jovens, assim como em adultos, com maior

severidade observada em algumas raças (MEDLEAU, 2009).

É provável que cães freqüentemente infectados de forma assintomática seja

por esses tipos de PV, mas apenas desenvolvem-se placas quando os fatores do

hospedeiro permitem aumento da replicação do PV. O papel do hospedeiro no

desenvolvimento da doença é ilustrado pela predisposição a placas observadas em

cães recebendo terapia imunossupressora e em cães da raça pug (NARAMA et al.,

2005). No entanto, como as placas pigmentadas também ocorrem em cães de outras

raças sem qualquer doença imunossupressora identificável, os fatores precisos do

hospedeiro para formação da placa são desconhecidos. As placas são tipicamente

escuras, múltiplas e de 1-10 mm de diâmetro. Elas são mais comuns em região ventral

como demonstrado na figura 4, face medial de membro pélvico, pescoço e tronco

(MUNDAY et al., 2011).

A histopatologia revela acantose epidérmica moderada, hiperceratose, uma

típica aparência da superfície da pele e pigmentação da melanina epidérmica e

dérmica proeminentes. Acredita-se ser uma doença hereditária com características

autossômicas dominantes que surge como lesões que progridem sem sinais de

regressão. As placas pigmentadas múltiplas são raras e conhecidas como a forma

familiar da papilomatose. O principal diagnóstico diferencial é o melanoma. Acredita-

se na existência de um PV indeterminado associado a múltiplas placas virais

pigmentadas em cães (MEDLEAU, 2009).

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Figura 4. Placas pigmentada em região ventral do abdome. Fonte: TOBLER, 2007.

Geralmente, as placas pigmentadas são consideradas esteticamente

indesejáveis, mas não tem um impacto negativo na saúde. No entanto, as placas

pigmentadas podem sofrer transformação maligna para um CCE (MUNDAY et al.,

2011; LUFF et al.,2016). Embora a transformação maligna tenha sido relatada apenas

em placas que foram associados ao CPV-9, 12 e 16. O número de casos publicados

sugere que o potencial maligno não pode ser excluído para placas causadas por

outros tipos de PV. Cães com placas pigmentadas devem ser avaliados para excluir

qualquer doença imunossupressora. Embora o tratamento muitas vezes não seja

necessário, a excisão cirúrgica das placas é possível. Um cão com numerosas placas

virais foi submetido ao tratamento com terapia a laser, evidenciando sucesso. Placas

devem ser observadas cuidadosamente para qualquer evidência de transformação

maligna (MUNDAY et al., 2011).

2.2 A PELE E O CÂNCER

Nos últimos anos, a incidência de várias doenças em animais de companhia

aumentou, assim como a expectativa de vida que foi prolongada. Entre essas

doenças, a incidência de câncer em cães vem aumentando em particular

(MEIRELLES et al., 2010). Em contrapartida ao avanço da área oncológica é exigido

do médico veterinário que atua no atendimento clínico diário, a atualização dos seus

conceitos, os quais devem estar sedimentados sobre uma base sólida. É essencial

todo conhecimento que envolva desde a formação, classificação, os mecanismos de

invasão local e metástase. Tais informações estruturam as tomadas de decisões

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frente a cada caso e permitem a leitura e entendimento dos artigos atuais publicados

sobre o assunto (GUEDES, 1998; BALDIN, 2005; WITHROW, 2007).

Os tumores cutâneos são as neoplasias mais frequentemente encontrados nos

animais domésticos. A prevalência nesta região do corpo deve-se ao fato de que a

pele, além de ser o maior de todos os órgãos, é constituída, juntamente com o tecido

subcutâneo, por uma grande variedade de células suscetíveis ao desenvolvimento de

neoplasias (HAUCK, 2013).

A pele tem um alto índice de renovação celular, o que aumenta as chances de

ocorrência de mutações, e pode propiciar o surgimento de tumores (MEIRELLES et

al., 2010). Apresenta inúmeras estruturas anatômicas, que incluem a epiderme (que

contém camadas de ceratinócitos com melanócitos, células de Langherhans e as

células de Merkel), a derme que contém células do tecido conjuntivo (fibroblastos),

células hematopoiéticas (mastócitos, histiócitos), anexos epidérmicos (folículos

pilosos, glândulas sudoríparas e sebáceas), nervos, vasos sanguíneos e os vasos

linfáticos, além dos granulócitos, linfócitos, monócitos e os plasmócitos, comprovando

assim a alternância entre os tipos celulares em um mesmo local e a possibilidade de

que quaisquer tecido ou célula poder originar tumorações benignas ou malignas

(KRAEGEL, 2004).

A neoplasia formada no epitélio cutâneo é denominada de CCE que possui

várias sinonímias, como carcinoma espinocelular, carcinoma escamocelular ou

carcinoma epidermóide. É uma neoformação maligna de células epidérmicas, das

quais se diferenciam para ceratinócitos, de crescimento lento e não necessariamente

metastático, comum em felinos, bovinos, caninos, equinos, relativamente incomum

em ovinos e raro em caprinos e suínos. (GOLDSCHMIDT, 2002; SOUZA, 2005;

SCOPEL, 2007).

2.3 CARCINOMAS CUTÂNEOS

Existem duas classificações para os carcinomas cutâneos. A primeira é

denominada carcinoma in situ, que compreende o carcinoma de Bowenoide e a

ceratose actníca. E respectivamente, o carcinoma invasivo, que compreende o

carcinoma basocelular e o carcinoma de células escamosas (WITROW, 2013).

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2.3.1 Carcinoma Bowenoide

O carcinoma de células escamosas multicêntrico in situ, em cães (figura 6 e 7)

e gatos, é denominado doença bowenoide ou carcinoma bowenoide in situ (BISC).

Essa doença foi inicialmente descrita em humanos em 1912 e desde então, tem sido

relatada em outras espécies. É causada por papilomavírus humanos (HPV) capazes

de induzir a carcinogênese de colo de útero. Semelhante tem se detectado de forma

crescente variantes caninas e felinas de papilomavírus em lesões do tipo BISC em

ambas as espécies (WITHROW, 2013).

Na histopatologia, a doença de bowenoide é semelhante aos carcinomas

epidermóides convencionais, diferindo principalmente por ser uma neoplasia restrita

a epiderme e folículo piloso (SOUZA, 2005). O carcinoma bowenoide in situ pode ser

dividido em histotipos irregulares não hiperceratóticos e verrucoso hiperceratótico. A

principal característica histopatológica além da displasia é a ausência de invasão da

membrana basal (in situ). Tem como principal diagnóstico diferencial a ceratose

actínica. Às vezes se faz necessário a realização de exame imunohistoquímica para

diferenciação das duas afecções (DALECK, 2016).

As lesões em geral são em forma de placas crostosas ou verrucosas, solitárias

ou múltiplas, podendo ser alopécicas e eritematosas. Ocorrem tanto em áreas

pigmentadas como nas desprovidas de despigmentação. Afetam principalmente face,

pescoço, membros torácicos e dígitos. As lesões não tratadas em pacientes humanos

com doença de bowenoide podem evoluir para CCE. No caso de lesões solitárias, a

exérese cirúrgica é recomendada, assim como a criocirurgia ou a remoção a laser.

Figura 6. Carcinoma in situ interdigital. Fonte: MUNDAY, 2017.

Figura 5.Carcinoma in situ facial. Fonte: DALECK, 2016

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Porém, novas lesões podem se originar após o procedimento cirúrgico. Como

imunomodulador, pode-se utilizar imiquimode 5 % creme tópico a cada 24 a 48 horas

de 2 a 3 semanas. O prognóstico muitas vezes é reservado devido a novas lesões se

desenvolverem (WITHROW, 2013).

2.3.2 Ceratose Actínica

A ceratose actínica é uma proliferação pré-maligna de ceratinócitos

epidérmicos atípicos em cães e gatos expostos a luz solar. A exposição crônica e

excessiva a luz ultravioleta, gera danos diretos e indiretos ao DNA dos ceratinócitos

epidérmicos que podem sofrer transformação maligna e progredir para o CCE.

Sequência de DNA viral, isto é, PV, foram encontrados em ceratose actínicas de cães

e gatos (HAUCK, 2013). É caracterizada por hiperplasia epidérmica com displasia e

atipia dos ceratinócitos, hiperceratose para ceratose, aumento do índice mitótico,

inflamação dérmica, comedões actínicos, furunculose actínica, elastose e fibrose

solar. O marco central é a ausência de invasão da membrana basal da epiderme pelos

ceratinócitos atípicos. O principal diagnóstico diferencial é o BISC (WITHROW, 2013).

O fator etiológico de maior importância é a excessiva exposição à luz UV, que

provoca consequências imunológicas locais e sistêmicas. Ocorrem alterações as

funções e características morfológicas das células de Langerhans, além de influenciar

a produção de citocinas na pele (LEBWOHL, 2003). O estresse fotooxidativo

provocado por raios UVA, indiretamente, causa mutações características no DNA. Por

outro lado, a radiação UVB age diretamente na formação de dímero de timina e

transições C→T OU CC→TT no DNA e RNA. A ausência de mecanismos adequados

de reparação nestas alterações no DNA representa o início das mutações nos

ceratinócitos que podem progredir no desenvolvimento da ceratose actínica

(STOCKFLETH; KERL, 2006).

O gene supressor tumoral p53 é um dos principais alvos do dano solar.

Sequências de DNA viral do PV, foram encontradas em ceratoses actínicas de cães

e gatos (DELLECK, 2016). O PV atua como co-carcinógeno na etiopatogenia da

ceratose actínica em humanos e estimula a proliferação epitelial em várias espécies

animais (MUNDAY et al., 2007).

Em até 1 % dos pacientes humanos não submetidas a fotoproteção, há

evolução da lesão pré-maligna para o CCE. Em cães, é comum ser encontrada intensa

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displasia epidérmica contígua a zonas com carcinoma francamente invasivo. A

ceratose é encontrada em cães das raças Dálmata, American Staffordshire Terrier,

Beagle, BassetHound e Bull Terrier que apresentam predisposição a lesões actínicas

(SCOTT et al., 2001). As lesões ocorrem principalmente em cães mais velhos, mas a

doença também foi observada em idade inferior a dois anos (GROSS et al., 2005).

O aspecto clínico é extremamente variável. A incidência de ceratose actníca

varia conforme a localização geográfica do ambiente em que o paciente vive, assim

como o hábito de se expor a luz solar. As lesões são observadas em áreas

cronicamente expostas ao sol e na maioria dos casos ocorrem em regiões menos

pigmentadas e com poucos pêlos, representado nas figuras 7 e 8, como abdômen

ventral, lateral e flanco (GROSS et al., 2005). Os clínicos têm relacionado que

pacientes que apresentam ceratose actníca também apresentam hipotireoidismo. Isso

pode explicar a intensa necessidade que esses cães têm de buscar a luz solar, por

conta da termofilia que costumam apresentar (DALECK, 2016).

Em decorrência da cronicidade, as lesões variam de eritema focal com crostas

e descamação, pápulas e máculas mal definidas, placas e nódulos ceratóticos, firmes,

com crostas escurecidas. Erosões e úlceras com crostas hemorrágicas podem

ocorrer. Piodermite secundária com furunculose actínica são achados comuns e são

oriundos de comedões actínicos (DALECK, 2016).

As lesões iniciais apresentam melhora clínica com o uso de fotoprotetores e

evitando-se exposição solar. Caso não regridam, o recomendado é retirar por

completo o paciente da exposição solar, assim como vestir roupas e utilizar filtro solar

com fator de proteção 30 ou superior, em base gel para o corpo e na forma de filtro

labial para o focinho e plano nasal, se possível, a cada 4 horas. Se houver prurido ou

dor, glicocorticóides tópicos ou por via oral são benéficos. Preconiza-se a hidratação

Figura 8.Ceratose actínica. Fonte: VICCINI, 2017.

Figura 7.Ceratose actínica. Fonte: VICCINI, 2017.

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da pele com o uso de xampus contendo uréia de 4 a 6 % em banhos semanais ou de

sprays para uso diário a base de uréia a 3% e aloe vera a 2% e de ampolas contendo

ceramidas para uso semanal, após banho. Lesões avançadas requerem a utilização

de retinóides sistêmicos ou administração tópica de 5-fluoruracila ou do imiquimode 5

% creme de 2 a 3 vezes/semana como opções de controle das lesões. Como outra

modalidade de tratamento, pode-se optar por criocirurgia ou remoção cirúrgica

(SCOTT et al., 2001). O prognostico é variável e depende do grau de diferenciação e

do local das lesões. Deve-se sempre considerar a possibilidade de progressão do

quadro para CCE, que torna o prognostico pior (WITHROW, 2013; DALECK, 2016).

2.3.3 Carcinoma Basocelular

O carcinoma basocelular é um carcinoma invasivo (figura 9), definido como um

tumor de baixo grau de malignidade originário da camada basal da epiderme

interfolicular ou folicular. Em humanos a exposição solar crônica, mutações gênicas e

vias de sinalização especificas participam da carcinogênese. Os carcinomas

basocelulares são raros, representando menos de 0,35 e 1,25% dos tumores

cutâneos em cães e gatos, respectivamente. Ocorrem com maior frequência em cães

com 8 anos e gatos com 10 anos (BLANCA et al., 2016).

Os carcinomas de células basais, geralmente apresentam-se como placas

firmes ou nódulos umbilicados, que medem de milímetros a centímetros. As lesões

nos cães são localizadas no tronco, especialmente em regiões de pele glabra. São

divididos em padrão sólido, ceratinizante (ceratótico) e com predomínio de células

claras. Localizam-se na derme, apresentam configuração em placa e continuidade

Figura 9. Carcinoma basocelular em focinho. Fonte: WITHROW, 2013.

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com a epiderme. As células que os compõe são similares as células basais da

epiderme e folículos pilosos. O pleomorfismo celular e atipia são mínimos, o que

confere a esses tumores aspecto histológico pseudobenigno. O índice mitótico é de

moderado a alto, com eventuais figuras de mitose atípicas. Podem-se observar zonas

de diferenciação escamosa, centros de necrose e formação de fendas estromais arte-

fatuais. Os diagnósticos diferenciais incluem: adenomas/carcinomas ductulares

sólido-císticos, epiteliomas sebáceos, tricoblastomas e carcinoma sebáceos

epiteliomatosos (DALECK, 2016).

A excisão cirúrgica com ampla margem é o tratamento de escolha, quando

possível. A radioterapia e a criocirurgia podem auxiliar no tratamento quando a

exérese neoplásica completa não for possível. O prognóstico é bom, porém em alguns

casos, pode haver lesões metastáticas (WITHROW, 2013).

2.3.4 Carcinoma de células escamosas

O CCE, carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide é uma neoplasia

epitelial maligna do tecido cutâneo e subcutâneo, comum em cães e gatos, que tem

origem nos ceratinócitos (SCOTT et al., 2001). Possuí crescimento lento, alta

invasividade local, porém não é necessariamente metastático, todavia, quando as

mesmas ocorrem o fazem tardiamente (HOLANDA et al. 2009).

É também classificado como carcinoma invasivo. Os ceratinócitos são as

células mais abundantes da epiderme. Encontram-se nos 5 estratos que a constituem.

São mais numerosos nos estratos mais superficiais, ou seja, o estrato córneo da

epiderme possui maior percentagem de ceratinócitos do que o estrato basal. Os

tonofilamentos de queratina, juntamente com os desmossomas, são essenciais para

a coesão entre as células e para conferir resistência ao atrito (JUNQUEIRA;

CARNEIRO, 2004).

Produzem queratina, mas essa queratina não é semelhante em todas as

camadas da epiderme, pois a sua composição vai-se modificando à medida que os

ceratinócitos se diferenciam. Assim, o estrato mais próximo da derme, o estrato basal,

tem ceratinócitos menos diferenciados que sintetizam queratina de baixo peso

molecular, enquanto os ceratinócitos dos estratos mais superficiais, logo mais

diferenciados, sintetizam queratina de maior peso molecular. Quando chegam ao

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estrato córneo, os ceratinócitos estão transformados em placas sem vida que

descamam continuamente (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

A gênese do CCE requer uma série de acontecimentos a nível celular (como

mutações genéticas ocorridas ao acaso) que acontecem em uma ou duas células. O

processo genético que leva à malignidade das células é constituído por 3 passos:

iniciação, promoção e a proliferação. Na iniciação, um fator etiológico atua no

crescimento ou regulação celular, interagindo com o material genético. Durante a

promoção do tumor, fatores adicionais criam um ambiente que favorece a proliferação

das células mutadas. Por último, a progressão tumoral consiste em acontecimentos

genéticos e epigenéticos que dão capacidade aos ceratinócitos para invadir o estroma

(GILSON, 1998).

Existem muitos fatores que estão associados ao desenvolvimento CCE,

incluindo a exposição prolongada à luz UV, falta de pigmento na epiderme, perda de

pêlos ou cobertura de pêlos muito esparsa nos locais afetados. Sabe-se que já existe

correlação do CCE com a presença de PV, como demonstrado em cerca de metade

dos casos de CCE nasais em gatos em estudo específico (GOLDSCHMIDT, 2006).

Indivíduos imunossuprimidos apresentam um risco maior de desenvolverem a

neoplasia. A luz solar, além de seus efeitos sobre o DNA, também parece exercer um

efeito imunossupressor direto e, pelo menos, transitório sobre a pele, afetando a

função normal de vigilância das células de Langerhans (MURPHY, 2000).

As lesões do CCE cutâneo podem ser solitárias ou múltiplas. Normalmente são

solitárias, exceto quando os tumores se encontram associados a lesões solares.

Nesses casos as lesões podem ser múltiplas (RODASKI; WERNER, 2008). Quando

o CCE é causado por dano solar na pele as lesões tumorais podem ser

acompanhadas de eritema, descamação seguida de formação de crostas,

adelgaçamento da epiderme (lesões pré-neoplásicas) e ainda por outros tumores

cutâneos que também sejam induzidos pela radiação solar, como hemangiomas e

hemangiossarcomas dérmicos (NORTHRUP; GIEGER, 2010).

Este tipo de tumor, por norma, é localmente invasivo, infiltra a derme e os

tecidos subcutâneos subjacentes, mas metastiza lentamente. Metástases nos

linfonodos regionais ou no pulmão são encontradas em casos avançados ou em

neoplasias pouco diferenciadas, como as variantes acantolítica ou de células

fusiformes. Se houver metastização para linfonodos regionais está indicada a

extirpação dos mesmos (SCOTT et al., 2001).

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Os tumores podem ser de dois tipos: produtivos ou erosivos. Os produtivos

possuem aspecto papilar de tamanho variável com aspecto de couve-flor (figura 10 e

11), normalmente com superfície ulcerada e sangram com facilidade. Os erosivos são

os mais comuns e são formados por úlceras cobertas com crostas, que se tornam

profundas e formam crateras (FERNANDES, 2001). Histologicamente observa-se que

a lesão se estende através da derme estando ou não associada à proliferação ou

espessamento da epiderme, formando ilhas, cordas e trabéculas de células epiteliais

neoplásicas que demonstram um grau variável de diferenciação escamosa (WEISS et

al. 1974).

Entre os diagnósticos diferenciais de CCE encontram-se: epitelioma cornificado

intracutâneo, papiloma escamoso, carcinoma basoescamoso (RASKIN, 2003),

melanoma, mastocitoma, hemangioma ou hemangiossarcoma cutâneo, tumores do

folículo piloso, tumores das glândulas sebáceas; além de outras enfermidades como

a leishmaniose, dermatofitose, pênfigo e processos alérgicos (CRYSTAL, 2004).

As mesmas recomendações dadas para a ceratose actínica são úteis no

controle da progressão do CCE. Adicionam-se modalidades de quimioterapia

intralesional utilizando-se, carboplatina na dose de 1,5 mg/cm³ a cada 7 dias até a

remissão. Usa-se também fototerapia, criocirurgia e eletroquimioterapia, de acordo

com o tamanho, a localização e a progressão das lesões. A quimioterapia sistêmica

pode ser realizada, embora seus resultados isoladamente não sejam animadores.

Pode-se usar carboplatina na dose de 250 mg/m² a cada 21 dias de 4 a 6 sessões ou

a doxorrubicina na dose de 30 mg/m² também a cada 21 dias, de 4 a 6 sessões. O

prognóstico depende da localização e do grau de diferenciação do CCE, considerando

Figura 11. CCE em dígito. Fonte: MUNDAY, 2017.

Figura 10. CCE em região ventral. Fonte: WITHROW, 2013.

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ruim nos casos em que as narinas estão envolvidas, e é reservado quando o abdome

é acometido (DALECK, 2016).

2.4 CARCINOMA DE CELULA ESCAMOSADE MUCOSAS

2.4.1 Olho

O CCE surge no epitélio conjuntival do limbo, da conjuntiva bulbar, da terceira

pálpebra, ou da epiderme das pálpebras como na figura 12, ocorrendo com maior

freqüência no gato e em outras espécies (bovina e equina), do que no cão. O fato de

ser uma neoplasia rara em cães é sem dúvida peculiar e, até o momento sem

explicações científicas definitivas. Essa neoplasia epidérmica pode ser multifocal e

apresentar aspecto macroscópico similar ao de um papiloma (exofítico) ou, ainda

erosivo com destruição do tecido orbital e/ou penetração variável nos tecidos do bulbo

do olho (DALECK, 2016).

O CCE ocorre com frequência em conjunto com inflamação crônica da margem

palpebral e da conjuntiva. O crescimento da neoplasia não segue uma regra

especifica, mas tende a ser circunferencial ao redor da margem palpebral, resultando

por vezes em fissura da pálpebra quando envolvida por uma massa tumoral grande.

O aspecto avermelhado, úmido, ulcerado e crostoso são característicos e de

observação muito comum na clínica. As metástases podem ocorrer na doença

avançada. Em cães só CCE dificilmente acomete o bulbo do olho. O papiloma

escamoso é incidente em mucosa oral e parece ser exclusivo da conjuntiva e o

papiloma reativo ocorre geralmente na margem palpebral. A etiologia de ambos os

papilomas é desconhecida e o prognóstico é excelente, sendo a terapêutica idêntica

à do papiloma viral (DUBIELZIG, 2011).

Figura 12. CCE em superfície de córnea. Fonte: DALECK, 2016.

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29

2.4.2 Cavidade oral

O CCE é o tumor de cavidade oral mais comum em gatos e o segundo em cães

(figura 13). Alguns fatores de risco foram relatados em felinos, como o uso de coleira

antipulgas, alta ingestão de alimentos enlatados, especialmente de atum em conserva

e exposição a fumaça de cigarro na casa de proprietários. Invasão óssea é frequente

e normalmente grave e extensa, sobretudo em gatos. Já as taxas de metástases

dependem da localização do tumor, por exemplo, na forma não tonsilar é de

aproximadamente 20 %, com tumores na região rostral apresentando baixa taxa de

metástases e na região caudal da língua e na tonsila com um alto potencial

metastático. O carcinoma tonsilar tem evidencias dez vezes maior em cães que vivem

na zona urbana que na rural, possivelmente em razão de agentes poluentes

ambientais (DALECK, 2016).

O prognóstico para cães com CCE quando localizados na parte rostral, em

geral, é bom. O controle local do tumor, geralmente é um desafio importante, embora

as metástases para linfonodos regionais sejam relatadas em até 10% e nos pulmões

em 3 a 33%. Ao contrário, dos CCE das amígdalas e base da língua são altamente

metastáticos, com metástase relatada em até 73%. A recorrência locoregional é muito

comum. A cirurgia é o tratamento mais indicado para o tratamento de CCE

(WITHROW, 2013).

Figura 13. CCE oral. Fonte: REGALADO, 2018.

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30

2.5 ATUAÇÃO DO PV NA ONCOGÊNESE

Os mecanismos moleculares induzidos pelos vírus sobre a célula transformada

ainda não são bem compreendidos. Sugere-se que o vírus possa ser o responsável

pelos eventos iniciais da carcinogênese, mas não pela continuidade da transformação

fenotípica. Também não está claro como os fatores carcinogênicos estão envolvidos

nos diferentes estágios de desenvolvimento dos papilomas e carcinomas (DOORBAR,

2001).

A provável associação causal entre a oncogênese viral e a transformação

maligna dos ceratinócitos é substanciada pela progressão tumor de carcinomas

bowenoides in situ e placas epidérmicas pigmentadas positivas para PV em CCE;

existe amplificação de genes associados aos PV em amostras de CCE; e há maior

freqüência de detecção de produtos de amplificação gênica de PV em tumores de

áreas fotoprotegidas comparados àqueles de áreas fotoexpostas. Mutações do gene

supressor tumoral p53 e a supressão da proteína p53, passíveis de detecção imuno-

histoquímicas em cães e gatos, também podem participar no processo de

carcinogênese. Doenças que causem despigmentação e favoreça raios UV, isto é,

pênfigo eritematoso, vitiligo e lúpus eritematoso discoide, podem predispor os

pacientes a dano actínico e, consequentemente, ao desenvolvimento de CCE (figura

14) (DALECK, 2016).

Todavia, sabe-se que um processo importante no câncer induzido por PV é

a integração acidental do PV com as proteinas E6 e E7 no DNA do hospedeiro,

resultando em crescimento celular rápido e descontrolado, inibição da apoptose,

Figura 14.Representação esquemática de como a ação do papilomavírus pode promover CCE em pele lesada pelo sol (Adaptado de MUNDAY; KIUPEL, 2010).

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31

perda de telomerase e interrupção de processos que garantam a montagem precisa

de DNA hospedeiro replicado . Essas células geneticamente instáveis que se dividem

rapidamente acumulam mutações adicionais, resultando em progressão maligna

(DOORBAR et al., 2012).

Embora haja evidências acumuladas de que as PV podem causar câncer em

cães e gatos (MUNDAY, 2011; LUFF, 2016), as funções precisas do PV com E6

canino e felino e as proteínas E7 não foram completamente determinadas. Além disso,

algumas neoplasias demonstraram conter infecções produtivas, sugerindo que o DNA

do PV não pode ser integrado ao DNA hospedeiro (MUNDAY et al., 2015).

O PV causa proliferações benignas cutâneas e em mucosas, que em geral

são auto limitantes. Nos cães, a infecção por PV pode causar múltiplas placas

epiteliais e verrugas em uma variedade de locais na pele, incluindo a mucosa,

membranas mucocutâneas da cavidade oral, conjuntiva, córnea, lábios, pênis e vulva.

Após um período de incubação de 1 ou 2 meses, as lesões benignas geralmente não

suscitam em problemas sérios e até mesmo papilomatose oral grave mostra uma

regressão espontânea. Contudo, alguns casos são refratários ao tratamento, e os

CCE da pele e da gengiva também foram associados à infecçao ao PV (ZAUGG et

al., 2005).

Hoje já se sabe que essas lesões causadas pelo vírus podem progredir para

tumores malignos em cães (FAVROT, 2015). Em humano isso já é muito descrito. O

vírus induz uma ampla gama de infecções. Algumas são comensais, enquanto outros

causam transformações neoplásicas. Nos seres humanos, certos PV de mucosas

estão causalmente associados com câncer de colo de útero e um subconjunto de

câncer de cabeça e pescoço. A associação causal entre PV cutâneo e câncer de pele

são menos estabelecidos. Contudo, pacientes com doença genética estão em maior

risco de câncer de pele associado ao PV, sugerindo que PV podem desempenhar um

papel na carcinogênese (LUFF et al., 2016).

Até o momento 12 trabalhos estudaram a correlação da ocorrência do CCE

aliada a infecção viral pelo PV. Dentre eles, destaca-se MUNDAY com 6 trabalhos

desenvolvidos. Segue um breve levantamento de dados obtidos por esses trabalhos:

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Tabela 1. Trabalhos que relataram a correlação de CCE com a infecção viral pelo PV.

AUTOR/ANO Nº DE AMOSTRAS

CLASSIFICAÇÃO LOCALIZAÇÃO

(+) (-)

LUFF, 2018 (LEÃO MARINHO)

01 CCE Pele 1+PCR e Imuno 0

MUNDAY, 2018 01 CCE Cavidade oral 1+ PCR 0

LUFF, 2016 02 CCE Pele 2+ PCR e Imuno

0

MUNDAY, 2016

01 CCE Cavidade oral 1+PCR e Imuno 0

MUNDAY, 2015

28

CCE

Gengiva

Tonsila

0

0

20

8

MUNDAY, 2015 01 CCE Cavidade oral 1+PCR IMUNO P 16

0

PORCELLATO, 2014

78

Papiloma/ CCE, melanoma,

ameloblastoma, adenocarcinoma,

hiperplasia

Cavidade oral 3/33 PCR e Imuno

30 CCE

MUNDAY, 2012

20

20

20

02

CCE

Hemangiossarcoma

Pele saudável

Placas virais

Pele

Pele

Pele

Pele

1+ PCR

0

0

1+

19

20

20

1

MUNDAY, 2010 5 CCE Pele 5 + PCR 0

ZAUGG, 2005

42

CCE in situ

CCE invasivo

CCE invasivo

Pele

Pele

Mucosa

2 +

2+

5+

0

15

18

CALLAN, 2005 01 CCE Pele 1+ Imuno 0

TEIFKE, 1997 54 CCE Pele, cavidade oral

3 +PCR e imuno

51

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40

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41

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho é estudar, por técnicas moleculares, a

ocorrência da infecção pelo PV em lesões de CCE da pele, leito ungueal e mucosa

oral de cães.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar a frequência de ocorrência de PV em amostras de lesões de CCE;

Realizar um estudo comparativo dos achados histopatológicos e avaliação do

grau de malignidade e diferenciação celular dessas lesões a partir de duas

populações, uma com lesão associada à detecção do PV e outra com lesões

livres dessa associação.

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42

5. ARTIGO

INVESTIGAÇÃO MOLECULAR DE PAPILOMA VÍRUS EM CARCINOMA DE

CÉLULAS ESCAMOSAS EM PELE E MUCOSA DE CÃES

RESUMO

VICCINI, F. Investigação molecular de papilomavírus em carcinoma de células

escamosas em pele e mucosa de cães. 2019. Dissertação (Mestrado Biociência

Animal) – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2019.

Com o aumento da expectativa de vida dos animais de companhia, veio também a maior incidência de doenças, entre elas, o câncer. Os tumores cutâneos são as neoplasias mais encontradas nos animais domésticos e o carcinoma de células escamosas (CCE) representa um grande vilão nesse complexo tumoral. O CCE ocorre com mais frequência na pele, leitos ungueais, mucosas orais e oculares. O papilomavírus (PV) apresenta intenso epiteliotropismo por células epiteliais escamosas cutâneas e de mucosas. Já foi relatada a infecção do PV em vários tumores cutâneos e de mucosas, sejam eles malignos ou benignos, sendo o CCE o tumor onde o PV tem sido mais descrito. Alguns estudos também detectaram o PV em casos isolados de carcinomas in situ e várias placas epidérmicas pigmentadas em cães. Estes estudos, em sua grande maioria, foram realizados em casos isolados, ou lesões em regiões específicas como CCE orais. O presente estudo é inédito no Brasil, quando se trata da relação do CCE e PV em lesões neoplásicas cutâneas e de mucosas. Foram selecionados 27 blocos parafinados de CCE de cães; 23 de pele, 03 de leitos ungueais e 01 de mucosa oral. A partir desses blocos foram realizados exames de PCR para detecção molecular do PV. Os resultados encontrados confirmaram um percentual de 29,6 % de positividade, que também é o maior percentual verificado até o presente momento. Demonstrando que existe esta correlação e que baseado nas técnicas utilizadas a incidência da associação do PV ao CCE pode ser ainda subestimada. Palavras-chave: Neoplasia, vírus, queratinócitos.

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43

INTRODUÇÃO

Existem diversas doenças neoplásicas, todavia, nenhuma possui origem única,

são provenientes de causas variadas. Desta forma, o estudo das neoplasias é de

fundamental importância para a compreensão de suas causas, tipos e formas de

tratamento (DIAS et al., 2015). O grande número de tumores cutâneos em cães se

deve ao fato que a pele é o maior órgão do corpo e representa a barreira física entre

o ambiente e organismo (JONES et al., 2000). Além de possuir exposição direta aos

fatores oncogênicos, propiciando as formações neoplásicas (MEDLEAU et al., 2009).

As neoplasias se caracterizam como novas formações que indicam um

crescimento anormal do tecido e que acaba se desenvolvendo mais rápido que os

tecidos normais em sua volta, de forma descoordenada e persistente (ALMEIDA et al.,

2005). Dentre as neoplasias mais frequentes em cães domésticos, é possível citar os

carcinomas de células escamosas (CCE), que apresenta elevada prevalência em

pacientes de idade avançada (SOUZA et al., 2006).

O CCE é um tumor maligno que afeta as células produtoras de queratina, ou

seja, os queratinócitos. Também pode ser descrito como carcinoma de células

espinhosas, carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide. Sua patogenia está

associada principalmente a exposição à luz UV, falta de pigmentação na epiderme e

alopecia (RIBEIRO et al., 2010). Além disso, a pele possui inúmeras células e há um

alto índice de renovação celular sendo susceptível a mutações (MURPHY, 2006).

O PV canino já é bem caracterizado por induzir neoformações benignas

provocadas pela infecção de células epiteliais por PV espécie específico. Sabe-se que

estes possuem oncogenes virais responsáveis pelo crescimento e divisão das células

epiteliais do hospedeiro, assim como pela indução de um quadro de instabilidade

genética e mutações cromossômicas, podendo resultar em replicação e diferenciação

celular, resultando em neoplasias malignas (HNILICA, 2009).

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44

MATERIAL E MÉTODOS

Para execução deste trabalho foram utilizados 27 casos previamente

diagnosticados como CCE pelo laboratório Centro Veterinária de Diagnóstico

Anatomopatológico e Biologia (Cevepat), Botucatu – SP, entre o período de 2016 a

2018. Os 27 casos foram classificados como: CCE de boca (n = 01), CCE tegumentar

(n = 24) e CCE ungueal (n = 02). Os blocos parafinados contendo tecidos

representativos das lesões neoplásicas foram encaminhados ao Laboratório de

Biologia Molecular da Universidade de Cuiabá para processamento e diagnóstico

molecular da infecção pelo PV.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética de Uso de Animais da

Universidade de Cuiabá, sob protocolo 030/2018.

DIAGNÓSTICO MOLECULAR

Extração de ácido Nucleico

Para extração de ácidos nucléicos, secções teciduais fixadas em formal e

embebidas em parafina (FFEP) foram processadas; as amostras foram

desparafinadas, submetidas ao processo de digestão enzimática com proteinase K e

posterior extração de DNA.

Para tal, brevemente, foram obtidos 3 secções frescas de 5 micras dos blocos

parafinados contendo as lesões representativas dos diferentes CCE para extração de

ácido nucléico. As secções de lesões FFEP foram desparafinadas seguindo

protocolos químicos utilizando banhos de xilol e álcool absoluto seguindo o seguinte

protocolo: o material foi submetido a 3 banhos com 1 ml de xilol absoluto, seguido de

agitamento por 2 minutos no vórtex e centrifugação a 15000 RCF à 25 graus por 3

minutos. Em seguida, dados mais 3 banhos com álcool absoluto, agitação no vórtex

por dois minutos e centrifugação a 15000 RCF a 25 graus por 3 minutos. Após tais

procedimentos de banho, foi realizada secagem em banho seco a 35 graus durante

10 minutos. Adicionado então 90 ul do Buffer ATL e 20 ul de proteinase K, em seguida,

agitação no vórtex por 15 segundos e overnight. Após 24 horas a 56 graus em bloco

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45

seco, o produto da digestão enzimática foi extraído usando o kit DNeasy Blood &

Tissue (Qiagen), segundo instrução do fabricante.

Reação de cadeia da polimerase

Para validação da PCR utilizada nesse estudo e seleção dos oligonucleotídeos

iniciadores a serem empregados no estudo, a amplificação e detecção do DNA do

CPV foram testadas em tecidos congelados (n = 2) e secções teciduais FFEP (n = 6)

de lesões benignas induzidas pelo PV, utilizando 5 pares de oligonucleotideos

iniciadores (Tabela 1), selecionados para amplificação de fragmentos parciais dos

genes L1, E1, E7 do PV. As reações foram conduzidas nas concentrações de primers,

Mg, dNTPs e Platinun taq DNA polimerase, seguindo protocolos previamente

estabelecidos nos trabalhos consultado referenciadores de cada oligonucleotídeos

iniciadores.

Todas as lesões tiveram previamente o diagnóstico histopatológico confirmado

de formações induzidas por PV em bovinos (lesões papilomatosas em pele – flanco,

sacro e tórax) e caninos (papiloma oral e placa pigmentada CPV-linked). A PCR de

duas lesões foi realizada em duplicata, sendo uma amostra da lesão congelada e outra

amostra da lesão FFEP (um papiloma bovino cutâneo e uma placa pigmentada CPV-

linked proveniente de um canino).

Os oligonucleotideos iniciadores que exibiram os melhores resultados nessa

etapa foram então escolhidos e empregados nas reações de PCR das amostras

clínicas (n = 27) e controles positivos da extração e reação. Como controle negativo

da extração e reação foi utilizado água Milli-Q. Como controle interno da extração, foi

utilizado um par de oligonucleotídeos (GAP3/GAP4) selecionado para amplificação de

um fragmento parcial de 248 PB do gene GAPDH.

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46

Tabela 2. Oligonucleotídeos iniciadores utilizado na amplificação dos genes de papilomavirus em carcinomas de pele e mucosas de cães.

Primers Sequência dos

Primers (5’ -3’)

Especificidade Fragmento/

Gene alvo

Referência

FAP 59 TAACWGTIGGICAYCCWTATT Não específico 480/L1 Labruna et

al.

(2004)

FAP 64 CCWATATCWVHCATITCICCATC Canino 480/L1 Luff et.al

(2016)

MY11 GCMCAGGGWCATAAYAATGG Não específico 450/L1 Munday et. al

(2016)

MY09 CGTCCMARRGGAWACTGATC Não específico 450/L1 Munday et. al

(2016)

CP4 ATGGTACARTGGGCATWTGA Não específico 450/E1 Munday et. al

(2018)

CP5 GAGGYTGCAACCAAAAMTGRCT Canino 450/E1 Munday et.al

(2018)

CANPVF CTTCCTGAWCCTAAYMAKTTTGC Canino 400/L1 Luff et.al

(2016)

CPVJMF GTAGCAGTAGGGGGCTGCACA Não especifico 242/L1 Munday et. al

(2012)

CPVJMR ACTGTCGGAAGCACCACACCGTGG Não especifico 242/L1 Munday et.al

(2012)

GAP 3 AATGCCTCCTGCACCACC Não específico 248/ GAPDH Munday et. al

(2012)

GAP 4 ATGCCAGTGAGCTTCCCG Não específico 248/ GAPDH Munday et. al

(2012)

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47

RESULTADOS

VALIDAÇÃO DA SELEÇÃO DOS PRIMERS E PROTOCOLOS DE EXTRAÇÃO DE

DNA E REAÇÃO DA PCR

Os resultados da validação da seleção dos primers e protocolos de extração de

DNA e reação da PCR encontram-se descritos na tabela 03.

Nas amostras de papilomatose oral foi possível identificar o fragmento

GAP3/GAP4, porém, não foi possível encontrar reação de PCR positiva em nenhum

do primers selecionados.

A placa pigmentada, foi uma das amostras processadas em “duplicata” –

material congelado/material FFEP. O controle da extração (GAP3/GAP4) foi positivo

em ambas as situações, porém a qualidade da banda de 248 PB foi nitidamente pior

(menor intensidade) no material parafinado. Com o par de primers FAP59/64 não

houve resultado positivo, em ambas as situações. Empregando o par MY09/11,

obtivemos resultado positivo com amplificação de um fragmento de 450 PB, no

entanto, nitidamente a qualidade e intensidade da banda proveniente do material

FFEP foi pior. Com o par CPVJMR/MF, não obtivemos resultados positivos. Utilizando

o primers CP4/5, encontramos resultado positivo com a detecção de um fragmento de

450 PB, apenas no material congelado. Já com os pares de primers CanPVf/FAP64,

obteve-se resultado positivo, com amplificação de um fragmento de 400 PB em ambas

as situações. Mais uma vez, o resultado FFEP foi inferior.

No material do bovino com papiloma cutâneo em região de tórax, que também

foi processado em “duplicata”, o controle de extração (GAP3/GAP4) foi positivo em

ambas as situações, porém, a qualidade da banda de 248 PB foi nitidamente pior

(menor intensidade) no material FFEP. O par de primers FAP59/64 positivou com

amplificação de um fragmento de 480 PB na amostra congelada e negativou na

amostra FFEP. Já com o par de primers MY09/11 positivou com amplificação de um

fragmento de 450 PB na amostra congelada e teve como resultado negativo na

amostra FFEP, bem como no FAP59/64. As amostras processadas com o par de

primers CPVJMF/MR, positivou com amplificação de um fragmento de 242 PB em

ambas as amostras, tanto congelada quanto FFEP, todavia a qualidade e intensidade

da banda proveniente do material FFEP foi pior quando comparado na amostra

congelada. Usando os primers CP4/5, houve resultado positivo com amplificação de

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48

um fragmento de 450 PB na amostra congelada, porém, com intensidade e qualidade

de banda menor. Enquanto no material FFEP, não houve resultado positivo. Os

primers CanPVf/FAP64 gerou resultado positivo amplificando um fragmento de 400

PB apenas no material congelado. Evidenciando novamente em resultado do material

FEEP inferior.

As outras duas lesões papilomatosas em bovinos, sendo uma de região de

flanco e outra de região sacral, ambas FFEP, obtiveram resultados negativos com o

GAP, demonstrando a inadequada extração de DNA. No entanto, em ambas as

amostras FFEP, tivemos positividade em diferentes situações utilizando os primers

MY09/11, CPVJMF/MR e CP4/5 (tabela 3). Os oligonucleotideos iniciadores que

exibiram os melhores resultados nessa etapa foram os pares de primers MY09/11 e

CANPV/FAP64.

Tabela 3. Marcação de banda em amostras parafinadas e congeladas utilizando os diferentes Primers.

PRIMERS

AMOSTRAS GAP3/GAP4 FAP59/64 MY09/11 CPVJMR/MF CP4/5 CanPVf/

FAP64

Cão - papilomatose

oral FFEP

+ - - - - -

Cão - papilomatose

oral FFEP

+ - - - - -

Cão placa -

pigmentada

congelada

+

forte

- +

forte

- + +

forte

Cão - placa

pigmentada FFEP

+

fraco

- +

fraco

- - +

Bovino - papiloma

cutâneo tórax

congelado

+ + + + forte +

fraca

+ forte

Bovino - papiloma

cutâneo tórax FFEP

+ muito

fraco

- - + - -

Bovino - papiloma

cutâneo flanco FFEP

- - + + fraco - -

Bovino - papiloma

cutâneo sacro FFEP

- - - + fraco +

fraco

-

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49

RESULTADO DAS AMOSTRAS

De um total de 27 amostras utilizadas para a pesquisa, o material genético viral

do PV foi encontrado em 8 destas. Sendo 6 amostras de pele e 2 amostras de dígito

testadas no primers MY09/11. Abaixo segue a tabela com a descrição dos resultados

obtidos.

Tabela 4. Marcação do primer MY09/11 nas amostras.

BLOCO

SEXO RAÇA IDADE LOCAL DIAGNOSTICO GAP MY0911

H-382-

17 C

M Pitbull NI Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

- -

H-450-

17 C

F SRD 12 a Pele

membro

CCE bem

diferenciado

- -

H-512-

17 C

F SRD 6 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

- -

H-541-

17 C

M Buldogue 8 a Pele

abdome

CCE

moderadamente

diferenciado

+ -

H-594-

17 (1) C

M SRD 10 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ -

H-622-

17 C

F Labrador 10 a Pele

mama

CCE bem

diferenciado

- -

H-799-

17 C

F Fox

Paulistinha

5 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

- -

H-813-

17 C

F SRD 11 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ MUITO

FRACO

-

H-931-

17 C

F N.I 12 a Pele

abdome

CCE

moderadamente

diferenciado

+ +

H-946-

17 (1) C

F Dálmata 5 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ -

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50

H-961-

17 C

F SRD 2 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ -

H-1002-

17 C

F SRD N.I Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ -

H-1086-

17 (1) C

F Pitbull 6 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

- +

H-1244-

17 C

F SRD 9 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

- -

H-1274-

17 C

F SRD N.I Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

- -

H-1072-

16 C

F Jack

Russel

5 a Pele

abdome

CCE

moderadamente

diferenciado

+ -

H-1029-

16 C

F Dálmata 5 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ -

H-837-

16 C

F SRD 8 a Pele

Membro

CCE

moderadamente

diferenciado

+

FRACO

+

H-829-

16 C

M Cocker 14 a Pele

Tronco

CCE

moderadamente

diferenciado

- +

FRACO

H-800-

16 C

M Lhasa Apso 11 a Pele

Tronco

CCE bem

diferenciado

+ +

H-633-

16 (1) C

F SRD 10 a Pele

abdome

CCE bem

diferenciado

+ -

H-568-

16 C

F Fox

Paulistinha

10 a Pele

abdome

CCE

moderadamente

diferenciado

- -

H-280-

17 C

M Schnauzer 9 a Dígito CCE bem

diferenciado

+ +

H-837-

17 (1) C

F SRD 12 a Dígito CCE

moderadamente

diferenciado

+

FRACO

-

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51

DISCUSSÃO

O PV é um vírus epiteliotrópico e cosmopolita (FAVROT, 2011). A infecção pelo

PV tem sido associado com algumas neoplasias cutâneas em cães e gatos, benignas

e malignas (MUNDAY, 2011). O vírus apresenta intenso epiteliotropismo por células

epiteliais escamosas cutâneas e de mucosas e essa replicação viral associada a

propriedades oncogênicas virais poderiam levar a transformação neoplásico

(CALVERT, 1998).

A provável associação causal entre oncogênese viral e transformação maligna

dos ceratinócitos é substanciada pela amplificação de genes do PV em amostras de

carcinomas de células escamosas (MUNDAY, 2016; LUFT, 2016). Adicionalmente,

também tem sido verificado maior freqüência na detecção de produtos de amplificação

gênica de PV em CCE de áreas fotoprotegidas comparados àqueles de áreas

fotoexpostas (FAVROT, 2015). Alguns estudos também já descreveram a positividade

para PV em alguns carcinomas in situ e placas epidérmicas pigmentadas em cães

(MUNDAY et al., 2011; LUFF et al.,2016).

A realização deste trabalho é de grande relevância, uma vez que, no Brasil até

o momento, não há estudos evidenciando a detecção do PV em CCE em cães. E no

âmbito internacional, os dados ainda são insuficientes para provar a relação causal

do PV com o CCE. Desta forma, este estudo contribuirá com dados de grande

impacto, no meio científico. Esta pesquisa obteve resultado que é provindo do trabalho

com maior número de amostras (27) de CCE de pele e mucosas já estudado, e com

H-976-

16 C

F Rottweiler 7 a Dígito CCE

moderadamente

diferenciado

+

FRACO

+

H-859-

16 C

F SRD 8 a Dígito CCE

moderadamente

diferenciado

+ +

H-461-

17 C

F SRD 16 a Mucosa

oral

CCE - -

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52

o maior número de positividade de PV, totalizando 08 positivos, representando 29,6

%.

Esperava-se a detecção viral do PV nas lesões papilomatosas diagnosticadas

histologicamente com os primers utilizados. No entanto, o primer FAP59/64, não teve

resultado positivo nas amostras FFEP, porém positivou a amostra congelada do

bovino com papilomatose cutânea no tórax. Em contrapartida os pares de primers

MY09/11 e CanPVf/FAP64, detectaram o material viral em amostras congeladas e

FFEP do canino com placa viral pigmentada, sendo então o MY09/11 um dos primers

de escolha para a pesquisa, devido à amplificação tanto material congelado como

FFEP.

Diante disto, presumivelmente exista algum fator não identificado, que durante

o processo de fixação/parafinação e ablocamento do material, inviabilize o ácido

nucléico viral. O fator que sustenta esta hipótese é justificado pela amostra congelada

do bovino com papilomatose cutânea em tórax que positivou no primer FAP59/64,

entretanto, negativou em amostra FFEP.

Outra razão que sustenta esta hipótese é a demonstração de resultados do

primer MY09/11, que quando testado em amostras congeladas e FFEP, evidenciou

marcação de banda com coloração mais intensa no material congelado, enquanto no

FFEP marcou com intensidade bastante inferior. Demonstrando que o uso de

amostras FFEP pode não ser o melhor tipo de espécime clínico, uma vez que poderia

gerar um resultado falso negativo.

Alguns autores já pesquisaram a relação do PV com CCE usando o primers

FAP59/64. Munday 2012, avaliou um total de 20 amostras de CCE de pele,

positivando apenas uma destas. Isso demonstra 0,2 % de positividade no total de

amostras. No ano de 2015, Munday realizou outro estudo avaliando um número de

28 amostras de CCE oral, não encontrando o vírus em nenhuma das amostras. Já

Regallado, 2018 avaliou uma única amostra de CCE de pele, tendo como resultado

positivo. A partir disto, os resultados dos estudos prévios usando FAP59/64 devem

ser revistos, especialmente com uso de amostras FFPE.

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53

CONCLUSÃO

Este é o trabalho que investiga a relação do PV com CCE e que possui o maior

número de amostras investigadas. Encontrou-se uma porcentagem de 29,6 %, que

também é o maior percentual verificado até o presente momento, sendo que existe

possibilidades da taxa de ocorrência ser ainda maior, devido ao fato de todos os

estudos prévios terem sido feitos com material parafinado. Os nossos resultados em

matéria de padronização em amostra congelada sugerem que as mesmas podem ter

uma viabilidade superior e novos estudos devem ser feitos com a perspectiva de

aumentar ainda a porcentagem desta associação entre a infecção pelo PV e o CCE.

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