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Prefeitura Municipal de Porto Alegre Universidade Federal do Rio Grande do Sul Prefeitura Municipal de Viamão Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio: um futuro possível

Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio · Arroio do Dilúvio. Percorrendo uma extensão de 17,6 km, o Dilúvio integra uma das bacias hidrográficas mais importantes

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Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio:

um futuro possível

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PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DA BACIA DO ARROIO DILÚVIO: um futuro possível

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Porto Alegre, novembro de 2011.

As universidades Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

disponibilizam a comunidade o Marco Conceitual que versa sobre a revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio.

O Marco reúne itens, eixos e visões que a equipe, formada por técnicos das universidades e das Prefeituras de Porto Alegre e de

Viamão, apontou com a intenção de oferecer as condições de contorno iniciais, em torno das quais um programa de revitalização da Bacia do

Arroio Dilúvio poderá ser baseado. Também apresenta cenários diversos dos problemas associados à Bacia e indica, ainda que de forma

bastante geral, alguns encaminhamentos compreensivos para a solução dos mesmos.

Baseado neste Marco, o desenvolvimento do “Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio: um futuro possível” deverá ser

desenvolvido em colaboração entre a PUCRS e UFRGS e as Prefeituras de Porto Alegre e de Viamão, entre outros parceiros a serem

identificados.

Atenciosamente,

________________________

João E. Schmidt

Pró-Reitor de Pesquisa

UFRGS

________________________

Betina Blochtein

Diretora do Instituto do Meio Ambiente

PUCRS

_______________________________________________________________________

Coordenadores acadêmicos do Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio: um futuro possível

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MARCO CONCEITUAL

O Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio: um futuro possível deverá ser estruturado em torno de um movimento cívico, que abordará de forma integrada e ampla este espaço misto, urbano-natureza, denominado Bacia do Arroio Dilúvio, tão desvalorizado pela Sociedade. Nesta primeira parte do trabalho de montagem do Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio, é apresentada uma estrutura básica do ponto de vista conceitual, a título de inspiração, para as atividades que devem se seguir durante a construção do mesmo. Ao longo das próximas páginas, serão apresentados os aspectos que motivam esta iniciativa e suas repercussões sócio-econômico-ambientais, especialmente para as comunidades que habitam o entorno do Arroio Dilúvio, com significativa melhoria de qualidade da vida de portoalegrenses e viamonenses. Ênfase também é dada para a parceria entre as Prefeituras de Porto Alegre e Viamão e as maiores universidades do estado, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, novembro de 2011

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INSTITUIÇÕES PARCEIRAS

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE

José Fortunati Prefeito

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE VIAMÃO

Alex Sander Alves Boscaini

Prefeito

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Carlos Alexandre Netto Reitor

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

Joaquim Clotet Reitor

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SECRETARIAS, DEPARTAMENTOS e EMPRESAS MUNICIPAIS PARCEIRAS

PORTO ALEGRE

Secretaria Municipal do Meio Ambiente

Secretaria Municipal de Planejamento

Secretaria Municipal de Gestão e Acompanhamento Estratégico

Departamento Municipal de Esgotos Pluviais

Departamento Municipal de Águas e Esgotos

Departamento Municipal de Limpeza Urbana

Procempa

VIAMÃO

Secretaria de Desenvolvimento Econômico

Departamento de Projetos e Planejamento Urbano

Secretário: Luiz Fernando Zacchia

Secretário: Márcio Bins Ely

Secretário: Urbano Schmitt

Diretor Geral: Ernesto da Cruz Teixeira

Diretor Geral: Flávio Ferreira Presser

Diretor Geral: Mário Fernando dos Santos Moncks

Diretor Presidente: André Imar Kulczynski

Coordenador do Departamento: Ruy Atílio Rostirolla

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GRUPO GESTOR DO PROGRAMA

Para a montagem deste Programa, as prefeituras de Porto Alegre e de Viamão, juntamente com a Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) estabeleceram um

grupo de trabalho formado por:

COORDENAÇÃO

Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Prefeitura Municipal de Viamão

Fernando Zacchia Secretario do Meio Ambiente

Ruy Atílio Rostirolla Coordenador do Departamento de Projetos e

Planejamento Urbano

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

João Edgar Schmidt Pró-Reitor de Pesquisa

Betina Blochtein Diretora do Instituto do Meio Ambiente

e dos Recursos Naturais

Bacia do Arroio Dilúvio

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EQUIPES DE TRABALHO INSTITUCIONAIS:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul

Município de Porto Alegre

Município de Viamão

Prof. Dr. André Luiz Lopes da Silveira

Diretor do Instituto de Pesquisas

Hidráulicas

Prof. Dr. Jorge Nicolas Audy

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Eng. Químico Mauro Gomes de Moura Supervisor de Praças, Parques e Jardins

Secretaria do Meio Ambiente

Michele de Souza Barros Departamento do Meio Ambiente

Profa. Dra. Denise Carpena Coitinho Dal

Molin

Diretora da Escola de Engenharia

Profa. Dra. Carla Denise Bonan

Coordenadora de Pesquisa da Pró-reitoria de

Pesquisa e Pós-Graduação

Biólogo Rodrigo da Cunha Gerente do Parque Marinha do Brasil

Secretaria do Meio Ambiente

Miriam Recuero Acosta Departamento do Meio Ambiente

Profa. Dra. Maria Cristina Dias Lay

Diretora da Faculdade de Arquitetura

Prof. Dr. Luis Humberto de Mello Villwock

Coordenador do Laboratório de Criatividade Eng. Civil Arceu Bandeira Rodrigues Departamento de Limpeza Urbana

Vinícius Eduardo Bestetti de Vasconcellos Departamento do Meio Ambiente

Prof. Dr. Carlos Eduardo Pereira

Vice-Diretor da Escola de Engenharia

Prof. Dra. Rosane Souza da Silva

Coordenadora do Comitê de Gestão

Ambiental da PUCRS

Instituto do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais

Biólogo Evandro R.C. Colares Assistente Técnico da Divisão de Pesquisa

Departamento Municipal de Águas e Esgotos

Maria Isabel Brenner da Rosa Presidente do Conselho da Cidade de Viamão

Prof. Dr. Carlos André Bulhões Mendes

Instituto de Pesquisas Hidráulicas

Prof. Dr. Cláudio Augusto Mondin

Instituto do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais

Arq. Marcelo Allet Secretaria do Planejamento

Profa. Dra. Teresinha Guerra

Instituto de Biociências

Depto. de Ecologia

Diretora do Comitê Gestor do Lago Guaíba

Prof. Dr. Gustavo Inácio de Moraes

Escola de Negócios da

Faculdade de Administração,

Contabilidade e Economia

Márcio Alex Marques Cardoso Chefe da Equipe de Apoio e Comunicação da

Coordenação de Defesa Civil -Codec

Profa. Dra. Livia Salomão Piccinini

Faculdade de Arquitetura

Depto. de Urbanismo

Prof. Dr. Claudio Frankenberg

Faculdade de Engenharia

Rejane Maria Sebben Mello Supervisora da Divisão Comercial

PROCEMPA

Profa. Dra. Nina Simone Vilaverde Moura

Instituto de Geociências

Prof. Dr. Paulo Horn Regal

Diretor da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo

Sergio Renato da Rosa Mendes Gerente do Departamento de Marketing e

Comercial - PROCEMPA

Prof. Dr. Luis Alberto Basso

Instituto de Geociências

Prof. Dr. Jorge Alberto Villwock

Instituto do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais

Roni Marques Correia Secretaria de Gestão

Profa. Msc. Leticia Hoppe Instituto de Meio Ambiente

e dos Recursos Naturais

Eng. Civil Daniela Bemfica Divisão de Obras e Projetos

Departamento de Esgotos Pluviais

Prof. Nelson Ferreira Fontoura

Faculdade de Biociências

Paula Horn Assessoria de Gabinete

Gabinete do Prefeito

Profa. Dra. Ana Rosa Sulzbach Ce

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

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CONTEXTO GEOGRÁFICO E A SAÚDE AMBIENTAL

GEOGRAFIA DA BACIA DO ARROIO DILÚVIO

A cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, situa-se na margem leste do Lago Guaíba, no Delta do

Jacuí, onde quatro rios convergem para formar a Lagoa dos Patos, maior laguna do Brasil e segunda maior da América Latina.s

Patos. Com cerca de 1.420 mil habitantes ocupando uma área de 497 km², com 72 km de linha de costa fluvial, a cidade é

constituída por vales, morros e encostas urbanizadas e uma parcela significativa de área rural.

A cidade de Viamão tem seu limite geográfico determinado pela Lagoa dos Patos, ao sul, com 50 km de linha de costa lacustre, com

o município de Porto Alegre a oeste e o Rio Gravataí ao norte, e detêm grande parte das nascentes d´água que desembocam nas

bacias do Rio Gravataí e do Arroio Dilúvio. Com cerca de 240 mil habitantes, Viamão é uma importante cidade da região

metropolitana e em franco crescimento econômico. No sentido nordeste/sudeste, o município é contornado por morros, abrangendo

os distritos do Espigão, Passo da Areia e Itapuã. No mesmo sentido, aparecem planícies e várzeas, conhecidas como “Campos de

Viamão”. O município é constituído por relevo colinoso.

Bacia do Arroio Dilúvio – mapa antigo

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As regiões de Porto Alegre e Viamão possuem várias bacias hidrográficas que contribuem para o Lago Guaíba. Uma destas é a do

Arroio do Dilúvio. Percorrendo uma extensão de 17,6 km, o Dilúvio integra uma das bacias hidrográficas mais importantes na

composição do Lago Guaíba. Com uma área total de 83 km2, na qual habitam 450 mil pessoas, a Bacia do Arroio Dilúvio abrange

36 bairros de Porto Alegre, além de parte da cidade de Viamão, na qual se encontra 20% da sua área.

As nascentes do Dilúvio estão localizadas nos entornos das represas Lomba do Sabão e Mãe D’água, ambas em Viamão. A represa

da Lomba do Sabão resulta, ainda, da confluência de outros cinco arroios menores. Ao longo de sua descida até o Lago Guaíba, o

Arroio Dilúvio, recebe outros afluentes.

SAÚDE AMBIENTAL

Desde as nascentes, a poluição marca as represas e a Bacia do Arroio. Cerca de 50 mil metros cúbicos de terra e resíduos sólidos

são despejados anualmente nas águas do Dilúvio. Esses números, por si só, já seriam expressivos, mas além deles existe outro motivo

que afeta diretamente a qualidade das águas do Arroio e que tem a contribuição da população: as ligações irregulares das redes de

esgoto, que fazem com que o esgoto doméstico e mesmo hospitalar sejam lançados diretamente no Dilúvio. Os domicílios da Capital

possuem duas redes: a pluvial, que recebe as águas da chuva, e a cloacal, onde é lançado o esgoto doméstico. O que se vê em

muitas casas é uma troca nas conexões, sendo a rede cloacal ligada à rede pluvial. Isso resulta em um grande problema, pois a rede

pluvial é um canal de drenagem subterrânea que desemboca no Arroio Dilúvio, e, desta maneira, o esgoto escoa para os arroios e

barragens sem nenhum tratamento. Por esse motivo, a obstrução dos canais pela gordura e pelos resíduos onera significativamente a

conservação, além de provocar inundações em vários pontos da cidade trazendo enorme desconforto e mesmo trazendo riscos para

a população.

A necessidade de lidar com tais situações oferece uma oportunidade única para que seja repensada a questão da sustentabilidade

em seu tripé social, econômico e ambiental. A crescente incerteza sobre as mudanças de tendência de eventos climáticos requer a

adoção de abordagens flexíveis, em que a distribuição de riscos e a capacidade de adaptação do ambiente físico estruturem práticas

Bacia do Arroio Dilúvio e suas sub-bacias

Zoneamento ambiental: extraído do Atlas

Ambiental de Porto Alegre

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de planejamento estratégico. Tais práticas tornam-se cada vez mais urgentes em áreas extremamente vulneráveis devido aos altos

índices de densidade urbana, incluindo-se parcelas da população de baixa renda. Uma abordagem de planejamento integrado que

favoreça o desenvolvimento urbano, a mitigação de riscos naturais, bem como aspectos socioeconômicos, é vital para um futuro

sustentável.

Ao lado, seções do Arroio Dilúvio

(extraído do Atlas Ambiental de Porto Alegre)

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A VISÃO E VALORES DA REVITALIZAÇÃO

PREMISSAS INICIAIS

Na medida em que é importante haver amplo envolvimento da comunidade durante o processo de elaboração do Programa e da

sua execução, a visão deve representar o imaginário da população e o que ela deseja ver executado no âmbito da Bacia que possa

ser traduzido em qualidade de vida a todos.

A canalização e a retificação do Arroio Dilúvio proporcionou que Porto Alegre se expandisse em direção à zona sul, permitindo que a

população se instalasse ao longo do Arroio e nas encostas da sua Bacia, estabelecendo moradias e negócios, pois além de drenar os

baixios, permitiu reduzir drasticamente as constantes enchentes que ocorriam antes desta intervenção.

Muitas grandes cidades são consideradas lugares atrativos para viver porque oferecem condições favoráveis para o estabelecimento

de negócios, cultura e lazer. Uma grande cidade também deve ser um lugar sem vulnerabilidades ambientais e que possa oferecer

um estilo de vida saudável. Neste contexto, cabe ao Poder Público prover infraestruturas que deem conta dos aspectos sanitários, mas

também é necessário viabilizar espaços lúdicos como parques, praças, espaços verdes, públicos urbanizados e de recreação.

Agora, seis décadas após a ocupação, estabelece-se a oportunidade para a comunidade que ali se instalou trabalhar em prol do

resgate da Bacia para si e para as gerações futuras. Este Programa, com a amplitude transformadora que almeja, deve estar

incorporado na mente das pessoas daqui em diante, pois sua implantação e o seu legado irão requerer dedicação constante.

Este programa deverá incluir visões audaciosas e de longo termo, incluindo também uma série de etapas de execução de curto prazo,

e que deverá fazer com que a Bacia e o entorno do Arroio Dilúvio se tornem lugares melhores para se viver.

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VISÃO PARA REVITALIZAÇÃO SISTÊMICA DA BACIA

O Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio é uma oportunidade à disposição da sociedade para abordar os temas

pertinentes à renovação da qualidade ambiental, que poderá ter consequências positivas nas comunidades do entorno da Bacia. Em

médio e longo prazo, a ecologia da Bacia e o funcionamento hidrológico poderão ser recriados, mas adaptados à realidade urbana,

estabelecendo uma ambiência que permita inserir fortes características naturais, especialmente nas nascentes, nos córregos e arroios

e nas represas da Lomba do Sabão e da Mãe D’água. Para tanto, pensar audaciosamente e com boas ideias é o caminho que levará

a bom termo esta visão de futuro.

Neste processo de restabelecer a função ecológica da Bacia, a revitalização deve incluir considerações sobre a melhoria da

qualidade da água e sobre a segurança e habitabilidade das populações nas encostas e nos baixios da área a ser recuperada,

especialmente quando consideradas as questões hidrológicas, pois a Bacia deve também servir como meio de condução e

armazenamento dos fluxos pluviais intensos para mitigar risco de desastres.

As mudanças a serem implantadas devem viabilizar a criação de espaços verdes e de lazer à disposição das comunidades, seja nas

encostas, ao longo do Arroio Dilúvio e mesmo na foz do Lago Guaíba, aproveitando a melhor qualidade da água que deverá fluir

nestes ambientes.

Fotos da degradação do Arroio Dilúvio

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UM EXEMPLO TRANSFORMADOR

O Arroio não é acessível visual ou fisicamente para os habitantes locais. É bem conhecida a aversão que as pessoas sentem pelo

Arroio Dilúvio, entendido por todos como um canal de esgoto. A população vira as costas a esta importante via fluvial, pois

entendem, corretamente, que ela é insalubre.

O que o Programa pode vislumbrar é a transformação do Arroio e toda a sua Bacia em um lugar seguro, acessível, saudável, verde e

voltado à celebração e não à negação, tal que ele possa passar a ser o foco das atividades humanas e servir como referência para o

orgulho cívico. Por exemplo, que possa servir como motivação para que iniciativas de melhorias em ambientes de trabalho e de

convivência nos espaços no seu entorno sejam adotadas, com consequentes benefícios para a qualidade de vida e elevação de

renda. Note-se que, no processo de construção deste tipo de visão, também é necessário o envolvimento dos residentes dentro de um

processo de planejamento comunitário deste Programa, encorajando a participação e criando a sensação de pertencimento e posse

sobre o Arroio. Quiçá um novo Dilúvio sirva de exemplo transformador para a sociedade.

CRIANDO VALORES

Ao melhorar a qualidade do Arroio e da Bacia, com reflexos socioambientais positivos, valores estarão sendo criados. Valorização da

vida, das atividades socioeconômicas e dos princípios da sustentabilidade. Além disso, será possível criar uma ambiência voltada

para o design urbano sustentável e sensível ao meio ambiente, tais como a que estimula as construções verdes e gestão das águas

em parques, ruas e avenidas.

Novas oportunidades de trabalho e salários, mais compensadores, podem ser considerados valores que devam emanar da

revitalização da Bacia e do Arroio, bem como, a melhoria das condições habitacionais nas encostas, novas oportunidades de

Visões do futuro

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negócios, tais como lojas de serviços, galerias, restaurantes e cafés. Em especial, o programa deverá dar atenção e valor às

comunidades com menores condições financeiras, para garantir iguais oportunidades em relação à moradia, empregabilidade e

acessibilidade para áreas onde estas benesses não estão ainda disponíveis.

A revitalização da Bacia e do Arroio pode introduzir uma ampla gama de benefícios que irá ampliar a qualidade de vida de

portoalegrenses e viamonenses e resultar em prosperidade econômica para todos.

BENEFÍCIOS DE UM REINVESTIMENTO

Os custos de implantação das infraestruturas de saneamento e de escoamento pluvial da Bacia por parte dos municípios de Porto

Alegre e Viamão são inexoráveis e mandatórios seja em curto, médio ou longo prazo. Este ainda é um investimento no bem estar da

população que deve ser feito e não pode esperar por mais muito tempo. E o Programa de Revitalização da Bacia do Arroio Dilúvio

será mais uma via pela qual os poderes públicos envolvidos possam encontrar apoio para captar recursos financeiros e acelerar a

implantação destas infraestruturas. Além disto, será possível investir nas comunidades da Bacia onde ainda não houve significativa

ação pública, construindo espaços, praças, e outras benfeitorias que ofereçam oportunidades de lazer e bem estar aos cidadãos.

Mas deve se salientar que poderá haver grandes benefícios para a Cidade de Porto Alegre e mesmo para Viamão se houver uma

decisão de reinvestir no próprio Arroio Dilúvio pelas razões ambientais, sociais e econômicas apontadas acima. Vale lembrar que nos

anos 1950 houve um grande investimento no Arroio por conta da sua canalização e retificação que enormes benefícios trouxeram às

duas cidades.

Como já mencionado, para Porto Alegre esta grande obra permitiu o crescimento de toda a área sul da cidade, o que por si só já

justificou todo investimento realizado na época.

O Arroio Dilúvio hoje (esquerda) e como poderia ser (direita)

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Para Viamão os benefícios foram colaterais, mas importantes, tendo em vista o crescimento de Porto Alegre em direção àquela

cidade. Viamão tornou-se alternativa para a instalação de habitações e setores econômicos que não encontram mais espaço em

Porto Alegre. Dois exemplos marcantes desta tendência são as instalações da nova área do TECNOPUC e a instalação do Parque

Científico e Tecnológico da UFRGS, cujos parceiros buscam espaço físico naquele município para estabelecer os seus negócios,

apenas para citar as duas instituições acadêmicas envolvidas neste programa. Assim, um “corredor-parque” verde, como poderia ser

o Arroio Dilúvio, contribuiria em alavancar ainda mais esta tendência.

Portanto, um reinvestimento no Arroio Dilúvio, tornando-o agora um parque linear, deve trazer mais uma vez grandes benefícios para

a região e toda sua população. E a natureza agradecerá.

Projeto de planejamento da região de potencial tecnológico (REPOT) ao longo do Arroio Dilúvio

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VALORES QUE DEVEM ESTAR PRESENTES NA CONSTRUÇÃO DO PROGRAMA

O Programa deve refletir as contribuições que a comunidade determinar, devendo estar nele presentes, principalmente quando

decididas em plenárias públicas nas quais ele deverá ser apresentado e discutido. Valores-chave a serem trabalhados:

Uma abordagem ampla e sustentável dos problemas da Bacia: o Saliente-se que este programa deverá complementar e reforçar iniciativas anteriores ou em curso para melhorar as condições

ambientais da Bacia, e que por si só, não será capaz de resolver todos os problemas da mesma. O foco é a Bacia no que dirá respeito

às possíveis soluções que envolvem questões ambientais e fará recomendações quando ligações próximas existirem com outros planos

de gestão em áreas complementares. Por exemplo, com os planos da área de transportes, de habitação e outros. Há que se ter sempre

em mente que todas as ações humanas podem determinar alterações do ambiente.

Responsabilidade ambiental: o Resgatar sistemas naturais;

o Organizar os ambientes humanos.

Equidade: o As oportunidades devem ser baseadas de forma que contemplem equidade, garantindo que áreas com populações de menor poder

aquisitivo recebam oportunidades compatíveis com suas necessidades.

Envolvimento e apoio da comunidade: o A revitalização não ocorrerá sem apoio comunitário amplo;

o Programa elaborado por e para a comunidade de maneira participativa, em parceria com o poder público e as academias;

o Apoio através de plenárias públicas;

o Participação no formato e destinação de espaços compatíveis com cada vizinhança.

Economia Sustentável: Recursos para:

A manutenção da qualidade da água;

A restauração do ecossistema;

Acessibilidade;

Espaços para recreação.

Envolvendo:

Investimento público e privado;

Padrões de design que estejam em sintonia com a economia sustentável;

Reinvestimento com preocupação ambiental e sustentável.

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EXEMPLOS DE REVITALIZAÇÃO

ARROIO CHEONG GYE CHEON, SEUL, CORÉIA DO SUL

O exemplo de revitalização do arroio Cheong Gye Cheon de Seul, na Coréia do Sul, é apenas o mais recente, arrojado e bem

sucedido projeto de resgate de uma área degradada associada a um curso d´água.

Cheong Gye Cheon, Coréia

ANTES < da revitalização> DEPOIS

ANTES < da revitalização> DEPOIS

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SAN ANTONIO RIVERWALK, NO TEXAS, EUA

Um dos exemplos menos conhecidos, mas muito bem elaborado, é o caso do San Antonio Riverwalk, no Texas, EUA, onde um canal

alternativo ao do fluxo principal do curso d´água foi criado e no qual o nível da água se mantém constante através de um sistema de

comportas, o que possibilita a ocupação das margens com bares, restaurantes, passeios e muita vegetação.

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NOSSA SENHORA DA PIEDADE EM BELO HORIZONTE, MG

Um exemplo brasileiro pode ser encontrado em Belo Horizonte, onde o Arroio Nossa Senhora da Piedade foi recuperado e entregue

à comunidade saneado, contando com uma estrutura de lazer que alterou completamente o entorno do mesmo.

Depois da Revitalização

Arroio Nossa Senhora da Piedade, BH Antes da Revitalização

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RIO LOS ANGELES, EM LOS ANGELES, EUA

O projeto de revitalização do Rio Los Angeles, na Califórnia, EUA, é um que está em vias de execução.

Antes

Depois

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O PROGRAMA

O Programa, a ser construído a partir do trabalho de parceria entre a Universidade Federal do

Rio Grande do Sul, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e os Municípios de

Porto Alegre e Viamão, pretende oferecer recomendações com uma visão de longo prazo que

sirvam como guia de implantação da revitalização de toda a Bacia do Arroio Dilúvio. O

Programa deverá ser uma referência geral para a implantação de soluções amplas e

pertinentes às questões envolvidas na revitalização da Bacia, priorizando a contribuição das

comunidades e vizinhanças por ela afetada.

Ponte dos Açorianos, sobre o leito original do Arroio Dilúvio - 2010

1940

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GERÊNCIA DO PROGRAMA

A existência de várias esferas dotadas de poder em um Estado Federativo favorece a aproximação entre governantes e governados.

Por outro lado, pode, em razão da possibilidade do exercício inadequado da autonomia, causar entre os entes federativos conflitos

políticos e jurídicos. A associação dos entes federativos, visando alcançar fins de interesse comum, ideia central do federalismo

cooperativo, mediante ações e estratégias que envolvam esses entes na execução de atividades públicas, mostra-se como uma

alternativa a ser considerada por estas esferas de poder.

No entanto, o instituto da cooperação institucional, em que pese a previsão constitucional (Art. 241) e a legislação na área dos

recursos hídricos (Art. 4o da Lei 9433/1997), possui utilização aquém das possibilidades disponíveis no ordenamento jurídico. Em

razão do uso ainda incipiente desses mecanismos de cooperação, busca-se nesse Programa analisar a possibilidade de adoção de

instrumentos de cooperação institucional entre os municípios de Porto Alegre e Viamão, com apoio da UFRGS e PUC-RS, no controle

da poluição hídrica, recuperação ambiental e urbanização na bacia hidrográfica do Arroio Dilúvio.

Além do desenvolvimento de mecanismos institucionais, propõe-se neste Programa atuar em um novo paradigma de planejamento

que integre medidas para gestão de águas e dos riscos ambientais através do projeto de infraestruturas flexíveis, que ofereçam

capacidade de adaptação e resiliência urbana, além da promoção da paisagem. Estas medidas incluem o desenho de sistemas

técnicos e naturais para a gestão de águas pluviais, a ecologização do espaço urbano através do acréscimo de áreas verdes,

prestando serviços ambientais e concepção de edificações que sejam menos sensíveis aos impactos causados por eventos climáticos.

Este conjunto de estratégias é capaz de reduzir os riscos e a vulnerabilidade urbana através da gestão do escoamento superficial na

fonte e do melhor desempenho do ambiente construído. Como consequência, iniciam-se processos de renovação e reconfiguração

do tecido urbano.

Fotos antigas do Dilúvio

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Como diferencial frente a outras propostas voltadas à implantação de programas de impacto sócio-ambiental-econômico, o

Programa propõe uma estrutura gerencial que pretende tenha respaldo simultâneo dos poderes públicos, das academias e da

Sociedade. Isto é recomendado porque existem múltiplas entidades públicas (Secretarias, Departamentos, e outros) que têm jurisdição

sobre vários aspectos da Bacia e do Arroio Dilúvio, tal que a gestão deve ser abrangente e flexível o suficiente para permitir que elas

trabalhem em colaboração, mas que possam também agir independentemente quando necessário.

Portanto, entende-se que através da união de esforços das Gestões Municipais de Porto Alegre e Viamão, aliadas às competências

acadêmicas da UFRGS e da PUCRS, bem como à participação ativa da sociedade nesta iniciativa, seja possível promover as

mudanças almejadas pela coletividade para a necessária melhoria de nossa cidade.

O processo no qual este novo paradigma se dará através da coordenação das atividades das várias partes interessadas em diversos

aspectos urbanos e naturais do processo de revitalização, identificando vínculos entre projetos e comunidades, recomendando

mudanças de políticas e criando regras para a revitalização da Bacia. É claro que as questões hidrológicas e de saneamento são o

pano de fundo de quaisquer propostas que possam remeter às questões da revitalização voltadas à melhoria da qualidade de vida

das populações, incluindo a identificação de oportunidades para a instalação de parques, ciclovias, caminhos para pedestres,

recreação, natureza, identidades e desenvolvimento das comunidades, empregos, turismo, orgulho cívico, qualidade da água e

recuperação de espaços urbanos negligenciados, alimentando a sensação de pertencimento na Bacia e ao longo do Arroio Dilúvio e

subliminarmente para a totalidade dos cidadãos das duas cidades envolvidas.

Uma atividade permanente a ser desenvolvida neste programa e que concorre diretamente para o seu sucesso deverá ser a da

Educação Ambiental. Há necessidade de inserir a cultura do respeito a estes bens públicos que são os córregos, arroios, represas e o

Lago Guaíba. Todos eles são afetados pelo falta de conscientização da sociedade em relação aos possíveis danos causados pelas

pessoas ao não terem o devido cuidado com as questões relacionadas a agentes poluentes de toda sorte, tais como resíduos sólidos

e contaminantes da água diversos, ao fazer uso incorreto de sistemas de saneamento disponibilizados e, ademais, ao promover e

depredação de equipamentos urbanos públicos instalados para o seu benefício.

Dilúvio sendo canalizado-retificado

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No contexto da UFRGS, estes esforços serão conduzidos pela Pró-Reitoria de Pesquisas – PROPESQ e, na PUCRS, pelo Instituto de

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IMA. Nas universidades, grupos gestores internos serão criados para coordenar os

trabalhos de montagem do Programa, que deverá ser multidisciplinar, nos quais serão envolvidas as comunidades de cada uma

delas. Pelo lado das prefeituras, a atuação se dará através de Secretarias, Departamentos e órgãos de apoio, sendo a coordenação

do Programa no contexto da Prefeitura de Porto Alegre atribuída à Secretaria do Meio Ambiente e, da Prefeitura de Viamão, através

do Departamento de Projetos e Planejamento Urbano – DEPP.

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PRINCÍPIOS NORTEADORES

O objetivo geral deste programa é a recuperação ambiental da Bacia do Arroio Dilúvio através da implantação de sistemas técnicos

e naturais de saneamento ambiental para a gestão de águas, da ecologização do espaço urbano com acréscimo de áreas verdes, da

retomada da funcionalidade da Bacia próxima à original e da concepção de construções que sejam menos sensíveis aos impactos

causados por eventos climáticos e condicionalidades da realidade local. Como consequência, iniciam-se processos de renovação e

reconfiguração do tecido urbano e a reintegração deste corpo d’água à população dos municípios de Porto Alegre e Viamão, RS,

Brasil.

Dentro desta perspectiva, vislumbra-se que é necessário adotar princípios que considerem os seguintes aspectos:

A Bacia Hidrográfica deve ser o domínio físico de avaliação dos impactos resultantes de novos empreendimentos, visto que a água não respeita limites

políticos – logo, ações articuladas entre as Prefeituras de Porto Alegre e Viamão devem existir;

Deve-se priorizar a recuperação da infiltração natural da Bacia, visando a redução dos impactos ambientais;

O aumento de vazão devido à urbanização não deve ser transferido para jusante;

O horizonte de avaliação deve contemplar futuras ocupações urbanas (Plano Diretor);

As medidas de controle devem ser preferencialmente não estruturais;

Deve-se integrar medidas para gestão de águas e dos riscos de inundação na paisagem através de projetos de infraestruturas flexíveis, que ofereçam

capacidade de adaptação e resiliência urbana;

Fortalecimento da Governança Municipal (especificamente Porto Alegre e Viamão) aperfeiçoando a administração das políticas públicas com uma

visão de planejamento fundamentada nos princípios da integração, articulação institucional e espacial de ações, aprimorando os serviços prestados à

comunidade.

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EIXOS DE ATUAÇÃO

Os eixos de atuação selecionados para este programa correspondem aos pontos críticos para a realização plena da recuperação do

Arroio Dilúvio, identificados como: Saneamento, Erosão e Assoreamento, Recuperação-Preservação Ambiental, Habitação e

Paisagismo, Mobilidade Urbana e Desenvolvimento Econômico – integrados e interdependentes e, ainda, permeados por um eixo

transversal sobre Educação Ambiental. Na figura 1 são demonstradas as principais relações entre os pontos-chave deste Programa:

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Este Marco Conceitual aponta preliminarmente os eixos de atuação deste Programa. Entende-se que os seguintes eixos

deverão ter atenção específica no Programa:

SANEAMENTO

* Distribuição de água

* Coleta e tratamento de esgoto sanitário

* Coleta e processamento de resíduos sólidos urbanos

* Drenagem pluvial

EROSÃO E ASSOREAMENTO

* Recuperação de áreas expostas

* Contenção de encostas

* Drenagem pluvial

RECUPERAÇÃO-PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

* Recuperação das nascentes

* Despoluição dos arroios

* Recuperação das matas ciliares

* Recuperação de flora e fauna

* Integração com a orla do Guaíba

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

* Valorização do respeito à natureza e aos bens públicos

* Estímulo à consciência ambiental e participação do

cidadão no processo de ecologização

* Ampliação de ações de educação ambiental integrando

distintas áreas de atuação e segmentos da sociedade

URBANIZAÇÃO, HABITAÇÃO E PAISAGISMO

* Reassentamentos

* Instalação de equipamentos urbanos em vilas e bairros

(arruamento, serviços básicos, etc.)

* Instalação de PARQUES

* Poluição visual – retirar linhas de transmissão

* Disponibilização de equipamentos e espaços públicos

urbanos para uso social e cultural

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

* Integração com o REPOT (Projeto Região de Potencial

Tecnológico) do Município de Porto Alegre

* Geração de emprego e renda

* Geração de novos negócios

MOBILIDADE URBANA

* Ampliação de alternativas de transporte coletivo

* Integração com ciclovias

* Integração com transporte fluvial

Corte do canal do Arroio Dilúvio

(extraído do Atlas Ambiental de Porto Alegre)

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SANEAMENTO-ASSOREAMENTO: Visão geral

A Bacia ocupa uma área total de 83,74 km², sendo que 69,50 km² pertencem à cidade de Porto Alegre e 14,24 km² ao município

de Viamão, constitui-se no escoadouro natural das águas pluviais e no receptor das águas servidas geradas por 446 mil habitantes

que ocupam sua área de drenagem. Além disso, recebe anualmente cerca de 50.000m³ de detritos, com o consequente

assoreamento de sua calha, diminuindo com isso as suas condições de vazão (PDE, 2009). Em razão desses lançamentos, apesar de

apresentar o percentual mais significativo de redes coletoras de esgotamento sanitário do tipo separador absoluto em comparação

com outras regiões da cidade, a qualidade das águas da Bacia do Arroio Dilúvio está comprometida.

O Arroio Dilúvio e seus afluentes sofreram uma série de intervenções estruturais. Houve retificação e canalização de grande parte do

seu leito, assim como de diversos afluentes. Além disto, há que considerar que o estado atual destas obras não reflete mais as

condições de projeto e que não há monitoramento suficiente para estimar o comportamento hidráulico de todo o sistema atual.

A Bacia do Arroio Dilúvio apresenta fontes pontuais de poluição e fontes difusas de poluição gerada pela “lavagem” dos poluentes

acumulados na superfície do solo durante os eventos de precipitação. Dentre as principais fontes pontuais de poluição encontram-se

o lançamento de efluentes, com origem em ligações irregulares ou consentidas de esgoto cloacal na rede pluvial, e a inexistência de

redes de esgoto em trechos da Bacia. As fontes difusas com origem na poluição gerada pela lavagem da superfície do solo e no

lançamento de resíduos sólidos nas ruas são responsáveis pelo assoreamento e pelos entupimentos das bocas de lobo, gerando

alagamentos.

As más condições da água do Arroio Dilúvio são conhecidas por todos. Em que pese à implantação de estrutura de coleta de

esgotos junto à Avenida Ipiranga, os afluentes trazem uma carga orgânica importante. A falta de um monitoramento constante não

permite a definição de um quadro fiel, mas podem ser apontados os trechos de pior qualidade, como a Barragem Mãe d’água, que

recebe esgotos não tratados da Vila Santa Isabel, de Viamão, e o Arroio Moinho, em Porto Alegre.

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À medida que o Dilúvio aproxima-se da foz, a qualidade de suas águas pode sofrer melhora pela entrada de água a partir do lago

Guaíba. Os principais poluentes e contaminantes das águas do Arroio Dilúvio são:

Matéria orgânica dos esgotos domésticos;

Detergentes e surfactantes;

Óleos e graxas;

Resíduos sólidos diversos.

A presença de resíduos sólidos no leito do Dilúvio e nas galerias por onde correm os seus afluentes é significativa. Estes resíduos têm

origem na postura da população local, que não realiza o descarte correto; à ação de catadores, que deixam expostos os resíduos

antes corretamente embalados; e ao descarte direto destes nas vias públicas e no próprio Arroio. Parte deste problema é estrutural,

definido pela falta de capacidade de coleta do atual sistema; parte não é estrutural, por permitir a ação indiscriminada dos

catadores, ou gerada pela falta de educação ambiental da população.

Os sedimentos também chegam em grande quantidade. A potencialidade de geração de sedimentos pode ser considerada alta,

principalmente nas áreas de encostas cobertas por solos derivados de granito, essencialmente os Argilossolos. Estes processos são

reativados pelas ocupações irregulares ou mal executados. Apesar de mais intensa nas décadas passadas, a geração de sedimentos

ainda ocorre na Bacia e gera um aporte não conhecido, por falta de monitoramento. O certo é que o assoreamento do Dilúvio exige

dragagens constantes de seu leito, por meio de dragas de arraste. Nas campanhas de dragagem, fica ainda mais evidente a baixa

qualidade ambiental do Arroio.

Além dos resíduos sólidos, a ocorrência das chuvas arrasta óleo e graxas originados nos veículos automotores, além das partículas

sólidas da combustão depositadas sobre as vias urbanas. Esta contaminação, essencialmente difusa, é de difícil controle.

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A rede de drenagem urbana na Bacia do Arroio Dilúvio é ainda de natureza higienista formada por condutos e galerias pluviais,

despejando nos arroios naturais ou canalizados. Não há bacias de detenção ou retenção em funcionamento. Próximo ao Lago

Guaíba os taludes do Dilúvio constituem diques integrados ao sistema de controle de cheias do Guaíba, havendo necessidade de

bombeamento das águas pluviais para dentro do leito do Dilúvio. O sistema de drenagem praticamente não apresenta nenhum

monitoramento capaz de permitir uma compreensão e modelagem mais precisa dos eventos extremos. Sabe-se, no entanto, que há

pontos críticos de transbordamento do Arroio documentados ao longo de seu trecho. O Plano de Drenagem Urbana do Dilúvio, ora

em execução pela Prefeitura de Porto Alegre, deve abordar estes problemas e a modernização da rede pluvial.

Estas falhas ocorrem devido à deficiência nas práticas de controle do desenvolvimento urbano, gerando sobrecarga na capacidade

de absorção e gestão de águas da rede existente. Um fator agravante ocorre nas cabeceiras da Bacia onde há dificuldade de uma

cooperação interfederativa e persiste a falta de uma abordagem regional eficaz.

Em termos de sistema de gerenciamento de recursos hídricos, o Arroio Dilúvio e sua bacia pertencem à bacia hidrográfica do Lago

Guaíba cujo Comitê do Lago Guaíba é responsável pelos critérios de outorga e pelo enquadramento das águas em classes de uso

do Arroio. Este enquadramento já foi realizado e constitui instrumento a ser considerado na revitalização da Bacia.

SANEAMENTO: Situação atual

O quadro atual do saneamento básico no Brasil pode ser considerado promissor, tendo em vista a retomada de investimentos no

setor através do Programa Nacional de Aceleração do Crescimento - PAC, lançado em 2007, e pela aprovação da Lei nº

11.455/2007, que estabeleceu as diretrizes de políticas nacionais para o saneamento básico. Anteriormente, o país viveu um período

de carência nos investimentos e de planejamento, uma vez que a última experiência destacada para o setor ocorrera através do

PLANASA, no ano de 1971, para fazer frente ao rápido crescimento populacional nos centros urbanos, em especial nas regiões

sudeste e sul.

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Enfocando a situação do saneamento básico na cidade de Porto Alegre, considerando as cinco últimas décadas, é importante

destacar a organização institucional do setor através de departamentos na Prefeitura Municipal para o atendimento das demandas na

área de saneamento básico. O Departamento Municipal de Água e Esgotos - DMAE, criado em 1961, o Departamento de Esgotos.

Pluviais - DEP, originado em 1973, e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana – DMLU, de 1975, respondem, respectivamente,

pelos serviços de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas e pela

limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

No serviço de abastecimento de água potável, é importante destacar que o DMAE abastece 100% dos porto-alegrenses com água

tratada e, no que se refere ao esgotamento sanitário, 85% da população dispõe do serviço de coleta de esgoto. A capacidade de

tratamento de esgotos instalada na cidade é de até 27%.

Para a Bacia Hidrográfica do Arroio Dilúvio pode-se enfatizar, como um dos aspectos mais significativos para a melhoria das

condições de saúde e meio ambiente, a questão envolvendo a coleta e o tratamento dos esgotos domésticos. Esta Bacia Hidrográfica

está compreendida, conforme o Plano Diretor de Esgotos de Porto Alegre (2009), pelo Sistema de Esgotamento Sanitário Ponta da

Cadeia – SES Ponta da Cadeia, no qual vivem aproximadamente 35% da população de Porto Alegre. Este sistema conta com uma

rede coletora de esgoto cloacal de aproximadamente 700 km, provendo serviços em mais de 70% da quilometragem de logradouros

existentes na região. Neste SES, a maior parte da rede coletora existente converge para o centro de Porto Alegre, por gravidade e/ou

por recalque, através de estações de bombeamento de esgotos – EBEs de grande porte existentes (Ponta da Cadeia, Baronesa do

Gravataí, Barros Cassal e Gaspar Martins). Conta com uma pequena estação de tratamento de esgotos implantada para o

atendimento de um núcleo populacional na vila Esmeralda. Todos os esgotos afluentes no sistema são reunidos em caixa de

passagem na EBE Ponta da Cadeia e seguem, através do emissário subfluvial, para o canal de navegação do lago Guaíba, solução

esta preconizada pelo Plano Diretor de Esgotos, de 1966, como uma alternativa provisória, adotando um processo de diluição dos

esgotos brutos no corpo hídrico receptor.

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Para evoluir da situação descrita, considerando o momento favorável para o setor de saneamento, a Prefeitura Municipal de Porto

Alegre pode realizar, entre os anos de 2007 e 2009, operações de crédito (PAC, Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e

contrapartidas próprias) para obter os recursos financeiros para a execução das obras do Programa Integrado Socioambiental – PISA.

Este importante programa de saneamento atende o SES Ponta da Cadeia, entre outros sistemas de esgotamento sanitário da cidade,

buscando elevar de 27% para 80% a capacidade de tratamento dos esgotos sanitários de Porto Alegre. Suas principais obras

envolvem a construção de uma nova estação de tratamento de esgotos com capacidade de 4.130 l/s (ETE Serraria) e mais de 150

km de redes de infraestrutura, considerando redes coletoras, interceptores e emissários de esgoto sanitário. Os recursos investidos na

área de saneamento já somam aproximadamente 400 milhões de reais.

SANEAMENTO: Visão de Futuro

Conforme planejamento constante no PDE (2009), o SES Ponta da Cadeia ainda necessitará de recursos da ordem de 126 milhões

de reais para que seja completada a sua infraestrutura de redes de esgotamento sanitário e unidade de bombeamento de esgoto.

Para tanto, será necessário executar mais 308 km de redes coletoras e, principalmente, regularizar as ligações dos domicílios que,

apesar de contarem com rede do tipo separador absoluto passando pelas suas testadas, mantém-se ligados às redes pluviais. A

implantação de seis coletores troncos planejados (Arroio Mato Grosso, Arroio Agronomia, subsistema D-21, Arroio Moinho 2,

subsistemas D-15 ao D-7 (Alpes) e rua da República) e a construção da EBE dos Alpes integrará definitivamente a coleta de esgotos

no SES Ponta da Cadeia, permitindo o tratamento na futura ETE Serraria.

Por fim, a redução dos pontos de lançamento de redes de esgoto sanitário em redes de esgoto pluvial e vice-versa, bem como a

necessidade de coletores de fundo em determinados locais, constituem ações importantes para as obras de esgotamento sanitário na

área de abrangência da Bacia.

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O desejo da sociedade, expresso inclusive nos marcos legais ambientais e de recursos hídricos municipais, estaduais e federais, é de

uma Bacia totalmente saneada, com redes separadoras de águas pluviais e cloacais (implantando novas e recuperando ou

substituindo as mais antigas); coleta de resíduos eficiente e controle na fonte para evitar ou mitigar excessos pluviais (que causam

alagamentos); produção de sedimentos; e lançamento de resíduos sólidos nas ruas e sistema de drenagem. O abastecimento de

água potável é hoje bastante satisfatório na Bacia, mas ainda há espaço para melhoria da qualidade (vinculada à qualidade dos

mananciais e às técnicas de tratamento) e à minimização das perdas na rede.

Para isto, a visão aponta para a existência de uma esfera de planejamento sistêmico e integrado das ações de saneamento básico,

visando a despoluição da totalidade da Bacia, prioritariamente as cabeceiras, onde existem os maiores problemas urbanos e

estruturais. Esta visão de futuro atrela-se àquela da própria urbanização, cujos processos precedem o traçado das redes coletoras de

esgoto e da proposta tecnológica de como estas serão tratadas. Parques lineares longitudinais, em trechos marginais do Dilúvio,

somente serão viáveis, por exemplo, com saneamento eficaz. Durante e após a revitalização o monitoramento dos processos é

essencial para manter o sistema sob vigilância e assim manter o planejamento e as ações sistêmicas e integradas conforme a visão

adotada.

EROSÃO E ASSOREAMENTO: Situação atual

Na área de abrangência da Bacia, assentamentos irregulares causam impactos negativos na qualidade da água de rios e lagos

devido à presença de esgoto e deposição de resíduos. A necessidade de lidar com tais riscos oferece uma oportunidade única para

que seja repensada a relação entre infraestrutura, ecologia e sociedade no ambiente urbano. A crescente incerteza sobre as

mudanças de tendência de eventos climáticos requer a adoção de uma abordagem flexível, onde a distribuição de riscos e a

capacidade de adaptação do ambiente físico estruturem práticas de planejamento estratégico. Tais práticas tornam-se cada vez mais

urgentes em áreas extremamente vulneráveis devido a altos índices de densidade urbana. Uma abordagem de planejamento

integrado que favoreça o desenvolvimento urbano, a mitigação de riscos naturais, bem como aspectos socioeconômicos, é vital para

um futuro sustentável.

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Os detritos que levam ao assoreamento das lagoas ou represas e das partes baixas da Bacia têm principalmente sua origem na:

Erosão natural das encostas da Bacia onde ainda não há ação humana e é composta basicamente de terra, areia, pedras e material orgânico;

Ação humana:

- erosão das vias públicas e terrenos abertos pela atividade humana;

- atividade pastoril ou agrícola;

- detritos de obras civis;

- resíduos sólidos (lixo).

Evidencia-se que os referidos detritos estão presentes em todos os locais abaixo mencionados:

- Represa da Lomba do Sabão e Represa Mãe d´água: os detritos se depositam no fundo das represas reduzindo a capacidade das

mesmas e contaminando a água. Solução: evitar que os detritos desçam até a represa (a remoção dos detritos do fundo da

represa tem custo muito alto).

- Leito do Arroio Dilúvio e Lago Guaíba: excetuando-se os detritos que ficam retidos nas represas, todo o restante tem como

destino o leito do Arroio Dilúvio e o Lago Guaíba.

Da grande quantidade de detritos que desce os morros do entorno do Dilúvio, a maior parte é depositada no fundo do leito do

Arroio e o restante é arrastado diretamente ao Guaíba. Para evitar o assoreamento potencialmente desastroso do Arroio, tem sido

necessário realizar constante dragagem do mesmo para evitar que a água extravase para as áreas laterais em caso de altos índices

pluviométricos. Atualmente, o volume total de detritos corresponde a 50 mil metros cúbicos/ano retirados do leito do Arroio, e um

volume incerto de detritos arrastado diretamente ao Lago Guaíba, que, em grande parte, bloqueia a passagem da água na foz do

Arroio, sendo o restante depositado nos canais de navegação do Guaíba.

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EROSÃO E ASSOREAMENTO: Visão de futuro

No caso do assoreamento, os resultados que se pretende alcançar são:

- Redução de novos focos de erosão:

Recuperação das matas ou ambientes ciliares no entorno dos cursos/escoadouros de água;

Evitar a ocupação irregular dos espaços de preservação.

- Reversão das fontes de erosão já existentes, principalmente aquelas provocadas pela ação humana:

Reassentamento das pessoas que ocupam áreas irregulares;

Recuperação das matas ou ambientes ciliares no entorno dos cursos/escoadouros de água;

Novas formas de manejo do solo em atividades agropastoris;

Eliminação dos resíduos de obras civis como fontes de detritos causadores de assoreamento;

Normas/procedimentos técnicos para a execução de obras que envolvem remoção de terra com vistas ao controle de detritos causadores de

assoreamento.

- Criação de novas opções de redução/remoção dos detritos:

Retenção/remoção dos detritos em estágios iniciais ou intermediários de descida; e/ou

Bacias de contenção/coleta - água/detritos; e/ou

Sistema de coleta de detritos junto aos pontos de desague dos afluentes no Dilúvio, evitando a sua entrada no leito do Arroio. (uso de containers

móveis e outros); e/ou

Sistema de condução forçada dos detritos até a foz do Dilúvio; e/ou

Bacia de contenção/remoção dos detritos na foz do Dilúvio;

Estabilização de encostas e maior segurança no que diz respeito a deslizamentos.

- Preservação das nascentes d´água;

- Mínima necessidade de manutenção da profundidade da calha do Arroio;

- Instalação de equipamentos urbanos de lazer:

A possibilidade de implantar equipamentos urbanos de uso coletivo de qualquer tipo, seja ao nível do leito do Arroio ou sobre ele, passa pela solução

do assoreamento e do saneamento da água e do controle do nível e do fluxo pluvial.

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RECUPERAÇÃO - PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: Situação atual

Na porção intermediária entre a foz e a nascente do Arroio Dilúvio, havia banhados e matas ciliares, bem como banhados e matas

brejosas em sua porção final. Historicamente, o Arroio vem sofrendo uma série de comprometimentos ambientais, como os

assentamentos desorganizados em suas nascentes, o recebimento do esgoto não tratado em seu curso e o assoreamento de seu leito.

De fato, o Arroio Dilúvio recebe 2,5 milhões de litros de efluentes poluentes todos os dias e 50.000 m³ de detritos todos os anos.

Além disto, moradias irregulares estão fixadas em suas nascentes, o que resultou na retirada da vegetação original. Todas estas

características impactam direta e indiretamente aproximadamente 450 mil pessoas. Obras para adequar o Arroio ao desenvolvimento

urbano e minimizar os problemas de alagamento somaram-se aos grandes impactos sofridos por este ecossistema. São identificados

oito biótopos naturais na Bacia do Arroio Dilúvio, os quais são: campos baixos e úmidos; savanas com butiás e cactáceas; campos

secos; florestas de terras baixas de exposição sul; florestas altas de encostas e de vales em cotas de até 100m e exposição Sul;

florestas baixas de encosta e exposição sul; florestas de terras baixas e exposição norte; e florestas baixas de encosta e exposição

norte. A fauna e a flora originais desta Bacia são pouco conhecidas e muitos habitantes das águas ou margens do Arroio não são

mais encontrados. Estudos apontam 70 espécies de aves e 15 de mamíferos, bem como demais espécies de répteis e peixes no

Arroio Dilúvio, especialmente na região que abriga as nascentes. Além disto, a foz do Arroio é apontada como local de reprodução

de tartarugas. Em 2010, em ocorrência recorrente, milhares de peixes foram encontrados mortos no curso do Arroio Dilúvio. A causa

da mortandade dos animais foi atribuída à falta de oxigenação causada pelo excesso de matéria orgânica e sedimentos. As

nascentes do Arroio encontram-se no Parque Saint Hilaire, o qual possui 1148 hectares. A recuperação das nascentes é foco de

projetos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre desde 2005, os quais abrangem ações de avaliação da qualidade da água,

monitoramento das áreas de abrangência do Parque, plantio de mudas e programas de conscientização da população.

Ilustrações da fauna originalmente existentes

na Bacia do Dilúvio.

(extraído do Atlas Ambiental de Porto Alegre)

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RECUPERAÇÃO - PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: Visão de futuro

A recuperação da fauna e flora não só das nascentes do Arroio Dilúvio, mas também do percurso até a foz, estará associada a um

planejamento de drenagem, saneamento e recuperação das áreas com moradias irregulares na nascente do Arroio Dilúvio.

Considerando que a qualidade da água é essencial para a manutenção da fauna e flora locais, é importante que seja feita a

remoção dos resíduos sólidos depositados, se evite seu descarte inadequado e se suspenda o lançamento de efluentes. A preservação

da fauna e flora dependerá da associação de resultados de estudos já realizados nesta Bacia com demais estudos de levantamento e

vulnerabilidade. Além disto, a reintrodução de espécies nativas poderá ser um passo promissor para o restabelecimento deste

ecossistema. Todas estas ações deverão ser alicerçadas no contato direto com a comunidade, para que esta conheça os habitantes

naturais do Arroio Dilúvio e se sinta corresponsável por seu cuidado.

Ilustrações da fauna originalmente existentes

na Bacia do Dilúvio.

(extraído do Atlas Ambiental de Porto Alegre)

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URBANIZAÇÃO, HABITAÇÃO e PAISAGISMO: Resumo histórico e situação atual

A canalização do Arroio foi uma das mais importantes obras urbanísticas de Porto Alegre, que, a partir da década de 1930 se

desenvolveu por mais de 50 anos até ser completado. Por meio de sucessivos Planos Diretores (a primeira proposta gráfica de

retificação é a do Plano de 1914 – Plano Moreira Maciel), diferentes propostas de percursos e calhas foram criados com objetivos

saneadores e higienistas e de mitigação das enchentes que afligiam a cidade. Mais tarde, com objetivos de resolver o sistema viário e

a circulação na cidade, a obra finalizada originou a Avenida Ipiranga, modernizando Porto Alegre e acabando com o histórico de

alagamentos que lhe valeu o apelido de Arroio Dilúvio.

Embora os Planos Diretores propusessem áreas verdes e estudos paisagísticos e urbanísticos para o entorno, as obras realizadas não

conseguiram efetivar melhorias com este enfoque para as áreas urbanizadas ao longo da Avenida Ipiranga, pois a preocupação dos

legisladores foi sempre a de responder aos problemas viários e das enchentes, em detrimento dos dispositivos de regulamentação

urbanística para espaços públicos. A preocupação com a qualificação espacial e com a paisagem não conseguiu se manifestar

concretamente nas ações públicas.

Em Porto Alegre e Viamão, parcelas significativas da população total (aproximadamente 20%) são moradores de ocupações, ou seja,

habitantes das áreas informais, os espaços urbanos chamados de vilas ou favelas. Identifica-se desde as nascentes do Arroio, assim

como ao longo de sua extensão, a presença destes espaços informais da cidade.

Podem ser elencados vários problemas de ordem urbanístico-paisagística que, devido ao crescimento da região e da cidade,

surgiram ao longo do Arroio: a falta de sinalização das vias; os excessos de publicidade; a falta de proteção (guard-rail) nas

margens; vegetação; mobiliário urbano e iluminação insuficientes dos passeios da Avenida Ipiranga e das margens do Dilúvio;

engarrafamentos da Avenida; a falta de ciclovias; a deposição dos esgotos hospitalares dos serviços de saúde (hospitais, clinicas)

localizados ao longo da Avenida Ipiranga; as moradias de baixa renda que se localizam nas quadras adjacentes e que drenam

esgotos sanitários para o Arroio; e o comprometimento da qualidade das águas que chegam ao Lago Guaíba.

Ocupação urbana: Porto Alegre

(extraído do Atlas Ambiental de Porto Alegre)

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URBANIZAÇÃO, HABITAÇÃO, PAISAGISMO: Visão de Futuro

No tratamento do Arroio, as questões urbanísticas fundamentais estão associadas à implantação de diferentes redes de infraestrutura

paisagisticamente adequada e qualificadora. As possibilidades oferecidas pelos programas de regularização fundiária e os recentes

requerimentos da legislação referentes ao saneamento básico, assim como projetos específicos de tratamento da paisagem, poderão,

além de trazer impactos positivos para a cidade como um todo, oferecer a possibilidade de alavancar o crescimento mais saudável

de toda a região da Bacia do Arroio Dilúvio, promovendo o desenvolvimento socioespacial das populações menos privilegiadas que

ali se localizam.

Desta forma, deverá fazer parte prioritária do Programa a identificação das comunidades informais com o mapeamento de suas

demandas espaciais, de serviços, de infraestrutura e de geração de trabalho e renda.

Essas ações permitirão que o entorno do Arroio possa transformar a paisagem da cidade, tornando-se um parque linear que poderá

se desenvolver desde sua nascente, em Viamão, até sua foz, no Lago Guaíba. Isso poderá significar a requalificação do entorno do

Arroio com regimes especiais para ocupação e uso do solo, promovendo assim, atividades mais ligadas ao lazer, através da

implantação de mobiliário urbano (bancos, paradas de ônibus, bancas de jornal e revistas, barracas e carrocinhas para a venda de

bebidas, bicicletários); da utilização da vegetação na criação de caminhos verdes; ciclovias; iluminação pública; pavimentação; e da

instalação de equipamentos (pracinhas, playgrounds, bebedouros, pequenos palcos e anfiteatros, bares, restaurantes).

MOBILIDADE URBANA: Situação atual

Soluções integradas do sistema de mobilidade urbana deverão estar em sintonia com a proposta de revitalização da Bacia do

Dilúvio. É evidente o impacto que as soluções de transporte urbano causam na Bacia, haja vista as inúmeras pontes que proliferam

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ao longo do Arroio Dilúvio, por exemplo, numa tentativa de encontrar soluções para o transporte de maneira individual, através de

automóveis de passeio. Além disto, as poluições do ar, da água e sonora caminham juntas com o crescente número de automóveis

nas ruas e avenidas de Porto Alegre e Viamão. Não há como inserir automóveis ilimitadamente na estrutura urbana sem que o

sistema entre em colapso. Esta é uma equação que não terá solução no futuro se não houver consciência e planejamento agora.

Novamente, vale a pena trazer o exemplo da revitalização do Arroio Cheong Gye Cheon de Seul, Coréia do Sul, onde um sistema

viário com vias expressas e elevadas, por onde transitavam 180 mil carros por dia, foi demolido para dar lugar ao Arroio. Os

coreanos buscaram alternativas para a mobilidade urbana em substituição ao transporte individualizado que ocorria nestas vias. Para

tanto, uma ampla e competente rede de transporte público de qualidade foi introduzido.

MOBILIDADE URBANA: Visão de futuro

Entre as soluções para a mobilidade urbana deverão estar as que prestigiarão o transporte coletivo em geral, em detrimento do

transporte individual motorizado. Não há como atender adequadamente o crescente aumento do número de automóveis nas ruas e

estradas das cidades e demais regiões e, portanto, há que se aplicar um conjunto de medidas que passam pelo desestímulo ao uso

do automóvel, pela melhoria do Transporte Coletivo e pelo incentivo ao transporte não motorizado, além da integração do uso do

solo e o transporte, especialmente ao longo da Bacia do Arroio Dilúvio. Integrando assim, Porto Alegre e Viamão com meios de

locomoção confortáveis e eficientes.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: Situação atual

Identifica-se em determinados pontos da área no entorno do Arroio Dilúvio, a ocupação feita por população em situação de

vulnerabilidade social, a qual depreda as benfeitorias realizadas pela Prefeitura de Porto Alegre, desvalorizando esta área e causando

insegurança aos transeuntes, moradores e comunidade em geral. Consequentemente, grandes potencialidades econômicas são

reprimidas na região do Arroio Dilúvio. A presença de linhas de transmissão de energia em suas margens é outro fator que limita a

utilização do espaço para fins comerciais. Em área de grande circulação de pessoas, a rede implantada, há várias décadas,

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tornou-se inconveniente no meio urbano, devido ao seu porte e tensão, criando importante dano estético, riscos para os pedestres e

potencializando o perigo de acidentes de trânsito. Aliado a estes fatores, o aspecto sujo das águas, os odores emanados do leito do

Dilúvio e ainda as permanentes descargas de resíduos nos passeios desvalorizam a área sobremaneira.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: Visão de Futuro

Como visão de futuro espera-se que o Arroio seja aproveitado em sua totalidade. Em suas margens, opções de transporte público

seriam viabilizadas, incentivando o uso de transportes coletivos. Em paralelo, o deslocamento de pessoas para centros de tecnologia

no curso do Arroio permitiria a efetiva viabilidade de distritos de alta tecnologia e produção de saber consistente com novos

paradigmas de produção e comunicação. A ocupação da área do entorno através da construção de áreas de uso comum, como por

exemplo, praças, espaços de lazer coletivo e projetos culturais, permitiria uma nova dinâmica econômica com ganhos sociais. Como

efeito secundário, originaria uma nova oferta de estabelecimentos comerciais promovendo mais postos de trabalhos – geração de

emprego e renda. De outra parte, populações viveriam em áreas urbanizadas e sua integração ao Arroio se daria com ocupações

que visem à manutenção da qualidade ambiental da região. Poderá ainda ser observada uma valorização financeira da área do

entorno do Arroio Dilúvio, beneficiando moradores e toda a comunidade já instalada.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Situação atual

A visão de que o homem é parte do meio ambiente, e não um mero usuário,traz à tona a necessidade de entendimento por parte de

todos de que é necessário compreendermos as características dos ecossistemas dos quais fazemos parte, para que eles sejam

preservados. Atualmente, alguns projetos de Educação Ambiental direcionados à temática do Arroio Dilúvio são mantidos pela

Prefeitura Municipal de Porto Alegre, universidades e ONGs. O Projeto Casa do Arroio é uma exposição itinerante, na qual são

expostos móveis e utensílios retirados pelas equipes do Departamento de Esgotos Pluviais, durante a limpeza dos arroios de Porto

Alegre. Essa exposição busca sensibilizar as pessoas para a questão da problemática dos resíduos descartados nos corpos de água

da cidade. Outro projeto chamado Redescobrindo o Dilúvio constitui-se numa exposição fotográfica itinerante, com 30 fotos

históricas, que retratam historicamente Porto Alegre e o Arroio Dilúvio até os dias atuais, com o objetivo de resgatar a relação

estabelecida entre o desenvolvimento da cidade e o Arroio Dilúvio.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Visão de futuro

Existe a necessidade de ampliar as atuais estratégias de sensibilização no intuito de abranger toda a população. É necessário

promover a educação ambiental de forma intensiva e sistemática, buscando criar, além da consciência, a atitude. Durante o

planejamento e execução do Projeto de Revitalização do Arroio Dilúvio, torna-se extremamente relevante a participação da

sociedade, não só como massa passiva, mas como propositora e parte apoderada desta ação em prol de todos. As ações voltadas à

Educação Ambiental da população durante as fases deste Projeto devem ser abrangentes considerando todos os tipos de públicos e

devem ter continuidade após a execução propriamente dita. A criação de espaços para o acompanhamento das obras pela

população, fóruns de discussão, projetos pedagógicos em parceria com estabelecimentos de ensino, bem como mutirões e atividades

comunitárias deverão fazer parte da proposta sócio pedagógica deste programa.

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OUTROS CRÉDITOS:

Apoio logístico e administrativo:

Márcia Eliane Beust Lima – TAE Propesq /UFRGS Daniela de Seixas Grimberg - bolsista Propesq/UFRGS Patrícia Nunes - bolsista Propesq/UFRGS Guillermo Falavigna Cracco Paiva - bolsista Propesq/UFRGS Alice Goulart Kasper - bolsista Propesq/UFRGS

Desenvolvimento do website: http://paginas.ufrgs.br/arroiodiluvio

Jorge Paiva da Silva - SE Propesq/UFRGS Michele Bonatto - TAE Propesq/UFRGS

Fotos e Imagens cedidas por:

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS Atlas Ambiental de Porto Alegre

Atlas Ambiental de Porto Alegre:

Rualdo Menegat (Coordenador Geral) Maria Luiza Porto, Clóvis Carlos Carraro e Luís Alberto Dávila Fernandes (Coordenadores Adjuntos). Editora UFRGS – 3 Ed. – 2006.