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Programa Institucional/FEUSP (s/bolsa, vigência 2016) Faculdade de Educação - Universidade de São Paulo O Projeto Crianças do CRUSP: mapeamento histórico e documental de uma trajetória em defesa da infância. Aluno: Muriel Carolina Magurno Nº USP: 6835621 Assinatura: _____________________________________ Orientadora: Profª Drª Patrícia Dias Prado Assinatura: _____________________________________ São Paulo 2016

Programa Institucional/FEUSP (s/bolsa, vigência 2016 ...… · suas atividades, organizar o calendário anual de trabalho, redigir documentos e entrar em contato com as mães e pais,

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Programa Institucional/FEUSP (s/bolsa, vigência 2016)

Faculdade de Educação - Universidade de São Paulo

O Projeto Crianças do CRUSP: mapeamento histórico e documental de uma trajetória

em defesa da infância.

Aluno: Muriel Carolina Magurno Nº USP: 6835621

Assinatura: _____________________________________

Orientadora: Profª Drª Patrícia Dias Prado

Assinatura: _____________________________________

São Paulo

2016

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AGRADECIMENTOS

Sou imensamente grata à Lia Raque Amaral Teixeira, por ter fundado, coordenado e acompanhado o Projeto Crianças do CRUSP até hoje; participar desse Projeto foi a melhor coisa que me aconteceu na Universidade. Agradeço a Leonel Parente Filho e Magno Rodrigues Faria por todo o aprendizado e pelas formações incríveis; e a Eric Ito por ter me ensinado que dá para fazer qualquer coisa virar atividade.

Agradeço também à Profa. Dra. Patrícia Dias Prado por toda a dedicação ao Projeto desde 2009, pela confiança e liberdade dada ao meu trabalho na Salinha durante esses 5 anos como educadora e co-coordenadora, pelas reuniões e respostas de madrugada, por toda a orientação e paciência durante esse projeto de pesquisa de iniciação científica e por continuar sendo minha orientadora daqui em diante, no mestrado.

Por fim, agradeço a todos/as os/as educadores/as que dedicaram seu tempo e esforço ao Projeto e colocaram seu coração no trabalho com as crianças. E agradeço às crianças do CRUSP por terem me ensinado tantas coisas nesses 5 anos, inclusive, que estudar e trabalhar com educação é o que eu quero fazer para o resto da vida.

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O Projeto Crianças do CRUSP: mapeamento histórico e documental de uma trajetória em defesa da infância.

Aluno: Muriel Carolina Magurno Nº USP 6835621

Programa : Institucional FEUSP (sem bolsa)

Orientador: Profª Drª Patrícia Dias Prado (FEUSP/SP)

RESUMO

Esta pesquisa de Iniciação Científica teve como objeto de estudo o

Projeto Crianças do CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade de São

Paulo/SP), projeto de educação não formal que visa ao desenvolvimento de

propostas educativas, lúdicas e artísticas, com eixo nas brincadeiras (livres e

dirigidas) realizadas com crianças moradoras do CRUSP — cerca de 30

meninas e meninos, de 2 a 12 anos (além de filhos/as de alunos/as e

funcionários/as da USP), com propostas elaboradas por um grupo selecionado

de estudantes bolsistas de diferentes cursos da Universidade, desenvolvidas

semanalmente e aos finais de semana e considerando as necessidades das

mães e pais estudantes e das próprias crianças. A presente pesquisa realizou

um primeiro levantamento, seleção, organização e análise dos diversos

documentos e materiais produzidos no Projeto (Livros de Registro, Fichas de

Cadastro, Relatórios, Bilhetes, Pôsteres, Publicações, além de meus próprios

registros e experiências como bolsista deste por 5 anos), analisando sua

trajetória até o momento atual, reconstituindo sua origem, natureza, objetivos e

problematizando seus alcances e limites para a consolidação de

espaços/tempos lúdicos de defesa da infância e de formação acadêmica e

humana em cultura e extensão universitária.

Palavras-chave: Projeto Crianças do CRUSP; Educação não formal; direito à

infância.

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Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1

1. PROBLEMAS E JUSTIFICATIVAS .............................................................................................. 4

2. OBJETIVOS ............................................................................................................................. 6

3. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 7

4. LEVANTAMENTO, IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO, CATEGORIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS

MATERIAIS ..................................................................................................................................... 9

5. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS E ANÁLISE DOS DADOS .......................................................... 12

5.1 Caderno de Frequência e Registro .............................................................................. 12

5.2 Fichas de Cadastro das crianças .................................................................................. 16

5.3 Comprovantes de Compra e Notas Fiscais .................................................................. 17

1.4 Livro de Empréstimos de livros e brinquedos ............................................................. 20

5.5 Livros de Registro ........................................................................................................ 22

5.6 Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças .................................................... 34

5.7 Jornais contendo artigos sobre o Projeto ................................................................... 35

5.8 Documentos dos Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista .................................. 37

5.9 Planejamento de Atividades de Ensino ....................................................................... 42

5.10 Relatórios de Bolsa e Trabalhos Acadêmicos sobre o Projeto .................................... 44

5.11 Documentos da viagem para a praia ........................................................................... 48

5.12 Ofícios .......................................................................................................................... 50

5.13 Pôsteres do Projeto apresentados em eventos acadêmicos ...................................... 53

5.14 Calendários Anuais de Atividades do Projeto ............................................................. 54

5.15 Proposta e Regras dos “Jogos do Mundo” .................................................................. 55

5.16 Outros Documentos .................................................................................................... 56

6. O PROJETO CRIANÇAS DO CRUSP: MAPEAMENTO HISTÓRICO E DOCUMENTAL ............... 61

7. UMA TRAJETÓRIA EM DEFESA DA INFÂNCIA ...................................................................... 68

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 79

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 82

APENDICE: Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 84

ANEXOS ....................................................................................................................................... 85

Anexo 1 – Certificado de apresentação de trabalho no 24º SIICUSP ...................................... 85

Anexo 2 – Folheto de Divulgação das vagas para monitor/a bolsista de 2004/2005 ............. 86

Anexo 3 – Folheto de Divulgação das vagas para monitor/a bolsista de 2006....................... 87

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INTRODUÇÃO

Para explicar meu envolvimento com o Projeto Crianças do CRUSP,

farei, inicialmente, minha apresentação e um relato da minha trajetória

acadêmica. Meu nome é Muriel Carolina Magurno, tenho 26 anos e sou de

João Ramalho, no interior do estado de São Paulo. Em 2009, ingressei na

USP, no curso de Letras. Concluí o Bacharelado em Letras-Português, em

fevereiro de 2016 e, atualmente, estou terminando a licenciatura.

Desde o meu primeiro ano de graduação, sempre me mantive com

bolsas e auxílios da Universidade, começando pela Bolsa FUVEST, para

alunos/as de escolas públicas que tiveram um bom desempenho no vestibular

em 2009, e, logo em seguida, pela Bolsa Santander de Apoio Socioeconômico,

em 2010.

Em julho de 2011, me inscrevi em 2 bolsas da FEUSP pelo Programa

Aprender com Cultura e Extensão, mas fui chamada (por engano) para fazer a

entrevista no Projeto Crianças do CRUSP e contra todas as possibilidades

(pois o coletivo de estudantes 1 responsáveis pelo Projeto desejava um

educador2), me tornei educadora bolsista do Projeto. Na época, um dos ex-

educadores, que fazia parte deste coletivo, discutia conosco o Livro de

Registro, organizava as reuniões do grupo de trabalho (então composto por

quatro educadoras) e orientava os planejamentos das atividades e a resolução

de problemas cotidianos.

Nossas propostas com as crianças deveriam partir daquilo que mais

amávamos e acreditávamos ser importante compartilhar. Eu, então aluna de

Letras grego-português, cursando Literatura Infantil I e apaixonada por

Literatura em geral, desenvolvi um projeto de Literatura e brincadeira, com

atividades ligadas à Literatura Infantil e adaptações cinematográficas, mitologia

grega e contação de histórias. Além do imenso prazer em propor o que eu

gostava com as crianças, o desenvolvimento do projeto e a preparação das

1 Grupo formado pela fundadora e outros três ex-educadores/as, que geria o Projeto desde o início e, a partir de 2009, em conjunto com a Profa. Dra. Patrícia Dias Prado. 2 O coletivo já havia selecionado 3 educadoras mulheres e, para que houvesse diversidade, desejava que houvesse também um educador homem.

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minhas atividades possibilitaram o aprofundamento de meus estudos nessas

áreas acadêmicas e pude vincular o que eu estudava com minhas propostas e

experiências educativas e formativas no dia a dia do Projeto.

A partir de agosto de 2012, o Projeto funcionou com uma bolsa a menos

e, do grupo de educadores/as de 2011, apenas eu permaneci no ano seguinte.

Além disso, com o afastamento do referido ex-educador, assim como dos/as

demais ex-estudantes do coletivo, acabei me tornando o “elo de ligação” com

os/as novos/as bolsistas e fui assumindo algumas funções de co-coordenação,

organizando, planejando e avaliando as atividades e propostas com os/as

educadores/as e com as crianças, junto à professora coordenadora.

Posteriormente, também realizei entrevistas com novos/as candidatos/as e

acompanhei o planejamento de suas primeiras atividades junto às crianças.

Assim, fui me envolvendo cada vez mais com o Projeto, até que, em

agosto de 2013, conseguimos 5 bolsas, uma a mais que o nosso ideal de

trabalho na época, e eu deixei de ser educadora e me tornei, de fato, co-

coordenadora do Projeto, função que exerço até o momento. Passei a

comentar o Livro de Registro3, fazer reuniões semanais com os/as bolsistas e

com a professora coordenadora, selecionar novos/as bolsistas, acompanhar

suas atividades, organizar o calendário anual de trabalho, redigir documentos e

entrar em contato com as mães e pais, com órgãos da Universidade, como a

Associação de Moradores/as do CRUSP (AMORCRUSP), Zeladoria e

Manutenção do CRUSP, COSEAS/SAS4, Restaurante dos Professores etc.,

quando necessário. Também continuei realizando atividades com a equipe de

educadores/as na semana de atividades especiais e em ocasiões especiais,

além de participar de todas as reuniões de coordenação com a professora

coordenadora e o grupo de bolsistas.

Nesses cinco anos de trabalho no Projeto, muitas coisas aconteceram e

tive o privilégio de poder acompanhar, participar e até promover várias dessas

mudanças. Eu comecei como qualquer educador/a, mas fui me envolvendo

3 O Livro de Registros é o documento onde são registradas as informações diárias do Projeto, como as datas, quem eram os/as educadores/as trabalhando, quais crianças vieram, qual a atividade elaborada/executada, se ela deu certo ou não e quais (possíveis) problemas acorreram na noite/no dia em questão. 4 Antiga Coordenadoria de Assistência Social, atual Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP/SP. Os dois nomes de referem ao mesmo órgão da Universidade e alternarei entre um nome e outro, conforme o período a que estiver me referindo.

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mais e mais, ao mesmo tempo em que a fundadora e o antigo coletivo foram se

afastando, uns por conta de mudanças de cidade, de um novo emprego,

outros/as por se tornarem mães e pais e outros/as, ainda, por falta de tempo.

Assim, sendo a atual co-coordenadora e o “elo de ligação” entre o

coletivo antigo e o futuro do Projeto, e acreditando na importância desse

Projeto para todos/as que dele participam, senti a necessidade de descobrir e

registrar o que aconteceu nesses 13 anos de sua história, da qual eu também

participo. Além disso, é de extrema importância levantar e organizar toda a

documentação produzida nesses anos na Sala das Crianças5, conhecendo,

preservando e divulgando a sua história e assim realizar outro objetivo do

Projeto, que é promover espaços e tempos para desenvolvimento de

pesquisas.

5 O Projeto Crianças do CRUSP também ficou conhecido como a “Sala das Crianças”, ou carinhosamente, pelas crianças e suas famílias, como “Salinha”, termos que usarei como sinônimos do Projeto, neste trabalho.

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1. PROBLEMAS E JUSTIFICATIVAS

O Projeto Crianças do CRUSP foi fundado e iniciado em 2003, por um

coletivo de estudantes da Universidade de São Paulo/SP, em parceria com a

AMORCRUSP e a Superintendência de Assistência Social (SAS, antiga

COSEAS); com o passar dos anos, esses/as estudantes foram se graduando e

se distanciando do Projeto que, em 2009, passou a ser coordenado pela Profa.

Dra. Patrícia Dias Prado (FEUSP) e tornou-se parte do Programa Aprender

com Cultura e Extensão da USP/SP. Em agosto de 2013 passei a co-coordenar

o Projeto e, no segundo semestre de 2015, ele se tornou parte do Programa

Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da USP/SP.

Desde sua criação, o Projeto passou por inúmeras mudanças

estruturais, recebeu muitos/as educadores/as e foi frequentado por um grande

número de crianças. Existe uma série de documentos do Projeto, como

registros e anotações, e também são produzidos documentos continuamente

(registros escritos, fotografias, pôsteres etc.), mas que não estavam

organizados para facilitar seu acesso. Sobre a história do Projeto, os/as

educadores/as sabem apenas o que ouviram na entrevista, na apresentação do

Projeto e na semana de formação com o antigo coletivo de educadores/as.

Dessa maneira, corria-se o risco de que parte dessa história se perdesse, caso

não viesse a ser mapeada, organizada, registrada e analisada.

O Projeto promove um espaço de convivência para as crianças

moradoras do CRUSP e de educação não formal através de atividades

educativas (livres e dirigidas) relacionadas às diferentes áreas do

conhecimento e oferece assistência aos pais e mães, alunos/as moradores/as,

em seu período de aulas, estudo ou trabalho. Essas atividades não buscam

somente “entreter as crianças” na ausência de seus responsáveis, o que já se

caracteriza como direito fundamental da infância — a brincadeira com objetivo

de divertir, de tornarem-se crianças (BENJAMIM 1984) e de construírem

história e culturas infantis (FERNANDES 2004, PERROTTI 1990), desde o

nascimento (PRADO 2012) — mas também de promover sua participação num

espaço coletivo e educativo provocador, capaz de ampliar seus conhecimentos

sobre o mundo, formular novas hipóteses, conhecer e ensinar nas relações

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entre elas e delas com os/as educadores/as, a partir de diferentes perspectivas

(LARROSA 1998) e através de múltiplas linguagens (EDWARDS et al 1999).

Ele tem se consolidado como um importante processo formativo para

os/as estudantes que dele participam, como uma experiência em educação

antes de licenciarem-se, vivenciando plenamente a rotina de um projeto de

educação não formal e desenvolvendo atividades pertinentes ao seu curso de

origem, relacionando e articulando esses conhecimentos com os de outros/as

bolsistas e às questões cotidianas da Sala das Crianças, além de ampliar seus

conhecimentos teóricos em educação por meio das atividades do programa de

formação de educadores/as bolsistas.

Tendo em vista a importância desse Projeto para todos/as que dele

participam, sua singularidade histórica, criado e idealizado por estudantes, com

uma história de mudanças pelas quais passou nesses 13 anos, um primeiro

mapeamento, organização, sistematização e análise dos materiais nele

produzidos, perguntando-lhes o que podem revelar de uma trajetória em defesa

da infância, pode abrir caminhos para aprofundar nossa compreensão sobre as

possibilidades de consolidação de uma educação emancipatória, de crianças e

de adultos?

Para isso, pretendeu-se investigar a história do referido Projeto, desde a

sua fundação, até os dias atuais, fazendo um mapeamento analítico de sua

trajetória a partir das questões: Em 2003, como e por que surgiu o Projeto? A

partir de quais necessidades, concepções e expectativas? Quem foram os/as

idealizadores/as e membros do coletivo de estudantes fundadores/as do

Projeto? E os/as educadores/as bolsistas, estagiários/as, voluntários/as e

crianças? Como eram e são as propostas, as atividades e o funcionamento do

Projeto? Onde, quando, com quem e como elas foram sendo realizadas? Quais

as alterações sofridas no Projeto depois de sua consolidação como um projeto

de cultura e extensão universitária, junto ao Programa Aprender com Cultura e

Extensão da USP, a partir de 2009, e ao Programa Unificado de Bolsas de

Estudo para Estudantes de Graduação da USP, a partir de 2015?

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2. OBJETIVOS

A presente pesquisa teve por objetivo realizar um primeiro levantamento

da documentação produzida no Projeto Crianças do CRUSP, identificar,

selecionar, categorizar e organizar estes documentos, analisar os dados

obtidos por meio desses materiais e apresentar um breve panorama dos 13

anos de existência do referido Projeto, analisando sua trajetória, reconstituindo

sua origem, natureza, objetivos e problematizando seus alcances e limites para

a consolidação de espaços/tempos lúdicos de defesa da infância e de

formação acadêmica e humana, em cultura e extensão universitária.

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3. METODOLOGIA

A pesquisa foi do tipo qualitativa e os dados foram coletados através de

análise documental (LUDKE; ANDRÉ 1986). Foi feita a identificação, seleção,

categorização e organização dos diferentes materiais produzidos no Projeto

Crianças do CRUSP, pelos/as bolsistas e crianças (Livros de Registro de

atividades e de Empréstimos de brinquedos e livros, Fichas de Cadastro6 ,

Relatórios de Estágio 7 , Bilhetes de educadores/as aos pais, Pôsteres 8 ,

Publicações9 etc.). Esses materiais não estavam organizados e muito pouco se

sabia sobre eles. Além disso, foram coletados dados através de conversas

informais com os/as educadores/as bolsistas e demais envolvidos/as no

Projeto, com registro posterior em caderno de campo.

Os dados coletados foram analisados de forma articulada à luz das

concepções teóricas norteadoras do Projeto, discutidos nos encontros de

orientação individual e nos encontros coletivos de formação e de coordenação,

do qual participo desde 2011, que compreende a produção recente dos

campos da Pedagogia da Infância e da Educação Infantil, na interface com as

Ciências Sociais, como a Sociologia da Infância e a Antropologia da Criança,

além de documentos oficiais que dizem respeito aos direitos das crianças e da

infância.

A pesquisa de campo foi realizada com o Consentimento Livre e

Esclarecido das/os envolvidas/os (APÊNDICE): Professora coordenadora,

fundadora e educadores/as bolsistas atuais do Projeto, respeitando os

requisitos éticos 10 , tais como: participação voluntária, linguagem clara e

6 A Ficha de Cadastro é um documento preenchido pela mãe ou pai com os dados e informações sobre a criança que frequenta o Projeto e as informações e contato do responsável. 7 Os Relatórios de Estágio são trabalhos acadêmicos finais apresentados em disciplinas de Licenciatura que exigem estágio, como Política e Organização da Educação Básica (POEB) e Psicologia da Educação. 8 Apresentados no 2º, 3º, 4º e 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão da USP, na Virada Científica 2015 da USP e no Workshop: A USP e as Ações para o Desenvolvimento Integral na Primeira Infância, em 2015. 9 As Publicações são artigos escritos sobre o Projeto e publicados em Jornais. 10 Respeitando os Princípios éticos da Universidade de São Paulo, disponível em: http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-4871-de-22-de-outubro-de-2001#c2. Acesso em 05.07.2015.

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acessível, confidencialidade das informações, privacidade dos sujeitos e

retorno da pesquisa.

A pesquisa também foi apresentada no 24º SIICUSP (Simpósio

Internacional de Iniciação Científica da USP (ANEXO 1), oportunidade recente

que possibilitou novas trocas reflexivas e ampliações conceituais sobre meu

olhar nas análises finais da pesquisa.

Por fim, o Projeto Crianças do CRUSP continuará sendo meu objeto de

estudo no mestrado, aprovado para início em 2017, junto ao Programa de Pós-

Graduação desta Faculdade, sob a mesma orientação, quando pretendo

aprofundar os estudos sobre as atividades realizadas no dia a dia do referido

Projeto, durante esses 13 anos. Para isso, irei analisar os 3 Livros de Registro

e o Caderno de Frequência e Registro, que cobrem o período de 2005 a 2015,

além de centenas de fotografias e vídeos produzidos durante todos os anos do

Projeto, e investigar, por meio de entrevistas, os 2 anos iniciais do Projeto e

outras lacunas temporais que os registros encontrados não documentam.

Acredito que conhecer, compreender e problematizar os processos

educativos e formativos do referido Projeto possa trazer elementos analíticos

fundamentais para a consolidação de espaços/tempos lúdicos de defesa da

infância e de formação acadêmica e humana, em cultura e extensão

universitária, para o próprio Projeto, para a criação de outros projetos como

esse e de outras pesquisas como esta.

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4. LEVANTAMENTO, IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO, CATEGORIZA ÇÃO

E ORGANIZAÇÃO DOS MATERIAIS

Iniciei a coleta de documentos e materiais na Salinha nos meses de

agosto e setembro de 2015. Ao final, havia recolhido 6 cadernos-livros, 10

pastas e 6 pacotes plásticos com documentos e Notas Fiscais. Desse primeiro

levantamento fiz uma identificação desses materiais a partir das capas,

contracapas, etiquetas, das primeiras e últimas páginas, e o que encontrei foi:

1 Caderno de Frequência e Registro;

1 Livro de Empréstimos de livros e brinquedos;

4 Livros de Registro;

1 Pasta catálogo com as Fichas de Cadastro atuais das crianças;

1 Pasta catálogo com 66 Fotos;

1 Pasta catálogo com Documentos da viagem para a praia;

1 Pasta com Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças;

1 Pasta com Planejamentos de Atividades de Ensino;

1 Pasta com Documentos sobre os Processos de Seleção de Monitor/a

Bolsista;

2 Pastas com a Proposta e as Regras dos “Jogos do Mundo”11;

1 Pasta com 2 Relatórios de Bolsa12 e um Documento chamado “Sala das

crianças do CRUSP: coletânea de projetos 2008”;

1 Pasta com Fichas de Cadastro de crianças em branco, Folhetos de

divulgação do Projeto e Bilhetes da equipe de educadores/as para as/os

mães/pais sobre o horário de funcionamento da Salinha;

5 Pacotes plásticos com Comprovantes de Compras e Notas Fiscais;

1 Pacote plástico com as Fichas de Cadastro antigas das crianças.

11O “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos cinco continentes”, que propõe a criação de uma Brinquedoteca Piloto para as crianças e moradores/as do CRUSP, foi apresentado para a AMORCRUSP e se concretizou em uma semana de Oficina de produção de “Jogos do Mundo” na Sala das Crianças, em fevereiro de 2014. 12 Os Relatórios de Bolsa são documentos redigidos pelos/as educadores/as bolsistas no final do período de bolsa sobre as atividades executadas no Projeto, exigidos pelo Programa Aprender com Cultura e Extensão nos anos de 2009/2010 e 2010/2011.

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Durante essa identificação, observei que havia poucos registros e

documentos a partir de 2011. Fiz, então, um levantamento e identificação de

materiais do meu acervo pessoal — documentos que redigi e/ou informações

que anotei desde que entrei no Projeto, em 2011, e coletei os seguintes

documentos:

1 Pasta com Jornais contendo artigos sobre o Projeto;

1 Pasta com Ofícios do Projeto para a SAS e a AMORCRUSP;

1 Pasta com Calendários Anuais das atividades desenvolvidas pelo Projeto;

1 Pasta com documentos sobre apresentações de Pôsteres do Projeto em

eventos acadêmicos.

Logo depois que identifiquei os materiais coletados, decidi que o Livro de

Registro atual e as 66 fotos reveladas não farão parte do material selecionado

para análise13. Também não encontrei desenhos e outros materiais produzidos

pelas crianças e bolsistas “guardados” na Salinha; o que não significa que não

possamos encontrar desenhos, instalações, esculturas, móbiles e outros

materiais que estão sendo produzidos e/ou expostos no momento pelas

crianças e bolsistas e, sim, que o Projeto tem uma política de não

guardar/acumular materiais produzidos nas atividades; então, os desenhos e

outros materiais são feitos, expostos, as crianças brincam com eles e os

transformam em outras coisas. O registro das atividades é documentado

através das fotografias tiradas durante ou após os desenhos/pinturas serem

feitos.

Para categorizar os documentos selecionados para análise, passei a

observar mais atentamente o conteúdo de cada um desses livros, pacotes e

pastas, reconhecendo, diferenciando, classificando os documentos por tipo e

agrupando-os com documentos do mesmo tipo. Os documentos ficaram

organizados em: Caderno de Frequência e Registro; Fichas de Cadastro das

crianças; Comprovantes de Compra e Notas Fiscais; Livro de Empréstimos de

livros e brinquedos; Livros de Registro; Relatórios Individuais de Trabalho com

as crianças; jornais contendo artigos sobre o Projeto; Documentos dos 13 O Livro de Registro atual ainda está sendo escrito e, por estar em constante mudança, tornou-se inviável analisá-lo nesta pesquisa. Quanto às fotos, além das 66 reveladas, e de algumas contempladas nos pôsteres impressos apresentados no 2º, 3º 4º e 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão, existe um grande número de fotos digitais não reveladas, armazenadas no grupo fechado “Projeto Crianças do CRUSP” do Facebook. As fotos farão parte do corpus analisado na minha pesquisa de mestrado.

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Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista; Planejamentos de Atividades de

Ensino; Relatórios de Bolsa e Trabalhos Acadêmicos sobre o Projeto;

Documentos da viagem para a praia; Ofícios; Impressões em A4 dos Pôsteres

do Projeto apresentados em eventos acadêmicos; Calendários Anuais de

Atividades do Projeto; Proposta e Regras dos “Jogos do Mundo”; e uma pasta

com Outros Documentos. E depois da categorização por tipo de documento,

organizei os documentos por ordem cronológica dentro de cada categoria.

É importante registrar que quando escrevi o projeto de pesquisa, não

fazia ideia de quanto material havia sido produzido na Salinha, e todos os

passos que descrevi até agora renderam um trabalho muito mais extenso e

complicado do que eu poderia imaginar, visto que havia muitos documentos, de

diversos tipos, e todos misturados na Salinha. Eu não imaginava que teria tanto

material para identificar, classificar, separar e organizar; e o mesmo ocorreu

quando comecei a levantar os dados: deparei-me com muito mais informação

do que uma pesquisa de iniciação científica com duração de 1 ano poderia

comportar.

Ainda assim, todo esse trabalho se mostrou necessário para

fundamentar um caminho para esta pesquisa e outras que virão. Assim, a partir

do Capítulo 5, passarei a descrever e contextualizar os materiais encontrados

— que são a base desse capítulo tão extenso — e, com as dimensões tomadas

da própria pesquisa, que evidenciou um caráter mais descritivo do que analítico

(pelo menos, neste primeiro momento de Iniciação Científica), sigo, nos

capítulos seguintes, buscar refinar o entendimento dos dados coletados e

aprofundar suas análises.

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5. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS E ANÁLISE DOS DADOS

5.1 Caderno de Frequência e Registro

O Caderno de Frequência e Registro foi o primeiro documento redigido

no Projeto Crianças do CRUSP e em sua primeira metade foram anotadas as

datas do ano e o nome das crianças que frequentaram o Projeto (além do bloco

e número do apartamento das crianças, nos primeiro anos, e do dia da

semana, nos últimos anos) de 2004 a 2010; esse documento nos permite

perceber a frequência com que as atividades aconteciam e o número de

crianças que frequentou o Projeto nesse período. A segunda metade do

Caderno foi usada como Livro de Registro de atividades, no período de 7 de

maio de 2010 a 22 de novembro de 2010, quando a frequência passou a

integrar esse outro documento; essa segunda metade será abordada

posteriormente, no subitem 5.5 Livros de Registro.

O Caderno de Frequência teve seu primeiro registro de frequência

datado de 16 de março de 2004. As páginas eram divididas em quatro colunas,

preenchidas com as seguintes informações: data, nome da criança, bloco e

número do apartamento em que residia. No primeiro mês houve apenas 2

registros de frequência — o primeiro foi em uma terça-feira, 16 de março, com

a presença de 2 crianças e o segundo foi em uma sexta-feira, 26 de março,

com 4 crianças — o que indica que só houve 2 dias de atividades registradas

nesse mês. Nos meses seguintes o número de dias com atividades registradas

foi aumentando. Foram registrados 3 dias em abril, 12 dias em maio, 9 em

junho, 4 em julho, 3 em agosto, 4 em setembro, 15 em outubro, 20 em

novembro e 8 em dezembro, totalizando 80 dias de atividades do Projeto

registrados no ano de 2004. Além disso, dentre esses dias não houve nenhum

sem crianças. O número máximo de crianças em um mesmo dia foi de 14 e

houve uma média de frequência de 4 crianças por dia de atividade.

Em 2005, as atividades com as crianças passaram a acontecer todos os

dias da semana, de segunda à sexta-feira. Os registros das atividades feitos

pelos bolsistas desse ano começam em 10 de fevereiro (logo depois do

carnaval, nos dias 8 e 9), indicando que não houve atividades em janeiro. As

atividades aconteceram 6 dias em fevereiro, 22 dias em março, 20 dias em

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abril, 20 em maio, 22 em junho, 6 em julho, 22 em agosto, 11 em setembro, 18

em outubro, 19 em novembro e 11 em dezembro, encerrando suas atividades

no dia 15 de dezembro e totalizando 177 dias de atividade, com uma média de

frequência de 7 crianças por noite. Apenas no fim do ano de 2005, as

atividades começaram a ser esporádicas novamente. Nesse ano não houve

nenhuma atividade aos finais de semana ou feriados, e apenas em 1 dia de

atividade não houve nenhuma criança.

No ano seguinte houve algumas mudanças na forma de fazer o registro.

A partir de 9 de maio de 2006, os itens bloco e apartamento foram

gradualmente deixando de ser registrados (até o dia 30 de agosto). Em 1 de

setembro do mesmo ano, o formato do registro mudou: a página passou a ser

dividida ao meio e cada metade continha duas colunas: uma para anotar a data

da atividade e outra para o nome da criança. Desde 20 de agosto, o dia da

semana da atividade também passou a ser registrado. Há um único registro de

dia da semana antes disso, em 3 de junho, um sábado.

Neste ano de 2006, o Projeto iniciou suas atividades em 9 de janeiro e

funcionou 16 dias nesse mês, 17 dias em fevereiro, 21 dias em março, 17 em

abril, 28 em maio, 22 em junho, 16 em julho (com recesso do dia 17 ao 30), 30

dias em agosto, 24 em setembro, 26 em outubro, 25 em novembro e 17 dias

em dezembro (até dia 17). Há registro de 265 dias de atividades do Projeto,

dentre os quais há 262 dias de atividades com as crianças e 3 dias de reunião

da equipe de educadores/as; além do registro de 15 dias em que não houve

atividades, sendo 12 dias de feriados, 2 dias por conta das eleições e 1 por

conta do jogo do Brasil na Copa do Mundo de Futebol. Ainda entre esses 262

dias de atividades com as crianças, a partir do mês de maio começaram a

haver atividades aos sábados e domingos. Houve ainda 6 dias de registro em

que não veio nenhuma criança (2 deles por causa dos ataques do PCC14) e 12

foi o número máximo de crianças em uma mesma noite, além da média de

frequência ter sido de 6 crianças.

14 De 11 a 15 de maio de 2006 houve uma série de atentados e assassinatos contra policiais e outras forças de segurança em São Paulo e outros estados, além de ataques a delegacias, fóruns, agências bancárias e a ônibus, realizados pela organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A população entrou em desespero e, com medo de ataques a civis, várias instituições fecharam e os ônibus pararam de circular na parte da tarde e da noite durante esse período.

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Em 2007, o Projeto iniciou-se dia 17 de janeiro e funcionou 11 dias

nesse mês, 22 em fevereiro, 30 em março, 18 em abril, 24 em maio, 23 em

junho, 15 em julho, 29 dias em agosto, 4 em setembro, 29 em outubro, 25 em

novembro e 16 dias em dezembro. Há registro de 252 dias de atividades do

Projeto, dentre os quais há 246 dias de atividades com as crianças e 6

reuniões do coletivo de educadores/as; além do registro de 15 dias em que não

houve atividades, sendo 9 feriados, 2 paralisações, 5 assembleias e 1 dia sem

atividade. Também se mantiveram as atividades diárias e semanais com as

crianças, inclusive aos sábados e domingos, com exceção de alguns feriados,

reuniões etc. O ano de 2007 foi o ano com mais dias sem crianças: houve 53

dias em que não há o nome de nenhuma criança registrado, o máximo de

crianças em um mesmo dia foi 10 e a média de frequência foi de 3 crianças.

Em 2008, as atividades iniciaram-se dia 15 de janeiro, com 16 dias

nesse mês, 24 em fevereiro, 24 em março, 29 em abril, 21 em maio, 28 em

junho, 17 em julho, 6 dias em agosto, 22 em setembro, 17 em outubro, 18 em

novembro e 11 dias em dezembro (até dia 15). Há registro de 229 dias de

atividades do Projeto, dentre eles, 227 dias de atividades com as crianças e 2

reuniões; além do registro de 14 dias em que não houve atividades, sendo 13

feriados e 1 dia do V Congresso da USP15. Como nos anos anteriores, as

atividades aconteceram praticamente todos os dias, inclusive aos sábados e

domingos, com exceção apenas de feriados, reuniões e congressos. Houve 8

dias em que não foi registrado o nome de nenhuma criança, o máximo de

crianças que frequentou um mesmo dia foi 11 e a média de frequência foi de 4

crianças.

Em 14 de fevereiro do ano seguinte, a forma como o registro da

frequência das crianças era feito mudou novamente. As páginas começaram a

ser divididas em várias colunas (3, 4, 5 ou 6), o registro da data e o nome das

crianças passou a ser feito na mesma coluna e, quando esta acaba, o registro

continua na coluna seguinte.

Nesse ano de 2009, o Projeto iniciou-se dia 23 de janeiro e funcionou 2

dias nesse mês, 3 em fevereiro, 7 em março, 14 em abril, 19 em maio, 8 em

15 O V Congresso da USP — “Da universidade que temos à universidade que queremos” foi um desdobramento da greve de 2007, que entrou no calendário oficial da USP em 2008 e visou discutir a autonomia universitária. Fonte:http://www.adusp.org.br/files/v_congresso/Jornal2.pdf. Acesso em 14.06.2016.

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junho, 5 em julho, nenhum em agosto, 17 em setembro, 18 em outubro, 19 em

novembro e 9 dias em dezembro (até dia 11). Há registro de apenas 120 dias

de atividades, todas com as crianças, mas os dias de atividade passaram a ser

mais esporádicos e não houve mais atividades aos sábados e domingos, nem

feriados. O máximo de crianças a frequentar o Projeto, em um dia, foi 13 e a

média de frequência foi de 5 crianças.

Em 2010, a Salinha voltou a abrir dia 1 de março e funcionou 17 dias

nesse mês e 13 em abril. O último registro de frequência neste Caderno data

do dia 22 de abril de 2010 e é seguido pela seguinte anotação: “A frequência

será feita a partir de hoje no livro de registro”. Há registro de 30 dias de

atividades com as crianças e de 7 dias sem atividades por conta de feriados

(semana santa). 9 foi o maior número de crianças registradas em um dia.

Depois dessa descrição, foi possível notar as mudanças pelas quais o

Caderno de Frequência e Registro passou ao longo dos anos: No início dos

registros eram anotados a data do ano, o nome das crianças, o bloco e número

do apartamento em que elas residiam; com o passar do tempo, o bloco e o

número do apartamento deixaram de ser anotados e, posteriormente, passou a

constar nos registros o dia da semana.

O documento evidencia também as mudanças pelas quais o

funcionamento da Sala das Crianças passou. Ele nos permite verificar que no

início dos registros, em 2004, as atividades aconteciam esporadicamente e em

dias variados da semana, de segunda a domingo, incluindo feriados; no ano

seguinte, 2005, as atividades começaram a ser regulares, de segunda a sexta-

feira, o número de dias de atividade foi mais que o dobro em relação ao ano

anterior, da mesma forma que o número de crianças que frequentava o Projeto

quase dobrou. A partir de 2006 começaram a haver atividades também aos

sábados e domingos e passaram a ser feitos também registros dos dias sem

atividades, com algum indício sobre o porquê de a Salinha não funcionar em

determinado dia. Em 2007 e 2008 as atividades aconteceram praticamente

todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos, com exceção

apenas de feriados, reuniões, congressos etc. até que no final de 2008 até

meados de 2009, as atividades passaram a ser mais esporádicas e não houve

mais atividades aos sábados e domingos, nem feriados; houve uma grande

queda no número de dias de atividades, culminando num mês (agosto) sem

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atividade nenhuma. E então, a partir de setembro de 2009, as atividades foram

voltando a ser regulares, com exceção de janeiro e fevereiro de 2010, quando

também não houve nenhum registro de atividade.

Desde março de 2004, quando os registros nesse Caderno começaram,

até abril de 2010, quando cessaram, o Caderno de Frequência cobriu 74

meses do Projeto, dos quais em apenas 4 deles não houve nenhuma atividade.

Isso evidencia que nesses mais de 6 anos, o Projeto garantiu às crianças o

direito/acesso a esse local-espaço-tempo de ser crianças, às atividades e às

brincadeiras, quase ininterruptamente, incluindo os meses de férias letivas

(janeiro, julho e dezembro).

5.2 Fichas de Cadastro das crianças

A Ficha de Cadastro é um documento preenchido pela mãe ou pai, com

os dados e informações sobre a criança — nome, RG/RNE, bloco e

apartamento, se tem alguma alergia — que frequenta o Projeto e as

informações de contato do responsável — nome de mãe, pai e/ou responsável,

curso de graduação, telefone—, além dos dados de quem mais pode buscar a

criança e contém ainda o termo de autorização do uso de imagem da criança

para fins acadêmicos.

Dentre o material selecionado havia 1 pasta com as Fichas de

Cadastro atuais e 1 pacote com as Fichas de Cadastro antigas. Tirei todas as

Fichas da pasta e do pacote e as juntei, formando uma única pilha de Fichas,

que separei por ano e das quais fiz o seguinte levantamento: 18 Fichas de

2005, 25 de 2006, 7 de 2007, 3 de 2008, 1 de 2009, 7 de 2010, 6 de 2011, 2 de

2012, 1 de 2013, 22 de 2014 e 31 de 2015.

Em seguida, ordenei as Fichas por nome, juntei as Fichas duplicadas (o

nome e os dados das crianças eram os mesmos, mas o endereço ou algum

outro dado era diferente) e conferi todas. Havia 128 Fichas no total (até o final

de 2015) referentes a 95 crianças diferentes, ou seja, 33 estavam “duplicadas”.

Em seguida, separei novamente as Fichas antigas das atuais: no caso das

Fichas antigas duplicadas, deixei a mais antiga na frente, e no caso das Fichas

atuais duplicadas, deixei a mais recente na frente.

Por fim, voltei a organizar as Fichas antigas por data (ano/mês/dia) e as

arquivei no pacote. Já as Fichas atuais, as reorganizei na pasta de acordo com

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os endereços das crianças e fiz uma lista dos blocos e apartamentos onde há

crianças, para tornar mais prático o trabalho dos/as educadores/as para a

entrega de bilhetes, convites, avisos etc., nos blocos da moradia.

Embora as atividades tenham começado em 2003, as fichas só

começaram a existir a partir de 2005 e as Fichas de Cadastro foram os

primeiros documentos a trazer mais informações sobre quantas, quem eram e

que idade tinham as crianças que frequentavam o Projeto. Elas podem também

indicar o período em que as crianças conheceram e/ou começaram a

frequentar o Projeto, pois costumam ser preenchidas no primeiro dia de uma

criança “nova” ou assim que visitas esporádicas começam a ficar frequentes

(no caso de crianças que não moram no CRUSP, mas visitam o Projeto), ou

ainda quando, durante o Censo das crianças do CRUSP 16 , encontramos

alguma criança que não conhecíamos e que não conhecia a Salinha. O grande

número de Fichas em 2005, 2006, 2014 e 2015 sustenta a hipótese de que

nesses anos houve Censo das Crianças do CRUSP.

As fichas são documentos importantes porque, além de promover um

maior conhecimento sobre o número total e a idade média das crianças que

frequentam o Projeto — o que permite adequar melhor as atividades para o

grupo/faixa etária de crianças—, é essencial para que possamos conhecer e

estabelecer um contato com a família das crianças, seja para marcar reuniões,

entregar bilhetes, como para conversar sobre o comportamento da criança ou

verificar o porquê de sua ausência.

5.3 Comprovantes de Compra e Notas Fiscais

Os Comprovantes de Compra e Notas fiscais são os documentos que

dizem respeito à movimentação financeira (entrada e saída de dinheiro) do

Projeto, composta pelas declarações de doações recebidas da AMORCRUSP

e as Notas Fiscais ou Comprovantes de Compra que informam com que esse

dinheiro foi gasto. É importante ressaltar que o Projeto nunca teve uma verba

própria, nem quando era uma iniciativa de alunos/as, nem quando se tornou 16 O Censo das Crianças do CRUSP é realizado num período (geralmente, na primeira semana de volta às aulas em agosto) em que os/as educadores/as visitam cada um dos apartamentos dos 8 blocos de moradia do CRUSP, perguntando se alguma criança reside no endereço. No caso de encontrarem mães/pais ou crianças, apresentam o Projeto, convidam a criança a participar das atividades e preenchem uma Ficha de Cadastro com os dados da criança e do responsável.

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parte do Programa Aprender com Cultura e Extensão em 2009 e do Programa

Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação em 2015. Todo

o seu acervo de livros, brinquedos e materiais para atividades foi doado

voluntariamente por alunos/as, moradores/as do CRUSP, educadores/as,

amigos/as, professores/as, funcionários/as e outras pessoas ligadas ou não a

Salinha ou comprado com dinheiro doado pela AMORCRUSP ao Projeto.

Quando passei a fazer parte do Projeto, em agosto de 2011, fiquei

responsável por receber uma doação mensal da AMORCRUSP para o Projeto

e fazer a prestação de contas do dinheiro à Associação. Desde então,

organizei a contabilidade mês a mês e fiz uma revisão ao final de cada ano,

arquivando tudo em um pacote no final do período. Por esse motivo, os quatro

pacotes referentes à contabilidade de 2011/2012, 2012/2013, 2014 e 2015

estavam organizados uniformemente e com os dados — data, valor e material

— já tabelados e arquivados.

Entretanto, nunca havia observado a documentação contábil anterior a

2011, que consistia de 1 pacote com Notas Fiscais e Comprovantes de

Compra, datados entre 2008 e 2011, todos misturados. Comecei, então, a

organizá-los em ordem cronológica e, em seguida, montei uma tabela e a

preenchi com os dados (data, valor e material), a imprimi e anexei aos

documentos, de forma a seguir a mesma lógica dos demais pacotes.

De maio de 2008 a maio de 2010 há apenas 14 recibos comprovando

pequenos gastos irregulares (não aconteceram todos os meses e, quando

aconteceram, os valores eram diferentes). O recibo de valor mais alto é de R$

31,02, e o mês em que se gastou mais nesse período soma o valor total de R$

38,97. A partir de 17 de maio de 2010, além dos Comprovantes e Notas, há 6

recibos de ajuda de custo no valor de R$ 50,00 fornecidos pela Associação de

Moradores/as do CRUSP — gestão Aroeira — ao Projeto, datados de maio a

outubro de 2010. Há também 8 Comprovantes de ajuda de custo para

monitoria, cujo primeiro está no nome do educador “V”17 e data de 4 de março

de 2010; os outros 7 recibos estão no nome da educadora “X” e vão de maio a

novembro de 2010.

17 Para preservar a identidade dos/as educadores/as e demais envolvidos/as no Projeto, serão utilizadas letras do alfabeto para se referir a eles/as.

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A partir de 27 de junho de 2011 a AMORCRUSP — gestão Nova

AMORCRUSP — continuou fornecendo mensalmente uma ajuda de custo no

valor de R$ 50,00 e, em 17 de outubro de 2011, forneceu também uma doação

única no valor de R$ 300,00 para a aquisição de livros na Festa do Livro da

USP. Havia também um recibo de pagamento da educadora bolsista “BB”, no

valor de R$ 300,00, datado de 17 de outubro de 2011 e um recibo de doação

de R$ 1.400,00, feita pela mesma gestão em 1 de dezembro de 2011, para

custear uma viagem à praia. Essa doação não consta da tabela de

contabilidade e não há Notas Fiscais referentes ao gasto desse dinheiro porque

os Comprovantes originais foram entregues à gestão Nova AMORCRUSP na

prestação de contas da viagem.

Acompanhando a contabilidade, foi possível descobrir que, em fevereiro

de 2013, a doação mensal da AMORCRUSP passou a ser feita pela gestão

CRUSP Popular, e em maio desse ano o valor da doação mensal feita por essa

gestão subiu de R$ 50,00 para R$ 100,00. Em 16 de junho de 2014, a doação

mensal de R$ 100,00 passou a ser feita pela gestão Acorda, CRUSP!, reeleita

em 2015 com o nome de Levanta, CRUSP!. Em 14 de dezembro de 2015 a

doação mensal de R$ 100,00 passou a ser feita pela gestão Independente e de

Luta.

Por fim, vale registrar que no final de 2015 foi enviado um oficio pedindo

o aumento do valor da doação mensal de R$ 100,00 para R$ 200,00; o assunto

foi levado para assembleia de moradores/as do CRUSP, que votou o aumento

do valor da doação mensal para R$ 600,00 a partir de fevereiro de 2016.

De 2008 a 2010, os Comprovantes e Notas nos permitem levantar duas

hipóteses: 1) a Salinha não recebia uma doação em dinheiro regular nesse

período; ou 2) O Projeto recebia doações regulares em dinheiro, mas não havia

uma preocupação em documentar como o dinheiro entrava e saía. Esses

documentos também nos permitem afirmar que pelo menos desde março de

2010 a AMORCRUSP fornecia uma ajuda de custo no valor de R$ 300,00, que

custeava um/a monitor/a bolsista do Projeto, e que pelo menos a partir de maio

de 2010, a Salinha recebia regularmente uma doação mensal da mesma

instituição no valor de R$ 50,00 e que passou para R$ 100,00 em 2013, para

manutenção de suas atividades.

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A parceria com a AMORCRUSP por meio do custeio de bolsas e das

doações mensais em dinheiro sem dúvida influenciou a manutenção e o bom

funcionamento do Projeto e foi fundamental para a formação do acervo da

Salinha e para a realização de muitas atividades. Ter pelo menos uma bolsa

paga pela AMORCRUSP garantia que, mesmo que a Universidade não

fornecesse nenhum/a bolsista, o Projeto continuaria funcionando minimamente

e as crianças continuariam tendo um tempo-espaço para brincarem e serem

crianças. Essas doações permitiram a aquisição e/ou o conserto de aparelhos,

como o rádio, a câmera fotográfica e o teclado, e a compra de materiais

permanentes, como brinquedos de melhor qualidade/durabilidade e a aquisição

de livros escolhidos pelo grupo de educadores/as. Permitiu também a compra

de muitos materiais necessários para o desenvolvimento de atividades mais

complexas e/ou que demandassem algum material específico mais caro, o que

levou os/as educadores/as a ousarem mais e expandir o leque de atividades

propostas. Por fim, a doação viabilizou a viagem à praia, que realizou um

desejo de muitos anos: O de promover a experiência em uma atividade externa

de grande porte a ser vivenciada pelas crianças, juntamente com suas famílias

e os/as educadores/as do Projeto.

1.4 Livro de Empréstimos de livros e brinquedos

O Livro de Empréstimos é o documento onde eram registrados os

empréstimos de livros e brinquedos do Projeto às crianças, aos/às

educadores/as e ex-educadores/as, mães, pais e/ou responsáveis. Esse

documento é preenchido pelos/as educadores/as com o nome da criança, o

nome do livro ou brinquedo, a data do empréstimo e a data em que o item foi

devolvido.

Analisei os dados registrados no Livro até 12 de junho de 2015, pois fiz a

coleta desses dados em julho de 2015, no período de férias, em que não houve

empréstimos e, portanto, o Livro não sofreria alterações.

Na contracapa do Livro de Empréstimos de livros e brinquedos está

escrito “Empréstimos — 2 gibis ou 1 livro + 1 brinquedo — Prazo: 7 dias” e a

palavra “brinquedo” está escrita com uma cor diferente. As páginas do registro

de empréstimos eram divididas em 4 colunas a serem preenchidas com o

nome da criança, o nome do livro ou brinquedo, a data de saída e a data de

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devolução. Além disso, linhas sublinhadas marcavam o fim de um mês e o

início de outro (até 31 de julho de 2006).

O primeiro empréstimo data de 16 de maio de 2005 e até 20 de janeiro

de 2007 só foram emprestados livros. O primeiro empréstimo de brinquedo

(“boneca roupa verde, cabelo vermelho”) foi registrado no dia 21 de janeiro de

2007. Desde a criação do Livro em 2005, houve registro de empréstimos todos

os meses, até janeiro de 2009, quando não houve nenhum registro o mês

inteiro. Nesse ano também não houve nenhum empréstimo nos meses de julho

e agosto. Em 2010 não houve nenhum empréstimo nos meses de janeiro,

fevereiro e dezembro. Em 2011, não foram registrados empréstimos nos meses

de janeiro, fevereiro, junho e julho. Em 2012 não houve empréstimos em

janeiro, julho e agosto. Em 2013 não houve nenhuma anotação de empréstimo

em janeiro, fevereiro e março. Em 2014 não houve empréstimos em janeiro,

maio e julho. E em 2015 não foi registrado nenhum empréstimo em janeiro

Foi possível perceber certa constância entre os meses sem empréstimo

e o período de férias letivas, o que explicaria a não saída de livros e brinquedos

nesse período. Esses números nos revelam também que, desde a criação do

Livro em maio de 2005, foram feitos empréstimos todos os meses nos

primeiros 4 anos de registro e que, mesmo a partir de 2009, os empréstimos

continuaram sendo feitos na maioria dos meses do ano. O Livro cobre 123

meses e há registro de empréstimo em 103 deles, garantindo que na maior

parte do tempo as crianças pudessem retirar e desfrutar desses materiais

dentro e fora da Salinha.

Além disso, de maio de 2005 até 20 de janeiro de 2007 só foram

emprestados livros, até que a partir de 2007 começaram os empréstimos de

brinquedos, o que nos faz supor que a palavra “brinquedo” teria sido escrita na

contracapa depois desse período e por isso teria uma cor diferente. Uma

possível hipótese para o não empréstimo dos brinquedos nesse período é a de

que o Projeto já tivesse recebido muitas doações de livros, mas ainda não

tivesse constituído um bom acervo de brinquedos, de forma que emprestar os

poucos que dispunha deixaria as crianças com poucas opções no dia a dia.

Por fim, vale notar que, no decorrer dos anos, o número de livros

emprestados caiu na mesma proporção em que o número de brinquedos

emprestados aumentou, até que, nos últimos anos, praticamente só foram

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registrados empréstimos de brinquedos. Uma explicação possível é que, nos

últimos anos, há uma proposta dos/as educadores/as de fazer uma roda de

leitura e/ou contação de história todos os dias da semana, então, as crianças já

estão em contato constante com os livros e histórias disponíveis no Projeto,

além de a Salinha ter conseguido constituir um acervo de brinquedos e

continuar recebendo doações desse tipo.

5.5 Livros de Registro

Os Livros de Registro são os documentos mais ricos e complexos dentre

os produzidos na Sala das Crianças. Neles foram registradas as informações

diárias do Projeto, como as datas, quem eram os/as educadores/as, quais

crianças vieram, qual a atividade elaborada/executada, se esta deu certo ou

não e quais (possíveis) problemas acorreram no dia em questão. Os registros

começaram em 2005 e continuam sendo feitos até os dias atuais. Pela

complexidade e extensão desse material, que pretendo estudar mais

profundamente durante o mestrado, realizei aqui somente um levantamento

das datas das atividades, número de crianças e quantidade de educadores/as

que trabalharam no Projeto, além do número de voluntários/as e estagiários/as,

durante os 10 anos de registro.

Existem 4 Livros de Registros e 1 Caderno de Frequência e Registro (já

abordado anteriormente). O primeiro Livro contém registros do período entre 26

de setembro de 2005 e 10 de dezembro de 2006; o segundo Livro contém

registros entre 11 de dezembro de 2006 e 6 de maio de 2010. O registro

existente no Caderno de Frequência e Registro vai de 7 de maio de 2010 a 22

de novembro de 2010. Os registros do terceiro Livro vão de 23 de novembro de

2010 a 18 de março de 2015. Os registros do quarto Livro começam a partir do

dia 19 de março de 2015 e ainda estão sendo escritos atualmente. Assim, por

se tratar de um documento não concluído e em constante mudança, este último

Livro não será analisado neste trabalho.

No primeiro Livro os registros são escritos de acordo com a seguinte

estrutura: data (dia e mês) seguida pelo nome dos/as educadores/as daquele

dia, uma breve descrição dos acontecimentos e a assinatura dos/as

educadores/as. O primeiro registro de atividade foi escrito numa segunda-feira,

26 de setembro de 2005, pelos/as educadores/as “B” e “C”. No período de 26

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de setembro a 15 de dezembro de 2005, havia 2 educadores/as na maioria das

noites. “B” realizava atividades praticamente todas as noites, de segunda a

sexta, enquanto “C” realizava atividades às segundas, terças e quintas, e “D”

às quartas e sextas. Além disso, a fundadora do Projeto, Lia Raquel Amaral

Teixeira18 e “A”, membro do coletivo antigo, estavam na Salinha quase todas as

quintas. Em 1 fevereiro de 2006, “C” assinou o registro pela última vez e, a

partir dessa data, “B” e “D” trabalharam juntos na maioria das noites e, de vez

em quando, acompanhados pela fundadora e por “A”.

No início de maio de 2006, “B”, “D”, a fundadora e “A” deixaram de fazer

os registros e 4 novos/as educadores/as — “E”, “F”, “G” e “H” — começaram a

escrevê-los. A partir de 7 de maio de 2006, a fundadora passou a comentar as

atividades e os relatos diários escritos no Livro de Registro, e a Salinha

começou a abrir de domingo a domingo, com os/as quatro novos/as

educadores/as revezando-se em duplas. Dia 27 de outubro de 2006 foi o último

dia em que “F” assinou o registro, e no dia 30 de outubro de 2006 a voluntária

“V1” substituiu a educadora “G”, que estava com apendicite. A partir de 1 de

novembro de 2006, a nova educadora “I” passou a compor o grupo de trabalho,

em substituição à “F”. Além disso, em novembro há 1 registro com “A”, 1 com o

voluntário “V2” e 2 com o ex-educador “B”.

No segundo Livro os registros começam em 11 de dezembro de 2006 e,

em 2007, continuaram sendo feitos por “E”, “G”, “H” e “I”, que se revezavam em

duplas. Há 1 registro com a fundadora em março, 1 com o voluntário “V2” em

abril e 4 com o ex-educador “B”, em maio. No período de 16 de maio a 28 de

junho, a educadora “I” foi substituída por “J”, mas retornou em 4 de julho. Em

julho há 1 registro com a fundadora e 2 com o ex-educador “B” e em agosto há

1 com a voluntária “V3” e 2 com o voluntário “V4”. Dia 11 de agosto é o último

registro da educadora “H”, que foi substituída pelo educador “K”, no período de

18 de agosto a 2 de setembro de 2007.

No mês de outubro de 2007 os registros passaram a ser escritos pelas

novas educadoras “L”, “M”, “N” e “O” e há também 1 registro com a fundadora,

2 com a ex-educadora “E” e 2 com a ex-educadora “G”.

18 A fundadora e primeira coordenadora do Projeto Crianças do CRUSP, Lia Raquel Amaral Teixeira, permitiu que eu utilizasse seu nome na pesquisa.

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Em 2008, as quatro educadoras continuaram se revezando em duplas,

de domingo a domingo e há 1 registro com o voluntário “V5” em maio. A partir

de 25 de agosto de 2008 o registro passa a ser feito pela nova educadora “P”,

praticamente todos os dias, de segunda a sexta, até 9 de março de 2009.

Nesse período, “P” realizou atividades na Salinha sozinha 40% dos dias e nos

outros 60% ela esteve acompanhada por um/a ou dois/duas membros do grupo

que se revezava para acompanhá-la nas atividades. Esse grupo era formado

por: 3 novos/as educadores/as voluntários/as (“Q”, “R” e “S”), 4 ex-

educadores/as (“E”, “F”, “M” e “N”), 2 membros do coletivo antigo (“A” e “A1”) e

pela fundadora.

De 23 de janeiro a 9 de março 2009, há apenas 8 registros feitos por “P”

e só em 1 deles ela está acompanhada por “A”, membro do coletivo antigo. A

partir de 13 de março, os registros passaram a ser feitos pela educadora “T”

quase todos os dias, de segunda a sexta, até 7 de julho de 2009, data do

último registro de “T”. Durante esse período, “T” trabalhou sozinha cerca de

65% do tempo, e nos outros 35% com pelo menos um dos membros do grupo,

que se revezava para acompanhá-la nas atividades. O grupo era, então,

composto por: 1 educador voluntário (“S”), 1 ex-educadora (“E”), 2 membros do

coletivo antigo (“A” e “A1”) e pela fundadora do Projeto. A partir de 8 de

setembro de 2009 os registros passaram a ser escritos pelos/as novos/as

educadores/as “U” e “V” em dias alternados e, em alguns dias, pelos/as

dois/duas juntos/as. Em 4 de dezembro de 2009 foi escrito o primeiro registro

com o educador-voluntário “X” e em 10 de dezembro de 2009 houve o último

registro escrito pela educadora “U”.

Em 2010 as atividades começaram em 1 de março e foram registradas

pelo educador “V” e pela nova educadora “Z”, todos os dias, de segunda a

sexta-feira. Ainda em março há 1 registro com a fundadora, 1 com “A” e 1 com

“A1”. Por fim, dia 18 de março de 2010 é a data do último comentário da

fundadora no Livro de Registro. A partir de 22 de abril de 2010 o nome das

crianças passou a ser anotado junto com o registro, sendo 6 de maio de 2010 a

data do último registro feito no segundo Livro.

Em 7 de maio de 2010 os registros passaram a ser escritos na segunda

metade do Caderno de Frequência e Registro. As atividades continuaram

sendo registradas pelos/as educadores/as “V” e “Z”, todos os dias, de segunda

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a sexta-feira e no mês de junho há 1 registro com o voluntário “V6” e 2 com

“A1”, membro do coletivo antigo. A partir de 9 de agosto de 2010 os registros

passam a ser feitos pela educadora “Z” e pelo novo educador “W”, todos os

dias e, esporadicamente, foram acompanhados pelos/as ex-educadores/as “V”

e “X”. De 9 de agosto de 2010 a 20 de setembro de 2010 foram feitos

comentários no Livro por “A1” e, em 30 de setembro de 2010, houve um

registro com a voluntária “V7”. Há ainda dois registros com o “A1”, um feito em

outubro e o outro em novembro. Finalmente, em 22 de novembro de 2010 foi

escrito o último registro no Caderno de Frequência e Registro. A partir do dia

23 de novembro de 2010 o registro passou a ser feito no terceiro Livro de

Registro e continuou sendo escrito pelos/as educadores/as “Z” e “W”, com

aparições esporádicas de “V” e “X”, até 10 de dezembro de 2010, último dia de

atividade do ano. Assim como nesse ponto as informações Caderno e

Frequência e Registro passaram a fazer parte do Livro de Registros, as

descrições e reflexões antes feitas no subitem 5,1 serão feitas aqui a partir de

agora.

Em 2010, a Salinha começou as atividades dia 1 de março e funcionou

17 dias nesse mês, 19 em abril, 21 em maio, 20 em junho, 5 em julho, 16 em

agosto, 16 em setembro, 15 em outubro, 16 em novembro e 7 dias em

dezembro (a última atividade do ano foi dia 10). Há registro de 155 dias de

atividades do Projeto, dentre os quais há 152 dias de atividades com as

crianças e 3 reuniões; além disso, há registro de 1 feriado e 2 dias sem

atividades. As atividades aconteceram de segunda a sexta, com exceção de

feriados, reuniões e imprevistos. Houve 3 dias em que não foi registrado o

nome de nenhuma criança e o número máximo de crianças que frequentou em

um mesmo dia foi 11. A média de frequência nesse ano foi de 6 crianças por

dia.

Quando as atividades retornaram em 14 de março de 2011, o registro

passou a ser escrito pelo educador “W” e pela nova educadora “Y”, todos os

dias, de segunda a sexta, além de contar com aparições esporádicas do ex-

educador “V”; e isso se manteve assim até 30 de junho de 2011. A partir de 22

de agosto de 2011, o registro passou a ser escrito pelas 4 novas educadoras

“AA”, “BB”, “CC”, e eu, além de participações muito frequentes dos ex-

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educadores “V” e “W”. O grupo de educadoras se revezou em duplas, de

segunda a sexta, até o último registro do ano, em 12 de dezembro de 2011.

Em 2011, a Salinha retomou as atividades dia 14 de março e funcionou

13 dias nesse mês, 17 em abril, 18 em maio, 17 em junho, nenhum em julho, 9

dias em agosto, 20 em setembro, 21 em outubro, 9 em novembro e 6 dias em

dezembro (a última atividade do ano foi dia 12). Há registro de 134 dias de

atividades do Projeto, dentre os quais há 130 dias de atividades com as

crianças e 4 reuniões; além disso, foram registrados 2 feriados e 3 dias sem

atividades. As atividades aconteceram de segunda a sexta, com exceção de

feriados, reuniões e imprevistos. Houve 10 dias em que não foi registrado o

nome de nenhuma criança. O número máximo de crianças que frequentou o

Projeto em um mesmo dia foi 13 e a média de frequência foi 5 de crianças.

Em 2012, as atividades da Salinha foram retomadas no dia 30 de janeiro

e a educadora “BB” foi substituída temporariamente pelo ex-educador “W”.

Houve um registro com “A1” em fevereiro e dois com “V” em março. “AA”, “CC”,

“W” e eu ficamos nos revezando em dupla, de segunda a sexta, até que em 12

de março de 2012 a nova educadora “DD” passou a escrever os registros, e as

participações do educador “W" foram diminuindo.

Em 4 de julho de 2012 houve o último registro de “CC” e, a partir de

então, “W” voltou a ser educador oficialmente; e em 2 de agosto houve o último

registro escrito pela educadora “AA”. A partir de então, os registros passaram a

ser escritos apenas por 3 educadores/as (“W”, “DD” e eu), que se revezavam

em dupla de segunda a sexta, com exceção das quintas, quando “W”

costumava trabalhar sozinho. No dia 4 de outubro há um registro com o ex-

educador “V”. Em 4 de dezembro há o primeiro registro com a nova educadora

“EE”, e o grupo de trabalho voltou a ser composto por 4 educadores/as. Além

disso, houve registros com o educador voluntário “X” no dia 4 de dezembro; e

no dia 7 de dezembro (último dia de atividades do ano) foi escrito o último

registro da educadora “DD”.

Em 2012, a Salinha retomou as atividades no dia 30 de janeiro e

funcionou 2 dias nesse mês, 17 em fevereiro, 21 em março, 14 em abril, 20 em

maio, 18 em junho, 5 em julho, 18 dias em agosto, 15 em setembro, 20 em

outubro, 15 em novembro e 5 dias em dezembro (a última atividade do ano foi

dia 7). Há registro de 170 dias de atividades com as crianças, além de 2

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feriados e 6 dias sem atividades. As atividades aconteceram de segunda a

sexta, com exceção de feriados e imprevistos. Houve 12 dias em que não foi

registrado o nome de nenhuma criança. O número máximo de crianças que

frequentou em um mesmo dia foi 10 e a média de frequência foi 4 de crianças.

De 28 de janeiro a 1 de fevereiro de 2013, as atividades foram

registradas apenas pela educadora “EE” e por mim — apenas no dia 29 de

janeiro contamos com a presença da ex-educadora “AA”. A partir de fevereiro,

o educador “W” e a nova educadora “FF” retomaram as atividades também e

voltamos a ser 4 educadores/as que se revezavam para trabalhar em duplas,

de segunda a sexta. Em maio de 2013 foram escritos os últimos registros da

educadora “EE” e os primeiros da nova educadora “GG”. Em 23 de maio houve

um registro com a presença das ex-educadoras “AA” e “EE” na Salinha. Por

fim, em junho foram escritos os últimos registros da educadora “FF” e em julho

os últimos da educadora “GG”. Ainda em julho houve os primeiros registros dos

novos/as educadores/as “HH” e “II”.

O dia 2 de agosto de 2013 foi meu último registro como educadora e, a

partir dessa data, comecei a atuar como co-coordenadora. Foi também nesse

período que comecei a comentar as atividades escritas no Livro de Registro a

partir da semana anterior (meu primeiro comentário data de 29 de julho). O

mês de julho também foi o primeiro mês da nova educadora “JJ”, e o Projeto

continuou com uma equipe de 4 educadores/as (“W”, “HH”, “II” e “JJ”) que se

revezavam em duplas, todas as noites, de segunda a sexta. Em agosto houve

3 registros com a voluntária “V8”, e em setembro o educador “HH” deixou o

Projeto e foi substituído pelo novo educador “KK”.

Do final de setembro até meados de outubro realizei um projeto de

estágio da licenciatura sobre literatura africana e brincadeiras, que se

concretizou em 5 atividades realizadas na Salinha. No dia 1 de outubro de

2013, os/as outros/as estagiários/as do meu grupo (“E1”, “E2 e “E3”)

participaram do desenvolvimento da atividade da noite junto a mim e aos/as

educadores/as “II” e “KK”. No dia 8 de outubro de 2013, a atividade da noite foi

acompanhada por mais 2 estagiárias de observação (“E4” e “E5”) e no dia 9 de

outubro de 2013 houve 1 registro com o voluntário “V9”.

Em 10 de outubro de 2013 não houve atividade porque a equipe de

educadores/as e eu fomos para Ribeirão Preto apresentar o Pôster do Projeto

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no Simpósio Aprender com Cultura e Extensão. Dia 21 de outubro de 2013 foi o

último registro de “W” como educador e a partir de 31 de outubro de 2013 a

nova educadora “LL” começou a aparecer nos registros. Ainda em 22 de

outubro de 2013 há registro com a voluntária “V8”. No dia 11 de novembro de

2013 o ex-educador “W” e eu realizamos a atividade da noite porque todos/as

os/as 4 educadores/as cursavam Geografia e, na noite em questão, houve uma

plenária do curso. No dia 23 de novembro de 2013 há registro com a voluntária

“V10”.

Em 2013, a Salinha retomou as atividades dia 28 de janeiro e funcionou

4 dias nesse mês, 11 em fevereiro, 15 em março, 19 em abril, 21 em maio, 18

em junho, 07 em julho, 21 dias em agosto, 16 em setembro, 16 em outubro, 19

em novembro e 6 dias em dezembro (a última atividade do ano foi dia 9).

Houve o registro de 173 dias de atividades com as crianças, além de 1 dia de

Simpósio de Cultura e Extensão e 2 dias sem atividades. As atividades

aconteceram de segunda a sexta, com exceção do Simpósio e de alguns

imprevistos. Houve 6 dias em que não foi registrado o nome de nenhuma

criança. O número máximo de crianças que frequentou em um mesmo dia foi

12, e a média de frequência foi 4 de crianças.

No ano de 2014, foram realizadas atividades de limpeza, organização e

redecoração da Salinha, além de uma formação com “A1”, membro do coletivo

antigo, e uma semana de Oficina de “Jogos do Mundo”19 no período de 20 de

janeiro a 19 de fevereiro. A partir do dia 20 de fevereiro as atividades voltaram

ao normal e houve 1 registro com o voluntário “V11” no dia 17 de março. A

partir de 24 de março não houve mais registros do educador “KK”, que foi

substituído pela a nova educadora “MM”. As atividades continuaram

acontecendo com 4 educadores/as (“II”, “JJ”, “LL” e “MM”) que se revezaram

em duplas, todos os dias, de segunda a sexta. Houve 1 registro com o ex-

educador “W” em março, 1 em abril e 1 em maio. Ainda em maio também

houve 3 registros com o voluntário “V12”, 1 com a voluntária “V13” e 1 com o

voluntário “V14”. Em junho houve 1 registro com o voluntário “V12” e 1 com a

voluntária “V15”. E por fim, em julho houve 2 registros com o voluntário “V12”, 2

com o voluntário “V16” e 1 com a voluntária “V17”. Vale notar que, de 27 de

19 A Oficina de “Jogos do mundo” será tratada no subitem 5.15 Proposta e Regras do “Jogos do Mundo”.

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maio a 4 de julho, a Salinha abriu apenas durante 11 dias e permaneceu

fechada durante 18 dias por conta de feriados e emendas, dos jogos da

Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo e das assembleias gerais e

de curso.

O dia 4 de julho foi o último dia de registro do primeiro semestre de

2014, e os registros do segundo semestre começaram em 4 de agosto, já com

os nomes dos/as novos/as educadores/as, “NN”, “OO”, “PP” e “QQ”, além do

meu, durante a primeira semana de atividades. Os/as 4 novos/as

educadores/as continuaram se revezando em duplas, de segunda a sexta.

Houve ainda 1 registro com os/as ex-educadores/as “II” e “KK”, no dia 29 de

setembro de 2014, e 2 com o voluntário “V18” nos dias 9 e 12 de dezembro de

2014.

Em 2014, a Salinha começou as atividades dia 20 de fevereiro e

funcionou 5 dias nesse mês, 14 em março, 16 em abril, 13 em maio, 9 em

junho, 2 em julho, 20 dias em agosto, 18 em setembro, 22 em outubro, 18 em

novembro e 9 dias em dezembro (a última atividade do ano foi dia 11). Houve

registro de 170 dias de atividades do Projeto, dentre os quais há 146 dias de

atividades com as crianças, 12 dias de limpeza, organização e redecoração da

Salinha, 5 dias de formação de educadores/as, 6 dias de Oficina de “Jogos do

Mundo” e 1 reunião; além disso, foram registrados 3 feriados, 4 assembleias, 3

atividades de greve, 6 jogos da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do

Mundo e 3 dias sem atividades. As atividades aconteceram de segunda a

sexta, com exceção dos feriados e emendas de feriado, assembleias gerais e

de curso, atividades de greve e jogos do Brasil na Copa do Mundo. Houve 10

dias em que não foi registrado o nome de nenhuma criança. O número máximo

de crianças que frequentou o Projeto em um mesmo dia foi 16 e a média de

frequência foi de 5 de crianças.

Em 2015 as atividades começaram a ser registradas em 2 de fevereiro

sem a educadora “QQ”, que foi substituída pela nova educadora “RR”. No mês

de fevereiro houve 2 registros comigo, 1 com a ex-educadora “II”, 3 com o

voluntário “V18”, 2 com o voluntário “V19”, 1 com o voluntário “V20” e 1 com a

voluntária “V21”. Em março houve 1 registro comigo, 1 com a ex-educadora

“AA” e 1 com as voluntárias “V22” e “V23. O último registro desse Livro data de

18 de março de 2015.

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Em 2015, a Salinha começou as atividades dia 2 de fevereiro e

funcionou 18 dias nesse mês e 13 em março, até dia 18 de março, quando a

última atividade desse Livro foi registrada. Nesse período, houve registro de 31

dias, todos de atividades com as crianças, que aconteceram de segunda a

sexta-feira. Não houve nenhum dia em que não foi registrado o nome das

crianças presentes. O número máximo de crianças que frequentou em um

mesmo dia foi 14, e a média de frequência foi de 7 crianças.

A primeira reflexão que fiz sobre os Livros de Registro é que, além do

coletivo antigo (Lia, “A1” e “A2”), outros/as educadores/as voluntários/as devem

ter passado pela Salinha entre a criação do Projeto em 2003 e o primeiro

registro do primeiro Livro, em 26 de setembro de 2005. Da mesma forma, uma

série de atividades aconteceu nesse período sem serem documentadas. Sobre

essa reflexão, pretendo investigar mais a respeito através de entrevistas que

farei com os membros do coletivo antigo durante o mestrado.

A segunda reflexão foi a respeito do número de educadores/as. Durante

todo o período coberto pelos Livros de Registros aqui descritos, de maneira

geral houve sempre 2 educadores/as por noite — sem contar os voluntários/as,

estagiários/as de observação ou ainda ex-educadores/as e/ou mães e pais que

estivessem visitando o Projeto — e muito já se discutiu no Projeto sobre a

necessidade de no mínimo 2 educadores/as por noite para garantir a

segurança e o bom desenvolvimento das atividades; esse assunto aparece em

um dos primeiros registros do primeiro Livro e em tantos outros depois. Os

registros de noites com apenas 1 educador/a só reforçam o risco que isso

apresenta e, em uma reunião de 2011, ficou decidido que, na falta de um/a

dos/as educadores/as da noite, a Salinha permaneceria fechada para não

expor as crianças a algum risco.

Esse problema foi minimizado pelas “trocas” de dias de atividade quando

havia 4 educadores/as, mas o dilema só foi resolvido no segundo semestre de

2015, quando o Projeto passou a contar com um número maior de

educadores/as (7) e foi possível mudar a dinâmica de trabalho para 3

educadores/as por noite, além de expandir o horário em meia hora (o

funcionamento da Salinha passou a ser das 19h às 21h30). A partir de então,

mesmo que houvesse um imprevisto e alguém faltasse, a Salinha abria

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normalmente com 2 educadores/as, o que garantiu a manutenção do seu

funcionamento e melhora no desenvolvimento de atividades com as crianças.

Esses documentos permitem entender também a dinâmica dos/as

educadores/as e das bolsas da Universidade. Em 2005 houve 2 bolsistas pelo

Programa de Bolsa-Trabalho, em 2006 o número aumentou para 4 e as

atividades começaram a acontecer aos sábados e domingos também; essa

dinâmica durou até agosto de 2008, a partir de quando restou apenas 1

bolsista; a hipótese é de que, com a extinção da bolsa trabalho, em agosto de

2008, a AMORCRUSP tenha começado a pagar uma bolsa para um/a

educador/a, que realizava atividades sozinho/a na maioria das noites, para

manter o Projeto funcionando.

Foi possível perceber uma queda no número de atividades no primeiro

semestre de 2009, até que a Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) começou

a coordenar o Projeto e ele tornou-se parte do Programa Aprender com Cultura

e Extensão da USP. Desde então, o Projeto passou a ter uma bolsa por esse

programa, além da bolsa da AMORCRUSP e, a partir de julho de 2009, as

atividades voltaram a acontecer com regularidade de segunda à sexta-feira.

Isso se manteve em 2010 até que, em agosto de 2011, o número de bolsas

pelo referido Programa aumentou para 3 e o Projeto voltou a ter 4

educadores/as, o número considerado mínimo.

Em agosto de 2012, o número de bolsas pelo mesmo Programa diminuiu

para 2 e o Projeto contou apenas com 3 educadores/as, até dezembro, quando

a AMORCRUSP passou a contribuir com mais 1 bolsa e o grupo voltou a ser

composto por 4 educadores/as. Em agosto de 2013, o Programa passou a

destinar 3 bolsas ao Projeto e, assim, com 5 no total, foi possível destinar uma

delas ao cargo de co-coordenação, tão necessário à resolução de questões

burocrático-documentais, de manutenção, de comunicação com a SAS,

AMORCRUSP e outros órgãos da Universidade etc., que excediam o

planejamento e a realização de atividades pelos/as educadores/as, na Salinha,

das 19h às 21h. O número de bolsas e de educadores/as permaneceu o

mesmo em 2014 e até o final do registro do quarto Livro, em março de 2015.

Finalmente, vale a pena registrar que em setembro de 2015 o Projeto

conseguiu mais 3 novas bolsas pelo então recém-criado Programa Unificado

de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da USP, ficando então

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com 8 educadores/as bolsistas (2 pela AMORCRUSP, 3 pelo Programa

Aprender com Cultura e Extensão e 3 pelo Programa Unificado de Bolsas de

Estudo para Estudantes de Graduação); isso permitiu não só mudar o rodízio

para 3 educadores/as por noite, como ampliar o horário em meia hora,

beneficiando tanto as crianças, que tiveram mais tempo para brincar na

Salinha, como as mães e pais, que puderam assistir suas aulas inteiras até as

21h e vir com calma buscar as crianças. As bolsas garantiram ainda a

permanência estudantil e foi a primeira oportunidade de “trabalho” para

muitos/as estudantes.

Além da variação no número de bolsas, houve uma enorme rotatividade

de educadores/as nesses 13 anos de Projeto. Muitos/as educadores/as

deixaram a bolsa antes do período de 1 ano, por motivos diversos (gravidez,

outra bolsa na sua área de estudo, um estágio melhor remunerado, abandono

do curso, por não se identificar com o trabalho etc.), e dentre aqueles/aquelas

que foram até o fim e renovaram a bolsa, alguns/algumas precisaram deixar o

Projeto depois na renovação porque, a partir de 2013, os/as estudantes não

poderiam acumular mais de 24 meses de bolsa USP.

O lado negativo dessa rotatividade é a maior dificuldade para

estabelecer vínculos com as crianças — que, apesar de também viverem

durante um período de tempo limitado dentro da Universidade, permanecem

muito mais tempo no Projeto do que os/as educadores/as — e isso impacta na

aderência das crianças às atividades propostas, que cobram a presença dos/as

educadores/as, por vezes, comparando-os/as entre si ou negando-se a

participar de determinada atividade “dos/as novos/as tios/as”. O lado positivo —

que já foi ressaltado por algumas crianças do Projeto também — é que com

essa rotatividade os “tios novos” sempre trazem brincadeiras e atividades

novas e o Projeto acaba passando sempre por renovações de repertório de

atividades e transformações no espaço físico, o que é bom para as crianças

que estão nele há vários anos.

Outra coisa interessante de notar é que mesmo sem uma bolsa de co-

coordenação, sempre houve uma figura ocupando esse lugar de

responsabilidade, ainda que de maneira informal. Começou com a fundadora,

que atuou como coordenadora não remunerada, desde a criação do Projeto,

até a chegada da Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP), em 2009 (a convite

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do coletivo de educadores/as). Esta co-coordenação da fundadora pode ser

considerada e identificada até março de 2010, data de seu último comentário

no Livro de Registro. Em seguida, temos os comentários de A1, membro do

coletivo antigo, no Livro de Registro, entre agosto e setembro de 2010, o que

levanta a hipótese de que ele tenha sido o segundo co-coordenador voluntário

da Salinha. E em 2011, quando eu entrei no Projeto, o ex-educador “V”, que

também passou a integrar o coletivo antigo, participava das reuniões semanais

da equipe, além de orientar os/as educadores/as e comentar o Livro de

Registro, podendo ser considerado o terceiro co-coordenador voluntário. Em

2012, com o distanciamento do coletivo antigo e o meu maior envolvimento

com o Projeto (pois fui a única bolsista de 2011 que permaneceu em 2012),

comecei a assumir algumas dessas funções até que, em 2013, com a criação

da bolsa de co-coordenação, assumi oficialmente esse posto que, a partir de

então, passou a ser formalizado e remunerado.

Duas outras observações se fazem ainda necessárias. A primeira é que,

a partir de 2013, começaram a ser registrados no Livro os estágios de

observação20. Entretanto, vale notar que alguns/algumas dos/as próprios/as

educadores/as já haviam feito seus estágios de observação no Projeto; isso

apenas não foi documentado. A segunda é que os/as voluntários/as, de

maneira geral, costumam ser amigos/as de curso ou de moradia dos bolsistas

da época e que, pela proximidade com o/a bolsista, acabaram desenvolvendo

uma proximidade também com o Projeto e se tornando voluntários/as. Através

desses estágios e do trabalho voluntário, esses/as estudantes puderam

conhecer um projeto de educação não formal e viver uma experiência de

educação fora da escola; e as crianças adoram receber “visitas” ou “tios

novos”, que eles/elas podem “investigar” e “testar” e que trazem experiências

diferentes e sugerem novas brincadeiras.

Por fim, os Livros de Registro cobrem mais de 10 anos de história do

Projeto e, a partir de abril de 2010, a frequência das crianças passou a fazer

parte desse documento. De maio de 2010 até o último registro de frequência 20 Embora algumas disciplinas da licenciatura exijam estágios de observação e, dentre elas, algumas permitam que o estágio seja feito em um espaço de educação não formal como a Salinha, alguns dos requisitos para aceitar esses/as estagiários/as é que eles/elas compareçam à reunião semanal dos/as educadores/as para conhecer o Projeto e entender o seu funcionamento, além de explicar sua proposta de estágio e, principalmente, que eles/elas participem ativamente das atividades realizadas nos dias em que forem “observar”.

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levantado em março de 2015, foram cobertos 59 meses do Projeto, dentro os

quais em apenas 5 deles não houve nenhuma atividade. Somados aos dados

do Caderno de Frequência, são 125 meses, nesses pouco mais de 10 anos

documentados, em que o Projeto garantiu às crianças o direito a esse local-

espaço- tempo para brincar e ser criança.

5.6 Relatórios Individuais de Trabalho com as crian ças

Os Relatórios Individuais de Trabalho são documentos criados numa

tentativa de registro mais formal da organização do trabalho no Projeto que

durou cerca de 10 meses. Neles constava uma descrição sumária das

atividades e leituras realizadas (por quem, quando e qual) e o cálculo de horas

trabalhadas (incluindo tempo de reunião e planejamento de atividades)

pelos/as educadores/as.

Em uma das pastas havia 4 bloquinhos de Relatórios Individuais de

Trabalho com as crianças separados por clipes. Cada bloco era referente a

uma educadora (“L”, “M”, “N” e “O”) e cada folha do bloco datava de um mês.

Além disso, havia uma folha com o nome das educadoras e o cálculo de horas

trabalhadas nos meses de março, abril e maio de 2008.

Inicialmente, organizei as folhas de cada bloco por ordem cronológica de

mês (já que não havia marcação de ano) e, ao organizar as Fichas, percebi

que todos os quatro blocos começavam em outubro e terminavam em julho.

Além disso, as folhas da educadora “O” referentes a janeiro, fevereiro e março

estavam datadas de 2008; logo, esses registros foram feitos entre o período de

outubro de 2007 a julho de 2008.

Em cada folha havia um campo para nome e mês e, em seguida, uma

tabela de 3 colunas para ser preenchida com o dia do mês e da semana, a

atividade e a leitura, respectivamente. No fim dessa tabela, era somado o

número de horas trabalhadas e acrescido de 10% referente ao tempo de

planejamento das atividades. Logo abaixo havia outra tabela com duas colunas

a serem preenchidas com reuniões, formação complementar e o número de

horas. No fim dessa tabela também era somado o número de horas. Em

seguida havia a seguinte anotação: “*Máximo de seis horas mensais em

formação complementar; anexar relatórios”. E, por fim, no canto inferior direito,

havia um espaço para ser preenchido com o total de horas trabalhadas.

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Foi possível notar que não houve atividades entre os dias 17 de

dezembro e 14 de janeiro, pois não há registros desses dias nas respectivas

folhas, o que indicaria o período de férias de final/início de ano. Além disso, o

último registro nas folhas do mês de julho data do dia 18, indicando que dia 19

começaram as férias de meio de ano.

Esses documentos nos permitem concluir que, pelo menos desde

outubro de 2007, já se faziam leituras diárias com as crianças e isso era

considerado como parte importante das atividades desenvolvidas no Projeto.

Eles também evidenciam uma preocupação com a formação dos/as

educadores/as e o bom desenvolvimento do seu trabalho no Projeto, pois o

cálculo de horas de trabalho inclui tempo de reunião e formação complementar

e uma porcentagem sobre o tempo de atividades realizadas que corresponde

ao planejamento das mesmas. Esse tempo dedicado ao planejamento, garante

que sejam oferecidas às crianças atividades previamente planejadas, o que

permite que essas atividades transcorram com mais tranquilidade e menos

imprevistos, pois foi possível pensar e se preparar para sua execução.

5.7 Jornais contendo artigos sobre o Projeto

Entre os documentos levantados e identificados na Salinha, havia 3

jornais que traziam artigos contendo informação sobre o Projeto. São eles: 1

edição do jornal Bolsa-Trabalho, da COSEAS, e 2 edições do jornal Canalha,

da AMORCRUSP.

O jornal Bolsa-Trabalho, datado de outubro de 2006, apresenta uma foto

das Crianças da Salinha na capa. Na página 2 há a seguinte informação:

“Capa: participantes do Projeto ‘Sala das Crianças do CRUSP’ integrante do

Programa ‘Qualidade de vida no CRUSP’”. Ainda nessa página encontra-se a

informação: “Os projetos em andamento no corrente ano (2005) ficam

automaticamente prorrogados até 30 de março de 2006” em negrito. Na

metade inferior da página 7, há um artigo chamado “Sala das Crianças do

CRUSP”, assinado por Lia Raquel Teixeira, fundadora e coordenadora (na

época) da Sala das Crianças do CRUSP. Esse artigo trata dos primeiros anos

do Projeto e chama a atenção para algumas informações, que serão abordadas

a seguir.

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Havia no CRUSP, em 2006, mais de trinta crianças com idade entre zero

e doze anos. Em 2003, um grupo de alunos/as da Universidade reuniu-se para

criar o Projeto Crianças do CRUSP. Para desenvolver as atividades do Projeto,

foi montada a Sala das Crianças, com apoio da AMORCRUSP e da COSEAS.

A Salinha funcionava de segunda a sexta-feira, das 19h às 21h, e contava com

atividades dirigidas e momentos livres nos quais havia a interação entre

crianças de idades variadas. Nenhuma atividade era obrigatória: “Não é — e

nem deve parecer — uma extensão da escola, embora saibamos o quanto as

crianças aprendem aqui”, afirmou a fundadora.

O artigo informou também quem e de quais cursos eram os/as dois/duas

monitores/as bolsistas — “B”, da licenciatura em Artes Plásticas e “D”, da

Terapia Ocupacional — e alguns/algumas dos/as voluntários/as — “A”, da

licenciatura em Letras e a própria coordenadora, da licenciatura em Letras.

Na primeira edição do jornal Canalha, datada de 28 de julho de 2014, há

um artigo chamado “COSEAS largou a Sala das Crianças”, que contém

algumas informações infundadas sobre o Projeto21. Na segunda, datada de 29

de setembro de 2014, foi publicada uma carta-resposta 22 a esse artigo

anteriormente citado, assinada pela equipe de educadores/as, ex-

educadores/as e professora coordenadora do Projeto (desde 2009).

No primeiro jornal fica evidente a importância dada ao Projeto pela

própria COSEAS, ao escolhê-lo como capa da edição de seu jornal Bolsa-

Trabalho, que falava exatamente sobre os projetos que integravam o Programa

“Qualidade de vida no CRUSP”, do qual a Salinha fez parte. Também é um dos

documentos mais antigos que traz informações sobre o Projeto, como a

quantidade e idade das crianças que moram no CRUSP, e ainda dá um

panorama de como o trabalho era desenvolvido na Salinha nessa época.

Quanto ao Canalha, após a publicação do artigo contendo informações

incorretas sobre o Projeto, compareci à assembleia de moradores/as do

CRUSP para esclarecer as informações veiculadas, além do uso não

autorizado de imagem (pois foi publicada uma foto em que eu estava jogando

21 O artigo afirma que a AMORCRUSP pagava há 3 anos as bolsas dos/as monitores/as da Salinha porque a COSEAS resolveu cortá-las, e insinuou que o Projeto iria fechar. 22 Na carta-resposta conta-se resumidamente o histórico das bolsas da Universidade concedidas ao Projeto, explica-se sua vinculação ao Programa Aprender com Cultura e Extensão desde 2009 e desmente-se a especulação de que a Salinha fosse fechar.

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um jogo com uma das crianças na Salinha, juntamente com o artigo) e solicitei

a retratação do autor na edição seguinte. O autor também presente na

assembleia, justificou-se dizendo que escreveu o referido artigo como forma de

atingir politicamente a COSEAS e que não se retrataria, mas os/as

moradores/as presentes na assembleia manifestaram-se em favor do Projeto e

cobraram uma posição da Associação que, por fim, comprometeu-se a publicar

uma carta da Salinha corrigindo as informações incorretas, na edição seguinte

do Canalha.

Esse episódio evidenciou que a Salinha é um projeto benquisto pelos/as

moradores/as do CRUSP que o conhecem. Também ficou claro que o autor do

artigo não fez uma pesquisa mínima, pois a COSEAS é parceira do Projeto e

cedeu o espaço em que ele se constituiu, além das primeiras bolsas que o

ajudaram a se estabelecer. E, por fim, apesar do desgaste com os

esclarecimentos dados em assembleia e a carta-resposta publicada no jornal, o

Projeto tornou-se mais conhecido entre os/as moradores/as e demais

estudantes da USP.

5.8 Documentos dos Processos de Seleção de Monitor/ a Bolsista

Durante os vários anos de existência do Projeto, muitos/as

educadores/as, bolsistas ou voluntários/as passaram por ele. No caso dos/as

educadores/as bolsistas, era necessário que os/as candidatos/as se

inscrevessem no respectivo programa de bolsas da época e passassem pelas

etapas de seleção até que fossem selecionados e ingressassem no Projeto. Os

documentos dos Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista são os registros

desses processos, desde a inscrição dos/as candidatos/as até a escolha

dos/as selecionados/as para compor o grupo de educadores/as.

Dentre as pastas de documentos encontradas havia 1 pasta com 2

pacotes — 1 de 2005 e 1 de 2006 —, 2 folhas soltas, referentes à seleção de

educadores/as para o Projeto em março de 2009, 1 pacote com as anotações

das entrevistas realizadas entre 2012 e 2015 e 3 pedidos de desligamento de

bolsistas do ano de 2015. Inicialmente identifiquei os documentos dos pacotes,

organizando-os por ordem cronológica.

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Na folha de rosto do Pacote do Processo de Seleção de Monitor/a

Bolsista de 2005 já estava registrado que ingressaram 2 educadores/as

bolsistas: “D”, da Terapia Ocupacional, e “B”, das Artes Plásticas.

O primeiro documento era o formulário (1 e 2) de inscrição do Projeto no

Programa de Bolsa-Trabalho, datado de 6 de maio de 2004. O título do Projeto

era “Crianças do CRUSP? CRUSP das Crianças!” e as responsáveis

institucionais eram as funcionárias “F1”, da Assistência Social/COSEAS e “F2”,

do Serviço de Atuação Comunitária e Vigilância/COSEAS. No documento

constavam ainda as seguintes informações: Havia aproximadamente 40

crianças no CRUSP, em 2004; a jornada de trabalho seria de segunda a sexta,

das 19h às 21h e sábados e domingos, das 14h às 19h. Era a primeira vez que

o Projeto era inscrito no Programa de Bolsa-Trabalho (consta na inscrição que

é um projeto novo); são pedidas 2 bolsas; e, por fim, o documento cita um texto

em anexo chamado “Era uma vez a Sala das Crianças...”, que não foi

encontrado.

O segundo documento era o folheto de divulgação das vagas para

monitor/a bolsista da Sala das Crianças (ANEXO 2) que informava o horário de

trabalho — de segunda a sexta, das 19h às 21h, totalizando 40 horas mensais

— o valor de 1 salário mínimo23, que o período da bolsa era de 1 ano, podendo

ser renovado por mais 1 e a inscrição até 3 de dezembro de 2004.

O terceiro documento é a lista com os dados (classificação, nome,

número USP, CRUSP, endereço, telefone e e-mail) dos/as 15 alunos/as

inscritos/as para a bolsa. O quarto é a lista de candidatos/as que

compareceram (12) e que faltaram (3) na prova teórica dia 19 de janeiro. O

quinto documento são as provas escritas dos/as candidatos/as e, no caso

dos/as que passaram nessa primeira fase, havia também o planejamento de

atividades por escrito, a avaliação da aplicação dessas atividades e as

anotações da entrevista. Finalmente, o sexto documento são 2 cartas

informando à SAS/USP sobre a seleção de “D”, datado de 23 de fevereiro de

2005, e a seleção de “B”, datado de 28 de abril de 2005. Em ambos os

documentos consta que cada candidato/a “submeteu-se a avaliação Técnico-

23 Em maio de 2005 o valor do salário mínimo foi de R$ 260,00 para R$ 300,00 reais. Fonte: http://www.gazetadeitauna.com.br/valores_do_salario_minimo_desde_.htm

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Acadêmica — composta por uma prova teórica, uma prova prática junto às

crianças e uma entrevista”.

Da mesma forma que no pacote anterior, na folha de rosto do Pacote do

Processo de Seleção de Monitor/a Bolsista de 2006 está registrado que

ingressaram 4 educadores/as bolsistas: “E”, da Letras; “F”, da Letras; “G”, da

Letras; e “H”, da Música.

Nesse ano de 2006, o primeiro documento era uma carta dos Pais e

Mães moradores/as do CRUSP, datada de 28 de novembro de 2005 e dirigida

à COSEAS, manifestando sua grande satisfação com o Projeto, ressaltando

sua importância e pedindo a ampliação do horário de funcionamento e do

número de educadores/as bolsistas.

O segundo documento é o formulário (1 e 2) de inscrição do Projeto no

Programa de Bolsa-Trabalho, datado de 30 novembro de 2005. O título do

Projeto mudou para “Sala das Crianças do CRUSP”, e as responsáveis

institucionais passaram a ser as funcionárias “F1”, do Serviço Social/COSEAS

e “F3”, da Divisão de Creches. De maneira geral, o texto era igual ao do ano

anterior, diferindo apenas por ser a segunda vez que o Projeto era inscrito no

Programa de Bolsa-Trabalho (consta “renovação” na inscrição) e foram pedidas

4 bolsas em vez de 2. Também está anexado o Relatório de Avaliação Anual

(referente ao ano anterior) assinado pela educadora bolsista “D”.

O terceiro documento é um folheto de divulgação das vagas para

monitor/a bolsista da Sala das Crianças (ANEXO 3), que traz informações

sobre o Projeto, número de crianças no CRUSP, horário de funcionamento, o

valor da bolsa (que era de 1 salário mínimo24) e as datas de inscrições (de 20

de fevereiro a 10 de março de 2006).

O quarto documento, com data de 29 de março de 2006, é a lista com os

dados (classificação, nome, número USP, curso, endereço, telefone e e-mail)

dos 28 alunos/as inscritos na bolsa. O quinto documento é a lista dos/as (23)

candidatos/as que compareceram à prova teórica do dia 5 de abril de 2003. O

sexto documento são as provas escritas de todos/as os/as candidatos/as e, no

caso daqueles/as que passaram nessa primeira fase, havia também o

planejamento de atividades por escrito, a avaliação da aplicação dessas

24 Em abril de 2006 o valor do salário mínimo foi de R$ 300,00 para R$ 350,00. Fonte: http://www.gazetadeitauna.com.br/valores_do_salario_minimo_desde_.htm

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atividades e as anotações da entrevista. Além da folha de rosto do pacote, não

havia outros documentos explicitando quem foi selecionado/a.

Há ainda 2 folhas soltas do processo de seleção de educador/a para o

Projeto Crianças do CRUSP de março de 2009, com o planejamento de

atividades das duas candidatas, mas não há nenhuma outra informação sobre

o processo desse ano.

Havia também um pacote com o meu roteiro de entrevista antigo e as

anotações das entrevistas que fiz com os/as candidatos/as a educador/a

bolsista do Projeto no período de 2012 a 2015. O roteiro de entrevista está

organizado da seguinte forma: dados do/a candidato/a, questões da entrevista

e pré-requisitos para a bolsa (informações adicionadas nos últimos anos). Os

dados do/a candidato/a são: Nome, idade, curso/período, onde mora e se tem

outro emprego, a disponibilidade de horário, e-mail e telefone. As 6 questões

ou tópicos são: 1) Por que quer trabalhar aqui? 2) Que contato já teve com

crianças? 3) Do que gostava de brincar quando era pequeno(a)? 4) História de

amor pelo mundo e pelas crianças25. O que foi muito marcante na sua infância

e o que você acha que é mancada não fazer com uma criança/não deixar uma

criança fazer? 5) Proponha uma atividade. 6) O que você faria na seguinte

situação? (ler uma situação-problema do Livro de Registro). E os pré-requisitos

são: 1) Não pode estar acabando o curso; 2) Estar inscrito no Programa

Aprender com Cultura e Extensão ou no Programa Unificado de Bolsas de

Estudo para Estudantes de Graduação; 3) Não ter acumulado 24 meses de

bolsa USP; 5) Ter ou estar disposto a abrir uma conta no Banco do Brasil.

Sobre as entrevistas feitas no período entre 2012 e 2015, existem ainda

39 páginas com informações e anotações sobre 45 candidatos/as diferentes (3

dos/as quais eu entrevistei pela segunda vez, já que foram bem na primeira

entrevista, mas não ingressaram por conta do número de vagas). São

anotações que foram feitas durante as entrevistas, com os nomes dos/as

candidatos/as e palavras ou frases desconexas, anotadas a partir das

respostas que os/as entrevistados/as deram na ocasião. Esses documentos

não têm data e, por se tratarem de anotações mínimas, feitas a mão e

25 Nessa parte da entrevista, antes de continuar com as perguntas, explica-se qual é o ideal das atividades desenvolvidas na Salinha, que se baseia em uma interpretação de um trecho do texto A crise da educação, de Hannah Arendt, que será brevemente abordado nas considerações finais.

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depressa, são difíceis de ler e de entender fora do contexto em que foram

registradas. Por esse motivo, esses últimos registros não serão analisados.

Por último, há 3 pedidos de desligamento de bolsistas, todos de 2015. O

primeiro é de “SS” (que foi selecionada, mas não chegou a assumir a bolsa),

datado de 20 de julho; o segundo é da educadora “RR”, datado de 4 de agosto;

e o terceiro é da educadora “WW”, datado de 6 de novembro.

A primeira vez que o Projeto foi inscrito em um Programa de Bolsas da

Universidade foi em maio de 2004, em seu segundo ano de funcionamento.

Apesar de ter sido criado e idealizado voluntariamente por estudantes

moradores/as do CRUSP, eles/as não podiam ser responsáveis por projetos

institucionais e projetos não institucionais não têm direito a bolsas. Assim, foi

necessário que duas funcionárias da COSEAS se tornassem “responsáveis

institucionais” pelo Projeto para poder inscrevê-lo no Programa de Bolsa-

Trabalho e solicitar 2 bolsas para a Salinha, que foram concedidas no final de

2004 e cujos/as bolsistas ingressaram em fevereiro e abril de 2005.

Graças à concessão dessas 2 bolsas, o funcionamento da Salinha

tornou-se regular e, no final do ano, as mães e os pais estudantes escreveram

cartas para a SAS elogiando o Projeto e solicitando a ampliação do horário de

seu funcionamento. Dessa forma, em 2006, foram pedidas 4 bolsas, o dobro do

ano anterior e o Projeto também recebeu inscrições de quase o dobro do

número de candidatos/as que no ano anterior.

De 2007 e 2008 não há informações sobre seleção de educadores/as,

mas outros documentos comprovam a regularidade do funcionamento do

Projeto até meados de 2008, quando o Programa de Bolsa-Trabalho teria sido

extinto e daí em diante o Projeto tenha se mantido apenas com um/a

educador/a bolsista pago/a pela AMORCRUSP até que, em 2009, quando a

Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) assumiu a coordenação, o Projeto

passou a ser inscrito no Programa Aprender com Cultura e Extensão, que

concedeu 1 bolsa, e tivemos novamente seleção de educadores/as bolsistas.

Daí em diante, o processo de seleção foi sendo simplificado, até que passou a

ser apenas uma entrevista, de preferência coletiva, nos primeiros anos, feitas

pelos membros do coletivo de estudantes e, mais recentemente, comigo, por

vezes, juntamente com os/as bolsistas atuais e com a professora

coordenadora.

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Embora não tenha sido encontrado nenhum documento sobre as

seleções, a partir de 2010, sabe-se que, desde 2009, o Projeto contou com

pelo menos 1 bolsa institucional e que o número de bolsas, apesar de variar de

um ano para outro, tendeu a crescer de forma que, em 2014, foi possível

destinar uma das bolsas (no caso, a segunda bolsa concedida pela

AMORCRUSP) para a criação do cargo de co-coordenação e, em 2015, o

revezamento de trabalho passou a ser feito com 3 educadores/as por noite e o

horário de funcionamento da Salinha foi expandido em 30 minutos diários.

As bolsas foram, sem dúvida, o ponto-chave para a manutenção das

atividades na Salinha e o aumento do número de bolsas trouxe uma série de

benefícios para o Projeto, para as crianças e para as famílias. Ter bolsistas

garante que a Salinha funcione com regularidade de segunda a sexta-feira e o

aumento para 3 educadores/as por noite garantiu sua abertura mesmo quando

um/a dos/as educadores/as estivesse ausente (o que não é recomendável de

se fazer apenas com 1 educador/a); também possibilitou a realização de

atividades mais elaboradas, de mais atividades externas e minimizou os riscos

durante essas atividades.

As mães e os pais estudantes que estudam à noite também foram

beneficiadas/os, pois com a expansão do horário de funcionamento, foi

possível para elas/eles assistir suas aulas integralmente até as 21h, ou em

outros casos, de assistir meia hora a mais de aula, e poder buscar as crianças

com calma depois. Por fim, beneficiou as crianças que, além de terem a

Salinha aberta por mais tempo e durante mais dias no ano, tinham mais adultos

com quem brincar, o que tornou as atividades mais seguras e possibilitou ainda

a realização de atividades externas a USP, sem o acompanhamento dos pais

e/ou mães, graças ao número total de bolsistas a partir de 2015.

5.9 Planejamento de Atividades de Ensino 26

O Planejamento de Atividades de Ensino também foi outra tentativa mais

formal de planejamento das atividades (qual, por quem, quando, como e com o

que) e organização do trabalho no Projeto. Trata-se de uma espécie de “Ficha”

de planejamento e avaliação de atividade, a ser preenchida pelos/as

26 O documento tem esse nome.

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educadores/as de forma a fazê-los/as pensar nas atividades que querem

executar e planejar os materiais e passos necessários a sua execução, além

de avaliar as atividades que, de fato, tenham sido realizadas.

Dentro dessa pasta havia uma pasta catálogo com 4 divisórias

preenchidas com Planejamento de Atividades de Ensino de 2006, Atividades

não realizadas — “E”/“G”/“H”/“I” 2006/2007, Atividades 2007 e Atividades 2008.

Depois de identificar os materiais, comecei a organizar os planejamentos de

atividades por data, em ordem cronológica. Logo na primeira divisória, percebi

que as primeiras atividades não tinham data, deixei-as na ordem que estavam

e fui colocando as atividades com data na frente. Também encontrei algumas

atividades de 2006 e de 2008 na divisória de 2007, que remanejei para a

divisória correta.

A primeira atividade da divisória de 2006 é de 5 de junho e a última de

12 de dezembro. Em sua maioria, as folhas de Planejamento de Atividades

estão impressas dos dois lados e têm a seguinte estrutura: Lado A —

Planejamento de Atividade de Ensino: Nome da atividade, monitor/a

responsável, data da realização, objetivos, descrição, observações. Lado B —

Comentários sobre a realização da atividade, quantidade de crianças, faixa

etária, nível de participação observado, nível de aproveitamento estimado,

observações e comentários do/a monitor/a auxiliar. Há também nessa divisória

algumas folhas escritas à mão que fogem um pouco desse padrão com

anotações sobre materiais necessários e metodologia.

Da segunda divisória, de Atividades não realizadas em 2006/2007,

apenas 5 páginas estavam datadas e, dessas, apenas 2 com o ano, sendo a

primeira de 6 de setembro de 2006 e a segunda 4 de abril de 2007. Nenhuma

página do pacote tinha o lado B preenchido, indicando que, de fato, essas

atividades não foram realizadas e, portanto, também não foram avaliadas.

Na divisória de 2007, havia mais de uma atividade planejada com a

mesma data, mas escrita por educadores/as diferentes. Mesmo nesses casos,

havia informações sobre como foi o desenvolvimento da atividade no verso do

planejamento, evidenciando que as duas atividades foram executadas no

mesmo dia. Dentre as atividades planejadas de 2007, apenas 2 não tinham

data.

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Todas as atividades de 2008 estão datadas; a primeira é do dia 16 de

janeiro e a última de 15 de julho. Novamente, algumas atividades têm a mesma

data, mas foram escritas por educadores/as diferentes, indicando que ambas

foram executadas no mesmo dia.

O que esses documentos evidenciam é que, pelo menos desde junho de

2006, há uma preocupação em se pensar e planejar as atividades a serem

realizadas com as crianças na Salinha e com uma avaliação pós-realização, o

que demonstra um compromisso com um trabalho educativo e uma reflexão

sobre as práticas educativas desenvolvidas no Projeto. Esse documento

também evidencia que, de maneira geral, de 2006 a 2008 havia pelo menos 2

educadores/as por noite na Salinha e cada educador/a era “responsável” por

planejar e aplicar sua atividade, enquanto o outro exercia a função de

“monitor/a auxiliar”, mesmo que ambos aplicassem cada um sua atividade na

mesma noite.

Não há informações sobre 2009 e 2010, mas quando eu entrei no

Projeto em 2011, embora não houvesse mais preenchimento desse

documento, havia uma reunião semanal onde eram discutidos verbalmente o

planejamento de atividade da semana e cada educador/a era responsável pelo

planejamento e execução de uma atividade por semana, enquanto seu/sua

parceiro/a de trabalho da noite auxiliava na execução. Isso mudou em meados

de 2013, quando o planejamento das atividades passou a ser feito

conjuntamente por todos/as os/as educadores/as que trabalhariam na

respectiva noite e com sugestões de outros/as educadores/as que não

trabalhariam; além disso, a execução da atividade passou a ser

responsabilidade de todos/as presentes na noite em questão. Essa mudança

enriqueceu a discussão e as atividades e gerou um censo maior de

participação, cumplicidade e responsabilidade nos/as educadores/as.

5.10 Relatórios de Bolsa e Trabalhos Acadêmicos sob re o Projeto

Os Relatórios de Bolsa são relatórios sobre o trabalho desenvolvido

pelos/as educadores/as bolsistas nos projetos e que são exigidos ao final do

período de Bolsas; já os Trabalhos Acadêmicos são trabalhos apresentados

em eventos acadêmicos ou entregues ao final de disciplinas de licenciatura que

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exigem estágio, como Política e Organização da Educação Básica (POEB) e

Psicologia da Educação.

Entre os materiais levantados na Salinha, havia 1 pasta contendo 4

documentos: 1 coletânea de projetos chamada “Sala das Crianças do CRUSP:

coletânea de projetos 2008”, 2 Relatórios Finais de Bolsa do Programa

Aprender com Cultura e Extensão e um trabalho de graduação chamado

“Relações sociais num ambiente não formal de educação (Alunos e

educadores)”.

O primeiro documento, “Sala das Crianças do CRUSP: coletânea de

projetos 2008”, foi escrito pela fundadora e pelas educadoras “N”, “O” e “M”.

O texto de apresentação é da fundadora, primeira coordenadora do

Projeto e aluna de Letras, Lia Raquel Amaral Teixeira, e trata do surgimento da

Salinha, de sua estrutura de funcionamento, das atividades executadas e das

práticas pedagógicas do Projeto Crianças do CRUSP.

O primeiro projeto da coletânea de atividades, “A arte de dobrar papel”,

foi escrito pela educadora “N” e explica que o projeto foi desenvolvido em 22

atividades que foram realizadas entre janeiro e abril de 2008. Nesse período, a

rotina da Salinha começava com a atividade dirigida e depois acontecia a

atividade livre.

O segundo projeto, “Conhecendo as Rochas”, foi escrito por “O”, aluna

da Pedagogia e ex-aluna de Geologia. O projeto consistiu em 11 atividades que

foram realizadas entre dezembro de 2007 e fevereiro de 2008.

O terceiro projeto, “Bandeiras da América do Sul”, foi escrito por “M”, e

as atividades foram divididas em três etapas e realizadas entre janeiro e julho

de 2008.

O primeiro Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura

e Extensão, “Uma pequena sala + Algumas pequenas pessoas = ENORMES

DESCOBERTAS”, é do educador “V”, aluno da Pedagogia, datado de setembro

de 2010. Apesar de ter sido escrito em 2010, este é um dos poucos

documentos que traz informações sobre os primeiros anos do Projeto Crianças

do CRUSP.

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Por ele sabe-se que alguns/algumas estudantes moradores/as que já

tinham experiência trabalhando com crianças no NURI27 iniciaram um Projeto

que propunha brincadeiras com as crianças do CRUSP e só posteriormente

conseguiram um apartamento adaptado para realizar essas atividades. No

início, só havia voluntários/as que tentaram propor atividades em diversos

horários e, com o passar do tempo, a necessidade do Projeto foi configurando-

se para o período noturno. Só em 2005, a Salinha conseguiu os/as dois/duas

primeiros/as educadores/as remunerados/as através do Programa de Bolsa-

Trabalho, e o número de bolsas aumentou para 4, em 2006 e 2007.

Sabe-se também que, com o fim inesperado da Bolsa Trabalho, a

Salinha se manteve apenas com um/a educador/a bolsista remunerado/a pela

AMORCRUSP entre agosto de 2008 e julho de 2009, até a parceria com a

Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) e a inscrição do Projeto no Programa

Aprender com Cultura e Extensão, do qual o “V” foi bolsista de agosto de 2009

a agosto de 2010, tempo em que trabalhou primeiro com “U”, da Pedagogia, e

depois com a “Z”, das Artes Plásticas. Em 2009, “V” passou a compor o

coletivo antigo, formado em 2008 por um grupo de estudantes voluntários/as

que passou a coordenar o Projeto em conjunto.

O segundo Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura

e Extensão é de “W”, aluno da Filosofia, datado de setembro de 2011. Nesse

relatório “W” relata duas experiências bem distintas nos dois semestres em que

trabalhou no Projeto. No segundo semestre de 2010 houve uma

incompatibilidade entre ele e a educadora “Z”; sendo que eles chegaram a

tentar fazer atividades separadas, mas não deu certo. No primeiro semestre de

2011 “Z” saiu do Projeto e entrou a nova educadora “Y”, com quem o trabalho

de “W” fluiu. Ambos aprenderam muito e conseguiram desenvolver bem uma

série de atividades com as crianças.

O trabalho de graduação chamado “Relações sociais num ambiente não

formal de educação (Alunos e educadores)” foi elaborado pelo aluno de

licenciatura em Letras e estagiário de observação na Salinha “E6” e

apresentado para a conclusão do curso de Práticas Escolares, Diversidade,

Subjetividade, ministrado por uma professora da FEUSP, em 2012. O aluno

27O Núcleo de Recreação Infantil (NURI), localizado dentro do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), realizava atividades com crianças.

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frequentou o Projeto durante algumas noites, participando das atividades e

brincando com as crianças e na última noite fez uma entrevista curta com as

crianças presentes que quiseram participar.

O trabalho tinha por objetivo verificar como se constrói o processo de

socialização num ambiente não formal de educação em oposição à escola

tradicional. Foram feitas as seguintes perguntas às crianças: “O que você acha

dessa Salinha? Por quê?”, “O que você acha das pessoas daqui (educadores e

outras crianças)?”, “Qual atividade você mais gosta? Por quê?”, “Qual atividade

você menos gosta? Por quê?”, “Quando acontece algum problema, alguma

briga ou desentendimento, ou uma atividade chata, como as coisas são

resolvidas nesse caso?” e “Você acha que esse tipo de Salinha deveria existir

em outros lugares? Por quê?”.

Cada um desses documentos revela algumas informações importantes

sobre o Projeto. A coletânea de projetos de 2008 nos permite entender o

funcionamento da Salinha e saber quais projetos de atividades foram

desenvolvidos com as crianças em 2007 e 2008; também foi uma oportunidade

formativa para que os/as educadores/as desse período pudessem refletir e

escrever sobre suas práticas educativas (o que aprenderam e o que

ensinaram) no Projeto. O mesmo vale para os Relatórios Finais do Programa

Aprender com Cultura e Extensão, documento que tem que ser redigido

pelos/as educadores/as bolsistas obrigatoriamente, no qual refletem e explicam

as atividades que desenvolveram no período de bolsa. Vale ressaltar ainda que

o primeiro relatório trouxe o primeiro breve panorama escrito sobre a história do

Projeto Crianças do CRUSP, desde sua criação até meados de 2010, enquanto

o segundo ficou focado nos problemas, soluções e aprendizados desenvolvidos

de 2010 a 2011.

O trabalho de graduação proporcionou ao aluno da licenciatura uma

experiência prática de estágio em um projeto de educação não formal e gerou

reflexões acerca desse Projeto e de suas práticas educativas. Através das

observações, o estagiário considerou a Salinha um agente de socialização que

oferece “um espaço de liberdade e interação entre crianças de diferentes

lugares e idade”, no qual existe afetividade e apego entre crianças e

educadores/as. Já as entrevistas feitas com as crianças evidenciam a relação

que elas têm com o Projeto e que importância este tem para elas, como o fato

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de “Todas as crianças relatarem gostar da Salinha”, e que “as crianças relatam

que ela deveria existir em outros lugares e nos outros blocos da moradia

estudantil”.

5.11 Documentos da viagem para a praia

Em uma das pastas levantadas encontram-se os documentos referentes

a uma viagem para a praia realizada em 10 de dezembro de 2011, através de

uma parceria com a AMORCRUSP. Tratam-se de pedidos de autorização,

solicitações e listas que viabilizaram ou que dizem respeito à execução dessa

atividade.

O primeiro documento é um pedido de autorização, datado de 2 de

dezembro de 2011, dirigido a “F4”, biólogo responsável pela Reserva Natural

do Condomínio Iporanga, para que os/as educadores/as, crianças, mães, pais

e a professora coordenadora pudessem fazer uma visita à praia. Anexo a esse

documento há uma folha com os dados do ônibus e uma lista com os nomes de

1 professora coordenado, 9 educadores/as e ex-educadores/as, 19 mães e

pais, e 17 crianças, que iriam ao passeio (46 pessoas, no total).

O segundo documento é uma solicitação destinada à Secretaria do

Turismo da Prefeitura Municipal de Santos, datada de 8 de dezembro de 2011,

pedindo permissão para estacionar o ônibus fretado próximo à orla. Anexo a

esse documento há uma folha com os dados do ônibus e uma lista com os

nomes de 1 professora, 8 educadores/as e ex-educadores/as, 21 mães e pais e

19 crianças que iriam ao passeio (49 pessoas, no total).

O terceiro documento é a lista de chamada impressa com o nome das

pessoas que participariam da excursão, contendo o nome de 1 professora, 9

educadores/as e ex-educadores/as, 23 mães e pais e 20 crianças, totalizando

53 pessoas. Dentre esses nomes, apenas 16 mães e pais e 17 crianças

estavam com um “o.k.” na frente do nome.

O quarto documento é uma autorização para visita simples à Unidade de

Educação Ambiental do Aquário Municipal de Santos, com data de 10 de

dezembro de 2011, às 14h. Nele está informado que a visita foi agendada pela

educadora “BB” em 8 de dezembro de 2011, e que participariam da visita 21

crianças abaixo de 12 anos, 10 educadores/as e 23 mães e pais ou

responsáveis.

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O projeto da viagem para a praia começou durante uma reunião

semanal para discutir atividades e problemas do Projeto, no segundo semestre

de 2011, quando uma educadora expressou o desejo de que umas das

atividades de final de semana fosse uma viagem para a praia e o então co-

coordenador voluntário “V” contou que desde os primeiros anos do Projeto

havia um desejo de se fazer uma grande atividade externa com as crianças,

suas famílias e os/as educadores/as, mas que isso nunca tinha sido possível

até então. Essa ideia continuou sendo mencionada em reuniões posteriores até

que todo o grupo de educadores/as resolveu se organizar para torná-la real;

algumas educadoras foram conversar com a AMORCRUSP e redigir um ofício

solicitando verba para realizá-lo, enquanto “V” e uma das bolsistas foram visitar

algumas praias e verificar sua acessibilidade para as crianças.

O destino decidido foi a Reserva Natural do Condomínio Iporanga e a

viagem ficou verbalmente combinada com o biólogo responsável pela reserva.

Já havíamos feito duas reuniões com as famílias das crianças e reservado o

ônibus, quando o pedido de acesso para o ônibus entrar na reserva, feito em 2

de dezembro de 2011, foi negado sem maiores explicações. Em uma semana

tivemos que mudar todos os planos e o destino pretendido virou a praia de

Santos/SP, cuja Secretaria do Turismo da Prefeitura Municipal nos permitiu

estacionar o ônibus na orla da praia, mesmo fazendo o pedido com apenas 2

dias de antecedência. O Aquário Municipal também cedeu gratuitamente os

ingressos para 31 pessoas do nosso grupo (comporto por 21 crianças e 10

adultos/as, educadores/as, familiares e professora coordenadora).

Essa viagem foi um marco na história da Salinha e é lembrada até hoje,

tanto pelas crianças quanto pelas mães e pais, educadores/as, ex-

educadores/as etc., em ocasiões como as festas (juninas, das Crianças, do

pijama etc.), onde todos/as se reúnem. Além da realização de um desejo de

muitos anos e uma experiência inesquecível para todos/as que dela

participaram, permitindo que todas essas pessoas se conhecessem melhor e

fortalecendo os laços que existiam entre elas.

Desde 2012, vem sendo discutido uma nova viagem, tendo em vista,

principalmente, que tanto o grupo de educadores/as quanto boa parte das

crianças e suas famílias mudou. Isso ainda não foi possível, pois, apesar da

parceria do Projeto com a AMORCRUSP (em forma de bolsas e doações

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mensais regulares) se manter, tanto o número de bolsas como o valor da

doação mensal destinada a Salinha aumentou, o que torna inviável para o

Projeto pedir mais verbas à Associação. Esse valor mensal não é suficiente

para custear uma viagem, mas o acúmulo de 2 ou 3 meses desse valor para

essa finalidade vem sendo discutido pelo grupo de educadores/as.

5.12 Ofícios

Os ofícios são os documentos redigidos pelos/as educadores/as,

coordenadora ou co-coordenador/a do Projeto, contendo solicitações de

materiais, comida e/ou permissão do uso de materiais e/ou espaços da

Universidade para/pelo o Projeto, destinados à AMORCRUSP e à SAS (e seus

respectivos setores, como a Zeladoria e Manutenção, a Divisão de Alimentação

e a Divisão de Creches).

Existem 15 ofícios que separei por remetente e organizei por data.

Desses, 4 ofícios são destinados à SAS: O primeiro ofício é de 27 de setembro

de 2012 e solicita alimentos e materiais para a Festa das Crianças28, que seria

realizada no dia 19 de outubro de 2012. O segundo, datado de 24 de setembro

de 2013, solicita alimentos, materiais e a autorização para usar a sala de vidro

do térreo do bloco A1 para a Festa das Crianças, que seria realizada em 18 de

outubro de 2013; a este último documento segue-se a carta-resposta da SAS,

datada de 25 de setembro de 2013, onde eles se comprometem a colaborar

com a Festa fornecendo os alimentos e materiais que estiverem disponíveis. O

terceiro ofício, datado de 5 de setembro de 2014, solicita alimentos e materiais

para a Festa das Crianças, que seria realizada em 18 de outubro de 2014. Por

fim, o quarto ofício, datado de 22 de setembro de 2015, também solicita comida

e materiais para a realização da Festa das Crianças, que aconteceria em 21 de

outubro de 2015.

Há também 11 ofícios destinados à AMORCRUSP. O primeiro é de 19

de maio de 2011, solicitando a doação de R$ 1.400,00 para a realização da

“Visita à Reserva Natural de Iporanga”, que tem como anexos 1) 1 lista de

passageiros composta por 17 crianças, 19 pais e mães, 9 educadores/as e ex- 28 A Festa das Crianças é uma festa promovida pela equipe de educadores/as do Projeto Crianças do CRUSP, com apoio da SAS, da AMORCRUSP e das mães e pais, realizada anualmente — pelo menos desde 2007 — na segunda quinzena de outubro, com o objetivo de comemorar tanto o dia das crianças quanto o aniversário de fundação do Projeto.

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educadores/as e a professora coordenadora; 2) 2 orçamentos de fretamento de

ônibus; 3) o recibo de recebimento da doação de R$ 1.400,00 feito pela

AMORCRUSP — gestão Novo AMORCRUSP, datado de 1 de dezembro de

2011 e assinado por “V”.

O segundo ofício é de 30 de novembro de 2012, solicitando a

contratação de mais 1 educador/a bolsista, pois em agosto de 2012 o

Programa Aprender com Cultura e Extensão concedeu apenas 2 bolsas. O

terceiro também é de 30 de novembro de 2012, solicitando o “mesmo” valor de

R$ 500,00 ou os materiais da lista anexa para a realização da Festa das

Crianças do ano seguinte; esse ofício nos possibilita saber que houve uma

doação nesse valor para a realização da Festa de 2012, mesmo que não haja

outro comprovante da doação.

O quarto, quinto, sexto e sétimo ofícios estão todos datados de 23 de

junho de 2014 e solicitam, respectivamente: doações de materiais da lista

anexa para realização de atividade e melhoria do funcionamento e organização

do Projeto; uma doação no valor de R$ 1.500,00 para a realização do passeio

de fim de ano, que aconteceria na última semana de dezembro de 2014; a

colaboração para que se faça uma reforma na Sala das Crianças; e uma

doação no valor de R$ 300,00 para a compra de livros infantis na Festa do

Livro da USP.

O oitavo ofício, datado de 5 de setembro de 2014, solicita uma doação

no valor de R$ 600,00 ou a doação dos itens da lista em anexo para a

realização da Festa das Crianças, que aconteceria em 18 de outubro de 2014.

O nono ofício, datado de 19 de novembro de 2014, solicita a doação de R$

300,00 para a compra de livros infantis na Festa do Livro. O décimo ofício, de

22 de setembro de 2015, solicita a doação de R$ 600,00 para a realização da

Festa das Crianças, que aconteceria em 24 de outubro de 2015. E, finalmente,

o décimo primeiro ofício, datado de 8 de dezembro de 2015, solicita o aumento

do valor da doação mensal de R$ 100,00 para R$ 200,00.

Sobre esses documentos, é importante explicar que nem todas as

solicitações feitas foram atendidas. O quarto, quinto, sexto e sétimo ofícios

enviados à AMORCRUSP, no ano de 2004, não foram atendidos, por exemplo,

e a gestão da AMORCRUSP, dessa época, apesar de pagar as 2 bolsas e

fazer a doação mensal, não se mostrava favorável às atividades do Projeto. No

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caso dos ofícios enviados à SAS, tanto as Creches/Pré-Escolas como o

Restaurante dos Professores da USP, sempre forneceram a maior parte dos

itens solicitados nos ofícios.

A Festa das Crianças é o evento mais esperado do ano pelas crianças e

suas famílias, além de uma das atividades mais longas que realizamos e que

reúne mais envolvidos/as — dentre crianças, mães e pais, educadores/as, ex-

educadores/as, membros do coletivo antigo, amigos/as das crianças,

convidados/as e até alguns/algumas moradores/as simpatizantes e/ou

parceiros/as do Projeto. É também um evento de grande porte que demanda

muito trabalho, material e comida e que só é possível realizar com as parcerias

entre o Projeto (que faz o trabalho e realiza a Festa), a SAS (que libera o uso

do espaço, além de doar parte da comida e dos materiais necessário via

Creches/Pré-Escolas e Restaurante dos Professores) e da AMORCRUSP (que

fornecia uma doação específica para essa data, cujo valor permitia comprar o

restante dos materiais e alimentos que ficavam faltando).

A partir da permissão do uso da sala de vidro do térreo do bloco A1 do

CRUSP para a Festa das Crianças, em 2012, esse espaço passou a ser usado

para a realização de algumas festas de aniversário infantis e, posteriormente,

para festas em geral, tornando-se, extraoficialmente, o “salão de festas” da

moradia estudantil da USP/SP.

Já os ofícios da Festa do Livro foram atendidos dois anos e isso

permitiu, além de aumentar e renovar o acervo de livros infantis do Projeto, dar

preferência aos livros de literatura infantil especialmente voltados para as

crianças bem pequenas, para as quais a Salinha não dispunha de muitos

materiais.

Com a concessão de mais uma bolsa pela AMORCRUSP o Projeto pode

completar o grupo de bolsistas e, depois, essa bolsa foi destinada à co-

coordenação, que impactou muito positivamente na organização e

funcionamento do Projeto, além de “desafogar” os/as educadores/as para

dedicarem-se mais às atividades e menos com outras questões burocráticas,

de manutenção etc.

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5.13 Pôsteres do Projeto apresentados em eventos ac adêmicos

Esses documentos dizem respeito aos Pôsteres e/ou Trabalhos sobre o

Projeto Crianças do CRUSP apresentados em eventos acadêmicos, como o 2º,

3º, 4º e 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão da USP, a Virada

Científica 2015 da USP e o Workshop: A USP e as Ações para o

Desenvolvimento Integral na Primeira Infância, em 2015.

Dentre os materiais apresentados em eventos acadêmicos, os referentes

aos Simpósios de Cultura e Extensão são: 1) 1 CD com os projetos do

Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2013/2014; 2) 1 folder de

divulgação do 4ª Simpósio; 3) 1 folder de divulgação do edital 2015/2016; 4) 1

folder de divulgação do Programa Aprender com Cultura e Extensão no

Programa Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da

USP; 5) 1 impressão em A4 preto e branco do pôster apresentado no 3º

Simpósio Aprender com Cultura e Extensão; 6) 1 impressão em A4 preto e

branco do pôster apresentado no 4º Simpósio Aprender com Cultura e

Extensão; e 7) 1 impressão em A4 preto e branco do pôster apresentado no 5º

Simpósio Aprender com Cultura e Extensão.

Além desses documentos, há uma chamada para apresentar trabalhos

no I Workshop “A USP e as Ações para o Desenvolvimento Integral na Primeira

Infância”, em 19 de agosto de 2015, no qual apresentei um Pôster29 sobre o

Projeto.

Todos os projetos que faziam parte do Programa Aprender com Cultura

e Extensão eram convocados a se apresentarem nos Simpósios Aprender com

Cultura e Extensão que aconteciam anualmente, em um campus diferente da

USP. Nesses eventos, os projetos deveriam apresentar um Pôster com o

resumo de suas atividades, objetivos, metodologia, resultados, análises e

referencial teórico, além de imagens ou fotos sobre o trabalho desenvolvido.

Participar desses eventos caracterizou-se como experiência formativa

para cada educador/a que teve a oportunidade de apresentar seu trabalho, da

mesma forma que, cada evento foi uma oportunidade de divulgar e fortalecer o

trabalho desenvolvido na Sala das Crianças, gerando parcerias, como os

estágios de observação. Foi através dessas apresentações que vários/as

29 O Pôster apresentado por mim no Workshop foi o mesmo apresentado pelo grupo de educadores/as no Simpósio Aprender com Cultura e Extensão de 2014.

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estudantes de outros projetos conheceram a Salinha e se inscreveram para

serem educadores/as bolsistas ou voluntários/as no Projeto, em anos

seguintes.

5.14 Calendários Anuais de Atividades do Projeto

Esses documentos dizem respeito ao planejamento anual do

funcionamento do Projeto e do planejamento mensal das atividades. Eles nos

permitem perceber algumas mudanças que foram acontecendo na estrutura de

organização anual das atividades da Salinha, com o passar dos anos.

Há uma pasta com os Calendários de funcionamento da Salinha de

2012, 2013, 2014, 2015 e 2016 (este feito no segundo semestre de 2015). Os

Calendários vão de janeiro a dezembro dos respectivos anos e marcam as

seguintes datas: início das atividades do ano; semanas de atividades de

formação da equipe; semana de planejamento do primeiro semestre; início das

atividades com as crianças; semana de atividades especiais de boas-vindas;

atividades especiais de férias; feriados (em que não há atividades); início das

atividades regulares; último dia de atividades com as crianças no primeiro

semestre; período de arrumação do espaço, avaliação e planejamento; o

recesso de meio de ano; início das atividades do segundo semestre; a Festa

das Crianças do CRUSP; último dia de atividades com as crianças no segundo

semestre; avaliação do semestre e recesso de fim de ano.

O Calendário de 2014 previa uma Oficina de “Jogos do Mundo”, de 10 a

14 de fevereiro; também previa uma viagem de férias no dia 15 de fevereiro,

mas que não aconteceu. A partir de 2014, passaram a fazer parte do

Calendário uma semana de formação de novos/as bolsistas, os planejamentos

das atividades especiais do segundo semestre do ano e as atividades

especiais de fim de semana, 1 vez por mês e sem data definida, nos meses de

março, abril, maio, setembro e novembro. Isso porque em janeiro não há

atividades com as crianças; em fevereiro, junho, julho, agosto e dezembro

houve 1 semana de atividades especiais com todos/as os/as educadores/as

bolsistas trabalhando todas as noites e em outubro realizou-se a Festa das

Crianças do início da tarde até a noite. O Calendário de 2015 passou a incluir

uma semana para as entrevistas com novos/as candidatos/as no meio do ano.

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Apesar de só constar oficialmente no Calendário oficial a partir de 2014,

desde quando entrei no Projeto, em 2011, já eram realizadas atividades

especiais de fim de semana, um sábado ou domingo por mês, com duração de

4 horas; inclusive, foi discutindo sobre essas atividades que surgiu a ideia da

viagem para a praia, que aconteceu em dezembro de 2011. Essas atividades

especiais costumavam acontecer nas áreas verdes abertas da USP e

acabavam não sendo registradas no Livro de Registros em sua maioria.

A importância do Calendário Anual e de datas como a das atividades

especiais de fim de semana entrar no Calendário oficial é que isso garante que

atividades muito esperadas pelas crianças (como a Festa das Crianças, as

semanas de atividades especiais de férias etc.), aconteçam todos os anos. E

também garante que outras atividades essenciais para o bom funcionamento

do Projeto (como a semana de limpeza, organização e planejamento de

atividades especiais e a semana de formação) aconteçam no período

adequado e dentro do tempo remunerado de trabalho, favorecendo tanto a

formação dos/as educadores/as quanto a preparação adequada das atividades

que serão aplicadas por eles/elas.

5.15 Proposta e Regras dos “Jogos do Mundo”

O “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos

cinco continentes”, escrito pelo Presidente da Associação Alea-France e pelo

Presidente da Associação Aprendizarte-Brasil, foi uma proposta apresentada

para a AMORCRUSP, visando à criação de uma Brinquedoteca Piloto para as

crianças e moradores/as do CRUSP. Através do financiamento da Associação

de Moradores/as, essa proposta concretizou-se em 1 semana de Oficina de

“Jogos do Mundo”, realizada na Salinha, em fevereiro de 2014.

Logo ao abrir as 2 pastas plásticas, encontrei a proposta redigida para a

AMORCRUSP e várias instruções/regras dos jogos produzidos na semana de

Oficina de “Jogos do Mundo”. Também percebi que havia regras em dois tipos

de material: As regras impressas coloridas e em papel grosso (originais), e as

regras impressas em preto e branco em papel A4 (Xerox). Então, juntei todas

as regras em uma única pasta e organizei por jogo, deixando as originais na

frente, seguidas pelas cópias.

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Durante a semana de oficina os/as educadores/as do Projeto

conheceram, testaram e aprenderam sobre diversos jogos tradicionais de

diferentes países e culturas ao redor do mundo. Depois elegeram alguns

desses jogos e, com o auxílio dos ministrantes, produziram cópias dos diversos

jogos eleitos com madeira e materiais recicláveis encontrados no CRUSP; e,

por fim, os jogos produzidos durante essa semana passaram a compor o

acervo do Projeto e já foram expostos e disponibilizados para os/as

moradores/as em diversas ocasiões.

Essa semana de oficina foi formativa em diversos aspectos: gerou

aprendizado quanto ao tema jogos e cultura, pois os jogos estão impregnados

dos significados culturais de que são frutos; promoveu um aprendizado técnico-

artesanal durante o processo de fabricação dos jogos e gerou diversas

reflexões sobre materiais recicláveis e brinquedos não comerciais. Como

resultado material, enriqueceu o acervo de jogos da Salinha e ampliou o leque

de jogos das crianças. E, por fim, os jogos produzidos nessa oficina foram

compartilhados com os/as moradores/as nas atividades externas em que as

crianças desceram para mostrar e ensinar os/as moradores/as a jogar e

também foram compartilhados com os/as visitantes da Virada Científica 2015,

que passaram no estande do Projeto e foram convidados/as a jogar com os/as

educadores/as enquanto eram apresentados às atividades do mesmo.

5.16 Outros Documentos

Por fim, nesse último subitem estão outros documentos que são “o único

de seu tipo” e/ou que não se encaixam em nenhuma das categorias anteriores.

Há 1 notificação da SAS destinada à educadora bolsista “CC”, datada de

28 de março de 2012, por conta da atividade de rapel, realizada no dia 23 de

março de 2012, pedindo para que não se repita. Esse documento se refere a

uma atividade especial realizada por “V”, escalador profissional certificado,

contando com todos os equipamentos de segurança, incluindo mosquetão,

cadeirinha e capacete infantil, em que as crianças desceram de rapel do sexto

andar até o térreo do bloco D pelo vão entre as escadas. A atividade foi

interrompida pelos funcionários da equipe de segurança do CRUSP e impedida

de continuar, mesmo contando com um profissional da área e todos os

equipamentos de segurança. Metade das crianças não pôde realizar a

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atividade, elas ficaram muito tristes, choraram bastante e os/as educadores/as

também ficaram frustrados/as.

Esse episódio (e outros desse tipo) revela que a Universidade não está

preparada para receber as crianças e que sequer há um esforço por seus

agentes de pensar nesse público, pelo contrário, o trabalho desenvolvido

pelos/as educadores/as para tentar diminuir esse problema ainda pode ser

cerceado neste mesmo espaço que o promove.

Há também 1 proposta de “Oficina de reconhecimento de plantas da

horta” feita por alunos/as integrantes do projeto de pesquisa, ensino e extensão

“Criando Terra no IEE” (Instituto de Energia e Ambiente). A oficina foi realizada

no domingo, dia 28 de setembro de 2014, das 10h às 14h. Essa atividade

contou com poucas crianças que se divertiram muito e, por conta disso,

posteriormente houve outra atividade de piquenique na horta, onde as crianças

tiveram a oportunidade de brincar ao ar livre, ver alguns animais como pica-

paus e tartarugas e experimentar algumas flores, folhas e frutas orgânicas da

horta. Essa atividade abriu os horizontes das crianças e educadores/as, que,

embora conheçam e usem vários espaços da Universidade, não sabiam da

existência da horta e nunca tinham explorado essa área da USP.

Existem 3 convites para Festas e 2 bilhetes sobre a Festa do Pijama. O

primeiro convite é da Festa das Crianças, marcada para o dia 18 de outubro de

2014; o segundo é da Festa Junina da Salinha, marcada para o dia 7 de julho

de 2015; o terceiro convite é da Festa das Crianças, marcada para dia 24 de

outubro de 2015 e todas as 3 Festas aconteceram no térreo do bloco A1 do

CRUSP. Quanto aos bilhetes, o primeiro é referente a uma Festa do Pijama

que aconteceu na sexta-feira, dia 12 de dezembro de 2014, e o segundo é

referente à outra Festa do Pijama, que aconteceu em 10 de julho de 2015.

Apesar de os bilhetes não informarem o ano, foi possível descobrir

comparando o dia da semana e do mês, com os calendários de 2014 e 2015.

Há dois folhetos de divulgação do Projeto sem data, ambos avisando

que a Salinha voltou e tratando dos tópicos: O Projeto Crianças do CRUSP,

Como participar, Horário, Visita de bebês e Todo mundo participa. O que difere

entre os 2 folhetos, além de sutis alterações no texto, são os horários: No

primeiro folheto consta que das 19h às 19h30 é o horário de recepção das

crianças e seus responsáveis, às 19h30 é o horário das atividades exclusivas

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com as crianças e saída dos responsáveis e 21h é o horário de saída das

crianças, enquanto que no segundo folheto (posterior) 19h é a abertura da

Salinha e início das atividades livres, 20h é o início das atividades dirigidas,

21h15 é a saída das crianças e 21h30 o horário de fechamento da Salinha.

Também há um bilhete avisando mães, pais e responsáveis que, a partir de 24

de agosto de 2015, a Salinha terá seu horário de funcionamento com as

crianças estendido até 21h15 e fechará às 21h30. Sobre esses documentos, os

folhetos de divulgação costumam ser distribuídos em todos os apartamentos do

CRUSP na volta das férias de janeiro e/ou de julho e também nas ocasiões em

que se faz o Censo do CRUSP, para avisar as crianças que as atividades

voltaram a acontecer e para apresentar o Projeto às novas crianças que

tiverem chegado no CRUSP.

O segundo folheto e o bilhete foram produzidos logo após a ampliação

do horário de funcionamento da Salinha; o folheto foi distribuído nos

apartamentos e os bilhetes foram entregues às mães e/ou aos pais das

crianças já cadastradas no Projeto, ambos com o intuito de divulgar a

mudança.

Existem 3 versões da Ficha de Cadastro, com diferenças quase

imperceptíveis entre elas. De maneira geral, a Ficha de Cadastro é composta

por: Dados das crianças (nome, bloco, apto, data de nascimento e R.G. ou

R.N.E.), dados dos pais (nome da mãe e do pai, data de nascimento, R.G. ou

R.N.E., número USP, Instituto e curso de ambos), 2 perguntas (“A crianças

possui alguma alergia e/ou toma algum medicamento?” e “A criança pode ir

embora sozinha? Se não, quem está autorizado a buscá-la?”) e o termo de

ciência e autorização do uso de imagem (a ser preenchido com o nome do

responsável, assinatura e data). Esses documentos continuam sendo

preenchidos cada vez que recebemos uma criança nova ou que suas visitas

ficam frequentes. Ele nos permite conhecer melhor cada criança e ter um

panorama do grupo que frequenta a Salinha em cada época. Também é fonte

de consulta quando as crianças querem ir embora sozinhas, quando passam

mal e/ou apresentam problemas de saúde e quando precisamos entregar

bilhetes ou falar pessoalmente com as mães ou pais.

Além desses documentos já citados, há também uma Carta-resposta

sem data, dirigida à representante do grupo das mães sem creches, da USP,

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explicando os motivos pelos quais a Salinha não poderia ser usada como

creche. Esse último documento foi criado como resposta a um movimento que

começou com a não abertura de vagas nas Creches/Pré-Escolas da USP,

entre 2014 e 2015 (até hoje, em 2016).

O assunto foi discutido em 2 reuniões semanais do Projeto e em 1

reunião mensal com a professora coordenadora e, embora o grupo tivesse

vontade de ajudar essas mães, chegou-se à conclusão de que essa

empreitada colocaria os/as bebês em situações de risco, pois o espaço

pequeno da Salinha, as condições básicas, o acervo de brinquedos etc., não

são adequados e não possuem condições de atender às necessidades de

bebês, além de não haver pessoal suficiente, nem capacitado para garantir os

Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos

fundamentais das crianças (BRASIL 1995 e 2009), dentro todas as demais

exigências legais que implicam a Primeira etapa da Educação Básica.

A partir daí, fomos procurados e questionados por mães e membros da

gestão da AMORCRUSP, esta alegando que o espaço era no CRUSP,

portanto, dentro da jurisdição da Associação de Moradores/as e que se a

AMORCRUSP pagava bolsas, teria o direito de decidir o que era feito no

espaço.

Houve muitas discussões entre os membros da gestão, a representante

das mães e eu, tanto verbalmente como por meios eletrônicos. Foi por conta

disso que surgiu a necessidade de escrever a referida Carta explicando todos

os porquês de a Salinha não poder ser usada como creche. Mesmo depois de

enviar a Carta para a mãe e para os/as membros da AMORCRUSP, eles/elas

continuaram nos abordando em qualquer lugar para discutir o assunto e, em

diversos momentos, eu e os/as demais educadores/as sentimos que nosso

trabalho estava sendo desrespeitado.

A então gestão da AMORCRUSP chegou a tentar votar decisões sobre o

“uso” da Salinha em algumas das assembleias de moradores/as do CRUSP,

mas em todas as ocasiões eu e outros/as educadores/as estávamos lá para

apresentar o Projeto e esclarecer os porquês dessas “decisões” não serem

possíveis. Desde então, a gestão se colocou contra as atividades da Salinha.

Mesmo depois de perder as eleições e mudar para uma gestão favorável ao

trabalho do Projeto, esse grupo de pessoas da gestão anterior continuou

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trazendo esse assunto para as assembleias, questionado e tentando tirar

nossas bolsas e doações em votações com pouquíssimas pessoas e de

madrugada.

É importante lembrar que o Projeto surgiu com o intuito de garantir um

espaço-tempo para as crianças serem crianças. Nosso trabalho vai em defesa

da infância e, por isso, seguimos resistindo a esses “assédios”, por

acreditarmos convictamente que, como educadores/as em permanente

formação que somos, devemos zelar pela segurança e bem-estar das crianças,

antes de tentar sanar, de forma inadequada, uma necessidade de suas

famílias.

Segue agora uma tentativa de mapear, de forma resumida, alguns dos

acontecimentos desses 13 anos, e de apresentar as respostas descobertas

durante a pesquisa para algumas das questões que a motivaram30.

30 Em 2003, como e por que surgiu o Projeto? A partir de quais necessidades, concepções e expectativas? Quem foram os/as idealizadores/as e membros do coletivo de estudantes fundadores/as do Projeto? E os/as educadores/as bolsistas, estagiários/as, voluntários/as e crianças? Como eram e são as propostas, as atividades e o funcionamento do Projeto? Onde, quando, com quem e como elas foram sendo realizadas? Quais as alterações sofridas no Projeto depois de sua consolidação como um projeto de cultura e extensão universitária, junto ao Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP, a partir de 2009, e ao Programa Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da USP, a partir de 2015?

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6. O PROJETO CRIANÇAS DO CRUSP: MAPEAMENTO HISTÓRIC O E

DOCUMENTAL

O Projeto Crianças do CRUSP foi fundado e iniciado em 200331, por um

coletivo de estudantes da Universidade de São Paulo/SP, em parceria com a

Associação de Moradores/as do CRUSP (AMORCRUSP) e a Superintendência

de Assistência Social (SAS, antiga COSEAS); O Projeto surgiu quando um

grupo de alunos/as moradores/as do CRUSP percebeu a presença de crianças

na moradia estudantil — local que não estava preparado para receber esse

público32 — e que, muitas vezes, essas crianças não se conheciam, nem se

encontravam. Esses/as alunos/as, que já tinham experiência trabalhando com

crianças no NURI33, então se reuniram e pensaram em propor brincadeiras

para/com essas crianças. A ideia era garantir um espaço-tempo das/para as

crianças, onde elas pudessem se encontrar, interagir e se divertir, ou seja,

serem crianças, nesse ambiente universitário pensado apenas para adultos/as.

Iniciaram-se, assim, as primeiras atividades do Projeto, que eram

oficinas e atividades lúdico-artísticas esporádicas e em horários variados,

realizadas por voluntários/as, de acordo com “aquilo que cada um sabia fazer”.

A fundadora, idealizadora e primeira coordenadora do Projeto, Lia Raquel

Amaral Teixeira, na época aluna de graduação e licenciatura em Letras, fazia

31 Não foi encontrado nenhum documento do ano da fundação do Projeto, entretanto, há 2 documentos que contêm informações sobre esse período: um artigo do jornal Bolsa-Trabalho de 2006 e o Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. Além das informações contidas nesses dois documentos, sabe-se sobre esse período o que é contado pela fundadora na semana de formação. A semana de formação de novos/as educadores/as acontece 1 ou 2 vezes por ano, quando novos/as educadores/as bolsistas ingressam no Projeto. Durante toda uma semana são realizadas palestras, oficinas e rodas de conversa, além de atividades práticas e provocadoras, que façam pensar e refletir sobre crianças, infância e educação, formar e/ou passar a compor a bagagem de cada educador/a e servir de inspiração para a criação, planejamento e execução de atividades no Projeto. 32 Existe no CRUSP apenas 12 apartamentos adaptados e reservados para famílias (apenas a/o aluna/o(s) com seu/sua(s) filho/a(s)) no térreo do bloco A, conhecido como bloco das mães; esse espaço conta com uma cozinha, uma lavanderia e um pátio comum, além de ter uma porta com tranca elétrica no final do corredor dos apartamentos, que não permite que as crianças pequenas saiam sozinhas. Entretanto há mais de 30 famílias morando no CRUSP, de forma que a maioria delas reside em apartamentos comuns, divididos com outros estudantes sem filhos, inclusive em outros blocos além do A. Com exceção do pátio cercado do térreo do bloco A — área comum e acessível para as crianças que moram nos 12 apartamentos do térreo desse bloco —, não havia outro espaço destinado à crianças e que fosse acessível a todas as crianças da moradia estudantil. 33 Desse grupo de alunos/as que trabalhavam no NURI, fazem parte a fundadora, “A” e “A1”, que acompanham as atividades do Projeto até hoje, tanto de forma virtual como pessoalmente, na Festa das Crianças e na semana de formação de novos/as educadores/as.

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todo o trabalho de organização e coordenação sozinha, também de forma

voluntária.

Conforme as atividades foram acontecendo, surgiu a demanda por um

espaço para armazenar os materiais usados nas atividades. Assim, a

fundadora do Projeto se dirigiu às assistentes sociais para apresentar essa

demanda e a COSEAS cedeu ao Projeto um apto reformado e adaptado34 no

segundo andar do bloco D do CRUSP35.

Com o passar do tempo, o grupo de educadores/as voluntários/as

percebeu que havia poucas crianças pelo CRUSP, durante o dia e descobriu

que as mães e pais estudantes que tinham necessidade de trabalhar e/ou

estudar durante o dia já haviam encontrado um modo de fazê-lo, deixando as

crianças em creches, escolas de período integral ou mesmo se organizando

em grupos de mães que revezavam para ficar com as crianças. Assim,

constatando que a maior concentração de crianças na moradia era depois das

18h, a necessidade do Projeto foi se configurando para o período noturno.

Em 200436, o funcionamento da Salinha ainda era esporádico e em dias

variados da semana (de segunda a domingo, incluindo feriados), pois dependia

da disponibilidade de voluntários/as que pudessem oferecer atividades. E foi a

partir dessa experiência bem-sucedida com os/as voluntários/as que o Projeto

foi inscrito pela primeira vez no Programa de Bolsa-Trabalho e, a partir de

2005 37 , passou a contar com contar com 2 educadores/as bolsistas e

alguns/algumas voluntários/as, o que permitiu que as atividades do Projeto se

34 Esse apartamento do CRUSP já havia sido reformado para se tornar a biblioteca da moradia estudantil — foram removidas as paredes internas que dividiam os quartos e construídas prateleiras embutidas e um balcão —, porém concluiu-se que a estrutura do prédio não suportaria o peso dos livros e a sala acabou ficando fechada e/ou servindo como sala de festas. Quando a SAS cedeu o espaço para o Projeto, a pia e o vaso sanitário do apartamento foram trocados por versões menores, de forma a adaptar o espaço para o público infantil. 35 Acredita-se que a COSEAS cedeu a sala por entender a relevância de um projeto como esse e, ao mesmo tempo, porque viu nele a oportunidade de resolver 2 de seus problemas: o não uso/mal uso de um espaço existente na moradia e a falta de um espaço destinado às crianças. 36 O primeiro documento redigido no Projeto foi o Caderno de Frequência e Registro, que depois passou a ser Livro de Registro, em 2010. Sobre o ano de 2004 existem ainda os documentos dos Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista, além de haver informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 37 Em 2005 começaram a ser produzidos os seguintes documentos na Salinha: Fichas de Cadastro das crianças, Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e o primeiro Livro de Registro. Além deles, ainda existia o Caderno de Frequência, os Documentos da Seleção de Monitor/a Bolsista e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010.

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tornassem regulares e acontecessem todos os dias da semana, de segunda a

sexta-feira, das 19h as 21h.

Nesse ano houve um primeiro Censo das crianças do CRUSP e foram

feitas 18 Fichas de Cadastro de crianças da moradia, embora fosse de

conhecimento geral que houvesse mais crianças (conferir o documento de

inscrição no Programa de Bolsa-Trabalho). Um dos motivos para tantas

crianças “omitidas” nesse Censo seria o medo das famílias que, em grande

parte dos casos, morava com a(s) criança(s) em apartamentos comuns de

forma irregular, omitindo a existência da(s) criança(s) para a COSEAS, por

saber que não havia vagas suficientes no bloco das mães e acreditar que, por

terem filho/a(s), não conseguiriam vaga na moradia (comum).

No final de 2005, foi enviada uma carta dos Pais e Mães moradores/as

do CRUSP, dirigida à COSEAS, manifestando sua grande satisfação com o

Projeto, ressaltando sua importância e pedindo a ampliação do horário de

funcionamento e do número de educadores/as bolsistas.

Em 200638 o Projeto continuou com 2 educadores/as bolsistas e pelo

menos 2 voluntários/as; houve um novo Censo e 25 fichas foram preenchidas

nesse ano. Além disso, ficamos sabendo através dos documentos que havia

mais de 30 crianças de 0 a 12 anos no CRUSP, nessa época, e também já

havia uma estrutura de funcionamento da Salinha, dividida em atividades

dirigidas e momentos livres; essas atividades dirigidas eram planejadas e

discutidas pelo grupo de educadores/as. No fim do ano o Projeto foi novamente

inscrito no Programa de Bolsa-Trabalho, que a partir de 200739 concedeu 4

bolsas, o que permitiu a ampliação do horário de funcionamento para as tardes

de sábado e domingo; também foi nesse ano que começaram os empréstimos

de brinquedos.

38 Em 2006 começaram a ser escritos os Planejamentos de Atividades de Ensino e também nesse ano saiu um artigo sobre o Projeto no jornal Bolsa-Trabalho. Além deles, ainda existia o Caderno de Frequência, os Documentos da Seleção de Monitor/a Bolsista, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, o Livro de Registro e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 39 Em 2007 começaram a ser escritos os Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças. Além dele, ainda existia o Caderno de Frequência, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, o Livro de Registro, os Planejamentos de Atividades de Ensino e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010.

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Em 2008 40 surgiram os primeiros registros financeiros de pequenos

gastos irregulares da Salinha e também foi escrito o primeiro trabalho

Acadêmico sobre o Projeto (“Sala das Crianças do CRUSP: coletânea de

projetos 2008”). Também nesse ano, com o fim do Programa de Bolsa-

Trabalho, o Projeto passou a contar com apenas 1 educador/a bolsista pela

AMORCRUSP e com a ajuda de voluntários e do então coletivo antigo

(fundadores e primeiros educadores/as voluntário do Projeto), e as atividades

começam a ficar um pouco irregulares. Essa situação se manteve até que em

200941 a Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) passou a coordenar o Projeto

e conseguiu o primeiro educador/a bolsista pelo Programa Aprender com

Cultura e Extensão (que pagava uma bolsa fixa no valor de R$ 300,00

mensais) e assim, com 2 educadores/as bolsistas, as atividades voltam a ser

regulares.

A partir de 201042 o Projeto começou a receber uma doação mensal de

R$ 50,00 feita pela AMORCRUSP. Também começaram a haver leituras

teórico-formativas e reuniões de orientação com a professora coordenadora,

além do convite para que todos/as os/as educadores/as cursassem sua

disciplina como atividade de formação acadêmica complementar. Nesse ano o

ex-educador bolsista “V” passa a compor o coletivo antigo; houve também

alguns problemas de incompatibilidade entre a dupla de educadores/as, que se

resolveu no primeiro semestre de 2011 43 , com a troca de um/a dos/as

educadores/as. No segundo semestre o Projeto conseguiu 3 bolsas pelo

40 Em 2008 começaram a ser escritos os Trabalhos Acadêmicos sobre o Projeto e a aparecer os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais. Além deles, ainda existia o Caderno de Frequência, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, o Livro de Registro, os Planejamentos de Atividades de Ensino, Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 41 Em 2009 não foi produzido nenhum tipo novo de documento no Projeto, mas ainda existia o Caderno de Frequência, o Livro de Registro, os Documentos do Processo de Seleção de Monitor/a Bolsista, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 42 Em 2010 foi redigido o Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. Além dele, ainda existia o Caderno de Frequência, o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais. 43 Em 2011 foram redigidos o Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2011, os Documentos da viagem para a praia e Ofícios. Além deles, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais.

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Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP e voltou a ter 4

educadores/as bolsistas que se alternavam em duplas, mas cada educador/a

executava propostas de trabalho individuais com a ajuda do/a outro/a

educador/a que acompanhava. Foi nesse período que me tornei educadora do

Projeto e quando a então gestão da AMORCRUSP fez a primeira doação para

a Festa do Livro e custeou a viagem para a praia

Já em 201244, com o gradual afastamento do coletivo antigo45, comecei,

também gradualmente, a assumir algumas funções de co-coordenação; nesse

período o Calendário das atividades do ano (semana de formação, feriado etc.)

norteou bastante o nosso trabalho e foi quando recebemos uma notificação da

SAS pedindo que a atividade de rapel não se repetisse. A partir do segundo

semestre, o Programa Aprender com Cultura e Extensão forneceu uma bolsa a

menos e com o revezamento de apenas 3 educadores/as, em uma das noites

um/a deles/as trabalhava sozinho/a. Nesse período houve o primeiro registro

de Estágio de observação — “Relações sociais num ambiente não formal de

educação (Alunos e educadores)” — e foram feitas doações da SAS e da

AMORCRUSP para a realização da Festa das Crianças de 2012.

Durante o primeiro semestre de 201346 , a gestão da AMORCRUSP

cedeu mais 1 bolsa para voltarmos a funcionar com 4 educadores/as bolsistas

e aumentou do valor da doação mensal para R$ 100,00. E no segundo

semestre, o Programa Aprender com Cultura e Extensão voltou a conceder 3

bolsas, deixando o Projeto com 5 bolsas no total e permitindo a criação da

bolsa de co-coordenação. Nesse período o planejamento de atividades passou

a ser feito em dupla e discutido com todo o grupo de educadores/as. No final

44 Em 2012 a Salinha recebeu uma notificação da SAS e um Trabalho de graduação sobre o Projeto, chamado “Relações sociais num ambiente não formal de educação (Alunos e educadores)”, que foi redigido pelo estagiário de observação “E6”. No Projeto, foram produzidos o Calendário anual de Atividades do Projeto, o Pôster Apresentado no 2º Simpósio do Programa Aprender com Cultura e Extensão e o Folheto de Divulgação do Projeto. Além deles, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e Ofícios. 45 Com o passar dos anos, esses/as estudantes foram se graduando, se mudando, conseguindo emprego, tendo filhos e se distanciando do Projeto. 46 Em 2013 o “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos cinco continentes”, escrito pelo Presidente da Associação Alea-France e pelo Presidente da Associação Aprendizarte-Brasil, foi apresentado para a AMORCRUSP, com o intuito de acontecer na Sala das Crianças. No Projeto foi produzido o Pôster apresentado no 3º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão e, além desse documento, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e os Ofícios.

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do ano recebemos a proposta do “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013:

Museu de Jogos dos cinco continentes” que, posteriormente, foi financiado pela

então gestão da AMORCRUSP e se concretizou na oficina de “Jogos do

Mundo” no ano seguinte.

Em 201447, por conta da Copa do Mundo de Futebol, da greve, das

assembleias etc. a Salinha ficou quase 1 mês fechada. Na reunião de

encerramento do primeiro semestre, surgiu uma demanda por parte dos/as

educadores/as para que no dia da semana formação em que discutíamos

burocracias, eu pudesse falar também das Literaturas Infantis, disciplinas da

qual fui monitora. Assim, a partir do segundo semestre, também passei a dar

formação de Literatura Infantil — Literatura e Brincadeira —, junto com o

coletivo antigo na semana de formação de novos/as educadores/as. Também

nesse período recebemos a proposta de participar da “Oficina de

reconhecimento de plantas da horta” — (IEE), que se concretizou em duas

visitas à horta.

Em 201548 houve um aumento expressivo no número de voluntários/as

no Projeto. Também foi criado o Programa Unificado de Bolsas de Estudo para

Estudantes de Graduação da USP, através do qual conseguimos mais 3

bolsas. Com 8 educadores/as bolsistas no total, foi possível, finalmente, a 47 Em 2014 o “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos cinco continentes”, proposto no ano anterior, se concretizou em uma semana de Oficina de produção de “Jogos do Mundo” na Sala das Crianças; o Projeto também recebeu a proposta de atividade “Oficina de reconhecimento de plantas da horta”, feita por alunos/as integrantes do projeto de pesquisa, ensino e extensão “Criando Terra do IEE” e a oficina foi realizada no dia 28 de setembro de 2014. No Projeto, foram produzidos o Pôster apresentado no 4º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão, o Convite da Festa das Crianças (18 de outubro de 2014) e o Bilhete da Festa do Pijama (12 de dezembro de 2014). Além desses documentos, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e os Ofícios. 48 Em 2015 foi publicado o artigo “Coseas largou a Sala das Crianças” na 4ª edição do Canalha, Jornal da AMORCRUSP, contendo informações incorretas sobre o Projeto; e na edição seguinte foi publicada a carta-resposta do Projeto corrigindo as informações errôneas antes veiculadas. Ainda nesse ano houve uma demanda da AMORCRUSP e do Grupo de Mães sem Creche, para que o Projeto cedesse seu espaço durante o dia para servir como creche para o grupo solicitante; depois de várias discussões, o grupo de educadores/as, a co-coordenadora e a professora coordenadora chegaram à conclusão de que não era possível atender a essa solicitação e redigiu uma carta-resposta aos solicitantes, explicando os motivos pelos quais a Salinha não pode ser usada como creche. Nesse ano também foi produzido no Projeto o Pôster apresentado no 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão, o convite da Festa Junina da Salinha (07 de julho de 2015), o bilhete referente à Festa do Pijama (10 de julho de 2015), o convite da Festa das Crianças (24 de outubro de 2015), o novo folheto de divulgação da Salinha e o bilhete avisando os pais da expansão do horário de funcionamento do Projeto. Além desses documentos, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e os Ofícios.

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ampliação do horário de atendimento diário, em meia hora, além de mudança

no revezamento de educadores/as durante a semana, permitindo mais tempo

para planejamento, organização, preparação e avaliação coletiva das

atividades. Isso também garantiu que a Salinha permanecesse aberta mesmo

quando algum/a educador/a faltasse.

No fim desse ano de 2015, foi feito um pedido de aumento no valor da

doação mensal feita pela AMORCRUSP, que, em fevereiro de 2016, passou

para R$ 600,00 e têm permitido a aquisição de livros, brinquedos, materiais

específicos mais caros e de melhor qualidade, alguns para a manutenção do

espaço da Salinha, além de permitir ampliar, ousar e diversificar mais as

atividades e atender às demandas das atividades preferidas feitas pelas

crianças, como as de culinária, por exemplo.

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7. UMA TRAJETÓRIA EM DEFESA DA INFÂNCIA

Para analisar a trajetória construída pelo Projeto pesquisado, no sentido

de seu caminho em defesa da infância, partirei de três documentos oficiais que

dizem respeito aos direitos das crianças e da infância, destacando neles os

aspectos em comum aos princípios, concepções e atividades propostas no

Projeto. São estes: o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL 2012), A

Convenção sobre os Direitos da Criança (UNICEF, 1989) e a Declaração dos

Direitos da Criança (ONU 1959) – além das concepções teóricas norteadoras

do Projeto e desta pesquisa, no campo da Pedagogia da infância.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)49 é uma lei que dispõe

sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. A lei considera criança a

pessoa de 0 a 12 anos e a/o adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos e, em

casos excepcionais, considera ainda adolescente as pessoas entre 18 e 24

anos. Vale destacar que todas as informações a seguir encontram-se no Livro I

— Parte Geral do documento. As crianças que frequentam o Projeto estão

dentro dessa faixa etária (de 2 a 12 anos), embora este não tenha um limite

delimitado e fechado quanto à idade das crianças para sua participação,

principalmente, nas atividades aos finais de semana e nas festas, por exemplo,

com a presença de bebês menores de dois anos (acompanhados de seus/suas

responsáveis) e de crianças/jovens maiores de 12 anos.

No Título I — “das Disposições Preliminares”, deste mesmo documento,

acima citado, o artigo 4º prevê que “É dever da família, da comunidade, da

sociedade em geral e do poder público assegurar , com absoluta prioridade, a

efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer , à profissionalização, à cultura , à dignidade,

ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” . Esse

dever, portanto, também nos cabe, especialmente, por sermos estudantes de

uma Universidade Pública e bolsistas de um projeto de cultura e extensão, que

tem como um de seus objetivos, retornar à sociedade seu investimento (na

forma de impostos), na construção de conhecimentos e na melhoria das

condições de vida.

49 O ECA foi criado em 13 de julho de 1990 e é referência mundial como legislação destinada a proteger a infância e a juventude.

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No Título II — dos Direitos Fundamentais, Capítulo II: “do Direito à

Liberdade, ao Respeito e à Dignidade”, o artigo 16 prevê que “o direito à

liberdade compreende os seguintes aspectos: I — ir, vir e estar nos

logradouros públicos e espaços comunitários (...); II — opinião e

expressão ; (...) IV — brincar, praticar esportes e divertir-se ; V — participar

da vida familiar e comunitária , sem discriminação ; (...)”. A Universidade é

um espaço público e o CRUSP um espaço comunitário dentro da mesma. O

Projeto é o espaço para as crianças dentro do CRUSP; a Salinha garante um

espaço-tempo no qual as crianças podem se expressar, brincar e se divertir.

Nas atividades externas, garante o direito de poder ir e vir pelo CRUSP, pela

Universidade e fora dela, interagir com a comunidade com segurança e

acompanhadas por educadores/as.

No Título II, Capítulo IV — “do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte

e ao Lazer”, o artigo 53 prevê que “A criança e o adolescente têm direito à

educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua p essoa (...),

assegurando-lhes: (...) II — direito de ser respeitado por seus educadores ;

(...)”. No artigo 58, que “No processo educacional respeitar-se-ão os

valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da

criança e do adolescente, garantindo-se a estes a l iberdade da criação e o

acesso às fontes de cultura ”.

Na Salinha, as relações acontecem num sentido horizontal, em que as

mesmas regras de convívio, de conservação dos materiais etc., servem para

crianças e educadores/as, priorizando o respeito mutuo. Também são

respeitadas e valorizadas todas as culturas e diversidades (de classe social, de

gênero, de idade e de geração, de raça e etnia etc.) apresentadas e presentes,

que revelam uma infância plural, diversas infâncias (SAYÃO 2002).

No Título III — Da Prevenção — Capítulo I: “Disposições Gerais”, o

artigo 71 prevê que “A criança e o adolescente têm direito a informação,

cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que

respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. As

atividades no Projeto também são realizadas com sentido de conversar, discutir

e informar, sem omitir ou enganar, todos os assuntos que forem propostos

pelos/as educadores/as ou demandados pelas crianças; o mesmo pode ser dito

a respeito de atividades culturais, de lazer, esportivas, ou simplesmente

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divertidas, uma vez que as brincadeiras, forma peculiar de as crianças

conhecerem o mundo e de tornarem-se crianças, têm como essência o prazer

e o divertimento (BENJAMIN 1984) e um fim em si mesmas (PRADO 2009).

A Convenção sobre os Direitos das Crianças50 é um tratado que prevê a

proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo. Na Parte I — artigo I

define criança como todo ser humano com menos de 18 anos e no artigo II,

que os direitos previstos no tratado devem ser respeitados e garantidos a todas

as crianças, “independentemente de (...) raça, cor, sexo, língua, religião,

opinião política (...), ou da sua origem nacional, étnica ou social , fortuna,

incapacidade, nascimento ou qualquer outra situação”. A Salinha é um retrato

da diversidade do CRUSP; há crianças de todas as idades, de diferentes

países, com diferentes culturas, crenças, línguas etc., e o trabalho dos/as

educadores/as busca garantir que todas essas diferenças sejam respeitadas e

que todas as crianças possam participar igualmente das atividades.

No seu Artigo 12 - 1. Os Estados Partes garantem à criança com

capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião

sobre as questões que lhe respeitem , sendo devidamente tomadas em

consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade.

E, no Artigo 13 - 1. A criança tem direito à liberdade de expressão . Este

direito compreende a liberdade de procurar, receber e expandir

informações e ideias de toda a espécie , sem considerações de fronteiras,

sob forma oral, escrita, impressa ou artística ou p or qualquer outro meio

à escolha da criança .

Como as próprias crianças costumam dizer: “—A Salinha é das

crianças”, e elas são livres para decidir com que, com quem e de que querem

brincar, se aceitam, ou não, as atividades propostas pelos/as educadores/as,

podendo ainda propor suas próprias atividades ou discussões. No caso das

crianças menores, os gestos e a movimentação, os sons e as tentativas de

fala, além das expressões faciais, são observados e levados em consideração

durante as atividades, pois são formas legítimas de comunicação e de

reconhecimento do que elas são e de suas preferências – revelando uma

perspectiva muito distinta das formas de educação formal cerceadoras dos

50 A Convenção sobre os Direitos das Crianças foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989.

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corpos das crianças, que se estabelecem nos seus espaços escolares, como

denuncia Sayão (2008).

Ainda no mesmo documento acima, no Artigo 29 — 1. (...) a educação

da criança deve destinar-se a: a) Promover o desenvolvimento da

personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicos na

medida das suas potencialidades ; b) Inculcar na criança o respeito pelos

direitos do homem e liberdades fundamentais e pelos princípios consagrados

na Carta das Nações Unidas; c) Inculcar na criança o respeito pelos pais,

pela sua identidade cultural, língua e valores, pel os valores nacionais do

país em que vive, do país de origem e pelas civiliz ações diferentes da sua ;

d) Preparar a criança para (...) a vida numa sociedade livre, num espírito de

compreensão, paz, tolerância, igualdade entre os se xos e de amizade

entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais e r eligiosos e com

pessoas de origem indígena ; e) Promover o respeito da criança pelo meio

ambiente.

Há uma grande diversidade de crianças no CRUSP, de diferentes etnias

e idiomas, dentro das suas cem linguagens (EDWARDS et al 1999); quando

isso apresenta alguma dificuldade ou estranheza para as crianças, os/as

educadores/as mediam as situações tanto no sentido de entender e respeitar

as condições da criança que chega, como de ensinar as outras crianças a

respeitar e valorizar as particularidades da criança nova, incentivando a

curiosidade em aprender sobre essa outra cultura, em promover a troca de

experiências, o aprendizado de novas brincadeiras e a amizade entre as

crianças.

Artigo 31 - 1. Os Estados Partes reconhecem à criança o direito ao

repouso e aos tempos livres, o direito de participa r em jogos e atividades

recreativas próprias da sua idade e de participar l ivremente na vida

cultural e artística . - 2. Os Estados Partes respeitam e promovem o direito da

criança de participar plenamente na vida cultural e artística e encorajam a

organização, em seu benefício, de formas adequadas de tempos livres e de

atividades recreativas, artísticas e culturais, em condições de igualdade .

Essa é basicamente a função do Projeto: garantir espaços-tempos livres para

as crianças serem criança, diferentes da escola ou da casa, para descansar,

brincar, participar, ou não, das atividades, etc.

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A Declaração dos Direitos da Criança51 é constituída por 10 princípios,

que pretendem garantir que as crianças vivam com dignidade. Dentre esses

princípios o trabalho realizado na Sala das Crianças está em total consonância

com, pelo menos, cinco deles: Princípio 1º – “Toda criança será beneficiada por

esses direitos, sem nenhuma discriminação por raça, cor, sexo, língua,

religião, país de origem, classe social ou riqueza . (...).”. Princípio 2º – “Toda

criança tem o direito a proteção especial, e a todas as facilidades e

oportunidades para se desenvolver plenamente, com l iberdade e

dignidade .”. O Projeto cria essa oportunidade ao propiciar que as crianças

brinquem e se desenvolvam com segurança, num local (CRUSP) que não está

preparado para elas.

Princípio 4º – “(...) Toda criança também tem direito a alimentação,

habitação, recreação e assistência médica!”. O Projeto busca garantir a

recreação das crianças, portanto, tanto nos momentos livres, como durante as

atividades dirigidas. Princípio 7º – “Toda criança tem direito de receber

educação primária gratuita, e também de qualidade, para que possa ter

oportunidades iguais para desenvolver suas habilidades. E como brincar

também é um jeito gostoso de aprender, as crianças também têm todo o

direito de brincar e se divertir !”. Ainda que seja um espaço de educação não

formal, com atividades que objetivam a diversão, assim como no 7º princípio, o

Projeto fundamenta-se na brincadeira como forma de aprender e de ensinar, ao

mesmo tempo, entre as crianças, entre elas e os/as educadores/as, e entre

os/as próprios/as educadores/as.

Princípio 10º – “A criança deverá ser protegida contra qualquer tipo

de preconceito , seja de raça, religião ou posição social. Toda criança deverá

crescer em um ambiente de compreensão, tolerância e amizade, de paz e

de fraternidade universal ”. Os/as educadores/as trabalham no sentido de que

as crianças não sofram, nem reproduzam, nenhum tipo de preconceito, ao

contrário, que busquem ser compreensivas e aprendam com as diferenças.

51 A Declaração dos Direitos da Criança, aprovada nem 20 de novembro de 1959 na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi um documento criado a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com um foco adaptado para as questões que envolvem as crianças.

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Para Hannah Arendt (1978)52, em seu texto A crise na educação, a

educação está diretamente relacionada à natalidade; os indivíduos nascem

para o/no mundo e o professor tem a função de mediador entre o mundo que já

existe e a nova geração que acabou de chegar. Segundo a autora, a crise na

educação tem origem em causas gerais que a transcendem, como a crise do

mundo moderno, a incapacidade da escola de ensinar às crianças e jovens a

pensar e a perda da autoridade das famílias e professores/as. Para ela, a

função da escola é de ensinar às crianças o funcionamento deste mundo

moderno e provocá-las a mudá-lo.

O texto de apresentação do documento “Sala das crianças do CRUSP:

coletânea de projetos 2008”, escrito pela fundadora e primeira coordenadora do

Projeto, Lia Raquel Amaral Teixeira, começa com a seguinte citação da

Hannah Arendt:

A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum (ARENDT, 1978, p. 247).

Não por acaso, essa citação foi escolhida, pois sistematiza as

concepções e propostas educativas do Projeto, desde seu início. Em diversas

vezes, nas semanas de formação dos/as bolsistas, a pergunta-chave feita era

sempre esta: “O que você acha negativo não fazer com uma criança ou o que

você acha que toda criança deveria poder fazer?”. Além de crucial para a

entrevista, a resposta para essa pergunta, muitas vezes, é o que norteia o

trabalho do/a candidato/a selecionado/a quando este/a passa a ser educador/a.

O ponto-chave aqui, porém, é que esta pergunta é precedida por uma

breve exposição/conceituação do tipo de trabalho desenvolvido no Projeto, que

52 Hannah Arendt, filósofa alemã do século 20, foi uma das mais importantes pensadoras políticas de seu período, mas sua obra se estendeu até tocar outras áreas como a educação.

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costumo chamar de “história do amor” e que tentarei relatar da mesma forma

que costumo contar aos/às candidatos/as durante a entrevista:

“Antes de fazer a próxima pergunta/antes que vocês me respondam

essa pergunta, vou contar para vocês sobre a história do amor. Todos nós

temos alguma coisa, algum assunto, um hobby ou outra atividade que amamos

e, às vezes, nem conseguimos explicar o porquê. Geralmente, quem trabalha

ou quer trabalhar com educação também ama muito as crianças, tanto que

quer conviver e até trabalhar com elas. E é nesse amor pelas crianças e por

uma construção do mundo que se baseia o nosso trabalho aqui na Salinha.

Não existe um roteiro de atividades ou um projeto político pedagógico a ser

seguido. Nós ensinamos as coisas que amamos e que achamos importante

serem mantidas, para essas pessoinhas que estão chegando e com quem nós

queremos viver e compartilhar essas coisas, simplesmente por achá-las

importantes ou legais.”

Essa “história do amor” nada mais é que uma interpretação daquela

citação da Hannah Arendt (1978). Na hora da entrevista o intuito é gerar uma

breve reflexão nos/as candidatos/as sobre o que querem preservar ou

transformar no mundo, junto às crianças e, assim, responder de forma mais

pessoal e profunda à questão proposta: “O que você considera negativo não

fazer com uma criança? O que você acha que toda criança deveria poder

fazer?”.

Em curto prazo, a resposta para essa pergunta tende a se tornar a

primeira atividade especial desse/a novo/a educador/a, além de se tornar

especial para as crianças — já que costuma ser uma atividade mais longa e de

maior impacto e que, por meio dela, as crianças conhecem o/a “tio/a novo/a” e

vice-versa. É especial para o/a educador/a, pois concretiza-se nela a realização

de algo que ele/ela considera importante ser apresentado, conhecido,

experimentado e compartilhado com as crianças. No meu caso, e em tantos

outros, minha resposta — “Toda criança deveria poder dormir fora de casa” —

concretizou-se na minha primeira atividade especial, a 1ª Festa do Pijama.

Essa atividade foi tão especial para as crianças e para mim que, a partir de

então, passou a integrar o Calendário anual de atividades da Salinha.

Em longo prazo, a reflexão sobre essa questão pode nortear todos os

projetos de atividade desse/a educador/a (ou não, o que também não é um

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problema). Novamente, no meu caso, como em tantos outros, foi isso o que

aconteceu. Meu amor pela Literatura (motivo pelo qual ingressei no curso de

Letras) e o desejo de transmitir isso que considero tão importante às crianças

embasou todo o meu trabalho nos dois anos em que fui educadora bolsista do

Projeto, nos quais desenvolvi um projeto de Literatura e Brincadeira, com

atividades ligadas a Literatura Infantil e adaptações cinematográficas, mitologia

grega e contação de história.

Outros/as educadores/as também vincularam as suas atividades aos

assuntos do seu curso de origem (como os/as alunos/as da Geografia que

fizeram atividades de caça ao tesouro, mapeamento do CRUSP, escavação de

“fósseis” e reconhecimentos das árvores etc.), e sobre esse aspecto, a

fundadora havia escrito na Coletânea de projetos 2008: “os monitores têm a

oportunidade de aplicar os saberes adquiridos em seu curso de graduação,

escolhendo (livre e responsavelmente) os conteúdos a serem abordados e

experimentando diferentes metodologias de ensino”.

Por fim, temos ainda os casos de educadores/as que se dedicaram a

pesquisar e aprender sobre temas distintos de sua área acadêmica e/ou de sua

atuação profissional e que planejaram atividades que não puderam

aprenderam ou realizar na infância (como mágicas, teatros, danças, guerras de

lama, de bexiga com água etc.), o que também constitui uma experiência

formativa e enriquecedora do ponto de vista profissional, formativo e humano,

indispensável no trabalho educativo com crianças.

Em O enigma da infância, Jorge Larrosa (1998) argumenta que não

sabemos nada sobre as crianças, ao mesmo tempo em que “sabemos” o que

elas sentem, querem e precisam e, por isso, produzimos centenas de coisas

para elas. Acreditamos saber o que é a criança e a infância, mas sabemos

apenas “mais ou menos” porque esses conceitos nos ultrapassam e nos

escapam. Nas palavras do próprio autor “a infância, entendida como um outro,

não é o que já sabemos, mas tampouco é o que ainda não sabemos” (p. 184).

O mesmo autor aproxima-se de Arendt (1978) quando trata da criança

como um novo ser que chega ao mundo e traz a seguinte citação da autora em

seu texto: “a educação tem a ver com o nascimento, com o fato de que

constantemente nascem seres humanos no mundo”, ela “é o modo como as

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pessoas, as instituições, respondem à chegada daqueles que nascem” (p.

186).

Larrosa (1998) também questiona o quanto os adultos pensam e

produzem para as crianças, mas não do ponto de vista delas. Ele apresenta a

seguinte questão: “E, se a educação é o modo de receber aquele que nasce,

não seria o caso de, então, deixar acontecer a verdade que traz consigo aquele

que nasce?” (p. 196), e em seguida, no final de seu trabalho, propõe “um

autêntico cara a cara com o enigma, uma verdadeira experiência, um encontro

com o estranho e com o desconhecido, o qual não pode ser reconhecido nem

apropriado” (p. 197).

Existe um esforço por parte dos/as educadores/as (que, na maioria das

vezes, funciona) em recuperar sua dimensão brincante, recordar a infância e

exercitar o olhar infantil. Esse exercício, provocado nas reuniões de formação e

coordenação, é feito durante o planejamento de atividades e revela que quanto

mais viva essa dimensão brincante estiver, maiores as chances das atividades

com as crianças serem bem-sucedidas.

Os materiais adquiridos também são pensados em função das

atividades com as crianças ou da demanda das próprias crianças e, em ambos

os casos, adquiridos conforme a verba disponível ou doados. É o caso de

materiais como tinta de rosto, tinta guache, bexigas, cola quente e glitter, além

dos itens para as atividades de culinária, ou ainda, daqueles materiais de uso

frequente.

A mistura etária é uma das características mais marcantes da Sala das

Crianças. Como consta em documentos como os Folhetos de divulgação das

vagas para educador/a bolsista, nos projetos inscritos no Programa de Bolsa

Trabalho e em alguns outros documentos, o Projeto atende crianças de 2 a 12

anos e recebe a visitas de bebês de 0 a 2, acompanhados/as pela mãe, pai ou

responsável. Na prática, já tivemos crianças que frequentaram a Salinha até os

14 anos, pois não existe de fato uma restrição etária por parte do Projeto; as

crianças podem e devem vir enquanto gostarem das atividades e se sentirem

crianças, independente de terem mais ou menos de 12 anos.

Além de ser uma das características mais interessantes do Projeto, essa

mistura de idades vem provando as possibilidades infinitas de brincadeiras e

propostas com crianças de idades diferentes. Para isso, basta que, como

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argumenta Prado, o planejamento de atividade e a prática educativa seja

pensada de forma:

[...] que leve em consideração a condição infantil e a capacidade das crianças menores e maiores, quando juntas, construírem uma relação de referência umas para as outras, no sentido de demonstrar, disputar, sugerir, negociar, convidar, trocar e compartilhar experiências e brincadeiras. Nestes momentos, menores e maiores estabelecem relações mais solidárias e cooperativas do que quando estão separadas (PRADO, 2006, p. 154).

Sobre essa característica do Projeto, a fundadora escreve no documento

“Sala das crianças do CRUSP: coletânea de projetos 2008”, que a seleção de

temas e metodologias para as atividades é complexa e exigente por conta da

grande diferença de idade entre as crianças do Projeto (entre 2 e 12 anos), que

formam um único grupo. Ainda assim, essa condição não é vista como um

empecilho, mas como um estímulo para que os/as educadores/as inventem

novas formas de educar.

A mistura entre as crianças de idades diferentes pode ser tão significativa para as crianças, para as profissionais docentes e para a sociedade de forma mais ampla, quanto já é a convivência entre crianças da mesma idade — experimentando vivências mais e menos conflitivas, mais e menos cooperativas, tendo a oportunidade de conviver com parceiros da mesma idade e também de idades diferentes (PRADO, 2006, p. 154).

Quanto às atividades propostas pelas próprias crianças, elas podem

acontecer todos os dias no horário livre ou podem ser planejadas junto aos/às

educadores/as. As crianças também podem propor outras atividades e

brincadeiras em detrimento da atividade planejada pelos/as educadores/as, já

que sabem melhor do que ninguém o que querem ou não fazer, desde que se

organizem e decidam em grupo, contando com o respeito e apoio de todos/as.

A esse respeito, Prado acredita em uma Educação:

[...] que possibilite às professoras aprender com as crianças, inventando, transgredindo, lidando com o inusitado e com o imprevisto, num espaço em que ambas possam expor seus sentimentos, pensamentos, atitudes, propõe-se como uma

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educação anti-idadista e interetária, que não priorize uma determinada idade em função de outras e que permita composições múltiplas entre as crianças de idades iguais e diferentes, não apenas na divisão dos espaços e das atividades educativas, mas efetivamente compartilhando-as entre si espaços e tempos. (PRADO, 2006, p. 158)

O convívio entre crianças de diferentes idades não é a única

especificidade do Projeto. Outro ponto que chama a atenção é a pluralidade

das áreas de formação do grupo de educadores/as. Segundo a fundadora do

Projeto, diferente de outros projetos educativos, a proposta da Salinha não é de

que as atividades sejam desenvolvidas por especialistas em Educação, e sim,

por estudiosos/as que buscam sólida formação em suas áreas do

conhecimento e com profundo interesse na tarefa docente.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Meu envolvimento com o Projeto Crianças do CRUSP, nos últimos cinco

anos, observando e constatando sua importância para todos/as os/as que dele

participam, moveu-me a querer descobrir, compreender analiticamente e contar

seu percurso nesses 13 anos de história, da qual eu também participei e

participo. Além disso, era importante levantar, identificar e organizar toda a

documentação produzida nesses anos de Projeto para conhecer, registrar e

problematizar sua história, trajetória e propostas, além de concretizar outro

objetivo do Projeto, desde 2009, que é o de incentivar e promover o

desenvolvimento de pesquisas científicas.

Para tanto, pretendi investigar a história do referido Projeto, desde a sua

fundação até os dias atuais, por meio de uma pesquisa qualitativa em que os

dados foram coletados através de análise documental, chegando a um

mapeamento analítico de sua trajetória em defesa da infância. Esses materiais

não estavam organizados e muito pouco se sabia sobre eles. Identificar,

classificar e organizar esses documentos, cuja dimensão e volume, a princípio,

eram desconhecidos, foi mais difícil e tomou muito mais tempo que o

planejado.

Foi um trabalho árduo de descobertas e redescobertas, de reflexão,

concentração, criação de sentido e categorias, de separação, categorização

organização e reorganização e exigiu muita energia e dedicação. Entretanto, foi

um processo necessário tanto para esta pesquisa como para outras que virão,

além de para o próprio Projeto, no sentido de dar a conhecer e de preservar a

sua história.

Essa primeira parte foi seguida pela descrição e análise dos dados

obtidos por meio desses materiais (Livros de Registro, Fichas de Cadastro,

Relatórios, Bilhetes, Pôsteres, Publicações etc.), além de meus próprios

registros e experiências como bolsista do mesmo (por 5 anos). O enorme

volume de documentos e dados levantados nesse primeiro mapeamento tornou

a presente pesquisa muito mais descritiva do que analítica e seu caminho foi

alterando-se conforme as descobertas foram acontecendo.

Dessa forma, esta pesquisa preconizou a descrição dos materiais e

dados levantados, pela extensão temporal e volume de material encontrado e

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não consegui chegar ao ponto que pretendia, inicialmente, mas deixei os

documentos bem organizados e acessíveis, tanto para serem utilizados,

consultados e servirem de referência para os/as educadores/as e envolvidos/as

no Projeto, como para futuros/as pesquisadores/as que quiserem fazer novas

pesquisas sobre ele, como eu pretendo.

Com a presente pesquisa de Iniciação Científica foi possível concluir

que, desde sua criação em 2003, o Projeto tem se consolidado como um

espaço de educação não formal que passou por diversas mudanças53 , no

decorrer de seus 13 anos de existência, mas que manteve seu ideal original de

ser um projeto/espaço-tempo em que as crianças pudessem ser crianças,

trilhando uma trajetória em defesa da infância.

Em 2009, o Projeto tornou-se parte do Programa Aprender com Cultura

e Extensão e, desde então, ele também tem se consolidado como um projeto

de formação acadêmica e humana, em cultura e extensão universitária. Até o

final de 2015, a Sala das Crianças já havia beneficiado mais de 95 crianças

(além de suas famílias), 53 educadores/as, 34 voluntários/as e 16

estagiários/as e esses números continuam a crescer.

Como já mencionado na Metodologia, o Projeto Crianças do CRUSP

continuará sendo meu objeto de estudo no mestrado, em 2017, junto à

FEUSP/SP, quando pretendo me aprofundar no estudo das atividades

realizadas no dia a dia do referido Projeto, durante esses 13 anos. Para isso,

planejo, por enquanto, ampliar e aprofundar minhas questões de pesquisa,

meu levantamento e estudo bibliográfico no campo da infância e da educação

não formal, dentre outros; recuperar, organizar, analisar e criar um banco de

dados com as centenas de fotografias e vídeos produzidos durante todos os

anos do Projeto; analisar os 3 Livros de Registro, que cobrem o período de

2005 a 2015; investigar, por meio de entrevistas, os 2 anos iniciais do Projeto e

outras lacunas temporais e de informações que os registros não cobrirem e

analisar os dados levantados conjuntamente.

53 Algumas dessas mudanças foram: defasagem no valor das bolsas em relação ao salário mínimo; aumento do número de crianças que frequenta o Projeto; aumento do número de educadores/as bolsistas, voluntários/as e estagiários/as envolvidas/os; expansão dos horários de funcionamento; diversificação constante das atividades e aprofundamento e formação teórica, de produção, intercâmbio e divulgação acadêmica.

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Por fim, acredito que conhecer e entender melhor o Projeto pode trazer

benefícios para o próprio e possibilitar a criação de outros projetos como esse,

além de motivar outras pesquisas como esta.

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REFERÊNCIAS

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SAYÃO, Deborah T. Cabeças e corpos, adultos e crianças: cadê o movimento e quem separou tudo isso? Revista Eletrônica de Educação . São Carlos/SP: UFSCar, v.2, n.2: 92-105, nov. 2008. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br. Acesso em 10.07.2015.

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APENDICE: Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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ANEXOS

Anexo 1 – Certificado de apresentação de trabalho n o 24º SIICUSP

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Anexo 2 – Folheto de Divulgação das vagas para moni tor/a bolsista de 2004/2005

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Anexo 3 – Folheto de Divulgação das vagas para moni tor/a bolsista de 2006