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Programa Institucional/FEUSP (s/bolsa, vigência 2016)
Faculdade de Educação - Universidade de São Paulo
O Projeto Crianças do CRUSP: mapeamento histórico e documental de uma trajetória
em defesa da infância.
Aluno: Muriel Carolina Magurno Nº USP: 6835621
Assinatura: _____________________________________
Orientadora: Profª Drª Patrícia Dias Prado
Assinatura: _____________________________________
São Paulo
2016
AGRADECIMENTOS
Sou imensamente grata à Lia Raque Amaral Teixeira, por ter fundado, coordenado e acompanhado o Projeto Crianças do CRUSP até hoje; participar desse Projeto foi a melhor coisa que me aconteceu na Universidade. Agradeço a Leonel Parente Filho e Magno Rodrigues Faria por todo o aprendizado e pelas formações incríveis; e a Eric Ito por ter me ensinado que dá para fazer qualquer coisa virar atividade.
Agradeço também à Profa. Dra. Patrícia Dias Prado por toda a dedicação ao Projeto desde 2009, pela confiança e liberdade dada ao meu trabalho na Salinha durante esses 5 anos como educadora e co-coordenadora, pelas reuniões e respostas de madrugada, por toda a orientação e paciência durante esse projeto de pesquisa de iniciação científica e por continuar sendo minha orientadora daqui em diante, no mestrado.
Por fim, agradeço a todos/as os/as educadores/as que dedicaram seu tempo e esforço ao Projeto e colocaram seu coração no trabalho com as crianças. E agradeço às crianças do CRUSP por terem me ensinado tantas coisas nesses 5 anos, inclusive, que estudar e trabalhar com educação é o que eu quero fazer para o resto da vida.
O Projeto Crianças do CRUSP: mapeamento histórico e documental de uma trajetória em defesa da infância.
Aluno: Muriel Carolina Magurno Nº USP 6835621
Programa : Institucional FEUSP (sem bolsa)
Orientador: Profª Drª Patrícia Dias Prado (FEUSP/SP)
RESUMO
Esta pesquisa de Iniciação Científica teve como objeto de estudo o
Projeto Crianças do CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade de São
Paulo/SP), projeto de educação não formal que visa ao desenvolvimento de
propostas educativas, lúdicas e artísticas, com eixo nas brincadeiras (livres e
dirigidas) realizadas com crianças moradoras do CRUSP — cerca de 30
meninas e meninos, de 2 a 12 anos (além de filhos/as de alunos/as e
funcionários/as da USP), com propostas elaboradas por um grupo selecionado
de estudantes bolsistas de diferentes cursos da Universidade, desenvolvidas
semanalmente e aos finais de semana e considerando as necessidades das
mães e pais estudantes e das próprias crianças. A presente pesquisa realizou
um primeiro levantamento, seleção, organização e análise dos diversos
documentos e materiais produzidos no Projeto (Livros de Registro, Fichas de
Cadastro, Relatórios, Bilhetes, Pôsteres, Publicações, além de meus próprios
registros e experiências como bolsista deste por 5 anos), analisando sua
trajetória até o momento atual, reconstituindo sua origem, natureza, objetivos e
problematizando seus alcances e limites para a consolidação de
espaços/tempos lúdicos de defesa da infância e de formação acadêmica e
humana em cultura e extensão universitária.
Palavras-chave: Projeto Crianças do CRUSP; Educação não formal; direito à
infância.
Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1
1. PROBLEMAS E JUSTIFICATIVAS .............................................................................................. 4
2. OBJETIVOS ............................................................................................................................. 6
3. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 7
4. LEVANTAMENTO, IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO, CATEGORIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS
MATERIAIS ..................................................................................................................................... 9
5. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS E ANÁLISE DOS DADOS .......................................................... 12
5.1 Caderno de Frequência e Registro .............................................................................. 12
5.2 Fichas de Cadastro das crianças .................................................................................. 16
5.3 Comprovantes de Compra e Notas Fiscais .................................................................. 17
1.4 Livro de Empréstimos de livros e brinquedos ............................................................. 20
5.5 Livros de Registro ........................................................................................................ 22
5.6 Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças .................................................... 34
5.7 Jornais contendo artigos sobre o Projeto ................................................................... 35
5.8 Documentos dos Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista .................................. 37
5.9 Planejamento de Atividades de Ensino ....................................................................... 42
5.10 Relatórios de Bolsa e Trabalhos Acadêmicos sobre o Projeto .................................... 44
5.11 Documentos da viagem para a praia ........................................................................... 48
5.12 Ofícios .......................................................................................................................... 50
5.13 Pôsteres do Projeto apresentados em eventos acadêmicos ...................................... 53
5.14 Calendários Anuais de Atividades do Projeto ............................................................. 54
5.15 Proposta e Regras dos “Jogos do Mundo” .................................................................. 55
5.16 Outros Documentos .................................................................................................... 56
6. O PROJETO CRIANÇAS DO CRUSP: MAPEAMENTO HISTÓRICO E DOCUMENTAL ............... 61
7. UMA TRAJETÓRIA EM DEFESA DA INFÂNCIA ...................................................................... 68
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 82
APENDICE: Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 84
ANEXOS ....................................................................................................................................... 85
Anexo 1 – Certificado de apresentação de trabalho no 24º SIICUSP ...................................... 85
Anexo 2 – Folheto de Divulgação das vagas para monitor/a bolsista de 2004/2005 ............. 86
Anexo 3 – Folheto de Divulgação das vagas para monitor/a bolsista de 2006....................... 87
1
INTRODUÇÃO
Para explicar meu envolvimento com o Projeto Crianças do CRUSP,
farei, inicialmente, minha apresentação e um relato da minha trajetória
acadêmica. Meu nome é Muriel Carolina Magurno, tenho 26 anos e sou de
João Ramalho, no interior do estado de São Paulo. Em 2009, ingressei na
USP, no curso de Letras. Concluí o Bacharelado em Letras-Português, em
fevereiro de 2016 e, atualmente, estou terminando a licenciatura.
Desde o meu primeiro ano de graduação, sempre me mantive com
bolsas e auxílios da Universidade, começando pela Bolsa FUVEST, para
alunos/as de escolas públicas que tiveram um bom desempenho no vestibular
em 2009, e, logo em seguida, pela Bolsa Santander de Apoio Socioeconômico,
em 2010.
Em julho de 2011, me inscrevi em 2 bolsas da FEUSP pelo Programa
Aprender com Cultura e Extensão, mas fui chamada (por engano) para fazer a
entrevista no Projeto Crianças do CRUSP e contra todas as possibilidades
(pois o coletivo de estudantes 1 responsáveis pelo Projeto desejava um
educador2), me tornei educadora bolsista do Projeto. Na época, um dos ex-
educadores, que fazia parte deste coletivo, discutia conosco o Livro de
Registro, organizava as reuniões do grupo de trabalho (então composto por
quatro educadoras) e orientava os planejamentos das atividades e a resolução
de problemas cotidianos.
Nossas propostas com as crianças deveriam partir daquilo que mais
amávamos e acreditávamos ser importante compartilhar. Eu, então aluna de
Letras grego-português, cursando Literatura Infantil I e apaixonada por
Literatura em geral, desenvolvi um projeto de Literatura e brincadeira, com
atividades ligadas à Literatura Infantil e adaptações cinematográficas, mitologia
grega e contação de histórias. Além do imenso prazer em propor o que eu
gostava com as crianças, o desenvolvimento do projeto e a preparação das
1 Grupo formado pela fundadora e outros três ex-educadores/as, que geria o Projeto desde o início e, a partir de 2009, em conjunto com a Profa. Dra. Patrícia Dias Prado. 2 O coletivo já havia selecionado 3 educadoras mulheres e, para que houvesse diversidade, desejava que houvesse também um educador homem.
2
minhas atividades possibilitaram o aprofundamento de meus estudos nessas
áreas acadêmicas e pude vincular o que eu estudava com minhas propostas e
experiências educativas e formativas no dia a dia do Projeto.
A partir de agosto de 2012, o Projeto funcionou com uma bolsa a menos
e, do grupo de educadores/as de 2011, apenas eu permaneci no ano seguinte.
Além disso, com o afastamento do referido ex-educador, assim como dos/as
demais ex-estudantes do coletivo, acabei me tornando o “elo de ligação” com
os/as novos/as bolsistas e fui assumindo algumas funções de co-coordenação,
organizando, planejando e avaliando as atividades e propostas com os/as
educadores/as e com as crianças, junto à professora coordenadora.
Posteriormente, também realizei entrevistas com novos/as candidatos/as e
acompanhei o planejamento de suas primeiras atividades junto às crianças.
Assim, fui me envolvendo cada vez mais com o Projeto, até que, em
agosto de 2013, conseguimos 5 bolsas, uma a mais que o nosso ideal de
trabalho na época, e eu deixei de ser educadora e me tornei, de fato, co-
coordenadora do Projeto, função que exerço até o momento. Passei a
comentar o Livro de Registro3, fazer reuniões semanais com os/as bolsistas e
com a professora coordenadora, selecionar novos/as bolsistas, acompanhar
suas atividades, organizar o calendário anual de trabalho, redigir documentos e
entrar em contato com as mães e pais, com órgãos da Universidade, como a
Associação de Moradores/as do CRUSP (AMORCRUSP), Zeladoria e
Manutenção do CRUSP, COSEAS/SAS4, Restaurante dos Professores etc.,
quando necessário. Também continuei realizando atividades com a equipe de
educadores/as na semana de atividades especiais e em ocasiões especiais,
além de participar de todas as reuniões de coordenação com a professora
coordenadora e o grupo de bolsistas.
Nesses cinco anos de trabalho no Projeto, muitas coisas aconteceram e
tive o privilégio de poder acompanhar, participar e até promover várias dessas
mudanças. Eu comecei como qualquer educador/a, mas fui me envolvendo
3 O Livro de Registros é o documento onde são registradas as informações diárias do Projeto, como as datas, quem eram os/as educadores/as trabalhando, quais crianças vieram, qual a atividade elaborada/executada, se ela deu certo ou não e quais (possíveis) problemas acorreram na noite/no dia em questão. 4 Antiga Coordenadoria de Assistência Social, atual Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP/SP. Os dois nomes de referem ao mesmo órgão da Universidade e alternarei entre um nome e outro, conforme o período a que estiver me referindo.
3
mais e mais, ao mesmo tempo em que a fundadora e o antigo coletivo foram se
afastando, uns por conta de mudanças de cidade, de um novo emprego,
outros/as por se tornarem mães e pais e outros/as, ainda, por falta de tempo.
Assim, sendo a atual co-coordenadora e o “elo de ligação” entre o
coletivo antigo e o futuro do Projeto, e acreditando na importância desse
Projeto para todos/as que dele participam, senti a necessidade de descobrir e
registrar o que aconteceu nesses 13 anos de sua história, da qual eu também
participo. Além disso, é de extrema importância levantar e organizar toda a
documentação produzida nesses anos na Sala das Crianças5, conhecendo,
preservando e divulgando a sua história e assim realizar outro objetivo do
Projeto, que é promover espaços e tempos para desenvolvimento de
pesquisas.
5 O Projeto Crianças do CRUSP também ficou conhecido como a “Sala das Crianças”, ou carinhosamente, pelas crianças e suas famílias, como “Salinha”, termos que usarei como sinônimos do Projeto, neste trabalho.
4
1. PROBLEMAS E JUSTIFICATIVAS
O Projeto Crianças do CRUSP foi fundado e iniciado em 2003, por um
coletivo de estudantes da Universidade de São Paulo/SP, em parceria com a
AMORCRUSP e a Superintendência de Assistência Social (SAS, antiga
COSEAS); com o passar dos anos, esses/as estudantes foram se graduando e
se distanciando do Projeto que, em 2009, passou a ser coordenado pela Profa.
Dra. Patrícia Dias Prado (FEUSP) e tornou-se parte do Programa Aprender
com Cultura e Extensão da USP/SP. Em agosto de 2013 passei a co-coordenar
o Projeto e, no segundo semestre de 2015, ele se tornou parte do Programa
Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da USP/SP.
Desde sua criação, o Projeto passou por inúmeras mudanças
estruturais, recebeu muitos/as educadores/as e foi frequentado por um grande
número de crianças. Existe uma série de documentos do Projeto, como
registros e anotações, e também são produzidos documentos continuamente
(registros escritos, fotografias, pôsteres etc.), mas que não estavam
organizados para facilitar seu acesso. Sobre a história do Projeto, os/as
educadores/as sabem apenas o que ouviram na entrevista, na apresentação do
Projeto e na semana de formação com o antigo coletivo de educadores/as.
Dessa maneira, corria-se o risco de que parte dessa história se perdesse, caso
não viesse a ser mapeada, organizada, registrada e analisada.
O Projeto promove um espaço de convivência para as crianças
moradoras do CRUSP e de educação não formal através de atividades
educativas (livres e dirigidas) relacionadas às diferentes áreas do
conhecimento e oferece assistência aos pais e mães, alunos/as moradores/as,
em seu período de aulas, estudo ou trabalho. Essas atividades não buscam
somente “entreter as crianças” na ausência de seus responsáveis, o que já se
caracteriza como direito fundamental da infância — a brincadeira com objetivo
de divertir, de tornarem-se crianças (BENJAMIM 1984) e de construírem
história e culturas infantis (FERNANDES 2004, PERROTTI 1990), desde o
nascimento (PRADO 2012) — mas também de promover sua participação num
espaço coletivo e educativo provocador, capaz de ampliar seus conhecimentos
sobre o mundo, formular novas hipóteses, conhecer e ensinar nas relações
5
entre elas e delas com os/as educadores/as, a partir de diferentes perspectivas
(LARROSA 1998) e através de múltiplas linguagens (EDWARDS et al 1999).
Ele tem se consolidado como um importante processo formativo para
os/as estudantes que dele participam, como uma experiência em educação
antes de licenciarem-se, vivenciando plenamente a rotina de um projeto de
educação não formal e desenvolvendo atividades pertinentes ao seu curso de
origem, relacionando e articulando esses conhecimentos com os de outros/as
bolsistas e às questões cotidianas da Sala das Crianças, além de ampliar seus
conhecimentos teóricos em educação por meio das atividades do programa de
formação de educadores/as bolsistas.
Tendo em vista a importância desse Projeto para todos/as que dele
participam, sua singularidade histórica, criado e idealizado por estudantes, com
uma história de mudanças pelas quais passou nesses 13 anos, um primeiro
mapeamento, organização, sistematização e análise dos materiais nele
produzidos, perguntando-lhes o que podem revelar de uma trajetória em defesa
da infância, pode abrir caminhos para aprofundar nossa compreensão sobre as
possibilidades de consolidação de uma educação emancipatória, de crianças e
de adultos?
Para isso, pretendeu-se investigar a história do referido Projeto, desde a
sua fundação, até os dias atuais, fazendo um mapeamento analítico de sua
trajetória a partir das questões: Em 2003, como e por que surgiu o Projeto? A
partir de quais necessidades, concepções e expectativas? Quem foram os/as
idealizadores/as e membros do coletivo de estudantes fundadores/as do
Projeto? E os/as educadores/as bolsistas, estagiários/as, voluntários/as e
crianças? Como eram e são as propostas, as atividades e o funcionamento do
Projeto? Onde, quando, com quem e como elas foram sendo realizadas? Quais
as alterações sofridas no Projeto depois de sua consolidação como um projeto
de cultura e extensão universitária, junto ao Programa Aprender com Cultura e
Extensão da USP, a partir de 2009, e ao Programa Unificado de Bolsas de
Estudo para Estudantes de Graduação da USP, a partir de 2015?
6
2. OBJETIVOS
A presente pesquisa teve por objetivo realizar um primeiro levantamento
da documentação produzida no Projeto Crianças do CRUSP, identificar,
selecionar, categorizar e organizar estes documentos, analisar os dados
obtidos por meio desses materiais e apresentar um breve panorama dos 13
anos de existência do referido Projeto, analisando sua trajetória, reconstituindo
sua origem, natureza, objetivos e problematizando seus alcances e limites para
a consolidação de espaços/tempos lúdicos de defesa da infância e de
formação acadêmica e humana, em cultura e extensão universitária.
7
3. METODOLOGIA
A pesquisa foi do tipo qualitativa e os dados foram coletados através de
análise documental (LUDKE; ANDRÉ 1986). Foi feita a identificação, seleção,
categorização e organização dos diferentes materiais produzidos no Projeto
Crianças do CRUSP, pelos/as bolsistas e crianças (Livros de Registro de
atividades e de Empréstimos de brinquedos e livros, Fichas de Cadastro6 ,
Relatórios de Estágio 7 , Bilhetes de educadores/as aos pais, Pôsteres 8 ,
Publicações9 etc.). Esses materiais não estavam organizados e muito pouco se
sabia sobre eles. Além disso, foram coletados dados através de conversas
informais com os/as educadores/as bolsistas e demais envolvidos/as no
Projeto, com registro posterior em caderno de campo.
Os dados coletados foram analisados de forma articulada à luz das
concepções teóricas norteadoras do Projeto, discutidos nos encontros de
orientação individual e nos encontros coletivos de formação e de coordenação,
do qual participo desde 2011, que compreende a produção recente dos
campos da Pedagogia da Infância e da Educação Infantil, na interface com as
Ciências Sociais, como a Sociologia da Infância e a Antropologia da Criança,
além de documentos oficiais que dizem respeito aos direitos das crianças e da
infância.
A pesquisa de campo foi realizada com o Consentimento Livre e
Esclarecido das/os envolvidas/os (APÊNDICE): Professora coordenadora,
fundadora e educadores/as bolsistas atuais do Projeto, respeitando os
requisitos éticos 10 , tais como: participação voluntária, linguagem clara e
6 A Ficha de Cadastro é um documento preenchido pela mãe ou pai com os dados e informações sobre a criança que frequenta o Projeto e as informações e contato do responsável. 7 Os Relatórios de Estágio são trabalhos acadêmicos finais apresentados em disciplinas de Licenciatura que exigem estágio, como Política e Organização da Educação Básica (POEB) e Psicologia da Educação. 8 Apresentados no 2º, 3º, 4º e 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão da USP, na Virada Científica 2015 da USP e no Workshop: A USP e as Ações para o Desenvolvimento Integral na Primeira Infância, em 2015. 9 As Publicações são artigos escritos sobre o Projeto e publicados em Jornais. 10 Respeitando os Princípios éticos da Universidade de São Paulo, disponível em: http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-4871-de-22-de-outubro-de-2001#c2. Acesso em 05.07.2015.
8
acessível, confidencialidade das informações, privacidade dos sujeitos e
retorno da pesquisa.
A pesquisa também foi apresentada no 24º SIICUSP (Simpósio
Internacional de Iniciação Científica da USP (ANEXO 1), oportunidade recente
que possibilitou novas trocas reflexivas e ampliações conceituais sobre meu
olhar nas análises finais da pesquisa.
Por fim, o Projeto Crianças do CRUSP continuará sendo meu objeto de
estudo no mestrado, aprovado para início em 2017, junto ao Programa de Pós-
Graduação desta Faculdade, sob a mesma orientação, quando pretendo
aprofundar os estudos sobre as atividades realizadas no dia a dia do referido
Projeto, durante esses 13 anos. Para isso, irei analisar os 3 Livros de Registro
e o Caderno de Frequência e Registro, que cobrem o período de 2005 a 2015,
além de centenas de fotografias e vídeos produzidos durante todos os anos do
Projeto, e investigar, por meio de entrevistas, os 2 anos iniciais do Projeto e
outras lacunas temporais que os registros encontrados não documentam.
Acredito que conhecer, compreender e problematizar os processos
educativos e formativos do referido Projeto possa trazer elementos analíticos
fundamentais para a consolidação de espaços/tempos lúdicos de defesa da
infância e de formação acadêmica e humana, em cultura e extensão
universitária, para o próprio Projeto, para a criação de outros projetos como
esse e de outras pesquisas como esta.
9
4. LEVANTAMENTO, IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO, CATEGORIZA ÇÃO
E ORGANIZAÇÃO DOS MATERIAIS
Iniciei a coleta de documentos e materiais na Salinha nos meses de
agosto e setembro de 2015. Ao final, havia recolhido 6 cadernos-livros, 10
pastas e 6 pacotes plásticos com documentos e Notas Fiscais. Desse primeiro
levantamento fiz uma identificação desses materiais a partir das capas,
contracapas, etiquetas, das primeiras e últimas páginas, e o que encontrei foi:
1 Caderno de Frequência e Registro;
1 Livro de Empréstimos de livros e brinquedos;
4 Livros de Registro;
1 Pasta catálogo com as Fichas de Cadastro atuais das crianças;
1 Pasta catálogo com 66 Fotos;
1 Pasta catálogo com Documentos da viagem para a praia;
1 Pasta com Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças;
1 Pasta com Planejamentos de Atividades de Ensino;
1 Pasta com Documentos sobre os Processos de Seleção de Monitor/a
Bolsista;
2 Pastas com a Proposta e as Regras dos “Jogos do Mundo”11;
1 Pasta com 2 Relatórios de Bolsa12 e um Documento chamado “Sala das
crianças do CRUSP: coletânea de projetos 2008”;
1 Pasta com Fichas de Cadastro de crianças em branco, Folhetos de
divulgação do Projeto e Bilhetes da equipe de educadores/as para as/os
mães/pais sobre o horário de funcionamento da Salinha;
5 Pacotes plásticos com Comprovantes de Compras e Notas Fiscais;
1 Pacote plástico com as Fichas de Cadastro antigas das crianças.
11O “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos cinco continentes”, que propõe a criação de uma Brinquedoteca Piloto para as crianças e moradores/as do CRUSP, foi apresentado para a AMORCRUSP e se concretizou em uma semana de Oficina de produção de “Jogos do Mundo” na Sala das Crianças, em fevereiro de 2014. 12 Os Relatórios de Bolsa são documentos redigidos pelos/as educadores/as bolsistas no final do período de bolsa sobre as atividades executadas no Projeto, exigidos pelo Programa Aprender com Cultura e Extensão nos anos de 2009/2010 e 2010/2011.
10
Durante essa identificação, observei que havia poucos registros e
documentos a partir de 2011. Fiz, então, um levantamento e identificação de
materiais do meu acervo pessoal — documentos que redigi e/ou informações
que anotei desde que entrei no Projeto, em 2011, e coletei os seguintes
documentos:
1 Pasta com Jornais contendo artigos sobre o Projeto;
1 Pasta com Ofícios do Projeto para a SAS e a AMORCRUSP;
1 Pasta com Calendários Anuais das atividades desenvolvidas pelo Projeto;
1 Pasta com documentos sobre apresentações de Pôsteres do Projeto em
eventos acadêmicos.
Logo depois que identifiquei os materiais coletados, decidi que o Livro de
Registro atual e as 66 fotos reveladas não farão parte do material selecionado
para análise13. Também não encontrei desenhos e outros materiais produzidos
pelas crianças e bolsistas “guardados” na Salinha; o que não significa que não
possamos encontrar desenhos, instalações, esculturas, móbiles e outros
materiais que estão sendo produzidos e/ou expostos no momento pelas
crianças e bolsistas e, sim, que o Projeto tem uma política de não
guardar/acumular materiais produzidos nas atividades; então, os desenhos e
outros materiais são feitos, expostos, as crianças brincam com eles e os
transformam em outras coisas. O registro das atividades é documentado
através das fotografias tiradas durante ou após os desenhos/pinturas serem
feitos.
Para categorizar os documentos selecionados para análise, passei a
observar mais atentamente o conteúdo de cada um desses livros, pacotes e
pastas, reconhecendo, diferenciando, classificando os documentos por tipo e
agrupando-os com documentos do mesmo tipo. Os documentos ficaram
organizados em: Caderno de Frequência e Registro; Fichas de Cadastro das
crianças; Comprovantes de Compra e Notas Fiscais; Livro de Empréstimos de
livros e brinquedos; Livros de Registro; Relatórios Individuais de Trabalho com
as crianças; jornais contendo artigos sobre o Projeto; Documentos dos 13 O Livro de Registro atual ainda está sendo escrito e, por estar em constante mudança, tornou-se inviável analisá-lo nesta pesquisa. Quanto às fotos, além das 66 reveladas, e de algumas contempladas nos pôsteres impressos apresentados no 2º, 3º 4º e 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão, existe um grande número de fotos digitais não reveladas, armazenadas no grupo fechado “Projeto Crianças do CRUSP” do Facebook. As fotos farão parte do corpus analisado na minha pesquisa de mestrado.
11
Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista; Planejamentos de Atividades de
Ensino; Relatórios de Bolsa e Trabalhos Acadêmicos sobre o Projeto;
Documentos da viagem para a praia; Ofícios; Impressões em A4 dos Pôsteres
do Projeto apresentados em eventos acadêmicos; Calendários Anuais de
Atividades do Projeto; Proposta e Regras dos “Jogos do Mundo”; e uma pasta
com Outros Documentos. E depois da categorização por tipo de documento,
organizei os documentos por ordem cronológica dentro de cada categoria.
É importante registrar que quando escrevi o projeto de pesquisa, não
fazia ideia de quanto material havia sido produzido na Salinha, e todos os
passos que descrevi até agora renderam um trabalho muito mais extenso e
complicado do que eu poderia imaginar, visto que havia muitos documentos, de
diversos tipos, e todos misturados na Salinha. Eu não imaginava que teria tanto
material para identificar, classificar, separar e organizar; e o mesmo ocorreu
quando comecei a levantar os dados: deparei-me com muito mais informação
do que uma pesquisa de iniciação científica com duração de 1 ano poderia
comportar.
Ainda assim, todo esse trabalho se mostrou necessário para
fundamentar um caminho para esta pesquisa e outras que virão. Assim, a partir
do Capítulo 5, passarei a descrever e contextualizar os materiais encontrados
— que são a base desse capítulo tão extenso — e, com as dimensões tomadas
da própria pesquisa, que evidenciou um caráter mais descritivo do que analítico
(pelo menos, neste primeiro momento de Iniciação Científica), sigo, nos
capítulos seguintes, buscar refinar o entendimento dos dados coletados e
aprofundar suas análises.
12
5. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS E ANÁLISE DOS DADOS
5.1 Caderno de Frequência e Registro
O Caderno de Frequência e Registro foi o primeiro documento redigido
no Projeto Crianças do CRUSP e em sua primeira metade foram anotadas as
datas do ano e o nome das crianças que frequentaram o Projeto (além do bloco
e número do apartamento das crianças, nos primeiro anos, e do dia da
semana, nos últimos anos) de 2004 a 2010; esse documento nos permite
perceber a frequência com que as atividades aconteciam e o número de
crianças que frequentou o Projeto nesse período. A segunda metade do
Caderno foi usada como Livro de Registro de atividades, no período de 7 de
maio de 2010 a 22 de novembro de 2010, quando a frequência passou a
integrar esse outro documento; essa segunda metade será abordada
posteriormente, no subitem 5.5 Livros de Registro.
O Caderno de Frequência teve seu primeiro registro de frequência
datado de 16 de março de 2004. As páginas eram divididas em quatro colunas,
preenchidas com as seguintes informações: data, nome da criança, bloco e
número do apartamento em que residia. No primeiro mês houve apenas 2
registros de frequência — o primeiro foi em uma terça-feira, 16 de março, com
a presença de 2 crianças e o segundo foi em uma sexta-feira, 26 de março,
com 4 crianças — o que indica que só houve 2 dias de atividades registradas
nesse mês. Nos meses seguintes o número de dias com atividades registradas
foi aumentando. Foram registrados 3 dias em abril, 12 dias em maio, 9 em
junho, 4 em julho, 3 em agosto, 4 em setembro, 15 em outubro, 20 em
novembro e 8 em dezembro, totalizando 80 dias de atividades do Projeto
registrados no ano de 2004. Além disso, dentre esses dias não houve nenhum
sem crianças. O número máximo de crianças em um mesmo dia foi de 14 e
houve uma média de frequência de 4 crianças por dia de atividade.
Em 2005, as atividades com as crianças passaram a acontecer todos os
dias da semana, de segunda à sexta-feira. Os registros das atividades feitos
pelos bolsistas desse ano começam em 10 de fevereiro (logo depois do
carnaval, nos dias 8 e 9), indicando que não houve atividades em janeiro. As
atividades aconteceram 6 dias em fevereiro, 22 dias em março, 20 dias em
13
abril, 20 em maio, 22 em junho, 6 em julho, 22 em agosto, 11 em setembro, 18
em outubro, 19 em novembro e 11 em dezembro, encerrando suas atividades
no dia 15 de dezembro e totalizando 177 dias de atividade, com uma média de
frequência de 7 crianças por noite. Apenas no fim do ano de 2005, as
atividades começaram a ser esporádicas novamente. Nesse ano não houve
nenhuma atividade aos finais de semana ou feriados, e apenas em 1 dia de
atividade não houve nenhuma criança.
No ano seguinte houve algumas mudanças na forma de fazer o registro.
A partir de 9 de maio de 2006, os itens bloco e apartamento foram
gradualmente deixando de ser registrados (até o dia 30 de agosto). Em 1 de
setembro do mesmo ano, o formato do registro mudou: a página passou a ser
dividida ao meio e cada metade continha duas colunas: uma para anotar a data
da atividade e outra para o nome da criança. Desde 20 de agosto, o dia da
semana da atividade também passou a ser registrado. Há um único registro de
dia da semana antes disso, em 3 de junho, um sábado.
Neste ano de 2006, o Projeto iniciou suas atividades em 9 de janeiro e
funcionou 16 dias nesse mês, 17 dias em fevereiro, 21 dias em março, 17 em
abril, 28 em maio, 22 em junho, 16 em julho (com recesso do dia 17 ao 30), 30
dias em agosto, 24 em setembro, 26 em outubro, 25 em novembro e 17 dias
em dezembro (até dia 17). Há registro de 265 dias de atividades do Projeto,
dentre os quais há 262 dias de atividades com as crianças e 3 dias de reunião
da equipe de educadores/as; além do registro de 15 dias em que não houve
atividades, sendo 12 dias de feriados, 2 dias por conta das eleições e 1 por
conta do jogo do Brasil na Copa do Mundo de Futebol. Ainda entre esses 262
dias de atividades com as crianças, a partir do mês de maio começaram a
haver atividades aos sábados e domingos. Houve ainda 6 dias de registro em
que não veio nenhuma criança (2 deles por causa dos ataques do PCC14) e 12
foi o número máximo de crianças em uma mesma noite, além da média de
frequência ter sido de 6 crianças.
14 De 11 a 15 de maio de 2006 houve uma série de atentados e assassinatos contra policiais e outras forças de segurança em São Paulo e outros estados, além de ataques a delegacias, fóruns, agências bancárias e a ônibus, realizados pela organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A população entrou em desespero e, com medo de ataques a civis, várias instituições fecharam e os ônibus pararam de circular na parte da tarde e da noite durante esse período.
14
Em 2007, o Projeto iniciou-se dia 17 de janeiro e funcionou 11 dias
nesse mês, 22 em fevereiro, 30 em março, 18 em abril, 24 em maio, 23 em
junho, 15 em julho, 29 dias em agosto, 4 em setembro, 29 em outubro, 25 em
novembro e 16 dias em dezembro. Há registro de 252 dias de atividades do
Projeto, dentre os quais há 246 dias de atividades com as crianças e 6
reuniões do coletivo de educadores/as; além do registro de 15 dias em que não
houve atividades, sendo 9 feriados, 2 paralisações, 5 assembleias e 1 dia sem
atividade. Também se mantiveram as atividades diárias e semanais com as
crianças, inclusive aos sábados e domingos, com exceção de alguns feriados,
reuniões etc. O ano de 2007 foi o ano com mais dias sem crianças: houve 53
dias em que não há o nome de nenhuma criança registrado, o máximo de
crianças em um mesmo dia foi 10 e a média de frequência foi de 3 crianças.
Em 2008, as atividades iniciaram-se dia 15 de janeiro, com 16 dias
nesse mês, 24 em fevereiro, 24 em março, 29 em abril, 21 em maio, 28 em
junho, 17 em julho, 6 dias em agosto, 22 em setembro, 17 em outubro, 18 em
novembro e 11 dias em dezembro (até dia 15). Há registro de 229 dias de
atividades do Projeto, dentre eles, 227 dias de atividades com as crianças e 2
reuniões; além do registro de 14 dias em que não houve atividades, sendo 13
feriados e 1 dia do V Congresso da USP15. Como nos anos anteriores, as
atividades aconteceram praticamente todos os dias, inclusive aos sábados e
domingos, com exceção apenas de feriados, reuniões e congressos. Houve 8
dias em que não foi registrado o nome de nenhuma criança, o máximo de
crianças que frequentou um mesmo dia foi 11 e a média de frequência foi de 4
crianças.
Em 14 de fevereiro do ano seguinte, a forma como o registro da
frequência das crianças era feito mudou novamente. As páginas começaram a
ser divididas em várias colunas (3, 4, 5 ou 6), o registro da data e o nome das
crianças passou a ser feito na mesma coluna e, quando esta acaba, o registro
continua na coluna seguinte.
Nesse ano de 2009, o Projeto iniciou-se dia 23 de janeiro e funcionou 2
dias nesse mês, 3 em fevereiro, 7 em março, 14 em abril, 19 em maio, 8 em
15 O V Congresso da USP — “Da universidade que temos à universidade que queremos” foi um desdobramento da greve de 2007, que entrou no calendário oficial da USP em 2008 e visou discutir a autonomia universitária. Fonte:http://www.adusp.org.br/files/v_congresso/Jornal2.pdf. Acesso em 14.06.2016.
15
junho, 5 em julho, nenhum em agosto, 17 em setembro, 18 em outubro, 19 em
novembro e 9 dias em dezembro (até dia 11). Há registro de apenas 120 dias
de atividades, todas com as crianças, mas os dias de atividade passaram a ser
mais esporádicos e não houve mais atividades aos sábados e domingos, nem
feriados. O máximo de crianças a frequentar o Projeto, em um dia, foi 13 e a
média de frequência foi de 5 crianças.
Em 2010, a Salinha voltou a abrir dia 1 de março e funcionou 17 dias
nesse mês e 13 em abril. O último registro de frequência neste Caderno data
do dia 22 de abril de 2010 e é seguido pela seguinte anotação: “A frequência
será feita a partir de hoje no livro de registro”. Há registro de 30 dias de
atividades com as crianças e de 7 dias sem atividades por conta de feriados
(semana santa). 9 foi o maior número de crianças registradas em um dia.
Depois dessa descrição, foi possível notar as mudanças pelas quais o
Caderno de Frequência e Registro passou ao longo dos anos: No início dos
registros eram anotados a data do ano, o nome das crianças, o bloco e número
do apartamento em que elas residiam; com o passar do tempo, o bloco e o
número do apartamento deixaram de ser anotados e, posteriormente, passou a
constar nos registros o dia da semana.
O documento evidencia também as mudanças pelas quais o
funcionamento da Sala das Crianças passou. Ele nos permite verificar que no
início dos registros, em 2004, as atividades aconteciam esporadicamente e em
dias variados da semana, de segunda a domingo, incluindo feriados; no ano
seguinte, 2005, as atividades começaram a ser regulares, de segunda a sexta-
feira, o número de dias de atividade foi mais que o dobro em relação ao ano
anterior, da mesma forma que o número de crianças que frequentava o Projeto
quase dobrou. A partir de 2006 começaram a haver atividades também aos
sábados e domingos e passaram a ser feitos também registros dos dias sem
atividades, com algum indício sobre o porquê de a Salinha não funcionar em
determinado dia. Em 2007 e 2008 as atividades aconteceram praticamente
todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos, com exceção
apenas de feriados, reuniões, congressos etc. até que no final de 2008 até
meados de 2009, as atividades passaram a ser mais esporádicas e não houve
mais atividades aos sábados e domingos, nem feriados; houve uma grande
queda no número de dias de atividades, culminando num mês (agosto) sem
16
atividade nenhuma. E então, a partir de setembro de 2009, as atividades foram
voltando a ser regulares, com exceção de janeiro e fevereiro de 2010, quando
também não houve nenhum registro de atividade.
Desde março de 2004, quando os registros nesse Caderno começaram,
até abril de 2010, quando cessaram, o Caderno de Frequência cobriu 74
meses do Projeto, dos quais em apenas 4 deles não houve nenhuma atividade.
Isso evidencia que nesses mais de 6 anos, o Projeto garantiu às crianças o
direito/acesso a esse local-espaço-tempo de ser crianças, às atividades e às
brincadeiras, quase ininterruptamente, incluindo os meses de férias letivas
(janeiro, julho e dezembro).
5.2 Fichas de Cadastro das crianças
A Ficha de Cadastro é um documento preenchido pela mãe ou pai, com
os dados e informações sobre a criança — nome, RG/RNE, bloco e
apartamento, se tem alguma alergia — que frequenta o Projeto e as
informações de contato do responsável — nome de mãe, pai e/ou responsável,
curso de graduação, telefone—, além dos dados de quem mais pode buscar a
criança e contém ainda o termo de autorização do uso de imagem da criança
para fins acadêmicos.
Dentre o material selecionado havia 1 pasta com as Fichas de
Cadastro atuais e 1 pacote com as Fichas de Cadastro antigas. Tirei todas as
Fichas da pasta e do pacote e as juntei, formando uma única pilha de Fichas,
que separei por ano e das quais fiz o seguinte levantamento: 18 Fichas de
2005, 25 de 2006, 7 de 2007, 3 de 2008, 1 de 2009, 7 de 2010, 6 de 2011, 2 de
2012, 1 de 2013, 22 de 2014 e 31 de 2015.
Em seguida, ordenei as Fichas por nome, juntei as Fichas duplicadas (o
nome e os dados das crianças eram os mesmos, mas o endereço ou algum
outro dado era diferente) e conferi todas. Havia 128 Fichas no total (até o final
de 2015) referentes a 95 crianças diferentes, ou seja, 33 estavam “duplicadas”.
Em seguida, separei novamente as Fichas antigas das atuais: no caso das
Fichas antigas duplicadas, deixei a mais antiga na frente, e no caso das Fichas
atuais duplicadas, deixei a mais recente na frente.
Por fim, voltei a organizar as Fichas antigas por data (ano/mês/dia) e as
arquivei no pacote. Já as Fichas atuais, as reorganizei na pasta de acordo com
17
os endereços das crianças e fiz uma lista dos blocos e apartamentos onde há
crianças, para tornar mais prático o trabalho dos/as educadores/as para a
entrega de bilhetes, convites, avisos etc., nos blocos da moradia.
Embora as atividades tenham começado em 2003, as fichas só
começaram a existir a partir de 2005 e as Fichas de Cadastro foram os
primeiros documentos a trazer mais informações sobre quantas, quem eram e
que idade tinham as crianças que frequentavam o Projeto. Elas podem também
indicar o período em que as crianças conheceram e/ou começaram a
frequentar o Projeto, pois costumam ser preenchidas no primeiro dia de uma
criança “nova” ou assim que visitas esporádicas começam a ficar frequentes
(no caso de crianças que não moram no CRUSP, mas visitam o Projeto), ou
ainda quando, durante o Censo das crianças do CRUSP 16 , encontramos
alguma criança que não conhecíamos e que não conhecia a Salinha. O grande
número de Fichas em 2005, 2006, 2014 e 2015 sustenta a hipótese de que
nesses anos houve Censo das Crianças do CRUSP.
As fichas são documentos importantes porque, além de promover um
maior conhecimento sobre o número total e a idade média das crianças que
frequentam o Projeto — o que permite adequar melhor as atividades para o
grupo/faixa etária de crianças—, é essencial para que possamos conhecer e
estabelecer um contato com a família das crianças, seja para marcar reuniões,
entregar bilhetes, como para conversar sobre o comportamento da criança ou
verificar o porquê de sua ausência.
5.3 Comprovantes de Compra e Notas Fiscais
Os Comprovantes de Compra e Notas fiscais são os documentos que
dizem respeito à movimentação financeira (entrada e saída de dinheiro) do
Projeto, composta pelas declarações de doações recebidas da AMORCRUSP
e as Notas Fiscais ou Comprovantes de Compra que informam com que esse
dinheiro foi gasto. É importante ressaltar que o Projeto nunca teve uma verba
própria, nem quando era uma iniciativa de alunos/as, nem quando se tornou 16 O Censo das Crianças do CRUSP é realizado num período (geralmente, na primeira semana de volta às aulas em agosto) em que os/as educadores/as visitam cada um dos apartamentos dos 8 blocos de moradia do CRUSP, perguntando se alguma criança reside no endereço. No caso de encontrarem mães/pais ou crianças, apresentam o Projeto, convidam a criança a participar das atividades e preenchem uma Ficha de Cadastro com os dados da criança e do responsável.
18
parte do Programa Aprender com Cultura e Extensão em 2009 e do Programa
Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação em 2015. Todo
o seu acervo de livros, brinquedos e materiais para atividades foi doado
voluntariamente por alunos/as, moradores/as do CRUSP, educadores/as,
amigos/as, professores/as, funcionários/as e outras pessoas ligadas ou não a
Salinha ou comprado com dinheiro doado pela AMORCRUSP ao Projeto.
Quando passei a fazer parte do Projeto, em agosto de 2011, fiquei
responsável por receber uma doação mensal da AMORCRUSP para o Projeto
e fazer a prestação de contas do dinheiro à Associação. Desde então,
organizei a contabilidade mês a mês e fiz uma revisão ao final de cada ano,
arquivando tudo em um pacote no final do período. Por esse motivo, os quatro
pacotes referentes à contabilidade de 2011/2012, 2012/2013, 2014 e 2015
estavam organizados uniformemente e com os dados — data, valor e material
— já tabelados e arquivados.
Entretanto, nunca havia observado a documentação contábil anterior a
2011, que consistia de 1 pacote com Notas Fiscais e Comprovantes de
Compra, datados entre 2008 e 2011, todos misturados. Comecei, então, a
organizá-los em ordem cronológica e, em seguida, montei uma tabela e a
preenchi com os dados (data, valor e material), a imprimi e anexei aos
documentos, de forma a seguir a mesma lógica dos demais pacotes.
De maio de 2008 a maio de 2010 há apenas 14 recibos comprovando
pequenos gastos irregulares (não aconteceram todos os meses e, quando
aconteceram, os valores eram diferentes). O recibo de valor mais alto é de R$
31,02, e o mês em que se gastou mais nesse período soma o valor total de R$
38,97. A partir de 17 de maio de 2010, além dos Comprovantes e Notas, há 6
recibos de ajuda de custo no valor de R$ 50,00 fornecidos pela Associação de
Moradores/as do CRUSP — gestão Aroeira — ao Projeto, datados de maio a
outubro de 2010. Há também 8 Comprovantes de ajuda de custo para
monitoria, cujo primeiro está no nome do educador “V”17 e data de 4 de março
de 2010; os outros 7 recibos estão no nome da educadora “X” e vão de maio a
novembro de 2010.
17 Para preservar a identidade dos/as educadores/as e demais envolvidos/as no Projeto, serão utilizadas letras do alfabeto para se referir a eles/as.
19
A partir de 27 de junho de 2011 a AMORCRUSP — gestão Nova
AMORCRUSP — continuou fornecendo mensalmente uma ajuda de custo no
valor de R$ 50,00 e, em 17 de outubro de 2011, forneceu também uma doação
única no valor de R$ 300,00 para a aquisição de livros na Festa do Livro da
USP. Havia também um recibo de pagamento da educadora bolsista “BB”, no
valor de R$ 300,00, datado de 17 de outubro de 2011 e um recibo de doação
de R$ 1.400,00, feita pela mesma gestão em 1 de dezembro de 2011, para
custear uma viagem à praia. Essa doação não consta da tabela de
contabilidade e não há Notas Fiscais referentes ao gasto desse dinheiro porque
os Comprovantes originais foram entregues à gestão Nova AMORCRUSP na
prestação de contas da viagem.
Acompanhando a contabilidade, foi possível descobrir que, em fevereiro
de 2013, a doação mensal da AMORCRUSP passou a ser feita pela gestão
CRUSP Popular, e em maio desse ano o valor da doação mensal feita por essa
gestão subiu de R$ 50,00 para R$ 100,00. Em 16 de junho de 2014, a doação
mensal de R$ 100,00 passou a ser feita pela gestão Acorda, CRUSP!, reeleita
em 2015 com o nome de Levanta, CRUSP!. Em 14 de dezembro de 2015 a
doação mensal de R$ 100,00 passou a ser feita pela gestão Independente e de
Luta.
Por fim, vale registrar que no final de 2015 foi enviado um oficio pedindo
o aumento do valor da doação mensal de R$ 100,00 para R$ 200,00; o assunto
foi levado para assembleia de moradores/as do CRUSP, que votou o aumento
do valor da doação mensal para R$ 600,00 a partir de fevereiro de 2016.
De 2008 a 2010, os Comprovantes e Notas nos permitem levantar duas
hipóteses: 1) a Salinha não recebia uma doação em dinheiro regular nesse
período; ou 2) O Projeto recebia doações regulares em dinheiro, mas não havia
uma preocupação em documentar como o dinheiro entrava e saía. Esses
documentos também nos permitem afirmar que pelo menos desde março de
2010 a AMORCRUSP fornecia uma ajuda de custo no valor de R$ 300,00, que
custeava um/a monitor/a bolsista do Projeto, e que pelo menos a partir de maio
de 2010, a Salinha recebia regularmente uma doação mensal da mesma
instituição no valor de R$ 50,00 e que passou para R$ 100,00 em 2013, para
manutenção de suas atividades.
20
A parceria com a AMORCRUSP por meio do custeio de bolsas e das
doações mensais em dinheiro sem dúvida influenciou a manutenção e o bom
funcionamento do Projeto e foi fundamental para a formação do acervo da
Salinha e para a realização de muitas atividades. Ter pelo menos uma bolsa
paga pela AMORCRUSP garantia que, mesmo que a Universidade não
fornecesse nenhum/a bolsista, o Projeto continuaria funcionando minimamente
e as crianças continuariam tendo um tempo-espaço para brincarem e serem
crianças. Essas doações permitiram a aquisição e/ou o conserto de aparelhos,
como o rádio, a câmera fotográfica e o teclado, e a compra de materiais
permanentes, como brinquedos de melhor qualidade/durabilidade e a aquisição
de livros escolhidos pelo grupo de educadores/as. Permitiu também a compra
de muitos materiais necessários para o desenvolvimento de atividades mais
complexas e/ou que demandassem algum material específico mais caro, o que
levou os/as educadores/as a ousarem mais e expandir o leque de atividades
propostas. Por fim, a doação viabilizou a viagem à praia, que realizou um
desejo de muitos anos: O de promover a experiência em uma atividade externa
de grande porte a ser vivenciada pelas crianças, juntamente com suas famílias
e os/as educadores/as do Projeto.
1.4 Livro de Empréstimos de livros e brinquedos
O Livro de Empréstimos é o documento onde eram registrados os
empréstimos de livros e brinquedos do Projeto às crianças, aos/às
educadores/as e ex-educadores/as, mães, pais e/ou responsáveis. Esse
documento é preenchido pelos/as educadores/as com o nome da criança, o
nome do livro ou brinquedo, a data do empréstimo e a data em que o item foi
devolvido.
Analisei os dados registrados no Livro até 12 de junho de 2015, pois fiz a
coleta desses dados em julho de 2015, no período de férias, em que não houve
empréstimos e, portanto, o Livro não sofreria alterações.
Na contracapa do Livro de Empréstimos de livros e brinquedos está
escrito “Empréstimos — 2 gibis ou 1 livro + 1 brinquedo — Prazo: 7 dias” e a
palavra “brinquedo” está escrita com uma cor diferente. As páginas do registro
de empréstimos eram divididas em 4 colunas a serem preenchidas com o
nome da criança, o nome do livro ou brinquedo, a data de saída e a data de
21
devolução. Além disso, linhas sublinhadas marcavam o fim de um mês e o
início de outro (até 31 de julho de 2006).
O primeiro empréstimo data de 16 de maio de 2005 e até 20 de janeiro
de 2007 só foram emprestados livros. O primeiro empréstimo de brinquedo
(“boneca roupa verde, cabelo vermelho”) foi registrado no dia 21 de janeiro de
2007. Desde a criação do Livro em 2005, houve registro de empréstimos todos
os meses, até janeiro de 2009, quando não houve nenhum registro o mês
inteiro. Nesse ano também não houve nenhum empréstimo nos meses de julho
e agosto. Em 2010 não houve nenhum empréstimo nos meses de janeiro,
fevereiro e dezembro. Em 2011, não foram registrados empréstimos nos meses
de janeiro, fevereiro, junho e julho. Em 2012 não houve empréstimos em
janeiro, julho e agosto. Em 2013 não houve nenhuma anotação de empréstimo
em janeiro, fevereiro e março. Em 2014 não houve empréstimos em janeiro,
maio e julho. E em 2015 não foi registrado nenhum empréstimo em janeiro
Foi possível perceber certa constância entre os meses sem empréstimo
e o período de férias letivas, o que explicaria a não saída de livros e brinquedos
nesse período. Esses números nos revelam também que, desde a criação do
Livro em maio de 2005, foram feitos empréstimos todos os meses nos
primeiros 4 anos de registro e que, mesmo a partir de 2009, os empréstimos
continuaram sendo feitos na maioria dos meses do ano. O Livro cobre 123
meses e há registro de empréstimo em 103 deles, garantindo que na maior
parte do tempo as crianças pudessem retirar e desfrutar desses materiais
dentro e fora da Salinha.
Além disso, de maio de 2005 até 20 de janeiro de 2007 só foram
emprestados livros, até que a partir de 2007 começaram os empréstimos de
brinquedos, o que nos faz supor que a palavra “brinquedo” teria sido escrita na
contracapa depois desse período e por isso teria uma cor diferente. Uma
possível hipótese para o não empréstimo dos brinquedos nesse período é a de
que o Projeto já tivesse recebido muitas doações de livros, mas ainda não
tivesse constituído um bom acervo de brinquedos, de forma que emprestar os
poucos que dispunha deixaria as crianças com poucas opções no dia a dia.
Por fim, vale notar que, no decorrer dos anos, o número de livros
emprestados caiu na mesma proporção em que o número de brinquedos
emprestados aumentou, até que, nos últimos anos, praticamente só foram
22
registrados empréstimos de brinquedos. Uma explicação possível é que, nos
últimos anos, há uma proposta dos/as educadores/as de fazer uma roda de
leitura e/ou contação de história todos os dias da semana, então, as crianças já
estão em contato constante com os livros e histórias disponíveis no Projeto,
além de a Salinha ter conseguido constituir um acervo de brinquedos e
continuar recebendo doações desse tipo.
5.5 Livros de Registro
Os Livros de Registro são os documentos mais ricos e complexos dentre
os produzidos na Sala das Crianças. Neles foram registradas as informações
diárias do Projeto, como as datas, quem eram os/as educadores/as, quais
crianças vieram, qual a atividade elaborada/executada, se esta deu certo ou
não e quais (possíveis) problemas acorreram no dia em questão. Os registros
começaram em 2005 e continuam sendo feitos até os dias atuais. Pela
complexidade e extensão desse material, que pretendo estudar mais
profundamente durante o mestrado, realizei aqui somente um levantamento
das datas das atividades, número de crianças e quantidade de educadores/as
que trabalharam no Projeto, além do número de voluntários/as e estagiários/as,
durante os 10 anos de registro.
Existem 4 Livros de Registros e 1 Caderno de Frequência e Registro (já
abordado anteriormente). O primeiro Livro contém registros do período entre 26
de setembro de 2005 e 10 de dezembro de 2006; o segundo Livro contém
registros entre 11 de dezembro de 2006 e 6 de maio de 2010. O registro
existente no Caderno de Frequência e Registro vai de 7 de maio de 2010 a 22
de novembro de 2010. Os registros do terceiro Livro vão de 23 de novembro de
2010 a 18 de março de 2015. Os registros do quarto Livro começam a partir do
dia 19 de março de 2015 e ainda estão sendo escritos atualmente. Assim, por
se tratar de um documento não concluído e em constante mudança, este último
Livro não será analisado neste trabalho.
No primeiro Livro os registros são escritos de acordo com a seguinte
estrutura: data (dia e mês) seguida pelo nome dos/as educadores/as daquele
dia, uma breve descrição dos acontecimentos e a assinatura dos/as
educadores/as. O primeiro registro de atividade foi escrito numa segunda-feira,
26 de setembro de 2005, pelos/as educadores/as “B” e “C”. No período de 26
23
de setembro a 15 de dezembro de 2005, havia 2 educadores/as na maioria das
noites. “B” realizava atividades praticamente todas as noites, de segunda a
sexta, enquanto “C” realizava atividades às segundas, terças e quintas, e “D”
às quartas e sextas. Além disso, a fundadora do Projeto, Lia Raquel Amaral
Teixeira18 e “A”, membro do coletivo antigo, estavam na Salinha quase todas as
quintas. Em 1 fevereiro de 2006, “C” assinou o registro pela última vez e, a
partir dessa data, “B” e “D” trabalharam juntos na maioria das noites e, de vez
em quando, acompanhados pela fundadora e por “A”.
No início de maio de 2006, “B”, “D”, a fundadora e “A” deixaram de fazer
os registros e 4 novos/as educadores/as — “E”, “F”, “G” e “H” — começaram a
escrevê-los. A partir de 7 de maio de 2006, a fundadora passou a comentar as
atividades e os relatos diários escritos no Livro de Registro, e a Salinha
começou a abrir de domingo a domingo, com os/as quatro novos/as
educadores/as revezando-se em duplas. Dia 27 de outubro de 2006 foi o último
dia em que “F” assinou o registro, e no dia 30 de outubro de 2006 a voluntária
“V1” substituiu a educadora “G”, que estava com apendicite. A partir de 1 de
novembro de 2006, a nova educadora “I” passou a compor o grupo de trabalho,
em substituição à “F”. Além disso, em novembro há 1 registro com “A”, 1 com o
voluntário “V2” e 2 com o ex-educador “B”.
No segundo Livro os registros começam em 11 de dezembro de 2006 e,
em 2007, continuaram sendo feitos por “E”, “G”, “H” e “I”, que se revezavam em
duplas. Há 1 registro com a fundadora em março, 1 com o voluntário “V2” em
abril e 4 com o ex-educador “B”, em maio. No período de 16 de maio a 28 de
junho, a educadora “I” foi substituída por “J”, mas retornou em 4 de julho. Em
julho há 1 registro com a fundadora e 2 com o ex-educador “B” e em agosto há
1 com a voluntária “V3” e 2 com o voluntário “V4”. Dia 11 de agosto é o último
registro da educadora “H”, que foi substituída pelo educador “K”, no período de
18 de agosto a 2 de setembro de 2007.
No mês de outubro de 2007 os registros passaram a ser escritos pelas
novas educadoras “L”, “M”, “N” e “O” e há também 1 registro com a fundadora,
2 com a ex-educadora “E” e 2 com a ex-educadora “G”.
18 A fundadora e primeira coordenadora do Projeto Crianças do CRUSP, Lia Raquel Amaral Teixeira, permitiu que eu utilizasse seu nome na pesquisa.
24
Em 2008, as quatro educadoras continuaram se revezando em duplas,
de domingo a domingo e há 1 registro com o voluntário “V5” em maio. A partir
de 25 de agosto de 2008 o registro passa a ser feito pela nova educadora “P”,
praticamente todos os dias, de segunda a sexta, até 9 de março de 2009.
Nesse período, “P” realizou atividades na Salinha sozinha 40% dos dias e nos
outros 60% ela esteve acompanhada por um/a ou dois/duas membros do grupo
que se revezava para acompanhá-la nas atividades. Esse grupo era formado
por: 3 novos/as educadores/as voluntários/as (“Q”, “R” e “S”), 4 ex-
educadores/as (“E”, “F”, “M” e “N”), 2 membros do coletivo antigo (“A” e “A1”) e
pela fundadora.
De 23 de janeiro a 9 de março 2009, há apenas 8 registros feitos por “P”
e só em 1 deles ela está acompanhada por “A”, membro do coletivo antigo. A
partir de 13 de março, os registros passaram a ser feitos pela educadora “T”
quase todos os dias, de segunda a sexta, até 7 de julho de 2009, data do
último registro de “T”. Durante esse período, “T” trabalhou sozinha cerca de
65% do tempo, e nos outros 35% com pelo menos um dos membros do grupo,
que se revezava para acompanhá-la nas atividades. O grupo era, então,
composto por: 1 educador voluntário (“S”), 1 ex-educadora (“E”), 2 membros do
coletivo antigo (“A” e “A1”) e pela fundadora do Projeto. A partir de 8 de
setembro de 2009 os registros passaram a ser escritos pelos/as novos/as
educadores/as “U” e “V” em dias alternados e, em alguns dias, pelos/as
dois/duas juntos/as. Em 4 de dezembro de 2009 foi escrito o primeiro registro
com o educador-voluntário “X” e em 10 de dezembro de 2009 houve o último
registro escrito pela educadora “U”.
Em 2010 as atividades começaram em 1 de março e foram registradas
pelo educador “V” e pela nova educadora “Z”, todos os dias, de segunda a
sexta-feira. Ainda em março há 1 registro com a fundadora, 1 com “A” e 1 com
“A1”. Por fim, dia 18 de março de 2010 é a data do último comentário da
fundadora no Livro de Registro. A partir de 22 de abril de 2010 o nome das
crianças passou a ser anotado junto com o registro, sendo 6 de maio de 2010 a
data do último registro feito no segundo Livro.
Em 7 de maio de 2010 os registros passaram a ser escritos na segunda
metade do Caderno de Frequência e Registro. As atividades continuaram
sendo registradas pelos/as educadores/as “V” e “Z”, todos os dias, de segunda
25
a sexta-feira e no mês de junho há 1 registro com o voluntário “V6” e 2 com
“A1”, membro do coletivo antigo. A partir de 9 de agosto de 2010 os registros
passam a ser feitos pela educadora “Z” e pelo novo educador “W”, todos os
dias e, esporadicamente, foram acompanhados pelos/as ex-educadores/as “V”
e “X”. De 9 de agosto de 2010 a 20 de setembro de 2010 foram feitos
comentários no Livro por “A1” e, em 30 de setembro de 2010, houve um
registro com a voluntária “V7”. Há ainda dois registros com o “A1”, um feito em
outubro e o outro em novembro. Finalmente, em 22 de novembro de 2010 foi
escrito o último registro no Caderno de Frequência e Registro. A partir do dia
23 de novembro de 2010 o registro passou a ser feito no terceiro Livro de
Registro e continuou sendo escrito pelos/as educadores/as “Z” e “W”, com
aparições esporádicas de “V” e “X”, até 10 de dezembro de 2010, último dia de
atividade do ano. Assim como nesse ponto as informações Caderno e
Frequência e Registro passaram a fazer parte do Livro de Registros, as
descrições e reflexões antes feitas no subitem 5,1 serão feitas aqui a partir de
agora.
Em 2010, a Salinha começou as atividades dia 1 de março e funcionou
17 dias nesse mês, 19 em abril, 21 em maio, 20 em junho, 5 em julho, 16 em
agosto, 16 em setembro, 15 em outubro, 16 em novembro e 7 dias em
dezembro (a última atividade do ano foi dia 10). Há registro de 155 dias de
atividades do Projeto, dentre os quais há 152 dias de atividades com as
crianças e 3 reuniões; além disso, há registro de 1 feriado e 2 dias sem
atividades. As atividades aconteceram de segunda a sexta, com exceção de
feriados, reuniões e imprevistos. Houve 3 dias em que não foi registrado o
nome de nenhuma criança e o número máximo de crianças que frequentou em
um mesmo dia foi 11. A média de frequência nesse ano foi de 6 crianças por
dia.
Quando as atividades retornaram em 14 de março de 2011, o registro
passou a ser escrito pelo educador “W” e pela nova educadora “Y”, todos os
dias, de segunda a sexta, além de contar com aparições esporádicas do ex-
educador “V”; e isso se manteve assim até 30 de junho de 2011. A partir de 22
de agosto de 2011, o registro passou a ser escrito pelas 4 novas educadoras
“AA”, “BB”, “CC”, e eu, além de participações muito frequentes dos ex-
26
educadores “V” e “W”. O grupo de educadoras se revezou em duplas, de
segunda a sexta, até o último registro do ano, em 12 de dezembro de 2011.
Em 2011, a Salinha retomou as atividades dia 14 de março e funcionou
13 dias nesse mês, 17 em abril, 18 em maio, 17 em junho, nenhum em julho, 9
dias em agosto, 20 em setembro, 21 em outubro, 9 em novembro e 6 dias em
dezembro (a última atividade do ano foi dia 12). Há registro de 134 dias de
atividades do Projeto, dentre os quais há 130 dias de atividades com as
crianças e 4 reuniões; além disso, foram registrados 2 feriados e 3 dias sem
atividades. As atividades aconteceram de segunda a sexta, com exceção de
feriados, reuniões e imprevistos. Houve 10 dias em que não foi registrado o
nome de nenhuma criança. O número máximo de crianças que frequentou o
Projeto em um mesmo dia foi 13 e a média de frequência foi 5 de crianças.
Em 2012, as atividades da Salinha foram retomadas no dia 30 de janeiro
e a educadora “BB” foi substituída temporariamente pelo ex-educador “W”.
Houve um registro com “A1” em fevereiro e dois com “V” em março. “AA”, “CC”,
“W” e eu ficamos nos revezando em dupla, de segunda a sexta, até que em 12
de março de 2012 a nova educadora “DD” passou a escrever os registros, e as
participações do educador “W" foram diminuindo.
Em 4 de julho de 2012 houve o último registro de “CC” e, a partir de
então, “W” voltou a ser educador oficialmente; e em 2 de agosto houve o último
registro escrito pela educadora “AA”. A partir de então, os registros passaram a
ser escritos apenas por 3 educadores/as (“W”, “DD” e eu), que se revezavam
em dupla de segunda a sexta, com exceção das quintas, quando “W”
costumava trabalhar sozinho. No dia 4 de outubro há um registro com o ex-
educador “V”. Em 4 de dezembro há o primeiro registro com a nova educadora
“EE”, e o grupo de trabalho voltou a ser composto por 4 educadores/as. Além
disso, houve registros com o educador voluntário “X” no dia 4 de dezembro; e
no dia 7 de dezembro (último dia de atividades do ano) foi escrito o último
registro da educadora “DD”.
Em 2012, a Salinha retomou as atividades no dia 30 de janeiro e
funcionou 2 dias nesse mês, 17 em fevereiro, 21 em março, 14 em abril, 20 em
maio, 18 em junho, 5 em julho, 18 dias em agosto, 15 em setembro, 20 em
outubro, 15 em novembro e 5 dias em dezembro (a última atividade do ano foi
dia 7). Há registro de 170 dias de atividades com as crianças, além de 2
27
feriados e 6 dias sem atividades. As atividades aconteceram de segunda a
sexta, com exceção de feriados e imprevistos. Houve 12 dias em que não foi
registrado o nome de nenhuma criança. O número máximo de crianças que
frequentou em um mesmo dia foi 10 e a média de frequência foi 4 de crianças.
De 28 de janeiro a 1 de fevereiro de 2013, as atividades foram
registradas apenas pela educadora “EE” e por mim — apenas no dia 29 de
janeiro contamos com a presença da ex-educadora “AA”. A partir de fevereiro,
o educador “W” e a nova educadora “FF” retomaram as atividades também e
voltamos a ser 4 educadores/as que se revezavam para trabalhar em duplas,
de segunda a sexta. Em maio de 2013 foram escritos os últimos registros da
educadora “EE” e os primeiros da nova educadora “GG”. Em 23 de maio houve
um registro com a presença das ex-educadoras “AA” e “EE” na Salinha. Por
fim, em junho foram escritos os últimos registros da educadora “FF” e em julho
os últimos da educadora “GG”. Ainda em julho houve os primeiros registros dos
novos/as educadores/as “HH” e “II”.
O dia 2 de agosto de 2013 foi meu último registro como educadora e, a
partir dessa data, comecei a atuar como co-coordenadora. Foi também nesse
período que comecei a comentar as atividades escritas no Livro de Registro a
partir da semana anterior (meu primeiro comentário data de 29 de julho). O
mês de julho também foi o primeiro mês da nova educadora “JJ”, e o Projeto
continuou com uma equipe de 4 educadores/as (“W”, “HH”, “II” e “JJ”) que se
revezavam em duplas, todas as noites, de segunda a sexta. Em agosto houve
3 registros com a voluntária “V8”, e em setembro o educador “HH” deixou o
Projeto e foi substituído pelo novo educador “KK”.
Do final de setembro até meados de outubro realizei um projeto de
estágio da licenciatura sobre literatura africana e brincadeiras, que se
concretizou em 5 atividades realizadas na Salinha. No dia 1 de outubro de
2013, os/as outros/as estagiários/as do meu grupo (“E1”, “E2 e “E3”)
participaram do desenvolvimento da atividade da noite junto a mim e aos/as
educadores/as “II” e “KK”. No dia 8 de outubro de 2013, a atividade da noite foi
acompanhada por mais 2 estagiárias de observação (“E4” e “E5”) e no dia 9 de
outubro de 2013 houve 1 registro com o voluntário “V9”.
Em 10 de outubro de 2013 não houve atividade porque a equipe de
educadores/as e eu fomos para Ribeirão Preto apresentar o Pôster do Projeto
28
no Simpósio Aprender com Cultura e Extensão. Dia 21 de outubro de 2013 foi o
último registro de “W” como educador e a partir de 31 de outubro de 2013 a
nova educadora “LL” começou a aparecer nos registros. Ainda em 22 de
outubro de 2013 há registro com a voluntária “V8”. No dia 11 de novembro de
2013 o ex-educador “W” e eu realizamos a atividade da noite porque todos/as
os/as 4 educadores/as cursavam Geografia e, na noite em questão, houve uma
plenária do curso. No dia 23 de novembro de 2013 há registro com a voluntária
“V10”.
Em 2013, a Salinha retomou as atividades dia 28 de janeiro e funcionou
4 dias nesse mês, 11 em fevereiro, 15 em março, 19 em abril, 21 em maio, 18
em junho, 07 em julho, 21 dias em agosto, 16 em setembro, 16 em outubro, 19
em novembro e 6 dias em dezembro (a última atividade do ano foi dia 9).
Houve o registro de 173 dias de atividades com as crianças, além de 1 dia de
Simpósio de Cultura e Extensão e 2 dias sem atividades. As atividades
aconteceram de segunda a sexta, com exceção do Simpósio e de alguns
imprevistos. Houve 6 dias em que não foi registrado o nome de nenhuma
criança. O número máximo de crianças que frequentou em um mesmo dia foi
12, e a média de frequência foi 4 de crianças.
No ano de 2014, foram realizadas atividades de limpeza, organização e
redecoração da Salinha, além de uma formação com “A1”, membro do coletivo
antigo, e uma semana de Oficina de “Jogos do Mundo”19 no período de 20 de
janeiro a 19 de fevereiro. A partir do dia 20 de fevereiro as atividades voltaram
ao normal e houve 1 registro com o voluntário “V11” no dia 17 de março. A
partir de 24 de março não houve mais registros do educador “KK”, que foi
substituído pela a nova educadora “MM”. As atividades continuaram
acontecendo com 4 educadores/as (“II”, “JJ”, “LL” e “MM”) que se revezaram
em duplas, todos os dias, de segunda a sexta. Houve 1 registro com o ex-
educador “W” em março, 1 em abril e 1 em maio. Ainda em maio também
houve 3 registros com o voluntário “V12”, 1 com a voluntária “V13” e 1 com o
voluntário “V14”. Em junho houve 1 registro com o voluntário “V12” e 1 com a
voluntária “V15”. E por fim, em julho houve 2 registros com o voluntário “V12”, 2
com o voluntário “V16” e 1 com a voluntária “V17”. Vale notar que, de 27 de
19 A Oficina de “Jogos do mundo” será tratada no subitem 5.15 Proposta e Regras do “Jogos do Mundo”.
29
maio a 4 de julho, a Salinha abriu apenas durante 11 dias e permaneceu
fechada durante 18 dias por conta de feriados e emendas, dos jogos da
Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo e das assembleias gerais e
de curso.
O dia 4 de julho foi o último dia de registro do primeiro semestre de
2014, e os registros do segundo semestre começaram em 4 de agosto, já com
os nomes dos/as novos/as educadores/as, “NN”, “OO”, “PP” e “QQ”, além do
meu, durante a primeira semana de atividades. Os/as 4 novos/as
educadores/as continuaram se revezando em duplas, de segunda a sexta.
Houve ainda 1 registro com os/as ex-educadores/as “II” e “KK”, no dia 29 de
setembro de 2014, e 2 com o voluntário “V18” nos dias 9 e 12 de dezembro de
2014.
Em 2014, a Salinha começou as atividades dia 20 de fevereiro e
funcionou 5 dias nesse mês, 14 em março, 16 em abril, 13 em maio, 9 em
junho, 2 em julho, 20 dias em agosto, 18 em setembro, 22 em outubro, 18 em
novembro e 9 dias em dezembro (a última atividade do ano foi dia 11). Houve
registro de 170 dias de atividades do Projeto, dentre os quais há 146 dias de
atividades com as crianças, 12 dias de limpeza, organização e redecoração da
Salinha, 5 dias de formação de educadores/as, 6 dias de Oficina de “Jogos do
Mundo” e 1 reunião; além disso, foram registrados 3 feriados, 4 assembleias, 3
atividades de greve, 6 jogos da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do
Mundo e 3 dias sem atividades. As atividades aconteceram de segunda a
sexta, com exceção dos feriados e emendas de feriado, assembleias gerais e
de curso, atividades de greve e jogos do Brasil na Copa do Mundo. Houve 10
dias em que não foi registrado o nome de nenhuma criança. O número máximo
de crianças que frequentou o Projeto em um mesmo dia foi 16 e a média de
frequência foi de 5 de crianças.
Em 2015 as atividades começaram a ser registradas em 2 de fevereiro
sem a educadora “QQ”, que foi substituída pela nova educadora “RR”. No mês
de fevereiro houve 2 registros comigo, 1 com a ex-educadora “II”, 3 com o
voluntário “V18”, 2 com o voluntário “V19”, 1 com o voluntário “V20” e 1 com a
voluntária “V21”. Em março houve 1 registro comigo, 1 com a ex-educadora
“AA” e 1 com as voluntárias “V22” e “V23. O último registro desse Livro data de
18 de março de 2015.
30
Em 2015, a Salinha começou as atividades dia 2 de fevereiro e
funcionou 18 dias nesse mês e 13 em março, até dia 18 de março, quando a
última atividade desse Livro foi registrada. Nesse período, houve registro de 31
dias, todos de atividades com as crianças, que aconteceram de segunda a
sexta-feira. Não houve nenhum dia em que não foi registrado o nome das
crianças presentes. O número máximo de crianças que frequentou em um
mesmo dia foi 14, e a média de frequência foi de 7 crianças.
A primeira reflexão que fiz sobre os Livros de Registro é que, além do
coletivo antigo (Lia, “A1” e “A2”), outros/as educadores/as voluntários/as devem
ter passado pela Salinha entre a criação do Projeto em 2003 e o primeiro
registro do primeiro Livro, em 26 de setembro de 2005. Da mesma forma, uma
série de atividades aconteceu nesse período sem serem documentadas. Sobre
essa reflexão, pretendo investigar mais a respeito através de entrevistas que
farei com os membros do coletivo antigo durante o mestrado.
A segunda reflexão foi a respeito do número de educadores/as. Durante
todo o período coberto pelos Livros de Registros aqui descritos, de maneira
geral houve sempre 2 educadores/as por noite — sem contar os voluntários/as,
estagiários/as de observação ou ainda ex-educadores/as e/ou mães e pais que
estivessem visitando o Projeto — e muito já se discutiu no Projeto sobre a
necessidade de no mínimo 2 educadores/as por noite para garantir a
segurança e o bom desenvolvimento das atividades; esse assunto aparece em
um dos primeiros registros do primeiro Livro e em tantos outros depois. Os
registros de noites com apenas 1 educador/a só reforçam o risco que isso
apresenta e, em uma reunião de 2011, ficou decidido que, na falta de um/a
dos/as educadores/as da noite, a Salinha permaneceria fechada para não
expor as crianças a algum risco.
Esse problema foi minimizado pelas “trocas” de dias de atividade quando
havia 4 educadores/as, mas o dilema só foi resolvido no segundo semestre de
2015, quando o Projeto passou a contar com um número maior de
educadores/as (7) e foi possível mudar a dinâmica de trabalho para 3
educadores/as por noite, além de expandir o horário em meia hora (o
funcionamento da Salinha passou a ser das 19h às 21h30). A partir de então,
mesmo que houvesse um imprevisto e alguém faltasse, a Salinha abria
31
normalmente com 2 educadores/as, o que garantiu a manutenção do seu
funcionamento e melhora no desenvolvimento de atividades com as crianças.
Esses documentos permitem entender também a dinâmica dos/as
educadores/as e das bolsas da Universidade. Em 2005 houve 2 bolsistas pelo
Programa de Bolsa-Trabalho, em 2006 o número aumentou para 4 e as
atividades começaram a acontecer aos sábados e domingos também; essa
dinâmica durou até agosto de 2008, a partir de quando restou apenas 1
bolsista; a hipótese é de que, com a extinção da bolsa trabalho, em agosto de
2008, a AMORCRUSP tenha começado a pagar uma bolsa para um/a
educador/a, que realizava atividades sozinho/a na maioria das noites, para
manter o Projeto funcionando.
Foi possível perceber uma queda no número de atividades no primeiro
semestre de 2009, até que a Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) começou
a coordenar o Projeto e ele tornou-se parte do Programa Aprender com Cultura
e Extensão da USP. Desde então, o Projeto passou a ter uma bolsa por esse
programa, além da bolsa da AMORCRUSP e, a partir de julho de 2009, as
atividades voltaram a acontecer com regularidade de segunda à sexta-feira.
Isso se manteve em 2010 até que, em agosto de 2011, o número de bolsas
pelo referido Programa aumentou para 3 e o Projeto voltou a ter 4
educadores/as, o número considerado mínimo.
Em agosto de 2012, o número de bolsas pelo mesmo Programa diminuiu
para 2 e o Projeto contou apenas com 3 educadores/as, até dezembro, quando
a AMORCRUSP passou a contribuir com mais 1 bolsa e o grupo voltou a ser
composto por 4 educadores/as. Em agosto de 2013, o Programa passou a
destinar 3 bolsas ao Projeto e, assim, com 5 no total, foi possível destinar uma
delas ao cargo de co-coordenação, tão necessário à resolução de questões
burocrático-documentais, de manutenção, de comunicação com a SAS,
AMORCRUSP e outros órgãos da Universidade etc., que excediam o
planejamento e a realização de atividades pelos/as educadores/as, na Salinha,
das 19h às 21h. O número de bolsas e de educadores/as permaneceu o
mesmo em 2014 e até o final do registro do quarto Livro, em março de 2015.
Finalmente, vale a pena registrar que em setembro de 2015 o Projeto
conseguiu mais 3 novas bolsas pelo então recém-criado Programa Unificado
de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da USP, ficando então
32
com 8 educadores/as bolsistas (2 pela AMORCRUSP, 3 pelo Programa
Aprender com Cultura e Extensão e 3 pelo Programa Unificado de Bolsas de
Estudo para Estudantes de Graduação); isso permitiu não só mudar o rodízio
para 3 educadores/as por noite, como ampliar o horário em meia hora,
beneficiando tanto as crianças, que tiveram mais tempo para brincar na
Salinha, como as mães e pais, que puderam assistir suas aulas inteiras até as
21h e vir com calma buscar as crianças. As bolsas garantiram ainda a
permanência estudantil e foi a primeira oportunidade de “trabalho” para
muitos/as estudantes.
Além da variação no número de bolsas, houve uma enorme rotatividade
de educadores/as nesses 13 anos de Projeto. Muitos/as educadores/as
deixaram a bolsa antes do período de 1 ano, por motivos diversos (gravidez,
outra bolsa na sua área de estudo, um estágio melhor remunerado, abandono
do curso, por não se identificar com o trabalho etc.), e dentre aqueles/aquelas
que foram até o fim e renovaram a bolsa, alguns/algumas precisaram deixar o
Projeto depois na renovação porque, a partir de 2013, os/as estudantes não
poderiam acumular mais de 24 meses de bolsa USP.
O lado negativo dessa rotatividade é a maior dificuldade para
estabelecer vínculos com as crianças — que, apesar de também viverem
durante um período de tempo limitado dentro da Universidade, permanecem
muito mais tempo no Projeto do que os/as educadores/as — e isso impacta na
aderência das crianças às atividades propostas, que cobram a presença dos/as
educadores/as, por vezes, comparando-os/as entre si ou negando-se a
participar de determinada atividade “dos/as novos/as tios/as”. O lado positivo —
que já foi ressaltado por algumas crianças do Projeto também — é que com
essa rotatividade os “tios novos” sempre trazem brincadeiras e atividades
novas e o Projeto acaba passando sempre por renovações de repertório de
atividades e transformações no espaço físico, o que é bom para as crianças
que estão nele há vários anos.
Outra coisa interessante de notar é que mesmo sem uma bolsa de co-
coordenação, sempre houve uma figura ocupando esse lugar de
responsabilidade, ainda que de maneira informal. Começou com a fundadora,
que atuou como coordenadora não remunerada, desde a criação do Projeto,
até a chegada da Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP), em 2009 (a convite
33
do coletivo de educadores/as). Esta co-coordenação da fundadora pode ser
considerada e identificada até março de 2010, data de seu último comentário
no Livro de Registro. Em seguida, temos os comentários de A1, membro do
coletivo antigo, no Livro de Registro, entre agosto e setembro de 2010, o que
levanta a hipótese de que ele tenha sido o segundo co-coordenador voluntário
da Salinha. E em 2011, quando eu entrei no Projeto, o ex-educador “V”, que
também passou a integrar o coletivo antigo, participava das reuniões semanais
da equipe, além de orientar os/as educadores/as e comentar o Livro de
Registro, podendo ser considerado o terceiro co-coordenador voluntário. Em
2012, com o distanciamento do coletivo antigo e o meu maior envolvimento
com o Projeto (pois fui a única bolsista de 2011 que permaneceu em 2012),
comecei a assumir algumas dessas funções até que, em 2013, com a criação
da bolsa de co-coordenação, assumi oficialmente esse posto que, a partir de
então, passou a ser formalizado e remunerado.
Duas outras observações se fazem ainda necessárias. A primeira é que,
a partir de 2013, começaram a ser registrados no Livro os estágios de
observação20. Entretanto, vale notar que alguns/algumas dos/as próprios/as
educadores/as já haviam feito seus estágios de observação no Projeto; isso
apenas não foi documentado. A segunda é que os/as voluntários/as, de
maneira geral, costumam ser amigos/as de curso ou de moradia dos bolsistas
da época e que, pela proximidade com o/a bolsista, acabaram desenvolvendo
uma proximidade também com o Projeto e se tornando voluntários/as. Através
desses estágios e do trabalho voluntário, esses/as estudantes puderam
conhecer um projeto de educação não formal e viver uma experiência de
educação fora da escola; e as crianças adoram receber “visitas” ou “tios
novos”, que eles/elas podem “investigar” e “testar” e que trazem experiências
diferentes e sugerem novas brincadeiras.
Por fim, os Livros de Registro cobrem mais de 10 anos de história do
Projeto e, a partir de abril de 2010, a frequência das crianças passou a fazer
parte desse documento. De maio de 2010 até o último registro de frequência 20 Embora algumas disciplinas da licenciatura exijam estágios de observação e, dentre elas, algumas permitam que o estágio seja feito em um espaço de educação não formal como a Salinha, alguns dos requisitos para aceitar esses/as estagiários/as é que eles/elas compareçam à reunião semanal dos/as educadores/as para conhecer o Projeto e entender o seu funcionamento, além de explicar sua proposta de estágio e, principalmente, que eles/elas participem ativamente das atividades realizadas nos dias em que forem “observar”.
34
levantado em março de 2015, foram cobertos 59 meses do Projeto, dentro os
quais em apenas 5 deles não houve nenhuma atividade. Somados aos dados
do Caderno de Frequência, são 125 meses, nesses pouco mais de 10 anos
documentados, em que o Projeto garantiu às crianças o direito a esse local-
espaço- tempo para brincar e ser criança.
5.6 Relatórios Individuais de Trabalho com as crian ças
Os Relatórios Individuais de Trabalho são documentos criados numa
tentativa de registro mais formal da organização do trabalho no Projeto que
durou cerca de 10 meses. Neles constava uma descrição sumária das
atividades e leituras realizadas (por quem, quando e qual) e o cálculo de horas
trabalhadas (incluindo tempo de reunião e planejamento de atividades)
pelos/as educadores/as.
Em uma das pastas havia 4 bloquinhos de Relatórios Individuais de
Trabalho com as crianças separados por clipes. Cada bloco era referente a
uma educadora (“L”, “M”, “N” e “O”) e cada folha do bloco datava de um mês.
Além disso, havia uma folha com o nome das educadoras e o cálculo de horas
trabalhadas nos meses de março, abril e maio de 2008.
Inicialmente, organizei as folhas de cada bloco por ordem cronológica de
mês (já que não havia marcação de ano) e, ao organizar as Fichas, percebi
que todos os quatro blocos começavam em outubro e terminavam em julho.
Além disso, as folhas da educadora “O” referentes a janeiro, fevereiro e março
estavam datadas de 2008; logo, esses registros foram feitos entre o período de
outubro de 2007 a julho de 2008.
Em cada folha havia um campo para nome e mês e, em seguida, uma
tabela de 3 colunas para ser preenchida com o dia do mês e da semana, a
atividade e a leitura, respectivamente. No fim dessa tabela, era somado o
número de horas trabalhadas e acrescido de 10% referente ao tempo de
planejamento das atividades. Logo abaixo havia outra tabela com duas colunas
a serem preenchidas com reuniões, formação complementar e o número de
horas. No fim dessa tabela também era somado o número de horas. Em
seguida havia a seguinte anotação: “*Máximo de seis horas mensais em
formação complementar; anexar relatórios”. E, por fim, no canto inferior direito,
havia um espaço para ser preenchido com o total de horas trabalhadas.
35
Foi possível notar que não houve atividades entre os dias 17 de
dezembro e 14 de janeiro, pois não há registros desses dias nas respectivas
folhas, o que indicaria o período de férias de final/início de ano. Além disso, o
último registro nas folhas do mês de julho data do dia 18, indicando que dia 19
começaram as férias de meio de ano.
Esses documentos nos permitem concluir que, pelo menos desde
outubro de 2007, já se faziam leituras diárias com as crianças e isso era
considerado como parte importante das atividades desenvolvidas no Projeto.
Eles também evidenciam uma preocupação com a formação dos/as
educadores/as e o bom desenvolvimento do seu trabalho no Projeto, pois o
cálculo de horas de trabalho inclui tempo de reunião e formação complementar
e uma porcentagem sobre o tempo de atividades realizadas que corresponde
ao planejamento das mesmas. Esse tempo dedicado ao planejamento, garante
que sejam oferecidas às crianças atividades previamente planejadas, o que
permite que essas atividades transcorram com mais tranquilidade e menos
imprevistos, pois foi possível pensar e se preparar para sua execução.
5.7 Jornais contendo artigos sobre o Projeto
Entre os documentos levantados e identificados na Salinha, havia 3
jornais que traziam artigos contendo informação sobre o Projeto. São eles: 1
edição do jornal Bolsa-Trabalho, da COSEAS, e 2 edições do jornal Canalha,
da AMORCRUSP.
O jornal Bolsa-Trabalho, datado de outubro de 2006, apresenta uma foto
das Crianças da Salinha na capa. Na página 2 há a seguinte informação:
“Capa: participantes do Projeto ‘Sala das Crianças do CRUSP’ integrante do
Programa ‘Qualidade de vida no CRUSP’”. Ainda nessa página encontra-se a
informação: “Os projetos em andamento no corrente ano (2005) ficam
automaticamente prorrogados até 30 de março de 2006” em negrito. Na
metade inferior da página 7, há um artigo chamado “Sala das Crianças do
CRUSP”, assinado por Lia Raquel Teixeira, fundadora e coordenadora (na
época) da Sala das Crianças do CRUSP. Esse artigo trata dos primeiros anos
do Projeto e chama a atenção para algumas informações, que serão abordadas
a seguir.
36
Havia no CRUSP, em 2006, mais de trinta crianças com idade entre zero
e doze anos. Em 2003, um grupo de alunos/as da Universidade reuniu-se para
criar o Projeto Crianças do CRUSP. Para desenvolver as atividades do Projeto,
foi montada a Sala das Crianças, com apoio da AMORCRUSP e da COSEAS.
A Salinha funcionava de segunda a sexta-feira, das 19h às 21h, e contava com
atividades dirigidas e momentos livres nos quais havia a interação entre
crianças de idades variadas. Nenhuma atividade era obrigatória: “Não é — e
nem deve parecer — uma extensão da escola, embora saibamos o quanto as
crianças aprendem aqui”, afirmou a fundadora.
O artigo informou também quem e de quais cursos eram os/as dois/duas
monitores/as bolsistas — “B”, da licenciatura em Artes Plásticas e “D”, da
Terapia Ocupacional — e alguns/algumas dos/as voluntários/as — “A”, da
licenciatura em Letras e a própria coordenadora, da licenciatura em Letras.
Na primeira edição do jornal Canalha, datada de 28 de julho de 2014, há
um artigo chamado “COSEAS largou a Sala das Crianças”, que contém
algumas informações infundadas sobre o Projeto21. Na segunda, datada de 29
de setembro de 2014, foi publicada uma carta-resposta 22 a esse artigo
anteriormente citado, assinada pela equipe de educadores/as, ex-
educadores/as e professora coordenadora do Projeto (desde 2009).
No primeiro jornal fica evidente a importância dada ao Projeto pela
própria COSEAS, ao escolhê-lo como capa da edição de seu jornal Bolsa-
Trabalho, que falava exatamente sobre os projetos que integravam o Programa
“Qualidade de vida no CRUSP”, do qual a Salinha fez parte. Também é um dos
documentos mais antigos que traz informações sobre o Projeto, como a
quantidade e idade das crianças que moram no CRUSP, e ainda dá um
panorama de como o trabalho era desenvolvido na Salinha nessa época.
Quanto ao Canalha, após a publicação do artigo contendo informações
incorretas sobre o Projeto, compareci à assembleia de moradores/as do
CRUSP para esclarecer as informações veiculadas, além do uso não
autorizado de imagem (pois foi publicada uma foto em que eu estava jogando
21 O artigo afirma que a AMORCRUSP pagava há 3 anos as bolsas dos/as monitores/as da Salinha porque a COSEAS resolveu cortá-las, e insinuou que o Projeto iria fechar. 22 Na carta-resposta conta-se resumidamente o histórico das bolsas da Universidade concedidas ao Projeto, explica-se sua vinculação ao Programa Aprender com Cultura e Extensão desde 2009 e desmente-se a especulação de que a Salinha fosse fechar.
37
um jogo com uma das crianças na Salinha, juntamente com o artigo) e solicitei
a retratação do autor na edição seguinte. O autor também presente na
assembleia, justificou-se dizendo que escreveu o referido artigo como forma de
atingir politicamente a COSEAS e que não se retrataria, mas os/as
moradores/as presentes na assembleia manifestaram-se em favor do Projeto e
cobraram uma posição da Associação que, por fim, comprometeu-se a publicar
uma carta da Salinha corrigindo as informações incorretas, na edição seguinte
do Canalha.
Esse episódio evidenciou que a Salinha é um projeto benquisto pelos/as
moradores/as do CRUSP que o conhecem. Também ficou claro que o autor do
artigo não fez uma pesquisa mínima, pois a COSEAS é parceira do Projeto e
cedeu o espaço em que ele se constituiu, além das primeiras bolsas que o
ajudaram a se estabelecer. E, por fim, apesar do desgaste com os
esclarecimentos dados em assembleia e a carta-resposta publicada no jornal, o
Projeto tornou-se mais conhecido entre os/as moradores/as e demais
estudantes da USP.
5.8 Documentos dos Processos de Seleção de Monitor/ a Bolsista
Durante os vários anos de existência do Projeto, muitos/as
educadores/as, bolsistas ou voluntários/as passaram por ele. No caso dos/as
educadores/as bolsistas, era necessário que os/as candidatos/as se
inscrevessem no respectivo programa de bolsas da época e passassem pelas
etapas de seleção até que fossem selecionados e ingressassem no Projeto. Os
documentos dos Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista são os registros
desses processos, desde a inscrição dos/as candidatos/as até a escolha
dos/as selecionados/as para compor o grupo de educadores/as.
Dentre as pastas de documentos encontradas havia 1 pasta com 2
pacotes — 1 de 2005 e 1 de 2006 —, 2 folhas soltas, referentes à seleção de
educadores/as para o Projeto em março de 2009, 1 pacote com as anotações
das entrevistas realizadas entre 2012 e 2015 e 3 pedidos de desligamento de
bolsistas do ano de 2015. Inicialmente identifiquei os documentos dos pacotes,
organizando-os por ordem cronológica.
38
Na folha de rosto do Pacote do Processo de Seleção de Monitor/a
Bolsista de 2005 já estava registrado que ingressaram 2 educadores/as
bolsistas: “D”, da Terapia Ocupacional, e “B”, das Artes Plásticas.
O primeiro documento era o formulário (1 e 2) de inscrição do Projeto no
Programa de Bolsa-Trabalho, datado de 6 de maio de 2004. O título do Projeto
era “Crianças do CRUSP? CRUSP das Crianças!” e as responsáveis
institucionais eram as funcionárias “F1”, da Assistência Social/COSEAS e “F2”,
do Serviço de Atuação Comunitária e Vigilância/COSEAS. No documento
constavam ainda as seguintes informações: Havia aproximadamente 40
crianças no CRUSP, em 2004; a jornada de trabalho seria de segunda a sexta,
das 19h às 21h e sábados e domingos, das 14h às 19h. Era a primeira vez que
o Projeto era inscrito no Programa de Bolsa-Trabalho (consta na inscrição que
é um projeto novo); são pedidas 2 bolsas; e, por fim, o documento cita um texto
em anexo chamado “Era uma vez a Sala das Crianças...”, que não foi
encontrado.
O segundo documento era o folheto de divulgação das vagas para
monitor/a bolsista da Sala das Crianças (ANEXO 2) que informava o horário de
trabalho — de segunda a sexta, das 19h às 21h, totalizando 40 horas mensais
— o valor de 1 salário mínimo23, que o período da bolsa era de 1 ano, podendo
ser renovado por mais 1 e a inscrição até 3 de dezembro de 2004.
O terceiro documento é a lista com os dados (classificação, nome,
número USP, CRUSP, endereço, telefone e e-mail) dos/as 15 alunos/as
inscritos/as para a bolsa. O quarto é a lista de candidatos/as que
compareceram (12) e que faltaram (3) na prova teórica dia 19 de janeiro. O
quinto documento são as provas escritas dos/as candidatos/as e, no caso
dos/as que passaram nessa primeira fase, havia também o planejamento de
atividades por escrito, a avaliação da aplicação dessas atividades e as
anotações da entrevista. Finalmente, o sexto documento são 2 cartas
informando à SAS/USP sobre a seleção de “D”, datado de 23 de fevereiro de
2005, e a seleção de “B”, datado de 28 de abril de 2005. Em ambos os
documentos consta que cada candidato/a “submeteu-se a avaliação Técnico-
23 Em maio de 2005 o valor do salário mínimo foi de R$ 260,00 para R$ 300,00 reais. Fonte: http://www.gazetadeitauna.com.br/valores_do_salario_minimo_desde_.htm
39
Acadêmica — composta por uma prova teórica, uma prova prática junto às
crianças e uma entrevista”.
Da mesma forma que no pacote anterior, na folha de rosto do Pacote do
Processo de Seleção de Monitor/a Bolsista de 2006 está registrado que
ingressaram 4 educadores/as bolsistas: “E”, da Letras; “F”, da Letras; “G”, da
Letras; e “H”, da Música.
Nesse ano de 2006, o primeiro documento era uma carta dos Pais e
Mães moradores/as do CRUSP, datada de 28 de novembro de 2005 e dirigida
à COSEAS, manifestando sua grande satisfação com o Projeto, ressaltando
sua importância e pedindo a ampliação do horário de funcionamento e do
número de educadores/as bolsistas.
O segundo documento é o formulário (1 e 2) de inscrição do Projeto no
Programa de Bolsa-Trabalho, datado de 30 novembro de 2005. O título do
Projeto mudou para “Sala das Crianças do CRUSP”, e as responsáveis
institucionais passaram a ser as funcionárias “F1”, do Serviço Social/COSEAS
e “F3”, da Divisão de Creches. De maneira geral, o texto era igual ao do ano
anterior, diferindo apenas por ser a segunda vez que o Projeto era inscrito no
Programa de Bolsa-Trabalho (consta “renovação” na inscrição) e foram pedidas
4 bolsas em vez de 2. Também está anexado o Relatório de Avaliação Anual
(referente ao ano anterior) assinado pela educadora bolsista “D”.
O terceiro documento é um folheto de divulgação das vagas para
monitor/a bolsista da Sala das Crianças (ANEXO 3), que traz informações
sobre o Projeto, número de crianças no CRUSP, horário de funcionamento, o
valor da bolsa (que era de 1 salário mínimo24) e as datas de inscrições (de 20
de fevereiro a 10 de março de 2006).
O quarto documento, com data de 29 de março de 2006, é a lista com os
dados (classificação, nome, número USP, curso, endereço, telefone e e-mail)
dos 28 alunos/as inscritos na bolsa. O quinto documento é a lista dos/as (23)
candidatos/as que compareceram à prova teórica do dia 5 de abril de 2003. O
sexto documento são as provas escritas de todos/as os/as candidatos/as e, no
caso daqueles/as que passaram nessa primeira fase, havia também o
planejamento de atividades por escrito, a avaliação da aplicação dessas
24 Em abril de 2006 o valor do salário mínimo foi de R$ 300,00 para R$ 350,00. Fonte: http://www.gazetadeitauna.com.br/valores_do_salario_minimo_desde_.htm
40
atividades e as anotações da entrevista. Além da folha de rosto do pacote, não
havia outros documentos explicitando quem foi selecionado/a.
Há ainda 2 folhas soltas do processo de seleção de educador/a para o
Projeto Crianças do CRUSP de março de 2009, com o planejamento de
atividades das duas candidatas, mas não há nenhuma outra informação sobre
o processo desse ano.
Havia também um pacote com o meu roteiro de entrevista antigo e as
anotações das entrevistas que fiz com os/as candidatos/as a educador/a
bolsista do Projeto no período de 2012 a 2015. O roteiro de entrevista está
organizado da seguinte forma: dados do/a candidato/a, questões da entrevista
e pré-requisitos para a bolsa (informações adicionadas nos últimos anos). Os
dados do/a candidato/a são: Nome, idade, curso/período, onde mora e se tem
outro emprego, a disponibilidade de horário, e-mail e telefone. As 6 questões
ou tópicos são: 1) Por que quer trabalhar aqui? 2) Que contato já teve com
crianças? 3) Do que gostava de brincar quando era pequeno(a)? 4) História de
amor pelo mundo e pelas crianças25. O que foi muito marcante na sua infância
e o que você acha que é mancada não fazer com uma criança/não deixar uma
criança fazer? 5) Proponha uma atividade. 6) O que você faria na seguinte
situação? (ler uma situação-problema do Livro de Registro). E os pré-requisitos
são: 1) Não pode estar acabando o curso; 2) Estar inscrito no Programa
Aprender com Cultura e Extensão ou no Programa Unificado de Bolsas de
Estudo para Estudantes de Graduação; 3) Não ter acumulado 24 meses de
bolsa USP; 5) Ter ou estar disposto a abrir uma conta no Banco do Brasil.
Sobre as entrevistas feitas no período entre 2012 e 2015, existem ainda
39 páginas com informações e anotações sobre 45 candidatos/as diferentes (3
dos/as quais eu entrevistei pela segunda vez, já que foram bem na primeira
entrevista, mas não ingressaram por conta do número de vagas). São
anotações que foram feitas durante as entrevistas, com os nomes dos/as
candidatos/as e palavras ou frases desconexas, anotadas a partir das
respostas que os/as entrevistados/as deram na ocasião. Esses documentos
não têm data e, por se tratarem de anotações mínimas, feitas a mão e
25 Nessa parte da entrevista, antes de continuar com as perguntas, explica-se qual é o ideal das atividades desenvolvidas na Salinha, que se baseia em uma interpretação de um trecho do texto A crise da educação, de Hannah Arendt, que será brevemente abordado nas considerações finais.
41
depressa, são difíceis de ler e de entender fora do contexto em que foram
registradas. Por esse motivo, esses últimos registros não serão analisados.
Por último, há 3 pedidos de desligamento de bolsistas, todos de 2015. O
primeiro é de “SS” (que foi selecionada, mas não chegou a assumir a bolsa),
datado de 20 de julho; o segundo é da educadora “RR”, datado de 4 de agosto;
e o terceiro é da educadora “WW”, datado de 6 de novembro.
A primeira vez que o Projeto foi inscrito em um Programa de Bolsas da
Universidade foi em maio de 2004, em seu segundo ano de funcionamento.
Apesar de ter sido criado e idealizado voluntariamente por estudantes
moradores/as do CRUSP, eles/as não podiam ser responsáveis por projetos
institucionais e projetos não institucionais não têm direito a bolsas. Assim, foi
necessário que duas funcionárias da COSEAS se tornassem “responsáveis
institucionais” pelo Projeto para poder inscrevê-lo no Programa de Bolsa-
Trabalho e solicitar 2 bolsas para a Salinha, que foram concedidas no final de
2004 e cujos/as bolsistas ingressaram em fevereiro e abril de 2005.
Graças à concessão dessas 2 bolsas, o funcionamento da Salinha
tornou-se regular e, no final do ano, as mães e os pais estudantes escreveram
cartas para a SAS elogiando o Projeto e solicitando a ampliação do horário de
seu funcionamento. Dessa forma, em 2006, foram pedidas 4 bolsas, o dobro do
ano anterior e o Projeto também recebeu inscrições de quase o dobro do
número de candidatos/as que no ano anterior.
De 2007 e 2008 não há informações sobre seleção de educadores/as,
mas outros documentos comprovam a regularidade do funcionamento do
Projeto até meados de 2008, quando o Programa de Bolsa-Trabalho teria sido
extinto e daí em diante o Projeto tenha se mantido apenas com um/a
educador/a bolsista pago/a pela AMORCRUSP até que, em 2009, quando a
Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) assumiu a coordenação, o Projeto
passou a ser inscrito no Programa Aprender com Cultura e Extensão, que
concedeu 1 bolsa, e tivemos novamente seleção de educadores/as bolsistas.
Daí em diante, o processo de seleção foi sendo simplificado, até que passou a
ser apenas uma entrevista, de preferência coletiva, nos primeiros anos, feitas
pelos membros do coletivo de estudantes e, mais recentemente, comigo, por
vezes, juntamente com os/as bolsistas atuais e com a professora
coordenadora.
42
Embora não tenha sido encontrado nenhum documento sobre as
seleções, a partir de 2010, sabe-se que, desde 2009, o Projeto contou com
pelo menos 1 bolsa institucional e que o número de bolsas, apesar de variar de
um ano para outro, tendeu a crescer de forma que, em 2014, foi possível
destinar uma das bolsas (no caso, a segunda bolsa concedida pela
AMORCRUSP) para a criação do cargo de co-coordenação e, em 2015, o
revezamento de trabalho passou a ser feito com 3 educadores/as por noite e o
horário de funcionamento da Salinha foi expandido em 30 minutos diários.
As bolsas foram, sem dúvida, o ponto-chave para a manutenção das
atividades na Salinha e o aumento do número de bolsas trouxe uma série de
benefícios para o Projeto, para as crianças e para as famílias. Ter bolsistas
garante que a Salinha funcione com regularidade de segunda a sexta-feira e o
aumento para 3 educadores/as por noite garantiu sua abertura mesmo quando
um/a dos/as educadores/as estivesse ausente (o que não é recomendável de
se fazer apenas com 1 educador/a); também possibilitou a realização de
atividades mais elaboradas, de mais atividades externas e minimizou os riscos
durante essas atividades.
As mães e os pais estudantes que estudam à noite também foram
beneficiadas/os, pois com a expansão do horário de funcionamento, foi
possível para elas/eles assistir suas aulas integralmente até as 21h, ou em
outros casos, de assistir meia hora a mais de aula, e poder buscar as crianças
com calma depois. Por fim, beneficiou as crianças que, além de terem a
Salinha aberta por mais tempo e durante mais dias no ano, tinham mais adultos
com quem brincar, o que tornou as atividades mais seguras e possibilitou ainda
a realização de atividades externas a USP, sem o acompanhamento dos pais
e/ou mães, graças ao número total de bolsistas a partir de 2015.
5.9 Planejamento de Atividades de Ensino 26
O Planejamento de Atividades de Ensino também foi outra tentativa mais
formal de planejamento das atividades (qual, por quem, quando, como e com o
que) e organização do trabalho no Projeto. Trata-se de uma espécie de “Ficha”
de planejamento e avaliação de atividade, a ser preenchida pelos/as
26 O documento tem esse nome.
43
educadores/as de forma a fazê-los/as pensar nas atividades que querem
executar e planejar os materiais e passos necessários a sua execução, além
de avaliar as atividades que, de fato, tenham sido realizadas.
Dentro dessa pasta havia uma pasta catálogo com 4 divisórias
preenchidas com Planejamento de Atividades de Ensino de 2006, Atividades
não realizadas — “E”/“G”/“H”/“I” 2006/2007, Atividades 2007 e Atividades 2008.
Depois de identificar os materiais, comecei a organizar os planejamentos de
atividades por data, em ordem cronológica. Logo na primeira divisória, percebi
que as primeiras atividades não tinham data, deixei-as na ordem que estavam
e fui colocando as atividades com data na frente. Também encontrei algumas
atividades de 2006 e de 2008 na divisória de 2007, que remanejei para a
divisória correta.
A primeira atividade da divisória de 2006 é de 5 de junho e a última de
12 de dezembro. Em sua maioria, as folhas de Planejamento de Atividades
estão impressas dos dois lados e têm a seguinte estrutura: Lado A —
Planejamento de Atividade de Ensino: Nome da atividade, monitor/a
responsável, data da realização, objetivos, descrição, observações. Lado B —
Comentários sobre a realização da atividade, quantidade de crianças, faixa
etária, nível de participação observado, nível de aproveitamento estimado,
observações e comentários do/a monitor/a auxiliar. Há também nessa divisória
algumas folhas escritas à mão que fogem um pouco desse padrão com
anotações sobre materiais necessários e metodologia.
Da segunda divisória, de Atividades não realizadas em 2006/2007,
apenas 5 páginas estavam datadas e, dessas, apenas 2 com o ano, sendo a
primeira de 6 de setembro de 2006 e a segunda 4 de abril de 2007. Nenhuma
página do pacote tinha o lado B preenchido, indicando que, de fato, essas
atividades não foram realizadas e, portanto, também não foram avaliadas.
Na divisória de 2007, havia mais de uma atividade planejada com a
mesma data, mas escrita por educadores/as diferentes. Mesmo nesses casos,
havia informações sobre como foi o desenvolvimento da atividade no verso do
planejamento, evidenciando que as duas atividades foram executadas no
mesmo dia. Dentre as atividades planejadas de 2007, apenas 2 não tinham
data.
44
Todas as atividades de 2008 estão datadas; a primeira é do dia 16 de
janeiro e a última de 15 de julho. Novamente, algumas atividades têm a mesma
data, mas foram escritas por educadores/as diferentes, indicando que ambas
foram executadas no mesmo dia.
O que esses documentos evidenciam é que, pelo menos desde junho de
2006, há uma preocupação em se pensar e planejar as atividades a serem
realizadas com as crianças na Salinha e com uma avaliação pós-realização, o
que demonstra um compromisso com um trabalho educativo e uma reflexão
sobre as práticas educativas desenvolvidas no Projeto. Esse documento
também evidencia que, de maneira geral, de 2006 a 2008 havia pelo menos 2
educadores/as por noite na Salinha e cada educador/a era “responsável” por
planejar e aplicar sua atividade, enquanto o outro exercia a função de
“monitor/a auxiliar”, mesmo que ambos aplicassem cada um sua atividade na
mesma noite.
Não há informações sobre 2009 e 2010, mas quando eu entrei no
Projeto em 2011, embora não houvesse mais preenchimento desse
documento, havia uma reunião semanal onde eram discutidos verbalmente o
planejamento de atividade da semana e cada educador/a era responsável pelo
planejamento e execução de uma atividade por semana, enquanto seu/sua
parceiro/a de trabalho da noite auxiliava na execução. Isso mudou em meados
de 2013, quando o planejamento das atividades passou a ser feito
conjuntamente por todos/as os/as educadores/as que trabalhariam na
respectiva noite e com sugestões de outros/as educadores/as que não
trabalhariam; além disso, a execução da atividade passou a ser
responsabilidade de todos/as presentes na noite em questão. Essa mudança
enriqueceu a discussão e as atividades e gerou um censo maior de
participação, cumplicidade e responsabilidade nos/as educadores/as.
5.10 Relatórios de Bolsa e Trabalhos Acadêmicos sob re o Projeto
Os Relatórios de Bolsa são relatórios sobre o trabalho desenvolvido
pelos/as educadores/as bolsistas nos projetos e que são exigidos ao final do
período de Bolsas; já os Trabalhos Acadêmicos são trabalhos apresentados
em eventos acadêmicos ou entregues ao final de disciplinas de licenciatura que
45
exigem estágio, como Política e Organização da Educação Básica (POEB) e
Psicologia da Educação.
Entre os materiais levantados na Salinha, havia 1 pasta contendo 4
documentos: 1 coletânea de projetos chamada “Sala das Crianças do CRUSP:
coletânea de projetos 2008”, 2 Relatórios Finais de Bolsa do Programa
Aprender com Cultura e Extensão e um trabalho de graduação chamado
“Relações sociais num ambiente não formal de educação (Alunos e
educadores)”.
O primeiro documento, “Sala das Crianças do CRUSP: coletânea de
projetos 2008”, foi escrito pela fundadora e pelas educadoras “N”, “O” e “M”.
O texto de apresentação é da fundadora, primeira coordenadora do
Projeto e aluna de Letras, Lia Raquel Amaral Teixeira, e trata do surgimento da
Salinha, de sua estrutura de funcionamento, das atividades executadas e das
práticas pedagógicas do Projeto Crianças do CRUSP.
O primeiro projeto da coletânea de atividades, “A arte de dobrar papel”,
foi escrito pela educadora “N” e explica que o projeto foi desenvolvido em 22
atividades que foram realizadas entre janeiro e abril de 2008. Nesse período, a
rotina da Salinha começava com a atividade dirigida e depois acontecia a
atividade livre.
O segundo projeto, “Conhecendo as Rochas”, foi escrito por “O”, aluna
da Pedagogia e ex-aluna de Geologia. O projeto consistiu em 11 atividades que
foram realizadas entre dezembro de 2007 e fevereiro de 2008.
O terceiro projeto, “Bandeiras da América do Sul”, foi escrito por “M”, e
as atividades foram divididas em três etapas e realizadas entre janeiro e julho
de 2008.
O primeiro Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura
e Extensão, “Uma pequena sala + Algumas pequenas pessoas = ENORMES
DESCOBERTAS”, é do educador “V”, aluno da Pedagogia, datado de setembro
de 2010. Apesar de ter sido escrito em 2010, este é um dos poucos
documentos que traz informações sobre os primeiros anos do Projeto Crianças
do CRUSP.
46
Por ele sabe-se que alguns/algumas estudantes moradores/as que já
tinham experiência trabalhando com crianças no NURI27 iniciaram um Projeto
que propunha brincadeiras com as crianças do CRUSP e só posteriormente
conseguiram um apartamento adaptado para realizar essas atividades. No
início, só havia voluntários/as que tentaram propor atividades em diversos
horários e, com o passar do tempo, a necessidade do Projeto foi configurando-
se para o período noturno. Só em 2005, a Salinha conseguiu os/as dois/duas
primeiros/as educadores/as remunerados/as através do Programa de Bolsa-
Trabalho, e o número de bolsas aumentou para 4, em 2006 e 2007.
Sabe-se também que, com o fim inesperado da Bolsa Trabalho, a
Salinha se manteve apenas com um/a educador/a bolsista remunerado/a pela
AMORCRUSP entre agosto de 2008 e julho de 2009, até a parceria com a
Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) e a inscrição do Projeto no Programa
Aprender com Cultura e Extensão, do qual o “V” foi bolsista de agosto de 2009
a agosto de 2010, tempo em que trabalhou primeiro com “U”, da Pedagogia, e
depois com a “Z”, das Artes Plásticas. Em 2009, “V” passou a compor o
coletivo antigo, formado em 2008 por um grupo de estudantes voluntários/as
que passou a coordenar o Projeto em conjunto.
O segundo Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura
e Extensão é de “W”, aluno da Filosofia, datado de setembro de 2011. Nesse
relatório “W” relata duas experiências bem distintas nos dois semestres em que
trabalhou no Projeto. No segundo semestre de 2010 houve uma
incompatibilidade entre ele e a educadora “Z”; sendo que eles chegaram a
tentar fazer atividades separadas, mas não deu certo. No primeiro semestre de
2011 “Z” saiu do Projeto e entrou a nova educadora “Y”, com quem o trabalho
de “W” fluiu. Ambos aprenderam muito e conseguiram desenvolver bem uma
série de atividades com as crianças.
O trabalho de graduação chamado “Relações sociais num ambiente não
formal de educação (Alunos e educadores)” foi elaborado pelo aluno de
licenciatura em Letras e estagiário de observação na Salinha “E6” e
apresentado para a conclusão do curso de Práticas Escolares, Diversidade,
Subjetividade, ministrado por uma professora da FEUSP, em 2012. O aluno
27O Núcleo de Recreação Infantil (NURI), localizado dentro do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), realizava atividades com crianças.
47
frequentou o Projeto durante algumas noites, participando das atividades e
brincando com as crianças e na última noite fez uma entrevista curta com as
crianças presentes que quiseram participar.
O trabalho tinha por objetivo verificar como se constrói o processo de
socialização num ambiente não formal de educação em oposição à escola
tradicional. Foram feitas as seguintes perguntas às crianças: “O que você acha
dessa Salinha? Por quê?”, “O que você acha das pessoas daqui (educadores e
outras crianças)?”, “Qual atividade você mais gosta? Por quê?”, “Qual atividade
você menos gosta? Por quê?”, “Quando acontece algum problema, alguma
briga ou desentendimento, ou uma atividade chata, como as coisas são
resolvidas nesse caso?” e “Você acha que esse tipo de Salinha deveria existir
em outros lugares? Por quê?”.
Cada um desses documentos revela algumas informações importantes
sobre o Projeto. A coletânea de projetos de 2008 nos permite entender o
funcionamento da Salinha e saber quais projetos de atividades foram
desenvolvidos com as crianças em 2007 e 2008; também foi uma oportunidade
formativa para que os/as educadores/as desse período pudessem refletir e
escrever sobre suas práticas educativas (o que aprenderam e o que
ensinaram) no Projeto. O mesmo vale para os Relatórios Finais do Programa
Aprender com Cultura e Extensão, documento que tem que ser redigido
pelos/as educadores/as bolsistas obrigatoriamente, no qual refletem e explicam
as atividades que desenvolveram no período de bolsa. Vale ressaltar ainda que
o primeiro relatório trouxe o primeiro breve panorama escrito sobre a história do
Projeto Crianças do CRUSP, desde sua criação até meados de 2010, enquanto
o segundo ficou focado nos problemas, soluções e aprendizados desenvolvidos
de 2010 a 2011.
O trabalho de graduação proporcionou ao aluno da licenciatura uma
experiência prática de estágio em um projeto de educação não formal e gerou
reflexões acerca desse Projeto e de suas práticas educativas. Através das
observações, o estagiário considerou a Salinha um agente de socialização que
oferece “um espaço de liberdade e interação entre crianças de diferentes
lugares e idade”, no qual existe afetividade e apego entre crianças e
educadores/as. Já as entrevistas feitas com as crianças evidenciam a relação
que elas têm com o Projeto e que importância este tem para elas, como o fato
48
de “Todas as crianças relatarem gostar da Salinha”, e que “as crianças relatam
que ela deveria existir em outros lugares e nos outros blocos da moradia
estudantil”.
5.11 Documentos da viagem para a praia
Em uma das pastas levantadas encontram-se os documentos referentes
a uma viagem para a praia realizada em 10 de dezembro de 2011, através de
uma parceria com a AMORCRUSP. Tratam-se de pedidos de autorização,
solicitações e listas que viabilizaram ou que dizem respeito à execução dessa
atividade.
O primeiro documento é um pedido de autorização, datado de 2 de
dezembro de 2011, dirigido a “F4”, biólogo responsável pela Reserva Natural
do Condomínio Iporanga, para que os/as educadores/as, crianças, mães, pais
e a professora coordenadora pudessem fazer uma visita à praia. Anexo a esse
documento há uma folha com os dados do ônibus e uma lista com os nomes de
1 professora coordenado, 9 educadores/as e ex-educadores/as, 19 mães e
pais, e 17 crianças, que iriam ao passeio (46 pessoas, no total).
O segundo documento é uma solicitação destinada à Secretaria do
Turismo da Prefeitura Municipal de Santos, datada de 8 de dezembro de 2011,
pedindo permissão para estacionar o ônibus fretado próximo à orla. Anexo a
esse documento há uma folha com os dados do ônibus e uma lista com os
nomes de 1 professora, 8 educadores/as e ex-educadores/as, 21 mães e pais e
19 crianças que iriam ao passeio (49 pessoas, no total).
O terceiro documento é a lista de chamada impressa com o nome das
pessoas que participariam da excursão, contendo o nome de 1 professora, 9
educadores/as e ex-educadores/as, 23 mães e pais e 20 crianças, totalizando
53 pessoas. Dentre esses nomes, apenas 16 mães e pais e 17 crianças
estavam com um “o.k.” na frente do nome.
O quarto documento é uma autorização para visita simples à Unidade de
Educação Ambiental do Aquário Municipal de Santos, com data de 10 de
dezembro de 2011, às 14h. Nele está informado que a visita foi agendada pela
educadora “BB” em 8 de dezembro de 2011, e que participariam da visita 21
crianças abaixo de 12 anos, 10 educadores/as e 23 mães e pais ou
responsáveis.
49
O projeto da viagem para a praia começou durante uma reunião
semanal para discutir atividades e problemas do Projeto, no segundo semestre
de 2011, quando uma educadora expressou o desejo de que umas das
atividades de final de semana fosse uma viagem para a praia e o então co-
coordenador voluntário “V” contou que desde os primeiros anos do Projeto
havia um desejo de se fazer uma grande atividade externa com as crianças,
suas famílias e os/as educadores/as, mas que isso nunca tinha sido possível
até então. Essa ideia continuou sendo mencionada em reuniões posteriores até
que todo o grupo de educadores/as resolveu se organizar para torná-la real;
algumas educadoras foram conversar com a AMORCRUSP e redigir um ofício
solicitando verba para realizá-lo, enquanto “V” e uma das bolsistas foram visitar
algumas praias e verificar sua acessibilidade para as crianças.
O destino decidido foi a Reserva Natural do Condomínio Iporanga e a
viagem ficou verbalmente combinada com o biólogo responsável pela reserva.
Já havíamos feito duas reuniões com as famílias das crianças e reservado o
ônibus, quando o pedido de acesso para o ônibus entrar na reserva, feito em 2
de dezembro de 2011, foi negado sem maiores explicações. Em uma semana
tivemos que mudar todos os planos e o destino pretendido virou a praia de
Santos/SP, cuja Secretaria do Turismo da Prefeitura Municipal nos permitiu
estacionar o ônibus na orla da praia, mesmo fazendo o pedido com apenas 2
dias de antecedência. O Aquário Municipal também cedeu gratuitamente os
ingressos para 31 pessoas do nosso grupo (comporto por 21 crianças e 10
adultos/as, educadores/as, familiares e professora coordenadora).
Essa viagem foi um marco na história da Salinha e é lembrada até hoje,
tanto pelas crianças quanto pelas mães e pais, educadores/as, ex-
educadores/as etc., em ocasiões como as festas (juninas, das Crianças, do
pijama etc.), onde todos/as se reúnem. Além da realização de um desejo de
muitos anos e uma experiência inesquecível para todos/as que dela
participaram, permitindo que todas essas pessoas se conhecessem melhor e
fortalecendo os laços que existiam entre elas.
Desde 2012, vem sendo discutido uma nova viagem, tendo em vista,
principalmente, que tanto o grupo de educadores/as quanto boa parte das
crianças e suas famílias mudou. Isso ainda não foi possível, pois, apesar da
parceria do Projeto com a AMORCRUSP (em forma de bolsas e doações
50
mensais regulares) se manter, tanto o número de bolsas como o valor da
doação mensal destinada a Salinha aumentou, o que torna inviável para o
Projeto pedir mais verbas à Associação. Esse valor mensal não é suficiente
para custear uma viagem, mas o acúmulo de 2 ou 3 meses desse valor para
essa finalidade vem sendo discutido pelo grupo de educadores/as.
5.12 Ofícios
Os ofícios são os documentos redigidos pelos/as educadores/as,
coordenadora ou co-coordenador/a do Projeto, contendo solicitações de
materiais, comida e/ou permissão do uso de materiais e/ou espaços da
Universidade para/pelo o Projeto, destinados à AMORCRUSP e à SAS (e seus
respectivos setores, como a Zeladoria e Manutenção, a Divisão de Alimentação
e a Divisão de Creches).
Existem 15 ofícios que separei por remetente e organizei por data.
Desses, 4 ofícios são destinados à SAS: O primeiro ofício é de 27 de setembro
de 2012 e solicita alimentos e materiais para a Festa das Crianças28, que seria
realizada no dia 19 de outubro de 2012. O segundo, datado de 24 de setembro
de 2013, solicita alimentos, materiais e a autorização para usar a sala de vidro
do térreo do bloco A1 para a Festa das Crianças, que seria realizada em 18 de
outubro de 2013; a este último documento segue-se a carta-resposta da SAS,
datada de 25 de setembro de 2013, onde eles se comprometem a colaborar
com a Festa fornecendo os alimentos e materiais que estiverem disponíveis. O
terceiro ofício, datado de 5 de setembro de 2014, solicita alimentos e materiais
para a Festa das Crianças, que seria realizada em 18 de outubro de 2014. Por
fim, o quarto ofício, datado de 22 de setembro de 2015, também solicita comida
e materiais para a realização da Festa das Crianças, que aconteceria em 21 de
outubro de 2015.
Há também 11 ofícios destinados à AMORCRUSP. O primeiro é de 19
de maio de 2011, solicitando a doação de R$ 1.400,00 para a realização da
“Visita à Reserva Natural de Iporanga”, que tem como anexos 1) 1 lista de
passageiros composta por 17 crianças, 19 pais e mães, 9 educadores/as e ex- 28 A Festa das Crianças é uma festa promovida pela equipe de educadores/as do Projeto Crianças do CRUSP, com apoio da SAS, da AMORCRUSP e das mães e pais, realizada anualmente — pelo menos desde 2007 — na segunda quinzena de outubro, com o objetivo de comemorar tanto o dia das crianças quanto o aniversário de fundação do Projeto.
51
educadores/as e a professora coordenadora; 2) 2 orçamentos de fretamento de
ônibus; 3) o recibo de recebimento da doação de R$ 1.400,00 feito pela
AMORCRUSP — gestão Novo AMORCRUSP, datado de 1 de dezembro de
2011 e assinado por “V”.
O segundo ofício é de 30 de novembro de 2012, solicitando a
contratação de mais 1 educador/a bolsista, pois em agosto de 2012 o
Programa Aprender com Cultura e Extensão concedeu apenas 2 bolsas. O
terceiro também é de 30 de novembro de 2012, solicitando o “mesmo” valor de
R$ 500,00 ou os materiais da lista anexa para a realização da Festa das
Crianças do ano seguinte; esse ofício nos possibilita saber que houve uma
doação nesse valor para a realização da Festa de 2012, mesmo que não haja
outro comprovante da doação.
O quarto, quinto, sexto e sétimo ofícios estão todos datados de 23 de
junho de 2014 e solicitam, respectivamente: doações de materiais da lista
anexa para realização de atividade e melhoria do funcionamento e organização
do Projeto; uma doação no valor de R$ 1.500,00 para a realização do passeio
de fim de ano, que aconteceria na última semana de dezembro de 2014; a
colaboração para que se faça uma reforma na Sala das Crianças; e uma
doação no valor de R$ 300,00 para a compra de livros infantis na Festa do
Livro da USP.
O oitavo ofício, datado de 5 de setembro de 2014, solicita uma doação
no valor de R$ 600,00 ou a doação dos itens da lista em anexo para a
realização da Festa das Crianças, que aconteceria em 18 de outubro de 2014.
O nono ofício, datado de 19 de novembro de 2014, solicita a doação de R$
300,00 para a compra de livros infantis na Festa do Livro. O décimo ofício, de
22 de setembro de 2015, solicita a doação de R$ 600,00 para a realização da
Festa das Crianças, que aconteceria em 24 de outubro de 2015. E, finalmente,
o décimo primeiro ofício, datado de 8 de dezembro de 2015, solicita o aumento
do valor da doação mensal de R$ 100,00 para R$ 200,00.
Sobre esses documentos, é importante explicar que nem todas as
solicitações feitas foram atendidas. O quarto, quinto, sexto e sétimo ofícios
enviados à AMORCRUSP, no ano de 2004, não foram atendidos, por exemplo,
e a gestão da AMORCRUSP, dessa época, apesar de pagar as 2 bolsas e
fazer a doação mensal, não se mostrava favorável às atividades do Projeto. No
52
caso dos ofícios enviados à SAS, tanto as Creches/Pré-Escolas como o
Restaurante dos Professores da USP, sempre forneceram a maior parte dos
itens solicitados nos ofícios.
A Festa das Crianças é o evento mais esperado do ano pelas crianças e
suas famílias, além de uma das atividades mais longas que realizamos e que
reúne mais envolvidos/as — dentre crianças, mães e pais, educadores/as, ex-
educadores/as, membros do coletivo antigo, amigos/as das crianças,
convidados/as e até alguns/algumas moradores/as simpatizantes e/ou
parceiros/as do Projeto. É também um evento de grande porte que demanda
muito trabalho, material e comida e que só é possível realizar com as parcerias
entre o Projeto (que faz o trabalho e realiza a Festa), a SAS (que libera o uso
do espaço, além de doar parte da comida e dos materiais necessário via
Creches/Pré-Escolas e Restaurante dos Professores) e da AMORCRUSP (que
fornecia uma doação específica para essa data, cujo valor permitia comprar o
restante dos materiais e alimentos que ficavam faltando).
A partir da permissão do uso da sala de vidro do térreo do bloco A1 do
CRUSP para a Festa das Crianças, em 2012, esse espaço passou a ser usado
para a realização de algumas festas de aniversário infantis e, posteriormente,
para festas em geral, tornando-se, extraoficialmente, o “salão de festas” da
moradia estudantil da USP/SP.
Já os ofícios da Festa do Livro foram atendidos dois anos e isso
permitiu, além de aumentar e renovar o acervo de livros infantis do Projeto, dar
preferência aos livros de literatura infantil especialmente voltados para as
crianças bem pequenas, para as quais a Salinha não dispunha de muitos
materiais.
Com a concessão de mais uma bolsa pela AMORCRUSP o Projeto pode
completar o grupo de bolsistas e, depois, essa bolsa foi destinada à co-
coordenação, que impactou muito positivamente na organização e
funcionamento do Projeto, além de “desafogar” os/as educadores/as para
dedicarem-se mais às atividades e menos com outras questões burocráticas,
de manutenção etc.
53
5.13 Pôsteres do Projeto apresentados em eventos ac adêmicos
Esses documentos dizem respeito aos Pôsteres e/ou Trabalhos sobre o
Projeto Crianças do CRUSP apresentados em eventos acadêmicos, como o 2º,
3º, 4º e 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão da USP, a Virada
Científica 2015 da USP e o Workshop: A USP e as Ações para o
Desenvolvimento Integral na Primeira Infância, em 2015.
Dentre os materiais apresentados em eventos acadêmicos, os referentes
aos Simpósios de Cultura e Extensão são: 1) 1 CD com os projetos do
Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2013/2014; 2) 1 folder de
divulgação do 4ª Simpósio; 3) 1 folder de divulgação do edital 2015/2016; 4) 1
folder de divulgação do Programa Aprender com Cultura e Extensão no
Programa Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da
USP; 5) 1 impressão em A4 preto e branco do pôster apresentado no 3º
Simpósio Aprender com Cultura e Extensão; 6) 1 impressão em A4 preto e
branco do pôster apresentado no 4º Simpósio Aprender com Cultura e
Extensão; e 7) 1 impressão em A4 preto e branco do pôster apresentado no 5º
Simpósio Aprender com Cultura e Extensão.
Além desses documentos, há uma chamada para apresentar trabalhos
no I Workshop “A USP e as Ações para o Desenvolvimento Integral na Primeira
Infância”, em 19 de agosto de 2015, no qual apresentei um Pôster29 sobre o
Projeto.
Todos os projetos que faziam parte do Programa Aprender com Cultura
e Extensão eram convocados a se apresentarem nos Simpósios Aprender com
Cultura e Extensão que aconteciam anualmente, em um campus diferente da
USP. Nesses eventos, os projetos deveriam apresentar um Pôster com o
resumo de suas atividades, objetivos, metodologia, resultados, análises e
referencial teórico, além de imagens ou fotos sobre o trabalho desenvolvido.
Participar desses eventos caracterizou-se como experiência formativa
para cada educador/a que teve a oportunidade de apresentar seu trabalho, da
mesma forma que, cada evento foi uma oportunidade de divulgar e fortalecer o
trabalho desenvolvido na Sala das Crianças, gerando parcerias, como os
estágios de observação. Foi através dessas apresentações que vários/as
29 O Pôster apresentado por mim no Workshop foi o mesmo apresentado pelo grupo de educadores/as no Simpósio Aprender com Cultura e Extensão de 2014.
54
estudantes de outros projetos conheceram a Salinha e se inscreveram para
serem educadores/as bolsistas ou voluntários/as no Projeto, em anos
seguintes.
5.14 Calendários Anuais de Atividades do Projeto
Esses documentos dizem respeito ao planejamento anual do
funcionamento do Projeto e do planejamento mensal das atividades. Eles nos
permitem perceber algumas mudanças que foram acontecendo na estrutura de
organização anual das atividades da Salinha, com o passar dos anos.
Há uma pasta com os Calendários de funcionamento da Salinha de
2012, 2013, 2014, 2015 e 2016 (este feito no segundo semestre de 2015). Os
Calendários vão de janeiro a dezembro dos respectivos anos e marcam as
seguintes datas: início das atividades do ano; semanas de atividades de
formação da equipe; semana de planejamento do primeiro semestre; início das
atividades com as crianças; semana de atividades especiais de boas-vindas;
atividades especiais de férias; feriados (em que não há atividades); início das
atividades regulares; último dia de atividades com as crianças no primeiro
semestre; período de arrumação do espaço, avaliação e planejamento; o
recesso de meio de ano; início das atividades do segundo semestre; a Festa
das Crianças do CRUSP; último dia de atividades com as crianças no segundo
semestre; avaliação do semestre e recesso de fim de ano.
O Calendário de 2014 previa uma Oficina de “Jogos do Mundo”, de 10 a
14 de fevereiro; também previa uma viagem de férias no dia 15 de fevereiro,
mas que não aconteceu. A partir de 2014, passaram a fazer parte do
Calendário uma semana de formação de novos/as bolsistas, os planejamentos
das atividades especiais do segundo semestre do ano e as atividades
especiais de fim de semana, 1 vez por mês e sem data definida, nos meses de
março, abril, maio, setembro e novembro. Isso porque em janeiro não há
atividades com as crianças; em fevereiro, junho, julho, agosto e dezembro
houve 1 semana de atividades especiais com todos/as os/as educadores/as
bolsistas trabalhando todas as noites e em outubro realizou-se a Festa das
Crianças do início da tarde até a noite. O Calendário de 2015 passou a incluir
uma semana para as entrevistas com novos/as candidatos/as no meio do ano.
55
Apesar de só constar oficialmente no Calendário oficial a partir de 2014,
desde quando entrei no Projeto, em 2011, já eram realizadas atividades
especiais de fim de semana, um sábado ou domingo por mês, com duração de
4 horas; inclusive, foi discutindo sobre essas atividades que surgiu a ideia da
viagem para a praia, que aconteceu em dezembro de 2011. Essas atividades
especiais costumavam acontecer nas áreas verdes abertas da USP e
acabavam não sendo registradas no Livro de Registros em sua maioria.
A importância do Calendário Anual e de datas como a das atividades
especiais de fim de semana entrar no Calendário oficial é que isso garante que
atividades muito esperadas pelas crianças (como a Festa das Crianças, as
semanas de atividades especiais de férias etc.), aconteçam todos os anos. E
também garante que outras atividades essenciais para o bom funcionamento
do Projeto (como a semana de limpeza, organização e planejamento de
atividades especiais e a semana de formação) aconteçam no período
adequado e dentro do tempo remunerado de trabalho, favorecendo tanto a
formação dos/as educadores/as quanto a preparação adequada das atividades
que serão aplicadas por eles/elas.
5.15 Proposta e Regras dos “Jogos do Mundo”
O “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos
cinco continentes”, escrito pelo Presidente da Associação Alea-France e pelo
Presidente da Associação Aprendizarte-Brasil, foi uma proposta apresentada
para a AMORCRUSP, visando à criação de uma Brinquedoteca Piloto para as
crianças e moradores/as do CRUSP. Através do financiamento da Associação
de Moradores/as, essa proposta concretizou-se em 1 semana de Oficina de
“Jogos do Mundo”, realizada na Salinha, em fevereiro de 2014.
Logo ao abrir as 2 pastas plásticas, encontrei a proposta redigida para a
AMORCRUSP e várias instruções/regras dos jogos produzidos na semana de
Oficina de “Jogos do Mundo”. Também percebi que havia regras em dois tipos
de material: As regras impressas coloridas e em papel grosso (originais), e as
regras impressas em preto e branco em papel A4 (Xerox). Então, juntei todas
as regras em uma única pasta e organizei por jogo, deixando as originais na
frente, seguidas pelas cópias.
56
Durante a semana de oficina os/as educadores/as do Projeto
conheceram, testaram e aprenderam sobre diversos jogos tradicionais de
diferentes países e culturas ao redor do mundo. Depois elegeram alguns
desses jogos e, com o auxílio dos ministrantes, produziram cópias dos diversos
jogos eleitos com madeira e materiais recicláveis encontrados no CRUSP; e,
por fim, os jogos produzidos durante essa semana passaram a compor o
acervo do Projeto e já foram expostos e disponibilizados para os/as
moradores/as em diversas ocasiões.
Essa semana de oficina foi formativa em diversos aspectos: gerou
aprendizado quanto ao tema jogos e cultura, pois os jogos estão impregnados
dos significados culturais de que são frutos; promoveu um aprendizado técnico-
artesanal durante o processo de fabricação dos jogos e gerou diversas
reflexões sobre materiais recicláveis e brinquedos não comerciais. Como
resultado material, enriqueceu o acervo de jogos da Salinha e ampliou o leque
de jogos das crianças. E, por fim, os jogos produzidos nessa oficina foram
compartilhados com os/as moradores/as nas atividades externas em que as
crianças desceram para mostrar e ensinar os/as moradores/as a jogar e
também foram compartilhados com os/as visitantes da Virada Científica 2015,
que passaram no estande do Projeto e foram convidados/as a jogar com os/as
educadores/as enquanto eram apresentados às atividades do mesmo.
5.16 Outros Documentos
Por fim, nesse último subitem estão outros documentos que são “o único
de seu tipo” e/ou que não se encaixam em nenhuma das categorias anteriores.
Há 1 notificação da SAS destinada à educadora bolsista “CC”, datada de
28 de março de 2012, por conta da atividade de rapel, realizada no dia 23 de
março de 2012, pedindo para que não se repita. Esse documento se refere a
uma atividade especial realizada por “V”, escalador profissional certificado,
contando com todos os equipamentos de segurança, incluindo mosquetão,
cadeirinha e capacete infantil, em que as crianças desceram de rapel do sexto
andar até o térreo do bloco D pelo vão entre as escadas. A atividade foi
interrompida pelos funcionários da equipe de segurança do CRUSP e impedida
de continuar, mesmo contando com um profissional da área e todos os
equipamentos de segurança. Metade das crianças não pôde realizar a
57
atividade, elas ficaram muito tristes, choraram bastante e os/as educadores/as
também ficaram frustrados/as.
Esse episódio (e outros desse tipo) revela que a Universidade não está
preparada para receber as crianças e que sequer há um esforço por seus
agentes de pensar nesse público, pelo contrário, o trabalho desenvolvido
pelos/as educadores/as para tentar diminuir esse problema ainda pode ser
cerceado neste mesmo espaço que o promove.
Há também 1 proposta de “Oficina de reconhecimento de plantas da
horta” feita por alunos/as integrantes do projeto de pesquisa, ensino e extensão
“Criando Terra no IEE” (Instituto de Energia e Ambiente). A oficina foi realizada
no domingo, dia 28 de setembro de 2014, das 10h às 14h. Essa atividade
contou com poucas crianças que se divertiram muito e, por conta disso,
posteriormente houve outra atividade de piquenique na horta, onde as crianças
tiveram a oportunidade de brincar ao ar livre, ver alguns animais como pica-
paus e tartarugas e experimentar algumas flores, folhas e frutas orgânicas da
horta. Essa atividade abriu os horizontes das crianças e educadores/as, que,
embora conheçam e usem vários espaços da Universidade, não sabiam da
existência da horta e nunca tinham explorado essa área da USP.
Existem 3 convites para Festas e 2 bilhetes sobre a Festa do Pijama. O
primeiro convite é da Festa das Crianças, marcada para o dia 18 de outubro de
2014; o segundo é da Festa Junina da Salinha, marcada para o dia 7 de julho
de 2015; o terceiro convite é da Festa das Crianças, marcada para dia 24 de
outubro de 2015 e todas as 3 Festas aconteceram no térreo do bloco A1 do
CRUSP. Quanto aos bilhetes, o primeiro é referente a uma Festa do Pijama
que aconteceu na sexta-feira, dia 12 de dezembro de 2014, e o segundo é
referente à outra Festa do Pijama, que aconteceu em 10 de julho de 2015.
Apesar de os bilhetes não informarem o ano, foi possível descobrir
comparando o dia da semana e do mês, com os calendários de 2014 e 2015.
Há dois folhetos de divulgação do Projeto sem data, ambos avisando
que a Salinha voltou e tratando dos tópicos: O Projeto Crianças do CRUSP,
Como participar, Horário, Visita de bebês e Todo mundo participa. O que difere
entre os 2 folhetos, além de sutis alterações no texto, são os horários: No
primeiro folheto consta que das 19h às 19h30 é o horário de recepção das
crianças e seus responsáveis, às 19h30 é o horário das atividades exclusivas
58
com as crianças e saída dos responsáveis e 21h é o horário de saída das
crianças, enquanto que no segundo folheto (posterior) 19h é a abertura da
Salinha e início das atividades livres, 20h é o início das atividades dirigidas,
21h15 é a saída das crianças e 21h30 o horário de fechamento da Salinha.
Também há um bilhete avisando mães, pais e responsáveis que, a partir de 24
de agosto de 2015, a Salinha terá seu horário de funcionamento com as
crianças estendido até 21h15 e fechará às 21h30. Sobre esses documentos, os
folhetos de divulgação costumam ser distribuídos em todos os apartamentos do
CRUSP na volta das férias de janeiro e/ou de julho e também nas ocasiões em
que se faz o Censo do CRUSP, para avisar as crianças que as atividades
voltaram a acontecer e para apresentar o Projeto às novas crianças que
tiverem chegado no CRUSP.
O segundo folheto e o bilhete foram produzidos logo após a ampliação
do horário de funcionamento da Salinha; o folheto foi distribuído nos
apartamentos e os bilhetes foram entregues às mães e/ou aos pais das
crianças já cadastradas no Projeto, ambos com o intuito de divulgar a
mudança.
Existem 3 versões da Ficha de Cadastro, com diferenças quase
imperceptíveis entre elas. De maneira geral, a Ficha de Cadastro é composta
por: Dados das crianças (nome, bloco, apto, data de nascimento e R.G. ou
R.N.E.), dados dos pais (nome da mãe e do pai, data de nascimento, R.G. ou
R.N.E., número USP, Instituto e curso de ambos), 2 perguntas (“A crianças
possui alguma alergia e/ou toma algum medicamento?” e “A criança pode ir
embora sozinha? Se não, quem está autorizado a buscá-la?”) e o termo de
ciência e autorização do uso de imagem (a ser preenchido com o nome do
responsável, assinatura e data). Esses documentos continuam sendo
preenchidos cada vez que recebemos uma criança nova ou que suas visitas
ficam frequentes. Ele nos permite conhecer melhor cada criança e ter um
panorama do grupo que frequenta a Salinha em cada época. Também é fonte
de consulta quando as crianças querem ir embora sozinhas, quando passam
mal e/ou apresentam problemas de saúde e quando precisamos entregar
bilhetes ou falar pessoalmente com as mães ou pais.
Além desses documentos já citados, há também uma Carta-resposta
sem data, dirigida à representante do grupo das mães sem creches, da USP,
59
explicando os motivos pelos quais a Salinha não poderia ser usada como
creche. Esse último documento foi criado como resposta a um movimento que
começou com a não abertura de vagas nas Creches/Pré-Escolas da USP,
entre 2014 e 2015 (até hoje, em 2016).
O assunto foi discutido em 2 reuniões semanais do Projeto e em 1
reunião mensal com a professora coordenadora e, embora o grupo tivesse
vontade de ajudar essas mães, chegou-se à conclusão de que essa
empreitada colocaria os/as bebês em situações de risco, pois o espaço
pequeno da Salinha, as condições básicas, o acervo de brinquedos etc., não
são adequados e não possuem condições de atender às necessidades de
bebês, além de não haver pessoal suficiente, nem capacitado para garantir os
Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos
fundamentais das crianças (BRASIL 1995 e 2009), dentro todas as demais
exigências legais que implicam a Primeira etapa da Educação Básica.
A partir daí, fomos procurados e questionados por mães e membros da
gestão da AMORCRUSP, esta alegando que o espaço era no CRUSP,
portanto, dentro da jurisdição da Associação de Moradores/as e que se a
AMORCRUSP pagava bolsas, teria o direito de decidir o que era feito no
espaço.
Houve muitas discussões entre os membros da gestão, a representante
das mães e eu, tanto verbalmente como por meios eletrônicos. Foi por conta
disso que surgiu a necessidade de escrever a referida Carta explicando todos
os porquês de a Salinha não poder ser usada como creche. Mesmo depois de
enviar a Carta para a mãe e para os/as membros da AMORCRUSP, eles/elas
continuaram nos abordando em qualquer lugar para discutir o assunto e, em
diversos momentos, eu e os/as demais educadores/as sentimos que nosso
trabalho estava sendo desrespeitado.
A então gestão da AMORCRUSP chegou a tentar votar decisões sobre o
“uso” da Salinha em algumas das assembleias de moradores/as do CRUSP,
mas em todas as ocasiões eu e outros/as educadores/as estávamos lá para
apresentar o Projeto e esclarecer os porquês dessas “decisões” não serem
possíveis. Desde então, a gestão se colocou contra as atividades da Salinha.
Mesmo depois de perder as eleições e mudar para uma gestão favorável ao
trabalho do Projeto, esse grupo de pessoas da gestão anterior continuou
60
trazendo esse assunto para as assembleias, questionado e tentando tirar
nossas bolsas e doações em votações com pouquíssimas pessoas e de
madrugada.
É importante lembrar que o Projeto surgiu com o intuito de garantir um
espaço-tempo para as crianças serem crianças. Nosso trabalho vai em defesa
da infância e, por isso, seguimos resistindo a esses “assédios”, por
acreditarmos convictamente que, como educadores/as em permanente
formação que somos, devemos zelar pela segurança e bem-estar das crianças,
antes de tentar sanar, de forma inadequada, uma necessidade de suas
famílias.
Segue agora uma tentativa de mapear, de forma resumida, alguns dos
acontecimentos desses 13 anos, e de apresentar as respostas descobertas
durante a pesquisa para algumas das questões que a motivaram30.
30 Em 2003, como e por que surgiu o Projeto? A partir de quais necessidades, concepções e expectativas? Quem foram os/as idealizadores/as e membros do coletivo de estudantes fundadores/as do Projeto? E os/as educadores/as bolsistas, estagiários/as, voluntários/as e crianças? Como eram e são as propostas, as atividades e o funcionamento do Projeto? Onde, quando, com quem e como elas foram sendo realizadas? Quais as alterações sofridas no Projeto depois de sua consolidação como um projeto de cultura e extensão universitária, junto ao Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP, a partir de 2009, e ao Programa Unificado de Bolsas de Estudo para Estudantes de Graduação da USP, a partir de 2015?
61
6. O PROJETO CRIANÇAS DO CRUSP: MAPEAMENTO HISTÓRIC O E
DOCUMENTAL
O Projeto Crianças do CRUSP foi fundado e iniciado em 200331, por um
coletivo de estudantes da Universidade de São Paulo/SP, em parceria com a
Associação de Moradores/as do CRUSP (AMORCRUSP) e a Superintendência
de Assistência Social (SAS, antiga COSEAS); O Projeto surgiu quando um
grupo de alunos/as moradores/as do CRUSP percebeu a presença de crianças
na moradia estudantil — local que não estava preparado para receber esse
público32 — e que, muitas vezes, essas crianças não se conheciam, nem se
encontravam. Esses/as alunos/as, que já tinham experiência trabalhando com
crianças no NURI33, então se reuniram e pensaram em propor brincadeiras
para/com essas crianças. A ideia era garantir um espaço-tempo das/para as
crianças, onde elas pudessem se encontrar, interagir e se divertir, ou seja,
serem crianças, nesse ambiente universitário pensado apenas para adultos/as.
Iniciaram-se, assim, as primeiras atividades do Projeto, que eram
oficinas e atividades lúdico-artísticas esporádicas e em horários variados,
realizadas por voluntários/as, de acordo com “aquilo que cada um sabia fazer”.
A fundadora, idealizadora e primeira coordenadora do Projeto, Lia Raquel
Amaral Teixeira, na época aluna de graduação e licenciatura em Letras, fazia
31 Não foi encontrado nenhum documento do ano da fundação do Projeto, entretanto, há 2 documentos que contêm informações sobre esse período: um artigo do jornal Bolsa-Trabalho de 2006 e o Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. Além das informações contidas nesses dois documentos, sabe-se sobre esse período o que é contado pela fundadora na semana de formação. A semana de formação de novos/as educadores/as acontece 1 ou 2 vezes por ano, quando novos/as educadores/as bolsistas ingressam no Projeto. Durante toda uma semana são realizadas palestras, oficinas e rodas de conversa, além de atividades práticas e provocadoras, que façam pensar e refletir sobre crianças, infância e educação, formar e/ou passar a compor a bagagem de cada educador/a e servir de inspiração para a criação, planejamento e execução de atividades no Projeto. 32 Existe no CRUSP apenas 12 apartamentos adaptados e reservados para famílias (apenas a/o aluna/o(s) com seu/sua(s) filho/a(s)) no térreo do bloco A, conhecido como bloco das mães; esse espaço conta com uma cozinha, uma lavanderia e um pátio comum, além de ter uma porta com tranca elétrica no final do corredor dos apartamentos, que não permite que as crianças pequenas saiam sozinhas. Entretanto há mais de 30 famílias morando no CRUSP, de forma que a maioria delas reside em apartamentos comuns, divididos com outros estudantes sem filhos, inclusive em outros blocos além do A. Com exceção do pátio cercado do térreo do bloco A — área comum e acessível para as crianças que moram nos 12 apartamentos do térreo desse bloco —, não havia outro espaço destinado à crianças e que fosse acessível a todas as crianças da moradia estudantil. 33 Desse grupo de alunos/as que trabalhavam no NURI, fazem parte a fundadora, “A” e “A1”, que acompanham as atividades do Projeto até hoje, tanto de forma virtual como pessoalmente, na Festa das Crianças e na semana de formação de novos/as educadores/as.
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todo o trabalho de organização e coordenação sozinha, também de forma
voluntária.
Conforme as atividades foram acontecendo, surgiu a demanda por um
espaço para armazenar os materiais usados nas atividades. Assim, a
fundadora do Projeto se dirigiu às assistentes sociais para apresentar essa
demanda e a COSEAS cedeu ao Projeto um apto reformado e adaptado34 no
segundo andar do bloco D do CRUSP35.
Com o passar do tempo, o grupo de educadores/as voluntários/as
percebeu que havia poucas crianças pelo CRUSP, durante o dia e descobriu
que as mães e pais estudantes que tinham necessidade de trabalhar e/ou
estudar durante o dia já haviam encontrado um modo de fazê-lo, deixando as
crianças em creches, escolas de período integral ou mesmo se organizando
em grupos de mães que revezavam para ficar com as crianças. Assim,
constatando que a maior concentração de crianças na moradia era depois das
18h, a necessidade do Projeto foi se configurando para o período noturno.
Em 200436, o funcionamento da Salinha ainda era esporádico e em dias
variados da semana (de segunda a domingo, incluindo feriados), pois dependia
da disponibilidade de voluntários/as que pudessem oferecer atividades. E foi a
partir dessa experiência bem-sucedida com os/as voluntários/as que o Projeto
foi inscrito pela primeira vez no Programa de Bolsa-Trabalho e, a partir de
2005 37 , passou a contar com contar com 2 educadores/as bolsistas e
alguns/algumas voluntários/as, o que permitiu que as atividades do Projeto se
34 Esse apartamento do CRUSP já havia sido reformado para se tornar a biblioteca da moradia estudantil — foram removidas as paredes internas que dividiam os quartos e construídas prateleiras embutidas e um balcão —, porém concluiu-se que a estrutura do prédio não suportaria o peso dos livros e a sala acabou ficando fechada e/ou servindo como sala de festas. Quando a SAS cedeu o espaço para o Projeto, a pia e o vaso sanitário do apartamento foram trocados por versões menores, de forma a adaptar o espaço para o público infantil. 35 Acredita-se que a COSEAS cedeu a sala por entender a relevância de um projeto como esse e, ao mesmo tempo, porque viu nele a oportunidade de resolver 2 de seus problemas: o não uso/mal uso de um espaço existente na moradia e a falta de um espaço destinado às crianças. 36 O primeiro documento redigido no Projeto foi o Caderno de Frequência e Registro, que depois passou a ser Livro de Registro, em 2010. Sobre o ano de 2004 existem ainda os documentos dos Processos de Seleção de Monitor/a Bolsista, além de haver informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 37 Em 2005 começaram a ser produzidos os seguintes documentos na Salinha: Fichas de Cadastro das crianças, Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e o primeiro Livro de Registro. Além deles, ainda existia o Caderno de Frequência, os Documentos da Seleção de Monitor/a Bolsista e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010.
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tornassem regulares e acontecessem todos os dias da semana, de segunda a
sexta-feira, das 19h as 21h.
Nesse ano houve um primeiro Censo das crianças do CRUSP e foram
feitas 18 Fichas de Cadastro de crianças da moradia, embora fosse de
conhecimento geral que houvesse mais crianças (conferir o documento de
inscrição no Programa de Bolsa-Trabalho). Um dos motivos para tantas
crianças “omitidas” nesse Censo seria o medo das famílias que, em grande
parte dos casos, morava com a(s) criança(s) em apartamentos comuns de
forma irregular, omitindo a existência da(s) criança(s) para a COSEAS, por
saber que não havia vagas suficientes no bloco das mães e acreditar que, por
terem filho/a(s), não conseguiriam vaga na moradia (comum).
No final de 2005, foi enviada uma carta dos Pais e Mães moradores/as
do CRUSP, dirigida à COSEAS, manifestando sua grande satisfação com o
Projeto, ressaltando sua importância e pedindo a ampliação do horário de
funcionamento e do número de educadores/as bolsistas.
Em 200638 o Projeto continuou com 2 educadores/as bolsistas e pelo
menos 2 voluntários/as; houve um novo Censo e 25 fichas foram preenchidas
nesse ano. Além disso, ficamos sabendo através dos documentos que havia
mais de 30 crianças de 0 a 12 anos no CRUSP, nessa época, e também já
havia uma estrutura de funcionamento da Salinha, dividida em atividades
dirigidas e momentos livres; essas atividades dirigidas eram planejadas e
discutidas pelo grupo de educadores/as. No fim do ano o Projeto foi novamente
inscrito no Programa de Bolsa-Trabalho, que a partir de 200739 concedeu 4
bolsas, o que permitiu a ampliação do horário de funcionamento para as tardes
de sábado e domingo; também foi nesse ano que começaram os empréstimos
de brinquedos.
38 Em 2006 começaram a ser escritos os Planejamentos de Atividades de Ensino e também nesse ano saiu um artigo sobre o Projeto no jornal Bolsa-Trabalho. Além deles, ainda existia o Caderno de Frequência, os Documentos da Seleção de Monitor/a Bolsista, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, o Livro de Registro e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 39 Em 2007 começaram a ser escritos os Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças. Além dele, ainda existia o Caderno de Frequência, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, o Livro de Registro, os Planejamentos de Atividades de Ensino e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010.
64
Em 2008 40 surgiram os primeiros registros financeiros de pequenos
gastos irregulares da Salinha e também foi escrito o primeiro trabalho
Acadêmico sobre o Projeto (“Sala das Crianças do CRUSP: coletânea de
projetos 2008”). Também nesse ano, com o fim do Programa de Bolsa-
Trabalho, o Projeto passou a contar com apenas 1 educador/a bolsista pela
AMORCRUSP e com a ajuda de voluntários e do então coletivo antigo
(fundadores e primeiros educadores/as voluntário do Projeto), e as atividades
começam a ficar um pouco irregulares. Essa situação se manteve até que em
200941 a Profa. Dra. Patrícia Prado (FEUSP/SP) passou a coordenar o Projeto
e conseguiu o primeiro educador/a bolsista pelo Programa Aprender com
Cultura e Extensão (que pagava uma bolsa fixa no valor de R$ 300,00
mensais) e assim, com 2 educadores/as bolsistas, as atividades voltam a ser
regulares.
A partir de 201042 o Projeto começou a receber uma doação mensal de
R$ 50,00 feita pela AMORCRUSP. Também começaram a haver leituras
teórico-formativas e reuniões de orientação com a professora coordenadora,
além do convite para que todos/as os/as educadores/as cursassem sua
disciplina como atividade de formação acadêmica complementar. Nesse ano o
ex-educador bolsista “V” passa a compor o coletivo antigo; houve também
alguns problemas de incompatibilidade entre a dupla de educadores/as, que se
resolveu no primeiro semestre de 2011 43 , com a troca de um/a dos/as
educadores/as. No segundo semestre o Projeto conseguiu 3 bolsas pelo
40 Em 2008 começaram a ser escritos os Trabalhos Acadêmicos sobre o Projeto e a aparecer os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais. Além deles, ainda existia o Caderno de Frequência, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, o Livro de Registro, os Planejamentos de Atividades de Ensino, Relatórios Individuais de Trabalho com as crianças e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 41 Em 2009 não foi produzido nenhum tipo novo de documento no Projeto, mas ainda existia o Caderno de Frequência, o Livro de Registro, os Documentos do Processo de Seleção de Monitor/a Bolsista, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e havia informações sobre esse ano no Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. 42 Em 2010 foi redigido o Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2010. Além dele, ainda existia o Caderno de Frequência, o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais. 43 Em 2011 foram redigidos o Relatório Final de Bolsa do Programa Aprender com Cultura e Extensão de 2011, os Documentos da viagem para a praia e Ofícios. Além deles, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais.
65
Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP e voltou a ter 4
educadores/as bolsistas que se alternavam em duplas, mas cada educador/a
executava propostas de trabalho individuais com a ajuda do/a outro/a
educador/a que acompanhava. Foi nesse período que me tornei educadora do
Projeto e quando a então gestão da AMORCRUSP fez a primeira doação para
a Festa do Livro e custeou a viagem para a praia
Já em 201244, com o gradual afastamento do coletivo antigo45, comecei,
também gradualmente, a assumir algumas funções de co-coordenação; nesse
período o Calendário das atividades do ano (semana de formação, feriado etc.)
norteou bastante o nosso trabalho e foi quando recebemos uma notificação da
SAS pedindo que a atividade de rapel não se repetisse. A partir do segundo
semestre, o Programa Aprender com Cultura e Extensão forneceu uma bolsa a
menos e com o revezamento de apenas 3 educadores/as, em uma das noites
um/a deles/as trabalhava sozinho/a. Nesse período houve o primeiro registro
de Estágio de observação — “Relações sociais num ambiente não formal de
educação (Alunos e educadores)” — e foram feitas doações da SAS e da
AMORCRUSP para a realização da Festa das Crianças de 2012.
Durante o primeiro semestre de 201346 , a gestão da AMORCRUSP
cedeu mais 1 bolsa para voltarmos a funcionar com 4 educadores/as bolsistas
e aumentou do valor da doação mensal para R$ 100,00. E no segundo
semestre, o Programa Aprender com Cultura e Extensão voltou a conceder 3
bolsas, deixando o Projeto com 5 bolsas no total e permitindo a criação da
bolsa de co-coordenação. Nesse período o planejamento de atividades passou
a ser feito em dupla e discutido com todo o grupo de educadores/as. No final
44 Em 2012 a Salinha recebeu uma notificação da SAS e um Trabalho de graduação sobre o Projeto, chamado “Relações sociais num ambiente não formal de educação (Alunos e educadores)”, que foi redigido pelo estagiário de observação “E6”. No Projeto, foram produzidos o Calendário anual de Atividades do Projeto, o Pôster Apresentado no 2º Simpósio do Programa Aprender com Cultura e Extensão e o Folheto de Divulgação do Projeto. Além deles, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos e os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e Ofícios. 45 Com o passar dos anos, esses/as estudantes foram se graduando, se mudando, conseguindo emprego, tendo filhos e se distanciando do Projeto. 46 Em 2013 o “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos cinco continentes”, escrito pelo Presidente da Associação Alea-France e pelo Presidente da Associação Aprendizarte-Brasil, foi apresentado para a AMORCRUSP, com o intuito de acontecer na Sala das Crianças. No Projeto foi produzido o Pôster apresentado no 3º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão e, além desse documento, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e os Ofícios.
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do ano recebemos a proposta do “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013:
Museu de Jogos dos cinco continentes” que, posteriormente, foi financiado pela
então gestão da AMORCRUSP e se concretizou na oficina de “Jogos do
Mundo” no ano seguinte.
Em 201447, por conta da Copa do Mundo de Futebol, da greve, das
assembleias etc. a Salinha ficou quase 1 mês fechada. Na reunião de
encerramento do primeiro semestre, surgiu uma demanda por parte dos/as
educadores/as para que no dia da semana formação em que discutíamos
burocracias, eu pudesse falar também das Literaturas Infantis, disciplinas da
qual fui monitora. Assim, a partir do segundo semestre, também passei a dar
formação de Literatura Infantil — Literatura e Brincadeira —, junto com o
coletivo antigo na semana de formação de novos/as educadores/as. Também
nesse período recebemos a proposta de participar da “Oficina de
reconhecimento de plantas da horta” — (IEE), que se concretizou em duas
visitas à horta.
Em 201548 houve um aumento expressivo no número de voluntários/as
no Projeto. Também foi criado o Programa Unificado de Bolsas de Estudo para
Estudantes de Graduação da USP, através do qual conseguimos mais 3
bolsas. Com 8 educadores/as bolsistas no total, foi possível, finalmente, a 47 Em 2014 o “Projeto-Brinquedoteca AMORCRUSP 2013: Museu de Jogos dos cinco continentes”, proposto no ano anterior, se concretizou em uma semana de Oficina de produção de “Jogos do Mundo” na Sala das Crianças; o Projeto também recebeu a proposta de atividade “Oficina de reconhecimento de plantas da horta”, feita por alunos/as integrantes do projeto de pesquisa, ensino e extensão “Criando Terra do IEE” e a oficina foi realizada no dia 28 de setembro de 2014. No Projeto, foram produzidos o Pôster apresentado no 4º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão, o Convite da Festa das Crianças (18 de outubro de 2014) e o Bilhete da Festa do Pijama (12 de dezembro de 2014). Além desses documentos, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e os Ofícios. 48 Em 2015 foi publicado o artigo “Coseas largou a Sala das Crianças” na 4ª edição do Canalha, Jornal da AMORCRUSP, contendo informações incorretas sobre o Projeto; e na edição seguinte foi publicada a carta-resposta do Projeto corrigindo as informações errôneas antes veiculadas. Ainda nesse ano houve uma demanda da AMORCRUSP e do Grupo de Mães sem Creche, para que o Projeto cedesse seu espaço durante o dia para servir como creche para o grupo solicitante; depois de várias discussões, o grupo de educadores/as, a co-coordenadora e a professora coordenadora chegaram à conclusão de que não era possível atender a essa solicitação e redigiu uma carta-resposta aos solicitantes, explicando os motivos pelos quais a Salinha não pode ser usada como creche. Nesse ano também foi produzido no Projeto o Pôster apresentado no 5º Simpósio Aprender com Cultura e Extensão, o convite da Festa Junina da Salinha (07 de julho de 2015), o bilhete referente à Festa do Pijama (10 de julho de 2015), o convite da Festa das Crianças (24 de outubro de 2015), o novo folheto de divulgação da Salinha e o bilhete avisando os pais da expansão do horário de funcionamento do Projeto. Além desses documentos, ainda existia o Livro de Registro, as Fichas de Cadastro das crianças, o Livro de Empréstimos de livros e brinquedos, os Comprovantes de Compras e Notas Fiscais e os Ofícios.
67
ampliação do horário de atendimento diário, em meia hora, além de mudança
no revezamento de educadores/as durante a semana, permitindo mais tempo
para planejamento, organização, preparação e avaliação coletiva das
atividades. Isso também garantiu que a Salinha permanecesse aberta mesmo
quando algum/a educador/a faltasse.
No fim desse ano de 2015, foi feito um pedido de aumento no valor da
doação mensal feita pela AMORCRUSP, que, em fevereiro de 2016, passou
para R$ 600,00 e têm permitido a aquisição de livros, brinquedos, materiais
específicos mais caros e de melhor qualidade, alguns para a manutenção do
espaço da Salinha, além de permitir ampliar, ousar e diversificar mais as
atividades e atender às demandas das atividades preferidas feitas pelas
crianças, como as de culinária, por exemplo.
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7. UMA TRAJETÓRIA EM DEFESA DA INFÂNCIA
Para analisar a trajetória construída pelo Projeto pesquisado, no sentido
de seu caminho em defesa da infância, partirei de três documentos oficiais que
dizem respeito aos direitos das crianças e da infância, destacando neles os
aspectos em comum aos princípios, concepções e atividades propostas no
Projeto. São estes: o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL 2012), A
Convenção sobre os Direitos da Criança (UNICEF, 1989) e a Declaração dos
Direitos da Criança (ONU 1959) – além das concepções teóricas norteadoras
do Projeto e desta pesquisa, no campo da Pedagogia da infância.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)49 é uma lei que dispõe
sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. A lei considera criança a
pessoa de 0 a 12 anos e a/o adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos e, em
casos excepcionais, considera ainda adolescente as pessoas entre 18 e 24
anos. Vale destacar que todas as informações a seguir encontram-se no Livro I
— Parte Geral do documento. As crianças que frequentam o Projeto estão
dentro dessa faixa etária (de 2 a 12 anos), embora este não tenha um limite
delimitado e fechado quanto à idade das crianças para sua participação,
principalmente, nas atividades aos finais de semana e nas festas, por exemplo,
com a presença de bebês menores de dois anos (acompanhados de seus/suas
responsáveis) e de crianças/jovens maiores de 12 anos.
No Título I — “das Disposições Preliminares”, deste mesmo documento,
acima citado, o artigo 4º prevê que “É dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público assegurar , com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer , à profissionalização, à cultura , à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” . Esse
dever, portanto, também nos cabe, especialmente, por sermos estudantes de
uma Universidade Pública e bolsistas de um projeto de cultura e extensão, que
tem como um de seus objetivos, retornar à sociedade seu investimento (na
forma de impostos), na construção de conhecimentos e na melhoria das
condições de vida.
49 O ECA foi criado em 13 de julho de 1990 e é referência mundial como legislação destinada a proteger a infância e a juventude.
69
No Título II — dos Direitos Fundamentais, Capítulo II: “do Direito à
Liberdade, ao Respeito e à Dignidade”, o artigo 16 prevê que “o direito à
liberdade compreende os seguintes aspectos: I — ir, vir e estar nos
logradouros públicos e espaços comunitários (...); II — opinião e
expressão ; (...) IV — brincar, praticar esportes e divertir-se ; V — participar
da vida familiar e comunitária , sem discriminação ; (...)”. A Universidade é
um espaço público e o CRUSP um espaço comunitário dentro da mesma. O
Projeto é o espaço para as crianças dentro do CRUSP; a Salinha garante um
espaço-tempo no qual as crianças podem se expressar, brincar e se divertir.
Nas atividades externas, garante o direito de poder ir e vir pelo CRUSP, pela
Universidade e fora dela, interagir com a comunidade com segurança e
acompanhadas por educadores/as.
No Título II, Capítulo IV — “do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte
e ao Lazer”, o artigo 53 prevê que “A criança e o adolescente têm direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua p essoa (...),
assegurando-lhes: (...) II — direito de ser respeitado por seus educadores ;
(...)”. No artigo 58, que “No processo educacional respeitar-se-ão os
valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da
criança e do adolescente, garantindo-se a estes a l iberdade da criação e o
acesso às fontes de cultura ”.
Na Salinha, as relações acontecem num sentido horizontal, em que as
mesmas regras de convívio, de conservação dos materiais etc., servem para
crianças e educadores/as, priorizando o respeito mutuo. Também são
respeitadas e valorizadas todas as culturas e diversidades (de classe social, de
gênero, de idade e de geração, de raça e etnia etc.) apresentadas e presentes,
que revelam uma infância plural, diversas infâncias (SAYÃO 2002).
No Título III — Da Prevenção — Capítulo I: “Disposições Gerais”, o
artigo 71 prevê que “A criança e o adolescente têm direito a informação,
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que
respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. As
atividades no Projeto também são realizadas com sentido de conversar, discutir
e informar, sem omitir ou enganar, todos os assuntos que forem propostos
pelos/as educadores/as ou demandados pelas crianças; o mesmo pode ser dito
a respeito de atividades culturais, de lazer, esportivas, ou simplesmente
70
divertidas, uma vez que as brincadeiras, forma peculiar de as crianças
conhecerem o mundo e de tornarem-se crianças, têm como essência o prazer
e o divertimento (BENJAMIN 1984) e um fim em si mesmas (PRADO 2009).
A Convenção sobre os Direitos das Crianças50 é um tratado que prevê a
proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo. Na Parte I — artigo I
define criança como todo ser humano com menos de 18 anos e no artigo II,
que os direitos previstos no tratado devem ser respeitados e garantidos a todas
as crianças, “independentemente de (...) raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política (...), ou da sua origem nacional, étnica ou social , fortuna,
incapacidade, nascimento ou qualquer outra situação”. A Salinha é um retrato
da diversidade do CRUSP; há crianças de todas as idades, de diferentes
países, com diferentes culturas, crenças, línguas etc., e o trabalho dos/as
educadores/as busca garantir que todas essas diferenças sejam respeitadas e
que todas as crianças possam participar igualmente das atividades.
No seu Artigo 12 - 1. Os Estados Partes garantem à criança com
capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião
sobre as questões que lhe respeitem , sendo devidamente tomadas em
consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade.
E, no Artigo 13 - 1. A criança tem direito à liberdade de expressão . Este
direito compreende a liberdade de procurar, receber e expandir
informações e ideias de toda a espécie , sem considerações de fronteiras,
sob forma oral, escrita, impressa ou artística ou p or qualquer outro meio
à escolha da criança .
Como as próprias crianças costumam dizer: “—A Salinha é das
crianças”, e elas são livres para decidir com que, com quem e de que querem
brincar, se aceitam, ou não, as atividades propostas pelos/as educadores/as,
podendo ainda propor suas próprias atividades ou discussões. No caso das
crianças menores, os gestos e a movimentação, os sons e as tentativas de
fala, além das expressões faciais, são observados e levados em consideração
durante as atividades, pois são formas legítimas de comunicação e de
reconhecimento do que elas são e de suas preferências – revelando uma
perspectiva muito distinta das formas de educação formal cerceadoras dos
50 A Convenção sobre os Direitos das Crianças foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989.
71
corpos das crianças, que se estabelecem nos seus espaços escolares, como
denuncia Sayão (2008).
Ainda no mesmo documento acima, no Artigo 29 — 1. (...) a educação
da criança deve destinar-se a: a) Promover o desenvolvimento da
personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicos na
medida das suas potencialidades ; b) Inculcar na criança o respeito pelos
direitos do homem e liberdades fundamentais e pelos princípios consagrados
na Carta das Nações Unidas; c) Inculcar na criança o respeito pelos pais,
pela sua identidade cultural, língua e valores, pel os valores nacionais do
país em que vive, do país de origem e pelas civiliz ações diferentes da sua ;
d) Preparar a criança para (...) a vida numa sociedade livre, num espírito de
compreensão, paz, tolerância, igualdade entre os se xos e de amizade
entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais e r eligiosos e com
pessoas de origem indígena ; e) Promover o respeito da criança pelo meio
ambiente.
Há uma grande diversidade de crianças no CRUSP, de diferentes etnias
e idiomas, dentro das suas cem linguagens (EDWARDS et al 1999); quando
isso apresenta alguma dificuldade ou estranheza para as crianças, os/as
educadores/as mediam as situações tanto no sentido de entender e respeitar
as condições da criança que chega, como de ensinar as outras crianças a
respeitar e valorizar as particularidades da criança nova, incentivando a
curiosidade em aprender sobre essa outra cultura, em promover a troca de
experiências, o aprendizado de novas brincadeiras e a amizade entre as
crianças.
Artigo 31 - 1. Os Estados Partes reconhecem à criança o direito ao
repouso e aos tempos livres, o direito de participa r em jogos e atividades
recreativas próprias da sua idade e de participar l ivremente na vida
cultural e artística . - 2. Os Estados Partes respeitam e promovem o direito da
criança de participar plenamente na vida cultural e artística e encorajam a
organização, em seu benefício, de formas adequadas de tempos livres e de
atividades recreativas, artísticas e culturais, em condições de igualdade .
Essa é basicamente a função do Projeto: garantir espaços-tempos livres para
as crianças serem criança, diferentes da escola ou da casa, para descansar,
brincar, participar, ou não, das atividades, etc.
72
A Declaração dos Direitos da Criança51 é constituída por 10 princípios,
que pretendem garantir que as crianças vivam com dignidade. Dentre esses
princípios o trabalho realizado na Sala das Crianças está em total consonância
com, pelo menos, cinco deles: Princípio 1º – “Toda criança será beneficiada por
esses direitos, sem nenhuma discriminação por raça, cor, sexo, língua,
religião, país de origem, classe social ou riqueza . (...).”. Princípio 2º – “Toda
criança tem o direito a proteção especial, e a todas as facilidades e
oportunidades para se desenvolver plenamente, com l iberdade e
dignidade .”. O Projeto cria essa oportunidade ao propiciar que as crianças
brinquem e se desenvolvam com segurança, num local (CRUSP) que não está
preparado para elas.
Princípio 4º – “(...) Toda criança também tem direito a alimentação,
habitação, recreação e assistência médica!”. O Projeto busca garantir a
recreação das crianças, portanto, tanto nos momentos livres, como durante as
atividades dirigidas. Princípio 7º – “Toda criança tem direito de receber
educação primária gratuita, e também de qualidade, para que possa ter
oportunidades iguais para desenvolver suas habilidades. E como brincar
também é um jeito gostoso de aprender, as crianças também têm todo o
direito de brincar e se divertir !”. Ainda que seja um espaço de educação não
formal, com atividades que objetivam a diversão, assim como no 7º princípio, o
Projeto fundamenta-se na brincadeira como forma de aprender e de ensinar, ao
mesmo tempo, entre as crianças, entre elas e os/as educadores/as, e entre
os/as próprios/as educadores/as.
Princípio 10º – “A criança deverá ser protegida contra qualquer tipo
de preconceito , seja de raça, religião ou posição social. Toda criança deverá
crescer em um ambiente de compreensão, tolerância e amizade, de paz e
de fraternidade universal ”. Os/as educadores/as trabalham no sentido de que
as crianças não sofram, nem reproduzam, nenhum tipo de preconceito, ao
contrário, que busquem ser compreensivas e aprendam com as diferenças.
51 A Declaração dos Direitos da Criança, aprovada nem 20 de novembro de 1959 na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi um documento criado a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com um foco adaptado para as questões que envolvem as crianças.
73
Para Hannah Arendt (1978)52, em seu texto A crise na educação, a
educação está diretamente relacionada à natalidade; os indivíduos nascem
para o/no mundo e o professor tem a função de mediador entre o mundo que já
existe e a nova geração que acabou de chegar. Segundo a autora, a crise na
educação tem origem em causas gerais que a transcendem, como a crise do
mundo moderno, a incapacidade da escola de ensinar às crianças e jovens a
pensar e a perda da autoridade das famílias e professores/as. Para ela, a
função da escola é de ensinar às crianças o funcionamento deste mundo
moderno e provocá-las a mudá-lo.
O texto de apresentação do documento “Sala das crianças do CRUSP:
coletânea de projetos 2008”, escrito pela fundadora e primeira coordenadora do
Projeto, Lia Raquel Amaral Teixeira, começa com a seguinte citação da
Hannah Arendt:
A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum (ARENDT, 1978, p. 247).
Não por acaso, essa citação foi escolhida, pois sistematiza as
concepções e propostas educativas do Projeto, desde seu início. Em diversas
vezes, nas semanas de formação dos/as bolsistas, a pergunta-chave feita era
sempre esta: “O que você acha negativo não fazer com uma criança ou o que
você acha que toda criança deveria poder fazer?”. Além de crucial para a
entrevista, a resposta para essa pergunta, muitas vezes, é o que norteia o
trabalho do/a candidato/a selecionado/a quando este/a passa a ser educador/a.
O ponto-chave aqui, porém, é que esta pergunta é precedida por uma
breve exposição/conceituação do tipo de trabalho desenvolvido no Projeto, que
52 Hannah Arendt, filósofa alemã do século 20, foi uma das mais importantes pensadoras políticas de seu período, mas sua obra se estendeu até tocar outras áreas como a educação.
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costumo chamar de “história do amor” e que tentarei relatar da mesma forma
que costumo contar aos/às candidatos/as durante a entrevista:
“Antes de fazer a próxima pergunta/antes que vocês me respondam
essa pergunta, vou contar para vocês sobre a história do amor. Todos nós
temos alguma coisa, algum assunto, um hobby ou outra atividade que amamos
e, às vezes, nem conseguimos explicar o porquê. Geralmente, quem trabalha
ou quer trabalhar com educação também ama muito as crianças, tanto que
quer conviver e até trabalhar com elas. E é nesse amor pelas crianças e por
uma construção do mundo que se baseia o nosso trabalho aqui na Salinha.
Não existe um roteiro de atividades ou um projeto político pedagógico a ser
seguido. Nós ensinamos as coisas que amamos e que achamos importante
serem mantidas, para essas pessoinhas que estão chegando e com quem nós
queremos viver e compartilhar essas coisas, simplesmente por achá-las
importantes ou legais.”
Essa “história do amor” nada mais é que uma interpretação daquela
citação da Hannah Arendt (1978). Na hora da entrevista o intuito é gerar uma
breve reflexão nos/as candidatos/as sobre o que querem preservar ou
transformar no mundo, junto às crianças e, assim, responder de forma mais
pessoal e profunda à questão proposta: “O que você considera negativo não
fazer com uma criança? O que você acha que toda criança deveria poder
fazer?”.
Em curto prazo, a resposta para essa pergunta tende a se tornar a
primeira atividade especial desse/a novo/a educador/a, além de se tornar
especial para as crianças — já que costuma ser uma atividade mais longa e de
maior impacto e que, por meio dela, as crianças conhecem o/a “tio/a novo/a” e
vice-versa. É especial para o/a educador/a, pois concretiza-se nela a realização
de algo que ele/ela considera importante ser apresentado, conhecido,
experimentado e compartilhado com as crianças. No meu caso, e em tantos
outros, minha resposta — “Toda criança deveria poder dormir fora de casa” —
concretizou-se na minha primeira atividade especial, a 1ª Festa do Pijama.
Essa atividade foi tão especial para as crianças e para mim que, a partir de
então, passou a integrar o Calendário anual de atividades da Salinha.
Em longo prazo, a reflexão sobre essa questão pode nortear todos os
projetos de atividade desse/a educador/a (ou não, o que também não é um
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problema). Novamente, no meu caso, como em tantos outros, foi isso o que
aconteceu. Meu amor pela Literatura (motivo pelo qual ingressei no curso de
Letras) e o desejo de transmitir isso que considero tão importante às crianças
embasou todo o meu trabalho nos dois anos em que fui educadora bolsista do
Projeto, nos quais desenvolvi um projeto de Literatura e Brincadeira, com
atividades ligadas a Literatura Infantil e adaptações cinematográficas, mitologia
grega e contação de história.
Outros/as educadores/as também vincularam as suas atividades aos
assuntos do seu curso de origem (como os/as alunos/as da Geografia que
fizeram atividades de caça ao tesouro, mapeamento do CRUSP, escavação de
“fósseis” e reconhecimentos das árvores etc.), e sobre esse aspecto, a
fundadora havia escrito na Coletânea de projetos 2008: “os monitores têm a
oportunidade de aplicar os saberes adquiridos em seu curso de graduação,
escolhendo (livre e responsavelmente) os conteúdos a serem abordados e
experimentando diferentes metodologias de ensino”.
Por fim, temos ainda os casos de educadores/as que se dedicaram a
pesquisar e aprender sobre temas distintos de sua área acadêmica e/ou de sua
atuação profissional e que planejaram atividades que não puderam
aprenderam ou realizar na infância (como mágicas, teatros, danças, guerras de
lama, de bexiga com água etc.), o que também constitui uma experiência
formativa e enriquecedora do ponto de vista profissional, formativo e humano,
indispensável no trabalho educativo com crianças.
Em O enigma da infância, Jorge Larrosa (1998) argumenta que não
sabemos nada sobre as crianças, ao mesmo tempo em que “sabemos” o que
elas sentem, querem e precisam e, por isso, produzimos centenas de coisas
para elas. Acreditamos saber o que é a criança e a infância, mas sabemos
apenas “mais ou menos” porque esses conceitos nos ultrapassam e nos
escapam. Nas palavras do próprio autor “a infância, entendida como um outro,
não é o que já sabemos, mas tampouco é o que ainda não sabemos” (p. 184).
O mesmo autor aproxima-se de Arendt (1978) quando trata da criança
como um novo ser que chega ao mundo e traz a seguinte citação da autora em
seu texto: “a educação tem a ver com o nascimento, com o fato de que
constantemente nascem seres humanos no mundo”, ela “é o modo como as
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pessoas, as instituições, respondem à chegada daqueles que nascem” (p.
186).
Larrosa (1998) também questiona o quanto os adultos pensam e
produzem para as crianças, mas não do ponto de vista delas. Ele apresenta a
seguinte questão: “E, se a educação é o modo de receber aquele que nasce,
não seria o caso de, então, deixar acontecer a verdade que traz consigo aquele
que nasce?” (p. 196), e em seguida, no final de seu trabalho, propõe “um
autêntico cara a cara com o enigma, uma verdadeira experiência, um encontro
com o estranho e com o desconhecido, o qual não pode ser reconhecido nem
apropriado” (p. 197).
Existe um esforço por parte dos/as educadores/as (que, na maioria das
vezes, funciona) em recuperar sua dimensão brincante, recordar a infância e
exercitar o olhar infantil. Esse exercício, provocado nas reuniões de formação e
coordenação, é feito durante o planejamento de atividades e revela que quanto
mais viva essa dimensão brincante estiver, maiores as chances das atividades
com as crianças serem bem-sucedidas.
Os materiais adquiridos também são pensados em função das
atividades com as crianças ou da demanda das próprias crianças e, em ambos
os casos, adquiridos conforme a verba disponível ou doados. É o caso de
materiais como tinta de rosto, tinta guache, bexigas, cola quente e glitter, além
dos itens para as atividades de culinária, ou ainda, daqueles materiais de uso
frequente.
A mistura etária é uma das características mais marcantes da Sala das
Crianças. Como consta em documentos como os Folhetos de divulgação das
vagas para educador/a bolsista, nos projetos inscritos no Programa de Bolsa
Trabalho e em alguns outros documentos, o Projeto atende crianças de 2 a 12
anos e recebe a visitas de bebês de 0 a 2, acompanhados/as pela mãe, pai ou
responsável. Na prática, já tivemos crianças que frequentaram a Salinha até os
14 anos, pois não existe de fato uma restrição etária por parte do Projeto; as
crianças podem e devem vir enquanto gostarem das atividades e se sentirem
crianças, independente de terem mais ou menos de 12 anos.
Além de ser uma das características mais interessantes do Projeto, essa
mistura de idades vem provando as possibilidades infinitas de brincadeiras e
propostas com crianças de idades diferentes. Para isso, basta que, como
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argumenta Prado, o planejamento de atividade e a prática educativa seja
pensada de forma:
[...] que leve em consideração a condição infantil e a capacidade das crianças menores e maiores, quando juntas, construírem uma relação de referência umas para as outras, no sentido de demonstrar, disputar, sugerir, negociar, convidar, trocar e compartilhar experiências e brincadeiras. Nestes momentos, menores e maiores estabelecem relações mais solidárias e cooperativas do que quando estão separadas (PRADO, 2006, p. 154).
Sobre essa característica do Projeto, a fundadora escreve no documento
“Sala das crianças do CRUSP: coletânea de projetos 2008”, que a seleção de
temas e metodologias para as atividades é complexa e exigente por conta da
grande diferença de idade entre as crianças do Projeto (entre 2 e 12 anos), que
formam um único grupo. Ainda assim, essa condição não é vista como um
empecilho, mas como um estímulo para que os/as educadores/as inventem
novas formas de educar.
A mistura entre as crianças de idades diferentes pode ser tão significativa para as crianças, para as profissionais docentes e para a sociedade de forma mais ampla, quanto já é a convivência entre crianças da mesma idade — experimentando vivências mais e menos conflitivas, mais e menos cooperativas, tendo a oportunidade de conviver com parceiros da mesma idade e também de idades diferentes (PRADO, 2006, p. 154).
Quanto às atividades propostas pelas próprias crianças, elas podem
acontecer todos os dias no horário livre ou podem ser planejadas junto aos/às
educadores/as. As crianças também podem propor outras atividades e
brincadeiras em detrimento da atividade planejada pelos/as educadores/as, já
que sabem melhor do que ninguém o que querem ou não fazer, desde que se
organizem e decidam em grupo, contando com o respeito e apoio de todos/as.
A esse respeito, Prado acredita em uma Educação:
[...] que possibilite às professoras aprender com as crianças, inventando, transgredindo, lidando com o inusitado e com o imprevisto, num espaço em que ambas possam expor seus sentimentos, pensamentos, atitudes, propõe-se como uma
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educação anti-idadista e interetária, que não priorize uma determinada idade em função de outras e que permita composições múltiplas entre as crianças de idades iguais e diferentes, não apenas na divisão dos espaços e das atividades educativas, mas efetivamente compartilhando-as entre si espaços e tempos. (PRADO, 2006, p. 158)
O convívio entre crianças de diferentes idades não é a única
especificidade do Projeto. Outro ponto que chama a atenção é a pluralidade
das áreas de formação do grupo de educadores/as. Segundo a fundadora do
Projeto, diferente de outros projetos educativos, a proposta da Salinha não é de
que as atividades sejam desenvolvidas por especialistas em Educação, e sim,
por estudiosos/as que buscam sólida formação em suas áreas do
conhecimento e com profundo interesse na tarefa docente.
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Meu envolvimento com o Projeto Crianças do CRUSP, nos últimos cinco
anos, observando e constatando sua importância para todos/as os/as que dele
participam, moveu-me a querer descobrir, compreender analiticamente e contar
seu percurso nesses 13 anos de história, da qual eu também participei e
participo. Além disso, era importante levantar, identificar e organizar toda a
documentação produzida nesses anos de Projeto para conhecer, registrar e
problematizar sua história, trajetória e propostas, além de concretizar outro
objetivo do Projeto, desde 2009, que é o de incentivar e promover o
desenvolvimento de pesquisas científicas.
Para tanto, pretendi investigar a história do referido Projeto, desde a sua
fundação até os dias atuais, por meio de uma pesquisa qualitativa em que os
dados foram coletados através de análise documental, chegando a um
mapeamento analítico de sua trajetória em defesa da infância. Esses materiais
não estavam organizados e muito pouco se sabia sobre eles. Identificar,
classificar e organizar esses documentos, cuja dimensão e volume, a princípio,
eram desconhecidos, foi mais difícil e tomou muito mais tempo que o
planejado.
Foi um trabalho árduo de descobertas e redescobertas, de reflexão,
concentração, criação de sentido e categorias, de separação, categorização
organização e reorganização e exigiu muita energia e dedicação. Entretanto, foi
um processo necessário tanto para esta pesquisa como para outras que virão,
além de para o próprio Projeto, no sentido de dar a conhecer e de preservar a
sua história.
Essa primeira parte foi seguida pela descrição e análise dos dados
obtidos por meio desses materiais (Livros de Registro, Fichas de Cadastro,
Relatórios, Bilhetes, Pôsteres, Publicações etc.), além de meus próprios
registros e experiências como bolsista do mesmo (por 5 anos). O enorme
volume de documentos e dados levantados nesse primeiro mapeamento tornou
a presente pesquisa muito mais descritiva do que analítica e seu caminho foi
alterando-se conforme as descobertas foram acontecendo.
Dessa forma, esta pesquisa preconizou a descrição dos materiais e
dados levantados, pela extensão temporal e volume de material encontrado e
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não consegui chegar ao ponto que pretendia, inicialmente, mas deixei os
documentos bem organizados e acessíveis, tanto para serem utilizados,
consultados e servirem de referência para os/as educadores/as e envolvidos/as
no Projeto, como para futuros/as pesquisadores/as que quiserem fazer novas
pesquisas sobre ele, como eu pretendo.
Com a presente pesquisa de Iniciação Científica foi possível concluir
que, desde sua criação em 2003, o Projeto tem se consolidado como um
espaço de educação não formal que passou por diversas mudanças53 , no
decorrer de seus 13 anos de existência, mas que manteve seu ideal original de
ser um projeto/espaço-tempo em que as crianças pudessem ser crianças,
trilhando uma trajetória em defesa da infância.
Em 2009, o Projeto tornou-se parte do Programa Aprender com Cultura
e Extensão e, desde então, ele também tem se consolidado como um projeto
de formação acadêmica e humana, em cultura e extensão universitária. Até o
final de 2015, a Sala das Crianças já havia beneficiado mais de 95 crianças
(além de suas famílias), 53 educadores/as, 34 voluntários/as e 16
estagiários/as e esses números continuam a crescer.
Como já mencionado na Metodologia, o Projeto Crianças do CRUSP
continuará sendo meu objeto de estudo no mestrado, em 2017, junto à
FEUSP/SP, quando pretendo me aprofundar no estudo das atividades
realizadas no dia a dia do referido Projeto, durante esses 13 anos. Para isso,
planejo, por enquanto, ampliar e aprofundar minhas questões de pesquisa,
meu levantamento e estudo bibliográfico no campo da infância e da educação
não formal, dentre outros; recuperar, organizar, analisar e criar um banco de
dados com as centenas de fotografias e vídeos produzidos durante todos os
anos do Projeto; analisar os 3 Livros de Registro, que cobrem o período de
2005 a 2015; investigar, por meio de entrevistas, os 2 anos iniciais do Projeto e
outras lacunas temporais e de informações que os registros não cobrirem e
analisar os dados levantados conjuntamente.
53 Algumas dessas mudanças foram: defasagem no valor das bolsas em relação ao salário mínimo; aumento do número de crianças que frequenta o Projeto; aumento do número de educadores/as bolsistas, voluntários/as e estagiários/as envolvidas/os; expansão dos horários de funcionamento; diversificação constante das atividades e aprofundamento e formação teórica, de produção, intercâmbio e divulgação acadêmica.
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Por fim, acredito que conhecer e entender melhor o Projeto pode trazer
benefícios para o próprio e possibilitar a criação de outros projetos como esse,
além de motivar outras pesquisas como esta.
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REFERÊNCIAS
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SAYÃO, Deborah T. Cabeças e corpos, adultos e crianças: cadê o movimento e quem separou tudo isso? Revista Eletrônica de Educação . São Carlos/SP: UFSCar, v.2, n.2: 92-105, nov. 2008. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br. Acesso em 10.07.2015.
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84
APENDICE: Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
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ANEXOS
Anexo 1 – Certificado de apresentação de trabalho n o 24º SIICUSP
86
Anexo 2 – Folheto de Divulgação das vagas para moni tor/a bolsista de 2004/2005
87
Anexo 3 – Folheto de Divulgação das vagas para moni tor/a bolsista de 2006