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www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 22.10.2015 Abnilsa Durães da Silva Resende Flávio da Silva Borges 1 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt PROGRAMANDO CONTINGÊNCIAS PARA AUMENTO DO DESEMPENHO EM TAREFAS ESCOLARES 2015 Abnilsa Durães da Silva Resende Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil) Flávio da Silva Borges Psicólogo. Mestre em Psicologia e Professor pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil) E-mail de contato: [email protected] RESUMO O presente trabalho consistiu na replicação sistemática do trabalho de Miller e Kelley (1994) para avaliar os efeitos da definição de objetivos, contrato de contingências e treino de pais sobre o desempenho na tarefa de casa. Participaram três díades pais-filho e uma tríade, as crianças tinham entre seis a onze anos, todas com dificuldades escolares. Foi realizado a linha de base múltipla e delineamento de reversão com 4 condições experimentais, utilizando os seguintes procedimentos: observação em ambiente natural e clínica, controle de estímulos, modelagem, modelação, aprendizagem sem erros, treinamento com os pais, e tarefas de casa. Os resultados salientam a necessidade de uma programação de contingências e acompanhamento parental de crianças durante a tarefa escolar para melhorias no desempenho. Palavras-chave: Contrato de Contingências, Definição de Objetivos, Treino de Pais, Tarefa de Casa e Análise do Comportamento.

PROGRAMANDO CONTINGÊNCIAS PARA AUMENTO DO … · 2015-10-25 · arranjo de contingências, esquemas de reforçamento no programa de ensino, discriminação, generalização e controle

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PROGRAMANDO CONTINGÊNCIAS PARA

AUMENTO DO DESEMPENHO EM TAREFAS ESCOLARES

2015

Abnilsa Durães da Silva Resende

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil)

Flávio da Silva Borges

Psicólogo. Mestre em Psicologia e Professor pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil)

E-mail de contato:

[email protected]

RESUMO

O presente trabalho consistiu na replicação sistemática do trabalho de Miller e Kelley (1994)

para avaliar os efeitos da definição de objetivos, contrato de contingências e treino de pais sobre o

desempenho na tarefa de casa. Participaram três díades pais-filho e uma tríade, as crianças tinham

entre seis a onze anos, todas com dificuldades escolares. Foi realizado a linha de base múltipla e

delineamento de reversão com 4 condições experimentais, utilizando os seguintes procedimentos:

observação em ambiente natural e clínica, controle de estímulos, modelagem, modelação,

aprendizagem sem erros, treinamento com os pais, e tarefas de casa. Os resultados salientam a

necessidade de uma programação de contingências e acompanhamento parental de crianças durante

a tarefa escolar para melhorias no desempenho.

Palavras-chave: Contrato de Contingências, Definição de Objetivos, Treino de Pais, Tarefa

de Casa e Análise do Comportamento.

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INTRODUÇÃO

As dificuldades no aprendizado escolar estão entre as principais demandas no atendimento

psicológico nas clínicas-escolas de Psicologia e nos serviços de saúde pública, incluindo a saúde

mental (Barbosa & Silvares, 1994; Sales, 1989; Santos 1990). Nos atendimentos pediátricos em

ambulatórios e consultórios tornou-se frequente as queixas referentes a dificuldades escolares,

sendo estas relacionadas a escrita e leitura, habilidades precorrente à tarefa escolar. Esta queixa

está entre as sete mais frequentes em cada 10 cidades brasileiras (Araújo, 2002). Carvalho e Burity

(2006) mostraram o quanto é comum que os pais não tenham habilidades para educar seus filhos,

e sentem-se culpados pelo fracasso escolar dos mesmos. Entre as dificuldades citadas pelos pais,

se encontra a dificuldade em ajudar na lição de casa pela diferença de programa de ensino do tempo

em que estudavam daquilo que é atualmente ensinado. Para ensinar comportamentos adequados

aos filhos, os pais necessitam de habilidades que ainda não possuem, sendo comum o uso de

controle aversivo e punição física quando seus filhos desrespeitam as regras. Os pais são

responsáveis pelo desenvolvimento comportamental da criança, partilhando de tal

responsabilidade com professores e outros cuidadores a medida que ela cresce e se desenvolve.

As habilidades escolares não resultam da maturação biológica, portanto, devem ser ensinadas

e aprendidas considerando as circunstâncias familiares e escolares que se encontra a criança (Nutti,

2013). A tarefa de casa é uma importante atividade escolar presente desde a infância; realizá-la de

forma adequada traz diversos benefícios ao indivíduo (Patall, Cooper& Robinson, 2008).

O comportamento de estudar como qualquer outro é estabelecido e mantido pelas

contingências, tendo antecedentes e consequentes e que em tal comportamento as próprias

contingências de ensino podem ser as condições para que o aprender ocorra ou não (Hubner &

Marinotti, 2000; Ferreira & Marturano, 2002). Os eventos antecedentes (procedimentos de estudo)

e consequentes (reforçadores positivos e negativos após a execução das tarefas, etc.) descrevem as

variáveis das quais o comportamento de estudar é função. Dessa forma, o ensino mostra-se eficaz

quando há uma seleção e uma ordenação apurada de estímulos e comportamentos a que se busca

modificar, de modo a estabelecer entre eles as relações funcionais (programação de contingências).

Para a modificação de um operante são utilizados eventos contingentes ao comportamento

que se pretende instalar aumentando a probabilidade de ocorrência futura do mesmo, são assim

chamados de reforço positivo. A partir do uso adequado do reforço um novo comportamento é

instalado passando a fazer parte do repertório comportamental de um organismo, para tanto é

preciso avaliar se o comportamento a ser ensinado é funcional (Martin & Pear, 2007/2009). A partir

da discriminação de estímulos o aluno passa a apresentar certas respostas na presença de

determinados estímulos, situação em que o comportamento será reforçado. Após tais

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procedimentos, o aprendiz fica sob o controle dos estímulos emparelhados ao reforçamento,

passando a ocorrer apenas na presença destes e logo generalizando suas respostas em situações

semelhantes (Teixeira, 2006).

Para a programação do estudo, os responsáveis são treinados sobre os procedimentos

adotados; o treino em uma área do comportamento em uma habilidade pode melhorar o

desempenho em outra. Dispondo de ótimas contingências de reforço, o analista do comportamento

aumenta a frequência de determinado comportamento em diversas situações. Durante o ensino de

novas respostas, a presença dos pais vai sendo esvanecida em função do progresso do aluno (Martin

& Pear, 2009).

A Análise Experimental do Comportamento, a qual por meio de estudos em laboratórios e

aplicações bem-sucedidas demonstra empiricamente técnicas eficazes para educação. Por meio do

arranjo de contingências, esquemas de reforçamento no programa de ensino, discriminação,

generalização e controle de estímulos, encadeamento, extinção operante e esvanecimento, há

favorecimento da educação (Azevedo & Borges, 2007; Teixeira, 2006). A ausência da

programação de contingências, o uso do controle aversivo, o atraso na liberação do reforço e baixa

densidade do mesmo, são falhas frequentes no ensino e estão relacionadas ao fracasso em

atividades escolares, que podem ser modificadas com o uso de técnicas operantes. A contribuição

de uma ciência do comportamento é possível por uma tecnologia de ensino em que a aplicação do

conhecimento é simples e direta e por deduzir programas, esquema e métodos de instrução

(Teixeira, 2006).

No estudo realizado por Miller e Kelley (1994) foi utilizado o contrato de contingências e

definição de objetivos para aumentar o desempenho de crianças nas tarefas escolares. A pesquisa

foi realizada com 4 díades pais-filho, tendo como critério para a participação das crianças a

aplicação de um questionário nomeado de Checklist de Problemas com a Tarefa de Casa (Anesko,

Schoiock, Ramirez, & Levine, 1987). Composto por 20 itens relacionados a problemas com as

tarefas de casa. A pontuação mínima era zero e a máxima 60, com desvio padrão de 18. Miller e

Kelley (1994) mesclaram na pesquisa o delineamento de reversão e delineamento de base múltipla.

Tendo como variável independente a definição de objetivos e contrato de contingências, enquanto

variável dependente era avaliado o desempenho na tarefa. A definição de objetivos consiste na

divisão da tarefa em pequenas etapas com poucos objetivos a serem cumpridos num tempo

estabelecido, e o contrato de contingências trata-se da seleção de consequências para os

comportamentos relacionados à tarefa de casa.

O presente estudo consistiu numa replicação sistemática do trabalho de Miller e Kelley

(1994) objetivando: (1) verificar o efeito do contrato de contingências e definição de objetivos no

comportamento de realizar a tarefa de casa em crianças entre seis e onze anos com diagnósticos de

transtornos de aprendizagem e/ou de Neurodesenvolvimento e (2) verificar o efeito do treino de

pais para acompanhar a criança na atividade.

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MÉTODO

Participantes

Participaram deste estudo três díades pais-filhos e uma tríade mãe-pai e filho, as crianças

cursavam o ensino fundamental, sendo três de escolas particulares e uma de escola pública, e todos

com dificuldades relacionadas a tarefa de casa.

Materiais e Ambiente

Foram utilizados o Checklist de Problemas com a Tarefa de Casa (CPTC), questionário

composto por 20 itens com questões sobre comportamentos-problemas relacionados com as tarefas

escolares. Além do CPTC foi utilizado o Registro de Comportamentos Relacionados e Não

Relacionados à Tarefa de Casa (adaptados por Miller & Kelley, 1994).

Foram utilizados: lápis, borracha, canetas, folhas de papel A4, prontuários, folha de

procedimento, computador e impressora. Os reforçadores materiais utilizados durante o treino da

tarefa de casa e aprendizagem sem erro, foram: pirulitos, paçocas e balinhas.

As sessões foram realizadas em um consultório sala-espelho (20 m²) do Centro de Estudos,

Pesquisas e Práticas Psicológicas (CEPSI) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Procedimento

A pesquisa ocorreu em 20 sessões, com delineamento de Reversão com quatro condições

experimentais diferentes: (1) Linha de Base, onde se realizou a anamnese, avaliação funcional,

observação em ambiente natural e em consultório; (2) Intervenção utilizando a Definição de

Objetivos (DO) e Contrato de Contingências (CC) na quinta sessão; (3) Retorno à Linha de Base

na 15ª sessão; (4) Retorno à Intervenção na 18ª sessão. Considerando que cada criança iniciou a

linha de base em sessões diferentes foi também utilizado a Linha de Base Múltipla.

Os participantes foram selecionados por meio das fichas de triagens do CEPSI, tendo como

critério de inclusão a faixa etária entre seis e dez anos, ter queixa de dificuldades de aprendizagem

e problemas com a tarefa escolar. A finalidade foi avaliar a definição de objetivos e contrato de

contingências enquanto variável independente e o desempenho na tarefa escolar enquanto variável

dependente. Fez parte do contrato, participar de duas sessões por semana de 50 minutos cada,

realizada no consultório do CEPSI. Foi entregue um questionário criado pela autora sobre

repertório escolar junto ao Checklist de Problemas Com a Tarefa de Casa (CPTC).

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Os pais foram convidados à uma entrevista inicial, a fim de realizar a coleta de dados e uma

avaliação funcional breve do participante. Em seguida foi realizado o contrato de participação,

onde foram descritas as atividades e responsabilidades dos participantes durante a pesquisa, dentre

elas dispor de um tempo diário para acompanhar a criança na realização da tarefa escolar.

Para um dos participantes foi programado atividades de aprendizagem sem erro para a

discriminação de estímulos verbais textuais a cada duas sessões, com a presença dos pais.

Foram utilizados reforçadores positivos sociais (elogios, atenção, etc.), e materiais (balinhas

e pirulitos), os quais eram utilizados em esquema de reforçamento contínuo (CRF) contingentes

ao comportamento de leitura adequada do participante. Os pais foram instruídos a uma vez por

semana definir junto a criança objetivos e um contrato onde as contingências para a tarefa de casa

fossem estabelecidas, dividindo a tarefa em pequenas unidades, especificando os reforços a serem

utilizados em cada condição. As condições estabelecidas incluíam: determinar um tempo para a

realização da tarefa, materiais necessários, espaço adequado e consequências reforçadoras caso a

criança viesse atingir mais da metade dos objetivos. Junto as crianças os pais podiam escolher

várias recompensas evitando a fadiga do estímulo reforçador. As recompensas se diferiam entre as

crianças, incluindo aumento do tempo numa atividade prazerosa (jogos virtuais, atividades

lúdicas), revista de gibis, livros (à escolha da criança), comidas preferidas.

Na última sessão (20ª) foi reaplicado o Checklist, onde se fez necessário o retorno a

intervenção com os dois participantes do sexo masculino em função de seus pares dar condições

arbitrárias e não acompanhar as crianças em todas as atividades propostas.

Figura 1 - Fluxograma do delineamento utilizado.

Resultados

A medida dos comportamentos pode ser verificada na Tabela 1. Para a medida de

comportamentos-relacionados (olhos direcionados à tarefa) foi registrado a frequência a cada 30

segundos.

Linha de Base 1

• Aplicação do Checklist

• Observação em ambiente

natural • Observação em consultório

Intervenção

• Uso de Definição de Objetivos e Contrato de

Contingências • Treino em Consultório

Linha de Base 2

• Observação em consultório • Análise dos

registros realizados pelos pais

Intervenção

• Uso de

Definição de Objetivos e Contrato de Contingências

• Treino em Consultório

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Comportamentos Relacionados

Participantes LB Intervenção 1 LB 2 Intervenção 2

P1 62 481 248 164

P2 97 1101 684 544

P3 98 799 291 102

P4 16 148 51 10

Tabela 1. Frequência de Comportamentos Relacionados nas quatro

condições experimentais.

Figura 2. Frequência de comportamentos coletados durante a execução da tarefa.

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Foi considerado enquanto comportamentos Não-Relacionados: (1) manipular objetos; (2)

prestar atenção em algo diferente; (3) levantar-se da cadeira por mais de segundos sem permissão;

(4) pôr a cabeça sobre a mesa ou caderno; (5) solicitar respostas ou dica das questões (Figura 3).

Figura 3. Registro de Comportamento das quatro condições experimentais.

Durante a Linha de Base os pais foram orientados a acompanhar a criança na tarefa da forma

que estavam acostumados a fazer. Esta observação ocorreu em duas condições diferentes, em

ambiente natural (na casa da criança) e outra na sala-espelho do CEPSI.

Os participantes apresentavam dificuldades relevantes na execução das tarefas, sendo

comum prestar atenção em algo diferente e obter de seus pais as respostas das questões. Dentre as

dificuldades observadas no ambiente natural estão: realizar a atividade em condições inapropriadas

e uso indiscriminado de reforçadores pelos pais (permitir atividades reforçadoras por longo tempo

independente da realização da atividade escolar). Ainda na LB observou ser uma prática comum

dos pais dispor as respostas da tarefa à criança em situações em que esta recusava responder as

questões, fortalecendo assim comportamentos de fuga e/ou esquiva em atividades escolares.

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Foi também observados discussões e conflitos durante a tarefa, sendo comum exigências

arbitrárias (estabelecer um tempo muito longo para a atividade) e ausência de reforçadores

contingentes.

Os participantes (P1) e (P4) apresentavam um desempenho escolar considerado médio por

suas notas estarem dentro da média esperada pela escola, porém apresentavam dificuldades

relevantes na leitura e recusa às tarefas escolares. Os participantes (P2) e (P3) apresentavam

déficits no repertório de escrita, leitura e compreensão, ambos eram repetentes do ano escolar,

porém P3 obteve desempenho médio após o tratamento analítico-comportamental. No Checklist

de Problemas com a Tarefa de Casa: Os participantes tiveram uma redução na pontuação em

comportamentos-problemas relacionados à tarefa conforme mostra a Tabela 2:

Tabela 2 - Comparação da pontuação dos participantes no Checklist de

Problemas com a Tarefa de Casa no começo e ao término do estudo.

Participante Pontuação inicial no CPTC Pontuação final no CPTC

P1 33 5

P2 12 7

P3 22 7

P4 39 9

Para todos os participantes houve melhor desempenho ao utilizar-se da Definição e

Objetivos e Contrato de Contingências somado ao treino de pais para acompanhar a criança durante

a tarefa de casa.

DISCUSSÃO

O presente estudo verificou os efeitos do uso combinado de definição de objetivos e

contrato de contingências em crianças com dificuldades substanciais com a lição de casa e avaliou

que é uma estratégia para progresso na tarefa. A melhoria é possível por permitir aos pais e crianças

uma rotina estruturada e facilita ao dividir a tarefa em pequenos objetivos (Miller & Kelley, 1994),

além de promover melhor desempenho também em sala de aula (Harris & Sherman, 1974). Todos

os participantes mostraram visíveis aumento na frequência de comportamentos relacionados logo

na intervenção, mas somente três mantiveram aumento relevante no desempenho durante a segunda

linha de base e intervenção. Embora todos tenham reduzindo a frequência dos comportamentos

relacionados quando sem as condições de controle, apenas o participante quatro não conseguiu

manter seu desempenho, tendo a frequência de 10 comportamentos relacionados.

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O participante quatro não mostrou níveis altos de desempenho, exibindo níveis baixos, não

sendo possível esclarecer com precisão as variáveis controladoras do seu comportamento de

responder pouco. Os procedimentos podem não ter exercido controle necessário para os

comportamentos avaliados neste estudo.

Verificou-se que participantes que apresentaram uma maior quantidade de comportamentos

problemas na escola e em casa, tiveram um aumento inferior comparado às demais. Estes dados

corroboram os mesmos encontrados por Miller e Kelley (1994). O suporte parental à criança na

tarefa escolar é um fator relevante no desenvolvimento infantil, ou seja, é importante que pais

dediquem tempo e recursos à criança. Pais que dispõem de tempo para compartilhar com seus

filhos de atividades culturais e educacionais favorecem o desempenho escolar e o desenvolvimento

de habilidades sociais (Bradley & Corwyn, 2002).

As crianças do presente estudo afirmavam que no início não tinham interesse em realizar a

tarefa e pensavam que “não sabiam de nada”, o que mudou após obterem ganhos com a tarefa,

incluindo elogios por familiares, professores e amigos de classe pelo aumento do desempenho.

Esses resultados apontam para o fato de que o aprendiz no início fica sob o controle dos estímulos

emparelhados ao reforçamento, passando a ocorrer apenas na presença destes e logo generalizando

suas respostas em situações semelhantes (Teixeira, 2006).

As crianças relataram que após o programa de estudo passaram a ter mais facilidade em

resolver os problemas da tarefa, e que a participação de seus pais colaborou no desempenho,

passando de uma atividade aversiva para reforçadora pelos ganhos materiais e sociais obtidos. Os

pais afirmaram que houve redução de comportamentos de birra e fuga/esquiva durante a lição de

casa, assim reduzindo os conflitos familiares.

Tanto os pais quanto as crianças afirmaram que os procedimentos utilizados na pesquisa

colaboraram para que ficassem mais calmos e objetivos do que era de costume, e aprenderam a

controlar o próprio comportamento em função dos objetivos a serem alcançados. Enfim, fica

evidente que o desempenho da tarefa escolar depende de condições de controle para ser ou não

eficaz, fazendo-se necessário utilizar reforçadores contingentes ao comportamento de fazer a tarefa

de casa para se instalar repertórios adequados. A tarefa de casa é importante para o

desenvolvimento tanto escolar quanto social da criança por ser uma atividade de exposição a

interação social. O indivíduo passa a adquirir habilidades que lhe serão vantajosas no grupo

(Skinner 1953/2003). Há uma relação direta entre aumento do desempenho escolar com aumento

da autoestima e redução de comportamentos antissociais por apresentação de reforçadores

positivos (Patterson, Reid & Dishon 1992).

Portanto os objetivos propostos para este estudo foram atingidos, na medida em que os pais

se dispuseram a participar ativamente do processo. Para P4 as dificuldades de participação da mãe

no programa se refletiram no desempenho da criança, como pode ser observado na Figura 01. De

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modo geral, os dados replicam o trabalho de Miller e Kelley (1994) e demonstram como o

desempenho em tarefas escolares dependem da programação de contingências com uso de

definição de objetivos e contrato de contingências.

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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151755452011000200006&lng=pt

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