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Projetil 77

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Jornal Laboratorio do Curso de Jornalismo da UFMS

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 2

As matérias veiculadas nãorepresentam necessariamente aopinião da UFMS ou de seus dirigentes,nem da totalidade da turma.

As matérias veiculadas nãorepresentam necessariamente aopinião da UFMS ou de seus dirigentes,nem da totalidade da turma.

www.ufms.br/jornalismo

Jones Mário

Para um prefeito que dizia em cam-panha que “as pessoas viriam em pri-meiro lugar”, algo parece contraditório,pois segue a mesma linha da antiga ges-tão. Recentemente, a prefeitura lançouuma ação contra as “invasões”. Outdoorsespalhados pela cidade pedem que a po-pulação as denuncie, reforçando que asáreas públicas são destinadas à constru-ção de postos de segurança e praças, porexemplo. Então, que pessoas são essasque viriam em primeiro lugar? Definiti-vamente, não são aquelas que sofremcom o descaso do poder público e coma burocracia à qual são submetidas paraconseguir uma moradia popular.

Segundo pesquisa realizada pelaFundação João Pinheiro em 2010, aquantidade de habitantes sem moradiaadequada em Campo Grande era de 35mil pessoas. Cerca de 50% destas, comrenda familiar de até três salários míni-mos. A Agência Municipal de Habita-ção de Campo Grande (EMHA), cadas-tra famílias com renda bruta de até 5salários mínimos para entrar na fila poruma casa popular. Ou seja, são mais de17 mil que se adequam ao principal cri-tério de seleção da Agência mas que es-tão em condições precárias de moradia.

Com um problema habitacionaldeflagrado, cresce a busca por alternati-vas. Alguns optam por resistir e lutar pormoradia digna. Daí insurgiram as maisrecentes ocupações urbanas de CampoGrande, como nos bairros José TeruelFilho e Aero Rancho. Além de únicamaneira encontrada para viver debaixode um teto, no caso, de uma lona, asocupações são também formas de con-testação social, pois visam chamar aten-ção e pressionar o poder público.

O termo “invasão” é corriqueira-mente confundido com “ocupação”. OCódigo Penal caracteriza as invasõescomo prática de crime de usurpaçãocontra a propriedade, com intuito deadquirir a posse do local. Já a ocupaçãoé praticada por uma mobilização popu-lar, que toma o lugar com a intenção dedenunciar e negociar uma desobediên-cia de lei ou uma injustiça social. A pala-vra “invasão” é constantemente usadapela mídia grande para tratar destes as-

suntos, e mostra as ocupações de ma-neira pejorativa, disseminando o precon-ceito contra os movimentos sociais.

Movimentos de ocupação e apro-priação popular são históricos no Brasil.Vêm desde os quilombos, perpassampelas favelas e hoje são refletidos noslevantes de luta pela terra e pela mora-dia. Todos eles têm um ponto em co-mum: as desigualdades sociais. A mãoque açoitava o escravizado é a mesmaque expulsou à bala de borracha e gáslacrimogênio os moradores do bairroPinheirinho, em São José dos Campos-SP, no começo de 2012.

Desde sempre, os meios de comu-nicação trabalham para garantir que assituações desiguais fiquem no campo daincapacidade pessoal, do azar,inferiorizando os indivíduos a ponto dosmesmos se sentirem culpados pelos pro-blemas sociais. Exemplo claro dessacriminalização é a publicidade dosoutdoors distribuídos pela atual admi-nistração da cidade. Colocam como cau-sadores dos problemas da saúde, daeducação ou da segurança pública, aque-les que mais carecem destes direitos.Marginalizar as ocupações é transferir aculpa da ineficiência do executivo muni-cipal para os que mais sofrem com ela.

A propaganda que criminaliza asocupações e joga a população contrauma minoria que não têm onde morar étão condenável quanto a máquina depropaganda nazista, que jogou a Alema-nha contra os judeus, fazendo com quea população acreditasse que eram eles acausa dos problemas econômicos dopaís. Aos moldes futebolísticos, é o mes-mo que simular uma falta e colocar atorcida contra o árbitro.

A reunião realizada em 23 de janeirodeste ano, para fins de “resolver” a situaçãodas ocupações urbanas, é a prova cabal daguerra declarada pela Prefeitura de CampoGrande. Na reunião, além do prefeito, deuma equipe da Procuradoria Geral doMunicípio e do secretário de MeioAmbiente e Desenvolvimento Urbano,estavam presentes o delegado da PolíciaCivil e o chefe da Guarda Municipal. Talveztenha saído desta, a brilhante ideia deconstruir praça e posto de segurança paraquem não tem nem casa pra morar.

Opinião

Pessoas ou praças

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da UniversidadeFederal de Mato Grosso do Sul – Produzido pelos acadêmicos do 4º semestre de

Jornalismo, sob orientação dos professores José Márcio Licerre (Planejamento Gráfico III),Mario Luiz Fernandes (Edição I), Juliana Feliz (Redação Jornalística IV)

Expediente: Adriel Mesquita, André Moura, Antonio Negruny, Bárbara Versolato,Brenda Cirino, Érika Espíndola, Eva Cruz, Fernanda Palheta, Gabriel Cabral, Jones Mário,Juliana Barros, Juliane Garcez, Lucas Baís, Marina Duarte, Saulo Maciel e Thiago Cruz.

Correspondência: Jornal Projétil – Curso de Jornalismo – Centro de Ciências Humanas eSociais – Cidade Universitária s/n – CEP 79070-900 – Campo Grande, MS. Fone (67) 3345-7607 – E-mail: [email protected]. Tiragem: 5000 exemplares. Impressão: Feitosa e Cia Ltda.

(Contrato 13/2012)

om o começo do novo semestre, vem uma nova etapa para as e os estu-dantes de Jornalismo: o jornal laboratório, nosso Projétil. A turma se dividiuem duas: duas propostas diferentes de jornalismo. Nossa idéia, desde o co-meço da discussão sobre o jornal, era de apresentar um material de contesta-ção, que desse um “tapa na cara da sociedade” e fosse diferente do jornalis-mo factual que estamos acostumados a lidar no dia-a-dia e a aprender nauniversidade. Já tínhamos decidido, iríamos abordar o fim do mundo querealmente acreditamos, o fim do mundo que acontece cotidianamente: o fimdo mundo social.

Abordar as camadas menos exploradas pelo jornalismo, ou até mesmomuito exploradas, porém, de uma maneira que não concordamos. Era esse onosso desafio. Tivemos que procurar a opressão que esses povos sofrem eque iríamos abordar em cada uma das reportagens, os profissionais que po-deriam dar credibilidade ao nosso material e as pessoas que geralmente nãotêm voz nos meios de comunicação tradicionais.

Tudo isso era ainda mais difícil por conta do “modus operandi” ao qualsomos ensinados a trabalhar. Aquela “imparcialidade” jornalística que sem-pre nos empurram, o “ouvir os dois lados”. E quando um lado é sempremostrado em todos os espaços, enquanto o outro não tem voz? Como conse-guiríamos mostrar de uma forma que não são mostrados os ocupadores, osindígenas, os sem-terra, os quilombolas, o fechamento e privatização dosespaços públicos, o uso da maconha, a reciclagem, a homofobia e os ho-mossexuais, os problemas na internet e todas as outras temáticas que cadaestudante decidiu desenvolver? Qual é nosso papel como futuros jornalistas,apoiá-los, como a grande mídia não faz, ou persegui-los, mesmo já sendooprimidos cotidianamente?

Enfim, terminamos o nosso primeiro jornal laboratório. Atrasou, demo-rou, mas corremos atrás de matérias com temas que achamos que realmentesão importantes de serem abordados na sociedade. Aprendemos muito comnossa experiência e tenho certeza de que muitas e muitos já têm um norte doque querem como profissionais da comunicação e até mesmo como serãonossas posturas como estudantes de comunicação e nossa formação.

Apresentamos, com muito orgulho, o Projétil. Não vamos colocar nossafoto em grupo, pois estamos muito sujas(os) e cansadas(os) de todo essetempo de trabalho. Fica para próxima!

CEditorial

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Eva CruzJuliane Garcez

A homofobia é uma realidade noBrasil. Ela atinge homossexuais todos osdias por meio de injúrias verbais e de for-mas mais sutis, como brincadeiras. Masela não se manifesta apenas dessas for-mas. Segundo dados do Grupo Gay daBahia (GGB), em 2012 foram assassina-dos 337 homossexuais no país. O que levaalguém a assassinar outra pessoa por nãogostar ou não entender sua sexualidade?

De acordo com o sociólogo e pro-fessor do curso de Ciências Sociais daUniversidade Federal de Mato Grossodo Sul (UFMS), Francisco Reis, a socie-dade é baseada na relação binária degênero, ou seja, no relacionamento entrehomem e mulher e tem a heteros-sexualidade como norma e não a diver-sidade sexual.

Reis desenvolveu uma pesquisa naUFMS, entre 2009 e 2011, que faz partede um projeto sobre violência ehomofobia no Mato Grosso do Sul.Foram aplicados mais de 100 questio-nários para estudantes de diferentes cur-sos, onde estavam listados grupos soci-

ais que poderiam ser vítimas de precon-ceito dentro do campus. Havia duas per-guntas em relação ao preconceito, como objetivo de medir o grau de aversão eo sentimento dos es-tudantes em relaçãoa esses grupos.

Uma análise pre-liminar aponta que amédia de aversão àcomunidade LGBT(Lésbicas, Gays,Bissexuais e Travestis)se deu em torno de54% dos entrevista-dos. “As pessoas têmpreconceito de ter preconceito, ainda queo tenham enraizado. Eu imagino que o pre-conceito seja muito maior do que o queelas demonstram na coleta de dados, jus-tamente porque as pessoas não querem semostrar preconceituosas, embora o se-jam”, explica Reis.

Ainda segundo a pesquisa, a cada 100estudantes, 30 sentem ódio ou antipatiapor travestis. Em relação aos homosse-xuais, 20 em cada 100. “Em números ab-solutos parece baixo, mas quando vocêcomeça analisar em termos práticos, isso

tem um peso muito grande porque se vocêfor agredido, quem é que vai te defender?Os outros são indiferentes, não ligam. Écomo se isso não fizesse parte da vida

deles”, esclarece osociólogo.

Os homosse-xuais sentem-se re-ceosos de expo-rem a sua afeti-vidade em público.“Muita gente temrealmente medo,esconde de todaforma. É aquelavelha prática do in-

terior, ninguém sabe, ninguém vê. Eu nãovou chegar na minha sala de aula e dizer‘galera sou gay’. Muita gente não sabe enão acho que é necessário”, avalia HigorCirilo, estudante de Engenharia Civil daUFMS.

Recentemente, as paredes do blocodo Centro de Ciências Exatas eTecnológicas (CCET) da UFMS rece-beram uma intervenção contestadoracom os dizeres “Homo é lindo”, em re-ferência à fama do curso de Engenhariacomo machista e homofóbica. Cirilo

acredita que é uma falha perpetuar essepreconceito de que as engenharias sãocursos homofóbicos. “Acho que ficaruim prá gente debater o combate ahomofobia dentro da universidade.Como você vai combater a homofobiase você já tem um preconceito?”.

O estudante de Engenharia Civilda UFMS, Mário Freitas, afirma que amaioria dos alunos do CCET se sen-tiu incomodada com a pichação, porconsiderar o ato como depredação depatrimônio público. Por outro lado,Antonio Bittencourt, que também éaluno do CCET, acha que o tema pi-chado é polêmico. “O cara coloca‘homo é lindo’, eu não acho lindo. Podeser que ele ache”, completa.

O sociólogo Francisco Reis explicaque a sociedade ainda não compreendeas diferentes manifestações da sexuali-dade. Quando o combate à opressão so-frida por homossexuais entra em pauta,as pessoas preferem permanecer alheiasao tema, pois a sexualidade ainda é umtabu. “É um debate que as pessoas nãoquerem participar, é um comodismomuito grande, aliado ao conservado-rismo”, diz Cirilo.

Uma das principais razões da ho-mossexualidade ser condenada é a asso-ciação com a promiscuidade. O argu-mento utilizado é que em uma relaçãohomossexual, o que predomina é o sexo,não o afeto. A sociedade patriarcal serecusa a compreender o relacionamen-to homoafetivo como qualquer outro re-lacionamento.

“As pessoas têmpreconceito de ter

preconceito.”

Francisco Reis

[email protected]@hotmail.com

Intervenções no CCET desencadeiam debates debates sobre a homofobia na universidade

O número de assassinatosde homossexuais quase

triplicou em cinco anos noBrasil, passou de 122

casos em 2007 para 337em 2012.

Entre os assinados há 188gays (56%), 128 travestis(37%), 19 lésbicas (5%)e dois bissexuais (1%).

Eva

Cruz

Preconceito

Homofobia: medo de quê?

Fonte: Grupo Gay da Bahia (GGB)

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Marina Duarte

Lideranças indígenas assassinadas,acampamentos de ocupação destruídos,pouco diálogo, disputa acirrada e as ter-ras permanecem nas mãos de poucos.Essas têm sido as consequências do con-flito e disputa por terras em Mato Gros-so do Sul, um dos estados com maiordesigualdade de distribuição no país eque, cada vez mais, atrai olhares de to-dos os cantos por causa da violência.

A distribuição de terras no Brasil éproblemática: de acordo com dados docenso agropecuário de 2006, a concen-tração ainda prospera, com as pequenaspropriedades detendo menos de 3% dasterras. Isso resulta na existência demovimentos sociais de reivindicaçãocomo o MST, os movimentos indíge-nas e quilombolas que buscam ter onde

morar, plantar, produzir e um espaçoque é seu por direito. “Existe muita con-centração de terras e os fazendeiros tam-bém estão organi-zados”, alerta umdos integrantes doMovimento dosTrabalhadores Ru-rais Sem Ter ra(MST) do MatoGrosso do Sul.“Entrei no movi-mento porque que-ria o meu pedaçode terra”, diz.

E n q u a n t omais da metade dapopulação rural tem acesso a essa pe-quena porcentagem de terras, a área ocu-pada pelos estabelecimentos de mais demil hectares, os latifúndios, concentra

mais de 43% da área agrária total do país.Áreas localizadas em Tekohás (territóriosagrado ou tradicionalmente indígena),

áreas de quilombosem reconhecimentoou que poderiamser distribuídas entrecamponeses.

IndígenasMato Grosso

do Sul possui a se-gunda maior popu-lação indígena dopaís com mais de 73mil nativos e, ao

mesmo tempo, é o estado com o maiornúmero de assassinatos de indígenas nopaís, com 55,5% dos crimes dessanatureza. As populações nativas reivin-dicam os territórios sagrados ou tradici-

onais de suas respectivas aldeias, muitasvezes chegando a ocupar os territóriosnas quais essas áreas estão inseridas eacabam comprando briga com os fa-zendeiros do local.

A questão indígena no estado já teverepercussão até mesmo mundial, pelonúmero de assassinatos, sempre dos na-tivos; das declarações abertas de fazen-deiros naturalizando o confronto arma-do; de cartas de comunidades indígenaspedindo socorro e pela constante per-seguição das lideranças das comunida-des.

Em 2011, o cacique Nísio Gomesfoi brutalmente assassinado. Ele é umdos muitos que foram vítimas das ar-mas que querem calar o povo indígena:Marçal de Souza, liderança guarani-nhandevá que denunciava a situação pre-cária de seu povo, morreu com cinco

Se essa

A relação de forças de Mato Grosso do Sul refletida na disputa de terras

Mais da metade da população rural temacesso a 3% terras,

enquanto os latifúndiosocupam mais de 43% da

área agrária totaldo país.

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A relação de forças de Mato Grosso do Sul refletida na disputa de terras

Justiça

fosseterraterraminha...minha

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tiros, um deles na boca. Ainda no dia 17de fevereiro, um jovem Guarani Kaiowáfoi morto com um tiro na cabeça, pertoda aldeia Tey Kuê nas proximidades deCaarapó. Segundo os indígenas queestavam com Denilson, foram trêspistoleiros que os abordaram e acabaramretendo a vítima, enquanto os outrosconseguiram fugir. Denilson foi maisuma vítima do massacre indígenaexistente no estado.

QuilombolasEnquanto as aldeias e terras indíge-

nas são reconhecidas pela justiça e pelapopulação, existe um povo que, além daluta cotidiana pela terra, luta também peloreconhecimento de suas comunidades.Essa é a realidade dos quilombolas nopaís e também no Mato Grosso do Sul,onde poucas pessoas sabem sequer daexistência desses povos. São cerca de 21quilombos registrados na FundaçãoCultural Palmares, po-rém, titulados são ape-nas dois, segundo o siteda Secretaria do Esta-do de Educação, e dezainda estão em proces-so de reconhecimento.

O reconhecimen-to é garantido pelo ar-tigo 68 da ConstituiçãoFederal de 1988, queassinala: “Aos remanes-centes das comunida-des de quilombos, que estejam ocupan-do suas terras, é reconhecida a proprie-dade definitiva, devendo o Estado emi-tir-lhes títulos respectivos”. O decreto4.887/2003 concede a essas populações“o direito à auto-atribuição, como úni-co critério de identificação das comuni-dades quilombolas”.

Uma das comunidades que é reco-nhecida pela Palmares, porém não re-gistrada no Incra é a tradicional comu-nidade Tia Eva, em Campo Grande,grande detentora de patrimônio históricoda cidade. Com essas áreas nãoreconhecidas, a luta e a própria identi-dade cultural dos quilombolas se tornamainda mais complicadas.

E os Sem-terra?A irregularidade na distribuição de

terras afeta, além de quem tem o direitode possuí-las por conta de sua culturaou história, quem quer um pedaço deterra para produzir e se sustentar. O

Sem-Terra (MST) surgiu no Brasil em1984 e perdura na luta a favor da refor-ma agrária até os dias de hoje. A ideia édistribuir essas áreas, comprovadamenteconcentradas na mão dos latifundiários.

O movimento costuma ocupar áre-as improdutivas e reivindicar os territó-rios. Hoje, muitos assentamentos estãoregistrados no INCRA e milhares dehectares de terras já foram distribuídose contém assentamentos rurais, com cen-tenas de famílias donas de suas produ-ções, ao contrário do monopólio antesexistente.

Em Mato Grosso do Sul são maisde 24 mil famílias assentadas e mais de80 assentamentos, sendo que um deles,o Itamarati, em Ponta Porã, já exportafeijões para a Venezuela. Para algunspode parecer muito, mas continua pou-co enquanto muitas famílias continuamsem terra e poucos possuem tanta, semquerer dar e nem vender.

Vender, inclusive, se tornou a polí-tica mais apreci-ada pelo gover-no para fazer adistribuição des-sas terras, atra-vés da aquisição.Esse métodonão é apreciadopelos movi-mentos de lutapela terra, quelutam visando a

desapropriação destas, ou seja, não que-rem que a terra se transforme, novamen-te, em um simples fator de lucro. Essemétodo está sendo visado, também, paraa distribuição de terras aos indígenas, vi-sando “diminuir o conflito” relaciona-do aos Tekohás, que aumenta cada vezmais no estado.

Várias intervenções legislativas so-bre a questão indígena são feitas, muitasvezes privilegiando apenas oagronegócio. Um bom exemplo disto éa PEC 215, chamada pelos indígenas depeste 215. O projeto de lei, aprovadoem março de 2012 pela Comissão deConstituição, Justiça e Cidadania (CCJC)da Câmara Federal, tem como propos-ta a mudança da competência da demar-cação de terras indígenas, que passariado Executivo para o Legislativo. A pro-blemática por trás do projeto é básica: amedida só causa mais conflito na ques-tão quando levamos em consideraçãoque no Legislativo temos a bancada

agronegócio enão dos povos daterra. Um projeto que de-veria ter como objetivo facilitar a vidadesses povos, na realidade, acaba os pre-judicando por conta dos interesses portrás do mesmo.

A luta na questão agrária se torna,além de uma luta contra o monopóliode terras, uma luta contra os interessespor trás deste monopólio – neste caso,o agronegócio e o capitalismo – econsequentemente, contra o atual mo-delo desenvolvimentista. Os empecilhossão cada vez maiores. Além do desinte-resse do governo, esses movimentos têmde assistir os seus integrantes serem as-sassinados, a mídia divulgando notíciascriminalizando suas atitudes e, mesmoassim continuam, cotidianamente, ocu-

“Existe muitaconcentração de terras eos fazendeiros também

estão organizados”

Beto

O conflito em númerosO conflito em númerosMato Grosso do Sul tem 35,7 milhões de hectares e

73 mil indígenas de 9 etnias, que ocupam cerca de 1,7%da área do estado (613 mil hectares);

227 povos indígenas ocupam 13% do territóriobrasileiro;

A cada seis dias, um jovem Guarani-Kaiowá se

suicida;

Entre 2003 e 2011 foram assassinados 503indígenas no Brasil;

Na área necessária para se criar um boi, vivem 20indígenas;

Apenas 8% dos casos de assassinatos ocorridos desde1985 em conflitos agrários foram julgados, pelo menos em

primeira instância, até abril de 2011.

Fontes: Relatórios do CIMI e CPT

[email protected]

Movimento dos Trabalhadores Rurais ruralista, sempre em defesa e a favor do

pando as terras e procurando seus di-reitos. A luta não pára, e como cita opróprio MST em uma de suas palavrasde ordem: “globalizemos a luta,globalizemos a esperança”.

Justiça

Latuf

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 6Saúde

A EBSERH é apontada comofalsa solução para o problema dos

Hospitais Universitários

Tratamentoerrado

para umdiagnósticoequivocado

Tratamentoerrado

para umdiagnósticoequivocado

Fernanda Palheta

Com a implantação do SistemaÚnico de Saúde (SUS), os HospitaisUniversitários (HUs) perderam seucaráter exclusivo de ensino e assumirampapel importante na assistência à saúdepública. Como parte deste setor, os HUsapresentam os mesmos problemascrônicos: a falta de profissionais e deinvestimento. A solução apresentada pelogoverno para o déficit de recursoshumanos foi a criação de uma empresapública para gerir estes hospitais, aEBSERH (Empresa Brasileira de Servi-ços Hospitalares). Porém, é alvo de mui-tas críticas sobre seus interesses econsequências. A decisão de sua implan-tação ou não, é pauta de discussão nosconselhos Universitários, dividindotambém opiniões entre gestores,

acadêmicos e técnicos da UniversidadeFederal de Mato Grosso do Sul.

De acordo com o Ministério daEducação, 9,8% dos leitos dos HUs es-tão desativados por falta de recursoscomo mão de obra e estrutura. Com-parando o percentual de investimentosna saúde, em 2012 destinou-se ao setorapenas 3,98% do Produto InternoBruto(PIB), segundo a OrganizaçãoMundial de Saúde(OMS), enquanto oRelatório de Política Fiscal aponta que aDívida Líquida do Setor Público (DLSP)representa 35% do PIB.

O Hospital Universitário MariaAparecida Pedrossian, em Campo Gran-de, “além da necessidade premente deequipamentos, necessita com extremaurgência de aumento expressivo do qua-dro de pessoal”, de acordo o Plano deDesenvolvimento Institucional (PDI) do

HU/UFMS, que apontou a defasagemde 1.010 servidores. O déficit vem sen-do suprido através do pagamento deplantões, os quais não repõem recursoshumanos, mas dobram a jornada de tra-balho da mão de obra já existente e ne-cessária para manter o funcionamentoda instituição.

Atualmente, o Hospital funcionacom capacidade para atender 272 leitos,destinados ao SUS, que diminuiria para176 leitos sem o pagamento destes plan-tões. “O problema crônico dos Hospi-tais Universitários não é só de saúde, mastambém de educação. Qual o proble-ma? Falta de recurso. O governo nãoimplanta recurso suficiente para educa-ção e saúde. Nosso Hospital Universitá-rio tem os dois problemas”, criticouKassandhra Zolin, acadêmica de Enfer-magem da UFMS.

O Adicional de Plantão Hospitalar(APH), não foi suficiente para suprir adefasagem do HU/UFMS que, para semanter em funcionamento, utiliza irre-gularmente esta forma de pagamento deplantão. A EBSERH vem para solucio-nar os problemas de recursos humanosnos HUs, não apenas as contratações pormeio das fundações, mas todas as irre-gularidades na reposição de funcionári-os. “Mas por que criar uma empresanacional, centralizada em Brasília, pararesolver um problema que o governo,abrindo um concurso público resolve-ria?”, questiona o acadêmico de Medici-na da UFMS William Duailibi. “E se oGoverno tem recursos para investir viaEBSERH, ele poderia fazê-lo sem me-diação da mesma”, indaga ArtemisiaMesquita, enfermeira do HU sobre asolução encontrada pelo Governo.

Ferna

nda P

alheta

O hospital universitário tem defasagem de 1.010 servidores, segundo a UFMS

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7 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

Estamos conhecendo e discutindo essaproposta”, pondera Francisco Reis, en-fermeiro e coordenador de convênios,e contratos e educação permanente doHU. José Carlos Dorsa, diretor geral doHU/UFMS admitiu: “Só vamos enten-der de fato como a EBSERH vai funci-onar depois da sua implantação”.

Buscando esclarecer e apresentar osmotivos pelo qual a Empresa é legitimapara repor estes recursos humanos, Cel-so Ribeiro de Araújo, representante daEBSERH, argumenta que “por meio deRegime Jurídico Único (RJU), formacomo os funcionários públicos são con-tratados, não é possível pagar plantões,segundo o Ministério do Planejamento.Por isso sua importância, para poder-mos repor o recurso humano necessá-rio, por meio de contratações legais, CLT(Consolidação das Leis Trabalhistas), quepermite o pagamento de plantões e nãodeixa de ser um funcionário público”.

Suas formas de financiamento tra- [email protected]

Apresentada com intuito de garan-tir condições necessárias aos HospitaisUniversitários, modernizar e flexibilizarsua gestão, a empresa confronta princí-pios essenciais da saúde e educação. “Éuma forma de chantagem do GovernoFederal; a única opção que ele nos deu éa EBSERH. Se você não à adere, que-bra o HU, porque você vai ter que di-minuir pela metade no número de lei-tos”, argumenta o acadêmico William.

Para que essa proposta seja debati-da por todos acadêmicos, técnicos, pro-fessores e conselheiros, sua votação foiprorrogada no Conselho Universitárioda UFMS. A Empresa foi pauta no se-minário que aconteceu dia 28 de feve-reiro com participação de representan-tes da EBSERH por meio de vídeo con-ferência. “A EBSERH é uma políticaproposta pelo Governo Federal. Temosessa proposta, vamos escolher se aderi-mos ou não. Se você adere, tem benefí-cios; se não adere, tem prejuízos.

zem a questão central: a abertura dos hos-pitais universitários aos interesses privati-vos que colocam em risco o caráter pú-blico destes hospitais. Seu Estatuto Socialcontém termos que abrem brechas parainiciativa privada, pois além de recursospúblicos, afirma que estes também “po-derão originar dos acordos e convêniosque realizar com entidades nacionais e in-ternacionais”.

É contraditório acessibilizar em seuEstatuto a entrada de recursos atravésde convênios e acordos, precedente paraparticipação de convênios privados, e“comprometer-se à assistência integral-mente disponibilizada ao Sistema Únicode Saúde”. Kassandhra Zolin, estudantede Enfermagem, defendeu: “É umaquestão de manter o 100% SUS, defen-der o Sistema, denão ter dupla por-ta: é uma questãoideológica”.

O tripé daUniversidade: ensi-no, pesquisa eextensão; pontodefendido por es-tudantes e técnicos,também é ameaça-do, pois com a im-plantação aEBSERH abre, em seu estatuto, prece-dente para influência de iniciativas pri-vadas nas pesquisas realizadas pela Uni-versidade, interferindo também em suaautonomia. O modelo de gestão apre-sentado pela EBSERH traz moldesmercadológicos que interferem no ca-ráter de ensino dos HUs e no atendi-mento à população, como o cumpri-mento de metas, priorizando assim aquantidade à qualidade, a produção aoensino.

Com a gestão dos hospitais nas mãos

de uma Empresa, a Universidade perdeautonomia nas decisões. “As implicaçõessão as mesmas de qualquer privatização,desde perda de autonomia, no sentidoda instituição não poder tomar suas deci-sões sem precisar da última palavra donovo gestor da empresa, até a diferencia-ção no atendimento dos usuários. Aospoucos, vamos vendo algumas mudan-ças como, por exemplo, a troca da ge-rência de enfermagem, a qual foi feita semconsultas, votação ou algo semelhante”,descreve Karine Campos, acadêmica deEnfermagem do estado vizinho da Uni-versidade Federal de Mato Grosso(UFMT), onde a EBSERH foi aprovadae está entrando em vigor.

A EBSERH vem gerando muitasdiscussões e questionamento nos Conse-

lhos Universitáriospor onde passa, so-bre suas conse-quências e interesses.Em Curitiba, Ber-nardo Pilotto, as-sistente administra-tivo no Hospitaldas Clínicas daUFPR (UniversidadeFederal do Paraná)uma das quatrouniversidades onde

a EBSERH foi barrada no ConselhoUniversitário, defendeu: “A EBSERH éuma forma de terceirizar a gestão da saú-de, facilitando a transferência de recursospúblicos para a iniciativa privada. Aderirà EBSERH significa aceitar omaqueamento dos problemas. Precisa-mos de mais recursos para a saúde públi-ca e não de uma mudança de modelo degestão”.

Saúde

Criada pela Lei Federal nº 12.550 de 15 de dezembro de 2011, aEmpresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH),vinculada ao Ministério da Educação, é apresentada pararegularizar a situação de funcionários nos Hospitais UniversitáriosFederais. Em 2006, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontouirregularidades na contratação de cerca de 26 mil funcionáriosdos Hospitais Universitários por meio de fundações, e estabeleceuum prazo até 2010 para sua regularização. No dia 31 de dezembrode 2010, último dia do prazo estabelecido pelo TCU, o GovernoFederal cria a EBSERH por meio da Medida Provisória 520, quenão havia sido aprovada no Senado Federal por expirar o prazode vigência no dia primeiro de junho de 2010. Foi reformulada eencaminhada com caráter de urgência, como Projeto de Lei 1749,aprovado pelo Senado Federal e sancionado pela presidente.

A solução no último minuto!

O Adicional de Plantão Hospitalar (APH) foi instituído pela Lei 11.907de 02 de fevereiro de 2009, para regularizar o pagamento deplantões nas áreas indispensáveis ao funcionamento dos HospitaisUniversitários. A defasagem de recursos humanos nos Hospitaisvinha sendo suprida através do Acórdão nº248/2007 no qual oTribunal de Contas da União autorizou em caráter excepcional acriação da rubrica 00080 - Adicional de Serviço Extraordinário. Coma implantação do APH regulamentando essa forma de trabalho,estabelecendo quantitativos de plantões e limite de horas porsemana, outras formas de plantões se tornaram irregulares.

Plantão Hospitalar

“E se o Governo temrecursos para investir via

EBSERH, ele poderia fazê-lo sem mediação da

mesma”

Artemisia Mesquita

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 8

Com gastos de R$ 4,5 mi, o cercamento da Praça Ary Coelho divide opiniões e prejudica ambulantes

Jones Mário

A mesma que no início dos anos1930 se chamou Praça da Liberdade,hoje se encontra cercada por grades demais de dois metros de altura. Arevitalização da Praça Ary Coelho trou-xe novos ares de modernidade, ainda queàs custas de um processo que retirouambulantes e artistas de rua de seu inte-rior e sem realocação adequada. Hoje, oportão da praça fecha às 22h e só abreàs 5h da manhã, mas os velhos proble-mas de destruição e depredação conti-nuam, enquanto pipoqueiros, lambe-lambes, artesãos e doceiros pagam opreço imposto pelo cercamento de um

dos espaços públicos mais tradicionaisda cidade.

A obra custoumais de R$ 4,5 mi-lhões aos cofres pú-blicos somadas asduas etapas derevitalização e decomplementaçãodo serviço (ilumina-ção em LED, irriga-ção) e durou cercade um ano. Belar-mino dos Santos,pipoqueiro há 38anos e há 17 na Ary Coelho, presenciouo fechamento da praça. “O prefeito dis-

se que ia fazer uma reunião com ‘nós’prá arrumar um lugar prá nós trabalhar,

e marcou a reunião.Nós fomos na pre-feitura, chegamoslá e o prefeito nãoestava”, reclama.“Ele deveria terchegado e conver-sado com ‘nós’então, né? Masnão, não conver-sou nada”, revelaBe la r mino. Naépoca, o prefeito

era Nelson Trad Filho (PMDB).Com a proibição de comercializar

seus produtos no interior da Praça apóso término da revitalização, alguns am-bulantes ficaram sem serviço. “A maio-ria não trabalha mais, foi embora. Osvendedores de doce já pararam tambémporque não têm mais condições”, afir-ma Belarmino, que viu muitos de seuscompanheiros desistirem. Quando foifechada para a obra, existiam cerca de50 comerciantes informais trabalhandodentro da Praça, sendo que alguns delespossuíam licença da prefeitura para ven-der no espaço.

Para o engenheiro fiscal da Prefei-tura de Campo Grande, Elias Lino daSilva, fechar “garante uma sobrevidamaior”. Segundo ele, “sem cercamento

“A maioria nãotrabalha mais, foi embora.Os vendedores de doce jápararam também porquenão têm mais condições”

Espaço Público

Belarmino dos SantosFe

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9 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

Nenhum tipo de consulta à popula-ção foi feita para decidir sobre cercar ounão a Praça Ary Coelho (ver box). PauloHernandes conta que isso foi umadiscussão entre prefeitura, arquitetos ePlanurb (Instituto Municipal de Planejamen-to Urbano). Para Juliana Trujillo, fechar apraça é “tapar o sol com a peneira” e que

a solução seria fazercom que a popula-ção se aproprie daPraça e que se iden-tifique com ela, oque consequente-mente geraria maiorcuidado e menosdepredação de seuespaço.

Sem garantianenhuma de condições de trabalhoapós o cercamento e sem perspectivade reunião com a nova Executiva daprefeitura, o pipoqueiro Belarmino,que hoje fica na esquina da Rua 14 deJulho com a Avenida Afonso Pena,afirma que seu movimento caiu pelametade, assim como o de outros am-bulantes que sobraram. “Tratou ‘nós’como cachorro, né?”, pergunta ele,buscando alguém que concorde comseu sentimento. Hoje, Belarmino tra-balha de costas para a Praça Ary Coe-lho. A praça em que trabalhou duran-te 17 anos é agora a mesma em queseu carrinho de pipoca já não é bem-vindo, é a mesma que, também, virouas costas para ele.

a praça não dura, passa um ano e ela játá toda depredada”. O engenheiroacompanhou a revitalização e conta quemesmo durante a execução da obra hou-ve casos de furto de fiação elétrica. “Osdrogados da rua 15 de Novembro pu-laram prá dentro prá arrancar fio, não énem consciência, eles fazem prá destruirmesmo”, garante.

Mesmo de-pois de cercada ecom horário paraabrir e fechar, oscasos de depreda-ção de espaço pú-blico continuaram,sendo que uma dasprincipais justificati-vas para o fecha-mento era evitar esse tipo de problema.O arquiteto Paulo Hernandes, autor doprojeto de revitalização, conta que ocercamento foi uma questão de necessi-dade, pois passaram-se anos e a Ary Co-elho nunca se manteve, porém, conta quedois dias após a inauguração já havia umalixeira destruída.

Os frequentadores da Praça apro-vam o fechamento. Dona Leila Bragadiz que não tem mais medo de levar osnetos para brincar na Ary Coelho, masreclama de ter que atravessar a rua paracomprar um doce ou uma pipoca paraas crianças. Já a professora do curso deArquitetura e Urbanismo da UFMS,Juliana Trujillo, pensa que as grades tra-zem uma sensação falsa de segurança equestiona: “o que é mais seguro? Umapraça fechada e vazia ou aberta e cheia?”.

“O que é mais seguro?Uma praça

fechada e vaziaou aberta e cheia?”

Consulta PopularEm 2004, a Prefeitura de Porto Alegre-RS alterou a Lei

Complementar n°12 de 1975, que permitia o cercamento delogradouros públicos por iniciativa do Município. A Lei Com-plementar n°507 fez correções na antiga e determinou que ocercamento só seria permitido com o parecer do ConselhoMunicipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental, após apro-vação por consulta à população mediante plebiscito.

Em Campo Grande, não há nenhuma lei que garanta àpopulação o direito de opinar por meio de plebiscito sobrequalquer assunto de interesse público. A decisão de cercara Praça Ary Coelho, por exemplo, foi tomada por um conse-lho formado por arquitetos, membros da prefeitura e mem-bros do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Planurb).

Belarmino hoje fica de costas para praça em que trabalhou por 17 anos

Espaço Público

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[email protected]

Juliana Trujillo

Em Porto Alegre, espaços públicos são fechados sob plebiscito

Fonte Luminosa em LED: segunda etapa custou quase R$ 2 milhões aos cofres públicos

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 10Cidade

[email protected]@gmail.com

Adriel MesquitaAntonio Negruny

Desde 2001, o Brasil se destaca nocenário internacional como líder mun-dial no processo de reaproveitamentode latas de alumínio. Em 2012, a cada100 latas fabricadas no país, 98 foramreaproveitadas. Os dados são da ABAL(Associação Brasileira do Alumínio) e daABRALATAS (Associação da Indústriade Latas) e revelam como a crise no mer-cado do metal - acentuada a partir de2009 - elevou a importância econômicada reciclagem para o setor. Teste realiza-do por uma ONG de São Paulo mos-trou que no centro da cidade uma latinhaé, em média, recolhida em menos de cin-co minutos após ser descartada.

É indiscutível que a reciclagem doalumínio traz inúmeros benefíciosambientais e econômicos para grandesempresas, e que seus índices são ampla-mente divulgados e até comemoradoscomo reflexos da luta pela preservaçãoambiental, a chamada economia verde.Entretanto, longe das manchetes de jor-nais e de pronunciamentos oficiais, es-tão os catadores de latinhas.

Diferente de outros países gran-des recicladores de alumínio como Ar-gentina e Japão, a ef iciência noprocessamento do material no Brasil re-vela um grave problema social. Na mai-oria dos casos, a coleta de latinhas é aúnica fonte de renda para os que nãopossuem formação profissional e sãoexcluídos do mercado de trabalho.

No município de Anastácio, locali-zado a 135 km de Campo Grande, arapidez da coleta pode não ser tão gran-de, mas os problemas são os mesmos,assim como em muitos outros locais dopaís. No carnaval de rua da cidade, acatadora Solange da Silva Valejo, 43 anos,se fazia invisível às outras pessoas queestavam no local, enquanto recolhia aslatas espalhadas pelo chão. Analfabeta, écom o dinheiro da venda das latinhasque sustenta dois filhos; o mais velho tem17 anos e já é pai de quatro crianças. Elenão trabalha, pois além do baixo nível

de escolaridade, afirma ter um proble-ma de saúde que o impossibilita “pegarpeso”. Assim, é Solange quem arca comas despesas dos netos, que atualmentemoram em sua casa, localizada em umbairro marginalizado da cidade.

Solange é catadora há mais de oitoanos e lembra que nesse período já houveépocas em que o alumí-nio foi mais valorizado,por isso agora tambémlava roupas e às vezes fazdiárias como emprega-da doméstica para com-plementar a renda dacasa. Quanto à desvalo-rização e ao preconceitopor causa da função decatadora, revela que são poucas as pessoasque realmente percebem que ela está ali:“às vezes, eles pedem prá jogar a latinhano saco e eu deixo”. Conta que vende oquilo (cerca de 65 latinhas) a R$ 1,80 aossucateiros, já que o município não possuiempresa especializada no processamentodo material.

Aspectos econômicosO alumínio é um dos materiais

mais rentáveis da cadeia da reciclagem.O quilo pode ser comprado por até

R$ 3,10 ante R$ 0,50 do plástico, porexemplo. Outro aspecto econômicoimportante é que o alumínio pode serreciclado infinitas vezes, sem perdersuas propriedades principais (leveza, re-sistência, condutibilidade elétrica), dife-rentemente de outros materiais, comopapel e vidro.

O processo de reapro-veitamento das latas consomecerca de 5% da energia utili-zada na produção do alu-mínio primário. Em 2011,por exemplo, a energia quedeixou de ser gasta por essesetor da indústria seria sufi-ciente para abastecer umacidade como Campo

Grande por mais de um ano e meio.O ciclo de vida da lata, ou seja, o

período compreendido entre o momen-to em que ela é posta à venda e recicladavaria de 30 a 45 dias. A eficiência comque todo o procedimento ocorre des-pertou a atenção das autoridades que re-solveram sancionar em 2 de agosto de2010 a Política Nacional de ResíduosSólidos (PNRS).

A Lei tramitava no Congresso Na-cional desde 1989 e para o então presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva, em pro-

nunciamento oficial no Palácio doItamaraty, ela representa uma “revolu-ção em termos ambientais no Brasil”.Na prática, a lei incentivará o tratamen-to de resíduos, destinação adequada dosrejeitos, aumento da reciclagem, dimi-nuição do uso de recursos naturais nafabricação de novos produtos e intensi-ficação de ações de educação ambiental.

Outro aspecto a ser melhorado pelalei é a geração de emprego e renda paraos catadores. A principal peça do meca-nismo da reciclagem é formada por pes-soas que são obrigadas a exercer suasfunções sob as mais adversas condiçõesde trabalho. Esses profissionais se tor-nam mais vulneráveis à doenças e àmortalidade, sem contar ainda com asquestões de exclusão social, bem comoa marginalização da profissão docatador. Nem eles mesmos se mostramcientes da importância do trabalho quedesenvolvem para a sociedade.

Na tentativa de mudar essa reali-dade de descaso, a escola assume umpapel fundamental na conscientizaçãoe educação das novas gerações. A pro-fessora Márcia Rocha, licenciada emCiências Biologicas, leciona há dez anosnas séries finais do Ensino Fundamen-tal (6º ao 9º ano) e no Ensino Médio.Ciente da tarefa dos educadores, elarevela que gosta de atuar nas questõesde cons-cientização ambiental, pois “osalunos são multiplicadores das nossasações em casa e na comunidade”.Acrescenta que ao trabalhar a reci-clagem como um problema social,orienta os alunos “sobre como apro-veitar esses materiais antes de iremparar nos lixões, já que muitas famíliastêm neles sua única fonte de renda” edestaca que “infelizmente em alguns lo-cais não há organização da coleta des-ses rejeitos pelo poder público”. Paraela, o ideal seria a coleta seletiva facili-tar o trabalho dessas pessoas, quemuitas vezes convivem com situaçõesperigosas.

De cada 100 latas fabricadas no país 98 são recicladas, mas os catadores precisam de apoio

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Nem tudo que reduz é ouroEntenda porque os índices de reciclagem do país não são tão comemoráveis assim

“Muitas famíliastêm no lixo umafonte de renda.”

Márcia Rocha

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11 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Cidade

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privilégio,

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Quando moraré um

privilégio,

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 12Caderno de FotojornalismoMa

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Quarto, garagem e cozi

As comunidades se organizam e os moradores acabam se conhecendo, se tornando uma “grande família”

Criança brinca no terreno da ocupaçPrefeitura joga entulho de escola no entorno da ocupação

Situação dos barracos no Conjunto José Teruel Filho

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13 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Caderno de Fotojornalismo

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inha no mesmo barraco

No Aero Rancho, os barracos numerados ajudam na organização

Frente a frente: barracos e casas populares dividem a rua

ção, com o Lixão Municipal ao fundo

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 14Jo

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Campo Grande vive uma onda deocupações. Hoje são cerca de 100 pes-soas acampadas no Aero Rancho, eaproximadamente 400 no bairro JoséTeruel Filho, em barracos onde não hásaneamento, o lixo se acumula e a águavem da ajuda dos vizinhos.

A prefeitura tem uma política clarapara com essa situação. Segundo Tha-lisson, um dos lideres da ocupação doAero Rancho, em nenhum momentoapareceu um representante do atual pre-feito Alcides Bernal para dialogar com acomunidade. Os habitantes são organi-zados e numeram as casas para ter con-trole dos ocupantes. Os moradores acre-ditam numa retaliação da administraçãoda cidade: uma limpeza foi feita no ter-reno do Ceinf Micheli Regina Locatelli,ao lado da ocupação, e todo o lixo re-movido foi direcionado para a ocupa-ção. Ao questionarem porque a ocupa-ção não foi limpa, foram recomenda-dos a pagar por sua própria limpeza.

A situação se repete também no

conjunto José Teruel Filho, vizinho dobairro Dom Antônio Barbosa, em umadas regiões mais marginalizadas da ci-dade. Alguns dos moradores da ocupa-ção trabalham no Lixão de CampoGrande, que fica ao lado do conjunto.A região possui um histórico de ocupa-ções que resultaram em constantes des-pejos, arquitetados pela prefeitura e go-verno do estado quando as duas ges-tões eram coligadas. Em janeiro de 2012,os moradores da Cidade de Deus (lu-gar onde hoje se encontra o bairro JoséTeruel Filho) foram removidos do lo-cal. A Tropa de Choque da CIGCOEparticipou da ação.

A atual executiva da prefeitura, se-guindo a linha da antiga administração,lançou uma campanha publicitária pe-dindo que a população denuncie as ocu-pações. Os outdoors da campanha têmgerado discussões sobre o tratamentoadotado pela gestão do prefeito AlcidesBernal com os moradores em situaçãode ocupação.

Campanha publicitária da Prefeitura criminaliza ocupações urbanas

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15 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Reciclagem

Erika EspíndolaSaulo Maciel

Medo e superstição tomaram con-ta de boa parte da população em 2012,principalmente com a chegada do fi-nal do ano. De acordo com a profeciaMaia, seria um ano de profundas trans-formações, o que, no passado, tradu-ziu-se em inúmeras catástrofes natu-rais. Entretanto, o ano de 2013 chegoue nada de muito diferente aconteceu.

A indústria audiovisual aprovei-tou toda a especulação em torno dotema para criar documentários e filmescom teorias e explicações. O profes-sor de física e comediante AlexFigueiredo, que tem o seu stand-upcomedy “8 ou 80”, diz ter se aprovei-tado do tema para incrementar seusespetáculos. “É interessante como que,em grupo, todos riem de uma possí-vel tragédia. Por ter sido um temamuito presente, foi inevitável não usá-lo em algumas sátiras. No fundo, achoque eu sabia que nada aconteceria”,sorri Alex.

Mas quais foram as consequênciasde toda a polêmica em torno de umcolapso no mundo? Como isso afe-tou a vida e o cotidiano das pessoas?Estamos salvos? Crer ou não crer? Afi-nal, o que seria o fim do mundo?

Para a psicóloga Caroline Queiroz,33, formada pela Universidade Paulistae especializada em psicopediatria, o serhumano, sem exceção, sempre teve anecessidade de crer em algo que jul-gue maior que si mesmo. “A maioriadas psicopatologias são causadas pordisfunções orgânicas ou por estímu-los externos que não são bem absor-vidos pela mente, causando distorçõesda realidade, crenças absurdas, fobias,etc. Não é necessário ser adepto de umareligião para crer em algo. Quem é ateutambém tem suas crenças”. Carolinedefende que há uma faixa etária maisafetada por estímulos positivos e ne-gativos. “As crianças entre 4 e 13 anossão as que mais sofrem com tudo isso.

Por ser a fase mais crítica no desen-volvimento humano e por ser quan-do estamos mais vulneráveis ao queouvimos e vemos, é necessário ter cau-tela”, afirma. “O impacto que uma no-tícia apocalíptica tem em uma criançaé muito maior que em um adolescen-te ou adulto, podendo desencadear si-tuações de ansiedade excessiva, atémesmo depressão”, alerta.

A dona-de-casa e manicura Thaís

Sanches, 32 anos, afirma ter sofrido nomês que antecedeu ao suposto fim domundo. “Minha família é toda espíritae houve muita conversa sobre essa mu-dança que o mundo sofreria em 2012.Me apeguei a aquilo, me perguntava oque seria. Pensei em criar uma espéciede abrigo para mim e para minha fa-mília. Meu filho de 13 anos foi na ondae se desesperou também. Ainda bemque meu marido é mais cético e tenta-

Medo do fimComo a repercussão de um colapso na Terra afetou a vida das pessoas após o mundo não ter acabado

va nos confortar”, diz Thaís que, in-clusive, perdeu uma aposta que fezcom o marido, caso o mundo não aca-basse.

Para Gabriel Sanches, 13, filho deThaís, a preocupação maior começouquando ele, por acaso, ouviu a mãe con-versando com o pai sobre construir umabrigo. “No dia seguinte mesmo, eu jáfui perguntar o porque daquilo tudo,se o mundo iria acabar mesmo”, lem-bra Gabriel. “Eu fiquei com raiva por-que na minha frente todo mundo ria,aí quando eu fui dormir eu vi minhamãe chorando e meu pai dizendo queiria ficar tudo bem. Mas já passou”,comemora Gabriel.

Para o escocês Rob Hannah, gra-duado em psicologia pela OpenUniversity do Reino Unido, o ser hu-mano sente necessidade de ter um pla-no. “A mortalidade é algo difícil de seaceitar e o fato de que o acaso interfiranas nossas vidas é mais assustador ain-da. Quando alguém dá uma data paraisso acontecer, isso nos dá um falsosenso de segurança”.

Ao mesmo tempo em que o serhumano sente necessidade de ter pla-nos, a crença e o medo extremo tam-bém podem atrapalhá-los. A estudantede Economia Ana Paula Trindade, 24,interrompeu seu intercâmbio à Aus-trália por medo de estar longe da fa-mília caso alguma catástrofe aconte-cesse. “Eu iria morar um ano em Mel-bourne, para estudar inglês e outrascoisas na área de economia, mas nosexto mês decidi voltar. Não houvepressão da família nem de ninguém,foi uma decisão 100% minha. Che-guei ao Brasil dia 14 de dezembro epassei por uma semana de medos. Maspelo bem ou pelo mal, nada aconte-ceu. Agora estou planejando retomara viagem e concluir o intercâmbio”,diz Ana Paula.

Thaís Sanches e sua família superaram medo do fim do mundo

A NASA recebe cerca de 90 ligações por semana, mas nosdias que antecederam o possível fim do mundo esse nú-mero aumentou para mais de 300 por dia. Entre as dúvi-das mais comuns, as pessoas queriam saber exata-mente como seria o fim do planeta, como a queda deum meteoro ou um alinhamento mortal de planetas.

Você Sabia?

[email protected]@gmail.com

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 16

Juliana BarrosThiago Cruz

“Até no mal existe algo de bom.Encontrar o bem, no entanto, naquiloque por falta de conhecimento científi-co, é rotulado pela sociedade do sensocomum como sendo exclusivamenteuma obra do mal, depende, em parte,do ângulo pelo qual o observador vêuma questão. Depende também da suacapacidade cognitiva e cultural”, comentaLuiz Eduardo Soares, antropólogo e es-pecialista em Segurança Pública.

Drogas são um dos assuntos maisdebatidos pela população, a legalização,a descriminalização, seus prós e contras.Nesse sentido, a maconha é um tipo dedroga que tem sido muito questionada.Seus principais aspectos sobre o con-sumo estão ligados à área jurídica e me-dicinal.

A maconha é a flor das plantas dafamília cannabis que se dividem em sativa,índica e híbridas. A famosa folha dacannabis, tão popularizada em camisetase adesivos, vista como símbolo da dro-

ga, ironicamente não possui quase ne-nhum teor dos princípios ativos.

Um estudo de 2011 com a partici-pação de cientistas europeus e america-nos identificou que canabinóides endóge-nos,moléculas naturalmente produzidas nocérebro e funcio-nalmente similaresao psico-ativo damaconha, partici-pam de maneirasignificante no es-tabelecimento deconexões entre cé-lulas nervosas doorganismo.

As proprie-dades medicinaisda maconha des-critas se referem aos efeitos analgésicos,anti-espasmódico, anti-emético, estimu-lante de apetite e redutor da pressãointraocular. Esses efeitos atuam no con-trole de sintomas de variadas patologi-as como dor neuropática -oriunda delesão ou disfunção de componentes dosistema nervoso-, espasmos da

esclerose múltipla, náuseas e vômitosrelacionados à quimioterapia contra ocâncer, falta de apetite e desnutriçãoaguda.

Embora a maconha tenha tantosusos positivos para as pessoas e o meio

ambiente, o usocontínuo pode levaros usuários a umestágio de letargia,improdutividade.A síndrome letárgi-ca é acompanhadada diminuição dacapacidade deaprender e da me-mória de curto pra-zo. Muitas pesqui-sas científicas de-

monstram que a maconha tem po-tencial de causar problemas na vidacotidiana de usuários, apesar de pa-recer claro que ela não possuia grandecapacidade de prejuízos neurológicosgraves ou permanentes. Os motivosde como isso acontece são muitos,pois envolvem mudanças sutis em

áreas do cérebro comconsequências psicossociais pormuitas desastrosas.

Muitos usuários adultos usam amaconha há anos e isso aumenta oimpacto social por acumulação deproblemas psicossociais decorrentes doabuso da droga. Existem usuários queconvivem perfeitamente com seusefeitos, e até conseguem tirar proveitopositivo deles. Porém para outra parceladas pessoas, o abuso da droga ébastante problemático.

A maconha pode ser usada paradiversas finalidades, entre elas paraprodução de tecidos, celulose e tábuasde compensado. Também naalimentação, pois possui de 26% a 31%de proteína. Na forma de farinhapossui 6% de carboidratos, 5% a 10%de gorduras e 12% de fibra natural,contra apenas 3% a 4% da alface. Aplanta possui a maior percentagemde ácidos graxos não saturados en-tre as usadas na alimentação humana(80%), superando até mesmo alinhaça (72%).

“O direito penalfracassou. Esse

assunto éda área de saúde”

Paulo Teixeira

Vamos fumar aVamos fumar a hipocrisia? hipocrisia?

Contraponto

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A descriminalizaçãoé a melhor opção?Um debate sem preconceitossobre a MAMAMAMAMACONHACONHACONHACONHACONHA

preconceitosMAMAMAMAMACONHACONHACONHACONHACONHA

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17 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

Segurança PúblicaNa área de Segurança Pública, a

comissão de juristas que elabora projetode reforma para o Código Penal, apro-vou a proposta para diferenciar na lei otráfico do consumo pessoal de entorpe-centes. A sugestão esquentou o debatesobre descriminalização do uso de dro-gas, já que pessoas que forem flagradascom quantidades pequenas, que sirvampara consumo próprio por até cinco dias,não poderiam mais ser presas, mas res-ponderiam um processo penal.

Atualmente, cabe aos juízes inter-pretar se a quantidade de droga apre-endida com apessoa caracterizacrime de tráfico ouconsumo pessoal.Pela proposta donovo Código Penal,a lei irá determinaressa quantidadepara pacificar as de-cisões judiciais e ga-rantir que o usuárionão seja mais con-siderado criminoso.

Segundo Mar-celo Barbosa Mar-tins, advogado e ex-presidente da OAB/MS, “essa é umamaneira muito difícil de ser colocada parao juiz decidir se aquela pessoa é usuáriaou se é traficante. Se é traficante realmen-te, ou é aquele ‘mula’ que leva um quilode Campo Grande a Salvador. Hoje, oentendimento dos tribunais leva muito emconsideração a quantidade, se passa deuma quantidade necessária para elaprópria utilizar durante um mês. Eu nãosei exatamente qual é o raciocínio que elespassam, mas se passa essa quantidade Xpassa a ser entendido como tráfico, emuitas vezes aquele que não é traficantepega uma pena alta e fica na cadeia”.

Para os movimentos que apoi-ama legalização das drogas, a proposta éconsiderada positiva. “O importante éabrir o tema para o debate com asociedade. No entanto, sabemos que aspessoas ainda não estão preparadas parafalar sobre isso e não se dão conta deque esta questão afeta áreas como Saúde,Segurança e Educação”, argumentou odesigner gráfico Ícaro Monteiro Rizzo,um dos organizadores da Marcha daMaconha realizada em maio do anopassado no Rio de Janeiro.

Em um Seminário sobre Drogas eLegislação que ocorreu em Brasília, o

Deputado Federal Paulo Teixeira (PT)apontou os malefícios da criminalizaçãodo usuário, como a criação de um mer-cado paralelo, a superlotação dos pre-sídios e o financiamento da violência.Atentou ainda para a necessidade de re-gulamentar o plantio, o uso e a políticade redução de danos.

“Não podemos mais dar ênfase àrepressão. Hoje, o fato de usar drogaser crime não impede o uso. O direitopenal fracassou. Esse assunto é da áreade saúde. Temos que decidir se vamosgastar milhões comprando armas parareprimir ou se vamos gastar dinheiro

com centros detratamento. Massó poderemosdar este passocom apoio dasforças políticas.Drogas são umtema de Estado”,afirma o deputa-do.

O livro “Polí-tica sobre Maconha:Avançando além doimpasse” destaca asmais novas con-clusões sobre asconsequências do

consumo de maconha; demonstra queembora a droga cause danos a uma par-cela de seus usuários, estes danos, nonível populacional, são modestos secomparados com o álcool, tabaco e acocaína.

A pesquisa ressalta que os númerosde prisões nos Estados Unidos, noReino Unido e na Suíça tiveram pe-quenos resultados dissuasivos ao con-sumo da droga. Seus autores de-fendem uma abordagem menospunitiva por parte dos governos e dasagências internacionais.

As políticas sobre drogas são pra-ticamente as mesmas desde que a Con-venção Única sobre Entorpecentes de1961,que foi aprovada com tratados in-ternacionais inibindo a descrimi-nalização ou legalização, e impedindoqualquer tipo de reforma substantiva naslegislações nacionais sobre maconha.

A ONU estima que cerca de 190milhões de pessoas no mundo usammaconha, o que representa 4% da po-pulação mundial adulta, comparadocom 1% da população que usa qualquerde todas as demais drogas. Portanto, amaconha é de longe a droga controlada

mais consumida no mundo, tornando-a a pedra fundamental da Guerra àsDrogas.

Segundo a Secretaria de Justiça eSegurança Pública de Mato Grosso doSul, no período de Janeiro/2012 à Fe-vereiro/2013 ocorreram cerca de 815ocorrências aos usuários de drogas, sen-do 45 mandados de prisão emitidos eapenas 22 cumpridos.

Os atuais regimes de controle demaconha são considerados intrusivos àprivacidade, segregatórios e de alto custopara manutenção, o que provoca osurgimento do mercado ilegal da maco-nha. Novas pesquisas identificaram a rele-vância da potência e composição químicada maconha em relação à saúde mental.

O livro delineia métodos alterna-tivos para diminuir os danos de-correntes do consumo de maconha.

“As pessoas ainda nãoestão preparadas parafalar sobre isso e nãose dão conta que estaquestão afeta áreas

como saúde, segurançae educação”

Ícaro Monteiro Rizzo

Segundo análise do advogado MarceloBarbosa Martins, o crime organizadotem suas origens na ditadura militar,onde com o AI-5 (ato institucional N.5)foram tiradas diversas liberdadesindividuais e de grupos como DiretóriosEstudantis e Sindicatos. Tornando aatividade política contrária ao governoem uma ação criminosa.Com as lideranças sendo repre-endidas e presas, a noção de coletivoe o conceito de organização civilchegou à população carcerária, queera formada pela camada mais pobree proletária, exatamente a parcela da

sociedade que segundo a teoria marxista, é a protagonista darevolução.Essas condições contribuíram para o nascimento dochamado Comando Vermelho, claramente inspirado nas bandeirascomunistas.Com a proibição do comércio da maconha, em 1961, o crimeorganizado monopolizou esse dinheiro do tráfico, podendo assim searmar e se estruturar, tornado-se uma força tanto política quanto social.Transformando também as regiões periféricas (os morros) em seuterritório, trocando favores com a população, corrompendo a políciacom suborno.Para uma efetiva “quebra” do esquema do tráfico, seria necessária alegalização do consumo da droga, tirando esse dinheiro e,consequentemente, essa influência na sociedade.Entretanto, “o Estado é uma máquina muito pesada para peitar isso.Teria que ter uma política de discussão envolvendo sociedade civilcom órgãos de jornalistas, das empresas da mídia. Acho que sem oapoio da sociedade, não se chega a lugar nenhum”, conclui o jurista.

O combustível do crimeMi

diama

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Contraponto

[email protected]@gmail.com

Quatro possíveis rotas para mudançasão descritas, desde a não pena-lizaçãoaté a descriminalização, incluindo apossibilidade de ‘legalidade parcial’ e,finalmente, um mercado regulado. Etambém apresenta formas em que pa-íses podem legalmente superar as res-trições das atuais convenções interna-cionais.

Peter Reuter, um dos setecoautores, afirmou que, “não se tratade promover o uso da maconha, masde prover a sociedade ferramentasmais efetivas para manejar uma subs-tância que altera a consciência semcausar danos colaterais sociais como ocrime organizado e a violência geradapela política proibicionista”.

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 18

André Moura

O consumo elevado, a velocidadecada vez maior com a qual inovaçõessão lançadas no mercado e a obso-lescência programada incentivam a trans-formação dos aparelhos eletrônicos emsucata tecnológica em pouco tempo.

Computadores se tornam obsoletos acada dois anos, máquinas são substituí-das por versões mais recentes, bateriasde celulares, entre outros materiais, sãodescartados. Quando isso é realizado demaneira inadequada, há a possibilidadede impacto ambiental e riscos à saúdepública.

Porém, há alternativas de reciclageme outras formas de destinação final. Ossubprodutos que esses equipamentosgeram podem voltar ao ciclo produti-vo, reduzindo custos e tempo de pro-dução, criando benefícios sociais eambientais.

Maria Beatriz Oliveira Silva, douto-

ra em Direito, em seu artigoObsolescência programada e teoria dodecrescimento versus direito ao desen-volvimento e consumo, explica que atra-vés de uma estratégia conhecida comoobsolescência programada, o modelo dedesenvolvimento capitalista acelera aprodução de lixo eletrônico. A lógica

Uso do obsoletoO que acontece com aparelhos eletroeletrônicos que ultrapassam o tempo de vida útil

A reciclagem de produtos eletrônicos se faz cada vez mais necessária para reduzir custos e problemas ambientais que afetam todo o planeta

Lixo Eletrônico

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19 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

dessa estratégia é a de encurtar o ciclode vida dos produtos e, assim, fazer gi-rar a roda da sociedade de consumo. Ouseja, as coisas já são feitas para durarempouco.

O primeiro a teorizar sobre essaprática foi o economista BernardLondon em seu livro The NewProsperity, publicado em 1933. O eco-nomista defendeu a importância daobsolescência programada como meiode escapar da depressão econômica pelaqual diversos países passavam na época.Bernard London sugeriu que essa práti-ca fosse transformada em lei, o que nun-ca aconteceu.

As consequências da obsolescênciaprogramada são exploradas pelodocumentário Prêt à Jeter que trata doassunto, e a principal delas é a montanhade lixo gerada e o envio desse materialaos países pobres.

A exportação de resíduos eletrôni-cos geralmente acontece de países de-senvolvidos para o terceiro mundo. Issoocorre porque o descarte adequado oudesmontagem com fins de reciclagemcustam caro. A legislação permite queequipamentos em funcionamento parareutilização sejam exportados, mas o quetem acontecido é o abuso por parte dosexportadores que misturam equipamen-tos em funcionamento com outros semcondições de uso.

Em 1989, diversos países se reuni-ram numa convenção que resultou numtratado internacional que buscadesincentivar a geração de resíduos pe-rigosos. O documento trata, entre ou-tros assuntos, da exportação de sucata

eletrônica, do uso de métodos adequa-dos que visem minimizar a existência deresíduos, e a administração correta des-se tipo de lixo e seu depósito. Esse even-to ficou conhecido como Convençãode Basileia e suas regras estão em vigordesde 1992.

No Brasil, em 1991 o CongressoNacional decretou oProjeto Lei 203/91,instituindo a PolíticaNacional de Resídu-os Sólidos que dizrespeito ao geren-ciamento desses resí-duos, ou seja, a cole-ta, a manipulação, atriagem, o transpor-te, o armazenamento,a comercialização, areciclagem, a deposi-ção final e o trata-mento.

O Conselho Nacional do MeioAmbiente estabeleceu uma resolução em1999 considerando os impactos negati-vos causados ao meio ambiente pelo des-carte inadequado de pilhas e baterias usa-das. De acordo com essa resolução, “pi-lhas e baterias que contenham em suacomposição chumbo, cádmio, mercúrioe seus compostos, serão entregues pelosusuários aos estabelecimentos que ascomercializam ou à rede de assistênciatécnica autorizada pelas respectivas in-dústrias, para repasse aos fabricantes ouimportadores, para que estes adotem, di-retamente ou por meio de terceiros, osprocedimentos de reutilização, re-ciclagem, tratamento ou disposição fi-

“O modelo dedesenvolvimento

capitalistaacelera a

produção de lixoeletrônico”

Maria Beatriz

nal ambientalmente adequados”.O lixo eletrônico é responsável por

um dos maiores problemas ambientaisdos grandes centros urbanos do Brasil edo mundo. A rápida substituição de apa-relhos eletroeletrônicos, por causa de ino-vações tecnológicas, geram uma quanti-dade de material inútil que, sem destinação

adequada, acaba juntoao lixo convencional.De acordo com estudorealizado por BrunaDaniela da Silva,Dalton Lopes Martinse Flávia Cremonesi, emparceria com a ONGWaste.nl da Holanda,por conter em suacomposição diversosmetais pesados, essematerial pode causarum impacto ao meioambiente. Aterros sani-

tários e lixões não são locais adequadospara esses resíduos sólidos. Quando emcontato com a água, esse material escorrejunto com o chorume e contamina o solo,águas superficiais e lençóis subterrâneos,interferindo em sua qualidade.

Pessoas que não possuem coletadomiciliar, e que se desfazem de qual-quer maneira dos resíduos eletrônicospróximos de suas casas, contribuem parao desenvolvimento de doenças e outrosfatores degradantes do ambiente.

Os odores dos resíduos sólidos po-dem causar dor de cabeça, náuseas e malestar. A poeira pode causar desconfortoe perda momentânea de visão, além deproblemas respiratórios e pulmonares. [email protected]

Uma das principais ocorrências são cor-tes e ferimentos ocasionados pelo con-tato com objetos perfurantes e cortan-tes presentes no lixo. No manuseio deprodutos que contenham metais pesa-dos, é aconselhável o uso de equipamen-tos de segurança, como vestimenta apro-priada, luvas contra agentes químicos emecânicos, calçado com biqueira de aço,entre outros.

Existem alternativas de apropriaçãoda tecnologia considerada obsoleta paratransformação social. Um exemplo é aMetaReciclagem, que aproveita a sucatatecnológica e propõe diversos usos doque se fazer com ela, explorando novaspossibilidades, que vão desde o empre-go de peças de computadores usadospara criar espaços de acesso à internetaté ideias com fins educativos ou expe-rimentais.

Felipe Fonseca, um dos fundadoresda MetaReciclagem, sabe que essa redetem alcance limitado a poucas pessoas,mas lembra que toda a experimentaçãorealizada influenciou o desenvolvimen-to de grandes programas de inclusãodigital. “O mais importante nas ações daMetaReciclagem não é a escala quantita-tiva, mas a possibilidade que odesconstruir da tecnologia traz em pro-cessos criativos, educacionais e demobilização”. Segundo a opinião deFelipe, não se trata apenas de reciclagemde equipamentos, mas de reciclagem depessoas, “mas essa é uma interpretaçãomais romântica”.

Lixo Eletrônico

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 20

Quando a sustentabilidade começou a ser debatida pela ONU, nos anos 70, pouco se conhecia sobre o tema

Meio Ambiente

Bárbara VersolatoBrenda Cirino

Passados mais de 40 anos, a dis-cussão não cessou, e eventos climáticosconfirmaram algumas das previsõespessimistas. As mudanças climáticasestão mais frequentes e intensas. Cien-tistas acreditam e temem que se medi-das não forem tomadas, o planetaentrará numa situação de difícil rever-são. A temperatura aumentará(aindamais), espécies entrarão em extinção, aágua pode se esgotar, catástrofesambientais e etc.

Uma das preocupações é a possi-bilidade de faltar recursos para atendera demanda da população, que está pre-vista para chegar a 9 bilhões, em 2050.Uma alternativa cada vez mais difundi-da atualmente é ouso consciente ousustentável dos re-cursos naturais. EmCampo Grande/MS, antes de iremparar em fábricasde reciclagem, al-gumas garrafas pa-ram em uma hon-rável escala, que dávida a centenas deárvores. Como? Éo projeto Eco-plantar, surgido em 2008, pela iniciati-va de dois amigos, Marcus Kirst eRodrigo Albuquerque.

O projeto começou com umaideia de Marcus, que havia se mudadodo Pará e trouxe de lá algumassementes da árvore “neem indiano”, umrepelente natural e planta medicinal,desconhecida em Mato Grosso do Sul,

e pensou em montar um viveiro demudas. Rodrigo possuía um terrenoapto para o plantio, e aí nasceu a par-ceria.

As mudas vingaram, assim comoa procura porelas. “Para con-feccioná-las te-mos que arma-zená-las emsaquinhos e agarrafa PET erao local perfeitopara isso”, expli-cou Marcus en-fatizando que agarrafa é reci-clada duas vezes,com a reutil i-

zação nas mudas, sem precisar compraros saquinhos e consumir mais plásticos. O problema agora era outro: comocoletar tantas garrafas?

A educação ambiental foi a arma.Marcus e Rodrigo iniciaram, por contaprópria, campanhas de educaçãoambiental nas escolas municipais deCampo Grande, com tambores de co-

leta que são recolhidos uma vez por se-mana. “É mais fácil ensinar e investirna criança, que aprende rápido. Elas jun-tam tudo o que vê de plástico pela casa,quando aprendem. Adulto é quem sem-pre fez errado e tem preguiça de mu-dar”, explicou Marcus.

O plástico em Campo Grande écomprado a R$0,30 o quilo, contraR$2,00 do metal, segundo a dupla deempresários. Rodrigo comenta que nacidade não há uma cultura nem o costu-me da reciclagem, “74% do lixo emCampo Grande não é reciclado por fal-ta de conhecimento e investimento mu-nicipal, mas quando as pessoas apren-dem que não é difícil, não deixam defazer”.

Em 2011, o Brasil aprovou a “Po-lítica Nacional de Resíduos Sólidos”,que possui três pontos fundamentais:Fechamento de lixões até 2014; Apenasrejeitos (parte do lixo que não tem comoser reciclado) poderão ser encaminha-dos aos aterros sanitários; e Elabora-ção de planos de resíduos sólidos nosmunicípios. Para os integrantes daEcoplantar, tudo não passa de mano-

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“Para confeccioná-las,temos que armazená-las

em saquinhos, mas agarrafa PET era o local

perfeito para isso”

Marcus Kirst

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21 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMSMeio Ambiente

Uso racional de águae energia na UFMS

Em 2000, a Organização das Nações Unidas,através dos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio (ODM) traça compromissos entre 190países para a melhora da qualidade de vidahumana. São estratégias para que se man-tenha possível a nossa existência no plane-ta. No total são Oito Objetivos, com diversosenfoques, como erradicar a pobreza e a fome,promover a igualdade entre os sexos, saúdee etc. O sétimo objetivo é esse:

Garantir a sustentabilidade ambientalPromover o desenvolvimento sustentável,reduzir a perda de diversidade biológica ereduzir pela metade, até 2015, a proporçãoda população sem acesso a água potável eesgotamento sanitário.

Sugestões de ações:Incentivar a reciclagem de materiais, o usode sacolas reutilizáveis no lugar de sacolasplásticas, usar os recursos de forma consci-ente, implementar a coleta seletiva, plantarárvores, não jogar lixo nas ruas e etc.

[email protected]@gmail.com

No Brasil são mais de 2,5 mil instituições de ensino superior,mais de 6,5 milhões de alunos, no país inteiro, segundo olevantamento de 2010, do Ministério da Educação. E essasinstituições sempre enfrentam problemas, principalmente deinfraestrutura, que acontecem principalmente em universidades pú-blicas, onde existe uma ausência de gestão responsável.

Quem nunca foi a uma instituição pública onde houvesse umvazamento, uma torneira quebrada, ou uso irracional de energia?Pensando nisso, Vinícius Battisteli Lemos, mestrando em Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental da UFMS (UniversidadeFederal de Mato Grosso do Sul), criou o projeto CampusInteligente, sob orientação do professor Peter Batista Cheung.

A ideia surgiu nas pesquisas bibliográficas de Vinicius, quandodescobriu que em um campus numa universidade dos EstadosUnidos, uma ideia simples, reduziu em até 20% o consumo de ener-gia. Uma lâmpada instalada no meio dos prédios, que mudava decor, variando conforme o consumo dos estudantes.

O projeto consiste em levantar indicadores de desempenho eapresentar num sistema de informação geográfico, onde essas in-formações serão transmitidas em tempo real a um administrador eficar sobre o controle do gerente de manutenção, que enviará umaequipe para o local apontado.

O site está em funcionamento há pouco mais de dois meses.Uma das metas é, em breve, calcular uma média do gasto individu-al, num prazo de 6 meses. Mas para poder gerar esse número énecessário saber onde existe desperdício. Para isso serão implanta-dos equipamentos que transmitem em tempo real ao site do CampusInteligente, onde serão exibidos em forma de gráficos e números.Quando o sistema estiver implantado, o cidadão poderá reportar oproblema através do site, até mesmo pelo celular. Existem placasespalhadas pelos prédios da UFMS, onde existe orientação do quefazer. Qualquer pessoa pode visualizar e ajudar.

“O conceito é muito semelhante ao de Cidades inteligentes. Agente não sabe quanto gasta deágua, energia, nada. Não sabemosonde estão e nem quais são osproblemas, então o Campus In-teligente é o primeiro passo paradar inteligência a esse processo deadministração”, disse Vinicius. Oprojeto é patrocinado pelaEletrobrás, e é de um programade Incentivo a gestão hidroenergética.

Projeto pretende indicar onde e como são osdesperdícios no campus

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bras políticas marqueteiras, assim comoa Rio+20, a Copa do Mundo de Futebol,em 2014, e que Campo Grande podedemorar muito para ver seu plano deresíduos sólidos, pois os programas mu-nicipais “só funcionam por conveniên-cia, por meio de troca de fatores e votos,por isso tivemos que botar a mão namassa por conta própria, juntamentecom os catadores” conta Marcos.

Atualmente, a Ecoplantar vendemuda de árvores para quase todos osestados brasileiros, contando com espé-cies raras, medicinais e ornamentais, ealém de ensinarem as crianças nas esco-las, possuem pontos de coleta de garra-fas PET espalhados pela cidade. O di-nheiro adquirido com o projeto, uma ini-

ciativa privada, é revertido para a estru-tura do viveiro e dos catadores de lixoque colaboram com o projeto.

Quem quiser ajudar, a Ecoplantarfica na Rua Manoel Cecílio, Nº 780, Jar-dim São Bento, onde é possível doarmateriais sólidos recicláveis. As mudasproduzidas podem ser adquiridas dire-tamente no local ou pela venda on-linena internet. Os voluntários também po-derão ir até o viveiro aprender como oempreendedoris-mo pode se tornarsustentável, e confeccionar as mudas,que fazem do lixo, um berço de vida.

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 22Legislação

Privacidade virtual

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Lei Carolina Dieckmann punirá infratores do mundo virtual

“Se fosse gratuitoanunciar você iria num

jornal anunciar que vocêcomprou um carro novo,que você se mudou, que

você vai estar de férias?”Vagner Pedrotti

Gabriel Cabral

Em 2 de abril desse ano, entrou emvigor a chamada Lei CarolinaDieckmann, que prevê a punição paracrimes praticados pela internet. Atéentão, os infratores do mundo virtualficavam impunes. A atriz teve seu com-putador invadido por um hacker e fotosíntimas publicadas na rede. Ela travouuma disputa judicial contra o Googlepara a remoção dos links que davamacesso às fotos. Esse fato acelerou a cri-ação da lei que leva o nome da atriz, san-cionada pela presidenta Dilma Roussefem 30 de novembro de 2012.

A lei nº 12.737 altera o Decreto nº2848 do Código Penal de 1940. Queminvadir um dispositivo informático,conectado ou não à rede de computa-dores, pode pegar detenção de três me-ses a um ano e multa. A mesma puniçãoinclui quem produz, oferece, distribui,vende ou difunde dispositivo ou pro-

grama de computador com intenção depermitir a prática do delito. Se houverdivulgação ou comercialização a penapode ir de seismeses a dois anos emulta. Em caso deinvasão e transmis-são de informaçõessigilosas a sentençapode aumentar deum a dois terços.

A pena podeaumentar de umterço a metade se aação for cometidacontra membrosdo Poder Executi-vo, presidente doSupremo Tribunal Federal, do Senado,das Câmaras Legislativas Estaduais, doDistrito Federal e dos Municípios.

Para o advogado Edilson CarlosPereira Araújo, a lei deveria ser editadahá muito tempo pois há dez anos a

internet está em expansão. Com a lei osdelitos cometidos na rede tendem a di-minuir. Para isso, é preciso uma fiscali-

zação, não adiantasó a proibição, ad-verte.

Vagner Pe-drotti, professorda Faculdade deComputação daUniversidade Fe-deral de MatoGrosso do Sul(UFMS), defendeque as pessoas queinvadem a privaci-dade com objetivode retorno finan-

ceiro sejam responsabilizadas, mas a penadeve ser coe-rente. Ele exemplificou queum hacker foi condenado nos EstadosUnidos a dez anos de prisão por ter in-vadido o computador da atriz ScarlettJohansson. Para Vagner, a punição não

faz sentido porque talvez se ele tivessecomprado uma arma e dado um tironela, sua pena seria menor.

Os quatro meses entre a sanção e aentrada em vigor foi o período que aspessoas tiveram para se adequarem a essaalteração no Código Penal.

No entanto, o decreto não especi-fica a responsabilidade das empresasque armazenam informações. Porexemplo: o Google tem um serviço nainternet para os indivíduos guardaremarquivos pessoais, músicas, fotos, do-cumentos, etc. conhecido como“nuvem”, e você pode acessar em qual-quer computador conectado à internet.Só que o Google não garante que osdados não serão violados.

Pedrotti adverte que nenhumaempresa garante isso porque existemetapas no sistema que podem ser vul-neráveis. Tem a comunicação entre ocomputador do usuário e do servidor,alguém pode interceptar essa comu-nicação. O indivíduo pode escolheruma senha muito fácil para usar narede.

Poderia haver sistemas mais se-guros se as pessoas aceitassem pagarpor isso. Por exemplo, você tem ose-mails e os seus dados pessoais na“nuvem”. Eles poderiam estarcriptografados. Assim, nem mesmo oGoogle ou outra empresa quemantêm os dados, conseguiriam ler.Seria um nível de segurança muitomelhor, afirma Pedrotti.

O advogado Edilson destaca a res-ponsabilidade do usuário sobre a infor-mação que coloca na internet. Ao arma-zenar algo de livre e espontânea vonta-de na “nuvem” ou rede social a pessoaassume o risco daquelas informaçõesvazarem. Nesse caso, ele acredita que nãotem como as empresas serem punidasporque elas não têm condições de man-ter um programa que seja inviolável.

Para evitar que isso ocorra, o usuá-rio deve tomar algumas medidas como:manter o sistema operacional e antivírusatualizados, não executar qualquer pro-grama baixado da internet, não clicar emqualquer link que recebeu e não escolhersenhas fáceis de serem decoradas paraos serviços da rede. “Essas medidasdevem ser tomadas senão a pessoa estáfacilitando as coisas para um invasor”,ressalta Pedrotti.

A Federação Brasileira de Bancos(Febraban) dá algumas dicas para o cli-

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23 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Legislação

Lei CarolinaDieckmann

Marqueti dos Santos, empresário [email protected]

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Principais pontos da Lei 12.737 quealtera o artigo 154 do Código Penal:

A nova lei criminaliza a invasão dedispositivos eletrônicos, conectado ounão a rede de computadores medianteviolação indevida e com o fim de obter,adulterar ou destruir informações semautorização do titular do dispositivo.

A pena é detenção de três mesesa um ano, e multa.

§1º- Na mesma pena inclui quemproduz, distribui, vende ou difunde dis-positivo ou programa de computadorcom o intuito de permitir a prática dodelito.

§2º- Aumenta a pena de um sexto seda invasão resultar prejuízo econômico.

§3º- Se da invasão resultar a ob-tenção de conteúdo de comunicaçõeseletrônicas privadas, informações sigi-losas, definidas em lei, ou o controleremoto do dispositivo invadido: reclu-são de seis meses a dois anos, e mul-ta, se a conduta não constitui crimemais grave.

§4º- Na hipótese do §3ºaumenta-se a pena de um a dois terços se hou-ver divulgação, comercialização outransmissão a terceiro.

§5º- Se praticado contra: presiden-te da República, governadores, prefei-tos, presidente do Supremo TribunalFederal, da Câmara de Deputados, doSenado, de Assembleia Legislativa deEstado, da Câmara Legislativa do Dis-trito Federal, de Câmara Municipal oudirigente máximo da administração di-reta e indireta federal, estadual, muni-cipal ou do Distrito Federal aumenta-se a pena de um terço à metade.

Edilson Araújo, advogado, observa que a lei deveria ser editada há muito tempo

Uma das fotos divulgadas da atriz

“Quando você tem umFace ou um Orkut é pratodo mundo ver, você

está expondo.” Janaina Veneno

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ente se prevenir de ataques: trocar a se-nha de acesso ao banco pela internet comfrequência, não realizar transações emcomputadores que não tenham antivírus,não executar ouabrir arquivos deorigem duvidosa,ficar atento às soli-citações de senhas.

Segundo da-dos da Febraban,em 2012 o prejuízodos bancos brasilei-ros com fraudeseletrônicas foi cer-ca de R$1,4 bilhão,a quantia é 6,7% menor que a registradaem 2011. Cerca de 24% das transfe-rências são feitas pela internet. O gastodos bancos em tecnologia da informa-

ção e em soluções de segurança é emtorno de R$ 18 bilhões por ano.

Algumas pessoas insistem emdigitar a senha pelo teclado, a maioria

dos sites dos ban-cos não deixamais isso ocorrer.Porque um pro-grama instaladono computadorpode registrar oque é digitado equando a pessoaclica com o mou-se, ele registra u-ma foto da tela,

alerta Pedrotti.Mas não são só as senhas bancári-

as que merecem cuidados. Nas redessociais é fácil encontrar exemplos dequem se expõe a ponto de contar asatividades da hora que acorda até o mo-mento de dormir. Edilson adverte queas pessoas precisam ficar atentas por-que os criminosos pegam muitas infor-mações na rede.

Para Pedrotti, é estranho as pes-soas divulgarem detalhes da vida par-ticular. “Digamos que os jornais nãocobrassem para você anunciar algumacoisa. Se fosse gratuito anunciar, vocêiria num jornal anunciar que você com-prou um carro novo, que você se mu-dou, que você vai estar de férias? A

gente não faz, não tem esse tipo decomportamento com meios físicos.Com a internet, tudo que é fácil você irali e escrever, você faz. Mas cada um élivre prá fazer o que quer.”

A psicóloga Camila Bellini ColussiMacedo acredita que esse comporta-mento pode ser explicado pelo fato dosindivíduos cada vez mais se restringi-rem por causa da violência e dosproblemas das grandes cidades. “Muitasvezes as pessoas ficam restritas aos seusespaços e não tem quem as ouça. Então,elas colocam tudo na internet. É umaforma de todo mundo ver o que estáacontecendo com elas”, explica.

Nesse caso a pessoa cria outrasfor mas de risco, expõe tudo queacontece no dia a dia. Os pais devemter cuidado com o que os filhos estãofazendo. Muitas vezes as crianças, osadolescentes não têm a noção dolimite, observa Camila.

“#Partiu academia” é uma expres-são encontrada em muitos perfis demuitos adolescentes nas redes sociais.Isso possibilita saber muita coisa sobrea vida de um indivíduo. O empresárioEdimar Marqueti dos Santos, 30 anos,fala que a maioria não sabe o risco queestá correndo: “eles acham bonito enão têm a noção do perigo”.

Pedrotti ressalta que é um exagerofornecer excesso de detalhes da vidaparticular para todo mundo. A partirdas fotos, é possível saber onde a pessoaestá, seu estilo de vida, quanto ganha, oque faz, onde mora. Informações quepodem ser mal usadas por alguém.

Janaina Veneno Pedroso, 26 anos,auxiliar de consultório, afirma que acessaa internet todo dia em casa e notrabalho. Ela compartilha informaçõescom todos e teve a conta do Orkuthackeada, mas não se sentiu prejudicada.“Quando você tem um Face ou umOrkut é pra todo mundo ver, você estáexpondo”, argumenta Janaina.

A psicóloga lembra que essa exposi-ção na rede pode trazer pro-blemas.Alguém sempre vai lembrar o fato e apessoa terá que lidar com o problema.Por exemplo, o indivíduo que teve a vidaexposta, vai se deparar com perguntas.Se ele não tiver recursos psíquicos paralidar com a situação pode desencadearum quadro de ansiedade, de estresse oudepressão.

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 24À espera

Lucas Baís

Depois de mais de um ano noantigo terminal rodoviário de CampoGrande, o “Lanchódromo” continuaem atividade com dificuldades eincertezas. Sem saber se continuarão nolocal e ainda sem retorno da Admi-nistração Municipal, a Associação dosComerciantes Ambulantes Autônomosde Lanche não sabe o que fazer. Omovimento diminuiu em torno de 60%e para trazer nova clientela, o desejo daassociação era reformar e criar novasatividades.

O líder da associação, NelsonBogado Ostemberg, conhecido comoBatata, explica que a ideia era fazerbanheiros, “mas a mão de obra ematerial não sai por menos de R$ 5mil.Isso dá quase mil reais para cada um etem o pessoal que não tem condições eainda a gente quer trocar o piso, fazerfestivais, olimpíadas dos funcionários.A ideia é melhorar o local e atrairpúblico”. Porém, segundo Batata, nãoadiantaria fazer algo a longo prazo.“Imagina se daqui a dois meses chegao rapaz da prefeitura e fala que vaichegar a Câmara e vamos ter que sairdaqui. A situação está indefinida”.

No início, a Administração Munici-pal da época prometeu mudanças, o que

aconteceu parcialmente. A associaçãodecidiu arrumar o prédio aos poucos,que já possui pintura e sistema hidráulico.“Tudo nós fizemos, eles colocaram ohidrante. Quem pu-xou a água com o canofomos nós. As luzesforam eles que puxa-ram, a prefeitura.”

Batata lamentaas antigas confusõesque ocorreram atéeles serem coloca-das no local. “Napraça Aqui-dauanajá estava prontinhoprá trabalhar. Lá,tem água, tem luz etem tudo. Mas elesnão consultaram os moradores, que fi-zeram abaixo assinado e nos tiraramde lá”.

Hoje, além do movimento menor,eles enfrentam os incômodos do local.O lancheiro King Yue Gomes, 25 anos,reclama que “o movimento caiu maisda metade. Não tem fluxo, é contra-mão. Aqui é muito difícil o acesso”.Para o lancheiro, a antiga rodoviária ain-da sofre o preconceito da sociedade“pelo ambiente que se construiu no de-correr das décadas, ficou muito‘queimado’ para a gente”.

Atrair a confiança da clientelaO comerciante Paulo Cesar Leite é

dono de trailer no lanchódromo. Diz queaqueles que não tem outras barracas es-

palhadas pela cidadesão os que mais es-tão sofrendo. Se con-sideram anônimosno meio daquelesque são mais conhe-cidos. “Precisávamosdesse ambiente, mashoje não temos umfluxo de pessoas cir-culando por aqui.Com isso, as pessoasque estão aqui nomeio, sofrem. O pes-soal da ponta leva

vantagem por que chega o pessoal porali e vai ficando,” conta o comercianteapontando para as extremidades do pré-dio onde estão estacionados outros trailers.

Paulo César e alguns outros comer-ciantes do Lanchódromo sofreram mais.“Eu trabalhava na Afonso Pena com trêsfuncionários. Aqui tem dia que um é muito.Mas esperamos pelo final de semana, queaté dá um movimento.”

King Yue conta que o apareci-mento das grandes redes deFastFood depois da mudança doslancheiros também desagradou.

Última parada

Sem saber se continuarão na antiga rodoviária, os lancheiros se desmotivam para melhorar o local

Luca

s Baís

[email protected]

“Acabou com o nossomovimento, caiu maisda metade. Não temfluxo, é contramão.

Aqui é muito difícil oacesso.”

King Yue Gomes

“Seria legal se cumprissem tudo oque prometeram. Já tivemos que de-sembolsar. Falaram para a televisãoem rede aberta que eles iam refor-mar e deixar no jeito prá gente aqui.Depois decidiram em uma reuniãoque iria ficar por nossa conta, sequiséssemos fazer alguma coisa, te-ríamos que desembolsar.”

Quanto a Câmara dos Vereadoresser transferida para aquele local, todosestão de acordo. Desde que haja melhoriae os comerciantes continuem lá.

“O Bernal falou que ia dar umaposição e ia nos colocar em um lugarmelhor. Vamos aguardar pra ver quan-do ele poderá fazer isso pela gente,”ressalta o ambulante King Yue Gomes.

Batata diz que conversou com onovo prefeito durante sua campanha,mas após ele assumir o cargo, nãoconseguiu mais contactá-lo. Só algunsassessores, mas sem grande sucesso. “Oque aconteceu foi que nas últimas ges-tões foram vinte anos do mesmo par-tido e agora trocou tudo. Os cargos deconfiança mudaram. Aquele povo queestá há muito tempo nesses cargos e nãonos ajudaram, acabaram mudando.Agora a gente cria uma esperança queeles nos deem visão.”