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PROJETO DE UM AEROGERADOR VERTICAL DE PEQUENO PORTE PARA APLICAÇÃO EM HABITAÇÕES POPULARES EM CENTROS URBANOS José Benjamin Moraes Ferreira Júnior Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Prof. Armando Carlos de Pina Filho, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL SETEMBRO DE 2016

PROJETO DE UM AEROGERADOR VERTICAL DE PEQUENO …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10017945.pdf · Prof. Armando Carlos de Pina Filho, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

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PROJETO DE UM AEROGERADOR VERTICAL DE PEQUENO PORTE PARA

APLICAÇÃO EM HABITAÇÕES POPULARES EM CENTROS URBANOS

José Benjamin Moraes Ferreira Júnior

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador:

Prof. Armando Carlos de Pina Filho, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

DEM/POLITÉCNICA/UFRJ

PROJETO DE UM AEROGERADOR VERTICAL DE PEQUENO PORTE PARA

APLICAÇÃO EM HABITAÇÕES POPULARES EM CENTROS URBANOS

José Benjamin Moraes Ferreira Júnior

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Armando Carlos de Pina Filho, D.Sc. (Orientador)

________________________________________________

Prof. Fábio Luiz Zamberlan; D.Sc.

________________________________________________

Prof. Fernando Pereira Duda, DSc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2016

i

Ferreira Júnior, José Benjamin Moraes

Projeto de um aerogerador vertical de pequeno porte

para aplicação em habitações populares em centros urbanos /

José Benjamin Moraes Ferreira Júnior - Rio de Janeiro: UFRJ

/ Escola Politécnica, 2016.

IX, 55 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Armando Carlos de Pina Filho

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia Mecânica, 2016.

Referências bibliográficas: p. 54-55.

1. Turbina Eólica. 2. Potencial Eólico Brasileiro. 3.

Tecnologia Eólica. 4. Projeto Mecânico. 5. Conclusões. 6.

Sugestões para futuros trabalhos. I. Pina Filho, Armando

Carlos de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Escola Politécnica, Engenharia Mecânica. III. Projeto de

um aerogerador vertical de pequeno porte para aplicação

em habitações populares em centros urbanos.

ii

Este trabalho é dedicado a

Deus e a todos que me

ajudaram nessa caminhada

até aqui, principalmente

minha família.

iii

AGRADECIMENTOS

Não poderia começar sem antes agradecer àquele que nunca saiu do meu lado e

sempre esteve comigo em todo o tempo. Não poderia deixar de dizer que se não fosse Ele

eu nunca teria chego até aqui – etapa fundamental e marcante em minha vida – e que sem

Ele de nada adiantaria todo esse esforço. Ele foi a minha força e meu sustento em todo o

tempo, até mesmo quando não pensei que estivesse sendo. Por essas e tantas outras razões

que eu faço questão de dizer obrigado neste primeiro parágrafo à Ele: ao Senhor, meu

Deus.

Quero poder agradecer, também, a toda minha família que esteve comigo ao meu

lado, mesmo quando fui, talvez, incompreensível durante as épocas de prova. Ao meu pai

Benjamin Ferreira, a minha mãe Diana e minhas irmãs mais velhas Adriana e Nathalie.

Sei que oraram e me deram forças quando me senti fraco ou cansado.

Não poderia deixar de mencionar, também, os meus amigos que tive a chance de

conhecer já no meio do curso de graduação. Não cabe mencionar nomes porque são

muitos e poderia correr o risco de esquecer alguém. Mas sei que eles certamente se

identificarão com o que falo. Os trabalhos em grupos que tiveram, até mesmo, viradas de

noites, as discussões na biblioteca e em salas de estudo, as trocas de mensagens tirando

dúvidas e as conversas na fila para o restaurante. Vocês tiveram papel fundamental nessa

minha conquista.

Quero poder ainda agradecer aos meus amigos e companheiros que na maior parte

das vezes estão comigo durante a semana e nos finais de semana. Vocês foram e fizeram

parte dos meus momentos de distrações, me tirando de minha rotina.

E, por último, agradecer a todos os professores que me deram todo o alicerce para

que eu pudesse, agora, me formar devidamente como um engenheiro mecânico

responsável e dedicado. Em especial, ao meu professor e orientador Armando que se

mostrou sempre disponível e preocupado com o andamento deste trabalho.

Obrigado a todos!

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

PROJETO DE UM AEROGERADOR VERTICAL DE PEQUENO PORTE PARA

APLICAÇÃO EM HABITAÇÕES POPULARES EM CENTROS URBANOS

José Benjamin Moraes Ferreira Júnior

Setembro/2016

Orientador: Armando Carlos de Pina Filho

Curso: Engenharia Mecânica

O uso do vento como fonte alternativa às fontes convencionais de energia vem

ganhando cada vez mais espaço no mercado mundial. E sua aplicação em residências

também tem se mostrado útil e satisfatória em alguns países. Dessa maneira, este trabalho

vem trazer ao cenário e contexto atual brasileiro a viabilidade do projeto de uma turbina

eólica vertical de porte pequeno, que pode ser instalada em habitações populares para uso

próprio na geração de energia. Devido às suas características e a potencialidade eólica do

Brasil, torna-se necessário que o uso da turbina venha a ser utilizada como fonte geradora

auxiliar de energia, além daquela que é comercializada e distribuída por meio das redes

elétricas. Por se tratar de aplicação em habitações populares, procurou-se reduzir as

dimensões da turbina de forma que se ajustasse proporcionalmente às medidas da casa.

Assim, os materiais escolhidos para a sua fabricação, bem como seus periféricos, também

foram otimizados de maneira a trazer confiança, resistência e baixo custo aos

consumidores finais desse projeto. Este trabalho conta com um estudo de viabilidade,

projeto, análise de resistência e escolha de periféricos para se ajustar aos parâmetros

iniciais de escolha e termina com sugestões futuras de projetos com o desenho técnico da

turbina anexado.

Palavras-chave: turbina eólica vertical, Darrieus H, energia renovável e limpa, projeto mecânico.

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Mechanical Engineer.

SMALL-SIZED VERTICAL WIND TURBINE PROJECT FOR APPLICATION IN

RESIDENTIAL HOUSING IN URBANS AREAS

José Benjamin Moraes Ferreira Júnior

September /2016

Advisor: Armando Carlos de Pina Filho

Course: Mechanical Engineering

The use of wind as an alternative to the conventional power resources has become

increasingly more widespread in the worldwide market. Furthermore, its application in

residential homes has proven to be useful and adequate in some countries. Thus, this paper

aims to bring to the contemporary Brazilian context the viability of a small-sized vertical

wind turbine project that can be installed in residential housing for the purposes of power

generation. Due to its features and the Brazilian wind potential, it is necessary that wind

turbines come to be used as an auxiliary power generator resource, in addition to the ones

currently commercialized and distributed by electrical networks. Since the issue at hand

is its application in personal homes, the reduction of the turbine’s dimensions is sought

in order to adjust it proportionally to the house’s size. Thus, the materials chosen in its

manufacturing, as well its peripherals, were also optimized in order to bring quality,

resistance and low cost to the final consumers of this project. This paper contains a

viability study, project, resistance analysis and choice of peripherals to adjust them to the

initial choice parameters, and it ends with suggestions for future projects with the

technical turbine design attached.

Keywords: vertical air turbine, Darrieus H, clean and renewable power, mechanical

project.

vi

Sumário

1. Organização do Trabalho ........................................................................ 1

2. Motivação e Objetivo .............................................................................. 2

3. Introdução ............................................................................................... 4

3.1. A Energia Eólica ............................................................................... 4

3.2. Histórico da Energia Eólica .............................................................. 4

3.3. Histórico do Potencial Eólico Brasileiro .......................................... 8

3.4. Potencial Eólico Atual no Mundo .................................................. 10

3.5. Potencial Eólico Brasileiro Atual ................................................... 13

3.6. Sistema Elétrico Brasileiro ............................................................. 15

3.7. Características Geográficas do Brasil ............................................. 15

3.8. Clima e Sazonalidade ..................................................................... 16

3.9. Regimes de Vento sobre o Brasil ................................................... 17

4. Turbinas Eólicas .................................................................................... 19

4.1. Principais Tipos .............................................................................. 19

4.1.1. Rotores de Eixo Vertical .......................................................... 19

4.1.2. Rotores de Eixo Horizontal ...................................................... 21

4.2. Princípios e Tecnologia .................................................................. 22

5. Projeto ................................................................................................... 26

5.1. Escolha do Aerogerador de Eixo Vertical ...................................... 26

5.2. Considerações Iniciais .................................................................... 27

5.3. Componentes de um Aerogerador Vertical .................................... 29

5.3.1. Pá do Rotor ............................................................................... 30

vii

5.3.2. Eixo do Rotor ........................................................................... 32

5.3.3. Resistência da Pá ...................................................................... 41

5.3.4. Braço ou Suporte ...................................................................... 47

5.3.5. Gerador Elétrico ....................................................................... 49

5.3.6. Caixa de Engrenagens .............................................................. 51

5.4. Desenho Técnico da Turbina .......................................................... 51

6. Conclusão .............................................................................................. 51

6.1. Sugestões para Trabalhos Futuros ..................................................... 53

7. Referências ............................................................................................ 54

viii

Lista de Figuras

Figura 1 – Evolução da Potência Eólica Instalada no Mundo [2] .............. 11

Figura 2 - Participação na Geração Eólica por País [2] .............................. 11

Figura 3 – Geração, Expansão e Potência Instalada por País [2] ............... 12

Figura 4 – Potência Eólica no Brasil [2] ..................................................... 13

Figura 5 – Evolução da Capacidade Instalada Eólica no Brasil [2] ............ 14

Figura 6 - Geração e Potência Instalada por Estado Brasileiro em 2014 [2]

..................................................................................................................... 14

Figura 7 - Distribuição Geral dos Ventos sobre o Brasil [1] ...................... 17

Figura 8 – Turbina do Tipo Darrieus .......................................................... 20

Figura 9 – Turbina do Tipo Savonius ......................................................... 20

Figura 10 - Turbina do Tipo Darrieus - Savonius ....................................... 21

Figura 11 - Efeito causado pela passagem do ar através da turbina [1] ...... 23

Figura 12 – Curva de Potência para Turbinas Eólicas [1] .......................... 24

Figura 13 – Turbina Darrieus H Instalada em telhado [4] .......................... 27

Figura 14 – Resultado de Simulação para Gastos Mensais de Energia de uma

habitação [6] ................................................................................................ 27

Figura 15 – Mapa do Potencial Eólico do Rio de Janeiro [6] ..................... 28

Figura 16 – Configuração Esquemática de Aerogerador Conectado à Rede

Elétrica [6] ................................................................................................... 29

Figura 17 – Turbina Darrieus de Pás Curvadas [4] ..................................... 30

Figura 18 – Gráfico Cp x TSR para cada 𝜎 [4] ........................................... 31

Figura 19 – Perfil do Aerofólio NACA 0015 [8] ........................................ 32

Figura 20 – Gráfico 𝛼 x 𝜃 para cada 𝜆 [10] ................................................ 33

Figura 21 – Gráfico 𝐶𝑑 x 𝛼 [8] .................................................................. 34

Figura 22 – Esforços sobre o eixo do Rotor ................................................ 36

Figura 23 – Esquema Simplificado de uma Turbina Darrieus H ................ 41

Figura 24 – Esforços Atuantes Sobre uma Pá de uma Turbina Eólica [4] . 42

ix

Figura 25 – Gráfico do Esforço 𝑉𝑥 Sobre a Pá ........................................... 43

Figura 26 – Gráfico do Esforço 𝑀𝑧 Sobre a Pá .......................................... 43

Figura 27 – Gráfico do Esforço 𝑉𝑧 Sobre a Pá ........................................... 44

Figura 28 – Gráfico do Esforço 𝑀𝑥 Sobre a Pá .......................................... 44

Figura 29 – Gráfico do Esforço N Sobre a Pá ............................................. 45

Figura 30 – Projeto da Pá em SolidWorks .................................................. 47

Figura 31 – Detalhe do Suporte da Pá [12] ................................................. 48

Figura 32 – Fixação do Suporte das Pás ao Eixo do Rotor [12] ................. 49

Figura 33 - Folha de Dados do Motor WEG Steel Motor ........................... 50

Figura 34 – Motor Elétrico WEG Steel Motor ........................................... 50

1

1. Organização do Trabalho

No primeiro capítulo é feita uma abordagem geral de todo o conteúdo do projeto

abordando os principais temas de todos os capítulos, de forma a situar o leitor na

organização e contexto do projeto antes de uma leitura detalhada do mesmo.

Já no capítulo dois, é introduzido o porquê de se investir e tornar cada vez mais

aplicável o uso de tecnologia eólica no mundo e, principalmente, no atual contexto

brasileiro. Tudo isso a fim de que possa ser ilustrado as suas vantagens e mostrar, assim,

a motivação de escrever este trabalho e o objetivo que pretende ser alcançado.

No terceiro capítulo, onde se encontra a introdução, é descrito o que é a energia

eólica e de onde tem origem, passando por um rápido histórico de como se deu o início

de sua aplicação em todo o mundo e no Brasil. Neste capítulo é possível observar,

também, o crescimento do potencial eólico até os dias atuais e como ele está associado

ao sistema elétrico brasileiro. Além disso, uma breve descrição é feita sobre a geografia

do Brasil e como ela está relacionada com a distribuição de seus ventos.

No quarto capítulo são analisados todos os tipos de turbinas eólicas existentes,

mencionando suas principais diferenças e suas principais tecnologias empregadas.

No capítulo cinco, começa a se dar início ao estudo do projeto da turbina, onde

pode-se encontrar o tipo de turbina escolhido para a aplicação neste trabalho, a escolha

dos parâmetros iniciais de projeto, bem como os cálculos de resistência e a escolha de

seus principais componentes.

Já os capítulos finais, destinam-se ao fechamento do trabalho. No capítulo

seguinte, o seis, é feita a conclusão do projeto com uma análise geral dos resultados

encontrados e são dadas sugestões para futuros trabalhos.

E no capítulo sete, o último, pode-se encontrar todas as referências utilizadas que

serviram como base de auxílio para este projeto.

2

2. Motivação e Objetivo

Em um mundo cada vez mais dependente das principais e tradicionais fontes de

energia, torna-se essencial o desenvolvimento de novas tecnologias a partir de fontes

renováveis e limpas. Além disso, o rigor de leis fiscais ambientais existentes atualmente

tem se intensificado cada vez mais, o que torna a utilização de recursos naturais como o

vento, por exemplo, disponível a todos em abundância, um atrativo na busca de novos

meios de geração de energia elétrica.

Outro fator importante e considerável é a atual situação da maioria da população

brasileira que tem de enfrentar grandes impostos e, consequentemente, aumento do preço

das tarifas de consumo de energia elétrica através das concessionárias de distribuição de

energia.

Como alternativa a esses fatores, este trabalho tem como finalidade trazer a

proposta de um projeto de uma turbina eólica de eixo vertical de pequeno porte para

aplicação em residências populares. Seu papel é auxiliar e prover geração de energia

elétrica como forma de suprimento parcial e complementar à rede tradicional doméstica

já existente.

Além desses aspectos, este trabalho também inclui como um de seus objetivos a

complementação do projeto mecânico de uma turbina à obra de Cotia [6], que abrange

estudo de caso para análise de viabilidade técnico-econômica da implantação desse tipo

de sistema em habitações populares, onde há pouco espaço disponível e a demanda

energética é uma das maiores do país.

Espera-se alcançar resultados satisfatórios com esse estudo, propiciando aos

moradores locais dessas habitações uma parcela de economia no que diz respeito ao

consumo energético. Tendo em vista o atual cenário político, econômico e financeiro do

país, torna-se cada vez mais necessário a busca por soluções sustentáveis onde o

consumidor final pode economizar com seus gastos de consumo energético, sendo

parcialmente independente e tendo autonomia em geração de eletricidade.

Sendo assim, uma maior autonomia em geração de energia, contribuição com

menor consumo elétrico em horários e épocas de pico e difusão de uma tecnologia viável

3

e econômica a partir de uma fonte natural – o vento – são consequências desejáveis e que

busca-se obter com este projeto.

4

3. Introdução

3.1. A Energia Eólica

O vento – atmosfera em movimento – tem sua origem na associação entre a

energia solar e a rotação planetária. Todos os planetas envoltos por gases em nosso

sistema solar demonstram a existência de distintas formas de circulação atmosférica e

apresentam ventos em suas superfícies. Trata-se de um mecanismo solar-planetário

permanente; sua duração é mensurável na escala de bilhões de anos. [1]

As massas de ar mais quentes sobem na atmosfera e geram zonas de baixa pressão

junto à superfície da terra. Como consequência, massas de ar frio deslocam-se para essas

zonas de baixa pressão e dão origem ao vento.

De acordo com o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro [1], o aproveitamento

energético eólico no mundo cada vez mais consolida-se como uma alternativa viável e

limpa. Esse tipo de energia compõe complementarmente matrizes energéticas de muitos

países e, uma vez que os ventos oferecem uma opção de suprimento no século XXI, em

conjunto com outras fontes renováveis, poderá conciliar as necessidades de uma

sociedade industrial moderna com os requisitos de preservação ambiental.

Os números que indicam a crescente utilização de energia eólica, em várias partes

do mundo, comprovam a maturidade da tecnologia que envolve e dos aspectos

socioeconômicos que lhes são pertinentes. Consideradas a sua configuração geográfica,

as suas condições climáticas e a necessidade e oportunidade de ampliar e revigorar a nossa

matriz energética, para o Brasil mostra-se absolutamente adequado e estratégico conduzir

esforços para acompanhar essa tendência e implementar efetivamente a tecnologia da

geração de energia eólica, segundo o Atlas [1].

3.2. Histórico da Energia Eólica

Os primeiros aproveitamentos da força dos ventos pelo homem têm data bastante

imprecisa, mas, certamente, ocorreram há milhares de anos, no Oriente. Eram

5

provavelmente máquinas que utilizavam a força aerodinâmica de arrasto, sobre placas ou

velas, para produzir trabalho. [1]

De acordo com o Atlas [1], estima-se que a partir da Idade Média o homem passou

a utilizar em maior escala as forças aerodinâmicas de sustentação, permitindo a realização

de grandes navegações e também maior eficiência às máquinas eólicas. Possivelmente,

máquinas eólicas movidas por forças de sustentação foram introduzidas na Europa pelas

Cruzadas, por volta do século XI. O certo é que no século XIV, na Holanda, essas

máquinas já apresentavam grande evolução técnica e de capacidade em potência e ampla

aplicação como fonte de energia, principalmente em moagem de grãos, serrarias e

bombeamento d’água. À época da descoberta do Brasil, em 1500, havia muitos milhares

de moinhos de vento em toda a Europa, da Península Ibérica aos países nórdicos. Ainda

nos dias atuais, há em toda parte do mundo intensa utilização de cata-ventos para

bombeamento de água, além da utilização de velas para movimentação de embarcações

de pesca, de esporte, de turismo e de pesquisa. Durante os séculos seguintes, as máquinas

eólicas tiveram grandemente expandida a sua aplicação na Europa: em fabricação de

papel para atender à demanda após a invenção da imprensa, em produção de óleos

vegetais e até em grandes projetos de drenagem. Com a expansão do uso de máquinas a

vapor, no século XIX, os moinhos de vento europeus entraram gradualmente em desuso.

Outro surto de aplicação em larga escala de máquinas eólicas deu-se nos Estados

Unidos, no século XIX. Após a abolição da escravatura naquele país, em 1863, inicia-se

a disseminação da utilização do cata-vento multipá para bombeamento d’água. Cata-

ventos multipás chegaram a ser produzidos industrialmente em escalas de centenas de

milhares de unidades por ano, por diversos fabricantes, o que possibilitou preços

acessíveis a grande parte da população. Ao mesmo tempo em que constituiu um

importante fator da economia, muitos historiadores atribuem parcela do sucesso e da

rapidez da expansão colonizadora do Oeste à disponibilidade de cata-ventos multipás de

baixo custo – que facilitaram o acesso à água e a fixação de apoios em grandes áreas

áridas ou semiáridas. Estima-se que mais de 6 milhões de cata-ventos multipás já foram

produzidos no mundo até o início do século XXI, segundo o Atlas [1].

O uso do cata-vento multipás estadunidense expandiu-se pelos diversos

continentes, inclusive no Brasil. Na década de 1880 encontrava-se quase uma dezena de

fabricantes, em todo o país. [1]

6

Porém, o primeiro moinho de vento utilizado para a produção de energia elétrica

foi construído na Escócia, em 1887, pelo professor James Blyth, do Colégio de Anderson,

Glasgow, numa torre de 10 m de altura, instalado no jardim de sua casa, em Marykirk. A

geração carregava acumuladores, que alimentavam a iluminação da casa de campo.

Apesar de outra experiência de Blyth para fornecer energia de emergência para o Lunatic

Asylum local, o invento não evoluiu por não ser economicamente viável. [2]

De volta aos Estados Unidos em Ohio, um outro moinho de vento foi projetado e

construído, entre 1887 e 1888, por Charles F. Brush. Foi construído por sua empresa de

engenharia, em sua casa. Contava com um rotor de 17 m de diâmetro, com 144 lâminas,

sobre uma torre de 18 m de altura, para uma potência de 12 kW. O dínamo ligado

carregava um banco de baterias que alimentava lâmpadas incandescentes e motores, no

laboratório de Brush. A máquina caiu em desuso em 1900, quando a eletricidade tornou-

se disponível a partir de estações centrais de Cleveland e foi abandonada em 1908,

segundo o MME – Ministério de Minas e Energia [2].

Em 1891, o cientista dinamarquês Poul la Cour também construiu um aerogerador,

que foi usado para produzir hidrogênio por eletrólise, para ser armazenado e usado em

experimentos e para iluminar o High School Askov. Já em 1900, a Dinamarca contava

com cerca de 2.500 moinhos de vento, usados para bombear água e moer grãos,

produzindo um pico de potência combinada estimada em 30 MW. [2]

No centro-oeste americano, até 1900, de acordo com o MME [2], um grande

número de pequenos moinhos de vento estava instalado em fazendas para operar bombas

de irrigação. Empresas como a Star, Eclipsee e Fairbanks-Morse tornaram-se famosas

fornecedoras de aeromotores para a América do Norte e do Sul.

Em termos de aerogradores de grande potência, somente em 1941 ocorreu a

primeira experiência acima de 1 MW, conectado à rede de Vermont – Estados Unidos

(1.000 residências atendidas). O projeto de Palmer Cosslett Putnam foi fabricado pela S.

Morgan Smith Company. Com turbina de 1,25 MW, movida por um sistema de duas pás,

operou por pouco tempo devido a problemas de manutenção em tempos de Segunda

Guerra Mundial. [2]

Outras experiências com aerogeradores de maior potência ocorreram nas décadas

de 50 e 60 contemplando 3 pás, característica das atuais usinas. Pode-se dizer que o

7

precursor das atuais turbinas eólicas surgiu na Alemanha (Hütter, 1955), já com pás

fabricadas em materiais compostos, controle de passo e torre tubular esbelta. [1] [2]

Na década de 1970 e até meados da década de 1980, após a primeira grande crise

de preços do petróleo, diversos países – inclusive o Brasil – dispenderam esforços em

pesquisa sobre utilização da energia eólica para a geração elétrica. Data dessa época a

turbina DEBRA 100kW, desenvolvida em conjunto entre os institutos de pesquisa

aeroespacial do Brasil e da Alemanha (DEBRA, DEutsche BRAsileira). [1]

Entretanto, foi a partir de experiências de estímulo ao mercado, realizadas na

Califórnia (década de 1980), Dinamarca e Alemanha (década de 1990), que o

aproveitamento eólio-elétrico atingiu escala de contribuição mais significativa ao sistema

elétrico, em termos de geração e economia, de acordo com o Atlas [1]. O desenvolvimento

tecnológico passou a ser conduzido pelas nascentes indústrias do setor, em regime de

competição, alimentadas por mecanismos institucionais de incentivo – especialmente via

remuneração pela energia produzida. Características também marcantes desse processo

foram:

a. Devido à modularidade, o investimento em geração elétrica passou a ser

acessível a uma nova e ampla gama de investidores;

b. Devido à produção em escalas industriais crescentes, o aumento de capacidade

unitária das turbinas e novas técnicas construtivas, possibilitaram reduções

graduais e significativas no custo por kilowatt instalado e, consequentemente,

no custo de geração;

O principal problema ambiental inicial – impactos das pás em pássaros –

praticamente desapareceu com as turbinas de grande porte e menores velocidades

angulares dos rotores. Por se mostrar uma forma de geração praticamente inofensiva ao

meio ambiente, sua instalação passou a simplificar os minuciosos – e demorados –

estudos ambientais requeridos pelas fontes tradicionais de geração elétrica, bastando, em

muitos casos, aos poderes concedentes a delimitação das áreas autorizadas para sua

instalação. Esse último fato, aliado às escalas industriais de produção de turbinas,

tornaram a geração eólio-elétrica uma das tecnologias de maior crescimento na expansão

da capacidade geradora. [1]

Segundo o Atlas [1], apenas na Alemanha – densamente povoada – foram

adicionados 1.665 MW eólio-elétricos no ano 2000, totalizando 6.094,8 MW instalados

8

naquele país até 31/12/2000. Em 2000, o incremento da capacidade eólica também foi

notável na Espanha, Índia e China.

3.3. Histórico do Potencial Eólico Brasileiro

Em 1976 e 1977, um processamento específico de dados anemométricos medidos

em aeroportos brasileiros foi realizado no Instituto de Atividades Espaciais, no Centro

Técnico Aeroespacial, IAE/CTA. As maiores velocidades médias anuais, da ordem de

4m/s a 10m de altura, já induziam marginalmente a viabilidade técnica de máquinas de

pequeno porte para sistemas isolados e apontavam o litoral da região Nordeste e o

Arquipélago de Fernando de Noronha como os sítios mais promissores para a realização

de projetos-piloto para geração de energia eólio-elétrica. Até 1981, diversos protótipos de

turbinas eólicas de pequeno porte (2kW e 5kW) foram desenvolvidos e um campo de

testes foi operado no Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno, na costa

do Rio Grande do Norte, em projeto conjunto com o DFVLR-IBK, órgão de pesquisa

aeroespacial da Alemanha. [1]

De acordo com o Atlas [1], em 1987, a CHESF – Companhia Hidro-Elétrica do

São Francisco finalizou um inventário do potencial eólico da região Nordeste, realizado

a partir de processamento/análise de registros anemográficos para um período de 5 anos

(1977-1981) de 81 estações a 10m de altura, pertencentes à Rede Meteorológica do

Nordeste – SUDENE. Os dados, processados pela Universidade Federal da Paraíba,

Campina Grande, foram publicados em sumários e mapas para velocidades a 10m de

altura. As maiores velocidades médias anuais encontradas foram de 5,5m/s e 4,3m/s, para

Macau, RN e Caetité, BA, respectivamente.

A realização de um desses estudos meteorológicos incluiu o processamento de

dados de 389 estações anemométricas de 10m de altura, existentes em todo o território

nacional, segundo o Atlas [1].

Todos esses estudos realizados até o final da década de 1980 foram prejudicados

pela consideração exclusiva de registros anemométricos obtidos a alturas máximas de

10m. A maioria dos seus dados é mascarada pela influência de rugosidade e obstáculos

próximos; esses dados não são necessariamente representativos das áreas geográficas em

que estão instalados os equipamentos. Metodologias para a correção e extrapolação

9

desses dados para alturas desejadas ainda não se achavam disponíveis na época. Mesmo

que existissem, aplicá-las ao território brasileiro em toda a sua extensão possivelmente

implicaria custos e prazos excessivos, além de grandes margens de incerteza nos

resultados. [1]

De acordo com o Atlas [1], na década de 1990 iniciaram-se medições específicas

para inventários de potencial eólico em torres de altura acima de 20m instaladas em locais

especificamente selecionados em diversas regiões do Brasil: litoral do Ceará e Estados da

Bahia, Minas Gerais e Paraná.

Com a aceleração mundial do aproveitamento eólio-elétrico em escala e a

instalação das primeiras usinas eólicas no Brasil, no final da década de 1990, iniciaram-

se as primeiras medições anemométricas específicas para estudos de viabilidade, com uso

de torres de 30 a 50m e equipamentos com precisão e procedimentos requeridos para a

finalidade. Essas medições concentraram-se inicialmente nos Estados do Pará, Ceará,

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, segundo o Atlas [1].

Em 1996, um relatório da CHESF apresentou um estudo do potencial eólico do

litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte, já a partir dessas primeiras medições na região.

Simulações computacionais com uso de curvas de desempenho de turbinas de 500kW e

600kW indicaram a possibilidade de geração de 9,55 TWh/ano e 2,96 TWh/ano com a

ocupação de 10% dos litorais do Ceará e Rio Grande do Norte, respectivamente. [1]

De acordo com o Atlas [1], em 1999, a COPEL publicou o “Mapa do Potencial

Eólico do Estado do Paraná”, a partir das medições efetuadas por 5 anos em 25 locais

especialmente selecionados, em torres de 18m a 64m de altura. Esse mapa foi produzido

com utilização de modelos de geoprocessamento de relevo e rugosidade do Estado do

Paraná. Além de revelar áreas de grande potencial eólico no interior do Paraná, o trabalho

indicou um potencial de geração eólica de 5,8 TWh/ano no estado, utilizando-se apenas

as áreas com velocidades médias anuais superiores a 6,5m/s.

Já resultante dessas medições mais precisas, a Secretaria da Infra-Estrutura do

Governo do Estado do Ceará publicou em 2001 o “Atlas do Potencial Eólico do Estado

do Ceará”. Os mapas temáticos de velocidades médias anuais de vento são apresentados

para as alturas de 50m e 70m. Destacaram-se as áreas de baixíssima rugosidade das dunas

do litoral cearense, com velocidades médias anuais da ordem de 9m/s. A integração das

áreas em software de geoprocessamento revela um potencial aproveitável da ordem de

10

12,0 TWh na altura de 50m e de 51,9 TWh na altura de 70m, para ventos médios anuais

superiores a 7m/s, segundo o Atlas [1].

Outro resultado que se encontra no “Atlas do Potencial Eólico Nacional”

publicado, também, em 2001 indicou a tendência a velocidades maiores de vento no

litoral brasileiro e também em áreas do interior favorecidas por relevo e baixa rugosidade.

O mapeamento das velocidades médias a 10m de altura também possibilitou identificar

locais com médias anuais entre 5m/s e 6m/s. O mesmo atlas também estimou em 143 GW

o potencial nacional, considerando torres de até 50 m de altura. [1] [2]

O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa) foi o ponto de partida

do setor eólico nacional, ao contratar em 2004 um pouco mais de 1,4 GW de potência (54

usinas). Na época, era a mais cara e a menos desenvolvida das três fontes incentivadas,

superando as térmicas, a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas. [2]

De acordo com o MME [2], o fator impulsionador foi o primeiro leilão exclusivo

para eólicas, em 2009, que iniciou a fase competitiva, na qual o parque mais eficiente e

barato era o ganhador. Imediatamente os preços recuaram, atingindo, em 2012, o seu

menor valor. Em 2013 e 2014 houve pequena recuperação. Em 2015, em razão da

desvalorização do Real, os preços passam a subir significativamente, mas mantendo uma

trajetória quase constante.

3.4. Potencial Eólico Atual no Mundo

As informações disponíveis de capacidade instalada de geração eólica no mundo

remontam somente ao ano de 1980, com o montante de 7 MW. Entre 2000 e 2014, a taxa

média de crescimento foi de 24,2% ao ano. O acréscimo de 53 GW de potência eólica,

em 2014, respondeu por 24% da expansão mundial de todas as fontes [2]. O crescimento

em potência instalada no mundo pode ser visualizado conforme apresentado na figura 1:

11

O fator de capacidade (FC) vem aumentando significativamente, em razão dos

avanços tecnológicos em materiais e porte das instalações, o que permite melhor

aproveitamento dos ventos, de acordo com o MME [2].

A participação da geração eólica na geração total mundial, que era praticamente

nula em 1980, em 2014 já atingia 3,0% (2,7% em 2013). Os Estados Unidos apresentam

a maior participação na geração eólica, de 26%, mas a China pode assumir a 1ª posição

nos próximos anos. A Dinamarca foi pioneira na geração eólica (100% em 1980) [2]. Na

figura 2 pode ser visto um levantamento histórico, a partir de 1980, da geração eólica no

mundo por país:

Figura 2 - Participação na Geração Eólica por País [2]

Figura 1 – Evolução da Potência Eólica Instalada no Mundo [2]

12

A Dinamarca apresenta a maior proporção de geração eólica em relação à sua

geração total, de expressivos 41,4%, vindo em seguida Portugal (23,2%), Irlanda (20%)

e Espanha (19,1%). Nos demais países, a proporção fica abaixo de 10%. [2]

O Brasil, em 2014, foi o 10º país em geração (15º em 2013), o 4º na expansão de

potência (2,7 GW), e o 1º em fator de capacidade (37%), segundo o MME [2].

Informações detalhadas do último levantamento realizado em 2014 podem ser

conferidas na figura 3:

Figura 3 – Geração, Expansão e Potência Instalada por País [2]

13

3.5. Potencial Eólico Brasileiro Atual

A geração eólio-elétrica expandiu-se no mundo de forma acelerada ao longo da

última década, atingindo a escala de gigawatts. Um dos fatores que limitam investimentos

em empreendimentos eólicos tem sido a falta de dados consistentes e confiáveis. A

maioria dos registros anemométricos disponíveis é mascarada por influências

aerodinâmicas de obstáculos, rugosidade e relevo. A disponibilidade de dados

representativos é importante no caso brasileiro, que ainda não explorou esse recurso

abundante e renovável de forma expressiva. [1]

Com o uso de ferramentas possibilitadas por recentes avanços da capacidade

computacional, de simulações baseadas nas leis físicas de interação entre as diversas

variáveis meteorológicas – registradas e consolidadas em extensos bancos de dados e

validadas por registros anemométricos selecionados – torna-se possível superar

obstáculos históricos ao conhecimento do potencial eólico brasileiro, conforme afirma o

Atlas [1].

O potencial eólico brasileiro para aproveitamento energético tem sido objeto de

estudos desde 1970 e o seu histórico revela o lento, mas progressivo descortinamento de

um potencial energético natural de relevante magnitude existente no país. [1]

Prova disso está que até o final de novembro de 2015, estavam contratados 16,6

GW de potência eólica, dos quais, 6,8 GW estavam em operação, 3,6 GW em construção

e 6,2 GW aptos para iniciar a construção – figura 4. Para atingir os 24 GW em 2024,

previstos no Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE2024, há que contratar, ainda,

7,4 GW, no período de 2016 a 2021. [2]

Figura 4 – Potência Eólica no Brasil [2]

14

O crescimento histórico do potencial eólico instalado no Brasil a partir de 1992

pode ser conferido através da figura 5:

Figura 5 – Evolução da Capacidade Instalada Eólica no Brasil [2]

O fator de capacidade do Brasil aumentou ao longo do tempo, a exemplo do que

ocorreu no mundo, como resultado de aumentos sucessivos no porte das instalações,

acompanhados de desenvolvimento tecnológico, além da escolha de melhores sítios. [2]

Informações detalhadas a respeito do último levantamento realizado em 2014 por

estado brasileiro podem ser conferidas na figura 6:

Figura 6 - Geração e Potência Instalada por Estado Brasileiro em 2014 [2]

15

Pode-se observar que o Ceará é o estado que apresenta a maior proporção na

geração eólica brasileira, de 30,9% e, também, um alto fator de capacidade de 43,5%, o

segundo maior.

3.6. Sistema Elétrico Brasileiro

Em 2015, cerca de 71% do consumo total (464,7 TWh) de energia elétrica no

Brasil foram supridos por usinas hidrelétricas. Desse percentual, 47,7% foram

consumidos pelos setores residencial e comercial e 36,5% pelo setor industrial. [3]

O desenvolvimento econômico do país potencializa necessidades de expansão da

oferta de energia, com previsão até 2020 de 35.303,6 MW de potência a ser acrescida ao

sistema. [3]

Através de uma síntese do sistema elétrico brasileiro em termos de geração,

transmissão e centros urbanos pode-se notar que:

O sistema de transmissão já é interligado em escala nacional, com

tendência ao seu fortalecimento à medida que novos investimentos programados forem

realizados; [1]

Os centros de consumo estão relativamente afastados dos principais

centros de geração, com distâncias da ordem de 500km a 1.000km. O volume maior de

geração e consumo está concentrado na região Sudeste; [1]

Áreas reconhecidamente importantes para o aproveitamento do potencial

eólico no Brasil, como os litorais Nordeste e Sul, encontram-se próximas às extremidades

do sistema de transmissão, distantes dos principais centros de geração elétrica. [1]

3.7. Características Geográficas do Brasil

Com 8.514.215 km², o Brasil é o quinto maior país do mundo e o maior da

América Latina em área territorial. Estendendo-se entre as latitudes 5º16’N e 33º45’S e

longitudes 32º23’W e 73º59’W, o Brasil apresenta distintas regiões imersas em várias

zonas de climas e regimes de circulação atmosférica. Seus 7.367 km de extensão litorânea

16

com o Oceano Atlântico constituem um complexo indutor de mecanismos ao longo dos

quais ocorrem brisas marinhas de variadas amplitudes diurnas e sazonais. [1]

Segundo o Atlas [1], o relevo interior contrapõe extensas planícies com altitudes

médias inferiores a 250 metros – entre as quais se destacam as da Amazônia, do Pantanal

e do Rio Grande do Sul – aos planaltos que se estendem do sul até a região central, com

altitudes médias entre 750 e 1.000 metros. Ao contrário de seus vizinhos andinos a oeste,

o Brasil não se caracteriza por grandes elevações. Em poucos locais a altitude ultrapassa

2.000 metros, e em seu ponto máximo, o Pico da Neblina (AM), atinge 3.014 metros.

No que diz respeito às características eólicas, objetivo deste trabalho, o relevo

exerce distintas influências conforme o caso e a região, tais como: obstáculo ao

movimento da camada atmosférica inferior, indutor de fenômenos tais como brisas

montanha-vale, gerador de ondas e acelerações orográficas. Como a camada inferior da

atmosfera tem espessura da ordem de 600 a 1.500 metros, áreas territoriais elevadas

geralmente estão imersas em distintas camadas atmosféricas e regimes de vento, de

acordo com o Atlas [1].

3.8. Clima e Sazonalidade

Pela sua extensão em latitude, o Brasil apresenta diferentes climas que variam do

equatorial (úmido e semi-úmido), na região Norte, ao subtropical, na região Sul. [1]

De acordo com o Atlas [1], o clima tropical abrange praticamente toda a costa,

desde o Maranhão até partes de São Paulo, estende-se a oeste até Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul, inclui partes do Nordeste e estados centrais como Goiás e Tocantins. É

caracterizado por chuvas com sazonalidade bem definida: estação seca de 4 a 5 meses

(abril-setembro) e chuvosa (novembro-março). Essa sazonalidade tem importante papel

energético no sistema elétrico brasileiro, de geração predominantemente hidráulica, pois

suas principais bacias de aproveitamento têm origem nessa região.

Entre os grandes fatores que influem no clima brasileiro estão a Zona de

Convergência Intertropical ao norte, móvel ao longo do ano e para a qual convergem os

ventos alísios, as distintas ações exercidas pelo relevo continental, incluindo-se a

formidável muralha à circulação atmosférica exercida pelo maciço dos Andes no extremo

17

oeste do continente sul-americano, a ação contínua da alta pressão do Anticiclone

Tropical Atlântico e a ação periódica irregular das massas de ar polares que adentram as

regiões Sul e Sudeste em maior intensidade. A Amazônia representa uma região bastante

peculiar na Terra, pela extensão da área ocupada por florestas equatoriais e pela

intensidade e o volume em que ocorrem as trocas de energia entre água e atmosfera, em

um sistema superfície-atmosfera fortemente acoplado, segundo o Atlas [1].

3.9. Regimes de Vento sobre o Brasil

A distribuição geral dos ventos sobre o Brasil é controlada pelos aspectos da

circulação geral planetária da atmosfera próxima, conforme se apresenta na figura [7]:

Dentre esses aspectos, sobressaem os sistemas de alta pressão Anticiclone

Subtropical do Atlântico Sul e do Atlântico Norte e a faixa de baixas pressões da

Depressão Equatorial. [1]

A posição média da Depressão Equatorial estende-se de oeste a leste ao longo da

região Norte do Brasil e sobre o Oceano Atlântico adjacente. Ela coincide com a

localização e orientação da Bacia Amazônica, no centro da qual existe uma faixa

persistente de baixas pressões. A Depressão Equatorial é geralmente uma zona de

pequenos gradientes de pressão e ventos fracos. Ao norte da Depressão Equatorial os

ventos são persistentes de leste a nordeste. Ao Sul, os ventos são persistentes de leste a

Figura 7 - Distribuição Geral dos Ventos sobre o Brasil [1]

18

sudeste entre a Depressão Equatorial e o Anticiclone Subtropical Atlântico, o qual tem

uma posição média anual próxima a 30ºS, 25ºW. Esse perfil geral de circulação

atmosférica induz ventos de leste ou nordeste sobre o território brasileiro ao norte da

Bacia Amazônica e no litoral nordeste. Os ventos próximos à superfície são geralmente

fracos ao longo da Depressão Equatorial, porém aumentam de intensidade ao norte e ao

sul dessa faixa. A área entre a Depressão Equatorial e a latitude de 10ºS é dominada pelos

ventos alísios de leste a sudeste. Ao sul da latitude 10ºS, até o extremo sul brasileiro,

prevalecem os efeitos ditados pela dinâmica entre o centro de alta pressão Anticiclone

Subtropical Atlântico, os deslocamentos de massas polares e a Depressão do Nordeste da

Argentina – centro de baixas pressões a leste dos Andes, segundo o Atlas [1].

O gradiente de pressão entre a Depressão do Nordeste da Argentina e o

Anticiclone Subtropical Atlântico induz um escoamento persistente de nordeste ao longo

dessa área. Desse escoamento resultam velocidades médias anuais de 5,5m/s a 6,5m/s

sobre grandes áreas da região. Entretanto, esse escoamento é significativamente

influenciado pelo relevo e pela rugosidade do terreno. Os ventos mais intensos estão entre

7m/s e 8m/s e ocorrem nas maiores elevações montanhosas do continente, bem como em

planaltos de baixa rugosidade, como os Campos de Palmas. Outra área com velocidades

superiores a 7m/s encontra-se ao longo do litoral sul, onde os ventos predominantes leste-

nordeste são acentuados pela persistente ação diurna das brisas marinhas. [1]

19

4. Turbinas Eólicas

4.1. Principais Tipos

4.1.1. Rotores de Eixo Vertical

São turbinas eólicas cujo eixo de rotação está orientado na mesma direção da torre

que suporta a estrutura do rotor, ou seja, numa direção que é perpendicular à direção do

movimento do vento. [4]

Aerogeradores de eixo vertical são muito aplicáveis em centros urbanos, devido à

facilidade de instalação mais perto do solo, emitir baixos níveis de ruído, pelo pouco

espaço ocupado e pelo melhor comportamento em condições de turbulência. Neste

modelo, as correntes de ar batem lateralmente sobre as lâminas, possuindo velocidade de

arranque mais baixa, o que é vantajoso em condições de pouco vento, aproveitando o

potencial eólico mesmo que a direção do vento não seja constante e haja formação de

turbilhões, caso que acontece com frequência em áreas com edifícios, árvores e outros

obstáculos. [6]

Outra vantagem deste tipo de aerogerador é não necessitar de sistemas de

orientação ativos para captar a energia dos ventos, ou seja, mecanismos de

acompanhamento para variações da direção do vento, o que reduz a complexidade do

projeto e os esforços devidos as forças de Coriolis. Além disso, quando comparada à

turbina de eixo horizontal, possui um trem de potência e sistema de geração elétrica ao

nível do solo, o que facilita o trabalho de manutenção do equipamento. Os rotores de eixo

vertical também podem ser movidos por forças de sustentação (lift) e por forças de arrasto

(drag). [5] [6]

Os principais tipos de rotores de eixo vertical são Darrieus, Savonius e turbinas

Darrieus-Savonius conforme pode ser visto nas figuras 8 a 10:

20

Figura 8 – Turbina do Tipo Darrieus

Figura 9 – Turbina do Tipo Savonius

21

Figura 10 - Turbina do Tipo Darrieus - Savonius

4.1.2. Rotores de Eixo Horizontal

Os rotores de eixo horizontal são os mais comuns e grande parte da experiência

mundial está voltada para a sua utilização. São movidos por forças aerodinâmicas

chamadas de forças de sustentação (lift) e forças de arrasto (drag). [5]

Os rotores de eixo horizontal ao longo do vento são predominantemente movidos

por forças de sustentação e devem possuir mecanismos capazes de permitir que o disco

varrido pelas pás esteja sempre em posição perpendicular ao vento. Tais rotores podem

ser constituídos de uma pá e contrapeso, duas pás, três pás ou múltiplas pás (multivane

fans). Construtivamente, as pás podem ter as mais variadas formas e empregar os mais

variados materiais. Em geral, utilizam-se pás rígidas de madeira, alumínio ou fibra de

vidro reforçada. [5]

Quanto à posição do rotor em relação à torre, o disco varrido pelas pás pode estar

a jusante do vento (down wind) ou a montante do vento (up wind). No primeiro caso, a

“sombra” da torre provoca vibrações nas pás. No segundo caso, a “sombra” das pás

provoca esforços vibratórios na torre. Sistemas a montante do vento necessitam de

mecanismos de orientação do rotor com o fluxo de vento, enquanto nos sistemas a jusante

do vento, a orientação realiza-se automaticamente. [5]

22

Os rotores mais utilizados para geração de energia elétrica são os de eixo

horizontal do tipo hélice, normalmente compostos de 3 pás ou, em alguns casos, 1 ou 2

pás (quando velocidades médias muito altas e possibilidade de geração de maior ruído

acústico). [5]

4.2. Princípios e Tecnologia

Uma turbina eólica capta uma parte da energia cinética do vento que passa através

da área varrida pelo rotor e a transforma em energia elétrica. [1]

Um corpo que obstrui o movimento do vento sofre a ação de forças que atuam

perpendicularmente ao escoamento (forças de sustentação) e de forças que atuam na

direção do escoamento (forças de arrasto). Adicionalmente, as forças de sustentação

dependem da geometria do corpo e do ângulo de ataque formado entre a velocidade

relativa do vento e o eixo do corpo. [5]

Os rotores que giram predominantemente sob o efeito de forças de sustentação

permitem liberar muito mais potência do que aqueles que giram sob efeito de forças de

arrasto, para uma mesma velocidade de vento. [5]

A absorção de energia cinética reduz a velocidade do vento a jusante do disco do

rotor. Gradualmente, essa velocidade recupera-se ao misturar-se com as massas de ar

predominantes do escoamento livre. Das forças de sustentação aerodinâmica nas pás de

um rotor de eixo horizontal resulta uma esteira helicoidal de vórtices, a qual também

gradualmente dissipa-se. Após alguma distância a jusante da turbina, o escoamento

praticamente recupera as condições de velocidade originais e turbinas adicionais podem

ser instaladas, minimizando as perdas de desempenho causadas pela interferência da

turbina anterior. Na prática, essa distância varia com a velocidade do vento, as condições

de operação da turbina, a rugosidade de terreno e a condição de estabilidade térmica

vertical da atmosfera. De modo geral, uma distância considerada segura para a instalação

de novas turbinas é da ordem de 10 vezes o diâmetro do rotor, se instalada a jusante, e 5

vezes, se instalada ao lado, em relação ao vento predominante. [1]

23

Figura 11 - Efeito causado pela passagem do ar através da turbina [1]

À medida que a tecnologia propicia dimensões maiores para as turbinas, a rotação

reduz-se: os diâmetros de rotores no mercado atual variam entre 40m e 80m, o que resulta

em rotações da ordem de 30rpm a 15rpm, respectivamente. As baixas rotações atuais

tornam as pás visíveis e evitáveis por pássaros em voo. Quanto aos níveis de ruído,

turbinas eólicas satisfazem os requisitos ambientais mesmo quando instaladas a distâncias

da ordem de 300m de áreas residenciais. Esses aspectos contribuem para que a tecnologia

eólio-elétrica apresente o mínimo impacto ambiental, entre as fontes de geração na ordem

de gigawatts. [1]

Uma outra tecnologia aplicada em modernos aerogeradores é a utilização de dois

diferentes princípios de controle aerodinâmico para limitar a extração de potência à

potência nominal do aerogerador. São chamados de controle estol (Stall) e controle de

passo (Pitch).

O controle de passo é um sistema de controle ativo, que normalmente necessita de

um sinal do gerador de potência. Sempre quando a potência nominal do gerador for

ultrapassada, devido ao aumento das velocidades do vento, as pás do rotor serão giradas

em torno de seu eixo longitudinal, ou em outras palavras, mudam seu ângulo de passo

para reduzir o ângulo de ataque do fluxo de ar. Esta redução do ângulo de ataque diminui

as forças aerodinâmicas atuantes e, consequentemente, a extração de potência do vento

pela turbina. Já o controle de estol é um sistema passivo que reage à velocidade do vento.

24

As pás do rotor são fixas em seu ângulo de passo e não podem ser giradas em torno de

seu eixo longitudinal. O seu ângulo de passo é escolhido de tal maneira que para

velocidades de ventos maiores que a nominal o fluxo em torno do perfil pá do rotor

descola da superfície da pá (estol). Isto reduz as forças atuantes de sustentação e

aumentam a de arrasto. Menores sustentações e maiores arrastos rotacionais atuam contra

um aumento da potência do rotor. Para evitar que o estol ocorra em todas as posições

radiais das pás ao mesmo tempo, uma situação indesejada que drasticamente reduziria a

potência do rotor, as pás possuem uma certa torção longitudinal que a leva a um suave

desenvolvimento do estol. [5]

Outro ponto que vale ser mencionado pode ser visto através da figura 12 que

mostra a forma típica de curva de potência de turbinas eólicas. Usualmente, a geração

elétrica inicia-se com velocidades de vento da ordem de 2,5 a 3,0m/s; abaixo desses

valores, o conteúdo energético do vento não justifica aproveitamento. Velocidades

superiores a aproximadamente 12,0m/s a 15,0m/s ativam o sistema automático de

limitação de potência da máquina, que pode ser por controle de ângulo de passo das pás

ou por estol aerodinâmico, dependendo do modelo de turbina. Em ventos muito fortes

(velocidades maiores que 25m/s, por exemplo), atua o sistema automático de proteção.

Ventos muito fortes têm ocorrência rara e negligenciável em termos de aproveitamento e

a turbulência associada é indesejável para a estrutura da máquina. Nesse caso, a rotação

das pás é reduzida (passo ou estol) e o sistema elétrico do gerador é desconectado da rede

elétrica. [1]

Figura 12 – Curva de Potência para Turbinas Eólicas [1]

25

Turbinas eólicas de grande porte têm controle inteiramente automático, por meio

de atuadores rápidos, software e microprocessadores alimentados por sensores duplos em

todos os parâmetros relevantes. Usualmente, utiliza-se telemetria de dados para

monitoramento de operação e auxílio a diagnósticos/manutenção. [1]

As curvas de potência fornecidas por fabricantes de turbinas, geralmente medidas

por órgãos credenciados e independentes, usualmente referem-se a velocidades de vento

quase instantâneas (médias de 10 minutos) e densidade 1,225kg/m³ (15ºC ao nível do

mar). No caso de temperaturas de grande parte do território brasileiro, correções para a

densidade do ar local são necessárias. [1]

O cálculo da energia gerada – anual ou mensal – é realizado pela multiplicação

dos valores de potência gerada pelo tempo de duração de ocorrência associado a

intervalos de velocidades de vento. A duração de ocorrência de uma velocidade é

aproximada por equações estatísticas (usualmente Rayleigh ou Weibull). [1]

26

5. Projeto

5.1. Escolha do Aerogerador de Eixo Vertical

Este trabalho concentrará seus estudos em cima do projeto de um aerogerador de

eixo vertical, como já dito anteriormente, onde as vantagens são enormes para aplicação

em centros urbanos.

Existem três tipos principais de turbinas eólicas de eixo vertical, como dito na

seção 3.1.1, sendo um deles a combinação dos dois principais tipos:

Darrieus

São turbinas com perfil aerodinâmico desenhado de forma semelhante às asas dos

aviões, possuindo normalmente duas ou três pás curvadas. A força motriz, neste caso, é a

força de sustentação aerodinâmica que se exerce sobre as pás. Estas turbinas apresentam

normalmente um rendimento energético de aproximadamente 30%. [4]

Existe, também, a turbina Darrieus H. Ela apresenta um rendimento energético

ligeiramente superior ao da Turbina Darrieus de pás cuvas, uma vez que têm uma área de

passagem do escoamento maior. No entanto os esforços estruturais a que estas turbinas

estão sujeitas são mais elevados. [4]

Outra variação é o projeto com pás torcidas que permite reduzir os esforços por

fadiga sobre o eixo do rotor através da redução da variação de binário sobre o mesmo. [4]

Savonius

São turbinas que aproveitam a força de resistência aerodinâmica como força

motriz para o seu rotor. Em contraste com os outros tipos de turbinas, o rotor é constituído

por duas ou mais conchas em vez de pás. O desenho do rotor é relativamente simples, o

que torna a fabricação deste tipo de turbina mais econômico do que outros. Os esforços

estruturais são geralmente menos intensos do que nas turbinas Darrieus. No entanto, a

turbina Savonius peca por apresentar um rendimento energético baixo, equivalente a mais

ou menos 15%. [4]

Assim como o modelo Darrieus com pás torcidas, há também modelos Savonius

construídos com conchas torcidas.

27

Pelo fato da turbina Darrieus H já vir sendo instalada em telhados de habitações

em meios rurais, ela será o modelo escolhido como base para este projeto. Na figura 13

pode-se verificar uma aplicação desse tipo de turbina em telhados:

5.2. Considerações Iniciais

Para as habitações populares onde a turbina será instalada, serão considerados

apartamentos hipotéticos com área de 44,5m² e altura de 2,6 metros com gasto mensal e

anual simulados de acordo com a figura 14, que apresenta uma tabela criada por Cotia

[6]:

Figura 13 – Turbina Darrieus H Instalada em telhado [4]

Figura 14 – Resultado de Simulação para Gastos Mensais de Energia de uma habitação [6]

28

Quando se deseja utilizar energia eólica como fonte alternativa renovável para

geração de eletricidade em uma residência é necessário verificar se algumas

características geográficas viabilizam a aplicação da tecnologia, para que o

aproveitamento ótimo do sistema seja atingido.

Sabendo que o fator principal de escolha para o lugar onde será instalada uma

turbina eólica é a velocidade média dos ventos locais, então, irá se analisar o mapa do

potencial eólico do estado do Rio de Janeiro de acordo com a figura 15, onde estariam

localizadas as residências hipotéticas já descritas:

No mapa apresentado na figura 15, pode-se verificar que as regiões com maiores

velocidades estão situadas no litoral do estado preenchidas em amarelo, laranja ou

vermelho com velocidades médias anuais de 6,0, 6,5 e 7,0 m/s respectivamente. Por

conveniência, será escolhida a região à Sudeste do estado, na Região dos Lagos, na cidade

de Cabo Frio onde os ventos alcançam velocidades de 7,0 m/s. Isso não impede que o

aerogerador venha a ser instalado em outras regiões do estado e do Brasil, em áreas

urbanas ou rurais, mas o sistema pode não gerar a mesma quantidade de energia,

dependendo do local de instalação.

Figura 15 – Mapa do Potencial Eólico do Rio de Janeiro [6]

29

Aerogeradores de pequeno porte requerem um tratamento na frequência da tensão

[6]. A configuração mais comum de aerogeradores de pequeno porte conectados à rede é

apresentada conforme figura 16:

Figura 16 – Configuração Esquemática de Aerogerador Conectado à Rede Elétrica [6]

Esse tipo de aerogerador normalmente gera eletricidade em corrente alternada,

sendo necessário um equipamento retificador para transformar essa corrente alternada em

contínua. Esse passo de transformação é necessário, pois a frequência gerada pelo

aerogerador não é a mesma dos equipamentos comumente encontrados nas residências, e

é mais simples transformá-la em corrente contínua e, posteriormente, em corrente

alternada na frequência desejada, do que alterar a frequência gerada. [6]

Uma vez retificada a corrente gerada, usa-se um inversor para transformá-la em

corrente alternada na frequência da rede e dos equipamentos a serem utilizados nas

moradias. [6]

É importante afirmar que para este trabalho, o foco estará exclusivamente no

projeto do aerogerador vertical e de seus componentes, não contemplando as demais

partes necessárias à instalação na rede doméstica.

5.3. Componentes de um Aerogerador Vertical

Basicamente, os elementos que compõem uma turbina de eixo vertical são

ilustrados conforme figura 17 para uma turbina do tipo Darrieus de pás curvadas. Por

30

considerarmos para este projeto uma turbina Darrieus H de porte pequeno, os elementos

são quase os mesmos com exceção dos cubos e do cabo de amarração.

5.3.1. Pá do Rotor

A potência extraída da turbina é dada pela seguinte equação:

𝑃𝑒𝑥𝑡 = 𝐶𝑝𝑃𝑑𝑖𝑠𝑝 (1)

Onde 𝐶𝑝 é o coeficiente de potência da turbina e 𝑃𝑑𝑖𝑠𝑝 é a potência disponível pelo

vento dada por:

𝑃𝑑𝑖𝑠𝑝 =

1

2𝜌𝐴𝑈3 (2)

Onde 𝜌 é a massa específica do ar considerada como sendo 1,2256 kg/m³, A é área

frontal do rotor e U é a velocidade do vento no ambiente.

Já foi determinado que a fim de alcançar um máximo valor para 𝐶𝑝, um rotor do

tipo Darrieus deve obedecer a seguinte equação [7]:

Figura 17 – Turbina Darrieus de Pás Curvadas [4]

31

𝐵𝑐𝜆

𝐷𝑟= 0,401 (3)

Onde B é o número de pás do rotor com um comprimento de corda c e diâmetro

𝐷𝑟. O fator 𝜆 é conhecido como Tip Speed Ratio (TSR) que representa a razão entre a

velocidade na ponta da pá e a velocidade do vento no ambiente.

Sabendo que 𝜎 é tido como o fator de bloqueamento, através da figura 18 que

representa um gráfico criado por Carmo [4], é possível escolher o valor de 𝐶𝑝 máximo:

Para 𝜎 = 0,1, o valor máximo de 𝐶𝑝 é 0,35. Dessa forma, 𝜆 = 4,1.

Dada as proporções da moradia onde será instalada a turbina, são definidos os

seguintes parâmetros:

𝐵 = 2 (4)

𝐷𝑟 = 3 𝑚 (5)

Dessa forma:

Figura 18 – Gráfico Cp x TSR para cada 𝝈 [4]

32

𝐵𝑐𝜆

𝐷𝑟=

2. 𝑐. 4,1

3= 0,401 (6)

Logo:

𝑐 = 0,147 𝑚 (7)

Na maior parte dos projetos de turbinas de eixos verticais é escolhido um perfil

do tipo NACA que seja simétrico em relação à corda com espessura relativa máxima que

pode variar entre 12 e 18%. Dessa forma, escolheu-se o perfil NACA 0015 [8] [9] com

15% de espessura relativa na qual pode ser visualizado conforme figura 19:

Figura 19 – Perfil do Aerofólio NACA 0015 [8]

Para diminuir os efeitos de vibração por ação do vento, é necessário que o rotor

tenha uma altura idêntica ao seu diâmetro [4]. Por essa razão:

𝐻 = 3 𝑚 (8)

Onde H é a altura do rotor.

5.3.2. Eixo do Rotor

Pelo fato da turbina proposta ser composta por duas pás somente, então, a sua

geometria torna-se perfeitamente simétrica e os esforços de reação provenientes da

rotação das pás se anulam, não propagando nenhuma força resultante ao eixo.

33

Figura 20 – Gráfico 𝜶 x 𝜽 para cada 𝝀 [10]

Em contrapartida, o único momento resultante no eixo do rotor é o momento torsor

dado por:

𝑇 = 𝐵𝐹𝑡(𝐷𝑟/2) (9)

Onde 𝐹𝑡 é o esforço tangencial causado sobre as pás em um plano formado pelas

suas trajetórias, cujo seu valor é dado por:

𝐹𝑡 =

1

2(𝐶𝑙 sin 𝛼 − 𝐶𝑑 cos 𝛼)𝜌𝑐𝐻𝑊2 (10)

𝐶𝑙 e 𝐶𝑑 são respectivamente os coeficientes aerodinâmicos de sustentação e de

arrasto, W é a velocidade relativa do escoamento e 𝛼 é o ângulo de ataque do perfil

escolhido.

Sabendo que a simples condição de geometria estabelecida pela equação (3) é

alcançada com um valor de coeficiente de sustentação assumido por:

𝐶𝑙 = 2𝜋 sin 𝛼 (11)

E sabendo, também, que em uma turbina do tipo Darrieus H as pás variam seu

ângulo de ataque para cada valor de ângulo azimutal 𝜃 – ângulo de posição da pá em

relação ao eixo de rotação do rotor - enquanto rotacionam conforme a figura 20 que

representa um gráfico para diferentes valores de 𝜆:

34

Para 𝜆 = 4,1 o valor de ângulo de ataque máximo que pode ser obtido é de

aproximadamente 𝛼 = −15° para 𝜃 = 110° aproximadamente. Dessa forma, o valor

máximo para o coeficiente de sustentação pode ser dado a seguir:

𝐶𝑙 = 2𝜋 sin 𝛼 = 2𝜋 sin 15 ° = 1,63 (12)

Para o cálculo do coeficiente de arrasto é analisado o gráfico para o perfil NACA

0015 em função do número de Reynolds.

Sendo assim:

𝑅𝑒 =

𝑈𝑐

𝜈=

7 . 0,147

1,5. 10−5= 45733 (13)

Onde 𝜈 é a viscosidade cinemática do ar. Analisando a figura 21 que representa o

gráfico para o valor de Reynolds encontrado através da equação (13):

Figura 21 – Gráfico 𝑪𝒅 x 𝜶 [8]

Assim, torna-se possível afirmar que o valor aproximado para o coeficiente de

arrasto para 𝛼 = −15° é:

𝐶𝑑 = 0,14 (14)

A expressão para o cálculo da velocidade relativa W é dada por:

35

𝑊 = √(𝑉𝑎 sin 𝜃)2 + (𝑉𝑎 cos 𝜃 + 𝜆𝑈)2 (15)

Onde 𝑉𝑎 é a velocidade do escoamento induzido dada por:

𝑉𝑎 =

𝜆𝑈 tan 𝛼

sin 𝜃 − tan 𝛼 cos 𝜃 (16)

Assim, para 𝜃 = 110° onde se encontra 𝛼 = −15° tem-se:

𝑉𝑎 =

4,1 . 7 . tan −15°

sin 110° − tan −15° . cos 110°= −9,1 𝑚/𝑠 (17)

Dessa forma, tem-se:

𝑊 = √(−9,1 . sin 110°)2 + (−9,1 . cos 110° + 4,1 . 7)2 = 32,9 𝑚/𝑠 (18)

Com todos esses parâmetros calculados, é possível, assim, determinar agora o

valor da força tangencial 𝐹𝑡 através da equação (10) conforme a seguir:

𝐹𝑡 =

1

2 . (1,63 . sin −15° − 0,14 . cos −15°). 1,2256 . 0,147 . 3 . 32,92 (19)

𝐹𝑡 = −163,0 𝑁 (20)

Logo, o momento torsor resultante dado pela equação (9) será:

𝑇 = 2 . (−163,0) . (2/2) = −326,0 𝑁𝑚 (21)

Dessa forma, é possível agora se calcular a rotação 𝜔 da turbina através da

potência extraída dada pela seguinte equação:

𝜔 =

𝑃𝑒𝑥𝑡

𝑇 (22)

Sabendo que a área frontal do rotor é dada por 𝐴 = 𝐷𝑟𝐻, pode-se agora calcular

a potência extraída da turbina a partir das equações (1) e (2):

36

𝑃𝑒𝑥𝑡 = 0,35 .

1

2 . 1,2256 . 3 . 3 . 73 = 0,662 𝑘𝑊 (23)

Assim:

𝜔 =

0,662

326. 60 = 122 𝑟𝑝𝑚 (24)

Levando em conta todos os esforços sobre o eixo do rotor, pode-se, agora,

representá-los em um diagrama conforme figura 22:

Onde P representa o peso do eixo do rotor. Para esse projeto escolheu-se fabricar

o eixo do rotor em Aço Inox, amplamente utilizado em conjuntos estruturais com

resistência à corrosão, já que essa turbina será aplicada em uma região próxima ao litoral

sujeita a ação de brisa marítima constante. Seu limite de resistência à tração 𝑆𝑢𝑡 vale 500

MPa e seu limite de resistência ao escoamento 𝑆𝑦 vale 195 MPa. Sua massa específica 𝜌

é de 7900 kg/m³ e seu módulo de elasticidade E é de 200 GPa.

Considerando-se o comprimento L do eixo do rotor como sendo 2,5 m devido às

dimensões da casa onde será instalada a turbina, pode-se afirmar que a partir das equações

resultantes do estudo de flambagem tem-se:

𝑃𝑐𝑟𝑖𝑡 =

𝜋2𝐸𝐼

𝐿2 (25)

T

Figura 22 – Esforços sobre o eixo do Rotor

37

Onde 𝑃𝑐𝑟𝑖𝑡 representa a carga crítica ou axial máxima aplicada sobre o eixo

imediatamente antes da flambagem, E e I representam o módulo de elasticidade e o

momento de inércia do eixo, respectivamente.

Então:

𝑃 < 𝑃𝑐𝑟𝑖𝑡 =

𝜋2𝐸𝐼

𝐿2 (26)

𝑚𝑔 <

𝜋2𝐸𝐼

𝐿2 (27)

Onde m e 𝑔 representam a massa do eixo e a aceleração da gravidade,

respectivamente.

Sabendo que 𝑚 = 𝜌. 𝑉𝑜𝑙, onde 𝑉𝑜𝑙 representa o volume do eixo dado por:

𝑉𝑜𝑙 =

𝜋𝐷𝑒2

4. 𝐿 (28)

Onde 𝐷𝑒 é o diâmetro do eixo. Dessa forma:

𝜌.

𝜋𝐷𝑒2

4. 𝐿. 𝑔 <

𝜋2

𝐿2 . 𝐸.

𝜋𝐷𝑒4

64 (29)

Logo:

𝐷𝑒 > (

16𝜌𝑔𝐿3

𝐸𝜋2)

1/2

(30)

Substituindo os valores:

𝐷𝑒 > (

16 . 7900 . 9,8 . 2,53

200 . 109 . 𝜋2)

1/2

= 0,0031 𝑚 (31)

Com esse resultado, pode-se escolher uma grande faixa para valores de diâmetros

com os quais não haverá flambagem. Escolheu-se, portanto, o valor de 𝐷𝑒 = 0,1 𝑚 de

modo que ficasse proporcional às medidas já existentes.

Para o cálculo da massa do eixo, tem-se:

38

𝑚 = 𝜌. 𝑉𝑜𝑙 = 7900 .

𝜋 . 0,12

4 . 2,5 = 155 𝑘𝑔 (32)

O cálculo da tensão de cisalhamento devido ao momento torsor é dado por:

𝜏 =

16𝑇

𝜋𝐷𝑒3 =

16 . 326

𝜋 . 0,13= 1,7 𝑀𝑃𝑎 (33)

Para o cálculo da tensão normal devido à força axial, tem-se:

𝜎 =

𝑃

𝐴=

4𝑚𝑔

𝜋𝐷𝑒2 =

4 . 155 . 9,8

𝜋 . 0,12= 0,193 𝑀𝑃𝑎 (34)

Calculando a tensão equivalente através do Critério de Máxima Energia de

Distorção ou Critério de Falha de Von Mises para as tensões calculadas anteriormente,

tem-se:

𝜎𝑒𝑞 = √𝜎2 + 3𝜏2 = √0,1932 + 3 . 1,72 = 2,95 𝑀𝑃𝑎 (35)

Portanto, o fator de segurança estático 𝐹𝑆𝑒𝑠𝑡 para o eixo do rotor é dado por:

𝐹𝑆𝑒𝑠𝑡 =

𝑆𝑦

𝜎𝑒𝑞=

195

2,95= 66 (36)

A explicação para esse valor do fator de segurança ser tão alto é porque este

projeto está tratando de uma turbina de porte pequeno onde suas dimensões já estão

reduzidas, o que elimina a hipótese do projeto estar superdimensionado. Além disso, tanto

o torque quanto a massa contêm valores pequenos por conta das características da turbina,

o que, também, acaba por influenciar no valor baixo das tensões geradas. E por último, a

tensão equivalente calculada acaba sendo bem menor quando comparada ao limite de

escoamento do material aplicado, mesmo escolhendo aquele com valor mais baixo

possível.

Para o cálculo da resistência à fadiga ao cisalhamento, será aplicada a seguinte

equação de Soderberg:

39

𝜏𝑎

𝑆𝑆𝑒+

𝜏𝑚

𝑆𝑆𝑦=

1

𝐶𝑆𝑆𝑆𝑒

(37)

Onde 𝜏𝑎 e 𝜏𝑚 são, respectivamente, as tensões de amplitude e média dadas por:

𝜏𝑎 =

𝜏𝑚á𝑥 − 𝜏𝑚í𝑛

2 (38)

𝜏𝑚 =

𝜏𝑚á𝑥 + 𝜏𝑚í𝑛

2 (39)

Como o único esforço dinâmico T é totalmente reversível, então as tensões serão

dadas por:

𝜏𝑎 =

𝜏𝑚á𝑥 − 𝜏𝑚í𝑛

2=

𝜏𝑚á𝑥 − (−𝜏𝑚á𝑥)

2= 𝜏𝑚á𝑥 (40)

𝜏𝑚 =

𝜏𝑚á𝑥 + 𝜏𝑚í𝑛

2=

𝜏𝑚á𝑥 + (−𝜏𝑚á𝑥)

2= 0 (41)

Assim:

𝜏𝑎 = 1,7 𝑀𝑃𝑎 (42)

Para o cálculo do limite de resistência à fadiga ao cisalhamento 𝑆𝑆𝑒 é utilizada a

equação abaixo [11]:

𝑆𝑆𝑒 = 𝑘𝑎𝑘𝑏𝑘𝑐𝑘𝑑𝑘𝑒 . 𝑆𝑒′ (43)

Onde:

𝑘𝑎 = 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙

𝑘𝑏 = 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑡𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑜𝑢 𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜

𝑘𝑐 = 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑓𝑖𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒

𝑘𝑑 = 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎

𝑘𝑒 = 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑛𝑠õ𝑒𝑠

40

𝑆𝑒′ = 𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 à 𝑓𝑎𝑑𝑖𝑔𝑎 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎

Para o cálculo de 𝑘𝑎 será considerado que o eixo foi usinado:

𝑘𝑎 = 𝑎 . 𝑆𝑢𝑡

𝑏 = 4,51 . 500−0,265 = 0,87 (44)

Para o cálculo de 𝑘𝑏 será considerado o diâmetro do eixo como sendo a dimensão

característica:

𝑘𝑏 = 1,51 . 100−0,157 = 0,73 (45)

Para o valor de 𝑘𝑐 será considerada uma confiabilidade de 99%:

𝑘𝑐 = 0,814 (46)

Para o valor de 𝑘𝑑 será considerada a temperatura de trabalho como sendo

ambiente:

𝑘𝑑 = 1 (47)

Para o fator 𝑘𝑒, como não há entalhes para concentração de tensões, seu valor será:

𝑘𝑒 = 1 (48)

Para o cálculo de 𝑆𝑒′ será utilizada a seguinte equação:

𝑆𝑒

′ = 0,5 . 𝑆𝑢𝑡 = 0,5 . 500 = 250 𝑀𝑃𝑎 (49)

Assim, da equação (43):

𝑆𝑆𝑒 = 0,87 . 0,73 . 0,814 . 1 . 1 . 250 = 129,2 𝑀𝑃𝑎 (50)

41

Aplicando a equação (37):

𝐶𝑆𝑆𝑆𝑒

=𝑆𝑆𝑒

𝜏𝑎=

129,2

1,7= 76

(51)

5.3.3. Resistência da Pá

Para este projeto serão consideradas duas pás, como já dito anteriormente, ligadas

ao eixo do rotor por dois braços ou suportes como ilustrados na figura 23:

Cada pá sofre os efeitos dinâmicos devido ao fluxo de ar sobre o perfil NACA

0015. Tais efeitos provocam duas forças perpendiculares entre si: 𝐹𝑡 tangencial à

trajetória percorrida e 𝐹𝑛 normal à corda. Na figura 24 é possível ver essa situação

ilustrada:

Figura 23 – Esquema Simplificado de uma Turbina Darrieus H

42

As expressões para cada um desses esforços são calculadas da seguinte forma:

𝐹𝑡 =

1

2(𝐶𝑙 sin 𝛼 − 𝐶𝑑 cos 𝛼)𝜌𝑐𝐻𝑊2 (52)

𝐹𝑛 =

1

2(𝐶𝑙 cos 𝛼 + 𝐶𝑑 sen 𝛼)𝜌𝑐𝐻𝑊2 (53)

A massa de cada pá foi calculada a partir do software SolidWorks dada por 𝑚𝑝á =

7,376 𝑘𝑔 onde o material escolhido para sua fabricação foi o Alumínio por ser

considerado mais leve. Vale ressaltar, também, que na maioria dos projetos para esse tipo

de turbina as pás são ocas com 3 mm de espessura, o que permite reduzir o peso da turbina

e diminuir os custos associados ao material.

Cada pá está sujeita, também, a dois esforços cortantes 𝑉𝑥 e 𝑉𝑧 nas direções x e z

respectivamente e um normal N, e dois momentos fletores 𝑀𝑥 e 𝑀𝑧 também nas direções

x e z respectivamente.

Os diagramas para cada um deles podem ser conferidos conforme as figuras 25 a

29:

𝐹𝑡

𝐹𝑛

Figura 24 – Esforços Atuantes Sobre uma Pá de uma Turbina Eólica [4]

43

Figura 25 – Gráfico do Esforço 𝑽𝒙 Sobre a Pá

Figura 26 – Gráfico do Esforço 𝑴𝒛 Sobre a Pá

𝑉𝑥:

𝑀𝑧:

44

Figura 27 – Gráfico do Esforço 𝑽𝒛 Sobre a Pá

Figura 28 – Gráfico do Esforço 𝑴𝒙 Sobre a Pá

𝑀𝑥:

𝑉𝑧:

45

Figura 29 – Gráfico do Esforço N Sobre a Pá

É possível observar através dos diagramas que a seção mais solicitada está no

meio da pá na cota 𝑦 = 𝐻/2 = 1,5 𝑚. Para essa seção será calculado o fator de segurança

para carga estática.

As tensões associadas a cada um desses esforços estão demonstradas a seguir:

𝜎𝑦 =

𝑀𝑧𝑥

𝐼𝑧+

𝑀𝑥𝑧

𝐼𝑥+

𝑁

𝐴 (54)

𝜏𝑦𝑥 =𝑉𝑥

𝐴

(55)

𝜏𝑦𝑧 =𝑉𝑧

𝐴

(56)

Onde 𝐼𝑧 = 61.955,98 𝑚𝑚4 e 𝐼𝑥 = 2.648.959,95 𝑚𝑚4 são os momentos de

inércia do perfil da pá calculados a partir do programa SolidWorks. 𝐴 = 2.220,64 𝑚𝑚²

também foi calculado pelo programa.

Assim, temos:

𝑁:

46

𝜎𝑦 =

225,5 . 103 . 11,025

61.955,98+

91,0 . 103. 85,18

2.648.959,95+

0

2.220,64= 43,0 𝑀𝑃𝑎 (57)

𝜏𝑦𝑥 =

247,9

2.220,64= 111,6 𝑘𝑃𝑎 (58)

𝜏𝑦𝑧 =

81,5

2.220,64= 36,7 𝑘𝑃𝑎 (59)

Através do Critério de Máxima Energia de Distorção ou Critério de Falha de Von

Mises calcularemos a tensão equivalente:

𝜎 = √1

2[(𝜎𝑥 − 𝜎𝑦)

2+ (𝜎𝑦 − 𝜎𝑧)

2+ (𝜎𝑧 − 𝜎𝑥)2 + 6(𝜏𝑥𝑦

2 + 𝜏𝑦𝑧2 + 𝜏𝑧𝑥

2)] (60)

𝜎 = √43,02 + 3 . (0,11162 + 0,03672) = 43,0 𝑀𝑃𝑎 (61)

Dessa forma, o cálculo para o fator de segurança estático 𝐹𝑆𝑒𝑠𝑡 para uma tensão

de limite de escoamento do alumínio igual a 𝑆𝑦 = 110 𝑀𝑃𝑎 será:

𝐹𝑆𝑒𝑠𝑡 =

𝑆𝑦

𝜎=

110

43= 2,6 (62)

Apesar dos esforços sobre as pás serem dinâmicos e variarem de acordo com a

posição delas em relação ao eixo, vale lembrar que para ligas de alumínio não há limite

de resistência à fadiga [11]. Por essa razão, não haverá cálculo para o fator de segurança

dinâmico 𝐹𝑆𝑑𝑖𝑛.

Na figura 30, pode-se observar o desenho da pá feito em SolidWorks levando em

consideração todos os resultados teóricos encontrados no estudo de resistência:

47

Figura 30 – Projeto da Pá em SolidWorks

5.3.4. Braço ou Suporte

O braço ou suporte é a estrutura responsável pela transmissão dos esforços gerados

nas pás e a sua fixação ao eixo do rotor. Nesse projeto serão utilizados dois braços feitos

em alumínio para cada pá, resultando num total de quatro suportes.

O modelo de suporte é baseado na turbina vertical Windspire [12]. Sua fixação às

pás se dá através de garras ou braçadeiras que as envolvem e, por sua vez, fixadas por

parafusos do tipo M8 – 12 mm escareados de aço inoxidável. Seus detalhes e sua

montagem à pá podem ser conferidos na figura 31:

48

Sua posição de fixação às pás é com cerca de 19,2% [12] de seu comprimento a

partir das pontas. Isso é o equivalente a fixar dois braços a uma distância de 384 mm para

cada uma das pontas das pás.

Sua fixação ao eixo do rotor é através de parafusos do tipo M10 e porcas

autotravantes que são ajustados em um flange no eixo. A figura 32 ilustra bem a sua

fixação:

Figura 31 – Detalhe do Suporte da Pá [12]

49

5.3.5. Gerador Elétrico

Para este projeto, deseja-se atender uma casa que tenha um consumo máximo de

energia elétrica de 3.012,52 kWh no mês de Janeiro, conforme visto na seção 4.3. Como

um dos objetivos deste projeto e devido às características de uma turbina eólica, deseja-

se apenas auxiliar na demanda de energia da casa de forma parcial e não suprir de forma

total o seu consumo.

Dessa forma, é necessário se escolher um gerador que produza uma potência

inferior a 4 kW no mês de maior consumo – Janeiro. Por ser muito comum a aplicação de

motores elétricos como sendo geradores, devido a sua versatilidade e facilidade de

adaptação a diversos meios, foi selecionado o motor WEG Steel Motor - Trifásico que

produz 2,2 kW a uma rotação nominal de 1.740 rpm – figura 34.

Suas especificações são descritas na folha de dados conforme figura 33:

Figura 32 – Fixação do Suporte das Pás ao Eixo do Rotor [12]

50

Figura 33 - Folha de Dados do Motor WEG Steel Motor

Figura 34 – Motor Elétrico WEG Steel Motor

51

5.3.6. Caixa de Engrenagens

A rotação alcançada pelo eixo do rotor é de 122 rpm conforme visto na seção

4.4.2., equação (24). Para se atingir uma rotação de 1.740 rpm exigida pelo gerador, é

necessária uma caixa de engrenagens capaz de multiplicar a rotação vinda do rotor para

atender a rotação nominal do motor elétrico.

Portanto, a relação de transmissão necessária é de aproximadamente 1:15. Para

isso, foi escolhido o multiplicador de velocidades Kilowatt Class da empresa Moventas:

Geared For New Energy, que tem tradição na produção de caixas de engrenagens para

uso em turbinas eólicas.

5.4. Desenho Técnico da Turbina

Após o fim dos cálculos do projeto da turbina Darrieus H, será apresentado em

anexo ao final deste documento o desenho técnico mecânico da mesma. Atendendo às

normas vigentes relativas ao desenho técnico, foi realizado através do programa

SolidWorks todo o desenho de projeto mecânico da turbina eólica de eixo vertical, com

seus principais componentes e especificações, levando em conta todas as dimensões

calculadas neste trabalho.

6. Conclusão

De acordo com o que foi visto na introdução, há um determinado investimento e

crescimento expressivo no desenvolvimento da tecnologia eólica no mundo. Porém no

Brasil, esse crescimento não se torna tão expressivo se comparado a outros países. Foi

visto que há sim no país um grande potencial energético com relação à velocidade dos

ventos, principalmente em seu litoral nas regiões Sul e Nordeste.

Apesar de termos em operação alguns parques eólicos no Brasil, não é tão comum

a utilização de turbinas eólicas em meios rurais e, mais ainda, em meios urbanos quanto

em outros países. A utilização dessa tecnologia em fazendas, em meios rurais, e em

prédios de grande porte, em meios urbanos, já tem sido difundida no mundo inteiro e tem

52

se mostrado altamente eficiente no que diz respeito aos custos de investimento e o retorno

financeiro que ela gera.

O trabalho apresentado teve como um dos objetivos mostrar que essa tecnologia

pode ser sim aplicada em meios urbanos e se tornar cada vez mais comum entre os

brasileiros. O desenvolvimento de uma turbina eólica vertical em residências urbanas

consegue atender as necessidades energéticas de uma casa, servindo como uma fonte de

energia complementar à energia consumida pela rede elétrica.

Como toda turbina eólica, se instalada em regiões com um bom regime de ventos

há grandes chances desse empreendimento apresentar viabilidade técnica e econômica,

inclusive. Se aplicada em regiões com condições similares ao estudo de caso apresentado

nesse trabalho, acredita-se que os resultados serão satisfatórios. Dessa forma, espera-se

que o projeto tenha contribuído para a difusão da utilização desse meio energético que é

acessível a todos, além de ser uma fonte limpa, renovável e alternativa às fontes

tradicionais como, por exemplo, a hidrelétrica.

Para a execução teórica desse projeto foram necessários conhecimentos do mapa

energético do Brasil, cálculo de esforços mecânicos, aerodinâmica e escoamento de

fluidos sobre perfis de aerofólios e desenho mecânico. Em particular, voltado aos cursos

oferecidos pela universidade, as disciplinas empregadas foram Mecânica dos Sólidos,

Elementos de Máquinas, Mecânica dos Fluidos e Desenho Técnico. Na parte prática foi

necessário a obtenção de informações de fornecedores de equipamentos mecânicos e

motores elétricos.

A fim de garantir uma maior viabilidade econômica, todos os materiais

empregados nesse projeto, bem como o desenho de cada peça, foram selecionados de

modo a obter um custo reduzido com boa confiabilidade operacional.

Pode-se dizer que o resultado final alcançado foi satisfatório, uma vez que o

projeto consegue atender os parâmetros necessários para instalação do aerogerador em

habitações urbanas, podendo também ser aplicado em áreas rurais.

53

6.1. Sugestões para Trabalhos Futuros

Este projeto apresenta um estudo apenas da parte mecânica envolvida por trás do

projeto de uma turbina eólica vertical de duas pás. Uma alternativa seria propor um futuro

trabalho voltado a adequação da parte elétrica da turbina a rede elétrica de uma casa, bem

como o projeto de um gerador específico para a turbina, sem depender da escolha de

fabricantes.

Foi optado, também, se fazer esse projeto com apenas duas pás por se tratar de

uma aplicação em pequenas moradias. Outra alternativa seria a aplicação de

aerogeradores verticais de maior porte voltados para grandes prédios em centros urbanos,

solução essa que já vem sendo empregada em países desenvolvidos. Ou até mesmo em

meio rural em grandes fazendas, por exemplo.

Dentro da engenharia mecânica, outras propostas seriam o desenvolvimento de

uma caixa de engrenagens – multiplicador - próprio para essa turbina, também sem

depender da oferta de modelos oferecidos no mercado. Apesar de algumas dimensões já

terem sido aplicadas nesse projeto a fim de evitar a vibração excessiva, vale, também, se

fazer um estudo mais detalhado dos modos de vibração para turbinas mais complexas.

A possibilidade de fabricação de um protótipo para a realização de testes a partir

das especificações apresentadas neste projeto, também é uma das propostas para aferição

dos resultados teóricos com os resultados experimentais.

Por último, um estudo de avaliação da viabilidade econômica paralela ao consumo

energético e ao retorno investido seria importante para aplicações de turbinas em outras

localidades.

54

7. Referências

[1] AMARANTE, O. A. C., Zack, J., Brower, M. e Sá, A. L., Atlas do

Potencial Eólico Brasileiro, Brasília, 2001.

[2] MME - Ministério de Minas e Energia, Energia Eólica 2014 – Brasil e o

Mundo, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético,

Dezembro, 2015. Acesso em agosto de 2016.

[3] ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, Informações Gerenciais

Dezembro 2015, Dezembro, 2015. Acesso em agosto de 2016.

[4] CARMO, D. M. F. G. M., Projeto de uma turbina eólica de eixo vertical

para aplicação em meio urbano, dissertação de mestrado, Universidade

Técnica de Lisboa, 2012.

[5] BRITO, S. S., Energia Eólica Princípios e Tecnologias, Centro de

Referência para Energia Solar e Eólica, Equipe CEPEL/CRESESB, 2008.

[6] COTIA, F. C. G., Uso de Tecnologias Fotovoltaicas e Aerogeradores

para Geração de Energia no Meio Urbano, dissertação de mestrado,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2015.

[7] MERTENS, S., Wind Energy in the Built Environment - Concentrator

Effects of Buildings, Multi-Science, 5 Wates Way, Brentwood, United

Kingdom, 2006.

[8] Airfoil Tools. Disponível em: <http://airfoiltools.com/airfoil/details?air

foil=naca0015-il>. Acesso em agosto de 2016.

55

[9] Wind & Net – Online airfoil plotter. Disponível em: <http://w ww.winda

ndwet.com/windturbine/airfoil_plotter/index.php?airfoil=naca0015.dat>.

Acesso em Agosto de 2016.

[10] REIS, G. L. R., Análise Numérica e Experimental de Perfis

Aerodinâmicos para Aprimoramento do Projeto de Turbinas H-Darrieus,

monografia de graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre, RS, Brasil, 2013.

[11] BUDYNAS, R. G. and NISBETT, J. K., Shigley’s Mechanical

Engineering Design, Ninth Edition, McGrawHill.

[12] Windspire Energy, 𝑾𝒊𝒏𝒅𝒔𝒑𝒊𝒓𝒆® Owner’s Manual 30 ft. Standard,

Version 1.18, October 2010.

1

2

5

8

10

9

7

6

4

3

11

3000

300

0

100

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Conjunto Aerogerador A2

Projeto Final de Graduação

Prof. Armando Carlos de Pina Filho

Data: 07/09/2016

José Benjamin Moraes Ferreira Júnior

Unidades: mm

Primeiro Diedro

Escala: 1:20

Núm Qnt. Especificação Observação

Lista de Peças

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Suporte da Pá

Flange

Eixo do Rotor

Parafuso de Fixação do Suporte a Pá

Parafudo de Fixação do Suporte

Gerador

Parafuso de Fixação do Gerador

Base

Parafuso de Fixação da Caixa de Engrenagem

Caixa de Engrenagem

2

4

2

1

8

8

1

4

1

4

1

Aerofólio NACA 0015 - Liga de Alumínio

Liga de Alumínio

Liga de Alumínio

Aço Inoxidável 1.4310

Parafuso Comercial

Parafuso Comercial

Parafuso Comercial

Parafuso Comercial

WEG Steel Motor

Concreto

Moventa Kilowatt Class