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CARLOS HENRIQUE CORONADO SENA PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE TESTES DE ATRITO E DESGASTE PARA ANÉIS SINCRONIZADORES DE TRANSMISSÕES AUTOMOTIVAS São Paulo 2008

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

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CARLOS HENRIQUE CORONADO SENA

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE TESTES DE ATRITO E DESGASTE PARA ANÉIS SINCRONIZADORES DE

TRANSMISSÕES AUTOMOTIVAS

São Paulo 2008

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CARLOS HENRIQUE CORONADO SENA

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE TESTES DE ATRITO E DESGASTE PARA ANÉIS SINCRONIZADORES DE

TRANSMISSÕES AUTOMOTIVAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre Profissional em Engenharia Automotiva.

Área de Concentração: Engenharia Automotiva

Orientador: Prof. Dr. Deniol Katsuki Tanaka

São Paulo 2008

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FICHA CATALOGRÁFICA

Sena, Carlos Henrique Coronado

Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis sincronizadores de transmissões automo-tivas / C.H.C. Sena. -- São Paulo, 2008.

196 p.

Trabalho de conclusão de curso (Mestrado Profissional em Engenharia Automotiva) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

1.Atrito 2.Desgaste 3.Elementos de máquinas 4.Ensaios dos materiais I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica II.t.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus pais (José

Carlos e Dulce Fátima), ao meu irmão

(José Augusto) e a minha amada

companheira (Fernanda).

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AGRADECIMENTOS

Agradeço o Professor Deniol Katsuki Tanaka pela orientação nesse trabalho, pela

compreensão e paciência em meus longos períodos de ausência e por confiar em

minha pessoa na realização desse projeto.

Ao João Pavan por proporcionar-me a oportunidade de efetuar o mestrado e dedicar

parte do meu tempo na empresa à realização de atividades vinculadas à pós-

graduação.

À Engenharia Experimental da EATON que me disponibilizou espaço, ferramentas,

técnicos e principalmente dedicação para que a conclusão desse trabalho fosse

possível.

Ao Marcos Perceguetti que destinou grande parte de seu tempo a esse projeto e que

dedicou especial atenção ao difícil (quase insolúvel) problema de ruído nos

sensores.

Sou grato ao Josevaldo Fernandez, meu mentor no assunto sincronizadores e

transmissões.

Agradeço também ao João Bosco pelas vezes em que me aturou como passageiro

nas diversas idas e vindas de Valinhos à São Paulo.

Ao Marcelo, Gerson e Paulo da Ciani & Damo que foram fundamentais na

construção da bancada de testes. Especialmente ao Paulo, que tornou físico e

palpável uma idéia que estava no papel.

Ao Enrique, William, Alessandro e Bruno da Setup pela ajuda com os itens de

controle e lógica de programação.

Aos professores desse mestrado que me ofereceram conceitos e ensinamentos não

só profissionais como também de vida.

Aos meus colegas de classe pelo suporte na realização desse mestrado, tanto no

apoio à dissertação, quanto na paciência em me escutar diversas vezes falando

sobre transmissões automotivas nas apresentações em sala de aula.

Agradeço à minha família (meus pais José Carlos e Dulce, meu irmão José Augusto

e minha companheira Fernanda) pelo apoio constante e incondicional à realização e

conclusão desse mestrado e de mais uma etapa em minha vida.

Finalmente, agradeço a todos aqueles que me apoiaram nesse trabalho e que por

descuido de minha memória não foram citados.

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EPÍGRAFE

“Nunca ande pelo caminho traçado, pois

ele conduz somente até onde os outros

foram”.

(Alexandre Graham Bell)

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RESUMO

O objetivo deste trabalho consistiu no projeto e construção de uma máquina de

testes capaz de avaliar o comportamento de atrito e de desgaste de anéis

sincronizadores de transmissões automotivas. Diferentemente da abordagem

convencional, encontrada nas bancadas de ensaios disponíveis no mercado, a

bancada proposta não aciona o anel sincronizador com o intuito de frear ou acelerar

uma massa inercial girante, praticamente reproduzindo o princípio de funcionamento

do sistema sincronizador dentro da transmissão. Ao contrário, neste projeto o anel

sincronizador é constantemente pressionado contra o cone sincronizador e

permanece em atrito durante todo o ensaio. Além disso, o corpo-de-prova utilizado

para os testes é oriundo de um segmento de um anel sincronizador real. Essa

abordagem possibilita que variações metalúrgicas e dimensionais inerentes ao

processo de fabricação sejam minimizadas entre os corpos-de-prova tirados de um

mesmo anel sincronizador. Ensaios preliminares foram realizados e o desgaste dos

corpos-de-prova foi comparado com o desgaste de anéis sincronizadores ensaiados

em bancada de engate e em veículo. Apesar de serem necessários alguns ajustes

de calibração, aperfeiçoamento do sistema de controle empregado no atuador e

melhorias do sistema de lubrificação, a bancada mostrou-se capaz de reproduzir o

mecanismo de desgaste da superfície de atrito de anéis sincronizadores.

Palavras-chave: Atrito e desgaste. Anéis sincronizadores. Bancada de testes.

Transmissão automotiva.

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ABSTRACT

The aim of this work consisted in the design and construction of a test machine

capable of evaluating the friction and wear behaviour of synchronizer rings from

automotive transmissions. Differently from conventional approach, found in test rigs

available on the market, the proposed bench doesn’t press the synchronizer ring in

order to brake or to accelerate a rotating inertial mass, just reproducing the operation

of synchronization system inside transmission. On the contrary, in this project the

synchronizer ring is constantly pressed against synchronizer cone and it stays in

friction during whole trial. Besides, the specimen used for tests is from a segment of

a real synchronizer ring. This approach allows that metallurgical and dimensional

variations inherent to the manufacturing process to be minimized between the

specimens drawn from the same synchronizer ring. Preliminary trials were carried out

and the wear of tested specimens was compared to the wear of synchronizer rings

assessed in shifting test rigs and vehicle. Although to be necessary some calibration

adjustments, improvements in the control system used in the actuator and in the

lubrication system, the proposed bench was shown capable to reproduce the wear

mechanism of synchronizer ring friction surface.

Keywords: Friction and wear. Synchronizer rings. Test rig. Automotive transmission.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................12

2 MOTIVAÇÃO .....................................................................................17

3 CONTEXTUALIZAÇÃO .....................................................................18

3.1 FUNÇÃO DA TRANSMISSÃO .................................................................... 18

3.2 FUNÇÃO DO SISTEMA DE SINCRONIZAÇÃO .............................................. 19

3.3 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE SINCRONIZAÇÃO................................. 21

4 JUSTIFICATIVA.................................................................................32

4.1 MOTIVAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DE EQUIPAMENTO PARA ENSAIO DE

ANÉIS SINCRONIZADORES................................................................................ 32

4.2 TRABALHOS FUTUROS ........................................................................... 35

5 TIPOS DE FALHAS...........................................................................36

5.1 TIPOS DE FALHAS DOS SINCRONIZADORES ............................................. 36

5.1.1 Desgaste de anel sincronizador .................................................. 38

5.1.2 Quebra do anel sincronizador......................................................40

5.1.3 Falha do anel sincronizador por amassamento...........................43

6 REVISÃO DOS MEIOS DE TESTES ................................................45

6.1 ENSAIOS ATUAIS ...................................................................................45

6.1.1 Avaliação em veículo................................................................... 47

6.1.2 Bancada de engate em linha .......................................................48

6.1.3 Bancada de engate em ‘H’ ..........................................................50

6.2 BANCADAS DE TESTES DE SINCRONIZADORES EXISTENTES .....................51

6.2.1 Bancada FZG SSP 180 ...............................................................51

6.2.2 µ-Comp ........................................................................................56

6.2.3 SAE No.2 .....................................................................................60

6.2.4 Falex block-on-ring test machine................................................. 61

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7 PROJETO E CONSTRUÇÃO DA BANCADA...................................63

7.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO .............................................................63

7.2 CONCEPÇÃO DA MÁQUINA ..................................................................... 63

7.2.1 Geometria da amostra ................................................................. 64

7.2.2 Dimensão do corpo-de-prova ......................................................64

7.2.3 Carga aplicada sobre a amostra.................................................. 68

7.2.4 Força tangencial (de atrito)..........................................................70

7.2.5 Rotação .......................................................................................72

7.2.6 Parâmetros controlados...............................................................73

7.2.7 Parâmetros medidos.................................................................... 73

7.3 PROJETO E CONSTRUÇÃO DA BANCADA ................................................. 74

7.3.1 Porta amostra .............................................................................. 74

7.3.2 Contra-corpo................................................................................ 76

7.3.3 Aplicação de carga ...................................................................... 78

7.3.4 Guia linear ...................................................................................80

7.3.5 Eixos e mancais........................................................................... 81

7.3.6 Motor elétrico ............................................................................... 83

7.3.7 Células de carga.......................................................................... 86

7.3.8 Encoder linear.............................................................................. 88

7.3.9 Sensor de rotação ....................................................................... 90

7.3.10 Sensor de temperatura do óleo................................................ 91

7.3.11 Mesa e estrutura da bancada...................................................92

7.3.12 Esticador de correias................................................................93

7.3.13 Polias e correias ....................................................................... 94

7.3.14 Câmara de testes ..................................................................... 96

7.3.15 Sistema de lubrificação ............................................................97

7.3.16 Dispositivos de segurança .....................................................100

7.3.17 Software de controle ..............................................................102

8 TESTE DA BANCADA.....................................................................104

8.1 ENSAIOS PRELIMINARES...................................................................... 104

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8.1.1 Materiais e métodos .................................................................. 104

9 RESULTADOS ................................................................................107

9.1 ANÉIS SINCRONIZADORES DE REFERÊNCIA .......................................... 107

9.2 RESULTADOS DO CORPO-DE-PROVA #1 ............................................... 113

9.3 RESULTADOS DO CORPO-DE-PROVA #2 ............................................... 119

9.4 RESULTADOS DO CORPO-DE-PROVA #3 ............................................... 124

9.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................. 130

10 LIMITAÇÕES DO PROJETO .......................................................133

11 CONCLUSÕES.............................................................................134

REFERÊNCIAS .....................................................................................136

ANEXO A – DESENHOS TÉCNICOS...................................................138

ANEXO B – PROJETO ELÉTRICO.......................................................178

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1 INTRODUÇÃO

Transmissões manuais equipam veículos de passeio, pick-ups, caminhões, ônibus e

microônibus com a finalidade de assegurar, ao comando do motorista, o melhor

desempenho do motor em diferentes condições de solicitação do veículo e das

condições da estrada. O motorista decide como o veículo irá se comportar através

das trocas de marcha, as quais alteram a relação de engrenamento da transmissão

e conseqüentemente modificam o fator multiplicador de torque e rotação do motor

que são transferidos para as rodas.

As primeiras transmissões automotivas exigiam do motorista força e habilidade para

que a troca de marcha fosse executada no momento correto (BOUFFET, 2004),

caso contrário o motorista se deparava com uma raspagem ou até mesmo

impossibilidade de engate. Visando melhorar a troca de marchas, em 1934 começou

a ser produzida a primeira transmissão automotiva com todas as marchas à frente

sincronizadas por meio de sincronizadores cônicos (LECHNER, 1999).

As transmissões sincronizadas permitem que o motorista realize a troca de marcha

de forma mais suave e com menor nível de ruído, além de não exigir prática e

habilidade do mesmo, uma vez que não é mais necessário acertar a rotação ideal

para a conclusão do engate. Os componentes do sistema de sincronização

possibilitam o engate de uma nova relação de engrenamento em uma ampla faixa

de rotações de trabalho do motor.

No início do desenvolvimento das transmissões sincronizadas, uma série de

dispositivos e configurações construtivas foram criadas com o intuito de oferecer

trocas de marcha livres de raspagem (McCORD, 1986), no entanto, com o passar

dos anos, o conceito que prevaleceu foi aquele constituído por anéis sincronizadores

cônicos capazes de bloquear a conclusão de um engate enquanto não fosse

atingida a equalização da rotação das partes girantes, isto é, a sincronização.

A sincronização é responsável por acelerar ou desacelerar as engrenagens que

compõem a marcha a ser engatada. O que determina se as engrenagens são

aceleradas ou desaceleradas é o tipo de mudança de marcha. Para subida de

marcha (por exemplo, saindo de 1ª e engatando a 2ª), os sincronizadores devem

desacelerar a engrenagem alvo, enquanto que para descida de marcha (por

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exemplo, saindo de 3ª e engatando a 2ª), os sincronizadores devem acelerar a

engrenagem alvo.

Somente após a finalização da sincronização, a luva de engate é capaz de

prosseguir com seu deslocamento axial até encontrar os dentes de engate da

engrenagem e assim concluir a troca de marcha solicitada pelo motorista.

Ao longo da vida de um veículo automotor, milhares ou até mesmo milhões de

trocas de marcha são realizadas. Em cada troca de marcha os anéis sincronizadores

são requisitados para acelerar ou desacelerar as engrenagens através de suas

interfaces cônicas de atrito. Para que o desempenho de sincronização seja

satisfatório, o coeficiente de atrito nessas interfaces deve ser elevado, em contra

partida, conforme Sigl et al. (2003) relata, o desgaste dessas superfícies de atrito

deve ser o mínimo possível a fim de assegurar a durabilidade do sistema de

sincronização ao longo de toda a vida útil do veículo.

Segundo Oster (1987), se o coeficiente de atrito dinâmico entre o anel sincronizador

e o cone da engrenagem torna-se muito baixo com o uso, a sincronização ocorre

desapropriadamente, pois não há o bloqueio do avanço da luva de engate e

conseqüentemente o motorista se depara com uma raspagem de marcha. Por outro

lado, se o coeficiente de atrito estático é muito alto, a finalização do engate após a

sincronização torna-se difícil de ser atingida, ocasionando o fenômeno conhecido

como blocking release.

Diante desses fenômenos e com o intuito de projetar um sistema de sincronização

eficiente e robusto, os engenheiros e projetistas precisam conhecer quais são os

parâmetros que afetam tanto o coeficiente de atrito quanto o desgaste das

superfícies de atrito dos sincronizadores. Além de conhecer os parâmetros,

Hutchings (1992, p. 198) menciona que é preciso estabelecer o mecanismo pelo

qual o desgaste ocorre.

Daí origina-se a necessidade por parte da engenharia de desenvolvimento de novos

produtos de entender como diferentes fatores (por exemplo: material dos anéis

sincronizadores e dos cones das engrenagens, óleo lubrificante, pressão de contato,

tempo de engate, temperatura de trabalho, entre outros) afetam o comportamento

tribológico dos anéis sincronizadores. Essa foi a motivação que levou ao

desenvolvimento desse trabalho.

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O coeficiente de atrito nas superfícies de contato dos anéis sincronizadores e o seu

comportamento ao longo da vida projetada da transmissão são importantes fatores

para a definição do esforço e da qualidade de engate.

Um esforço de engate elevado (com carga superior a 10 kgf) associado com uma

qualidade de engate deficitária (por exemplo, má definição das marchas) conduz a

uma avaliação ruim, seja por parte da montadora do veículo, seja por parte do

usuário final: o motorista.

Essa avaliação ruim pode produzir perda de participação no mercado e redução de

vendas para a empresa fabricante da transmissão, o que certamente não é o intuito

dela e de seus acionistas.

Para se evitar as características ruins de engate mencionadas anteriormente, uma

série de testes, tanto em bancada quanto em veículo, é realizada para validação do

sistema de engate (abordados mais adiante). Contudo, o tempo necessário para se

obter um índice de confiabilidade adequado para a validação demanda de um a um

ano e meio, dependendo dos testes requeridos.

Diante desse cenário surgiu o interesse para o desenvolvimento deste trabalho que

consiste no projeto e construção de uma máquina de testes para anéis

sincronizadores que seja capaz de medir o coeficiente de atrito e o desgaste desses

componentes, além de ser capaz de reproduzir, de forma acelerada, os mecanismo

de desgaste de anéis sincronizadores, tanto aqueles observados em testes de

durabilidade em bancada de engate, quanto a reprodução do desgaste observado

em campo ao longo da vida útil da transmissão.

No decorrer deste texto é apresentado, passo a passo, o projeto da bancada, os

recursos e as capacidades do equipamento de testes desenvolvido, assim como

suas limitações e perspectivas futuras.

A bancada de testes deve permitir a análise de:

desgaste da superfície de atrito do anel e do cone da engrenagem;

influência da geometria da rosca em anéis sincronizadores de latão;

influência dos rasgos para escoamento de óleo;

influência da largura do anel sincronizador;

influência do material do anel sincronizador;

influência da geometria da superfície de atrito do cone da engrenagem;

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influência de diferentes processos de fabricação utilizados na usinagem do

cone da engrenagem;

influência do material do cone da engrenagem;

influência do tratamento térmico do cone da engrenagem;

influência da temperatura do óleo;

influência do lubrificante (aditivos e viscosidade do óleo).

O equipamento deve permitir controle de:

rotação do contra-corpo (cone da engrenagem);

carga aplicada na amostra;

vazão do óleo;

temperatura do óleo;

tempo de ensaio; e

parâmetros de finalização do ensaio.

As seguintes variáveis são medidas em tempo real:

rotação do contra-corpo (cone da engrenagem);

carga aplicada sobre a amostra;

carga tangencial na amostra devido a força de atrito;

temperatura do óleo; e

deslocamento axial da amostra.

Espera-se que esta bancada ofereça os seguintes benefícios: redução no tempo de

validação do produto, suporte à área de pesquisa e desenvolvimento, pesquisa de

novos materiais e de processos de fabricação alternativos que conduzam à redução

de custos e aperfeiçoamento e melhoria dos produtos.

Conforme Lovas (2003) o aumento da potência dos motores, o advento de requisitos

de conforto mais rigorosos e a robotização das trocas de marcha estão exigindo

maiores estudos a respeito do engate, pois os sincronizadores estão sendo

solicitados cada vez mais. O desenvolvimento dessa máquina de testes possibilita

entender melhor e de forma mais rápida o impacto causado por esses novos

requisitos no sistema de sincronização.

Segundo Bouffet (2004), existe no mercado um número limitado de equipamentos

padronizados para a avaliação de desempenho de anéis sincronizadores. Mesmo

assim, para aqueles disponíveis, as condições de teste nem sempre representam as

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condições operacionais observadas em campo, o que também serviu de motivação

a este trabalho.

A bancada de testes proposta nesse trabalho apresenta diferenciais significativos

em relação aos dispositivos de testes existentes.

O equipamento possui características operacionais que o diferencia dos existentes

nos seguintes aspectos:

é compacto,

permite o controle da força aplicada e da rotação ao longo do tempo,

avalia segmentos de anel sincronizador reais utilizados em sistemas de

transmissão veicular,

permite operação remota,

é inteiramente controlado e monitorado por computador, e

possui dispositivos e lógica computacional de segurança que desarma o teste

no caso de algum evento anormal.

Todas essas características tornam a bancada única e especialmente projetada para

atender as necessidades de pesquisa, desenvolvimento e validação dos anéis

sincronizadores.

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2 MOTIVAÇÃO

A motivação pessoal para a realização desse projeto de mestrado pode ser dividida

em duas categorias: profissional e particular.

Do ponto de vista profissional, o interesse partiu tanto do Candidato quanto do

Departamento de Desenvolvimento de novos produtos da EATON (onde o

Candidato desenvolve as atividades profissionais) ao identificar a carência de

equipamentos de testes versáteis, da área experimental, para a validação e o estudo

tribológico de anéis sincronizadores. O desenvolvimento de um equipamento com as

características pretendidas permitirá uma aceleração no desenvolvimento de novos

anéis, avaliando o comportamento de materiais, influência da geometria e das

condições operacionais, obtendo resultados de ensaios em tempos

significativamente menores quando comparados com os atualmente disponíveis.

Sob a óptica pessoal, a realização do Mestrado propiciou um amadurecimento

científico e tecnológico, além de ter permitido maior aprendizado sobre o atrito, o

desgaste e também de projeto de máquinas, fundamentais para o aperfeiçoamento

do conhecimento e alavancagem das competências para a função de engenheiro de

desenvolvimento de produto.

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3 CONTEXTUALIZAÇÃO

Os capítulos a seguir apresentam a transmissão e sua função dentro do veículo.

Também é mostrado o porquê da existência dos anéis sincronizadores e, fase a

fase, como o sistema de sincronização funciona durante uma troca de marcha.

Essa explanação faz-se necessária para que o leitor saiba da importância de se ter

um sistema de sincronização bem projetado e também para que seja compreendido

o contexto, dentro da transmissão, no qual estão inseridos os anéis sincronizadores.

3.1 FUNÇÃO DA TRANSMISSÃO

Antes mesmo do surgimento dos primeiros veículos movidos por um motor de

combustão interna, fato oficialmente reconhecido em 1886, segundo Lechner e

Naunheimer (1999), quando a fonte propulsora dos automóveis ainda era um motor

a vapor, James Watt percebeu que os veículos precisavam de um sistema capaz de

ajustar a rotação e o torque do motor para diferentes condições de dirigibilidade. Em

1784, James Watt patenteou a primeira transmissão automotiva (Figura 1), a qual

era constituída por dois pares de engrenagens constantemente engrenadas cuja

troca de marcha era feita através de uma luva deslizante.

Figura 1 – Esquema da transmissão patenteada por Watt (Lechner e Naunheimer, 1999. p. 13)

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Após a invenção de Watt, engenheiros e inventores perceberam que o motor por si

só não era capaz de fazer com que o veículo subisse rampas íngremes e notaram

que uma relação de marcha amplificadora do torque do motor era necessária para

esse tipo de condição. Por outro lado, quando o desejo era o de aumentar a

velocidade final do veículo, a necessidade consistia em amplificar a rotação do

motor.

A partir de então, inúmeros conceitos de transmissões foram desenvolvidos com a

finalidade de assegurar um melhor aproveitamento do torque e da rotação do motor

diante de diferentes condições de carregamento do veículo, perfis de estrada e

velocidade de deslocamento desejada, ou seja, diante de distintas condições de

dirigibilidade.

Segundo Lechner e Naunheimer (1999), os principais elementos e conceitos de

transmissões foram desenvolvidos até 1925. Após esse período, os esforços

concentraram-se no aumento da vida-útil e do desempenho, na redução do peso e

do ruído e na melhoria da facilidade de uso.

Nos últimos 30 anos, está se dedicando especial atenção à redução de emissões e

consumo de combustível do motor, eliminação do uso de metais pesados (como

chumbo, cádmio, mercúrio e cromo hexavalente) e ampliação na quantidade de

marchas para que o motor trabalhe durante mais tempo no seu ponto ótimo de

funcionamento, o que requer uma transmissão adequada para o desempenho do

veículo como um todo.

3.2 FUNÇÃO DO SISTEMA DE SINCRONIZAÇÃO

As primeiras transmissões inventadas, como o modelo projetado por James Watt,

eram desprovidas de um sistema capaz de efetuar uma troca de marcha suave

(SOCIN e WALTERS, 1968).

No caso de transmissões cujos pares de engrenagens não estão constantemente

engrenados, as próprias engrenagens movem-se axialmente para concluir o engate

da marcha. Esse princípio de funcionamento é similar ao engate da marcha à ré

existente nas atuais transmissões transaxle que equipam carros de passeio.

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Já no caso de transmissões cujos pares de engrenagens estão o tempo todo

engrenados, a troca de marcha é realizada por uma luva de engate deslizante que

faz a ligação física entre o eixo de saída e a engrenagem almejada pelo motorista.

Esse tipo de construção é conhecido como transmissão não sincronizada ou, no

jargão popular, “caixa-seca”. Ambos os conceitos requerem habilidade do motorista

para que a troca de marcha seja feita sem raspagem e sem danos aos dentados de

engate.

Até hoje transmissões não sincronizadas continuam em uso, principalmente em

caminhões pesados (veículos com peso bruto total acima de 38.000 kgf). Segundo

Ore et al. (1995), as razões para isso são: baixo custo dos componentes mecânicos,

baixo esforço exigido do motorista durante a troca de marcha e pequena quantidade

de partes móveis que maximizam a confiabilidade e a durabilidade da transmissão.

A Figura 2 mostra uma engrenagem e uma luva de engate empregadas em

transmissão não sincronizada. Nessa Figura é possível observar os chanfros

adicionados ao dentado de engate com o intuito de facilitar a troca de marcha.

Figura 2 - Peças de uma transmissão não sincronizada: à esquerda, uma engrenagem e à direita,

uma luva de engate

Ore et al. (1995) explicam porque é necessário habilidade do motorista durante a

condução de um veículo equipado com “caixa-seca”. Em uma transmissão não

sincronizada, para que uma redução de marcha possa ser completada o motorista

precisa: desacoplar o disco de embreagem do motor, colocar a alavanca de

mudanças ou manopla em neutro, reacoplar a embreagem para que o motor em

aceleração eleve a rotação do eixo piloto e da embreagem, desacoplar novamente a

embreagem e, por último, finalizar o engate através da movimentação da manopla

para a posição da marcha desejada, seguido da liberação do pedal de embreagem.

Chanfros para

facilitar o engate

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21

A necessidade de pressionar o pedal de embreagem duas vezes durante cada troca

de marcha é conhecida como “dupla embreagem”. Toda essa seqüência de

comandos mencionada anteriormente deve ser feita em perfeito sincronismo de

movimentação de manopla e controle do pedal de embreagem dentro de certa faixa

de rotação do motor (normalmente indicada por tarja verde no conta-giros do

veículo).

Diante desse cenário, visando melhorar o conforto da troca de marcha, permitindo

que o engate fosse realizado em qualquer faixa de rotação do motor e tornando

possível a condução de veículos por motoristas não treinados, foi desenvolvido o

sistema de sincronização.

Para Ore et al. (1995), o conjunto sincronizador possui três funções: bloquear a

conclusão do engate até que a rotação relativa esteja equalizada, conduzir os

elementos girantes da transmissão para a rotação correta conforme a marcha

desejada e promover o engate da marcha após o alcance das rotações adequadas.

Para Socin e Walters (1968) a função dos sincronizadores é oferecer uma

embreagem por atrito dentro da transmissão, a qual é ativada durante a troca de

marcha e cujo objetivo é zerar a rotação relativa entre as partes girantes envolvidas

naquele engate.

Em termos construtivos, McCord (1986) destaca que, durante os primeiros

desenvolvimentos de transmissões sincronizadas, vários conceitos construtivos

foram tentados visando um engate livre de raspagem, contudo o projeto que

prevaleceu ao longo desses anos foi aquele que emprega um mecanismo

bloqueador utilizando embreagem cônica. Segundo Socin e Walters (1968), esse

conceito predominou devido sua alta capacidade de torque associada à geometria e

tamanho reduzidos.

3.3 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE SINCRONIZAÇÃO

Tanto McCord (1986), quanto Ore et al. (1995) dizem que os dois principais tipos de

sincronizadores são: o tipo pino (Figura 3 e 4) e o tipo lamela (Figura 5 e 6).

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22

Figura 3 - Sincronizador tipo pino

Figura 4 - Vista em corte e componentes do sincronizador tipo pino (Ore et al., 1995. p.3)

Figura 5 - Sincronizador do tipo lamela

Material de atrito

Dentado de engate

Cone sincronizador

Luva de engate Anel sincronizador

Pino bloqueador

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Figura 6 - Vista em corte e componentes do sincronizador tipo lamela (Ore et al., 1995. p.3)

Apesar de diferentes em sua forma construtiva, o princípio de funcionamento de

ambos os sincronizadores é o mesmo (ORE et al., 1995).

Tanto o sincronizador do tipo pino, quanto o do tipo lamela contêm uma superfície

cônica de atrito fazendo com que a força axial aplicada na luva de engate seja

amplifica na direção normal a interface de atrito. O material de atrito gera um torque

tangencial à superfície de contato conforme o coeficiente de atrito, a força normal e

o raio médio do cone. Esse torque de atrito é transferido para a engrenagem através

do cone sincronizador e assim a rotação da engrenagem é equalizada (ORE et al.,

1995).

A seguir, são explicitados o engate e a sincronização utilizando o sincronizador do

tipo lamela.

Visando facilitar o entendimento desse sistema, a Figura 7 mostra uma vista

explodida dos componentes do sincronizador.

Luva de engate Material de atrito

Cubo

Anel sincronizador Lamela

Dentado de engate

Cone sincronizador

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24

Figura 7 - Vista explodida de um sincronizador do tipo lamela

Um conjunto sincronizador é constituído por um cubo estriado internamente para

acoplamento rígido com o eixo de transmissão de potência e estriado externamente

para acoplamento deslizante com a luva de engate. A luva de engate, por sua vez,

pode deslizar axialmente sobre o cubo para ambos os lados. Cada um dos lados

engata uma marcha diferente, no caso da Figura 7, à esquerda está uma

engrenagem de segunda velocidade e à direita uma engrenagem de primeira

velocidade. Durante a troca de marcha, o movimento realizado pelo motorista na

alavanca de mudanças chega até a luva de engate por meio do sistema de controle

da transmissão (Figura 8) o qual é constituído por varões e garfos de engate. Os

garfos de engate, por sua vez, estão vinculados à luva de engate através do canal

em forma de ‘U’ posicionado no diâmetro externo da luva. É dessa forma que o

movimento de troca de marcha realizado na manopla chega até a luva de engate.

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25

Figura 8 - Sistema de controle de uma transmissão manual

A troca de marcha pode ser dividida em 8 fases:

fase 1 – Saída do neutro

fase 2 – Pré-energização

fase 3 – Indexação

fase 4 – Sincronização

fase 5 – Desindexação

fase 6 – Deslocamento livre

fase 7 – Duplo estágio

fase 8 – Engate

Na fase 1, a luva de engate inicia o seu deslocamento axial em direção a

engrenagem a ser engatada, porém nesse início de deslocamento o anel

sincronizador ainda encontra-se afastado do cone sincronizador.

Na fase 2, o deslocamento efetuado pela luva de engate já é suficiente para fazer

com que a lamela toque no anel sincronizador. Esse contato faz com que o

anel sincronizador seja ligeiramente pressionado contra o cone

sincronizador da engrenagem. Esse é o início da próxima fase.

A fase 3, ocorre quase que concomitantemente com a fase anterior. O toque do anel

sincronizador no cone gera um pequeno torque de atrito que gira o anel até

a posição de indexação (Figura 9), a qual é geometricamente definida de

forma a garantir que os chanfros da estria da luva de engate fiquem

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alinhados com o dentado do anel sincronizador (Figura 10). Para que o giro

de indexação ocorra, é fundamental que as estrias da luva de engate não

estejam em contato com o dentado do anel sincronizador, pois se isso

acontecer a indexação não é realizada.

Figura 9 - Anel sincronizador indexado

Figura 10 - Esquema do posicionamento dos dentados de engates durante a indexação

Após a indexação, a luva de engate se desloca axialmente até que o seu

dentado de engate entre em contato com o dentado do anel sincronizador,

iniciando a fase 4, a sincronização.

Na fase 4 ocorre a transmissão do esforço da luva de engate para o anel

sincronizador através do contato dos dentados de engate (Figura 11).

Como a superfície de atrito é cônica, o esforço axial é amplificado conforme

mostrado na Figura 12 e na Equação 1.

Anel sincronizador

desindexado

Anel sincronizador

indexado

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Figura 11 - Esquema do posicionamento dos dentados de engates durante a sincronização

Figura 12 - Representação esquemática das forças axial e normal na superfície cônica de atrito

senFF A

N (1)

Onde:

FN - força normal à superfície de atrito do cone sincronizador

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FA - força axial aplicada à luva de engate

α - ângulo de inclinação da superfície cônica

Essa força normal à superfície cônica, associada com o coeficiente de

atrito nessa interface de contato, produz o torque de atrito responsável pela

equalização das rotações.

Se o motorista estiver realizando uma subida de marcha, por exemplo, indo

de 1ª para 2ª, o torque de atrito deve reduzir (frear) a rotação da

engrenagem a ser engatada. No caso de uma descida de marcha, por

exemplo, indo de 3ª para 2ª, o torque de atrito deve aumentar (acelerar) a

rotação da engrenagem a ser engatada.

Durante a sincronização a luva de engate cessa seu deslocamento axial,

pois o torque de atrito gerado no cone sincronizador produz um esforço

suficientemente alto para manter o anel sincronizador na posição de

indexação. Enquanto o anel sincronizador permanecer nessa posição, a

luva de engate não é capaz de continuar seu movimento axial.

Na sincronização a diferença de energia cinética entre as partes girantes é

dissipada na forma de calor até que a rotação seja equalizada. Lovas et al.

(2006) citam que a temperatura do anel sincronizador eleva-se de 4 a 9 °C.

É por isso que tanto o material de atrito do anel sincronizador, quanto o do

cone sincronizador devem ser escolhidos levando-se em consideração

esse aumento de temperatura, conforme salientado por Ore et al. (1995).

Ao final da sincronização, a rotação da engrenagem está equalizada com a

rotação da luva de engate, conseqüentemente o torque de atrito na

interface cônica de contato cessa-se, e a fase seguinte é iniciada, a

desindexação.

Na fase 5, como o torque de atrito não está mais presente, a força que mantém o

anel sincronizador na posição de indexação deixa de existir. Assim, o

esforço axial aplicado sobre a luva de engate produz, devido o chanfro na

ponta do dentado de engate, uma componente de força na direção

tangencial a qual gira o anel sincronizador (Figura 13). Dessa forma, a luva

de engate consegue prosseguir com seu deslocamento, pois o caminho

não está mais obstruído pelo anel sincronizador.

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29

Figura 13 - Esquema do posicionamento dos dentados de engates durante a desindexação

A facilidade ou dificuldade em girar o anel sincronizador nessa fase está

relacionada com o coeficiente de atrito estático da superfície de contato.

Quanto menor for esse coeficiente de atrito, mais facilmente o anel

sincronizador é girado e mais confortável é a troca de marcha para o

motorista. Portanto, o melhor material de atrito é aquele capaz de oferecer

um alto coeficiente de atrito dinâmico durante a sincronização e um baixo

coeficiente de atrito estático durante a desindexação.

Dentro desse contexto, Oster e Pflaum (1987) comentam que se o

coeficiente de atrito dinâmico ficar muito baixo, o efeito bloqueador do

avanço da luva de engate falha, conseqüentemente o engate apresenta

raspagem. Os mesmos autores ainda mencionam que se o coeficiente de

atrito estático ficar muito alto torna-se difícil completar a troca de marcha.

Por causa desses potenciais problemas e visando o desenvolvimento de

um projeto robusto, é fundamental conhecer os parâmetros que afetam o

coeficiente de atrito entre o anel sincronizador e o cone.

Na fase 6, ocorre o deslocamento livre, onde o avanço axial da luva de engate está

com passagem livre até o início da próxima fase.

A fase 7, ocorre quando o chanfro da ponta do dentado de engate da luva de

engate se choca com o chanfro de engate da engrenagem (Figura 14).

Esse fenômeno é conhecido como duplo estágio e dependendo da

magnitude do impacto entre os dentados, gera uma qualidade de engate

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ruim. A ocorrência do duplo estágio é difícil de ser prevista sem o uso de

modelos dinâmicos complexos de simulação da troca de marcha, pois o

ponto de parada do dentado de engate da engrenagem é aleatório.

Figura 14 - Esquema do posicionamento dos dentados de engates no início do duplo estágio

O esforço axial aplicado sobre a luva de engate produz uma força

tangencial sobre o dentado de engate da engrenagem devido à geometria

do chanfro. Essa força faz com que a engrenagem gire, permitindo o

avanço da luva (Figura 15).

Figura 15 - Esquema do posicionamento dos dentados de engates no final do duplo estágio

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Na fase 8, a última, a luva de engate desloca-se até encontrar um batente mecânico

que limita o seu avanço axial e o engate está finalizado.

Com a liberação do pedal de embreagem, o torque do motor chega até a

engrenagem, a qual permanece ligada à luva de engate (ligação

assegurada pelos ângulos antiescape) até a próxima troca de marcha

(Figura 16).

Figura 16 - Esquema do posicionamento dos dentados de engates ao final da troca de marcha

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32

4 JUSTIFICATIVA

4.1 MOTIVAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DE EQUIPAMENTO PARA

ENSAIO DE ANÉIS SINCRONIZADORES

Bouffet (2004) destaca que o número de equipamentos padronizados para a

avaliação de desempenho de sincronizadores existentes no mercado é pequeno.

Além disso, para aqueles disponíveis comercialmente, as condições de testes nem

sempre reproduzem o comportamento encontrado em campo, notadamente no que

diz respeito a desempenho dinâmico.

O crescimento do uso de transmissões automatizadas, que mantém o layout

mecânico dos componentes internos e acrescentam sistemas pneumáticos, elétricos

ou hidráulicos, controlados por uma central eletrônica para a realização das trocas

de marcha, acarreta maior solicitação do sistema de sincronização. Os anéis

sincronizadores são notadamente as partes mais exigidas, uma vez que essas

transmissões automatizadas buscam reduzir o tempo de troca de marcha a fim de

amenizar o desconforto causado aos ocupantes do veículo devido à sensação de

interrupção de torque. Essa sobrecarga nos anéis sincronizadores é ainda mais

evidente se a automatização da transmissão não for acompanhada por uma

completa revisão do sistema de sincronização.

Bouffet (2004) defende que diante das solicitações mais severas para os

sincronizadores, torna-se necessário desenvolver novas bancadas de testes (sejam

elas padronizadas ou não) com o intuito de se conhecer o comportamento das

propriedades de atrito para essas novas condições operacionais. Isso ajudaria os

projetistas e engenheiros a desenvolverem de forma mais adequada os

componentes do sistema de sincronização, a especificarem apropriadamente os

lubrificantes e a selecionarem corretamente os processos de manufatura visando o

aperfeiçoamento do projeto dos sincronizadores das transmissões automotivas.

Schmid (2007) no seu trabalho apresentado no V Seminário SAE Brasil de

Powertrain, Figura 17, mostra um aumento do rigor na legislação européia sobre as

emissões de poluentes que está sendo acompanhado por um crescimento tanto no

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torque dos motores quanto na temperatura de trabalho do óleo da transmissão. Esse

aumento de torque do motor conduz a um redimensionamento da transmissão que,

na maioria das vezes, se resume a um reprojeto das engrenagens o qual

eventualmente é acompanhado por um redimensionamento da embreagem. O

reprojeto das engrenagens normalmente implica em aumento da largura do dentado

e aumento do momento de inércia dessas peças. O redimensionamento da

embreagem, por sua vez, requer que o diâmetro do disco de embreagem seja

majorado para ampliar a capacidade de transmissão de torque do sistema. Essas

modificações, devido ao aumento do torque dos motores, passam a exigir mais dos

sincronizadores, pois os momentos de inércia das peças girantes tornam-se

maiores. Com isso, é necessário reavaliar o sistema de sincronização a fim de

garantir que o desempenho e a durabilidade do mesmo atendam os requisitos do

cliente e do fabricante.

Figura 17 - Tendência do torque dos motores e da temperatura do óleo para ônibus articulados

(Schmidt, 2007)

Além do cuidado que os projetistas e engenheiros precisam ter com os requisitos

cada vez maiores de durabilidade e desempenho de sincronização, outro ponto que

não pode ser deixado de lado e que está diretamente relacionado com o usuário

final é a qualidade de engate.

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34

Qualidade de engate é uma característica da troca de marcha que está intimamente

relacionada com o coeficiente de atrito dos anéis sincronizadores e seu

comportamento ao longo da vida útil da transmissão.

Quanto maior for o coeficiente de atrito dos anéis sincronizadores, maior será a

capacidade de frenagem/aceleração na sincronização, logo menor será o tempo

necessário para concluir a troca de marcha e, conseqüentemente, menor será a

sensação de interrupção de torque percebida pelo motorista e ocupantes do veículo.

Ainda, quanto maior o coeficiente de atrito, menor é o ângulo necessário no dentado

de engate tanto do anel sincronizador, quanto da luva de engate. Isso implica em

uma menor necessidade de giro do anel sincronizador ao final da sincronização e

também menor giro da engrenagem a ser engatada. Dessa forma, o deslocamento

axial da luva de engate é facilitado durante todo o percurso de engate e o motorista

percebe menos duplo estágio na manopla da alavanca de câmbio. Quanto menos

duplo estágio houver, melhor será a sensação do engate.

Assim, a busca por uma qualidade de engate melhor requer desenvolvimento e

homologação de produto em ensaios, inicialmente em laboratório, e conforme já

acima discutido, não existem equipamentos que permitam a realização de testes que

realmente sejam capazes de reproduzir as falhas, notadamente de desgaste, em

período curto de tempo, o que seguramente justifica o desenvolvimento deste

trabalho de Mestrado.

Outra justificativa para o desenvolvimento da máquina de teste está relacionada com

a corroboração dos resultados encontrados na literatura ao longo dos últimos 30

anos. Especialmente as experimentações que avaliaram durabilidade e

comportamento do coeficiente de atrito de anéis sincronizadores. Por exemplo,

Bouffet (2004) conclui em seu trabalho que cerca de 90% do comportamento do

atrito em anéis sincronizadores de latão se deve ao projeto dos sincronizadores e da

tecnologia empregada neles. Apesar de Bouffet não deixar claro quais as variações

construtivas analisadas e o que exatamente são essas tecnologias, seu estudo

motiva a reprodução de seus testes diante de uma nova óptica, ou seja, replicar os

testes realizados, na bancada proposta neste trabalho. Com a finalidade de

averiguar se essa proporção de 90% se mantém.

Ao invés de avaliar a vida ao desgaste dos anéis sincronizadores inteiros,

empregando uma bancada de engate em linha ou uma bancada de engate em ‘H’, o

equipamento para testes proposto neste trabalho utiliza amostras dos anéis, sem a

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35

necessidade de se ter uma transmissão inteiramente montada o que reduzirá,

significativamente, o tempo de ensaio dos protótipos construídos.

Assim, as necessidades de ensaios capazes de reproduzir o comportamento

tribológico encontrado em anéis de sincronismo aliadas à inexistência de

equipamentos de testes acelerados alavancaram e motivaram o desenvolvimento da

bancada de testes proposta neste Trabalho.

4.2 TRABALHOS FUTUROS

Os ensaios que estão sendo realizados têm indicando a necessidade de adicionar

ao sistema de lubrificação, um circuito de aquecimento/resfriamento de óleo para

melhor controlar a temperatura do óleo aplicado sobre a superfície de atrito, o que

será incrementado brevemente ao equipamento.

Mesmo assim, os ensaios que estão sendo realizados têm mostrado que o objetivo

de reproduzir o desgaste de anéis, de maneira acelerada, está sendo alcançado.

No entanto para homologação do equipamento há a necessidade de comparar o

desempenho tribológico obtido com aqueles realizados em campo e em bancada de

engate, utilizando anéis de um mesmo lote de fabricação.

Ensaios de campo para caminhões comerciais leves (vida projetada de 500.000 km)

demorariam cerca de 10,5 anos; para ônibus (vida projetada de 350.000 km)

aproximadamente 6 anos e para pick-ups (vida projetada de 320.000 km) 2,5 anos,

para veículos de testes da EATON (que rodam ininterruptamente por dois turnos de

trabalho), assim se demanda de um longo período para a homologação definitiva do

equipamento.

Contudo, acredita-se que o equipamento em desenvolvimento cumprirá

satisfatoriamente os objetivos para ensaios comparativos entre anéis fabricados com

materiais diferentes.

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36

5 TIPOS DE FALHAS

Os tópicos a seguir apresentam as principais falhas de anéis sincronizadores

observadas em veículo e em bancada de engate.

5.1 TIPOS DE FALHAS DOS SINCRONIZADORES

Quando uma transmissão é submetida a um teste de durabilidade em bancada de

sincronização, não só os anéis sincronizadores são avaliados. Outros componentes

do sistema de engate (como garfos, varões, luva de engate, cubo e cone

sincronizador) também são testados.

Basicamente, três grandes áreas são cobertas pelos testes: desgaste, resistência

mecânica e verificação do funcionamento do sistema de engate. A Figura 18

apresenta os componentes e as partes avaliadas em um teste de durabilidade de

bancada de sincronização.

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Durabilidade em Bancada de Sincronização

Desgaste Resistência Mecânica Funcionamento

Anel Sincronizador(Superfíce de Atrito)

Anel Sincronizador(Dentado)

Luva de Engate(Dentado)

Luva de Engate(Rampas da Lamela)

Luva de Engate(Calha do Garfo)

Lamela

Patim do Garfo

Cone da Engrenagem(Dentado)

Cone da Engrenagem(Superfície de Atrito)

Varões de Engate(Apoio nos Mancais)

Varões de Engate(Rampas dos Posicionadores)

Pinos e Posicionadores

Cubo Sincronizador

Alavanca Interna

Anel Sincronizador(Dentado)

Anel Sincronizador(Corpo)

Cone da Engrenagem(Batentes de Engate)

Lamela

Garfos de Engate

Varões de Engate

Alavanca Interna

Molas do Sistema

Engates

Torre de Controle

Interferência Mecânica

Escape de Componentes

Raspagem de Marcha

Bloqueio de Engate

Figura 18 - Partes avaliadas em bancada de durabilidade de sincronizadores

Os dois itens destacados em azul são aqueles avaliados na bancada proposta neste

trabalho. Todos os demais não são testados nela, por isso o intuito dessa máquina

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não é o de substituir os testes feitos na bancada de engate em linha e na bancada

de engate em ‘H’.

A seguir são apresentados os principais modos de falha de anéis sincronizadores

identificados tanto em veículos no campo, quanto em bancadas de durabilidade.

5.1.1 Desgaste de anel sincronizador

Este é o principal modo de falha que a bancada de testes proposta neste trabalho se

propõe a analisar.

Normalmente, esse tipo de falha ocorre após a vida projetada da transmissão,

mesmo com o veículo operando adequadamente e dentro das condições normais de

uso. Assim, é o modo de falha diretamente relacionado com a vida da sincronização.

Quando ocorre esse tipo de falha, o efeito percebido é a raspagem de marcha, a

qual pode ser causada tanto por falta de curso axial do anel sincronizador, devido à

magnitude do desgaste, quanto por falta de capacidade de frenagem devido à queda

no atrito. Neste último caso, ainda existe o curso axial disponível para o anel.

A Figura 19 apresenta a crista do filete de rosca de um anel sincronizador de latão

que falhou por perda no coeficiente de atrito em teste de durabilidade de

sincronização.

Figura 19 - Crista de um filete de rosca de um anel sincronizador falhado em teste de durabilidade

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39

A Figura 20 mostra um anel sincronizador novo de latão. Nessa figura é possível

observar a fina largura da crista da rosca da superfície de atrito do anel

sincronizador. Já a Figura 21 exibe o mesmo anel, porém após um teste de

desempenho de sincronização realizado em veículo, onde se pode observar o

aumento na largura da crista do filete de rosca.

Figura 20 - Filetes de rosca na superfície de atrito de um anel sincronizador novo

Figura 21 - Filetes de rosca na superfície de atrito de um anel sincronizador usado

A bancada apresentada neste trabalho foi desenvolvida para estudar os parâmetros

que influenciam o desempenho tribológico de anéis sincronizadores como esses

mostrados nas figuras anteriores.

Esses parâmetros podem ser geométricos:

altura do filete de rosca;

Fina largura da

crista da rosca

Aumento na

largura da crista

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largura da crista;

passo da rosca;

perfil do rasgo de escoamento de óleo;

largura do anel sincronizador;

rugosidade na superfície do cone da engrenagem;

ondulação na superfície do cone da engrenagem;

circularidade na superfície do cone da engrenagem;

tolerância do ângulo do cone da engrenagem.

Podem ser parâmetros metalúrgicos:

material da superfície de atrito do anel sincronizador;

material do cone da engrenagem;

tratamento térmico do cone da engrenagem;

dureza da superfície do cone da engrenagem.

Ou ainda parâmetros de lubrificação:

tipo de óleo;

temperatura do óleo;

aditivos do óleo;

viscosidade do óleo.

5.1.2 Quebra do anel sincronizador

Este tipo de falha, por não ser de natureza tribológica, foge aos objetivos do

equipamento proposto neste trabalho. No entanto, por se tratar de uma falha que

ocorre nos anéis sincronizadores será descrita a seguir.

Normalmente, esse tipo de falha é ocasionado por subdimensionamento do anel, por

problemas no material, por não atendimento à geometria especificada em desenho

ou por sobrecarga devido uso inadequado da transmissão durante a troca de

marcha.

O resultado imediato após a ocorrência dessa falha é a raspagem de marcha, pois a

capacidade de aplicação de torque de atrito é prejudicada e o sistema de

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sincronização torna-se incapaz de equalizar a rotação da engrenagem que será

engatada com a rotação da luva de engate.

As Figuras 22 e 23 mostram um anel sincronizador, de aço sinterizado, partido. Esse

rompimento faz com que a superfície de contato interna do anel perca sua

efetividade de atrito ao tocar o cone sincronizador da engrenagem.

Figura 22 - Vista exterior da falha em anel sincronizador de aço sinterizado

Figura 23 - Vista interna da falha em anel sincronizador de aço sinterizado

A Figura 24 mostra um anel sincronizador de latão com todos os dentes de engate

arrancados. A Figura 25 exibe o detalhe deste arrancamento.

Figura 24 - Anel sincronizador sem os dentes de engate

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42

Figura 25 - Detalhe do arrancamento do dente

Diferentemente da falha descrita anteriormente, nesta falha a superfície interna do

anel permanece intacta, porém a eliminação do dentado de engate impede que a

força exercida sobre a luva de engate chegue até o anel sincronizador. Sem a carga,

o anel sincronizador não atua e a rotação da engrenagem não é equalizada,

acarretando raspagem de marcha.

A falha por quebra é detectada tanto em bancada de durabilidade quanto em

veículo, porém não é percebida pela máquina de testes proposta aqui, pois a

amostra ensaiada, além de ser um segmento do anel sincronizador real, não é

carregada da mesma forma que em uma transmissão. Na transmissão, todo o

esforço aplicado na luva de engate é transmitido para o anel sincronizador através

dos dentes de engate (Figura 26), já na bancada proposta neste texto, o esforço é

transmitido através da face da amostra (Figura 27).

Figura 26 - Local de aplicação da força em condições reais de uso

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43

Figura 27 - Local de aplicação da força na bancada de testes proposta neste trabalho

5.1.3 Falha do anel sincronizador por amassamento

A falha por amassamento pode ocorrer de duas formas e o resultado produzido na

peça é diferente conforme sua origem.

Uma delas é a falha por amassamento no dentado do anel sincronizador (Figura 28)

a qual é causada pela combinação de alto esforço de engate com pequena área de

contato entre a luva de engate e o anel. Essa falha é potencializada se o anel

sincronizador e/ou a luva de engate apresentar erro de espaçamento ou de batida

no dentado de engate.

Figura 28 - Dentado amassado de anel sincronizador de latão

O resultado desse amassamento é a perda da sincronização e conseqüentemente,

raspagem de marcha.

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44

O outro modo de falha por amassamento ocorre quando a vibração torcional oriunda

do motor do veículo não é devidamente amortecida pela embreagem. Essa vibração

faz com que todos os componentes internos da transmissão, inclusive os conjuntos

sincronizadores, vibrem radialmente. Dependendo da amplitude e da freqüência de

vibração, os anéis sincronizadores sofrem esmagamento na região de indexação,

conforme mostrado na Figura 29.

Figura 29 - Rebaixo de indexação de um anel sincronizador danificado por vibração torcional

Esse amassamento na região de indexação é gradual e provoca aumento na força

requerida para a troca de marcha e piora na qualidade de engate. Se a peça não for

substituída, o resultado, em longo prazo, pode ser o bloqueio completo do engate da

marcha em que se encontra o anel danificado.

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6 REVISÃO DOS MEIOS DE TESTES

Os tópicos a seguir mostram os testes feitos com anéis sincronizadores na EATON e

aqueles feitos em bancadas disponíveis comercialmente.

6.1 ENSAIOS ATUAIS

A Norma alemã DIN 50322 classifica os ensaios tribológicos lubrificados de acordo

com as condições de testes e conforme o tipo de sistema utilizado. Contudo, nem

sempre é fácil alocar determinados testes nas categorias propostas pela Norma,

pois alguns ensaios podem se enquadrar simultaneamente em mais de uma

categoria. A Figura 30 a seguir mostra como a classificação é feita nesta Norma.

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Figura 30 - Classificação dos ensaios tribológicos lubrificados conforme norma DIN 50322 (Mang e

Dresel, 2007)

Os ensaios realizados pela engenharia de testes da empresa EATON, para

avaliação do desempenho e da durabilidade dos anéis sincronizadores, enquadram-

se na Categoria I e III da norma DIN 50322. Assim é possível concluir que a duração

de cada teste é longa, pois o mesmo procura reproduzir as condições de

dirigibilidade e utilização presenciadas ao longo da vida útil da transmissão.

Já a bancada de testes de atrito e desgaste de anéis sincronizadores sugerida neste

trabalho pode ser enquadrada na Categoria V ou VI, pois além de não exigir o uso

de uma transmissão completa, permiti que parâmetros como força aplicada e

rotação sejam controlados conforme aspiração da engenharia, independentemente

de estar reproduzindo uma condição real de uso.

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47

A vantagem que se obtém ao sair de um teste em veículo para um teste laboratorial,

utilizando amostras representativas das peças originais, é a reprodutibilidade e o

controle sobre as condições de ensaio.

A seguir são apresentados os testes atualmente realizados pela EATON para

avaliação dos sincronizadores.

6.1.1 Avaliação em veículo

A avaliação em veículo visa determinar a durabilidade não só do sistema de

sincronização, mas da transmissão como um todo. Esse teste procura reproduzir as

condições normais de dirigibilidade do veículo em uma rota pré-estabelecida, ou

seja, é um teste de Categoria I conforme proposto pela norma DIN 50322.

Os veículos utilizados podem ser tanto da própria empresa produtora, quanto de

terceiros, eventualmente do próprio usuário da transmissão. No caso de terceiros, a

transmissão é instalada livre de qualquer custo e, caso ocorra alguma falha durante

o período de avaliação, os gastos envolvidos na troca ou manutenção da

transmissão também são absorvidos pela fabricante do produto.

Os testes em veículo são interessantes, pois representam condições típicas de

utilização da transmissão e possibilitam que várias amostras sejam analisadas

simultaneamente, bastando multiplicar a quantidade de veículos avaliados. Além

disso, o custo desse teste corresponde à aproximadamente 10% do custo de um

teste em bancada de engate em linha. A desvantagem é que neste tipo de teste, a

transmissão nunca é avaliada até o final de sua vida projetada: para caminhões,

500.000 km; para ônibus, 350.000 km e para pick-ups, 320.000 km, valores típicos

de uso, porém podendo variar conforme o requisito do cliente.

Nos testes em veículo, normalmente, a quilometragem alvo é 120.000 km para

caminhões (24% da vida projetada), 120.000 km para ônibus (34% da vida) e 80.000

km para pick-ups (25% da vida), os quais demoram respectivamente 30, 24 e 8

meses para serem concluídos.

Logo, as falhas encontradas nesse tipo de teste são aquelas devido a fenômenos

eventuais como os defeitos de fabricação ou erros de projeto. Falhas de final de

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vida, normalmente associadas ao desgaste dos componentes, não são avaliadas

nesse teste. As falhas devido ao desgaste são analisadas nas bancadas de engate

em linha e nas bancadas de engate em ‘H’ que serão discutidos a seguir.

6.1.2 Bancada de engate em linha

As bancadas de engate em linha, como a própria denominação sugere, são

utilizadas para avaliar a durabilidade nos engates em que as marchas estão

alinhadas. Dessa forma, não é necessário fazer o movimento de seleção de marcha

entre uma troca e a outra.

Assim, em uma transmissão de 5 marchas cujo posicionamento das marchas seja

conforme ilustrado na Figura 31, os engates passíveis de serem avaliados são: 1►2,

2►1, 3►4 e 4►3, que segundo a Norma DIN 50322, seriam de Categoria III.

Figura 31 - Disposição das marchas de uma pick-up equipada com transmissão de 5 marchas

As bancadas de engate em linha (Figura 32) permitem que a força, aplicada por um

sistema pneumático, seja ajustada conforme solicitação e teste desejado. Além

disso, a rotação e o disco de inércia, o qual representa o disco de embreagem do

veículo, podem também ser ajustados de acordo.

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Figura 32 - Bancada de engate em linha

Nessa bancada, a rotação é aplicada ao eixo de saída da transmissão por meio de

um motor elétrico e não pelo eixo piloto através da embreagem como no veículo.

Nesse teste, podem ser monitorados a rotação do eixo piloto e do eixo de saída, a

temperatura do óleo dentro da transmissão, a força aplicada na alavanca de

mudança de marchas e a quantidade e freqüência de engates.

Como os testes de durabilidade realizados nessas bancadas são acelerados em

termos de freqüência de engates, é possível testar os sincronizadores (e também

todo o sistema de engate) por toda a vida projetada da transmissão. Dessa forma,

evita-se a avaliação em veículo, que neste caso seria inviável, pois para um

caminhão atingir a vida projetada da transmissão demorar-se-iam 10,5 anos

aproximadamente.

Ainda assim, no caso de uma transmissão utilizada em pick-up, o tempo necessário

para avaliar uma única amostra nos engates alinhados é de cerca de 1 mês (com a

bancada funcionando 24 horas por dia, de segunda a sexta-feira). Já para uma

transmissão utilizada em caminhão ou microônibus, o tempo seria de 4,5 meses

para uma amostra.

A avaliação dos engates não alinhados é feita na bancada de engate em ‘H’ descrito

no próximo item.

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6.1.3 Bancada de engate em ‘H’

A bancada de engate em ‘H’ (Figura 33), além de poder realizar os engates em

linha, pode também executar as trocas de marcha que exigem a realização do

movimento de seleção. Considerando a mesma configuração de marchas da Figura

31 mostrada anteriormente, os seguintes engates não alinhados são passíveis de

serem avaliados nesse tipo de bancada: 2►3, 3►2, 4►5 e 5►4.

Assim, como no caso da bancada em linha, essa bancada pode ser classificada

segundo a Norma DIN 50322 na Categoria III.

Figura 33 - Bancada de engate em 'H'

O princípio de funcionamento, as variáveis controladas e as saídas monitoradas são

as mesmas da bancada de engate em linha. O diferencial dessa bancada é que o

sistema de aplicação de força para mudança de marcha é realizado por um robô

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pneumático capaz de movimentar a alavanca tanto em ‘x’, quanto em ‘y’. Permitindo

efetuar o movimento de seleção e de engate.

O tempo necessário para a avaliação de todos os engates (sejam eles alinhados ou

não) de uma transmissão de pick-up ao longo da vida projetada é de 3 meses (com

a bancada funcionando 24 horas por dia, de segunda a sexta-feira). Já para uma

transmissão utilizada em caminhão ou microônibus, olhando os mesmos engates, o

tempo é de 12 meses para uma amostra.

6.2 BANCADAS DE TESTES DE SINCRONIZADORES EXISTENTES

A seguir são mostrados os equipamentos padronizados e também aqueles não

padronizados, disponíveis comercialmente no mercado, dedicados à avaliação

tribológica de anéis sincronizadores.

6.2.1 Bancada FZG SSP 180

Segundo Bouffet (2004), o equipamento de testes mais conhecido, e disseminado no

mercado, para avaliação do desempenho de anéis sincronizadores é a bancada

comercialmente conhecida como FZG SSP 180 (Figura 34) fabricada pela

companhia alemã Hürth Company.

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52

Figura 34 - Máquina de testes FZG SSP 180 (HD Automation, 2008)

Essa bancada foi desenvolvida pela Hürth Company em parceria com o Centro de

Pesquisa de Engrenagens (FZG) da Universidade de Munique na Alemanha.

Atualmente é comercializada pela ZF em Passau (Alemanha), empresa fabricante de

transmissões automotivas.

Os testes realizados nesse equipamento seguem principalmente a Norma Técnica

CEC L-66-T-99, do Co-ordinating European Council, uma organização privada

responsável pelo desenvolvimento de procedimentos de testes para a indústria

automotiva, destinada notadamente para testes relacionados com lubrificação de

transmissões ou de motores.

Essa máquina utiliza um conjunto sincronizador completo para avaliar o

desempenho de anéis sincronizadores, ou seja, dentro do receptáculo de teste

existe: uma luva de engate, um cubo, duas engrenagens, dois cones

sincronizadores, um garfo de engate e dois ou mais anéis sincronizadores conforme

a configuração de sincronização empregada (cone simples, duplo cone ou triplo

cone).

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Além do conjunto sincronizador, também compõem o equipamento: um motor

elétrico, dois discos de inércia, atuadores hidráulicos e um sistema de aquecimento

e circulação de óleo (MANG e DRESEL, 2007). A Figura 35 mostra um esquema da

bancada FZG SSP 180.

Figura 35 - Esquema da bancada FZG SSP 180 (Mang e Dresel, 2007)

O disco de inércia maior está conectado, através de um conjunto correia-polia, ao

motor elétrico, o qual é responsável por fornecer rotação ao sistema. Esse disco de

inércia também está fisicamente preso à engrenagem indicada pelo número II na

Figura 35.

O disco de inércia menor está conectado ao cubo sincronizador e é esse disco que

representa a inércia que os anéis sincronizadores tentam acelerar (engate para o

lado B utilizando o anel sincronizador II) ou desacelerar até zero (engate para o lado

A utilizando o anel sincronizador I). Esse movimento de engate/desengate de

marcha é realizado pelo atuador hidráulico, que está conectado ao garfo de engate,

que por sua vez aciona a luva de engate. O óleo aquecido é aplicado por um

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pulverizador sobre os anéis sincronizadores e as engrenagens durante as trocas de

marcha.

Essa configuração e a forma de atuação da sincronização (aceleração e

desaceleração de um disco inercial) buscam reproduzir o comportamento dos anéis

sincronizadores dentro da transmissão em veículos. Assim, segundo a Norma DIN

50322, os ensaios realizados podem ser classificados como Categoria III a V,

dependendo das condições estabelecidas durante os testes.

Ao longo do tempo, essa bancada avalia o desgaste dos anéis sincronizadores, a

variação do atrito, na superfície de contato entre o anel sincronizador e o cone da

engrenagem, o torque de atrito, o tempo de sincronização e o deslocamento axial.

As Figuras 36, 37 e 38 mostram resultados gráficos típicos dessa bancada.

Figura 36 - Tendência do coeficiente de atrito ao longo de um ciclo de pressão x rotação (Sigl et al.,

2003)

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Figura 37 – Comportamento do coeficiente de atrito e do desgaste axial em função da quantidade de

ciclos de engate no decorrer de um teste de durabilidade (Sigl et al., 2003)

Figura 38 - Resultado gráfico da avaliação de um único engate (Sigl et al., 2003)

Os parâmetros controlados na máquina FZG SSP 180 são: a rotação das

engrenagens, a quantidade de ciclos, a temperatura do óleo e a pressão de contato.

Segundo Mang e Dresel (2007), as limitações técnicas da FZG SSP 180 são:

diâmetro dos anéis sincronizadores: 40 – 200 mm

diferença de rotação: 0 – 5000 rpm

força axial: até 4000 N

disco de inércia: 0,040 – 0,120 kg.m²

tempo de cada ciclo: > 4 s

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temperatura do óleo: 10 – 120 °C

vazão de óleo: 2 – 9 L/min

volume de óleo: 8 – 10 L

Segundo Bouffet (2004), apesar de bem projetada, a flexibilidade dessa bancada é

limitada o que a torna nada versátil para os atuais requisitos dinâmicos de

sincronização. Além disso, a preparação e a operação dessa máquina são

trabalhosas e demoradas.

6.2.2 µ-Comp

Este equipamento está disponível em duas versões, uma tradicional e outra para

caminhões e pode ser vista na (Figura 39).

É uma máquina de teste de sincronizadores que foi desenvolvida pela Höerbiger

(fabricante de anéis sincronizadores) de Schongau na Alemanha (MANG e DRESEL,

2007).

Figura 39 - Máquina de testes µ-Comp (HD Automation, 2008)

Diferentemente da FZG SSP 180, que avalia tanto uma subida de marcha quanto

uma descida, essa bancada avalia somente subida de marcha, ou seja, o anel

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sincronizador sempre atua como um freio, tentando reduzir a rotação da massa

girante. Contudo, visando evitar sobrecarga no dentado de engate do anel

sincronizador em teste e também para se aproximar das condições reais de uso de

uma transmissão em veículo, essa máquina de testes, a cada 200 revoluções,

inverte o sentido de rotação para que ambos os flancos do dentado de engate sejam

solicitados.

Segundo Mang e Dresel (2007), além de sincronizadores do tipo cone simples, essa

bancada também é capaz de testar sincronizadores do tipo dublo cone ou triplo

cone.

Essa máquina de testes utiliza metade de um conjunto sincronizador, ou seja,

somente um anel sincronizador é montado e, conseqüentemente, o engate é sempre

feito para o mesmo lado do cubo sincronizador. Assim, dentro do receptáculo de

teste existe: uma luva de engate, um cubo, uma engrenagem, um cone

sincronizador, um garfo de engate e um anel sincronizador (ou mais anéis

sincronizadores caso a configuração de sincronização empregada seja do tipo duplo

cone ou triplo cone).

Além do conjunto sincronizador, também compõem o equipamento: um motor

elétrico, discos de inércia, atuadores hidráulicos, um transdutor (Figura 41) e um

sistema de aquecimento e circulação de óleo (MANG e DRESEL, 2007). A Figura 40

mostra um esquema da bancada µ-Comp.

Figura 40 - Esquema da máquina de testes µ-Comp (Mang e Dresel, 2007)

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Figura 41 - Transdutor e cone sincronizador (HOTLINE, 2006)

Através de uma embreagem, os discos de inércia estão conectados ao motor

elétrico que é responsável por fornecer rotação ao sistema. Além da união com o

motor elétrico, os discos de inércia estão conectados ao cubo sincronizador e

representam a inércia que o anel sincronizador tenta desacelerar até zero. Uma vez

concluída a sincronização e o engate da marcha, o atuador hidráulico efetua o

desengate da luva de engate e o motor elétrico acelera os discos de inércia,

novamente, até a rotação de teste programada (MANG e DRESEL, 2007).

A engrenagem e conseqüentemente o cone sincronizador estão parados o tempo

todo, pois se encontram fixos ao transdutor que mede o torque de atrito aplicado

pelo anel sincronizador no momento da frenagem da rotação dos discos de inércia.

Nessa máquina, as partes girantes do conjunto sincronizador são: cubo, luva de

engate e anel sincronizador.

Semelhante a FZG SSP 180, um sistema pulverizador aplica óleo aquecido sobre o

anel sincronizador e a engrenagem durante o engate da marcha.

Do mesmo modo que a FZG SSP 180, a configuração construtiva e a forma de

atuação da sincronização da bancada µ-Comp buscam reproduzir o comportamento

dos anéis sincronizadores observados dentro da transmissão em veículos do campo.

Assim, segundo a Norma DIN 50322, os testes realizados nessa máquina também

podem ser classificados como Categoria III a V, dependendo das condições de

ensaio estabelecidas.

A Figura 42 mostra um resultado gráfico típico dessa bancada.

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Figura 42 - Resultado gráfico da bancada µ-Comp para um único engate (HOTLINE, 2006)

Segundo Mang e Dresel (2007), as limitações técnicas da µ-Comp tradicional são:

diâmetro dos anéis sincronizadores: 50 – 120 mm

diferença de rotação: 0 – 4500 rpm

força axial: até 5000 N

disco de inércia: 0,013 – 0,036 kg.m²

tempo de cada ciclo: > 3 s

temperatura do óleo: até 120 °C dentro do receptáculo de testes

vazão de óleo: 0 – 3,5 L/min

volume de óleo: 4 – 6 L

Já as limitações técnicas da µ-Comp para caminhões são:

diâmetro dos anéis sincronizadores: 100 – 200 mm

diferença de rotação: 0 – 3500 rpm

força axial: até 5000 N

disco de inércia: 0,015 – 2,500 kg.m²

tempo de cada ciclo: > 3 s

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temperatura do óleo: até 120 °C dentro do receptáculo de testes

vazão de óleo: 0 – 3,5 L/min

volume de óleo: 4 – 6 L

6.2.3 SAE No.2

Originalmente desenvolvida com o intuito de avaliar as características de atrito dos

discos de embreagem de transmissões automáticas frente a diferentes fluidos

lubrificantes (SAE J286, 2006), a máquina de testes SAE No. 2 (Figura 43) foi

modificada por algumas empresas de forma a permitir estudar o comportamento

tribológico de anéis sincronizadores.

Figura 43 - Máquina de testes SAE No.2 comercializada pela Automax (Automax, 2008)

A ETSm (Expertise Technology & Services) que hoje faz parte do grupo D2T, é um

laboratório francês independente que realiza pesquisas na área de trem-de-força.

O equipamento denominado de ETSm Synchronizer Friction Machine (Figura 44), foi

desenvolvido com a substituição do motor elétrico original da SAE No. 2. Essa

modificação foi necessária, pois a inércia do motor elétrico original era alta demais

para representar a inércia real de trabalho de uma transmissão mecânica manual

(BOUFFET, 2004).

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Segundo Bouffet (2004), além da troca do motor elétrico, os fabricantes dessa

máquina de testes se preocuparam com: velocidade de atuação do sistema de

engate de marcha (feito por um cilindro pneumático), curso de engate, facilidade de

manutenção, flexibilidade operacional e baixo custo do equipamento.

Figura 44 - ETSm Synchronizer Friction Machine (Bouffet, 2004)

O princípio de funcionamento da máquina ETSm Synchronizer Friction Machine é

similar ao das máquinas FZG SSP 180 e µ-Comp, ou seja, consiste em acelerar uma

massa inercial até uma desejada rotação e em seguida acionar o conjunto

sincronizador que freia essa rotação através da atuação do anel sincronizador.

A bancada de testes proposta neste trabalho utiliza um princípio diferente de

funcionamento, pois a atuação do anel sincronizador não efetua a desaceleração de

uma massa inercial. O princípio de funcionamento está mais próximo de uma

máquina de ensaios de desgaste como a Falex block-on-ring test machine.

6.2.4 Falex block-on-ring test machine

Criada pela empresa Falex Corporation dos Estados Unidos, essa máquina de

testes (Figura 45) possibilita o estudo tribológico do desgaste em condições de atrito

deslizante lubrificado ou não. Essa bancada aplica uma carga normal sobre um

bloco retangular que se encontra em contato com um anel em rotação constante ou

em movimento oscilante. Tanto o bloco quanto o anel podem ser confinados em uma

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câmara que permite o controle da temperatura e da pressão interna de forma a se

controlar a umidade ou se evitar a formação de gases corrosivos.

Figura 45 - Falex block-on-ring test machine (FALEX TRIBOLOGY NV NEWSLETTER, 2002)

As características técnicas da máquina de testes são (FALEX TRIBOLOGY NV

NEWSLETTER, 2002):

carga: < 4000 N

rotação: < 3000 rpm

temperatura: até 150 °C

pressão da câmara de testes: < 10 bar

A bancada permite que o coeficiente de atrito, a temperatura e o desgaste sejam

medidos no decorrer dos ensaios.

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7 PROJETO E CONSTRUÇÃO DA BANCADA

Os capítulos a seguir apresentam o projeto e características construtivas de cada

sistema da bancada proposta neste trabalho. Assim como, as limitações do

equipamento.

7.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

Diferentemente das bancadas disponíveis comercialmente, a máquina de testes

proposta neste trabalho não aciona o anel sincronizador com o intuito de

frear/acelerar uma massa inercial girante, praticamente reproduzindo o princípio de

funcionamento do sistema sincronizador dentro da transmissão.

Como o intuito é avaliar o desempenho da superfície de atrito, reproduzir um engate

real demanda tempo em fases da troca de marcha que não colocam a interface de

atrito do anel sincronizador para trabalhar e que, conseqüentemente, não agregam

ao objetivo visado.

Diante disso, ao contrário de bancadas como a FZG SSP 180 e a µ-Comp, o

equipamento proposto neste trabalho faz com que um segmento de anel

sincronizador atrite contra um cone sincronizador de forma que a rotação e a força

aplicada sejam controladas e mantidas constantes, ou não, conforme desejado.

7.2 CONCEPÇÃO DA MÁQUINA

Os primeiros pontos a serem definidos no projeto de uma bancada de testes são as

limitações do equipamento. Limitações tanto geométricas (seja de tamanho da

amostra a ser ensaiada, seja de dimensões da bancada) quanto de capacidade

(limites superiores e inferiores de rotação e de aplicação de carga, freqüência de

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aquisição de dados dos sensores, resolução dos sensores, curso máximo de

deslocamento, entre outros).

7.2.1 Geometria da amostra

Diferentemente da abordagem empregada nas máquinas de testes encontradas no

mercado, decidiu-se que as amostras para os ensaios seriam segmentos de anel

sincronizador ao invés de peças inteiras.

A vantagem desta abordagem é que de um único anel sincronizador podem ser

extraídos mais de seis corpos-de-prova, conseqüentemente, variações metalúrgicas

e dimensionais inerentes ao processo de fabricação dessa peça são minimizadas

entre os exemplares tirados de um mesmo componente. Com isso, elimina-se um

fator gerador de variabilidade nos resultados que é proveniente das inconstâncias do

processo de manufatura.

7.2.2 Dimensão do corpo-de-prova

Após a definição da geometria, um fator crucial para o início do projeto da bancada

foi a definição do tamanho máximo e mínimo dos corpos-de-prova a serem

ensaiados. Para isso, primeiramente se observou quais são as transmissões que

fazem parte do portfólio de produtos projetados e fabricados pela EATON e em

seguida selecionou-se aquelas com maior e menor capacidade de torque,

respectivamente a transmissão FSO-4405 (580 N.m), mostrada na Figura 46, e a

FSO-1305 (244 N.m), mostrada na Figura 47.

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Figura 46 - Transmissão FSO-4405

Figura 47 - Transmissão FSO-1305

A FSO-4405 é uma transmissão que equipa microônibus e caminhões comerciais

leves, com peso bruto total de até 9 toneladas, e a FSO-1305, uma transmissão para

pick-ups atualmente é utilizada na S-10 da GM com motorização à gasolina e flex

combustível.

Depois de escolhidas as transmissões, observou-se qual é o maior anel

sincronizador da FSO-4405 e qual é o menor da FSO-1305. Para realizar essa

seleção, utilizou-se o diâmetro médio do cone interno do anel sincronizador, ou seja,

o diâmetro médio da superfície de atrito.

O resultado dessa análise foi:

FSO-4405 – anel sincronizador de 4ª marcha – Ø 93,00 mm

FSO-1305 – anel sincronizador de 5ª marcha – Ø 53,95 mm

A Figura 48 mostra essas peças lado a lado.

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Figura 48 - À esquerda, anel sincronizador de 5ª da FSO-1305 e, à direita, anel sincronizador de 4ª

da FSO-4405

Quando a concepção do projeto da bancada foi realizada, a FSO-4405 era, dentre

as transmissões leves, aquela com a maior capacidade de torque, contudo em

dezembro de 2007 surgiu uma nova transmissão, a FSO-4505, a qual se tornou a

transmissão com maior torque, devido seus 600 N.m. Apesar disso, o diâmetro

máximo do anel sincronizador não foi modificado e a bancada continua

dimensionada para atender todos os diâmetros dos anéis sincronizadores do

portfólio de transmissões leves.

Em seguida, após a escolha do tamanho dos anéis sincronizadores, foi definido que,

no mínimo, 6 corpos-de-prova seriam retirados por peça. Essa definição é

fundamental para o dimensionamento da porta-amostra.

Para fins de calibração e acerto da bancada, optou-se por trabalhar com amostras

oriundas de anéis sincronizadores roscados de latão de mesma geometria que os

anéis sincronizadores da transmissão FSO-2405. A única diferença entre esses

anéis sincronizadores é a superfície de atrito (Figura 49).

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Figura 49 - Diferença entre o anel sincronizador de produção (com fita de fibra de carbono) e o anel

sincronizador utilizado durante o desenvolvimento da bancada (com rosca)

Esta escolha foi feita por dois motivos: primeiro devido à facilidade em se conseguir

exemplares do contra-corpo (eixo piloto) dado à elevada demanda dessa

transmissão e segundo, devido o desconhecimento do comportamento da fita de

fibra de carbono diante da segmentação do anel sincronizador.

Assim, os corpos-de-prova utilizados no desenvolvimento da bancada possuem um

diâmetro médio da superfície de atrito de 90 mm e correspondem a 1/6 do anel

sincronizador (Figura 50).

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Figura 50 - Amostra utilizada durante o desenvolvimento da bancada

7.2.3 Carga aplicada sobre a amostra

A escolha dos carregamentos aplicados sobre a amostra veio da avaliação das

forças de engate empregadas durante a sincronização para diferentes transmissões

leves.

A força de sincronização aplicada pelo motorista depende de:

geometria do cone sincronizador da engrenagem,

coeficiente de atrito dinâmico entre o anel sincronizador e o cone,

arrasto do óleo,

eficiência mecânica do sistema de controle,

rotação do motor durante a troca de marcha,

relação de alavanca existente entre a luva de engate e a manopla do câmbio,

inércia das peças girantes, e

do tempo de sincronização.

Conforme mostra a Equação 2 a seguir.

CdALAV

DS

R

A RR

Tt

IsenEF

12

(2)

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69

Onde:

FA - força aplicada na manopla de engate [N]

E - eficiência do sistema de controle da transmissão

α - ângulo da superfície cônica de atrito [graus]

IR - inércia refletida das peças girantes que são freadas ou aceleradas

durante a sincronização [kg.m²]

ω2 - velocidade angular do cone sincronizador imediatamente depois da

sincronização [rad/s]

ω1 - velocidade angular do cone sincronizador imediatamente antes da

sincronização [rad/s]

ts - duração da sincronização [s]

TD - torque devido o arrasto do óleo [N.m]

RALAV - relação de alavanca do sistema de controle

µd - coeficiente de atrito dinâmico

RC - raio médio da superfície cônica [m]

A Figura 51 mostra um gráfico de força de engate, em Newton, para a troca de

marcha de 4ª para 5ª em uma pick-up, em função do deslocamento da manopla, em

milímetros.

Figura 51 - Gráfico da medição objetiva do esforço de engate durante uma troca de marcha de 4ª

para 5ª

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70

A linha vermelha contínua corresponde ao valor médio da força para os engates

dinâmicos, enquanto que a linha verde tracejada corresponde ao valor médio para

os engates estáticos.

A força de sincronização é aquela situada entre 40 e 60 mm de deslocamento da

alavanca.

Após a análise do banco de dados das forças de engate para a transmissão FSO-

4405, disponível na EATON nos últimos 5 anos, a maior força de sincronização

encontrada foi de 200 kgf (força aplicada à luva de engate). Utilizando um fator de

segurança de 50% sobre este valor e dividindo o resultado por 6, maior segmento

permitido do corpo-de-prova é 1/6 do anel sincronizador, o sistema de aplicação de

força deve ser capaz de carregar o corpo-de-prova com até 50 kgf.

7.2.4 Força tangencial (de atrito)

Para determinar qual é a maior força tangencial (de atrito), é fundamental conhecer

quais os parâmetros que afetam diretamente a formação dessa força. Esses

parâmetros estão representados na Equação 6 a seguir deduzida.

senRFT CdL

C

(3)

CTC RFT (4)

Onde:

TC - torque de atrito na superfície de contato [N.m]

FL - força aplicada na luva de engate [N]

FT - força tangencial à superfície de contato [N]

µd - coeficiente de atrito dinâmico

RC - raio médio da superfície cônica [m]

α - ângulo da superfície cônica de atrito [graus]

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71

Assim, substituindo 3 em 2 e isolando a variável FT:

senR

RFFC

CdLT

(5)

senFF dL

T

(6)

Com os parâmetros conhecidos (força na luva de engate, coeficiente de atrito e seno

do ângulo da superfície cônica de atrito), o próximo passo é determinar os máximos

valores para cada um deles.

Conforme mencionado no tópico anterior, a máxima força axial admitida é de 50 kgf

(ou 490 N). Assim:

NFL 490

Com relação ao coeficiente de atrito, buscaram-se estudos na literatura que

apresentassem resultados empiricamente medidos do coeficiente de atrito dinâmico,

tanto para diferentes materiais de atrito e óleos lubrificantes, quanto para distintas

geometrias de anéis sincronizadores.

O máximo valor do coeficiente de atrito encontrado, segundo diferentes autores, foi:

Bouffet (2004) – 0,14;

Hoerbiger (1999) – 0,15;

Krehl e Rau (1997) – 0,13;

McCord (1986) – 0,15;

Oster e Pflaum (1987) – 0,16;

Sigl et al. (2003) – 0,12;

Socin e Walters (1968) – 0,13.

Assim, o maior valor encontrado, dentre os pesquisados, para o coeficiente de atrito

dinâmico foi de 0,16 no trabalho conduzido por Oster e Pflaum (1987).

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72

Para as transmissões da EATON, o máximo valor encontrado, para anéis

sincronizadores cuja superfície de atrito é um revestimento de fibra de carbono, foi

0,22 (JAMES, 2001).

Dessa forma, o máximo coeficiente de atrito dinâmico é:

22,0d

Conforme dito no capítulo 7.2.2, o maior diâmetro médio de cone é 93 mm. Assim:

mRC3105,46

Finalmente, o ângulo do cone dos anéis sincronizadores está compreendido na faixa

de 6 a 12 graus. Assim, visando maximizar a força tangencial:

graus6

Logo, substituindo esses valores na Equação 6, o resultado da máxima força

tangencial na célula de carga é:

kgfNsen

FT 1053,10316

22,05,490

Somente como referência, para a transmissão FSO-2405, essa força está

compreendida entre 2 e 40 kgf.

7.2.5 Rotação

Para a rotação foi assumido que o valor mínimo de teste fosse 2 Hz (120 rpm), com

um valor máximo de 100 Hz (6000 rpm). Apesar de atualmente nenhum veículo que

emprega uma transmissão leve seja capaz de atingir 6000 rpm de rotação diferencial

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73

entre uma marcha e outra subseqüente, foi assumido esse valor, pois se pretende

avaliar, durante os ensaios, não só a aceleração da força, mas também da rotação.

7.2.6 Parâmetros controlados

Além dos parâmetros geométricos e metalúrgicos dos corpos-de-prova e do contra-

corpo, assim como os parâmetros intrínsecos ao óleo lubrificante, os quais não

estão associados à configuração construtiva da bancada, buscou-se projetar a

máquina de testes de forma que fosse possível controlar em tempo real a rotação do

contra-corpo, a carga aplicada axialmente sobre o corpo-de-prova, a duração do

teste e a vazão de lubrificante.

7.2.7 Parâmetros medidos

Os parâmetros medidos em tempo real (com freqüência de aquisição de 1000 Hz)

são:

rotação do contra-corpo;

carga axial aplicada sobre o corpo-de-prova;

carga tangencial no corpo-de-prova (resultado do torque de atrito);

temperatura do óleo;

deslocamento axial do corpo-de-prova.

Como a força axial e a tangencial são medidas simultaneamente, é possível, através

do emprego da Equação 6, determinar o valor da força (coeficiente) de atrito

dinâmico, uma vez que o ângulo da superfície cônica é conhecido.

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74

7.3 PROJETO E CONSTRUÇÃO DA BANCADA

Os próximos subtópicos apresentam os sistemas e subsistemas da bancada de

atrito e desgaste de anéis sincronizadores.

Os desenhos técnicos desses componentes encontram-se disponíveis no Anexo A.

7.3.1 Porta amostra

O porta-amostra foi projetado de forma a permitir que diferentes tamanhos de anéis

sincronizadores possam ser testados sem que várias peças da bancada precisem

ser remanejadas.

Esse elemento da bancada é constituído por:

estojo porta-amostra – responsável por segurar o corpo-de-prova;

base para o estojo porta-amostra – responsável por segurar o estojo porta-

amostra, receber a carga do servo motor e ser o elemento de ligação entre o

corpo-de-prova e a célula de carga tangencial;

base intermediária – responsável por unir a base do estojo porta-amostra com

o patim da guia linear;

tampas laterais – que fecham o estojo porta-amostra e evitam que o corpo-

de-prova caia;

guia linear – a qual oferece um grau de liberdade na direção tangencial a

superfície do contra-corpo.

As tampas laterais são fixadas à base do estojo porta-amostra através de dois

parafusos Allen M5, já a base do estojo porta-amostra é fixada à base intermediária

através de quatro parafusos Allen M5.

A Figura 52 apresenta duas vistas do porta-amostra da bancada e seus

componentes.

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75

Figura 52 - Porta-amostra e seus componentes

A Figura 53 mostra o porta-amostra na posição de ensaio com as tampas laterais

fechadas.

Figura 53 - Porta-amostra na posição de teste

Estojo porta-amostra

Corpo-de-prova

Guia linear

Tampa lateral

Base intermediária

Base do estojo porta-amostra

Porta-amostra

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76

7.3.2 Contra-corpo

O contra-corpo é o próprio eixo piloto (eixo de entrada de torque) da transmissão,

com a remoção completa do dentado de engate, eliminação da ponta estriada do

eixo, formação de um perfil retangular na face anterior da engrenagem e criação de

um furo passante pelo centro como mostrado nas Figuras 54, 55 e 56.

É através desse perfil retangular que o torque é transferido, sem que haja patinação

do contra-corpo.

Figura 54 - Eixo piloto original e contra-corpo

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77

Figura 55 - Detalhe do furo passante no centro do eixo

Figura 56 - Detalhe do perfil retangular e da remoção do dentado deengate

A montagem do contra-corpo no eixo de acionamento principal da bancada é guiada

pelo tronco de cilindro, na parte anterior do contra-corpo, e a fixação é garantida por

um parafuso Allen M12 e uma flange (Figura 57). Para que o aperto desse parafuso

possa ser feito sem que o eixo principal gire, foram usinados dois rebaixos no eixo,

assim, é possível travar a rotação utilizando uma chave de boca apoiada na mesa

da bancada, como mostrado na Figura 58. Os rebaixos estão localizados entre as

polias e o mancal principal (aquele que contém os rolamentos de rolos cilíndricos).

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78

Figura 57 - Detalhe da fixação do contra-corpo através de parafuso e flange

Figura 58 - Rebaixo no eixo de acionamento principal para evitar o giro do contra-corpo durante a

fixação do mesmo

7.3.3 Aplicação de carga

A aplicação de carga axial sobre a amostra é realizada por um cilindro elétrico servo

dirigido da Parker (Figura 59). O modelo escolhido para atender o requisito de força

máxima (50 kgf) foi o ET032B08; capaz de fornecer até 600 N. A Figura 60 mostra

detalhes da etiqueta do cilindro elétrico.

O curso escolhido para o cilindro foi de 150 mm.

Flange

Parafuso

M12

Rebaixo

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79

Figura 59 - Cilindro elétrico servo dirigido da Parker - modelo ET032B08

Figura 60 - Etiqueta do modelo escolhido

Conforme pode ser visto na Figura 59, o corpo do cilindro não se encontra fixado à

parede frontal da câmara de ensaio. A fixação do cilindro é feita através de um

suporte (Figura 61) que pode ser ajustado verticalmente, por meio de uma placa

espaçadora (Figura 62), de acordo com o diâmetro da amostra de anel sincronizador

a ser testada.

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80

Figura 61 - Fixação do cilindro elétrico ao suporte

Figura 62 - Placa espaçadora e suporte do cilindro elétrico

7.3.4 Guia linear

A bancada possui dois conjuntos de guias lineares dispostas horizontalmente: uma

posicionada transversalmente à linha de centro da bancada (já mostrada no capítulo

7.3.1) e outras duas guias, lado a lado, posicionadas longitudinalmente à linha de

Fixação do cilindro

elétrico ao suporte

Placa espaçadora

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81

centro da bancada, ou seja, alinhadas com o eixo de acionamento principal (Figura

63).

Figura 63 – Disposição das guias lineares

O modelo de guia linear utilizado foi o SSR 20 XW da THK com vedadores em

ambos os lados do patim (devido à hostilidade do meio), sendo que a guia

transversal tem 120 mm de comprimento e as guias longitudinais têm 200 mm.

As guias lineares longitudinais são fixadas ao suporte superior através de quatro

parafusos Allen M6 por guia. Já a guia transversal é fixada ao seu respectivo suporte

por meio de dois parafusos Allen M6.

7.3.5 Eixos e mancais

O eixo de acionamento principal é suportado por três mancais: um mancal principal

e dois mancais auxiliares.

O mancal principal possui dois rolamentos de rolos cilíndricos: o rolamento frontal é

um NSK NJ-2208-W com vedação NILOS NUP-2208 e o rolamento traseiro é um

NSK NJ-2207-W com vedação NILOS NUP-2207. Esses vedadores ajudam a

prolongar a vida do rolamento, principalmente em ambientes poluídos e hostis.

Guias longitudinais

Guia transversal

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82

O primeiro mancal auxiliar possui um rolamento autocompensador de esferas da

SKF, modelo 2206 E-2RS1TN9, montado em uma caixa de rolamentos da Bürger,

modelo SNA 207 TA. Esse mancal está localizado na parte de trás do eixo principal,

próximo às polias.

O segundo mancal auxiliar é constituído por dois apoios ajustáveis, posicionados a

45 graus da vertical, em que cada um possui um rolamento rígido de esferas da

SKF, modelo 62201-2RS1. Esse mancal está localizado próximo à extremidade

frontal do eixo principal, perto do contra-corpo.

As Figuras 64, 65 e 66 apresentam os mancais citados anteriormente.

Figura 64 - Mancais do eixo de acionamento principal

Mancal principal

Mancal auxiliar traseiro

Mancal auxiliar frontal

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83

Figura 65 - Mancal auxiliar traseiro e mancal principal

Figura 66 - Mancal auxiliar frontal

7.3.6 Motor elétrico

Para calcular a potência requerida na condição de ensaio mais extrema, emprega-se

a Equação 7:

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84

602 nTP C

M

(7)

Onde:

PM - potência do motor [kW]

TC - torque de atrito na superfície de contato [N.m]

n - rotação do motor [rpm]

Substituindo a Equação 3 na Equação 7, obtém-se:

sennRFP CdL

M

60

2 (8)

Onde:

PM - potência do motor [kW]

FL - força aplicada na luva de engate [N]

µd - coeficiente de atrito dinâmico

RC - raio médio da superfície cônica [m]

n - rotação do motor [rpm]

α - ângulo da superfície cônica de atrito [graus]

Assim a máxima potência que o motor deve ser capaz de oferecer para atender às

condições extremas de teste determinadas anteriormente a 6000 rpm é:

cvkWsen

PM 4030660

6000105,4622,04902 3

O motor elétrico selecionado para oferecer rotação para essa bancada foi um WEG

trifásico, modelo IP55 (Figura 67).

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85

Figura 67 - Motor elétrico WEG modelo IP55

Abaixo seguem as características técnicas desse motor:

potência: 37kW

máxima rotação: 1775 rpm

corrente nominal em 220V: 122A

número de pólos: 4

Conforme pode ser visto, a máxima rotação do motor é de 1775 rpm. Valor que está

aquém dos desejados 6000 rpm. Para suprir essa deficiência, foi projetado um

sistema de polias e correias (Figura 68) de forma a amplificar a rotação até esse

máximo valor.

O controle do motor elétrico é feito por um inversor modelo TOSVERT VF-PS1 da

Toshiba.

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86

Figura 68 - Sistema de polias e correias para a amplificação da rotação

7.3.7 Células de carga

Visando robustez (devido à hostilidade da câmara de testes) e também capacidade

de medição de carga que atendesse ao esforço axial e tangencial incidentes sobre o

corpo-de-prova, foi selecionado o modelo TU K2C da GEFRAN para as células de

carga (Figura 69).

Esse modelo é capaz de suportar até 200 kgf e possui uma classe de precisão de

0,2%.

Figura 69 - Células de carga modelo TU K2C da GEFRAN

Célula de carga que

mede força axial

Célula de carga que

mede força tangencial

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87

A célula de carga à esquerda na Figura 69 é utilizada para medir a força axial

aplicada pelo cilindro elétrico. Em uma das extremidades está fixada à ponta da

haste do cilindro elétrico e na outra extremidade ela está fixada a um flange provido

de dois rolamentos rígidos de esferas da SKF (modelo 625-2Z) que por sua vez

interage com o porta-amostra (Figura 70).

Já a célula de carga à direita na Figura 69 é utilizada para medir a força tangencial

resultante do torque de atrito gerado no cone sincronizador. Em uma das

extremidades ela está fixada ao porta-amostra e na outra extremidade está fixada a

um suporte que se encontra interposto entre a guia linear transversal e as guias

longitudinais (Figura 71).

Figura 70 - Célula de carga que mede a força axial

Figura 71 - Suporte da célula de carga tangencial interposto entre as guias lineares

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88

7.3.8 Encoder linear

Com curso máximo de 100 mm, o encoder linear escolhido para medir o

deslocamento axial do porta-amostra ao longo do ensaio foi o KA-300 da KALATEC.

Esse equipamento possui resolução de 1 µm.

A Figura 72 mostra a posição de montagem do encoder linear.

Figura 72 - Encoder linear KALATEC modelo KA-300

Como o sensor de deslocamento axial não é robusto o suficiente para suportar as

intempéries da câmara de testes, foi preciso mover o encoder para uma área em

que óleo e partículas da amostra não o atingissem. Devido essa realocação, foi

necessário estabelecer uma ligação mecânica entre o porta-amostra e o encoder

suficientemente rígida (Figura 73).

Encoder

linear

Abertura para

saída de gases

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89

Figura 73 - Ligação mecânica entre o porta-amostra e o encoder linear

O foto sensor do encoder encontra-se montado sobre uma guia linear de esferas

recirculantes da THK, modelo SSR 20 XW (Figura 74).

Figura 74 - Detalhe da guia linear sobre a qual se monta o encoder linear

Com a finalidade de informar ao operador da bancada que o cilindro elétrico

encontra-se totalmente recuado, foi acrescentado um sensor magnético ao suporte

do encoder linear (Figura 75). Assim, quando o patim da guia linear do encoder

chega ao fim de curso, um sinal de alarme é emitido ao software de controle da

bancada.

Guia linear

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90

Figura 75 - Sensor magnético de fim de curso

7.3.9 Sensor de rotação

Visando realimentar o circuito de controle do motor elétrico, foi adicionado um

sensor de rotação magnético ao eixo de acionamento principal (Figura 76).

Figura 76 - Sensor magnético para medição da rotação

Esse sensor capta as variações do campo magnético gerada pelo rotor dentado à

medida que o eixo gira. Para realizar essa medição, foi escolhido o sensor da

AYRESTECH, cuja faixa de trabalho é de 200 a 12.000 Hz.

Sensor de fim de curso

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91

7.3.10 Sensor de temperatura do óleo

A medição de temperatura do óleo é feita em uma cavidade no interior da placa

traseira da câmara de testes, imediatamente antes do início da mangueira flexível

(Figura 77). Apesar da ponteira do termopar estar dentro da placa traseira, o óleo

não tem contato com essa placa, pois um duto plástico previne isso. Essa

construção foi feita visando-se evitar qualquer troca de calor entre o óleo e a placa, o

que poderia prejudicar a medição da temperatura.

Figura 77 - Vista traseira (à esquerda) e frontal (à direita) do posicionamento do termopar

O modelo empregado é o MS-15 da ECIL (Figura 78), um termopar tipo K com

resolução de ±2,2°C e faixa de trabalho de -200 a 1.260°C.

Figura 78 - Termopar MS-15 da ECIL

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92

7.3.11 Mesa e estrutura da bancada

Para garantir alta rigidez e suporte aos mancais e à câmara de testes e seus

agregados, é utilizado uma chapa de aço (SAE 1020) de 35 mm de espessura com

1.260 mm de comprimento por 800 mm de largura (Figura 79).

Figura 79 - Mesa da bancada

Para suportar essa mesa e todos os componentes e sistemas em cima dela, existe

uma estrutura treliçada de alumínio (Figura 80) formada por perfis retangulares de

40 x 80 mm e perfis quadrados de 80 x 80 mm. Essa estrutura também sustenta o

motor elétrico com massa aproximada de 250 kg.

Mesa da bancada

Tampa de acrílico na

porta frontal

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Figura 80 - Estrutura da bancada

Em cada um dos pés da estrutura, com o objetivo de nivelar a mesa e absorver

vibrações com alta freqüência, há um amortecedor da Vibramatt (Figura 81).

Figura 81 - Amortecedor de vibrações presente em cada um dos pés da bancada

7.3.12 Esticador de correias

Visando facilitar a montagem nas polias e também para garantir um correto

tensionamento, foi projetado um sistema esticador de correias.

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Esse sistema é constituído por um volante de três raios com cabo giratório da

MERKBAK (modelo V3R140+C), duas guias de precisão da RPL (modelo EP-30),

um eixo central roscado, dois mancais, dois suportes para os mancais, uma guia

deslizante e um eixo-flange para as polias, conforme mostrado na Figura 82.

Figura 82 - Esticador de correias

7.3.13 Polias e correias

Conforme dito no capítulo 7.3.6, com o objetivo de amplificar a rotação do motor, foi

projetado um sistema de polias constituído por dois pares de multiplicação. Contudo,

esse sistema foi concebido não só para amplificar como também para reduzir a

rotação do motor, de forma a permitir maior precisão de controle sobre o giro do

contra-corpo à baixa rotação.

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95

Assim, a associação de polias pode ser montada de duas maneiras: como

amplificador e como redutor. A Figura 83 mostra a disposição espacial das polias e a

Tabela 1 a máxima rotação conforme a configuração de montagem.

Figura 83 - Disposição espacial das polias

Tabela 1 - Relação de redução/amplificação da rotação conforme a configuração das polias

Configuração Polia do

motor

Polia do eixo

de

acionamento

Relação Rotação no

cone [rpm]

Amplificador Maior Menor 3,6:1 430 - 6300

Redutor Menor Maior 1:3,6 30 - 490

A utilização das polias propicia não apenas a amplificação ou redução da rotação do

motor, outras duas vantagens do advento de seu uso é a filtragem das altas

freqüências vibracionais e a possibilidade de patinação das correias, caso haja

grimpamento do corpo-de-prova ao contra-corpo.

O modelo de correia empregado foi o DU26-308 da Transpower.

Polias do

motor

Polias do eixo de

acionamento

Polias do

esticador

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96

7.3.14 Câmara de testes

A câmara de testes foi projetada de forma a permitir abertura pelos dois lados,

visando facilitar o acesso de manuseio e manutenção da bancada (Figura 84).

Figura 84 - Câmara de testes com a porta frontal aberta

As portas laterais são leves (fabricadas em alumínio) e fáceis de abrir e fechar, pois

o travamento é realizado através de dois manípulos (Figura 85), que não requerem o

uso de ferramentas como chave de fenda e chave de boca.

Figura 85 - Manípulo aberto, à esquerda, e fechado, à direita

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97

As portas laterais ainda possuem uma tampa acrílica em seu centro para que o

interior da câmara de testes seja visualizado durante os ensaios (Figura 79).

As outras duas paredes verticais são fixas e formam o suporte para todo o sistema

de: aplicação de carga, porta-amostra e encoder linear.

Além da preocupação com as paredes laterais, na parte superior da câmara, tomou-

se o cuidado de proteger o encoder linear de eventuais resíduos (detritos do corpo-

de-prova e óleo) advindos da interface de teste. Ainda, foi deixada uma abertura na

parte superior (Figura 72) para que gases oriundos do ensaio tenham saída livre e

possam, então, ser sugados pelo sistema de exaustão da sala de testes onde se

encontra a bancada.

7.3.15 Sistema de lubrificação

O sistema de lubrificação é constituído por:

reservatório de óleo com capacidade de 12 L (posicionado abaixo da câmara

de testes), conforme Figura 86;

base coletora, alocada na parte inferior do interior da câmara de testes,

conforme mostrada na Figura 88;

tubo coletor, o qual faz a conexão entre a base coletora e o reservatório de

óleo, conforme Figura 86;

mangueira flexível, para direcionamento do fluxo de lubrificante, conforme

mostrada na Figura 88; e

bomba de óleo, modelo 24 da Rule (Figura 89).

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98

Figura 86 - Reservatório de óleo posicionado abaixo da câmara de testes

As mangueiras azuis, mostradas na figura acima, conectadas à parte inferior da

mesa da bancada são drenos que recolhem o óleo que escorre para os canais

(Figura 87) que circundam a câmara de testes.

Figura 87 - Canal ao redor da câmara de testes que recolhe o óleo escorrido

Reservatório de óleo

Tubo coletor

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99

Figura 88 - Base coletora de óleo na parte inferior da câmara de testes

Figura 89 - Bomba de óleo (Rule)

A bomba de óleo utilizada na bancada é uma bomba de submersão e está localizada

dentro do reservatório de óleo. Apesar de ser destinada para uso náutico e

bombeamento de água, ela foi empregada neste trabalho baseando-se no

desempenho apresentado em outras máquinas de testes da Engenharia

Experimental da EATON. Contudo, durante os ensaios preliminares, observou-se

que sua vazão ficou muito reduzida devido à viscosidade do lubrificante utilizado.

Por isso, futuramente, essa bomba será substituída por outra mais adequada à

necessidade da bancada de atrito e desgaste de anéis sincronizadores.

Furo de drenagem

Mangueira flexível

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100

7.3.16 Dispositivos de segurança

Com o intuito de zelar pela segurança dos técnicos da Engenharia Experimental da

EATON, que futuramente serão os encarregados pela execução dos ensaios, foram

adicionados dispositivos de segurança que interrompem o teste através da parada

do motor elétrico.

Estes dispositivos são de dois tipos: sensores de abertura de porta e botões de

emergência.

Os sensores de abertura de porta (Figura 90) estão posicionados em todas as portas

que protegem componentes girantes da bancada, como polias, eixos e contra-corpo.

Caso alguma dessas portas seja aberta no decorrer do ensaio, um sinal de

emergência é enviado ao inversor que automaticamente cessa a rotação do motor

elétrico.

Figura 90 - Sensor de abertura de porta para a polia do eixo de acionamento

Os botões de emergência, ao contrário dos sensores de abertura, são ativados

voluntariamente pelo operador da bancada se qualquer um dos três botões, tipo

cogumelo, for pressionado. Os botões de emergência estão posicionados nos

seguintes lugares:

ao lado da câmara de testes (Figura 91); na porta do painel de controle (Figura 92);

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101

ao lado do computador que controla a bancada, do lado de fora da sala de testes.

O princípio de funcionamento é o mesmo daquele citado anteriormente, um sinal de

emergência é enviado ao inversor para interromper a rotação do motor elétrico.

Figura 91 - Botão de emergência ao lado da câmara de testes

Figura 92 - Botão de emergência na porta do painel de controle

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102

7.3.17 Software de controle

O software para controle da bancada (Figura 93) foi desenvolvido pensando-se não

somente no controle do atuador e na forma de coleta e registro dos dados dos

sensores, mas também na versatilidade operacional e no controle de acesso dos

usuários. Dessa forma, os seguintes recursos foram disponibilizados:

controle de acesso dos usuários, com três níveis hierárquicos, através de

senha pessoal;

o nível 1 – usuário/operador – não pode editar o código fonte, nem os

testes cadastrados

o nível 2 – administrador – não pode editar o código fonte, mas é

permitido cadastrar e editar os testes

o nível 3 – programador – acesso ilimitado a todos os recursos

operação da bancada em modo manual e automático (Figura 94);

o no modo manual, parâmetros como rotação e força podem ser

modificados durante o decorrer do ensaio

o no modo automático, somente testes cadastrados podem ser

executados e mudanças no decorrer do ensaio não são permitidas

visualização de gráficos com os dados dos sensores em tempo real ou

através de histórico;

gravação dos dados colhidos em formato texto, facilitando a exportação para

outros softwares e reduzindo o tamanho do arquivo;

registro de todas as operações realizadas pelo usuário;

relatório de alarmes e panes durante o ensaio;

botão de emergência.

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103

Figura 93 - Tela principal do software de controle da bancada

Figura 94 - Tela do software mostrando os modos de operação: automático e manual

A programação do software foi feita em LabVIEW.

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104

8 TESTE DA BANCADA

Os tópicos a seguir apresentam as condições em que os primeiros corpos-de-prova

foram ensaiados.

8.1 ENSAIOS PRELIMINARES

Com o intuito de avaliar a medição dos sensores, o controle do cilindro elétrico

responsável pela aplicação de força axial, a gravação dos dados, a homogeneidade

do desgaste, o funcionamento do sistema de lubrificação e de todo o projeto elétrico,

foram ensaiados três corpos-de-prova oriundos de um mesmo anel sincronizador.

Os três corpos-de-prova foram testados conforme condições apresentadas no tópico

seguinte.

8.1.1 Materiais e métodos

O primeiro passo na realização do teste consiste em montar o corpo-de-prova e

assegurar que os pinos de ancoragem estejam bem posicionados.

Após a montagem do corpo-de-prova no estojo porta-amostra, os dois parafusos da

tampa lateral do estojo são levemente apertados. O cilindro elétrico é acionado e

avançado até que o corpo-de-prova toque no cone sincronizador e atinja a carga

axial programada para aquele ensaio. Em seguida, os parafusos da tampa lateral

são efetivamente apertados. Esse procedimento é realizado para assegurar que as

superfícies de atrito do anel sincronizador e do cone estejam alinhadas.

Depois de fixado o corpo-de-prova, os valores medidos pela célula de carga

tangencial e pela régua linear são zerados no software de controle. Feito isso, o

teste está pronto para ser executado.

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105

Durante o ensaio dos três corpos-de-prova, a temperatura ambiente da sala de

testes ficou entre 22 e 25 °C. A umidade relativa do ar não foi medida.

A área de contato dos corpos-de-prova utilizados, fabricados conforme desenho

mostrado no Anexo A (com 30 mm de comprimento), corresponde a

aproximadamente 10,8% da área de contato de um anel sincronizador com 90 mm

de diâmetro médio do cone.

Os valores de força e rotação empregados no ensaio do corpo-de-prova #1 foram

determinados de forma a se manter a mesma pressão superficial e a mesma rotação

relativa utilizados no teste normal de engate do anel sincronizador referência #2. O

teste normal e o anel sincronizador referência #2 são apresentados no capítulo

seguinte.

O corpo-de-prova #1 foi testado nas condições mostradas na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2 – Condições de teste do corpo-de-prova #1

Parâmetro do teste Valor

Início [hh:mm:ss] 11:41:56

Término [hh:mm:ss] 12:10:36

Duração [hh:mm:ss] 00:28:40

Rotação do cone [rpm] 435

Força axial [N] 30

Para o corpo-de-prova #2, dobrou-se o valor da rotação e da força. A Tabela 3 exibe

as condições do teste.

Tabela 3 – Condições de teste do corpo-de-prova #2

Parâmetro do teste Valor

Início [hh:mm:ss] 14:55:54

Término [hh:mm:ss] 15:28:04

Duração [hh:mm:ss] 00:32:10

Rotação do cone [rpm] 870

Força axial [N] 60

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106

Para os corpos-de-prova #1 e #2, tentou-se manter o tempo de ensaio por volta dos

30 minutos. Ainda não está implementado no software de controle um critério de

parada de teste baseado no tempo.

Para o corpo-de-prova #3, dobrou-se a duração do ensaio, porém mantendo as

mesmas condições de rotação e carga aplicadas no corpo-de-prova #2 (Tabela 4).

Tabela 4 – Condições de teste do corpo-de-prova #3

Parâmetro do teste Valor

Início [hh:mm:ss] 16:03:23

Término [hh:mm:ss] 17:03:55

Duração [hh:mm:ss] 1:00:32

Rotação do cone [rpm] 870

Força axial [N] 60

Nos três ensaios foi aplicado lubrificante Texamatic 7045E na interface de atrito

entre a contra-peça e o corpo-de-prova.

Durante os testes, a gravação dos dados dos sensores é feita a cada segundo,

porém o controle é realizado a cada milissegundo. Isso é feito para poupar memória

e processamento do computador.

O capítulo seguinte apresenta os resultados destes três ensaios.

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107

9 RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados os resultados dos ensaios preliminares e sua

comparação com o desgaste de anéis sincronizadores testados em bancada de

engate e veículo.

9.1 ANÉIS SINCRONIZADORES DE REFERÊNCIA

O desgaste observado nos três corpos-de-prova ensaiados foi comparado com o

desgaste de três anéis sincronizadores, sendo que dois desses anéis foram testados

em bancada e um foi avaliado em veículo.

Ambos os anéis sincronizadores testados em bancada são anéis internos de 1ª

velocidade (Figura 95) de um sincronizador do tipo tricone (Figura 96), porém um

deles realizou somente o teste severo de engate e não apresentou falha (a partir de

agora denominado anel de referência #1). Já o outro, mostrado na Figura 95,

realizou teste severo e teste normal de engate e apresentou falha (desgaste da

superfície de atrito) com 33,4% dos engates previstos para o teste normal (a partir

de agora denominado anel de referência #2).

Figura 95 - Anel sincronizador interno testado em bancada de engate em 'H'

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108

Figura 96 - Anéis sincronizadores de um sincronizador do tipo tricone

Ambos os anéis sincronizadores foram testados nos engates 1ª 2ª 1ª.

No teste severo são realizados 10.000 engates com uma rotação 43% superior à

rotação utilizada no teste normal. Este teste severo tem a finalidade de simular

trocas de marcha abusivas, normalmente relacionadas com um estilo esportivo de

dirigibilidade do veículo.

No teste normal são realizados 140.000 engates com uma rotação equivalente a

uma condição normal de troca de marcha. Esse valor de rotação é determinado

empiricamente (utilizando um veículo instrumentado) e está diretamente relacionado

com o veículo, assim como o motor e a transmissão empregada nele. Dessa forma,

a rotação de troca de marcha e a quantidade de engates utilizada nos testes de

validação são exclusivas para cada aplicação.

Normalmente, se a transmissão em validação será aplicada em vários veículos

distintos, determina-se o caso mais crítico e os testes são feitos nessa condição.

O anel sincronizador testado em veículo foi um de 5ª velocidade (a partir de agora

denominado anel de referência #3). O veículo utilizado foi uma Sprinter MB310, o

qual percorreu 240.000 km em rota urbana, pois era um veículo de entregas. Esse

anel sincronizador não apresentou falha durante o período de avaliação.

Os anéis sincronizadores utilizados como referência e as amostras ensaiadas são

feitos do mesmo material: uma liga de latão com composição química conforme

Tabela 5 e propriedades mecânicas conforme Tabela 6.

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109

Tabela 5 - Composição química do material dos anéis sincronizadores Elemento Químico %

Cu 54,0 – 56,0

Ni 6,0 – 7,5

Al 3,0 – 4,5

Si 2,0 – 2,5

Fe 0,5 – 1,0

Zn Restante

Tabela 6 - Propriedades mecânicas do material dos anéis sincronizadores

Item Valor

Limite de resistência (Rm) [Mpa] 830

Limite de escoamento 0,2% (Rp 0,2) [Mpa] 720

Alongamento (A5) [%] 3

Dureza Vickers (HV 50) 240 – 290

Densidade [g/cm³] 7,9

Resistividade elétrica [m/(Ω.mm²)] 9

A seguir são mostrados os resultados da medição de parâmetros geométricos

(Tabelas 7, 8 e 9) e fotos (Figuras 98, 99, 100, 101 e 102) da superfície de atrito dos

anéis sincronizadores de referência.

A Figura 97 apresenta quais são os parâmetros geométricos medidos.

Figura 97 - Parâmetros geométricos medidos (Socin e Walters, 1968)

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110

Tabela 7 - Parâmetros geométricos do anel sincronizador referência #1 após teste em bancada

Parâmetro Especificado

em desenho

Superfície de

atrito interna

Superfície de

atrito externa

Largura da crista da rosca [mm] 0,250 – 0,350 0,324 0,381

Altura do filete de rosca [mm] 0,300 – 0,500 0,386 0,377

Tabela 8 - Parâmetros geométricos do anel sincronizador referência #2 após teste em bancada

Parâmetro Especificado

em desenho

Superfície de

atrito interna

Superfície de

atrito externa

Largura da crista da rosca [mm] 0,250 – 0,350 0,327 0,355

Altura do filete de rosca [mm] 0,300 – 0,500 0,374 0,349

Tabela 9 - Parâmetros geométricos do anel sincronizador referência #3 após teste em veículo

Parâmetro Especificado

em desenho

Superfície de

atrito

Largura da crista da rosca [mm] 0,070 – 0,130 0,080

Altura do filete de rosca [mm] 0,400 mín. 0,393

Analisando a largura da crista da rosca na superfície externa do anel sincronizador

referência #1 e do referência #2 é possível observar que a rosca desgastou-se, até

pelo fato dessa dimensão estar fora do especificado em desenho.

Já o anel sincronizador referência #3, apesar de percorrer uma quilometragem alta,

não sofreu muito desgaste, uma vez que a largura da crista da rosca ainda se

encontra dentro da faixa especificada. Certamente isso se deve ao fato do veículo

ter ficado a maior parte de seu tempo em rota urbana, onde marchas altas são

pouco utilizadas.

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111

Figura 98 - Crista do filete de rosca da superfície de atrito externa - Anel de referência #1

Figura 99 - Crista do filete de rosca da superfície de atrito interna - Anel de referência #1

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112

Figura 100 - Crista do filete de rosca da superfície de atrito externa - Anel de referência #2

Figura 101 - Crista do filete de rosca da superfície de atrito interna - Anel de referência #2

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113

Figura 102 - Crista do filete de rosca da superfície de atrito - Anel de referência #3

9.2 RESULTADOS DO CORPO-DE-PROVA #1

A Tabela 10 exibe os resultados geométricos do corpo-de-prova #1 antes e depois

do ensaio.

Tabela 10 - Resultados para o corpo-de-prova #1

Parâmetro Especificado

em desenho

Antes do

ensaio

Depois

do ensaio Diferença

Massa [g] N/A N/A 11,920 N/A

Largura da crista da rosca

[mm] 0,070 – 0,130 0,109 0,125 0,016

Altura do filete de rosca [mm] 0,400 mín. 0,428 0,414 0,014

O corpo-de-prova #1 não foi pesado antes do ensaio.

As Figuras 103 e 104 mostram como ficou a superfície de atrito após o teste.

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114

Figura 103 - Superfície de atrito do corpo-de-prova #1

Figura 104 - Superfície de atrito do corpo-de-prova #1

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115

Para o corpo-de-prova #1, os primeiros 3 minutos e 34 segundos de teste não foram

registrados, por causa de um problema de programação. Após a correção do

problema, os dados foram gravados a partir de 11:45:30 até 12:03:23. Nesse último

instante, o software anti-vírus do computador começou a ser executado e essa ação

provocou o travamento da atualização de tela do software de controle e causou

também o cancelamento da gravação dos dados. Apesar desse incidente, o controle

sobre a bancada permaneceu ativo até o fim do teste, às 12:10:36.

As Figuras 105, 106, 107, 108 e 109 apresentam os resultados gráficos dos

parâmetros medidos durante o ensaio.

Rotação do cone

430

432

434

436

438

440

442

444

446

448

450

11:45

:30

11:46

:30

11:47

:30

11:48

:30

11:49

:30

11:50

:30

11:51

:30

11:52

:30

11:53

:30

11:54

:30

11:55

:30

11:56

:30

11:57

:30

11:58

:30

11:59

:30

12:00

:30

12:01

:30

12:02

:30 [hs]

[rpm]

Figura 105 - Rotação do cone - Corpo-de-prova #1

A Tabela 11 exibe outros dados sobre a rotação do cone para o corpo-de-prova #1.

Tabela 11 – Demais dados sobre a rotação do cone – Corpo-de-prova #1

Item Valor [rpm]

Máximo 446,86

Mínimo 431,84

Média 438,12

Mediana 437,53

Desvio padrão 3,14

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116

Força axial

0

10

20

30

40

50

60

11:45

:30

11:46

:30

11:47

:30

11:48

:30

11:49

:30

11:50

:30

11:51

:30

11:52

:30

11:53

:30

11:54

:30

11:55

:30

11:56

:30

11:57

:30

11:58

:30

11:59

:30

12:00

:30

12:01

:30

12:02

:30 [hs]

[N]

Figura 106 - Força axial - Corpo-de-prova #1

A Tabela 12 exibe outros dados sobre a força axial para o corpo-de-prova #1.

Tabela 12 – Demais dados sobre a força axial – Corpo-de-prova #1

Item Valor [N]

Máximo 58,145

Mínimo 2,944

Média 30,555

Mediana 30,078

Desvio padrão 16,562

Força tangencial

-60

-40

-20

0

20

40

60

11:45

:30

11:46

:30

11:47

:30

11:48

:30

11:49

:30

11:50

:30

11:51

:30

11:52

:30

11:53

:30

11:54

:30

11:55

:30

11:56

:30

11:57

:30

11:58

:30

11:59

:30

12:00

:30

12:01

:30

12:02

:30 [hs]

[N]

Figura 107 - Força tangencial - Corpo-de-prova #1

A Tabela 13 exibe outros dados sobre a força tangencial para o corpo-de-prova #1.

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117

Tabela 13 – Demais dados sobre a força tangencial – Corpo-de-prova #1

Item Valor [N]

Máximo 52,939

Mínimo -53,633

Média 8,657

Mediana 12,901

Desvio padrão 27,165

Temperatura do óleo

25,0

25,5

26,0

26,5

27,0

27,5

28,0

11:45

:30

11:46

:30

11:47

:30

11:48

:30

11:49

:30

11:50

:30

11:51

:30

11:52

:30

11:53

:30

11:54

:30

11:55

:30

11:56

:30

11:57

:30

11:58

:30

11:59

:30

12:00

:30

12:01

:30

12:02

:30 [hs]

[°C]

Figura 108 - Temperatura do óleo - Corpo-de-prova #1

A Tabela 14 exibe outros dados sobre a temperatura do óleo para o corpo-de-prova

#1.

Tabela 14 – Demais dados sobre a temperatura do óleo – Corpo-de-prova #1

Item Valor [°C]

Máximo 27,6

Mínimo 25,8

Média 26,7

Mediana 26,7

Desvio padrão 0,5

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118

Coeficiente de atrito

-0,20

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

11:45

:30

11:46

:30

11:47

:30

11:48

:30

11:49

:30

11:50

:30

11:51

:30

11:52

:30

11:53

:30

11:54

:30

11:55

:30

11:56

:30

11:57

:30

11:58

:30

11:59

:30

12:00

:30

12:01

:30

12:02

:30 [hs]

Figura 109 - Coeficiente de atrito - Corpo-de-prova #1

A Tabela 15 exibe outros dados sobre o coeficiente de atrito para o corpo-de-prova

#1.

Tabela 15 – Demais dados sobre o coeficiente de atrito – Corpo-de-prova #1

Item Valor

Máximo 1,646

Mínimo -0,151

Média 0,130

Mediana 0,046

Desvio padrão 0,246

Devido um problema de programação no software de controle, o deslocamento axial

não foi medido para o corpo-de-prova #1, contudo, para os demais corpos-de-prova,

o problema foi corrigido e os resultados estão mostrados nos tópicos seguintes.

A linha em vermelho nos gráficos apresentados para o corpo-de-prova #1 representa

a média móvel com período igual a 50.

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119

9.3 RESULTADOS DO CORPO-DE-PROVA #2

A Tabela 16 exibe os resultados geométricos do corpo-de-prova #2 antes e depois

do ensaio.

Tabela 16 - Resultados para o corpo-de-prova #2

Parâmetro Especificado

em desenho

Antes do

ensaio

Depois

do ensaio Diferença

Massa [g] N/A 11,778 11,769 0,009

Largura da crista da rosca

[mm] 0,070 – 0,130 0,111 0,165 0,054

Altura do filete de rosca [mm] 0,400 mín. 0,428 0,404 0,024

As Figuras 110 e 111 mostram como ficou a superfície de atrito após o teste.

Figura 110 - Superfície de atrito do corpo-de-prova #2

Page 120: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

120

Figura 111 - Superfície de atrito do corpo-de-prova #2

As Figuras 112, 113, 114, 115, 116 e 117 apresentam os resultados gráficos dos

parâmetros medidos durante o ensaio.

Rotação do cone

860

865

870

875

880

885

890

14:55

:55

14:57

:55

14:59

:55

15:01

:55

15:03

:55

15:05

:55

15:07

:55

15:09

:55

15:11

:55

15:13

:55

15:15

:55

15:17

:55

15:19

:55

15:21

:55

15:23

:55

15:25

:55

15:27

:55[hs]

[rpm]

Figura 112 - Rotação do cone - Corpo-de-prova #2

A Tabela 17 exibe outros dados sobre a rotação do cone para o corpo-de-prova #2.

Page 121: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

121

Tabela 17 – Demais dados sobre a rotação do cone – Corpo-de-prova #2 Item Valor [rpm]

Máximo 887,95

Mínimo 865,41

Média 874,06

Mediana 871,86

Desvio padrão 5,58

Força axial

20

30

40

50

60

70

80

90

100

14:55

:55

14:57

:55

14:59

:55

15:01

:55

15:03

:55

15:05

:55

15:07

:55

15:09

:55

15:11

:55

15:13

:55

15:15

:55

15:17

:55

15:19

:55

15:21

:55

15:23

:55

15:25

:55

15:27

:55 [hs]

[N]

Figura 113 - Força axial - Corpo-de-prova #2

A Tabela 18 exibe outros dados sobre a força axial para o corpo-de-prova #2.

Tabela 18 – Demais dados sobre a força axial – Corpo-de-prova #2

Item Valor [N]

Máximo 95,913

Mínimo 25,015

Média 60,530

Mediana 62,333

Desvio padrão 20,723

Page 122: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

122

Força tangencial

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

14:55

:55

14:57

:55

14:59

:55

15:01

:55

15:03

:55

15:05

:55

15:07

:55

15:09

:55

15:11

:55

15:13

:55

15:15

:55

15:17

:55

15:19

:55

15:21

:55

15:23

:55

15:25

:55

15:27

:55 [hs]

[N]

Figura 114 - Força tangencial - Corpo-de-prova #2

A Tabela 19 exibe outros dados sobre a força tangencial para o corpo-de-prova #2.

Tabela 19 – Demais dados sobre a força tangencial – Corpo-de-prova #2

Item Valor [N]

Máximo 34,755

Mínimo -91,438

Média -13,572

Mediana -10,032

Desvio padrão 30,017

Temperatura do óleo

27,0

27,5

28,0

28,5

29,0

29,5

30,0

30,5

31,0

14:55

:55

14:57

:55

14:59

:55

15:01

:55

15:03

:55

15:05

:55

15:07

:55

15:09

:55

15:11

:55

15:13

:55

15:15

:55

15:17

:55

15:19

:55

15:21

:55

15:23

:55

15:25

:55

15:27

:55 [hs]

[°C]

Figura 115 - Temperatura do óleo - Corpo-de-prova #2

Page 123: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

123

A Tabela 20 exibe outros dados sobre a temperatura do óleo para o corpo-de-prova

#2.

Tabela 20 – Demais dados sobre a temperatura do óleo – Corpo-de-prova #2

Item Valor [°C]

Máximo 30,6

Mínimo 27,2

Média 29,0

Mediana 29,0

Desvio padrão 1,0

Coeficiente de atrito

-0,20

-0,15

-0,10

-0,05

0,00

0,05

0,10

14:55

:55

14:57

:55

14:59

:55

15:01

:55

15:03

:55

15:05

:55

15:07

:55

15:09

:55

15:11

:55

15:13

:55

15:15

:55

15:17

:55

15:19

:55

15:21

:55

15:23

:55

15:25

:55

15:27

:55 [hs]

Figura 116 - Coeficiente de atrito - Corpo-de-prova #2

A Tabela 21 exibe outros dados sobre o coeficiente de atrito para o corpo-de-prova

#2.

Tabela 21 – Demais dados sobre o coeficiente de atrito – Corpo-de-prova #2

Item Valor

Máximo 0,089

Mínimo -0,180

Média -0,027

Mediana -0,021

Desvio padrão 0,064

Page 124: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

124

Deslocamento axial

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

14:55

:55

14:57

:55

14:59

:55

15:01

:55

15:03

:55

15:05

:55

15:07

:55

15:09

:55

15:11

:55

15:13

:55

15:15

:55

15:17

:55

15:19

:55

15:21

:55

15:23

:55

15:25

:55

15:27

:55 [hs]

[mm]

Figura 117 - Deslocamento axial - Corpo-de-prova #2

A Tabela 22 exibe outros dados sobre o deslocamento axial para o corpo-de-prova

#2.

Tabela 22 – Demais dados sobre o deslocamento axial – Corpo-de-prova #2

Item Valor [mm]

Máximo 0,117

Mínimo -0,848

Média -0,520

Mediana -0,611

Desvio padrão 0,288

A linha em vermelho nos gráficos apresentados para o corpo-de-prova #2 representa

a média móvel com período igual a 50.

9.4 RESULTADOS DO CORPO-DE-PROVA #3

A Tabela 23 exibe os resultados geométricos do corpo-de-prova #3 antes e depois

do ensaio.

Page 125: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

125

Tabela 23 - Resultados para o corpo-de-prova #3

Parâmetro Especificado

em desenho

Antes do

ensaio

Depois

do ensaio Diferença

Massa [g] N/A 11,907 11,905 0,002

Largura da crista da rosca

[mm] 0,070 – 0,130 0,107 0,199 0,092

Altura do filete de rosca [mm] 0,400 mín. 0,431 0,419 0,012

As Figuras 118 e 119 mostram como ficou a superfície de atrito após o teste.

Figura 118 - Superfície de atrito do corpo-de-prova #3

Page 126: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

126

Figura 119 - Superfície de atrito do corpo-de-prova #3

As Figuras 120, 121, 122, 123, 124 e 125 apresentam os resultados gráficos dos

parâmetros medidos durante o ensaio.

Rotação do cone

860

865

870

875

880

885

890

16:03

:25

16:07

:25

16:11

:25

16:15

:25

16:19

:25

16:23

:25

16:27

:25

16:31

:25

16:35

:25

16:39

:25

16:43

:25

16:47

:25

16:51

:25

16:55

:25

16:59

:25

17:03

:25[hs]

[rpm]

Figura 120 - Rotação do cone - Corpo-de-prova #3

A Tabela 24 exibe outros dados sobre a rotação do cone para o corpo-de-prova #3.

Page 127: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

127

Tabela 24 – Demais dados sobre a rotação do cone – Corpo-de-prova #3 Item Valor [rpm]

Máximo 887,46

Mínimo 865,97

Média 874,44

Mediana 872,36

Desvio padrão 5,44

Força axial

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

16:03

:25

16:07

:25

16:11

:25

16:15

:25

16:19

:25

16:23

:25

16:27

:25

16:31

:25

16:35

:25

16:39

:25

16:43

:25

16:47

:25

16:51

:25

16:55

:25

16:59

:25

17:03

:25 [hs]

[N]

Figura 121 - Força axial - Corpo-de-prova #3

A Tabela 25 exibe outros dados sobre a força axial para o corpo-de-prova #3.

Tabela 25 – Demais dados sobre a força axial – Corpo-de-prova #3

Item Valor [N]

Máximo 116,090

Mínimo 25,529

Média 63,559

Mediana 61,232

Desvio padrão 25,561

Page 128: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

128

Força tangencial

-110

-90

-70

-50

-30

-10

10

30

50

16:03

:25

16:07

:25

16:11

:25

16:15

:25

16:19

:25

16:23

:25

16:27

:25

16:31

:25

16:35

:25

16:39

:25

16:43

:25

16:47

:25

16:51

:25

16:55

:25

16:59

:25

17:03

:25 [hs]

[N]

Figura 122 - Força tangencial - Corpo-de-prova #3

A Tabela 26 exibe outros dados sobre a força tangencial para o corpo-de-prova #3.

Tabela 26 – Demais dados sobre a força tangencial – Corpo-de-prova #3

Item Valor [N]

Máximo 56,498

Mínimo -108,241

Média 5,059

Mediana 12,347

Desvio padrão 35,037

Temperatura do óleo

31,0

31,5

32,0

32,5

33,0

33,5

34,0

34,5

35,0

16:03

:25

16:07

:25

16:11

:25

16:15

:25

16:19

:25

16:23

:25

16:27

:25

16:31

:25

16:35

:25

16:39

:25

16:43

:25

16:47

:25

16:51

:25

16:55

:25

16:59

:25

17:03

:25 [hs]

[°C]

Figura 123 - Temperatura do óleo - Corpo-de-prova #3

Page 129: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

129

A Tabela 27 exibe outros dados sobre a temperatura do óleo para o corpo-de-prova

#3.

Tabela 27 – Demais dados sobre a temperatura do óleo – Corpo-de-prova #3

Item Valor [°C]

Máximo 35,0

Mínimo 31,9

Média 33,5

Mediana 33,6

Desvio padrão 0,9

Coeficiente de atrito

-0,20

-0,15

-0,10

-0,05

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

16:03

:25

16:07

:25

16:11

:25

16:15

:25

16:19

:25

16:23

:25

16:27

:25

16:31

:25

16:35

:25

16:39

:25

16:43

:25

16:47

:25

16:51

:25

16:55

:25

16:59

:25

17:03

:25 [hs]

Figura 124 - Coeficiente de atrito - Corpo-de-prova #3

A Tabela 28 exibe outros dados sobre o coeficiente de atrito para o corpo-de-prova

#3.

Tabela 28 – Demais dados sobre o coeficiente de atrito – Corpo-de-prova #3

Item Valor

Máximo 0,176

Mínimo -0,191

Média 0,026

Mediana 0,025

Desvio padrão 0,076

Page 130: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

130

Deslocamento axial

-0,8

-0,7

-0,6

-0,5

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0,0

16:03

:25

16:07

:25

16:11

:25

16:15

:25

16:19

:25

16:23

:25

16:27

:25

16:31

:25

16:35

:25

16:39

:25

16:43

:25

16:47

:25

16:51

:25

16:55

:25

16:59

:25

17:03

:25 [hs]

[mm]

Figura 125 - Deslocamento axial - Corpo-de-prova #3

A Tabela 29 exibe outros dados sobre o deslocamento axial para o corpo-de-prova

#3.

Tabela 29 – Demais dados sobre o deslocamento axial – Corpo-de-prova #3

Item Valor [mm]

Máximo 0,015

Mínimo -0,775

Média -0,648

Mediana -0,735

Desvio padrão 0,162

A linha em vermelho nos gráficos apresentados para o corpo-de-prova #3 representa

a média móvel com período igual a 100.

9.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

As seguintes análises foram feitas sobre os resultados:

Observa-se que a média da força axial está próxima do valor programado

para cada um dos ensaios, contudo a dispersão ao redor da média (desvio

Page 131: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

131

padrão) está muito elevada. Esse comportamento faz com que a força

tangencial também varie bastante e isso é resultado do controle proporcional

utilizado na correção da força axial. A correção está muito acentuada e isso

causa a grande oscilação observada no gráfico de força dos três corpos-de-

prova.

Apesar da temperatura do óleo não ter aumentado muito (variação de 2 a 3,5

°C), o estojo porta-amostra apresentou grande mudança de temperatura, indo

de aproximadamente 25°C (temperatura ambiente) para 100°C, no caso do

terceiro ensaio. Esses valores foram medidos com o auxílio de um pirômetro

óptico. Possivelmente o valor de deslocamento negativo observado na Figura

125 seja resultado da dilatação térmica do contra-corpo (cone), do corpo-de-

prova e do estojo porta-amostra, pois após o sistema entrar em regime

térmico, a queda no valor do deslocamento axial é interrompida.

Nota-se que o valor da força tangencial assume valores negativos durante os

ensaios. Esse comportamento, fisicamente, significa que a célula de carga

está sendo puxada ao invés de pressionada (caso não haja uma inversão de

sinal no software de controle), contundo ainda não foi possível analisar

detalhadamente esse fenômeno e investigações futuras serão realizadas.

Possivelmente, a pré-carga que a célula de carga recebe durante sua fixação

ao seu suporte e a dilatação térmica do porta-amostra durante o ensaio

tenham participação nesse fenômeno.

Verifica-se que a massa perdida no corpo-de-prova #3 está menor do que a

massa perdida no corpo-de-prova #2, apesar do corpo-de-prova #3 ter

apresentado um desgaste superior ao do corpo-de-prova #2 (como mostra os

valores da largura de crista). Como o corpo-de-prova #3 permaneceu em

teste pelo dobro do tempo do corpo-de-prova #2, era esperado que a massa

perdida daquele fosse superior ao deste. Provavelmente essa discrepância foi

causada por um descuido na limpeza dos corpos-de-prova após os testes.

Possivelmente uma peça reteve mais óleo e resíduos do que a outra,

provocando a incoerência no valor da massa. Apesar do problema da massa

citado anteriormente, quando se analisa a largura da crista da rosca, os

Page 132: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

132

valores medidos exibem exatamente o comportamento presumido, que é o

corpo-de-prova #1 exibir o menor desgaste e o corpo-de-prova #3 o maior.

Nota-se que é necessário calibrar a rotação do motor elétrico, pois sua média

está de 3 a 4 rpm acima do valor programado para os ensaios.

Avaliando o desgaste da superfície de atrito dos corpos-de-prova, pode-se

concluir que a bancada proposta neste trabalho é capaz de reproduzir o

mecanismo de desgaste observado nos anéis sincronizadores utilizados

como referência. Tal conclusão é possível, pois ao se analisar a crista do

filete de rosca nota-se que há a formação de rebarbas ao longo da

extremidade do filete em todas as amostras, tanto nos anéis de referência,

quanto nos corpos-de-prova. Além disso, percebe-se que a crista da rosca

fica com a superfície riscada ao longo do filete, também em todas as

amostras. Outro fator de similaridade é a tonalidade da crista, a qual fica

escurecida devido à oxidação da superfície dado a elevação da temperatura

nessa região durante o contato.

Page 133: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

133

10 LIMITAÇÕES DO PROJETO

Em anéis sincronizadores, não só a durabilidade da superfície de atrito é importante

para um bom funcionamento do sistema e garantia da qualidade de engate. O

dentado externo ao anel sincronizador tem participação importante na sincronização,

pois é ele que recebe da luva de engate todo o esforço gerado na manopla durante

a troca de marchas e o repassa para a superfície de atrito. Porém a bancada não

provê meios de testar esse dentado.

Os ressaltos ou rebaixos de indexação podem apresentar amassamento excessivo

dependendo dos materiais utilizados e das condições de funcionamento do veículo,

principalmente no que diz respeito à vibração torcional. No entanto, a bancada não

simula essa condição, portanto não avalia esse tipo de falha.

Resistência dos anéis sincronizadores quanto a trincas nas regiões em que há

concentração de tensões também não é abordada pela bancada. Esse tipo de falha,

por outro lado, é facilmente identificado e pode ser previsto através de análise de

elementos finitos.

Esses itens não cobertos pela bancada proposta neste trabalho continuarão sendo

testados nas bancadas de durabilidade convencionais do departamento de testes da

EATON.

Page 134: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

134

11 CONCLUSÕES

O presente trabalho apresentou o projeto e a construção de uma bancada de testes

para atrito e desgaste de anéis sincronizadores de transmissões automotivas (o qual

foi o principal objetivo) e os diferenciais que esta máquina apresenta frente aos

demais equipamentos disponíveis no mercado.

Ensaios preliminares foram realizados e o desgaste dos corpos-de-prova foi

comparado com o desgaste de anéis sincronizadores ensaiados em bancada de

engate e em veículo.

Das análises realizadas e da avaliação dos resultados dos ensaios preliminares é

possível destacar as seguintes conclusões:

O sistema de lubrificação da bancada precisa ser melhorado, pois a vazão de

lubrificante está baixa demais o que acarreta sobreaquecimento do porta-

amostra e do corpo-de-prova, além de demora (mais de 30 minutos) no

alcance da temperatura de regime. A implantação de um trocador de calor

auxiliaria sobremaneira na redução desse tempo de espera, além de permitir

(indiretamente) maior controle sobre a viscosidade do óleo lubrificante e a

troca da bomba de óleo resolveria o problema da vazão.

O controle proporcional utilizado na malha fechada de atuação do cilindro

elétrico está agressivo demais, fazendo com que a força aplicada oscile

demasiadamente. Esse sistema de controle precisa ser revisto, pois essa

oscilação afeta a medição de força da célula de carga tangencial,

conseqüentemente, o valor do coeficiente de atrito, calculado a partir dessas

forças, também é afetado.

Estudos futuros precisam ser conduzidos para avaliar se alguma faixa de

rotação do motor elétrico pode ocasionar ressonância na bancada, pois esse

tipo de fenômeno pode impossibilitar a realização de ensaios em tal faixa de

rotação. Uma vez que resultados obtidos nessa condição seriam de validade

duvidosa.

Page 135: PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA BANCADA DE ......FICHA CATALOGRÁFICA Sena, Carlos Henrique Coronado Projeto e construção de uma bancada de testes de atrito e desgaste para anéis

135

O efeito da dilatação térmica é outro ponto que requer mais pesquisa, pois,

dada a sensibilidade do encoder linear (1µm de resolução), o aquecimento

dos componentes próximos a interface de atrito e conseqüentemente a

dilatação dos mesmos, afeta o valor de desgaste axial mensurado pela régua

óptica.

A pré-carga aplicada à célula de carga tangencial, durante sua montagem ao

suporte, é mais um item que necessita de estudos futuros e calibração, pois

aparentemente essa carga residual está afetando a medição. Contudo, para

que esse estudo possa ser realizado, é preciso primeiramente corrigir o

controle proporcional do cilindro elétrico.

Apesar das necessidades de investigação mencionadas anteriormente, a

bancada mostrou-se capaz de reproduzir o mecanismo de desgaste da

superfície de atrito de anéis sincronizadores testados em bancada de engate

e em veículo.

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Referências

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ANEXO A – Desenhos técnicos

As próximas páginas apresentam os desenhos técnicos utilizados na construção da

bancada de testes proposta neste trabalho.

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ANEXO B – Projeto elétrico

As próximas páginas apresentam os desenhos e esquemas do projeto elétrico

utilizados na construção da bancada de testes mostrada neste trabalho.