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PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM CONVERSOR BUCK UTILIZANDO BOBINAS DE FITAS SUPERCONDUTORAS DE SEGUNDA GERAÇÃO André Guilherme Peixoto Alves Projeto de Graduação apresentado ao Corpo Docente do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Flávio Goulart dos Reis Martins Rio de Janeiro Setembro de 2016

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PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM CONVERSOR BUCK UTILIZANDO

BOBINAS DE FITAS SUPERCONDUTORAS DE SEGUNDA GERAÇÃO

André Guilherme Peixoto Alves

Projeto de Graduação apresentado ao Corpo

Docente do Departamento de Engenharia

Elétrica da Escola Politécnica da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro Eletricista.

Orientador: Flávio Goulart dos Reis Martins

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

ii

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM CONVERSOR BUCK UTILIZANDO

BOBINAS DE FITAS SUPERCONDUTORAS DE SEGUNDA GERAÇÃO

André Guilherme Peixoto Alves

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO ELETRICISTA.

Examinado por:

___________________________________

Prof. Flávio Goulart dos Reis Martins, M.Sc.

(Orientador)

___________________________________

Prof. Rubens de Andrade Junior, D.Sc

___________________________________

Prof.Elkin Ferney Rodriguez Velandia, D.Sc

___________________________________

Prof. Felipe Sass, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2016

iii

aaa

Alves, André Guilherme Peixoto

Projeto e implementação de um conversor buck

utilizando bobinas de fitas supercondutoras de segunda

geração/ André Guilherme Peixoto Alves. - Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.

X, 59 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Flávio Goulart dos Reis Martins

Projeto de Graduação - UFRJ/Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia Elétrica, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 51-52.

1. Projeto e Implementação. 2. Conversor Buck 3.

Bobinas Supercondutoras. 4. Fitas 2G de Alta Temperatura

Crítica. I. dos Reis Martins, F. G. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Departamento de

Engenharia Elétrica. III. Projeto e Implementação de um

Conversor Buck Utilizando Bobinas de Fitas

Supercondutoras de Segunda Geração.

iv

Agradecimentos

Primeiramente aos meus pais pelo suporte que me foi dado em todas as decisões

importantes da minha vida. E por acreditarem no meu potencial, principalmente em

tempos passados quando este ainda era invisível para mim.

Ao meu irmão Érick pelas conversas, risadas, apoio e convivência que ajudaram a me

tornar quem sou hoje.

Aos meus avós, primos e tios pelo amor incondicional e forte presença durante a

minha criação e evolução como pessoa.

Aos meus amigos pelas lembranças, influências e diversos momentos que ajudaram a

compor toda essa jornada.

Aos professores do departamento de engenharia elétrica da UFRJ pelo conhecimento,

oportunidades e motivação que me foram dados desde o ingresso no ciclo profissional.

Ao meu orientador Flávio e ao professor Rubens por estarem sempre dispostos a tirar

minhas dúvidas, ao professor Elkin pela ajuda dada com os dispositivos eletrônicos e

Rolim pela fortíssima motivação e base teórica dadas ao longo das aulas da

graduação. Agradeço também à toda a equipe do LASUP e do LABMAQ pelo suporte

e troca de conhecimentos ao longo desse tempo, principalmente aos técnicos.

Por fim agradeço ao PIBIC/CNPQ pela bolsa de iniciação científica.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

Projeto e implementação de um conversor Buck utilizando bobinas de fitas

supercondutoras de segunda geração

André Guilherme Peixoto Alves

Setembro/2016

Orientador: Flávio Goulart dos Reis Martins

Curso: Engenharia Elétrica

Bobinas supercondutoras possuem propriedades que as tornam mais vantajosas do

que as de condutores convencionais. O desenvolvimento e a produção das fitas de

segunda geração (2G) utilizadas na confecção destas bobinas teve um grande

crescimento na última década, aumentando a quantidade de aplicações desta

tecnologia. Apesar de todas as vantagens, existem aspectos importantes a serem

levados em consideração ao utilizá-las em aplicações envolvendo correntes elétricas

variantes no tempo, como é o caso das perdas AC.

A aplicação de interesse deste trabalho se baseia na utilização de bobinas

supercondutoras 2G em um conversor CC/CC do tipo Buck. Sabendo-se que o

funcionamento dos conversores eletrônicos de potência é baseado no chaveamento

de uma tensão, produzindo por sua vez componentes harmônicas indesejadas, as

bobinas são utilizadas como uma indutância presente na etapa de filtragem destas

componentes. Foi feito o projeto, simulação, implementação e análise tanto das

características do conversor quanto do comportamento exibido pelas bobinas

supercondutoras.

Palavras-chave: Projeto, Implementação, Conversor Buck, Bobinas Supercondutoras,

Fitas 2G.

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Engineer.

Project and implementation of a Buck converter using coils of second generation

superconducting tapes

André Guilherme Peixoto Alves

Setembro/2016

Advisor: Flávio Goulart dos Reis Martins

Course: Electrical Engineering

Superconducting coils have properties that makes them more advantageous than the

conventional copper ones. The development and production of the second generation

(2G) tapes used to build these coils had a large growth in the previous decade,

increasing the amount of applications of this technology. Despite all the advantages,

there are important aspects to be taken in consideration while using them in

applications involving time variant electrical currents, like the AC losses.

The application of interest in this work is based on the use of 2G superconducting coils

on a DC/DC Buck converter. Knowing that the operation of power electronic converters

is based on a voltage switching, producing undesirable harmonic components as a

consequence, the coils are used as an inductance present in the filtering process of

these components. The project, simulation, implementation and analysis regarding

both the converter characteristics and the behavior of the superconducting coils were

made.

Keywords: Project, Implementation, Buck Converter, Superconducting Coils, 2G tapes

vii

Sumário

1 Introdução........................................................................................................ 1

1.1 Objetivos................................................................................................. 1

1.2 Motivações.............................................................................................. 1

1.3 Organização............................................................................................ 2

2 Fundamentos Teóricos.................................................................................... 3

2.1 Supercondutividade................................................................................. 3

2.1.1 Descoberta e evolução histórica...................................................... 3

2.1.2 Fitas supercondutoras 2G de alta temperatura crítica................... ..8

2.1.3 Fluxóides e histerese em supercondutores do tipo II....................... 9

2.1.4 Perdas AC...................................................................................... 12

2.1.5 Caracterização de fitas supercondutoras 2G................................. 14

2.2 Conversores Eletrônicos de Potência................................................... 14

2.2.1 Conversores CC/CC abaixadores.................................................. 15

2.2.2 Funcionamento do conversor Buck em modo contínuo de

condução...................................................................................................................... 16

2.2.3 Funcionamento do conversor Buck na fronteira entre o modo

contínuo e o descontínuo............................................................................................. 18

2.2.4 Tensão de ripple na saída do conversor Buck............................... 19

2.2.5 Desempenho transitório do conversor Buck.................................. 23

3 Metodologia e Projeto.................................................................................... 26

3.1 Equipamentos e Dispositivos................................................................ 26

3.1.1 Bobinas supercondutoras............................................................... 26

3.1.2 IGBT e Driver................................................................................. 27

3.1.3 Diodo.............................................................................................. 27

3.1.4 Resistores de potência................................................................... 28

3.1.5 Gerador de funções........................................................................ 29

viii

3.1.6 Reatores......................................................................................... 29

3.1.7 Arduino Uno R3.............................................................................. 30

3.1.8 Osciloscópio e ponta de corrente................................................... 30

3.1.9 Barramento CC.............................................................................. 31

3.2 Ensaios Iniciais...................................................................................... 31

3.2.1 Determinação da indutância própria das bobinas

supercondutoras........................................................................................................... 31

3.2.2 Caracterização das bobinas supercondutoras............................... 32

3.3 Projeto do Conversor Buck e Montagens.............................................. 33

3.3.1 Especificações do conversor.......................................................... 33

3.3.2 Dimensionamento dos componentes do circuito............................ 34

3.3.3 Simulação do conversor................................................................. 35

3.3.4 Montagem da bancada com os dispositivos eletrônicos................ 37

3.3.5 Montagem do sistema de acoplamento das bobinas

supercondutoras........................................................................................................... 37

3.4 Ensaios principais................................................................................. 38

3.4.1 Implementação do conversor Buck com as bobinas de cobre....... 38

3.4.2 Implementação do conversor Buck com uma bobina

supercondutora............................................................................................................. 39

3.4.3 Ensaio para medição das perdas AC............................................. 40

4 Discussões e resultados................................................................................ 42

4.1 Resultados Iniciais................................................................................ 42

4.1.1 Indutância própria das bobinas supercondutoras.......................... 42

4.1.2 Caracterização das bobinas supercondutoras............................... 42

4.2 Resultados Principais............................................................................ 43

4.2.1 Conversor Buck com as bobinas de cobre..................................... 43

4.2.2 Conversor Buck com uma bobina supercondutora........................ 45

4.2.3 Medição das perdas AC................................................................. 47

5 Conclusões e propostas para trabalhos futuros............................................ 49

5.1 Conclusões............................................................................................ 49

ix

5.2 Propostas para trabalhos futuros.......................................................... 49

5.2.1 Melhorias na bancada do conversor.............................................. 49

5.2.2 Melhorias no sistema de medição.................................................. 50

5.2.3 Projeto de bobinas para utilização em conversores e no sistema de

acoplamento................................................................................................................. 50

6 Bibliografia..................................................................................................... 51

7 Apêndice.........................................................................................................53

7.1 Rotina no arduino para geração do sinal PWM......................................53

8 Anexos........................................................................................................... 55

8.1 Folha de dados do IGBT....................................................................... 55

8.2 Folha de dados do Diodo...................................................................... 57

8.3 Folha de dados do Arduino................................................................... 59

x

Lista de Figuras

Figura 1 - Mudança do comportamento metálico para o comportamento

supercondutor................................................................................................................. 4

Figura 2 - Região delimitadora do comportamento supercondutor................. 5

Figura 3 - Diferentes estados em um supercondutor do tipo II [4]................... 6

Figura 4 - Comparação entre o comportamento macroscópico entre

supercondutores do tipo I e II [4].................................................................................... 6

Figura 5 - Corte laminar da fita 2G-HTS-SCS4050 fabricada pela SuperPower

[4].................................................................................................................................... 8

Figura 6 - Ação das forças de pinning e Lorentz sobre um fluxóide [4]......... 10

Figura 7 - Placa supercondutora infinitamente longa com campo aplicado na

direção y (adaptada de [11])......................................................................................... 11

Figura 8 - Curva de magnetização típica de um bulk supercondutor do tipo II

(adaptada de [12])........................................................................................................ 12

Figura 9 - Alteração no valor médio da tensão de saída através do

chaveamento (adaptado de [17]).................................................................................. 15

Figura 10 - Geração do sinal para a chave................................................... 16

Figura 11 - Conversor do tipo Buck............................................................... 17

Figura 12 - Operação na fronteira entre o modo contínuo e o descontínuo.. 19

Figura 13 - Forma de onda aproximada da corrente que atravessa o indutor

(adaptada de [17])........................................................................................................ 19

Figura 14 - Resposta em frequência de um sistema de primeira ordem....... 21

Figura 15 - Tensão chaveada com ciclo de trabalho de 50%........................ 22

Figura 16 - Filtro LC com carga resistiva....................................................... 23

Figura 17 - Índices de desempenho transitório............................................. 24

Figura 18 - Bobinas supercondutoras utilizadas nos ensaios....................... 26

Figura 19 - IGBT e Driver utilizados no conversor Buck............................... 27

Figura 20 - Diodo utilizado no conversor Buck.............................................. 28

Figura 21 - Resistores de potência utilizados como carga no conversor

Buck.............................................................................................................................. 28

xi

Figura 22 - Gerador de funções CFG253...................................................... 29

Figura 23 - Reatores utilizados...................................................................... 29

Figura 24 - Arduino Uno R3........................................................................... 30

Figura 25 - Osciloscópio e ponta de corrente utilizados ............................... 30

Figura 26 - Ensaio para medição da indutância própria da bobina

supercondutora............................................................................................................. 32

Figura 27 - Esquema de montagem do ensaio de caracterização................ 33

Figura 28 - Diagrama de simulação do conversor Buck................................ 35

Figura 29 - Tensão e corrente na carga para o caso 1 (a) e para o caso 2

(b)................................................................................................................................. 36

Figura 30 - Bancada do Conversor................................................................ 37

Figura 31 - Vistas frontal e lateral da configuração de acoplamento magnético

das bobinas (a) e circuito equivalente para cada caso de acoplamento (b)................ 38

Figura 32 - Montagem do conversor Buck utilizando bobinas de cobre........ 39

Figura 33 - Montagem do conversor Buck utilizando a bobina

supercondutora............................................................................................................. 40

Figura 34 - Esquemático (a) e montagem (b) para medição de perdas AC.. 41

Figura 35 - Curvas de caracterização das bobinas supercondutoras........... 43

Figura 36 - Corrente medida e simulada na carga para ciclos de trabalho de

10 a 50% e tensão de entrada 60,4 V.......................................................................... 44

Figura 37 - Corrente medida e simulada na carga para ciclos de trabalho de

10 a 50% e tensão de entrada 61,1 V.......................................................................... 45

Figura 38 - Distribuição harmônica da forma de onda da figura 37 referente a

um ciclo de trabalho de 50%........................................................................................ 46

Figura 39 - Corrente (a) e tensão (b) medidas sobre as bobinas

supercondutoras........................................................................................................... 47

Figura 40 - Distribuição harmônica da forma de onda da figura 39 (a) ........ 48

xii

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Alguns materiais supercondutores descobertos ao longo dos anos

[8].................................................................................................................................... 7 Tabela 2 - Dimensões das bobinas supercondutoras utilizadas................... 27

Tabela 3 – Resultados do ensaio para medição da indutância..................... 42

Tabela 4 - Comparação entre os valores médios teóricos e experimentais

para a corrente na carga utilizando as bobinas de cobre............................................. 44

Tabela 5 - Comparação entre os valores médios teóricos e experimentais

para a corrente na carga utilizando a bobina supercondutora..................................... 46

xiii

Lista de Abreviaturas

CC Corrente Contínua LASUP Laboratório de Aplicações de Supercondutores

LABMAQ Laboratório de Máquinas Elétricas

LHC Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider)

MagLev Veículo de Levitação Magnética

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

Fitas 2G Fitas Supercondutoras de Segunda Geração

HTS Supercondutores de alta temperatura crítica

PWM Modulação por Largura de Pulso (Pulse-Width Modulation)

xiv

Lista de Símbolos

B Densidade de fluxo magnético

D Ciclo de trabalho

E Campo elétrico

f Frequência

H Campo magnético

Hc Campo magnético crítico

I Corrente elétrica

J Densidade de corrente elétrica

Jc Densidade de corrente elétrica crítica

𝑙 Comprimento

L Indutância

M Magnetização

P Potência

Q Perdas AC por unidade de comprimento por ciclo

R Resistência elétrica

t tempo

Tc Temperatura crítica

u Densidade de energia

V Tensão elétrica

𝜀 Força eletromotriz induzida

𝜑 Fluxo magnético

𝜔 Frequência angular

𝜏 Período

Z Impedância

1

1 Introdução

Neste capítulo serão mostrados e detalhados os objetivos e motivações

deste trabalho, assim como a organização de todo o seu conteúdo.

1.1 Objetivos

O objetivo deste trabalho foi o de projetar e construir um conversor CC/CC do

tipo Buck, utilizando bobinas supercondutoras de fitas 2G como parte indutiva da

etapa de filtragem das componentes harmônicas de alta frequência provenientes do

chaveamento. Foram feitas simulações e ensaios para averiguar as características de

operação do conversor e também para a análise do comportamento das bobinas

supercondutoras utilizadas.

1.2 Motivações

O aumento na produção e pesquisa de materiais supercondutores

representou em uma larga expansão de suas potenciais aplicações. Dentre elas é

possível citar os eletroímãs presentes em equipamentos de ressonância magnética e

no Large Hadron Collider (LHC), utilização em MagLevs e, particularmente no setor

elétrico, transformadores, limitadores de corrente, cabos e etc.

As fitas 2G são filamentos com múltiplas camadas onde uma, composta por

óxido de terras-raras, bário e cobre ((RE)BCO), apresenta o comportamento

supercondutor. Uma das propriedades mais atrativas destes materiais é a imensurável

resistência elétrica em corrente contínua, de forma que não há perdas de energia

como ocorre no cobre, alumínio e outros condutores usuais. Entretanto, ao se

trabalhar com correntes variantes no tempo, ocorrem dissipações de energia

conhecidas como perdas AC.

Bobinas confeccionadas com estas fitas possuem certas vantagens com

relação às convencionais de cobre, como por exemplo uma densidade de corrente

elétrica admissível de dezenas a centenas de vezes maior, e por consequência a

geração de campos magnéticos maiores para peso e volume de material muito

menores. Além disso, deve-se ressaltar a ausência de perdas ôhmicas em corrente

2

contínua, fato este que também permite o incremento de espiras nestas bobinas sem a

preocupação com o aumento de resistência elétrica.

Considerando-se a importância dos conversores eletrônicos de potência

existentes e de seu comportamento intríseco de chaveamento, é sabido que a

presença de um filtro LC é fundamental para o funcionamento adequado destes

dispositivos. Foi tomada então uma iniciativa para a utilização de uma bobina

supercondutora como a parte indutiva do filtro, de forma a se observar a sua resposta

ao chaveamento e verificar a sua influência no comportamento do conversor projetado.

1.3 Organização

A divisão deste trabalho foi feita numericamente em 8 seções. Na primeira

está colocada a introdução, contendo os objetivos e motivações. Em seguida, na

seção 2, se encontram os fundamentos teóricos necessários para a compreensão do

trabalho. Já na seção 3 está exposta a metodologia utilizada para a realização do

projeto, incluindo também uma lista com todo o material usado nas etapas

experimentais e as montagens. Na seção 4 se encontram os resultados obtidos

através da metodologia descrita anteriormente e uma discussão sobre os mesmos. A

5ª seção apresenta as conclusões gerais sobre o trabalho, além também das

propostas para trabalhos futuros. Na seção 6 constam as referências bibliográficas

utilizadas para a confecção do trabalho. Nas seções 7 e 8 estão, respectivamente, o

Apêndice e os Anexos.

3

2 Fundamentos Teóricos

2.1 Supercondutividade

A supercondutividade é um fenômeno que ocorre em certos materiais a

temperaturas criogênicas, onde passam a apresentar uma série de propriedades

elétricas e magnéticas extremamente particulares. Estas por sua vez são uma

consequência de uma mudança que pode ser caracterizada como uma mudança de

estado físico da matéria, de maneira que quando o material faz a transição e

apresenta tais propriedades, é dito que o mesmo atingiu o estado supercondutor.

2.1.1 Descoberta e Evolução Histórica

Antes de mais nada, deve-se mencionar que a descoberta da

supercondutividade só foi possível devido a várias outras que a precederam, e isto

ficará bastante claro com o detalhamento dado a seguir.

A liquefação do hélio foi obtida pela primeira vez por Kamerlingh Onnes em

1908 no laboratório da Universidade de Leiden (na Holanda) [1]. Através do uso do

hélio líquido ele pode realizar diversas pesquisas da chamada Física das baixas

temperaturas.

Ao pesquisar o comportamento da resistividade de metais, Onnes fez a

medição da resistividade do mercúrio metálico a temperaturas muito baixas. Ele

descobriu que seu valor se tornava imensuravelmente pequeno, o que não foi

surpreendente, mas ele em breve (1911) descobriu que a maneira com a qual a

resistência desaparecia era completamente inesperada [2]. O que acontecia é que ao

invés de sua magnitude cair de forma linear até 0 K, ela caia bruscamente a uma

temperatura de aproximadamente 4 K, e tornava-se nula a partir daí. A figura 1,

abaixo, mostra esta mudança do comportamento metálico para o comportamento

supercondutor.

4

Figura 1 – Mudança do comportamento metálico para o comportamento supercondutor.

Mais tarde foi descoberto que a aplicação de um campo magnético

suficientemente forte sobre a amostra podia acabar com o efeito da

supercondutividade. E analogamente, verificou-se que também havia uma limitação

com respeito a densidade de corrente que poderia percorrer o material. Dessa forma,

é possível definir as três grandezas que limitam o estado supercondutor: a

temperatura crítica (Tc), o campo crítico (Hc) e a densidade de corrente crítica (Jc). Ou

seja, um material só pode atingir o estado supercondutor caso sua temperatura, o

campo aplicado em sua superfície e a densidade de corrente que o percorre estejam

abaixo dos respectivos valores críticos. A representação gráfica destes limites pode

ser observada através da figura 2, onde o material só pode exibir o comportamento

supercondutor dentro da região em azul.

5

Figura 2 - Região delimitadora do comportamento supercondutor.

Em 1933 W. Meissner e R. Oschsenfeld observaram que, quando em estado

supercondutor, os materiais se tornam diamagnetos perfeitos, expelindo todo o fluxo

magnético em seu interior. Tal propriedade foi batizada de Efeito Meissner [3].

Por muito tempo se pensou que todos os supercondutores se comportavam

de acordo com um padrão basicamente similar [2]. Entretanto, foram descobertos

materiais que apresentavam características consideravelmente diferentes no que se

refere às propriedades magnéticas. Dessa forma, foi feita uma diferenciação entre:

Supercondutores do tipo I ou moles, que englobavam elementos periódicos que

apresentavam o efeito da supercondutividade com padrão similar, e supercondutores

do tipo II ou duros, que por sua vez englobavam em grande maioria compostos

sintéticos (ligas) que possuiam o comportamento diferenciado.

Nestes novos compostos, não havia apenas um valor de campo magnético

crítico que limitava o comportamento supercondutor do normal. Abaixo de um valor

chamado de Hc1, a amostra apresenta o efeito Meissner de forma íntegra e portanto

não há penetração de fluxo magnético em seu interior. Entretanto, com a aplicação de

um campo maior que Hc1 e menor que outro limitante chamado de Hc2, o material

apresenta uma penetração parcial de fluxo magnético, caracterizando o chamado

estado misto que será detalhado mais a frente. E por fim, para um campo externo com

valor superior a Hc2 a amostra deixa de apresentar as propriedades supercondutoras e

se encontra no estado normal. As figuras 3 e 4 a seguir mostram, respectivamente, as

regiões que definem os estados em um supercondutor do tipo II, e uma comparação

entre o comportamento macroscópico dos supercondutores do tipo I e II.

6

Figura 3 - Diferentes estados em um supercondutor do tipo II [4].

Figura 4 - Comparação entre o comportamento macroscópico de supercondutores do tipo I e II

[4].

Em 1935 London elaborou uma teoria macroscópica que explica

qualitativamente não só o efeito Meissner como tambérm outras propriedades

eletromagnéticas dos supercondutores. Em 1950 esta teoria foi ampliada e refinada

por Ginzburg e Landau [5].

Alguns anos depois, em 1957, Bardeen, Cooper e Schrieffer formularam a

mais importante teoria microscópica que permite explicar grande parte dos efeitos

associados com a supercondutividade. Esta formulação teórica passou a ser

conhecida na literatura como teoria BCS.

7

Ainda em 1957, Abrikosov [6] previu que a penetração parcial de fluxo

magnético em supercondutores do tipo II ocorria de forma quantizada, onde pequenas

regiões de concentração de fluxo chamadas de fluxóides apareciam no interior do

supercondutor circundadas por correntes de blindagem. A presença de um campo

magnético externo promove o surgimento de correntes de blindagem na superfície do

supercondutor do tipo II, fazendo com que os fluxóides estejam sujeitos à Força de

Lorentz e assumam uma geometria dita triangular ou hexagonal [4]. Essa geometria

ficou conhecida como rede de Abrikosov e é fundamental para a compreensão do

comportamento dos supercondutores do tipo II.

Charles P. Bean publicou artigos em 1962 e 1964 sobre uma teoria que veio

a ser conhecida como modelo de estado crítico. A premissa básica dessa teoria é que

existe uma densidade de corrente superficial macroscópica limitante Jc(H) a qual pode

ser transportada por um supercondutor duro [7].

Com o surgimento das teorias mencionadas anteriormente e de outras que

viriam no futuro, havia uma boa base para a compreensão da supercondutividade

porém ainda não haviam muitas aplicações envolvendo os supercondutores. Isto por

que os materiais da época possuiam temperatura e campo críticos baixos, o que

limitava bastante as possibilidades de uso. Porém, com o desenvolvimento e aumento

na pesquisa, por volta dos anos 80 começaram a ser desenvolvidos os chamados

supercondutores de alta temperatura (HTS), como o óxido de ítrio, bário e cobre

(YBCO). Esses supercondutores possuem Tc maior que 30 K e Hc2 da ordem de

dezenas de Tesla, aumentando as suas possibilidades de aplicação em projetos de

engenharia. A seguir está colocada a tabela 1, onde constam alguns materiais

supercondutores descobertos ao longo dos anos com suas respectivas temperaturas

críticas.

Tabela 1 - Alguns materiais supercondutores descobertos ao longo dos anos (adaptada de [8]).

8

2.1.2 Fitas Supercondutoras 2G de alta temperatura crítica

Historicamente, após a descoberta dos supercondutores de alta temperatura

crítica como o YBCO, blocos maciços (bulks) deste material começaram a ser

fabricados de forma artesanal para aplicações envolvendo levitação magnética.

Porém, este processo era demorado, possuia alto custo de produção e pouca garantia

de homogeneidade do material, fazendo com que perdessem espaço no mercado para

as fitas que começaram a ser fabricadas.

A primeira geração de fitas supercondutoras comerciais, a base de bismuto

Bi-2223, foi desenvolvida no período de 2000 a 2005 [4], e ficaram conhecidas como

fitas supercondutoras 1G. Possuiam uma estrutura multifilamentar inserida em uma

matriz de prata, e esta por sua vez representava 70% do volume da fita, o que tornava

seu custo elevado e portanto restringia seu campo de aplicações.

Este processo de evolução deu origem às fitas supercondutoras de segunda

geração, que são estruturas formadas por múltiplas camadas de materiais, onde uma

delas é composta por um filme de material supercondutor ((RE)BCO) altamente

orientado. Estas fitas são fabricadas de forma automatizada e com tecnologia de

ponta, onde através da técnica de deposição de filmes finos, como a utilizada na

indústria de semicondutores, é possível fazer a aplicação do material supercondutor

em subtratos metálicos tamponados [9]. As outras camadas de materiais,

normalmente prata e cobre, servem para proteger a camada supercondutora durante

transitórios ou em caso da perda do estado supercondutor. Um corte desta fita,

fabricada pela SuperPower, pode ser visto na figura 5.

Figura 5 - Corte laminar da fita 2G-HTS-SCS4050 fabricada pela SuperPower [4].

9

Por serem supercondutores de alta temperatura crítica, em torno dos 77 K, é

possível fazer seu resfriamento através de nitrogênio líquido, o que aumenta muito o

seu campo de aplicação. Além disso, possuem densidades de corrente crítica Jc da

ordem de 100 vezes as dos bulks mencionados anteriormente. Seu formato mais

compacto e características mecânicas, como a máxima tensão de tração admissível

da ordem de 700 MPa, tornam estas fitas extremamente viáveis na fabricação de

bobinas e aplicações em diferentes tipos de circuitos.

2.1.3 Fluxóides e histerese em supercondutores do tipo II

Na seção 2.1.1 foi feita uma descrição breve sobre o estado misto em

supercondutores duros e suas consequências. Nesta parte será feito o detalhamento

teórico sobre o aparecimento de fluxóides neste estado, que possui importante

impacto nas perdas AC que serão comentadas mais adiante.

Considerando um supercondutor do tipo II no estado misto, ou seja, em uma

situação cujo campo aplicado é maior do que Hc1 e menor do que Hc2, parte do fluxo

magnético penetra no material de forma quantizada dando origem à rede de

Abrikosov. Ao ser percorrido por uma corrente elétrica, ocorre uma força de interação

de Lorentz entre a densidade de corrente 𝐽 𝑠 de transporte e a densidade de fluxo

magnético 𝐵 𝐹 de cada elemento aprisionado, que é descrita pela equação (2.1) em

termos de densidade volumétrica (força por unidade de volume):

𝐹 𝐿 = 𝐽 𝑠 × 𝐵 𝐹 (2.1)

Devido à presença de impurezas e imperfeições ao longo da superfície do

material, a rede de Abrikosov não pode se mover livremente pela ação da força de

Lorentz, uma vez que essa força de aprisionamento dos vórtices ou de pinning se

opõe à de Lorentz. Quando esta força de aprisionamento é ultrapassada, a rede de

vórtices passa a se deslocar, gerando uma variação de fluxo magnético e portanto

induzindo um campo elétrico associado. Este campo possui mesma direção e sentido

contrário à densidade de corrente de transporte, de forma a dissipar energia na forma

de calor. Embora não seja de natureza ôhmica, ela pode ser interpretada como uma

resistividade não linear.

Durante a etapa em que a movimentação dos fluxóides é lenta, sendo a força

de Lorentz pouco maior que a de pinning, dá-se o nome de flux creep, e a partir do

momento em que a rede se move livremente pelo supercondutor é dito que o mesmo

se encontra no estágio de flux flow. A figura 6 mostra a ação destas forças sobre um

fluxóide em um supercondutor percorrido por corrente.

10

Figura 6 - Ação das forças de pinning e Lorentz sobre um fluxóide [4].

Uma forma de se interpretar a perda de energia associada à movimentação

da rede é através da variação do fluxo magnético 𝜑𝐹 no tempo presenciada pelas

várias partes do material, dando origem a uma tensão induzida 𝜀 como mostra a

equação (2.2):

𝜀 = −𝑑𝜑𝐹

𝑑𝑡 (2.2)

Esta tensão induzida está associada a um campo elétrico 𝐸𝐿, que por sua vez

pode ser expresso em função da velocidade de movimentação dos vórtices 𝑣𝑑 e da

densidade de fluxo aplicada 𝐵𝐹 segundo a equação (2.3):

𝐸 𝐿 = 𝑣 𝑑 × 𝐵 𝐹 (2.3)

E a interação entre este campo elétrico e a densidade de corrente 𝐽𝑠 que

percorre o supercondutor gera uma perda de energia [10], cuja densidade volumétrica

pode ser expressa como mostra a equação (2.4):

𝑢𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 ,𝐸𝐽 = 𝐸 𝐿 . 𝐽 𝑠 𝑑𝑡 (2.4)

Além destas, ocorrem perdas devido ao processo de histerese magnética

que um supercondutor do tipo II sofre, como será detalhado a seguir.

Segundo o modelo de estado crítico de Bean, a densidade de corrente crítica

que percorre a fronteira dos fluxóides é constante, desta forma é possível encontrar

uma relação entre a geometria e a resposta magnética do supercondutor. Para fins

11

didáticos, considerando uma placa supercondutora infinitamente longa na direção y,

mostrada na figura 7, têm-se pela Lei de Ampére a equação (2.5):

Figura 7 – Placa supercondutora infinitamente longa com campo aplicado na direção y

(adaptada de [11]).

∇ × 𝐻 =𝑑𝐻

𝑑𝑥𝑎 𝑧 = 𝐽𝑐𝑎 𝑧 (2.5)

Onde 𝑎 𝑧 é o vetor unitário na direção z. Sabendo-se que a densidade de

corrente crítica 𝐽𝑐 é constante neste modelo, a (2.5) resulta na equação (2.6):

∆𝐻

∆𝑥= 𝐽𝑐 (2.6)

Conforme o campo externo aumenta, a penetração no interior do

supercondutor ocorre até que o centro da placa seja atingido. A equação (2.7) define o

valor do campo magnético aplicado para que isto ocorra.

𝐻∗ =𝐽𝑐𝑑

2 (2.7)

Ou seja, é o valor mínimo de campo aplicado para que haja penetração de

fluxo magnético no interior da amostra em questão. Como consequência do modelo de

Bean, caso o campo seja reduzido a zero após ter atingido um valor maior que 𝐻∗, o

supercondutor apresentará uma magnetização remanescente. Dá-se o nome de curva

virgem à parte da curva de magnetização correspondente à primeira magnetização do

material até atingir 𝐻∗ . O processo descrito anteriormente pode ser observado na

figura 8, que mostra a curva de magnetização típica para um bulk supercondutor do

tipo II. Deve-se lembrar que:

12

𝑀 =𝐵

𝜇0− 𝐻 (2.8)

Onde M é a magnetização presente no interior do material.

Figura 8 - Curva de magnetização típica de um bulk supercondutor do tipo II (adaptada de [12]).

Analogamente aos materiais magnéticos, associam-se também perdas

devido a este processo de histerese magnética em um material supercondutor. A

densidade de energia associada a essas perdas pode ser expressa através da

equação (2.9):

𝑢𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 ,𝑀𝐻 = 𝜇0 𝑀 𝐻 𝑑𝐻 (2.9)

2.1.4 Perdas AC

Na seção anterior foi mostrado que em supercondutores do tipo II, ocorrem

perdas de energia devido a movimentação da rede de vórtices tanto no estágio de flux

creep quanto no de flux flow, e que essas perdas podem ser interpretadas tanto pela

interação entre o campo elétrico induzido e a densidade de corrente que percorre o

material, quanto pelo processo de histerese magnética. Seja como for, deve-se

observar então que caso um supercondutor duro seja submetido a um campo

magnético variável, existirão potenciais perdas. Além disso, caso ele seja percorrido

por uma corrente variante no tempo, o mesmo ocorre já que ela gerará um campo

magnético por sua vez também variante. Essas perdas são conhecidas na literatura

como perdas AC, e devido a sua existência, a competitividade dos supercondutores

mais antigos foi limitada em muitos campos de aplicação da engenharia elétrica [13].

Deve ser mencionado que para compósitos multifilamentares, existem também perdas

devido ao acoplamento filamentar, mas que não fazem parte do objetivo deste estudo.

Para cabos e fitas, as perdas AC são originadas apenas dos efeitos mencionados

anteriormente [13].

13

Diferentes métodos para a medição dessas perdas são utilizados na prática,

sendo o elétrico e o calorimétrico os mais comuns. O primeiro se baseia na

modelagem das perdas da amostra por meio de parâmetros de circuito elétrico e será

detalhado mais a frente. Já o segundo utiliza a evaporação do fluido de refrigeração

como parâmetro para a determinação das perdas AC, onde a radiação e perdas por

condução de calor via gás se tornam relevantes a temperaturas elevadas e devem ser

levadas em consideração [14]. Outras configurações baseadas na variação de

temperatura medida na amostra também são utilizadas [14], mas não serão

mencionadas neste trabalho já que o foco será no método elétrico.

Em termos de circuito elétrico, uma bobina supercondutora composta por

fitas 2G apresenta a seguinte impedância [15]:

𝑍𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 = 𝑅𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 + 𝑗𝜔𝐿𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 (2.10)

Onde as perdas detalhadas na seção anterior são modeladas pela

resistência 𝑅𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 , enquanto que 𝐿𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 é simplesmente a indutância da própria

bobina, que depende apenas de características geométricas da mesma. Ao ser

percorrida por uma corrente elétrica 𝐼 senoidal de frequência 𝜔, haverá uma queda de

tensão sobre a bobina tal que uma de suas componentes esteja em fase com a

corrente e a outra esteja adiantada de 90º em relação a mesma. Matematicamente:

𝑉 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = 𝑅𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝐼 (2.11)

𝑉 𝑖𝑛𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑜 = 𝑗 𝜔𝐿𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 𝐼 (2.12)

Em termos práticos, a componente resistiva possui uma amplitude muito

menor do que a indutiva, e para uma frequência fundamental elevada, a reatância

indutiva se torna ainda mais dominante com relação à resistência. Este fato tornaria

inviável a medição das perdas AC, e daí surge a necessidade da utilização de uma

bobina de cancelamento, que acoplada magneticamente à bobina supercondutora faz

com que a indutância vista pelo circuito seja aproximadamente zero, tornando então

possível a medição das perdas AC por unidade de comprimento por ciclo como se

segue [16]:

𝑄 =𝐼𝑟𝑚𝑠𝑉𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑟𝑚𝑠

𝑙𝑓 (2.13)

Onde 𝐼𝑟𝑚𝑠 e 𝑉𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑟𝑚𝑠 são, respectivamente, os valores eficazes da corrente

que percorre a bobina e da componente resistiva da tensão em seus terminais, 𝑙 é o

seu comprimento, e 𝑓 a frequência fundamental. Deve-se mencionar que é usual a

utilização de tapes na bobina supercondutora para a medição da tensão, de forma que

o comprimento a ser utilizado na equação (2.13) seria a distância entre os tapes.

14

2.1.5 Caracterização de fitas supercondutoras 2G

O comportamento dos materiais supercondutores do tipo II e suas

características podem ser obtidos através da curva de caracterização tensão x

corrente (V x I). Esta curva se baseia na seguinte relação:

𝐸 = 𝐸𝑐 𝐽

𝐽𝑐 𝑛

(2.14)

Conhecida na literatura como power law, a equação (2.14) mostra como

ocorre a variação do campo elétrico interno 𝐸 no supercondutor em função da

densidade de corrente de transporte 𝐽 que o percorre. O expoente n depende, dentre

outros fatores, do tipo de material e do estágio no qual o mesmo se encontra, e 𝐸𝑐 é o

valor do campo elétrico dentro do material quando a densidade de corrente atinge o

valor crítico 𝐽𝑐 . Um critério muito utilizado no processo de caracterização é considerar

um valor de 1 µV/cm para o campo elétrico crítico [13], de forma que ao ensaiar uma

amostra através da injeção de corrente e da medição da tensão terminal, é possível

encontrar experimentalmente o valor da corrente crítica.

Como mencionado na seção 2.1.3, o supercondutor passa pelos estágios de

flux creep, onde os vórtices se movem muito lentamente e a força de Lorentz é

próxima à de pinning, caracterizando um valor de 𝑛 mais elevado, de flux flow onde os

vórtices se movem livremente devido a maior força de Lorentz, caracterizando um

valor menor para 𝑛 , e finalmente atinge o estado normal onde os vórtices já se

dispersaram e a magnitude de 𝑛 é próxima da unidade, correspondendo à Lei de Ohm.

Veja que para fins de obtenção da corrente crítica, o supercondutor se mantém no

estágio de flux creep do início ao fim do ensaio.

2.2 Conversores Eletrônicos de Potência

A função da eletrônica de potência é a de processar e controlar o fluxo de

energia elétrica suprindo as tensões e correntes na forma que melhor se encaixe à

carga [17]. Através de dispositivos semicondutores como IBGTs, MOSFETs, tiristores

e suas respectivas capacidades de condução e chaveamento, torna-se possível fazer

este controle. Como exemplos de circuitos chaveados, podem ser citados os

conversores CC/CC do tipo Buck e Boost, também chamados de Choppers, os

conversores CC/CA, mais comumente chamados de inversores, e conversores

CA/CC, conhecidos como retificadores. Será feito o detalhamento em especial para o

conversor do tipo Buck, comentando-se sobre seu funcionamento e as técnicas de

projeto.

15

2.2.1 Conversores CC/CC abaixadores

Estes conversores são amplamente utilizados para regulagem de fontes de

alimentação e em aplicações envolvendo acionamento de motores [17]. Através da

utilização de chaves semicondutoras, é possível controlar o valor médio da tensão CC

vista pela carga na saída do conversor através da relação entre o tempo que a chave

fica fechada e o tempo que a mesma fica aberta, respectivamente 𝑡𝑜𝑛 e 𝑡𝑜𝑓𝑓 . Esta

situação está representada na figura 9, onde é mostrado um circuito abaixador

baseado em chaveamento e um gráfico exibindo os instantes em que a chave está

fechada e aberta para um período 𝜏.

Figura 9 - Alteração no valor médio da tensão de saída através do chaveamento (adaptado de

[17]).

O processo de geração de um sinal com frequência constante, e que definirá

os instantes de abertura e fechamento da chave tal que a tensão de saída seja

controlada, é chamado de Modulação por Largura de Pulso (PWM) [17]. Através desse

método, varia-se o ciclo de trabalho D definido pela equação (2.15) de acordo com a

comparação entre um sinal de controle vc(t) e uma onda portadora dente de serra

vst(t). A geração deste sinal está mostrada em um esquema didático na figura 10.

16

Figura 10 - Geração do sinal para a chave.

𝐷 =𝑡𝑜𝑛𝜏

=𝑉𝑐𝑉𝑠𝑡

(2.15)

Deve-se mencionar que os conversores CC/CC podem ter dois modos de

operação distintos [17], o contínuo e o descontínuo. Esta nomenclatura está associada

ao fato de que no primeiro a corrente em nenhum momento para de ser conduzida, ou

seja, sua magnitude é sempre maior que zero, enquanto que no segundo a corrente

possui valor nulo em um determinado intervalo do ciclo.

2.2.2 Funcionamento do conversor Buck em modo contínuo de condução

O objetivo deste conversor é o de fornecer na saída um valor contínuo menor

porém proporcional ao de tensão na entrada. Para tanto, deve-se colocar um filtro LC

na saída do circuito da figura 9 e deslocar a carga, de forma a minimizar as

componentes harmônicas do sinal chaveado e manter apenas a componente contínua.

Além disso, adiciona-se um diodo para fazer com que a corrente flua no sentido da

entrada para a carga quando a chave estiver fechada, e evite a variação instantânea

de corrente sobre o indutor quando a chave estiver aberta. Com estas modificações, o

circuito utilizado para este conversor está colocado na figura 11.

17

Figura 11 - Conversor do tipo Buck.

Em termos de regime permanente, a corrente que passa pelo indutor no

início e no fim de um ciclo devem ser iguais. Dessa forma:

1

𝐿 𝑣𝐿 𝑑𝑡

𝑡+𝜏

𝑡

= 𝐼 𝑡 + 𝜏 − 𝐼 𝑡 = 0 (2.16)

Portanto, a integral da tensão no indutor ao longo de um período deve ser

igual a zero. Analizando o circuito da figura 11 para uma condição onde o capacitor C

é grande o suficiente para que a tensão na saída permaneça aproximadamente

constante ao longo de um ciclo, pode-se escrever:

(𝑉𝑑 − 𝑉𝑜)𝑡𝑜𝑛 − 𝑉𝑜 𝜏 − 𝑡𝑜𝑛 = 0 (2.17)

Combinando a equação (2.15) com a equação (2.17) e fazendo algumas

manipulações simples:

𝑉𝑜𝑉𝑑

=𝑡𝑜𝑛𝜏

= 𝐷 (2.18)

A equação (2.18) mostra que a relação entre a tensão de saída e a de

entrada varia linearmente com o ciclo de trabalho. Para encontrar a relação entre as

correntes, desprezam-se as perdas nos elementos do circuito e iguala-se a potência

de saída com a de entrada, de forma que:

𝑉𝑜𝐼𝑜 = 𝑉𝑑𝐼𝑑 (2.19)

𝐼𝑜𝐼𝑑

=𝑉𝑑

𝑉𝑜=

1

𝐷 (2.20)

18

As perdas existentes no conversor são provenientes de alguns fatores

específicos. Primeiramente as associadas ao chaveamento do dispositivo

semicondutor, que aumentam de acordo com a frequência de operação, sendo uma

consideração importante de projeto. Além disso, as ôhmicas existentes devido a não

idealidade dos condutores, contatos e do indutor utilizado. E por fim, devido às

características de condução do diodo, onde é recomendado que o mesmo seja de

recuperação rápida para que as perdas associadas sejam reduzidas.

2.2.3 Funcionamento do conversor Buck na fronteira entre o modo contínuo e o

descontínuo

Nesta situação, a corrente que atravessa o indutor passa pelo zero no início

de um ciclo e retorna a zero no fim. Sua forma de onda pode ser vista na figura 12, de

onde é possível concluir que seu valor médio 𝐼𝐿𝐵 é:

𝐼𝐿𝐵 =1

2𝐼𝐿𝑝

Onde o valor de pico da corrente 𝐼𝐿𝑃 pode ser escrito em termos da integral

da tensão sobre a indutância durante o tempo 𝑡𝑜𝑛 , dessa forma:

𝐼𝐿𝐵 =1

2𝐿(𝑉𝑑 − 𝑉𝑜)𝑡𝑜𝑛

Utilizando a equação (2.18) e manipulando algebricamente, têm-se que:

𝐼𝐿𝐵 =𝜏𝑉𝑑

2𝐿𝐷(1 − 𝐷) (2.21)

Cujo valor máximo é obtido para um ciclo de trabalho de 0.5, sendo este:

𝐼𝐿𝐵𝑚𝑎𝑥 =𝜏𝑉𝑑

8𝐿 (2.22)

Substituindo a (2.22) na (2.21), a corrente média sobre o indutor pode ser

escrita como:

𝐼𝐿𝐵 = 4𝐼𝐿𝐵𝑚𝑎𝑥 𝐷(1 − 𝐷) (2.23)

Deve-se notar então que para valores menores do que os providos pela

equação (2.23), para um determinado ciclo de trabalho, o conversor opera em modo

descontínuo [17].

19

Figura 12 - Operação na fronteira entre o modo contínuo e o descontínuo.

2.2.4 Tensão de ripple na saída do conversor.

Nas seções anteriores, o valor do capacitor utilizado no filtro LC foi

considerado grande o suficiente para que a tensão na carga fosse considerada

constante ao longo do ciclo. Entretanto, pode-se calcular de forma simplificada e com

boa aproximação o valor da flutuação existente em modo contínuo de condução como

função dos parâmetros do conversor. A figura 13 mostra a forma de onda aproximada

da corrente que atravessa o indutor ao longo de um período para um ciclo de trabalho

de 50%, onde 𝐼𝑜 é seu valor médio.

Figura 13 - Forma de onda aproximada da corrente que atravessa o indutor (adaptada de [17]).

20

Considerando que toda a componente de ripple da corrente flua pelo

capacitor e a sua componente média flua pelo resistor de carga [17], a quantidade de

carga ∆𝑄 trocada ao longo de meio ciclo pode ser dada pela área do triângulo

hachurado na figura 13, ou seja:

∆𝑄 =1

2

∆𝐼𝐿2

𝜏

2=

∆𝐼𝐿𝜏

8 (2.24)

Onde ∆𝐼𝐿 , que é o ripple da corrente que atravessa o indutor, pode ser

calculado simplesmente através da tensão no indutor:

∆𝐼𝐿 =𝑉𝑜𝐿

𝑡𝑜𝑓𝑓 =𝑉𝑜𝐿

(1 − 𝐷)𝜏 (2.25)

E esta troca de carga faz com que a tensão no capacitor se altere de um

valor ∆𝑉𝑜 , que é a tensão de ripple desejada. Através da definição de capacitância e

substituindo (2.25) em (2.24):

∆𝑄 = 𝐶∆𝑉𝑜 =𝑉𝑜8𝐿

1 − 𝐷 𝜏2

Isolando ∆𝑉𝑜 e após algumas manipulações:

∆𝑉𝑜 =𝑉𝑜𝜋

2

2 1 − 𝐷

𝑓𝑐²

𝑓𝑠² (2.26)

A equação (2.26) é comumente utilizada para o projeto de conversores do

tipo Buck, onde 𝑓𝑠 é a frequência de chaveamento e 𝑓𝑐 é a frequência de corte do filtro

LC utilizado, dada pela equação (2.27). Nota-se que para o valor de ripple ser

pequeno, deve-se ter 𝑓𝑐 ≪ 𝑓𝑠.

𝑓𝑐 =1

2𝜋 𝐿𝐶 (2.27)

Deve-se mencionar que, caso o capacitor não seja utilizado, haverá apenas a

filtragem do ripple existente na corrente que atravessa o indutor, sendo a flutuação

existente na tensão da carga dependente da natureza da mesma. Para este caso, e

considerando uma carga resistiva, a frequência de corte a ser imposta muito menor

que a de chaveamento está expressa na equação (2.28).

𝑓𝑐 =𝑅

2𝜋𝐿 (2.28)

A análise matemática para esta situação pode ser feita através da resposta

em frequência do circuito, ou seja, utilizando-se as propriedades do diagrama de

módulo de Bode para um filtro passa baixas de primeira ordem. Observando-se a

figura 14, e sabendo-se que a assíntota após a frequência de corte possui uma

inclinação de -20 dB/déc, é possível aproximar a atenuação 𝑥 em dB obtida para um

21

sinal de entrada de frequência 𝑓𝑠 > 𝑓𝑐 em função da frequência de corte do filtro. Esta

relação está descrita na equação (2.29).

Figura 14 - Resposta em frequência de um sistema de primeira ordem.

𝑥𝑑𝐵 = −20 𝑙𝑜𝑔10 𝑓𝑠𝑓𝑐 (2.29)

Da definição do valor de x em dB:

𝑥𝑑𝐵 = 20𝑙𝑜𝑔10(𝑥)

A magnitude da atenuação de amplitude do sinal será, portanto:

𝑥 =𝑓𝑐𝑓𝑠

(2.30)

Para o cálculo do ripple obtido na saída, pode-se considerar com boa

aproximação apenas a contribuição da componente fundamental da tensão na entrada

do filtro. Considerando uma tensão chaveada com um ciclo de trabalho de 50% (figura

15), a expansão em Série de Fourier resulta em:

22

Figura 15 - Tensão chaveada com ciclo de trabalho de 50%.

𝑎𝑛 =2

𝜏 𝑉𝑑 cos

2𝜋𝑛𝑡

𝜏 𝑑𝑡

0.5𝜏

0

= 0

𝑏𝑛 =2

𝜏 𝑉𝑑 𝑠𝑒𝑛

2𝜋𝑛𝑡

𝜏 𝑑𝑡

0.5𝜏

0

=2𝑉𝑑

𝜋𝑛 (𝑛 í𝑚𝑝𝑎𝑟)

𝑉 𝑡 = 2𝑉𝑑

𝜋(2𝑘 + 1)𝑠𝑒𝑛(

2𝜋(2𝑘 + 1)𝑡

𝜏)

𝑘=0

Utilizando a equação (2.30), o valor do coeficiente correspondente à

componente fundamental, e lembrando que o ripple é definido como o valor pico a pico

da forma de onda em questão, é possível estimar a flutuação de tensão na carga pela

equação (2.31):

∆𝑉𝑜 =4𝑉𝑑

𝜋 𝑓𝑐𝑓𝑠 (2.31)

A equação (2.31) relaciona a magnitude do ripple obtido na saída do

conversor Buck para o caso onde só há indutância no estágio de filtragem, a carga é

puramente resistiva e o ciclo de trabalho utilizado é de 50%.

23

2.2.5 Desempenho transitório do conversor Buck

Para muitas aplicações, as características transitórias do circuito devem ser

levadas em consideração para dimensionar adequadamente os componentes a serem

utilizados. A figura 16 mostra o filtro LC com uma carga resistiva, que será utilizado

para a modelagem matemática dos parâmetros transitórios.

Figura 16 - Filtro LC com carga resistiva.

A função de transferência que relaciona 𝑉𝑜(𝑠) com 𝑉𝑖(𝑠) pode ser expressa

conforme a equação (2.32):

𝐺 𝑠 =𝑉𝑜 𝑠

𝑉𝑖 𝑠 =

1

𝐿𝐶

𝑠² +𝑠

𝑅𝐶+

1

𝐿𝐶

(2.32)

Que pode ser comparada à uma função de transferência padrão de 2ª ordem

sem zeros, ou seja:

𝐺 𝑠 =

1

𝐿𝐶

𝑠² +𝑠

𝑅𝐶+

1

𝐿𝐶

=𝜔𝑛

2

𝑠2 + 2𝜁𝜔𝑛𝑠 + 𝜔𝑛2

Comparando-se termo a termo, encontram-se as equações (2.33) e (2.34):

𝐶 =1

2𝜁𝜔𝑛𝑅 (2.33)

𝐿 =1

𝜔𝑛2𝐶

(2.34)

24

Onde ζ é o coeficiente de amortecimento, que define o percentual de

ultrapassagem (P.O.), e 𝜔𝑛 a frequência natural, que define o tempo de acomodação

(𝑡𝑠𝑠) da resposta. Estes índices de desempenho estão mostrados na figura 17, e são

relacionados aos parâmetros em questão pelas equações (2.35) e (2.36) [18].

Figura 17 - Índices de desempenho transitório.

𝑃. 𝑂. % = 𝑒

−𝜁𝜋

1−𝜁2× 100%

(2.35)

𝑡𝑠𝑠 =4

𝜁𝜔𝑛 (𝑐𝑟𝑖𝑡é𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑒 2%) (2.36)

25

Em situações onde o ripple de tensão na carga não precisa de uma limitação

rigorosa ou onde o interesse é na corrente que atravessa o indutor, o capacitor pode

não ser utilizado. Reescrevendo a equação (2.32) de uma forma mais adequada, têm-

se que:

𝐺 𝑠 =𝑉𝑜 𝑠

𝑉𝑖 𝑠 =

1

𝑠²𝐿𝐶 +𝑠𝐿

𝑅+ 1

Zerando o elemento capacitivo, obtêm-se:

𝐺 𝑠 =𝑉𝑜 𝑠

𝑉𝑖 𝑠 =

1𝑠𝐿

𝑅+ 1

(2.37)

Sendo uma função de transferência de primeira ordem sem zeros. A

constante de tempo do sistema e seu tempo de acomodação são, respectivamente:

𝜏 =𝐿

𝑅 (2.38)

𝑡𝑠𝑠 =4𝐿

𝑅 (𝑐𝑟𝑖𝑡é𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑒 2%) (2.39)

26

3 Metodologia e Projeto

Nesta seção serão mostrados os equipamentos e dispositivos utilizados

neste trabalho, bem como o detalhamento do projeto, simulação, implementação do

conversor Buck e das montagens associadas.

3.1 Equipamentos e Dispositivos

3.1.1 Bobinas supercondutoras

As bobinas supercondutoras utilizadas neste experimento (figura 18) foram

confeccionadas em um trabalho passado do LASUP [19], e são compostas por fitas

2G de alta temperatura crítica similares às mencionadas na seção 2.1.2. Elas são

geometricamente idênticas, possuindo as mesmas dimensões, as quais são

mostradas na tabela 2

Figura 18 - Bobinas supercondutoras utilizadas nos ensaios.

27

Tabela 2 - Dimensões das bobinas supercondutoras utilizadas.

Número de espiras 55

Comprimento útil (mm) 190

Raio interno (mm) 15

Espessura da bobina (mm) 5

Comprimento de fita 2G (m) 28

3.1.2 IGBT e Driver

A chave semicondutora responsável pelo chaveamento no conversor Buck foi

o IGBT SKM145GB066D, cuja tensão coletor-emissor típica e as perdas por

chaveamento nas frequências de interesse deste trabalho são extremamente

pequenas. Este, juntamente com o Driver DRM100D80A utilizado, estão colocados na

figura 19. Suas especificações técnicas podem ser vistas em anexo na seção 8.1.

(a) (b)

Figura 19 - IGBT (a) e Driver (b) utilizados no conversor Buck.

3.1.3 Diodo

O diodo utilizado nos ensaios foi o VISHAY 95PFR de retificação, que possui

uma corrente máxima de 95 A em condução direta e uma tensão reversa máxima

maior que 400 V. Este está mostrado na figura 20, e sua folha de dados está em

anexo na seção 8.2

28

Figura 20 - Diodo utilizado no conversor Buck.

3.1.4 Resistores de potência

A carga presente na saída do conversor foi composta de 2 resistores de 5 Ω

cada, colocados em paralelo (figura 21).

Figura 21 - Resistores de potência utilizados como carga no conversor Buck.

29

3.1.5 Gerador de funções

Foi utilizado o modelo CFG253 da Tektronix para a geração do sinal senoidal

durante a etapa de medição da indutância das bobinas supercondutoras (seção 3.2).

O mesmo pode ser visto na figura 22.

Figura 22 - Gerador de funções CFG253.

3.1.6 Reatores

Tiveram a função de compor a parte indutiva do filtro durante o ensaio

mencionado na seção 3.4.1. Estas bobinas são de cobre e núcleo ferromagnético,

possuindo uma indutância de 2 mH e capacidade de corrente de 20 A cada, e estão

colocadas na figura 23.

Figura 23 - Reatores utilizados.

30

3.1.7 Arduino Uno R3

Devido à sua simplicidade e versatilidade, foi utilizado para a geração do

sinal PWM para o chaveamento do IGBT. Está mostrado na figura 24, e sua folha de

dados pode ser vista em anexo na seção 8.3

Figura 24 –Arduino Uno R3.

3.1.8 Osciloscópio e ponta de corrente

A figura 25 mostra o osciloscópio DSOX4024A da Keysight e a ponta de

corrente da Tektronix utilizados nas medições principais deste trabalho.

(a) (b)

Figura 25 - Osciloscópio (a) e ponta de corrente (b) utilizados.

31

3.1.9 Barramento CC

Para a alimentação do conversor durante as etapas descritas nas seções

3.4.1, 3.4.2 e 3.4.3, foi utilizado o barramento de corrente contínua existente no

laboratório de máquinas elétricas (LABMAQ), que foi o local da instalação do

conversor. Este por sua vez é alimentado por um gerador que permite a regulagem de

tensão via enrolamento de campo, sendo os níveis máximos de tensão e corrente para

utilização em bancada de, respectivamente, 150 V e 30 A.

3.2 Ensaios iniciais

3.2.1 Determinação da indutância própria das bobinas supercondutoras

Este ensaio se baseou na análise da resposta em frequência de uma das

bobinas supercondutoras em estado normal (temperatura ambiente). Foram geradas

tensões senoidais de amplitude conhecida e frequências da ordem de 10 a 30 kHz, as

quais foram submetidas aos terminais da bobina e daí feita a medição da corrente

elétrica que a percorria, sendo sua amplitude inversamente proporcional ao módulo da

impedânica 𝑍(𝜔) descrita pela equação:

𝑍 𝜔 = 𝑅𝑐𝑐 + 𝑗𝜔𝐿𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎

Onde deve-se ressaltar que como a bobina não foi refrigerada neste ensaio,

𝑅𝑐𝑐 possui um valor conhecido da ordem de algumas unidades de ohms e não foi

considerada sua variação com a frequência, mesmo por quê seu valor era previsto a

ser muito inferior ao da reatância indutiva para o intervalo frequências utilizado neste

ensaio. A figura 26 mostra o esquemático do circuito e a sua montagem.

32

Figura 26 - Ensaio para medição da indutância própria da bobina supercondutora.

Conhecendo-se então a amplitude da tensão gerada, da corrente medida, e a

frequência referente à este par, foi possível calcular a indutância da bobina pela

equação (3.1):

𝐿𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 =1

2𝜋𝑓

𝑉

𝐼

2

− 𝑅𝑐𝑐2 (3.1)

Foi feita uma tabela com os valores de indutância obtidos, e após uma

análise estatística foi utilizado um valor médio para a mesma. Os resultados podem

ser vistos na seção 4.1.1, e deve-se mencionar que como as bobinas supercondutoras

são geometricamente idênticas, só houve a necessidade de ensaiar uma delas.

3.2.2 Caracterização das bobinas supercondutoras

Como as bobinas em questão não eram ensaiadas desde Junho de 2014,

teve-se a iniciativa de fazer um novo ensaio para verificar se houve qualquer

degradação do supercondutor no decorrer deste intervalo de 2 anos. Através de uma

rotina em LabView e do circuito montado conforme o esquema da figura 27, foi feita a

33

aplicação de pulsos de corrente elétrica em cada bobina com duração de 3 segundos

e espaçados entre si de 9 segundos, os quais eram incrementados de 1 A por vez até

que a tensão nos terminais da bobina chegasse a um valor limite de 2,8 mV. Este

valor foi definido através do critério de campo elétrico máximo de 1 µV/cm descrito na

seção 2.1.5, e a respectiva corrente injetada foi então definida como crítica.

Figura 27 - Esquema de montagem do ensaio de caracterização.

Os resultados deste ensaio estão colocados e discutidos na seção 4.1.2, e

foram de grande importância para as próximas etapas do trabalho.

3.3 Projeto do Conversor Buck e

Montagens

3.3.1 Especificações do conversor

Considerando que o nível de tensão no barramento CC do local da instalação

era ajustável e possuia valor máximo de 150 V, e que a corrente máxima para uso nas

bancadas era de 30 A, o conversor foi projetado para os seguintes níveis de entrada e

saída máximos e de operação para os ensaios deste trabalho:

34

Níveis Máximos

Entrada: 150 V - 15 A

Saída: 75 V - 30 A

Níveis Operacionais

Entrada: 60 V - 6 A

Saída: 30 V - 12 A

fs = 10 kHz

3.3.2 Dimensionsamento dos componentes do circuito

Caso 1 - Utilização das bobinas de cobre como parte indutiva do filtro

Considerando que a indutância a ser utilizada na filtragem é composta

apenas pelas bobinas de cobre da figura 24 em paralelo:

𝐿1 = 1 𝑚𝐻

Considerando os valores especificados, o ciclo de trabalho referente ao

chaveamento deve ser, pela equação (2.18):

𝐷 =30

60= 0,5

Para os níveis de tensão e corrente especificados para a saída, determinou-

se a resistência de carga:

𝑅 =30

12= 2,5 Ω

Fazendo-se a verificação do ripple máximo a ser obtido na saída através das

equações (2.28) e (2.31):

∆𝑉𝑜𝑉𝑜 𝑚𝑎𝑥

≅ 11%

Especificação de ripple para este caso, utilizando uma folga de projeto:

∆𝐼𝑜𝐼𝑜 𝑚𝑎𝑥 ,1

=∆𝑉𝑜𝑉𝑜 𝑚𝑎𝑥 ,1

= 20%

Caso 2 - Utilização da bobina supercondutora como parte indutiva do filtro.

Considerando o resultado do ensaio detalhado na seção 3.2.1 e exibido na

seção 4.1.1, têm-se que a indutância de cada bobina supercondutora é:

35

𝐿2 = 462 𝜇𝐻

Sendo as especificações de ciclo de trabalho e resistência de carga iguais ao

do caso anterior, verifica-se o ripple máximo através das equações (2.28) e (2.31):

∆𝑉𝑜𝑉𝑜 𝑚𝑎𝑥

≅ 22%

Especificação de ripple para este caso, utilizando uma folga de projeto:

∆𝐼𝑜𝐼𝑜 𝑚𝑎𝑥 ,2

=∆𝑉𝑜𝑉𝑜

𝑚𝑎𝑥 ,2

= 30%

Considerando que o ripple de interesse é o da corrente que atravessa a

bobina do filtro, foi feito o projeto do conversor sem a utilização de capacitores em

paralelo com a carga, visto que estes apenas alteram o ripple de tensão sobre a

mesma, não afetando portanto a forma de onda da corrente que passa pela bobina.

Este interesse, como já foi mencionado anteriormente, vêm do fato de que as

componentes harmônicas de frequências da ordem da de chaveamento devem causar

as perdas AC descritas na seção 2.1.4 na bobina supercondutora. Deve-se ressaltar

que a bobina supercondutora estaria submetida a um pico de corrente de

aproximadamente 13,8 A, o que é suficientemente abaixo da corrente crítica da

mesma.

3.3.3 Simulações do conversor Buck

Para a análise da operação do conversor, foi feita a simulação considerando

a ausência total de perdas, ou seja, com os elementos sendo ideais. O diagrama de

simulação feito no PSIM está exibido na figura 28, e os resultados da simulação

contendo as formas de onda de tensão e corrente na saída tanto para o caso 1 quanto

para o 2 para uma tensão de entrada de 60 V estão mostrados na figura 29.

Figura 28 - Diagrama de simulação do conversor Buck.

36

(a)

(b)

Figura 29 - Tensão e corrente na carga para o caso 1 (a) e para o caso 2 (b).

37

De onde é possível se observar que os níveis de tensão, corrente e ripple na

carga obedecem com fidelidade ao que foi projetado, assim como o valor médio obtido

na saída.

3.3.4 Montagem da bancada com os dispositivos eletrônicos

Após a etapa de projeto, foi dado início à montagem do conversor. Para

tanto, dimensionou-se uma bancada de MDF de 50 x 25 cm, onde foram colocados os

dispositivos eletrônicos de controle à esquerda, e a parte de potência com o IGBT e o

diodo à direita. A figura 30 ilustra esta montagem, já com a presença dos terminais

elétricos de potência para a conexão com a fonte.

Figura 30 - Bancada do Conversor.

3.3.5 Montagem do sistema de acoplamento das bobinas supercondutoras

Como mencionado na seção 2.1.4, para que seja feita a medição da

componente resistiva da tensão sobre a bobina supercondutora, é necessário utilizar

uma bobina de cancelamento. Considerando as bobinas geometricamente idênticas da

figura 19, as mesmas foram acopladas magneticamente segundo a configuração

mostrada na figura 31, de forma a permitir tanto que a indutância vista pelos terminais

38

elétricos seja zero quanto o dobro do equivalente série delas (4 vezes a indutância de

uma bobina), bastando apenas inverter a conexão elétrica de um caso para o outro.

(a)

(b)

Figura 31 - Vistas frontal e lateral da configuração de acoplamento magnético das bobinas (a) e

circuito equivalente para cada caso de acoplamento (b).

3.4 Ensaios Principais

3.4.1 Implementação do conversor Buck com as bobinas de cobre

Nesta etapa foi feita a montagem do conversor de acordo com o circuito da

figura 28. O sinal PWM para o chaveamento do IGBT foi proveniente do Arduino,

sendo este controlado diretamente por uma rotina de programação, e as bobinas de

cobre mostradas na figura 23 foram colocadas em paralelo, de forma a garantir o nível

admissível de corrente em cada uma. Os resistores de potência da figura 21 foram

colocados em paralelo entre si e em série com o arranjo em paralelo dos reatores,

operando como carga para o circuito. Por fim foi feita a regulagem da tensão de

entrada através do campo do gerador CC e então ligado o circuito, onde foram feitas

39

medições de corrente na carga para diferentes ciclos de trabalho. A montagem em

questão pode ser vista na figura 32.

Figura 32 – Montagem do conversor Buck utilizando bobinas de cobre.

3.4.2 Implementação do conversor Buck com uma bobina supercondutora

Uma das bobinas mostradas na figura 18 foi conectada primeiramente ao

circuito utilizando a mesma topologia da figura 28, e em seguida colocada em um

recipiente com isolação térmica na base e nas laterais. Este então foi preenchido com

nitrogênio líquido de forma a causar a transição do material supercondutor. Por fim foi

ligado o conversor à alimentação e foram feitas as medidas da mesma forma que no

ensaio descrito na seção 3.4.1. A figura 33 a seguir mostra a montagem deste ensaio.

40

Figura 33 - Montagem do conversor Buck utilizando a bobina supercondutora.

3.4.3 Ensaio para medição das perdas AC

Considerando o que foi descrito na seção 2.1.4, o sistema de acoplamento

da figura 31 foi conectado ao circuito de forma a anular a indutância vista pelos

terminais, para que então fosse possível medir a componente resistiva da tensão

sobre as bobinas supercondutoras. A figura 34 mostra o esquemático (a) e a

montagem (b) do circuito.

41

(a)

(b)

Figura 34 - Esquemático (a) e montagem (b) para medição de perdas AC.

42

4 Discussões e Resultados

4.1 Resultados Iniciais

4.1.1 Indutância própria das bobinas supercondutoras

Os resultados obtidos para o ensaio descrito anteriormente na seção 3.2.1

estão colocados na tabela 3, onde podem ser vistos os valores de indutância para

cada ponto de operação. Foi feita uma média dos valores presentes na tabela para

definir o valor de indutância de cada bobina supercondutora, e uma análise estatística

para o cálculo do desvio padrão associado.

Tabela 3 – Resultados do ensaio para medição da indutância.

V (mV) I (mA) f (kHz) L (µH)

475.2 14.3 10.0 525

498.9 13.5 11.3 517

570.2 12.7 16.0 445

601.4 11.1 19.2 449

621.7 10.3 21.7 441

700.9 10.9 25.3 403

950.4 12.7 25.9 460

966.2 11.9 28.5 453

𝐿 = 462 𝜇𝐻

𝜎 = 40,3 𝜇𝐻

𝜎 % =40.3

462× 100% ≅ 8,72%

Como o valor do desvio padrão foi menor que 10% da média obtida, a

indutância foi considerada como aceitável e então utilizada no projeto.

4.1.2 Caracterização das bobinas supercondutoras

Através deste ensaio, foram obtidas curvas de tensão x corrente que

caracterizam o comportamento das bobinas supercondutoras. O gráfico contendo

estas curvas está mostrado na figura 35, de onde foi possível obter também as

correntes críticas de cada bobina.

43

Figura 35 – Curvas de caracterização das bobinas supercondutoras.

Como esperado, ambas apresentam o efeito de resistência nula inicialmente,

sendo este representado por uma tensão medida igual a aproximadamente zero para

valores de corrente até 35 A, até que a curva começa a se inclinar representando o

deslocamento da rede de vórtices. Finalmente, quando é atingido o limiar de tensão de

2,8 mV definido anteriormente, é definida a corrente crítica. Dessa forma, foram

obtidas:

𝐼𝑐 ,1 = 55 𝐴

𝐼𝑐 ,2 = 59 𝐴

Por razões de segurança, e considerando que o objetivo é se trabalhar na

região mais horizontal das curvas mostradas na figura 35, a corrente crítica a ser

obedecida nas etapas de projeto foi definida como 40 A.

4.2 Resultados Principais

4.2.1 Conversor Buck com as bobinas de cobre

Seguindo a metodologia descrita na seção 3.4.1, a figura 36 mostra as

formas de onda da corrente medida na carga para ciclos de trabalho variando de 10 a

44

50% para uma tensão de alimentação de 60,4 V, juntamente com as respectivas

formas de onda simuladas para a mesma situação.

Figura 36 - Corrente medida e simulada na carga para ciclos de trabalho de 10 a 50% e tensão

de entrada 60,4 V.

Através da análise dos dados mostrados acima, nota-se uma boa

proximidade entre as formas de onda medidas e simuladas. Além disso, foi montada a

tabela 4 com os valores médios experimental e simulado para cada caso.

Tabela 4 - Comparação entre os valores médios teóricos e experimentais para a corrente na

carga utilizando as bobinas de cobre.

Ciclo de Trabalho (%) Corrente Média Simulada (A)

Corrente Média Experimental (A)

10 2,42 2,41

20 4,83 5,08

30 7,25 7,83

40 9,66 10,4

50 12,1 12,9

Da comparação mostrada acima, conclui-se que os valores experimentais

são bastante próximos dos teóricos, divergindo-se em grande parte devido aos erros

provenientes da medição, como por exemplo a existência dos picos nas formas de

onda nos instantes de comutação do IGBT. Estes por sua vez ocorrem devido à

característica da própria ponta sujeita ao sinal de alta frequência do circuito e aos

ruídos emitidos. Também podem ser citadas as perdas por chaveamento, nos contatos

45

elétricos, por condução no diodo e também ôhmicas na bobina de cobre como fontes

da diferença entre os valores ideal e experimental.

O ripple máximo obtido desconsiderando os picos provenientes da medição

foi de aproximadamente 18,8%, estando abaixo do valor máximo de 20% estipulado

por projeto.

4.2.2 Conversor Buck com uma bobina supercondutora

A figura 37 mostra a corrente medida na carga para ciclos de trabalho

variando de 10 a 50% para uma tensão de entrada de 61,1 V, juntamente com as

respectivas formas de onda simuladas para a mesma situação. Deve-se mencionar

que estas medições foram obtidas segundo a metodologia descrita na seção 3.4.2 e

que o ripple obtido experimentalmente foi ainda menor que o simulado, indicando que

a indutância da bobina supercondutora era um pouco maior do que o valor encontrado

pelo ensaio da seção 3.2.1. Assim como feito na seção anterior, foi montada a tabela 5

comparando os valores médios experimental e ideal da corrente na carga.

Figura 37 - Corrente medida e simulada na carga para ciclos de trabalho de 10 a 50% e tensão

de entrada 61,1 V.

46

Tabela 5 - Comparação entre os valores médios teóricos e experimentais para a corrente na

carga utilizando uma das bobinas supercondutoras

Ciclo de Trabalho (%) Corrente Média Ideal (A) Corrente Média Experimental (A)

10 2,44 2,72

20 4,89 5,49

30 7,33 8,28

40 9,78 10,8

50 12,2 13,4

Nota-se novamente a proximidade entre os valores teóricos e experimentais

obtidos. Deve-se mencionar que as divergências existentes, assim como as

encontradas na seção 4.2.1, são provenientes da medição, das perdas nos

dispositivos semicondutores do circuito e das ôhmicas nos condutores e contatos. O

ripple obtido neste ensaio para a operação com ciclo de trabalho de 50% foi de

aproximadamente 15,7%, que se encontra abaixo do valor de 30% especificado na

seção 3.3.1, e portanto mostrando que o conversor atendeu os requisitos de projeto.

A figura 38 mostra a amplitude dos harmônicos da forma de onda de corrente

contida na figura 37 referente a um ciclo de trabalho de 50% após uma análise via

Série de Fourier, desconsiderando-se a componente CC. Deve-se notar que os

harmônicos de alta frequência não causaram efeitos indesejáveis como a mudança no

comportamento supercondutor ou perdas que fossem significativamente mensuráveis

para o nível de corrente em questão, mesmo por que suas amplitudes somadas ao

valor médio da forma de onda ainda estavam bem abaixo da corrente crítica da bobina

utilizada.

Figura 38 - Distribuição harmônica da forma de onda da figura 37 referente a um ciclo de

trabalho de 50%.

47

4.2.3 Medição das perdas AC

Os resultados obtidos segundo a metodologia descrita na seção 3.4.3 estão

colocados na figura 39 para uma tensão de entrada de 60,2 V. É possível notar que a

indutância obtida pelo sistema de acoplamento não foi nula, dado a existência de um

ripple e forma de onda da tensão característica a de um indutor neste circuito. Além

disso, o sistema de medição atual não conseguiu fazer a aquisição de dados

necessária de forma precisa, visto que a amplitude do sinal de interesse é

extremamente pequena e portanto suscetível a ruídos. Para corrigir tal problema, será

necessária a utilização de um filtro passa-banda analógico com banda de passagem

para frequências da ordem de dezenas de kHz.

(a)

(b)

Figura 39 - Corrente (a) e tensão (b) medidas sobre as bobinas supercondutoras.

48

E assim como feito anteriormente, a figura 40 mostra a análise de Fourier do

sinal da figura 39 (a) sem a componente CC. Como o ripple nesta situação é muito

maior do que na anterior, as amplitudes dos harmônicos de alta frequência também

são, e mesmo assim as bobinas supercondutoras não apresentaram nenhuma

mudança de comportamento aparente em termos de inspeção e medição. Entretanto,

como o sistema de acoplamento magnético não causou o efeito desejado, não foi

possível fazer o cálculo das perdas AC com os dados deste ensaio.

Figura 40 - Distribuição harmônica da forma de onda da figura 39 (a).

Analisando-se todos os dados exibidos neste capítulo, é possível observar

que o comportamento do conversor Buck foi próximo do previsto em teoria, e todos os

requisitos de projeto foram atendidos, tanto para o caso onde foram utilizados reatores

como parte indutiva do filtro como para o caso de utilização da bobina supercondutora.

Já para o caso do ensaio de perdas AC, foi observado que as bobinas

supercondutoras suportaram harmônicos com amplitude e frequência da ordem de 7 A

e 10 kHz sem apresentar uma mudança de comportamento mensurável. Além disso, a

metodologia adotada para esta etapa não foi ótima o suficiente para gerar o efeito

desejado de anulamento total da indutância vista pelo circuito e a instrumentação não

foi adequada o suficiente para fazer a aquisição dos sinais da melhor forma possível.

49

5 Conclusões e Propostas para

Trabalhos Futuros

5.1 Conclusões

Através da análise das medições obtidas ao longo dos ensaios, pode-se

concluir que o projeto e a implementação do conversor Buck foram bem sucedidos. As

formas de onda obtidas experimentalmente e mostradas na seção 4.2.1 se

aproximaram bem das obtidas através de simulações, assim como seus valores

médios, como pode ser observado na tabela 4 e na figura 36. Além disso, a utilização

da bobina supercondutora como parte indutiva do filtro do conversor também foi feita

com sucesso, onde o ripple máximo obtido na saída foi abaixo do imposto por projeto,

as formas de onda obtidas na prática se aproximaram bastante das teóricas

equivalentes e a bobina em questão não apresentou efeitos indesejáveis como a

perda do comportamento supercondutor ou perdas que fossem significativamente

mensuráveis devido às componentes de alta frequência da corrente.

Com relação ao processo de medição de perdas AC, conclui-se que o

sistema de acoplamento não atingiu o objetivo de zerar totalmente a indutância vista

pelos terminais, uma vez que as medições exibidas na figura 39 caracterizam o

comportamento de um elemento indutivo. Além disso, a medição utilizada não foi

robusta o suficiente para se obter com precisão a componente resistiva da tensão

sobre as bobinas supercondutoras, uma vez que a amplitude deste sinal é prevista

como sendo da ordem de microVolts e, portanto, suscetível a ruídos e efeitos

indesejados, sendo necessário um processo intermediário de filtragem.

5.2 Propostas para Trabalhos Futuros

5.2.1 Melhorias na bancada do conversor

Nos ensaios feitos com a bancada neste trabalho, foi necessária a utilização

de uma fonte CC externa de 15 V para alimentação do driver do IGBT. Propõe-se a

implementação de uma fonte compacta imbutida na bancada para este fim, podendo

esta ser eletrônica convencional ou mesmo a partir de um arranjo de baterias, visto

que a corrente drenada é extremamente baixa.

50

Substituição do diodo de potência utilizado por um de recuperação rápida,

visto que este apresentava variações grandes de temperatura devido à alta frequência

utilizada no chaveamento do IGBT. Esta mudança permitirá a utilização de frequências

de chaveamento mais elevadas e a obtenção de um ripple de corrente menor na

saída.

5.2.2 Melhorias no sistema de medição

Devido aos problemas mencionados na seção 4.2.3 referentes à medição,

propõe-se a utilização de um filtro passa-banda analógico ou mesmo de uma ponteira

ativa de osciloscópio, de forma a filtrar as frequências indesejadas e prover o sinal de

interesse com muito mais confiabilidade.

5.2.3 Projeto de bobinas para utilização em conversores e no sistema de

acoplamento

Considerando os resultados positivos obtidos anteriormente para as bobinas

supercondutoras sujeitas à componentes harmônicas de alta frequência, sugere-se

que seja feito um projeto de bobinas com geometria adequada para a aplicação,

permitindo uma otimização na indutância própria e também uma capacidade melhor de

acoplamento magnético para futuros testes de medição de perdas AC.

Com a otimização da geometria destas bobinas, será também possível

aplicá-las em conversores do tipo Boost para que, sendo as perdas AC minimizadas e

sabendo-se que não há componentes ôhmicas como nas bobinas tradicionais, as

relações teóricas sejam ainda mais próximas das encontradas na prática.

51

6 Bibliografia

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1992.

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Oxford, Pergamon Press, 1978.

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Naturwissenschaften 21, 787, 1933.

[4] dos Reis Martins, F. G., "Caracterização de fitas supercondutoras 2G na presença

de campos magnéticos". Projeto final para o grau de engenheiro eletricista,

DEE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2012.

[5] Telles, G. T., "Sistema de medidas de força para mancais magnéticos

supercondutores". Projeto final para o grau de engenheiro eletricista, DEE/UFRJ, Rio

de Janeiro, RJ, Brasil, 2015.

[6] Abrikosov, A. A., "On the magnetic properties of superconductors of the second

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Laboratory, Schenectady, New York, 1962.

[8] Sass, F., "Modelagem do comportamento de mancais magnéticos utilizando fitas e

blocos maciços supercondutores". Tese de doutorado para obtenção do título de

Doutor em Engenharia Elétrica, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2015.

[9] http://www.superpower-inc.com/content/2g-hts-wire (acesso 12/09/2016).

[10] Ramo, S., Whinnery, J. R., Duzer, T. V., "Fields and waves in communication

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[11] Kasal, Raphael B., “Simulação de supercondutores pelo modelo de estado crítico”.

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[12] Kim, Y. B., Hempstead, C. F., Strnad, A. R., "Magnetization and Critical

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[13] Lee, Peter J., “Engineering Superconductivity”, John Wiley & Sons, Inc. 2001.

[14] Rogalla, H., Blank, D. H. A., “Applied Superconductivity 1997”. Volume 2., Institute

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52

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Design", 2nd Ed. John Wiley & Sons, Inc. New York, 1995.

[18] Ogata, K. "Modern Control Engineering", 5th Ed. Prentice Hall.

[19] dos Reis Martins, F. G., "Projeto de um motor linear supercondutor com fitas de

segunda geração". Tese de mestrado para obtenção do titulo de Mestre em

Engenharia Elétrica, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2014.

53

7 Apêndice

7.1 Rotina no arduino para geração do

sinal PWM

#include <PWM.h>

int pinoPWM = 9; // Pino 9 escolhido para a saída do sinal PWM

int32_t frequency = 10000; // frequência em Hz que será imposta ao pino definido

anteriormente

float duty_cycle = 50; // ciclo de trabalho em %

void setup()

// put your setup code here, to run once:

InitTimersSafe(); // necessário para inicialização dos Timers exceto o "Timer 0" (para

manter as funções de tempo funcionando normalmente)

bool success = SetPinFrequencySafe(pinoPWM, frequency); // recomendação da

própria library, retorna True se tiver conseguido executar

if(success)

pinMode(13, OUTPUT); // acender o LED do pino 13 para verificar se a frequência

foi trocada com sucesso

digitalWrite(13, HIGH);

void loop()

// put your main code here, to run repeatedly:

54

float auxiliar = 255*duty_cycle/100; // adapta o valor do ciclo em % para um numero

entre 0 e 255

int duty_adaptado = (int)(0.5 + auxiliar); // arredonda o valor anterior para o inteiro

mais próximo

pwmWrite(pinoPWM, duty_adaptado); // funciona como o analogWrite mas apenas

para os timers inicializados

55

8 Anexos

8.1 Folha de dados do IGBT

56

57

8.2 Folha de dados do Diodo

58

59

8.3 Folha de dados do Arduino