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Amazon Cooperation Treaty Organization Global Environment Facility United Nations Environment Programme PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E MUDANÇA CLIMÁTICA OTCA/GEF/PNUMA FONTE: Raimundo Nonato Cunha Pinheiro- Rio Purus CONSULTORA: YOUNER RAVENA COMPONENTE-III ESTRATÉGIAS DE RESPOSTA SUBPROJETO-III.2 PRIORIDADES ESPECIAIS SOBRE ADAPTAÇÃO Atividade III.2.1. Mudanças climáticas, adaptação Capacidade e governança risco na Sub-bacia do projeto transfronteiriço Purus River "Gestão Integrada e Sustentável dos recursos Hídricos transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas Considerando a Variabilidade do Clima e mudanças climáticas” Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, Surinam y Venezuela

PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS … · As figuras a seguir ilustram essa sociodiversidade que desenha o espaço, seguidas de um croqui que expressa a sociodiversidade

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Amazon Cooperation Treaty Organization

Global Environment Facility

United Nations

Environment Programme

PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A

VARIABILIDADE E MUDANÇA CLIMÁTICA OTCA/GEF/PNUMA

FONTE: Raimundo Nonato Cunha Pinheiro- Rio Purus

CONSULTORA: YOUNER RAVENA COMPONENTE-III ESTRATÉGIAS DE RESPOSTA

SUBPROJETO-III.2 PRIORIDADES ESPECIAIS SOBRE ADAPTAÇÃO

Atividade III.2.1. Mudanças climáticas, adaptação Capacidade e governança risco na Sub-bacia do projeto transfronteiriço Purus River "Gestão Integrada e Sustentável dos recursos Hídricos transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas Considerando a Variabilidade do Clima e mudanças climáticas”

Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, Surinam y Venezuela

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 3

2 USO DO SOLO E DA ÁGUA: ALTO E MÉDIO/BAIXO PURUS. ..................................... 7

2.1 Alto rio Purus .................................................................................................................... 9

2.2 Médio/baixo rio Purus. ................................................................................................. 12

3 IMPACTOS E ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS

DA SUB-BACIA DO RIO PURUS FRENTE AOS EVENTOS EXTREMOS DE SECAS E

ENCHENTES. .................................................................................................................... 15

3.1 Considerações gerais. ................................................................................................... 15

3.2 Análise de gráficos separados em alto e médio/baixo Purus. ............................... 19

3.2.1 Eventos de SECA extrema para o ALTO e MÉDIO/BAIXO Purus. ........................ 19

3.2.2 Eventos de ENCHENTE extrema para o ALTO e MÉDIO/BAIXO Purus. ................ 26

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 35

PRODUTO FINAL

PRODUTO IV- RELATÓRIO COM ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DA SITUAÇÃO ATUAL DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA SUB-BACIA DO RIO PURUS A PARTIR DO CONSUMO E PROCESSAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS E TRANSFORMAÇÕES DEMOGRÁFICAS NA SUB-BACIA DO RIO PURUS PARA O ESTABELECIMENTO DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO PARA A GOVERNANÇA DE RISCO.

1 INTRODUÇÃO

A Amazônia brasileira apresenta uma diversidade de ecossistemas que se reflete

na biodiversidade de sua fauna e flora e na diversidade cultural de suas comunidades

humanas (MORAN, 1990; MAUÉS, 1999; TOCANTINS, 2000). Uma variável central

dentro desse cenário de tantas diversidades configura-se na dinâmica de seus corpos

d’águas, especialmente seus rios. A bacia do rio Amazonas representa aproximadamente

um terço da América Latina, com 7.050.000 km², sendo que do ponto de vista das

bacias brasileiras, ela se apresenta como a maior, tendo em sua área de influência mais

da metade do território nacional (SANTOS, 1962). Para representar esse ecossistema,

este relatório lança mão do bioma que é apresentado pela sub-bacia do rio Purus, pois

esta apresenta-se como uma das menos antropizadas, consequentemente, seus habitantes

ainda preservam muitos dos conhecimentos que tradicionalmente foram passados de

geração à geração.

As comunidades que habitam as terras e corpos d’água do Purus, ao longo do

tempo, desenvolveram um grande número de estratégias e técnicas adaptativas ao

universo de variáveis ambientais presentes no contexto em que vivem. Dentre essas

técnicas e estratégias, pode-se citar a diversidade de espécies de mandioca e macaxeira,

que são plantadas de acordo com os indicativos climáticos articulados à dinâmica do

rio. As variadas artes de pesca utilizadas também indicam um conhecimento peculiar e

refinado sobre o ambiente revelando a diversidade de espéciesda ictiofauna,

especialmente considerando as variáveis climáticas que envolvem e afetam o ciclo das

águas, tanto na dinâmica do rio quanto da chuva. Os quadros a seguir apresentam uma

visão geral do ambiente e das formas de seu uso pela agricultura e demais atividades de

subsistência.

Quadro 01: Ambientes e escolhas de cultura.

Ambiente Tipos de Cultura

Terra Firme

Mata

Permanente e Temporária

Capoeirão

Capoeira

Juquira

Várzea Várgea

Vazante Temporária Praia

Fonte: trabalho de campo 2006-2009 ejul/2013.

Os tipos de ambientes diferenciados proporcionam a esta população uma

diversidade de cultivo, podendo ser este permanente ou temporário. De acordo com o

ambiente em que mora as populações tradicionais do rio Purus possuem mais afinidade

com um ou outro tipo de cultura, sendo que geralmente se dedicam a ambos. Os

principais tipos de cultura estão ilustrados no quadro abaixo:

Quadro 02: Tipos de cultura.

Cultura Permanente

Cultura Temporária

Andiroba Castanha Copaíba Seringa Banana Goiaba Limão Manga

Ingá Urucum Mamão Pupunha Coco Laranja Abacate

Macaxeira Mandioca Milho Melancia Jerimum Feijão Quiabo Hortaliças

Fonte: trabalho de campo 2006-2009 ejul/2013.

Quadro 03: Variedades de Mandioca.

Tipos de Mandioca

Seis mês Cobiçada Camarão Olhudinha Pretinha Solimões Quatro mês Flecha

Fonte: trabalho de campo 2006-2009 ejul/2013.

Quadro 04: Variedade de pesca.

PESCA

Peixes Quelônios Répteis

Tambaqui Surubim Tucunaré

Pacú Aracú Aruanã Piranha Pirarucu

Pirara Filhote

Sardinha Pescada Branca

Tartaruga da Amazônia Tracajá

Zé Prego

Jacaré-Açu

Jacaré Tinga

Fonte: trabalho de campo 2006-2009 ejul/2013.

No extrativismo, o conhecimento sobre a floresta e seus recursos se expressa no

uso variado de espécies da fauna e da flora da região. Copaíba e Andiroba despontam

como espécies bastante demandadas nos mercados regional e nacional, sendo que a elas

se somam, no uso local, diversas outras espécies da flora amazônica. Por outro lado, a

atividade de caça também revela um saber particular nativo sobrea floresta, estemarcado

pelo conhecimentoda variedade do comportamento da fauna local. A criação de animais

varia de acordo com a dinâmica do rio, mas normalmente é voltado para o consumo de

subsistência, sendo o Gado Bovino a criação que melhor estabelece a relação dessas

populações como mercado.

Quadro 05: Caça e Criação de Animais1.

1 As espécies salientadas com asterisco (*) são relatadas como escassas.

Caça

Criação de Animais

Catitu Quexada Capivara* Paca Tatu Cutia Anta* Macaco (Guariba) Preguiça Lagartos

Gado Porco Galinha Pato

Fonte: trabalho de campo 2006-2009 ejul/2013.

Dentro desse cenário ecológico e social, essas comunidades apresentam

estratégias para lidar com eventos climáticos extremos, como períodos de estiagem e

cheias do rio Purus. Tamanha capacidade adaptativa encontra-se diretamente ligada à

dinâmica do rio, sendo que estevincula-se ao ciclo da água, que notoriamente relaciona-

se aos ciclos da chuva. Assim, a vida humana é dinâmica, associada e interligada à vida

das águas: seca, enchente, vazante e cheia do rio e, na fala local, muita chuva e pouca

chuva. Os eventos extremos fazem parte desse ciclo, consequentemente, os ribeirinhos

do Purus estão, do ponto de vista histórico e socioambiental, adaptados às alterações dos

eventos climáticos marcados por secas extremas e enchentes extremas. Contudo, nas

duas últimas décadas, esses eventos se intensificaram e deixaram de seguir a lógica até

então estabelecida, fazendo com que as estratégias se tornem menos eficientes.

Este relatório apresenta de forma sintética osmodos de utilização dos recursos

pelas populações tradicionais da sub-bacia do rio Purus enfocando suas estratégias de

reprodução social diante dos eventos extremos de cheia e seca, utilizando como base os

relatórios anteriores (produto02 e 03), para então formular proposições de ações a serem

tomadas diante dos impactos sofridos pelos ribeirinhos. Encontra-se, portanto, dividido

em duas seções, a saber: a) uso do solo e da água, focando o impacto dos eventos

extremos nestas ações; b) análises de dados primários sobre a percepção dos ribeirinhos

sobre os eventos extremos e proposições de ações a serem tomadas diante dos impactos

sofridos pelos ribeirinhos. A compreensão das formas de utilização dos recursos e as

mudanças, que já são percebidas como formas de adaptabilidade à celeridade de eventos

climáticos extremos na sub-bacia do rio Purus, ponderam sobre como se deve agir para

o estabelecimento de medidas de adaptação para governança de risco.

2 USO DO SOLO E DA ÁGUA: ALTO E MÉDIO/BAIXO PURUS.

O percurso do rio Purus é marcado por uma ampla sociodiversidade,

característica de suas populações tradicionais, dentro do tipo socioambiental já

delimitado nos outros relatórios, convivendo com as limitações impostas pelas Unidades

de Conservação que desenham o espaço da calha em conjunto com as Terras Indígenas.

As figuras a seguir ilustram essa sociodiversidade que desenha o espaço, seguidas de

um croqui que expressa a sociodiversidade de uso do solo no percurso Lábrea/Beruri.

Figura 1:Terras Indígenas e Unidades de Conservação em Santa Rosa doPurus.

Fonte: ISA, 2009 apud RAVENA-CAÑETE et al, 2010.

Figura 2: Localidade, Unidades de Conservação e Terras Indígenas entre Pauini e Canutãma.

Fonte: ISA, 2009 apud RAVENA-CAÑETE et al, 2010.

Do ponto de vista geopolítico o espaço assim se desenha também pela pressão

entre UC’s e TI’s frente às áreas de acesso para os ribeirinhos.

Figura 3 : Uso do espaço para agricultura e pecuária na calha do rio Purus.

Fonte: RAVENA-CAÑETE et al, 2008.

As figuras anteriores expressam o processo de pressão sobre o uso do território

vivenciado pelos ribeirinhos do Purus, a partir, tanto das imposições originadas na

Constituição Federal de 1988,com a instituição das terras indígenas, mas especialmente,

pela criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (lei 9985/2000) e com

ele a multiplicação de unidades de conservação. Nesse sentido, vale observar a

recorrência de casamentos interétnicos como forma encontrada pelas populações

ribeirinhas para inserção nos territórios indígenas garantindo, portanto, o acesso aos

recursos naturais dessas áreas2.

Entre as culturas as quais se dedicam as populações tradicionais do rio Purus, tal

como para grande parte da população da Amazônia está, como visto, o cultivo da

mandioca e macaxeira. Esta é uma prática fortemente influenciada pela dinâmica das

águas, principalmente quando não realizada em regiões de terra firme. Nesses casos, os

roçados da várzea e da praiase tornam menos custosos, dado que demandam menor

esforço físico para o preparo e plantio, pois a vegetação dessas áreas é menos

densa.Com os eventos climáticos extremos, essas roças são as mais prejudicadas. Em

casos de cheias, quando estas ocorrem de forma muito acelerada, esses roçados não têm

tempo suficiente para amadurecer e realizar a colheita.

Já conhecidas as variedades de ambientes, temporalidade e espécies cultivadas,

sazonalidades da pesca, da caça e criação de animais, objetiva-se aqui compreender

como se dão as formas de adaptação aos impactos decorrentes de eventos extremos, por

meio da análise do uso dos recursos naturais realizado pela população do rio Purus. Para

tanto, divide-se a sub-bacia emalto Purus e médio/baixo Purus3, para então, apresentar

proposições sobre como agir neste novo momento ecológico de secas e cheias extremas

na sub-bacia do rio Purus.

2.1 Alto rio Purus.

2 Para cenáriosde pressão sobre os recursos naturais e casamentos interétnicos no rio Purus e Rio Negro, ver Ravena-Cañeteet al(2008, 2010) e Lasmar (2008), respectivamente. 3 Tal como informado nos produtos anteriores, entende-se alto Purus como os municípios de Santa Rosa do Purus, Manuel Urbano, Sena Madureira (todos no estado do AC), Boca do Acre, Pauini (estes dois últimos componentes do estado do Amazonas). Entende-se médio/baixo Purus como os municípios de Lábrea, Canutãma, Tapauá e Beruri. Para mais detalhes sobre a motivações desta escolha, consultar o relatório 3.

O alto rio Purus compreende as cidades de Santa Rosa (SR), Sena Madureira

(SM), Manoel Urbano (MU) todas no estado do Acre, somadas aos municípios de Boca

do Acre (BO), Pauini (PA), ambos localizados no estado do Amazonas. No transcurso

desses municípios o rio apresenta um formato menos caudaloso, onde a navegação se

encontra fortemente vinculada às oscilações das águas (cheia, vazante, seca, enchente).

Assim, a navegabilidade nos períodos de seca e enchente/vazante normalmente não

suporta embarcações maiores, ficando a navegação restrita apenasà pequenas

embarcações motorizadas (com rabeta) ou à remo.

As tabelas a seguir são produtos originados a partir dos questionários aplicados

em campo, onde o pesquisador/entrevistador questionavao morador do alto rio Purus

(por meio de pergunta aberta) sobre quais os tipos de uso da terra que eram

desenvolvidos pelo mesmo. As respostas não apresentavam exclusividade nos tipos de

uso da terra, geralmente sendo cumulativos com outros tipos de uso. Foram catalogados

quatro tipos de usos recorrentes, sendo os demais classificados como “outro uso”. O

dado coletado gerou uma tabela onde se apresenta o primeiro tipo de uso citado pelo

entrevistado seguido pelo segundo. A tabela 1 apresenta a comparação entre os usos,

enquanto a tabela 2 apresenta o cruzamento desses dados que evidencia os múltiplos

usos da terra. Vale observar que a mesma orientação analítica se expressa nas tabelas 3

e 4.

Tabela 01: Dados comparativos e cruzados do uso da terra no alto rio Purus.

Alto Rio Purus

Tipos de Usos da

Terra Frequência

Percentual

Válido

Tipos de Usos da

Terra 2 Frequência

Percentual

Válido

Agricultura/Roça 105 71,4 Agricultura/Roça 7 4,8

Caça 1 ,7 Caça 9 6,1

Criação de

Animal 7 4,8

Criação de

Animal 49 33,3

Extrativismo 1 ,7 Extrativismo 3 2,0

Outro Uso 33 22,4 Outro Uso 79 53,7

Total 147 100,0 Total 147 100,0

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Tabela 2 – Dados cruzados para usos da terra 1 e 2.

Tipos de Usos da Terra * Tipos de Usos da Terra 2Crosstabulation

Tipos de Usos da Terra 2

Total Agricultura/

Roça Caça

Criação de

Animal

Extrativism

o

Outro

Uso

Tipos

de

Usos

da

Terra

Agricultura/Roça

9 49 3 44 105

Caça 1 - - - - 1

Criação de Animal 5 - - - 2 7

Extrativismo 1 - - - - 1

Outro Uso

- - - 33 33

Total 7 9 49 3 79 147

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Pode-se perceber, com as tabelas acima, um uso plural da terra, sendo esta

prioritariamente utilizada para agricultura. A terra não possui atividades exclusivas,

pois, como se vê, estão conciliados agricultura, caça, criação de animais, entre outros

usos. Por outro lado, a pluralidade nos tipos de uso da terra pode ser entendida como

uma estratégia eficaz de suprir necessidades, seja ela decorrente da seca ou da enchente.

A sazonalidade nas práticas também se torna um mecanismo para enfrentamentodas

dificuldades sentidas por ocasião dos eventos extremos. A utilização de diversos tipos

de terreno também é um importante fator para diversidade de práticas e a adaptabilidade

das populações tradicionais do alto Purus.

A agricultura em momentos de eventos extremos adquire um caráter de

subsistência. Assim, os principais impactos são por conta da perda de produção,

sobretudo quando a enchente se dá de forma muito acelerada, não oportunizando o

tempo necessário para o amadurecimento da cultura para posterior colheita.

Os moradores do alto rio Purus também foram indagados sobre quais os

principais usos da água.Esse dado permite entender qual a importância dos recursos e

quais as dificuldades a serem observadas diante da celeridade e recorrência de eventos

extremos que vem ocorrendo na sub-bacia do alto rio Purus.

Sobre os usos da água, as tabelas a seguir permitem alguns comentários.

Tabela 03: Dados comparativos e cruzados do uso da Água no alto Rio Purus.

Alto Rio Purus

Tipos de Usos da

Água Frequência

Percentual

Válido

Tipos de Usos da

Água 2 Frequência

Percentual

Válido

Uso Doméstico 147 100,0 Pesca 83 56,5

Transporte 40 27,2

Outro Uso 24 16,3

Total 147 100,0

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Tabela 04: Dados cruzados para usos da água e usos da água 2.

Tipos de Usos da Água* Tipos de Usos da Água 2 Crosstabulation

Tipos de Usos da Água 2

Total Pesca Transporte Outro Uso

Tipos de Usos da Água Uso Doméstico 83 40 24 147

Total 83 40 24 147

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Oprincipal uso da água refere-se ao uso doméstico, seguido da pesca. Esta

última figura como uma das principais atividades econômicas das populações

tradicionais do alto rio Purus, representando, ainda, uma atividade de importante relação

com o mercado e, em alguns casos, como a principal.

2.2 Médio/baixo rio Purus.

Após o município de Pauini, o leito do rio se abre garantindo, a partir de Lábrea,

uma navegabilidade permanente durante todo o ano, mesmo para embarcações de

grande porte. Nesse próximo trecho se encontram os municípios de Lábrea, Tapauá,

Canutãma e Beruri, todos no estado do Amazonas. Ao mesmo tempo e reforçando tal

divisão, no percurso Santa Rosa/Pauini o rio apresenta uma área de Várzea com

ambientes de vazante menos acentuados, sendo o uso dos recursos naturais perfilado por

peculiaridades diferenciadas, quando comparado ao percurso Lábrea/Beruri, onde a área

de Várzea é marcadamente tomada pelos ambientes de praia, vazante e várgea.

Tal como para o percurso do alto Purus, as tabelas a seguir são produtos

formulados a partir de questionários aplicados em campo, onde o

pesquisador/entrevistador questionava o morador do médio/baixo Rio Purus sobre quais

os tipos de uso da terra eram desenvolvidos, por meio de uma pergunta aberta. As

respostas não apresentavam exclusividade nos tipos de uso da terra, geralmente sendo

cumulativos com outros tipos de usos. Foram catalogados quatro tipos de usos

recorrentes, sendo os demais classificados como “outro uso”. Como expressado para o

alto Purus, os dados coletados geraram uma tabela onde se apresenta o primeiro tipo de

uso citado pelo entrevistado seguido pelo segundo tipo de uso da terra. A tabela 05

apresenta a comparação entre os usos, enquanto a tabela 06 apresenta o cruzamento

desses dados que evidencia os múltiplos usos da terra. Vale observar que a mesma

orientação analítica se expressa nas tabelas 7 e 8.

Tabela 05: Dados comparativos do uso da terra no médio/baixo rio Purus.

Médio e Baixo Purus

Tipos de Usos da Terra Frequência Percentual

válido Tipos de Usos da

Terra 2 Frequência Percentual válido

Agricultura/Roça 153 83,6 Agricultura/Roça 9 4,9

Criação de Animal 1 0,5 Criação de Animal 7 3,8

Extrativismo 9 4,9 Extrativismo 61 33,3

Outro Uso 20 10,9 Outro Uso 106 57,9

Total 183 100,0 Total 183 100,0 Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Tabela 06: Dados cruzados do uso da terra no médio/baixo rio Purus.

Tipos de Usos da Terra * Tipos de Usos da Terra 2Crosstabulation

Tipos de Usos da Terra 2

Total Agricultura/Roça

Criação de

Animal Extrativismo Outro

Uso

Tipos de

Usos da

Terra

Agricultura/Roça 7 61 85 153

Criação de Animal 1 1

Extrativismo 8 1 9

Outro Uso 20 20

Total 9 7 61 106 183 Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

As tabelas acima evidenciam um uso plural da terra, sendo prioritariamente

utilizada para agricultura. A terra não possui atividades exclusivas, pois o ribeirinho

concilia agricultura, caça, criação de animais, entre outros usos. A pluralidade nos tipos

de uso da terra é entendida como uma estratégia eficaz de suprir necessidade, seja ela

decorrente da seca ou da enchente. A sazonalidade nas práticas também se torna um

mecanismo de enfrentar as dificuldades apresentadas por eventos extremos. A utilização

de diversos tipos de terreno também é um importante fator para diversidade de práticas

e a adaptabilidade das populações tradicionais do médio/baixo Purus.

Para o uso da água, as tabelas a seguir permitem inferências. Tabela 07: Dados comparativos do uso da água no médio/baixo rio Purus.

Médio e Baixo

Tipos de Usos da Água Frequência Percentual

válido Tipos de Usos da

Água 2 Frequência Percentual válido

Pesca 21 11,5 Pesca 52 28,4

Transporte 10 5,5 Trasporte 31 16,9

Uso Doméstico 149 81,4 Uso Doméstico 17 9,3

Outro Uso 3 1,6 Outro Uso 83 45,4

Total 183 100,0 Total 183 100,0 Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Tabela 08: Dados cruzados do uso da água no médio/baixo rio Purus.

Tipos de Usos da Água* Tipos de Usos da Água 2 Crosstabulation

Tipos de Usos da Água 2

Total Pesca Trasporte Uso

Doméstico Outro Uso

Tipos de Usos da

Água

Pesca 6 14 1 21

Transporte 1 3 6 10

Uso Doméstico 51 25 73 149

Outro Uso 3 3

Total 52 31 17 83 183 Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Os dados sobre o uso da água mostrama atividade doméstica como a forma de

principal uso, seguido da pesca. Esta, é uma das principais atividades econômicas das

populações tradicionais do médio/baixo rio Purus. A região de Tapauá se destaca por

seus lagos e pela alta piscosidade dos mesmos, configurando-se como uma área em que

a pesca é de grande importância tanto e seu caráter de subsistência, como quando

utilizada como meio de relação com o mercado.

Nos últimos anos, eventos climáticos extremos vêm provocando mudanças nas

práticas dessas populações, colocando em cheque o conhecimento construído, as formas

de adaptação e a capacidade de adaptabilidade desses grupos humanos que habitam a

calha do rio Purus. Dentre os eventos, as enchentes mais prolongadas e maiores, ou

seja, que invadem as margens do rio quase até a área de terra firme, vêm

comprometendo as atividades de agricultura. Por outro lado, secas extremas

comprometem as atividades da pesca, ao passo que dificultam a entrada nos lagos,

isolando os mesmos, dificultando seu acesso. As formas de vida dessas populações,

testadas em mais de quatro séculos de ocupação pós-colonial da Amazônia, está

colocada em risco diante das mudanças do clima, ou dos eventos climáticos extremos.

Diante dos dados já apresentados em produtos anteriores, aqui parcialmente

evocados, e frente aos dados descritos para o uso da terra e da água tratados nas tabelas

acima, seguem dados primários sobre a percepção relativa aos eventos climáticos

extremos e seus impactos sobre o modo de vida local. Busca-se evidenciar a relação

existente entre os processos adaptativos e a dinâmica das águas do rio Purus para então

apresentar proposições.

3 IMPACTOS E ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DA SUB-BACIA DO RIO PURUS FRENTE AOS EVENTOS EXTREMOS DE SECAS E ENCHENTES.

3.1 Considerações gerais.

Historicamente as populações tradicionais residentes ao longo da sub-bacia do

rio Purus sofrem com eventos, considerados extremos, de secas e cheias do referido rio.

Em decorrência das mudanças climáticas globais se tornou notório a celeridade nos

intervalos com que ocorrem tais eventos, o que ocasiona um impacto no tempo de

recuperação do ambiente para seu uso pelas comunidades humanas, que já não

conseguem se readaptar após esses impactos.

Até meados da década de 1980, os intervalos entre eventos considerados

extremos possibilitavam processos de resiliência4 que envolviam testes de novas

espécies para cultivo, reestabelecimento de períodos para caça e pesca, o que era tratado

com naturalidade pelas populações locais. Os dois gráficos abaixo figuram como um

indicativo dos eventos extremos que habitam a memória local.

Ilustração 01: Última ENCHENTE extrema ocorrida no município.

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

Ilustração 02: Última SECA extrema ocorrida no município.

4“O conceito de resiliência apresenta atualmente uma grande variedade de definições, provenientes de um vasto corpo de disciplinas, mas todas as noções derivam, na sua essência, de um corpo teórico baseado na teoria de sistemas e na teoria da complexidade. A sua aplicação estende-se a numerosas áreas - da Ecologia à Inovação Social - mas tem sido particularmente frutífera no domínio dos sistemas socio-ecológicos, i.e. sistemas ecológicos fortemente influenciados pelas atividades humanas em que se registra uma não menos forte dependência dos sistemas sociais em relação aos recursos e aos serviços providenciados pelos ecossistemas (Berkeset al., 2003)”(FARRAL, 2012).

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

As ilustrações acima expostas demonstram a presença de enchentes e cheias

extremas que no passado tinham um espaço mínimo de dez anos de diferença entre as

mesmas, permitindo à população ribeirinha recuperar-se dos impactos causados, assim

como adaptar-se. A década de 2010 já não permite tal adaptação, pois esses eventos

extremos já se encontram com um espaço de tempo reduzido quase que à um ano. No

caso da enchente, os anos de 2011 e 2012 somam mais da metade como anos em que

ocorreram a última enchente extrema, na memória dos entrevistados. A memória de

uma seca extrema também se concentra nos anos de 2011 e 2012, entretanto em uma

proporção menor, a saber, quase 40%, ficando 15% reservado ao ano de 2005, sendo o

restante dos anos abaixo de 10%.

Tais dados evidenciam como os impactos eram sentidos em curto prazo e em

seguida absorvidos aos ciclos vigentes das águas. A celeridade de eventos considerados

extremos reduziu o tempo que habitualmente essas comunidades levavam para

recuperar-se, induzindo-as a um exercício extremo de suas habilidades adaptativas para

o processo de resiliência, tornando cada vez mais difícil recuperar-se e manter seu modo

de vida frente os ciclos das águas das duas últimas décadas.

A ilustração a seguiraponta como as populações tradicionais do alto rio Purus

classificam os impactos ocorridos.

Ilustração 04: Níveis de danos da SECA e ENCHENTE extrema no alto rio Purus.

Fonte: Trabalho de campo Jul/2013.

A ilustração04 indica como, na percepção dos moradores do alto Rio Purus, as

enchentes têm sido mais prejudiciais que as secas, contudo os impactos na seca são

relatados por grande parte dos entrevistados.

A enchente tem como principais impactos a perda de produção da agricultura, a

invasão da água nas casas localizadas nas praias e nas várzeas, fazendo com que, muitas

vezes, essas famílias fiquem desalojadas, dificuldades nos transportes e na pesca,

paralização das aulas, pois muitas vezes a escola é alagada ou então quando localizada

em área de terra firme, a escola serve de abrigo para famílias desalojadas. É possível

observar uma correlação entre os impactos causados pelas enchentes no transporte e na

economia, pois, devido a maior parte do transporte de mercadorias ser feito pelo rio.

Com relação aos danos causados pela enchente à saúde, tem-se principalmente a

proliferação de doenças que possuem como agentes transmissores mosquitos, como os

casos da malária e dengue.

Os impactos causados na pesca, que decorrem dos sucessivos eventos extremos

de seca e enchentes do rio Purus, decorrem principalmente da dificuldade de

escoamento da produção e em caso de secas, as distancias dos lagos piscosos dos pontos

de venda aumentam, e com os furos, paranás e igarapés secos, esse transporte se dá

apenas através de varadouros, que são, caminhos de trilhas percorridos dentro da mata.

Os danos na economia foram os mais citados pelos moradores para períodos de

seca extrema, seguidos pelos danos relacionados à saúde e transportes. Os danos

relativos à economia estão relacionados na dificuldade de escoar e de receber

mercadorias, pois os barcos de maior porte ficam impedidos de chegar as localidades

mais adentro do Rio, os danos relativos à saúde estão relacionados a doenças

respiratórias e epidemias.

A agricultura em momentos de eventos extremos possui principalmente um

caráter de subsistência, os principais impactos são por conta da perda de produção,

sobre tudo quando a enchente se dá de forma muito acelerada, não dando o tempo exato

da colheita. Quanto ao uso da água, os moradores do Médio/Baixo Rio Purus foram

indagados sobre quais seus principais usos, para com este dado inferir sobre qual a

importância do recursos e quais as dificuldades a serem observadas com a celeridade de

eventos extremos observados na sub-bacia do alto Rio Purus.

Os impactos causados na pesca, que decorrem dos sucessivos eventos extremos

de seca e enchentes do rio Purus, decorrem principalmente na dificuldade de

escoamento da produção e em caso de secas, as distâncias dos lagos piscosos dos pontos

de venda aumentam, e com os furos, paranás e igarapés5 secos, esse transporte se dá

apenas através de varadouros, que são caminhos de trilhas percorridos dentro da mata.

De posse dos dados gerais, a seção a seguir apresentará os dados específicos de

percepção de eventos extremos para o alto e médio/baixo Purus, respectivamente.

3.2 Análise de gráficos separados em alto e médio/baixo Purus.

Esta seção divide-se em duas partes. A primeira apresenta a percepção da

população sobre a seca extrema relativa à área do alto e médio/baixo Purus, enquanto

uma segunda seção descreve a percepção voltada à enchente extrema para essas mesmas

áreas. Ao final, em uma seção conclusiva, após o conjunto de análises e comentários

sobre os dados apresentados em forma de gráficos nas seções anteriores, constam as

proposições para mitigar os impactos dos eventos extremos, disposta em um quadro

geral.

3.2.1 Eventos de SECA extrema para o ALTO e MÉDIO/BAIXO Purus.

Os dados expressos nos gráficos 01 e 02 destacam a dificuldade com o

transporte na seca como o dano mais relatado pelos entrevistados para o alto e médio e

baixo Purus, respectivamente. Tal percepção se articula com o resultado para os danos

5 Denominações locais para os variados corpos d’água que desenham o relevo da região.

na economia, como mostram os gráficos 03 e 04 também para essas mesmas áreas, na

sequência. Os resultados apontados por esses gráficos, analisados de forma articulada,

evidenciam como o escoamento de pescado pode ser afetado, diante das secas intensas,

já que a distância entre os lagos e o rio se amplia dificultando o percurso e mesmo o

tempo de manutenção do pescado capturado em boas condições para a comercialização.

Os dados revelam também como o deslocamento para as roças de terra firme, além das

roças de várzea e praia, se esgotam frente à seca intensa. “Escassez de recursos” figura

no gráfico 03 com quase 20% de frequência nas respostas, somado à quase 10% para

“Dificuldade em desenvolver atividades básicas de subsistência” e mais de 10% para

“Perda da produção local”. A soma desses dados sobre percepção totaliza quase

50%para os dados na economia do alto Purus, enquanto que para a área do médio Purus

o gráfico 04 aponta um resultado que supera os 50%, reforçando, assim, a recorrência

desse relato pelos moradores.

Gráfico 01: Tipos de danos da SECA no transporte no ALTO Purus

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 02: de danos da SECA no transporte no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 03: Tipos de danos da SECA na economia no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 04: Tipos de danos da SECA na economia no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Esse cenário de perda se repete na percepção dos moradores, como apontam os

gráficos 05 e 06 para o alto e médio/baixo Purus, respectivamente. No caso desses

gráficos, as perdas figuram como prejuízos individuais, o que indica como o sentimento

de perda, especialmente de recursos naturais e condições para a produção de

subsistência, povoam o relato dos moradores. Tal resposta liga-se ao modo de vida até

então vivido por essa população, marcado por processos adaptativos exitosos, onde

secas intensas são vividas sem maiores impactos, sendo a frequência tomada pelo

evento o problema que se passou a enfrentar. Nesse sentido, no processo adaptativo, a

mobilidade (transporte) aparece como fator importante, dado que ela permite diminuir

as perdas.

Gráfico 05:Prejuízo enfrentados pelos indivíduos por causa da SECA no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 06:Prejuízo enfrentados pelos indivíduos por causa da SECA no MÉDIO/BAIXO- PURUS

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Nos gráficos 07 e 08, sobre os danos à saúde, chama atenção a percepção sobre o

aumento de doenças e isso é válido tanto para o alto como para o médio/ baixo Purus.

Mas ainda que os demais pontos mencionadosnão sejam tão expressivos, vale observar

que muitos estão ligados aos surgimentos de doenças, como do tipo respiratória. A

resposta que indica que não houve dano deve ser observada a partir da perspectiva de

que a pergunta permitia múltipla resposta. Dessa sorte, afora o aumento de doenças,

muitas vezes a população mencionava apenas o aumento como fato a declarar.

Gráfico 07: Tipos de danos da SECA na saúde no ALTO Purus

Fonte: trabalho de campo, jul/2013. Gráfico 08: Tipos de danos da SECA na saúde no MÉDIO/BAIXO Purus

. Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Por outro lado, no que se refere à ajuda frente aos cenários de seca extrema, os

entrevistados relatam a ausência da mesma, tanto na área do alto como do médio/baixo

Purus, como mostram os gráficos 09 e 10. Esse dado correlaciona-se diretamente com a

percepção dos moradores sobre a situação da prefeitura para o enfrentamento desses

cenários de evento extremo, como mostram os gráficos 11 e 12. A baixa presença da

gestão local e seu despreparo, como relatado pelos entrevistados.

Gráfico 09: Ações de ajuda para amenizar os danos da SECA no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013. Gráfico 10: Ações de ajuda para amenizar os danos da SECA no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 11: Percepção do entrevistado sobre o preparo dos municípios para enfrentar a SECA no

ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013. Gráfico 12: Percepção do entrevistado sobre o preparo dos municípios para enfrentar a SECA no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

3.2.2 Eventos de ENCHENTE extrema para o ALTO e MÉDIO/BAIXO Purus.

Tal como na seca, as dificuldades com deslocamento e transporte aparecem

como um relato importante nas respostas dos entrevistados, como aponta o gráfico 13.

Gráfico 13: Tipos de danos da ENCHENTE no transporte no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 14: Tipos de danos da ENCHENTE no transporte no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

No caso do deslocamento e transporte para os eventos de enchente extrema,

marcados por muita chuva, vale ressaltar que as estradas vicinais que ligam àS estradas

principais tornam-se intrafegáveis, dado que não são asfaltadas. Ou seja, se na seca o

transporte e deslocamento ficam comprometidos, em decorrência da baixa

navegabilidade do rio, dada a fina lâmina d’água que marcam os corpos d’água nesse

período, no inverno o que era feito por terra fica inviabilizado pela intrafegabilidade das

vicinais. Esse cenário de dificuldade de mobilidade e deslocamento se expressa na

economia da região, como apontam os gráficos 15 e 16.

Gráfico 15: Tipos de danos da ENCHENTE na economia no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 15: Tipos de danos da ENCHENTE na economia no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Os dados dos gráficos 15 e 16 são reforçados pelos resultados observados nos

gráficos 16 e 17. Do ponto de vista da perda econômica e individual, a dificuldade em

desenvolver as atividades de subsistência, ou mesmo a paralisação de qualquer atividade

econômica, aparece como a principal argumentação tanto para o alto como para o

médio/baixo Purus. Essa resposta se justifica frente à imagem de uma casa construída

na várzea, próximo ao rio. A população levante o piso da casa muitas vezes chegando a

um metro do teto, de forma poder suportar o período de enchente extrema. Essa é uma

prática secular dessas populações, mas levantar o piso a quase um metro do teto, de

exceção vem se transformando em recorrência, o que vem levando muitos ribeirinhos a

trocarem o local de suas casas para mais distante do rio. Essa troca de moradia traz uma

série de alterações no trato cotidiano de trabalho no roçado.

Gráfico 16: Principais danos da ENCHENTE sofridos pelas pessoas do local no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 17: Principais danos da ENCHENTE sofridos pelas pessoas do local no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

No que se refere à saúde, os dados indicam um quadro de aumento de incidência

geral de doenças, tanto para o alto, como para o médio/baixo Purus. A incidência de

respostas “não houve” deve ser entendida de forma relacional. É importante salientar

que a incidência de enfermidades e a ausência de tratamento médico nas áreas do rio

Purus se mostram como uma constante para a região, o que normalmente coloca o

cenário de enchente extrema como um momento a mais de descaso diante do cotidiano

dessa população. No entanto, ainda que esse contexto de leniência da gestão pública

seja a regra, a população sente de forma intensa o aumento de doenças nos períodos de

enchente extrema, sendo a resposta “aumento de doenças em geral” presente em mais de

50% das respostas para o alto Purus e 40%, para o médio/baixo. Esses dados se somam

à quase 10% de respostas do alto Purus que indicam o aumento de vetores como um

problema de saúde. Tal informação está ligada ao aumento de insetos no período de

enchentes, informação recorrente nas entrevistas abertas. Os gráficos 18 e 19 detalham a

descrição.

Gráfico 18: Tipos de danos da ENCHENTE na saúde no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 19: Tipos de danos da ENCHENTE na saúde no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Frente a esse quadro precário quanto à economia e principalmente à saúde, a

população do rio Purus indica que a ajuda recebida se restringe ao “Auxílio,

suporte/alojamento” realizado normalmente pela prefeitura, como mostram os gráficos

20 e 21, relativos á ajuda, seguidos dos gráficos 22 e 23 voltados à instituição

responsável pelo auxílio.

Gráfico 20: Ações de ajuda durante a ENCHENTE no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 21: Ações de ajuda durante a ENCHENTE no MÉDIO/BAIXO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 23: Preparação do município para enfrentar a enchente no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Gráfico 24: Preparação do município para enfrentar a enchente no ALTO Purus.

Fonte: trabalho de campo, jul/2013.

Ainda que a prefeitura não realize as ações esperadas, é dela a espera que a

população tem diante dos eventos extremos, portanto é a ela que essa população irá se

dirigir no decorrer desses processos. Cabe ao governo federal dotar essa esfera de poder

local recursos e condições para o enfrentamento dos eventos extremos.

Diante do cenário exposto, proposições relativas à ações a serem tomadas diante

de eventos extremos de seca e enchente .

2.3 Proposições para o ALTO e MÉDIO/BAIXO Purus.

Situação normal (paradigma)

Seca extrema Proposição

Transporte: Em condições normais, o nível do rio permite o transporte da população e o escoamento da produção de pescado e da agricultura via fluvial.

Os níveis de água do rio ficam muito baixos, inviabilizando, muitas vezes, o transporte da população e o escoamento da produção de pescado e da agricultura via fluvial.

Investimento e incentivo ao uso de embarcações alternativas mais adaptadas a nova dinâmica de secas extremas do rio Purus, para escoamento da produção. Quando não houver opção de transporte alternativo, o governo deve restituir os danos à produção causados pela seca extrema.

Economia: A agricultura realizada na Várzea continua sendo viável, pois os cultivos não são fortemente impactados

A agricultura na Várzea é fortemente impactada pela falta de água, tanto pelo regime de chuvas, quanto pelo baixo nível de água do rio. Na medida em que os cultivos precisam

Investimento e incentivos a técnicas de irrigação alternativas. Pode-se utilizar a captação de águas pluviais no período mais chuvoso para armazenamento e posterior uso no período de seca, para

pela seca.

da água, tem-se a perda parcial ou total da produção de acordo com a intensidade da seca.

irrigação e usos domésticos.

Saúde: Os serviços de saúde são precários, com recursos humanos e materiais escassos. Constataram-se relatos de aumento de doenças respiratórias no período da seca.

Devido à dificuldades na locomoção via fluvial, fica comprometida a chegada,já escassa, de profissionais e recursos da saúde que assistem às comunidades. Intensificação dos casos de doenças, que habitualmente ocorrem na seca, principalmente as respiratórias. Muitas vezes a seca extrema impossibilita o transporte de enfermos para locais de melhores condições de tratamento, visto que as comunidades não apresentam condições adequadas para tanto.

Investimento e incentivo ao uso de embarcações alternativas mais adaptadas a nova dinâmica de seca extrema do rio Purus, para a locomoção dos profissionais e recursos de saúde. Investimentos em postos de atendimento básico de saúde para as comunidades. Em casso de emergências extremas, dispor de transporte via aérea, preferencialmente helicóptero, para transportar enfermos, profissionais e recursos de saúde.

Educação: Situação rotineira, aulas ocorrem normalmente. Professores e alunos conseguem ter acesso à escola via fluvial.

Professores e alunos ficam impossibilitados de acessar a escola, pois a mobilidade via fluvial fica comprometida, comprometendo o ano letivo.

Investimento e incentivo ao uso de embarcações alternativas mais adaptadas a nova dinâmica de seca extremas do rio Purus, para transporte de professores e alunos até a escola, para assim não comprometer o ano letivo.

Infraestrutura: Abastecimento de alimentos e produtos diversos ocorre via fluvial sem grandes obstáculos. A qualidade da água é mantida.

Escassez de alimentos e produtos diversos vindos dos centros urbanos para as comunidades por conta da dificuldade no transporte fluvial. A qualidade da água é prejudicada devido às altas temperaturas e acidez.

Investimento e incentivo ao uso de embarcações alternativas mais adaptadas à nova dinâmica de secas extremas do rio Purus, permitindo a continuidade do fornecimento de alimentos e outros produtos para as comunidades ribeirinhas em períodos de seca extrema. Pode-se utilizar a captação de águas pluviais no período mais chuvoso para armazenamento e posterior uso e consumo doméstico.

Situação normal (paradigma)

Enchente extrema Proposição

Transporte: Em condições normais, o nível do rio permite o transporte da população tanto via fluvial como terrestre, assim como no caso do escoamento da produção de pescado e da agricultura.

Em tempos de enchente extremas as recorrentes chuvas afetam a utilização de estradas vicinais que ligam as comunidades aos centros urbanos de seus respectivos municípios, prejudicando o aumento de sua produção. Inconstância das águas para navegabilidade em decorrência da intensa formação de redemoinhos (localmente conhecidos como sambujo) que promovem a instabilidade das pequenas embarcações. Dificuldade de locomoção na

Investimento e incentivo a técnicas alternativas de escoamento da produção. Uso de embarcações alternativas mais adaptadas à nova dinâmica de enchentes extremas do rio Purus. O governo deve restituir os danos à produção causados pela enchente extrema.

própria comunidade devido a alagamentos.

Economia: A agricultura realizada na Várzea e Terra Firme continua sendo viável, pois os cultivos não são impactados pela cheia do rio. Diminuição dos estoques pesqueiros, consequentemente diminuição da atividade da pesca artesanal, ainda que exerça uma forte influência no cotidiano ribeirinho.

A agricultura na Várzea é fortemente impactada pela rapidez da subida das águas, quebrando a dinâmica habitual da agricultura familiar, pautada no tradicional regime das águas (enchente, cheia, vazante e seca, detalhada no Produto 03). A agricultura de terra firme é, em alguns casos, impactada, na medida em que as plantações são alagadas. Maior dificuldade na busca pelo pescado, que se torna ainda mais escasso em virtude do volume extremo de água. Em conjunto com as dificuldades de navegabilidade causam forte impacto na atividade da pesca artesanal.

O governo deve restituir os danos à produção causados pela enchente extrema. No caso da pesca artesanal, em virtude da dificuldade na captura e escoamento do pescado, o governo pode implementar seguros desemprego em regime de exceção que durariam o período da cheia extrema.

Saúde: Constataram-se relatos de doenças que possuem como seu principal vetor mosquitos (especialmente Malária e Dengue).

Intensificação dos casos de doenças em geral, sobretudo àquelas que possuem como seu principal vetor mosquitos (Malária e Dengue).

Investimentos em postos de atendimento básico de saúde para as comunidades. Em casso de emergências extremas, dispor de transporte aéreo, preferencialmente helicóptero, para transportar enfermos, profissionais e recursos de saúde.

Educação: Em períodos de enchentes, consideradas normais, as escolas não são atingidas mantendo-se assim a situação rotineira, aulas ocorrem normalmente. Não interfere no ano letivo.

Em casos de alagamentos que afetam a escola, professores e alunos ficam impossibilitados de utilizá-la. A situação se repete quando a escola é utilizada como alojamento no caso de alagamento de casas em geral.

Investimento em escolas preparadas para suportar enchentes extremas, localizadas em palafitas altas ou flutuantes, para assim não comprometer o ano letivo. As escolas devem possuir edificações que permitam a constante elevação do assoalho. Construção de alojamentos para o acolhimento de pessoas afetadas pela enchente extrema, evitando utilizar a escola com esta finalidade, consequentemente, não interferindo no ano letivo.

Infraestrutura: Abastecimento de alimentos e produtos diversos ocorre via fluvial sem grandes obstáculos.

Alagamentos nas comunidades (casas, escola, igreja, postos de saúde, etc). Escassez de alimentos e produtos diversos (gasolina, gás de cozinha, querosene, outros) vindos dos centros urbanos para as comunidades por conta da dificuldade no transporte terrestre. A qualidade da água é prejudicada, devido uma maior quantidade de materiais em suspenção.

Investimento em edificações que suportem cheias extremas, como o exemplo de edificações construídas em palafitas que apresentam uma estrutura que permita a constante elevação do assoalho. Pode-se utilizar a captação de águas pluviais no período mais chuvoso para armazenamento e posterior uso e consumo doméstico, garantindo uma melhor qualidade da água. Dispor de filtros de água para população. Construção de alojamentos para o acolhimento de pessoas afetadas pela enchente extrema.

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