25
INTRODUÇÃO O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) é um programa do governo federal gerenciado pela CAPES que financia projetos de iniciação à docência, fornecendo bolsas a alunos e professores dos cursos de licenciatura e a professores do ensino básico, além de destinar verbas para as despesas vinculadas à sua realização. O PIBID-UFOP-LETRAS se divide em subprojetos destinados a diferentes áreas do ensino de língua. A presente proposta faz parte do subprojeto Análise Linguística, coordenado pela profª. drª. Soélis Teixeira do Prado Mendes, e tem como principal objetivo trabalhar o ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa com uma abordagem funcional e focada no discurso. A análise linguística, de acordo com Márcia Mendonça: Surge como alternativa complementar às práticas de leitura e produção de texto, dado que possibilitaria a reflexão consciente sobre fenômenos gramaticais e textual-discursivos que perpassam os usos linguísticos, seja no momento de ler/estudar, de produzir textos ou de refletir sobre esses mesmos usos da língua. (MENDONÇA, 2006, p.204) Nosso grupo é composto pelos bolsistas Dayane Oliveira, Karolina Monteiro, Larissa Duarte, Nayara Nogueira e Pedro Henrique Oliveira. O projeto é intitulado “O verbo em classe: de novo? Ou de um jeito novo?” e será executado na Escola Estadual Dom Benevides, localizada na Praça Dom

Projeto Pibid - Verbos Em Sala de Aula

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Projeto Pibid - Verbos Em Sala de Aula

Citation preview

INTRODUOO PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia) um programa do governo federal gerenciado pela CAPES que financia projetos de iniciao docncia, fornecendo bolsas a alunos e professores dos cursos de licenciatura e a professores do ensino bsico, alm de destinar verbas para as despesas vinculadas sua realizao. O PIBID-UFOP-LETRAS se divide em subprojetos destinados a diferentes reas do ensino de lngua. A presente proposta faz parte do subprojeto Anlise Lingustica, coordenado pela prof. dr. Solis Teixeira do Prado Mendes, e tem como principal objetivo trabalhar o ensino de gramtica nas aulas de lngua portuguesa com uma abordagem funcional e focada no discurso. A anlise lingustica, de acordo com Mrcia Mendona:Surge como alternativa complementar s prticas de leitura e produo de texto, dado que possibilitaria a reflexo consciente sobre fenmenos gramaticais e textual-discursivos que perpassam os usos lingusticos, seja no momento de ler/estudar, de produzir textos ou de refletir sobre esses mesmos usos da lngua. (MENDONA, 2006, p.204)

Nosso grupo composto pelos bolsistas Dayane Oliveira, Karolina Monteiro, Larissa Duarte, Nayara Nogueira e Pedro Henrique Oliveira. O projeto intitulado O verbo em classe: de novo? Ou de um jeito novo? e ser executado na Escola Estadual Dom Benevides, localizada na Praa Dom Benevides, nmero 23, Centro, na cidade de Mariana MG. Trabalharemos nas turmas do 1 ano A e do 1 ano B, com, respectivamente, 31 alunos e 25 alunos em cada, sob a superviso da professora do ensino bsico Maria Anglica Silva Seppe.O principal objetivo desse projeto resgatar e aprofundar as noes morfolgicas do verbo, focando em uma abordagem funcionalista e adequando as atividades ao contexto social dos alunos. Alm disso, apresentar aos alunos as noes de oralidade e escrita e o conceito gnero textual para que eles possam ter em mente a noo de adequao do texto a cada esfera discursivaAssim sendo, trabalharemos com as noes de verbo sempre aplicando-as a diversos gneros discursivos e textuais, tais como: textos de revistas voltadas para o pblico jovem, jornais, msicas, slogans, propagandas, textos narrativos, horscopo, etc. Nossas atividades tero sempre como foco buscar a funo discursiva do verbo nos gneros apresentados.

PROBLEMATIZAO E JUSTIFICATIVAAntes de construirmos o projeto, foi nos solicitado um tempo de observao nas turmas nas quais ele ser aplicado. A professora supervisora j havia nos alertado sobre diversos problemas nas turmas em relao ao trabalho com a LP, sobretudo em anlises sintticas, morfolgicas e semnticas do verbo. Ao observarmos uma turma do 3 ano, notamos a grande dificuldade na anlise sinttica devido a uma deficincia no estudo dos verbos nos anos anteriores. Como as noes de verbo so aplicadas no 1 ano do EM, optamos por aplicar um exerccio nessas turmas a fim de diagnosticar o nvel de conhecimento acerca do tema em questo. A primeira questo foi puramente estrutural e consistia apenas no reconhecimento do verbo. A segunda e a terceira mesclavam uma anlise estrutural e funcional em relao aos modos verbais e suas respectivas diferenas de sentido. A quarta questo foi de reescrita de um pequeno texto, o aluno deveria mudar o tempo verbal do passado para o presente. Por fim, a quinta questo abordava o fator semntico no uso do pretrito-imperfeito utilizado em uma tirinha. O exerccio foi aplicado nas turmas A e B do 1 ano e consistiu em cinco questes que foram elaboradas de forma progressiva em relao ao nvel de dificuldade. No dia da aplicao, apenas 17 alunos compareceram em cada turma. Seguem os resultados:Resultado do 1 ano A

ERROSACERTOS

QUESTES

1161

217X

389

4413

5116

Resultado do 1 ano B

ERROSACERTOS

QUESTES

1143

217X

398

489

598

A partir desses resultados comprovamos a necessidade desses alunos de um aprofundamento nos estudos verbais, assim sendo, escolhemos trabalhar com essa classe gramatical. Os documentos que regem a educao no Brasil afirmam a necessidade e importncia de um contexto para se trabalhar qualquer elemento lingustico, em funo disso, o estudo verbal ser pautado em diversos gneros discursivos e textuais. Dessa forma, nosso projeto no apenas trabalhar as questes discursivas do verbo, como tambm abranger os gneros. Em relao importncia do gnero textual no ensino de lngua, Marcuschi afirma que:

Pode-se dizer que o trabalho com os gneros textuais uma extraordinria oportunidade de se lidar com a lngua em seus mais diversos usos autnticos no dia-a-dia. Pois nada do que fizermos linguisticamente estar fora de ser feito em algum gnero. Assim, tudo o que fizermos linguisticamente pode ser tratado em um ou outro gnero. E h muitos gneros produzidos de maneira sistemtica e com grande incidncia na vida diria, merecedores de nossa ateno (MARCUSCHI, 2005, p.35).

sabido que os PCNs em lngua portuguesa trabalham com uma abordagem scio interacionista (Vygotsky) discursiva, tratando a lngua de maneira mais abrangente que o ensino tradicional gramatiqueiro, descrito por muitos autores como morto. A necessidade em se ter novas tcnicas para o ensino de lngua materna grande e a reforma j est sendo feita. Na rea do documento que fala sobre as habilidades a serem treinadas nos alunos de LP (p. 6), afirma-se que

Toda linguagem carrega dentro de si uma viso de mundo, prenha de significados e significaes que vo alm do seu aspecto formal. O estudo apenas do aspecto formal, desconsiderando a inter-relao contextual, semntica e gramatical prpria da natureza e funo da linguagem, desvincula o aluno do carter intrasubjetivo, intersubjetivo e social da linguagem. (p. 7)

Buscando estar de acordo com o que prega esse documento, e inovar em relao ao ensino gramatiqueiro e tradicional, levaremos para da sala de aula gneros que esto na vida cotidiana dos alunos e nos quais os verbos se fazem importantes. Linguagens utilizadas em gneros como o funk, os slogans, horscopos, tirinhas, charges, redes sociais, etc. so interessantes pois vo ao encontro da ideia de letramento porque so esferas de circulao com as quais o aluno tem muito contato no cotidiano.

METODOLOGIA O ponto de partida de nosso projeto foi uma prova diagnstica. O objetivo central dessa prova foi analisar o grau de conhecimento da classe, para que assim, os membros do grupo pudessem desenvolver o projeto. As questes foram elaboradas de acordo com as expectativas dos integrantes, que mesclaram o estruturalismo e o funcionalismo em cada exerccio e que elevaram o grau de dificuldade a cada questo.O primeiro exerccio, por exemplo, carregou o mtodo tradicional de anlise caa ao objeto proposto, no caso, o verbo; mas no com o objetivo de conotar ou promover a decoreba; mas, sim, a percepo dos alunos sobre o que verbo. O resultado no foi satisfatrio. A segunda questo foi dividida em dois tpicos o 2.1 e o 2.2; o primeiro seguiu a mesma linha da questo anterior, mas com um modo especfico, e o segundo abarcou o funcionalismo. O objetivo era avaliar, mais uma vez, o conhecimento prvio dos alunos e a maneira com que esses encaravam a anlise, com explicaes. Mas, infelizmente, devido s dvidas apresentadas pelo alunado, a questo foi anulada.Em seguida, o terceiro exerccio focou, unicamente, na interpretao e percepo de sentido por parte dos alunos verbos no indicativo e subjuntivo -, numa mesma frase. Felizmente, tivemos bons resultados. Com isso, percebemos que os alunos conseguiam entender o sentido dos verbos, conheciam essa classe, mas no numa perspectiva estruturalista, mas, funcionalista.A quarta questo, tambm com o objetivo de captar a percepo dos alunos acerca da classe gramatical, pediu a reescrita de um texto, no passado. O seu resultado foi promissor no 1 A, que teve 13 acertos contra 4 erros; no 1 B, 9 acertos contra 8 erros. Finalmente, a quinta questo foi sobre o emprego do verbo errneo na fala da personagem, que, mais uma vez, abordava a funcionalidade. Com isso, portanto, podemos concluir que a ordem que planejamos e escrevemos no abarcou nossas expectativas; pois o grau de dificuldade foi mesclado. A primeira que, em nossa viso, seria a mais fcil, acabou se tornando a mais difcil; e a terceira, a mais fcil.Em um segundo momento, buscamos o livro didtico utilizado pelos alunos a fim de conhecer como feita a abordagem do verbo, ao que nos resultou a uma confirmao de que havamos acertado na escolha. As turmas do Ensino Mdio da Escola Estadual Dom Benevides trabalham com o livro didtico Portugus: contexto, interlocuo e sentido, uma obra em trs volumes produzida pelas autoras Maria Luiza M. Abaurre, Maria Bernadete M. Abaurre e Marcela Pontara. Publicado pela editora Moderna, em 2008, este livro didtico tem por objetivo trabalhar a linguagem de uma maneira que faa com que o aluno atribua sentido ao seu aprendizado. Apesar de ser um livro didtico que faz uma abordagem muito interessante de reflexo sobre a Lngua Portuguesa e seus diversos contedos, observamos que ele no trabalha com a classe de palavras verbo. Dessa forma, buscamos contribuir com a formao crtica dos alunos, levando-os a refletir sobre as lacunas existentes no livro didtico utilizado por eles. Ns acreditamos que, por ser um contedo extenso, complexo e de considervel relevncia, o contedo sobre verbos deveria ser trabalhado tambm nos anos finais da formao bsica dos alunos. Diante dos resultados, partiremos para as salas de aula. Primeiramente, iremos abordar para os alunos uma noo de gneros textuais, pretendemos com essa abordagem criar um plano de fundo para introduzirmos a discusso entre oralidade e escrita e seus momentos adequados de uso. Ao entrarmos em sala de aula, queremos deixar claro para os alunos que no temos a inteno de impor o que certo ou errado, mas, orient-los para que eles tenham uma aguada percepo de quando e onde podem usar uma linguagem que pende mais para o gnero oral, ou para o gnero escrito. Para isso, levaremos para dentro de sala, exemplos de gneros textuais predominantemente orais e gneros predominantemente textuais. Essa discusso servir de ponte para introduo do assunto que pauta todo o nosso projeto: os verbos. Consideramos necessria essa conscientizao uma vez que percebemos com muita frequncia que os alunos tm tendncia a transcrever os verbos da mesma maneira que falam, isso , muitas vezes sem flexo de nmero, flexo de pessoa ou flexo de tempo. Aplicaremos ao todo, no nosso projeto, quatro aulas expositivas acerca dos principais aspectos do verbo, os quais foram divididos da seguinte forma: pessoa, nmero e modo, tempos verbais, formas nominais e vozes verbais. A aula nmero um buscar, primeiramente, apresentar o conceito de verbo para os alunos apenas para utiliz-lo como ponto de partida da aula. Aps a introduo deste conceito, iremos aplic-lo a situaes discursivas reais, como textos escritos e a prpria fala para que, com isso, os alunos construam autonomia para operar com essas informaes em diferentes esferas discursivas. Feito isso, utilizaremos um conceito puramente gramatical para entrar nos temas pessoa, nmero e modo, mas no o tornaremos o foco principal da aula. A partir da, buscaremos depreender dos alunos de que forma eles conseguem aplicar este conceito suas produes textuais (orais ou escritas), alm de identific-lo em diversos gneros com os quais entram em contato em seu cotidiano. Por fim, aplicaremos um jogo no qual sero distribudas frases para os alunos as classifiquem em relao pessoa, nmero e modo. Esta atividade ldica, apesar de estrutural, tem como objetivo promover a interao bolsitas-alunos e diagnosticar de que forma os discentes processaram as informaes contidas na aula.A aula nmero dois, inicialmente, apresentar de maneira breve e geral todos os tempos verbais. Aps isso, buscaremos, a partir da fala dos prprios alunos, identificar em quais contextos e com quais objetivos determinados tempos so utilizados, sempre focando na questo semntica desses tempos. Posteriormente, apresentaremos um texto aos alunos e pediremos que eles retirem dele verbos e os modifiquem de acordo com um contexto de fala sugerido pelos bolsistas.Na terceira aula, abordaremos as formas nominais do verbo. Primeiramente, iremos propor uma reflexo acerca de sua presena e uso na lngua para, depois, tratar de cada forma nominal separadamente. Para abordar o infinitivo, o particpio e o gerndio, utilizaremos como recurso trs gneros distintos, que so, respectivamente, receita culinria, msica e tirinha. Feito isso, exibiremos um vdeo sobre o gerundismo para discutir com os alunos os contextos comunicativos que demandam e os que no demandam o uso dessa forma nominal.A ltima aula buscar distinguir voz ativa e passiva, para, posteriormente, refletir e discutir com os alunos a questo da mudana de sentido provocada quando optamos por utilizar voz passiva ou ativa. Tambm apresentaremos a ideia da utilizao da voz passiva como forma de ocultar a pessoa que realiza a ao e sua importncia na construo de determinados textos Por fim, introduziremos a voz reflexiva e aplicaremos uma atividade para fixar aquilo que foi apresentado.

REFERENCIAL TERICO A Relao Escrita-Oralidade Solis Teixeira do Prado MendesA relao da oralidade-escrita, desde a inveno da escrita, alvo de intensa discusso; pois alguns autores defendem diversos pontos importantes e divergentes sobre ela. Para alguns, a escrita a representao fnica da fala a fim de conservar os sons da fala; outros, por outro lado, acreditavam que essa cpia era uma fonografia fiel. Entretanto, nos estilos literrios da antiguidade, a lngua oral e a escrita ultrapassavam a questo grfica, porque os gneros exigiam determinadas tendncias e formas de escrita, como a no utilizao da lngua falada em alguns gneros, exceto nas comdias populares que, como sabemos, eram direcionadas a um pblico diferente. Mais recentemente, Hermman Paul defende a ideia de que a escrita no acompanha a evoluo fontica da fala, porque aquela no h possui uma continuidade que referencie a relao entre a imagem acstica e significao. Ele tambm acreditava que a escrita levava vantagens fala em alguns momentos, assim como o contrrio. J Saussure defendia que o sistema da fala e da escrita distinto e possui signos diferentes, principalmente porque a fala o ltimo objeto a ser considerado pela lingustica. (...) a palavra escrita se mistura to intimamente com a palavra falada, da qual a imagem, que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar maior importncia representao do signo vocal do que ao prprio signo. (1987, p. 34). Ele tambm criticava o prestgio que se dava escrita em comparao fala, atravs da literatura e instrumentos escritos que a priorizavam, como os dicionrios, livro didtico e as gramticas. Para o autor, isso no considerava o fato de que a fala, num mbito cronolgico, mais primria que a escrita.Saussure afirmava que o resultado prtico disso era que a "escrita obscurece a viso da lngua" e que, alm disso, "quanto menos a escritura representa o que deve representar, tanto mais se refora a tendncia de tom-la por base", (1987, p. 40). Para Cmara Jr. (1961, p.13) na lngua oral h uma riqueza de recursos que facilitam e aprimoram a comunicao, como o timbre da voz, a entonao; acontecimentos, estes, inexistentes na escrita; por isso o autor define a escrita como uma espcie de linguagem mutilada, que pede por outros recursos capazes de faz-la mais viva. Nas dcadas de 70-80, pesquisadores de diferentes reas do conhecimento, como a Antropologia, Sociologia e Psicologia, analisaram a relao oralidade-escrita e acabaram, de alguma forma, por estabelecer polaridades entre elas. Tais pesquisas "enfatizaram o carter oral da linguagem e as profundas implicaes, em todos os nveis, da introduo da escrita em culturas tradicionais", (GALVO; BATISTA, 2006).

De acordo com Goody (1977), depois da aquisio da lngua oral e da reduo das formas grficas, diversos setores sociais, como poltica, educao, economia, assim como o pensamento humano de desenvolveram de forma perceptvel e positiva. J para Olson (1977) a oralidade limitada, pois no consegue explorar ideias abstratas, pois mais acessvel e adequada a aes prticas; para ele, a escrita uma entidade autnoma, diferente da fala que dependente de um contexto e se diverge por ele. Ong (1998) diz que as estrutura orais esto relacionadas pragmtica, e as manuscritas abarcam mais os elementos sintticos utilizados. No esquecendo, tambm, da diviso exercida pela escrita entre a alta (escrita) e baixa (oralidade) linguagem. Ochs (1979), por outro lado, prope que h diferena no discurso entre esses dois polos, no-planejado e planejado. Aquele corresponde quilo que no foi organizado, pensado e que apresenta estruturas mais simples a fala, e este como discurso planejado e que possui estruturas mais complexas e organizadas - escrita. Por fim, a apresentao acerca das abordagens dos autores, mesmo que sejam de reas distintas, fornecem um elemento em comum: apresentam dicotomias estritamente polarizadas que atribuem escrita maior autonomia e supremacia, conforme quadro abaixo:

Marcuschi (2001a, p. 42) entende condio de produo como "a atividade de produtores/receptores de textos situados em contextos reais e submetidos a decises que seguem estratgias nem sempre dependentes apenas do que se convencionou chamar de sistema lingustico."

Anlise Lingustica no Ensino Mdio: Um novo olhar, um outro objeto Mrcia MendonaPara falar sobre anlise lingustica no Ensino Mdio, analisamos a contribuio dada pela professora Dr. Mrcia Rodrigues de Souza Mendona - atualmente no Departamento de Lingustica Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - na obra Portugus no Ensino Mdio e formao do professor, publicada pela editora Parbola, em 2006. No captulo intitulado Anlise lingustica no ensino mdio: um novo olhar, um outro objeto, Mrcia Mendona destaca a forte cultura do ensinar gramtica nas aulas de Portugus e faz uma crtica ao ensino de gramtica tradicional (GT) nas escolas. Segundo a autora, a prtica de ensinar gramtica nas aulas de Lngua Portuguesa coloca a leitura e a escrita em segundo plano, o que justifica os resultados insatisfatrios obtidos pelos alunos no processo de codificao e decodificao. Alm disso, Mrcia Mendona critica a inconsistncia terica das gramticas tradicionais, alegando que elas trazem contradies e deixam lacunas em suas abordagens.Ao criticar o ensino de gramtica nas aulas de Lngua Portuguesa nas escolas, a autora prope os estudos de anlise lingustica (AL) em substituio ao ensino estritamente gramatiqueiro. Para Mrcia Mendona, a AL surgiu para denominar uma nova perspectiva de reflexo sobre o sistema lingustico e sobre os usos da lngua, com vistas ao tratamento escolar de fenmenos gramaticais, textuais e discursivos. A anlise lingustica tem como objetivo a reflexo sobre elementos e fenmenos lingusticos e sobre estratgias discursivas, com o foco nos usos da linguagem. Dessa forma, o trabalho de AL no ensino mdio se configura no ato de fazer refletir de forma recorrente e organizada, considerando sempre a produo de sentidos e/ou a compreenso mais ampla dos usos e do sistema lingustico, a fim de contribuir para a formao de leitores-escritores de gneros diversos, aptos a participarem de eventos de letramento com autonomia e eficincia. importante destacar que o trabalho com a anlise lingustica no elimina a gramtica das salas de aula. Mrcia Mendona destaca que a AL engloba, entre outros aspectos, os estudos gramaticais, mas num paradigma diferente, na medida em que os objetivos a serem alcanados so outros. Por fim, ao tratar da prtica de anlise lingustica no Ensino Mdio como novo recurso para se trabalhar com os estudos gramaticais, Mrcia Mendona nos traz a reflexo sobre a formao do professor de Lngua Portuguesa no que diz respeito ao ensino (ou no) de gramtica normativa na escola:

Alguns cursos de graduao em letras continuam preparando professores para ensinar gramtica, enquanto outros, no extremo oposto, formam para no ensinar gramtica. Com perfis profissionais diferentes, no parecem ser to distintos [...] Em muitos casos, o professor chega a retornar s aulas de gramtica convencionais, ainda que compreenda as falhas desse modelo, justamente pela dificuldade de efetivar a prtica de AL, ou seja, de articular a reflexo sobre os fenmenos lingusticos produo de sentido, ao tratamento da norma e s necessidades de aprendizagem dos alunos. (MENDONA, 2006, p.223).

Fazer essa reflexo sobre a formao do professor de Lngua Portuguesa importante, uma vez que o PIBID tem contribudo para que os bolsistas participantes deste projeto de Anlise Lingustica no Ensino Mdio participem diretamente desse processo de reflexo sobre a lngua e sobre o ensino de lngua portuguesa. Somente atravs dessa possibilidade de ter oportunidades de observao e de prtica docente que o estudante de graduao pode fazer esse trabalho de reflexo e ainda contribuir para a sua prpria formao como professor.Nova Gramtica do Portugus Brasileiro Ataliba T. de CastilhoAtaliba realizou uma gramtica de forte contedo funcionalista-cognitivista, afastando-se portanto do modelo tradicional das gramticas de referncia. Seu objetivo no meramente fornecer regras de certo ou errado sobre a lngua portuguesa, mas sobretudo, propor uma reflexo sobre a lngua.O ritmo expositivo de nossas gramticas adota o que se poderia chamar de estilo revelao. O gramtico se transforma numa espcie de Moiss que desce dos altos montes e revela aos povos estupefatos... o que est certo e o que est errado em sua linguagem! Tambm aqui me distanciei disso. Imaginei para tanto a seguinte estratgia: compus dois textos articulados, um expositivo, e outro indagativo. Na exposio, falo eu, interpretando os achados da cincia atual. Nas indagaes, falam os leitores, por meio das perguntas que imagino que eles estejam formulando. Nossos dilogos imaginrios vo em itlico, intercalados no texto expositivo. (CASTILHO, 2009, p. 32).O autor se preocupa com o dinamismo da lngua, como um conjunto articulado de processos. Para ele, o contexto um fator de extrema importncia no uso da lngua, portanto necessrio expor aos usurios da lngua as suas possibilidades de uso, explicando onde e quando cada possibilidade deve ser usada, de forma que esse usurio se torne um bilngue em sua prpria lngua.

Novssima Gramtica da Lngua Portuguesa Domingos Paschoal CegallaCegalla apresenta, de forma bastante de didtica, os aspectos gramaticais principais da lngua, os quais se dividem em cinco partes distintas: Fontica, Morfologia, Sintaxe, Semntica e Estilstica. Uma das caractersticas principais caractersticas da Novssima Gramtica da Lngua Portuguesa a forma que o autor utiliza para exemplificar especificidades da lngua. Estas especificidades so apresentadas de maneira bastante clara pelo gramtico por meio de exemplos retirados de poemas, excertos literrios e boas leituras. Cegalla d nfase, na apresentao de seu livro, para a importncia da qualidade desses bons exemplos para o bom aprendizado das questes gramaticais da lngua:Tomamos a liberdade de lembrar aos abnegados colegas de ensino que o estudo da gramtica, por parte dos discpulos deva andar lado a lado com a redao de textos, a interpretao de poemas e excertos literrios e revistas de boa qualidade. S com essa didtica plurivalente que o ensino do portugus atingir seu objetivo precpuo, que levar o estudante e assenhorar-se gradativamente das normas e dos recursos do idioma, nas modalidades oral e escrita. (CEGALLA, 2010, p. 3).

Perceber-se que, para o autor, um bom aprendizado dos aspectos gramaticais s faz-se possvel por meio da contextualizao dos exemplos utilizados, uma vez que assim o discpulo no entrar em contato com a lngua forjada, mas com ela acontecendo da maneira como ela realmente utilizada e, em funo disso, a gramtica de Cegalla completamente formulada a partir dessa questo.

Que gramtica estudar na escola? Norma e uso na Lngua Portuguesa Maria Helena de Moura NevesTrazendo superfcie a discusso sobre a necessidade de se estabelecer um tratamento escolar mais cientfico s atividades de linguagem, especialmente s atividades relacionadas gramtica da Lngua Portuguesa, nos fundamentamos em Neves (2003) que contribui para nosso projeto com questes relacionadas ao ensino de lngua materna e, mais especificamente, com o ensino de gramtica.Atravs de uma perspectiva funcional, a autora faz uma avaliao sobre o espao e a natureza que o tratamento da linguagem tem nas escolas, discutindo a necessidade de se relativizar as dicotomias lngua falada x lngua escrita, lngua-padro x lngua-no-padro e enfatizando a necessidade de valorizao dos usos lingusticos. Defendendo que a gramtica da lngua se efetiva no uso, nas situaes interlocutivas e na criao de textos, a autora defende a tese de que a disciplina gramatical escolar no pode alhear-se ao real funcionamento da linguagem e enftica nessa sua defesa dizendo que: No necessria muita argumentao para que se assegure tambm nisso insisto que ensinar eficientemente a lngua e, portanto, a gramtica , acima de tudo, propiciar e conduzir a reflexo sobre o funcionamento da linguagem, e de uma maneira, afinal, bvia: indo pelo uso lingustico, para chegar aos resultados de sentido. Afinal, as pessoas falam exercem a faculdade da linguagem, usam a lngua para produzir sentidos, e, desse modo, estudar gramtica , exatamente, pr sob exame o exerccio da linguagem, o uso da lngua, afinal, a fala. (NEVES, 2003, p. 128)Dessa forma, entendemos que, ao nos apoiarmos nas argumentaes da autora para fundamentarmos nosso trabalho, estamos contribuindo para que o ensino dos aspectos gramaticais da lngua deixe de ser descontextualizado e fragmentado, fazendo com que o aluno no s perceba os diferentes contextos de produo dos discursos, mas, tambm, seja capaz de utilizar a linguagem na produo de textos orais e escritos, se tornando apto a responder aos diferentes propsitos comunicativos.

CRONOGRAMAO projeto Verbo: de novo? ou de um jeito novo? iniciou-se no ms de Agosto/2014 com discusses tericas e prticas com os bolsistas, professor supervisor e com o professor orientador. Na escola, o projeto comeou a ser aplicado no ms de Outubro e foi finalizado em Dezembro, conforme combinado feito entre o professor supervisor, a escola e os bolsistas a partir da disponibilidade de cada um dos envolvidos nesse trabalho.

DataAulaJustificativaAtividades Desenvolvidas

17/10/2014 e 18/10/2014Relao entre oralidade e escritaDiferenciar contextos que exigem uso de diferentes nveis de formalidade na Lngua Portuguesa; refletir sobre a atitude adequada diante de variantes lingusticas tidas como desprestigiadas; apresentar os usos lingusticos atravs de gneros textuais.Msica; Gnero Notcia, Gnero Entrevista; Contedo terico sobre a relao entre oralidade e escrita a partir de gneros textuais.

22/10/2014 e 23/10/2014Introduo aos Verbos: conceito, pessoa , nmero e modo.Introduzir o conceito de verbo; aprender a identificar um verbo a partir de suas caractersticas morfossintticas e de sua funo no texto; introduzir o conceito de pessoa, nmero e modo verbal; refletir sobre os modos indicativo, subjuntivo e imperativo; reconhecer os modos verbais aplicados nos gneros textuais; perceber a intencionalidade do sujeito ao utilizar um determinado modo de verbo; propiciar o contato com a lngua padro, levando em conta os possveis registros informais que caracterizam o uso cotidiano da lngua, pois estes tambm devem ser considerados no processo de ensino-aprendizagem.Contedo terico mostrando o conceito didtico e morfolgico de verbo; Exerccio prtico de cunho semntico e pragmtico a partir de gneros textuais como tirinha e reportagem.

29/10/2014 e 30/10/2014Tempos VerbaisDistinguir os tempos verbais passado, presente e futuro e compreender sua funo no texto; entender a utilizao dos tempos verbais a partir da produo de sentido; refletir acerca da flexo verbal de tempo levando em considerao a questo pragmtica e semntica; analisar as caractersticas dos tempos verbais e sua utilizao em cada situao de fala e de escrita.Contedo terico mostrando os tempos verbais: passado, presente e futuro; exemplificao do sentido obtido a partir do uso de determinado tempo verbal; jogo da memria sobre tempos verbais (os alunos se reuniram em grupo e, a partir do jogo, refletiram sobre o contedo).

12/11/2014 e 13/11/2014Formas Nominais Apresentar as formas nominais do verbo; refletir sobre o particpio irregular e sua presena no uso dos falantes de Lngua Portuguesa; refletir sobre as formas nominais levando em considerao a questo pragmtica e semntica; reconhecer as formas nominais do verbo em gneros textuais como a receita, tirinha e na msica.Contedo terico mostrando as formas nominais do verbo; exposio das formas nominais atravs de msica e dos gneros receita e tirinha; discusso sobre a alterao de sentido provocado pela utilizao de determinada forma nominal num contexto discursivo; vdeo abordando a questo do gerundismo; atividade prtica de cunho semntico e pragmtico a partir de frases, a fim de se fazer entender as diferentes produes de sentido.

01/12/2014 e 02/12/2014Vozes VerbaisDistinguir voz ativa, passiva e fixar tais conceitos; refletir sobre o uso que vem sendo feito da voz passiva pelos falantes de Lngua Portuguesa na oralidade e na escrita; fazer um trabalho de metalinguagem em relao lngua e linguagem que o sujeito utiliza em seu cotidiano.Contedo terico mostrando as vozes verbais; atividade prtica de cunho semntico e pragmtico a partir de frases, a fim de se fazer entender as diferentes produes de sentido; atividade final para coleta de dados sobre os resultados obtidos pelo grupo por meio do projeto Verbo: de novo? ou de um jeito novo?

REFERNCIA BIBLIOGRFICAS BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica. Parmetros Curriculares Nacionais (Ensino Mdio). Braslia: MEC, 2000. BUNZEN, C.; MENDONA. M (Org.), Portugus no Ensino Mdio e Formao do Professor, 2. ed. So Paulo: Parbola, 2006.

CASTILHO, Ataliba T. de; Nova Gramtica do Portugus Brasileiro, ed. Contexto, 2010.

CEGALLA, Domingos Paschoal, Novssima Gramtica da Lngua Portuguesa, 48 ed. rev.,So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

MARCUSCHI, Luiz Antnio, Gneros textuais: definies e funcionalidade. In: DIONISIO, ngela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org). Gneros textuais & ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, p. 22-23, 2005.MENDES, Solis Teixeira do Prado, Combinaes Lexicais Restritas em Manuscritos Setecentistas de Dupla Concepo Discursiva: escrita e oral: A Relao Escrita-Oralidade. 30f. (tese de doutorado), Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte: s/d., 2008. MENDONA, Mrcia. Anlise lingustica no ensino mdio: um novo olhar, um outro objeto. In: BUNZEN, Clcio.; MENDONA, Mrcia (org.). Portugus no ensino mdio e formao do professor; So Paulo: Parbola Editorial; 2006.MINCHILLO, Carlos Alberto Cortez; CABRAL, Isabel Cristina Martelli, O verbo, So Paulo: Atual,1988.

NEVES, Maria Helena de Moura; Que gramtica estudar na escola? Norma e uso na Lngua Portuguesa. 2 ed.; So Paulo: Contexto; 2003.

PONTARA, Marcela; ABAURRE, Maria Bernadete M.; ABAURRE, Maria Luiza M., Portugus: contexto, interlocuo e sentido, So Paulo: Moderna, 2008.