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1 Cooperativa Paulista de Teatro Cia Mungunzá de Teatro PROPOSTA DE ESPETÁCULO Por que a criança cozinha na polenta De Nelson Baskerville Cia Mungunzá de Teatro 36 prêmios conquistados no ano de 2009 em diversos festivais!

Projeto Porque a Criança Cozinha na Polenta

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Projeto do espetáculo Porque a Criança Cozinha na Polenta da Cia. mungunzá de Teatro

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Cooperativa Paulista de Teatro Cia Mungunzá de Teatro

PROPOSTA DE ESPETÁCULO

Por que a criança cozinha na polenta

De Nelson Baskerville

Cia Mungunzá de Teatro

36 prêmios conquistados no ano de 2009 em diversos festivais!

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ÍÍÍNNNDDDIIICCCEEE Ficha de Inscrição 03 Representante do grupo 06 Apresentação 07 Objetivo 08 Justificativa 09 Sinopse 10 Proposta de encenação 11 Concepção musical 12 Rider Técnico de Som 12 Concepção de figurino 13 Concepção de cenário 14 Mapa de luz 15 Mapa do Palco 16 Rider da Projeção 17 Histórico do grupo 18 Histórico da peça 19 Ficha técnica 21 Currículos 22 Currículo do diretor 22 Material de imprensa 40 Crítica Valmir Santos 40 Crítica Alexandra Mate 42 Crítica Marcio Marciano 44 Crítica Miguel Arcanjo 46 Crítica Julia Galligaris 47 Crítica Luciano Maza 50 Crítica da Revista Veja SP 52 Crítica de Michel Fernandes 53 Relatório Roberto Lage 85 Relatório Marcelo Denny 86 Termo de autorização 89 Texto 91 Anexo: DVD do espetáculo (sem edição) CD com fotografias do espetáculo (baixa e alta resolução) Programa da peça

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RRREEEPPPRRREEESSSEEENNNTTTAAANNNTTTEEE DDDOOO GGGRRRUUUPPPOOO Nome do Grupo: Cia Mungunzá de Teatro Nome do Responsável: Marcos Felipe de Oliveira RG: 43.653.651-1 CPF: 312.763.758-67 Endereço Residencial: Rua João Alves Pimenta, 198 Bairro: Pirituba CEP: 02967-000 Cidade: São Paulo Estado: SP Fone Residencial: (11) 3998-8674 Fone Comercial: (11) 3091-4800 Fone Celular: (11) 9188-9035 Email: [email protected] MSN: [email protected] Pessoa Jurídica: Cooperativa Paulista de Teatro CNPJ: 51.561.819/0001-69 Endereço: Praça Dom José Gaspar, 30 4º Andar A Bairro: Centro CEP: 01047-010 Cidade: São Paulo Estado: SP Fone: (11) 3258-7457

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AAAPPPRRREEESSSEEENNNTTTAAAÇÇÇÃÃÃOOO

“Por que a criança cozinha na polenta” traz a visão lúdica de uma menina refugiada da ditadura romena de Ceauscescu, na década de 70, sobre as desventuras do exílio e da vida circense.

A família é nômade e vive no circo. O espetáculo traz, através dos olhos dessa menina, a infância revista pelo avesso. A infância usurpada é o fio condutor dessa história permeada por toda a sorte de experiências avassaladoras. Em meio a esse caos, entretanto, está a poesia do olhar dessa menina de treze anos, que lê essas passagens de maneira inusitada.

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OOOBBBJJJEEETTTIIIVVVOOO

De posse de um espetáculo de relevância cultural, histórica, política e psicológica, o objetivo é levar ao maior número de pessoas uma releitura crítica estruturada poeticamente, sobre temas que constituem tabus em nossa sociedade atual. Abuso sexual, exploração infantil, regimes políticos, preconceito e idealização de um sonho. O texto é uma seqüência de temas aparentemente desconexos, que se interligam na vida dessa menina. Como pode o homem ser emblema de uma sociedade que contempla todos esses aspectos? Que peso carrega esse homem? Como o meio pode ou não afetar o indivíduo antes da maturidade? Uma criança não resulta, depois de 20 anos, num produto acabado, enjaulado numa época, num contexto, ou numa determinada situação social. Ela é, antes de tudo, um processo. Que se mescla e se constrói de retalhos que não necessariamente se costuram. O espetáculo propõe ponderar os diversos temas por uma ótica que não segrega, mas soma. Porque o indivíduo se compõe na soma. Ele ata traumas, experiências boas e ruins, numa única corda. Ele não possui gavetas. Senão seríamos todos maniqueístas. O homem é um ser contraditório, incoerente e plural, porque se constrói a partir das misturas. Uma família em caos. Difícil dizer se pelo pai que abusa da filha, se pelo ditador que exporta a comida do seu país fazendo seu povo morrer de fome, se pela mãe que sonha com a fama da filha, se pelo nomadismo característico da profissão, se pela filha que lê tudo isso com 13 anos. Tudo é um conjunto que foi gerado por um outro conjunto. Como achar culpados? Nós estamos no meio deles. A sociedade é um fluxo que se arranja em meio ao caos. O espetáculo, portanto, nos relembra que em nossa sociedade atual, não existe um culpado específico, mas que cada um é responsável por uma pequena parte no grande estrago. E que pequenos rombos resultam, às vezes, num buraco irreversível.

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JJJUUUSSSTTTIIIFFFIIICCCAAATTTIIIVVVAAA

O texto todo é pontuado por uma pluralidade de temas pertinentes aos dias atuais. Por conta desse caleidoscópio de “apropriamentos”, surge uma necessidade estético-conceitual de apresentar diversos focos de discussão simultâneos na composição do espetáculo. A vida não delimita um foco por vez, eles estão todos aí. O que transforma um objeto em foco é o direcionamento do olhar. A concepção cênica pretende dar essa liberdade ao público na peça: a escolha do próprio foco, a capacidade de edição da história que se apresenta diante de seus olhos. Vivemos numa sociedade onde o homem perdeu sua identidade por conta da pluralidade de passagens que o assolaram. E, sem saber quem é procura achar a raiz de algo que não foi plantado. Procura arranjar soluções para sua constante sensação de penúria. Num mundo onde se diz constantemente que “o buraco é mais em baixo”, é preciso olhar de novo e constatar que, muitas vezes, o buraco simplesmente não tem fundo. Simplesmente não se acha mais o começo das mazelas. Não existe O culpado. Isso é o sistema. O homem não sabe mais onde tudo começou e vive de elucubrações para tentar remediar. O sistema se alimenta dessas elucubrações.

A partir desse pensamento, surgiu a necessidade de construir um espetáculo que levasse ao público essa sensação de caos sem tempo de digestão. O texto não trabalha com escolhas. Ele é todo um excesso, um desabamento de episódios infelizes na vida dos personagens apresentados. Toda a sorte de temas são levados ao extremo de si mesmos, embaralhados de tal maneira que não resta ao público tempo interno de julgamento. Antes que se tome uma posição, a história já passou, a seqüência continua e os próprios personagens se resolvem passo a passo. O espetáculo, portanto, surgiu da constatação de um amálgama. Um caleidoscópio de mazelas que se sobrepõem. Por ser um amálgama não conseguimos mais separar cada fato para entender onde algo deu errado. Nos resta a poesia e a crítica. A peça é uma crítica poética da dor.

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SSSIIINNNOOOPPPSSSEEE

A história gira em torno de uma menina romena cujos pais são artistas circenses exilados de seu país. A mãe se pendura no trapézio pelos cabelos todas as noites. O pai é um palhaço que não acredita em Deus, pois ‘Os homens acreditam menos em Deus do que as mulheres e as crianças, por causa da concorrência’. Narrado por uma adolescente que se defende da degradação pela ótica infantil, este livro é ao mesmo tempo lírico e cruel. Enquanto, em seu exílio, excursiona pela Europa Central, a menina, ao lado da irmã mais velha, é arremessada de encontro ao despedaçamento de todos os seus ideais, bem como o preço por cada um deles. “A criança cozinhando na polenta” é um dito romeno, equivalente ao “bicho papão” no Brasil. Esse dito assombrará a menina nos momentos cruciais de sua vida. Não é um espetáculo sobre comida nem também uma história infantil. Ou talvez seja. Mas é diferente: não é para crianças. “NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE EXISTE UM DEUS, POIS QUASE TODOS OS ARTISTAS, CONTERRÂNEOS OU ESTRANGEIROS, SE BENZEM ANTES DA APRESENTAÇÃO. QUE SENTIDO ISSO FARIA, SE DEUS NÃO EXISTISSE?”.

Não recomendado para menores de 16 anos. Gênero: drama.

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PPPRRROOOPPPOOOSSSTTTAAA DDDEEE EEENNNCCCEEENNNAAAÇÇÇÃÃÃOOO CONCEPÇÃO DO ESPETÁCULO “Para Raymond Williams, Brecht chegou bem cedo à percepção de que a causa principal do sofrimento é um sistema que precisa ser combatido” Tragédia Moderna A direção pretende, logo, lançar-se no épico, para com, cinco atores que se desdobram por muitos personagens, contar essa história que contrapõe a leveza e flexibilidade de uma família circense à rigidez e o desequilíbrio de uma vida sem truques. O “aparato cênico” será composto de muitos objetos necessários para os atores desenvolverem a idéia. Serão malas, caixas (próprias de uma família nômade) – e banheiras, bacias, quadros, porcelanas eternamente embrulhadas com jornal, próprios de uma família que tenta transformar em sua a terra estrangeira, um teclado que executa músicas ao vivo, guarda-chuvas, escadas, ventiladores, etc. Como marca da saudade da terra natal teremos “o cheiro da comida materna” – panelas elétricas que cozinham polenta e gulash durante o espetáculo, pratos típicos da culinária romena que serão servidos a platéia durante o espetáculo. Haverá também uma tela de projeção, pois a protagonista sonha ser estrela de cinema e seu pai aventura-se várias vezes em filmes experimentais – contrapondo-se às imagens reais, tiradas de documentários sobre a ditadura de Nicolau Ceauscescu. Nelson Baskerville

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HISTÓRICO DA PEÇA "A IMAGINAÇÃO É AUTOBIOGRÁFICA" ● Fevereiro / Março de 2008 – Trabalhos de mesa em cima da peça “Por que a criança cozinha na polenta” coordenado pelo diretor Nelson Baskerville. Palestras sobre “psicologia infantil” e “Stalinismo no Leste-Europeu” ● Abril / Maio / Junho / Julho /Agosto – Montagem Cênica do espetáculo “Por que a criança cozinha na polenta” coordenado pelo diretor Nelson Baskerville, Ondina Castilho (diretora assistente), Ricardo Monteiro (diretor musical), Flavia Lorenzi (preparadora corporal). ● Setembro/2008 – Estréia / Temporada no Instituto Cultural Capobianco ● Novembro e Dezembro/2008 – Temporada no Instituto Cultural Capobianco ● Fevereiro e Março/2009 – Temporada no Teatro Artur Azevedo (contemplado pelo edital de 2008 dos Teatros Distritais) ● Abril e Maio/2009 – Temporada no Teatro Coletivo (Antigo Fábrica São Paulo)

● Junho /2009 - Contemplado pelo edital “Proc Circulação” com apresentações em Santos, Indaiatuba, Sorocaba, Jundiaí e Piracicaba. ● 02/09/2009 - Participou do 51º FESTA (Festival Santista de teatro) ● 07/09/2009 - Participou do 24º FESTIVALE (Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba) ● 22/09/2009 - Participou do FESTEC (Festival de Teatro de Catanduva) ● 30/09/2009 - Participou do FETACAM (Festival de Teatro de Campo Mourão) (melhor: espetáculo, atriz, ator, cenário, sonoplastia, iluminação, diretor, texto adaptado) (Indicado: atriz coadjuvante e ator coadjuvante) ● 05/10/2009 - Participou da 2º Mostra de Teatro de Jundiaí (Melhor: atriz, ator coadjuvante, texto e prêmio especial do Júri p/ conjunto de atores) (Indicado: melhor espetáculo, atriz coadjuvante, diretor, figurino e maquiagem) ●12/10/2009 - Participou do XXXIII FESTE (festival Nacional de Teatro de Pindamonhangaba) (Melhor: espetáculo, atriz e diretor) (Indicado: pesquisa, atriz coadjuvante, sonoplastia e cenário) ● 30/10/2009 - Participou do 4º Tablado Mogi de Teatro. (melhor espetáculo) ●11/11/2009 - Participou do 37º FENATA (Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa) (Melhor: espetáculo, direção, direção musical, atriz, ator coadjuvante figurino) (Indicado: Ator, cenografia, atriz coadjuvante, iluminação) ● 09/01/2010 - Participará como grupo convidado do V Festival de Teatro Kiau em Cena Araçuaí/MG

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CCCOOONNNCCCEEEPPPÇÇÇÃÃÃOOO DDDEEE CCCEEENNNÁÁÁRRRIIIOOO

Um espaço em branco. Uma tela a ser trabalhada. Uma criança e sua personalidade a ser constituída de acordo com o meio em que vive. Um “meio” mutatório que se transforma na mesma velocidade com que o circo e sua família viajam. Nessa tela acumulam-se experiências com o passar do tempo.

O espaço cênico é uma grande tela branca cobrindo desde o piso até o fundo do palco. Alguns pedaços de lona do circo com as cores da bandeira Romena revelam as primeiras inscrições definitivas nesta tela. O restante dos objetos cênicos dispõem-se como que numa grande instalação a compor as memórias da menina: microfones e telefones pendurados por todo palco, uma cozinha funcionando, um teclado/sintetizador fazendo a trilha, projeções ao fundo, um grande quadro emoldurando alguns fatos contados e objetos ainda não desembrulhados. O orgânico só na lona do circo. O plástico como material predominante. O plástico como modernidade, como descartável e barato. Tudo trabalhado na estética da deformação de uma transição de infância ao amadurecimento precoce.

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CCCOOONNNCCCEEEPPPÇÇÇÃÃÃOOO DDDEEE FFFIIIGGGUUURRRIIINNNOOO

Baseado na posição nômade no qual se encontra essa família oriunda em uma ditadura feroz, concebemos a simplicidade e a poesia de seus personagens através de suas roupas.

De maneira que a confecção e a compra de tecidos venham expor essa linguagem circense trabalhando com cores da bandeira da região natural e a suave alegria do circo. CROQUIS DOS FIGURINOS:

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CCCOOONNNCCCEEEPPPÇÇÇÃÃÃOOO MMMUUUSSSIIICCCAAALLL

Contrapondo a força seca do espetáculo em diversos momentos, optamos pelo lirismo suave das canções. Interpretadas em uníssono com as cenas especificas, onde podemos trabalhar o distanciamento “Brechtiano”.

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MMMAAAPPPAAA DDDEEE LLLUUUZZZ Relação de material de Luz para “Por que a criança cozinha na Polenta” que tem a criação de Wagner Freire:

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FICHAFICHA TÉCNICATÉCNICA "Por que a criança cozinha na polenta" Texto: Nelson Baskerville ELENCO Sandra Modesto Verônica Gentilin Virginia Iglesias Lucas Beda Marcos Felipe DIREÇÃO Nelson Baskerville DIRETORA ASSISTENTE/ PREPARADORA CORPORAL Ondina Castilho DIREÇÃO MUSICAL Ricardo Monteiro TRILHA SONORA Nelson Baskerville PREPARAÇÃO DE ATORES Flávia Lorenzi ILUMINAÇÃO Wagner Freire CENÁRIO Flavio Tolezani FIGURINOS Áurea Calcavecchia VÍDEOS Patrícia Alegre PROJETO GRÁFICO Nelson Baskerville ASSESSORIA DE IMPRENSA Vânia Barboni OPERAÇÃO DE SOM E VÍDEO Leandro Siqueira OPERAÇÃO DE LUZ Luiz Carlos Grasseschi Batistini PRODUÇÃO EXECUTIVA E PRODUÇÃO GERAL Cia. Mungunzá de Teatro (representada por Sandra Modesto) PROPONENTE JURÍDICO Cooperativa Paulista de Teatro Núcleo Cia. Mungunzá de Teatro

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CURRÍCULOSCURRÍCULOS SANDRA MODESTO – ELENCO DRT: 25943 Formação Curso Profissionalizante de Formação de Atores Teatro Escola Macunaíma Comunicação Social – Jornalismo Universidade Paulista MTB/SP: 52275/SP (registrada como jornalista) Experiências como Atriz (atuação e produção) “Por que a criança cozinha na polenta” (Nelson Baskerville)– 2008/2009 Direção: Nelson Baskerville Cia. Mungunzá de Teatro “Calabar” (Chico Buarqye e Ruy Guerra)– 2006 Direção: Wanderley Martins Cia. Mungunzá de Teatro “Senhora dos Afogados – O Musical” (Nelson Rodrigues )– 2006 Direção: Zé Henrique de Paula “Cabaret” (John Kander e Fred Ebb) – 2005 Direção: Zé Henrique de Paula “Cândido” (Baseado na obra de Voltaire) – 2005 Direção: Lineu Carlos Constantino “Sétimo Mandamento: Roubarás Um Pouco Menos” (Dario Fo) – 2004 Direção: Giseli Ramos “Ralé” (Baseado na obra de Máximo Gorki)- 2004 Direção: Ariel Moshe “Bailei na Curva” (Júlio Conte) - 2003 Direção: Mara Leal “Boca de Ouro” (Nelson Rodrigues)- 2003 Direção: René Piazentin “Auto da Compadecida” (Ariano Suassuna)– 2002 Direção: Alexandre Ferreira “Memórias de Maria” (Alexandre Ferreira)– 2002 e 2001 Direção: Alexandre Ferreira “Alice... o que é o País das Maravilhas?” (Baseado na obra de Lewis Carrol)- 2001 Direção: Alexandre Ferreira “A Queda para o Alto” (Alexandre Ferreira)– 2001 e 2000 Direção: Alexandre Ferreira Outras Experiências

♦ Teatro Escola Macunaíma (2003-2004-2005-2006)

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Interpretação: Giseli Ramos/ Lineu Carlos Constantino/ Zé Henrique de Paula/René Piazentin/Mara Leal/Ariel Moshe Expressão Corporal: Eduardo de Paula/Leleco Expressão Vocal: Ariel Moshe/Ariane Pedra/Carolina Costa/Fernanda Maia/Wanderley Martins Interpretação para vídeo: Ricardo Lunghin Maquiagem Teatral: Zé Henrique de Paula História do Teatro: Ariel Moshe/René Piazentin Teoria Teatral: Paco Abreu ♦ Aula de corpo – Flávia Lorenzi e Ondina Castilho (2008) ♦ Aula particular de violino – André Filipe (2007); Marcelo Nunes (2008) ♦ Aula de dança – Julia Munari; Carol Duarte (2005) ♦ Aulas de canto – Sofia Castiel (2007); Fernanda Maia (2005 e 2006) ♦ ECA (2006) Comunicação Visual (Cenário, Figurino, Maquiagem Teatral) – Curso de Extensão – Profºs Fausto Viana, Clóvis Garcia e Marcelo Dênny. ♦ Oficina de canto/coral (2007) – Coral do Grupo Folias, sob supervisão de

Dagoberto Feliz e do regente Ricardo Ferreira. Outras Informações:

- Fundadora da Cia. Mungunzá de Teatro, juntamente com Marcos Felipe e Tatiana Moreira.

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VERÔNICA GENTILIN – ELENCO DRT: 16624 Formação Curso profissionalizante de formação de atores Teatro Escola Célia Helena Bacharelado em Artes Visuais Centro Universitário Belas Artes de São Paulo Experiências como atriz (teatro e cinema) Teatro “Por que a criança cozinha na polenta” (Nelson Baskerville)– 2008/2009 Direção: Nelson Baskerville Cia. Mungunzá de Teatro “Instruções para montar uma peça” - 2009 Processo colaborativo que une diferentes linguagens artísticas (intervenções, vídeo, artes plásticas e teatro) “Dias de Anestesia” (Vinícius Piedade) – 2007 Direção: Vinícius Piedade “Nunca se Sábado” - 2007 Competição de grupos de esquetes cômicas “Anjo Negro” (Nelson Rodrigues – livre adaptação) – 2007 Direção: Tatiana Redher Movimento dos Novos Grupos de Teatro “Um Edifício chamado Duzentos” (Paulo Pontes) – 2005 Direção: Zé Renato Pecora Senta que lá vem comédia – TV Cultura “Estranho Amor” (Olayr Coan) – 2001 Direção: Olayr Coan Cinema Curta-metragem “Sapatinho” de Renata Siqueira, dirigido por Renata Siqueira. (jun. de 2008) Curta-metragem “O Outro” de Fábio Lopez, dirigido por Fábio Lopez. (abril de 2007) Curta-metragem “In memorian – Tomo II” de Ernesto Andreghetto, dirigido por Ernesto Andreghetto. (set. de 2006) Curta-metragem “Sala Virtual” de Thiago Fogaça, dirigido por Thiago Fogaça. (jun. de 2004) Longa-metragem “Expresso para Aanhangaba” de Tony de Sousa, dirigido por Tony de Sousa. Com Hélio Cícero e Marat Descartes. (set. de 2002) Curta-metragem “João vai comprar pão” de Rodolfo Vilela e Rafael Rubio, dirigido por Rodolfo Vilela. (ago. de 2000) Outras Experiências

• “Danças Circulares Sagradas” com Cirandda da Lua (desde maio de 2008) • “Taketina” com Henning Von Vangerow , em São Paulo (jan. de 2008)

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• “Laboratory – The Way” – Grotowski com Rena Mirecka, no Teatro-Escola Célia Helena, em São Paulo. (mai. de 2007)

• Interpretação para cinema ( técnica físico-energética ) com Márcio Mehiel, no Ateliê de Artes de Ofícios em São Paulo. (2005 à 2007)

• “O Ator na obra de Beckett” com Lenerson Polonini no Espaço Violação em São Paulo. (ago. à dez. de 2004)

• Clown, com Bete Dorgam em São Paulo. (fev à jul. de 2004) • “Sistema Stanislavski – Ação e Circunstâncias” com Valentin Teplyakov, no

Teatro-Escola Célia Helena em São Paulo. (set. de 2002) • “Oficina de Contadores de Histórias” com o grupo As Meninas do Conto, no

Galpão das Meninas do Conto em São Paulo. (mai. e jun. de 2002) • Circo no Picadeiro Circo Escola (1° sem. de 2000) • Dramaturgia com Solange Dias, no Teatro-Escola Célia Helena, em são Paulo.

(1998) • Ballet Clássico, na Marisa Ballet em São Paulo. (1993 à 1996) • Inglês na Escola de idiomas Wisdom (2001 à 2003)

Outras Informações

• Desde 2000 vem desenvolvendo um trabalho como arte-educadora junto à Lígia Cortez na Casa do Teatro, em São Paulo.

• Integra o projeto Moitará, em Heliópolis, com o Grupo Simples de Teatro. • Foi contemplada com o Prêmio Funarte de Estímulo à Dramaturgia como autora

do texto “Suspensões”, em 2007.

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VIRGINIA IGLESIAS - ELENCO Formação Curso profissionalizante de formação de atores Teatro Escola Célia Helena Turismo Escola de Comunicação e Arte – USP Experiências como atriz Teatro “Por que a criança cozinha na polenta” (Nelson Baskerville)– 2008/2009 Direção: Nelson Baskerville Cia. Mungunzá de Teatro “Gota d'água” (Chico Buarque) Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Mogi das Cruzes Projeto CENA LIVRE “A Mulher sem pecado” (Nelson Rodrigues) Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Mogi das Cruzes Projeto CENA LIVRE “Ópera do Malandro” (Chico Buarque) Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Mogi das Cruzes Projeto CENA LIVRE “Chamada a Cobrar”, roteiro de Pietro Picolomini (adaptação do conto “Os dragões não conhecem o paraíso”, de Caio Fernando de Abreu) Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Mogi das Cruzes Projeto CENA LIVRE “Eu sei que vou te amar” (Arnaldo Jabor) Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Mogi das Cruzes Projeto CENA LIVRE “Nuestra Señora de las Nubes” (Aristides Vargas) Direção: Hugo Villavicenzio Grupo Conexion Latina “Topografia de um Desnudo” (Jorge Diaz) Direção: Hugo Villavicenzio Grupo Conexion Latina “Ridícula Concórdia” (Humberto Garcia) Direção: Hugo Villavicenzio Grupo Conexion Latina “Sonata de Outono” (Ingmar Bergman) Direção: Ademir Emboava “A Casa de Bernarda Alba” (Federico Garcia Lorca) Direção: Gabriel Miziara “À Direita de Deus Pai” (Enrique Buenaventura) Direção: Simoni Bôer

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“Cenas para Jovens Atores” (de vários autores) Direção: Nelson Baskerville “Opus 13” (de vários autores) Direção: Ulisses Cohn Leituras dramáticas "A noite dos Assassinos", de Jose Triana, dir. Hugo Villavicenzio, em 18/09/06, no TUCA “Topografia de um desnudo”, de Jorge Diaz, dir. Hugo Villavicenzio, em 14/05/07, no “Instituto Cervantes”. “Vereda da Salvação”, de Jorge Andrade, dir. Silney Siqueira, 2006, no projeto Caixa Cênica. “Hedda Gabler”, de Henrik Ibsen, dir. Sérgio Milagre, 2007, no projeto Caixa Cênica. “Anjo de Pedra”, de Tennessee Willians, dir. Nydia Lícia, 2008, no projeto Caixa Cênica. Outras experiências Oficinas de Dramaturgia:

• “Do Kaus à Textualidade Teatral” – Dramaturgo: Santiago Serrano, 01/2007. • “Trama: Processo de Construção da Obra Teatral” – Dramaturgo: Edílio Peña,

02/2007. • “Dramaturgia Contemporânea” Dramaturgo: Cássio Pires, 03 a 05/2008 - Célia

Helena Teatro Escola. Cursos, Encontros e Workshops:

• Laboratório “The Way”, Rena Mirecka, 05/2007- Célia Helena Teatro Escola. • VI Encontro sobre os Fundamentos do Sistema Stanislavski, Valentin

Vassilyevitch Teplyakov, 08/2007 - Célia Helena Teatro Escola. • Curso Jornadas de Teatro e Psicodrama, 2007, Instituto Sedes Sapientiae. • Workshop “A presence cênica do ator”, Jan Ferslev (Odin Theatre), 07/2008

(ouvinte). • Workshop “Memória Sensorial”, Robert Castle, 10/2008 – Célia Helena Teatro

Escola • Curso Movimento, Respiração e Canto, 08 a 11/2008, Wania Storolli, Instituto

Sedes Sapientiae. • Workshop “Campo de Visão”, 02/2009, Marcelo Lazzaratto – Cia. Elevador

Teatro Panorâmico. Outras informações

• Integrante desde 01/2008 do Madrigal Célia Helena. LUCAS BEDA - ELENCO DRT: 26658 Formação Curso profissionalizante de formação de atores Teatro Escola Célia Helena Faculdade Belas Artes Artes Visuais / 3º semestre - Matutino

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Experiência como ator (atuação e produção) “Por que a criança cozinha na polenta” (Nelson Baskerville)– 2008/2009 Direção: Nelson Baskerville Cia. Mungunzá de Teatro “Entre quatro paredes” (Jean Paul Sartre) - 2008 Teatro da USP “O crime da cabra” (Renata Pallottini) - 2008 Dir: Elvira Gentil “Moritz, ternos e eletrodomésticos” (adaptação de “O despertar da primavera”, Frank Wedekind) – 2007/2008 Direção: Nelson Baskerville. “Revisão de prova” (Décio Gentil) - 2007 Direção: Elvira Gentil “Os 120 dias de Sodoma” ( Marquês de Sade) - 2006 Direção: Rodolfo Garcia Vazquez Cia dos Satyros “A megera domada” (William Shakespeare) - 2006 Direção: Gabriel Miziara “Fala comigo doce como a chuva” (Tennessee Williams) - 2006 Direção: Heitor Saraiva ‘As janelas” (Thornton Wilder) - 2006 Direção: Nelson Baskerville “O telescópio” (Jorge Andrade) - 2005 Direção: Ademir Emboava “Um grito parado no ar” (Gianfrancesco Guarnieri) - 2005 Direção: Gisele Valeri

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MARCOS FELIPE - ELENCO DRT: 28453 Formação Curso Profissionalizante de Formação de Atores Teatro Escola Macunaíma Comunicação Social – Jornalismo Universidade Nove de Julho Experiências como Ator (atuação e produção) “Por que a criança cozinha na polenta” (Nelson Baskerville)– 2008/2009 Direção: Nelson Baskerville Cia. Mungunzá de Teatro “Nunca se sábado” (Criação Coletiva)– 2007 Direção: Isser Korik “Calabar” (Chico Buarque e Ruy Guerra) – 2006 Direção: Wanderley Martins Cia. Mungunzá de Teatro “Cabaret” (John Kander e Fred Ebb) – 2005 Direção: Zé Henrique de Paula “Cândido” (Baseado na obra de Voltaire)– 2005 Direção: Lineu Carlos Constantino “Ralé” (Baseado na obra de Máximo Gorki)- 2004 Direção: Ariel Moshe “O auto e a porca” (Adaptação das obras “O auto da compadecida” e do “O santo e a porca”, de Ariano Suassuna)– 2004 Direção: Gisele Ramos “Marat Sade” (Peter Weiss) – 2003 Direção: Wanderley Martins “O homem do princípio ao fim” (Millôr Fernandes) – 2002 Direção: Beto Marcondes “Bodas de fígaro” (Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais) – 2002 Direção: Fausto Viana “1789 – A revolução deve acontecer” (Ariane Mnouchkine)– 2001 Direção: Fausto Viana Outras Informações

• Fundador da Cia. Mungunzá de Teatro, juntamente com Sandra Modesto e Tatiana Moreira.

• Atividade profissional desenvolvida na Universidade de São Paulo.

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NELSON BASKERVILLE – DIREÇÃO / TRILHA SONORA DRT: 4173 Formação ESCOLA DE ARTE DRAMÁTICA – USP CURSO DE INTERPRETAÇÃO COM FAUZI ARAP DRAMATURGIA COM CHICO DE ASSIS NO TEATRO DE ARENA NÚCLEO DOS DEZ DE DRAMATURGIA COM COORDENAÇÃO DE LUIS ALBERTO DE ABREU. CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DA TÉCNICA DE STANILSLAVSK COM O DECANO DA ACADEMIA DE ARTES DE MOSCOU, PROFESSOR VALENTIN TREPLIAKOV PROFESSOR DO TEATRO ESCOLA CÉLIA HELENA DESDE 1991 – NÚCLEO DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL NELSON “TRÁGICO” RODRIGUES Teatro- Ator “QUANDO NIETZSCHE CHOROU” DE IRVIN D. YALOM dir. ULISSES COHN “CHÁ DE SETEMBRO” de JÚLIO CONTE dir. de MARCUS CARDELÍQUEO “DIÁLOGO COM A MÃE” de J.E. VENDRAMINI – dir. WILLIAM PEREIRA “NOSSA VIDA EM FAMÍLIA” de ODUVALDO VIANA FILHO dir. WILLIAM PEREIRA “PROCURA-SE UM TENOR” de KEN LUDWIG dir. BIBI FERREIRA Com GRUPO TAPA: “A MEGERA DOMADA” de WILLIAN SHAKESPEARE, “SOLNESS, O CONSTRUTOR” de IBSEN e “SENHOR DE PORQUEIRAL” de MOLIÉRE “NOTÍCIAS SILENCIOSAS” texto e direção de HAMILTON VAZ PEREIRA Com direção de FAUZI ARAP: “ÀS MARGENS DA IPIRANGA”, RISCO E PAIXÃO”, “RUA DEZ”, “UMA LIÇÃO LONGE DEMAIS” Com direção de VLADIMIR CAPELA: “AVOAR” e “FILME TRISTE” Com direção de CELSO FRATESCHI: “DOIS HOMENS NA MINA”, “SOPA DE SONHOS”, “REPÚBLICA DOS MENDIGOS”. Televisão “MAYSA, QUANDO FALA OS OLHOS TEUS”/REDE GLOBO “PEDRA SOBRE PEDRA”/REDE GLOBO “O REI DO GADO”/REDE GLOBO “ÉRAMOS SEIS”/SBT “CHIQUITITAS”/SBT CINEMA “QUANDO OS METÓDICOS NÃO TEM O QUE FAZER” de FÁBIO MONTENEGRO. “DOMINGO NO CAMPO” de ANDRÉ STURM “FELIZ ANO VELHO” de ROBERTO GERWITZ Diretor “É Ó ISSO, PRESIDENTE?” com TEATRO TÔNICO “AS ÁGUAS VÃO ROLAR” com NÚCLEO DOS 10 DE DRAMATURGIA “VEM BUSCAR-ME QUE AINDA NÃO SOU TEU” de C.A. SOFREDINI “OS QUE TEM A HORA MARCADA” de ELIAS CANETTI com CIA DO TEATRO FEBRIL “BURUNDANGA” de LUIS ALBERTO DE ABREU com CIA DELAS “A VIAGEM DE ALICE – DO CÉU AO APOCALIPSE” de RICARDO MONTEIRO “17 X NELSON – O INFERNO DE TODOS NÓS” de NELSON RODRIGUES “CAMINO REAL” DE TENNESSEE WILLIAMS “MORITZ- TERNOS E ELETRODOMÉSTICOS” ADAPTAÇÃO DE O DESPERTAR DA PRIMAVERA DE FRANK WDEKIND.

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ONDINA CASTILHO – DIRETORA ASSISTENTE / PREPARAÇÃO CORPORAL DRT: 16361 Formação Bacharelado em Comunicação e Artes do Corpo-PUC SP especialidade em Performance e Teatro. Teatro “17X NELSON – O inferno de todos nós” de Nelson Rodrigues – Dir. Nelson Barskerville

“Hamlet – Gasshô”, direção Rubens Ewald Filho Laranjas Mecânicas”, no festival das Satyrianas, contracena , com Alberto Guzik, num texto de Germano Pereira escrito especialmente para os dois atores. “Juliano, O Apóstata”, leitura realizada sob a direção de Sérgio Ferrara. Texto inédito do dramaturgo Ibsen. “Umbigo”, texto de Rubens Ewald, direção Sérgio Salvia Coelho “Fátima”, texto Annete Ramershoven “Dédalus”, da Cia Teatral Ueinzz, direção de Sergio Penna e Renato Cohen. “Hyperion”, baseada nos poemas de Hölderlin, texto de Jorge Barcat “Um recital Coreográfico”, livre adaptação dos Cantos de Maldoror, Lautréamont “Matéria Amor, Nietzsche para todos” - MIS -, com a Cia Tanteatro sob a direção de Wolfgan Panneck e Maura Baiocchi. Leitura do texto Shopping and Fuking, direção de Marcos Ricca. Em 1990 Interrompe sua carreira de bailarina para integrar o grupo de teatro Macunaíma, sob a direção de Antunes Filho. Neste grupo inicia sua carreira de atriz, participando das montagens de “Nova Vellha Estória”, “Paraíso Zona Norte”, “Trono de Sangue - Macbeth” (com o qual concorreu a melhor atriz coadjuvante- prêmio Apetesp 1994) e “Drácula e outros Vampiros”. Durante a montagem desta peça, desenvolve a preparação corporal dos atores, dentro da técnica de Antunes Filho, e é responsável pela formação corporal dos alunos do Centro de Pesquisa Teatral – SESC-SP. Acompanha a trupe em todas suas turnées nacionais e internacionais (Alemanha, Espanha, EUA, Dinamarca etc). Entre 1996 e 1998 além de atriz, atua como assistente de Antunes Filho nos workshops oferecidos pela companhia.

Performance Intervenção urbana “Eclipse”, em parceria com Victor Lema Riqué. Performance “Bifurcação para o Verde. Performance “Bifurcação para o Verde”. “Paisagem Zero” Performance “ Filosofia para Suínos”, obra dirigida à 8 filhotes de porcos, baseada no texto o Anti- Édipo, de Gilles Delleuze e Félix Guattari direção e atuação em parceria com Peter Pál Pelbart. Vídeo “Crepúsculo” -vídeo de 8 minutos parceria com Victor Lema Riqué “Toillete” participa da mostra Cubo – no CCE- MONTEVIDÉO “Me rendo o crepúsculo” – trilogia de vídeo perfromance - Proximidade, vazio e gravidade. Em parceria com Fabiana Serroni e Luanda Casella cria, produz e atua, os vídeos Cobre-Prata-Verde, para a Performance "Bifurcação para o verde”. “A moça do Tempo” para o projeto “Conta gotas” -anticomercial de 1’30’’, direção de Cassiano S. Quillici. Desenvolve e atua no vídeo “A galinha”, projeto “Conta Gotas - anticomercial” de 1 minuto , sob a direção de Cassiano Quillicci e em parceria com a TVPUC-SP e rede Puc-SP. Cinema

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Longa metragem “Mater Dei”, direção dos irmãos Vinícius e Diogo Mainardi. Curta-metragem “Noites Brancas em sábado de Glória”, livre adaptação dos contos de Dostoievski e Mário Benedetti, sob a direção de Vitor Lemarique. Dança “H20”, processo de criação da coreografia . “Pororoca”, improvisação em dança , sob a supervisão de Gaby Imparato. Prática em técnicas Orientais Praticou Zen Budismo no Templo Soto Zen Shu-Bussiji, Liberdade- São Paulo. Sob a orientação dos mestres Shozan e Coen Murayama, da qual recebeu ordenação leiga ,em dez de 1996 e o nome budista de Gekko. Estudou com Toshi Tanaka, que se radica no Brasil e ensina a Técnica Seitai-hô. Atualmente segue seus estudos com o mestre que integra o corpo de professores do Curso de Comunicação e Artes do Corpo da PUC-SP. Viajou ao Japão, onde participou dos workshops de Kazuo Ohno. Visitou o estúdio Abestos Khan, espaço fundado por Hijikata, onde, a pedidos de Antunes Filho, entrevistou a Sr. Akiko Motofuji, esposa de Hijikata, para dar início aos contatos para a primeira mostra de vídeo de Hijikata no Brasil.

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RICARDO MONTEIRO – DIREÇÃO MUSICAL OMB: 27526 Doutor em Semiótica pela Universidade de São Paulo, Mestre em Letras e Bacharel em Composição pela mesma instituição, Ricardo Monteiro desenvolve intensas atividades tanto na área acadêmica quanto artística. Com diversos trabalhos científicos apresentados e publicados no Brasil e exterior, apresenta uma produção artística não menos vigorosa, acumulando diversas premiações como compositor e autor teatral.

Na área acadêmica, destaca-se sua participação em julho de 2004 dos congressos da Associação Francesa e Associação Internacional de Semiótica em Lyon, França. Em outubro de 2004, expôs na Sorbonne 1, em Paris, suas análises sobre a música brasileira no 8.o Congresso Internacional sobre a Significação Musical. Em agosto de 2005, apresentou em Buenos Aires uma história comparada do tango e do samba no VI Congresso da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular.

Na área artística, atua sobretudo como diretor musical e dramaturgo, acumulando diversas premiações como compositor e autor teatral.

Desde seu espetáculo de estréia, "A Solidão dos Anjos", premiado na Jornada SESC de 1994, vem-se dedicando à pesquisa e criação do que chama de Ópera Popular Brasileira – gênero de teatro musical cuja estética é marcada pela musicalidade do texto, pela constante revisitação de nossa tradição musical e pela ênfase temática nas questões sociais e existenciais que marcam a contemporaneidade. Seu espetáculo "A Viagem de Alice – do Céu ao Apocalipse", que ficou quatro meses em cartaz em 2005, teve seu texto premiado e elogiado por grandes personalidades da cena teatral brasileira.

Entre seus trabalhos mais recentes, destacam-se as direções musicais dos espetáculos "Camino Real" (Tennessee Williams) e "17 X Nelson" (adaptação da obra teatral de Nelson Rodrigues), dirigidos por Nelson Baskerville, e a dramaturgia dos musicais "Rua 13 de maio s/n" (direção de José Renato) e "A Viagem de Alice - do Céu ao Apocalipse" (direção de Nelson Baskerville).

Além de consultor artístico da Orquestra de Câmara Paulista, atua ainda como consultor empresarial na área de semiótica, tendo em seu portfólio clientes como Johnson&Johnson, Banco Itaú, Credicard e Banco Real.

Prêmios e títulos 1999 - Prêmio Nascente - Menção Honrosa - Categoria: Dramaturgia, Editora Abril e Pró-Reitoria da USP. 1995 - Jornada SESC de Teatro - Melhor Peça Teatral - Categoria: Direção Musical, SESC - Serviço Social do Comércio - Departamento Cultural. 1994 - Jornada SESC de Teatro - Melhor Peça Teatral: Ópera "A Solidão dos Anjos", SESC - Serviço Cultural do Comércio - Departamento Cultural. 1993 - Prêmio Nascente - Melhor Trabalho em MPB - Categoria: Composição, Editora Abril e Pró-Reitoria da USP 1993 - Melhor Trabalho Musical (composição e interpretação) - Projeto Som da Demo, SESC - Serviço Social do Comércio - Departamento Cultural. 1992 - Menção Honrosa: Melhor Arranjo Vocal - Concurso Ritmo e Som, Instituto de Artes do Planalto.

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1992 - Melhor Letrista - Festival de Música Popular Brasileira, Universidade Livre de Música. 1991 - 2.o Lugar no I Concurso Nacional de Obras Corais, Federação Mineira de Corais. 1984 - 1.o Lugar no I Concurso Saraiva de Contos, Editora Saraiva.

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FLÁVIA LORENZI – PREPARAÇÃO DE ATORES Formação Rádio e Televisão – Faap e Teatro-Escola Célia Helena TEATRO “17X NELSON – O inferno de todos nós” de Nelson Rodrigues – Dir. Nelson Barskerville “Zé” de Fernando Marques – Dir. Marco Antonio Rodrigues “Pano de Boca” de Fauzi Arap – Dir. Plínio Soares “A mais forte” – August Stindberg – Dir. Ruy Cortez “A escada” – Jorge Andrade – Dir. Nelson Barskerville CINEMA LONGA METRAGEM “Falsa Loura” de Carlos Reinchenbach CURTA METRAGEM “A vizinha do outro lado” ,direção Luisa Favale (ECA) “Frescos Morangos Vivos Vermelhos”, direção Adriano Carvalho Dias. “In Memorium”, direção de Andréa Pontes. ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: “Clarices”, de Clarice Lispector, direção Vivien Buckup, com a cia de Teatro As Graças. “Cela Forte e Barrela”, de Plínio Marcos, direção Simone Breur (Célia Helena). “Dona Rosita”, de Frederico Garcia Lorca, direção Nelson Barskerville (Célia Helena). “A Viagem de Alice”, de Ricardo Monteiro, direção de Nelson Barskerville, com os Guerrilheiros Urbanos. Professora Assistente do Teatro Escola Célia Helena desde 2005 Professora do núcleo “O Corpo em Processo” no Teatro Escola Célia Helena CURSOS Núcleo Nelson “Trágico” Rodrigues, com Nelson Baskerville “Método Stanislavski” com Decano da Academia Russa de Artes Dramáticas: Valentim Tepliakov “Iniciação a Metodologia do Theatre du Soleil”, com Juliana Carneiro da Cunha “Imporvisação Dança Teatro” com Tica Lemos, Estúdio Nova Dança “Reestruturação Aplicada ao Clássico” com Marina Caron, Estúdio Nova Dança “Técnica Alexander” com Reinaldo Renzo “Voz e Expressão Verbal” com Mônica Montenegro “Teatro Épico” com Iná Camargo Costa (aluna ouvinte USP)

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WAGNER FREIRE – ILUMINAÇÃO DRT: 13716

Curriculum Resumido Iluminou espetáculos como "Querô" de Plínio Marcos, "Almanaque Brasil", de Noemi Marinho, "Aulis" de Celso Frateschi e Elias Andreato; "Guerra Santa" de Gabriel Vilela; "A Gaivota" de Tchecov, direção de Francisco Medeiros, "Ubu Folias Physicas Pataphysicas e Musicaes", direção de Cacá Rosset, "Salomé"; “Joana Dark”; “Um porto para Elizabeth Bishop”; “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “ Blue Room” direção José Possi Neto. Wagner iluminou também diversas óperas. Entre elas, "A “Traviata”, “IL Guarany”, “As Bodas de Fígaro” direção de José Possi Neto; "Os Pescadores de Pérolas", direção de Naum Alves de Souza ; "Madame Butterfly" e "Cavaleira Rusticana", direção Jorge Takla Entre outros shows, iluminou os de Zizi Possi ("Valsa Brasileira" , "Mais Simples", "Per Amore", "Passione", ‘Puro Prazer “,”Bossa”); Marlui Miranda, Jane Duboc , Banda Vexame , Lenine & Suzano, Wania Abreu, Leila Pinheiro Em dança , Balé da Cidade de São Paulo nas coreografias "Como num Jardim" , "Plenilúnio" , "Entousiasmos" e "Baile na Roça", "Bailes do Brasil"- Coreografia de J.C. Violla e direção de Naum Alves de Souza, “Muito Romantico”, coreografia de Susana Yamauchi e João Mauricio e direção de Naum Alves de Souza, “Dança das Marés” direção de Ivaldo Bertazzo. Wagner já recebeu os prêmios: Shell 93/97 , APCA 93, Apetesp 93/96/97, Coca-Cola 96, 97, 99, 2001 e Cultura Inglesa 97.

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FLÁVIO TOLEZANI - CENÁRIO Formação Ator formado em 2001 pelo Teatro-Escola Célia Helena. Comunicação – Rádio e Televisão na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP. Experiências profissionais em Cenografia Terror e Miséria no Terceiro Reich, de Bertold Brecht. Direção de Marco Antônio Rodrigues. (Teatro Escola Célia Helena) . 2002 Alice através do espelho, de Lewis Carroll. Núcleo de Interpretação da Facom/Faap. 2003 A alma boa de Setsuan, de Bertolt Brecht. Direção de Ruy Cortez e Fernando Nitsch, 2005. Os Palhaços, de Timotchenco Webhi. Direção de Gabriel Carmona, 2005 Noite dos assassinos, de José Triana. Direção de Hugo Villavicenzio, 2005. Velhos tempos, de Harold Pinter. Direção de Bruno Perillo, 2005. Vamos brincar de médico, dos Doutores da Alegria. Direção de Pedro Pires, 2006. (Parceria com Atílio Bellini Vaz) Hamlet, o Canastra Real, de William Shakespeare. Direção de Gabriel Carmona, 2006. Os Anais do crime passional, de Valdemar Neves. Direção de Gabriel Carmona, 2007. O Campo, de Martin Crimp. Direção de Bruno Perillo, 2007. A mesa já está posta, de Júlio Santi. Direção de Fernando Nitsch, 2007. Romania, de Leo Chacra. Direção de Leo Chacra, 2007. Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrrube, de Carlos Alberto Sofredini. Direção de Eliane Fonseca, 2007. Cabaré da Santa, de Reinaldo Maia e Jorge Louraço. Direção de Dagoberto Feliz, 2008. Tape, de Stephen Belber. Direção de Mário Bortolotto, 2008. Amargo Siciliano, de Luigi Pirandello. Direção de Eduardo Tolentino de Araújo e Sandra Corveloni, 2008. Novos Velhos dias, de Reinaldo Maia. Direção de Fernando Nitsch, 2008.

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AUREA CALCAVECCHIA - FIGURINOS Formação Faculdade Santa Marcelina Desenho de Moda Cursando o 4º Ano Experiência profissional·· Assistência de desfile Fábia Berseck São Paulo Fashion Week Verão 2009 Junho 2008 Figurino peça “Esta Noite Improvisaremos”, com Cia. Improvável - direção de Ruy Cortez. Setembro 2007 Figurino do curta-metragem “Ópera do Mallandro” – direção de André Moraes Junho 2007 Assistente de Figurino do grupo Sepultura no clipe “Ostia” - direção de Geraldo Moraes Março 2007 Figurino ópera Albert Herring - Teatro São Pedro – SP Dezembro 2006

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Este termo de autorização, que entre si celebram, de um lado, Nelson Baskerville e, de outro, o Grupo “Cia Mungunzá de Teatro”.

Eu, Nelson Baskerville, brasileiro, solteiro, ator, diretor e autor – e domiciliado à rua Castro Alves, 654 – AP 23 rubi CEP 01532-901, portador da carteira de identidade nº 13622746 SSP/SP e CPF nº 047515358-89, autor do texto teatral intitulado “Por que a criança cozinha na polenta” pelo presente instrumento particular, LICENCIO, nos termos da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, ao grupo “Cia Mungunzá de Teatro”, representado neste ato pelo Sr. Marcos Felipe de Oliveira, ator, residente e domiciliado à Rua João Alves Pimenta, 198 CEP 02967-000, portador da carteira de identidade nº 43.653.651-1 e CPF nº 312.763.758-67 os direitos autorais atinentes ao espetáculo “POR QUE A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA”. CLÁUSULA PRIMEIRA – DO OBJETO O objeto do presente termo é transferir ao grupo CIA MUNGUNZÁ DE TEATRO os direitos autorais do espetáculo “POR QUE A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA”, cujos direitos autorais tem titularidade, autorizando a sua reprodução e difusão. CLÁUSULA SEGUNDA – DO PRAZO Esta autorização tem prazo de validade de 2 (dois) anos a contar de sua assinatura. CLÁUSULA TERCEIRA – DO LUGAR O espetáculo, objeto da presente autorização, poderá ser divulgado em todo território nacional e internacional. CLÁUSULA QUARTA – DO PREÇO O grupo CIA MUNGUNZÁ DE TEATRO recebe a transferência dos presentes direitos autorais.

São Paulo – SP, 08 de maio de 2009.

Autor e diretor Nelson Baskerville

Responsável pela companhia Marcos Felipe de Oliveira

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POR QUE A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA Nelson Baskerville

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EXÍLIO 1

Letreiro IMAGINO O CÉU. Anna Imagino o céu. Ele é tão grande, que logo adormeço, pra me acalmar. Quando acordo, sei que Deus é um pouco menor do que o céu. Senão, a gente desmaiava de susto na hora de rezar. Será que Deus fala outras línguas? Será que entende os estrangeiros? Ou será que os anjos ficam sentados em pequenas cabines de vidro fazendo traduções? Letreiro EXISTE MESMO UM CIRCO NO CÉU? Pai Deus é o caralho! Mãe Existe sim. Pai Não existe Mãe Existe. É que você teve más experiências com Deus. Pai Não é isso! Se Deus existe por que nunca desceu pra ajudar a gente? Mãe Porque a gente vai até Ele mais tarde. Pai Deus é coisa de menininha, mulherzinha, de criança. Os homens não acreditam em Deus por causa da concorrência. Anna Meu pai não quer que Deus seja meu pai. Aqui poderia entrar algum matéria sobre refugiados da Romênia, ou sobre a ditadura de Ceauscescu Anna Aqui, todos os países estão no Ocidente. O circo está sempre no Ocidente. Gulache / polenta Mãe A gente aproveita muito mais do nosso país no Ocidente, porque toda a comida do nosso país é vendida pro Ocidente. Letreiro SE ESTIVÉSSEMOS EM CASA, TUDO CHEIRARIA COMO NO OCIDENTE? Anna Só conheço meu país pelo cheiro. Ele tem o cheiro da comida da minha mãe. Vinheta de acordeon cigano.

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Pai (acabando de beber e jogando a garrafa) A gente se lembra do cheiro do país da gente em todos os lugares, mas só reconhece quando está longe. Letreiro QUE CHEIRO TEM DEUS? Anna A comida da minha mãe tem o mesmo cheiro no mundo inteiro, mas, no Ocidente, tem um gosto diferente. Mãe É por causa da saudade. A gente aqui vive como rico: depois de comer, a gente pode jogar os ossos da sopa fora sem peso na consciência, porque em casa, a gente tem de guarda para a próxima sopa. Quadro Romênia Anika Na Romênia, a gente tem de passar a noite inteira na fila da padaria. A gente fica tão próximo um do outro que podemos até dormir enquanto esperamos. Letreiro NO MEU PAÍS, FICAR EM FILAS É PROFISSÃO. Tio Neagu Eu e meus filhos, a gente se alterna dia e noite esperando e, pouco antes de chegar à loja, vendemos nossos lugares para aqueles que não tem paciência de esperar. Depois, a gente volta para o fim da fila. Anna No Ocidente, a gente não espera. Aqui, a gente não precisa de tempo para fazer compras, só de dinheiro. Aqui, não é que nem em casa, aqui as pessoas não têm os dentes podres porque podem comprar carne fresca a qualquer hora. Em cada nova cidade que a gente chega, a primeira coisa que a gente faz é ir ao mercado comprar muita carne fresca e ovos. Um dia teremos uma casa grande, de luxo, com piscina na sala e a Sofia Loren entrando e saindo. Quero um quarto cheio de armários, para poder guardar minhas roupas e todas as minhas coisas. Pai Quero uma coleção de pinturas a óleo com cavalos, Mãe Quero porcelana fina, pra não usarmos nunca, porque, de embrulhar e desembrulhar, se gasta e se quebra. Anna As coisas que temos estão todas em uma grande mala, embrulhadas com muito jornal. Texto comprar (Dani) Anna Que bom que eu vou poder comer! Atores Polenta com sal e manteiga. Sopa de galinha. Algodão-doce. Frango assado com alho. Manteiga.

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Pão preto com tomate, cebola e óleo de semente de girassol. Almôndegas. Crepe de geléia. Carne de porco em gelatina de alho. Frango com tomates, purê de batatas e cebolas assadas. Chocolate branco sem nozes. Arroz-doce com passas de uvas e canela. Salada de berinjela com maionese. Banha com cubinhos de toucinho. Pimentão recheado, nata azeda e polenta. Salame húngaro. Folhado de maçãs assadas. Carne de porco com chucrute. Morcilha. Bolo de sêmola para os mortos. Uvas com pão branco. Pepino com sal. Lingüiça de alho. Polenta quente com leite frio. Carne enrolada em folhas de parreira. Pirulito. Gulache com cebolas cruas. Polenta com queijo de cabra. Pão branco com manteiga e açúcar. Amêndoas tostadas. Chiclete com recheio-surpresa. Letreiro O OCIDENTE NÃO NOS MODIFICA. EM TODOS OS PAÍSES, COMEMOS COM A BOCA. Hotéis e galinhas Um galo canta Anna Nem bem amanhece, minha mãe se levanta e começa a cozinhar, depena a galinha e segura ela na chama do “fogareiro”. Minha mãe prefere comprar a galinha viva, porque a carne é mais fresca. No hotel, ela mata a galinha na banheira. Letreiro NA HORA DO ABATE, O CACAREJO DAS GALINHAS É INTERNACIONAL, ENTENDEMOS, NÃO IMPORTA O LUGAR. Gerente do hotel É uma gente que... Eles sabem que é proibido abater animal no hotel. Então o que eles fazem. Ligam o rádio, abrem a janela e fazem o maior puteiro. E matam a galinha na banheira!!! E o que sobra, o que não vai para a sopa jogam na privada. Anna Eu fico com medo do vaso sanitário, de noite faço xixi na pia, dali eu sei que não vai sair nenhuma galinha morta. Briga violenta do gerente expulsando a família do hotel. (imigrantes de merda, artistas de circo, ciganos, imigrantes....etc) Anna Moramos sempre em lugares diferentes. Letreiro NÃO DEVEMOS NOS APEGAR A NADA. Pano Azul

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Anna Estou acostumada a me instalar em qualquer lugar e me sentir bem. Para isso, só preciso colocar meu pano azul em cima de uma cadeira. É o mar. Do lado da cama, tenho sempre o mar. É só sair da cama e já posso nadar. No meu mar, não é preciso saber nadar para nadar. De noite, cubro o mar com o roupão floreado da minha mãe, para os tubarões não me pegarem quando tenho de fazer xixi.

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Letreiro/Anna MINHA MÃE É A MULHER DOS CABELOS DE AÇO. Anna Uma hora antes da apresentação, precisamos começar os preparativos: Atores fazem Atores Ferver a água. A mãe só lava os cabelos com água da chuva. Eles sempre têm grandes reservas de água da chuva. A mãe se curva sobre uma bacia, e a irmã despeja água morna sobre a sua cabeça. A mãe penteia os cabelos com a cabeça para baixo, até que eles estejam distribuídos uniformemente. Qualquer imperfeição faz com que os cabelos sejam arrancados às mechas. O que não pode acontecer de jeito nenhum! O pai envolve os cabelos em um pedaço de camurça úmida, e a irmã amarra com uma tira de elástico. A mãe se ergue. Anna Minha mãe fica pendurada pelos cabelos na cúpula do circo e faz malabarismo com bolas, aros e tochas de fogo. Quando eu crescer e for magra, também vou ter de ficar pendurada pelos cabelos. Eu só posso pentear o cabelo com muito cuidado, minha mãe diz que o cabelo é o mais importante numa mulher. Pai A coisa mais importante de uma mulher são os quadris. Letreiro IMAGINO UMA MULHER COM OS QUADRIS DO TAMANHO DO CIRCO. DIÁLOGO Anna, com uma tesoura, começa a cortar os cabelos. Mãe brigando pela tesoura Não faz isso!!! Anna O cabelo é meu! Mãe Pára com isso! Anna Eu nunca vou me pendurar pelos cabelos. Mãe Pára, senão... Anna Não quero. Mãe Uma mulher sem cabelos não encontra marido. Anna Não quero marido, quero ser como minha irmã.

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Mãe Ah é? Anna Ela é corajosa. Mãe Sabe o que ela faz com seu pai? Anna Não faz nada. Mãe Ela ama seu pai... Anna E eu também... Mãe Não como filha, sua imbecil... Eu salvei a vida dela, ela tava raquítica, morrendo de fome. Cheia de piolhos... Anna Você não gosta dela porque ela não é sua filha, é só do meu pai. Mãe E eu salvei a vida dela. Mas aquela família é toda louca... A avó e a mãe dela foram internadas. Seu pai enlouqueceu as duas. Ele dormia com as duas e agora dorme com sua irmã. Anna Mentira... Mãe É todo mundo louco... Elas moram no hospital porque ficaram loucas. Anna Eu amo a minha irmã Mãe Ela também é louca, porque seu pai a ama como mulher, ouviu? Seu pai ama sua irmã como mulher. E você vai ficar louca como elas... Anna Não, não, eu não quero... Mãe Então diz que nunca vai ficar longe de mim. Diz. Anna Eu não quero ficar louca. Mãe Então diz que nunca vai ficar longe de mim. Vai. Anna Eu nunca vou ficar longe de você. Mãe Diz de novo. Anna Eu nunca vou ficar longe de você, mamãe. Letreiro EU SÓ ERA ALGUÉM ANTES DE NASCER. Quadro Romênia. Pai grávido. Anna Antes do meu nascimento, fui equilibrista de cabeça para baixo durante oito meses. Eu estava dentro da minha mãe, ela fazia espacate sobre a corda bamba e eu olhava para baixo ou me encostava na corda. Mãe Antes de ficar grávida, a mulher fica com muita sede e bebe muita água, até formar uma criança. Anna Um dia, ela não conseguiu mais se erguer do espacate, e eu quase caí.

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Mãe Quando a criança dá um sinal, as partes de baixo da mãe se fecham, para a criança não cair da barriga. Anna Pouco depois, vim ao mundo. Mãe A barriga, por dentro, é como uma casa, com cama ou com uma banheira de água quente. Anna Eu nasci bem careca. Mãe A criança come o que a mãe envia para baixo. Anna Depois que me deram banho, minha mãe me pintou, com seu lápis preto, umas sobrancelhas bem grossas. Mãe Tudo o que a mãe pode a criança também pode, só não pode ficar grávida. Letreiro É PROIBIDO TER FILHOS SEM MARIDO E ANTES DE NASCER. Pai Eu não estava lá. Anna Meu pai não estava lá. Mãe Ele nem é seu pai, esse bandido, a gente não precisa de você! Anna A gente não precisa dele. Mas, na barriga da mãe, não tem homem para a gente casar. E, se tiver, vai ser parente. Com parente não se casa, senão os filhos vêm ao mundo com as pernas coladas. Daí, as pessoas percebem que os pais são parentes e não são casados. Mas talvez aqui, no Ocidente, isso seja diferente. Pai, com barriga de grávida. Mãe e pai choram. Anna Quando a mãe chora, há uma inundação na barriga, pois a criança chora também. Letreiro MEU PAI SÓ QUER A MINHA IRMÃ. Anna Minha irmã sabe tudo melhor do que eu. E é só alguns anos mais velha que eu. Ela já tem um joelho machucado. Mãe Seu pai passou em cima da perna dela com um trator, para ela nunca encontrar marido e ficar sempre com ele. Letreiro ESPERO O DIA INTEIRO QUE CHEGUE A NOITE. SE MINHA MÃE NÃO CAI DA CÚPULA, DEPOIS DO ESPETÁCULO JANTAMOS JUNTOS SOPA DE GALINHA. Enquanto Anna fala, se veste e se pinta como uma prostituta e a mãe entra seminua, com um homem. Eles estão quase transando. Anna Na frente de outros homens, às vezes minha mãe diz que é minha irmã. Ela revira os olhos e fala as palavras bem compridas, como se, de repente, tivesse mel na boca. E ela nem gosta de mel, ela prefere pão preto com manteiga e sal. E vinho branco. Ela bebe tanto vinho branco quanto eu como algodão-doce. Se, em vez disso, economizássemos o dinheiro, podíamos comprar a nossa casa grande com galinhas.

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Quando minha mãe se passa por minha irmã, de uma hora para outra ela fica com um cheiro muito estranho. Não deixo mais ela me tocar. No hotel, ela tem de dormir no chão. Eu não quero dividir a cama com ela. Letreiro / Anna MINHA MÃE É DIFERENTE DAS OUTRAS PORQUE FICA PENDURADA PELOS CABELOS, E ISSO ESTICA A CABEÇA E DEIXA O CÉREBRO COMPRIDO. Novas cenas sobre Ceauscescu e a ditadura na Romênia junto com: Tio Petru (lê cartas) Desejamos só o melhor a vocês e seus amigos, saúde, felicidade, a realização de todos os desejos! Os medicamentos são caros. Por favor, mandem-nos dinheiro para que Melissa possa ir à escola. Mandem alguns dólares. Anna No meu país, as pessoas não podem pensar livremente nem em sonho. Se falarem e os espiões ouvirem, são levadas para a Sibéria. Entre uma parede e outra, os espiões têm túneis secretos. Mãe Não sai do trailer sozinha. Pai Não quero te ver brincando com as outras crianças. Mãe Eu não confio em ninguém. Pai Todos os estrangeiros querem foder a gente. Mãe Se alguém perguntar seu nome, você diz: pergunte à minha mãe. Pai Se souberem quem somos seremos seqüestrados e enviados de volta Mãe Eles matam a gente, entendeu? Pai Assassinados Irmã Se matam eles, a gente morre de fome. Mãe Nunca mais vamos poder voltar! Irmã Vão rir da gente. Pai Estamos condenados à morte. Letreiro A CRIANÇA PERTENCE MAIS À MÃE DO QUE AO PAI, PORQUE MÃE É MÃE. Anna Por que a criança cozinha na polenta? A irmã encolhe os ombros. Anna Por que a criança cozinha na polenta? Irmã Depois eu te conto. Anna Por que a criança cozinha na polenta? Irmã A avó está cozinhando e diz pra criança: cuida da polenta e mexe com esta colher, eu vou sair pra buscar lenha. Enquanto a avó está fora, a polenta diz pra criança: estou tão só, você não quer brincar comigo? E a criança mergulha na panela.

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Letreiro QUANDO A GENTE SONHA COM DENTES QUE CAEM, ALGUÉM MORRE. Ator Desmontar o circo é igual em todos os lugares, parece um grande enterro, sempre de noite, após o último espetáculo na cidade. Quando a cerca do circo é retirada, às vezes vêm pessoas estranhas até o nosso trailer e colam o rosto no vidro das janelas. Me sinto como os peixes no mercado. Os trailers e as jaulas são conduzidos com o pisca-pisca ligado, como um cortejo fúnebre, até a estação ferroviária e, lá, são colocados no trem. Dentro de mim, tudo se dissolve, e um vento me atravessa. Liga-se um ventilador que espalha farinha. Anna Queria ser como as pessoas lá fora. Lá, todos sabem ler e sabem das coisas, eles têm a alma de farinha branca. Queria estar morta. Todos chorariam no meu enterro e se sentiriam culpados. Novas cenas sobre Ceauscescu e a ditadura na Romênia Mãe A tristeza envelhece. As crianças na Romênia são mais velhas do que as crianças no Ocidente. Na Romênia, as crianças nascem velhas, porque já são pobres dentro da barriga das mães e ficam ouvindo as preocupações dos pais. Aqui, vivemos como no paraíso. Mas, mesmo assim, minha filha não fica mais jovem. Novas cenas sobre Ceauscescu e a ditadura na Romênia Anna Em casa, meus pais trabalhavam no circo nacional. Eram muito famosos. Letreiro O DITADOR CERCOU A ROMÊNIA COM ARAME FARPADO. A mãe dança um balé esquisito, quase erótico Anna Meu pai, minha mãe, minha irmã e eu fugimos de avião para o Ocidente depois que meu pai roubou o dinheiro do caixa do circo. Minha mãe foi com o dinheiro roubado para o HOTEL INTERNACIONAL, fez olhos doces e comprou dólares. Os mortos vivem melhor do que os vivos, no céu não se precisa de passaporte para viajar, diz minha mãe. Minha mãe fala dos seus muitos irmãos e chora, batendo com a mão na cabeça. Letreiro O DITADOR PROIBIU DEUS. Anna Mas, no Ocidente, podemos ter religião, embora aqui quase não haja igrejas ortodoxas. Todas as noites, eu rezo a oração que minha mãe me ensinou. Na Romênia, as crianças não podem rezar nem desenhar Deus. Nos desenhos, só podem aparecer o ditador e a sua família. Em todos os cômodos das casas, há um retrato dele, para que todas as crianças saibam que cara ele tem. Sua mulher tem metade de uma cidade cheia de sapatos, ela utiliza casas como se fossem armários. O ditador é sapateiro de profissão, seu diploma da escola é comprado. Ele não sabe ler nem escrever, diz minha mãe, é mais burro do que uma porta.

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Pai Mas porta não mata. Anna Os homens buscam a felicidade como nosso sangue busca o coração. Quando o sangue não corre mais para o coração, o homem seca. O Ocidente é o coração. E nós, o sangue. E nossa família em casa?

3 O pai, sempre bêbado, anuncia o circo num bar. Pai Não percam, o Gran Circo Romênia. Palhaços, acrobatas, mágicos, artistas de todos os cantos do mundo. Vejam uma criança dentro de um pote de maionese, a menina-chipanzé e os cabelos mais fortes do mundo... Vejam, vejam, já estivemos na televisão... Mãe passa “flertando” com um cara. Eles se atracam. Pai Cachorra!!! Mãe Pára! O Cara Que é isso, cara? Pai Eu vou rasgar tua cara! Mãe Pára, eu não tava fazendo nada!!! Pai Hoje eu te deixo cair da cúpula! Anna Desde que saímos da Romênia, meu pai também se tornou diretor de cinema. Ele anda sempre com uma câmera na mão filmando a região. Ele gasta quase todo o nosso dinheiro com isso. Ele também já filmou a gente e as minhas bonecas também. Uma vez, minha mãe tinha de dar um tiro no meu pai, numa cena de ciúme, colocar as mãos sobre o rosto e gritar... Mãe SOCORRO! NÃO! SOCORRO! Anna Ficou ótimo, mas, mesmo assim, meu pai ficou furioso, porque minha mãe riu no meio da cena. A briga anterior transforma-se na cena descrita por Anna e é filmada. A mãe saca um revolvér, atira no pai e morre de rir. O pai parte pra cima dela, Anna tenta interferir e toma um soco do pai. Anna Minha cara inchou como massa de pão, e minha mãe teve de me levar ao médico na próxima cidade. Letreiro ÁFRICA Som de Elvis. Coreografia de todos como “negros” Legenda Na África, moramos um ano inteiro em um trem. Embora a África seja no estrangeiro, há tantos pobres lá quanto na Romênia. Eles são pretos. Na África, os pobres têm de

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sentar em lugares separados no circo e, mesmo assim, têm de pagar o ingresso inteiro. Os pobres tinham de limpar o nosso trem e os banheiros, repor a água e montar e desmontar o circo. O diretor do circo proibiu de lhes dar dinheiro ou presentes como pagamento. Falar com eles também era proibido. Se, mesmo assim, alguém fazia, os pobres eram castigados até sangrar. Eles não se revoltavam. Ninguém interferia. O diretor do circo repetia: Presentes não bom! A gente não apanhava. Foi aí que me dei conta de que a gente estava melhor aqui do que em casa. Letreiro NO ESTRANGEIRO, É POSSÍVEL SER FAMOSO SEM SER MEMBRO DO PARTIDO DO DITADOR.

4 Pai e mãe para a boneca. Anna à frente. Mãe Não sai do trailer sozinha. Pai Não quero te ver brincando com as outras crianças. Mãe Eu não confio em ninguém. Pai Todos os estrangeiros querem foder a gente. Mãe Se alguém perguntar seu nome, você diz: pergunte à minha mãe. Pai Se souberem quem somos seremos seqüestrados e enviados de volta Mãe Eles matam a gente, entendeu? Pai Assassinados Irmã Se matam eles, a gente morre de fome. Mãe Nunca mais vamos poder voltar! Irmã Vão rir da gente. Pai Estamos condenados à morte. Anna É por isso que no hotel o pai coloca o armário na frente da porta? Irmã É Anna E a poltrona na frente do armário? Irmã É Anna E a cama na frente da poltrona? Irmã É Anna É por isso que às vezes dormimos todos na mesma cama? Irmã É Anna

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Por que a criança cozinha na polenta? Irmã Ahn? Anna Por que a criança cozinha na polenta?? Irmã Ah. A criança, de medo, se esconde no saco de farinha de milho. E adormece. A avó chega e joga a farinha dentro da água fervendo, para fazer a polenta para a criança. Quando a criança acorda, já está cozida. Anna Se temos de nos esconder tanto aqui, não sei por que fugimos de casa. Letreiro EM CASA, MINHA AVÓ MORREU DE DESGOSTO E DE SAUDADE. Mãe Não podemos voltar. Não temos onde ficar. Nenhum país quer a gente. Se a gente volta, ele nos mata. Não somos ladrões, somos refugiados. Meu irmão é um grande artista, como Picasso. É homossexual, limpo, um gênio! E a gente aqui, tem de trabalhar pra comprar a liberdade dele, para ele poder sair da prisão. Desde a nossa fuga, meu irmão é torturado na prisão. Meu outro irmão foi espancado até a morte na porta da sua casa. Anna Eu queria encontrar alguém que escrevesse um livro com a história da nossa vida. PORTA DE FERRO E PORTA PARA A LIBERDADE. Esse vai ser o título. Letreiro MINHAS BONECAS EMAGRECERAM MUITO. ELAS NÃO ENTENDEM LÍNGUAS ESTRANGEIRAS. O pai faz o número do fraque. Pai Ninguém me conhece tão bem quanto o meu fraque. O fraque é o meu talismã. Eu já usava nos espetáculos do circo antes mesmo de conhecer minha mulher, eu nunca vou me separar desse fraque. Ditadores e pessoas importantes me viram com esse fraque. Depois da minha morte, eu vou doar ao museu do circo, para que, mais tarde, todos se lembrem do grande TANDARICA. Este fraque viu o mundo, tem muita história para contar. Anna Quais? O pai queima folhas de jornal, pinta com as cinzas sobrancelhas grossa e um bigode, veste o fraque e faz uma cara séria: Pai Um homem perdeu os seus sapatos. Ele tinha esquecido em sua casa e jogado a casa em um rio. Ou será que a própria casa tinha se jogado no rio? O homem andou de rio em rio. Certa vez, debaixo d’água, ele encontrou um velho com uma tabuleta pendurada no pescoço: AQUI CÉU, estava escrito. O homem perguntou: Como assim, céu? O velho encolheu os ombros e apontou para a tabuleta. A casa voltou a aparecer, mas em um lugar completamente diferente. E, provavelmente, era outra casa, pois ela não se recordava mais dos sapatos do homem. Mais tarde, a casa perdeu sua porta. Anna Foi o fraque que inventou essa história? Pai Não, essa é a nossa história.

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Pai chora Anna MEU PAI NÃO É TRISTE, NÃO. ELE É PALHAÇO, ORA. MORTE Letreiro PASSAMOS MUITO MAIS TEMPO MORTOS DO QUE VIVOS. POR ISSO PRECISAMOS DE MAIS SORTE QUANDO ESTAMOS MORTOS. Anna Só vou morrer em filme. Quando estiver morta, as luzes vão se apagar e eu vou voltar a viver. Nunca vou morrer completamente! Vou agüentar a vida por mais de cem anos. Mãe Falar de morte traz infelicidade! Anna MAS O QUE NÃO TRAZ INFELICIDADE, mãe? Quase tudo o que falamos traz infelicidade. Mãe Feliz de você, que ainda me tem, mais tarde você vai ver como é triste estar sozinha no mundo. Anna Mas eu nem preciso esperar por mais tarde. Estar morto é como dormir. Só que você não deita o corpo na cama, mas na terra. E aí você tem de explicar a Deus o motivo pelo qual prefere estar morto. Quando você não consegue convencer Deus, ele apaga o seu cérebro, e você tem de começar a vida outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez. COREOGRAFIA Ator/Anna dubla UM DIA VOU ME CASAR COM UM HOMEM RICO. Ou com dois homens, assim nunca vou ficar sozinha. No dia do casamento, vou tocar as partes proibidas deles por debaixo da mesa. As pessoas vão comer bolo e ficar com inveja. Meus maridos vão me amar e me lamber. Fora o ditador e seus filhos, não têm homens ricos na Romênia, meus pais fizeram bem em fugir, pois com o filho do ditador eu não me caso. ALFÂNDEGA Os dois atores que fazem os maridos são agora policiais. Polícia 1 Passaporte! Mãe Que homem bonito o senhor é! Polícia 2 (com os passaportes na mão) Passaporte de refugiado! Polícia 1 Refugiados??

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Mãe Aposto que o senhor fuma. Que tal cigarros americanos? Polícia 2 (com os passaportes na mão) Vamos ter que averiguar isso aqui! Mãe Trouxe aqui um perfume francês. Polícia 2 recebe o presente. A medida que vão falando vão tirando coisas das sacolas. Policia 1 Ih, Romênia! Mãe Salsichas alemãs! Anna Chocolate suíço Irmã Wisky escocês Mãe Azeite espanhól Anna Bacalhau português Irmã Favos holandeses Mãe Camisa italiana Anna Batatas inglesas Irmã Vinho francês Anna Em todas as fronteiras, tratam a gente de maneira muito diferente de como se tratam as pessoas de verdade. A polícia nos faz descer e desaparece com os nossos passaportes. Mesmo assim, nunca sabemos se eles vão telefonar ou não para a SECURITATE. Polícia 1 Alô, SECURITATE? Mãe e filhas vão tirando as roupas. Mãe Mulheres? A cena transforma-se num show erótico típico de boates americanas. Letreiro NOSSO REI TAMBÉM FUGIU PARA O ESTRANGEIRO, POIS ELE NÃO PODIA MAIS SER RICO NA ROMÊNIA. Anna A cada notícia que chega de casa, eu fico mais envergonhada. PARENTE 1 (com uma sola feita de papel nas mãos) ...pra não errar o número envio o molde do meu pé. PARENTE 2 Aí segue a receita, não consigo nem mais sentar PARENTE 3 Por favor, não fiquem zangados conosco. Nós amamos vocês. PARENTE 4

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Deus vai lhes retribuir tudo que nos derem. Se puderem e quiserem, mandem sempre mais. PARENTE 2 Minha úlcera está do tamanho de um bebê. PARENTE 1 Desejamos a vocês e a todos os amigos de vocês tudo de bom, saúde, felicidade e a realização de todos os seus sonhos! PARENTE 4 Não fiquem zangados. É difícil viver aqui. PARENTE 2 Os remédios são muito caros. Mandamos beijos! PARENTE 4 Por favor, não fiquem zangados conosco. Rezo todos os dias ao bom Deus por vocês. Você pode conseguir um emprego para o meu pai aí? PARENTE 1 Escrevi muito sobre os meus problemas, mas nem perguntei como vocês estão. Sofremos muito aqui. PARENTE 2 Que Deus realize todos os sonhos de vocês, que os faça ricos, para que vocês possam nos ajudar! PARENTE A vida é um monte de merda. PARENTE 3 Sou seu tio Pavel, já a conhecia antes do seu nascimento. PARENTE 1 Sua alma é como o pão de Deus. Mande-nos dinheiro, por favor, para que Ana possa ir à escola. PARENTE 4 Feliz Ano Novo! Ileana vomita sempre porque passa muita fome. PARENTE 3 Beijo a sua mão. Cornélia não consegue mais andar. PARENTE 1 Eu fui o primeiro a pegar você nos braços depois do seu nascimento. Doina é muito parecida com você, ela já sabe dizer o seu nome. PARENTE 2 Não fique zangada. Somos a família de vocês. PARENTE 3 Sou sua velha tia, durante a guerra, de pés descalços, eu carreguei sua mãe até as montanhas. PARENTE 4 Queridos, depois de ler esta carta, rasguem-na! Sou sua prima Josefina, tenho a mesma idade que você e sei fazer todo o serviço de casa, por favor, encontre um bom marido para eu casar! Muitos beijos doces! tio Petru Sou seu tio Petru, mostrei-lhe os cisnes no parque, você lembra? Anna Por que Deus permite que a criança cozinhe na polenta? Quando a criança morreu, Deus cozinhou ela na polenta. Deus é um cozinheiro, ele mora debaixo da terra e come os mortos. Com seus dentes, ele consegue partir todos os caixões.

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ORFANATO

1 Coro viagem Pai, mãe e Anna ao telefone. Mãe Venho te buscar muito em breve! Pai Não é justo! Não é justo!!! De uma hora pra outra! Mãe Dessa vez o dono do circo não quer. Pai Merda de vida!!! Sra Hitz Olha a linguagem, senhor! Pai Merda, merda, merda, merda!!! Mãe (para a irmã) Cuida dela. Anna DE UMA HORA PARA OUTRA, minha irmã e eu fomos levadas para uma casa nas montanhas. Meu pai não queria se despedir da gente. Pai (Esbravejava, golpeando o próprio rosto) Eu mato quem encostar a mão nas minhas filhas! Sra Hitz Venham mocinhas! Pai Não! Anna Pai! Mãe Larga elas! Anna Não quero, mãe! Mãe (para Sra Hitz) Tem médico aqui? Sra Hitz Fique tranqüila. Mãe Tranqüila? A sra garante que minhas filhas não vão ser envenenadas? Nem seqüestradas? Pai Vida desgraçada! (e continua falando romeno) Sra Hitz leva Anna, agarrada a mala e a irmã Anna TALVEZ NOSSOS PAIS NOS TENHAM VENDIDO. ISSO ACONTECE NA ROMÊNIA. Mãe deita no jardim, finge de morta. Sra Hitz (abrindo janela imaginária) Vejam esse belo jardim. No verão, vocês podem colher morangos. Anna diz uma frase em romeno. Sra Hitz

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Ó, pequenininnha, eu sei que ser difífil pra você, mas com o tempo você aprende a falar meu língua. Mas até lá, NADA DE LÍNGUA DE CIGANOS AQUI EM MEU CASA. Continuando, no inverno os janelas devem permanecer fechados... Anna A gente vai ficar aqui para sempre! Letreiro QUERO PÔR MINHA MÃE NA MINHA MALA. Sra Hitz Aqui é o sala de refeições, aqui o sala de estar e aqui no fundo o cozinha. Eu querer tudo muito organizado e arrumado. Cheirando a desinfetante. No sala de estar, são feitas as tarefas do escola, depois, os crianças podem brincar. Mãe Ah, Senhora Hitz, fizemos grandes sucessos. Muitas viagens. Minhas filhas são muito inteligentes, elas conhecem o mundo todo. Somos artistas internacionais! Anna Minha mãe devia morrer agora, assim a gente enterrava ela no jardim, bem debaixo da nossa janela. No verão, os morangos iam ter gosto de mãe. Um bicho rói a minha barriga, minhas pernas ele já comeu. Sra Hitz Os meninas moram no andar de cima, os meninos, no de baixo. Coreografia lençóis, toalhas e escovas de dentes. Sra Hitz (no microfone) Também há bebês. Os crianças têm de ir para a cama antes que escureça. E levantar no meio da noite. Ventilar a quarto, colocar o coberta e a travesseiro sobre o parapeito do janela. E depois vão para o grande pia na corredor. Uma vez no pia, os crianças se lavam e se enxugam com um toalhinha que tem o nosso nome. Cada criança tem: 2 toalhinhas 2 toalhas 2 guardanapos A roupa de cama não tem nome. Uma vez por semana, tomam banho e lavam os cabelos. Os roupas também têm o nome dos crianças, até os meias. Nos aulas de costura, vocês tem de costurar uma fita com as iniciais em todos os peças de roupa. Depois de se lavar, fazer a cama e arrumar o quarto. A seguir, tomam café do manhã e para a escola. Letreiro EM CADA LÍNGUA, A MESMA COISA SE CHAMA DIFERENTE. Anna À tarde temos de fazer as tarefas, e depois podemos brincar dentro de casa ou no jardim. Os meninos pequenos ficam perto das meninas. Os grandes só vêm quando minha irmã e eu mostramos nossas habilidades. Fazemos malabarismos com pedras. Ou fazemos movimentos como mulheres-borracha. Minha irmã faz parada de mão, e eu faço ponte ou espacate. Coloco algodão debaixo do pulôver pára fazer de seio. Daí os meninos também vêm. Minha irmã já tem seios de verdade. Ela também já tem alguns pêlos lá. Meninas, pai e mãe ao telefone. Mãe A senhora deve dar-lhes boa comida, só do bom e do melhor, viu! Telefonarei todos os dias para saber se elas comeram bem!

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Sra. Hitz Acho que seria melhor se o senhora não telefonasse mais tão seguidamente, o menina fica muito confusa. Letreiro O TEMPO CONGELA. Anna Nos fins de semana, durmo com minha irmã na cama dela, o que é proibido. Na cama, não paro de pensar na minha mãe, pendurada pelos cabelos. Minha irmã tem de inventar coisas cada vez mais horríveis para a história da CRIANÇA NA POLENTA. Eu ajudo: A CRIANÇA TEM GOSTO DE GALINHA? CORTAM A CRIANÇA EM FATIAS? COMO É QUANDO OS OLHOS ESTOURAM? Então choro. E minha irmã me abraça forte e me consola. Letreiro SONHO QUE MINHA MÃE MORRE. ELA ME DEIXA UMA CAIXA COM A BATIDA DO SEU CORAÇÃO. Gaiola com coração Irmã A criança cozinha na polenta porque maltrata outras crianças. Captura órfãos, amarra-os ao tronco de uma árvore e suga-lhes a carne dos ossos. A criança é tão gorda que está sempre com fome. Ela mora em um bosque cheio de ossos, e, em toda a parte, escuta-se alguém roendo. De noite, ela se cobre de terra e dorme tão agitada, que todo o bosque estremece. Letreiro AQUI, A COMIDA TEM GOSTO DE CIRCO SENDO DESMONTADO. Anna come o próprio vômito. Sra Hitz O comida sai do cozinha direto pro barriga do menina. Se menina não come de manhã. Come a tarde, Se não come a tarde, come a noite. Se não come a noite come de manhã e assim vai. E se comer e vomitar engole de novo. Aqui ter de dar graças a deus por comida. Pensem nos crianças do África, que não tem o que comer e morrem de fome. Anna Foi assim que eu percebi que a Sra Hitz nunca esteve na Romênia, senão ela não daria sempre o mesmo exemplo. Também não acredito que ela já tenha estado na África. Minha irmã está mais acostumada aqui, ela sente menos medo do que eu. Letreiro MINHA IRMÃ TORNOU-SE MINHA MÃE.

2 Meninas sobem em cima de escada e se jogam. Barulho e coisas se quebrando. Anna Minha irmã e eu temos nossas próprias brincadeiras. Subo nos seus ombros e me jogo nos pedregulhos do chão. Irmã Eu bebo água do cocho das vacas. Anna Eu coloco terra no meu pão com manteiga.

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Irmã Eu aperto o dedo na porta. Anna Eu me coço até sangrar. Irmã Eu arranco uma mecha enorme de cabelos da minha cabeça. Anna Eu pulo de pernas abertas sobre a quina de uma cadeira. Anna e Irmã Queremos ir para o hospital. Sra Hitz pega Anna a força e simula raspar seu cabelo. Anna colocará uma toca de natação depois disso para simular uma careca. Irmã (chorando) A senhora não pode cortar o cabelo dela. Sra Hitz Infestada de piolhos. E a senhorita é o próxima!!! Irmã A nossa mãe vai chamar a polícia quando souber! Anna Não tenho mais piolhos. Estou contente de não ter mais cabelo. Quero ficar sempre careca e, no circo, fazer apenas números de solo. Letreiro TALVEZ NOSSOS PAIS TENHAM NOS ABANDONADO PORQUE EU NÃO QUERO FICAR PENDURADA PELOS CABELOS. Irmã Eles abandonaram a gente porque o diretor do circo não queria pagar a nossa viagem. Mãe (ao telefone) Vou buscar vocês em breve. Anna É mentira. Sra Hitz Todas as pessoas são iguais, ninguém deve ser mais do que ninguém. O mais importante é ser trabalhador e humilde. Deus não gosta de gente preguiçosa. O homem existe para cuidar do mundo. Ele não deve se tornar um fardo para ninguém. Ele precisa ter uma profissão e ganhar o suficiente para poder até fazer doações de caridade. E deve manter a sua casa sempre limpa. Só assim terá paz. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Anna SE SOMOS A IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS, ENTÃO TAMBÉM PODEMOS SER TÃO FAMOSOS QUANTO ELE. A senhora Hitz e meu pai não iam se entender nunca. Filmes do meu pai: Pai Em um deles, eu faço o papel do assassino e do morto. Eu respinguei suco de tomate nas paredes e na banheira, me deitei na banheira e me fiz de morto. Na cena anterior, eu mostro o assassino arrombando a porta e entrando sorrateiramente no quarto escuro. Depois, o assassino esfaqueia o homem com uma faca de cozinha. Para esta cena, eu usei uma galinha depenada e finquei a faca várias vezes nela. No filme, o peito da galinha é a barriga do homem. Em um outro hotel, eu filmei um incêndio e coloquei fogo na sacada.

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Eu também já encenei a queda de um avião. Primeiro, a gente vê o aeroporto, as pessoas, depois o avião decola e desaparece no céu. Aparecem então minha mulher e minhas filhas, chorando e fazendo o sinal-da-cruz. A queda, eu filmei com um avião de plástico, que depois arde em chamas no bosque. Para esta cena, eu queimei ainda roupas e malas. Minha mulher tem sempre que esconder nossas coisas de mim porque, para fazer os meus filmes, eu as corto, queimo ou dou como pagamento para alguém. Anna Até mesmo a minha boneca preferida ele queimou para fazer o filme policial A BELA NO BOSQUE. Pai Um bosque. Uma bela loira fazendo evoluções com a sombrinha sobre uma corda bamba que eu estiquei entre duas árvores. Ela é surpreendida por um serial killer. Para a cena em que a morta é encontrada esquartejada no bosque, eu arranquei um braço e uma perna da boneca loira da minha filha e queimei o seu rosto, para parecer uma ferida. Anna De repente, minha boneca desapareceu. Minha mãe suspeitou de um grupo de trapezistas russos, mas quando meu pai nos mostrou o tal filme policial, descobri minha boneca. Pai Deixei a boneca no bosque porque ela tinha um rombo no rosto. Não chore... Não chore, (gritando) eu só faço esses filmes por sua causa! Para todos saberem o pai que você tem! Sua mãe pensa que sou um analfabeto. Só se casou comigo para vir pra cá, pro Ocidente, pensa que eu não sei? Anna Sra Hitz eu quero voltar pra junto dos meus pais! Sra Hitz Primeiro vocês têm de concluir a escola e aprender uma profissão. Anna Já temos uma profissão desde que viemos ao mundo, somos artistas de circo! Sra Hitz (em alemão) Isso é trabalho infantil. Se a polícia souber, os pais de vocês serão presos. Anna (para platéia) Eu entro para dentro da senhora Hitz. Por dentro, ela é cheia de prateleiras onde ficam sentados pequenos policiais segurando pequenos blocos de anotações e pequenos lápis. São apontadores de lápis por profissão. Quem gastar primeiro o seu lápis pode sentar-se em uma prateleira mais alta. O mais aplicado é eleito o rei dos apontadores e adquire o direito de jogar o seu lixo em cima dos outros.

3 Anna, irmã e pai dançam uma separação terrível. Sra Hitz Os pais de vocês se separaram. Seu pai quer que sua irmã fique com ele, eles vão viajar juntos para a França. Sinto muito, menina. Mãe (ao telefone) Eu vou te buscar em breve. Teu pai também levou o cachorro com ele. Os quadros a óleo! O dinheiro! Esse comedor de putas, estava na cama com uma preta! Sempre se saciando de carne fresca! Vou te buscar em breve. Vou te buscar em breve. Vou te buscar em breve. Etc.

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Anna Desde que minha irmã foi embora, conto para minha boneca Anduza a história da criança na polenta. Letreiro A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA PORQUE FINCOU UMA TESOURA NO ROSTO DA MÃE. Minha boneca Anduza agora é minha irmã. O pai de Anduza se chama senhor Sinistro. Desde que começaram a zombar dela na escola, ela arranca os braços da sua boneca. Às vezes, põe botões no pão com manteiga e mastiga. Anduza só chora quando tem dor de dentes. Um dia desses, a senhorita professora bateu em Anduza porque ela fez xixi no chão. Você ficou louca!, gritou a professora. Todos ouviram e começaram a rir. A boneca de Anduza, desse dia em diante, passou a fazer xixi no chão. Ela sempre apanha, e Anduza grita: Você ficou louca! Enquanto fala ator joga água sobre ela com um regador. O pai de Anduza sempre põe a mão debaixo da saia da boneca. E faz olho de peixe. E respira como debaixo d’água. Um dia Anduza terá de jogar a boneca fora. Na escola, recebo deveres extras, de castigo, porque não quero mais aprender o nome dos animais. Levei um porquinho-da-índia para a minha cama, e, por causa disso, a senhora Hitz me trancou no sótão. No sótão, invento meu próprio castigo: Letreiro/Atriz MEU PAI MORREU DE AUSÊNCIA. MINHA MÃE VIVE NA IMPOTÊNCIA. MINHA IRMÃ É FILHA SÓ DO MEU PAI. EU CRESCI AOS POUCOS. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos.

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E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. E não quero filhos. Primeiro, fui para o hospital. Depois, minha mãe veio me buscar.

3 DEGRADAÇÃO

1-A EXPLICAÇÃO Letreiro CRESCERAM COSTAS POR TODO O CORPO DO MEU PAI. Anna Cadê meu pai? (para platéia) Mal falo nele ela lança um olhar sombrio. MÃE Cachorro vagabundo!!! IRMÃ Ela me bateu. Mãe Caí contra a vidraça e cortei os pulsos. IRMÃ Sim, eu dormi com o seu marido! Mãe Ele sugou meu coração e me jogou fora! (para Anna) Não me olha com essa cara, eu estava no hospital, como podia ter te tirado antes do internato? Mas Deus não dorme... Pai (em bêbado desespero) Deus é o caralho!!! IRMÃ (com enchimento na barriga) Eu já larguei dele. Fiz um filho com outro homem e consegui me livrar dele! Letreiro NÃO LEMBRO COMO ERA O CHEIRO DA MINHA MÃE ANTES. 2- A MÃE PIROU Anna Minha mãe pirou. No Natal ou nas festas, ela fala muito alto e fica alegre, e de repente começa a chorar ou a discutir com alguém. Mãe (transtornada) Eu te coloquei lá porque tava com o cérebro mole de tanta bebida! Anna Não perguntei. Mãe Disseram que deste lado se encontrava a sorte na rua! (gritando) Eu nunca devia ter vindo pro Ocidente! Anna Mas o que vai ser da minha mãe? Desde o acidente, ela não pode mais apresentar o seu número. 3-O ACIDENTE Letreiro O ACIDENTE Mãe A gente vai fazer um grande desfile, vai ser uma sensação! Vou ficar pendurada no guindaste do grande navio que faz a rota da África. Convocamos a televisão, os

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jornalistas, o rádio! Os artistas ficam lá embaixo. A orquestra toca. Me fazem descer do navio pro cais e desenrolo um grande cartaz. Lá embaixo, a gente sobe todo mundo em um caminhão e seguimos em cortejo pela cidade até o circo. O que vocês acham? Depois fazemos uma grande campanha com um helicóptero! A única mulher do mundo a ficar pendurada pelos cabelos em um helicóptero! Vamos ficar milionários! Anna (enquanto descreve atores executam com o manequim) No dia marcado, minha mãe foi transportada com o guindaste muito lentamente, como uma caixa de porcelana, até o solo. Lá embaixo, os artistas, a televisão, os jornalistas. A orquestra tocava. Eu estava lá em cima, no navio. Ela tocou o chão. Tudo corria bem. Mas, de repente, ela mudou os planos, fez um sinal pro operador do guindaste e gritou: Sobe mais! Sobe mais! Sobe mais! E ria, ria. Mãe Quando você estiver com medo, segure o seu coração na boca e sorria. Anna O guindaste voltou a se movimentar. Quando tava na altura do navio era pra girar pra dentro, mas ele parou e fez um movimento brusco para trás. Minha mãe deixou cair o cartaz e se agarrou na corda, para amortecer o golpe. Ator A imagem esticava diante dos olhos da menina como um elástico. O guindaste era uma mão arremessando a mãe dela de um lado para o outro por todo o céu. Anna Não! Pára! Pára! O pescoço dela! Meu Deus, o pescoço! Ator Um curto-circuito fez parar o guindaste. E a mãe ficou pendurada no ar, fora do navio. Dava a impressão de uma pele vazia. Anna Ontem eu sonhei que minha mãe me cortava o cabelo. Mãe Cabelos muito longos se entranham na terra e puxam você em direção aos mortos. Anna Quando falou isso os dentes dela caíram da boca. Mãe Você agora é a mãe? Anna Eu colocava os olhos dela no lugar dos meus e olhava pra ela. O rosto era o vidro de um relógio, o ponteiro pressionava a pele dela, cortando ela em pequenas fatias. Será que o acidente teria acontecido se eu não tivesse pensado tantas vezes nele? Mãe (com colete ortopédico no pescoço) Seu pai rogou praga, subornou o operador do guindaste! Anna Como é possível, se ele nem sabe onde a gente tá? Me sinto aliviada que o acidente finalmente tenha acontecido. Agora não preciso mais ter medo que a minha mãe esteja pendurada no ar. Ator Ela nunca mais vai voltar a apresentar o seu número. Anna Temos de nos dar por satisfeitas de você não ter quebrado o pescoço. De você ainda estar viva! Satisfeitos. Satisfeitos. Satisfeitos. Satisfeitos. Satisfeitos. Satisfeitos. Satisfeitos. 4-DESILUSÃO Mãe (toma enorme quantidade de comprimidos entornados com garrafas de vinho)

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Não escuto mais meu coração! Voltam as cenas de Ceauscescu da primeira parte Mãe Se eu soubesse o que a democracia faz com as pessoas, eu nunca tinha saído de casa! Aquele merda dizia. A gente vai pro o paraíso. Hum, paraíso! Aqui os cães são mais importantes do que as pessoas! Se escrevo para minha família dizendo que as prateleiras das lojas são abarrotadas de ração para cães, eles vão achar que eu fiquei louca! Aqui, todos têm água quente no banheiro e uma geladeira no coração! Mas Deus não dorme, não, com as lágrimas dos pobres ele vai fazer um mar. E quando a gente chegar no céu, vamos tomar banho nesse mar. Nossa pele vai ser de ouro 24 quilates. Letreiro NO OCIDENTE, MINHA FAMÍLIA SE QUEBROU FEITO VIDRO. 5-O TESTE Anna TENHO 13 ANOS. Minha mãe diz que eu tenho 12, porque 13 dá azar. Às vezes, ela diz que tenho 16 ou 18. Meu pai também levou todos os filmes. A gente precisa encontrar outras pessoas que façam de mim uma estrela de cinema. O empresário da minha mãe já me mandou pra vários produtores de filmes. MÃE (mostrando centenas de fotografias) Sucesso! Sucesso! No mundo todo!!! PRODUTOR (com uma câmera filma tudo) Mas que bonitinha! Sinto muito carisma em você. Dá um sorriso! Ótimo! Agora fica brava! Lindo! Imagina agora o seu cãozinho sendo atropelado. Ali, em cima da cama! (Anna põe as mãos na cabeça, grita e se debate.) Muito bom, muito bom. Agora lambe os ombrinhos! Não, tira a manguinha e lambe os ombrinhos. Vai tirando a roupinha agora e passando a mão pelo corpinho. MÃE (INVADINDO A CENA) Pára com isso! Pára. Põe a roupa filha. Filho da Puta. Anna Mãe! MÃE Filho da Puta. Anna Me deixa, mãe. MÃE Isso é uma máfia, estupram crianças! Anna A gente não tava fazendo nada! MÃE Polícia! Que mundo é esse? Uma catástrofe! Anna Nada! MÃE Sou romena, mas não sou burra! Vou contar na televisão o que você queria fazer com a minha filha! Anna (com imenso escândalo) É a minha profissão! Me solta, é a minha profissão! Eu vou ser famosa. Sái. Minha profissão. Minha profissão. (quando todos silenciam- solta) Eu já fiz isso com meu pai, no filme “A bela do bosque”. Vídeo de Anna nua na Bela no Bosque.

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6-BAMBI Ator A menina ganhou um cachorrinho chamado Bambi. Quando chove e ele fica com medo, ela conta sobre A CRIANÇA NA POLENTA. ATOR A criança na polenta tem um esqueleto de cachorro, do qual todos têm medo. Quando ele olha pra gente, viramos esqueleto também. 7- ONDE ESTÁ NOSSA CASA? Anna No hotel, agora tenho um quarto só para mim e o Bambi. Tenho medo de que me deixem sozinha em uma cidade desconhecida. Não ia saber a quem recorrer. Estou proibida de sair sozinha para a rua e, se EU saísse, me perdia. Não consigo me lembrar onde ficam os prédios e qual o nome das ruas, tenho a sensação de que as ruas estão constantemente sendo montadas e desmontadas. Letreiro TENHO A SENSAÇÃO DE ESTAR DESMORONANDO. Anna Onde está a nossa casa? Mãe A mala com a louça de porcelana ainda está aqui. 8-O CORPO Anna Minha mãe ensaiou comigo um número de malabarismos, vestimos as fantasias do circo e passamos a nos apresentar em casas noturnas. Depois do nosso número, minha mãe sentava na mesa de um dos clientes e pedia champanhe. Eu era apresentada como sua irmã mais nova. Mas ái de quem tocasse em mim, ela dizia. Em um desses clubes, PEPITA, a diretora de um espetáculo de variedades, me descobriu. PEPITA Com vocês - O CORPO. (som de aplausos- fala como se narrasse a dança de Anna) Na ponta dos seus seios, sacolejam pequenas estrelas cintilantes listradas de azul e branco que ela cola com esparadrapo sobre a pele. Usa chapéu de marinheiro e bate continência enquanto canta. Canta com voz suave, aguda, rouca, balançando os quadris. E parece uma atriz de cinema famosa. Pois agora é loira e faz uma pinta preta entre o nariz e o lábio superior. Sua mãe assinou comigo um contrato de cinco anos. Anna Mas, se me descobrirem, saimos antes. PEPITA Se eu denunciar vocês, terei problema, pois “O Corpo” é menor de idade. Mãe Pepita queria que ela se apresentasse nua. Como ela ainda é muito jovem para isso, colo um triângulo de pêlos entre as pernas dela. Foi idéia minha. Anna Parece de verdade. E me sinto vestida. Número O TELEFONE. Sobre o palco, uma cama.Sobre ela, Anna, vestindo um négligé transparente. O telefone toca.Com movimentos de serpente, levanta o fone, canta baixinho o nome no telefone, escuta, OH. Lentamente, quase imperceptivelmente, sempre cantando, acaricia as pernas com o fone, tira o négligé. Assobios e gritos na platéia. Desliza da cama para o chão, vai dançando até a frente, distribuindo fotos, deixando que toquem de leve suas pernas. Mãe (bêbada, atrás do palco com um roupão) Minha filha ainda é virgem porque trago ali, no cabresto! Anna Nenhum homem jamais me tocou lá, no lugar certo. Não penso em outra coisa. Quero ser violada por dois ao mesmo tempo.

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9-MARY MISTRAL Imagem de Mary Mistral sendo penteada pela mãe nos pêlos pubianos. MÃE MISTRAL Os pêlos da minha filha são o nosso maior capital. Olhe como são cerrados e longos! Anna A mãe de Mary Mistral é muito velha e sovina, conserta as botas dela com arame. O que será que ela faz com o dinheirão que a filha ganha? Mary Mistral não parece nem ser casada nem ter filhos, apesar de já ter idade suficiente para isso. Daqui a vinte anos, ainda vou ser mais jovem do que ela é agora. Vou morrer jovem. Mary Mistral me falou sobre o fim do mundo. Ela é muito religiosa, tem Jesus Cristo pendurado no espelho. Antes das apresentações, ela o beija, se benze, beija o seu dedo e passa-o pelos seus pêlos. Mary Mistral diz que Jesus Cristo é o seu melhor amante, no chuveiro ela só precisa fechar os olhos e deixar que ele faça o resto. Mary Mistral Jesus Cristo é quem melhor sabe o que uma mulher precisa, quando você põe o chuveirinho lá embaixo, o Espírito Santo vem e te faz feliz. 10-O OVO Mary Mistral (ensinando Anna a fritar um ovo) O segredo pro ovo ficar crocante na clara e mole na gema é deixar a manteiga bem quente, quando ela tiver ficando quase preta, joga o ovo com cuidado pra gema não quebrar. Anna Por que o rosto envelhece mais rápido do que o resto do corpo? De costas, Mary Mistral parece mais jovem do que de frente. Antes de eu aparecer no jornal e ter tantas apresentações, Mary Mistral e eu éramos até um pouco amigas. Mary Mistral O sal você coloca só na gema Anna Minha mãe não faz essas coisas simples. E também não come. Mary Mistral Pra escolher um homem você tem que prestar atenção no volume daquele lugar. O bom é quando ele tem muito. 11-PENSÃO MADRID Coreografia espanhola com o Bailarino com a perna de pau, a mulher com a cobra, o mágico, etc PENSÃO MADRID Anna Na capital, ficamos sempre na Pensão Madri, que já conhecemos desde o tempo das nossas viagens com o circo. A PENSÃO MADRID é uma espécie de asilo para artistas velhos.A maioria já ocupa os seus quartos há anos, bailarinos, mágicos, mulheres caras. O bailarino Toni Gander passa o dia de roupão de seda e rede no cabelo. Não sai de casa nunca, porque tem uma perna dura. Na cozinha coletiva, ele prepara a sua comida e a dos três gatos, que comem no mesmo prato que ele. No quarto do mágico, há pombas soltas. Uma mulher tem uma cobra em seu quarto. A PENSÃO MADRID é o único lugar para onde sempre voltamos, ou por termos alguma apresentação na cidade, um intervalo entre duas apresentações ou por estarmos desempregados. Ela passou a ser, praticamente, o meu lar. Meu pai e minha irmã também já se hospedaram aqui, quando ainda estávamos todos juntos. 12-CARTAS Mãe

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Eu freqüentei a escola durante oito anos e sei as capitais de todos os países. Minha letra é bem bonita. As cartas dos meus parentes também são escritas com letras bonitas. Anna Minha mãe escreveu para todos contando que eu já freqüentei não sei quantas escolas e que ela gasta todo o seu dinheiro com professores particulares para mim. Que falo e escrevo em seis idiomas. Mas é mentira. A cada notícia que chega de casa, fico mais envergonhada, minha família deve ficar pensando que eu não quero responder. Mãe Escreve. Anna Eu não sei. Mãe Como você pode dizer isso da sua língua materna? O que as pessoas vão pensar? Que fugimos do sapateiro para vivermos pior do que vivíamos em casa? Que meu marido me abandonou e que minha filha não sabe escrever? É isso que você quer que eles pensem de nós? (Mãe chora feito criança) Eu não tenho ninguém. Ninguém pra me fazer um chá se eu ficar doente. A língua materna é como o sangue nas veias, corre sozinha. Escreve, aí você consegue! Depois, ela bebe vinho branco. E fica muito alegre e fala alto e põe música romena e dança. E enche Anna de beijos estalados, como se fosse lhe sugar inteira. Os parentes pedem. Pode ser em vídeo – se tivermos uma bela e contundente coreografia. 13-PEDIDOS DOS PARENTES Anna A cada notícia que chega de casa, eu fico mais envergonhada. PARENTE 1 (com uma sola feita de papel nas mãos) ...pra não errar o número envio o molde do meu pé. PARENTE 2 Aí segue a receita, não consigo nem mais sentar PARENTE 3 Por favor, não fiquem zangados conosco. Nós amamos vocês. PARENTE 4 Deus vai lhes retribuir tudo que nos derem. Se puderem e quiserem, mandem sempre mais. PARENTE 2 Minha úlcera está do tamanho de um bebê. PARENTE 1 Desejamos a vocês e a todos os amigos de vocês tudo de bom, saúde, felicidade e a realização de todos os seus sonhos! PARENTE 4 Não fiquem zangados. É difícil viver aqui. PARENTE 2 Os remédios são muito caros. Mandamos beijos! PARENTE 4 Por favor, não fiquem zangados conosco. Rezo todos os dias ao bom Deus por vocês. Você pode conseguir um emprego para o meu pai aí? PARENTE 1 Escrevi muito sobre os meus problemas, mas nem perguntei como vocês estão. Sofremos muito aqui. PARENTE 2 Que Deus realize todos os sonhos de vocês, que os faça ricos, para que vocês possam nos ajudar!

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Mãe A vida é um monte de merda. PARENTE 3 Sou seu tio Pavel, já a conhecia antes do seu nascimento. PARENTE 1 Sua alma é como o pão de Deus. Mande-nos dinheiro, por favor, para que Ana possa ir à escola. PARENTE 4 Feliz Ano Novo! Ileana vomita sempre porque passa muita fome. PARENTE 3 Beijo a sua mão. Cornélia não consegue mais andar. PARENTE 1 Eu fui o primeiro a pegar você nos braços depois do seu nascimento. Doina é muito parecida com você, ela já sabe dizer o seu nome. PARENTE 2 Não fique zangada. Somos a família de vocês. PARENTE 3 Sou sua velha tia, durante a guerra, de pés descalços, eu carreguei sua mãe até as montanhas. PARENTE 4 Queridos, depois de ler esta carta, rasguem-na! Sou sua prima Josefina, tenho a mesma idade que você e sei fazer todo o serviço de casa, por favor, encontre um bom marido para eu casar! Muitos beijos doces! tio Petru Sou seu tio Petru, mostrei-lhe os cisnes no parque, você lembra? 14-ARMANDO MÃE ESSE HOMEM É UM CACHORRO, ele podia ser seu pai! Mas você... você deve ter provocado o homem, senão isso certamente não tinha acontecido. Você é que nem o seu pai! Anna O homem e a mulher apareceram de repente no espetáculo de Pepita. HOMEM Linda como a Marilyn Monroe. MÃE Dá uma voltinha. Sorri pro moço!! Vou fazer da minha filha uma atriz de cinema! Anna Logo ficamos sabendo que eles eram só espectadores, e não os meus descobridores. A mulher tava grávida. Quando a gente se apresentava perto da cidade deles, eles apareciam. Traziam os filhos. ATOR O homem é joalheiro. MÃE Eu convidava todo mundo para comer, na frente do nosso trailer. Anna Na fotografia, parece uma grande família. Depois da apresentação, os meninos dormiam no trailer, e a gente saía para dançar. HOMEM Ela era como uma filha. MÃE (tentando avançar sobre ele, o elenco a impede) Cachorro! Anna Ele pegava a minha mão e colocava no joelho dele. A esposa ria. Eles têm:

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uma casa grande, bonita, móveis de madeira lustrosos, televisão colorida com controle remoto, aparelho de som forno de microondas aspirador de pó pinturas a óleo de verdade, copos folheados a ouro, serviço de porcelana cara e estantes com livros. MÃE (ainda com raiva) A nossa casa na Romênia era muito maior e mais bonita. Anna Os dois filhos mais velhos do homem têm, cada um, o seu próprio quarto. E seus próprios livros. Eu não tenho livros. MÃE Livros deixam a gente burra. Telefone toca. Anna atende. HOMEM Eu te amo! Não precisa ter medo. Eu largo tudo, tudo pra ficar com você. MÃE Me dá aqui esse telefone. (no telefone) Se você chegar perto dela, eu te mato! Eu te mato!!! Eu chamo a polícia! Tarado! Ela é menor. Alô... alô... ? A MULHER DO CARA (se auto flagelando) Sua filha manchou o meu casamento. Somos católicos. Ator Tudo começou numa tarde, na frente da televisão. A mãe, o marido dela e a mulher do homem foram deitar. Os filhos tavam sentados no chão na frente deles, a menina e o homem no sofá. De uma hora pra outra, ele abriu a calça, tirou a sua coisa para fora e começou a esfregar até espirrar um líquido branco. A menina não tinha coragem de se mexer. Ele colocou os dedos nos seus lábios. HOMEM Lambe. Anna Mãe, eu vou jogar tênis com o Armando. MÃE E você lá sabe jogar tênis? HOMEM Uma menina de classe, precisa aprender a jogar tênis. MÃE Bem, se seus filhos também vão, fico mais tranqüila. Mas eu também vou. Anna Eu já sei me cuidar sozinha. MÃE Minha filha ainda é virgem, hein, tomem conta dela! Anna No clube de tênis, o homem se livrou dos filhos dele. HOMEM Entra aqui comigo, no vestiário? Anna Fiz que sim com a cabeça. HOMEM Abre minha calça. Anna A cueca dele tava estufada e úmida. HOMEM

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Você já fez? Anna Fiz que não com a cabeça. HOMEM Pega meu pau e faz com ele o que você quiser. Anna Toquei a cueca dele, mas não tive coragem de colocar a mão por dentro. HOMEM Você também pode pegar nele com a boca. Anna O homem se chama Armando. Minha mãe também já teve um homem que se chamava Armando. E ele também era casado. Por que ela fica com tanta raiva quando é comigo? Anna Não tardou muito, apareceram todos no clube de tênis. De dentro do vestiário, escutei os gritos da minha mãe. MÃE Onde está a minha filha? Eu me mato! 15-A MORTE DE BAMBI Anna MATEI BAMBI SEM QUERER. Foi um acidente. Bambi confiava em mim, e eu matei ele. Fiquei com uma erupção no rosto e no pescoço. Ela se espalha como se fosse fogo por baixo da pele. Tenho vergonha de me apresentar. Todos ficam olhando, umas pessoas na platéia até apontam e riem. Minha mãe me trouxe um porquinho-da-índia da feira. Bambi agora está no céu e toma banho no mar dos pobres. MÃE Quando o virmos novamente, ele será de ouro. Anna Mas não me desfiz de Bambi. Coloquei ele num saco plástico e guardei no congelador. Nunca vou me desfazer de Bambi. Não matei ele! Se tirarem ele de mim, vou gritar até destruir tudo no mundo. Letreiro A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA PORQUE TEM UMA VOZ CHEIA DE PEDRAS. Anna Por que Bambi colocou a cabeça na porta? É proibido! É proibido colocar a cabeça na porta! É proibido! Proibido! Foi um acidente. Na estrada. Bambi colocou a cabeça para fora quando bati a porta. Corri com Bambi para o restaurante do posto de gasolina e coloquei ele numa caixa de gelo. ATOR Ele está morto. ATRIZ Fique calma, ele está morto! Anna Ele não pode estar morto, se eu estancar o sangue com gelo ele vai se recuperar! Me dá mais gelo, por favor! Preciso de mais gelo! 16-O SURTO LUZ VERMELHA MUITO INTENSA. UM ATOR COM CABEÇA DE CACHORRO. Anna Meu cãozinho corre pelas ruas, ele é um esqueleto, não tem carne, posso enxergar através dele. Todos que virem o meu esqueleto podem me castigar. Você não pode chorar, diz a boca, senão a mãe fica com medo. A boca está sempre com fome, boca fome, fome, costurar a boca! Não gosto de bonecas. Minhas pernas são de uma outra, elas enchem um quarto inteiro. Tenho um buraco que sangra. Isso não é nada, diz a dos cabelos negros, você faz nas calças, diz ela, sou sua mãe, diz ela. Encho o buraco de pão, não quero sangrar nas calças. O CÉU PARECE UMA VEIA DE OLHO

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ESTOURADA. Não quero que o comediante PIPER me toque! Não quero! Eu e minhas pernas encenamos com ele o esquete A VIÚVA ALEGRE no show de Pepita. Amanhã, chega de comida! Se PIPER durante A VIÚVA ALEGRE me tocar, meus seios apodrecerão. Amanhã, parar de comer, tudo tem gosto de plástico. 17-A DEMISSÃO PEPITA Assim não dá, menina, pára de comer, pára, você está cada vez mais gorda, você está muito diferente do que no cartaz, assim não dá! MÃE O cão está morto. ANNA Colocar o cão na caixa de sapato, a caixa, na geladeira. Os pêlos do cão morto crescem, cobrem inteiramente o cão, a caixa, a geladeira, a mim, o quarto. Um anjo se veste de cão, cão degolado, empalhar o anjo morto. O anjo de dentes arreganhados. Meu anjo sorri sangue. PEPITA Se ela não se apresentar hoje, mando embora!!! MÃE Vamos meu amor, você vai conseguir, vai conseguir. Anna Vou sim. Vou sim. Temos de ter uma vida boa. Sou grata. Estou feliz de estar aqui. Estou bem. Sou muito requisitada. Faço quatorze números por espetáculo. Na alta estação, fazemos seis apresentações por dia nas grandes feiras. Aprendo muito para mais tarde, quando me descobrirem. PEPITA É a terceira vaia essa semana. Se continuar assim, não sei não. MÃE O show, filhinha. O show. Anna Sonho o tempo inteiro com Bambi. Ele cai da sacada, se estatela no chão e some. O açúcar se chama Bambi e, na minha boca, se transforma numa serpente. Minha mãe me dá de presente um cão. Ele está enrolado em um jornal. Quando vou tirar o jornal, ele morde e arranca meu dedo. O dedo diz: Por que você me degola? (grita como acordando de um pesadelo) Não quero mais dormir. Só quero me apressar. Só quero me apressar sempre. Minha mãe é muito carinhosa comigo. Não gosto disso. Parece que tenho de pedir constantemente DESCULPA. Minha mãe entra e sai de mim. Pareço a fotografia da minha mãe. Pareço comigo sem mim. Minha erupção melhorou. Som de vaias. PEPITA Ela precisa descansar. Porque não vão para Madri, por um tempo. Anna Propaganda, eu não quero fazer. PEPITA Então ela dança no coro. MÃE Minha filha, no coro? Nunca. Anna Pepita demitiu a gente, embora meu contrato ainda não tivesse vencido.

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O FILME

Anna ANTES DE TER VISTO MEU PAI pela última vez, ele rodou um filme em que fazia o papel de Deus. Minha mãe era a avó de Deus, e eu era o seu anjo da guarda. Estou

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com o meu vestido de renda branca, com meias brancas até os joelhos e sapatos pretos de verniz. As unhas são cor-de-rosa, e as bochechas, vermelhas. VOZ DO PAI OS ANJOS SEMPRE TÊM AS BOCHECHAS VERMELHAS, PORQUE APANHAM MUITO AR FRESCO. Anna No papel de Deus, meu pai veste o seu velho fraque preto. Minha mãe se enrolou em um pano, como as velhas camponesas romenas, e vestiu o seu roupão floreado de tecido de cortina por cima. No começo do filme, a gente vê meu pai como diretor de circo, com um fraque vermelho. No jardim da avó, que mora no campo, diz ele, há uma árvore debaixo da qual sempre chove. Então, vê-se o meu pai, no papel de Deus, sentado embaixo da árvore. Letreiro DEUS ESTÁ TRISTE. ELE TOCA UMA CANÇÃO HÚNGARA NO VIOLINO. Anna A avó está na janela e acena com a mão, ela preparou polenta para Deus. A canção do violino é tão triste, que a grama, as flores e as árvores do jardim também ficam tristes. O diretor do circo aparece novamente e diz que a cerca do jardim, a janela, a porta e até a polenta começam a chorar. A avó sacode a cabeça e diz uma frase que não se houve, porque ela está dentro da casa. Boxi atravessa o gramado. Traz asas de anjo cor-de-rosa na boca e levanta-se sobre as patas traseiras em frente a um arbusto, de onde saio. Coloco as asas e vou saltitando com Boxi até a árvore da chuva. A chuva cai de um regador. O anjo da guarda e Boxi dançam a triste melodia de Deus. Mas, mesmo assim, Deus não consegue se alegrar. O diretor do circo aparece e diz: Deus come polenta por amor aos pobres. Ele também é um estrangeiro e viaja de país em país. Ele está triste porque vai partir outra vez para uma grande viagem. A avó chora. Boxi também chora, encolhe o rabo e abana as orelhas. O anjo da guarda continua a saltitar. Letreiro OS ANJOS DA GUARDA NUNCA FICAM TRISTES, DIZ O DIRETOR DO CIRCO, ELES EXISTEM PARA ESPALHAR ALEGRIA. Na cena seguinte, Deus, a avó e o anjo da guarda estão sentados à mesa e comem polenta, na despedida. No final, a avó fica parada na porta dando adeus com a mão.

MÃE Quando você se recuperar, vai poder se apresentar onde quiser aqui. O público vai cair aos seus pés! O que essas go-go girls fazem você já sabe há muito tempo! Anna Não quero fazer outra coisa que não seja trabalhar no cinema, mãe. MÃE Então pelo menos, você vai ter que fazer a Escola de Artes Dramáticas. Forma-se então uma banca. ATRIZ ORIENTADORA Ela tem algum problema mental? ATOR ORIENTADOR Trauma de infância? ATRIZ ORIENTADORA Abuso sexual? PROFESSOR2 Qual cena você preparou? Anna A do telefone PROFESSOR 1 De quem é? Anna

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Como assim? É minha. PROFESSOR3 Você escreveu? Anna O Quê? Ninguém escreveu. Sou eu que faço! PROFESSOR 1 Qual o seu nome? Anna Aglaja Monika Veteranyi PROFESSOR2 Sentimos muito, mas isto aqui não é um circo. Ator entra com a mala na mão. THE END.