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7/21/2019 Projeto Retrospectiva - Direito Do Consumidor http://slidepdf.com/reader/full/projeto-retrospectiva-direito-do-consumidor 1/9  www.cers.com.br  PROJETO RETROSPECTIVA 2015.1 Direito do Consumidor Cristiano Sobral 1 RETROSPECTIVA 2015 CONSUMIDOR PROFESSOR CRISTIANO SOBRAL INSTAGRAM @CRISTIANOSOBRAL WWW.PROFESSORCRISTIANOSOBRAL. COM.BR 1. DIREITO DO CONSUMIDOR. OFENSAS PUBLICADAS EM BLOG E NECESSIDADE DE INDICAÇÃO DOS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS PELO OFENDIDO.  Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas - e não ao provedor de hospedagem do blog - a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. Os blogs são páginas na internet cuja estrutura possibilita a rápida e constante atualização mediante acréscimo dos denominados  posts (comentários, artigos). Essas páginas são hospedadas por provedores, que não exercem controle sobre os conteúdos das páginas criadas e operadas pelos usuários. A esses provedores de hospedagem compete garantir o sigilo, a segurança e a inviolabilidade dos dados cadastrais dos usuários, bem como o funcionamento e manutenção das páginas na internet que contenham os blogsdesses usuários. Não cabe ao provedor de hospedagem localizar os artigos ofensivos à honra do ofendido, fazer juízo prévio para fornecer-lhe os dados requeridos, tais como IPs e outros. Cabe ao interessado informar o respectivo URL ( Universal Resource Locator , isto é, localizador universal de recursos) em que se encontram os artigos/  posts cujo conteúdo se considera lesivo. Sem essa individualização, a providência do provedor se assemelharia a um rastreamento, ficando ao seu arbítrio o apontamento de interesses exclusivos do ofendido, podendo, inclusive, envolver terceiras pessoas com quem não tem relação alguma ou que não sejam responsáveis pelo que pretende o ofendido. É certo que a Constituição Federal, ao assegurar o direito à liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV), vedou o anonimato. Em razão disso, deve o provedor manter dados indispensáveis à identificação dos usuários. Isso decorre, inclusive, das disposições do art. 6º, III, do CDC, que instituiu o dever de informação nas relações de consumo. Observe-se, porém, que isso se aplica aos usuários que contrataram os serviços do provedor. Dessa forma, já que a CF veda o anonimato, os provedores de hospedagem de blogs têm de manter um sistema de identificação de usuários; todavia, não estão obrigados a exercer controle do conteúdo dos posts inseridos nos blogs. Deve o ofendido, portanto, realizar a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontra a mensagem considerada ofensiva, sem os quais não é possível ao provedor de hospedagem deblogs localizar, com segurança, determinada mensagem considerada ofensiva.REsp 1.274.971-RSRel. Min. João Otávio de Noronha,  julgado em 19/3/2015, DJe 26/3/2015. (Inf. 558) 2. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE POR OFENSAS PROFERIDAS POR INTERNAUTA E VEICULADAS EM PORTAL DE NOTÍCIAS.  A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários, postados nesse campo, que, mesmo relacionados à matéria  jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do marco civil da internet (Lei 12.965/2014). Inicialmente, cumpre registrar que, de acordo com a classificação dos provedores de serviços na internet apresentada pela Min. Nancy  Andrighi no REsp 1.381.610-RS, essa sociedade se enquadra nas categorias: provedora de informação - que produz as informações divulgadas na Internet -, no que tange à matéria jornalística divulgada no site; e provedora de conteúdo - que disponibiliza na rede as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação -, no que tocante às postagens dos usuários. Essa classificação é importante porque tem reflexos diretos na responsabilidade civil do provedor. De fato,

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RETROSPECTIVA 2015 CONSUMIDOR PROFESSOR CRISTIANO SOBRAL INSTAGRAM @CRISTIANOSOBRAL 

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1. DIREITO DO CONSUMIDOR. OFENSASPUBLICADAS EM BLOG E NECESSIDADEDE INDICAÇÃO DOS ENDEREÇOSELETRÔNICOS PELO OFENDIDO. Na hipótese em que tenham sidopublicadas, em um blog, ofensas à honrade alguém, incumbe ao ofendido quepleiteia judicialmente a identificação erastreamento dos autores das referidas

ofensas - e não ao provedor dehospedagem do blog - a indicaçãoespecífica dos URLs das páginas onde seencontram as mensagens. Os blogs sãopáginas na internet cuja estrutura possibilitaa rápida e constante atualização medianteacréscimo dosdenominados posts (comentários, artigos).Essas páginas são hospedadas porprovedores, que não exercem controle sobreos conteúdos das páginas criadas eoperadas pelos usuários. A essesprovedores de hospedagem competegarantir o sigilo, a segurança e ainviolabilidade dos dados cadastrais dosusuários, bem como o funcionamento emanutenção das páginas na internet quecontenham os blogsdesses usuários. Nãocabe ao provedor de hospedagem localizaros artigos ofensivos à honra do ofendido,fazer juízo prévio para fornecer-lhe os dadosrequeridos, tais como IPs e outros. Cabe aointeressado informar o respectivo URL

(Universal Resource Locator , isto é,localizador universal de recursos) em que seencontram os artigos/ posts cujo conteúdo seconsidera lesivo. Sem essa individualização,a providência do provedor se assemelharia aum rastreamento, ficando ao seu arbítrio oapontamento de interesses exclusivos doofendido, podendo, inclusive, envolverterceiras pessoas com quem não temrelação alguma ou que não sejamresponsáveis pelo que pretende o ofendido.É certo que a Constituição Federal, ao

assegurar o direito à liberdade demanifestação do pensamento (art. 5º, IV),vedou o anonimato. Em razão disso, deve o

provedor manter dados indispensáveis àidentificação dos usuários. Isso decorre,inclusive, das disposições do art. 6º, III, do

CDC, que instituiu o dever de informaçãonas relações de consumo. Observe-se,porém, que isso se aplica aos usuários quecontrataram os serviços do provedor. Dessaforma, já que a CF veda o anonimato, osprovedores de hospedagem de blogs têm demanter um sistema de identificação deusuários; todavia, não estão obrigados aexercer controle do conteúdodos posts inseridos nos blogs. Deve oofendido, portanto, realizar a indicaçãoespecífica dos URLs das páginas onde se

encontra a mensagem considerada ofensiva,sem os quais não é possível ao provedor dehospedagem deblogs localizar, comsegurança, determinada mensagemconsiderada ofensiva.REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015, DJe 26/3/2015. (Inf.558) 

2. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.RESPONSABILIDADE POR OFENSASPROFERIDAS POR INTERNAUTA EVEICULADAS EM PORTAL DE NOTÍCIAS. A sociedade empresária gestora de portalde notícias que disponibilize campodestinado a comentários de internautasterá responsabilidade solidária porcomentários, postados nesse campo,que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos aterceiro e que tenham ocorrido antes daentrada em vigor do marco civil dainternet (Lei 12.965/2014). Inicialmente,

cumpre registrar que, de acordo com aclassificação dos provedores de serviços nainternet apresentada pela Min. Nancy Andrighi no REsp 1.381.610-RS, essasociedade se enquadra nas categorias:provedora de informação - que produz asinformações divulgadas na Internet -, no quetange à matéria jornalística divulgada nosite; e provedora de conteúdo - quedisponibiliza na rede as informações criadasou desenvolvidas pelos provedores deinformação -, no que tocante às postagens

dos usuários. Essa classificação éimportante porque tem reflexos diretos naresponsabilidade civil do provedor. De fato,

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a doutrina e a jurisprudência do STJ têm semanifestado pela ausência deresponsabilidade dos provedores de

conteúdo pelas mensagens postadasdiretamente pelos usuários (REsp1.338.214-MT, Terceira Turma, DJe2/12/2013) e, de outra parte, pelaresponsabilidade dos provedores deinformação pelas matérias por eledivulgadas (REsp 1.381.610-RS, TerceiraTurma, DJe 12/9/2013). Não obstante oentendimento doutrinário e jurisprudencialcontrário à responsabilização dosprovedores de conteúdo pelas mensagenspostadas pelos usuários, o caso em análise

traz a particularidade de o provedor ser umportal de notícias, ou seja, uma sociedadecuja atividade é precisamente ofornecimento de informações a um vastopúblico consumidor. Essa particularidadediferencia o presente caso daqueles outros julgados pelo STJ, em que o provedor deconteúdo era empresa da área dainformática, como a Google, a Microsoft etc.Efetivamente, não seria razoável exigir queempresas de informática controlassem oconteúdo das postagens efetuadas pelosusuários de seus serviços ou aplicativos.Todavia, tratando-se de uma sociedade quedesenvolve atividade jornalística, o controledo potencial ofensivo dos comentários nãoapenas é viável, como necessário, por seratividade inerente ao objeto da empresa. Ademais, é fato notório, nos dias de hoje,que as redes sociais contêm um verdadeiroinconsciente coletivo que faz com que aspessoas escrevam mensagens, sem anecessária reflexão prévia, falando coisas

que normalmente não diriam. Isso exige umcontrole por parte de quem é profissional daárea de comunicação, que tem o dever dezelar para que o direito de crítica nãoultrapasse o limite legal consistente norespeito à honra, à privacidade e àintimidade da pessoa criticada. Assim, aausência de qualquer controle, prévio ouposterior, configura defeito do serviço, umavez que se trata de relação de consumo.Ressalte-se que o ponto nodal não é apenasa efetiva existência de controle editorial, mas

a viabilidade de ele ser exercido.Consequentemente, a sociedade deveresponder solidariamente pelos danos

causados à vítima das ofensas morais, que,em última análise, é um bystander , por forçado disposto no art. 17 do CDC. Saliente-se

que, tratando-se de uma sociedade quedesenvolva atividade jornalística, não sepode admitir a ausência de qualquercontrole sobre as mensagens e comentáriosdivulgados, porque se mesclam com aprópria informação, que é o objeto central dasua atividade econômica, devendo oferecera segurança que dela legitimamente seespera (art. 14, § 1º, do CDC). Cabeesclarecer que o marco civil da internet (Lei12.965/2014) não se aplica à hipótese emapreço, porque os fatos ocorreram antes da

entrada em vigor dessa lei, além de não setratar da responsabilidade dos provedoresde conteúdo. Consigne-se, finalmente, que amatéria poderia também ter sido analisadana perspectiva do art. 927, parágrafo único,do CC, que estatuiu uma cláusula geral deresponsabilidade objetiva pelo risco,chegando-se a solução semelhante àalcançada mediante a utilização doCDC. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulode Tarso Sanseverino, julgado em24/3/2015, DJe 30/3/2015. (Inf. 558) 

3. DIREITO DO CONSUMIDOR.INTERMEDIAÇÃO ENTRE CLIENTE ESERVIÇO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA. O comerciante não tem o dever dereceber e de encaminhar produto viciadoà assistência técnica, a não ser que estanão esteja localizada no mesmomunicípio do estabelecimentocomercial. De acordo com o caput  do art.18 do CDC, todos os que integram a cadeia

de fornecimento respondem solidariamentepelos produtos defeituosos. Dessa forma, seo comerciante opta por ofertar a seusclientes produtos fabricados por terceiros,não pode eximir-se da responsabilizaçãopelos produtos defeituosos inseridos nomercado por ele próprio. Nesse contexto,não se olvida a infindável busca dolegislador em proteger o consumidor dainserção irresponsável de produtos viciadosno mercado. Todavia, o mesmo legisladorobtempera a proteção da boa-fé do

consumidor com a impossibilidade fática dese garantir de forma absoluta e apriorística aqualidade dos produtos comercializados.

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Reconhecendo, portanto, que falhasacontecem, insere-se o direito subjetivo dosfornecedores de corrigir os vícios, como uma

demonstração inclusive de sua própria boa-fé objetiva. Envolvida nessa atmosfera ética,exige-se de ambos os contratantes aatuação leal e cooperada, atuaçãoestendida, no âmbito do CDC, a todos osintegrantes da cadeia de fornecimento.Nessa ordem de ideias, a disponibilizaçãopelo produtor de um serviço especializado, afim de dar o necessário suporte aosconsumidores na hipótese de os produtoscomercializados apresentarem vícios, emprincípio, não representa qualquer prejuízo

ou desvantagem ao consumidor. Aocontrário, representa o cumprimento de umdever de lealdade e cooperação quesubsiste para além da conclusão docontrato, concretizando o ideal ético doCDC, devendo, por essa mesma razão, serobservada pelos consumidores. Claro queessa observância apenas poderá ser exigidana medida em que o serviço sejadisponibilizado de forma efetiva, eficaz eeficiente. Do contrário, acabaria porrepresentar uma dificuldade excessiva,caracterizando o exercício abusivo de umdireito do produtor. Ora, disponibilizadoserviço de assistência técnica de formaeficaz, efetiva e eficiente na mesmalocalidade do estabelecimento docomerciante, a intermediação do serviçoapenas acarretaria delongas e acréscimo decustos. Desse modo, existindo assistênciatécnica especializada e disponível nalocalidade de estabelecimento docomerciante (leia-se, no mesmo município),

não é razoável a imposição ao comercianteda obrigação de intermediar orelacionamento entre seu cliente e o serviçodisponibilizado, visto que essa exigênciaapenas dilataria o prazo para efetiva soluçãoe acrescentaria custos ao consumidor, semagregar-lhe qualquer benefício. REsp1.411.136-RS,  Rel. Min. Marco AurélioBellizze, julgado em 24/2/2015, DJe10/3/2015. (Inf. 557) 

4. DIREITO DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE

DE CONFIGURAÇÃO DE FATO DOPRODUTO E PRAZO PRESCRICIONALAPLICÁVEL. 

O aparecimento de grave vício emrevestimento (pisos e azulejos), quando já se encontrava devidamente instalado

na residência do consumidor, configurafato do produto, sendo, portanto, decinco anos o prazo prescricional dapretensão reparatória (art. 27 doCDC). Nas relações de consumo, consoanteentendimento do STJ, os prazos de 30 diase 90 dias estabelecidos no art. 26 referem-se a vícios do produto e são decadenciais,enquanto o quinquenal, previsto no art. 27, éprescricional e se relaciona à reparação dedanos por fato do produto ou serviço (REsp411.535-SP, Quarta Turma, DJ de

30/9/2002). O vício do produto, nos termosdo art. 18 do CDC, é aquele correspondenteao não atendimento, em essência, dasexpectativas do consumidor no tocante àqualidade e à quantidade, que o torneimpróprio ou inadequado ao consumo ou lhediminua o valor. Assim, o vício do produtorestringe-se ao próprio produto e não aosdanos que ele pode gerar para oconsumidor, sujeitando-se ao prazodecadencial do art. 26 do CDC. O fato doproduto, por sua vez, sobressai quando essevício for grave a ponto de ocasionar danoindenizável ao patrimônio material ou moraldo consumidor, por se tratar, na expressãoutilizada pela lei, de defeito. É o que seextrai do art. 12 do CDC, que cuida daresponsabilidade pelo fato do produto e doserviço. Ressalte-se que, não obstante o §1º do art. 12 do CDC preconizar que produtodefeituoso é aquele desprovido desegurança, doutrina e jurisprudênciaconvergem quanto à compreensão de que o

defeito é um vício grave e causador dedanos ao patrimônio jurídico ou moral.Desse modo, a eclosão tardia do vício dorevestimento, quando já se encontravadevidamente instalado na residência doconsumidor, determina a existência dedanos materiais indenizáveis e relacionadoscom a necessidade de, no mínimo, contratarserviços destinados à substituição doproduto defeituoso, caracterizando o fato doproduto, sujeito ao prazo prescricional de 5anos. REsp 1.176.323-SP,  Rel. Min. Villas

Bôas Cueva, julgado em 3/3/2015, DJe16/3/2015. (Inf. 557) 

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5.  Conversão da Súmula n. 646, do STFna Súmula Vinculante n. 49 dispondo que:

“Ofende o princípio da livre concorrência leimunicipal que impede a instalação deestabelecimentos comerciais do mesmoramo em determinada área.” STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015. Apesar do municípios serem competentespara determinar sobre o zoneamentourbano, a lei municipal que visa impedir ainstalação de estabelecimentos comerciaisdo mesmo ramo em determina área atentacontra o princípio da livre iniciativa, que temprevisão constitucional no seu art. 170. Tal

medida além de criar reserva de mercado,prejudica o direito do consumidor e aliberdade de exercício das atividadeseconômicas. No que tange especificamenteà defesa do consumidor, a diversidade deestabelecimentos comerciais do mesmoramo em determinada área além de facilitaro poder de liberdade de escolha doconsumidor, aumenta a oferta.

6.  Súmula n. 541, STJ: “A previsão nocontrato bancário de taxa de juros anualsuperior ao duodécuplo da mensal ésuficiente para permitir a cobrança da taxaefetiva anual contratada.” STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.O STJ adotou o entendimento no qual acapitalização dos juros em periodicidadeinferior (ex: capitalização mensal) à anualdeve vir pactuada de forma expressa eclara. Ocorre que o fato de o contratobancário prever taxa de juros anual superiorao duodécuplo (12x) da mensal já é

suficiente para que se considere que acapitalização está expressamente pactuada.Em outras palavras, basta que o contratopreveja que a taxa de juros anual serásuperior a 12 vezes a taxa mensal para queo contratante possa deduzir que os juros sãocapitalizados. Na prática, isso significa queos bancos não precisam dizerexpressamente no contrato que estãoadotando a “capitalização de juros”,bastando explicitar com clareza as taxascobradas. A cláusula com o termo

“capitalização de juros” será necessáriaapenas para que, após vencida a prestaçãosem o devido pagamento, o valor dos juros

não pagos seja incorporado ao capital parao efeito de incidência de novos juros.

7.  Súmula n. 532, do STJ: “Constituiprática comercial abusiva o envio de cartãode crédito sem prévia e expressa solicitaçãodo consumidor, configurando-se ato ilícitoindenizável e sujeito à aplicação de multaadministrativa.” Corte Especial, aprovadaem 3/6/2015, DJe 8/6/2015. Não é permitido enviar cartão de crédito aocliente sem este ter solicitado, configurandoprática abusiva, trata-se de ato ilícito queviola o art. 39, III, do CDC: “Art. 39. Évedado ao fornecedor de produtos ou

serviços, dentre outras práticas abusivas:[...] III - enviar ou entregar ao consumidor,sem solicitação prévia, qualquer produto, oufornecer qualquer serviço. Haverá práticaabusiva mesmo se o cartão de crédito quefor enviado estiver bloqueado. Se ele foienviado ao consumidor sem que este tenhafeito pedido pretérito e expresso restarácaracterizada a prática comercial abusiva,violando frontalmente o disposto no art. 39,III, do CDC (STJ REsp 1199117/SP, Rel.Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgadoem 18/12/2012). O STJ ainda reconhece aoconsumidor o direito à indenização pordanos morais nestes casos. Junte-se a isso,a instituição financeira também poderá sercondenada a pagar multa administrativaimputada pelos órgãos de defesa doconsumidor, conforme disposição do art. 56,I, do CDC. Se o consumidor, mesmo nãotendo solicitado o cartão, optar por ficar comele, entende a doutrina a instituição nãopoderá cobrar anuidade, devendo esse

serviço ser considerado como amostragrátis, com base no art. 39, parágrafo único:“Art. 39. Parágrafo único. Os serviçosprestados e os produtos remetidos ouentregues ao consumidor, na hipóteseprevista no inciso III, equiparam-se àsamostras grátis, inexistindo obrigação depagamento.” 

8.  Súmula n. 530, do STJ: “Nos contratosbancários, na impossibilidade de comprovara taxa de juros efetivamente contratada - por

ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-sea taxa média de mercado, divulgada pelo

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Bacen, praticada nas operações da mesmaespécie, salvo se a taxa cobrada for maisvantajosa para o devedor.” 

Se o devedor ajuíza ação de revisão docontrato, cabe ao juiz proceder à análise dos juros que estão sendo cobrados pelo bancoe compará-los com a taxa média demercado: se os juros cobrados estiveremalém da taxa média, o magistrado deveráreconhecer que há uma abusividade, edeverá reduzi-los para a taxa média; nahipótese de os juros cobrados estiveremaquém da taxa média, o magistrado ignoraráa taxa média e manterá a taxa cobrada emrazão de esta ser mais vantajosa para o

devedor.

9.  DIREITO DO CONSUMIDOR.RESPONSABILIDADE DO FABRICANTEQUE GARANTE NA PUBLICIDADE AQUALIDADE DOS PRODUTOSOFERTADOS. Responde solidariamente por vício dequalidade do automóvel adquirido ofabricante de veículos automotores queparticipa de propaganda publicitáriagarantindo com sua marca a excelênciados produtos ofertados por revendedorde veículos usados. O princípio davinculação da oferta reflete a imposição datransparência e da boa-fé nos métodoscomerciais, na publicidade e nos contratos,de forma que esta exsurge como princípiomáximo orientador, nos termos do art. 30 doCDC. Realmente, é inequívoco o carátervinculativo da oferta, integrando o contrato,de modo que o fornecedor de produtos ouserviços se responsabiliza também pelas

expectativas que a publicidade venha adespertar no consumidor, mormente quandoveicula informação de produto ou serviçocom a chancela de determinada marca.Trata-se de materialização do princípio daboa-fé objetiva, exigindo do anunciante osdeveres anexos de lealdade, confiança,cooperação, proteção e informação, sobpena de responsabilidade. O próprio art. 30do CDC enfatiza expressamente que ainformação transmitida "obriga o fornecedorque a fizer veicular ou dela se utilizar",

atraindo a responsabilidade solidáriadaqueles que participem, notadamentequando expõe diretamente a sua marca no

informativo publicitário. A propósito, a jurisprudência do STJ reconhece aresponsabilidade solidária de todos os

fornecedores que venham a se beneficiar dacadeia de fornecimento, seja pela utilizaçãoda marca, seja por fazer parte dapublicidade. Trata-se, cabe ressaltar, decaso de responsabilização objetiva. Nessecontexto, dentro do seu poder de livrementeavalizar e oferecer diversos tipos deprodutos e serviços, ao agregar o seu"carimbo" de excelência aos veículosusados anunciados, a fabricante acaba poratrair a solidariedade pela oferta doproduto/serviço e o ônus de fornecer a

qualidade legitimamente esperada peloconsumidor. Na verdade, a utilização demarca de renome - utilização essaconsentida, até por força legal (art. 3º, III, daLei 6.729/1979) - gera no consumidorlegítima expectativa de que o negócio égarantido pela montadora, razão pela qualdeve esta responder por eventuais desviospróprios dos negócios jurídicos celebradosnessa seara. REsp 1.365.609-SP,  Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 28/4/2015,DJe 25/5/2015. (Inf. n. 562).

10.  DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.RESPONSABILIDADE CIVIL DETRANSPORTADORA DE PASSAGEIROSE CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR. A sociedade empresária de transportecoletivo interestadual não deve serresponsabilizada pela partida do veículo,após parada obrigatória, sem a presençado viajante que, por sua culpa exclusiva,não compareceu para reembarque

mesmo após a chamada dospassageiros, sobretudo quando houve oembarque tempestivo dos demais. Defato, a responsabilidade decorrente docontrato de transporte é objetiva, nos termosdo art. 37, § 6º, da CF e dos arts. 14 e 22 doCDC, sendo atribuído ao transportador odever reparatório quando demonstrado onexo causal entre o defeito do serviço e oacidente de consumo (fato do serviço), doqual somente é passível de isenção quandohouver culpa exclusiva do consumidor ou

uma das causas excludentes deresponsabilidade genéricas - força maior oucaso fortuito (arts. 734 e 735 do CC). Deflui

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do contrato de transporte uma obrigação deresultado que incumbe ao transportadorlevar o transportado incólume ao seu destino

(art. 730 do CC), sendo certo que a cláusulade incolumidade se refere à garantia de quea concessionária de transporte iráempreender todos os esforços possíveis nosentido de isentar o consumidor de perigo ede dano à sua integridade física, mantendo-o em segurança durante todo o trajeto, até achegada ao destino final. Ademais, ao ladodo dever principal de transladar ospassageiros e suas bagagens até o local dedestino com cuidado, exatidão e presteza,há o transportador que observar os deveres

secundários de cumprir o itinerário ajustadoe o horário marcado, sob pena deresponsabilização pelo atraso ou pelamudança de trajeto. Assim, a mera partidado coletivo sem a presença do viajante nãopode ser equiparada automaticamente àfalha na prestação do serviço, decorrente daquebra da cláusula de incolumidade,devendo ser analisadas pelas instânciasordinárias as circunstâncias fáticas queenvolveram o evento, tais como, quantotempo o coletivo permaneceu na parada; seele partiu antes do tempo previsto ou não;qual o tempo de atraso do passageiro; e sehouve por parte do motorista a chamada dosviajantes para reembarque de formainequívoca. O dever de o consumidorcooperar para a normal execução docontrato de transporte é essencial, impondo-se-lhe, entre outras responsabilidades, quetambém esteja atento às diretivas domotorista em relação ao tempo de paradapara descanso, de modo a não prejudicar os

demais passageiros (art. 738 do CC). Nessalinha de intelecção, a pontualidade é não sóum dever do transportador como também dopassageiro. No caso, tendo havido ochamado, bem como o embarquetempestivo dos demais passageiros, conclui-se pela culpa exclusiva do passageirodecorrente da falta do dever decuidado. REsp 1.354.369-RJ,  Rel. Min. LuisFelipe Salomão, julgado em 5/5/2015, DJe25/5/2015. (Info 562).

11.  DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.DEVER DE UTILIZAÇÃO DO SISTEMA

BRAILLE POR INSTITUIÇÕESFINANCEIRAS. As instituições financeiras devem utilizar

o sistema braille na confecção doscontratos bancários de adesão e todosos demais documentos fundamentaispara a relação de consumo estabelecidacom indivíduo portador de deficiênciavisual. Pela ordem cronológica, destaca-se,de início, o art. 1º da Lei 4.169/1962, queoficializou as Convenções Braille para usona escrita e leitura dos cegos e o Código deContrações e Abreviaturas Braille.Posteriormente, a Lei 10.048/2000, aoconferir prioridade de atendimento às

pessoas portadoras de deficiência,textualmente impôs às instituiçõesfinanceiras a obrigação de conferirtratamento prioritário, e, por conseguinte,diferenciado, aos indivíduos que ostentemas aludidas restrições. A referida Lei, aoestabelecer normas gerais e critériosbásicos para a promoção da acessibilidadedas pessoas portadores de deficiência oucom mobilidade reduzida, bem explicitou anecessidade de supressão de todas asbarreiras e de obstáculos, em especial, nosmeios de comunicação. E, por fim, emrelação ao micro-sistema protetivo daspessoas portadoras de deficiência, cita-se àcolação o Decreto 6.949/2009, quepromulgou a Convenção Internacional sobreos Direitos das Pessoas com Deficiência eseu Protocolo Facultativo, cujo texto possuivalor equivalente ao de uma emendaconstitucional, e, por veicular direitos egarantias fundamentais do indivíduo, temaplicação concreta e imediata (art. 5º, §§ 1º

e 3º, da CF). Nesse ínterim, assinala-se quea convenção sob comento impôs aosEstados signatários a obrigação deassegurar o exercício pleno e equitativo detodos os direitos humanos e liberdadesfundamentais pelas pessoas portadoras dedeficiência, conferindo-lhes tratamentomaterialmente igualitário (diferenciado naproporção de sua desigualdade) e, portanto,não discriminatório, acessibilidade física ede comunicação e informação, inclusãosocial, autonomia e independência (na

medida do possível, naturalmente), eliberdade para fazer suas próprias escolhas,tudo a viabilizar a consecução do princípio

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maior da dignidade da pessoa humana.Especificamente sobre a barreira dacomunicação, a Convenção, é certo, referiu-

se expressamente ao método braille, semprejuízos de outras formas e sempre comatenção à denominada "adaptaçãorazoável", como forma de propiciar aosdeficientes visuais o efetivo acesso àsinformações. Nesses termos, valendo-sedas definições trazidas pelo Tratado, pode-se afirmar, com segurança, que a nãoutilização do método braille durante todo oajuste bancário levado a efeito com pessoaportadora de deficiência visual (providência,é certo, que não importa em gravame

desproporcional à instituição financeira),impedindo-a de exercer, em igualdade decondições com as demais pessoas, seusdireitos básicos de consumidor, a acirrar ainerente dificuldade de acesso às correlatasinformações, consubstancia, a um só tempo,intolerável discriminação por deficiência einobservância da almejada "adaptaçãorazoável". A utilização do método braille nosajustes bancários com pessoas portadorasde deficiência visual encontra lastro, ainda,indiscutivelmente, na legislaçãoconsumerista, que preconiza ser direitobásico do consumidor o fornecimento deinformação suficientemente adequada eclara do produto ou serviço oferecido,encargo, é certo, a ser observado nãoapenas por ocasião da celebração do ajuste,mas também durante toda a contratação. Nocaso do consumidor deficiente visual, aconsecução deste direito, no bojo de umcontrato bancário de adesão, somente éalcançada (de modo pleno, ressalta-se), por

meio da utilização do método braille, afacilitar, e mesmo a viabilizar, a integralcompreensão e reflexão acerca dascláusulas contratuais submetidas a suaapreciação, especialmente aquelas queimpliquem limitações de direito, assim comodos extratos mensais, dando conta dosserviços prestados, taxas cobradas etc .Ressalte-se que, considerada a magnitudedos direitos sob exame, de assentoconstitucional e legal, afigura-se de menor,ou sem qualquer relevância, o fato de a

Resolução 2.878/2001 do BACEN, em seuart. 12, exigir, sem prejuízo de outrasprovidências a critério das instituições

financeiras, que as contratações feitas comdeficientes visuais sejam precedidas deleitura, em voz alta, por terceiro, das

cláusulas contratuais, na presença detestemunhas. Este singelo procedimento, atoda evidência, afigura-se insuficiente,senão inócuo, ao fim que se destina. Defato, esse proceder não confere aoconsumidor deficiente visual, como seria derigor, pleno acesso às informações, paramelhor nortear as suas escolhas, bem comopara permitir seja aferido, durante toda acontratação, a correlação e mesmo acorreção entre os serviços efetivamenteprestados com o que restou pactuado (taxas

cobradas, condições, consectários deeventual inadimplemento etc .). Nessecontexto, é manifesta, ainda, a afronta aodireito à intimidade do consumidor deficientevisual que, para simples conferência acercada correção dos serviços prestados, oumesmo para mera obtenção de prestação decontas, deve se dirigir a agência bancária e,forçosamente, franquear a terceiros, oconteúdo de sua movimentação financeira.O simples envio mensal dos extratos embraille afigurar-se-ia providência suficiente erazoável para conferir ao cliente, nessascondições, tratamento digno e isonômico.Deve-se, pois, propiciar ao consumidornessas condições, não um tratamentoprivilegiado, mas sim diferenciado, namedida de sua desigualdade, a propiciar-lhes igualdade material de tratamento. É dese concluir, assim, que a obrigatoriedade deconfeccionar em braille os contratosbancários de adesão e todos os demaisdocumentos fundamentais para a relação de

consumo estabelecida com indivíduoportador de deficiência visual, além deencontrar esteio no ordenamento jurídiconacional, afigura-se absolutamente razoável,impondo à instituição financeira encargopróprio de sua atividade, adequado eproporcional à finalidade perseguida,consistente em atender ao direito deinformação do consumidor, indispensável àvalidade da contratação, e, em maiorextensão, ao princípio da dignidade dapessoa humana. REsp 1.315.822-RJ,  Rel.

Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em24/3/2015, DJe 16/4/2015. (Inf. n. 559)

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12.  DIREITO DO CONSUMIDOR.RESPONSABILIDADE CIVIL DAEMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E

TELÉGRAFOS (ECT) POR ASSALTOOCORRIDO NO INTERIOR DE BANCOPOSTAL. A ECT é responsável pelos danossofridos por consumidor que foiassaltado no interior de agência dosCorreios na qual é fornecido o serviço debanco postal. De início, cumpre esclarecerque a questão discutida no caso em análisenão é a mesma da enfrentada no julgamentodo REsp 1.224.236-RS (DJe 2/4/2014),ocasião na qual a Quarta Turma afastou a

incidência do art. 1º, § 1º, da Lei 7.102/1983no que toca às lotéricas, quando atuando nafunção de correspondente, ao fundamentode que, apesar de prestarem determinadosserviços bancários, não possuem naturezade instituição financeira. Naquele caso,analisava-se contenda entre casa lotérica ea Caixa Econômica Federal, na qual sediscutia a relação contratual (seguro) entreelas e a específica relação de permissão deserviço público, para fins de definir quemseria o responsável pela segurança doestabelecimento comercial (agênciapermissionária). Aqui, ao revés, discute-se aresponsabilidade na relaçãousuário/fornecedor pelo defeito nos serviçosprestados na atividade de banco postal,portanto durante a relação de consumoentre as partes, não havendo falar empermissão de serviço público. Posto isso,esclareça-se, por oportuno, que bancopostal (serviço financeiro postal especial),segundo o Banco Central, é a marca

utilizada pela Empresa Brasileira deCorreios e Telégrafos - ECT para a atuação,por meio de sua rede de atendimento, comocorrespondente contratado de umainstituição financeira. O objetivo dessaatividade é levar os serviços e produtosbancários mais elementares à população delocalidades desprovidas de referidosbenefícios, proporcionando a inclusão sociale acesso ao sistema financeiro, conferindomaior capilaridade ao atendimento bancário,nada mais sendo do que uma longa

manus  das instituições financeiras que nãoconseguem atender toda a sua demanda.Efetivamente, é inviável reconhecer a

incidência das especializadas regras desegurança previstas na Lei 7.102/1983 comrelação à atuação dos Correios,

notadamente a exigência de requisitos desegurança para funcionamento deestabelecimento que seja sede de instituiçãofinanceira, tais como: equipamentos defilmagem, vigilância ostensiva, artefatos queretardem a ação de criminosos, cabinablindada dentre outros. Todavia, não hácomo obstar a incidência das regrasprotetivas do CDC. Com efeito,as contratações tanto dos serviços postaiscomo dos serviços de banco postaloferecidos pelos Correios revelam a

existência de contrato de consumo, desdeque o usuário se qualifique como"destinatário final" do produto ou serviço.Observe-se, a propósito, que o fato de umaempresa se inserir na categoria deprestadora de serviço público ou deexploradora da atividade econômica, poróbvio, não a afasta das regras próprias doCDC, bastando que seja estabelecidarelação de consumo com seus usuários (art.3º). Nesse contexto, tanto as empresaspúblicas prestadoras de serviços públicos,assim como as exploradoras da atividadeeconômica, submetem-se ao regime deresponsabilidade civil objetiva, previsto noart. 14 do CDC. Dessarte, considerando aexistência de relação de consumo nahipótese, bem como o fato do serviço, restasaber se incide a excludente deresponsabilização pelo rompimento do nexocausal - fortuito externo. No caso do bancopostal, presta-se um serviço cuja naturezatraz, em sua essência, risco à segurança,

 justamente por tratar de atividade financeiracom guarda de valores e movimentação denumerário, além de diversas outrasatividades tipicamente bancárias, e que,apesar de o correspondente não ser juridicamente uma instituição financeira parafins de incidência do art. 1°, § 1°, da Lei7.102/1983, aos olhos do consumidor nadamais é do que um banco, como o próprionome revela: "banco postal". Deveras, éassente na jurisprudência do STJ que, nasdiscussões a respeito de assaltos dentro de

agências bancárias, sendo o risco inerente àatividade bancária, é a instituição financeiraque deve assumir o ônus desses infortúnios.

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É que os "roubos em agências bancáriassão eventos previsíveis, não caracterizandohipótese de força maior, capaz de elidir o

nexo de causalidade, requisito indispensávelao dever de indenizar" (REsp 1.093.617-PE,Quarta Turma, DJe 23/3/2009). Na hipótese,o serviço prestado pelos Correios foiinadequado e ineficiente, porque descumpriuo dever de segurança legitimamenteesperado pelo consumidor, não havendofalar em caso fortuito para fins de exclusãoda responsabilidade com rompimento darelação de causalidade, mas sim fortuitointerno, porquanto incide na proteção dosriscos esperados da atividade empresarial

desenvolvida. Ademais, como dito, aosolhos do usuário, inclusive em razão donome e da prática comercial, não se podeconcluir de outro modo. Com efeito, oconsumidor efetivamente crê que o bancopostal (correspondente bancário) nada maisé do que um banco com funcionamentodentro de agência dos Correios. De fato,dentro do seu poder de livremente contratare oferecer diversos tipos de serviços, aoagregar a atividade de correspondentebancário ao seu empreendimento, acaba-sepor criar risco inerente à própria atividadedas instituições financeiras, devendo porisso responder pelos danos que essa novaatribuição tenha gerado aos seusconsumidores, uma vez que atraiu para si oônus de fornecer a segurança legitimamenteesperada para esse tipo de negócio. REsp1.183.121-SC,  Rel. Min. Luis FelipeSalomão, julgado em 24/2/2015, DJe7/4/2015. (Inf. n. 559)