4
94 www.backstage.com.br REPORTAGEM está com força total Projeto Som na Praça Projeto esde a sua criação, o Som na Praça, movimento pelo fim do “jabá” e democratização da música brasileira, vem ga- nhando força significativa. Além de mostrar a grande diversi- dade musical existente na Bahia, mais precisamente em Vitó- ria da Conquista, onde o movimento nasceu, o Som na Praça trouxe mais vida à música para os artistas locais. Neste ano, na terceira edição da apresentação do projeto, a TVLocal36, uma emissora da Internet e a rede de TV Net Conquista transmi- tiram os shows. Além do grande público que prestigiou o evento pessoalmente, a audiência na web aumentou em 20%. D Danielle Kiffer [email protected] A terceira edição do projeto realizado em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, consolida proposta de democratização musical e levanta a bandeira contra o “jabá” A idéia do projeto Som na Praça surgiu um tanto quanto despretensiosa, no ano de 2006, quando a organização de uma das principais feiras de agronegócio da Bahia convi- dou o empresário Nozinho Quadros para montar um pe- queno palco para entreter o público do evento com apre- sentações de artistas locais. Diante da situação precária na qual se encontravam os músicos pela falta de emprego, Nozinho viu ali uma forma de abrir um espaço e mostrar a importância e a qualidade existentes na música de cada um. “Deixar de incentivar a cultura no geral é matar toda a revolução cultural Foto: Marcelo Guedes / Divulgação

Projeto Som na Praça a revolução cultural · missão ao vivo ou de gravação, micro-fones de vários modelos, entre outros. Hoje, ainda dentro do cardápio de opções da operadora

  • Upload
    trantu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Projeto Som na Praça a revolução cultural · missão ao vivo ou de gravação, micro-fones de vários modelos, entre outros. Hoje, ainda dentro do cardápio de opções da operadora

94 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

está com força total

ProjetoSom na Praça

Projeto

esde a sua criação, o Som na Praça, movimento pelo fimdo “jabá” e democratização da música brasileira, vem ga-

nhando força significativa. Além de mostrar a grande diversi-dade musical existente na Bahia, mais precisamente em Vitó-ria da Conquista, onde o movimento nasceu, o Som na Praçatrouxe mais vida à música para os artistas locais. Neste ano, naterceira edição da apresentação do projeto, a TVLocal36, umaemissora da Internet e a rede de TV Net Conquista transmi-tiram os shows. Além do grande público que prestigiou oevento pessoalmente, a audiência na web aumentou em 20%.

D

Danielle Kiffer

[email protected]

A terceira edição do projeto realizado em Vitória da Conquista, nosudoeste da Bahia, consolida proposta de democratização musical elevanta a bandeira contra o “jabá”

A idéia do projeto Som na Praça surgiu um tanto quantodespretensiosa, no ano de 2006, quando a organização deuma das principais feiras de agronegócio da Bahia convi-dou o empresário Nozinho Quadros para montar um pe-queno palco para entreter o público do evento com apre-sentações de artistas locais. Diante da situação precária naqual se encontravam os músicos pela falta de emprego,Nozinho viu ali uma forma de abrir um espaço e mostrar aimportância e a qualidade existentes na música de cadaum. “Deixar de incentivar a cultura no geral é matar toda

a revolução cultural

Fo

to: M

arc

elo

Gu

ed

es

/ D

ivu

lgação

Page 2: Projeto Som na Praça a revolução cultural · missão ao vivo ou de gravação, micro-fones de vários modelos, entre outros. Hoje, ainda dentro do cardápio de opções da operadora

www.backstage.com.br 95

REPORTAGEM

uma cadeia de indústrias, lojas, repre-sentantes, estúdios, gravadoras, rádioe TV. Dentro do projeto, descobri quemuitos dos músicos da minha cidadenão se conheciam e um dos motivosera que muitos já haviam desistidodos seus sonhos, pois não tinhamonde tocar”, lamenta o empresário.Os músicos abraçaram a idéia, abrin-do mão do cachê em troca dos CDs eDVDs e da divulgação, e o projeto to-mou corpo desde então. O sucesso depúblico aumentou e o número de atra-ções também. “A partir deste princí-pio, vimos que precisávamos tomaroutras atitudes e, já em 2007, fechamosuma parceria com a TVLocal36 (afili-ada da Rede NGT) e passamos a trans-mitir ao vivo os shows e gravar osDVDs durante os nove dias de evento.Chegamos a fazer cinco DVDs em umúnico dia, um trabalho muito cansati-vo, mas o resultado foi proveitoso”,afirma Nozinho.

DIVERSIDADE MUSICALEm 2008 a estrutura dobrou e umadas grandes características do Som naPraça foi a diversidade musical. Oevento contou com a participação deartistas conceituados como o TrioSotaque, grupo pernambucano de

música instrumental, por exemplo.Foram 25 shows apresentados duran-te nove dias, incluindo rock, sertane-jo, música instrumental e até músicaslusitanas em concertos de acordeons.O forrozeiro e deputado federal EdigarMão Branca (PV-BA), que também seapresentou, acredita que o projetoprecisa ser divulgado e seguido: “É ne-cessário que as pessoas tomem consci-ência e abracem essa iniciativa e ou-tras dessa mesma natureza”.

A terceira edição manteve o formatodentro da programação da exposiçãoagropecuária oferecendo aos artistasa gravação de CD e DVD individuais,além da coletânea oficial do evento.As novidades ficaram por conta dastransmissões em tempo real via In-ternet e na televisão por meio daRede NGT, que superou as expectati-vas de audiência, de acordo com o res-ponsável geral pela TVLocal36, Edu-ardo Rodrigues. Uma amostra dosefeitos desta investida pela democra-tização da música foi dada durante osshows do Som na Praça, que mais umavez atraiu um público cada vez maisinteressado em música de qualidade,abrindo portas para jovens artistascomo a cantora Mariana Macedo, quecanta música regional e o grupo Brin-cando de Cordas, cujo estilo musicalpredominante é o chorinho.“Agradeço pelo espaço proporciona-do pelo projeto Som na Praça, que re-presenta oportunidade e respeito.Todo artista tem o desejo de mostrarseu trabalho e eu me sinto satisfeita

Sistema de PA:

Line Array Staner LA-900

Subwoofers - BL 18

House Mix:

Console Behringer DDX 3216

GA 32112

Monitores de Palco:

Monitor Ativo BL AUDIO

Sistema Eartech BL AUDIO

Palco:

Amplificador de guitarra e baixo Meteoro

Microfones: Shure Beta e Super Lux

Sistema de Gravação:

Firewire M-AUDIO 1814 Nuendo 3

Equipamentos de áudio

Nozinho Quadros

Ely Pinto, artista que fez muito sucesso com o cover de Raul Seixas no evento

Page 3: Projeto Som na Praça a revolução cultural · missão ao vivo ou de gravação, micro-fones de vários modelos, entre outros. Hoje, ainda dentro do cardápio de opções da operadora

96 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

www.eletroquadros.com.br

Para saber mais

por poder apresentar aminha música”, revela acantora. De acordo como bandolinista do grupoBrincando de Cordas,Rafael Barreto, há gran-de importância em parti-cipar deste movimento.“Tocar aqui é muito bompara o grupo, pois repre-senta uma vitrine muito grande, somosvistos por muita gente de fora, além dapossibilidade da produção de DVD quetambém é muito importante”.

ÁUDIO E ILUMINAÇÃOA empresa responsável pela sonori-zação do evento foi a K Sonorização.De acordo com o técnico responsá-vel, o Naelson Brito “Katinguerin”,não houve muita dificuldade em fazera sonorização. “O principal empeci-lho em fazer a sonorização foi a cober-tura da feira com toldos muito baixos,tornando necessário colocar malhasembaixo de todos os toldos a fim de seobter um som homogêneo. Uma dascaracterísticas do projeto Som naPraça é não fazer correções em estú-dio do que foi gravado, portanto épreciso haver um grande sincronis-mo entre toda a equipe”, revela o téc-nico. Para a sonorização, foi utilizado

um sistema de PA Line Array daStaner LA-900, mesa digital DDX3216 da Behringer, amplificadores deguitarra e baixo da Meteoro e sistemade gravação Firewire M-AUDIO 1814Nuendo 3, entre outros equipamen-tos. Para a iluminação, o profissionalItamar Rocha, da Itamar Iluminações,buscou um bom aproveitamento deluz no espaço disponível no palco. 24PAR 64, 12 MAC 250, 16 PAR 36 e 24canais de dimmer foram alguns dosaparatos que ajudaram a dar mais bri-lho ao evento. “Agradeço especial-mente à empresa Browmaster, do téc-nico de áudio Edilton ‘Irmão’, quegentilmente cedeu alguns equipamen-tos de áudio e vídeo para a realização

do evento”, revela Nozinho.

A UNIÃO FAZ A FORÇAA adesão ao JABÁSTA, mo-vimento pelo fim do “jabá”liderado por artistas como B-Negão, foi outra inovaçãoque reforçou o caráter demo-crático do projeto, incenti-vando a união dos músicoscontra esta prática de privati-zação cultural. Para Luciano

Magno, guitarrista doTrio Sotaque, o Som naPraça é um exemplo.“Este projeto oferece, deforma democrática, umamaneira interessante delevar música de qualida-de ao público que não

teria acesso ao que é produzido porartistas independentes pelas viasconvencionais de comunicação. O‘jabá’ pode ser combatido a partir dainclusão de manifestos deste tipoem todas as cidades possíveis”. Se-gundo Nozinho, a mobilização na-

cional está apenas começando: “Eumandei o nosso projeto para o movimen-to e em breve vamos articular ações maisefetivas em todo o Brasil, porque as açõesque estão sendo feitas localmente vão re-percutir no país inteiro”, avisa.Após o sucesso de mais uma edição, oSom na Praça segue em sua versãoitinerante com apresentações no mai-or shopping center da região, além deoutras ações como a webradio quedisponibilizará as músicas dos artistasparticipantes e o site oficial do projeto.Por enquanto, as coletâneas em CD EDVD e a camiseta do Som na Praça como selo da campanha JABÁSTA podemser encontradas no site da Eletro-quadros, porque a revolução não podeparar. “Eu quero provar que é possívelcuidar do comercial sem ser predador. Ameta do Projeto Som na Praça é estimu-lar o músico a continuar sendo músico, afazer música de qualidade, a não desistirde seus sonhos, pois tentar privatizar amúsica é o mesmo que tentar represar omar”, finaliza Nozinho.

Page 4: Projeto Som na Praça a revolução cultural · missão ao vivo ou de gravação, micro-fones de vários modelos, entre outros. Hoje, ainda dentro do cardápio de opções da operadora

98 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

Eduardo RodriguesEntrevista

TVLocal36 é uma rede de TVna Internet que transmitiu ao

vivo e em tempo integral o projetoSom na Praça 2008. Eduardo Ro-drigues, responsável geral da emis-sora, explicou para a Backstagecomo foi este processo.

Revista Backstage – Como e quan-

do começou a TV local?

Eduardo Rodrigues – A TVLocal36surgiu a partir de um sonho que umgrupo de pessoas tinha em “democrati-zar” a informação e da oportunidadeque a operadora local de TV por assina-tura, a NET, nos proporcionou. Mon-tamos a TV com equipamentos em-prestados de amigos: a câmera sem usode um, vídeo cassete de outro, trans-missor que um amigo não usava, mui-tas idéias na cabeça e transmitimosnosso primeiro evento: a micareta dacidade em 2002. A cidade até entãonunca havia experimentado se ver naTV da forma como apresentamos.A partir daí, foi concedido o canal le-galmente na operadora de TV por as-sinatura e então trabalhamos commuita força para realizar o sonho. Jáconseguimos, com muito empenho –incluímos aí a parceria com o projetoSom na Praça – comprar todos osequipamentos necessários para a ma-nutenção da TV, que conta com uni-

dade de externa ao vivo, steadycam,grua, câmeras profissionais para trans-missão ao vivo ou de gravação, micro-fones de vários modelos, entre outros.Hoje, ainda dentro do cardápio deopções da operadora NET em nossacidade, temos uma excelente parceriacom uma renomada faculdade da ci-dade, chamada FTC – Faculdade deTecnologia e Ciência, além de repe-tirmos o sinal de nossa grande parcei-ra, a Rede NGT de São Paulo, quetransmitiu a coletânea do Som naPraça várias vezes em sua grade para oBrasil inteiro, inclusive em canalaberto para várias cidades do país.

Backstage – Vocês transmitiram o Som

na Praça 2008 ao vivo. Foi a primeira

vez que a TV fez uma transmissão deste

tipo? Quais foram os procedimentos

técnicos para garantir o áudio e ima-

gem do evento?

Eduardo – A TVLocal36 foi pioneira emtransmissões ao vivo via Internet em Vi-tória da Conquista. Já cobrimos várioseventos, com interação dos internautas etelespectadores. Já o Som na Praça, para aTVLocal36, foi um marco importantíssi-mo em nossas transmissões, já que oidealizador do evento, Nozinho Quadros,pensa verdadeiramente em difundir acultura e quebrar o estigma de que, “paraaparecer na mídia, tem que pagar”.

Os procedimentos técnicos forammuito simples. No mesmo sinal quevai para os assinantes da NET em Vi-tória da Conquista no canal 36, utili-zamos duas câmeras de vídeo com cor-tes ao vivo e nos “plugamos” direto namesa de som do evento. Nosso site(www.tvlocal36.com.br) já tem estru-tura para transmissões ao vivo, assim,conseguimos enviar áudio e vídeo parao planeta, via Internet, com qualidademuito boa. E o mais interessante é quenão precisamos de comunicadorespara o trabalho, tão fluente foi asintonia de nossos profissionais, docaboman ao diretor de imagens.

Backstage - Quantas pessoas tiveram

acesso à página na Internet na época?

Em quanto aumentou a audiência?

Eduardo – Temos uma média, em trans-missões de eventos, de 2.500 acessos di-ários e o Som na Praça, sem divulgaçãoem massa, vale ressaltar, aumentou emmais de 20% esse acesso. Pessoas domundo inteiro nos assistiram.

Backstage – Como fizeram para

garantir a qualidade da transmis-

são, devido ao aumento de acessos

na ocasião?

Eduardo – Pagamos um servidor destreamer que nos garante acessoilimitado.

A