23

PROJETOS EDUCACIONAIS FINANCIADOS COM RECURSOS … · Autor: José Carlos da Costa1 Orientador: Andréa Barbosa Gouveia2 Resumo Este artigo analisa a presença dos recursos federais,

Embed Size (px)

Citation preview

1

PROJETOS EDUCACIONAIS FINANCIADOS COM RECURSOS FEDERAIS:

Percepções, dificuldades e possibilidades a partir do olhar dos diretores

Autor: José Carlos da Costa1

Orientador: Andréa Barbosa Gouveia2

Resumo

Este artigo analisa a presença dos recursos federais, oriundos do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE, sua importância e desafios para a gestão escolar, no contexto das escolas públicas estaduais da região do município de Pinhais, no Estado do Paraná. Apresenta a relação existente entre a União e as escolas do Sistema Estadual de Ensino, sob a coordenação e supervisão da Secretaria Estadual de Educação – SEED, destacando a responsabilidade da União, na relação com o ente federado estadual e as escolas, na promoção de estratégias de descentralização de recursos, através do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação – FNDE. Enfoca a concepção de autonomia ligada à questão da descentralização administrativa e do financiamento da educação. Destaca a percepção do gestor escolar na utilização dos recursos federais, em especial à questão da autonomia e sua relação com a dinâmica operacional da escola. Faz um paralelo entre as verbas estaduais, disponibilizadas através do Fundo Rotativo, e as verbas federais oriundas do Programa PDDE, destacando o aumento no volume de recursos federais direcionados para atividades e projetos educacionais definidos pelo FNDE.

Palavras-chave: Gestão de recursos federais; Programa Dinheiro Direto na Escola -

PDDE; Financiamento de projetos educacionais.

1 Especialização em Magistério Superior (IBPEX), graduado em Administração de Empresas pela FESP-PR, é

professor no Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato em Pinhais-PR. 2Doutora em Educação (USP), graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR, Curitiba), professora –

Setor de Educação (UFPR).

2

1 Introdução

Este artigo apresenta a importância e os desafios para os gestores das

escolas estaduais do município de Pinhais-PR, região metropolitana de Curitiba, na

gestão e utilização dos recursos federais, oriundos do Fundo Nacional para o

Desenvolvimento da Educação – FNDE, através do Programa Dinheiro Direto na

Escola – PDDE.

Busca visualizar o Sistema Nacional de Educação como um sistema

organizado de acordo com diretrizes e sobre bases comuns, sendo composto pelos

entes federativos e tendo como ente articulador a União (SAVIANI, 2010, p. 769-

787). Destaca a função redistributiva e supletiva da União, prevista no Art. 211 da

Constituição Federal, promovendo a descentralização dos recursos, com o objetivo

de garantir um padrão mínimo de qualidade no sistema de educação sob a

coordenação e supervisão destes entes federados.

Apresenta o Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação – FNDE

como um instrumento do ente federativo União na promoção dessa descentralização

de recursos. Destaca a importância do Programa PDDE e seus desafios na função

redistributiva e supletiva da União, enfocando a autonomia na gestão dos recursos

como uma autonomia com limitações impostas pela legislação, destacando o fato de

que os recursos vêm com destinação já definidas para a sua utilização.

Em sua parte final, o artigo faz uma comparação entre verbas estaduais e

verbas federais, com dados estatísticos de um período de cinco anos, destacando

através de gráficos comparativos que houve um aumento significativo no aporte de

recursos federais, em especial nos anos de 2010 e 2011 deste período. Demonstra

que, apesar dos atrasos na liberação dos recursos e das limitações impostas pela

legislação, com consequente restrição na autonomia do uso destes recursos pelos

gestores escolares, essas verbas contribuem para o desenvolvimento de projetos

educacionais com melhorias significativas na qualidade da educação nas escolas

enfocadas nesta pesquisa.

3

2 Referencial teórico

2.1 A federação brasileira e a organização do sistema de ensino

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em seu título IV, traz a expressão “Da

Organização da Educação Nacional”. Neste título, define-se a incumbência de cada

ente federado: União (Art. 9º), Estados (Art.10) e Municípios (Art.11). Segundo

Saviani (2010), a articulação entre esses entes federativos requer a construção e a

manutenção de um Sistema Nacional de Educação.

Em seu artigo, o autor apresenta o conceito de sistema nacional de

educação e sua relação de implicação com a LDB:

Do ponto de vista lógico, parece evidente a relação de implicação entre os

conceitos de “lei de diretrizes e bases da educação nacional” e de “sistema

nacional de educação”. Quando a Constituição determina que a União

estabeleça as diretrizes e bases da educação nacional, obviamente ela

está pretendendo com isso que a educação, em todo o território do país,

seja organizada segundo diretrizes comuns e sobre bases também

comuns. E a organização educacional com essas características é o que

se chama “Sistema Nacional de Educação”. (SAVIANI, 2010, p. 769-787).

Com isso, Saviani (2010) afirma que a “LDB implica o Sistema”, não

havendo, dessa forma, uma incompatibilidade com o regime federativo. Com base

neste raciocínio lógico, podemos afirmar que o Sistema Nacional de Educação é

composto pelos entes federativos denominados de União, Estados e Municípios,

tendo a União como ente articulador para assegurar interesses e necessidades

comuns; sendo assim, a União deve representar e administrar o que há de comum

entre eles.

Portanto, cabe à União: coordenar a política de educação em todo o território

nacional e prestar assistência técnica através do Ministério da Educação – MEC,

estabelecer normas, realizar a avaliação do rendimento escolar no ensino

fundamental, médio e superior e elaborar, em conjunto com os entes da federação, o

Plano Nacional de Educação – PNE. Fica, também, com a responsabilidade de

prestar assistência financeira, através da autarquia federal vinculada ao MEC, o

4

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, abrangendo Estados,

Distrito Federal e municípios.

Aos Estados da federação cabe: colaborar com os municípios na oferta de

ensino fundamental e manter, com prioridade, o ensino médio. É de sua

responsabilidade, também, baixar normas complementares, supervisionar e avaliar

suas instituições de ensino, manter atualizada a vida legal dos cursos das

instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino

mediante a autorização, reconhecimento e credenciamento.

E, aos Municípios cabe: manter a educação infantil, garantindo, com

prioridade, o ensino fundamental, bem como, baixar normas complementares,

organizar e supervisionar o seu sistema de ensino através de órgãos e instituições

oficiais.

Este artigo procura enfocar a relação existente entre a União e as escolas do

Sistema Estadual de Ensino, sob a coordenação e supervisão da Secretaria

Estadual de Educação – SEED. Destaca a incumbência da União em sua função

redistributiva e supletiva prevista no Art. 211 da Constituição Federal, no tocante à

responsabilidade em diminuir as distorções existentes entre as diferentes

oportunidades educacionais e garantir um padrão mínimo de qualidade no sistema

de educação dos entes federados. Apresenta o Fundo Nacional para o

Desenvolvimento da Educação – FNDE, como um instrumento, através do qual a

União promove a descentralização de recursos mediante as ações do Programa

Dinheiro Direto na Escola – PDDE, colocando, dessa forma, em prática a sua função

redistributiva e supletiva.

2.2 Presença de recursos federais nas escolas: sua importância e desafios

O MEC, através do FNDE, iniciou na década de 90 um processo de

descentralização na administração dos recursos para o setor da educação com a

implantação do programa PDDE:

Criado em 1995, o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) tem por

finalidade prestar assistência financeira, em caráter suplementar, às

escolas públicas da educação básica das redes estaduais, municipais e do

Distrito Federal e às escolas privadas de educação especial mantidas por

entidades sem fins lucrativos, registradas no Conselho Nacional de

5

Assistência Social (CNAS) como beneficentes de assistência social, ou

outras similares de atendimento direto e gratuito ao público. (MEC/FNDE,

2011).

Segundo Cruz (2009), o programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE3 teve

início no ano de 1995, na primeira gestão do presidente Fernando Henrique

Cardoso, com outra denominação, assumindo somente no ano de 1998 esta

denominação atual.

A importância da presença desses recursos nas escolas, está focada na

promoção da descentralização dos recursos, na celeridade aos procedimentos

operacionais - para que não se percam em trâmites burocráticos - e na garantia de

maior autonomia administrativa para as escolas. (CRUZ, 2009, p. 223-225).

O grande desafio do FNDE foi o de garantir o acesso equitativo, por parte

das escolas, aos recursos disponíveis, possibilitando, dessa forma, diminuir as

desigualdades no recebimento de recursos que ocorria entre os entes federados e

proporcionar condições para a melhoria da qualidade na educação ofertada pelas

escolas públicas.

Em 2004, através da Resolução nº 10/04 do Conselho Deliberativo do

FNDE, foi introduzida uma mudança substancial no programa, mediante a inserção

de um fator de correção dos valores do PDDE. Esta mudança procurou reduzir a

defasagem entre os valores destinados às escolas com diferentes quantidades de

alunos matriculados. (CRUZ, 2009, p. 225). Portanto, a descentralização dos

recursos federais trouxe uma presença significativa de recursos financeiros para as

escolas, cabendo agora ao FNDE garantir e manter o acesso equitativo a esses

recursos e a efetivação de uma maior autonomia de gestão financeira na rede

pública de ensino.

2.3 A questão da autonomia de gestão financeira na escola pública

Como instrumento da política de descentralização de recursos, o PDDE busca

possibilitar que a comunidade tome parte na gestão das políticas públicas e do

3 Segundo Cruz (2009), o programa PDDE teve início com a denominação de Programa de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino – PMDE, na primeira gestão do presidente FHC, através da Resolução nº 12/95 - CD/FNDE, que aprovou o manual de procedimentos operacionais relativos às transferências de recursos federais às escolas das redes estaduais e municipais de ensino fundamental.

6

exercício do controle social, pois o repasse financeiro é realizado pelo FNDE,

mediante crédito do dinheiro direto em conta bancária específica da unidade

executora (UEx)4.

Dessa forma, mediante a implantação do PDDE, o FNDE pretende promover

o fortalecimento da autonomia de gestão financeira e a execução da política de

descentralização de recursos financeiros federais nas escolas, com vistas à

consecução de seus fins sociais. O princípio redistributivo é aplicado no valor

repassado com o objetivo de reduzir as desigualdades socio-educacionais que

normalmente ocorrem entre as regiões brasileiras.

Magna França (2005), analisando a questão da participação da comunidade

no processo da gestão dos recursos públicos na escola, afirma que:

O desenvolvimento de uma política de reforço da autonomia das escolas,

mais do que “regulamentar” o seu exercício, deve criar as condições para

que ela seja “construída” em cada escola, de acordo com as

especificidades locais e no respeito aos princípios e objetivos a que se

propõe o sistema público nacional de ensino. Requer, ainda, que seja

oferecido aos educadores e representantes da comunidade o acesso às

informações necessárias à participação no processo de gestão, o assento

de colegiados, para que os processos decisórios sejam pautados em

decisões coletivas e transparentes.” (FRANÇA, 2005. p.147).

No Estado do Paraná, a entidade representativa da comunidade escolar

Unidade Executora – UEx, é a Associação de Pais, Mestres e Funcionários – APMF,

que assume a responsabilidade de receber, executar e prestar contas dos recursos

junto ao FNDE, via Núcleo Regional de Educação/Secretaria de Estado da

Educação. Dessa forma, em tese, a UEx denominada APMF, sendo uma entidade

representativa dos órgãos colegiados da comunidade escolar, deveria oportunizar a

participação da comunidade no processo da gestão dos recursos públicos na escola.

4O FNDE define a Unidade Executora como: Entidade representativa da comunidade escolar (Associação de Pais e Mestres,

Caixa Escolar, Conselho Escolar, ou similar), responsável pelo recebimento, execução e prestação de contas dos recursos. Esta entidade possibilita a concretização da política governamental de descentralização dos recursos públicos destinados à escola e do exercício do controle social das ações implementadas por meio do PDDE. (MEC/FNDE, 2011).

7

2.3.1 - O conceito de autonomia

O dicionário Aurélio da Língua Portuguesa traz em sua redação o seguinte

significado de autonomia: “faculdade de se governar por si mesmo, direito ou

faculdade que tem uma nação de se reger por leis próprias”. Trazendo esta ideia

para o campo educacional, uma escola autônoma seria aquela que governa a si

própria.

A legislação brasileira na área educacional não contempla esta ideia de

autonomia plena, mas sim uma concepção de autonomia ligada à questão da

descentralização administrativa e de financiamento.

A Lei 9.394 (BRASIL, 1996) – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), em seu artigo 15, estabelece: “Os sistemas de ensino assegurarão

às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos

graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas

as normas gerais de direito financeiro público.” Ao utilizar o termo “progressivos

graus de autonomia”, ela indica que esta autonomia não será exercida de forma

plena no âmbito das unidades escolares.

Martins (2002, p. 47) reforça esta ideia sobre os limites da autonomia na

gestão nas escolas:

Nesse sentido, a autogestão de escolas aparece como a possibilidade

efetiva de se romper com a tradição centralizada, burocratizada e

antidemocrática de administração, planejamento e avaliação no âmbito

educacional. No entanto, via de regra, as experiências autogestionárias em

educação esbarram nos limites colocados pela normatização externa da

própria área e pelas relações sociais gerais que impregnam a dinâmica de

funcionamento das sociedades. Assim, as escolas não podem ser

completamente autônomas, pois uma autogestão que se refira não

somente às técnicas e formas de ensino, mas também aos objetivos de

ensino, não parece possível porque, se queira ou não a escola continua

sendo uma instituição a serviço de fins sociais por amplo conjunto de

fatores.

8

Esta ideia de que as escolas não podem ser completamente autônomas,

como expõe Martins em seu texto, é reforçada por Costa (1997, p. 22), referindo-se

à questão da autonomia na escola: “o reconhecimento ou a construção de sua

identidade institucional; (...) Pressupõe, também, a ampliação da liberdade de

gestão de recursos materiais, humanos e financeiros, bem como o aumento de

controle sobre a aplicação destes últimos”.

Portanto, com relação à gestão financeira nas escolas, os gestores da escola

pública terão que exercer a sua função focados na visão de uma autonomia limitada

estabelecida na legislação e o seu cumprimento no momento da prestação de

contas. O Manual Operacional da SEED/CAF, que delimita em que tipo de despesas

os recursos deverão ser aplicados, especificando as despesas de custeio e de

capital, e as Resoluções do Conselho Deliberativo do FNDE, darão o suporte técnico

e legal para que o gestor escolar possa aplicar os recursos oriundos do Programa

Dinheiro Direto na Escola – PDDE, de acordo com o princípio da legalidade,

evitando, com isso, problemas na prestação de contas destes recursos recebidos

junto ao FNDE.

Esta autonomia da escola, mesmo sendo relativa, traz a possibilidade de a

escola pública gerir recursos com vinculação ao seu projeto pedagógico, planejando

e executando projetos educacionais, para atender a realidade e especificidade da

educação de cada região.

Para que a prerrogativa da gestão deste recurso não fique apenas com a

figura da Uex (APMF), deve-se incentivar e fortalecer a gestão democrática através

de órgão colegiados, com a representação de todos os segmentos da comunidade

escolar.

Cabe, então, ao gestor escolar, promover a participação de outros segmentos

da comunidade escolar na gestão destes recursos, através de instrumentos de

democratização como, por exemplo, Conselho Escolar e Grêmio Estudantil, dando

condições para que as opiniões e sugestões dos membros destes colegiados sejam

ouvidas e respeitadas.

O princípio da responsabilidade pela administração de dinheiro público foi

estabelecido na Constituição Federal de 1988, no art. 70, Parágrafo Único: “Prestará

contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade,

guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a

9

União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigação de natureza

pecuniária”. 5

O gestor escolar deve estar ciente de que, uma vez descentralizado, o

recurso estará sob sua responsabilidade a partir da liberação, durante a execução e

sujeito à prestação de contas no prazo estabelecido pelo FNDE.

3 Os recursos nas escolas estaduais paranaenses: caso estudado

3.1 Tipos de recursos que as escolas recebem

O FNDE tem como objetivo prestar a assistência financeira às escolas

públicas do Ensino Fundamental das diferentes redes de ensino no Brasil. O PDDE

promoveu, com a autonomia de gestão financeira, as possibilidades de mudanças

importantes nos espaços escolares e nas práticas inovadoras de ensino,

colaborando, dessa forma, para o exercício da tão reivindicada autonomia

pedagógica na condução do processo ensino-aprendizagem.

Mediante crédito do PDDE em conta bancária específica da unidade

executora (UEx), o FNDE promove a descentralização dos recursos públicos

destinados à escola, como relata Adrião e Peroni:

Tendo em vista as alterações no campo da gestão escolar propostas

explícita ou implicitamente pelo Programa, destaca-se a introdução e/ou o

fortalecimento, a depender do caso pesquisado, de uma nova relação

entre a administração pública e uma instituição de natureza privada, como

é o caso do modelo de UEx proposto. No entanto, em todos os casos

analisados, na visão dos segmentos escolares, isso não se constitui em

questão relevante, uma vez que a preocupação de gestores e educadores

escolares se centra na oportunidade de perceber diretamente os recursos.

Tal posição reforça, de um lado, a relevância que políticas

descentralizadoras têm para aqueles que vivenciam o cotidiano escolar, na

5Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998, Art.12, publicada no DOU de

05/06/1988.

10

medida em que se constituem como pré-condição para o exercício da

reivindicada autonomia pedagógica, além de, no caso específico do PDDE,

desempenhar função relevante no conjunto dos recursos escolares.

(ADRIÃO e PERONI, 2006, p.363)

Os principais tipos de recursos do Programa PDDE são quatro: a ação Mais

Educação, também denominada de “Educação Integral”, a ação Funcionamento

das Escolas nos Finais de Semana – FEFS, também denominada de “Escola

Aberta”, a ação Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE Escola) e a ação Ensino

Médio Inovador.

A ação Mais Educação (Educação Integral) foi constituída como uma

estratégia do governo federal para a ampliação da jornada escolar na perspectiva de

implantar a Educação Integral no Brasil. Foi instituída pela Portaria Interministerial nº

17/2007 e pelo Decreto n° 7.083, de 27 de janeiro de 2010, e faz parte das ações do

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Prioritariamente esta ação atenderá as escolas de baixo IDEB, localizadas

nas capitais e regiões metropolitanas. Outras grandes cidades, que se encontram

em situações de vulnerabilidade social, também serão contempladas com esta ação

do governo federal, mediante o aporte de recursos disponibilizados pelo

FNDE/PDDE.

De acordo com a Resolução nº 20/2011 do FNDE, estes recursos deverão ser

empregados:

I – na aquisição de materiais permanentes e de consumo e na contratação

de serviços necessários às atividades de Educação Integral;

II - no ressarcimento de despesas com transporte e alimentação dos

monitores responsáveis pelo desenvolvimento das atividades de Educação

Integral. (MEC/FNDE, 2011).

Os objetivos do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação Básica

(MEC/SEB) com este programa são grandes: a meta para 2014 é estar presente em

32.000 escolas, alcançando, dessa forma, todo o território nacional.

Esta ação do PDDE abre um leque de possibilidades para o desenvolvimento

das múltiplas dimensões do ser humano, conforme a visão do Ministério da

Educação e da Secretaria de Educação Básica:

11

Essa estratégia promove a ampliação de tempos, espaços, oportunidades

educativas e o compartilhamento da tarefa de educar entre os profissionais

da educação e de outras áreas, as famílias e diferentes atores sociais, sob

a coordenação da escola com seus gestores, professores, estudantes e

funcionários. Isso porque a Educação Integral, associada ao processo de

escolarização, pressupõe a aprendizagem conectada à vida e ao universo

de interesses e de possibilidades das crianças, adolescentes e jovens. O

ideal da Educação Integral traduz a compreensão do direito de aprender

como inerente ao direito à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à

dignidade e à convivência familiar e comunitária e como condição para o

próprio desenvolvimento de uma sociedade republicana e democrática. Por

meio da Educação Integral, se reconhece as múltiplas dimensões do ser

humano e a peculiaridade do desenvolvimento de crianças, adolescentes e

jovens. (MEC/SEB, 2011, p.6).

Para que estas possibilidades fossem efetivamente concretizadas, as

escolas deveriam receber um aporte suficiente de recursos para a ampliação e

manutenção de seus espaços físicos e ter à sua disposição profissionais com

formação e especialização para esta modalidade de ensino.

O ideal seria que a escola atendesse a totalidade de seus estudantes, mas

como uma grande parte das unidades escolares ainda não tem esta infraestrutura

necessária para o atendimento total de seus estudantes, nesta modalidade de

ensino, o programa traz a possibilidade da opção pelo atendimento parcial, definindo

em diálogo com a comunidade, e em consonância com os critérios do programa,

quantos e quais alunos participarão. Neste caso, a escola deverá observar os

critérios recomendados pelo Programa Mais Educação para a escolha dos

estudantes, quais sejam:

– estudantes que estão em situação de risco e vulnerabilidade social;

– estudantes que congregam, lideram, incentivam e influenciam

positivamente seus colegas;

− estudantes em defasagem ano escolar/idade;

12

− estudantes dos anos finais da 1ª fase do ensino fundamental (4ªsérie /

5ºano) e da 2ª fase do ensino fundamental (8ª série/ 9º ano), entre os quais

há maior saída extemporânea;

− estudantes de séries/anos nos quais são detectados índices de saída

extemporânea e/ou repetência;

− estudantes que demonstram interesse em estar na escola por mais

tempo;

− estudantes cujas famílias demonstram interesse na ampliação de sua

permanência na escola. (MEC/SEB, 2011, p.14).

O mínimo de alunos estabelecido pelo programa é de 100 estudantes e,

desde que haja disponibilidade de espaço físico, a escola poderá atender a

totalidade de seus estudantes inscritos no programa.

É notório que esta ação do PDDE se constitui em um expressivo avanço em

termos de educação no Brasil. O ideal seria que fosse uma implantação permanente

dessa modalidade de educação e não apenas uma ação de um programa do

Ministério da Educação via FNDE/PDDE. Dessa forma, o governo federal assumiria

um compromisso decisivo, com um programa efetivo, que viesse ampliar e manter

os espaços físicos necessários para esta modalidade de ensino nas unidades

escolares. Com isso, poderia induzir, Estados e Municípios ao cumprimento de suas

atribuições, possibilitando, inclusive, a contratação de pessoal com formação e

especialização adequadas, através de concursos.

Nesta ação, o programa PDDE atendeu, no ano de 2010, em todo o território

nacional, 9.660 escolas, beneficiando 5.993.270 alunos com um montante de

recursos da ordem de R$ 373.492.262,65.

Outro recurso do PDDE, destinado às escolas de Educação Básica que

ofertam os anos finais do Ensino Fundamental e/ou Médio e que estão localizadas

em áreas de vulnerabilidade social, é a ação denominada Funcionamento das

Escolas nos Finais de Semana – FEFS. Também conhecida como “Escola

Aberta”, esta ação é voltada para a oferta de atividades educativas e recreativas,

nos finais de semana, com atividades esportivas, culturais, de inclusão digital, de

geração de renda e formação para a cidadania, nas escolas públicas de ensino

fundamental ou médio dos Estados, Distrito Federal e Municípios. As escolas são

13

selecionadas de acordo com critérios definidos pela Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/MEC).

As escolas, que optarem pela implantação desta ação, devem observar as

seguintes orientações do FNDE, que estão no Manual Operacional do Programa

Escola Aberta:

As atividades do Programa Escola Aberta poderão ser desenvolvidas aos

sábados e/ou domingos, de acordo com as características de cada

unidade escolar e sua comunidade no entorno. A escolha dos dias de

funcionamento, o tempo no programa e o número de alunos matriculados

compõem os fatores que determinam o valor do repasse a ser realizado

pelo PDDE/FEFS. O montante de recursos para a escola será liberado em

01 (uma) parcela anual, destinada ao desenvolvimento do Programa a

partir do mês do repasse em 2010 até o mês de junho do ano seguinte,

visto que as ações acontecem sem interrupção, mesmo durante os

períodos de recesso escolar. (MEC/FNDE – Manual Operacional do

Programa Escola Aberta, 2011, p.3).

Os recursos provenientes desta ação devem ser aplicados na compra de

material permanente (capital)6, de material de consumo (custeio)7 e nas despesas

com transporte e alimentação dos responsáveis pelas atividades. Estes recursos

serão repassados por intermédio de suas UEx, para a realização das atividades

educativas e recreativas que vão além da carga horária prevista na educação formal.

Nesta ação, o programa PDDE atendeu no ano de 2010, em todo o território

nacional, 2.223 escolas. Foram beneficiados 1.893.594 alunos e o montante de

recursos transferidos foi da ordem de R$ 38.071.995,00.

Outra ação do PDDE é o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE

Escola), que vem somar às possibilidades deste programa, visando disponibilizar

aporte financeiro para o desenvolvimento da Educação Básica. O objetivo desta

6CAPITAL – destina-se à aquisição de material permanente; aquele que, em razão de seu uso corrente, não

perde a sua identidade física e/ou tem uma durabilidade superior a dois anos. (Ex. aquisição de equipamentos em geral, carteira escolar, quadro-negro, fogão, geladeira etc.) 7CUSTEIO - destina-se à contratação de serviços ou aquisição de materiais de consumo; aquele que, em razão

de seu uso corrente e da definição da Lei n. 4.320/64, perde normalmente sua identidade física e/ou tem sua utilização limitada a dois anos (Ex. pagamento de mão de obra para pequenos consertos na rede elétrica, hidráulica, serviço de jardinagem, conserto de equipamentos, aquisição de material didático, de expediente etc.).

14

ação é melhorar a gestão nas escolas públicas de educação básica que não tiveram

um desempenho satisfatório no IDEB. Receberão os recursos as escolas das redes

estaduais e municipais que aderiram ao Plano de Metas “Compromisso Todos pela

Educação” e também elaboraram o planejamento da implementação do PDE Escola

no SIMEC (Sistema Integrado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Ministério

da Educação).

Prioritariamente os recursos deverão ser utilizados em projetos de

adaptações arquitetônicas e estruturais tendo em vista a instalação e funcionamento

de laboratórios de informática e construções ou adaptações de vias que garantam a

acessibilidade aos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida.

De acordo com o Ministério da Educação, as perspectivas são boas e o índice

evolui em cada avaliação realizada. A meta do MEC é alcançar uma média do Ideb

maior que 6,0 no ano de 2022, conforme informado em sua página na Web:

A média nacional do Ideb em 2005 foi 3,8 nos primeiros anos do ensino

fundamental. Em 2007, essa nota subiu para 4,2, ultrapassando as

projeções, que indicavam um crescimento para 3,9 nesse período. O

indicador já alcançou a meta para 2009. Se o ritmo for mantido, o Brasil

chegará a uma média superior a 6,0 em 2022. É o mesmo que dizer que

teremos uma educação compatível com países de primeiro mundo antes

do previsto. (MEC, Ideb, 2011).

O PDE Escola, que faz parte de um conjunto de estratégias previsto no Plano

de Desenvolvimento da Educação (PDE), tem como propósito e objetivo, dar um

aporte de recursos necessários para que as escolas de educação básica, em todas

as regiões brasileiras, possam melhorar o seu IDEB8.

Nesta ação, o programa PDDE atendeu no ano de 2010, em todo o território

nacional, 16.643 escolas. Foram beneficiados 10.007.894 alunos e o montante de

recursos transferidos foi da ordem de R$ 317.985.000,00.

8Conforme informações disponíveis no portal do MEC: “Em 2007, foi criado o Índice de Desenvolvimento

da Educação Básica (Ideb ). O indicador, que mede a qualidade da educação, foi pensado para facilitar o entendimento de todos e estabelecido numa escala que vai de zero a dez. A partir deste instrumento, o Ministério da Educação traçou metas de desempenho bianuais para cada escola e cada rede até 2022. (MEC, Ideb, 2011).

15

Finalizando este item sobre os recursos do programa PDDE, citamos a ação

Ensino médio inovador. Esta ação do PDDE é voltada para escolas públicas

estaduais e distritais de ensino médio regular. Os recursos para esta ação do PDDE

deverão ser aplicados no desenvolvimento de práticas inovadoras no ensino médio

regular, conforme definidas nos Planos de Ações Pedagógicas (PAP) e de acordo

com as instruções do Documento Orientador9 do programa:

O Programa Ensino Médio Inovador surgiu como uma forma de incentivar

as redes estaduais de educação a criar iniciativas inovadoras para o

ensino médio. A intenção é estimular as redes estaduais de educação a

pensar novas soluções que diversifiquem os currículos com atividades

integradoras, a partir dos eixos trabalho, ciência, tecnologia e cultura, para

melhorar a qualidade da educação oferecida nessa fase de ensino e torná-

la mais atraente. (MEC/SEB, 2011).

Para alcançar este objetivo, algumas metas deverão ser executadas visando

melhorar os ambientes escolares, as atividades gerenciais e as práticas docentes.

As orientações do FNDE para a utilização destes recursos estão definidas no

§ 2º do Art. 11 da Resolução nº 3/2010 do FNDE e deverão ser empregados em:

I – materiais de consumo voltados às atividades de gestão administrativa e didático-pedagógicas; II - locação de infraestrutura (espaços físicos, transporte, etc.), despesas com alimentação, hospedagem e outras relacionadas à realização de eventos; III - locação de equipamentos e contratação de serviços de sonorização, mídia, fotografia e informática; IV - obras de reparos, manutenção e pequenas adequações prediais, para melhoria dos ambientes escolares; V - contratação de serviços especializados para as práticas docentes; VI - aquisição de materiais didático-pedagógicos para o desenvolvimento das atividades de ensino e aperfeiçoamento profissional dos gestores e professores; VII - aquisição de equipamentos para laboratórios de ciências, informática, sistema de rádio-escola, cinema, mídia, entre outros, visando fortalecer e apoiar as atividades gerenciais e docentes e a melhoria do ensino. (MEC/FNDE – Legislação/Resoluções - 2010)

Para que a transferência financeira seja realizada, as Secretarias de

Educação deverão aderir ao Programa Ensino Médio Inovador e cadastrar no

9 Documento disponível no portal do MEC no link: ENSINO MÉDIO INOVADOR/Documento Orientador

16

Sistema Integrado de Planejamento e Finanças do Ministério de Educação (SIMEC)

os Planos de Ações Pedagógicas (PAP). Estes planos deverão ser aprovados pela

Secretaria de Educação Básica do MEC (SEB) para que as escolas venham a ser

beneficiárias desta ação do PDDE.

Diferente das outras ações em que a adesão é da escola, no Ensino médio

Inovador, a adesão, em caráter voluntário, é realizada pelo Estado, cabendo às

secretarias estaduais de educação a articulação com as escolas e a sua inscrição no

programa.

Nesta ação, o programa PDDE atendeu no ano de 2010, em todo o território

nacional, 357 escolas. Foram beneficiados 296.312 alunos e o montante de recursos

transferidos foi da ordem de R$ 11,8 milhões10.

3.2 Localização, estrutura e porte das escolas

As quinze escolas estaduais, objeto desta pesquisa, estão localizadas no

município de Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Apenas uma dessas escolas

encontra-se na região central do município, com uma concentração maior de

população de classe média, atendendo aproximadamente 2.100 alunos,

compreendendo alunos que residem nas proximidades da escola, nos bairros

próximos e também nos municípios vizinhos. As demais escolas estão localizadas

em bairros periféricos atendendo, em sua maioria, a população de baixa renda

familiar, com porte que varia de 670 a 1890 alunos. A parte administrativa das

escolas é constituída de: direção, equipe pedagógica e secretaria. A maioria das

escolas enfrenta o problema da falta de espaços físicos necessários e adequados

para a realização dos projetos com os recursos oriundos do PDDE. Para contornar

esse problema, as escolas utilizam, com improvisações, espaços como: quadra

esportiva coberta (apenas uma escola não possui quadra coberta), o espaço do

refeitório, pátios cobertos ou sem cobertura e salas de aula disponíveis naquele

momento.

3.3 A percepção dos diretores na utilização dos recursos federais

O resultado da pesquisa sobre a percepção dos diretores, com relação aos

recursos oriundos do PDDE, levantou duas situações: uma de sentimento de euforia

10

Fonte: Correio Braziliense, 06/05/2010 - Brasília DF

17

diante de um significativo incremento de recursos financeiros federais, se

comparados com os recursos estaduais, através do fundo rotativo, que foram

disponibilizados para as escolas nos últimos cinco anos, conforme será demonstrado

em planilha e gráficos sobre recursos federais e verbas estaduais; outra situação de

insegurança com um forte sentimento de “medo”. Palavra esta utilizada pelos

diretores em relação ao processo do recebimento, aplicação e prestação de contas

desses recursos.

Durante a pesquisa, percebeu-se que, a falta de autonomia no uso dos

recursos é um fator que contribui para essa insegurança. Segundo a maioria dos

diretores, os recursos vêm “engessados”, isto é, com destinação já determinada,

sendo esse fator incompatível com as necessidades e a dinâmica de funcionamento

da escola.

Notou-se também que, espontaneamente, nenhum dos diretores fez uma

crítica com relação à precariedade dos recursos, isto é, de que houvesse uma

política educacional com um planejamento em longo prazo que atacasse de forma

contínua e definitiva os problemas e deficiências da educação brasileira. Quando

provocados para essa reflexão, concordavam que seria uma maneira ideal para

solucionar essas dificuldades e promover uma educação de qualidade nas escolas

públicas.

Com base em dados e informações levantadas junto às escolas e

comparadas com as que foram disponibilizadas pelo setor de análises financeiras do

Núcleo Regional de Educação – Área Metropolitana Norte, observou-se que, no caso

específico do ano de 2010, foram reprogramados11 R$ 24.453,07 da ação FEFS, R$

224.000,00 da ação PDE ESCOLA e R$ 186.347,69 da ação MAIS EDUCAÇÃO,

totalizando R$ 434.800,76 do montante de R$ 522.352,55 de recursos federais

recebidos pelas escolas. Deste montante de recursos, apenas R$ 87.551,79

(16,77%) foram utilizados no ano do recebimento dos recursos, sendo o restante

reprogramado para o próximo ano.

Isto confirma o exposto nas entrevistas com os diretores, que mencionaram

o atraso na liberação dos recursos, por parte do FNDE, como causa do impedimento

11

REPROGRAMAR: É um ato legal que consiste em transferir o valor da diferença entre o montante de recursos que a escola recebeu e o que foi gasto naquele ano, ficando esse valor para ser utilizado no ano seguinte. A reprogramação acontece quando ocorre um atraso na liberação dos recursos e a escola não dispõe mais de tempo hábil para utilizar esses recursos ainda naquele ano. Também pode ocorrer no caso da UEx (APMF) ter problemas judiciais que impedem a movimentação da conta bancária ou outros impedimentos legais.

18

da aplicação desses recursos no ano do recebimento, causando um descompasso

entre a liberação dos recursos com atraso e o atendimento das necessidades

imediatas da escola em sua dinâmica operacional, restando aos diretores somente a

possibilidade de reprogramação dos recursos para serem utilizados no próximo ano.

Dos R$ 434.800,76 reprogramados para o ano de 2011, apenas R$ 309.466,66

(71,17%) foram utilizados, segundo informações obtidas no mês de maio de 2012.

Os R$ 125.334,10, correspondentes a 28,82% do montante reprogramado, que não

foram gastos no ano de 2011, deverão ser devolvidos ao FNDE após a prestação de

contas.

Apesar de a maior parte dos recursos ter sido utilizada no ano subsequente

à liberação, o atraso na execução de projetos educacionais da escola e o

desenvolvimento do conhecimento dos alunos foram prejudicados.

Questionados sobre a forma ideal para uma gestão eficiente e eficaz desses

recursos e que proporcionasse tranquilidade e segurança para posterior prestação

de contas, a maioria respondeu que os recursos deveriam ser disponibilizados antes

do início do ano letivo. Isto, na opinião dos gestores, possibilitaria um tempo

suficiente para o planejamento, a pesquisa de preços e a aplicação dos recursos de

forma mais racional e segura, evitando futuros problemas na prestação de contas.

3.4 Recursos federais e verbas estaduais nas escolas de Pinhais

O Fundo Rotativo, criado no Paraná em 1992, vem atendendo, desde a sua

criação, as necessidades de recursos para a execução das atividades na escola,

porém, estes recursos, são insuficientes para a execução de projetos educacionais

específicos que envolvam um montante maior em termos de financiamento.

Os recursos financeiros do PDDE, disponíveis desde 1995, vieram como um

aporte suplementar para atender esta demanda de recursos que o Fundo Rotativo

do governo estadual não conseguia suprir.

Comparando os valores dos recursos oriundos do PDDE com os recursos

estaduais disponibilizados através do fundo rotativo, compreendendo o período de

2007 a 2011, constatou-se que o montante dos recursos do fundo rotativo foi de R$.

4.362.070,95. No mesmo período, o montante das verbas federais, disponibilizadas

através do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE, foi de R$ 1.411.757,36,

19

significando um acréscimo de recursos na ordem de 32,36% para as escolas do

município de Pinhais, conforme exposto na planilha e nos gráficos abaixo:

QUADRO COMPARATIVO

DAS VERBAS ESTADUAIS (FUNDO ROTATIVO) E VERBAS FEDERAIS (PDDE)

Os valores expressos são em reais (R$)

2007 2008 2009 2010 2011 TOTAL

VERBAS ESTADUAIS 607.549,36

869.577,17

972.473,59

889.959,71 1.022.511,12

4.362.070,95

VERBAS

FEDERAIS 28.776,00

69.442,00

14.030,00

622.352,55 677.156,81

1.411.757,36

Fonte: Setor Financeiro do Núcleo Regional de Educação, Área Metropolitana Norte, da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná.

Fonte: Setor Financeiro do Núcleo Regional de Educação, Área Metropolitana Norte, da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná.

20

4 Considerações finais

O programa PDDE foi instituído para prestar assistência financeira em

caráter suplementar às escolas públicas. A palavra suplementar indica-nos que algo

necessita ser ampliado ou complementado. A escola, nas atividades diárias e em

sua dinâmica operacional, deveria ter um suprimento de recurso suficiente, recebido

no momento certo, para atender as suas necessidades na promoção de uma

educação de qualidade através da execução, em tempo hábil, de seus projetos

educacionais. Em sua natureza jurídica, a escola não pode e não dispõe de meios

para gerar esses recursos e, dessa forma, depende totalmente da entidade

mantenedora no suprimento de sua demanda efetiva, lembrando que os recursos do

PDDE são de caráter suplementar.

Os recursos estaduais disponibilizados pela entidade mantenedora, em

especial o fundo rotativo, não atende, segundo os diretores, todas as demandas

financeiras da escola. Isto demonstra a importância dos recursos oriundos do PDDE

e a euforia dos gestores em receber esses recursos federais para suprir essa

demanda e, em especial, para serem utilizados em projetos específicos como, por

exemplo, a ação Mais Educação do PDDE e outras ações e projetos educacionais.

Apesar da Importância desses recursos federais, mesmo em caráter

suplementar, notou-se, através da pesquisa realizada junto aos gestores, que o

anseio da maioria é ter os recursos destinados para a educação em caráter efetivo,

programados para o recebimento em tempo hábil e atendendo, dessa forma, à

dinâmica operacional da escola na sua urgência em resolver suas questões

imediatas.

Daí a importância da pontualidade e da efetividade dos recursos, conjugada

também com uma autonomia efetiva na sua gestão. Durante a pesquisa, percebeu-

se que a questão da falta de autonomia no uso dos recursos, segundo a maioria dos

diretores, é um fator que contribui para um “desconforto” administrativo e uma

temeridade com relação ao processo do recebimento, aplicação e prestação de

contas desses recursos. Segundo eles, os recursos vêm “engessados”, isto é, com

destinação já determinada, sendo esse fator incompatível com o atendimento às

necessidades imediatas e à dinâmica de funcionamento da escola.

21

REFERÊNCIAS

ADRIÃO, Theresa; PERONI, Vera Maria Vidal. Programa Dinheiro Direto na

Escola: uma proposta de redefinição do papel do Estado na educação?

Relatório Final de Pesquisa - Organizado por Vera Maria Vidal Peroni e Theresa

Adrião. Porto Alegre, 2006.

BRASIL. Lei Federal nº 9.934, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes

e bases da educação nacional. Brasília: 1996. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: março de 2012.

CD/FNDE. Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação. Autoriza destinação de recursos às unidades escolares de ensino médio

regular não profissionalizante das redes dos Estados e do Distrito Federal

selecionadas para integrarem o Programa Ensino Médio Inovador, no âmbito do

Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Resolução nº 63, de 15 de dezembro

de 2009.

COSTA, Vera L. C., MAIA, Eny M. & MANDEL, Lúcia M. Gestão educacional e

descentralização: novos padrões. São Paulo: FUNDAP; Cortez, 1997

CRUZ, Rosana Evangelista da. Pacto federativo e financiamento da educação: a

função supletiva e redistributiva da União – o FNDE em destaque. Tese

(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, USP, São Paulo, 2009.

FRANÇA, Magna. Gestão e financiamento da educação: O que mudou na

escola?. Natal: Editora da UFRN, 2005.

MARTINS, A.M. A autonomia da escola: a (ex) tensão do tema nas políticas

públicas. São Paulo: Cortez, 2001.

MEC/FNDE. Manual Operacional do Programa Escola Aberta: Educação,

Cultura, Esporte e Trabalho para a Juventude. Exercício de 2010/2011.

Disponível em <http://www.fnde.gov.br/index.php/leg-res-2010>. Acesso em: março

de 2012.

MEC/FNDE. Programa Dinheiro Direto na Escola. Apresentação. Disponível em

<http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-dinheiro-direto-na-escola>. Acesso em:

março de 2012.

MEC. Ministério da Educação. SEB – Manual da educação integral. 1. ed. Brasília:

MEC, 2011.

22

MEC/SEB. Programa: Ensino Médio Inovador – Documento orientador. Brasília:

MEC, 2009.

MEC/SEB. Programa mais educação: Passo a passo. Brasília: MEC, 2011.

MEC/FNDE. Relatório de Gestão: exercício de 2009, publicado em março de

2010. Apresentação. Disponível em <http://www.fnde.gov.br/index.php/relatorios-e-

institucional>. Acesso em: março de 2012.

MEC/FNDE. Consultas – perguntas frequentes, Dinheiro Direto na Escola.

Disponível em <http://www.fnde.gov.br/index.php/perg-dinheiro-direto-na-escola>.

Acesso em: abril de 2012.

SAVIANI, Dermeval. Organização da educação nacional: Sistema e Conselho

Nacional de Educação, Plano e Fórum Nacional de Educação. Revista Educação &

Sociedade, Campinas, v.31, n. 112, p. 769-787, jul. - set.2010.

SEED. Secretaria de Estado da Educação- PR – Manual de operacionalização,

Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Curitiba: SEED, 2012. Disponível em

<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/manual_fundo_rotativo

.pdf>. Acesso em: março de 2012.

SOUZA, Ângelo Ricardo de. A Escola, por dentro e por fora: a Cultura da Escola

e o Programa de Descentralização Financeira em Curitiba-PR. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica, PUC, São Paulo, 2001.